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circulador Jovens, tão iguais e tão diferentes Uma publicação para quem trabalha na promoção da saúde dos jovens | n° 2 Compreender e valorizar a diversidade contribui para promover o acesso dos adolescentes aos serviços de saúde do Rio de Janeiro

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circulador

Jovens, tão iguaise tão diferentes

Uma publicação para quem trabalha na promoção da saúde dos jovens | n° 2

Compreender e valorizar a diversidade contribui para promover oacesso dos adolescentes aos serviços de saúde do Rio de Janeiro

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SUMÁRIOJovem e profissional de saúde:quanto mais perto melhor

Gravidez na adolescência

Rapazes e cuidadoscom a saúde

Valorização da paternidade

Adolescentro: projeto queinveste na diversidade

Cuidando de quemmais precisa

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Circulador2ª ediçao | nov 2005 | 3000 exemplares

Prefeitura da Cidade do Rio de JaneiroPrefeito César MaiaSecretaria Municipal de SaúdeSecretário Ronaldo Cezar CoelhoSubsecretaria de Ações e Serviços de SaúdeSubsecretário Jacob Kligerman

Responsabilidade técnica:Assessoria de Promoção de SaúdeViviane Manso Castello Branco

Apoio:Coordenação de Doenças TransmissíveisGerência do Programa de DST/Aids

Coordenação e ediçãoSaber Viver Comunicação (21 2544 5345)www.saberviver.org.br

Projeto GráficoEstúdio Metara (21 22427609)

FotoAlex Ferro / Ag. Pedra Viva (21 96077534)

Adiversidade é uma característica mar-cante da sociedade brasileira. Diferen-

ças com relação a idade, gênero, etnia,classe social, origem, “tribo”, entre outras,geram maneiras distintas de viver, de per-ceber e lidar com a saúde. Essas diferençasprecisam ser levadas em conta na organi-zação dos serviços que tenham a eqüida-de como princípio norteador.

Esta edição do Circulador traz algumasexperiências da Secretaria Municipal deSaúde do Rio de Janeiro que buscam com-preender e valorizar a diversidade de inte-resses, vivências e necessidades dos jovens,

construindo com eles estratégias que con-tribuam para promover a saúde e a cida-dania, minimizar barreiras de acesso a ser-viços e diminuir a vulnerabilidade e a de-sigualdade.

Iniciativas como essas têm em comumum aspecto fundamental: profissionais desaúde comprometidos com o cuidado,com disponibilidade para rever suas cren-ças e práticas. Pessoas, como canta Leni-ne, com um coração “sem fronteiras”.

Viviane Manso Castello BrancoAssessora de Promoção de Saúde da Secretaria

Municipal de Saúde/RJ

III Fórum de Juventude eSaúde dá voz a adolescentesna discussão por melhorespolíticas públicas

O encontro de jovens, integrantes deONGs e profissionais de saúde e

educação promovido pelo III FórumCarioca de Juventude e Saúde, dia 1º deJulho de 2005, no Adolescentro Paulo

Rompendo limites paraa promoção de saúde

Freire, não poderia ter melhor resultado.O objetivo de reunir as diversas áreasimplicadas na promoção de saúde dejovens para um tratamento transversaldo tema foi conquistado e o eventosuscitou a formulação de novas políti-cas públicas.

Durante todo o dia, jovens e adultosparticiparam de mesas-redondas, apre-sentações culturais, debates e oficinasque esquentaram a troca de informa-ções, opiniões e experiências. Dentre asconclusões, destacaram-se a necessida-de de maior sensibilização dos profissi-onais de saúde para um atendimentomais próximo dos jovens, aprimorandosua inclusão no sistema público de saú-de. Além disso, foi reforçada a importân-cia da parceria entre saúde e educação.Na abertura do evento, o grupo teatralCompanhia da Saúde mostrou, commuito humor e interação com a platéia,que “prevenção é solução”.

fala, jovem! “A idéia do Fó-

rum é muito boaporque faz adoles-centes e adultosinteragirem deigual para igual –e assim todomundo aprende.

Se pelo menos metade dos profissio-nais pudesse participar de um encon-tro como esse, o jovem passaria a serouvido com mais respeito”.Ísis de Oliveira da Silva, 15 anos

Sob o Mesmo Céu / Lenine e Lula Queiroga

“Brasil, Com quantos Brasis se faz um Brasil?Com quantos Brasis se faz um país chamado Brasil?”

Circulandoidéias e intenções

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Quanto mais perto melhorJovem

“Eu atendia apenas crian-ças e me sentia muito insegu-ra em trabalhar com adoles-centes. Eles não expressamseus sentimentos e a gente éque tem que perceber os si-nais quando alguma coisa nãovai bem. Participar de capaci-tações foi fundamental para

mim. Aprendi que não podemos só valorizar o sin-toma, que é preciso conversar sobre a vida deleem geral e explicar sobre seu direito ao sigilo naconsulta. O importante é estabelecer um vínculocom o adolescente e saber se comunicar”.Flavia Barcelos, pediatra do Pam Rodolpho Roc-co, fez o curso de capacitação do IPPMG/UFRJ.

eu mudei!

Diminuir a distância entreo profissional e o adolescente:desafio para a promoçãode saúde

Em todo o mundo, e em particularno Brasil, a adolescência é assuntorelativamente recente para a área da

saúde. Isso explica em parte a dificuldadeque muitos profissionais de saúde têm paralidar com as especificidades do adolescen-te. Investir na formação do profissional, nacriação de um espaço de reflexão e dis-cussão de temas é promover um salto dequalidade em seu trabalho e capacitá-lopara uma abordagem mais dinâmica eadequada junto ao jovem.

A pediatra Fátima Coutinho coordenao curso de capacitação para o atendimen-to de adolescentes do Instituto de Pueri-cultura e Pediatria Martagão Gesteira(IPPMG) da Universidade Federal do Rio deJaneiro (UFRJ). Para ela, a maior barreira a

ser superada é a distância que existe entrejovens e adultos. “Em um primeiro momen-to, um despreza a opinião, os sentimentose as crenças do outro. Essa rejeição à dife-rença torna impossível um atendimentoeficaz”. Fátima aponta a flexibilidade comouma das características principais a ser esti-mulada nos profissionais. “Ele deve estaraberto para ouvir o jovem, no sentido deacolher, sem julgamento ou idéias pré-con-cebidas, respeitar as diversidades culturaise de geração. O importante é fornecer con-dições para que o adolescente desenvolvaautonomia e faça suas próprias escolhas”.

Incentivar o trabalho em equipe tam-bém é uma forma de fortalecer o profissi-onal e o atendimento. A interdisciplinari-dade permite que um membro da equipeaprenda com o outro. “Cada área obtémrespostas diferentes do adolescente que,reunidas, podem ampliar as formas deabordagem”, diz Fátima, que também éresponsável pela Gerência do Programa deSaúde do Adolescente (Prosad) da SMS.

Outro aspecto fundamental, e poucoutilizado sobretudo pelos médicos, é abusca na comunidade por possíveis par-cerias. Segundo a médica, a interface coma educação, justiça e desenvolvimento so-cial possibilita uma atuação mais abran-gente e eficaz.

Parceria entre Prosad e UFRJValorização do trabalho em equipe,

quebra de tabus, busca por parcerias nacomunidade e incentivo ao protagonismojuvenil são temas de destaque nos cursosde capacitação do Instituto de Pediatriada UFRJ. Durante quatro meses, uma vezpor semana, profissionais do municípiorealizam atendimentos em conjunto eparticipam de discussões de casos com aequipe da UFRJ. Segundo Fátima, a auto-nomia dos participantes é estimulada. “In-centivamos a busca freqüente por atuali-zação e a adequação de metodologias àsua realidade”.

Aprender a lidar com frustrações e nãose sentir paralisado com as dificuldadesencontradas é outro assunto abordado. “Ofato de não termos uma equipe completanão significa que não podemos desenvol-ver um bom trabalho com o adolescente.Mostramos que é possível nos adequar àscarências que temos e oferecer um aten-dimento de qualidade”, diz a médica. Omomento atual de desvalorização do pro-fissional de saúde é uma preocupaçãoconstante. “Ampliar seus conhecimentos etrabalhar suas emoções faz com que elese sinta mais capacitado para alcançarseus objetivos”, completa Fátima.

A pediatra Riva Rozenberg, com jovens que ela atende no PS Madre Teresa de Calcutá,fez curso de capacitação no IPPMG/UFRJ.

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Jovem mãe

Enquanto o pediatra Arnaldo Buenodá dicas de como cuidar do bebêrecém-nascido, Carla*, no sexto mês

de gravidez, olha com ternura para a mãevárias vezes. As duas sorriem e fazem comen-tários durante o curso. Ao seu redor, estãomais de 20 jovens grávidas entre 12 e 19 anos.Algumas estão sozinhas. Outras ouvem aaula sob o olhar desconfiado de uma acom-panhante, sem sorrisos e sem comentários.É o caso de Maria*, 15 anos, que chega pelaprimeira vez à maternidade com cinco me-ses de gravidez: “Só agora eu tive coragemde contar para a minha mãe. Fiquei commedo de ser expulsa de casa”. Maria* diz queconhece todos os métodos contraceptivos,mas não os usou porque achava que nuncaficaria grávida.

As histórias de Carla e Maria formam doislados diferentes da mesma moeda: a gravi-dez na adolescência. Assim como elas, cercade 300 meninas mães, de 11 a 19 anos, fre-qüentam por mês a Maternidade OswaldoNazaré, referência no município do Rio deJaneiro no atendimento a adolescentes. Asjovens mães já somam 20% da clientela totalda unidade. “O grande desafio é entender queessas meninas ainda não são mulheres”, ex-plica Maria Helena Alves Pereira, psicóloga ecoordenadora do Programa de Atenção àAdolescente da maternidade. “Muitas vezes,o profissional de saúde interpreta aquela

gravidez como um mero ato de irrespon-sabilidade. Isso é um grande erro que vaiinfluenciá-lo na hora do atendimento.Quando uma jovem procura o serviço desaúde, ela está pedindo ajuda. Nesse mo-mento, o nosso desafio é olhá-la com res-peito e carinho”, afirma a psicóloga, quemantém constantemente a porta de suasala aberta para as meninas grávidas. “Oprofissional deve receber treinamento eter afinidade para trabalhar com jovem.Devemos promover um acolhimentosem o viés da crítica”.

Gravidez na adolescência:uma questão multifatorialPara Maria Helena, a causa da gravidez na

adolescência é composta por diversos fato-res, que vão desde questões biológicas à fal-ta de um outro projeto de vida. “A falta deacesso à educação é um fator primordial.Muitas meninas, quando chegam na mater-nidade, já abandonaram a escola. Isso trazreflexos negativos para o seu futuro”. Preocu-pada com esta questão, Maria Helena incen-tiva as jovens a retomarem os estudos en-quanto fazem o pré-natal, chegando a visitarescolas quando é necessário.

A psicóloga ressalta também que a gra-videz na adolescência representa, principal-mente para as jovens de baixa renda, umaoportunidade de ascensão social: “Algumasafirmam que conseguiram o respeito de suas

famílias e de suas comunidades depois queficaram grávidas”.

Uma relação familiar difícil também é umaspecto analisado por Maria Helena: “Muitasadolescentes não conseguem conversarsobre sexualidade com os pais. Quandoengravidam, ficam com medo da violênciadoméstica e não revelam que estão grávi-das. Isso retarda o pré-natal, podendo trazercomplicações para a saúde da jovem e dobebê”.

A pesquisa Gravidez na Adolescência:Estudo Multicêntrico sobre Jovens, Sexuali-dade e Reprodução no Brasil (UERJ/ UFBA/UFRGS) identificou que 30% das mulheresque ficaram grávidas até os 20 anos nuncatinham conversado com suas mães sequersobre menstruação. Os pais são ainda maisausentes. “Quando há algum tipo de conver-sa, ela é sempre por parte da mãe”, garantea antropóloga e coordenadora do estudo,Maria Luiza Heilborn, que ouviu 4.634 jovensdo Rio de Janeiro, Salvador e Porto Alegre.

Grávida tambémficava sua avó

Através de uma retrospectiva histórica, nofinal do século 19 e início do século 20, asmulheres tinham filhos com, em média, 15anos de idade porque se casavam muito

Fal

a, m

enin

a!

“Antes de chegar aqui na MaternidadeOswaldo Nazaré, fiquei das 7 da ma-nhã às 3 da tarde aguardando aten-dimento num posto perto da minhacasa. Uma falta de respeito”.Rosa*, 15 anos.

“Quando eu fui com uma amiga aoginecologista do posto, as enfermeirasfalaram bem alto que a gente só po-

deria estar grávida. Fiquei com tantavergonha que acabei voltando pracasa”.Érika*, 16 anos.

“Sinto mais carinho por mim e pelomeu bebê depois que cheguei aqui”.Luíza*, 15 anos, sobre a MaternidadeOswaldo Nazaré.

* Nomes fictícios.

Dez horas da manhã e Carla*, 14 anos, chega com sua mochilaem formato de urso de pelúcia à Maternidade Oswaldo Nazaré,na Praça XV, acompanhada da mãe para assistir ao cursooferecido às gestantes adolescentes

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cedo. Atualmente, as mulheres em geralbuscam diferentes perspectivas de vida.Porém, em todo o mundo, o número deadolescentes grávidas aumenta a cada ano,apesar da divulgação e acesso a métodoscontraceptivos. “A gravidez de uma adoles-cente nem sempre é indesejada. Várias me-ninas demonstram para nós o desejo de sermães. Outras, descobrem esse desejo aolongo da gravidez. Nós, profissionais de saú-de, precisamos colaborar para que essasmeninas consigam escolher a hora em quedesejam ser mães”, diz a psicóloga da Oswal-do Nazaré.

No Rio de Janeiro, dados do Sistema deInformações sobre Nascidos Vivos (SINASC)

revelam que cerca de 18% dos nascidos vi-vos são filhos de adolescentes até 19 anos.Nesses bebês é maior incidência de baixopeso, prematuridade e asfixia, em relação àsfaixas etárias de 20-30 e 30-39 anos. Váriosestudos mostram que os aspectos biológi-cos têm influência discreta sobre peso eduração da gestação. Quando recebem aten-ção qualificada e apoio social, as adolescen-tes apresentam desempenho semelhante aodas mulheres de maior idade. Segundo oSINASC, essas jovens também apresentammenor freqüência ao pré-natal, o que trazpara as unidades de saúde o desafio dequalificar seus serviços para garantir a ade-são das gestantes adolescentes.

Umareferência noatendimentoà meninagrávida

“Doutora, vai doer na hora?”, perguntauma jovem de 15 anos durante uma pré-consulta ministrada pela psicóloga MariaHelena (foto), para onde todas as meni-nas são encaminhadas ao chegarem naMaternidade Oswaldo Nazaré. Nesse en-contro, elas recebem esclarecimentos ge-rais sobre o atendimento e sobre seusdireitos e deveres como adolescentes ges-tantes, além de trocarem experiências ediscutirem sobre seus desejos e preocu-pações. A presença dos meninos pais éestimulada com a realização de reuniõesmensais com esse grupo.

No local, conhecido como Maternida-de Praça XV, a gestante tem consultascom nutricionistas, psicólogas, pediatras,assistentes sociais e obstetras, além de teracesso a um curso sobre questões relaci-onadas à gestação e aos cuidados com orecém-nascido. Quando recebe alta, a jo-vem é encaminhada ao posto de saúdemais próximo de sua casa para continuar

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Garanta os direitosdas jovens grávidas

>>>>> Nos serviços de saúde, a jovem deve sertratada com respeito e receber atendimentoadequado.

>>>>> O profissional deve preencher o “cartão dagestante” e orientar a jovem para levá-lo àmaternidade na hora do parto.

>>>>> Toda a gestante tem o direito de continuarestudando. O profissional de saúde deveestimulá-la a freqüentar as aulas até o 8ºmês de gravidez. Depois disso, ela devereceber a matéria e os exercícios em casa efazer as provas na escola.

>>>>> As adolescentes, na internação para o parto,podem ter um acompanhante.

Estimule o cuidado com a saúde:>>>>> Crie um ambiente acolhedor onde as jovens

grávidas possam colocar suas dúvidas etente esclarecê-las.

>>>>> Converse com as jovens que receberamexame de gravidez negativo sobre projetode vida, cuidados com a saúde sexual ereprodutiva e métodos contraceptivos.

>>>>> Estimule as gestantes a realizarem o testeanti-Aids e a buscarem o resultado antes doparto.

>>>>> Explique às jovens a importância do uso dopreservativo mesmo durante a gravidez, paraevitar as DST/Aids .

>>>>> Esclareça os riscos sobre o uso de drogas,álcool e cigarro durante e após a gravidez.As que utilizam devem ter umacompanhamento especial.

>>>>> Incentive o aleitamento exclusivo até o 6ºmês do bebê e os cuidados em geral com orecém-nascido.

>>>>> Oriente a jovem sobre como planejar a próximagestação e sobre os locais que oferecemplanejamento familiar.

>>>>> Valorize o paie a família,promovendoatividadescom essegrupo efavorecendo aparticipaçãodo pai dobebê nasconsultas depré-natal e noparto

a assistência ao bebê. A Oswaldo Nazaré pos-sui um programa de planejamento familiar,através do qual a jovem recebe esclarecimen-tos sobre métodos contraceptivos e preven-ção às DSTs e Aids. Para esse serviço, sãoencaminhadas também meninas que rece-beram exame negativo para gravidez e quenão desejam engravidar.

O trabalho da unidade tem como objetivogeral fortalecer a auto-estima, a autonomia e acapacidade de cuidado dos jovens, promoven-do maior controle sobre suas vidas e maiorvínculo entre pais e filhos.

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fala

, jove

m!

Jovem, sexo masculino, baixa escolari-dade. Segundo as estatísticas, este éo perfil da população mais vulnerável à

violência na cidade do Rio de Janeiro. Apro-ximar os homens jovens dos serviços desaúde e dar maior visibilidade às suas ques-tões é um passo importante para transfor-mar essa realidade. Com esta certeza, o pro-jeto Homens Jovens e Saúde* incentiva a for-mação de grupos de reflexão em diferentesunidades de saúde do município, capacitan-do profissionais e jovens para isso.

O psicólogo e educador Luiz dos SantosCosta foi um dos profissionais envolvidosnesta iniciativa que atuou como facilitadordos grupos de jovens em Postos de Saúdeda Maré. Conversando sobre temas comorelação familiar, paternidade, sexo, saúde, vi-olência, responsabilidade e trabalho, Luizacredita que dessa forma é possível operarmudanças significativas nos rapazes, aproxi-mando-os do cuidado consigo e com ooutro. “Esse é um projeto que já provou suaeficácia. Os meninos que participaram dosgrupos têm hoje um nível de argumentaçãoexcelente”, constata.

A Assessora de Promoção em Saúde daSMS, Viviane Castello Branco, observa que osserviços de saúde devem estar atentos para

Posto de saúdetambém é lugarde homem jovem

perceber formas interessantes de conquistaro homem para a saúde. Um exemplo deestratégia bem sucedida, segundo ela, é oAdolescentro, que, além dos grupos de refle-xão para os rapazes, busca realizar ativida-des culturais, esportivas e de lazer atraentese estabelecer parcerias com ONGs, escolas ecentros esportivos da comunidade. Outroexemplo interessante é o profissional de portade entrada do PS Masao Goto, AlessandroAndrade, que aborda de maneira hábil e efi-ciente os rapazes que rondam a porta doposto sem coragem para entrar.

Visibilidade maiorpara o rapaz

Para Viviane, o projeto Homens Jovens eSaúde também conseguiu chamar a atençãodos serviços para aquele rapaz que vai aoposto acompanhando sua parceira para fazero teste de gravidez, pré-natal ou na consultacom o pediatra do filho. “O homem, muitasvezes, se torna invisível para o profissional, quedeveria estender um tapete vermelho para ele.Cada unidade deve aproveitar essas oportu-nidades para ouvir suas necessidades, fortale-cer vínculos e oferecer atividades do posto,como o grupo de homens jovens, o Vista essaCamisinha ou o grupo de pré-natal”, diz ela. “Oaprendizado mais importante do projeto foi

percebermos a necessidade de incorporar adiscussão sobre homens, masculinidades esaúde em todas as ações educativas realiza-das”, afirma Viviane, ressaltando a necessidadede maior investimento na capacitação dosprofissionais.

O bom resultado alcançado pelo projetoHomens Jovens e Saúde já está permitindo suadifusão para outras iniciativas, como a capa-citação de agentes de saúde da área de Ban-gu. Outro motivo para comemorar é o com-promisso assumido pela agenda social doPam 2007 em implementar o projeto nas áre-as de menor IDH da cidade.

Hudson e Edgleiso participam do grupode Homens Jovens e Saúde noAdolescentro Paulo Freire

“Eu achava que posto de saúdenão adiantava. Agora queparticipei de palestras noAdolescentro, encontrei umapoio melhor. Não vou ter maisvergonha de falar sobre meusproblemas”.Edgleiso

“As unidades de saúde deveriamter mais espaço para o trabalho

voluntário dos jovens e paracapacitações”.Fernando

“A gente não sabe nem qualmédico deve procurar no posto.Existe ginecologista de homem?Estas são barreiras que atrapalham.Também acho que deveriam termais palestras. Para os pais também”.Hudson

“O Adolescentro dá uma opçãodiferente para o jovem dacomunidade. Muitos têmproblemas e não têm com quemse abrir. No grupo de homensjovens, todo mundo pode sersincero porque existe muitorespeito. É uma conversa de jovempara jovem.”Júnior

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Vista essa camisinha

Estimular a atenção do adolescentepara o cuidado integral com a saúde,

através da promoção de vínculos entrejovens, profissionais de saúde e de edu-cação. Essa é a meta do projeto Vista essaCamisinha, desenvolvido pelo Programade Saúde do Adolescente (Prosad) daSecretaria Municipal de Saúde do Rio deJaneiro (SMS – RJ).

Para atingir seu objetivo, o Vista essaCamisinha utiliza diversas estratégias. Aprimeira delas é a distribuição de camisi-nhas de 49 e 52 mm, através das unida-des de saúde da SMS e de seus parceiros.Luciana Phebo, coordenadora do proje-to, explica: “Disponibilizar camisinhas éuma maneira de atrair o jovem a freqüen-tar a unidade e estimular seu cuidadocom a saúde. Mas o projeto vai muitoalém. A idéia é que o adolescente reco-nheça a unidade de saúde como umespaço seu, onde se sinta valorizado epertencente a um grupo”.

A saúde pensadade forma integral

Mais do que informações sobre comousar o preservativo, sobre sexo, gravideze DSTs, o Vista essa Camisinha estimula aformação de grupos de discussão nasunidades de saúde. A intenção é levar jo-vens e profissionais de saúde a refletirsobre saúde de uma forma mais ampla:saúde emocional e social, direitos e res-ponsabilidades, autonomia e auto-estima.Para Marly Cruz, técnica do Programa deDST/Aids da SMS, que realiza uma pes-quisa sobre DST/Aids com jovens nasunidades de saúde do município do Riode Janeiro, quanto maior a autonomia ea auto-estima, maiores serão os cuidadoscom a saúde. Ela ressalta, no entanto, queenfrentar desafios é uma característicamarcante dos jovens, e aí pode estar suavulnerabilidade. “O risco possui uma co-notação atraente para o jovem. Além

disso, há o sentimento de onipotência einvulnerabilidade, comuns nessa faixa etá-ria”, diz Marly.

Nas reuniões, os jovens têm a oportu-nidade de pensar sobre suas escolhas,colocando na balança os riscos necessá-rios, que promovem o crescimento, e osriscos negativos. Entretanto, a distribuiçãode preservativos não deve estar obrigato-riamente vinculada a uma atividade edu-cativa, como lembra Luciana Phebo. “Issopode acabar afastando o jovem da unida-de de saúde, prejudicando a finalidade doprojeto”, diz ela.

Para garantir o sucesso do Vista essaCamisinha, é fundamental que os profissi-onais tenham disponibilidade para ouviros jovens, aproveitando as oportunidadesde diálogo, adequando as atividades àssuas necessidades e respeitando o sigiloe a confidencialidade.

A parceria entresaúde e educação

“Saúde e educação se ocupam domesmo jovem”, observa Luciana Phebo.“Daí a importância de estabelecer umaparceria efetiva entre essas duas áreas”. Apromoção de encontros entre profissio-nais de saúde e educação em fóruns e se-minários é uma das ações do Prosad, quevisa fortalecer essa parceria, favorecendoo acesso dos alunos às unidades de saú-de. Além disso, em qualquer momento doano letivo, as escolas podem solicitar aoposto de saúde mais próximo preservati-vos, material de apoio e um profissionalcapacitado para trabalhar com seus alu-nos temas como sexualidade, prevençãode DSTs e gravidez.

Para saber +Projeto Vista Essa Camisinhawww.saude.rio.rj.gov.br/adolescente

DDDDDistristristristristribuição de pribuição de pribuição de pribuição de pribuição de preseresereseresereservvvvvativativativativativos é a pos é a pos é a pos é a pos é a ponta deonta deonta deonta deonta deiniciativiniciativiniciativiniciativiniciativa muita muita muita muita muito mais abro mais abro mais abro mais abro mais abrangentangentangentangentangenteeeee

*Iniciativa coordenada pelo Instituto Pro-mundo, Gerência do Programa de Saúde doAdolescente da Secretaria Municipal de Saú-de do Rio de Janeiro (SMS) e Núcleo de Estu-dos em Saúde do Adolescente da UERJ. Comapoio da OPAS e OMS

Como chegarmais pertodos rapazes> > > > > Sensibilizar os profissionais da uni-

dade para que compreendam as ne-cessidades dos rapazes

> > > > > Estimular os rapazes a participaremdo planejamento das atividades

> > > > > Oferecer um espaço para que os jo-vens possam se reunir para a dis-cussão de temas e troca de experi-ências

> > > > > Facilitar o atendimento do jovem, di-minuindo a burocracia, respeitandoo sigilo e oferecendo alternativas dehorários que sejam compatíveiscom a escola e o trabalho

> > > > > Buscar parcerias com outras insti-tuições que trabalhem com jovens

> > > > > Desenvolver atividades que atraiamos jovens, como jogos, gincanas, exi-bição de filmes, passeios

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Pai presenteCena comum em maternidade do Rio

de Janeiro: menina jovem e grávidachega para consulta pré-natal, sozi-

nha ou acompanhada da mãe. O pai dobebê, figura fundamental para o desenvol-vimento do filho e bem-estar da mãe, ouestá ausente ou sua presença não é valo-rizada. “Muitas vezes os próprios profissio-nais de saúde não incentivam a participa-ção do pai, deixando-o do lado de fora dasala de consulta”, diz Viviane Castello Bran-co, Assessora de Promoção de Saúde daSMS-RJ.

Felizmente, esse cenário vem sofrendoprofundas mudanças nos últimos anos.Assim como as mulheres conquistaramespaços na vida pública, os homens come-çam a abrir espaços no mundo privado, es-pecialmente no mundo dos afetos.

Fortalecer os laçosentre pais e filhos

Visando incentivar o debate sobre pater-nidade e desenvolver estratégias que bus-quem favorecer vínculos entre pais e filhos,

a Prefeitura do Rio de Janeiro instituiu em2002 a Semana de Valorização da Paterni-dade, que a partir de 2004 se transformouem um mês inteiro de atividades realizadasem diferentes locais: escolas, unidades desaúde, centros esportivos, entre outros. Essainiciativa é coordenada pela MacrofunçãoVida, um grupo de trabalho que integra di-ferentes instituições municipais, universida-des e ONG.

A proposta do Mês de Valorização daPaternidade é promover, durante o mês deagosto, debates, palestras e outras ativida-des que sensibilizem homens, mulheres,crianças, jovens e profissionais em geralpara a importância da participação do paino cuidado com crianças e adolescentes,contribuindo para o desenvolvimento afe-tivo dos filhos e do próprio homem.

Na Maternidade Oswaldo Nazaré, a psi-cóloga Maria Helena Alves Pereira desen-volve um programa específico para ado-lescentes. Sua estratégia para aproximar osrapazes é o acolhimento. “Aqui o compa-

nheiro é muito bem assistido e estimula-do a participar de todo o processo da ges-tação”, conta. “Como a menina que está grá-vida, o rapaz que vai ser pai freqüenta pré-natal, grupos semanais, consultas de nu-trição e palestras sobre a importância doaleitamento materno. Os jovens são leva-dos a refletir sobre a função e a responsa-bilidade paternas e ainda aprendem a darbanho e a trocar fraldas”.

As atividades promovidas durante oMês de Valorização da Paternidade têm serevelado excelente estratégia para atrairhomens para o debate sobre seu papel nocuidado com os filhos, na relação com asmulheres e no planejamento familiar. Se-gundo Viviane Castello Branco, que coor-dena a Macrofunção Vida, o grande desa-fio consiste em “mudar as rotinas de formaa ampliar a freqüência de pais e homensem geral nas atividades promovidas pelasdiferentes instituições”. Essa preocupaçãolevou à criação dos 10 passos para tornara unidade de saúde parceira do pai (vejaabaixo).

Ana Paula da Silva eRafael Rosa dos Santosna festa de dia dos paisna maternidade OswaldoNazaré, praça XV

Valorizar a paternidadeé estimular o cuidado e reforçaro potencial afetivo dos homens

1. Capacitar os trabalhadores da saúde em te-mas relacionados às masculinidades, cuidadopaterno e metodologias para trabalho com ho-mens.

2. Incluir os homens/pais nas atividades de con-tracepção, TIG, pré-natal, ultra-sonografia, aten-ção a crianças e adolescentes (consultas, exa-mes e atividades de grupo).

3. Valorizar e incentivar a participação do pai nopré-parto e parto, dando a eles tarefas significa-tivas, como cortar o cordão umbilical e dar oprimeiro banho.

4. Facilitar a presença dos pais nas enfermarias,acompanhando seus filhos internados.

5. Desenvolver atividades especificamente volta-das para os homens e/ou pais que valorizem aintegração entre as gerações, com metodologiasatraentes para os homens.

6. Incluir temas relacionados a masculinidades/paternidade nas diferentes atividades de grupo

realizadas pela unidade (contracepção, pré-natal,aleitamento, grupos de pais, adolescentes, idosos,hipertensos, etc.).

7. Garantir a estrutura física que permita a partici-pação dos homens/pais nos diferentes serviços(cadeiras, camas, banheiros masculinos, divisórias,etc.) e decorar a unidade de forma que os homensse sintam mais à vontade (cartazes, revistas, ma-teriais educativos).

8. Estabelecer horários alternativos (sábados, 3o

turno) para consultas e atividades de grupo evisitas às enfermarias, de forma a facilitar a pre-sença dos que trabalham.

9. Disponibilizar informações sobre licença pa-ternidade e o direito dos pais de acompanha-rem o parto (legislação e cartaz).

10. Integrar a unidade de saúde a outros setoresda comunidade, articulando retaguardas para asnecessidades levantadas pelos homens/pais e for-talecendo a rede de suporte social.

10 Passos para tornar a unidade de saúde parceira do pai

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Projeto da SMS investe naformação de adolescentesvalorizando a diversidadee o protagonismo juvenil

Jovens e adultos reunidos para plane-jar, discutir, executar e avaliar as açõesdesenvolvidas para a promoção de

saúde do adolescente. O Adolescentro, pro-jeto da Secretaria Municipal de Saúde doRio de Janeiro (SMS), acredita que assim seconstrói um trabalho de qualidade. Inau-gurado em 2001, em dois postos de saúdedo complexo da Maré, o projeto teve comoparceiro o Centro de Estudos e Ações So-lidárias da Maré - CEASM. A parceria coma comunidade foi fundamental para o su-cesso da iniciativa, como explica Dilma Me-deiros, atual coordenadora do Adolescen-tro Paulo Freire, em São Conrado: “Valorizara cultura local enriquece o projeto e per-mite um maior alcance de suas ações.Neste sentido, a participação dos jovenstem proporcionado um enorme aprendi-zado para toda a equipe envolvida. Osadolescentes trazem para o projeto as es-pecificidades da comunidade, e os profis-sionais têm a oportunidade de repensar asua prática”. Para Dilma, a contribuição dosjovens ajuda a desfazer o mito de que oprofissional é o dono do saber. “Ao ouvir oque eles têm a dizer, nós aprendemosmuito, principalmente a respeitar e a lidarcom a diversidade”, diz ela.

Aposta na diversidade paraatingir diferentes gruposPara conquistar os jovens para saúde,

AdolescentroO adolescente no centro das ações

levando-os a freqüentar as unidades nãoapenas para as consultas, mas tambémpara os grupos de discussão, o Adolescen-tro conta com uma equipe multidiscipli-nar capacitada e um grupo de jovensbolsistas. Valorizar a diversidade desse gru-po é a estratégia adotada. “Ao selecionar aequipe de jovens promotores de saúde doprojeto, temos que deixar o preconceito delado para apostar naquele jovem que fogedo padrão convencional”, revela Dilma, res-saltando que cada jovem promotor funci-ona como uma ponte entre o projeto eseu grupo social. “A idéia é contemplar asdiversas formas de expressão e modos devida: o pessoal do funk, do pagode, osatletas, os que estão no ensino médio e osfora da escola, os que estão mais envolvi-dos em situações de risco, mais articula-dos e os mais quietos, os homossexuais,as meninas que já são mães, os religiosos,todos devem ser acolhidos e respeitadosem suas individualidades. A troca de po-tencialidades entre os adolescentes émuito estimulante”.

O resultado tem sido compensador. Mui-tos jovens que participaram do Adolescen-tro da Maré estão hoje na faculdade, traba-lhando em ONGs, ajudando na implantaçãode outros Adolescentros, criando seus pró-prios projetos. “Eles deram um salto de qua-lidade em suas vidas e estão indo à lutasozinhos”, comemora Dilma.

Fortalecer parceriaspara crescer

Para a assessora de Promoção de Saú-de da SMS, Viviane Castello Branco, a par-ticipação ativa e criativa do jovem pode

contribuir com outras áreas da saúde. “Alémde atuar na promoção de saúde do ado-lescente, os jovens podem ser capacitadose acompanhados, sem paternalismo, paracontribuir com outras ações de saúde epúblicos diversos, de crianças a idosos.Uma estratégia interessante foi a capaci-tação dos jovens em Shantala, pela Coor-denação de Terapias Alternativas. A inter-face do Prosad com outros programas éfundamental”, diz ela.

“Ampliar as ações do Adolescentro é anossa meta”, observa a coordenadora doAdolescentro Paulo Freire, Dilma Medeiros.Inaugurado em 2004 para atender as co-munidades da Rocinha, Vidigal e Vila Ca-noas, a finalidade desse novo centro étambém capacitar profissionais e jovenspara atuarem como promotores de saúdenas diferentes unidades do município. Embreve mais um Adolescentro será instala-do, no CMS Américo Veloso, em Ramos.“Nosso objetivo é estimular a reflexão e atroca de experiências entre profissionais ejovens para a promover a saúde de umaforma integral, apostando sempre no pro-tagonismo juvenil”, conclui Dilma.

“Era muito difícil dizer que moro em umlugar chamado Maré. Tinha medo do pre-conceito com o lugar. Mas assumo que,às vezes, o preconceito nascia de mim.Depois de um certo tempo, vi que nestemar violento e abandonado surgiam pes-soas em botes salva-vidas. Muitos eram ex-náufragos que não morreram no meio daMaré. Eles vinham cheios de boa vontade

e com novos amigos tentar salvar os quese afogavam. E em meio a muitos salva-mentos, descobriram verdadeiros tesouros.Eu, então, percebi que o que mais gostonesse mar de pessoas, ruas e lugares, é queem meio a tantas ondas, vendavais echeias, há sempre lutadores sobreviventes.”Priscilla Monteiro de Andrade,jovem do Adolescentro

Maré, por que não?

“Eu tinha uma visão muitotécnica da enfermagem. Como tempo, fui percebendo queminha profissão é muito maisdo que cuidar de feridas docorpo. Devo essa mudança àminha relação com os jovens.Aprendo com eles todos os

dias. Quando ouço suas histórias percebo que háuma troca de saberes e acredito que este seja ocaminho para construirmos um mundo melhor”.

Elaine Marinho, Enfermeira do Adolescentro PauloFreire em São Conrado.

eu mudei!

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O desafio de cuidarde quem mais precisa

Oficina de grafite no CAPs ad Raul Seixas para meninos e meninas usuários de drogas

O conceito de vulnerabilidade temsido bastante debatido em en-contros e congressos de saúde. Ele

está diretamente relacionado a fatores quepodem ampliar o risco ou reduzir a proteçãode um grupo de pessoas a uma determina-da doença ou dano. A proteção é reduzida,por exemplo, se jovens não conseguem aces-sar os serviços de educação e saúde quan-do necessitam e se não têm acesso à infor-mação, à educação e aos meios de comuni-cação. Marly Cruz, técnica do Programa deDST/Aids do município do Rio de Janeiro edoutoranda da Escola Nacional de Saúde Pú-blica (ENSP/FIOCRUZ), chama a atenção parao caráter relacional de aspectos ligados àvulnerabilidade. Segundo ela, as pessoas

mais excluídas ou discriminadas da socieda-de serão mais vulneráveis pela dificuldade deacesso a bens e serviços básicos: “Infelizmen-te, essa é uma contradição que ocorre, prin-cipalmente na área de saúde: a tendência éque os mais discriminados tenham menosacesso aos serviços”.

Uma pesquisa realizada pela SecretariaEstadual de Saúde de São Paulo compro-va essa incoerência. O estudo concluiuque a taxa de mortalidade entre negros émaior que a de brancos. A mortalidadematerna entre gestantes negras , porexemplo, representa mais de seis vezes ade grávidas de cor branca. A pesquisaconstatou que a diferenciação de causamorte ocorre basicamente por questões

sociais relacionadas à menor escolarida-de, menos renda e tratamento diferenci-ado no sistema de saúde.

A diferença entrecuidar e tratar

O grande desafio do profissional de saú-de em geral é entender a diferença entrecuidar e tratar. O tratamento é algo pontual,que prevê começo, meio e fim. O cuidado ébem mais abrangente e se constitui em umaatitude. Quando o profissional de saúde sepropõe a cuidar de alguém, ele está assu-mindo uma responsabilidade, um envolvi-mento afetivo com o outro, aspectos funda-mentais, sobretudo para quem trabalha coma população mais vulnerável. Profissionaisque investem no cuidado podem construircom os próprios jovens alternativas maissaudáveis de vida.

O cuidado com jovensusuários de drogas

Um dos grupos com maior vulnerabilida-de ao uso de drogas é o de jovens. Apesarde ser considerado de difícil abordagem, otrabalho de promoção de saúde entre essapopulação é fundamental. O Programa deSaúde Mental da Secretaria Municipal deSaúde possui dois serviços ambulatoriaisespecializados nesse atendimento: o CAPsad Raul Seixas e o NAAD/PAM Hélio Pellegri-no. Além disso, o coordenador de SaúdeMental do município, Hugo Fagundes, ante-cipa que as equipes de Saúde Mental das 64unidades estão sendo orientadas para aco-lher e tratar a clientela de usuários de dro-gas. “O grande desafio está no trabalho emrede. É necessário integrar não somente ser-viços da saúde, mas também os diversosrecursos da comunidade para o cuidado aesse grupo, afirma o coordenador. “O cuida-do dispensado a essa clientela vai muito alémdos muros das instituições de saúde”, com-plementa Ângela Pacheco, assessora da Co-ordenação de Saúde Mental na Área Técnicade Álcool e Drogas da SMS.

Jovens excluídos ou discriminados têm menos acesso aos serviços desaúde, apesar de serem os mais necessitados

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CAPs ad valoriza o cuidado noacolhimento

Observando que os horários em que osmeninos e meninas de rua e usuários dedrogas buscavam atendimento não era com-patível com o horário convencional, o CAPSad Raul Seixas mantém uma flexibilidade noacolhimento contínuo dessa população, quepode ser atendida sem a necessidade demarcação de consultas prévias. “Se quisermosoferecer um atendimento efetivo, precisamosnos adaptar à realidade desse grupo”, consta-ta a coordenadora da unidade, Viviane TinocoMartins. A acolhida no local é feita com oobjetivo de demonstrar ao jovem que ele serácuidado e não punido. “Não trabalhamos coma exigência da abstinência porque acredita-mos que uma recaída pode fazer parte do pro-cesso de tratamento”, explica a coordenadora.

No geral, esse grupo acessa o serviço desaúde através da emergência, em caso deintoxicações. Para Viviane, algumas estratégi-as precisam ser tomadas nesse momento: “Ahora da alta na emergência é um momentomuito importante. O adolescente não podereceber alta sozinho sem a presença do res-ponsável ou do Conselho Tutelar. Por isso, namaioria das vezes, muitos fogem com medode serem punidos, o que dificulta o encami-nhamento para a continuidade do tratamen-to em serviços como o CAPs ad. Nesse mo-mento, precisamos conversar com ele e dizerque essa espera significa um cuidado e nãouma coerção”, sugere a coordenadora. “Mesmoque ele volte mais vezes à emergência, esseacolhimento será sempre necessário”.

Apesar do posto de saúde ainda não seruma porta de entrada para esse grupo, casoisso ocorra, Viviane apela ao bom senso dosprofissionais: “Se o jovem chegou sozinho,pedindo ajuda, o profissional não deve termedo. Um acolhimento cuidadoso pode fazera diferença na vida desse menino ou menina”.

Confira o endereço do Caps ad Raul Sei-xas na página 12.

Com o Rede Acolhedorapresta assistência a crianças e

jovens de ruaA Secretaria de Assistência Social, atra-

vés do Fundo Rio, desenvolve um trabalhototalmente voltado à população de rua, cha-mado de Rede Acolhedora. Essa rede envol-ve diversos setores da Prefeitura do Rio como objetivo de desenvolver estratégias paraque este público conquiste sua autonomiae tenha acesso a trabalho e educação. Arede é formada por casas de passagem, casalares, centros de acolhimento e projetoscomo hotel e boa noite. “Cada serviço é di-recionado a uma realidade específica”, expli-ca Marília Rocha, socióloga e presidente doFundo Rio. A porta de entrada da RedeAcolhedora é a Central de Recepção. Há 6centrais no município, 5 delas direcionadas acrianças e jovens, com um atendimento ori-entado à população em situação de vulnera-bilidade social.

Os endereços das centrais de recepçãoestão disponíveis no espaço da SecretariaMunicipal de Assistência Social – Fundo Rio–, no site www.rio.rj.gov.br.

Sexo, drogas e violência. Esses sãoos temas mais freqüentes noencontro de adolescentes pro-

movido pelo projeto Dentescola noPosto de Atendimento Médico (PAM)Hélio Pelegrino. “Cuidar da saúde bu-cal vai além de tratar apenas os den-tes e a boca. Para uma pessoa ter umbelo sorriso, ela precisa estar bemconsigo mesma”, afirma Suzana Mar-ques Ferrazani, odontóloga e chefe daseção de saúde bucal do PAM.

O projeto Dentescola, que temcomo proposta promover a saúde e acidadania no espaço escolar, foi im-plantado há dois anos no Hélio Pele-grino e se transformou em um beloexemplo de cuidado com o jovem.Inicialmente, o projeto previa a inter-venção em escolas de bairros adjacen-tes. Porém, a equipe resolveu inovar,formando um grupo de jovens dentroda unidade para discutir estratégias depromoção da saúde. “Não somos pro-fissionais de boca. Vemos o pacientena sua totalidade”, acrescenta SilvyaTristão, coordenadora do grupo. “Re-cebemos um grupo bem diversificadode adolescentes, inclusive meninos emeninas de rua ou de abrigos próximosao PAM. Essa diversidade é um dos fa-tores que garantem a resposta donosso trabalho. Nós propomos as di-nâmicas, e o trabalho flui muito bem.Assim, damos a eles a oportunidade dedesenvolverem um pensamento críti-co sobre suas vidas e de optarem porescolhas mais saudáveis”, relata a coor-denadora, que recebe, em média, 25jovens por semana. É bom lembrar quedentes e bocas são constantementevistos e tratados. “Oferecemos um aco-lhimento carinhoso e democrático. Porisso, os jovens se sentem envolvidospor nosso trabalho”, conclui Silvya.

Dentescola:um cuidadoque vai além

da boca

“Antes de come-çar o meu trabalhocom os jovens, eu osachava desinforma-dos e desinteressa-dos. Hoje, vejo o jo-

vem mais participativo, interessado e oti-mista. Antes de vir para o PAM Hélio Pe-legrino, há 3 anos, trabalhava com adul-tos e idosos porque achava que não ti-

eu mudei!

nha paciência para o trabalho com ado-lescentes. Mas hoje eu vejo que os jovensgostam de mim, e eu, deles. Eu aprendotudo com eles e devo a minha transfor-mação à convivência com esses meninose meninas”.

Fátima Aida, técnica de higiene dental doPAM Hélio Pelegrino, está completando oterceiro ano de estágio probatório.

Preferia trabalharcom adultos e idosos

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InformaçõesCirculando

apoio:

CirculandoCapacitação deprofissionaisPARCERIA SMS-RJ E UFRJTel 21 2503-2246 / 2503-2257Capacitação de profissionais de saúde para oatendimento especializado a adolescentes. Encon-tros semanais com duração de 4 meses.

Informação divertidaCOMPANHIA DA SAÚDEEntrar em contato com Cristina Albuquerqueou Claudio Oliveira da ABIATel 21 2223-1040 - [email protected] artistas percorrem unidades de saúde, escolas eoutras instituições para levar informação aos jo-vens de forma atraente.

Para adolescentesMUNDO JOVEMwww.obid.senad.gov.br/mundojovemPortal do Observatório Brasileiro de Informaçõessobre Drogas (OBID) voltado para jovens. Disponi-biliza dados e pesquisas e oferece informação paraa conscientização deles sobre drogas, DSTs e Aids.

PROJETOS VIVA RIOAcelera Jovem: Aceleração escolar gratuitados ensinos Fundamental e Médio.

Ana e Maria: Rede de mulheres de comunida-des de baixa renda dão apoio emocional e orien-tação prática para que adolescentes gestantes emães não abandonem os estudos.

Estação Futuro: Oferece cursos de informáticaem 11 salas no Rio de Janeiro.

Jardineiros do Bairro: Capacitação de ado-lescentes em jardinagem e educação ambiental.

Villa Lobinhos: Durante o mês de janeiro, oprojeto oferece oficinas de instrumentos musicais.

Para maiores informações:www.vivario.org.brTel 21 2555-3777 / 2555-3750

PROJETO SEXUALIDADE0800-774-2777 (das 9h às 17h)

Psicólogos especializados em sexualidade prestamatendimento gratuito por telefone a jovens detodo o país para esclarecer dúvidas sobre sexua-lidade e prevenção de gravidez e DSTs. Não é pre-ciso se identificar.

TECLE AIDS - PROJETO OUÇA,APRENDA, [email protected] -www.bandeirantes.org.brServiço de informação pela Internet que esclarecedúvidas sobre DSTs / Aids.

NÚCLEO DE JUVENTUDECEMINA-REDEHwww.njrc.org.br - Tel 21 22621704 (Fábio ACM)Promove a conscientização de jovens de periferiasde todo o país através da cultura hip hop. A lin-guagem adequada e o ritmo cativante dos rapsmisturam aprendizado e diversão e aproximam ojovem de temas muitas vezes abordados de formainacessível.

SECRETARIA MUNICIPALDE ESPORTES E LAZERPrograma Germinal MEL -Movimento de Esportes e LazerInformações: 2283.4836 e 2283.4838

Atendimento de jovensusuários de álcool edrogasCAPS AD RAUL SEIXAS / SMS-RJRua Dois de Fevereiro 785 – Engenho de DentroTel. 3111.7512

CENTRA RIORua Dona Mariana 151 – BotafogoTel. 2299.5921 / 2299.5922

NEPAD/UERJRua Fonseca Telles 121/4º andar – S. CristóvãoTel. 2587.7163

Rede de BibliotecasPopulares da Cidade doRio de JaneiroCIDADE NOVA: Rua Afonso Cavalcanti,455 - sala 256

BANGU: Rua Silva Cardoso, 349

BOTAFOGO: Rua Farani, 53

CAMPO GRANDE: Praça ThelmoGonçalves Maia, s/nº

COPACABANA: Avenida N. S. deCopacabana, 817 - 10º andar

DIVINÉIA: Rua JK nº 05 - Santa Cruz

DIQUE: Rua Tales de Carvalho s/nºJardim América

ENGENHO NOVO: Rua 24 de maio, 1305

GAMBOA: Rua Pedro Ernesto, 80

GLÓRIA: Rua da Glória, 214 - 2º andar

GRAJAÚ: Rua José Vicente, 55

GUANDU: Praça Lote 219 - Santa Cruz

ILHA DO GOVERNADOR:Praça Danaides s/nº - Cocotá

IRAJÁ: Avenida Monsenhor Félix, 512

JACAREPAGUÁ: Rua Dr. Bernardino, 218

JARDIM SULACAP: Praça MárioSaraiva, s/nº

LEBLON: Av. Bartolomeu Mitre, 1297

MARÉ: Rua Ivanildo Alves, s/nº

MÉIER: Rua Castro Alves, 155

MONERÓ: Praia da Rosa, 1350Ilha do Governador

OLARIA E RAMOS: Rua Uranos, 1230Ramos

PAQUETÁ: Rua Principe Regente, 55Solar D’el Rey

PENHA: Rua Leopoldina Rego, 734

RIO COMPRIDO: Travessa Nestor Vitor, 64Tijuca

ROCINHA: Estrada da Gávea, 242Rocinha

SANTA CRUZ: Rua das Palmeiras, s/nº

SANTA TERESA: Rua Monte Alegre, 306

TIJUCA: Rua Guapeni, 61

Promoção da SaúdeSECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDEASSESSORIA DE PROMOÇÃODA SAÚDERua Afonso Cavalcanti, 455 sala 823Tel: 2503 2246

Assessora projetos, disponibiliza textos, vídeose outros materiais educativos.

SUBSECRETARIA DE AÇÕES E SERVIÇOS DE SAÚDEASSESSORIA DE PROMOÇÃO DA SAÚDE