clara e o pombo-correio

Upload: pedro-murad

Post on 07-Jul-2015

221 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

CLARA & O POMBO-CORREIOde Pedro Murad

Personagens: CLARA - ME DO POMBO-CORREIO - BARONESA POMBO-CORREIO - ARAUTO - FANTASMA DE ALI BAB

Cenrio: Cenrio nico. Casaro da Baronesa, com o mnimo de elementos em cena.

Msicas: VASSOURINHAS (Matias da Rocha e Joana Batista) O HOMEM DA MEIA NOITE (Alceu Valena e Carlos Fernando) ME SEGURA SENO EU CAIO (J. Michiles) SERENATA SUBURBANA (Capiba) FREVO N3 (Antnio Maria) / FREVO N2 DO RECIFE (Antonio Maria) LIO DE NAMORO (Antonio Nbrega e Wilson Freire) JOO E MARIA (Sivuca e Chico Buarque) AURORA DE AMOR (Romero Amorim e Maurcio Cavalcanti) DE CHAPEU-DE-SOL ABERTO (Capiba)

Obs.: Embora o texto faa referncias constantes ao carnaval e cidade do Recife, estes elementos no seguem estritamente lgica documental-pedaggica, tampouco historiogrfica. So elementos que devem ser vistos em sua universalidade, como cenrio e engrenagens de uma aventura onrica mais ampla. Desta forma, pede-se desculpas por qualquer omisso ou incoerncia nos elementos regionais da maravilhosa cidade pernambucana.

CLARA & O POMBO-CORREIOCENA 1Recife, anoitece. Velho Casaro onde moram Clara e a Baronesa. Ambiente sombrio, antigo. Ao fundo, muitos livros, um quadro com um retrato da Baronesa, e um cabideiro onde ficam penduradas muitas peas de roupa que sero utilizadas nas trocas de personagem. Entra Pombo-Correio na ponta dos ps, com os culos de piloto de avio. Olha tudo ao redor curioso e srio. Num segundo, surpreendido por Clara, menina de 15 anos, levando um susto. CLARA: (alto) Mas que demora, hein?! POMBO-CORREIO: Clara, voc?! CLARA: (cutucando o pombo) Sempre atrasado! POMBO-CORREIO: Ui! CLARA: No tem jeito! Sempre atrasado! POMBO-CORREIO: Mas... CLARA: Silncio! Quer acordar a Baronesa, seu tonto?! Ouve-se um ronco alto. POMBO-CORREIO: Desculpe! Eu no queria fazer barulho. Mas que eu no entendi direito... O que eu vim fazer aqui mesmo? CLARA: Ora essa?! Mas que pergunta! O senhor tem um dever. Um pombo-correio no pode faltar ao servio. Faa chuva ou faa sol, uma carta sempre uma carta! POMBO-CORREIO: Positivo, senhorita... Mas isso quando tem carta, n?

2

CLARA: Como? No tem carta?! POMBO-CORREIO: Deixa eu olhar s mais uma vez... (olhando a bolsa) Vamos ver, vamos ver... Nada! CLARA: Nada?! Voc olhou direito? Tem certeza que ningum mandou uma cartinha, um bilhete, qualquer coisa... pra mim? POMBO-CORREIO: Nadinha! Como todos os dias: nenhuma carta pra senhorita nem pra senhora Baronesa! CLARA: (suspirando) Puxa... Mas assim no vale! Isso no justo! POMBO-CORREIO: Concordo plenamente! uma injustia terrvel fazer um pobre pombocorreio trabalhar logo hoje! CLARA: Ora! Que tem de injusto nisso?! POMBO-CORREIO: Ora... O carnaval est comeando... Todo mundo se preparando pra diverso... Vai ser uma festana daquelas! Voc me chamou aqui toa! Breve pausa. CLARA: Bem... Eu no chamei voc toa... Eu tenho uma carta pra voc... Clara entrega uma carta para o pombo que no olha o destinatrio com ateno. POMBO-CORREIO: Nossa! Ento algum ainda escreve uma carta nesse mundo? Que milagre! CLARA: uma carta muito importante. POMBO-CORREIO: (batendo continncia) s ordens, madame! Baronesa acorda, fora de cena. Tem uma voz firme, aparentando muita idade. BARONESA: (em off) Quem est a? Que barulho esse? Clara? Cad voc, menina?

3

CLARA: No nada, senhora Baronesa! BARONESA: (em off) J est na hora de dormir... Ah, que sono, eu tenho todo o sono do mundo! Baronesa adormece e ronca. Clara e Pombo respiram aliviados como se estivessem escapados de um perigo terrvel. CLARA & POMBO-CORREIO: Ufa!!! POMBO-CORREIO: (baixo) Essa foi por pouco! CLARA: Escute... Tome muito cuidado com esta carta, ouviu bem? POMBO-CORREIO: Faa chuva, tempestade, furaco, esta carta chegar s e salva ao seu destino! CLARA: Assim que eu gosto! POMBO-CORREIO: Nunca aparece um servio. (emocionado) Tantos anos sem entregar uma nica cartinha... Quando inventaram o telefone, foi uma fatalidade para ns. Terrvel! Depois, veio o computador... foi o fim! CLARA: Mas agora voc tem uma carta. Aproveite e faa o seu servio, pombocorreio! Saia por aquela janela e v depressa! POMBO-CORREIO: Num segundo! CLARA: Sem perder tempo! POMBO-CORREIO: Ligeirinho! CLARA: Voando! Voando! POMBO-CORREIO: (j quase fora de cena) Fui! CLARA: E, lembre-se: nada de carnaval!

4

Pombo pra e volta dois passos, hesitando. POMBO-CORREIO: O carnaval... (olhando pra carta, desconcertado) Bem... Quem se importa com o carnaval, no mesmo?! CLARA: Uma coisa boba dessas. Tem todo ano. POMBO-CORREIO: S pra desocupados mesmo... Bem... Mas... No melhor ir com calma? CLARA: Como assim com calma? POMBO-CORREIO: Mandar uma carta assim de supeto, sem avisar, bem meio do carnaval, assim sem mais nem menos... CLARA: Como sem mais nem menos? Que histria essa? POMBO-CORREIO: Eu, se fosse a senhorita, esperava uns dias. Assim, como quem no quer nada. Deixava a pessoa ir se preparando. Se acostumando, sabe? CLARA: Pra receber uma carta?! POMBO-CORREIO: Tudo com calma. Sem correria. Olhe: na quarta-feira de cinzas eu passo aqui, tomo um cafezinho, como um bolo e levo essa carta. Confesse: ou no uma boa idia? CLARA: Pois no que mesmo uma grande idia! POMBO-CORREIO: Eu sabia: eu sou um gnio! CLARA: (cortando) O gnio da trapaa, isso sim! Um malandro! POMBO-CORREIO: Eu?! CLARA: . Conversa mole vem, conversa mole vai... Voc quer brincar o carnaval e no fazer o seu trabalho!

5

POMBO-CORREIO: Mas ser possvel que voc s pensa em trabalho alm de ler esses livros?! Isso est virando doena. CLARA: Tem que ser assim. A Baronesa no gosta de baguna. Tudo no casaro deve estar no seu devido lugar. POMBO-CORREIO: Mas at em dia de folia?! CLARA: A folia aqui arrumar todos os cmodos do casaro. POMBO-CORREIO: Mas so tantos! CLARA: E dar corda nos relgios, tirar a poeira, lavar a loua, lustrar... POMBO-CORREIO: Caramba! CLARA: (jogando uma vassoura para o Pombo) E varrer tudo! Pode comear! POMBO-CORREIO: Olhe s, Clarinha, com o devido respeito, eu sou um pombo-correio! E no um pombo-faxineiro! CLARA: (comeando a varrer) Ento no atrapalha! Sai! Sai! Voc no serve pra nada mesmo. POMBO-CORREIO: Poxa, Clarinha, voc t cada dia mais durona. Vai me dizer que nunca quis pular o carnaval? CLARA: Nunca! POMBO-CORREIO: Eu te conheo, menina. Pelos seus olhinhos eu sei que sim. Quando ouve o burburinho vindo da rua. O bloco passando. O frevo... Aquela animao toda. CLARA: (tentando disfarar, varrendo) Tudo perda de tempo! POMBO-CORREIO: A msica! A cidade inteira em festa. Recife todo cantando! Uma beleza de ouvir! Uma msica mais bonita que outra!

6

CLARA: (tom) Msica?... A minha me cantava uma pra mim... POMBO-CORREIO: Voc se lembra da sua me? CLARA: Faz tempo... Eu era to pequenininha ainda! POMBO-CORREIO: E sente saudade? CLARA: (cortando uma emoo que estava por vir) Ora, eu l tenho tempo de sentir saudade? Tenho muito que fazer; tenho que cuidar da Baronesa! POMBO-CORREIO: Desculpa, eu no queria lembrar... Eu sempre estrago tudo! CLARA: (tom) Minha me cantava uma msica pra mim to bonita. Dessas de carnaval. Ah, passarinho, como eu poderia esquecer? Msica. Clara canta, em coreografia com a vassoura e o pombo-correio. medida que canta, vai ficando mais dcil com o pombo. CLARA: SE ESSA RUA FOSSE MINHA EU MANDAVA LADRILHAR COM PEDRINHAS DE BRILHANTES PRA VASSOURINHAS PASSAR. SOMOS NS OS VASSOURINHAS, TODOS JUNTOS EM BORBOTO. VAMOS VARRER NOSSA CIDADE COM CUIDADO E PRECISO.1 Msica termina. POMBO-CORREIO: (apontando para Clara) Eu sabia, eu sabia: ainda existe uma menina linda a dentro! CLARA: Ei! Pode parar com isso! POMBO-CORREIO: E nem adianta esconder, mocinha! Esse coraozinho duro ainda bate... Que alegria!1

VASSOURINHAS (Matias da Rocha e Joana Batista)

7

CLARA: No tem ningum alegre aqui! POMBO-CORREIO: E canta to bem. Como uma andorinha. CLARA: Vamos parar com isso. Eu no gosto de brincadeira. J est tarde e melhor voc ir embora. POMBO-CORREIO: J? Mas a festa nem comeou ainda! CLARA: Que festa? No tem festa nenhuma! POMBO-CORREIO: Como no tem? O carnaval comea hoje! CLARA: Eu no vou a carnaval nenhum. POMBO-CORREIO: Ento no seja por isso: o carnaval vir at voc! CLARA: Pois, eu duvido! POMBO-CORREIO: H quanto tempo a gente se conhece, Clarinha? CLARA: Deixa eu ver... Faz tempo! POMBO-CORREIO: E alguma vez eu coloquei voc numa furada? CLARA: Ih, vrias vezes! POMBO-CORREIO: Eu estou falando srio! Olhe, eu vou te contar uma histria, um segredo de famlia, coisa antiga... CLARA: Olha l, hein?! Sentam-se juntos.

8

POMBO-CORREIO: Quando eu era garoto, assim, da sua idade a minha me vivia reclamando que eu no ia dar pra nada na vida. At que um dia, ela teve uma idia do outro mundo!

CENA 2Clara se transforma na Me do Pombo. baixinha, corcunda, escandalosa e usa um xale. Fala com sotaque pernambucano carregado. ME DO POMBO-CORREIO: Menino ingrato! assim que voc fala da sua mezinha?! POMBO-CORREIO: Mainha?! ME DO POMBO-CORREIO: Nunca teve nada nessa cabea de avestruz depenado. Ah, por que eu no me casei com um pavo?! Que vergonha! Todo mundo na rua comenta. Voc parece um pingim! POMBO-CORREIO: Me perdoe, mainha! Eu j tentei de tudo. Eu no sirvo pra nada nessa vida. Pombo chora e abraa a saia da me. Me fica com o corao mole. ME DO POMBO-CORREIO: Calma...Voc vai tomar juzo nem que seja a ltima coisa que eu faa na vida! Eu prometo que vai dar tudo certo! POMBO-CORREIO: E o que a senhora acha que eu devo fazer, mainha? ME DO POMBO-CORREIO: Bem... Eu tive uma idia... POMBO-CORREIO: Uma idia? Ento conta! ME DO POMBO-CORREIO: Esses vizinhos invejosos pensam que estamos perdidos? Que o meu menino vai ser mais um pombo imprestvel no mundo, sem eira nem beira. Esto todos enganados... Filhinho, prepare-se: voc vai ser cantor! POMBO-CORREIO: O qu? Eu no entendi direito essa parte... Me do Pombo se transforma em Clara.

9

CLARA: (surpresa) Cantor? Ah, essa boa! Conta outra! POMBO-CORREIO: Eu tambm achei aquilo maluquice. Mas quem disse que mame desistia fcil das coisas. Quando aquela ali metia uma coisa na cabea... Clara se transforma novamente na Me do Pombo. ME DO POMBO-CORREIO: No me interrompa, danado! Feche o bico e escuta. De hoje em diante, nada de comer milho na pracinha, nada de voar por a com aquele bando de vagabundos. POMBO-CORREIO: Mas, mainha, eles so os meus amigos! ME DO POMBO-CORREIO: Amigos? Um papagaio gago, um urubu preguioso e um pato que no toma banho... Com eles voc vai longe! POMBO-CORREIO: Mas, mainha... ME DO POMBO-CORREIO: Vou levar voc pra cantar na Rdio Pio-pio. Filhinho, ns vamos ficar ricos!

CENA 3Me do Pombo se transforma novamente em Clara. POMBO-CORREIO: E l amos ns: eu e a minha santa mezinha! Era teste na Rdio Pio-pio, no Concurso Alpiste de Ouro, no Prmio Gog de Diamante, Pardal Maravilha... Mas ningum percebia o meu talento. Mas mame no desistia. Custasse o que custasse, eu iria virar cantor... E no que eu virei mesmo! CLARA: Nossa! Essa histria eu quero ouvir at o final! Como foi? POMBO-CORREIO: Bem... o comeo sempre difcil. Mas, como dizia mainha: A perseverana faz o homem... quer dizer: o pssaro! De bico em bico, o pombo enche o papo. E l estava eu, cantando numa casa de shows Eu nem sei bem se aquilo l podia se chamar casa de shows! o Clube TicoTico. Tinha que cantar at tarde. Eu chegava em casa de madrugada... E fique voc sabendo que eu tinha as minhas fs!

10

CLARA: (rindo) Fs? Sei... POMBO-CORREIO: verdade. A fama comeava a bater na minha porta. Vivia bem vestido, de fraque e tudo! CLARA: Uau! O dolo das pombinhas! POMBO-CORREIO: Eu mesmo, no comeo, nem acreditei. Mas sabe que um dia, eu vinha descendo a ladeira... Eu voltava pra casa ligeirinho, com medo de me perder, l pela meia-noite E percebi que dois olhinhos me seguiam. CLARA: Dois olhinhos? POMBO-CORREIO: Coisa engraada... Depois uma canarinha, uma corujinha, quatro marrequinhas, uma coisa louca! Elas vinham me pedir autgrafos, beijinhos, suspiros... A multido ia crescendo, crescendo... Clarinha, olhando assim nem parece, mas eu virava o rei do pedao! CLARA: Tipo exportao! POMBO-CORREIO: Recife l vou eu! CLARA: Pernambuco falando pro mundo!

CENA 4Ouvem-se os primeiros acordes, iniciando a msica. Esto no Clube Tico-Tico. Clara vira uma das cantoras do clube. APRESENTADOR: (em off) Senhoras e senhores, ladies and gentlemen, meninos e meninas, diretamente do Clube Tico-Tico... Msica. Clara canta enquanto o pombo acena para a multido, sentindo-se o mximo. CLARA: DEU MEIA NOITE SO DOZE EM PONTO DEU MEIA NOITE NA NOITE

11

SO DOZE EM PONTO A LUA CHEIA CLAREIA OS QUATRO CANTOS A LUA CHEIA CLAREIA OS QUATRO CANTOS PRA VER QUEM VEM PASSAR DESCENDO A LADEIRA PRA VER QUEM VEM PASSAR FERVENDO A CHALEIRA O HOMEM DA MEIA NOITE QUE VEM VESTINDO FRAQUE COLETE GIGANTES PERNAS DE PAU DANANDO NA MULTIDO COM RISO DE MANEQUIM COM RISO DE MANEQUIM MAME QUERENDO ENGANAR2 POMBO-CORREIO: NOS QUATRO CANTOS CHEGUEI E TODO MUNDO CHEGOU DESCENDO LADEIRA FAZENDO POEIRA ATIANDO O CALOR E NA MISTURA COLORIDA DA MASSA FUI BATER NA PRAA A TODO VAPOR DESCAMBEI PASSANDO PELOS BARES CHEIREI A MENINA E VOEI PELOS ARES NO PIQUE DO FREVO CA COMO UM RAIO ME SEGURA QUE SENO EU CAIO ME SEGURA QUE SENO EU CAIO3 Msica termina. Sons de aplausos, suspiros, multido de passarinhas. Clara e o PomboCorreio vo retomando o flego. Silncio. Voltam ao presente.

CENA 5CLARA: Essa histria eu no conhecia. POMBO-CORREIO: Parece que foi ontem! CLARA: Tantos suspiros assim, eu nunca vi...

2 3

O HOMEM DA MEIA NOITE (Alceu Valena e Carlos Fernando) ME SEGURA SENO EU CAIO (J. Michiles)

12

POMBO-CORREIO: Muitos! Cada vez mais suspiros de passarinhas apaixonadas. Eu ia ficando famoso mesmo. Eu recebia cartinhas, saquinhos de alpiste em formato de corao. Eu nem podia mais sair de casa. CLARA: Como no podia, bonito? O sucesso lhe subiu cabea, foi? POMBO-CORREIO: No. que a multido ia crescendo tanto, que eu nem conseguia mais botar o p na rua. Elas me perseguiam. No me davam sossego. CLARA: Eu acho isso uma falta de respeito! Passarinhas histricas! POMBO-CORREIO: Eram muitas mesmo... Mas sabe... No meio daquela multido... Eu via dois olhinhos os mesmos do comeo. Dois olhinhos mgicos! CLARA: E como foi? Quem era? POMBO-CORREIO: Bem... Como eu ia dizendo... Algo acontece. Clara tapa o bico do pombocorreio.

CENA 6CLARA: Silncio! Ah, eu j ia me esquecendo... Est quase na hora... Onde eu estava com a cabea? POMBO-CORREIO: Mas o que est acontecendo?! CLARA: Shhhhi!!! Ouve-se um vento e o som de cascos de cavalo se aproximando. A sonoplastia deve deixar uma sensao de magia e sonho. CLARA: Ele est chegando... POMBO-CORREIO: Ele quem?

13

CLARA: Ah, a Baronesa nem pode desconfiar! POMBO-CORREIO: Mas eu posso! Quem est chegando, Clarinha? CLARA: O Prncipe! O som de algum montado num cavalo se aproximando, cada vez mais perto do casaro. Clara olha pela janela e acena com uma fitinha de cetim colorida. CLARA: Toda noite ele vem. Cada vez, chega perto, mais perto e fica olhando pra c. POMBO-CORREIO: (se aproximando da janela pra ver) Quem? O tal? CLARA: Ele mesmo... (empurrando o pombo) No! Fique longe da janela! POMBO-CORREIO: Mas eu quero ver! CLARA: No pode! Ele muito ciumento! POMBO-CORREIO: Um prncipe com cimes de um pombo?! CLARA: No insiste! Fique longe da janela! Sai! Com o barulho entre os dois, cavaleiro se afasta e desaparece. POMBO-CORREIO: Mas o que est acontecendo? CLARA: (triste) Ele foi embora. Eu avisei... POMBO-CORREIO: Mas que moo mais mal-educado esse prncipe! CLARA: Ele muito tmido, coitado. Deve ter achado que a Baronesa estava de olho nele.

14

POMBO-CORREIO: Ir dando no p assim no meio da noite... Eu no sei no... Esse prncipe muito esquisito... CLARA: Esquisito voc, seu pombo-correio enxerido! POMBO-CORREIO: Calminha! CLARA: Por sua causa, ele foi embora! POMBO-CORREIO: Mas tem uma coisa que eu no entendo... Por que ele no aparece aqui no meio do dia e manda chamar a Baronesa? CLARA: Ora, mas isso seria uma loucura! POMBO-CORREIO: Pra quem est louco de amor ele est louco de amor pelos seus olhinhos, no est? CLARA: Me ama muito! Como nos contos de fadas. Ns ainda vamos nos casar e ser felizes pra sempre! POMBO-CORREIO: Bem... Como eu ia dizendo: pra quem est louco de amor, no existe loucura no mundo! CLARA: Eu no estou entendendo... POMBO-CORREIO: Ora, por que o nosso amigo no vem aqui, bate na porta, chama a Baronesa, enche o peito e... pede a sua mo? CLARA: (vermelha) O qu?! POMBO-CORREIO: Se declara de uma vez, ora! Amor quando amor de verdade com amor se paga! Eu acho que isso que a menina Clara est esperando... Um amor! CLARA: Eu no sei... to cedo ainda... POMBO-CORREIO: Espere mais um pouco voc fica pra titia!

15

CLARA: Ora, no precisa ser to pessimista! POMBO-CORREIO: Eu s quero ver voc feliz, minha princesa. E pelo o que eu entendi, o que falta pra voc o seu prncipe! CLARA: Bem... Pra falar a verdade, eu queria tanto! POMBO-CORREIO: Imagina ele aparecendo aqui em pleno dia depois do meio-dia, que aparecer na hora do almoo falta de educao cruzando o a esquina... CLARA: (hipnotizada) Montado em seu cavalo branco... POMBO-CORREIO: Pode ser a cavalo, de motocicleta, de txi, bicicleta, tanto faz. O seu prncipe tocando a campainha... (mudando a voz) Dem passagem! Sua alteza real est chegando!

CENA 7Sons de trombetas. Clara se transforma na Baronesa. Pombo-correio se transforma no Arauto. Arauto faz pose e muito falador. medida que fala, confunde a Baronesa. ARAUTO: (insistindo, alto) Sua alteza real est chegando! Som de trombetas de novo. BARONESA: (perdendo a pacincia) Eu j ouvi! Eu j ouvi! Mas que diabos! No se pode mais dormir depois do almoo? Mas que coisa! ARAUTO: O assunto muito srio, senhora! BARONESA: Eu no sou surda, rapaz! ARAUTO: Sua alteza real pede o obsquio... BARONESA: Quem?

16

ARAUTO: Sua alteza real, o prncipe Dom Juninho... BARONESA: Mas... Eu nunca ouvi falar nesse Dom Juninho! ARAUTO: A madame est se excedendo... Com todo o respeito, o assunto em questo... BARONESA: No tem assunto nenhum! O senhor e esse Dom Juninho podem dar o fora! ARAUTO: Ora, mas que disparate! BARONESA: Ou preferem que eu chame a polcia? ARAUTO: Que ultraje! A madame no tem medo de aborrecer Sua Alteza Real? BARONESA: Pensando melhor. Esse caso pro pessoal do pinel resolver! Vou ligar pra eles... ARAUTO: (perdendo a pacincia) Senhora, comporte-se! O prncipe um homem bom. Sabe perdoar os excessos da turba ignorante! BARONESA: Turba ignorante?! ARAUTO: O povinho, a massa, gente como a senhora, rude, sem educao, embrutecida... Bem... A senhora no tem culpa da prpria ignorncia, no mesmo? BARONESA: Ora, seu moleque... ARAUTO: Ignorncia assim mesmo, quanto maior, menos se v. O Prncipe entende e d condolncias. Deve ser algum mal de famlia! BARONESA: Ora essa, eu sou uma baronesa! ARAUTO: Que chique: uma baroa!... Uma batata baroa!

17

BARONESA: Mas que insolente... Baronesa! ARAUTO: Baronesa? Sei... Ento deve saber que baronesa vem depois de visconde, que vem depois de conde, que vem depois de marqus, que vem depois de duque, que vem depois do Prncipe... que no vem depois de ningum! O Prncipe o primeiro da lista, entendeu? A senhora, minha cara Baronesa, a ltima. Est l na lanterninha, bem perto do Z Povinho. S no uma plebia comum da ral, da gentalha pela benevolncia do magnnimo e bondoso Prncipe! BARONESA: (tonta) Carambolas... Eu no estou entendendo mais nada! ARAUTO: Melhor assim. Vamos direto ao ponto. Sem essa ladainha que cansa a senhora e aborrece imensamente o Prncipe! BARONESA: Tudo bem! Fala de uma vez. Eu no agento mais! ARAUTO: Bem... Sua Alteza Real imbudo dos mais nobres sentimentos de caridade e compaixo, no obstante... BARONESA: Pode pular essa parte! ARAUTO: (dispara) O Prncipe ama loucamente uma certa menina que mora nesse casaro velho. BARONESA: (tom) A Clara? ARAUTO: A prpria! Sua Alteza Real deseja casar-se com ela. BARONESA: Casamento? Mas eu sou sempre a ltima a saber! E pra quando esse casamento? ARAUTO: Pra hoje, senhora! BARONESA: Hoje?! ARAUTO: Agora mesmo!

18

BARONESA: J?! ARAUTO: Precisamente... Neste exato instante! Se a senhora olhar l pra fora, poder perceber que providenciamos tudo: padre, daminhas, madrinhas e padrinhos de casamento, convidados, coro, orquestra, guaran, docinhos pra festa, enfim, tudo! BARONESA: (olhando espantada) Oh! Sons de igreja vindo de fora. Baronesa v cerimnia de casamento toda armada fora de cena, como se a rua virasse uma igreja lotada. ARAUTO: (para fora) Calma, gente! Calma! Silncio! (para a Baronesa) Os convidados esto afoitos. Todos querem conhecer a noiva misteriosa. BARONESA: Eu devo estar sonhando... ARAUTO: Bem... Se o no for pedir muito, poderia chamar a mocinha? No convm deixar o noivo esperando no altar, n? BARONESA: Bem... Se assim... Faa-se o casrio! Eu vou chamar a Clarinha... Todos os convidados na igreja ficam agitados. Arauto pede que faam silncio. Ouve-se a Marcha Nupcial de Mendelssohn. Baronesa hesita por um instante e volta-se para todos. BARONESA: Espera a! Msica pra subitamente. Todos ficam em silncio. Arauto fica espantado. ARAUTO: O qu?! Mas por que esperar, vov? Vamos logo com esse casrio! BARONESA: Nada disso. Eu nem vi direito esse prncipe. No veio falar comigo. Isto tudo muito estranho! ARAUTO: Estranho? A senhora tem toda razo! Eu sempre achei estranho. Eu nem sou arauto, a senhora nem Baronesa, isso aqui um teatro, (apontando para a platia) o pessoal todo olhando... (improvisando, para o

19

pblico) Esto todos convidados pro casamento! (para a Baronesa) Mas considere os fatos, pois uma coisa e uma coisa e outra coisa outra coisa, quando dois mais dois so quatro... BARONESA: (cortando) Chega! Eu no agento mais a sua tagarelice! Voc quer me deixar louca?! ARAUTO: Senhor... BARONESA: Vocs so uns malucos! Onde j se viu? Ainda me mandam um traste como voc? De que hospcio voc saiu, hein? Arauto volta-se para os convidados que comeam a fazer barulho, indignados. ARAUTO: Gente, a idade, a Baronesa est ficando gag, coitada... BARONESA: (srio) Cale-se! CONVIDADOS: (em off, perplexos) Oh!!! BARONESA: Calados vocs tambm! Silncio. Arauto olha espantado para a Baronesa. Faz um sinal com as mos de Posso falar?. BARONESA: No comea! No comea! J estou cansada da sua falao. Eu no vou deixar a Clara se casar, assim sem mais nem menos, com um desconhecido. ARAUTO: (atnito) Sua Alteza Real, um desconhecido?! (em francs) Mon dieu! Convidados voltam a fazer burburinho. BARONESA: Ou o Prncipe vem aqui, na minha casa, pedir a mo da Clara ou no tem casamento! ARAUTO: Como?! BARONESA: Isso mesmo. Quero ver se ele tem coragem de vir aqui.

20

ARAUTO: (rindo) Ora, mas que coisa?! claro que o Prncipe pode vir... BARONESA: Ento, por que voc no chama ele? Eu quero s ver. ARAUTO: (srio) Bem... Nesse caso... (alto, para todos) Dem passagem a Sua Alteza Real, o Prncipe Dom Juninho, para que venha falar com a Baronesa! Ouve-se o rufar de tambores, indicando a entrada do Prncipe. Suspense. Baronesa se transforma em Clara, Arauto em Pombo. Cena se desfaz.

CENA 8CLARA: Espera! POMBO-CORREIO: Clara, no! CLARA: No pode ser assim... POMBO-CORREIO: Como no? Clarinha, assim voc estraga tudo! CLARA: Ele no pode entrar. POMBO-CORREIO: Como no pode? s ir entrando... CLARA: No to fcil assim! POMBO-CORREIO: mole: ele entra, tira o chapu... e faz a declarao! simples! CLARA: No, no ... Ele morre de medo da Baronesa. POMBO-CORREIO: Da Baronesa? CLARA: Se pela todo!

21

POMBO-CORREIO: Ele tem medo da Baronesa... ou de voc, Clarinha? CLARA: Pra falar a verdade... Os dois... Ele muito tmido, o coitado! POMBO-CORREIO: Tmido?! Ih, assim fica difcil... CLARA: Ah, passarinho, por que o amor to complicado? POMBO-CORREIO: Clarinha, nem me fale. O amor um perigo! CLARA: D um medo enorme! POMBO-CORREIO: Eu que sei... Eu vivi um amor que no passou de um sonho. Uma desiluso terrvel! CLARA: Nossa! POMBO-CORREIO: Eu nem queria lembrar... Aqueles dois olhinhos... CLARA: (completando) ... no meio da multido, eu lembro Mas voc no contou o resto da histria! POMBO-CORREIO: Ah, tudo passou to depressa. Faz tanto tempo... CLARA: Quando voc era famoso? POMBO-CORREIO: Quando eu quase fui famoso de verdade... CLARA: Quase? POMBO-CORREIO: Bem... Cantar num clube no era l o espetculo. Eu tinha as minhas fs, mas no era o bastante. Um dia um circo aportou na cidade: O Grande Circo Condor. No tinha pra ningum. O verdadeiro estrelato. Eu larguei tudo e tentei a sorte naquela noite... Quinhentos mil pssaros na platia todos curiosos pra me ouvirem cantar. Aquilo sim, era o grande espetculo!

22

CENA 9Clara e Pombo se transportam para o passado. Esto no picadeiro do Circo Condor. Ouve-se a voz do Apresentador. APRESENTADOR: (em off) Passarinhos e passarinhas do Brasil... L vem ele, o grande, o magnfico, o super-atrevido pombo! Uma salva de palmas! Sons de aplausos. Luzes sobre Pombo que caminha at o proscnio apavorado. APRESENTADOR: (em off) Ele tmido, minha gente. Sorria pras cmeras, garoto! Flashes sobre desconcertado. o pombo que fica mais

POMBO-CORREIO: (para Clara) Clarinha, eu nunca tinha visto tanta gente junta. Aquilo no era uma platia, era um mar. Mas no meio daquele mar de penas... No meio daquela multido de aves eu avistei os dois olhinhos eles mesmos, parecia um milagre L estava ela: linda, a andorinha mais linda do Brasil olhando pra mim. Logo pra mim. Eu fiquei tonto... Era muita emoo pra esse filho de mainha... CLARA: Fora, pssaro! POMBO-CORREIO: Foi muito forte pra mim. Eu fique com a garganta seca de emoo. Tudo rodando, rodando... CLARA: (empurrando o pombo proscnio) Ah, mas agora vai ser moleza! POMBO-CORREIO: Moleza! APRESENTADOR: (em off) Hora do show. Vamos ver se ele bom, minha gente! Msica, maestro! Msica comea. Pombo apavorado. Olha aflito pra todos. Comea a cantar e a voz falha. POMBO-CORREIO: (canta, imitando Cauby Peixoto) Conceio... Eu me lembro... Perde totalmente a voz. Silncio. De repente, ouvem-se muitas vaias. Som de buzina.

23

APRESENTADOR: (em off) Desclassificado, minha gente. Esse pombo uma gralha! Sons de risadas. Muitas risadas. Pombo fica humilhado. POMBO-CORREIO: Aquilo era o fim. Eu queria fugir. Algum precisava me ajudar. CLARA: (com pena, passando a mo no ombro no Pombo) Passarinho... POMBO-CORREIO: Olhava pros lados: todo mundo rindo de mim. Quando avistei os olhinhos... A andorinha mais linda do Brasil, ela... (desesperado) Ela ria de mim tambm!!!! Risadas aumentam esmagando o pombo. Silncio.Clara e Pombo voltam ao presente. POMBO-CORREIO: Acabou-se a fama. Sumiram as fs do Clube Tico-Tico. Ca na sarjeta. Mainha morreu de desgosto. Hoje, quando algum me v cantar, mal pode imaginar como eu sou triste! Msica. POMBO-CORREIO: LEVO A VIDA EM SERENATAS, SOMENTE A CANTAR. QUEM NO ME CONHECE TEM A IMPRESSO DE EU QUE SOU TO FELIZ. MAS NO ISSO NO, NO, NO, NO... SE EU CANTO EM SERENATAS PARA NO CHORAR. NINGUM SABE A DOR QUE EU SINTO, DENTRO DE MIM. NINGUM SABE PORQUE EU VIVO, TO TRISTE ASSIM. SE EU FOSSE REALMENTE MUITO FELIZ NO CHORAVA QUANDO CANTO. NEM CANTAVA PARA ABAFAR MEU PRANTO.4

4

SERENATA SUBURBANA (Capiba)

24

Msica termina. Pombo e Clara choram juntos do modo mais exagerado e dramtico possvel, sem cair no escracho. CLARA: Pronto! Passou... POMBO-CORREIO: No passou. Eu estou amaldioado pelo destino para sempre, Clarinha! CLARA: Pra sempre muito tempo, sabia? POMBO-CORREIO: Aquilo foi demais pra mim... Eu pensava que era amor... Tudo iluso, Clarinha! CLARA: Mas voc precisa reagir, ora! Levante-se, pombo! POMBO-CORREIO: E foi justamente isso que eu fiz... CLARA: Como? POMBO-CORREIO: Se todos riam de mim, ento eu precisava mostrar pra eles... praquela ingrata dos olhinhos de mel... Ento, eu tomei uma deciso muito sria: me alistei na Legio Estrangeira! Som de trombeta de exrcito. Ambiente vai se transformando. Pombo vai colocando chapu de soldado e se transformando. Clara acompanha, tentando impedir. CLARA: A Legio Estrangeira? Aquele exrcito?... No, voc no pode! POMBO-CORREIO: Posso sim! CLARA: Pensa direito: depois no tem volta! POMBO-CORREIO: Eu no estou nem a. CLARA: Mandam voc pro fim do mundo.

25

CENA 10Clarinha e Pombo viram dois soldados da Legio Estrangeira. Esto no meio do deserto. V-se uma lua cheia sob os dois. POMBO-CORREIO: E l estava eu, no meio do deserto, combatendo assassinos, piratas, bandoleiros e briges de todo tipo! CLARA: Que medo! POMBO-CORREIO: No tenha medo, Clarinha. Com o tempo voc se acostuma. CLARA: E se aparecer um leo? POMBO-CORREIO: Botamos ele pra correr! CLARA: E uma tempestade de areia? POMBO-CORREIO: Fichinha! CLARA: E uma alma penada? POMBO-CORREIO: No meio do deserto? Ah, Clarinha, voc anda lendo muito aqueles livros! CLARA: Sei no... Ouve-se um som estranho. Clara e Pombo ficam apavorados. POMBO-CORREIO: Ai, minha mezinha! CLARA: O que isso? POMBO-CORREIO: ele? CLARA: Ele quem?

26

POMBO-CORREIO: Voc tinha razo... o Fantasma do Ali Bab! CLARA: O Ali Bab dos quarenta ladres? POMBO-CORREIO: Ele mesmo. Desencarnou faz tempo. Foi dessa pra melhor! CLARA: Ai, socorro! POMBO-CORREIO: Eu vou proteg-la, Clarinha. Fique aqui! Pombo sai. CLARA: Ai, onde aquele pombo se meteu? Chiado fica mais forte. Clara fica apavorada. CLARA: Tem algum a? FANTASMA: (em off) Tem algum a? CLARA: Fui eu quem perguntou primeiro! FANTASMA: Ali... Ali Bab! Entra o Fantasma. gigante, coberto com um manto negro e deve parecer assustador. Olha para os lados e avista Clara. FANTASMA: Cad o tesouro? CLARA: Que tesouro? FANTASMA: Foi voc quem escondeu? CLARA: Eu no escondi nada! FANTASMA: (terrvel) Confesse, menina!

27

CLARA: Eu no sei de tesouro nenhum! Eu juro! FANTASMA: Aqueles quarenta ladres voltaram e levaram tudo! Malditos! Eu ia ser rico. E eles levaram tudo! Meu tesourinho... Ah, eu quero morrer! CLARA: Bem... Desculpe, mas acho que o ilustrssimo, sendo um fantasma... FANTASMA: (sem dar ouvidos) Mas eu vou atrs do meu tesouro! Vou pegar tudo de volta, eles vo ver. CLARA: Bem... Ento, boa sorte! FANTASMA: Eu quase fui um sulto, menina. Por um triz. Tinha mil odaliscas, jardins com chafariz e piscina, bolo de chocolate vontade... E aqueles pilantras levaram tudo! Fantasma comea a chorar como criana. Assoa o nariz com o prprio lenol. Clara fica com pena. CLARA: Olhe, seu fantasminha, no fique assim... No final, tudo se resolve... Eu tenho um colarzinho que foi da minha me... Clara tira um colar em forma de corao. FANTASMA: (espantado, pegando o colar) Esse colarzinho? Que bonito... CLARA: No deve valer muito, mas j alguma coisa. O senhor pode levar... Eu nem sei mesmo por que uso esse colarzinho... Fantasma olha o colar pensativo. FANTASMA: (devolvendo o colar) Fique com ele, menina. Ele o seu nico tesouro. CLARA: Esse colarzinho? FANTASMA: Uma lembrana de sua me! Guarde com muito carinho que, com um tesouro desses, mocinha, voc vai Lua! Fantasma sai.

28

CLARA: O meu tesouro... Entra o Pombo esbaforido trazendo alho, gua benta, figa, entre outras coisas. POMBO-CORREIO: Esse fantasma no vai lhe fazer mal, Clarinha! CLARA: No se preocupe! POMBO-CORREIO: Eu vou proteg-la! CLARA: No precisa. POMBO-CORREIO: No vou deixar que... CLARA: Vamos embora daqui, pombo! POMBO-CORREIO: Embora? Mas a batalha nem comeou ainda! CLARA: Vamos indo! POMBO-CORREIO: Mas temos que proteger o deserto! Temos um dever! CLARA: (mostrando o colar) Passarinho... Pra que ficar nesse deserto se eu tenho o meu tesouro? POMBO-CORREIO: Mocinha... No que voc tem razo! Cena se desfaz. Voltam ao presente.

CENA 11CLARA: Ah, chega de guerras, fantasmas... POMBO-CORREIO: Foi isso mesmo que eu pensei, depois de um tempo. Se amor se paga com amor, dio definitivamente no se paga com dio! CLARA:

29

Ento, meu amigo pombo atravessou o deserto? POMBO-CORREIO: Ih! O deserto, os sete mares, fui marinheiro, explorador, caminhoneiro, mas em cada lugar que eu ia, eu me lembrava sempre do Recife desta cidade, do rio Capibaribe... Ah, dava uma saudade danada! Era como se todas as cidades fossem Recife disfarada, com suas ruas, o carnaval... Msica. POMBO-CORREIO: SOU DO RECIFE COM ORGULHO E COM SAUDADE SOU DO RECIFE COM VONTADE DE CHORAR O RIO PASSA LEVANDO BARCAA PRO ALTO DO MAR E EM MIM NO PASSA ESSA VONTADE DE VOLTAR RECIFE MANDOU ME CHAMAR CAPIBA E ZUMBA ESTA HORA ONDE QUE ESTO? INS E ROSA EM QUE REINADO REINARO? ASCENSO ME MANDE UM CARTO RUA ANTIGA DA HARMONIA DA AMIZADE, DA SAUDADE E DA UNIO SO LEMBRANAS NOITE E DIA NELSON FERREIRA TOQUE AQUELA INTRODUO 5 CLARA: AI, AI, SAUDADE SAUDADE TO GRANDE SAUDADE QUE EU SINTO DO CLUBE DAS PS, DOS VASSOURAS PASSISTAS TRAANDO TESOURAS NAS RUAS REPLETOS DE L BATIDAS DE BUMBOS SO MARACATUS RETARDADOS CHEGANDO CIDADE CANSADOS COM SEUS ESTANDARTES NO AR NO ADIANTA SE O RECIFE EST LONGE A SAUDADE TO GRANDE QUE EU AT ME EMBARAO PARECE QUE EU VEJO5

FREVO N3 (Antnio Maria)

30

O VALFRIDO E CEBOLA NO PASSO HAROLDO MATIAS, COLASSO RECIFE EST PERTO DE MIM BATIDAS DE BUMBOS SO MARACATUS RETARDADOS CHEGANDO CIDADE CANSADOS COM SEUS ESTANDARTES NO AR6 Msica termina. POMBO-CORREIO: E aqui estamos ns, nesse casaro velho, enquanto a cidade ferve l fora! Enquanto tem sempre algum l fora lhe esperando, menina! CLARA: No to fcil ir embora, passarinho. POMBO-CORREIO: sim. Mais fcil do que voc pensa! CLARA: Mas eu j falei que ele no se declara! POMBO-CORREIO: Quem? Ah, o tal prncipe! CLARA: Ele muito medroso! POMBO-CORREIO: No seja por isso. CLARA: Como? POMBO-CORREIO: Se ele to tmido assim... Ento quem vai ter que se declarar voc! CLARA: (vermelha) Ora, mas isso impossvel. Onde j se viu uma coisa dessas! Isso um absurdo! POMBO-CORREIO: Medrosa tambm! CLARA: No medo. Eu tenho que cuidar da Baronesa, do casaro... Eu no posso ir embora assim. POMBO-CORREIO:6

FREVO N2 DO RECIFE (Antonio Maria)

31

Mas s dar no p! CLARA: No no. Eu no sou uma ingrata. A Baronesa precisa de mim! POMBO-CORREIO: Acho que l fora, tem algum que tambm precisa de voc... E voc dele! CLARA: Pode esperar! POMBO-CORREIO: Clarinha, eu sei por que voc no sai por aquela porta: vergonha! CLARA: Que isso, passarinho?! POMBO-CORREIO: E medo, muito medo. L fora um turbilho e voc pode se perder. Eu sei. D medo mesmo. Tudo gira to depressa. O tempo ento, esse a no tem pena de ningum. Mas ele, uma hora ou outra, aparece e vem lhe fazer a velha pergunta. CLARA: Que pergunta? POMBO-CORREIO: Uma pergunta serissima! Talvez a pergunta mais difcil do mundo. Mas acredite: ela vem pra todo mundo. Pode ser de manhzinha, quando o galo canta, de noite, depois do almoo... CLARA: Mas do que voc est falando, pombo? POMBO-CORREIO: A mesma pergunta de sempre: O que voc vai fazer da sua vida? CLARA: Ora... POMBO-CORREIO: Isso acontece com todo mundo e todo mundo tem que responder um dia. Pode ser menino, menina, titia solteirona, velhinho aposentado, pombocorreio, ningum escapa! CLARA: Ningum me fez pergunta nenhuma! Ningum apareceu aqui no casaro e fez essa pergunta! POMBO-CORREIO: No? E o seu coraozinho? J prestou bem ateno? ele quem sempre faz esta pergunta.

32

CLARA: (triste) O meu corao... Ele quase nunca me diz nada... POMBO-CORREIO: Pra quem tem cera no ouvido... Olha, deixa pra l esse casaro, a Baronesa, acho que o seu corao est pedindo mesmo um namorado! CLARA: (corando) Namorado? POMBO-CORREIO: Isso mesmo: voc precisa viver um amor de verdade. No esse tal prncipe que nunca aparece e ningum v! CLARA: At parece! Eu nem sei como se namora. POMBO-CORREIO: No sabe? CLARA: (com vergonha) No... POMBO-CORREIO: Ah, minha cara, essa a parte mais fcil da histria! Msica. POMBO-CORREIO: MENINA, VOU TE ENSINAR COMO QUE SE NAMORA: PE A ALMA NUM SORRISO E O SORRISO PE PRA FORA OLHE NOS OLHOS OLHE DENTRO DA PUPILA, VEJA BEM SE ELA BRILHA OU SE VAI SE APAGAR POIS O OLHAR ELE QUE DENUNCIA SE EST QUENTE OU SE EST FRIA A PAIXO, O BEM AMAR PEGUE NA MO, SINTA DELA O SEU CALOR, VEJA DELA O SEU RUBOR, SUA FORA, SEU PULSAR, PORQUE A MO ELA QUE ANUNCIA SE O NAMORO NASCE E CRIA OU SE NASCE E VAI MURCHAR

33

QUANTO AO BEIJO TEM QUE SER BEM DE MANSINHO, PERMITIDO COM CARINHO PRA PODER NO MACHUCAR PORQUE O BEIJO ELE QUEM AMACIA QUEM D PAZ E O GUIA PARA O NOVO AMOR CHEGAR E NUM ABRAO APERTADO, MAS COM JEITO, SINTA COMO BATE O PEITO, SE FORTE OU QUER FALHAR POIS CORAO FONTE DE ALEGRIA ELE QUEM PRENUNCIA SE O AMOR H DE JORRAR7 Msica termina. POMBO-CORREIO: Aprendeu? CLARA: Bem... Digamos que no to difcil assim... POMBO-CORREIO: (apontando pra platia, improvisando) Pode perguntar pra eles... Eu aposto que tem um menino nessa platia que est louco pra namorar! Ou ento a titia aqui... Pode falar, dona! A senhora j viveu um grande amor louco? CLARA: (para a espectadora) Pronto! Desculpe o meu amigo aqui, dona! Ele adora contar histria! POMBO-CORREIO: Mas no isso mesmo que estamos fazendo desde o comeo: contando a nossa prpria histria? Deixa a titia contar a dela tambm! CLARA: Isso aqui est virando uma confuso. Voc est bagunando tudo! POMBO-CORREIO: Mas assim mesmo: o amor uma baguna! CLARA: Mas a Baronesa... POMBO-CORREIO: Est dormindo. No , senhora dona Baronesa?

7

LIO DE NAMORO (Antonio Nbrega e Wilson Freire)

34

Ouve-se um ronco bem alto, fora de cena. POMBO-CORREIO: Ento. Deixe a velhinha dormindo... sonhando com o seu baro, que a gente sonha acordado mesmo! CLARA: Mas o amor no pode ser um sonho. POMBO-CORREIO: Pois eu digo que ! CLARA: E no pode bagunar tudo assim sem mais nem menos! POMBO-CORREIO: Ih, j bagunou faz tempo. CLARA: O amor que eu ouvi falar... POMBO-CORREIO: Nos contos de fadas? CLARA: Bem, neles, todos so muito felizes! POMBO-CORREIO: E quem disse que estamos tristes? Olha, por que voc no aproveita que tem um bloco passando a na rua e foge desse casaro. CLARA: Fugir? Mas assim? POMBO-CORREIO: No meio do bloco, seguindo a folia... Vai ser uma festa! CLARA: Mas o casaro... POMBO-CORREIO: Ningum vai atrapalhar o sono da Baronesa. Vai ficar tudo bem. Deixe com as traas. CLARA: No posso! POMBO-CORREIO: Tem certeza que no pode?... (Pombo se aproxima de Clarinha) Clarinha, feche os olhos! Clarinha fecha os olhos.

35

POMBO-CORREIO: Agora, respire fundo... Oua s o barulho l fora Parece um furaco, no ? Mas doce, doce... Ouvem-se sons de carnaval vindos da rua. CLARA: (de olhos fechados) Eu s estou ouvindo um barulhinho de carnaval... POMBO-CORREIO: Escute direito. Com o corao! Os rudos vo se transformando numa msica. CLARA: (encantada) Que som esse? Parece uma msica... Uma msica to bonita... POMBO-CORREIO: O amor pode ser parecer perigoso, assustador, terrvel! Mas assim mesmo: como um vento forte, um mar agitado, uma msica... E acredite, meu anjo, no existe msica mais linda nesse mundo! Msica. POMBO-CORREIO: AGORA EU ERA O HERI E O MEU CAVALO S FALAVA INGLS A NOIVA DO COWBOY ERA VOC ALM DAS OUTRAS TRS EU ENFRENTAVA OS BATALHES OS ALEMES E SEUS CANHES GUARDAVA O MEU BODOQUE E ENSAIAVA UM ROCK PARA AS MATINS AGORA EU ERA O REI ERA O BEDEL E ERA TAMBM JUIZ E PELA MINHA LEI A GENTE ERA OBRIGADO A SER FELIZ E VOC ERA A PRINCESA QUE EU FIZ COROAR E ERA TO LINDA DE SE ADMIRAR QUE ANDAVA NUA PELO MEU PAS CLARA: NO, NO FUJA NO FINJA QUE AGORA EU ERA O SEU BRINQUEDO EU ERA O SEU PIO O SEU BICHO PREFERIDO

36

SIM, ME D A MO A GENTE AGORA J NO TINHA MEDO NO TEMPO DA MALDADE ACHO QUE A GENTE NEM TINHA NASCIDO CLARA & O POMBO CORREIO: AGORA ERA FATAL QUE O FAZ-DE-CONTA TERMINASSE ASSIM PRA L DESTE QUINTAL ERA UMA NOITE QUE NO TEM MAIS FIM POIS VOC SUMIU NO MUNDO SEM ME AVISAR E AGORA EU ERA UM LOUCO A PERGUNTAR O QUE QUE A VIDA VAI FAZER DE MIM8 Fim de msica. Amanhece.

CENA 12 (DESPEDIDA)Clara pega uma malinha. CLARA: J est amanhecendo... POMBO-CORREIO: A noite passou num segundo! CLARA: Bem... Ento, meu amigo, acho que j est na hora! POMBO-CORREIO: Finalmente! CLARA: E eu acho que voc tem uma carta pra entregar. POMBO-CORREIO: Ah, mesmo... A carta... Eu no olhei direito o endereo mas j posso adivinhar pra quem ... CLARA: Desculpa. POMBO-CORREIO: Tudo bem... No todo dia que se recebe uma carta... Pombo tira a carta da bolsa e abre. POMBO-CORREIO:8

JOO E MARIA (Sivuca e Chico Buarque)

37

Ainda mais quando se trata de uma carta de... CLARA: ... adeus! POMBO-CORREIO: Uma carta de adeus. (lendo) Pro meu grande amigo pombo-correio, o maior de todos, em todos os momentos da minha vida, com muita saudade e carinho... assinado... Clara. CLARA: Quando voc lesse eu j estaria longe. POMBO-CORREIO: Tudo bem... Eu tambm detesto despedidas... Os dois ficam em silncio. Comeam a chorar. CLARA: Passarinho, isso tambm amor? Os dois se abraam forte. POMBO-CORREIO: Claro, meu bem. Um amor de amigo, de irmo, de tio... E eu te amo muito Clarinha! CLARA: Eu tambm! E vou sentir saudades! POMBO-CORREIO: No precisa. CLARA: Eu no queria que voc ficasse triste comigo! POMBO-CORREIO: Eu triste com uma princesa? Nunca! CLARA: Eu queria que... POMBO-CORREIO: No precisa ir se desculpando! At porque eu nem sei se precisa. Esse casaro abandonado, a baronesa que sumiu faz tempo... CLARA: Voc, o Prncipe, a Baronesa, tudo... Vocs nem existem de verdade, no ? POMBO-CORREIO: No... Mas no seu corao, sim! Foi bom enquanto durou.

38

CLARA: Mas eu no queria que tudo isso sumisse. POMBO-CORREIO: E quem disse que vamos desaparecer assim? Eu no sei quanto a Baronesa resmungona, mas eu vou estar sempre no seu corao. E quando voc for uma mulher feita, e for me, eu vou estar sempre ao seu lado! CLARA: Jura? POMBO-CORREIO: Os sonhos no abandonam a gente nunca, menina. Esses livros com tantas histrias fantsticas no lhe ensinaram isso? CLARA: Ensinaram sim. POMBO-CORREIO: Mas agora que vem a melhor parte, a melhor aventura: a vida de uma menina que cresce e vira mulher e de uma mulher que nunca deixa de ser menina! CLARA: Recife, o turbilho, o mundo inteiro l fora me esperando. A maior aventura. POMBO-CORREIO: Ah, e o melhor de tudo: aquele bloco passando l fora. Voc vai ficar esperando, menina? CLARA: No. Eu no vou mais ver o bloco passar sem mim! Esse ano no! POMBO-CORREIO: Ento o que est esperando? Vai logo! Pombo d a malinha e o guarda chuva pra Clara. CLARA: Mas, passarinho... POMBO-CORREIO: (cortando) E nem pense em olhar pra trs, mocinha! Os dois se olham em despedida. Msica. medida que cantam, tudo se desfaz. Ao final da msica, pombo j estar fora de cena. CLARA & POMBO-CORREIO: MEU RECIFE EU TE LEMBRO

39

DE AURORA JANELA DEBRUADA TO BELA DEBRUADA TO BELA SOBRE O CAPIBARIBE O TEU RIO NAMORADO E A SORRIR FLAMBOYANTS EM VERMELHOS RENDADOS E SE AMANDO NO ESPELHO SOB O SOL DAS MANHS! E NESSA LEMBRANA A VIDA ERA LINDA! E A GENTE AINDA, SERIA CRIANA EU IMPERADOR, VOC IMPERATRIZ! E NA FANTASIA A GENTE SORRIA FELIZ NESSA AURORA DE AMOR E O TEMPO PASSOU E A GENTE CRESCEU E O SONHO ACABOU E A GENTE SE PERDEU... MAS QUEM SABE SE AGORA NESTE CARNAVAL VOC COLOMBINA E EU PIERR A GENTE SE ENCONTRE AINDA QUEM SABE NUM BLOCO DE AMOR CHAMADO SAUDADE9 Casaro se desfaz completamente, diluindo-se num bloco de carnaval que passa. Clara, bem mais altiva e madura, pega a mala e vai at o proscnio. Deixa a mala no cho e fica com o guarda chuva na mo. Est no meio da rua. Olha para a platia e fala: CLARA: (para o pblico) Eu no sei o que vem, o que vai. A vida um mistrio, uma estrada muito comprida... Pra mim, para cada um de vocs, meus amigos. Ningum sabe como essa histria termina. Se o final feliz, se no , ningum sabe. um grande mistrio! Mas o que importa mesmo... O que importa de verdade... que a vida a nossa vida est apenas comeando! Clara abre o guarda-chuva colorido e comea a cantar: CLARA: DE CHAPU-DE-SOL ABERTO9

AURORA DE AMOR (Romero Amorim e Maurcio Cavalcanti)

40

PELAS RUAS EU VOU. A MULTIDO ME ACOMPANHA EU VOU EU VOU E VENHO PRA ONDE, NO SEI. S SEI QUE CARREGO ALEGRIA PRA DAR E VENDER. ESPERO O ANO INTEIRO AT VER CHEGAR FEVEREIRO PARA OUVIR O CLARIM CLARINAR E A ALEGRIA CHEGAR. ESSA ALEGRIA QUE EM MIM PARECE QUE NO TER FIM. MAS, SE UM DIA O FREVO ACABAR, JURO QUE VOU CHORAR.10 Surge um rapaz danando no meio do bloco, muito parecido com o pombo-correio, mas de carne e osso (preferencialmente o mesmo ator). Flerta Clara que fica encabulada. Aproximam-se. Vo se enamorando, riem e danando juntos ao som da msica, enquanto as luzes vo baixando lentamente.

FIM

Registrado na Biblioteca Nacional

Autor: PEDRO MURAD Tel.: 21 2237-1156 Cel.: 21 9754-5965 [email protected]

10

DE CHAPEU-DE-SOL ABERTO (Capiba)

41