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SOM/RTÍDO r. Ìyliica, ilê"cía e nr" por várias yez€s ôi refeddo o facto de âs €ncicloDédias musicais definirem e desreverem os f€nómenos com q". r. p,.o.op, u musi(otog:a. dceptuândo o própdo cooceito de músicr. Todaviâ. isto não é rotatmeore exacto:pelo menos Da encicÌopédìâ Fâjquetle, Françoir MiúeÌ cita no seu anigo {Músìca, a coúecida fórmula de Rousseau: stuÌe de combinff os sons de uma manena â$Ldâyet ao ouvido>, e a seguir a de lirúé: sGência ou emprego dos sons a que chamamos racioaais, ou se1a, que pertenc€m a umâ escal:à. üta gala^ (ga,?n?)!. O autor estáconsciente da insuficiênciadestes doìstestemuahos, mas, em vez d€ tentar compreender a: razoes pelasquais o renno múica r difícJ de defiú. re,ddâ remerodo laconi."-.rr. b*" " nuriaa úunana de Bo<,cio: (Quem quer que desça ao tundo de si próprio Es,es porco5 exemplos bâsram püâ mo$aÍ d€ que müeira â drtúição de mus;üìepe'ìae dã óa orienraçLc.réLìca ou de urnl ercoúa ideot<;s.cr: im.trlicai varirjn:egundo a-s pes"oas, a5 épocat e a5 crJnúa,.. Reco,drmo. I adveÍÌanaa de um ernomusicóìogo:.tu íepresenrrções Lolectivó de quf a múica d obiec,o. nas sociedades sem escri,â, esLeoronee di ser suficientcmenLe roúaidas. Fatrz-oo", se se podc assim dizeÍ.:onh€(er o reoóm€no por denLro. Temo-nos dedjcado Áuro poucoa precisar o que define, Ío €spftito dos indfuenál, o conceiro de ..m,rsica;,. por outrar pálavíó. isíúrros ditrruldadeem dizer. qualquer que seja a populârâo ron'idera&. onde começ: , múiLa e ond€ a.aba. . qd, ^ f.*ì.i,^ q* , mâÍ(i-'n ? pa'srgem da hJ: para o caflo;lRouge, Lo(,8. p. B4al. pronurcìar , À ptJàeÍ^ múr(a sgülrcâ delÍnjrar um ouuo conjurto de f€Ddmeoo5 if Ìr i eÍsterres !9mo <{Iq-Ínúsicâ'. ' Pannemos do pnn.ípjo que. em rod$ cujruras. o vocábuto ,rúiÍca, d€s,gqa uma limïia espec'.Íìcâ de acúticinenros sooorcs. e propomo-nos exrrDúri em pariculaÍ a quesrio da frocreirz enrrercn e Hida eíí Eet^\:n à der,tuFo de {Ínúica,. s€rCo o p,oblema dã itìsrirçeo eDúr rom m!!si,at e (om ìinguüdco aq:i abordzdo por Cha;tes BoiJès (d. o aJriso.CaDrot. Mtu..logo de ú-íoo. o pflo, rpio de que panirnos revin,r âtgÌrmar objccçoer: que t^z?td^ Atta,Ì4 z, lerÉr. dâs .músi(ar pü, vef, de um Dicrtr Schnebet.

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SOM/RTÍDO

r. Ìyliica, ilê"cía e nr"

Já por várias yez€s ôi refeddo o facto de âs €ncicloDédias musicaisdefinirem e desreverem os f€nómenos com q". r. p,.o.op, u musi(otog:a.dceptuândo o própdo cooceito de músicr. Todaviâ. isto não é rotatmeoreexacto: pelo menos Da encicÌopédìâ Fâjquetle, Françoir MiúeÌ cita no seuanigo {Músìca, a coúecida fórmula de Rousseau: stuÌe de combinff os sonsde uma manena â$Ldâyet ao ouvido>, e a seguir a de lirúé: sGência ouemprego dos sons a que chamamos racioaais, ou se1a, que pertenc€m a umâescal:à. üta gala^ (ga,?n?)!. O autor está consciente da insuficiência destesdoìs testemuahos, mas, em vez d€ tentar compreender a: razoes pelas quais orenno múica r difícJ de defiú. re,ddâ remerodo laconi."-.rr. b*" "nuriaa úunana de Bo<,cio: (Quem quer que desça ao tundo de si próprio

Es,es porco5 exemplos bâsram püâ mo$aÍ d€ que müeira â drtúiçãode mus;üìepe'ìae dã óa orienraçL c.réLìca ou de urnl ercoúa ideot<;s.cr:

im.trlicai varirjn:egundo a-s pes"oas, a5 épocat e a5 crJ núa,.. Reco,drmo. IadveÍÌanaa de um ernomusicóìogo:.tu íepresenrrções Lolectivó de quf amúica d obiec,o. nas sociedades sem escri,â, esLeo ronee di sersuficientcmenLe roúaidas. Fatrz-oo", se se podc assim dizeÍ.:onh€(er oreoóm€no por denLro. Temo-nos dedjcado Áuro pouco a precisar o quedefine, Ío €spftito dos indfuenál, o conceiro de ..m,rsica;,. por outrarpálavíó. isíúrros ditrruldade em dizer. qualquer que seja a populârâoron'idera&. onde começ: , múiLa e ond€ a.aba. . qd, ^ f.*ì.i,^ q*

, mâÍ(i-'n ? pa'srgem da hJ: para o caflo;lRouge, Lo(,8. p. B4al. pronurcìar, À ptJàeÍ^ múr(a sgülrcâ delÍnjrar um ouuo conjurto de f€Ddmeoo5

if Ìr i eÍsterres !9mo <{Iq-Ínúsicâ'.' Pannemos do pnn.ípjo que. em rod$ cujruras. o vocábuto ,rúiÍca,

d€s,gqa uma limïia espec'.Íìcâ de acúticinenros sooorcs. e propomo-nosexrrDúri em pariculaÍ a quesrio da frocreirz enrre rcn e Hida eíí Eet^\:n àder,tuFo de {Ínúica,. s€rCo o p,oblema dã itìsrirçeo eDúr rom m!!si,at e(om ìinguüdco aq:i abordzdo por Cha;tes BoiJès (d. o aJriso.CaDrot.Mtu..logo de ú-íoo. o pflo, rpio de que panirnos revin,r âtgÌrmar objccçoer:que t^z?t d^ Atta,Ì4 z, lerÉr. dâs .músi(ar pü, vef, de um Dicrtr Schnebet.

SOM/RÚÌDO

qque estaturg atrìbuir ao lilêkcio, q.u: p$ece set o !ìtndo sqbrç q quaÌ q_ro:'z

--N" .; de Sctl'rebel. uata-se de panioras que nao se destìoam a sel

ouüd*. mx sün a ser l ldx. Que é que no. permi,e. ̂e$ecâso, fâlar de múica? A resposta parecç:.ngs rçr si49 dâdalor mLno L1975Ll

js4qdo íqq gÊ_q!€ 4!qqiçâ., q. q rerll4a!çJrg {fqçt! !9çj4,t9!4?,-sçC!gd9MâÌrei Mauss, que não é somente constiruída por rqns, qar sim porg a,

__mul!ìplicidad€ de ouúas vaÌiáveìs, como a salâ de coocerto, o instrum€nto. olmaestÍo, â panitura, erc.: peÌo menos na nosa chilizâção, eÌas são necesstuiarlpara que o fenómeno <mÍsica possa aconte.er. Bâjta que um indivíduodecida ìsoÌar uma desas variáv€is, mesmo quË não seja sonora. e Ìhe aptique oqualificativo de musicab, para que o fenómeoo não sonorc sejâ âssociadomcntâ.lmente ao facto musicaÌ rotal de que provém. Que se pâssâ no caso deSchn€beÌ? Fâlâr de música a pÌopósito de grafrsmos de carácter vi:ual, criaumâ âtitude musicâÌ no €spectador: a do músico capaz àe oa1,ir irteiarnelzteuma paniturâ, ao lêìa.

Mas constat4nos assim quç 9 aqus1c4l 4a9 se {çsç!qbq4çâ fu4mç4tç do,qo4qr9;.9 quq jqtqifìca quç seposa co{ìqiderâr a apeqiência de Súnebetcoqg ìt{n c o limite -, pgrqu€ a lscura intedor, e logo sil€nciosa, supõe âpreèlstência do sonoro: ó n!çss4rio que e1e tenha €srâdo prsenre m€smo se,!4exp€riêJìei4 em questão, não é efectivado.

Tâlvez não seja legítimo enrâo coÍriid€rrr o siÌêncio como a condiÉo dosom. O dado de panida parec€ s€r sempre um misto de síêncio e de sorx,

rylgue old,e roconÍâr o silêúcio absoluto? No.ìeseno argelino. ou na .5olrclÀo gelidâ do Anno anre5 dâ âparição dos auromdver e dos barcos a '

motoÌ? Diz-se que o homem encenado ÀrÍnâ câmara anecóide. ao fim de ialgurìi ÍLltantes ouve com grande nitidez esse ritmo primordial que é o ibatimenro do seu coração.&il{ì que !rçrÍÌ9r sçr e silêacio é, na lealidadc,

-uq-rsi4e.Sern dúvida, Cage apercebeu-se disso, visto que dedara: 3@s4jq

-siléo,io. o. Íuidos eo,rarâm defrirjçarnenre na nJrha mrisica' LLq76. p.I l2l. tu epe-iè.Ìriai perrnirem .que o silen< io de uma panida de udrw .,j4{9$ como âquilo quc ealmente é: um silèncìo pleoo de ruídos" [rá7. p.2101. Sabemos Èmbém o que signfica a sua obra 4' 33" (19t4), du-ranre aqurl o piadltâ, por vtuias vezes, aproüma e tctira as suaj Ínãos do teclado,sem nuoca rocaÍ uma única nora, o que Ìeya o audiror â tom2Ì ateÍção aosruídos da sâ1a. Que! a lerda que, aquarido da estreia mundill de 4' 33",^ la^e|z zteÍta tenha deixado erÌÍar o cânto dos pássatos da fÌorestavizln}:,a...

j1lê!9ro-"s-ç9!ç!4€!adot mno valor em si Dâ música modema. Por3g{estx duas_úlrlmas d'srmóes? O silênL:o que \e sg1le â expo"igio do priÍn.iro reÍDa na

soM/RIÍDO

Érc€fua soÍÌata pâJa piarD dc Becthoven

$":,i"yïi':.ffi i:ï:ï:,'ï;i:::':i'úI"ffi",ïïl:":':."1"1""*::j::*,:*iuxr. j:fff #'',1"'";"jjff "fr'ïdiJJ:flï:tâÌácter diferent€.'*-

õ"Àiú1""". . ',nocio puççe a5qq,4ir um nols vâÌ:!i 1se1:-I!:.-:

i;;3'ÉS#ffi iï j'#:#:'*;r;:x;:i:i;XiïmJ4;HntËt#iïlï#ãtt**'U*q::;*#trr:rï;{{{'#-"'ôrjãi' ï ï#,,Ë""u' s:'":,f'',i;,"., ebra ceì."..q'l:i:

;-i*-t*,#,qJ-.ì,*.,i*ïi:iï,"nfu1ïJ*'jí::';ïïffi'#Ïji:."*; : ffi;ï:;:.;ï#' : I *:'r;"::i"'Hrï ":ffi ;

. ".,,: Ï :ffi :::,;i:.#"*":ffiilï:;"i',ïÏ{b*'#tr "JÏï àïÏ"ïf: ; nâô Íabou.

,-4,çp,g!4çrdo pq! qm.3 qjlsrql19f t, p. t3]. Levando as coisas urn pouco múlonge, a frm de podermos iÍduir não apenas o fenómeno Schnebel mâstambêm ^ AÉe da fLgd (Die Ku?'Í der Fuse, 1749), que L€iboyìtzdemon$rou se. um-l oú5kâ paÍa ler Il9t L p. 3l ]: ímüicâ rodo-a feodr.neoooue um indi!íduo. um sÍuDo ou uma cúcura aceitam roosiderar como tal.

! -nela rermo que se pìe o problena da Íonreira enrre som e ruído.

2. O / tda etìq anto fenónêno terr'ìológìco

Ë posivel distingui.r som e ruído ern termos anisricos. seodo o som ãr'ç$!,_!4-d9 de vibqções pçrìódicas e regulares e o ruído, o resultado de_lv&gçõ€!-lLçfÍ"d&?i, E*te aliás, €m FÌança, e taÌyez nouúos pâÍes, ümadefiniçeo físicâ. oficial, do ruído: .Uma vibrago ettática ou estatrsícamentealeatória,. Esta distinção b3lear-se-ir trâ oposição 6oÍrs puÌos ou simples,i/ <soíÌs comPrexos,.

À,Íar esras defiddes sjo post"s em causa por rodos os e$udiosoç daacústla: chama-sc ruído, na verdade. â (odo o som que roma para nós umcaáctcr afectivo desagradável, inaceiúvel, qualquer que seja aliás esecarácter... Á noção de ruído é esseftialmente, e antcs àe úèo, ütra. ttoçõotgug!!' IchocÀou.' 1973, p. 381. Os cdtérios que, de um poto de vistap€Íceptivo, frrem com qu€ um sôm s€jâ qualiçcado de ruído, sâo Dümerosose diversos: a intecidade demasiado elwada, a ausêrcia de altura defroida e al1lÍz dE oÍsniza@o (complcxidade, cacofonia, etc.) Íd. ibld., pp. t9-40iGibeÍìski 1975, p. 241. Notemos que estes (critéÌios, são s€mpÌe d€Íìnidosem Íelago a urn limiar de aceitabilidade (uma intensidade suponável, âexjstência de altlrüas fixâs, uma rc€o d€ ordem), o qú l ú arbitoìarrlenrê êdeÍi do como norma.

Er6-m, ssjqcoqqgD-er as dddções fGicas com a pgrica do.s músicosd:ssicor, ou sei,. se se coosiderar a equação som/ruído = mús;caloão--música, rapidamente descobÌimos que a maioÍ parte dos soos omusicârs,, porexèmplo os uüizados n,:ma sinfonJa dásica. penencem à caregoria dos sooscomple\os tformado! poí drversos compooeoresúusoidúrè que os soos queo ouüdo espootareameor€ coDsid€ta Íuidos. rèm por vrzes a merú ertruúiaiúiúa-qne os sôns <aüiicú;. Sóaeffer edorçou-ie mi*mo poi mostÌai queo som da nosa múica dássica nt€m tâdbém uÍn sopro, é grânuloso,compona ':m choque oo ataqüe, é flüurnte, pl€no de impurcza - e tudoÀto Ìev€Ia uma musicaÌidade anteÍioÍ à musicalidade "cultuÍaÌ"'

[1968, p.2841. Mas convém não esqu€cer qu€ esses duídos, do som clássico não sãoprepondera-otes.

Situámo-nos, sucessiyamente, do ponto de vista da àeÃlj.6o aúoìca, àazboÃagcm percj'ptila c d^ ^Íituà. coaparicjoaa!, Istas três dimensõescoÍÍespoÍdem àquilo que a semioÌogia musicd distingue sob o nome de níveisdeuÍo' (ou mateÌiâl). .€stésico, e {poiérico,, deinidos e utilizados no anigo.llarmoaia" desta Enclclopédiz. Reencontramolos aqui porque a distir-São som/ruído não tem fundamento fisico esúvel e poÍque a t4llizaçãodestes dors conceitos é, à panida, cuÌtualizada. Ás situações desclitas nos

SOM/RUTDO

2róSOM/RúEO

parágraÍos precedente" Podem Portanto scr rsquemar':zadas do modo

"' 3ï: lH1i",,o":l:: t*.^fr..1ïTailT, i;.'#ïJJ.ïìi:ï'J",:Jïï'^j'lHïli""ilïll"ïo'i ãï;; el",-',ã,:s'�i'" orú' a

*ï*m'xï*rn*;Ã;,i;',f;:;';:;zn::i;"i;i*'ï'lsïr*.*.**fu:pm*#l"fi#ï1.'#''ii'nxl:*i:**r-x*,",*1-tïïïïË.

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i:'gË*-",rrr,';:ï;'#*'*intt**ff'Ë+:*.ïlffil;**;*'n*r'ï""'"":,,f #í*È;{,i$lr'fl ::*ïi.*õ ;""il; í-.e' 1*q*i Ârrari esc!€veu Br"i! tte71\ - ur ̂

úulgúento PdcePúrc)

licú rN;eis dc .nÁ15. do ed e do úÌdo

217 SOM/RLÍIDO

obÌâ de isocioÌogìa, müsìcal que Dão merece todo o ruído que se fez à sua vol-ta - sobre âs coÍora@Õs contestatárias da palâÍâ.  zua tese resumexe a is-to: o ruído, ou sejÂ, a música qu€ iocomoda, é o anuíÌciador de ìrmâ novâ or-dem sociâÌ. Á prÌtiÍ de agorâ é, ponaoto, inútil que os especia.listx de cálcuìoanalisem os seus gráfrcos: basta aÌ]icüÌtd a músicâ de umâ épocâ para predizerâ.1 suâs conr'Ìrisões políticx. Se se quer tomar eficü eÍe socioÌogismo pítico,há que avaliar aquilo que, numa determinada época. é coÍiideÍado como de-sordem musicâÌ, pÌobÌema que, na realidade, neo é âbordado pelo autor.

Resumircmos a nossa posi@o de conjunto nestes tetmos: da mesmamaneira que a múica é aquilo que a: pesoa: aceitam recorúecer como taÌ, oÍuído é aquilo que é recoúecido como incómodo e/ou desagÌadáveÌ. fronteiÌa entÍe múica e Íuído é sempre deínida culturalmenre, o queimplica quc, no seio de u-ma mesma sociedade, e1â não passe pelo mes4olrÌgk, Ìarâmente havendo consenso.

t. A 6íit4de do! aompotitorer fae an ru:tdo

3.1. Sìuação do pÌoblema

. Não é exagerado considerar q99 ? extJíIão d9 cglceitg de -4!!ca. ouqej4, aquilo que - peÌo :!eÍos !o mundo ocidental - os bornçnç acçiqaram

. cqnsiderat tomo qqsiçal ao !o4o dos ânos, ç9se!pq!14e-.4_1çç!!?ç?9.-d"fenómenos sonotos mteriormente corsiderados como <mídosr. Olivier Álaindenoosrrou. num iÍrereçsânrc quadro lraot. pì. j6l.r,ii. q,e a hisroria daúÌísica não é som€nte a das traoíormaçoes das form$ e dâs esüuturâs, mas.ao mesmo tempo, a da int€gração de mat€Íiú sonoros novos. Lully tiúaintroduzido, nalgr:mas das suas obtas. apitos e bigomas, ba5tânte ântes deyetü (I/ T'o'atorc, 18tl) e de llagn€r (Dar Rleingolè, 18t4). Mas éinteressante notar que esta última obra, em que as bigornas se fazem ouvir "adacobeno' (intedúdios entÌ€ âi cenas ll e III, € ÌII e IV),

é tâmbém âquela cujo prelúdio talvez simboÌize meìhor a conquistaprogessiva do espaço sonoro, desde o sorn original, com os seus haÌmóoicos

SOM/RTÍDO

até. passândo poÍ sucessivas traníormâçoes,

..-

à sâturação compieta da oitava:

O r/uster e o ruído brâno liso é. um som que ocupa rodo o €.pecúo da!ftequêncirr) não estão Ìonge.

Como. tuemos paÍa a hanonia (d o attigo citrdo, pp.266-67), est^eloìuéo pode ser esquematizada, colocaado a representaçao tripanida dosfeÍómenos sonotos, sobr€ o eixo da diaconia (fg. 2).

SOM/RTTDO

ájniciaúe d? e{ensãq do mrrsical penerce, quase sqryr9. los cfrupg-sitores; na Ìealidade, a ba$eia que sepata música e ruído também cede, mâs

-eqJ! agl.-" ã.r*ã. ptopono-nos, ncste parágrâfo; €xâíainal quú foiãÍn a5atitudes de alglns compositores do século >c< que, no nosso entender, contri-buúam para deslocar a ftonteira cntrc a múica e o ruído: Russolo, Schaeffer,Câs€ e Munay SúafeÍ. A complexìdade dos fcnómcaos simbólicos é tal, queo estudo da atitude poiéúca dos compositores se dcsmultipüca dc novo scguo-do os teÌmos da üipaJdçao, coúotme o compositor tem. fac€ aos sons, umâatitudc de dominante poiética ou estésica. É assin que Ru$olo, Vâ-tèse €Shaeffer, embora ÍÌiánif€stando diyeÍgênciâs mtre eles, têm em comum ofacto d€ a sua int€gÌago do mundo dos ruídos no musical não signiúcar oabardono da responsabilidade composicional. MostÌaremos que a cscolha deCage reside essenciâL{€nt€ Dume eutude peÍceptim e que a orientago deMüray Schafer Ìepr€s€nta uma sífltese das duar posições.

3.2. À atitlÌde composicional

No esquema da Íìgrra 1, a pane tracejada rcprcscnta a zona da múicanÂotedoD que âs oovâs múslcâ. âbandonaÍam. Á taÌ poDto que, oo câso dosfutuÌistai itâliânos, é a lotalidade do domíoio fsicamente considerado comorúdo qu€ tem dircito dc cidadania Âo doÍníÂio do musical, € só ele:.Becúoven e Wagner sacudiram-nos deüciosamente o cotação c os neryos,durante bastantes anos- Estamos saciados; eis porque temos infinitamcntemâis prâzer em combinâ id€alÍnente Íuídos de elécdcos, de automóvú, decâÍmagens c de multidoes que gritam, do que ouvt, mais uma v€z a"Heróìca" ou a "Pastoral "... Saiamos depresa, porquê já úo posso Íeprimnpor muito tempo o meu desejo louco de criar enfim urna verdadeira reúdademusical, distribuindo à esqueÍda e à direta belâr bofetadas sonoras, saltaÂdoe dando cambaÌhotas poÍ cima alos violinos, piaoos, coÍìúabaixos e óÍgãosg€m€ltt€s. Saiâ&osl, lRussolo 1913, €d. 1916 pp. 1r-12].

Dc qu€ mrneirâ opera Rusolo? Pane da-s detuiges ac'ústicas, baseando--s€ oos úabâÌhos d€ HelÍnhoÌtz: .Châmamos rrz ao que é devido a umasucessão !€gdar e periódica de vibtapes; rúdo, ao que é dcvido amovimentos inegulatcs, tâÍno oo quc se Í€fer€ âo tr:'rpo, coÍno à intcnsidãde."Uma sensação musical, diz HeÌmholtz, aprcsenta-se ao ouvido como umsom perfeitamente cai'Ìlo , uniforme, invariável" . O câráct€Í de continuidadeqüe o som tem em rel4ão ao ruído, o qual iros apât€ce, pclo contÍáÍio,fragmeÀtário e iÍregÌrh, não é, no erúrrto, um elemento suficicnte patadistirguir nitidamente entre som e rúdo. Sabemos que, para que hâja som,b2sta não soment€ qu€ um corpo vibre regularmente, mas ai-nda que esarvibra@es sejam sulcientemente rápidas para quc pcrsista, no oervo audirivo,a sensaçâo da pdmcira vibÍ"çeo até a chcgada da vibragi segui.ote: entao, osimpulsos periódicos fundiÍ-se-ão num som musicaÌ coot-muo. É necessário,para iso, que o número da: vibÉçõ€s não s€jr inf€rior â 16 poÌ s€gundo. Ora,se eu conseguir reproduzir um ruído com esta ra'pià.e2, obteúo um lozzcoÍÌstituído pelo conjunto d€ oum€rosos ruídos, ou melhor, um Íuído cuja

SOM/RUÌDO

r€petição sucessiva será suficimtemente ápida puz das uma seÍìsaéo dccortinuidâde. compârável à do som' lRu$olo 1916, pp. 27-28]. O autoÌprosegue a sua aaálise examinardo o probìema do timbre, e os seus escritosmerecem que nos deteúamos neles por um insta.nte, yisro que contêm, poroutrâs palavrâs, as ideias-drave que PieÍÌe Scha€ff€r desenvoÌverá quarenta

Existe, târÌto êm Rüssolo como em Schaeger, uma esoécie dedeslumbÍameú,o peranre as imensu posibiJidades libeftadas ;clâ suâdescobena: {C-om a iÍnroduçâo, na múlica, do número e da variedade dosruídos, t€m Íìm a limitação do som eoquanto qualidade ou timbre... Com aintÍoduçào de ruídos uciüz"dos cm ftacçoes mú pequ€nas que o meio tom.ou seja, com o sistema enarmónico, cstá iguaÌmenc supdmida a limitaÉo dosom mIrâ sua quantidado {ibld., p. 62). Caíío ÌesulÍado, há, nos dois auroÍ€s.unìâ atenFo pdvilegiadâ peìo que é, em geral. chamado timbÌe, onde

RcpGcnaÉo dia.ónica dos feúmtus edoFs.

soM/RÜiDO

residem as posibilidades rnáxirnas de exrensão do musical: "A reìda,leitue fundanental êt:Íerenq� enúe o som e o ruído raide uaicameote nisto:O tuída ê b,utante na* nco em sot Àarmónica: do tlue o é, geralmente, oron, lìbnì., p. l0l. {!is a mzão da enolme variedade de timbres dos ruídos.em reÌação à dos sons, que é ljmit^Ã^> Iìúid., p. 291. Esta extersão é devidâsobrcado, a. umz escuta mais atenta do som: <Existem €riedâdes de rimbÍesnum mesmo ruído. Em certos ruídos Íírmìcos, como o tìquetaque de umÌeÌógìo ou o trote de um cavalo numa estrada pavimentada regolarmeote,percebemos, muita: vezes, uma diferenç: de uma pancada para ouuo. Enrfeduas pancada de relógio da mesma altura, .lrâo chegámos a smtir umadiferença dc tom, mas a seÍsaçâo d€ qu€ âs pancâdâs fleo são iglrú peÌsiste,libid., p.411. Ru:solo praticr aqú o que Schaeffer deÍìnirá como oescutareduzida', €. nos exemplos citados, descobre o que se chamará, maìs tarde, a<aljjÌentaçãab (énterìen\ de um som. Em Russolo, a escuta reduzida efectua-+e segundo os mesmos princípios que em Schaeffer, baseandosc um napercepÉo ÌeiteÍada do mesmo som e o ourro na expcriência da espira feúada:dpós o quffto ru quiato ensaio, [os ex€cutartes dos concenos de ruídos]diziam-me que uma vez o ouvido farniìiarizado e ganho o hábiro do ruídoafinado e variável tÌansmitido pelos diftsoÍes de Ínídos, lá fora, na rua, elesencoÉtravrm um grande prazer em seguú os ruídos dos elécüicos, dosautomóveis, etc., e constatav,Lrl com €sFÂnro a variedade de tom queenconúâlãm neses ruídos> lìbìd., p.421. Existe mesmo nos tutudstaritalianos - o que nao deixa de ser um paraÌeiismo flagante com Schaeffer -a mesmâ âtitude nomativa que leva a afasrar, da arrr dos ruídos, os sons d€que se reconhece. com demasiada fadlidade, a otigeÍn (^ aaÃm,1.,ic,r àeftbaetreQ: "É necessáÍio qu€ eses dmbres de ruídos se to;rrem natér;aebtuacta, pân. que se posa forja.t com eles a obra de ane. C-om €f€ito, oÍúído. tal aomo ,zat cúega da tida, rcnete-ros diectâm€nte parâ a pÍópÌiâvida, fazendo-ms imaginar as coisas que produzem o ruído que ouvimos).O ruído deve perd€Ì d(1odo o seu ca:âcter de rewltado e efe;ro lig ào às cz..l'sasqe o ptod|uzem> lìú;d., p. 9ll. Em temos schaefferianos, â escuta reduzidapode tãmbém ser consideraàâ. acrtnáica.

Os termos 'anes' e 'obra de ârt€' aparecem com fÍ"-quência em Russolo:trata-se de organìzar caflaertat coíÊ! in*rumentos, os diÂrores de ru-tdo(b/aìte/rs) e,sp.cl,j.Íaelte construídos para o efeito: os zumbidores, osestrepitador€s, os estrondadores, os estddentadores, os Ârngadores...lInf€lizm€nt€, pouco sabemos ̂cetc dess:r abras, já que os iÍstrumentos deRu5solo foÌam dest$ídos, ás pãÍituras não foram cons€rvadâs e, salm eÍo, sópossuínos em drsco Serenõtõ e Cozala, duâs obras de Ru:soÌo apresentadasem Pris em 1921, Íeediradas pela etiqueta Hìs mastert voice [üsta 197j, pp.2 9 e l 5 t l .

L dificiÌ. poÍianro. r,beÍ o que eran esar obras enqünto rczpoyçor.Mâs VaÌèse, com a energia que lhe é conhecida, r€prolálas-á porintroduzirem. sem discernimento. os ruídos da cidade na sala de concenos:*Porquê, tutuÌistas italianos, reproduzir servilmente a trepidaÉo dâ nossa

SOM/RúDO

vìda no que tem de superÊcial e incómodob [citado ilr SalloüI€t 1966, p.421. Xm V,-rèse, o género composicional ptedomioa. Â propósito de umaerf.c.deo dE lonlwtian (1911\ qüe é, trão o esqueçamos, a pdmúa obÍaexclusìvrrrÌente paÍa pdcussÕ€s - diz o compositor m:ma confetência: <[Áspercuisõesl sâo chamâdâs instÍmentos produtoÌes de ruídos, mas eu chamo--lhes instrumentos produrores de som, [1937, p. ,]. E o joÍna-lisÌa quetelatava estas ahrmapes acrescentava. dÊ um modo pârticularmentecÌaividenre para a época: .Empregadas por ele, são mú do que pÍodutoresde som, fâzem música' It r/.1. M€smo que Vârèse se pÍopoÍiha.abdÍ todo ouoiverso dos sons à músicâ..., fazer rnúsica com todos os sonr poss-weis,[19]9, p. 831, é_o- i99p9!i!o,-',,.!4.Ét!4ra i;t3qçlq q!Ì.s_4sçid-ç qu4s-*v.eitsglp9lar 4.? eb!3-

Schaetrer, que por vÍias vezes recorìeceu a zua dívida paÍa com Vafèse,teorizou este problema fazendo da distinção entre o sonoro e o musical urdos eixos essenciú do seÈ Tra;ré det obje nu!ìêatu [1966]. O compositorconcÍeto deve limitat-se ao "domínio dos objecos convenientes, aqueles quesentimos instintivaúeote que são Fopícios âo musical, lschaeffeÍ 1967, 83,41. Para os c2Ìzctetiz^Í, o autor combina tÌês critérios d€ construgo(inpülsão, som prolongâdo, coostrutro iterativa) e três üiiéÍios de mâ$a(carácl€| tótrico, mrssa compÌÕÍa. mâ$a vrriâdâ), âos qüaii ar:Ìescente umüitério de equilíbrio t€mpoÌal. D€ dacritiva, a abordagem de Schaeffertomaae noÍmativa, e os compositores do Groupe de ÌecheÌúes rnudcales nâotatdaram a explorar sorx musicais para a-lém das ftonteiras estabelecidas porSchaeffer. Isto porque o dn$into do musicaÌ, é profurdarnente subjeaivo,variando com o utilizador e o contexto do som. o edodir da tipologia iniciaÌ

I de Sôaetre!, !ìa pÍáticâ composiciooaÌ mais recente, é uma prova de que oirnusicaÌ não,é senão o- soÊo{c eçe1t.�e, p9{ qq--rnëÍr_d}9_qg c,l-up9-,ou.1]91

Ì991t"Ì*

3.3. Â atirude perceptivâ

Ássim como Ru$olo. Varèse e Súaeffer, Cagc propós-se, desde hámúto, uexpiorar toda as possibilidades iflstrumcntú não reporroúdasainda, o infinito das fontes sonoÍas possíyeis de um terÌeno irÌculÌo, de umaIixeita, de uma cozinha ou de uma sala de estar, [1976, p. 68]; mas a suaatitude difere radìcalmente da dos seus colega: em vez de âgn cdâtivametrte,ercoÌheúdo e organizaido. cage dúne uJDa oova eúluiç dc.e'c't!s...M3i;_tdescoire que 9p ruirdosdq mundo ex!çd,or.são muiicú, e nú músic_atxis,:s'libìd., p. 841. O-Ane .ê et\tão o roÌ.r5iça]? r:Isdo-q !u4g-q!re ngs p?leç1!9!gr

i-o!n4Íj€ musicd, p€Io simples facto de o induirmos nume peça dç rnúsicêNâo eÍa o qu€ eÍriinâvâ Scloenberg e de mmeifa alguma o que procumvayaÌèseb Iìkz., p. 691. Podemos dizer que Cage pratica r:m nominalismoradical qr:e engloba tarto o som como o silencio, cono já se viu: .Panida dexacìrez. eu te baptizo conceno,, podetia ter dito, da mesma maneira que

222

SOM/RÚDO

Duúamp traodormara um udnol em escultura. Cage Íaz reafu-nademudcal. onde rudo s€ torna aceitáyeÌ, deyido a uma preocupaçao de übetdadeabsoluta: é necesstuìo realizar uuma siruação intei&mente novar na qualqualquer "som ou ruído se conjuga com qualquer ovÚ�o, Íìb,1., p. 711.Donde a sua predilecção pela execuçâo siÍÌultâÍca das suas obras, o seucoocerro para virte gira-discos, a sua esperança de ouú um dia odas â! tugâjdo Craao ben tênpenda (Da,! &ohltemperien Chlìe\ 1722 e 1744)executadas ao mesmo tempo. Sf�ndo o clu$er o rcmate lógico do acorde dobìçna, Cage fieo fn m is do que levar um pouco mais longe o princípio dapolitonüdade. <Nâo se poderia conjecturar que o ruído... não é, ele própÍìo,a soma de una mrltitude confusa de soris div€Ísos que se fazem ouvirsimultaoeamente... ?o Á questão nâo é de Cage, mâr sitn de Rousseau [1768,p. t9l qüe, nâ súâ visão proíética, anuncia um rcmpo em que não se poderádizer se o tuído foi admitido nâ múica, ou se a música foi absorvida norúdo, e onde iá oão existe sepãação €núe a música e a vida. Para ÁlaoWata, diz aioda Cage. unão se dwia pegu no rumor da.s gandes cidades puao trãrsplaltâr pârâ umalsala de concenos: a separação dos soos do s€u m€ioera, para ele, funesta. Ora bem, e,r nunca pÍ€tendi ouua coisa. O meu votomais.pmtundo seria que se escutâss€m enfim os soos no s€u âmbi€nte, no s€uesp4o naturrl' [1976, p. 102].

Á atitud€ de Câge opõe'se radicalmente à de Schaeffer, no quaÌ a escr:taâcüsmátìca deve-nos fzzet esquecer a oígem do som. Para Cag€, é na própÍiacidade que é necesário captâr a música, recusaodo aquilo a que o composìtorcânadiano Muray Schafer chamou, de uma maneira muito bela,"esqui:ofoniâ'. Mâi podeÌ-s€'á impedir o compositor cont€mporâneo deescutar os sons por eles póprios, pode ele renulìciar por mais tempo às suasresponsabiüdades ?

3.4. A carl.ilrl\o do dnuttìa de!ìgn

A este respeiro, a aúrude de Mulây SLhaIeÍ ÍepÍesenLr umâ inreressan(esíÍtese dos pontos de vista de Cage, pot um lado, de RussoÌo. Varèse eSchaeffer, pot outro. Reatando uma tÍadição poética Ìomântica, a de umKleist, que ouüa verdadeiros cotrcenos no vento do Oeste, Mural Sch4lçr

P,!LL!3sz!p.-dp .Y4r.. :au!e!. Com a sua equipa' paniu €Ín bu$a dos ruídos"musicalnente interessa.ltesr: propôs assim um pass€io âcútico num baìÍoda cidade. Âtento à sinfoniâ do mundo, o ouvido do músico selecciona e,pouco â pouco, o compositor vem ao de cima: Murray Schafer imaginâ umanova disciplina, que nÌvez um dia o ecoÌogismo imponhz, o,arusfu-(ç;ìg4Num livro recente, o autor imaginou.jardio soníferos, [1977, cap. x]. Câb€agora aos compositoÍes confeccionr, a panir dê urÍ esrudo selectivo doambiente sonoro, a púagem musical da Gdade de amanhâ.

SOM/RÚDO

á) Repetìçao:

224

4. At carz!êq*êficìt êsrétia! dó inrradbção do rrído na mús;ca

Este deslocamento progressim da consciêocia musical face à disrinçãosoÍni ruido rào póde deixar de afetrar a narureza dr mú,ica. Lramioaremos.para terrnrloar, sci: corsequèociu da nova s;ruâção alsiíì úiadr.

. _&,es de rudo, â ooçio de Do,r i uluapusad: peto conceiro mais vasrodF_gbleflo sonolg. Co'no sempíe, quando urn novo feoómeno \e impôe nrúiâ(ão, segue.se a reoria. Súaetrer. oo fim do seu lreia, imalnz umamusicologìa geoeralizada,. ainda por nasreÍ. qLe re ba:earia na destriçao da"c2iact€dsticas sororal da.s múicaj de todo o mundo. E contramos aqú e úalguns GagmenLos desra abordagem. como nerra observagio de Máúe sobre aAppc",üa,a (tg}J-aMt de Beeúoven:

a) Tema inìcial:

. Mostrando que, na Íepetiéo (b) do tenz iniciat (c), o conpositoÍmteÍcala um novo objecto sonoro, Mâche €screve: (Â nocâo d€ objecrosonorc. na:cida dneturneole dÀ récnicâ dâ 6Li mâgnéric,, pode âpticar-e àmúslca ìnsÍum€ntal... A anáGe hamónica ou meÌódica do r€mr. no seuesrado priÍnrirc ou oa suâ rcpeJsão enreronada. é de"pÍovida de qualquerinteresse: tónicâ-dominânte, um ârorde arpejado e uma m€ia cadêrÌcia: é aprópria mnatidade. Â substância muúaÌ reside noutro iugu: na oposiçaoextema, parâ um m€smo acorde, da_s duas dinâmicas pp e tr, na de*idadecrescente do segnndo objedo (a novidade do pedal do piano br$ava €nrãopara !1 À ilusâo de u;r "in,ha mnoro que só o órsao pode reâti/âr coÍndáctldào) e. .obfeÍldo. no íacto de o s€gllado objecto, rorajrreoie oposto aopÍureiio. seí oo eorân.o deÍ,'ado dâ mesma mârériâ soooÍa. maniDuladz.di Íc 'eoremen,e. r a:sün sc pode djza" Írc)t . ) . pp. t8-201.

225 soM/&ull)o

Pode+c ainda citar, como exemplo, esta observação de Schaeffer: sPara'WeberD, a pdtitúa é nec€sstuia no plâno da fabricaÉo, ma5 já não refl€cte a

obra, é apenx um meio de a obter. Webern tem oecesidade da sua partituap3ra daf irdicações aos instumentisÌai... Que lhes pede eÌ€? ÉssenciâLnente,pede-lhes para reaÌizar objectos musicú. O que conta, com efeito, nesascunai peçâs. o quc se ouve, não são as relâ@€s d€ altua c duÍação qu€ s€pod€m leÌ na paÌtituÌa, mâs sim o seü cxtraordiÍrtuio Ì€quinte na explorâtrodo material sonoro, obtido p€la subtileza dos modos de ex€cução, utiÌüaçãodo arco, aÌritos soÍroros, €rc., lin Pi€$€r 1969, pp. t4.55].

Não s€ trâta aqü de impetiúsmo, somcnte da tomada de consciência dev]Júna. unber:alìdade do fenómeno musica! sob at êspéciêr da ionoro..Cooquistámos finat Âente todas âs possibiÌidadeso, €xdâma Russolo F916,p. 6tl. Donde uma nostalgia da totâlidade de que Miú€l Chion soub€ falât€loquertem€nt€: {O qu€ esta múica soúaria scr, cla sabe-o: uma espécie desupra-música, de convocação de todos os soni do uÂiveno, de exploÍatro detodâi ar acústicâi possíveis- À utopia de uma música que ôÍÌgÌobâsse todes âsouÍâs, o que é que parcce poder tealizáìa, senão, pela sua capacidade derecolher e u-rdL todos os sons, a música electro-acúrtica?... IMasl remetida âoseu gheao de expressão mâIginal, a música elearo-acústica mntìnuou aacariclar em segredo esse velho sonÌìo de uma m,úsica total e, outÌa utopia, ode uma múica "inaudita">

[Chion e Re]Írel 1976. p. 3201.Por que Ìarão falar de gheno? Iascinados pela infinidade dos achados

sonoros, os compositores concrctos ou electto-acústicos absorvetamre, a maiorpane das vezes, na pesqúa de sooi sempÍe oovos, em detrimento dosprobl€mas d€ composiéo propriameate ditos, ou seja, da organizago desesobjectos sonoros no seio de uma obra. Diflcil.ÍneÍÌte se encooúârá Dos escdtos.de Rusolo ou ío Trêité de Schaeffer um loogo desenvolvimento desusquestões, e a passagem do üvro de Chion e Reibeì coruagrado ao otrabalho decornposigo' não ulüapâssa a5 quaao páginas Ílbid., pp.231-401. Or:,produziu-se nas músicas electro'acústicas o úesÍm feÍímetlo, mttatì!natandìs, qre u míLljca serial académica: a busca Ídua de sors inéditos dáas mãos à utopia boulcziana de üÍÂa múica não repetitiva, conduziodoamba.s a uma indiferencia€o moDótonâ.

Cremos que, oo câso dâl músicas electÌo-acústicâs, essa indiferenciação édevida, na realidade, à predominâncìa do timbre sobÌe a melodia. Se Russolotem razão ao ver no timbre a caracerísdca que distingue o ruído do som, c sceste tipo de música é feito dc fuídos, etrtão a melodà desaparece. Varèsemanifestava já muitas reticências a este respeito: nÁ percussâo, qumto à suaesência sonora, tem uma vitalidade qüe os oìrüos iÍstrumentos nâopossuem... ,45 obras ríunicâs de p€Ìcussão estão desembaragdrs dos cle-mentos anedóticos que, com facilidade, encontramos na nosa múica. Á par-tit do momcnto que a melodia domina, a música tona-se soporíf€Íar lcitadolbid. , p . 2ol. E Chiol à.e6ne da seguinte maneiÌa a aposta dâ música coftretadesde os pdmeiros estudos de Scha€ffer: d€moostrar que critáios tais como oar.danetto (a/hce\, mx tarnbém o "gão", â "mâsçr", o "cÍitéÍio de intefl-sidâde", são susceptív€ir de cria!. p€Ia sua variaÉo de um objccto sonoro paraouüo, um discüso sem€IhaÍr€ ao que criavam, na músicâ rradicional, as

SOM/RUÌDO

varia@cs de altura de uma nora para ouca. É posível. por exempÌo, criat

melodias, não de atturas, mas de andamcnro, pela junçao de objectos somros

de casceres mars ou menos "erteosos" ou "ceÍrados", "profundos" oü''üsoi ?'libid.. p. tsl. PodeEos PergunraÍ-nos com o risco de pa:sarmos

oor lamentavú passadistas, se as músicas de tradiçáo oÍ'l (que nutcâ

*burrdoo"r"m, utn"a, "ão o esqu€çamos), díssicas e Íomâ{ric's, oão devem

ao DaràTetÍo .dtu-a' z eúrêocia deise 6o do drsflrso que tanrar vez€s taz

faha na môi.a elecrro-â.úsrica se nos vokarmos para os grandes uabalhor,para âquel€s {ue os músicos e os cílticos Íecôohtrem unânimeIleÊte como

oUr".-o'riJnr". que coostatamos? O Ca"ro dos adoleÍentes (Gesang der

Jüriglinse, er�ta-6trt de Srocklar:seo rrabalha ton aJ consornÌes, Úatada5

io--o -laor. ..o- ," "ogaìs, ttatadas como sons - analogia que RussoÌo foì'

sem dúvida, o pÌimeiÍo 1asúalâr [1916' p 51] -' o que p€ÍmÌte o u5o d€

variaçoes de ftiquèo,;a. Onaslio 4Jatce ( Iorst e l4Y8ã (lc)ól-) de B€tiobeçiarn-se IamÉé'n oum m:rerial reúado da voz humaaa Quanto ao

sobertn D€ Naturd So1'orun (1974'7r) de Parmegiani, é poss-rvel, do

orincíoio ao fim da obra, identficar a sua <melodia, dominante E não setá

.t .""rãio ìo..ttog"t-o-nos sobre o núrnero crescent€ de múicas Ì1t;l'r' que

combham os recJrsos eÌectrónicos e io:trumentú? Lembremo-nos da querela

enúe os {coÍÌcretos, e os <elecüóÍicos, rÌos anos t0. Os primeìms censuravam

os segr:ndos peìa pobreza de timbÍe dos sons electrónicos e acusavam-nos ct€p';'iJïsi", o .oo"ãLo -rremático dos P{âmc!Íos iÌadicìona;s E cerro que os

'€lecúóDico.' üam oa mâquina o meio de realizar com exaLr;dâo as exrgènoas

do seriaÌismo eeoerúzado, mas aatar+e'ia apenas disso? Não hâveda, na sua

atìtude, a consciência, mais ou menos dara, de que oão nos desembaraçamoscom facilidade da aÌtura?

Á DenerÌrcão do <uído, rÌâ mú.ica chamou a aleÍrçao de uma rrânrúaim,is;iJ;d;. oera os problemas do Limbre, e isto é ralvez a conriibuiçàoL* ;""p."** à" .ilir elecrónica para o deseúvolvin'en'o da Ünsu4em

' uir uma obra urilizando aPenasmus'(âl e cla musrcologa. Mas pode'qe coo5úsuc€ssõ(< de trmbÍes.''

Si bni.urisemos uma úlLimr oposição lâpidar enue som e ruído

diriamoioue se dnrincuem pclas dimeosôes horizooral e v€nicJ Porque as

müriolas ìudidades ioo-" a. ,- ruido são dadó simuftareamenre oa

.i"".;. . ; comolexjdade dos harrnónicos Exrctameore porque falta ao

ru?do a dimensao ìempoÌal. Russolo, como vimos, pioPurhâ trandormáìo

ern soÍn, por alonganrento, e Súaeffer teve a possibiüdade de apreciar a

;q,re.a di un som isolado gras. à e<periéocia addenral da espÍa fechadr'

Vimos aqui em que reside a mals protunda uLopir dâ música elecúo-acúdca:ter tentado fazer uma alte iredutivelmente tempo$l com um mâleíâl

Mas, ao descobtir a riqueza inÍnita dos tiúbres, os utüchstas' € os seus

zu, es.orcs forarn tenrados por uma ouua uropia: cri,r umâ oota forma de

mús,a pua. Rursoto soúa com umr músicâ dc ruídos purosl Schaeffet'rpücandì ao soooro a redução eidética dos fenomenólogos soúâ (om uÍDa

-ru." nt. drs implrezas da anedota: Cage soúa com um mundo

haÍÍDonioso onde a difereng entre a vida, a mÌisica e os Ìuídos é âboiìda'

SOM/RUIDO

MT não, * eoqe fâzler urÌÌa pura música àe tnbres, porqtue a míuìctüntrenal nõo ,.rrrté. Estamos i$€mediav€lÍDmt€ condenados ao mundo dornirto. do,4zare e do enue. _É talvez o que. após o esquerdismo .ruidìsLar,âs oDr,l e lefl roa(ús, rLâs.mars corueguidas enconraram: Lrm eqúrhrio díicilcnúe os paíámeúos uadìciond( da raúsic, e as Docar conquüta! obüdaç petaexten)ào do musi,al â domÍnios aré eoLào inaceiúv€is

E se estivéssemos a idciar uma no1â idade cÌársica? IJ.,J. N.l.

L96t

c"g., J.

tt lzzstCp,hwtú d? tbòtb.e à "6 jc,t,, ú \. únortq @ry). L ncíqú. ld.antu, kt tr't cwtt, /." dzúe:. wt. l.INB*, pe6, Dp. Jr4.Bu

\976 Pat kr Òàew: éltÌerié$ eú Deìél Ch6/a, B.lÍotè, p{b.ChiÕ!, M., c Reibcl, G,

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In_ì & rrzt, Prs6 Urv.uirans d. tuú. pais.

r97t L't".iítiÒ', Pte* Unfi6itaiEs dc !@ce. !db,

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SOM/BUÌDO

nt ìrõ, M). {4jjpll@ t@jr�ciz] ÌoÌtl, cosrituldo ctu@tc por úais do @e o.t4t!&4!dr 44qyúiá,8 , Cl4li-s aâg_a!c9?!

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