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Português Questões comentadas e organizadas por assuntos 4ª edição revista e atualizada Claudia Kozlowski CEBRASPE 2021

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Português☑ Questões comentadas eorganizadas por assuntos

4ª ediçãorevista e atualizada

Claudia Kozlowski

CEBRASPE

2021

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5PRONOMES

Como o nome já indica, pronome é o vocábulo que ica no lugar do nome (chamado de pronome substantivo) ou o determina (pronome adjetivo).

É um dos elementos responsáveis pela coesão textual, ou seja, pela liga-ção entre os elementos da oração e delas em relação ao texto.

Assim como os conectivos (conjunção e preposição – a serem estuda-dos em capítulos próprios), são responsáveis por estabelecer nexo entre as ideias do texto.

A incoerência de um texto muitas vezes se deve à falta de coesão, exata-mente porque a leitura ica prejudicada pelo emprego inadequado de pro-nomes, conjunções ou outros elementos textuais, inclusive a pontuação. Por exemplo, o emprego de um pronome inadequado pode levar o leitor a uma conclusão diversa da que se pretendia dar, ou até mesmo a nenhuma conclu-são (alguns chamam de “ruptura semântica”).

Muitas questões da Cebraspe (Cespe) abordam esse conhecimento. A maior parte das questões dessa banca exige do candidato a identi icação das referências textuais. Para isso, a compreensão correta do texto e o domí-nio do signi icado de seus elementos são decisivos.

1. (SEAD-PA/2007)

1 A assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888,decretou o fi m do direito de propriedade de uma pessoa sobreoutra, porém o trabalho semelhante ao escravo se manteve de

4 outra maneira: pela servidão, ou “peonagem”, por dívida.Nela, a pessoa empenha sua própria capacidade de trabalhoou a de pessoas sob sua responsabilidade (esposa, fi lhos, pais)

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7 para saldar uma conta. E isso acontece sem que o valor doserviço executado seja aplicado, de forma razoável, noabatimento da conta, ou que a duração e a natureza do serviço

10 estejam claramente defi nidas.O sociólogo norte-americano Kevin Bales,considerado um dos maiores especialistas no tema, traça em

13 seu livro Disposable People: New Slavery in the GlobalEconomy (Gente Descartável: A Nova Escravidão naEconomia Mundial) paralelos entre os dois sistemas de

16 escravidão, que foram adaptados pela Repórter Brasil para a realidade brasileira.

Julgue a assertiva abaixo:

( ) O vocábulo “a”, em “ou a de pessoas sob sua responsabilidade” (L.6), refere-se ao termo anterior “capacidade de trabalho” (L.5).

e Comentário.Já comentamos que os pronomes exercem um papel decisivo na construção de um texto coeso e coerente, a partir de indicações corretas aos seus elementos, quer antecedentes (referência anafórica), quer subsequentes (referência cata-fórica). Na passagem “Nela, a pessoa empenha sua própria capacidade de trabalho ou a de pessoas sob sua responsabilidade”, lança-se mão desse recurso linguístico para evitar a repetição de expressão “capacidade de trabalho”, já presente no texto, com a sua substituição pelo pronome demonstrativo “a”. Normalmente, os pronomes demonstrativos “o, a, os, as” vêm próximos da pre-posição “de”, do pronome relativo “que” ou de um adjetivo. Isso não é uma re-gra, mas uma boa dica para sua identi icação:

“Das notas que possuo, a que possui maior valor é a de cinquenta reais. Nota de cem é a mais rara”.

Item certo

2. (Banco do Brasil/2002) De olho no que julgam ser a maior oportunidade de ne-gócios nos próximos anos em todo o mundo, as empreiteiras brasileiras articulama formação de grandes consórcios a fi m de disputar com mais chances de vitória aslicitações para a ampliação do canal do Panamá. O lobby que o presidente Fernando Henrique Cardoso fez pessoalmente em março, durante visita ao Panamá, é uma cla-ra manifestação de que as empresas brasileiras contam com boas chances de serem escolhidas.

Daniel Rittner. “Ampliação do canal do Panamá atrai empreiteiras”. In: Valor Econômico, 3/5/2002, p. A12.

Considerando o texto acima, julgue o item abaixo:

( ) O pronome o, integrante da contração “no” (L.1), remete, pelos mecanismos de coesão textual, a “ampliação do canal do Panamá” (L.3-4).

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5 • PRONOMES

e Comentário.O pronome demonstrativo “o”, da construção “De olho no que julgam ser a maior oportunidade de negócios nos próximos anos” se refere à estrutura que será apre-sentada mais adiante: “a ampliação do canal do Panamá”. Esse é um exemplo de utilização de pronome como elemento de referência catafórica (“para frente”).Esse é um processo de coesão por referência, ou seja, um elemento (que pode ser um pronome pessoal, possessivo, demonstrativo) retoma (no passado) ou remete (no futuro) outro elemento, evitando sua repetição.Há outros mecanismos de coesão textual como:– correlação lexical: o emprego de sinônimos ou palavras que correspon-

dam ao termo a ser retomado: “O casal adquiriu uma poltrona, mas o móvel [=a poltrona] veio com problemas”;

– iguras de linguagem: metonímia, por exemplo, permite empregar uma palavra no lugar de outra, dada a relação entre elas: “O Senado [=os senado-res], por maioria, aprovou o projeto de lei”;

– termos e expressões vicárias: palavras (normalmente pronomes demons-trativos como “o” ou “isso”) ou expressões (como “fazer isso”) que substi-tuem o antecedente: “Falei que o abandonaria e vou fazê-lo (abandoná-lo)”.

Item certo

3. (TSE – Técnico/2007)

1 A função da oposição em uma sociedade democráticaconsiste em denunciar a corrupção, acompanhar asinvestigações e avaliar os projetos e iniciativas

4 governamentais, propondo alternativas. A crítica, e não aadesão, é sua tarefa primordial. Se uma sociedade cessa de teruma verdadeira oposição, ela caminha para uma solução

7 autoritária. A governabilidade só existe verdadeiramente comuma oposição atuante, que sinalize os problemas existentes ediscuta os seus encaminhamentos.

Denis Lerrer Rosenfi eld. O Globo, 27/11/2006, p. 7 (com adaptações).

Julgue o item a seguir:

( ) Na linha 6, o pronome “ela” refere-se a “verdadeira oposição”.

e Comentário.Em “Se uma sociedade cessa de ter uma verdadeira oposição, ela caminha para uma solução autoritária”, o pronome pessoal reto “ela” da oração principal re-fere-se a “uma sociedade”, presente na oração antecedente, e não verdadeira oposição. Ficaria enfadonho o texto se houvesse a repetição do nome. Então, em seu lugar, foi usado um pronome. Essa foi uma questão bem simples, mas que serve para introduzir o conceito.Tome bastante cuidado para identi icar corretamente o referente do pronome explorado pelo examinador – algumas vezes, para isso, é preciso compreender o texto.

Item errado

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4. (FUB – Nível Superior/2014)

1 Há muito tempo a sociedade demonstra interesse porassuntos relacionados à ciência e à tecnologia. Na verdade,desde a pré-história, o homem busca explicações para a

4 realidade e os mistérios do mundo que o cerca. Observou osmovimentos das estrelas, manuseou o fogo, aprendeu a usarferramentas em seu favor, buscou respostas para os fenômenos

7 da natureza. Independentemente dos mitos, lendas e crençasque moldaram as culturas mais primitivas, o pensamentohumano sempre esteve, de alguma forma, atrelado ao

10 conhecimento científi co, que se renovou e se disseminou como passar dos séculos.Mesmo com todo o aparato tecnológico, que tem

13 possibilitado o acesso praticamente instantâneo à informação,questionam-se tanto aspectos quantitativos como qualitativosdos conteúdos sobre ciência veiculados pelos meios de

16 comunicação de massa. A divulgação, por meio do jornalismo científi co, está longe do ideal. Na grande mídia, a ciência e a tecnologia fi cam relegadas a segundo plano, restritas a notas e19 notícias isoladas, em uma cobertura que busca sempre valorizar

o espetáculo e o sensacionalismo. A televisão aberta, principalveículo condutor de conteúdos culturais, não contribui como

22 deveria para o processo de “alfabetização científi ca”, exibindoprogramas sobre o tema em horários de baixa audiência.Mas até que ponto é relevante incluir a sociedade de

25 massa na esfera de discussão de um grupo seleto de estudiosos?A promoção da informação científi ca contribui para o processode construção da cidadania, quando possibilita a ampliação do

28 conhecimento e da compreensão do público leigo a respeito do processo científi co e de sua lógica, no momento em que

constrói uma opinião pública informada sobre os impactos do31 desenvolvimento científi co e tecnológico sobre a sociedade e

quando permite a ampliação da possibilidade e da qualidade departicipação da sociedade na formulação de políticas públicas

34 e na escolha de opções tecnológicas, especialmente em um paísonde a grande maioria dos investimentos na área são públicos.

Luiz Fernando Dal Pian Nobre. Do jornal para o livro: ensaios curtos de cientistas. Internet: <www.portcom.intercom.org.br> (com adaptações).

Julgue o item que se segue, relativo às estruturas linguísticas do texto.

( ) Em “o cerca” (L.4), o pronome “o”, que se refere ao termo “o homem” (L.3), exerce a função de complemento da forma verbal “cerca”.

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5 • PRONOMES

e Comentário.Sempre devemos voltar ao texto para realizar a análise do trecho sugerido pelo examinador, não se esqueçam disso!!!“Na verdade, desde a pré-história, o homem busca explicações para a realidade e os mistérios do mundo que o cerca.” Sim, o pronome “o” retoma o termo “homem”. Por ser um verbo transitivo direto (cercar algo/alguém), esse pronome exerce a função sintática de OBJETO DIRE-TO. Todas as a irmações do examinador estão corretas.

Item certo

5. (SEAD-PA/2007)

1 Só algumas crianças (as que não vasculham os sítios da

Internet) acreditam que os países ricos, que nos enviam suas

ONGs e seus técnicos, estão preocupados com o nosso bem-

4 estar. Estão preocupados, sim, em preservar áreas virgens

para seu benefício futuro. Contam com elas, se lhes for

cortado o suprimento de óleo e gás do Oriente Médio. Hoje,

7 lhes interessa proclamar que as grandes árvores amazônicas

são os alvéolos pulmonares do planeta. Amanhã, quando lhes

convier, seus cientistas concluirão que o caule e as folhas da

10 cana-de-açúcar são muito mais efi cientes para a

transformação do carbono em oxigênio e energia. Enquanto

isso, sem que ajamos em defesa de nosso território, eles vão

13 comprando, a preço de qualquer coisa, vastas áreas da Hileia.

Por tudo isso, convém-nos, sem manifestações histéricas de

xenofobia, exercer autoridade soberana sobre nosso espaço

16 geográfi co.

Julgue a assertiva abaixo:

( ) A substituição de “lhes interessa” (L.7) pela expressão interessa a eles mantém a correção gramatical e as informações originais do período.

e Comentário.A quem interessa proclamar que as grandes árvores amazônicas são os alvéolos pulmonares do planeta?Resposta: Interessa aos países ricos.Assim, em vez do pronome oblíquo “lhes”, poderíamos substituir o nome por outro pronome oblíquo “a eles”. Note que, se o antecedente fosse “as ONGs”, a substituição proposta seria inválida (seria “a elas”, já que a sigla signi ica “Orga-nizações Não-Governamentais”, um substantivo feminino).A partir do contexto, inferimos que os países ricos, ao enviar essas organizações e seus técnicos à Amazônia, demonstram sua preocupação na preservação de

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áreas virgens para seu próprio bene ício futuro. Assim, interessa a eles – os países – aquele tipo de discurso.Mais uma vez, alertamos para a correta identi icação do referente pronominal, de forma a não errar uma questão simples.

Item certo

6. (EMAP – Analista Portuário/2018)

Texto

O Juca era da categoria das chamadas pessoas sensíveis, dessas a que tudo lhes toca e tange. Se a gente lhe perguntasse: “Como vais, Juca?”, ao que qualquer pes-soa normal responderia “Bem, obrigado!” – com o Juca a coisa não era assim tão simples. Primeiro fazia uma cara de indecisão, depois um sorriso triste contraba-lançado por um olhar heroicamente exultante, até que esse exame de consciência era cortado pela voz do interlocutor, que começava a falar chãmente em outras coisas, que, aliás, o Juca não estava ouvindo... Porque as pessoas sensíveis são as criaturas mais egoístas, mais coriáceas, mais impenetráveis do reino animal. Pois, meus amigos, da última vez que vi o Juca, o impasse continuava... E que impasse!

Estavam-lhe ministrando a extrema-unção. E, quando o sacerdote lhe fez a tre-menda pergunta, chamando-o pelo nome: “Juca, queres arrepender-te dos teus pecados?”, vi que, na sua face devastada pela erosão da morte, a Dúvida começa-va a redesenhar, reanimando-a, aqueles seus trejeitos e caretas, numa espécie de ridícula ressurreição. E a resposta não foi “sim” nem “não”; seria acaso um “talvez”, se o padre não fosse tão compreensivo. Ou apressado. Despachou-o num átimo e absolvido. Que fosse amolar os anjos lá no Céu!

E eu imagino o Juca a indagar, até hoje:

– Mas o senhor acha mesmo, sargento Gabriel, que ele poderia ter-me absol-vido?

Mário Quintana Prosa & Verso Porto Alegre: Globo, 1978, p 65 (com adaptações)

Com relação às estruturas linguísticas e aos sentidos do texto, julgue o item a seguir.

( ) Caso seja suprimido o pronome “lhes”, a correção gramatical do texto será manti-da, embora o trecho se torne menos enfático.

e Comentário.PRONOME DEMONSTRATIVO E OBLÍQUO, NA FUNÇÃO DE OBJETO INDIRETO PLEONÁSTICONa construção “... chamadas pessoas sensíveis, dessas a que tudo LHES toca e tan-ge”, o pronome demonstrativo DESSAS retoma semanticamente o substantivo PESSOAS e, por sua vez, o pronome relativo QUE retoma o mesmo antecedente (“pessoas”), exercendo a função sintática de OBJETO INDIRETO dos verbos TO-CAR e TANGER (por isso, a preposição “a” antecede o relativo). Em seguida, houve o emprego do pronome oblíquo LHES com mera função en-fática, uma vez que já havia, na oração, um termo a exercer a função de com-plemento verbal indireto (o pronome relativo “que”). A retirada do pronome oblíquo, portanto, não prejudicaria a correção gramatical, por ser pleonástico,

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5 • PRONOMES

mas afetaria a ênfase que esse pronome provoca na construção. Por isso, a a ir-mação do examinador está certa.

Item certo

7. (IRB – Diplomata/2018)

Texto X

A facilidade de comunicações acabou com esses tanques em que fl oresciam as diferentes culturas. Quando antes se olhava o mapa-múndi e via-se cada país de um colorido diferente, podia-se tomar isso ao pé da letra. É verdade que o mundo continuou a ser uma colcha de retalhos; mas são todos da mesma cor. Bombaim, Roma, Tóquio, que se escondiam, cada um com seu peculiar mistério, nos compartimentos estanques da sua própria civilização, agora, a julgar pelos fi lmes, estão perfeitamente padronizados, universalizados.

E, no mundo de hoje, para desconsolo dos descendentes de Sindbad e de Mar-co Polo, a única cor local das cidades famosas são os turistas.

Mário Quintana. Mapa-múndi. In: Prosa&Verso. Porto Alegre: Globo, 1978, p. 60.

Com relação aos aspectos linguísticos do texto X, julgue (C ou E) o item a seguir.

( ) Caso o pronome “esses” (L.1) fosse substituído por estes, seriam mantidas a cor-reção gramatical do período e as principais informações veiculadas pelo texto, mas haveria maior distanciamento do autor com relação aos “tanques em que fl oresciam as diferentes culturas”

e Comentário.Obviamente, os “tanques em que loresciam as diferentes culturas” não existem isicamente, por isso a troca de ESSES por ESTES seria possível, caso em que

consideramos a aproximação hipotética do autor em relação ao objeto.O erro da a irmação está na ideia de que o pronome ESTES promoveria um distanciamento, ocorrendo, na verdade, o oposto disso. O emprego do prono-me ESTES promove a aproximação do autor em relação ao objeto, e não seu distanciamento.

Item errado.

8. (SEAD-PA/2007)

1 Foi concedida pela justiça federal liminar aoMinistério Público Federal (MPF) impedindo a criação daFloresta Estadual da Amazônia e da Área de Proteção

4 Ambiental Santa Maria de Prainha. Para o MPF, a criação dasduas áreas, anunciadas pelo governo do estado do Pará comoiniciativa de preservação, representa, na verdade, um ataque

7 ao modo de vida das populações tradicionais da região eprivilegia um modelo de exploração predatório da fl oresta

amazônica.10 A região abrangida pela liminar da justiça federal fi ca

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no coração do Pará, servida pelos rios Tamuataí, Uruará e Guajará e ainda possui grandes extensões de fl oresta primária13 e potencial para atividades extrativistas. Por isso, desde 2003, o IBAMA faz estudos para a criação da Reserva Extrativista Renascer, a pedido dos ribeirinhos que lá vivem.16 Catorze comunidades reivindicam a criação da Resex, um modelo de preservação que garante títulos de posse da terra para os moradores tradicionais.19 De acordo com o levantamento do IBAMA, ancestrais dos moradores atuais já viviam na área em 1880. Eles começaram a ser assediados por madeireiras, recentemente, o22 que já provoca confl itos, como mostra a recente denúncia feita pela Procuradoria da República em Santarém de que policiais militares estavam apoiando a extração ilegal de25 madeira na área. A chegada da atividade madeireira trouxe a exploração dos trabalhos dos comunitários a preço vil, a destruição da28 paisagem natural, a degradação da mata ciliar pela ação de balsas transportadoras de toras e revolvimento do fundo dos rios, modifi cando os aspectos físicos, químicos e biológicos31 dos ecossistemas fl uviais, de acordo com registro feito no pedido de liminar do MPF.

MPF/PA obtém liminar proibindo criação da Floresta Estadual. Internet: <www.prpa.mpf.gov.br> (com adaptações).

No que se refere aos processos coesivos de referência no texto, assinale a opção cor-reta:

A) A expressão “região abrangida pela liminar da justiça federal” (L.10) refere-se à mesma região mencionada na linha 7.

B) O termo “que” (L.17) refere-se, sintaticamente, a “criação” (L.16).

C) A forma pronominal “Eles” (L.20) retoma o termo “ancestrais” (L.19).

D) Na linha 21, o pronome “o” está empregado em referência ao termo anterior “re-centemente”.

e Comentário.Todas as opções exploram referência textual por pronomes. Vejamos uma a uma.A) Para veri icar a correção de tal assertiva, precisaríamos ler atentamente o

primeiro parágrafo do texto.

Foi concedida pela justiça federal liminar ao Ministério Público Federal (MPF) impedindo a criação da Floresta Estadual da Amazônia e da Área de Proteção Ambiental Santa Maria de Prainha. Para o MPF, a criação das duas áreas, anunciadas pelo governo do estado do Pará como iniciativa de preser-vação, representa, na verdade, um ataque ao modo de vida das populações

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5 • PRONOMES

tradicionais da região e privilegia um modelo de exploração predatório da loresta amazônica.

A liminar citada no texto abrange a área da Floresta Estadual da Amazônia e a de Proteção Ambiental Santa Maria de Prainha. O Ministério Público Federal entendeu tal criação como um ataque à vida das populações tradicionais dessa região. Por isso, está correta a proposição da opção A, uma vez que a liminar concedida pela justiça federal trata da região cuja população teria, no entender do MPF, sua vida modi icada com a criação dessas reservas.Vejamos os erros das demais opções.B) Vamos reproduzir a passagem em comento:

Catorze comunidades reivindicam a criação da Resex, um modelo de preser-vação que garante títulos de posse da terra para os moradores tradicionais.

O pronome relativo, como o próprio nome sugere, estabelece uma relação com um referente, representado por um termo já mencionado, substituindo-o na oração adjetiva. Em “um modelo de preservação que garante títulos de posse da terra para os moradores tradicionais”, o pronome relativo “que” está sintatica-mente no lugar de “modelo de preservação” (“um modelo de preservação garan-te títulos de posse da terra...”), e não de “criação”, conforme a irmado na opção.C) Leia com atenção o seguinte trecho:

De acordo com o levantamento do IBAMA, ancestrais dos moradores atuais jáviviam na área em 1880. Eles começaram a ser assediados por madeireiras,recentemente, o que já provoca con litos...

O examinador sugere que o pronome pessoal reto “Eles” estaria se referindo ao antecedente “ancestrais”. Note, contudo, que a expressão que se segue (“recen-temente”) acaba por sepultar qualquer chance de essa proposição ser aceita. Como é que os ancestrais dos moradores poderiam ser RECENTEMENTE asse-diados por madeireiras?!?! Esse pronome possui como referente o substantivo “moradores atuais”.D) A passagem em análise é:

Eles [os moradores atuais] começaram a ser assediados por madeireiras, re-centemente, o que já provoca con litos....

Na oração “o que já provoca con litos”, a expressão “o que” refere-se ao assédio aos moradores pelas madeireiras. Trata-se de um termo vicário, que retoma a ideia apresentada na oração anterior. Por isso, a expressão mantém-se neutra, sem lexão de gênero ou número. Para compreender essa denominação, lem-bre-se daquele padre que substitui o pároco: o vigário. “Vigário” ou “vicário” é aquele que faz as vezes do outro, segundo Aurélio. Um termo vicário é o que retoma o conjunto de ideias apresentado anteriormente.Mais sobre isso será tratado nas próximas questões.

Gabarito: A

9. (TCU – Analista/2007)

1 Veja – Dez anos não é tempo curto demais paramudanças capazes de afetar o clima em escala global?Al Gore – Não precisamos fazer tudo em dez anos.

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4 De qualquer forma, seria impossível. A questão é outra. De acordo com muitos cientistas, se nada for feito, em dez anos já não teremos mais como reverter o processo de degradação7 da Terra. Os estudos mostram que é necessário iniciar imediatamente uma forte redução na emissão de gases poluentes. O primeiro objetivo seria estabilizar a quantidade10 de poluentes na atmosfera. E, então, quem sabe, depois de cinco anos, começar a reduzir o montante de CO2 no planeta.

Veja, 11/10/2006 (com adaptações).

Com referência às ideias e às estruturas linguísticas do texto acima, que é parte de uma entrevista de Al Gore à Revista Veja, julgue o seguinte item:

( ) O pronome isso poderia ser inserido imediatamente antes de “seria impossível” (L.4). Nesse caso, o pronome retomaria a ideia expressa em “fazer tudo em dez anos” (L.3).

e Comentário.A função do pronome “isso” seria exatamente a indicada pelo examinador – retomar as ideias expressas anteriormente, como faz um pronome em função vicária.

Item certo

10. (TCU – Auditor/2009)

1 Um governo, ou uma sociedade, nos tempos modernos, está vinculado a um pressuposto que se apresenta como novo em face da Idade Antiga e Média, a saber: a4 própria ideia de democracia. Para ser democrático, deve contar, a partir das relações de poder estendidas a todos os indivíduos, com um espaço político demarcado por regras7 e procedimentos claros, que, efetivamente, assegurem o atendimento às demandas públicas da maior parte da população, elegidas pela própria sociedade, através de suas10 formas de participação/representação. Para que isso ocorra, contudo, impõe-se a existência e a efi cácia de instrumentos de refl exão e o debate público13 das questões sociais vinculadas à gestão de interesses coletivos – e, muitas vezes, confl itantes, como os direitos liberais de liberdade, de opinião, de reunião, de associação16 etc. –, tendo como pressupostos informativos um núcleo de direitos invioláveis, conquistados, principalmente, desde o início da Idade Moderna, e ampliados pelo19 Constitucionalismo Social do século XX até os dias de hoje.

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5 • PRONOMES

Fala-se, por certo, dos Direitos Humanos e Fundamentais de todas as gerações ou ciclos possíveis.

Rogério Gesta Leal. Poder político, estado e sociedade. Internet: <www.mundojuridico.adv.br> (com adaptações).

No que se refere à organização das ideias e a aspectos gramaticais do texto acima, julgue os itens subsequentes:

( ) O pronome “isso” (L.11) exerce, na organização dos argumentos do texto, a função coesiva de retomar e resumir o fato de que as “demandas públicas da maior parte da população” (L.8-9) são escolhidas por meio de “formas de participação/repre-sentação” (L.10).

e Comentário.O erro, agora, foi na identi icação do elemento antecedente do pronome.Na verdade, ele retoma de forma vicária toda a oração anterior:

“Para ser democrático, deve contar, a partir das relações de poder estendidas a todos os indivíduos, com um espaço político demarcado por regras e proce-dimentos claros, que, efetivamente, assegurem o atendimento às demandas públicas da maior parte da população, elegidas pela própria sociedade, atra-vés de suas formas de participação/representação”.

Item errado

11. (TCU – Técnico/2004)

1 Em uma iniciativa inédita, dez grandes corporações assinaram um compromisso com o Fórum Econômico Mundial para divulgar regularmente o volume de suas4 emissões de gases poluentes. Com isso, elas se antecipam aos governos que ainda estão aguardando a entrada em vigor do protocolo de Kyoto. Pelo acordo, denominado Registro7 Mundial de Gases que Causam o Efeito Estufa, as multinacionais passam a informar o seu grau de poluição do meio ambiente, atendendo a expectativas de acionistas, que10 cobram mais transparência sobre o tema. Juntas, essas empresas são responsáveis pela emissão de 800 milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano, o que representa13 cerca de 5% das emissões mundiais.

O Globo, 23/1/2004, p. 30 (com adaptações).

A partir do texto acima e considerando aspectos marcantes da questão ambiental no mundo contemporâneo, julgue o item seguinte:

( ) As expressões “elas” (L.4), “as multinacionais” (L.7-8) e “essas empresas” (L.10-11) têm o mesmo referente: “dez grandes corporações” (L.1).

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PORTUGUÊS CEBRASPE Claudia Kozlowski

e Comentário.Logo no primeiro período do texto, são indicadas dez grandes corporações que assinaram o compromisso de divulgar regularmente o volume de suas emis-sões de gases poluentes. Nas referências posteriores a essas empresas, fez-se uso de expressões ou pronomes que as substituíssem, tais como as que foram indicadas no item:– linha 4: “Com isso, elas [= as dez grandes corporações] se antecipam aos gover-nos...”;– linhas 7 – 8: “Pelo acordo (...), as multinacionais [= as dez grandes corporações] passam a informar o seu grau de poluição do meio ambiente...”;– linhas 10 – 11: “Juntas, essas empresas [= as dez grandes corporações] são res-ponsáveis pela emissão de...”.Todos esses elementos formam uma cadeia coesiva, designando o mesmo refe-rente. Perfeita colocação.

Item certo

12. (TCU – Técnico/2004)

1 Eles andam bem vestidos, dirigem carrosnovos, estudam nas melhores escolas e faculdades.Mas foram atraídos para o crime. Policiais, promotores

4 e especialistas em segurança pública calculam quejovens das classes média e alta estão envolvidos emmetade das ocorrências registradas em todo o Distrito

7 Federal. Nas áreas nobres – Plano Piloto, Lago Sul eLago Norte –, os fi lhos da elite respondem por 70%dos casos de furto no interior de veículos, porte e uso

10 de armas, além de tráfi co de entorpecentes.No meio policial, esses criminosos sãochamados de bico fi no. São membros de famílias com

13 alto poder aquisitivo, a maioria são homens e têm idadeentre 18 e 25 anos. Concluíram o ensino médio, cursamuma faculdade ou já se formaram. E agem como

16 bandidos.

Correio Braziliense, 14/3/2004, p. 25 (com adaptações).

Considerando o texto acima e o tema nele focalizado, com suas múltiplas implicações, julgue o item subsequente:

( ) A quem o pronome “Eles” (L.1) se refere vem explicitado, posteriormente no texto, à linha 5.

e Comentário.Com o propósito de prender a atenção do leitor, o autor somente indica o refe-rente do pronome pessoal “Eles” (do primeiro período do texto) em passagem posterior – são os “jovens das classes média e alta estão envolvidos em metade

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5 • PRONOMES

das ocorrências registradas em todo o Distrito”, nas linhas 5 a 7 do texto, tam-bém chamados de “os ilhos da elite” e “esses criminosos” em outras passagens do texto.

Item certo

13. (STM – Analista Judiciário/2018)

Texto 6A1AAA

Está demonstrado, portanto, que o revisor errou, que se não errou confundiu, que se não confundiu imaginou, mas venha atirar-lhe a primeira pedra aquele que não tenha errado, confundido ou imaginado nunca. Errar, disse-o quem sa-bia, é próprio do homem, o que signifi ca, se não é erro tomar as palavras à letra, que não seria verdadeiro homem aquele que não errasse. Porém, esta suprema máxima não pode ser utilizada como desculpa universal que a todos nos absol-veria de juízos coxos e opiniões mancas. Quem não sabe deve perguntar, ter essa humildade, e uma precaução tão elementar deveria tê-la sempre presente o re-visor, tanto mais que nem sequer precisaria sair de sua casa, do escritório onde agora está trabalhando, pois não faltam aqui os livros que o elucidariam se tivesse tido a sageza e prudência de não acreditar cegamente naquilo que supõe saber, que daí é que vêm os enganos piores, não da ignorância. Nestas ajoujadas estan-tes, milhares e milhares de páginas esperam a cintilação duma curiosidade inicial ou a fi rme luz que é sempre a dúvida que busca o seu próprio esclarecimento. Lancemos, enfi m, a crédito do revisor ter reunido, ao longo duma vida, tantas e tão diversas fontes de informação, embora um simples olhar nos revele que estão faltando no seu tombo as tecnologias da informática, mas o dinheiro, desgraça-damente, não chega a tudo, e este ofício, é altura de dizê-lo, inclui-se entre os mais mal pagos do orbe. Um dia, mas Alá é maior, qualquer corretor de livros terá ao seu dispor um terminal de computador que o manterá ligado, noite e dia, um-bilicalmente, ao banco central de dados, não tendo ele, e nós, mais que desejar que entre esses dados do saber total não se tenha insinuado, como o diabo no convento, o erro tentador.

Seja como for, enquanto não chega esse dia, os livros estão aqui, como uma galáxia pulsante, e as palavras, dentro deles, são outra poeira cósmica fl utuando, à espera do olhar que as irá fi xar num sentido ou nelas procurará o sentido novo, porque assim como vão variando as explicações do universo, também a senten-ça que antes parecera imutável para todo o sempre oferece subitamente outra interpretação, a possibilidade duma contradição latente, a evidência do seu erro próprio. Aqui, neste escritório onde a verdade não pode ser mais do que uma cara sobreposta às infi nitas máscaras variantes, estão os costumados dicionários da língua e vocabulários, os Morais e Aurélios, os Morenos e Torrinhas, algumas gramáticas, o Manual do Perfeito Revisor, vademeco de ofício [...].

José Saramago. História do cerco de Lisboa. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 25-6.

Ainda no que se refere aos aspectos linguísticos do texto 6A1AAA, julgue o item que se segue.

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PORTUGUÊS CEBRASPE Claudia Kozlowski

( ) O emprego de “neste” decorre da presença do vocábulo “Aqui”, de modo que sua substituição por nesse resultaria em incorreção gramatical.

e Comentário.Aproveitamos essa questão para tratar de algumas possibilidades de emprego dos pronomes demonstrativos.

PRONOMES DEMONSTRATIVOS

Os pronomes demonstrativos possuem duas funções linguísticas:

FUNÇÃO DÊITICA - indicar a posição dos seres no espaço e no tempo, chamada de função dêitica:

M ao se referir ao momento presente (referência temporal) ou a algo que está próximo do falante (referência espacial), usam-se este, esta, isto;

M em relação a momento passado (temporal) ou próximo do ouvinte (espacial), usam-se esse, essa, isso;

M para se referir a momentos distantes (tanto no futuro quanto no passado – temporal) ou a algo que está distante dos dois (falante e ouvinte), usam-se aquele, aquela, aquilo.

Exemplos:Naquela época (período distante), usava-se espartilho.Naquele ano de 1969, o país foi submetido a uma das piores ditaduras da história universal.Neste momento, estão todos dormindo (momento atual).Nesse im de semana (o que passou), fomos ao teatro.Neste im de semana (o que está por vir), iremos ao teatro.

É da essência dos pronomes demonstrativos esse caráter dêitico, ain-da que não seja exclusividade sua. Outros pronomes, como os pessoais, por exemplo, alguns advérbios (aqui, ali, agora) e substantivos também se pres-tam a essa função linguística.

FUNÇÃO ANAFÓRICA – substituir elementos textuais em referência ana-fórica (se o termo for antecedente ao pronome) ou catafórica (em caso de termo referente após o pronome).

Quando houver mais de um elemento textual aos quais iremos fazer men-ção, podemos usar “este” para o mais próximo e “aquele” para o mais distante.

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5 • PRONOMES

Paulo e Mauro foram aprovados no concurso. Este (Mauro) irá para Porto Alegre, enquanto aquele (Paulo), para Manaus.Estes argumentos [os que foram mencionados imediatamente antes desta ci-tação] se contrapõem àqueles apresentados no início do debate.

Podemos, então, resumir o emprego dos pronomes demonstrativos em referências textuais:

1. Quando um pronome demonstrativo faz referência a algo já mencio-nado no texto, ou seja, a algo que está no “paSSado” do texto, deve-se usar ESSE/ESSA/ISSO (com o SS do paSSado). Se a referência ain-da vier a ser apresentada (pertence ao fuTuro), usa-se ESTE/ESTA/ISTO (com o T do fuTuro) – gostou dessa dica mnemônica?

2. Quando se citam dois elementos, retoma-se o último, ou seja, o mais próximo, pelo pronome “este” (ou “esta”, “estes”, “es tas”). O primeiro elemento citado, isto é, o mais distante, é retomado por “aquele” (ou suas lexões). Exemplo: “João e Pedro farão a prova para o Tribunal de Contas da União. Este para Analista e aquele para Técnico”. Nes-ta construção, “este” é o referente mais próximo (Pedro) e aquele, o mais distante (João).

CUIDADO!

Modernamente, reduziu-se o rigor no emprego do pronome demonstrativo em referências textuais, inclusive em relação às provas (como vimos nesta questão, em que, mesmo se referindo à expressão já mencionada, usou o “este”), mas, em textos formais, como pareceres e provas dissertativas, deve-se observar o correto emprego dos pronomes demonstrativos.

De volta à questão, o emprego do pronome demonstrativo ESTE, em relação ao espaço, indica algo que está próximo do falante, o mesmo que acontece com o advérbio AQUI. Por isso, a troca por ESSE provoca incorreção, uma vez que ESSE indica algo que está longe do falante e próximo do ouvinte, equivalente a ALI. Como o examinador a irma que tal alteração provocaria incorreção grama-tical, a a irmativa está certa.

Item certo

14. (PMES/2007)

Momento num café

1 Quando o enterro passou

Os homens que se achavam no café

Tiraram o chapéu maquinalmente

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4 Saudavam o morto distraídosEstavam todos voltados para a vida

Confi antes na vida.7 Um, no entanto, se descobriu num gesto largo e demorado

Olhando o esquife longamenteEste sabia que a vida é uma agitação feroz e sem fi nalidade

10 Que a vida é traiçãoE saudava a matéria que passavaLiberta para sempre da alma extinta.

Manuel Bandeira. In: Antologia poética. 7.ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 103.

Em relação às ideias e às estruturas linguísticas do texto acima, julgue o item que se segue:

( ) O pronome “Este” (v.9) é utilizado como recurso de coesão textual e substitui o termo “esquife” (v.8).

e Comentário.Sem saber o que signi ica a palavra “esquife”, o candidato poderia se encontrar em apuros para a irmar se tal colocação estaria certa ou errada.

“Esquife” nada mais é do que “caixão”.

Sabendo isso, deduz-se que o pronome demonstrativo não estaria se referindo ao substantivo indicado pelo examinador, mas à pessoa que, “num gesto largo e demorado”, icou a olhar o cortejo.

Item errado

15. (TRT 10.ª REGIÃO – Analista/2005)

1 Desde que Montesquieu, no século XVIII, emO Espírito das Leis, defi niu as linhas básicas do sistemademocrático de governo, a ciência política não logrou

4 conceber, até os nossos dias, forma mais signifi cativa deexpressão da vontade de um povo no que se refere àconvivência em uma sociedade politicamente organizada

7 do que a estabelecida por ele, genialmente, na clássicatríplice separação dos poderes do Estado.O Estado, entidade inanimada e abstrata, que, ao se

10 realizar, materializa-se na concreção de formas, atos esentidos, traduz-se nesse imensurável complexo de ações quedão substância ao desejo de conformação política de uma

13 nação.

Internet: <http://www.stf.gov.br/noticias/imprensa>.

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5 • PRONOMES

Em relação ao texto acima, julgue os itens que se seguem:

( ) Em “a estabelecida” (L.7), subentende-se, como recurso de coesão textual, a elipse da palavra “forma”, citada na linha 4.

e Comentário.Note que, com o pronome demonstrativo antes do adjetivo, encontra-se latente a palavra “forma”:

“... a ciência política não logrou conceber, até os nossos dias, forma mais signi-icativa de expressão da vontade de um povo (...) do que a [FORMA] estabeleci-

da por ele, genialmente, na clássica tríplice separação dos poderes do Estado”.Evitou-se sua repetição, como bem a irmou o examinador, como um recurso de coesão textual, apondo, em seu lugar, o pronome demonstrativo “a”.

Item certo

( ) O pronome masculino singular “ele” (L.7) está sendo empregado como recurso coesivo que retoma o termo antecedente “povo” (L.5).

e Comentário.Quem estabeleceu, de forma genial, a clássica tríplice separação dos poderes? O povo? Não! Foi Montesquieu, escritor e ilósofo francês, célebre por sua teoria da separação dos poderes. Em função disso, está ERRADA a assertiva. Note a importância da perfeita com-preensão textual na identi icação das referências pronominais.

Item errado

16. (SEDF- Técnico em Gestão Educacional/2017)

Não têm conta entre nós os pedagogos da prosperidade que, apegando-se a certas soluções onde, na melhor hipótese, se abrigam verdades parciais, trans-formam-nas em requisito obrigatório e único de todo progresso. É bem carac-terístico, para citar um exemplo, o que ocorre com a miragem da alfabetização. Quanta inútil retórica se tem desperdiçado para provar que todos os nossos ma-les fi cariam resolvidos de um momento para o outro se estivessem amplamente difundidas as escolas primárias e o conhecimento do abc.

A muitos desses pregoeiros do progresso seria difícil convencer de que a alfa-betização em massa não é condição obrigatória nem sequer para o tipo de cul-tura técnica e capitalista que admiram. Desacompanhada de outros elementos fundamentais da educação, que a completem, é comparável, em certos casos, a uma arma de fogo posta nas mãos de um cego.

Sérgio Buarque de Holanda. Raízes do Brasil. 27.ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2015 (com adaptações).

Julgue o item a seguir, que trata de aspectos gramaticais do texto.

( ) O vocábulo “Quanta” classifi ca-se, na oração em que ocorre, como pronome inter-rogativo.

e Comentário.Vamos tratar, agora, dos pronomes inde inidos.

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PRONOMES INDEFINIDOSEssas são palavras que indicam, de forma imprecisa, genérica ou vaga,

um substantivo.

Apesar de pertencerem à classe gramatical de palavras variáveis, alguns deles podem não se lexionar:

VARIÁVEIS INVARIÁVEIS

algum, nenhum, todo, outro, muito, pouco, certo, vários, tanto, quanto, qualquer

alguém, ninguém, tudo, outrem, nada, quem, cada, algo

Após o substantivo a que se refere, o pronome inde inido assume valor negativo (algum funcionário ¹ funcionário algum).

Os pronomes interrogativos são uma categoria da espécie pronomes in-de inidos. Estão presentes em construções interrogativas, direta ou indire-tamente.

M Quantos convidados virão? M Quero saber quantos convidados virão.

Em relação a essa categoria, cabe ressaltar o posicionamento de um au-tor – Celso Cunha. Este gramático, em sua Nova Gramática do Português Con-temporâneo, entende que esses pronomes interrogativos são frequentemen-te usados em construções exclamativas, que, segundo o autor, “não passam muitas vezes de interrogações impregnadas de admiração”.

Assim, construções como a do enunciado, segundo o gramático, seriam iniciadas por pronomes interrogativos, ainda que não consigamos observar, em nenhum momento, aspecto interrogativo nelas.

De volta à questão, foi com base nesse posicionamento doutrinário que a banca examinadora, tendo anunciado o item como ERRADO (posição com a qual con-cordávamos), posteriormente alterou o gabarito de initivo e considerou CERTA a a irmação do item. Desse modo, o icialmente o item foi considerado CERTO em decisão inal.Se há divergência doutrinária, o correto seria anular a questão.

Item certo (em gabarito de initivo)

17. (FUB – Técnico em Laboratório/2015)

A língua que falamos, seja qual for (português, inglês...), não é uma, são vá-rias. Tanto que um dos mais eminentes gramáticos brasileiros, Evanildo Becha-ra, disse a respeito: “Todos temos de ser poliglotas em nossa própria língua”.

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5 • PRONOMES

Qualquer um sabe que não se deve falar em uma reunião de trabalho como se falaria em uma mesa de bar. A língua varia com, no mínimo, quatro parâ-metros básicos: no tempo (daí o português medieval, renascentista, do século XIX, dos anos 1940, de hoje em dia); no espaço (português lusitano, brasileiro e mais: um português carioca, paulista, sulista, nordestino); segundo a escola-ridade do falante (que resulta em duas variedades de língua: a escolarizada e a não escolarizada) e fi nalmente varia segundo a situação de comunicação, isto é, o local em que estamos, a pessoa com quem falamos e o motivo da nossa co-municação – e, nesse caso, há, pelo menos, duas variedades de fala: formal e informal.

A língua é como a roupa que vestimos: há um traje para cada ocasião. Há situações em que se deve usar traje social, outras em que o mais adequado é o casual, sem falar nas situações em que se usa maiô ou mesmo nada, quando se toma banho. Trata-se de normas indumentárias que pressupõem um uso “normal”. Não é proibido ir à praia de terno, mas não é normal, pois causa es-tranheza.

A língua funciona do mesmo modo: há uma norma para entrevistas de em-prego, audiências judiciais; e outra para a comunicação em compras no super-mercado. A norma culta é o padrão de linguagem que se deve usar em situações formais.

A questão é a seguinte: devemos usar a norma culta em todas as situações? Evidentemente que não, sob pena de parecermos pedantes. Dizer “nós fôramos” em vez de “a gente tinha ido” em uma conversa de botequim é como ir de terno à praia. E quanto a corrigir quem fala errado? É claro que os pais devem ensinar seus fi lhos a se expressar corretamente, e o professor deve corrigir o aluno, mas será que temos o direito de advertir o balconista que nos cobra “dois real” pelo cafezinho?

Língua Portuguesa. Internet: <www.revistalingua.uol.com.br> (com adaptações).

De acordo com o texto acima, julgue o seguinte item.

( ) O pronome “outra” (3º parágrafo) está empregado em referência ao termo “A lín-gua”.

e Comentário.Temos, aqui, um caso de pronome inde inido em referência textual. Para não errar, é preciso retomar o trecho em análise.

A língua funciona do mesmo modo: há uma norma para entrevistas de em-prego, audiências judiciais; e outra para a comunicação em compras no su-permercado. A norma culta é o padrão de linguagem que se deve usar em situações formais.

O referente é “norma” (há uma norma para entrevistas... e outra para a comuni-cação ....), e não “língua”.A leitura é importante para identi icar o referente do pronome.Item errado

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PORTUGUÊS CEBRASPE Claudia Kozlowski

18. (TRF 1ª Região – Técnico Judiciário/2017)

Texto CB2A2AAA

O pensamento do fi lósofo grego Sócrates, no século V a. C., marcou uma revi-ravolta na história humana. Até então, a fi losofi a procurava explicar o mundo com base na observação das forças da natureza. A partir de Sócrates, o ser humano voltou-se para si mesmo.

A preocupação do fi lósofo era levar as pessoas, por meio do autoconhecimen-to, à sabedoria e à prática do bem. Para o fi lósofo grego, o papel do educador é, portanto, o de ajudar o discípulo a caminhar nesse sentido, despertando sua cooperação para que ele consiga, por si próprio, iluminar sua inteligência e sua consciência.

Assim, o verdadeiro mestre não é um provedor de conhecimentos, mas al-guém que desperta os espíritos. Ele deve, segundo Sócrates, admitir a recipro-cidade ao exercer sua função iluminadora, permitindo que os alunos contestem seus argumentos da mesma forma que ele contesta os argumentos dos alunos. Para esse pensador, só a troca de ideias dá liberdade ao pensamento e a sua ex-pressão, condição imprescindível para o aperfeiçoamento do ser humano.

Sócrates. In: Coleção Grandes Pensadores. Revista Nova Escola. Ed. 179, jan.–fev./2005. Internet: <https://novaescola.org.br> (com adaptações).

A respeito das propriedades linguísticas do texto CB2A2AAA, julgue o item subse-quente.

( ) O pronome na forma verbal “voltou-se” denota reciprocidade, aspecto enfatizado pela expressão “para si mesmo”.

e Comentário.

PRONOME REFLEXIVO X RECÍPROCOOs pronomes oblíquos podem, na construção, apresentar valor REFLE-

XIVO, quando o autor ao mesmo tempo age e sofre a ação verbal, ou RECÍ-PROCO, quando os elementos do sujeito (dois ou mais) agem, simultanea-mente, uns em relação aos outros.

Na construção, o pronome SE tem valor REFLEXIVO, reforçado pela expressão “a si mesmo”, e não recíproco.

Item errado

19. (TC DF – Analista de Administração Pública/2014)

Na casa todos dormiam. Todos, menos a irmã.

Era quieta, essa irmã. Não cantava, não ria; mal falava. Trazia água do poço, varria o terreiro, passava a roupa, comia – pouco, magra que era – e ia para a cama

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5 • PRONOMES

sem dar boa-noite a ninguém. Dormia num puxado, um quartinho só dela; tinha nojo dos irmãos. Se, na cama, suspirava ou revirava os olhos, nunca ninguém viu. O nome dela era Honesta.

(Nome dado pela mãe. O pai queria-a ali, na roça; a mãe, porém, tinha espe-rança que um dia a fi lha deixasse o campo e fosse para a cidade se empregar na casa de uma família de bem. E que melhor nome para uma empregada do que Honesta? O pai acreditava no campo; a mãe secretamente ansiava pela cidade – por um cinema! Nunca tinha entrado num cinema! Minha fi lha fará isto por mim, dizia-se, sem notar que a fi lha vagueava por paisagens estranhas, distantes do campo, distantes da cidade, distantes de tudo. [...])

Moacyr Scliar. Doutor Miragem. Porto Alegre: L&PM, 1998, p. 22-3 (com adaptações).

Julgue o item subsequente, com base nas ideias e estruturas linguísticas do texto acima.

( ) No texto, o pronome “se”, em “dizia-se”, equivale, em sentido, à expressão a si mesma.

e Comentário.Observamos, na passagem, o pronome oblíquo usado de modo REFLEXIVO – era a mãe quem nunca havia ido a um cinema e por isso dizia a si mesma que um dia a ilha faria isso por ela.Assim, está correta a a irmação do examinador, no sentido de que o pronome em “dizia-se” equivale a “a si mesma”.

Item certo

20. (TCU – Analista/2007)

1 O 29 de julho de 2007 será lembrado como o dia emque os iraquianos usaram suas armas para comemorar. Apósmais de quatro anos vivendo em meio ao caos sob a

4 malsucedida ocupação norte-americana, eles tiveram fi nalmente um dia de alegria. Em todos os cantos do Iraque,

a população festejou a histórica vitória de sua seleção na7 fi nal da Copa da Ásia de futebol – com receita brasileira do

técnico Jorvan Vieira, que comemorou como “do Brasil” avitória por 1 a 0 sobre a Arábia Saudita, comandada por

10 Hélio dos Anjos, outro brasileiro.

Correio Braziliense, 30/7/2007, p. 18 (com adaptações).

A respeito das ideias e das estruturas do texto acima e também considerando aspec-tos da geopolítica do mundo nos dias atuais, julgue o seguinte item:

( ) O desenvolvimento das ideias do texto mostra que “sua” (L.6) refere-se a “Iraque” (L.5).

e Comentário.Estamos diante de mais uma questão polêmica.Como sempre, vamos ao texto: