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• CIÊNCIA

ECOLOGIA,l a on a

Sementes da planta conservam-sepor um ano e meio, seisvezes mais do que se pensavaMARCOS PIVETTA

eio milênio após a chegada dos portugueses,uma nova ofensiva sobre o pau-brasil está emcurso. Desta vez, os candidatos a conquista-dores dessa bela e levemente perfumada árvo-re nativa da Mata Atlântica são cerca de 20

pesquisadores do Instituto de Botânica de São Paulo, que, auxi-liados por colegas de outras instituições paulistas e até do exte-rior, atacam em várias frentes, há quase dois anos e sem trégua,esse recurso natural intimamente ligado à história do país. Sóque, em vez de extrair a brasileína, o corante que emprestava otom avermelhado às roupas da realeza, ou cortar sua preciosamadeira, como faziam os velhos algozes da árvore, o multiface-tado time de, por assim dizer, exploradores contemporâneos(no bom sentido, é claro) da hoje escassa e ainda ameaçada deextinção Caesalpinia échinata persegue fins mais nobres.

Por meio de experimentos em fisiologia, bioquímica, anato-mia, ecologia, tecnologia e até de pesquisas históricas, o grupovai, aos poucos, iluminando algumas zonas de sombra que porvezes tornavam - e ainda tornam - obscuro ou pouco preciso oconhecimento científico a respeito do pau-brasil. Dessa forma,surgem mais elementos para balizar o trabalho de conservaçãodas poucas reservas remanescentes da espécie e, quem sabe, au-xiliar na promoção de seu reflorestamento ou mesmo de suaexploração sustentável se isso um dia se mostrar viável. "Reuni-mos competências para estudar a fundo a importância histórica,científica e econômica dessa árvore': afirma Rita de Cássia Figuei-redo Ribeiro, do Instituto de Botânica, coordenadora do projeto,que realiza entre 12 e 14 de março em São Paulo um simpósiointernacional sobre o pau-brasil. "Muita gente acha que o pau-brasil já foi fartamente pesquisado, mas essa impressão é falsa:'

Em pouco tempo, menos de dois anos, o projeto ampliou osaber científico sobre o pau-brasil de forma considerável. Porora, a descoberta mais significativa mostra que as sementes daárvore, conhecidas por serem relativamente frágeis e de difícilpreservação no ambiente natural, podem ser conservadas, des-de que submetidas a certas condições, por 18 meses, períodoseis vezes maior do que sustentava a rala literatura científica so-bre o tema. Até a publicação dos resultados desse trabalho, queganhou as páginas da Revista Brasileira de Botânica em d~

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bro, acreditava-se que as se-mentes de pau-brasil tinhamvida curta: duravam apenasum mês se mantidas em am-biente natural e no máximo90 dias se guardadas numacâmara fria. Isso equivalia adizer que, se não fossem plan-tadas logo, as sementes nãogerminariam e apodreceriam.O domínio de técnicas maiseficazes de armazenamentode sementes de pau-brasil tor-na mais fácil a tarefa de quemse dedica a projetos de con-servação e reflorestamentodessa árvore.

fl(gunsespecialistaschegavam a des-confiar de queas sementes depau-brasil não

toleravam a secagem, o prin-cipal método empregado pa-ra conservação desse tipo deestrutura reprodutiva. Paraas sementes de boa parte dasespécies vegetais, reduzir oteor de água de sua massa to-tal a níveis inferiores a 10% éum modo eficaz de lhe ga-rantir longevidade. A des-secação quase paralisa a suaatividade metabólica e reduza ocorrência de reações pre-judiciais, além de diminuir aatuação de microrganismose insetos danosos. Com opau-brasil, tal procedimentoparecia não provocar efeito protetor se-melhante. Parecia. Até que os pesqui-sadores paulistas mostraram que, comalguns cuidados extras, a secagem tam-bém estende a vida útil das sementes depau-brasil.

Eles selecionaram apenas as melho-res sementes, mais maduras, e subme-teram-nas a um calor de 40 a 50° Celsius(C), que as deixava com umidade pou-co superior a 8%, Por fim, estocaram-nas num ambiente com temperaturacontrolada em torno dos 8° C. "Comesses procedimentos, conseguimos au-mentar de forma expressiva a sua lon-gevidade", diz Cláudio José Barbedo,também do Instituto de Botânica. "Maso método só dá resultado com semen-tes de boa qualidade." Os pesquisadoresviram que, seguidos os procedimentos

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Sementes e flores: descobertas incentivamprojetos de conservação e reflorestamento

descritos, mais de 80% das sementesgerminavam se mantidas em ambienterefrigerado por um ano e meio. "Esta-mos tentando agora entender quais sãoas alterações metabólicas que fazem es-sas sementes secas perderam a sua via-bilidade num dado momento", afirmaRita. "Há indícios de que isso esteja re-lacionado a alterações em seus níveis decarboidratos (açúcares) solúveis."

Da semente do pau-brasil germina-ram outros achados. Os cientistas cons-tataram que o revestimento das semen-tes de pau-brasil é menos espesso ecomposto por um tipo de célula dife-rente da usualmente presente nas se-mentes leguminosas, família à qualpertence a C. echinata. "No lugar dasestruturas celulares que conferem rigi-dez à cobertura das sementes de legu-

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minosas, encontramos estô-matos nas sementes do pau-brasil", afirma a especialistaem anatomia vegetal Simo-ne Teixeira de Pádua, da Fa-culdade de Ciências Farma-cêuticas da Universidade deSão Paulo (USP) em Ribei-rão Preto. Normalmente alo-jados nas folhas das plantas,onde regulam as trocas ga-sosas com o ambiente e fun-cionam como poros, os es-tômatos raramente ocorremem sementes.

Fragilidade . Essa peculia-ridade anatômica pode seruma das razões de o pau-brasil apresentar sementesmais frágeis e de conserva-ção mais complicada doque outras leguminosas. Umpouco de anatomia compa-rativa ajuda a entender essasituação. Simone confron-tou sementes de pau-brasile de pau-ferro (Caesalpiniaferrea), uma leguminosa tí-pica. Mais especificamen-te, analisou a testa das duassementes, o tegumento queenvolve e protege o embrião,chamado popularmente decasca. Conclusão: a testa dasemente de pau-ferro apre-senta duas camadas de célu-las ricas em lignina, a mesmasubstância que confere ri-gidez à madeira, enquanto

a do pau-brasil é, literalmente, maisporosa, com estômatos. Não é de se es-tranhar, portanto, que os dois tipos deestrutura germinativa se comportem demaneira tão distinta quando coloca-dos no ambiente natural. "As semen-tes de pau-ferro são tão duras e resis-tentes que podem se conservar na terra,sem germinar, por até dois anos, o quenão acontece com as do pau-brasil", co-menta Simone.

Outras linhas de pesquisa tambémchegaram a resultados preliminares im-portantes. O engenheiro agrônomoMarcelo Dornelas, que faz pós-douto-ramento na Escola Superior de Agricul-tura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP,em Piracicaba, estuda a estratégia re-produtiva da espécie e viu que o desen-volvimento das flores na C. echinata se

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dá de forma semelhante ao que ocorreem outras leguminosas."Essedado podeser útil no manejo das reservas naturaisda espécie e de áreas plantadas': acredi-ta Dornelas.

Há também trabalhos que buscamcompreender as reações da espécie tro-pical em condições ambientais bastan-te diversas das dominantes na MataAtlântica. Nessa linha de investigação,experimentos feitos na cidade de SãoPaulo e num centro de estudos da Es-panha indicam que o pau-brasil parececrescer menos em ambientes com altastaxas de um tipo específico de poluen-te, o gás ozônio, e se desenvolve melhorem locais com ar puro. "Aparentemen-te, a espécie é mais afetada pela pre-sença de ozônio do que pelos poluentesprimários, como o monóxido de car-bono ou dióxido de enxofre", comentaMarisa Domingos, da seção de ecologiado Instituto de Botânica. A primeirapista nesse sentido foi fornecida pelosresultados, ainda preliminares, de umestudo comparativo que há dez mesesestá em curso na capital paulista.

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Resistência a poluentes - Cerca de 600plantas de pau-brasil foram expostasem quatro pontos distintos da cidade:Parque do Ibirapuera, Aeroporto deCongonhas, um grande jardim manti-do pela Secretaria de Estado do MeioAmbiente às margens do rio Pinheiros(Projeto Pomar) e um viveiro especial(Casa de Vegetação) do próprio Insti-tuto de Botânica. Cada um desseslocais foi escolhido em função dos p:o-luentes a que estão mais freqüentemen-te expostos. Em Congonhas, há gran-de quantidade dos chamados poluentesaéreos primários, gases como o monó-xido de carbono e dióxido de enxofre,que são subprodutos diretos da queimade combustíveis. No Ibirapuera, pre-domina o ozônio, um poluente secun-dário, que não é emitido diretamentepor nenhuma fonte poluidora: forma-se naturalmente na atmosfera por meiode reações químicas entre moléculas dehidrocarbonetos e de óxidos de nitro-gênio, mediadas pela luz solar. No Pro-jeto Pomar, existe um pouco de tudo:poluentes primários e secundários,

A árvore nas cidades:concentração de ozônio

limita o crescimento

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o insuperável pernambucoHá cerca de 230 anos, o francês

François Tourte construiu o primeiroarco de violino com o pernambuco,madeira que juntava uma rara combi-nação de atributos físicos: rigidez, fle-xibilidade, densidade, beleza e a capa-cidade de adquirir e manter, por anose anos, uma curvatu-ra. Desde então, nin-guém descobriu ummaterial, sintéticoou natural, melhorque o pernambuco,como o pau-brasil éconhecido no exte-rior, para fabricar

mais o efeito nefasto davizinhança de um rio emagonia. Com temperatu-ra máxima controlada, a28°C, ar puro e filtrado, aCasa da Vegetação fun-ciona como ponto de con-trole, como a representa-ção de um local urbanolivre de poluição.

Embora ainda não tenham chegadoà metade do estudo, os pesquisadores jánotaram uma tendência: as plantas cul-tivadas no viveiro com ar puro, onderecebem normalmente a luz solar, cres-cem mais que as outras, e as expostas aoambiente com muito ozônio aparen-tam se desenvolver de forma menos ex-pressiva em relação às de outras loca-lidades. Para ver se o excessode ozôniopode ser a causa desse retardo no cres-cimento das mudas do Ibirapuera, umensaio mais detalhado foi feito na Fun-dación Centro de Estudios Ambienta-les del Mediterráneo (Ceam), de Valên-cia. Em câmaras especiais, mudas depau-brasil permaneceram durante ummês em três ambientes com caracterís-ticas distintas: um com ar puro, outrocom certa dose de ozônio e um tercei-ro com uma quantidade ainda maiordesse gás. "De forma geral, vimos que,quanto maior era o nível de ozônio naatmosfera, menores eram as taxas defotossíntese das plantas e a produção desubstâncias antiestresse (antioxidan-tes)', diz Marisa.

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arcosde violino,viola,violoncelo e con-trabaixo. "É possível fazer arcos de al-tíssimo padrão com outras madeiras,como o ipê, mas os músicos são tra-dicionalistas e têm preconceito comnovos materiais", diz Daniel RomeuLombardi, 54 anos, arquiteto de for-

Cidades e cupins - Por que estudar ocomportamento de uma árvore típicada Mata Atlântica fora de seu hábitatnatural e, ainda por cima, em locais po-.luídos! Resposta: para ver se faz sentidoestabelecer uma política pública queimpulsione o plantio de pau-brasil nasgrandes cidades brasileiras, um projetoque, além de seu inegável valor sim-bólico-histórico, poderia ajudar a em-belezar os centros urbanos. Capaz deemprestar ao ar um sutil aroma quelembra o do jasmim, o pau-brasil é, pa-triotismos à parte, uma bonita árvoreornamental, sobretudo no período emque suas flores amareladas se abrem,entre agosto e novembro, embora alcan-ce dimensões um pouco avantajadaspara se incorporar maciçamente ao ce-nário urbano, podendo chegar a 20metros de altura.

Com uma abordagem igualmenteprática, só que voltada para as caracte-rísticas físicas e acústicas da madeira depau-brasil, ensaios laboratoriais con-duzidos no Instituto de Pesquisas Tec-nológicas (IPT) começam a fornecer osprimeiros indícios de que o lenho aver-

mação que, na década de 80, virou ar-queteiro, como se denominam os arte-sãos que esculpem esse complementofundamental dos instrumentos decorda de uma orquestra.

Por mês, de seu ateliê na cidade deSão Paulo - na verdade, um cômodo

nos fundos de sua casa, nobairro de Perdizes - saemquatro arcos. Os mais caros,que podem custar até R$3 mil, são sempre de pau-brasil.Issonão quer dizerquequalquer pedaço de Caesal-pinia echinata exiba poten-cial para ganhar as formas............................ --- --

o arqueteiro Lombardi:arcos de até R$ 3 mil

melhado da árvore queoutrora dava cor ao mun-do pode apresentar boaresistência natural à açãode cupins. A espécie pare-ce ter propriedades seme-

lhantes às do angico-preto (Anadenan-thera macrocarpa), árvore que suportabem o ataque desses insetos (e tambémde fungos). "Por ora, vimos que o des-gaste sofrido pelo pau-brasil, quandoem contato com os cupins, limita-se àsuperfície", relata a bióloga Maria Bea-triz Bacellar Monteiro. Ainda no IPT,está sendo feito um estudo sobre aspropriedades mecânicas e acústicas dopau-brasil, uma tentativa de entenderpor que essa madeira é a preferida dosconstrutores de arcos para instrumen-tos de corda (violino, viola, violoncelo econtrabaixo), talvezo único uso comer-cial ainda hoje protagonizado por essaárvore tropical (veja quadro acima).

Numa vertente incomum em proje-tos de botânica, o esforço dos pesqui-sadores do Instituto de Botânica con-templa uma investida sobre a históriado pau-brasil e uma revisão de sua dis-tribuição geográfica no território na-cional, no passado e no presente - hoje,essa espécie é encontrada naturalmentenos estados de Pernambuco, Bahia eRio de Janeiro. No ano passado, traba-lhando como um misto de historiador

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de um arco de primeira linha. "Podehaver muita diferença de qualidadeentre dois pedaços de pau-brasil" as-segura Lombardi, que, informalmen-te, troca informações práticas comEdenise Segala Alves, pesquisadora doInstituto de Botânica de São Pauloque coordena os estudos anatômicoscom a madeira que lhe serve de maté-ria-prima para seu trabalho. "Por isso,às vezes, tenho de descartar algunspedaços." Com o auxílio de um apa-relho italiano, que emite um campoelétrico nas ripas de pau-brasil emestado semibruto destinadas a setransformar em arcos, o arqueteiromede o que acredita ser o potencialacústico da peça examinada. Quandoo resultado do exame é pouco pro-

Arco de violoncelo: madeiratem propriedades únicas

e taxonomista, o engenheiro agrô-nomo Yuri Taveres Rocha, do Ins-tituto de Botânica, fez duas gran-des viagens. Entre abril e maio,esteve em Portugal, de onde trouxecópias de cerca de 800 documentosdatados dos séculos 16 ao 19. Sua prin-cipal fonte de pesquisa foi o ArquivoHistórico Ultramarino (AHU), em Lis-boa. Ali, Rocha examinou 500 manus-critos, com o objetivo de fornecer sub-sídios para se contar a exploração ecomércio do pau-brasil nos séculos 17e 18 a partir da análise dos carregamen-tos de navios que partiam do litoralbrasileiro, sobretudo de Pernambuco,rumo a Portugal. "Até hoje, não se sabe

o PROJETO

Caesalpinia echinata Lam.(peu-brssil): da Sementeà Madeira, um Modelopara Estudos de PlantasArbóreas Tropicais Brasileiras

MODALIDADEProjeto temático

COORDENADORARITA DE CÁSSIA LEONE FIGUEIREDORIBEIRO - Instituto de Botânica

INVESTIMENTOR$ 400.648,82 e US$ 68.754,88

missor, Lombardi simplesmente des-carta a ripa de padrão duvidoso. NoJapão, pesquisadores já tentaram trans-ferir alguns compostos químicos dopau-brasil para outras madeiras, naesperança de passar adiante as carac-terísticas acústicas da árvore brasi-leira. Mas os resultados ainda não sãoanimadores. A natureza está vencen-do essa batalha - por enquanto.

São Paulo? Há relatos de que houve re-servas nativas de pau-brasil em Ilhabe-Ia e Ubatuba, mas até hoje não há com-provação científica. Rocha percorreutrilhas do Parque Estadual de Ilhabela,sempre com o mesmo resultado: todasas formações arbóreas que lhe aponta-ram como pau-brasil eram, na verdade,exemplares de outras espécies, cujosnomes populares oscilam entre o en-graçado e o quase obsceno: jacaran-

dá -bico-de-pato(Machaeriumsp.), casca-de-ba-rata ou pindaíba(Xylopia brasili-ensis), araçá-pi-ranga ou goiabão(Eugenia leitonii)e mamica-de-porca (Zanthoxy-lum rhoifolium).A confusão sedevia ao fato deessas árvores te-rem cascas aver-melhadas ou pro-tuberâncias emforma de espi-nhos (acúleos)no caule ou ra-mos, caracterís-

ticas que remetem ao pau-brasil.Apesar de ter sido de fundamental

importância para a história e economiado Brasil colonial e até mesmo impe-rial, sob muitos aspectos, para usar umchavão, o pau-brasil ainda é um ilustredesconhecido. Nas mãos do homem, atrajetória desse recurso natural seguiuquase sempre uma máxima não-escri-ta: árvore boa era árvore cortada. Du-rante cerca de 370 anos, entre o iníciodo século 16 e o fim do 19, enquanto aMata Atlântica ainda teve estoques ex-pressivos dessa árvore tropical e as tin-turas artificiais não ganhavam terreno,a C. echinata emprestou seus tons defogo a roupas, papéis e quadros, alémde ser usada na construção civil e naval.Depois disso, foi esquecida ou relegadaa um papel superficial nos livros de his-tória. Felizmente, esse cenário começa amudar com o avanço dos esforços deconservação da espécie, que tomaramimpulso, três anos atrás, durante ascomemorações dos 500 anos da des-coberta do Brasil, e o lançamento degrandes projetos científicos sobre a maisnacional das árvores. •

ao certo quanto pau-brasil saiu daqui eonde eram exatamente as ocorrênciasnaturais da árvore", diz ele.

Identidades trocadas - No segundopériplo, Rocha percorreu 12 cidades

" paulistas a bordo de um carro cedidopela Fiat, para realizar um levantamen-

-to dos principais pontos do Estadoonde foram plantadas mudas de pau-brasil. "Essa informação é fundamentalpara sabermos como anda a conserva-ção ex situ (fora de seu hábitat natural)do pau-brasil em São Paulo", comentao pesquisador. Algumas constatações:em Iperó, no Bosque de Pau-brasil paraConservação Ex Situ, há mais de milexemplares da árvore, plantados em1999; em Paulínia, no Bosque Brasil500, existem outros 500 espécimes; naFazenda Lageado no câmpus da Unesp,em Botucatu, Rocha deparou com umpau-brasil de 15 metros de altura, comprováveis 80 anos de idade.

O tour paulista também serviu paratentar responder a uma questão que in-triga os cientistas e historiadores: a es-pécie ocorria de forma espontânea em

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