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Propriedade Fundador Director Editor Co-editor Conselho Editorial Endereço / Address Publicidade Apoios Design Gráfico e Paginação Pré-impressão e Impressão Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias NIPC - 501 334 327 João Viegas Paula Nogueira Ana Cristina Lobo Vilela Yolanda Vaz José Alexandre Leitão José Robalo Silva José Oom Vale Henriques Luís Anjos Ferreira Telmo Pina Nunes FMV Pólo Universitário do Alto da Ajuda Av. da Universidade Técnica 1300-477 Lisboa Tel: +351 213580222, Fax: +351 213580221 Email: [email protected] Internet: http://www.fmv.utl.pt/spcv/ Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Técnica de Lisboa Maria José Beldock Sersilito – Empresa Gráfica, Lda. Lisboa Ano 111º Vol. CVII Nº 581-582 pp 1 - 128 Jan - Jun 2012 Publicação Semestral Tiragem 1000 exemplares Preço 25,00 Euro A Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias foi fundada em 1902 É permitida a reprodução do conteúdo desta revista The reproduction of the contents of this publication is permitted Desejamos estabelecer permutas com outras publicações We wish to establish exchange with other publications Os trabalhos submetidos para publicação são analisados por especialistas Papers submitted for publication are peer reviewed REVISTA PORTUGUESA CIÊNCIAS VETERINÁRIAS DE

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João Viegas Paula Nogueira

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FMV Pólo Universitário do Alto da Ajuda Av. da Universidade Técnica1300-477 LisboaTel: +351 213580222, Fax: +351 213580221Email: [email protected]: http://www.fmv.utl.pt/spcv/

Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias

Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Técnica de Lisboa

Maria José Beldock

Sersilito – Empresa Gráfica, Lda.

Lisboa • Ano 111º • Vol. CVII • Nº 581-582 • pp 1 - 128 • Jan - Jun 2012

Publicação SemestralTiragem 1000 exemplaresPreço 25,00 Euro

A Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias foi fundada em 1902

É permitida a reprodução do conteúdo desta revistaThe reproduction of the contents of this publication is permitted

Desejamos estabelecer permutas com outras publicaçõesWe wish to establish exchange with other publications

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R E V I S T A P O R T U G U E S A

CIÊNCIAS VETERINÁRIASDE

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Índice

Artigos de revisão

Interações entre animais e plantas e a sua importância para o consumo de forragem Interactions between animals and plants and their importance to forage intakeLaís Ribeiro, Marina G.B. Silva, Paulo R.L. Meirelles, Sérgio R. Fernandes, Thiago A. Cruz,Ciniro Costa, Francielli A. Cavassano, Luciana H. Kowalski

Aditivos fitogênicos na nutrição animal: Panax ginsengPhytogenic additives in animal nutrition: Panax ginsengAiane A.S. Catalan, Edenilse Gopinger, Débora C.N. Lopes, Fernanda M. Gonçalves,Aline A.P. Roll, Eduardo G. Xavier, Valdir S. Avila, Victor F.B. Roll

Urethral sphincter mechanism incompetence in male dogs – reviewIncompetência do mecanismo do esfíncter uretral em cães machos – revisãoIslene A.L. Verde, Leandro Z. Crivellenti

Abordagem cirúrgica intra-capsular para correção de rotura de ligamento cruzado cranial em animais de companhiaSurgical intra capsular approach for correction of cranial cruciate ligament rupture in small animalsManuela A. Drago, Mariana A. Drago, Patricia M.C. Freitas

Memórias científicas originais

Estudo do comportamento de variáveis hemodinâmicas (freqüência cardíaca, pressão arterial médiae temperatura corporal) e bioquímicas séricas (glicose e lactato desidrogenase total) em cães submetidos a oxigenação extracorpórea por membrana (ECMO)Behavior study of hemodynamic variables (heart rate, mean arterial pressure and body temperature)and serum biochemistry (glucose and total lactate dehydrogenase) in dogs undergoing extracorporeal membrane oxygenation (ECMO)Felipp da Silveira Ferreira, Lara Lages da Silveira, Alessandra Castello da Costa,Millena Vidal de Freitas, Antonio Peixoto Albernaz, Claudio Baptista de Carvalho,André Lacerda de Abreu Oliveira

Perfil leucocitário e eficácia clínica da enrofloxacina (fórmula BAIK9) em dose única no tratamento de cães com gastroenterite por ParvovirusLeukocyte profile and clinical efficacy of enrofloxacin (BAIK9 formula) in a single dose in the treatment of dogs with Parvovirus gastroenteritisRodrigo S. Mendes, Almir P. Souza, Leonardo M. Torres, Rosangela M.N. Silva,Alinne Káttia F.P. Dantas, Olivia M.M. Borges

Ramificações principais da artéria gástrica esquerda no gato doméstico Main ramifications of the left gastric artery in the domestic catBárbara Xavier-Silva, Górdio Cavalcante Marinho, Luciano da Silva Alonso,Marcelo Abidu-Figueiredo

Desmame precoce e a suplementação com alimentos concentrados de cordeiros e seu efeito sobreas características morfológicas da pastagem e o consumo de forragemEarly weaning of lambs and concentrate supplementation and its effect on morphological characteristics of the pasture and forage intakeMarina G.B. Silva, Alda L.G. Monteiro, Sérgio R. Fernandes,Cláudio J.A. Silva,Thiago A. Cruz, Jordana A. Salgado, Luciana H. Kowalski, Ciniro Costa

Influência da retirada total ou parcial da crista sobre o status reprodutivo de machos avícolas tipo corteInfluence of total or partial withdrawal of the crest on the reproductive status of broiler malesAlexandre P. Rosa, Catarina Stefanello, Roberto Ferrufino

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Uso de farinhas de origem animal na alimentação de frangos de corteUse of animal meal in broilers feedCarolina M.C. Carvalho, Evandro A. Fernandes, Alexssandre P. Carvalho, Renata M. Caires,Nadia S. Fagundes

Evolution of fatty acid profile and Condition Index in mollusc bivalves submitted to different depuration periods Avaliação do perfil de ácidos gordos e do Índice de Condição em moluscos bivalves submetidos a diferentes períodos de depuraçãoFrancisco Ruano, Paula Ramos, Mário Quaresma, Narcisa Bandarra, Isabel Pereira da Fonseca

Adição de fitase em rações para tilápia-do-NiloAdding phytase in ration for Nile tilapiaKaren D.M. Melo, Felipe S. Aiura, Antonio J.A. Tessitore, Auriclécia L.O. Aiura,Mônica P. Maciel, Cláudio L.C. Arouca

Portuguese beef market – potential for differentiated products O sector de carne de bovino em Portugal: potencial para produtos diferenciadosInês Viegas, José Lima Santos, Magda Aguiar Fontes

Casos clínicos

Metastatic malignant pilomatricoma with bone and lung metastasis in a Portuguese Water DogPilomatricoma maligno metastizante com metastização óssea e pulmonar num Cão de Água PortuguêsRute M. Noiva, Fabíola B. Costa, Rafael Pratas, Maria C. Peleteiro

Tratamento fisioterapêutico em equino com deslocamento de vértebras cervicais secundário a traumatismo: relato de casoPhysical therapy of horse with dislocation of cervical vertebra after trauma: case reportErica C.B.P. Guirro, Ayrton R. Hilgert, Camila C. Martin

Acidente com anzol de pesca em Garça-branca-grande (Ardea alba, Linnaeus - 1758) na região deCampos dos Goytacazes/RJ – Relato de casoFish hook accident in Great White Egret (Ardea alba, Linnaeus - 1758) in the region of Campos dosGoytacazes/RJ – Case reportLuiz A. Eckhardt, Melissa P. Petrucci, Fábio F. Queiroz, Anna Paula M. Carvalho,Diego R. Oliveira, Carlos Eurico P.F. Travassos, Leonardo S. Silveira, Olney Vieira-da-Motta

Comunicações breves

Primeiro registo de ocorrência de proglotes de Raillietina tetragona (Cestoda: Davaineidae) em albúmen de ovos de galinhas (Gallus gallus)First report of the occurrence of Raillietina tetragona proglottids (Cestoda: Davaineidae) in egg albumen of chickens (Gallus gallus)Vitor D. Melotti, Anderson S. Dias, Gester B. Aguiar, Roberto R. Sobreira, Diego H. Serrano,Guilherme O. Sanglard

Sarcocystis spp. in nine-banded armadillos (Dasypus novemcinctus) from BrazilSarcocystis spp. em tatus de nove bandas (Dasypus novemcinctus) do BrasilJoão M.A.P. Antunes, Fausto E.L. Pereira, Larissa de C. Demoner, Isabella V.F. Martins,Marcos S. Zanini, Patrícia Deps

Resistência do carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus frente ao amitraz e cipermetrina emrebanhos bovinos no Rio Grande do Sul de 2005 a 2011Amitraz and cypermethrin resistant ticks Rhipicephalus (Boophilus) microplus in cattle herds locatedin Rio Grande do Sul from 2005 to 2011Fernanda C.C. Santos, Fernanda S.F. Vogel

Suplemento

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ARTIGO DE REVISÃO

Interações entre animais e plantas e a sua importância para o consumo deforragem

Interactions between animals and plants and their importance to forageintake

Laís Ribeiro1, Marina G. B. Silva2, Paulo R. L. Meirelles3, Sérgio R. Fernandes4, Thiago A. Cruz5,Ciniro Costa3, Francielli A. Cavassano2, Luciana H. Kowalski6

1Universidade Estadual Paulista, Graduanda em Zootecnia, Unesp/Botucatu, São Paulo, Brasil2Universidade Estadual Paulista, Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, Unesp/Botucatu, São Paulo, Brasil

3Universidade Estadual Paulista, Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal, Unesp/Botucatu, São Paulo, Brasil4Universidade Federal do Paraná, Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, Curitiba, Paraná, Brasil5Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciências Agrárias, Graduando em Zootecnia, Curitiba, Paraná, Brasil

6Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciências Agrárias, Graduando em Medicina Veterinária, Curitiba, Paraná, Brasil

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Resumo: O planejamento de uma atividade pecuária baseadaem pastagens implica em conhecer o padrão de distribuição damassa de forragem ao longo da estação de crescimento, estimara produtividade de forragem esperada e definir a carga animalem função dos ganhos individuais de peso projetados para cadacategoria. Para tanto, o objetivo desta revisão foi avaliar o usoda pastagem, sua distribuição e forma de crescimento ao longoda estação para análise no consumo e desempenho de ovinos. Autilização de forrageiras como fonte primária de energia nadieta de ruminantes apresenta grandes vantagens econômicaspara o desenvolvimento da ovinocultura, entretanto, sãonecessários a escolha correta da forrageira, o conhecimento doquanto a forrageira atende as exigências dos animais e o corretomanejo das pastagens. O principal problema do manejador depastagem é conciliar uma taxa de lotação que resulte em altodesempenho por animal com uma que resulte em melhordesempenho por unidade de área, buscando assim, alternativasque visem melhorar o aporte nutricional dos cordeiros. Em sis-temas de produção de ovinos, o uso de suplementos concentra-dos tem um impacto limitado no crescimento de cordeiras porocasião do desmame. Ainda, a estrutura espacial do relvado temgrande influência no comportamento de pastejo dos animais,com efeitos claros da altura das pastagens. O animal quandosubmetido a sistemas de terminação em pastagem, depara-secom um ambiente onde necessita realizar uma série de decisõesvisando otimizar a atividade de pastejo. Entretanto, qualqueralteração causada neste ambiente, seja pela capacidade desfolhados animais, que difere conforme a categoria animal, ou entãopela adição de um novo componente, no caso a suplementação,irá obrigá-lo a reajustar suas ações alimentares.

Summary: Planning a pasture-based ranching involves knowing the distribution pattern of herbage mass throughout thegrowing season to estimate the expected forage productivity andset the stocking depending on the individual gains weightdesigned for each category. Therefore, the objective of thisreview was to evaluate the use of pasture distribution andgrowth form throughout the season to analyze consumption andperformance of sheep. The use of forage as the primary source

of energy in the diet of ruminants has major economic advan-tages for the development of sheep breeding, however, are necessary for correct choice of the grass, the knowledge of howthe forage meets the requirements of animals and proper pasturemanagement. The main problem of pasture management is toreconcile a stocking rate that results in optimum performanceper animal that results in better performance per unit area, thusseeking alternatives to improve the nutritional intake of thelambs. In sheep production systems, the use of concentratedsupplements have a limited impact on growth of lambs at wean-ing. Still, the spatial structure of the lawn has a great influenceon the behavior of grazing animals, with clear effects of highpastures. The animal when subjected to pasture finishing systems, faced with an environment where they need to performa series of decisions aimed at optimizing the activity of grazing.However, any change in the environment caused either by grazing capacity of animals, which differs depending on the animal category, or by adding a new component, if supplemen-tation will force him to readjust their food stocks.

Introdução

O planejamento de uma atividade pecuária baseadaem pastagens implica em conhecer o padrão de dis-tribuição da massa de forragem ao longo da estação decrescimento, estimar a produtividade de forragemesperada e definir a carga animal em função dos ganhosindividuais de peso projetados para cada categoria(Freitas et al., 2005).

Segundo Hodgson (1990), para a obtenção de umaalta produção animal em pastagens três condiçõesbásicas devem ser atendidas: produção de uma grandequantidade de forragem de bom valor nutritivo,grande proporção da forragem produzida deve ser colhida pelos animais, e elevada eficiência de conver-são dos animais, ou seja, deve haver um equilíbrio harmônico entre três fases do processo de produção:*Correspondência: [email protected]

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crescimento, utilização e conversão.Para Silva Sobrinho (2001), a utilização de for-

rageiras como fonte primária de energia na dieta deruminantes apresenta grandes vantagens econômicaspara o desenvolvimento da ovinocultura, entretanto,são necessários a escolha correta da forrageira, o conhecimento do quanto a forrageira atende asexigências dos animais, o correto manejo das pasta-gens. Neste sentido, a ação de manejo da pastagem,ressalta a necessidade de manter ao mesmo tempo,área foliar fotossintéticamente ativa e permitir queanimais colham grandes quantidades de tecido foliarde alta qualidade (Pedreira et al., 2001), de maneiraque possibilite maximizar a produção forrageira, a eficiência de conversão da forragem produzida, a estabilidade da pastagem, o desempenho animal e aprodução animal por hectare (Gomide e Gomide,2001). Para o sucesso do processo de manejo da planta forrageira, torna-se necessário o conhecimentopelo manejador da dinâmica de crescimento da plantaforrageira em questão.

O principal problema do manejador de pastagem é conciliar uma taxa de lotação que resulte em alto desempenho por animal com uma que resulte emmelhor desempenho por unidade de área. Esta combi-nação não é facilmente encontrada em sistemas deprodução nos quais o desempenho animal diminuiconstantemente com o aumento nas taxas de lotação,uma vez que nestas circunstâncias não é sensato fixartaxas de lotação restritas ao ponto de máximo desem-penho por animal (Hodgson et al., 1994). Entretanto,em sistemas em pastagem, o ganho de peso por animale por área é fortemente influenciado pela disponibili-dade diária de MS e pela capacidade de lotação dospastos (Carnevalli et al., 2001), além da qualidade daforragem e do consumo animal. Neste sentido, nãoexiste um modelo específico de sistema de produção aser adotado para condições particulares, mas sim anecessidade de conhecer os fatores de produção exis-tentes na base física disponível e combiná-los da melhorforma possível, buscando a solução ótima existente(Sbrissia, 2001).

Neste contexto, diversos sistemas de criação decordeiros têm sido propostos. A produção de ovinosem pastagem tem sido foco de estudos na região Suldo País, onde se obtém adequada produção de for-ragem durante praticamente todo o ano com baixocusto (Tonetto et al., 2004). Os sistemas de produçãode ovinos em pastagens têm sido repensados, inclusiveporque pesquisas recentes (Scollan et al., 2005)mostraram resultados positivos das dietas a base deforragens sobre a qualidade nutricional da carne. Osmesmos permitem a obtenção de carne com menorconteúdo de gordura intramuscular e colesterol, melhorrelação entre os ácidos graxos Omega-6:omega-3 e maior concentração de CLA (ácido linoleico conjugado) (Sañudo et al., 1998), características quesão benéficas à saúde humana.

A suplementação alimentar em pastagens

Para que haja um incremento na produção de carneovina, é necessário buscar alternativas que visem melhorar o aporte nutricional dos cordeiros. Portanto,o uso de pastagens cultivadas, a suplementação con-centrada e o confinamento podem ser vistos comoalternativas para a terminação de cordeiros, fazendocom que estes animais atinjam o peso ideal para oabate em menor tempo, proporcionando bons índicesprodutivos e a obtenção de carcaças de melhor quali-dade, que atendam à demanda do consumidor (Jardimet al., 2000).

Os sistemas de produção ovina podem tornar-semais competitivos, produtivos e eficientes em todas ascategorias. Em sitemas de produção em pastagens, énecessário ter o conhecimento sobre as relações entredisponibilidade de forragem, oferta de forragem enível de suplemntação, a fim de otimizar a eficiênciade conversão do suplemento e aumentar a eficiênciaeconômica (Lobato, 2003).

O uso de um suplemento acarreta efeitos sobre oconsumo de matéria seca podem ser aditivos, quandoo consumo de suplemento se agrega ao consumo atualdo animal; substitutivos, quando o consumo de suple-mento diminui o consumo de pastagem, sem melhoraro desempenho do animal; aditivos/substitutivos, quando ocorrem ambos os procedimentos anterior-mente descritos, com substituição do volumoso e melhora do desempenho do animal, e que geralmenteocorre com suplementação energética; aditivos comestímulo, em que o consumo de suplemento estimulanormalmente em alimentos proteicos, pois essesfavorecem a ação dos microrganismos; ou ainda ossubstitutivos com redução, nos quais o consumo deforragem e o desempenho do animal são ambosreduzidos (Oliveira et al., 2007).

Em sistemas de produção de ovinos, o uso de suple-mentos concentrados tem um impacto limitado nocrescimento de cordeiras por ocasião do desmame,mas parece ter um efeito benéfico na manutenção dasreservas corporais das ovelhas (Hodgson, 1990).Segundo esse autor, a resposta da produção de animaisem pastejo com o uso da suplementação parece serinfluenciada pelas características da forragem pasteja-da, pelo tipo de suplemento e o modo como é usado, epelo potencial produtivo dos animais.

A suplementação energética em pastagens pode melhorar o desempenho de ruminantes em pastejo,geralmente a energia é o principal fator limitante para odesempenho desses animais. Com o fornecimento deconcentrado em pastagens cultivadas, geralmente sãoobservadas alterações no comportamento ingestivo dosanimais, no que se refere a tempos de pastejo, rumina-ção e ócio, taxa e massa de bocado, devido às interaçõesexistentes entre planta, animal e suplemento.

Animais suplementados percorrem maiores distân-cias diárias, escolhendo estações de pastejo, do que

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animais não suplementados, mostrando maior seletivi-dade quando comparados com animais exclusiva-mente em pastagem. Frizzo et al. (2003) observaramque a preferência por lâminas foliares de azevémaumenta com o nível de suplementação. SegundoElejalde et al. (2004) níveis de suplemento interferemno teor de fibra de detergente neutro da forragem consumida, evidenciando uma maior seletividade dosanimais quando recebem suplemento.

Ressaltam-se alguns resultados de pesquisa que asuplementação com concentrado pode diminuir otempo de pastejo diurno dos animais (Bremm et al.,2005). Se diminuir o tempo de pastejo, a demanda deenergia para trabalho associado com o pastejo podediminuir também. A alteração no tempo de pastejoassociada com a suplementação depende do horário dasuplementação. Bremm et al. (2005) em estudo doefeito da suplementação energética sobre o tempo depastejo dos animais, observaram uma grande concen-tração de animais em pastejo desde as 12 até as 18:00horas e, nos animais que receberam suplemento, emmenor proporção, houve uma concentração de animaisem pastejo no horário anterior ao fornecimento dosuplemento, realizado diariamente às 14:00 horas.Outros trabalhos indicaram uma pequena variação notempo de pastejo em resposta à suplementação(Delcurto et al., 1990; Minson, 1990).

O tempo de ruminação é influenciado pela naturezada dieta, sendo esperado que alimentos concentradosreduzam o tempo de ruminação. Bürguer et al. (2000)relataram decréscimo linear no tempo de ruminaçãocom aumento no nível de concentrado, sendo atribuídoao decréscimo dos constituintes da parede celular como aumento no teor de amido na dieta.

Quanto ao tempo em outras atividades, Pardo et al.(2003) em observações diurnas de comportamentoanimal observaram que animais não suplementadosdiminuíram o tempo de descanso, enquanto que osanimais que receberam suplementação energética aonível de 1,5% do PV apresentaram maior tempo de descanso. Bremm et al. (2005), no entanto, nãoobservaram diferenças no tempo de ócio de animaissuplementados e não suplementados. Efeitos distintosda suplementação sobre o comportamento ingestivodos animais são encontrados na literatura (Karsly,2001).

A estratégia de suplementação exclusiva paracordeiros (creep feeding) tem mostrado resultados deganho médio de 360 a 390 g/dia no estado de SãoPaulo (Neres et al., 2001; Almeida Jr. et al., 2004).Segundo Sampaio et al. (2002), o creep feeding podese tornar quesito indispensável para encurtar o tempode acabamento dos animais para o abate,além de pro-porcionar significativo descanso da matriz e melhoriadas funções reprodutivas. Entretanto, são escassos ostrabalhos para comparação do uso do creep feedingcom alternativas de produção de cordeiro empastagem na Região Sul do Brasil.

Poli et al. (2008) e Ribeiro et al. (2006), consta-taram que cordeiros em pastejo com suas mães, comou sem suplementação em creep feeding tiveramganho de peso superior comparado com aqueles des-mamados e terminados exclusivamente a pasto. Essesdados comprovam que a interação social mãe-filhomostrou-se fato relevante no sistema de produção decordeiros. Silva et al. (2007) confirmaram que a maioroferta de suplementação concentrada acarretou à elevação no ganho médio diário de peso, e conseqüen-temente a redução da idade de abate sendo que a cadauma unidade percentual de aumento de nível de suple-mentação levou ao aumento de 0,076 kg/dia no GMDe redução de 27 dias na idade de abate. No mesmoestudo constatou-se que a elevação em uma unidadepercentual do nível de suplementação houve umacréscimo de 2,29% no rendimento de carcaça quente,2,87% no rendimento de carcaça fria e 1,29% norendimento verdadeiro, diminuindo as perdas decordeiros.

A utilização de pastagem de inverno (azevém) euma leguminosa (trevo branco) como suplemento dealto valor protéico para os cordeiros mostrou resulta-dos satisfatórios do ponto de vista do desempenho doscordeiros, onde os cordeiros suplementados em creepgrazing tiveram desempenho semelhante aos cordeirossuplementados em creep feeding, 294 e 324 g/diarespectivamente, (Ribeiro et al. 2008a), com carac-terísticas da carcaça também semelhantes (Ribeiro etal. 2008b e Silva et al. 2008).

Comportamento ingestivo em pastejo

O ecossistema pastoril é caracterizado por uma sériede inter-relações, e uma delas compreende a interfaceplanta-animal, regida por relações causa/efeito ondediferentes estruturas de dossel forrageiro determinampadrões distintos de comportamento e desempenhoanimal (Sarmento, 2003).

Para adequada compreensão da interface planta-ani-mal, é necessária a descrição tanto da estrutura dapastagem ao longo de seu ciclo, quanto dos compo-nentes do comportamento ingestivo (Laca e Lamaire,2000). Dentre eles estão o tempo em pastejo e otamanho e taxa de bocados.

A estrutura espacial do relvado tem grande influên-cia no comportamento de pastejo dos animais, comefeitos claros da altura das pastagens (Flores et al.,1993) e da disponibilidade dos itens preferidos pelosanimais (Prache e Peyraud, 1997) sobre a taxa deingestão instantânea, o peso e a taxa de bocado.Trevisan et al. (2005) afirma que a quantidade demassa seca e, principalmente, a disponibilidade defolhas verdes acessíveis nos horizontes superficiais dapastagem afetam o tempo de permanência dos rumi-nantes na busca e colheita do alimento.

Hodgson (1979) define seleção como sendo a

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preferência modificada por circunstâncias ambientais.No estudo dos fatores que afetam a seleção de dietapor animais em pastejo deve-se considerar, emprimeiro lugar, aquilo que os animais preferem comer.Logo, pode-se definir preferência, como sendo o queos animais comem quando não existem constrangi-mentos físicos e ambientais.

A facilidade com que o animal colhe as plantasdepende das características estruturais da pastagem,expressas principalmente pela massa de forragem(toneladas de MS por área), altura, relação caule:folha e pela densidade da biomassa total e de folhas(Combellas e Hodgson, 1979). Para Carvalho et al.(2001) e Silva et al. (2003) a facilidade de apreensãoda forragem é um dos fatores determinantes deaumentos ou reduções no tempo de pastejo e, conse-qüentemente, de alterações nos tempos de ruminação,ócio, atividades sociais, entre outras.

Adicionalmente, o tempo gasto na atividade depastejo é influenciado pelo tamanho do grupo de ani-mais, geralmente com redução do período de pastejopara grupos pequenos, com menos de três animaispara ovinos (Penning et al., 1993) e pela existência eou, proximidade de animais dominantes no grupo,situação em que ocorre uma redução na taxa de bocados (Thouless, 1990) indicando a importância doambiente social no processo de pastejo (Carvalho etal., 1999).

Muitos pesquisadores tentam modelar os padrões deingestão e seleção da dieta de ruminantes em pasto-reio (Mertens, 1994; Allen, 1996; Illius e Gordon,1999; Baumont et al., 2000). A maioria dos modelosleva em consideração apenas a qualidade da dieta(Illius e Gordon, 1999); no entanto, alguns modelosconseguem estimar a relação da ingestão de forrageme as características da pastagem (Illius e Gordon,1987; Baumont et al., 2004).

Consumo de forragem por animais empastejo

O consumo é fundamental à nutrição, pois determinao nível de nutrientes ingeridos e, portanto, a respostaanimal (Van Soest, 1994). O consumo de forragempode ser influenciado por fatores nutricionais e nãonutricionais. Os fatores nutricionais envolvem o valornutritivo da forragem, fatores físicos como o enchi-mento do rúmen, além de fatores metabólicos (Allen,1996). Os fatores não nutricionais estão relacionadosprincipalmente com a habilidade do animal em colhera forragem, sendo determinados pela estrutura dapastagem e o comportamento ingestivo do animal eincluem: seleção da dieta, tempo de pastejo, tamanhode bocado e taxa de bocado. A estrutura e composiçãobotânica do dossel da pastagem podem exercer umefeito direto sobre o consumo de forragem dos ani-mais em pastejo, independente da influência da sua

composição química e conteúdo de nutrientes(Hodgson, 1990). Vale ressaltar que o consumo só serácontrolado pelos fatores nutricionais quando a quantidade de forragem disponível não for limitante.

Animais com diferentes potenciais de produçãoconsomem diferentes quantidades da mesma forragem,o que pode ser explicado por diferenças existentes noconsumo por bocado, taxa de bocado e tempo depastejo. Ovinos tendem a ter uma menor taxa debocadas e um maior tempo de pastejo que bovinos,embora com pequenas diferenças e nem sempre consistentes, e estão provavelmente associadas comuma maior seletividade de pastejo por ovinos emmuitas circunstâncias (Hodgson, 1990). A seleção dadieta envolve a seleção de um local de pastejo seguidoda seleção do bocado. A seleção do local de pastejo éinfluenciada pela espécie da planta, estágio de maturi-dade e deposição de fezes e urina, além de fatoresrelacionados a variações na micro-topografia, abrigos,alinhamento de cercas e sombra. Já a seleção do bocado é influenciada pela preferência do animal porcomponentes da planta e sua relativa acessibilidade e abundância. Em geral, lâminas foliares são os com-ponentes da planta preferencialmente consumidos,devido ao menor gasto de energia requerido para suacolheita em relação aos caules, pela sua menorresistência à quebra pela mastigação e menor tempode retenção no rúmen (Minson, 1990).

O processo de pastejo envolve basicamente três etapas, não necessariamente excludentes (Carvalho etal., 2001): tempo de procura pelo bocado, tempo deação do bocado e o tempo de manipulação do bocado.O tempo de procura pode variar conforme a condiçãoda pastagem, sendo praticamente nulo em pastagenscultivadas, com abundância de forragem, e maior empastagens com menor disponibilidade e heterogêneas.A ação do bocado é composta por movimentos quevisam à captação e apreensão de lâminas foliares. Otempo de manipulação do bocado é parcialmentesobreposto ao tempo de ação do bocado em bovinos,visto que a mastigação é acoplada ao processo deapreensão, enquanto que em ovino isso não ocorre,sendo que o animal aloca um ou outro tipo em respos-ta à estrutura da vegetação.

Conforme Cosgrove (1997), o pastejo é um processopelo qual os animais usam seus sentidos, cabeça emembros de locomoção para localizar bocados poten-ciais, e suas partes da boca para colher a forragem,apreendendo-a entre os dentes e a almofada dental,cortando-a com um movimento de cabeça, mastigan-do-a para formar um "bolus", e então engoli-la.

O consumo total de forragem de um animal em pastejo é o resultado do acúmulo de forragem consumida em cada bocado, e da freqüência com queos realiza ao longo do tempo em que passa se alimen-tando (Carvalho et al., 2008). Neste sentido, qualquervariação nesses parâmetros pode influenciar o con-sumo de forragem. Em uma situação onde o consumo

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por bocado é reduzido, o animal utiliza mecanismoscompensatórios no intuito de manter seu consumodiário, como o aumento da taxa de bocado e aumentodo tempo de pastejo (Hodgson, 1990).

A taxa de bocado e o consumo por bocado são influ-enciados pela estrutura da pastagem, a acessibilidadede componentes da planta preferidos pelo animal e amassa de material que pode ser agregada dentro de umbocado. As variações na taxa de bocado em resposta adiferentes condições da pastagem resultam da formacom que os animais distribuem os movimentosmandibulares para colher, apreender e mastigar a forragem (Cosgrove, 1997). A variação na taxa debocado conforme a estrutura da pastagem foi demons-trada por Trevisan et al. (2004) com novilhos empastagem de aveia (Avena strigosa Schreb) e azevémanual (Lolium multiflorum Lam.) com diferentes mas-sas de lâminas foliares, e por Pedroso et al. (2004)com ovinos em pastagem de azevém anual com diferentes estádios fenológicos. De forma geral, empastagens baixas, a redução na taxa de bocadas podeser devido à dificuldade no corte da forragem,enquanto que em pastagens altas, pode ser resultadoda necessidade de maiores movimentos mandibularespara manipulação do material colhido (Cosgrove,1997).

Neste sentido, a condição na qual a pastagem se apresenta ao animal, influenciando a forma e a freqüência dos bocados, o tempo destinado a estasatividades será determinante na obtenção de um consumo de nutrientes de acordo com a exigência doanimal. Em ambiente de pastejo, os animais realizamuma série de atividades, dentre as quais se destacam opastejo, a ruminação, o descanso, a vigilância, ativi-dades sociais, etc., havendo, portanto uma competiçãoentre elas em uma mesma escala de dia (Carvalho etal., 2001). O tempo destinado á atividade de pastejoraramente excede 12 a 13 h, e tempos de pastejo acimadestes valores podem interferir na atividade de rumi-nação e outras exigências comportamentais. Empastagens cultivadas de inverno tem-se observadotempos de pastejo entre 8-9 horas diários para bovinos(Trevisan et al., 2004; Bremm et al., 2005). Com ovinos, Pedroso et al. (2004) verificaram influência doestádio fenológico do azevém no tempo de pastejo,variando de 9,6 a 10,7 h/dia nos estádios vegetativo eflorescimento, respectivamente.

Na ovinocultura, é comum em muitas propriedadeso uso de período de pastejo restrito no período diurno,manejo este realizado com a finalidade de evitarataque de predadores no período noturno. Neste contexto, os animais dispõem de um período limitadode pastejo, e condições da pastagem que interfiramnos componentes do bocado podem não ser compen-sados. Avaliando o efeito do pastejo restrito sobre ocomportamento ingestivo de ovelhas, em pastagemconstituída de Lolium perenne L. mais Phleumpratense L., com duas alturas de pastejo (3,0 e 5,5

cm), Iason et al. (1999) verificaram que o consumo deforragem foi prejudicado nos animais mantidos em pastagens com alturas baixas (3,0 cm). Já os ani-mais mantidos em pastagens mais altas (5,5 cm), conseguiram compensar o menor tempo de pastejo,mantendo consumo semelhante aos animais que tiveram acesso a pastagem por 24 h.

Vários estudos confirmam a importância da alturado pasto na determinação das dimensões do bocado,em particular sua influência sobre a profundidade dobocado (Dittrich et al., 2007, Gonçalves et al., 2009).Em outras palavras, a estrutura do pasto afeta aingestão desde o seu menor nível de resolução, obocado. Carvalho et al. (2008) têm argumentado queo manejo de pastagens deva significar a criação deestruturas que otimizem as relações planta-animaldesenvolvidas há milhares de anos.

Trindade et al. (2009) reportaram que estruturascom elevada altura de entrada, que signifiquem a presença de colmos em posições elevadas do dossel,dificulta o alcance de metas de estrutura para o pós-pastejo, pois os animais se recusam a pastejar a partirde "uma certa estrutura". Pastos de braquiária, cujoponto de entrada se defina por quando o dossel atinja95% de interceptação luminosa, apresentam maiorproporção de folhas no dossel a ser rebaixado. Aexemplo do constatado por Amaral (2009), os autoresobservaram elevada taxa de rebaixamento no início dopastejo, que diminui acentuadamente até os 40-50%da altura a ser rebaixada, a partir do qual a taxa semantém mais ou menos constante até o final dorebaixamento.

Embora haja uma relação direta e positiva entre aaltura e a massa do bocado pelo impacto que a pro-fundidade do bocado tem sobre as dimensões dobocado, há uma altura ótima a se ter como meta. Aindaque se possam ter incrementos de massas do bocadoem alturas muito elevadas, o aumento no custo tempo-ral em realizá-lo acaba por penalizar a taxa de ingestão(Carvalho et al., 2001; Silva et al., 2005; Gonçalves etal., 2009). Isto ocorre porque o tempo para formaçãodo bocado aumenta em virtude da necessidade, cadavez maior, de movimentos manipulativos que os animais são obrigados a realizar, no intuito de traze-rem a forragem dispersa no espaço até o momento dadeglutição (Carvalho et al., 2001).

O bocado é a unidade fundamental de consumo, esua realização é definida como uma série de movi-mentos da cabeça e partes da boca que precede einclui o corte e a aproximação da forragem até a boca(Ungar, 1996). A massa de bocado, a qual consiste naquantidade de forragem consumida em cada bocado, édeterminada pelas dimensões do bocado (profundi-dade e área de bocado, as quais resultam no volume debocado) e da quantidade de forragem presente dentrodo volume de bocado, ou densidade volumétrica doestrato pastejado, a massa de bocado não parece teruma limitação imposta pelas características da boca

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do animal, sendo uma resposta das caraterísticas dapastagem (Cosgrove, 1997).

Animais tendem a concentrar sua atividade depastejo nas camadas do dossel que contêm principal-mente material foliar, e o aumento na profundidade depastejo com aumento da altura do pasto é paralelo aum incremento na profundidade da camada de lâminasfoliares na pastagem (Hodgson, 1990).

O pseudocolmo é considerado como principal barreira primária para a restrição da profundidade debocado, mas estudos têm demonstrado que ele não é ofator mais importante (Burlinson et al., 1991;Griffiths et al., 2003). Segundo Burlinson et al. (1991)as variáveis limitando a profundidade de bocado podeser diversas, tais como: aumento na força requeridapara cortar a forragem em estrato mais profundo (umbocado profundo possivelmente agrupa mais folhas ecolmos com maior resistência tênsil), o comprimentode folha ou colmo no qual o animal se sente confor-tável para manipular, e a presença de material mortoou infecção fúngica nos níveis inferiores do perfil dopasto. Em condições, onde se force o animal a pastejarestratos com predominância de colmos e de materialsenescente, é comum que se observem aumento nosintervalos intra-refeição (Amaral, 2009), a queda dotempo em alimentação e a queda da taxa de bocados(Trindade et al., 2009).

A área do bocado é influenciada por fatoresanatômicos e comportamentais, onde o animal érestringido pela largura de sua arcada dentária e pelasua máxima abertura (Cosgrove, 1997). Entretanto, osbovinos podem alterar sua área de bocado em respostaas características do pasto usando movimentos de língua enquanto que os ovinos podem utilizar-se demovimentos de lábios e cabeça, principalmente movi-mentos laterais, de forma a otimizar a colheita da forragem (Burlinson et al., 1991; Laca et al., 1992;Cosgrove, 1997).

Laca et al. (1992) observaram que o número demovimentos de língua em bovinos foi negativamenteafetado pela densidade do pasto enquanto que suaamplitude foi positivamente relacionada com a alturado dossel. Com ovinos, Burlinson et al. (1991) veri-ficaram que a área de bocado foi principalmente afetada pela altura da pastagem. Mesmo assim, a áreade bocado é menos sensível do que a profundidade dobocado em resposta às características da pastagem(Hodgson, 1997).

O produto entre a profundidade de bocado e a áreade bocado resulta no volume do bocado, sendo estecorrelacionado positivamente com a altura dapastagem (Burlinson et al., 1991; Laca et al., 1992).Como a variação da área de bocado em relação àestrutura da pastagem é menor, a massa de bocado éinfluenciada fundamentalmente pela resposta da profundidade de bocado à altura da pastagem, apre-sentando uma relação de proporcionalidade ao longode uma ampla variação de alturas da pastagem

(Hodgson et al., 1997). Em pastagens de Dactylisglomerata cv. Lucifer, com diferentes estádios fenoló-gicos (vegetativo e florescimento), Prache (1997)demonstrou que o melhor preditor para massa debocado é a massa de lâminas foliares.

A descrição acima mostra a complexidade envolvi-da no processo de pastejo dos animais, e demonstra aampla gama de fatores influenciando o consumo animal. Todo esse mecanismo é utilizado pelo animalde forma a ajustar sua exigência de consumo frente àestrutura da pastagem. Isso é mais pronunciado emambientes heterogêneos. A heterogeneidade de umapastagem pode ser descrita do ponto de vista espacial,com variação quanti-qualitativa ao longo da pastagem,ou temporal, com variação em função do tempo, comoao longo das estações do ano (Carvalho et al., 1999).Em uma vegetação heterogênea Agreil et al. (2005)demonstraram a dinâmica do comportamento ingesti-vo, onde ovelhas ajustaram seu comportamento emdiferentes escalas de tempo. Esses autores observaramque os animais ajustaram seu comportamento alimen-tar diariamente, o que levou a uma estabilização dadigestibilidade média diária do material ingerido e damassa de bocado.

O animal quando submetido a sistemas de termi-nação em pastagem, depara-se com um ambiente ondenecessita realizar uma série de decisões visandootimizar a atividade de pastejo. Entretanto, qualqueralteração causada neste ambiente, seja pela capaci-dade desfolha dos animais, que difere conforme a categoria animal, ou então pela adição de um novocomponente, no caso a suplementação, irá obrigá-lo areajustar suas ações alimentares.

O desmame e a suplementação, apresentam boasperspectivas de utilização na terminação de cordeirosem pastagem, efetivando a terminção de um elevadonúmero de animais por área, proporcionando ummenor custo de produção. Neste sentido, faz-senecessário o contínuo estudo, utilizando combinaçõesde espécies forrageiras e suplementos em diferentessistemas de terminação para obter embasamentos pararecomendações.

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ARTIGO DE REVISÃO

Aditivos fitogênicos na nutrição animal: Panax ginseng

Phytogenic additives in animal nutrition: Panax ginseng

Aiane A. S. Catalan1*, Edenilse Gopinger1, Débora C. N. Lopes1, Fernanda M. Gonçalves1,Aline A. P. Roll1, Eduardo G. Xavier1, Valdir S. Avila2, Victor F. B. Roll1

1Programa de Pós-Graduação em Zootecnia – DZ/ FAEM. Universidade Federal de PelotasCampus Universitário, s/no, CEP: 96010-900, Pelotas-RS

2Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – CNPSA. Concórdia-SC. Caixa Postal: 21, CEP: 89700-000

R E V I S T A P O R T U G U E S A

CIÊNCIAS VETERINÁRIASDE

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Resumo: Nos últimos anos, as pesquisas com plantas medicinais vêm aumentando com o objetivo de substituir o usode antibióticos na produção animal, que estão sofrendorestrições ao seu uso, em especial, pela crescente preocupaçãodos consumidores em adquirir produtos sem resíduos químicos.Neste sentido, o seguimento produtivo também busca uma produção direcionada a quantidade mas com ênfase especial a qualidade final do produto. Por isso o uso de produtos alter-nativos ou fitoterápicos está sendo estudado com o intuito demanter as características dos antibióticos na alimentação animalsem diminuir a produtividade ou afetar o desempenho animal.Panax ginseng (ginseng) é um fitoterápico tradicionalmenteconhecido, indicado como adaptogênico, imunoestimulante erevigorante físico. Os seus benefícios são bem documentadospara humanos, entretanto, poucas pesquisas têm sido realizadasa fim de evidenciar sua contribuição para animais. Assim, estudos que apontem a dose ideal, bem como, o regime de ali-mentação necessário para a observação de efeitos benéficoscom a utilização de Panax ginseng nas dietas para animais deprodução devem ser conduzidos.

Summary: In recent years, research on medicinal plants hasincreased in order to replace the use of antibiotics in animal pro-duction. The use of antibiotics in animal nutrition is sufferingrestrictions and consumers are looking for products withoutchemical residues. Therefore, animal production has beendirectly related to the quantity and quality of the final product.As a result, to maintain the characteristics of antibiotics in animal feeding without decreasing productivity or affecting animal performance, the use of alternative or herbal products isbeing studied. Panax ginseng (ginseng) is a traditionally knownherbal medicine, indicated as adaptogenic, immune stimulantand physical invigorant. Its benefits are well known in humanhealth; however few trials have been conducted to show thesebenefits on animal production. Therefore, to elucidate the benefits of Panax ginseng in animal feeding, future studiespointing out to the optimal dose and feeding regimen for maximum performance and health should be conducted.

Introdução

A preocupação com a produção animal está cadavez mais direcionada para a quantidade e a qualidade

do produto final, e a sua implicação com a segurançaalimentar, meio ambiente e bem-estar animal.

Associado às novas exigências de mercado, o uso deantibióticos como promotores de crescimento estáproibido desde 2006 pela comunidade europeia, contribuindo para que os consumidores em geral setornem cada vez mais preocupados com a segurançados alimentos.

Os antibióticos têm mecanismos de ação específi-cos, inibindo a síntese ou o metabolismo celular, oumodificando o DNA e o RNA de microorganismos. Jáem 1947 – menos de 20 anos depois da descoberta dapenicilina – foi documentada pela primeira vez aresistência antibacteriana a esse composto. Hoje, aresistência bacteriana causa sérios problemas e conse-quências não apenas em termos de saúde animal, mastambém para o controle das espécies bacterianasenvolvidas em doenças humanas (Pearce e Jin, 2010).Tais fundamentos justificam o empenho do seguimen-to produtivo na busca por alternativas para a produçãoanimal e, neste caso, a inclusão de substâncias natu-rais, como fitoterápicos, extratos vegetais ou produtosalternativos aos antibióticos.

Os custos com a alimentação dos animais de produção são responsáveis pela maior parte dos custostotais de produção. Portanto, a necessidade de ingredientes alternativos com intuito de melhorar ocrescimento, a eficiência na produção e a imunidadedo animal têm estimulado o desenvolvimento depesquisas baseadas em nutrientes que melhorem afunção imune e digestiva dos animais (Zavarize et al.,2010).

Os trabalhos com produtos naturais em animaisainda são pouco explorado, com isso, os estudos quecomprovam a eficácia dos mesmos são escassos,porém esse setor vem crescendo e os trabalhos são osmais variados, principalmente no aumento da resistên-cia do organismo animal contra doenças, intoxicaçõesou problemas ambientais, de modo que a ação antimi-crobiana destes fármacos atuem de forma eficiente,evitando a imunossupressão, estresse e, consequente-

*Correspondência: [email protected]: +(55) 53 32757274; Fax: (55) 53 32757274

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mente, redução no desempenho dos animais. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(Anvisa, 2011) as plantas medicinais são aquelascapazes de aliviar ou curar enfermidades e têmtradição de uso como remédio em uma população oucomunidade e, quando essas plantas são industriali-zadas para se obter um medicamento, tem-se comoresultado o fitoterápico. O processo de industrializaçãoevita contaminações por microorganismos, agrotóxicose substâncias estranhas, além de padronizar a quanti-dade e a forma certa que deve ser usada, permitindouma maior segurança de uso.

Panax ginseng é uma planta medicinal, sendo recon-hecido mundialmente como "a planta que cura todosos males". A partir dos princípios ativos presentes nasua raiz são elaborados os medicamentos fitoterápi-cos, que segundo Kiefer e Pantuso (2003) possuemuma variedade de efeitos benéficos, incluindo antin-flamatório, antioxidante e anticancerígeno. Segundoos mesmos autores, estudos clínicos demonstram quePanax ginseng pode melhorar a função psicológica,imunológica, e condições clínicas associadas com diabetes. Entretanto, os estudos que avaliam sua utilização na nutrição animal são escassos e na avicul-tura suas propriedades ainda são pouco conhecidas.

Aditivos fitogênicos

Nos últimos anos as pesquisas com plantas medici-nais vêm aumentando consideravelmente. Algumasespécies tradicionais têm sido o ponto de partida paraa fabricação de importantes medicamentos. Possuindoa mais rica biota do planeta, o Brasil submete a estudos químicos e farmacológicos menos de 10% dototal de plantas existentes no país. Para que possam sercomercializados, os medicamentos com base em plantas devem ter seus efeitos comprovados e, princi-palmente, ser isentos de toxicidade. Apesar disso,diversos produtos à base de plantas são lançados nomercado brasileiro, sem seguir essas diretrizes(Tagliati et al., 2008).

Planta medicinal pode ser definida como o vegetalque possua, em um ou mais órgãos, substâncias ativasque atuem com fins terapêuticos ou que sejam precur-sores de fármacos semi-sintéticos (Bulletin of theWorld Health Organization, 1998). Já o fitoterápico,de acordo com a definição da Agência Nacional deVigilância Sanitária, publicado pela portaria no6 de 31de janeiro de 1995, é "todo medicamento tecnica-mente obtido e elaborado, empregando-se exclusiva-mente matérias-primas vegetais com finalidade profilática, curativa ou para fins de diagnóstico, combenefício para o usuário. É caracterizado pelo conhe-cimento da eficácia e dos riscos do seu uso, assimcomo pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade. É o produto final acabado, embalado erotulado. Na sua preparação podem ser utilizados

adjuvantes farmacêuticos permitidos na legislaçãovigente, não podem estar incluídas substâncias ativasde outras origens, ainda que de origem vegetal, isoladas ou mesmo em misturas".

Aditivos fitogênicos na produção animal

Por vários anos os antibióticos vêm sendo usados naprodução animal, principalmente como promotores decrescimento, e com resultado satisfatórios. Entretanto,atualmente estão sofrendo restrições e até mesmo aproibição do seu uso nas rações de aves, especial-mente pela crescente preocupação dos consumidoresem desejarem adquirir produtos sem resíduos quími-cos. Estas são razões pelas quais produtos alternativosestão sendo estudados, com o intuito de manter as características dos antibióticos na alimentação animalsem diminuir a produtividade, possibilitando o desenvolvimento de aves mais saudáveis (Penz et al.,1993).

A importância da interação entre nutrição e saúde éindispensável em um sistema de produção animal,ainda que por consequência, fatores ligados ao ambi-ente e manejo também influenciem o desempenhoprodutivo do indivíduo e do rebanho (Gonçalves et al.,2010). Neste contexto, os aditivos são usados nanutrição animal visando o bem-estar e o máximodesempenho animal, além de não serem prejudiciaisaos animais e ao homem, não devem deixar resíduosnos produtos de consumo e nem contaminar o meioambiente. Dentre os aditivos mais estudados e utilizados atualmente se destacam os ácidos orgâni-cos, plantas e seus extratos, enzimas, probióticos eprebióticos, os quais até então têm apresentado resultados satisfatórios (Costa, 2009). Porém, estesainda são inconsistentes entre os pesquisadores, poiscada um tem uma abordagem diferente, assim como ametodologia em análises laboratoriais, entre outros.

Os aditivos fitogênicos vêm chamando a atençãodos estudiosos, pois agem impedindo doenças comunsnos animais e também na manutenção da saúde. Osfitogênicos também são de interesse dos consumi-dores porque são consideradas alternativas naturais acompostos sintéticos (Pearce e Jin, 2010).

As espécies Hypericum perforatum (hipérico),Allium sativum (alho), Origanum majorana (man-jerona), Thymus vulgare (orégano), Menta piperita(hortelã), Rosmarinus officinalis (alecrim), Thymusvulgaris (tomilho), Juniperus communis (zimpro),Capsicum annuum (pimenta vermelha) e Allium cepa(cebola) despertaram interesse dos pesquisadores danutrição animal, pois possuem princípios ativos quepodem trazer benefícios aos animais (Kamel, 2000).

Lima et al. (2006) citam também o uso de algumasplantas medicinais para animais, tais como: abóbora(Curcubita pepo L.) como vermífugo, antitérmico,cicatrizante e anti-inflamatório; alho (Allium sativum

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L.) como inseticida com ação sobre carrapatos emosca-do-chifre nos bovinos; arnica (Solidago chilensis Meyen) com as inflorescências secas sãoqueimadas para tratar o garrotilho em cavalos, também é utilizada como analgésico nas contusões eentorses dos animais; eucalipto (Eucaliptus globulusLabill) em complicações das vias respiratórias e emcasos de febre; sabugueiro (Sambucus australis Cham& Schltdl.) com ação diurética, anti-inflamatória,antipirética, anti-séptica, cicatrizante e as cascas sãoindicadas para reumatismo e pneumonia; vassourinha(Scoparia dulcis L.) em aves é utilizada no tratamentode bouba aviária.

O maior desafio na utilização de extratos vegetaistem sido a identificação e o estabelecimento dosefeitos exercidos pelos compostos ativos presentesnessas plantas sobre o organismo animal (Rizzo,2008).

Aditivos fitogênicos na avicultura

A tendência atual é a produção de alimentosseguros, proporcionando conforto aos animais e evi-tando a utilização de produtos químicos. Isto ocorredevido ao aumento de consumidores preocupados emutilizar esta categoria de produtos, e consequente-mente, estimulando os produtores a buscarem atenderesse mercado, a fim de evitar riscos à saúde humana,decorrente da utilização indiscriminada de antibióti-cos e produtos quimioterápicos nas aves comerciais.Segundo Medeiros (2008), os aditivos fitogênicosestão sendo testados nas diversas espécies, incluindoaves, suínos e ruminantes, como alternativas aos promotores de crescimento e como forma preventivade algumas doenças.

Como opção, Fukayama et al. (2005) destacam oextrato de orégano, por possuir o carvacrol e o thy-mol, compostos com propriedades antimicrobianas.Essa atividade antimicrobiana é exercida na mem-brana celular bacteriana, impedindo sua divisãomitótica, causando desidratação nas células eimpedindo a sobrevivência de bactérias patogênicas.Segundo os mesmos autores, o extrato de orégano foitestado como aditivo substituto ao promotor de cresci-mento em frangos de corte de 1 a 42 dias de idade,associado ou não a um antibiótico, e não apresentoucaracterísticas diferentes ao do antibiótico e da testemunha, quanto ao desempenho, à qualidade dacarcaça, à avaliação anátomo-fisiológica do tratodigestório e às bactérias encontradas no ceco das aves.

Toledo et al. (2007) testaram um antibiótico e umfitoterápico comercial a base de orégano (carvacrol),canela (cinamaldeído), eucalipto (cineol), artemísia(artemisinina) e trevo (trifolina) em dietas para frangos de corte e observaram que a inclusão tanto doantibiótico como do fitoterápico na dieta não altera o desempenho das aves, pois não foi observado

diferença significativa para as variáveis consumo deração, peso corporal e conversão alimentar. Porém, osautores verificaram uma melhor taxa de viabilidadecriatória para os tratamentos que receberam algumtipo de promotor de crescimento.

Em outra pesquisa, Bonato et al. (2008) estudando ainclusão de acidificantes e extrato vegetal (óleosessenciais e extratos de plantas contendo saponinas)isolados ou em combinação em dietas para poedeirascomerciais, constataram que a associação de 400 g/tde ácido e 150 g/t de extrato vegetal aumentou o consumo das aves no primeiro ciclo de produção. Paraa variável produção de ovos e conversão alimentaressa mesma associação e dosagem apresentou melhores resultados em todos os ciclos avaliados. Osautores consideram a hipótese de que os aditivos atuaram melhorando a qualidade do trato gastroin-testinal, porém para as aves em final de ciclo de produção, esses aditivos, fornecidos isolados ou emcombinação, não alteraram a qualidade dos ovos.

Outro extrato vegetal já estudado é a pimenta (Pipersp.), através do seu composto ativo, piperina (1-piper-oil piperidine). Mundialmente conhecida, a pimenta éusada como tempero ou ingrediente na medicina alternativa (Parmar et al., 1997). A piperina pode serutilizada como aditivo natural na produção animal porapresentar vantagens, principalmente por ser um produto natural que pode ser encontrado em grandesquantidades. Além do baixo custo de produção, nãodeixa resíduos no organismo animal, diferente do quese preconiza com a utilização dos antibióticos, possuindo atividade antioxidativa, antiapoptótica e derestauração de células, sugerindo seu uso terapêuticoem condições de comprometimento do sistemaimunológico de mamíferos (Cardoso et al., 2009).

De acordo com Cardoso et al. (2009), a adminis-tração da piperina na dieta de frangos de corte nãopromoveu mortalidade no lote ou alterações clínicasno estado geral dos animais. Os resultados sugeremque a administração de 1,12 mg de piperina por quilode peso vivo durante 14 dias não apresenta efeitos tóxicos para frangos de corte e estimula o número de heterófilos. Quando em doses mais elevadas ocorreram alterações histopatológicas nos tecidosanalisados e elevação significativa do número total eespecífico de leucócitos.

Segundo Horton et al. (1991), o alho (Alliumsativum L.) possui inúmeras propriedades terapêuticase profiláticas, estimulando as pesquisas principal-mente no âmbito dos problemas cardiovasculares. Oalho também é adicionado à ração de cães e gatos paramelhorar a palatabilidade e, tradicionalmente, paracavalos atletas, objetivando aumentar o consumo deração e melhorar o desempenho desses animais.Segundo os autores, os efeitos do alho para os perfisbioquímicos e hematológicos em ovinos e suínosforam investigados após ser pesquisado para reduzir ocolesterol e triglicerídeos em aves. Segundo Bianchin

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et al. (2000), é possível encontrar em sua composiçãoaminoácidos, minerais, vitaminas, além da alicina,este é um composto sulfuroso que pode ser o principalresponsável pelos benefícios e propiciar o cheiro característico do alho.

Outro aditivo fitogênico testado em animais foi oextrato de pomelo (Citrus maxima), por Gabriel Junioret al. (2009), na ração de frangos de corte. Para cadafase de criação, os tratamentos consistiram em umcontrole negativo, isento de promotor de crescimento,um controle positivo, com adição de 56 ppm doantibiótico Neomicina e três níveis de inclusão doextrato de pomelo no controle negativo: 100 ppm, 150ppm e 200 ppm. A utilização do extrato de pomeloapresentou resultados de desempenho semelhantes aosobtidos com o uso do antibiótico, porém superioresàqueles obtidos com a ração isenta de promotor decrescimento durante o período de 1 a 42 dias de idade.Isto mostra que é possível utilizá-lo como promotor decrescimento, sendo que a concentração de 124 ppm deextrato de pomelo nas rações foi considerada suficiente para aumentar o ganho de peso e o peso corporal de frangos de corte na idade de abate.

Rizzo et al. (2010) objetivaram avaliar diferentesmisturas de extratos vegetais na dieta de frangos decorte através da avaliação do desempenho, das características de carcaças das aves, além da energiametabolizável e digestibilidade da proteína bruta dasdietas. As dietas experimentais foram: dieta comantibiótico (controle positivo); dietas sem aditivos(controle negativo); e dietas com extratos vegetais deorégano, canela e óleo-resina de pimenta, além de ração suplementada com produto comercial constituído de óleo de eucalipto, óleo essencial decanela-da-china, folhas de boldo-do-chile e sementesde feno-grego. Os produtos foram suplementados nafase inicial, até 21 dias de idade, na quantidade de 500ppm, e de 1200 ppm nas fases de crescimento e final(21 a 42 dias de idade das aves). A partir de 21 dias de idade das aves o anticoccidiano não foi maisfornecido. Foi observado que os extratos vegetais nãoalteram as características das variáveis estudadas.

Segundo Bonato et al. (2008), os óleos essenciaisainda precisam ser melhor estudados, pois a formacomo atuam no organismo animal, melhorando odesempenho dos mesmos, ainda não está bem elucida-do. Entretanto, as hipóteses mais aceitas são as de quemelhorem o desempenho dos animais através doaumento da palatabilidade da ração, do estímulo dasecreção de enzimas endógenas e da função digestiva,do controle da microflora intestinal, e também naredução de infecções subclínicas.

A maioria dos trabalhos destaca a importância douso dos aditivos fitogênicos quanto a sua ação antimi-crobiana, porém no trabalho realizado por Silva et al.(2010) foi avaliado o efeito da inclusão de passiflorana ração sobre o desempenho, o comportamento, arelação heterófilo/linfócito, a concentração plasmática

de corticosterona e a imunidade de codornas. Estefitoterápico é largamente utilizado como sedativo epor sua ação ansiolítica. A partir desse trabalho osautores concluíram que o uso da passiflora na dietaaltera os parâmetros comportamentais de codornasdurante a fase de criação, porque as aves ficam maiscalmas, principalmente com a dosagem de 375 mg/kgde ração. No período de postura, os melhores resulta-dos são obtidos com 500 mg/kg de ração, porque estadose é suficiente para efeitos calmantes sem afetar aprodução e a qualidade dos ovos ou a resposta imunedas codornas.

Panax ginseng

Panax ginseng, com milhares de anos de história, étradicionalmente conhecida no Oriente como a maisvaliosa de todas as ervas medicinais. Neste contexto,os povos orientais têm usado as raízes de ginseng eseus extratos para revitalizar o corpo e a mente,aumentar a força física, retardar o envelhecimento eaumentar o vigor. Porém, essa eficácia é reconhecidacom base na teoria oriental e, a partir de 1970, teoriascientíficas permitiram determinar as propriedades doginseng. No entanto, esses estudos ainda estão emestágios iniciais, estando aquém de identificar deforma satisfatória o "mistério" desta planta (Choin,2008).

Vários tipos de ginseng são encontrados em todo omundo e fazem parte da família Araliaceae, gêneroPanax. As espécies mais comuns são Panax ginseng(ginseng chinês) e Panax quinquefolius (ginsengamericano). Panax ginseng se torna mais potentequando colhido após quatro ou cinco anos de cresci-mento (Hofseth e Wargovich, 2007).

A palavra Panax é de origem grega, composta daspalavras "pan" e "axos" que significam "tudo" e"tratamento", respectivamente; ou seja, "bom paratudo ou para todos os males". Devido a raiz ter seuformato parecido com o corpo humano, recebeu onome "ginseng" que deriva do chinês "Jen Shen",traduzindo como "raiz humana" (Choin, 2008).

Segundo Dubick (1986), apesar de existirem estudos sobre os benefícios de Panax ginseng, osmecanismos de efeito e/ou os princípios ativos não sãoainda muito conhecidos. Sistemáticas tentativas deidentificar estes princípios ativos foram dificultadaspela dificuldade na análise da composição química daraiz, sendo que alguns produtos comerciais podemvariar de acordo com o método de preparação ou atémesmo não conter realmente Panax ginseng em suacomposição.

Chen et al. (2008) salientam que os efeitos farmacológicos de medicamentos à base de plantasdependem do tipo de componente bioativo e da quantidade que é usado. No entanto, as variáveis comosolo, adubação, precipitação, temperatura, distância

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entre as plantas cultivadas e idade, irá determinar aqualidade da erva. Assim, os componentes bioativosem folha, flor, broto, semente, bagas, tronco e cadaparte da raiz são diferentes.

A falta de controle de qualidade nos produtos naturais comercializados, bem como diferenças nacomposição entre os diversos tipos de ginseng poderiacausar alguma variabilidade nos produtos e principal-mente nos seus efeitos. Hoje se sabe que o ginsengcontém certo número de agentes farmacologicamenteativos, que respondem por seus vários efeitos e também por seus efeitos colaterais. A análise dasraízes secas dessa planta detectou saponinas, óleosvoláteis e uma variedade de outros compostos. Dessescomponentes, as saponinas são os constituintesprimários e são responsáveis por grande parte da ativi-dade farmacológica da raiz. A variedade de saponinasque pode ocorrer nessas plantas, cada um com a suaatividade farmacológica em particular, é o maisprovável responsável pelos relatos confusos sobre afarmacologia do ginseng e da dificuldade em provarsua eficácia nas diversas condições em que o ginsengé recomendado (Dubick, 1986).

Alexandre et al. (2008) relatam que muitos dosmedicamentos à base de ginseng disponíveis no mercado apresentam também outros constituintesquímicos na formulação, dificultando uma avaliaçãoprecisa da eficácia e da segurança desta planta. Porcausa dos diversos mecanismos de ação das plantasmedicinais e dos medicamentos fitoterápicos, estespodem interagir com diversos fármacos modificandosua eficácia e segurança. Isso também pode ocorrerporque os mesmos apresentam uma grande diversi-dade de componentes químicos, além de terem mecanismos de ação diferenciados.

Esta planta tem seu uso indicada como adaptogêni-ca, imunoestimulante e revigorante físico e psíquico,sendo recomendada em períodos de convalescença ena prática desportiva, assim como para a fadiga, debilidade e para aumentar a capacidade de trabalho econcentração, sob estresse excessivo, astenia física epsíquica, impotência e problemas de fertilidade masculina, na diabetes e hipercolesterolemia, comotônico nas anemias e imunodeficiências (Cunha et al.,2003; Chen et al., 2008; Wang et al., 2009).

Quanto às indicações de uso deste fitoterápico,Panax ginseng afeta o eixo hipotálamo-hipófise-adre-nal, apresenta efeito no sistema imune por realçar afagocitose, a atividade das células natural killer e aprodução de interferon, melhora o desempenho físicoe mental em camundongos e ratos, provoca vasodi-latação, aumenta a resistência a fatores de estresseexógenos, e afeta a atividade hipoglicêmica (Kiefer ePantuso, 2003), além de demonstrar atuação de formabenéfica como antioxidante e anti-inflamatório,(Hofseth e Wargovich, 2007) adaptogênico, antias-mático, estimulante do sistema nervoso central(Winston, 2007) e em modelos animais quanto a

desordens comportamentais (Einat, 2007). Estudos mostraram que a ingestão de extratos a

partir de raízes de ginseng, diminuiu o nível de glicoseno sangue de ratos diabéticos, assim como injeçõesdesse extrato diminuíram a glicemia em ratos obesosdiabéticos (Wang et al., 2006).

Conforme Fu e Ji (2003), após suplementar ginsengamericano durante quatro meses para ratos em diferentes idades, estes diminuiram o dano oxidativorelacionado com a idade. A elevada atividade dosuperóxido dismutase e glutationa peroxidase expli-cam parcialmente estes efeitos em ratos jovens,enquanto o mecanismo que beneficia os tecidos envelhecidos é desconhecido. De acordo com os mesmos autores, futuros estudos devem ser direciona-dos para os seguintes aspectos: encontrar a dose ideale regime de alimentação que traga a máxima proteçãoantioxidante e elucidar os mecanismos subjacentes àproteção.

A estimulação do sistema imune é o objetivo dasvárias terapias alternativas preconizadas, por exemplo,para o tratamento de mastite em bovinos. A injeçãosubcutânea de um extrato de ginseng tem sido avaliada como um tratamento para vacas com mastitesubclínica causada por Staphylococcus aureus. O usodo extrato de ginseng como adjuvante de S. aureusresultou em uma reforçada proliferação de linfócitosem resposta ao estímulo e maior produção de anticor-pos (Hu et al., 2003).

Na avicultura suas propriedades ainda são poucoconhecidas, apenas têm-se relatos de estudos utilizan-do esta planta como antioxidante e efeitos sob a qualidade de ovos (Lee et al., 2008), produção, quali-dade de ovos e características sanguíneas (Jang et al.,2007), desempenho, qualidade dos ovos, ácidos graxos e concentração de colesterol na gema de ovos(Park et al., 2005), não havendo evidências sobre ainfluência deste fitoterápico no comportamento deanimais de produção.

Conclusão

Através desta revisão de literatura, conclui-se que osaditivos fitogênicos estão tendo cada vez maisdestaque e sendo utilizados como uma alternativa desubstituição aos antibióticos na produção animal como intuito de melhorar a qualidade do produto final,sem deixar resíduos nos mesmos, melhorando assim asegurança alimentar para os consumidores. Váriosestudos apontam os benefícios do uso dos fitoterápi-cos na nutrição animal, porém tratando-se de Panaxginseng, outros estudos devem ser realizados paraestipular as doses e tempo de suplementação ideais,principalmente na avicultura.

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ARTIGO DE REVISÃO

Urethral sphincter mechanism incompetence in male dogs – review

Incompetência do mecanismo do esfíncter uretral em cães machos – revisão

Islene A. L. Verde1, Leandro Z. Crivellenti2*

1Veterinary clinician, Fortaleza, CE, Brazil2Department of Veterinary Clinics and Surgery, São Paulo State University (UNESP), Jaboticabal, São Paulo, Brazil Via de acesso rodovia Paulo Donato Castellane s/n km 5, zona rural, CEP 14884900, Jaboticabal, São Paulo, Brazil

R E V I S T A P O R T U G U E S A

CIÊNCIAS VETERINÁRIASDE

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Summary: Urethral sphincter mechanism incompetence(USMI) is an uncommon urological disorder in male dogs.Affected animals maintain voluntary control of urination butleakage occurs at times when there is raised intra-abdominalpressure. USMI pathophysiology in male dogs is poorly understood. A diagnosis of USMI is made on the basis of thehistory and the elimination of other possible diagnoses.Phenylpropanolamine is the most effective medical treatmentfor USMI in male dogs. However androgens, estrogens and surgery may be required if the animal does not respond to standard medical treatment or if side effects develop.

Keywords: urethral sphincter mechanism incompetence; maledog; veterinary urology

Resumo: Incompetência do mecanismo do esfíncter uretral(IMEU) é uma afecção urológica pouco comum em cãesmachos. Os animais acometidos continuam com a capacidadede manter a micção voluntariamente, mas apresentamextravasamento de urina quando há aumento da pressão intrabdominal. A patogênese exata da IMEU em cães machosainda é pouco compreendida. O diagnóstico de IMEU é realizado com base no histórico do animal e eliminação de outros possíveis diagnósticos. A fenilpropanolamina é a medi-cação mais efetiva para IMEU em cães machos. Porém,androgênios, estrógenos e tratamento cirúrgico podem serrequeridos, uma vez que o tratamento medicamentoso padrãotenha se mostrado ineficaz ou tenham surgidos efeitos adversos.

Palavras-chave: incompetência do mecanismo do esfíncter uretral; cão macho; urologia veterinária

Introduction

Urethral sphincter mechanism incompetence(USMI) is an urological disorder that affects particu-larly female dogs. In male dogs it represents less than4% of all incontinent patients (Holt, 1999).

It can be caused by a congenital condition that ismost commonly recognized in juvenile dogs; or by anacquired condition, seen principally in adult dogs. Thecongenital condition is often associated with urethral

dilations and prostatic urethral diverticula (Holt, 1990;Holt, 2008).

USMI is more common in older dogs and in largerbreeds such as Doberman, Irish Setter and Rottweiler.Affected animals maintain voluntary control of urina-tion but leakage occurs at times when there is raisedintra-abdominal pressure. This disorder is observedwhen the animal is recumbent, excited or when theabdominal pressure suddenly rise such as occurs incough (Aaron et al., 1996).

In these cases urethral closure pressure is insuffi-cient to prevent urinary loss during the storage phaseof the bladder. Moderate increases in intra-abdominalpressure are sufficient to reverse the pressure gradient,resulting in incontinence. When severe, even theslightest increase in pressure, from minor movement,may cause leakage of urine (Patel e Chapple, 2008).

Pathophysiology

There is much controversy about the exact patho-genesis of USMI in male dogs. Bladder neck position,prostate size and castration are some known factorsthat may contribute to the clinical manifestation of thistype of urinary incontinence (Holt, 1999).

The caudal bladder position, called pelvic bladder,may encourage the emergence of USMI. When thereis a rise in abdominal pressure, the additional pressureis transmitted more efficiently to the bladder wall thanto the urethra and the bladder neck. This results inincreased intravesical pressure with no or less concomitant rise in opposing urethral pressure, creating a pressure gradient. If urethral resistance ispoor, leakage of urine occurs (Power et al., 1998).

Bladder neck position is related to prostate size.Dogs with smaller prostates may be more likely tohave intrapelvic bladder necks and those with largerprostates to have intra-abdominal bladder necks. Inaddition, a large prostate tends to pull, and possiblystretch, the urethra cranially over the pubic brim, espe-cially when the dog is standing, increasing urethral*Correspondência: [email protected]

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resistance to outflow (Aaron et al., 1996; Power et al.,1998).

Another evidence of a relationship between the sizeof the prostate and USMI is verified in some juveniledogs that improve spontaneously with time as theprostate gland develops and the smooth muscle pro-vides peri-urethral support and tone (Aaron et al.,1996).

A correlation also exists between castration andUSMI (Aaron et al., 1996). The median time from castration to incontinence is 5 years, with a range from 2 to 9 years (DeBleser et al., 2011). However, in contrast to bitches about half of the male dogs affectedby USMI are intact (Arnold et al., 2006).

While not a cause of USMI, obesity may worsen thedegree of incontinence (Holt, 1999). One explanationis that the retroperitoneal fat can displace the caudalperitoneum cranially so that the bladder neck is displaced in an extra-peritoneal position (Noël et al.,2010a).

Diagnosis

A diagnosis of USMI is made on the basis of thehistory and the elimination of other possible diag-noses, including pelvic, neurological and lower urogenital tract abnormalities, leading to urinaryincontinence (Holt, 1990; Power et al., 1998; Holt,2008).

Serum biochemistry, blood haematology and urinalysis are important to eliminate causes of polydipsia and polyuria. Urine bacteriology and imaging of the bladder may eliminate detrusor insta-bility associated with urinary tract infection.Intravenous urography, retrograde urethrocystographyand ultrasonography allow a complete anatomicalevaluation of the urinary tract required to eliminatephysical abnormalities associated with other causes ofincontinence such as bladder neoplasia and ureteralectopia (Holt, 1999).

Urodynamic procedures, such as urethral pressureprofilometry and cystometry, can also aid in the dif-ferential of the causes of incontinence, such as thosecaused by detrusor instability and hyperreflexia(Byron et al., 2007).

In humans, urethral pressure profile is the confir-matory test for USMI because it measures the urethralpressure from the bladder neck to the external urethralorifice (Goldstein and Westropp, 2005). However, indogs, this technique is not available in most veterinarypractices and there is a risk of injuring the urethra anddamaging the catheter during the manipulation(Salomon et al., 2002).

Differential diagnosis

USMI must be differentiated from other causes ofurinary incontinence. In juvenile dogs, ureteralectopia, bladder hypoplasia, pervious urachus andcongenital neurological problems are the main causesof urinary incontinence. In adult dogs the main differential diagnoses are prostatic disease, bladderneoplasia, urinary tract infection, urolithiasis,acquired neurological conditions, detrusor instabilityand overflow incontinence associated with chronicretention (Holt, 1990).

Treatment

Conservative management is frequently disappoint-ing. In comparison with the bitch, the condition is lesslikely to respond to medical therapy (Holt, 2008).

The medical therapy with phenylpropanolaminegives poor results, since only 43.75% of male dogstreated with this medication have a satisfactoryresponse (Aaron et al., 1996).

The administration of phenylpropanolamine stimulates 1-adrenergic receptors, which increases thetone of the smooth muscle of the bladder neck andurethra, promoting a significant increase in urethralclosure pressure (Beaufays et al., 2008). However,adverse side effects following phenylpropanolamineadministration have been described such as decreasedappetite, gastrointestinal disorders, restlessness (Scottet al., 2002), convulsions, cardiac complications (Noëlet al., 2010b), as well as excitability and aggressive-ness, especially in male dogs (Salomon, 2009). InBrazil, its marketing has been prohibited since 2000.

Other drugs used to treat USMI in male dogsinclude androgens and oestrogens. The effect oftestosterone on the lower urinary tract is poorly understood, besides having been considered ineffec-tive in a study by Aaron et al. (1996) on which onlyone of five animals responded to methyltestosterone.

Testosterone is contraindicated when there has beenprostatic disease (Aaron et al., 1996) and exogenousadministration may cause aggressivity, hepatotoxicity,prostatic hyperplasia, alteration of blood lipid levelsand coagulation factors (Shahidi, 2001).

Male dogs have poor response to oestrogen therapy(Aaron et al., 1996). Affected dogs sometimes respondto the therapy, but in many animals the response ceases eventually, despite increasing the dosage ofoestrogens, possibly due to desensitization of oestro-gen receptors (Noël et al., 2010a).

Oestrogen receptors are found in the male dog ure-thra, especially in the medial segment of the prostatic

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urethra. Oestrogens are known to increase the numberand the responsiveness of 1-adrenergic receptors tosympathetic stimulation, increasing urethral smoothmuscle tone and the urethral closure pressure (Noël et al. 2010a). A combination of oestrogen and an 1-adrenergic agent such as phenylpropanolamine maybe useful and reduce the dose of each individual drugneeded, lessening the chances of side effects (Holt,1999).

However, prolonged administration of oestrogenmay cause thrombocytopenia; aplastic bone marrow;obstructive prostatic hypertrophy; testis atrophy;ginecomastia; thyroid and prostatic squamous meta-plasia; and renal interstitial fibroplasia (Zayde et al.,1998).

Surgical treatment of USMI should always be a considerable option, once medical treatment has beenineffective or side effects have been developed(Salomon, 2009).

Some surgical techniques have been described suchas prostatopexy (Salomon, 2009) and deferentopexy(Salomon et al., 2002).

Prostatopexy is the cranial traction of the bladder, sothat the prostate is moved to an intra-abdominal position and anchored to the prepubic tendon on eitherside of the midline (Holt et al., 2005), taking care notto enter the prostatic urethra and not cause an excessive pressure of the urethra against the pubic(Salomon, 2009).

Reported results reveal improvement in clinicalsigns in many cases (Salomon, 2009). However, theresults of prostatopexy appear less satisfactory thanother techniques, such as deferentopexy (Holt et al.,2005).

Deferentopexy is the preferred technique for maledogs affected with USMI and it is the incision of thedeferent ducts at the inguinal canal, cranial traction ofthe urinary bladder and fixation of the free end of thedeferent ducts in the ipsilateral abdominal wall, creating a slight tension on the bladder neck and proximal urethra (Salomon et al., 2002).

A negative point of this technique is that it requiresthe dog to be castrated. Some authors avoid castrationof the entire male dogs with USMI since castration isa predisposing factor and might be expected to worsen the clinical signs (Power et al., 1998).

Although surgery often improves the clinical signs,urinary incontinence may persist, requiring concomi-tant medical treatment (Salomon et al., 2002).

Urethral sub mucosal injections of bulking agentsare an alternative for refractory cases to medical treatment (Claeys et al., 2010).

Currently, collagen is the most used bulking agentfor USMI in male dogs, being injected at the middle of the prostatic urethra. For this a midline incision anda cystotomy are necessary as the endoscope is notflexible and cannot be introduced via the penis. Theresults are often transient. The initial result of the

application may reduce 12 months after the procedure(Arnold et al., 2006), since the collagen spreads within the sub mucosa layer leading to flattening and subsequent loss of effect of the deposits, thusrequiring the reapplication of the substance (Claeys etal., 2010).

To prevent the risk of an iatrogenically caused prostatitis, intact male dogs with USMI have to be castrated 3 weeks before the procedure. The successrate of the collagen injection is similar to the moreinvasive surgical techniques, but with a much lowerrate of complications (Arnold et al., 2006).

Prognosis

The request for euthanasia (Holt et al., 2005) isoften due to failure in the USMI treatment of maledogs (Aaron et al., 1996), a situation which is rarelytolerated by owners, particularly those with indoorpets (Salomon et al., 2002).

Conclusion

The small number of USMI cases in male dogsmakes it poorly reported in the literature. However, theexposure of this theme is important to make the clinicians aware of this disorder of micturition and tostimulate the development and the description of newsurgical and alternative procedures able to achievebetter results in USMI treatment.

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ARTIGO DE REVISÃO

Abordagem cirúrgica intra-capsular para correção de rotura de ligamentocruzado cranial em animais de companhia

Surgical intra capsular approach for correction of cranial cruciate ligament rupture in small animals

Manuela A. Drago1*, Mariana A. Drago2, Patricia M. C. Freitas3

1Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Alegre, ES, Brasil2Departamento de Odontologia, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória, ES, Brasil

3Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil

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Resumo: A rotura do ligamento cruzado cranial (RLCCr) é umadas causas mais comuns de claudicação em cães, pois promoveinstabilidade rotacional e translacional da articulação do joelho.Esta alteração ocorre comumente em cães jovens de raçasgrandes, levando ao desenvolvimento de osteoartrite progressiva, além de resultar em danos secundários nos meniscos. A intervenção cirúrgica é recomendada para a maioria dos cães, a fim de restaurar a estabilidade da articulaçãoe identificar quaisquer lesões meniscais. Nos últimos 50 anos,uma variedade de procedimentos cirúrgicos tem sido descritaspara o tratamento desta alteração, refletindo assim a controvér-sia a respeito do tratamento adequado de pacientes com RLCCr.Assim, objetivou-se com esta revisão de literatura abordar asprincipais técnicas cirúrgicas intra-capsulares utilizadas para otratamento da RLCCr. Os autores apresentaram breve revisãosobre a etiologia e diagnóstico da ruputura do ligamento cruzado cranial, descreveram os procedimentos cirúrgicos ecomplicações decorrentes das técnicas de correcção da rupturado ligamento cruzado cranial por meio de enxertos, além de técnicas que modificam as estruturas ósseas envolvidas, como aosteotomia de nivelamento da meseta tibial (TPLO) e avanço datuberosidade da tíbia (TTA).

Palavras-chave: ligamento cruzado cranial, cirurgia, osteoto-mia, pequenos animais

Summary: Rupture of the cranial cruciate ligament (RLCCr) is a common cause of lameness in dogs and promotes transla-tional and rotational instability of the knee joint. This pathologyoccurs more commonly in young dogs of large breeds, leadingto the development of progressive osteoarthritis, and results insecondary damage to the meniscus. Surgical intervention is recommended for most dogs in order to restore joint stabilityand identify any meniscal injuries. Over the past 50 years, avariety of surgical procedures have been described for thetreatment of this condition, reflecting the controversy aroundthe ideal surgery. Thus, the aim of this literature review was toaddress the main intracapsular surgical techniques used for thetreatment of cranial cruciate ligament rupture. The authors pre-sented a brief review on the etiology and diagnosis of cranialcruciate ligament rupture, and described the surgical proceduresand complications of grafting technique for repair of cranial

cruciate ligament, of tibial plateau leveling osteotomy (TPLO)and tibial tuberosity advancement (TTA).

Keywords: cranial cruciate ligament, surgery, osteotomy, smallanimals

Introdução

A rotura do ligamento cruzado cranial (RLCCr) éuma das doenças ortopédicas mais comuns em cães(Hoelzler et al., 2005), resultando em doença degene-rativa articular, atrofia muscular e dor nos membrospélvicos (Lins et al., 2009). Em 2003, estimou-se nosEstados Unidos um gasto de cerca de US$ 1 bilhão,entre procedimentos cirúrgicos e conservativos, para o tratamento de cães com algum tipo de lesão do ligamento cruzado cranial (LCCr) (Wilke et al.,2005).

A causa da rotura do ligamento cruzado cranial emcães permanece obscura, porém fatores degenerativos,biológicos, mecânicos, hereditários e imunomediadostem sido demonstrados como adjuvantes na doença doLCCr (Wilke et al., 2005; Lafaver et al., 2007).Segundo Kim et al. (2008), essa rotura pode decorrerde traumas, porém também é consequência de fadigapatológica progressiva. Além do desenvolvimento de osteoartrite (OA), a instabilidade progressiva dojoelho frequentemente resulta em danos secundáriosaos meniscos. Apesar da variedade de técnicas cirúrgi-cas descritas para correção e estabilização da articulaçãoapós rotura do ligamento cruzado cranial em cães, otratamento ideal para esta condição ortopédica encon-tra-se elusivo (Kim et al., 2008; Conzemius et al.,2005).

Assim, objetiva-se com essa revisão de literaturaabordar as principais técnicas cirúrgicas intra-capsu-lares utilizadas para o tratamento da rotura do liga-mento cruzado cranial.

*Correspondência: [email protected]: +(55) 27 33293746

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Revisão de literatura

Etiologia e diagnóstico da rotura do ligamentocruzado cranial

A rotura do ligamento cruzado cranial (RLCCr)geralmente é decorrente de trauma, contudo, na maioria dos cães, essa rotura somente ocorre quandohá uma fadiga patológica e progressiva do ligamento(Hayashi et al., 2004). Segundo Sandman e Harari(2001), a fadiga do ligamento pode ser causada pordiversos fatores, entre eles artropatia imunomediada,estenose intercondilar congênita, obesidade e excessi-va angulação da meseta tibial. Existe incidência maiselevada em fêmeas quando comparado aos machos,sendo os animais castrados os mais comumente atingidos, possivelmente em decorrência do excessode peso e alterações no metabolismo do colágeno(Vasseur e Berry, 1992; Zeltzman et al., 2005).Entretanto, independente da causa, a RLCCr resultaem instabilidade rotacional e translacional da articu-lação do joelho, com progressão secundária paraosteoartrite (Apelt et al., 2007).

O diagnóstico precoce de rotura do ligamento cruzado cranial é essencial para otimizar o tratamento(Kim et al., 2008). Porém, em fases iniciais o diagnóstico torna-se difícil devido à estabilidade daarticulação à palpação (De Rooster et al., 2006).Durante o exame físico observa-se atrofia muscular dacoxa, crepitação ao movimento de flexão e extensãodo joelho, efusão articular e, em casos crónicos, espes-samento da cápsula articular (Miller et al., 2007). Narotina clínica, o diagnóstico de rotura completa do ligamento cruzado cranial (LCCr) é feito por meio dadetecção da frouxidão craniocaudal da articulação, aqual pode ser observada ao se aplicar uma carga cranial dirigida sobre a tíbia proximal, ou seja, reali-zando o teste de gaveta cranial. Este teste pode serconsiderado um ensaio clínico "estático", poisdepende do deslocamento de um osso no sentido daaplicação da força. Além deste teste, pode-se realizaro teste de compressão tibial, um ensaio "dinâmico",que tenta replicar uma força de sustentação do pesosobre o membro por flexão, ao comprimir a tíbia entreo tarso e os côndilos femurais. A carga resultante étransferida ao longo do eixo tibial e traduzida emtranslação cranial da tíbia ao nível da articulação.Assim, com o joelho em um ângulo de extensão, a tensão gerada no músculo gastrocnémico gera intensatração caudodistal sobre o fémur, e consequentementeuma força de cisalhamento cranioproximal sobre otíbia (Kim et al., 2008).

Alem do exame físico, o diagnóstico pode ser complementado por meio da avaliação radiográfica domembro. Nas radiografias laterais pode-se observarefusão articular e migração do tecido adiposo intra-articular cranialmente. Em projeções latero-lateral ecrânio-caudal, em casos crónicos observa-se osteoar-trite por meio de presença de osteófitos próximos da

patela, da tróclea femoral, dos côndilos tibiais, dafabela, e do espaço entre os côndilos femorais (Milleret al., 2007).

Tratamento

O tratamento para rotura do LCCr baseia-se emresolver a claudicação causada pela instabilidade eprovidenciar uma melhora na função do membro afetado. Assim, indica-se intervenção cirúrgica parareestabelecer a estabilidade articular, atenuar doençasdegenerativas secundárias e investigar danos aosmeniscos (Miller et al., 2007). Entretanto, segundoKim et al. (2008), fracassos e resultados não satis-fatórios são comumente observados após tratamentocom procedimentos de estabilização passiva, como ouso de analgésicos, anti-inflamatórios, dieta erestrição ao exercícios por quatro a oito semanas(Miller et al., 2007). Essa conduta conservativa é indi-cada por Vasseur (1984) como tentativa de tratamentopara cães de pequeno porte, sendo que 85% dos cãespesando menos do que 15 kg podem obter melhora dafunção do membro sem realização de procedimentocirúrgico. Este autor ainda relata que somente 30%dos cães pesando mais do que 15 kg obtem melhoraapós 10 meses do início da doença com este maneioconservativo.

Inúmeras técnicas cirúrgicas tem sido desenvolvidase utilizadas clinicamente e apesar dos argumentosfavorecendo ou contraponto cada procedimento, amelhor técnica não foi determinada (Lazar et al.,2005). A maioria das técnicas tentam simular a funçãodo LCCr intacto, o qual previne a translação cranial datíbia e limita a rotação interna tibial e hiperextensãodo joelho (Gulotta e Rodeo, 2007). Técnicas intra-articulares objetivam reconstruir anatomicamente oLCCr utilizando estruturas autógenas (Arnoczky etal., 1982), alógenas ou sintéticas (Kim et al., 2008).Técnicas extra-articulares usam sutura periarticularatravés de fios, ou a transposição de tecidos molespara reduzir a frouxidão da articulação. Entretanto, afalta da função do LCCr após reparação com suturaperiarticular tem sido atribuída à interferência dolíquido sinovial, alterações no metabolismo celularapós injúria, e a deficiências celulares (Murray, 2009).No entanto, em estudo experimental in vitro em cãesutilizando a técnica extracapsular de enxerto do ligamento patelar/fascia lata, Harper et al. (2004),concluíram que um enxerto fixado de maneira adequada ao osso confere estabilidade de translaçãosuperior ao ligamento intacto. Porém, neste estudotambém foi observado a rotação externa da tíbia nasamostras analisadas (Harper et al., 2004). Já Jerre(2009), ao observar a reabilitação de cães após reali-zação da técnica de sutura extracapsular não relatoudiferenças significativas entre animais que receberamsessões de reabilitação realizadas por fisioterapeutasou pelos donos, em casa. Concluindo, portanto que a

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técnica extra-articular promove bons resultados paracaes entre 25 e 50 kg (Jerre, 2009).

Técnica de enxerto para substituição do ligamentocruzado cranial. Vários enxertos podem ser utiliza-dos para simular a função do ligamento cruzado cranial, como fáscia lata, tendão patelar, ou enxertosnão biológicos, como fios de sutura não absorvíveis(Brand et al., 2000; Tomlinson, 2001; Lazar et al.,2005). Assim, este técnica consiste na remoção cirúr-gica do ligamento lacerado e sua substituição por umenxerto (Figura 1). Técnicas atuais de fixaçãoenvolvem tecido mole e osso, onde o enxerto é posi-cionado dentro de um túnel de ósseo com posteriorfixação periosteal fora da superfícies articulares(Brand et al., 2000).

Ensaios biomecânicos demonstraram que a forçainicial dos materiais utilizados como enxertos é maiordo que a do ligamento intacto (Chen et al., 2007). Porconseguinte, o elo mais fraco após a reconstrução nãoé o enxerto, mais sim a fixação nos pontos femorais etibiais. Contudo, vários dispositivos ortopédicos defixação estão comercialmente disponíveis. Entretanto,todos esses dispositivos são meramente componentestemporários até que ocorra cicatrização dos tecidos. Osucesso a longo prazo de uma reconstrução do LCCrdepende da capacidade do enxerto fixar-se adequada-mente em um túnel de osso (Gulotta e Rodeo, 2007).

Num trabalho experimental realizado por Da Silvaet al. (2000), utilizando auto-enxerto de fáscia latapara reparação do ligamento cruzado rompido experi-

mentalmente em cães, observou-se no pós-operatórioa estabilidade da articulação do joelho, apresentando-semacroscopicamente espesso, com diâmetro superior aodo ligamento normal. Segundo Gulota e Rodeo(2007), o aumento do comprimento do túnel no osso ébenéfico para cicatrização, pois aumenta o contatoentre o enxerto e o osso circundante. Além disso, partedos enxertos intra-articulares também sofrem oprocesso de "ligamentização", no qual o enxerto seremodela para formar uma estrutura semelhante a umligamento normal (Gulotta e Rodeo, 2007). A "liga-mentização" do enxerto biológico é um processo complexo, o qual requer um longo período para suaconcretização. Independentemente do tipo de enxertoutilizado, todos os segmentos intra-articulares dotendão passam por um processo semelhante. SegundoArnoczky et al. (1982), na conclusão deste processo,o enxerto é semelhante histologicamente e biomecani-camente ao ligamento original.

Técnicas de osteotomias. Ainda que seja possível aobtenção de resultados satisfatórios com as técnicasde enxertos, esses métodos geralmente não promovemrestabilização adequada da função do membro(Lafaver et al., 2007). Essas técnicas não conseguemmanter consistentemente a estabilidade, deter a pro-gressão do osteoartrite e evitar injúrias ao menisco(Vasseur e Berry, 1992). Assim, as técnicas deosteotomias visam a estabilidade dinâmica do LCCrdeficiente no joelho, alterando a geometria de osso(Boudrieau, 2009).

Osteotomia de Nivelamento da Meseta Tibial(TPLO). Contrastando com a maioria das técnicascirúrgicas, objetiva-se com a Osteotomia deNivelamento da Meseta Tibial (TPLO) estabilizar funcionalmente a articulação do joelho durantesuporte do peso, diminuindo assim a impulsão cranialda tíbia e, portanto, evitando o movimento detranslação cranial (Reif et al., 2002) (Figura 2).

De acordo com Kim et al. (2008), ao se promover onivelamento da meseta tibial perpendicular ao eixolongo da tíbia, as forças ativas dos músculos flexoresdo joelho ficam superiores, resultando numa forçadirecionada caudalmente durante a sustentação dopeso. Com isso, a estabilidade da articulação depen-derá da ação do ligamento cruzado caudal (LCCa) aoneutralizar a translação caudal da tíbia após TPLO.Contudo, segundo Reif et al. (2002), o aumento naforça de impulsão tibial caudal pode levar ao aumentoda tensão sobre o ligamento cruzado caudal e resultarem rotura deste.

A meta cirúrgica da TPLO está em diminuir o ângulo médio da meseta tibial, até que este se encon-tre quase perpendicular ao eixo longo do tíbia.Portanto, a TPLO envolve osteotomia semicircular aonível do aspecto proximal da tíbia, com rotação dameseta tibial até perfazer um ângulo de 5° com o eixo

Figura 1 - Reconstrução do ligamento cruzado cranial (LCCr)por meio da técnica de enxerto intra-articular. Observa-se mate-rial de enxerto inserido em túnel do osso tibial (B) e femoral (A)e dispositivo intra-ósseo de fixação

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longitudinal da tíbia e fixação de placa óssea própria(Kim et al., 2008). O procedimento depende da mensuração do ângulo da meseta tibial inicial e poste-riormente o cálculo do grau de rotação necessária paraatingir o ângulo final de 5° (Fettig et al., 2003). Aosteomia deve estar orientada craniocaudal e proxi-modistal paralela à superfície tíbial para previnir o malalinhamento do membro (Wheeler et al., 2003). Destaforma, após a TPLO, durante a atividade enérgica, asforças transferidas por meio do articulação do joelhoaumentam a carga sobre o eixo caudal tibial, tornandomais difícil criar subluxação tibial cranial (Lazar etal., 2005; Boudrieau, 2009).

Lazar et al. (2005) demonstraram que animais sub-metidos ao reestabelecimento do ligamento cruzadocranial pela técnica de TPLO estão menos sujeitos àprogressão da osteoartrite do que animais submetido atécnicas extra-capsulares. Também, em estudo desen-volvido por Boyd et al. (2007), foi realizado a mensu-ração da progressão da osteoartrite em cães por meiode exames radiográficos um ano após a TPLO. Osresultados demonstraram progressão de osteoartriteem 76% dos animais, decréscimo em 21% e nãohouve alterações em 3% dos animais. No entanto, hárelatos que a progressão radiográfica da osteoartritedesenvolve-se em 100% dos casos após técnicas intraou extra-capsulares para estabilização do LCCr (Kimet al., 2008).

As taxas de complicações após TPLO variam de18% a 28%, e incluem rompimento da placa ou para-fusos, infecção, tendinite patelar, fratura por avulsãoda tuberosidade da tíbia, fratura da tíbia ou fíbula, esarcoma associado ao implante (Kergosien et al.,2004; Bergh et al., 2008; Kim et al., 2008). Algunsfatores de risco propostos para o desenvolvimento decomplicações incluem artrotomias parapatelares,idade elevada, animais pesados, raça (especificamenteRottweiler), cirurgias simultâneas bilaterais, um ângulo

pré-operatório da meseta tibial alto, e a inexperiênciado cirurgião (Kergoisen et al., 2004; Talaat et al.,2006).

A fisioterapia tem se tornado um componenteimportante após cirúrgia ortopédica, pois promove adiminuição do espasmo muscular e edema, aumenta aextensão do movimento, da massa, da força e resistên-cia muscular. Em cães com rotura de LCCr e lesão demenisco medial, os quais obtiveram reabilitação pós-operatória, o tempo de recuperação da função domembro foi diminuida comparado com grupos comexercício restrito (Ballagas et al., 2004).

Avanço da Tuberosidade da Tíbia (TTA). A técnicade avanço da tuberosidade tibial (TTA) foi descritacomo alternativa para fornecer estabilidade ao joelhoquando ocorre rotura do ligamento cuzado cranial(Miller et al., 2007). O mecanismo proposto da TTAno cão é avançar a tuberosidade tibial para alterar adireção da força do tendão patelar, concomitante alterar o ângulo do tendão patelar para manter a forçade cisalhamento tibiofemoral neutra ou caudalmentedirecionada durante a sustentação do peso (Montavonet al., 2002; Boudrieau, 2009). O princípio biome-cânico do método consiste na neutralização da forçade propulsão cranial da tíbia pelo deslocamento dotendão patelar perpendicular ao meseta tibial (Apelt etal., 2007). No joelho canino, acredita-se que a forçaarticular total em extensão possua direção paralela aotendão patelar, e o ponto de interseção ocorra ao ângu-lo de 90° do tendão patelar. Portanto, observa-se umaforça de cizalhamento tibiofemural cranial com oângulo do tendão patelar > 90° em oposição, umaforça de cizalhamento tibiofemural caudal com oângulo do tendão patelar < 90° (Apelt et al., 2007;Boudrieau, 2009) (Figura 3).

Assim, na TTA, a tuberosidade da tíbia é movidasuficientemente cranial, resultando num ângulo do

Figura 2 - Desenho esquemático da articulação do joelho. A.Forças tibiofemorais na articulação com LCCr rompido, obser-var as forças da articulação paralelas e perpendiculares aomesetatibial resultando na translação cranial da tíbia; B. ApósOsteotomia de Nivelamento da meseta Tibial (TPLO); se oângulo do tibial é reduzido a zero, as forças de compressão e aforça resultantes são iguais, agindo perpendicular ao eixo longoda tíbia

Figura 3 - Desenho esquemático. A. Articulação do joelho comrotura do LCCr e forças tibiofemorais, observar forças paralelase perpendiculares ao meseta tibial, resultando em força de cizalhamento tibiofemoral cranial (translação cranial da tíbia);B. Após Avanço da Tuberosidade Tibial, o ângulo do tendãopatelar (ângulo entre o meseta tibial e tendão patelar) deve serreduzido a < 90°, e desta maneira, anula-se a força de cizalha-mento tibiofemoral

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tendão patelar <90° da articulação do joelho emextensão durante a sustentação do peso. Consequente-mente, o ponto de interseção não é atingido e somentea força de cizalhamento neutra ou direcionada caudal-mente permanece, estabilizando assim articulação(Boudrieau, 2009).

A nova posição é conseguida pela osteotomia datuberosidade da tíbia, seguido da estabilização comuma placa de titânio especial fixada com placa e para-fusos (Lafaver et al., 2007). Para a realização desteprocedimento, a distância do avanço da tuberosidadeda tíbia deve ser determinada radiograficamente, emincidência médio-lateral, com os joelhos no ângulo de135° de extensão (refletindo a posição em estação doanimal). O tendão patelar será representado por umalinha entre a patela distal e a tuberosidade proximal datíbia, e a inclinação da tíbia será determinada por umalinha tangente aos pontos de inserção dos ligamentoscruzados anterior e posterior (Figura 3.B). O ânguloformado entre estas linhas determinará a inclinação dotendão patelar. Sobre a radiografia, deve ser colocadauma folha de acetato com linhas perpendiculares emescala pré-determinada (6, 9 e 12 mm), usando asmarcas do tendão patelar e meseta da tíbia para deter-minar o avanço da tuberosidade tibial (Lafaver et al.,2007). Segundo Boudrieau (2009), a distância doavanço ficará entre 6 e 12 mm.

Num trabalho experimental ex vivo, realizado porApelt et al. (2007), observou-se um ângulo do tendãopatelar de 90,3 ± 9,0° após realização da técnica deATT, e uma distância de avanço da tuberosidade datíbia de 10,2 ± 3,7 mm. Num estudo realizado por Kimet al. (2009), obteve-se um avanço da tuberosidade datíbia de 13,5 ± 1,0 mm.

Relativamente às complicações desta técnica,Lafaver et al. (2007) realizaram uma revisão dos registros médicos de 101 cães que foram submetidosao procedimento de TTA, no período de 14 meses eminstituições renomadas que utilizaram pela primeiravez este procedimento. Dentre os resultados, foramobservados 31,5% de complicações, as quais foramclassificadas em maiores 12,3% e menores 19,3%.Dentre as complicações observou-se rompimento demenisco, fraturas tibiais, granulomas, rejeição deimplante, artrite séptica e luxação patelar medial(Lafaver et al., 2007).

Conclusão

Não há clareza de qual a técnica cirúgica é maisadequada para a resolução da rotura do ligamentocruzado cranial em cães. As técnicas cirúrgias exis-tentes não interrompem a progressão da osteoartrite.As técnicas de enxertos intra-capsulares simulamanatomicamente o ligamento e não necessitam detreinamento ou material especializado. Apesar deserem satisfatórias, dependem de fatores como um

processo cicatricial adequado, ausência de rejeição oufalha do enxerto e podem não promover a restabiliza-ção adequada do joelho ou evitar injúrias ao menisco.As técnicas de osteotomia ganharam maior aceitação,pois modificam a dinâmica óssea resultando em maiorestabilidade articular funcional durante a sustentaçãodo peso. As desvantagens dessas técnicas, são oaumento da tensão sobre o ligamento cruzado caudal,a necesidade de treinamento especializado para realização, aquisição de materiais específicos e emrazão disso, o alto custo.

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Estudo do comportamento de variáveis hemodinâmicas (freqüência cardíaca, pressão arterial média e temperatura corporal) e bioquímicasséricas (glicose e lactato desidrogenase total) em cães submetidos a oxigenação extracorpórea por membrana (ECMO)

Behavior study of hemodynamic variables (heart rate, mean arterial pressure and body temperature) and serum biochemistry (glucose and totallactate dehydrogenase) in dogs undergoing extracorporeal membrane oxygenation (ECMO)

Felipp da Silveira Ferreira1, Lara Lages da Silveira1, Alessandra Castello da Costa1,Millena Vidal de Freitas2, Josias Alves Machado1,

Claudio Baptista de Carvalho1, André Lacerda de Abreu Oliveira1

1Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Av. Alberto Lamego 2000, Parque Califórnia, Campos dos Goytacazes-RJ, Brasil

2Universidade Federal de Lavras, Brasil

R E V I S T A P O R T U G U E S A

CIÊNCIAS VETERINÁRIASDE

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Resumo: A oxigenação extracorpórea por membrana (ECMO) éuma técnica de suporte cardiopulmonar prolongado que objetiva auxiliar os pulmões e/ou o coração quando estes apre-sentam processos de falência não responsiva aos tratamentos convencionais. Esta técnica representa um desafio para a medici-na, que busca aperfeiçoá-la para torná-la um procedimento maisseguro, reduzindo suas complicações. O objetivo desta pesquisafoi avaliar o comportamento de variáveis hemodinâmicas (fre-qüência cardíaca, pressão arterial média e temperatura corporal)e bioquímicas séricas (glicose e lactato desidrogenase) em cãessubmetidos a oxigenação extracorpórea por membrana. Para tal utilizou-se uma amostra de 4 cães sem raça definida, dediferentes idades, peso e sexo. Os animais foram submetidos àECMO por cateterização femoral (artéria e veia) depois deanestesiados, em um desvio caracterizado como artério-venoso(AV). As variáveis foram avaliadas a cada 30 minutos, durante3 horas. Os resultados foram analisados estatisticamente com os testes de ANOVA, Tukey e Correlação de Pearson, todoscom p<0,05. Os resultados apontaram um aumento sérico daLDH-total, sugerindo uma lesão muscular inespecífica aodurante o procedimento. Outro resultado foi a queda transitóriada pressão arterial média, seguida por uma resposta fisiológicada freqüência cardíaca, aumentando momentaneamente onúmero de batimentos por minuto (bpm), além de uma hipoter-mia. Estes resultados indicam que a ECMO induziu uma resposta semelhante a causada por um choque hipovolêmico,sobretudo com uma ativação simpática demarcada. O estressefisiológico foi, também, o responsável pelo aumento séricotransitório da glicose. Conclui-se que a ECMO é elementoimportante e viável para o suporte respiratório prolongado,entretanto necessita de aperfeiçoamento ou adaptação para utilização em cães.

Palavras-chave: ECMO, cães, pressão arterial, freqüênciacardíaca, hemodinâmica, glicose, lactato desidrogenase,hipotermia, fisiologia

Summary: The extracorporeal membrane oxygenation(ECMO) is a prolonged cardiopulmonary support technique,which aims to help the lungs and the heart when are under notresponsive conventional treatments. This technique represents amajor challenge for medicine, which is seeking to improve tomake an ECMO a safer procedure, reducing yours complica-tions. This research was carried out to determine the behavior ofhemodynamic variables (heart hate, mean arterial pressure andbody temperature) and biochemical variables (total LDH andglucose) in dogs undergoing extracorporeal membrane oxy-genation. To this end, we used 4 mongrel dogs, of different ages,weight and sex. The animals were subjected to femoral catheterization for ECMO (artery and vein) under anesthesia, bythe arterial-venous (AV) deviation. The variables were measuredand evaluated every 30 minutes for 3 hours. The results werestatistically analyzed with ANOVA, Tukey and Pearson correla-tion tests, p<0.05. The results pointed to an increase of serumtotal LDH, featuring a nonspecific muscle injury during theprocedure. Another result was a transient reduction in meanarterial pressure, followed by a physiological response of theheart, momentarily increasing the number of beats per minute(bpm), beyond hypothermia. These results indicate that ECMOinduced a response similar that caused by hypovolemic shock,especially with a sympathetic activation demarcated. The phy-siological stress was also responsible for the transient increasedserum of glucose. We conclude that the ECMO constitutes animportant and viable technique for prolonged respiratory sup-port, but needs improvement or adaptations for use in dogs.

Keywords: ECMO, dogs, mean arterial pressure, heart hate,hemodynamic, glucose, lactate desidrogenase, hypothermia,physiology

*Correspondência: : [email protected];Tel: +(55) 22 2735-6131

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Introdução

A oxigenação extracorpórea por membrana(ECMO), sigla do inglês extracorporeal membraneoxygenation, é uma técnica de suporte cardiopulmo-nar prolongado, empregada para auxiliar o pulmãoe/ou o coração especialmente de neonatos e crianças,quando estes apresentam processos de falência nãoresponsiva aos tratamentos convencionais não inva-sivos (Bartlett et al., 1974; Weber et al., 1990; Zwis-chenberger et al., 2000; Moscardini et al., 2002;Thakar et al., 2002; Lin et al., 2006; Peek et al., 2006;Tamesue et al., 2006; Kahn et al., 2007; Costa et al.,2009; Ferreira et al., 2010). Este tipo de assistência respiratória extracorpórea prolongada deve ser aplicadaa um grupo específico de pacientes em que a insufi-ciência respira-tória for causada por uma enfermidadepotencialmente reversível (Souza e Elias, 2006).

De acordo com relatos históricos da literatura médica, as primeiras tentativas de oxigenar o sanguefora do organismo ocorreram no século XIX, com oobjetivo de perfundir determinados órgãos isoladosdos animais. O casal Jhon e Mary Gibbon foi pioneironesta linha de pesquisa e através de suas publicaçõesincentivou vários outros pesquisadores a se lançaramà construção de oxigenadores. Entretanto, a oxige-nação e a remoção de dióxido de carbono em umpaciente adulto ainda representavam um enormedesafio a ser vencido devido ao grande volume desangue necessário para infusão contínua no sistemaarterial, de 4 a 5 litros de sangue por minuto (Souza eElias, 2006a).

Embora o conceito de Oxigenação por MembranaExtracorpórea tenha sido desenvolvido em torno1972, a primeira sobrevida relatada foi apenas em1975. Desde então, milhares de pacientes foram submetidos à ECMO, com diferentes graus de sucessoe insucesso (Thakar et al., 2002).

Nos Estados Unidos da América (EUA) a ECMO éutilizada em 1 para cada 4.000 a 5.000 recém-nascidosvivos. Esta terapia tem demonstrado, claramente emrecém-nascidos, uma maior sobrevida (77%), melhorqualidade de vida no futuro e uma favorável relaçãocusto-benefício. Este índice de sobrevida não é maiordevido à gravidade dos pacientes submetidos ao pro-cedimento e às potenciais complicações inerentes aodesvio. A ECMO ainda é controversa em pacientespediátricos com problemas respiratórios, sendo uti-lizada em cerca de 200 crianças por ano, com umasobrevida de 56% (Kattan et al., 2005). Embora sejamestatísticas positivas relativamente altas (77% emrecém-nascidos e 56% em crianças), não se podemignorar os percentuais de insucessos (23% e 44%,respectivamente), devendo utilizar-se de modelosexperimentais para o aperfeiçoamento e redução dosíndices de casos falhos.

Através destes dados estatísticos, percebe-se que osdesafios da tecnologia extracorpórea perduram até osdias atuais. Por se tratar de um procedimento alta-mente invasivo, que provoca perfusão irregular dostecidos, gera um quadro geral de inflamação ou autoa-gres-são. Inicialmente este quadro foi denominadocomo síndrome pós-perfusão e/ou pulmão de bomba,

sendo posteriormente conceituado como reação infla-matória geral do organismo. As manifestações clínicasse caracterizam por alterações de intensidade variávelnas funções pulmonares, re-nais, acúmulo de líquidono espaço intersticial, febre, leucocitose, vasocons-trição, maior susceptibilidade a infecções e danosmusculares extensos, incluindo miocárdio (Moraes etal., 2001; Ferreira et al., 2009; Ferreira et al., 2010).

Em seus estudos Tamesue et al. (2006) e Costa et al.(2009) descrevem que a queda da pressão arterialmédia é comum durante o procedimento, porémmerece uma atenção especial durante o desvio paraque o paciente não apresente complicações posterioresem decorrência de uma pressão arterial média exces-sivamente baixa.

Em contrapartida Ingyinn et al. (2004) descrevem ahipertensão como uma complicação comum durante eapós o desvio, podendo ter muitos fatores comocausas, tais como retenção à administração inadver-tida de fluidos durante o procedimento e estresses hormonais de adrenalina, noradrenalina e cortisol.

De acordo com Souza e Elias (2006) a ECMO é umprocedimento não fisiológico, de alta invasividade,que causa pode causar outras complicações como ahipotermia, distribuição irregular do fluxo sanguíneoaos tecidos, hemodiluição, desvios do equilíbrioácido-base, microembolias e resposta inflamatóriasistêmica do organismo. Para estes autores prevenir ecombater estas complicações continua representandoum desafio de grandes proporções na tecnologiaextracorpórea.

Por tais motivos, o máximo de informações necessita ser obtido do paciente durante e após o procedimento. Os sinais vitais necessitam ser acom-panhados a todo o momento. Assim, elementos comoa mo-nitoração hemodinâmica tornam-se essenciaisdurante a ECMO, gerando informações valiosas sobrea função cardiovascular (Gay et al., 2005). Este tipo de monitoramento, associado a outros sinais vitais e,sobretudo alguns biomarcadores teciduais, pode refletircom certo grau de segurança o funcionamento inte-grado da função cardiovascular e à perfusão tecidual(Ferreira et al., 2010; Ferreira et al., 2011).

Por tais motivos, o objetivo desta pesquisa foiavaliar o comportamento de variáveis hemodinâmicas(freqüência cardíaca, pressão arterial média e tempe-ratura corporal) e bioquímicas séricas (glicose e lactatodesidrogenase total) em cães submetidos à oxigenaçãoextracorpórea por membrana.

Material e métodos

O presente trabalho foi licenciado pelo Comitê deÉtica para Uso de Animais da Universidade Estadualdo Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), registroCEUA-UENF 038/2008.

Para tal foram utilizados 04 cães SRD, sem restriçãode sexo e idade, com peso corporal entre 10 e 15 quilos, cedidos pelo Centro de Controlo de Zoonosesde Campos dos Goytacazes-RJ, Brasil.

Os animais foram admitidos no Hospital Veterinárioda UENF, onde foram submetidos a exames clínicos,

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laboratoriais (hemograma e bioquímica sérica) e complementares (eletrocardiografia convencional eecodopplercardiografia), a fim de detectar quaisqueralterações orgânicas. Os animais enfermos foramdescartados do experimento.

Posteriormente, foram alocados em gaiolas apro-priadas, recebendo alimentação especializada, água adlibitum, limpeza e banhos de sol.

Para o ensaio de oxigenação extracorpórea os ani-mais foram anestesiados com um protocolo anestésicoconstituído de: 0,1 mg/kg de Acepromazina1 por viaintravenosa (IV), seguido de 2 mg/kg de Cetamina2 IV,posteriormente 7 mg/kg de Lidocaína3 por via epidural,realizada no espaço lombo-sacro entre L7 e S1. Amanutenção anestésica foi feita com Isoflurano4 2,5%.A anticoagulação para o desvio extracorpóreo foi realizada com Heparina5, na dose única de 4 mg/kg IV.

Após a entubação e estabelecimento do planoanestésico, a técnica operatória procedeu-se a partir de uma incisão de pele de aproximadamente 3,5 cmrealizada na região do trígono femoral do membroposterior esquerdo, tendo início na região proximal ese estendendo até a sua porção distal. O tecido celularsubcutâneo foi divulsionado e a artéria femoral identificada, dissecada e isolada com fita cardíaca etorniquetes de Rumel. Posteriormente foi posicionadoum cateter siliconizado de aproximadamente 3/4 dodiâmetro do vaso. Este foi fixado com fio de algodãoe sua extremidade obliterada com uma pinça hemos-tática até o momento de sua conexão ao oxigenador.Foi utilizado um tubo extensor siliconizado paraconectar o cateter ao oxigenador de membranas. Damesma forma, a veia femoral contralateral foi dissecada e cateterizada, e outro tubo extensor fez asua ligação com o oxigenador. Os tubos permanece-ram obliterados até o momento de início do desviosanguíneo artério-venoso, quando então foram retira-das as pinças que obstruíam o circuito (Figura 1A).

O oxigenador de membrana capilar foi disposto namesa onde se encontrava o paciente, ambos permane-cendo na mesma altura para não prejudicar o fluxosanguíneo através do desvio (Figura 1B). O gradientede pressão e o inotropismo cardíaco foram emprega-dos como força propulsora para o sangue, de modoque este percorresse o seguinte trajeto: saída da artériafemoral, passagem pelo tubo conector e chegada aooxigenador (que recebia FiO2 de 100% e fluxo de 4litros de oxigênio por minuto). O retorno do sanguepara o organismo foi feito através do segundo tuboconector, alcançando a veia femoral.

A fim de evitar as complicações pressóricas, foi utilizado um volume de repleção do circuito e oxige-

nadores, chamado “prime” ou “priming”, na forma desolução fisiológica 0,9%.

Os animais receberam um suporte ventilatório mínimo, com PEEP de 10 cm H2O e FiO2 de 21% con-comitantemente à terapia de suporte promovida pelaECMO, objetivando evitar atelectasias. Assim, as funções pulmonares foram substituídas apenas parcialmente pelo órgão artificial. Estes animais também receberam Dopamina6, na dose de 5 µg/kg/minuto, em infusão contínua, como suporte pressóricoe inotrópico auxiliar.

Para avaliação da freqüência cardíaca em modo contínuo foi utilizado o Eletrocardiógrafo TEBDigital® (Tecnologia Eletrônica Brasileira), com traça-dos obtidos por padrão descrito por Tilley e Goodwin(2002).

Para aferição da pressão arterial média invasiva(PAI), foi localizada e dissecada a artéria femoral domembro oposto ao que fora cateterizado para aECMO; após o isolamento arterial, foi inserida aprótese (dispositivo intravenoso central) do MonitorMultiparamétrico Adivisor® (Smith Medical PM) paraaferição intermitente.

A temperatura corporal foi aferida por termometriaanalógica convencional, por via retal.

Para as avaliações bioquímicas foram coletados 6 ml de sangue total da veia jugular externa. O material foi repassado a tubos com gel separador decoágulo para posterior centrifugação. Com o plasmaobtido foram mensuradas a lactato desidrogenase totale a glicose sérica em equipamento semi-automatizadoLabmax Plenno® (Labtest Diagnóstica), com empregode kits comerciais específicos da mesma marca.

Todas as amostragens foram realizadas intervalos de30 minutos, durante 3 horas, totalizando 7 aferiçõespor animal durante a ECMO (T1, T2, T3, T4, T5, T6,T7). Para todas as variáveis, foram coletados dadosantes da ECMO (T0), para controle.

Ao final do processo experimental os animais foramsubmetidos a eutanásia com administração de tiopentalsódico, na dose de 40 mg/kg IV, e Cloreto de Potássio,na dose de 100 mg/kg IV, respeitando-se princípioséticos do uso de animais de experimentação.

Os resultados foram analisados com programaestatístico GraphPad Prism versão 4.03 for Windows(GraphPad Software) através dos testes One-wayANOVA (Friedman e Kruskal-Wallis) com pós-testede comparações múltiplas de Tukey. Entre as variáveisfoi aplicado o teste de Correlação de Pearson. Para avariável Tempo de ECMO, utilizou-se o cálculo demédia simples e desvio-padrão. Para todos os testesconsiderou-se p<0,05.

1Acepran – Univet S/A. Rua Clímaco Barbosa, 700 – Cambuci, SãoPaulo-SP.2Ketamina – Agener União Química Farmacêutica Nacional. Av. dosBandeirantes, Planalto Paulista - São Paulo-SP.3Lidovet – Laboratório Bravet LTDA. Rua Visconde de Santa Cruz,276 - Engenho Novo, Rio de Janeiro-RJ.4Isoforine – Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda. Rod.Itapira-Lindóia, Km 14 – Itapira-SP.5Heparin – Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda. Rod.Itapira-Lindóia, Km 14 – Itapira-SP.6Cloridrato de Dopamina – Laboratório Teuto Brasileiro S/A. VP 7-Dmódulo 11 - Quadra 13 - DAIA - Anápolis-GO.

Figura 1 - Em A, acesso e cateterização da artéria e veiafemoral para ECMO em modelo canino. Em B, estabelecimentodo circuito extracorpóreo. Hospital Veterinário/UENF, 2010

A B

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Resultados e discussão

Tempo de oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO)

A Tabela 1 apresenta o tempo de ECMO do Grupo1, por animal, durante três horas de ECMO. Através dasua interpretação, pode-se observar que este grupoapresentou um tempo médio de ECMO de 152,5±55minutos.

A manutenção destes animais sob ECMO comsucesso por este período talvez possa ser justificadapelo emprego da terapia intensiva, a qual se mostroude suma importância para o prolongamento do tempode ECMO em cães, assim como descrito por Costa etal. (2009).

Pressão arterial média invasiva (PAM)

A Figura 2 demonstra o comportamento da Pressãoarterial média invasiva do Grupo 1 durante três horasde ECMO. Através da análise da linha de tendênciaapresentada, conclui-se que a PAM aumentou aolongo das 3 horas de ensaio, dado comprovado atravésda significância estatística observada pelo emprego daANOVA, com p<0,05.

A descrição dos dados durante o experimento émostrada na Tabela 1.

Pode-se perceber que a pressão arterial média subiude um valor inicial (M0) de 77,5 mmHg até um valorfinal (M7) de 120,0 mmHg. Entretanto, um dos fatosmais relevantes no que respeita à análise da pressãoarterial é a queda da PAM do M0 para o M1, de 77,50mmHg para 70,0 mmHg, em destaque na Figura 2,momento imediato à ECMO. Embora não representeuma queda amplamente significativa, esta se mostrousuficiente para ativar diversos mecanismos fisiológicoscompensatórios, os quais somados ao suporte dopaminér-gico fornecido, desencadearam importantes alteraçõesfisiológicas posteriormente descritas.

Cabe destacar, também, que a Figura 3 demonstra ocomportamento da Pressão arterial média invasiva poranimal do Grupo 1 durante as três horas de ECMO.Através da análise deste gráfico pode-se perceber que

a linha de tendência apresentada na Figura 2 poderiaser de maior amplitude, visto que o Animal 1 apresen-tou uma tendência que difere do restante do grupo.Enquanto a tendência do grupo foi de aumento dapressão arterial média, o Animal 1 (em destaque naFigura 2) apresentou uma hipotensão significativa queo levou ao óbito.

Este comportamento de oscilação na pressão arterialmédia está de acordo com o descrito por Golej et al.(2002) e Souza e Elias (2006a). Segundo os autores, oinício da perfusão é acompanhado de pressão arterialbaixa, a qual tende a se elevar nos primeiros 5 a 10minutos, atingindo um ponto de estabilidade.Posteriormente a pressão volta a se elevar, de acordocom a liberação progressiva das catecolaminas e out-ros agentes vasopressores. Ainda de acordo com osautores, a hipotensão arterial, que se manifesta logono início da perfusão estimula a liberação progressivade catecolaminas, adrenalina e noradrenalina, que desencadeiam os mecanismos de vasoconstrição arteriolar.

De forma semelhante, entretanto para um quadro dechoque hipovolêmico e hipotensão, Rabelo et al.(2005) e Guyton e Hall (2006) descrevem que umaredução na volemia pode ser captada por barorrecep-tores aórticos, atriais e carotídeos, ativando ummecanismo compensatório simpático caracterizadopela liberação de catecolaminas. Estas, por sua vez, sãoresponsáveis pela tentativa de manutenção da home-ostase por vasoconstrição, objetivando a elevação dapressão arterial. Ainda, os barorreceptores citadoscomandam também uma série de reações tardias,resultando na liberação da hormona antidiurética e naretenção renal de sódio e água para compensar a hipo-volemia.

Objetivando minimizar as alterações na pressãoarterial durante o procedimento, Liebold et al. (2002)e Jessen (2001) descrevem a adição de um determinadovolume de solução (“priming”) no circuito extracor-póreo a fim de manter a volemia em um nível constante e impedir a hipotensão durante o desvio.Este “priming” pode ser de sangue ou outros fluidosintravenosos, como o NaCl 0,9% empregado nesteexperimento.

Tabela 1 – Médias e análise estatística e valores referenciais das variáveis estudadas durante o período de três horas de ECMO emmodelo canino. Hospital Veterinário/UENF, 2010.

Tempos M0 M1 M2 M3 M4 M5 M6 M7

Duração (minutos) 152,5

Variância / Desvio padrão 3025 / 55,00

PAM (mmHg) 77,50 70,00 74,50 84,50 99,33 112,3 113,0 120,0

Análise estatística ANOVA, significativo p<0,05

Freqüência cardíaca (bpm) 90,75 152,5 142,2 127,8 115,8 117,0 84,33 68,67

Análise estatística ANOVA e Tukey significativos, p<0,05

Temperatura corporal (ºC) 38,5 37,33 36,6 35,6 35,45 35,40 <35,00 <35,00

Análise estatística ANOVA e Tukey significativos, com p<0,05

Referência (ºC) 37,9-39,9ºC

LDH-total (U/L) 315,3 107,0 93,5 431,5 328,5 422,7 334,7 468,0

Análise estatística ANOVA e Tukey significativos, com p<0,05

Referência (U/L) 63,0-270,0

Glicose sérica (mg/dl) 75,40 141,9 130,9 110,4 91,03 110,0 105,2 101,7

Análise estatística ANOVA, não significativo p<0,05

Referência (U/L) 60,0-110,0

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Souza e Elias (2006a) descrevem que, ainda com ouso do “priming”, o procedimento extracorpóreo nãoestá livre de complicações, pois este volume adicionalpode induzir desde hemodiluição (quando utilizadosfluidos intravenosos) até hemólise, acidose metabólicasevera, redução das plaquetas e dos leucócitos, alterações da coagulação, congestão pulmonar, insufi-ciência renal e disfunção cerebral (quando utilizadosangue autólogo).

Frequência cardíaca

A Figura 4 mostra o comportamento da freqüênciacardíaca por animal do Grupo 1 durante as 3 horas deECMO.

Nota-se que a freqüência cardíaca apresentou umavariação significativa durante o período avaliado. Aanálise estatística da figura mostra que o padrão dogrupo foi de um aumento significativo da freqüênciacardíaca, sob ANOVA e Tukey com p<0,05, entre osMomentos 0 e 1, com uma redução gradativa da freqüência cardíaca nos momentos posteriores.

A descrição dos valores médios da freqüência

cardíaca por tempo é mostrada na Tabela 1.Esta variação na freqüência cardíaca pode ser expli-

cada pela variação na pressão arterial média. De acordo com Golej et al. (2002), Rabelo et al. (2005) eGuyton e Hall (2006), esta elevação da freqüênciacardíaca no momento 1 (M1) em relação aos demaismomentos deve-se à ativação simpática observadaapós a redução da pressão arterial média em M1, conforme descrito no item anterior. Este mecanismocompensatório fisiológico descrito visa à manutençãodo débito cardíaco em níveis normais através doaumento da freqüência cardíaca, a fim de suprir aexigência de oxigênio e demais nutrientes pelosdemais tecidos. Entretanto, de acordo com Jessen(2001), durante um longo período de ECMO, após oaumento da freqüência cardíaca, esta tende a umaredução, induzida por um mecanismo de adaptaçãodos barorreceptores.

Estes resultados estão de acordo com o descrito porChapman et al. (1990) e Ferreira et al. (2011), ao estudar as respostas hemodinâmicas da oxigenaçãopor membrana extracorpórea sem uso de bomba. Osautores citados observaram o comportamento acima

Figura 3 - Gráfico do comportamento da Pressão arterial média (PAM), em mmHg, individual dos animais do Grupo 1 durante operíodo de três horas de ECMO. Hospital Veterinário/UENF, 2010

Figura 2 - Gráfico de dispersão e comportamento da Pressão arterial média (PAM), em mmHg, dos animais do Grupo 1 durante operíodo de três horas de ECMO. Hospital Veterinário/UENF, 2010

Figura 4 - Gráfico do comportamento da freqüência cardíaca, em batimentos por minuto (bpm), individual dos animais do Grupo 1durante o período de três horas de ECMO. Hospital Veterinário/UENF, 2010

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descrito para a freqüência cardíaca e pressão arterialmédia, concluindo que um atuava de forma a compen-sar uma variação significativa no outro.

Estaticamente, este fato pode ser comprovado peloemprego da Correlação de Pearson entre as variáveispressão arterial média e freqüência cardíaca. A Figura8 demonstra o comportamento de uma variável emfunção da outra.

O resultado da análise estatística, r = -0, 7220, indicaque há uma forte correlação inversamente proporcionalentre as duas, ou seja, alterações em uma das variáveisproporcionarão alterações na outra variável, entretantoem sentido contrário. De forma simples, comprova-seque a elevação da freqüência cardíaca observada nesteestudo está diretamente ligada à queda da pressão arterial média relatada no item anterior, reforçando ocomportamento descrito por Guyton e Hall (2006).

Temperatura corporal

A Figura 5 apresenta o comportamento da tempera-tura corporal média dos animais do Grupo 1 submeti-dos à ECMO. Na figura, pode-se observar que há uma tendência clara à indução de hipotermia após oestabelecimento da oxigenação extracorpórea nos animais (M1). Os valores reais médios para cadamomento são apresentados na Tabela 1.

A análise da Figura 5 e Tabela 1 permite concluirque ocorreram variações estatisticamente significativasno comportamento da temperatura corporal durante aECMO, através dos testes de ANOVA e Tukey(p<0,05). Esta variação observada é de ordem hipotér-mica, ou seja, ao longo do experimento a tendência doGrupo 1 foi de uma redução gradativa dos valores datemperatura corporal até valores abaixo da normali-dade para cães.

Segundo Souza e Elias (2006a), este fato da perdade calor já era conhecido pelos pioneiros da tecnolo-gia extracorpórea. À época, incorporavam lâmpadasou outros dispositivos aos equipamentos, para minimizar as perdas de calor e manter a temperaturados animais de experimentação ou dos pacientes.Ainda segundo os autores, essa perda de calor ocorredevido à circulação da volemia do paciente pelassuperfícies do sistema extracorpóreo. Dessa forma, ocontato do sangue com as superfícies metálicas e plásticas dos equipamentos e circuitos representa umgrande motivo de perda de calor por radiação. A este,soma-se o fato da temperatura ambiente, que repre-senta outro significativo fator de perda de calor. Nos

centros cirúrgicos, por necessidade, a temperaturalocal geralmente é estabilizada entre 18 e 22 ºC. Oúltimo motivo para a perda de calor durante o circuitoé a utilização do “prime” não aquecido. O somatóriode todos esses fatores foi observado neste estudo.

Segundo Guyton e Hall (2006), a manutenção datemperatura corporal depende diretamente da per-fusão adequada dos tecidos, e como descrito nos itensanteriores, a ativação dos mecanismos compensatóriossimpáticos (em decorrência da queda transitória dapressão arterial média), causa um quadro de aumentona resistência vascular periférica, o que reduz a veloci-dade de perfusão tecidual. Dessa forma, com ummenor aporte sangüíneo para a manutenção da home-ostase tecidual, é de se supor que este fato tambémconcorra para a hipotermia.

Como forma de prevenir o evento de hipotermia,Gay et al. (2005) descrevem a utilização de um per-mutador de calor durante a passagem do sangue pelooxigenador, o qual apresenta resultados satisfatórios.O mesmo é descrito por Frenckner e Radell (2008),que afirmam ainda que este permutador pode ser utilizado não somente para a manutenção da tempera-tura corporal dentro da normalidade, mas tambémpara a manutenção da temperatura corporal dopaciente no nível desejado durante a ECMO. Estesautores afirmam, inclusive, que estes permutadores decalor já estão incorporados a muitos oxigenadores,entretanto alguns outros modelos requerem um dispo-sitivo separado para fornecer calor ao sistema.

De acordo com Ghifforn et al. (1998) e Souza eElias (2006a), a hipotermia pode ser um evento dese-jado em muitos casos, como cirurgias cardíacas oumesmo durante a ECMO, em razão de reduzir ometabolismo basal, e por conseqüência reduzir ademanda celular de oxigênio. Entretanto, para Scaifeet al. (2007) esta hipotermia deve ser realizada deforma amplamente criteriosa, inclusive com a utilizaçãode permutadores de calor para impedir uma quedaabrupta na temperatura corporal, o que poderia repre-sentar graves riscos ao paciente.

Lactato desidrogenase total (LDH-total)

A Figura 6 apresenta o comportamento da enzimaLactato desidrogenase total (LDH-total) dos animaisdo Grupo 1 submetidos à ECMO. Através da análiseda linha de tendência apresentada, conclui-se que aLDH-total apresentou uma tendência de aumento aolongo das três horas de ensaio.

Figura 5 - Gráfico de dispersão e comportamento da tempera-tura corporal, em ºC, dos animais do Grupo 1 durante o período de trêshoras de ECMO. Hospital Veterinário/UENF, 2010

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Ferreira FS et al. RPCV (2012) 111 (581-582) 33-42

Os dados da análise estatística, por ANOVA(p<0,05), demonstram uma não significância entre osmomentos analisados. Entretanto, é relevante destacara seguinte situação:

No momento 0 (M0), o gráfico apresenta umdestaque para o ponto referente ao Animal 1 do grupo,que assim como no item pressão arterial média, apresentou um comportamento que difere do restantedo Grupo. Em uma análise inicial, descarta-se a possi-bilidade de uma alteração induzida pela ECMO, umavez que o animal apenas esteve sob ECMO a partir do momento 1 (M1). Enquanto os demais animaisapresentavam valores próximos de 200 U/L, este animal em destaque apresentava um valor superior a600 U/L por motivos não elucidados.

Outro fato interessante a ser destacado é que mesmonão apresentando diferenças estatisticamente signifi-cativas, todos os valores médios da LDH-total a partirde M3, ou seja, 1 hora de ECMO, encontravam-se alémdos valores de referência para cães. Este fato é seme-lhante ao descrito inicialmente por Bartlett et al. (1974),em seu ensaio de oxigenação extracorpórea com ovelhas.

Com base no descrito por Meyer et al. (1995) sobrea LDH-total ser uma enzima inespecífica, localizadaem diversos tecidos, sobretudo musculares, pode-seconcluir que a ECMO causou uma lesão muscularconsiderável a partir de 1 hora de procedimento. Esteresultado é semelhante ao descrito por Martins et al.(2002), que por sua vez atribuíram a variação da LDH-total, durante seu experimento de circulaçãoextracorpórea em bezerros, não somente ao estressecausado pelo procedimento, mas também à hemólise.Ademais, Ferreira et al. (2010) estudaram o compor-tamento da enzima Creatino-quinase (CK) e sua isoforma Creatino-quinase MB (CK-MB) em cãessubmetidos à oxigenação extracorpórea por mem-brana por um período pré-determinado de três horas e

seus resultados corroboram com o presente estudo,sobre incidência de uma lesão muscular em decorrên-cia do desvio cardiopulmonar.

Além da CK-MB (massa), Ferreira et al. (2010)também estudaram o comportamento da troponina Iem um cão submetido à circulação extracorpórea,observando que, assim como o primeiro, o segundobiomarcador também indica uma lesão tecidual,especificamente cardíaco, neste caso.

A caracterização do dano muscular também é proposta por Souza e Elias (2006a), que afirmam quedurante a circulação extracorpórea, a distribuição dofluxo sanguíneo para os diversos órgãos se altera con-sideravelmente, regulada pelo próprio organismo.Diante disso, os órgãos mais nobres, como o coraçãoe o cérebro recebem fluxos de sangue adequados,enquanto os rins, o fígado e, sobretudo, as grandesmassas musculares recebem fluxos de sangue insufi-cientes para as suas necessidades. Em função destebaixo fluxo de perfusão, produz-se um quadro dehipóxia tecidual, a qual favorece ao dano muscular,caracterizado pelo aumento sérico da enzima lactatodesidrogenase presente trabalho.

Corroborando com Souza e Elias (2006a), Ferreiraet al. (2011) estudaram o atividade da lactato desidro-genase total em cães submetidos à ECMO, concluindoque, embora a ECMO apresente-se como uma técnicaviável de suporte avançado à vida, ela induz danosteciduais não específicos consideráveis, caracteriza-dos pelo aumento sérico da LDH em seus estudos.

A descrição dos valores médios da LDH-total portempo de ECMO é mostrada na Tabela 1.

Glicose sérica

A Figura 7 apresenta o comportamento da Glicosesérica dos animais do Grupo 1 submetidos à ECMO.

Figura 6 - Gráfico de dispersão e comportamento da enzima Lactato desidrogenase total (LDH-total), em U/L, dos animais do Grupo1 durante o período de três horas de ECMO. Hospital Veterinário/UENF, 2010

Figura 7 - Gráfico do comportamento da Glicose sérica, em mg/dl, individual dos animais do Grupo 1 durante o período de três horasde ECMO. Hospital Veterinário/UENF, 2010

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Ferreira FS et al. RPCV (2012) 111 (581-582) 33-42

Na figura, pode-se observar que a maioria dos animaisapresentou um padrão de elevação da glicemia nomomento 1 (M1) em relação aos demais momentos.Os valores reais médios para cada momento são apresentados na Tabela 1.

É importante relatar que mesmo não apresentandodiferenças estatisticamente significativas, os valoresmédios da Glicemia nos momentos 1 e 2 (M1 e M2)encontravam-se além faixa de normalidade para cães,o que pode acarretar algumas lesões, sobretudo renais.

A justificativa para tal hiperglicemia transitória éapresentada por Souza e Elias (2006a). Segundo osautores, o metabolismo da glicose é alterado pela cir-culação extracorpórea, sendo a magnitude dessa alte-ração dependente de fatores como o grau de hipoter-mia e o tipo de perfusão ministrada. Especificamentepara este trabalho, a explicação consiste no fato dainsulina ter sua produção e liberação inibidas pelahipotermia e, adicionalmente, pelo elevado teor deadrenalina circulante no sangue em decorrência da ati-vação simpática em resposta à hipotensão. Somado aisto, para Guyton e Hall (2006), há o fato de que aprópria adrenalina, por sua vez, também estimula aprodução de glicose a partir do glicogênio hepático,via uma hipercortisolemia transitória.

Uma vez que a atividade simpática não pode serestimada de forma direta para sua verdadeira corre-lação com a variação glicêmica, nesta pesquisapropõe-se um mecanismo indireto para tal compro-vação. Esta pode ser realizada através de uma corre-lação entre as variáveis freqüência cardíaca e glicosesérica, conforme apresentado na Figura 8.

É oportuno observar que a Glicose apresenta umacorrelação estatística significativa com a freqüênciacardíaca, com r = 0,7234, ou seja, em termos de correlação de Pearson, um resultado expressivo. Istocomprova de forma numérica que a variação da glicose está, de fato, diretamente correlacionada àvariação da freqüência cardíaca, e por extensão, aonível de atividade simpática.

Pressão arterial média versus glicose sérica, LDH--total, frequencia cardíaca e temperatura corporal

Frente aos resultados apresentados até o presentemomento, percebe-se que a variação na pressão arterial média atuou de forma determinante sobre ocomportamento de muitas das variáveis estudadasdurante a ECMO.

Estatisticamente, este fato pode ser comprovadoatravés da utilização da Correlação Pearson (p<0,05)entre a pressão arterial média e as demais variáveispropostas neste item. O comportamento de tal corre-lação é apresentado na Figura 9.

Como já mencionado nos resultados para a tempera-tura corporal, segundo Guyton e Hall (2006), a variaçãoda temperatura corporal pode, de fato, estar relaciona-da à variação da pressão arterial média. A Figura 9demonstra este comportamento. A análise de corre-lação entre estas duas variáveis comprova a existênciade uma correlação inversamente proporcional, com r = -0,8412, indicando uma forte correlação.

Ademais, como já descrito anteriormente, a fortecorrelação inversamente proporcional (r = -0,7220)entre a freqüência cardíaca e a pressão arterial médiacorroboram para a idéia da estimulação simpática empauta, como afirmado por Guyton e Hall (2006).

Baseado na resposta do organismo à oxigenaçãoextracorpórea observa-se que as demais variáveis,sobretudo bioquímicas, que apresentaram um compor-tamento de aumento durante o procedimento deECMO, estão diretamente correlacionadas à variaçãoda pressão arterial média.

Os valores revelam uma correlação de r = 0,7442entre PA e LDH-total. Dessa forma, pode-se constatarseguramente que as lesões musculares apresentadaspelo ECMO durante o presente estudo ocorreram emdecorrência da variação da pressão arterial média.Estes achados corroboram com as informações deGuyton e Hall (2006) e Souza e Elias (2006a). Deacordo com os autores, em resposta à circulação extracorpórea, ou à hipotensão, o organismo tende àativação de barorreceptores, que por sua vez desen-cadeiam uma série de reações visando o restabeleci-mento da pressão arterial. Dentre esses mecanismos, aativação do sistema nervoso simpático resulta em umatentativa de elevação da PAM e da resistência vascularperiférica. Isto torna a velocidade do fluxo sanguíneoreduzida para algumas regiões, o que resulta emdéficit no aporte de oxigênio e nutrientes necessáriosà manutenção das funções fisiológicas do tecido.Paralelamente a tal fato, ocorre uma acessória redis-tribuição do fluxo de sangue para os órgãos maisnobres. Em detrimento disso, outros órgãos, comorins, fígado e as massas musculares recebem fluxos desangue insuficientes para as suas necessidades. Emfunção desta condição, produz-se um quadro propícioao dano muscular, caracterizado pelo aumento séricoda LDH-total no presente trabalho (Figura 10).

Figura 8 - Gráfico de correlação entre a freqüência cardíaca e a Glicose sérica dos animais do Grupo 1 durante o período de trêshoras de ECMO. Hospital Veterinário/UENF, 2010

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Figura 9 - Gráfico de correlação entre a pressão arterial média e as variáveis glicose sérica, LDH-total, freqüência cardíaca e tem-peratura corporal dos animais do Grupo 1 durante o período de três horas de ECMO. Hospital Veterinário/UENF, 2010

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RPCV (2012) 111 (581-582) 33-42Ferreira FS et al.

Conclusões

No presente estudo a oxigenação por membranaextracorpórea comportou-se como uma técnica viávelde suporte respiratório, embora a queda na pressãoarterial média nos primeiros 30 minutos de ECMOtenha influído de forma significativa no comporta-mento das demais variáveis analisadas.

Através dos achados da LDH-total, corroboradospela literatura, pode concluir pela lesão muscular.

A freqüência cardíaca e a glicose sérica aumentaramnos momentos iniciais de ECMO, em decorrência deuma resposta fisiológica ao estresse induzido peloprocedimento em questão.

A ECMO desencadeou hipotermia nos pacientessubmetidos ao procedimento.

Pode-se concluir, também, que a ativação dosmecanismos compensatórios fisiológicos foi degrande relevância para a manutenção vital dospacientes em ECMO.

Acredita-se que, frente aos resultados apresentados,a ECMO constitua um elemento importante para osuporte respiratório prolongado, entretanto necessitade algum aperfeiçoamento ou adaptação para utilizaçãona prática clínica em neste modelo canino proposto.

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Figura 10 - Esquema das respostas fisiológicas de alguns sistemas orgânicos após indução à hipovolemia. Hospital Veterinário/-UENF, 2010

Queda débito cardíaco Perda sanguínea ECMO

Renina – Angiotensina – Aldosterona

Retenção de Na+ e H2O

SN Simpático Hiperglicemia

Cortisol

Velocidade fluxo sanguíneo

Catecolaminas

PVC; RVP; DC.

NutrientesO2

Tecidos periféricos não nobres

Hipotensão

Baroceptores

Frequência cardíaca e Inotropismo

SN Parassimpático

PVC: Pressão Venosa Central; RVP: Resistência Vascular Periférica; DC: Débito cardíaco.

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