cidadelas da cultura no lazer

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111 Perspectivas, São Paulo, v. 43, p. 111-129, jan./jun. 2013 CIDADELAS DA CULTURA NO LAZER: A VIRADA DO SESC SÃO PAULO NOS ANOS 1980 Yara Schreiber DINES 1 RESUMO: Este trabalho aborda o lazer na metrópole paulistana, buscando compreender os sentidos adquiridos por este conceito e pela problemática da cultura nas décadas finais do século XX em São Paulo. O artigo focaliza a atuação de uma instituição voltada para o lazer dos trabalhadores – o SESC São Paulo – para analisar o seu direcionamento e as práticas sociais ali implementadas desde meados dos anos 1980. A pesquisa realizada trabalhou com o acervo iconográfico do SESC São Paulo e depoimentos de membros e ex-funcionários da instituição, que permitem contextualizar a análise da iconografia. Esta metodologia permitiu compreender a significação de sua trajetória, possibilitando identificar aspectos da orientação seguida pela entidade e refletir sobre os significados de lazer e de cultura no interior deste universo, em diálogo com a metrópole. PALAVRAS-CHAVE: SESC São Paulo. Lazer. Cultura. Antropologia da Imagem. Antropologia Urbana. Metrópole. Política cultural. Sociabilidade. Introdução 2 A problemática do lazer e da cultura ganha destaque na sociedade atual em virtude do panorama de transformação gerado pela globalização e pelo reposicionamento do universo do trabalho, suscitando um vasto leque de questões e reflexões referente às práticas do lazer, seus significados e seu alcance social. 1 USP – Universidade de São Paulo. Pesquisadora Associada do Laboratório de Imagem e Som em Antropologia (LISA/USP) e do Grupo de Estudos de Antropologia Contemporânea (GEPAC – Unesp Araraquara). São Paulo – SP – Brasil. 05800-900 – [email protected] 2 Neste artigo, apresento uma síntese da tese de doutorado intitulada “Cidadelas da cultura no lazer: um estudo de Antropologia da imagem do SESC São Paulo”, expondo as principais discussões presentes na pesquisa e os resultados alcançados.

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CIDADELAS DA CULTURA NO LAZER: A VIRADA DO SESC SÃO PAULO NOS NOS 1980, por Yara Schreiber DINES

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111Perspectivas, So Paulo, v. 43, p. 111-129, jan./jun. 2013CIDADELAS DA CULTURA NO LAZER: A VIRADA DO SESC SO PAULO NOS ANOS 1980Yara Schreiber DINES1 RESUMO:Estetrabalhoabordaolazernametrpolepaulistana, buscando compreender os sentidos adquiridos por este conceito e pela problemtica da cultura nas dcadas finais do sculo XX em SoPaulo.Oartigofocalizaaatuaodeumainstituiovoltada para o lazer dos trabalhadores o SESC So Paulo para analisar o seu direcionamento e as prticas sociais ali implementadas desde meadosdosanos1980.Apesquisarealizadatrabalhoucomo acervo iconogrfico do SESC So Paulo e depoimentos de membros eex-funcionriosdainstituio,quepermitemcontextualizara anlise da iconografia. Esta metodologia permitiu compreender a significaodesuatrajetria,possibilitandoidentificaraspectos da orientao seguida pela entidade e refletir sobre os significados de lazer e de cultura no interior deste universo, em dilogo com a metrpole. PALAVRAS-CHAVE: SESC So Paulo. Lazer. Cultura. Antropologia daImagem.AntropologiaUrbana.Metrpole.Polticacultural. Sociabilidade.Introduo2Aproblemticadolazeredaculturaganhadestaquena sociedadeatualemvirtudedopanoramadetransformao geradopelaglobalizaoepeloreposicionamentodouniverso do trabalho, suscitando um vasto leque de questes e reflexes referentesprticasdolazer,seussignificadoseseualcance social. 1USPUniversidadedeSoPaulo.PesquisadoraAssociadadoLaboratriodeImagemeSomem Antropologia(LISA/USP)edoGrupodeEstudosde AntropologiaContempornea(GEPACUnesp Araraquara). So Paulo SP Brasil. 05800-900 [email protected] artigo, apresento uma sntese da tese de doutorado intitulada Cidadelas da cultura no lazer: um estudo de Antropologia da imagem do SESC So Paulo, expondo as principais discusses presentes na pesquisa e os resultados alcanados. 112Perspectivas, So Paulo, v. 43, p. 111-129, jan./jun. 2013Estapesquisaenfocaolazernametrpolepaulistana paraentenderossentidosadquiridosporesteconceitoepela dimensodacultura,nasdcadasfinaisdosculoXX,emSo Paulo.Nesteperodo,consolida-seareadolazer,enquanto uma disciplina do saber vinculada esfera do trabalho e a novas demandasdeentretenimentonametrpole,intensificando-se, assim, o ensejo pela compreenso da atribuio de significados a esta questo.O artigo focaliza a atuao do SESC So Paulo instituio direcionadaparaolazerdostrabalhadoresnointuitode analisarasaeseprticassociaisimplantadasporele. Nestetrabalho,realizooestudopropostopormeiodaanlise daiconografiadestainstituio,acompanhadodoregistrode depoimentoscommembroseex-funcionriosdoSESC.Esta metodologiapossibilitaoconhecimentodesuasprticas esportivaseculturais,aolongodesuatrajetria,permitindo identificar aspectos da orientao seguida por esta entidade e principalmente propiciando uma reflexo sobre os significados das noes do lazer e da cultura deste universo em dilogo com a metrpole.Um desdobramento da amplitude adquirida por este campo sooscongressos,asreunieseossimpsiosquediscutem aspectosdaglobalizaoeasdinmicasdelazeredousodo tempo livre nas sociedades locais. A inovao na ao cultural e social do SESC So PauloNo clima otimista, que marca o contexto de democratizao e de trmino da ditadura, ocorre, em 1986, a inaugurao do SESC Fbrica,que,dealgumamaneira,concretizacomcriatividade anovavisibilidadeeaexpressividadedoscampodolazereda cultura.Em1982,EriveltoBustoGarcia,socilogo,ex-Gerente dePlanejamento,redigiuumtextodenominadoQuoVadis, Pompia?,antesmesmodainauguraodoSESCPompia,no qualcomentasobreacriaodoSESCFbrica,comoeraento conhecido. Este texto pode ser compreendido como uma metfora da proposta e do enfoque de ao cultural do SESC para todos os seus equipamentos na poca. O primeiro desses pressupostos o de que a Fbrica da Pompia um equipamento de ponta, que tem a inovao como valor. No se podepensaraPompiadeformatradicional,atravsdodejvu 113Perspectivas, So Paulo, v. 43, p. 111-129, jan./jun. 2013institucional,pormaisricaquepossasernossaexperincia.Esta deve se constituir, no mximo, em limite a partir do qual avanamos, um referencial a ser superado. O contedo dos programas, o sistema deanimao,agestoeoprovimentoderecursos,asrelaes institucionaisecomopblico,devemserorganizadosapartir dessaperspectiva.Assim,quandonosassaltaradvidasobreo que fazer, a resposta simples: fazer o que ainda no se fez, o que ainda no se ousou fazer. OsegundopressupostoodequeaFbricadaPompiaum patrimnioculturaldacoletividade.(...)Nohavercontradio em dizer que a Pompia se destina aos trabalhadores comercirios e,aomesmotempo,definirqueseupblicoimediatono necessariamenteeste.AtravsdaPompia,claro,oSESC atendersuaclientelaespecfica,masnumoutronvel:gerandoe modificando valores culturais, formando e preparando lideranas e instituiesculturaisquesereproduziroemnveldapopulao em geral e, naturalmente, em nvel da populao comerciria. um equipamento cultural que, para ser rico, precisa ser aberto, espao livreparaabrigartodasastendnciasemovimentosculturais,de forma inovadora. (...). OterceiropressupostoodequeopblicodaPompia basicamente um pblico de criadores, de animadores e de futuros animadoresculturais.AaoculturaldaPompiadeverestar centradanoestmuloaotrabalhodoscriadoresenaformao ereciclagemdeanimadoresculturais,pblicodeacentuada capacidade de produo cultural e de difuso de novos valores. A ideia de produo cultural dever sempre preceder em importncia de consumo (...) (GARCIA, 1999). importante perceber como este texto antecipatrio, pois estaunidade,almdeatuarnamudanadevaloresculturais correntesnoperodo,configura-secomoumespaoquepassa aserconsideradoumpatrimnioarquitetnicoparaacidade. Desde a sua inaugurao, ela representa um marco simblico na produo cultural da cidade como a criao de algo:[...]devanguarda,denovo.Tantoqueumdosgrandesprojetos doSESCPompiaissonafaseinicialforam16noitesde performances.Foiumprojetomuitomarcante,SoPaulonunca tinhavistonadaparecidocomaqueleprojeto.Isso,deumacerta 114Perspectivas, So Paulo, v. 43, p. 111-129, jan./jun. 2013forma,definiuoperfildoSESCPompia.Umperfilquevocpode acompanharathojeoperfildoSESCPompiaomesmo. claro que as outras unidades do SESC comearam a se contaminar tambm com essa caracterstica do SESC Pompia, da inovao. O SESCPompiainfluencioutodasasoutrasunidades(Depoimento de Dante Silvestre, ex Gerente da GEDES Gerncia de Estudos e Desenvolvimento, concedido em maio de 2004). nesse contexto que se deve entender as dcadas de 1980 e 1990 como um perodo em que o SESC So Paulo ir aumentar muitoonmerodeunidadeseequipamentosnacidade,dentro de uma poltica social de expanso da sua abrangncia espacial e capacidade de atendimento de pblico na metrpole.Defato,nacidadedeSoPaulohaviajumademanda crescentedeatividadesdelazeredeculturadesdeosanos 1970, que se amplia e se diversifica nos anos seguintes. Assim, a construo de vrios equipamentos no centro e na periferia est respondendo a uma demanda de atendimento de massa voltado paragrandespblicos,considerandoasdiferenasdegneroe geraes e a diversidade necessria dos prprios equipamentos paraatingirosdiferentesinteresseseasvocaesdepblicos especficos. Duranteestasduasdcadas,oSESCdobrouonmero deunidades,pois,almdoSESCPompiasoimplantados oIpiranga,oItaquera,oParaso,oPinheiros,oVilaMariana,o SantoAmaroeoBelenzinho,sendoqueoespaoutilizadodas unidadespassoude140para340milm(LEMOS,2005,p.87-88),eacapacidadedeatendimentocresceude27milpara60 mil pessoas por dia. Alm disso, fica pronta a unidade Santana, com16.568m,em2005,etambmaunidadepermanente doBelenzinhoedoBomRetiro,quecontacomumareade 19.598m3.UnidadescomoInterlagoseSantoAmaro,naZona Sul,BelenzinhoeItaquera,naZonaLeste,eSantoAndreSo Caetano, na Grande So Paulo, situam-se em regies perifricas e carentes destes tipos de equipamento e programao cultural e 3Ipiranga: inaugurada em 1992, com 8.530 m de rea construda e capacidade para 3.500 pessoa/dia. Itaquera: inaugurada no mesmo ano, considerada uma unidade campestre conhecida por Parque Ldico de Itaquera em 1996, com 350.000 m e capacidade para 20.000 pessoas/dia. Paraso: inaugurada em 1993, mas, em maro de 2005 se transfere para o SESC Av. Paulista. Pinheiros: existia numa casa alugada entre 1993 e 2004, sendo inaugurado em um grande edifcio com 37.786 m de rea construda. Vila Mariana: inaugurada em 1997, possu um prdio com 26.634 m de rea construda, tem capacidade de atender 6 mil pessoas por dia. Santo Amaro: unidade inaugurada em 2011 tem 7.587 m e apresenta capacidade para 2 mil pessoas/dia. Site do SESC SP, quem somos, unidades (LEMOS, 2005, p.88).115Perspectivas, So Paulo, v. 43, p. 111-129, jan./jun. 2013esportiva. Desta maneira, buscam atender os usurios e integrar osmoradoresdestasreas,inclusivecriandoedesenvolvendo projetos culturais e sociais para intervir nestas comunidades de acordocomdemandasculturaiseesportivasqueatendams suas necessidades. H uma ordem no modo de interveno social da instituio nametrpolepaulistana,quepartedosequipamentos construdosepassadepoisaatuaremreasabertasparaa populao urbana, como praas e parques, para atingir enfim os meios de comunicao, como empresas comerciais, a TV, o rdio, a revista E e a internet, sem contar os funcionrios das empresas comerciais, que so os destinatrios primeiros dos seus servios.Estas formas mais recentes de interveno social e cultural eautilizaodossuportesemdiascitadosrelacionam-sea umareflexointernaporpartedainstituio,nosentidode reveraorientaodassuasprticassociaisedeaocultural implementadasemSoPaulo.Pordecorrncia,passam asedestacarintensamentetrsfocosdeaocultural, fundamentadosnaformaodacidadania,distribuiosocial da cultura e excelncia dos servios, norteando-se pelo binmio cultura-cidado (LEMOS, 2005, p.87).AleituradodocumentointernoAvaliaodasDiretrizes GeraisdeAodoSESC,elaboradoem1988,permiteinferir uma compreenso peculiar da noo de:CampoCulturalcomoareamaisexpressivaparaaelevao dosindivduosaospatamaressuperioresdacondiohumana edaproduodoconhecimento.Possibilidadedeenriquecer intelectualmenteoindivduo;lev-lospreparaomaisacurada; propiciarnovacompreensodasrelaessociais;releituradoseu estar-no-mundo,paratranscendersuascondiesdeorigeme formao; dot-los de conscincia universal (LEMOS, 2005, p.81).Emvirtudedoenfoquedecampocultural,ainstituio busca uma alterao nas suas formas de interveno social que propicie, de acordo com a sua concepo, um desenvolvimento integraldosindivduos.Paraaconsolidaodestameta,uma dasformasdeaodainstituioaproduocultural,que destamaneirapassaaatuarcomoumarticuladoremediador entreprodutoreseconsumidoresdebensculturais,conduzindo criaodesuportesmateriaiscomoespaoseequipamentos para a realizao dos trabalhos culturais.116Perspectivas, So Paulo, v. 43, p. 111-129, jan./jun. 2013SegundooolhardoanimadorculturalAlmeidaJnior, emseudepoimentocitadoporLemos,odiferencialdoSESC, emrelaoaoutrasinstituiesculturais,quenelesebusca odesenvolvimentointegraldoindivduo,apartirdeuma programao de perfil prprio. Como afirma Almeida Jnior:[...] a programao do SESC de carter processual. O programador culturalquecoordenaasatividadesmontaumaprogramao quetemunidade,fazpartedeumprocesso,asatividadesesto interligadasentresi.svezes,aspessoasvoaoSESCporuma atividadeespecfica,maselafazpartedeumconjuntotemtico, ento se ela vai percorrer esse processo, ela completa uma fatia do bolo. Os outros tendem a olhar muito essas atividades isoladamente, mas elas fazem parte de um processo. E muitas vezes uma rede entretodasasunidades(ALMEIDAJNIORapudLEMOS,2005, p.85).Nestedepoimento,importantesalientaravisode programaodecarterprocessual,poiseladestacaa possibilidadedecontatoamplocomasprticassociais vinculadasaouniversodacultura.Apartirdasexperinciasde campo vivenciadas no decorrer deste trabalho, posso afirmar que so poucas as instituies de cultura em So Paulo que mostram esteenfoque,sejapordificuldadescomverbasepatrocnios, sejaporumanocontinuidadenasintervenesculturais implementadasquepermitamestavisodeprocesso,ouat mesmopelaausnciadediscussesinternascontnuas,que possibilitem refletir em profundidade sobre uma linha de atuao cultural mais abrangente e complexa. DentreasvriasmaneirasdeatuardoSESCnacidadede SoPaulo,eosdiferentessentidosdesuasprticasesportivas eculturaisparaosdiversificadospblicos,enfatiza-seopapel da instituio como reparador de danos em relao ao modo de vida urbano. Esta metrpole est marcada pela violncia e pela falta de cidadania e de dignidade, dentre outras questes, sobre asquaisainstituiobuscarefletireencontrarcaminhos,ao oferecer equipamentos e prticas sociais que se contraponham a estas realidades, criando outras possibilidades mais acolhedoras e aprazveis no espao e no tempo de seus equipamentos.Procurandorefletirmaisamplamentesobreosproblemas sociais contemporneos e a elaborao de discursos legitimadores aesserespeito,cabedestacartambmacompreenso,apartir 117Perspectivas, So Paulo, v. 43, p. 111-129, jan./jun. 2013de um olhar de dentro, da noo de cultura formulada e utilizada pelainstituio,quepodeserinferidacombasenoseguinte depoimento: [...] Todo o SESC tanto pode utilizar o termo cultura comocriaosimblica,quantocomoformaoeducacional.E, nessecaso,tambmformaodecidadania(depoimentode Newton Cunha, ex-funcionrio da GEDES Gerncia de Estudos e Desenvolvimento, concedido em maio de 2004). Desta maneira, em relao s propostas das prticas fsicas e artsticas do SESC, possvel consider-las como experincias humanas, que no s trabalham com as atividades concretas, mas tambmcomadimensosimblicaenvolvida nessasprticase quecriaumamultiplicidadederepresentaesassociadasao corpo, arte e a cultura, num mbito mais amplo.Apartirdeumaaocomperfilsocioeducativoemsuas unidades, com base na noo de cultura, seja em relao ao lazer ouaoesporte,oSESCSoPaulointroduzafiguradoanimador cultural no seu quadro de funcionrios. Notamos ento que nesta instituioesteprofissionalaparececoncretizadoatravsda ao do animador cultural. No incio da dcada de 1980, este perfil de atuao e mesmo o campo da ao cultural so incipientes no Brasil, levando o SESC a enviar para o exterior seus tcnicos com formao universitria, comosocilogos,psiclogoseprofessoresdeeducaofsica paraaprimorareespecializarestamodeobravoltadaparaa prticadasaesculturaiseesportivasdelazer.Ostcnicos realizam cursos de especializao em lazer, educao de adultos e animao cultural.Olazersocioeducativoassumidopelainstituiopassa adestacaraimportnciadosprodutosouserviosqueos frequentadores escolhem para preencher o seu tempo livre. Esta visopressupeumatendimentodemassa,emqueaprtica esportivaouculturaloferecida,almdeconterumcarter educacional,devetambmserdequalidadeparaatendero cliente, ou seja, ela vista como uma mercadoria com atributos especficos. Este servio busca atingir a todos os segmentos de pblico: crianas,jovens,adultoseidosos.Logo,afiguradoanimador culturaladquireumpapelfundamental,poisoseuperfilde atuaodirecionadoparaaatividadeculturaledelazer,no intuitodeatenderpblicosespecficos.Apartirdestapoca, aanimaocultural,vistacomopedagogiadaao,quevai 118Perspectivas, So Paulo, v. 43, p. 111-129, jan./jun. 2013possibilitar na prtica os programas culturais e de lazer a serem implementadospelainstituio.Areadeanimaocultural consolida-secomoumaformadeintervenonaculturavivida nocotidiano,participandodesuacriaoeintegrando-aao desenvolvimentogeraldoindivduoedacoletividade.Busca difundirasdiferentesmanifestaesdecultura,sejadaesfera erudita cultura popular. OstcnicosentrevistadosdoSESCSoPaulotma expectativa de que o animador cultural deve ser um profissional bematualizado,apresentandoumrepertrioculturalamplo. Almdisso,deveserdinmico,sensvelecurioso,eprecisa buscar novas ideias, caracterizando-se por ser ao mesmo tempo criativo e prtico. Tambm afirmam que este profissional deve se questionar sempre em relao demanda do pblico, buscando ainovaoeoaperfeioamentodasatividades.Outroaspecto fundamental esperado saber ouvir e relacionar-se com o pblico. Jorge Moreira, animador cultural do SESC Pompeia, destaca em suaentrevista,concedidaem2002,queascrianaseosidosos soostermmetrosemrelaosprticasoferecidas,poisso muito espontneos e comentam a sua percepo. Arelaoprimeiraefundamentaldosanimadoresculturais comopblico,maisdoquecomosbensculturais.Osucesso damediaovemdasideiasedossaberesqueoanimador cultural transmite e dos dilogos que estabelece com os diversos pblicos.Osanimadoresculturaisentrevistadosveemasua atuaocomoumtrabalhorelevanteemrelaoapreciao ecompreensodacultura,mostrando-semuitoenvolvidose interessadosemsuaprticasocial.Expemcompromissoem relaosuaatuao,dedicando-seaelaintensamente,jque tambm percebem na instituio um reconhecimento em relao ao seu desempenho, no sentido de aprimoramento e investimento tcnico. Ceclia Camargo M. Pasteur, animadora cultural na unidade da Consolao, em entrevista de 2002, considera o SESC um osis emrelaoatrabalho,poispossuirecursosdeinfraestruturae oferecemuitaspossibilidadesdeatuaoedesenvolvimento. Maria Teresa La Macchia, assistente tcnica da mesma unidade, afirmaque:[...]aquiondedouamodeobra,receboeme alegromuito,barbaramente(entrevistacomMariaTeresaLa Macchia,AssistenteTcnicadoSESCPompeia,concedidaem 119Perspectivas, So Paulo, v. 43, p. 111-129, jan./jun. 20132002).JJorgeMoreira,animadorculturaldoSESCPompia, ementrevistarealizadanomesmoano,ressaltaqueoseu envolvimentocomotrabalhotograndequechegaasonhar com a sua ao.Comoseinfere,oanimadorculturalummensageiro, apresentandoumdiscursomltiplocomdiversasleituras, queeledisponibilizaparadiferentespblicos.Seudiscurso nopodesernico,masplural,poisdeveauxiliaropblicoa construir conhecimento sobre si e sobre o outro. Os profissionais entrevistadosdoSESCSoPaulotmincorporadaesta viso.Assim,sabemdaimportnciadeouviredeconhecer asespecificidadesdopblicoaquesedirigem,procurando correspondersparticularidadespresentesemdiferentes situaes. Sejaemrelaoaosorientadoressociaiseaosanimadores culturais,sejanoqueserefereaosmonitoresesportivose trabalhadores do lazer de modo geral, relevante agora destacar o papel formador da instituio, em relao a seus funcionrios. Parapensarestetema,odepoimentodeRenatoRequixa,ex-DiretorRegional,forneceimportantesconsideraes.Emsuas palavras:VocvqueoSESCtemmuitoprestgio,porquetemumquadro funcionalmuitobom,umquadrofuncionalcommuitaexigncia intelectual.Passava,sentravaparaosquadrosdoSESCedo SENACgentederealcapacidade(...)Oorientadorsocialera capacitado,eletinhaformaouniversitria,masoSESCsempre teveumapreocupaodecriarcondiesparaosseusservidores poderemconhecermais,estudarmais.Ento,contratavaos melhoresprofessoresqueexistissemporaquiefaziacursos dirigidosexclusivamenteaosorientadoressociais(depoimentode Renato Requixa, ex-Diretor Regional do SESC So Paulo, concedido em 2004). O depoimento de Luis Octavio de Carmargo, especialista em lazer, enfatiza, por sua vez, a preparao dos tcnicos na gesto deRenatoRequixa,naqualhouveuminvestimentobastante grande:[...]deformaodequadros.Foiumapocaemqueainstituio adquiriu uma viso homognea. E, mais uma coisa: foi uma poca que toda a rea-fim e a rea-meio ou seja, rea-fim quem cuida 120Perspectivas, So Paulo, v. 43, p. 111-129, jan./jun. 2013daprogramaoerea-meioquemcuidadaadministrao, pessoal, material [era] s com pessoas que pensavam em lazer. O Requixa preferia. Quando tinha que nomear um gerente de pessoal, pegava um tcnico de cabea boa e que ele achava que tinha tino gerencial, e mandava fazer um curso de MBA, e voltar para assumir area.Elepreferiaissoapegaralgumquestinhalidadocom recursos humanos na vida e mandar ele aprender a lidar com lazer. Ento, hoje, no SESC, voc v, a direo do SESC: o Danilo, bvio, tcnico, no administrativo (depoimento de Lus Octvio Lima Camargo, Doutor em Educao, concedido em maio de 2004). importantedestacarqueopapelformadorinternoda instituio, que vm sendo salientado aqui, mpar dentro da rea da cultura em So Paulo. No se trata somente do oramento que o SESC possui, mas de um enfoque e poltica institucional interna quevalorizaeimplementaumaformaocontnuanosentido doaprimoramentoeatualizaodosanimadoresculturais, monitoresesportivosedeprofissionaismaisespecializados,o que no se v com assiduidade em outras instituies culturais da cidade. Numa outra dimenso, relevante salientar que a formao contnua dos profissionais permitiu a criao de um corpo tcnico especializado,comumamplosaberecompetncianaprtica especficadolazer,possibilitandoodomniodestecampo.Os tcnicosmostramamploconhecimentodessecamponosno quesereferesuaconfigurao,suasformasdemobilizaoe seusatoressociais(BOURDIEU,1983,p.19),mastambmem relao elaborao de discursos, modos de expor reflexes e a respeito da formulao da ao social e cultural. Estaformaopossibilitouaautonomizaodaesferade atuao do corpo tcnico, de forma mais ampla, principalmente a partir dos anos 1980, e mais especificamente, desde meados da dcada de 1990, quando fica mais evidente a linha de orientao da instituio e esta passa a firmar-se no cenrio social e cultural da cidade, de forma inovadora e contnua.Outroaspectosignificativosobreoqualprecisorefletir diz respeito ao tipo de sociabilidade interna instituio, como mostra Dante Silvestre:OquemuitointeressantenasrelaesinternasdoSESC,eu mencionei a voc, a nossa biodiversidade. Eu, por exemplo, no tenho formao na rea de cincias, mas daqui a pouco... Quando eu 121Perspectivas, So Paulo, v. 43, p. 111-129, jan./jun. 2013vim te atender, eu parei uma reunio para discutir projetos relativos aestaquestodeeducaoambiental.Oqueeuseideecologia, deeducaoambientalcompletamentedelimitado,maseuvou encontrardentrodoSESCcolegasmeusqueconhecemarea, ecomosquaiseuvouconfrontarexperinciaseideias.Ento,a sociabilidade do SESC, eu diria para voc, um modelo que o SESC nocultiva,umaendogamiacultural.Aendogamia,sobretudo familiar,acabadandoproblemas,podegerarummonstro.Ea diversidade, a mestiagem, ela produz coisas boas. So diferentes culturasdentrodoprprioSESC,diferentesindivduos,com diferentesculturas,diferentesnoesdemundo,quesecolocam paraconversareparadefinirumapolticadeprogramao,uma polticadeao.Eessamestiagem,essapluralidadequefaz comqueessasociabilidadesejaumasociabilidadesvezescom conflito...Existeconflito...(DepoimentodeDanteSilvestre,ex-GerentedaGEDESGernciadeEstudoseDesenvolvimento, concedido em maio de 2004). Um dos temas em destaque neste artigo a ideia de espao que est fortemente simbolizada pela imagem do SESC Pompia, mas que tambm se encontra presente nas unidades que surgem posteriormente,comoIpiranga,VilaMariana,SantoAmaro, Belenzinho e Santana. Percebe-se que h uma grande valorizao doespaoaberto,dadiscussodaconcepodoprojeto arquitetnicoreflexosobreseuuso,incluindo-sediversas reas para circular, para a sociabilidade e para o encontro social. Alm disso, nestes espaos livres nos quais so desenvolvidas prticasculturaiseesportivas,favorecendooencontroea interaoentregeraes,oquenoocorrenamaiorpartedas vezesnamoradiadosusurios,nosseuslocaisdetrabalhoou emoutrasreasurbanas,desenvolve-seumasociabilidade importante e incomum entre geraes distintas, com a existncia devriosgrupossociaiseredesderelaes,queseorganizam segundo uma grande variedade de prticas sociais.Estesespaosabertosatuamcomopraasdemltiplos usosecomopontodeparadaedereflexo.Comocomenta EriveltoBustoGarcia,ex-assessorTcnicodePlanejamento, arespeitodareadeconvivnciadoSESCPompia,que consideraapraacomopausa.Garciavapraacomoum lugaragradvelparapermanecer,darumaparada,pensar umpouconavida.Destemodo,ousuriotemcondiesde escolher a atividade social que deseja praticar, encontrando na 122Perspectivas, So Paulo, v. 43, p. 111-129, jan./jun. 2013unidade a possibilidade de realizao. H na praa a abertura para a indefinio no tempo livre.Roberto Da Matta (1985) destaca a riqueza do espao social, aosereferirsuasingularizaoeaoconhecimentodesuas delimitaes e fronteiras, ressaltando que estas so marcadas de formaindividualizada.Nestesentido,pode-seafirmarque,em cadaumadasunidadesdoSESC,existemmltiplastrajetrias percorridaseespecficosmapasmentaisespaciaisparaseus frequentadores,assimcomoumaimportantememriasocial tecidaapartirdasvivnciasnestesterritrioscarregadosde significao. Aspraasoureasdeconvivnciapresentesnasunidades do SESC formam territrios que favorecem momentos de parada, mas tambm atuam como pontos de inflexo para se pensar o que fazer no tempo livre e escolher o seu destino, pois, como comenta EriveltoBustoGarcia,muitasvezesousuriovaiataunidade no fim de semana, mas no sabe o que fazer em seu lazer. Deste modo vo para o SESC, pegam algum livro na biblioteca e ficam lendo, ou seno, so informados de que ir ocorrer um espetculo deteatro.Busca-seaideiadepraamesmo,atnosentidoda distribuio dos fluxos, de haver acesso fcil para qualquer ponto que se queira ir ao espao do equipamento. A multiplicidade de usos do mesmo espao tambm propicia aproximidadeeocontatoentregeraesdiferenciadas,seja em relao s prticas fsicas ou mesmo ao uso da internet. Nas reas multifuncionais, como os usurios esto em tempo de lazer, ou seja, com maior disponibilidade, pode ocorrer tomando, por exemplo,oconhecimentoeousodainternetqueosidosos tenham a possibilidade de conversar entre si e tambm de contar suas experincias para os mais jovens. Nesteartigo,procura-seexporasformasmaisrelevantes deintervenosocialdoSESC,numperodomaisrecente, abrangendoprticasesportivas,corporaiseartsticase buscandoexporanfaseatribudaaombitodaculturacomo matriz geradora de sua linha de ao social.Parasecompreendermelhorocarterdestarede,convm reportar-seaocatlogodeumaexposiosobreotrabalhode LinaBoBardi,denominadoCidadeladaLiberdade1999, noqualAndrVainereMarceloCarvalhoFerraz,arquitetos colaboradores de Lina no projeto do SESC Pompia, explicitam o termo escolhido pela arquiteta em relao sua obra. 123Perspectivas, So Paulo, v. 43, p. 111-129, jan./jun. 2013Elausaotermocidadela,queeminglsentendidocomo metaoulocaldedefesadeumacidadeparadenominaroseu conjunto.Etambmliberdade,buscandocompreendero sentimento comum do amplo e diversificado pblico que utiliza a nova fbrica (FERRAZ; VAINER, 1999, p.11). muito rica a utilizao da ideia de cidadela para designar aantigafbricarestaurada,recicladaequepermanecesendo apropriada para diversos fins relacionados ao lazer, cultura, s artes e ao esporte. No caso, pode-se retomar a ideia de cidadela comopontodedefesadeumacidade,comofocoecentro disseminadordevalorescomoeducao,cultura,dignidade, tolerncia,respeitodiversidadeculturaleheterogeneidade social,dentreoutroscujapresenatofundamentalnuma cidade,masaomesmotempotoausentenumametrpole caracterizadaporcertotipodebarbriemodernacomoSo Paulo.Tantoassimqueessesvaloresintrnsecosnoode cidadelanoestosomentepresentesnasprticassociaisda instituio,masintegramaprpriaconcepodoespaofsico atravs da arquitetura, da limpeza, dos modos de atendimento e de manuteno do conjunto, por exemplo. Almdisso,oscentrosculturaiseesportivosdoSESC procuram atuar como cidadelas no corao da cidade, no sentido de que so entendidos como lugares de encontro, de referncia, deterritorialidadevivenciadacomopertencimentoparajovens, crianaseintegrantesdamelhoridade,contrapondo-seaos no-lugares(AUG,1997)dametrpoleemostrando-se carregadosdesentidosimblicoemltiplossignificadospara seus frequentadores. Deste ponto de vista, Dante Silvestre comenta, em depoimento concedido em maio de 2004, que tal viso foi estudada e uma prerrogativadoSESC,nointuitodeimplantarumaescalade instalaesmais completasemais bempensadas.Destacaque sempreexistiraminstalaesmenoresespalhadasportodosos bairros de So Paulo, como um cinema, um teatro, um campo de futebol. Mas ficou prevalecendo no SESC a proposta ao contrrio. Ou seja, a inteno produzir equipamentos feitos e integrados, pois o SESC no possui recursos para atender todas as reas da cidadeedointerior.Ento,aideiafoiproduzirreferncias,que atuem como smbolos de qualidade. Salienta que Danilo Miranda denomina esta atuao de ao propositiva. Ou seja, como um modelo de equipamento cultural. Traz implcita a ideia de que o governo pode fazer algo semelhante. 124Perspectivas, So Paulo, v. 43, p. 111-129, jan./jun. 2013Consideraes finaisAosereferiraopropositivadainstituio,necessrio destacarqueelanonascepronta.Desdeosanos1960,ocorre gradativamente no SESC a passagem de um carter assistencial paraumperfileducativoecultural.Estamudanafoisendo aceita pelos empresrios conforme foram sendo convencidos da relevncia do enfoque educacional e da importncia desta misso, a partir do discurso dos tcnicos. Como destaca Danilo Miranda, DiretorRegionaldoSESCSoPaulo,emdepoimentoconcedido emdezembrode2006,apartirdosseus23anosdeatuao, que a instituio nem uma extenso dos empresrios nem faz polticaauxiliardeles.Ainstituiosurgiudosempresrios,na dcada de 1940, mas adquiriu vida autnoma, com seus prprios recursos, sua histria e metas. Assim,pode-secompreenderaexistnciadeumprojeto doSESCemcurso,quepartedaamplademandaexistentede acordo com a localizao fsica das unidades, e que discutido, revistoeatualizadodemodoconstante,pormeiodacontnua formaodeseustcnicos.Paraentendermelhorasignificao desseprojeto,relevantelembraromodocomooconceito definidoporGilbertoVelho(1994),equesemostrabastante adequadoparaareflexosobreainstituioempauta.Oautor vincula projeto a uma esfera mais racional e consciente no campo depossibilidades,atribuindo-lheumadimensosociocultural fundamental,formadoradereferncias,modeloseparadigmas. Emtaldialticaossereshumanossoconstitudos,formados erefeitospormeiodesuastrajetriasexistenciais.Oprojeto naesferaindividualserealizacomaatuao,asinvestigaes, aperformanceeasescolhas,todaselasfundamentadaspor avaliaes e delimitaes da realidade (VELHO, 1994, p.28). Poroutrolado,referindo-seprpriainstituio,tambm possveldestacarumprojetoqueorientasuaatuao.Neste caso,convmrecordarumaafirmaojcomentadadeumde seus dirigentes, de que o SESC tem um carter iluminista. De fato,possvelcompreendercomoumprojetoiluministauma aoquepropeaformaodosindivduos,poisasprticas sociais implementadas pela instituio mostram uma ordenao segundoumametaquepodeserdefinidaporumconceitoou umaideiapolticaqueaproduoeosbensculturaisdevem ser usufrudos coletivamente. Assim, mesmo o que parece mais 125Perspectivas, So Paulo, v. 43, p. 111-129, jan./jun. 2013fragmentado,oumesmoummododemanifestaocultural desvinculadodecompromissos,dentrodoprismadaps-modernidade, apresentado na programao da instituio como integrante de uma maneira de pensar que tambm contribui para a reflexo e a formao dos usurios. Destamaneira,atravsdeampladivulgaonamdiae pelainternet,situam-senestesespaosdelazernametrpole paulistanamltiplasopeseliberdadedeescolhanoquese refere esfera da cultura e do esporte, o que propicia o contato eointercmbiocomasexpressesdadiversidadeculturaldo Brasiledomundo.IstooquenoSESCtornapossveluma variedade de apropriaes, releituras e snteses sobre o universo dacultura,almdepropiciarformasdesociabilidadeede pertencimento entre os frequentadores. Para se entender melhor estaformadeatuao,interessanterecorreraoenfoquede Danilo Miranda no depoimento concedido em dezembro de 2006, quebuscarefletirsobreaaodainstituiodemaneirabem claraebemfundamentadateoricamente.InspiradoemEdgar Morineempensadoresbrasileiros,comoLaymertGarciados Santos,Mirandatemdestacadoarelevnciadaaocultural, entendida como ao pblica, direcionada para um pblico vasto e o interesse pblico. Esta prtica inclui de alguma maneira todos os outros campos. Busca o sentido epistemolgico de cultura na origem, no seu contedo antropolgico. Domesmomodo,aaosocioculturaldoSESCabarcaa dimensoeducacional.Aeducaopermanenteummodode abranger o processo cultural contnuo em todas as faixas de idade e tambm no cotidiano. Miranda, portanto, compreende o SESC So Paulo como uma instituio de educao permanente, onde podeseencontraresporte,sade,cultura,arte,espetculos, quesovivenciados,experimentadoseseussignificados incorporados em um processo. H a disposio nas unidades uma permanente para se usufruir de suas atividades, mas de modo diferente dos clubes. O tempo livre s tem sentido para o SESC seforusadoparaaconstruodacidadaniaeparaaeducao permanente.Otempolivrenomundoatual,peranteareorganizaoda produocapitalistanaeradaglobalizao,poderepresentar paraotrabalhadoramarcainequvocadeque,desempregado, dispensvelparaouniversodotrabalho,torna-setambm descartvelparaavidasocialcomopessoa.Poroutrolado,o 126Perspectivas, So Paulo, v. 43, p. 111-129, jan./jun. 2013tempolivrepodesignificarparacadaumaconstruodeum reino da liberdade como forma de resistncia contra a barbrie ouadesumanidade,aorevelarascondiesdevidaqueeste sistema impe a todos. Esse o lcus da cultura e da educao permanentequeserelacionacomopensamentodeDanilo Miranda.Esteopapelqueoprojetodainstituioatribuiua esses espaos para o gozo do lazer, que ela ergue em cidadelas da liberdade na construo da cidadania. Contudo, como garantir a todos o acesso a esses bens culturais queoprojetodoSESCsepropeaoferecer-lhes?Emrelao questo do acesso cultura, Isaura Botelho (2003) expe que as investigaes internacionais4 sobre a democratizao da cultura e a prtica de uma verdadeira democracia cultural mostram que os maiores entraves adoo de valores culturais so de ordem simblica.Aprimeiraliopercebidaaleidosistemade gostos, que ressalta o fato de no se poder apreciar e valorizar oquenoseconhece,portantoogostareonogostar sseformamdentrodeumaesferadecompetnciacultural, representandoumasomatriadosvaloresinstitucionalizados pelaestruturasocial,pelaeducaoescolarepelosrgosde informao (BOTELHO, 2003). Aautoratambmenfatizaque,almdasmedidasdos rgospblicosprocurandoestimularaaquisiodecultura, asrespostasdopblicovinculam-seaorepertrioadquiridoda famlia e do elo da pessoa com a escola. Deste modo, salienta que as polticas de democratizao cultural s produziro resultados de fato se no forem realizadas isoladamente.ApolticaculturaldoSESCalinha-secomesteenfoque ebuscacompletarotrabalhoefetuadopelaescolaeoutras instituiessociais,poisainstituioprocuraaeducao permanente e, com ela, tambm a formao do gosto. Intrnseco realizaodeespetculos,mostras,shows,simpsios, conferncias, cursos e exposies, no h somente a proposio deumeventocultural,masaarticulaodemanifestaes culturaisexpressandoanoodeeducaopermanentepara pblicos diferenciados, de acordo com a faixa etria, o gnero e a condio social. Estesespaosculturaiseesportivosque,atualmente, constituemasunidadesdoSESCSoPaulo,emseuvnculo indissocivelcomacidadeemrelaodimensosocial, 4Sobre esse tema ver: DEP (1991) e Donnat (1994).127Perspectivas, So Paulo, v. 43, p. 111-129, jan./jun. 2013culturalesubjetivadavidaemumgrandecentrourbano, talvezpossamserconsideradoscomoasinstituiesculturais maiscontemporneas,configurando-seporseremlugaresde manifestao de formas de prtica social de carter democrtico, permeadasdesentidosparaoserhumanoecontrapondo-se perdadevnculosdesociabilidade,crisededesempregoe negao da herana cultural e da memria coletiva.DINES,Y.S.Leisuresculturecitadel:theturningpointofSo Paulo Commerce Social Service (SESC) on 80s. Perspectivas, So Paulo, v.43, p.111-129, jan./jun. 2013.ABSTRACT:ThepresentworkisfocusedonleisureinSoPaulo city,inanattempttograspthemeaningswhichthisconceptand thatofculturehavecometotakeoninthismetropolitancontext during the last decades of the 20th century. The article is centered on an institution designed to provide leisure for workers the So PauloCommerceSocialService,SESCanditanalysestheguide lines that have oriented its course of action and the social practices ithasbeenimplementingsincemid80s.Theresearchwas basedontheiconographiccollectionoftheSESCSoPauloand interviewswithmembersandformerworkersoftheinstitution, thusallowingfortheanalysisoftheiconographytobesentin propercontext.Thismethodologyunvelledthesignificanceofthe various practices of sport and culture developed by the institution along its existence, thus permitting us to identify some aspects of theguidinglinesfollowedbytheSESCSoPaulo,andtoreflect uponthemeaningstakenonbyleisureandculturewithinthis universe, in the dialogue it has established with the metropolis. KEYWORDS:SESCSoPaulo.Leisure.Culture.Visual Anthropology.UrbanAnthropology.Metropolis.Culturalpolicies. Sociability. RefernciasAUG, M. Os no lugares. Campinas: Papirus, 1997. BOTELHO, I. Os equipamentos culturais na cidade de So Paulo: um desafio para a gesto pblica. Espao & Debates Revista de Estudos Regionais e Urbanos, So Paulo, Neru, n.43-44, p.141-151, 2003. 128Perspectivas, So Paulo, v. 43, p. 111-129, jan./jun. 2013BOURDIEU,P.Gostosdeclasseeestilosdevida.In:ORTIZ,R. (org.) Pierre Bourdieu. Sociologia. So Paulo: tica, 1983. DA MATTA, R. A casa e a rua: espao, cidadania, mulher e morte no Brasil. So Paulo: Brasiliense, 1985.DEP.Lespratiquesculturellesdesfranais1989.Paris:La Documentation Franaise, 1991. DONNAT,O.Lesfranaisfacelaculture.Delexclusion lclectisme. Paris: La Dcouverte, 1994.FERRAZ, M.; VAINER, A. (Curadores). Cidadela da liberdade. So Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, 1999.GARCIA, E. B. Quo Vadis Pompia? In: FERRAZ, M.; VAINER, A. (Curadores). Cidadela da liberdade. So Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. 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