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REVISTA Conselho Federal de Medicina Veterinária CFMV ISSN 1517-6959 ANO 16/2010 – N°50 R$ 7,00 MAIO/JUNHO/JULHO/AGOSTO Cirurgia Cardíaca: ênfase ao ensino e ao treinamento profissional Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVI - nº 50 - 2010 1

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R e v i s t a

Conselho Federal de Medicina Veterinária

CFMVissN

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Ano 16/2010 – n°50 – R$ 7,00Maio/JuNho/Julho/agosto

Cirurgia Cardíaca:ênfase ao ensino e ao

treinamento profissional

Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 2010 1

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Revista CFMv. – v.1, n.50 (2010) Brasília: Conselho Federal de Medicina veterinária, 2010 Quadrimestral issN 1517 – 6959 1. Medicina veterinária – Brasil – Periódicos. i. Conselho Federal de Medicina veterinária.

agRis l70 CDu619(81)(05)

a Revista CFMV é editada quadrimestralmente pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária e destina-se à divulgação de trabalhos técnico-científicos (revisões, artigos de educação continuada, artigos originais) e

matérias de interesse da Medicina veterinária e da Zootecnia.

a distribuição é gratuita aos inscritos no sistema CFMv/CRMvs e órgãos públicos. Correspondência e solicitações de números avulsos devem ser

enviadas ao Conselho Federal de Medicina Veterinária no seguinte endereço:

sia – trecho 6 – lote 130 e 140Brasília – DF – Cep: 71205-060

Fone: (61) 2106-0400 – Fax: (61) 2106-0444site: www.cfmv.org.br - e-mail: [email protected]

a Revista CMFV é indexada na base de dados agRoBase

CFMV

Page 3: CFMV 50_site

4 Editorial

5 Entrevista | Prof. Dr. Adroaldo José Zanella;

Sumário

CFMV12 Cirurgia cardíaca

19 Agrosuinocultura. Solução sustentavel brasileira

23 Suplemento Científico

51 Contenção bovina

59 Carrapaticidas

62 Cetas

65 Ensino de Medicina Veterinária

74 Publicações

76 Agenda

78 Opinião | Dr. Flavio Massone - Reminiscências: Passado, presente e futuro

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expressando nosso comprometimento com a melhoria constante da Revista CFMv, reafirmando a seriedade da publicação e o seu propósito de informar e participar da formação de profissionais e estudantes da Medicina veterinária e Zootecnia, é com satisfação que apresentamos o numero 50. É possível constatar que o conteúdo continua de grande importância, mas estamos destacando o novo layout e o novo projeto gráfico, que se encontra dentro dos padrões gráficos atuais e das mais modernas revistas cientificas do mundo. a proposta atualizada permitirá maior liber-dade para a criação gráfica, maior espaço para fotos e sintetização do texto para que a informação relevante seja divulgada de forma atrativa aos leitores. Como resultado esperamos que a publicação se torne mais

agradável para leitura e com menos blocos de texto, o que implicará em maior satisfação de nossos leitores.

outro destaque desta edição é a entrevista com o Dr. Zanella, especialista em bem-estar animal, que estará participando do ii Congresso Brasileiro de Bioética e Bem-estar animal, promovido pela respectiva Comissão do CFMv, em agosto, em Belo horizonte, Mg.

Dentro da formação continuada destacamos nosso assunto de capa no qual o Dr. andré lacerda tenta desmistificar a cirurgia cardíaca. também pas-samos pela agrosuinocultura sustentável, os resídu-os de medicamentos e a contenção animal.

uma boa leitura!

ConSELHo FEDERAL DE MEDICInA VETERInÁRIASIA – Trecho 6 – Lote 130 e 140Brasília-DF – CEP: 71205-060Fone: (61) 2106-0400Fax: (61) [email protected]

tiragem: 85.000 exemplares

DIREToRIA EXECUTIVAPRESIDEnTE

Benedito Fortes de arrudaCRMV-GO nº 0272

VICE-PRESIDEnTE

eduardo luiz silva CostaCRMV-SE nº 0037

SECRETáRIO - GERAL

Joaquim lairCRMV-GO nº 0242

TESOuREIRO

amilson Pereira saidCRMV-ES nº 0093

ConSELHEIRoS EFETIVoSadeilton Ricardo da silvaCRMV-RO nº 0002/Z

oriana Bezerra limaCRMV-PI nº 0431

Célio Macedo da FonsecaCRMV-RR nº 0004

José saraiva NevesCRMV-PB nº 0237

geovane Pacífico vieiraCRMV-AL nº 0250

antônio Felipe PaulinoFigueiredo WoukCRMV-PR nº 0850

ConSELHEIRoS SUPLEnTESJosiane veloso da silvaCRMV-MA nº 0030/Z

luiz Carlos Januário da silvaCRMV-AC nº 0001/Z

Nivaldo de azevêdo CostaCRMV-PE nº 1051

Raimundo Nonato C. CamargoJúniorCRMV-PA nº 1504

Ricardo de Magalhães luzCRMV-DF nº 0166/Z

ConSELHo EDIToRIALPRESIDEnTE

eduardo luiz silva CostaCRMV-SE nº 0037

Joaquim lairCRMV-GO nº 0242

amilson Pereira saidCRMV-ES nº 0093

EDIToRRicardo Junqueira Del CarloCRMV-MG nº 1759

JoRnALISTA RESPonSÁVEL Flávia toninMTB nº 039263/SP

PRoJETo E DIAgRAMAçãoDuo Design Comunicação

IMPRESSãoGráfica Editora Pallotti

e D i t o R i a l

e X P e D i e N t e

Comprometimento com a qualidade

os aRtigos assiNaDos sÃo De iNteiRa ResPoNsaBiliDaDe Dos autoRes, NÃo RePReseNtaNDo, NeCessaRiaMeNte, a oPiNiÃo Do CFMv.

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Natural de Paim Filho, na região norte do Estado do Rio Grande do Sul, o Médico Veterinário Za-nella, formado pela PUCRS de Uruguaiana, fez doutorado na Grã-Bretanha, pós-doutorado na Alemanha e, depois, atuou como professor nos Estados Unidos. Atualmente, trabalha na Escola Norueguesa de Ciências Veterinárias, motivado pela tradição do país na área em que atua: o bem-estar dos animais e, orienta pesquisas com bovinos, ovinos, caprinos e suínos. O Dr Zanella será um dos palestrantes do II Congresso Brasileiro de Bioética e Bem-Estar Animal.

1. Com base na sua longa experiência técnico-científica adquirida tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, que estratégias podem ser ado-tadas para se avaliar o bem-estar animal?

as estratégias para avaliação do bem-estar animal podem ser resumidas sucintamente em três escolas de pensamento: a) escola que propõe o estu-do da função biológica para determinação do bem-estar animal. a mais tradicional escola de pensamen-to propõe a utilização de indicadores de biologia animal para a avaliação do bem-estar. indicadores biológicos podem ser representados pela ocorrência de doenças, níveis de hormônios de estresse, ganho de peso, produção de leite, conversão alimentar, produção de fibra, presença de formas anormais de comportamento entre outros; b) escola que propõe a medida de estado mental (emoções) em animais. esta escola defende a hipótese de que o fator mais importante para a avaliação do bem-estar animal é identificar como eles se sentem: evitar sofrimento e propiciar formas positivas de vida. indicadores para

monitorar preferência ou aversão a certos ambien-tes tem recebido muita atenção dos pesquisadores. técnicas utilizadas na área de economia para men-surar o “preço” que os animais estão preparados para “pagar” para obter certos recursos (ex. Fêmeas suínas trabalham para obter material para cons-truir o ninho antes do parto) ou para evitar certas situações (isolamento social, por exemplo) tem sido utilizadas. Medidas de ativação de áreas do cérebro associadas com emoções negativas como o medo e emoções positivas, como alimentação, também tem sido investigadas. o meu grupo de trabalho tem gerado informações importantes relacionadas com consequências de interações positivas e nega-tivas na organização das emoções e nos processos cognitivos de suínos, ovinos e aves e; c ) a terceira escola de pensamento advoga que o critério de mo-nitoramento de bem-estar animal deve ser obtido em relação a proximidade e ou distanciamento das condições de vida do animal e sua biologia de evo-lução. Por exemplo, suínos devem ter acesso a ma-

e N t R e v i s ta

Professor Adroaldo Zanella

Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 2010 5

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terial para fuçar e aves de postura devem ter acesso a ninhos para depositar os ovos.

2. Considerando que existe uma demanda crescente dos mercados consumidores, em nível mundial, como se pode compatibilizar questões de bem-estar animal e econômicas, de forma a atender as exigências éticas da sociedade? Qual o papel a ser exercido pelo consumidor neste contexto?

as pesquisas de atitude tem oferecido informa-ções precisas e categóricas sobre o comprometimen-to dos consumidores em relação ao bem-estar ani-mal. Na união européia os parlamentares recebem mais cartas sobre questões relacionadas ao bem-estar animal do que qualquer outro assunto. uma pesquisa recente (eurobarometer) indicou um nível muito elevado de preocupação dos consumidores europeus com questões sobre o bem-estar animal. os consumidores indicaram que os critérios utiliza-dos para importar produtos de origem animal não podem ser diferenciados dos critérios que fazem par-te da legislação nacional de cada país. o Brasil tem respondido de forma efetiva as criticas em relação as condições de bem-estar animal. o comitê perma-nente estabelecido no dia 17 de março de 2008 tem oferecido um palco para os debates necessários. a pesquisa na área de bem-estar animal também está muito avançada no Brasil. eu acredito que o futuro do Brasil para responder questões sobre bem-estar ani-mal é promissor. o consumidor Brasileiro, hoje, tem acesso a produtos diferenciados.

3. Os sistemas intensivos de produção têm sofrido pressões no sentido de adotar boas prá-ticas de bem-estar animal. Do ponto de vista dos custos de produção, como compará-los com os sistemas ditos convencionais?

um dos mitos que precisam ser atacados e resol-vidos de forma definitiva é o de que a melhoria do bem-estar animal está associada com aumento nos custos de produção. a questão não é simples assim. a grande proporção das melhorias no Brasil, poderão ser conduzidas com custo insignificante ou mesmo com ganhos de produção. a melhoria do transporte

de animais para o abate é um dos exemplos. Boas práticas de manejo não são onerosas. Regras de aba-te humanitário também não apresentam custos exa-gerados. a mão-de-obra no Brasil é um dos tesouros que temos. a nossa tradição cultural ligada a produ-ção animal ainda é viva, pulsante e entusiasmada. Precisamos reciclar esta ligação com a produção animal para apresentá-la em um contexto que vai va-lorizar o bem-estar dos animais. eu aprendi uma lição belíssima em 1996 quando treinamos funcionários de um abatedouro em Campo grande. um funcio-nário extremamente habilidoso, surdo e mudo, se recusou a nos devolver a pistola de atordoamento que aprendeu a usar. Naquele período o abatedouro utilizava marreta e o funcionário imediatamente se deu conta do benefício em utilizar um método que hoje faz parte da rotina. o fantasma dos custos tem muito mais significado nos países de clima frio que precisam adequar as instalações à biologia animal para garantir a manutenção de bons índices de bem-estar animal. o controle e manejo da dor é um dos aspectos que precisa ser abordado em animais de produção que poderá onerar os custos.

4. Levando em conta os inúmeros estudos conduzidos em parceria com grupos de pesqui-sa de vários países, quais as práticas de manejo aplicadas aos animais de produção que considera problemáticas sob a ótica do bem-estar?

eu acredito que alguns problemas são globais e exigem atenção imediata. alojamento de porcas no período de gestação é um problema sério, cuja solução existe. É inaceitável manter um animal com a complexidade comportamental como do suíno sem possibilidades de exercitar-se. o mesmo é verdadei-ro para questões relacionadas com o alojamento de aves de postura, com a diferença de que soluções ainda não são ótimas. Problemas de manqueira (claudicação) em várias espécies são muito sérios e comprometem o bem-estar. gado leiteiro em espe-cial apresenta um índice crescente de lesões podais em todo mundo. Problemas do aparelho locomotor também afetam ovinos, frangos de corte, equinos. intervenções cirúrgicas sem controle da dor são ina-ceitáveis. Poderemos citar castração e caudectomia

e N t R e v i s ta

“Na União Européia os parlamentares recebem mais cartas sobre questões relacionadas ao bem-estar

animal do que qualquer outro assunto”

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como exemplos em animais de produção. a legis-lação da Noruega proíbe a prática da caudectomia. Castração e descorna só podem ser conduzidos com controle da dor. as práticas de transporte de animais para o abate e o manejo pré-abate também ofere-cem muitas oportunidades para melhoria em todo o mundo. o Brasil tem mostrado liderança na área do bem-estar no abate de aves, por exemplo. Períodos de estresse como desmame, transporte, vacinação e outras formas de manejo precisam de estudos que indiquem formas de minimizar as consequências negativas para os animais. seleção genética dirigida a otimizar os processos de adaptação também deve ser levadas em consideração.

5. Os países-membros da União Européia têm elaborado legislações específicas acerca do bem-estar animal. Neste sentido, qual a relevância da certificação como garantia do bem-estar animal? Quais os reflexos destas normativas nos países exportadores, dentre os quais se destaca o Brasil?

esta é uma pergunta difícil de responder. esta questão fez parte das reuniões da Wto (World tra-de organization) que não conseguiu deliberar em favor da restrição de comercialização entre países com normas nas questões de bem-estar animal. eu acredito que o processo natural, com o papel de liderança da oie (organização internacional de saúde animal), vai fazer com que o assunto pro-vavelmente volte a mesa de discussões. a deter-minação dos consumidores europeus é refletida nas pesquisas de opinião pública e eventualmente soluções precisam ser encontradas. existem pro-blemas sérios de bem-estar animal em todos os países que eu conheço. Não é um problema só do Brasil. o Brasil tem recebido muita atenção porque é um país de possibilidades inimagináveis. o Brasil é o maior competidor mundial na área de bovi-nos e um dos maiores nas áreas de suínos e aves. sem dúvida nenhuma o Brasil vai receber muita atenção dos países que competem no mercado de produtos de origem animal. as consequências de atos isolados não podem ser ignoradas. toda a industria pode ser “punida” por situações não diretamente relacionadas, eu cito como exemplo

a questão de transporte marítimo de animais vivos por períodos prolongados.

6. Alguns segmentos da sociedade evidenciam a importância da regulamentação pública como um instrumento valioso em prol do bem-estar ani-mal. Qual a sua opinião acerca deste assunto?

eu advogo que a legislação é um instrumento importante para garantir os níveis aceitáveis de bem-estar animal (nada menos do que o estabelecido). legislação nunca vai substituir a qualidade de mão-de-obra e atenção aos animais. No entanto o meu en-tendimento é que a legislação deve ser desenvolvida com base em critérios científicos que contribuam para a melhoria do bem-estar animal e também, para a sustentação dos sistemas de produção.

7. Qual a tendência mundial acerca das discus-sões sobre o bem-estar animal?

eu tenho observado muito investimento em pes-quisa em várias partes do mundo. a minha cátedra de bem-estar animal na escola de veterinária em oslo é uma nova posição, criada pelo ministério da educação da Noruega. o Brasil tem programas emer-gentes na área de bem-estar animal e com certeza vai tomar um papel de liderança brevemente. Preci-samos agir com rapidez, investindo principalmente na formação profissional.

8. Finalizando, gostaríamos de saber como o bem-estar animal deve ser inserido na formação acadêmica do Médico Veterinário e do Zootecnista?

o entendimento do comportamento animal e da avaliação do bem-estar animal deve ser parte fundamental da formação de profissionais ligados a Zootecnia e veterinária. Nas disciplinas tradicionais existentes a ênfase deverá ser implementada em questões de bem-estar animal, não só em animais de produção, mas em animais de laboratório, animais selvagens e animais de companhia. É fundamental que profissionais ligados a medicina veterinária e zootecnia tomem liderança na área de pesquisa e ensino em bem-estar animal. obrigado pela oportu-nidade em dividir as minhas ideias com profissionais ligados a Medicina veterinária e Zootecnia.

”...o Brasil vai receber muita atenção dos países que competem no mercado de produtos de

origem animal.”

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D e s ta Q u e s

COMISSãO nACIOnAL DE SAúDE AMBIEnTAL é DESIGnADA PELO CFMV

Para assessoria sobre temas relacio-nados ao meio ambiente, o Conselho Federal de Medicina veterinária (CFMv) designou os membros para a Comissão Nacional de saúde ambiental (CNsa), por meio da Portaria nº. 35, de 31 de maio de 2010.

a Comissão é composta pela Presi-dente Claudia scholten e pelos mem-bros Maria izabel Merino de Medeiros, luciano Menezes Ferreira, Maria do Ro-sário lira Castro e por Maria auxiliadora gorga luna.

De acordo com a Presidente, Cláudia scholten, “é notório o impacto das ati-vidades humanas sobre o ambiente, a degradação progressiva dos ecossistemas e da fauna, a conta-minação crescente da atmosfera, solo e água, bem como o aquecimento global. Nesse contexto, os Médicos veterinários e Zootecnistas podem e de-vem possuir consciência sobre esta nova dinâmica que integra a saúde animal, vegetal e humana e ampliar sua atuação”.

OFICInA DE SAúDE PúBLICA APRESEnTA PROPOSTAS AO SISTEMA CFMV/CRMV

Com a representação de quinze Conselhos Regionais de Medicina veterinária da Federação, a ii oficina de trabalho “integrando as Comissões de saúde Pública do sistema CFMv/CRMvs elaborou uma proposta para ações unificadas de saúde pú-blica veterinária dentro do sistema CFMv/CRMv. o evento foi realizado nos dias 25 e 26 de março, na sede do CFMv, em Brasília, DF.

a oficina definiu três eixos importantes de atu-ação. Primeiramente, os participantes apoiaram a sugestão da Comissão Nacional de saúde Pública veterinária (CNsPv) para que existam comissões

permanentes de saúde pública veterinária nos Con-selhos Regionais de Medicina veterinária. o segun-do eixo sugeriu ações para incentivar a formação acadêmica na área de saúde pública. Por fim, os par-ticipantes entenderam que devem ser incentivadas ações estratégicas junto aos gestores públicos para inserção do Médico veterinário em cargos relaciona-dos à saúde pública.

Durante a oficina os participantes apresentaram as realidades regionais e experiências para os temas: controle de zoonoses; ações para esclarecimentos de gestores públicos sobre a atuação do Médico veterinário na saúde pública; mobilização para inclusão em concursos públicos; conscientização da classe; inspeção sanitária e o combate ao abate clandestino. o presidente da CNsPv do Conselho Federal, Paulo César augusto de souza, avalia que, a partir da primeira oficina realizada em 2008, é notável a evolução das discussões sobre o tema nos Conselhos Regionais.

Maria Auxiliadora, Maria Izabel (em cima); Cláudia, Ferreira e Maria do Rosário integram a Comissão.

Evento recebeu representantes de cinco regiões brasileiras

entre as atividades previstas para discussão nesta Comissão está o incentivo à formação acadêmica aprofundada sobre temas relaciona-dos à saúde ambiental; busca de amparo legal para que os Médicos veterinários e Zootecnistas possam atuar nesta área; ampliação do mercado de trabalho; conscientização de atividades de pesquisa, entre outros.

Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 20108

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SECRETáRIOS MunICIPAIS DE SAúDE SãO ESCLARECIDOS SOBRE ATIVIDADES DA MEDICInA VETERInáRIA

esclarecer o papel do Médico veterinário em benefício da saúde da população e enfatizar a impor-tância da participação deste profissional nos Núcleos de apoio a saúde da Família (NasF) foram os princi-pais temas defendidos pelos membros da Comissão Nacional de saúde Pública veterinária (CNsPv), do CFMv, durante o XXvi Congresso Nacional de secre-tarias Municipais de saúde (CoNaseMs). o evento foi realizado em gramado, Rs, de 25 a 28 de maio.

o CFMv esteve presente com um estande ins-tuticional que recebeu, entre outras autoridades, o Ministro da saúde, José gomes temporão e sua comitiva. No total, o evento reuniu cerca de 2.800 participantes entre secretários municipais de saú-de, gestores de saúde e demais interessados nas políticas de saúde dos municípios.

Reunião com Secretário – em data anterior, dia 24 de março, a CNsPv foi recebida secretário Nacional de atenção a saúde, alberto Beltrame, do Ministério da saúde. Na reunião, os representantes da Comissão explicaram diretamente ao secretá-

rio a importância de que o Médico veterinário participe das discussões sobre as políticas rela-cionadas à saúde da família, especificamente o Núcleo de apoio à saúde da Família (NasF). os integrantes aproveitaram para reencaminhar documentos sobre o tema.

PARTICIPAçãO DA MEDICInA VETERInáRIA EM RESIDênCIA MuLTIPROFISSIOnAL nA SAúDE é DISCuTIDA COM GOVERnO

Com objetivo de procurar esclarecimentos sobre a Residência Multiprofissional na saúde, especificamente sobre a participação da Medicina veterinária, representantes da Comissão Nacional de Residência em Medicina veterinária (CNRMv), do CFMv, se reuniram com o Coordenador geral do Departamento de gestão da educação na saúde, sigisfredo luis Brenelli, do Ministério da saúde. a reunião ocorreu no dia 4 de maio, em Brasília, DF.

o Presidente da CNRMv, eduardo harry Birgel, explicou que atualmente, a Medicina veterinária não está inserida nos Programas de Residência Multiprofissional, pois nenhum dos Programas de Residência em Medicina veterinária existentes, avaliados e reconhecidos pela CNRMv apresenta vinculação ao sistema Único de saúde (sus) do Mi-nistério da saúde.

as discussões sobre a Residência Multiprofis-sional e outros temas relativos aos Programas de Residência em Medicina veterinária serão apresen-

tados no ii seminário Brasileiro de Residência em Medicina veterinária (foto) que será realizado dias 16 e 17 de agosto, em são Paulo, sP. Mais informações no site do CFMv (www.cfmv.org.br).

Ministro da saúde visita estande do CFMV

Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 2010 9

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D e s ta Q u e s

CNEZ dirigiu os trabalhos da Reunião

Premiação reconhece trabalho de José Paulo de Oliveira

De 24 a 26 de maio, os coordenadores de cursos de Zootecnia, representantes de Co-missões de ensino da Zootecnia de Conselhos Regionais de Medicina veterinária e outros in-teressados estiveram presentes no Xvi Reunião Nacional de ensino da Zootecnia. o evento foi realizado pela Comissão Nacional de ensino da Zootecnia (CNeZ) do CFMv na universidade Federal de tocantins, em Palmas, to, durante o Zootec 2010.

Destacaram-se as palestras e discussões que trataram da bioética e bem-estar animal no ensino da Zootecnia, a apresentação sobre pa-tentes e inovação tecnológica, com novidades para incentivo ao empreendedorismo e as abor-dagens de incentivo aos programas de iniciação científica.

a reunião contou com cerca de 100 zootec-nistas, que representaram mais de 20 estados da federação.

o Zootecnista e professor, José Paulo de oliveira foi homenageado com o “Prêmio Professor octávio Domingues”, principal honraria concedida pelo CFMv a um Zootecnista. a premiação foi realizada durante a abertura do Zootec 2010, que neste ano aconteceu em Palmas, to, de 24 a 28 de maio.

oliveira se graduou na universidade Federal Ru-ral do Rio de Janeiro (uFRRJ) em 1973, na primeira turma de Zootecnia desta universidade. especia-lizou-se em Metodologia de ensino superior pela uFRRJ (1980) e fez mestrado em Zootecnia na área de Nutrição animal (1983), pela escola superior de agricultura de lavras. tornou-se Doutor em Zoo-tecnia na Área de Nutrição animal em 2001, pela universidade Federal de lavras.

iniciou suas atividades profissionais no ano de 1974 como professor em Zootecnia, como tam-bém atuou como extensionista rural. Foi diretor do instituto de Zootecnia; membro de Colegiados de Cursos de graduação e pós graduação e mem-bro pioneiro da Zootecnia Brasileira na Comissão de especialistas de ensino em Ciências agrárias.

Publicou trabalhos técnico-científicos na área da Zootecnia em diversas revistas, anais de Congressos, simpósios e periódicos do País. atualmente, entre outras atividades, faz parte da Comissão Nacional de ensino de Zootecnia do CFMv.

ZOOTECnISTA JOSé PAuLO DE OLIVEIRA RECEBE PRêMIO COnCEDIDO PELO CFMV

EVEnTO DISCuTIu EnSInO DA ZOOTECnIA E O FuTuRO DA PROFISSãO

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Informações detalhadas sobre estas e outras notícias no Portal CFMV (www.cfmv.org.br).

em sua Xviii edição, o seminário Nacional de ensino da Medicina veterinária discutiu a impor-tância de se investir em novas ferramentas para a modernização das metodologias de ensino como também as diferentes formas de avaliação de cur-so. o evento foi realizado nos dias 31 de maio e 1 de junho, em Brasília, DF. a organização foi da Comissão Nacional de ensino da Medicina veterinária (CNeMv) do CFMv, com transmissão, em tempo real, pela internet.

em seu discurso de abertura, o Presidente do CFMv, Benedito Fortes de arruda enfatizou que “pre-cisamos estar atentos às modernizações para nos adaptarmos às novas demandas da sociedade para a Medicina veterinária”, lembrando que o mundo pas-sa por uma era de informação e de transformações.

em seguida, os palestrantes discutiram a impor-tância de uma visão humanística e a necessidade da um conhecimento generalista. ao apresentar a metodologia de ensino em discussão nos esta-dos unidos para a Medicina veterinária, o diretor da associação americana de universidades de veterinária (aavMC), Mike Chaddock, comentou a necessidade do incentivo de ensino para temas re-lacionados a liderança e empreendedorismo com a mesma preocupação que se tem para a educação de assuntos técnicos.

as discussões também convergiram para as di-ferentes ferramentas de avaliação do ensino. Dentre elas, foram abordados o enade 2010, avaliações in loco dos cursos de Medicina veterinária e histórico sobre o exame Nacional de Certificação Profissional.

O EnSInO DA MEDICInA VETERInáRIA E A IMPORTânCIA DA MODERnIZAçãO PARA A EVOLuçãO DO ESTuDO

Na abertura, Mike Chaddock (AAVMC), Rafael Mondadori (CNEMV), Benedito Arruda (CFMV) e Paulo Wollinger (MEC)

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CIRURGIA CARDÍACA EM PEQUENOS ANIMAIS

InTRODuçãOapesar de ser realizada há aproximadamente

quatro décadas, a cirurgia cardíaca veterinária encontra-se em fase inicial, com a aplicação, a con-solidação e o desenvolvimento de novas técnicas, realizados em alguns centros de cirurgias cardíacas, mas de forma incipiente. o interesse e o desenvolvi-mento desta área da cirurgia têm sido expressivos nos últimos anos. No Brasil, alguns serviços despon-tam, iniciando um ciclo que promete ser próspero.

atualmente os procedimentos podem ser sepa-rados em dois grupos, o da cirurgia intra-cardíaca e o da extra-cardíaca, sendo que no primeiro necessita-se do suporte da circulação extracorpórea, tornan-do-o ainda mais restrito.

a cirurgia intra-cardíaca tem representado um desafio, seja por falta de conhecimento técnico específico, pelos equipamentos dispendiosos ou mesmo pela ausência de equipe apropriadamente treinada. Diante de sua longa duração e do alto risco, falhas não são admitidas, havendo a neces-sidade de concentração e planejamento por parte do cirurgião e de sua equipe (oliveira et al., 2006a; oliveira et al., 2006b).

são diversas as indicações para as cirurgias cardiovasculares, entre elas tetralogia de Falot, anomalias de anéis vasculares, comunicação inter-atrial, comunicação inter-ventricular, dirofilariose, persistência do ducto arterioso, doenças valvula-res, neoplasias, traumas, cardiomiopatia dilatada, estenose aórtica e estenose pulmonar (De Boer et al., 1992; orton e McCracken, 1995).

o animal deve ser avaliado minuciosamente através de exames clínicos, laboratoriais (hemo-grama, uréia, creatinina, ast, alt, fosfatase alcalina, glicose, cálcio, sódio, potássio e cloretos), radioló-gicos, eletrocardiograma, holter e ecocardiografia.

Quanto aos materiais cirúrgicos utilizados em Figura 1 - Esternotomia mediana realizada em um cão.

C i R u R g i a C a R D í a C a

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prodecimentos desta natureza, além daqueles considerados gerais, são necessárias ferramentas especiais, como pinças vasculares, serras para es-ternotomia, afastador de Finochietto, entre outras. a máquina de circulação extracorpórea também pode ser indicada, assim como equipamentos de monitorização especiais (Paschoal, 1996).

Não menos importante é o apoio da terapia in-tensiva, essencial para promover a recuperação ade-quada aos animais submetidos a estas operações.

ACESSOS CIRúRGICOS existem dois principais acessos:esternotomia: é o procedimento de escolha para

a maioria das cirurgias intra-cardíacas e afecções do mediastino. são feitas incisões de pele e de tecido subcutâneo na linha média. em seguida realiza-se uma incisão na origem dos músculos peitorais em toda a extensão do externo e a esternotomia é reali-zada com o auxilio de uma serra oscilatória ou de um costótomo (Figura 1) (Paschoal, 1996). temos utiliza-do atualmente um costótomo adaptado no intuito de minimizar os custos referentes à serra.

toracotomia unilateral: a escolha do espaço intercostal é dependente da região que se deseja o acesso. a técnica operatória deve ser iniciada com incisões de pele e de tecido subcutâneo. No primeiro plano muscular procede-se a incisão dos

músculos grande dorsal e peitoral. em seguida, no segundo plano muscular, os músculos serrátil ventral e escaleno são seccionados. identifica-se os músculos intercostais externos e internos com sua incisão na sequência. Pode ser realizada também a toracotomia unilateral conservadora, onde o acesso é realizado pelo deslocamento caudal da costela, após sua desarticulação cos-tocondral. a costela deslocada é fixada caudal-mente à próxima costela, permitindo o acesso ao tórax através da incisão da pleura parietal. a van-tagem desta técnica sobre a anterior refere-se ao amplo acesso proporcionado e à menor dor no pós-operatório. apresenta como desvantagem a maior dificuldade técnica e o tempo cirúrgico prolongado.

CIRuRGIA CARDÍACAserão descritas algumas técnicas de cirurgia

cardíaca, relatando a nossa experiência em sua execução.

PERICARDIECTOMIAo pericárdio é um saco fibrótico, avascular, que

reveste o coração. É composto de duas lâminas: a visceral, aderida ao epicárdio e a parietal, composta de colágeno e elastina. uma desliza sobre a outra, pois entre elas existe uma pequena quantidade de líquido seroso. Por ser inelástico, o pericárdio limita dilatações cardíacas agudas, porém pode se adap-tar em longo prazo (godoy et al., 2007).

a pericardiectomia pode ser citada como um dos procedimentos mais simples da cirurgia cardía-ca, mas mesmo assim necessita cuidados referentes a execução da técnica e acompanhamento pós-operatório adequado.

ela está indicada em efusão pericárdica e constrição pericárdica. a efusão pericárdica pode

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C i R u R g i a C a R D í a C a

ser ocasionada por falência cardí-aca direita, neoplasias, infecção, encarceramento de lobo hepático em hérnia peritoneo-pericárdica, peritonite infecciosa felina e to-xoplasmose em gatos. efusões idiopáticas também têm sido rela-tadas, bem como em casos agudos de ruptura atrial esquerda secun-dária à insuficiência mitral crônica e devido a coagulopatias.

a pericardiectomia subfrênica tem sido utlizada com frequência para a correção de diversas afec-ções. após acesso unilateral, o peri-cárdio é removido com uma incisão ventral ao nervo frênico em direção ao ápice do coração. esta incisão é prolongada no sentido transversal do coração, abaixo do frênico até a face contralateral.

CORREÇÃO DE PERSISTÊNCIA DE DUCTO ARTERIOSOa persistência do ducto arterioso (PDa) é a

doença cardíaca congênita encontrada com maior frequência em cães. a forma mais comum é carac-terizada pelo desvio sanguíneo da esquerda para a direita, embora, mais raramente, presencie-se a PDa reversa, ou seja, com inversão do fluxo através do ducto (stopiglia et al.,2004).

esta condição leva à dilatação e hipertrofia do ventrículo esquerdo, ocasionando uma distensão do ânulo da válvula mitral e, consequentemente, regurgitação. um PDa não tratado pode levar a um fluxo de sangue da direita para a esquerda – PDa reverso – podendo desenvolver sintomatolo-gia mais severa e progressiva falência do coração esquerdo. esta condição habitualmente não é tratada cirurgicamente.

o acesso cirúrgico que utilizamos é o unilateral esquerdo no quarto espaço intercostal. Devemos identificar e dissecar o nervo vago que se localiza acima do ducto arterioso, sendo este delicada-mente afastado com duas fitas cardíacas. o ducto também é dissecado, sendo isolado nas suas extre-midades proximais e distais com pinças vasculares em ângulos ou com fitas cardíacas, sendo realiza-da ligadura dupla do ducto.

o procedimento cirúrgico para correção do PDa é simples, mas deve ser realizado de forma cuidadosa. Não se deve, por exemplo, tracionar o

ducto com muito vigor, já que isto poderia ocasio-nar a ruptura de uma das artérias.

CORREÇÃO DE ANOMALIAS DE ANÉIS VASCULARESas anomalias dos anéis vasculares são altera-

ções congênitas provocadas por defeitos na em-briogênese dos arcos aórticos (sturion et al.,2008).

a persistência do quarto arco aórtico direito, a persistência do arco aortico direito com artéria subclávia esquerda exuberante, o duplo arco aór-tico, a persistência do ligamento arterioso direito com arco aórtico esquerdo normal e a subclávia direita exuberante com arco aórtico normal são as anomalias dos anéis vasculares mais observadas em cães. Dentre as anomalias de anéis vasculares, a mais comum em nossa rotina é a persistência do quarto arco aórtico direito (PaD).

Diante do diagnóstico da PaD, a sua correção não deve ser protelada sob pena de resultados desfavoráveis. No exame radiográfico contrastado observa-se a dilatação do esôfago cranial à base do coração. Regurgitação, desnutrição e pneumo-nia por aspiração são achados comuns.

a anomalia de anel vascular deve ser corrigida através de um acesso torácico unilateral esquerdo no quarto espaço intercostal. a ligadura e a secção do anel vascular devem ser realizadas cuidadosa-mente. Não raro, a identificação da anomalia só é possível durante a operação, com isto exige-se do cirurgião um bom conhecimento anatômico.

Figura 2 - Técnica de Blalock-Taussig para correção de Estenose pulmonar em cão.

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uma dilatação severa do esôfago cranial à base do coração pode ser um indicativo de prognóstico reservado. observamos ainda que a presença de dilatação de todo o esôfago torácico não deve descartar o diagnóstico de anomalias de anéis vasculares, sendo na verdade um indicativo de lesão no nervo vago e de hipomotilidade quan-do confirmada a anomalia de anel vascular, com prognóstico reservado.

Podemos desta maneira afirmar que um diag-nóstico precoce e sua correção são fatores impor-tantes para um melhor prognóstico.

TÉCNICA DE BLALOCK-TAUSSIGem 29 de novembro de 1944, alfred Blalock e

helen taussig desenvolveram uma técnica cirúrgica que iniciou uma nova era, a do tratamento cirúrgico para as doenças cianóticas. os resultados iniciais foram recebidos com grande simpatia pela comu-nidade cientifica da época. as complicações não tardaram a acontecer, como a trombose, levando ao desenvolvimento de instrumentos e da técnica que atualmente apresenta algumas variações.

Na medicina veterinária, esta técnica tem sido indicada na estenose pulmonar e na tetra-logia de Fallot e tem por objetivo a construção de um shunt aórtico-pulmonar, melhorando a oxigenação sanguínea. algumas vantagens são descritas com relação a esta cirurgia: proporciona uma incidência baixa de insuficiência cardíaca congestiva e de doença vascular pulmonar; o seu fechamento é simples e não há anormalidades tardias após a cirurgia reparadora.

o acesso cirúrgico se faz pela toracotomia unilateral esquerda no quinto espaço intercostal. após a dissecção da subclávia esquerda e ligadu-ra dos seus ramos, realiza-se a ligadura e a secção da subclávia esquerda antes da sua ramificação. uma pequena incisão longitudinal é realizada no segmento que será anastomosado para alargar a subclávia. em seguida, uma anastomose térmi-no-lateral da subclávia esquerda com a artéria pulmonar é feita com padrão de sutura continuo e fio de polipropileno ou polidioxonone 5-0 ou 6-0 (Figura 2). a sutura deve ser meticulosa obe-decendo as normas básicas de uma anastomose vascular, e a anastomose feita do lado oposto do arco aórtico para evitar o acotovelamento na ori-gem da artéria subclávia.

PLICATURA VENTRICULARa cardiomiopatia dilatada é um desafio para os

médicos veterinários e humanos. Na medicina hu-mana culmina com o transplante cardíaco, que ainda não é realizado na rotina da medicina veterinária. o remodelamento cardíaco foi descrito na medicina humana, mas a técnica de ventriculectomia vem caindo em desuso devido aos resultados insatisfató-rios. Na medicina veterinária o Prof. James andrade descreveu uma nova técnica bastante promissora em 2001, a plicatura da parede livre do ventrículo esquerdo (andrade et al. 2004). esta técnica ainda carece de maiores estudos clínicos, mas poderá ser no futuro uma alternativa interessante para animais com insuficiência cardíaca ocasionada pela cardio-miopatia dilatada.

o acesso cirúrgico é realizado por uma toracoto-mia unilateral esquerda no sexto espaço intercostal. Realiza-se a pericardiectomia em t. o coração é mo-bilizado colocando-se uma compressa umedecida no seu lado direito, luxando o coração lateralmente com intuito de facilitar a confecção da plicatura. a plicatura é realizada com três pontos em u com fios de polipropileno 2-0 transfixantes, apoiados em pró-teses de pericárdio bovino em tiras na parede livre do ventrículo esquerdo, do ápice ao seu terço dorsal, por baixo do ramo marginal ventricular esquerdo. antes do aperto final dos nós, utilizamos o tornique-te de Rummel para um aperto provisório, com intuito de verificar as alterações causadas pela plicatura ven-tricular (figuras 3).

Para minimizar a morbidade pós-operatória, o pós-operatório deve ser realizado em uma unidade de terapia intensiva.

Figura 3 -Plicatura ventricular esquerda para cães com cardio-miopatia dilatada.

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VALVULOPLASTIA PULMONAR COM ENXERTOCom o intuito de ampliar o óstio valvar, a cor-

reção definitiva da estenose pulmonar pode ser realizada através da valvuloplastia com uso do enxerto de pericárdio bovino ou com politetraflu-oroetileno (PtFe). É um procedimento laborioso e que exige a utilização da circulação extracorpórea (CeC) para que possa ser realizado de maneira adequada. além da ampliação do óstio valvar podemos realizar a reconstrução da válvula com o pericárdio. algumas próteses de pericárdio já vem com a válvula disponível. entretanto, a recons-trução valvar não é indispensável, pois o coração funciona de forma adequada de maneira trivalvar, ou seja, sem a válvula pulmonar.

animais com hipertrofia infundibular, esteno-se severa, displasia valvar ou quando não respon-de à dilatação valvar transventricular (acreditamos que esta técnica não oferece resultados satisfató-rios) são bons candidatos à realização da técnica do enxerto.

após a colocação do animal em CeC faz-se uma incisão longitudinal com inicio no átrio direito em direção à artéria pulmonar, passando pela válvula pulmonar. a região valvar é inspecionada e a vál-vula pulmonar doente é removida. Modela-se o enxerto em formato elipsóide, de forma que este se adapte à região operada. Faz-se uma sutura contínua, transfixante e com fio de polipropileno 2-0. Deve-se seguir os princípios da sutura vascu-

lar. uma reposição valvar, caso seja necessária, é feita a partir de um flap do enxerto, que é suturado perpendicularmen-te ao primeiro enxerto, na re-gião correspondente da valva pulmonar e com tamanho adequado ao óstio pulmonar operado. Neste caso a válvula pulmonar fica reconstruída de maneira univalvar (Figura 4).

T É C N I C A D E D E V E G A PARA CORREÇ ÃO DE DIS -PLASIA DE TRICÚSPIDE

a displasia de tricúspide é uma má formação congênita. a regurgitação da tricúspide é a manifestação mais comum, entretanto pode ocorrer tam-bém a estenose. Com isto ocorre a falência do coração

direito. a técnica cirúrgica adotada por alguns au-tores é a da anuloplastia por anel ou a substituição valvar por uma prótese. Neste último caso, no en-tanto, além do alto custo, há a necessidade do uso de anticoagulantes no pós operatório. Preconiza-mos a técnica de De vega pela sua simplicidade e menor custo em relação às demais.

É necessário que o animal esteja em circula-ção extracorpórea. um fio de polipropileno 2-0 é passado por um pedaço de pericárdio bovino ou teflon, e a linha de sutura é iniciada perto da co-missura entre os folhetos anterior e septal. a sutu-ra progride lateralmente, paralela ao folheto ante-rior. Perto da comissura, entre os folhetos septal e posterior, ela é passada em outra área do enxerto e levada de volta à sua origem. a sutura é finalizada por cima do pedaço medial do enxerto e, à medida que é apertada, o ânulo da válvula é diminuído (Fi-gura 5). a competência da válvula é verificada com uma injeção de solução salina fisiológica gelada dentro do ventrículo direito.

COMISSUROTOMIA PARA CORREÇÃO DE DISPLASIA DE TRICÚSPIDE a estenose da válvula tricúspide é menos comum,

entretanto ela pode acontecer em pequenos animais, e a sua correção se faz pela comissurotomia da válvula tricúspide. a técnica é realizada através de incisões nas comissuras, com bisturi, até 3 mm do ânulo. Nor-malmente não é necessário qualquer tipo de reparo

Figura 4 - Técnica do Flap para correção de Estenose Pulmonar em cão.

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nas cordoalhas. o uso de um anel protético pode ser necessário para evitar o estreitamento do orifício.

CORREÇÃO DE COMUNICAÇÃO INTERATRIAL (CIA) E INTERVENTRICULAR (CIV)a Cia não é um defeito comum em pequenos

animais. a Civ é um defeito importante por suas repercussões clínicas de grande gravidade. Na cor-reção destes defeitos é importante que a CeC seja realizada com a canulação bicaval, pois o acesso é feito pelo átrio direito. o reparo do defeito pode ser realizado com a sutura de um enxerto autóge-no de pericárdio ou com a utilização de pericárdio bovino.

a Cia foi a primeira cirurgia intracardíaca reali-zada com sucesso em seres humanos. atualmente o índice de sucesso em humanos é próximo a 100%. existem três tipos de defeitos possíveis, o seio venoso (forame oval patente), o ostium pri-mum e o ostium secundum. a maioria dos defeitos são assintomáticos, mas podem causar problema respiratórios crônicos, intolerância ao exercício e falência cardíaca direita, sendo indicada a cirurgia.

o Civ pode ocasionar insuficiência cardíaca congestiva, infecções pulmonares recorrentes e hipertensão pulmonar. o defeito perimembra-noso é o mais comum em pequenos animais, mas também pode ocorrer o supracristal e o defeito do septo muscular. No defeito perimembranoso uti-lizamos a técnica cirúrgica com acesso pelo átrio, que é aberto por baixo da auriculeta direita até

Figura 5 - Visão da válvula tricuspide através de acesso no atrio direito para correção de displasia de tricuspide pela técnica de De Vega em cão.

perto da junção da cava caudal. uma sutura pode ser colocada no folheto anterior da válvula tri-cúspide para melhor exposição da lesão. a sutura com fio de polipropileno é iniciada do lado direito da borda inferior e é continuada no sentido anti-horário. a outro lado é levado no sentido horário. a porção superior do retalho é então suturada à base do folheto septal.

CIRuRGIA DE MEDIASTInO E HéRnIAS

CIRURGIA DO MEDIASTINOo timoma é o tumor de mediastino mais comum

em pequenos animais, é encapsulado e, em geral, não invasivo. a metástase é rara.

Para sua remoção indicamos o acesso por ester-notomia. apesar de ser mais laborioso, a remoção do tumor se torna fácil e com bons resultados.

uma complicação importante é a mediastinite. o tratamento precoce pode minimizar os casos de morbidade e mortalidade. a sepse é uma evolução comum destes casos.

o tratamento cirúrgico inclui a drenagem e a irri-gação do mediastino, assim como o debridamento do esterno. Nestes casos pode acontecer a lise do esterno dificultando o fechamento do tórax. Quando isto acontece podemos utilizar a técnica de Robicsek para a síntese da parede. Nesta técnica é preconiza-do o uso de um trançado com fio de aço paraesternal, envolvendo bilateralmente as costelas e que são

aproximados através de pontos simples posicionados transversalmente ao esterno. a estabilização do tórax é importante para a recuperação do animal.

tumores esofagianos decorrentes de Spirocerca sp são frequentes em algumas re-giões do Brasil. a remoção cirúrgica destes tumores deve ser realizada, sendo necessá-ria uma anastomose do esôfago. operações no esôfago podem resultar, com frequên-cia, em deiscência da sutura.

HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA TRAUMÁTICA a hérnia diafragmática traumática é

uma afecção comum em pequenos animais, sendo mais frequente em felinos. o fígado é o órgão mais comumente envolvido e pode acontecer tanto do lado direito quanto do esquerdo. sua correção é feita por acesso to-rácico ou abdominal. usualmente utilizamos o acesso abdominal e comumente a recons-

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Referências Bibliográficas

Dados do autor

André Lacerda deAbreu OliveiraMédico veterinário, CRMv-RJ nº 3840, MsC, DsC. Professor associado de técnicas Cirúr-gicas e Cirurgia torácica- ueNF-RJ

Endereço para correspondência:R. Francisca Carvalho de azevedo 14/202. Parque são Caetano- Campos dos goytaca-zes-RJ cep 28030-355 e-mail: [email protected]

trução se faz por fechamento direto. o diagnostico precoce e a cirurgia realizada nas

primeiras 72 horas após o trauma facilita o procedi-mento operatório. acima deste período podemos nos deparar com a ocorrência de aderências que pode-riam aumentar os casos de morbidade e mortalidade.

HÉRNIA PERITONEOPERICÁRDICAÉ uma malformação congênita do pericárdio.

afeta cães e gatos e é comum na raça Weimeraner e em gatos persas.

a laparotomia mediana pré-umbilical é o aces-so indicado para a correção cirúrgica. o fígado é o órgão mais comumente envolvido, e a sua correção é similar ao da hérnia traumática. em alguns casos, faz-se necessária uma esternotomia da porção cau-dal do esterno devido a aderências e dificuldades de redução do conteúdo herniário.

PÓS-OPERATÓRIO Para a estabilização e a recuperação do paciente

no período pós-operatório, é imprescindível que seja estabelecido um suporte de terapia intensiva, com cuidados relativos à reposição de volume, ao equilíbrio eletrolítico e ácido-básico, drenagens torácicas, identificação de sangramentos, mecânica respiratória e controle da dor e dos parâmetros he-modinâmicos. Podemos afirmar que procedimentos de cirurgia intracardíaca somente são possíveis se estes cuidados foram tomados nas etapas seguintes.

COnSIDERAçÕES FInAISCom o surgimento da especialidade da terapia

intensiva em nosso meio, um suporte adequado para a recuperação dos pacientes em cirurgia torácicas, em especial a cardíaca, tornou-se possível. Como conse-quência, melhores resultados serão alcançados.

Para o desenvolvimento desta especialidade ci-rúrgica, é necessário dar ênfase ao ensino e ao treina-mento de profissionais. Duas âncoras são fundamen-tais neste processo: as escolas veterinárias, no papel de criar condições específicas para este crescimento, e os eventos científicos, ao popularizarem o acesso às novas informações, fomentando o seu crescimento e a difusão do conhecimento.

Na universidade estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (ueNF) fomentamos este desenvolvi-mento através do treinamento dos alunos da gradu-ação das técnicas cirúrgicas básicas concernentes à cirurgia torácica e, na pós-graduação, efetuando um treinamento de procedimentos avançados. os resul-tados têm sidos encorajadores.

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a criação intensiva de porcos para a produção de carne suína é uma das principais atividades agrícolas na região sul. No Centro oeste, em particular no es-tado do Mato grosso do sul, a recente atividade de suinocultura vem se desenvolvendo pelo trabalho de imigrantes do sul do país. a chegada dessas po-pulações vem transformando parcela significativa do bioma Cerrado em áreas de agricultura com elevado uso de insumos e de energia não renováveis. No mu-nicípio de são gabriel do oeste, a 130 km ao norte de Campo grande, a modificação da paisagem em áreas agrícolas pode ser constatada ao se trafegar pela BR-163. a população vivente em são gabriel do oeste é hoje estimada em cerca de 20 mil habitantes e pouco mais de 40 % da economia local é impulsionada por uma cooperativa voltada a produção de ração ani-mal a base de milho e de carne suína.

o aumento da demanda nacional e internacional por carne suína estimula o incremento da produção.

AGROSUINOCULTURA: SOLUÇÃO SUSTENTÁVEL BRASILEIRA

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em um futuro não distante, atendendo a essa deman-da, municípios com vocação similar ao de são gabriel do oeste devem amplificar a produção de carne suína. o aumento da produção certamente gera receita e ga-nhos do ponto de vista social, especialmente quando os produtores cooperados fazem parte de assenta-mentos rurais de reforma agrária. Contudo, uma maior produção traz consigo a responsabilidade de gestão apropriada dos resíduos gerados na cadeia produ-tiva (ver revisão apurada sobre o tema em oliveira e Nunes, 2002). Na prática, o cooperado produtor de porcos deve evitar que os dejetos sejam despejados de forma inadequada na natureza. isso pode ser visto como um desafio árduo e oneroso pela perspectiva da mitigação das externalidades ambientais, tais quais a contaminação do solo, dos recursos hídricos e as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera, es-pecialmente Ch4 (metano) e N2o (óxido nitroso), cujos potenciais de aquecimento global de uma tonelada

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Figura 1. Modelo de uma cadeia não sustentável de produção de carne suína, com baixa eficiência no uso dos recursos naturais e de baixa diversidade de produtos. Nesse sistema as entradas e as perdas de energia e de materiais são muito elevadas em comparação ao único produto gerado (carne suína).

são respectivamente 25 e 298 toneladas de Co2 equi-valentes para um horizonte de 100 anos (Forster et al., 2007). No entanto, há espaço para desenvolver solu-ções interessantes para lidar com os resíduos dos sis-temas intensivos de criação de porcos, transformando as externalidades ambientais em elemento chave para uma agricultura brasileira eficiente, diversificada e efetivamente sustentável, aqui convencionada de agrosuinocultura, que pode alcançar balanços sociais, econômicos e ambientais favoráveis, muito além da produção de carne suína.

os incrementos de produtividade das últimas dé-cadas, alicerçadas em pesquisas realizadas por uni-versidades, institutos de pesquisa e pela embrapa, vem permitindo avanços importantes para a conso-lidação gradual de uma agricultura de base susten-tável no país. existe, entretanto, um limite planetário para a operação segura da agricultura, de modo que serviços dos ecossistemas sejam adequadamente mantidos no longo prazo e não criem mudanças am-bientais irreversíveis e altamente danosas à huma-nidade (Rockström et al., 2009). Quando se fala em agricultura sustentável subentende-se i) a inclusão social, ii) o uso de energias renováveis na cadeia pro-dutiva e iii) a manutenção da integridade dos ecos-sistemas, os quais fornecem fluxos e estoques de bio-

diversidade, água doce e de carbono e nitrogênio em níveis seguros (serviços ambientais). em suma, a sustentabilidade envolve a dimensão humana na-turalmente integrada à estrutura e ao funcionamen-to do ecossistema predominante na escala de bacia de drenagem. Por este prisma, o surgimento de uma “nova fase da agricultura brasileira”, deve estar neces-sariamente ligado ao uso eficiente de recursos hu-manos e de recursos da natureza (agroecossistema), com menor dependência de insumos e combustíveis (fósseis) não renováveis como fertilizantes químicos, gás natural, carvão e diesel.

a Figura 1 descreve esquematicamente um agro-ecossistema para uma cadeia produtiva tradicional de carne suína, sem estratégias ou ações de gestão de resíduos e fortemente dependente de insumos e energia não renováveis. a produção de carne suína é pequena considerando-se o aporte de materiais e energia não renováveis. uma fração significativa dos materiais e de energia é perdida na forma de gases de efeito estufa ou na forma de efluentes líquidos que po-dem eventualmente contaminar os solos e os recursos hídricos superficiais e subterrâneos. além disso, utili-za-se basicamente água valiosa do aquífero na cadeia produtiva, inclusive para a limpeza das granjas.

Por outro lado, a gestão dos resíduos a partir da inovação e do uso de novas tecnologias pode tornar a ca-deia produtiva mais eficiente, ou seja, menos poluidora e muito mais lucrativa. a busca pela otimização do uso dos recursos naturais é essencial nesse contexto. a Figura 2 apresenta a mesma coopera-tiva operando de forma mais equilibrada em relação ao meio ambiente. e a biodiges-tão anaeróbica desempenha um papel fundamental nesse processo.

É por meio da biodigestão em fluxo contínuo dos deje-tos das granjas que se inicia a sustentabilidade integrada e diversificada da agrosuinocul-tura. a biodigestão controlada soluciona, em grande medida, a questão do carbono. Na au-sência de oxigênio, quase todo carbono orgânico lábil é con-vertido a biogás por bactérias

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Figura 2. Modelo de uma cadeia sustentável, integrada e diversificada de agrosuinocultura, baseada em energia renovável (biogás e eletricidade), aproveitando ao máximo os recursos naturais (água e petróleo) para a produção de diversas commodities agrícolas e de eletrici-dade, minimizando as perdas para a natureza na forma de externalidades ambientais. Note, ainda, o maior uso de água de chuva que água do aquífero para a limpeza das granjas e para a irrigação de culturas.

metanogênicas. os biodiges-tores permitem que o biogás rico em metano seja recupera-do para a geração de energia mecânica (motobombas) ou elétrica (motogeradores). Para uma granja de mil suínos pode-se produzir em média 25 m3 de biogás por hora, o equivalente em energia de 70 a 150 kWh por hora, depen-dendo da eficiência do motor. Parte dessa energia pode ser usada na propriedade e o excedente pode ser eventu-almente comercializado com concessionárias distribuido-ras de eletricidade, interessa-das em geração Distribuída. as motobombas movidas a biogás podem ser usadas na fertirrigação de pastagens com o uso de carretéis de irri-gação controlada e automati-zada. Com esse sistema é possível ajustar com precisão a quantidade aspergida de dejetos biodigeridos, isto é, de biofertilizante rico em nutrientes (especialmente nitrogênio nas formas reduzidas de Nh3 (amônia) e Nh4

+ (amônio)) numa dada área agrícola da propriedade.

a embrapa Pantanal e a universidade Federal do Mato grosso do sul (uFMs), em parceria com a embrapa suínos e aves, a Prefeitura Municipal de são gabriel do oeste, a Cooperativa agropecuária de são gabriel do oeste, agricultores do assentamento Campanário e parceiros privados, vem realizando estudos para se determinar a dosagem ideal para o tifton, de modo que ocorra o máximo de incremen-to de produção de fitomassa na pastagem e o mínimo de perdas de nitrogênio oxidado na forma de N2o para a atmosfera e na forma de nitrato para o solo e corpos d´água superficiais e subterrâneos (Ber-gier et al., 2008).

No campo, a fer t irr igação pode ser feita adotando-se o princípio de rotação de parcelas ou piquetes, de modo a man-ter níveis elevados de fitomassa para a criação contínua de gado semi-confinado. esta é uma das propostas do Pisa (Produção

integrada de sistemas agropecuários), promovido pelo Ministério da agricultura, Pecuária e abas-tecimento (MaPa) e do ilPF (integração lavoura-Pecuária-Florestas) promovido pela embrapa. o gado é rotacionado entre as parcelas em sincronia com a fertirrigação mas fora de fase, com diferença de dias ou semanas, para que a qualidade da pasta-gem consumida pelo gado seja a melhor possível. esse sistema de produção integrada ainda requer estudos e pesquisas para se determinar melhor a diferença de fase e a sincronicidade de rotação de gado e de fertirrigação. Definidos esses parâmetros, a prática integrada e sincronizada em parcelas fer-

Figura 3. Agrosuinocultura no município de São Gabriel do Oeste. A) motobomba que extrai biofertilizante (efluente biodigerido) das lagoas e distribui em culturas de forma controla-da através de um carretel automatizado de irrigação (B) e de um canhão (C) .

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tirrigadas com o gado pode viabilizar a produção contínua de carne e leite em áreas agrícolas relati-vamente pequenas, como em assentamentos rurais variando de 10 a 20 hectares.

a otimização do uso dos recursos da natureza, por meio da suinocultura, da biodigestão e da inovação em máquinas e processos (ou seja, pela agrosuinocultura), pode também propiciar uma restauração indireta de biomas, tendo em vista a substituição de sistemas de produção extensiva por sistemas de produção intensiva em pequenas áreas. Portanto, biomas podem ser restaurados, visando fontes de renda adicionais com créditos de carbono oriundos do ReDD (sigla em inglês para Redução de emissões por Desmatamento e Degradação Flores-tal) que deverá em breve fazer parte de acordos in-ternacionais de mitigação de emissões de gases de efeito estufa. o mesmo pode ser vislumbrado para a produção de madeira e outros produtos florestais (papel, carvão vegetal, briquetes, etc), bem como para a produção de biofertilizante processado, em estado sólido, oriundo do lodo retido no biodiges-tor (carbono mais refratário rico em nitrogênio) e biomassa vegetal pirolisada (combustão na ausência de oxigênio para produzir biochar). esses estudos, com a biomassa de aguapé cultivado nas lagoas de efluentes biodigeridos iniciam em 2010, em colaboração com o recém aprovado Macropro-grama 2 da embrapa “aproveitamento da biomassa pirolisada na melhoria da qualidade do solo e da produtividade agrícola e na redução da emissão de gases de efeito estufa”. este fertilizante sólido, ao ser adequadamente processado pode ser (re)utilizado na produção de cereais e grãos e até mesmo na pro-dução de frutas e hortaliças.

a Figura 3 ilustra a agrosuinocultura que vem ga-nhando força no município de são gabriel do oeste. o interessante é que lá a teoria já está se tornando realidade e uma referência para o país.

AGRADECIMEnTOSaos parceiros de trabalho de são gabriel do

oeste, especialmente Carlos shimata e luiz Rieger. ao Ministério da Ciência e tecnologia (MCt), ao Ma-croprograma 3 da embrapa e à Prefeitura Municipal de são gabriel do oeste pelo incentivo e apoio nas pesquisas de agrosuinocultura. os mais sinceros agradecimentos aos colegas de projeto e às chefias geral e de P&Di da embrapa Pantanal (CPaP), bem como Paulo armando victoria de oliveira da em-brapa suínos e aves (CNPsa), giancarlo lastoria e sandra gabas da uFMs, e aos palestrantes, colabora-

Bergier, i. et al. Avaliação agrícola e ambiental da suinocultura-biofertilização em São Gabriel do Oeste (MS). Projeto da embrapa Pantanal. Macropro-grama 3 / infoseg número 03.08.06.053.00.00. embra-pa. 17p. 2008.

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Referências Bibliográficas

Dados dos autores

Ivan BergierBiólogo CRBio nº 20379/01-D, Pesquisador Mudanças Climáticas globais – Mecanismo de Desenvolvimento limpo, embrapa Pantanal.

Endereço para correspondência: Cx. Postal 109, Corumbá-Ms, Brasil, CeP 79.320-900, telefone:(67) 3234-5800, 3234-5900 Fax: (67) 3234-5815e-mail: [email protected]

João Antonio Rodrigues de AlmeidaMédico veterinário CRMv-Ms nº 1274, Co-operativa agropecuária de são gabriel do oeste, Mse-mail: [email protected]

dores e participantes do Workshop “aproveitamento múltiplo da biodigestão na agroindústria e nas cida-des”, realizado em são gabriel do oeste no dia 16 de novembro de 2009. um agradecimento especial ao Prof. enrique ortega da unicamp pelos ensinamen-tos de conceitos de energia.

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ConSELHo FEDERAL DE MEDICInA VETERInÁRIASIA – Trecho 6 – Lote 130 e 140Brasília-DF – CEP: 71205-060Fone: (61) 2106-0400Fax: (61) [email protected]

DIREToRIA EXECUTIVAPRESIDEnTE

Benedito Fortes de arruda

VICE-PRESIDEnTE

eduardo luiz silva Costa

SECRETáRIO - GERAL

Joaquim lair

TESOuREIRO

amilson Pereira said

EDITOR DA REVISTA CFMV

Ricardo Junqueira Del Carlo CRMV-MG nº 1759

ConSELHo EDIToRIAL DA REVISTA CFMVPRESIDEnTE

eduardo luiz silva Costa CRMV-SE nº 0037

Joaquim lair CRMV-GO nº 0242

amilson Pereira saidCRMV-ES nº 0093

CoMITê CIEnTíFICo DA REVISTA CFMVPRESIDEnTE

Cláudio lisias Mafra de siqueiraCRMV-MG nº 5170

luis augusto NeroCRMV-PR nº 4261

Flávio Marcos Junqueira CostaCRMV-MG nº 5779

antônio Messias CostaCRMV-PA nº 0722

Celso da Costa CarrerCRMV-SP nº 0494/Z

luiz Fernando teixeira albinoCRMV-MG nº 0018/Z

Revista Do CFMv - Brasília - DF - ano Xvi – N° 50 - 2010

SuplementoCientíficoPitiose cutânea eqüina no Piaui. Primeiro relato de caso

A leishmaniose tegumentar americana no estado do Amazonas, Brasil: Aspectos epidemiológicos da leishmaniose canina

Dor neuropática após amputação de membros: fisiopatologia e manifestações clinicas em cães.

José de Ribamar de Souza Rocha / Severino Vicente da SilvaLucilene da Silva Santos / Lucas Pinheiro DiasEdílson Páscoa Rodrigues / Dário Magalhães Batista FilhoFrancisco Solano Feitosa Júnior / Rosvaldo Duarte Barbosa

Fernando Andrade Souza e outros / Igor Frederico CanissoÁlan Maia Borges / Vicente Ribeiro do Vale FilhoAnali Linhares Lima / Erotides Capistrano da Silva

Sonia Rolim Reis / Antonia Maria Ramos Franco

Roberta Cristina Campos Figueiredo / Karina Velloso Braga Yazbek

O papel do ambiente uterino e do reconhecimento materno da gestação na perda embrionária na égua

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PITIOSE CUTÂNEA EQÜINA. PRIMEIRO RELATO DE CASO NO PIAUÍEquInE CuTAnEOuS PyTHIOSIS In THE PIAuÍ STATE, BRAZIL – A CASE REPORT

Resumo

a pitiose é uma enfermidade piogranulomatosa crônica, principalmente do tecido subcutâneo, causada pelo fungo zoospórico Pythium insidiosum. atinge várias espécies de animais domésticos e humanos e é muito se-melhante a outras afecções cutâneas fúngicas e neoplasias. em eqüinos, se caracteriza, principalmente, pelo desenvolvimento de lesões subcutâneas ulcerativas e granulomatosas de aspecto tumoral, massas em forma de coral amareladas formadas no centro das lesões. um eqüino sRD, macho, 18 meses de idade, apresentou uma lesão no membro dianteiro esquerdo com aspecto ulcerativo, granulomatoso e de aparência tumoral. o diagnóstico de pitiose foi realizado através dos sinais clínicos e do isolamento e identificação do agente etio-lógico. a pitiose está relacionada com o contato direto de animais e humanos com águas contaminadas pelo agente etiológico. os cavalos são os animais mais atingidos.

Palavras-chave: pitiose, Pythium insidiosum, eqüinos

Abstract Pythiosis is a chronic granulomatous disease, mainly of the subcutaneuos tissue caused by zoosporic fungi Pythium insidiosum. the disease affects several domestic animal species and humans. the pytiosis is very like another fungic cutaneous infections. the disease in equines characterizes itself mainly for the development of ulcerative and granulomatous subcutaneous injuries of tumoral appearance. a male horse indefinite race, 18 months old, had just one lesion on the left anterior member, with ulcerative, granulomatous and of tumoral aspect. the diagnosis of pythiosis was carried through by the clinical signs and the isolation and identification of the etiologic agent. epidemiologically pythiosis is related with the direct contact of the animals and human with contaminated waters for the etiologic agent. horses are the most affected animals.

Keywords: pythiosis, Pythium insidiosum, equines

InTRODuçãOa pitiose é uma doença piogranulomatosa crônica,

principalmente do tecido subcutâneo, que atinge eqüi-nos, bovinos, caninos, felinos e humanos, ocorrendo em áreas tropicais, subtropicais e temperadas (Meireles et al., 1993, Mendoza et al., 1996). a pitiose, nos últimos

anos, vem paulatinamente a merecer destaque na mi-cologia clínica tanto veterinária como humana (Bosco et al., 2005, santurio et al., 2006). atenção especial deve ser dada àquelas pessoas que residem ou trabalham em áreas de exposição permanente ao agente etioló-gico e convivem com animais suscetíveis ou doentes. a pitiose é causada por um fungo zoospórico do filo

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oomycota, pertencente ao Reino straminipila, Pythium insidiosum (alexopoulos et al., 1996). a doença também é conhecida por hifomicose, zigomicose, dermatite granular, granuloma ficomitótico, “burstte”, “Florida leeches” e “swamp cancer” (Meireles et al., 1993, Chaffin et al., 1995).

o gênero Pythium possui mais de 120 espécies distribuídas em todo o planeta, sendo a maioria habi-tantes do solo, mas freqüentemente encontradas em corpos d`água e regiões alagadiças, vivendo saprotro-ficamente ou como parasitas de plantas (hawksworth et al., 1996). Pythium insidiosum é a única espécie do gênero patogênica a mamíferos. o ciclo de vida desse fungo está relacionado com as mudanças ambientais nos ecossistemas. Para haver a produção de zoóspo-ros, são necessárias temperaturas entre 30 e 40 °C e o acúmulo de águas em banhados e lagoas (Miller e Campbell, 1982).

epidemiologicamente, a pitiose está relacionada com o contato direto de animais e humanos com água contaminada pelo agente etiológico. a forma infecc-tante de Pythium insidiosum são os zoósporos liberados na água para completar seu ciclo de vida (Mendoza et al., 1993). a maioria dos casos de pitiose foi observada durante ou logo após a estação chuvosa. este agente atinge principalmente, as extremidades distais dos membros e porção ventral da parede tóraco-abdomi-nal, provavelmente devido ao maior tempo de contato com água contaminada com zooósporos (Miller e Cam-pbell, 1982, Chaffin et al., 1995).

os eqüinos são os animais mais atingidos pela pitiose caracterizada pelo desenvolvimento de lesões subcutâneas ulcerativas e granulomatosas de aspecto

tumoral, com formação de “kunkers”, massas em forma de coral amareladas produzidas no centro das lesões. o primeiro relato de pitiose eqüina ocorreu no Rio grande do sul (santos e londero, 1974). Desde então, os relatos de pitiose eqüina no país somam mais de 90 casos (santurio et al., 2006), sendo descritos em vários estados, incluindo o próprio Rio grande do sul (san-tos et al., 1987, Meireles et al., 1993, sallis et al., 2003), Paraná (luvizari et al., 2002, headley e arruda, 2004), Pará (túry e Corôa, 1997), Rio de Janeiro (sanavria et al., 2000) e são Paulo (Rodrigues e luvizotto; 2000). Como em Mato grosso do sul (Monteiro, 1999, leal et al., 2001), no pantanal também foram registrados ca-sos (Carvalho et al., 1984, santurio et al. 1998, leal et al. 2001). também existe registro de ocorrência da doen-ça no semi-árido, como na Paraíba foram registrados 38 casos (tabosa et al. 1999) e no Piauí, diversas espé-cies de Pythium também já haviam sido registradas no semi-árido, mas todas com potencial patogênico para plantas (Rocha et al., 2001, Rocha, 2002, 2006). este é o primeiro relato de Pythium insidiosum causando pitiose cutânea em eqüinos no Piauí, embora já hou-vesse suspeita da doença em eqüinos atendidos na Clínica de grandes animais do hospital veterinário da universidade Federal do Piauí, dos quais não se con-seguiu um diagnóstico definitivo. a enfermidade tem características muito semelhantes a diversas outras afecções cutâneas fúngicas, havendo a possibilidade de em exames superficiais ser confundida.

RELATO DO CASOum eqüino macho, sem raça definida (sRD), com

pelagem alazã, 18 meses de idade, pesando 140 kg, proveniente de alto longá, Piauí, foi atendido na Clínica de grandes animais do hospital veterinário do Centro de Ciências agrárias da universidade Federal do Piauí. a queixa do proprietário era referente ao surgimento de uma lesão no membro anterior esquerdo, a cerca de 60 dias. o animal era criado em regime extensivo, não era vacinado e nem vermifugado. Durante o exame clínico, observou-se: FR=16, FC=38 e tR=37,8°C. a auscultação do abdômen não revelou nenhuma alteração. o eqüino encontrava-se com os pêlos opacos e quebradiços, magro e a lesão cinza-avermelhada com secreção sero-sanguinolenta, de consistência viscosa, aspecto granu-lomatoso e diâmetro aproximado de 20 cm, atingindo a região posterior e lateral da articulação do carpo do membro anterior esquerdo (Figura 1).

os estudos biológicos de Pythium insidiosum fo-ram realizados no laboratório de Fungos Zoospóricos da universidade Federal do Piauí, com o isolamento e cultura do patógeno. o diagnóstico diferencial de

FIGURA 1 - Lesão característica de pitiose eqüina apresentando secreção serosanguinolenta de aspecto granulomatoso no mem-bro anterior esquerdo.

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afecções cutâneas fúngicas, como a conidiobolomi-cose, basidiobolomicose, o granuloma bacteriano, a habronemose cutânea, sarcóides e outras neoplasias,

foi realizado por meio da biopsia, isolamento, cultura e identificação do patógeno. o material coletado da lesão, “kunkers”, foi dividio em três partes. uma delas para o preparo em lâmina pra microscopia. Pois his-tologicamente, os “kunkers”, apresentam-se como coágulos eosinófílicos de tamanho variado e forma circular com contornos irregulares. estes coágulos são compostos de hifas, colágeno, arteríolas e células in-flamatórias, especialmente eosinófilos. observam-se hifas com paredes espessas, esparsamente septadas, irregularmente ramificadas (normalmente em ângulo reto) ou unidas formando feixes.

uma segunda parte dos fragmentos foi previamen-te lavada em solução contendo antibiótico (penicilina 200µg/ml), e distribuída diretamente na superfície de meio de farelo de milho e ágar (CMa) e, após incubação por 96 horas, a 32 °C, houve o desenvolvimento de co-lônia com micélio submerso de coloração hialina. Para a produção de zoosporângios e zoósporos, blocos de CMa foram retirados da margem da colônia e transferi-dos para placas-de-petri com água destilada estéril.

a terceira porção também foi colocada em placas-de-petri com água destilada para a produção de Dados dos autores

José de Ribamar de Sousa RochaBiólogo, CRB-5 nº. 2.900/5-D. Doutor, professor adjunto no Departamento de Biologia, labora-tório de Fungos Zoospóricos, Centro de Ciências da Natureza, uFPi.

Endereço para correspondência: uFPi, CCN, Dep. Biologia, laboratório de Fungos Zoospóricos, Campus Ministro Petrônio Portela, Bairro ininga, teresina, Piauí CeP: 64049-550. e-mail: [email protected]

Severino Vicente da SilvaMédico veterinário, CRMv-Pi nº. 0125. Doutor, professor associado do Departamento de Clí-nica e Cirurgia veterinária, Centro de Ciências agrárias, uFPi. e-mail:[email protected]

Lucilene da Silva Santos Médica veterinária CRMv-Pi nº. 0785 graduanda em Ciências Biológicas, estagiária no laborató-rio de Fungos Zoospóricos, Centro de Ciências da Natureza, uFPi. e-mail: [email protected]

Lucas Pinheiro Dias graduando em Ciências Biológicas, estagiário no laboratório de Fungos Zoospóricos, Centro de Ciências da Natureza, uFPi. e-mail: [email protected]

Edílson Páscoa Rodriguesgraduando em Ciências Biológicas, estagiário no laboratório de Fungos Zoospóricos, Centro de Ciências da Natureza, uFPi.e-mail: edí[email protected]

Dário Magalhães Batista FilhoMédico veterinário CRMv-Pi nº. 0766 Residente Centro de Ciências agrárias, uFPi. e-mail: [email protected]

Francisco Solano Feitosa JúniorMédico veterinário CRMv-Pi nº. 0124. Doutor, Pro-fessor associado Centro de Ciências agrárias, uFPi. e-mail: [email protected]

Rosvaldo Duarte Barbosa Médico veterinário CRMv-Pi nº. 0211. Centro de Ciências agrárias, uFPi .e-mail: [email protected]

FIGURA 2 - Zoósporos dentro de vesícula de liberação na extre-midade de um zoosporângio filamentoso de Pythium insidio-sum, produzido por hifas formadas diretamente de “kunkers” em água destilada estéril, após incubação por 96 horas, em temperatura de 32 °C.

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Referências Bibliográficas

zoosporângios e zoósporos. após incubação por 96 horas, a 32°C, foi observada em microscópio óptico a formação de estruturas vegetativas e reprodutivas do fungo. hifas vegetativas hialinas foram produzidas pelo fungo nos blocos de CMa e diretamente dos “kunkers”. os zoosporângios filamentosos de P. insidiosum, com a liberação de zoósporos dentro de uma vesícula que se desintegra rapidamente para dispersar-los no am-biente aquático, foram produzidos nos “kunkers” em água destilada (Figura 2) e, escassamente, na cultura em CMa. a produção de zoosporângios com liberação de zoósporos diretamente dos “kunkers” em água destila-da, sugere que estas estruturas formadas nas lesões dos animais acometidos, quando liberadas no ambiente,

constituem uma fonte de propagação do patógeno na natureza. Não há relato de contaminação direta entre animais, mas, fica evidente que animais contaminados que apresentem lesões com produção de “kunkers” po-dem intensificar a dispersão da enfermidade no campo.

a doença destaca-se pela dificuldade no tratamen-to, considerando que as drogas antifúngicas disponí-veis não mostram eficiência, mas diversos tratamentos para a pitiose eqüina são relatados (Monteiro, 1999, Ro-drigues e luvizotto, 2000, santurio et al, 2006). entretan-to, dado ao avançado estado da enfermidade e a exten-são da lesão no momento em que o eqüino foi trazido ao hospital, impossibilitavam a extirpação cirúrgica da mesma ou aplicação de algum outro tratamento, sendo o animal eutanasiado.

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A RELEVÂNCIA DO AMBIENTE UTERINO NO RECONHECIMENTO MATERNO DA GESTAÇÃO NA ÉGUA

Resumo

o eqüino é a espécie dentre os animais domésticos que apresenta pior eficiência reprodutiva. a perda embrio-nária é um dos principais fatores de subfertilidade na espécie. a fase gestacional e a incidência que ocorrem as perdas relacionam-se diretamente com a saúde do trato reprodutivo, destacando-se a má condição do ambiente uterino devido à demora da limpeza física, principalmente devido à disfunção da contratilidade do miométrio. a razão da baixa atividade miometrial ainda permanece desconhecida. Contudo, os possíveis mecanismos incluem: 1) mudanças na liberação, sistêmica ou local, de uterotoninas; 2) produção alterada de substâncias neuromusculares ou vasoativas; e 3) mudanças intrínsecas à musculatura uterina. outro impor-tante fator de perda gestacional na égua é a falta de sinalização embrionária às células endometriais quanto a existência e condição de normalidade, para evitar a luteólise que ocorre por falta do momento ou da forma adequada de reconhecimento materno, necessária para a manutenção da gestação, podendo ocorrer pela as-sincronia entre o embrião e o ambiente uterino.

Palavras-chave: eqüino, gestação, disfunção uterina, perda embrionária.

Abstract the equine reproductive efficiency is worst between other domestics animals. the embryonic loss is one of the main factors of subfertility. the pregnancy period and incidence when the losses are directed linked to the re-productive tract health. the gestational period and incidence of embryonic loss are directly related with the re-productive tract heath, the bad conditions in the uterine environment are related to delays of physical cleaning mainly due to myometrium contractility dysfunctions. the reason of low miometrial activity is still obscure. however, the possible mechanisms include: 1) changes in the liberation, systemic or local, of uterinetonines; 2) altered production of neuromuscular or vasoactive substances, that affect the myometrial activity; or 3) intrin-sic changes in the uterine musculature that as a result becomes unable to promote normal contractile force. another important reason for embryonic losses in mares, is the lack of embryo signalization to the endometrial cells which points out their existence and normal condition, avoiding by this way the luteolysis that happens for the lack of the maternal recognition in the appropriate moment, what is necessary for the gestation mainte-nance. it could happen by the asynchrony between the embryo and the uterine environment.

Keywords: equine, pregnancy, uterine dysfunction, loss embryonic

THE RELEVAnCE OF uTERInE EnVIROnMEnT In MATERnAL RECOGnITIOn OF PREGnAnCy In THE MARE

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InTRODuçãOo eqüino é a espécie, dentre os animais domés-

ticos, que apresenta pior eficiência reprodutiva, causada por diversos fatores, sendo o principal a perda gestacional, tanto embrionária quanto fetal (ginther, 1992). tanto a fase da gestação em que ocorrem as perdas quanto sua incidência, relacio-nam-se diretamente com a saúde do trato reprodu-tivo (ginther et al., 1985).

Do momento da fecundação do ovócito, logo após a ovulação, até o estabelecimento da placenta matura e totalmente funcional, uma série de mu-danças morfológicas, imunológicas e endócrinas acontecem na tuba uterina e no útero, que podem ser importantes para o estabelecimento e a manu-tenção da gestação (Duc-goiran et al., 1999). o am-biente uterino desfavorável e a pobre qualidade do embrião destacam-se como as principais fontes de perda embrionária (ginther, 1992; leBlanc, 2003).

REVISãO DE LITERATuRAAMBIEnTE uTERInO E A PERDA EMBRIOnáRIA PRECOCE nA éGuA

Na espécie eqüina, o oócito após a ovulação, caso não seja fecundado, se desloca no interior da tuba uterina até a junção ístmo-ampola onde per-manece alojado nas dobras, altamente convolutas, da mucosa tubárica degenerando-se lentamente por vários meses (Ball, 2000). Por outro lado, a partir do ovócito fecundado, um embrião se desenvolve-

rá e será transportado, pela tuba uterina, até o útero dentro de 144 a 168 horas, pós-ovulação (allen, 2000). Para que isto ocorra, o embrião ao atingir o estádio de mórula compacta, necessita secretar apreciável quantidade de prostaglandina e2 (Pge2) (skidmore, 2004). a Pge2 secretada pelo embrião atua localmente sobre as fibras musculares da tuba uterina, fazendo com que haja relaxamento da jun-ção útero-tubárica. assim, o embrião auxiliado pelo batimento rítmico ciliar, adentra ao lúmen uterino (allen, 2000 e 2005).

o embrião necessita encontrar um ambiente uterino adequado para que a gestação possa se estabelecer. Contudo, após a cobertura ou inse-minação, a deposição do sêmen, contaminantes e diluidor no ambiente uterino, desencadeiam um processo inflamatório, fisiologicamente comum a todos os ciclos com serviços, que pode persis-tir por um período mais longo que o normal em fêmeas eqüinas ditas susceptíveis à endometrite (troedsson, 1999). Caso a inflamação persista, até o momento da chegada do embrião no útero, o ambiente uterino estará desfavorável ou mesmo incompatível a sobrevivência do embrião levando a perda embrionária (silva et al., 1999).

Normalmente, o processo inflamatório é acom-panhado por acúmulo de fluido intrauterino que está associado à redução significativa na taxa de ges-tação. Parte do líquido encontrado no lúmen uterino pode ser oriunda da maior secreção das glândulas endometriais, estimuladas pelo estrógeno na fase

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Gestação bem sucedida é sinônimo de eficiência reprodutiva

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pré-ovulatória, associada ou não a baixa capacidade de drenagem pelo cérvix e vasos linfáticos, e pela baixa contratili-dade miometrial (Watson, 2000).

a endometrite persistente pós-cobertura é mais freqüente em éguas acima de 14 anos de idade, estando associada ao retardo da limpeza física do ambiente uterino devido a disfun-ções, principalmente da contratilidade uterina (vonReitzenstein et al., 2002; le-Blanc, 2003), embora outras patologias, tais como lacunas linfáticas, angiopatias e fibrose periglandulares (endometro-se) também contribuam para a enfermi-dade (leBlanc, 2003). a razão da baixa atividade miometrial ainda permanece desconhecida. Contudo, os possíveis mecanismos incluem: 1) mudanças na liberação, sistêmica ou local, de uteroto-ninas tais como prostaglandinas ou oci-tocinas; 2) produção alterada de subs-tâncias neuromusculares ou vasoativas, que afetam a atividade miometrial, e 3) mudanças intrínsecas à musculatura uterina que, em resposta, torna-se inca-paz de promover força contrátil normal (Rigby et al., 2001).

Menor contratilidade e limpeza uterina, em éguas susceptíveis à en-dometrite, têm sido correlacionadas com baixas concentrações de ocitocina, durante a rufiação e a cobertura em relação a éguas normais, que apresentam elevada concentração deste hor-mônio nos dois momentos (Nikolakopoulos et al., 2000). entretanto, os estudos são limitados a éguas normais e mostram que a baixa resposta do miomé-trio à estimulação por um campo elétrico não tem correlação com a baixa expressão de receptores res-ponsáveis pela contratilidade miometrial, nem com a regulação da concentração de cálcio intracelular (Watson, 2000).

De acordo com leBlanc (2003), a explicação para a baixa correlação entre receptores para con-tratilidade miometrial com a atividade mioelétrica uterina, em éguas susceptíveis, pode ser advinda do acúmulo de óxido nítrico (No) dentro do lúmen uterino, após a inseminação. a liberação endome-trial de substâncias tais como prostaglandinas, citocinas inflamatórias e o próprio óxido nítrico, causa uma série de alterações nas células muscula-res. estas substâncias promovem mudanças como

a supressão do número ou função das junções comunicantes miometriais, altera o estado de fos-forilação de proteínas contrácteis ou a expressão de enzimas integrais nas células musculares de função contráctil, o que pode contribuir para a re-duzida resposta de contração do miométrio, sem interferir no número de receptores para ocitocina (leBlanc et al., 1998; leBlanc, 2003).

a atividade contráctil do útero é uma conse-qüência da despolarização e repolarização da membrana plasmática das células musculares lisas, sendo sugerido que um feixe dessas células atue como células especializadas, tipo marca-passo, que desencadeia a atividade contráctil da musculatura uterina. todavia, diferente do miocárdio, no mio-métrio essas células não são representadas por uma estrutura única. Qualquer célula miometrial pode ser capaz de assumir a função de marca-passo, po-dendo com isto, ocorrerem mudanças nas regiões que comandam o desencadeamento da atividade mioelétrica. alguns dados sugerem existir regiões

Há necessidade de manutenção dos cuidados pós-parto.

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de marca-passo no miométrio do corno uterino, em éguas normais, que causam a contração inicial, originada neste ponto e, então, propagando-se em direção ao cérvix. em contraste, as regiões de marca-passo em éguas susceptíveis à endometrite aparecem mais freqüentemente no corpo uterino, podendo essa localização ser intrínsecas a éguas problema (vonReitzenstein et al., 2002).

outro fator com papel significativo na limpeza do fluido intrauterino é o posicionamento uterino na cavidade pélvico-abdominal. Com o avançar da idade e o aumento do número de partos, o útero adquire uma posição mais cranioventral no abdô-men que é devido à perda do suporte estrutural caudal do trato reprodutivo e com o estiramento do ligamento largo, ocorrem falhas na eliminação do conteúdo intrauterino, advinda do menor pa-drão de propagação e da intensidade da contração miometrial que são insuficientes para o esvazia-mento completo nesses animais (leBlanc et al., 1998; leBlanc, 2003).

Juntamente ao supracitado, a degeneração vascular endometrial também contribui para o atraso na limpeza uterina. esclerose das veias, arteríolas e artérias como elastose, fibrose, fibroe-lastose, fibrose perivascular e processos de calcifi-cação têm sido notadas em biópsias endometriais obtidas de éguas com acúmulo anormal de fluído intrauterino. a angiose parece reduzir, indireta-mente, a fertilidade por meio da menor perfusão endometrial e por distúrbio na drenagem uterina, causadas pela reduzida função das veias e dos vasos linfáticos (linfangiectasia endometrial) que, consequentemente, levam à persistência do ede-ma endometrial, formando as lacunas linfáticas. a severidade das lesões aumenta com a idade e com o número de partos (leBlanc, 2003).

RECOnHECIMEnTO MATERnO DA GESTAçãO nA ÈGuA E A PERDA EMBRIOnáRIA

em éguas normais, com útero hígido, o embrião encontra um ambiente apropriado ao seu desen-volvimento, condição essencial para o sucesso no estabelecimento da gestação, uma vez que após sua chegada no útero, passará pelo desafio de sina-lizar ao tecido uterino a sua existência e viabilidade, evitando a luteólise e com isto, assegurando a ma-nutenção de um ambiente compatível a implanta-ção e desenvolvimento (Bowen e Burghardt, 2000).

a natureza bioquímica do sinal que o embrião eqüino “informa” à égua a sua presença ainda perma-

nece desconhecida (sissener et al., 1996). Diferente dos ruminantes, o concepto eqüino não produz nenhuma proteína similar ao interferon (molécula com propriedades luteostáticas), mas, semelhante ao embrião suíno, inicia secreção de grandes quan-tidades de estrógeno, tão cedo quanto 10 dias após a ovulação (allen, 2000). assim, hipotetizou-se que o estrógeno embrionário promove a luteostase por redirecionar o fluxo endometrial de PgF2α para longe dos vasos venosos de drenagem uterina e, por isso, poderia constituir o sinal do reconhecimento mater-no da gestação em eqüinos (allen, 2005).

apesar da contínua incerteza acerca da nature-za desses sinais, recentes experimentos têm estabe-lecido que, como em ruminantes, há supressão da auto-regulação cíclica dos receptores de ocitocina no endométrio, entre os dias 10 e 16 após a ovula-ção (allen, 2005). assim, este mecanismo poderia ser parte integral do mecanismo da luteostase na gestação eqüina, juntamente a liberação de estró-geno pelo concepto (allen, 2000). No entanto, há trabalhos (Boerboom et al., 2004) que contestam a participação do concepto na supressão da expres-são dos receptores de ocitocina no final do diestro, já que, aparentemente, não ocorre inibição do aumento do número de receptores de ocitocina em éguas gestantes, e sim, inibição da luteólise por alteração da expressão das enzimas envolvidas na síntese das prostaglandinas (aurich e Budik, 2004).

Boerboom et al. (2004) consideraram que a prevenção da luteólise, em éguas gestantes, parece depender mais da capacidade do concepto em ini-bir a regulação da cicloxigenase 2 (CoX-2), do que a própria regulação dos receptores de ocitocina. isto se deve à demonstração da expressão dos genes da prostaglandina sintase no endométrio eqüino du-rante o final do diestro e início da gestação. todavia, como não há indução do gene da CoX-2 no dia 15 do ciclo estral, em éguas gestantes, acredita-se não haver a síntese de prostaglandina por estes animais.

o efeito inibitório do concepto sobre a produ-ção de prostaglandinas endometriais é transitório, o que exige sua interação repetida ou contínua com todo o endométrio para suprimir a sua produção (sharp et al., 1984). Devido ao fato da PgF uterina alcançar o corpo lúteo da égua por rota sistêmica, o concepto precisa interagir com a superfície de ambos os cornos e o corpo uterino para garantir a manutenção do corpo lúteo (ginther, 1992). Desta forma, a mobilidade do concepto eqüino é funcio-nalmente análoga à elongação do blastocisto suíno no momento do reconhecimento materno da ges-

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tação (McDowell et al., 1988).apesar de o concepto eqüino impedir a luteó-

lise por evitar que a prostaglandina endometrial alcance o corpo lúteo por via sistêmica, ele possui a capacidade de secretar quantidades apreciáveis tanto de Pge2 quanto da PgF2α. assim, a capacidade sintética de prostanóides, pela membrana coriovi-telínica, é necessária para estimular, localmente, a contração peristáltica e o relaxamento do miomé-trio, requerida para impulsionar o concepto através do lúmen uterino, durante o período de reconheci-mento materno da gestação (allen, 2000).

o padrão de mobilidade da vesícula embrioná-ria varia de acordo com os diferentes dias da ges-tação, sendo limitada entre os dias nove e 10 pós-ovulação (ginther, 1992). Durante esse período, a vesícula embrionária passa a maior parte do tempo alojada no corpo uterino, atingindo mobilidade máxima a partir do 11º e 12º dia pós-ovulação e continuando até o 16º, quando cessa o movimento (ginther, 1984; leith e ginther, 1984). esta parada na movimentação embrionária advém da combina-ção do seu crescimento contínuo, bem como pelo aumento do tônus uterino, que causa a fixação da vesícula na base de um dos cornos (ginther, 1984).

a mobilidade até o 16º dia pós-ovulação per-mite a interação necessária entre concepto e o endométrio, para a manutenção da função luteal (McDowell et al., 1988). Contudo, pode ocorrer assincronia natural entre o embrião e o ambiente uterino, oriundos de diversas causas, tais como a retomada tardia da primeira divisão meiótica ou o atraso da fecundação. Como conseqüência, pode ocorrer desenvolvimento embrionário retardado, que leva à falha na sinalização à mãe, por falta do momento ou da forma adequada que inicie a res-posta do reconhecimento materno, necessária para a manutenção da gestação (Roberts et al., 1996).

o menor tamanho das vesículas embrionárias oriundas, principalmente, de coberturas pós-ovu-lação, tem sido relacionado com a perda embrio-nária precoce em éguas. esse menor diâmetro das vesículas pode ser devido ao tempo necessário para o espermatozóide ser capacitado, com isto, aumen-tando o intervalo de tempo entre a inseminação e a fecundação. essas pequenas vesículas, provavel-mente, possuem menor capacidade de mobilidade e propiciam menor bloqueio ao mecanismo luteolí-tico uterino. embora morfologicamente normais, os embriões de menor tamanho, podem ser perdidos devido à reduzida capacidade de bloquearem a lu-teólise (huhtinen et al., 1996).

estes dados são suportados pelos achados de Choi et al. (1997) que demonstraram que a pro-dução de estrógeno livre pelo embrião eqüino plotado contra o número de células ou contra o diâmetro do embrião mostrou que tanto o número de células quanto o diâmetro do embrião aumen-tam, elevando a produção de estrógeno. Contudo, a produção de estrógeno conjugado aumentou significativamente com o diâmetro do embrião, mas não de forma significativa com o número de células. sendo que o número de células e o diâme-tro do embrião foram altamente correlacionados, positivamente, entre si.

estes autores observaram forte associação entre a produção de estrógeno e o número de células do embrião ou do diâmetro do que entre a produção de estrogênio e a idade, uma vez que os embriões na mesma idade tinham uma grande variedade tanto no número de células quanto no diâmetro. os resul-tados deste estudo sugerem que a taxa de produção de estrógeno aumenta com o desenvolvimento dos embriões em eqüinos durante o período de reconhe-cimento materno da gestação. este aumento na pro-dução de estrógeno parece ser mais associada com o aumento do número de células embrionárias do que com o aumento da atividade intracelular esteroidogê-nica (Choi et al., 1997).

seguindo-se os estádios do desenvolvimento do embrião, após a fixação da vesícula embrionária, o concepto passa pelo processo de implantação, por volta do 40º dia pós-ovulação (Bowen e Burghardt, 2000), que no eqüino é, parcialmente, regulado pelo fator de crescimento epidermal (egF) e fatores de cres-cimento semelhantes à insulina do tipo i e ii (igF-i e ii), produzidos localmente (lennard et al., 1998). a pre-sença de RNam para o fator de crescimento epidermal (egF), na porção apical das glândulas endometriais em éguas gestantes, tem sido implicado participar no desenvolvimento placentário e trofoblástico durante o período de fixação e implantação embrionária, tan-to por estímulo mitogênico quanto como promotor de secreção das glândulas endometriais, conhecida como “leite uterino” (schäfer-somi, 2003).

outros fatores de crescimento mitogênicos, tais como igF-i e -ii, são secretados pelo trofoblas-to, dentre muitos outros tecidos embrionários e fetais, tão cedo quanto 20 dias após a ovulação em éguas gestantes (allen, 2000). o igF-i mostra-se acumular nas células epiteliais e glandulares do endométrio eqüino regulando o crescimento endometrial e/ou trofoblástico, por estimular a captação de glicose, a síntese de proteína e a pro-

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Dados dos autores

Fernando Andrade SouzaMédico veterinário, CRMv – Mg 7533, Msc, Dou-torando em Ciência animal – escola de veteriná-ria, uFMg, Belo horizonte – Mg.

Endereço para correspondência: Rua Des. Paula Mota, nº30, apt. 201, Bairro: ouro Preto, 31310-340, Belo horizonte - Minas gerais. Fone: (31) 9126-4603e-mail: [email protected]

Igor Frederico CanissoMédico veterinário, CRMv – Mt nº 2401, Mes-trando em Zootecnia – uFv, viçosa – Mg.

álan Maia BorgesMédico veterinário, CRMv – Mg nº 4849, Msc,

Dsc, Professor adjunto i – escola de veterinária, uFMg, Belo horizonte – Mg.

Vicente Ribeiro do Vale FilhoMédico veterinário, CRMv – Mg nº 1788, Msc, PhD, Professor titular – escola de veterinária, uFMg, Belo horizonte – Mg.

Anali Linhares LimaMédica veterinária, CRMv – Mg nº 7534, Mes-tranda em Ciência animal e Pastagens – esalQ – usP, Piracicaba – sP.

Erotides Capistrano da SilvaMédica veterinária, CRMv – Mg nº 8380, espe-cialista, Mestranda em Medicina veterinária - uFv, viçosa – Mg.

liferação celular (lennard et al., 1998). além disso, o igF-i parece atuar como um fator de sobrevi-vência por diminuir a apoptose celular (herrler et al., 2000). atualmente, pouco se conhece sobre a síntese de igF-i ou a expressão de seus receptores pelo embrião eqüino. No entanto, acredita-se que o embrião possa elevar a secreção endometrial de igF-i, sendo que este processo pode representar um importante sinal, parácrino ou autócrino, que auxilia o início da gestação. assim, qualquer fator que interfira na sua secreção pode provocar a per-da da gestação (Walters et al., 2001).

a síntese de igF-i pelo concepto, antes da im-plantação, tem levado a resultados conflitantes devido a alguns pesquisadores terem descrito a presença de RNam para este hormônio, apenas durante o estádio de blastocisto (Xia et al., 1994). Por outro lado, o igF-i materno encontra-se pre-sente na tuba e nas secreções uterinas que envol-vem o concepto. a constatação do RNam, para proteínas ligadoras de igF (igFBPs) na cobertura externa do concepto de alguns mamíferos na pré-implantação, leva a especulação de que o concep-to possa regular a biodisponibilidade do igF por meio dessas proteínas, elevando o seu desenvolvi-mento (herrler et al., 2000).

É provável que esses fatores de crescimento, o egF das glândulas endometriais maternas e o igF-ii

dos tecidos fetais, atuem inicialmente na manuten-ção da hiperplasia e remodelagem da arquitetura do endométrio e do alantocórion, que ocorrem durante o desenvolvimento da placenta eqüina. assim, alguns fatores externos, tais como a privação alimentar, podem interferir no estádio de desen-volvimento, acarretando perdas embrionárias, por impedir a diferenciação e fixação do concepto e, com isto, diminuir a capacidade da placenta epite-liocorial de continuar seu crescimento ao longo da gestação (allen, 2000).

COnSIDERAçÕES FInAISos índices de mortalidade embrionária no início

da gestação são mais elevados quando compa-rados com estádios mais avançados. isto se deve, provavelmente, à inadequação do meio ambiente uterino quando da chegada do embrião ao útero, por volta do 6º dia, bem como pela falta de mobili-dade do mesmo entre o 11º e 15º dia, que levam à ausência do reconhecimento materno da gestação. as perdas embrionárias precoces aumentam com a idade da égua, provavelmente, por defeitos no oócito, embora alterações no ambiente da tuba ute-rina e do útero colaborem para isto em animais mais velhos. Por fim, éguas mais velhas e com histórico de susceptibilidade a endometrite devem receber maior atenção.

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A LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA NO ESTADO DO AMAZONAS, BRASIL. ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA LEISHMANIOSE CANINA

Resumo

a leishmaniose tegumentar americana (lta) é uma doença de evolução crônica que acomete pele e mucosas. No estado do amazonas circulam parasitando o homem pelo menos quatro espécies do gênero Leishmania (Leishmania amazonensis, L. braziliensis, L. guyanensis e L. naiffi). o maior número de casos notificados desta do-ença ocorre nos municípios de Manaus seguido por Rio Preto da eva. os cães são os principais reservatórios da leishmaniose visceral (lv) nas américas e seu papel como reservatório de lta vem sendo discutido e investi-gado nos últimos anos. a lta no norte do Brasil ainda é considerada uma doença prioritariamente de ambiente rural, com características silvestres, no entanto, com as mudanças ambientais e o crescimento urbano, animais domésticos podem vir a participar do ciclo com maior impacto.

Palavras-chave: cães, leishmaniose, amazonas, cutânea

Abstract the american tegumentary leishmaniasis (atl) is a chronic disease infecting the skin and mucosal. in the ama-zonas state at least four species of the genus leishmania produce human infections (leishmania amazonensis, l. braziliensis, l. guyanensis and l. naiffi). the most notified cases of this disease are in the cities of Manaus followed by Rio Preto da eva. the dogs are considered the main reservoir host of vl in the americas and the role of these animals in the atl have been investigated and discussed. in the North region the atl is still considered a rural environment disease with sylvatic characteristics, however, with the ambient changes and the urban development the domestic animals could participate in the cycle with a great impact.

Keywords: dogs, leishmaniasis, amazonas, cutaneous

AMERICAn TEGuMEnTARy LEISHMAnIASIS In AMAZOnAS STATE, BRAZIL. EPIDEMIOLOGICAL ASPECTS OF CAnInE LEISHMAnIASIS

A LEISHMAnIOSE TEGuMEnTARa leishmaniose tegumentar americana (lta), é

uma doença de evolução crônica que acomete iso-ladamente ou em associação, a pele e as mucosas do nariz, boca, faringe e laringe. É uma antropozoonose,

causada por protozoários do gênero Leishmania Ross, 1903 (Protozoa: Kinetoplastida: trypanosoma-tidae) e transmitida por insetos conhecidos como flebotomíneos aos reservatórios naturais da doença que são principalmente marsupiais edentados e roe-

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dores. várias espécies de flebotomíneos transmitem os parasitos, que se multiplicam nas células do siste-ma fagocitário mononuclear (sFM) dos mamíferos.Quando os insetos realizam o repasto sanguíneo, as amastigotas se transformam em paramastigotas e em seguida em promastigotas, que se proliferam no tubo digestivo do inseto. Cerca de quatro dias de-pois, os flagelados migram para a região anterior do tubo digestivo, podendo o inseto transmitir o para-sito a um novo hospedeiro. Na pele do mamífero, as formas infectantes transformam-se em amastigotas, completando o ciclo biológico (vasquez et al., 2002).

EPIDEMIOLOGIA DA LTANo Brasil, a lta tem sido assinalada em todos os

estados, constituindo, portanto, uma das afecções der-matológicas que merece maior atenção, devido à mag-nitude da doença, assim como pelo risco de ocorrência de deformidades que pode produzir no homem, (fig.1), como também pelo envolvimento psicológico do do-ente, com reflexos no campo social e econômico, uma vez que, na maioria dos casos, pode ser considerada uma doença ocupacional (Ms, 2006). segundo silveira et al (2009) somente a resposta imune do hospedeiro não influencia a manifestação clínica da lta em huma-nos, atualmente existem claras evidencias que o núme-ro de espécies de Leishmania são responsáveis pelas di-ferentes formas clínicas da doença como por exemplo a infecção transmitida por L(V) brasiliensis manifesta-se na forma mucocutânea já a L(L) amazonensis produz a

forma anérgica difusa. Nas últimas décadas, as análises epidemiológi-

cas da lta têm sugerido mudanças nos padrões de transmissão da doença, inicialmente consideradas como zoonose de animais silvestres, que acometia ocasionalmente pessoas em contato com a floresta. Posteriormente, a doença começou a ocorrer em zonas rurais, já praticamente desmatadas, e em regiões periurbanas. No Brasil, são descritos três perfis epidemiológicos, o silvestre (zoonose de animais silvestres em áreas de vegetação primária) o ocupacional ou lazer (exploração desordenada da floresta, derrubada da mata para construção de es-tradas, extração de madeira, ecoturismo, etc) e rural ou periurbana em áreas de colonização de matas residuais (Ms, 2006).

segundo dados de 2003 do Ministério da saúde cerca de 33 mil casos anuais de lta foram notificados no Brasil, apresentando em torno de 44 % dos casos na região Norte (Ms, 2006). Na região amazônica a doen-ça é causada por sete espécies de Leishmania, seis do subgênero Viannia: Leishmania (V.) braziliensis, L. (V.) guyanensis, L. (V.) lainsoni, L. (V.) naiffi, L. (V.) shawi, L. (V.) lindenbergi e uma do subgênero Leishmania: Leishmania (Leishmania) amazonensis.

LEISHMAnIOSE nO AMAZOnASNa amazônia, e em particular, no estado do amazo-

nas, a incidência de leishmaniose cutânea vem aumen-tando significativamente, acompanhando a abertura de novas estradas e a instalação de novos núcleos re-sidenciais, em áreas onde, previamente, existia densa floresta tropical. os treinamentos militares, na selva, também devem ser considerados na epidemiologia da leishmaniose (talhari et al,1988). No período de 1999 a 2001 a FuNasa registrou no amazonas 22.066 casos de lta sendo a maior parte proveniente do município de Manaus e Rio Preto da eva. há registro de aproxima-damente 1000 casos novos por ano, maioria oriunda do município de Manaus (guerra et al, 2007).

o diagnóstico clínico da doença baseia-se em lesões cutâneas (fig.2), as quais são similares nas várias formas de leishmanioses tegumentares. o período de incubação da doença varia de 1 a 4 semanas, surgindo então uma lesão inicial, constituída por pápula erite-matosa, única ou múltipla, localizada geralmente em região descoberta do tegumento, que corresponde ao ponto de inoculação pelo flebotomíneo. Nesta etapa pode-se ainda encontrar linfangite e adenopatia regio-nal. as lesões evoluem formando úlceras, as quais apre-sentam bordos altos, irregulares e infiltrados (aspecto em moldura de quadro), com fundo granuloso, de co-

Figura 1: Lesões caractericticas de LTA em paciente humano

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loração vermelho-vivo, podendo estar coberta por ex-sudato seroso ou sero-purulento as lesões mucosas são na maioria das vezes secundárias as lesões cutâneas, podendo surgir depois de meses ou anos. elas devem-se a disseminação hematogênica da doença e aco-metem principalmente cavidades nasais, seguidas de faringe, laringe e cavidade oral (sampaio & Rivitti,2001).

No estado do amazonas circulam parasitando o homem pelo menos quatro espécies do gênero Leish-mania; Leishmania amazonensis, L. braziliensis, L. guya-nensis e L. naiffi (Comunicação pessoal, antonia Franco).

a espécie que ocasiona a maior incidência da do-ença humana, a Leishmania (V.) guyanensis limitada ao norte da Bacia amazônica (amapá, Roraima, amazonas e Pará) e estendendo-se pelas guianas, é encontrada principalmente em florestas de terra fírme.vários mamíferos silvestres foram identificados como hospe-deiros naturais, tais como: a preguiça (Choloepus didac-tilus), o tamanduá (Tamandua tetradactyla), marsupial e roedor.os vetores são Lutzomya anduzei, Lutzomyia whitmani e Lutzomyia umbratilis, que é o principal vetor. a doença em humanos é caracterizada por lesões cutâ-neas únicas ou múltiplas (Ms,2006).

a Leishmania (L.) amazonensis está distribuída pelas florestas primárias e secundárias da amazônia (ama-zonas, Pará, Rondônia tocantins e sudoeste do Mara-nhão). tem como hospedeiros naturais vários marsu-

piais principalmente, o roedor “rato-soiá” (Proechymis), além do Oryzomys, que, às vezes, apresenta o parasita na pele sem lesões cutâneas. seus principais vetores os Lutzomyia flaviscutellata, Lutzomyia reducta e Lutzomyia olmeca nociva (amazonas e Rondônia), têm hábitos noturnos, vôo baixo e são pouco antropofílicos. alguns indivíduos infectados por essa espécie de Leishmania podem desenvolver o quadro clássico da leishmaniose cutânea difusa (lCD), caracterizado por: infiltrações, pápulas e tubérculos, envolvendo extensas áreas cutâ-neas (Ms,2006).

a Leishmania (Viannia) braziliensis na amazônia, é encontrada em áreas de terra firme. o único vetor co-nhecido é a L. wellcomei (fig.3), encontrado na serra dos Carajás. este é altamente antropofílico. em outras regi-ões do país, L. intermedia e L. whitmani são consideradas espécies transmissoras do parasito. até o momento não se conseguiu identificar animais silvestres como reser-vatórios de L.(V.) braziliensis. No entanto, é freqüente o encontro de várias espécies domésticas, como o cão (Ceará, Bahia, espírito santo, Rio de Janeiro e são Paulo), eqüinos e mulas (Ceará, Bahia e Rio de Janeiro) e roedo-res domésticos ou sinantrópicos (Ceará e Minas gerais), albergando em proporção expressiva o parasita. Crian-ças e mulheres são atingidas com freqüência por esta espécie de parasito. as populações atingidas são, em geral, de baixo padrão sócio-econômico (Ms, 2006).

Figura 2: Lesao de LTA em extremidade distal de membro torácico.

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a L. (V.) naiffi segundo Naiff et al. (1991) foi descrita no amazonas, Pará e Rondônia, é transmitida pelas espécies, L. squamiventris, L. paraensis, L. ayrozai e já foi isolada de tatu (Dasypus novem-cinctus). o parasito causa lesões simples ou ulceradas que geralmente evoluem para cura (lainson e shaw,2005).

LEISHMAnIOSE TEGuMEnTAR CAnInA

os cães são os principais reserva-tórios da leishmaniose visceral (lv) nas américas e seu papel como reser-vatório de lta vem sendo discutido e investigado nos últimos anos (Madei-ra et al, 2003).

em levantamentos entomológicos realizados em várias regiões no estado do amazonas, até o momento, não foi identificada a presença de vetores de leishmaniose visceral, apesar de exis-tir uma fauna rica e diversificada de espécies envolvidas na transmissão da leishmaniose tegumentar (Barret et al. 1996; Barbosa et al., 2008).

a lta é considerada essencialmente zoonose do ambiente florestal primitivo, processando-se o ciclo vital do parasito sem a participação humana. este aspecto ecológico explica porque há relação funda-mental entre o homem, seu contato com as florestas e a manifestação da doença. o modo mais prevalen-te de transmissão da lta é o silvestre com exceção da L. (V.) braziliensis uma vez que este agente tem sobre-vivido em condições alteradas do ambiente florestal e extraflorestal (gomes et al.1990).

são numerosos os registros da infecção em animais domésticos. entretanto não há evidencias científicas que comprovem o papel destes animais como reservatório das espécies de Leishmania en-volvidas na transmissão da lta sendo considerados hospedeiros acidentais da doença, porém a exis-tência de animais silvestres como fonte natural de infecções, ainda insuficientemente estudada, parece incapaz de explicar a totalidade dos casos humanos encontrados principalmente na região amazônica o que leva a supor que outros ciclos, onde o homem e animais domésticos participam, estariam sendo instalados com risco de acometer populações bem mais numerosas do que aquelas que eventualmente penetram nas matas (Ms,2006).

Paes et al (1998) descreve um surto de 22 casos

de lta em área urbana da cidade de Manaus, tendo encontrado 9,8% dos casos em menores de cinco anos de idade sugerindo que a transmissão ocorre no intra e peridomicílio. segundo guerra et al (2007) a presença de animais domésticos pode servir como fonte de atração aos vetores mantendo o ciclo de transmissão da lta no peridomicílio.

tolezano et al(2007) identificaram L(L.) amazo-nensis em dois cães em araçatuba, sP, área endêmica de lv e conclui que a infecção por esta espécie de Leishmania pode ocorrer em ambiente peridomici-liar. souza et al (2005) relatam a identificação de L. amazonensis em um gato no município de Campo grande, Ms que apresentava lesões nodulares no fo-cinho, orelha e pata; os parasitas foram visualizados em exame citológico de linfonodo.

a freqüente observação de cães com elevados índices de infecções, associadas a L. (V.) braziliensis e L (L.) chagasi, que circulam nas populações humanas e caninas em áreas endêmicas de lta e lv, sugere o envolvimento do cão no ciclo de transmissão das formas tegumentares e viscerais das leishmanioses (lopes et al 1984). segundo Falqueto et al (1986) as formas clínicas mais freqüentemente encontradas em casos de lta em cães naturalmente infectados são os nódulos ou úlceras.

Madeira et al (2006) estudou 66 cães de várias

Figura 3: Aspectos do vetor da LTA

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Dados dos autores

Sônia Rolim ReisMédica veterinária, CRMv-aM nº 262, Doutora em Biotecnologia, Pesquisadora PCi/MCt/iNPa, laboratório de leishmaniose e Doença de Chagas/CPCs – instituto Nacional de Pesqui-sas da amazônia,

Endereço para correspondência: av. andré araújo, no. 2936, aleixo, Manaus, aM, CeP. 69083.000.e-mail: [email protected]

Antonia Maria Ramos FrancoBióloga, CFBio nº 05132/87, Doutora em Biolo-gia Celular e Molecular, Pesquisadora associada, Coordenadora do laboratório de leishmaniose e Doença de Chagas, instituto Nacional de Pes-quisas da amazônia.

Endereço para correspondência: av. andré araújo, no. 2936, aleixo, Manaus, aM, CeP. 69083.000.e-mail: [email protected]

raças e idades no estado do Rio de Janeiro e isolou L. (V.) braziliensis de lesões de pele localizadas na ore-lha, focinho, face, bolsa escrotal, linfonodos e lábios em 12 (18%) cães sororeativos pela técnica de imu-nofluorescência indireta. Foi identificada infecção mista por l. (V) braziliensis e L (L.) chagasi em dois des-tes cães, ambos apresentavam lesão cutânea e não foram observados outros sintomas de lv. os autores alertam para a importância de se discutir o papel do cão no ciclo de transmissão de lta.

Foi realizado um estudo simultâneo no estado de solano na venezuela e na cidade de Mesquita, Rio de Janeiro após um surto de lta em região periurbana e foram identificados 3% dos cães infectados com L. (V.) braziliensis em solano e 19,8% no Rio de Janeiro, Brasil (aguilar et al,1989) .

Pesquisas realizadas encontraram na província de salta, argentina uma prevalência alta (34,6%) de cães positivos para lta domiciliados em área endêmica em relação ao resultado encontrado em área não endêmi-ca (7,3%) sugerindo uma forte correlação entre casos caninos e humanos (Padilla et al. 2002).

em um levantamento em áreas endêmicas do Município de Paraty onde os casos registrados em humanos correspondem a 155 das notificações do estado foram realizados exames em 251 cães e en-contraram 3,2% de positividade para a técnica RiFi (Reação de imunofluorescência indireta) e 10,2% para a técnica de elisa. a prova intradérmica canina foi feita na mesma ocasião e sua positividade foi de 8,8%. a soropositividade canina para leishmaniose tegumentar nas áreas estudadas indicou que a trans-missão era ativa (Barbosa et al.,1999).

No Município de oriximiná, Pará, em estudos preliminares sobre a população canina em áreas de ocorrência de lta humana utilizando técnicas soroló-

gicas (RiFi, elisa) santos et al. (2000) observaram uma elevada taxa de positividade (27,3%). No estado do es-pírito santo, Falqueto et al.(1986) atribuíram a manu-tenção das áreas endêmicas de lta a cães domésticos.

há relatos que desde o início do século passado animais domésticos têm sido examinados na tenta-tiva de diagnosticar lta na região de Manaus (guerra et al,2002).

Mayrink et al. (1981), encontraram seis cães com lesões cutâneas nas orelhas em uma pequena pro-priedade na área urbana de Manaus. Foram feitas bi-ópsias das lesões para corte histológico, os fragmen-tos dos animais deram negativo para leishmânia, entretanto, formas amastigotas foram detectadas em ambas as séries de material seccionado. Naiff et al (1996), identificou a presença de parasitas do gênero Leishmania em esfregaço por aposição em lâmina corada de biópsia da vulva de uma cadela no Municí-pio de Manaus. Reis et al (2008) encontrou uma soro-positividade de 12,5% (75/600) pela técnica de elisa e 3,5% (21/600) pela técnica de imunofluorescência indireta em amostra de sangue em cães domiciliados no município de Manaus.

apesar de atualmente o cão não apresentar um papel de importância no ciclo das leishmanioses no município de Manaus, este poderá ser considerado como uma fonte de infecção, no momento em que for comprovada a infecção para os insetos vetores – os flebotomíneos. Diante das modificações do ambiente natural da cidade, onde o homem e seus animais domésticos co-habitam com a fauna silves-tre, é possível que eles possam vir a participar mais ativamente no ciclo epidemiológico de algumas das espécies de Leishmania que circulam no estado, apresentando-se como um elo entre os ciclos silves-tres e urbanos/periurbanos da infecção.

Apoio financeiro Capes, FAPEAM, INPA

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DOR NEUROPÁTICA PÓS-AMPUTAÇÃO DE MEMBROS: FISIOPATOLOGIA E MANIFESTAÇõES CLÍNICAS EM CÃES

Resumo

a dor é um sintoma freqüente na prática clínica e afeta humanos e animais de forma aguda e crônica, com-prometendo a qualidade de vida do paciente. seres humanos submetidos à amputação relatam experiências desagradáveis, podendo ter início logo após a cirurgia, ou anos após. o termo “dor pós-amputação” abrange basicamente dois aspectos diferentes, a dor do membro amputado (ou dor fantasma) e a dor no coto de am-putação. vítimas de amputação também vivem a experiência da sensação do membro amputado, ou sensação fantasma, tendo a impressão agradável ou não de ainda possuir o membro que já não existe mais, podendo em alguns casos, evoluir para a dor fantasma. Devido à semelhança neuroanatômica e neurofisiológica entre hu-manos e cães, pode-se concluir que esses últimos também sejam vítimas de injúrias pós-amputação, apesar da inexistência de relatos dessas afecções em animais da espécie canina.

Palavras-chave: dor neuropática, amputação, membros, cães

Abstract the pain is a frequent symptom in the clinic, and to attack humans and animals, can be accute or chronic, and decrease the patient’s quality of life. almost humans everyone who has a limb amputated will be the expe-rience the day before operation or years after limb amputation. it must be differentiated from phantom pain and stump pain. humans who has a limb amputated will another experience, pleasant or not, a phantom limb perception, vivid impression that the limb is no still present but in some cases, painfull. humans and dogs have the similar neuroanathomy and neurophysiology, we conclude that dogs are attacked to this injury, but there aren’t works in this specie. this study aimed to review the phisiopatology of post-amputation injuries and make possible the diagnostic and to identifity the needs for further research.

Keywords: chronic pain, amputation, limbs, dogs

nEuROPATHIC PAIn POST LIMB’S AMPuTATIOn: FISIOPATHOLOGy AnD SyMPTOMS In DOGS

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InTRODuçãOapesar de ser crescente o número de profis-

sionais comprometidos com estudos sobre a dor crônica em Medicina veterinária, a falta de trabalhos clínicos em animais faz com que a abordagem dessa modalidade dolorosa seja baseada em extrapola-ções tomadas da Medicina humana (lascelles, 2005).

a amputação de membros é um procedimen-to muito freqüente na veterinária, realizada na maior parte das vezes em caso de danos teciduais irreparáveis ou câncer, onde frequentemente há um componente de dor aguda e ou crônica antes mesmo da apresentação do animal para a cirurgia (tranquilli, 2005). esse fato torna ainda mais impor-tante uma abordagem correta de injúrias dolorosas pós-amputação, e pior o seu prognóstico, podendo culminar com um grau intratável de dor, classificada como crônica neuropática e comprometendo a qua-lidade de vida do paciente. a qualidade de vida pode ser definida como bem estar físico, mental e social e deve estar presente mesmo em portadores de dores crônicas (Yazbek et al, 2005).

a dor crônica não tem papel biológico definido, permanecendo além do tempo razoável após a cura da lesão que a originou. a dor neuropática é classi-ficada como crônica, porém é causada por lesão ou disfunção no sistema Nervoso Central (sNC) ou siste-ma Nervoso Periférico (sNP) (sakata, 2004).

o processamento de informação da dor neuropá-tica sofre modificações importantes em comparação com o da dor inflamatória (sakata et al, 2004). en-quanto a dor inflamatória origina-se na estimulação de nociceptores periféricos, a dor neurogênica ou neuropática é gerada por lesões de neurônios pe-riféricos do sNP ou do sNC e possui características particulares (Pisera, 2005).

a dor neuropática exibe uma série de alterações moleculares, bioquímicas ou estruturais no próprio axônio, neurônio primário e no sNC, podendo oca-sionar alguns fenômenos como dor espontânea con-tínua ou intermitente, alodinia (dor frente a estímulo inócuo), hiperalgesia (aumento da resposta dolorosa a um estímulo nocivo) ou disestesia (sensação desa-gradável anormal, espontânea ou evocada) (Drum-mond, 2006; Pisera, 2005; sakata, 2004).

Drummond (2006) classifica os mecanismos responsáveis pela dor neuropática em periféricos e centrais. segundo o mesmo autor, os mecanismos periféricos são os principais responsáveis pela sen-sibilização de nociceptores, atividade elétrica dos neuromas, modificações de canais iônicos e intera-ções axonais, e os mecanismos centrais, cujos mais importantes são fenômeno Wind-up, que é resultado

da estimulação prolongada, repetida e de baixa fre-qüência de fibras aferentes, e ativação de receptores N-Metil-D-aspartato (NMDa).

MECAnISMOS PERIFéRICOSembora modificações no sNC contribuam para

o desenvolvimento de sintomas da dor neuropática, há várias evidências de que alterações na excitabili-dade dos nociceptores aferentes primários sejam um fator importante na geração e manutenção da dor neuropática periférica crônica. essa modalidade de dor pode manifestar-se de modo estímulo-indepen-dente ou estímulo-induzida (luzio, 1969).

a lesão tissular provoca a formação e liberação de substâncias que sensibilizam e ativam os nocicep-tores. Dentre esses mediadores estão a bradicinina, serotonina, prostaglandinas, adenosina, substância P, interleucinas e óxido nítrico (Drummond, 2006; Pisera, 2005; sakata et al, 2004).

outra modificação importante que contribui para a instalação da dor neurogênica é o “brotamen-to” de fibras a-β que são calibrosas, mielinizadas e de baixo limiar que em condições normais transmitem informação tátil ou sensações de vibração. após estimulação constante, essas fibras passam a captar estímulos de receptores mecânicos de baixo limiar, interpretando-os como um sinal nociceptivo (Drum-mond, 2006; Pisera, 2005).

Num primeiro momento, a lesão de nervos peri-féricos induz descargas rápidas e intensas de poten-ciais de ação na ausência de estímulos e mesmo após a indução de processos inflamatórios, alguns meca-nismos desencadeantes da dor neurogênica ainda são comuns aos da dor nociceptiva (luzio, 1969).

após o trauma, as extremidades do nervo lesado “aderem-se” como uma tentativa de regeneração, formando uma estrutura de crescimento irregular denominada neuroma. o neuroma é uma massa nodular de axônios em regeneração e células de schwan que não conseguiram atingir seu órgão ter-minal (sakata, 2004).

após lesão nervosa periférica observa-se, no lo-cal da injúria, aumento do nível de disparos fazendo com que haja hipersensibilidade a estímulos mecâ-nicos devido a alterações na permeabilidade dos ca-nais de cálcio e sódio. algumas dessas descargas são atribuídas a hiperexcitabilidade de membranas, des-regulação da síntese e da distribuição dos canais de sódio, interações axonais, alterações em células cujos axônios periféricos foram atingidos e principalmen-te à atividade elétrica espontânea dos neuromas (Drummond, 2006). essas estruturas são sensíveis a mediadores inflamatórios, estímulos nóxicos e influ-

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xo simpático (Drummond, 2006; sakata, 2004). em 1981, foi realizado um estudo com seres hu-

manos amputados onde demonstrou-se a percussão de neuromas induzindo atividade elétrica em fibras aferentes através de registros com microeletrodos em um nervo seccionado. Foi encontrado no coto de amputação uma reinervação caótica com formação de sítios ectópicos de excitação e sinapses anormais, alterando sua sensibilidade e a formação sensitiva no coto (alodinia) (sakamoto, 1995).

observações clínicas também correlacionam mecanismos periféricos e o fenômeno da dor do membro amputado, tais como modulação da sensa-ção do membro pela manipulação do coto, interrup-ção na condução dos canais de sódio interrompendo temporariamente a sensação do membro amputa-do, remoção de neuromas reduzindo a dor “fantas-ma” e alterações no fluxo sanguíneo do coto levando a alterações na percepção do membro amputado (sakamoto, 1995).

Na dor neuropática, a disfunção do sistema sim-pático sempre faz-se presente e está relacionada a diminuição de mobilidade da área afetada e alte-rações da atividade simpática e microcirculação.

além disso, a lesão de um nervo periférico provoca atrofia do corpo celular e de fibras pós-gangliona-res do sNs, com diminuição da síntese de cateco-laminas e aumento da resposta vasoconstritora (sakata, 2004).

após dano nervoso periférico, foram observa-das alterações no sistema Nervoso simpático (sNs) como intensificação da inervação simpática no axônio lesado, grande sensibilidade à catecolaminas e aparecimento de bulbos nos axônios simpáticos noradrenérgicos perivasculares, demonstrando que o sNs desempenha uma função moduladora e não geradora de dor (luzio, 1969).

ALTERAçÕES CEnTRAISModelos experimentais demonstraram que

o dano nervoso inicia uma cascata de eventos os quais resultam em modificações neuroquímicas e de biologia molecular nos axônios periféricos, no corno dorsal da medula espinhal e em níveis supra-segmentares no sNC, resultando de componentes interativos e sinérgicos. Podemos sistematizar os diversos mecanismos centrais de modo didático, analisando-o sob três aspectos diferentes que são a sensibilização central, neuroplasticidade e altera-ções na modulação (Drummond, 2006).

o surgimento de alodinia mecânica, hiperalgesia secundária (hiperalgesia em áreas que circundam a lesão) e a dor referida (difusa, freqüentemente pro-jetada para estruturas vizinhas a área lesada ou para a pele que recobre a lesão) deve-se a mudanças cen-trais deflagradas por eventos periféricos originados em fibras a-β, a-δ e C (timo-iaria, 1969).

essas modificações incluem fenômenos de sensibilização neuronal no corno dorsal (sensibili-zação central) com aumento de excitabilidade de neurônios de projeção em relação a estímulos pro-venientes de fibras a-β e C. a ativação de receptores N-Metil-D-aspartato (NMDa) desempenha um papel fundamental na indução e manutenção da sensibili-zação central (Pisera, 2005).

Neurônios sensibilizados possuem caracterís-ticas particulares. um estímulo transitório provoca uma resposta de maior duração e intensidade e, neurônios de áreas vizinhas à lesão que antes apenas enviavam mensagens subliminares, agora enviam descargas efetivas, favorecendo o processo álgico (Pisera, 2005).

após a sensibilização, a sensação não-nocicepti-va será percebida como dolorosa (alodinia) e o estí-mulo nociceptivo como mais doloroso (hiperalgesia) (sakata et al, 2004). uma simples aproximação do Figura 1. Vias anatômicas do trato doloroso aferente.

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proprietário pode produzir ainda mais estresse (hel-lebreakers, 2002).

um mecanismo relevante na sensibilização cen-tral que aumenta a transmissão de impulsos sem necessitar de alteração na barragem da aferência é o fenômeno wind-up, que consiste no aumento da resposta de certos neurônios nociceptivos de maneira súbita e marcante, tanto em intensidade quanto em duração da atividade, mesmo quando o estímulo periférico permanece o mesmo, contri-buindo para uma condição plena de sensibilização central. Designa portanto, o aumento progressivo no potencial de descarga em neurônios, como con-seqüência da estimulação repetitiva de fibras C afe-rentes. a ativação de receptores NMDa também é necessária para que ocorra o fenômeno. o início do processo depende de despolarização prolongada e lenta, estando presente portanto nos casos de dor crônica (Mathews, 2005).

a respeito dos receptores NMDa, NK1 e CgRP, o glutamato está amplamente distribuído no sNC, sendo seu mais importante neurotransmissor excitatório (Corrêa, 1997) e, suas ações são media-das por três tipos de receptores, o aMPa, NMDa e não-NMDa. a ativação de receptores NMDa é um componente essencial da sensibilização central. o glutamato, ao ativar receptores NMDa, provoca uma série de reações nas respectivas células, exacerban-do respostas do sistema nociceptivo (Bonica, 1969).

a estimulação prolongada de fibras C induz aumento da concentração citosólica de cálcio nos neurônios pós-sinápticos, pela entrada desse através de receptores NMDa ou de canais ativados por volta-gem. além disso, a ativação de receptores acoplados a proteína g (entre eles a neurocinina NK1) pode contribuir para esse aumento. o aumento dos níveis de cálcio ativam diferentes proteínas que as fosfori-lam, incluindo os receptores NMDa, aumentando a probabilidade de abertura e ou condutância a esses canais (Pisera, 2005).

alguns genes como os proto-oncogenes C-fos e C-jun sintetizam proteínas que irão potencializar a ati-vidade excitatória dos neurotransmissores, facilitando a instalação da dor neuropática (sakata et al, 2004).

a neuroplasticidade é a capacidade de mudança do sNC, ou seja, especificamente em situações álgi-cas onde as alterações prolongadas na periferia dos neurônios, em resposta a estímulos nociceptivos intensos e demorados, nem sempre sendo favorável à regeneração nervosa, uma vez que as alterações neuronais raramente restauram as funções perdidas, desempenhando papel patológico. assim, tais alte-

rações resultantes da interação entre terminações nervosas e neurotransmissores vão gerar ou manter sensações nociceptivas mesmo na ausência do es-tímulo inicial, gerando alterações na modulação da dor (Drummond, 2006).

os mecanismos modulatórios ocorrem em vá-rios estágios do processo nociceptivo envolvendo circuitos nervosos e substâncias bioquímicas com seus receptores. as vias neurais, por onde ocorre a modulação da nocicepção, pode ser classificada em dois grupos; os interneurônios medulares (ex-citatórios e inibitórios) e o controle supramedular descendente, sendo os interneurônios inibitórios os de maior importância, apesar de que processos inibitórios e excitatórios são ativos e interdepen-dentes (Bonica, 1969).

a inibição é um processo que resulta da atividade nervosa e suprime ou interrompe a ação de infor-mações nociceptivas (Bonica, 1969), tendo como neurotransmissores a serotonina e a noradrenalina e supostamente a adenosina e análogos, o ácido gama-aminobutírico, a neurotensina, a somatos-tatina, a vasopressina, a glicina e possivelmente a dopamina. os neurotransmissores que podem ter atividade excitatória sobre neurônios do corno dor-sal da medula espinhal são a calcitonina, substância P (atividade excitatória e inibitória), colecistoquinina e noradrenalina (atividade excitatória e inibitória) (Corrêa, 1997).

em condições de lesão axonal, o papel inibitório diminui e as conseqüências sobre a transmissão mediada por fibras a-δ e C causam hiperalgesia e alodinia. esses neurônios que sofrem alterações neuroquímicas podem vir a óbito, contribuindo com a dor neuropática por processo de desinibição (Pisera, 2005).

as vias inibitórias descendentes incluem neu-rônios serotoninérgicos originados do bulbo e rafe pontina e neurotransmissores noradrenérgicos pro-vindos do tronco cerebral, incluindo lócus ceruleus e subceruleus. aparentemente em estados de dor crônica são estabelecidos e mantidos por vias nervo-sas originárias de lâmina i que se progetam no tronco cerebral e prosencéfalo. essas áreas citadas são as que modulam a atividade de vias descendentes exci-tatórias e inibitórias (Drummond, 2006).

em seres humanos e animais, o sistema modu-lador parece atuar apenas na supressão da dor de longa duração. a supressão do mecanismo de modu-lação resulta em aumento aparente da intensidade do estímulo (Corrêa, 1997).

apesar de a dor poder ser gerada por excesso

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de estímulos nociceptivos ou por hipoatividade do sistema supressor, Corrêa (1997) cita o estresse, o medo e a ansiedade como relevantes na modulação do processo álgico, talvez por esses fatores intera-girem diretamente com mecanismos inibitórios e facilitatórios, ativando vias noradrenérgicas e sero-toninérgicas.

após a lesão de aferentes periféricos e possi-velmente degeneração de interneurônios inibitó-rios, a diminuição da atividade gaBaérgica (gaBa é um importante transmissor inibitório, com atividade eferente e pós-sináptica) é observada e parece ser reversível, contradizendo a possibilida-de da perda permanente de sinapses inibitórias. em suma, poderia haver uma redução transitória da atividade inibitória mediada por gaBa em neurônios de projeção e fibras C, acompanhada de morte de certos interneurônios inibitórios, po-rém a médio prazo seria produzido um aumento da atividade inibitória no corno dorsal da medula espinhal (Pisera, 2005).

as síndromes dolorosas causadas por amputa-ção de membros podem ser classificadas em dor do membro amputado, sensação do membro amputa-do e dor no coto de amputação (Drummond, 2006).

DOR DO MEMBRO AMPuTADO

trata-se de um fenômeno muito estudado mas, ainda pouco elucidado, onde o paciente tem a expe-riência de uma sensação desagradável no membro ou parte deste cirúrgica ou traumaticamente remo-vido, podendo surgir na primeira semana após o pro-cedimento e persistir por anos, ou surgir meses ou anos após a amputação (Jensen et al, 1983). Normal-mente localiza-se distalmente no membro fantasma, acometendo cerca de 2 a 97% dos amputados. Den-tre os acometidos, 5 a 10 % apresentam dor intensa (sakamoto, 1995).

Rodríguez (2001) e schmidt et al (2005) referem incidência de dor fantasma em 6 a 85% dos pacientes amputados, responsabilizando três teorias pelo apa-recimento da afecção; a teoria periférica, a central e a psicológica. a teoria periférica cita descargas espontâ-neas produzidas pelos neuromas contribuindo para o aumento da dor (schmidt et al, 2005). a teoria central envolve a percepção das descargas espontâneas pelo sNC (Rodríguez, 2001). a teoria psicológica responsa-biliza o envolvendo distorção da imagem corporal e presença de depressão e dificuldade de auto-aceita-ção, diminuindo mais ainda o limiar de dor (schmidt et al, 2005), fato que não ocorre em animais.

De Benedetto et al (2002) cita o fato de a dor fantasma estar fortemente ligada a fatores físicos, sociais e/ou psíquicos, relatando a dor do membro amputado como uma alternativa inconsciente para a vivência de integridade corporal, podendo-se con-cluir que os pacientes que tem dificuldade de aceitar a nova condição de deficientes são mais acometidos pela patologia, como uma tentativa inconsciente de reintegração corporal.

Fisher (1998) refere menor incidência de dor fantasma em indivíduos com facilidade de expressar o sofrimento da perda do membro, porém, assim como De Benedetto et al (2002) cita a fundamental importância do processo fisiopatológico na instala-ção da dor.

estudos realizados por Pusher et al (1998) refe-rem que 89 % dos pacientes humanos, com queixa de dor do membro fantasma, retrataram-se em dese-nho de sua auto-imagem corporal de forma íntegra, negando a amputação. Dentre os pacientes que aceitam a nova condição, 50% se retrataram com o membro amputado presente. em cães, esses fatores são limitados, talvez constituindo uma vantagem dessa espécie sobre os humanos.

em seres humanos, a dor do membro amputado é muito mais freqüente em indivíduos que já sofriam de dor antes da cirurgia, podendo-se concluir que a memória da dor é um dos fatores predisponentes para a afecção. Muitos indivíduos referem dor em partes precisas do membro que antes da amputação estavam ulceradas ou infectas (Jensen et al, 1983; Ra-machandran et al, 1998).

segundo a experiência de sakata (2004), a intensi-dade dolorosa tende a diminuir com o passar do tem-po, sendo mais freqüente nas amputações proximais.

se a dor persistir por longos períodos, outras re-giões do corpo tornam-se sensíveis, caracterizando a hiperalgesia secundária (Melzack, 1987).

a dor do membro fantasma não pode ser explica-da satisfatoriamente por qualquer mecanismo único tal como lesão nervosa periférica, ativação simpática exacerbada ou afecções psicopatológicas, já que de alguma forma todos os fatores citados contribuem para o aparecimento e perpetuação da patologia (ticianeli et al, 2002).

em Medicina humana, a teoria mais aceita na tentativa de elucidação da dor fantasma é a que propõe que o cérebro é formado por uma” rede” de neurônios que atinge o tálamo, o córtex e o sistema límbico, promovendo comunicação entre essas es-truturas. esta “rede” é determinada geneticamente e mais tarde alterada. a perda de estímulo para o

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membro que não mais faz-se presente, ativa a “rede”, denominada de neuromatrix, a produzir uma assina-tura padrão anormal, como calor, queimação, cãibra e formigamento (sintomas geralmente referidos por pacientes amputados). É observado que a intensida-de da dor experimentada pelos amputados correla-ciona-se com a extensão da reorganização funcional do córtex somatossensorial (ticianeli et al, 2002).

Devido à semelhanças neurológicas anatômicas e funcionais entre homens e animais, há grandes possibilidades da existência de dor fantasma em cães, porém, essa injúria provavelmente nunca será relatada devido à impossibilidade de comunicação verbal na espécie.

Como em toda dor crônica, as manifestações clínicas dessa afecção tendem a ser brandas, com sinais apresentados de forma discreta, como hipo-rexia, intolerância ao exercício e apatia (Bonafine, 2005). Desidratação e perda de peso comumente estão presentes (Fantoni et al, 2002). o consumo de oxigênio pelo miocárdio pode estar elevado, pos-sibilitando a ocorrência de arritmias. a glicemia de um paciente portador de dor crônica possivelmen-te estará elevada, devido à liberação exacerbada de cortisol. os altos níveis de aldosterona, causado por interferências no eixo neuroendócrino, podem causar retenção de sódio e desequilíbrio hidroele-trolítico (Fantoni et al, 2002).

SEnSAçãO DO MEMBRO AMPuTADO

a maioria dos indivíduos amputados menciona a percepção do membro quase imediatamente após a cirurgia. o membro fantasma é descrito como uma sensação de calor agradável (Rodríguez, 2001), for-migamento, sensação de ainda possuir o membro como antes do procedimento ou de forma distor-cida, fato que tende a desaparecer com o passar do tempo (Melzack, 1987).

a incidência da sensação do membro amputa-do é menor em crianças. apenas 25% das crianças que sofreram amputação entre dois e quatro anos de idade sentem a presença do membro fantasma. esse número aumenta proporcionalmente ao au-mento da idade em que as crianças sofrem amputa-ção, chegando a valores como o de 100%, para pes-soas amputadas a partir do oitavo ano de vida que apresentam ou apresentarão sensação do membro fantasma em algum momento de suas vidas (Rama-chandran et al, 1998).

Rodríguez (2001) baseia-se em duas teorias para tentar elucidar a sensação do membro amputado, a

teoria da lesão periférica e a teoria central. a teoria periférica cita que após a amputação há crescimento de tecido cicatricial ao redor dos nervos periféricos seccionados, estimulando-os constantemente e originando impulsos que atingem o tálamo. a teoria central é baseada na idéia de que a auto-imagem corporal tem base neurofisiolófica que se estabelece na infância e permanece durante toda a vida do indi-víduo, sendo as sensações fantasma uma tentativa de resgatar essa imagem corporal.

luzio (1969) refere que após secção de um ner-vo periférico as fibras nervosas do coto tendem a crescer, sendo envolvidas por tecido cicatricial e for-mando o neuroma que, quando estimulado poderia causar em alguns casos uma sensação anômala ao invéz de dor.

Melzack (1987) sugere que a sensação do mem-bro amputado seja produzida por atividades cere-brais que normalmente estão na base da imagem corporal, o substrato neural da nossa percepção da posição do corpo durante o movimento ou repouso. Normalmente, são os influxos sensitivos da pele, dos músculos e das articulações que orientam a imagem do corpo. Quando esses influxos são reduzidos, abaixo do nível crítico, a imagem do corpo torna-se espontaneamente ativa, de forma que na ausência de indícios visuais, percebem-se os membros em posições totalmente estranhas em relação aos mem-bros verdadeiros.

em único relato encontrado na literatura sobre sensação do membro amputado, evoluindo para dor no coto de amputação e possível dor fantasma em um animal doméstico, um felino, após 38 dias da amputação do membro posterior, movia o coto como se estivesse caminhando sobre a pata que já não existira. sessenta dias após a cirurgia, o animal apresentou-se letárgico e com dor no coto. após intensa terapia analgésica, ocorreu remissão total de quaisquer sintomas, permanecendo assim durante todo o tempo em que foi rastreado, 10 meses após a cirurgia (o’hagan, 2006).

Proprietários de cães que sofreram amputação de membros frequentemente relatam que seus ani-mais tentam apoiar-se sobre o membro extirpado para urinar, desequilibrando-se, movem o coto de amputação na tentativa de alcançar objetos com a extremidade do membro que não faz-se presente e até tentam coçar-se com ele, demonstrando clara-mente a sensação de ainda possuí-lo. Não é sabido até que ponto a sensação do membro fantasma pode ser desagradável ao indivíduo, ou evoluir para a dor do membro amputado.

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DOR nO COTO DE AMPuTAçãOClassificada como dor neurogênica, é gerada na ex-

tremidade do sítio de amputação em caráter de punha-lada ou choque, sendo gerada ou agravada por pressão sobre o coto (hiperalgesia mecânica) ou por infecção (hiperalgesia inflamatória) (Rodríguez , 2001).

a dor que ocorre no coto surge geralmente em decorrência da formação do neuroma no local da secção nervosa e também pode ser provocada e agravada por isquemia ou infecção local (Jensen et al, 1985; Rodríguez, 2001; sakata, 2004), podendo ser um fator desencadeante da dor do membro fantas-ma (Jensen et al, 1985; sakata, 2004).

segundo estudo realizado por Jensen et al (1985), a dor no coto de amputação ocorre logo após a cirurgia, sendo reportada por 57% dos pacientes. sua evolução é variável e pode persistir em 22% das pessoas após seis meses da amputação.

o portador de dor neuropática pode também vocalizar ao ser tocado no coto de amputação e até mesmo sem estímulo externo, pois os neuromas realizam despolarizações espontâneas (Drummond, 2006). alterações de postura podem decorrer de tentativas de proteger o coto dolorido, acompanha-das de relutância ao movimento e até alterações de marcha (hellebreakers, 2002).

DIAGnóSTICOComo em todo tratamento de dor crônica, o

comportamento do animal deve ser avaliado, pri-meiramente realizando-se uma anamnese e, poste-riormente, essas informações devem ser associadas a possíveis alterações fisiológicas. o questionário deve investigar a ocorrência de vocalizações, alte-rações de expressão facial, salivação, enrijecimento ou fraqueza muscular, alterações nos padrões de sono, alterações temperamentais, nível de ativida-

de, carência, apetite e, principalmente automutila-ção. em modelos de dor experimental, a automuti-lação é considerada como o estágio mais intenso e cruel da dor entre amputados, sendo uma etapa de avaliação geralmente proibida por comitês de ética (hardie, 2002).

Yazbek (2005) cita como principal alteração com-portamental em cães com dor crônica oncológica a redução da mobilidade, seguida de redução da alegria, de disposição para brincadeiras, do apetite, de interesse e curiosidade, como também a carência afetiva aumentada, fazendo com que o animal solici-te mais atenção do proprietário.

uma alternativa para o clínico estimar a presen-ça e intensidade da dor sentida por seu paciente é basear-se nos Princípios da analogia, que preconiza a idéia de qualquer procedimento ou lesão que seja considerado doloroso por humanos adultos tam-bém o seja para animais (hardie, 2002).

COnSIDERAçÕES FInAISa dor do membro amputado, que resulta de

alterações na reorganização cortical, é de difícil diagnóstico em cães, e na falta da comunicação ver-bal deve-se atentar às alterações comportamentais.

a dor no coto de amputação resulta da forma-ção de neuromas, estruturas que realizam despola-rizações espontâneas, agravando o quadro álgico do paciente.

a sensação do membro amputado é produzida por estímulos na área da base da imagem corporal, no córtex cerebral. em relatos extra-oficiais, pro-prietários relatam que seus animais amputados frequentemente tentam apoiar-se sobre o membro extirpado, ou mover o coto de amputação na ten-tativa de alcançar objetos com o membro que não faz-se presente.

Dados dos autores

Roberta Cristina Campos Figueiredo Médica veterinária, CRMv-sP nº 19.605.

Endereço para correspondência: Rua Basílio da Cunha, 78 Casa 07, são Paulo – sP.e-mail: [email protected].

Karina Velloso Braga yazbekMédica veterinária, CRMv-sP nº 12.418, Coor-denadora técnica de Pesquisa Clínica – agener união saúde animal; Responsável pelo ambula-tório de dor do Provet, são Paulo, Brasil. e-mail: [email protected].

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Referências Bibliográficas

Revista CFMv - Brasília/DF - ano Xvi - nº 50 - 201048

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NORMAS PARA APRESENTAÇÃO DE ARTIGOS

InFORMAçÕES GERAIS

o suplemento Científico da Revista do Conselho Fe-deral de Medicina veterinária tem como objetivo principal a publicação de artigos de revisão e de educação conti-nuada, básica, geral profissionalizante, que contribuam para o desenvolvimento da ciência nas áreas de Medicina veterinária e Zootecnia, podendo ser apresentados tam-bém manuscritos de investigação científica. os artigos, cujos conteúdos serão de inteira responsabilidade dos autores, devem ser originais e previamente submetidos à apreciação do Conselho editorial do CFMv, bem como, de assessores ad hoc de reconhecido saber na especialidade. a publicação do artigo dependerá da sua apresentação dentro das Normas editoriais e de pareceres favoráveis do Comitê Cientifico da Revista. os pareceres terão caráter sigiloso e imparcial. a periodicidade da publicação será quadrimestral.

os artigos e toda a correspondência pertinente deve-rão ser encaminhados para:

Revista CFMv Conselho editorial sia – trecho 6 – lote 130 e 140 Brasília-DF – CeP: 71205-060 Fone: (61) 2106-0400 Fax: (61) 2106-0444 E-mail: [email protected]

nORMAS EDITORIAIS

os textos de revisão, de educação continuada e cien-tífico devem ser inéditos, de primeira submissão, escritos segundo as normas ortográficas oficiais da língua portu-guesa e com abreviaturas consagradas, exceto o abstract e Keywords que serão apresentados em inglês.

ARTIGOS DE REVISÃO E DE EDUCAÇÃO CONTINUADA

os artigos de revisão e de educação continuada serão publicados por especialistas, nacionais ou interna-cionais, a convite do Comitê editorial, atendendo à solicitação dos profissionais Médicos veterinários e Zootecnistas. Devem ser estruturados para conter Re-sumo, abstract, Palavras-chave, Keywords, Referências Bibliográficas e agradecimentos (quando houver). a

divisão e subtítulos do texto principal ficarão a cargo do(s) autor(es).

ARTIGOS CIENTÍFICOSos artigos científicos deverão conter dados conclusi-

vos de uma pesquisa e conter Resumo, abstract, Palavras- chave, Keywords, introdução, Material e Métodos, Resulta-dos, Discussão, Conclusão(ões), Referências Bibliográficas e quando houver, agradecimentos, tabela(s), Quadro(s) e Figura(s). a critérios do(s) autores e/ou do Conselheiro editorial, os itens Resultados e Discussão poderão ser apresentados como uma única seção. Quando a pesquisa envolver a utilização de animais, os princípios éticos de experimentação animal preconizados pelo Conselho Brasileiro de experimentação animal (CoBea) e aqueles contidos no Decreto nº 24.645 de 10 de julho de 1934 e na lei nº 6.638 de 8 de maio de 1979 devem ser observados. também deve ser observado o disposto na Resolução nº 879, de fevereiro de 2008 do CFMv.

APRESENTAÇÃO os manuscritos deverão ser encaminhados na primei-

ra submissão em três vias (uma original e duas cópias). a primeira página da via original conterá o título do traba-lho, o nome completo do(s) autor(es), suas respectivas afiliação(ões) e o nome, endereço, telefone, fax e endereço eletrônico do autor para correspondência. as diferentes instituições serão indicadas por número sobrescrito. Nas duas cópias, a página de rosto deve omitir o(s) nome(s) do(s) autor(es). uma vez aceita a publicação, além de uma cópia impressa, deve ser enviada uma gravação do artigo em mídia magnética de alta densidade (CD), identificado com o título do trabalho e nome(s) do(s) autor(es).

DIGITAÇÃOo texto será digitado com o uso do editor de textos Mi-

crosoft Word for Windows, versão 6.0 ou superior, formato a4 (21,0 x 29,7), com espaço simples em uma só face do pa-pel, com margens laterais de 3,0 cm e margens superior e inferior de 2,5 cm, fonte times New Roman de 16 cpi para o título, 12 cpi para o texto e 9 cpi para rodapé e informações de tabelas, quadros e figuras. as páginas e as linhas de cada página devem ser numeradas.

TÍTULOo título do artigo, com 25 palavras no máximo, deverá

ser escrito em negrito e centralizado na página, sem utili-zar abreviaturas.

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RESUMO E ABSTRACTo Resumo e sua tradução para o inglês, o abstract, não

podem ultrapassar 250 palavras, com informações que permitam uma adequada caracterização do artigo como um todo. No caso de artigos científicos, o Resumo deve informar o objetivo, a metodologia aplicada, os resulta-dos principais e conclusões.

PALAVRAS-CHAVES E KEywORDSNo máximo 5 palavras serão representadas em se-

guida ao resumo e abstract. as palavras serão escolhidas do texto e não necessariamente do título.

TEXTO PRINCIPALNão há número limite de páginas para a apresenta-

ção do artigo. No entanto, recomenda-se que sejam con-cisos. Poderão ser utilizadas abreviaturas consagradas pelo sistema Métrico internacional; exemplo kg, g, cm, ml, eM etc. Quando for o caso, abreviaturas não usuais serão apresentadas como nota de rodapé. exemplo gh=hormônio do crescimento. as citações Bibliográfi-cas do texto devem ser pelo sobrenome do(s) autor(es) seguido do ano. Quando houver mais de dois autores, somente o sobrenome do primeiro será citado, seguido da expressão et al. exemplos: Rodrigues (1999), (Rodri-gues, 1999), silva e santos (2000), (silva e santos, 2000), gonçalves et al. (1998), (gonçalves et al., 1998).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASa lista de referências bibliográficas será apresenta-

da em ordem alfabética por sobrenome de autores, de acordo com a norma aBNt/NBR-6023 da associação Brasileira de Normas técnicas. inicia-se a referência com último sobrenome do(s) autor(es) seguido da(s) letra(s) inicial(is) do(s) pronome(s), exceto aqueles de origem es-panhola ou de dupla entrada, registrando-se os dois úl-timos sobrenomes. todos os autores devem ser citados.

obras anônimas têm sua entrada pelo título do arti-go ou pela entidade responsável por sua publicação. a referência deve ser alinhada pela esquerda e a segunda linha iniciada abaixo do primeiro caractere da primeira linha. os títulos de periódicos da referência podem ser abreviados, segundo a notação do Bioses *Biosis. serial sources for the Biosis previews database. Philadelphia, 1996, 486p.

abaixo são apresentados alguns exemplos de refe-rências bibliográficas.

ARTIGO DE PERIÓDICOeuCliDes Filho, K.; v.P.B.; FigueiReDo, M.P. ava-

liação de animais nelore e seus mestiços com charolês, fleckvieh e chianina, em três dietas 1. ganho de peso e

conversão alimentar. Revista Brasileira de Zootecnia, v.26, n.1, p.66-72, 1997.

LIVROSMaCaRi, M.; FuRlaN, R.l.; goNZales, e. Fisiologia

aviária aplicada a frangos de corte. Jaboticabal: FuNeP, 1994. 296p.

CAPÍTULOS DE LIVROWeeKes, t.e.C insulin and growyh. in: Buttery, P.J.;

liNDsaY, D.B.; haYNes, N.B. (ed). Control end manipu-lation of animal growth. londres: Butterworths, 1986. p.187-206.

TESES (DOUTORADO) OU DISSERTAÇõES (MESTRADO)MaRtiNeZ, F. ação de desinfetantes sobre salmonella

na presença de matéria orgânica. Jaboticabal, 1998. 53p. Dissertação (mestrado) – Faculdade de Ciências agrárias e veterinárias. universidade estadual Paulista.

ARTIGOS APRESENTADOS EM CON-GRESSOS, REUNIõES E SEMINÁRIOS

Rahal, s.s.; W.h.; teiXeiRa, e.M.s. uso de fluores-ceina na identificação dos vasos linfáticos superficiais das glândulas mamárias em cadelas. in. CoNgResso BRasileiRo De MeDiCiNa veteRiNÀRia, 23 Recife, 1994. Anais... Recife, sPeMve, 1994. p.19.

TABELAS, QUADROS E ILUSTRAÇõESas tabelas, quadros e ilustrações (gráficos, fotogra-

fias, desenhos, etc,) devem ser apresentados nas últimas páginas do artigo, uma em cada página. serão numera-das consecutivamente com números arábicos. a tabela deve ter sua estrutura construída segundo as normas de apresentação tabular do Conselho Nacional de estatísti-ca (ver. Bras. est. v. 24, p.42-60, 1963)

FOTOGRAFIASas fotografias deverão estar em boa resolução (níti-

da, colorido sem saturação, sem estouro de luz ou som-bras excessivas no caso de papel para escanear). Para digital seguem as mesmas recomendações, com resolu-ção mínima de 300 dpi, com a foto em tamanho grande (centímetros), formato tiF e as cores em CMYK.

AVALIAÇõES/REVISõESos artigos sofrerão as seguintes avaliações/ revisões

antes da publicação: 1) avaliação inicial pelo editor, 2) re-visão técnica por consultor ad hoc, 3) avaliação do editor e/ou Comitê editorial, 4) revisão final pelo(s) autor(es) do texto antes da publicação.

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TÉCNICAS PARA CONTER E DERRUBAR BOVINOSInTRODuçãO

os métodos empregados para conter e derrubar bovinos diferem segundo o sexo, idade, raça, tem-peramento e o local no corpo do animal onde se pre-tende trabalhar. além dessas particularidades, para facilitar a realização de algumas intervenções cirúrgi-cas e exames clínicos com o animal em posição qua-drupedal, pode ser necessário associar a administra-ção de um tranqüilizante, em dose suficiente para deixá-lo quieto, com anestesia local ou loco-regional. Quando for imprescindível derrubá-lo, realizar o pro-cedimento em local limpo, macio e com mínimo de força física para que o animal não caia bruscamente. Deste modo podem ser evitadas pequenas esco-riações ou até mesmo entorses, luxações e fraturas. visando a realização de intervenções cirúrgicas deve-se atentar ao desnível entre os currais ou estábulos e o local

onde o animal será contido, dando a preferência pe-los lugares mais altos e com o mínimo de dejetos.

Deve ser considerado o temperamento hostil, a sensibilidade a tranqüilizantes demonstrada por al-gumas raças zebuínas e o tipo de procedimento a ser abordado, visando evitar complicações tanto para o animal como para as pessoas envolvidas. também o diâmetro e posicionamento das cordas e proteção dos membros locomotores com almofadas. independen-te do atendimento a ser realizado, o Médico veteriná-rio deve conhecer os métodos de contenção para bo-vinos que possam proporcionar condições mínimas necessárias para o desempenho das suas atividades.

tanto nas contenções químicas como na física, é

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shutteRstoCK

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recomendada atenção especial quando da aborda-gem do animal. sugere-se aproximar de um bovino pelo seu antímero direito, uma vez que por con-venção é região que os ordenhadores aproximam das vacas para ordenha e dos bezerros para aplicar o cabresto. a aproximação deve ser decidida, sem medo, falando baixo e evitando exageros. Portanto, ao respeitar o comportamento do animal e conside-rar a possibilidade do bovino resistir à aproximação, o profissional pode criar um elo de confiança e, por conseguinte, facilitar a contenção seja ela química ou física (eurides & silva, 2002).

COnTEnçÕES EMPREGADAS nA RO-TInA DE uM VETERInáRIO DE CAMPO

apesar dos inúmeros métodos de contenção para bovinos, na prática, a escolha da técnica, além de depender das circunstâncias é sensato considerar a preferência de cada profissional. assim, um método pode ter indicação em determinadas situações, ser fa-cilmente realizado por técnicos e auxiliares, mas pode não ser preterido por outros, mesmo sendo de fácil execução. Nesse contexto, não se deve ignorar que a preferência por alguns métodos esteja relacionada aos costumes de cada região e ao tipo de exploração, seja ela de aptidão para leite ou corte. Diante dessa possibilidade, serão apresentados alguns procedi-mentos de fácil aplicação que podem ser empregados na rotina de campo pelo Médico veterinário.

COnTEnçãO quÍMICAÉ uma prática aliada ao método de contenção

física, já que facilita manejar o animal e diminui si-tuações de desconforto, agitação e dor quando das manipulações clínicas e cirúrgicas (tabela 1).

Fármacos Doses vias

Xilazina 0,1 - 0,2mg/kg iv, iM

lidocaínasem adrenalina: até 7,0mg/kgCom adrenalina: até 9,0mg/kg

local

acepromazina 0,1mg/kg iM, iv

Midazolan 0,2mg/kg iv

Tabela 1. Fármacos e doses utilizados em bovinos.

as anestesias em bovinos são preferencialmente locais, devido às favoráveis condições anatômicas e às características de comportamento. Quando contidos no tronco, permitem a aplicação de anestesias locais ou regionais, inclusive para realizações de laparoto-mias. além disso, esse tipo de anestesia é cômodo ao profissional e seguro para o animal, quando se respei-

ta a técnica de administração, o fármaco e a dosagem. Porém, as tranquilizações são na maioria das vezes indispensáveis já que muitos não aceitam ser presos em brete. a xilazina a 2% é um dos fármacos mais uti-lizados em bovinos, por conferir tranqüilizarão e mior-relaxamento e, dependendo da dose, analgesia. É um agonista α2 que possuiu além de atividades sedantes e analgésicas, uma ação miorrelaxante central. Pode ser aplicada por via intravenosa ou intramuscular, de-pendendo do animal e do procedimento a ser realiza-do. Pela via intramuscular, o período de latência vai de sete a 12 minutos e o animal apresenta relaxamento do tônus muscular esquelético e redução do tônus muscular liso. Causa também protusão da língua e dos lábios, diminuição da freqüência respiratória, saliva-ção abundante, emissão de mugidos, decúbito ester-nal seguido de decúbito lateral. Recomenda-se iniciar com dose menor, lembrando que zebuínos e taurinos apresentam respostas diferentes a esse fármaco. os zebuínos são mais sensíveis, sendo recomendada a dose inicial de 0,1mg/kg.

o anestésico midazolam é pouco utilizado, en-tretanto, é de grande valia quando associado até 1,0mg/kg à xilazina, para evitar regurgitação. alguns protocolos anestésicos podem ser utilizados para ce-sarianas com o animal contido em posição quadru-pedal, como a peridural com 5,0 a 7,0ml de lidocaína. também pode ser associado um bloqueio em forma de “t” (Massone, 2008).

o cloridrato de lidocaína é um anestésico local freqüentemente utilizado em bovinos. Possui potên-cia e duração moderadas, alto poder de penetração e pouca vasodilatação. Quando associado à adrena-lina aumenta o período anestésico devido à vaso-constrição local e absorção mais lenta. Dessa forma,

sua dose máxima pode chegar a 9,0mg/kg. Quando associado a vasoconstritores deve ser evi-tado em extremidades como na cauda, prepúcio, para redução de hérnias, preparo de rufiões e membros locomotores, já que favorece a redução da irrigação sanguínea, podendo ocasionar necroses.

É importante salientar que durante uma contenção em decúbito, posicionar a cabeça do bovino em declive de 10 a 20% em relação ao corpo, que pode evitar regurgitação e aspiração do conteúdo rumenal e pneumonia por corpo estra-nho. Para exames clínicos e cirúrgicos do prepúcio e pênis que necessitam exposição de pênis, admi-

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nistrar acepromazina na dose de 0,003mg/kg, iM (eurides et al., 1981). entretanto, nos procedimentos cirúrgicos envolvendo pênis e prepúcio, lembrar da possibilidade de traumatismos pós-operatórios, devido à exposição por longos períodos de tempo do pênis e da lâmina externa do prepúcio (eurides & silva, 2002.)

Neste trabalho foram utilizados termos zootéc-nicos e anatômicos durante as descrições dos méto-dos, para melhor especificar as diferentes regiões do corpo do bovino.

COnTEnçãO DA CABEçAa contenção de bovinos, principalmente os mais

arredios, pode iniciar-se pela amarração da cabeça por meio de laços, focinheiras e cabrestos ou pren-dendo-a em guilhotinas de bretes de contenção. em seguida, sugere-se aplicar um guia nasal (formiga nasal) associando a elevação da cauda (Figura 1).

apesar da existência de inúmeros modelos de cabrestos, nos atendimentos rotineiros fazer uso do cabresto temporário, considerado padrão nas con-tenções da cabeça. Para tanto, amarrar uma corda argolada (de metal ou com a própria corda) no pes-coço do animal e promover uma laçada contornan-do o chanfro. outro cabresto usado para bezerros e bovinos adultos é realizado após uma laçada no pescoço do animal e em seguida, uma das pontas deve passar por trás da outra, contornar o chanfro e retornar por dentro do laço formado (Figura 2 – a e B). É preferível fazer uso de cabrestos temporários, ao invés de somente laçar o pescoço do animal, para evitar acidentes, como o enforcamento. a con-tenção manual da cabeça é freqüentemente usada

para bezerros, mas com cautela pode ser aplicada também em animais adultos.

o método exige experiência do profissional ou do auxiliar para evitar maus tratos ao animal. o pro-cesso consiste em segurar uma das orelhas ou um dos chifres e com a outra mão introduzir o dedo pole-gar e o indicador nas narinas do animal, comprimin-do fortemente o septo nasal. Caso o bovino manifes-te inquietude, torna-se necessário a participação de um auxiliar na contenção, sobretudo segurando a cauda do animal (Figura 2 - C).

MéTODOS PARA DERRuBAR independente da idade, porte físico, raça e sexo

do animal evitar que ocorram lesões de pele e até ortopédicas. Precauções também devem ser adota-das como a equipe envolvida, sobretudo quando se tratar de profissionais iniciantes.

Como derrubar bovinos jovensos métodos podem ser usados para exames clí-

nicos, cura do umbigo, vacinações, administração de medicamentos, descorna com ferro candente e co-locação de cabrestos. Posicionar no costado direito ou esquerdo do animal e debruçar sobre o seu corpo, e com uma das mãos segurar a região axial e com a outra a prega inguinal. ao erguer o bezerro é retirado o apoio dos membros o que ocasiona perda do equi-líbrio e queda em decúbito (Figura 3).

Figura 1. Contenção em tronco simples com cabresto, formiga e corda guia fixada em um ponto mais elevado do tronco. Observar a cauda flexionada para ajudar na imobilização.

Figura 2. Bovino adulto contido com cabresto temporário (A) e bezerro com

cabresto para ordenha manual (B) e contenção da cabeça e cauda (C).

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Métodos para derrubar bovinos adultosexistem diferentes métodos para derrubar bovi-

nos adultos e, na escolha deve-se considerar a segu-rança do profissional e sua equipe e o desconforto ao animal. escolher um local com terreno plano e macio, coberto por colchões de espuma ou cama de capim ou piquete gramado. terrenos duros, acidentados, presença de pedras, madeiras e objetos perfurantes, podem originar graves traumatismos ou até mesmo a paralisia do nervo radial. Para evitar acidentes, animais de comportamento irascível precisam rece-ber, antecipadamente, uma dose de tranqüilizante. antes das contenções, colocar um cabresto para facilitar a seqüência correta e segura do método de contenção (Figura 1).

A. Método de RueffÉ recomendado para fêmeas e deve ser evitado

nos machos devido à possibilidade de lesões de pênis e escroto e compressão de vasos abdominais. em va-cas leiteiras pode ocasionar traumatismos no úbere. Com uma corda de 12 metros aplicar uma laçada na base do chifre (em animais mochos deve ser aplicado no pescoço) e no pescoço realizar uma laçada. em

seguida mais duas iguais passando uma pelo tórax e outra pelo flanco. as laçadas precisam ficar posicio-nadas no antímero esquerdo ou direito. Duas ou três pessoas devem tracionar a extremidade da corda para trás, provocando a queda do animal (Figura 4).

B. Método de BurleyÉ simples e eficiente, porém o animal deve permi-

tir a aproximação do pessoal, o que impede a sua uti-lização em animais hostis. É freqüentemente utilizado em animais dóceis, em vacas leiteiras e machos repro-dutores, por evitar traumatismos ao úbere e a genitália do macho. utilizar uma corda de aproximadamente 12 metros de comprimento, sendo sua metade colocada sobre o pescoço do bovino e as pontas passadas entre os membros torácicos. as pontas da corda são cruza-das no final do lombo, e posteriormente direcionadas para as regiões inguinais passando paralelas as faces internas da cocha. as extremidades das cordas são tracionadas para trás até queda do animal (Figura 5).

Figura 3. Retirada do apoio dos membros por contenção pela prega inguinal e região axilar.

Figura 4. Método de Rueff. Figura 6. Método italiano.

Figura 5. Método de Burley.

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C. Método ItalianoÉ semelhante ao de Burley, a diferença é que a

corda após ser aplicada sobre o pescoço deve ser cruzada sobre o peito. Devido ao posicionamento da corda pode ocorrer enforcamento. a seqüência é a mesma descrita no método de Burley (Figura 6)

D. Método de Jongempregado para derrubar novilhas mansas.

Com uma corda realizar duas laçadas, uma passan-do a frente do úbere e sobre os flancos e a outra contornando o tórax. Posicionar no costado direito ou esquerdo do animal e tracionar fortemente as extremidades da corda, pressionando os antebraços sobre a região do dorso, até que se seja conseguido o decúbito lateral (Figura 7).

E. Método de Almeida Barros

É uma técnica de fácil execução, porém não é indicada para vacas leiteira e reprodutores, devido à possibilidade de causar lesão no úbere, prepúcio e pênis. Com uma única corda argolada (de metal ou com a própria corda) aplicar uma laçada contor-nando os flancos. Circular os membros pélvicos com outra laçada passando através da argola e tracionar lateralmente (Figura 8).

F. Método de Almeida Barros Modificado - 1É freqüentemente utilizado por ser de fácil

execução. Pode ser empregado em bovinos hostis e não causa lesões no úbere nem na genitália do macho. Manter a cabeça do animal fixada com ca-bresto, e com uma corda argolada de seis metros realizar uma laçada envolvendo o tórax. Movimen-tar a corda para que a argola fique do lado oposto a pessoa que está realizando a contenção (Figura 9. a). Promover uma tração lateral para que a corda se fixe no tórax (alguns animais já entram em decúbito neste momento). Contornar os membros pélvicos com o restante da corda e tracionar para trás. Deve-rá ocorrer uma queda lenta (Figura 9. B).

Figura 9. Método de Almeida Barros modificado. Laçada aplicada sobre o tórax do costado oposto a pessoa que realiza a contenção (A) e nos jarretes (B).

Figura 7. Método de Jong.

Figura 8. Método de Almeida Barros.

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G. Método de Almeida Barros Modificado - 2técnica recomendada para vaca leiteira. aplicar

uma peia acima do jarrete (como na ordenha manual) e com a corda do cabresto contornar a peia. ao tracio-nar a corda para frente o animal flexiona o pescoço sobre o costado, ocasionando o decúbito (Figura 10).

MéTODOS DE IMOBILIZAçãO EM POSIçãO quADRuPEDAL

É recomendado trabalhar em bretes para conten-ção de bovinos ou pelo menos em troncos conven-cionais. Para maior segurança, é preciso que o animal seja colocado no tronco com cabresto para evitar que se desequilibre.

A. Elevação do membro torácico ou pélvicoCom uma corda realizar uma laçada na região do

metacarpo. a extremidade da corda é posicionada sobre a cernelha e tracionada do lado oposto, obten-do assim a elevação do membro. Pode ser utilizada em rebanhos leiteiros para intervenções no casco, castrações e rumenotomias (Figura 11). Para erguer um membro pélvico, aplicar uma laçada na região do metatarso e passar a corda contornando a extremida-de superior de um esteio de cerca. em seguida colocar uma laçada em torno do jarrete do mesmo membro.

MéTODOS DE IMOBILIZAçãO APóS O DERRuBAMEnTO

após o derrubamento é recomendado, como medida de segurança, tracionar a cauda do bovino através da região inguinal e apoiar o joelho sobre o flanco e conter a cabeça para impedir que o animal se levante (Figura 12).

Figura 12. Imobilização da cabeça e a cauda tracionada entre os membros pélvicos.

o local para a imobilização definitiva neces-sita possuir pontos de fixação para as cordas que ofereçam resistência a grandes trações. Podem ser utilizados os cantos de cercas, cercas paralelas ou “pregos especiais” (estacas de ferro) fincados no solo. Para evitar que as cordas entrem em contato com a pele dos membros, é necessário protegê-los com pulseiras de couro ou peias de saco de algodão ou de plástico (peia de frango) para prevenir lesões de pele. É importante salientar que quando o animal for contido em decúbito lateral, a região escapular correspondente deve ser protegida com travesseiros de espuma ou saco contendo capim ou silagem ou casca arroz ou serragem. Desse modo pode-se evitar lesões do nervo radial.

Figura 13. Imobilização em decúbito lateral com cordas fixadas em estacas e os membros protegidos com sacos de plásticos.

Figura 10. Método de Almeida Barros modificado -2.

Figura 11. Elevação do membro torácico.

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A. Contenção lateral - 1aplicar uma peia de saco (de algodão ou de

plástico) nas regiões metacárpicas e outra nas meta-társicas. Fixar uma corda na peia do membro torácico e outra no membro pélvico, levando cada uma ao seu ponto de fixação e com outra imobilizar a cabeça com um cabresto temporário (Figura 13). esse mé-todo pode ser utilizado para procedimentos como de preparo de rufiões, acropostites, desvio de pênis, fimoses, parafimoses, enucleações, cirurgias de teto, cesarianas, rumenotomias e papilotomias.

B. Contenção lateral - 2está técnica assemelha-se à anterior, porém são

utilizadas apenas duas cordas. Com a primeira fazer uma laçada envolvendo o pescoço do animal e a peia dos membros torácicos. em seguida concluir a laçada e tracionar a corda até o ponto de fixação (Figura 14). esse método também pode ser aproveitado para os mesmos procedimentos citados anteriormente.

Figura 14. Animal em decúbito lateral, com uma corda no pescoço e na peia do membro torácico. Notar que a cabeça e os membros torácicos permanecem juntos e estendidos.

C. Contenção lateral - 3os membros pélvicos são amarrados separada-

mente. o membro em contato com o solo é fixado rente ao solo, sendo o outro membro elevado. Pode ser utilizado nos procedimentos de cesarianas, cas-trações e desmotomias (Figura 15).

Figura 15. Imobilização em decúbito lateral com os membros atados juntos em forma de “X”.

D. Variações da contenção lateralas contenções descritas abaixo são semelhantes

às ilustradas nas figuras de número 13 e 14, com pe-quenas variações. Para procedimentos como de cesa-rianas e desmotomias, os membros pélvicos são amar-rados separadamente. o membro em contato com o solo é fixado rente ao solo, sendo o outro membro erguido, proporcionando acesso à região paramamá-ria. Nos procedimentos realizados na região perineal é recomendado que os membros pélvicos sejam amar-rados separadamente, sendo um dos membros fixado rente ao solo e o oposto flexionado, fixando a corda num ponto próximo a cernelha. Quando da atuação na região abdominal ou glândula mamária, amarrar os membros pélvicos separadamente. os membros torácicos devem ser fixados juntos, realizando assim, uma contenção dorsolateral.

E. Contenção dorsalapós aplicar uma peia de saco para atar os

membros torácicos e depois os pélvicos, fixar uma corda na peia do membro torácico e outra na peia do pélvico. Prender uma terceira corda na peia torácica ligando à pélvica. o animal é posicionado de forma que os pontos de fixação estejam no mesmo alinha-mento da linha imaginária dorso-lombar do animal. as cordas da extremidade são tracionadas e fixadas em pontos elevados. Posteriormente, tracionar a corda entre as peias realizando o travamento (Figura 16). esse método de contenção pode ser utilizado para procedimentos de casqueamento, amputação de dígito e hérnias.

Figura 16. Contenção em decúbito dorsal com as cordas dos membros e entre eles tracionada e cabeça contida com cabresto temporário.

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F. Contenção esternalPara manutenção do decúbito esternal é acon-

selhável manter o animal sob efeito de tranqüilizan-te. aplicar um cabresto temporário (Figura 2. B), fle-xionar o pescoço em direção ao costado e amarrar a corda do cabresto acima do jarrete (Figura 17). esse método pode ser utilizado nas descornas, enuclea-ções e exéreses de terceira pálpebra.

COnSIDERAçÕES FInAISas contenções apresentadas são adequadas para

imobilização física de bovinos nas realizações de diferentes procedimentos clínicos e cirúrgicos. entre-tanto, deve-se escolher o método de acordo com a idade, sexo, raça e comportamento do bovino.

o bem-estar do animal deve ser priorizado atra-vés da realização uma contenção correta e segura, assim como, considerar a proteção da equipe envol-vida nos procedimentos.

Figura 17. Posição em decúbito esternal com a guia do cabresto atada ao jarrete e com a cabeça voltada para o costado.

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MassoNe, F. Anestesiologia Veterinária: farmaco-logia e técnicas. Rio de Janeiro: guanabara Koogan, 2008. 571p.

Referências Bibliográficas

Duvaldo EuridesMédico veterinário. CRMv-Mg no 701. Profes-sor Doutor. Faculdade de Medicina veteriná-ria. universidade Federal de uberlândia/uFu. uberlândia, Mg.

Endereço para correspondência: av. Pará 1720. Campus umuarama. CeP: 38400-092. uberlândia, Mg. e-mail:[email protected]

Luiz Antônio Franco da SilvaMédico veterinário. CRMv-go no 780. Profes-sor adjunto. escola de veterinária. universi-dade Federal de goiás/uFg. goiânia, go.e-mail: [email protected]

Jordanna de Almeida e Silva acadêmica. Bolsista de iniciação Científica. escola de veterinária/uFg. goiânia, go.

José Cesar Menk Pinto Lima acadêmico. Bolsista de iniciação Científica. Faculdade de Medicina veterinária/uFu. uberlândia, Mg.

Leandro Batista Caetano acadêmica. Bolsista de iniciação Científica. escola de veterinária/uFg. goiânia, go.

Leonardo Lamaro Cardoso Mé-dico veterinário. CRMv-go no 4269. hospital veterinário/uNiP. goiânia, go.

Dados dos autores

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CARRAPATICIDAS, SEUS RESÍDUOS E A SAÚDE DO CONSUMIDOR

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os carrapatos causam desconforto, espoliação de sangue, lesões na pele e veiculam agentes patogêni-cos aos animais infestados. Nas vacas leiteiras esses efeitos são acompanhados de diminuição da quali-dade e do volume de leite produzido representando prejuízo ao produtor. Combater a infestação (Figuras 1 e 2) mantendo-a em nível tolerável ou eliminá-la é uma decisão freqüente na prática veterinária.

a primeira idéia e atitude costumam ser o em-prego de “venenos” que matam o carrapato (carra-paticidas). via de regra, combate-se o carrapato que é visto, ou seja, está fixado no corpo do animal para-sitado e já ingurgitado de sangue. Quiçá fosse o caso de pensar combater o carrapato no campo, aNtes de parasitar o animal.

a consulta aos textos de Farmacologia revela uma longa evolução dos fármacos empregados para combater os ectoparasitas em geral: desde substân-cias extremamente tóxicas (arsenicais) e prejudiciais

ao ambiente (organoclorados), ambos abandonados, até os produtos contempo-

râneos mais seguros, mas não inócuos (!) como piretróides, lactonas macro-

cíclicas, neonicotinóides (cloro-nicotinilas) e os denominados

reguladores de crescimento. a existência de tantos grupos e representantes revela a inter-minável procura por fármacos eficazes e mais seguros.

a eficácia dos carrapatici-das é constantemente com-prometida pelo surgimento de cepas de carrapatos resis-tentes. Muito tem sido escrito e discutido sobre os mecanis-mos de resistência. o fato é que a resistência confronta o cria-

dor com a ineficácia do tratamento,

obriga o Médico veterinário a realizar testes de sensibilidade (“biocarrapaticidograma”, Boletim do Conselho Federal de Medicina veteri-nária no 96 de 22.12.09) e a fazer rodízio entre fárma-cos carrapaticidas, além de outras medidas.

No combate aos carrapatos (Figura 3), em vacas produtoras de leite para consumo humano, o Médico veterinário precisa encontrar o ponto de equilíbrio entre: assegurar a maior produtividade e qualidade do leite evitando ou eliminando os parasitas e, ga-rantir a ausência de resíduos de fármacos no leite. tratam-se de interesses conflitantes, mas todos de sua responsabilidade profissional: maximização de produtividade e lucratividade, saúde e bem estar ani-mal e saúde do consumidor de produtos de origem animal. Por um lado deve manter a infestação ausen-te ou em níveis toleráveis com o uso de carrapatici-das e por outro, oferecer ao consumo humano um produto que não tenha níveis proibidos (potencial-mente tóxicos) de fármacos e/ou seus metabólitos.

os fármacos ou substâncias ativas para combater ectoparasitas, incluindo os carrapatos, podem ser formulados para aplicação na forma de brincos, mi-croencapsulados, soluções para uso transcutâneo,

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no caso da produção leiteira. Quanto mais longo o efeito residual, maior o período de carência. Portanto o leite de maior número de ordenhas deve ser des-cartado, tal como ocorre com o emprego de antimi-crobianos (aM) no tratamento das mamites: os aM de meia-vida longa, úteis no tratamento de mastites bacterianas em vacas “secas” requerem longos perío-dos de retirada e são impróprios para vacas em lacta-ção. há carrapaticidas que tem período de carência de 1 mês (p.ex., avermectinas) perfeitamente úteis e apropriados para animais de abate mas inadequados para vacas em lactação.

a principal característica farmacocinética dos carrapaticidas que requerem longos períodos de retirada é a lipossolubilidade, que assegura ao fár-maco permanecer no organismo do animal tratado por longo período. Principalmente os carrapaticidas que atuam por contato (p. ex., piretróides), ou seja, atravessam o exoesqueleto do carrapato devem ser lipossolúveis. sua absorção pelo hospedeiro até é indesejada mas é inevitável. outros carrapaticidas alcançam o carrapato pelo sangue do hospedeiro (p. ex., lactonas macrocíclicas), seja porque foram ab-sorvidos por via transcutânea (aplicados no dorso do animal), seja porque foram injetados, de forma que por esta via também alcançam a glândula mamária e podem ser excretados com o leite ordenhado. o leite, como uma emulsão de gordura em água, retém mais as substâncias com maior lipossolubilidade.

ao prescrever ou recomendar um produto veterinário para uso em animais de produção o Médico veterinário tem a obrigação de ressaltar, por escrito na receita e oralmente, a duração do pe-

aspersão, banho de imersão, injetáveis ou para uso oral. a escolha da forma farmacêutica se relaciona com a eficácia, a praticidade de administração e a permanência do carrapaticida no animal tratado. Qualquer que seja a substância ativa escolhida para o combate ao carrapato ou outro ectoparasita, com base ou não no carrapaticidograma, implica na es-trita obediência ao período de carência, abstinência ou retirada, que o fabricante deve obrigatoriamente informar na bula, segundo Normas da Coordenação de Fiscalização de Produtos veterinários do MaPa. o desrespeito a esta conduta é grave erro técnico e infração ética, pois resulta na presença de “restos” (resíduos) do “veneno” no leite. a pasteurização, a fervura ou a filtração do leite ou seu processamento industrial a sub-produtos não eliminam os resíduos, que acabam sendo ingeridos por lactantes e demais consumidores de leite e derivados com conseqüên-cias diversas.

Para evitar prejuízos com o descarte do leite con-taminado, a orientação é que o uso de fármacos para combater os carrapatos (e outros procedimentos terapêuticos ou profiláticos) seja feito no período de não lactação. o intervalo entre duas ordenhas suces-sivas não é suficiente para eliminar todo o carrapa-ticida que foi administrado ou aplicado e absorvido pela vaca tratada: inevitavelmente o leite das orde-nhas posteriores a aplicação do carrapaticida estará contaminado.

o longo efeito residual é útil quando se deseja aumentar o espaçamento entre dois tratamentos carrapaticidas sucessivos, mas é indesejado quando se trata da presença de resíduos, particularmente

Figura 1. Infestação por carrapatos na cabeça de bovino.

Figura 2. Infestação por carrapatos na base da calda e períneo de vaca.

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ríodo de carência que não pode ser menor do que o especificado pelo fabricante na bula. os períodos de carência publicados em livros texto são somente uma referência básica para a substância ativa em questão. o tempo exato deve ser estabelecido para cada produto porque o período de carência depende da vários fatores como: sal empregado, concentra-ção da substância ativa, forma farmacêutica, via de administração e excipientes (solubilizantes, estabili-zantes, conservantes, etc.). o fabricante ao elaborar o Relatório técnico para fins de registro e licenciamen-to na Coordenadoria de Produtos veterinários do MaPa deve comprovar que o tempo de carência do seu produto é suficiente para que os resíduos even-tualmente presentes sejam inócuos, daí porque esta é a informação que tem credibilidade.

Problemas de grande significado em saúde pública incluem: a grande variedade de produtos de uso veterinário e, conseqüentemente, de subs-tâncias ativas disponíveis e, a livre aquisição destes produtos, incluindo os carrapaticidas: não é neces-sária receita veterinária para adquirir estes “venenos”. a grande variedade torna dispendioso e demorado o controle da presença de resíduos. assim, rotinei-ramente, só é pesquisada a presença de um número muito limitado de fármacos.

a legislação requer que o estabelecimento que comercializa produtos veterinários tenha um Médico veterinário Responsável técnico (Decreto 5053 de 22.04.04; Capítulo v; art. 18 §1o item ii). É responsabi-lidade do Rt informar adequadamente o comprador do carrapaticida (e de qualquer outro produto vete-rinário a ser usado em animais de produção) sobre a estrita obediência ao período de retirada informado na bula. Para evitar mal-entendido, esta informação deve ser passada por escrito. este período deve ga-rantir que a concentração de resíduo(s) no leite, na

Boothe, D.M. & sCott, M.M.: Ectoparasiticides. Chemotherapeutic Agents. in.: the Merck veterinary Manual. ed.: KahN, C.M.; sCott, l. & aiello, s.e. the Merck veterinary Manual, 9th ed., 2008.

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sPiNosa, h.s., gÓRNiaK, s.l. & BeRNaRDi, M.M. Far-macologia aplicada a Medicina Veterinária. 4a ed. guanabara Koogan, 2006.

Referências Bibliográficas

Augusto LangelohMédico veterinário CRMv-Rs nº 0721, Mestre e Doutor em Farmacologia, Professor apo-sentado de Farmacologia veterinária, uFRgs. Bolsista da Fundação alexander von humbol-dt, Presidente da academia Rio grandense de Medicina veterinária.

Endereço para correspondência: Rua Monte Pascoal, 84, CeP: 91320-260 Porto alegre, Rs.e-mail: [email protected] ou [email protected]

Dados do autor

carne dos animais destinados ao consumo humano ou nos ovos tenha caído abaixo do valor que os torna substância tóxica se ingeridos diariamente.

Na Comunidade econômica da europa vigora uma norma que estabelece limites máximos de re-síduos de fármacos em produtos de origem animal incluindo ectoparasiticidas (eeC No 2377/90). se o Brasil vier a se tornar exportador de leite e derivados para esses países as normas de comercialização e uso dos produtos de uso veterinário deverão se tor-nar mais rigorosas, seu emprego mais responsável e os produtos de origem animal incluindo os lácteos mais controlados.

Figura 3. Combate ao carrapato por meio de aspersão de carrapaticida.

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CENTRO DE TRIAGEM DE ANIMAIS SILVESTRESFERRAMEnTA PARA o EnSIno, PESqUISA, EXTEnSão E EDUCAção AMbIEnTAL

Centros de triagem de animais silvestres (Ce-tas) são locais destinados a recepção, recuperação, e re-introdução de animais silvestres de várias ori-gens, principalmente o tráfico, que representa até 89% dos animais encaminhados aos Cetas.

segundo o Ministério do Meio ambiente apenas 27 Centros de triagem estão registrados no território brasileiro, o que para um país das dimensões do nos-so é um número baixíssimo. Cetas associados a uni-versidades são ainda mais raros, sendo que um dos poucos exemplos é o vinculado à universidade Fede-ral de viçosa, desde 2000, apresentando-se como o segundo mais movimentado de Minas gerais.

ao longo do seu funcionamento, o Cetas-uFv tornou-se um centro de referência na recepção de animais silvestres na Zona da Mata Mineira, atu-ando em parceria com o iBaMa-Mg, Policia Militar ambiental e mais recentemente com o instituto estadual de Florestas-ieF. aproximadamente 5000 animais foram tr iados ou atendidos neste período, permitindo o treinamento de estagiários e a realização de cursos relacionados à manu-tenção de animais silvestres em cativeiro, reabilitação e re-introdução em que estive-ram envolvidos estudantes de várias regiões do País. Na uFv, cerca de 500 esta-giários atuaram no Cetas, fi-cando evidente o interesse pela área ambiental quando são relacionados os cursos dos estudantes envolvidos,

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Animais mantidos no Cetas.

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dissertações de mestrado e duas teses de doutorado. atualmente, outros 12 projetos entre disser-tações, teses, iniciação científica e projetos indi-viduais encontram-se em execução, com financia-mento da FaPeMig, CNPq, CaPes, Fundação Boticário, dentre outras.

o Cetas também tem se tornado parceiro na condução de projetos com unidades de conservação como o Parque es-tadual da serra do Brigadeiro e o monitoramento por radiocolar de onça parda (Puma concolor) reintroduzida. No Parque esta-dual do Rio Doce é realizado o levantamento faunístico, mo-nitoramento e sanidade de grandes carnívoros. em viço-sa, na Mata do Paraíso e regi-ões circunvizinhas são mo-nitorados jaguatirica (liopardus pardalis) e lobo guará (Crysocyon brachyurus) re-introduzidos. em criatórios localizados em Belo ho-rizonte, são desenvolvidos projetos sobre biologia reprodutiva de gato do mato pequeno (leopardus tigri-nus), em ouro Preto e parceria ainda é registrada como os Projetos “CRias e CoNCeRvo” Fazenda engenho D’agua e associados -Mg, que sob o fi-nanciamento do ieF, o Cetas-uFv ofe-rece assistência técnica a pequenos produtores de animais silvestres (Paca) e desenvolve projetos de reprodução assistida em criatório de cervídeos.

em relação à educação ambiental o Cetas da universidade Federal de viço-sa, desenvolve o projeto Cetas na escola, que atende regularmente escolas de pri-meiro e segundo graus na região, discor-rendo sobre a biodiversidade e tráfico de animais, conservação dos ecossistemas e os impactos humanos na degradação ambiental, com resultados notáveis na conscientização dos jovens.

É oportuno alertar para o grande nú-

como Medicina veterinária, Ciências Biológicas, Zootecnia, engenharia Florestal, Nutrição, agrono-mia, engenharia elétrica, Computação, Pedagogia, economia Doméstica, arquitetura e Direito.

as dependências do Cetas e os animais inter-nados são disponibilizadas para pesquisadores, sendo que até o momento foram conduzidas 12

Técnicos coletando urina de uma jaguatirica.

Filhotes de lobos guarás nascidos no Cetas se alimentando.

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mero de animais que adentram aos Cetas, para as dificuldades no tratamento e para a falta de destino promovendo um abarrotamento da população. a manutenção constante e onerosa, e com atividades que não podem ser interrompidas por falta de re-cursos, torna os Centros de triagem muito suscetí-veis a cortes ou contingenciamentos de verbas.

em fevereiro 2008 o iBaMa regulamentou a cria-ção dos Cetas por meio da instrução Normativa 169. são normatizados como “Centro de reabilitação de animais silvestres (CRas) todo empreendimento autorizado pelo ibama, somente de pessoa jurídica, com finalidade de: receber, identificar, marcar, triar, avaliar, recuperar, criar, recriar, reproduzir, manter e reabilitar espécimes da fauna silvestre nativa para fins de programas de reintrodução no ambiente natural; e como Centro de triagem de animais sil-vestres (Cetas) todo empreendimento autorizado pelo ibama, somente de pessoa jurídica, com fina-lidade de: receber, identificar, marcar, triar, avaliar,

Rastreamento do puma no Parque Estadual da Serra do Brigadeiro.

Tarcizio Antônio Rego de Paula Médico veterinário, CRMv-Mg no 03799. Pro-fessor associado, Centro de triagem de ani-mais silvestres, Departamento de veterinária, universidade Federal de viçosa, Mg. e-mail: [email protected]

Dados do autor

recuperar, reabilitar e destinar animais silvestres provenientes da ação da fiscalização, resgates ou entrega voluntária de particulares”. Por meio do Ma-nual de Procedimentos para Destinação de animais silvestres (MPD) do iBaMa, procura-se minimizar os riscos para as espécies e o ambiente, com proto-colos previstos para avaliação de áreas de soltura; levantamento clínico e diagnóstico; levantamento genético; estudo do comportamento animal; moni-toramento pós-soltura, dentre outros.

a realidade dos Centros de triagem de animais silvestres é muito diversa, porém, é evidente o po-tencial para atuação na conservação da fauna. além das ações na recuperação de indivíduos, é uma fon-te de conhecimento e de material para treinamento de mão de obra especializada e, se bem administra-do é decisivo em ações de educação ambiental.

Onça parda com rádio colar no momento da soltura.

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PANORAMA SOBRE A SITUAÇÃO ATUAL E O FUTURO DO ENSINO DA MEDICINA VETERINÁRIA NO BRASILInTRODuçãO

a lei n° 10.172, de 9 de janeiro de 2001, que apro-vou o Plano Nacional de educação (PNe), estabeleceu que o país deve alcançar o patamar educacional pro-posto nos dez anos de sua vigência. entre suas metas e objetivos destacam-se a melhoria da qualidade do en-sino em todos os níveis, a oferta de educação superior para, pelo menos, 30% dos integrantes da faixa etária de 18 a 24 anos e a ampliação de oferta de ensino público de modo a assegurar uma proporção nunca inferior a 40% do total de vagas. Como se trata de um plano de estado, os objetivos e metas nele fixados são objetivos da nação brasileira. Mesmo com mudanças de governo o plano deve continuar, porque ele res-ponde a um ditame superior, constitucional e legal, com duração de uma década. embora aquela lei não estabeleça sanções, é uma lei de compromissos que representa a opção ética por um ideal de educação para o País, o pacto político e técnico por metas neces-sárias. e, sendo lei, está em consonância com a Consti-

tuição Federal, com a lDB e com os compromissos internacionais firmados pelo Brasil.

De acordo com as

estatísticas do iBge (2010), atualmente o número de jovens na faixa etária entre 18 e 24 anos gira em torno de 21 a 22 milhões, dos quais 5.808.017 se encontram matriculados nas diferentes modalidades do ensino superior (Censo, 2008 – iNeP), o que corresponde a pouco mais de 25% desta população. estes dados mostram que o número de matrículas deve ainda crescer por volta de 5% até 2011, para que se atinja o percentual previsto no PNe.

Muito se falou nos últimos anos a respeito da proliferação de cursos no país, inclusive na Medicina veterinária (Mv). embora o PNe dê guarida ao au-mento de instituições, cursos e vagas, é importante atentar que atualmente mais de 1,4 milhão de vagas ofertadas estão ociosas, sendo que 97,5% destas se encontram nas instituições privadas (Censo, 2008 – iNeP). levantamento realizado por oliveira Filho et al. (2006) mostrou que na Mv, no ano de 2005, tão somente 70,44% das vagas oferecidas nos pro-cessos seletivos das diferentes instituições foram preen-chidos, restando, naquele

ano, 3.631 vagas ociosas. Nas

MeDiCiNa veteRiNÁRia No BRasil

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qual, em muitas situações, não apresenta o nível de qualidade demandada pela população usuária dos serviços médico-veterinários. Como se trata de um plano de estado, cujas metas são para toda a nação brasileira, é importante que o objetivo da melhoria de qualidade do ensino em todos os níveis seja me-recedor da atenção que o assunto requer. espera-se, no mínimo, que as instituições de ensino dediquem e invistam nesta meta o mesmo comportamento e esforço que dispensam à criação de novos cursos e busca de alunos.

No limiar do século XXi é fundamental que a ex-pansão de oferta do ensino superior aconteça sem prejuízo da qualidade. esta deveria ser meta prioritária em todas as instituições de ensino, independente da vinculação administrativa. a preocupação com a formação de qualidade precisa ser o principal objetivo do projeto pedagógico de cada curso, pois, além do conhecimento técnico, as instituições de ensino de-vem também contribuir para formar o cidadão para o mundo, levando-se em conta a sua inserção em uma sociedade globalizada. a ênfase na formação ética e humanística deve estar presente durante todo o perí-odo de treinamento do futuro Médico veterinário.

É interessante lembrar que neste ano se come-moram 100 anos de criação da primeira escola de veterinária do Brasil. em 1910 foram criadas a escola de veterinária do exército, cujas atividades foram encerradas em 1937 e a escola superior de agricul-tura e Medicina veterinária que, em 1948, passou a fazer parte da universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. em 2011 também serão comemorados os 250 anos de criação da primeira escola de veterinária no mundo, a escola de lyon – França, momento que representa também o nascimento da veterinária como ciência e profissão. vivemos assim momentos gloriosos que merecem ser festejados e exaltados pelo que representam histórica e profissionalmente. além disso, estes marcos especiais devem servir tam-bém para impulsionar as instituições no sentido de repensar a qualidade do ensino que estão pratican-do. É necessário e, até mesmo, imprescindível que os dirigentes dos cursos promovam reflexões sobre o futuro do ensino da Mv no país e, em conseqüência, da profissão. Neste sentido, o objetivo deste artigo é contribuir com alguns dados e análises sobre a qua-lidade do Médico veterinário que o Brasil necessita e que deverá formar nos próximos anos.

O FuTuROComo será o futuro e como se pode prevê-lo?

Não é fácil fazer previsões seguras sobre o futuro de

regiões centro-oeste e sul quase 40% das vagas não foram preenchidos. esta realidade é conseqüência do aumento de vagas, no período de 1991 a 2004, da ordem de 339,34%, enquanto o número de ins-critos nos processos seletivos, no mesmo período, aumentou em 126,38%. esses dados permitem inferir que o número de vagas ofertado é superior à demanda real. Neste mesmo sentido, oliveira Filho et al. (2009) usando parâmetros como o número de habitantes⁄curso, bovinos⁄curso e pequenos animais⁄curso, e comparando com outros países, como eua, austrália e argentina, mostraram que o Brasil apresenta relação abaixo de 50% daquelas dos outros países.

vale salientar que o PNe, além da expansão quantitativa do ensino superior, destaca também entre os seus objetivos a melhoria de qualidade. em nossa opinião aqui reside o principal problema, pois a realidade mostra claramente uma queda na qualidade, com a formação de profissionais sem o nível mínimo de conhecimento para o exercício das atividades inerentes à Mv. embora a avaliação do ensino superior seja objeto de lei (lei n° 10.861, de 14 de abril de 2004, que instituiu o siNaes - sistema Nacional de avaliação da educação superior), pare-ce que a maioria das instituições de ensino não deu a devida atenção para a qualidade, bem como os mecanismos de regulação disponíveis não têm sido suficientes para coibir a expansão quantitativa, a

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Pós-operatorio realizado por alunos em equino internado no hospital veterinário

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uma profissão. o futuro do ensino, também difícil de prever, pode representar a realidade futura da Mv. Neste sentido pode se perguntar: Quais serão as ha-bilidades e competências exigidas de um Médico ve-terinário em 2015 ou em 2030? Que nível de conhe-cimento técnico este profissional necessita ter? Qual a importância da formação ética, humanista e sócio-econômica para se alcançar sucesso nos próximos anos? Que tecnologias esse profissional precisa do-minar hoje e nos próximos anos? Deve se especializar em alguns dos fundamentos intrínsecos da profissão ou buscar uma formação eclética para atuar em um mundo globalizado? todos esses questionamentos devem ser feitos tendo-se em mente que o futuro da profissão em curto prazo (cinco anos) já está ocorren-do hoje dentro dos cursos de Mv, ou seja, qualquer modificação que hoje se realize na academia refletir-se-á daqui a cinco anos nos egressos.

FuTuRO PROVáVELPara se proceder a uma análise objetiva e pros-

pectiva, os dados que se encontram disponíveis são aqueles provenientes das avaliações previstas no siNaes, onde se encontram os resultados do eNaDe e das avaliações in loco quando do reconhecimento ou revalidação do reconhecimento dos cursos de graduação. os resultados do exame Nacional de Cer-tificação Profissional (eNCP), realizado pelo Conselho Federal de Medicina veterinária no período de 2002 a 2007, também contém informações valiosas, prin-cipalmente considerando que nas suas 13 edições participaram mais de 20.000 graduados.

os resultados do eNaDe⁄2007 mostram uma situ-ação, no mínimo, preocupante. De 137 cursos parti-

cipantes, apenas seis (4,3%) alcançaram conceito 5, todos de universidades públicas. Por outro lado, 47 (34,3%) obtiveram conceito 1 e 2, todos cursos de ins-tituições privadas. sem entrar no mérito da metodo-logia empregada para se chegar ao conceito final do eNaDe, essa realidade mostra que a qualidade do en-sino atualmente praticado na maioria dos cursos de Medicina veterinária deixa a desejar. Mais de um ter-ço dos cursos apresentou desempenho insuficiente, o que, inclusive, os obrigou a serem submetidos à nova avaliação para verificação das suas condições de funcionamento. Cursos com conceito 1 e 2 geral-mente apresentam estrutura física (salas de aula, la-boratórios, hospital veterinário, fazenda experimen-tal) insatisfatória, corpo docente não capacitado, com pouca ou nenhuma experiência profissional e, quase sempre, contratado com carga horária baixís-sima, prevalecendo os professores horistas que, em muitas situações, ministram várias disciplinas que nem sempre guardam relação de conteúdos entre si. ainda mais, alguns docentes em função da baixa remuneração se vêem obrigados a atuar em duas ou mais instituições, acentuando ainda mais a falta de identidade do professor com a instituição e o curso, faltando com isso tempo para assistência extraclasse ao aluno e ao desenvolvimento das atividades de pesquisa e extensão que são imprescindíveis para a formação qualificada dos discentes.

aqueles resultados demonstram também que em geral não há grandes diferenças de desempenho e comportamento entre ingressantes e concluintes, independente da vinculação administrativa da ins-tituição, o que mostra uma realidade preocupante, pois os estudantes passam cinco ou mais anos na

faculdade e não são sensibiliza-dos quanto a necessidade de se manterem atualizados e infor-mados dos acontecimentos em nível regional, nacional, ou mes-mo internacional. este fato é ex-tremamente grave, pois se vive hoje um mundo globalizado, onde a informação é ferramenta fundamental para o êxito de qualquer profissional, indepen-dente de sua área de atuação.

informações obtidas nas res-postas do Questionário socio-econômico preenchido pelos participantes do eNaDe⁄2007 revelam que quase 70% deles dedicam no máximo cinco horas

Desempenho médio de acertos geral por áreas de conhecimento Nacional - I ao XIII ENCP

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por semana para estudos extraclasse. apenas 13% de-clararam estudar oito horas ou mais. Percentual seme-lhante informou que lê jornais diariamente, enquanto 40% o fazem raramente. Mais de 60% leram no máxi-mo dois livros durante o ano. o meio de comunicação utilizado pela maioria absoluta é a televisão.

os resultados gerais do eNCP mostraram os efei-tos dessa realidade. Nas 13 edições realizadas, quan-do se contou com a participação efetiva de 21.233 candidatos, 7.456 (35,11%) não lograram êxito no exame. em sua última edição realizada em 2007, com participação voluntária de 607 candidatos, apenas 32,8% deles foram aprovados. o desempenho médio em termos de acertos mostrava queda a cada edição, se encontrando abaixo de 50% nos últimos exames, praticamente não mostrando diferenças no percen-tual de acertos entre as grandes áreas da Medicina veterinária.

o quadro evidenciado a partir dos resultados do eNaDe e do eNCP mostra a realidade atual do ensino praticado, situação que deveria representar grande preocupação por parte das instituições, bem como dos órgãos responsáveis pela fiscalização da qua-lidade do ensino praticado. Cursos com condições inadequadas de funcionamento, freqüentados por estudantes que apenas comparecem à sala de aula, não possibilitam a formação de profissionais aptos para enfrentarem a realidade do mercado de tra-balho e capazes de atenderem as necessidades da sociedade. seria desejável que todos os Médicos veterinários formados no país apre-sentassem conhecimentos suficientes para o adequado exercício profissional, mas um dos maiores desafios a ser enfrentado pela Mv é a enorme disparidade de qualidade do recém-formado, conseqüência de acen-tuadas diferenças institucionais e da quali-dade dos projetos pedagógicos. as instituições cujos cursos vêm sucessivamente apresentando resultados insatisfatórios em todos os processos ava-liativos precisam urgentemente repensar suas políti-cas acadêmico-pedagógicas, colocando a qualidade da formação como objetivo institucional, dedicando a este aspecto a mesma atenção e prioridade dispen-sadas à venda do ensino superior como mercadoria e não um bem público. Do mesmo modo, os órgãos reguladores devem ter uma ação mais enérgica pe-rante estas situações.

outro fator a ser considerado é o perfil do profes-sor. em conseqüência da atual política do Ministério da educação, onde a exigência fundamental para se ingressar no magistério superior é a titulação,

observa-se hoje um quadro de professores titulados, o que é positivo, porém, na maioria das vezes, sem vivência profissional. atualmente se verifica uma grande preocupação do recém-formado em se titu-lar o mais rapidamente possível, fazendo com que se emendem em seqüência à graduação os cursos de mestrado, doutorado e, em algumas situações, até mesmo o pós-doutorado. ou seja, o indivíduo é um pós-doutor, entretanto não vivenciou o exercício da profissão, circunstância que lhe mostraria de fato o que representa a prática da Medicina veterinária. em todos os editais de concursos não há qualquer pon-tuação para a experiência profissional não acadêmi-ca, ou essa é pouco considerada. Parece um pouco estranho que os responsáveis pela formação dos futuros Médicos veterinários não tenham vivenciado a experiência prática da Mv. em qualquer situação só se ensina de modo adequado aquilo que se conhece, só se orienta corretamente aquelas atividades que

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foram previamente praticadas e nas quais se adqui-riu suficiente experiência. um pouco de vivência na prática da Mv, aliada à titulação, seria o desejável.

atualmente a formação dos médicos veteri-nários tem sido, de certo modo, direcionada para a clínica de animais de companhia, ou seja, uma me-dicina veterinária “hospitalar e curativa”, cuja prática está se tornando altamente especializada, com foco na doença e não na saúde. Mesmo nessa área a formação ainda apresenta deficiências, contrastan-do com o fato de que os usuários do serviço estão cada dia melhor informados e esperam padrões de excelência no atendimento a seus animais, embora a custo reduzido. aumenta também a procura por assistência a animais silvestres e exóticos. embora os “pets” sejam uma área com alta demanda, é ne-cessário atender outras áreas que também repre-sentam necessidades básicas da sociedade, além da obrigatoriedade de se atender as premissas da lei n° 5.517, de 23 de outubro de 1968, que regu-lamenta a profissão e aquelas das Diretrizes Curri-culares Nacionais que pregam a formação de um Médico veterinário generalista, humanista, crítico e reflexivo, apto a desenvolver suas atividades em todos os campos de atuação profissional, o que, em nossa opinião, reflete com fidedignidade a necessi-dade da sociedade brasileira.

outro grande desafio a ser enfrentado é a qualidade da comunicação entre profissionais e com a sociedade. os estudantes, bem como os recém-formados, apresentam grande dificuldade tanto na comunicação oral como na escrita, prova-velmente em conseqüência da ausência do hábito da leitura, conforme mostrado nos resultados do eNaDe⁄2007. Para minimizar este problema, os currículos precisam contemplar estratégias que

garantam uma boa for-mação em comuni-

cação oral e es-

crita, de modo individual e em grupos. No mundo globalizado em que hoje se vive, a competência e o sucesso profissional dependem, além de lide-rança e da capacidade de trabalhar em equipe, também de uma adequada comunicação.

Pelas informações previamente expostas, fica evidente que o futuro, e até mesmo o presente, do ensino da Mv não é alvissareiro. ao contrário, é preocupante. assim sendo, é bastante presente que, caso não aconteçam rapidamente mudanças de princípios e objetivos, tanto pelas instituições que oferecem os cursos, bem como por aquelas que regulam esta oferta, corre-se o risco de ma-cular o prestígio desta nobre profissão. Mesmo considerando que, hoje mais do que nunca, a aprendizagem não termina com a graduação, devendo ser constante durante toda a vida profis-sional, as instituições de ensino têm a obrigação de colocar à disposição da sociedade profissionais com formação de qualidade, possuidores da com-petência mínima necessária para o exercício de suas atividades profissionais e que sejam capazes de atender as necessidades globais da sociedade, atuando como técnicos qualificados e, especial-mente, fazendo a diferença como cidadãos.

FuTuRO DESEJáVELindicações retiradas da Conferência Mundial

sobre o ensino superior, promovida pela unesco em 1998, mostram que a qualidade do ensino superior é função da qualidade do pessoal docente, dos planos de estudos, dos estudantes, da infra-estrutura e da gestão da instituição. o quadro docente deve ser administrado segundo o princípio do mérito e a ele deve ser assegurada a indispensável formação con-tinuada, aliada à vivência em atividades profissionais e desenvolvimento de trabalhos em equipes mul-tidisciplinares. a qualidade dos planos acadêmicos exige cuidado especial na definição dos objetivos da formação, em estreita ligação com as necessidades do mundo do trabalho e da sociedade; a adaptação de metodologias pedagógicas que propiciem aos estudantes uma participação ativa na construção do seu conhecimento, com desenvolvimento do espí-rito empreendedor, habilidades de comunicação e responsabilidade social. a qualidade dos estudantes

deve estar relacionada com critérios de progres-são ligados ao mérito, envolvendo capacidades

e motivação para a busca de novos conhe-cimentos. a qualidade da infra-estrutura é essencial na boa formação profissional, devendo a instituição ser dotada de todas

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as instalações necessárias ao desenvolvimento das atividades propostas no projeto pedagógico do cur-so. a gestão da instituição deve ser coerente com os objetivos e facilitar a interação com o ambiente, não permitindo que a instituição de ensino superior se transforme em uma ilha fechada em si própria.

esses são princípios gerais que devem nortear o funcionamento de todas as instituições de ensino superior e que se adequam perfeitamente ao en-sino da Mv. a profissão veterinária encontra-se no centro de uma nova ordem mundial. hoje, o médico veterinário faz parte de um mundo que é totalmente interconectado cultural, econômica, social e profis-sionalmente. em conseqüência as expectativas e ne-

cessidades da sociedade são mais críticas, exigentes e de longo prazo.

De acordo com recomendações da uNesCo (1998), para se alcançar sucesso neste amplo e complexo leque de atividades as qualidades que se esperam dos diplomados são: flexibilidade; capa-cidade de contribuir para a inovação e criatividade; capacidade de enfrentar a incerteza e desafios; dese-jo de aprender ao longo de toda a vida; sensibilidade social e aptidões para comunicação; capacidade de trabalhar em equipe; assumir responsabilidades; ter espírito empreendedor; preparar-se para a interna-cionalização do mercado de trabalho; possuir ampla

base de conhecimento e largo espectro de compe-tências genéricas, especialmente novas tecnologias, além de estar conectado com o mundo.

Para atingir estes objetivos, as escolas de vete-rinária devem promover uma transformação edu-cacional que permita o desenvolvimento daquelas habilidades, associadas à competência técnica. Devem também, e com urgência, promover uma revolução no ensino da Mv, mudando do ensino tra-dicional onde impera o “aulismo”, atividade em que o professor é o agente principal e prioritário, para o uso de estratégias pedagógicas que estimulem o aluno a pensar, formando um profissional com habilidade de reflexão e análise crítica. um Médico veterinário que

saiba relacionar fatos, investigar hipóteses, colher e interpretar informações, ou seja, que tenha capaci-dade de resolver problemas. enfim, os projetos pe-dagógicos dos cursos devem contemplar elementos de fundamentação essencial no seu campo do saber ou profissão, além de serem dotados de ferramentas que possibilitem o desenvolvimento do aprender a ser, aprender a pensar, aprender a aprender e, por meio da educação ao longo da vida, o profissional possa se manter atualizado.

em princípio essas orientações podem se apresentar como de difícil alcance, ou até mesmo parecerem utópicas, entretanto, o trabalho que

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Atividades de rotina em laboratório

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as coordenações dos cursos devem priorizar nada mais é que colocar na prática cotidiana as recomen-dações das Diretrizes Curriculares Nacionais (vide artigos 3°- 6°, 9°- 10° e 12° - 13° da Resolução n° 1, de 18 de fevereiro de 2003, Ces⁄CNe). as mudanças cur-riculares, na maioria das situações, têm se limitado a alterações na carga horária e troca de períodos de disciplinas, valorizando interesses outros que não consideram o perfil e a qualidade do egresso a ser formado pela ies. se os segmentos envolvidos na administração do curso não se dispuserem a exe-cutarem mudanças curriculares significativas, prin-cipalmente na filosofia do processo ensino-apren-dizagem, praticando as recomendações das DCN, continuar-se-á na mesmice, ou seja, diplomando in-divíduos incapazes de atender as demandas sociais.

Na realidade, além das competências e habilida-des já mencionadas, para formar o Médico veteriná-rio desejável para os próximos 10 -20 anos, os cursos devem garantir aos estudantes uma forte formação na área básica, proporcionando conhecimentos suficientes para o entendimento dos processos anátomo-fisiológicos, a interpretação de sinais clíni-cos e o estabelecimento de diagnósticos, bem como os fundamentos essenciais ao planejamento da pro-dução animal e a prevenção das zoonoses. No que se refere à parte profissionalizante, os estudantes devem receber formação consistente no sentido de desenvolverem sólidos conhecimentos nas áreas de saúde pública, agronegócios, novas tecnologias de

produção, inspeção e conservação da qualidade dos alimentos, assim como o domínio das biotécnicas em geral e aquelas específicas da reprodução.

os cursos deverão proporcionar aos estudantes certo nível de conhecimentos sobre a prática da Mv do presente e também lhes dotar de capacidade para prever e adaptarem-se às mudanças futuras. segundo Halliwell (2009), alguns acontecimentos futuros podem ser facilmente previsíveis à luz dos conhecimentos atuais como, por exemplo: não é uma questão se o vírus h5N1 sofrerá mutações tor-nando-se infectante para o ser humano, mas quando isso acontecerá. Por outro lado, os conhecimentos existentes nas décadas de 80 - 90 sobre príons não foram suficientes para prever o advento da encefa-lopatia espongiforme Bovina (Bse). os currículos das escolas americanas responderam lentamente aos anseios da sociedade pelos serviços veterinários, assim como falharam lamentavelmente em prever as necessidades futuras. ainda de acordo com aquele autor, situação semelhante aconteceu na inglaterra 15 anos atrás, quando as escolas de veterinária falha-ram em responder à necessidade de maior número de veterinários especialistas em inspeção de carnes. o resultado é que hoje a maioria dos postos de tra-balho disponíveis neste setor é ocupada por veteri-nários graduados em escolas de outros países, onde receberam treinamento de melhor qualidade para preencher as exigências britânicas.

um dos maiores desafios do século XXi será a

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produção de alimentos para atender as necessida-des de uma população, eminentemente urbana, estimada em nove bilhões de habitantes em 2050, sem destruir o meio ambiente (united Nations in-formation service, 2004).

seguindo esta linha de raciocínio, as escolas de Medicina veterinária do país devem garantir em seus currículos uma prioridade maior ao agro-negócio, incluindo-se ai a Medicina veterinária Preventiva, bem como o uso e desenvolvimento de tecnologias nutricionais, genéticas e de mane-jo de criação de espécies de interesse econômico, pois nesta área o Brasil exerce papel fundamental no mundo, atuando como ator principal na pro-dução de alimentos, sendo hoje um dos maiores produtores e exportadores de carnes. o Médico veterinário para atuar na cadeia produtiva de alimentos deve ser capaz de dominar os cuidados necessários de atenção primária e individual e, principalmente, ter conhecimento de medicina preventiva e saúde de rebanhos, associado com sólida formação em gestão, relações humanas e comércio em nível nacional e internacional, especialmente considerando a tendência de se analisar o agronegócio com uma visão global de cadeia, diminuindo progressivamente a idéia de segmentação em produção, processamento, distribuição e comercialização. a qualidade dos alimentos e a segurança alimentar também repre-sentam desafios a serem enfrentados pela Mv bra-sileira juntamente com a produção sustentável, principalmente considerando as características geográficas do país. as instituições de ensino têm

a obrigação de contribuir com a sociedade for-mando profissionais capacitados a orientar a pro-dução com preservação do meio ambiente para as futuras gerações.

Caso não se priorize a formação de Médicos veterinários com conhecimentos, habilidades e competências para atuarem em toda a cadeia da produção animal, corre-se o risco de, em curto período de tempo, encontrar apenas profissionais de outras áreas em condições de desempenhar atividades na produção dos alimentos de origem animal. evidentemente, as instituições que regu-lam a oferta de cursos também devem estar aten-tas a esses anseios da sociedade e, se necessário, intervir de maneira enérgica.

embora seja um grande desafio para os profes-sores, estes devem também estimular os estudan-tes a se interessarem pela área da saúde pública, e os currículos devem ser atraentes no sentido de convencê-los sobre a importância da atuação do médico veterinário nessa área (Wall, 2009). ainda mais considerando que a população humana e, até mesmo a animal, se encontra em estado de constante movimento e interação, conseqüência da globalização e comércio internacional, o que facilita a circulação de patógenos, tornando cada vez mais essencial as ações de vigilância e defesa sanitária, e a prevenção das doenças emergentes e reemergentes como meio de dar segurança à saúde humana.

em resumo, entendemos que os projetos peda-gógicos devem mudar da situação atual onde se privilegia a medicina individual e se direcionarem no sentido de contemplar com maior ênfase uma

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Aula prática de clínica de ruminantes

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Mv de rebanhos, formando profissionais aptos a contribuírem com a produção de alimentos para a população mundial. Nos próximos anos e até mesmo nos dias de hoje, o Médico veterinário além do domí-nio da saúde animal, deve obrigatoriamente ter nível de conhecimento suficiente e competência necessá-ria em medicina de rebanhos, epidemiologia, bios-segurança e análise de riscos, nutrição e reprodução, bem estar animal, gestão econômica da produção ani-mal, produção sustentável, noções de comércio inter-nacional, controle de qualidade dos alimentos, além de conhecimentos em humanidades que lhe permita atuar com liderança, trabalhar em equipes, além de possuir habilidades de comunicação e relações huma-nas. Não se deve esquecer que a variável do mercado é a da competência e da competitividade, onde os mais aptos se estabelecerão. Portanto, o que vale é a quali-dade, pois a sociedade exige o melhor.

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Benedito Dias de Oliveira FilhoMédico veterinário; CRMv-go n° 0438; Pro-fessor associado ii da universidade Federal de goiás e Membro da Comissão Nacional de Residência em Medicina veterinária do Con-selho Federal de Medicina veterinária.

Endereço para correspondência: Depar-tamento de Produção animal, escola de veterinária – universidade Federal de goiás. goiânia-go; CeP: 74001-970e-mail: [email protected]

Fernando Leandro dos SantosMédico veterinário; CRMv-Pe n° 1492; Profes-sor adjunto i do Departamento de Medicina veterinária da universidade Federal Rural de Pernambuco e Membro da Comissão Nacio-nal de Residência em Medicina veterinária do Conselho Federal de Medicina veterinária.e-mail: [email protected]

Rafael Gianella MondadoriMédico veterinário; CRMv-Rs n° 5672; Profes-sor adjunto i do Departamento de Morfolo-gia da universidade Federal de Pelotas – Rs e Membro da Comissão Nacional de ensino da Medicina veterinária do Conselho Federal de Medicina veterinária.e-mail: [email protected]

Dados dos autores

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PuBliCações

ReminiscÊnciasdeumpRofessoRFlávio Massone

este livro aborda a vida do Professor Flávio Massone, um dos pioneiros da anestesiologia veterinária no Brasil, desde a sua infância, que ocorreu na cidade do Cairo (egi-to), sua experiência vivida na segunda guerra Mundial e na guerra israel-egito até sua chegada ao Brasil aos 11 anos de idade.

também, o autor cita com clareza a saída do egito e a entrada no Brasil, mesmo não conhecendo a língua e defrontando-se com usos e costumes diferentes.

Com o decorrer do tempo, historia a vida docente com fatos hilariantes decorridos com os alunos e colegas contando fatos políticos sem nominações. traça ainda, paralelo entre o ensino público e privado dentro do ensi-no universitário, com a experiência obtida durante a sua vida profissional docente.

o autor cita como é encerrar uma carreira com digni-dade, deixando a sua contribuição para a nobre missão de docente universitário.

o Professor Massone é médico veterinário formado na Faculdade de Medicina veterinária, na antiga rua Pires da Mota, é mestre em Clinica e Cirurgia na escola de vete-rinária da uFMg e Doutor em Farmacologia na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.

neuRologiaemcãesegatosvalentina lorenzo Fernández e Marco Bernardini

trata-se de um livro que destina-se aos médicos veterinários que, no exercício da prática clínica, lidam com pacientes portadores de alterações neurológicas e àqueles com interesse particular pela neurologia. aos estudantes de veterinária, pode ser um meio de se iniciar nesta matéria.

Por seu enfoque prático, o livro segue os passos que habitualmente são tomados no curso diagnóstico de um caso neurológico. Compreende uma primeira parte de abordagem do paciente, que se conclui com a elabo-ração de diagnósticos diferenciais; uma segunda parte formada pela descrição das enfermidades neurológicas, agrupadas em função de sua natureza; e uma terceira parte que reúne algumas síndromes e doenças que, por suas características ou incidência clinica, merecem ser estudadas a parte.

valentina lorenzo Fernández é diplomada pelo euro-pean College of veterinary Neurology e Diretora do Centro de Ressonância Magnética veterinária Madri, espanha.

Marco Bernardini é diplomado pelo european College of veterinary Neurology e é Professor titular de Neurologia veterinária da Faculdade de veterinária da universidade de Pádua, itália.

LIVRARIA DO CAMPUSloja – Rodovia Domingos sartori, 577Rubião Júnior Botucatu – sP CeP: 18618-000Fone/FaX: (14) 3815-1991e-mail: [email protected]

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HistóRiaememóRiadapestesuínaafRi-cananoBRasil:passosedescompassos

Francisco Cecílio viana

o episódio da Peste suína africana constitui-se em um dos acontecimentos de maior repercussão na história da Medicina veterinária do Brasil por afetar praticamente todos os segmentos da sociedade brasileira que deixou saldo lamentável de esforços perdidos, de desemprego, de prejuízos para criadores e industriais, de perdas não compensadas e de desgaste público. trazer a tona a me-mória deste acontecimento é, antes de tudo, um convite à reflexão sobre a forma de fazer política pública em saúde animal no Brasil.

este livro do Médico veterinário Francisco viana é o resultado de sua tese de doutorado em Ciência animal, desenvolvida na escola de veterinária da uFMg. a experi-ência de vida acadêmica de Francisco viana é fundamento essencial para a viabilidade da interpretação que este texto apresenta ao leitor.

o tema peste suína africana já provocou polêmicas no âmbito da veterinária nacional e neste livro o autor enfrenta o assunto nos parâmetros científicos contemporâneos, denotando uma ética norteada pelo compromisso com a evidência dos fatos e as possibilidades de sua interpretação.

a despeito do caráter científico, o texto se mostra em bela escrita, em uma narrativa que prende o leitor pelo caráter colo-quial e agradável da linguagem. o autor apresenta suas idéias e as suas interpretações das fontes de dados pesquisadas, mas deixa ao leitor a possibilidade de fazer a sua própria interpreta-ção estimulando-o a perceber os possíveis e diferentes cami-nhos interpretativos que estas fontes permitem.

a obra tem um caráter interdisciplinar, permitindo a análi-se mais verticalizada e aderida aos novos preceitos da investi-gação científica, e em acordo com o objeto da epidemiologia.

anestesiaemcãesegatosCortopassi, silvia g., Fantoni, Denise tabacchi

Nesta segunda edição de anestesia em Cães e gatos foi realizada uma ampla revisão e atualização dos capí-tulos da publicação anterior e a inclusão de importantes temas, indispensáveis para o anestesista veterinário con-duzir cada anestesia de forma segura e consciente.

os princípios básicos que norteiam a anestesiologia são abordados de forma clara e direta, com o intuito de colocar o leitor a par dos embasamentos desta especiali-dade, bem como de várias outras áreas que o anestesista deve conhecer.

Parte-se da premissa de que a anestesia em si en-volve não apenas o ato de administrar os fármacos mais próprios a cada indivíduo, mas também de assegurar a manutenção da volemia e da homeostasia do meio in-terno em todo o período perioperatório, além de prover conforto ao paciente.

também, os aspectos básicos da farmacologia relacionados ao mecanismo de ação, os efeitos nos di-ferentes sistemas orgânicos, ações adversas e as demais peculiaridades que os fármacos anestésicos e adjuvantes possuem são descritos e caracterizados.

em capítulo específico, são tratados os protocolos rotineiramente empregados no cotidiano da prática.

EDITORA ROCA LTDARua Dr. Cesário Mota Jr., 73CeP: 01221-020 – são Paulo-sPtel.: (11) 3331-4478 – Fax: (11) 3331-8653e-mail: [email protected] site: www.editoraroca.com.br

EDITORA FEPMVZFundação de estudo e Pesquisa em Medicina veteri-nária e Zootecnia escola de veterinária da uFMg Caixa Postal 567 30123-970 – Belo horizonte, Mg, Brasil tel.: (31) 3499 2042 / Fax: (31) 3499 2041

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XVII Congresso da Sociedade Paulista de Zoológicos

Local: São Paulo – SPPeríodo: 20 a 24 de agosto de 2010Mais informações: www.zoologico.sp.gov.br

V Congresso Norte Nordeste de Reprodução Animal

Local: Patos, PBPeríodo: 24 a 27 de agosto de 2010Mais informações: www.cstr.ufcg.edu.br/vconera/

XXXIV SemavetLocal: Belém, PAPeríodo: 31 de agosto a 2 de setembroMais informações: www.crmvpa.org.br/simposio-crmvpa- 2010.php

VI Congresso do Centro-Oeste de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais – CONCEVEPA

Local: Brasília-DFPeríodo: 08 a 10 de setembro de 2010.Informações: www.concevepa2010.com.br

Simpósio de Pesquisa em Medicina Veterinária 2010

Local: Viçosa, MGPeríodo: 20 a 24 de setembro Mais informações: www.posvet.ufv.br/simposio2010

XXXVII Semana Capixaba do Médico Veterinário

Local: Guarapari, ESPeríodo: 22 a 24 de setembroMais informações: www.crmves.org.br

II Congresso Brasileiro de Bioética e Bem-Estar Animal

Local: Belo Horizonte – MGPeríodo: 04 a 06 de agostode 2010.Mais informações: www.cfmv.org.br

II Seminário Brasileiro de Residência em Medicina Veterinária

Local: São Paulo - SPPeríodo: 16 e 17 de AgostoMais informações:www.cfmv.org.br

Agosto

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setembro

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Seminário Nacional de Saúde Pública Veterinária

Local: Teresina – PIPeríodo: 23 a 24 de setembro de 2010.Mais Informações: www.cfmv.org.br

XIII Congresso e XIX Encontro da ABRAVAS

Local: Campos de Jordão – SPPeríodo: 18 a 22 de outubro de 2010.Mais informações: www.abravas.com.br

IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária

Local: Búzios – RJPeríodo: 28 a 31 de outubro de 2010.Mais Informações: www.cbcav2010.com.br

36º Congresso Mundial da associação Mundial de Veterinárias de Pequenos Animais

Local: Jeju – KoreiaPeríodo: 14 a 17 de outubro de 2011 Mais informações: www.wsava2011.org/

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III Congresso Paulista de Medicina Veterinária – CONPAVET

Local: São PauloPeríodo: 06 a 08 de outubro de 2010Mais informações: www.petsa.com.br

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Congresso Internacional de Endocrinologia Veterinária – ENDOVET 2010

Local: Hotel Atlântico Búzios, em Búzios - RJPeríodo: 18 a 20 de novembro de 2010.Mais Informações: www.endovet2010.com

Simpósio Internacional em Anestesiologia Veterinária

Local: São Paulo – SPPeríodo: 20 e 21 denovembro de 2010.Maiores Informações:www.apavet.com.br

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Flavio MassoneFormado pela Faculdade de Medicina veterinária da usP em 1967Mestrado em Clinica e Cirurgia pela escola de veterinária da uFMg em 1974Doutorado em Farmacologia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da usP em 1981. Professor livre Docente pela Faculdade de Medicina veterinária e Zootecnia uNesP Campus de Botucatu em 1983Professor titular pela Faculdade de Medicina veterinária e Zootecnia uNesP Campus de Botucatu em 1991titulo de especialista em anestesiologia veterinária pelo Colégio Brasileiro de Cirurgia e anestesiologia-CFMv em 2005

oPiNiÃo

REMINISCÊNCIAS: PASSADO, PRESENTE E FUTURO

o grande pensador e filósofo Artur Schope-nhauer (1788-1860) escreveu: “Na mocidade predomina a intuição. Na velhice o pensamento. Aquele é o tempo da poesia. Este é o da filosofia.

”Acho que ele estava parcialmente certo. se analisarmos esta frase a fundo chegaremos ao con-senso que o ponto de equilíbrio não estaria nem na mocidade e nem na velhice, mas sim na maturidade obedecendo então à frase maravilhosa do Chico Xavier que diz “Ninguém volta atrás para fazer um novo começo, mas podemos voltar atrás para fa-zer um novo fim”

Realmente as reminiscências têm uma finalidade histórica qual seja de trazer à tona o passado para que sirva para melhorar o futuro.

um jovem profissional talvez desconheça como tudo ao seu redor tenha se formado e quanto sacri-fício isto custou para se conseguir tudo aquilo que hoje ele tem, com facilidade, para desenvolver o seu futuro.

Mas vamos por partes para que possamos acom-panhar o raciocínio lógico desta evolução, pois feliz-mente participamos destas três etapas.

antigamente havia a figura do catedrático e exis-tia o termo “magister dixit”, ou seja, o professor disse, e ninguém ousava contrariá-lo, pois era a suma pala-vra do professor. havia uma redoma em volta dele e o aluno não conseguia o dialogo frontal, pois tinha

como intermediários os seus assistentes o que, sem dúvida, dificultava tanto o ensino como o diálogo, apesar de que as aulas se revestiam de extrema infor-mação, brilho, cultura e conhecimento do assunto: eram as aulas magistrais.

o tempo passou, e nas três últimas décadas do século passado começaram a surgir os primeiros cursos de pós-graduação (nível de mestrado) inician-do na década de 70 com pioneirismo dado à escola de veterinária da universidade Federal de Minas gerais (uFMg) e a partir daí surgiram novos cursos nas demais escolas tanto no nível de mestrado como de doutorado. a este período deve-se a formação de uma mentalidade nova de ensino e pesquisa ge-rando safra de docentes de origens diferentes e de maneiras novas de ensino, gerando assim novas ati-vidades formadoras que foram auto-reverberantes.

esse crescimento inicialmente gerou cursos com áreas restritas o que vale dizer que abrangiam as grandes áreas da Medicina veterinária: Clinica, Cirur-gia, Reprodução animal e saúde Pública.

Com o decorrer do tempo e com a avidez do mercado, estas áreas foram se subdividindo gerando sub-áreas reconhecidas e aprovadas pelos órgãos superiores de ensino.

Certamente isto foi satisfazendo as necessidades e consequentemente preenchendo as lacunas ne-cessárias, pois simultaneamente surgia um fato

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novo no nosso país, qual seja, o início das faculda-des, além do ensino público (em menor número) as de medicina veterinária de iniciativa privada, (estas sim em maior número).

Pergunta-se: será que os cursos de pós-gradu-ação foram capazes de formar docentes suficientes para preencher todas as vagas de reposição ou não das escolas públicas, ou ainda as novas vagas das escolas privadas? agora vem outra pergunta mais objetiva: será que todo docente contratado estava na sua área de aderência?

vamos esclarecer. Com o surgimento rápido e precoce de muitas Faculdades de Medicina veteriná-ria, muitas vezes as contratações eram feitas até de maneira sumária ou contratando docentes com cur-sos de especialização (pós-graduação latu-sensu) ou com áreas de aderência não da sua especialidade ou ainda até por profissionais competentes com prática clínico-cirúrgica, ou de outras áreas, até que se estabelecessem normas para contratações nas universidades de âmbito particular.

Nas escolas públicas durante todas estas décadas de ensino o que se tem observado é que elas con-templavam e contemplam os seus docentes com o tempo integral e com a especificidade dentro das suas áreas, (áreas de aderência) o que, sem dúvida, os beneficia nos campos da docência, pesquisa e extensão, além do que permite que sigam a carreira universitária na sua verticalização, gerando a hierar-quia universitária.

Por outro lado, o número de docentes por disci-plina é maior e o número de alunos por turma é me-nor permitindo assim uma boa qualidade de ensino,

pois a relação docente/aluno é baixa.esta situação torna-se mais salutar ainda faci-

litando a captação de recursos gerando situações auto-reverberantes servindo de estímulo na geração formadora de base de novos pesquisadores ainda na condição acadêmica.

há de se notar que, neste período, surgiram no-vos fatores como as saídas de docentes para o exte-rior buscando novos conhecimentos tanto de tecno-logias como de metodologias de ensino. acresça-se a isso os cursos ministrados de técnicas de ensino buscando a retro-alimentação, o que antigamente era considerado proibitivo. isto, sem dúvida gerou uma aproximação maior do corpo docente/discente situação esta, que não existia no tempo do professor catedrático.

o problema persistente, entretanto, reside no trinômio corpo docente/espaço físico/equipamen-to. este equilíbrio deve ser respeitado de maneira harmônica de maneira programada, lenta e pro-gressiva, pois a partir do momento que ele entrar em desequilíbrio, ocorre fatalmente a estagnação. toda instituição de Medicina veterinária de crescimento rápido e com relação docente/aluno alta (voltada, por exemplo, apenas para o ensino) com busca céle-re do corpo docente se torna mais inviável e restrita. Nota-se que o mercado não está apto e preparado para um número suficiente de docentes com lastro acadêmico para ministrar disciplinas específicas o que gera descontentamentos do alunado e ao mes-mo tempo uma alta rotatividade de docentes nas unidades universitárias na iniciativa privada. Muitas faculdades que se viam em dificuldades financeiras

preciso de uma foto

Atividade de anestesia em cão

aRQuivo CFMv

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começaram então a dispensar inicialmente os do-centes mais titulados, ou seja, os que tinham o titulo de doutor, o que de certa forma interferia na capta-ção de recursos restringindo o campo das pesquisas. Por outro lado, pouquíssimas escolas mantinham o seu corpo docente em tempo integral, pois isto one-rava o orçamento.

estas situações conflitantes resultavam em re-duções de cargas horárias docentes, empregando ainda como sistema tampão docentes com mestra-do completo ou em andamento ou até docentes de áreas diferentes (áreas de aderência diferentes) ou até profissionais recém formados em cursos de espe-cialização (pós-graduação latu-sensu) para poder suprir o ensino.

se isto fosse analisado em termos de qualidade de ensino, dir-se-ia que além de afetar a relação ensi-no/aprendizado haveria as seguintes considerações.

· um docente na sua plenitude leva anos para ter um lastro de ensino;

· hodiernamente não se adotam mais os docen-tes da antiga “escola socrática” com conhecimento pleno de todos os assuntos;

· hoje contratações devem ser feitas com docen-tes das especialidades disciplinares;

· Docente deve ser contratado por concurso ou entrevista;

· toda nova contratação gera um novo emprego profissional, o que é salutar;

De maneira geral, pode se dizer que isto faz parte de um contexto de maturação, pois são esco-las novas que buscam o seu lugar ao sol, tentando concorrência,disputando,às vezes, na mídia, com propaganda em horários nobres.

o porvir destas unidades universitárias deve es-tar voltado em gerar, no futuro, profissionais com es-pecialidades de qualidade, para suprir o mercado in-terno extremamente competitivo, para tanto, devem gradativamente balancear a relação docente/aluno, contratar professores com capacitação e especifici-dade da área, evitar a contratação de profissionais recém formados e procurar na medida do possível efetuar contratações por concursos ou entrevistas, evitando assim a endogenia intelectual, fator este altamente degenerativo.

existem ainda pequenas distorções onde pro-fissionais ministram aulas de vários assuntos, o que se torna prático para a instituição, onde um docente cobre duas ou mais disciplinas, tornando prejudicial o ensino profissional, pois no mundo de hoje a tecno-logia se tornou tão evoluída que já se fala em especia-lidade há mais de duas décadas, levando-se ainda em

consideração um mercado ávido por bons profissio-nais em áreas sociais que requerem especialidades.

Ficamos felizes após tantos anos de luta, em ver dentro da nossa especialidade, a anestesiologia vete-rinária, cursos de especialização ou de Mestrado, Dou-torado, Professor titular e, recentemente, até título de especialista examinado pelo Colégio Brasileiro de Cirurgia e anestesiologia e outorgado pelo Conselho Federal de Medicina veterinária e até profissionais que exercem a função de anestesistas em hospitais veterinários. Por outro lado o que nos entristece é que existem muitas escolas (públicas e privadas) que não contratam profissionais específicos nesta área para ministrarem aulas pertinentes ao assunto.

o que nos resta a afirmar é que cada instituição tem que investir na sua qualidade de ensino, pois apenas tradição e propaganda já é coisa superada.

Diante desta retrospectiva resta unir o trabalho começado há muitos anos e desenvolvido agora por entidades que se esforçaram em ministrar os seus cursos de pós-graduação que começaram nas grandes áreas e terminaram nas subáreas de espe-cialidade. Ressalte-se ainda, a criação dos Colégios, cada um com a sua especificidade e os conselhos regionais de Medicina veterinária subordinados ao Conselho Federal de Medicina veterinária.

em pleno século XXi, os Colégios já estão, por for-ça de lei, formando os especialistas, e cada um com a sua missão, preparando profissionais para o mercado cada vez mais vez mais competitivo. É chegada a hora de cada um cumprir o seu papel.

a partir do momento que as instituições de en-sino contratarem docentes em número adequado e nas disciplinas afins (o que vale dizer as pessoas certas nos lugares certos), veremos que os resultados serão, a curto e médio prazo, positivos e eficientes e resultarão na formação de profissionais com garantia de emprego.

a tendência do pluralismo em Medicina veteri-nária com o decorrer do tempo está cada vez mais tênue surgindo atualmente a procura da especiali-zação, titulo este já regulamentado e cada vez mais almejado pelos nossos profissionais. ele é examina-do através dos respectivos Colégios, e os resultados enviados aos Conselhos Regionais de Medicina ve-terinária para serem outorgados e referendados pelo Conselho Federal de Medicina veterinária abrindo assim uma nova perspectiva no país de profissionais de gabarito que aos poucos e de maneira segura vão assegurando e um exercício profissional cada vez mais seleto honrando cada vez mais a nobre profis-são do Médico veterinário.

oPiNiÃo

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em 31 de março de 2010, foi publicado no Diário oficial da união, a Resolução CFMv no. 934, de 10 de dezembro de 2009 que, além de criar o símbolo da Zootecnia com todas as sua referências, permite a pa-dronização e unificação da imagem que representa a profissão no Brasil, fortalecendo e criando uma iden-tificação visual e, passa a ser um patrimônio da classe.

Dentre os ícones que formam o símbolo, o aro externo e interno, círculos perfeitos, na cor preta indi-cam processo de continuidade da vida e a integração entre todos os seres vivos e o meio ambiente. as engrenagens, na cor preta, na parte inferior, contêm obrigatoriamente 13 dentes, número que faz alusão ao dia 13 de maio, dia do Zootecnista; além disso, re-metem a interface desta área com as demais ciências

agrárias e em especial faz inferência aos aspectos da engenharia da produção animal inerentes à própria Zootecnia.

Na parte superior, entre os aros, está a expressão “Zootecnia”, grafada em preto, a qual indica objeti-vamente a ciência e a profissão que este simboliza. No centro, em último plano, a letra “Z”, na cor verme-lha, também representa sinteticamente a profissão.

ainda, ao centro, em segundo plano, o trevo de três folhas em verde mostra a relação da Zootecnia com a produção vegetal destinada à produção ani-mal. o perfil bovino estilizado, em primeiro plano, também remete à produção animal. Juntos, os três símbolos centrais, conformam a idéia geral da ca-deia agroindustrial.

Símbolo com identificação visual da Zootecnia é publicado no Diário Oficial

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DIRETORIA EXECUTIVA

Presidente: Dr. gerson harrop Filho CRMV-PE nº 0678vice-Presidente: Dra. Maria José de sena CRMV-PE nº 1771 secretário-geral: Dr. Robério silveira de siqueira CRMV-PE nº 1341 tesoureiro: Dr. Franscisco Fernando Ramos de Carvalho CRMV-PE nº 0297/Z

CONSELHEIROS EFETIVOS

Dra. erivânia Camelo de almeida CRMV-PE nº 1473Dr. geraldo vieira de andrade Filho CRMV-PE nº 2208Dr. ilvio Mendes vidal CRMV-PE nº 2759Dr. Marcelo Weinstein teixeira CRMV-PE nº 1874

Dr. Paulo Ricardo Magnata da Fonte CRMV-PE nº 0392 Dr. valderedes Martins da silva CRMV-PE nº 0032/Z

CONSELHEIROS SUPLENTES

Dr. gilson santos Buonora CRMV-PE nº 1837Dr. João alves do Nascimento Júnior CRMV-PE nº 1571 Dr. José alberto simplício de alcântara CRMV-PE nº 1032 Dr. Josimário gomes Florêncio CRMV-PE nº 1619 Dr. Nivaldo de azevedo Costa CRMV-PE nº 1051Dr. otávio Pedro Neto CRMV-PE nº 1837

MANDATO: 09-09-2008 a 08-09-2011

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA DO ESTADO DE PERNAMBUCO CRMV/PE

Endereço: Rua Conselheiro teodoro, 460 - Zumbi Recife/Pe - CeP: 50711-030Telefone: (81) 3797.2517 - Fax: (81) 3797.2514 - E-mail: [email protected]

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Médicos Veterinários, Zootecnistas e Alunos de graduação

Galeria de Imagens

A revista do CFMV está criando um acervo fotográ� co e para isso conta com a sua colaboração.As imagens serão utilizadas em reportagens e peças institucionais de divulgação do CFMV e terão que conter moti-

vos relacionados à Medicina Veterinária e à Zootecnia, como rebanhos, casos clínicos, animais e até situações inusitadas. O crédito do autor da foto sempre virá na publicação.

As fotos deverão estar com excelente nitidez, sem saturação, sem estouro de luz ou sombra; também não poderão conter qualquer tipo de montagem.

A resolução deve ser de no mínimo 300dpi, medida de 15 cm de altura, em JPG (sem muita compactação) e as cores em cmyk. Não há limites de fotos por autor.

As imagens deverão ser enviadas identi� cadas para: [email protected]

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Sede do CFMV: Sia - Trecho 6 - Lote 130 e 140 - Brasília - DF - CEP 71205-060Fone: (61)2106-0400 - Fax: 2106-0444 E-mail: [email protected] - www.cfmv.org.br