centros histÓricos: patrimÔnio de quem? · produto cultural apto a ingressar nos circuitos...
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CENTROS HISTÓRICOS: PATRIMÔNIO DE QUEM?
Lysie dos Reis Professora Assistente do Departamento de Letras e Artes(UEFS)
Linha de pesquisa CAPES: memória visual e desenho urbano. Mestre em conservação e restauro (UFBA)
Doutoranda em História Social (UFBA) [email protected]
Introdução No Brasil, a composição urbana da cidade contemporânea é permeada pela intensa
segregação da população em ambientes distintos. Alguns oferecem níveis satisfatórios
de infra-estrutura, enquanto outros são completamente abandonados. Isto vem
conformando a cidade em espaços distintos. Fragmentos de bairros revitalizados, bem
como o núcleo original da cidade, funcionam isolados como cenários destinados à
indústria do turismo, ávida pelo efêmero e pela história do lugar. Neste sentido, a
exclusão social se manifesta no próprio fenômeno do planejamento urbano que se
repete na execução da sétima etapa do projeto de intervenção do Centro Histórico de
Salvador, parte de uma grande estratégia política que pretende solucionar os
problemas de habitação popular da classe média mediante a retirada dos antigos
moradores, na grande maioria, pobres e negros, que sobrevivem da economia
informal. A remoção dessas pessoas vem-se traduzindo numa forma de renovação
urbana. Tais planos não deslocam apenas os condenados pelo “crime” de estarem
ocupando lugares tornados bons demais para eles. Carregam junto uma quantidade
enorme de hábitos culturais e atividades econômicas julgados desprezíveis. Os
guardiães da história estão sendo irrisoriamente indenizados ou relocados para áreas
periféricas da cidade, numa tentativa equivocada de reorganização que, mais uma vez,
opta pela homogeneização do “lugar de memória” da cidade. Nenhuma política de
educação ambiental é desenvolvida, muito menos o planejamento do espaço histórico
prevê a diversidade de ocupação e utilização. O desejo de ordem, de disciplinarização
do espaço, convive com o retorno de antigos moradores que se amontoam nas
proximidades do “Pelourinho restaurado”, símbolo do resgate do passado.
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Restauração premiada
Em 2003, a restauração e a recuperação do “Centro Histórico de Salvador”,
com destaque para as obras realizadas no Pelourinho, ganharam o 3° Prêmio
Internacional Rainha Sofia de Conservação e Restauração do Patrimônio Cultural, pelo
Ministério de Assuntos Exteriores da Espanha. O prêmio inclui US$ 42 mil, uma
escultura do artista espanhol Gustavo Torner e uma bolsa para curso de especialização
em conservação de patrimônio. Na época, a diretora-geral do Instituto do Patrimônio
Artístico e Cultural (IPAC) ressaltou que era a primeira vez que o Brasil recebia a
premiação e por unanimidade. Salientou ainda que a premiação, além de ser
internacional, abria portas para outras iniciativas, transcendendo a questão
patrimonial, a vertente arquitetônica. Ou seja, a restauração do Pelourinho, segundo a
diretora, tem, no “forte conteúdo social, que inclui a recuperação de áreas para
moradia e a criação de empregos” o mérito que justifica o prêmio1.
Bem, isso aconteceu em julho de 2003, 10 anos depois que a faixa inaugural da
“restauração do Centro Histórico de Salvador” foi cortada. Em 1993, na cerimônia de
inauguração, autoridades, artistas, convidados (muitos deles colocavam seus sapatos
naquelas ladeiras de pedra pela primeira vez) aplaudiam a gerência técnica e política
da obra que teve o Governo do Estado, por meio de duas de suas instituições, o IPAC2
e a CONDER3, como único gestor do recém-inaugurado Pelourinho, como é
popularmente chamado o Bairro4.
1 Tal prêmio foi instituído há 12 anos com ênfase para a poesia, literatura e medicina. Há três, a premiação é concedida para a área de patrimônio. Já receberam o prêmio, São Domingos, no Caribe, e Cartagena das Índias, na Colômbia. 2 Sigla para Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Cultural. 3 Sigla para Companhia de Desenvolvimento Urbano. Atualmente, esta é a empresa estatal que também administra os programas habitacionais do governo do Estado. 4 Na época da inauguração, havia duas etapas concluídas. A primeira etapa, iniciada em 1992 abrangeu 89 imóveis e custou cerca de R$ 11,2 milhões. Houve protestos de moradores que não queriam sair do bairro, mas a maioria - 399 famílias - optou pelas indenizações e 26 foram transferidas para a periferia, o que acarretou o fechamento de 79 pequenos negócios. A segunda etapa, também concluída em 1993, abrangeu 47 imóveis de dois quarteirões do Carmo e a escadaria do Passo, pelo montante de R$ 2,8 milhões. Segundo dados do Governo, 176 famílias optaram pela indenização e 18 foram relocadas para casas de aluguel de propriedade do Governo Estadual. Em 1994, foram realizadas mais duas etapas: a terceira, que custou R$ 3 milhões e abrangeu 58 imóveis; e a quarta, que utilizou R$ 12 milhões para obras em 140 imóveis e no Cruzeiro de São Francisco. Ao total, nas quatro etapas iniciais que perduraram por dois anos, foram gastos cerca de R$ 29 milhões.
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Voltemos ao passado para compreender o presente. Até 1991, mais de 20
planos e ações tinham sido endereçados à reversão do estado de abandono em que se
encontrava o lugar. Cabe aqui a ressalva de que o abandono, tanto físico quanto
social, advém dos poderes públicos e não das pessoas que ali moraram. Estas se
apropriaram do casario abandonado e o revitalizaram segundo suas ordens,
possibilidades e expectativas. As estratégias anteriores refletem-se sobre a última
intervenção como experiências de um aprendizado. Este aprendizado se dá através das
ações do próprio Estado, que, apesar das limitações, encontradas ao longo dos anos
em que atuou na área, conseguiu criar um lastro de fragmentos de operações pontuais
e a implantação de um número considerável de equipamentos culturais5. Além disso,
constituiu um corpo técnico que experimentou, nos caminhos que se mostraram
ineficazes, um conjunto de medidas abandonadas na última intervenção.
Desde a década de setenta do século passado, a reivindicação política de
segmentos culturais - que atuavam na conscientização e auto-estima da população
local - vai estimulando o reinvestimento simbólico desse espaço. Na década seguinte, a
afirmação da identidade negra torna-se mais evidente e passa a ser articulada como
produto cultural apto a ingressar nos circuitos nacionais e internacionais do mercado
cultural. Por outro lado, o investimento no turismo, já uma tendência global, é
apreendido intensa e decisivamente como “vocação” da Cidade do Salvador e como
vetor de seu projeto de desenvolvimento6.
O poder público percebeu a atratividade cultural que despontava no centro
antigo e como esta poderia ser aproveitada na requalificação local. O Pelourinho,
hierarquicamente, já tinha assumido o “[...] papel central de uma rede de territórios
estruturada a partir da organização e multiplicação de grupos formadores de uma
dinâmica cultural na cidade” (GOMES; FERNANDES,1993,p.12). Este papel passa a ser
o maior lastro sobre o qual se erigiu a atual intervenção, pois é também sobre este
novo atrativo cultural que o Estado desenvolve, por meio de alianças estratégicas e
5 Entre estas, podemos citar: Museu Abelardo Rodrigues, Casa de Jorge Amado, Museu Eugênio Teixeira Leal, Museu Afro-brasileiro, Museu de Arqueologia e Etnografia, Núcleo Sertão e Memorial da Medicina. Ainda existem outros museus, como o da Cidade, o das Portas do Carmo e do Convento do Carmo, além da existência de 16 arquivos de instituições religiosas e privadas, entre os quais o da Cúria Metropolitana é o mais importante. 6 De acordo com dados da Anuário Estatístico da Embratur, o Nordeste ganha destaque por ter sido alvo da maior parte dos incentivos realizados no turismo nacional em todo o Brasil nos anos de 1984, 1985 e 1986, representando 40,0%, 57,1% e 42%, respectivamente, do total dos investimentos fiscais e financeiros aplicados com os recursos do Fungetur.
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transitórias, o formato que vai dar ao produto que entrega ao consumo: ‘o novo
Pelourinho’7. Há uma referência a esse momento de retomada cultural, mais
intensificada, que emerge do núcleo antigo e da população residente, como sendo um
marco, um estilo de gerir a cidade através da “hegemonia de não-cidadãos”
(FRANCO,1995,p.33), isto é, daqueles que passam, através da cultura popular, a dar a
referência cultural de todo um estilo de baianidade.
Apesar de todos os esforços políticos e dos mecanismos de financiamento para
que a revitalização, ao longo do tempo, deixasse de depender do Estado, ou seja, que
a intervenção desencadeasse uma reapropriação da localidade por parte de segmentos
mais abastados da sociedade, esta não foi a realidade do Pelourinho pós-intervenção.
Dois anos após o início do empreendimento, notava-se uma desaceleração nas obras,
que já não corriam segundo os prazos da estratégia política. Nas etapas concluídas,
muitas edificações, após um ano, já necessitavam de trabalhos de manutenção. Muitos
empresários, inicialmente entusiasmados por estarem no ‘novo Pelourinho’, já haviam
repassado os pontos alugados. Outro fato que merece ser ressaltado é o de que,
enquanto as obras eram realizadas, o turismo, na Bahia, apresentava uma queda
significativa nas temporadas de veraneio, o que se deve tanto à competição de outros
destinos turísticos em todo o globo, quanto pelo elevado custo que caracteriza o
turismo local8.
No balanço das atividades implantadas nas quatro primeiras etapas, a maioria
das atividades tinha características mais sofisticadas porque eram destinadas a um
7 Segundo Miceli, a estrutura da economia capitalista contemporânea volta-se para a cultura como um dos meios de fornecer modelos universais de comportamento aos diversos grupos sociais. A esfera da cultura faz uma passagem do significado utópico e revolucionário da morte da arte, a seu significado tecnológico, que se resolve numa teoria da cultura de massa; indispensável, para definir o quanto se torna aberto o conceito de arte à expressão coletiva, que passa então a ser o pressuposto geral de uma nova tendência de produção e, principalmente, de consumo da arte. Para Boaventura de Souza Santos (1996), o ideário modernista, centrado na dicotomia entre alta cultura e cultura popular, rompe-se no pós-guerra, resultando na emergência da cultura de massas. Agora, temos que levar em conta que, além de distribuir informações, a mídia produz consenso, idéias e ideais, instauração e intensificação de uma linguagem comum no social. 8 Uma pesquisa da Embratur, de 1995, coloca a capital baiana em 5° lugar entre as cidades mais visitadas no Brasil. Apesar de contestados pelo gerente de estudos da BAHIATURSA, para quem a Bahia continua sendo o 2° pólo de lazer do País, estes dados revelam que a redução de turistas não se deu só na Bahia mas também, em todo o Brasil, em decorrência de uma conjuntura desfavorável ao turismo em termos econômicos e de mercado. Sobre o assunto consultar o artigo “Turismo na Bahia: Novas versões para a queda do fluxo. A Tarde, Salvador, 15 maio 1995.
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público de alta renda, fato que teve como conseqüência a brevidade do funcionamento
de boa parte dos estabelecimentos. As medidas tomadas por esses comerciantes
durante as “Terças da Bênção”9 foram extremamente contraditórias pois, nesse dia em
que o Pelourinho tinha suas ruas abarrotadas de pessoas, o comércio fechava suas
lojas e restaurantes em torno das 17 horas, além de ser limitado o acesso apenas a
alguns espaços, especialmente as praças, chegando, inclusive, a “[...] não
comercializar bebidas populares a preços acessíveis”(CARTA da CPE, 1994, p 15). Cabe
a ressalva de que quem enchia as ruas era um público de baianos, especificamente
jovens e negros.
Após a função habitação ter sido consideravelmente reduzida na área
restaurada, outros espaços, no próprio núcleo antigo, que receberam ex-moradores
através do sistema de relocação, começam a gerar um conflito social. Esse mal-estar
social, chega a “perturbar”, em certos períodos, o ambiente de lazer e oferecer perigo
ao visitante desavisado que circula pelas áreas circunvizinhas ao “novo” espaço, como,
por exemplo, o bairro do Saldanha, tendo em vista, como atesta a própria CONDER, a
“[...] transferência da marginalidade que se localizava nas áreas recentemente
restauradas” (BAHIA, 1995 ,p 08).
Entre 1995 e 1997, mesmo em ritmo lento, a “operação Pelourinho” continuou
na promoção de eventos culturais nas áreas semipúblicas, como as praças, sendo toda
a verba subsidiada pela Secretaria de Cultura do Estado. Portanto a intervenção
aparentemente se manteve, só que inserida numa perspectiva de ampliação da infra-
estrutura turística de Salvador; perspectiva esta vinculada à tentativa de elevar a
atratividade de toda a região do Estado da Bahia, marcado por atributos culturais e
paisagísticos. A própria Cidade do Salvador recebeu o ‘novo Pelourinho’ e muitos
outros subespaços de atividades de turismo e manifestações socioculturais com
grandes potencialidades paisagísticas e recursos naturais. Outros fatores
impulsionaram a não continuidade do dinamismo revelado após a inauguração. Entre
estes, destaca-se o surgimento, na própria Cidade do Salvador, de outras áreas com
boa capacidade de atração, com infra-estrutura e diversidade de ofertas tão
competitivas quanto as do Pelourinho, que, de resto, continuava sendo uma forte
9 Festa de toda terça-feira no Pelourinho, já marcada pela tradicionalidade de uma missa realizada na Igreja de S. Francisco, seguida do ensaio musical do Grupo Cultural Olodum. Nesse dia, é enorme o público composto por populares que se espalham pelas ruas do bairro em busca de lazer e diversão.
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referência cultural na cidade. Por outro lado, a atratividade deste local não conseguia
atingir a clientela de classe média e média alta da cidade, que continuava a imprimir,
com mais freqüência, dinamismo aos seus tradicionais locais de lazer, tais como Rio
Vermelho, Patamares e alguns trechos da Barra. Também ocorreu um processo de
descentralização e expansão na direção do Litoral Norte, incorporando novos
municípios à área urbana, “[...] formando uma mancha conurbada, que hoje se
constitui na nova cidade Salvador Ampliada10” (PORTO;CARVALHO,1995, p 38). Nesta
nova estrutura, ocorreram outras concentrações de atividades terciárias, articuladas e
com papéis diferenciados na vida urbana da metrópole11. Assim, depois da curiosidade
inicial de conhecer o espaço “requalificado”, os investimentos estatais não tiveram
capacidade de manter a atratividade dessa fatia do centro antigo, muito menos de
retomar um modelo anterior de única centralidade nem, tampouco, conseguiu romper
as tendências espontâneas de crescimento da cidade.
Diante desses fatos, em 1996, a CONDER encomenda com o Instituto Futura
uma nova avaliação das etapas concluídas. Nesta, há a previsão de três tipos de
possibilidades para o Pelourinho pós-intervenção. Hoje, é possível dizer que essas
previsões constituíram-se, na época, em advertências aos empresários e ao próprio
Governo do Estado. A primeira advertência dizia respeito à incorporação definitiva do
papel de centro cultural à área recuperada; isto se daria no intuito de redefinir o valor
do uso do solo urbano e por decorrência, equiparar a atratividade imobiliária local com
outros espaços valorizados na cidade, o que poderia estender a sua valoração ao
Comércio e à Baixa dos Sapateiros. Nesse caso, o Governo do Estado poderia reduzir
sua ação, já que a área seria co-gerida pelos usuários, principalmente os comerciantes,
ficando a cargo do Estado apenas a regulamentação do uso do solo. A expectativa da
CONDER era que essa estratégia aumentasse o nível de renda da população envolvida
e, conseqüentemente, aumentasse o número de empregos12; o que serviria de “[...]
10 A “Salvador Ampliada” é indicada como uma grande mancha urbana que compreende a própria cidade, o município de Lauro de Freitas, parte da ilha de Itaparica e, até, parte do município de Camaçari. 11 Nesse novo “chassis” urbano, atuam os novos investimentos industriais de uma Macro-Região que já incorpora a cidade de Feira de Santana e outros investimentos que tentam consolidar a Região Turística da Salvador Ampliada, que se expande tanto na direção do Litoral Norte - Linha Verde - como no sentido Baixo Sul - Região de Valença. São duas regiões que se articulam e que têm Salvador como centralidade urbana. 12 Para a população local, o Pelourinho oferece ainda poucos postos de trabalho no setor de serviço e nas pequenas e médias empresas. Segundo pesquisa do Sebrae (1994), 63% das empresas do Pelourinho empregam de 1 a 5 pessoas; 16,1% empregam de 6 a 10 pessoas e 6,4% empregam de 11 a 20 pessoas.
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exemplo a vários outros centros históricos do Brasil” (PALÁCIOS,1996, p.8). Caso o
volume de recursos financeiros aplicados pelo Governo do Estado fosse reduzido, o
documento indicava a possibilidade de “[...] transferência da responsabilidade de
gestão do ‘Centro Histórico’ para seus usuários, ou um sistema de co-
gestão”(FUTURA,1996:s.p). Desde então, os comerciantes locais deixaram de acreditar
nesta possibilidade, tendo em vista que, dessa forma, estariam dando espaço ao
retorno da marginalidade, o que, segundo Palácios já estava acontecendo na área da
Praça da Sé e do Paço; além disso, havia a diminuição do turismo e a redução do uso
da área pela própria população de Salvador (PALÁCIOS,1996). O estudo previa que, se
ocorresse paralisação das obras, haveria perda do investimento até então empenhado
e o retorno da antiga marginalidade. Provavelmente, isto acarretaria a evasão dos
comerciantes e a ocupação da área “restaurada” pelo comércio informal. O referido
relatório alerta para uma possível perda do estoque imobiliário pela sua rápida
degradação e, conseqüentemente, queda no valor dos imóveis. Por fim, o estudo diz
que este panorama influenciaria o aumento do desemprego e pouca confiabilidade do
setor público em investimento sociocultural e do patrimônio local.
Depois de dois anos de conclusão da 4ª etapa, a 5ª etapa é iniciada. O ano é
1997 e as obras em questão inseriam monumentos de caráter religioso de grande
porte, como o Convento de São Francisco e a Catedral Basílica, além de quarteirões
circundantes da Praça da Sé13. Esta etapa perdurou por três anos em ritmo lento, e, de
certa forma, passou despercebida diante dos montantes gastos com o “Natal do Pelô”,
o “Carnaval do Pelô”, o “São João do Pelô”, a “primavera do Pelô” etc. Foram eventos
que ocuparam as praças e as ruas com bandas e artistas patrocinados pela Secretaria
de Cultura e Turismo e deram visibilidade ao local que aparentemente tocava a
“revitalização”.
Mesmo tendo sido idealizado em dez etapas, com fim previsto para 2000, o
projeto de revitalização do centro histórico, só no início de 2000, tem as obras da 6ª
etapa iniciada. Foram realizadas intervenções em alguns edifícios isolados na área do
Passo e Carmo, tal como a revitalização do Convento do Carmo, que até hoje está
parada. Foram feitas obras na Igreja de São Francisco, além de 62 casarões, apesar de
13 Nesse conjunto, estavam 62 casarões e o custo total anunciado, incluindo as igrejas, esteve em torno de R$ 10 milhões.
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terem anunciado a intervenção em 115 imóveis.14 Chama a atenção a ordem de
prioridades, pois nesta etapa foi realizado, no fundo das ruínas de 18 casarões
coloniais situados entre a Ladeira do Pelourinho e, no fundo, a Baixa dos Sapateiros, o
“Quarteirão Cultural do Pelourinho” que engloba a Praça das Artes, Cultura e Memória,
o Teatro XVIII, o Cine XIV e o Museu Tempostal15. Na tal praça, que é chamada de
“Praça ACM”, raramente acontecem shows, feiras de artesanato ou quaisquer outros
eventos da indústria cultural, como é usual nas demais praças (Tereza Batista, Quincas
Berro D’Água, Pedro Archanjo), todas resultantes das demolições dos antigos fundos
de quintais que testemunhavam, até 1994, o registro do traçado urbano da Bahia
colonial. Mesmo assim, a Superintendência de Investimentos da Secretaria de Cultura e
Turismo do Estado diz que a “[...] a área está configurada no raio de ação do projeto
por ser de caráter turístico e com auto-sustentabilidade garantida” (apud, 2004 c, p.3),
resta-nos saber como. A presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Carmo
(AMACAP), a aposentada Maria de Lourdes de Oliveira critica o gerenciamento da 6ª
etapa: “[...] Aqui ninguém sabe de nada, o que é CONDER ou o que é IPAC e como as
coisas estão sendo feitas”. Os associados da APITO16 também reclamam de “falta de
transparência” (apud, 2004 c, p.3). No outro extremo do “centro Histórico”, o Forte de
14 Espanta-nos a pulverização da 6ª etapa que inclui tanto casas do Santo Antônio quanto do Areal de Cima, no 2 de Julho. As ruas que compõem esta etapa são: Alfredo de Brito, Joaquim Távora, Areal de Cima, Ribeiro dos Santos, Luiz Vianna. Incluem - se ainda a Praça José de Alencar, a Praça Barão do Triunfo, largo do Carmo. Questionada pelo jornal A tarde sobre a aplicação do dinheiro e a não – conclusão das obras, a CONDER informou que só se responsabilizava pela manutenção dos imóveis, pois as obras e a retirada dos moradores da sexta etapa foram tocadas pelo IPAC. Quando procurado em março de 2004, o IPAC, através de sua diretora, disse não saber responder tais indagações porque esta etapa tinha começado na gestão anterior, mas que, no momento, ou seja, ainda em 2004, seriam necessários R$ 7 milhões para terminar as obras. Os recursos poderiam ser conseguidos, segundo sua sugestão, através de parcerias com a Caixa Econômica Federal (CEF) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A direção do órgão também afirmou desconhecer o motivo pelo qual foram anunciadas obras em 115 imóveis, quando apenas 82 receberam intervenção. Afirma ainda que o atraso seria decorrente de uma “defasagem” no repasse de verbas federais na ordem de 120 milhões e que não sabia ‘onde se deu a defasagem’. O IPAC também não informou ao jornal o número de famílias relocadas, nem mesmo o paradeiro de todas elas’. Quando procurado, o Ministério da Cultura (MINC) repassou a dúvida para a 7ª regional do IPHAN em Salvador que, através de seu presidente, explicou que não houve nenhum aporte de verba intermediado pelo IPHAN que, apesar de vinculado ao MINC, não tem responsabilidade de fiscalizar o repasse de verbas. Por sugestão do IPAC, a Secretaria de Cultura e Turismo (SCT) do Estado foi procurada por ter sido o órgão que participou das obras da sexta-etapa. Lá, através da Programa de Desenvolvimento do Turismo (PRODETUR) , que tem verbas captadas no Banco Inter-americano de Desenvolvimento (BID), a resposta poderia ser, enfim, obtida. Mas não foi (CASTRO, 2004c, p.3) 15 De acordo com a Superintendência de Investimentos da Secretaria de Cultura e Turismo do Estado, tudo isto custou U$S 5,3 milhões (cerca de R$ 15 milhões). 16 Sigla para Associação dos Proprietários de Imóveis Tombados.
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Santo Antônio Além do Carmo, também inserido na 6ª etapa, continua sendo uma
ruína 17.
A novidade desta etapa está nas escavações do sítio arqueológico da Sé e na
inserção de um chafariz e uma escultura de 10 metros de altura feita com chapas de
aço inox escovado18. Mesmo sem ter sido concluída a 6ª etapa, o processo da 7ª etapa
foi iniciado. Em contraste com as etapas anteriores, a atual etapa de obras (e de
expulsão) não é conduzida pelo IPAC. Quem manda agora é a CONDER.
Mais uma etapa? ê - tapa...
Pelo menos nos quarteirões das seis primeiras etapas, o cenário consolidou-se.
Berimbaus à venda, baianas vestidas de baianas, rodas de capoeira e, ao fundo, o
baticum do Olodum. Parece fácil identificar o miolo do centro histórico de Salvador, o
Pelourinho, como um shopping-center turístico a céu aberto. Uma espécie de
Disneylândia tupiniquim, com ares de parque temático. Neste caso, o tema é a
História, ainda vitrine, depois das seis etapas que investiram na requalificação de parte
deste território.
A previsão para a 7ª etapa é de que 130 imóveis com 316 unidades
habitacionais e um shopping com 60 lojas e 08 monumentos sejam reformados em 08
quarteirões19. Nesta etapa, o Governo do Estado contará com recursos do programa
Monumenta e da Caixa Econômica Federal que será a agência financiadora das
unidades habitacionais20. Atualmente, a área é conhecida como “Cracolândia”, por ser
17 Esta edificação do século XVII tem enorme valor documental. Inicialmente, funcionou como prisão e assim perdurou até o início do século XIX. Foi nele que os negros malês, insurgidos em 1835, foram detidos. Lá também ficaram presos Abreu Lima, futuro general de Simon Bolívar, e Frei Caneca. 18 Mais uma vez, dezenas de famílias foram retiradas e foram gastos R$ 12,4 milhões. 19 As informações quanto ao número de edificações a serem inseridas oscilam nos locais em que o Governo da Bahia as publica: sites oficiais, material de divulgação da CONDER e Jornais da cidade. 20 O Monumenta é um programa de recuperação do patrimônio tombado pelo IPHAN. Sua atuação no “centro histórico” de Salvador resulta de um contrato de empréstimo firmado entre o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Governo Federal, através do Ministério da Cultura (MinC). A unidade executora do projeto (UEP) está vinculada à CONDER, que é um órgão da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (SEDUR). Inicialmente, os recursos anunciados para a 7ª etapa são de R$ 18.341.000,00 (BID/ MinC /Estado) mais R$ 14.500.000,00 (CAIXA/ Gov. do Estado).
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uma das mais degradadas do “Centro Histórico”, ponto de encontro de traficantes e
usuários de drogas. No projeto de “revitalização”, um vazio urbano que guarda
destroços de antigas casas, onde dependentes químicos se reúnem, será ocupado por
um estacionamento privado com 250 vagas para visitantes e novos moradores21. Mas,
se depender dos burocratas da gestão urbana, esta parte da história será esquecida.
A nova etapa vem anunciada por um novo slogan. Numa entrevista dada à
revista Veja, Mário Gordilho, presidente da CONDER, diz que "[...] os turistas agora
poderão ver as pessoas da terra do jeito que elas realmente vivem" (apud Revista
Veja, 2002, p.68). Em declaração dada em 2002, o responsável pelo gerenciamento
das obras disse que, “em breve”, seria possível ver antigos sobrados recuperados e
seus interiores ocupados por “famílias verdadeiras de baianos”. A nova estratégia
desiste de amontoar no local restaurantes típicos e as lojas de artesanato, hoje
abundantes nas áreas já requalificadas. O mix-funcional rende-se a um dos aspectos
mais eficazes para conferir vitalidade ao local, ou seja, insere agora, num dos atos do
espetáculo, o cotidiano. Espera-se por crianças jogando bola pelas ruas, pelo cheiro da
comida caseira exalando, pais e mães chegando do trabalho, idosos nas calçadas e
talvez, com alguma sorte e absorvido pela atmosfera de fantasia, o turista veja,
atravessando alguma esquina, Dona Flor, Pedro Archanjo ou, até mesmo, Tereza
Batista.
Mas não é qualquer um que poderá morar nos casarões tombados do século
XVII e XVIII. O privilégio está restrito às famílias de funcionários públicos estaduais e
municipais concursados, com renda mensal comprovada de dois a seis salários
mínimos. Os novos moradores estarão nas proximidades de verdadeiros ícones da
arquitetura erudita da Bahia, como o Seminário de São Dâmaso, um solar do século
XVII, e a Igreja e Convento de São Francisco, do século XVIII.
21 A 7ª etapa engloba as ruas S. Francisco, 7 de Novembro, Guedes de Brito, 28 de Setembro, J.J. Seabra, Rui Barbosa, do Tesouro, Ladeira da Praça, José Gonçalves, Saldanha da Gama e Monte Alverne. As obras já começaram no Seminário de São Dâmaso, na Igreja D’Ajuda, na Capela da Ordem Terceira de São Francisco, nos 02 prédios da rua do Tesouro, na Casa dos Sete Candeeiros e em dois imóveis na rua Saldanha da Gama que abrigarão a futura sede do IPAC. Cabe a ressalva de que estes foram construídos como monumentos intencionais, portanto não causam problemas fundiários, afinal, são patrimônios da Igreja Católica e do Estado.
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Esta é a nova estratégia do Programa Habitacional do Centro Histórico de
Salvador, no qual também está inserido o Programa “Rememorar” que vai abranger
antigos casarões da Preguiça ao Carmo. Tal programa é resultado de uma parceria
entre Governo do Estado, através da Sedur22/Conder, prefeitura de Salvador, Caixa
Econômica Federal (CEF), Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
e a Organização Não-Governamental Moradia e Cidadania23. Na primeira fase está
prevista a construção dos 41 apartamentos de dois quartos e a recuperação das
fachadas dos cinco casarões24. Para tanto, estão sendo investidos R$ 1,9 milhão. A
segunda fase prevê a recuperação de 50 casarões que devem ser subdivididos em 200
apartamentos no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, Barroquinha, Comércio,
Nazaré, Dois de Julho, Saúde, Barbalho, Soledade, além do Pelourinho25.
22 Sigla para Secretaria de Desenvolvimento Urbano. 23 A ONG Moradia e Cidadania desenvolve o projeto de Mecenato que visa captar recursos junto aos empresários e/ou instituições financeiras, em parceria com os governos estaduais, com base na lei Rouanet 8.313/91. Esse projeto tem o intuito de atuar na preservação do patrimônio histórico, arquitetônico e cultural através da recuperação física e da restauração da volumetria de imóveis em grau de degradação, tombados como patrimônio histórico e cultural da humanidade. Atualmente o programa está com 06 projetos em andamento, sendo que 05 estão localizados em Salvador/BA e 01 em São Luís/MA. (dados do site do Ministério das Cidades) 24 Os cinco casarões situam-se em três ruas diferentes: os de números 11, 19 e 53 da antiga Rua Joaquim Távora (atualmente Rua Direita de Santo Antônio), a unidade pluridomiciliar dos números 38, 40 e 42 da Rua Deraldo Dias (atual Rua dos Marchantes) e o número 56 da Rua Ribeiro dos Santos (atual Rua do Passo). A preocupação do governo é que “ao final das obras, as fachadas e os telhados retomarão suas feições originais”. Disponível em < http://www.agecom.ba.gov.br/exibe_noticia.asp?cod_noticia=5249 > acesso em: 18/11/2004. 25 Em outubro de 2004, o Rememorar finalizou as seguintes obras: a edificação de número 11, que passou a abrigar quatro apartamentos, sendo dois de dois quartos e dois de três quartos. O de número 19 conta agora com 11 unidades de dois quartos e dois de dois quartos. No número 53 da mesma rua foram construídos quatro apartamentos de dois quartos. Nos imóveis de números 38, 40 e 42 da Rua dos Marchantes, em uma antiga unidade pluridomiciliar, foram construídos 15 apartamentos de dois quartos. O casarão de número 56 da Rua do Passo abriga seis unidades, sendo quatro de dois quartos e dois de um quarto. Ou seja, das 41 unidades previstas, apenas uma não foi entregue. Os recursos investidos no Rememorar atingiram a ordem de R$ 2, 2 milhões, foram financiados pela Caixa Econômica Federal, do Governo do Estado e Ministério da Cultura, através da Lei do Mecenato, com captação através da organização não-governamental Moradia e Cidadania. Segundo informações da Conder, os projetos arquitetônicos de recuperação dos cinco imóveis foram aprovados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A expectativa do secretário de Desenvolvimento Urbano do Estado Roberto Moussallem é que possam ser recuperados casarões que estejam próximos uns dos outros, possibilitando assim “[...] a construção e estruturação de um condomínio que abrigue os imóveis beneficiados pelo programa”. Ainda segundo a CONDER existe a possibilidade de que o projeto Rememorar venha a ser “[...] estendido para toda a população na próxima fase e não somente para o servidor público”. Há inclusive, imóveis que já estão sendo desapropriados para essa segunda etapa do projeto. Alguns estão localizados nos números 118 e 120 da Rua da Soledade, na Rua Manoel Beckmann número 2, na Ladeira da Misericórdia número 20 e na Rua dos Democratas número 5. Disponível em < http://www.conder.ba.gov.br/webnews/news/noticia.asp?NewsID=705> acesso em: 18/11/2004.
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Todos estes imóveis, juntamente com as 316 apartamentos anunciados para a
poligonal da 7ª etapa serão financiados para funcionários públicos estaduais, como
parte do “Programa Habitacional do Servidor”26, através do Programa de Arrendamento
Residencial (PAR)27. Ou seja, anuncia-se o financiamento de 557 unidades
habitacionais ao servidor público.
Mas quem ocupa estes casarões hoje? Aqueles que os guardaram nos anos de
abandono, enquanto o poder público endereçava suas verbas ao crescimento,
expansão e melhoramento de outras áreas da cidade. Durante este longo tempo, o
cotidiano fez sua história. Famílias pobres amontoadas em cortiços, prostitutas, mães
de família, traficantes e homens trabalhadores viviam segundo seus próprios códigos
sociais. Para o governo, estas pessoas não são donas dos imóveis, restando-lhes duas
opções: ou recebem o que Governo chama de “auxílio-relocação” ou alugam as casas
do Governo na periferia. Talvez a mudança do termo intencione a desconstrução da
idéia de propriedade, ou seja, para o não-proprietário cabe o tal auxílio, enquanto que,
ao proprietário, caberia a indenização. A questão da propriedade tem sido, até agora,
o cerne do embate que mistura moradores que se apropriaram do que estava
esquecido (mas que são chamados de invasores pelo Governo), proprietários
desaparecidos, inquilinos que viveram sublocando espaços e pessoas que receberam o
“auxílio-relocação” mas retornaram, ou seja, aqueles que o Governo achava que
estavam satisfeitos.
26 Segundo a Conder, o Programa Habitacional do Servidor Público contabilizou em 2003 a entrega de 380 imóveis e a assinatura de 348 contratos. Para 2005, a previsão é de 1 mil novos imóveis. Já o programa de Habitação em Centros Históricos aplicou nesse mesmo ano R$ 1,3 milhão dentro do programa Rememorar I, no Santo Antonio Além do Carmo. Para 2005, estão previstos R$ 7,5 milhões no Rememorar II (Centro Histórico) e R$ 2,4 milhões no Monumenta (Pelourinho). Disponível em < http://www.seplan.ba.gov.br/conteudo.php?ID=339 > acesso em: 18/11/2004. 27 O Governo Federal lançou o Programa de Arrendamento Residencial - PAR, regido pela Lei nº 10.188, em 12 de fevereiro de 2001. O PAR é uma operação de aquisição de empreendimentos a serem construídos, em construção ou a recuperar/reformar, mediante contrato de arrendamento residencial com opção de compra ao final do período contratado. Destina-se ao atendimento da necessidade de moradia da população com renda familiar mensal até 6 salários mínimos, concentrada nas regiões metropolitanas e nos centros urbanos de grande porte. O prazo de arrendamento é de 180 meses. E o valor máximo de aquisição por unidade, nos casos de projetos de revitalização urbana ou de recuperação de sítios históricos, é de R$ 35 mil e o prazo de execução das obras é limitado a, no máximo, 18 meses, contados da data da assinatura do contrato. (dados do site do Ministério das Cidades).
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Se antes os moradores enxotados nas primeiras etapas podiam migrar para a
parte onde a "revitalização" ainda não havia começado, agora, o “rolocompressor” os
alcançou: o governador autorizou a desapropriação dos imóveis da 7ª etapa28. A ação
publicada no Diário Oficial do Estado foi questionada posteriormente pelo Ministério
Público que, sem entender a rapidez das relocações e antes que não houvesse viva
alma para contar o que houve, ajuizou uma Ação Civil Pública29 com pedido de ordem
liminar contra o Governo do Estado e a CONDER. Objetivando conter a expulsão, o
Ministério Público entendeu que o Governo e a CONDER estavam promovendo uma
“assepsia social”, ou seja “[...] uma espécie de faxina em que a pobreza do Pelourinho
é a sujeira” (CASTRO, 2004 a, p.3). O promotor de Justiça e Cidadania do Ministério,
Lidivaldo Reaich Raimundo Brito, declarou ser a primeira vez que se deparava com
desapropriações realizadas com pessoas dentro dos imóveis e questionou: “[...] por
que não deixam os moradores no local e cobram deles também uma quantia, como
fazem em Coutos?” (CASTRO, 2004 d, p.7) O Promotor considerou que a
desapropriação de imóveis para destinação à outra pessoa viola as regras da própria lei
de desapropriação30. Para tanto, caberia uma outra ação, a de usucapião urbano,
levantada pelo Estatuto da Cidade e prevista na Constituição Federal do Brasil de 1988,
e que assegura “[...] a aquisição de domínio para aquele que possuir área ou
edificação urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos,
ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família,
com a ressalva de que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural” (Capítulo
II, artigo 183). Neste caso, é legítimo que aqueles que se tornam proprietários tenham
28 Decreto nº 8.218/02 assinado pelo então Governador Otto Alencar em 8 de abril de 2002. 29 Ação de número 38.148-7/2002. 30 A referência se dirige à Regra do Decreto-lei de Desapropriação de número 3.365/41. Enquanto isso, o Governo do Estado alega que não há inconstitucionalidade no ato da desapropriação, pois a intenção é cumprir a Lei nº 8.218/02 que autoriza o Poder Executivo a “[...] doar à CONDER os imóveis que indica, assim como a CONDER a alienar imóveis no Centro Histórico de Salvador”. Não é a primeira vez que o Ministério Público interfere na briga entre moradores do “Centro Histórico” e CONDER. Há sete anos, um grupo de oito famílias do prédio 34 da Rua Ribeiro dos Santos foi retirado do prédio pelo IPAC, sob a alegação de que iriam fazer a reforma. O prazo marcado para o reassentamento das famílias no mesmo local foi de oito meses. Descumprido constantemente, o atraso motivou os moradores a procurarem o Ministério Público que pressionou. Durante as obras, o IPAC alugou casas menores para os moradores nas imediações. Após o mês de agosto de 2003, a CONDER prometeu ao Ministério Público pagar um salário mínimo por cada mês de atraso, acumulados em R$ 1.680,00 até março de 2004, quando a CONDER devolveu a edificação aos seus moradores, mas ainda não tinha pagado o valor acumulado do aluguel (CASTRO, 2004 d, p.7).
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o direito de vender seus imóveis31.
Além da Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público, o Partido dos
Trabalhadores (PT) também ajuizou uma ação de Inconstitucionalidade (ADIN)
questionando o decreto estadual de desapropriação dos imóveis para posteriormente
doá-los a CONDER. Nesta, a argumentação central defende o ponto de vista de que os
moradores da área são “patrimônio imaterial”. O governo não concorda e o Tribunal
Pleno em novembro de 2003 indeferiu a ADIN32. Desde então e enquanto houver
litígio, nenhum centavo será enviado às ações da 7ª etapa que estiverem sob
suspeição. Mesmo assim, a CONDER continua pressionando moradores com o auxílio-
relocação e a oferta de casas para locação na periferia. Atualmente, informa que já
tem a imissão de posse de 18 casas e aguarda a posição do Monumenta-Bid para
continuar suas intervenções (CASTRO, 2004 a, p.3). Em meio a tudo isso, entra em
cena a CODESAL alertando que mais de 60 imóveis, em todo o Pelourinho, podem cair
a qualquer momento.
A contestação oficial da ADIN pela Procuradoria Geral do Estado (PGE) diz que
a promoção da reinserção social da população, segundo ela, “[...] cujo modo de vida
certamente não é cultural e muito menos digno” é feita com a transferência dela para
casas populares (em Coutos). A réplica dos cultos da PGE vai além e atesta que na
área “[...] existe tão-somente um estilo de vida determinado pela pobreza, indigno de
ser considerado como expressão da dignidade da pessoa humana [...] Não há, na
hipótese, cultura popular a ser protegida!” (GEB/PGE, 2003, p.12-18). Está claro que a
implicação do conceito de pobre como aquele que é incapaz de conservar tornou-se
uma máxima, “não sabem conservar, mas sabem depredar”. Mas a pior, certamente, é
a de que eles não têm cultura.
31 Recentemente, o próprio BID aconselhou a Prefeitura de Salvador a não exigir dos moradores que tiveram suas casas demolidas para dar passagem ao Metrô, o compromisso de permanecer nos imóveis, entendendo que esta era uma permuta, o que deu a muitas famílias o direito de preferirem a indenização em dinheiro. Em contrapartida, a CONDER não agiu da mesma forma na relocação dos moradores de Alagados para o conjunto habitacional “Novos Alagados”. Pelo contrário, estabeleceu como regra que, somente após cinco anos de moradia, os imóveis podiam ser vendidos (FONSÊCA, 2004 a, p.4). 32 A juíza da 7ª vara da Fazenda Pública terá de deliberar sobre o caso, enquanto isso, o financiamento do Monumenta-Bid não sai para a continuidade das obras.
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Conclamar todos a uma ação conjunta tornou-se impossível. Grande parte dos
moradores está desempregada, vivendo de pequenos bicos. Por conseqüência, acabam
aceitando o “auxílio-relocação” pago pela CONDER para que deixem o local. São
quantias que variam entre R$ 700 e R$ 2,8 mil, nada além dos R$ 3 mil, já que estas
famílias não têm escritura de posse do imóvel. E, apesar de não garantir a compra de
outra moradia ou mesmo o compromisso com um aluguel, os moradores a aceitam.
Resultado: gastam tudo e passam a morar em piores condições e, muitas vezes, na
rua. A CONDER, procurada para esclarecer o episódio, afirma que as famílias que
possuem toda a documentação do imóvel, inclusive escritura, têm recebido valores
superiores a R$ 20 mil de indenização. Além disso, a assessoria da CONDER informa
que a todos foram oferecidas moradias no subúrbio a uma mensalidade de pouco mais
de R$ 50 para que não ficassem desamparados, porém a maioria não aceitou,
interessada no dinheiro (SANTOS, 2002, p.18)33. Quem aceitou ir para Coutos, tratou
de tirar seus filhos da escola no meio do ano letivo e, hoje, as duas escolas existentes
no “Centro Histórico” estão vazias.
Os moradores que ficaram organizaram a AMACH34 em julho de 2000, e uma de
suas representantes diz que as famílias que ainda estão no Centro Histórico não
querem impedir a recuperação dos casarões, mas também não querem sair de lá. E
afirma: “[...] Somos parte deste patrimônio, nossas famílias ajudaram a fazer a história
da Bahia e imortalizou [sic] obras famosas como a de Jorge Amado, que retrata muito
bem nossa história. Ao invés de querer nos expulsar, por que não protegem os velhos
e amparam nossas crianças, dando-lhes escola e atividades para que ocupem o tempo
aqui mesmo no bairro como é feito com outras comunidades, para que não precisem
roubar ou se drogar?", questiona (apud SANTOS, 2002 a, p.18). A opção pelo dinheiro
justifica-se pelo fato de essas pessoas viverem miseravelmente, sem condições de
compreender os limites das irrisórias quantias oferecidas. Tanto é que os que
receberam indenização para deixar o imóvel já não possuem mais nada, "[...] como a
maioria é ambulante, acabaram empenhando o dinheiro na aquisição de mercadoria
para render o capital e assim poder adquirir, algo melhor. Deram-se mal, quebraram a
guia, e ficaram sem nada. Hoje, doentes, dormem sob as marquises da Baixa dos
Sapateiros e pedem esmolas durante o dia. Muitos já morreram”, disse Sandra Regina
(apud SANTOS, 2002 b, p.18). 33 Depois de seis anos ininterruptos de pagamento desta mensalidade, o(a) contribuinte tem direito à posse legal da casa. 34 Associação dos Moradores e Amigos do Centro Histórico.
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O Estado, mais uma vez, investe na construção de conjunto de casas populares
no subúrbio para receber os relocados do Pelourinho, de áreas condenadas pela
CODESAL, moradores de zonas alagadiças e ex-ocupantes dos albergues públicos. São
750 unidades imobiliárias distribuídas em dois conjuntos habitacionais batizados de
Moradas da Lagoa II e Jardim Valéria II. Localizam-se em Fazenda Coutos. Lá, blocos
de casas contíguas foram dispostos simetricamente no terreno, que tem pouca
ocupação no seu entorno imediato. As unidades habitacionais têm 16 metros
quadrados e restringem-se a um vão, com uma área externa que permite
“puxadinhos”, acessórios já inerentes à arquitetura popular brasileira. A paisagem
ainda está sem identidade, mais próxima de um projeto que acabou de ser desenhado
por um técnico do que um bairro com vida.
O Estado levou para o “não-lugar” os incômodos da cidade real, mas não se
preocupou em dotar esta periferia de infra-estrutura física e social. Nos loteamentos,
não há delegacia, centros de capacitação profissional, posto de saúde, creches,
escolas, área de lazer etc35. Para quem viu o conjunto habitacional do bairro “Cidade
de Deus”, no início do filme homônimo, a relação é imediata. Tanto é que um dos
presidentes da AMORES36, Lorenilson de Souza Cerqueira, que atende por “Internet”,
numa associação aos seus dotes de articulador, desabafa: “[...] Aqui tá virando a
Cidade de Deus e não é pior porque o pessoal quando se arma, revoltado, dizendo que
vai fazer e acontecer, eu ainda consigo conversar e fazer com que desistam disso mas
não sei até quando [...] tô quase vendendo minha casa e voltando para as ruas porque
lá rola dinheiro. Muitos já estão fazendo isso aqui dentro”37 Muitos outros fazem coro
às reclamações de “Internet”, tal como Romildo Mota, proprietário da mercearia
“Balança mas não cai” que diz o seguinte: “[...] tá tão ruim que o pessoal chega aqui e
pede 30 ou 50 centavos de farinha ou de açúcar, eles não tem dinheiro nem para
comprar um quilo”. Mas existe quem não reclame, apesar de dividir o mesmo cômodo
de dupla função (sala e dormitório) com duas pessoas. É o caso da aposentada Valdeci
35 O único módulo policial fica em Lagoa I e o colégio ainda não está pronto. Para sair do conjunto habitacional e chegar até a Escola Municipal Fazenda Coutos, as crianças fazem um caminho perigoso. 36 AMORES é a sigla para Associação dos Moradores de Rua de Salvador. 37 O “Internet” também morou na área que hoje engloba a 7ª etapa, na Rua do Bispo, 69, depois foi para o albergue da Baixa dos Sapateiros e através da SETRADS, conseguiu a casa no Moradas da Lagoa II.
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dos Santos de 57 anos, antiga moradora da rua São Francisco do “Centro Histórico”,
lembrando que lá dava para lavar uma roupinha para fora, enquanto “[...] aqui tudo é
mais longe, não tem ocupação pra gente e se a pessoa passa mal dá trabalho chegar
no hospital.” Alguns mantêm vínculo com o antigo bairro, como é o caso de Edivaldo
Amorin que todo dia volta ao Pelourinho para vender cerveja junto a uma baiana de
acarajé. O Presidente da CONDER não avalia de forma negativa a relocação e atesta
que “[...] as dezoito famílias que optaram por morar em Coutos estão inseridas
socialmente e melhorarão sua condição por conta de parcerias entre a CONDER e
ONGs que atuam na área”. O jornal A Tarde procurou os ex-moradores do Pelourinho
que agora moram nos conjuntos habitacionais e nenhum reconhecia tais benesses.
“ONG? Que é isso? Questionou um deles” (CASTRO, 2004 b, p.4) 38.
Desde o início desse processo, os ex-moradores sobreviventes se espalharam
pelas periferias. Mas muitos retornam pela dependência da centralidade. Alguns
ocupam casas de antigos moradores que aceitaram as ofertas da CONDER e outros
ocupam as encostas que, de longe, conformam o símbolo desta cidade, seu cartão-
postal. De perto, a paisagem traduz, com perfeição, a segregação citadina. Pode ser
que, em breve, além de cidade alta e baixa, o “centro histórico” tenha uma “cidade do
meio”, já que é grande o processo de favelização nos interstícios urbanos, fendas
abertas por aqueles que sempre ficaram com a sobra da cidade, locais abandonados,
destituídos de infra-estrutura urbana.
A “cidade do meio” se densifica nas proximidades do Túnel Américo Simas,
junto à famosa Ladeira do Taboão. São barracos grudados uns aos outros. Na última
semana de janeiro de 2003, o secretário de Desenvolvimento Urbano do Estado da
Bahia e técnicos da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (UFBA)
e da CONDER percorreram a área. O Jornal A tarde anuncia que estas instituições
estarão unidas por um convênio que trabalhará, inicialmente, com R$ 120 mil num
projeto que está sendo chamado de “Urbanização e Revitalização da Encosta do Centro
Histórico”. O projeto tem como objetivo reabilitar sobrados arruinados, retirar os
barracos da encosta e reassentar as famílias, que neles moram há cerca de 40 anos,
38 O jornal “A tarde” também tentou ter acesso a lista dos 18 relocados, mas foi vetado com a justificativa de que a empresa não queria alimentar polêmica, já estando este assunto na esfera do Ministério Público Estadual (MPE).
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em “[...] apartamentos construídos ou readaptados, não muito longe dali. A previsão é
que as obras comecem até o próximo semestre. O planejamento urbano, sob a
responsabilidade da Ufba, começou em agosto passado, e deverá prosseguir em várias
etapas que cobrirão até a Gamboa de Cima”. Segundo o jornal, um antigo prédio que
servia de frigorífico do Estado será transformado num “grande condomínio” com
apartamentos de dois quartos, com 36 ou 42 metros quadrados, onde morarão 60 das
250 famílias cadastradas “[...] que só serão retiradas da encosta na hora em que
receberem as chaves dos imóveis. Tudo isso vem sendo planejado, orientado pelos
técnicos da Faculdade de Arquitetura. No produto urbanístico final eles prevêem áreas
para atividades de turismo, serviços e comércio [...] Há projetos de escolas, centros
culturais e, dentre outros empreendimentos, pousadas”. Tudo será feito nos “moldes
do Projeto Viver Melhor”, no qual a política de recuperação de custos baseia-se em
financiamentos subsidiados em até 80% do valor do imóvel39 (WEINTEIN, 2004, p.3).
Considerando a lógica capitalista da cidade contemporânea, os valores
imobiliários desdobram-se em valor de mercado. O espaço é mercadoria e, enquanto
39 O Viver Melhor, segundo a Conder está investindo atualmente R$ 83,5 milhões em Salvador, sendo que R$ 18 milhões provêm do Governo Federal. Em 2003 e 2004 as obras concluídas neste programa somam cerca de R$ 11 milhões, com benefícios atingindo mais de 790 famílias. O Viver Melhor II, com previsão de início em 2005 e horizonte de execução até 2010, deverá contar com US$ 96 milhões do Banco Mundial e US$ 64 milhões de contrapartida do governo estadual. Este programa está em fase adiantada de negociações, afirmou o chefe de gabinete da Sedur. Disponível em: <http://www.seplan.ba.gov.br/conteudo.php?ID=339 > acesso em: 18/11/2004.
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tal, tem valor especulativo40. Mesmo sendo evidenciado o valor patrimonial enquanto
área tombada, o núcleo original da cidade tem hoje uma configuração específica,
necessita, portanto, de tratamento específico. Certos territórios guardam cortiços,
outros, favelas. Se o aditivo patrimonial tem, no mercado imobiliário atual, um novo
valor, haverá uma decisão: o que preservar agora? Um dos redutos de ex-moradores é
a “Rocinha”, a favela do “centro histórico”, uma ocupação com mais de 30 anos, que já
se constitui num território de excluídos. Lá vivem 60 famílias em péssimas condições,
mas o vigor cultural é forte. Será que ela fica? Em tese, também, tem valor enquanto
testemunho da história que por ali se desenrola há mais de trinta anos.
De quem é o patrimônio?
O urbanismo não é uma ciência neutra, nem tampouco as políticas de
urbanizações estão isentas de intenções políticas, concepções ideológicas, interesses
econômicos. No que se refere aos “centros históricos”, as práticas restaurativas,
quando se deparam com a pobreza, estremecem. Desassociam-se, inclusive, dos
conceitos modernos que referendam experiências recentes de programas de
melhoramentos de bairros no Brasil. Hoje, a pobreza urbana não é mais definida
apenas pela deficiência de renda da população das cidades; “[...] sua compreensão
adequada exige que se levem em conta complexos processos sociais que afetam de
40 Só para explicitar ainda mais esta questão, lembramos aqui o arquivamento que o Conselho Consultivo do IPHAN fez, em 20 de maio de 2004, do processo de tombamento de cinco imóveis de caráter patrimonial no tradicional Corredor da Vitória, espaço urbano de elevado valor na cidade. Só que, por não ser uma área tombada em nenhuma esfera pública, mas por ter tido seu valor de mercado multiplicado com a construção de uma série de edifícios luxuosos, seu casario, carregado do valor de excepcionalidade, por ser o único remanescente de um projeto estético planejado para várias cidades brasileiras, vem desaparecendo. Inclusive do processo de tombamento, que inicialmente estava previsto para 12 unidades. Depois, optou-se pelo tombamento rigoroso de cinco: a Igreja da Vitória, o edifício-sede do Museu de Arte da Bahia, o Palácio da Aclamação, a Casa da Itália (espaço da colônia italiana e já distante da área mais nobre) e o Palacete Cunha Guedes, que não desfruta da deslumbrante vista da Baía de Todos os Santos. Para os outros sete, a proposta é bem apropriada à cidade-cenário. Trata-se da preservação da volumetria e da fachada de outras edificações numa faixa contínua de 35 metros de profundidade dos lotes, liberando geral o resto dos terrenos para ocupação sem índices ou medidas restritivas de qualquer ordem, ou seja: pode botar tudo abaixo e só deixar as cascas. Aliás, este método já foi utilizado em outros casarões da Vitória, utilizados agora como entrada principal da edificação. Mas como a construção de altos edifícios em série provavelmente vai diminuir, em longo prazo, a qualidade de vida do lugar, pode ser que no mercado imobiliário haja uma desvalorização da Vitória. Na mesma lógica, lugares como as áreas abandonadas do “Centro Histórico” e da Gamboa podem redobrar seu valor de mercado, pela vista do mar, pela qualidade ambiental, pelo sossego e pelo “status cultural” de se viver num local tombado como patrimônio.
20
formas diferentes os membros da população pobre, a depender de sua idade, gênero e
origem étnica” (BRAKARZ, 2002, p.8). Está claro que o conjunto de fatores que
caracterizam a pobreza, classifica como pobres os integrantes de domicílios que
enfrentam carências habitacionais ou vivem em bairros desprovidos de acesso a
serviços públicos; assim reconhece-se a qualidade do habitat humano como uma
necessidade básica. A visão integrada das relações entre pobreza e habitat confere à
focalização territorial uma importância particular para o planejamento e execução de
programas de redução da pobreza. Atualmente, as políticas de urbanização
caracterizam-se pelo reconhecimento de que os assentamentos “informais” são uma
realidade inevitável, já inserida na condição social nas cidades, principalmente no
Brasil. A proporção desta questão lhe assegura uma posição de destaque nas agendas
políticas e nos programas governamentais de desenvolvimento urbano. Como resultado
da experiência acumulada com esses programas, “[...] formou-se um consenso em
torno do que as estratégias baseadas na fixação das populações nas áreas que
ocupam constituem a solução social e econômica mais desejável”. (BRAKARZ, 2002,
p.21).
Apesar de o ideário apresentado por BRAKARZ (2002) ser uma política do
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que financia tanto programas de
melhoria de habitação em Salvador como a “7ª etapa”, a CONDER justifica a troca de
“pessoas por pessoas”. E o faz através de dados estatísticos que mostram que, entre
os antigos moradores, 75,6% usavam banheiros coletivos, sendo que 57,2% na parte
externa da casa e sem condições de higiene, 43,5% abasteciam-se de água de torneira
coletiva; 42,6% faziam ligações clandestinas de energia elétrica e 41,1% recorriam à
fossa rudimentar para o despejo dos dejetos. Pois bem, pelas condições parece que
havia uma favela ou invasão em pleno patrimônio construído. Mas qual é o motivo pelo
qual os moradores das favelas e das invasões não são expulsos de seus territórios? Por
vezes, esses locais recebem tratamento urbanístico e são transformados em “favela-
bairro”, sendo esta matéria tratada na contemporaneidade como parte dos currículos
dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e incluída em financiamentos governamentais.
Parece-nos claro que o particular do litígio esbarra na condição patrimonial do bairro
tombado. Mas se o tombamento foi feito pelo poder público, a manutenção, mesmo
que fora dos moldes requeridos pelos órgãos oficiais de preservação do patrimônio, foi
feita pelo uso contínuo que estas pessoas deram aos imóveis que ocuparam. Um
21
engenheiro da CONDER, diz que estas pessoas não teriam condições de ficar, visto que
ali “[...] moravam em condições subumanas, sublocando os imóveis. Não teriam
condições de dar manutenção aos casarões, o que custa caro”. Realmente agora vai
custar caro, mas, nos anos em que a área de caráter patrimonial ficou abandonada,
custava o que as pessoas de baixa renda podiam pagar. E agora, tudo ficará bom
demais para elas?
As ocorrências nos fazem perceber que, na prática, a “recuperação” desse
“centro histórico” é uma medida segregadora, que visa o saneamento moral de uma
fatia do corpo social à proporção que entende embelezamento, restauração, como uma
prática elitista e autoritária. Mas nada disto estava previsto no Termo de Referência
que anunciava os moldes da intervenção em 1991, que prometia, “[...] sobretudo
atenção com o habitante, “[...] efetiva participação das comunidades residentes”
(TERMO DE REFERÊNCIA, 1991, s.p). Pouco depois, o IPAC justificou a expulsão
alegando que a população pobre e marginal não era compatível com o turismo, o que
prejudicaria a manutenção do acervo arquitetônico e urbanístico.
Para pedir o financiamento ao BID para a 7ª etapa, o discurso oficial abaixa o
tom e retoma os ideais do Termo de Referência de 1991. Na carta de intenções diz que
vai avaliar a vulnerabilidade da população local, com vistas a determinar prioridades de
ação que considerem os anseios e necessidades definidos pela comunidade e vai “[...]
identificar a população residente na área a fim de fornecer subsídios para a elaboração
de projetos visando sua fixação, seu reassentamento e indenização”. Na mesma carta,
diz que todas as esferas do poder público serão chamadas a participar, bem como a
sociedade civil, [...] que será representada principalmente pelo capital imobiliário, que
vem sinalizando através de propostas de alteração nos coeficientes urbanísticos em
zonas centrais para viabilização de investimentos em empreendimentos residenciais”.
De novo as garras se encolhem e a carta prossegue, desta vez afirmando que na “7ª
etapa” [...] não deve ser deixado de lado o elemento humano que ali vive e trabalha:
[...] a sétima etapa precisa de mudanças que tornem mais digna e sustentável a vida
de seus habitantes, permitindo que eles participem dos benefícios dos impactos
positivos do processo de desenvolvimento econômico que ali se desenrola”. (CONDER,
2000, p.3). Agora, vamos aos dados reais. Segundo Nobre (apud Uriarte, 2003, p.79),
a intervenção no Pelourinho já expulsou 95% dos antigos moradores. Dos 14
22
quarteirões com 223 imóveis, havia 1.314 chefes de família com 3.200 dependentes,
dos quais mais de 1.081 chefes foram despejados, com 2.706 pessoas, permanecendo
apenas 233 chefes (494 dependentes). Da Sé / Terreiro foram retirados 254 chefes,
com 455 pessoas. Esse número se elevaria se acrescentássemos a população do Passo.
O Estado ignora a cidadania dessas pessoas, torna irrelevante a dependência
que elas tinham da centralidade do Pelourinho, pois boa parte delas sobrevivia de
biscates nos arredores de suas moradias, o que não gera nenhuma expectativa de
financiamento com a Caixa Econômica Federal, sendo eles parte da economia informal,
portanto sem possibilidade de comprovar seus ganhos para comprarem,
parceladamente, os apartamentos do “Pelourinho revitalizado”, como será possível aos
funcionários públicos que comprovarem renda mensal de dois a seis salários mínimos.
Demonstrando total inaptidão para com o panorama social da área, o poder estatal vai
além, considerando os antigos moradores inaptos e indignos de morar na área
tombada. Contraditoriamente, tenta transformar a área num pólo residencial, ao
mesmo tempo em que expulsa famílias.
A sétima etapa tem duas vertentes. Ao mesmo tempo em que é comemorada
pelo poder público como continuidade da intervenção, é um drama para os moradores
da área, numa reprise dos acontecimentos que acompanharam o início das obras em
1992. A discussão chega aos jornais com a matéria “Famílias são expulsas do Centro
Histórico”, publicada no Jornal A Tarde (SANTOS, 2002 a). O bispo auxiliar da
Arquidiocese de Salvador, dom Gilio Felício, ao receber na Cúria uma comissão de
moradores do Centro Histórico que lhe foram expor o drama que estão vivendo, e
pedir interferência da Igreja no problema diz que "[...] é inadmissível que se faça a
recuperação da história sem que haja o compromisso efetivo com o patrimônio
humanístico" (apud SANTOS, 2002 a, p. 18). Afinal, o espaço é reconhecido pela
Unesco como Patrimônio Histórico da Humanidade e seria o caso de organismos
internacionais interferirem na questão, pois, ao contrário, não faria jus ao título que
tem. Duas semanas depois do apelo ao sacerdote da Igreja Católica, uma missa é
realizada no santuário-símbolo de resistência dos negros, a Igreja do Rosário dos
Pretos. Durante a celebração, padre Joseval, pároco da igreja, rezou e pediu aos
presentes para que se solidarizassem com aquelas famílias que estavam sendo
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expulsas de suas casas. Durante o ofertório, a comunidade e representantes da
AMACH levaram ao altar uma faixa lembrando o direito de moradia.
Para os novos moradores, morar num bairro “revitalizado” e carregado de
atributos históricos e artísticos, além de “elegante”, pode ser perigoso, pois as
intervenções (seria um pecado chamá-las de restaurações) mantêm a péssima
qualidade desde o início, em 1992. Na rua Ribeiro dos Santos, por exemplo, os
casarões nº 32 e nº 66, que tiveram suas fachadas reformadas na 6ª etapa já se estão
deteriorando, colocando em risco a vizinhança. O vice-presidente da APITO, Dimitri
Ganzeilevith opina: “[...] reformar é sempre uma questão de aparência monumental
para CONDER, IPAC E IPHAN, órgãos dos governos federal e estadual, que nunca
consideraram a questão socio-cultural na hora das intervenções” (CASTRO, 2004 d,
p.7).
Os órgãos do Governo já estão divulgando as metas de novas etapas, mesmo
sem ter colocado o ponto final da “7ª etapa”. Nada se completa, mas o ideário
preservacionista segue em frente e já enxerga, com muita simpatia, a revitalização do
Comércio, área adjacente na parte baixa do “centro histórico” que guarda, apesar dos
prédios altos, espaços singulares de visibilidade à Baia de Todos os Santos. Portanto a
necessidade de retirar os barracos da encosta torna-se urgente na medida em que
encosta ocupada obstrui a integração da revitalização do Pilar com a do Comércio41.
Do Pelô não saio, daqui ninguém me tira....
Comparada a uma cirurgia num corpo adoentado, pode-se dizer que a operação
“Centro Histórico” chega até a ulceração mais profunda, no local em que residem os
41 O jornal A Tarde divulgou que a inserção da população preexistente, bem como a de moradores, por meio de projetos específicos será levada a sério (WEINSTEIN, 2004 a, p.3). A poligonal desta nova “revitalização”, que não está sendo chamada de “etapa”, está limitada ao norte pelo Túnel Américo Simas e ao sul, pela Praça Marechal Deodoro, ao leste, pela cota 50 da encosta do Pilar e a oeste, pela Avenida Jequitiaia, onde está, desde 1874, o Mercado do Ouro, que hoje abriga lojas de especiarias e o famoso restaurante do Juarez, a Igreja de Santa Luzia do Pilar de estilo barroco, construída em 1739, e tendo um cemitério anexo construído no século XIX. Todos os dois monumentos são tombados. Lá ainda existe a caixa mural do Trapiche Barnabé, que atualmente funciona como estacionamento, o Plano Inclinado do Pilar e o Elevador do Taboão, além de ruínas de casarões antigos.
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excluídos de todos os tipos, fora ou dentro da lei. Seu Júlio Cerqueira, de 60 anos, que
vive em condições subumanas com sua mulher e seu filho de três anos num subsolo,
bate pé firme e diz: “[...] Se sair, o governo não deixa eu voltar [...] já vieram
propostas mas eu não aceitei nem vou aceitar. Como é que vou viver na rua com R$ 2
mil? Vou viver de favor, e quando acabar o dinheiro, vou ficar na porta da igreja? Fico
aqui mesmo” (apud CASTRO, 2004a, p.3). Intencionando a intervenção, a CONDER
divulga ter cadastrado 1.746 famílias, 3.196 pessoas em dez quarteirões. Até março de
2004, 1.072 famílias já tinham saído, mas apenas 18 aceitaram alugar as casas do
Governo no subúrbio, enquanto 656 ainda resistiam no local42.
Apesar da premiação que recebeu e do ícone de “centro histórico restaurado”
que estampa, os 12 anos de intervenção que conformam esta operação não foram
suficientes ao convencimento de que esta é a melhor estratégia de requalificação de
áreas urbanas de caráter patrimonial, principalmente no Brasil e, em especial, no
Nordeste. Não só outros setores da sociedade começam a duvidar de sua eficácia,
como os próprios moradores que, mesmo diante das pressões, estão dando passos
mais seguros e construindo a resistência, apesar do Governo ainda não ter-lhes dado
alternativas concretas de permanecerem na área. Órgãos internacionais estão-se
aproximando, como a ONU que, em julho de 2004, enviou à Bahia seu relator especial
para Moradias Adequadas, Miloon Kothari, com o objetivo de conhecer de perto os
problemas de moradia e exclusão social, principalmente dos negros. Ele percorreu as
ruas pelas quais a operação já passou e também aquelas que a operação pretende
alcançar. Ouviu pessoas não só do “centro histórico”, mas de toda a periferia, além dos
sem-teto43. Ficou surpreso com as condições de insalubridade em que as pessoas
moram. Tudo estará num relatório cujo objetivo é verificar se o Brasil e, em particular,
o governo do Estado da Bahia vêm cumprindo os acordos feitos com organismos
internacionais que assegurem à implementação de políticas públicas de habitação que
tornem realidade o
42 Quem optou pelo aluguel, paga mensalmente R$ 51,00 por uma casa de dois quartos. A vigência é de cinco anos, o que perfaz um gasto de R$ 3.600,00, ou seja, a longo prazo, mais do que a família recebia pelo “auxilio-relocação”. 43 O Movimento dos Sem-Teto de Salvador (MSTS) aproveitou a visita para denunciar o que eles consideram elitista: a política habitacional do Estado, que exclui famílias que não têm comprovação de renda mensal. Atualmente, o MSTS afirma ter cadastrado 20 mil famílias em Salvador, Lauro de Freitas, Conceição da Feira e Camamu. Só na capital baiana ocupa 22 imóveis, edificações e terrenos abandonados.
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direito constitucional à moradia44. Servirá para detectar políticas positivas e auxiliar o
governo a encontrar soluções. O relatório será discutido na Organização das Nações
Unidas (ONU) e apresentado ao presidente Lula em janeiro do próximo ano45.
Considerações
A bandeira do urbanismo demolidor sobre os lugares do passado foi esquecida, desde
que eles não atravanquem suntuosos empreendimentos imobiliários. Os já
consagrados pelo tombamento são apreendidos como parte integrante dos recursos
culturais do País, como um capital a ser mantido para render vantagens,
principalmente através do turismo, que lhes atribui valor no mercado de consumo de
bens simbólicos e por tudo aquilo que, de certa forma, remeta ao passado mais
distante. Como Milet (1988, p.77) disse, “[...] a memória é uma fonte de riqueza, e
essa será a tônica principal da prática preservacionista contemporânea”.
Nossa pesquisa vem analisando as intervenções nos centros antigos de nossas
cidades. E, mais especificamente, tem analisado as transformações ocorridas no
desenho do centro antigo da Cidade do Salvador. Esta intervenção, que começa em
1992, encontra-se agora na sétima etapa, numa marcha que almeja, em dez etapas,
“resgatar o centro histórico”. O desejo de ordem e de disciplinarização do espaço ainda
promove uma expulsão branda, baseada em parcas indenizações aos guardiães do
patrimônio por anos abandonado. A revanche é rápida, pois fragmentos do espaço,
novinhos em folha, não tardam a perceber a tensão do retorno de antigos moradores
44 O presidente da CONDER, Sr. Mário Gordilho, foi o único representante de uma empresa estatal a acompanhar a visita, mas tantas foram as vaias dos populares que, ao longo do percurso, ele se retirou. Numa entrevista ao jornal A Tarde declarou estar cumprindo seu papel. Ele não considera a questão da moradia como o principal problema do Estado, justificando que o maior déficit habitacional é o de qualidade e não o de quantidade. Declarou ainda que o Estado tem pronto um estudo para realizar melhorias nas áreas do Pilar até o Taboão (parte baixa do “Centro Histórico”), além de uma proposta de dotar a “Rocinha” de infra-estrutura urbana. Na ocasião, Gordilho fez as seguintes promessas: todos os projetos serão apresentados ao IPHAN, as políticas habitacionais receberão novos financiamentos e o Governo vai aplicar R$ 80.000,00 no Programa Pró-Moradia no qual serão beneficiadas 25 mil famílias, as unidades habitacionais serão construídas em locais dotados de infra-estrutura urbanística e saneamento (FONSÊCA, 2004b). 45 Nesse mesmo dia, pela tarde, o relator da ONU participou de uma audiência pública na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Pelourinho, com representantes da Federação das Associações de Bairro de Salvador (Fabs), Moradores Sem-Teto de Salvador (MSTS), Central de Movimentos Populares, União Nacional de Moradia Popular, Articulação da Moradia e Movimento dos Trabalhadores Desempregados.
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que se amontoam nas proximidades, descompensando a imagem do Pelourinho
restaurado, símbolo do resgate do passado.
De um lado, fragmentos de praças com caráter semipúblico, chafarizes,
iluminação cênica e uma infinidade de novos monumentos tentam caracterizar um
novo ambiente antigo. Do outro, poucos metros separam o espetáculo das luzes do
trágico espetáculo do abandono físico e social que caracteriza partes do mesmo
espaço. Uma tentativa equivocada de reorganização com forte tendência racista que,
mais uma vez, opta pela homogeneização da imagem do núcleo antigo da cidade.
Ainda assim, a imagem vista além das aparências revela a história que está sendo
escrita na ocupação das encostas, nas ruas que ainda não receberam novas tintas e
nos passos dos turistas desolados em busca do cotidiano, da alma do lugar.
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