centro universitÁrio uninovafapi lÍvia victÓria …...novidade do tema, a legislação existente...
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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNINOVAFAPI
LÍVIA VICTÓRIA BESERRA SOARES
FAKE NEWS: liberdade de expressão nas eleições presidenciais no Brasil em
2018.
TERESINA
2019
LÍVIA VICTÓRIA BESERRA SOARES
FAKE NEWS: liberdade de expressão nas eleições presidenciais no Brasil em
2018.
Artigo Científico apresentado ao Centro Universitário Uninovafapi como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito, sobrefake news: liberdade de expressão nas eleições presidenciais no Brasil em 2018.
ORIENTADORA: Profª. Msc. Diná da Rocha Loures Ferraz.
TERESINA
2019
FICHA CATALOGRÁFICA
Catalogação na publicação
Antonio Luis Fonseca Silva– CRB/1035
Francisco Renato Sampaio da Silva – CRB/1028
S676f Soares, Lívia Victória Beserra.
Fake News: liberdade de expressão nas eleições presidenciais no Brasil em 2018/ Lívia Victória Beserra Soares. – Teresina: Uninovafapi, 2019.
Orientador (a): Prof. Me. Diná da Rocha Loures Ferraz; Co-orientador (a): Prof. Me. Teresinha de Jesus Rios Nogueira Centro Universitário UNINOVAFAPI, 2019.
29. p.; il. 23cm. Monografia (Graduação em Direito) – Centro Universitário
UNINOVAFAPI, Teresina, 2019. 1. Fake News. 2. Eleições. 3. Liberdade de expressão. I.Título. II. Ferraz, Diná da Rocha Loures. III. Nogueira, Teresinha de Jesus Rios.
CDD 342.727
Dedico essa vitória com todo carinho aos
meus pais Ana Marta Beserra Pereira e José
Leomar Soares de Morais que foram
principais fontes de inspiração para realização
deste. E a um ser de luz e que infelizmente
não está mais entre nós, minha avó Iracema
Bezerra de Sousa, onde quer que ela esteja
tenho certeza que está muito feliz por essa
minha conquista. Essa vitória é nossa!
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, à Deus por abençoar a minha caminhada. Grata a
tudo que a mim é ofertado todos os dias, sempre senti a presença divina em
todos detalhes da minha vida.
À minha mãe, Ana Marta Beserra Pereira Soares, que sempre foi o meu pilar, o
sinônimo de coragem e a maior motivação dos meus estudos. Ao meu pai, José
Leomar Soares de Morais, por toda proteção paterna, suas correções, paciência e
dedicação a mim.
Meus irmãos, Geovanna Beserra Soares e João Eric Beserra Soares, por
estarem ao meu lado, fazendo parte da minha formação e diariamente
compartilhando as mesmas dificuldades.
Aos meus avós, Raimunda Soares de Morais, João Soares Neto e José Pereira
da Silva por tantas lições de vida e todo carinho que genuinamente me dedicam. Em
especial, à minha estrela-guia, minha avó Iracema Bezerra de Sousa, que mesmo
não estando mais aqui de corpo, sempre estará presente no meu coração.
Às minhas amigas do curso, singularmente, a Ana Gabriela Soares, Camila
Fernanda Melo Oliveira, Manuela Mendes da Costa, Roseane Mendes da Silva e
Rebeka Daiana Silva Lobo companheiras inseparáveis de noites em claro e
trabalhos acadêmicos.
Minha chefe e amiga, Maria Elvina Lages, pelo apoio incondicional e palavras
motivadoras que me influenciaram na escolha do tema e na escrita deste trabalho de
conclusão de curso.
À digníssima, Diná da Rocha Loures Ferraz por todo apoio e dedicação a esse
trabalho. E aos meus mestres, pelos grandes ensinamentos e por todo empenho
em transmitir tanto conhecimento.
“A paixão por se fazer notar é um exemplo
importante, talvez o mais gritante, dos
nossos tempos, nos quais a versão
atualizada do cogito (penso) de Descartes
seria: ‘Sou visto (observado, notado,
registrado), logo existo’.”
(Zygmunt Bauman)
FAKE NEWS: liberdade de expressão nas eleições presidenciais no Brasil em
2018.
FAKE NEWS: freedom of expression in the presidential elections in Brazil in
2018.
LÍVIA VICTÓRIA BESERRA SOARES1
RESUMO
O presente artigo buscou um estudo sobre a fake news e sua incidência nas
campanhas presidenciais do Brasil de 2018. O tema se mostra relevante, sendo
essencial compreender como se dá essa nova forma de propagação de
informações, uma vez que, passou a ser decisiva nos assuntos políticos locais e
mundiais. Para isso, foram analisadas as garantias e direitos individuais dos
cidadãos conforme a Constituição Federativa do Brasil de 1988, artigos, legislações
vigentes que abrangem os crimes virtuais e a linha tênue entre a notícia falsa e a
fake news. Uma vez expostas, tornou-se imprescindível distinguir os atos praticados
por aqueles que possuem a intenção de enganar o leitor, e aqueles que, publicam
sem saber ser verídica ou não a notícia. De todo o exposto, concluiu-se que, diante
da delicadeza da temática e da relação com direitos fundamentais dos seres
humanos, como a liberdade de expressão, os constitucionalistas esforçam-se para
traçar limites a estes através da Teoria dos Limites dos Limites. E ainda, que a
legislação atual ainda se mostra insuficiente para abranger totalmente a temática
sendo essencial lei específica.
PALAVRAS-CHAVE: FAKE NEWS. ELEIÇÕES. LIBERDADE DE EXPRESSÃO.
ABSTRACT
The present article sought a study on fake news and its impacton the presidential
campaigns of Brazil in 2018. The theme is relevant, and it is essential to understand
how this new form of information dissemination occurs, once it has become decisive
in local and global political affairs. For this, the guarantees and individual rights of
citizens were analyzed according to the Brazilian Federal Constitution of 1988,
1Graduanda do Curso de Direito do Centro Universitário UNINOVAFAPI [email protected]
articles, current legislation that cover virtual crimes and the fine line between false
news and fake news. Once exposed, it became essential to distinguish the acts
practiced by those who intend to deceive the reader, and those who publish without
knowing whether or not the news is true. From the above, it was concluded that,
given the delicacy of the theme and the relationship with fundamental human rights,
sush as freedom of expression, the Constitutionalists strive to set limits to these
through Limit Limits Theory. And yet, that the current legislation still proves
insufficient to fully cover the subject being essential specific law.
KEYWORDS: FAKE NEWS. ELECTIONS. FREEDOM OF EXPRESSION.
1 INTRODUÇÃO
O artigo abordará a evolução do Direito para acompanhar os acontecimentos
políticos atuais de desinformação da população, e que atingiram o Brasil, o
fenômeno das fake news. Demonstrar-se-á a (in) capacidade do ordenamento
jurídico vigente para lidar com a questão, o que tem sido feito pelos doutrinadores e
legisladores, além disso, os limites e os deveres do Poder Judiciário em contato com
as leis, doutrinas e princípios afetados pelas fake news.
O tema abordado ganhou repercussão com a eleição presidencial dos Estados
Unidos em 2016, quando se atribuiu a vitória de Donald Trump às fake news
disseminadas em seu favor. Logo após no Brasil, em período de campanha eleitoral,
surgiu uma profusão de fake news, que afetaram os desdobramentos das eleições,
favorecendo o então presidente Jair Messias Bolsonaro.
Diante de tanta complexidade envolvendo os direitos e garantias
constitucionais, a democracia, a manifestação livre do pensamento e liberdades de
imprensa, será necessário, no presente trabalho, traçar uma linha tênue acerca do
que se considera notícia falsa e o que se entende por fake news, afim de que, haja
uma diferenciação entre aqueles que proliferam notícias falsas de maneira
deliberada, e aqueles que repassam a notícia sendo vítimas das fake news.
Será ainda objeto de análise, teoria que os constitucionalistas vêm utilizando
para atribuir limites aos direitos humanos fundamentais, onde frisa-se desde já que
não são considerados direitos absolutos. Com relação ao tema fake news, esses
detalhes mostram-se essenciais para trazer à baila uma discussão minimamente
fincada nos fenômenos sociais, visto que o tema em debate, causa grande
repercussão social.
O artigo, abrangerá os aspectos sociais e dará ênfase ao desenvolvimento de
um raciocínio jurídico que esteja em comunhão com o que se pretende ao final do
trabalho: apresentar a possibilidade de ampliação das normas, para que se consiga
um controle judicial das fake news efetivo, que não seja ausente no combate aos
atos ilícitos praticados na internet. Por fim, a diferenciação do internauta que
inocentemente republica as fake news, e aquele que cria o conteúdo falso e
dissemina na internet, afim de afetar negativamente a população. A esses últimos
terá de ser avaliado o caso concreto, a presença de robôs, a comercialização das
notícias, e outros aspectos que indicam o intuito de cometer o ilícito.
2 O USO DA INTERNET PARA CRIMES DIGITAIS
Séculos atrás, a comunicação entre as civilizações de diversas partes do
mundo era lenta e, às vezes, tardia já que as notícias dependiam de muitos fatores
para alcançar o seu destino. Com o advento da Globalização e a criação de sua
aldeia global, ocorreu uma aproximação das nações globalizadas do planeta,
gerando forte influência no âmbito econômico, social, cultural, político, jurídico e
outros.
Segundo Vieira (2019, p.1) a história da internet no Brasil pode ser brevemente
resumida em fases, quais sejam: a primeira inicia-se em 1988, no entanto, até 1994
o acesso era restrito aos especialistas na área; a segunda fase, de 1994 a 1997, de
apresentação ainda tímida ao público e chegada de grandes marcas como Uol; já a
terceira etapas e deu entre 1997 e 1999, e foi marcada pelo conhecimento geral do
público e a comercialização da internet; a quarta fase, que aconteceu de 2000 a
2004 foi marcada, pela brusca queda das ações da Nasdaq do mercado financeiro,
como também, foi pelo darwinismo digital, com a recaída de várias empresas e
sobrevivência de poucas; e por fim, a quinta fase em 2004 com o surgimento do
Orkut que consolidou a democratização da internet no mundo.
Hoje, a internet possui base sólida e célere, ultrapassando os limites
geográficos sendo capaz de unir virtualmente milhares de pessoas, permitindo a
troca máxima e o alto grau de compartilhamento de informações em milésimos de
segundos. Além disso, estabilizou mundialmente uma nova forma de capitalismo e
comercialização de objetos e serviços, conhecido como mercado virtual.
De todos os espaços que a mídia digital alcança, a participação da população
na administração governamental de seu país, tem sido o auge da história política
mundial. Apesar das virtudes elencadas, a internet pode ser nociva, sendo uma
ferramenta importante que utiliza uma plataforma gratuita se transformando em
palco para qualquer cidadão criar um conteúdo enganoso de alcance global.
Nesse ponto, é necessário um questionamento sobre o quanto a liberdade de
expressão na era digital pode ser uma vantagem, ou a depender da forma como é
utilizada, mesmo nas sociedades mais desenvolvidas, pode ser uma arma virtual em
razão da sua velocidade de propagação.
2.1 Análise dos crimes digitais na contemporaneidade
À medida que uma nova era se impõe mudando o convívio social, mudam-se
também os modos e costumes das pessoas. O surgimento avassalador da internet
expande as relações pessoais com o mundo virtual freneticamente. Com isso,
alguns usuários, têm feito uso da internet como ferramenta de propagação de
publicações de conteúdos falsos e ofensivos, aproveitando-se das vantagens do
anonimato e a sensação de impunidade para potencializar os delitos virtuais. Para
deter esse tipo de internauta, o Direito enquanto instrumento de tutela de bens
jurídicos, trouxe uma nova modalidade de crimes intitulados de Crimes Digitais.
Sabe-se que o Direito é a norma que rege o Estado, assim, ao passo que surge
a Tecnologia e todas as transformações no cotidiano é indispensável inter-
relacionarem-se as duas ciências, almejando a justiça e a punição do que considera
ilegal entre as novas relações sociais.
Conforme a Constituição Federal Brasileira de 1988 (1988, p.1) em seu art. 5º,
XXXIX, “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal”. Dessa forma, é necessário para a punição de crimes virtuais que
haja anteriormente legislação prevendo quais sejam esses crimes. Devido a
novidade do tema, a legislação existente é falha, o que possibilita a impunidade.
Em âmbitos gerais, já existiam leis que versem sobre crimes na rede virtual,
mas somente a partir do ano de 2012, os legisladores brasileiros criaram as
primeiras legislações específicas sobre os crimes virtuais, sendo elas, a Lei n.º
12.735/12 (Lei Azeredo) e a Lei n.º 12.737/12 (Lei Carolina Dieckmann).
Em suma, a Lei Azeredo menciona que os órgãos da polícia judiciária deverão
preparar suas estruturas com setores e equipes especializadas e uma rede de
computadores e outras tecnologias que auxiliem no combate à ação delituosa.
Já a Lei n.º 12.737 de 2012, discorre sobre os delitos virtuais decorridos de um
sistema eletrônico, digital ou tecnológico contra um sistema igual ou parecido, como
por exemplo, invasões a computadores, roubo ou furto de senhas de outrem e
derrubada de sites sejam eles oficiais ou não. Tal Lei, inseriu no Código Penal três
novos artigos. Primeiramente, o artigo 154-A que versa sobre a invasão de
dispositivo informático alheio:
Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. (...) (BRASIL, 2012).
O segundo artigo acrescentado pela lei em tela, foi o 154-B que estabelece
sobre as ações penais cabíveis aos casos, vejamos:
Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A, somente se procede mediante representação, salvo se o crime é cometido contra a administração pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal ou Municípios ou contra empresas concessionárias de serviços públicos (BRASIL, 2012).
Ainda sobre a Lei Carolina Dieckmann, o artigo 3º desta, também adicionou
parágrafos aos artigos 266 e 298 do Código Penal Brasileiro. O artigo 266 tipifica o
crime de perturbação ou interrupção de serviços ligados à comunicação, e dobra a
pena para casos em que o país esteja em estado de calamidade pública, afim de
proteger os dados informáticos. O outro parágrafo incluso foi no artigo 298, que
tipifica o crime de falsificação de documento particular, estende os efeitos da norma
aos cartões de crédito e de débito, agora legalmente reconhecidos como
documentos pessoais.
Para Cassanti (2014, p.90), a Lei Carolina Dieckmann é alvo de críticas pelas
suas normas de punições bondosas, vez que, no Brasil, a pena de até quatro anos
de reclusão para crime sem violência é transformada em restrição de direitos. Nesse
sentido, como a Lei em tela prevê pena de no máximo um ano de detenção, afirma-
se que dificilmente o autor do crime digital terá perda do seu direito de liberdade.
Ainda no tema de legislação específicas, dois anos após a criação dessas duas
Leis, surge a Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014, o Marco Civil da Internet, cujo
principal objetivo é nortear a conduta dos prestadores de serviço de internet e
usuários. Entre suas finalidades:assegurar direitos e estabelecer uma base de
princípios para o uso da internet no país; legislar sobre a garantia de liberdade de
expressão, de comunicação, manifestação do pensamento, privacidade e proteção
dos dados pessoais conforme as garantias constitucionais;indenização pelo dano
material e moral decorrente de violação; informações claras e completas constantes
dos contratos de prestação de serviços; e a preservação da neutralidade da rede
que articula que, esta deve ser igual para todos os usuários, sem discriminação
da forma como pode ser usada.
Sendo assim, é importante frisar que a Lei proibiu o fornecimento a terceiros de
dados pessoais de outrem, salvo se houver consentimento expresso, livre e
informado. E tão somente por meio de ordens judiciais para fins de investigação
criminal será possível ter acesso ao conteúdo tipo de conteúdo. Desse modo,
protegeu os rastros dos usuários na web, garantindo a privacidade destes.
Uma das normas jurídicas que se aproxima a questão das fake news é o
Código Eleitoral Brasileiro, pois clareia o caminho de combate às notícias falsas que
envolvem políticos e manipulam a população interferindo no voto e
consequentemente, na escolha dos governantes que vão reger o futuro da nação. A
norma em questão pune a intercessão da economia na liberdade do voto, condena
quem impede ou embaraça o exercício do sufrágio e determina que a eleição falsa,
fraudulenta e que envolva a coação, seja passível de anulação, e outros.
Vale a pena ressaltar o artigo 323 do Código Eleitoral de 1965, que tem relação
com a fake news e a divulgação de fatos inverídicos:
Art. 323. Divulgar, na propaganda, fatos que sabe inveridicos, em relação a partidos ou candidatos e capazes de exercerem influência perante o eleitorado: Pena - detenção de dois meses a um ano, ou pagamento de 120 a 150 dias-multa. Parágrafo único. A pena é agravada se o crime é cometido pela imprensa, rádio ou televisão (BRASIL, 1965).
Por fim, a legislação brasileira que possui maior direcionamento para a fake
news são as Leis Eleitorais. Dentre muitos, os artigos que mais afetam a questão
são: o artigo 57-B e 57-C estabelecem limites ao impulsionamento do conteúdo; o
artigo 57-D garante a liberdade de pensamento, mas proíbe o anonimato em
campanha eleitoral, principalmente se por meio de computadores; artigo 57-H que
estabelece multa e sanção penal para aquele que realiza propaganda eleitoral e
imputa a responsabilidade para outro; o art. 57-I prevê que a requerimento de
candidato, partido ou coligação, e respeitado os limites técnicos da internet, a
suspensão do acesso a todo conteúdo veiculado que deixar de cumprir as
disposições desta Lei; e o art. 58 autoriza o direito de resposta ao ofendido ou seu
representante legal.
Sabe-se que a participação de partidos políticos e dos próprios candidatos nas
criações de fake news tornou-se a forma mais eficaz de atingir seus opositores, por
isso deve, o judiciário ser mais rápido e eficiente no combate às notícias falsas para
evitar uma campanha eleitoral que não condiz com a realidade fática e que possa
levar o eleitor a erro durante a manifestação do seu voto, criando candidatos eleitos
sem qualquer representatividade.
2.2 Desempenho do legislador brasileiro no combate à epidemia das fake
news
Tramitam nas Casas do Congresso projetos de leis que tipificam penalmente
meios de disseminação das fake news. Por exemplo, há no Senado Federal o
Projeto de Lei Nº 473 de 2017 do atual Senador do Piauí Ciro Nogueira, que
acrescenta o artigo 287-A ao Decreto-Lei nº 2.848 de 7 de dezembro de 1940, o
Código Penal:
Art. 287-A - Divulgar notícia que sabe ser falsa e que possa distorcer, alterar ou corromper a verdade sobre informações relacionadas à saúde, à segurança pública, à economia nacional, ao processo eleitoral ou que afetem interesse público relevante. Pena – detenção, de seis meses a dois anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave. § 1º Se o agente pratica a conduta prevista no caput valendo-se da internet ou de outro meio que facilite a divulgação da notícia falsa: Pena – reclusão, de um a três anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave. § 2º A pena aumenta-se de um a dois terços, se o agente divulga a notícia falsa visando a obtenção de vantagem para si ou para outrem (BRASIL, 2017).
É perceptível que, apesar da boa intenção do legislador, o artigo ainda deixa a
desejar quando, o texto trata de modo geral, sobre as notícias falsas que atinjam o
interesse público. Por outro lado, sendo de interesse particular, atingindo a
dignidade de um cidadão, a vítima em si ficará vulnerável.
O Tribunal Superior Eleitoral dispôs na Resolução n° 23.551 de 2017 sobre
propaganda eleitoral, horário gratuito e condutas ilícitas em campanha eleitoral nas
eleições, reiterando o pensamento da Lei Eleitoral da livre expressão do
pensamento, a menos que fira a honra de outrem ou a haja propagação de notícia
que sabe ser falsa. Houve a preocupação em vetar o anonimato e reiterar o direito
de resposta.
Comuna do mesmo entendimento de aplicação de multas, sanções penal e
retirada do conteúdo ilícito, assim como, defende a menor interferência possível do
Estado no exercício da democracia, limita à exploração de dados e ao uso de
qualquer software que simule ações humanas padronizando uma ação, assim como
faria um robô de modo a comprometer a campanha eleitoral limpa.
É importante ressaltar a atenção dada às atividades dos bots2 na resolução do
TSE, pois já não se pode atribuir o sucesso das notícias falsas somente a ação
humana. Sendo assim, resta à vítima das fake news solicitar às autoridades judiciais
a retirada do conteúdo ofensivo da internet e reivindicar uma indenização pelos
danos causados. O processo corre em vara criminal e pode ser tipificado também
penalmente entre calúnia, difamação e injúria, além do pleiteio de indenização, se
for o caso.
3 LIBERDADE DE EXPRESSÃO: UMA ANÁLISE DO SEU DESENVOLVIMENTO
O Brasil entre os anos de 1964 a 1985 vivenciou uma ditadura militar, nesse
período, a censura se alastrou pelo país e a população refém do autoritarismo com
seus direitos constitucionais suspendidos, dentre eles, a liberdade de expressão.
O quanto já se alcançou para atingir um ideal de justiça foi graças a muitas
lutas e transformações históricas da população que, à medida que se sentia
ofendida, criava forças para reivindicar seus direitos individuais e coletivos. Finda a
Era Militar, foi promulgada em 1988 a Constituição Federativa do Brasil, que
desenvolveu os artigos 5° e 220 no intuito de pôr fim a repreensão dos direitos às
liberdades, garantias individuais e a não limitação da manifestação do pensamento,
veja-se:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; (...) X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; (...) XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;
2 Os bots, são softwares desenvolvidos para propagar notícias com maior rapidez, fingindo serem usuários de determinada rede social. Para mais informações, sugere-se ao leitor que acesse: <https://www.techtudo.com.br/noticias/2018/07/o-que-e-bot-conheca-os-robos-que-estao-dominando-a-internet.ghtml>.
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional; (...) IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença. (BRASIL, 1988). Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição. § 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV. § 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística. (...) (BRASIL, 1988).
Ocorre que a liberdade de expressão é uma manifestação da dignidade da
pessoa humana. Porém, nenhum direito é plenamente absoluto, e assim como a
liberdade de expressão, outros direitos também são assegurados pela Constituição
Federal, dentro da concepção ampla de dignidade da pessoa humana, e que
acabam por confrontar-se com esse princípio sendo necessário o uso da
ponderação para a resolução do conflito aparente de princípios.
Com a infinidade de ações que a internet possibilitou aos usuários, tornou-se
mais complicado manter invioláveis os direitos mencionados no inciso X do artigo
epigrafado. A exposição da vida íntima de outrem, a honra e imagem são estragos
muitas vezes irreversíveis, e, por isso, a punição do autor do delito já nem seria o
maior problema, mas sim, o processo de propagação, o alcance daquela notícia e a
quantidade de pessoas que tem acesso àquela informação falsa, visto que em casos
de crime contra a honra, a restauração do status quo é algo inalcançável.
A exposição da vítima às críticas, à limitação de suas oportunidades de defesa
na sociedade, interfere no convívio social. Um exemplo emblemático no Brasil, foi o
caso da “Bruxa do Guarujá”, a senhora que foi violentamente espancada até o óbito
após ter circulado na internet que praticava magia negra com jovens, o que depois
descobriu-se ser inverdade. Portanto, as fake news, que caracterizam a era da Pós-
verdade, alimentam a desinformação no subconsciente da sociedade, o que reflete
na democracia, quando no abuso da liberdade de expressão e manifestação do
pensamento, acerta a sociedade democrática e o rumo do país, no âmbito político.
Em virtude de fatos como esse, com relação ao tema das fake news e
liberdade de expressão é necessário, uma explanação sobre a Teoria dos Limites
dos Limites.
3.1 A liberdade de expressão como direito fundamental e os limites aos
direitos fundamentais
Os direitos fundamentais surgem em contraposição a um modelo de Estado
Absolutista que perdurou durante anos. Logo, por ser aquele uma forma de governo
ausente de liberdade onde o monarca concentra poderes em suas mãos as
primeiras garantias que surgem visam às liberdades e dentre estas a liberdade
religiosa.
Observa-se que a liberdade de expressão fora trazida pelo constituinte de 1988
inserida no título II que trata dos direitos e garantias fundamentais, por serem esses
direitos inerentes à condição humana. Nesse sentido, Ferreira e Oufella (2016, p.
64), dispõem o seguinte:
As conquistas do homem em prol da liberdade, igualdade e fraternidade tiveram seu marco inicial com o processo evolutivo das gerações ou dimensões, a primeira fase buscou a liberdade, essa liberdade de pensamentos trazida nessa primeira fase, trouxe a possibilidade da liberdade de crença, já que antes desse momento, o indivíduo era proibido de divulgar o seu pensar sobre as suas crenças.
Os direitos fundamentais estão inseridos no artigo 1º da Carta Magna como
princípios da República Federativa do Brasil com o nome de dignidade da pessoa
humana, e formam o arcabouço axiológico de todo o ordenamento jurídico devendo
possuir força vinculante, servindo inclusive como norte na elaboração das normas
infraconstitucionais. Desse modo, Moura (2005, p.33) dispõe:
Examinando os fundamentos e objetivos da republica federativa do Brasil, consignados no art. 1º e 3º da nossa carta política, fácil é concluir que o constituinte 1988 elegeu a dignidade da pessoa humana como um valor essencial, o qual confere unidade e sentido ao texto constitucional vigente, de modo a imprimir-lhe feição particular e inconfundível, que há de perpassar todo o sistema constitucional vigente, servindo de norte para a interpretação das demais normas que o compõem.
Por possuírem força vinculante, os direitos fundamentais têm a sua
aplicabilidade imediata e, portanto, os indivíduos podem requerer do Estado
prestações que visem à efetivação dos mesmos. Essas prestações podem ocorrer
de duas formas: proteção jurídica, com a edição de normas cogentes e proteção
material, na qual o Estado assume a função de garantidor e protege o indivíduo
inserindo-o em ações de políticas sociais, conforme Sena (2012, p.04):
Assim, os titulares de direitos e garantias individuais podem exigir do Poder Público prestações positivas a fim de conferir efetividade a tais direitos. O Estado deve assumir a posição de garantidor e protetor do
conjunto dos direitos fundamentais. Isto importa não somente a obrigação estatal de implementar condições positivas ao exercício dos direitos, mas também a não ingerência do Poder Público no espaço de autodeterminação do indivíduo.
É certo que a Constituição atribui ao Estado o papel de proteger esses direitos,
contudo, o Estado pode estabelecer limites para o seu exercício? Em caso positivo
poderia essa limitação surgir de leis infraconstitucionais?
Ganha força no Direito Constitucional brasileiro, corrente encampada por
Gilmar Ferreira Mendes, que traz a possibilidade de limitação desses direitos bem
como a limitação da limitação chamada de teoria dos limites.
Para que haja uma limitação a um direito fundamental deve-se partir do
pressuposto que nenhum direito tem caráter absoluto pois a própria Constituição
Federal limita alguns direitos como, por exemplo, o direito à vida em casos de guerra
declarada e o direito ao livre exercício de trabalho desde que atendidas às
qualificações estabelecidas em lei (BRANCO; MENDES, 2012).
Por terem os direitos fundamentais aplicabilidade bastante ampla podem
ocorrer conflitos entre estes e outros direitos constitucionais. Assim, deve ser
definido o objeto de proteção desses direitos, um núcleo de proteção que seria o
mínimo a ser protegido pela norma sendo, portanto, intocável por qualquer
limitação3.
O exercício dos direitos individuais pode dar ensejo, muitas vezes, a uma série de conflitos com outros direitos constitucionalmente protegidos. Daí fazer-se mister a definição do âmbito ou núcleo de proteção e, se for o caso, a fixação precisa das restrições ou das limitações a esses direitos (limitações ou restrições = Schranke oder Eingriff) (BRANCO; MENDES, 2012, p. 288).
Ainda de acordo com Branco e Mendes, (2012, p.289) uma vez
constitucionalizado os direitos fundamentais, estes somente poderiam ser limitados
pela própria Constituição de maneira expressa tal qual ocorre com o sigilo das
comunicações telefônicas que pode ser afastado mediante ordem judicial ou podem
ainda ser limitados por lei infraconstitucional ordinária que regule dispositivo
constitucional como vem ocorrendo com as legislações que regulamentam a
internet.
3Existem diferentes posições sobre o que seria o núcleo essencial do direito fundamental a ser
protegido. A primeira posição chama-se de teoria absoluta e afirma que haveria uma parte do direito fundamental que seria intocável, independe da situação concreta. A segunda posição é a teoria relativa que faz a análise do núcleo essencial de acordo com o caso concreto (BRANCO; MENDES, 2012, pg. 313). Por não ser o foco do presente trabalho, remete-se o leitor para o livro Curso de Direito Constitucional do Ministro Gilmar Ferreira Mendes para maior aprofundamento no tema.
Assim, questiona-se até aonde poderia o Estado interferir na liberdade de
expressão do indivíduo?
Para responder ao questionamento levantado, utiliza-se a teoria dos limites dos
limites de origem alemã, explicada por Branco e Mendes (2012, p.290) como um
balizador à atividade legislativa quando limitam direitos fundamentais protegendo o
seu núcleo e evitando o esvaziamento desses direitos.
De acordo com essa teoria os limites impostos pelo legislador não podem ser
ocorrer de maneiras discriminatórias, pois o Estado Democrático de Direito tem
como um dos princípios basilares a igualdade material, vedando o tratamento
arbitrário para determinado grupo de pessoas ou entidades. Obviamente essas
restrições também não podem entrar em desconformidade material com o texto
constitucional.
Outro requisito a ser observado na atividade legiferante, seria o princípio da
proporcionalidade, devendo eventual restrição a direito fundamental observar não
apenas a conformidade material (admissão constitucional), mas também a
adequação e necessidade dos meios empregados para alcançar objetivos
pretendidos pelo legislador.
A doutrina identifica como típica manifestação do excesso de poder legislativo a violação do princípio da proporcionalidade ou da proibição de excesso (Verhältnismässigkeitsprinzip; Ubermassverbot), que se revela mediante contraditoriedade, incongruência e irrazoabilidade ou inadequação entre meios e fins (BRANCO; MENDES, 2012, p.329).
O clímax ao qual se pretende chegar é a análise da constitucionalidade das
fake news. De maneira mais didática, busca-se confrontar os crimes previstos nos
artigos supramencionados do Código Penal e legislação eleitoral, com a liberdade
de expressão garantida pela Constituição Federal de 1988.
4 FAKE NEWS: ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2018
De início, abre-se um questionamento sobre a fake news, uma vez que, se uma
informação não é verdadeira, ela não pode ser considerada notícia. Para que assim
seja, deve ao menos ter sido verificada anteriormente por profissional da área.
Entende-se que informações falsas existem desde os primórdios da sociedade,
porém, as fake news, não são apenas notícias errôneas ou incompletas, por trás da
criação delas há um intuito de destruir a qualidade da informação ou até mesmo
impedir o acesso a ela.
O professor titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São
Paulo (ECA/USP) Bucci (2018, p.1), concedeu ao jornal “O Povo”, conversação em
que comuna com esse pensamento:
A primeira coisa é separar melhor a ideia por trás desse conceito de fake news. A fake news não é apenas uma notícia falsa, pois notícias falsas aparecem também na imprensa convencional, desde que ela existe. Há erros de informação, imprecisões, distorções de enfoque que, muitas vezes, não correspondem aos fatos e que são publicadas como notícias normais na imprensa convencional. Nós estamos diante de um fenômeno diferente, que poderia ser traduzido em português, com mais precisão, como sugere o professor Carlos Eduardo Lins da Silva, como notícia fraudulenta. (...). Isso quer dizer que a expressão fake news designa uma notícia fabricada com má intenção, que se vale do aspecto de uma notícia jornalística com o propósito de enganar o público. É muito diferente, portanto, de um erro jornalístico, coisas que acontecem todo dia. Uma boa redação jornalística quando comete um erro, ela procura se corrigir.
Desse modo, a singularidade da fake news vai além, não se tratando de uma
simples notícia falsa, mas sim, de um arranjo para levar o eleitor a erro. Observa-se
que o propósito é confundir o internauta com informações falsas, que se apresentam
como verdade, para que esse não consiga criar um juízo de valor e a partir de então,
o criador da fake news passa a obter alguma vantagem sobre isso.
4.1 Análise histórica
A notícia falsa sempre esteve presente no meio social, desde que os cidadãos
passaram a viver em comunidade e, portanto, o filtro histórico está ligado às
diversas sociedades e cultura nesses milhares de anos. O que mudou então? A exemplo da decência das informações falsas estão os canards franceses,
que eram informações escritas em papéis baratos e linguagem acessível, por
autores desconhecidos, cujo escopo era disseminar notícias falsas e
sensacionalistas. Seus textos resumidos e impressos de má qualidade eram
comercializados por uma quantia ínfima nas esquinas das grandes cidades
francesas, e nem sempre a veracidade dos fatos era confirmada. Antes mesmo do
surgimento da imprensa na França, os carnads desenvolveram papel fundamental
na história da comunicação desse país.
As fake news se assemelham aos canards franceses, mas com uma diferença
significativa, a capacidade de produção e disseminação das notícias falsas, no
mundo virtual, que é muito mais rápida sendo a propagação imensurável. Ainda nos
dias atuais observa-se a facilidade em começar boatos que se tornam fake news e
que não geram nenhuma punibilidade para o idealizador e o disseminador.
De fato, a ascensão das fake news teve início em meados do século XIX, mas
o termo inglês entrou definitivamente em cena, para Venturini (2018, p.1) escritora
do Jornal Nexo, em 2016 com as eleições presidenciais dos Estados Unidos,
amparado pela mídia digital. Aduz-se que Donald Trump, candidato às eleições
norte-americanas e inimaginável futuro presidente republicano, derrotou a então
candidata Hillary Clinton, com o uso das fake news. Logo mais, a tática se estendeu
à campanha eleitoral do Brasil, onde estudos apontam que o seu uso fora crucial na
vitória do candidato Jair Bolsonaro.
4.2 O que é fake news?
Allcott e Gentzkow (2017, p.213) definem “fake newscomo artigos de notícias
que são intencionalmente e de forma verificávelfalsas, e poderia enganar os
leitores”. Tanto é que, para estes, um internauta sozinho sem histórico ou reputação
pode, em alguns casos, atingir tantos leitores quanto a Fox News, CNN, e o New
York Times.
Nessa lógica, entende-se que há toda uma preparação para tornar a fake news
mais esteticamente atraente e autêntica. Geralmente trata de um assunto
sensasionalista e de grande relevância para sociedade ou, até mesmo, um tema
envolvendo uma pessoa, seja ela famosa ou não, mas que devido a grande
propagação, acaba ganhando uma mídia exagerada, sendo amplamente
disseminada entre os usuários sem que haja checagem e verificação dos fatos,
filtragem dos usuários ou um julgamento editorial.
São vários motivos que influenciam na reprodução das fake news. Um deles é
a noção de empoderamento que a internet traz ao internauta, a sensação de
anonimato e impunidade. Aquele que quiser, sem a menor restrição, poderá utilizar-
se de perfis fakes que em geral, são usados para denegrir a imagem de outro sem
que o autor dos insultos seja exposto. A ausência de legislação específica que
tipifique fake news como crime digital estimula tais atividades criminosas.
O intuito quase sempre é desinformar. Nos casos mais relevantes e que
envolvem personalidades ou assuntos de interesse mundial, a questão é ainda mais
emblemática e o desafio de distinguir o real do falso é ainda maior, quando, por
exemplo, partidos políticos apossam-se dessas histórias e as publicam, o que acaba
confundindo o leitor que aceita a informação como verídica.
Por outro lado, há outra circunstância que interfere no sucesso da difusão das
fake news como por exemplo, o quão a sociedade está vulnerável. Quando a
população de um país se encontra em uma fase política, social, cultural, científica ou
até mesmo econômica estável, ela está menos propensa a aceitar fakes news. No
entanto, caso haja tensão social pré-existente, os cidadãos ficarão mais propícios a
acreditar e disseminar as notícias falsas. É importante salientar também o público
alvo das fake news, que muito embora esteja cada vez mais difuso devido a baixa
qualidade das informações, atinge substancialmente aqueles de menor grau de
escolaridade.
Portanto, independente dos motivos e/ou objetivos que levam a criação das
fake news, o fato é que, em geral, os resultados do seu uso deliberado são
avassaladores. Desse modo, não resta dúvidas de que as fake news tem o poderio
de decidir o futuro de uma sociedade em qualquer situação, inclusive casos em que
que está prestes a passar por grandes mudanças.
Novamente, recai-se no binômio garantia constitucional da liberdade de
expressão versusdireito a intimidade, a honra e a veracidade das informações, onde
o legislador deverá buscar uma linha tênue de separação entre as garantias em
conflito, sem que haja restrições aos direitos fundamentais.
4.3 Alcance de notoriedade através das eleições presidenciais norte-
americanas de 2016
Foi o cenário das eleições presidenciais dos Estados Unidos que acendeu os
holofotes para as fake news, a desinformação política foi pioneira, sendo decisiva
nos resultados inesperados e na vitória de Donald Trump (candidato republicano)
sobre Hillary Clinton (democrata).
Analisando pelos aspectos partidários da velha disputa entre republicanos e
democratas, vale a pena ressaltar a pesquisa realizada por Allcott e Gentzkow
(2017, p.216), sobre a repercussão das fake news entre os norte-americanos.
Formularam um gráfico, reflexo de um estudo que revela o decréscimo percentual da
confiança da população americana nas mídias de massa, principalmente quando se
trata de noticiar a informação justa e na íntegra. O resultado é um declínio mais
elevado entre os republicanos do que os democratas, e há uma aguda queda entre
os republicanos em 2016.
Nota-se que a declividade da crença nas mídias tradicionais comuns é maior
entre os republicanos e eleitores de Donald Trump, e pode ter sido decisiva na fase
final da campanha. A partir do momento em que os eleitores republicanos voltem-se
para a internet, estão mais propensos a receberam as fake news.
Sydell (2016) apud Allcott e Gentzkow (2017, p.217) relata que no banco de
dados das fake news, 41 artigos disseminados eram a favor de Clinton enquanto
115 artigos a favor de Trump, estes, foram compartilhados no Facebook em um total
de 7,6 milhões e 30,3 milhões de vezes, respectivamente. Assim, conclui-se que o
triplo de artigos de pró-Clinton foi compartilhado para favorever Trump.
4.4 As eleições brasileiras a nível presidencial no ano de 2018
O método americano se estendeu a campanha eleitoral brasileira, sendo
também decisiva na vitória de Jair Messias Bolsonaro sobre Fernando Haddad. Mas
desta vez, a proporção das fake news foi parecida para os dois candidatos. Ainda
assim, Bolsonaro venceu com pontuação apertada, onde segundo estudos de
ONG’S de informações, foi o candidato mais beneficiado com as notícias falsas.
Dentre casos envolvendo fake news nas eleições presidenciais brasileiras, o de
maior repercussão foi o envolvendo o candidato Fernando Haddad, onde o Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), proibiu ao candidato Jair Bolsonaro que divulgasse notícia
afirmando que o seu adversário seria pedófilo. Essa foi a primeira decisão4
envolvendo fake news em eleições brasileiras.
Gragnani (2018, p.1) com auxílio de alguns pesquisadores, experimentou
participar de 272 grupos políticos na ferramenta do WhatsApp durante sete dias,
concluiu a percepção política brasileira em 2018 girou em torno de uma
desinformação peculiar, as imagens totalmente descontextualizadas ou alteradas,
pesquisas manipuladas, áudios contando histórias absurdas e conspiratórias. Além
disso, a mídia tradicional foi amplamente criticada e praticou-se muito a incitação de
ódio aos LGBTs e feministas. A população se separa criando uma "guerra cultural",
e muitas falsas entrevistas de pessoas comentando sobre a escolha do candidato e
o porquê do voto.
Os dados são assustadores, e não é possível analisar até que ponto as fake
news foram decisivas. Vale ressaltar que, para tamanho alcance, acredita-se que a
campanha americana teve o auxílio de programas de computadores que criam
pessoas automáticas responsáveis pela propagação de mensagens, disparando a
informação no tempo recorde de segundos.
4 Para mais informações, remete-se o leitor ao site http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2018/Outubro/ministro-do-tse-determina-retirada-de-fake-news-contra-candidato-fernando-haddad, onde pode fazer a leitura da decisão na íntegra.
A crise de desinformação foi tamanha que as campanhas passaram a se
especializar para o combate das fake news. O Partido dos Trabalhadores, por
exemplo, prevendo o dilema, decidiu montar uma equipe de monitoramento das
mídias digitais. À medida que o presidenciável Fernando Haddad era citado, um
aviso era emitido para a equipe que analisava os vícios e colocava em cena os
desmentidos. Caso a notícia fosse muito nociva, o Judiciário era advertido para
retirada do conteúdo da rede.
O que se notou significativamente foi que ambos os partidos com maiores
intenções de voto foram atingidos pelas fake news, quase na mesma proporção.
Acredita-se que, por ter obtido vitória na campanha o eleitorado de Jair Messias
Bolsonaro foi o mais atingido pelas notícias que beneficiavam o candidato. Tanto
que, não era incomum que adeptos esquerdistas mostrassem-se envolvidos por
notícias ludibriantes de um novo Brasil, livre de corrupções, roubalheiras e
falcatruas. A atual situação do país de caos econômico, social, político, jurídico e
cultura em muito contribuíram para a fixação de fake news que representavam um
Brasil diferente.
Como demonstrado na pesquisa de Gragnani, um aspecto de grande
proporção foi à incitação de ódio entre os eleitores. Depois do resultado da vitória do
candidato Bolsonaro uma onda de notícias mentirosas sobre atos violentos em que a
agentes policiais agrediam protestantes esquerdistas assombrou a população. Antes
mesmo da posse, o clima era de tensão, reflexo de uma sociedade instável que
tornou o país um campo fértil para as fake news.
4.5 O usuário que dissemina a fake news, acreditando ser verídica, pratica o
mesmo ilícito que o usuário que a produz ou a propaga?
O Brasil da Pós-verdade exige um olhar clínico da população moderna o hábito
da dúvida metódica do eleitorado, já que a notícia é uma via de mão dupla, possui
dois polos: o emissor e o receptor. Ambos munidos da liberdade de expressão que a
Carta Magna assegura aos cidadãos brasileiros. Por isso, é preciso uma análise
mais profunda do Supremo Tribunal Federal, que sabiamente vem adotando teorias
relacionadas aos Direitos Fundamentais, não aqueles mencionados no artigo 5° da
Constituição, mas sim uma nova vertente do Direito fora do constitucionalismo.
Dentre elas, como base especial de estudo à Teoria do Limite dos Limites
(Schranken-Schranken), advinda do Direito Alemão pelos doutrinadores Gilmar
Mendes e Paulo Gonet Branco.
Para Mendes e Branco (2008, p. 349), não existem direitos absolutos. Defende-
se um limite a todos os direitos fundamentais, porém, é preciso identificar onde se
pode limitá-los, pois é importante ser mantida a essência do direito. Ocorre que, não
se trata de simples precisão, para tanto, as restrições legais aos direitos
fundamentais estão relacionadas aos princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade, e da observância do núcleo essencial e restrição genérica e
abstrata. É importante ressalvar que a Carta Magna veta a tentativa de abolição dos
direitos e garantias individuais no seu artigo 60, §4ª, IV, mas é de entendimento
comum do STF que há necessidade de limitar os limites.
Ainda para Mendes e Branco (2017, p. 270), um exemplo que demonstra
claramente que a liberdade de expressão encontra limites, não só aqueles que o
constituinte ordenou na Lei Maior, mas também, quando um direito fundamentado se
choca com outro de mesmo status, é o artigo 220 da Constituição Federal. Ao passo
que esse dispositivo entrega ao cidadão o direito de manifestação de pensamento,
criação, expressão, informação e liberdade jornalística, ele assegura limites ao
admitir a interferência legislativa para coibir o anonimato, possibilitar o direito de
resposta e indenização por danos morais e patrimoniais e à imagem, para preservar
a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas.
Desse modo, ainda que seja complexo o julgador necessita da sensibilidade ao
decidir até onde trata de liberdade, da garantia constitucional do indivíduo. Pois o
fabricante da fake news ao ultrapassar esse estreito, fazendo com que um direito fira
a dignidade, honra e a imagem, gerando resultados irreversíveis à vida de um
indivíduo ou a nação como todo, esse direito foi abusado de forma abusiva. E, no
Estado Democrático de Direito, todo excesso deve ser restrito.
Para tanto, é importante questionar: o equívoco de um jornalista, uma matéria
sensacionalista ou a propagação delas na mídia digital, podem ser comparados à
utilização de bots por Estados para interferir nos resultados finais de uma campanha
eleitoral? Ou a comercialização por empresas da notícia fabricada? Ou ainda, o ato
dos partidos políticos de aproveitarem-se da onda das fake news para considerar
como falsa as críticas políticas em seu desfavor?
Como visto, as fake news são criadas exclusivamente para confundir e enganar
o leitor, a sua disseminação é proposital para prejudicar o maior número de leitores;
já as notícias falsas, também são enganosas, no entanto, são disseminadas por
aqueles que desconhecem que a mensagem seja inverdade. Assim, pode ser
considerada notícia falsa, o erro jornalístico ou o caso do usuário que, não sabendo
que se trata de informação inverídica, propaga e republica na internet. Mas, se por
outro lado, há todo um processo de mercantilização do tipo de notícia que se
pretende criar; a escolha proposital do conteúdo para favorecer ou prejudicar
determinada pessoa, instituição ou outros; e uma força tarefa que geralmente
acontece em locais escondidos, ou se usados softwares para ampliar a divulgação
da fake news, é nítida a incidência de atividade delituosa.Portanto, apresentada
essa linha tênue entre a fake news e a notícia falsa, é imprescindível no caso
concreto, para identificar o ilícito, apontar os culpados e reparar as vítimas, que seja
feita essa distinção.
É desafiador para o julgador precisar tal limitação até que se atinja o núcleo,
mas, há um aspecto tão importante quanto o papel fiscalizador da população, mas
antes, a devida divulgação pelo Estado do conceito e os aspectos negativos da fake
news que ainda não é de conhecimento geral da população. Posteriormente, a
devida percepção do tipo de notícia pelo usuário, geralmente, o tom da mensagem é
alarmante e o pedido de compartilhamento é fático, a origem do fato normalmente
não é citada e os detalhes como datas e locais são omitidos. É imprescindível ter o
cuidado de observar a notícia, verificar a fonte, desconfiar até mesmo de boas
narrativas, pois também podem ser fake news.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A relevância do trabalho se dar pela liberdade de expressão, como outros
direitos fundamentais na Constituição, representado por uma garantia da dignidade
da pessoa humana, porém não absoluto, conforme explica a teoria dos limites dos
limites. Com isso, vale-se a frase popular comumente citada “o direito do cidadão vai
até onde não fere o direito de outro” considerando que o Brasil é um país
democrático.
A atuação da população para barrar as fake news é condição basilar para o
exercício da cidadania através da análise do tipo de notícia pelo usuário,
geralmente, o tom da mensagem é alarmante e o pedido de compartilhamento é
fático, a origem do fato normalmente não é citada e detalhes como datas e locais
são omitidos. É imprescindível ter o cuidado de observar a notícia, verificar a fonte,
desconfiar até mesmo de boas narrativas, pois também podem ser fake news.
O estudo possibilitou entender a complexidade do tema bem como a
defasagem da legislação, uma vez que, existem leis espalhadas, mas nada
específico para as fake news, detalhe que não pode ser ignorado pelo legislador, por
ser notável a abrangência delas em todos os âmbitos sociais, especialmente no
político.
Por fim, ressalta-se a importância de legislações infraconstitucionais que
regulamente o espaço cibernético, dada a sua amplitude, não devendo ser utilizado
por oportunista que se valem da sensação de impunidade para cometer crimes
virtuais.
REFERÊNCIAS
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