classes de palavras: uma anÁlise comparativa · histórico das classes de palavras no âmbito...

63
UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES URI ERECHIM - DEPARTAMENTO DE LINGUÍSTICA, LETRAS E ARTES CURSO DE LETRAS THOMAS ROCHA CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA ERECHIM 2012

Upload: phungthu

Post on 06-Dec-2018

221 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES

– URI ERECHIM -

DEPARTAMENTO DE LINGUÍSTICA, LETRAS E ARTES

CURSO DE LETRAS

THOMAS ROCHA

CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA

ERECHIM

2012

Page 2: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

THOMAS ROCHA

CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA

Trabalho de conclusão de curso, apresentado ao Curso

de Letras, Departamento de Linguística, Letras e Artes

da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e

das Missões - URI Erechim.

Orientador: Prof. Ms. Paulo Marçal Mescka

ERECHIM

2012

Page 3: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

DEDICATÓRIA

Dedico este estudo aos professores do Curso de

Letras, pelos ensinamentos e contribuições

para o meu crescimento pessoal e intelectual.

Aos meus colegas da turma 2009, pelo

convívio enriquecedor e pela cumplicidade

profissional.

À minha família, pelo amor incondicional.

Page 4: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu orientador Prof. Paulo

Mescka, pela sugestão do tema, prontamente

acolhido, e pelo convite à pesquisa e à reflexão

sobre a língua e o ensino.

À Profª Helena Confortin, pelos valiosos

ensinamentos sobre a Linguística e por me

apresentar a obra de Magda Soares e Marcos

Bagno.

Ao Prof. Idanir Ecco, por me mostrar o

caminho para aprender a aprender.

Aos meus colegas, com quem muito aprendi,

Alan, Aline, Ângela, Bianca, Elizer, Fabiane,

Karine, Marcieli, Taíse e Uiára.

A todos os professores e colegas do Curso de

Letras, que como eu, acreditam na educação.

À minha mãe e minhas irmãs, que me

consideram o filho e o irmão preferido.

À minha amada companheira Patrícia, a quem

muito admiro, pela paixão, pelo carinho e por

estar sempre ao meu lado.

Page 5: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

Um ensino libertador, a libertação pela palavra: este o grande

objetivo a perseguir em nossas aulas de língua materna. Liberto, e

consciente de seus poderes de linguagem, o aluno terá como crescer,

desenvolver o espírito e expressar toda a sua criatividade.

Celso Pedro Luft

Page 6: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

RESUMO

O presente trabalho constitui uma análise diacrônica comparativa das definições de classes de

palavras nos Compêndios de Gramática Normativa. Parte da explicitação dos conceitos de

gramática, concentrando-se na gramática normativa e na sua inserção como constituinte

fundamental dos compêndios de gramática. Percorre brevemente a história das classes de

palavras no âmbito gramatical, ressaltando a importância da classificação para facilitar o

trabalho de descrição da língua, e apresenta como o ensino das classes de palavras tem

repercutido nas escolas. Tendo como fundamentação metodológica os critérios mórfico,

sintático e semântico, utilizados por linguistas e gramáticos para classificar os vocábulos de

uma língua, analisa e compara as definições apresentadas nos compêndios de gramática

estudados, buscando identificar a regularidade, diversidade e pertinência dos critérios

empregados no momento da conceituação das classes de palavras. Os compêndios de

gramática analisados foram selecionados com base em características específicas que os

enquadram como obras de caráter predominantemente normativo e prescritivo. Considerando

que se trata de uma análise diacrônica, o presente trabalho tem como marco de referência a

implantação da Nomenclatura Gramatical Brasileira – NGB em maio de 1959. A comparação

entre as definições revelou que não há diferenças significativas entre os conceitos formulados

pelos gramáticos ao longo do tempo especificado e que muitas gramáticas atuais adotam os

mesmos critérios daquelas publicadas a décadas atrás e, não raramente, desconsideram

aspectos relevantes que poderiam facilitar a compreensão dos conceitos, tanto por parte dos

alunos como dos próprios professores. A análise também revela que, apesar dos avanços

científicos advindos da Linguística Textual, da Linguística Aplicada, da Sociolinguística, etc.,

as propriedades textuais das classes de palavras são totalmente ignoradas, desconsiderando

também as orientações propostas nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua

Portuguesa - PCNs que dão ênfase ao uso da linguagem e à valorização da língua falada.

Palavras-chave: Língua portuguesa. Gramática. Ensino de gramática. Classes de palavras.

Page 7: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 6

2 A GRAMÁTICA .................................................................................................................. 8

2.1 O QUE É GRAMÁTICA? .................................................................................................. 8

2.2 A GRAMÁTICA NORMATIVA ..................................................................................... 11

2.3 O COMPÊNDIO DE GRAMÁTICA ............................................................................... 12

3 AS CLASSES DE PALAVRAS ........................................................................................ 16

3.1 UM POUCO DE HISTÓRIA ........................................................................................... 16

3.2 A IMPORTÂNCIA DAS CLASSES DE PALAVRAS ................................................... 17

3.3 O ENSINO DAS CLASSES DE PALAVRAS ................................................................. 21

4 AS CLASSES DE PALAVRAS NOS COMPÊNDIOS DE GRAMÁTICA

NORMATIVA ....................................................................................................................... 23

4.1 CRITÉRIOS DE ANÁLISE E COMPARAÇÃO ............................................................. 23

4.2 O SUBSTANTIVO ........................................................................................................... 25

4.3 O ADJETIVO ................................................................................................................... 29

4.4 O ARTIGO ........................................................................................................................ 34

4.5 O NUMERAL ................................................................................................................... 36

4.6 O PRONOME ................................................................................................................... 39

4.7 O ADVÉRBIO .................................................................................................................. 42

4.8 O VERBO ......................................................................................................................... 45

4.9 A PREPOSIÇÃO .............................................................................................................. 48

4.10 A CONJUNÇÃO ............................................................................................................ 50

4.11 A INTERJEIÇÃO ........................................................................................................... 52

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 56

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 58

Page 8: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

6

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho insere-se na linha de pesquisa sobre o Ensino de Línguas e está

orientado, mais especificamente, ao Ensino da Gramática. Abordaremos a conceituação das

classes de palavras nos Compêndios de Gramática Normativa, buscando compreender como

as palavras vêm sendo classificadas e conceituadas pelos gramáticos desde a implantação da

Nomenclatura Gramatical Brasileira – NGB em maio de 1959.

O número reduzido de pesquisas sistemáticas sobre o tema justifica a relevância deste

estudo, uma vez que os Compêndios de Gramática Normativa ainda se constituem na

principal fonte de consulta do professor de língua portuguesa na busca de informações e no

esclarecimento de dúvidas.

Apesar dos avanços científicos proporcionados pelas Ciências das Linguagens

(Linguística Textual, Linguística Aplicada, Sociolinguística, Psicolinguística, Análise do

Discurso, etc.) e o surgimento de trabalhos inovadores - como os de Maria Helena de Moura

Neves (UNESP/Mackenzie-SP), de José Carlos Azeredo (UFRJ), de Mário Perini (UFMG) e

de Ataliba Castilho (USP) -, os autores das gramáticas normativas parecem ignorar tais

avanços e continuam tratando apenas da língua padrão escrita, preocupados em apontar o

certo e o errado.

Por esse motivo urge compreender melhor como as classes de palavras vêm sendo

conceituadas pelas gramáticas normativas, uma vez que estas têm sofrido críticas ferrenhas

por transmitirem uma doutrina gramatical ultrapassada, incoerente, muitas vezes simplista e

distante da realidade dos alunos e dos próprios professores. Trataremos de investigar,

portanto, como a concepção de língua e linguagem presente nas obras analisadas pode afetar a

maneira como as classes são conceituadas e, por sua vez, se a finalidade didática dos

compêndios tem sido alcançada a contento.

Além disso, e principalmente, este trabalho justifica-se pelo alto percentual ocupado,

ainda hoje, pelo estudo das classes de palavras nas aulas de Português, pela grande ênfase

dada ao ensino das definições (priorizando o mero reconhecimento e classificação das

palavras), bem como pelas controvérsias teóricas que vêm permeando as discussões sobre o

tema. Nesse sentido, poderá auxiliar o trabalho do professor na grande tarefa que se impõe,

Page 9: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

7

nos dias de hoje, de se reconfigurar o ensino da língua materna e, consequentemente, do

ensino da gramática.

Nosso objetivo principal é analisar e comparar as definições das classes gramaticais

encontradas nos Compêndios de Gramática Normativa selecionados, utilizando como critérios

fundamentais os aspectos mórficos, sintáticos e semânticos empregados pelos gramáticos

quando da conceituação. Analisaremos, portanto, qual ou quais os aspectos são ressaltados,

qual ou quais são desconsiderados; se há coerência em relação aos aspectos considerados em

uma ou outra definição; e, se eles são explorados em toda sua potencialidade, de modo a

facilitar e garantir a compreensão.

Os exemplos que, muitas vezes, são utilizados pelos gramáticos no momento da

definição não serão alvo de análise específica, a não ser em um ou outro caso, embora

saibamos que os exemplos são essenciais para consolidar o entendimento.

Objetivamos, também, verificar se há diferenças significativas entre os conceitos

formulados pelos gramáticos ao longo do tempo especificado, observando se ocorre(u) a

assimilação de novas concepções proporcionadas pelos avanços científicos nos estudos da

língua e das linguagens.

Na primeira seção, delimitando o campo de análise, trataremos de apresentar as

concepções de gramática existentes, focando a exposição na divisão tripartite da gramática:

normativa, descritiva e natural ou internalizada. Em seguida, direcionamos um olhar mais

atento à gramática normativa e ao compêndio de gramática.

A segunda seção delimita ainda mais o terreno da análise. Apresentamos um breve

histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da

classificação para facilitar o trabalho de descrição da língua, e, por fim, descrevemos

brevemente como tem repercutido o ensino das classes de palavras nas escolas.

Na terceira e última seção, analisamos as definições encontradas nos Compêndios de

Gramática, previamente selecionados, comparando-as entre si, e buscando identificar os

critérios (mórfico, sintático e semântico) utilizados pelos gramáticos. Evidentemente, não sem

antes expor a metodologia de análise empregada e os critérios de seleção das obras. Por fim,

são feitas algumas considerações sobre os resultados da análise.

Page 10: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

8

[...] se são tortos os olhos com que se vê a língua, em geral, muitos mais tortos são eles

quando se vê a gramática, em particular.

Irandé Antunes

2 A GRAMÁTICA

2.1 O QUE É GRAMÁTICA?

De acordo com Neves (2010), a delimitação do que deve ser ensinado ou exercitado

pelo(a) professor(a) de português em sala de aula decorre do entendimento que ele tem do que

seja a gramática da língua. Em outras palavras, a concepção de língua e de gramática está

intimamente relacionada à práxis do(a) professor(a), de modo que o conteúdo, a abordagem, a

explicação, os exercícios propostos, enfim, todo o arcabouço de recursos de que o

professor(a) se utiliza para ministrar suas aulas está, em grande parte, associado à

compreensão teórica da disciplina.

Por isso, considerando a complexidade do processo pedagógico, cabe ao professor(a) o

cuidado de estar constantemente refletindo e avaliando conceitos fundamentais (O que é a

gramática de uma língua?), objetivos, procedimentos e resultados, de forma a direcionar todas

as ações à grande meta de ampliar as competências linguísticas dos alunos.

Assim, quando falamos em gramática, ou mais especificamente, no ensino de

gramática, a polêmica se instala, os ânimos se acirram e as opiniões se multiplicam. A

polêmica, a discussão, a falta de unanimidade são, obviamente, bem-vindas e imprescindíveis

para o desenvolvimento científico em qualquer área do conhecimento humano. No entanto,

visões equivocadas, distorcidas e incoerentes são extremamente nocivas e improdutivas para

que ocorra um ensino-aprendizagem significativo.

Neste sentido, acreditamos ser essencial que o(a) professor(a) de português tenha uma

compreensão mais precisa do que seja gramática, ou do que vem sendo definido como

gramática pelos estudiosos da língua e da linguagem. Evidentemente, trata-se de um conceito

Page 11: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

9

amplo, que permite depreender uma série de acepções e que, conforme a teoria que o

comporta, pode apresentar diferenças significativas.

O termo gramática provêm do grego grammatikê e significa “arte de ler e escrever”.

Portanto, a história da gramática nasceu na Grécia de Platão e Aristóteles, na Grécia dos

sofistas, em um período histórico de embates filosóficos e políticos em torno da manutenção

do status quo da aristocracia grega. De modo que as discussões sobre língua e gramática

estavam subordinadas a um contexto de permanente legitimação dos padrões de uso próprios

de uma classe dominante (SILVA, 2010, p. 13).

A questão da tradição gramatical advinda da Gramática Tradicional, e presente ainda

hoje nos compêndios de gramática escolar, é brilhantemente apresentada por Marcos Bagno

em sua obra Dramática da língua portuguesa, publicada no ano 2000, e é retomada neste

trabalho na subseção referente à gramática normativa.

De acordo com Neveu (2008), o termo gramática designa ao mesmo tempo “o

conjunto de particularidades estruturais de uma língua, que permitem identificar as

regularidades fonológicas, morfológicas e sintáticas, e a representação destas

particularidades” (p. 154). Conceito, como observa o autor, naturalmente ambíguo, visto que

define, ao mesmo tempo, o campo da descrição gramatical e o objeto (a língua) sobre o qual

assenta a descrição.

Vejamos, então, como se apresentam algumas concepções de gramática, conforme o

ponto de vista adotado. Ao se partir de uma visão normativa da língua, Franchi (2006)

apresenta a seguinte definição de gramática:

Gramática é o conjunto sistemático de normas para bem falar e escrever,

estabelecidas pelos especialistas, com base no uso da língua consagrado pelos bons

escritores. Dizer que alguém “sabe gramática” significa dizer que esse alguém

“conhece essas normas e as domina tanto nocionalmente quanto operacionalmente”.

(FRANCHI, 2006, p. 16).

Ou seja, a gramática compreendida como um conjunto de regras que devem ser

seguidas. São regras concebidas a partir da descrição da variedade dita padrão ou “culta” da

língua, em detrimento de outras formas mais populares, consideradas “erradas” ou

“transgressoras”. Por outro lado, observando a língua a partir de um ponto de vista descritivo,

o autor apresenta o conceito a seguir:

Page 12: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

10

Gramática é um sistema de noções mediante as quais se descrevem os fatos de uma

língua, permitindo associar a cada expressão dessa língua uma descrição estrutural e

estabelecer suas regras de uso, de modo a separar o que é gramatical do que não é

gramatical. “Saber gramática” significa, no caso, ser capaz de distinguir, nas

expressões de uma língua, as categorias, as funções e as relações que entram em sua

construção, descrevendo com elas sua estrutura interna e avaliando sua

gramaticalidade. (FRANCHI, 2006, p. 22).

Isto é, a gramática concebida como um conjunto de regras que são seguidas. No

entanto, de acordo com Franchi, nada impede que os fatos da linguagem popular e coloquial

sejam simplesmente desconsiderados pelo gramático no momento da descrição, por serem

vistos como “vulgares” ou “errados”. Exatamente como observamos em muitas gramáticas

escolares.

Por fim, o autor apresenta uma visão mais contemporânea, condizente com os avanços

das ciências da linguagem:

Gramática corresponde ao saber linguístico que o falante de uma língua desenvolve

dentro de certos limites impostos pela sua própria dotação genética humana, em

condições apropriadas de natureza social e antropológica. “Saber gramática” não

depende, pois, em princípio, da escolarização, ou de quaisquer processos de

aprendizado sistemático, mas da ativação e amadurecimento progressivo (ou da

construção progressiva), na própria atividade linguística, de hipóteses sobre o que

seja a linguagem e de seus princípios e regras. (FRANCHI, 2006, p. 25).

Trata-se, portanto, de uma concepção relacionada ao conceito de gramática

internalizada, ou seja, a gramática vista como um conjunto de regras que o falante da língua

domina. De fato, não há possibilidade de alguém falar ou escrever sem usar as regras da

gramática de sua língua. Todo falante possui uma competência linguística internalizada, da

qual não tem consciência, mas que lhe permite utilizar a língua automaticamente nas mais

diversas situações de comunicação. Segundo Travaglia (2009) é essa gramática que é objeto

de estudo dos outros dois tipos de gramática apresentados, sobretudo da descritiva.

Dito isso, nos parece fundamental que o(a) professor(a) de português conheça as

concepções de gramática aqui expostas e perceba que todas, em alguma dimensão, atuam nos

mais diversos níveis de construção gramatical e, que há espaço para todas em um ensino

sistemático que considere a língua em toda sua complexidade.

Page 13: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

11

Bem, considerando que o objetivo principal deste estudo é analisar as definições de

classes de palavras encontradas nos compêndios de gramática normativa, focalizamos agora

com maior atenção a gramática normativa e, em seguida, são feitas algumas observações

sobre o compêndio de gramática.

2.2 A GRAMÁTICA NORMATIVA

Como vimos anteriormente, a gramática normativa está relacionada a um conjunto de

regras que devem ser seguidas. Esse conceito é o mais conhecido pelos professores, pois é

justamente o adotado pela maioria dos compêndios de gramática. Para Rocha Lima (2008), a

gramática normativa “é uma disciplina, didática por excelência, que tem por finalidade

codificar o „uso idiomático‟, dele induzindo, por classificação e sistematização, as normas

que, em determinada época, representam o ideal da expressão correta” (p. 7).

Neste sentido, a gramática normativa está intimamente relacionada a uma disciplina de

estudo, a acepção de maior uso nas escolas, a grande “dor de cabeça” dos alunos e dos

professores. As regras da gramática normativa se fundamentam “nas obras dos grandes

escritores, em cuja linguagem as classes ilustradas põem o seu ideal de perfeição, porque nela

é que se espelha o que o uso idiomático estabilizou e consagrou” (ROCHA LIMA, 2008, p.

7).

Para Bechara (2009), a tarefa da gramática normativa é elencar os fatos recomendados

como modelares para serem utilizados em determinadas situações do convívio social. As

regras que devem ser seguidas são definidas de acordo com “o uso e a autoridade dos

escritores corretos e dos gramáticos e dicionaristas esclarecidos” (p. 52).

Como podemos ver, a gramática, nesta concepção, é particularizada e não abarca toda

a realidade da língua, contemplando apenas aqueles usos considerados aceitáveis na ótica da

língua prestigiada socialmente. Para Travaglia (2009), a gramática normativa aparece quando

os fatos da variedade padrão ou “culta” da língua são transformados em leis de uso específico,

como, por exemplo: não se iniciam frases com o pronome oblíquo átono; o verbo deve

concordar em gênero e número com o sujeito; etc. Os fatos encontrados em outras variedades

são considerados “erros”.

Bagno (2000) faz uma distinção entre a gramática normativa e a Gramática

Tradicional. Segundo ele, a gramática normativa constitui-se em um gênero literário que

Page 14: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

12

materializa a ideologia da Gramática Tradicional por meio dos compêndios de gramática

escolar. Ideologia que prega a existência de verdades inquestionáveis, que desprestigia

qualquer discurso que não seja o das elites, que tem como única meta a perpetuação da

hegemonia das classes dominantes:

[...] as gramáticas normativas brasileiras permanecem agregadas ao mito da “língua

única” e se apresentam como “descrição” de uma variedade linguística supostamente

empregada pelas “pessoas cultas” do país, isto é, pelas classes dominantes,

apresentando-a sempre como o “padrão” a ser imitado. (BAGNO, 2000, p. 26).

Mesmo diferindo umas das outras, as gramáticas normativas carregam consigo esse

“espírito” da Gramática Tradicional e ignoram as inovações dos estudos linguísticos que

veem apontando suas falhas e incoerências. Afinal, não existem usos linguísticos melhores ou

mais corretos que outros, mas existem usos de maior aceitação, que ganharam mais prestígio

que outros, por razões históricas, sociais, políticas e econômicas.

Evidentemente, e aqui não dizemos o contrário, todos os usos da língua, de qualquer

variedade, estão sujeitos à aplicação de regras. Para que sejam atingidos determinados efeitos

de sentido são necessárias regras específicas para que as pessoas se entendam mutuamente.

No entanto, conforme Antunes (2007), como essas regras são destinadas a regular os usos que

as pessoas fazem, nos mais diferentes contextos e com as mais diferentes finalidades, elas não

podem ser absolutamente rígidas. “Elas têm que ser funcionais, no sentido de que assumem

variações, por conta do que pretendem aqueles que as usam.” (p. 72).

2.3 O COMPÊNDIO DE GRAMÁTICA

Já vimos que a descrição do funcionamento da língua toma corpo em um livro, em um

compêndio que conhecemos como Gramática. Em geral, aqui no Brasil, as gramáticas do

português adotam uma perspectiva mais prescritiva e têm concedido uma ênfase especial à

modalidade escrita da língua, sobretudo da escrita literária e, mais ultimamente, da escrita

usada na imprensa.

A produção dos compêndios de gramática ampliou-se ao longo do século XX. Neste

período, algumas obras se destacaram por sucessivas edições, entre as quais a “popularíssima

Page 15: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

13

Gramática Metódica da Língua Portuguesa, de Napoleão Mendes de Almeida, encarnação

exemplar do normativismo gramatical ultraconservador e intransigente” (AZEREDO, 2011, p.

34).

A Gramática Normativa da Língua Portuguesa, de Rocha Lima, foi publicada pela

primeira vez em 1957 e é, até hoje, referência para os que adotam uma postura mais

conservadora, alcançando em 2008 a 47ª edição. Ainda em 1961, Evanildo Bechara apresenta

sua Moderna Gramática Portuguesa, em consonância com a nova terminologia definida pela

Nomenclatura Gramatical Brasileira - NGB em 1959. Foi ampliada e renovada quando

alcançou sua 37ª edição em 1999 e, desde então, já foi reimpressa sucessivas vezes.

Em 1970 surge a Gramática do Português Contemporâneo de Celso Cunha, que, no

ano de 1985, em coautoria com Luis Filipe Lindley Cintra, foi rebatizada como Nova

Gramática do Português Contemporâneo.

Segundo Silva (2000), a Nova Gramática de Cunha e Cintra “dá precedência à língua

escrita culta literária” (p. 56) e a análise gramatical que apresenta se prende na produção de

um elenco vastíssimo de autores, não havendo, portanto, um campo de observação fechado, e

estando em dissonância com as exigências da Linguística Descritiva contemporânea. Após

estudo minucioso, a autora chega à conclusão de que se trata de uma obra alinhada, em muitos

aspectos, à tradição gramatical. Combinando orientações teóricas e metodológicas distintas,

prejudica a ordenação das regras da gramática e mostra-se, por vezes, incoerente e

inconsistente teoricamente.

A estas gramáticas, seguiram-se muitas outras que nada mais são do que cópias fiéis

das anteriores, reproduzindo uma longa tradição normativa, essencialmente conservadora, na

teorização gramatical escolar. Conforme Antunes (2007), nós herdamos dos gregos a ideia de

uma gramática de caráter controlador, que preserva a língua contra as possíveis ameaças de

desaparecimento ou de declínio, seja pela ação de invasores, seja pela ação dos próprios

membros da comunidade de falantes, de modo que:

[...] foi sendo atribuído aos compêndios de gramática um papel de instrumento

controlador da língua, ao qual caberia conduzir o comportamento verbal dos

usuários, pela imposição de modelos ou de padrões. Essa visão de gramática se

consolidou tão fortemente que chegou a abafar qualquer outra concepção menos

diretiva, como aquela da gramática internalizada por todos os falantes. (ANTUNES,

2007, p. 36).

Page 16: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

14

Quanto ao conteúdo, Roulet (1978) aponta seis falhas características encontradas na

maior parte das gramáticas escolares, entre as quais destacamos as seguintes: a imposição de

uma norma de escritores de séculos passados, não dando conta da língua atualmente em uso; a

descrição apenas da língua escrita, deixando de lado a língua falada; a atenção predominante

dada à morfologia em detrimento da sintaxe; e, principalmente, a ausência de regras que

permitam construir, de forma sistemática, orações complexas corretas.

No plano da forma ou da apresentação das gramáticas, as falhas apontadas por Roulet

são ainda mais graves: as definições, regras e explicações fundamentalmente de caráter

lógico-semântico são insuficientemente explícitas ou, muitas vezes, incoerentes e até falsas; a

compartimentação e dispersão nocivas das informações gramaticais; a atenção exagerada aos

erros a serem evitados e às exceções, dissimulando o aspecto sistemático da língua; e, por fim,

a adoção de uma representação essencialmente analítica que muito pouco contribui para a

construção de orações.

A força da Gramática Tradicional manifestava-se e ainda se manifesta na convicção

de que ensinar Português confunde-se com ensinar Gramática. A base do argumento

é que sabendo Gramática escreve-se bem e lê-se melhor, varrendo-se para baixo do

tapete o ensino do Português-língua materna como uma continuada reflexão sobre a

língua, muito mais do que qualquer outra coisa (CASTILHO, 2010, p. 102).

De acordo com Castilho (2010), a reação dos linguistas a essa situação atingiu seu

ápice em 1985, com a publicação simultânea de Língua e Liberdade, de Celso Luft, Para uma

nova gramática do português, de Mário Perini, e A linguística e o ensino da língua

portuguesa, de Rodolfo Ilari. Contudo, pesquisas como a realizada por Neves (2010), têm

demonstrado que a fase da gramatiquice ainda não acabou, e os indicadores sobre o

desempenho dos alunos, na leitura e na escrita, revelam a ineficácia desse tipo de ensino

(PISA, ENEM, Prova Brasil, Ideb, entre outros). De fato, os alunos estão saindo do ensino

fundamental, e até mesmo do ensino médio, com grandes dificuldades para ler, compreender e

produzir textos, sejam eles orais ou escritos.

Perini (1991) resume as falhas da gramática tradicional em três grandes pontos: “sua

inconsistência teórica e falta de coerência interna; seu caráter predominantemente normativo;

e o enfoque centrado em uma variedade da língua, o dialeto padrão (escrito), com a exclusão

de todas as outras variantes” (p. 6).

Page 17: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

15

Sabemos, entretanto, que para se orientarem em matéria gramatical, professores e

alunos geralmente utilizam os compêndios escolares de gramática. Porém, como observamos,

a abordagem desses manuais é, muitas vezes, assistemática, incoerente, repleta de

preconceitos, falhas e erros. Não seria, de fato, nocivo ao ensino da língua materna adotar

livros tão problemáticos? Livros que, quando mal empregados, incutem nos alunos uma

postura de subserviência, de tácita aceitação de preceitos ditados por gramáticos que, não

raramente, se sentem os donos da língua. Livros que não concedem espaço para a reflexão

sobre os fenômenos linguísticos.

Para Castilho (2010) “parece evidente que os cidadãos ainda não foram

suficientemente expostos a um novo modo de refletir sobre a língua, em que eles assumem o

papel de parceiros” (p. 102). Porém, a incorporação da língua falada nas práticas de ensino

pode significar um novo alento àqueles que buscam novos caminhos, novas concepções de

linguagem, que trabalham na construção de uma proposta que vise à habilitação plena do

indivíduo em suas habilidades linguísticas.

Page 18: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

16

3 AS CLASSES DE PALAVRAS

3.1 UM POUCO DE HISTÓRIA

O estudo das palavras e sua classificação remontam à Grécia Antiga. Platão deteve-se

ao exame do discurso – de natureza declarativa – identificando em sua constituição nomes e

verbos os quais denotam a relação entre agente e ação. Seguindo os passos do mestre,

Aristóteles acrescentou às categorias acima citadas a das conjunções – que abrangiam a

conjunção, o artigo e o pronome e, provavelmente, a preposição –, a de caso e a de tempo,

manifestada através do verbo. Vale mencionar, também, a contribuição dos estoicos que

identificaram, inicialmente, quatro partes do discurso: nome, verbo, conjunção e artigo.

Contudo, segundo Duarte e Lima (2003), o estudo gramatical das palavras ganhou

relativa autonomia em relação à filosofia a partir da Téchné Grammatiké, de Dionísio da

Trácia, a primeira gramática do Ocidente. Dionísio identificava oito partes do discurso: nome

(ónoma), verbo (rhema), particípio (metoché), artigo (árthon), pronome (antonymia),

preposição (próthesis), advérbio (epírrhema) e conjunção (sýndesmos).

Com relação aos gramáticos latinos, fortemente influenciados pelos gregos, destacam-

se Prisciano e Varrão. Prisciano descreveu oito classes de palavras com seus acidentes

(gênero, número, caso, etc.): nome (nomen), verbo (verbum), particípio (participium),

pronome (pronomen), advérbio (adverbium), preposição (praepositio), interjeição (interiectio)

e conjunção (coniunctio). “Ele adaptou as categorias da língua grega, inerentes a cada classe,

ao latim”. (DUARTE e LIMA, 2003, p. 17). Varrão, o primeiro gramático latino, concentrou-

se basicamente em questões etimológicas e em problemas ligados aos aspectos regulares e

irregulares da linguagem.

A partir do Renascimento, os estudos se voltam para as línguas nacionais que então se

consolidavam. Surgem as primeiras gramáticas de língua portuguesa: as de Fernão de Oliveira

(Gramática da Linguagem Portuguesa) de 1536 e João de Barros (Gramática da Língua

Portuguesa) de 1540. João de Barros identificou o nome e o verbo como as partes principais

da oração. De menor importância são as demais: o pronome e o advérbio, além do particípio,

do artigo, da conjunção e da interjeição.

Page 19: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

17

Com o Iluminismo, no século XVII, configura-se uma reação ao modelo gramatical

latino. A gramática de Jerônimo Soares Barbosa (Gramática philosophica da língua

portuguesa), de 1871, criticou os gramáticos que o antecederam por imporem o modelo latino

às gramáticas de língua portuguesa. Barbosa, formado na tradição seiscentista de Port Royal,

empreendeu significativo esforço para individualizar cada parte oracional no intuito de ver

cada uma delas em seus aspectos peculiares, porém, conforme Duarte e Lima (2003), o

gramático apresenta uma nomenclatura muito complicada, que não teve continuidade em

nossa tradição gramatical.

No período que compreende as décadas finais do século XIX e as iniciais do século

XX, surgem gramáticas que, numa orientação historicista, imprimiram novos rumos na

descrição da classificação vocabular. Destacam-se os trabalhos de Júlio Ribeiro, João Ribeiro,

Manuel Said Ali, Eduardo Carlos Pereira, entre outros. Cada gramática deste período

apresenta, uma em relação à outra, divergências num ou noutro pormenor, mas todas

apresentam terminologias bem diversas.

Atualmente, podemos dizer que as classes mantiveram-se em parte dentro do esquema

tradicional. Porém, segundo Rosa (2002), a classificação das palavras “deixou de basear-se

em critérios semânticos e passou a ter por fundamentos critérios distribucionais, funcionais e

sua categorização” (p. 99).

3.2 A IMPORTÂNCIA DAS CLASSES DE PALAVRAS

Reconhecemos que cada ciência, cada área do conhecimento, tem seu próprio conjunto

de termos para se referir aos objetos de seu campo. Assim, a atividade de nomear, de dar um

nome às coisas, é “uma atividade constitutiva da relação entre o homem e o mundo, e,

simbolicamente, esteve presente desde a inauguração dessas relações, quando „o homem foi

chamado a dar nomes às coisas‟”. (ANTUNES, 2007, p. 77).

De acordo com Ilari e Basso (2011), “o estudo das classes de palavras nasce da

constatação de que há em toda a língua conjuntos numerosos de palavras que possuem as

mesmas propriedades morfológicas e sintáticas e, portanto, podem ser descritas da mesma

maneira” (p. 108). E ainda, conforme Perini (1991), “o objetivo da separação das palavras em

classes é permitir a descrição econômica e coerente de seu comportamento gramatical” (p.

74), ou seja, facilitar o trabalho de descrição da língua pelo gramático.

Page 20: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

18

Foi assim que, como vimos, já na Antiguidade, as primeiras classificações surgiram e

serviram de base para as dez classes de palavras - reconhecidas atualmente pela Nomenclatura

Gramatical Brasileira (NGB) - definidas pelas gramáticas normativas: substantivo, artigo,

adjetivo, numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição, conjunção e interjeição.

As nomenclaturas, de modo geral, ampliam a possibilidade de uma comunicação mais

coerente, ajustada ao contexto de produção, pois possibilitam que as unidades ou funções da

língua sejam designadas pelos seus nomes correspondentes. Para Basilio (2009), as classes de

palavras são de crucial importância na descrição de uma língua porque expressam

propriedades gerais das palavras: “é impossível descrever os mecanismos gramaticais mais

óbvios, como a concordância de gênero e número do artigo com o substantivo, se não

determinarmos o que é substantivo e artigo” (p. 21).

Evidentemente, as palavras podem ser classificadas de diversas maneiras. De fato há

várias classificações na gramática, podemos classificar palavras quanto à acentuação em

átonas ou tônicas, e as tônicas, por sua vez, podem ser classificadas quanto à posição na sílaba

em oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas. Todavia, o que chamamos de classes de palavras

corresponde a uma classificação específica, a partir de critérios lexicais ou gramaticais.

Segundo Perini (2010), existe uma confusão entre classe e função: “o problema se

manifesta com frequência em afirmações de que elementos de determinada classe

“funcionam” como se pertencessem a outra classe em determinado contexto” (p. 290). Assim,

para o autor, as funções se definem no contexto em que ocorrem, já as classes se definem fora

de contexto:

Uma classe se caracteriza pelo potencial funcional das palavras que a formam, ou

seja, pelo que as palavras podem ser – as funções que elas podem ocupar nas

estruturas da língua. Uma palavra que esteja, em determinado contexto, ocupando

uma dessas funções continua podendo ocupar outras (o que pode acontecer em

outros contextos). (PERINI, 2010, p. 290).

Por exemplo, dependendo do contexto, a palavra gato pode ser sujeito ou objeto. Na

frase “gato dá muito trabalho”1, essa palavra é sujeito. Mas na frase “a menina levou o gato

para passear” a função de gato passa a ser a de objeto. Contudo, segundo o autor, sua classe é

1 Exemplo retirado de Perini (2010, p. 290).

Page 21: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

19

sempre a mesma, pois a classe se define por potencialidades e não por realidades presentes do

contexto. Gato é “substantivo”2 porque tem como potencial funcional a possibilidade de ser

núcleo de um sintagma nominal, aceitar a precedência de artigo, etc. “Uma classe é o

conjunto das formas que têm o mesmo potencial funcional.” (PERINI, 2010, p.291).

Pinilla (2011) observa que, mesmo havendo distinção entre os conceitos de classe e

função, é imprescindível utilizar critérios funcionais para definir uma classe de palavras, visto

que é preciso definir qual o papel do vocábulo na unidade sintagmática em que ele ocorre. A

autora afirma que, entre os gramáticos e autores de livros didáticos, há, atualmente, um

consenso quanto à importância de considerar os aspectos morfológico, funcional e semântico

para a definição das palavras.

No entanto, na maior parte dos casos, as definições de cada classe são incompletas,

não levam em conta os mesmos critérios, e se apoiam predominantemente no critério

semântico. O quadro a seguir, apresenta as definições encontradas em gramáticas e livros

didáticos usados em muitas escolas, embora não apresente quais foram as obras analisadas.

Tabela 1 - Definições encontradas em gramáticas e livros didáticos

Substantivo É o nome de todos os seres (critério semântico) que existem ou que imaginamos existir.

Adjetivo É toda e qualquer palavra que, junto de um substantivo (critério funcional), indica uma qualidade,

estado, defeito ou condição (critério semântico).

Advérbio É a palavra invariável (critério morfológico) que modifica essencialmente o verbo (critério

funcional) exprimindo uma circunstância (tempo, modo, lugar etc.) (critério semântico).

Verbo

É a palavra que pode sofrer as flexões de tempo, pessoa, número e modo (critério morfológico).

[...] é a palavra que pode ser conjugada; indica essencialmente um desenvolvimento, um processo

(ação, estado ou fenômeno) (critério semântico).

Artigo É a palavra que antecede o substantivo (critério funcional) e indica o seu gênero e número

(critério morfológico), individualizando-o ou generalizando-o (critério semântico).

Pronome A palavra que substitui ou acompanha um substantivo (nome) (critério funcional) em relação às

pessoas do discurso (critério morfossemântico).

Numeral É a palavra que dá ideia de número (critério semântico).

Preposição É a palavra invariável (critério morfológico) que liga duas outras palavras entre si (critério

funcional), estabelecendo entre elas certas relações (critério semântico).

Conjunção É a palavra invariável (critério morfológico) que liga orações, ou, ainda, termos de uma mesma

função sintática (critério funcional).

Interjeição É a palavra invariável (critério morfológico) que exprime emoção ou sentimento repentino

(critério semântico).

Fonte: Pinilla (2011, p. 170).

2 Perini (2010, p. 290) classifica a palavra gato como um nominal.

Page 22: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

20

Pode-se observar que o quadro apresenta, além das definições propriamente ditas, o

critério ou os critérios que foram utilizados para a classificação. Por exemplo, o substantivo e

o numeral são definidos apenas com base no critério semântico, já o advérbio e o artigo

apresentam os três critérios: morfológico (formal ou mórfico), funcional (ou sintático) e

semântico.

Entre outras questões, essa falta de critérios claros para a definição das classes de

palavras levou Perini (1991) a reconhecer que há uma necessidade de se elaborar uma nova

gramática do português, uma gramática que seja sistemática, teoricamente consistente e livre

de contradições. Para Perini, uma “boa” gramática deveria desempenhar a contento duas

funções: “(a) descrever as formas da língua (isto é, sua fonologia, sua morfologia e sua

sintaxe); e (b) explicitar o relacionamento dessas formas com o significado que veiculam.” (p.

21).

O autor utiliza a definição de verbo, retirada de uma gramática tradicional, que se

baseia nos critérios semântico e morfológico, para alertar que:

Por trás dessa dupla definição, naturalmente, há o pressuposto de que qualquer

palavra que corresponda à primeira parte da definição também corresponderá à

segunda – ou seja, de que a relação entre as propriedades semânticas e as formais do

verbo é simples e direta, podendo ser expressa por uma mera justaposição de

definições, (...). A verdade, entretanto, é que isso não ocorre. É bastante fácil

encontrar palavras que correspondam a uma das definições e não à outra. (PERINI,

1991, p. 23).

Da mesma maneira, Ilari e Basso (2011) apontam que, mesmo sendo útil, o estudo das

classes de palavras tem encontrado problemas, porque a situação idealizada pelos gramáticos,

na qual para cada classe de palavras correspondem formas e funções próprias, “realiza-se

apenas em parte: por exemplo, gostaríamos de poder definir o advérbio como a classe das

palavras que se aplicam ao verbo, mas há muitos advérbios que não o fazem” (p. 108-109).

Page 23: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

21

3.3 O ENSINO DAS CLASSES DE PALAVRAS

Segundo Pinilla (2011), o estudo das classes de palavras está presente desde as

primeiras séries da vida escolar e continua sendo o assunto principal e dos mais estudados nas

aulas de português, tanto no ensino fundamental quanto no ensino médio. “A partir de

consultas a programas escolares e a livros didáticos, nota-se que, muitas vezes, o estudo das

classes se restringe a um conhecimento da nomenclatura apenas” (p. 169).

É exatamente o quadro apresentado por Maria Helena de Moura Neves em sua obra

Gramática na Escola, publicada em 1990. As lacunas consideráveis deixadas pelo ensino de

Língua Portuguesa levaram a autora a realizar uma pesquisa com seis grupos de professores

de língua portuguesa de 1º e 2º graus (fundamental e médio) da rede oficial de quatro cidades

do estado de São Paulo, num total de 170 indivíduos, para verificar a natureza da gramática

ensinada nas escolas.

A pesquisa revela que todos os professores entrevistados privilegiam o ensino de

gramática em suas aulas e que, em 80% dos casos, fazem isso visando a um melhor

desempenho linguístico e uma maior correção da linguagem. Sobre a natureza da gramática

ensinada pelos professores pesquisados, Neves (2010) demonstra ser ela predominantemente

normativa e/ou descritiva, com supervalorização dos aspectos morfológicos e sintáticos,

relegando a um absoluto segundo plano todas as demais atividades que deveriam ser

desenvolvidas nas aulas de língua materna.

Ainda segundo a pesquisa, metade dos professores considera que é necessário que as

definições sejam ensinadas, legitimando o lugar das definições no ensino da gramática em 1º

e 2º graus. Da outra metade, 60% julgam que as definições não são necessárias e os restantes

40% (20% do total) julgam que elas não devem ser ensinadas, mas alcançadas pelos próprios

alunos. Entre as razões apontadas para a necessidade do ensino das definições estão: a

possibilidade de reconhecimento das classes gramaticais e dos termos da oração; o

desenvolvimento da capacidade de síntese e de análise do processo linguístico; o domínio da

terminologia.

Em relação à questão das classes de palavras, Neves (2010) afirma que se o objetivo

principal do ensino da gramática é o uso adequado da língua, não tem sentido a dedicação

quase exclusiva ao próprio reconhecimento e catalogação das classes de palavras. Não há

razão para o ensino da gramática desligado do desenvolvimento das habilidades e

competências de leitura, da escrita e da oralidade, sobretudo no ensino fundamental. Talvez

Page 24: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

22

no nível médio fosse mais adequado aprofundar a reflexão sobre a língua, visto que os alunos

já teriam um domínio maior do sistema linguístico.

As classes de palavras são vistas como elementos que, isolados em uma forma

visível (palavras), devem também ser analisados enquanto elementos isolados,

desvinculados da própria linguagem; o fato de se destacarem de textos as palavras

(como os professores insistem em destacar que fazem) em nada muda a questão, já

que, destacadas do texto, as palavras assumem uma autonomia que as torna como

peças avulsas, não pertencentes a um sistema amarrado, que provê para elas funções

complementares entre si, embora com zonas de intersecção. (NEVES, 2010, p. 66).

Enfim, a reflexão sobre a estrutura e o funcionamento da língua é importante e deve

ter seu lugar na escola, pois permitirá ao aluno, no momento certo, desenvolver sua habilidade

intelectual de produzir conhecimento. “Mas não são regras; não regem esse ou aquele padrão.

Não implicam, portanto, competências para alguém falar e escrever melhor, como acreditam

alguns que ensinam essa 'gramática'” (ANTUNES, 2007, p. 78).

Page 25: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

23

4 AS CLASSES DE PALAVRAS NOS COMPÊNDIOS DE GRAMÁTICA

NORMATIVA

4.1 CRITÉRIOS DE ANÁLISE E COMPARAÇÃO

Para podermos analisar e comparar adequadamente as definições apresentadas nos

compêndios de gramática estudados, faz-se necessário a identificação dos critérios ou

aspectos empregados nas conceituações adotadas pelos gramáticos. Assim, seguindo os

ensinamentos do linguista Camara Jr. (2001), utilizaremos três critérios para analisar os

conceitos das classes de palavras: o critério semântico, o formal ou mórfico e o funcional ou

sintático.

Na realidade, como podemos observar, tais critérios são, em princípio, utilizados para

classificar os vocábulos de uma língua. Por isso, devemos considerar os mesmos critérios para

avaliar como os vocábulos são conceituados pelos gramáticos. Como já observamos

anteriormente, a NGB (Nomenclatura Gramatical Brasileira) se deteve à uniformização de

termos, ou seja, da nomenclatura a se empregar no momento da descrição linguística. Não há,

portanto, a conceituação dos termos, deixando aos gramáticos a tarefa de fazê-la.

Conforme Camara Jr. (2001), o critério semântico se baseia no significado

extralinguístico do vocábulo, isto é, o que o vocábulo significa “do ponto de vista do universo

biossocial que se incorpora na língua” (p. 77). Dessa forma, quando definimos, por exemplo,

que o “substantivo é a palavra com que damos nomes aos seres em geral”, estamos usando o

critério semântico, pois nos apoiamos na propriedade comum dos substantivos de “nomear os

seres”.

Quanto ao critério formal ou mórfico, estamos diante da possibilidade de flexão e/ou

derivação dos vocábulos, pois o mesmo se baseia em propriedades de forma gramatical que os

vocábulos podem apresentar. Quando dividimos os vocábulos em variáveis e invariáveis

estamos usando o critério mórfico. O mesmo acontece quando afirmamos que “os adjetivos

aceitam o sufixo –mente”, transformando-se em advérbios, visto que nos referimos à

possibilidade de derivação.

Page 26: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

24

Finalmente, nos deparamos com o critério funcional ou sintático, que se baseia na

“função ou papel que cabe ao vocábulo na sentença” (CAMARA JR., 2001, p. 77). Sob a

ótica desse critério estamos analisando o vocábulo em sua relação com os outros, e não

isoladamente, como nos critérios supramencionados. Assim, empregamos o critério sintático

quando dizemos que “o artigo é a palavra que se coloca antes de substantivos”, uma vez que

nos referimos à relação existente entre o artigo e o substantivo na sentença.

Com relação às obras que foram analisadas, os critérios de seleção tiveram como base

as características específicas de enquadramento nos padrões de inserção das gramáticas

normativas, ou seja: que apresentem características predominantemente normativas e

prescritivas; que tenham a língua “culta” urbana como parâmetro de modelo ideal a ser

seguido (sem espaço significativo para as variações linguísticas próprias de qualquer língua);

e que focalizem a análise na oração, como elemento superior de observação, reduzindo,

portanto, a possibilidade de reflexão sobre a gramática do texto, seus usos, funcionalidades, e

potencial de interatividade.

Outro aspecto considerado na seleção das obras foi a abrangência temporal.

Considerando que se trata de uma análise diacrônica, o presente trabalho tem como marco de

referência a publicação da Portaria Nº 36, de 28 de janeiro de 1959, que recomenda a adoção

da Nomenclatura Gramatical Brasileira – NGB com o objetivo de simplificar e padronizar a

nomenclatura gramatical empregada no Brasil. De lá para cá, passaram-se mais de cinquenta

anos, e, assim, podemos verificar as alterações que ocorreram (ou não) ao longo dos anos, em

torno do objeto de pesquisa, observando se houve assimilação dos avanços científicos na área

dos estudos da língua e da linguagem e, mais especificamente, nas definições das classes de

palavras.

Fazemos aqui uma observação especial quanto à Moderna gramática portuguesa de

Evanildo Bechara. Tendo sido ampliada e renovada a partir de sua 37ª edição (como dito

anteriormente), a obra de Bechara representa um importante movimento de transição da

tradição normativa para uma abordagem mais conectada com os avanços da linguística

contemporânea, embora ainda apresente, conforme Bagno (2011), “diversas recaídas em

posturas marcadamente prescritivas” (p. 24). O que, entre outros aspectos, comprova sua

filiação à tradição.

Dessa forma, foi realizada uma pesquisa qualitativa, de caráter bibliográfico,

objetivando a coleta de dados descritivos, que possam retratar o maior número possível de

elementos existentes na realidade estudada. O embasamento teórico, que permeia a análise

Page 27: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

25

que se segue, assenta-se na contribuição de autores reconhecidamente importantes no atual

cenário de discussões sobre o ensino da língua e da gramática, como José Carlos Azeredo

(UFRJ), Mário Perini (UFMG), Ataliba Castilho (USP), Marcos Bagno (UnB), entre outros.

4.2 O SUBSTANTIVO

Segundo o dicionário Aurélio, substantivo é a “palavra com que se nomeia um ser ou

um objeto, ou uma ação, um evento, qualidade ou estado”. No dicionário Houaiss,

encontramos também a seguinte acepção: “adj. que evidencia a substância, a essência”. De

fato, o termo substantivo provêm do latim substantivus, “substancial”, ou seja, o portador da

substância (do latim substantia, formado de sub-, “sob, por baixo”, e –stare, “estar, ficar”),

daquilo que está embaixo, que subjaz.

Dito isto, é possível compreender porque a maioria das gramáticas define o

substantivo a partir de um critério eminentemente semântico, considerando apenas sua

propriedade de nomear os seres em geral.

Vejamos a definição abaixo:

Existem palavras que sempre designam coisa, ser, substância. Toda a palavra que

encerra essa idéia denomina-se substantivo. Substantivo é, pois, como o próprio

nome está a indicar, toda a palavra que especifica substância, ou seja, coisa que

possua existência, ou animada (homem, cachorro, laranjeira) ou inanimada (casa,

lápis, pedra), quer real (sol, automóvel), quer imaginária (Júpiter, sereia), quer

concreta (casa), quer abstrata (pureza). (ALMEIDA, 1999, p. 80, grifo do autor).

A definição de substantivo apresentada por Napoleão Mendes de Almeida, em sua

Gramática Metódica da Língua Portuguesa, é um exemplo claro de conceituação baseada

exclusivamente em critérios semânticos. Definições muito semelhantes, baseadas no critério

semântico, podem ser encontradas na Gramática Normativa da Língua Portuguesa, de Rocha

Lima, na Moderna Gramática Portuguesa, de Evanildo Bechara e na Novíssima Gramática

da Língua Portuguesa, de Domingos Paschoal Cegalla. Observemos:

Page 28: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

26

Substantivo é a palavra com que nomeamos os seres em geral, e as qualidades,

ações, ou estados, considerados em si mesmos, independentemente dos seres com

que se relacionam. (ROCHA LIMA, 2008, p. 66, grifo nosso).

Substantivo é a classe de lexema que se caracteriza por significar o que

convencionalmente chamamos objetos substantivos, isto é, em primeiro lugar,

substâncias (homem, casa, livro) e, em segundo lugar, quaisquer outros objetos

mentalmente apreendidos como substâncias, quais sejam qualidades (bondade,

brancura), estados (saúde, doença), processos (chegada, entrega, aceitação)

(BECHARA, 2009, p. 112, grifo nosso).

Substantivo são palavras que designam os seres. (CEGALLA, 2000, p. 128, grifo

nosso).

Evidentemente, a importância do aspecto semântico para explicar ou descrever

ocorrências da língua não deve ser ignorada. Mesmo porque, em muitos casos, a diferença de

sentido entre uma palavra e outra só pode ser explicado por um critério rigorosamente

semântico, por exemplo, a diferença entre as palavras “homem” e “mulher”.

Aliás, como sugerem Castilho e Elias (2012), seria muito interessante do ponto de

vista didático, estudar os substantivos com base em suas características de “produção de

sentidos”, uma vez que, uma das propriedades básicas dos substantivos é a de referenciar,

designar algum referente: alguma coisa ou pessoa. De fato, como expressam os autores, “em

nossa tradição gramatical e linguística, o termo referência se especializou para indicar

„designação, denominação‟ de seres e coisas” (p. 222).

Decorre daí, certamente, a definição de substantivo presente na maior parte das

gramáticas normativas publicadas no Brasil: uma definição eminentemente baseada no caráter

semântico. A questão, que muitas vezes aflige os linguistas, é que as definições

exclusivamente semânticas, insuficientemente explícitas, são próprias da gramática filosófica

e não deveriam direcionar os estudos gramaticais atuais. Afinal, o que entendemos por

“coisa”, “ser”, “substância”? Como conceitos tão abstratos e subjetivos (próprios da filosofia)

podem fundamentar as definições de termos gramaticais?

Conforme Basílio (2009), a definição semântica do substantivo não nos diz como os

substantivos se comportam na construção do enunciado. Para isso, é preciso lançar mão de um

critério sintático ou funcional.

Page 29: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

27

Analisemos as seguintes definições:

Substantivo é a palavra que designa um ser, e sintaticamente pode funcionar como

núcleo de sujeito, predicativo e objeto. (LUFT, 2002, p. 137).

Substantivo é a palavra com que designamos ou nomeamos os seres em geral. (...)

Do ponto de vista funcional, o substantivo é a palavra que serve, privativamente, de

núcleo do sujeito, do objeto direto, do objeto indireto e do agente da passiva.

(CUNHA, 2010, p. 107, grifo do autor).

Podemos notar que as definições empregadas por Luft em sua Moderna Gramática

Brasileira, e por Cunha, em sua Gramática do Português Contemporâneo, utilizam-se do

critério semântico e do critério sintático (funcional). Em Cunha e Cintra (2008), encontramos

a seguinte observação “toda palavra de outra classe que desempenhe uma dessas funções

equivalerá forçosamente a um substantivo (pronome substantivo, numeral ou qualquer palavra

substantivada” (p. 191). Deste modo, passa-se a considerar a função que o substantivo

desempenha, no sintagma ou na oração, como elemento essencial para a sua definição.

Como bem nos explica Bagno (2011), em sua Gramática Pedagógica do Português

Brasileiro, a palavra grega hypokeimenon costuma ser traduzida ora por substância, ora por

sujeito, dupla possibilidade de tradução que evidencia uma íntima relação entre o substantivo

e o sujeito. Assim, as gramáticas não podem ignorar esta relação quando da conceituação do

substantivo. Aliás, segundo alguns linguistas e gramáticos, como o próprio Bagno, é um

contrassenso estudar os substantivos separadamente do estudo do sujeito.

Podemos dizer que o critério sintático, ao contrário do semântico, analisa a palavra a

partir de sua relação com outra(s) palavra(s), constituindo uma unidade linguística superior

chamada de sintagma. No caso do substantivo, estaremos diante de um sintagma nominal,

construção sintática que tem por núcleo um nome (substantivo ou palavra funcionando como

tal) e que poderá vir acompanhado de especificadores (determinantes) e complementadores.

Segundo Ferrarezi Jr. e Teles (2008), os substantivos “são os núcleos dos sintagmas nominais

por excelência” (p. 125).

Uma definição possível, portanto, para o substantivo, do ponto de vista sintático, pode

ser a de que só é substantivo, em português, a palavra que se deixar anteceder por

Page 30: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

28

determinantes. Dessa forma, o critério sintático se mostra extremamente eficiente para o

reconhecimento do substantivo.

Por outro lado, conforme Basílio (2009), uma definição sintática do substantivo como

núcleo do sujeito, objetos e agente da passiva não nos permite compreender as propriedades

de concordância do substantivo em relação ao adjetivo. Trata-se da propriedade morfológica

dos substantivos de apresentar e determinar flexão de gênero e número.

Para Macambira (1999), por exemplo, o fato de o substantivo ser a única classe de

palavras que aceita os sufixos –inho(a) ou -zinho(a), no sentido de “pequeno” e –ão ou –zão,

no sentido de “grande”, é uma característica formal que não pode ser ignorada. Tal definição

pode ser encontrada na Gramática, de Faraco e Moura:

Segundo o linguista José Rebouças Macambira, pertence à classe dos substantivos

toda palavra variável que admite os sufixos –inho ou –zinho, -ão ou –zão,

correspondentes a pequeno e grande, respectivamente. (FARACO e MOURA, 1999,

p. 208).

Reconhecer as propriedades morfológicas no momento da definição e apresentação do

substantivo pode ser potencialmente eficaz para a compreensão do aluno. Afinal, é com o

aspecto formal que, primeiramente, o leitor se depara. Cabe ressaltar aqui que, como explica

Castilho (2010), “tamanho não é grau”. Grau é a intensificação ou a atenuação de

características predicativas, portanto, a gradação é própria dos adjetivos3. Os substantivos, por

outro lado, são expressões referenciais, não graduáveis, e possuem sufixos derivacionais que

indicam o tamanho (p. 512).

Sabemos, evidentemente, que muitos substantivos assumem outros sentidos (carinho,

menosprezo, desejo, grosseria, etc.) quando alterados por esse processo morfológico. Sobre

tal propriedade dos substantivos Luft (2002) faz a seguinte observação:

As ideias de grandeza e pequenez facilmente podem evocar (“conotar”) as de

anormalidade, defeituosidade; outras vezes as de simpatia, afeição. Daí que os

sufixos aumentativos e diminutivos sejam frequentemente pejorativos, ou então

hipocorísticos (de carinho): politicão, poetaço, cabeçorra, livrinho, livreco,

rapazelho; Mariazinha, Pedrinho, filhinha, benzinho; etc. (LUFT, 2002, p. 144).

3 Banho (2011, p. 680) observa que os advérbios também aceitam gradação.

Page 31: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

29

Por fim, podemos afirmar que a definição semântica, apresentada isoladamente, não é

suficiente para uma compreensão adequada do conceito de substantivo. É preciso considerar

outros aspectos (mórfico, sintático e textual) no momento da apresentação, e,

preferencialmente, permitir que o aluno reflita sobre os aspectos gramaticais da língua (no

momento oportuno) e explore toda a potencialidade de utilização e exploração dos sentidos no

contexto da interação linguística.

4.3 O ADJETIVO

Geralmente, no momento da conceituação do adjetivo, muitas gramáticas ressaltam

apenas o aspecto semântico, como acontece com o substantivo, deixando de lado outras

características importantes.

Vejamos duas definições exclusivamente semânticas:

Adjetivos são palavras que expressam as qualidades ou características dos seres.

(CEGALLA, 2000, p. 154, grifo nosso).

Adjetivo é a palavra que tem por função expressar características, qualidades,

estados etc. dos seres. (FERREIRA, 1992, p. 96, grifo nosso).

Macambira (1999), por sua vez, critica a definição semântica que afirma pertencer à

classe do adjetivo toda palavra que exprime qualidade, lembrando que a “bondade é sem

dúvida uma qualidade, e no entanto não se pode considerá-la como adjetivo”. (p. 38). Da

mesma forma que alguns advérbios, como bem ou mal.

Também questionando a definição clássica encontrada nas gramáticas: “adjetivo é a

palavra que expressa qualidade”, Monteiro (2002) argumenta que:

Page 32: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

30

[...] nem todos os adjetivos expressam qualidade. Em homem solteiro, água quente e

corpo morto, os adjetivos não traduzirão qualidade, a não ser que antes se determine

este conceito, o que já não será assunto gramatical. Por isso, alguns autores

discriminam outras noções, tais como a de estado, defeito, condição etc. Todavia, é

inútil acrescentar essas noções, porque o adjetivo não se caracteriza pelo significado,

sendo na realidade uma função. (MONTEIRO, 2002, p. 227).

De acordo com Bagno (2011), enquanto o substantivo está relacionado à substância, à

própria essência do ser, o adjetivo está relacionado a algo externo, que não participa

permanente ou eternamente da substância do ser. “As qualidades são flexíveis, modeláveis,

plasmáveis. Se compro hoje um carro zero-quilômetro, ele será um carro novo. Depois de

alguns anos, será um carro velho”. (p. 665, grifo do autor).

O adjetivo (lat. ad = junto + jectum = posto, colocado) é, portanto, uma palavra

essencialmente sintática, que justifica definições como as que seguem:

A esta classe pertencem todas as palavras que se referem ao substantivo para

indicar-lhe uma qualidade, ou seja, adjetivo é toda a palavra que modifica a

compreensão do substantivo, afetando, quanto à idéia, a substância da coisa:

homem inteligente, laranjeira alta, rapaz estudioso, homem magnânimo.

(ALMEIDA, 1999, p. 137, grifo do autor).

Adjetivo é a palavra que modifica o substantivo, atribuindo-lhe um estado,

qualidade ou característica. Portanto, o adjetivo também se refere aos seres; daí que

a distinção feita entre o substantivo e o adjetivo não é semântica (de significado), e

sim funcional (de função). (NICOLA e INFANTE, 1995, p. 180).

É a palavra que restringe a significação ampla e geral do substantivo. (ROCHA

LIMA, 2008, p. 96).

Como vemos, são definições que abarcam o critério semântico, que pode ser

apreendido pelas expressões “modifica a compreensão”, “restringe a significação”, mas, que

também ressaltam a característica sintática do adjetivo em relação ao substantivo. Ainda,

conforme Cunha (2010), “é muito estreita a relação entre o substantivo (termo determinado)

e o adjetivo (termo determinante). Não raro, há uma única forma para as duas classes de

palavras e, nesse caso, a distinção só poderá ser feita na frase” (p. 139, grifo do autor).

Page 33: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

31

Por outro lado, cabe ressaltar que as relações sintáticas do adjetivo não se restringem

ao substantivo. Primeiro, porque o adjetivo não é o único termo que pode modificar ou

restringir a compreensão do substantivo. Artigos, numerais, pronomes e, em alguns casos, até

advérbios podem se relacionar com o substantivo, alterando ou restringindo sua significação.

Em segundo lugar, porque o adjetivo não se relaciona exclusivamente com o substantivo. Os

advérbios intensificadores tão, quão, bem, muito, por exemplo, têm uma íntima relação com

os adjetivos e devem, por isso mesmo, ser considerados numa definição mais abrangente e

apropriada.

Sautchuk (2010) resume a definição do adjetivo da seguinte forma: “é adjetivo toda

palavra variável em gênero e/ou número que se deixa anteceder por “tão” (ou qualquer

intensificador, como bem ou muito, dependendo do contexto)” (p. 23). Segundo a autora, a

eficiência desse mecanismo é tanta que funciona até em contextos em que ocorre a

adjetivação de substantivo: Ele não é homem para isso. (= Ele não é tão homem para isso.)

Há, na definição de Sautchuk, um aspecto muito importante na abordagem dos

adjetivos: o aspecto mórfico. Quando a autora se refere ao adjetivo como uma palavra

variável em gênero e/ou número temos presente a propriedade de flexão, necessária para a

concordância com o substantivo. Vejamos algumas definições que incluem, de alguma

maneira, o aspecto formal na definição:

Adjetivo é a palavra que caracteriza os seres. Refere-se sempre a um substantivo

explícito ou subentendido na frase, com o qual concorda em gênero e número.

(CEREJA e MAGALHÃES, 1999, p. 112).

O adjetivo pertence a um inventário aberto, sempre suscetível de ser aumentado. A

estrutura interna ou constitucional do adjetivo consiste nas línguas flexivas, na

combinação de um signo lexical expresso pelo radical com signos morfológicos

expressos por desinências e alternâncias, ambas destituídas de existência própria

fora dessas combinações. No português, entre as desinências está a marca de

gradação, isto é, o grau absoluto ou relativo da parte, ou aspecto (qualidade)

significado no radical, (belo – belíssimo), bem como afixos de gênero e de número.

A relação gramatical instaurada entre o signo delimitador e o signo delimitado é

geralmente expressa pela “concordância”. (BECHARA, 2009, p. 142).

Nas definições acima, fica claro a menção aos aspectos morfológicos dos adjetivos. Na

primeira, os autores restringem-se à propriedade de flexão genérico-numérica, porém,

Page 34: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

32

analisando a definição do ponto de vista do tríplice critério morfo-sintático-semântico vemos

que é completa, visto que, além da referência à flexão, também traz elementos sintáticos ao

supor a relação entre adjetivo e substantivo. E é semântica porque usa o verbo “caracterizar”,

que remete a algum sentido.

Quanto à segunda definição, Bechara se refere também à marca de gradação como

aspecto morfológico a ser considerado. Vimos que o fenômeno da gradação é característico

dos adjetivos. De acordo com Macambira (1999), adjetivo é toda palavra que admite os

sufixos –íssimo, -érrimo, -limo, correspondendo semanticamente ao advérbio muito.

Constituem-se como exceções as formas: pouco – pouquíssimo, muito – muitíssimo, e as

formas populares: mesmo – mesmíssimo, coisa – coisíssima. O autor destaca também a

característica mórfica de aceitar o sufixo adverbial –mente, resultando em oposições formais

entre adjetivos e advérbios.

Em consonância com a definição de Macambira, temos a de Luft (2002), que abrange

os três critérios e faz o seguinte registro com relação à característica morfológica: “[...] se for

quantificável, aceita o sufixo –íssimo: altíssimo, pequeníssimo, fortíssimo, etc.; a maioria

deles combina-se também com –mente (adverbizador): altamente, pequenamente, fortemente,

heroicamente, levemente, etc.” (p. 145).

Para Castilho e Elias (2012), a definição do adjetivo começa justamente por suas

características morfológicas, demonstrando que o adjetivo aceita flexão de grau4, expressa por

sufixos como –íssimo (branquíssimo), terminações que são vestígios do latim (maior, menor,

melhor, pior), e expressões comparativas (mais branco do que neve, tão branco como a neve,

a mais branca das neves).

Os adjetivos, segundo os autores, podem ser criados por derivação de modo, expressa

por –vel (amável = o que pode ser amado; provável = o que pode ser provado; etc.). O

adjetivo aceita a derivação por –mente, transformando-se em advérbios (fácil = facilmente).

Além disso, o adjetivo também aceita a derivação de quantificação, expressa por –oso, -al,

(estudioso = o que estuda muito; sensacional = o que causa muita sensação). Todas essas

características “apontam para a conveniência de distinguir adjetivos de substantivos do ponto

de vista da morfologia” (CASTILHO e ELIAS, 2012, p. 230).

4 Ver observações em Bagno (2011, p. 681-682) sobre o uso do termo “flexão de grau”.

Page 35: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

33

Num esforço para salvar a intuição tradicional5, que agrupa em uma mesma classe

adjetivos e substantivos, Perini (2010) os reúne em uma subclasse dos “nominais”, que ele

chama de “nomes”. Segundo o autor, “uma das características dos nomes como grupo é

muitos deles terem potencial referencial, e muitos potencial qualificativo” (p. 301) 6.

Bagno (2011) reconhece as características comuns entre substantivos e adjetivos,

filiando-se às ideias de Perini, e inclui os adjetivos na classe dos “nomes”, com os

substantivos. Contudo, reconhece as distinções nítidas entre essas duas categorias, conforme

podemos verificar na tabela a seguir:

Tabela 2 – Diferenças entre adjetivos e substantivos

Propriedades morfossintáticas Adjetivo Substantivo

1. Exibe marcas de gênero e número X X

2. Tem gênero como propriedade inerente, não flexional X

3. Pode exibir marcas de gradação X

4. Aceita o sufixo –vel para expressão de potencialidade X

5. Aceita o sufixo –mente para expressão de modo X

6. Aceita o sufixo –oso para expressão de quantificação e intensidade X

7. Aceita os sufixos –ês, -ense na formação de gentílicos X

8. Pode ser modalizado por um advérbio X

9. Exerce função predicativa em minissentença X

Fonte: BAGNO (2011, p. 677) com adaptações.

Como se vê, uma excelente maneira de apresentar as características, com informações

claras e precisas, que permitem identificar com facilidade os adjetivos, sem a necessidade de

uma definição semântica, predominante nos compêndios analisados.

5 As gramáticas antigas falam de “nomes substantivos” e “nomes adjetivos”.

6 Ver definição de Perini (2010, p. 290-291) para classe e função.

Page 36: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

34

4.4 O ARTIGO

Definir ou indefinir, determinar ou indeterminar, particularizar ou generalizar. Eis a

característica predominante nas definições do artigo, presentes em muitos compêndios. Na

realidade, trata-se de um conceito apoiado na poderosa propriedade

identificatória/classificatória dos artigos. Segundo Bagno (2011), o artigo só é usado “[...]

quando já fizemos menção anterior do nome que vai agora aparecer precedido do artigo (Era

uma vez uma rainha muito bonita. Certo dia, a rainha ficou doente...)” (p. 782) ou quando se

tratar de entidade conhecida universalmente: o planeta, o Brasil, a governadora do Estado, etc.

Podemos notar que o potencial (definidor ou indefinidor) se constitui no contexto

textual e não justifica definições, como as que seguem abaixo, que raramente consideram as

propriedades textuais do artigo que, como vimos, determina o sentido do substantivo ou

assinala que o sentido das expressões está pressuposto.

Artigo é a palavra que se antepõe ao substantivo para definir ou indefinir o ser

nomeado por esse substantivo. (FARACO e MOURA, 1999, p. 262).

Artigo é a palavra que se coloca antes de substantivos para defini-los ou indefini-los.

(FERREIRA, 1992, p. 88).

Artigos são palavras que antecedem os substantivos e modificam-lhes o sentido, seja

para defini-los ou particularizá-los, seja para indefini-los ou generalizá-los.

(CEREJA e MAGALHÃES, 1999, p. 120).

Evidentemente, são definições que se apoiam no critério semântico (apesar de

considerarem o aspecto sintático: relação artigo/substantivo) e que, segundo Macambira

(1999), não podem ser sustentadas, pelo fato de haver outras palavras na língua que

particularizam e generalizam, e nem por isto serão considerados artigos, como, por exemplo,

meu, qualquer, entre outras.

Ainda segundo o autor, o artigo não tem forma especial que o distinga como classe

gramatical; as flexões de gênero e número que assume não têm caráter classificatório, uma

vez que outras classes também o fazem: substantivos, adjetivos, pronomes e numerais.

Page 37: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

35

De fato, outras classes também têm potencial classificatório, mas não podemos deixar

de considerar que o artigo é especialmente utilizado para determinar o gênero dos nomes, de

modo que podemos afirmar que “é feminino todo substantivo que vem antecedido do artigo a

e é masculino todo substantivo que vem antecedido do artigo o”. (BAGNO, 2011, p. 783,

grifo do autor). Alguns gramáticos consideram esta característica morfológica em suas

definições:

Artigo é uma palavra que antepomos aos substantivos para dar aos seres um sentido

determinado ou indeterminado. O artigo indica, ao mesmo tempo, o gênero e o

número dos substantivos. (CEGALLA, 2000, p. 153).

Artigo: é a palavra que antecede o substantivo e indica seu gênero e número,

individualizando-o ou generalizando-o. (SACCONI, 1994, p. 132).

Artigo é a palavra que precede o substantivo, indicando-lhe o gênero e o número; ao

mesmo tempo, determina ou generaliza o substantivo. (NICOLA e INFANTE, 1995,

p. 176).

Do ponto de vista morfológico, Macambira (1999) destaca que, assim como o

pronome, o artigo recusa os sufixos aumentativo e diminutivo, característicos do substantivo,

e os sufixos superlativos, característicos do adjetivo, o que seria “um motivo entre outros para

incluí-lo na classe do pronome” (p. 46).

A classificação do artigo como uma classe autônoma vem gerando contestação por

parte de muitos linguistas e gramáticos. Vejamos a definição de Luft:

Trata-se do demonstrativo de terceira pessoa o (comparar com aquele, aquilo), mais

vago, sem referência pessoal, de emprego mais frequente e função múltipla:

identifica toda uma classe de palavras - os substantivos; “atualiza-os” na frase; reduz

substantivos próprios a comuns; substantiva qualquer classe de palavras; tem as

vezes alcance semântico, na marcação do gênero (o caixa\a caixa; o moral\ a moral;

um lente\uma lente; o crista\a crisma); outras vezes, função estilística (Maria\a

Maria); etc.(LUFT, 2002, p. 160).

Para Monteiro (2002), “o artigo mantém a força demonstrativa ou significado dêitico

dos pronomes” (p. 233), além disso, o fato de muitas gramáticas considerarem o artigo como

Page 38: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

36

pronome demonstrativo, quando antecede à preposição de ou ao relativo que, é, nas palavras

do autor, uma verdadeira falta de critério, pois dá a mesma forma a duas classes distintas,

unicamente com base na presença ou ausência de um substantivo. “Os artigos são pronomes,

sempre em função adjetiva” (MONTEIRO, 2002, p. 235).

Para Castilho e Elias (2012), o artigo “é um marcador pré-nominal, átono, associado

necessariamente ao substantivo, com o qual constitui um vocábulo fonético. O vocábulo

fonético é a soma de mais de um vocábulo léxico. Assim, escrevemos os meninos, dois

vocábulos léxicos, mas dizemos [uzmi‟ninus], um vocábulo fonético” (p. 197).

É um marcador nominal pré-nuclear porque não aparece após o substantivo. Do ponto

de vista sintático é indiferente a presença ou a ausência do artigo, exceto quando o artigo

transforma outras classes de palavras em substantivo. Além dessa definição, que inclui uma

interessante observação fonológica, os autores demonstram as diferenças entre os artigos

definidos e os indefinidos, concluindo que o artigo indefinido é um pronome, ou mais

propriamente um quantificador indefinido.

4.5 O NUMERAL

NUMERAL: A esta classe pertencem as palavras que encerram ideia de número:

um, dois, primeiro, décuplo.” (ALMEIDA, 1999, p. 81, grifo do autor).

Mais uma vez, a definição tradicional encontrada nos compêndios privilegia o aspecto

semântico. Felizmente, a ideia de número, posição ou sequência, parece não trazer maiores

dificuldades para a compreensão do aluno. O problema do numeral é, segundo Duarte e Lima

(2003), “saber se, de fato, deve-se destinar uma classe à parte a ele ou se, na verdade, deveria

constituir parte de outras classes. E mais, decidido que formam uma classe à parte, decidir que

elementos formam esta classe” (p. 72).

Vejamos outras definições semelhantes:

NUMERAL é uma palavra que exprime número, ordem numérica, múltiplo ou

fração. (CEGALLA, 2000, p. 167).

Page 39: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

37

Para indicarmos uma quantidade exata de pessoas ou coisas, ou para assinalarmos o

lugar que elas ocupam em determinada série, empregamos uma classe especial de

palavras – os numerais. [...] Os numerais podem ser cardinais, ordinais,

multiplicativos e fracionários. (CUNHA, 2010, p. 211, grifo do autor).

Numeral é a palavra que expressa quantidade exata de pessoas ou coisas ou o lugar

que elas ocupam numa determinada sequência. (CEREJA e MAGALHÃES, 1999, p.

121).

Como podemos observar, as diversas definições apresentadas, embora presentes em

compêndios que abrangem um período temporal significativo, não incorporaram nenhuma

inovação. Sabemos que o enquadramento dos numerais em uma classe à parte é questionado

por linguistas e gramáticos. Para Monteiro (2002), por exemplo, a divisão feita pela NGB em

cardinais, ordinais, multiplicativos e fracionários, gera apenas confusões, e argumenta que “se

há uma classe para os nomes que se referem a número, deveria haver outras para os

designativos de cor, de sentimento, de nacionalidade, de forma geométrica etc.” (p. 233).

De acordo com Macambira (1999), que sempre considera outros aspectos além do

semântico, somente o cardinal é que apresenta características mórficas próprias do numeral.

Formalmente, o numeral assemelha-se ao pronome, pois rejeita os sufixos de aumentativo e

diminutivo (próprios dos substantivos), como também o superlativo e o adverbial –mente

(próprios dos adjetivos). Esse entendimento se faz presente, em certa medida, na conceituação

abaixo:

É a palavra de função quantificadora que denota valor definido: “a vida tem uma só

entrada: a saída é por cem portas” (MM). Os numerais propriamente ditos são os

cardinais: um, dois, três, quatro, etc., e respondem às perguntas quantos? Quantas?

(BECHARA, 2009, p. 203).

Analisado do ponto de vista sintático, o numeral atua ora como núcleo de um sintagma

nominal (substantivo), ora como determinante (quantificador, adjunto adnominal, etc.),

combinando-se imediatamente com o substantivo, à semelhança do artigo, do adjetivo e

também do pronome. Essa dupla possibilidade funcional permite definições do tipo:

Page 40: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

38

Numerais são palavras que designam os números, ou a ordem de sua sucessão: três,

dezessete, terceiro, vigésimo. Podem-se usar individualmente, com o valor de

substantivos (três e dois são cinco), ou como adjetivos, isto é, junto de um

substantivo, ao qual acrescentam uma indicação de quantidade, ou de ordem (três

livros, dois álbuns; quinto aluno da classe). (ROCHA LIMA, 2008, p. 106).

Palavra que denota a quantidade, ordenação ou proporção dos seres: três, terceiro,

terço, triplo, etc. [...] Refere-se a um substantivo (numeral adjetivo) ou substitui-o

(numeral substantivado): comprei dois livros\ comprei dois; encontrei ambos os

colegas\encontrei ambos. (LUFT, 2002, p. 148).

Monteiro (2002) conclui que os numerais pertencem à classe dos nomes, exercendo

funções de substantivo ou de adjetivo. Exemplifica assim: “em dois é par, o nome que traduz

a ideia de número é substantivo. Em dois pares, já se torna adjetivo” (p. 232).

Ferrarezi Jr. e Teles (2008) colocam os numerais na categoria dos “quantificadores -

QT”, subcategoria dos chamados “nomes de adjunção - NA”, que são aqueles que entram em

relação direta (sem a interligação de conectivo) de concordância (em gênero e número) com o

“nome nuclear” de um determinado sintagma. Entre as subcategorias dos “nomes de

adjunção” estão: o artigo, o adjetivo, os quantificadores e o pronome.

Assim, os quantificadores são os “NA” que “indicam quantidade, ordem (...) e mesmo

quantidades indefinidas” em “concordância explícita ou implícita7 com o nome nuclear ao

qual se referem” (FERRAREZI JR e TELES, 2008, p. 145). Porém, os autores ressalvam que

os “fracionários” e “multiplicativos” não se enquadram nessa categoria, atuando como nomes

nucleares e exigindo, muitas vezes, complementação nominal.

Para Perini (2010), a subclasse dos “nominais”, chamada de “quantificadores”, inclui

os numerais cardinais, pois “ocorrem tipicamente antes do núcleo, aceitam artigo o e podem

vir antes ou depois dos demais quantificadores” (p. 304). Segundo o autor, podem ocorrer

também depois do núcleo (ex.: o capítulo quarenta e nove), designando a ordem em uma

sequência e funcionando como ordinais para “contornar a complicação extrema do sistema de

ordinais do português padrão” (p. 304). Os ordinais, por sua vez, funcionam como nomes e

ocorrem depois dos quantificadores (mas sempre antes do núcleo).

7 Não são todas as palavras dessa subcategoria que apresentam possibilidade de flexão em gênero, como é o caso

de alguns adjetivos (FERRAREZI JR; TELES, 2008, p. 145).

Page 41: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

39

Finalmente, Azeredo (2011), resume a questão afirmando que o numeral é uma

propriedade semântica de uma classe dos nomes, não havendo nenhuma razão, do ponto de

vista gramatical, para conferir uma classe à parte a essas palavras que expressam quantidade

exata. Na definição proposta, os numerais são substantivos ou adjetivos, segundo a posição

que ocupam no sintagma. “Com efeito, o numeral é sempre constituinte de um sintagma

nominal, ora ocupando a posição de núcleo – numerais fracionários e multiplicativos -, ora

ocupando a posição de termo adjacente – numerais cardinais e ordinais” (p. 173-74).

4.6 O PRONOME

A etimologia do termo pronome é, segundo o dicionário Houaiss, proveniente do latim

pronomen,ìnis, de pro- 'em lugar de' nomen 'nome', calcado no grego antónúmos, de antí 'em

lugar de, em troca de' + ónoma,atos 'nome'.

A quinta classe compreende os pronomes (lat. pro = em lugar de), ou seja, palavras

que ou substituem ou podem substituir um nome, um substantivo: ele, que, quem.

(ALMEIDA, 1999, p. 81, grifo nosso).

Segundo Monteiro (2002), “a gramática define o pronome como a palavra que

substitui o nome. Mas, na hora de usar este termo, esquece-o e fala em substantivo” (p. 228).

Para o autor é preferível manter a terminologia nome, conservando um paralelo com o termo

pronome. De maneira geral, os compêndios utilizam-se do termo substantivo, em alguns casos

encontramos o termo ser ou ente:

É a palavra que denota o ente ou a ele se refere, considerando-o apenas como pessoa

do discurso. (ROCHA LIMA, 2008, p. 110, grifo nosso).

Nas definições encontradas, o critério sintático é preponderante, e o pronome é

definido como a palavra que substitui ou acompanha o substantivo, exercendo

respectivamente as funções de substantivo ou de adjetivo. Definição que reforça a ideia de

Page 42: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

40

que o substantivo e o adjetivo são propriamente funções e não classes de palavras.

Imaginemos a confusão que isso pode causar na cabeça dos alunos:

[...] pronome é a palavra que substitui ou acompanha o substantivo; no primeiro

caso, ao substituir o substantivo, o pronome desempenha a mesma função de um

substantivo, daí ser chamado de pronome substantivo; no segundo caso, ao

modificar o substantivo, o pronome exerce a função de um adjetivo, daí ser chamado

de pronome adjetivo. (NICOLA e INFANTE, 1995, p. 201, grifo nosso).

A essa altura os alunos estarão tentando lembrar qual é mesmo a função do

substantivo? E do adjetivo? Em Cunha e Cintra (2008) os pronomes são considerados

palavras que “desempenham na oração as funções equivalentes às exercidas pelos elementos

nominais” (p. 161), quais sejam: representar um substantivo ou acompanhar um substantivo,

determinando-lhe a extensão do significado (adjetivo). Definição que, segundo Duarte e Lima

(2003), “enfatiza somente o caráter substitutivo do pronome e não sua natureza mostradora,

isto é, dêitica” (p. 29). Além disso, a função de acompanhar o substantivo determinando-lhe a

extensão do significado não difere alguns pronomes dos adjetivos.

Segundo Perini (2010), do ponto de vista sintático, os pronomes pessoais (eu, ele/ela,

eles/elas, você, vocês, nós e também tu para muitos falantes, além do reflexivo se) só ocorrem

como núcleo do SN, ou seja, um SN cujo núcleo é um pronome só contém esse pronome, e

nenhum outro termo: Nós chegamos. As construções do tipo Os nós / nós cansados chegamos,

são inaceitáveis.

Castilho e Elias (2012) observam que, sintaticamente, os pronomes apresentam

diferenças entre si: os possessivos, os demonstrativos e os quantificadores indefinidos, por

exemplo, podem aparecer antes ou depois dos substantivos; já os pronomes pessoais e os

relativos não podem aparecer nessa posição.

São observações importantes, mas geralmente não são consideradas no momento da

conceituação pelos gramáticos. Assim, o aspecto sintático encontrado nas definições

analisadas não traz elementos suficientes para que possamos identificar características

específicas dos pronomes que os diferencie de outras classes. Segundo Ilari e Basso (2011), a

classe dos pronomes, como a dos advérbios, é uma das mais heterogêneas e reúne palavras

que exercem funções muito diferentes, problema que se buscou resolver com a criação de

Page 43: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

41

várias subclasses distintas de pronomes: os pessoais, os possessivos, os demonstrativos, os

relativos e os indefinidos.

A relação dos pronomes com as pessoas do discurso, retomando a ideia de Duarte e

Lima (2003), incorpora à definição aspectos mórficos e semânticos:

Pronomes são palavras que substituem os substantivos ou os determinam, indicando

a pessoa do discurso. (CEGALLA, 2000, p. 170, grifo nosso).

Pronome é a classe de palavras categoremáticas que reúne unidades em número

limitado e que se refere a um significado léxico pela situação ou por outras palavras

do contexto. De modo geral, esta referência é feita a um objeto substantivo

considerando-o apenas como pessoa localizada do discurso. (BECHARA, 2009, p.

162, grifo nosso).

Macambira (1999) procurou explorar a dimensão mórfica do pronome definindo-o

como um tipo de nome que admite oposição de pessoas gramaticais: a 1ª pessoa definida

oposta à 2ª pessoa definida, estas, por sua vez, opostas à 3ª pessoa definida, e assim,

sucessivamente, em um constante contraste de oposições formais. Sob o aspecto semântico, o

autor se refere às várias possibilidades de significação que as subclasses de pronomes podem

denotar: pessoa, posse, díxis, referência, etc.

Pronomes são palavras que substituem ou acompanham outras palavras,

principalmente os substantivos. Podem também retomar ou remeter a outras

palavras, orações e frases expressas no texto. (CEREJA e MAGALHÃES, 1999,

p. 129, grifo nosso).

Conforme Castilho e Elias (2012), os pronomes pessoais, os possessivos, os

demonstrativos, os quantificadores indefinidos e os relativos integram a classe dos pronomes

porque podem retomar um substantivo previamente enunciado, substituindo-o na sentença. O

nome técnico dessa propriedade de retomada é anáfora. No caso dos pronomes pessoais,

apenas o pronome de terceira pessoa, ele, é anafórico, ou seja, apenas esse pronome pode

retomar alguma informação dada no texto.

Page 44: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

42

“Os pronomes pessoais da primeira e da segunda pessoas, eu e você, designam os

participantes de uma conversação. Juntamente com outras formas que têm a mesma função,

elas são tecnicamente designadas palavras dêiticas” (p. 84).

[...] Os pronomes, vazios de conteúdo semântico, têm significação essencialmente

ocasional, determinada pelo conjunto da situação: eu, situação da pessoa que fala;

meu, situação daquilo que pertence à pessoa que fala; este, situação de proximidade

em relação à pessoa que fala, etc. (ROCHA LIMA, 2008, p. 110, grifo nosso).

Pronome é a palavra que substitui o substantivo ou acompanha o substantivo.

Quando acompanha o substantivo, determina-o no espaço ou no contexto.

(FARACO e MOURA, 1999, p. 283, grifo nosso).

Castilho e Elias (2012) resumem as propriedades dos pronomes observando que eles

podem retomar outra palavra, sendo, portanto, anafóricos; ou localizar no espaço (e no tempo)

os participantes do discurso, sendo dêiticos.

Como observamos, as definições do pronome abrangem aspectos funcionais,

morfológicos e semânticos, mas não os exploram satisfatoriamente, ignorando observações e

análises de estudiosos como Macambira (1999), Castilho e Elias (2012), entre outros, que

apontam para outras abordagens, especialmente as referentes às propriedades textuais, de

caráter anafórico e dêitico, dos pronomes.

4.7 O ADVÉRBIO

Segundo Castilho e Elias (2012) a etimologia da palavra advérbio (lat. ad + verbium,

sendo que verbium deriva de verbum = palavra) foi mal compreendida e, por isso,

encontramos definições de que o advérbio é a palavra que fica próxima do verbo. Por outro

lado, conforme Ilari e Basso (2011), muitos advérbios se enquadram perfeitamente na

definição etimológica de advérbio, que faz pensar em “proximidade ao verbo”. A etimologia

da palavra advérbio, por ser paralela à da palavra adjetivo, “sugere que o advérbio se aplica

ao verbo como o adjetivo se aplica ao substantivo: assim como se pode dizer que a corrida foi

veloz, pode-se dizer que o atleta correu velozmente” (ILARI e BASSO, 2011, p.117).

Page 45: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

43

Advérbio é a palavra invariável que modifica essencialmente o verbo, exprimindo

uma circunstância (tempo, modo, lugar, etc.). (SACCONI, 1994, p. 252, grifo

nosso).

Advérbio é a palavra que basicamente modifica o verbo, acrescentando-lhe uma

circunstância. (NICOLA e INFANTE, 1995, P. 193, grifo nosso).

A riqueza de sentidos desenvolvidos pelo advérbio, de acordo com Castilho e Elias

(2012), dificultou muito a tarefa de sua descrição gramatical, gerando muitas opiniões

divergentes. De maneira geral, os gramáticos concordavam em apenas dois pontos: o advérbio

é uma palavra invariável, que modifica o sentido das palavras a que se aplica.

Advérbio é a palavra invariável que modifica o sentido de um verbo, de um

adjetivo ou de outro advérbio. (FERREIRA, 1992, p. 171, grifo nosso).

Portanto, do ponto de vista morfológico, os advérbios são palavras invariáveis. Isso os

diferencia dos adjetivos, visto que muitos adjetivos funcionam como advérbios. É justamente

essa proximidade com os adjetivos que levou Macambira (1999) a identificar o advérbio

como “toda palavra que termina por meio do sufixo –mente, donde resultam oposições

formais com o adjetivo que lhe corresponde” (p. 42). Por outro lado, o autor reconhece que os

demais advérbios, pertencentes ao sistema fechado, não podem ser formalmente

determinados.

Sob o aspecto sintático, Macambira (1999) destaca a relação do advérbio com os

advérbios de intensidade “tão”, “quão” ou “bem”. Propriedade que, como vimos

anteriormente, também caracteriza os adjetivos, de modo que é preciso lançar mão de um

conceito morfossintático para diferenciá-lo:

Alguns advérbios chamados de intensidade, podem também prender-se a adjetivos,

ou a outros advérbios, para indicar-lhes o grau: muito belo (= belíssimo), vender

muito barato (=baratíssimo). Alguns há, até, que não acompanham a verbos, mas

somente a adjetivos e advérbios – tais como tão, quão, que, em frases assim: nunca

vi olhos tão lindos! Quão bela estás! Que brilhante exame fez você! Por que

chegaste tão cedo? Quão nobremente procedeste! (ROCHA LIMA, 2008, p.174,

grifo nosso).

Page 46: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

44

Sautchuk (2010) define o advérbio como “toda palavra invariável em gênero e/ou

número que se deixa anteceder por “tão” (ou bem ou muito, dependendo do contexto)” (p.

28). Estratégia morfossintática é, sem dúvida, mais eficiente do que a da terminação sufixal

em –mente, pois abrange também a maior parte dos advérbios que não são derivados dos

adjetivos.

As definições que se seguem apontam para a característica que os advérbios têm de

expressar circunstâncias, ou seja, o critério semântico. Segundo Macambira (1999), a questão

de o advérbio exprimir circunstância não é de muita valia, pois para saber o que é advérbio, é

preciso saber o que é circunstância. Entraríamos numa discussão muito mais filosófica do que

linguística.

É a expressão modificadora que por si só denota uma circunstância (de lugar, de

tempo, modo, intensidade, condição, etc.) e desempenha na oração a função de

adjunto adverbial. (BECHARA, 2009, p. 287).

Advérbio é a palavra que geralmente modifica o verbo, indicando as

circunstâncias em que se dá a ação verbal. (CEREJA e MAGALHÃES, 1999, p.

172).

Com relação ao aspecto semântico, Ilari e Basso (2011) fazem uma observação

interessante: “os advérbios de inclusão e exclusão, como só, exemplificam de maneira

particularmente feliz um fenômeno que diz respeito a todos os advérbios, e que decorre de sua

natureza de modificadores: a sentença muda de sentido conforme mudam as expressões a

que o advérbio é aplicado” (p. 118, grifo nosso). Ainda, segundo os autores, os advérbios

também possuem propriedades textuais, visto que muitos advérbios são usados para ligar

segmentos textuais; localizar esses segmentos no tempo e no espaço do discurso; e estabelecer

relações de causa e consequência.

Vejamos o exemplo dado pelos autores:

[Contexto: ele não falou com o diretor], só falou com o secretário pelo telefone.

[Contexto: ele não mandou o pedido de demissão], só falou com o secretário pelo

telefone. [Contexto: ele não falou com o secretário pessoalmente], só falou com o

secretário pelo telefone. (ILARI e BASSO, 2011, p. 118).

Page 47: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

45

Enfim, a definição que Sacconi (1994) dá para os advérbios (é a palavra invariável

que modifica essencialmente o verbo, exprimindo uma circunstância), citada no início desta

subseção, representa bem a maioria das definições aqui analisadas; conjuga os critérios

morfológico, sintático e semântico; mas, deixa de lado uma série de observações que, como

vimos, seria de extrema relevância no momento da conceituação e explicação do tema.

4.8 O VERBO

[...] tais são as palavras que encerram idéia de ação (escrever, cortar, andar,

ferir) ou estado (Pedro é bom). (ALMEIDA, 1999, p. 81, grifo nosso).

Verbo é uma palavra que exprime ação, estado, fato ou fenômeno. (CEGALLA,

2000, p. 182, grifo nosso).

Os verbos são a classe gramatical mais complexa da língua portuguesa. O verbo tem a

morfologia mais rica dentre as classes de palavras, desempenhando um papel fundamental na

organização da sentença e do texto. De acordo com Macambira (1999), a definição tradicional

de verbo, que explora apenas o aspecto semântico, só tem valor se for encarada na perspectiva

do tempo, uma vez que outras palavras também podem encerrar a ideia de ação, e os verbos

também podem expressar outras coisas, inclusive qualidade:

É impossível negar que inundação e tiroteio expressem ação; que chuva e trovão

não sejam fenômenos; que sono e morte não se admitam como estado; impossível

porém afirmar que são verbos. O que vale, portanto, é a perspectiva do tempo, e o

mais que se acrescente há de, por certo, atrapalhar. (MACAMBIRA, 1999, p. 40-

41).

Para entendermos o que é o verbo, portanto, é preciso lançar mão de outras abordagens

que nos permitam identificar suas propriedades gramaticais, semânticas e discursivas. “O

estudo dessas propriedades explicará como criamos e como usamos os verbos, distinguindo-

os das demais classes de palavras de nossa língua” (Castilho e Elias, 2012, p. 129).

Page 48: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

46

Do ponto de vista morfológico, Azeredo (2011) afirma que os verbos são palavras que

ocorrem nos enunciados sob distintas formas e expressam as categorias de tempo, aspecto,

modo, número e pessoa. Segundo o autor, a categoria de tempo é a que melhor caracteriza o

verbo. Quanto às noções de número e pessoa, apesar de não serem inerentes ao verbo, são

necessariamente especificadas quando este se flexiona no tempo.

O verbo expressa um fato, um acontecimento: o que se passa com os seres, ou em

torno dos seres. É a parte da oração mais rica em variações de forma ou

acidentes gramaticais. Estes acidentes gramaticais fazem que ele mude de forma

para exprimir cinco ideias: modo, tempo, número, pessoa e voz. (ROCHA LIMA,

2008, p. 122, grifo nosso).

Assim, vemos que os verbos podem facilmente ser identificados por características

formais, uma vez que só eles admitem as desinências de próprias de número, pessoa, tempo e

modo. Contudo, segundo Sautchuk (2010), “somente os verbos se articulam com os pronomes

pessoais do caso reto” (p. 24-25), sendo facilmente reconhecido do ponto de vista sintático.

Verbo: é a palavra que pode sofrer as flexões de número, pessoa, tempo e modo. [...]

Verbo é, assim, a palavra que pode ser conjugada; indica essencialmente um

desenvolvimento, um processo (ação, estado ou fenômeno). (SACCONI, 1994, p.

187, grifo nosso).

Sintaticamente, “o verbo se destaca dentre as outras classes de palavras por ter a

propriedade de organizar a sentença. Num desfile de escola de samba, o verbo ocuparia

facilmente o lugar de padrinho da escola”. (Castilho e Elias, 2012, p. 134). Entra em questão a

propriedade que os verbos têm de selecionar termos da sentença: a transitividade. Ainda,

segundo os autores, outra propriedade sintática importante é a da concordância. Propriedade

que ocorre simultaneamente com a da transitividade, pois ao mesmo tempo em que o sujeito e

os complementos são escolhidos, traços de gênero, número e pessoa são compartilhados pelo

verbo e pelo sujeito.

Page 49: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

47

Além disso, o verbo tem papel fundamental na frase: é o termo essencial do

enunciado, o núcleo da frase sintaticamente construída, pois há orações sem

sujeito, mas não sem verbo. Porque o consideravam a palavra por excelência é que

os gramáticos latinos lhe deram o nome que tem: verbo, “a palavra”. (LUFT, 2002,

p. 166, grifo nosso).

Segundo Castilho e Elias (2012) a concordância é a relação sintática entre dois termos,

“o ativador” e “o receptor”. No caso da sentença, o ativador é o verbo e o receptor é o sujeito.

Na prática, os autores propõem uma inversão de raciocínio: “no português brasileiro padrão, o

sujeito concorda em pessoa e número com o verbo”. Trata-se de uma perspectiva

morfossintática. Além disso, apontam para uma caracterização sintático-semântica muito

interessante de ser explorada, mas que ultrapassa as intenções deste estudo8.

O VERBO não tem, sintaticamente, uma função que lhe seja privativa, pois também

o SUBSTANTIVO e o ADJETIVO podem ser núcleos do predicado. Individualiza-

se, no entanto, pela função obrigatória de predicado, a única que desempenha na

estrutura oracional. (CUNHA e CINTRA, 2008, p. 392).

Verbo é a palavra que se flexiona em número, pessoa, modo, tempo e voz. Pode

indicar [...] ação; estado ou mudança de estado; fenômeno natural; ocorrência;

desejo. Nas orações, o verbo sempre faz parte do predicado. (INFANTE, 2001, p.

201).

Além de construir a sentença e organizar seus sentidos, o verbo tem um importante

papel na construção do texto. A descrição, a narração e a dissertação constituem tipos textuais

básicos, nos quais os verbos desempenham funções essenciais. Infelizmente, os gramáticos,

de maneira geral, pouco exploram esta abordagem macroestrutural.

8 Ver Castilho e Elias (2012, p. 157-160).

Page 50: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

48

4.9 A PREPOSIÇÃO

Preposição é, pois, uma palavra invariável que tem por função ligar o complemento

à palavra completada. Tais palavras se denominam preposições (do lat. prae =

diante de, mais positionem = posição) pelo fato de porem na frente de uma palavra

outra que a completa. (ALMEIDA, 1999, p. 334, grifo nosso).

Preposição é uma palavra invariável que liga um termo dependente a um termo

principal, estabelecendo uma relação entre ambos. (CEGALLA, 2000, p. 250, grifo

nosso).

As definições correntes tratam a preposição como um conectivo especializado em

“ligar palavras”, geralmente em oposição às conjunções, que teriam como função “ligar

frases”. Segundo Ilari e Basso (2011), nessas definições, a preposição aparece como um

“instrumento gramatical”, isto é, um desses numerosos recursos gramaticais cujo papel se

esgota na medida em que participa da montagem da sentença, “um pouco à maneira dos

parafusos que prendem as peças de estrutura metálica” (122).

Trata-se de um entendimento que reforça a ideia de que as preposições não têm

significado nenhum: “as preposições não têm significação intrínseca, própria, mas relativa,

dependente do verbo com que são empregadas [...] ou da expressão em que aparecem”

(ALMEIDA, 1999, p. 335-36, grifo nosso).

Preposição é a palavra invariável que une termos de uma oração, estabelecendo entre

eles variadas relações. [...] preposição tomada isoladamente nada significa; ela só

tem valor gramatical dentro de um dado contexto. Não exerce propriamente uma

função sintática, sendo considerada mero conectivo. (NICOLA e INFANTE, 1995,

p. 225).

Em relação a expressões como “não têm significação” ou “vazias de sentido”, Castilho

e Elias (2012) perguntam: “se as preposições não têm sentido, por que as sentenças que são

iguais em tudo, menos na escolha das preposições, teriam significados diferentes” (p. 279)?

Page 51: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

49

Vejamos:

a) Cheguei de Recife.

b) Cheguei em Recife.

c) Você está rindo pra mim ou está rindo de mim?9

Os autores afirmam que, exemplos como os acima, “mostram que o sentido básico das

preposições é o de localizar no ESPAÇO ou no TEMPO os termos que elas ligam. É verdade

que alterações de sentido tornam às vezes difícil localizar esse sentido de base” (p.280). E

apontam a principal diferença entre preposições e conjunções: “as preposições ligam palavras

e as sentenças apenas por subordinação, enquanto as conjunções ligam palavras e sentenças

por coordenação, subordinação ou correlação” (Castilho e Elias, 2012, p. 292).

Preposição é a palavra invariável que atua como conectivo entre palavras ou

orações, estabelecendo sempre uma relação de subordinação. Isso significa que,

entre os termos ou orações ligados por uma preposição, haverá uma relação de

dependência, em que um dos termos, ou uma das orações, assume o papel de

subordinante e o outro, de subordinado. (INFANTE, Ulisses, 2001, p. 317, grifo

nosso).

Palavra gramatical com função subordinativa chamada regência. Conetivo

subordinante, indica que seu consequente se subordina a um antecedente (que, no

enunciado pode vir depois ou estar omisso, subentendido). Antepõem-se a Locuções

Substantivas (Sintagmas Substantivos ou Nominais) – manifestados por (pro) nomes

substantivos, adjetivos, simples ou locuções – para formar: a) complementos (verbal

ou nominal), ou b) adjuntos (adverbial ou adnominal). (LUFT, 2002, p. 185).

Segundo Ilari e Basso (2011), a função das preposições é um pouco mais complexa do

que isso e depende do tipo de construção sintática em que elas intervêm:

9 Exemplos retirados de Castilho e Elias (2012, p. 279).

Page 52: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

50

Tabela 3 – Usos das preposições

O constituinte preposicionado tem um papel

essencial acessório

o constituinte

preposicionado depende

de

um verbo 1 gostar de praia,

contar com os amigos

2 chegar de carro

chegar sem carro

um substantivo

ou adjetivo

3 alergia a camarão

desgaste dos pneus

4 casa com jardim

casa sem jardim

um advérbio 5 relativamente à altura

Fonte: ILARI e BASSO (2011, p. 122).

As cinco diferentes possibilidades de relação apontadas na tabela remetem ao fato de

que uma preposição, na maioria de seus usos, é seguida imediatamente por sintagma nominal.

Dessa forma, conforme os autores, “a construção assim formada pode depender por sua vez

de um substantivo, de um adjetivo, de um verbo ou de um advérbio, e pode completar essas

palavras de maneira essencial ou acrescentar-se a ela de maneira acessória” (p. 123).

4.10 A CONJUNÇÃO

O gramático Napoleão Mendes de Almeida assim define a conjunção:

É toda a palavra que serve para ligar, não palavras, como a preposição, mas orações.

Exs.: Fomos cedo e voltamos tarde. Desejo que venhas. (ALMEIDA, 1999, p. 81).

Evidencia-se uma definição sintática, que destaca a palavra a partir de sua função na

oração (“que serve para”), ou melhor, “nas orações”, uma vez que o autor enfatiza muito bem

que a conjunção não liga palavras simplesmente, mas orações. Entre os exemplos dados pelo

gramático encontramos o seguinte: “O rústico, porque é ignorante, vê que o céu é azul; mas o

filósofo, porque é sábio e distingue o verdadeiro do aparente, vê que aquilo que parece céu

azul, nem é azul, nem é céu” (p. 345). Um exemplo interessante, porém, infelizmente

carregado de preconceito, que relaciona o termo rústico (campestre, rural,) com a ignorância,

desvalorizando a pessoa que vem do campo.

Page 53: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

51

Conjunção é a palavra que tem por função básica ligar duas orações. (FERREIRA,

1992, p. 175).

Palavra gramatical invariável que estabelece coordenação ou subordinação entre

dois membros da oração ou entre uma palavra e uma oração, entre duas orações, e,

mais raramente, entre dois períodos. (LUFT, 2002, 189).

Bechara também aponta a propriedade funcional da conjunção (“que têm por

missão”), e acrescenta o termo “enunciado”, próprio de teorias linguísticas mais atuais. A

tipificação em “coordenadas e subordinadas” reforça o foco na característica sintática.

A língua possui unidades que têm por missão reunir orações num mesmo enunciado.

Estas unidades são tradicionalmente chamadas conjunções, que se repartem em dois

tipos: coordenadas e subordinadas. (BECHARA, 2009, p. 319).

Rocha Lima assim define as conjunções:

Conjunções são palavras que relacionam entre si: a) dois elementos da mesma

natureza (substantivo + substantivo, adjetivo + adjetivo, advérbio + advérbio,

oração + oração, etc.). b) duas orações de natureza diversa, das quais a que começa

pela conjunção completa a outra ou lhe junta uma determinação. (ROCHA LIMA,

2008, p. 184, grifo nosso).

Agora, o gramático fala em relacionar elementos da mesma natureza, ou seja, além de

orações, a conjunção relaciona palavras de idêntica natureza morfológica (substantivo +

substantivo, adjetivo + adjetivo, etc). Para Celso Cunha (2010), as conjunções são “vocábulos

gramaticais que servem para relacionar duas orações ou dois termos semelhantes da mesma

oração” (p. 334). Destaca que são dois termos da mesma oração, e não remete à natureza das

palavras.

Ilari e Basso (2011) consideram essas ideias bastante razoáveis como ponto de partida

para uma reflexão sobre as conjunções, pois descrevem corretamente um bom número de

casos e mostram a necessidade de uma subdivisão (coordenação e subordinação) que, de fato,

parece real. No entanto, segundo os autores, essas definições nos levam a pensar que as

Page 54: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

52

possibilidades de conexão entre orações passam necessariamente por uma opção entre

coordenativas e subordinativas, porém na prática, “qualquer relação entre orações pode ser

expressa pela coordenação, pela subordinação ou pela simples justaposição10

” (p. 119).

Conjunções são palavras invariáveis que unem termos de uma oração ou unem

orações. As conjunções podem relacionar termos de mesmo valor sintático ou

orações sintaticamente equivalentes – as chamadas orações coordenadas – ou

podem relacionar uma oração com outra que nela desempenha função sintática –

respectivamente, uma oração principal e uma oração subordinada. (CIPRO NETO

e INFANTE, 1998, p. 325).

Por ser invariável, segundo Macambira (1999), a conjunção não pode ser identificada

pelo critério mórfico. Para o autor, o critério semântico também não ensina a descobrir por

meios linguísticos a divisão das conjunções, sendo assim, é com base na sintaxe que devem

ser definidas, “ainda que o emprego das palavras seja muito variado e se torne às vezes difícil

determinar em que se basear” (p. 76).

4.11 A INTERJEIÇÃO

Interjeição é toda palavra ou expressão usada para exprimir, de forma intensa, viva e

instantânea, nossos estados emocionais. (FERREIRA, 1992, p. 175).

A definição acima se fundamenta exclusivamente no critério semântico para definir a

interjeição. Considerando que, como nos diz Bagno (2011) “toda e qualquer palavra pode se

transformar numa interjeição: Lindo! Mesmo?! Não!? Ela?! Eu?! Quem!? Agora!? Vamos!

Chega! Socorro! Ajuda! Rua!” (p. 491), isso pode dificultar a compreensão exata do que seja

uma interjeição se outros critérios não forem considerados, entre eles, a ideia compartilhada

por alguns gramáticos de que as interjeições nem deveriam ser estudadas como um classe de

palavras:

10

Ver Ilari e Basso (2011, p. 118-122).

Page 55: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

53

Interjeição é uma espécie de grito com que traduzimos de modo vivo as nossas

emoções. [...] Não incluímos a interjeição entre as classes de palavras por

equivaler a um vocábulo-frase. Com efeito, traduzindo sentimentos súbitos e

espontâneos, são as interjeições gritos instintivos, equivalendo a frases emocionais.

Na escrita, as interjeições vêm, de regra, acompanhadas do ponto de exclamação (!).

(CUNHA, 2010, p. 340-341, grifo nosso).

.

Para Duarte e Lima (2003), o problema básico da interjeição é, justamente, “saber se

ela constitui um vocábulo ou uma frase” (p. 70). Segundo Bagno (2011), “uma interjeição

constitui, de fato, um fenômeno de entoação, prosódico, e não uma categoria lexical plena

como as demais” (p. 425). Mostrando que palavras de qualquer classe, ou mesmo uma

sentença inteira pode constituir uma interjeição: “Fogo!”, “Chega!”, “Demais!”, “Gostosa!”,

“Valei-me, minha Nossa Senhora da Abadia!”. Concordando, portanto, com a definição de

Cunha. A ideia de que a interjeição se constitui em uma palavra-frase, um grupo de palavras

ou mesmo uma oração se faz presente nas seguintes definições:

Interjeição é a palavra que expressa estados emotivos. Como tem sentido completo,

trata-se de uma palavra-frase. (FARACO & MOURA, 1999, p. 423, grifo nosso).

É a expressão com que traduzimos os nossos estados emotivos. Têm elas existência

autônoma e, a rigor, constituem por si verdadeiras orações. (BECHARA, 2009, p.

330, grifo nosso).

A NGB a considerou uma classe de vocábulos, enquanto que a Linguística moderna

tende a considerá-la frase. Os compêndios aqui analisados classificam as interjeições entre as

dez classes de palavras prescritas pela NGB - a exceção de Cunha (2010) e Cunha e Cintra

(2008) -, sempre a última a ser estudada e com poucas variações nas definições, todas

predominantemente semânticas:

Interjeição é uma palavra ou locução que exprime um estado emotivo: Caramba!

Isto é que se chama talento! (CEGALLA, 2000, p. 277, grifo meu).

Page 56: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

54

Interjeição é a palavra que expressa emoções, apelos, sentimentos, sensações,

estados de espírito. (CEREJA e MAGALHÃES, 1999, p. 194, grifo meu).

De acordo com Ferrarezi Jr e Teles (2008), as gramáticas tradicionais listam exemplos

de expleções (interjeições) muitas vezes arcaicas (que não são usadas há décadas), que podem

parecer engraçadas ao falante brasileiro: Ah!, Oh!, Oxalá!, Irra!, Apre!, Sus!, etc. Essas

expressões, que variam muito de região para região, comumente representam, do ponto de

vista semântico, emoções ou sensações repentinas, “cuja significação pode ser mais

compreendida do que explicada” (p. 189).

Ainda, segundo os autores, as expressões populares Porra! e Puta-merda!,

exprimindo, entre outros sentimentos, dor, ansiedade, insatisfação, nervosismo, susto, já

perderam, em parte, o caráter chulo (de baixo calão) na evolução linguística, sendo usadas

mesmo nas classes tidas como cultas.

Vejamos algumas definições que incorporam o critério morfológico na definição:

Interjeição é a palavra invariável usada para exprimir emoções e sentimentos.

Portanto, de todas as classes de palavras, é a que mais depende de entonação e

contexto. (NICOLA e INFANTE, 1995, p. 235, grifo meu).

Interjeição é a palavra invariável que exprime emoção ou sentimento repentino.

Ex.: Ah!, Puxa!, Raios! (SACCONI, 1994, p. 279, grifo meu).

Segundo Macambira (1999), por se tratar de uma palavra invariável, a interjeição não

devia ser definida pelo critério mórfico. Contudo, reconhece que algumas podem sê-lo, por

contrariarem o sistema fonológico, exibindo fonemas, combinação ou distribuição de fonemas

estranhos à estrutura do idioma: ah, ha, eh, He, ih, hi, oh, ho, uh, hu; psit, pitsiu, hum-hum,

chit, fu. Segundo o autor, existe outra manifestação formal, de ordem prosódica ou supra-

segmental, que geralmente marca a presença da interjeição: é a entoação. “A mesma

interjeição pode exprimir alegria, tristeza, espanto, aborrecimento ou desprezo, além de outros

sentimentos, conforme o tom especial de que se acompanha” (p. 81).

Page 57: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

55

É a palavra que exprime emoção. As interjeições são elementos afetivos da

linguagem, e valem por frase inteira, cujo sentido, às vezes, pode variar segundo a

entoação que as acompanha. (ROCHA LIMA, 2008, p. 190, grifo nosso).

Acompanham-se de um contorno melódico exclamativo. Podem, entretanto,

assumir papel de unidades interrogativo-exclamativas e de certas unidades próprias

do chamamento, chamadas vocativo, e ainda por unidades verbais, como é o caso do

imperativo. (BECHARA, 2009, p. 330 – 331, grifo nosso).

Uma definição do ponto de vista sintático, no entanto, é difícil de ser encontrada.

Bechara (2009) observa que “em certas situações algumas podem estabelecer relações com

outras unidades e com elas constituir unidades complexas” (p. 330-331). Para Macambira

(1999), no entanto, a interjeição está sintaticamente solta, livre, não forma sintagma com

membro algum da oração, podendo lançar-se no começo ou no fim, bem como entre qualquer

sintagma sem alterar a estrutura oracional.

No entanto, Ferrarezi Jr e Teles (2008), afirmam que as expleções (interjeições) “não

adquirem função sintática definida na estrutura frasal, embora não possam ser utilizadas em

qualquer posição sintática: [...] O porcaria! Leite quente derramou. O leite porcaria! quente

derramou. O leite quente porcaria! derramou.” (p. 187/188). Esses exemplos demonstrariam

que há certas restrições sintáticas em relação ao uso de interjeições, mas “não porque as

expleções gerem as restrições, mas porque os outros termos geram essas restrições a

intercalações de expleções” (p. 188).

Concluindo, de acordo com Sautchuk (2010), são muitas as situações em que se pode

empregar a interjeição, que, em qualquer caso, é palavra ou expressão que segue à risca seu

sentido etimológico de palavra interjecta, isto é, lançada entre os outros elementos oracionais.

“Como tal, não contrai relação sintática com nenhum outro termo, apesar de poder, sozinha,

constituir uma frase/oração: Oh! = estou admirado (Oh! Você chegou?)” (p. 31).

Page 58: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

56

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise que aqui empreendemos nos permite afirmar que, de fato, as definições

utilizadas pelos gramáticos carecem, muitas vezes, de aprofundamento e de uma abordagem

mais conectada com os estudos científicos sobre o tema. A comparação entre as definições

revela que não há diferenças significativas entre os conceitos formulados pelos gramáticos ao

longo do tempo. Pelo contrário, muitas gramáticas atuais adotam os mesmos critérios

daquelas publicadas a décadas atrás e, não raramente, desconsideram aspectos relevantes que

poderiam facilitar a compreensão dos conceitos, tanto por parte dos alunos como dos próprios

professores.

Mesmo havendo um consenso entre os gramáticos quanto à importância de considerar

os aspectos morfológicos, funcional e semântico para a definição, na prática o que

encontramos são definições de caráter predominantemente semântico, sobretudo em relação

às classes lexicais (abertas), conferindo-as um caráter muito mais filosófico do que

linguístico. A significação para a qual a palavra remete é, naturalmente, fundamental, mas não

deve ser empregada isoladamente quando da conceituação, pois, como observamos na análise,

muitas classes diferentes podem apontar para sentidos comuns.

Além disso, sabemos da importância que o aspecto formal tem para a identificação das

palavras, tendo em vista ser a forma da palavra com que, primeiramente, o aprendiz se depara.

No entanto, o aspecto mórfico não é explorado adequadamente e, de maneira geral, quando

considerado, restringe-se à indicação de variabilidade ou invariabilidade das classes.

Quanto ao aspecto funcional, verificamos que foi sendo incorporado pelos gramáticos

ao longo dos últimos anos. As gramáticas funcionalista e gerativista são, sem dúvida,

responsáveis por isso. As palavras, como sabemos, não ocorrem isoladas de um contexto, mas

sempre em relação com outras e, na realidade, não podemos desconsiderar que as

propriedades sintáticas, muitas vezes, alteram a forma e o sentido das palavras.

A análise também revela que, apesar dos avanços científicos advindos da Linguística

Textual, da Linguística Aplicada, da Sociolinguística, etc., as propriedades textuais das

classes de palavras são totalmente ignoradas, desconsiderando também as orientações

propostas nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa - PCNs que dão

ênfase ao uso da linguagem e à valorização da língua falada.

Page 59: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

57

A incoerência e inconsistência teórica se revelam no uso de determinados termos,

como substantivo e adjetivo, ora como classe de palavras ora como função (pronome

substantivo e pronome adjetivo) gerando confusão e prejudicando o entendimento. Soma-se a

isto o fato de que os compêndios de gramática normativa privilegiam o enfoque do enunciado,

ou seja, da palavra desprendida de suas condições de produção, isolada do contexto.

Dessa maneira, acreditamos que a análise comparativa das definições de classes de

palavras, encontradas nos compêndios de gramática normativa, demonstra que, por trás dos

conceitos existem, obviamente, percepções teóricas e ideológicas que insistem em manter

inalteradas as bases em que se fundamenta o sistema de ensino público brasileiro. Trata-se de

uma postura de manutenção de uma política que ignora a diversidade linguística e insiste em

ditar regras como se fossem leis divinas e, portanto, inquestionáveis.

Assim, compreendemos que o compêndio de gramática não deve ser analisado

desconsiderando-se a realidade na qual está inserido. O descompasso teórico que se configura

está intimamente ligado à crise social e, como muito bem nos ensina Magda Soares, a

linguagem é um fenômeno social, de modo que existem relações de força, materiais e

simbólicas, em constante conflito. O compêndio de gramática deve ser o instrumento de

trabalho do professor(a) por excelência, não o único certamente, mas aquele que ofereça

subsídios teóricos (e muitas vezes práticos, na forma de exercícios) ao professor(a).

Não consideramos, porém, que o professor(a) seja um mero repetidor de manuais,

simplesmente repassando as informações ali contidas sem nenhuma reflexão. Mas,

considerando o cenário de desvalorização, de despreparo, de deficiência na formação dos

professores, de ausência de uma formação continuada realmente eficiente, de falta de tempo

para leitura e atualização, muitas vezes é o que ocorre. O pior é que, geralmente, a referência

em sala de aula restringe-se ao uso de manuais ou livros didáticos, que reproduzem fielmente

os compêndios mais conservadores, e repetem os mesmos erros.

Felizmente, o surgimento de trabalhos inovadores nos últimos anos - como os de

Maria Helena de Moura Neves, de José Carlos Azeredo, de Mário Perini, de Ataliba Castilho,

Marcos Bagno, entre outros -, traz perspectivas de novos rumos, de novas possibilidades de

abordagem, de novas concepções teóricas que permitam àqueles que, como nós, acreditam

que o ensino de gramática, quando adequadamente empregado, pode ser um meio efetivo para

o desenvolvimento das habilidades linguísticas e da competência comunicativa dos alunos.

Page 60: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

58

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática Metódica da Língua Portuguesa. 43. ed. São

Paulo: Saraiva, 1999.

ANTUNES, Irandé. Muito além da Gramática: por um ensino de línguas sem pedras no

caminho. São Paulo: Parábola Editorial, 2007. (Estratégias de ensino; 5)

AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo:

Publifolha, 2011.

BAGNO, Marcos. Gramática pedagógica do português brasileiro. São Paulo: Parábola

Editorial, 2011.

BAGNO, Marcos. Dramática da língua portuguesa. Tradição gramatical, mídia e exclusão

social. São Paulo: Loyola, 2000.

BASÍLIO, Margarida. Formação e classes de palavras no português do Brasil. 2. ed. 2.

reimp. São Paulo: Contexto, 2009.

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de janeiro: Nova

fronteira, 2009.

CAMARA JR., Joaquim Mattoso. Estrutura da língua portuguesa. 33. ed. Petrópolis, RJ:

Vozes, 2001.

CASTILHO, Ataliba T. de. Nova gramática do português brasileiro. São Paulo: Contexto,

2010.

CASTILHO, Ataliba T. de. ELIAS, Vanda Maria. Pequena gramática do português

brasileiro. São Paulo: Contexto, 2012.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa: com

numerosos exercícios. 43. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2000.

Page 61: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

59

CEREJA, William Roberto. MAGALHÃES, Thereza Cochar. Gramática reflexiva: texto,

semântica e interação. São Paulo: Atual, 1999.

CIPRO NETO, Pasquale. INFANTE, Ulisses. Gramática da língua portuguesa. São Paulo:

Scipione, 1998.

CUNHA, Celso. Gramática do português contemporâneo: edição de bolso. Org. Cilene da

Cunha Pereira. Porto Alegre: L&PM, 2010.

CUNHA, Celso. CINTRA, Luís F. Lindley. Nova gramática do português contemporâneo.

5. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008.

DUARTE, Paulo Mosânio Teixeira. LIMA, Maria Claudete. Classes e categorias em

português. 2. ed. ver. e ampl. Fortaleza: Editora UFC, 2003.

FARACO & MOURA. Gramática. 18. ed. São Paulo: Ática, 1999.

FERRAREZI JUNIOR, Celso. TELES, Iara Maria. Gramática do brasileiro: uma nova

forma de entender a nossa língua. São Paulo: Globo, 2008.

FERREIRA, Mauro. Aprender e praticar gramática: teoria, sínteses das unidades,

atividades práticas, exercícios de vestibulares: 2º grau. São Paulo: FTD, 1992.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio: o dicionário da língua portuguesa.

8. ed. Curitiba: Positivo, 2010.

FRANCHI, Carlos. Mas o que é mesmo “gramática”? [com] Esmeralda Vailati Negrão e

Ana Lúcia Müller. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.

HOUAISS, A. Dicionário Houaiss eletrônico da língua portuguesa – CD-ROM. Rio de

Janeiro: Objetiva, 2009.

ILARI, Rodolfo; BASSO, Renato. O português da gente: a língua que estudamos a língua

que falamos. 2. ed., 2. reimp. São Paulo: Contexto, 2011.

INFANTE, Ulisses. Curso de gramática aplicada aos textos. 6. ed. São Paulo: Scipione,

2001.

Page 62: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

60

LUFT, Celso Pedro. Moderna gramática brasileira. 2. ed. São Paulo: Globo, 2002.

MACAMBIRA, José Rebouças. A estrutura morfo-sintática do português: aplicação do

estruturalismo linguístico. 9. ed. São Paulo: Pioneira, 1999.

MONTEIRO, José Lemos. Morfologia Portuguesa. 4. ed. rev. e ampl. Campinas, SP:

Pontes, 2002.

NEVES. M. H. de Moura. Gramática na Escola. 8. ed., 2ª reimpressão. São Paulo: Contexto,

2010. (Repensando a Língua Portuguesa).

NEVEU, Franck. Dicionário de ciências da linguagem. Trad. Albertina Cunha e José

Antônio Nunes. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

NICOLA, José de. INFANTE, Ulisses. Gramática Contemporânea da Língua Portuguesa.

14. ed. São Paulo: Scipione, 1995.

PERINI, Mário A. Gramática do português brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial, 2010

(Educação linguística; 4).

PERINI, Mário A. Para uma nova gramática do português. 6. ed. São Paulo: Ática, 1991.

(Série Princípios).

PINILLA, Maria da Aparecida de. Classes de palavras. In: VIEIRA, S. R.; BRANDÃO, S.

F. Ensino de gramática: descrição e uso. 2. ed., 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2011.

ROCHA LIMA, Carlos Henrique da. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 47. ed.

Rio de Janeiro: José Olympio, 2008.

ROULET, Eddy. Teorias linguísticas, gramáticas e ensino de línguas. Tradução, Geraldo

Cintra. São Paulo: Pioneira, 1978.

ROSA, Maria Carlota. Introdução à morfologia. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2002.

SACCONI, Luiz Antonio. Nossa Gramática: Teoria e Prática. 18. ed. reform. e atual. São

Paulo: Atual, 1994.

Page 63: CLASSES DE PALAVRAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA · histórico das classes de palavras no âmbito gramatical, ressaltamos a importância da classificação para facilitar o trabalho

61

SAUTCHUK, Inez. Prática de morfossintaxe: como e por que aprender análise

(morfo)sintática. 2. ed. Barueri, SP: Manole, 2010.

SILVA, Rosa Virgínia Mattos e. Tradição gramatical e gramática tradicional. 4. ed. São

Paulo: Contexto, 2000. (Repensando a Língua Portuguesa).

TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de

gramática. 14. ed. São Paulo: Cortez, 2009.