cinema surrealista: filme fantasma da liberdade

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7/14/2019 Cinema Surrealista: Filme Fantasma Da Liberdade http://slidepdf.com/reader/full/cinema-surrealista-filme-fantasma-da-liberdade 1/12  FILME: FANTASMA DA LIBERDA DE UMA ANÁLISE FÍLMICA DA OBRA SURREALISTA DE LUIS BUÑUEL ¹Adriana Rodrigues Suarez e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Ponta Grossa Departamento de Artes Ponta Grossa, PR . Resumo: O objetivo do presente artigo destaca características do gênero do cinema surrealista, a análise da obra fílmica de Luis Buñuel, Fantasma da Liberdade, descrevendo através de uma leitura das cenas do filme, as figuras de linguagem surrealista, onde o diretor apresenta situações do cotidiano, invertendo assim as condições do ser humano em vários momentos, nada mais, que uma apresentação de inversões de valores sociais e morais. Palavras-chave: Cinema, Análise Fílmica, Surrealismo, Luis Buñuel. Introdução Esse artigo apresenta características de um filme surrealista e uma breve análise fílmica da obra: Fantasma da Liberdade, este, penúltimo filme do mestre espanhol Luis Buñuel, reconhecido como um dos mais importantes e hilariantes da sua carreira, apresentando situações do cotidiano de pessoas, alterando declaradamente todas as regras de conduta social, apresentando ao espectador situações de puras representações da linguagem surrealista.  As características do cinema surrealista consistem na montagem que não explica o real pela continuidade lógica e racional, como no cinema clássico, essa linguagem surrealista apresenta uma ruptura, no sentido da cena, cenário, da narração, descontextualizando todos esses elementos da realidade, tornando-os estranhos e dotados de naturezas que não as lógico-racionais. (NAPOLITANO, 2006, p.22) Busca libertar o indivíduo das pulsões inconscientes, quebrando o fluxo

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O objetivo do presente artigo destaca características do gênero do cinema surrealista, a análise da obra fílmica de Luis Buñuel, Fantasma da Liberdade, descrevendo através de uma leitura das cenas do filme, as figuras de linguagem surrealista, onde o diretor apresenta situações do cotidiano, invertendo assim as condições do ser humano em vários momentos, nada mais, que uma apresentação de inversões de valores sociais e morais.

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FILME: FANTASMA DA LIBERDADE 

UMA ANÁLISE FÍLMICA DA OBRA SURREALISTA DE LUIS BUÑUEL

¹Adriana Rodrigues Suarez

e-mail: [email protected]  Universidade Estadual de Ponta GrossaDepartamento de Artes

Ponta Grossa, PR

. Resumo: O objetivo do presente artigo destaca características do gênero do cinemasurrealista, a análise da obra fílmica de Luis Buñuel, Fantasma da Liberdade,descrevendo através de uma leitura das cenas do filme, as figuras de linguagemsurrealista, onde o diretor apresenta situações do cotidiano, invertendo assim ascondições do ser humano em vários momentos, nada mais, que uma apresentação

de inversões de valores sociais e morais.

Palavras-chave: Cinema, Análise Fílmica, Surrealismo, Luis Buñuel.

Introdução

Esse artigo apresenta características de um filme surrealista e uma breve

análise fílmica da obra: Fantasma da Liberdade, este, penúltimo filme do mestre

espanhol Luis Buñuel, reconhecido como um dos mais importantes e hilariantes da

sua carreira, apresentando situações do cotidiano de pessoas, alterando

declaradamente todas as regras de conduta social, apresentando ao espectador 

situações de puras representações da linguagem surrealista.

 As características do cinema surrealista consistem na montagem que não

explica o real pela continuidade lógica e racional, como no cinema clássico, essalinguagem surrealista apresenta uma ruptura, no sentido da cena, cenário, da

narração, descontextualizando todos esses elementos da realidade, tornando-os

estranhos e dotados de naturezas que não as lógico-racionais. (NAPOLITANO,

2006, p.22)

Busca libertar o indivíduo das pulsões inconscientes, quebrando o fluxo

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verossímil, estimulando as associações livres não controlando o espaço e o tempo,

permitindo o inconsciente interagir, desligando-se do certo e do errado,

experimentando sensações que contrariam qualquer padrão ético (NAPOLITANO,

2006, p.28). Com uma linguagem surrealista, o filme Fantasma da Liberdade, do

diretor Luis Buñuel, não possui ao menos uma história lógica, mas, um conjunto de

cenas desconexas, o que nos intriga ao assistirmos, pois em determinados

momentos a percepção nos engana, acreditando que perdemos cenas importantes

para o entendimento do contexto geral.

Com essa linguagem surrealista, o diretor Luis Buñuel caracteriza uma

liberdade em relação às amarras sociais, como somos conduzidos no nosso dia a

dia, podendo somente ser experimentada por nós através da arte, das nossas

utopias, utilizando de absurdos, devaneios da mente, nos brindando com momentos

de extrema inteligência e sofisticação. (GERLINGS, 2008) Na ligação das cenas, o

diretor Luis Buñuel, constrói através de um personagem comum entre as cenas, isto

é, o figurante de uma cena, passa a ser protagonista de outra cena, sucedendo

assim um encontro entre a câmera e mais outro personagem.

Luis Buñuel nasceu na aldeia de Calanda, Teruel, na Espanha, em 22 de

fevereiro de 1900, conquistou em sua trajetória o título de consagrado diretor do

cinema surrealista, apresentando em suas obras fílmicas, espontâneos processos doinconsciente, mostrando como o próprio mundo é caótico e multifacetado. Trabalhou

com o grande artista plástico espanhol Salvador Dalí, de quem sofreu forte influência

surrealista. (GERLINGS, 2008, p.41)

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Metodologia

 A realização desse artigo é de natureza interpretativa. A Análise fílmica faz

parte da proposta desse estudo; analisar um filme é sinônimo de decompor esse

mesmo filme. A metodologia para se proceder à análise de um filme, implica em

duas etapas importantes: em primeiro lugar decompor, ou seja, descrever e, em

seguida, estabelecer e compreender as relações entre esses elementos

decompostos, ou seja, interpretar. (VANOYE, 1994, p.15)

 A decomposição recorre a conceitos relativos à imagem, fazer uma descrição

plástica dos planos. O objetivo da análise é o de explicar/esclarecer o funcionamento

de um determinado filme e propor -lhe uma interpretação. Após a identificação

desses elementos é necessário perceber a articulação entre os mesmos. Trata-se de

fazer uma reconstrução para perceber de que modo esses elementos foram

associados num determinado filme, no caso do corpus dessa pesquisa o filme O

Fantasma da Liberdade. (VANOYE, 1994, p.28).

Desenvolvimento

 Análise das cenas selecionadas do Filme Fantasma da Liberdade

O filme Fantasma da Liberdade apresenta uma sequência de cenas, com

início do relato do que se passou em Toledo, na Espanha, em 1808, na época dasguerras napoleônicas, baseado num conto do escritor romântico espanhol Gustavo

 A. Becquer e muito bem ilustrado pela obra pictórica Fuzilamento de 3 de Maio do

grande mestre espanhol do romantismo Francisco Goya, obra pictórica que plasma a

repressão ocorrida na Espanha após a invasão de Napoleão Bonaparte.

(GERLINGS, 2008, p.38)

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“Fuzilamento 3 de Maio”, 1814- óleo sobre tela (266X 345 cm)

 A cena inicial é escura, com sons de tiros, bombardeamento, soldados com

uniformes muito bem caracterizados, senhores nobres e prisioneiros, estes sendo

levados presos, colocados contra a parede para que aconteça o fuzilamento,

remetendo assim ao poema e a obra pictórica citada acima.

Pelo poder de voz e postura, percebe-se a arrogância desses nobres e as

injustiças por eles praticadas. Já na sequência muda-se a luz do filme, se rompe o

som dos tiros e aparece um cenário com muita festa entre esses poderosos. Música,

bebidas e um momento de muita prepotência, o personagem de um oficial do

exército napoleônico que ao sentir fome, vai até o sacrário e alimenta-se de hóstias

sagradas, uma provocação à Igreja em relação ao significado do corpo de Cristo.

Este mesmo oficial do exército napoleônico beija uma escultura da esposa de um

cavalheiro já falecido, D. Elvira. A escultura do cavalheiro, de uma maneira hilária,

com seu braço, ataca a cabeça do personagem do oficial e este como forma de se

vingar, aposta com os outros oficiais do exército que levará para sua cama os restos

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mortais da D. Elvira, mas ao abrir o caixão a falecida está com o mesmo semblante,

conservando o frescor da sua juventude.

Na sequência fílmica, a troca pelo cenário acontece partindo do final do

século XIX para a segunda metade do século XX, onde duas mulheres sentadas em

um Parque, muito bonito, com um dia muito claro conversam e uma delas, está com

um livro como se contasse sobre a cena anterior, uma fantástica passagem de

ruptura cênica. Nesse quadro, um homem desconhecido, muito bem arrumado,

entrega para duas meninas cartões pedindo que não mostrem para os adultos,

somente para as crianças, dando parecer que são imagens pornográficas.

 Ao chegarem a casa, uma das meninas apresenta para os pais os cartões,

esses ficam horrorizados com as imagens, chamam a empregada e a despedem por 

não ter impedido esse acontecimento, logo aparece os pais com comentários

absurdos e em um momento a câmera mostra o que vinha a serem aqueles cartões,

nada mais que belos pontos turísticos, transmitindo ao espectador um desconforto

ao perceber a relação construída na cena.

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Na continuação da apresentação dessa análise, a cena comentada é a de

uma enfermeira que vai visitar seu pai doente, seguindo em viagem até a cidade que

ele se encontra. No meio do caminho ela se hospeda em um hotel de beira de

estrada, lá estão monges, que se encontram rezando para seu pai. Acontecem

situações durante esse período de hospedagem, onde torna bem clara a crítica do

autor sobre a Igreja e seus mandamentos. Os monges vão até o quarto da

enfermeira e convidam-na para jogar cartas, fumam e bebem de maneira exagerada.

Nessa mesma cena, chegam ao hotel um casal muito intrigante, um jovem e uma

senhora. Este jovem era sobrinho da mulher dirige-se ao quarto, o rapaz pede a

senhora que tire sua roupa, pois quer vê-la nua, a mesma faz toda uma encenação

contra esse pedido, mesmo assim ele arranca os lençóis, revelando um corpo muito

 jovem da senhora, chocado ele sai do quarto e vai até o quarto de um outro casal.

Este casal convida os monges, a enfermeira e o rapaz para que participem de um

momento de sadomasoquismo.

Uma cena para exemplificar, como foi falado acima, sobre a passagem do

figurante como protagonista, é o momento que a enfermeira ao sair do hotel e seguir 

sua viagem ao encontro do seu pai doente, dá carona a um personagem figurante,

um senhor que estava tomando café no hotel, ao deixá-lo em seu destino, este

passa a ser protagonista da próxima cena como professor de uma escola militar,desenrolando assim mais uma cena, com pontos surrealistas, característica do filme.

Esse professor encontra uma sala de aula totalmente atribulada, mesmo

sendo composta por militares, que carregam em seus princípios ordem e respeito,

fazem do professor um indivíduo ridicularizado. O professor então chama o coronel

que ao entrar na sala os alunos o respeitam, mostrando talvez a hipocrisia da

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sociedade e do exército. Nesse momento o professor, sob a supervisão do coronel,

conclui sua aula iniciando assim, outra passagem de cena do filme, que se faz

permear pela cena descrita acima.

 A cena seguinte, o professor e sua esposa são convidados para um jantar.

Caracteriza-se pela total troca de valores sociais, onde na sala de jantar, no lugar 

das cadeiras, encontram-se vasos sanitários, revistas sobre a mesa. Todos são

convidados a se sentarem em lugares pré- determinados pela dona da casa,

naquele ambiente, como se fosse uma sala de jantar, todos conversam sobre

assuntos diversos como problemas da industrialização, problemas sanitários que

envolvem o mundo, com uso de palavras grotescas, invertendo a situação do

contexto. Destacasse a fala de uma criança que diz estar com fome e a mãe chama-

lhe a atenção para que não fale essas coisas na mesa de jantar, ao mesmo tempo

os personagens fazem também suas necessidades fisiológicas, causando um

impacto visual dessa condição apresentada em público.

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Uma lembrança histórica remete a essa situação apresentada no filme

Fantasma da Liberdade, do diretor Luis Buñuel, ao contexto da Idade Média, qual

existia realmente uma cadeira com orifício central, posicionando-se um pinico, de

modo que as pessoas participassem do banquete sem que precisassem quando

necessário evacuar, deixar a mesa. (GERLINGS, 2008, p.25)

O professor ao puxar a descarga, levantasse da mesa e questiona a

empregada onde fica a sala de jantar, então essa o orienta que fica ao final do

corredor. Há uma “doce subversão”, palavras do próprio Buñuel, essa troca de

situações relata muito claramente a crítica feita pelo diretor, sobre a hipocrisia de

uma sociedade que apresenta discursos e atitudes inversas, tabus colocados em

contextos errôneos, aparentando atitudes coerentes. Uma sociedade presa a jaulas

psíquicas, tornando-se escravos de desejos, escravo de si mesmo, denunciando as

prisões a que estamos atados, por convenções sociais.

 Ao ambiente que o professor se dirige caracteriza-se a mistura de um

banheiro à sala de jantar, fechado a esse espaço, ele se alimenta. Ao baterem na

porta, responde claramente que esse espaço está ocupado, voltando à cena inicial

do professor na sala de aula, encerrando esse capítulo fantástico.

Os pais recebem um telefonema da escola da filha informando-os que a

mesma desapareceu. Vão imediatamente à escola. Em todo o momento da cena amenina está presente, o que torna fascinante essa cena, que por algum momento,

você se depara com a situação, como se não compreendesse, ou que você teria

perdido alguma sequência do capítulo. Vão até a polícia, sempre a menina está ao

lado dos seus pais. Depois que a polícia da o comando de busca a toda equipe

policial de Paris, os pais voltam para casa com a menina, esperar que ela seja

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encontrada. Que loucura! A cena relatada nesse parágrafo confirma a condição de

não querermos enxergar coisas que estão a nossa frente, manias sociais de ocultar 

ao olho nu situações perplexas que não queremos, por algum motivo, assumir para

não nos tornarmos responsáveis.

Na cena agora relatada, faz uma analogia entre justiça e injustiça,

apresentando um homem que inicialmente em seu discurso, engraxando seu sapato,

com um cão ao lado e discursando sobre a injustiça que as pessoas cometem em

relação aos animais. Deixa então o local, vai para o alto de um prédio e começa a

atirar sobre as pessoas que passam na rua, até que a polícia descobre. Este vai ao

 julgamento e é condenado à pena de morte, mas de maneira espontânea, o policial

tira a algema do condenado, os advogados ainda no júri, oferecem lhe um cigarro e

o indivíduo saiu do tribunal livre e como se fosse um herói, distribuindo autógrafos.

Volta para a cena do desaparecimento da menina. Nesse momento o pai aguarda

o reencontro com a filha “desaparecida”, que entra na sala com sua mãe, o pai lhe

abraça e agradece ao advogado pela ação. O advogado começa a ler um

documento sobre uma explosão terrível que havia acontecido, sendo interrompido

pela secretária, avisando-o de um compromisso importante.

 Ao desenrolar do filme, as cenas ficam cada vez mais confusas, com

situações surtadas e desconexas, apresentando todo contexto da linguagemsurrealista abordada pelo diretor Luis Buñuel, que critica de maneira cômica e muitas

vezes sórdida os valores sociais, alfinetando a burguesia e o clericalismo.

Uma cena que chama muita atenção pelas discussões sobre o mistério da

morte, um senhor em um bar relata o episódio da morte da sua irmã para uma

mulher que chega ao estabelecimento. Nesse relato ele entra no quarto da sua irmã

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e ela está nua tocando piano como se estivesse vestida, a atitude dele é de muita

naturalidade, quando volta à cena para o bar, o telefone toca e é anunciado que sua

irmã quer falar com ele e explicá-lo o mistério da morte.

Ele vai até o cemitério, como combinado e entra no túmulo em que a irmã foi

enterrada e é preso por uma equipe de policiais, por violação de sepultura. Cada vez

mais o filme apresenta situações sem sentido, trazendo claramente a exploração da

linguagem surrealista, ligada às perturbações do inconsciente humano. Depois o

homem preso é recebido por um comissário de polícia, onde conversam sobre

outras coisas, como se fossem velhos conhecidos e na verdade eles são

companheiros de profissão, muita confusão, encaminham-se para outra missão, ir ao

zoológico, onde eles querem impedir os animais de entrarem às jaulas. Aparecem

várias espécies de animais, encerrando a cena com sons de tiros, referindo-se ao

início do filme, quando o diretor abordou a situação de Toledo, na Espanha, mas

como protagonista desse momento, aparece uma Ema, observando tudo o que

estava acontecendo.

O diretor Luis Buñuel faz questão de deixar inúmeras incógnitas em vários

momentos do filme, levando o espectador à análise da situação, usando de

metáforas em situações do cotidiano, invertendo assim condições do ser humano

em vários momentos, como já falado nesse artigo, o filme apresenta nada mais queuma apresentação de inversões de valores sociais. (AUMONT, 1995, p.53)

“O pensamento que me segue guiando hoje, aos setenta e cincoanos, é o mesmo que me guiou aos vinte e sete. É uma idéia deEngels. O artista descreve as relações sociais autênticas com oobjetivo de destruir as idéias convencionais dessas relações, pôr emcrise o otimismo do mundo burguês e obrigar o público a duvidar daordem estabelecida.” (L. Buñuel) 

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Conclusão

Nesse artigo, procurei discutir possíveis ralações surrealistas apresentadas

nas cenas selecionadas. O filme apresenta uma profunda interação entre a poética

pictórica e a poética fílmica, a partir de um diálogo constante, como se cada plano

fosse um quadro surrealista. As imagens sofrem influências tanto da percepção do

artista e do receptor, como da forma que é transmitida (AUMONT, 1995, p.47). Os

tipos de cenários, as tomadas e ângulos de câmera, o figurino, a fotografia,

enquadramentos, usados pelo diretor Luis Buñuel determinaram a mensagem e a

forma de interpretação de cada cena.

 Ao analisar o filme, percebi a comunhão entre as artes surrealistas, da pintura

de Salvador Dalí e o Cinema de Luis Buñuel. Consigo compreender o papel da

pintura e o papel do cinema, sei que cada um tem sua particularidade, mas

claramente, para mim, conseguem “conversar” entre si. (AUMONT, 1995, p.23)

Ismail Xavier discursa sobre a criação do cinema, destaca sobre a linguagem

cinematográfica como os enquadramentos, campo, contracampo, planos,

decupagem, que me fez perceber a grande manipulação imagética que o cinema

produz para passar uma determinada mensagem. (XAVIER, 1997, p.82) Cada

detalhe torna-se essencial para a construção da cena, muito visível na decupagem

analisada. A construção dos planos é definida pela maneira com que o material

plástico do cinema é manipulado, conferindo unidade entre os planos, agindo sobre

a consciência do espectador.

 As obras plásticas de Salvador Dalí, um dos artistas reconhecido na pintura

surrealista são baseadas na teoria freudiana dos sonhos, o que o levou a enfatizar 

seu método paranóico crítico, onde utilizava as “fotografias de sonhos pintadas a

mão”, envolvendo assim a percepção de mais de uma imagem em uma

configuração, trabalhando essa confusão de interpretações metafóricas,

assemelhando-se a produção dos filmes de Luis Buñuel, que não seguiam uma

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lógica, pelo contrário, o ilógico é que fazia parte de toda linha de pensamento da

produção dos dois artistas: Dalí e Buñuel. (GERLINGS, 2008, p.71)

Essa parceria só poderia ter dado certo, pois com os pensamentos e criação

de revolução imagética, permitindo uma abertura da visão global do indivíduo

através de metáforas, representaram o inconsciente, dando abertura aos instintos

humanos e perturbando a análise dos valores socias de um mundo sofrido pelo

contexto da guerra. (GERLINGS, 2008, p.78)

Como espectadora senti uma provocação através das combinações estranhas,

das repetições produzidas pelo diretor, as quais romperam com a lógica da narrativa

clássica, algo muito em comum no movimento surrealista. O filme, em minha opinião,

atingiu esse rompimento do olhar cotidiano.

Referências 

 AUMONT et al. A estética do filme. Campinas: Papirus, 1995.

FILME “ Fantasma da Liberdade”. Disponível emhttp://www.cineplayers.com/critica.php?id=1048. Acessado em 15/09/2011.

GERLINGS.C. 100 Grandes Artistas. Belo Horizonte, MG: Cedic, 2008.

NAPOLITANO, M. Como usar o cinema em sala de aula. 4°ed. São Paulo: Contexto,

2006.

VANOYE, F. Ensaio sobre a Análise Fílmica, Campinas: Papirus, 1994.

XAVIER, I. O Discurso Cinematográfico: a Opacidade e a Transparência. Rio deJaneiro: Paz & Terra, 1997.

1-Graduada em Licenciatura em Artes Visuais, especialista em Arte Educação, Mestre em Comunicação e

Linguagens. Participo do Grupo de Pesquisa em Artes Visuais, Educação e Cultura- CNPq/UEPG,

Professora colaboradora do Curso de Artes Visuais/UEPG, com as disciplinas História da Arte, Reflexão em

 Artes Visuais, e Professora no CESCAGE, do curso de Publicidade com a disciplina Estética e Cultura de

Massa e História da Arte.