artaud, antonin. em plena noite ou o bluff surrealista

Upload: sidmar-gianette-guarani-kerouack

Post on 07-Jul-2015

187 views

Category:

Documents


10 download

TRANSCRIPT

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    1/37

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    2/37

    I '

    ANTONIN ARTAUD

    Elll 'Plena Noiteon

    o Bluff Surrealistaseguido de

    2 Ca ,r ta s Sobre 06,pioeo SuidJio

    escolha e traducao dePaul~ da Costa Domingos

    2." edi~ao(revista)

    Lishoa 2000

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    3/37

    II I,

    ,' ,

    E scassissim os hom ens a urn tem po fi'zeramt ab ua r as a ,J as r ho da s a st is ti ca s 'n a's ua "e po ca ;,da s ex u al id a de ,; :d e am ig 6 s e conv;ivas, /damortemin ima, do bOin-viver e do s en so 'c omum , d a a lt a-- co s tu ra in te le c tua l, s6 p ara ter , o lh os n os o lh os,Deus . 0q ue q ue r q ue D e us r ep re se nt e: r ea l o u su-perstic;ao. E d es oc ul ta r-l he t od a a tr dmp a. A lite-ra tu ra , a q ue se estuda na geral 'das ~nivers idcides,a lcunha- ios de 'vis ionar io , s ; a 'psiqu~atT:id~a malu . -

    , I I Ica'do ecumerusrno d os di va s; d es fg rt aJ os 'c omop osse sso s, o u fu rio so s. E contudo 0 genic dat tu iq u it ia p ro p ul som d e profecia nao tem umnom e, um r6tulo.

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    4/37

    'I

    Ponha-se Id An tonin Artaud (n. 4 de Se tem-bro, 1896 , 'em M arselha / m. 4 d e M ar~ o, 19 48 ,Iv ry -s ur -S ein e, c an crO do recto , nomesmo asiloonde viveu N erval). "E xpulso" do g ru po s ur re a-lista em 1927, com m im os a testados pela bro-c hu ra p ol ic ie sc a Au Grand Jour, a que 0 textod e a be rtu ra n a e sc olh a v erte nte re sp on de o lh o-p or --o lh o-den te-p or-dente , A rta ud p oe-no s a nte u ma, , ,da s ultim s opo rtun iq ad es d , e couvivio comi'OI ', "," ,

    hom em ,in tegr;a l, num a dens a 'obra d e P~ y! -SC {dOT --poetzz, d er ra de ir o r eg is to d a te nta tiv a d e re-unifi-cacao do logos, jd que reporta oesiaceiametuopsiquico na voz irada da propria vititna .

    A s a ra nh as d e e nta ~, e ssa s, a ss in av am : A nd reBreton , Paul E luard" ~ou is Aragon, P i,erre (s)Navil le e U nik ... (R essal~ e~ se B en ja min Peret,p el a p o st e, ri or f ro n ta li dd d e do se u A Desonrados Poetas. *) Do l ad o d o sv is ad o s, a c re sc en te -s e:()II a cabe~a Georges Ba ta ille , m as tam oet tantosta nto s o utr os. E sta va -s e em P ar is , a no s 27/35,

    e se os bispos do surrealism o se m ostraram alvom eno r para A rtaud , in um era~ fotog ra fias a testa mcomo D eu s, e ss e, cottosivo, vingativo, 0 na o po u-pou , ten tando esm agd-Io den tro d e asilos vatiosd e o li eiu ul os , a no s 38/48, a q ue resistiu eticad o.

    N um a escolha que se qu iz breve, esse prim eirotexto nuclear, e-o enquanto acto d e reieiciio d eum m ovim ento que, tendo taires fundamentadasno a nt i- ca rte sia ni sm o da e po ca , v in ha a fi na lc ap i-tu la r so b os n efa stos do 'm ateria lism o d ia lectico,da H istoria m oida pelo tritu rador da econom ia.

    E 0 testem unho estende"se ainda pelo corteco m a il us ao s oc ia l e 0 g ru po hu ma no, p ela intro s-p ec ca o a lc al oi de e 0 apelo ao grande juizo final,deixando aflo rada a traiecunia desse m agnificocondenado a v id a, c O '( ld en sa ~a o d a e sc oi ia q ue n osr es ta d es se tubi. E d a i, a c re sc e e encerra 0 volu-me um d ep oi me nt o do m edico p siqu ia tra qu e d elecuidou no tnaiiicomio d e R odez ... D ocum entom uito citado por quantos deb icaram na obra d e

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    5/37

    Artaud, requeria tradu~ao para term os ern pers-,.pectiva esern e r ro de ,pa ra lc ix e como 0 douror.F e rd i e' re de ixo ,u de sl iz a r pa r e J 1 t f e o~:de.dbs'peda~osd o c or po ' d es se O s ir is do seculo XX, julgando-sea si.p r6p rio, n um sa cerd 6cio sin istra , u ma espe-ci e de salvador (ou recanalizador) das [ovcas, teluricas do gerdo .

    , Com o ta L p rim e,ir o ,te xtQ d es ta . n o va e dtq dQ ,erhtiansito de l ed it or a; _ t ta sl ad o n em s eq u ;'~ ri ry . -I d i. tQ . ; a p 6s um a duz:i4l d e l a no s n um o em ite rio ,. de"p tincepsP, pre tende '~se , sobretudo , d tra~es ' do c:atd-log o da frenesi, aludir a n os sa p osi~ ao q ua ntoaos g regari smos , e ao g re ga ri smo s ur re al is ta .

    Porque na o veneram os nin guem t

    I ,

    " ,,II i I I I \Pa ulo d a .C;ostaDomingos1988' J 2000, ' Feveteiro ., I I I

    I II \.1 'I j I

    Antigona, 1989, in C o ntr a o s P oe ta s (c/Witold Gombrowicz) .

    . ,'

    ouEJDPlena Noite

    0,Bluff Surrealista

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    6/37

    I '

    UE os surrealistas me tenham expulso ouque eu mesmo me tenha posto a margemdos seus grotescos simulacros, e questao 'que ha rnuito ja se ,n'3.opoe. Por estar sufi-

    cientemente farto de uma . mascarada que ape-nas durou dernasiado, afastei-me, convictoporern que no novo quadro de actuacao poreles escolhido, mais do que em qualquer ou-tro, os surrealistas naofariam nada. E 0 tem-po e os factos nao deixar~m de dar-me razao.Que 0 surrealismo se concilie com a Revo-lucao ou a Revolucao deva fazer-se fora e ape-sar da aventura surrealista, pergunta-se quepode dai advir ao mundo se pensarmos na pou-ca influencia que os surrealistas exerceramsobre os costumes e as ideias deste tempo.

    , I

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    7/37

    Alias ha ainda uma aventura surrealista,,o surrealismo nao marreu no dia em que,Breton ~ os seus, adeptos ac~editaram de,yerligar-se ao comunismo ,e buscar no dominiodos factos e da materia imediata a finalidadede uma accao que s6 poderia desenvolver-senormalmente no quadra intima do cerebra.

    Pensam eles poder perrnitir-se ridiculari-zarem-mequando, falo de uma .metamorfose 'das condicoes interiores c i a 'al~,a,~;como se euentendesse a alma, no sentido infectosob 0qual eles pr6pri,os a entendern e como se, doponto de vista do absoluto, pudesse ter 0mini-mo interesse ver mudar a armadura social domundo ou ver passar 0 poder das maos da bur-guesia para as do praletariado.

    Ainda se os, surrealistasquisessern real-mente i8S0, seriam: pelo menos desculpaveis.Teriarn urn objective banal e restrtto, mas'enfim, existiria. Mas terao eles 0menor objec-tivo que os leve a accao? e quando foi que seesforcaram par formular urn?

    Trabalharao pois com urn objectivo? Tra-

    balharao com m6biles? Creem os surrealistaspoder [ustificar a sua expectativa pelo sim-ples facto, da consciencia que dela tern? A ex-pectativa nao e urn' estadode espfrito, Quandonada se faz, .nao se:arrisca partir 0 nariz. Mastambem nao e razao para fazer falar de si.

    Desprezo demasiado a vida para acreditarque uma mudanca, qualquer que seja, desen-volvendo-se no ambito das aparencias, possaem algo modific~r a minha detestavel condi~,

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    8/37

    14

    no-os em bloco, dedicando a cada um em par-ticular toda a estima e ate toda a admiracaoque merecern pelas.obras ou pelo espirito. Emtoel0 '0 caso, e. sob este ponto: de vista, naoterei como eles ~ doenca infantil de fazer ~oit~.l-face a sua causa, e de lhes negar 0 talento laporque deixaram de ser meus amigos. Feliz-mente nao se trata disso.

    Trata-se sim desta deslocacao do centroespiritual do mundo, este desnivelamenro dasaparencias, esta transfiguracao do possivel,que 0 surrealismo deveria contribuirp~ra pro-vocar. T odaa materia corneca por uma de-sordem espiritual.. Confiar as coisas, as suastransformacoes, 0 cuidado de nos conduzir, ea optica de qualquer bruto obsceno, de qual-quer especulador do real.' Nuncaninguerncompreendeu nada eos proprios sutrealist~snao compreendem Rem podern prever ondeos levara a sua vontade de Revolucao. Inca-pazes de imaginar, de visualizar uma Revolucaoque nao se desenvolva no quadro desespe-rante da materia, deixam a fatalidade, a um

    certo acaso de debilidade e impotencia quelhes e proprio, 0 cuidado de explicar a suainercia, a sua eterna esterilidade.o surrealismo nunca foi para mim, senaouma outra especie demagia. A imagmacao, 0sonho, toda essa intensa liberracao do incons-ciente que tem por fim fazer aflorar a super-ficie da alma 0 que ela costuma conservarescondido, devem necessariamente introduzirprofundas transforrnacoes na .escala das apa-rencias, nos valores de significacao e . no sim-bolismo da coisa crtada.O concreto muda defarpela, de casca, ja nao se aplica aos mesmosgestos mentais. 0 alern, 0 invisivel, rechacama realidade. 0mundo ja nao se aguenta.

    Poderemos entao cornecar a peneirar osfantasmas e a evitar ardis.

    Que a espessa muralha. do oculto desabede uma vez por todas sobre estes impotentestagarelas que gastam a vida em obj urgacoes evas arneacas, sobre estes revolucionarios quenada revolucionam.

    Uns brutos que me convidam a converter-

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    9/37

    l()

    -rne. Era mesmo 0 que eu.precisava. Pelomenos.reconheco-rne doente ,6sujo. Aspire a,qutr.'a. vida ~, bern vistas as.coisas, prefiro 0.men: [ugar ; , < ; 1 ' 0 de1es~2. "I, ,:'Que' resta da aventura surrealistaiPoucacoisa, por certo uma grande desilusao. Nocampo da literatura ern-si talvez tenham dadode facto 0 seu contributo. Essa colera, esse nojoardente vertido sobre a coisa escrita constituiuma atitude fecunda e que servira porven-tur~urn dia, maistarde. A literatura encon-.tra-se.ai punf icada, reconciliadacorn a verdadeessencial do cerebro. Mils e tude. Conquistaspositivas, 1 1 margern da literatura, ou das ima-gens, nao ha, e seria isso 0unico facto impor-tante, Da boa utilizacao dos sonhos pode nascerurn novo modo de conduzir 0 pensamento enao c~d~r 'perante as aparencias . .A ' verdadepsido16gica ~cpn.tra-se despojada.de .e:xctes-cencias parasitarias., inUteis, muito maisI' ,pr6xima den6s. Nessa, altura vivia-se complenitude, mas talvez seja lei do espirito 0abandono da realidade s6 nos trazer fantasmas.

    Dentro do exiguo limite, do nosso domtniopalpavel somos pressionados.isolicitados portodo 0 lado. Vimo-lo bem atravesdesta aber-racao que levou revolucionarios de grandeplano a abandonar literalmente esse plano,tom ando a palavra revolucao no seu sentidopratico utilitario, sentido social julgado imicovalido, porque ninguern quer Hear por prornes-sas. Estranha reviravolta, estranho nivela-mento. I

    Propor uma simples, atitudemoral.jilguemacredita que isso possa ser 0bastante, seessaatitude em tudo estiver marcada pela inercia?o interior do surrealismo condu-lo 1 1 Revo-lucao. E este 0 dado positivo. Unica conclusaoeficaz possfvel (segundo eles) e 1 1 qual grandenumero de surrealistas se recusou aderir; masaos outros, que lhes trouxe, que ganhararn

    , Icom a ligacao ao comunismo? Nao as fez darurn passo. Nunca no drculo fechado da mi-nha pessoa senti necessidade dessa moral dodevir, da qual, ao que parece, derivaria aRevolu

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    10/37

    sidade real as exigencias 16gicas da minhapr6pria realidade. S6 esta logica julgo aceita-vel, e nao uma logica superior'.cujas irradia-

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    11/37

    20 I I

    versivelmente virtuais, nao passa de uma repre-sentacao inunil e subentendida. i ;" ',;,

    I, Sei que riestedehate terd,cdmigo\todos GS .hornens livres,todos (j)s~elidadeirds revo-lucionarios que .pensam ser a liberdade in-dividual lim bern superior ao Ide qualquerconquista obtida no plano relativo.

    .1II

    ,1\'

    , I

    Escrupulos meus face a accao real?Sao escnipulos absolutes e de duas especies.

    Visam, falando emrermos de absoluto, essesentimento enraizado.da profunda inutilidadede nao importa que accaoespontanea ou nao--espontanea.

    Eo ponto de vista do pessimismo integral.Mas certa forma de pessimismo traz consigoa sua pr6pria lucidez. A lucidez do desespero,dos sentidos exacerbados e comoque a b~irado abismo. E a par da horrtvelrelatividade detoda a accao humana, esta espontaneidadeinconsciente incita, apesar de tudo, a accao.

    E tarnbern no dominic equivoco insonda-vel do inconsciente, sinais, perspectivas, cla-roes, toda uma vida que desperta quando afixamos e se revela capaz de agitar ainda 0espirito.

    Eis pois os nossos comuns escrripulos. Masparece que eles os resolveram em proveito ciaaccao. Reconhecida porern. a necessidadedesta accao, logo se apressam a declarar-se delaincapazes. E um dominic de que a configu-

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    12/37

    racao do seu espirito os afasta para sempre.E pelo que me diz respeito, afirrnei eu algumavez outra coisa? Mesmo tendo a meu.favor

    , "circunstancias psicologicas ,e fisiologicas deses-Iperadamente anormais, e das quais eles nao

    saberiam tirar partido.

    [unho tie 1927

    Adenda

    28 de Fevereiro de 1947[a Andre Breton]

    Caro amigo,Voce censurou-me asperamente pela sessao

    no Vieux-Colombier que fo i a minha primeiraoportunidade de dirigir palavras amigaveis'aopublico de uma sociedade

    que me teve intern ado 9 anosmandou a sua poltcia partir-me a coluna

    vertebral a golpes de barra de ferro,e rufias dar-me 2 facadas nas costas,preso e encarcerado Duma cela, deportado,Com esse fim talvez haja reunido pessoas

    dentro de urn teatro,mas dizer que continuava a ser homem de

    teatro, como voce diz numa carta, pelo sim-ples facto de eu ter aparecido sobre urn palco,

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    13/37

    e injustica gratuita,porque nao creio, sern a menor pre,sunc;ao,que algum homem d i teatro desde queo teatroexiste tenha tido antes de .mim aatitude queeu tive nessa noite no palco do Vieux-Co;-, "lombier, e que consistiu em vociferar do cimode urn estrado eructacocs de odio, c6licas ecaibras no auge da sincope, etc., etc.

    ,,. t :, ~ ...E,como :; e que de,p0ts disso, Andre Breton;

    e,d~ me ,have,~ceI\~,ur~doP9r eu aparecernumteatro, me con vida voce a, participar numaexposicao, dentro de uma galeria de an te , hiper--chique, ultra-pr6spera, retumbante, capita-lista [*] (tivesse ela os seus fundos num bancocomunista) e onde qualquer rnanifestacao s6pode ter 0 carac ten iestilizado, limitado, cir'-cunscrito, fixo, de tentativa artistica.

    Ii II

    A . A .

    Notas

    ) ~ ''I ' \ "

    1 Como se 0 homern que tenha verificado de uma vez portodas os limites da sua accao, reeusando comprometer-se paraalern do que em consciencia ere serern esses l imites, fosse, doponto de vista da Revolucao, menos digno de interesse do quetal vociferador imaginario, neste mundo sufocante em quevivemos, mundo feehado e definitivamente im6vel, incumbido,num pressuposto estado insurreeeional, da tarefa de apelarpara facanhas que toda a genre sabe que ele pr6prio nao prati-cara. ' ,',

    Exactamente isso fez-me vornitar osurrealisrno: verifique!a importancia inata e a fraqueza congenita destes.senhores, 000'-trarias as suas atitudes pcrmanenternente ostentatorias, as suasarneacas no vazio , asblasfemias nonada. E hoje , que fazem elessenao por outra vez a mostra a sua impotencia, a sua insu- 'peravel esteril idade? Por ter reeusado cornprometer-rne paraalern de mim mesmo, por ter imposto silencio em meu redore ser fiel em pensamento e aetos ao que eu sentia como pro-funda e irremissfvel impotencia, esses senhores julgaram-me ino-portuno entre eles, Mas 0 'que lhes pareceu sobretudocondenave] e blasfemat6rio foi aperias tet confiado a mimpr6prio 0 cuidado de deterrninac.os meus limites e exigirdeixarem-me livre e senhor dos meus actos: Que me adiantaqualquer Revolucao no mundo sabendo que vou permanecereternamente dorido e miseravel dentro deste monte de ossos?!Que cada homem nao conte com mais nada alem da sua sen-sibilidade profunda, do seu intirno, eis para mim a Revolucaointegral. A boa revolucao e aquela que me traz vantagens, amim e as pessoas como eu. As forcas revolucionarias de qual-

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    14/37

    quer movimento sao as capazesde abalar os actuais funda-mentos das coisas, de alterar 0 angulo da realidade.

    Porem, numa carta aos cornunistas , e les confessam abso-luta falta de preparacao no domlnio em que acabavam ,de seinscrever. E,mais: ser 0 tipo de actividade que lhes era pedi-do inconciliavel com 0 seu espirito.

    Nisto, ~ que, digam 0 que disserem, nos tocarnos, pelomenos em parte, uma inibicao de essencia similar ainda quedevida a causas diferenremente graves, diferentemente signi-ficat ivas, para mim e para eles. Reconhecern-se afinal inca-pazes de fazer aquilo que eu sempre me recusei ten tar. No quediz respeito a accao surrealista, sinto-me tranquilo. Pouco rnaiseles podem do que passar 0 tempo a condiciona-la. E a fazerbalances, balances de si pr?prios comb qualquer Stendhal,estes Amiels da revolucao cornunista. A ideia de Revolucaonunca neles passara de uma Ideia sera que 8 ! forca de ,envt!-Ihe~er adquira essa ideia a mais leve sombra de eficacia,

    Ao mostrarem a necessidade de interromper:o seu desen-volvimento interim, verdadeiro desenvolvimento, para 0esco-rar com uma adesao de principio ou de facto 21 0 PartidoComunista Frances, e les nao veern como poem a nu a inanidadedo pr6prio movimento surrealis ta , do surrealismo incolumede qualquer contaminacao. Seria i sto a revolta, 0 incendionos fundamentos de toda a realidade ' Para viver , teria 0 sur-realismo necessidade de se encarnar numa revolta de facto , dese confundir com reivindicacoes como 0dia de trabalho de oitohoras, ou 0 reajustamento salaria l, ou a luta contra a carestiade vida? Que brincadeira! ou que baixeza de ,~lma!No entan-to, e bern isso que parecem dizer: que a adesao 21 0 PartidoComunista Frances se lhes apresentou como sequencia logicado desenvolvimento da ideia surrealista e sua (mica salva-guarda ideoI6gica!!!

    Mas eu nego que 0 desenvolvimento logico do surrealis-mo 0 tenha conduzido a essa forma definida de revolucao que

    se da pelo nome de Marxismo. Sempre pensei que urn movi-mento tao independente como 0 surrealismo nao seria justi-f icavel pelos metodos da logica comum. Alias , ,acontradicaonao deve incomodar muito os surrealis tas, sempre dispostos anao perder pitada de quanta possa trazer-lhes vantagens, dequanto possa momentaneamente servi-los. - Falai-lhes deLogica, responder-vos-ao Il6gica, mas falai-lhes de Il6gica,Desordem, Incoerencia, Liberdade, e responder-vos-ao Neces-sidade, Lei, Obrigacoes, Rigor. Esta rna fe essencial esta nabase do seu modo de agir.2 Tal bestialidade por mim apontada e que tanto os revolta econtudo 0que melhor os caracteriza, 0 seu amor ao prazer ime-diaro , quero dizer a materia , fe-los abandonar a orientacaoprirnit iva, esse magnifico poder de evasao, do qual acredita-mos n6s virern eles revelar-nos 0 segredo. Um espirito dequestlia, de mesquinha chicana, incita-os a difamarem-se unsaos outros. Ontem, Soupault e eu afastarno-nos enojados.Anteontem tinha sido Roger Vitrac, cuja expulsao foi umadas suas prirneiras imundicies.

    Por mais que uivem la na toea e digam que nao e assim,responder-lhes-et que 0 surrealismo sempre foi para mim umainsidiosa extensao do invisive] , inconsciente ao alcance damao. Tesouros do inconsciente invistvel tornados palpaveis ,conduzindo a linguagem directamente, de urn s6 jacto .

    A mim, Rusbroeck, Martinez de Pasqualis , Boehme, justi-f icam-rne plenamente . Qualquer accao espir itual, se for justa ,materia liza-se na devida altura. Condicoes interiores da alma!- elas t~azem consigo a sua veste de pedra, de verdadeiraaccao. E coisa que se adquire e adquire-se por si, irrernis-sivelmente subentendida.[*] ReferenCia a Exposit ion Internationale du Surrealisme, nagaleria Maeght de Paris. (Ndt)

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    15/37

    '"

    ,2 Cartas Sobre 0Opio

    '" I'

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    16/37

    S ENHOR legislador,Senhor legislador da lei de 1916, ratifi-cada pelo decreto de [ulho de 1917 sobreos estupefacientes, es urn cretino.

    IA tua lei so serve para chatear a farrna-copeia mundial sem atingir a fauna texico-mana da nacao

    porque1.0 mimero de toxicomanos que se abas-

    tece no tarmaceutico e infimo:2. Os autenticos toxic6manos nao se abas-" 'tecem no farrnaceutico:

    3. Os toxicomanos que se abastecem nofarmaceutico sao todos doentes;

    4. 0 rnimero de toxicomanos doentes einfirno comparado com 0 dos toxicomanos

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    17/37

    voluptuosos;5 . As restricoes farmaceuticas a droga nun-

    oa incomodarao os toxic6manos voluptuosos, "' o rganfzados :6. Havera sempre fraudes;7. Havera sempre toxic6manos por vicio

    d,~forma, porpaixao; 'I,8. Os toxic6manos doentes tern .sobre' a

    sociedade 0 direito inalienavel de exigir queos deixern, em paz. ,

    T ra ta s se .a cim a .d e t ud e d es ur ri.c as o 'd e cons-, ,I ' \ciencia.

    A lei sobre os estupefacientes poe nas maosdo inspector-usurpador da saude publica 0d ire iro d e dispor da dor humana : singu,lar pte-tensao da medicma moderna 'querer impordeveres a consciencia de cada um. 0 zurrardodocumento oficial nao tern .efeito ~OIitra 0.seguinte dado de consciencia, a saber: mais Ido que sobre a motte, sou senhor absoluto da

    :l2 II minha dor. Cada ,h~rnem e juiz, e juiz exclu-sivo, de, quanta dor f t s tca , 'ou mesmo de vaziomental, pede honestamente suportar. ' , ,

    Lucidez ou nao-lucidez, ha uma lucidez quenenhuma doenca me roubara, e a que .dita 0sentimento da 'minha vidafisioa." E' quandotiver perdido essa lucidee, 'a medicina corn-pete uma solucao: facultar-me as substanciasque permitam retomar 0 usa da lucidez;

    Senhores-ditadores da.escola farrnaceuticade Franca, sois uns coiroes: h a coisas que devteismedir melhor; 0 6pio e a substancia impres-cindtvel e imperiosa que permite aos que desgra-cadamente perderam a vidadaalma voltara ela,

    Ha um mal contra 0 qual 0 o p io ~ sobera-no e chama-se Angustia, na sua forma men-tal, clinica, fisiologica, logica ou farrnaceutica,como quiserdes.': ,'"

    A Angustia que faz os loucos.A Angustia que faz os suicidas.A Angustia que faz (J )S danados.A Angustia que amediciha ignora. 'A Angustia que 0 medico nao escuta.A Angustia que lesa a vida.A Angustia que laqueia 0 cordao umbili-

    cal da vida.

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    18/37

    I,"

    , ,I

    "CO,fl ': l a, vossa .intqua .lei pondes nas .maosde :g ' entc e , in .quem : J ; l " l a O 'tenljo, a 1 m , Inima con-'I I I" 'I \ ' I .1 1ftafi"', a)' o , t 'e t in o s ' d a ' if fi 'e d iG :" ,iol;1"faIJna~e'u:tic()s, '"IY I I 'I ',';:rr!, 'I', ' '

    I, ,: '1 I, .: I' 'I, " '/""'d,1 ' :' !" . . ..!;f~r" : ' d ' . " ~ 1 1\, ,Id e meH;lt' lge a " ,)tl , lZeS,' ,t: ; , t n f l , e , ' p,ut i?~,es,pa~-t ,e~ras: , : inspector :~s~d '~utorais; 0 d ire ito d e d is -p or d a Iffiinh a angirstia.jima-angustia em m imta o aguda c omo asagulhas d e to d as a s bus so la sd o , i nf er no . 'I ' ,I ,I ,' , '

    I' itosd \ d lm -, Esrremecimeneos '!i) cor po ou "a mal -naoexi s t s i s in .6g r : ;: t fQ"hurnam.oqu~,pe~ni it a :,3 quemme"C)Q~~:F~~ ' Ihe~~r l~~ i " \ ( I ~~, "~ fe r t< ;~91: , tn ,~ is,pre!~,

    " c is a da 111 inha d o~ dO ' (p . t~ ,i fl ilm : i'Q 'a~ l t~ , Imeu ', , 'espfrito! , ,,'I,'" ',i" "

    To d a : a ' a r ro j a da - c ie n ci a dQS h om ens nao esup e r io r a o co nh ecim ento im ed ia to que p o s -,s uo do m eu SE;r. SO U u nic o juiz d e q Ufn to 'e sta.em-mim. ,, ' I" .R e gr es s em a o 'P ll lh e ir ,q ; pe ' ~ .cey~ jQs,da rned i~

    I I, " \ .. . 1 I ,\'oina e tu, tJ8 ' luhem," 'S,dl:hor ,Garnek6,Eeg,is ia-" " ' ,' 1 " I I ", i" "d or tl~ os era p o~ a ~o t a os h.6 ~e ns ,q ue "d elir ,a s," ; I 'Imas p o r tra d ica o d e 'im becilid a~e,. A tua

    igno ra ncia d o .que , e um -h om em s6 p od e com -pa r a r - se a tua es tup id ez p or lim ita - lo . Des e j?

    , '"

    ' , \1 11

    que a tua le i -caia sobre 0 teupai, a tuamae,a tua m ul~er, ,o ~teus .fi~h os e to d a 'a 'tua p as te -r id ad e. E agQ ra~rh anh 'aT te com ', a , tua le i.

    1925

    , "1 1 I"

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    19/37

    I, I

    para outros cornparavelao pao ou a agualevou-me cinco arras.en contra -la e s9 :por urn estranho acasoem 1920 urnmedico me receitoulaudano 40 GOTAStodas as manhas.Teria ficado por eSS9-dose se 0 laudano Itivesse sido sernpre 0,mesmo e da mesmaqualidade mas naofoi 0 que aconteceu ~e depois ha ANTECEDENTESColeridgee outros do grupo do Lagoque chegarama s 8000 repitooito MIL gotas de laudanopor dia e por atficaram porque isso repre-

    I v r y 1 5 S e t e r n b r o 1 9 4 7S r .. ] a G q u e s P r e v e l

    , ,)

    caro arhigopela prime ira vez em 1915senti a FALTAdo 6pio. E nessa altura, nunca 0 haviatornado. Mas .um buraco'

    "vazio sem nometinha-se instalado naparte posterior do meu cerebro,urn vazio que nada podecolmatar - e foramprecisos cincoanos: de 1915 a 1920para encontrar a panaceia capaz Ide encher,de dar espessura e dedrogar enfim todo 0 meuego. Tal panaceia

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    20/37

    'I Ill,

    I'I. '., ," II:',

    sentava a altura' d0naco de rosbife au',

    ~ ' 'I' , \ I '; I,,;, "L' 'rao mecessa,nos' I I' I,! I >.' I I" L L.,~ I, I , I'pa:ram'anterem~se de pe.

    Penso que 30 a 50 I "grarnas dqMUlTO BaM\ I ")" '. , "la li d ahD 'I ,C l ~A :m l\ :E tl: " " " ,

    I ' r\ ,11 ,I., I " 'IDA 'GUERRA rhe'ba'stariam masonde encontra-las?Enquanto: e~PIE!' I 'o, ',II,

    , r , , , . ,/., :, 1 \ ( ', II' _ ~i' ~ , 'a S ,uG \'H1'Sm :1 i l~ ~ a ,o 1 : '1 'em de~iFlto~i'ca'!;-me ,i~dica, I,que 0 seu corpo ql\er

    I,

    fazer. E naose Ipense que es\ca;irar!,

    , I, r' , 'Isangue e ,t~'~16 ' I i ,

    I, L I

    PERDIDO. Eu naosei se voce ENTENDE8"a que ponte a sua sugestao '',,, I

    I ,I

    representava I ' ," 'MAIS que urn conselho: era SIM

    I , ' I ~

    I,

    fundamentalmenteUMA IDEIA GRAVE.d~ "~I'~oda urna o rd ern " ,1 I"de mundo Jacques Prevel,UMA ORDEM INTElRA DO,MUN-I", " I""Db que i \ I " Q d : e hies9gere pelo I , ' \,1 ' : " , 1 ,simples facto de mudar.Cal certo dia de1915, e togas os meus livros: 0 Pesa~-Nervos. 0 Umb ig o d6s 'L ir hb os ,saQ testemunho' dessa 'QUEDA porquetoda a I

    ",II

    \ \ '

    I"

    I'

    terra mlt tomou e, ,arrebatou-rne 0 energetico da ':':,I!'vida, 0 meu sangue heroico, 'e tomou-rnos paraviver.no estupro da

    ',i \' I .,1 " '" fornicacao, do

    I i

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    21/37

    imediatamente a questaose me poe:encontrar 6pioou morrere sumir-rne.E e preciso que eu,consigatomar 0 suficientepara que em mim a~ida retome 0 seunivel.Entao, ; estado de carencia, '.1 , d I, I 'I Id I ," esaparecera,Desejando que'me tenha compreendidoseu

    4 0 .

    prazer e do COITO, 'reside a t 0 problema.Voltara ou nao voltara a, ' ,haver' ORGASMO?afirrno eu.que nao voltara ahaver orgasmotragarn-rne 6pio6pio bastante pararecompor um corpode l iomemdi , A , "iz-rne ,vp~e I, ",; ":' '",voce Jacques Prevel-desintoxique-senao.o problema e ' ,ter que REENCONTRARo meu 6pio, t odo .o ,.apio ,l ,I 1"necessario 'a ', 'I ,'imortalid'acle" '1'1. ,(I

    " " ( " ,Ao falar dessa maneiravoce nega-mea imortalidade.S6 doravante

    AA

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    22/37

    Nota

    I ., '.. ,

    * Sei bern comoexistern' graves perturbacoes cia personalidade,e quy !lodem,ll]~smo,provocar,na consciencia a perca de indi-vidualidade: a 'consciencia permanece intacta nao se reconhe-cendo pertenca de si mesma (e sem se reconhecer em nenhumgrau).

    Ha perturbacoes menos graves, melhor diz~ndo menosessenciais, mas muito mais dolorosas e importantes para a pes-soa, e em ce~ta medida rnais ruinosas para a vitalidade, 0 queacontece' quando 'a consciencia se apropr ia e reconhece ver-dad~!~illl).tmt~d;h,ose lhe dissessern respeito toda uma serie,,~eJet;l0P1,tIR9s:'8e',de~\qca

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    23/37

    ,1 h l

    o Suicidio'I

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    24/37

    " , " r ' ,I 'I

    1" ",t

    ,II I',

    " ", ,1

    'NTES de me sui~idarlpe

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    25/37

    meu querer. Liberto-me do condicionamentodos orgaos tao mal adaptados ao ego, e a vidadeixa de afigurar-se-me urn absurdo acasocomigo a pensar 0 que me dao para pensar.Escolho assim 0pensamento e a aplicacao dasforcas, das tendencias e da minha realidade.Coloco-me entre 0 belo e 0 feio, entre 0 borne omau.' Fico em suspenso, sem por onde meinclinar, neutro, a merce de boas e mas soli-citacoes:

    Porque a -vida ern-si nao e uma solucao,nao possui qualquer.ripo de existencia eleita,consentida ou fatal. A vida e apenas uma seriede apetencias e forcas adversas, pequenas con-tradicoes concretizadas ou que abortam con-, soante as circunstancias de, urn acaso odioso.o mal esta desigualmente distribuido peloshomens, e tambem 0 genic e a loucura. 0 berne 0 mal sao fruto das circunstancias e de urnfermento melhor ou pior 'attuante.E sem duvida abjecto set' criado e viver e

    ",8 II sentir ate ao mais recondito, ate as ramifica

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    26/37

    ,I'I

    pensante, cia vida sentida. Reduziu-rne a con-dicao de' automate -ambulante, mas um auto-, mate ,a',sttn:tir 'a"'fupH1I1ado, seuinconsciente.

    E 'eniaol~1Il1',4uris 'p~,6v:ar,a ',~inha existen-cia, quis li~a,r-rrte a realidade sono ra das coisas,, "romper coma fatalidade.

    , '\E Deus 0 que fez? ,", Eu nac sentia a .vida, a circulacao de qual-quer ideia.nroral representava-para mim um rio

    I ' ,s'ecb.A ;vi:dal'~a0 ,cqrlsiit'Llia,rre,m objecto nemforma; t~nha::si t!l~t ,~rl~6r~adpnuma serie detkdocit;i.iQ$"."Mas,\t',~Gi()df~'i~~ IV a o ' ; ' " raciocmios. 1 . ' 0 " I 11 i'q'ue 'na:o: fuLic'i@navatn,,'poJs'fveis, "esquernas"interiores. q~e a vci~'ta9!e nad, conseguia reter.

    'Mesmo, para 0 sUicid'io,ltive que aguardaro retorno do eu, 0 livre' jogo de todos os arti-culadosdo meu ser.: Deus ',atirou-me para 0I \I i

    , desespero como 'paj;la " Y ' ,m ' g constelacao de". I "1,1.,., ,\ ',", I ,'1/ , 1 ' " I, ' : 1 ",impasses "eulo.,:brdh~ ,~caba 'ep.-rrmrn.

    I . I" '\1 .11 1 ,, Nao:l,1bssc:}'mortefl' ;'ri 'e:m.i:ver, nem sequer, : ' " 1/"" " l '",'1desej ar m6rrH btllviver..lE,tclos' os homens sao

    ;)0 come> eu.,', 1 , 1 '

    ApendiceEu 'TrateiAntonih Artaud

    Gaston Fe~di:ere, Dr.

    i'I'" .

    i" ' ,,,' , II

    ' I ! " i I1 . , '

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    27/37

    ['ai Soigne Antonin Artaud, publicado,. cremos que pela prime ira e unica vez, em 1959

    na revista La Tour de Feu n.? 63-64,e aqui traduzido apenas fragmentariamente,naquilo que ao compilador pareceu rocar as raiasda grosseria malvada, Atente-se, urn clinico queafirma os electrochoques "rigorosamente indolores"deveria ser posto de fusivel, pelo menos durantenove meses, nos disjuntores de alta voltagemna hidroelecrrica do Castelo do Bode, e talvez

    renascesse para urn Mundo tao infernal como aqueleque apoquenrou Antonm uma vida inteira. (Ndt)

    [ .1 . . ]. P r ime i r amen t e , nao fui eu q1fem internou An-

    tonin Artaud!N tio podem a cu sa r-m e d e ar'rbm bar um a pO T'ta

    aberta: tan ta vez Ii em peri6dicos d e g ra nd e q ua li-. d ade ser eu 0 p siq uia tr a' re sp on sa ve l p ela p ris ao e 0encarceramento d e Artaud , em s uma "0 misenivel ,a p eqonha donde partia todo 0 mal!" E ptesei icieiin sinuarem aica lun ia por to do 0 lado . No Tr ibunald e Baiona , em 57, 0 S r. L afo nt, P ro cu ra do r d a Q ua rtetR ep ub lic a, te nto u h um ilh ar -m e d e toda a m ane ira e[ e uio : " Q ua nt o a carreira'administrat iva d o D r. Fer-d iere", a firm ava , " ... deu muito que fa lar: sabe-seq ue e le ... 'h a ... s 'e qu e~ tro u a rb itra rittm en te , h a . .. u mp0eta , ha ... u rn grande poeta ... 0 poeta An ton in ...ha ... " ; um a espreitadela rap ida aos papeis poe fima hesita!;,ao e 0 o ra do r e ng r:o ssa a v oz, triu nfa nte :"0 poeta Anton in Arnaud" (sir::).

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    28/37

    I~ I

    N a verd ad e Antonin Artaud fbi internado pordespacho mais de cinco anos antes do nosso pri-meiro encontro, A data da certidao do internamentoihdic l!FO dia 12 de,Abri:l d e . t938 c bm o e ntr ad a n oA si lo C li nic o d e Santa Ana [... ]. Transferido a 27de Fevereiro d e 1939 p ara V ille -E vr ard , o nd e p er ma -n eceu a te 22 de Janeiro d~ 1943.

    S6 em , fins de N~v~'Q1qr~ 'd e 42'(:o.mec~ifranra-m en te a in teressa r-m e p or A rta ud . De f ac to , s em p res ou b e q u e d es de ,o i ti ic io s e v ir am ob1r ig a do sa i ru et tu i-- 1 6 , e,tamb,eJTl.s abi a po r: qu~ : IJ ?br d iv ~ rs a s v ez es havi af a lado c om a lgun s. am igo s; 'Gu it ct .e " J 'heodore 'F raenkelJ ea n L ou is B ar ra ult, U ~ n l?i~r;e-Q ~in t, etc. . . '

    - F erdiere, voce deveria [azer qualquer coisa.. F azer 0 qe? ,N ,unc,a pense i t (! )mar:acargo Q d e s -

    , I:, ", 'I I "I, r,J " It ino de 'u1 ;n p o e i a ; . No Ou tc :n '( bd e4 2'd ec id i"m e, a p e-d id o d e,u ,m homem d e'~ ra nd e, cp ra ~ao , R o be rt D es no s,a q uem me lig atla p ro fu nd o a fe etQ " n ao fa la nd o ja demilhentos gQSt'o~ co mu ns (n a,:,a *n plf, n a, a rte in fa n-t il ,. no s ob je ct 6s e m v,id'rQ,;no:s'pbstQ:is ilustrados daBelle Epoque, ..).. 'R ec~ b'~ ra ' q e D esn os u m a uten -tico S.O .S:: Artau d, cqntinu a~ ente excita do , p as-sa va l,o ng os p er Jo do sn ,q ~'p avil~ (iQ d os fu rio so s" d a, 1,1 l'l"'f:1 )I{ , 1 , ' " , \Vil le- Evr(lrd;m~ito .rn:al"f l l. i~e~ta,4,Q,Mrtando-secada

    vez pior, perigosamente magro .... L emb ro q .t fe t u'd oi ss o a co nt ec eu n o s h o rr iv ei s t em pos d o 'r ac io n am en to ,d as sen ha s e d o me rc ad o- ne gr o; d en tr o, d ( ! ) s mani-cqrr i ios) o.$ 'SlGO patas ,ehcontrava7;n~~ePbr as '5tmcliz~r .c on d en a do s a m o rt e p el o n a zi sm :o ; a s c ar e.n r; :ia se rammedonhas e e le s m or riam a os m ilh are s., D ecid im 9s n ao p err:n .itir qu e A rta ud ..rnorresse, e

    \ I" I " 'I! 'I, , 'h ~ II I ,:., , l' ' J . . .jU1 it ar rr o- lo a o : gr up od o s q u e tm.am(i)Sq1tesa'1.w( ",aq u aJ qu er p re o . A vi ~d tn o s a f am il ia do poeta e ~ s s eU sa mig o~ m ais ch eg ad 06 : e nao julgueis que nestaah~w seriam em, numero superior aos, dedos. det ' l t t i a 'tuiiCa, mab; os ' t~ats . ferVOrOS05'a' ,cab.e~a'/Jean..PClulhan , 'Pa~l E l 'uard .'' ,. ' N ao 'f aqo i n te nqao de contz r r a g or a a h is ~6 ri a i ns i-gnificante .de c~mo.JJe~ll1os e ~~ , d ep o .i s d e chegarmosa a m acordo , conseguirn:osrransferi-lo de YiUe-Evrard'para Rodez, e ~t ao "z on c! li vi e" : 5 ub lin 1i d a p en a s q u eo "t'ru qu e" d a esca la em C he za l- Be no it, h os pita lp s iqu ia tr ic o d it o "agr ic o la " , , Je penden te . da PTef ei ~u r ad~Se ine , J ( i) i. prov idenc i. a lmente pos sive l i, porque . < ; U ,p r6 prio tin ha sid o d irecto r d in ico d esse ,esta beled -m ento ate as m inha s o pqo es sind iw is terem d ad o a zo(l"qU'e0 governo de ,Pet.(1inme expulsasse; .conservei,'~ntTe~anto,exr:elentesrelaqdesT!O.MinistenO' do Interior

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    29/37

    e D esno s fo i igu alm ente incan sa vd ju nto d eles; tinh ala a lguns am igos que nos foram m uito u teis, poss ibi-lita nd o a s n os sa s d ilig en cia s:

    'Ju nto a e ste re la t6 rio u ma ca tta en via da p or D esn os;sem : d ata,o ca rim bo mo so biescrito in dica 26-1-43:

    , I"M eu c aro F erd ie re ,F ui qu in ta- fe ira ,a , V i lle ,-E vra rd , A rta ud d ev ia pa rtir

    \10 d i a , s eg u in , te r sexta , 22. p ei,S ,2 m e le em p le na d el ir ia ,convencido que era Sao Jer6n im o, jli nao querendo sa irda li p orq ue e sta va m a d fa sta -l0 d d s fb r~ as m lig ic as q ue ain flu en cia va m. N aG ' a v ia ha cinco anos, a sua exalta~aoe a lo uc ura f!D ra m p ara m im uJfl e sp ec tlic ulo p en os o. P er -sua di a m ae d ele a n ao d ar ,o uv id os ao se l.{ disc urso e a d ei-

    , '! '" I I. I,xa -i v ir com igo, po is tenho a certeza que esta rd m elhorjunto de si. M as a lhe , quer pa1jecer c rne que ele estli b ema ga rra do ao s se us pr6 prio s fa ntas rha s. e d i/icil d e c ura r["')'\ "

    Artaud itaceitamerae c on sid e, ra r- me u m p er se cu to r!I I ',, "~ I, I 'i', " r' '

    Desnos"Nao dira esta carta tUQ@ 'em poucas linhas?

    A le m d a u ltin :w fr as e,q ue eu ~n ~r :e go a medi tar;;aodo s me us dela to res . '

    N ao e aqu i 0 s it io p a r a d i ~c u~ ir 'c is p ec to s do diag-tio stico d o. p s ico se d e A rta ud : B efN .~~ ei'q ua o va lid a e

    a acusaqao de verborre ia que pes a sobre os psiqu ia-tra s - ja ,para nao fala r da sua velha man ia de porr6tulos em tudo . Nos tem ios de u ma so cieda de dita"cientifica" pergun tar-m e-eita lvez um dia qual aestrut.ura do d elirio aq ui m en cion ado (p ara no ica ,p a ra n oi de , p a ra fr en ic a? ) e investigarei s e sera p o s -s ivel associa -lo a um processo esqu izofren ico (javiram os traqos "esquiz6ides '; na Correspondanceavec Jacques Rivierell:'

    Tudo 0 que eu pretendo a firm ar por agora e que'havia deltrio, delirio cr6nico, e que esse deliriopunha Artaud violentamente anti-social, perigosopara a ordern publica e para a seguranca das pes-soas. V olu nta ria m en te r ep ito os lu gares co mu ns da le ie d o hab ito , 'que a sociedade chamou a si para suad ef es a p r6 p ri a, e l eg it im a d ef es a.

    A pedido de Bou jut, acrescen to um exemp lo ti-P ica d a co nfu sa o m en ta l de A rta ud , a dedicat6 ria d asNouvelles Revelations de l'Etre a o F uh rer . (In utild izer que esse vo lum e am arelo editado pe la D enoe ln un ca c he go u a o d es tin ata rio .) De p a ss ag em , p o de m osv erific ar o s la ps os de m em6ria (em Artaud tao [ re-quentes , d~ pa r co rn o s r ec on he cim en to s ilu s6 rio s),a s id eia s m is tic as, a g lo ss ola lia , etc ...

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    30/37

    "/oR,-)(~.III

    , "A Adolfo HITLER, 'como ' :re t;orqaqtiode u tna ,ta rd e d e B eT lit n 1 ; 1 0Ca fe R oman ic h esern Maio de 1932 ., "

    ,,1:',

    e ~orque eu peco a .DeusI) ,

    qu e th e conceda a, graqa I'de s/iem hrar .I'd ' d " ,,,' i ', e to as as m a r a v i lH . a ' s, corn q u e n e ss e d ic z, 'E tE

    lh e GRATIF'I 80U .1" t. i(RES$US}TOU), ' ',,i. '. Q ~q~A~AOKud ,a r d a yr o Za r! sh ! \~ kk ar aThabi I I

    ,AsI 'ccntvic90esrel igiosas d e Artaudvariavam outodas'as sem dnas ou t o do 'S 'os :d ias . Dab voritade deri r d i q u e d outa men te g asta m te mp o' a d isco rrer sG breisso . .Antes d~pegarem r t a ca'r\.~ta a'arquitectai 'teses,,m ais tla lia in fo rm are m~ se iitn to do c ap ela o de RQdez:o po bre ,h om em tJ .un ca sou be se e nc orltt(1 ria 0 poetare co lh id o.n as,sttas o -raq Qes, ou s~ seria in sultad o no sc~ r re .do r e s do es ta ,be l ec imen t o. E no e nta nto A rta udteve . s e rnpre .a .m inha Im ulher: na contade um a Santade Miti lene e , I i ! 's en ha ra L atre mo lie re , e sp osa do meuin te rn o, n um d ,p osse ssa do dem 6nio' ~ a lias, 'com o, a 'm a~ or ia d as 'm ulh er es , ~ qu e'e le de passagem exor - .ciza~a a [ orca com f~ngaderas, espirros e esccrros.

    r ' I ' I ~ t I " ' , I ' !An to ,ni n 'A rt aud3 D e ' .( :e r ri M o ' 1 ' 9 4 3 ' " \ . I,

    1,1 \1

    I'

    i' ""I

    '\'

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    31/37

    A in da u m p eq ue no d eta lh iO , im po rta nte p ara r es sa l-var um erro basto prppagado:

    Artaud nao fbi internado como toxicornano.C om 'c er t~ za ,c om 6 t an tQ s o utr os . a stis ta s. e surrea-

    lista s, u sou drog& s ocasiona lm en te. M as nao tinhaq u ai sq u er i nd ic io s de tox icomania; 0 t ip o c li n ic o do se ud elirio n un ca s ug er iu to xico ma nia . De resto nunc ad ete cte i n ele q ua lq ue r s in dr om e de a bs tin en cia , ta o c a-r a ct er is ti co p a r a os que 0 v i r :am an t e ri o rmen te . E depoistan to eu como os meus uuetuos enganc ivamo-lo comfac i l idade: , &05 se us h ab iu uu s p ed id os de c od ein a, d ci-v am o s -l he a rn o st ra s de codofo rme , q uese iv ia m p aralhe acalm ara tosse de fUrhadar ' (e fu m dd or ig no ra nted a e xi st en ci a de rac iona1;nento do tabaco!) .

    M ed in do b em 0 a lca nc e d as p ala vr as, q ue ro a cr es -cen ta r um a co isa :

    A firm o que Artaud se tornou verdadeiro toxi-c6mano devido aos amigos da ultima hora, unsa m ig os -n ov os e ntr e os q ua is re alm en te g ra ss av a a to xi-c oman ia . Fomm e le s q ue a p~ es sa ra m 0 se u fim coma lta s d os es de lc iu da no . Sem essd la stim cive l in ter-v en qa o, s em a b en ev ole nc ia com que 0 r od ea ra m , e sta -r iamos no direito de p en sa r q ue A rta ud n os ter ia leg ad ouma obra muito m a is vasta ... e de condenc i - los .

    E eu de facto nao "curei" Antonin Artaud, porser e le verd ad eiram en te in cu rcive l com os recurs osa ctu ais d a .tera p~ utica p siq uic itr ica . P or 'o utrO la donao ve jo ,~ uito bem , .an te este s e r tC ioe J coepci on ( ll , 0e xa cto s en tid o de palavras como "cura" ou "saudem en ta l" ! M as pe lo m enos devolvi Art,aud a socie-dade a 25 de Maio de 1946.E mais - a ten te -se n is to - HzArtaud retomar acriacao artlstica e poetica.

    S im , s in to -m e no direito de afirmci-lo ,com toda aseren id ade 'esem fa lsa m od estia: n ao fo ;([ elf, Artaude sta ria m o ;to n a e ste rili da de e no m ar asm o;s em m im ,a s fa m os as lettres de Rodez e 0Van Gogh nunc l lte ria m vis to luz!

    E como e q ue fiz p ara o bter tal resu lta do ?Nisto s6 te rei que pres ta r con tas aos m eus co le-

    g a s p s iq u ia t ra s , e a mais n inguem - e s6 se a lgumav ez a ch ar o po rtu no .

    E v ita rei po is ter aqu i um a discussao acerca dov alo r d a s is mo te ra pia e 0 ev en tu al p ap el 'd e a lg um asses soes de e lec trodwques no ca se A rta ud . V ejo -m e,c~ ntu do , o brig ad o a m eter 0 ferro onde n inguem a tehoje se atreveu: os e le ctr oc ho qu es s ao r ig or os am en tein do lo re s _ co ntr aria nd o a fir ma qo es de rep6rteres e

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    32/37

    r atn a! L~ is ta s, c ar ry m a ni as . S am e 1\te a pcprdar pedeacampanhanse de m anifesta~or3 sde ' ansiedade np re ~is a'm a 7l 1{ mta q a to ;n ~d a 'd ec an ~c t n, ci a, e d o. ; e f d ~z er d a p e rs an a li da d e; ans ' i a passag 'e i ra tida p , ., ,," ar muuos(;Orna U 1 \ L fe.n6m enQ favard:velj ~ [o i s6 disso 'queA rta ud ~ e m te rin ~s" V~ tm e,m ~,s, se queixou durante acanferencia 7 1 . 0 Vieux-(!;alom bier, aterrorizanda apublica, : . ' qu~fez,c;arrer t~nta' tin ta' " '

    / " " " ,FU i, a i ~d a a c us ad a ' 4 0 erfJprkga"do s 'electrochpques',ca 1 71ap um qa a. E sta-se m esm d ave r:" S h A ' , ,~ en or itaud; r ~ ~ , ~ 1 J . c i e' rn -a g ia , s e na o p re g ocons/go ., nos e~ectrachaques!" " ,I I " ,'/,Ou erJ,tilo-' ' ,

    I"J I" I ""111 l II:,I'! 'I I ,I" I \" S I- ,enhar 1rtc:~d , oseu q/tirn,apae:ma e incom -preens(v~ l! lisoreva, com darza, faqa poesia camotoda a gente' ," ' I 'b " ' . ' " "" , , a~, veto-m e a, rigado q .,rewmeqar ase l eo t ro c ~aques !",' ,' " ,I,'

    ,ls t~ e i" (w ud it~ e r rtu ito ~s t4 Pid a!.',1 '" , "C ?u ,e,ele 'se tenha jun to a, ~?rispt~ para [arer fe

    num a tal',lenda, suplantaa' ima~if1:6,vd; quem m ec on be ce , e v i~ lid c; t'\, ca m d oe nt e's fiz, t r, q qa .

    III' A lem de as eleo troch,oques s6 PO ,P S i, 'n ,uma t al p si -62 ~ Icase, pa l1 -ca , ad ia n ~a r: eT /1 ,. ,S o bm t u~ a se :" e. 1J n a a h o u-v esse tra ~a do s em pre A nta ni A r~ alfk 1't;o m a s m aio re s

    I , j, I

    cansideraqaa e hum anfdade. NAo ERA, AFINALA DIGN IDADE HUM ANA 0 Q L J E DEV tAMOSDEVOL VER. A ESTE ,INTERNA DO DE LON -"1 IGA DA TA ; a a fu n da r- se tui-rotitui d as a sil as e da scdrceres?, "

    Na, m anha da sua chegada aa hasp ita l, 'aa sait. de lambullncia qu e 0 trou~t; I~ a c pr ry .b a, iQ ; ,u a gu ar dfl va -q ,de b ra qo s a be rta s. A ga rr ~u -'s e a m im 'ju lg ~n da encon-trsr um velho amigo, cO ,1 11 ae n as c pn he ce ~s er n. as ~ d I

    , quinze au vitue anas, c itanda m eia ,duzia d y amigos,com uns c~jas nam es eu descanhecia, nllm a ladai;rl~a'dKf al sa s 'r e 'cp rdd i ;od , q !A:e ,ev ,i te i em ,e r ida r. Con te i -, lh~d esd e lag o a m eu proje cta de a r ep ar " em lib er da de , d e0' devol1Jer a v :id (xp rr i~ ie ~s e, a a m u ndO 'd as a ri es e da sletras, e pu-'la de se guida a c om er a mesma mesa quel' ': \' I ')! II I I ,I.eM . A m in ha m u,lh er r e v e e ,n tiia n ata ve l m etito : tr fl.n -'

    b e m a ~calheunos b~aqasl perm itinda que esse ser dea sp ec to 'r ep ug na nte a , b e ija ss e. Bern d i/ ie il e p a~ aum ad ~n a-A e-~ aS (l te r u rn h 6sp ed ~ q ue serve tuuiosametueas a litnen tas, as esm igalha $obre a cobe;ta darl},qa,

    \1 , ,,arrata alta, esc arra pa ra 0 chao e se djoelha durante '' " " I'as iefe iqoes, a en toar salmas. T inha que a acalmar

    c~nstan tem 'ente, ddr:da-Ih~ um pequeno. punhal cam ,em butida s, d aq ue les qu e seco mp ra m nos b azar~ s deI I ~ \ I I I IT ale do , q ue e nc an tr ei no . m eio da s coisa s de le.

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    33/37

    'as resultados por mim obtidos e qu e tetiam dei-x ad o e stu pe fa cto , e nc an ta do , p p ob re D e sn os .s e t iv es sep o d id o v e- lo s, fo ram em g rande pa rt e d e vi do s .a Ante--terapia. Fui , como sabem , um dos pioneiros dessem e to do c uja s r eg ra s e sta be le ci em g ra nd e n um e ro dereunioes e congressos.

    A mao de Artaud teve que reaprender a escri-ta,graqas a co rr espond en c ia com o s amig os , c ad a v ezm ais " as sid ua ' (e ao principio era precis~ [orca-u: auma respo~ta, m esm o breve e carregada de frases[ eii as i, g ra qa s s ob r~ tu do d , s traduqoes que eu am i-g av e/m en te lh e pe dia: um fav or p esso al e com carac-te r de urgencia; adaptaqoes de poem as de LewisC2ar ro ll o u de capi tu lo s i ti te ii os de Through theLooking Glass, qu e me [ ar ia sr : f alt an es te o u n aq ue -Ie t raba lho em curse. E assim 'foi q ue, c erto d ia , semo se u coniiecimenu), enviei Le B ~ . b e d e Feu de South-w ell a Pierre Seghers, e v olv id t;J s a lg un s m es es , n arobe 44, Artaud p6de ver a ~ u ao br a imp re ss a p re -to no b ra nc o: tinh am pa ss a do m uitos an os so mb rio se ' de s i lenc io ; [o i e no rm .e a .s ua a le gr ia ; v i-Ih e 0 bti-lh o nos o lh os ; r ele u os vers os co m u ma sa tisfa qilopo uco dissim ula da; a p artid a p arecia ga nh a.

    S il o g ent e de bem os qu e me acusam de t er i nv ia -

    b iliz ad o a p ub lic aq ilo d as o br as de ATtaud durante apermanencia 'em Rodez: eles .quepeqam opiniilo aP ie rre S eg he rs, a M arc .B arbe zat, p ro prietar io deL 'Arbalete, ou a M arcel Bealu.

    E Seghers, como B arb eza t ou B ea lu ta mbe m p od e-itio i nfo rm a -I os s ob re 0 m eu p rofu nd o r esp eito pe la sobras poeticas - todos recordam bem a fabula vindaa lume na Revue K: 0 p siq uia tr a " co rr ig e" a p ~e -si a Ide A rta ud , ten ta ndo im po r-Ih e g osto s e canonespr6prios. . . ,. .A i! 56 v os p eq oq ue nao deixem os vendedoresde papel "brincar com a poesia"! .

    Porque foi a um autentico vendedor de papelchamado Henri Parisot que por telegram a proibi apubl ic a qi lo da s Lettres de Rodez. E sen ti-m e n ilo 5 6no direito como na ob ri gaq il o de 0 faze r: a lei de 1838tem 0 s eu me ri to , em p ar tic ul ar p or te r p re vis to d ef en -de r os bens dos a lien ado s so b a su a alqa da e de lhesconc ed e r, a pa rt ir do i nt em ame nt o, um " adm in is tr ad orde bens dos a l ienados n i lo in terd it o s" . As m in ha s d es -culpas por descer a estes porm enores, m as silo indis-pensaveis. Em 1946, 0 "administrador de bens dosa li en ado s n il o i nt erd it os " do hospi ta l p s iqu ia t ri co deRodez era 0 Mestre Periquoi. Se a in da fo sse v ivo ,

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    34/37

    " I

    t es tem ur th ar ~a a s l an ga s converszs qu e tivetnos pa rcausa da even tu (1 lpub li r :: a ,~ao ' ' das1 ,e t tres ,de,~ode;::e d decis '&a que jU,lg4m'o$,dever, to ,mar, ',nc) irt' tu i ta i'~~~pro teger bs 'i n te ress .es f inancerrosde ' A n t Q r i 4 'r l Ar:taud.C o nt il r. ia tam bem ,~ ue n en hum c on tr dt (') ,d e, ~d ;~ aQ lh e[oi \1presentado, cantrato que s6 ,e/e estavC l 'emcondi~oes d e assuuit pelo nos s o daente.

    I, ',

    'r I

    I ,

    Tambern a mao de Artaud: teve que reapren-der.a desenhar. ,, Ar rG tn jo .t na s- lh e to dq a e sp e~ ie e 16,pise 'p dpd de,

    , vo .1 -i os [ o rma to s : Era so 'b r et ud9 i in p er ia s iQ , l e va -l o' afq ze r r is cd s. De 'ir iic i6 a s u a unpe v ic ia e 'r a impre ss io -, n a nte ,in fa :n til.; d ep ois a dq uir iu u ma s eg ur an ca c ad ave z maior e a s p ro dig io s m u ltip lic ar am -s e, g ra ~a s aminha insisteiicia e d e D ela ng la de. T in ha a h o.b ita d erasg ar tudo; salvei a tem po 0 a ut a- re tr ata j un ta [ o O ] :f iz"lhe uer, s in c eramen te ,' a rh .e u i nt er e ss e 'n e le ; r e fl ec -

    \ 'i,l

    r,\ I

    '\ ,

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    35/37

    , , 'A s afd a de A rta ud c lem oro u b asta nt~ a ,p rep ar(1 r.Eu queiia q ue s e p ro (: :e ss aF e e m 6 ptir n( is co nd iq oe sm aS"a ntes ..d e o pro po r a s' a uto rid ad es a d7 J1 in is tr a,tiva s, e ra p rec iso teunit c erto n um erQ .d e g ara ntia ~:A e xp etie nc ia v eio d en w ns tr ar q ue afin al nao , J ui s uf i,~c ie tuemetue severo e" a la myn ta rp lg o, se ra ,d e.fa ct,on es ta m a ie ti a. . I', ,

    A q u es ta o , f in a nc ;e ir (1 r ,e so lv eu -s e , nt fm a t ar qe noTeatro Sa ta Bew hard t, que rendeu para c irr;tade, , 1 1 mmi(hao.j\Jao e sitio para agradecer aq,uan tos con -,t r ibuiram, com a s ua p re se r: tq a o ,u o fe re ce rJ .d o o br asp ar a le i/a o, e tc ... 0m eu reco nh ec im ento pesso al va ipara Jean DUD uffe t que aceitou 0 d ific il c ar go d etesoureito: Ja a nos a ntes eu tive t'a a op ortun ida de de, , ,aprec iar o s se us d otes d e espirito , e c o r( 1gao , d u r an t eumavis ita que com sua mulher fizeram a Artaud., ,

    E ra p recis o vestii co nve,nientem en te A rta ud ...E stou a cair em d eta lh es in uteis; m as ,e 5 6 para te re rnid eia d as 'm u ltip la s p re oc 11 pa go es de entao.

    E xigi ta mb em qu e, a chegada a Paris, Artaud fos-s e in sta la do ' n um a c lin ic a p riv ad a: d e m od o a a li m en -t ar -s e r eg u la rm e nt e, e nao ficar abandonadoa sime smo , e a h a bi to s d e a s se io d u v idC J so . .. En c ont ro u - seum anjo da guarda . Nao exac tamente 0 que eu so,nhava. M as seria ma-von tade m inha insistir . [ ... J

    Ate agora ainda nao dissepa lavra sobre a familiade Attaud, fam ilia que , es,tup idam ente ou espiri:tu alm en te u m d ia cen surei cla ssifica ndo -a de "p6s-t I ,

    tuma".Nao o s c en su re i.p o r n u tl ca 0 re rem atafulhado de

    m antim entos: e les sa~ iam 'que nao lite fa ltava nada ,alem d e viverem em P~ r is ~ op ~ .OC11pag c iQ .C en s ur a -va -os por nao m e te re rn 'a ju da do , a ' e n co ntr ar r ou pa spa ra A rta ud q ua rid ? fo i p ?ssi~ eI d eixa -l~ p assearcselivrem ente Pdr Rodez.Q uero crer que nesses 3 anose 3 rneses , s ob ,r etu db a il'm q , d ev er i( l,' te r, tid o te mp oe oportunidade d e 'v is~ ta -Io . . . , . , ,, A cu so "~ ob re m(1 ne ird a fa milia Art~ ud de haversubest i rn"ado em vida a o br ad ele , e ig no ra do essegenio. Compreende-s~ em r igor como osentido da ,(~ pa la vr a" q u~ 'e ito c on tin ua v alid o.

    , ' I[ . . . J "I~

    Nota

    [* J Reproduzido na edicao portuguesa de Para Acabar de VezCom a }uizo de Deus (& etc; 19?5) e sobre a capa da edicaode Os Tarahumaras (Relogio d'Agua, 1985), pintalgado nes-ta ao gosto da frequencia in,telectual do Bairro Alto. (Ndt)

  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    36/37

    tftu1los recentes, ,I I ,' I ! I

    il 1'TA N OrTE D OS ,E SPE LH GS

    M OD ELOS E D ESY IO S N A PO ESIA I?,E A L B ERTO, I

    Manuel de Freitase q )> a ' d e L u is Ma~u e' l G ~ sp a r

    , " '!T EPIT ROD:4 t,d OR NUQ;:0 P] f\ir 'll ' I' ",A S RE GRA S DO JO GO

    Carlos Alberto Machado, t ap a d e ted

    !"\

    , ,A NT OGOO 1A D E F OE SIA P (i)R TU QU ESA, ,I I ER6TICA ',E 'SATIRICA ,'I" ,,:' , " ,seleEqllo"prefacio e notastle Natal ia Correia

    , em co-eiucao e~m as Edi c;6e s AntigonaUMA B AR DA ME RD A D E E DI< :,::A o '

    BR EVE COMENTAI \I O SO/3 ,R E ,l !ML iE J EC TO, I, AP~I\~CIDp~\~SLIYRP;R,I~S, ;, I'Trerresi'/'Padlo da Costa Domingos

    1/1

    M ARCA S DE BA TONUM A HIST6RIA SECRE TA DO SECULO YIN TEGreil Marcus

    l radUl;aode .Helder I v ! : ? " r q P e re i ra . ', 'ca P 'a , de ile([ ' ,

    JUDICEARIASo A LB UM D OS G L6 RIA SPaulo da Costa Domingos, , ,

    TIA.,Z.I"' H a k i m B ~ Y/ ,'1 :','-', ' ,I r. I't ra d u, ao d e Jorge P. Pires

    " '

    em plena noite au a b luf f s u rr ea li s ta , deantonin artaud (a la g ra nd n uit au Ie bluffsum!a l i s t e ; lettre a mons ieu r I e l egi s la t eu r de la, lo i s u r l es s tu p ef tam s; s ur I e s u ic id e ; e j 'a i s o igne~nto)1in artaud, de gaston ferdieref , doutor),teve escolha, t raducao, prologo, capa (sobreforo de Emanuel Santos de Almeida) edes ign de paulo da cos ta domingos. proces-sarnento do texto e assi st encia edi toria l de. te lrna rodrigues. foromecanica textype .mil exemplares impresses du ran te 0 mes ,d e fever~iro do -arlO dois mil na iag , artesgraficas , ld .". dep6s ito lega l n.? 1 '47739/00

    (1.' edicao: & etc , 1988)

    apartado 502581707 - 001 lisboa

    portugale-mail: h:[email protected]

    t e le rn .: 91 , 9746089

    mailto:h:[email protected]:h:[email protected]
  • 5/9/2018 ARTAUD, Antonin. Em Plena Noite Ou O Bluff Surrealista

    37/37