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Propriedade Fundador Director Editor Co-editor Conselho Editorial Endereço / Address Publicidade Apoios Design Gráfico e Paginação Pré-impressão e Impressão Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias NIPC - 501 334 327 João Viegas Paula Nogueira Ana Cristina Lobo Vilela Yolanda Vaz José Alexandre Leitão José Robalo Silva José Oom Vale Henriques Luís Anjos Ferreira Telmo Pina Nunes FMV Pólo Universitário do Alto da Ajuda Av. da Universidade Técnica 1300-477 Lisboa Tel: +351 213580222, Fax: +351 213580221 Email: [email protected] Internet: http://www.fmv.utl.pt/spcv/ Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Técnica de Lisboa Maria José Beldock Sersilito – Empresa Gráfica, Lda. Lisboa Ano 111º Vol. CVII Nº 581-582 pp 1 - 128 Jan - Jun 2012 Publicação Semestral Tiragem 1000 exemplares Preço 25,00 Euro A Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias foi fundada em 1902 É permitida a reprodução do conteúdo desta revista The reproduction of the contents of this publication is permitted Desejamos estabelecer permutas com outras publicações We wish to establish exchange with other publications Os trabalhos submetidos para publicação são analisados por especialistas Papers submitted for publication are peer reviewed REVISTA PORTUGUESA CIÊNCIAS VETERINÁRIAS DE

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  • Propriedade

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    Conselho Editorial

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    Design Gráfico e Paginação

    Pré-impressão e Impressão

    Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias NIPC - 501 334 327

    João Viegas Paula Nogueira

    Ana Cristina Lobo Vilela

    Yolanda Vaz

    José Alexandre Leitão

    José Robalo SilvaJosé Oom Vale HenriquesLuís Anjos FerreiraTelmo Pina Nunes

    FMV Pólo Universitário do Alto da Ajuda Av. da Universidade Técnica1300-477 LisboaTel: +351 213580222, Fax: +351 213580221Email: [email protected]: http://www.fmv.utl.pt/spcv/

    Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias

    Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Técnica de Lisboa

    Maria José Beldock

    Sersilito – Empresa Gráfica, Lda.

    Lisboa • Ano 111º • Vol. CVII • Nº 581-582 • pp 1 - 128 • Jan - Jun 2012

    Publicação SemestralTiragem 1000 exemplaresPreço 25,00 Euro

    A Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias foi fundada em 1902

    É permitida a reprodução do conteúdo desta revistaThe reproduction of the contents of this publication is permitted

    Desejamos estabelecer permutas com outras publicaçõesWe wish to establish exchange with other publications

    Os trabalhos submetidos para publicação são analisados por especialistasPapers submitted for publication are peer reviewed

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    Índice

    Artigos de revisão

    Interações entre animais e plantas e a sua importância para o consumo de forragem Interactions between animals and plants and their importance to forage intakeLaís Ribeiro, Marina G.B. Silva, Paulo R.L. Meirelles, Sérgio R. Fernandes, Thiago A. Cruz,Ciniro Costa, Francielli A. Cavassano, Luciana H. Kowalski

    Aditivos fitogênicos na nutrição animal: Panax ginsengPhytogenic additives in animal nutrition: Panax ginsengAiane A.S. Catalan, Edenilse Gopinger, Débora C.N. Lopes, Fernanda M. Gonçalves,Aline A.P. Roll, Eduardo G. Xavier, Valdir S. Avila, Victor F.B. Roll

    Urethral sphincter mechanism incompetence in male dogs – reviewIncompetência do mecanismo do esfíncter uretral em cães machos – revisãoIslene A.L. Verde, Leandro Z. Crivellenti

    Abordagem cirúrgica intra-capsular para correção de rotura de ligamento cruzado cranial em animais de companhiaSurgical intra capsular approach for correction of cranial cruciate ligament rupture in small animalsManuela A. Drago, Mariana A. Drago, Patricia M.C. Freitas

    Memórias científicas originais

    Estudo do comportamento de variáveis hemodinâmicas (freqüência cardíaca, pressão arterial médiae temperatura corporal) e bioquímicas séricas (glicose e lactato desidrogenase total) em cães submetidos a oxigenação extracorpórea por membrana (ECMO)Behavior study of hemodynamic variables (heart rate, mean arterial pressure and body temperature)and serum biochemistry (glucose and total lactate dehydrogenase) in dogs undergoing extracorporeal membrane oxygenation (ECMO)Felipp da Silveira Ferreira, Lara Lages da Silveira, Alessandra Castello da Costa,Millena Vidal de Freitas, Antonio Peixoto Albernaz, Claudio Baptista de Carvalho,André Lacerda de Abreu Oliveira

    Perfil leucocitário e eficácia clínica da enrofloxacina (fórmula BAIK9) em dose única no tratamento de cães com gastroenterite por ParvovirusLeukocyte profile and clinical efficacy of enrofloxacin (BAIK9 formula) in a single dose in the treatment of dogs with Parvovirus gastroenteritisRodrigo S. Mendes, Almir P. Souza, Leonardo M. Torres, Rosangela M.N. Silva,Alinne Káttia F.P. Dantas, Olivia M.M. Borges

    Ramificações principais da artéria gástrica esquerda no gato doméstico Main ramifications of the left gastric artery in the domestic catBárbara Xavier-Silva, Górdio Cavalcante Marinho, Luciano da Silva Alonso,Marcelo Abidu-Figueiredo

    Desmame precoce e a suplementação com alimentos concentrados de cordeiros e seu efeito sobreas características morfológicas da pastagem e o consumo de forragemEarly weaning of lambs and concentrate supplementation and its effect on morphological characteristics of the pasture and forage intakeMarina G.B. Silva, Alda L.G. Monteiro, Sérgio R. Fernandes,Cláudio J.A. Silva,Thiago A. Cruz, Jordana A. Salgado, Luciana H. Kowalski, Ciniro Costa

    Influência da retirada total ou parcial da crista sobre o status reprodutivo de machos avícolas tipo corteInfluence of total or partial withdrawal of the crest on the reproductive status of broiler malesAlexandre P. Rosa, Catarina Stefanello, Roberto Ferrufino

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    Uso de farinhas de origem animal na alimentação de frangos de corteUse of animal meal in broilers feedCarolina M.C. Carvalho, Evandro A. Fernandes, Alexssandre P. Carvalho, Renata M. Caires,Nadia S. Fagundes

    Evolution of fatty acid profile and Condition Index in mollusc bivalves submitted to different depuration periods Avaliação do perfil de ácidos gordos e do Índice de Condição em moluscos bivalves submetidos a diferentes períodos de depuraçãoFrancisco Ruano, Paula Ramos, Mário Quaresma, Narcisa Bandarra, Isabel Pereira da Fonseca

    Adição de fitase em rações para tilápia-do-NiloAdding phytase in ration for Nile tilapiaKaren D.M. Melo, Felipe S. Aiura, Antonio J.A. Tessitore, Auriclécia L.O. Aiura,Mônica P. Maciel, Cláudio L.C. Arouca

    Portuguese beef market – potential for differentiated products O sector de carne de bovino em Portugal: potencial para produtos diferenciadosInês Viegas, José Lima Santos, Magda Aguiar Fontes

    Casos clínicos

    Metastatic malignant pilomatricoma with bone and lung metastasis in a Portuguese Water DogPilomatricoma maligno metastizante com metastização óssea e pulmonar num Cão de Água PortuguêsRute M. Noiva, Fabíola B. Costa, Rafael Pratas, Maria C. Peleteiro

    Tratamento fisioterapêutico em equino com deslocamento de vértebras cervicais secundário a traumatismo: relato de casoPhysical therapy of horse with dislocation of cervical vertebra after trauma: case reportErica C.B.P. Guirro, Ayrton R. Hilgert, Camila C. Martin

    Acidente com anzol de pesca em Garça-branca-grande (Ardea alba, Linnaeus - 1758) na região deCampos dos Goytacazes/RJ – Relato de casoFish hook accident in Great White Egret (Ardea alba, Linnaeus - 1758) in the region of Campos dosGoytacazes/RJ – Case reportLuiz A. Eckhardt, Melissa P. Petrucci, Fábio F. Queiroz, Anna Paula M. Carvalho,Diego R. Oliveira, Carlos Eurico P.F. Travassos, Leonardo S. Silveira, Olney Vieira-da-Motta

    Comunicações breves

    Primeiro registo de ocorrência de proglotes de Raillietina tetragona (Cestoda: Davaineidae) em albúmen de ovos de galinhas (Gallus gallus)First report of the occurrence of Raillietina tetragona proglottids (Cestoda: Davaineidae) in egg albumen of chickens (Gallus gallus)Vitor D. Melotti, Anderson S. Dias, Gester B. Aguiar, Roberto R. Sobreira, Diego H. Serrano,Guilherme O. Sanglard

    Sarcocystis spp. in nine-banded armadillos (Dasypus novemcinctus) from BrazilSarcocystis spp. em tatus de nove bandas (Dasypus novemcinctus) do BrasilJoão M.A.P. Antunes, Fausto E.L. Pereira, Larissa de C. Demoner, Isabella V.F. Martins,Marcos S. Zanini, Patrícia Deps

    Resistência do carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus frente ao amitraz e cipermetrina emrebanhos bovinos no Rio Grande do Sul de 2005 a 2011Amitraz and cypermethrin resistant ticks Rhipicephalus (Boophilus) microplus in cattle herds locatedin Rio Grande do Sul from 2005 to 2011Fernanda C.C. Santos, Fernanda S.F. Vogel

    Suplemento

  • ARTIGO DE REVISÃO

    Interações entre animais e plantas e a sua importância para o consumo deforragem

    Interactions between animals and plants and their importance to forageintake

    Laís Ribeiro1, Marina G. B. Silva2, Paulo R. L. Meirelles3, Sérgio R. Fernandes4, Thiago A. Cruz5,Ciniro Costa3, Francielli A. Cavassano2, Luciana H. Kowalski6

    1Universidade Estadual Paulista, Graduanda em Zootecnia, Unesp/Botucatu, São Paulo, Brasil2Universidade Estadual Paulista, Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, Unesp/Botucatu, São Paulo, Brasil

    3Universidade Estadual Paulista, Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal, Unesp/Botucatu, São Paulo, Brasil4Universidade Federal do Paraná, Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, Curitiba, Paraná, Brasil5Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciências Agrárias, Graduando em Zootecnia, Curitiba, Paraná, Brasil

    6Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciências Agrárias, Graduando em Medicina Veterinária, Curitiba, Paraná, Brasil

    R E V I S T A P O R T U G U E S A

    CIÊNCIAS VETERINÁRIASDE

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    Resumo: O planejamento de uma atividade pecuária baseadaem pastagens implica em conhecer o padrão de distribuição damassa de forragem ao longo da estação de crescimento, estimara produtividade de forragem esperada e definir a carga animalem função dos ganhos individuais de peso projetados para cadacategoria. Para tanto, o objetivo desta revisão foi avaliar o usoda pastagem, sua distribuição e forma de crescimento ao longoda estação para análise no consumo e desempenho de ovinos. Autilização de forrageiras como fonte primária de energia nadieta de ruminantes apresenta grandes vantagens econômicaspara o desenvolvimento da ovinocultura, entretanto, sãonecessários a escolha correta da forrageira, o conhecimento doquanto a forrageira atende as exigências dos animais e o corretomanejo das pastagens. O principal problema do manejador depastagem é conciliar uma taxa de lotação que resulte em altodesempenho por animal com uma que resulte em melhordesempenho por unidade de área, buscando assim, alternativasque visem melhorar o aporte nutricional dos cordeiros. Em sis-temas de produção de ovinos, o uso de suplementos concentra-dos tem um impacto limitado no crescimento de cordeiras porocasião do desmame. Ainda, a estrutura espacial do relvado temgrande influência no comportamento de pastejo dos animais,com efeitos claros da altura das pastagens. O animal quandosubmetido a sistemas de terminação em pastagem, depara-secom um ambiente onde necessita realizar uma série de decisõesvisando otimizar a atividade de pastejo. Entretanto, qualqueralteração causada neste ambiente, seja pela capacidade desfolhados animais, que difere conforme a categoria animal, ou entãopela adição de um novo componente, no caso a suplementação,irá obrigá-lo a reajustar suas ações alimentares.

    Summary: Planning a pasture-based ranching involves knowing the distribution pattern of herbage mass throughout thegrowing season to estimate the expected forage productivity andset the stocking depending on the individual gains weightdesigned for each category. Therefore, the objective of thisreview was to evaluate the use of pasture distribution andgrowth form throughout the season to analyze consumption andperformance of sheep. The use of forage as the primary source

    of energy in the diet of ruminants has major economic advan-tages for the development of sheep breeding, however, are necessary for correct choice of the grass, the knowledge of howthe forage meets the requirements of animals and proper pasturemanagement. The main problem of pasture management is toreconcile a stocking rate that results in optimum performanceper animal that results in better performance per unit area, thusseeking alternatives to improve the nutritional intake of thelambs. In sheep production systems, the use of concentratedsupplements have a limited impact on growth of lambs at wean-ing. Still, the spatial structure of the lawn has a great influenceon the behavior of grazing animals, with clear effects of highpastures. The animal when subjected to pasture finishing systems, faced with an environment where they need to performa series of decisions aimed at optimizing the activity of grazing.However, any change in the environment caused either by grazing capacity of animals, which differs depending on the animal category, or by adding a new component, if supplemen-tation will force him to readjust their food stocks.

    Introdução

    O planejamento de uma atividade pecuária baseadaem pastagens implica em conhecer o padrão de dis-tribuição da massa de forragem ao longo da estação decrescimento, estimar a produtividade de forragemesperada e definir a carga animal em função dos ganhosindividuais de peso projetados para cada categoria(Freitas et al., 2005).

    Segundo Hodgson (1990), para a obtenção de umaalta produção animal em pastagens três condiçõesbásicas devem ser atendidas: produção de uma grandequantidade de forragem de bom valor nutritivo,grande proporção da forragem produzida deve ser colhida pelos animais, e elevada eficiência de conver-são dos animais, ou seja, deve haver um equilíbrio harmônico entre três fases do processo de produção:*Correspondência: [email protected]

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    crescimento, utilização e conversão.Para Silva Sobrinho (2001), a utilização de for-

    rageiras como fonte primária de energia na dieta deruminantes apresenta grandes vantagens econômicaspara o desenvolvimento da ovinocultura, entretanto,são necessários a escolha correta da forrageira, o conhecimento do quanto a forrageira atende asexigências dos animais, o correto manejo das pasta-gens. Neste sentido, a ação de manejo da pastagem,ressalta a necessidade de manter ao mesmo tempo,área foliar fotossintéticamente ativa e permitir queanimais colham grandes quantidades de tecido foliarde alta qualidade (Pedreira et al., 2001), de maneiraque possibilite maximizar a produção forrageira, a eficiência de conversão da forragem produzida, a estabilidade da pastagem, o desempenho animal e aprodução animal por hectare (Gomide e Gomide,2001). Para o sucesso do processo de manejo da planta forrageira, torna-se necessário o conhecimentopelo manejador da dinâmica de crescimento da plantaforrageira em questão.

    O principal problema do manejador de pastagem é conciliar uma taxa de lotação que resulte em alto desempenho por animal com uma que resulte emmelhor desempenho por unidade de área. Esta combi-nação não é facilmente encontrada em sistemas deprodução nos quais o desempenho animal diminuiconstantemente com o aumento nas taxas de lotação,uma vez que nestas circunstâncias não é sensato fixartaxas de lotação restritas ao ponto de máximo desem-penho por animal (Hodgson et al., 1994). Entretanto,em sistemas em pastagem, o ganho de peso por animale por área é fortemente influenciado pela disponibili-dade diária de MS e pela capacidade de lotação dospastos (Carnevalli et al., 2001), além da qualidade daforragem e do consumo animal. Neste sentido, nãoexiste um modelo específico de sistema de produção aser adotado para condições particulares, mas sim anecessidade de conhecer os fatores de produção exis-tentes na base física disponível e combiná-los da melhorforma possível, buscando a solução ótima existente(Sbrissia, 2001).

    Neste contexto, diversos sistemas de criação decordeiros têm sido propostos. A produção de ovinosem pastagem tem sido foco de estudos na região Suldo País, onde se obtém adequada produção de for-ragem durante praticamente todo o ano com baixocusto (Tonetto et al., 2004). Os sistemas de produçãode ovinos em pastagens têm sido repensados, inclusiveporque pesquisas recentes (Scollan et al., 2005)mostraram resultados positivos das dietas a base deforragens sobre a qualidade nutricional da carne. Osmesmos permitem a obtenção de carne com menorconteúdo de gordura intramuscular e colesterol, melhorrelação entre os ácidos graxos Omega-6:omega-3 e maior concentração de CLA (ácido linoleico conjugado) (Sañudo et al., 1998), características quesão benéficas à saúde humana.

    A suplementação alimentar em pastagens

    Para que haja um incremento na produção de carneovina, é necessário buscar alternativas que visem melhorar o aporte nutricional dos cordeiros. Portanto,o uso de pastagens cultivadas, a suplementação con-centrada e o confinamento podem ser vistos comoalternativas para a terminação de cordeiros, fazendocom que estes animais atinjam o peso ideal para oabate em menor tempo, proporcionando bons índicesprodutivos e a obtenção de carcaças de melhor quali-dade, que atendam à demanda do consumidor (Jardimet al., 2000).

    Os sistemas de produção ovina podem tornar-semais competitivos, produtivos e eficientes em todas ascategorias. Em sitemas de produção em pastagens, énecessário ter o conhecimento sobre as relações entredisponibilidade de forragem, oferta de forragem enível de suplemntação, a fim de otimizar a eficiênciade conversão do suplemento e aumentar a eficiênciaeconômica (Lobato, 2003).

    O uso de um suplemento acarreta efeitos sobre oconsumo de matéria seca podem ser aditivos, quandoo consumo de suplemento se agrega ao consumo atualdo animal; substitutivos, quando o consumo de suple-mento diminui o consumo de pastagem, sem melhoraro desempenho do animal; aditivos/substitutivos, quando ocorrem ambos os procedimentos anterior-mente descritos, com substituição do volumoso e melhora do desempenho do animal, e que geralmenteocorre com suplementação energética; aditivos comestímulo, em que o consumo de suplemento estimulanormalmente em alimentos proteicos, pois essesfavorecem a ação dos microrganismos; ou ainda ossubstitutivos com redução, nos quais o consumo deforragem e o desempenho do animal são ambosreduzidos (Oliveira et al., 2007).

    Em sistemas de produção de ovinos, o uso de suple-mentos concentrados tem um impacto limitado nocrescimento de cordeiras por ocasião do desmame,mas parece ter um efeito benéfico na manutenção dasreservas corporais das ovelhas (Hodgson, 1990).Segundo esse autor, a resposta da produção de animaisem pastejo com o uso da suplementação parece serinfluenciada pelas características da forragem pasteja-da, pelo tipo de suplemento e o modo como é usado, epelo potencial produtivo dos animais.

    A suplementação energética em pastagens pode melhorar o desempenho de ruminantes em pastejo,geralmente a energia é o principal fator limitante para odesempenho desses animais. Com o fornecimento deconcentrado em pastagens cultivadas, geralmente sãoobservadas alterações no comportamento ingestivo dosanimais, no que se refere a tempos de pastejo, rumina-ção e ócio, taxa e massa de bocado, devido às interaçõesexistentes entre planta, animal e suplemento.

    Animais suplementados percorrem maiores distân-cias diárias, escolhendo estações de pastejo, do que

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    animais não suplementados, mostrando maior seletivi-dade quando comparados com animais exclusiva-mente em pastagem. Frizzo et al. (2003) observaramque a preferência por lâminas foliares de azevémaumenta com o nível de suplementação. SegundoElejalde et al. (2004) níveis de suplemento interferemno teor de fibra de detergente neutro da forragem consumida, evidenciando uma maior seletividade dosanimais quando recebem suplemento.

    Ressaltam-se alguns resultados de pesquisa que asuplementação com concentrado pode diminuir otempo de pastejo diurno dos animais (Bremm et al.,2005). Se diminuir o tempo de pastejo, a demanda deenergia para trabalho associado com o pastejo podediminuir também. A alteração no tempo de pastejoassociada com a suplementação depende do horário dasuplementação. Bremm et al. (2005) em estudo doefeito da suplementação energética sobre o tempo depastejo dos animais, observaram uma grande concen-tração de animais em pastejo desde as 12 até as 18:00horas e, nos animais que receberam suplemento, emmenor proporção, houve uma concentração de animaisem pastejo no horário anterior ao fornecimento dosuplemento, realizado diariamente às 14:00 horas.Outros trabalhos indicaram uma pequena variação notempo de pastejo em resposta à suplementação(Delcurto et al., 1990; Minson, 1990).

    O tempo de ruminação é influenciado pela naturezada dieta, sendo esperado que alimentos concentradosreduzam o tempo de ruminação. Bürguer et al. (2000)relataram decréscimo linear no tempo de ruminaçãocom aumento no nível de concentrado, sendo atribuídoao decréscimo dos constituintes da parede celular como aumento no teor de amido na dieta.

    Quanto ao tempo em outras atividades, Pardo et al.(2003) em observações diurnas de comportamentoanimal observaram que animais não suplementadosdiminuíram o tempo de descanso, enquanto que osanimais que receberam suplementação energética aonível de 1,5% do PV apresentaram maior tempo de descanso. Bremm et al. (2005), no entanto, nãoobservaram diferenças no tempo de ócio de animaissuplementados e não suplementados. Efeitos distintosda suplementação sobre o comportamento ingestivodos animais são encontrados na literatura (Karsly,2001).

    A estratégia de suplementação exclusiva paracordeiros (creep feeding) tem mostrado resultados deganho médio de 360 a 390 g/dia no estado de SãoPaulo (Neres et al., 2001; Almeida Jr. et al., 2004).Segundo Sampaio et al. (2002), o creep feeding podese tornar quesito indispensável para encurtar o tempode acabamento dos animais para o abate,além de pro-porcionar significativo descanso da matriz e melhoriadas funções reprodutivas. Entretanto, são escassos ostrabalhos para comparação do uso do creep feedingcom alternativas de produção de cordeiro empastagem na Região Sul do Brasil.

    Poli et al. (2008) e Ribeiro et al. (2006), consta-taram que cordeiros em pastejo com suas mães, comou sem suplementação em creep feeding tiveramganho de peso superior comparado com aqueles des-mamados e terminados exclusivamente a pasto. Essesdados comprovam que a interação social mãe-filhomostrou-se fato relevante no sistema de produção decordeiros. Silva et al. (2007) confirmaram que a maioroferta de suplementação concentrada acarretou à elevação no ganho médio diário de peso, e conseqüen-temente a redução da idade de abate sendo que a cadauma unidade percentual de aumento de nível de suple-mentação levou ao aumento de 0,076 kg/dia no GMDe redução de 27 dias na idade de abate. No mesmoestudo constatou-se que a elevação em uma unidadepercentual do nível de suplementação houve umacréscimo de 2,29% no rendimento de carcaça quente,2,87% no rendimento de carcaça fria e 1,29% norendimento verdadeiro, diminuindo as perdas decordeiros.

    A utilização de pastagem de inverno (azevém) euma leguminosa (trevo branco) como suplemento dealto valor protéico para os cordeiros mostrou resulta-dos satisfatórios do ponto de vista do desempenho doscordeiros, onde os cordeiros suplementados em creepgrazing tiveram desempenho semelhante aos cordeirossuplementados em creep feeding, 294 e 324 g/diarespectivamente, (Ribeiro et al. 2008a), com carac-terísticas da carcaça também semelhantes (Ribeiro etal. 2008b e Silva et al. 2008).

    Comportamento ingestivo em pastejo

    O ecossistema pastoril é caracterizado por uma sériede inter-relações, e uma delas compreende a interfaceplanta-animal, regida por relações causa/efeito ondediferentes estruturas de dossel forrageiro determinampadrões distintos de comportamento e desempenhoanimal (Sarmento, 2003).

    Para adequada compreensão da interface planta-ani-mal, é necessária a descrição tanto da estrutura dapastagem ao longo de seu ciclo, quanto dos compo-nentes do comportamento ingestivo (Laca e Lamaire,2000). Dentre eles estão o tempo em pastejo e otamanho e taxa de bocados.

    A estrutura espacial do relvado tem grande influên-cia no comportamento de pastejo dos animais, comefeitos claros da altura das pastagens (Flores et al.,1993) e da disponibilidade dos itens preferidos pelosanimais (Prache e Peyraud, 1997) sobre a taxa deingestão instantânea, o peso e a taxa de bocado.Trevisan et al. (2005) afirma que a quantidade demassa seca e, principalmente, a disponibilidade defolhas verdes acessíveis nos horizontes superficiais dapastagem afetam o tempo de permanência dos rumi-nantes na busca e colheita do alimento.

    Hodgson (1979) define seleção como sendo a

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    preferência modificada por circunstâncias ambientais.No estudo dos fatores que afetam a seleção de dietapor animais em pastejo deve-se considerar, emprimeiro lugar, aquilo que os animais preferem comer.Logo, pode-se definir preferência, como sendo o queos animais comem quando não existem constrangi-mentos físicos e ambientais.

    A facilidade com que o animal colhe as plantasdepende das características estruturais da pastagem,expressas principalmente pela massa de forragem(toneladas de MS por área), altura, relação caule:folha e pela densidade da biomassa total e de folhas(Combellas e Hodgson, 1979). Para Carvalho et al.(2001) e Silva et al. (2003) a facilidade de apreensãoda forragem é um dos fatores determinantes deaumentos ou reduções no tempo de pastejo e, conse-qüentemente, de alterações nos tempos de ruminação,ócio, atividades sociais, entre outras.

    Adicionalmente, o tempo gasto na atividade depastejo é influenciado pelo tamanho do grupo de ani-mais, geralmente com redução do período de pastejopara grupos pequenos, com menos de três animaispara ovinos (Penning et al., 1993) e pela existência eou, proximidade de animais dominantes no grupo,situação em que ocorre uma redução na taxa de bocados (Thouless, 1990) indicando a importância doambiente social no processo de pastejo (Carvalho etal., 1999).

    Muitos pesquisadores tentam modelar os padrões deingestão e seleção da dieta de ruminantes em pasto-reio (Mertens, 1994; Allen, 1996; Illius e Gordon,1999; Baumont et al., 2000). A maioria dos modelosleva em consideração apenas a qualidade da dieta(Illius e Gordon, 1999); no entanto, alguns modelosconseguem estimar a relação da ingestão de forrageme as características da pastagem (Illius e Gordon,1987; Baumont et al., 2004).

    Consumo de forragem por animais empastejo

    O consumo é fundamental à nutrição, pois determinao nível de nutrientes ingeridos e, portanto, a respostaanimal (Van Soest, 1994). O consumo de forragempode ser influenciado por fatores nutricionais e nãonutricionais. Os fatores nutricionais envolvem o valornutritivo da forragem, fatores físicos como o enchi-mento do rúmen, além de fatores metabólicos (Allen,1996). Os fatores não nutricionais estão relacionadosprincipalmente com a habilidade do animal em colhera forragem, sendo determinados pela estrutura dapastagem e o comportamento ingestivo do animal eincluem: seleção da dieta, tempo de pastejo, tamanhode bocado e taxa de bocado. A estrutura e composiçãobotânica do dossel da pastagem podem exercer umefeito direto sobre o consumo de forragem dos ani-mais em pastejo, independente da influência da sua

    composição química e conteúdo de nutrientes(Hodgson, 1990). Vale ressaltar que o consumo só serácontrolado pelos fatores nutricionais quando a quantidade de forragem disponível não for limitante.

    Animais com diferentes potenciais de produçãoconsomem diferentes quantidades da mesma forragem,o que pode ser explicado por diferenças existentes noconsumo por bocado, taxa de bocado e tempo depastejo. Ovinos tendem a ter uma menor taxa debocadas e um maior tempo de pastejo que bovinos,embora com pequenas diferenças e nem sempre consistentes, e estão provavelmente associadas comuma maior seletividade de pastejo por ovinos emmuitas circunstâncias (Hodgson, 1990). A seleção dadieta envolve a seleção de um local de pastejo seguidoda seleção do bocado. A seleção do local de pastejo éinfluenciada pela espécie da planta, estágio de maturi-dade e deposição de fezes e urina, além de fatoresrelacionados a variações na micro-topografia, abrigos,alinhamento de cercas e sombra. Já a seleção do bocado é influenciada pela preferência do animal porcomponentes da planta e sua relativa acessibilidade e abundância. Em geral, lâminas foliares são os com-ponentes da planta preferencialmente consumidos,devido ao menor gasto de energia requerido para suacolheita em relação aos caules, pela sua menorresistência à quebra pela mastigação e menor tempode retenção no rúmen (Minson, 1990).

    O processo de pastejo envolve basicamente três etapas, não necessariamente excludentes (Carvalho etal., 2001): tempo de procura pelo bocado, tempo deação do bocado e o tempo de manipulação do bocado.O tempo de procura pode variar conforme a condiçãoda pastagem, sendo praticamente nulo em pastagenscultivadas, com abundância de forragem, e maior empastagens com menor disponibilidade e heterogêneas.A ação do bocado é composta por movimentos quevisam à captação e apreensão de lâminas foliares. Otempo de manipulação do bocado é parcialmentesobreposto ao tempo de ação do bocado em bovinos,visto que a mastigação é acoplada ao processo deapreensão, enquanto que em ovino isso não ocorre,sendo que o animal aloca um ou outro tipo em respos-ta à estrutura da vegetação.

    Conforme Cosgrove (1997), o pastejo é um processopelo qual os animais usam seus sentidos, cabeça emembros de locomoção para localizar bocados poten-ciais, e suas partes da boca para colher a forragem,apreendendo-a entre os dentes e a almofada dental,cortando-a com um movimento de cabeça, mastigan-do-a para formar um "bolus", e então engoli-la.

    O consumo total de forragem de um animal em pastejo é o resultado do acúmulo de forragem consumida em cada bocado, e da freqüência com queos realiza ao longo do tempo em que passa se alimen-tando (Carvalho et al., 2008). Neste sentido, qualquervariação nesses parâmetros pode influenciar o con-sumo de forragem. Em uma situação onde o consumo

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    por bocado é reduzido, o animal utiliza mecanismoscompensatórios no intuito de manter seu consumodiário, como o aumento da taxa de bocado e aumentodo tempo de pastejo (Hodgson, 1990).

    A taxa de bocado e o consumo por bocado são influ-enciados pela estrutura da pastagem, a acessibilidadede componentes da planta preferidos pelo animal e amassa de material que pode ser agregada dentro de umbocado. As variações na taxa de bocado em resposta adiferentes condições da pastagem resultam da formacom que os animais distribuem os movimentosmandibulares para colher, apreender e mastigar a forragem (Cosgrove, 1997). A variação na taxa debocado conforme a estrutura da pastagem foi demons-trada por Trevisan et al. (2004) com novilhos empastagem de aveia (Avena strigosa Schreb) e azevémanual (Lolium multiflorum Lam.) com diferentes mas-sas de lâminas foliares, e por Pedroso et al. (2004)com ovinos em pastagem de azevém anual com diferentes estádios fenológicos. De forma geral, empastagens baixas, a redução na taxa de bocadas podeser devido à dificuldade no corte da forragem,enquanto que em pastagens altas, pode ser resultadoda necessidade de maiores movimentos mandibularespara manipulação do material colhido (Cosgrove,1997).

    Neste sentido, a condição na qual a pastagem se apresenta ao animal, influenciando a forma e a freqüência dos bocados, o tempo destinado a estasatividades será determinante na obtenção de um consumo de nutrientes de acordo com a exigência doanimal. Em ambiente de pastejo, os animais realizamuma série de atividades, dentre as quais se destacam opastejo, a ruminação, o descanso, a vigilância, ativi-dades sociais, etc., havendo, portanto uma competiçãoentre elas em uma mesma escala de dia (Carvalho etal., 2001). O tempo destinado á atividade de pastejoraramente excede 12 a 13 h, e tempos de pastejo acimadestes valores podem interferir na atividade de rumi-nação e outras exigências comportamentais. Empastagens cultivadas de inverno tem-se observadotempos de pastejo entre 8-9 horas diários para bovinos(Trevisan et al., 2004; Bremm et al., 2005). Com ovinos, Pedroso et al. (2004) verificaram influência doestádio fenológico do azevém no tempo de pastejo,variando de 9,6 a 10,7 h/dia nos estádios vegetativo eflorescimento, respectivamente.

    Na ovinocultura, é comum em muitas propriedadeso uso de período de pastejo restrito no período diurno,manejo este realizado com a finalidade de evitarataque de predadores no período noturno. Neste contexto, os animais dispõem de um período limitadode pastejo, e condições da pastagem que interfiramnos componentes do bocado podem não ser compen-sados. Avaliando o efeito do pastejo restrito sobre ocomportamento ingestivo de ovelhas, em pastagemconstituída de Lolium perenne L. mais Phleumpratense L., com duas alturas de pastejo (3,0 e 5,5

    cm), Iason et al. (1999) verificaram que o consumo deforragem foi prejudicado nos animais mantidos em pastagens com alturas baixas (3,0 cm). Já os ani-mais mantidos em pastagens mais altas (5,5 cm), conseguiram compensar o menor tempo de pastejo,mantendo consumo semelhante aos animais que tiveram acesso a pastagem por 24 h.

    Vários estudos confirmam a importância da alturado pasto na determinação das dimensões do bocado,em particular sua influência sobre a profundidade dobocado (Dittrich et al., 2007, Gonçalves et al., 2009).Em outras palavras, a estrutura do pasto afeta aingestão desde o seu menor nível de resolução, obocado. Carvalho et al. (2008) têm argumentado queo manejo de pastagens deva significar a criação deestruturas que otimizem as relações planta-animaldesenvolvidas há milhares de anos.

    Trindade et al. (2009) reportaram que estruturascom elevada altura de entrada, que signifiquem a presença de colmos em posições elevadas do dossel,dificulta o alcance de metas de estrutura para o pós-pastejo, pois os animais se recusam a pastejar a partirde "uma certa estrutura". Pastos de braquiária, cujoponto de entrada se defina por quando o dossel atinja95% de interceptação luminosa, apresentam maiorproporção de folhas no dossel a ser rebaixado. Aexemplo do constatado por Amaral (2009), os autoresobservaram elevada taxa de rebaixamento no início dopastejo, que diminui acentuadamente até os 40-50%da altura a ser rebaixada, a partir do qual a taxa semantém mais ou menos constante até o final dorebaixamento.

    Embora haja uma relação direta e positiva entre aaltura e a massa do bocado pelo impacto que a pro-fundidade do bocado tem sobre as dimensões dobocado, há uma altura ótima a se ter como meta. Aindaque se possam ter incrementos de massas do bocadoem alturas muito elevadas, o aumento no custo tempo-ral em realizá-lo acaba por penalizar a taxa de ingestão(Carvalho et al., 2001; Silva et al., 2005; Gonçalves etal., 2009). Isto ocorre porque o tempo para formaçãodo bocado aumenta em virtude da necessidade, cadavez maior, de movimentos manipulativos que os animais são obrigados a realizar, no intuito de traze-rem a forragem dispersa no espaço até o momento dadeglutição (Carvalho et al., 2001).

    O bocado é a unidade fundamental de consumo, esua realização é definida como uma série de movi-mentos da cabeça e partes da boca que precede einclui o corte e a aproximação da forragem até a boca(Ungar, 1996). A massa de bocado, a qual consiste naquantidade de forragem consumida em cada bocado, édeterminada pelas dimensões do bocado (profundi-dade e área de bocado, as quais resultam no volume debocado) e da quantidade de forragem presente dentrodo volume de bocado, ou densidade volumétrica doestrato pastejado, a massa de bocado não parece teruma limitação imposta pelas características da boca

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    do animal, sendo uma resposta das caraterísticas dapastagem (Cosgrove, 1997).

    Animais tendem a concentrar sua atividade depastejo nas camadas do dossel que contêm principal-mente material foliar, e o aumento na profundidade depastejo com aumento da altura do pasto é paralelo aum incremento na profundidade da camada de lâminasfoliares na pastagem (Hodgson, 1990).

    O pseudocolmo é considerado como principal barreira primária para a restrição da profundidade debocado, mas estudos têm demonstrado que ele não é ofator mais importante (Burlinson et al., 1991;Griffiths et al., 2003). Segundo Burlinson et al. (1991)as variáveis limitando a profundidade de bocado podeser diversas, tais como: aumento na força requeridapara cortar a forragem em estrato mais profundo (umbocado profundo possivelmente agrupa mais folhas ecolmos com maior resistência tênsil), o comprimentode folha ou colmo no qual o animal se sente confor-tável para manipular, e a presença de material mortoou infecção fúngica nos níveis inferiores do perfil dopasto. Em condições, onde se force o animal a pastejarestratos com predominância de colmos e de materialsenescente, é comum que se observem aumento nosintervalos intra-refeição (Amaral, 2009), a queda dotempo em alimentação e a queda da taxa de bocados(Trindade et al., 2009).

    A área do bocado é influenciada por fatoresanatômicos e comportamentais, onde o animal érestringido pela largura de sua arcada dentária e pelasua máxima abertura (Cosgrove, 1997). Entretanto, osbovinos podem alterar sua área de bocado em respostaas características do pasto usando movimentos de língua enquanto que os ovinos podem utilizar-se demovimentos de lábios e cabeça, principalmente movi-mentos laterais, de forma a otimizar a colheita da forragem (Burlinson et al., 1991; Laca et al., 1992;Cosgrove, 1997).

    Laca et al. (1992) observaram que o número demovimentos de língua em bovinos foi negativamenteafetado pela densidade do pasto enquanto que suaamplitude foi positivamente relacionada com a alturado dossel. Com ovinos, Burlinson et al. (1991) veri-ficaram que a área de bocado foi principalmente afetada pela altura da pastagem. Mesmo assim, a áreade bocado é menos sensível do que a profundidade dobocado em resposta às características da pastagem(Hodgson, 1997).

    O produto entre a profundidade de bocado e a áreade bocado resulta no volume do bocado, sendo estecorrelacionado positivamente com a altura dapastagem (Burlinson et al., 1991; Laca et al., 1992).Como a variação da área de bocado em relação àestrutura da pastagem é menor, a massa de bocado éinfluenciada fundamentalmente pela resposta da profundidade de bocado à altura da pastagem, apre-sentando uma relação de proporcionalidade ao longode uma ampla variação de alturas da pastagem

    (Hodgson et al., 1997). Em pastagens de Dactylisglomerata cv. Lucifer, com diferentes estádios fenoló-gicos (vegetativo e florescimento), Prache (1997)demonstrou que o melhor preditor para massa debocado é a massa de lâminas foliares.

    A descrição acima mostra a complexidade envolvi-da no processo de pastejo dos animais, e demonstra aampla gama de fatores influenciando o consumo animal. Todo esse mecanismo é utilizado pelo animalde forma a ajustar sua exigência de consumo frente àestrutura da pastagem. Isso é mais pronunciado emambientes heterogêneos. A heterogeneidade de umapastagem pode ser descrita do ponto de vista espacial,com variação quanti-qualitativa ao longo da pastagem,ou temporal, com variação em função do tempo, comoao longo das estações do ano (Carvalho et al., 1999).Em uma vegetação heterogênea Agreil et al. (2005)demonstraram a dinâmica do comportamento ingesti-vo, onde ovelhas ajustaram seu comportamento emdiferentes escalas de tempo. Esses autores observaramque os animais ajustaram seu comportamento alimen-tar diariamente, o que levou a uma estabilização dadigestibilidade média diária do material ingerido e damassa de bocado.

    O animal quando submetido a sistemas de termi-nação em pastagem, depara-se com um ambiente ondenecessita realizar uma série de decisões visandootimizar a atividade de pastejo. Entretanto, qualqueralteração causada neste ambiente, seja pela capaci-dade desfolha dos animais, que difere conforme a categoria animal, ou então pela adição de um novocomponente, no caso a suplementação, irá obrigá-lo areajustar suas ações alimentares.

    O desmame e a suplementação, apresentam boasperspectivas de utilização na terminação de cordeirosem pastagem, efetivando a terminção de um elevadonúmero de animais por área, proporcionando ummenor custo de produção. Neste sentido, faz-senecessário o contínuo estudo, utilizando combinaçõesde espécies forrageiras e suplementos em diferentessistemas de terminação para obter embasamentos pararecomendações.

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  • ARTIGO DE REVISÃO

    Aditivos fitogênicos na nutrição animal: Panax ginseng

    Phytogenic additives in animal nutrition: Panax ginseng

    Aiane A. S. Catalan1*, Edenilse Gopinger1, Débora C. N. Lopes1, Fernanda M. Gonçalves1,Aline A. P. Roll1, Eduardo G. Xavier1, Valdir S. Avila2, Victor F. B. Roll1

    1Programa de Pós-Graduação em Zootecnia – DZ/ FAEM. Universidade Federal de PelotasCampus Universitário, s/no, CEP: 96010-900, Pelotas-RS

    2Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – CNPSA. Concórdia-SC. Caixa Postal: 21, CEP: 89700-000

    R E V I S T A P O R T U G U E S A

    CIÊNCIAS VETERINÁRIASDE

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    Resumo: Nos últimos anos, as pesquisas com plantas medicinais vêm aumentando com o objetivo de substituir o usode antibióticos na produção animal, que estão sofrendorestrições ao seu uso, em especial, pela crescente preocupaçãodos consumidores em adquirir produtos sem resíduos químicos.Neste sentido, o seguimento produtivo também busca uma produção direcionada a quantidade mas com ênfase especial a qualidade final do produto. Por isso o uso de produtos alter-nativos ou fitoterápicos está sendo estudado com o intuito demanter as características dos antibióticos na alimentação animalsem diminuir a produtividade ou afetar o desempenho animal.Panax ginseng (ginseng) é um fitoterápico tradicionalmenteconhecido, indicado como adaptogênico, imunoestimulante erevigorante físico. Os seus benefícios são bem documentadospara humanos, entretanto, poucas pesquisas têm sido realizadasa fim de evidenciar sua contribuição para animais. Assim, estudos que apontem a dose ideal, bem como, o regime de ali-mentação necessário para a observação de efeitos benéficoscom a utilização de Panax ginseng nas dietas para animais deprodução devem ser conduzidos.

    Summary: In recent years, research on medicinal plants hasincreased in order to replace the use of antibiotics in animal pro-duction. The use of antibiotics in animal nutrition is sufferingrestrictions and consumers are looking for products withoutchemical residues. Therefore, animal production has beendirectly related to the quantity and quality of the final product.As a result, to maintain the characteristics of antibiotics in animal feeding without decreasing productivity or affecting animal performance, the use of alternative or herbal products isbeing studied. Panax ginseng (ginseng) is a traditionally knownherbal medicine, indicated as adaptogenic, immune stimulantand physical invigorant. Its benefits are well known in humanhealth; however few trials have been conducted to show thesebenefits on animal production. Therefore, to elucidate the benefits of Panax ginseng in animal feeding, future studiespointing out to the optimal dose and feeding regimen for maximum performance and health should be conducted.

    Introdução

    A preocupação com a produção animal está cadavez mais direcionada para a quantidade e a qualidade

    do produto final, e a sua implicação com a segurançaalimentar, meio ambiente e bem-estar animal.

    Associado às novas exigências de mercado, o uso deantibióticos como promotores de crescimento estáproibido desde 2006 pela comunidade europeia, contribuindo para que os consumidores em geral setornem cada vez mais preocupados com a segurançados alimentos.

    Os antibióticos têm mecanismos de ação específi-cos, inibindo a síntese ou o metabolismo celular, oumodificando o DNA e o RNA de microorganismos. Jáem 1947 – menos de 20 anos depois da descoberta dapenicilina – foi documentada pela primeira vez aresistência antibacteriana a esse composto. Hoje, aresistência bacteriana causa sérios problemas e conse-quências não apenas em termos de saúde animal, mastambém para o controle das espécies bacterianasenvolvidas em doenças humanas (Pearce e Jin, 2010).Tais fundamentos justificam o empenho do seguimen-to produtivo na busca por alternativas para a produçãoanimal e, neste caso, a inclusão de substâncias natu-rais, como fitoterápicos, extratos vegetais ou produtosalternativos aos antibióticos.

    Os custos com a alimentação dos animais de produção são responsáveis pela maior parte dos custostotais de produção. Portanto, a necessidade de ingredientes alternativos com intuito de melhorar ocrescimento, a eficiência na produção e a imunidadedo animal têm estimulado o desenvolvimento depesquisas baseadas em nutrientes que melhorem afunção imune e digestiva dos animais (Zavarize et al.,2010).

    Os trabalhos com produtos naturais em animaisainda são pouco explorado, com isso, os estudos quecomprovam a eficácia dos mesmos são escassos,porém esse setor vem crescendo e os trabalhos são osmais variados, principalmente no aumento da resistên-cia do organismo animal contra doenças, intoxicaçõesou problemas ambientais, de modo que a ação antimi-crobiana destes fármacos atuem de forma eficiente,evitando a imunossupressão, estresse e, consequente-

    *Correspondência: [email protected]: +(55) 53 32757274; Fax: (55) 53 32757274

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    mente, redução no desempenho dos animais. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária

    (Anvisa, 2011) as plantas medicinais são aquelascapazes de aliviar ou curar enfermidades e têmtradição de uso como remédio em uma população oucomunidade e, quando essas plantas são industriali-zadas para se obter um medicamento, tem-se comoresultado o fitoterápico. O processo de industrializaçãoevita contaminações por microorganismos, agrotóxicose substâncias estranhas, além de padronizar a quanti-dade e a forma certa que deve ser usada, permitindouma maior segurança de uso.

    Panax ginseng é uma planta medicinal, sendo recon-hecido mundialmente como "a planta que cura todosos males". A partir dos princípios ativos presentes nasua raiz são elaborados os medicamentos fitoterápi-cos, que segundo Kiefer e Pantuso (2003) possuemuma variedade de efeitos benéficos, incluindo antin-flamatório, antioxidante e anticancerígeno. Segundoos mesmos autores, estudos clínicos demonstram quePanax ginseng pode melhorar a função psicológica,imunológica, e condições clínicas associadas com diabetes. Entretanto, os estudos que avaliam sua utilização na nutrição animal são escassos e na avicul-tura suas propriedades ainda são pouco conhecidas.

    Aditivos fitogênicos

    Nos últimos anos as pesquisas com plantas medici-nais vêm aumentando consideravelmente. Algumasespécies tradicionais têm sido o ponto de partida paraa fabricação de importantes medicamentos. Possuindoa mais rica biota do planeta, o Brasil submete a estudos químicos e farmacológicos menos de 10% dototal de plantas existentes no país. Para que possam sercomercializados, os medicamentos com base em plantas devem ter seus efeitos comprovados e, princi-palmente, ser isentos de toxicidade. Apesar disso,diversos produtos à base de plantas são lançados nomercado brasileiro, sem seguir essas diretrizes(Tagliati et al., 2008).

    Planta medicinal pode ser definida como o vegetalque possua, em um ou mais órgãos, substâncias ativasque atuem com fins terapêuticos ou que sejam precur-sores de fármacos semi-sintéticos (Bulletin of theWorld Health Organization, 1998). Já o fitoterápico,de acordo com a definição da Agência Nacional deVigilância Sanitária, publicado pela portaria no6 de 31de janeiro de 1995, é "todo medicamento tecnica-mente obtido e elaborado, empregando-se exclusiva-mente matérias-primas vegetais com finalidade profilática, curativa ou para fins de diagnóstico, combenefício para o usuário. É caracterizado pelo conhe-cimento da eficácia e dos riscos do seu uso, assimcomo pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade. É o produto final acabado, embalado erotulado. Na sua preparação podem ser utilizados

    adjuvantes farmacêuticos permitidos na legislaçãovigente, não podem estar incluídas substâncias ativasde outras origens, ainda que de origem vegetal, isoladas ou mesmo em misturas".

    Aditivos fitogênicos na produção animal

    Por vários anos os antibióticos vêm sendo usados naprodução animal, principalmente como promotores decrescimento, e com resultado satisfatórios. Entretanto,atualmente estão sofrendo restrições e até mesmo aproibição do seu uso nas rações de aves, especial-mente pela crescente preocupação dos consumidoresem desejarem adquirir produtos sem resíduos quími-cos. Estas são razões pelas quais produtos alternativosestão sendo estudados, com o intuito de manter as características dos antibióticos na alimentação animalsem diminuir a produtividade, possibilitando o desenvolvimento de aves mais saudáveis (Penz et al.,1993).

    A importância da interação entre nutrição e saúde éindispensável em um sistema de produção animal,ainda que por consequência, fatores ligados ao ambi-ente e manejo também influenciem o desempenhoprodutivo do indivíduo e do rebanho (Gonçalves et al.,2010). Neste contexto, os aditivos são usados nanutrição animal visando o bem-estar e o máximodesempenho animal, além de não serem prejudiciaisaos animais e ao homem, não devem deixar resíduosnos produtos de consumo e nem contaminar o meioambiente. Dentre os aditivos mais estudados e utilizados atualmente se destacam os ácidos orgâni-cos, plantas e seus extratos, enzimas, probióticos eprebióticos, os quais até então têm apresentado resultados satisfatórios (Costa, 2009). Porém, estesainda são inconsistentes entre os pesquisadores, poiscada um tem uma abordagem diferente, assim como ametodologia em análises laboratoriais, entre outros.

    Os aditivos fitogênicos vêm chamando a atençãodos estudiosos, pois agem impedindo doenças comunsnos animais e também na manutenção da saúde. Osfitogênicos também são de interesse dos consumi-dores porque são consideradas alternativas naturais acompostos sintéticos (Pearce e Jin, 2010).

    As espécies Hypericum perforatum (hipérico),Allium sativum (alho), Origanum majorana (man-jerona), Thymus vulgare (orégano), Menta piperita(hortelã), Rosmarinus officinalis (alecrim), Thymusvulgaris (tomilho), Juniperus communis (zimpro),Capsicum annuum (pimenta vermelha) e Allium cepa(cebola) despertaram interesse dos pesquisadores danutrição animal, pois possuem princípios ativos quepodem trazer benefícios aos animais (Kamel, 2000).

    Lima et al. (2006) citam também o uso de algumasplantas medicinais para animais, tais como: abóbora(Curcubita pepo L.) como vermífugo, antitérmico,cicatrizante e anti-inflamatório; alho (Allium sativum

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    L.) como inseticida com ação sobre carrapatos emosca-do-chifre nos bovinos; arnica (Solidago chilensis Meyen) com as inflorescências secas sãoqueimadas para tratar o garrotilho em cavalos, também é utilizada como analgésico nas contusões eentorses dos animais; eucalipto (Eucaliptus globulusLabill) em complicações das vias respiratórias e emcasos de febre; sabugueiro (Sambucus australis Cham& Schltdl.) com ação diurética, anti-inflamatória,antipirética, anti-séptica, cicatrizante e as cascas sãoindicadas para reumatismo e pneumonia; vassourinha(Scoparia dulcis L.) em aves é utilizada no tratamentode bouba aviária.

    O maior desafio na utilização de extratos vegetaistem sido a identificação e o estabelecimento dosefeitos exercidos pelos compostos ativos presentesnessas plantas sobre o organismo animal (Rizzo,2008).

    Aditivos fitogênicos na avicultura

    A tendência atual é a produção de alimentosseguros, proporcionando conforto aos animais e evi-tando a utilização de produtos químicos. Isto ocorredevido ao aumento de consumidores preocupados emutilizar esta categoria de produtos, e consequente-mente, estimulando os produtores a buscarem atenderesse mercado, a fim de evitar riscos à saúde humana,decorrente da utilização indiscriminada de antibióti-cos e produtos quimioterápicos nas aves comerciais.Segundo Medeiros (2008), os aditivos fitogênicosestão sendo testados nas diversas espécies, incluindoaves, suínos e ruminantes, como alternativas aos promotores de crescimento e como forma preventivade algumas doenças.

    Como opção, Fukayama et al. (2005) destacam oextrato de orégano, por possuir o carvacrol e o thy-mol, compostos com propriedades antimicrobianas.Essa atividade antimicrobiana é exercida na mem-brana celular bacteriana, impedindo sua divisãomitótica, causando desidratação nas células eimpedindo a sobrevivência de bactérias patogênicas.Segundo os mesmos autores, o extrato de orégano foitestado como aditivo substituto ao promotor de cresci-mento em frangos de corte de 1 a 42 dias de idade,associado ou não a um antibiótico, e não apresentoucaracterísticas diferentes ao do antibiótico e da testemunha, quanto ao desempenho, à qualidade dacarcaça, à avaliação anátomo-fisiológica do tratodigestório e às bactérias encontradas no ceco das aves.

    Toledo et al. (2007) testaram um antibiótico e umfitoterápico comercial a base de orégano (carvacrol),canela (cinamaldeído), eucalipto (cineol), artemísia(artemisinina) e trevo (trifolina) em dietas para frangos de corte e observaram que a inclusão tanto doantibiótico como do fitoterápico na dieta não altera o desempenho das aves, pois não foi observado

    diferença significativa para as variáveis consumo deração, peso corporal e conversão alimentar. Porém, osautores verificaram uma melhor taxa de viabilidadecriatória para os tratamentos que receberam algumtipo de promotor de crescimento.

    Em outra pesquisa, Bonato et al. (2008) estudando ainclusão de acidificantes e extrato vegetal (óleosessenciais e extratos de plantas contendo saponinas)isolados ou em combinação em dietas para poedeirascomerciais, constataram que a associação de 400 g/tde ácido e 150 g/t de extrato vegetal aumentou o consumo das aves no primeiro ciclo de produção. Paraa variável produção de ovos e conversão alimentaressa mesma associação e dosagem apresentou melhores resultados em todos os ciclos avaliados. Osautores consideram a hipótese de que os aditivos atuaram melhorando a qualidade do trato gastroin-testinal, porém para as aves em final de ciclo de produção, esses aditivos, fornecidos isolados ou emcombinação, não alteraram a qualidade dos ovos.

    Outro extrato vegetal já estudado é a pimenta (Pipersp.), através do seu composto ativo, piperina (1-piper-oil piperidine). Mundialmente conhecida, a pimenta éusada como tempero ou ingrediente na medicina alternativa (Parmar et al., 1997). A piperina pode serutilizada como aditivo natural na produção animal porapresentar vantagens, principalmente por ser um produto natural que pode ser encontrado em grandesquantidades. Além do baixo custo de produção, nãodeixa resíduos no organismo animal, diferente do quese preconiza com a utilização dos antibióticos, possuindo atividade antioxidativa, antiapoptótica e derestauração de células, sugerindo seu uso terapêuticoem condições de comprometimento do sistemaimunológico de mamíferos (Cardoso et al., 2009).

    De acordo com Cardoso et al. (2009), a adminis-tração da piperina na dieta de frangos de corte nãopromoveu mortalidade no lote ou alterações clínicasno estado geral dos animais. Os resultados sugeremque a administração de 1,12 mg de piperina por quilode peso vivo durante 14 dias não apresenta efeitos tóxicos para frangos de corte e estimula o número de heterófilos. Quando em doses mais elevadas ocorreram alterações histopatológicas nos tecidosanalisados e elevação significativa do número total eespecífico de leucócitos.

    Segundo Horton et al. (1991), o alho (Alliumsativum L.) possui inúmeras propriedades terapêuticase profiláticas, estimulando as pesquisas principal-mente no âmbito dos problemas cardiovasculares. Oalho também é adicionado à ração de cães e gatos paramelhorar a palatabilidade e, tradicionalmente, paracavalos atletas, objetivando aumentar o consumo deração e melhorar o desempenho desses animais.Segundo os autores, os efeitos do alho para os perfisbioquímicos e hematológicos em ovinos e suínosforam investigados após ser pesquisado para reduzir ocolesterol e triglicerídeos em aves. Segundo Bianchin

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    et al. (2000), é possível encontrar em sua composiçãoaminoácidos, minerais, vitaminas, além da alicina,este é um composto sulfuroso que pode ser o principalresponsável pelos benefícios e propiciar o cheiro característico do alho.

    Outro aditivo fitogênico testado em animais foi oextrato de pomelo (Citrus maxima), por Gabriel Junioret al. (2009), na ração de frangos de corte. Para cadafase de criação, os tratamentos consistiram em umcontrole negativo, isento de promotor de crescimento,um controle positivo, com adição de 56 ppm doantibiótico Neomicina e três níveis de inclusão doextrato de pomelo no controle negativo: 100 ppm, 150ppm e 200 ppm. A utilização do extrato de pomeloapresentou resultados de desempenho semelhantes aosobtidos com o uso do antibiótico, porém superioresàqueles obtidos com a ração isenta de promotor decrescimento durante o período de 1 a 42 dias de idade.Isto mostra que é possível utilizá-lo como promotor decrescimento, sendo que a concentração de 124 ppm deextrato de pomelo nas rações foi considerada suficiente para aumentar o ganho de peso e o peso corporal de frangos de corte na idade de abate.

    Rizzo et al. (2010) objetivaram avaliar diferentesmisturas de extratos vegetais na dieta de frangos decorte através da avaliação do desempenho, das características de carcaças das aves, além da energiametabolizável e digestibilidade da proteína bruta dasdietas. As dietas experimentais foram: dieta comantibiótico (controle positivo); dietas sem aditivos(controle negativo); e dietas com extratos vegetais deorégano, canela e óleo-resina de pimenta, além de ração suplementada com produto comercial constituído de óleo de eucalipto, óleo essencial decanela-da-china, folhas de boldo-do-chile e sementesde feno-grego. Os produtos foram suplementados nafase inicial, até 21 dias de idade, na quantidade de 500ppm, e de 1200 ppm nas fases de crescimento e final(21 a 42 dias de idade das aves). A partir de 21 dias de idade das aves o anticoccidiano não foi maisfornecido. Foi observado que os extratos vegetais nãoalteram as características das variáveis estudadas.

    Segundo Bonato et al. (2008), os óleos essenciaisainda precisam ser melhor estudados, pois a formacomo atuam no organismo animal, melhorando odesempenho dos mesmos, ainda não está bem elucida-do. Entretanto, as hipóteses mais aceitas são as de quemelhorem o desempenho dos animais através doaumento da palatabilidade da ração, do estímulo dasecreção de enzimas endógenas e da função digestiva,do controle da microflora intestinal, e também naredução de infecções subclínicas.

    A maioria dos trabalhos destaca a importância douso dos aditivos fitogênicos quanto a sua ação antimi-crobiana, porém no trabalho realizado por Silva et al.(2010) foi avaliado o efeito da inclusão de passiflorana ração sobre o desempenho, o comportamento, arelação heterófilo/linfócito, a concentração plasmática

    de corticosterona e a imunidade de codornas. Estefitoterápico é largamente utilizado como sedativo epor sua ação ansiolítica. A partir desse trabalho osautores concluíram que o uso da passiflora na dietaaltera os parâmetros comportamentais de codornasdurante a fase de criação, porque as aves ficam maiscalmas, principalmente com a dosagem de 375 mg/kgde ração. No período de postura, os melhores resulta-dos são obtidos com 500 mg/kg de ração, porque estadose é suficiente para efeitos calmantes sem afetar aprodução e a qualidade dos ovos ou a resposta imunedas codornas.

    Panax ginseng

    Panax ginseng, com milhares de anos de história, étradicionalmente conhecida no Oriente como a maisvaliosa de todas as ervas medicinais. Neste contexto,os povos orientais têm usado as raízes de ginseng eseus extratos para revitalizar o corpo e a mente,aumentar a força física, retardar o envelhecimento eaumentar o vigor. Porém, essa eficácia é reconhecidacom base na teoria oriental e, a partir de 1970, teoriascientíficas permitiram determinar as propriedades doginseng. No entanto, esses estudos ainda estão emestágios iniciais, estando aquém de identificar deforma satisfatória o "mistério" desta planta (Choin,2008).

    Vários tipos de ginseng são encontrados em todo omundo e fazem parte da família Araliaceae, gêneroPanax. As espécies mais comuns são Panax ginseng(ginseng chinês) e Panax quinquefolius (ginsengamericano). Panax ginseng se torna mais potentequando colhido após quatro ou cinco anos de cresci-mento (Hofseth e Wargovich, 2007).

    A palavra Panax é de origem grega, composta daspalavras "pan" e "axos" que significam "tudo" e"tratamento", respectivamente; ou seja, "bom paratudo ou para todos os males". Devido a raiz ter seuformato parecido com o corpo humano, recebeu onome "ginseng" que deriva do chinês "Jen Shen",traduzindo como "raiz humana" (Choin, 2008).

    Segundo Dubick (1986), apesar de existirem estudos sobre os benefícios de Panax ginseng, osmecanismos de efeito e/ou os princípios ativos não sãoainda muito conhecidos. Sistemáticas tentativas deidentificar estes princípios ativos foram dificultadaspela dificuldade na análise da composição química daraiz, sendo que alguns produtos comerciais podemvariar de acordo com o método de preparação ou atémesmo não conter realmente Panax ginseng em suacomposição.

    Chen et al. (2008) salientam que os efeitos farmacológicos de medicamentos à base de plantasdependem do tipo de componente bioativo e da quantidade que é usado. No entanto, as variáveis comosolo, adubação, precipitação, temperatura, distância

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    entre as plantas cultivadas e idade, irá determinar aqualidade da erva. Assim, os componentes bioativosem folha, flor, broto, semente, bagas, tronco e cadaparte da raiz são diferentes.

    A falta de controle de qualidade nos produtos naturais comercializados, bem como diferenças nacomposição entre os diversos tipos de ginseng poderiacausar alguma variabilidade nos produtos e principal-mente nos seus efeitos. Hoje se sabe que o ginsengcontém certo número de agentes farmacologicamenteativos, que respondem por seus vários efeitos e também por seus efeitos colaterais. A análise dasraízes secas dessa planta detectou saponinas, óleosvoláteis e uma variedade de outros compostos. Dessescomponentes, as saponinas são os constituintesprimários e são responsáveis por grande parte da ativi-dade farmacológica da raiz. A variedade de saponinasque pode ocorrer nessas plantas, cada um com a suaatividade farmacológica em particular, é o maisprovável responsável pelos relatos confusos sobre afarmacologia do ginseng e da dificuldade em provarsua eficácia nas diversas condições em que o ginsengé recomendado (Dubick, 1986).

    Alexandre et al. (2008) relatam que muitos dosmedicamentos à base de ginseng disponíveis no mercado apresentam também outros constituintesquímicos na formulação, dificultando uma avaliaçãoprecisa da eficácia e da segurança desta planta. Porcausa dos diversos mecanismos de ação das plantasmedicinais e dos medicamentos fitoterápicos, estespodem interagir com diversos fármacos modificandosua eficácia e segurança. Isso também pode ocorrerporque os mesmos apresentam uma grande diversi-dade de componentes químicos, além de terem mecanismos de ação diferenciados.

    Esta planta tem seu uso indicada como adaptogêni-ca, imunoestimulante e revigorante físico e psíquico,sendo recomendada em períodos de convalescença ena prática desportiva, assim como para a fadiga, debilidade e para aumentar a capacidade de trabalho econcentração, sob estresse excessivo, astenia física epsíquica, impotência e problemas de fertilidade masculina, na diabetes e hipercolesterolemia, comotônico nas anemias e imunodeficiências (Cunha et al.,2003; Chen et al., 2008; Wang et al., 2009).

    Quanto às indicações de uso deste fitoterápico,Panax ginseng afeta o eixo hipotálamo-hipófise-adre-nal, apresenta efeito no sistema imune por realçar afagocitose, a atividade das células natural killer e aprodução de interferon, melhora o desempenho físicoe mental em camundongos e ratos, provoca vasodi-latação, aumenta a resistência a fatores de estresseexógenos, e afeta a atividade hipoglicêmica (Kiefer ePantuso, 2003), além de demonstrar atuação de formabenéfica como antioxidante e anti-inflamatório,(Hofseth e Wargovich, 2007) adaptogênico, antias-mático, estimulante do sistema nervoso central(Winston, 2007) e em modelos animais quanto a

    desordens comportamentais (Einat, 2007). Estudos mostraram que a ingestão de extratos a

    partir de raízes de ginseng, diminuiu o nível de glicoseno sangue de ratos diabéticos, assim como injeçõesdesse extrato diminuíram a glicemia em ratos obesosdiabéticos (Wang et al., 2006).

    Conforme Fu e Ji (2003), após suplementar ginsengamericano durante quatro meses para ratos em diferentes idades, estes diminuiram o dano oxidativorelacionado com a idade. A elevada atividade dosuperóxido dismutase e glutationa peroxidase expli-cam parcialmente estes efeitos em ratos jovens,enquanto o mecanismo que beneficia os tecidos envelhecidos é desconhecido. De acordo com os mesmos autores, futuros estudos devem ser direciona-dos para os seguintes aspectos: encontrar a dose ideale regime de alimentação que traga a máxima proteçãoantioxidante e elucidar os mecanismos subjacentes àproteção.

    A estimulação do sistema imune é o objetivo dasvárias terapias alternativas preconizadas, por exemplo,para o tratamento de mastite em bovinos. A injeçãosubcutânea de um extrato de ginseng tem sido avaliada como um tratamento para vacas com mastitesubclínica causada por Staphylococcus aureus. O usodo extrato de ginseng como adjuvante de S. aureusresultou em uma reforçada proliferação de linfócitosem resposta ao estímulo e maior produção de anticor-pos (Hu et al., 2003).

    Na avicultura suas propriedades ainda são poucoconhecidas, apenas têm-se relatos de estudos utilizan-do esta planta como antioxidante e efeitos sob a qualidade de ovos (Lee et al., 2008), produção, quali-dade de ovos e características sanguíneas (Jang et al.,2007), desempenho, qualidade dos ovos, ácidos graxos e concentração de colesterol na gema de ovos(Park et al., 2005), não havendo evidências sobre ainfluência deste fitoterápico no comportamento deanimais de produção.

    Conclusão

    Através desta revisão de literatura, conclui-se que osaditivos fitogênicos estão tendo cada vez maisdestaque e sendo utilizados como uma alternativa desubstituição aos antibióticos na produção animal como intuito de melhorar a qualidade do produto final,sem deixar resíduos nos mesmos, melhorando assim asegurança alimentar para os consumidores. Váriosestudos apontam os benefícios do uso dos fitoterápi-cos na nutrição animal, porém tratando-se de Panaxginseng, outros estudos devem ser realizados paraestipular as doses e tempo de suplementação ideais,principalmente na avicultura.

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