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1 DIREITO CIVIL Cursos de Pós-Graduação Lato Sensu Televirtuais | 2012 LEITURA OBRIGATÓRIA TEXTO 1 MÔNICA QUEIROZ © DIREITOS RESERVADOS Proibida a reprodução total ou parcial desta publicação sem o prévio consentimento, por escrito, pelos autores. Publicação: Abril de 2.012. Pós-Graduação A TEORIA DOS FATOS JURÍDICOS

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1 DIREITO CIVIL Cursos de Ps-GraduaoLato Sensu Televirtuais | 2012 LEITURA OBRIGATRIA TEXTO 1 MNICA QUEIROZ DIREITOS RESERVADOS Proibida a reproduo total ou parcial desta publicao sem o prvio consentimento, por escrito, pelos autores. Publicao: Abril de 2.012. Ps-Graduao A TEORIA DOS FATOS JURDICOS Universidade Anhanguera-Uniderp PS-GRADUAO 2 OS FATOS JURDICOS NA CONTEXTUALIZAO DO CDIGO CIVIL DE 2002 O livro III da Parte Geral do Cdigo Civil tem por ttulo Dos Fatos Jurdicos. A importnciadosfatosjurdicossobreleva-seexatamenteporquesoelesosfatos relevantesnomundojurdicoeosseusefeitossetraduzemnaaquisio, conservao, transferncia, modificao e extino de direitos. 1. A Classificao dos Fatos Jurdicos Os fatos jurdicos podem decorrer da natureza ou da atuao do homem. Os fatos jurdicos que decorrem da natureza so conhecidos por fatos jurdicos emsentidoestrito.Estes,porsuavez,poderosedividiremordinriose extraordinrios. Osfatosjurdicosemsentidoestritoordinriossoaquelesqueocorrem previsvelecorriqueiramente,como,porexemplo,amorteeonascimento.Jos fatosjurdicosemsentidoestritoextraordinrios,vinculam-seaocasofortuitoe fora maior, como, por exemplo, um terremoto ou uma enchente. Porm,comovimos,oeventopoderdecorrerdaatuaodohomem.Todos sabemqueohomemaoagirpoderperpetrarumaaolcitaouilcita.saes lcitaspraticadaspelo homemd-se onomede atojurdico emsentido amplo, que, por sua vez, poder ser um ato jurdico em sentido estrito ou um negcio jurdico. J s aes ilcitas praticadas pelo homem d-se o nome de atos ilcitos. Hautoresqueentendemporbemacrescentaraoroldosatosjurdicosem sentido amplo, uma terceira categoria, a do ato-fato jurdico, que seria exatamente o fato jurdico qualificado por uma atuao humana. Entretanto, filiamo-nos corrente que propugna a desnecessidade e inconvenincia desta terceira categoria. Isso porque ochamadoato-fatojurdico,adependerdasituao,poderenquadrar-sena categoriadeumatojurdicoemsentidoestritooudeumnegciojurdico,como veremos adiante. 2. Dos Atos Jurdicos em sentido estrito ou Atos Jurdicos no-negociais O ato jurdico em sentido estrito representa uma mera submisso do agente ao ordenamento jurdico. Nas palavras de Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald, Universidade Anhanguera-Uniderp PS-GRADUAO 3 percebe-sequeamanifestaodevontadedapessoadirige-seaefeitosjurdicos previamentedesenhadospelolegislador,nohavendoespaoparaaatividade criadora do homem no plano da eficcia do ato.1 Como exemplos de ato jurdico em sentido estrito podemos citar o reconhecimento de um filho, a adoo e a citao. Em todasessashipteses,osefeitos nodecorremdavontadedomanifestante,masda lei. Olegisladordedicaoart.185doCCaoatojurdicoemsentidoestrito,que possuiaseguinteredao:Aosatosjurdicoslcitos,quenosejamnegcios jurdicos,aplicam-se,noquecouber,asdisposiesdoTtuloanterior.Ottulo anterior refere-se exatamente aos negcios jurdicos. Desse modo, o legislador impe que,naquiloquetiverpertinncia,2aplicam-seasregrasdonegciojurdicoaoato jurdico em sentido estrito. Ento,resta-nosoestudodosnegciosjurdicos,aoqualprocederemosno ponto seguinte. 3. Dos Negcios Jurdicos OCdigoCivilde2002dedica-se,nosarts.104a184,atrabalharonegcio jurdico. Trata-se, pois, da manifestao da vontade que busca a produo de efeitos jurdicos. O que releva perceber que esses efeitos jurdicos, ao revs dos efeitos dos atosjurdicosemsentidoestrito,soaquelespretendidospelaspartes,eno decorrentesdalei.Aqui,percebe-seonegciojurdicocomodecorrenteda autonomia privada. O exemplo comumente lembrado de negcio jurdico o prprio contrato,emqueaspartesdeixamtransparecerassuasvontadeseosefeitos exsurgem dali, da prpria vontade das partes. 3.1. Classificao dos Negcios Jurdicos 3.1.1. Quanto manifestao de vontade das partes

1 FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. Direito das Obrigaes. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 64. 2 A expresso no que couber prevista no art. 185 do CC quer exatamente realar a impossibilidade de se aplicar os elementos acidentais do negcio jurdico (condio, termo e encargo) ao ato jurdico em sentido estrito. Assim, por exemplo, no se pode admitir que um pai reconhea a paternidade de seu filho sob alguma condio. Universidade Anhanguera-Uniderp PS-GRADUAO 4 a)Unilaterais:amanifestaodevontadedecorredeumaspessoa.Ex.:o testamento, a promessa de recompensa, a emisso de um cheque. b) Bilaterais:torna-se necessria amanifestao demaisde uma pessoa paraqueo ato se aperfeioe. Ex.: o contrato. c)Plurilaterais:decorremdamanifestaodevontadedemaisdeumapessoa. Porm, essas manifestaes de vontade devem se orientar no mesmo sentido. Ex.: o contrato de sociedade e o contrato de consrcio. 3.1.2. Quanto s vantagens oferecidas pelo negcio a) Gratuitos: so atos de liberalidade em que apenas uma das partes sofre sacrifcio patrimonial. Ex.: o contrato de doao. b)Onerosos: ambas as partes sofrero sacrifcios patrimoniais e, ao mesmo tempo, se beneficiarocomonegcio.Ex.:ocontratodelocaoeocontratodecomprae venda. c)Neutros:soaquelesque,pornohaverumaatribuiopatrimonialpr-determinada, no podem se enquadrar como gratuitos ou onerosos. Ex.: instituio de um bem de famlia voluntrio. d)Bifrontes:soaquelesquepodemsergratuitosouonerosos,adependerdoque intencionam as partes. Ex.: o contrato de depsito em que, de incio, gratuito, nada impedindo que se convencione uma remunerao ao depositrio. 3.1.3. Quanto aos efeitos a) Inter vivos: produzem efeitos desde logo, isto , em vida dos interessados. Ex.: a compra e venda. b) Causa mortis: reservam seus efeitos para depois da morte de determinada pessoa. Ex.: o testamento. 3.1.4. Quanto existncia do negcio a)Principais:subsistemporsiprprios,independentementedequalqueroutro negcio. Ex.: o contrato de locao. b)Acessrios:soaquelesquedependemdeoutroparaexistir.Ex.:ocontratode fiana. Universidade Anhanguera-Uniderp PS-GRADUAO 5 3.1.5. Quanto forma do negcio a) Solenes ou formais: so aqueles em que a lei pr-determina uma solenidade a ser seguida,semaqualfaltaraonegcioregularidade.Ex.:otestamentoeo casamento. b) No solenes ou informais: admitem a forma livre e representam a regra geral no Cdigo Civil, conforme o art. 107. Ex.: a compra e venda de um bem mvel. 3.1.6. Quanto s caractersticas pessoais das partes a)PersonalssimosouIntuitupersonae:levamemconsideraoascaractersticas pessoais de um dos agentes. Ex.: o contrato de fiana. b)Impessoais:desconsideramascaractersticaspessoaisdedeterminadapessoa, podendo ser cumprido por qualquer um. Ex.: o contrato de compra e venda. 3.1.7. Quanto ao momento do aperfeioamento a)Consensuais:consideram-seformadose,portanto,geramseusefeitos simplesmente quando se d o acordo de vontade entre as partes. Ex.: o contrato de compra e venda. b) Reais: os efeitos do negcio s decorrero doravante a entrega do objeto. Ex.: os contratos de depsito, comodato e mtuo. 4. Os trs planos do Negcio Jurdico: Existncia, Validade e Eficcia Onegciojurdicoinstitutodealtacomplexidadesendoformadoportrs planos: o da existncia, o da validade e o da eficcia. 4.1. O Plano da Existncia Noplanodaexistnciaestariamospressupostosfundamentaisdonegcio jurdico,semosquaisonegcioinexistiria.Essespressupostosseriamassim considerados: o agente, a vontade, o objeto e a forma. Em havendo tais substantivos, Universidade Anhanguera-Uniderp PS-GRADUAO 6 semqueseexijaqualqueradjetivao,jpodemosopinarpelaexistnciadeum negcio jurdico. 4.2. O Plano da Validade Temos,pois,aconsiderarnoplanodavalidadeanecessidadedefornecer adjetivao aos substantivos mencionados no plano da existncia. Assim, em havendo aadjetivaodevida,onegcio,nosimplesmenteexistir,comotambmser vlido. Devemosperceberquesanalisamosoplanodevalidadeporquej ultrapassamos o plano da existncia. Portanto, o agente dever ser capaz; a vontade livre; o objeto lcito, possvel, determinado ou determinvel; e a forma prescrita ou no defesa em lei.O plano da validade se expressa no Cdigo Civil por meio do art. 104, que traz os elementos essenciais de validade do negcio jurdico. A vontade livre, embora no prevista expressamente, depreendida ser do agente capaz. 4.3. O Plano da Eficcia Nesteplanoverifica-seapossibilidadedeproduodeefeitosdonegcio jurdico de imediato ou a submisso a determinados elementos acidentais que podem implicar a perpetrao dos efeitos ou a sua conteno. 4.4. A Escada Ponteana AessadisposiodosreferidosplanoscriadaporPontesdeMirandadeu-sea designaodeEscadaPonteana,oquenosinduzaoraciocniodequeonegcio deve existir e, aps a sua existncia, poder ser considerado vlido. E,mais,emsendoexistenteevlido,produziriaosseusregularesefeitos. Todavia,no devemoscreremtalpremissademaneiraperemptria.Oquesequer demonstrar que os planos so independentes, podendo haver sim a manifestao de um,semamanifestaodeoutro.Porexemplo,perfeitamentepossvelqueo negcioseja existente,invlidoe, aomesmotempo, eficaz. ocaso,porexemplo, Universidade Anhanguera-Uniderp PS-GRADUAO 7 docasamentoputativoemrelaoaocnjugedeboa-f.3Trata-sedeumnegcio nulo ou anulvel que, porm, gera os seus efeitos em relao ao cnjuge de boa-f. Lembremos tambm que possvel que o negcio exista, seja vlido, porm ineficaz, como, por exemplo, o contrato celebrado sob condio suspensiva, sem que se tenha havido ainda o implemento da condio. Por fim, lembremos que o Cdigo Civil no atenta para o primeiro plano o da existncia,tantoquepartedoplanodavalidadeemseuart.104,semfazer qualquermenoaospressupostospara aexistnciado negcio.Ademais,notrata tambmdasconseqnciasdainexistnciadonegciojurdico,to-somentedas conseqncias da invalidade do negcio jurdico em seus arts. 166 ao 184. Referncias Bibliogrficas AMARAL, Francisco. Direito Civil. Introduo. 5. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. AZEVEDO, Antnio Junqueira de. Negcio Jurdico Existncia, validade e eficcia. 4. ed. So Paulo: Saraiva, 2002. 3 Art. 1.561, CC: Embora anulvel ou mesmo nulo, se contrado de boa-f por ambos os cnjuges, o casamento, em relao a estes como aos filhos, produz todos os efeitos at o dia da sentena anulatria. Universidade Anhanguera-Uniderp PS-GRADUAO 8 FARIAS,CristianoChavesde.ROSENVALD,Nelson. DireitoCivil. Teoria Geral.4.ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. GAGLIANO,PabloStolze.PAMPLONAFILHO,Rodolfo.NovoCursodeDireitoCivil. Parte Geral.Vol. 1. 10 ed. So Paulo: Saraiva, 2008. GOMES,JosJairo.DireitoCivil.Introduoe Parte Geral.BeloHorizonte:Del Rey, 2006. LISBOA,RobertoSenise.Manual Elementar deDireito Civil.TeoriaGeral do Direito. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do Fato Jurdico. Plano da Existncia. 10. ed. So Paulo: Saraiva, 1999. MELLO,MarcosBernardesde.Teoriado Fato Jurdico. Planoda Validade. 4. ed.So Paulo: Saraiva, 2000. PERLINGERI, Pietro. Perfis do Direito Civil: Introduo ao Direito Civil Constitucional. Trad. de Maria Cristina de Cicco. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. QUEIROZ,Mnica.ParteGeraldoDireitoCivileTeoriaGeraldosContratos.So Paulo: Atlas, 2010. TARTUCE,Flvio.DireitoCivil.LeideIntroduoeParteGeral.V.1.2.ed.So Paulo: Mtodo, 2006. Currculo Resumido:

MNICA QUEIROZProfessoraexclusivaAnhanguera/LFG/Praetorium.MestraemDireitoCivil pela PUC/MG. Autora de diversas obras jurdicas. Universidade Anhanguera-Uniderp PS-GRADUAO 9 Como citar este texto: QUEIROZ, Mnica. Os fatos jurdicos na contextualizao do Cdigo Civil de 2002. Material de Aula da Disciplina:A Teoria dos Fatos Jurdicos, ministrada no Curso de Ps-Graduao Televirtual de Direito Civil Anhanguera-Uniderp | Praetorium, 2012.