cesar lombroso - hipnotismo e mediunidade

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www.autoresespiritasclassicos.com CÉSAR LOMBROSO HIPNOTISMO E MEDIUNIDADE William Turner O lago Lucena

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Cesar Lombroso - Hipnotismo e Mediunidade

www.autoresespiritasclassicos.comCSAR LOMBROSO HIPNOTISMO E MEDIUNIDADE

William Turner

O lago Lucena

NDICE

- Traos Biogrficos de Csar Lombroso- O Homem E A Sua Misso, pelo Professor Marzorati - Prefcio do AutorPARTE 1 HIPNOTISMO

- Alguns Fenmenos Hipnticos e Histricos1 -Transposio dos Sentidos com os Histricos Hipnotizados2 - Transmisso do Pensamento3 - Premonies por Histricos e Epilpticos4 - Lucidez e Profecia no Sonho - Estudos de Myers5 - Fenmenos Fsicos e Psquicos com os Hipnotizados6 - Polarizao e Despolarizao PsquicaPARTE II ESPIRITISMO

CAP. I - Fenmenos Espirtico com EuspiaCAP. II - Resumo dos Fenmenos Medinicos de EuspiaCAP. III - Fisiopatologia de Euspia. - Influncia e Ao dos MdiunsCAP. IV - Condies e Influncias dos MdiunsCAP. V - Mdiuns e Magos entre os Selvagens e os Povos AntigosCAP. VI - Limites a Influncia do MdiumCAP. VII - Experincias Fisiolgicas com os MdiunsCAP. VIII - Fantasmas e Aparies de MortosCAP. IX - Fotografias TranscendentaisCAP. X - Identificao de FantasmasCAP. XI DuplosCAP. XII - Casas AssombradasCAP. XIII - A Crena nos Espritos dos Mortos entre os Selvagens e os BrbarosEPLOGO

CAP. XIV - Esboo de uma Biologia dos EspritosCAP. XV - Truques Inconscientes e TelepticosNOTAS DE RODAP

- Traos Biogrficos/Cesar LombrosoNascimento. Estudos e Tendncias

Csar Lombroso nasceu em Verona (Itlia) a 6 de Novembro de 1835, descendente, pelo lado paterno, de judeus espanhis expulsos de sua ptria pelos Reis Catlicos, em 1492.

Sua primeira infncia transcorreu tranqila e feliz, desfrutando a famlia de elevados recursos pecunirios e boa situao na sociedade. Isto no durou muito tempo. Numa dessas reviravoltas do Destino, foi o lar de Lombroso mergulhado em relativa pobreza, o que, entretanto, no impediu continuassem ali reinantes a paz e a unio.

Educado nas idias e crenas da religio judaica, bem cedo comeou a freqentar os centros de instruo de sua cidade natal.

Tanto no curso primrio quanto no curso secundrio, deu ele mostras de extraordinria aplicao e amor ao trabalho e aos estudos, revelando, malgrado sua timidez, uma inteligncia bastante precoce. Menino ainda, tornara-se amante da Natureza e dos bons livros.

Seu tio materno, David Levi, que ocupa lugar honroso na literatura italiana, ambientou-lhe o gosto para a Poesia, para a Histria e a Literatura em geral, especialmente a clssica. Com seis anos apenas, Lombroso j se deleitava ouvindo os versos de Dante. Lucrcio, Tcito e Tito Livio o haviam fascinado, e na idade de doze anos escreveu, com perodos verdadeiramente clssicos, o trabalho Sua Grandeza e Decadncia de Roma.

Contudo, um acontecimento inesperado veio decidir para sempre a vocao cientifica e conseqente posio futura do nosso biografado.

Em 1850 sala a pblico o primeiro volume dos Monumenti storici rivelati dall analilisi delta parol, de autoria do ilustre mdico, historiador e lingista italiano Paulo Marzolo. Os jornais elogiaram e encorajaram o autor, mas Marzolo percebeu que as crticas eram por demais benvolas e... incompetentes. Certo dia, lendo um dirio de Verona, entusiasmou-se com um artigo que inteligentemente discorria sobre o seu livro, e desejou imediatamente conhecer-lhe o autor.

Foi esta a primeira e mais cara emoo que ele sentiu - escreveu Ceccarel em sua Vita di Marzolo -, a primeira compensao a tantas viglias em estudos ingratos e tristes, a tantos pensamentos e meditaes incansveis. Paulo Marzolo pensava que o articulista fosse um homem provecto na cincia, um pensador solitrio, que vivesse na obscuridade por circunstancia fortuitas ou por caprichos da sorte. O autor do artigo, que pouco depois visitava Marzolo em Treviso, era um jovenzinho de quinze anos, era Csar Lombroso, que na Itlia foi o primeiro a perceber o gnio de Marzolo. Ante este, Lombroso se apresentou com o afeto de um filho e com a venerao de um discpulo.

Marzolo criou tal amizade pelo seu jovem admirador, que, desde ento, passou a ser o verdadeiro orientador do genial rapazinho, iniciando-o no cultivo de todas as cincias e de todas as artes, pondo-o em guarda contra o unilateralismo da cultura. Sob a sua direo, o nosso biografado aprendeu o caldaico, o chins, o hebreu e algumas lnguas modernas; sob a sua palavra persuasiva, decidiu-se a estudar Medicina e a entregar-se a estudos naturalsticos, no obstante a sua inclinao para o Direito e as Letras.

Marzolo foi tambm quem primeiro inspirou a Lombroso o estudo da Antropologia e, alm de ter exercido influncia sobre a sua moral, sobre a sua maneira de conceber e de agir na vida, nele incutiu para sempre o extremado amor da verdade, em cuja procura Lombroso foi incansvel a vida inteira.

Nas lutas unificadoras da Itlia, em fins do sculo XIX, a Igreja tentara por todos os meios reter os seus Estados Papais, afirmando seus direitos ao poder temporal, fulminando antemas contra aqueles que queriam priv-la de seus domnios em prol de uma Itlia unida, e, posteriormente, recusando qualquer contacto com o governo, por lhe terem sido tomadas s terras. Lombroso, patriota ardente, foi, por isso, levado a professar a f socialista, intensificada na ultima fase de sua vida, acreditando que s com uma completa reforma social se poderia abater a fora do clericalismo e seus prejuzos, e com esse objetivo, pela tribuna e pela imprensa, buscou, durante a vida, ajudar a todas as escolas e instituies que concorressem para diminuir, entre o povo; o nmero de analfabetos, e resultasse, em conseqncia, na derrubada das foras dogmticas, freio do progresso e da liberdade.

Curriculum Vitae

De 1852 a 1857, Lombroso cursou a matria mdica nas Universidades de Pavia, Pdua e Viena, laureando-se em 13 de Maro de 1858 pela Real Universidade de Pavia. Foi nessa cidade, quando ai fazia o seu curso, que conquistou duas preciosas amizades: Alfredo de Maury e Paulo Mantegazza, tornando-se este ltimo quase que um seu irmo. Fisiologistas de excepcional valor, ambos acolheram carinhosamente o discpulo, que logo se iniciou nos estudos e nas pesquisas sobre a fisiologia do sonho e do prazer.

Mas na Universidade de Viena, ao lado de mestres da psiquiatria, que ele afirmou a sua vocao mdica, especialmente psiquitrica, aprofundando-se, desde ento, na leitura de livros sobre o assunto.

Escreveu, j em 1852, com apenas 17 anos, dois trabalhos elogiados por um jornal de Verona: Saggio solta storia delta Relncbca Romana e Schizzi di un quadro storico dell'antica agricoltura in Itlia, nos quais se observa a influencia do historiador Marzolo sobre o rapazinho.

Veio, a seguir, consciencioso estudo intitulado Di un fenmeno fisiolgico comune ad alcuni neurotteri ed imenotteri (Verona, 1853) e, dois anos mais tarde, outro sobre La pazia de Cardano (Gazetta Medica Italiana Lombarda, Milo, 1/10/1855), ensaio este em que j se percebe o germe das fecundas investigaes que posteriormente realizaria a respeito do homem de gnio.

De certa forma importante o opsculo que deu a publico, em 1856, com o nome Influenza della civita sulla pazzia e della pazzia sulla civilta e que marca o ponto de passagem de suas preocupaes doutrinrias para o terreno das aplicaes prticas da Medicina.

Em 1859, revalidou o seu diploma de mdico na Real Universidade de Gnova, ento anexada ao Piemonts, a obtendo a lurea em Cirurgia.

Ainda neste ano, chamou a ateno de todos a sua monografia Ricerche sul cretinismo in Lombardia. E a 21 de Maio, ao estalar a guerra franco-italiana com a ustria, que tinha o propsito de expulsar os austracos da Itlia, Lombroso se alistou, contra a vontade dos pais, como mdico do Corpo de Sade Militar do Exrcito Piemonts, sendo encaminhado ao Hospital de Turim e, um ms depois, ao Hospital Militar de Milo.

Em 1861, o Supremo Conselho Militar de Sade distingue com meno honrosa um utilssimo escrito de sua autoria, sobre feridas por arma de fogo (Sulle ferite d'arma da Fuoco), e a 6 de Maro deste mesmo ano era ele promovido ao posto de mdico de batalho de 1 classe, sendo-lhe ainda conferida a medalha francesa comemorativa da campanha de 1859, que tornou independente a Lombardia.

Removido para a Calbria, ai estudou as condies higinicas da populao. Os resultados de suas investigaes, publicou-os, em 1862, no Giornale d'Igiene e Medicina Preventiva e no livro Tre mesi in Calbria (Turim, 1863), livro este que, ampliado, foi reeditado em 1898 com o nome In Calbria, patenteando-se em suas pginas o progresso realizado na regio calabresa, to logo foram tomadas as medidas higinicas por ele aconselhadas.

Em 1862, inaugurando suas funes no magistrio, Lombroso ministra um curso livre, gratuito, de Psiquiatria, na Universidade de Pavia, e em 1863 entra como privat-docent de Clnica das Doenas Mentais e Antropologia na mesma Universidade, ao mesmo tempo em que passa a exercer gratuitamente suas funes na repartio dos alienados do Hospital Cvico de Pavia.

Em 1864, a Direo dos Hospitais reunidos de Pavia apresenta-lhe agradecimentos pelas inovaes que ele trouxe queles Hospitais em beneficio dos alienados.

E nomeado professor incaricato (Professor nomeado por decreto ministerial e que substitui temporria ou definitivamente o professor titular) de Clnica das Doenas Mentais e Antropologia, na Universidade de Pavia.

Nesse meio tempo, comea a elaborar, e os publica em 1865, os Studi per una Geografia Clinica Italiana, fonte entre as mais importantes da legislao sanitria italiana.

Patriota ardoroso, entusiasta da unidade e nova grandeza de sua gloriosa terra, condecoraram-no, em 30 de Maio de 1865, com a medalha comemorativa da guerra da independncia e unificao italiana. Neste mesmo ano, em 6 de Dezembro, desliga-se do Corpo de Sade Militar, passando a dar um curso livre, gratuito, de Antropologia, bem como leituras pblicas sobre Raas Humanas.

Logo sobreveio a campanha antiaustraca de 1866 e que, em Outubro, daria Veneza Itlia. Lombroso, a 20 de Maio, retorna ao servio militar, exercendo suas funes como mdico de batalho de 2 classe.

Seis meses depois, finda a guerra, d baixa do Corpo de Sade Militar, e nomeado mdico primrio da repartio das Doenas Mentais do Hospital Cvico de Pavia, continuando, ainda, a lecionar o curso gratuito de Antropologia por mais alguns anos.

E reconduzido as funes de professor incaricato de Clnica das Doenas Mentais e Antropologia, na Universidade de Pavia, dando luz o volume Medicina Legale delle alienazioni mentali, no qual cogita do problema da responsabilidade, to discutido aquele tempo pelos especialistas. Nessa ocasio, tambm publica a Antropometria degli Italiani, obra que se torna clssica no gnero.

Aos 22 de Junho de 1867, recebe uma distino honorifica, como mdico do batalho em tempo de guerra, pela coragem e abnegao demonstradas na cura dos colricos durante a epidemia de 1866.

Com sua memria sobre Pensiero e Meteore conquistou, em 9 de Agosto de 1867, o Premio Castiglione do Instituto Lombardo de Cincias e Letras.

Mas a 16 de Outubro de 1867 que consegue a sua grande vitria no magistrio universitrio. alis muito acidentado e penoso. A Universidade de Pavia recebe-o afinal, como professor extraordinrio de Clinica das Doenas Mentais, cargo em que confirmado, ano aps ano at 1875. Na mesma data, condecoram-no cote a medalha ao mrito militar, comemorativa da campanha pr-independncia da Itlia de 1866.

Lombroso se dedica mais a fundo as suas investigaes psiquitricas e aos estudos sobre a pelagra, mal que fazia muitas mortes entre os camponeses italianos.

Com sua obra Studi clinici e sperimentali sulla natura causa e terapia della pellagra (2 ed., Bolonha. 1872), recebeu, em 1870, como incentivo, a soma de 1.000 liras no Concurso L. Cagnola, institudo pelo Instituto Lombardo. Ainda por seus mritos no estudo da pelagra, foi, aos 18 de Abril de 1871, agraciado com o ttulo de Cavaleiro da Coroa da Itlia.

Em Outubro de 1871, deram-lhe as direes do Manicmio Provincial de Pesaro. Inicia, em 1872, um curso livre de Medicina Legal sobre o homem delinqente estudado pelo mtodo antropolgico experimental.

Na cidade de Viena exps, no ano de 1873 o sitforo um aparelho de sua inveno, destinado a alimentao forada dos loucos.

D, em 1874, um curso sobre a causa da pelagra, sob os auspcios da Escola de Agricultura de Milo, e neste mesmo ano elevado a professor suplente da ctedra de Medicina Legal, Toxicologia e Higiene, na Universidade de Pavia.

Nesta Universidade, segundo escreveu Max Nordau, Lombroso teve que lutar constantemente contra hostilidade, ou at manifesta, de sua direo, que negava sistematicamente todos os meios para o bom desempenho das funes professorais e toda a melhoria em sua posio oficial. Sua doutrina sobre a pelagra tambm lhe criava, da parte dos colegas, uma atmosfera adversa. Farto desse conflito, acedeu ao convite insistente de velho admirador e amigo poderoso, apresentando a sua candidatura ctedra vaga de Psiquiatria e Clinica Psiquitrica, na Real Universidade de Turim. Ai, porm, no era menor a inveja e o despeito. Opuseram a que fosse nomeado diretamente, sem concurso, ele, que talvez no tivesse competidor altura!

A afronta a um nome internacional foi, entretanto, suavilizada pelos canais competentes, e a 1 de Outubro de 1876 nomeiam Lombroso professor ordinrio na referida Universidade, no da ctedra por ele ambicionada, mas da de Medicina Legal e Higiene Pblica.

Logo de entrada, foi acolhido com frieza por certos colegas mopes e invejosos, enquanto que a direo da Universidade passou a criar-lhe dificuldades no ensino da ctedra, negando-lhe tudo quanto precisava. Foram anos de grandes sacrifcios para Lombroso, que chegou a tirar dinheiro do seu prprio bolso a fim de comprar os materiais indispensveis.

Em 1878 eleito membro extraordinrio do Conselho Sanitrio da Provncia de Turim.

Funda, em 1880, juntamente com Henrique Ferri e Rafael Garfalo, a revista Archivio di Antropologia Criminale, Psichiatria, Medicina Legale e Scienze Affini, que logo se tornou mundialmente famosa, verdadeiro monumento cientfico, de valor incalculvel, segundo a expresso do Professor Pelayo Casanova da Universidade de Havana, revista que teve sempre testa, at o seu falecimento, o Professor Lombroso.

Passa a ser membro ordinrio do Conselho Sanitrio da Provncia de Turim, em 1881.

A 1 de Fevereiro de 1886, aps concurso, nomeado mdico sanitrio das Prises de Turim.

De 1887 a 1891, como professor incaricato, ensina Medicina Legal na Real Universidade de Turim.

A 14 de setembro de 1891, foi finalmente incumbido de lecionar Psiquiatria e Clinica Psiquitrica na Universidade de Turim, ali tambm chefiando a respectiva Clinica, s sendo nomeado professor ordinrio das mesmas matrias em 9 de Janeiro de 1896.

Em 1905 criou o clebre Museu de Antropologia Criminal, que logo se tornou ponto de romaria para estudantes e professores de todo o mundo, havendo a revista Illestrazione Italiana estampado em 1906 fotografias do edifcio onde ele funcionava, bem como de vrias salas de exposio.

E nomeado, em 1906, professor ordinrio de Antropologia Criminal e professor incaricato de Psiquiatria e Clinica Psiquitrica, na Universidade de Turim.

Neste mesmo ano, ocupa o cargo de inspetor dos Manicmios do Piemonte, e a Sociedade tica de Londres eleva-o a presidncia honorria.

A ltima distino recebida em vida foi o ttulo de Doctor juris, da Universidade de Aberdeen (Esccia), em 1907.

Doutrinas Cientficas

Exporemos mui sucintamente os pontos capitais em que se condensa a atividade cientifica de Lombroso, que derramou novas luzes sobre o abismo doloroso de diferentes formas do mal, quais a loucura, o delito, a prostituio, o alcoolismo, o cretinismo, a pelagra.

De incio h que ressaltar que o carter especfico da mente de Lombroso foi, antes de tudo, o constante e inexorvel reconhecimento da soberania do fato. Ele - segundo palavras do seu eminente discpulo e continuador, Henrique Ferri - cercava o fato como o co de raa cerca febrilmente a caa. E, diante do fato, seu crebro se excitava e dele saltavam centelhas de intuies maravilhosas, emergindo do seu pensamento, explicados no inesperado contacto e confronto, os mais diferentes e abstrusos fenmenos.

Os fatos possuam a fora de faz-lo mudar de idia, e nisto reside uma das grandes superioridades do seu esprito. No se aferrava cegamente s suas prprias doutrinas e teorias; defendi-as obstinadamente quando acreditava responderem elas aos fatos, mas as modificava logo que outros fatos viessem demonstrar-lhe a inexatido ou a insuficincia delas.

Como escreveu acertada e admiravelmente Lorenzo Elero, Lombroso teve a coragem dos inovadores geniais, profundamente convencidos, ao afrontar sozinho o mundo das idias secularmente estereotipadas; mas teve tambm uma coragem bem mais difcil: a coragem de afrontar a si mesmo e a si mesmo corrigir-se e contradizer-se, tudo por insacivel ardor pela verdade.

Assim, por exemplo, a gnese natural do delito, explicou-a primeiramente pelo atavismo. No a crendo, depois, suficiente, acrescentou a degenerao e uma causa patologia, a neurose epilptica. O mesmo se pode dizer com relao ao Espiritismo, conforme veremos mais adiante.

Afirmou Ferri (In morte di Cesare Lombroso, na revista La Scuola Positiva, 1909, pgs. 582-3)que Lombroso foi em suas pesquisas um grande continuador de Galileu. Segundo este sbio fsico e astrnomo, se, para interpretar vontade do testador defunto, h necessidade de se lhe ler o testamento, para interpretar a Natureza, muito mais que a leitura dos livros escritos pelos filsofos, necessita-se interrogar diretamente a Natureza mesma, valendo-se da observao e da experincia.

Na verdade, o mtodo de investigao seguido por Lombroso, mtodo positivista por excelncia, fora empregado por vrios estudiosos, como Lamarck, Darwin, Despines e outros, sendo que a novidade introduzida pelo psiquiatra e criminologista italiano foi a de excogitar a classe de fenmenos que se haveria de estudar por tal mtodo, para se fundar, por exemplo, um novo Direito Penal. Para Lombroso, neste caso, os fatos eram os homens, ou melhor, os delinqentes, os quais considerava como o documento vivo que devia servir de tema e ponto de partida de todas as experincias, considerando, alm disso, que unicamente pela anlise de suas anomalias fsicas e morais poderiam ser estabelecidos os fatos cruciais da chamada nova cincia penal.

Se bem verdade - como salienta a Enciclopdia espanhola Espasa-Calpe, S. A. - que os grandes trabalhas de Lombroso se referem especialmente cincia penal, resumindo-se nos princpios formulados pela Escola Positiva, de que ele foi o chefe, suas investigaes se dirigiram tambm para outros ramos do saber humano (enfermidades mentais em geral, pelagra, Hipnotismo, Espiritismo, etc.), mas em todas as ocasies a nota distintiva do mtodo lombrosiano foi rigorosa e impassvel observao da vida em suas interaes, a afirmao de que os fatos, diretamente e bem estudados, constituem as bases firmes e inquebrantveis sobre as quais se assentar a Cincia.

De acordo com Ferri, as maiores e mais decisivas descobertas cientificas de Lombroso foram principalmente estas a causa especifica da pelagra, profilaxia e tratamento; a gnese natural do delito; a natureza do homem de gnio. Afora estas, acrescenta Ferri, muitas outras descobertas de menor importncia poderiam ser mencionadas, pois onde o sbio de Verona pousasse os olhos indagadores, si projetava um feixe de luz.

1) A Causa Especifica da Pelagra, Profilaxia e Tratamento.Em conseqncia da extrema variao na manifestao da pelagra, durante centenas de anos os especialistas no puderam atinar com a causa desse mal, nem com a sua teraputica. Milhares de casos ocorriam em todo o mundo, e na Itlia, por volta de 1856, cerca de 100.000 casos eram comprovados por F. Lussana e Frua.

Lombroso comeou a estudar algumas formas especiais da pelagra, publicando, em 1868, vrios artigos sobre este assunto, em revistas mdicas. Do estudo destas formas especiais, passou considerao da enfermidade em geral, e, seguindo as pegadas do Doutor Ballardini e do senador Tefilo Roussel, separou o sporisorium maidis e os demais fungos que se desenvolviam no milho deteriorado, realizando diferente experimentos com suas culturas, tanto em animais como no homem.

Havendo demonstrado que aqueles fungos no produziam a pelagra, fez experincias com o extrato do milho estragada, e ento pode obter os sintomas especficos da enfermidade que estudava.

O tratamento de um caso grave de pelagra lhe deu a chave do enigma. Tratava-se de um tifo pelagroso, acompanhado de uremia aguda, e, como todos os sintomas eram os de envenenamento, Lombroso suspeitou que muitos dos fenmenos pelagrosos seriam conseqncia de intoxicaes tambm crnicas, isto , que a pelagra seria devida no a uma infeco, mas sim a uma intoxicao proveniente, no de um fungo do milho, mas de toxinas formadas no perisperma dos gros de milho deteriorado por aqueles fungos.

Averiguada a causa da pelagra, Lombroso busca-lhe o tratamento. Sucessivamente emprega vrias substancias qumicas, no conseguindo resultados satisfatrios. Tendo lido numa Memria de Coletti e Perugini que os pelagrosos encontravam notvel alvio com o uso das guas de Levico, analisou-as cuidadosamente, e, aps comprovar que alguns dos seus componentes no produziam o efeito desejado, ensaiou, ento, o cido arsenioso, em forma de gotas de Fowler obtendo, afinal, resultados realmente maravilhosos.

As conseqncias das descobertas de Lombroso resumiam-se nesses dois pontos: a) devia-se proibir o consumo do milho deteriorado; 2) o arsnico era o remdio especifico da pelagra.

Conta Ferri que por trinta anos Lombroso teve de sustentar dolorosa luta para ver acolhida a sua descoberta sobre a origem da pelagra. No s os grandes produtores de milho. Como os prprios homens de cincia o combateram com veemncia: aqueles, ou porque queriam vender o milho, mesmo deteriorado, ou porque supunham seria exterminada a cultura do milho estes, como os professores Lussana, Porta, Bonfigli, porque achavam improvveis as afirmaes de Lombroso.

Acentua Scipio Sighele, ilustre socilogo italiano, que o sbio estudioso da pelagra suscitara tamanha oposio, sendo at qualificado de heterodoxo e ousado, que por isso quase a perdendo, em 1868, a ctedra na Universidade de Pavia.

So de 1880 as suas brilhantes Lettere al dottor Bonfigl lssico exemplo de mpeto polemico e de lgica cerrada, no dizer de Giuseppe Antonini, diretor do Manicmio de Udina.

Por duas vezes (1870 e 1872), concorrendo s primeiro premio institudo pelo Instituto Lombardo, de Milo, encontrou apenas juzes que negavam a priori tudo quanto apresentava e afirmava sobre a pelagra. Requereu, ento, uma comisso nomeada pelo Instituto. Aps dois anos de estudos, os membros dessa comisso, torcendo desonestamente os fatos, declararam que o milho deteriorado era incuo!

Lombroso ficou indignado com essa falsa concluso. Auxiliado pelo qumico Francisco Dupr, extraiu do milho deteriorado uma soluo aquosa que produzia as reaes gerais dos alcalides e que, absorvida ou injetada em ces, frangos, coelhos e rs, originava convulses e outros fenmenos prprio da pelagra. Este extrato aquoso foi remetido referida comisso. E porque essa preparao originava sintomas anlogos ao da estricnina, atreveram-se a acus-lo de fraudador, incriminando-o de haver misturado esse veneno ao seu produto para obter os seus famosos coelhos pelagrosos!

Lombroso, inabalvel em sua f na vitria da verdade, resistiu a todas as investidas que o procuravam ridiculizar. Exigiu que um qumico do Instituto preparasse, com suas prprias mos, o extrato, segundo o mtodo por ele indicado. O referido qumico assim o fez, e, tendo experimentado em animais a soluo obtida, verificou que ela os matava com sintomas semelhantes aos do envenenamento estricninico, mas teve a falta de coragem ou de honestidade para tornar pblico o resultado. Lombroso no se conteve e publicou as concluses do qumico, que o ameaou de um desmentido.

E s quando o sbio Marcelino Berthelot, bem como Pellogio, Huseman e Auspitz demonstraram haver no extrato do milho deteriorado um alcalide semelhante, mas no igual, estricnina, s ento os caluniadores calaram e comeou a justia para Lombroso. Sua doutrina sobre a pelagra e o tratamento especifico por ele indicado ganharam novos defensores.

Finalmente, em 1902, deteve a consagrao oficial. O Governo italiano promulgou uma lei para combater a pelagra, tomando uma srie de providncias administrativas, higinicas, econmicas e agrrias, todas inspiradas na doutrina lombrsiana. A incidncia da doena diminuiu sensivelmente, e em 1905 o nmero de pelagrosos na Itlia era cerca de cinco mil apenas.

Depois de curtir dores e desenganos, que infelizmente sempre acompanham a obra dos renovadores, ele pode, ainda em vida, ver triunfar as suas idias. Por tudo quanto fez e escreveu sobre o problema pelagrgico, Lombroso merece, por direito - na opinio autorizada dos Drs. Antonini e Tirelli -, ser aclamado o pai da pelagrogia moderna.

2) A Genese Natural do Delito.Conhecendo as obras de Frenologia e Fisionomia publicadas antes dele, Lombroso props-se completar, sistematizar e organizar a chamada Antropologia Criminal, a fim de fixar as bases do sistema penal positivo, que, segundo suas prprias palavras. no seno parcial consrcio, aliana simptica entre o Direito Penal e a Antropologia Criminal.

Conquanto tivesse tido, de certo modo, precursores como Gall e Lavater, Morel e Despine, Porta e Lauvergne, Thompson e Wicholson, que j haviam feito declaraes sobre a natureza dos delinqentes, insistindo nas relaes entre o fsico e o moral, procurando estabelecer a existncia de sinais exteriores caractersticos, em correspondncia com as tendncias delituosas ou degenerativas, Lombroso merece, a bem dizer, as honras de ter sido o fundador da moderna Antropologia Criminal. Dai o Professor Jos Sergi, grande antropologista e pedagogo italiano, haver afirmado que este corpo de doutrina no teve, na verdade, origem nos seus precursores, sendo criao exclusiva do extraordinrio intelecto de Lombroso, atravs de suas observaes diretas e intuio profunda.

E depois de demorados e pacientes estudos, realizados entre os soldados, durante a guerra, entre presos e enfermos mentais, atentamente examinados, aps colher centenas de casos abonadores de suas idias, que Lombroso traz a lume a clebre obra L'Uomo delinqente i rapporto all'antropologtia, giurisprudenza e discipline carcerarie (Milo,1876), livro que teve muitas edies, sempre melhoradas e ampliadas pelo autor, e que foi vertida para vrias lnguas.

De acordo com a sua doutrina ai exposta, tanto o criminoso como o delito so um produto atvico, herana da idade selvagem, da idade animal e at da infncia, e o delito uma conseqncia da organizao fsica e moral do criminoso. Foi ele, ao que parece, influenciado nessas concepes pelas teorias darwinianas, e entre os diversos tipos de criminosos que admitia, como os de ocasio, os loucos, os criminalides ou pseudocriminosos, incluiu a concepo ousada e original do criminoso nato, ser humano incorrigvel e irresponsvel, predestinado necessariamente prtica do crime por um impulso epilptico congnito e profundo, que se traduziria por certos caracteres morfolgicos e funcionais.

Mais larga repercusso teve a 2 edio de L'Uomo delinqente, tanto que o sbio russo Metchnikoff escreveu ao seu autor, dizendo-lhe: Acredito que suas obras marcaro uma poca na histria da evoluo dos conhecimentos humanos, pois as conseqncias sociais da nova doutrina sero considerveis.

Combatendo o que era aceito como dogma intangvel nos domnios da cincia jurdica, Lombroso levantou contra si violenta reao, com vivssimas discusses, por vezes apaixonadas, despertando grande bulcio em torno do seu nome. Por ignorncia ou no, at propalavam que ele pretendia, por meio de suas idias, acabar com as prises, pensamento que jamais lhe passara pela mente. Desassombrado, no fugiu luta, e, ao lado de Ferri, Garfalo, e Mrio Carrara, conseguiu sobrepor-se e criar toda uma escola composta de mdicos, filsofos, socilogos e juristas.

Com o livro L'Uomo delinqente, Lombroso veio dar significativo impulso ao antigo Direito, que permanecia estacionrio com Francisco Cerrara e discpulos, numa ruminao cientfica, segundo a expresso pitoresca de Ferri, sem proveitos para a causa da Humanidade, a cujas ambies a esgotada escola j no podia mais satisfazer.

No dizer do Prof. C. Winkler, da Universidade de Amsterdan, Lombroso fez pelo Direito Penal o que, dois sculos antes, fez Morgagni pela Medicina, comparao, alis, muito honrosa, pois se sabe que Morgagni, igualmente italiano, foi um dos mais notveis anatomistas de todos os tempos, contribuindo com suas notas, observaes e descobertas para a abertura de novos caminhos cincia mdica.

Livrando a justia penal de toda a sobrevivncia barbaresca de vingana e de violncia, demonstrando ser o criminoso mais doente do que culpado, abriu novas perspectivas de uma clnica social, com funes de defesa mais eficaz e mais humanas.

Desde que o criminoso um doente, absurdo ser puni-lo. Deve receber adequado tratamento e ser posto simplesmente na impossibilidade de causar dano. Esta revoluo operada por Lombroso, simples e crist, levou o Professor Srgio Sighele a declarar que o criador da Antropologia Criminal fez pelos delinqentes o que Pinel, h mais de um sculo, fez pelos loucos: no apenas obra de cincia, mas principalmente obra de humanidade.

Congressos nacionais e internacionais, publicaes peridicas e sociedades cientficas surgiram com o crescer do movimento de idias por ele desencadeado. O 1 Congresso Internacional de Antropologia Criminal (1885), realizado em Roma, contou com a presena de notveis psiquiatras, mdico-legistas e juristas europeus, e foi, como se disse, a cerimnia de batismo da Escola Positiva.

Triunfavam, afinal, as idias do sbio acerca do homem delinqente, idias - frisa o Doutor Leondio Ribeiro, professor de Criminologia no curso de doutorado da Faculdade Nacional de Direito do Estado da Guanabara - que no se originaram de pensamentos tericos, mas de fatos positivos observados nos laboratrios, clnicas, manicmios e prises.

Uma srie de reformas foram iniciadas na justia penal dos pases da Europa e das duas Amricas, com aplicao da doutrina lombrosiana.

No Brasil, muitos juristas e psiquiatras aderiram s novas concepes e as propagavam, como Perez Florinha, diretor do Reformatrio do Rio de Janeiro, o grande Tobias Barreto de Menezes, Joo Vieira de Arajo, Nina Rodrigues, Cndido Mota e Francisco Viveiros de Castro, este com a sua obra A Nova Escola Penal (1894).

O jurista e poltico pernambucano Doutor Joo Vieira de Arajo assim se externava em fins do sculo XIX: Lombroso se erige frente do Direito Penal neste sculo, como Beccaria se erigiu no sculo passado. Ele um renovador audaz, um pensador de vista larga, de idias largussimas. O ter lanado por terra as antigas idias metafsicas e caducas ser o seu maior ttulo de glria.

O feito revolucionrio de Lombroso - relembrou faz alguns anos o ilustre criminologista argentino Juan Dalma consistiu em haver posto no centro da ateno dos estudiosos, no o delito em si, seno seu protagonista, o homem delinqente, com suas caractersticas somatopsquicas constitucionais e os aspectos ambientais que determinam a sua ao. Criou-se, assim, a Antropologia Criminal, que, com seus fundamentos, transformou completamente o Direito Penal e todo o contedo jurdico, social e biolgico do delito.

Alm do primeiro Congresso Internacional retrocitado, durante a existncia terrena de Lombroso sucederam-se outros, respectivamente em Paris, Bruxelas, Genebra, Amsterd e Roma, aos quais compareceram as maiores celebridades mundiais, no faltando presena brilhante, e sempre ansiado por todos, do mestre italiano.

Atendendo a insistentes pedidos, Lombroso tambm participou, em 1897, do Congresso de Medicina de Moscou, bem como dos trabalhos cientficos do Congresso Internacional de Psicologia (1905), em Roma, a presidindo a seco de Antropologia Criminal.

Foi no Congresso de Bruxelas, em 1892, que, segundo seu presidente, Professor Semal, se consumou esta grande vitria a unio definitiva da cincia mdica com a cincia penal.

H mais coisas interessantes a registrar. No Congresso de Paris, em 1889, o Professor Manouvrier, pertencente Escola Sociolgica do Direito Criminal, proclamava que a teoria de Lombroso morrera. Porm, como este morto ressuscitava em todos os cdigos penais redigidos e adotados posteriormente, um colega e emulo de Manouvrier, Gauclker, declarava agora, no Congresso de Amsterd, em 1901, que Lombroso no fizera mais que arrombar portas abertas, pois todas as suas teorias eram velhas quanto o mundo e mais que conhecidas, trivialidades, lugares comuns.

V, assim, at onde ia a inconseqncia dos adversrios, que lanavam mo de toda e qualquer sada para desmerecer o alto nome de Lombroso. Tudo foi em vo, e este crescia sempre na admirao e no respeito de todos.

Em 1906, de 28 de Abril a 3 de Maio, realizou-se o VI Congresso Internacional de Antropologia Criminal, celebrando-se nele o jubileu cientfico do sbio de Verona.

O maior anfiteatro da Universidade de Turim foi palco de grandiosa solenidade, que marcou para Lombroso um triunfo sem par. Em presena - diz Max Nordau - de representantes do Governo italiano, do Exrcito, que enviara um general como delegado, de senadores, de deputados, de sbios clebres de todos os pases; ante os estudantes que haviam acudido em massa para aclamar o mestre, uma longa fila de oradores subia tribuna e glorificava Lombroso.

Um desses oradores, o muito ilustre Professor Van Hamel, da Holanda, referindo-se aos dois Csares da renovao penal - Beccaria e Lombroso, assim salientava: O primeiro, nos dias em que tudo era arbitrrio, disse ao homem: conhea a justia. O segundo, no tempo em que triunfava a rigidez, o convencionalismo, as frmulas clssicas jurdicas, disse a justia: conhea o homem. Queria ele expressar com isso que, de agora em diante, conhecendo-se melhor o homem, a justia se faria menos injusta.

Para as homenagens a Lombroso vrias comisses haviam sido constitudas: Comisso Central, presidida pelos Profs. Leonardo Bianchi e A. Tamburini; Comisso Italiana, entre cujos membros estavam os professores Brusa, Borri, Garrara, Ferrero, Severi, Tamassia, Tirelli, De Sanctis, etc.; Comisso Internacional de personalidades do mundo cientfico, como Bechterew, Benedikt, Max Nordau, Sollier, Van Hamel, etc.; Comisso Popular, que entregou a Lombroso um objeto de arte, homenagem da classe trabalhadora; Comisso de Estudantes, que ofereceu artstico pergaminho ao amado mestre.

Uma das solenidades bastante emocionante foi entrega que o Doutor J. A. Lacassagne, professor de Medicina Legal na Faculdade de Lio, lhe fez, em meio de estrondosa salva de palmas, da cruz de Comendador da Legio de Honra, com que o Governo francs o agraciara. A escolha do Professor Lacassagne para aquela incumbncia foi muito apreciada. Como chefe da Escola Sociolgica do Direito Penal, combatia as teorias de Lombroso, mas, acima de tudo isto, admirava-o e o reconhecia sobretudo como o apstolo da piedade para aos infelizes, da justia para os deserdadas.Em seguida, levanta-se uma comisso de insignes mestres italianos e estrangeiros, do Direito e da Medicina, e presenteia o homenageado com um rico lbum de assinaturas e com um medalho cinzelado pelo afamado escultor Bistolfi, medalho que simbolizava a obra do heri da festa.

Uma das cerimnias mais expressivas foi instituio, na Universidade de Turim, da ctedra de Antropologia Criminal, graas aos esforos do grande psiquiatra e neuropatlogo Leonardo Bianchi, ento Ministro da Instruo Pblica, sendo nomeado Lombroso para seu primeiro ocupante, tornando-se, assim, em todo o Planeta, o inaugurador oficial do ensino da cincia de que ele fora o fundador.

Aquilo tudo - escreve Max Nordau - foi uma apoteose cuja repercusso atravessou o oceano. nica exceo na Itlia, na Europa, pode-se dizer, foi a Faculdade de Turim, que encontrou o meio de ignor-lo. Absteve-se de tomar parte na festa, no figurou na comisso, nem entre os oradores, nem sequer entre os assistentes, e em sua Memria anual passou em silncio uma cerimnia que tivera por teatro a mais bela sala da Universidade. Na altura a que chegara, Lombroso podia rir dessa raiva impotente de adversrios grotescos, e desprez-la. Contudo, no temos porque isent-la por isso de merecida censura.

E nos dias atuais, o conhecido criminologista argentino Juan Dalma demonstrou, em longo estudo, que as concepes lombrosianas do delinqente epilptico foram uma genial antecipao das modernas doutrinas constitucionalsticas, psicodinmicas e neurofisiolgicas, doutrinas estas que, em sua opinio, projetam nova luz sobre as velhas concepes do sbio de Pavia, e as confirmam de forma inesperada. Multa resascentur, quae iam cecidere.

3) A Natureza do Homem de Gnio. Estudando os homens de gnio, no s sustentou as relaes freqentes entre o gnio e a loucura, seno que chegou a concluso de que o gnio do homem o produto de uma psicose, de carter degenerativo. Colocou, assim, os grandes homens no domnio da patologia mental, o que, alis, j fora sustentado por outros autores, especialmente por Moureau de Tours e Llut.

Lombroso baseou-se em observaes numerosas, desde os tempos antigos, e disse Ferri que at nos homens tidos por mais equilibrados e normais, neles tambm foi comprovada a nota degenerativa.

A primeira tese que publicou sobre o assunto saiu em 1864, na cidade de Milo, sob o titulo Gemo e Follia (4 ed., muito aumentada, Turim, 1882.)

Juntaram-se a esta, posteriormente, trs novas obras: L'Uomo di gnio (6 ed., definitiva, Turim, 1890, na qual suas teorias a respeito assumiam formas mais definidas; O Gnio e degenerazione (Palermo, 1898) e Nuovi studi sul gemo (2 vols., Palermo, 1902).

Para Lombroso, em suma, o gnio no incompatvel com uma natureza epilptica, uma degenerescncia epilptica. Muitos fatos acumularam e coordenaram para comprovar a sus doutrina, emprestando-lhe, segundo a expresso de Ferri, um vigor miguelangelesco, mas, mesmo assim, teve de enfrentar furiosas e implacveis criticas, censuras indignas do seu alto valor, Freqentemente misturadas com a fantasia silogstica.

A torrente de idias profundamente inovadoras que o crebro pujante de Lombroso derramara no mundo do sculo passado, sobre um terreno to inquietante como aquele da loucura, do delito, do gnio, suscitou, como natural e normal, um clamor de resistncia e averso, ao lado de uma onda entusistica de adeso, parcial ou total.

Poucos sbios ou filsofos foram to atacados como o foi Csar Lombroso - escreveu o jornal parisiense Sicle, em 1909.

E este, em verdade, o destino de todos os que ousam traar novas diretrizes no mundo cientfico, filosfico ou religioso, e Lombroso exteriorizou, em certas ocasies, todo o seu menosprezo por aqueles eclticos que, semelhantes a esponjas, absorvem tudo e no produzem nada. Chamava-lhes mestrezinhos da Cincia, que, de ordinrio, acrescentava Lombroso, esperam, para ter uma opinio cientifica, a ltima palavra da Sorbona ou da feira de Lipsia.

Quem evoca, em mincias e a cores vivas, a vida de lutas e as dores do genial e verdadeiro homem de cincia sua prpria filha Doutora Gina Lombroso-Ferrero, quer no artigo La Vita de Pap (in Archivio di Antropologia Criminale, 1809, pgs. 807-832), quer no livro de sua autoria: Cesare Lombroso, Storia della vita e delle opere, narrata dalla figlia Turim, 1915 (2 ed., 1921, fundamental).

Houve, naqueles recuados tempos, um mdico e consagrado psiclogo, o Padre Agostinho Gemell, mais tarde reitor da Universidade Catlica de Milo e presidente da Academia Pontifcia das Cincias, que, com todas as suas foras. combateu as doutrinas de Lombroso, afirmando, aps o falecimento deste, serem elas anticrists e que no passavam de caricatura de cincia, acabando pelas considerar definitivamente sepultadas com seu autor.

A verdade, todavia, vence o tempo e vence os homens. Em 1951, segundo nos conta o Professor Leonidio Ribeiro, esse mesmo padre franciscano, ao inaugurar a Escola de Aperfeioamento de Estudos Criminais da Universidade de Roma, volta atrs e afirma textualmente: Ningum mais poder hoje negar que a Antropologia Criminal realizou conquistas importantes, no campo da cincia, para o conhecimento do homem delinqente, imprimindo os discpulos de Lombroso novos rumos ao Direito Penal de nossos dias. Depois de estudar o homem louco, o homem delinqente e o homem gnio, no ocaso de sua vida Lombroso aprestou-se a estudar o homem santo, mas a sade no lhe permitiu chegar a termo.

Produo Cientfica

Deixou o sbio verones vasta obra relacionada com a Psiquiatria, a Medicina Legal, as disciplinas carcerrias, a justia penal, a profilaxia do delito, etc., somando-se a ela centenas de memrias e artigos cientficos estampados, at os seus ltimos anos de peregrinao terrena, em numerosas revistas e jornais de todo o mundo, especialmente da Europa.Alm das obras mencionadas no decorrer deste trabalho biogrfico, alinharemos mais algumas, a saber: L'Uomo bianco e l'Uomo di colore (Pdua, 1871); idem, 2 ed. aumentada (Turim, 1892); I velene del mais e da loro applicazione all'igiene e alla terapia (Bolonha, 1877); Sulla medicina legale del cadavere ( Turim, 1877); L'amore nel suicdio e nel delitto ( Turim, 1881); Pazzi e anomali (1885 ) , reunio dos seus artigos e polemica em defesa da Escola Positiva;Ildelittopoltico e ie rivoluxioni( Turim,1890); Trattato profiltico e clinico delia pellagra (Turim, 1892); Le pi recenti scoperte e applicazioni della psichiatria e antropologia criminale ( Turim, 1893 ); La donna delinquente, la prostituta e la donna normale, em colaborao com G. Ferrero (Turim, 1893): L'antisemitisnto e la scienze moderne (Turim, 1894); Grafologia (Milo, 1895): Lezioni di medicina legale (2 ed., Turim, 1900); Delitti vecchi e delitti nuovi (1902); II momento attuale in Italia (Milo, 1904 ) La perizia psichiatrico-legale coi metodi per eserguirla e la casustica legale (Turim, 1905)

As idias de Lombroso - declarou, faz poucos anos, o Prof: Leonidio Ribeiro - receberam o apoio de mestres e esto sendo confirmadas luz das ltimas conquistas da cincia.

No , pois, fora de propsito esta frase do grande jurista Vincenzo Manzini, professor ordinrio da ctedra de Direito e Processo Penal na Universidade de Pdua, frase existente no 1 tomo do seu famoso Trattato di diritto penale italiano: Se Lombroso no tivesse existido, haveria uma lacuna na evoluo lgica das idias do nosso tempo. Assim escreveu Gross, e este criminalista germnico tinha inteira razo.

No Campo do Espiritismo

Foi lenta e rdua, porm contnua e segura, a marcha de Lombroso rumo ao Espiritismo.

Em seu opsculo Studi sull'ipnotismo (Turim, 1882), o ilustre antropologista ridiculizava as manifestaes psquicas, chegando at, segundo suas prprias palavras, a insultar os espritas. Motejava do fenmeno das mesas girantes e falantes, estranhando que pessoas de mente s pudesse prestar-se a tanta charlatanearia.

Em Julho de 1888, publicava no jornal Fanfulla della Domenica (n. 29) um artigo intitulado L'inflenza della civilta e dell occasione sul gentio, artigo em que se mostrava, ao referir-se ao Espiritismo, menos intransigente, salientando, aps breve raciocnio, lgico e cheio de bom-senso:

Quem sabe se eu e meus amigos, que rimos do Espiritismo, no laboramos em erro. (chi sa che io ed i mieri amici, che ridiamo dello spiritismo, non siamo in errore.)

A leitura deste artigo, o Conde Ercole Chiaia, cavaleiro napolitano de grande cultura (cuja desencarnao, em 4/3/1905, foi bastante lastimada por eminentes personalidades do mundo cientfico e literrio), escreveu longa e brilhante carta a Lombroso, em Agosto de 1888, publicada, sob o ttulo Una Sfida per la Scienza, no mesmo jornal h pouco citado (ano X, n. 34). Nela, chamava a ateno do sbio para uma doente extraordinria, com quem se produziam os fenmenos mais estranhos, alguns dos quais passou a relatar. Em seguida, convidava-o, num desafio corts, para a eles assistir e simplesmente comprovar-lhes ou negar-lhes a realidade. A referida doente era uma napolitana analfabeta, da classe mais humilde da sociedade, com menos de quarenta anos de idade, robusta, e chamava-se Euspia Paladino.

O Conde Chiaia dispunha-se ainda a aceitar um encontro em qualquer lugar (Npoles, Roma e at Turim) que Lombroso designasse, e, alm de outras facilidades de investigao, concedia-lhe plena liberdade de ao nas experincias. Melhores condies - declarava ele - no se poderia oferecer nem mesmo aos cavaleiros da Tvora Redonda.

Lombroso respondeu reputando intil este convite, pois que seu tempo de cultor das cincias positivas no lhe permitia assistir a manobras de prestidigitao.

Trs anos depois, porm, foi obrigado, por motivos profissionais, a ir a Npoles....Casualmente - ele prprio quem o narra - me encontrei com alguns dos admiradores de Euspia Paladino, especialmente com o Senhor Chiaia, que me pediu fizesse experincias com essa mdium. J que estais entre ns - disse-lhe Chiaia -, nada vos impede de assistir a uma sesso e de desmascarar o embuste.

Sempre havendo pelejado por amor da Verdade em todos os campos do conhecimento humano, conforme acentuou o poeta orientalista alemo Artur Pfungst, o clebre autor de O Homem delinquente aceita, afinal, o convite, mas impe estas condies: no participaria de sesso s escuras ou de sesso pblica, e as experincias deviam realizar-se a luz do dia e no quarto do Hotel onde estava hospedado. Afinal, explicou ele mais tarde, depois de ter ouvido alguns sbios negarem fatos de hipnotismo, como a transmisso do pensamento, a transposio dos sentidos, que, por serem raros, no so menos reais, e que eu verificara atentamente, perguntei-me a mim mesmo se o meu cepticismo a respeito dos fenmenos espritas no seria da mesma natureza que o dos outros sbios com relao aos fenmenos hipnticos.

Por se tratar de um acontecimento deveras histrico, ocorrido em Maro de 1891, deixemos que o prprio Lombroso relate o comeo de sua iniciao nos fenmenos espritas.Quando vi, plena luz, uma mesa levantar-se do cho - s Euspia e eu estvamos juntos da mesa - e uma pequena trombeta voar como uma flecha da cama mesa e desta cama, meu cepticismo recebeu um choque, e eu desejei fazer novas experincias de outra natureza, no mesmo hotel, com trs colegas.

Na sesso seguinte, fui testemunha da habitual mudana de lugar de objetos e ouvi pancadas e rudos. O que mais me impressionou foi uma cortina existente defronte da alcova, a qual, desprendendo-se de repente, se dirigiu para mim e enrolou-se ao meu corpo, apesar dos meus esforos contrrios, parecendo exatamente uma delgadissima folha de chumbo. S aps algum tempo consegui desenredar-me dela.

Outro fato muito me impressionou: um prato cheio de farinha deu um giro, e, ao se colocar na situao primitiva, verifiquei que a farinha, antes perfeitamente seca, se havia transformado numa espcie de gelatina, permanecendo neste estado por um quarto de hora.

Finalmente, quando nos amos retirar do quarto, um pesado mvel que estava num canto afastado do apartamento principiou a deslizar na minha direo, como se fosse enorme paquiderme.

Logo a seguir, outras sesses realizou Lombroso com a mdium Paladino e nas quais tomaram parte, ora numa, ora noutra, vrios professores ilustres, como Augusto Tamburini, Vizioli, Ascensi, Leonardo Bianchi, Frederico Verdinois, Limoncelli, Penta, De Amicis, Ciolfi, etc.. Incrdulos a princpio, menos este ltimo, que j havia observado os fatos medinicos, todos eles se certificaram da insofismvel realidade dos fenmenos oferecidos por Euspia e por ela atribudos ao seu guia espiritual John.King, fenmenos na sua quase totalidade de efeitos fsicos, sendo raros os subjetivos.

Num dos relatrios, escrito pelo Professor Ernesto Ciolfi, este conta que em dada sesso, aps se produzirem s manifestaes habituais de transporte, levitao e tiptologia, os presentes j se dispunham a retirar, quando a ateno de todos foi despertada para a alcova, ento fechada por reposteiro.Tinham ouvido um barulho estranho que dali vinha.

A mdium de lado de fora, ainda continuava sentada e amarrada.

De sbito os reposteiros se agitaram fortemente e viu-se, em plena luz, uma mesinha sair da alcova e caminhai docemente para a mdium. Neste momento, o Professor Lombroso entrou na alcova e constatou que o prato cheio de farinha, ali posto, estava revirado, sem que se visse a menor partcula de farinha espalhada fora do prato, feito que - salientou Lombroso - nem o mais hbil prestidigitador seria capaz de operar.

Noutra sesso - conforme relatou o clebre escritor cientfico francs Francisco Henrique de Parville (O Espiritismo e a Cincia, no Jornal do Comrcio, do Rio de Janeiro, 7/8/1892) - o Senhor Hirsch, banqueiro, tendo pedido para conversar com uma pessoa que lhe era cara, viu a imagem desta e ouviu-a falar em francs (ela era francesa e falecida havia vinte anos) , lngua ento desconhecida da mdium. Este fenmeno de materializao foi igualmente observado na sesso em que tomaram parte os Drs. Defiosa e Barth, havendo este ltimo reconhecido seu pai, j morto, que por duas vezes o abraou.

Diante desses maravilhosos resultados, Lombroso no titubeou em permitir fosse publicado na Tribuna Giudiziaria, de 15 de Julho de 1891, uma carta por ele endereada ao Professor Ciolfi, datada da cidade de Turim, aos 25 de Junho do mesmo ano.

Nesta carta, de um verdadeiro e leal homem de cincia, Lombroso confessava, em certo trecho, pblica e textualmente:

(Estou muito envergonhado e desgostoso por haver combatido com tanta persistncia a possibilidade dos fatos chamados espirticos; digo fatos, porque continuo ainda contrario a teoria. Mas os fatos existem, e eu deles me orgulho de ser escravo.)

A sinceridade dessa confisso era o primeiro testemunho da sua imparcialidade. A Verdade, para ele, estaria sempre acima de sua prpria pessoa.

Como compreensvel, a sensacional nova das experincias lombrosianas com Euspia Paladino e as declaraes categricas do professor fizeram, no mundo cientfico, grande rudo.

Alexandre Aksalcof, diretor do jornal Psychische Studien de Lipsia, Conselheiro de Estado de S. M. o Imperador da Rssia, escreveu, entusiasmado, ao Conde Chiaia: Glria a Lombroso pelas suas nobres palavras! Glria a vs pela vossa dedicao! Estais largamente recompensados.

Tomando em considerao o testemunho insuspeito do Professor Lombroso, reuniu-se em Milo uma comisso de ilustres cientistas com o objetivo de verificar os fenmenos eusapianos, submetendo a mdium a experincias e a observaes to rigorosas quanto possveis. Foram ao todo dezessete sesses, iniciadas em Outubro de 1892, na residncia do egrgio engenheiro e Fsica, Giorgio Finzi. Alm deste, participaram das investigaes os senhores: Aksakof; Giovanni Schiaparelli, diretor do Observatrio Astronmico de Milo; Carl du Prel, doutor em Filosofia, da Universidade de Mnaco, Baviera; Angelo Brofferio, professor de Filosofia; Giuseppe Gerosa, professor de Fsica na Real Escola Superior de Agricultura, de Portici; G. B. Ermacora, professor de Fsica. Assistiram a parte das sesses Charles Richet, professor da Faculdade de Medicina de Paris, e Csar Lombroso.

Um resumo dos notveis resultados obtidos foi dado a pblico no jornal Itlia del popolo (suplemento ao n. 883), sendo alinhados inmeros fenmenos (levitao, transporte, pancadas fracas e fortes, materializaes, etc.) , ocorridos plena luz em semi-obscurdade, muitos controlados pela fotografia, no se falando da enrgica e contnua fiscalizao exercida sobre a mdium.

Conta Richet, que diz ter assistido a quase duzentas sesses com Euspia, que numa dessas sesses de Milo ele foi tocado, em dois lugares diferentes do corpo, por mos materializadas, estando as mos e os ps da mdium perfeitamente seguros por Schiaparelli e Finzi. Noutra ocasio, no s impresses digitais foram feitas num papel esfumaado colocado sobre a mesa, mas tambm a impresso de toda uma mo esquerda, sem que ningum presente sala fosse o autor dessa manifestao. No nos alongaremos na descrio de muitos outros fatos interessantes, visto que encheramos pginas e mais pginas.

Em minha ignorncia de tudo quanto se referisse ao Espiritismo - dizia, mais tarde, o prprio Lombroso -, e somente me baseando nos resultados dos meus estudos sobre a histria e a patologia do gnio a hiptese mais provvel que me ocorreu foi a de que uses fenmenos hstero-hipnticos seriam devidos a uma projeo motora e sensorial dos centros psicomotores do crebro, enquanto outros centros nervosos ficariam debilitados pela neurose e pelo estado de transe. Sucederia o que se observa com a inspirao criadora do gnio, associada a um decaimento da sensibilidade da conscincia e do sentido moral.

Euspia, que era neurtica em seu estado normal, em conseqncia de um ferimento na cabea que havia recebido quando menina, ficava, durante esses estranhos fenmenos espiritistas, perfeitamente inconsciente e presa tambm de convulses.

Confirmei-me nessa suposio, refletindo que o pensamento, por sublime que seja, um fenmeno de movimento, e observando que os mais importantes fenmenos espiritistas sempre se manifestam nas pessoas e nos objetos situados prximos do mdium.

Tal era, em sntese, na ocasio, a tese explicativa que apresentava. No podendo conceber o pensamento sem crebro, nem, por conseguinte, a sobrevivncia do eu humano, com suas faculdades integrais, perfilhava ele, para os fenmenos medinicos, as interpretaes neurofisiolgicas, com excluso da hiptese esprita.

A isso tudo ele ainda acrescentava, aludindo aos que, descrentes por preconceito, sem nunca terem experimentado, nada querem perceber, seno fraude e iluso: Desconfiemos dessa pretensa penetrao de esprito que consiste em divisar farsantes por toda parte, e em crer que sbios somos apenas ns, porquanto essa pretenso poderia levar-nos juntamente ao erro. Nenhum desses fatos (que tem de ser aceitos, porque no se podem negar fatos que foram vistos) , entretanto, de natureza a deixar supor, para explic-los, um mando diferente daquele que os neuropatologistas admitem.

O tempo passa. As experincias de Lombroso se multiplicam.

Seu amigo Professor Ermacora demonstra-lhe a insuficincia da hiptese aventada de incio, no seu carter fsico, por assim dizer. O chefe da escola psiquitrica italiana sente, aos poucos, a fragilidade de sua interpretao psico-fisiolgica para os fenmenos, e eis que, em 1900, numa carta ao Professor Doutor M. T. Falcomer, esprita convicto, declara, com a sinceridade que sempre o caracterizou: Sou, com relao s teorias espritas, como pequeno seixo na praia; ainda a gua no me cobre, mas sinto que, a cada mar, vou sendo arrastado um pouco mais para o mar.

Sempre fiel ao mtodo experimental, realiza ele novas sesses com Euspia (cem pelo menos, afirmou, em 1908, ao redator do jornal parisiense Le Matin), em Milo, Gnova, Npoles, Turim, Veneza, e parece que tambm em Paris, sesses que o levam passo a passo, lento, a tender para a hiptese esprita.

Em 1902, na casa da condessa Celesia, rene-se a um pequeno grupo de amigos, entre eles os Drs. Celesia, Morselli e Porro, e obtm novas e valiosas confirmaes experimentais dos fenmenos medinicos de Euspia. Neste mesmo ano, entre surpreso e emocionado, v o Esprito materializado de sua prpria me, ouve-lhe a voz e sente-lhe o contacto. Anos depois, este fato se torna a repetir ante seus olhos e dos demais assistentes.

Referindo-se ao Doutor Pio Fo, que, por essa poca, obtivera numa placa a impresso de um dos dedos de uma mo materializada, escreveu Lombroso: E' a primeira vez, se no me engano, que nos aproximamos intimamente, experimentalmente, dos fenmenos e, por assim dizer, do organismo esprita, dessas representaes passageiras, transitrias, da vida do Alm, cuja existncia os incrdulos pretendem negar, apesar da opinio universal confirmada por milhares de fatos Que se multiplicam incessantemente aos nossos olhos...

Lombroso toma conhecimento das corroboraes s suas experincias com Euspia, fornecidas por outros sbios, e prossegue mais confiantemente, ano aps ano, no seu perseverante trabalho de investigao.

Numa sesso, em 1907, por ele realizada juntamente com os Drs. Audenino, Norlenzki, o editor Bocca e outras pessoas eminentes, repetiram-se, em toda a sua pujana, os fenmenos eusapianos. Aparelhos registradores colocados num gabinete, bem longe da mdium, deram, sem nenhum contacto visvel, indicaes diversas. Um bandolim tocou sozinho. Uma configurao de cabea foi vista.

As experincias do Doutor Filipe Bottazzi, professor de Fisiologia na Real Universidade de Npoles, foram das mais demonstrativas e trouxeram forte apoio as descritas por Lombroso. Elas forneceriam - salienta Charles Richet, Premio Nobel de Fisiologia -, se fosse necessrio, a prova decisiva das materializaes e dos movimentas sem contacto.

Alm do Professor Bottazi, esteve presente a essas sesses com Euspia ilustre comisso assim composta: Doutor Gino Galeotti, professor ordinrio de Patologia Geral na Universidade de Npoles; Doutor Tommaso de Amicis, professor ordinrio de Dermatologia e Sifilografia na mesma Universidade; Doutor Oscar Scarpa, livre-docente de Fsica e professor incaricato de Electroqumica na Real Escola Superior Politcnica de Npoles; Doutor Luigi Lombardi, professor ordinrio de Electrotcnica e incaricato de Fsica Tcnica na mesma Escola; Doutor Srgio Pansini, professor ordinrio de Semitica Mdica na Universidade de Npoles; Engenheiro Emmanuelle Jona, presidente da Associao Electrotcnica Italiana e diretor dos servios elctricos da Casa Pirelli, de Milo; Senador Doutor Antonio Cardarelli, professor ordinrio de Clinica Mdica na Universidade de Npoles.

Usando moderna e complexa aparelhagem, sob condies de irrepreensvel controle junto mdium Paladino, esses sbios reconfirmaram, nos laboratrios do Instituto de Fisiologia Experimental, a autenticidade dos fenmenos de transporte, de levitao, de numerosas e variadas materializaes, contactos de mos, etc., no se falando da mo fludica que Bottazzi apertou com a sua e que, em vez de se retirar, se fundiu, se desmaterializou, se dissolveu.

Bottazzi, que em 1907 havia iniciado esses estudos com cepticismo, concluiu desta maneira: A certeza que adquirimos com respeito a esses fenmenos da mesma ordem da que se adquire com respeito realidade dos fenmenos naturais, fsicos, qumicos ou fisiolgicos que temos estudado.

Ante a opinio pblica, crescia, assim, o crdito nas reiteradas afirmaes de Lombroso relativamente s experincias eusapianas. Ele se aprofunda nas investigaes. Presencia ainda os fenmenos produzidos nas chamadas casas assombradas, como a casa do comerciante de nome Fumero, em Turim, e a do tipgrafo Mignotte. V, com seus prprios olhos, garrafas passeando no ar, cadeiras saltando como se fossem seres vivos, vasos partirem-se sem mais nem menos, mveis danarem, etc. Acerca de suas observaes pessoais nestas casas, tambm chamadas espiritadas, extenso relatrio foi publicado no The New York Herald, em 1909. O correspondente, em Turim, deste jornal norte-americano, na entrevista com o Professor Lombroso, escreveu, referindo-se a este:

Ele afirma, ele cr e, ainda mais, ele est certo, por convico prpria, da existncia de foras inteligentes de alm-tmulo, foras que encontram meio de comunicar-se com os seres vivos por vias bem tangveis.

E o correspondente anota a declarao abaixo de Lombroso, estabelecendo-se, a seguir, um dilogo:

- Outra prova da contnua atividade dos mortos temo-la nas numerosas casas assombradas, casas ocupadas pelos Espritos de pessoas falecidas.

- Cr, portanto, neles, professor?

- Como posso deixar de crer, quando a sua realidade est demonstrada at pelos tribunais?

- Como assim?

Em resposta, Lombroso relata ao correspondente dois casos em que os tribunais anularam contratos de aluguel de casas freqentadas por Espritos e nas quais seus moradores estavam impossibilitados de viver; refere outros casos por ele mesmo observados, em que as manifestaes se produziam, com e sem interveno de mdium, e disse aos correspondentes estas expressivas palavras:

- Voc me olha com assombro. Pode, porm, crer no que lhe digo. Houve tempo em que eu ria dessas coisas, mais do que voc ri agora, e no faz vinte anos despertei tambm entre meus alunos o riso, ao dizer-lhes que nunca creria no esprito de um armrio.

- E agora, o senhor cr de fato, professor? - Creio na evidncia. E nada mais.

Foi somente depois de haver verificado os fatos das casas mal-assombradas - declarava o sbio criminologista, numa espcie de confisso pblica - e de observar Euspia, em estado de transe, dar respostas com clareza e de modo bastante inteligente, em lnguas que, como o ingls, desconhecia inteiramente, conseguindo at modelar baixos-relevos que nenhuma pessoa em condies normais podia fazer, ainda mais sem instruo, como era ela, - foi somente depois de tudo isto e aps tomar conhecimento das experincias de Crookes com Home e Katie King, de Richet e outros, que me vi, tambm eu, compelido a crer que os fenmenos espritas, se bem sejam devidos em grande parte influncia do mdium, igualmente devem ser atribudos influncia de seres extraterrenos, que possamos talvez comparar radioatividade persistente nos tubos, depois que o rdio, ao qual ela deve sua origem, haja desaparecido.

A evoluo de Lombroso, passando progressivamente do mais profundo cepticismo ao reconhecimento da interveno dos Espritos, tpica; ela mostra como um esprito realmente cientfico constrangido, pouco a pouco, a abandonar sucessivamente as diferentes hipteses psicodinmicas, medida que elas se chocam com impossibilidades lgicas ou experimentais.

Se houve um indivduo - escreveu Lombroso em seu artigo Sul fenomeni spiritici e la loto interpretazione, in La Lettura de 1906, pg. 978 -, por educao cientfica, contrrio ao Espiritismo, este indivduo fui eu, eu que escarneci por tantos anos a alma das mesinhas... e das cadeiras, e havia consagrado a vida tese que diz ser toda fora uma propriedade da matria e a alma uma emanao do crebro!

Mas, se sempre tive grande paixo pela minha bandeira cientfica, encontrei outra ainda mais fervorosa: a adorao da verdade, a constatao do fato.

Todos esses sbios, decididos a no se deixarem enganar, afirmaram e confirmaram os fenmenos produzidos por Euspia. Para se crer que tudo no passa de iluso, precisaria supor que todos, sem exceo, fossem ou mentirosos ou imbecis, precisaria supor que duzentos observadores eminentes, menos ilustres talvez que os citados, porm de grande e sagaz inteligncia, fossem, tambm eles, ou mentirosos ou imbecis, assim declarava Richet em seu Trait de Mtapsychique (1922), acrescentando, em outra obra de sua autoria - La Grande Esprance (1933), que o testemunho de um s desses grandes homens seria suficiente.

Enquanto a maioria desses estudiosos se embrenhava por hipteses engenhosamente arquitetadas, sibilinas ou absurdas, e ai estacionava, Lombroso foi mais alm, naquela nsia incontida de se aproximar mais e mais da verdade. E vemo-lo, afinal, ingressar no brilhante grupo dos Wallace, dos Zoellner, dos Lodge, dos Crookes, dos Varley, dos Hare, dos Aksakof e tantos outros, todos homens to positivos e perspicazes quo idneos e independentes, os quais haviam passado pelas mesmas fases de incredulidade e dvida para Proclamarem, enfim, que somente a interveno de inteligncias extraterrenas permite compreender racionalmente o conjunto das manifestaes observadas.

Eu tenho a coragem - frisava Lombroso no trabalho.

Eusapia Paladino e lo spiritismo, in La Lettura, Setembro de 1907 - de afirmar tudo isso, como de dizer que se forma em torno da mdium Euspia um espao de quarta dimenso, porque no tenho e jamais tive medo do ridculo, quando se trata de afirmar fatos dos quais experimentalmente adquiri profunda convico, e porque no improvisei, como aquele gire muito ingenuamente me chamam ingnuo, uma doutrina de uma ou duas sesses com um mdium apenas, mas sim aps um estudo de muitos anos que me permitiram pr em relao queles poucos fatos fragmentrios que Eusapia oferece , com os muitssimos outros registrados pela cincia e concordantes entre si.

Animado de uma intrepidez moral e cientfica e de uma sinceridade bem raras entre os seus colegas, Lombroso resolve, desafiando a opinio pblica e as Academias, escrever uma obra na qual condensaria o resultado de suas pacientes investigaes no domnio do Espiritismo experimental, investigaes que terminaram por conserte-lo definitivamente s crenas espritas.

Em carta de 20 de Junho de 1909, dirigida ao Senhor Demtrio de Toledo, diretor da Revista Internacional do Espiritismo Cientfico, ele anuncia que uma editora italiana de Turim j estava de posse dos originais de sua nova obra: Ricerche sui fenomeni ipnotici e spiritice, que s apareceu nas livrarias em fins de 1909 (nova edio, em 1914), quase simultaneamente com uma edio americana que levou o ttulo: After death What?

Seria esta, alis, a ltima obra do grande criminologista italiano, o coroamento de sua gloriosa carreira cientifica e, porque no diz-lo, a suprema oferta do seu generoso corao Humanidade aflita e sofredora.

Homenagens Pstumas

Aos 19 de Outubro de 1909, desencarnava em Turim, com 74 anos incompletos, aquele que no dizer do notabilssimo historiador da Medicina contempornea, Professor Arturo Castiglioni, foi um dos mais geniais pesquisadores e dos mais insignes mestres italianos do sculo passado.

Se no fora o ambiente do lar, onde esposa, filhas e genros o adoravam, fazendo-o esquecer as incompreenses do mundo e vitalizando-lhe o esprito com inmeras demonstraes de afeto, sem dvida esse desenlace j se teria dado muitos anos antes.

Lombroso expirou docemente, serenamente, nos braos de sua talentosa filha Doutora Gina, que se referiu a esse momento final com essas palavras: a sua alma passou para o Infinito como um rio que, ao chegar foz tranqila, se expande no mar.

Assentaria, agora, nas mais altas Assemblias Espirituais aquele que, na Terra, alm de grande cientista, sedento de conhecimentos e amante da Verdade, foi, por voz unnime, homem virtuoso, corao aberto a todos os ideais de justia e progresso, alma nobre, simples e tmida, de bondade infinita, indiferente s riquezas e s honrarias, marido e pai exemplar, dedicado aos jovens, a muitos dos quais amparou prodigamente, fiel aos amigos, desvelado para com os humildes e os infortunados da Natureza e da Sociedade.

Havendo legado o seu corpo cincia, efetuou-se, no anfiteatro do Instituto de Anatomia Patolgica de Turim, a autpsia dos despojos pelo Professor Mrio Carrara, genro de Lombroso e seu sucessor na ctedra de Medicina Legal e Antropologia Criminal, na Universidade de Turim.

Achavam-se presentes ao ata os professores Ferrero, Fo, Tovo, Bovero, Morpurgo, De Amicis, o Doutor Cavalleri, preparadores, mdicos auxiliares e estudantes.

O crnio foi medido e dele extrada a massa cerebral, que pesava 1.290 gramas. Era, para decepo de todos, um crebro de peso normal, igual a tantos outros, e foi conservado no Museu de Antropologia Criminal da Universidade de Turim.

Pelo telgrafo transmitiu-se a todos os centros civilizados do Ocidente e do Oriente a notcia da desencarnao do famoso chefe da escola antropolgica italiana, levantando ampla e dolorosa repercusso mundial.

No s os peridicos cientficos, mas igualmente os jornais dirios de inmeros pases lamentaram profundamente, em destacados artigos, a irreparvel perda.

A Itlia em peso, mundo oficial e povo, se uniram nas homenagens pstumas.

O rei Vitor Emanuel III telegrafou famlia do extinto, com afetuosa simplicidade: Prego voler credere alla viva parte che prendo al loro dolore, interpretando ainda o sentimento de todos os italianos.

Nas Universidades, nos Corpos e Sociedades cientificas de toda a Europa, eminentes professores relembraram, em discursos e conferncias, as grandiosas obras cientficas de Lombroso, reverenciando, ainda, o homem privado, com o encanto de suas virtudes e modstia pessoais. Entre esses homenageastes destacamos os nomes de Ferri, Bianchi, Roncoroni, Antonini, Cappeletti, Zerboglio, Borri, Tamburini, Ottolenghi, Ferrero, Benedetto de Luca, Leggiardi-Laura, Guido Ruata, Mazzini, Paolo Arcari, Morselli, etc.

O Professor Henrique Ferri, um dos famosos esteios da Escola Positiva de Criminologia e Direito Penal, assim se pronunciava sobre o seu mestre:

Csar Lombroso pertence quela admirvel falange de pensadores e de investigadores da verdade, que, na segunda metade do sculo XIX, transformaram radicalmente o nosso modo de conceber o universo vivente e as relaes do homem com este, revelando-se em cinquenta anos muito mais enigmas da vida que em mais de vinte sculos, apesar do gnio poderoso de tantos filsofos e da fantasia metafsica, de Plato a Berkeley.Darwin, Spencer, Pasteur, Charcot, Virchow foram os gigantes daquela extraordinria poca de cincia internacional, e entre esses homens Lombroso se enfileira como representante da maravilhosa ascenso do pensamento contemporneo.

Homem de pensamento, e no de ao, a sua vida transcorre em episdios clamorosos que, no vaivm da vida pblica, evocam a incandescente ateno e os temores do pblico. E, apesar disto, o seu nome foi, para a glria intelectual da Itlia, durante mais de trinta anos, um dos mais amplamente conhecidos em todo o mundo civilizado, e a nova cincia por ele criada - a Antropologia Criminal - tornou-se por muitos anos, como disse Henrique Morselli, quase que a nica mercadoria de exportao cientfica a levar gloriosamente pelo mundo o nome da Itlia.

Passando da morte imortalidade, Csar Lombroso deixa tal patrimnio luminoso de idias inovadoras e tal exemplo de vida plasmada de f cristalina na verdade, de esforado trabalho e de continua solidariedade entre as pesquisas cientificas e os problemas da vida, que o seu nome permanece entre os grandes cientistas, do mesmo passo que entre os benfeitores mais benemritos da Humanidade.

Discursando nos funerais, o ilustre historiador e socilogo Professor Guilherme Ferrero assim se referiu ao homem: Fui primeiro seu amigo durante dez anos, e durante os dez anos seguintes pertenci sua famlia; e eu no saberia dizer o que todos ns, seus ntimos, mais deviramos admirar: se o seu herosmo - pois que em sua brandura, mesmo em sua timidez, ele foi herico -, se a sua modstia e desinteresse. Homem algum jamais se aproximou da cincia com pureza maior que a de Lombroso, subtraindo-se s honras e fama, e sem a mnima preocupao das avultadas somas que teria podido ganhar com os seus trabalhos. E foi pela Cincia, com to puras mos acariciada, que ele mais sofreu sarcasmos e desgostos.

E ao final do seu discurso, Ferrero, que dois anos antes ainda possua da vida idias puramente materialistas, assim perorou:

Agora que ele nos deixou, fao votos por que tenha encontrado no Alm essa verdade que vagamente pressentia e que, por intuio, muitas vezes concebeu; fao votos por que seu Esprito possa reviver nessa atmosfera de paz crepuscular ultraterrestre, de onde se possa manter em contacto com o esprito dos seres bem-amados que aqui deixou.

Max Nordau, o famoso escritor hngaro de As Mentiras convencionais de nossa Civilizao e de Degenerescncias (esta dedicada a Lombroso), numa singela mas sincera homenagem, assim se expressava

No no momento em que choro o meu mestre e amigo Csar Lombroso, que poderei formular um juzo sobre ele; por outro lado, por muito am-lo, no posso julg-lo. As suas obras pertencem ao mundo, as suas teorias discusso, e eu mesmo, que me digo com orgulho seu discpulo, no o aceito de todo: particularmente lhe expressei, embora respeitando o mestre, as minhas objees quanto sua identificao do gnio com um estado de epilepsia oculta. Mas o homem, este est acima da crtica. Ele era admirvel: o crebro mais prodigiosamente rico de idias originais, o corao mais generoso e mais amante, o carter mais reto, mais franco que j honrou a Humanidade; ele era firme como uma rocha nas suas convices e conciliador como um Buda na forma; modesto como um santo; reconhecido, como uma criana, a qualquer bondade.

No Brasil, no foi menor a repercusso da partida desse grande esprito. Vrios jornais da Capital e dos Estados deram-lhe merecido destaque.

O Paiz, em um dos dirios cariocas mais lidos na poca, estampava na primeira pgina do seu nmero de 20 de Outubro longo artigo laudatrio, que assim se iniciava.O telgrafo acaba de transmitir ao mundo inteiro a noticia sbita e inesperada de um dos vultos mais notveis da cincia contempornea, o professor Csar Lombroso, em cuja obra, vasta e profunda, se concretiza a maior revoluo sofrida, de um sculo a esta data, pelo direito de punir.

O Senado Federal brasileiro, na sesso de 20 de Outubro, a requerimento do senador Alfredo Ellis, inseriu em ata um voto de pesar pela morte do eminente homem de cincia, nisto sendo acompanhado pela Assemblia Fluminense.

Na Escola Livre de Direito e na Faculdade Livre de Cincias Jurdicas e Sociais do Rio de Janeiro, corpo discente e docente se associaram nas homenagens ao extinto.

O festejado matutino carioca, a Gazeta de Noticias, inseria em sua edio de 20 de Outubro, na seco Aqui - Ali - Acol, sob a responsabilidade de seu assduo colaborador M. A., um trabalho deveras revelador sobre o ilustre desencarnado.

M. A. so iniciais que mal encobriam uma das mais esclarecidas e tambm das mais cpticas mentalidades daquela gerao: o escritor e parlamentar nomeado Doutor Medeiros e Albuquerque, membro fundador da Academia Brasileira de Letras.

Vejamos o que ele escreveu na Gazeta de Notcias, confundindo a incredulidade sistemtica daqueles que gratuitamente negavam a converso de Lombroso ao Espiritismo:

Agora que o telgrafo nos d a triste notcia da morte de Csar Lombroso, posso eu aqui referir a histria de uma entrevista com Ferrero, a respeito do grande sbio italiano.

Ferrero era, como todos sabem, genro de Lombroso. Ora, quando ele por aqui passou, pareceram ao redator da Gazeta que seria curioso pedir-lhe algumas informaes sobre as experincias de espiritismo a que o sogro ultimamente se estava entregando. Paulo Barreto foi e conversou com o casal Ferrero; mas no houve meio de obter que adiantassem grande coisa acerca do ponto essencial. Como, porm, estava combinado o assunto da entrevista, A Notcia, sabendo que ela se tinha realizado, declarou que, no dia imediato, a Gazeta contaria coisas inditas sobre as relaes de Lombroso e Euspia Paladino.

tarde, o diretor da Gazeta me disse o que havia - O Paulo foi, conversou com a Gina Lombroso; mas no trouxe nada de importante em especial sobre a Euspia.

V se fazes a esse respeito uma entrevista com o Ferrero.

No Garnier, pouco depois, eu o encontrei. Mostrei-lhe a Notcia. Ferrero protestou, alarmado:

- Mas no possvel! Minha mulher no disse nada sobre Euspia.

- Quem sabe? Talvez no tenha ouvido.

- No; ela no diria: Ns evitamos sempre conversar a tal respeito.

- Mas, porqu?

- Porque as experincias de meu sogro nos desagradam muito.

- At hoje, porm, ele est num terreno cientifico: s tem apurado fatos, sem sustentar nenhuma doutrina. E os fatos...

Ferrero interrompeu-me com um gesto de desdm - Os fatos...

- E positivo, retorqui-lhe eu, que na sua histria romana no h nenhum fato apoiado em tantos testemunhos, como os fenmenos do espiritismo. Esses fenmenos me parecem inatacveis. A teoria esprita que no pode ser mais absurda e extravagante...

Ferrero pediu-me, ento, que no dissesse o que ele me ia contar - e referiu-me que Lombroso se tinha convertido inteiramente ao espiritismo - inteiramente:aceitava os fatos e a doutrina. E isso era na famlia um motivo geral de desgosto. Depois, falou-me com profunda antipatia de Euspia Paladino. Mas sempre me recomendando discrio.

Pela segunda vez a Gazeta perdia sua entrevista... Aqui vai ela, entretanto, dois anos aps.

Depois daquele dia, Lombroso acabou revelando o seu modo de pensar. Sua morte me desobriga do segredo prometido e guardado, porque Ferrero s no queria tratar do assunto, para no ser desagradvel ao sogro. - M. A.

Muita razo teve assim o ilustre escritor esprita, engenheiro Gabriel Delanne, em dizer, h cinqenta anos:

A posteridade, sempre mais justa que os contemporneos, contar entre os ttulos de glria do grande criminologista suas pesquisas sobre Espiritismo.

Para perpetuar a memria do sbio italiano, foi erigido na sua cidade natal, Verona, um monumento da autoria de Bistolfi, para cuja construo colaboraram 24 naes. Com a presena de ilustres homens de cincia efetuou-se, em 1921, a sua solene inaugurao.

Em 1926, a Real Academia de Medicina da Itlia concedia ao Doutor Giulio Tului o primeiro Premio Lombroso, premio internacional que continuou a ser distribudo aos especialistas que mais de destacassem no estudo e na aplicao das idias sobre Antropologia Criminal.

O nome de Lombroso, pelo desassombro e independncia de pensamento, pela honestidade e imparcialidade no estudo dos fenmenos medinicos, viver para sempre no profundo reconhecimento e na justa admirao dos espiritistas. Sua obra - como bem acentuou o Doutor Leondio Ribeiro - patrimnio da cincia universal, e sua vida ficar como exemplo de amor e dedicao Humanidade.

Bibliografia1) Enciclopdia Universal Ilustrada Europeia-Americana, Barcelona, tomo XXX.

2) Enciclopdia Italiana d Scenze, Lettere ed Art, Roma, vol. XXI.

3) Grande Enciclopdia Portuguesa e Brasileira, Lisboa, vol. 15.

4) Archvo d Antropologia Crimnale, Psichatria, Medicina Legale e Scenze affin, Turim, vol. XXX, 1909. Diretores: Cesare Lombroso, Mario Garrara e Camllo Negro.

5) Revista Internacional do Espiritualismo Cientfico, edio em portugus, Paris, 1908-1909.

6) La Fraternidad (Revista mensal de estudos psicolgicos), Buenos Aires, 1908-1909.

7) Reformador, rgo da Federao Esprita Brasileira, Rio de Janeiro, 1909 e 1910.

8) Revue Scentfque et Morale du Sprtiame, Paris, 1909.

9) Professor Armando Pappalardo, Sprtismo, ed. Ulrico Hcepli, Milo, 5 edio revista e ampliada, 1917.

10) Tits da Cincia, seleo de Lazaro Lacho, traduzida pelo Doutor Slvano de Souza, Livraria El Ateneo do Brasil, Rio de Janeiro, 1956.

11) Charles Rchet, Trait de Mtapsychique, 2. ed. refundida, Lbrare Flix Alcan, Paris, 1923.

12) Arturo Castlglion, Stora delia Medicina, nova edio, 1936, Arnaldo Mondador Editorial, vol. II.

13) Doutor Pelayo Casanova y Parets, Antropologia Jurdica, Havana, 1937.

14) Leondio Ribeiro, AS modernas legislaes penais e a contribuio da Antropologia Criminal, Tipografia do Jornal do Comrcio, Rio de Janeiro, 1942.

15) Leondio Ribeiro, Criminologia, Editorial Sul Americana, Rio de Janeiro, 1957, vols. I e II.

O Homem e a sua misso (*)

Ningum Profeta em sua terra

Se do exame analtico dos fatores psquicos e do estudo de alguns caracteres peculiares da personalidade pudssemos extrair um conceito lgico da vida, seramos tentados a reduzir todo o confuso contingente humano a alguns tipos fundamentais, que despontam periodicamente na histria do pensamento e da ao, para continuar uma obra j iniciada no tempo, realizar um sonho secular ou sacudir um mundo adormecido nos crepsculos alternados da conscincia humana.

Um estudo comparado deste gnero, conduzido com esprito isento de preocupaes escolsticas ou religiosas, constituiria certamente o melhor corolrio cientfico doutrina, to antiga quanto combatida, da reencarnao. Substituem-se os elementos do corpo e se renovam s clulas, porm persiste um centro vital, e com certeza tambm uma clula-me que o procria e reconstitui, e perdura o carter da atividade psquica, o timbre fundamental do indivduo que responde diversamente conforme a diversidade do ambiente de relao, mas que sempre coerente consigo mesmo no seu ininterrupto vir a ser. No fluxo e refluxo da vida, o homem esquece e se olvida, mas a sua histria fica impressa nos extratos mais profundos do seu ser, nas dobras mais recnditas do seu organismo vital, e se revela veladamente como instinto, lei fatal de causalidade, a representar aquilo a que os teosofistas chamam (carma), a estabelecer a identidade substancial do indivduo alm dos limites da memria.

1*) Trabalho da autoria do Prof. A. Marzorati, ilustre colaborador de Lombroso nas experincias com Euspia.

A Editora brasileira incluiu-o nesta obra, traduzindo-o da famosa revista "Archivio di Antropologia Criminale, Psichiatria, Medicina Legale e Scienze affini", 1909, pginas 593 a 603.

Com semelhante procedimento se est agora reconstruindo a Histria. As tradies dos antigos enfraqueceram a memria dos psteros e se ampliaram com o horizonte fantstico da lenda. Horrveis cataclismos, fragmentando a unidade primordial, deixaram na recordao das gentes um sulco de terror, e os grupos isolados e dispersos perderam os exatos contornos da realidade.

Assim deve suceder ao indivduo nas crises parciais da vida e naquela catstrofe final que se chama morte. Hoje em dia a histria do mundo e do homem no mais se atm quase que exclusivamente memria dos povos, mas se deduz do estudo das estratificaes telricas, do patrimnio lingstico, dos resduos contemporneos, do prprio mecanismo da nossa vida moderna, que na sua essncia resume toda a atividade do passado. Quando se far a reconstruo histrica da personalidade humana?

Estudar buscar a si mesmo, e a Cincia uma recordao, um reconhecimento do homem nos seus elementos constitutivos, diretamente e no atravs do prisma da memria, que decompe as imagens e sofre todas as alteraes provocadas pela distncia.

*

A histria feita ele homens-tipo, que estabelecem o nexo lgico no caos flutuante das vicissitudes humanas. A massa passiva, que se encasula no breve crculo da prpria gerao e balbucia penosamente uma slaba do livro da vida, repudia ou mal entende estes representantes do Logos que encarna, atravs dos sculos, uma promessa imortal.

Esses trazem consigo, ao nascer, o prprio destino, tm a inquietude da gestante, so possudos da tentao do mundo nascituro, sofrem a atrao do mistrio e se distinguem facilmente da massa em virtude de sua obstinada tenacidade e de sua excentricidade. Tm uma misso a cumprir, que a memria no mais registra, porm todo o seu ser retesado como um arco na direo de um alvo e no podem viver seno para isso. Por essa razo ultrapassam as fronteiras do seu tempo e, como so a sntese do passado, so igualmente os arautos do futuro, aqueles que lanam a semente do retorno.

Estes vultos nunca so prudentes. Que outros levantem os diques, se afanem em conter nos justos limites as foras e o pensamento, que burilem a palavra e aprimorem o estilo e corrijam as provas tipogrficas . A par da idia que passa nas alturas do cu histrico e que os sculos so insuficientes para conter, esses outros trazem a cincia em plulas para os estmagos dbeis que no suportam a verdade demasiado rude, e, na sua pequenez, tm a arrogante prosopopia de homens imprescindveis. Mas o rio majestoso passa, apesar do frmito das margens estreitas, e, se por acaso se abisma, volta, por vias subterrneas, luz e a espalhar a fecundidade das guas a outros povos e a outras terras.

*

Desta raa de homens-tipo foi Csar Lombroso. Os caracteres do gnio, que ele carinhosamente estudou, se encontram visveis na sua obra e na sua existncia, e bastaria recordar alguns conhecidos e interessantes episdios de sua vida particular para se confirmar isso. Em seus escritos, ele semeava a mancheias a impropriedade do estilo e as idias, descurava os erros de impresso, no manipulava demais o material para que servisse s suas geniais construes, e fazia tudo isto com adorvel simplicidade e desenvoltura.

Mas a sua tese j era o resultado de uma poderosa sntese que trazia em si mesma, na sua complexidade maravilhosa, os elementos de sua prpria fundamentao. Ele apreendia as relaes longnquas dos fatos dispersos no espao e no tempo - a expresso sua e de seus caracteres sabia reconhecer-lhes o parentesco e extrair-lhes a lei. O vasto processo de associao de idias, que sobrepujava nele a capacidade comum, faz que seus enunciados mais paream frutos de uma intuio genial que o resultado de uma pesquisa rdua e minuciosa; mas assim no , e lhe fica toda a glria de ser escravo dos fatos, como ele mesmo se proclamava. Se a Natureza se lhe revelava livre e espontnea porque ele sabia conservar diante dela o esprito inteiramente virgem de idias preconcebidas, que ainda no aprendera a mentir a si mesmo.

Os fatos eram para ele a norma da conscincia, que no podiam ser excludos ou mutilados por preconceitos cientficos ou morais. E no se creia que lhe faltasse aquele instinto de resistncia que uma salvaguarda contra o erro e uma garantia de seriedade; para desmentir semelhante suposio, caso viesse tona, bastaria relembrar a histria de seu progressivo interesse diante do problema espirtico, e de sua fundada, lentssima e gradual converso. Isto servir tambm de advertncia crtica que no tem faltado e no deixar de atirar aqui, mais que alhures, as suas setas: o Espiritismo um cmodo alvo e com ele a crtica d alegremente asas s suas fantasias.

Na rpida evocao geie irei fazendo das fases que assinalam a evoluo do pensamento lombrosiano em relao ao Espiritismo, valer-me-ei de suas prprias palavras.

No opsculo Influncia da Civilizao sobre a loucura e da loucura sobre a Civilizao, Csar Lombroso escrevia, em fins de 1856, isto , aos vinte anos:

"A epidemia de Redruth se propaga sempre entre as pessoas de intelecto limitado; no obstante, ao manifestar-se e difundir-se, nestes ltimos anos infelizes, j abalados pela guerra de princpios, o prejuzo do magnetismo e aquele outro, ainda mais estpido, das mesas falantes, o fato jamais ultrapassou os limites de um erro generalizado, e a alienao no produziu deste lado seno vtimas isoladas, espordicas." (pgs. 19/20.)

Vinte anos mais tarde no o encontramos mudado, apenas a sua atitude no mais assim to irredutvel. Em Loucos e Anormais, publicado em 1886, respondendo a um artigo de Lus Capuana favorvel tese esprita, Lombroso terminava deste modo o captulo sobre as maravilhas do hipnotismo

"No posso, muito menos, suspeitar que ele e seus ilustres colaboradores estejam imbudos da mstica esprita no; somente tero por ela uma tal ou qual condescendncia, a ponto de aceitar algumas de suas hipteses mais verossmeis, o que admissvel: nem poderia ser de outro modo, tratando-se de homens que tanto se destacam no mundo literrio. Isto, porm, no o suficiente para desarmar-me. seja porque tenho uma tmpera exclusivista, intolerante, que ao mesmo tempo o mesmo o defeito e a minha fora, seja tambm porque tenho a convico profunda de que, nestas coisas, basta conceder ao vulgo, sempre propenso fantasia um pequeno filete para que este se torne, em curto tempo, uma volumosa torrente." (pg. 72.)

E no apndice crtico aos Estudos sobre o hipnotismo, acrescentava:

"Dem-me mil modos novos de conceber a matria, mas por caridade no me faam conceber os espritos dos espelhos e das poltronas."

Mas eis que, em um artigo sobre a Influncia da Civilizao sobre o gnio, publicado em 1888, no nmero 29 de Fanfulla delia Domenica, Lombroso, impressionado com alguns aspectos dos fenmenos hipnticos por ele estudados, reconhecia, com grande sinceridade e franqueza, a sua posio e a da Cincia ante os fatos novos:

Toda poca igualmente imatura para as descobertas que no tm ou tem poucos antecedentes, e, quando imatura, acha-se na incapacidade de se aperceber da prpria inaptido para admiti-ias. A repetio da mesma descoberta, preparando o crebro para receber-lhe a impresso, torna sempre menos relutantes os nimos para aceit-la.

Na Itlia, por dezesseis ou vinte anos, se tomou por louco, no seio das maiores autoridades, a quem descobrira a pelagrozena; ainda agora o mundo acadmico ri da antropologia criminal, ri do hipnotismo, ri da homeopatia quem sabe se eu e meus amigos, que rimos do Espiritismo no estamos no erro; pois que nos achamos, exatamente como os hipnotizados, graas ao misonesmo que em todos ns dominamos na impossibilidade de reconhecer o prprio erro, e da mesma forma como muitos alienados estando ns apartados da verdade, rimos daqueles que no o esto.

E mais tarde, depois que a insistncia de Ercole Chiaia o levou a realizar as primeiras experincias, em uma famosa carta por ele dirigida a Ernesto Ciolfi e publicada na Tribuna Giudiziaria de 15 de Julho de 1891, Lombroso fazia a famosa declarao que desde ento se tornou um lugar comum:

"Eu estou muito envergonhado e desgostoso por haver combatido com tanta tenacidade a possibilidade dos fatos ditos espritas"

Declarao reiterada um ano depois, em outra carta, ao Dr. Nicola Santangelo:

No Espiritismo h fatos novos que merecem profundo estudo. Eu, infortunadamente tenho poucos meios; mais no deixarei de tirar proveito de todos aqueles que me forem fornecidos.

. . . e solenemente confirmada num artigo publicado a 7 de