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A Galeria Vermelho apresenta, de 31 de março a 25 de abril de 2015, individuais da dupla Gisela Motta e Leandro Lima, e de Ana Maria Tavares. Além disso, como parte da programação ligada a SPArte, a Vermelho abriga um conjunto de performances selecionadas em uma parceria da Mostra de Performance Arte VERBO, organizada pela Vermelho desde 2005, com o Centro Universitário Belas Artes. Gisela Motta e Leandro Lima Chora-Chuva Em Chora-Chuva, Gisela Motta e Leandro Lima seguem com sua investigação a respeito da relação do homem com seu entorno. A partir da constatação de uma crise ambiental global, a dupla toca em pontos pertinentes da discussão atual sobre problemas no gerenciamento de recursos. Estão presentes trabalhos que falam do desuso sempre rápido de meios e mídias em detrimento de técnicas mais avançadas e sobre qual o resultado dessas operações. Chora-Chuva, 2014 Na instalação que dá nome à exposição, Chora-Chuva, de 2014, 16 baldes de plástico com água são posicionados sobre mesas como que para conter goteiras que invadem o espaço expositivo. Sob esses baldes foram instaladas caixas de som que ao emitirem sinais e impulsos provocam vibrações na água, emulando gotejar sobre sua superfície. O Trabalho idealizado para a última Bienal de Vancouver, ganha novos significados quando inserido em um contexto de crise de abastecimento de água na maior metrópole do país, chamando atenção para a necessária reflexão de toda a sociedade sobre esse problema. Motta e Lima chamam atenção para um conflito que atinge sua tensão máxima e deve ser resolvido. Chora-Chuva (detalhe), 2014 A água também está presente nas pinturas da série Terrenos, de 2015. Nesses trabalhos, desenhos gerados com tinta enamel (a mesma utilizada para pintar miniaturas de veículos militares) remetem a padrões de camuflagem. Na técnica

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A Galeria Vermelho apresenta, de 31 de março a 25 de abril de 2015, individuais da dupla Gisela Motta e Leandro Lima, e de Ana Maria Tavares. Além disso, como parte da programação ligada a SPArte, a Vermelho abriga um conjunto de performances selecionadas em uma parceria da Mostra de Performance Arte VERBO, organizada pela Vermelho desde 2005, com o Centro Universitário Belas Artes. Gisela Motta e Leandro Lima Chora-Chuva Em Chora-Chuva, Gisela Motta e Leandro Lima seguem com sua investigação a respeito da relação do homem com seu entorno. A partir da constatação de uma crise ambiental global, a dupla toca em pontos pertinentes da discussão atual sobre problemas no gerenciamento de recursos. Estão presentes trabalhos que falam do desuso sempre rápido de meios e mídias em detrimento de técnicas mais avançadas e sobre qual o resultado dessas operações.

Chora-Chuva, 2014

Na instalação que dá nome à exposição, Chora-Chuva, de 2014, 16 baldes de plástico com água são posicionados sobre mesas como que para conter goteiras que invadem o espaço expositivo. Sob esses baldes foram instaladas caixas de som que ao emitirem sinais e impulsos provocam vibrações na água, emulando gotejar sobre sua superfície. O Trabalho idealizado para a última Bienal de Vancouver, ganha novos significados quando inserido em um contexto de crise de abastecimento de água na maior metrópole do país, chamando atenção para a necessária reflexão de toda a sociedade sobre esse problema. Motta e Lima chamam atenção para um conflito que atinge sua tensão máxima e deve ser resolvido.

Chora-Chuva (detalhe), 2014

A água também está presente nas pinturas da série Terrenos, de 2015. Nesses trabalhos, desenhos gerados com tinta enamel (a mesma utilizada para pintar miniaturas de veículos militares) remetem a padrões de camuflagem. Na técnica

chamada Ebru, a tinta é depositada sobre água e o próprio movimento da água tingida é transferido para o suporte. As pinturas remetem a visões de regiões da América Latina vistas por satélites (representadas em seus esquemas de cores). As peças da série Terrenos foram construídas com base nos jogos de Tangram. Esse ponto reforça a ideia da camuflagem como desenvolvimento do raciocínio lógico na analise e distinção de suas formas. Com o uso referente a esse tipo de padronagem, os artistas também apontam para as regiões representadas como zonas de conflito, ou como zonas que, por alguma razão, vêm (ou devem ver) o outro como inimigo. Atacama, Tapajós e São Paulo são algumas das localidades representadas na série.

Terreno, Uiramutã, 2015

Outro trabalho ligado às paisagens urbanas e naturais é Relâmpago, de 2015. Os artistas criaram um relâmpago feito com lâmpadas tubulares do tipo activiva. Segundo o fabricante, esse tipo de lâmpada promove o bem estar e a produtividade do ser humano, além de estimular a fotossíntese. Fica evidente a observação dos artistas a respeito da dependência do homem da energia elétrica para seu bom funcionamento, ao menos em perímetros urbanos. É importante, no entanto, investigarmos outros aspectos da simbologia ligada aos relâmpagos: teorias científicas apontam que descargas elétricas possam ter sido fundamentais no surgimento da vida. Na história humana, foi possivelmente a primeira fonte de fogo, fundamental no processo da evolução. De um modo geral, o raio representa um poder ao mesmo tempo criador e destruidor, seja observando por um ponto de vista científico ou mitológico. É simultaneamente a vida e a morte; uma síntese da atividade celeste e suas ações transformadoras.

Relâmpago (projeto), 2015

Essas relações dicotômicas aparecem em outros trabalhos da mostra como em Beija-Flor, 2013. Na peça, dois tripés sustentam uma traquitana que rotaciona hélices de formatos irregulares e sobre elas é projetada a imagem de um beija-flor. A imagem desse pássaro - que vive apenas nas Américas - se forma numa superfície transparente, como uma holografia. As hélices fragmentam a projeção originalmente branca e sua cor percorre todas as cores do espectro em movimento decorrente da insuficiência da frequência de projeção. É como se dessa insuficiência surgisse essa imagem oriunda do reino animal. É o natural que emerge a partir da insuficiência do aparato eletrônico.

Beija-Flor (detalhe), 2013

A insuficiência das mídias também está presente no vídeo Horizonte, de 2015. Na obra, cordas de um violão formam ondas de dimensões e comprimento distintos a partir da incapacidade – ou incompatibilidade – da câmera de vídeo em captar as vibrações geradas pelo instrumento de cordas.

Horizonte (still do vídeo), 2015

Em Bugado, de 2014, a luz original de um monitor foi removida, deixando apenas a parte frontal, transparente, do equipamento. Por trás dessa tela, os artistas instalaram uma lâmpada fria do tipo econômico. Como o monitor segue funcionando sem a luz original, a lâmpada adicionada permite ver a imagem que é transmitida para o equipamento. O que se vê então são moscas que parecem circular ao redor da luz emitida pela instalação. A impressão que se tem é a de um vestígio de uma cultura material. É, porém, o que sobra em funcionamento nessa ruína, que nos faz ver a natureza ao seu redor, no caso, a imagem das moscas que circundam o objeto.

Bugado, 2014

Finalmente, em Deposição, de 2013, o desuso aparece na forma da acumulação de enciclopédias impressas que, cortadas como desenhos topográficos aparentam serem estalagmites. Fazem referência, portanto, a uma sedimentação de materiais que se desprenderam de seu contexto original e passaram a estruturar uma forma composta por resíduos.

Deposição, 2013

Sinfonia Tropical para Loos Ana Maria Tavares Em 1927, o arquiteto modernista checo Adolf Loos (1870 –1933) desenvolveu um projeto nunca realizado para a residência da cantora e bailarina afro-americana Josephine Baker (1906 –1975). O projeto partia de uma reforma rigorosa sobre duas casas existentes em uma esquina da Avenue Bugeaud, em Paris. A residência, que seria adornada em seu exterior por listras horizontais de mármore branco e preto, teria janelas fundas e pequenas para propiciar privacidade a sua ilustre moradora e para, como apreciava Loos, manter a atenção no interior da construção. No centro do prédio, estaria uma piscina que rasgaria dois andares da edificação, tendo janelas em seu andar inferior que propiciariam aos convidados da artista observar seu corpo rompendo as águas. A fachada e a piscina planejadas para a composição atestariam a obsessão da arquitetura modernista por superfícies.

Projeto da Casa Baker

Na individual Sinfonia Tropical para Loos, Ana Maria Tavares procura um caminho inverso ao da superfície. Na instalação Parede para Loos, a artista traz a fachada da Casa Baker para o interior do espaço. Tavares circunda todas as paredes do espaço expositivo com as listras características do projeto original, sobrepondo-as com uma projeção que leva o espectador de fora para dentro da casa. No vídeo, a câmera se move pela fachada do prédio e por suas janelas opacas até que essas se dissolvam em uma visão de natureza tropical. Esse jogo entre o natural e a reguladora arquitetura modernista se repete até mergulhar o espectador na piscina do centro da casa de Loos. Vemo-nos então encapsulados tanto pela piscina quanto por uma estrutura arquitetônica criada pela artista, intitulada Bunker, que parece conte-la no vídeo. É nesse ponto que exterior e interior tornam-se igualmente fascinantes, revelando um projeto central e comumente ignorado em discussões sobre arquitetura moderna: sua função disciplinar historicamente ligada à ciência médica eugênica. Leia-se: se a eugenia era um projeto discursivo que dava estrutura para prescrição cultural e investigação médico-moral, ela se encontra e interage com os discursos modernistas acerca da alteridade e da busca por uma identidade nacional. Sob essa ótica, a instalação de Tavares nos faz questionar se estaria a obsessão de Loos por manter o olhar no interior dos espaços construídos por ele, ligada a uma visão de identidade higienizada: eugênica.

Stills do vídeo

Também nas obras Vitrines, da série Paisagens Perdidas (para Lina Bo Bardi), o interior se eleva ao exterior. Ao trabalhar com elementos museográficos pensados por Lina Bo Bardi para servirem como par para seus célebres cavaletes de vidro, que de fato, nunca foram construidos, Tavares cria corpos suspensos no ar que revelam seus interiores vazios, porém, circundados com imagens de exuberância natural estampadas nos vidros de todas as suas faces. Tavares parece descortinar a iniciativa modernista de organizar, selecionar e conter o natural como algo antagônico ao seu projeto de formulação de identidade.

Vitrines, da série Paisagem Perdida (para Lina Bo Bardi)

Finalmente, Sinfonia Tropical para Loos, decorrente das investigações da artista para as exposições Natural-Natural: Paisagem e Artifício (2013), e Atlântica Moderna: Purus e Negros (2015), traz um grande número de Vitórias Régias encapsuladas por caixas de acrílico com estruturas de aço inox e divididas em conjuntos organizados pelos nomes dos rios brasileiros Cocó e Purus e Negros. Como os outros trabalhos que formam a exposição, as Vitórias Régias compõem um aparato crítico que, conforme afirma a crítica e curadora Fabiola Lopez-Durán “vem relativizar a suposta ameaça do tropical e a tão almejada assepsia e geometria da estética moderna”. A poética aqui, no entanto, remete à lenda de Naiá, de origem tupi-guarani, que, encantada com o reflexo da Lua na água, acaba por se aproximar demais de um rio e se afoga. A Lua (Jaci), compadecida, recompensa o sacrifício da jovem índia e transforma-a numa "Estrela das Águas", única e perfeita - a Vitória Régia. É evidente a aproximação entre a lenda de Naiá e o mito de Narciso que, encantado com sua própria imagem, definha as margens da lagoa de Eco, admirado por seu próprio reflexo na água. Transformado numa flor (narciso) por Afrodite, o filho do deus do rio Céfiso e da ninfa Liríope, segue, mesmo aprisionado em sua nova forma, tentando eternamente contemplar sua imagem no reflexo da água.

Vitórias-régias para o Rio Cocó

Se lembrarmos da Parede Niemeyer, que Tavares constrói em 1998 recriando a grande parede de espelhos que Oscar Niemeyer ergueu no Cassino da Pampulha (Belo Horizonte), e que para a artista é uma síntese da utopia modernista, poderíamos compreender o presente de Jaci como uma sentença, que faz de Naiá refém de sua forma-flor, assim como nossos concidadãos, que ao admirar o espelho de Niemeyer, contemplam a promessa nunca entregue do projeto modernista brasileiro.

Parede Niemeyer

Verbo e Belas Artes: A Mostra de Performance Arte VERBO, organizada pela Galeria Vermelho desde 2005, firma parceria com o Centro Universitário Belas Artes Artes para organizar uma área para apresentação de performances dentro da feira SPArte, no Pavilhão Ciccilio Matarazzo, no Parque do Ibirapuera. Como parte da programação desse espaço, a Galeria Vermelho recebe no dia 11 de abril, três ações em sua sede. Programa Verbo e Belas Artes:

Sábado, 11 de abril de 2015 14h Parábola (Leonardo Akio, 2010) O objeto performático consiste em longa haste de ferro com suporte para o corpo. A ponta do objeto deve ser colocada na quina entre parede e chão, e os performers devem usar o peso de seus corpos para vergar a linha de ferro. Colocada à altura dos quadris, o prolongamento entre objeto e pernas forma uma curva.

14h30 Reconhecer-se (Magaly Milene, 2010) A performer entra em espaço preparado com uma cadeira de madeira, mesa branca, bacias com água e

tigelas com pedaços de gaze engessada. Ela se despe, senta-se e engessa a frente de seu corpo dos pés até o pescoço. Após alguns minutos, com movimentos sutis, ela desgruda o molde de si, levanta-se da cadeira, veste-se e sai do espaço, deixando sentada a imagem de seu corpo em gesso. 15h30 Eu sou você (Merien Rodrigues, 2008) A artista abre um grande guarda-chuva embaixo de filete de areia que cai do teto. Os grãos acumulam-se ao redor de seu corpo, formando um círculo branco sobre o chão. Quando a areia termina, ela caminha para outro filete de areia e repete a mesma ação, e assim sucessivamente. No final, a performer deixa o espaço e ficam os círculos desenhados no chão. EXPOSIÇÂO: Gisela Motta e Leandro Lima – Chora-Chuva (salas 1, 2 e Fachada); Ana Maria Tavares – Sinfonia Tropical para Loos (sala 3); ABERTURA: 31 de março às 20h PERÍODO: 01 de abril a 25 de abril, de 2015 LOCAL: Vermelho / Rua Minas Gerais, 350 / 01244010 – São Paulo – SP – tel.: 11 3138 1520 WEB: www.galeriavermelho.com.br Mais informações: [email protected] GRATUITO