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Page 1: CIANO MAGENTA AMARELO PRETO cad 1 frente PINÇA deste … · Cairo Mohamad Ibrahim Katrib Equipe de Jornalismo Diélen Borges, Eliane Moreira, Frinéia Chaves, José Amaral Neto,

CIANO MAGENTA AMARELO PRETO cad 1 frente PINÇA deste lAdo

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2 Jornal da UFU Jornal da UFU 3

ED

ITO

RIA

L

Maria Clara Tomaz MachadoDiretora de Comunicação Social

EXPEDIENTE

Outubro: votar em quem e por quê?

S-G

RA

DU

ÃO

Programa de Doutorado Interinstitucional UFU/Unifap entrega relatório final à Capes/MEC

Silvana Malusá: “Ter sido a Coordenadora Acadêmica do Dinter/

UFU/Unifap foi, sem sombra de dúvidas, a experiência mais

gratificante em minha vida profissional”

Faced forma novosdoutores em educação

para a região Norte

texto Fabiano Goulartfoto Ricardo Carvalho

ISSN 2317-7683

O Jornal da UFU é uma publicação mensal da Diretoria de Comunicação Social (Dirco) da Uni-versidade Federal de Uberlândia (UFU).Av. João Aves de Ávila, 2121, Bloco 1S, Santa Mônica, 38.400-902, Uberlândia-MG. Telefone: 55 (34) 3239-4350. www.dirco.ufu.br | [email protected].

Diretora de ComunicaçãoMaria Clara Tomaz Machado

Coordenador de JornalismoFabiano Goulart

Coordenador de ConteúdoCairo Mohamad Ibrahim Katrib

Equipe de JornalismoDiélen Borges, Eliane Moreira, Frinéia Chaves, José Amaral Neto, Jussara Coelho, Marco Cavalcanti e Renata Neiva

EstagiáriosAna Luiza Honma, Aline Pires, Carlos Gabriel Ferreira, Daniela Malagoli, Júnior Barbosa,Isabela Lavor e Isley Borges

EditoraEliane Moreira (RP525/RN)

Projeto gráfico e diagramaçãoElisa Chueiri

RevisãoDiélen Borges eMaria Clara Tomaz Machado

FotografiaMilton Santos

ImpressãoImprensa Universitária - Gráfica UFU

Tiragem2500 exemplares

Docente colaboradorEduardo Macedo

Reitor: Elmiro Santos Resende | Vice-reitor:Eduardo Nunes Guimarães | Chefe de gabinete: José Antônio Gallo | Pró-reitora de Graduação: Marisa Lomônaco de Paula Naves | Pró-reitora de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis: Dalva Maria de Oliveira Silva | Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação: Marcelo Emílio Beletti | Pró-reitor de Planejamento e Administração: José Francisco Ribeiro | Pró-reitora de Recursos Humanos: Mar-lene Marins de Camargos Borges | Prefeito Uni-versitário: Reges Eduardo Franco Teodoro

Outubro é um mês de decisões para o país. A escolha de nossos representantes para governar o Brasil por mais quatro anos deve considerar uma série de questões relevantes. Se, por um lado, pa-rece evidente o desinteresse do eleitor pela democracia, por outro, há que se buscar as causas de tal fato. O nosso sistema eleitoral é viciado e carrega consigo todas as mazelas do compadrio político que premia os interesses das elites sociais, de grupos financeiros e de negociações espúrias entre o legislativo e o executivo. A reforma política está na pauta do Congresso Nacional desde a Consti-tuição Federal de 1988. No entanto, pequenas emendas como a da ficha limpa só foram aprovadas mediante os escândalos denunciados, bem como o voto aberto para a cassação de mandatos.

Poderíamos levantar diversos pontos que contribuem para a descrença do eleitor. Entre eles, a necessidade que o executivo tem de fazer alianças inexplicáveis da perspectiva político ideológi-ca para conseguir aprovar projetos de cunho socioeconômico. Para isso se concedem verbas par-lamentares, acordos por cargos públicos que, de uma forma ou de outra, reforçam os pactos de interesse particular em detrimento do coletivo. Mais que isso, as verbas privadas de campanhas eleitorais criam vínculos com empresários e financiadores e serão cobradas dos eleitores quando da licitação de obras públicas, entre outras questões.

Os partidos apresentam propostas de governo sem relação com sua carta programática/ideo-lógica – é lógico, se as possuem –, o que não contribui para o debate político e, ao mesmo tempo, iguala ou nivela todos os candidatos. Os partidos nanicos negociam seus segundos do horário elei-toral por meio de coligações e, depois, evidentemente, cobra-se um preço. Os marqueteiros e pu-blicitários de plantão criam um personagem fictício que se vende aos eleitores. Desde os slogans por saúde, educação e segurança, que são sondados como temas relevantes para a população, até o tom de voz, a mímica e os pseudoeleitores que se propõem a enaltecer os candidatos, tudo isso é estudado minuciosamente.

Por quê? Porque o candidato é um produto, mercadoria a ser vendida. Os índices do Ibope, Da-tafolha e outros, apesar de ter uma certa consistência, são usados para induzir o eleitor a votar para ganhar. Talvez, por isso, haja a margem de erros ou os erros mesmos depois da apuração dos votos.

Os casos de corrupção, a todo dia denunciados, principalmente pela imprensa ou tecidos por grupos opositores, demoram “séculos” para serem apurados pela Polícia Federal e Ministério Pú-blico e, quando julgados pelo Supremo Tribunal Federal e penalizados, desmancham-se no ar. Isso porque as leis brasileiras são frouxas, sua aplicação é desigual socialmente e depende das condições financeiras do réu para pagar muito caro por advogados que recorrem incessantemente. Julgados, os réus – só para lembrar alguns, como Juiz Lalau e aqueles dos mensalões – estão em casa ou tra-balhando fora das grades que mereciam.

A obrigatoriedade do voto é uma estratégia do nosso sistema político para legitimar as eleições. O voto branco ou nulo são as únicas formas de resistência e recusa a tudo isso que aí está, é o que o cidadão tem nas mãos. Por isso, não é verdade que o eleitor seja desinformado. Ele sabe bem, por sua experiência de vida, por tudo que sofre na própria pele, que promessas vãs não significam sua representação de fato e de direito.

Atender à demanda de formação de novos doutores em Educação em instituições públicas de ensino, pes-quisa e extensão em regiões de fron-teira, distantes dos grandes centros produtores de conhecimento cientí-fico do país. Essa é a finalidade dos Programas de Doutorado Interins-titucional  (Dinter) que, a exemplo dos cursos de Mestrado Interins-titucional (Minter), utilizam-se da competência de programas de pós-graduação avaliados com nota igual ou superior a 5 e reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC) para viabilizar a formação de mestres e doutores nessas regiões fronteiriças.

Esse é o caso do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGED) da Faculdade de Educação (Faced) da UFU, que entregou à Coordena-ção de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em agosto de 2014, o relatório final do Douto-rado Interinstitucional em Educação da UFU, em parceria com a Universi-dade Federal do Amapá (Unifap).

A Unifap situa-se na cidade de Macapá, às margens do rio Amazo-

nas. Embora seja a capital do estado do Amapá e tenha uma população acima de 500 mil habitantes, em vir-tude de sua localização geográfica – é a única capital estadual brasileira que não possui interligação por rodovia com outras capitais –, apresenta di-ficuldades tanto para qualificar seu corpo docente quanto em contra-tar novos doutores para o seu qua-dro permanente. Entretanto, mesmo diante dos vários obstáculos, segun-do a coordenadora do Dinter UFU/Unifap, professora Silvana Malusá, 100% dos ingressantes no progra-ma obtiveram seu doutoramento em Educação sem uma desistência se-quer de seus professores e alunos, os quais, reafirma a docente, não medi-ram esforços para alcançarem seus objetivos.

“São inúmeras as dificuldades existentes no município: falta de di-álogo com o Estado frente ao pro-cesso de municipalização do ensino; dificuldade em habilitar projetos de construção de escolas e de transpor-tes frente às especificidades da Ama-zônia, que apresenta escolas sobre ilhas e áreas de rio. Ficam no esque-cimento, inclusive, no atendimento do transporte escolar fluvial e na for-ma de compra de produtos pelo pro-grama de agricultura familiar, dentre tantas outras dificuldades”, completa a coordenadora.

A história do ensino superior no Amapá é recente e, como aponta-do por Malusá, possivelmente essa é uma das explicações para a falta de pesquisas consideráveis sobre a te-mática no estado. “Antes da instala-ção da Unifap, primeira instituição de ensino superior do estado, ha-

via o chamado Núcleo de Educação em Macapá que, por meio de convê-nio com a Universidade Federal do Pará e o governo do Amapá, ofere-cia cursos modulares de licenciatura. Somente em 1991foi instalada a Uni-fap”, explica.

Desde a concepção até a conclu-são do Dinter/UFU/Unifap, aponta-do por Malusá como o maior projeto de extensão apoiado pela Faced/UFU, foram decisivas a dedicação e as con-tribuições especiais de sua primei-ra coordenadora, professora Selva Guimarães; do então coordenador do PPGED, professor Carlos Henri-

que de Carvalho; bem como do atual diretor da Faculdade de Educação, professor Marcelo Soares Pereira da Silva, e da atual coordenadora do PP-GED, professora Maria Vieira.

Dentre os resultados positivos do programa, destacam-se as pesquisas em diversas áreas e possibilidades de atuação acadêmica e administrativa dos novos doutores. “A titulação pos-sibilitou-me participar de editais uni-versais do CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico], assumir o cargo de di-retora da pós-graduação, coordenar tutoria em especialização à distância e participar como docente do curso de mestrado”, relata a autora da tese “Docência universitária: concepções de prática pedagógica da Educação Jurídica”, Helena Cristina Guimarães Queiroz.

“Com o término do Dinter, esta-mos todos conseguindo entregar, ao estado do Amapá, 14 novos doutores em Educação, contribuindo de for-ma importante para a construção de um ambiente de produção e difusão do conhecimento no campo da edu-cação”, finaliza a coordenadora do Dinter/UFU/Unifap.

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4 Jornal da UFU Jornal da UFU 5

EN

SIN

O

FAC

IP

Projeto da Escola de EducaçãoBásica recebe jovens e adultos

O sonho de Bernadete é se graduar em Paisagismo

Por uma EJA de qualidade

texto e foto Marco Cavalcanti

Bullying na escola:uma realidade a ser combatida

O cyberbullying é um tipo de bullying ampliado. É a prática realizada através da internet que busca humilhar e ridicu-larizar os alunos, professores e desconhecidos perante a sociedade virtual.

O termo bullying tem ori-

gem na palavra inglesa

bully, que significa valen-

tão, brigão. Mesmo sem

uma denominação em

português, é entendido

como ameaça, tirania,

opressão, intimidação,

humilhação e maltrato.

“Para mim,

o bullying é

uma brincadei-

ra sem graça,

depois vêm

as ameaças,

agressões,

xingamentos.”

Kalline

Aparecida

Franco, aluna

do 8º ano A

Projeto com alunos de escolas públicas é desenvolvido em Ituiutaba

texto Cairo Katrib

“O que eu entendo sobre

bullying? É um tipo de agres-

são que acontece de uma

pessoa para outra verbalmen-

te, que ocorre algumas vezes

pela aparência da pessoa (por

ela ser alta, magra, baixa, gor-

da, negra, branca etc.).”

Maria Clara Vieira Queiroz

Santos, aluna do 8º ano A

“O bullying começa nas mais inocentes

brincadeiras, mas se continuar fica cada

vez mais grave. Pode ter agressão verbal, mas, infeliz-

mente, parte para a agressão física.” Lídia Oliveira,aluna do 8º ano B

O curso de Serviço Social da Fa-culdade de Ciências Integradas do Pontal (Facip/UFU) desenvolveu, entre os anos de 2013 e 2014, um projeto de extensão com o objetivo de conscientizar alunos e professo-res das escolas públicas de Ituiuta-ba, no Pontal do Triângulo Mineiro, sobre as diversas facetas que masca-ram situações de discriminação no ambiente escolar. O projeto de in-tegração entre comunidade e uni-versidade, intitulado “PEIC 2013: Conhecendo o bullying na escola: por uma cultura da paz”, foi coorde-nado pelo professor Flander Almei-da Calixto e desenvolvido na Escola Estadual Coronel Tonico Franco pelas estudantes universitárias An-gelina Marcari Marques, Cibele da Silva Souza, Maria Cristina Silva, Natália Cristina Silva e Silvia Apa-recida Campos.

O êxito da proposta, de acor-do com o professor Flander Calix-to, se deu em função do empenho das graduandas e ao seu caráter so-cial, que contribuiu para a forma-ção dos acadêmicos, uma vez que todas as experiências fomentaram discussões em sala de aula sobre a temática Serviço Social e Educa-ção. “Os objetivos da intervenção se pautaram em levar para a escola uma reflexão acerca da competição negativa, que tem invadido o am-

biente escolar, se alastrado entre os alunos e que precisa ser combatida”, explica o professor.

A bolsista Natália comenta que “a participação nas atividades propi-ciaram um conhecimento mais apro-fundado do tema e o grande desafio foi, justamente, aproximar a teoria da prática, de forma que, metodologi-camente, pudessem levar aos alunos informações claras que viessem mo-dificar suas ações e o tratamento pe-jorativo em relação aos colegas”. Para Maria Cristina Gomes, estudante de Serviço Social, as ações engendradas permitiram a percepção positiva da diversidade e uma melhor compre-ensão sobre como lidar com ela, além do envolvimento dos alunos e sua mudança de atitude.

A cartilhaDurante o projeto foi desenvolvida

a cartilha “Conhecendo o bullying na escola”, com o intuito de auxiliar pro-fessores e alunos no combate a essas situações discriminatórias. O mate-rial traz informações sobre o que é o bullying e cyberbullying, como se pro-pagam no espaço escolar, quais são as principais razões que levam os jovens a se agredirem, como essas agressões inibem os vitimados, qual o papel da escola no combate a todos os tipos de discriminações, além depoimentos de alunos que participaram do projeto.

Para Angelina Marcari, bolsista, “a produção da cartilha é muito im-portante, porque permitirá aos pro-fessores ter um material de apoio nas suas aulas, além de trazer infor-mações sobre o tema, apresentando depoimentos de alunos que sofre-ram ou presenciaram situações de bullying na escola”.

Sobre o bullyingO termo bullying tem ganha-

do o cenário mundial nos últimos anos, em especial, para caracterizar situações de agressões intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneira repetitiva. Essa situação se encontra bastante presente nas escolas e, em tempos de acesso facilitado às tecno-logias, os celulares funcionam como disseminadores do cyberbullying, le-vando para além da sala de aula os xingamentos, as discriminações e todo tipo de violência.

Segundo o jornal O Estado de São Paulo, baseado em pesquisas reali-zadas em 2008 pela Universidade de Navarra, na Espanha, em parceria com a Fundação Telefônica, 8,4% dos 4.205 estudantes brasileiros de 6 a 18 anos afirmaram que já haviam usado o celular para ofender ou ridiculari-zar alguém. Tanto o bullying quanto o cyberbullying são praticados de for-ma descabida entre os jovens, dentro e fora da escola, tornando-se um fa-tor de preocupação entre educadores e pesquisadores. Esses tipos de situ-ações estão mais presentes em nosso meio do que imaginamos. Xingamen-tos, adjetivos pejorativos, coerção ou quaisquer outras formas de discrimi-nação são cotidianamente presencia-dos no ambiente escolar e fora dele.

Uma dívida republicana. É assim que a professora Sônia Maria dos Santos, da Faculdade de Pedagogia da UFU e doutora em Educação, de-fine a Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil.

O débito a que se refere diz res-peito a temas como qualificação dos professores, recursos financeiros, conteúdo desenvolvido nas salas de aula e tratamento dispensado aos alu-nos. “Desde a República que se pro-mete educação para todos. E nós não temos educação para todos”, afirma.

O relatório do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) sobre o Cen-

so Escolar de 2012 informa, utilizan-do dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que o número de brasileiros com mais de 18 anos que não frequentam a esco-la e não têm o ensino fundamental completo era de 56,2 milhões. Isso é mais do que o triplo de habitantes do Chile.

“A gente tinha que ter um olhar mais atento, porque é um contingen-te enorme que precisamos resgatar”, alerta Leila Floresta, docente vetera-na no projeto de educação dirigido a jovens e adultos da Escola de Edu-cação Básica (Eseba) da UFU. No seu entendimento, a EJA é o espaço para isso. “Desde que seja com pro-fessor qualificado, com um projeto de inclusão, para acolher esses alu-nos, coisa que muitas escolas públi-cas — claro que devido a um monte de problemas, que passa por salário, condições de trabalho etc. — não têm condições de fazer”, salienta.

Bernadete Ricci, de 60 anos, fez parte da estatística do IBGE e hoje ocupa uma das cerca das 95 vagas das

quatro turmas de EJA da Eseba. In-terrompeu os estudos para ajudar os pais e, depois, para se dedicar à cria-ção dos dois filhos: um médico e uma futura cientista social.

Incentivada pela família, já cur-sou três dos quatro semestres do ensino fundamental. “Nós fomos a acampamento de sem-terra para ver o que acontece lá, fomos a Brasília ter aula de política, fomos a Cascalho Rico [cidade do Triângulo Mineiro], fazer um estudo geográfico”, relata.

A meta agora é se matricular no curso Técnico em Meio Ambiente, oferecido pela Escola Técnica de Saú-de (Estes) da UFU, e, em seguida, fa-zer faculdade de Paisagismo. “Quero prosseguir, agora eu não paro mais de estudar”, diz Ricci.

A história de João Divino Sediná-rio, de 49 anos, é semelhante. A ne-cessidade de trabalhar o deixou 32 anos fora das salas de aula. Já aos 11 anos, época em que “não tinha nem sapatos”, carregava latas de mas-sa para ajudar o pai em canteiro de obras. “Chegou certo momento que

eu falei: ou foco no trabalho ou nos estudos”, lembra o hoje representante comercial.

Sedinário viu um filho se formar em Medicina, outro em Engenharia Mecânica e uma filha em Artes. “Avi-sei que quando eles caminhassem com as próprias pernas eu voltaria a estudar”, conta. Com o incentivo da esposa, formada em Ciências Contá-beis, está a caminho de realizar o so-nho de cursar Engenharia Civil. “Hoje estou preparado para isso”, afirma.

Responsável por lecionar a disci-plina EJA no curso de Pedagogia da UFU, Sônia Maria dos Santos cri-tica quem emprega o termo evasão, já que, segundo ela, ninguém sai da escola porque quer e por livre cons-ciência. “Os nossos processos é que excluem as pessoas de estudarem. Por exemplo: a forma como eu te olho, como te trato, como te avalio, como trato o conhecimento, o material que trago para trabalhar com você... isso tudo é um conjunto que me permite trazer você para a sala ou excluir você da sala”, explica a docente.

CIANO MAGENTA AMARELO PRETO cad 3 frente PINÇA deste lAdo

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6 Jornal da UFU Jornal da UFU 7

CO

MU

NIC

ÃO

texto Diélen Borgesarquivo Biblioteca Santa Mônica

Jornal da UFU comemora 20 anos

Páginas contam história da universidade

A Pró-reitoria de Extensão, Cultura e

Assuntos Estudantis (Proex) desenvolveu, no ano passado, 1.007 ações de extensão. Nes-

te ano, a UFU foi a instituição da região Sudeste que mais aprovou

projetos no Programa de Extensão Universitária (ProExt) do Minis-

tério da Educação, ficando em 3º lugar no ranking

nacional.

Os eventos atuais são divul-gados no portal comunica.ufu.br.

Além dos ra-mais, hoje os campi

contam com internet a cabo e wi-fi e comunica-ção via videoconferên-cia. Mais informações:

(34) 3239-4053.

O atual Jor-nal da UFU tem

uma seção destina-da a artigos de opi-nião de docentes, técnicos e outros colaboradores.

Atualmente, o Programa de Pós-

graduação em Engenha-ria Mecânica da UFU tem

conceito máximo, nota 7, na avaliação da Coordenação

de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Supe-

rior (Capes).

Hoje o He-mocentro Regio-nal de Uberlândia

atende cerca de 2.100 doadores por mês e conta com 111

funcionários.

Em 1994 foi criada a Habilitação em Artes Cênicas do

Curso Educação Artística. Em 2005 foi encaminha-

do e aprovado o processo de desmembramento que

deu origem ao Curso de Graduação em

Teatro.

1994 a 2014

O primeiro Jornal da UFU foi publicado em

setembro de 1994

“Mecânica tem Doutorado úni-co em MG” (1994); “Cai a evasão e UFU melhora o seu desempenho geral” (1999); “Núcleo da Educação Física é destaque nacional” (2001); “Centro de incubadora de empre-sas é construído no Campus Santa Mônica” (2003); “Equipes do HCU e da FMTM realizam implante de marca-passo, com sucesso” (2005); “Alunos UFU ganham Centros de Convivência” (2006); “Intercâmbio: Alunos estrangeiros buscam forma-ção na UFU” (2009); “Expansão da Universidade para Patos de Minas e Monte Carmelo deve gerar oportu-nidades” (2010); “Sinal verde para o novo campus: Fazenda do Glória irá se transformar em cidade uni-versitária sob o viés da sustentabi-lidade” (2011); “Pesquisa: Estudo aponta desperdício de alimentos no RU” (2013); “Você se sente seguro (e livre) na universidade? UFU debate presença da PM nos campi” (2014).

Essas são algumas informações pautadas nos últimos 20 anos no Jor-nal da UFU, criado em setembro de 1994. O veículo impresso da Direto-ria de Comunicação Social tem como objetivo divulgar o que tem sido feito na universidade nas áreas de ensino, pesquisa e extensão, além de conte-údos de interesse de estudantes, do-centes e técnicos.

AntecessoresNa década de 1980, as notícias re-

ferentes à UFU eram publicadas em jornais murais. “Era bem rudimen-tar, porque nós não tínhamos nem computador. Nós fazíamos notas curtas de tudo que ia acontecer e des-cobertas na área da ciência”, relembra Mari Toledo, jornalista que trabalhou na UFU de 1987 a 2003.

Em 1991 foi lançado o impresso Informe-se, que circulou até o fim de 1992. Outro informativo foi ´publi-cado em 1993 até meados de 1994, o Viva UFU. Ambos tinham, em mé-dia, 12 páginas, impressas em preto e branco. Predominavam os textos curtos, de meia página, e havia pou-cas imagens.

Na Biblioteca do Campus Santa Mônica há exemplares dessas publica-ções antigas, nas quais encontramos manchetes como “Governo divulga tabelas salariais para julho” (1991), “MEC determina jornada de 8 ho-ras diárias” (1992); “Direito inaugura novo prédio” (1992); “O voto renova a UFU” (1993); “Congelada a taxa de matrícula; restaurantes universitários perderão subsídio” (1993); “Genéti-ca: Excelência da pesquisa chega ao mestrado” (1994) e “Fórum discute o novo vestibular” (1994).

MudançasA Assessoria de Comunicação

Social funcionava, até essa época, no prédio da antiga Reitoria, na Avenida Engenheiro Diniz. Mari Toledo rela-ta que, “quando o professor Nestor [Barbosa de Andrade] assumiu a rei-toria [novembro de 1992] veio com

ele o José Maria Toledo e a Rosângela Ribeiro. Ela era formada em Jornalis-mo e ele era um intelectual. Foi quan-do nós nos mudamos para o bloco 1S [Campus Santa Mônica]”. Nesse blo-co estão, até hoje, a assessoria de co-municação da UFU, a rádio e a TV Universitária.

Após as mudanças na nova equi-pe gestora, foi lançado, em setembro de 1994, o Jornal da UFU, com jorna-lismo mais abrangente que os antigos informativos. “Infelizmente, quando soltamos o primeiro Jornal da UFU, o José Maria [então diretor de comu-nicação] sofreu um acidente e mor-reu. Ele nem chegou a ver. Depois, quem assumiu o lugar dele foi a Ro-sângela”, recorda Mari.

A edição número zero, que com-pleta 20 anos neste mês, destacou os 43 projetos de extensão aprovados para o segundo semestre de 1994, a implantação do sistema de Discagem Direta a Ramal (DDR) no Campus Umuarama e o III Encontro de Ini-ciação Científica ocorrido na UFU. Também foi notícia o início do curso de Doutorado em Engenharia Mecâ-nica, a oferta de bolsas de estudo no Canadá, a possível realização de ves-tibulares anuais, a falta de sangue no Hemocentro Regional de Uberlân-dia, entre outras informações.

O Jornal da UFU da década de 1990 manteve os textos curtos dos veículos que o antecederam, mas ganhou mais imagens. A capa e a contracapa passaram a ser colori-das. Os títulos eram escritos em di-ferentes famílias tipográficas, sem padronização.

Algumas mudanças ocorreram ainda nos primeiros anos. “Nós fize-mos uma pesquisa de opinião junto à comunidade universitária nos três segmentos [estudantes, professores e técnicos] para aferir o índice de leitura do jornal. Então, nós mudamos a cara do jornal, em detrimento da deman-da que a comunidade tinha, para um jornal mais leve e com mais conteúdo”, afirma o jornalista Márcio Alvaren-ga, atualmente na Rádio Universitária FM, que foi diretor de comunicação da UFU entre 1996 e 2000. ▶

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8 Jornal da UFU Jornal da UFU 9

O que saber antes de votar?

PO

LÍT

ICA

Eleições 2014

texto Jussara Coelhofotos Milton Santos

Até 1992, as notícias da

UFU eram divulgadas no Informe-se. Em

1993, foi lançado o Viva UFU. Desde 1994, o informativo oficial é o

Jornal da UFU.

1991

1993

1999 2005

2007

20092011

2014

Segundo Alvarenga, no final dos anos 1990, o jornal começou a ser dis-tribuído fora da universidade: a princí-pio, em alguns pontos de Uberlândia, como bancas e rodoviária; posterior-mente, enviado para outras instituições. “Uma vez eu fui entrevistar o ministro da educação Paulo Renato Souza, do governo FHC, e ele virou para mim e falou: ‘muito bom o jornal de vocês, todo mês eu recebo aqui e leio’”.

A publicação pouco mudou no iní-cio dos anos 2000. A partir de 2006 até 2011, os formatos variaram, mas man-teve-se a linha editorial, com o objeti-vo principal de divulgar informações sobre o que acontece na universidade.

O jornal de hojeO projeto gráfico do atual Jornal

da UFU foi feito em 2012, pela jor-nalista Elisa Chueiri. “Resolvi pro-por algo mais próximo de revista, por ser uma publicação mensal sobre temas menos factuais. Quis imple-

mentar um pouco de leveza por meio de muitos brancos de página, elimi-nação de fios e escolhas tipográficas mais modernas”, explica.

Hoje, o conteúdo jornalísti-co factual, de relevância imediata, é publicado na internet, no portal comunica.ufu.br. Para o jornal são produzidas reportagens longas, com uma, duas até quatro páginas. Algu-mas edições do Jornal da UFU apre-sentam 12 páginas; outras chegam a 16. “A publicação assumiu uma nova roupagem, abrindo espaço também para publicação de artigos de opi-nião, definidos durante as reuniões de pauta, que acontecem mensal-mente”, revela Eliane Moreira, edito-ra do jornal.

Os assuntos frequentemente pau-tados são os projetos de ensino, pes-quisa e extensão desenvolvidos na universidade, além de atualidades que requerem aprofundamento na abordagem, como políticas de as-

sistência estudantil, segurança no campus, obras nos campi e mar-cos históricos. Há ainda seções com perfis de personalidades da insti-tuição, lançamentos da Editora da UFU (Edufu) e artigos de opinião de colaboradores.

Um jornal produzido no âmbito da universidade tem particularida-des. “Eu acho importante pelo fato de que, às vezes, você vê uma en-trevista na televisão ou ouve numa emissora de rádio, mas você não vê o todo que a universidade produz”, opina Mari Toledo.

“O jornal tem que ser uma cai-xa de ressonância da instituição”, defende Márcio Alvarenga. É uma forma de se defender por meio da informação. O jornalista alerta: “o problema de um jornal produzido dentro da universidade é que você tem que tomar um cuidado mui-to grande para ele não ficar conta-minado pela linguagem acadêmica,

senão, ele vai ter uma sobrevida in-terna, mas não vai conseguir sobre-viver fora dos muros da instituição”.

A atual diretora de comunica-ção, professora Maria Clara Tomaz Machado, destaca a retomada da pe-riodicidade mensal desde 2013 e a identificação com ISSN (Internatio-nal Standard Serial Number), código numérico para cada título de publi-cação em série, definido pela norma ISO 3297: 2007.

“Privilegiamos datas políticas, históricas e sociais importantes, tais como o dia do combate à homofo-bia, do cinema nacional e aniversário da abolição da escravatura. Discuti-mos também, de modo mais apro-fundado, questões relevantes para a UFU, como a violência e a segurança no campus”, explica Maria Clara. “O jornal não só atualiza informações como serve de princípio de discus-sões em sala de aula e na UFU como um todo”, opina a diretora. Urnas no

TRE de Uberlândia

Em ano eleitoral, além de saber em que candidato votar, existem outras questões de igual importância durante o período. Somos 142.467.862 eleito-res no Brasil e 462.813 em Uberlândia. Aqueles que estão fora de suas cidades podem utilizar o recurso do “voto em trânsito”, que permite que quem está fora do domicílio eleitoral esteja ha-bilitado a votar em outra cidade, so-mente para o cargo de presidente da República. Para garantir o direito, é necessário se cadastrar pelo site do Tribunal Regional Eleitoral (TRE). A seção destinada ao voto em trânsito deverá conter no mínimo 50 e no má-

ximo 600 votantes. Outra opção para os que estão fora de suas cidades é ex-plicar a ausência. Nesse caso, é neces-sário ir a qualquer seção eleitoral no dia da votação, das 8h às 17h. Passa-do esse prazo, é necessário se justificar diretamente com o juiz eleitoral.

Outro tema que causa muitas dú-vidas são os votos nulos e brancos. Consta no glossário do Tribunal Su-perior Eleitoral (TSE) que “é consi-derado voto nulo quando o eleitor manifesta sua vontade de anular, di-gitando na urna eletrônica um nú-mero que não seja correspondente a nenhum candidato, ou partido polí-tico oficialmente registrados. O voto nulo é apenas registrado para fins de estatísticas e não é computado como voto válido, ou seja, não vai para ne-nhum candidato, partido político ou coligação”. E voto em branco, ainda segundo o dicionário, é “aquele em que o eleitor não manifesta preferên-cia por nenhum dos candidatos”.

Cristiano Mindim, servidor da Justiça Eleitoral de Uberlândia, es-clarece que ambos são desconsidera-dos na hora da contagem dos votos e servem apenas para as estatísticas. “É uma falácia criada com o passar do tempo. Se mais de 50% do eleitora-do do país votar nulo, a eleição não é anulada; se pelo menos um eleitor votar em alguém, essa pessoa que re-cebeu esse um voto é eleita”, explica Mindim. A única anulação existente é a prevista no artigo 224 do Código Eleitoral, decorrente da constatação de fraude nas eleições. Nesse caso, se o candidato cassado obteve mais da metade dos votos, será necessária a realização de novas eleições.

A Justiça Eleitoral, em 2012, edi-tou a Resolução 23.381, que trata da questão da acessibilidade. Nela são determinadas ações para inserir elei-tores que necessitam de atenção di-ferenciada. Mindim esclarece que, em Uberlândia, os funcionários do

TRE procuram indicar seções que sejam mais acessíveis e com estacio-namento, observando, na montagem da urna, o local onde a fiação elétri-ca passará para não causar acidentes. O servidor assegura, ainda, que os mesários recebem treinamento para atender esse público. Para ser alocado nas seções com maior acessibilidade, é necessário procurar o cartório elei-toral e se cadastrar.

Sobre a população e a políticaSegundo Alice Souza, procurado-

ra-chefe da Câmara dos Vereadores e professora do curso de Direito da UFU, a primeira observação a ser fei-ta é a diferença entre o envolvimen-to da população quando as eleições são municipais e quando não são. Ela evidencia que nas municipais existe maior envolvimento do povo, pelo fato de os candidatos serem, em sua maioria, da mesma região dos eleitores. ▶

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Cartaz criado nos anos 1940 por J. Howard Miller para a Westinghouse; conhecido como “Rosie the Riveter”, converteu-se num símbolo para as mulheres que assumiram postos de trabalho em substituição aos homens que serviam às forças armadas americanas

NO PAÍS DAS CONTRADIÇõES

Por que há tantas eleitoras e poucas candidatas?

texto Renata Neiva

Cristiano Mindim esclarece polêmica do voto nulo

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Para a procuradora, essa atitude é ruim, pois a população deveria se envolver mais e conhecer melhor os candidatos, suas propostas e as ideo-logias dos partidos. “Os eleitores não sabem sobre os votos proporcionais em que os mandatos pertencem aos partidos e não aos candidatos e con-tinuam personificando sua escolha, sem nem saber a que partido perten-cem. Se o representante em questão sai, renuncia ou morre, a vaga não vai

com ele, continua com o partido. O problema é que as pessoas não se im-portam”, ressalta Souza. 

O especialista em comunicação e marketing político-eleitoral Leandro Groppo afirma que o sistema político do país é uma das razões do pouco envolvimento da população. Para ele, um dos problemas é que os partidos, atualmente, não possuem ideolo-gias e, se as possuem, não as seguem. Hoje, no Brasil, partido é apenas uma

legenda, opina. “O candidato se filia por ser uma determinação eleitoral para concorrer ao pleito e não pelas ideias. Chegamos a um momento em que o partido vale muito pouco ou quase nada, por isso, o eleitor vota em pessoas e não em partidos”, acres-centa Groppo.

A professora salienta que os gran-des problemas da política brasileira são a falta de conhecimento e o de-sinteresse. Ela explica que existe uma

parcela considerável da população que não sabe da situação política de sua região e país, por não ter a oportu-nidade de obter o conhecimento sobre o assunto, mas que outra parcela tão grande quanto essa poderia se infor-mar, porém, não se interessa. “O povo vive muito alheio, muito à margem da vida política nacional, o que é um erro, pois, depois, de todo jeito, alguém vai vencer. Você acompanhando ou não, alguém vai ocupar os cargos. Quando

as pessoas se omitem, criam uma situ-ação que piora o nível dos candidatos”, explica a procuradora.

Para Groppo, existe outra pers-pectiva para a falta de participação: há um processo que vem acontecen-do, não somente no Brasil, mas no mundo inteiro, que é a descrença na representatividade que, segundo ele, às vezes pode ser confundida com o desinteresse. O comunicólogo ale-ga que o voto representativo e a de-mocracia representativa estão caindo em descrença, pelo fato de o repre-sentado não se sentir retratado por aqueles que estão governando. Gro-ppo explica que esse movimento tem como causas os escândalos políticos e a questão da educação política.

Exemplificando a falta de interes-se dos brasileiros em participar da

vida política, a procuradora cita: “Nas reuniões do orçamento participati-vo, quantas pessoas vêm nas plená-rias? No âmbito do município têm os conselhos, como os conselhos de saú-de, de ação social, do idoso, da crian-ça. Quantas pessoas da comunidade têm o interesse de participar? Temos dificuldade de compor estes órgãos representativos da sociedade civil, porque são funções beneméritas, não são remuneradas. Eu vejo também, aqui na Câmara, reuniões ordinárias com plenária aberta e é muito difícil virem pessoas para assistir às vota-ções, assistir o que está sendo votado, qual o projeto. A participação é muito pequena e sempre foi”.

Em contraponto, o comunicó-logo certifica que, para conseguir maior participação dos cidadãos, é necessário demonstrar que os as-suntos votados e decididos nos con-selhos realmente irão acontecer. “Se tiver uma reunião do Conselho de Saúde do bairro Morumbi, por exemplo, normalmente vão apare-cer pessoas ligadas a políticos para ver o que está acontecendo e quem está envolvido diretamente, como o diretor de pronto-atendimento, fun-cionários de UAI [Unidade de Aten-dimento Integrado], pois a maioria não vê aquilo como algo que vá ren-der alguma coisa, porque não se re-solve nada. Faltam objetividade e efetividade nos conselhos das cida-des”, declara Groppo.

A procuradora ressalta que é pre-ciso mudar toda a cultura da comu-nidade para uma mais participativa, começando pelas crianças nas esco-las. Ela afirma que deveria haver um estímulo desde o começo da forma-ção escolar para que todos tivessem um conhecimento voltado para esse tipo de informação, mas não é isso que observamos. Para o comunicó-logo, falta algo na escola para mos-trar para a criança, o adolescente e o adulto a importância da política no dia a dia. Ele evidencia, ainda, que não existe um projeto para provocar esse tipo de participação e conheci-mento.  “Um aumento de participa-ção política vem da educação e de uma reforma no sistema político e não somente reforma no sistema po-lítico eleitoral”, conclui Groppo.

Elas são a maioria da população, têm maior nível de escolaridade e representam o maior número dos eleitores – aproximadamen-te 52%. Em outubro, 74,5 milhões de mulhe-res estão aptas a votar, mas poucas ocupam cargos políticos. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de um total de 188 países, o Brasil está em 156º lugar no ranking de repre-sentação feminina nos parlamentos.

No Congresso Nacional, apenas 9% das cadeiras são ocupadas por mulheres, apesar da chamada Lei das Eleições (nº 9.504/1997) determinar que cada partido ou coligação des-tine uma quantidade mínima de 30% para cada gênero na disputa por cargos proporcio-nais para deputados federais, estaduais e dis-tritais e para vereadores. Em 2014, o cenário não é diferente. A média geral das candidatu-ras, considerando todos os cargos, é de três mulheres a cada 10 concorrentes.

A situação que mais chama a atenção re-fere-se ao cargo de governador. Para cada 10 candidatos, apenas um é do sexo femini-

no. Do total de 11 concorrentes à presidência da República, há três mulheres - Dilma Rous-sef (PT), Luciana Genro (PSOL) e Marina Sil-va (PSB), que só assumiu a cabeça de chapa após a tragédia que resultou na morte de Edu-ardo Campos. Na competição para o Senado, o percentual chega a 19%.

Por que, apesar de ser a maioria do eleito-rado, a mulher ainda se interessa pouco pela participação na disputa política? Para Patrí-cia Trópia, professora do Departamento de Ciências Sociais da UFU, o quadro espelha a situação de desigualdade que elas vivem eco-nômica e socialmente. Patrícia destaca como uma das razões para esse cenário a persistên-cia de uma cultura patriarcal que associa os homens à esfera política e as mulheres ao es-paço doméstico e privado.

A professora lembra que são elas que ain-da enfrentam uma sobrecarga de tarefas em casa, além das jornadas de trabalho e de es-tudo. “Há também a desvalorização da parti-cipação e da atuação política das mulheres, resultante do machismo existente no interior dos partidos e demais organizações e a inexis-tência ou a subestimação de reivindicações e pautas específicas nos programas partidários”, explica. Patrícia Trópia ressalta uma propos-ta de reforma política e eleitoral que estabe-lece cotas em igual número entre homens e mulheres. O projeto está sendo discutido pelo “Programa Mais Mulheres na Política” da Se-cretaria de Políticas para as Mulheres.

UberlândiaA cientista social Alecilda Oliveira, recém–

formada na UFU, apresentou como monogra-fia de conclusão de curso um estudo sobre a sub-representação feminina na Câmara Mu-nicipal de Uberlândia. Ela analisou o cenário uberlandense antes e após a aprovação da Lei 9.504/97, no período de 1988 a 2008. Alecilda constatou que as candidaturas femininas não atingem nem mesmo um terço do total. “A mé-dia de eleitas para a Câmara Municipal tende a ser de apenas duas mulheres”, aponta.

Para Alecilda, “a representatividade femi-nina na Câmara de Uberlândia é um reflexo do que acontece no resto do País e, em al-guns casos, em outras partes do mundo”. Ela acredita que a política de cotas aprovada pelo Congresso Nacional significou um avan-ço importante no que diz respeito à participa-ção política de mulheres, pois “a iniciativa deu abertura para que o problema da ausência de mulheres nos espaços institucionais entrasse para a pauta do dia”.

A cientista social acredita, no entanto, que as limitações estão ligadas a uma confluência de fatores. Ao analisar os processos eleitorais, ela observa que vários aspectos vinculados ao sistema eleitoral e aos contextos culturais e socioeconômicos são responsáveis pelo en-trave à participação política feminina no Brasil. Entre as razões para o baixo número de can-didaturas e, com isso, para o descumprimento da lei de cotas, Alecilda aponta o fato de que a política ainda é considerada um espaço mas-culinizado. Segundo a cientista social, as mu-lheres encontram dificuldades em conseguir

apoio financeiro para seguir adiante com uma candidatura.

Outra explicação comumente apresentada são as dificuldades que as mulheres encon-tram para administrar as tarefas que exercem e conciliá-las com a atuação na esfera políti-ca. Além disso, assegura Alecilda, entre os principais problemas relacionados à lei, espe-cificamente, está o fato de que as cotas são asseguradas para as candidaturas e não para as cadeiras no espaço institucional. Outro pro-blema relacionado à lei é a sua aplicação e o fato de que não estão previstas sanções para o seu descumprimento. “Desde que foi apro-vada, os partidos políticos vêm mostrando dificuldade no seu cumprimento, estes vêm preenchendo, na maioria das vezes, os luga-res destinados às mulheres com candidaturas masculinas, sem sofrer punições sérias por isso”, assegura.

Atualmente, mestranda em Ciências So-ciais, também na UFU, Alecilda Oliveira lembra que as mulheres conquistaram o direito ao voto em 1932 e apenas em 2010 elegeram uma mu-lher ao cargo mais importante da política bra-sileira, a Presidência da República. “A política não foi pensada para garantir a presença das mulheres. Gosto de citar sempre alguns fatos simples, mas que simbolicamente dizem mui-to: até pouco tempo não havia flexão de gênero para as deputadas. Nas portas dos gabinetes, havia placas que diziam ‘Deputado Maria’. Mui-tos documentos expedidos por órgãos públicos ainda não fazem essa distinção. Parece bobei-ra, mas isso é uma construção ideológica para invisibilizar as mulheres”, conclui.

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Ter cautela com o quê e como dizer as coisas não é ser “politicamente correto”. É respeitar a integridade humana

texto Isley Borgesilustração Curió(Rhayani Paschoalim)

A minha liberdade e a opressão do outro

Parece ser difícil compreender o motivo de não podermos chamar um negro de “macaco”, ou um homosse-xual de “bichinha”, expressões racistas e machistas que visam a desmoralizar sujeitos para, após, tentar desqualifi-cá-los. Mais complicado ainda se não estamos habituados ao exercício da al-teridade. Quando não nos colocamos no lugar do outro, abrimos brecha para com ele sermos insensíveis, desprovi-dos de humanidade. Tentar auscultar o que o “outro” diz é de extrema im-portância, pois não há ninguém me-lhor do que ele para nos contar quais as expressões que mais o incomodam, o deixam humilhado e se sentindo, de alguma maneira, violentado em sua dignidade e humanidade feridas.

A tentativa de compreensão do ou-tro tem sido referenciada por alguns como o cerceamento da liberdade de expressão. Como se estivéssemos vi-vendo em um mundo onde precisa-mos ser cautelosos a todo instante com o quê dizemos. E realmente ne-cessitamos desse cuidado, que não tem relação com cerceamento de li-berdades: respeitar a diversidade e a pluralidade que nos interpelam no co-tidiano não é um insulto, e sim, um ul-traje à ignorância e à desinformação.

Como perguntou Michel Foucault: “como apareceu um determinado enunciado, e não outro em seu lugar?”. Por que dizer que uma mulher merece ser estuprada quando as suas variáveis estéticas não respondem ao arquétipo de beleza panfletado pela mídia he-gemônica? Por que escolher para de-signá-la expressões de último gosto,

como “baranga” ou “bruxa”? Afinal, os protótipos de boniteza variam de acor-do com a cultura na qual estamos mer-gulhados e a escolha de determinadas expressões que visam a classificar os indivíduos pode ser apavorante, uma vez que as palavras carregam consigo mesmas sentidos diversos. Elas podem oprimir, humilhar e violentar grupos já maculados pela ordem social, posto que, na maioria das vezes, não encon-tram lugar para fazerem soar as suas angústias e opiniões.

A bandeira da liberdade de ex-pressão, definitivamente, não pode ser hasteada para justificar qualquer truculência verbal. Não se trata, cabe salientar, de nos tornarmos “politi-camente corretos”. Aliás, essa expres-são emergiu da direita estadunidense como crítica à luta das minorias so-ciais, no contexto da década de 1960. Vale, ademais, uma reflexão: os que condenam o “politicamente correto” na atualidade não são os mesmos da-quela época, que relegavam ao campo da dúvida a necessidade das lutas dos socialmente oprimidos? Parece-me que quem fala e o lugar de onde se fala permanecem os mesmos, estáticos, corroborando não para a resistência ou transformação social, mas para a manutenção do status quo.

O nosso discurso, portanto, não é uma atividade puramente individual ou reflexo de variantes situacionais. Ele é o uso da linguagem como prática so-cial. Afirmar isso significa compreen-der que podemos agir socialmente por meio do discurso, pelo que dizemos e, também, pelo que não dizemos. Con-tribuindo para a construção de todas as dimensões da estrutura social, nela o discurso age direta ou indiretamen-te, estabelecendo suas próprias nor-mas, convenções, identidades, relações e instituições que lhe são subjacentes. E se todos fossem conscientes disso, dessa teia ideológica que aprisiona sig-nos, palavras, expressões aos quais fa-zemos uso corriqueiramente? Será que ainda falaríamos em patrulha do “po-liticamente correto” ou reclamaríamos o direito à liberdade irrestrita de nos expressar? Acredito que não.

Quem combate diária e organica-mente as desigualdades já compreen-deu que o discurso é mais um campo de batalha de uma guerra, em que não contamos com a adesão dos grandes conglomerados midiáticos tupiniquins, claro. Eles são os nossos adversários.