cidade e as serras parte 1

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Literatura - Valdir 25.08.08 A Cidade e As Serras – Parte I “ A Cidade e as Serras” foi escrito em 1900, ano da morte de Eça de Queirós. O romance é uma ampliação do conto “Civilização” do mesmo autor. O tema é os benefícios da vida simples do campo em comparação com os vícios da vida urbana. O tema não foi inovador; arcadistas o tinham como um mote clássico, o Fugere Urbem. O enredo, como em outros romances realistas, tem papel secundário. Mar veremos que o livro se afasta de um dos três pilares do realismo, o pessissismo, já que termina de forma otimista. Além disso, o romance também critica a filosofia positivista, um dos fatores teóricos que propulsionou o realismo na França. A história se passa ao final do século XIX e é narrada por Zé Fernandes, amigo de Jacinto, o protagonista. Já na descrição de Jacinto percebemos um desvio das normas da escola literária; é um homem rico, bondoso, inteligente e bonito, portanto idealizado, que nascera de família tradicional portuguesa mas sempre vivera em Paris nunca tendo visitado Portugal. O livro pode ser dividido em dois tempos: a vida luxuosa porém vazia de Jacinto na cidade e sua nova vida bucólica e simples em Portugal. O “Príncipe da Grã-Ventura” como era chamado por amigos, tinha a meta de transformar sua mansão 202 em um oasis da ciência e tecnologia. Por cinco anos, o protagonista investe em vários luxos tecnológicos. É então que Zé Fernandes resolve visitá-lo. O amigo logo percebe que Jacinto vê na ciência um caminho para a felicidade. Mas o homem que Zé encontra está infeliz, entediado, superficial e fútil. De acordo com Grilo, o modormo, seu patrão está doente de fartura. Jacinto mantinha uma relação amorosa pública com Madame de Oriol, mulher rica e linda mas impossivelmente irritante e superficial além de ser casada. Preocupado com o estado do amigo, Zé Fernandes pede ao chefe de cozinha da Madame preparar arroz doce português como o da avó de Jacinto. O arroz servido não se pareceu em nada com o da avó, aumentando o desencanto de Jacinto. Depois do incidente do arroz doce, dois casos que provaram que a tecnologia não é confiável (explosão dos tubos de água e o peixe entalado no elevador) resultaram na depressão definitiva de Jacinto que adotou o lema Schopenhauriano: viver é sofrer. Neste momento, Jacinto recebe um pedido de Portugal para presenciar a restauração do cemitério onde estavam enterrados seus bisavós. Como era o último representante da família vivo, Jacinto parte com Zé para Tormes. Chegando à estação e sem transporte para o alto da serra onde ficava a casa da família, os dois sobem de cavalo e burro. Assim começa a segunda parte da história.

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Literatura - Valdir25.08.08

A Cidade e As Serras – Parte I

“ A Cidade e as Serras” foi escrito em 1900, ano da morte de Eça de Queirós. O romance é uma ampliação do conto “Civilização” do mesmo autor. O tema é os benefícios da vida simples do campo em comparação com os vícios da vida urbana. O tema não foi inovador; arcadistas o tinham como um mote clássico, o Fugere Urbem. O enredo, como em outros romances realistas, tem papel secundário. Mar veremos que o livro se afasta de um dos três pilares do realismo, o pessissismo, já que termina de forma otimista. Além disso, o romance também critica a filosofia positivista, um dos fatores teóricos que propulsionou o realismo na França.

A história se passa ao final do século XIX e é narrada por Zé Fernandes, amigo de Jacinto, o protagonista. Já na descrição de Jacinto percebemos um desvio das normas da escola literária; é um homem rico, bondoso, inteligente e bonito, portanto idealizado, que nascera de família tradicional portuguesa mas sempre vivera em Paris nunca tendo visitado Portugal.

O livro pode ser dividido em dois tempos: a vida luxuosa porém vazia de Jacinto na cidade e sua nova vida bucólica e simples em Portugal. O “Príncipe da Grã-Ventura” como era chamado por amigos, tinha a meta de transformar sua mansão 202 em um oasis da ciência e tecnologia. Por cinco anos, o protagonista investe em vários luxos tecnológicos. É então que Zé Fernandes resolve visitá-lo.

O amigo logo percebe que Jacinto vê na ciência um caminho para a felicidade. Mas o homem que Zé encontra está infeliz, entediado, superficial e fútil. De acordo com Grilo, o modormo, seu patrão está doente de fartura.

Jacinto mantinha uma relação amorosa pública com Madame de Oriol, mulher rica e linda mas impossivelmente irritante e superficial além de ser casada. Preocupado com o estado do amigo, Zé Fernandes pede ao chefe de cozinha da Madame preparar arroz doce português como o da avó de Jacinto. O arroz servido não se pareceu em nada com o da avó, aumentando o desencanto de Jacinto.

Depois do incidente do arroz doce, dois casos

que provaram que a tecnologia não é confiável (explosão dos tubos de água e o peixe entalado no elevador) resultaram na depressão definitiva de Jacinto que adotou o lema Schopenhauriano: viver é sofrer.

Neste momento, Jacinto recebe um pedido de Portugal para presenciar a restauração do cemitério onde estavam enterrados seus bisavós. Como era o último representante da família vivo, Jacinto parte com Zé para Tormes. Chegando à estação e sem transporte para o alto da serra onde ficava a casa da família, os dois sobem de cavalo e burro. Assim começa a segunda parte da história.