circular técnica 16 - agricultura orgânica

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AGRICULTURA ORGÂNICA Introdução A agricultura orgânica é um tema, cuja abordagem é explorada de muitas maneiras. É vivido por pessoas conscientes de sua responsabilidade tanto consigo mesmas, como com o seu próximo e também com o conjunto formador de todo o meio nesta geração e com o objetivo de que suas atitudes alcancem de maneira favorável as próximas gerações também. Infelizmente também não se pode negar a existência de indivíduos que utilizam o sistema somente por influência capitalista com o objetivo de aproveitar o maior valor agregado dos produtos. Na verdade, a grande meta é que o cultivo consciente seja cada vez maior para aumentar a acessibilidade da população a produtos tão benéficos. Trata-se de um tema que, hoje tem sido abordado em vários segmentos de nossa sociedade. É também, um assunto bem atual, pois ainda não se percebe, de maneira factível, o alcance e os benefícios da agricultura orgânica. O que já pode concluir é que, além de não se utilizar agrotóxicos, tal processo colabora, de forma visível, para a saúde das pessoas bem como com a “saúde ambiental”. Com isso, pode-se vislumbrar um mundo mais saudável para geração vindouras. De acordo com o Ministério da Agricultura (2007), a produção orgânica, ou melhor, agroecológica tanto animal como vegetal vai muito além de ser somente um sistema que não usa agrotóxicos, é uma produção que se baseou em tecnologias limpas, sustentáveis, com o objetivo de gerar produtos que atendam às boas práticas de segurança alimentar. Agroecologia O termo agroecologia é na verdade a prática ou o desenvolvimento da agricultura a partir de uma perspectiva ecológica, ou seja, respeitando e facilitando a interação de todos os organismos ao sistema ou ambiente, com os olhos no presente e no futuro. Nesse contexto, segundo Bognola et al.(2014), a produtividade é mantida de acordo com a capacidade de suporte do meio, ou Circular Técnica 16 Araxá, MG Maio, 2015 Autores: Maria José do Amaral e Paiva¹ José Carlos da Silva 2 Alessandro Henrique Souza 3 Sarah Laert Russi Maia Verônica Máximo Lerrane Carvalho mingote Gustavio Garcia Teodoro Tiago Honorato de Ávila Watus Cleigson Alves da Costa 4 ¹Engº Agrº Consultora em agricultura orgânica 2 Engº Agrº Dr. Professor do curso de Agronomia do Centro Universitário do Planalto de Araxá – UNIARAXÁ 3 Consultor do Sebrae. 4 Graduandos do curso de Agronomia do UNIARAXÁ.

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Page 1: Circular Técnica 16 - Agricultura Orgânica

AGRICULTURA ORGÂNICA

Introdução

A agricultura orgânica é um tema, cuja abordagem é explorada de muitas

maneiras. É vivido por pessoas conscientes de sua responsabilidade tanto

consigo mesmas, como com o seu próximo e também com o conjunto

formador de todo o meio nesta geração e com o objetivo de que suas atitudes

alcancem de maneira favorável as próximas gerações também. Infelizmente

também não se pode negar a existência de indivíduos que utilizam o sistema

somente por influência capitalista com o objetivo de aproveitar o maior valor

agregado dos produtos. Na verdade, a grande meta é que o cultivo consciente

seja cada vez maior para aumentar a acessibilidade da população a produtos

tão benéficos.

Trata-se de um tema que, hoje tem sido abordado em vários segmentos

de nossa sociedade. É também, um assunto bem atual, pois ainda não se

percebe, de maneira factível, o alcance e os benefícios da agricultura

orgânica. O que já pode concluir é que, além de não se utilizar agrotóxicos,

tal processo colabora, de forma visível, para a saúde das pessoas bem como

com a “saúde ambiental”. Com isso, pode-se vislumbrar um mundo mais

saudável para geração vindouras.

De acordo com o Ministério da Agricultura (2007), a produção orgânica,

ou melhor, agroecológica tanto animal como vegetal vai muito além de ser

somente um sistema que não usa agrotóxicos, é uma produção que se baseou

em tecnologias limpas, sustentáveis, com o objetivo de gerar produtos que

atendam às boas práticas de segurança alimentar.

Agroecologia

O termo agroecologia é na verdade a prática ou o desenvolvimento da

agricultura a partir de uma perspectiva ecológica, ou seja, respeitando e

facilitando a interação de todos os organismos ao sistema ou ambiente, com os

olhos no presente e no futuro. Nesse contexto, segundo Bognola et al.(2014), a

produtividade é mantida de acordo com a capacidade de suporte do meio, ou

Circular

Técnica

16

Araxá, MG Maio, 2015

Autores: Maria José do

Amaral e Paiva¹

José Carlos da Silva2

Alessandro Henrique Souza3

Sarah Laert Russi Maia

Verônica Máximo Lerrane Carvalho

mingote Gustavio Garcia

Teodoro Tiago Honorato de

Ávila Watus Cleigson Alves da Costa4

¹Engº Agrº

Consultora em agricultura orgânica

2Engº Agrº Dr. Professor do curso

de Agronomia do Centro Universitário do Planalto de Araxá

– UNIARAXÁ

3Consultor do Sebrae.

4Graduandos do curso de Agronomia

do UNIARAXÁ.

Page 2: Circular Técnica 16 - Agricultura Orgânica

seja, adequada ao potencial de cultivo utilizado. A abordagem não é apenas

econômica, mas sim social e ecológica, e mantém-se a diversidade genética,

observando e trabalhando sem transtornar as características físico-químicas do

solo, suas características hídricas e a dinâmica dos nutrientes.

A agroecologia que, na verdade, é outro modelo de produção e consumo,

é também conhecida como disciplina científica, e ganhou status de movimento

social e político, sendo, nesse caso, agregada por saberes populares de

diferentes etnias.

Além dos valores ambientais e sociais, há também a valorização da

cultura. Como exemplo, pode ser citada a questão do resgate do cultivo de

alguns alimentos que faziam parte da cultura de determinada região e, no

entanto, deixaram de ser consumidos, por não serem mais produzidos.

Dentro da agroecologia, está inserido o sistema de cultivo orgânico que,

de acordo com a Ricci & Neves (2006), é regido por quatro princípios, na

seguinte ordem; o respeito à natureza, a diversificação de culturas, o fato de que

o solo é um organismo vivo, e, por fim a independência dos sistemas de

produção. O respeito à natureza nos remete ao significado do termo preservação

ambiental que é “o conjunto de métodos, procedimentos e políticas que visem à

proteção, a longo prazo das espécies, habitats e ecossistemas; prevenindo a

simplificação dos sistemas naturais”.

A diversificação de culturas tem por finalidade aumentar a biodiversidade,

que traz consigo e enriquecimento do ambiente com macro e microrganismos

que dependem dessas espécies; formando um sistema equilibrado entre

organismos circunstancialmente considerados pragas e seus inimigos naturais.

Outro fator é que há a exploração diversificada dos diferentes extratos do solo

pelas raízes das plantas, impedindo a compactação e a exaustão de nutrientes,

causada pela presença constante das mesmas espécies.

No sistema de cultivo orgânico, o solo é constantemente enriquecido com

matéria orgânica, seja pela adubação verde, por cobertura morta ou aplicação

de compostos orgânicos. Assim, a resposta é o aumento da microbiota que

trabalha na decomposição desse material, melhorando a fertilidade e a

estruturação desse solo; caminho que leva à resposta positiva da produtividade

e a sustentabilidade do meio.

Page 3: Circular Técnica 16 - Agricultura Orgânica

Já a independência dos sistemas de produção é o resultado do

despertamento do produtor, por meio de um olhar interno em sua propriedade;

revelando o imenso potencial de exploração de seus insumos internos,

disponíveis ali mesmo, dentro da porteira, em detrimento dos insumos

agroindustriais, que além de serem, em sua maioria, de fontes naturais não

renováveis; aumentando bastante o custo de produção.

Transição do cultivo convencional para orgânico

Momento de bastante sensibilidade é o processo denominado de período

de transição, que se dá rumo à sustentabilidade agrícola. São duas as maiores

dificuldades enfrentadas por produtores convencionais que desejam transformar

sua propriedade em sistema de cultivo agroecológico. A primeira é a questão do

próprio enfoque do produtor que está, na maioria das vezes, somente na

abordagem econômica. A segunda, de acordo com Siqueira (2011), é a

restauração de um ambiente desequilibrado pelo sistema anterior, pois,

processos ecológicos foram interrompidos pela utilização dos adubos altamente

solúveis e também se constantes aplicações de pesticidas para controlar plantas

infestantes, pragas e doenças; dizimando fauna e flora como os inimigos naturais

e os polinizadores.

Como explica Faria (2010), ao interromper essas práticas e sem a

presença da biodiversidade, as pragas e patógenos atacam violentamente, sem

nenhum controle; sendo necessário, então, reconstruir, ou ser instrumento de

reconstrução, dessa biodiversidade para que haja o controle natural. Na

verdade, para destruir um ecossistema, leva-se bem menos tempo do que para

reconstruí-lo.

Portanto, a melhor maneira de minimizar os transtornos da transição é se

conscientizar que reconstruir o equilíbrio da vida do ambiente é processo lento e

pode-se começar por plantar mais árvores e flores, compostar o que conseguir,

rotacionar e diversificar as culturas. Vale lembrar que o sistema agroecológico

de cultivo é trabalhado sempre de maneira preventiva. Caldas e extratos devem

ser utilizados esporadicamente porque caso contrário só iremos substituir os

insumos proibidos por aqueles que são permitidos. Outro fato a ser observado é

Page 4: Circular Técnica 16 - Agricultura Orgânica

não tratar a propriedade de maneira isolada, mas sim dentro de toda a bacia

hidrográfica.

A prática de cultivo agroecológico tem vivido considerável aumento. Isso

se dá por motivações diferenciadas, como valorização do ambiente, da

qualidade de vida da família, do consumidor, bem como um retorno à forma de

comercialização direta; já que muitos produtores reclamam do problema social,

gerado pela sua integração à grande indústria, o que os fez perder a noção dos

custos de produção e do comércio.

Mas, afinal, qual é a recomendação sobre o que deve ser praticado,

cultivado, desenvolvido em uma propriedade agroecológica? Não há como

padronizar. As práticas são adaptadas às condições, nas quais está inserida a

propriedade.

Cultivo em círculos

As diferentes regiões do país com seu solo e clima diferenciados, exigem

do agricultor familiar brasileiro a utilização de toda a sua criatividade para

sustentar sua família e, ainda, atender ao mercado. Uma demonstração é o

cultivo autossustentável, denominado mandala, que significa círculo. Tal

processo foi trazido da Austrália e adaptado ao Brasil, por Willy Pessoa, há mais

de 30 anos. Na maioria das regiões onde esse sistema tem sido adotado, há

crescimento econômico, familiar e social, além do uso inteligente dos recursos

naturais (MARIUZZO, 2007).

É um sistema simples, porém exige planejamento e pode beneficiar

municípios inteiros, quando os agricultores trabalham a formação de grupos de

consumo para não faltar alimento. Esse sistema possibilita que cada um produz

para si e para complementar e diversificar a produção do outro. Utiliza os

próprios elementos ambientais locais a saber: vegetação nativa, animais criados

na região, reutilização da água, reciclagem dos nutrientes a partir dos

excrementos dos animais, a compostagem, entre outros. A irrigação é feita por

micro aspersão, utilizando-se de uma bomba que impulsiona a água, fertilizada

pelos animais do tanque, para os canteiros.

Page 5: Circular Técnica 16 - Agricultura Orgânica

O modelo padrão é o seguinte: em uma área de 50 metros x 50 metros, é

construído um tanque de água no centro e nove canteiros em círculos em volta

do tanque; no mesmo modelo do sistema solar, com o sol ao centro e os nove

planetas em volta. No tanque podem ser criados peixes, e, em seu entorno,

outros pequenos animais.

A orientação para que o produtor possa distribuir bem as culturas é, do

primeiro ao terceiro círculo, planta-se o que for destinado ao núcleo familiar,

sendo que nas extremidades do terceiro círculo de canteiros podem ser

plantadas também plantas medicinais e ornamentais. O excedente é destinado

ao comércio.

Já a partir do quarto ao oitavo círculo de canteiros, a destinação é a

melhoria das condições econômicas da família. Essas culturas serão escolhidas

de acordo com a demanda do mercado local. A função do nono círculo é o

benefício ao ambiente; cercando todo o sistema com árvores nativas, frutíferas

e plantas usadas como cerca vivas.

Vale lembrar que o descrito acima é apenas um modelo e que pode ser

adaptado para as condições locais afim de atender aos anseios e às

necessidades da família e do mercado. Há, ainda muitas comunidades onde

apenas um projeto atende a várias famílias.

Page 6: Circular Técnica 16 - Agricultura Orgânica

Considerações finais

Diante de fatos que comprovam as reações da natureza, por ter sido tão

agredida pelos sistemas de cultivo, não há como evitar a busca de soluções

alternativas para que seja possível a continuação da produção de alimento; não

somente de comida, mas alimento que pode ser consumido com tranquilidade e

segurança por todo uma população.

Referências

BOGNOLA, I. A.; ANDRADE, G. C.; MOEDA,S. Sustentabilidade de solos sob plantios florestais nos diversos biomas brasileiros. RIBEIRO, B. T.; WENDLING B. ed. In: Solos nos biomas brasileiros: sustentabilidade e mudanças climáticas. III Congresso Brasileiro de Ciência do Solo (33. 2011) Uberlândia, MG

FARIA, R. L. Os desafios Técnicos na Transição do Modelo Convencional ao Orgânico na Produção Agrícola. Revista Complexus. Ano 1, n.2 p. 90-106, Ceunsp, Salto, SP Setembro/2010

Page 7: Circular Técnica 16 - Agricultura Orgânica

MARIUZZO, P. Sistema Baseado em Agricultura Sustentável ajuda Pequenos Produtores. Inovação Uniemp. v.3 n.2 Campinas Março/Abril 2007.

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUARIA E ABASTECIMENTO. Legislação sobre Agricultura Orgânica. Acesso em 06/04/2015. Disponível em: http://www.agricultura.gov.br/desenvolvimento-sustentavel/organicos/legislacao RICCI, M. S. F.; NEVES, M. C. P. ed. Fundamentos da Agricultura Orgânica, Embrapa Agrobiologia, Sistemas de Produção, 22 ed. Dezembro 2006

SIQUEIRA, H. M. Transição Agroecológica e Sustentabilidade Socioeconômica dos Agricultores Familiares do Caparaó-ES: O Caso da Cafeicultura. Tese. UENF. Campos dos Goitacazes, RJ, 2011.

Comitê de Publicações

Coordenador: Dr. José Carlos da Silva

Membros: Rafael Tadeu de Assis, Jorge Mendes de Oliveira Junek, Carlos Eugênio

Ávila Oliveira, Paulo Fávero de Fravet, Hélio Alcântara e Diogo Aristóteles Rodrigues

Gonçalves.

Revisão de texto: Jacqueline de Souza Borges Assis

Normalização bibliográfica: Maria Clara Fonseca

E-mail: [email protected]

Versão eletrônica, junho de 2015

1ª impressão (2014): 100 exemplares

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE, AGRÁRIAS E HUMANAS (ISAH) - Araxá - MG, Maio de 2015