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Circuito Perambular: instrumento de revitalização do centro histórico do Natal Andrieny de Paula Silva 1 , Beatriz Lima da Cruz 2 , Lorena Gomes Torres de Oliveira 3 e Luiza Saad de Moura 4 1 UFRN, Departamento de Artes, [email protected] 2 UFRN, Departamento de Artes, [email protected] 3 Universidade de Lisboa, Departmento, [email protected] 4 UFRN, Departamento de Artes, [email protected] Resumo. O cenário cultural da cidade de Natal vem crescendo nos últimos anos. Isto, somado à ação de revitalização das praças e monumentos feita pelo Governo, está reconectando a população potiguar a seu centro histórico. Tendo em vista a importância do centro da cidade para a história, comércio e turismo da cidade, propõe-se um serviço de valorização para a cidade, com ações nas praças André de Albuquerque, 7 de setembro e Memorial Câmara Cascudo, localizados no centro histórico. Para isso, contou-se com pesquisa bibliográfica sobre design, território e design de serviço e a história do centro histórico potiguar, além de análises territoriais e socioculturais feitas in loco. O serviço proposto consiste em um evento trimestral ou semestral de revalorização e reapropriação do centro histórico de Natal, chamado Circuito Perambular. O evento contaria com diversas atividades e envolveria as instituições e locais de serviço presentes nas proximidades das praças. Por fim, foi feita a identidade visual do evento e foram definidas suas diretrizes projetuais. Durante a pesquisa entendeu-se a necessidade da valorização do centro histórico da cidade e das políticas públicas de incentivo. A implementação do projeto poderia proporcionar a criação de redes colaborativas em volta do local onde o evento seria realizado, conectando habitantes, prestadores de serviço e instituições. O evento criaria a sensação de identificação e pertencimento com o local e o evento, além da valorização ao espaço e à cultura, fazendo com que essas esferas se envolvam no processo e trabalhem para que o evento ocorra contribuindo com fundos de patrocínios e incentivos estatais. Palavras-chave. cartografia afetiva, centro histórico, território, design de serviço, Natal, praça. 1 Introdução Recentemente, eventos culturais vêm marcando a cidade de Natal. Das mais variadas naturezas e nos mais diversos locais, estes eventos trazem um grande fator comum: proporcionam

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Circuito Perambular: instrumento de revitalização do centro histórico do Natal

Andrieny de Paula Silva1, Beatriz Lima da Cruz

2, Lorena Gomes Torres de Oliveira

3 e Luiza Saad de Moura

4

1UFRN, Departamento de Artes, [email protected]

2UFRN, Departamento de Artes, [email protected]

3Universidade de Lisboa, Departmento, [email protected]

4UFRN, Departamento de Artes, [email protected]

Resumo. O cenário cultural da cidade de Natal vem crescendo nos últimos anos. Isto, somado à ação de revitalização das praças e monumentos feita pelo Governo, está reconectando a população potiguar a seu centro histórico. Tendo em vista a importância do centro da cidade para a história, comércio e turismo da cidade, propõe-se um serviço de valorização para a cidade, com ações nas praças André de Albuquerque, 7 de setembro e Memorial Câmara Cascudo, localizados no centro histórico. Para isso, contou-se com pesquisa bibliográfica sobre design, território e design de serviço e a história do centro histórico potiguar, além de análises territoriais e socioculturais feitas in loco. O serviço proposto consiste em um evento trimestral ou semestral de revalorização e reapropriação do centro histórico de Natal, chamado Circuito Perambular. O evento contaria com diversas atividades e envolveria as instituições e locais de serviço presentes nas proximidades das praças. Por fim, foi feita a identidade visual do evento e foram definidas suas diretrizes projetuais. Durante a pesquisa entendeu-se a necessidade da valorização do centro histórico da cidade e das políticas públicas de incentivo. A implementação do projeto poderia proporcionar a criação de redes colaborativas em volta do local onde o evento seria realizado, conectando habitantes, prestadores de serviço e instituições. O evento criaria a sensação de identificação e pertencimento com o local e o evento, além da valorização ao espaço e à cultura, fazendo com que essas esferas se envolvam no processo e trabalhem para que o evento ocorra contribuindo com fundos de patrocínios e incentivos estatais.

Palavras-chave. cartografia afetiva, centro histórico, território, design de serviço, Natal, praça.

1 Introdução

Recentemente, eventos culturais vêm marcando a cidade de Natal. Das mais variadas naturezas e nos mais diversos locais, estes eventos trazem um grande fator comum: proporcionam

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uma redescoberta da cidade por parte de seus habitantes, trazendo não só um sentimento de pertencimento e afeto, como também reacendendo o cenário cultural da cidade.

Natal possui um rico centro histórico, que há muito foi esquecido por seus governantes. Conta com instituições importantes, como o Memorial Câmara Cascudo, a Pinacoteca Potiguar, a Capitania das Artes, além de prédios da administração pública, como a prefeitura. Apesar de diversas edificações e instituições significativas, há também uma quantidade considerável de construções antigas depredadas e em estado de abandono. Ademais, o centro histórico concentra estabelecimento comerciais, patrimônios tombados e pólos de serviços. Em razão disso, há um grande movimento durante horas comerciais, assim como uma grande quantidades de linhas de ônibus que cruzam o local. No entanto, fora do horário comercial, a falta de movimento torna o centro perigoso e, portanto, evitado por seus habitantes.

Tendo em vista a atual emergência do cenário cultural da cidade de Natal, este artigo tem como objetivo propor um serviço de valorização para a cidade, com ações no centro histórico. Visando a reocupação do local e o reconhecimento de sua importância por parte dos potiguares, engrandecendo e evidenciando a cultura da região.

2 Metodologia

A metodologia adotada para este artigo consiste em pesquisa bibliográfica com ênfase nos estudos de território, design de serviço e história do centro de Natal, assim como visitas e análise de locais para o serviço proposto. Análises, essas, que consideram não só os aspectos territoriais, como culturais e sociológicos para criar um serviço que melhor atenda a todas as necessidades da região e população local.

No processo de construção projetual foram utilizadas ferramentas para aprofundamento dos conhecimentos estudados, e para maior embasamento no desenvolvimento do serviço final. Dentre as ferramentas relevantes projetualmente temos: a pesquisa observacional que é um processo de colheita e análise de dados do comportamento, sem questionar, comunicar ou interagir com o grupo estudado, a antropologia visual, na qual se utiliza de imagens para analisar e coletar dados do comportamento cultura de um grupo, brainstorm, e os mapas afetivos ou cartografia afetiva, que são resultados da cartografia tomada como objeto de estudo pela psicologia, representando um ordenamento de ideias e experiências por parte dos seres humanos (MONTE, 2015). Bomfim (2003) reconhece que esse instrumento metodológico busca acessar os sentimentos por intermédio de desenhos, metáforas e palavras, direcionando uma compreensão da relação da pessoa com entorno físico. De acordo com os autores, as metáforas podem ser eficazes de apreensão dos afetos, porque vão além da cognição.

2.1 Sustentabilidade por meio da educação ambiental

A partir do conhecimento da degradação do meio ambiente causada pelo homem nos espaços urbanos, faz-se necessária uma análise das formas de produção e implementação voltadas para a prática da educação ambiental e dos atores envolvidos. Nesse sentido Jacobi (2003), propõe que a produção de conhecimento deve abarcar as inter-relações do meio natural com o social, ou seja, as duas esferas devem se conectar com o propósito de fortalecimento da área. Dessa maneira, a educação ambiental ganha função de instigadora dos indivíduos e contribui para a promoção do desenvolvimento sustentável.

Segundo Jacobi (2003), o desenvolvimento sustentável emerge a partir da análise e crítica ambientalista da vida contemporânea, exposta na Conferência de Estocolmo em 1972. É resposta à carência de alinhamento nos processos ambientais com os socioeconômicos, potencializando a produção da sociedade para favorecer as necessidades humanas presentes e futuras. No projeto, surge como forma de conectar a educação ambiental com o sentimento de pertencimento do

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espaço, a qualidade de vida e crescimento da cidade.

Para uma educação ambiental crítica, segundo Carvalho (2004), a prática educativa é a formação do sujeito humano enquanto ser individual e social, historicamente situado. A formação incide sobre as relações indivíduo-sociedade e, neste sentido, indivíduo e coletividade só fazem sentido se pensados em relação.

2.2 Territorialidade

de usos e significad (2001).

diferent territorialidade está relacionada a uma multiplicidade de fatores, sejam eles pessoais (gênero, idade, personalidade, habilidades, etc.), socioculturais (valores, crenças, regras, tipo de atividades, momento histórico, etc.) ou contextuais (características biogeofísicas e climáticas do lugar) (HIGUCHI, 2018).

O estudo das territorialidades nos informa o conjunto de subjetividades e padrões materiais que são manifestados por um indivíduo ou grupo, os quais devem contextualizar não apenas aspectos psicossociais e culturais como também o momento histórico dessa manifestação e o ambiente físico em que acontecem (HIGUCHI, 2018).

Krucken (2009), coloca o design como um catalisador da inovação e da criação de uma imagem positiva ligada ao território, a seus produtos e serviços. A abordagem do design quando aplicada ao território objetiva beneficiar tanto os produtores como os consumidores de uma determinada região. Dessa forma, o design se apresenta como ferramenta de valorização do patrimônio, visando contribuir para o desenvolvimento local, agindo positivamente na comunicação e idealizando soluções inovadoras que aproximem produtores e consumidores, conciliando tradição e inovação.

2.3 Escolha do lugar: Centro Histórico de Natal/RN

Os centros são vistos como lugares dinâmicos de cidades, marcados pelo fluxo de pessoas e estabelecimentos comerciais e de serviços, segundo Vargas e Castilho (2009). O centro da cidade de Natal, não foge dessa definição. O fato do centro da capital potiguar também compreender à de Centro Histórico está associado a origem do núcleo urbano, reforçado a valorização do V RG ; I H 9 ações em centros e os benefícios que tais atos podem trazer à cidade:

recuperar o centro das metrópoles nos dias atuais significa, entre outros aspectos, melhorar a imagem da cidade que, ao perpetuar a sua história, cria um espírito da comunidade e pertencimento. Significa, também, promover a reutilização de seus edifícios

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e a consequente valorização do património construído; otimizar o uso da infraestrutura estabelecida; dinamizar o comércio com o qual tem uma relação de origem; gerar novos empregos. Em suma, implementar ações em busca da atração de investimentos, de moradores, de usuários, e de turistas que dinamizem a economia urbana e contribuam para a melhoria da qualidade de vida, valorizando também a gestão urbana que executa a intervenção. (VARGAS; CASTILHO, 2009, p. 5)

local. Considerando que o centro histórico potiguar consiste em bairros distintos e marcantes, contendo vários locais com grande potencial para receber ações culturais, a etapa inicial do projeto consistiu na escolha do local que receberia a ação. Para isso, foi feita uma visita ao bairro da Cidade Alta, pelos arredores da Igreja do Galo, até à Ribeira, no largo do Teatro Alberto Maranhão.

Durante a visita, notou-se o início do projeto de revitalização de monumentos e praças feitos pelo Governo passado, em meados de julho. Isto demonstra o reconhecimento do potencial dos locais para receber um movimento cultural efervescente. Depois devida consideração, definiu-se que o foco para a ação seriam as praças pois elas se estabelecem como ponto de sociabilidade da população, desde os tempos primórdios, além de locais de troca comercial e mobilização MB; U H 6 praça, permite o estabelecimento de ações culturais fundamentais, desde interações sociais, até VIER ; B RB I H MB; U H 6

2.4 Praças natalenses: conceito, história e atualidade

que contribuam com a - à R I 9 ; R IV I V

Francis (19 E R I 9 9 9 pessoas em seu

gerenciamento d R I 9 99 ; ; ; ; ; ; ; ; ; para o entorno; Deve ser avaliado ; ; E

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- R BB M E E -culturais, o que define um proc M UR V E - U 9 quem dela usufrui.

Haja vista que o espaço público de uma cidade tem sido definido como "um mecanismo para a geração de encontro" (HILLER, 1996), então uma praça representa um local em que o contato entre pessoas se torna encontro, reunião, interação, ou seja, é um lugar onde as pessoas que estão passando finalmente pausam e aglomeram.

Visando uma maior apropriação do espaço e um evento de proporções consideráveis, decidiu-se que a ação não deveria se restringir a apenas uma praça, e levando em conta a proximidade das praças André de Albuquerque, 7 de setembro e Memorial Câmara Cascudo, optou-se ancorar a ação nestas três praças, funcionando como um Sistema.

9 ap totalidade de uma realidade.

nosso olhar sobre os objetos de estudo 9 um - conectividade e complementaridade (ALVARES; VAINER; QUEIROGA, 2009, p. 133).

2.4.1 Praça André de Albuquerque

A Praça André de Albuquerque fica situada no Marco Zero da cidade de Natal, no bairro de Cidade Alta. Criada em 1888, seu nome se deve ao revolucionário André de Albuquerque Maranhão, que lutou ao lado dos revoltosos de Pernambuco na Revolução Pernambucana, em prol da independência do país.

O local onde fica a praça foi celebrada a primeira missa da cidade após a sua fundação por Manuel Mascarenhas Homem e Jerônimo de Albuquerque, avô de André de Albuquerque. A praça também é conhecida como praça Vermelha, devido ao desfecho de André de Albuquerque, que foi transportado (do Forte dos Reis Magos) nu, sujo de sangue coagulado, e sepultado na Igreja de Nossa Senhora da Apresentação.

Lucena (1999, p.23), constata que, de acordo com a morfologia da praça, ela agregou momentaneamente o papel de ponto estratégico para a defesa do território e de seus arredores. E com o passar dos anos ocorreu uma mudança nessa característica de proteção inicial, visto que foram surgindo as casas comerciais e o tráfego de veículos.

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Figura 1 - Praça André de Albuquerque

Fonte: das autoras.

2.4.2 Praça Sete de Setembro

A Praça Sete de Setembro, ou também Praça dos Três Poderes, é uma pequena praça localizada no bairro da Cidade Alta. Foi criada em 23 de março de 1914 por uma resolução editada por Romualdo Galvão, então presidente da Intendência, e recebeu este nome a pedidos de professores do estado.

Figura 2 - Praça Sete de Setembro (ou Praça dos Três Poderes)

Fonte:http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/4948/natal-rn-recebe-praca-sete-de-setembro-requalificada

Estão localizados nesta praça a sede da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte e do Tribunal de Justiça do Estado. Nas suas imediações, pode-se encontrar o Museu Café Filho e Praça André de Albuquerque. Tem como maior símbolo o monumento da independência, inaugurado em 1922, em homenagem ao transcurso do centenário da Independência do Brasil, projeto do escultor A. Bibiano Silva (ONOFRE Jr., 2002). No dia da visitação a praça encontrava-se fechada devido a um projeto de revitalização, por este motivo não foi possível tirar fotografias do local.

2.4.3 Praça Memorial Câmara Cascudo

O Memorial Câmara Cascudo é um ponto turístico da cidade, e fica localizado próximo à antiga catedral na Ribeira. Com o intuito de homenagear o maior historiador e folclorista do estado e fazer com que as pessoas conheçam mais sobre esse grande artista. Um dos locais mais visitados pelos turistas, o Memorial tem como objetivo preservar e divulgar as obras de Luís da Câmara Cascudo. Em frente ao Memorial, encontra-se a praça de mesmo nome, uma área permeada por árvores e que permite aos visitantes apreciarem a arquitetura do local.

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Figura 3 - Praça Memorial Câmara Cascudo

Fonte: das autoras.

3 Desenvolvimento

A partir da visita feita às praças, foram feitos mapas afetivos dos espaços. No entanto, devido à reforma da praça 7 de setembro, só foram feitos mapas afetivos das outras duas praças. A principal coisa que se notou foi que todas as praças estavam agradáveis e com sombra naquele momento do dia, do meio para o fim da tarde.

Figura 4 - Mapa afetivo das três praças.

Fonte: das autoras.

Na praça Memorial Câmara Cascudo, além da sombra e de muitas árvores, tem-se banquinhos para se sentar e a presença de um posto informal de sapateiro, que torna o local acolhedor e agradável.

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Figura 5 - Elementos presentes na praça Memorial Câmara Cascudo

Fonte: das autoras.

Já na Praça André de Albuquerque, notou-se a presença de vários bancos, porém infelizmente, muitos estavam sem as peças que compõe o assento e/ou depredados. Mas, como esta praça será revitalizada pelo Governo com o projeto PAC cidades históricas, os bancos provavelmente serão consertados. A praça é permeada por árvores, que proporcionam sombra e um sentimento de bem-estar. O obelisco no centro da praça, apesar de depredado, ainda inspira respeito e uma sensação de orgulho e pertencimento aos potiguares.

Encontrou-se, em um ponto da praça, uma amarelinha desenhada no chão. Um pequeno ato que traz alegria e uma sensação de bem-estar, assim como uma ideia de que a praça é um local familiar, no qual crianças podem brincar sem grandes preocupações.

Figura 6 - Bancos quebrados, obelisco e amarelinha na praça André de Albuquerque.

Fonte: das autoras.

A vista dos arredores da praça também compõe o mapa afetivo, pois as pessoas vêm tanto a bela arquitetura do centro histórico, quanto estabelecimentos populares e o Rio Potengi.

Figura 8 - Arredores das praças.

Fonte: das autoras.

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A partir da visita, notou-se semelhanças relacionadas à circulação nas praças. Durante o período diurno, as praças são utilizadas pela população principalmente como meio de travessia até seus destinos finais: comércios, ponto de ônibus, ou outras localidades. Pelo turno da tarde os locais servem para atividades como lanches e fumo e ficam vazias no período noturno, devido ao fechamento das lojas e a pouca circulação de pessoas no local.

Após análise foi feito um brainstorming para explorar as diversas possibilidades de serviços que poderiam ser feitos. Dentre as várias alternativas, buscava-se uma que englobasse atividades variadas e firmasse a imagem das praças e do centro da cidade como locais hospitaleiros e ambientes familiares. Houve também a preocupação que o serviço proposto incluísse os comerciantes locais e engajasse a população, de maneira que houvesse o constante apoio e participação popular.

Baseado nos problemas encontrados nas praças identificou-se diretrizes que possibilitariam a execução de um serviço que contribui-se para o crescimento da cidade. A partir disso foi elaborado uma tabela com hipóteses projetuais apresentando soluções que o serviço poderia proporcionar, são elas:

Quadro 1 – Hipóteses projetuais.

Problema identificado Descrição do contexto Solução indicada

Não há interação de habitantes com o local e entre si

Os habitantes e trabalhadores do local não consideram as praças como locais de lazer e troca e não se conectam a elas

Conectar os habitantes e comerciantes da área para que eles se envolvam na ação, construindo uma rede de colaboradores e voluntários que estejam envolvidos na criação e execução do evento

Não há conexão entre habitantes e as praças

As praças se configuram apenas em locais de passagem para que as pessoas cheguem aos seus destinos finais

Criar um evento atrativo, que incentive as pessoas a permanecerem no local e criar experiências e laços afetivos

As praças não estão ligadas à cena cultural da cidade

A cena cultural potiguar se concentra em pontos específicos da cidade, alguns no centro histórico, mas em nenhum ponto próximo às praças

Conectar artistas e produtores culturais locais para inserí-los no contexto e para que se tornem colaboradores do projeto

As praças estão esquecidas pelas instituições

Não há engajamento de iniciativas públicas e privadas com o local

Engajar as iniciativas privada e pública e a participação popular no evento e no espaço, valorizando o espaço e a cultura, fazendo com que essas esferas se envolvam no processo e trabalhem para que o evento ocorra contribuindo com fundos de patrocínios e incentivos estatais

O local está esquecido pela população

As diversas massas da população não sentem pertencimento e identificação com o local

Divulgar o evento em redes sociais, outdoors, locais de parceiros, canais da prefeitura e no boca a boca, pretendendo atingir o maior número de pessoas possíveis das mais diversas classes sociais e reuní-las no evento

O local está sujo e apresenta acúmulo de lixo

Lixo jogado pela rua é levado pelo vento até a praça, onde lá se acumula

Organizar um mutirão de limpeza e atuar no cotidiano provocando novas questões, situações de aprendizagem e desafios para a participação na resolução de problema,

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buscando articular nas instituições que circunda o espaço com os ambientes locais onde estão inseridas.

Espaço público sujo com lixo Há poucas lixeiras no local e a maioria está degradada

Formar uma atitude ecológica dotada de sensibilidade estética, ética e políticas sensíveis à identificação dos problemas e conflitos do espaço.

Fonte: das autoras.

Com base no quadro de hipóteses projetuais, foi feito um brainstorming pensando em uma opção que sanasse os problemas encontrados no local. Nele, as atividades e ideias propostas foram, então, discutidas, combinadas e rearranjadas, visando um serviço eficiente que valorizasse o centro histórico e fosse apelativo à população local.

4 Serviço proposto

O serviço proposto consiste em um evento de revalorização e reapropriação do centro histórico de Natal. Este evento ocorreria trimestral ou semestralmente e tomaria conta das praças André de Albuquerque, 7 de Setembro e Memorial Câmara Cascudo. Foi decidido nomear o evento como Circuito Perambular, já que incentiva as pessoas a perambularem pelas praças e pelo centro da cidade. Com um nome definido, fez-se então a identidade do evento.

Figura 9 - Localização das praças onde ocorreria o evento.

Fonte: das autoras.

Figura 10 - Identidade desenvolvida para o evento.

Fonte: das autoras.

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O evento contaria com rodas de conversa, rodas de coco, rodas de samba, bazar, área de alimentação, sessões de serigrafia, venda de cordel, oficinas de educação ambiental para crianças, jovens e adultos, intervenções artísticas, exposições, apresentações de dança e uma sessão de cinema/mostra audiovisual a céu aberto. Cada praça receberia um pólo do evento, que fosse condizente com seu tamanho e natureza.

O evento envolveria as instituições e locais de serviço presentes nas proximidades das praças, de maneira a trazer lucros para os estabelecimentos do centro e envolver os habitantes na ação. Além disso, parte do dinheiro levantado neste evento – através do bazar, das entradas do cinema aberto e de doações propriamente ditas – seria doado para causas de caridade locais. Das instituições consideradas a participar da ação, pensou-se em sebos, escolas de samba, museus da cidade, escritores e editoras locais, dentre outros.

O circuito instigaria o sentimento de conexão e pertencimento da população ao local, o que incentivaria o envolvimento local não apenas na organização do evento, como também na limpeza e manutenção dos locais envolvidos, bem como promoveria a compreensão dos problemas socioambientais em suas múltiplas dimensões: geográficas, históricas, biológicas, sociais e subjetivas; considerando o ambiente como o conjunto de interrelações que se estabelecem entre o mundo natural e o mundo social, mediado por saberes locais e tradicionais, além dos saberes científicos.

Ademais, haveriam pessoas e atividades demonstrando como o design promoveu o evento e pode melhorar a relação dos habitantes com a cidade e outras instituições. Seria uma forma de promover o design potiguar e valorizá-lo frente a uma cidade ainda tão ignorante sobre o assunto.

5 Considerações parciais

A partir da pesquisa e análise feitas, compreendeu-se a importância do centro histórico para a cidade de Natal e a necessidade de um projeto que valorize essa área, para que seja querida e preservada por seus habitantes. Neste contexto, as políticas públicas de incentivo mostram-se primordiais, assim como os projetos de revitalização do centro histórico iniciados pelo Governo do Estado.

Tendo em vista as praças estudadas, o evento proposto se configura em uma solução projetual para grande parte dos problemas encontrados nos locais, assim como um complemento à iniciativa do Governo. Isto porque, com uma melhor estrutura e uma base mais sólida, o circuito proposto não só evidenciaria a revitalização das praças, como também reuniria pessoas nesses locais, proporcionando a ocupação e valorização do centro histórico pela população.

6 Referências

ALVARES, Lucia Capanema; VAINER, Carlos Bernardo; QUEIROGA, Eugenio Fern – I G RI V R ; R E R ; H EE M B ias. Rio de Janeiro: UFRJ, 2009. p. 133.

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CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação Ambiental Crítica: Nomes e endereçamentos da educação. In: Identidades da Educação Ambiental Brasileira. Ministério do Meio Ambiente. Philippe Layrargues (coord.) Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2004.

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<https://www.brechando.com/2015/10/foi-nesta-praca-que-natal-foi-fundada/>. Acesso em: 27 abr. 2019.

FAGGIN, Maria Angela P. L. Uso do território e investimento público. São Paulo, FAU USP, 2001.

HIGUCHI, M. I. G.; THEODOROVITZ, I. J. Territorialidade(s). In: CAVALCANTE, S.; ELALI, G. A. (Org.) Psicologia ambiental: conceitos para a leitura da relação pessoa-ambiente. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018.

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Natal (RN) recebe Praça Sete de Setembro requalificada. 2018. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/4948/natal-rn-recebe-praca-sete-de-setembro-requalificada>. Acesso em: 28 abr. 2019.

JACOBI, Pedro. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Caderno de Pesquisa. [online]. 2003, n.118, pp.189-20

KRUCKEN, Lia. Design e Território: valorização de identidades e produtos locais. São Paulo: Studio Nobel, 2009.

LAMB, N.V.W.; CUNHA, L.L. O papel das praças públicas na consolidação da função social da cidade: análise da sua contribuição na evolução urbana sob um viés histórico. Artigo – XII Seminário Nacional Demandas Sociais e Políticas Públicas na Sociedade Contemporânea. Santa Catarina, RS: 2016.

PORTAL NO AR. Praças do Centro Histórico de Natal passam por recuperação. Disponível em: <https://portalnoar.com.br/pracas-do-centro-historico-de-natal-passam-por-recuperacao/>. Acesso em: 27 de abr. 2019.

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SECRETARIA MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE E URBANISMO. Natal: história, cultura e turismo. Natal: DIPE – SEMURB, 2008.

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