ciências humanas e complexidades - rogério lustosa bastos-

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ICGIIIC II:1C:A IA:1C:\NCAS IUMANAS \OMXASI!OJTOS. MTOOS TCNCAS SQUSAC CAOS. A NOVA CNCA2` ORio de Janeiro, 2009Ao professor Fbio Herrmann (PUC/SP) e pro-fessor Marlene Guirado (USP) pela inspirao; ao professorRobertoA.Q.deSouza(Ex-Presidente da Faperj) e professora J Gondar (Unirio) pelo incentivo; aos colegas do Departamento de Mtodos e Tcnicas da ESS/UFRJ e a muitos outros que direta ou indiretamente, contriburam para que realizasse este trabalho.A cincia existe para acabar com as misrias humanasBrecht preciso fazer do conhecimento a mais potente das paixes.Nietzsche Rogrio Lustosa Bastos/E-papers Servios Editoriais Ltda., 2009.Todos os direitos reservados a Rogrio Lustosa Bastos/E-papers Servios Editoriais Ltda. proibida a reproduo ou transmisso desta obra, ou parte dela, por qualquer meio, sem a prvia autorizao dos editores.Impresso no Brasil.ISBN 978-85-7650-237-1Projeto grco e diagramaoLivia KrykhtineCapaTiago Souza BastosImagem de capaClaude Monet, A estao de Saint-LazareReviso do autorEsta publicao encontra-se venda no site daE-papers Servios Editoriais.http://www.e-papers.com.brE-papers Servios Editoriais Ltda.Rua Mariz e Barros, 72, sala 202Praa da Bandeira Rio de JaneiroCEP: 20.270-006Rio de Janeiro BrasilCIP-Brasil. Catalogao na fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJB326c2.ed.Bastos, Rogrio LustosaCincias humanas e complexidades: projetos, mtodos e tcnicas de pes-quisa: o caos, a nova cincia/Rogrio Lustosa Bastos. - 2.ed. - Rio de Janeiro: E-papers, 2009.146p. : il.Inclui bibliograaISBN 978-85-7650-237-11.Cinciassociais-Pesquisa-Metodologia.2.Pesquisa-MetodologiaI. Ttulo.10-1274.CDD: 300.72CDU: 316:001.8:UM!O9INTRODUO15CAPTULO 1. MOMENTO PRVIO DA PESQUISA: RUPTURA COM O SENSO COMUM 161.1. Do dilogo ilustrativo aos parmetros preliminares da pesquisa221.2. Ruptura com o senso comum: sugesto para implement-la251.3. A ruptura, cincias humanas e pensamento complexo37CAPTULO 2. DA PROBLEMTICA ELABORAO DO PROJETO DE PESQUISA 382.1. Da ruptura com o senso comum ao corte que delimita e desenvolve a investigao 432.2. Fundamentos do projeto de pesquisa: um delineamento do modelo de anlise 71CAPTULO 3. DISCUSSO DOS PRINCIPAIS MTODOS E TCNICAS DE PESQUISAS743.1. Tipos bsicos de pesquisa823.2. Mtodos de pesquisa953.3. Tcnicas de Pesquisa105CAPTULO 4. A QUESTO DA BIBLIOGRAFIA E DA REFERNCIA BIBLIOGRFICA1064.1. Referncias de livros correntes, revistas, jornais, etc.1134.2. Das referncias das obras no corpo do texto da pesquisa1164.3. Referncias quanto s entrevistas1164.4. Referncias quanto aos lmes 1174.5. Referncias quanto aos documentos eletrnicos/internet em geral121CAPTULO 5. ETAPAS E ESTRUTURAO DO PROJETO DE PESQUISA1225.1. Etapas da Pesquisa1245.2. Estruturao do Projeto137NOTAS141REFERNCIAS BIBLIOGRFICASINT!OUO\NCAS IUMANAS \OMXAS10Iste trabalho nasceu basicamente de dois acasos. O primeiro relaciona-se ao fato de que lecionando uma disciplina deno-minada Tcnicas de Pesquisa em Psicologia, me vi diante de um evento curioso: de um lado havia um equvoco enorme, no sentido de reduzir a questo das pesquisas e sua prpria valida-o apenas ao mtodo experimental; de outro, havia ainda um hiato considervel, notadamente a partir do grupo discente, no que tangia ao processo de se implementar concretamente uma pesquisa bibliogrca. Dizia-se, entre outros absurdos, que uma pesquisaemcinciashumanasspoderiaserdesenvolvidaa contento se estivesse necessariamente de acordo com o mtodo experimental. Ora,talabsurdonotemsustentaoacadmica.Embora esse pensamento possa ser identicado com uma viso simplista eprximaaosensocomum,quecontraaoprpriomtodo experimental, ainda assim cabe um pequeno parntese: bvio que se observam muitas pesquisas ruins, sobretudo por lacunas que envolvem questes de mtodos e de rigor. Contudo, mesmo pensando assim, de outro lado, ca difcil sustentar o argumento de que a pesquisa em cincias humanas s possvel atravs de um nico mtodo. Discutir acadmica e criticamente por tal via seguir uma argumentao contrria prpria cincia, ou seja, to inconcebvel pensar que s se pode fazer pesquisa unica-mente pelo mtodo experimental como tambm indefensvel sustentaraexclusividadedomtododepesquisaparticipante, ou de qualquer outro.Para os que ainda queiram, quem sabe, aprofundar essa dis-cussonoplanodacinciaatual,cabelembrarPRIGOGINE (1984,1990,1992),fsicobelga,prmioNobeldeQumicade \NCAS IUMANAS \OMXAS111977. Na sua obra, entre outros destaques, diante do paradigma da cincia clssica, ele abre um novo campo e principalmente trazcontribuiesaoressaltarasquestesdairreversibilidade, da instabilidade, do caos:As leis da fsica, em sua formulao tradicional, descrevem um mundo idealizado, um mundo estvel e no o mundo instvel, evolutivo, em que vivemos. Este ponto de vista fora-nos a reconsiderar a validade dasleisfundamentais,clssicasequnticas.Emprimeirolugar, nossarecusadabanalizaodairreversibilidadefunda-senofato de que, mesmo na fsica, a irreversibilidade no pode ser mais asso-ciada apenas a um aumento da desordem. Muito pelo contrrio, os desenvolvimentos recentes da fsica e da qumica de no-equilbrio mostram que a echa do tempo pode ser uma fonte de ordem. (...) A irreversibilidade leva ao mesmo tempo desordem e ordem.Longe do equilbrio, o papel construtivo da irreversibilidade torna-se ainda mais impressionante. Ela cria, ali, novas formas de coerncia (...). A vida s possvel num universo longe do equilbrio (PRI-GOGINE, 1996, p. 29-30).Narealidade,Prigoginequersublinhar,emsntese,quea investigaocientcaproblematizafatosquenosereduzem exclusivamenteaoparadigmadascertezas,baseadoprincipal-mentenafsicadeNewton.Oqueistocompreende?Deum lado, compreende fundamentalmente que, pelo menos do ponto de vista da atual cincia, a irreversibilidade, a incerteza, a insta-bilidade passam a ser discutidas sem o carter depreciativo que ganhavam at pouco tempo. De outro lado, compreende tambm que longe de fazer a defesa ingnua do aniquilamento do rigor, do pensamento sistemtico, da ordem, fatores admitidos como \NCAS IUMANAS \OMXAS12fundamentaisparaacinciaclssica,Prigogine,aocontrrio, problematiza e amplia o debate sobre tais pontos. Estes, quando analisadosjuntoaoacaso,desorganizao,instabilidadee outros aspectos do gnero, enriquecem a compreenso do acon-tecimentocientcoatentovistodeformasimplicada.Tal anlise, principalmente desenvolvida a partir de estudos sobre a echa do tempo, sugere, em resumo, que estamos diante de um novo paradigma cientco, ou de uma nova aliana, onde, na anlise do fato cientco, os ditos conhecimentos menores e/ou maiores no s esto retroagindo uns sobre os outros, como tambm oscilam e problematizam-se na relao entre o caos e a complexidade. O segundo acaso relacionou-se ao fato de que ao ter concludo minha tese de doutorado, reunindo um nmero considervel de anotaes e delineamentos sobre as pesquisas em cincias huma-nas, mostrei tais apontamentos para outros docentes, entre eles, uma professora de literatura e doutora da Universidade Federal de Minas Gerais, que me sugeriram, ento, que me impusesse a tarefa de transformar as anotaes em um livro. Na verdade, AdelaineLaGuardia,nomedareferidaprofessora,temuma enorme participao nessa empreitada. Devo a ela no s a ini-ciativa de ter-me estimulado na transformao desse material na palavra escrita, como tambm a sugesto de tentar apresent-la num estilo de multilivro, ou de livro intercambivel. Vejamos um trecho de um trabalho que me foi apresentado pela Adelaine, o qual, tratando do assunto, diz: As folhas desse livro seriam cam-biveis, poderiam mudar de lugar e ser lidas de acordo com certas ordens de combinao determinadas pelo auto-operador [que de resto no se considera mais do que um leitor situado numa posi-o privilegiada, face objetividade do livro que se anomiza]. Enm, trata-se de um multilivro onde a partir de um nmero relativamente pequeno de possibilidades de base, se chegaria a milhares de combinaes(CAMPOS, 1977, p 18)Aidiadelivrointercambivel,apartirdotrechoacima, como se pode notar, provm de um texto de Mallarm, Le Li-\NCAS IUMANAS \OMXAS13vre, instrument spirituel, escrito dentro do esprito de uma nova fsica. O texto, alm de fugir idia usual de livro, incorporava simultaneamente a permutao e o movimento como aspectos fundamentais,principalmentevisandocolocaroleitorcomo agente de estruturao do contedo. Ou seja, diante de um livro com essas caractersticas, alm de o leitor poder l-lo pela forma usual aquela que segue do primeiro ao ltimo captulo, passo a passo , possvel l-lo tambm de outras maneiras; pode-se ler um captulo da segunda parte, para s depois ler-se a primeira parte, por exemplo; pode-se ler sucessivamente um captulo de uma parte e outro captulo de outra parte, tudo isso sem prejuzo do entendimento do contedo. Alm de permitir leituras diver-sas do modo usual sem prejuzo do contedo, o mais relevante aqui que tal texto permite um dilogo com o leitor, no sentido de que este opere as pginas lidas e faa combinaes diversas, dando-lhes uma ordem em funo de seu interesse. Talvez nem sejanecessriosublinharquetalfatogerafundamentalmente uma ao criadora e transforma o leitor num auto-operador do texto em questo. Trata-se, enm, do livro de esprito cambivel ou da operao da nova fsica do livro.Natentativaderealizartalesprito,esselivroencontra-se dividido em cinco captulos. No primeiro deles, como uma espcie de introduo, observa-se uma viso panormica onde esto ressaltados alguns procedi-mentos que se devem adotar, principalmente tendo em vista o incio ou o momento prvio da pesquisa acadmica. Diga-se de passagem que a partir da concretizao desses procedimentos bsicos, no citado planejamento prvio da pesquisa, que se faz a ruptura com o senso comum, que precisa se dar a partir da de-limitao do assunto escolhido. Tal parte aqui ganha o ttulo de MOMENTO PRVIO DA PESQUISA: RUPTURA COM O SENSO COMUM. No segundo captulo, atravs do subttulo DAPROBLEMTICAELABORAODOPROJETO DEPEQUISA,desenvolve-seumadiscussobsicasobreos fundamentos e principais questes concernentes elaborao do \NCAS IUMANAS \OMXAS14projeto de pesquisa. No terceiro captulo, DA DISCUSSO DOS PRINCIPAIS MTODOS E TCNICAS DE PESQUISA, h uma apresentao de alguns dos mtodos cientcos e uma dis-cusso das principais tcnicas que podem ser aplicadas atravs deles. No quarto captulo, discute-se A QUESTO DA BIBLIO-GRAFIA E DA REFERNCIA BIBLIOGRFICA. Alm de dizer que se encontra aqui uma srie de normas e regras bsicas acerca do assunto citado, vale assinalar que anotar devidamente as fontes de consultas, fazer as chas bibliogrcas, destacando as possveis citaes de grande interesse de forma adequada, assim como registrando corretamente as referncias bibliogrcas das obras que ajudam o trabalho na sua idia principal, so indubi-tavelmente um fator de grande valia para qualquer pesquisador. Nada pior do que por desconsiderarmos tal questo, perdemos umtempodesnecessrionomeiodedezenasdelivrosjpes-quisados, s porque precisamos fazer uma citao importante e estamos impossibilitados de localizar o texto pertinente, porque no temos todos os dados completos que o indiquem; nada pior do que meses aps pesquisar um determinado assunto em uma biblioteca, termos que voltar novamente ao mesmo lugar, prin-cipalmente porque h uma srie de textos imprescindveis, que embora j tenham sido estudados, no foram anotados de forma devida e no podem ser citados corretamente. O quinto captulo se refere ESTRUTURAO DO PROJETO DE PESQUISA. Em sntese, aqui encontraremos uma srie de sugestes e crticas sobre o desenvolvimento de pontos relevantes que devem constar noprojetodepesquisa.Dentreassugestesquedebateremos, destacamos: o resumo, a introduo, a reviso da literatura em questo, o cronograma, entre outros pontos.Texto da primeira edio^OMNTO I!VO A ISQUSA: IUTU!A COM O :NSO \OMUM CAPITULO I\NCAS IUMANAS \OMXAS161.1. IO OGO UST!ATVO AOS A!MT!OS !MNA!S A SQUSAO que de fato fazer uma pesquisa cientca? Quais os principais elementos que devemos dominar para a sua elaborao? Que fun-damentos precisamos saber e contratempos que devemos evitar? H vrias maneiras de responder tais questes. Dentre elas, por exemplo, pode-se optar por introduzir a matria atravs de um dilogo ilustrativo que ocorre entre dois universitrios. O referido dilogo, como se ver, pode no s nos situar como tambm nos dar um pequeno empurro, de forma problematizadora, para dentrodocampodeestudoquetratadosparmetrosbsicos sobre o como iniciar-se nas pesquisas. Vejamos: -Algumsabe,poracaso,comosedevefazerparaqueseache petrleo?, indaga Tiago, um dos estudantes no ptio de uma uni-versidade. - Ora bolas, qualquer criana sabe que petrleo no cai do cu, responde Gabriel, outro universitrio. Para ach-lo, basta que se perfure o solo...-Deveestarhavendoalgumengano,relacionado,quemsabe,ao fato de no se ter formulado a pergunta de forma adequada...Claro que todos ns sabemos que petrleo no cai do cu, bvio que para ach-lo, precisamos perfurar o solo. Mas, na realidade, reformulando a pergunta... eu quero saber o seguinte: qual ou quais so os proce-dimentos vitais para que, perfurando o solo, se obtenha uma maior probabilidade de achar petrleo? (1)Note-se que a partir do dilogo acima, h vrios pontos que podem contribuir na tarefa de como iniciar um projeto de pesquisa. \NCAS IUMANAS \OMXAS1/Em primeiro lugar, no referido dilogo h a escolha de um assunto num universo de possibilidades, ou seja, o candidato a pesquisa-dor situa seu interesse, no caso, na questo do petrleo. Contudo, a partir de tal escolha, comeamos a aprofundar na busca de se fazer um estudo sistematizado. Na procura em questo, uma das situaes a destacar, por exemplo, foi o fato de que o candidato a pesquisador no soube colocar o problema de forma clara, ou seja, contrariando a busca de clareza e preciso, ele o apresentou de forma a suscitar simultaneamente diversas ambigidades, para no dizer obviedades. Assim, ento, chega-se ao segundo ponto importante de elaborao do projeto de pesquisa: para se iniciar uma pesquisa, alm da escolha do assunto, preciso que se ela-bore uma pergunta ou um problema de forma clara e sucinta, a qual leva ainda delimitao do assunto.O que isto signica? Signica que esse segundo passo, antes de tudo, requer que se possa elaborar uma indagao que seja entendida por todos e aponte para um carter delimitado e men-survel, de forma que tenha principalmente seus termos denidos com preciso. Enm, caso no consigamos partir de uma pergunta deste gnero, h grandes chances de no s nos perdermos, como tambm de cairmos na vala do desnimo acadmico. Isto sem contar que h grandes probabilidades de entrarmos ainda para o time dos que alimentam a sensao de que esto perdidos e,pelomenosdopontodevistadoestudosistematizado,no chegam a canto algum. Por qu? Ora, como diz Bachelard, precisamente a busca do sentido do problema que d a marca do verdadeiro esprito cientco (2). Ou seja, Os passos que o pesquisador ter que percorrer a seguir, at o trmino da pesquisa, dependero deste passo inicial: a formulao do pro-\NCAS IUMANAS \OMXAS1Sblema. Este ser interessante ou no, contribuir para o progresso da cincia ou no, ter valor ou no se o problema formulado tiver sido interessante ou banal. Embora o pesquisador no chegue a uma soluo freqentemente no so encontradas solues imediatas para os problemas , cabe-lhe o mrito de ter aberto o caminho. Outros viro secund-los em sua marcha atravs do emaranhado terreno do conhecimento cientco. (...) Desde Einstein, acredita-se que mais importante para o desenvolvimento da cincia saber formular pro-blemas do que encontrar solues (CERVO, 1983, p 77). Mas continuemos nosso dilogo ctcio com os candidatos a pesquisadores:-P,cara,agoravocfoimaisclaro,dizGabriel.Bom,mas para evitarmos discutir em cima de uma srie de achismos, ou de opinies pouco fundamentadas, que tal se passssemos a agir como prossionais, quer dizer, que tal se para responder a essa pergunta, fssemosbibliotecaelevantssemostudoquepossvelsobrea questo do petrleo?-Bom,estaumapossibilidade...,rebateTiago.Mas,quetal se, alm disto, para sermos ainda mais prticos, fssemos trabalhar essa questo com um dos professores da universidade, desses que so particularmente especialistas na rea? Anal, agindo desta forma, sobretudoemtermosprossionais,noestaramoseconomizando tempo, energia, talento e dinheiro?...Qualdosdoisestudantesestocertos?Evidentemente,os doisestocorretos,querdizer,parainiciarmosumprojetode pesquisa de maneira vivel, alm de escolhermos um assunto e formularmos uma pergunta adequada que nos d uma direo so necessrios, em sntese, os seguintes fatores: a) fazermos uma averiguao bibliogrca sobre o que j foi publicado. Tarefa que alm de ser imprescindvel, deve ser realizada, no mnimo, junto de uma ou duas excelentes bibliotecas especializadas no assunto escolhido; b) procurarmos um ou dois especialistas da rea, no s para discutirmos a pergunta ou a questo de estudo, mas tambm \NCAS IUMANAS \OMXAS19para que, no dilogo, se possa aprimorar a referida questo. Isto sem contar que nesse encontro, podem-se ouvir diversas outras sugestes, inclusive no plano bibliogrco.Assim,vejamosoqueaconteceucomnossospersonagens universitrios,osquais,ousandoexerceroseuestilosingular, escolheram, ento, seguir seu prpria caminho: um foi fazer o levantamentodoassuntoemumbibliotecadeps-graduao na USP; o outro foi conversar com um docente pesquisador na referidareadepetrleodamesmauniversidade.Diasaps, ambos se encontraram e novamente foi possvel registrar o se-guinte dilogo:-Meuamigo,dizGabriel,levanteioassuntodopetrleona bibliotecaespecializada,cruzando-o,pelocomputador,comduas subinformaes:perfuraoesolo.Destamaneira,ento,a partir desse levantamento e do referido cruzamento, obtive uma srie de artigos e obras publicadas no Brasil e no Exterior, dos ltimos dois anos. O resultado desse nosso levantamento, em sntese, soma uma lista de 20 pginas com quase cem publicaes....- Eu tambm obtive, diz Tiago, no s informaes valiosas sobre o assunto inicial de estudo, que se resumia na questo Como per-furar o solo para obter petrleo? , como tambm obtive ainda uma srie de sugestes em termos de uma leitura especca em peridicos e livros sobre a perfurao do solo na busca do petrleo. Dentre os fatos importantes que levantei, destaco: a) impossvel desenvolver tal empreitada sozinho; b) a perfurao do solo requer que se faa um planejamento prvio e multidisciplinar, ou seja, h uma equipe que estuda o solo, outra que faz planejamento em termos da melhor forma de perfur-lo; c) h os planejadores e h os executores mais diretos do projeto, enm, no um tarefa que se deva fazer a esmo, nem ao sabor do acaso. Para se perfurar o solo em busca do petrleo, necessrio que se faa previamente todo um planejamento terico e tcnico. Em suma, estou com uma srie de indicaes para leitura, inclusive, muitas delas, me parecem bastante agradveis, porm, ainda assim, tenho algumas dvidas: como sistematizar as leituras indi-\NCAS IUMANAS \OMXAS20cadas? Devo comear, por exemplo, pelas leituras mais agradveis? Qual deve ser o critrio prioritrio de minhas leituras?... Anal, o que devo fazer?...Como se pode notar, alm de elaborar uma pergunta adequa-da, fazer um levantamento de obras, discutir com especialistas, para desenvolver um estudo sistematizado, necessria outra lista, complementar,depontosrelevantes.Dentreeles,destacamos: 1- elaborao de consulta das fontes de pesquisa em bibliotecas (Ver Como fazer um estudo bibliogrco, Captulo 2, adiante); 2- elaborao da discusso de COMO fazer um programa seletivo de leituras dessas fontes (Captulo 2) ; 3- elaborao de cronogra-ma das etapas de pesquisa (Captulo 5). Enm, depois de percorrer essa srie de pontos apresentados, estamos chegando ao instante denominado de primeira sntese escrita. Apresentando de outro modo, chegamos nalmente etapa do primeiro planejamento da investigao, ou ao momento da fase preliminar da concretizao do projeto, que a fase de elaborao do anteprojeto de pesquisa. Este requer, como se pode observar, um momento prvio, que o apresentamos atravs da ilustrao acima. Assim, antes de passarmos para as sugestes de como elaborar o anteprojeto em questo, vamos resumir ainda os passos impor-tantes j percorridos. Tais passos, a partir da ilustrao anterior, poderiam ser ressaltados como seguem:- A escolha de um tema: trata-se de escolher um assunto, delimi-tando-o necessariamente. Aqui, uma das regras bsicas diz: Querer terodomnioabsolutodeumassunto,estud-loedomin-losem delimitao uma falsa questo. -A formulao de uma pergunta: alm de se dar especial nfase na clareza, que implica operar com termos bem denidos, tal per-gunta de grande utilidade no processo de delimitao do assunto escolhido.Istosemcontarqueelaprecisaserpensadaapartirdo seguinte raciocnio: a indagao necessita ser desenvolvida dentro do carter de mensurao, precisa ser formulada de maneira realista, no sentido de considerar inclusive sua viabilidade no que toca aos \NCAS IUMANAS \OMXAS21recursos disponveis, sejam eles nanceiros, pessoais ou mesmo quanto ao tempo hbil para realizao de um cronograma de execuo, entre outras condies (Ver captulo 2, adiante, notadamente a seo: Como formular um problema cientco)- A necessidade de se fazer um levantamento bibliogrco doassunto(mesmoantesdaprpriaelaboraodoante-projeto de pesquisa): destaque-se que tal procedimento est aqui sendo ressaltado como algo imprescindvel, de maneira que, caso no acontea, pode comprometer todo o processo de pesquisa. Claro que independente da escolha por estudar um fenmeno atravsde uma pesquisadecampooudeumapesquisadelevantamento,por exemplo, precisamos ter o maior nmero de informaes e de leituras possveis sobre o assunto, inclusive, no s para delimit-lo como tam-bm para desenvolv-lo longe de um ponto de vista do senso comum. Alm disto, o levantamento bibliogrco prvio importante tambm para tomarmos contato com o maior nmero possvel de pesquisas e leituras sobre o assunto, a m de que possamos averiguar no s o que j se conhece sobre o objeto da pesquisa, mas principalmente para que possamos, a partir disto, aprofundar a sua compreenso e problematizao. (Ver cap 2, especialmente a parte intitulada: Como fazer um estudo bibliogrco.)- O dilogo com especialista (s) da rea: afora o que j foi dito, sugerimos que esse dilogo ocorra basicamente visando s seguintes metas: 1) para levantar e aprofundar a questo do levantamento de fontes de consultas; 2) para discutir e aprimorar o tema esco-lhido com um especialista da rea em discusso; 3) confrontando, sempre que possvel, suas sugestes e crticas com a de outros especialistas. Ressalte-se que essa confrontao, quando ocorrer, ser de muita valia, menos com o objetivo de jogar descabidamente a posiodeumespecialistacontraooutroemaiscomointuitode suscitar a polmica da diversidade, uma vez que , sobretudo, a partir dessa diversidade, prpria das cincias humanas e sociais, que se pode \NCAS IUMANAS \OMXAS22aprender que possvel ler um mesmo fato de diferentes perspectivas (Ver Cap 2, A questo das entrevistas com Especialistas).Feitoestasconsideraes,passemosentoparaoinstante em que comearemos a montar o ANTEPROJETO. Este, como se sabe, uma espcie de primeira proposta sistematizada que antecede o Projeto de Pesquisa, a qual pode apresentar-se, por exemplo, com extenso entre 10 ou 20 linhas. Entretanto, mais importante do que o nmero mnimo ou mximo de linhas, deve ser relevante que ele aponte com clareza os objetivos, o problema centraldeestudo,ametodologia,paracitaralgunselementos imprescindveis, pois aqui o que est em questo que se observa umasriedepontosquedenotemumalinguagemacadmica, sistematizada. Dentre os diversos pontos que o anteprojeto precisa ter, ainda no esprito de sistematizao preliminar, destacamos: 1- INTRODUO (na qual, entre outras indicaes, deve trazer uma viso geral sobre o que se quer pesquisar, a exposio dos motivosprincipaisdapesquisa,umadiscussosobreareviso da literatura do assunto escolhido e tambm uma justicativa); 2-OBJETIVOS;3-QUESTODEESTUDO;4-METO-DOLOGIA;5-REVISODALITERATURA;6-CRONO-GRAMA;7-NOTAS,MAPASOUGRFICOS(sehouver); 8- REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS. O Projeto de Pesquisa, por sua vez, fruto do anteprojeto. Destaque-se ainda, como j vimos, que aps sua escrita e implementao, esse anteprojeto torna-se o prprio Projeto de Pesquisa.1.2. IUTU!A COM O SNSO COMUM: SUGSTO A!A MMNT-AFazer a ruptura com o senso comum, aqui, signica basicamente problematizar uma srie de procedimentos que visam elabo-raopreliminardainvestigaocientca.Oconjuntodesses procedimentos leva elaborao do anteprojeto de pesquisa. Em outras palavras, a elaborao do referido anteprojeto, incio do processo do estudo sistematizado, gesta-se aqui a partir da fase \NCAS IUMANAS \OMXAS23quedenominamosderupturacomosensocomum(3).Alis, alguns autores, tais como QUIVY (1992), defendem a posio de que em termos de um quadro geral do desenvolvimento da pesquisa, esto em discusso TRS FASES BSICAS e SETE ETAPAS PRINCIPAIS. Tal fato implica, principalmente, que no s h uma inter-relao entre essas etapas e fases, como tambm existe um movimento seqencial entre elas, que se inicia desde a primeira etapa (que se situa dentro da primeira fase), at stima e ltima etapa (que se situa na terceira fase). Para se ter uma idia mais clara do que implicam essas fases e etapas bsicas, sugerimos que se observe a Figura 1 adiante. Nela, como se v, o momento preliminar em discusso situa-se na primeira parte desse esquema e recebe a denominao de Ruptura. Com relao questo de implementao da ruptura, volte-mos aos pontos bsicos que foram j referidos visando o desen-volvimentodoanteprojeto.Apartirdisso,ento,chegamos sugesto de dilogo singular para implement-la, que a seguinte: partindo do pressuposto de que estamos realmente interessados em elaborar o anteprojeto, ento sugerimos que se pare, agora, nesse minuto, a leitura do presente livro e se tente dialogar, de maneira singular, com ele.De que forma? Ora, comece indagando ao livro como se pode proceder para escrever e desenvolver um texto que tenha pontos iguais aos que foram sugeridos acima para a escrita do antepro-jeto.Emoutraspalavras,interrompaimediatamentealeitura, pegue uma folha de papel e um lpis, e pergunte ao livro como se escreve uma introduo (da forma sugerida, com viso geral do assunto, com justicativa, entre outros elementos do gnero), como se escreve um texto contendo a questo de estudo, os ob-jetivos, a metodologia, para citar alguns pontos. Para comear, portanto, sugere-se, em primeiro lugar, que se d uma olhada no sumrio. Dentre os diversos itens apresentados, propomos que se escolha apenas um: delimitemos a nossa escolha, por exemplo, ao desenvolvimento da questo de estudo ou da formulao do problema. Neste caso, como foi sugerido, vou at o ndice \NCAS IUMANAS \OMXAS24edelpassoparaaleituradaspginasespeccasquetratam do assunto em questo. Depois venho e me imponho a tarefa de PASSARPARAOPAPELalgumasdasIDIASRECOLHIDAS sobre o assunto em pauta.Para que serve tal exerccio? Ora, excludas as possveis di-culdades que possam aparecer, esse exerccio desde que feito com persistncia, no m da tarefa nos dar um material sui generis: o leitor ter obtido um texto importante, pensado e escrito pelo prprio punho, sobre a questo de estudo . Sim, talvez o texto esteja bastante incompleto e no sucientemente altura de uma questo de estudo ideal. Contudo, a partir desse material que no s estamos comeando a fazer um corte no conhecimento que um dos requisitos imprescindveis para o comeo do estudo sistematizado , como tambm estamos ousando pr algumas de nossas idias no mundo, ou trazendo a nossa criatividade tona. Isto sem contar que o resultado desse dilogo singular com o li-vro, nos dar um material razovel para um prximo momento: o encontro e o dilogo com um eventual especialista. Recapitulando: em primeiro lugar, estamos sugerindo que o leitor faa um exerccio de dilogo com o livro sobre algumas questes bsicas; que ele delimite sua escolha a uma das questes mais importantes para a fase preliminar da pesquisa: a formula-o do problema. Depois de tal escolha e dilogo com o livro, rascunhe algumas idias e compartilhe esse dilogo com outras pessoas mais experientes na rea. Enm, como se pode notar, prope-se que se passe do dilogo com o livro ao dilogo com os especialistas. Eis uma das formas pelas quais, atravs de ree-xo e dilogo crtico, pode-se comear um estudo sistematizado, que se d pela elaborao de um anteprojeto de pesquisa e pela promoo da ruptura com o senso comum.\NCAS IUMANAS \OMXAS25Figura 1. Quadro das trs fases e sete etapas de elaborao do projeto de pesquisa (QUIVY, Op. cit, p 24) / (4)1.J. A !UTU!A. CNCAS UMANAS NSAMNTO COMXOQuandodissermos:complexo,muitocomplexo!(...).Comas palavrascomplexonoestamosdandoumaexplicao,massim assinalandoumadiculdadeparaexplicar.Designamosalgoque no podendo realmente explicar, vamos chamar de complexo. Por issoque,seexisteumpensamentocomplexo,estenoserum pensamento capaz de abrir todas as portas (como essas chaves que abremcaixasfortesouautomveis),masumpensamentoonde estaro sempre presentes as diculdades. No fundo, gostaramos de evitar a complexidade, gostaramos de ter idias simples, leis simples, frmulas simples, para compreender e explicar o que ocorre ao nosso redor e em ns. Mas, como essas frmulas simples so cada vez mais \NCAS IUMANAS \OMXAS26insucientes, estamos confrontados com o desao da complexidade (...). Tal desao, j nos expe um problema: existe uma complexidade ou complexidades? (MORIN, 1996 c, p. 274).H vrias maneiras de se comear o debate da questo da pesqui-sa em cincias humanas. Dentre elas, por exemplo, destaca-se a crtica que se faz sobretudo em relao ao seu objeto incerto. Tal crtica feita, como se v, na maioria das vezes para desmerecer as cincias humanas, acusando-as de conhecimento questionvel e outros pontos do gnero. Assim, pelo menos de um ponto de vista cientco clssico, devido ao alto grau de subjetividade e de uma srie de outros fatores que do margem ao seu carter pouco propenso determinao, as cincias humanas so postas de lado, principalmente diante da perspectiva de compar-la junto s cincias fsicas, que indubitavelmente, tendem a nos fornecer maior grau de objetividade e certeza.Narealidade,casoestivssemosaindasobagidedafsica deNewton,aqualalmdetenderparaabuscadecertezas inquestionveisemdetrimentodosrudosdainstabilidade,do caos, da subjetividade , era praticamente a base do paradigma hegemnico da fsica clssica, tal ponto de vista seria irretocvel e estaria coberto de razo. Contudo, tendo em vista os avanos da fsica atual, notadamente da fsica quntica, tendo em consi-derao os trabalhos de PRIGOGINE (1984, 1990, 1992, 1996, 1996b), bem como as investigaes sobre o pensamento complexo de MORIN (1996, 1996 b, 1996c), entre outros, tal argumento no tem mais sustentao. O que o pensamento complexo? Em primeiro lugar, para comear, como o prprio trecho introdutrio acima ilustrou, tal reexo nasceu frente necessidade de dar conta de fenmenos aleatrios,taiscomoaincerteza,ainstabilidade,ocaos,fen-menosdequeoconhecimentocientcoclssico,atravsdo paradigma da disjuno e da simplicao, notadamente basea-do na fsica de Newton, no dava conta. Em segundo lugar, h complexidades onde quer que se produza um emaranhamento de aes, de interaes, de retroaes. E esse emaranhamento \NCAS IUMANAS \OMXAS2/tal que nem um computador poderia captar todos os processos em curso (MORIN, op. cit., p. 274). Em terceiro lugar, a questo da complexidade se compreende e se problematiza atravs de um plo emprico e de um plo lgico, ou seja, a complexidade aparecequandohsimultaneamentediculdadesempricase diculdades lgicas na leitura dos fenmenos. Diculdades empricas: o exemplo mais belo provm da meteorologia econhecidopelonomedeefeitoborboleta.Umaborboletaque bate suas asas na Austrlia pode, por uma srie de causas e efeitos postos em movimentos, provocar um furaco em Buenos Aires, por exemplo. Essa complexidade tem a ver com o que Pascal havia visto muito bem (...): Todas as coisas so ajudadas e ajudantes, todas as coisas so mediatas e imediatas, e todas esto ligadas entre si por um lao que conecta umas s outras, inclusive as mais distanciadas (...). Considero impossvel conhecer o todo se no conheo as partes. Esta a primeira complexidade; nada est realmente isolado no Universo e tudo est em relao (...).O problema lgico aparece quando a lgica dedutiva se mostra insu-ciente para dar uma prova num sistema de pensamento e surgem contradies que se tornam insuperveis. o que ocorre no campo da microfsica (MORIN, 1996 c, p. 274-275).Com relao ao primeiro aspecto da complexidade, isto , a problematizao da questo da instabilidade, do caos, entre outros pontos do gnero, junto da anlise do fenmeno de investigao, alm do que j foi dito aqui, passaremos o leitor para alguns textos introdutrios sobre o assunto: MORIN (1995) e PRIGOGINE & STENGERS (1984).No que toca discusso da complexidade pelo emaranhado de aes e retroaes nas interaes que envolvem o saber cientco, pode-se dizer que h tambm aqui questes de suma importncia. Trata-se de perceber que, sobretudo nos dias atuais, vive-se uma poca em que os conhecimentos cientcos, tcnicos e sociol-gicos apresentam-se em um processo de interao, cujos graus so intensamente prximos e mltiplos. Em outras palavras, se a \NCAS IUMANAS \OMXAS2Stcnica gerada pela pesquisa cientca muda a sociedade, retro-ativamente falando, a organizao social tecnologizada tambm temseupoderparainuiretransformarosabercientco,ou seja,acinciatornou-se(uma)poderosaemaciainstituio no centro da sociedade, subvencionada, alimentada, controlada pelos poderes econmicos e estatais. Assim, estamos num pro-cesso inter-retroativo (MORIN, 1996, p. 19). Como exemplo, sugerimos que se observe a referida situao a partir da Figura 2, adiante. Nela, como se v, tanto a cincia produz uma tcnica que inui, direta ou indiretamente, nos micro e macrogrupos da organizao social, inclusive no prprio Estado, quanto o circuito inverso revela-se como verdadeiro. STENGERS (1990), por outro lado, promovendo uma ree-xo sobre cincia e poderes, traz um ponto de vista que se apro-xima das reexes de MORIN sobre o pensamento complexo. Chamando a ateno para a posio de que preciso desfazer a idia de que a cincia tem uma identidade prpria, que ela umcaptulopartedosoutrossaberesedahistria,tentando desfazer tais posies, mostrando, entre outros fatos, que no h s a histria ocial da cincia, mas tambm outras histrias, assinala: As cincias, at aqui e isso mais um efeito de poder, do poder da instituio cientca como tal do a impresso de se desenvolverem de maneira autnoma em relao ao contexto social, econmico, poltico.(...)Ascinciasnosedesenvolvememumcontexto,mas criam seu prprio contexto.(...) Uma das questes das histrias das cincias a maneira pela qual elas conseguiro ou no interessar, e a natureza da rede de interesse que conseguiro inventar (STENGERS, op. cit., p. 145-146).Do ponto de vista do pensamento complexo junto ao conheci-mento cientco, ainda com relao ao esquema da Figura 2, ca patente um fato: se h alguns anos atrs, talvez ainda fosse possvel \NCAS IUMANAS \OMXAS29defenderaposiodomauusodoconhecimentocientco pelos polticos, por uma organizao social totalitria e mesmo pela crtica sociedade de consumo, na atualidade, mormente considerando o atual quadro de enraizamento e hegemonia da cincia no seio da sociedade, impossvel desvincular a partici-pao do pesquisador em relao ao quadro desse jogo de inter-retroaes nas suas implicaes polticas, cientcas, tcnicas. Em outras palavras, a acusao de atribuir o lado mau da cincia ao Estado, sociedade ou aos polticos, isentando o cientista de qualquer participao, vem a ser, para o investigador, a maneira de iludir a tomada de conscincia das inter-retroaes de cincia, sociedade, tcnica e poltica (MORIN, op. cit., p. 19).Quanto ao terceiro e ltimo aspecto do ponto em discusso, ou seja, quanto ao aspecto do plo emprico e do plo lgico, pode-se dizer que em vez de simplicar e separar questes cru-ciais da cincia tais como a questo do sujeito e do objeto do conhecimento, dos mundos ditos internos e externos, do biofsico e do antropossocial, entre outros exemplos , Morin sublinha que humenormegraudecomplexidadevinculandotaisfatores, que precisam ser revistos e repensados (5). Colocando de outro modo,detodoapartesurgeanecessidadedeumprincpio deexplicaomaisricodoqueoprincpiodesimplicao (separao/reduo),quepodemosdenominardeoprincpio dacomplexidade.certoqueelesebaseiananecessidadede distinguir e de analisar, como o precedente (da cincia clssica), mas, alm disso, procura estabelecer a comunicao entre aquilo que distinguido: o objeto e o ambiente, a coisa observada e o seu observador. Esfora-se no por sacricar o todo pela parte, apartepelotodo,masporconceberadifcilproblemticada organizao, em que, como dizia Pascal, impossvel conhecer as partes sem conhecer o todo, como impossvel conhecer o todo sem conhecer particularmente as partes (MORIN, 1996, p. 30).\NCAS IUMANAS \OMXAS30Figura 2(In: MORIN, 1996, p 20)Enm, feitas tais consideraes sobre o pensamento comple-xo, quais so os parmetros que se podem destacar para que se promovam rupturas com o senso comum atravs do pensamento complexonaproduodoconhecimento,principalmentenas reas de cincias humanas? Afora os argumentos j apresentados, neste particular, em sntese destacam-se as seguintes questes: 1)Para o pensamento complexo, todas as cincias so sociais. Alm do que j foi dito, sobretudo em torno da Figura 2, o pensamento complexo tem um ponto de vista muito particular a tal respeito. Ora, considerando que a cincia est no meio da sociedade, considerando que embora tenha sua distino em relao mesma, impossvel separar um fator do outro, ento, como se v, qualquer que seja o tipo de cincia, inclusive as fsicas e biolgicas, todas so sociais. 2)O pensamento complexo no constitui receita/resposta pronta para todas as questes. O que est em questo aqui o equ-voco de entend-lo como uma mera receita e no como um desao e uma motivao para pensar os fenmenos de maneira diversa. Colocando de outro modo, tendo em vista que a refe-rida complexidade nasceu para dar conta de fenmenos dos quais o paradigma da simplicao e da disjuno no dava conta, tom-la como receita ou qualquer procedimento que a priori conduza para respostas prontas pode at, se for o caso, receber o nome de complexidade, mas, tal complexidade no aquela que vai ao encontro do ponto de vista que estamos discutindo pela perspectiva de MORIN.\NCAS IUMANAS \OMXAS31Assim, ilustrando tal complexidade, vejamos o seguinte trecho:A complexidade no , ento, nem uma nova viso do mundo nem novo tipo de teoria, mesmo que ela implique em novas vises dos saberes e se rera a teorias. A questo da complexidade prtica: ela se coloca quando um encontro emprico[ inclusive o empirismo dasimulaoemcomputadoroudadescobertadadiferenaentre sistemas estveis e instveis, ou entre sistemas prximos ou longe do equilbrio] impem um novo questionamento do poder atribudo a um conceito e atualiza uma dimenso da interrogao prtica que tal conceito ocultava.(...) A questo da complexidade, tal como a penso, constitui a moda-lidade propriamente cientca de problematizao do novo. Tal novo, aqui, tem o sentido de que, a ateno para a criao de pertinncia de novas questes e para a atualizao de imposies que nos denem em relao quilo que interrogamos, quilo que fazemos intervir em nossas discusses, constitui a problematizao propriamente cientca da questo do novo e tambm uma problematizao das relaes entre cincias e poder (STENGERS, 1990, p. 171-172).3)A complexidade no deve ser pensada como simples inimiga da ordem e da clareza. Um problema que diculta a discusso do pensamento complexo a questo de relacion-lo pura e simplesmente ao fato de ser inimigo da ordem e da clareza. Ora, alm dela se opor a tal equvoco, talvez nem seja neces-srio dizer que a complexidade , antes de tudo, o esforo paraconceberumincontornveldesaoqueoreallanaa nossa mente (MORIN, 1996, p. 176).4)Outro problema, como se observa, ver a complexidade como sinnimo da completude. Vale dizer que embora a complexi-dade aponte para questes muito mais ligadas incompletude do conhecimento do que completude, na realidade esta no a questo principal do pensamento complexo. O relevante para esse pensamento a luta no propriamente contra a in-completude mas contra a mutilao do fenmeno em funo de suas anlises: Num sentido, o pensamento complexo tenta dar \NCAS IUMANAS \OMXAS32conta daquilo que os tipos de pensamento mutilante se desfaz, excluindo o que eu chamo de simplicadores e por isso ele luta, no contra a incompletude, mas contra a mutilao (MORIN, 1996, p. 176). Tal fato compreende basicamente que,se tentamos pensar no fato de que somos seres ao mesmo tempo fsicos, biolgicos, sociais, culturais, psquicos e espirituais, evidente que a complexidade aquilo que tenta conceber a articulao, a iden-tidade e a diferena de todos esses aspectos, enquanto o pensamento simplicante separa esses diferentes aspectos, ou unica-os por uma reduo mutilante. Portanto, nesse sentido, evidente que a ambio da complexidade prestar contas das articulaes despedaadas pelos cortesentredisciplinas,entrecategoriascognitivaseentretiposde conhecimento. De fato, (...) complexidade tende para o conhecimento multidimensional (MORIN, op. cit., p. 176-177).5)Aidiadecomplexidadeconvidaasepassardacrticada mutilaoproblematizaodamultidimensionalidadee daincertezanaproduodosabercientco.Desenvolver umaperspectivacontrriaaessamutilao,desenvolver uma perspectiva por tal problematizao desenvolver um pensamento complexo, o qual, longe de querer dar conta de tudo, quer compreender, sempre que possvel, o humano nas suasdiferentesdimensesoumultidimensionalidades.Ou seja, o pensamento complexo destaca que tudo aquilo que humano,oumelhor,antropossocial,temindiscutivelmente seu componente biofsico. Em outras palavras, preciso encontrar o caminho de um pensamento multidimensional que, lgico, integre e desenvolva formalizao e quanticao, mas no se restrinja a isso. A realidade antropossocial multidimensio-nal; ela contm, sempre, uma dimenso individual, uma dimenso socialeumadimensobiolgica.Oeconmico,opsicolgicoeo demogrco que correspondem s categorias disciplinares especiali-zadas so as diferentes faces de uma mesma realidade; so aspectos que, evidentemente, preciso distinguir e tratar como tais, mas no se deve isol-los e torn-los no comunicantes. Esse o apelo para \NCAS IUMANAS \OMXAS33o pensamento multidimensional. Finalmente e, sobretudo, preciso encontrar o caminho de um pensamento dialgico (MORIN, op. cit., p. 180) / (6)Assim, por aspirar a multidimensionalidade, por tentar discutir o homem de seus diferentes aspectos fsico, psquico, cultural, social, entre outros , que o pensamento complexo comporta em seu mago fatos que consideram e apontam principalmente para as questes da incerteza e incompletude. Na realidade, tal pensamento pode ser visto como o que se prope a fazer fundamentalmente um dilogo entre ordem, desor-dem e organizao, tentando conceber, nas suas especicidades ediversasparticularidades,osfenmenosfsicos,biolgicose humanos. O referido pensamento no necessariamente intenta a unio de contrrios, mas o estabelecimento de possveis pontes de comunicao, junto s dimenses biofsicas, socio-culturais, histricas,asquais,longedeadotarsadassimplicadorese disjuntivas tais como, por exemplo, as da certeza da fsica de Newton , ele tambm pretende discutir juntamente com a clareza da suposta objetividade dos fatos, os ditos rudos subjetivos, as ditas incertezas, para citar alguns exemplos, no como fatores de demrito, mas como um conhecimento de valor positivo e com-plementar no seio do pensamento cientco. Para a perspectiva emquesto,enm,optarportalprocedimentoabrir-separa umuniversodeoutraspossibilidadesnaproblematizaodo fenmeno cientco.O princpio de explicao da cincia clssica tendia a reduzir o co-nhecido ao manipulvel. Hoje, h que insistir fortemente na utilidade de um conhecimento que possa servir reexo, meditao, discusso, incorporao por todos, cada um no seu saber, na sua experincia, na sua vida...Osprincpiosocultosdareduo-disjunoqueesclareceramain-vestigao na cincia clssica so os mesmos que nos tornaram cegos para a natureza ao mesmo tempo social e poltica da cincia, para a natureza ao mesmo tempo fsica, biolgica, cultural, social, histrica \NCAS IUMANAS \OMXAS34de tudo o que humano. Foram eles que estabeleceram e so eles que mantmagrandedisjunonatureza-cultura,objeto-sujeito.So eles que, em toda parte, no vem mais do que aparncias ingnuas na realidade complexa dos nossos seres, das nossas vidas, do nosso universo (MORIN, 1996, p. 30-31).Ressalte-se tambm que pensar a questo da complexidade no reduzir as cincias humanas biologia ou mesmo a qual-querprocedimentoquefazexclusivamenteumasimplicao daquela ao mtodo da fsica clssica. Propor-se a analisar alguns fenmenos dessas reas, discutir as possveis pontes que h entre elas, problematizar tais fenmenos por uma relao complexa, no de forma alguma reduzir a rea A na rea B, nem vice-versa. Alis, tomar o citado caminho da reduo no s tender ao processo de reproduo da reduo-disjuno, como tambm trilhar um caminho oposto ao do pensamento dialgico ou da complexidade.6)No comporta a prtica do reducionismo o pensamento com-plexo. Assim como no recomendvel simplesmente reduzi-lo a uma denio prvia, o mesmo se d com alguns conceitos com que tal pensamento lida, tais como o acaso, a desordem, ocaos,entreoutros.Notocanteaoacaso,porexemplo,o matemticoChaitinodeniucomoumaincompressibilidade algoritma,ouseja,comoirredutibilidadeeindedutibilidade, apartirdeumalgoritmo,deumaseqnciadenmerosou de acontecimentos. Contudo, o mesmo Chaitin dizia que no hjeitodeprovarumatalincompressibilidade.Emoutras palavras, deve-se tomar o cuidado com denies prvias que possam conter irredutibilidades, pois que, como vimos, a ttulo de ilustrao, no podemos provar se aquilo que nos parece ser acaso no devido ignorncia (MORIN, 1996, p 178). 7)Opensamentocomplexorompecomacinciaquetenta eliminarasingularidade.Trata-sedepensarosfenmenos nessa transgresso, ou seja, transgredir ou superar a posio corrente, sobretudo a que se relaciona com as cincias naturais, \NCAS IUMANAS \OMXAS35que faz uma abstrao universal e eliminam a singularidade, a localidade e a temporalidade. A biologia atual no concebe a espcie como um quadro geral do qual o indivduo um caso singular. Ela concebe a espcie viva como uma singularidadequeproduzsingularidades.Aprpriavidauma organizaosingularentreostiposdeorganizaofsico-qumica existentes. E, alm disso, as descobertas de Hubble sobre a disperso dasgalxiaseadescobertadoraioistropoquevemdetodosos horizontes do universo trouxeram a ressurreio de um cosmo singu-lar que teria uma histria singular na qual surgiria nossa prpria histria singular.Do mesmo modo, a localidade se torna uma noo fsica determinan-te: a idia de localidade est necessariamente introduzida na fsica einsteinianapelofatodequeasmedidasspodemserfeitasnum certo lugar e so relativas prpria situao em que so feitas. (...) Portanto, no podemos trocar o singular e o local pelo universal: ao contrrio, devemos uni-los (MORIN, op. cit., p. 178- 179).8)O pensamento complexo considera a misteriosa relao entre a desordem, ordem e organizao. Alm de tratar dessa re-lao misteriosa, contraditria e praticamente complementar entre tais fatores, o pensamento complexo est prximo de Prigogine (1996b).9)Paraopensamentocomplexoaorganizaoaquiloque constitui um sistema a partir de elementos diferentes; portanto, ela constitui, ao mesmo tempo, uma unidade e uma multipli-cidade, ou seja, (...)O interessante que, ao mesmo tempo, um sistema mais ou menos do que aquilo que poderamos chamar de soma de suas partes. Alguma coisa de menos, em que sentido? Bom, que essa organizao provoca coaes que inibem as potencialidades existentes em cada parte, isso acontecendo em todas as organizaes, inclusive na social, na qual as coaes jurdicas, polticas, militares e outras fazem com que muitas de nossas potencialidades sejam inibidas ou reprimidas. Porm, ao \NCAS IUMANAS \OMXAS36mesmotempo,otodoorganizadoalgumacoisaamaisdoquea somadaspartesporquefazsurgirqualidadesquenoexistiriam nessa organizao; essas qualidades so emergentes, ou seja, podem ser constatadas empiricamente, sem ser dedutveis logicamente; essas qualidades emergentes retroagem no nvel das partes e podem (ser) estimuladasaexprimirsuaspotencialidades.Assimpodemosver bem como a existncia de uma cultura, de uma linguagem, de uma educao, propriedades que s podem existir no nvel do todo social, recaem sobre as partes para permitir o desenvolvimento da mente e da inteligncia dos indivduos (MORIN, op. cit., p. 180).Em suma, tendo em conta que pensar as cincias humanas, sobretudo do prisma do pensamento complexo, no eliminar simplesmente muitos dos fatores clssicos do fazer cincia; consi-derando que, ao contrrio, tentar problematizar tanto os fatores clssicosdaditacertezaquantoosdaditainstabilidadenuma relao de complexidade; ento, agora sugerimos que passemos para a discusso dos prximos captulos, nos quais nos fornecero uma srie de pontos bsicos que serviro como base segura para desenvolvermos os fundamentos da pesquisa.CAPITULO IIIA I!OBMTCA IABO!AO O I!OJTO ISQUSA \NCAS IUMANAS \OMXAS3S2.1. IA !UTU!A COM O SNSO COMUM AO CO!T QU MTA SNVOV A NVSTGAO -Mas,indagaGabriel,umdosestudantesdonossodilogo ilustrativo , considerando que o estudo do petrleo uma questo concreta e que, por sua vez, est de acordo com as cincias fsicas, o que aconteceria se, por outro lado, escolhssemos um problema que estivesse relacionado diretamente com o mbito abstrato das cincias humanas? O que aconteceria se mudssemos de assunto, escolhendo-o entre um dos temas ditos dbios, tal como, por exemplo, a questo da potica e da psicanlise? Como desenvolver uma pesquisa acad-mica a partir de um assunto que tendesse muito mais ao aspecto da subjetividade e menos ao da objetividade? - O professor que eu procurei para averiguar acerca da questo do petrleo, responde Tiago, disse-me algo interessante neste sentido. Na realidade, no decorrer do nosso papo, lhe z uma indagao: professor, essas e outras sugestes que o Sr me est fornecendo s ser-vem para pesquisas concretas, pesquisas como a questo do petrleo, no caso, que tm seu objeto situado nas cincias fsicas ou naturais? Ento, ele me respondeu: Tiago, esse conjunto de procedimentos de elaborao prvia de pesquisa serve para todo o conjunto de cincias, ou seja, serve inclusive para o desenvolvimento das cincias humanas e sociais. Alis, sobre esse particular, h um lsofo francs, Michel Foucault, que, pesquisando sobre as cincias humanas, armou: No h um objeto especco nas humanidades, h uma interligao entre esses objetos... Bom, a partir disto, continua Tiago, eu entendi que tais procedimentos prvios servem para todo tipo de problema, problemas esses que podem ser aplicados e desenvolvidos nas prprias cincias humanas.\NCAS IUMANAS \OMXAS39Diantedaeventualsituaodeescolhermospesquisarum assunto relacionado ou bastante prximo do objeto das cincias humanas, diante da hiptese de estarmos realizando um estudo considerado muito subjetivo, ainda assim, a busca de sistemati-zao nessas pesquisas est presente. Tal sistematizao se desen-volve principalmente a partir da formulao de um problema, da escolha de um mtodo, da apresentao de um projeto com outra srie de pontos, tais como objetivos, cronograma, entre ou-tros. Mas, seguindo a proposta do dilogo desses dois estudantes universitrios, vejamos como caria uma pesquisa que envolvesse, por exemplo, a questo da Potica e da Psicanlise:Emprimeirolugar,independentedoassuntoescolhido, necessrioadotarmososmesmospassosquenosconduziriam aos procedimentos anteriores, os quais, como j dissemos, obje-tivam criar uma ruptura com o senso comum. Ou seja, os passos sugeridosnaprimeirapartedopresentetrabalho,emsntese, so: formulao do problema inicial, levantamento bibliogrco, conversa com algum especialista, que no caso, precisa estar ligado na questo da potica e /ou na questo da psicanlise.Em termos de problema hipottico, o nosso seria inicialmente formulado da seguinte forma: At que ponto se observa um dispositivo deleuzeano entre a potica eapsicanlise,oqual,sobretudoapartirdaclnicaanaltica, fator signicativo na criao de modos de existir diversos ao modo consensual? (1) Assim, munidos de um problema inicial, feitos os devidos con-tatos com alguns especialistas na rea e tambm um levantamento \NCAS IUMANAS \OMXAS40bibliogrco sobre o assunto escolhido, entraramos na fase da elaborao do projeto de pesquisa. Ento o que fazer? Ora, em primeiro lugar, ainda observando a Figura 1, estamos exatamente agora no momento da CONSTRUO DO M-TODO DE ANLISE, que comea da problemtica. Colocando de outro modo, em primeiro lugar necessrio que retomemos a formulao do problema, pois que, embora tenhamos trabalhado esse assunto no ponto anterior, a partir dele que iniciaremos osdesdobramentospossveisparaaelaboraodoprojetode pesquisa. Comosepodenotar,naquestodeestudoemdiscusso hbasicamentedoisfatoresprincipaisemjogo:aPOTICA eaPSICANLISE.Assim,almdepensarnadeniodos termos,comojdiscutimosanteriormente(videanotan1), sugere-se que se faa uma outra indagao, que nos crie outro cortequeaprofundeedesdobreaproblemticaemcurso.Tal desdobramento, por sua vez, no s nos indicar caminhos de escrita e de leitura, como tambm tender a aprofundar o estu-do no rascunho do projeto, gerando um esboo de sumrio no mesmo. Em outras palavras, sugere-se que a partir do problema inicial, escolha-se um dos termos principais e se faa ainda uma indagao que promova um corte e nos direcione leitura e observao do material de estudo. Como, no nosso caso, h duas variveis principais, ou dois termos principais, vejamos como tal corte caria, de um lado, com relao especca ao potico, de outro, com relao especca ao psicanaltico:Produo potica? Que produo potica? Talperguntacabenapresenteelaboraodorascunho,sobretudo porque nos ajuda a delimitar essa questo de forma crtica, ou seja, fazer tal delimitao aqui apontar para o fato de que, dentro do universo da potica, no so todas as produes poticas que queremos pesquisar. Contudo, ainda partindo do pressuposto da delimitao desse campo de estudo, atravs da referida pergunta, sugere-se que se aprofunde tal especicao e se faa um corte no universo do assunto \NCAS IUMANAS \OMXAS41da potica, de maneira que, no rascunho, esse corte que delineado com mais clareza. Apresentando de outro modo, considerando que agora estamosnaSegundafasedaelaboraodoprojetoe,dessaforma, subentende-se que j foi feito um levantamento bibliogrco sobre o particular assunto (Ver captulo anterior); considerando que, atravs do referido estudo bibliogrco, levantamos que o objeto potico mui-to vasto e de difcil denio; considerando que por tal procedimento observou-se ainda que no h condies de se ter uma s denio de poesia, mas vrias; considerando que essas diferentes denies po-dem ser debatidas por algumas de suas principais perspectivas tericas que tratam do campo potico, assim, sugere- se que aprofundemos o citado corte, delimitando-o atravs de uma discusso de suas princi-pais perspectivas. Em sntese, seguindo tal raciocnio, nosso possvel esquemaderascunhodeelaboraodosumriodoprojetocaria assim: ttulo provvel do trabalho: Potica e psicanlise; Sugesto como primeiro captulo de desenvolvimento do trabalho: 1- Potica? Que Potica?. Tal captulo, ento, hipoteticamente falando, poderia vir seguido dos seguintes subttulos: 1.1- Potica pela perspectiva do Formalismo Russo; 1.2- Potica pela perspectiva da semitica de Peirce; 1.3- Potica pela perspectiva do Paradigma esttico de Guat-tari. Vale dizer ainda que principalmente atravs da formulao de tal rascunho que comearemos a elaborar, adiante, o sumrio da pesquisa (Ver gura 12, captulo 5, Livro Primeiro).Ressalte-se ainda que delimitando tal problemtica dessa ou de outra maneira, no s estamos criando caminhos que nos di-recionaro no estudo e na escrita do projeto de pesquisa, como tambmestamosavanandonaconstruodomesmo.Assim, na medida em que possamos aprimorar a problemtica em es-tudo, denamos ou redenamos nossos objetivos, optemos por um mtodo de anlise e planejemos um cronograma inicial de estudoento,tambmestaremosdelineandoaETAPA4(Ver Figura 1).Quanto questo da psicanlise, o segundo fator de des-taque na nossa problemtica inicial, o mesmo raciocnio pode ser aplicado, ou seja, possvel criarmos um desdobramento a partir \NCAS IUMANAS \OMXAS42deumaindagaoproblematizadora,quenosfazumcorte no assunto, como tambm pode nos orientar, tanto em nvel de leitura como de escrita. Ento, vejamos:Psicanlise? Que psicanlise?Essa indagao pode ser vista de vrios ngulos. Dentre eles, o mais importante relaciona-se ao fato de que no se quer discutir todas as psicanlises, mas sim, especicamente, algumas das principais vises existentes, que so: a psicanlise da perspectiva de HERRMANN (1991; 1991 b); a psicanlise da perspectiva de ROLNIK (1995, 1995b) e a psicanlise da perspectiva institucional de GUIRADO (1987, 1995). Aqui, a escolha de tal corte determinada no s por questes de preferncia do pesquisador, mas principalmente obede-cendo pergunta inicial, s leituras levantadas, ao dilogo com o especialista (orientador e/ou consultor), fatores que foram discutidos na primeira parte do presente trabalho.Comosenota,aquestoprincipalinicialdapesquisaest presente, s que, dos passos preliminares para c, ela vem sendo progressivamente aprimorada, ou seja, partindo da questo prin-cipal que comeou a ser elaborada junto com os procedimentos prvios tratados no captulo anterior que comeamos a desen-volverosprimeirosrascunhosdoprojetodepesquisa.Enm, no exemplo acima, h um encadeamento entre a fase anterior eapresentefasequeestamosdebatendo,querdizer,partindo daquestoprincipalinicialquechegamoselaboraodo Plano de Pesquisa que basicamente est ligado problemtica e construo do modelo de anlise (ver Figura de no 1/ Etapa 3 e etapa 4). Apresentando de outro modo, estamos no momento emque,saindodosprocedimentosbsicosinicias,chega-sea formulao da problemtica, a qual, uma vez discutida e apri-morada, nos levar elaborao do projeto propriamente dito. Paratanto,horadedominarmosumasriedepontosvitais para o desenvolvimento do referido projeto e para a posterior execuo do mesmo. Tais pontos, que sero trabalhados a seguir, so: Como formular um problema cientco; Como fazer um \NCAS IUMANAS \OMXAS43levantamento bibliogrco(Denio da pesquisa bibliogrca, aquestodasfontes,dosapontamentos,entreoutrospontos); A Entrevista com o Especialista, etc. Ressalte-se que alm do referidodebate,discutiremososprincipaismtodoscientcos que podem ser adotados em uma investigao (Captulo 3) e a questo da bibliograa e da referncia bibliogrca (Captulo 4). Logo aps, ento, retomaremos a elaborao do projeto atravs do captulo 5: Da estruturao do projeto de pesquisa. 2.2. IUNAMNTOS O !OJTO SQUSA: UM NAMNTO O MOO ANS 2.2.1. \OMO O!MUA! UM !OBMA CNTCOSem a questo principal, no h boa tese.(BEAUD, 1996, p. 52)H um velho ditado chins que, guardando as devidas propor-es, traz grandes contribuies na questo de como elaborar um problema de pesquisa. Ele diz: Quando o estudante se pre-parar devidamente, o grande caminho comear a se desvelar, ou seja, na hora em que o pesquisador se esforar por elaborar adequadamente um problema, a resoluo ir se delineando com maior probabilidade de acerto.O que um problema cientco? Dene-se como uma inda-gao que aponta para questes claras, objetivas, delimitadas e compossibilidadedemensurao.Naturalmente,talquesto, precisa exprimir-se por termos que possam ser bem denidos. Afora isto, importante ainda dizer que o problema em discusso tambm sinnimo de questo de estudo, ou questo principal, em muitos trabalhos.Como delinear um problema cientco? Os debatedores dessa matria so unnimes em armar que tal problema, em sntese, embora no seja das tarefas mais fceis, tambm uma questo de treino e de aprendizagem, que pode ser executada a partir de \NCAS IUMANAS \OMXAS44alguns procedimentos bsicos. Tais procedimentos relacionam-se compreenso de dois momentos fundamentais: de um lado, comopercorrerdospassosbsicosjdiscutidosnaFaseda Ruptura com senso comum; de outro, com a compreenso de que, para ser colocado como um problema cientco, necess-rio que o formulemos por quatro procedimentos principais, ou seja, ele ser entendido sobretudo como cientco, quando: 1) forapresentadoatravsdeumapergunta;2)forescritopelo prismadano-ambigidade(buscadaclarezaedapreciso); 3) for desenvolvido pelo prisma da delimitao e da mensura-o; 4) for discutido por uma dimenso vivel e se apresentar livre de preconceitos e outros julgamentos de valor (GIL, 1995; BEUD,1996; ANDRADE, 1995, 1995 B).I!OBMA A!SNTAO AT!AVS UMA !GUNTA: Sugere-se a apresentao do problema por uma pergunta, prin-cipalmente devido ao fato de que, dessa maneira, ele se mostra sob uma forma mais objetiva e direta para o trato de determinada questo. Isto sem falar que formul-lo a partir de uma pergun-ta,antesdetudo,facilitaacompreensodoleitordoprojeto, ajudando-o em termos de um entendimento mais claro e mais rpido da pesquisa proposta. Outro argumento a favor de apresent-lo sob forma de pergun-ta reside principalmente no fato de que, segundo GIL (1995), ao se proceder desta maneira, o pesquisador ter maiores chances dedelinearseutrabalhoporumaviamaissistematizada.Em outras palavras, a partir da pergunta da partida, aprimorada e desenvolvida, que se construir a problemtica, que no s a etapa 3 como tambm o m da Primeira Fase (Ver Figura 1). A partir de tal problemtica, ento, se entrar na Segunda Fase da pesquisa, a qual, como se ver, nos conduzir elaborao do projeto propriamente dito e sua posterior execuo. \NCAS IUMANAS \OMXAS45I!OBMA SC!TO O !SMA A NO-AMBGAMasadespeitodeserformuladocomoperguntaecontribuir com o processo de pesquisa, sobretudo na referida etapa da pro-blemtica, o problema em questo precisa ser posto de forma clara e precisa. O que tal fato implica? Implica que dicilmente podemos desenvolver um estudo sistematizado atravs de uma questo que se apresenta de forma ambgua e imprecisa. Attulodeilustrao,porexemplo,vamosimaginarque algum queira desenvolver um estudo atravs da seguinte formu-lao: como funciona nossa alma? Ora, ainda que, para alguns, estejamos diante de uma questo relevante, esse problema, do ponto de vista acadmico, est formulado de maneira contrapro-ducenteeprecisaserrepensado.Dicilmenteumpesquisador que seja minimamente experiente comear um estudo a partir de uma indagao do gnero. De outro lado, agora, vamos supor, ainda ilustrativamente falando, que nosso candidato a pesquisador resolva fazer um estudo sobre as manifestaes do psiquismo incons-ciente freudiano, manifestaes essas que so transmitidas ao grupo de crianas X, matriculadas no maternal Y, de uma escola especca enumdeterminadoespaodetempo,atravsdosprincipaiscontosde fadas. Ora, como se v, alm de ser apresentado atravs de uma pergunta, o problema necessita de ser discutido por uma via que busque a clareza e a preciso. Nas ilustraes apresentadas, h maior probabilidade de se desenvolver uma pesquisa sistemati-zada pelo estudo formulado a partir das manifestaes do incons-ciente atravs dos contos de fadas, do que pelo estudo que tende vagueza e que foi expresso aqui como o estudo da alma.I!OBMA O !SMA A MTAO MNSU!AO Uma das maiores atitudes anticientcas a formulao da ques-to atravs do prisma de se adquirir um conhecimento absoluto sobre determinado tema. Alis, ao contrrio dessa pretenso, fazer cincia admitir a possibilidade de se criar uma ruptura com o senso comum, principalmente na promoo de um corte dentro dedeterminadoassuntoescolhidoparainvestigao.Falarem \NCAS IUMANAS \OMXAS46corte aqui, como se v, falar em delimitao do universo de estudo. Em outras palavras, uma das grandes caractersticas da atitude cientca reside na delimitao: problema no delimitado, em sntese, problema de falsa questo, pelo menos do ponto de vista de uma investigao cientca. Outro ponto importante, que complementa a questo do corte, a possibilidade de coloc-lo pelo prisma da mensurao. Um problema inadequado, do ponto de vista acadmico, principal-mente aquele que no pode ser mensurvel. Por exemplo, ima-ginemos uma indagao que diga o seguinte: Qual a inuncia das revistas pornogrcas no desenvolvimento sexual de todos os jovens no mundo ocidental? Ora, aqui, a despeito de at se ter um problema relevante, nota-se que ele est posto de forma inadequada, sobretudo quanto ao aspecto da mensurao. Basta dizer que entre outros contrapontos, impossvel se estudar a in-uncia das revistas pornogrcas em todos os jovens do mundo, ou seja, h aqui srios problemas, tanto em termos da delimitao como no que toca principalmente ao processo de mensurao.I!OBMA MNSO VV. V! !CONCTOS JUGAMNTOS VAO! Para que o problema possa ser discutido cienticamente por uma dimensovivel,faz-senecessriaapossibilidadedepens-lo dentrodasmnimascondiesplausveisparaodesempenho favorvel do pesquisador. Tais condies referem-se no s aos recursos econmicos ou materiais, mas tambm disponibilida-de de tempo hbil para a execuo dentro de um cronograma realista e, ainda, a uma outra srie de fatores, tais como, situao atual das fontes de consulta sobre o assunto escolhido, lngua em que elas esto originalmente escritas. Mas as referidas condies devem ser vistas principalmente em relao aos recursos inter-nos e prossionais do pesquisador para analisar criticamente os limites e possibilidades que dever enfrentar na implementao da pesquisa. \NCAS IUMANAS \OMXAS4/Ainda dentro dessa discusso, que um problema cientco necessita ser formulado livre de posies que envolvam precon-ceitos e julgamentos de valor. Assim, discutiremos agora alguns parmetros que em relao a esses fatores, devem ser evitados. Tais parmetros, em resumo, so: 1.Aindaquehajapesquisasqueinvestiguematitudesprecon-ceituosas, elas no devem ser norteadas por pontos que esto necessariamente a servio de causas preconceituosas, como por exemplo: at que ponto todo latino-americano pobre porque no gosta de trabalhar? ; at que ponto os ndices de Qis abaixo da mdia relacionam-se necessariamente com raas no-brancas? 2.Deve-se ter o cuidado de evitar estudos que se guiem exclusi-vamente por questes ideolgicas, direcionando inteiramente a capacidade crtica do pesquisador, estudos que at tenham boas intenes, acabam fazendo o mesmo jogo equivocado das posies dos que defendem que a cincia neutra, que a poltica nada tem a ver com produo cientca, etc. Ora, tanto uma posio quanto a outra acabam levando-nos defesa de apriorismos, os quais, na realidade, alm de reetirem uma cegueiraideolgica,academicamentefalando,prejudicam oprocessodepesquisa,principalmentedevidoaofatorde preconceito e de julgamento de valor que levantam. Como exemplo desse tipo de estudo, pode-se citar: At que ponto o comunismo fracassou porque menos inteligente do que o capitalismo?Em suma, a ttulo de ilustrao, a m de que evitemos maiores confuses, passemos agora s discusses de algumas perguntas quepodemseranalisadasdopontodevistadaadequaoou inadequao cientca:Exemplo 1:Qual o impacto da mudana da vida dos extraterrestres na orga-nizao mundial?\NCAS IUMANAS \OMXAS4SOra, como se pode notar, o problema acima no est formula-do de forma adequada, pelo menos do ponto de vista de uma investigao cientca. Entre outros defeitos de formulao, des-tacamos: a- O problema foi formulado de maneira muito vaga, com extrema generalidade e fazendo prever sua difcil soluo, ouseja,quemdens,noatualestgiohumano,podearmar com s conscincia que conhece realmente o modo de vida de um ET? Quem de ns pode dar conta de estudar de fato toda a organizao mundial?; b- Ele foi formulado tambm de forma quetrazoutrasinconsistncias,porexemplo,verica-seuma impossibilidade de mensurao, cujo resultado no se poder falar em mtodos e instrumentos adequados.Exemplo 2:Existir vida depois da morte?Ora, aqui, como se observa, ainda que se tenha um problema de suma relevncia, que justica um importante estudo tanatolgico, a pergunta foi formulada de maneira imprecisa, colocando-nos, entre outras diculdades, diante de um srio impasse de men-surao. Portanto, ainda que possa trazer um assunto relevante, existencialmente falando, a pergunta precisa ser formulada dentro de um mbito cientco.Exemplo 3:A sexualidade do sculo XXII ser mais saudvel do que a do sculo XXI?Note-se que, do ponto de vista da investigao cientca, entre ou-tros problemas, a pergunta aqui foi formulada de forma totalmente inadequada, pelas razes seguintes: a- como podemos discutir, acadmica e objetivamente falando, um tipo de sexualidade que ocorrer daqui h 100 anos? b- que instrumentos utilizaremos, que tempo hbil teremos, quais so os recursos disponveis para que,apartirdaindagaoproposta,possamosmensurartoda sexualidade no sculo XXII?\NCAS IUMANAS \OMXAS49Exemplo 4:Atqueponto,emrelaoaoHIV,havermaiorincidnciade soropositivo em um agrupamento de adolescentes de uma escola X de orientao religiosa tradicional, que no s recomenda que o sexo sejapraticadoapenasnocasamentoformal,mastambmseope a que seus alunos usem o preservativo sugerido nas campanhas do Ministrio da Sade? Como se v, estamos diante de um problema que alm de estar sobaformadeumapergunta,levantaquestesdesumarele-vncia, que esto delimitadas e propostas atravs de parmetros que podem ser investigados. Enm, trata-se de uma questo que podeserdesenvolvidacomoumproblemacientco,ouseja, pretende-se desenvolver um estudo sobre a questo do soropo-sitivo, devidamente delimitado no grupo de adolescentes de uma escola X. Tal estudo, por sua vez, pretende ser discutido prin-cipalmente junto da questo da preveno nos adolescente que freqentam uma escola tradicional, que contra as recomenda-es prticas das campanhas de preveno, campanha que sugere o uso de preservativos nas relaes sexuais. Claro que, como em toda pergunta cientca, observam-se termos que necessitam ser bem denidos. No caso em questo temos que conceituar o que chamamos de soropositivo; o que se entende por grupo adoles-cente;escoladeorientaoreligiosatradicionalecampanhas de preveno contra tal doena. Como se pode notar, a questo de preveno, por exemplo, ser discutida aqui principalmente atravs do uso de preservativo nas relaes sexuais desse grupo de adolescente na referida escola.Exemplo 5: Ser que os dirigentes religiosos exploram seus is?Como se pode ver, o problema acima, ainda que esteja colocado em forma de indagao, no est sendo formulado como um pro-blema cientco. Dentre as inconsistncias existentes, destacam-se: \NCAS IUMANAS \OMXAS50a- h sutilmente um julgamento de valor embutido na indagao; b- parece que tal indagao est sendo formulada de maneira que nos induza ao ponto de vista de quem a formulou, ou seja, tudo d a entender que mesmo antes de partimos para a investigao, o autor da formulao j sabe onde se quer chegar.2.2.2. \OMO A7! UM STUO BBOG!CO Praticamentetodoconhecimentohumanopodeserencontradonos livrosouemoutrosimpressosqueseencontramnasbibliotecas.A pesquisabibliogrcatemcomoobjetivoencontrarrespostasaos problemasformuladoseorecursoaconsultadosdocumentosbi-bliogrcos. Para encontrar o material que interessa numa pesquisa necessrio saber como esto organizadas as bibliotecas e como podem servir os documentos impressos (CERVO, 1983, p. 79).Tendo em vista o aprimoramento do processo de pesquisa, es-pecialmente no que tange ao modelo de anlise e aprimorao da problemtica, um dos pontos de suma importncia para qual-quer investigao a questo do levantamento bibliogrco. Tal levantamento, apesar de ser um dos mtodos de pesquisa que comumente denominado de pesquisa terica , est sendo postoaquicomoumadasfasesimprescindveis,quedeveser dominada minimamente por qualquer pesquisador. Note-se que seestsublinhandoqueolevantamentobibliogrco,mesmo que preliminar, deve ser realizado por diferentes pesquisadores, ainda que muitos deles, no decorrer de suas pesquisas, optem por desenvolv-las atravs de outros mtodos de pesquisa. Considerandoque,comodizCervoacima,praticamente todo conhecimento humano pode ser estudado nos livros, nas bibliotecas; considerando que para se chegar a tal conhecimento necessrio dominar uma srie de procedimentos e de tcnicas bibliogrcas; considerando, enm, que o material bibliogrco est nas fontes primrias e secundrias de papel, dada sua rele-vncia propomos a questo do estudo bibliogrco a partir de um conjunto de tpicos: denio da pesquisa bibliogrca; fontes \NCAS IUMANAS \OMXAS51bibliogrcas; procedimentos bsicos para o estudo das fontes; tcnicas bsicas de leituras; apontamentos; pesquisa bibliogrca e pesquisa documental. INO SQUSA BBOG!CA Segundo GIL (1995), a pesquisa bibliogrca dene-se basica-mente por uma coleta de material disponvel e j existente, o qual pode ser selecionado a partir de livros, de revistas, de peridicos especializados e de documentos diversos. Partindodetaldenio,valeindagar,anal,qualsero porqu da necessidade de um levantamento bibliogrco para o aprimoramento e o desenvolvimento da pesquisa e da questo de estudo? Ora, se, como j dizia Bachelard, a verdade, na cincia, irm da divergncia e no da convergncia, ainda assim, se h uma questo consensual na elaborao bsica de um projeto depesquisa,quantorecomendaodeque,paraelaborar melhor a problemtica e a construo do modelo de anlise, imprescindvelqueopesquisador,almdefazerumcorteno assuntoescolhido,desenvolvaumlevantamentobibliogrco inicial. Na realidade, tal levantamento o primeiro passo para o estudo sistematizado. Dito com outras palavras, se h um con-sensonaelaboraodosprojetosdepesquisa,eleserelaciona principalmente com a necessidade de que o pesquisador, a partir da delimitao e da escolha do assunto, desenvolva leituras siste-mticas sobre a rea em questo, a m de que se possa caminhar de forma bem mais adequada no campo de anlise pretendido. Comodesenvolverumainvestigaofuncionalsobredetermi-nado assunto se me nego a aprofund-lo, enriquecendo-o com o conhecimento j existente sobre o mesmo? Ainda que o referido pesquisadorsuponhaterdeterminadoconhecimentosobreo assunto de pesquisa, ainda assim importante a recomendao do levantamento bibliogrco:Escolhido seu assunto, voc tem ao menos em uma verso provisria ou transitria sua questo principal e sua problemtica(...). \NCAS IUMANAS \OMXAS52Assim,hanecessidadedetorn-loumassuntomaissistemtico. De fato, precisa explorar bem o terreno (intelectual) em que ir tra-balhar: conhecer o que j foi estudado, debatido, colocado antes [as teses ou hipteses propostas, as principais interpretaes ou construes tericas].Paraisso,serprecisodarumaolhadanasprincipais publicaes existentes: artigos, estudos ou relatrios, teses e trabalhos universitrios e obras publicadas (BEAUD, 1996, p. 67).Apartirdisso,ento,discutamosagoraacercadasfontes bibliogrcaspossveis,particularmentenosentidodecomo podemosteracessosmesmas.Vejamos,inclusive,quaisso os procedimentos necessrios que devemos compreender para domin-las e aproveit-las devidamente. IONTS BBOG!CASQuando queremos fazer uma pesquisa, no podemos desprezar ne-nhuma fonte, e isto por princpio (ECO, 1989, p.112).Diz Umberto Eco que em determinado momento de sua vida, diante da necessidade de desenvolver uma pesquisa especca, ele se viu diante de um impasse srio: Eu tinha um problema especco, dizia. E nenhum dos autores que eu lia vinha em meu socorro para me ajudar a pens-lo, quem sabe resolv-lo. E, no entanto, se havia algo de original em minha tese, era precisamente aquela pergunta cuja resposta devia vir de fora da literatura de minha rea de pesquisa (ECO, op, cit.).Esse impasse de Eco pode ocorrer com muitos pesquisadores, ou seja, s vezes passamos por determinado ponto do processo de pesquisa, o qual um verdadeiro territrio de indetermina-o.Assim,oquefazer?Dentreasvriashiptesespossveis para se enfrentar tal territrio, Eco agarra-se basicamente em uma: trata-se, para ele, de se estar diante de enorme lacuna, que alm de ser um campo quase invisvel, pode ser suplantada se pudermos achar uma fonte de pesquisa sui generis, a qual nos dar \NCAS IUMANAS \OMXAS53informaes signicativas sobre essa rea que se quer pesquisar. Em outras palavras, no que tal fonte no exista, apenas ela no est sendo encontrada no meio dos autores famosos, nos livros correntes das principais bibliotecas, nem na internet e nem entre as idias e as sugestes dos especialistas do ramo.E, ainda a propsito, ECO continua com a palavra:Ento,deixando-melevarpelasditasondasdoacaso,umdia, mesmo desconsolado e a procura do texto que me ajudasse a resolver esseimpasse,ocorreu-medeentrarnumaespciedelivrariabem simples de sebos, em Paris. No! At ento eu no tinha o costume de entrar em qualquer livraria, qui uma bastante simplria como o daquele canto da rua, mas, l entrando, comecei a folhear alguns livros de autores desconhecidos do sculo XIX e ali, por incrvel que parea, achei uma obra escrita em 1887, de um que eu nunca tinha ouvido falar, o qual me assaltou com estranheza... Apesar do ttulo, LideduBeaudanslaphilosophiedeSaintThomasdAquin,o livro,aprincpio,meatraiumaispelabelaencadernaodoque pelas idias. Como era barato e no o tinha conhecido ainda, pois quenoseencontravaembibliograaalguma,euoadquiriu.Ao comear a estud-lo, alm de constatar que o autor da referida obra era um abade, comecei a pensar que se tratava de uma obra menor do sculo XIX. Em sntese, tal obra me pareceu que no acrescenta-ria nada de novo alm do que j tinha sido escrito sobre o assunto. Entretanto, continuando a leitura mais por obstinao e menos at do que pela prpria obra, de repente, quase entre parntese e como que por desateno, sem que o bom abade se desse conta do alcance do que dizia, continua Eco, deparo com uma aluso teoria do juzo em conexo com a da beleza! Eureca! Encontrara a soluo! E quem a dera fora o pobre Abade Vallet; morto havia j duzentos anos, ignorado de todos, mas que ainda assim tinha algo a ensinar a quem estivesse disponvel para ouvi-lo (op. cit., p.112).Enm, em termos das pesquisas, essa histria nos indica que se alguns dos impasses de nossas investigaes podem ser resolvidos mediante o estudo de diferentes fontes, elas no necessariamente \NCAS IUMANAS \OMXAS54esto apenas em autores famosos, em livros de destaque, qui ao simples toque no computador atravs do Google e de qualquer outra ferramenta de busca na internet, ou seja, as respostas que procuramosparanossasinvestigaesnemsempreestofacil-mente disponveis. Claro que as obras de autores famosos e as grandes bibliotecas, sobretudo dos grandes centros de pesquisas, ajudam, bem como a prpria internet; contudo, afora o aforismo inicialquefoicolocado(nodevemosdesprezar,aprincpio, nenhumafontedeconsulta),arespeitodessesimpassesEco ainda diz: fazer pesquisa ter humildade, sobretudo com relao ao processo de levantamento de fontes, pois queTodos podem ensinar-nos alguma coisa. Ou talvez sejamos ns os esforados quando aprendemos algo de algum no to esforado como ns. Ou ento, quem parece no valer grande coisa tem qualidades ocultas. Ou ainda, quem no bom para este o para aquele (ECO, op. cit., p.112).Feitas essas consideraes iniciais e imprescindveis, passemos para outra discusso sobre as fontes. Estas no s podem ser de-batidas a partir de um horizonte pluralista, como tambm, dentre elas, as apresentaremos atravs de um dispositivo designado como quadro das principais fontes bibliogrcas, que so: os livros de leitura corrente, os livros de referncia, os textos de publicaes peridicas, os impressos diversos. Para se ter, em suma, uma idia desse horizonte mltiplo das fontes de papel disponveis para uma pesquisa bibliogrca, sugere-se que se observe a Figura 3, adiante.\NCAS IUMANAS \OMXAS55Figura 3. Quadro das principais fontes bibliogrficas(In: GIL, 1995, p 49)Emtermosdeumarpidadiscussodasfontesacima, ressalte-se: Quanto aos livros de leitura corrente so as fontes bibliogr-cas propriamente ditas. Assim, podem ser classicados no s como os que so de leitura corrente ou de referncia, como tambm os queabrangemasobrasliterrias,dombitodaco,dapoesia, da dramaturgia, etc. Isto sem contar que aqui esto ainda as obras de divulgao tcnica, nas quais se destacam os textos cientcos na acepo da palavra. Quanto aos livros de referncia alm de seremconsideradososlivrosdeconsultaporexcelncia,podemser dedoistipos,ouseja,livrosderefernciainformativaelivrosde referncia remissiva. Os primeiros so caracteristicamente os livros de consulta (dicionrios, enciclopdias, etc.), os segundos so os que seremetemaoutrasfontes.Quantospublicaesperidicas trata-se de fontes que alm de se apresentarem por publicaes de intervalosregularesouno,contamfreqentementecomaescrita de vrios autores. Frise-se que essas fontes embora tendam a seguir uma meta mais ou menos denida, podem tratar de vrios assuntos e de temas diversos. Dentre as principais fontes peridicas correntes, ressaltam-se os jornais e as revistas. Se de um lado, os jornais possuem, a favor, o dado da rapidez, as revistas, de outro lado, sobretudo as \NCAS IUMANAS \OMXAS56especializadas, ganham tambm pontos positivos. Basta pensar que, asreferidasrevistastendemaapresentarinformaodemaneira menos supercial e mais elaborada (GIL, 1995).Mas, alm disto, como se pode observar na prpria Figura 3 acima, h ainda outras fontes de papel. No caso, referimo-nos s fontes de impressos diversos. Estas podem ser entendidas da seguinte forma: de uma parte, h fontes bibliogrcas secundrias, que so consideradas como fontes bibliogrcas por excelncia porque tratam de textos que se relacionam com a escrita de di-versos autores sobre determinada questo e que esto impressas e reeditadas, basicamente, em livros, os quais esto disponveis em diversas bibliotecas, livrarias, sebos, etc. De outro lado, tambm h outras fontes de papel. Trata-se das fontes documentais sobre determinadas questes que embora tenham ainda sido escritas e registradas, dado seu carter de originalidade em relao ao texto de pesquisas, so fontes primrias. Dito com outras palavras, neste ltimo caso, estamos falando de fontes que apontam potencial-mente para o carter indito, que so basicamente sinnimo dos manuscritos do autor da obra. O Estudo desses manuscritos, por sua vez, pode gerar outros textos que ainda no foram pensados e escritos at ento. A ttulo de ilustrao, pensemos, por exemplo, numa pesquisa sobre a psicanlise freudiana dos sonhos. Uma pesquisa baseada emfontessecundriaspoderiaocorrer,digamos,apartirde umcorteondeoptaramospordiscutiraquestopropostaa partir da escola inglesa de psicanlise. Assim, partiramos para o levantamento e leitura dos livros existentes e disponveis sobre essaescola.Umapesquisadefonteprimria,porexemplo, poderia acontecer a partir dos manuscritos originais do texto da Interpretao dos sonhos, do prprio Freud (2). I!OCMNTOS BSCOS A!A OS STUOS AS ONTS Quanto questo de como se pode ter acesso direto s fontes bibliogrcas pode-se dizer que basicamente atravs das biblio-\NCAS IUMANAS \OMXAS5/tecas pblicas ou especializadas (situados em Institutos de Pes-quisa, universidades, etc.). H tambm outras formas de acesso, que so: a leitura dos catlogos de editoras, consultas diretas nas livrarias (especializadas ou no), assinaturas de peridicos e revis-tas diversas. Isto sem contar que ainda possvel levant-las via computador, ou mesmo na possvel consulta aos especialistas. Feitas tais consideraes, vamos discutir, agora, uma situao hipottica a partir das seguintes perguntas: ora, aps ter realizado um levantamento bibliogrco e ter obtido um razovel material em termos de textos e livros, o que preciso fazer para selecion-los?Serquenecessrioestabelecerumaordemdeleitura prioritria?Enm,anal,possveldesenvolvertecnicamente uma leitura adequada desse material de forma sistemtica?Dopontodevistadeseconseguirdesenvolverumaleitura funcional e sistematizada das obras obtidas nas fontes levantadas, antes de tudo preciso perceber uma srie de tcnicas de leituras que debatermos adiante. Contudo, tal procedimento passa ini-cialmente pela compreenso de que a pesquisa bibliogrca se d a partir de dois momentos bsicos: levantamento bibliogrco preliminar e levantamento bibliogrco propriamente dito. IVANTAMNTO BBOG!CO !MNA!O levantamento bibliogrco preliminar ocorre principalmen-te em funo, por um lado, de uma seleo inicial de obras, e tambm, por outro lado, para aprimorar a delimitao prvia do assunto escolhido. Como se pode notar, o levantamento biblio-grco preliminar um fator ligado mais diretamente ao nosso primeiro captulo (3).Especicamente ainda, quanto ao momento do levantamento bibliogrco preliminar, h aqui dois tipos bsicos de leituras ou h duas tcnicas de leituras, que so: a leitura prvia (ou explora-tria) e a leitura seletiva, as quais sero desenvolvidas adiante. \NCAS IUMANAS \OMXAS5SIVANTAMNTO BBOG!CO !O!AMNT TO Especicamente quanto ao segundo tipo de pesquisa bibliogrca, ou quanto ao levantamento bibliogrco propriamente dito, alm das duas tcnicas anteriormente citadas, aplica-se tambm aqui duas outras tcnicas bsicas de leituras: leitura analtica e leitura interpretativa. Passemos, ento, para o debate das mesmas. 1CNCAS BSCAS TU!AS Leitura prvia ou leitura exploratria momento em que se faro as selees das obras que sero pesquisadas posteriormente. A leitura prvia, em sntese, uma leitura exploratria, ou seja, visa uma leitura primeira das obras com vistas a prepar-las para uma leitura um pouco mais elaborada num outro instante. Aqui, segundo alguns autores, a leitura realizada como se fosse uma expedio de reconhecimento junto a um territrio desconhecido, ou seja, ela realizada: Mediante o exame da folha de rosto, dos ndices, da bibliograa e das notas de rodap. Tambm faz parte deste tipo de leitura o estudo da introduo, do prefcio (quando houver), das concluses e mesmo das orelhas dos livros. Com estes elementos possvel ter uma viso global da obra, bem como de sua utilidade para a pesquisa (GIL, 1995, p. 67).Leitura seletiva fase em que se realizar especicamente uma espcie de localizao ou focalizao de textos, livros, captu-los ou partes especcas dos mesmos, os quais apresentam e destacam contedos de suma importncia para o trabalho em questo (ANDRADE, 1995). Alm disto, vale destacar: A leitura seletiva mais profunda que a exploratria; todavia, no denitiva. possvel que se volte mais vezes ao mesmo material com propsitos bem diferentes. Isto porque a leitura de determinado texto pode conduzir a algumas indagaes que, de certa forma, po-dem ser respondidas recorrendo-se a textos anteriormente vistos. Da mesma forma, possvel que determinado texto, eliminado como no \NCAS IUMANAS \OMXAS59pertinente, venha a ser objeto de leitura posterior, em decorrncia de alteraes dos propsitos do pesquisador (GIL, op. cit., p 68).Leitura analtica: ela se d fundamentalmente a partir da leitura dos textos j selecionados, embora isto no queira dizer que seexcluatotalmenteahiptesedeseestudaroutrosnovos textos para o enriquecimento da pesquisa em questo. Con-tudo,talfasesecaracterizabasicamentepelomomentoem que os textos devem ser prioritariamente analisados como se fossem denitivos. Ressalte-se que , sobretudo, nesta fase que o pesquisador deve procurar entender o contedo do texto antes mesmo de critic-lo ou refut-lo de alguma forma. Tal fato, acrescido circunstncia de que o pesquisador tem um problema para testar, ento, torna aleituraanalticaumdosmomentosmaisdifceisdapesquisa bibliogrca. Deformageral,osautoresconvergemnacompreensoda leitura em questo. Andrade, por exemplo, destaca que a leitura analtica,crticaoureexivapermiteaapreensodasidias fundamentaisdecadatexto.Estaafasemaisdemoradada pesquisa bibliogrca, pois as anotaes devem ser feitas somente apsacompreensoeapreensodasidiascontidasnotexto. Sonecessriasmuitasleituras,paradestacaroindispensvel, o complementar e o desnecessrio no texto lido. No se pode sublinhar um livro pertencente biblioteca; portanto, as anota-es sero feitas primeiramente em folhas avulsas, depois lidas, selecionadasparaseremtranscritasemchas(ANDRADE, 1993, p 5). Lakatos, de outro lado, ressalta que a leitura analtica temoobjetivobsicodelevarospesquisadoresaoseguinte: 1- Aprender a ler, ver, a escolher o mais importante dentro do texto; 2- Reconhecer a organizao e estrutura de uma obra ou texto; 3- Interpretar o texto, familiarizando-se com idias, estilos, vocabulrios; 4- Chegar a nveis mais profundos de compreen-so; 5- Reconhecer o valor do material, separando o importante dosecundrioouacessrio;6-Encontraridiasprincipaisou diretrizes e as secundrias; 7- Perceber como as idias se relacio-\NCAS IUMANAS \OMXAS60nam; 8- Identicar as concluses e as bases que as sustentam (LAKATOS, 1992, p 24).Mas, dentre os diversos autores que debatem a leitura analti-ca, h ainda um que a discute de forma mais esquadrinhada, ou seja, existe uma perspectiva defendendo que tal leitura pode ser delineada principalmente pelos seguintes momentos: a) Leitura integral da obra ou do texto selecionado, para se ter uma viso do todo. Ser conveniente valer-se de um dicionrio para esclarecer o signicado de palavras desconhecidas. Poder tambm ser interessante em alguns casos apelar para trabalhos correlatos para se obter melhor compreenso da obra ou do texto.b) identicao das idias-chaves: ao ler atentamente uma fra-se, identicam-se algumas palavras-chave. Da mesma forma, num pargrafo, possvel escolher uma frase que o sintetiza. Ao longo do texto, por m, podem-se selecionar alguns pargrafos que so os mais signicativos. A partir da juno inteligente entre os pargrafos do texto, possvel identicar as idias mais importantes.c)Hierarquizaodasidias.Apsaidenticaodasidias mais importantes contidas no texto, passa-se sua hierarquizao, ou seja, organizao das idias seguindo a ordem de importncia. Isto implica distinguir as idias principais das secundrias e esta-belecer tantas categorias de idias quantas forem necessrias para a anlise do texto.d) Sintetizao das idias. Afora ser a ltima etapa do processo de leitura analtica, aqui se recompe o