ciberespaço

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Ciberespaço

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  • GT - 01

    1. A GLOBALIZAAO CULTURAL CONTRA-HEGEMNICA :

    EXISTE UMA VIA DE EXPRESSO COMUNICACIONAL INDGENA NO

    CIBERESPAO?

    Alejandra Aguilar Pinto*

    * Doutoranda em Cincia da Informao, Departamento de Informao e Documentao, CID, UnB. Bolsista CAPES. reas de pesquisa: Informao indgena, Identidade/Diversidade Cultural, Redes de informao, Cibercultura, TICs, Bibliotecas Indgenas, Sociedade da Informao. Email: [email protected] 1

    Resumo

    O objetivo deste documento refletir sobre o impacto das tecnologias de informao e comunicao (TICs) principalmente Internet no ser humano como sujeito histrico cultural. O foco principal ser o ciberespao, mas desde um ponto de vista da chamada cibercultura, procurando enfocar-se nas identidades tnicas ou minorias culturais, que conformam um aspecto mnimo da cibercultura, mas que tem transcendido o assunto tcnico informtico in-formacional; acrescentando comunicao em rede a diversidade cultural.

    As mdias tradicionais em geral nunca forneceram o espao comunicativo para as en-tidades minoritrias, se eram considerados era desde uma viso folclrica ou essencialista, pois ao serem parte de uma identidade nacional, eram sujeitas a uma pauta hegemnica que as qualificava como sobreviventes de um passa-do em vias de evoluo.

    Esta situao veio em parte a mudar desde que surgiram as redes digitais as quais permitiram uma comunicao em ambos os sentidos, existindo agora certa autonomia para pr contedos e divulg-los a uma mais ampla audincia.

    Palavras-chave: identidade/diversidade cultu-ral; povos indgenas, sociedade da informao; internet; TICs

    Resumen

    El propsito de este documento es re-flexionar sobre el impacto de las tecnologas de la informacin y la comunicacin (TICs) en la Internet sobre todo como una cultura humana histrica. El enfoque principal ser el ciberespa-cio, sino de un punto de vista de la cibercultura llamada, tratando de enfocarse en la identidad tnica o de las minoras culturales, que repre-sentan al menos un aspecto del ciberespacio, pero que ha trascendido el problema tcnico en computacin de informacin, agregando a la comunicacin red a la diversidad cultural.

    Los medios de comunicacin tradi-cionales en general no han facilitado el es-pacio de comunicacin para organizaciones de las minoras, ya sea que se consideraron era de un pueblo o esencialista vista, por-que al ser parte de una identidad nacional, fueron sometidos a un programa hegem-nico que los calific como sobrevivientes de una pasado en el proceso de evolucin.Esto ocurri en parte del cambio que tuvo lugar a las redes digitales que permiten la comunica-cin en ambas direcciones y en la actualidad hay una cierta autonoma para poner conteni-dos y difundirlos a un pblico ms amplio.

    Palabras-clave: identidad /la diversidad cultu-ral; los pueblos indgenas; sociedad de la infor-macin; internet; TICs

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    Temos que ter nosso prprio territrio digital, infrutuoso semear em terra alheiano prpria, h que ter um territ-rio indgena autnomo (Mulher purepe-cha do Mxico, Primeira Oficina de TICs, nov, 2005)

    Introduo

    O objetivo deste documento re-fletir sobre o impacto das tecnologias de informao e comunicao (TICs) prin-cipalmente Internet no ser humano como sujeito histrico individual e coletivo, mas visando conhecer o aspecto cultural e poltico, pois desde o surgimento das Indstrias Culturais (I.C.) a sua auto-identificao passou a ser transformada. A identidade/diversidade cultural viu-se ampliada no espao em rede, mas ao mesmo tempo homogeneizada pela glo-balizao hegemnica.

    O foco principal ser o ciberes-pao, mas desde um ponto de vista da chamada cibercultura, o que implica a expresso identitria atravs de diversas manifestaes simblicas-culturais, pro-curando enfocar-se nas identidades tnicas ou minorias culturais, que conformam um aspecto mnimo da cibercultura, mas que tem transcendido o assunto tcnico in-formtico informacional; acrescentando comunicao em rede a diversidade cultural.

    Por tanto aqui se procura conhe-cer a relao entre Comunicao, Cultu-

    ra e Identidade, e se est existindo algum espao prprio para as minorias tnicas, as estratgias desenhadas para serem par-te da Sociedade da Informao, suas lutas, as formas de visibilizar-se e at que ponto tm conseguido o chamado territrio di-gital indgena.

    A nova territorializao da comunicao

    O amplo desenvolvimento das redes de comunicao virtuais na post-modernidade, significou a desterritoria-lizao do espao comunicacional das indstrias culturais, a chamada conver-gncia causou uma confluncia das diver-sas mdias no espao global passando a levar a tradicionais fronteiras fixas da territorialidade.

    Internet, comunicao e territrio

    A Internet constituiria uma nova territorializao da comunicao, pois possibilita uma:

    comunicao reticular, um espao pblico, um Frum Hbrido em que o sujeito vive a possibilidade de ambivalncia entre o local e o global, entre o eu e o anonimato, entre o eu e o outro do pseudnimo, entre a pertena e o desenraizamento, entre o re-produtor e o consumidor de conhecimen-to escala global, entre a nacionalidade e o cosmopolitismo (SILVA, 1999, p.1). Este espao ao mesmo tempo real e virtual (...) local e dimenso, que modifica as linhas espaciais-temporais (...) esta construo social compartilhada possibilita, em parte causa pelos laos e valores scio-polticos, estticos e ticos que tipificam este novo

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    espao antropolgico. (SILVA, 1999)

    Tanto espao pblico e reas pri-vadas convergem, sendo um suporte aos processos cognitivos, sociais e afetivos, os quais efetuam a transmutao da rede eletrnica em espao social coletivo po-voado por seres que (re)constroem suas identidades e seus laos sociais nesse novo contexto comunicacional. Geram uma rede de novas sociabilidades que suscitam novos valores, dialticas gera-doras de novas prticas culturais. (SIL-VA1999, p. 1)

    Respeito ao conhecimento, a In-ternet um novo tipo de organizao scio-tcnica que facilita a mobilidade no e do conhecimento, as trocas de sabe-res, a construo coletiva de sentido, em que a identidade sofre uma expanso do eu baseada na diluio da corporabilida-de (SILVA1999, p. 1). Assistimos a uma acelerao do metabolismo social. (idem, p. 2) Geram-se as chamadas Comunida-des Virtuais (RHEINGOLD, 1996) que se sustentam na partilha intelectual e na convergncia da pluralidade e riquezas dos conhecimentos que emanam dos sujeitos.

    A Web uma hiper-ementa de idias que esto ao dispor dos indivduos. Estes tm a possibilidade de se aglutina-rem em torno dessas idias fazendo uso de outros servios da rede como seja o email ou grupos de discusso. (SIL-VA1999, pp. 7-8) Portanto, a rede pos-

    sibilita a gerao de espaos de saberes, sua expanso, um tipo de tecnologia de inteligncia (LEVY, 1994). Agora o co-nhecimento no s viria da Escola, como antes esteve a televiso/radio novos m-dias acrescentam-se. Isto levaria assim a um processo intensivo de mediao dos conhecimentos atravs das mdias.

    O ciberespao/cibercultura e a gerao de um espao antropolgico virtual

    A Internet veio a modificar as coordenadas do conceito de territrio. Agora seriam os interesses comuns que determinariam a topologia das relaes e no a geografia comum. (SILVA1999, p. 5). Simultaneamente o sujeito enraizado num lugar fsico e suspenso na pluralida-de de lugares que a navegao em rede lhe permite (idem, p. 5) Por outro lado no espao fsico como no espao virtual existem lugares e no-lugares (AUG, 1994, apud SILVA, 1999 p. 5).

    Como se constitui o Espao An-tropolgico na rede? Existe nela esta di-menso, constituda pela transferncia simblica e relacional, atravs da virtuali-zao, ou seja, os smbolos e os processos relacionais constituintes do espao social so transferidos para o espao de fluxos infocomunicacionais, a que se tem vindo a dar nome de espao virtual (SILVA, 1999 p. 5)

    Falar da Internet como um espao

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    antropolgico implica considerar o ter-ritrio , fruto da construo de sistemas de representao (SILVA,1999, p. 6)

    Ciberespaco/cibercultura: expresso tecnolgica da identidade/diversidade cultural

    Segundo LEVY (1998) o ciberes-pao representa um estgio avanado de auto-organizao social, ainda que em desenvolvimento- a inteligncia coletiva. Assim o ciberespao seria um Espao de Saber, em que o conhecimento o fator determinante e a produo continua de subjetividade, a principal atividade econmica. O ciberespao surge assim como o quarto espao antropolgico: o primeiro terra; o segundo o territrio; o terceiro o mercado e o ciberespao o ltimo.

    Quanto ao neologismo cibercul-tura refere-se ao conjunto de tcnicas (materiais e intelectuais), prticas, atitu-des, de modos de pensamento e de valo-res que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespao. (SILVA, 2004, p. 3)

    A heterogeneidade deste espao notria, pelo nmero, pelo nmero am-plo de ambientes de sociabilidade que tm diversas formas de interao entre os homens, quanto entre eles, a mquinas, e, maquinas. Assim, o conceito de ciber-cultura abarca o conjunto de diferenas

    scio-culturais que ocorrem no interior deste espao ou que esto a ele relacio-nados.

    Contudo a compreenso do cibe-respao, no observado como um objeto no sentido estrito do termo, mas sim como um espao freqentado por pesso-as que constituem localidades e territo-rialidades.

    A ciberantropologia estuda o espa-o eletrnico virtual, considerado como um espao freqentado por pessoas, a observao antropo-anlitica volta-se para a compreenso das peculiaridades dos grupos que se constituem no interior. Este anlise pode ser a dois nveis interno e externo.

    O interno considera o ciberespao como um nvel de realidade substan-cialmente especfico e diverso dos res-tantes, dentro do qual se desenvolvem fenmenos peculiares que devem ser abordados com um referencial terico adequadamente desenvolvido ou adap-tado.

    O externo considera-o como mais um aspecto da cultura contempornea estando nela inserido e confrontado a re-flexo antropolgica com o mesmo tipo de problema.

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    Os indgenas e a sociedade da informao

    Os povos nativos tm vindo re-alizando um esforo cooperativo inter-nacional desde que se intensificara a convergncia tecnolgica, representada pelas tecnologias de informao e comu-nicao (TICs).

    O cenrio institucional global informacional e os povos indgenas

    A influncia das tecnologias de comunicao e informao sobre diver-sos aspectos da vida provocaram tambm um impacto nos povos indgenas que como se indicou comearam a ter uma nova atitude em face de esta nova re-alidade.

    Assim, desde que as Naes Uni-das - NU, realizaram a primeira Cpula Mundial sobre a Sociedade da Informa-cao-CMSI,em Genebra do 10 ao 12 de dezembro de 2003, procurando fazer um diagnostico e uma serie de recomen-daes para as naes do mundo no tema de acesso/uso das TICs, tentando dimi-nuir a brecha digital, os povos nativos se deram conta que eles no foram consi-derados direitamente, assim no segundo encontro sua participao esteve mais presente.

    O uso de algumas instncias inter-nacionais por parte destes povos j tem alguns antecedentes, como foi o Convenio

    169 da Organizao Internacional do Trabalho-OIT; a Declarao Universal dos Direitos dos Povos Indgenas (2007), mas no tinha acontecido nada que apoiasse ou considerasse o aspecto informativo, um direito mais de tipo cultural. Expres-sar demandas e sua postura poltica de participao democrtica e igualitria na sociedade de informao veio acontecer na 2da Cpula Mundial sobre a Socieda-de da Informao (Tunsia, Nov. 2005) e uma manifestao prpria que acon-teceu na Primeira Oficina Indgena de Tecnologias de Informao e Comunicao auspiciada pela Unio Internacional das Telecomunicaes UIT e a Comisso Nacional para o Desenvolvimento dos Povos Indgenas do Mxico, entre o 28-30 de novembro de 2005.

    Os indgenas por sua vez de uma forma mais autnoma tm realizado eventos prprios, dos quais se poderiam destacar dois documentos declaratrios:

    O Informe Final do II Encontro sobre Conectividade e Populaes Indgenas em Ottawa (DEL ALAMO, 2003), de-mandando uma presena nas discusses sobre novas tecnologias, com a finalidade de encontrar estratgias e propostas que permitam diminuir a brecha digital, fa-zendo uma serie de propostas, sugestes e sua viso sobre as TICs, procurando ocupar um lugar transcendente no cibe-respao.

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    No mesmo sentido, os represen-tantes indgenas dos Povos de Abya Yala (Amrica) fizeram a Declarao do Encon-tro Indgena Interamericano Preparatrio para a Cpula Mundial sobre a Sociedade da Informao em Braslia, 2003, defen-dendo seus direitos comunicao e informao por ser prticas milenares e cotidianas prprias, e se manifestaram em contra dos enfoques unilaterais no uso da tecnologia. Recomendando s NU que promovessem uma reflexo sobre a necessidade de democratizar os instrumentos tecnolgicos, indicando que s incluindo aos povos indgenas se pode fazer uma autentica Sociedade da Informao e Comunicao (SIC).

    Como se indicou foi na segunda Cpula da Tunsia aonde os povos ind-genas foram considerados. O Progra-ma de Aes de Tunsia para a Sociedade da Informao se constitui de 123 numerais que contem reconhecimentos, agradeci-mentos, exortos, otimismos, recomenda-es, incentivos, solicitaes, parabns e chamamentos comunidade internacio-nal.

    Com relao aos indgenas, este Programa declarou o compromisso de:

    Trabalhar ativamente para lograr o multilingismo em Internet, como parte de um processo multilateral, transparente e democrtico em que intervenham os governos e todas as partes interessadas, em seus respectivos papis. Neste contexto, tambm apoiamos o desenvolvimento, a

    traduo e adaptao do contedo local, os arquivos digitais e as diversas formas de meios digitais e tradicionais, e reconhe-cemos assim mesmo que estas atividades tambm podem fortalecer s comunidades locais e indgenas.

    Para FORERO e DIAZ (2007, pp. 10-11) at agora estes eventos:

    Apesar das propostas, sugestes e presses de alguns grupos indgenas com repre-sentantes, no ho logrado incluir e fazer realidade a diversidade tnica, cultural e lingstica na chamada Sociedade da In-formao, sendo o principal foco das suas declaraes os idiomas, protocolos, sof-tware e todos os componentes da rede de dominncia cultural norte-americana.O 90% do contedo da Internet se encontra em s doze idiomas de mais de 6.000 ln-guas existentes no mundo.

    Seguem sendo mais os enuncia-dos e as boas intenes, que compromis-sos concretos que conduzam a modificar o divisor digital dos povos indgenas, pois parte do engano est em pensar que possvel que eles como povos, acedam e se apropriem das TICs, sem que se modi-fique de maneira radical as condies de racismo, excluso, violncia estrutural, analfabetismo, misria e violncia cultu-ral que sofrem em tempos da Sociedade da Informao. Por isso, podemos falar segundo estes dois autores, de acesso e apropriao das TICs de indivduos, setores e organizaes minoritrias da po-pulao indgena (2007, p. 11).

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    Primeira Oficina Indgena de Tecnologias de Informao e Comunicao

    Esta Oficina se tem considerado, pois aqui existiu uma iniciativa dos mes-mos indgenas, apesar de estar no marco institucional da UIT .Participaram mais de 150 indgenas de 19 pases da Am-rica Latina e o Caribe. Este evento que durou trs dias em novembro de 2005 e procurou dar as bases para futuros even-tos sobre as TICs.

    Cinco Oficinas estiveram rela-cionadas com temas como: capacitao e desenvolvimento local de contedos; desenvolvimento de software, etc.

    Segundo FORERO e DIAZ (2007, p. 13), um tema central das varias intervenes dos indgenas consistiu em indicar a Sociedade da Informao como um fenmeno que leva profundas im-plicaes econmicas, polticas, sociais, culturais e cosmognicas no seu sistema de vida, que supera a dimenso tecnol-gica, o que leva a questionar a promoo e nfases na ao tecnolgica que faz a UIT.

    O que propem eles serem os nicos que decidam sobre como, quando e em que condies incorporar as TICs em seus povos.

    O chamado feito aos governos e UIT se enfoca principalmente nas

    seguintes demandas: primeiro, a demo-cratizao das TICs; dois, a imperante necessidade de terminar com a ao indigenista, que para o caso consiste na elaborao por parte dos mestios da po-ltica de TICs para grupos indgenas; trs, que os indgenas devem ser os respons-veis de decidir os tempos de incorpora-o de novas tecnologias; quatro, usar as TICs na promoo e proteo dos Direi-tos Humanos, a liberdade de expresso, e o desenho de uma poltica informacional desde, por e para suas comunidades, com vises e culturas prprias. ( FORERO e DIAZ, 2007, p. 15)

    Segundo alguns comunicadores indgenas, eles necessitam criar sua poltica de comunicao indgena que fortalea o desenvolvimento dos povos originrios, suas culturas, cosmovises, lnguas e suas identidades tnicas.

    O movimento indgena transnacional e as Tecnologias de Informao e Comunicao (TICS)

    O Movimento Indgena Inter-nacional ou global se comeou a gestar quando alguns lderes de diferentes et-nias comearam a criar vnculos, princi-palmente em eventos de carter interna-cional, a maioria deles organizados por instncias como as Naes Unidas-NU, quem convocou o Primeiro Decnio In-ternacional das Populaes Indgenas do Mundo no ano 1993, cujo objetivo prin-

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    cipal era fortalecer a Cooperao Inter-nacional para a soluo dos problemas que afetam s populaes em matrias de direitos humanos, meio ambiente, desen-volvimento, educao e sade.

    Outro fator chave que estimulou o surgimento deste movimento, por alguns autores denominado como movimentos do sculo 21, foi a intensificao no desenvol-vimento das TICs (principalmente Inter-net) Segundo MONASTERIOS (2001, p.5) o movimento indgena no alheio a estrutura de Rede, prpria da chamada Sociedade da Informao, pois se observa nas suas relaes uma marcada estrutura transnacional (entendendo o o nacio-nal tanto do ponto de vista do Estado-os pases e seus limite-como tambm desde o ponto de vista das naes indgenas- relaes entre os povos indgenas).Desde esta estrutura organizativa destes povos, num comeo principalmente na forma de redes sociais, mas logo fazendo uso da redes eletrnicas (como a Internet) que lhe permitiram uma melhor organizao, articulao e difuso das suas demandas, reivindicaes e propostas.

    O papel das tecnologias de comu-nicao para a formao de comunidades virtuais que se converteriam logo em co-munidades de discursos atravs dos mes-mos indgenas implica um quebre com as organizaes oficiais locais e globais, como indicou Mario Bustos, diretor do departamento de Comunicaes da CO-

    NAIE, em uma entrevista:

    Parece-nos fundamental desenvolver essa viso, porque ficarmos em produzir um vdeo pelo vdeo, ou um programa de radio... em sim, no nos conduz a nada, pelo contrario tem que estar articulado em funo dos processos polticos, culturais, sociais que estamos criando desde os povos indgenas.

    Papel-chave o tem aqui ento as chamadas organizaes indgenas, estrutu-ras organizativas principais componentes do movimento indgena articulado em rede.

    O uso poltico-cultural-comunica-cional da Internet por alguns povos ind-genas o que contribuiu ao surgimento de uma poltica cibercultural (RIBEIRO, 2000, p.475) que segundo este autor pode ser dividido em dois reinos diferen-tes mais inter-relacionados. O primeiro define-se pela atividade poltica inter-namente prpria Internet; o segundo pela relao entre redes de computado-res e o ativismo poltico no mundo real. Neste ltimo caso o movimento indgena transnacional, destaca-se ao fazer uso da Internet como um instrumento para a criao e difuso de suas informaes, a promoo, a reivindicao e suas deman-das sociais, poltico e cultural, etc.

    O ativismo poltico distancia da comunidade transnacional imaginada-virtual (RIBEIRO,2000), neste caso do movimento indgena transnacional, algo em curso.

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    Apesar das restries, o testemunho e o ativismo poltico distncia so fatores que refletem certa liberdade e garantia de expresso para grupos marginalizados. Um exemplo latino-americano neste caso o uso que o Exercito Zapatista de Liber-tao Nacional, EZLN (Chiapas, Mxico) fez da Internet, um exemplo de como a ciberpoltica pode intervir na poltica real. Foram capazes, por exemplo, de parar um provvel ataque do exrcito mexica-no, alertando comunidade transnacio-nal virtual que respondeu inundando o endereo eletrnico do governo mexica-no com protestos. Este resultado s pode acontecer porque existiu o testemunho distancia, isto , o poder virtual da opi-nio pblica mundial, da comunidade transnacional. (RIBEIRO, 2000, p. 491)

    Assim o dilogo entre a socieda-de civil e alguns povos indgenas que tm usado as TICs como instrumentos para uma ciberpolitica algo que os fatos ho demonstrado, como no caso do EZLN, quem teve sucesso no uso dessa estrat-gia, por contar com o apoio de setores no indgenas.

    O subcomandante Marcos um personagem no indgena, misterioso, que ocupa um cargo no principal, mas que por sua capacidade criativa, potica literria, soube ganharse a simpatia e apoio de etnias da regio de Chiapas, faz surgir a interrogante da identificao e participao entre a sociedade civil e este

    movimento tnico.

    Caracterizando o ciberativismo zapatista, BELAUSTEGUIGOITIA (2003, p.22) indica que este reconhece e explora em forma estratgica, a semi-tica e ambigidades que produzem trs dispositivos de comunicao distintos: as mscaras, as ps-datas e a Internet. Cada um destes elementos tendo um signifi-cado, as mscaras seriam um dispositivo que interpreta o prejuzo baseado no pensamento racista que assimila a todos os indgenas, fazendo-os suspeitos, infan-tis e inferiores.Sendo similar economia da mscara na Internet como um si-tio de circulao de voz sem corpo. (BE-LAUSTEGUIGOITIA, 2003, p. 22)

    As ps-datas, colocadas debaixo de muitos dos comunicados distribudos ao pblico, seriam pensamentos residuais, colocadas ao final da pgina, fazendo referencia ao que no se pode dizer, no texto principal, ou mesmo nao. Am-bos os recursos (mascaras e ps-datas) se entrelaariam no ciberespao, um am-biente virtual descarnado, mas uma via de comunicao para difuso das suas demandas, reivindicaes e propostas.

    Territrio Digital Indgena, um objetivo estratgico dos povos indgenas

    O territrio autnomo indgena ou ciberespao indgena, se tem ido for-mando paulatinamente, principalmente

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    atravs da criao de pgina web por ativistas e pelos mesmos indgenas (o que ainda mais escasso), o qual reflete uma variedade de assuntos relacionados com as culturas indgenas.

    At agora muitos dos espaos que aparecem na www so cedidos por usu-rios particulares (normalmente europeus e norte-americanos) que se tem encar-regado de difundir temticas indgenas desde seus prprios pases ou atravs de grupos de solidariedade. Estas pessoas fornecem conhecimentos e equipes na hora de desenhar as pginas dos povos e organizaes indgenas, muitas vezes cobrindo o custo que representa manter as pginas web. Outros apoios partem de iniciativas empreendidas por organiza-es no governamentais (ONGs) que levam a cabo projetos de desenvolvimen-to para a Amrica. Mas apesar das boas intenes que h detrs destas iniciativas, para DEL ALAMO (200, [p.3]) se acaba gerando uma dependncia tecnolgica e de conhecimentos, contribuindo alm da j brecha digital indgena causada pela escassez de recurso materiais tecnolgi-cas, a possibilidade de uma auto-repre-sentao.

    A incorporao das TICs, como ferramentas no apoio ao trabalho di-rio, poltico-organizativo, permitiu uma ampliao dos horizontes, alm do seu contexto local tnico.

    Para FORERO e DIAZ (2007, p.18) aceder ao territrio indgena per-mitiu superar em parte as condies de pobreza material e informativa, j que a diferena de outros meios informativos, a Internet exige dos usurios investimen-tos em conhecimentos bsicos, equipes e infra-estrutura.

    Alm da dimenso material, o aspecto identitrio, com suas expresses culturais e de projeo poltica, so o eixo da atividade ciberntica indgena. Estas expresses identitrias implcitas nas suas primeiras manifestaes ciber-culturais, que por agora constituem o forte da maioria dos povos indgenas que conseguiram ter acesso a recursos tecno-lgicos, tem ido mudando de a pouco, com aquelas etnias, que comearam a fazer uso do ciberespao um espao etno-po-litico ou via de expresso de outra opo poltica, em confluncia ou no com a poltica tradicional representativa, para uma mais participativa. (por exemplo: o caso do Equador, aonde alguns lideres indgenas j ocuparam postos chaves no governo nestes ltimos anos).

    Estes autores dizem que pretender um territrio digital, significa ter presente pelo menos trs aspectos inter-relacio-nados presentes na luta destes povos: incluso na sociedade da informao; autonomia que transcenda a rede; e a democracia intertnica, a partir de uma cosmoviso que tem como matriz o terri-

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    trio, a comunidade e a cultura com seus diversos significados, smbolos, entrela-ados agora no mundo do espao virtual com suas representaes digitais da iden-tidade. (FORERO e DIAZ, 2007, p.18)

    At que ponto a tecnologia po-deria contribuir para o logro das suas reivindicaes polticas, sociais, culturais e tnicas que lhes permita resolver seus conflitos intertnicos, com o Estado e o setor privado, algo que est sendo de-monstrado dia a dia, no acesso/uso que algumas etnias esto fazendo das TICs.

    A prtica comunicacional atravs da Internet h potencializado diversos aspectos das culturas indgenas, sua or-ganizao, sua etnicidade, identidade, suas lutas por problemas que vivem his-toricamente (injustias, discriminao, racismo, pobreza, etc.)

    Por outro lado, o movimento in-dgena tem ampliado seu campo de ao em nvel local, mas tambm regional e global.

    As diversas prticas intergalcticas (polticas, culturais, informativas, etc.) desenvolvidas pelos indgenas, para FO-RERO e DIAZ (2007, p.22) significam ter em conta suas prprias especificida-des culturais, relaes interculturais con-textuais no mundo global da informao, atravs de suas expresses manifestas do uso de tais produtos e sua prpria apro-

    priao cultural, que eles denominam etnoinformativas, tornando-se relevante pela possibilidade de contribuir ao co-nhecimento do processo de insero e apropriao do uso das TICs em condi-es de autogesto.

    Finalmente FORERO e DIAZ ( 2007, p.23) indicam que so trs os ca-minhos pelos quais setores dos povos in-dgenas poderiam aceder a ter seu prprio territrio digital : de maneira independen-te e autogestionaria; atravs das colabo-raes governamentais e os organismos internacionais; e de maneira mista, com contribuies prprias dos indgenas e ajudas de organismos internacionais e de organizaes governamentais.Nestes trs caminhos tambm estaro presentes, por um lado, os indgenas que trabalham por e para a comunidade, fortalecendo de passo o esprito comunitrio e coletivo prprio das comunidades e por outro os ativistas pr-indgenas.

    Concluses

    Este estudo revelou que as TICs afetaram sociedade em geral, e em particular s minorias tnicas- culturais. No caso da sociedade no hegemnica pela imposio e assimilao de padres culturais no prprios, como caso das naes latino-americanas e pases do mundo no Ocidental (Ex. o Mundo rabe), que passaram a receber infor-maes que modificaram seus costumes

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    e valores.

    Os usos at agora feito pelos ind-genas levaram a fortes manifestaes de mudana cultural, intercambio simbli-co, redes virtuais prprias, novas formas de representar a sua realidade, comuni-cao em tempo real, etc.

    Dentre as vantagens (oportuni-dades) se poderiam dizer: estas novas tecnologias teriam o potencial de ajudar na democratizao no uso de outros re-cursos, por exemplo, os informativos, a possibilidade de desenvolvimento local, regional e global.

    As TICs poderiam oferecer tam-bm a oportunidade para a: defesa, forta-lecimento e difuso dos processos polti-cos, educativos, de resgate cultural e dos idiomas indgenas; um meio de informa-o e vigilncia sobre prefeituras e outras instituies estaduais que tm relao com os povos indgenas; para apresentar seus objetivos, demandas e lutas em nvel mundial e o conhecimento mutuo entre os povos.

    Perigos: o uso consumista das TICs; a globalizao econmica tecnol-gica que poderia levar a uma imposio de contedos e instrumentos externos ou alheios prpria cultura indgena e a globalizao cultural hegemnica que tentaria uniformizar todas as identida-des. Barreiras ou obstculos: no caso dos

    povos indgenas latino-americanos pode-mos encontrar diversas barreiras, as mais destacadas seriam a falta de experincia ou destreza para o uso dos computadores (pessoas da terceira idade e gente baixo nvel educao) e falta de infraestrutura.

    Elevados custos para aquisio de novas equipes, a falta de capacitao e a carncia de recursos econmicos para o funcionamento, equipamento e manu-teno das novas tecnologias. Desafios: uso apropriado das novas tecnologias de acordo a interesses e necessidades de cada povo e/ou comunidade; controles comunitrios; aquisio prpria de re-cursos para TICs; capacitao em TICs para a produo de contedos prprios; administrao dos recursos tecnolgicos comunitrios e seu uso equitativo e co-letivo; criao de software em idiomas indgenas, dentre outros.

    Assim as demandas indgenas refletidas nos seus prprios encontros, como atravs da via institucional global (CMSI) poderiam englobar-se assim:

    1. Democratizao das TICs (acesso, uso, administrao, controle pr-prios)

    2. No ao indigenista nas TICs.3. Deciso autonmica indgena para

    a incorporao s TICs.;4. Priorizar em direitos humanos, li-

    berdade de expresso, direitos dos povos indgenas.

  • Grupo de Trabalho 01

    Amrica Latina, Globalizao e Cultura

    13

    Pesquisa sobre o uso e apropria-o das TICs para o apoio no desenvol-vimento dos povos indgenas; infraestru-tura bsica nos centros indgenas rurais; diminuir o analfabetismo, respeitando a difuso e normalizao da escrita dos idiomas dialetos; facilitar o acesso s TICs de novos usurios indgenas tanto em reas rurais como urbanas; telecen-tros abertos e de acesso compartilhado e incorporar o uso das TICs nos programas educativos indgenas.

    Referncias bibliogrficas

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