centro universitÁrio filadÉlfia - unifil · e d i t o r i a l a revista terra e cultura: caderno...

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIACENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIACENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIACENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIACENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIA

EEEEENTIDADE MANTENEDORA:NTIDADE MANTENEDORA:NTIDADE MANTENEDORA:NTIDADE MANTENEDORA:NTIDADE MANTENEDORA:INSTITUTO FILADÉLFIA DE LONDRINAINSTITUTO FILADÉLFIA DE LONDRINAINSTITUTO FILADÉLFIA DE LONDRINAINSTITUTO FILADÉLFIA DE LONDRINAINSTITUTO FILADÉLFIA DE LONDRINA

Diretoria:Sra. Ana Maria Moraes Gomes .................................. PresidenteSr. Edson Aparecido Moreti ...................................... Vice-PresidenteDr. Claudinei João Pelisson ........................................ 1º SecretárioSra. Edna Virgínia C. Monteiro de Melo ..................... 2ºVice-SecretárioSr. Alberto Luiz Candido Wust ................................. 1º TesoureiroSr. José Severino ....................................................... 2º Vice-TesoureiroDr. Osni Ferreira (Rev.) .............................................. ChancelerDr. Eleazar Ferreira .................................................... Reitor

ISSN 0104-8112

TERRA E CULTURAAno XXIII – nº 45 – Agosto a Dezembro de 2007

CONSELHO EDITORIAL

PRESIDENTELeandro Henrique Magalhães

CONSELHEIROS

REVISORESThiago Tomasin Biazin

Profa. Ms. Esmera Fatel Aureliano Rossi

SECRETARIAElaine Dias Giroldo

PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃOWagner Werner

Conselho Editorial InternoProf. Ms. Ademir Morgenstern PadilhaProf. Dr. Cezar Bueno de LimaProfa. Dra. Damares Tomasin BiazinProfa. Dra. Denise Hernandes TinocoProfa. Ms. Elen Gongora MoreiraProfa. Esp. Izabel Fernandes G. de SouzaProf. Dr. João Antonio Cyrino ZequiProf. Dr. João JulianiProf. Ms. José Antônio BaltazarProf. Ms. José Martins Trigueiro NetoProfa. Dra. Lenita Brunetto BrunieraProf. Ms. Marcos Roberto GarciaProfa. Ms. Maria Eduvirges MarandolaProfa. Ms. Marisa Batista BrighentiProfa. Ms. Marta Regina F. de OliveiraProfa. Dra. Miriam Ribeiro AlvesProfa. Ms. Patrícia Martins C. BrancoProf. Ms. Pedro LanaroProf. Dr. Sérgio Akio TanakaProf. Ms. Silvia do Carmo PattarelliProfa. Ms. Karina de Toledo Araújo

Conselho Editorial ExternoProf. Dr.Abdalah Achour JuniorProf. Ms. Adalberto Brandalize

Profa. Ms. Angela Maria de Sousa LimaProfa. Dra. Dirce S. Fujisawa

Profa. Dra. Gislayne Fernandes L. T. Vilas BoasProf. Ms. Ivan Dutra

Prof. Dr. Jefferson Rosa CardosoProf. Dr. José Eduardo Garcia

Prof. Dr. José Miguel Arias NetoProf. Dr. Laurival Antonio Vilas Boas

Profa. Dra. Lúcia Helena Tiosso MorettiProf. Dr. Luis Filipe Silverio LimaProfa. Ms. Mara Lúcia GaranhaniProfa. Ms. Marcia Josefina Beffa

Profa. Ms. Márcia Regina GaranhaniProfa. Ms. Maria Elisa Pacheco

Profa. Dra. Nair Simone de Toledo CostaProfa. Ms. Patrícia Queiroz

Profa. Dra. Selma Frossard CostaProfa. Ms. Silvia Helena Carvalho

Profa. Esp. Thais Berbert

R349 Revista Terra e Cultura: cadernos de ensino e pesquisa, v.1, n.1, jan./

jun., 1985- . – Londrina: UniFil, 1985.

Semestral

Revista da UniFil – Centro Universitário Filadélfia.

ISSN 0104-8112

1. Educação superior – periódicos. I. UniFil – Centro UniversitárioFiladélfia

CDD 378.05

Bibliotecária responsável Thais Fauro Scalco CRB 9/1165

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIA

REITOR:Dr. Eleazar Ferreira

PRÓ-REITOR DE ENSINO DE GRADUAÇÃO:Profa. Dra. Georfravia Montoza Alvarenga

COORDENADOR DE CONTROLE ACADÊMICO:Prof. Esp. Paulo da Silva

COORDENADORA DE AÇÃO ACADÊMICA:Laura Maria dos Santos Maurano

PRÓ-REITORA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO:Profª. Dra. Damares Tomasin Biazin

COORDENADOR DE PROJETOS ESPECIAIS E ASSESSOR DO REITOR:Prof. MSc. Reynaldo Camargo Neves

COORDENADOR DE PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS:Prof. Dr. Leandro Henrique Magalhães

PRÓ-REITOR DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL:Profª. Ms. Jose Gonçalves Vicente

COORDENADORES DE CURSOS DE GRADUAÇÃO:

Administração Prof. Ms. Luís Marcelo MartinsArquitetura e Urbanismo Prof. Ms. Ivan Prado JuniorBiomedicina Prof. Esp. Eduardo Carlos Ferreira TonaniCiências Biológicas Prof. Dr. João Antônio Cyrino ZequiCiências Contábeis Prof. Ms. Eduardo Nascimento da CostaDireito Prof. Ms. Osmar Vieira da SilvaEducação Física Prof. Ms. Pedro Lanaro FilhoEnfermagem Profª. Ms. Rosângela Galindo de CamposFarmácia Profª. Dra.Lenita Brunetto BrunieraFisioterapia Profª. Dra. Suhaila Mahmoud Smaili SantosNutrição Profª. Ms. Ivoneti Barros Nunes de OliveiraPedagogia Profª. Ms. Marta Regina Furlan de OliveiraPsicologia Profª. Dra. Denise Hernandes TinocoSecretariado Executivo Profª. Ms. Izabel Fernandes Garcia SouzaSistema de Informação Prof. Ms. Sérgio Akio TanakaTeologia Prof. Ms. José Martins Trigueiro NetoTurismo Profª. Esp. Michelle Ariane Novaki

Rua Alagoas, nº 2.050 - CEP 86.020-430Fone: (0xx43) 3375-7400 - Londrina - Paraná

www.unifil.br

E D I T O R I A L

A Revista Terra e Cultura: Caderno de Ensino e Pesquisa alcança, com esta edição, o núme-

ro 45. São 23 anos de trabalho voltados para a divulgação da produção científica da UniFil e de

outras instituições de ensino e pesquisa do Brasil, favorecendo assim o diálogo fundamental para a

construção do conhecimento. No ano de 2007 a política de ampliação dos periódicos de divulgação

científica da UniFil garantiu não só a disponibilização das edições da Terra e Cultura no site da

instituição (www.unifil.br), mas também a criação de mais duas revistas: a Revista Eletrônica de

Educação e a Revista Eletrônica de Ciências Empresarias, já disponíveis para acesso. Há previsão

ainda de publicação no site da Revista Jurídica, periódico de circulação impressa do curso de

Direito. Complementando nossa política de divulgação do conhecimento e diálogo entre pesquisa-

dores e instituições, estão disponíveis os anais do I Encontro de Extensão da UniFil e do XV

Simpósio de Iniciação Científica.

A novidade desta edição é a reorganização dos núcleos, seguindo orientação institucional.

Assim, a revista está organizada da seguinte forma: O NÚCLEO DE CIÊNCIAS BIOLÓGI-

CAS E SAÚDE conta com três importantes artigos, um deles tratando da humanização em hospi-

tais, outro da saúde do professor e o terceiro abordando questões relativas às habilidades motoras

de jogadores de futebol. Já o NÚCLEO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS trás um

artigo da área de psicologia sobre intervenção com casais e um interessante estudo sobre o traba-

lho exploratório no Brasil. O NÚCLEO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS compõe a

revista com quatro artigos da área organizacional, tratando de temas como comunicação, gestão de

micro e pequenas empresas, a importância dos sujeitos na mudança organizacional e liderança. Por

fim temos o NÚCLEO DE ARQUITETURA, URBANISMO E TECNOLOGIAS, com um

artigo da área de arquitetura e outro da área de sistemas de informações.

Estamos publicando ainda os artigos premiados no XV Simpósio de Iniciação Científica. É o

segundo ano consecutivo que proporcionamos aos melhores trabalhos apresentados no evento a

publicação integral de seus artigos, visando estimular a produção do conhecimento entre nossos

alunos de graduação.

Esperamos que aproveitem a leitura e aguardamos, desde já, os artigos que comporão a

próxima edição da revista.

Prof. Dr. Leandro Henrique MagalhãesPresidente do Conselho Editorial

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SUMÁRIO

NÚCLEO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE - NCBS

A HUMANIZAÇÃO EM INTERIORES DE AMBIENTES HOSPITALARES ........... 17THE HUMANIZE IN INTERIOR HOSPITAL ENVIRONMENTElisabete Cardoso Simão HoreviczIvanóe De Cunto

AS IMPLICAÇÕES DAS ATIVIDADES DOCENTES NA SAÚDE FÍSICA E MENTALDO PROFESSOR .................................................................................................................... 24

THE IMPLICATIONS OF THE ACADEMICIAN ACTIVITIES IN THE PHYSICS AND MENTAL HEALTHOF THE TEACHERAna Carolina de Athayde Raymundi Braz

ATENÇÃO E CONCENTRAÇÃO: INTER-RELAÇÕES COM A APRENDIZAGEM EPERFORMANCE DE HABILIDADES MOTORAS NO FUTEBOL ........................... 35

ATTENTION AND CONCENTRATION: INTERACTS RELATIONS WITH THE LEARNIG AND THEPERFORMANCE OF MOVING SKILLS IN SOCCERMarco A. C FerreiraRosane S. E. FerreiraRicardo W. Coelho

NÚCLEO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS - NCHS

INTEGRATIVE COUPLE THERAPY: UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO COMCASAIS NA TERAPIA ANALÍTICA COMPORTAMENTAL ....................................... 49

INTEGRATIVE COUPLE THERAPY: A PROPOSAL OF INTERVENTION WITH COUPLES INANALYTICAL BEHAVIOR THERAPYJacqueline Franciele AsseMarcos Roberto Garcia

TRABALHO EXPLORATÓRIO: O BRASIL NÃO ESQUECE E A QUESTÃO PER-MANECE.................................................................................................................................. 56

EXPLORER JOB: BRAZIL DOESN’T FORGET AND THE QUESTION STILL REMAINSAgnaldo Kupper

NÚCLEO DE CIÊNCIAS SOCIAS APLICADAS - NCSA

COMUNICA-AÇÃO: O DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS NOMEIO ORGANIZACIONAL ................................................................................................ 67

COMUNIC-ACTIO: THE DEVELOPMENT OF THE SOCIAL SKILLS IN THE INSTITUTIONENVIRONMENTLigia Cristina BitencourtNayana Kathrin TanakaElen Gongora Moreira

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A ESTRATÉGIA DOS CUSTOS PARA A GESTÃO DAS MICRO E PEQUENASEMPRESAS ............................................................................................................................ 7 5

THE STRATEGY OF COSTS TO THE MANAGEMENT OF THE MICRO AND SMALL COMPANIESJosinei Marcos Candido da SilvaLuís Marcelo MartinsRodrigo Candido Damas

M U D A N Ç A O R G A N I Z A C I O N A L : O N D E E S T Á O S U J E I T O N E S S EP R O C E S S O ? ....................................................................................................................... 8 7

ORGANIZATIONAL CHANGE: WHERE IS THE INDIVIDUAL IN THIS PROCESS?Mariza Cecílio JaneiroEdelvais Keller

O APRIMORAMENTO DAS HABILIDADES DE LIDERANÇA POR INTERMÉDIODE UM PROGRAMA DE TREINAMENTO, DESENVOLVIMENTO E EDUCAÇÃOORGANIZACIONAL ............................................................................................................. 97

THE IMPROVEMENT OF THE LEADRESHIP SKILLS INTERMEDIATED BY A DRILLED PROGRAM,ORGANIZATIONAL DEVELOPMENT AND EDUCATIONAndréa MitaAna Paula TakahashiJacqueline Montilha LeonardiMari Teresa MolinariElen Gongora Moreira

NÚCLEO DE ARQUITETURA, URBANISMO E TECNOLOGIAS - NAUT

BASES PARA O PROJETO DE CENTROS DE CULTURA E ARTE ........................ 107BASES TO THE PROJECT OF CULTURAL AND ART CENTERSAgnaldo Adélio EduardoAntonio Manuel Nunes Castelnou

ESTUDO DE FERRAMENTAS DE MODELAGEM EM RELAÇÃO À UML 2.0 ...... 122STUDY OF TOOLS FOR THE MODELING IN RELATION TO THE UML 2.0Sergio A. TanakaThiago A. HerekSimone S. TanakaRuy T. Nishimura

PRÊMIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO NA AQUISIÇÃODA LINGUAGEM E FORMAÇÃO DO PENSAMENTO: A APRENDIZAGEM ESCO-LAR DA CRIANÇA DE 05 E 06 ANOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL ....................... 133

CONTRIBUTIONS OF PSYCHOLOGY OF DEVELOPMENT IN THE ACQUISITION OF LANGUAGE ANDTRAINING AND THOUGHT FORMATION: THE LEARNING OF SCHOOL CHILDREN FROM 05 AND 06YEARS IN CHILD REARINGEliana Aparecida Assis MottaAna Cláudia Cerini Trevisan

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A IMPORTÂNCIA DA ENGENHARIA E SEGURANÇA DO TRABALHO NA PRE-VENÇÃO DE ACIDENTES E DOENÇAS OCUPACIONAIS ...................................... 139

THE IMPORTANCE OF THE SECURITY ENGINEERING OF WORK IN THE PREVENTION OFOCCUPATIONAL ACCIDENT AND DISEASESZuleide Maria JaneschFernanda de Souza MouraGiselle Chagas BuenoAntonio Belincanta

BIOENERGIA E SUA RELAÇÃO COM A ADMINISTRAÇÃO ................................ 150BIOENERGY AND ITS RELATION WITH THE ADMINISTRATIONAlexandre Roberto StrellingAlexandro Nunes de LimaAndré Vieira CostaGilson Eduardo IgawaAdalberto Brandalize

ÉTICA NA PESQUISA: UMA ABORDAGEM EM SALA DE AULA UTILIZANDO OFILME “COBAIAS” ............................................................................................................ 157

ETHICS IN RESEARCH: AN APPROACH IN SCHOOL CLASSES USING THE MOVIE “MISS EVERSBOYS”Alessandra Cabral Leite DuimJuliandra Rodrigues RosiscaEduardo Mozart MachadoLázara Pereira Campos Caramori

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NÚCLEO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE

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A Humanização em Interiores de Ambientes Hospitalares

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Elisabete Cardoso Simão Horevicz e Ivanóe De Cunto

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* Centro Universitário Filadélfia – especialista em Arquitetura de Interiores. Rua Damasco Adão Sotille, 45. 86300-000 –Cornélio Procópio - PR. Correio eletrônico: [email protected]** Centro Universitário Filadélfia – mestre pela UEL. Av. Juscelino Kubitscheck, 1626. 86020 - 000 – Londrina – PR. Correioeletrônico: [email protected]

A HUMANIZAÇÃO EM INTERIORES DE AMBIENTES HOSPITALARESTHE HUMANIZE IN INTERIOR HOSPITAL ENVIRONMENT

Elisabete Cardoso Simão Horevicz*Ivanóe De Cunto**

RESUMO:Este artigo aborda a importância que a humanização do ambiente hospitalar pode causar na recu-peração do paciente, auxiliando seu processo de cura. Apresenta algumas soluções arquitetônicaspara promover a humanização, como o uso de cores, o controle da iluminação, o contato com anatureza e a personalização dos espaços, visando proporcionar ao ambiente hospitalar um valormais humano, aproximando-se da vida do paciente e afastando-se do caráter unicamente institucional.

PALAVRAS-CHAVE: Arquitetura hospitalar; Ambientes Hospitalares; Humanização no Ambiente.

ABSTRACT:This article is about the importance of the humanization in the hospitalar places and it speaks that itcan cause a transformation in the recuperation of the patient, helping his process of cure. Its showssome architectural solutions based on the creating of a humanization in the process. Then, we canuse colors, the control of the illumination, the contact with the nature and the personalization of thespaces to improve these ends. The principal goal is to furnish to the hospitalar place a human value,creating a bridge between the patient and the world and no only basing this relation on the institution.

KEY-WORDS: Hospitalar Architecture. Hospitalar Places. Humanization.

1. INTRODUÇÃO

A arquitetura hospitalar tem passado por um processo de transformação nos últi-mos anos em função da preocupação com o bem-estar dos pacientes. Isso provocou mudançasnas instalações e nos tratamentos de saúde. Essa nova visão abrange o conceito de Humanizaçãodos Ambientes Hospitalares, aproximando o ambiente físico dos valores humanos, tratando o ho-mem como foco principal do projeto. Segundo Mezzomo (2003), “a humanização é entendida comovalor, na medida em que resgata o respeito à vida humana. Abrange circunstâncias sociais, éticas,educacionais e psíquicas presentes em todo relacionamento humano...”.

A humanização de ambientes busca promover ao seu usuário conforto físico epsicológico. Este trabalho busca apontar algumas considerações através de atributos ambientaisque provocam estímulos sensoriais benéficos aos seres humanos, tais como luz, cor, som, aroma,textura, forma, além de analisar aspectos ambientais, sensoriais e comportamentais. O objetivodeste artigo é indicar possíveis caminhos que direcionem a importância da humanização nos proje-tos de interiores de ambientes hospitalares.

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2. HUMANIZAÇÃO DE AMBIENTES HOSPITALARES

“Parece paradoxal falar-se em humanização do hospital como se sua vocação nãofosse essencialmente humana. Ocorre, porém, que o hospital, a semelhança de outras instituiçõespúblicas, esquece facilmente a finalidade pela qual foi criado.” Este depoimento de João C. Mezzomo(2003) deixa clara a necessidade de tratar o ambiente hospitalar com qualidade, e não apenas noaspecto institucional que sempre predominou neste tipo de edificação.

Os hospitais vêm sofrendo transformações consideráveis, seja quanto ao avançotecnológico e científico, seja quanto ao espaço físico e sua importância para a população usuária.Segundo João C. Mezzomo (2003) “De vinte anos para cá, assistimos a um trabalho de totalrenovação e transformação no campo da arquitetura hospitalar no sentido de responder às ne-cessidades do homem atual”. Os administradores da saúde cada vez mais têm se conscientizadoda importância de tratar o paciente como o centro das atenções, deixando para trás aquelaimagem clássica de hospital com ambientes frios por ambientes agradáveis para os pacientes eseus familiares.

3. O ARQUITETO HOSPITALAR

O ser humano está o tempo todo inserido num espaço onde desenvolve suas ações,seja ele um espaço destinado ao trabalho, ao lazer ou ao descanso. Considerando esta relaçãohomem-espaço, o edifício construído deixa de ser encarado a partir da suas características físicase passa a ser avaliado e discutido enquanto espaço sujeito à ocupação, leitura e reinterpretação.(ELALI,1997).

O arquiteto deve estar a par das exigências da entidade mantenedora do progra-ma, da equipe de trabalho do hospital e da população de pacientes que utilizará o espaço. Todasessas informações devem ser somadas aos conhecimentos técnicos necessários e à capacidadecriativa para embutir nesse espaço complexo, sistemático e em constante evolução, os atributos deum projeto de interiores que irá humanizar o ambiente, tornando-o funcional e confortável ao mes-mo tempo. Carlos Eduardo Pompeu – professor de arquitetura hospitalar na FAU/USP – defendea idéia de que o hospital funcione em moldes semelhantes aos de um hotel (POMPEU, 1997).

Para Costi (2002), mesmo que administrado como uma empresa, parecido com umhotel que oferece qualidade de atendimento e conforto, como uma fábrica produtora de sangue ede leite materno, ou como um shopping center que vende seus serviços, ainda assim, o hospitalpermanece sendo um estabelecimento de saúde que prioriza a saúde humana no seu sentido maiscompleto. Portanto, ainda segundo Costi (2002) o principal objetivo do projeto, além de beleza,funcionalidade e competitividade para seu cliente, deve ser a promoção da cura para os pacientes.

4. ATRIBUTOS DE HUMANIZAÇÃO DO AMBIENTE HOSPITALAR

Muitas das teorias atuais sobre projetos de humanização são baseadas nas pesqui-sas de Roger S. Ulrich, que é diretor do Center for Health Systems and Design no College ofArchietcture at Texas A&M University.

De acordo com Ulrich (1991) “alterando o espaço hospitalar através da reduçãodo estresse ambiental, pode-se melhorar o processo dos cuidados com a saúde, e ainda reduzir os

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custos dos tratamentos”. Apesar de não haver nenhuma prescrição para criar um ambiente quepromova a cura, pelo menos há uma grande concordância entre os pesquisadores no assunto noque se refere aos fatores que causam reações fisiológicas no corpo humano e ajudam na recupe-ração dos pacientes hospitalizados. Ainda segundo Ulrich (1991) os responsáveis pela redução doestresse e promoção do bem estar aos pacientes são: controle do ambiente; suporte social possibi-litado pelo ambiente; distrações positivas do ambiente.

4.1 Controle do AmbienteAs pessoas sentem necessidade de poder controlar o ambiente que os cerca. A

sensação de controle é um importante fator que influencia o nível de estresse e o bem-estar emdiversos grupos de pessoas, principalmente em pacientes hospitalizados que já estão fragilizadosfísica e psicologicamente.

Evidências científicas demonstram que um hospital barulhento, confuso, sem pri-vacidade e que não permite ao indivíduo controlar seu ambiente imediato, prejudica o pacientereduzindo sua sensação de autonomia, o que pode causar depressão, passividade, aumentar apressão arterial e reduzir a funcionalidade do sistema imunológico. (ULRICH, 1991)

Algumas soluções arquitetônicas, segundo Malkin (2003) podem proporcionar aopaciente a sensação de controle do ambiente, tais como: oferecer privacidade visual para pacientesvestir-se em salas de imagens; permitir o controle do canal e do volume da televisão tanto nosquartos como nas salas de visitas; incluir jardins ou pátios acessíveis a pacientes; criar um localonde os pacientes possam dedicar-se a coisas de seu interesse ou a algum hobby.

4.2 Suporte SocialMuitos estudos nos campos da medicina comportamental e da psicologia clínica

descobriram, dentre uma variada gama de situações que envolvem ambientes de saúde, que indiví-duos com suporte social apresentam menores níveis de estresse do que aqueles que não têmnenhum tipo de apoio da família, amigos ou sociedade. (ULRICH, 1991)

De acordo com Malkin (2003) alguns exemplos de estratégias para promoção dosuporte social incluem: áreas de espera para visitantes com assentos móveis que permitam reuniãoem grupo; jardins externos ou locais de encontro que estimulem a interação social entre paciente-visitantes e paciente-pacientes; evitar cadeiras lado a lado, encostadas às paredes ou fixas, poiselas reduzem a interação social; criar ambientes com espaços específicos para a realização dereuniões, formação de grupos de estudo, espaços para o lazer e capela para oração.

4.3 Distrações PositivasA distração positiva é proporcionada por um ambiente formado por elementos que

provocam sentimentos positivos no paciente, prendendo sua atenção e despertando seu interessepara outras coisas além da sua doença, o que reduz ou até mesmo bloqueia os pensamentos ruins.(ULRICH, 1991)

É importante tomar conhecimento das características da população que utilizará oespaço, como por exemplo, idade, sexo, nível cultural e social, e também tomar conhecimento dequais atividades serão desenvolvidas no local. Algumas sugestões segundo Malkin (2003), paraproporcionar distrações positivas no ambiente hospitalar são: presença de átrios, jardins internos ouespaços abertos ao exterior; uso de elementos, tais como fontes, lareiras e aquários; janelas baixas.

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5. PSICONEUROIMUNOLOGIA

É a arte e ciência de criar ambientes que ajudam a evitar doenças, a acelerar acura e a promover o bem-estar das pessoas. Estuda os estímulos sensoriais e os elementos doambiente que os causam, além das relações entre estresse e saúde.

O bem estar físico e emocional do homem é influenciado por seis fatores: luz, cor,som, aroma, textura e forma. Essas elementos do ambiente têm impacto tão grande no psicológicoe no físico dos indivíduos que uma instalação médica bem projetada, aplicando adequadamenteestes fatores, pode ser considerada parte importantes do tratamento. (GAPPELL, 1995)

5.1 LuzAté recentemente um projeto de iluminação visava apenas à função visual, onde a

quantidade e a qualidade da luz eram fundamentais. Hoje, arquitetos e designers já estão cientesdos benefícios que a luz traz à saúde. A luz influencia o controle endócrino, o relógio biológico, odesenvolvimento sexual, a regulação de estresse e a supressão da melatonina, além de proporcio-nar um dinamismo no ambiente pelas tonalidades diferentes no decorrer do dia. (FONSECA, 2000).

Conforme Gurgel (2004), existem inúmeros tipos de lâmpadas e diferentes mode-los de luminárias que possibilitam várias opções de efeitos, tais como estímulo visual, clima própriopara reflexão mental, ambiente com atmosfera íntima, destaque de objetos. É preciso prestar aten-ção às necessidades de cada grupo de pacientes. Os idosos, por exemplo, têm necessidades espe-ciais de iluminação, requerendo três vezes mais luz do que jovens e adultos para realizar tarefas dodia-a-dia ou para identificar objetos.

5.2 CorCor e luz são elementos do ambiente que estão intimamente ligados, tanto que a

intensidade da luz afeta substancialmente o resultado da cor. Por isso, a escolha das cores deve serbaseada nos estudos científicos que indicam o efeito psicológico das cores nos usuários do espaço.De acordo com Modesto (2006) as cores podem ser classificadas como frias e quentes. As coresquentes parecem dar uma sensação de proximidade, calor, densidade, opacidade, secura, além deserem estimulantes. Em contraposição, as cores frias parecem distantes, leves, transparentes,úmidas, aéreas e são calmantes.

Esses efeitos são tão significativos que, em alguns hospitais da Suécia, os pacien-tes são direcionados para os quartos com cores adequadas à natureza de sua doença, conforme oprocesso de cura avança, eles são transferidos gradualmente para quartos com cores que possuemmaior nível de estimulação (JONES, 1996).

A cor pode ser aplicada ao ambiente com a intenção de destacar algum objeto ouelemento construtivo, com a intenção de tornar o ambiente mais aconchegante, ou simplesmentepara criar uma atmosfera de brincadeira e alegria, evitando a monotonia.

O conforto térmico também é afetado pela cor. Pessoas sentem mais frio emambientes que possuem tonalidades frias e mais calor em ambientes de tonalidades quentes, embo-ra a temperatura seja a mesma.

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5.3 SomSegundo Jones (1996) o barulho estressante causa irritação e frustração, agrava o

mau humor, afeta a percepção visual e diminui a capacidade de aprendizado. Entre os idosos, porexemplo, altos níveis de ruídos causam insônia e desorientação. Já para os bebês, a exposição aambientes barulhentos torna-os mais lentos, o que os faz persistir em comportamentos infantis,tendo maior dificuldade para falar e para desenvolver atividades.

A escolha apropriada de materiais de revestimento e o posicionamento adequadode janelas e portas podem facilmente evitar ou corrigir problemas acústicos. (GURGEL 2004). Ouso de fontes de água e de jardins internos tem aumentado consideravelmente nos projetos hospi-talares por causa dos efeitos visuais e sonoros. Esse lado positivo do som causa a redução da dore a distração para situações de desconforto. (ULRICH, 1991)

5.4 AromaO cheiro é o mais evocativo dos sentidos, tem uma relação muito íntima com o lado

emocional e faz o caminho mais rápido de ligação com o cérebro, estimulando-o a resgatar memó-rias. Enquanto os aromas desagradáveis aceleram a respiração e o batimento cardíaco, os cheirosagradáveis reduzem o estresse. Por isso é preciso ter muito cuidado com o aroma em ambientes desaúde. O cheiro de medicamentos pode estimular a ansiedade, o medo e o estresse dos pacientes,enquanto os aromas agradáveis podem reduzir a pressão sanguínea e diminuir a percepção da dor.(JONES,1996)

5.5 FormaA forma do espaço físico interfere no processo de tratamento dos pacientes hospi-

talares, ajudando ou inibindo o seu desenvolvimento. Alguns indivíduos requerem privacidade paraseus momentos de tensão e alterações comportamentais, por isso quartos individuais são importan-tes. Quando isso não é possível, é importante que o arranjo espacial das enfermarias permita oisolamento do leito, através de cortinas fixadas no teto ou biombos.

O desenho da planta arquitetônica afeta a satisfação do paciente. Por exemplo,uma planta radial com os quartos ao redor do posto de enfermagem, proporciona redução deestresse porque a proximidade com os enfermeiros causa sensação de segurança e bem estar.

Outro aspecto a considerar é o uso de formas variadas num mesmo espaço, pro-vocando estimulação sensorial e criando distração positiva no ambiente. As formas podem serdestacadas pelo uso de cores.

5.6 TexturaCada material apresenta diferentes características e propriedades de textura que

permitem várias combinações e diferentes resultados. A escolha personaliza o projeto e os materi-ais empregados devem conter características compatíveis com as necessidades de cada ambiente.Considerar e avaliar as características dos materiais como durabilidade, resistência, manutenção,aspectos térmicos, acústicos e antiderrapantes são fundamentais para um correto funcionamentodo ambiente.

Conforme Gurgel (2004), os materiais são de aparência dura ou macia. São durosos materiais tais como ferro, tijolo, granito, azulejos e cerâmicas, vidro, vinil, aço, cromo, bambu,madeira, concreto. Já materiais como algodão, seda, veludo, couro, sisal, lã, tapetes, são ditosmacios ou confortáveis.

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6. CONCLUSÃO

A conscientização de que o ambiente físico pode ser um fator a mais na recupera-ção da saúde dos pacientes é o primeiro passo para a implantação de um novo conceito de edifíciohospitalar. As preocupações devem ser muito mais que eficiência, funcionalidade, marketing, cus-tos e respeito às normas.

Novos estudos comprovam que a humanização tem como objetivo principal ofere-cer aos pacientes ambientes projetados para auxiliar na sua recuperação, ou seja, ambientes cria-dos com a intenção de levar benefícios físicos e psicológicos aos pacientes, fazendo com que sesintam melhor.

Ai se insere a justificativa deste artigo, pois cabe ao arquiteto, responsável pelarelação do homem com o ambiente construído, a tarefa de adequar o projeto do ambiente hospitalaràs necessidades de seus usuários-pacientes fragilizados orgânica, física e/ou psicologicamente edifundir os conhecimentos teóricos adquiridos para tal função.

Vale recomendar ao arquiteto hospitalar uma reavaliação de sua prática profissio-nal a partir da reflexão sobre a verdadeira função do edifício hospitalar, e a busca de conhecimentodos estudos científicos que agregam valor humano à produção arquitetônica dos edifícios de saúde,criando ambientes hospitalares que contribuem efetivamente à recuperação dos pacientes.

7. REFERÊNCIAS

COSTI, Marilice. A influência da luz e da cor em salas de espera e corredores hospitalares.Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.

ELALI, Gleice A. Psicologia e arquitetura: em busca do lócus interdisciplinar. 1997. Disponívelem <www.scielo.br/scielo.php>. Acesso em 05 de novembro 2005.

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Elisabete Cardoso Simão Horevicz e Ivanóe De Cunto

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* Graduada em Fisioterapia pela Universidade Norte do Paraná – UNOPAR; Professora da Rede Estadual de Ensino – CursoTécnico Profissionalizante em Segurança do Trabalho; Aluna do curso de pós-graduação em nível de especialização em SaúdeColetiva e da Família – Centro Universitário Filadélfia – UniFil.

AS IMPLICAÇÕES DAS ATIVIDADES DOCENTES NA SAÚDE FÍSICA E MEN-TAL DO PROFESSOR

THE IMPLICATIONS OF THE ACADEMICIAN ACTIVITIES IN THE PHYSICS AND MENTAL HEALTHOF THE TEACHER

Ana Carolina de Athayde Raymundi Braz*

RESUMO:O tema abordado no presente trabalho apresenta uma análise sobre as características que envol-vem a profissão docente e a influência dessas características na sua prática docente e na saúdefísica e mental. Procura ainda refletir sobre as especificidades da prática docente, entendidascomo as ocupações profissionais do professor, com sua saúde física e mental. A constituição do‘Ser Professor e as suas atribuições profissionais repercutem na sua saúde, assim como, em quemedida a saúde do profissional influenciam na motivação e efetivação do trabalho docente. Oacúmulo de tarefas, o ambiente de trabalho e as particularidades no desenvolvimento da formaçãoe da profissão docente têm como conseqüência para saúde, entre outros, o aparecimento da Síndromede Burnout. É grande o número de absenteísmo do professor e/ou de afastamento de suas ocupa-ções e, ainda a antecipação de aposentadoria por invalidez por doenças causadas pelas atividadesda profissão docente. Sendo assim, se faz urgente um atendimento especial ao professor a partirdas necessidades e características de sua profissão, assim como melhorias nas condições do am-biente de trabalho relacionadas aos diferentes e complexos aspectos da ocupação docente.

PALAVRAS-CHAVE: Profissão docente. Saúde do trabalhador. Saúde do professor. Síndromede Burnout.

ABSTRACT:The boarded subject in the present work presents an analysis on the characteristics that involve theteaching profession and the influence of these characteristics in its practical professor and thephysical and mental health. Search still to reflect on the particularitys of the practical professor,understood as the professional occupations of the professor, with its physical and mental health.The professional constitution of ‘ To be Professor ‘ and its attributions re-echo in its health, as wellas, where measured the health of the professional they influence in the motivation of the teachingwork. The accumulation of tasks, the environment of work and the particularitys in the developmentof the formation and the teaching profession have as consequence for health, among others, theappearance of the Syndrome of Burnout. The number of absenteeism of the professor and/orremoval of its occupations is great and, still the anticipation of retirement for invalidity for illnessescaused for the activities of the teaching profession. Being thus, if it makes urgent a special attendanceto the professor from the necessities and characteristics of its profession as well as improvementsin the conditions of the related environment of work to the different and complex aspects of theteaching occupation.

KEY-WORDS: Teaching profession. Health of the worker. Health of the professor. Syndrome ofBurnout.

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1. INTRODUÇÃO

O principal objetivo deste estudo é apresentar e discutir as condições de trabalhodo professor, a partir das características de suas ocupações laborais as quais fundamentam aprofissão docente. Acredita-se que tais condições e características incidem de maneira efetivasobre a saúde do professor e as doenças possivelmente relacionadas a tal profissão.

Por meio da prática, observação da realidade e reflexões sobre o tema propostoa partir de diferentes referências bibliográficas – apresentado e discutido por inúmeros autores– pode-se averiguar que a classe trabalhadora formada pelos professores comumente apresentaum alto índice de faltas ou afastamento de seu trabalho como descrito por Gasparini, Barreto eAssunção (2005).

Como apresentado anteriormente, serão descritas e discutidas algumas idéias noque diz respeito a relação entre: profissão, saúde e doença. Sendo assim, faz-se necessário conceituaros termos doença e, principalmente, saúde; entendendo esta como algo muito além da contraposiçãodo conceito de doença.

2. O BINÔMIO SAÚDE E DOENÇA

Conforme Gutierrez e Oberdiek (2001), o conceito de doença e de saúde e,consequentemente, o questionamento sobre o que é estar doente e o que é ter saúde é decorrentedesde a antiguidade e persiste até os dias atuais, primeira década do século XXI.

Sendo assim, a partir de uma breve releitura é possível analisar os conceitos ante-riormente mencionados, com o objetivo de entender as considerações realizadas acerca do binômiosaúde/doença em diferentes tempos e sociedades e, então, contrapor tais conceitos com vistas auma melhor compreensão do que se pensa e do por quê se pensa sobre saúde e doença na socie-dade brasileira na atualidade.

Outro ponto primordial no trabalho aqui apresentado é o estudo da relação entresaúde de um modo geral com a saúde do trabalhador e a saúde deste no trabalho, desde as condi-ções de trabalho às conseqüências trazidas por estas. Para tanto, faz-se necessário apresentaralguns pontos no tocante as discussões acerca da saúde no trabalho até chegar à apresentação dasreflexões sobre as doenças ocupacionais relacionadas às condições em que se dá o trabalho e asocupações laborais.

A falta do conhecimento empírico sobre o processo de saúde-doença fez com quedurante muitos séculos a doença fosse simplesmente aceita e vivenciada sem que muito pudesseser feito em favor das pessoas que a apresentavam.

Para Gutierrez e Oberdiek (2001), na antiguidade pouco ou nada se sabia a respei-to dos grandes males que assolavam as populações, a partir do aparecimento das doenças poucopodia ser feito. Em virtude das condições sanitárias de cidades e regiões e do desconhecimentosobre a etiologia das doenças, grandes epidemias atingiram populações no passado.

Durante muitos séculos existiu a crença de que as pessoas recebiam a doençacomo castigo ou punição, assim, essa deveria ser aceita e enfrentada com dores e sofrimentos, jáque tinham justificativa na fé religiosa; outra possibilidade considerada era de que a pessoa doenteestaria possuída por maus espíritos, que se apoderando da alma, poderiam levar a conseqüências

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fatais, a pessoa que sobrevivia teria então sido absolvida de seus pecados através do “milagre” dacura, tendo assim o direito a uma vida nova.

O comentário da Bíblia esclarece: Deus insuflou o espírito da vida nas nari-nas de Adão, e é pelas narinas que o homem respira. O espírito manifesta oretorno à vida. Esta descrição é interpretada como sendo o primeiro exemploda respiração boca a boca para a reanimação, como ainda se faz hoje. (OLI-VEIRA, 1981 apud GUTIERREZ e OBERDIEK, 2001, p. 03).

Em meio a uma sociedade religiosa, surgiram grandes estudiosos, que através doconhecimento científico puderam fazer as primeiras considerações de que a doença fazia parte deum desequilíbrio corporal, assim como, desenvolver diagnósticos baseados no atendimento aosdoentes.

Conforme Gutierrez e Oberdiek (2001), muito antes da Idade Média, maisespecificadamente na Grécia Antiga, Hipócrates chegou à teoria dos quatro humores corporaisatravés de seu entendimento sobre o funcionamento do organismo humano, incluindo a personali-dade. Segundo ele, a quantidade dos fluídos corporais era a principal responsável pelo estado deequilíbrio ou de doença. Em seus estudos, pôde fazer as primeiras constatações com as relações demuitas epidemias a fatores climáticos, alimentares, raciais e do meio ambiente. Deixou assim mui-tas descrições clínicas que contribuíram para as indicações iniciais de uma medicina preventiva.

Então como entender o binômio saúde-doença? Em 1948, a Organização Mundialde Saúde1 (OMS) assumiu como definição de saúde “um estado de completo bem-estar físico,social e mental e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”. Sobre essa e outras defini-ções de saúde, muitos pesquisadores têm discutido. Entretanto, muitos deles afirmam que a defini-ção da OMS ainda hoje, primeira década do século XXI, vem ao encontro dos pensamentos dacomunidade científica.

Dejours (1993) apud Mariano e Muniz (2006), afirmam que saúde é, antes detudo, um fim, um objetivo a ser conquistado. O estado de bem estar social e psíquico não é enten-dido como um processo estável, que, uma vez atingido, seja possível de ser mantido, mas como algoque deve ser buscado constantemente. Com essa visão é possível entender por que hoje se colocaa prevenção como principal medida a ser adotada em qualquer âmbito da saúde.

Para Gomes (1990), doença é um abalo transitório ou definitivo no equilíbrio entreas funções do organismo; um desvio na expectativa de vida de um indivíduo, proporcionando riscosde conseqüências adversas.

O adoecimento pode ser motivado por causas diversas, entre as quais podem sercitadas as biológicas (vírus, bactérias, fungos, etc.), as causas externas (meio ambiente e social) e,principalmente, o estilo de vida de um indivíduo. Neste sentido, entende-se como estilo de vida, arelação que as pessoas estabelecem com o ambiente em que vivem. Ambiente este que pode sercomparado às atividades cotidianas e ao contato com a realidade que envolve as pessoas.

1 OMS: A Organização Mundial da Saúde foi criada pela ONU em 1948 com o principal objetivo de elevar os padrões mundiaisde saúde. A proposta de criação da OMS foi de autoria dos delegados do Brasil, que propuseram o estabelecimento de um“organismo internacional de saúde pública de alcance mundial”. Desde então, Brasil e OMS desenvolvem intensa cooperação.Ver in: http://www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/relext/mre/nacun/agespec/oms/index.htm.

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A maneira com que a pessoa se relaciona com o mundo ou com a realidade que acerca em todas as dimensões, inclusive no que diz respeito às suas ocupações laborais, podeatender em maior ou menor proporção a qualidade idealizada para essas relações.

3. AS ATIVIDADES LABORAIS E A SAÚDE DO TRABALHADOR: a profissãodocente

Ao referir atividades laborais, nem sempre se fala somente de atividades lucrati-vas, mas sim de toda e qualquer atividade produtiva, ou seja, atividades que possibilitem a transfor-mação de algo posto em algo novo.

A qualidade das relações nas atividades acima descritas indica o estilo de vida decada um, o que se reflete no grupo do qual ela faz parte e em devidas proporções o qual incidesobre essas relações. Sendo assim, quando se fala em estilo de vida deve-se dar atenção à ocupa-ção desse indivíduo, já que representa significativamente boa parte do seu ciclo de vida. Principal-mente na sociedade capitalista e excludente em que se vive, sociedade esta que evidencia a quali-dade de vida de cada pessoa em detrimento ao trabalho produtivo e lucrativo. O processo detrabalho desencadeia uma transformação real no trabalhador.

Para Dubar (1992; 1994) citado por Tardif (2006, p.56) “trabalhar não é, apenas,transformar um objeto ou situações em uma outra coisa, é também transformar a si mesmo no epelo trabalho”.

O enaltecimento do trabalho, no sentido apresentado anteriormente, evidencia oreflexo da qualidade e o estilo de vida do trabalhador para a sociedade de maneira geral.

As idéias apresentadas acima podem ser comparadas aos dizeres de Umberto Eco:

Nosso século está doente, carregado de saberes fragmentados, incapaz dereconhecer seus inimigos. O diagnóstico do autor é curto: RESPIRAMOSNEURASTENIA2 e vivemos em busca de uma cura para o nosso mal.(CAMILLO, 2003, p. 77).

Esta relação ‘neurastênica’ se estende às relações da pessoa no e com o seutrabalho ocasionando um mal estar individual e, consequentemente, social. Esse ‘mal estar’ podeser observado em inúmeros ambientes de trabalhos e está relacionado às mais diferentes ocupa-ções. Os principais resultados dessa ‘relação doentia’ podem ser observados nas diferentes doen-ças decorrentes do ambiente de trabalho.

Doença do trabalho é definida legalmente como a adquirida ou desencadeada emfunção de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente -Lei n. 8.2133 , de 24/07/91.

O professor, como qualquer outro trabalhador, também estabelece relações emseu ambiente de trabalho a partir de fatores específicos que envolvem a profissão docente.

2 Neurastenia: Neurose que acarreta enfraquecimento da força nervosa; perturbações mentais caracterizadas pela debilidade dosistema nervoso, com sintomas de tristeza, falta de vontade, perda de memória, ideação difícil, impotência, e, com maiorfreqüência, males físicos do tipo das dores de cabeça, perturbações vasomotoras e sensitivas. / Pop. MAU HUMOR;IRRITABILIDADE FÁCIL. (http://www.kinghost.com.br/dicionario).3 Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991 – DOU de 14/08/91. TÍTULO I DA FINALIDADE E DOS PRINCÍPIOS BÁSICOS DAPREVIDÊNCIA SOCIAL. Ver in: http://www81.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1991/8213.htm. Acesso em: 27 ago de2007.

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Sendo assim, surge o questionamento: a saúde do professor está em perigo? Porquê? Seria exagero questionar sobre o fato da saúde do professor estar em perigo? Acredita-seque não, à medida que este está exposto aos mais diversos riscos.

A identidade do trabalhador carrega marcas de sua própria atividade e uma boaparte de sua existência é caracterizada por sua atuação profissional. Em certos ofícios tradicionais,o tempo de aprendizagem do trabalho confunde-se com o tempo de vida, pois o trabalho é aprendi-do no ambiente familiar e social, no contato direto com as tarefas dos mais experientes, (TARDIF,2002)

Segundo Costa apud Nóvoa (1995), o magistério (enquanto profissão/trabalho) talcomo é concebido hoje – início do séc. XXI – constituiu-se a partir do séc. XV, no seio de umasociedade disciplinar, erigida no conjunto das transformações que produzem a modernidade.

Em várias outras ocupações profissionais (no caso do magistério) a aprendizagemdo trabalho passa por uma ESCOLARIZAÇÃO mais ou menos longa, cuja função é fornecerCONHECIMENTOS TEÓRICOS e TÉCNICOS que os preparem para o trabalho,(TARDIF,2002)

Dessa forma, o trabalho do professor é complexo e envolve capacidades e habili-dades diferentes e necessárias, ou seja, a profissão docente necessita de saberes e açõesmultidimensionais entre os quais os saberes científicos, os políticos, os afetivos e os saberes peda-gógicos, o que provoca, inúmeras vezes, um acúmulo de deveres e responsabilidades profissionaisque mereceriam atenção e valorização demasiadamente superior do que é observado na realidadede sua profissão. Na maioria das vezes, o profissional se sente desvalorizado, como afirmam Tardif,Lessard, Lahaye (1991) citado por Candau (1998, p. 59), “o saber docente é um saber plural,estratégico e desvalorizado”.

FIGURA 1: A Complexidade do ser Professor e sua ação Docente

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Acredita-se que o ambiente de trabalho é outra variável importantíssima na análisedo ‘ser professor’. Se conceituado, o ambiente de trabalho, por si já carrega uma complexidadeconsiderável, em se tratando do ambiente ensino e aprendizagem, por ser o ambiente de trabalhodo professor, tal complexidade envolve diferentes fatores que integram o ambiente escolar, entreeles: os recursos físicos e materiais, a relação professor/aluno, professor/funcionários, professor/família dos alunos, professor/equipe pedagógica entre outros.

Outros problemas advêm destas lacunas quase intransponíveis que asso-lam a vida do professor, como: o trabalho com alunos, direção da escola,reuniões, pais, comunidade, exigem uma dedicação além da disponibilidadedo tempo do professor, deflagrando conflitos relacionais (interpessoal eintrapessoal), motivados pela multiplicidade dos papéis desempenhados(SOMBRIO, 2003, p. 28).

O docente, em sua prática, se sente sobrecarregado ao sentir a obrigação, mesmoque não seja a sua obrigação, em ter que lidar com essa quantidade exacerbada de fatores queintegram seu ambiente de trabalho e interferem na sua prática pedagógica.

É a integração desses fatores que acaba sobrecarregando o ambiente de trabalhodo professor. Tal sobrecarga pode ser considerada responsável pelo desencadeamento de inúme-ras doenças ocupacionais docentes.

Sendo assim, considera-se que o ambiente profissional docente é significativo parao desenvolvimento do trabalho e influencia na saúde do professor nos diferentes níveis de ensino.

Segundo Rosa (2006), especialistas alertam que os ambientes de trabalho estãodesencadeando doenças ocupacionais. Problemas como o estresse, despontam nas pesquisas comoa principal causa de adoecimento. No entanto, esse sintoma é apenas a ponta do iceberg, apontampsicólogos e estudiosos da medicina do trabalho. Por trás da tensão diária, decorrente do alto graude exigência imposto pelas instituições, podem ser desenvolvidas doenças que comprometem de talforma a saúde física e mental que o profissional corre o risco de ficar incapacitado para o trabalho.

Conforme Sombrio (2003), a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Edu-cação (CNTE4 ) através de seus estudos aponta que no Brasil é grande o número de professores“readaptados” (afastados temporária ou permanentemente para atividades administrativas) afeta-dos por uma ou algumas doenças desse conjunto, ou de professores que se mantêm com sucessi-vas licenças-saúde e, não raro, como objeto de desprezo e como fonte de problemas para osquadros docente e discente.

Através destes apontamentos podem ser listadas as principais dificuldades encon-tradas pelo profissional em questão, com base nas colocações feitas anteriormente a respeito do‘ser professor’:

4 CNTE: Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação é uma entidade nacional que foi consolidada em 1990, emCongresso extraordinário, a partir da discussão sobre a unificação de várias Federações de diferentes setores da educação emtodo Brasil. Atualmente, primeira década do século XXI, conta com novas regras de organização sindical e a filiação de vintee nove entidades e quase 700 mil sindicalizados em todo o país. (http://www.cnte.org.br. Acesso em 26 de ago. de 2007).

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• jornadas excessivas

• excesso de alunos por classe

• sobrecarga de trabalho e de funções

• ausência de material e recursos didáticos

• ambiente de trabalho inadequado

• falta de comprometimento do aluno

• falta de reconhecimento do aluno

• desvalorização do magistério (instabilidade, maus salários)

• falta de perspectivas profissionais e motivação.

Dificuldades como as apresentadas são observadas no cotidiano dos profissionaisda educação. Não se pode esquecer que estes educadores são base para todas as outras profis-sões e especializações, assim, como estes profissionais podem suportar rotinas de trabalhodesgastantes, sem apresentar conseqüências severas em sua saúde?

A Organização Internacional do Trabalho (OIT5 ) já em 1984 reconhece o lugarcentral que os professores ocupam na sociedade, uma vez que são os responsáveis pelo preparo docidadão para a vida. Como esses educadores podem formar e capacitar profissionais em meio atantos problemas e sacrifícios?

A dinâmica escolar tem afetado diretamente a execução da atividade docente,proporcionando um movimento de tensões em sua prática cotidiana. Este quadro torna-se aindamais agravado quando adicionado a outras dificuldades e empecilhos para a efetivação da práticadocente, e o que é mais grave, o somatório de tudo isso contribui para o processo de sofrimento dosprofessores. (MARIANO; MUNIZ, 2006)

Os alunos chegam à escola com um comportamento que não envolve limites,acham que podem tudo. O professor depara-se com a situação de ter que trans-mitir noções básicas de educação e, ainda assim, levar adiante um conteúdoprogramático [...]. Tal situação é no mínimo desgastante. (CODO, 2002, p. 242).

As condições de trabalho, ou seja, as circunstâncias sob as quais os docentesmobilizam as suas capacidades físicas, cognitivas e afetivas para atingir os objetivos da produçãoescolar, podem gerar um esforço excessivo ou grande solicitação de suas funções psicofisiológicas. (GASPARINI; BARRETO e ASSUNÇÃO, 2005), isso quer dizer que o sofrimento tanto podeser físico como psicológico, tendo em ambos, sinais e sintomas clínicos, que explicam os altosíndices de afastamento do exercício do trabalho.

Podem ser citadas como principais conseqüências físicas à saúde do professor: asdores musculares, os problemas posturais, rouquidão e/ou falta de voz, doenças circulatórias, doen-ças e dificuldades respiratórias, doenças gástricas e digestivas, cefaléias e até mesmo perturba-ções do sono.

5 OIT: Foi criada pela Conferência de Paz após a Primeira Guerra Mundial. A sua Constituição converteu-se na Parte XIII doTratado de Versalhes. Em 1944, à luz dos efeitos da Grande Depressão a da Segunda Guerra Mundial, a OIT adotou a Declaraçãoda Filadélfia como anexo da sua Constituição. A Declaração antecipou e serviu de modelo para a Carta das Nações Unidas e paraa Declaração Universal dos Direitos Humanos. Em 1998, após o fim da Guerra Fria, foi adotada a Declaração da OIT sobre osPrincípios e Direitos Fundamentais no Trabalho e seu Seguimento. Desde 1999, OIT trabalha pela manutenção de seus valorese objetivos em prol de uma agenda social que viabilize a continuidade do processo de globalização através de um equilíbrio entreobjetivos de eficiência econômica e de equidade social. Ver in: http://www.oitbrasil.org.br/inst/hist/index.php.

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É compreensível que um educador exercendo sua profissão em dois ou três perío-dos do seu dia, sofra ao final do processo de trabalho conseqüências como acima citadas. Como oprofessor desempenha sua atividade laboral? Quais as exigências físicas para este profissional?

As necessidades para a prática pedagógica levam este docente a permanecer empé por longas jornadas de trabalho, as estruturas físicas encontradas nos ambientes escolares nemsempre estão em favor do profissional da educação. Salas de aula repletas de alunos somadas aestruturas ergonomicamente incorretas resultam em danos severos à saúde física do professor.

Codo (1999) citado por Gasparini, Barreto e Assunção (2005) afirma que sãoinúmeros os aspectos e elementos que estão associados ao adoecimento do professor, pois a prá-tica docente que se efetiva no trabalho do professor não se restringe ao exercício de sua funçãodentro da sala de aula, exige atualização e preparação constantes para ser realizada de modosatisfatório.

O trabalho do professor vai muito além das horas/aulas referentes à sua perma-nência nas salas de aula. Para Gasparini, Barreto e Assunção (2005), muitas tarefas são realizadassem a presença dos alunos, fora da sala de aula. As tarefas docentes se estendem para fora daescola o que amplia a sua jornada de trabalho.

Quando o professor ministra aulas em várias turmas para alunos em níveis deensino, escolas e turnos diferentes, a preparação das aulas vai requerer avaliações múltiplas eesquemas variados. Serão necessários maiores investimentos de tempo na execução de um volu-me maior de trabalho e mais dedicação e esforço intelectual.

4. A SÍNDROME DE BURNOUT: a doença do ‘Ser professor’

É necessário salientar também outras conseqüências geradas pelo exercício do-cente: os abalos psicológicos. Os professores sofrem com problemas como: angústias, medos,ansiedade, estresse, depressão, descontentamento, insatisfação, frustração, fadiga, exaustão (so-brecarga mental). Esses males resultam em uma patologia conhecida por Síndrome de Burnout6 .

[...] Ultimamente tenho sentido um certo desânimo em relação à vinda aocolégio. Acho que isso deve-se ao fato de não sentir uma correspondênciapor parte dos alunos e da escola, de modo geral. Às vezes, sinto que gostariade ter mais tempo livre, incluindo este que dedico à escola, para dedicar aoutras coisas [...] (CODO, 2002, p. 243).

Segundo Benevides-Pereira7 em entrevista concedida a Rosa (2006), Burnout éuma doença multifatorial e multidimensional que começa necessariamente por um estresse. Algunsfatores podem levar os profissionais da educação a desenvolver esta Síndrome, estes podem tersuas origens institucionais e/ou organizacionais, como o clima laboral, o assédio moral, a falta desuporte organizacional e condições adversas de trabalho.

6Síndrome de Burnout: A primeira descrição sistemática da síndrome de burnout foi realizada pelo psiquiatra Herbert J.Freudenberg em 1974. O termo é uma composição de burn = queima e out = exterior, sugerindo, assim, que a pessoa com essetipo de estresse consome-se física e emocionalmente, passando a apresentar um comportamento agressivo e irritadiço. Em1981, a síndrome foi definida por Maslach e Jackson como uma reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contatodireto e excessivo com outros seres humanos. (ROSA, 2006).7Ana Maria T. Benevides-Pereira pesquisa sobre o tema há mais de 10 anos. Professora da Universidade Estadual de Maringá(UEM), da PUC do Paraná, da Universidad Autónoma de Madrid e integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre estresse eBurnout.

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Conforme Codo (2002), a Síndrome de Burnout é caracterizada por componentescomo: exaustão emocional, despersonalização e falta de envolvimento no trabalho e, nestes com-ponentes, existem situações em que os trabalhadores. sentem que não podem dar mais de si mes-mos, suas energias parecem esgotadas e desenvolvem sentimentos, atitudes e evoluções negativasno trabalho.

Benevides-Pereira (ROSA, 2006) ainda afirma que os principais sinais e sintomasde Burnout no que diz respeito ao comportamento são a irritabilidade e a agressividade aumenta-das, a pessoa passa a se isolar e a manter uma relação superficial, defensiva, procurando não seenvolver emocionalmente, podendo, inclusive, ser cínica e irônica com os demais. A desumanizaçãoé um sintoma que diferencia o estresse da síndrome de burnout. Por isso, a pessoa com essasíndrome passa a tratar o outro como se fosse uma coisa. Emocionalmente, torna-se mais instávele denota alienação dos fatos ao seu redor, muitas vezes a própria equipe de trabalho percebe queo professor mudou, tornou-se “desagradável”.

A pessoa ainda pode desenvolver doenças psicossomáticas, como dores de cabe-ça, palpitações, insônia, gastrite, problemas cardiovasculares, úlceras, infarto e por conseqüênciaaté mesmo a morte.

Os resultados apresentados por um docente acometido por esses agravantes apa-recem como falta de dedicação, atenção e paciência com alunos e colegas de trabalho, afastamen-to das atividades e, com isso, prejuízos para o aluno e seu aprendizado e para a saúde do professor.

Para Zaragoza (1999), o absenteísmo seria um mecanismo de defesa utilizadocontra a tensão derivada do exercício docente, uma forma de atingir um alívio para escapar dastensões acumuladas. Em suas pesquisas busca identificar os ciclos de estresse ao longo do anoescolar. Nos finais de trimestre (especialmente do primeiro) e no final do curso o número delicenças médicas aumenta progressivamente. De acordo com Sombrio (2003), as especialidadesmédicas ligadas ao maior número de dispensas são as de psiquiatria, neurologia, otorrinolaringologia,doenças cardiovasculares.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme Sombrio (2003), muitos fatores possibilitam o aparecimento de doen-ças e/ou colaboram com a falta de estímulo ou motivações para a constituição e exercício dotrabalho do professor. Esses fatores vão desde a falta de salários condizentes com a real neces-sidade e valor do profissional o que obriga o profissional a cumprir uma dupla ou tripla jornada detrabalho, até a dificuldade de autonomia profissional constantemente submetida ao autoritarismoburocrático.

A falta de limites impostos no trabalho docente repercute em problemas de saúdefísica ou psicológica. No Brasil, é grande o número de professores readaptados (afastados tempo-rariamente ou permanentes para atividades administrativas), ou aposentados por invalidez.

Faz-se necessário voltar as atenções para a urgência em se formular novas políti-cas baseadas em informações adequadas e atualizadas com respeito ao profissional docente, inclu-indo também reflexões que envolvam a promoção da saúde e a qualidade de vida dos trabalhadoresem educação contemplando as reais necessidades dessa classe trabalhadora.

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As Implicações das Atividades Docentes na Saúde Física e Mental do Professor

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Marco A. C Ferreira, Rosane S. E. Ferreira e Ricardo W. Coelho

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* Centro Universitário Filadélfia – UniFil. Centro de Pesquisa em Exercício e Esporte – UFPR** Clínica de Psicologia Londrina*** Centro de Pesquisa em Exercício e Esporte – UFPR

ATENÇÃO E CONCENTRAÇÃO: INTER-RELAÇÕES COM A APRENDIZA-GEM E PERFORMANCE DE HABILIDADES MOTORAS NO FUTEBOL

ATTENTION AND CONCENTRATION: INTERACTS RELATIONS WITH THE LEARNIG AND THEPERFORMANCE OF MOVING SKILLS IN SOCCER

Marco A. C Ferreira*Rosane S. E. Ferreira**

Ricardo W. Coelho***

RESUMO:O processo de atenção tem, segundo estudos na área da aprendizagem motora, participação fun-damental na aprendizagem de qualquer habilidade motora. Na tentativa de estabelecer inter-rela-ções entre os processos de atenção e concentração na prática de habilidades motoras apresenta-mos alguns conceitos teóricos para a compreensão do processo de atenção discutindo os estágiosde aprendizagem e o papel do professor/técnico enquanto agente externo responsável por direcionara atenção em determinados momentos.O controle da atenção pode ser considerado como umahabilidade de grande importância na hora de desempenhar qualquer atividade. No futebol, tem acaracterística de que a perda da bola no momento errado pode causar a derrota. Este artigo tempor objetivo abordar alguns aspectos teóricos relacionados com a atenção e concentração noesporte e sua inter-relação com a aprendizagem de uma habilidade motora no futebol.

PALAVRAS-CHAVE: Atenção. Concentração. Futebol

ABSTRACT:The attention process has, according to studies in the area of the motor learning, basic participationin the learning of any motor ability. In the attempt to establish Inter-relations between the attentionprocesses and concentration in the practical one of motor abilities we present some theoreticalconcepts for the understanding of the attention process arguing the periods of training of learningand the paper of the professor/technician while responsible external agent for directing the attentionat definitive moments. The control of the attention can be considered as an ability of great importancein the hour to play any activity. In the soccer, it has the characteristic of that the loss of the ball atthe wrong moment can cause the defeat. This article has for objective to approach some theoreticalaspects related with the attention and concentration in the sport and its interrelation with the learningof a motor ability in the soccer.

KEY-WORDS: Attention. Concentration. Soccer.

1. INTRODUÇÃO

O processo de atenção tem, segundo estudos na área da aprendizagem motora,participação fundamental na aprendizagem de qualquer habilidade motora. A partir de teorias eestudos mais aplicados que envolvem a atenção como objeto de estudo é possível, também, ressal-tar que sua participação na aprendizagem tem níveis de relevância diferenciados em relação aosujeito e à tarefa que é desempenhada.

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Nesse sentido, ao discutir o papel da atenção e da concentração na aprendiza-gem e performance de habilidades motoras, torna-se necessário resgatar os conceitos de estági-os de aprendizagem, a participação da memória enquanto centro de armazenamento de informa-ções, além de outras variáveis como complexidade da tarefa, tempo e qualidade da prática,motivação etc.

Na tentativa de estabelecer inter-relações entre os processos de atenção e con-centração na prática de habilidades motoras nosso esforço busca, nesse primeiro momento, apre-sentar alguns conceitos teóricos para a compreensão do processo de atenção, discutindo os estági-os de aprendizagem e o papel do professor/técnico enquanto agente externo responsável pordirecionar a atenção em determinados momentos.

Posteriormente, o mesmo se fará quanto à abordagem da concentração, procuran-do apresentar definições encontradas na literatura e que, provavelmente, serão alguns dos pontosde discussão e, finalmente, buscaremos apontar algumas possibilidades de estudos futuros cujofoco temático esteja relacionado com os conceitos aqui apresentados.

Como ponto de partida podemos nos lembrar de como foi nossa performance naprimeira tentativa de dirigir um carro, onde várias ações são executadas quase simultaneamente.Por outro lado, e, mais reconfortante, podemos avaliar nosso desempenho para essa mesma tarefa,após alguns meses de prática. Analogamente, aprendizagem dos movimentos nos esportes ocorreda mesma maneira.

O controle da atenção pode ser considerado como uma habilidade de grande im-portância na hora de desempenhar qualquer atividade. No esporte de rendimento qualquer perdade atenção pode influenciar diretamente no resultado final do jogo ou da competição. O futebol tema característica de que a perda da bola no momento errado pode causar a derrota. Este artigo tempor objetivo abordar alguns aspectos teóricos relacionados com a atenção e concentração no es-porte e sua inter-relação com a aprendizagem de uma habilidade motora no futebol.

2. REVISÃO DE LITERATURA2.1 Futebol

Na opinião de Jesus (2002) o futebol ultrapassou rapidamente os muros dos fecha-dos recintos da colônia inglesa para ganhar os estabelecimentos escolares e clubes nacionais daburguesia e, a seguir, as ruas.

Jesus (2003) considera que o Brasil se distingue da grande maioria dos paísespraticantes de futebol, por sua ênfase na base local. Neste sentido, no estudo das profundas mu-danças que atualmente se operam neste esporte em escala mundial, o Brasil apresenta-se comoum laboratório particular e expressivo, da tensão existente entre as forças da globalização e as dolugar.

O desenvolvimento do futebol exige, cada vez mais, conhecimentos científicospara a sua plena performance. Para Fernandes (1994), os verdadeiros conteúdos do treinamento ecompetição correspondem ao trabalho de desenvolvimento e manutenção das capacidades físicascoordenativas e psicológicas, todas elas decisivas para o rendimento.

Num jogo de Futebol, não é possível saber, a partir de um estado inicial, qual oestado final duma ação ou seqüência, o que quer dizer que estamos em presença de situações definal aberto.

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Para Garganta (2001) o jogo é um acontecimento que decorre na convergência devárias polaridades: a polaridade global entre duas equipes; a polaridade entre ataque e defesa; apolaridade entre cooperação e tensão. (ELIAS E DUNNING, 1992; DUNNING, 1994)

Cada vez mais a prática do futebol moderno, dependente da tática de jogo, se tornamais adequada ao jogador mais completo, ou seja, àquele que desenvolve da forma mais satisfatóriapossível um conjunto maior dessas habilidades. A cada dia diminui mais o espaço no futebol profis-sional para aqueles jogadores especialistas em apenas uma das habilidades específicas, ou seja,para aqueles que são somente bons passadores ou mesmo bons finalizadores. Como conseqüênciada análise dessas habilidades, naturalmente, pode-se quantificar a performance individual ou cole-tiva da equipe e, dessa forma, construir um programa mais adequado de treinamento, individualiza-do, de forma a corrigir ou melhorar as performances.

Estes fundamentos (passe/condução domínio de bola etc...), conteúdos de ensi-no, são divididos e organizados em uma seqüência pedagógica, atenta às diferentes faixas etárias.Os fundamentos básicos do futebol começam a ser trabalhados aos sete anos, mas seu aprendi-zado não tem um fim em si mesmo, ou seja, tornam-se meios para a aquisição e ampliação dovocabulário motor das crianças. A ênfase do trabalho, nesta faixa etária, paira sobre a explora-ção das habilidades motoras. Faz-se de fundamental importância, não somente nesta idade, masem todas, a aquisição de um considerável acervo motor, para que a criança tenha a possibilidadede realizar vários movimentos, tendo um controle sobre eles, em variadas situações e não emuma especificamente.

A análise individual do conjunto dessas habilidades vai demonstrar uma correlaçãoentre as habilidades num mesmo jogador, e também as diferenças entre os vários jogadores daequipe, sejam “titulares” ou “reservas”.

2.2 Atenção e ConcentraçãoA atenção é o processo que direciona nossa vigília quando as informações são

captadas pelos nossos sentidos, ela também pode ser vista como um mecanismo que consiste naestimulação da percepção seletiva e dirigida (GUALLAR & PONS, 1994; MARTENS, 1987;SAMULSKI, 2002).

Dentre seus diversos tipos destaca-se a concentração que pode ser definida comoa focalização da atenção em um determinado objeto ou em uma ação (SAMULSKI, 2002). Noesporte ela é a habilidade de focalizar em estímulos relevantes do ambiente e de manter esse focoao longo do evento esportivo (WEINBERG, 1988; WEINBERG & GOULD, 2001) e ela pode serdividida em três partes: concentração em sinais relevantes, manutenção do foco de atenção todo otempo e consciência da situação.

Dentre os pesquisadores que mais se destacaram no estudo da atenção, enquantovariável do comportamento humano, nos seus primórdios estão Sir William Hamilton (Inglaterrra),Willian Wundt (Alemanha) e em 1980 Willian James nos EUA.

Estudos relacionados com a atenção no comportamento e na performance ganha-ram significativa importância durante a 2º Guerra Mundial dada a necessidade de exercer tarefassimultaneamente, além de ter que obter êxito naquelas em que a tomada de decisão frente a umestímulo era uma questão de sobrevivência. Podemos, a partir da estrutura, estabelecer algumas

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definições que serão operacionalizadas no decorrer do texto.Segundo Magill (1998), quando o tempo é utilizado no contexto do desempenho

humano, a atenção se refere ao envolvimento das atividades perceptivas, cognitivas e motorasassociadas ao desempenho de habilidades.

Moran (1999) destaca que o termo “atenção” foi utilizado no século passado pararetratar 3 tipos de atividades mentais: a primeira delas, e, mais freqüente, é que o construto daatenção surgiu para explicar a concentração, ou nossa capacidade para focar ou dirigir o esforçomental sobre um dado alvo (objetivo), o que teria um caráter seletivo da percepção e, este por suavez, o objetivo de proteger o sistema contra uma possível sobrecarga cognitiva.

Um segundo significado para a atenção diz respeito ao fato de que, em certascondições, podemos dividir a atenção e executar simultaneamente (tarefas de naturezas diferen-tes, como dirigir e conversar, ou driblar e contar). O terceiro significado se relaciona com o estadode alerta ou preparação para a ação. O autor sintetiza sua concepção de atenção realçando que:“... o conceito de atenção é multifacetado, e que envolve, em particular, três diferentes processospsicológicos, seletivamente de percepção, regulação de ações concernentes e manutenção da vigí-lia (MORAN, 1996, P. 40)”.

Ladewig (2000) destaca que, de uma maneira abrangente, a atenção pode serdefinida como o processo que direciona, seleciona, alerta, delibera e contempla, ou como generali-za Albernethy (1993) atenção é um termo global que pode ser utilizado para definir uma série deprocessos que variam num contínuo entre vigilância e concentração.

Na tentativa de relacionar à atenção, concentração e comportamento, Damásio (2000)nos propõe que entendamos o comportamento como a execução de uma peça musical cuja partituraestá sendo criada enquanto a música se desenvolve, e isso se dá de forma paralela (fig. 1).

Figura 1. A partitura do comportamento (modificado de Damásio, 2000).

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Nesse sentido, o estado de vigília, a emoção de fundo e a atenção básica (linhamelódica) estarão presentes continuamente desde o despertar até o adormecer. Esses 3 mecanis-mos são, pois, sinais externos de nossas condições internas compatíveis com a ocorrência daconsciência.

No que tange a atenção, Damásio (2000) sinaliza que a presença de atenção vol-tada para um objeto externo indica em geral, a presença de consciência, mas não necessariamente.A presença da consciência, num dado comportamento em relação à atenção, só poderá ser confir-mada quando esta por sua vez pode ser mantida por um longo período de tempo - muitos minutos ouhoras e não segundos. E o autor continua: “A meu ver, consciência e atenção ocorrem em níveis egradações, não são monólitas e se influenciam mentalmente em uma espécie de espiral ascenden-te. A atenção básica precede a consciência central; é necessária para acionar os processos quegeram esta última” (p.124).

Quanto à definição de teorias, que utilizamos para compreender o processo deatenção, novamente Damásio expõe que:

Estado de alerta (alertness): diferente de acordado, com visível inclinação paraperceber e agir, o significado apropriado será algo entre despeito e atitude;

Ativação: denota sinais de ativação do sistema nervoso autônomo (mudanças nacor de pele, pêlos, diâmetro das pupilas, suor etc.);

Consciência: é o termo abrangente para designar os fenômenos mentais que per-mitem o estranho processo que faz de você o observador ou conhecedor das coisas observadas,proprietário dos pensamentos formados de suas perspectivas, o agente em potencial; não é externadono processo, é uma parte de seu processo mental.

2.2.1 Modelos teóricos para o estudo da atençãoRetrocedendo na história sobre as pesquisas relacionadas à atenção, podemos

encontrar que o início desses estudos é datado no século passado. Moran (1996) ressalta que oobjetivo de compreender sobre o funcionamento da mente foi um dos fatores geradores dessesestudos onde a atenção tinha um papel vital.

Sintetizando as diversas abordagens designadas ao estudo da atenção nos seusrespectivos períodos podemos esquematizar:

(Allport;Posner;Scheineider;Shiffrin)

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2.2.2 Teoria do filtro (gargalo)Essa teoria destacava que a dificuldade encontrada para executar diversas tarefas

simultaneamente ocorre em função de o sistema de processo da informação podem desempenharsomente um mínimo limitado de função por vez (MAGILL, 1998)

Esse processo ocorre, segundo os defensores dessa teoria, uma vez que as fontesde informação presentes no ambiente são muito maior que a capacidade limitada do nosso organis-mo para percebê-las e processá-las. Em segundo lugar, essa seleção é necessária para entrar umasobrecarga de informação.

Broadbent, um dos expoentes dessa teoria destacou que a denominação de filtrose referia à entrada da informação no sistema nervoso, a qual era limitada por aceitar algumasclasses de estímulos em detrimento de outras.

As pesquisas nessa teoria perderam sua expressividade uma vez que não conse-guiram identificar uma localização fixa para a seleção da informação pelo sistema (localização dofiltro).

2.2.3 Teoria da capacidade de recursos centraisProposto por Kahneman nos anos 70, esse modelo destaca que existe um reserva-

tório único atencional e que os limites dessa capacidade são flexíveis. Os fatores que podem alterara capacidade estão relacionados com as características da pessoa, da tarefa e da situação.

De acordo com Kahneman (APUD MORAN, 1999): “... atenção é melhor com-preendida quando vista como um reservatório diferenciado de energia mental” (p.56).

2.2.4 Teorias de recursos múltiplosOs precursores dessas teorias que mais destacaram foram Allport, Naron e Gopher

e Wickens. Eles apontam que dispomos de diversos mecanismos de atenção, cada um com recur-sos limitados. Dessas teorias, Wickens propõe a mais popular de todas. Ele afirmou que o sucessono desempenho de 2 ou mais tarefas simultaneamente, depende se essas tarefas solicitam nossaatenção a partir de um recurso comum (p.e. visão) ou de recursos diferentes ( membros inferiorese códigos verbais). Nesse caso, quando as tarefas requisitarem o mesmo recurso simultaneamenteà performance,estará prejudicadas (Magill, 1998)

2.2.5 Atenção como uma habilidadeMoran (1999) propõe compreender a atenção como uma habilidade que pode ser

desenvolvida e aprimorada com a prática. Segundo ele: “... há um forte apoio para a idéia de que aprática de uma dada tarefa tende a reduzir a quantidade de recursos cognitivos que ela requer”(p.58).

Na proposta de Moran, a principal mudança é que a prática no que diz respeito àdireção (foco) da atenção em conjunto com o nível de habilidade do praticante reduz o esforçomental para executar determinada tarefa, o que implica num redimensionamento da intensidade dopotencial de atenção.

No que diz respeito à mensuração da atenção, Moran (1999) destaca as técnicasde mensuração psicológica (eletroencefalograma, freqüência cardíaca e os eventos relacionados

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ao potencial cortical), mensuração experimental pelo paradigma da tarefa dupla, aqueles relaciona-dos ao auto-relato (medidas psicométricas) e o teste escalar denominado “Teste do estilo atencionale interpessoal” proposto por Nideffer.

2.3 Os Estágios de Aprendizagem e a Relação com a Demanda de AtençãoPartindo da abordagem proposta por Moran (1999) quanto à participação da aten-

ção na aprendizagem de habilidades motoras destacamos, a seguir, os estágios de aprendizagempelos quais todos que iniciam a prática de novas habilidades motoras transitarão desde seu iníciocom uma performance insatisfatória até o momento em que adquirem um nível (padrão) surpreen-dentemente bom após um determinado tempo de prática.

Entre esses estágios podemos destacar:

Tabela 1: Características gerais dos Estágios de aprendizagem

É importante ressaltar que a velocidade na transição de um estágio para o outro sedá na presença de alguns fatores como: Tempo de prática (quantidade); Participação do professor/técnico quanto à orientação e motivação; Experiência anterior; Solicitação da demanda dos recur-sos e estratégias cognitivas; atenção, capacidade para armazenar e recuperar informações namemória; Resultados obtidos - sucesso/fracasso; prazer/obrigação.

2.4 ConcentraçãoA compreensão de conceitos ou temas aplicados nos construtos, processos, meca-

nismos ou eventos de ordem cognitiva referentes à concentração não tem sido uma tarefa fácil,nem mesmo conclusiva. Aliás, tal afirmação é logo identificada por Moran (1999).

Segundo o autor, muitos psicólogos do esporte usaram os termos “atenção” e “con-centração” intercambiavelmente. Schimidt e Peper (apud MORAN, 1999) definem concentraçãocomo a capacidade que alguém tem para focar a atenção na tarefa e não ser perturbado porestímulos irrelevantes dentro ou fora da tarefa.

Cox (apud MORAN, 1999) afirma que a capacidade para atender seletivamente oestímulo apropriado é crítica na maioria das situações atléticas. O sucesso do atleta é dependenteda capacidade de selecionar a atenção.

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Jackson & Csikszentmihalyi (1999) destacam a concentração como uma das di-mensões básicas do estado de fluxo. Segundo eles, aprender a excluir os pensamentos irrelevantesda consciência e estar sintonizado com a tarefa a ser executada é um sinal de uma mente discipli-nada. Direcionar o foco para a atividade presente é a condição essencial para que a experiência dofluir possa acontecer. E isso significa:“Cada vez que eu piso numa quadra de basquete, eu nuncasei o que acontecerá. Eu vivo o momento. Eu jogo para o momento” (MICHEL JORDAN INJACKSON & CSIKSZENTMIHALYI, 1999, p. 119).

Nesse sentido, os autores ainda propõem que dirigir o foco atencional para a tarefaauxilia no seu envolvimento com a atividade. Participar a direção da atenção em diferentes situa-ções ou caminhos é viável para desenvolver a sua habilidade em focar a atenção sob diferentescircunstâncias e imprevistos, fatos que sempre ocorrem nas situações de competição.

Qual foco utilizar?Um outro aspecto da atenção, o tipo de foco utilizado, é de suma importância para

o processamento seja adequado e eficiente (quadro 1). Para Cervelló (1999) pode-se identificarquatro tipos de focos: amplo interno, amplo externo, estreito interno e estreito externo.

Quando um indivíduo mantém o primeiro tipo de foco ele é capaz de organizar eintegrar um grande número de pensamentos e percepções, é o estilo adequado para analisar eplanejar ações. O segundo estilo permite ao sujeito explorar, perceber e organizar um grandenúmero de estímulos externos, é o foco adequado frente a situações complexas e com um grandenível de informação. O terceiro tipo auxilia a pessoa a focalizar a atenção para uma determinadalinha de pensamento, e é adequada para solucionar problemas concretos ou para meditar. O últimoestilo atencional ajuda o indivíduo a focalizar a atenção para uma atividade mais ou menos comple-xa evitando as distrações, com o objetivo de realizar uma determinada ação, e é adequado para umgrande número de esportes.

A amplitude do foco faz referência à quantidade de estímulos aos quais o atletadeve prestar atenção a cada instante. Sendo que o foco amplo está relacionado com um grandenúmero de estímulo e o foco estreito com apenas um ou dois estímulos mais importantes. Já adireção do foco faz referência a dirigir a atenção para aspectos externos ou internos do indivíduo.Uma pesquisa realizada na Espanha por Solanellas, Font & Rodríguez (1996) com jogadores detênis sobre estilos atencionais (215 tenistas do sexo masculino e 215 do sexo feminino, com idadesvariando de 12 a idade adulta), os autores utilizaram uma versão adaptada do teste TAIS de Nideffer(1976), que mostrou que a grande maioria dos jogadores usava um foco estreito durante os jogos(83.85%). Já em relação à direção do foco, os resultados mostraram uma predominância do focoexterno (64.60%), porém com uma diferença significativa entre sexo masculino (58.8%) e femini-no (71.1%).

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Quadro 1. Quatro diferentes tipos de foco de atenção (adaptado de Murray, 2002)

Diversos autores realizaram pesquisas relacionando o tipo de foco de atenção e odesempenho, entre os quais destacam-se Robazza, Bortoli & Nougier (1998) que trabalharam comatletas de alto nível, do sexo feminino, da seleção italiana da modalidade de arco e flecha; Radlo,Steinberg, Singer, Barba & Melnikov (2002) com indivíduos que deviam lançar dardos tentandoacertar num alvo na parede, os sujeitos eram divididos em dois grupos, um com foco interno e outrocom foco externo; Shea & Wulf (1999) avaliou a influência sobre a aprendizagem da atenção numfoco externo ou interno e do feedback de foco externo ou interno. Wulf, McConnel, Gärtner &Schwarz (2002) realizaram um estudo com dois experimentos realizados no campo, um com volei-bol e outro com futebol. Os resultados desses estudos indicam que o uso do foco de atençãoexterno, em atividades “fechadas” (saque no tênis), está relacionado com um melhor desempenhonas tarefas executadas pelos sujeitos.

3. CONCLUSÃO

Os resultados encontrados neste estudo de revisão indicam que há uma estreitarelação entre atenção e concentração com a aprendizagem de uma habilidade motora no futebol.

Destacou-se neste estudo a relação entre atenção e aprendizagem motora, deforma a evidenciar a importância das fases de aprendizagem e eficiência motora.

Apesar de jogadores terem uma competência conhecida, algumas vezes nos mei-os desportivos, com freqüência, é ressaltada por parte de vários agentes desportivos que perderamum jogo “porque a equipe se desconcentrou”, a verdade é que existem algumas dificuldades emconcretizar claramente os métodos e estratégias específicas para promover uma melhor atenção econcentração nos atletas.

Entendendo-se a atenção como o processo de pensamento que dirige e mantém oconhecimento acerca das experiências sensoriais, ela envolve três competências básicas: (a) acapacidade para selecionar as informações relevantes a prestar atenção, sendo importante que oatleta, em função daquilo que tem de fazer, saiba centrar-se apenas nas dicas relevantes dessatarefa; (b) a capacidade para alterar o foco atencional sempre que acontecem modificações nassituações de competição, ou seja, conseguir prestar atenção a estímulos diferentes sempre queocorram alterações no meio; e (c) a capacidade para manter a atenção e concentração durante otempo suficiente para executar a tarefa, não cometendo erros devido a “distrações”.

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Deste modo selecionamos algumas normas e princípios do treino da atenção econcentração (ADAPTADO DE BUMP, 1989; HARDY, JONES, & GOULD,1996;MORAN,1996; VIANA, 1996,):

1. simulações das situações reais de competição, devendo os treinadores procura-rem recriar nos treinos o máximo de semelhanças com as tarefas que os atletas têm mais dificul-dades em enfrentar e gerir corretamente nos jogos, possibilitando-lhes assim “habituarem-se” alidar com esses distrativos (ex: presença de público; mesmas condições físicas do recinto de jogo,etc.);

2. utilização de planos mentais e palavras-chave, os atletas são ensinados a adap-tar um conjunto de rotinas de pensamento e de comportamentos apropriados às tarefas a realizardurante as competições;

3. focalização no processo de execução e não apenas no seu resultado, ou seja, osatletas devem ser encorajados a pensar naquilo que têm de fazer para executar bem uma determi-nada tarefa, e não somente no resultado final dessa execução, em termo de ganhar ou perder;

4. ensinar aos atletas as “dicas” ou aspectos das tarefas e/ou situações competiti-vas a que têm de prestar atenção e como devem reagir perante situações novas ou negativas,utilizando os treinos como o melhor contexto para começarem a automatizar esses aspectos;

5. definir com os atletas um conjunto de pensamentos e comportamentos que de-vem ser efetuadas antes da execução de uma determinada tarefa ou gesto motor, de forma amelhor realizarem essa competência;

6. procurar conscientizar o atleta acerca dos efeitos negativos de ele atuar comoum “juiz” de si próprio em situações de insucesso durante as competições (ex.: “sou um fracasso”),incentivando-o a aprender e a desenvolver rotinas de avaliação e de correção dos erros cometidospara recuperar mais rapidamente a concentração.

Após uma boa quantidade de prática, as crianças podem aprender a executar opasse correto no futebol, porém o professor poderá facilitar a aprendizagem e quem sabe, diminuiro tempo necessário para chegar ao movimento ideal, utilizando-se de dicas que direcionem a aten-ção e facilitem a aprendizagem de uma habilidade motora.

4. REFERÊNCIAS

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Atenção e Concentração: Inter-Relações com a Aprendizagem e Performance de Habilidades Motoras no Futebol

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NÚCLEO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

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INTEGRATIVE COUPLE THERAPY: UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃOCOM CASAIS NA TERAPIA ANALÍTICA COMPORTAMENTAL

INTEGRATIVE COUPLE THERAPY: A PROPOSAL OF INTERVENTION WITH COUPLES INANALYTICAL BEHAVIOR THERAPY

Jacqueline Franciele Asse*Marcos Roberto Garcia**

RESUMO:Muitas abordagens teóricas da Psicologia trazem uma literatura extensa sobre a terapia com ca-sais, porém não acontece o mesmo dentro da teoria da Análise do Comportamento Aplicada. Oobjetivo deste trabalho foi de apresentar a proposta terapêutica da “Integrative Couple Therapy:Promoting Acceptance and Change” de Jacobson e Christensen (1996) em detrimento a propos-ta da Terapia Comportamental de Casal. Este trabalho tem o formato de uma pesquisa teórica, epor isso o procedimento adotado foi a utilização de livros, periódicos e dissertações encontradosem bibliotecas e também em sites de pesquisa. A diferença entre as propostas de intervenção estános objetivos iniciais. A terapia comportamental de casal volta-se para a modificação do compor-tamento na vida cotidiana do casal em detrimento a queixa trazida pelos cônjuges, enquanto que aIntegrative Couple Therapy busca analisar a relação terapêutica trazida pelo casal e a partir dissocriar um contexto no qual os cônjuges podem explorar um ao outro pela aceitação e mudança.Durante a realização deste trabalho pode-se verificar que a proposta de Jacobson e Christensen(1996) pode ser utilizada conjuntamente com a Terapia de Aceitação e Compromisso prospostapor Hayes (1987) e a Psicoterapia Analítica Funcional de Kohlenberg e Tsai (2001).

PALAVRAS-CHAVES: Terapia comportamental, Psicoterapia analítico funcional, Terapia de acei-tação e compromisso.

ABSTRACT:Several theoretical approaches of Psychology bring an extended literature about couple therapy,however, the same doesn’t happen inside the theory of Behaviour Applied Analysis. The aim of thiswork was to present a therapeutics proposal of the Integrative Couple Therapy: PromotingAcceptance and Change, from Jacobson and Christensen (1996) in detriment to the proposal ofBehaviour of Couple Therapy. This work has the format of a theoretical research, and because ofthis the adopted procedure was the utilization of books, periodical and dissertations founded inlibrary and searched in web sites also. The difference between the proposals of intervention is inthe initial objectives. The behaviour of couple therapy is turned to the modification of the behaviourof the daily life of the couple in detriment of the complaint brought by the partners, while theIntegrative Couple Therapy research to analysis the therapeutics relationship brought by the coupleand from that to create a context in which the partners can explore one another by the acceptanceand change. During the realization of this work it was able to verify that the proposal of Jacobsonand Christensen (1996) can be used in conjunction with the Acceptance and Commitment Therapyproposed by Haves (1987) and the Functional Analytical Psychotherapy from Kohlenberg andTsai (2001).

KEY-WORDS: behavior therapy,funcional analytic, psychotherapy acceptance and commitmenttherapy.

* Psicóloga, discente do Curso de Especialização de Análise do Comportamento Aplicada de 2007 da UniFil.** Docente e Coordenador do Curso de Especialização em Psicologia: Análise do Comportamento aplicada da UniFile-mail:[email protected]

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1. INTRODUÇÃO

Segundo Pavan (1982), a terapia comportamental de casal é a utilização de técni-cas com a finalidade de modificar o relacionamento de casais desajustados. Ela, além de trabalharcom o casal, enfatiza o trabalho com cada cônjuge individualmente, levando em conta a relaçãoconjugal na vida comum. Com isto, o objetivo é que no cotidiano, cada cônjuge mantenha seusdireitos e liberdades, formando uma união harmônica.

A terapia comportamental de casal auxilia os cônjuges a descobrir formas dassuas necessidades serem satisfeitas. Contudo, se todos os meios terapêuticos forem usados semefeitos positivos, é preferível ajudar o casal a aceitar a separação, dando-lhes apoio, para que anova adaptação traga menos traumas.

A terapia comportamental de casal utiliza-se de técnicas para eliminação de com-portamentos não adaptativos por outros mais adequados. Essas transformações ocorrem no dia-a-dia, na relação interpessoal.

Para Pavan (1982), a grande maioria dos casais, quando procura terapia, já apre-senta em seu repertório comportamentos inadequados, fixados e generalizados, sendo os maiscomuns o irritamento mútuo, o excesso de punição e a falta de reforçamento por comportamentodesejado, levando a um sentimento de rejeição. A falta de interação entre o casal também é umacaracterística marcante, no qual ambos isolam-se e não se comunicam.

Segundo Jacobson e Christensen (1996), a terapia comportamental para casaisrealiza treinamento de comunicação e resolução de problemas como técnicas de modificação decomportamento. Para eles, o ideal para a da terapia comportamental de casal é que ambos oscônjuges sejam jovens, com promessa de ficarem juntos, emocionalmente engajados e que tenhamas mesmas definições do que é um bom relacionamento. Os casais passam a conceituar seusproblemas em termos de déficits em comunicação e mudança de comportamento. Porém, é raroeste ideal ser alcançado. Quando o comprometimento de um ou de ambos for baixo, não houvercolaboração ou o modelo não se enquadrar na ideologia do casal, a terapia comportamental decasal não cumpre seu papel.

O objetivo da terapia comportamental de casal, nestes casos, é discriminar osestímulos responsáveis por comportamentos inadequados para eliminá-los, e ensinar ao casal nãoreforçar comportamentos mal adaptivos e a consequenciar comportamentos desejados.

2. TERAPIA DE CASAL INTEGRATIVA (INTEGRATIVE COUPLE THERAPY)

O trabalho da abordagem integrativa é criar condições para que o casal decida porsi mesmo se o relacionamento tem ou não futuro viável através da criação de uma atmosferaterapêutica, na qual os cônjuges podem explorar um ao outro pela aceitação e mudança, ambospropostas pela Terapia de Casal Integrativa (ICT).

Para Jacobson e Christensen (1996), a Terapia de Casal Tradicional tem umalimitação significativa em relação à modificação de comportamentos governados por regras e emrelação à incompatibilidade entre o casal. Para isso, a melhor alternativa é o trabalho de aceitaçãoda ICT, o que significa o distanciamento da terapia comportamental de casal.

O trabalho de aceitação auxilia os casais a se amarem na diferença e não apenasquando são compatíveis. Ela é realizada quando ambos não vêem as diferenças como um caminho

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construtivo e apresenta dois componentes: a tentativa em converter os problemas para a intimidadee compreender para negociar com incompatibilidades e problemas indissolúveis.

O procedimento utilizado para promover a aceitação envolve primeiramente queos cônjuges identifiquem que as diferenças entre si são intoleráveis. Depois eles permitem que oesforço remodele seu companheiro (a) com a imagem idealizada de marido ou esposa, e a seguirpassam a tolerar melhor os comportamentos que eles não gostam um no outro ao invés de preferirque os comportamentos indesejáveis desapareçam. A intervenção de aceitação pode ajudar oscasais de três formas: gerando intimidade com a área de conflito, gerando tolerância e mudança.

Na promoção da aceitação, conflitos são transformados em veículos de intimida-de. São invocadas técnicas de tolerância pelo terapeuta como meio de neutralizar o impacto docomportamento negativo dos cônjuges e de bloquear esquivas. Entretanto, mesmo com essas téc-nicas de tolerância, os clientes gostariam que os conflitos não existissem, que o comportamentonegativo não fosse evocado e que o comportamento positivo ocorresse com mais freqüência.

Jacobson e Christensen (1996) colocam que mesmo quando estas técnicas sãoinvocadas pelo terapeuta, o objetivo é neutralizar o impacto do comportamento negativo no parcei-ro. Então,

A diferença básica entre aceitação focada na intimidade e estratégias detolerância é que no primeiro caso conflitos contribuem para o crescimento edesenvolvimento do relacionamento, enquanto no último os conflitos sãoainda indesejáveis, mas são mais aceitáveis do que foram no início da terapia(JACOBSON E CHRISTENSEN, 1996, P.93)

Como o trabalho do terapeuta é ensinar os cônjuges a considerarem a diferençaentre eles apenas como diferenças e não como defeitos, a descrever ao invés de avaliar e validarao invés de invalidar o comportamento do outro, é proposto aos casais tarefas de pensar sobre ascaracterísticas do parceiro, sobre quais comportamentos passou a aceitar com o decorrer do tem-po e sobre o que acha que não poderia aceitar.

Outra proposta de intervenção é a promoção de mudança de comportamento,partindo de um problema formulado pelo casal, pela negociação da solução e pela implementaçãode um acordo de mudança. Este acordo se transforma em uma regra. O terapeuta mantém a regra,mas espera que o casal mantenha o acordo para que ocorra um tipo de reforço natural ocorra comuma interação mais harmoniosa.

Embora os cônjuges procurem ver as mudanças como espontâneas, elas são algomais, elas são produtos de mudanças no relacionamento funcional entre os comportamentos dosdois e na história de aprendizagem do casal, produzidos por eventos dentro e entre as sessões deterapia. Somente algumas vezes as intervenções de mudança da Terapia de Casal Tradicional sefazem necessárias na ICT.

A terapia de Casal Tradicional é utilizada quando a mudança não ocorreu com otrabalho de aceitação ou quando promove o aumento da aceitação no relacionamento, todaviasem produção de mudanças. Contudo, a mudança de comportamento é realizada mais facilmen-te quando há contexto de colaboração, que pode estar em si mesmo ou ser produzido por aceita-ção emocional.

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Então, a Terapia de Casal Integrativa tem como objetivo proporcionar um contextofavorável para a expressão da dor sem culpa, e esta expressão é recebida pelo outro de formafavorável. Por isso faz-se importante a promoção de aceitação e mudança de comportamentos.

Jacobson e Christensen (1996), apresentam o procedimento para se chegar à acei-tação e à mudança. Eles denominam tal procedimento como sendo “elaboração da formulação”pelo terapeuta. Essa formulação consiste em três componentes a serem incorporados pelo casal:um tema, um processo de polarização e uma armadilha mútua.

1. O tema descreve o conflito primário do casal. É visto como um identificador dafunção do comportamento no conflito. Para Jacobson e Christensen (1996), os comportamentossão mantidos pelo contexto, quando o comportamento muda o contexto também se modifica. Quandoum dos parceiros modifica seu comportamento, o comportamento do outro também muda comoconseqüência. Então, a função de identificar o tema é que ele ajuda a focalizar os comportamentosa serem modificados e generalizados em outras áreas do relacionamento. Esse trabalho de modifi-car o contexto conflituoso é feito pelo trabalho de aceitação e intervenções de mudança.

Para Jacobson e Christensen (1996), o tema intimidade distante1 é o mais comumentre os casais, no qual um dos cônjuges, normalmente a mulher, exige mais tempo junto, maisconversas íntimas ou atividades sexuais com carinho e afeto antes da relação. Normalmente ostemas não variam, eles fixam-se nas diferenças entre os cônjuges. Cada um tem um ideal derelacionamento e essas diferenças transformam-se em incompatibilidades e como conseqüência,em busca de alternativas para a sua resolução de diferentes formas.

2. O processo de polarização é descrito como um processo destrutivo de interaçãopresente nos conflitos. Segundo Jacobson e Christensen (1996) quando um dos parceiros experi-menta o comportamento negativo do outro, a reação natural é tentar modificar tal comportamento.Normalmente, casais que procuram terapia são mal-sucedidos nesta tarefa. Terapeutas do com-portamento assumem que o fracasso na mudança é devido à deficiência na comunicação e confli-tos nas habilidades para resolução de problemas, já que cada esforço para mudança vai contra osesforços do outro em manter as diferenças.

Para Jacobson e Christensen (1996) colocam que através da polarização o relaci-onamento ruim transforma as diferenças em deficiências, fazendo parecerem maiores do querealmente são. Isso acarreta o desaparecimento de reforçadores positivos anteriores. Como con-seqüência, maximiza-se o valor do reforçador negativo.

3. A armadilha mútua, situação em que o casal se encontra como conseqüênciado processo de polarização, de não saber lidar com as diferenças, o que pode levá-los a umaseparação.

Para os autores, o principal objetivo da Terapia de Casal Integrativa é que oscasais adotem a “elaboração da formulação”, para que se transformem transformando durante otratamento, mas é preciso se manter sempre como uma organização para o casal, levando-os a selivrarem de suas culpas, comportamentos de acusação e devem permitir a si mesmos e ao outro aaceitação e a mudança.

1Intimidade distante é uma relação conflituosa entre duas pessoas, no qual uma busca mais intimidade e a outra sente-se maisconfortável com a distância estabelecida.

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A “elaboração da formulação” fornece um princípio de organização tanto para oterapeuta quanto para os clientes, ajudando a apoiar os casais durante os conflitos ou durante assessões. Ela fornece um vocabulário que os casais possam usar para se unirem contra seus proble-mas e para criarem distância entre eles e seus problemas. Com o passar do tempo, o terapeutaespera que eles reconheçam a polarização como ela ocorre e identifiquem conflitos particularescomo exemplos de seus temas.

A formulação é elaborada através de uma estrutura de avaliação particular e éinformada aos casais através de uma sessão de feedback.

O terapeuta, segundo Jacobson e Christensen (1996), também passa a ser umafonte de análise. Os autores destacam as habilidades do terapeuta, como sendo uma delas - acapacidade de usar o humor, pois isto forma um contraponto, encorajando o casal a levar seusproblemas com menos seriedade para que possam aceitar melhor um ao outro, o que acaba sendouma forma de criar um ambiente terapêutico ameno de estimulações aversivas.

O terapeuta deve estar consciente não apenas do que o cliente diz, mas tambémda sua expressão facial e corporal para auxiliá-lo a determinar o curso do tratamento. Ele devedesenvolver a habilidade para encontrar compaixão e simpatia em cada história pessoal, mesmoque o cônjuge esteja apresentando comportamentos de antipatia e desprezo.

Na ICT, segundo Jacobson e Christensen (1996), o terapeuta busca desenvolvercomportamentos de empatia e compaixão através de discussões abertas sobre todas as causas deconflitos. Ele busca modelar comportamentos como se comunicar, como se comportar sem punir ooutro (posturas não culpáveis), assim como avaliar comportamentos que não foram realizados.

3. ANÁLISE E DISCUSSÃO

Como a Terapia Comportamental de Casal só pode ser utilizada em casais que sãocapazes e estão dispostos a mudar, quando estes se deparam com problemas insolúveis e diferen-ças irreconciliáveis, a Terapia Comportamental de Casal não dispõe de técnicas para a mudançadestes problemas. Requisitos que não são necessários na Terapia de Casal Integrativa (ICT) coma proposta de aceitação.

Aceitação envolve mudança de reações emocionais para o comportamento emudança no valor do estímulo. Além dela, como já visto, a ICT também realiza mudança de com-portamento que envolve aumento ou diminuição na freqüência ou intensidade do comportamentoevocado. Com isto, a ICT utiliza estas duas estratégias que são intimamente relacionadas, poismudando o valor que o estímulo tem para o parceiro, seu comportamento modifica-se conseqüen-temente. Em razão disto, estratégias de aceitação fazem-se necessárias como primeiro recurso naTerapia de Casal Integrativa.

Como a ICT objetiva promover a aceitação de comportamentos e estados priva-dos tanto da própria pessoa como do seu parceiro, ela leva-os a mudarem o foco do tema(discrimina a função do comportamento no conflito) para o processo de polarização (processodestrutivo de relacionamento), para que ambos percebam a forma negativa com que se relacio-nam. Jacobson e Christensen (1996) dizem que o importante não é o parceiro entender que ooutro se sente aprisionado, mas experienciar a sensação dele. Esta experiência leva à maiorintimidade e proximidade.

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Além de o terapeuta ensinar os parceiros a reconhecerem o processo de polariza-ção, deve também ensiná-los a formularem e descreverem suas histórias de vida deve evitar queocorram conflitos, não permitir linguagem raivosa e acusatória e utilizar linguagem familiar a docliente, justificando a necessidade de habilidades sutis por parte do terapeuta. Portanto, o trabalhode aceitação visa desenvolver no casal uma forma diferente de falar sobre os problemas, levandoo terapeuta, muitas vezes, a utilizar-se de metáforas (utilização de linguagem não literal) como naTerapia de Aceitação e Compromisso (ACT) proposta por Hayes (1987), para que o casal encareseus problemas de uma outra maneira e mude a forma de experienciar o que o outro fez ou disse.

A Terapia Comportamental de Casal é mais extensa em número de sessões do quea Terapia de Casal Integrativa, pois leva mais sessões para alcançar resultados positivos, além deapresentar maior número de casais com recaídas após o tratamento (JACOBSON ECHRISTENSEN, 1996). Como atualmente as pessoas buscam atendimento terapêutico com ur-gência em relação à alta no tratamento tanto por condições financeiras como por disponibilidade detempo, a ICT torna-se uma boa proposta de tratamento.

Quando a utilização de técnicas da Terapia Comportamental de casal produziremconflitos, o terapeuta deve retornar ao trabalho de aceitação. Já na ICT, quando há conflitos entreo casal, encontra-se a oportunidade ideal para o trabalho de aceitação, ainda mais quando o casalestá experimentando sofrimento em relação ao tema ou à polarização, como a grande maioria dosclientes apresenta quando buscam terapia.

A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) e a Terapia de Casal Integrativaassumem a própria responsabilidade com a mudança e aceitação de estados emocionais e experi-ências privadas, acarretando uma modificação do comportamento e, como conseqüência, umamudança de contingências, levando os parceiros a experienciarem novos reforçadores positivos ea aproximarem-se mais um do outro.

O terapeuta da ICT assemelha-se ao terapeuta da ACT, visto que ambos têmcomo objetivo promover a aceitação de eventos privados e de comportamentos para a promoçãode mudança, além do compromisso com o tratamento, tanto pela freqüência nas sessões, comopela realização de tarefas propostas.

Na ACT, a resistência é definida como sendo um comportamento do cliente deutilizar razões sociais para explicar seu comportamento. Na Terapia de Casal Integrativa, a resis-tência é definida como a dificuldade do terapeuta em lidar com a não realização de tarefas porparte do cliente. Isto demonstra que, para um trabalho completo, pode-se analisar a resistência deambos dentro da sessão, buscando na relação terapêutica a responsabilidade de cada um. Nestemomento, a Psicoterapia Analítica Funcional (FAP) de Kohlenberg e Tsai (2001) pode auxiliar oterapeuta da ICT a formular o tema através da observação dos CRB1 (Comportamentos Clinica-mente Relevantes) apresentados na sessão, visto que os comportamentos dos parceiros, um emrelação ao outro são grandes fontes para a análise funcional, ou seja, para o tema. Como a FAPenfatiza os efeitos dos relacionamentos, ela pode aliar-se com a ICT no atendimento a casais.

Já na Terapia Comportamento de Casal, o comportamento do cônjuge é seleciona-do através de comportamentos a serem modificados, mesmo que os parceiros não estejam prepa-rados para a mudança.

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Jacqueline Franciele Asse e Marcos Roberto Garcia

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Apesar do objetivo principal da ICT ser equacionar o casal, é necessário tambémque cada um dos parceiros discrimine os comportamentos que influenciam no relacionamento, parapoder mantê-los ou mudá-los e aceitar algumas características do parceiro para que haja melhorano relacionamento.

4. REFERÊNCIAS

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TRABALHO EXPLORATÓRIO: o Brasil não Esquece e a Questão Permanece

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TRABALHO EXPLORATÓRIO: o Brasil não Esquece e a Questão PermaneceEXPLORER JOB: Brazil Doesn’t Forget and the Question Still Remains

Agnaldo Kupper*

RESUMO:As relações de trabalho no Brasil inserem-se nas relações do país com as suas questões históricase, portanto, com sua condição de dependência a nível internacional.Onze gerações separam o fimda escravidão e o início do trabalho moderno no âmbito do capitalismo brasileiro. Analisando todoesse período, a questão não se apresenta de forma animadora, embora tenhamos deixado de serum grande latifúndio produtor de recursos primários para estarmos situados entre os dez principaispaíses produtores industriais. Falta ao Brasil uma plena regulamentação nas relações do trabalho,o que permite fazer sobreviver, em pleno século XXI, o trabalho escravo, fruto de uma incorpora-ção social pífia e excludente.

PALAVRAS-CHAVE: trabalho; dependência; exploração; escravidão contemporânea.

ABSTRACT:The job relationships in Brazil are inserted with the relationships of the country with its historicalquestions and, thus, with its condition of dependence at an international level. Eleven generationsseparate the end of slave labor to the beginning of the modern job in the ambit of the Braziliancapitalism. Analyzing all this period, the question is not shown in an encouraged manner even so weare not anymore a big latifundium producer of primary resources to be placed between the top tencountries that are industrial producers. There is a lack in Brazil of a regulation in the job relationships,what may be able to survive, in full twenty first century, the slavery work, a result of a rough andexcluded social incorporation.

KEY-WORDS: work; dependence; exploration; slavery; contemporary.

RESUMEN:Las relaciones laborales en Brasil se inserta en las relaciones del país con sus cuestiones históricasy, por lo tanto, con su condición de dependencia a nivel internacional.Once generaciones separan eltérmino de la esclavitud y el ejercicio del trabajo en el ámbito del capitalismo brasileño. Analizandotodo este periodo, la situación no se presenta de una manera animadora, sin embargo hemos dejadode ser un gran latifundio como productor de recursos primarios para que estemos situados entre losdiez principales países de productos manufacturados. A Brasil le hace falta una reglamentación enlas relaciones laborales, lo que permite de cierto modo hacer sobrevivir, en pleno siglo XXI, eltrabajo esclavo, fruto de una incorporación social vil y excluyente.

PALABRAS-CLAVE: Trabajo; dependencia; exploración; esclavitud contemporánea.

* Professor de ensino superior, médio e de pré-vestibulares; autor de livros didáticos e paradidáticos; historiador; doutorando.

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Agnaldo Kupper

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1. O VALOR DO TRABALHO

Historicamente, a palavra trabalho sempre esteve vinculada a uma visão negativa.A começar com Adão e Eva; o primeiro, punido com o trabalho; a segunda, a realizar o “trabalho departo”.

Na sociedade greco-romana, não se via o trabalho como o vemos hoje, ou melhor,não se organizava o trabalho como o fazemos em nossas sociedades contemporâneas, distinguin-do-o em três concepções: práxis (trabalho voltado para a política, ou seja, vida pública), o labor(voltado para a sobrevivência do corpo) e o poesis (trabalho de criar, a partir das transformaçõesdas matérias fornecidas pela natureza). Apesar de instrumentos do senhor, os escravos, base daprodução greco-romana, eram, em geral, encarados como os assalariados dos nossos dias atuais. Aluta dos escravos da antiguidade clássica era pela alforria, mesmo que não ganhassem a condiçãode cidadãos. Para os gregos, o trabalho era visto como um negócio (negottium = que nega o ócio).Para os romanos, o termo trabalho provém do latim tripollium, aparelho de tortura utilizado paraatar condenados ou animais difíceis de ferrar. Podemos, para ilustrar, remetermo-nos a Platão: “otrabalho atenta contra a nobreza”.

Na Alta Idade Média européia (V ao XI), assistimos à dominação das mentalida-des pela Igreja, justificadora da sociedade tripartite estruturada: uns oram e rezam (clero), outrosguerreiam e protegem (nobreza), outros trabalham (campesinato), atendendo às necessidade demanutenção da comunidade. Segundo a concepção feudal, o trabalho era uma maldição, não pos-suindo valor em si mesmo.

Nas sociedades tribais, as atividades vinculadas à produção também não possuemvalor em si, se separados de outras coisas, ou seja, tais atividades estão associadas aos ritos emitos, portanto, a toda a vida social.

Hegel (1770-1831), em sua obra “A Fenomenologia do Espírito”, teria sido o pri-meiro grande teórico a valorizar a idéia do trabalho. Marx (1818-1883) criticou a visão otimista deHegel ao afirmar que “de nada adianta a liberdade reconquistada se o que o trabalhador revolto aomundo capitalista realiza não pertença a ele”. Claro, Marx valoriza o trabalho como a grandecapacidade humana, desde que o produto, oriundo da transformação, pertença ao trabalhador, aque Freud (1856-1939) satirizaria: “Marx erotizou a atividade do trabalho”. Paul Lafargue (1842-1911), contrariando Marx, afirmou ver o trabalho “a causa da degeneração intelectual”.

O trabalho, na visão que hoje dele possuímos, só foi valorizado no mundo modernoocidental, em especial com a internacionalização industrial dos séculos XIX e XX. Desde então, amaioria da população capitalista passou a preferir o ócio inteligente. Os próprios sindicatos detrabalhadores, na atualidade, lutam mais por salários do que pelo prazer nas atividades do trabalho.

Assim, desde os gregos, para quem o trabalho manual era considerado penoso,passando pelo sistema feudal (quando a Igreja considerava a atividade como resultado do pecadooriginal) a atividade do trabalho foi vista como algo dolorido. Entretanto, as mudanças ocorridasnas relações sociais passaram a valorizar a atividade como criadora de toda a riqueza, em que pesea apropriação da mesma por um seleto grupo possuidor dos meios de produção.

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2. A EVOLUÇÃO DO TRABALHO NO BRASIL

Ao desembarcarem no Brasil e apropriarem-se da terra, os lusos apropriaram-setambém dos que aqui viviam. O trabalho exploratório sobre nativos, que se inicia no Brasil noséculo XVI, foi ampliado com a introdução de africanos na condição escrava, uma vez que haveriaganhos abaixo do Equador (“onde Deus não vê”) também com o tráfico, além, é claro, da mão-de-obra que baratearia a produção açucareira introduzida.

Segundo Caio Prado Jr (1985), a escravidão imposta nas regiões americanas nãoteve precedentes na história da humanidade. No caso do Brasil, veio a cana, as atividadesmineradoras, o café, sempre utilizadores da mão-de-obra escrava negra.

Após o fim do tráfico de escravos em 1850, acompanhado pela Lei 601 (ou deTerras), iniciaram-se algumas experiências para o desenvolvimento da produção agrária com forçade trabalho livre, com incentivo à imigração européia. Este mecanismo não deixou de impor forçasexploratórias do trabalho, com o desenvolvimento do colonato. Esses mesmos imigrantes não fo-ram apenas utilizados com sua força de trabalho no café, mas também nas cidades, que prolifera-vam, sendo utilizados nas indústrias nascentes, num claro processo de exploração.

Em meio às condições de trabalho impostas ao imigrante urbano no Brasil, ostrabalhadores envolveram-se em movimentos que procuraram modificar a situação precária a elesimposta, passando pela estruturação de sindicatos e pelas manifestações de greve, como as queparalisaram a cidade de São Paulo em 1917. Agiu-se como sempre na primeira República (1889-1930): movimentos sociais tratados como caso de polícia, com prisões e expulsões de europeus eseus descendentes do país.

A partir de 1930, com a necessidade de organização do cenário nacional e danecessidade de tornar o país menos vulnerável às oscilações internacionais, procurou-se atentar àsnecessidades dos trabalhadores urbanos, introduzindo Getúlio Vargas uma política trabalhista queincluía o salário-mínimo (DECRETO-LEI 2.162 DE 1940), embora sua trajetória tenha niveladopor baixo todas as remunerações, beneficiando mais os empregadores do que os empregados, jáque chegou a rebaixar salários de quem ganhava mais do que o mínimo.

O que se viu a partir da introdução efetiva do salário-mínimo (julho de 1940), foi asua consolidação (entre 1940 e 1951), sua recuperação (de 1952 a 1964) e seu arrocho (de 1965até os nossos dias). Mesmo um presidente cuja trajetória fez-se na luta trabalhista (LUIS INÁCIOLULA DA SILVA) dá mostras da incapacidade de valorizá-lo, mantendo-o como referência. Nãose pode desconsiderar, no entanto, que a reorganização do movimento sindical a partir do final dadécada de 1970 (com destaque ao próprio Lula), e sua luta por negociações coletivas efetivas econtra o arrocho salarial, freou um pouco a queda da desvalorização dos salários.

A ausência de uma política trabalhista efetiva, assim como a sucessão de planoseconômicos (Cruzado, Bresser, Collor, Real), fez elevar o setor produtivo informal no país. Essesetor é formado por trabalhadores que desenvolvem suas funções por conta própria, o que vaidesde o comerciante ambulante à prestação de serviços pessoais (empregados domésticos, peque-nos consertos, entre outros). Esses trabalhadores, ditos informais, não aparecem nas estatísticasoficiais dos trabalhadores, o que caracteriza a luta pela manutenção em nossa sociedade e a sujei-ção a todo tipo de trabalho, seja de bóias-frias, seja de servis, seja de trabalhadores em condiçãoescrava. Mostra-se, assim, a trágica trajetória do trabalhador e do trabalho brasileiro.

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A presença do trabalho infantil no Brasil é gritante e mostra a condição acimacitada. A Organização Mundial do Trabalho1 , estima em mais de meio milhão o número de criançasentre 10 e 17 anos sendo exploradas no Brasil, em especial como trabalhadoras domésticas. Emsua maioria são meninas, que raramente recebem pagamento e muitas vezes sofrem desde agres-sões físicas e verbais até abuso sexual. Apesar de proibida, a exploração do trabalho infantil étolerada por governos como o do Brasil, talvez como uma alternativa à pobreza, em especial nasregiões menos desenvolvidas do país.

3. AS CONDIÇÕES GERAIS DO TRABALHO NO BRASILAs condições do trabalho no Brasil, historicamente, nunca foram das melhores.

Tais condições estão vinculadas à ausência de uma política consistente que diminua a distânciaentre os mais favorecidos economicamente e os mais pobres e ao desajuste costumaz da econo-mia tupiniquim. O “dumping social” mantém-se, gerando a impossibilidade de consumo impostaà maioria dos trabalhadores (contraditoriamente, consumo este cada vez mais estimulado).Talcondição exige grandes jornadas de trabalho aos empregados, a exploração do trabalho da mu-lher, o trabalho informal (estimulado pelas altas taxas e impostos trabalhistas em vigor) e a lutaárdua pela própria sobrevivência do brasileiro. Assim, permanece uma sociedade trabalhadorapouco estruturada no trabalho regular e regulamentado, que luta pela manutenção em uma estru-tura selvagem de capitalismo.

Analisando ampla pesquisa realizada pelo Jornal Folha de São Paulo2 em 2002,conclui-se que a maioria dos brasileiros não usufrui dos direitos sociais previstos em lei. Em núme-ros: 54% dos trabalhadores não desfrutam do 13º-salário; 55% não se beneficiam de férias remu-neradas; 81% não dispõem de plano de saúde; 39% dos ocupados trabalham acima de 8h/dia; 75%não são contemplados com vale-transporte e vale-refeição; 83% dos trabalhadores não são sindi-calizados; 46% não possuem carteira de trabalho; metade não tem tempo suficiente para o lazer.

O “exército de reserva” no Brasil, segundo dados admitidos pelo próprio Ministé-rio do Trabalho3 , chega à incrível marca de onze milhões de trabalhadores, o que confirma que, naluta pela sobrevivência, aceitam-se as piores condições possíveis de trabalho, incluindo aí o traba-lho em condição escrava e a exploração do trabalho infantil.

Ocupação principal - EM %

Fonte: Datafolha, Março de 2004.

1 Dados divulgados em 06/2002 pela OIT (Organização Internacional do Trabalho)2 Instituto de Pesquisas Datafolha, órgão do jornal de São Paulo, divulgada em 14/03/2002.3 Dados do Ministério do Trabalho, divulgados em maio de 2004.

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BRASILEIRO TRABALHA MAIS DO QUE 40 HORAS SEMANAIS - EM %

Fonte: Datafolha, Março de 2004.

Assiste-se no Brasil a uma bruta traição nos direitos trabalhistas entre os anos de1999 e 2003, quando analisados os últimos dados do DIEESE4 . Assim, em 1999, 54% dos trabalha-dores possuíam 13º salário; ao final de 2003, apenas 46%; se as férias remuneradas contemplavam50% dos trabalhadores, três anos mais tarde a taxa caiu para 45%; se 23% dos trabalhadorespossuíam auxílio saúde, em 2003 queda para 19%. Com estes números, parece-me, a aceitação dequalquer condição e processo de trabalho é bem-vinda, estando o trabalhador sujeito a todo tipo deexploração.

A situação mais lamentável é a do negro, mesmo após 116 anos do fim da escravi-dão. A cor da pele faz grande diferença: os empregados negros ganham 42% menos que a médiapaga ao trabalhador em geral; os classificados como pardos, 35% menos; os de origem oriental,33% mais5 .

4 DIEESE, Relatórios de 1999 a 2003.5 RAIS 2000 (Relação Anual de Informações Sociais).

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DISCRIMINAÇÃO SALARIAL CONTRA NEGROS NO BRASILABRANGE TODOS OS NÍVEIS DE ESCOLARIDADE

Fonte: Datafolha, Março de 2004, a partir de dados da Rais (Relação Anual de Informações Sociais)

Na continuação dos números, em mais uma clara traição à CLT, cerca de umterço dos trabalhadores amparados, atualmente, no país, costumam fazer horas-extras, mas ape-nas 40% deles recebem algum tipo de remuneração. Outros 31% não recebem qualquer tipo decompensação por trabalhar a mais, 14% são pagos “em folgas”.6

Na busca do trabalho, busca-se a dignidade, como bem proferem as ideologias nomundo capitalista. Na suposta busca do digno, sujeita-se ao indigno, ao vergonhoso, em um clarodesajuste, tão bem explorado pelos que da situação beneficiam-se.

6 DIEESE, Relatório parcial de 2004.

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4. AS RAÍZES QUE SUSTENTAM O TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL

O assassinato de três auditores fiscais do Trabalho, ligados ao Departamento Re-gional de Belo Horizonte, em 28 de janeiro de 2004, trouxe à tona a questão do trabalho escravoque persiste no Brasil, em que pese estarmos no século XXI. O objetivo dos fiscais mortos eravistoriar as condições de trabalho, remuneração e acomodação das pessoas atraídas para a colhei-ta de feijão na região de Unaí (Noroeste do Estado de MG). Provavelmente, ao traírem interesses,foram assassinados.

Antes deste fato, o presidente brasileiro Lula da Silva já havia lançado (março/2003) o Plano Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo, anunciando que o combate a estetipo de crime exploratório seria uma das prioridades do governo federal.

Mas por que este tipo de “modo de produção” persiste contrariando a ConstituiçãoFederal e o Decreto-Lei 2.848/40 do Código Penal?

Os primeiros registros de trabalho escravo nas condições praticadas atualmenteno Brasil apareceram na década de 70 do século passado, no período de expansão da fronteiraagrícola na região amazônica. A ocupação deu-se de forma desenfreada. Migrantes nordestinosforam aliciados para o trabalho nas fazendas em troca de comida, remédios e promessas de paga-mento. Claro, o trabalho escravo que vigorou no Brasil a partir de sua colonização pelos portugue-ses e que se estendeu até (oficialmente) 1888, era baseada em questões raciais. O contemporâneoé baseado em questões socioeconômicas, sendo caracterizado pela presença de seguranças arma-das, restrição do direito de ir e vir e sistemas de individualidade.

Nos Estados onde a escravidão persiste (Tocantins, Rondônia, Maranhão, Bahia,Pará e Mato Grosso – embora com denúncias da prática em São Paulo, Rio Grande do Sul e SantaCatarina), a prática aproxima-se da normalidade. Em 2002, segundo dados do Ministério do Traba-lho, fiscais libertaram 2.306 trabalhadores nas áreas rurais do país. Em 2003, 4.932. Ao que parece,são números insignificantes. A impunidade dos infratores parece ser o principal fator estimulantedo trabalho escravo neste princípio de milênio no Brasil. As ações que coíbam a prática não têmsuficiência. Estima-se entre 25 e 40 mil o número de brasileiros que trabalham em formas contem-porâneas de escravidão7 , especialmente em áreas rurais, os números podem ser maiores, já queem nosso país persiste a amplitude da exploração do trabalho infantil. Se assim, não é de se estra-nhar a presença do trabalho escravo. Pelo baixo custo econômico, estima-se que a escravidãocontemporânea atinja 200 mil pessoas no país (BALES, 2000).

Segundo Bales, no mundo há um número expressivo de seres humanos em situa-ção de escravização: 27 milhões. Estudiosos do tema afirmam que “não são números absolutos”,mas não deixam de apontar a prática também nos EUA, onde o tráfico de pessoas da AméricaLatina, Ásia, Leste europeu e África, persiste.

7 Dados do Comitê para Eliminação da Discriminação Racial e Comissão Pastoral da Terra.

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RANKING DE ACUSAÇÃONúmero de supostos escravos libertados

A escravidão contemporânea diferencia-se da escravidão colonial pelo custo doescravo. No passado, um escravo era mercadoria cara. Hoje, leva-se à escravidão por promessa,o que não significa um investimento. A ignorância sobre a escravidão moderna encoraja os quedela se aproveitam. Não é o caso específico do Brasil, mas também do Haiti, México, RepúblicaDominicana, Peru, Colômbia e Venezuela (para não sairmos da América).

No Brasil, o que parece facilitar a ação dos escravizadores é o fato de possuirgrandes áreas de fronteira, onde o Estado de Direito é desconhecido, onde a violência é usadacomo forma de obtenção de controle de vidas, em especial na Amazônia Legal. Outro fator: apobreza gritante, que faz pessoas submeterem-se a promessas de exploração. Outro: o desprezopermitido às próprias leis que regulamentam a questão do trabalho no país.

Não podemos estabelecer o critério da cor do indivíduo, mas pode-se afirmar queprevalece. Isto porque, como se sabe, negros possuem menos oportunidades sociais e econômicas,até pela herança que carregam.

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5. CONCLUSÃO

Por estar enraizada na sociedade capitalista globalizada a idéia do ganho e, portan-to, de exploração, e por ser o Brasil um país ainda marcado pelas chagas da escravidão oficial queperdurou até 1888, o trabalho forçado mantém-se.

Algumas medidas, no entanto, podem e devem ser tomadas. A título de propostas,citaria: a liberação de recursos para a composição de uma força-tarefa que tenha como objetivoextinguir a escravidão e o tráfico humano; punição exemplar aos que teimam em manter a escra-vidão contemporânea; grande trabalho divulgador, educacional e conscientizador, utilizando a gran-de mídia; punição severa à corrupção das forças de correção ao sistema exploratório de mão-de-obra, incluindo aí policiais e funcionários públicos; imposição de leis severas e rudes aos benefici-ados de tal tipo de exploração humana; maior preocupação social, em detrimento ao mercado, porparte das estruturas governamentais.

Não consigo visualizar o fim do trabalho escravo contemporâneo sem medidasduras, definidas e definitivas. Até porque, próprio do modo de produção capitalista, explorar estruturou-se como ação legítima e mantenedora. Mas até quando admitiremos os desequilíbrios gerados pelocapitalismo selvagem que se vê voltado contra toda a estrutura social?

6. REFERÊNCIAS

BALES, Kevin. Disposable People: New Slavery in the Global Economy. EUA, 2000.

KOWARICK, Lúcio. Trabalho e vadiagem: a origem do trabalho livre no Brasil. São Paulo:Brasiliense, 1987.

KUPPER, A; CHENSO, P.A. História Crítica do Brasil. São Paulo: FTD, 1998.

PRADO JR. Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Brasiliense, 1985.

PRANDI, J.R. O trabalhador por conta própria sob o capital. São Paulo: Símbolo, 1978.

SILVA, Zélia L. da. A domesticação dos trabalhadores nos anos 30. São Paulo: Marco Zero,1990.

NÚCLEO DE CIÊNCIAS SOCIAS APLICADAS

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* Alunas do 5°ano do curso de Psicologia da UNIFIL. Ligia Cristina Bitencourt. E-mail: [email protected], NayanaKathrin Tanaka. E-mail: [email protected]** Docente do curso de Psicologia da UNIFIL. Mestre pela PUC-SP em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento,com área de concentração em Gestão do Comportamento Organizacional. E-mail: [email protected]

COMUNICA-AÇÃO: O DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS NOMEIO ORGANIZACIONAL

COMUNIC – ACTIO: THE DEVELOPMENT OF THE SOCIAL SKILLS IN THE INSTITUTIONENVIRONMENT

Ligia Cristina Bitencourt *Nayana Kathrin Tanaka*Elen Gongora Moreira**

RESUMO:As organizações atuais além de visarem crescimento e lucro, também estão preocupadas nãosomente com o resultado, mas com o processo de obtenção desse objetivo. Em função disto oprocesso de desenvolvimento organizacional merece atenção especial, pois tem como base a mo-dificação dos comportamentos dos colaboradores que nela se inserem. Este artigo é o relato daexperiência de Estágio em Formação de Psicólogo lll vivenciada no Setor Financeiro de uma em-presa localizada na cidade de Londrina – PR. Após a realização do diagnóstico organizacionalconstatou-se que o principal problema do Setor estava relacionado com a deficiência na comunica-ção e dificuldade para negociar com os clientes. Sendo assim, a proposta do grupo de desenvolvi-mento de pessoas foi discutir com os colaboradores que atuavam na organização os problemas poreles vivenciados no ambiente de trabalho e desenvolver habilidades necessárias para facilitar aexecução do trabalho, tais como: agilidade na realização das tarefas; iniciativa para tomada dedecisão; apresentação de sugestões para resolução de problemas; e promover reflexões sobre aimportância da comunicação para o desenvolvimento do trabalho. Participaram do processo detreinamento e desenvolvimento vinte e um colaboradores, tendo sido realizados seis encontrossemanais, com duração de uma hora cada. Durante a intervenção foi observado que os colabora-dores tinham repertório necessário para cumprir suas funções, porém a estrutura do Setor permitiaque o Gerente passasse por cima da autoridade do colaborador o que prejudica o desenvolvimentode sua autonomia. Concluiu-se que a intervenção serviu para que os reais problemas da Instituiçãoviessem à tona, como uma complementação ao Diagnóstico Institucional realizado anteriormente.

PALAVRAS-CHAVES: Psicologia Organizacional, Treinamento & Desenvolvimento, Comunicação.

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ABSTRACT:The current organizations besides it seek growth and profit, it is also concerned not only with theresult, but with the process of obtaining of that objective. In function of this the process oforganizational development deserves special attention, because it has as base the modification ofthe collaborators’ behaviors that interfere in it. This article is the report of the experience ofApprenticeship in Formation of Psychologist III lived in the Financial Section of a located companyin the city of Londrina - PR. After the accomplishment of the organizational diagnosis it wasverified that the most serious problem of the Section was related with the deficiency in thecommunication and difficulty to negotiate with the customers, being like this, the proposal of thegroup of people’s development went to discuss with the collaborators that acted in the organizationthe problems for them lived in the work atmosphere and to develop necessary abilities to facilitatethe execution of the work, such as: agility in the accomplishment of the tasks; initiative for socketof decision; presentation of suggestions for resolution of problems; and to promote reflections onthe importance of the communication for the development of the work. They participated in thetraining process and development twenty-one collaborators, having been accomplished six weeklyencounters, with duration of one hour each. During the intervention it was observed that thecollaborators had necessary repertoire to accomplish their functions, however the structure of theSection allowed the Manager to pass over the collaborator’s authority that he harms the developmentof his autonomy. It was ended that the intervention served so that the real problems of the institutioncame to the surface, as a complementation to the institutional Diagnosis accomplished previously.

KEY-WORD: Organizational Psychology, Training & Development, Communication

1. INTRODUÇÃO

O Desenvolvimento Organizacional é um conjunto de técnicas que ajuda as orga-nizações a melhorarem a comunicação organizacional, a qualidade de vida no trabalho e a produti-vidade. Além dos fatores citados anteriormente, programas de Desenvolvimento Organizacionaltêm por objetivo modificar os comportamentos dos colaboradores para que estes interajam melhorcom seus colegas de trabalho e por conseqüência acabem se comportando de forma mais produti-va no trabalho (SPECTOR, 2004).

Para que haja uma mudança organizacional é importante que o comportamentodas pessoas também se modifique. E é justamente por auxiliar os processos de mudança dentro deuma empresa que os programas de desenvolvimento de pessoas são considerados tão importantes,tanto para a empresa quanto para os colaboradores que passam pelo processo de desenvolvimentode alguma competência, seja uma competência técnica ou humana (GIL, 1994).

De acordo com Morin (2001) a empresa consegue por intermédio do processo dedesenvolvimento de pessoas, colaboradores mais satisfeitos no trabalho e por conseqüência maiscomprometidos com suas funções. Por isto, desenvolver pessoas está intimamente ligado à educa-ção, ou seja, ao desenvolvimento das potencialidades do colaborador. Pode-se dizer que o processode educação favorece a aquisição de um novo repertório comportamental favorecendo a um de-sempenho mais adequado.

Este trabalho foi fruto do estágio em Formação de Psicólogo lll realizado no setorFinanceiro de uma empresa e teve por objetivo o desenvolvimento pessoal e profissional dos cola-boradores. Inicialmente a queixa trazida pelo gerente do setor financeiro da empresa estava rela-cionada à falta de comprometimento e de autonomia dos colaboradores em seu trabalho. O setor

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em questão estava passando por transformações como, por exemplo, a descentralização do setor.A partir da realização do diagnóstico organizacional constatou-se que 75% dos colaboradores queatuavam no setor Financeiro estavam contratadas há apenas um ano ou menos e não tinha todas ashabilidades necessárias para desempenharem suas funções, como, por exemplo, responder a dúvi-das simples dos clientes. Essa falta de habilidades por parte dos colaboradores acarretava porsobrecarregar o gerente, que muitas vezes tinha que resolver pequenas tarefas de outros colabora-dores, como caso de como negociar dividendos dos alunos que era função do setor de cobrança1 .

Os resultados do diagnóstico organizacional mostraram que, devido ao fato doscolaboradores serem novos na empresa (75% estava há menos de um ano no cargo) e não teremconhecimento sobre o funcionamento da Instituição como um todo acabavam ocorrendo falhas noprocesso de comunicação entre os setores da Instituição e entre os colaboradores do próprio setorFinanceiro.

A dinâmica do trabalho dos colaboradores do setor Financeiro era deficitária, poisocorria re-trabalho, atraso na realização das tarefas e irritabilidade dos clientes. O diagnósticotambém indicou a necessidade de um trabalho que abordasse o tema negociação, pois ao que tudoindicava os colaboradores estavam com dificuldades em lidar com as situações que exigiam habi-lidades de persuasão e negociação com os clientes.

Algumas outras questões também foram investigadas no diagnóstico organizacionale serviram de apoio para o trabalho de treinamento e desenvolvimento realizado no setor Financei-ro. As questões observadas foram: 1) o nível de satisfação dos colaboradores em relação à exis-tência de um Plano de Cargos, Carreiras e Salários (PCCS) foi considerado baixo (20% dos cola-boradores estava satisfeito com este item); 2) baixa oportunidade (10% dos colaboradores consi-deravam-se muito satisfeitos) para participação dos colaboradores que atuam na Organização emprogramas de treinamento e desenvolvimento; 3) segundo a opinião dos colaboradores, não haviareconhecimento profissional por parte da Instituição. 4) o grau de satisfação apresentado comrelação à perspectiva de crescimento profissional também foi considerado baixo (40%); 5) o nívelde satisfação quanto aos critérios para promoção interna foi avaliado como sendo insatisfatóriopara 65% dos colaboradores e 6) por fim, a maioria (55%) dos colaboradores percebiam que aInstituição utilizava mal o potencial dos colaboradores no trabalho.

Analisando os resultados obtidos com o diagnóstico organizacional foi proposto àInstituição a realização de um programa de desenvolvimento de pessoas para os colaboradores dosetor com o objetivo de trabalhar as experiências relacionadas ao cargo, mas que também propor-cionasse oportunidades para o crescimento e desenvolvimento profissional.

A proposta do grupo de desenvolvimento de pessoas foi a de discutir com os cola-boradores os problemas por eles vivenciados no ambiente de trabalho e desenvolver habilidadesnecessárias para facilitar a execução do trabalho, tais como: agilidade na realização das tarefas;iniciativa para tomada de decisão; apresentação de sugestões para resolução de problemas; epromover reflexões sobre a importância da comunicação para o desenvolvimento do trabalho.

1 O setor de cobrança era uma dos setores que compunham o setor financeiro.

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2. MÉTODO2.1 População

Participaram do programa de treinamento e desenvolvimento vinte e um colabora-dores do setor Financeiro da Instituição.

2.2 MateriaisPapel sulfite, canetas, caixa de bombons e técnicas e dinâmicas de grupos.

2.3 DuraçãoForam realizados seis encontros semanais, com duração de uma hora cada.

2.4 ProcedimentoTodo setor Financeiro foi dividido em dois grupos de dez e onze colaboradores

respectivamente. Os encontros ocorreram em dias previamente agendados com os participantessendo que o grupo A teve seus encontros realizados em seis terças - feiras consecutivas e o grupoB as quintas - feira.

Após o Levantamento das Necessidades de Treinamento realizado a partir dodiagnóstico organizacional, foram definidos os objetivos do grupo2 . Definidos quais seriam os obje-tivos foi elaborado o plano e o projeto do programa de treinamento e desenvolvimento.

O projeto foi elaborado com informações dos objetivos e do programa a ser desen-volvido e depois foi submetido à aprovação do Gerente do setor Financeiro.

O plano de treinamento e desenvolvimento continha informações semelhantes aoprojeto, porém havia um detalhamento maior dos encontros a serem realizados, pois o plano é umroteiro a ser seguido3 pelo profissional durante o programa de T&D.

Após o aceite do projeto pela empresa iniciou-se a condução dos encontros queforam inicialmente planejados da seguinte forma:

• 1° Encontro: Foi apresentado o Diagnóstico Organizacional para que os colabo-radores compreendessem quais eram os objetivos da intervenção. Também foifeito o contrato psicológico, para que os participantes pudessem confiar suas opi-niões e dar sugestões sem medo de represálias. E ao final deste encontro, foirealizada uma Dinâmica de Integração que serviu para o melhor conhecimentodas funções dos integrantes do grupo entre si.• 2º Encontro: Este encontro foi conduzido pelo Gerente do setor que discutiu osseguintes pontos: a importância do departamento Financeiro para a Instituição,bem como a importância dos colaboradores que atuam do setor Financeiro; ex-pectativa do Gerente e da Instituição em relação ao trabalho executado peloscolaboradores.• 3º Encontro: Neste encontro foi discutido um caso fictício elaborado pelasestagiárias com o intuito de trabalhar com o grupo habilidades de negociação.

2 Os objetivos foram citados ao final da sessão de Introdução.3 Embora haja um roteiro prévio para a execução do programa de treinamento e desenvolvimento isto não significa que nãoocorram mudanças durante a execução do processo, pois, os encontros podem sofrer alterações de acordo com as necessidadeslevantadas pelo grupo.

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• 4º Encontro: O quarto encontro foi destinado a uma discussão sobre a importân-cia da comunicação no trabalho. Uma dinâmica em grupo foi utilizada para facili-tar a discussão.• 5º Encontro: A habilidade no atendimento ao público foi uma questão abordadano quinto encontro. Um novo caso fictício, também elaborado pelas estagiárias,foi utilizado para auxiliar a atingir os objetivos da discussão.• 6º Encontro: O último encontro foi destinado à discussão da importância dotrabalho em equipe. E para encerrar os encontros foi realizada uma dinâmica deencerramento com os grupos.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

No primeiro encontro do programa de treinamento e desenvolvimento, o grupo semanifestou e questionou a validade do trabalho, dizendo que gostaria que os outros setores daInstituição também participassem, pois o problema mais grave para eles era a falha de comunica-ção entre os setores da empresa como um todo. Algumas idéias surgiram para melhorar o atendi-mento ao público, como por exemplo, a realização de um programa de treinamento para todas asrecepcionistas da Instituição, para que elas pudessem fornecer informações corretas ao público, oque muitas vezes não ocorre pelo fato delas não conhecerem a própria empresa em que trabalham.Outro problema que eles apontaram neste primeiro encontro foi a falta de uma central telefônicaou o treinamento de uma telefonista para passar os telefonemas para as pessoas certas, pois oscolaboradores deste setor recebem telefonemas que não dizem respeito a suas atribuições e issoatrapalha e deixa os clientes irritados, o que por sua vez acaba interferindo na saúde ocupacionaldos colaboradores.

O segundo encontro foi conduzido pelo Gerente do setor. Antes da realizaçãodeste encontro, foi feita com o Gerente uma preparação para que o mesmo conduzisse a reuniãode forma assertiva. Nessa reunião foram propostos alguns assuntos que seriam importantes que oGerente comentasse com os seus colaboradores, como o tipo de setor que ele gostaria de formar equal era seu objetivo neste trabalho. A preparação do Gerente foi importante para que ele pudessepensar em suas idéias e para que as estagiárias fossem indicando a melhor maneira de expor suasopiniões.

Nesse encontro os colaboradores falaram, a pedido do Gerente, quais os proble-mas que eles tinham para a realização adequada de suas respectivas funções. De uma forma geralos comentários foram os seguintes: as reclamações estavam relacionadas à falta de treinamentode pessoas para atender telefones e dar as informações corretas para os clientes. O Gerente disseque estaria aberto a sugestões para resolver os problemas do setor e que a expectativa dele emrelação ao trabalho dos colaboradores é que os mesmos resolvessem os problemas que surgem nodia-a-dia. A fala do Gerente exprime a característica do setor que ele almeja enquanto líder, umsetor com colaboradores que busquem soluções para os problemas que aparecerem, demonstran-do autonomia e comprometimento.

No terceiro encontro discutiu-se um caso fictício elaborado pelas estagiárias espe-cialmente para este grupo. O caso foi elaborado baseando-se em informações dos próprios colabo-radores e do Gerente Financeiro. Como foi dito anteriormente, o objetivo da discussão era a veri-

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ficação das habilidades de negociação dos colaboradores. Durante a discussão deste caso, verifi-cou-se que os colaboradores estavam aptos a negociar nos termos que a Instituição exigia. Perce-beu-se também que eles tinham repertório para negociar, sabiam todas as regras da negociação oque indicou que outra variável os impedia de realizar seu trabalho por completo. Após discussãocom o grupo identificou-se uma possível contingência para a não ocorrência do comportamento denegociar. Na discussão, os colaboradores apontaram que havia uma falha no funcionamento daInstituição, pois os mesmos faziam a negociação conforme solicitado, porém se o cliente pedisse aoGerente Financeiro para ser atendido por ele,o atendimento ocorria e o próprio Gerente acabavapassando por cima da autoridade do colaborador. Essa variável fazia com que o colaborador sesentisse lesado em sua autoridade de negociador, o que por sua vez acarretava em falta de autono-mia e aparente descompromisso com o trabalho, características que o Gerente queria mudar noseu setor e das quais ele tanto reclamava. A hierarquia rígida da Instituição fazia com que essassituações fossem comuns no trabalho, pois para se ter um setor com colaboradores se comportan-do da forma almejada pelo Gerente a forma de comandar o setor deverá ser transformada.

A comunicação foi um assunto especificamente abordado no quarto encontro, comauxílio de uma dinâmica de grupo intitulada “Dinâmica do gato”. Nessa dinâmica a coordenadorado grupo contava uma história e depois pedia que um participante contasse a história novamentepara alguém que estivesse fora do grupo. O participante que ouvia a narrativa deveria repeti-lapara outra pessoa e assim por diante. Essa dinâmica foi interessante, pois nos comentários realiza-dos após o termino da atividade os colaboradores perceberam que os fatos contados mudarammuito de uma pessoa para outra, porém os colaboradores alegaram que o final ou a moral dahistória foi sempre mantida. As estagiárias levaram os colaboradores a refletir sobre a semelhançada narrativa e as situações vivenciadas no trabalho, uma vez que tanto o cliente como o colabora-dor pode destorcer os fatos, já que o mesmo cliente pode passar por muitos colaboradores durantea negociação.

Porque o cliente pode não aceitar os termos da negociação e pedir pra ser atendi-do pelo Gerente Financeiro ou precisar retornar ao Setor Financeiro para acertar detalhes danegociação. Os colaboradores chegaram à conclusão de que o uso adequado do sistema deinformática que eles têm para trabalhar é importante, porque o sistema possui um cadastro detodos os atendimentos que são realizados e, além dos procedimentos obrigatórios, há a possibilida-de de se acrescentar informações adicionais sobre os atendimentos. Essas informações adicionaisajudam a todos os colaboradores a saberem exatamente o que foi negociado, evitando assim osmal-entendidos e tornando os atendimentos mais eficientes.

No quinto encontro foram abordadas habilidades de atendimento ao público. Comoestratégia para iniciar a discussão foi utilizado um caso fictício elaborado também pelas estagiárias.Os colaboradores disseram que sempre tentam acalmar o cliente, pois quando ele chega pode estarestressado ou chorando devido à dívida existente com a Instituição. Mas, às vezes, por conhece-rem previamente os clientes, os colaboradores ficam irritados por saberem que estão sendo “enro-lados”, ou seja, que os clientes estão tentando passar informações não verídicas. Os colaboradoresrelataram no grupo casos de pessoas que têm sempre o mesmo comportamento, todos os anosvoltam para renegociar a dívida e não cumprem com o contrato que negociaram, essa situação épercebida pelos colaboradores como injusta com os clientes que pagam em dia. Percebeu-se que a

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Ligia Cristina Bitencourt, Nayana Kathrin Tanaka e Elen Gongora Moreira

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variação de humor dos clientes, as não verídicas e as renegociações não honradas são estressantespara os colaboradores, pois segundo relato deles esse é um trabalho que desgasta e que muitasvezes é inútil, pois sabem que os clientes não cumprirão o contrato renegociado, ou ainda irãoprocurar o Gerente Financeiro para tentar conseguir um desconto maior.

No último encontro o assunto discutido foi o trabalho em grupo. Para isso foiutilizada a dinâmica da corrida de carros e para finalizar os encontros foi realizada uma dinâmicade encerramento. Cada grupo foi dividido em dois para facilitar a execução da tarefa, os colabora-dores tiveram quinze minutos para resolver a corrida de carros. Eles não resolveram e disseramque isso é muito ruim, que ficariam pensando o resto do dia na solução. Quanto ao trabalho emgrupo, alguns não participaram e revelaram o motivo, o grupo disse como se sentiu com a nãoparticipação de um integrante da equipe. É Preciso ampliar um pouco mais a discussão desteencontro.

O trabalho de desenvolvimento organizacional foi proposto, a princípio, a pedido dogerente do setor e como forma de melhorá-lo no que se refere ao desempenho dos colaboradoresno ambiente de trabalho. Durante os encontros realizados percebeu-se, no entanto, que os colabo-radores apresentam um repertório comportamental adequado ao desempenho de suas funções.Sendo assim, foi preciso analisar quais eram os reais motivos para o não desempenho do trabalhoda forma idealizada pelo Gerente, ou seja, com autonomia e em equipe.

Um dos problemas verificados no diagnóstico e nos encontros foi à rígida hierar-quia estabelecida no setor. As regras são definidas e os colaboradores devem segui-las sem ques-tionar. Tratando-se de um setor que trabalha diretamente com dinheiro, qualquer falha na execuçãodas tarefas pode acarretar sérias complicações para o próprio colaborador. A insegurança emtomar uma decisão no momento de se negociar uma dívida pode fazer com que o colaboradorapresente uma autonomia considerada baixa. Uma decisão errada pode acarretar punições para ocolaborador, tais como: se negociar com um juro muito abaixo do permitido pode ser repreendidopelo Gerente Financeiro ou por seu superior, o que pode diminuir a probabilidade de ocorrência docomportamento de tomada de decisão.

Outro fator relevante apresentado foi a falta de estrutura administrativa da organi-zação como um todo. Como a Instituição não possui uma área destinada ao trabalho com pessoas,muitos problemas ficam sem solução. O espaço aberto pelas estagiárias foi relevante no sentido dedar esse “direito” ao colaborador, o direito de se expressar. A comunicação se mostra um proble-ma a partir daí. Através do diagnóstico pôde-se perceber que a Instituição necessita de um planode Carreira, Cargos e Salários, pois isso é a base para o desenvolvimento de toda organização. Oscolaboradores, como já relatado anteriormente, são jovens em idade e período dentro da empresa.Muitos dos colaboradores que atuam no setor Financeiro são estudantes e parece que o trabalhoauxilia como renda para pagar os estudos. Geralmente esses estudantes desempenham uma fun-ção que é incompatível com sua área de estudo e, em função disso, o comprometimento apresenta-se de forma sutil, pois provavelmente esses estudantes, depois de formados, tentarão carreira naárea, para a qual estão estudando.

Para finalizar o trabalho, após um período de quarenta e cinco dias, foi conduzidoum encontro de follow-up. Nesse último encontro, os resultados das intervenções realizadas fo-ram discutidos com os colaboradores, assim como houve um feedback dos mesmos em relação ao

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COMUNICA-AÇÃO: O Desenvolvimento de Habilidades Sociais no Meio Organizacional

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programa de treinamento e desenvolvimento. Segundo os participantes dos grupos, o trabalho mos-trou-se válido devido à melhora na comunicação dentro do setor. Os relatos dos colaboradoresmostraram que esse objetivo foi alcançado já que agora o departamento parece estar mais integra-do, pois os erros que inicialmente ocorriam diminuíram de freqüência ou quase desapareceram.

No entanto, mesmo com algumas mudanças significativas que ocorreram no SetorFinanceiro, uma intervenção mais ampla destinada a toda a organização se faz necessário, pois osdepartamentos são interligados, havendo interferência em toda a organização.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de todo o trabalho exposto neste artigo, considera-se imprescindível a con-tinuidade deste trabalho para alcançar os objetivos da empresa, que são a autonomia e o compro-metimento dos colaboradores. No entanto, é importante salientar que a autonomia e o comprome-timento somente serão obtidos se houver um comprometimento também da Instituição em relaçãoàs atividades profissionais de seus colaboradores.

Para continuidade do programa de desenvolvimento organizacional propõe-se quesejam conduzidas as seguintes atividades na organização:

1. realização do diagnóstico organizacional nos demais setores da Instituição;2. elaboração do PCCS objetivando uma profissionalização dos setoresda empresa;3. após a condução e análise dos resultados obtidos no diagnóstico organizacional,formar novos grupos de discussão, com colaboradores dos diversos setores daInstituição com o intuito de alcançar tanto uma comunicação eficiente entre ossetores, quanto intervir de forma eficiente nos reais problemas diagnosticados emcada setor; e,4. reanálise da gerência da instituição como um todo quanto à sua forma hierár-quica de atuar.

5. REFERÊNCIAS

GIL, A. C. Administração de recursos humanos: um enfoque profissional. São Paulo: Atlas,1994.

GOULART, I. B. Gerenciamento de pessoas, conceito, evolução e perspectivas atuais. In: Psico-logia Organizacional e do trabalho: teoria, pesquisa e temas correlatos. São Paulo: Casa doPsicólogo, 2002.

MORIN, E. M. Os sentidos do trabalho. Revista de Administração de Empresas, jul/set.. SãoPaulo, v. 41. n. 3 p. 8-19,2001.

SPECTOR, P. E. Psicologia nas organizações. São Paulo: Editora Saraiva, 2004.

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Josinei Marcos Candido da Silva, Luís Marcelo Martins e Rodrigo Candido Damas

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A ESTRATÉGIA DOS CUSTOS PARA A GESTÃO DAS MICRO E PEQUENASEMPRESAS

THE STRATEGY OF COSTS TO THE MANAGEMENT OF THE MICRO AND SMALL COMPANIES

Josinei Marcos Candido da Silva*Luís Marcelo Martins**

Rodrigo Candido Damas***

RESUMO:Este trabalho demonstra a importância da micro e pequena empresa no mercado nacional e asdificuldades encontradas por estas para se manterem num ambiente altamente competitivo, tendoem vista as dificuldades em se gerenciar pela ausência de bons controles sobre os custos de suasatividades, assim como pela falta de informações e ferramentas que conduzam à boa tomada dedecisão. Para obter resultados favoráveis e dar continuidade aos negócios é de suma importânciaimplantar processo de gestão estratégica de custos. Como objetivo, buscou-se apresentar ao microe pequeno empresário qual a importância em se conhecer e manter um controle sobre os custos desua atividade, enfatizando e informando os benefícios e funções dos serviços contábeis que suaempresa recebe, que na grande maioria dos casos, acaba representando simplesmente mais umcusto para empresa; servindo apenas como uma mera ferramenta para apurar impostos, não ofe-recendo nenhuma contribuição para a administração, manutenção e crescimento das atividades daempresa. Portanto, a conclusão a que se chegou é que implantando os controles de custos, utilizan-do-se da contabilidade como ferramenta para esse fim, há o favorecimento da manutenção dasmicro e pequenas empresa, a ampliação da possibilidade de sucesso, bem como a utilização destasinformações como vantagem competitiva frente aos seus concorrentes.

PALAVRAS-CHAVE: Custos, contabilidade, informação e vantagem competitiva.

ABSTRACT:This work demonstrates the importance of the micro and small company in the national market andthe difficulties founded by them to keep themselves in a very competitive environment, aiming thedifficulties do manager by the lack of good controls over costs of its activities, as well as by the lackof information and tools that lead to the good decision taken. To get favorable results and keep thebusiness it is very important to introduce a process of strategy management of costs. As a goal, itwas looked to present to the micro and small businessman how important it is to know and keep acontrol over costs of its activities, pointing out and informing the benefits and functions of theaccountancy services that his company receive, witch in the major part of the cases, ended uprepresenting only one more cost to the company; serving only as a simple tool to find out tributes,and not offering any contribution to the management, maintenance and growth of the activities ofthe company. So, the conclusion that it was able to get is that if they introduce the cost control,using the accountancy as a tool for this end, there will be a collaboration to the maintenance of themicro and small companies, the amplification of the possibility of success, as well as the utilizationof those information as a competitive advantage in front of their competitive.

KEY-WORDS: Costs, accountancy, competitive information and advantage.

* Aluno do Curso de Especialização em Controladoria e Finanças da FAFICOP, Cornélio Procópio – e-mail:[email protected]** Mestre em Administração Financeira (Unopar) e Mestre em Administração – Gestão de Organizações (UEL), Professor deGraduação e Pós-Graduação, Pesquisador, Coordenador do Curso de Graduação e de Pós-Graduação e Consultor de Empresas.*** Aluno do Curso de Especialização em Controladoria e Finanças da FAFICOP, Cornélio Procópio e Mestrando em CiênciasContábeis pela Universidade Regional de Blumenau – FURB, Blumenau/SC – e-mail: [email protected]

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1.INTRODUÇÃO

O mundo vem passando por grandes transformações ao longo dos últimos anos.Tem-se observado que as características desse ambiente alteram-se com uma velocidade cadavez mais acentuada, contudo, essas mudanças começaram a acontecer com a explosão causadapela Revolução Industrial, quando se deixa de pensar na manufatura artesanal ou na produção paraa subsistência e passa-se a buscar a produção em massa em novos mercados. No Brasil, nadécada de 90, houve a abertura das portas para o mundo, começando assim uma nova era, quandosurgiram novos concorrentes, fortes, com novas metodologias de produção, colocando o “velho”sistema de produção numa produção de extrema desvantagem. Essas novas empresas trouxeramnão só as novas tecnologias, mas também novas formas de gerir seus negócios e, desta forma,iniciaram um processo de revisão de toda a plataforma de custeamento de seus produtos, o quelhes dava base para oferecer aos brasileiros preços altamente competitivos e, na grande maioriados casos, imbatíveis.

Com toda essa transformação, a micro e pequena empresa são as que mais sofre-ram e vêm sofrendo os maiores impactos. O forte empenho da concorrência dessas grandesempresas em ganhar cada vez mais mercado, acaba por ampliar suas áreas de atuação e cada vezmais o mercado da micro e pequena empresa torna-se escasso. Assim, faz-se necessário queessas busquem informações para a condução dos seus negócios, principalmente as que são admi-nistradas por empresários que não têm formação ou grandes conhecimentos de ferramentas degestão e, desta forma, vão conduzindo seus negócios de forma empírica.

Destaca-se como um grande problema na administração de micro e pequenasempresas a questão da gestão de seus custos, que de forma em geral não são conhecidos e/oulevados em consideração na formação dos preços, ou ainda, são tratados com pouca importância.

No que se refere à participação na geração de empregos no Brasil, segundo oSEBRAE, as micro e pequenas empresas representam cerca de 60% destes, ou ainda, respondempela parcela aproximada de 20% do PIB nacional. São 98% das empresas existentes no país.Assim, por esses dados, passa-se a ser impossível não dar a devida atenção a estas empresas, queem sua grande maioria, são administradas por empreendedores que gerenciam seus negócios deforma muito simples e sem uso de ferramentas apropriadas de gestão e com controles de custospraticamente que inexistentes.

2.Contexto Empresarial Do Brasil da Micro E Pequena Empresa

De acordo com dados estatísticos divulgados pelo Sebrae, a seguir apresentadosna Tabela 1, retirado da página da internet do Sebrae Nacional, o número de micro e pequenasempresas formalizadas no Brasil vem crescendo significativamente, destacando-se as de porteconsiderado como “micro”.

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Tabela 1 - Número de empresas formais, por porte e setor (1996 – 2002)

Fonte: Sebrae - http://www.sebrae.com.br/br/download/boletim_brasil.pdf , acessado em 31/10/2006.

Representando o grande potencial de empregabilidade das Micro e Pequenas, háde se considerar o volume de pessoas ocupadas nestas empresas. A Tabela 2, demonstra o núme-ro de pessoas empregadas por porte das empresas e por setor. Observa-se que no total, as empre-sas consideradas “micro“, no ano de 2002 já empregavam um número maior de pessoas que asempresas de “grande” porte.

Tabela 2 – Número de pessoas ocupadas nas empresas formais, por porte e setor (1996 – 2002)

Fonte: Sebrae - http://www.sebrae.com.br/br/download/boletim_brasil.pdf, acessado em 31/10/2006.

Apesar dos números revelarem a importância da micro e pequena empresa paraeconomia do país, as estatísticas de fechamento destas é preocupante. No ranking dos principaismotivos de fechamento destas empresas, está a falta de informação e controles internos paramanterem estas empresas no mercado, competitivas e gerando emprego.

Em nosso país, 98% dos estabelecimentos mercantis são pequena empresase detêm 60% da produção nacional. Essas pequenas empresas estão ligadasàs empresas de serviços Contábeis. O ciclo de vida das pequenas empresasé inferior a 10 anos, na maioria dos casos que analisamos, por falta de infor-mações para gerir negócios. (RIPAMONTI, 1997, p.52)

A informação é necessária para qualquer tipo de negócio, seja para a vida particu-lar ou empresarial. As informações são alteradas e atualizadas a todo instante, das mais diversasformas, necessária ou não, desejada ou indesejada, por onde se passa existe informação sendoapresentada, e cabe a todos aqueles que se utilizarão destas a filtragem e adoção daquelas queserão utilizadas no dia-a-dia. Para as empresas esse será o grande diferencial frente aos concor-rentes espalhados pelo mundo todo, assim, administrar e tomar decisões baseados em informaçõesprecisas pode colocar a empresa em posição extremamente competitiva.

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Porém, para a maioria das micro e pequenas empresas, informação é algo bemdiferente do que muitas delas pensam. Muitos empresários e administradores dessas esquecem degerar informações necessárias, tais como controlar seus custos, estoque, custo de estocagem,realizar boas compras, entre tantas outras necessárias à boa administração. Contudo, em razãodesta falta, a micro e a pequena empresa acabam por enfrentar dificuldades para vencer as dificul-dades e superar a concorrência.

Desta forma, as empresas que detêm esses bancos de dados e os conserva cons-tantemente alimentados e atualizados acabam por manter o gestor abastecido de informaçõeshábeis e necessárias à tomada de decisão em qualquer instante. Esse sistema deve fornecer, entretantas, informações, especificamente neste estudo, que visem salientar os custos da empresa,procurando demonstrar por processos, áreas ou departamentos, a fim de que com estas o gestorpossa elaborar um plano estratégico e de ações relacionadas aos custos da organização, podendoassim gerar melhores condições competitivas e diferenciais perante o mercado.

3.GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

Qualquer empresa que está em atividade tem uma estratégia, ou ao menos deveriatê-la. Essas não podem simplesmente pensar em vender, comprar, pagar as contas e auferir resul-tados positivos, têm sim que se planejar para alcançar tudo isso, caracterizando o “como fazer”para alcançar seus propósitos. Colocar uma meta onde se pretende chegar e o que se deve fazerpara chegar é definir um plano ou uma estratégia para empresa, isso é a chave para o sucesso.

Na grande maioria das micro e pequenas empresas os gestores acabam por admi-nistrar seus negócios de forma a deixar que o andamento do mercado conduza seu desempenho ou,como o dito popular, “que o mar dê o destino do seu barco” não se preocupando em estabeleceruma análise da situação ambiental e uma estratégia para seu negócio.Neste momento é que abusca de um diferencial através da gestão estratégica dos custos da empresa toma seu lugar deimportância.

Mas afinal o vem a ser realmente o conceito de uma estratégia de custo?Buscando uma definição apropriada, cita-se Martins (2001, p. 318), o qual apre-

senta o seguinte:

Numa visão muito mais abrangente, a Gestão Estratégica de Custos requeranálises que vão além dos limites da empresa para se conhecer toda a cadeiade valor: desde a origem dos recursos materias, humanos, financeiros etecnológicos que utiliza, até o consumidor final. Passa a não ser apenasimportante conhecer os custos da sua empresa, mas os dos fornecedores eos dos clientes que sejam ainda intermediários, a fim de procurar, ao longo detoda a cadeia de valor (até chegar ao consumidor final), onde estão as chancesde redução de custos e de aumento de competitividade.

Partindo da visão do autor, é necessário que o gestor esteja atento a todos osprocessos que envolvam o produto, desde sua aquisição até que este seja comprado pelo consumi-dor. Conhecer, não unicamente os fatores internos da empresa, como os fornecedores e concor-rentes, tentar avaliar toda sua cadeia de custos e procurar formas de gerenciá-los melhor, objetivandouma maior competitividade no mercado.

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4. CONTROLE PARA O GERENCIAMENTO DOS CUSTOS DA MICRO EPEQUENA EMPRESA

Diversas são as ferramentas que contribuem de forma significativa para a gestãoeficaz de uma empresa e ainda que ajudem a construir uma estratégia adequada e eficaz para aempresa. Dentre essa pode-se citar o Balanced Scorecard, RKW, GECON entre outras ferra-mentas, as quais são muito conhecidas e úteis ao processo, utilizadas geralmente em grandescorporações. Porém para empresas de pequeno porte estas podem ser ferramentas que oferecemalto grau de complicação para serem implantadas e utilizadas, ou ainda, que se tornem inviáveispara a empresa, a qual necessitaria de contratar um consultor especializado para implantar e gerenciaras mesmas. Não obstante a isso, é necessários que as empresas consigam manter meios para aimplantação, controles e o estabelecimento de planos e estratégias mais simplificados, que utilizemparcialmente as ferramentas citadas e gerem informações semelhantes, as quais venham trazerdiferenciais e evoluções nos processo de administração da empresa, contribuindo para se tornaremmais competitivas e lucrativas.

Uma das ferramentas que as micro e pequenas empresas já fazem uso, inclusivepagam pelo serviço, é o profissional da contabilidade. Toda e qualquer empresa tem que ter umcontador responsável pela escrituração contábil de sua empresa. A contabilidade são os olhos dasorganizações. É ela quem deveria encarregar-se do controle financeiro, fiscal, patrimonial e aindageras informações sobre os custos, é quem deveria ser capaz de criar sistemas hábeis a gerarinformações precisas e necessárias ao gestor da empresa e auxiliá-lo na elaboração de um planoestratégico, proporcionando assim uma base sólida para a tomada de decisão. Porém há um mauuso ou falta de conhecimento dos empresários e gestores sobre qual a verdadeira função da con-tabilidade e do profissional da contabilidade. As empresas de pequeno porte acabam por habilitar ocontador e a contabilidade simplesmente para registrar os documentos legais, gerando mais custose impostos.

É preciso que haja uma melhor utilização dos serviços prestados pelo contador.Este deverá ser visto como um gerador de informações, utilizando a informação contábil a seufavor e não simplesmente como forma de se saber da arrecadação de impostos. Se os gestores dasmicro e pequenas empresas conhecessem a real função da contabilidade, ter-se-ia um maior auxi-lio especializado em sua gestão e não simplesmente mais um custo para empresa, mais um profis-sional que estaria a serviço, contribuindo para o crescimento e fortalecimento da empresa nomercado.

Para ilustrar melhor a importância da contabilidade no processo estratégico deuma empresa e até um modelo de contabilidade estratégica que contribuirá diretamente paragerenciamento de custo da empresa, apresenta-se a seguir modelo citado e adaptado por Palepu etal (2004):

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Fonte: Adaptado de Palepu, 2004

Pode-se perceber no modelo apresentado que todo ciclo operacional da empresapassa pela contabilidade, sendo esta a responsável por registrar, sintetizar e fornecer as informa-ções sobre as suas atividades e processos. E é por meio de uma contabilidade bem elaborada quese pode criar uma boa estratégia de custos para empresa. Assim, conclui-se que a contabilidadepode efetivamente contribuir para a criação da estratégia da micro e pequena empresa aproveitan-do de um custo que ela já mantém - com o contador.

Por meio de um sistema contábil bem organizado e adaptado para a empresa esuas necessidades, e sendo este sistema alimentado com informações precisas, em tempo hábil ereal das movimentações da empresa, é possível que o contador possa, disponibilizar ao gestor umleque enorme de informações, relatórios e ilustrações que venham a contribuir diretamente para atomada de decisão.

Pode-se citar a título de exemplo:

• relatório que Demonstrará o resultado da empresa, discriminando todos os cus-tos dos processos da empresa;• posição do estoque da empresa e seu ciclo;• resultado por produto ou atividade;• necessidade de capital de giro.

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5. IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE CONTROLE

O objetivo de qualquer empresa com sua atuação no mercado é a obtenção delucro, para que haja a remuneração do capital investido e assim dar continuidade às suas ativida-des. Porém para alcançar esses objetivos, algumas empresas ainda utilizam, por falta de orientaçãotécnica ou seguindo uma fórmula que o mercado segue há muito tempo, a equação baseada nasomatória dos custos mais o lucro, conforme informações apresentadas pelo SEBRAE-SP:

Como pode ser observado, dessa forma o preço era predeterminado pelo customais o lucro desejado, sem levar em consideração o fator “mercado”. À medida que acompetitividade foi aumentando, essa influência passou a ser mais acentuada na determinação dospreços e este passa a ser conduzido pelo mercado. Desta forma, a equação passa a ser vista daseguinte maneira:

Atualmente, os aspectos da competitividade são baseados na satisfação total docliente, o qual tem exigências cada vez mais focadas na qualidade, ficando o preço determinadopelo mercado. Assim, há uma nova determinação na equação da formação ou análise do preço,passando a ser:

Com esse modelo, o gerenciamento dos fatores geradores de custos é que passama merecer uma maior atenção da administração, uma vez que a determinação do preço está extre-mamente relacionada ao mercado e a expectativa de lucratividade estará vinculada à necessidadede remuneração do capital, ou ainda, à expectativa gerada pela empresa.

Diante disso, para uma empresa ser competitiva precisará estabelecer uma me-lhor gestão e controle dos custos visando a redução não só dos valores componentes dos custos,mas deverá atuar como gestora dos fatores que poderão onerar o custo do produto ou da empresa,tais como: defeitos, desperdícios, re-trabalhos etc.Haverá a necessidade de rever, procurando umamelhora contínua, todos os seus processos e equipamentos e, muitas vezes, os projetos dos seusprodutos. Para isso ser possível é essencial que se conheça toda a estrutura da empresa, todos osdetalhes do negócio, de forma a ser possível conseguir um controle de custos extremamente funci-onal e que este seja uma ferramenta nas tomadas de decisões.

Mas para obter resultados com controles de custos é preciso conhecer o compor-tamento destes. E é preciso definir alguma forma para conhecer esses comportamentos, ou seja,tomar como base alguns parâmetros.

Um conceito de parâmetro, segundo Leone (2000), é a unidade de medida querepresenta a atividade de um segmento qualquer dentro da empresa. Por essa definição entende-se que qualquer atividade, em qualquer setor, de qualquer produto deve ser medida para obter umcontrole do comportamento.

Custo + Lucro = "Preço"

Preço - Custo = "Lucro"

Preço - Lucro = "Custo"

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Segundo o autor:

Todos os custos dentro das firmas observam comportamentos definidos emrelação a parâmetros operacionais selecionados. Os custos são originadospelas atividades e pelo volume dessas atividades. Os volumes das atividadessão medidos por parâmetros quantitativos, físicos, denominados parâmetrosoperacionais. (LEONE, 2000, P.109)

Diante disso, percebe-se que todas as atividades são geradoras de fatores de pro-dução ou operação, esses fatores – consequentemente - são geradores de custos. Então, os custossão efeitos de uma determinada atividade, não surgem por si. Quando a empresa tem um controleeficiente dos seus custos esses serão agregados em cada etapa do processo, uma vez conhecido,torna possível localizar com maior facilidade onde ela deve concentrar esforços para sua melhorgestão. Também, dentro desse contexto, é necessário saber quanto custa a estrutura administrati-va, quanto representa esse valor no preço do produto, visando dar condições de se administrarmelhor.

Porém, em se tratando de micro e pequenas empresas, esse controle poderá servisto como um grande problema, pois na maioria delas isso não é uma prática comum por parte dosmicroempresários. Algumas dificuldades podem ser de ordem conceitual, envolvendo desde o en-tendimento do conceito de custo e uma visão gerencial acerca deste, até a compreensão dascaracterísticas dos diversos métodos disponíveis. O que é observado é o simples controle do de-sembolso de caixa.

Outro exemplo é a falta de uma melhor política de gestão dos estoques, uma vezque tais gestores, em muitos casos, efetuam compras sem necessidade, reposições de estoquesalém das necessidades ou sem seguir nenhum critério baseado em alguma ferramenta técnica,observando que tal procedimento poderá comprometer a aplicação dos recursos da empresa.

Ainda, dentro desse contexto da gestão de custos nas micro e pequenas empresas,outro fator observado é que grande parte possui um fluxo de caixa estruturado, visando controlaras entradas e saídas de recursos. O reflexo de tal situação é a impossibilidade de previsões dedesencaixes, gerando custos adicionais de caixa (juros), assim como a perda da possibilidade denegociações mais favoráveis para a aplicação de excedentes de caixa. Tudo isso contribui paraque os custos aumentem, muitas vezes desnecessariamente, por falta de um controle básico ou deuma gestão mais ativa.

Com isso, conclui-se que é de suma importância que, além dos gestores, todos oscolaboradores envolvidos com o processo de elaboração de um produto e/ou serviço, estejamconscientes da gestão de custos. Fatores como o desperdício de matéria-prima, re-trabalho, máconservação dos ativos envolvidos no processo, horas gastas na produção e na prestação de umserviço, desatenção à gestão dos recursos materiais e financeiros são operacionalizados por toda aequipe de trabalho, dessa forma, deverá haver a conscientização de todos sobre suas responsabi-lidades.

Martins conceitua:

Controlar significa conhecer a realidade, compará-la com o que deveria ser,tomar conhecimento rápido das divergências e suas origens e tomar atitudespara sua correção. (MARTINS, 2006, P.305)

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Portanto, não basta apenas ter um ótimo sistema de controle de custos, é precisoentender a sistemática do negócio, efetuar um bom planejamento e utilizar esse controle paraotimizar os processos objetivando tomadas de decisões conscientes, as quais propiciarão uma for-ma mais segura de se alcançar resultados satisfatórios e dar continuidade à empresa.

6. A CONTABILIDADE DE CUSTOS COMO FERRAMENTA NA GESTÃO DECUSTOS.

Não obstante a tudo o que foi apresentado anteriormente, o empresário tem umaótima ferramenta de gestão à sua disposição que é a contabilidade de custos. Mas não uma conta-bilidade de custos nos moldes antigos, que apenas controlava estoque, mas sim com enfoque gerencial,podendo ser usada no âmbito decisório das organizações. Mattos (2007) define os objetivos dacontabilidade de custos da seguinte forma:

A.Inventariar os produtos fabricados e vendidos-Determinar o valor inicial e final de matéria-prima em estoque;-Determinar o valor final dos produtos terminados e em processamento;-Elaborar demonstrativos do custo de produção de cada produto fabricado;-Elaborar demonstrativos do custo dos produtos vendidos;-Elaborar demonstrativos de lucros e prejuízos.

B.Planejar e controlar as atividades empresariais-Analisar o comportamento dos custos (análise vertical e horizontal);-Preparar orçamentos com base no custo de fabricação;-Determinar o custo padrão de fabricação;-Determinar as responsabilidades dentro do processo de produção;-Determinar o preço de venda de cada item de produção;-Determinar o volume da produção (além do ponto de equilíbrio, porém dentro dacapacidade física da empresa).

C.Servir como instrumento para tomada de decisão-Formar preço de venda;-Eliminar, criar, aumentar ou diminuir a linha de produção de certos produtos;-Produzir ou adquirir no mercado;-Aceitar ou rejeitar encomendas;-Alugar ou comprar.

Portanto, se considerados esses objetivos, pode-se utilizar suas informações gera-das para subsidiar a gestão dessas organizações, analisando seus vários departamentos e seusrespectivos custos. Quando se aprimoram essas informações, automaticamente elas proporcionamuma melhor alocação dos custos aos produtos e serviços.

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7. CLASSIFICAÇÃO DOS CUSTOS

Para que o gestor domine um controle de custos, é essencial que ele entenda asvárias classificações que os custos possuem. Basicamente nas atividades desenvolvidas encon-tram-se os custos fixos e variáveis, indiretos e diretos, controláveis e não controláveis. Tornandoassim de suma importância que os gestores saibam diferenciar e registrar adequadamente cada umdesses custos para poder ter um controle efetivo e eficaz.

Martins (2006, p. 50) define que um custo é fixo quando seu valor, num determina-do mês, independe de aumentos ou diminuições de volumes de produtos elaborados. Portanto,considera-se que custos fixos são aqueles que permanecem constantes em determinado período detempo, mesmo que ocorra variação na quantidade produzida e/ou vendida no curto prazo. Comopor exemplo, o pagamento de salário ao funcionário do setor administrativo, o aluguel do imóvel, oshonorários do contador. Com relação aos custos variáveis, Martins (2006, p. 49) define que sãoaqueles custos que dependem diretamente do volume de produção. Quanto maior a quantidadeproduzida, maior será o custo. Nesse sentido entende-se que os custos variáveis têm como carac-terísticas sua proporcionalidade com quantidade produzida e/ou vendida, pois na medida em queocorre um aumento nessa quantidade, esses custos elevam-se na mesma proporção em razãodireta. Como por exemplo, a comissão paga ao vendedor, as embalagens dos produtos vendidos.

Martins (2006, p.49) conceitua custos indiretos aqueles que têm uma relação indi-reta com o produto, que não oferecem condição de uma medida objetiva e precisa. Portanto custosindiretos, que podem ser variáveis e fixos, são aqueles que só chegarão aos produtos ou serviçosmediante um critério de rateio que facilitará a alocação de um departamento ou produto que nãoesteja ligado diretamente ao processo produtivo. Já com relação aos custos diretos, Martins (2006,p.48) conceitua que são os custos que têm relação direta com os produtos, ou seja, após umaanálise é possível, utilizando-se de alguma medida de consumo, apropriar esses valores aos produ-tos. Então se conclui que os custos diretos também podem ser variáveis ou fixos, mas devemaparecer de maneira clara, direta e objetiva, com facilidade de associação e apropriação atravésde mensuração direta.

Com relação aos custos controláveis e não controláveis, Martins (2006, p. 309)define que controláveis são aqueles que estão diretamente sob a responsabilidade e controle dealguma pessoa e os não controláveis estão fora dessa responsabilidade e controle. Portanto sãocontroláveis quando os itens de custos podem ser controlados por alguém dentro de sua escalahierárquica, podem ser previstos, realizados e organizados pelo responsável daquela unidade, oqual poderá ser cobrado por desvios apurados; os não controláveis fogem ao controle do responsá-vel do departamento.

Para obter um controle de custos que forneça todas as informações requeridas, énecessário estabelecer certos critérios padronizados para serem usados como base de compara-ção e como unidade de medida.

Uma forma bastante eficaz e até fácil e objetiva para um controle de custos é adepartamentalização. Sendo que são usados alguns cálculos para a correta apropriação. Essescálculos são os rateios.

Rateio é uma forma de apropriação de custos indiretamente, na qual é feita adistribuição de maneira a seguir critérios específicos de cada empresa na melhor forma de alocaçãodos custos aos produtos ou serviços. Cabe ao gestor definir a melhor forma de alocar seu custo em

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Josinei Marcos Candido da Silva, Luís Marcelo Martins e Rodrigo Candido Damas

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função de sua natureza, utilização e grau de participação no processo produtivo de obtenção deprodutos e serviços.

Vale ressaltar que para a contabilidade gerar essas informações, o profissionaltécnico responsável, o contador, deverá ter uma visão ampla e um perfil empreendedor para saberdemonstrar essas informações ao gestor de uma maneira clara e dinâmica. Ainda deverá ter co-nhecimento de todos os processos da atividade da empresa e esteja junto com os gestores acompa-nhar o desenvolvimento de suas atividade, com todas as informações necessárias e mensurá-lasem um bom sistema contábil. Um bom plano de contas contábil será necessário, esse deveráatender às necessidades de informação da empresa e gerar - posteriormente – os relatórios gerenciaisque venham a ser de fácil análise e interpretação pelos gestores.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O mundo vem evoluindo a cada instante, mudanças notórias vêm aparecendo e anecessidade da mudança não pode ser descartada em nenhuma hipótese. No caso das ciênciasessas mudanças são fundamentais para que o mundo possa crescer cada vez mais, não em termossimplesmente de mundo, mas de técnicas que venham a contribuir para que este esteja em harmo-nia constante com os meios que permitiram as mudanças. Tais reflexos influenciam de formadireta o mundo empresarial, de modo que para as empresas conseguirem se manter num mercadoem constante evolução e mudanças é fundamental que tenham ou desenvolvam meios para queisso ocorra.

A derrubada das fronteiras ou globalização provocou o crescimento dasmultinacionais e empresas com grandes capitais, as quais “engolem” as micro e pequenas empresade forma avassaladora, utilizando de capital humano capacitado e recursos financeiros que provo-cam a geração de informações precisas e que lhes permitem crescer cada vez mais. Tal situaçãocausa, para os pequenos um mercado cada vez menor, uma série de dificuldades competitivas e,consequentemente, de sobrevivência. Contudo, com informações precisas e corretas, haverá apossibilidade de uma sobrevida e ampliação das chances de crescimento para os pequenos.

Nesse contexto a contabilidade se posiciona de forma estratégica para auxiliar omicro e pequeno empresário em seu processo de gestão, oferecendo informações que possamcontribuir diretamente para o processo decisório e, consequentemente, para a maximização dosresultados. Concluindo, a necessidade de uma gestão de custos de forma eficiente e eficaz muitocontribuirá para a administração desses empreendimentos. O foco da contabilidade como um gera-dor de custos, impostos e encargos a serem recolhidos deverá ser superado , passando para a suaprimeira função que é a de gerar informações e contribuir para o desenvolvimento de empresas deforma saudável e com informações de qualidade.

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9. REFERÊNCIAS:

LEONE, George S G. Custos: planejamento, implantação e controle. 3ª Ed. São Paulo: Atlas, 2000.

MARION, José C Disponível em <http://www.fipecafi.com.br/artigos/marion/prepproffuturo.pdf>acessado em 09 de outubro de 2006.

MARTINS, Eliseu. Contabilidade de Custos. 9ª Ed. São Paulo: Atlas, 2006.

MARTINS, Eliseu. Contabilidade de Custos. 8ª Ed. São Paulo: Atlas, 2001.

MATTOS, José Geraldo de. Custo de produção (história, teoria & conceitos).

Disponível na internet <http://www.gea.org.br/scf/aspectosteoricos.html>. Acessado em 02 de Julhode 2007

PADOVEZE, Clóvis L.. Curso básico gerencial de custos. São Paulo: Pioneira Thomson Learning,2003.

PALEPU, Krishna G. et al. Business analysis & valuation: using financial statements. 3. ed.Thomson Learning: USA, 2004.

RIPAMONTI, Alexandre. Profilaxia Contábil em Empresas de Serviços Contábeis. Rev. Brasilei-ra de Contabilidade. RBC n 108, p.40-52. nov/dez. de 1997.

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MUDANÇA ORGANIZACIONAL: ONDE ESTÁ O SUJEITO NESSE PROCESSO?ORGANIZATIONAL CHANGE: WHERE IS THE INDIVIDUAL IN THIS PROCESS?

Mariza Cecílio Janeiro*Edelvais Keller**

RESUMO:Este artigo apresenta algumas considerações sobre o processo de mudança

organizacional e a identidade do sujeito. São citados pontos sobre a importância da construção daidentidade do sujeito e da organização, abordando aspectos da cultura organizacional e o compro-metimento do servidor. Refere-se ao processo de mudança em organizações privadas e públicas,salientando a importância da participação ativa do funcionário neste processo como ator principale a importância da reconstrução de uma nova identidade pessoal e organizacional. Cita algumasformas de intervenção possíveis, como o teatro organizacional e a abordagem da psicossociologia.O artigo salienta a participação ativa do funcionário como requisito fundamental para o sucessoorganizacional em um processo de mudança.

PALAVRAS CHAVE: mudança organizacional; identidade do sujeito; cultura organizacional.

ABSTRAT:This article presents some considerations from psicossociology point of view about the organizacionalchanging process and the identity of the subjects. Points about the importance of the subject’sidentity construction and the organization are quoted, approaching aspects of the organizacionalculture and the worker commitment. It refers to process of change in private and public organizations,pointing out the importance of the employee active participation in this process as principal actor,and the importance of the reconstruction of a new personal and organizacional identity. It quotessome possible forms of intervention as the organizacional theater and the boarding of thepsicosociology. The article pointing out the active participation of the employee as fundamentalrequisite for the organizational success in a change process.

KEY-WORDS: organizational change; identity of the subject, organizational culture.

1. INTRODUÇÃO

Com o rápido avanço tecnológico e de globalização, as organizações se vêemcada vez mais com urgência de adequar suas atividades e tecnologia à competitividade do merca-do de trabalho. Para isso as organizações privadas têm se transformado, se fundido, almejandoincrementar suas forças na busca de novos nichos de mercado e novos resultados de lucratividadee produtividade.

Essa realidade chegou às organizações públicas e os governos também se vêemimpelidos a acompanhar esse processo de constante mudança e, muitas vezes, alteram a máquinapública administrativa à revelia de seus funcionários, mudando o funcionamento de processos quesão utilizados há décadas, o que leva as pessoas a sentirem o impacto dessas mudanças de formamais brusca.

* Aluna do Curso de Psicologia do Centro Universitário Filadélfia – UniFil. [email protected]** Docente do Curso de Psicologia da Unifil; Mestre em Administração: “Recursos Humanos e Organizacional” pela PUC/[email protected]

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A princípio, percebe-se que normalmente o processo de mudança nas organiza-ções tem sido feito sem uma ampla discussão, participação ou conscientização dos seus trabalha-dores. A visão administrativa nem sempre tem levado em consideração uma questão humana quese refere à identidade do sujeito e muitas vezes tacha suas inquietudes como “resistência”. Essetermo tem sido usado para pôr fim a muitas discussões e reivindicações do seu corpo funcional.

Nos órgãos públicos essa situação parece ser mais agravante, pois os funcionáriosrecebem as novas diretrizes de forma arbitrária, muitas vezes por papeletas, ordens de serviço,portarias, sem que tenham tido a oportunidade de conhecimento ou manifestação prévia.

Ao promover mudanças organizacionais significativas nas organizações públicas,a falta de inclusão do funcionário nesse processo pode gerar muitas dúvidas, temores e desequilíbrioentre as pessoas. Isso pode ser fruto de uma falha no planejamento estratégico, pode ser resultadode problemas de comunicação, falta de informação ou trata-se de descaso com o sujeito que fazparte dessa organização?

Os resultados disso? Podem ser caóticos. Cria-se um clima de desconfiança dofuncionário para com o órgão e governo, e alimenta-se um clima organizacional desfavorável.

Cabe, então, destacar a importância do sujeito e da construção de sua nova iden-tidade no processo de mudança organizacional.

2. A IDENTIDADE DO INDIVÍDUO E DA ORGANIZAÇÃO

As pessoas não estão separadas da organização da qual fazem parte. SegundoVergara e Silva (2002a), as questões organizacionais afetam profundamente a identidade das pes-soas. Para muitos, sua identidade organizacional pode ser muito mais importante do que as identi-dades recebidas com base no gênero, raça, sexo ou nacionalidade.

A identidade pessoal é como a pessoa define suas características próprias e asocial refere-se aos conceitos que o indivíduo tem sobre si e derivam de sua afiliação em catego-rias ou grupos significantes para ele (TING-TOOMEY apud VERGARA E SILVA, 2002a).

As pessoas, mesmo afiliadas em categorias, tendem a caminhar se reconstruindode acordo com suas novas formas de ver e sentir a vida. Essa reconstrução influencia e é influen-ciada pelo que acontece em seu contexto organizacional.

Lopes apud Vergara e Silva (2002a) aponta que as identidades sociais não sãofixas, elas estão sempre se reconstruindo no processo de construção do significado.

Para Gioia, Schultz e Corley apud Vergara e Silva (2002a), a identidade organizacionalé a compreensão coletiva dos membros da organização sobre suas características presumidas queas distinguem de outras organizações. Ela é fluida, contínua e adaptativa, e o sentimento de preser-vação do self é tão forte como nas identidades individuais.

Preservar a vida, o que se tem e o que se crê faz parte de todos. Nas organizaçõesesse instinto de preservação também é visível e forte, portanto a palavra mudança requer tempopara ser absorvida e levar à certeza de que o self pessoal e organizacional não morrerá.

Vergara e Silva (2002a) acreditam que na implementação de mudanças o sucessoparece estar diretamente relacionado com a capacidade de reconstituição das identidades tantodos indivíduos como da organização. Os indivíduos têm que ter a possibilidade de adequar suaidentidade a esse contexto para não se tornarem alienados ao processo.

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A construção dessa nova identidade só é possível se o indivíduo tiver espaço paracompreender e manifestar seus sentimentos, para elaborar seus medos e angústias e passar porum processo de subjetivação. O aspecto que mais parece contribuir para a auto-descoberta dosujeito é o uso da palavra, a oportunidade de poder compartilhar com as pessoas os seus sentimen-tos e suas opiniões (VERGARA E SILVA, 2002b).

Segundo Chanlat (1996) o ser humano é um ser de palavra. O pensamento e oconhecimento são indissociáveis da linguagem.

A palavra dá vida ao sentir, aos desejos e pensamentos. Quando as pessoas seexpressam e falam o que sentem, elas percebem quem são e qual o significado de sua falapara quem as escuta. Ao falar, elaboram as idéias, minimizam os medos e fica mais claro parasi mesmas aonde pretendem chegar. A fala conta a história individual e dela surgem as emo-ções vividas que nem sempre foram percebidas e elaboradas para se transformarem em umaprendizado pessoal.

A mudança organizacional implica mudança de relações e ela mobiliza as emoçõesdos indivíduos. As supostas resistências nada mais são do que manifestações de emoções comoansiedade, medo, raiva, nostalgia (VERGARA E SILVA, 2002b).

O vínculo do sujeito com a organização não é apenas material e sim afetivo,imaginário e psicológico. As organizações se utilizam da estrutura psíquica dos indivíduos, elastentam moldar os pensamentos de seus membros e penetrar no íntimo do espaço psíquico, comas sutilezas das regras não escritas para conseguir controlar o comportamento, levando-o aodesejado (FREITAS, 2000).

Freitas (2000) afirma que a organização parece como perfeita e apta a restaurar aperfeição de seus membros. Isso leva o sujeito a:

(...) idealizar a organização, a vê-la como único lugar que ele pode almejarpara realizar-se não apenas como profissional, mas também como pessoa.Aqui, realização profissional é sinônimo de auto-estima; identidade profissi-onal é o mesmo que identidade pessoal; fracasso profissional quer dizerfracasso como ser humano; a parte toma o lugar do todo e fala por ele.(FREITAS, 2000, p. 98).

3. CULTURA ORGANIZACIONAL

Há muitas definições sobre o conceito de cultura e várias são as visões da relaçãoda cultura com as organizações.

Para Schein,

Cultura é um padrão de suposições básicas demonstradas; inventadas, des-cobertas ou desenvolvidas por um dado grupo; que ensina a lidar com seusproblemas externos de adaptação e internos de integração; que funcionoubem o bastante para ser considerado válido e, ainda, para ser ensinado aosnovos membros do grupo como a forma correta de perceber, pensar e sentirem relação àqueles problemas. (apud PIRES E MACEDO, 2006)

Segundo Pires e Macedo (2006), “cultura significa construção de significados par-tilhados pelo conjunto de pessoas pertencentes a um mesmo grupo social”. Argumentam, também,que falar sobre cultura é falar da capacidade de adaptação do sujeito ao grupo em que está inseri-do. O indivíduo é um ser de cultura.

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Freitas (2000) vê a cultura organizacional como conjunto de representações imagi-nárias que se constroem nas relações e se expressam nos seus valores, normas, significados einterpretações, tornando a organização como fonte de identidade para seus membros. Também avê como instrumento de poder, onde por ela é definido o que é importante ou não, a forma corretade pensar e agir, o que é a realização pessoal.

As organizações são locais coletivos que são formados por indivíduos que nãodeixam seu psiquismo em casa quando vão ao trabalho. Então a leitura da cultura organizacionaldeve ser feita a partir dos processos psíquicos inconscientes (FREITAS, 2000).

O sujeito vai construindo e carrega consigo o seu imaginário, o seu entendimentodo mundo que o cerca. O peso da organização nessa construção é muito grande. A forma como aorganização o enxerga diz muito sobre o que ele é e como ele deve ser, havendo pressão à confor-midade por meio das regras e padrões de atuação. Nas organizações públicas essa pressão é maisforte. Difícil é o processo de quebra de algumas visões já enraizadas nas pessoas há longas déca-das e que necessitam de reforma.

Segundo Pires e Macedo (2002), as características das organizações públicas nãodiferem das demais, mas possuem algumas particularidades como maior apego às regras, à rotina,uma supervalorização da hierarquia, certo paternalismo e apego ao poder. Esses itens são impor-tantes na formação de valores e crenças organizacionais.

No Brasil, os membros das organizações públicas necessitam de habilidades diplo-máticas nas suas relações de trabalho. De um lado está o corporativismo, a burocracia, e do outroestão as forças inovadoras que procuram introduzir uma maior flexibilidade que aumente a eficiên-cia e o sucesso na implementação de projetos de reforma (PIRES E MACEDO, 2006).

Os mesmos autores ainda dizem que a tendência da cultura de uma organização éde se perpetuar e que ela só pode ser mudada por um processo de construção social. No contextodas organizações públicas, os projetos de mudanças deveriam abordar aspectos estruturais enormativos sim, mas se faz necessário enfocar os trabalhadores, pois somente por meio das pesso-as é que se transforma uma sociedade.

4. COMPROMETIMENTO DO SERVIDOR

A literatura das teorias administrativas mostra a importância do clima organizacionalpositivo para o bem estar das pessoas no trabalho e do comprometimento do trabalhador com suaorganização, dando sentido e significado ao trabalho realizado pelo trabalhador (CODA, 1997).

Para Coda (1997), o comprometimento do trabalhador com a organização estádiretamente ligado à percepção de como é valorizado dentro dessa organização. A insatisfaçãoimpede que ele se comprometa com os novos desafios e objetivos da empresa.

A pesquisa do Clima Organizacional é o canal de comunicação dos empregadoscom a direção da organização. Por ela é dado o diagnóstico da empresa, é ouvida a opinião dosseus membros, havendo um constante feedback, com o foco voltado para as necessidades por elesapontadas (CODA, 1997).

Para Rego (2003), falar de comprometimento do servidor implica temas comoassiduidade, pontualidade, comportamento como cidadão, aceitação de mudanças, desempenhofuncional. As pessoas estão dispostas a fazer sacrifícios se estiverem comprometidas, e se assim o

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fizerem podem se tornar modelos de atuação que outros vão imitar.Em um processo de mudança, é necessário perceber que seus desdobramentos

atingem os trabalhadores implicando reestruturações dos vínculos psicológicos do indivíduo e daorganização. O comprometimento desse trabalhador com a organização é requisito fundamentalpara o sucesso de qualquer mudança (BASTOS E ANDRADE, 2002).

Quais são os impactos do comprometimento dos indivíduos com o trabalho quandoocorre uma transformação organizacional? Há pouca literatura científica sobre as associaçõesentre mudança organizacional e comprometimento do trabalhador (BASTOS E ANDRADE, 2002).Mas percebe-se que a vontade dos indivíduos, o empenho em contribuir com a organização éinfluenciada pelos laços psicológicos que eles possuem para com ela (REGO, 2003).

5. MUDANÇA ORGANIZACIONAL

Quando se fala de mudança organizacional não se pode pensar somente em equi-pamentos, logística, processamento de dados, e outros fatores concretos. As pessoas que fazemparte da organização é que são os atores principais, são elas que dão forma à organização.

Segundo Schommer (2003), os indivíduos são atores que dão significado e vida àsinstituições. Para o pleno envolvimento dos membros da organização no processo de mudança épreciso que cada sujeito esteja engajado como um ator que se apropria do sentido de coletividade(VERGARA E SILVA, 2002b).

A forma de sentir, ver e agir numa organização não se muda por um ato legalinstituído. São necessárias condições para que esse processo seja digerido e elaborado.

Vergara e Silva (2002b) afirmam que o trabalho precisa ser tratado com sentido eos sentimentos a ele relacionados precisam ser compreendidos e expressos para se construir umnovo significado num processo de mudança que tanto exige das pessoas e das organizações.

As teorias administrativas, muitas vezes, tentam simplificar o que é por naturezacomplexo: o comportamento humano, achando que um mero discurso constrói uma nova aceitação,uma nova forma de existir (VERGARA E SILVA, 2002b).

Os autores acima sugerem um novo enfoque, que a mudança organizacional sejavista com uma teia de relações entre os indivíduos, e não mais se aplique a visão reducionistaadotada por muitos textos da administração.

5.1 Fusões OrganizacionaisSegundo Hogg e Terry apud Vergara e Silva (2002a), a fusão é um caso especial

de alteração da dinâmica das relações intragrupos e intergrupos nas organizações. Quando duasorganizações se fundem a entidade pós fusão engloba essas relações que muitas vezes são antagô-nicas e competitivas. Cria-se uma dinâmica de “nós” e “eles”, que pode destruir toda a possibilida-de de sucesso dessa fusão.

Nas fusões, a mobilização das identidades nas organizações é potencialmente ati-vada, pois esse processo força o indivíduo a renunciar a seu passado, a desconstruir o que já estáconstruído e ter que reconstruir o novo tanto em termos de trabalho como de relações. Esse é umprocesso traumático, que vai depender das circunstâncias de como é feito e do nível de informa-ções fornecidas (VERGARA E SILVA, 2002a).

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No processo de fusão, em algumas pessoas, surge uma sensação de morte real.De fato existe um luto a ser elaborado, o self da organização e do indivíduo estão sendo alterados.Como será agora? O que restou de nossa cultura com essa fusão? Posso confiar nessa novadiretoria, formada por quem não conheço? Esses são exemplos de questionamentos que apareceme que mostram um clima de insegurança e desconfiança do corpo funcional.

Nas empresas do governo a insegurança é acentuada, pois a autoridade que legi-tima a mudança quase sempre não pertence ao corpo funcional de nenhuma das duas organizaçõesque estão se fundindo. Basta uma assinatura para provocar tantas alterações na vida de tantaspessoas e normalmente o funcionário não é participativo nesse processo.

Nos órgãos públicos não se visualiza a importância dada aos servidores e suasentidades associativas, pois sempre são relegados a um papel secundário quando se trata de refor-ma da administração. Para garantir o sucesso na implementação de reformas, a cooperação ativados servidores públicos é fundamental (CHEIBUB, 2000).

Segundo Cheibub (2000), estudos demonstram que é necessária cooperação entrepolíticos, administradores e sindicatos de servidores públicos num processo de reforma. Duas or-dens de fatores fundamentais seriam: as condições institucionais, como criação de novas estrutu-ras que envolvam os sindicatos, provisão de meios de sustentação da nova estrutura como verbas,treinamentos, troca ampla e franca de informações, e outros; fatores políticos, onde se estabeleceo compromisso formal e público de cooperação entre autoridades e sindicatos para se atingir umfim.

5.2 Formas de Intervenção para a Mudança OrganizacionalHá formas de se amenizar o impacto em um processo de mudança organizacional.

Uma delas é o teatro organizacional e a abordagem da Psicossociologia. Ambos podem ser extre-mamente úteis como auxílio nesse processo.

5.2.1 Teatro organizacionalNo Teatro Organizacional as situações problemáticas típicas são dramatizadas,

como por exemplo, em situações de fusões de empresas, barreiras de comunicação, resistências amudanças, e outros casos (SCHREYÖGG, 2002).

Para o encontro com a situação problema e com as verdades muitas vezes doloro-sas, a platéia é exposta a uma dramatização dos problemas comuns do dia a dia, representada porestranhos. Isso gera tensão, risos, lágrimas. Como resultado pode ocorrer a liberação de situaçõesparalisantes, do que foi bloqueado, abre-se a possibilidade de discutir aquilo que até então eraindiscutível (SCHREYÖGG, 2002).

As pessoas vão ver a observação do seu dia a dia pelos olhos dos atores. Assim, arealidade é dividida em 2 níveis, a usual e a teatral. Essa realidade sendo vista por uma outra forma,por novas pessoas que a interpretam de forma diferente, fazendo novas combinações dos fatos,levam todos a raciocinar e pensar de forma reflexiva. Essa divisão da realidade em duas realidadesdiferentes traz a percepção de que há a possibilidade de construção, onde a visão anterior já não étão certa assim, tornando-se instável e aberta a mudanças (SCHREYÖGG, 2002).

Nas palavras de Schreyögg (2002),

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(...) o teatro organizacional confronta a platéia com uma perspectiva diferen-te de sua conhecida construção dos problemas e estimula uma análise maisdetalhada dos padrões de comportamento habituais, construções perceptivasestabelecidas ou possíveis visões prejudiciais.

5.2.2 A abordagem psicossociológicaA Abordagem da Psicossociologia considera elementos como processos grupais,

construção do imaginário social, dos sistemas de valores comuns, as identificações e idealizações(AZEVEDO, BRAGA NETO E SÁ, 2002).

Pela identificação, o indivíduo assimila características do outro, transformando-se.É estabelecido um laço afetivo com os membros do grupo por conta de uma qualidade comumpartilhada por eles. Na idealização, essa identificação é levada ao grau de perfeição, podendoproduzir um falso julgamento da realidade (AZEVEDO, BRAGA NETO E SÁ, 2002).

As organizações caracterizam-se como um sistema cultural, simbólico e imaginá-rio. Seus valores e normas condicionam os membros a uma certa forma de percepção do mundo eorientação de conduta. Essas representações interiorizam no sujeito, do ponto de vista psíquico, umimaginário social. Por esse prisma a organização é vista como uma microssociedade geradora deangústias e que luta contra a desorganização, desta forma o imprevisto, espontâneo, o desconheci-do são vistos como desordem (ENRIQUEZ apud AZEVEDO, BRAGA NETO E SÁ, 2002).

A Psicossociologia entende que a organização tem a tendência de resistir às mu-danças, refreando a criatividade tão desejada. Os processos de mudança precisam ser enxergadoscomo um processo que antes de sua objetividade, é psíquico, subjetivo. Eles precisam incluir ainserção de indivíduos criativos comprometidos, mas sem querer controlar seus pensamentos (AZE-VEDO, BRAGA NETO E SÁ, 2002).

O trabalho de intervenção psicossociológica começa com o conhecimento da de-manda, centra-se nos problemas concretos, na formação de grupos de trabalho que permitam queas pessoas se manifestem sobre seus sentimentos e representações que fazem da organização e seabram para novas significações a partir da análise desse material (ENRIQUEZ apud AZEVEDO,BRAGA NETO E SÁ, 2002).

A literatura existente elenca outras ferramentas além dessas duas citadas quepodem auxiliar a organização em suas mudanças. Talvez o início desse processo seja a mudançada forma de ver a organização.

Segundo Watson (2005), o pensamento sistêmico-controlador deixa de lado osaspectos relativos aos valores humanos e ao controle, tratando a organização como um sistemamecânico que funciona alheia aos membros que a constituem.

Esse mesmo autor explica que já no pensamento processual-relacional há o enfoquedessas questões não valorizadas no sistema anterior. A organização é tratada como relaçõesorganizadoras, onde se enxerga os membros da organização e a organização como mutantes emconstante interação, produzindo novos significados. Os gestores se envolvem em um processo depersuasão e criação de significado, não se limitando a distribuir comandos.

Qualquer funcionário tende a cooperar mais em situações lideradas de forma pro-cessual-relacional do que de forma sistêmico–controladora (WATSON, 2005).

Necessário se faz mudar a forma de pensar, que em grande parte do tempo estáenraizada no sistema administrativo governamental controlador.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sendo a mudança organizacional um processo tão importante e às vezes dolorosopara o corpo funcional, em especial quando ocorre fusões que descaracterizam as organizações,ocasionando perda de seus referenciais até então instalados, cabe ao psicólogo organizacional e dotrabalho contribuir para que os processos de mudança possam ser realizados de forma harmoniosa,com impactos menos traumatizantes para preservar a saúde mental dos trabalhadores.

Tanto o sujeito quanto a organização passam por um processo de intenso stress,quando se exige deles mudanças rápidas as quais não eram esperadas.

A identidade profissional é muito significativa na constituição do sujeito, é por elaque ele se enxerga e valoriza-se. Como ser abortado desse processo? Como construir uma novaidentidade organizacional e lidar com ela sem preparo, em processos organizacionais de mudançaradical? Onde fica o sujeito? Como serão tratados os seus valores, suas crenças, a sua forma deexistir?

Na era da informática, estaria visualizando o sujeito como alguém que muda pelocomando de uma tecla? E a organização, ela pode mudar sua cultura com um simples documentoque legitima sua mudança? Num processo de fusão de duas organizações o que sobrará de cadauma? Ambas as organizações podem se perguntar: quem somos nós agora?

Quanto mais antiga é a organização na sua forma de existir, mais cuidadoso deveser o processo de mudança, pois ele vai mexer com valores enraizados e de fortes significados, eem especial nos processos de fusão isso é mais forte.

O indivíduo que se torna um formador dessa nova organização num processo defusão deve ser entendido em sua forma de ser e participante desse processo, sendo ator dessanova construção, adaptando-se e reconstruindo, se preciso for, sua nova identidade nesse novocaminhar que se inicia.

Isso tudo pode ser muito rico, contribuindo para a formação de uma nova casa, umnovo lar organizacional, uma nova cultura organizacional, com pessoas participantes, engajadas,estimuladas no seu trabalho e avançando juntas nesse novo caminhar.

Acredito que em organizações públicas isso também seja possível. Para tanto osdirigentes só precisam tomar os cuidados devidos na realização desse processo de mudançaorganizacional, tendo como base os estudos científicos disponíveis e as experiências de outrasorganizações públicas que já passaram por esse processo.

7. REFERÊNCIAS

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Mariza Cecílio Janeiro e Edelvais Keller

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Mudança Organizacional: Onde Está o Sujeito Nesse Processo?

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Andréa Mita, Ana Paula Takahashi, Jacqueline M. Leonardi, Mari T. Molinari e Elen G. Moreira

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O APRIMORAMENTO DAS HABILIDADES DE LIDERANÇA POR INTERMÉ-DIO DE UM PROGRAMA DE TREINAMENTO, DESENVOLVIMENTO E EDU-

CAÇÃO ORGANIZACIONALTHE IMPROVEMENT OF THE LEADRESHIP SKILLS INTERMEDIATED BY A DRILLED PROGRAM,

ORGANIZATIONAL DEVELOPMENT AND EDUCATION

Andréa Mita*Ana Paula Takahashi*

Jacqueline Montilha Leonardi*Mari Teresa Molinari*

Elen Gongora Moreira**

RESUMO:O presente artigo apresenta a experiência vivenciada no estágio de formação de psicólogo na áreade Psicologia Organizacional e do Trabalho. O estágio foi realizado em uma Instituição Hospitalarnão governamental que presta atendimento específico ao tratamento de uma patologia de altacomplexidade, situado na cidade de Londrina- Pr. Inicialmente foi realizado um DiagnósticoOrganizacional com o objetivo de levantar as necessidades dos colaboradores em relação ao seuambiente e condições de trabalho. Para a execução do Diagnóstico foram realizadas entrevistassemi-estruturadas com os coordenadores de área do Hospital, sendo as questões referentes àsdificuldades encontradas no dia-a-dia de trabalho: responsabilidades de cada cargo e forma deresolver os problemas dos dia-a-dia. Nesse Diagnóstico foram levantadas várias queixas como,por exemplo: déficit de recursos humanos; falta de integração entre os colaboradores e entre aorganização e os colaboradores; ausência do Plano de Cargos, Carreiras e Salários e dificuldadeem participar de treinamentos e eventos profissionais. Diante dessas queixas, a intervenção foiiniciada pela descrição e análise de cargos e por um programa de Treinamento e Desenvolvimento(T&D) voltado aos coordenadores de área da Instituição. O programa de T&D teve como finali-dade trabalhar Habilidades de Liderança com coordenadores. A partir do Levantamento das Ne-cessidades de Treinamento foi possível identificar que havia a necessidades de discutir com oscoordenadores o papel que o líder ocupa na organização, as expectativas da organização em rela-ção às lideranças, habilidades de comunicação e dar e receber feedback. Para condução doprograma de T&D foram formados dois grupos (A e B) com aproximadamente dezessete pessoascada um. No decorrer das atividades o grupo A não seguiu a programação inicial devido à maneiracomo os participantes discutiam as atividades, este grupo mostrou-se muito preocupado com aorganização e empenhados em realizar o seu papel da melhor maneira possível. Durante os encon-tros também foi possível verificar que os participantes sentiam-se à vontade para fazer suas colo-cações e que a ética e a confiança dos participantes foram mútuas. Já nas atividades do grupo B,a programação foi seguida da maneira como foi proposta inicialmente. Porém, a assiduidade dosparticipantes não foi satisfatória e a continuidade do trabalho ficou comprometida. Da mesmaforma as discussões não foram tão ricas e os participantes pareciam não estar à vontade pararelatar suas experiências. Sugere-se a continuidade do programa de T&D pois, embora tenhahavido melhoras nas queixas iniciais diagnosticadas os coordenadores de setores ainda precisamaprimorar algumas habilidades de liderança. Já em relação às descrições e análises dos cargosainda se faz necessário sua finalização.

PALAVRAS-CHAVE: treinamento e desenvolvimento, hospital, coordenadores.

* Alunas do 5°ano do curso de Psicologia da UNIFIL. Ana Paula Takahashi E-mail: [email protected], Andréa Mita E-mail:[email protected], Jacqueline Montilha Leonardi E-mail [email protected] e Mari Teresa Molinari E-mail [email protected]** Docente do curso de Psicologia da UNIFIL. Mestre pela PUC-SP em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento,com área de concentração em Gestão do Comportamento Organizacional. E-mail: [email protected]

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O Aprimoramento das Habilidades de Liderança por Intermédio de um Programa de Treinamento,Desenvolvimento e Educação Organizacional

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ABSTRACT:The present article presents the experience lived the period of training of formation of psychologistin the area of Organizational Psychology and the Work. The period of training was carried throughin a Hospital Institution that gives specific attendance to the treatment of a pathology of highcomplexity, situated in the city of Londrina-PR. Initially a Organizational Diagnosis was carriedthrough with the objective of raising the necessities of the collaborators in relation to its environmentand conditions of work. For the execution of the Diagnosis interviews half-structuralized with thecoordinators of area of the Hospital had been carried through, being the referring questions to thedifficulties found in day-by-day of work; responsibilities of each position e; form to decide theproblems of day-by-day. In this Diagnosis some complaints had been raised as, for example: deficitof human resources; lack of integration between the collaborators and the organization and thecollaborators; absence of the Plan of Positions, Careers and Wages and; difficulty in participatingof training and professional events. Ahead of these complaints the intervention was initiated by thedescription and analysis of positions and by a program of Training and Development (T&D) directedto the area coordinators of the Institution. The T&D program had as purpose to work Abilities ofLeadership with coordinators. From the Survey of the Necessities of Training it was possible toidentify that it had necessities to argue with the coordinators the paper that the leader occupies inthe organization, to the expectations of the organization in relation to the leaderships, communicationabilities and to give and to receive feedback. For conduction of the T&D program two groups (Aand B) with approximately seventeen people in each one of them had been formed. In elapsing ofthe activities the group A did not follow the initial programming due the way as the participantsargued the activities, this group revealed very worried about the organization and pledged in carryingthrough its paper in the best possible way. During the meeting it was also possible to verify that theparticipants felt it the will to make its ranks and that the ethics and the confidence of the participantshad been mutual. However, the assiduity of the participants was not satisfactory and the continuityof the work was engaged. In the same way the quarrels had not been so rich and the participantsseemed not to be to the will to tell its experiences. It is suggested continuity of the T&D programtherefore, even so has had improvements in the initial of the diagnosis complaints, the coordinatorsof sectors still needs to improve some abilities of leadership. Already in relation the descriptions andanalyses of the positions still its finishing becomes necessary.

KEY-WORD: training and development, hospital, coordinators.

1. INTRODUÇÃO

A produção deste artigo teve como finalidade compartilhar a experiência vivenciadano trabalho de estágio de formação em Psicologia Organizacional e do Trabalho realizado em umaInstituição Hospitalar da cidade de Londrina-Pr. Este Hospital é uma Instituição não governamen-tal que se mantém, principalmente, por doações de recursos diversos advindos da comunidade epresta atendimento específico ao tratamento de uma patologia de alta complexidade.

A queixa inicial da empresa se referia à ausência de repertório comportamentalrelacionado à habilidade de liderança dos coordenadores de setores do Hospital. Segundo a empre-sa, os próprios coordenadores de área da organização reivindicavam a realização de treinamentosvoltados para o desenvolvimento de habilidades de liderança. Diante dessa queixa foi proposto aoHospital a realização de um Diagnóstico Organizacional com o objetivo de mapear as necessidadesdos coordenadores de área da Instituição em relação ao seu ambiente e condições de trabalho.

Para a realização do Diagnóstico Organizacional foram conduzidas entrevistassemi-estruturadas com todos os coordenadores de cada setor do Hospital. O roteiro de entrevista

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envolvia questões sobre as atividades profissionais de cada colaborador, bem como, questionamentosa respeito das dificuldades enfrentadas no dia-a-dia de trabalho; responsabilidades; formas desolucionar problemas; relacionamento interpessoal e habilidades gerenciais. Após o término dasentrevistas as mesmas foram categorizadas de acordo com a representatividade das queixas decada colaborador envolvido no processo.

Os resultados do Diagnóstico mostraram que 77% dos coordenadores concorda-vam que havia falta de integração entre colaboradores e entre colaboradores e a organização; 74%afirmavam haver um déficit de Recursos Humanos no Hospital (este item refere-se à falta depessoas para a realização do trabalho); 54% apontavam a ausência de um Plano de Cargos, Car-reiras e Salários; 50% relatavam dificuldade para participar de treinamentos e eventos profissio-nais; 47% reclamaram da deficiência de recursos materiais; 27% incomodavam-se com a posturada presidência e direção por não levar em consideração as colocações dos colaboradores emrelação às mudanças e 14% não concordavam com o fato de terem que utilizar produtos inadequa-dos à necessidade Hospitalar em função das doações recebidas (por exemplo, produtos de limpezae alimentícios).

O Diagnóstico foi finalizado no final do primeiro semestre de 2006 e as seguintespropostas de intervenção foram feitas: Descrição e Análise de todos os cargos existentes na orga-nização; Desenvolvimento Organizacional trabalhando: 1) Programa de Integração entre os Seto-res, 2) Treinamentos voltados para as Lideranças, 3) Elaboração do programa de Avaliação deDesempenho; Elaboração de um Plano de Cargos, Carreiras e Salários (PCCS) e Planejamento deContratação de Colaboradores.

Estando de acordo com o Diagnóstico, a direção do Hospital aceitou as propostasde intervenção e os trabalhos iniciados foram os de Descrição e Análise dos Cargos e um Progra-ma de Treinamento e Desenvolvimento de Habilidades de Liderança para todos os colaboradoresque exerciam cargos de coordenação de equipe de trabalho administrativo e clínico.

Intervenções na área de TD&E são fundamentais para o aprimoramento profissi-onal dos colaboradores de uma organização, pois as ações de treinamento, desenvolvimento eeducação (TD&E) se constituíram, desde o início das organizações industriais (século XIX), emelemento fundamental para a área de gestão de pessoas (MALVEZZI apud PILATI, 2006).

Hinrichs (apud VARGAS E ABBAD, 2006) define Treinamento como quais-quer procedimentos, de iniciativa organizacional, cujo objetivo é ampliar a aprendizagem entre osmembros de uma organização. Wexley (apud VARGAS e ABBAD, 2006) defende que Treina-mento é o esforço planejado pela organização para facilitar a aprendizagem de comportamentosrelacionados com o trabalho por parte de seus empregados. Goldstein (VARGAS E ABBAD,2006) por sua vez aponta Treinamento como sendo uma aquisição/modificação de comportamen-tos voltados para melhorar o desempenho no trabalho. Para Mager (2001) o Treinamento é justi-ficado somente quando há trabalhos que as pessoas não sabem fazer e precisam estar aptas arealizar para o bom desempenho de suas funções e, portanto, o treinamento por qualquer outrarazão é uma fraude e/ou extravagância.

Sendo assim, as ações de TD&E não podem ser compreendidas de mododescontextualizado em relação ao ambiente organizacional, é essencial ligar todo o processo detreinamento nas organizações às variáveis de comportamento organizacional objetivando a promo-ção de aprendizagem no trabalho, como sendo, o aprimoramento do desempenho e de variáveiscomportamentais dos treinandos. (PILATI, 2006).

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TD&E é parte da organização, influenciando e sofrendo influências do sistemaorganizacional. Portanto o objetivo geral do programa de Treinamento e Desenvolvimento condu-zido no Hospital foi aprimorar o desenvolvimento de habilidades gerenciais visando um desempe-nho adequado frente às atividades realizadas pelas coordenações, já os objetivos específicos foramdeixar os processos de comunicação entre os coordenadores mais assertivos, desenvolver a trocade feedback adequado com os colaboradores, ampliar as habilidades de liderança e de treinar ahabilidade de organização do trabalho de maneira eficiente recorrendo o mínimo possível ao coor-denador hierárquico

2. MÉTODO2.1 População

Participaram do programa de Treinamento e Desenvolvimento de Habilidade deLiderança de pessoas 40 coordenadores de setor do Hospital.

2.2 Instrumentos e MateriaisCartolinas, pincéis atômicos, canetas, folhas de sulfite.

2.3 ProcedimentoPara a realização do treinamento inicialmente foi elaborado um questionário para

auxiliar na realização do Levantamento de Necessidades de Treinamento (LNT). As questõesreferiam-se a situações reais de trabalho, os participantes deveriam assinalar a resposta que, se-gundo cada colaborador, era a mais adequada para solucionar o problema em questão. É importan-te ressaltar que as questões contidas nos questionários não possuíam respostas óbvias nem diretas,por exemplo: Se um colaborador cometeu um erro em seu trabalho que irá trazer prejuízos para aorganização, assim como prejudicar o andamento de outros setores, o que você faz? a) Adverte-o perante a equipe e pergunta qual o motivo que justifica o seu comportamento na expectativa deque os outros colaboradores aprendam com seu erro; b) Chama o colaborador para conversar emparticular, descreve-lhe o ato observado, diz-lhe onde errou mostrando as conseqüências que issopode trazer e ajuda-o a resolver da melhor maneira possível o problema; c) Resolve o problemavocê mesmo, sem falar nada para a pessoa, justamente para não se indispor com o colaborador.Porém, demonstra ao colaborador a sua insatisfação por meio de gestos (cara fechada, olharesseveros, suspiros e demonstração de irritabilidade). O objetivo da condução do LNT era conhecermelhor quais as reais necessidades dos colaboradores a serem trabalhadas no programa de Treina-mento e Desenvolvimento.

Na análise dos resultados obtidos no LNT constatou-se que as maiores dificulda-des referiam-se à forma inadequada de lidar com as reclamações dos colaboradores, não verifi-cando uma reclamação específica com toda a equipe; à visão dos coordenadores em relação àfunção do líder,distanciando-se da aplicação real da tarefa e à utilização de feedback somentepara fins positivos como forma de superação de limites dos colaboradores. Diante dessas constataçõesfoi elaborada uma proposta de Treinamento e Desenvolvimento que contemplasse atividades vi-sando discutir o papel e a função de coordenação, dificuldades de gerenciamento, desenvolvimentoda habilidade de dar e receber feedback e proporcionar melhorias na qualidade de comunicaçãotais como clareza e objetividade nas mensagens verbais.

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Para a realização do programa de treinamento o grupo de 40 coordenadores foisubdividido em dois grupos para melhor viabilidade do trabalho. Cada grupo foi coordenado poruma dupla de estagiárias, sendo assim faz-se necessário o relato diferenciado de cada grupo, paraisso serão chamados de Grupo A e Grupo B. Ambos tiveram a mesma programação e o mesmonúmero de encontros, sendo formados de acordo com a disponibilidade de horário dos colaborado-res, os encontros aconteceram no horário de trabalho.

Abaixo segue a programação dos encontros de Treinamento e Desenvolvimentode Liderança. Como havia dois grupos, A e B, o programa também foi divido e será apresentadoem separado.

2.3.1 Programação grupo A:O primeiro encontro teve como objetivo o estabelecimento do contrato psicológico

de trabalho, o esclarecimento dos objetivos do programa de Treinamento e Desenvolvimento e arealização de uma dinâmica de apresentação e integração do grupo.

O contrato psicológico foi construído verbalmente entre os participantes ficandoestabelecidas as seguintes regras: pontualidade, assiduidade, comprometimento, respeito aos cole-gas e utilização dos encontros para discussão de assuntos estritamente profissionais. O esclareci-mento dos objetivos também foi feito verbalmente pelas coordenadoras do grupo.

Para a realização da dinâmica de apresentação foi solicitado aos participantes queconfeccionassem um cartaz individual fazendo uma breve apresentação sobre as atividades quesão desenvolvidas no seu respectivo cargo. Após a confecção dos cartazes cada coordenador feza apresentação do seu cartaz verbalmente possibilitando assim que os outros integrantes do grupopudessem conhecer um pouco melhor as atividades de cada cargo.

Para o segundo encontro foi elaborado previamente um cartaz com as caracterís-ticas de líderes esperadas pela organização. No início do encontro o grupo foi dividido em doissubgrupos, onde cada um deveria elaborar um cartaz com as características que um líder deveriater. Após o término dessa atividade abriu-se para discussão dos cartazes que foram produzidospelos subgrupos. A programação do encontro previa a discussão e comparação dos cartazes elabo-rados pelos subgrupos com o cartaz contendo as expectativas da organização. Porém não foipossível realizar a comparação, pois a discussão dos subgrupos estendeu-se além do esperado.

No terceiro encontro foi retomada a discussão anterior dos cartazes dos subgrupose realizada uma comparação entre as características colocadas pelos subgrupos e as esperadaspela organização.

O quarto encontro, em função da necessidade do grupo A, foi aberto para que eleselaborassem uma proposta de formação de um grupo de coordenadores para reunião periódica,tendo como objetivo a discussão dos problemas referentes ao dia-a-dia de trabalho. Para tal ativi-dade o grupo foi subdividido em dois subgrupos e cada qual deveria montar uma proposta em cimade um roteiro previamente elaborado pelas coordenadoras do treinamento. Esse roteiro continha osseguintes itens a serem preenchidos: objetivos gerais e específicos, justificativa, público alvo, perí-odo e horário. Cada subgrupo preencheu sua proposta e, logo após, as propostas foram abertaspara discussão e o grupo chegou a um consenso.

Para o quinto encontro a proposta de formação do grupo passou pelas correçõesnecessárias e neste encontro essas correções foram discutidas e a proposta foi finalizada.

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No sexto encontro pediu-se aos integrantes do grupo A que individualmente ele-gessem um problema de seu setor para que os mesmos fossem discutidos no grupo e as soluçõesfossem propostas. Cada participante do grupo escreveu o seu problema e o expôs para o grupoque dava sugestões de solução. Não foi possível finalizar esta atividade neste encontro, dandocontinuidade na atividade no sétimo e oitavo encontros.

No oitavo encontro além da finalização da atividade o treinamento foi encerradosendo que para isso foi pedido informalmente o feedback dos participantes sobre os encontrosrealizados.

2.3.2 Programação grupo B:O primeiro encontro, assim como no Grupo A, teve como objetivo estabelecer o

contrato psicológico de trabalho, esclarecer os objetivos do programa de Treinamento e Desenvol-vimento e realizar uma dinâmica de apresentação e integração do grupo. Tanto o contrato psicoló-gico quanto a dinâmica de apresentação foram realizados da mesma forma que no Grupo A.

No segundo encontro foi realizada uma reunião para discussão da formação doNúcleo de Coordenadores do Hospital. Como o Grupo A neste momento já estava quarto encontroe a questão de criação do Núcleo de Coordenadores foi uma proposta inicialmente sugerida poreles, foram as coordenadoras do Grupo A que levaram aos participantes do Grupo B a proposta decriação do Núcleo de Coordenadores do Grupo. A participação das coordenadoras do Grupo Aocorreu pela necessidade de elaboração da proposta, devido às discussões ocorridas no quartoencontro deste grupo. As coordenadoras relataram que a formação deste Núcleo seria a formaçãode um grupo de coordenadores para reunião periódica, tendo como objetivo a discussão dos proble-mas referentes ao dia-a-dia de trabalho. Após o esclarecimento, foi aberta uma discussão a fim deobter as possibilidades de dias e horários dos participantes do Grupo B para a ocorrência desteNúcleo.

Para o terceiro encontro foi elaborado previamente um cartaz com as caracterís-ticas de líderes esperadas pela organização. No início do encontro o grupo foi dividido em doissubgrupos, cada um deveria elaborar um cartaz com as características que um líder deveria ter.Após o término desta atividade abriu-se para discussão de seus cartazes produzidos e comparaçãodestes com o cartaz contendo as expectativas da organização. Finalizou-se o encontro com umadiscussão da função de líder e os aspectos gerais da liderança.

No quarto encontro foi solicitado para que cada participante escrevesse um pro-blema específico do seu setor. Depois cada coordenador de setor relatou o problema do seu setorpara todos os participantes do grupo, e na seqüência abriu-se para discussão. Após a discussão doproblema, foi pedido para que os coordenadores resolvessem o problema levantado por eles damaneira que julgassem mais adequada e, no final, abriu-se para discussão novamente.

O quinto encontro teve como objetivo discutir sobre comunicação e feedback.Assim, foi realizada a dinâmica em que se utilizou um texto intitulado de “Mulher Fere Marido AoMatar Uma Barata”. Nesta dinâmica a história era relatada verbalmente de integrante para inte-grante, a fim de verificar as mudanças ocorridas em cada relato, focando a facilidade de ocorrermudanças na transferência de uma informação e suas conseqüências imediatas e em longo prazo.No final, discutiu-se sobre a importância e eficácia da comunicação.

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No sexto encontro foi retomada a discussão do encontro anterior. Para facilitar oprocesso de discussão foi realizada uma dinâmica com o objetivo de discutir a comunicação e ofeedback. Nessa dinâmica dividiu-se o grupo em trio, em cada trio um integrante ficou com asmãos presas, o outro teve os olhos vedados e o último teve a boca tampada. Então, foram entre-gues jornais para o trio, esses tiveram como tarefa construir um instrumento para pegar água deum balde. No final abriu-se uma discussão sobre a importância da comunicação e da integração.

No sétimo encontro foi realizado o encerramento. Nesse dia, foi pedido informal-mente um feedback dos participantes sobre os encontros realizados.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados e discussões dos encontros também serão apresentadosseparadamente.

3.1. Encontros Grupo AOs três primeiros encontros do grupo A estavam voltados para a discussão em

relação ao papel de líder e a comparação entre o que a organização esperava do trabalho doscoordenadores e o que eles de fato conseguiam executar na prática. No grupo A, durante essesencontros, por vários momentos, os participantes começavam a utilizar a oportunidade de estaremreunidos para discutirem sobre acontecimentos do dia-a-dia de trabalho tais como problemas deordem profissional que atingiam outros setores da organização e também para dar recados refe-rentes a mudanças normativas da empresa. Ao identificar que tais comportamentos estavam ocor-rendo, as coordenadoras do Programa de Treinamento, Desenvolvimento e Educação verbalizaramaos participantes do grupo o que estava ocorrendo e pediram para que os coordenadores do grupoA pensassem em uma solução.

O grupo A após discutir sobre o fato de seus membros aproveitarem a oportunida-de do encontro para resolverem problemas do dia-a-dia de trabalho, no quarto encontro, entrou emum acordo propondo a formação de um grupo que se chamaria de Núcleo de Coordenadores daorganização e que este grupo se reuniria periodicamente para discutir sobre os problemas cotidia-nos, assim como propor soluções adequadas e viáveis para os mesmos.

Os encontros do grupo A acabaram tomando uma direção diferenciada ao progra-ma proposto, pois a necessidade emergencial do grupo não era exatamente a ausência de habilida-de para ser líder de um setor, mas sim a necessidade de aprender a discutir os problemas existentesna organização levando-os ao conhecimento de presidência e direção do Hospital de uma maneirageral e não individualizada.

Durante os encontros, foi possível perceber que os participantes do grupo A esta-vam preocupados com a organização, que se esforçavam para realizar o seu trabalho adequada-mente apesar das dificuldades encontradas. Também foi possível verificar que o grupo tornou-secoeso e a confiança na ética dos participantes foi mútua.

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3.2 Encontros Grupo BOs encontros do grupo B, diferentemente do grupo A, se desenvolveram de acor-

do com a programação prevista no programa de Treinamento e Desenvolvimento planejado.Durante os encontros foi possível perceber que a presença dos participantes, além

de ser menor que o previsto1 variava de encontro para encontro e, devido a isso, o desenvolvimen-to das atividades propostas foi comprometida, pois exigia a participação mais constante dos colabo-radores. Supõe-se que durante as discussões propostas no grupo não houve o estabelecimentoadequado do contrato psicológico de trabalho, pois os participantes não relatavam as dificuldadesencontradas no dia-a-dia de trabalho.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com o andamento dos grupos de Treinamento e Desenvolvimento veri-ficou-se que houve diferenças na participação dos colaboradores durante o desenvolvimento dosencontros.

No grupo A não foi possível seguir a programação estabelecida inicialmente, poisos integrantes do grupo discutiram as tarefas de forma minuciosa e entraram em discussão sobrea necessidade de formação de um grupo entre os coordenadores a fim de debater questões refe-rentes aos problemas do trabalho de cada setor.

Já no grupo B a programação seguiu conforme tinha sido previsto inicialmente e,devido à falta de integrantes nas atividades desenvolvidas, as discussões não puderam ser maisbem aprofundadas e nem ter uma continuidade de encontro para encontro. No encontro final defeedback, os integrantes solicitaram que o grupo de Treinamento, Desenvolvimento e Educaçãotivesse mais conteúdo teórico apresentado pelo coordenador do grupo.

5.REFERÊNCIAS

MAGER, R.F. O que todo chefe deve saber sobre Treinamento. São Paulo: Market Biiks, 2001.

PILATI, R. História e importância de TD&E. In: Treinamento, Desenvolvimento e Educaçãoem Organizações de Trabalho: Fundamentos para a gestão de pessoas. São Paulo: Artmed,2006.

VARGAS, M.R.; ABBAD, G. Bases conceituais em treinamento, desenvolvimento e educação –TD&E. In: Treinamento, Desenvolvimento e Educação em Organizações de Trabalho: Fun-damentos para a gestão de pessoas. São Paulo: Artmed, 2006.

1 Inicialmente o grupo B tinha dezessete participantes, mas em média participaram nove colaboradores.

NÚCLEO DE ARQUITETURA, URBANISMO E TECNOLOGIAS

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* Acadêmico (em 2002) do 5o. ano do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Filadélfia deLondrina – UniFil, realizou seu Trabalho Final de Graduação – TFG na área de Projeto de Edificações intitulado “Antepro-jeto do Centro Cultural Henrique de Aragão em Ibiporã PR”.** Orientador do TFG, arquiteto e engenheiro civil, mestre em Tecnologia do Ambiente Construído pela Escola de Engenhariade São Carlos da Universidade de São Paulo – EESC/USP; e doutorando em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Univer-sidade Federal do Paraná – UFPR. Docente na área de Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo do Centro UniversitárioFiladélfia de Londrina – UniFil.

BASES PARA O PROJETO DE CENTROS DE CULTURA E ARTEBASES TO THE PROJECT OF CULTURAL AND ART CENTERS

Agnaldo Adélio Eduardo*Antonio Manuel Nunes Castelnou**

RESUMO:O objetivo deste artigo é apresentar algumas considerações fundamentais para a concepção eprojeto de centros de cultura e arte. A partir de uma pesquisa bibliográfica e uma análise decorrelatos, foi possível destacar pontos de relevância no que se relaciona ao conceito de cultura earte e de como a arquitetura, através dos tempos, forneceu espaços para abrigar suas atividades,produzindo teatros, museus e bibliotecas, de modo a atender as mais diversas exigências de ordempolítica, econômica, social e tecnológica.

PALAVRAS-CHAVE: Arquitetura; Projeto; Arte; Centros de Cultura e Arte.

ABSTRACT:The purpose of that article is to present some fundamental considerations with respect to conceptionand project of culture and art centers. From a bibliographic research and a correlative buildingsanalysis, it was possible to detach relevance points in that if it relates to the culture and art conceptsand as the architecture, through the times, supplied spaces to shelter its activities, producing theaters,museums and libraries, in order to take care of the most diverse politics, economic, social andtechnological requirements.

KEY-WORDS: Architecture; Architectural Project; Art; Culture and Art Centers.

1. INTRODUÇÃO

A relação do homem com as tradições culturais e suas manifestações artísticasvem ao encontro com a própria história das civilizações. A cultura de um povo, que pode envolverdesde a música, a dança e o teatro até as artes plásticas em geral e demais formas de expressão,consiste no conjunto de registros mais eloqüentes da identidade de uma comunidade no decorrer dasua existência. Desta forma, desde a Antigüidade, os homens sentem a necessidade de se reuni-rem em espaços públicos para o desenvolvimento de atividades culturais e de lazer. Durante sécu-los, esses espaços passaram por inúmeras transformações, abrigando a cada momento as neces-sidades funcionais, espaciais e estéticas voltadas à sua época histórica.

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A partir de meados do século passado, esses locais vieram suprir as necessidadesdo homem contemporâneo, decorrentes do processo de globalização e também do próprio consu-mo em massa, disseminado pelo sistema capitalista. Por conseguinte, a arquitetura não ficou inertea essas transformações, demonstrando sua força e valor, através da elaboração de espaços e/ouedificações voltadas tanto para a produção como a difusão e democratização da arte, cultura elazer, os quais acompanham todos os valores dentro desta presente realidade. Assim, pode-serelacionar inúmeros exemplos de espaços que vieram atender às expectativas do seu tempo, desdea antiga ágora grega, o fórum romano, as feiras medievais e os museus modernos, até os atuaiscomplexos culturais. Dentro do contexto contemporâneo, grandes instituições culturais, como oCentre George Pompidou de Paris, a Tate Gallery de Londres ou o Museum of Modern Art –MoMA de Nova York, podem ser considerados grandes obras voltadas ao acervo e valorizaçãocultural de várias épocas.

No Brasil, isso não poderia ser diferente. De bibliotecas a galerias de arte, a cultu-ra tem seu reduto preservado, reunindo obras de valor nacional como internacional. Fundamentaissão as contribuições do Museu de Arte de São Paulo – MASP, o maior da América Latina, assimcomo de várias outras instituições espalhadas de norte a sul. Partindo desse contexto, este artigopretende apresentar algumas considerações básicas para o projeto de espaços destinados à culturae arte, abordando desde suas conceituações gerais até a evolução histórica dessas obras, as quaisproliferaram em todos os momentos da história da humanidade. Com base na pesquisa bibliográfi-ca, procura-se despertar o interesse para essa temática, cada vez mais corrente nos âmbitos aca-dêmicos da arquitetura e urbanismo.

2. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE CULTURA E ARTE

A palavra “cultura” provém do latim colere, termo que originalmente se relaciona-va ao cultivo da terra, para depois se aplicar à instrução e conhecimentos adquiridos. Em seusentido antropológico e sociológico, cultura consiste no complexo de hábitos, idéias ou criações dohomem, estes recebidos do grupo social em que aquele nasceu, ou ainda adquiridos ao contato comoutros grupos. As leis da natureza que regulam o organismo humano são universais, mas as regrasda cultura são sempre particulares, resultado da história de cada povo. O ditado popular que diz:“cada povo com seu uso e cada roca com seu fuso” lembra assim a diversidade de costumes quecaracterizam a humanidade.

Segundo a Enciclopédia Abril (1975), foi a partir do estudo dos povos primitivosque os antropólogos sentiram a necessidade de definir esse conjunto de costumes ao qual se deno-mina cultura. Em 1871, o antropólogo inglês Edward Burnett Tylor (1831-1917) descreveu culturacomo um conjunto complexo de conhecimentos, arte, moral, direito, costumes e todas as outrasaptidões ou hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade. Conforme Santos(1994), ela diz respeito à humanidade como um todo e, ao mesmo tempo, a cada povo, nação,sociedade e grupo humano. Quando se considera as culturas particulares que existem ou existiram,logo se constata a sua grande variação: cada realidade cultural tem sua lógica interna, a qual sedeve procurar conhecer para que façam sentido as práticas, costumes, concepções e tambémtransformações pelas quais essas passam.

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Desse modo, é preciso relacionar a variedade de procedimentos culturais com ocontexto em que estes são produzidos. As variações nas formas de família, por exemplo; ou nasmaneiras de habitar, de se vestir ou de distribuir os produtos do trabalho, não são gratuitas. Fazemsentido para os agrupamentos humanos que as vivem e são resultado de sua história, relacionando-se com suas condições materiais de existência. Entendido assim, o estudo da cultura contribui nocombate a preconceitos, oferecendo uma plataforma firme para o respeito e a dignidade e todas asrelações humanas.

De acordo com Prestes-Campos apud Siqueira (2001), cultura seria a formapela qual uma comunidade se realiza através de suas necessidades materiais e psicossociais.Nessa idéia está implícita a noção de ambiente como fonte de sobrevivência e crescimento. Jápara Bidermann apud Bicudo (2000), cultura significa o conjunto de tradições e valores materiaise espirituais característico de uma sociedade. O significado adquirido pelo termo “cultura” quan-do diz respeito às relações sociais ramifica-se a um outro termo, o qual se refere ao primitivismo(tradições mantidas), ao comunitarismo (espírito coletivo) e ao purismo (inocência diante domundo novo), definindo assim, segundo os românticos, a chamada cultura popular. Esta serefere quase sempre ao povo primitivo ou àquele afastado dos centros urbanos. A partir daí, osignificado do termo estende-se a toda cultura que não seja aquela chamada erudita ou oficial.Desta forma o folclore estaria incluso nas culturas populares por se relacionar às maneiras depensar, sentir e agir de um povo, preservadas pela tradição popular e imitação, sem a influênciadireta do erudito ou oficial.

Conforme Santos (1994), a significação de cultura pode ser dividida em duas con-cepções básicas: a primeira remete a todos os aspectos de uma realidade social; e a segunda serefere mais especificamente aos conhecimentos, às idéias e às crenças de um povo. Assim, aprimeira concepção preocupar-se-ia com todos os aspectos de uma realidade social, na qual cultu-ra diz respeito a tudo aquilo que caracterizaria a existência social de um povo ou nação; ou ainda agrupos no interior de uma sociedade. Pode-se assim falar de cultura francesa ou na cultura xavante,do mesmo modo que se comenta da cultura camponesa; ou então na cultura dos antigos astecas.Nesses casos, cultura refere-se a realidades sociais bem distintas, embora o sentido em que se falade cultura seja o mesmo.

Já na segunda concepção, quando se fala de cultura está-se referindo mais espe-cificamente aos conhecimentos, idéias e crenças, assim como às maneiras em que elas existem navida social. Entende-se aqui que a cultura diz respeito a uma esfera, a um domínio, da vida social.De acordo com essa concepção, quando se discute sobre cultura francesa, refere-se à línguafrancesa, à sua literatura; ao conhecimento filosófico, científico e artístico produzidos na França, eàs instituições mais de perto associadas a eles. Outro exemplo comum dessa segunda forma deentendimento seria a referência à cultura alternativa, compreendendo tendências de pensar avida e a sociedade na qual a natureza e a realização individual são enfatizadas, e que tem por temasprincipais a ecologia, a alimentação, o corpo, as relações pessoais e a espiritualidade.

Nesses termos, é interessante observar a relação que existe entre arte e cultura,pois uma forma que a cultura de um povo tem para se manifestar acontece através das atividadesartísticas. Segundo Bosi (2001), a arte é um fazer, ou seja, um conjunto de atos pelos quais se mudaa forma transforma-se a matéria oferecida pela natureza e pela cultura. Neste sentido, qualqueratividade humana, desde que conduzida regularmente a um fim, pode ser chamada de artística. A

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arte seria uma manifestação ligada intimamente ao espírito humano. Desde as origens das civiliza-ções, o homem busca dar aos objetos que cria, além de uma forma mais eficiente e útil para o fima que se destina, qualidades que independem da simples utilidade e que satisfazem uma necessida-de de harmonia e beleza. E, sendo uma produção, logo, a arte supõe trabalho – movimento quearranca o ser do não ser; a forma do amorfo; o ato da potência; o cosmos do caos. Os gregoschamavam-na de techné, isto é, o modo exato de perfazer uma tarefa, antecedente de todas astécnicas dos dias atuais.

A palavra latina ars, matriz do termo português “arte”, esta na raiz do verbo “ar-ticular”, que denota a ação de fazer junturas entre as partes de um todo. Antigamente, pelo fato deserem operações estruturantes, podiam receber o mesmo tratamento e o mesmo nome de arte nãosó as atividades que visavam a comover a alma – a música, a poesia, o teatro, a dança –, quantoos ofícios de artesanato, cerâmica, tecelagem e ourivesaria, que aliavam o útil ao belo. Aliás, adistinção entre as primeiras e os últimos, que se impôs durante o Império Romano, tinha, na essên-cia, um claro sentido econômico-social. As artes liberales eram exercidas por homens livres,enquanto os ofícios, as artes serviles, de condição humilde. Até hoje, os termos “artista” e “artífi-ce” – de artifex: o que faz arte – mantêm a milenar oposição de classe entre trabalho intelectual eo trabalho manual.

Na arte, de acordo com a Enciclopédia Abril (1975), existem dois aspectos com-plementares, os quais os teóricos procuram harmonizar conteúdo e forma; ou essência e aparên-cia. Pedra ou som, madeira ou tela, palavra ou imagem constituem o aspecto externo de uma obrade arte, a organização formal dos meios materiais que lhe permitem exprimir certo conteúdo esté-tico e aparência. Logo, arte pode ser considerada a atividade simbólica por excelência, pois qual-quer material trabalhado com intenção estética, seja o som de flauta ou uma chapa de bronze,acabará por se tornar signo de idéias, sentimentos e valores de um homem e, indiretamente, de umgrupo ou comunidade. Deste modo, do ponto de vista da semiologia, os elementos técnicos dapintura, escultura, música, dança ou cinema – a linha, a cor, a superfície, o volume, o som, o corpohumano, a imagem em movimento – funciona como significantes atribuídos pela cultura na qual seinsere seu criador.

Essa pluralidade da arte leva ao questionamento de outra área problemática refe-rente à função da atividade artística. Já os pensadores antigos como Platão (427-347 a.C.) eAristóteles (384-322 a.C.) ressaltam o papel educativo da arte. O primeiro atribuía à música e àdança coral uma ação terapêutica capaz de salvaguardar a alma dos jovens, propensa à corrupção.O segundo via a tragédia como purificadora das paixões e, sobretudo, do terror e da piedade,através de seu efeito moral: a cartase. Esta idéia reapareceu em Sigmund Freud (1856-1939), quea rebatizou como “sublimação dos instintos”, incluindo a arte entre os modos de consegui-la. Essepapel da arte que invade o campo de suas relações com a moral, foi também realçado por Friedrichvon Schiller(1750-1805), para quem a atividade artística aparecia como o primeiro passo para adignidade dos sentidos, de maneira a conciliar a passividade da paixão com a liberdade da razão.

Segundo Mosquera (1973), arte e sociedade compõem-se de três elementos bási-cos: o artista, a obra de arte e o público. Enquanto o artista é o agente da arte, uma obra de arteseria toda e qualquer expressão artística que, utilizando uma linguagem própria, representaria parao homem o poder de expressar tudo que a razão não pode elaborar, revelando assim o inconsciente.Neste sentido, toda manifestação de arte seria representativa, pois recria, a partir de experiências

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pessoais, sociais e culturais, a realidade do mundo. Desta maneira, compreender o conceito de artesignifica também reconhecer os diversos sentidos que a mesma adquiriu no decorrer da história dahumanidade: a concepção de arte é tão abrangente quanto às diversas formas que a mesma pôdese manifestar. Para alguns estetas, a arte seria, portanto, eminentemente social, o que quer dizerque ela tem um verdadeiro papel na sociedade, pois representaria o momento histórico peculiar queo indivíduo vive.

Além disso, a arte teria um grande papel na educação. Inicialmente, pode sercompreendida como um dos mais válidos recursos para expressar idéias e sentimentos em deter-minados momentos da vida humana. Outro aspecto importante estaria na oportunidade de experi-ência vicária que a arte oferece, projetando vivência, sensações íntimas e enfoques estéticos darealidade. As expressões comportamentais colocadas pela arte estariam em íntima união com afantasia, conhecimento e afetividade do ser humano. Daí a relevância essencial em que o processoartístico toma sentido de autêntica manifestação. Em um plano mais amplo, a arte apareceria comoum veículo de comunicação social e coletiva, colocando os defeitos e as virtudes da sociedadeatravés das representações que adota.

Historicamente, as artes maiores eram a arquitetura, a escultura e a pintura. Sen-do a arquitetura uma arte formal, de acordo com Aldrich (1976), há a tentação em considerar umgrande arquiteto como um artista. Naturalmente, ele também necessariamente deve ser um cons-trutor e um ser humano. Contudo, como artista, o arquiteto fica muitas vezes tentado a usar o seuconhecimento técnico das tensões e pressões materiais para produzir, primariamente, uma compo-sição que faça mais justiça à unidade orgânica de um compartimento com outro – e de todo oprédio com a sua área – do que à “função” de um prédio como um lar, ou seja, um lugar de se viver.A arte da escultura está ligada à arquitetura pela própria força dos materiais. Esses são quase osmesmos para ambas as artes – madeira, pedra, metal e gesso – e isso constitui uma aliança íntima,com as tentações a servir naturalmente tais afinidades.

Devido a essa relação, os prédios naturalmente possuem muito da escultura –frisos, relevos e estátuas inteiras emergindo das paredes ou colunas, e mesmo servindo de pilares.Porém, a estatuária, antes de tudo, é mais pitoresca que a arquitetura, é mais representacional e,assim, dotada de maior capacidade de expressão, no sentido restrito que acima se especificou.Uma estátua é para ser vista e sentida como algo, diferentemente de um prédio, por mais artistica-mente composto que este seja. Assim, a escultura surgiu como uma arte separada, ou seja, umaBela-Arte que se preocupa basicamente com a manipulação dos materiais plásticos, com vistas àanimação do meio por um conteúdo. A estátua não é, simplesmente, um pedaço de pedra, bronzeou madeira com formato de um homem ou de um cavalo; é um homem ou cavalo “em” pedra,madeira ou bronze, com o conteúdo dando-lhe alma como objeto estético. Portanto, o amor doescultor pelos seus materiais não deve ser exagerado. Como artista, ele é um compositor no espa-ço estético, onde o que conta são, primordialmente, o meio formulado e a expressão. A maior partedas estátuas, obviamente, exibe essa relação complexa como primária.

Ainda segundo Aldrich (1976), um homem talhado em pedra é significativamentediferente de um homem pintado em um quadro. O homem na pedra parece menos problemático,porque a pedra, mesmo apenas como material, tem um vulto, em virtude de que ela pode acomodar– ou corporificar – uma imagem, proporcionando uma coincidência mais fácil do formato de talmaterial com a forma da imagem petrificada. Um quadro, porém, como pigmento sobre tela ou

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como impressão fotográfica, parece ser curiosamente distendido e inflado pelo conteúdo ou ima-gem, pelo menos para alguns epistemologistas da arte. As pinturas, embora estáticas como estátu-as, estão mais próximas da música e da poesia. Referem-se mais ao modo pelo qual o espaçoestético da composição é determinado e à forma do conteúdo imagístico. Em uma estátua, o for-mato do material importa mais, enquanto que em uma pintura este tem importância somente comocontorno – o formato das manchas esboçadas ou pigmentadas.

3.CONCEITUAÇÃO DE CENTRO CULTURAL

Atualmente, vive-se em uma época em que a questão de preservação da memóriae da cultura é bastante debatida e valorizada, tratando-se de um fenômeno tanto nacional comointernacional, pois reflete todo o processo de globalização. Os espaços dedicados à preservaçãoda história e também das manifestações culturais e artísticas vêm ganhando terreno a olhosvistos, constituindo-se inclusive em destaques de políticas de Estado. À medida que os povoadoscrescem e as cidades aumentam de tamanho, o poder público sente empiricamente a necessida-de de construir centros especializados para a prática de lazer, cultura e arte. A pressão daexistência de atividades culturais e esportivas diluídas nos centros urbanos vem aos poucossensibilizar os políticos da atualidade para a necessidade de criação de espaços nobres para asua prática e assistência.

Conforme Camargo (1986), o estádio de futebol vem, quase sempre, em pri-meiro lugar. Em seguida, aparecem os centros para a vida intelectual e artística, sob a forma deteatros, auditórios e conchas acústicas. Em cidades médias, as prefeituras já optam por centrosde prática e assistência polivalente, centros culturais propriamente ditos ou também centros deconvivência, estes dotados tanto de espaços cênicos como de ateliês de criatividade manual eartística, bares, restaurantes e, nos casos mais esclarecidos, espaços para o lazer esportivo,evitando-se a tradicional oposição entre cultura física e artística.As metrópoles maiores sãoainda pressionadas para que, além desses equipamentos estarem todos distribuídos pelos bairrose pelo centro da cidade, sejam construídos locais especializados e mais requintados, tanto paragrandes espetáculos esportivos e musicais, como teatros para grandes companhias operísticas ede teatro, ou salas para o desfrute adequado e total de músicas de composição e execução maisrefinadas, normalmente eruditas.

Na realidade, em uma análise mesmo que superficial, percebe-se que esses equi-pamentos de lazer e cultura que pontificam a cidade contemporânea atendem a uma minoria detodas as classes sociais. É realmente ultrajante que alguns desses espaços, sobretudo os teatrosde ópera, ainda sejam reservados ao ritual social das parcelas mais privilegiadas da população,não por possuírem um gosto artístico mais refinado, mas como uma forma de lazer ostentatóriode suas riquezas e afirmação de seu poder político sobre as demais classes que constituem adinâmica social.

De qualquer forma, é importante lembrar que todo equipamento de lazer e cultura,bem planejado, prevê investimentos não apenas de construção como de manutenção e animação.Não importa quanto se tenha investido esteticamente na construção, as municipalidades têm de seconscientizar de que não adianta apenas abrir as portas de seus monumentos para que a população

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os freqüente. Ao cabo e ao fim, esses espaços são criações artificiais de uma política cultural, queprecisa ser traduzida concretamente em uma programação que atenda às necessidades da popula-ção e, assim, seja por ela sentida. A esta modalidade de ação educativa se dá o nome de animaçãocultural. Partindo dessa premissa, conforme Silva (1995), muitas instituições têm sido criadas coma denominação de centros culturais ou outras semelhantes, tais como: casas de cultura, centrosde cultura, espaços culturais, etc. Em sua essência, o termo “centro cultural” é bastante recente enão está completamente definido. Talvez a dificuldade de defini-lo seja justamente devido à falta deestudos, pesquisa e reflexão sobre o tema e sua importância no quadro contemporâneo.

Sem dúvida, a França foi o país que mais se destacou na discussão de centrosculturais, naturalmente como conseqüência da criação do Beaubourg, cuja repercussão internaci-onal transformou-o em um grande marco e modelo de centro cultural, inclusive em nosso país.Alguns estudiosos acreditam ser o centro cultural um prolongamento das instituições tradicionaisno que se refere às dimensões de suas atividades. Neste caso, teria como origem o arquivo, abiblioteca e o museu. Milanesi (1991), exemplificando, acredita que o berço dos centros culturaisno Brasil tenham sido as bibliotecas públicas, sublinhando a influência que aqui teve o exemploparisiense. Pode-se inclusive confirmar este fato através da Biblioteca Estadual Celso Kelly,situada no Rio de Janeiro RJ, embora não se encontre, na literatura, menção a isto. Outros acredi-tam que os centros de cultura teriam surgido através de um conjunto de múltiplas ações, retomandoos antigos complexos culturais e reunindo, em um único local, diversas atividades que são tradicio-nalmente realizadas em locais próprios. Tratar-se-ia de uma volta ao passado, onde não haveriafronteiras nem barreiras entre o público e o privado; entre a ciência e a magia. Assim, os centrosculturais não se proporiam a serem especializados, necessariamente, mas sim a se tornarem umlugar diferente dos tradicionais, onde as atividades não permaneceriam de exclusividade desta oudaquela área do conhecimento; em suma, um lugar alternativo para a produção e difusão da culturae arte.

Essa gama de possibilidades permite que um centro de cultura possa ter caracte-rísticas completamente diferentes, as quais são justamente aqui estudadas. Percebe-se de ante-mão que um centro cultural, por sua própria natureza, sempre refletirá a cultura de sua sociedadeou grupo social, devendo realizar suas atividades em harmonia com essa comunidade a que perten-ce. Ele pode surgir como um serviço ou um espetáculo, fruto de uma ação das possíveis relaçõesentre a cultura e a arte, a educação e o lazer. Por se tratar de um programa arquitetônico relativa-mente recente, a tarefa de traçar a sua origem ou identificar as primeiras instituições que foramcriadas com esta denominação torna-se bastante difícil. A literatura, de modo geral, nos conduz avislumbrar uma relação entre centros culturais, museus e bibliotecas, principalmente públicas.

Em termos metodológicos, na ausência do conceito, deve-se buscar alguns cami-nhos para alcançá-lo. Parafraseando Dahlberg (1978), cada enunciado sobre determinado ob-jeto corresponderia uma unidade do conhecimento a respeito deste mesmo objeto. Estasunidades seriam os elementos ou características de seu conceito. Assim, pode-se dizer que umconjunto de características determinaria um conceito e, no caso específico, tendo em vista que otermo “centro cultural” não possui um conceito definido ou pré-estabelecido, faz-se necessárioidentificar e analisar as suas características para melhor compreendê-lo. Recentemente, segundoNunes apud Silva (1995), surgiu a necessidade de transformação das instituições que trabalhavam

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com os bens culturais em centros ativos de cultura, objetivando não somente a guarda de documen-tos históricos para gerações futuras, mas, sobretudo, comportando-se também como instrumentosde comunicação, educação e desenvolvimento.

Logo, tais instituições deixariam de ser meras guardiãs de objetos para se torna-rem centros produtores e difusores de cultura. Sua responsabilidade científica transcenderia àconservação física e material dos documentos, passando a atuar de forma a fazer e administrarcultura. Em um segundo nível, sua proposta estaria centrada nas relações existentes entre socieda-de/cultura e centros culturais, ou seja, através de ações da sociedade, estas expressas pelas mani-festações culturais e a interação com os centros culturais. Esta relação dar-se-ia através de pro-cessos construídos pelo espírito humano (em sentido hegeliano), que se consubstanciariam na me-mória e no documento. A vinculação entre a memória e a cultura seria uma condição indispensávelpara os estudos de identidade cultural.

A autora ainda destaca que a cultura seria essencial para o desenvolvimento, issopor si só já traria embutida a justificativa social e/ou de utilidade de um centro cultural. Para Nunesapud Silva (1995), faz-se necessário pensar em cultura como uma questão fundamental da socie-dade para, a partir daí, procurar transformar esses centros em locais dinâmicos. Conforme CoelhoNeto (1986) e Milanesi (1991), a amplitude de ação de um complexo cultural seria a cidade. Logo,deve-se associar o centro à cidade, em uma relação onde a própria cidade pode ser vista como umcentro de cultura, o que a tornaria viva, em mutação, integrando passado e presente, no sentido demelhorá-lo, e não apenas “viver o passado”. Em outro sentido, o centro cultural é parte integranteda cidade e vice-versa:

[...] a cidade é a realidade e nela se instala um centro cultural. Esse centro nãodeve refletir apenas a cultura popular ou erudita, deve ser um espaço dinâmi-co e pertencer à cidade, isto é, ser freqüentado pela maior parte dos habitan-tes e não fazer distinção entre eles; deve ser o local da cultura viva, quepermita a formação de uma consciência sobre a realidade, que é a cidade epode oferecer seus serviços de biblioteca, museu, teatro, cinema, danças,atividades lúdicas. (NUNES apud SILVA, 1995, p.87)

Nesse trecho, o importante de se ressaltar é o tipo de relação existente entre acidade e o centro cultural, não devendo haver discriminação de seus freqüentadores. Deve-seenfatizar o indivíduo em si, assim como a formação da consciência da realidade em que se vive,onde a instituição seria apenas um instrumento: o conhecimento pronto e acabado não tem vez emum local vivo, dinâmico, sempre debatendo e refletindo sobre as questões emergentes dentro doseu âmbito de atuação. Segundo Várzea apud Silva (1995), os centros culturais devem ainda saberorganizar informações, através das quais se faz o contato com o público, de forma a provocar odebate, isto é:

Os centros culturais vêm corresponder à perda histórica que nós sentimoscada vez mais presente do espaço público e político, onde os homens seencontravam e onde a presença de outros que vêem o que vemos e ouvem oque ouvimos, garante-nos a realidade do mundo e de nós mesmos (VÁRZEAapud SILVA, 1995, p.133).

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Torna-se aqui fundamental enfatizar este aspecto: o centro cultural como lugarpúblico e político, que serve de ponto de encontro, onde as pessoas podem ir para trocar idéias,debater sobre temas atuais, emergentes e polêmicos. Um espaço onde a liberdade de expressão sefaça presente, sem ser tendencioso. Aqui se pode abrir um parêntese e relembrar a semelhançacom o espaço e propósito da ágora, na Grécia antiga.

De acordo com Passos apud Silva (1995), um centro cultural pode ser caracteriza-do, segundo o museológo holandês Peter Van Mensch, como um organismo de informação.Atualmente, a escola e a biblioteca já não atenderiam os desejos e o imaginário social da popula-ção, o que se justificaria pela inadequação da informação que veiculam. O centro cultural, poroutro lado, buscando essa adequação, poderia desenvolver esta demanda, estabelecendo relaçõesentre o homem e a sua realidade. Desta forma, o centro passaria a ser um local onde as pessoasencontrariam as informações úteis no dia-a-dia. Entretanto, sem esquecer a sua função para como acervo, já que um centro cultural:

Visa reunir bens culturais e colocá-los à disposição do público. Neste ponto,fica assegurada a idéia de preservação. Entretanto, ele quer mais, quer serum espaço de criação de novos bens. Isto garante a sua funcionalidade. Aoreunir os bens culturais pode se promover também a sua reinterpretação. Oconhecimento adquire um caráter dinâmico. Não se trata somente da memó-ria, mas da consciência dela, tornando-a viva. Tudo passa a ser informação(PASSOS apud SILVA, 1995, p.121).

Segundo Ocampo apud Silva (1995), cujas idéias também se baseiam em Milanesi(1991), um centro cultural deveria conter uma idéia de dinamismo que o diferenciaria das demaisinstituições. Trata-se de um centro irradiador de informações e idéias, que abrangeria e possibilita-ria manifestações culturais de diferentes naturezas; trabalharia com todo o tipo de suporte físico dainformação, atendendo a vários públicos. Como irradiador, não se encontraria fechado para acomunidade, mas sim abriria um leque de opções para atender diferentes demandas, sem quesejam estabelecidas barreiras. Sua característica principal seria, mais uma vez, o dinamismo: fatorde diferenciação do centro cultural das demais instituições de cultura.

Esse dinamismo permitiria uma ampla e infinita atuação do centro cultural, sembarreiras a serem estabelecidas, e sempre aberto às manifestações culturais da comunidade. Ao seenfatizar o dinamismo como elemento diferenciador, deve-se ressaltar que ele carrega também umvalor de instabilidade, levando a duas vertentes: ao mesmo tempo em que o centro cultural continu-aria, como as outras instituições, preservando a memória e a história da sociedade, ele não seriaestático, pois forneceria condições para novas criações e meios de registrá-las. Por fim, arrisca-seuma definição:

O centro cultural é uma instituição contemporânea que tenta responder aoritmo social, constituindo-se da diversidade das manifestações culturais exis-tentes, sendo sempre renovada, incentivando produções culturais, propor-cionando espaços e recursos, continuando com o objetivo primordial dasoutras instituições, que é o de recuperar a informação, dispô-la e preservá-la,a fim de manter uma unidade social. Contudo, há a preocupação dessa ação,dentro dos centros culturais, de não se resumir a pura passagem da informa-ção. Ele quer mexer no usuário, tocá-lo, fazer com que ele sinta a informação,e se incomode com ela, eliminando uma atitude passiva de assimilação(OCAMPO apud SILVA, 1995. p. 214).

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4. ESPAÇOS ARQUITETÔNICOS DE CULTURA E ARTE

A esta altura, torna-se interessante abordar alguns dos programas que constituemos atuais centros culturais, sem procurar conceituá-los de forma profunda, mas ao menos defini-loscomo espaços arquitetônicos específicos que compõem a dinâmica da produção de difusão dacultura e arte: o teatro, a biblioteca e o museu. Quanto ao teatro como arte, segundo a EnciclopédiaAbril (1975), ele não existe tradicionalmente se não houver, no mínimo, três elementos – o ator, otexto e o público. Em termos etimológicos, a palavra surgiu do grego theatron, que significava“platéia; lugar de onde se vê”. Sua forma espacial era em trapézio, na época de Ésquilo (525-456a.C), o que pode ser exemplificado através do Teatro de Siracusa, do século V a.C., passando asemicírculo, comum no século IV a.C, como o Teatro de Epidauro, posterior à época áurea datragédia.

Em Atenas antiga, as representações teatrais ocorriam inicialmente na praça dovelho mercado, a ágora. A cada ano, montavam-se – em torno de uma plataforma denominadaorkêstra, onde ficavam os atores e o coro – cadafalsos de madeira que suportavam arquibancadaspara o público. Inicialmente, o lugar dos espectadores chamado propriamente de theatron cercavatoda a orquestra, mas, com o tempo, converteu-se em uma espécie de leque aberto em direção àencosta. A skene ou cena era primitivamente uma simples barraca de madeira e pano, na qual oator mudava de roupa segundo os papéis. Com o tempo, o caráter religioso das festividades cêni-cas gregas foi substituído pelas representações laicas dos antigos romanos, cujos temas passarama ser familiares e amorosos, através dos gêneros da comédia e da tragédia.

A partir dos séculos III e II a.C., a marcada diferença de classes sociais inspirouos projetos dos espaços cênicos antigos, que repartiam os espectadores em diversos lugares comacomodações melhores ou piores, em um espírito que iria persistir durante séculos. Na verdade, oedifício teatral típico dos romanos era uma adaptação dos últimos teatros gregos. A principal dife-rença foi que já não se construía o teatro em uma colina, mas em um lugar plano. As dimensões doproskenion aumentaram e, como não havia mais o coro para atuar na orquestra, esta passou a serocupada pelas poltronas dos senadores. O palco e a platéia ligavam-se por uma passagem coberta,chamada vomitoria. Os romanos foram os criadores da cortina, usada ao fim de cada ato e antesda apresentação. Um teto cobria o palco e a platéia, servindo como proteção contra sol e chuva.

Segundo Graeff (1986), durante a Idade Média, não se construíram teatros e re-presentavam-se apenas certas passagens bíblicas, geralmente dentro das igrejas ou nas ruas dascidades. Por volta do século IX, quando o drama contaminou-se de elementos profanos, as peçaspassaram a ser encenadas no adro de igrejas, sendo emoldurada pelos seus pórticos de entrada.Contudo, foi no Renascimento que o teatro recuperou seu antigo brilho, passando a ser consideradouma arte erudita e ganhando um edifício especial, dotado de divisões hierárquicas. No palco, umcenário fixo – representando ruas e palácios – era construído em perspectiva, normalmente comum único ponto de fuga e apresentado como um amplo quadro estático. Recriavam-se assim paisa-gens naturais, campestres ou urbanas, acompanhando o tipo de encenação. Foi a partir do séculoXVI que surgiram as perspectivas sucessivas com o objetivo de alargar ilusoriamente o espaçoonde se desenrolava a ação cênica.

Conforme a Coleção História em Revista (1993), uma das mais perfeitas sintoniasentre dramaturgia e local de montagem ocorreria com o aparecimento do chamado teatroelisabetano, cujo exemplo mais importante foi o Globe Theater de Londres, que tinha a forma

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exterior hexagonal com uma abertura no centro, a céu aberto. As demais construções da épocaeram circulares, possuindo também um espaço central sem teto. Junto às paredes, superpunham-se os balcões ocupados pela nobreza, enquanto o público permanecia em pé, na área descoberta.No meio dessa arena, colocava-se um estrado, sem proteção superior, e o fundo era coberto porum telhado sustentado por duas colunas no centro do palco, cuja parte superior era constituída pelobalcão, usado em algumas cenas e algumas vezes ocupado por espectadores privilegiados. Osintérpretes misturavam-se praticamente aos espectadores.

Foi com o surgimento da chamada cena italiana, no século XVII em diante, quese observou a separação definitiva dos dois espaços fundamentais do teatro: o palco e a platéia. Oprimeiro fechou-se e distanciou-se do público, ocupando o lugar de um grande quadro, dentro decuja moldura as personagens se moviam. Os espectadores dispunham-se em cadeiras diante dele,afastados por uma rampa que delimitava as áreas. O palco comunicava-se internamente por espa-ços laterais, através dos quais os cenários eram trocados, ao fim dos quadros e dos atos. Importan-te papel teve Richard Wagner (1813-1883), que aumentou ainda mais a distância entre palco eplatéia, acentuando o caráter ilusionista do espetáculo, propondo o chamado abismo místico. Deacordo com Mantovani (1989), o início do século XIX inaugurou a busca da realidade histórica noscenários, tornando a pesquisa obrigatória ao se encenar um texto dramático e a cenografia deixoude ser um mero elemento decorativo.

A princípio, a difusão dos teatros de arena foi uma tentativa de minimizar os custosdas montagens cênicas. No século XIX, o luxo dos antigos edifícios tornava as encenações proibitivase eles não favoreciam a intimidade entre ator e espectador. Assim, o teatro de arena ressurgiu coma vantagem de se adaptar a qualquer sala onde cadeiras ou arquibancadas pudessem ser dispostasem torno de um círculo, quadrado ou retângulo para representação. Em 1919, Max Reinhardt(1873-1943) aboliu o palco fechado e instalou um grande proscênio que se lançava em direção àplatéia. Tal idéia do palco avançado provou ser eficaz e inspirou projetos de vários edifícios tea-trais, os quais passaram a ser conhecidos como teatros de palco aberto. O teatro moderno abriu-se enfim para novas possibilidades de arranjo espacial e cenografia, opondo-se à rigidez das regrasclássicas.

Concluindo, pode-se dizer que atualmente convivem vários tipos de espaços cêni-cos, entre os quais: o teatro italiano, cuja platéia tem formas diversas (retangular, em leque,ferradura, etc.) e é disposta frontalmente ao palco geralmente retangular, obrigatoriamente dotadode boca de cena (abertura na “parede” que divide palco e platéia por onde o espectador vê oespetáculo); o teatro de arena, cuja platéia tem formato diversificado (circular, quadrado, etc.) e édisposta em toda a volta do palco, que também pode ter várias formas; o teatro múltiplo ouexperimental, caracterizado por um espaço único, sem determinação fixa de locais e formas paraa platéia e o palco, estando dotado de equipamentos móveis para localização do público (arquiban-cada, cadeiras, etc.) e da cena (praticáveis, módulos, etc.), que permitem a montagem de diversasdisposições de palco e platéia; e o teatro ao ar livre, formado basicamente por espaços comqualquer disposição de platéia e palco, sem contar com cobertura.

Quanto ao museu, conforme a Enciclopédia Abril (1975), este pode ser conceitua-do como um estabelecimento, no qual se encontram coleções de objetos de uma ou várias catego-rias que podem ser apreciados, examinados e estudados. A principal função de um museu seria ade reconstrução histórica, mostrando como se desenvolveram as artes, as técnicas, a cultura e a

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civilização. Desde a Antigüidade, o homem vem guardando obras de arte e objetos preciosos,geralmente em templos ou lugares sagrados. Isto foi muito comum, por exemplo, no Egito e Gréciaantigos. Entretanto, não havia nessa acumulação nenhum interesse histórico ou estético, havendoapenas uma preocupação em separar as imagens sagradas do mundo profano.

O Museu da Alexandria, que Ptolomeu Soter (360-283 a.C) fundou na cidadeegípcia do mesmo nome, sob a inspiração da política helenizante de Alexandre, o Grande (356-323a.C.), talvez tenha sido o mais antigo edifício desse gênero, embora se constituísse mais em umabiblioteca ou centro de altos estudos dedicados à cultura helenística. De acordo com Graeff (1986),os romanos, após suas grandes conquistas, costumavam organizar mostras dos troféus saqueadosde outros lugares e a Igreja medieval procurava preservar as relíquias eclesiásticas, sem no entan-to estar preocupada em facilitar o estudo das atividades e das culturas humanas. Foi a partir daRenascença que reis, príncipes, ricos senhores e simples estudiosos começaram a colecionar obje-tos de arte, amostras de espécies minerais, vegetais e animais, além de moedas e documentos. Istopode ser considerado o germe da museologia.

Hoje em dia, a principal preocupação é a de desvincular a idéia de museu de seuspadrões iniciais. Não mais se amontoam obras de arte para serem admiradas à distância. O maiorintuito de um museu atual seria o de colocar o público em contato com a arte de maneira bemespontânea, levando-se em consideração os problemas relacionados à iluminação, ventilação,ambientação, etc., assim como a preparação das pessoas para o que vão ver, oferecendo-lhes umcatálogo ou ainda considerações sobre os autores e as obras expostas. Mantendo-se mais oumenos fechados até princípios do século XIX, eram somente freqüentados por estudiosos, quadroque se alterou a partir de então.

Anteriormente adaptados em palácios ou mansões com alguma importância histó-rica, os museus passaram, em meados do século XVIII, a dispor de edifícios especialmenteconstruídos, tais como o Museu Del Prado, realizado em 1784, Madrid. Assim, além de alterarema técnica expositiva, as galerias passaram, no século seguinte, a variar em tamanho e forma, deacordo com as obras a serem reunidas e expostas. Desde então, construíram-se também salasespeciais para as exposições relativas a determinados períodos históricos ou artistas. Com o cres-cimento da importância cultural e da variedade dos museus, as maiores instituições passaram a sedividir em departamentos com escritórios, salas de estudo e de trabalho, publicações, etc.. Neles,especialistas incubem-se da aquisição, conservação e restauração de obras. Em vez de exposiçõespermanentes de todo o acervo, muitos museus adotaram as rotativas e temporárias, que permitemao público uma maior diversificação. Aqueles que possuem mais recursos, podem ainda organizarretrospectivas de grandes artistas ou exposições de época, reunindo grande número de obras aber-tas a um número cada vez maior de visitantes.

Entre os museus mais antigos do mundo estão o British Museum, de Londres, quese originou das coleções de sir Hans Solan, em 1725; e o Museu da República de Paris, atual-mente denominado Musée du Louvre, de 1793. Segundo Graeff (1986), no século XIX, os museustornaram-se instituições públicas, tais como a Art Gallery, criado pelo arquiteto sir John Soane(1753-1837) em 1811, Dulwich; o Museu de Arte Medieval de Cluny, construído em 1844; ou oMuseu de Arte Industrial de South Kensington, realizado em 1852, hoje denominado Victoria &Albert Museum. A partir da década de 20 do século passado, no norte da Europa e nos EUA, osmuseus converteram-se em centros culturais, definindo-se não apenas como uma galeria, mas

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também como um local de estudos, dotado de bibliotecas, salas de conferências e exposiçõesdidáticas, cujo objetivo seria a participação integral do público.

Essa tendência foi se alastrando por todo o mundo e hoje, cada vez mais, procura-se transformar os museus em pontos de encontro de artistas e público, como ocorre, por exemplo,no Museum of Modern Art – MoMA, criado em 1931 a partir do espólio de Lillie P. Bliss, emNova York; e no Museu de Arte de São Paulo – MASP, projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi(1914-1992), entre 1959 e 1969. Além de sua função de conservar o acervo, o museu contemporâ-neo vem assumindo um novo papel social, integrando-se ao sistema educativo e cultural .

Em relação às bibliotecas, estas se originaram como locais para a guarda de ma-nuscritos e também para a transcrição dos títulos de livros. De acordo com a Grande EnciclopédiaLarousse Cultural (1998), acredita-se que a primeira biblioteca tenha sido a do faraó Ramsés II(1314-1312 a.C.), do Egito antigo. Outra biblioteca importante do passado foi a de Nínive, organi-zada entre 669 e 627 a.C., por Assurbanipal, na antiga Assíria. Entretanto, a mais célebre foi a deAlexandria, já citada, formada no século III a.C. e que possuía cerca de 700.000 volumes. Sabe-seque as bibliotecas gregas já eram públicas, mas foram os romanos que difundiram e popularizaramseu uso, sendo que sua primeira biblioteca pública data de 39 d.C..

Segundo Graeff (1986), durante a Idade Média, as bibliotecas funcionaram emmosteiros, conventos e igrejas, havendo ainda bibliotecas particulares, montadas por grandes se-nhores, sábios e eruditos, normalmente ligados ao clero. Entretanto, até fins da era medieval, abiblioteca era apenas um depósito de escritos ou um lugar aberto apenas às pessoas socialmenteprivilegiadas. Os livros das bibliotecas medievais podiam ser de cunho religioso ou pagão, poisambos interessavam à Igreja, a qual era a detentora de todo o conhecimento da Antigüidade. Osespaços onde se guardavam os livros até o século XIV não se pareciam nada com o conceito atualde biblioteca, lugares esses chamados armarium.

Nos monastérios medievais, os livros costumavam ser colocados no coro ou, maiscomumente, em um nicho na parede oeste do claustro, situada ao lado leste do transepto da igreja.Caso não houvesse mais lugares para abrigar os livros, substituía-se por uma pequena habitaçãoabobadada. Com o passar do tempo, essas instalações evoluíram, passando a serem, além de locaisde armazenamento e consulta, espaços também de produção de livros. A fundação das universida-des representou um marco na história das bibliotecas, pois esses centros foram responsáveis pelalaicização da cultura ocidental.

Essa laicização ocorreu durante o século XIII, devido à necessidade, cada vezmais evidente, da propagação da leitura, principalmente graças ao comércio e à administração. Asbibliotecas passaram assim a acompanhar a difusão das universidades e dos colégios, adquirindoum aspecto um pouco menos restrito. A biblioteca mais importante desse período foi a de Sorbonne,na Universidade de Paris, criada em 1254, a qual mantinha acorrentados os livros de seu acervo,costume medieval para salvaguardar as obras. As bibliotecas das Universidades de Cambridge ede Oxford surgiram em meados do século XV, época em que surgiram as primeiras bibliotecasespecializadas, principalmente na França, como a de Orléans, voltada aos conhecimentos jurídicos.

Somente com o Renascimento, as bibliotecas passaram a adquirir suas caracterís-ticas modernas, inclusive possibilitadas com a invenção de Johannes G. Gutenberg (1394-1468) e,na época contemporânea, ganharam edifícios especialmente projetados para seu fim.Exemplificando, tem-se a Biblioteca da Universidade da Virgínia, EUA, criada em 1817; e a

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Bibliothèque Impériale, construída em 1855, Paris. Atualmente, uma das maiores bibliotecas domundo é a Bibliothèque Nationale de Paris, a qual alberga mais de 12 milhões de títulos, algunsdatados de seis séculos atrás. Outras bibliotecas européias igualmente importantes são as de Lon-dres e Viena, além do Museu do Vaticano. No Brasil, as maiores são a Biblioteca Nacional doRio de Janeiro, realizada entre 1905 e 1910; e a Biblioteca Municipal Mário de Andrade, emSão Paulo, a segunda do país, fundada em 1925, mas cujo projeto data somente de 1935. Restaagora analisar alguns casos correlatos de exemplos de centros culturais, os quais possam vir acontribuir com as diretrizes de projeto, em termos funcionais, técnicos e estéticos, além de possibi-litarem uma contextualização das diferentes soluções e objetivos dessas instituições voltadas àcultura e arte.

5. CONCLUSÃO

Conforme Camargo (1986) quando se fala em interesses artísticos, ressalta-se abusca do imaginário, do sonho, do belo e do fazer-de-conta. Por atividades artísticas entendem-sehabitualmente a prática e a assistência de todas as formas de cultura erudita conceituadas comoarte, tais como cinema, teatro, literatura, artes plásticas, etc..Essas atividades não fazem parte douniverso cultural da maioria da população, porém, como imaginar que alguma pessoa consiga al-gum equilíbrio na vida cotidiana, sem seu espaço de encantamento e de beleza? Paralelamente,qualquer que seja a acepção de cultura, ela inevitavelmente refletirá uma determinada posiçãoideológica.

Desse modo, qualquer que seja a concepção de centro cultural, significará sempreum recorte da realidade, e não a concepção por inteiro. Quanto maior a clareza deste recorte, maisfácil seria o trabalho de um centro cultural. Na verdade, todo museu, biblioteca ou arquivo é umcentro cultural. No entanto, nem todo centro cultural é uma biblioteca, um arquivo ou um museu. Aquestão aí se colocaria da seguinte forma: que centro cultural se quer? Portanto, um centro culturalnão é apenas um espaço de espetáculo, mas também um espaço de reflexão, de produção deconhecimento e de preservação de memória, cultura e arte. Para os arquitetos interessados emprojetar centros de cultura e arte, deve-se ter sempre em mente a própria etimologia da expressão.O termo centro sempre corresponde a alguma coisa que tem existência espacial, pressupondo umadelimitação que, em termos geométricos, seria a circunferência. O centro seria o ponto, surgindodaí as noções de eqüidistância, de convergência e de dispersão; ou ainda de irradiação. O centrotambém seria o lugar ou a pessoa para coisas estão agregadas, o que promoveria uma relaçãodialética entre centro e circunferência ou periferia. Já as palavras “cultura” e “arte” são maiscomplicadas, pois nenhum termo é mais polêmico, problemático e polissêmico que estes.

Mesmo assim, é possível concluir que um edifício que se pretenda ser um centrocultural deva ser um espaço ou território de convergência e disseminação da cultura e da arte.Trata-se de um espaço historicamente condicionado; um espaço-território onde se processam rela-ções culturais, as quais são mediatizadas pelos bens culturais. Para Silva (1995), o espaço derelação é destacado aqui, porque “cultura não é ter; cultura é ser”. A cultura não está na coisa, massim na relação que se mantém com ela. Logo, como a cultura estaria em uma relação, o centrocultural inevitavelmente seria um espaço de relação com as coisas. Essas coisas, seriam os bensartísticos e culturais.

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6.REFERÊNCIAS

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BICUDO, J. N. H. Anteprojeto de centro de identidade cultural paulista em Itu SP. 2000.Trabalho Final de Graduação. Centro de Estudos Superiores de Londrina – Cesulon. Londrina.

BOSI, A. Reflexões sobre a arte. 7a. ed. São Paulo: Ática, 2001.

CAMARGO, L. O. de L. O que é lazer. São Paulo: Brasiliense, 1986.

COELHO NETO, J. T. Usos da cultura: política de ação cultural. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1986.

COLEÇÃO HISTÓRIA EM REVISTA. Rio de Janeiro: Abril,1995.

DAHLBERG, I. Fundamentos teórico-conceituais de classificação. In: Revista Bibliotecon. Brasília,6 (1) jan./jun. 1978. p. 9-21

ENCICLOPÉDIA ABRIL. São Paulo: Abril, 1975

GRAEFF, E. Edifício. 3a. ed. São Paulo: Projeto, Cadernos Brasileiros da Arquitetura, n. 7, 1986.

GRANDE ENCICLOPÉDIA LAROUSSE CULTURAL. São Paulo: Nova Cultural, 1998.

MANTOVANI, A. Cenografia. São Paulo: Ática, Série Princípios, 1989.

MILANESI, L. A casa da invenção. São Paulo: Siciliano, 1991.

MOSQUERA, J. J. M. Psicologia da arte. São Paulo: Sulina, 1973.

SANTOS, J. L. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.

SILVA, M. C. S. de M.. Centro cultural: construção e reconstrução de conceitos. 1995 .Uni-versidade do Rio de Janeiro – UNI-RIO. Rio de Janeiro.

SIQUEIRA, A. de L. Proposta de bar cultural em Maringá PR. 2001.TCC. (Trabalho Final deGraduação) - Centro Universitário Filadélfia de Londrina – UniFil. Lo

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Estudo de Ferramentas de Modelagem em Relação à UML 2.0

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ESTUDO DE FERRAMENTAS DE MODELAGEM EM RELAÇÃO À UML 2.0STUDY OF TOOLS FOR THE MODELING IN RELATION TO THE UML 2.0

Sergio A. Tanaka*Thiago A. Herek**

Simone S. Tanaka***Ruy T. Nishimura****

RESUMO:A necessidade de se ter uma linguagem unificada para comunicação e sincronização dos envolvi-dos em um projeto de desenvolvimento de software, estimulou a criação de uma linguagem padrãode modelagem para software orientado a objeto. A UML é considerada o auge de todos os esfor-ços para padronizar as ferramentas utilizadas para expressar os conceitos do software. Atualmen-te é utilizada em todo mundo, em conjunto com diversas ferramentas de apoio ao desenvolvimentode Software. Este artigo utiliza a UML 2.0, para confrontar a capacidade de algumas ferramentasde modelagem disponíveis no mercado na aplicação desta linguagem.

PALAVRAS-CHAVE: UML, Ferramentas de CASEs

ABSTRACT:The need for a unified language for communication and synchronization of those involved in aproject of software development stimulated the creation of a standard language of modeling forsoftware guided by an object. The UML is considered the summit of all efforts to standard theused tools to express the software concepts. Now on days it is used all around the world, togetherwith a whole of support tools to the development of software. This article uses the UML 2.0 to facethe capacity of some tools of modeling available in the market in the application of this language.

KEY-WORDS: UML, Tools of CASEs

1. INTRODUÇÃO

A grande importância e complexidade do software necessitam, que se tenha méto-dos de engenharia sólidos o suficiente para garantir a qualidade do produto final. O mesmo modo,também é preciso manter a equipe e todos os envolvidos atualizados com os requisitos de softwaree a análise do sistema.

Este artigo aborda a utilização da UML 2.0, quatro ferramentas de Modelagemforam analisadas, a IBM Rational Software Modeler 7.0, Sparx Enterprise Architect 6.5.802, oBorland Together for Eclipse 2006 R2 e o Poseidon for UML CE 4.2.1, comparando as caracterís-ticas de cada ferramenta em relação a UML.

*Coordenador do curso de Pós-Graduação - Engenharia de Software com UML da UniFil, e-mail:[email protected]** Discente do curso de Especialização Engenharia de Software e UML em 2006, e-mail: [email protected]*** Docente do curso de Sistemas de Informação da UniFil, e-mail: [email protected]**** Docente do curso de Engenharia de Software do curso de Pós Graduação da UniFil

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Sergio A. Tanaka, Thiago A. Herek, Simone S. Tanaka e Ruy T. Nishimura

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No capítulo 2 são apresentados a linguagem UML e seus diagramas, no capítulo 3são apresentados os conceitos de ferramentas de modelagem e as ferramentas utilizadas no traba-lho. O capítulo 4 apresenta o estudo comparativo entre as ferramentas e finalmente no capítulo 5as conclusões e trabalhos futuros.

2. UML

A linguagem UML é mundialmente conhecida e utilizada largamente para avisualização, especificação, construção e documentação de projetos de software.

A UML surgiu da unificação de outras linguagens gráficas de modelagem utilizadasna década de 80 e inicio da década de 90. Seu primeiro esboço, a versão 0.8, surgiu no final de 1994,e em 1997 na versão 1.1 passou a ser controlada pela OMG, um consórcio aberto de empresas.

De acordo com Pender (2004), a versão 2.0 é uma melhoria substancial da arqui-tetura básica, acertando muitas das definições fundamentais e melhorando o alinhamento comoutras tecnologias importantes, patrocinadas pelo OMG.

A UML 2.0 descreve 13 diagramas que são divididos em três tipos: Diagramas deEstrutura, Diagramas de Comportamento e Diagramas de interação:

• diagramas da Estrutura: Diagrama da Classe, Diagrama do Objeto, Diagra-ma Componente, Diagrama de Estrutura Composta, Diagrama do Pacote eDiagrama de Distribuição.

• diagramas do Comportamento: Diagrama do Caso do Uso, Diagrama daAtividade e Diagrama da Máquina do Estado.

• diagramas da Interação: Diagrama de Seqüência, Diagrama de Comunica-ção, Diagrama de Sincronismo e Diagrama Visão Geral da Interação.

A UML recebeu novos diagramas após a versão 1, outros receberam algumasmudanças, na Tabela 1 estão os diagramas da UML 2.0 e seus objetivos.

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Tabela 1 – Diagramas Oficiais da UML (FOWLER 2004, p. 33).

3. FERRAMENTAS DE MODELAGEM

Pressman (1995) define ferramentas de engenharia de software como ferramen-tas que proporcionam apoio automatizado ou semi-automatizado aos métodos de planejamento eestimativa de projeto, análise de requisitos de software e de sistemas, projeto da estrutura dedados, arquitetura do programa e algoritmo de processamento, codificação, teste e manutenção.Quando as ferramentas são integradas de forma que a informação criada por uma ferramentapossa ser usada por outra, é estabelecido um sistema de suporte ao desenvolvimento de software,chamado engenharia de software auxiliada por computador (CASE – Computer-Aided SoftwareEngineering).

De acordo com Pender (2004), essas ferramentas eram consideradas como a“bola de prata” da época, pois prometiam geração de código completa a partir de modelos, demodo que os modeladores de negócios poderiam projetar o workflow dos negócios e apertar umbotão para gerar as aplicações de suporte.

Sabe-se que tal promessa não foi cumprida, e segundo Pender (2004), por essemotivo o termo CASE ficou um tanto manchado, e tem sido evitada a utilização desse termo nasnovas ferramentas de modelagem, porém com o passar dos anos observou-se que tais ferramentaseram extremamente importantes na ajuda aos usuários para analisar e projetar seus sistemas.

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Sergio A. Tanaka, Thiago A. Herek, Simone S. Tanaka e Ruy T. Nishimura

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Por esse motivo ferramenta de modelagem tornou-se mais apropriado para des-crever essas ferramentas, já que as mesmas auxiliavam na modelagem, captura e disseminação deinformações do projeto e não geravam o código como inicialmente prometido.

Segundo Pender (2004) a tecnologia avançou tanto que a geração completa decódigo de uma ferramenta de modelagem novamente está sendo examinada como uma possibilida-de real. O alinhamento direto do código orientado a objeto com modelos orientados a objeto, amaturidade contínua da especificação UML e o advento de serviços WEB e linguagens de execu-ção comercial, tornaram a geração completa de código a partir de modelos de negócios e tecnológicosum objetivo imaginável.

As ferramentas de modelagem modernas geram algumas partes de código, o querealmente automatiza a construção de uma parte do sistema, porém por mais especificado e deta-lhado que seja a modelagem do sistema, o código gerado ainda é limitado a algumas especificaçõesbásicas dos modelos.

Nas próximas seções são apresentadas algumas informações das ferramentasutilizadas neste trabalho.

3.1 Rational Software ModelerA Rational Software Modeler (RSM, 2006), é uma ferramenta de modelagem da

fabricante Rational (IBM), atualmente (Dezembro – 2006) está na versão 7.0.De acordo com as especificações da IBM, a versão 7.0 do RSM, que foi objeto

de estudo deste artigo, possui suporte para modelagem na UML 2.1 na análise e projeto usandoCasos de Uso, Classe, Seqüência, Atividade, Diagramas de Estruturas Compostos, Máquina deEstado, Comunicação, Componente e Distribuição e suporte a transformação MDA.

3.2 Sparx Enterprise ArchitectO Enterprise Architect - EA (SPARX, 2006) é uma ferramenta de modelagem da

fabricante australiana Sparx Systems e atualmente (Dezembro – 2006) está na versão 6.5.De acordo com as especificações da Sparx Systems, a versão 6.5, que foi utilizada

neste artigo, possui suporte aos diagramas da UML 2.1 e suporte à transformação MDA.

3.3 Borland TogetherTogether (BORLAND, 2006) é uma ferramenta de modelagem da fabricante

Borland e atualmente (Dezembro – 2006) está na versão 2006 R2, neste artigo foi utilizado aversão “Together 2006 Release 2 for Eclipse”, a Borland é muito conhecida na área de desenvol-vimento devido a ferramenta IDE Delphi.

De acordo com a fabricante, Together é uma plataforma de modelagem visualbaseada em papéis que amparam arquitetos, desenvolvedores, designers de UML, analistas deprocessos de negócios e modeladores de dados na criação acelerada de aplicações de software dealta-qualidade.

3.4 Gentleware Poseidon for UMLO Poseidon (GENTLEWARE, 2006) é uma ferramenta de modelagem da fabri-

cante Gentleware, empresa fundada em 2000 em Hamburgo na Alemanha. A empresa possui 5versões para a ferramenta de modelagem, entre elas uma voltada para usuários não comerciaischamada de Community Edition (CE).

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Estudo de Ferramentas de Modelagem em Relação à UML 2.0

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De acordo com o fabricante, a versão CE, é perfeita para estudantes, iniciantes eusuários não comerciais, suporta a UML 2.0 e engenharia reversa com JAVA.

4. ESTUDO COMPARATIVO

Além dos treze diagramas da UML foi avaliada a geração de códigos a partir damodelagem e a engenharia reversa nas linguagens JAVA, C++ e Visual Basic, com o objetivo deconstatar o suporte a linguagem UML e avaliar os recursos largamente utilizados pela comunidadede engenharia de software.

A Tabela 2 apresenta as principais informações sobre as ferramentas testadasneste artigo.

Tabela 2 - Resumo das Ferramentas

No item “facilidade de uso” foi avaliado o desempenho e o ambiente de trabalhodas ferramentas levando em conta o suporte multilíngüe, ícones intuitivos, organização das janelas,opções e o conteúdo de ajuda.

Para o suporte a UML 2.0 foram avaliados os 13 diagramas, com os novos recur-sos da linguagem. Enquanto que na geração de código foi avaliada a codificação a partir do diagra-ma de classe.

Na avaliação do recurso engenharia reversa foram utilizados os próprios códigosgerados pelas ferramentas para gerar os modelos em UML.

A Tabela 3 demonstra o resultado do estudo entre as ferramentas.

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Sergio A. Tanaka, Thiago A. Herek, Simone S. Tanaka e Ruy T. Nishimura

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Tabela 3 - Comparativo Entre Ferramentas

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Estudo de Ferramentas de Modelagem em Relação à UML 2.0

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5. CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS

As ferramentas de modelagem estão evoluindo rapidamente para atender as no-vas versões da UML, é possível constatar que todas as ferramentas estudadas foram capazes desuportar completamente a UML 2.0 com seus 13 diagramas.

Além da linguagem UML, foram confrontadas as capacidades de transformaçãode códigos, recurso que auxilia e economiza muitas linhas de código para os analistas de sistema, aengenharia reversa e também a capacidade multiplataforma das ferramentas.

Após a comparação entre as ferramentas, pode-se verificar que as diferenças sãopequenas. Mesmo em ferramentas de baixo custo a qualidade nos recursos para a modelagem dosistema se mantém da mesma maneira, como nas ferramentas mais conceituadas.

A transformação e a engenharia reversa podem ser consideradas satisfatórias, amaioria das ferramentas atende as linguagens largamente usadas no mundo. No caso da ferramen-ta Poseidon alguns destes recursos são limitados pela versão “Community Edition”, sendo que afabricante Gentleware possui outras versões mais completas, voltadas para profissionais.

Outro requisito avaliado foi a capacidade multiplataforma, para qual todas as fer-ramentas possuem no mínimo versões para duas plataformas distintas. Foram avaliadas as capaci-dades para as plataformas Windows e Linux, porém algumas ferramentas suportam outras plata-formas como Solaris, Mac entre outras.

Verificou-se que as ferramentas de modelagem estão evoluindo em conjunto comas novas versões da UML, possibilitando aos analistas manterem seus projetos atualizados com aúltima versão da linguagem padrão de modelagem. Este papel é muito importante, pois os esforçosda OMG e seus colaboradores em relação à criação e a manutenção da UML seriam em vão senão houvesse ferramentas capazes de atender as necessidades dos analistas na utilização destalinguagem.

O estudo deste trabalho possibilita a iniciação de confrontos com novas ferramen-tas de modelagem que estão no mercado, mas seria atraente avaliar a comparação da transforma-ção MDA, a geração de códigos em outras linguagens, e a modelagem UML com as próximasversões que certamente surgirão.

6. REFERÊNCIAS

BOOCH, Grady; FOWLER, Martin; KOBRYN, Cris. UML Essencial. São Paulo: Bookman,2005.

BORLAND, Together. Borland Together Technologies. Disponível em: <http://www.borland.com>. Acesso em 27 de dezembro de 2006.

GENTLEWARE, Poseidon. About the Community Edition. Disponível em: <http://www.gentleware.com>. Último acesso em 20 de dezembro de 2006.

PENDER, Tom. UML a Bíblia. Rio de Janeiro: Campus, 2004.

PRESSMAN, Roger S. Engenharia de Software. São Paulo: Makron Books, 1995

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Sergio A. Tanaka, Thiago A. Herek, Simone S. Tanaka e Ruy T. Nishimura

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RATIONAL. Rational Software Modeler. Disponível em <http://www-306.ibm.com>. Acessoem 27 de dezembro de 2006.

SPARX, Enterprise Architect. UML Design Tools. Disponível em <http://www.sparxsystems.com.au>. Acesso em 27 de dezembro de 2006.

UML, Unified Modeling Language. Introduction to OMG UML. Disponível em <http://www.omg.org>. Acesso em 22 de dezembro de 2006.

UML, Unified Modeling Language. UML Resource Page. Disponível em <http://www.uml.org>.Acesso em 22 de dezembro de 2006.

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Estudo de Ferramentas de Modelagem em Relação à UML 2.0

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PRÊMIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

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Contribuições da Psicologia do Desenvolvimento na Aquisição da Linguagem e Formação do Pensa-mento: A Aprendizagem Escolar da Criança de 05 e 06 Anos na Educação Infantil

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Eliana Aparecida Assis Motta e Ana Cláudia Cerini Trevisan

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* Aluna do 2ª ano do curso de Pedagogia da UniFil. E-mail: [email protected]** Professora Orientadora. Pedagoga.

CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO NA AQUISI-ÇÃO DA LINGUAGEM E FORMAÇÃO DO PENSAMENTO: A APRENDIZA-GEM ESCOLAR DA CRIANÇA DE 05 E 06 ANOS NA EDUCAÇÃO INFANTILCONTRIBUTIONS OF PSYCHOLOGY OF DEVELOPMENT IN THE ACQUISITION OF LANGUAGE

AND TRAINING AND THOUGHT FORMATION: THE LEARNING OF SCHOOL CHILDREN FROM 05AND 06 YEARS IN CHILD REARING

Eliana Aparecida Assis Motta*Ana Cláudia Cerini Trevisan**

Não acredites nos que sabem tudo. Os que muito sabem,sabem que têm muito a aprender. A educação é do tama-nho da vida. Não há começo. Não há fim. Só travessia(Rubens Alves).

RESUMO:Este artigo discute brevemente a relação entre desenvolvimento cognitivo, aquisição de linguageme formação do pensamento dentro do processo de aprendizagem da criança. Tal se faz necessário,pois o educador precisa conhecer como se dá a inteligência humana e como ocorre cada passo doprocesso de desenvolvimento. Parte do pressuposto de que o educador que conhece o processo dedesenvolvimento da criança, como ela pensa, como se desenvolve, como adquire linguagem, comose forma seu conhecimento, e o que pode ou não influenciar nesse processo, terá facilidade emrespeitar a criança em sua individualidade, e possibilitar que ela tenha um desenvolvimento saudá-vel e adequado dentro do ambiente familiar, social e consequentemente escolar.

PALAVRAS-CHAVE: Aprendizagem. Desenvolvimento. Linguagem.

ABSTRACT:This article briefly discusses the relation between cognitive development, acquisition of languageand thought formation inside the learning process of the infant. That is necessary, therefore theeducator needs to know the process of the human intelligence and how occurs each step of thedevelopment. Starts from the budget that the educator who knows the infant´s process ofdevelopment, how it thinks, how it develops, how it acquires the language, how it forms its knowledgeand what is able to influence or not in that process, will have facillity to respect the infant in itsindividuality, and enable that it has an adequate and healthy development inside the family andsocial environments, and as a consequence, the school.

KEY-WORDS: Development. Language. Learning.

O presente artigo refere-se a um estudo, em andamento, que tem como intuitorealizar uma análise sobre o desenvolvimento, formação do pensamento e aquisição da linguagemno processo de ensino aprendizagem da criança na Educação Infantil.

O desenvolvimento está diretamente relacionado à aprendizagem e à forma deraciocinar, de aprender e à construção da linguagem se dá por estágios ou fases, que vão sedesenvolvendo através de um processo continuo e progressivo.

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Contribuições da Psicologia do Desenvolvimento na Aquisição da Linguagem e Formação do Pensa-mento: A Aprendizagem Escolar da Criança de 05 e 06 Anos na Educação Infantil

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O processo do pensamento humano muda lentamente, do nascimento até a matu-ridade, de acordo com nossas intenções de dar significado ao mundo e da nossa relação com omesmo. A linguagem é um instrumento essencial para o desenvolvimento mental e também uminstrumento de pensamento. Portanto, o desenvolvimento da linguagem e do pensamento deve servisto como um processo interdependente.

Deste modo, torna-se imprescindível que educadores conheçam o processo dedesenvolvimento da criança e suas fases para poder respeitá-las, pois, de acordo com essa teoria,o processo de desenvolvimento da criança pode influenciar o processo de ensino e aprendizagem eauxiliar na compreensão do nível de raciocínio da criança.

1. AS FASES DE DESENVOLVIMENTO E A APRENDIZAGEM DA CRIANÇA

Nas últimas décadas vem se discutindo muito sobre o processo de desenvolvimen-to e de aprendizagem, as contribuições da psicologia do desenvolvimento, bem como as implica-ções mútuas, entre esses processos e o ensino.

Em primeiro lugar, é preciso compreender que estudiosos do desenvolvimento hu-mano focalizam o estudo científico pro posto como as pessoas mudam e se desenvolvem desde aconcepção até a morte. Buscando ver o que as pessoas precisam para se desenvolver normalmen-te e como elas reagem diante das influências internas ou externas e como podem melhorar arealização de seus potenciais e qualidades.

O estudo do desenvolvimento humano é complexo, pois as mudanças, demasiadosnumerosas e muitas vezes aleatórias, ocorrem em vários aspectos diferentes. Contudo, esses estãoentrelaçados, um pode afetar o outro, e acontecem ao longo de toda a vida. A mudança de desen-volvimento pode ser sistemática, enquanto coerente e organizada, e pode ser adaptativa no sentidoque tem como objetivo lidar com as condições internas e externas da existência humana. (PAPAIA,OLDS, 2000).

Existem dois tipos de mudança de desenvolvimento, a quantitativa que é uma mu-dança em número ou quantidade, como o aumento de peso, altura, ou de vocabulário; e a qualitativaque é marcada pelo aparecimento de novos fenômenos, sendo uma mudança de tipo, estrutura ouorganização.

No entanto, dentro da Psicologia do desenvolvimento existem várias teorias sobreo desenvolvimento, que explicam de diferentes maneiras como o ser humano atinge o conhecimen-to, adquire linguagem e desenvolve o pensamento.

Destacamos aqui, de acordo com Rego (1995, p. 86-92), três grandes teorias queabordam essa questão: o INATISMO acredita que a criança nasce com o conhecimento pré-formado, e os acontecimentos que ocorrem após o nascimento não são importantes ou essenciaispara seu desenvolvimento, pois, sua personalidade e valores já nascem prontos, sendo assim, nãoacontecem grandes transformações ao longo da vida da criança. Carl Rogers é um dos teóricosque se embasa nesta teoria.

No EMPIRISMO acredita-se que o conhecimento se forma na mente do indivíduopor meio de experiências sensoriais, o conhecimento é algo estático que pode se esgotar, serátransmitido ao sujeito que é considerado passivo, que nada sabe e tem a mente vazia. O empirismoé a base do ensino tradicional, pois somente o professor detém o conhecimento e o aluno é um

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Eliana Aparecida Assis Motta e Ana Cláudia Cerini Trevisan

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mero ouvinte. Entre os teóricos que se embasam nesta teoria estão J. B. Watson e B. F. Skinner.Já no INTERACIONISMO (Cognitivo, Sócio-interacinismo), parte da relação entre

sujeito e objeto, e a aprendizagem se dá através da relação entre sujeito e o ambiente social em quevive. Dentre os teóricos que se embasam nesta teoria estão J. Piaget e Lev. S. Vygotsky.

O desenvolvimento humano é estudado em todos os seus aspectos. O aspectofísico-motor, refere-se ao crescimento orgânico, à maturação neurofisiológica, à capacidade demanipulação de objetos e de exercício do corpo. Já o intelectual, refere-se à capacidade de pensa-mento e raciocínio. O aspecto afetivo-emocional refere-se ao modo particular do indivíduo integraras suas experiências. Por fim, o aspecto social, diz respeito à maneira como o indivíduo reagediante das situações e acontecimentos e na relação com os outros. (BOCK; FURTADO;TEIXEIRA, 2005, p. 100)

Além disso, existem alguns fatores que influenciam no desenvolvimento humanocomo: a hereditariedade que é a carga genética que estabelece o potencial do indivíduo, que podeou não se desenvolver; o crescimento orgânico, que se refere ao aspecto físico; a maturaçãoneurofisiológica que torna possível determinado padrão de comportamento; e o meio que é o con-junto de influências e estimulações ambientais. (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2005, p. 100)

A linguagem é um dos aspectos do desenvolvimento humano, e, assim como osoutros, não pode ser estudada separadamente, pois pode afetá-los. Para Papalia e Olds (2000, p.25), a linguagem é essencial para o desenvolvimento mental, sendo um instrumento do pensamento,que ajuda a classificar objetos, compreender inferências e analogias e pensar sobre as idéias. Alémdisso, pode ter um enorme efeito sobre a auto-estima e os relacionamentos sociais.

Segundo Vygotsky citado por Barros (1996, p. 125), a construção da linguagem sedá por fases, sendo que na primeira fase a criança tem uma fala individual, pós-pensamento, ouseja, ela fala, mas não consegue fazer a interação com a ação. Na segunda fase a criança jáconsegue falar e pensar ao mesmo tempo. Finalmente, na terceira fase, a criança consegue pensarantes de agir, ou seja, o pensamento vem antes da ação.

Desse modo, a linguagem vai se desenvolvendo através de um processo contínuoe progressivo.

Para Piaget (1932) o desenvolvimento humano apóia-se principalmente no biológi-co. As estruturas cognitivas serão resultado da relação entre criança e o ambiente, apoiada noaparato biológico. Sendo assim, para o desenvolvimento da inteligência é necessária a maturaçãobiológica. Todo esse processo nos leva a compreender o homem em todos os seus aspectos, psíqui-co, físico, emocional, cognitivo; e a compreender como o ser humano se constrói como sujeitocognitivo. (COLL; GILLIÉRON, 1887).

Piaget sustenta que a origem do conhecimento está no próprio sujeito, e o pensa-mento não é inato, mas é fundamentalmente construído na interação homem e objeto.(RAPPAPORT, 1981, p. 20),

La Taille (2003) explica que para Piaget (1969) o processo de desenvolvimentopossui dois aspectos importantes: a assimilação e a acomodação.

A assimilação consiste na tentativa da criança em solucionar uma determinadasituação, pois a criança vive em uma constante atividade de interpretação da sua realidade. Naapropriação do objeto de conhecimento, do meio ambiente, sem alterar suas estruturas a criança

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Contribuições da Psicologia do Desenvolvimento na Aquisição da Linguagem e Formação do Pensa-mento: A Aprendizagem Escolar da Criança de 05 e 06 Anos na Educação Infantil

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desenvolve ações destinadas a atribuir significações a partir de experiências já conhecidas por ela,dando-lhe significado.

Já a acomodação consiste na capacidade de modificação da estrutura mental,adequando os novos esquemas aos novos dados, buscando dominar, aprender e conhecer um novoobjeto, uma nova situação. Acomodação se dá em decorrência da assimilação.

Os processos de assimilação e de acomodação são complementares e estão pre-sentes durante toda a vida do indivíduo, mas no decorrer do desenvolvimento um processo podesobrepor ao outro.

Segundo Piaget (1978, p. 46), a relação com o objeto, é essencial para o desenvol-vimento cognitivo, pois é necessário que se estabeleça uma relação com o meio e o objeto, parapoder avançar na construção do desenvolvimento. “Com efeito, a vida é uma criação contínua deformas cada vez mais complexas e o estabelecimento de um equilíbrio progressivo entre estasformas e o meio”.

A teoria de Piaget do desenvolvimento é uma teoria de etapas, assim pressupõeque os seres humanos passam por uma série de mudanças ordenadas e previsíveis. E pode serinfluenciado por fatores como: maturação, exercitação, aprendizagem social e equilibração.

Deste modo, Coll e Gillièron (1987) afirmam que Piaget (1969) divide o desenvol-vimento humano em quatro etapas ou fases, sendo cada uma caracterizada por formas diferentesde organização mental, possibilitando à criança diferentes maneiras de interagir com a realidadeque a rodeia.

As etapas ou fases do desenvolvimento classificam-se em: Período sensório-mo-tor (0 a 2 anos); Período Pré-preparatório (2 a 7 anos); Período operatório concreto (7 a 11 anos);Período operatório formal (12 anos em diante).

O período Sensório motor é o estágio inicial e vai do nascimento até os dois anosde idade. Nesse a atividade intelectual é de natureza sensorial motora. Esse estágio é a base quegarante a seqüência de avanços dos demais estágios. A criança constrói através de esquemas deação para assimilação uma pequena idéia do universo, do mundo, construindo uma noção de objeto,tempo e espaço, pela ação o contato com o meio é direto e imediato.

O período Pré-operatório caracteriza-se pelo aparecimento da função simbólica, alinguagem é aos poucos inserida no mundo da criança, porém ainda é uma linguagem egocêntrica,centrada em si mesma. Tudo tem que ter uma explicação, é a fase dos “Por quês”.

No terceiro período, Operatório Concreto, a característica predominante é a pos-sibilidade da criança fazer com a cabeça o que até então fazia com as mãos, a criança começa ausar a lógica e o raciocínio na manipulação dos objetos concretos, também neste período a criançacomeça estabelecer relações.

A criança desenvolve noções de tempo, espaço, velocidade, ordem, objeto, já sen-do capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair dados da realidade.

Por fim, no período Operatório formal a criança amplia sua capacidade de racioci-nar, não se limita mais a representações imediatas nem somente a relações já conhecidas por ela,mas aqui a criança é capaz de pensar em todas as relações possíveis, buscando soluções a partir dehipóteses e não apenas pela observação da realidade, ela tem capacidade de criticar e de elaborarpensamentos mais concretos e raciocínio lógico.

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Eliana Aparecida Assis Motta e Ana Cláudia Cerini Trevisan

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Para Dolle (1981 p. 49) Piaget define a inteligência como uma das formas deadaptação:

A inteligência humana é uma das formas de adaptação que assumiu a vidaem sua evolução. [...], com efeito, a vida é uma criação contínua de formascada vez mais complexas e um equilíbrio progressivo entre essas formas e omeio. A inteligência [...] é essencialmente uma organização com a função deestruturar o universo como o organismo estrutura o meio imediato.

Assim, podemos dizer que a inteligência também é um processo de assimilação eacomodação ao meio e suas variações. Pois, pela assimilação o indivíduo produz transformaçõesno mundo objetivo, e já pela acomodação ele produz transformações em si mesmo, no mundosubjetivo (BECKER, 2001).

Nas palavras de Piaget (1937, p. 311 apud SUBSTRATUM, 1997, p. 99),

[...] a inteligência não começa nem pelo conhecimento do self nem pelo dascoisas como tais, mas, sim, pela sua interação e é orientando-se simultanea-mente em direção aos dois pólos dessa interação que ela organiza o mundo,organizando-se a si mesma.

Dando significado ao mundo e à sua realidade, a criança vai se conhecendo edescobrindo cada vez mais a si mesmo e se tornando independente da realidade.

O educador conhecendo o processo de desenvolvimento cognitivo da criança ,entendendo como nasce a inteligência humana, e como se dá cada passo desse processo cognitivopode, pela educação, possibilitar o avanço da inteligência da criança.

Sabendo questionar e ouvir a criança, o educador pode perceber melhor qual o seunível de entendimento, de aprendizagem e de leitura do mundo físico, podendo levá-la a uma interaçãocom o mundo real e despertar a vontade de pensar, refletir e aprender sempre mais, proporcionan-do momentos e atividades nos quais a criança possa se expressar livremente e colocar para foratodas as suas potencialidades.

O processo do pensamento do ser humano muda lentamente, do nascimento até amaturidade, de acordo com nossas intenções de dar significado ao mundo e da nossa relação como mesmo. (PAPAIA; OLDS, 2000)

Sendo assim, é importante que se estimule e atue no potencial da própria criança,proporcionando o avanço para níveis maiores de pensamento, através da ação e reflexão. E aquientra a necessidade de avaliar como está o nível de pensamento da criança, para que o educadorcom este conhecimento, possibilite que a criança avance para níveis superiores do pensamento.

O processo de desenvolvimento da criança é muito importante, por isso, deveacontecer de forma natural e saudável, para mais tarde não prejudicar o processo de aprendizagemescolar da mesma. É essencial a participação do educador nesse processo, como mediador, porémtambém é fundamental que o professor seja capaz de criar situações que levem a criança a apren-der, e a desenvolver as suas habilidades e potenciais.

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Contribuições da Psicologia do Desenvolvimento na Aquisição da Linguagem e Formação do Pensa-mento: A Aprendizagem Escolar da Criança de 05 e 06 Anos na Educação Infantil

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2. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise das múltiplas e profundas imbricações entre aprendizagem, desenvolvi-mento e linguagem não se esgotam aqui. Contudo, conforme visto, é de suma importância compre-ender o desenvolvimento infantil e suas implicações no processo de aprendizagem da criança,analisando o processo de formação de pensamento e aquisição da linguagem.

Segundo Carl R. Rogers (1961) o único homem que se educa aprendeu comoaprender, como se adaptar e mudar; capacitou-se de que nenhum conhecimento é seguro, quenenhum processo de busca de conhecimento oferece uma base de segurança.

Assim, também é fundamental que o educador busque uma formação contínua eatualizada e, a partir daí, promova, auxilie e estimule um desenvolvimento integral da criança dentrode todos os âmbitos.

3. REFERÊNCIAS

BARROS, Célia Silva Guimarães. Psicologia e Construtivismo. São Paulo: Ática, 1996.

BOCK, Ana Mercês Bahia, FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologi-as: uma introdução ao estudo da psicologia. 13ª ed. Refor. e ampl. 1999. São Paulo: Saraiva, 2002.

COLL, C., GILLIÈRON, C. Jean Piaget: o desenvolvimento da inteligência e a construção dopensamento racional. In. LEITE, L. B. (org.). Piaget e a Escola de Genebra. SP: Cortez, 1987.

DOLLE, Jean-Marie. Para compreender Jean Piaget: uma iniciação à psicologia genéticapiagetiana. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 1974.

LA TAILLE, Yves de. Prefácio. In: PIAGET, J. A construção do real na criança. 3ª ed. SãoPaulo: Ática, 2003.

PAPALIA, Diane E., OLDS, Sally Wendkos. Desenvolvimento Humano. 7ª ed. Porto Alegre:Artmed, 2000

RAPPAPORT, C. R. Modelo piagentiano. In. Rappaport; Fiori; Davis. Teoria do Desenvolvi-mento: conceitos fundamentais. v. 1, EPU, 1981.

REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: Uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis/RJ: Vozes, 1995.

ROGERS, Carl R. Torna-se pessoa. 2ª ed. Santos: Martins Fontes, 1961.

SUBSTRATUM: Temas fundamentais em Psicologia e Educação. Direção Ana Teberosk eLiliana Tolchinsky. v. 1, n. 1 (Cem Anos de Jean Piaget). Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

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Zuleide Maria Janesch, Fernanda de Souza Moura, Giselle Chagas Bueno e Antonio Belincanta

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* Aluna do Mestrado em Engenharia Urbana da Universidade Estadual de Maringá - UEM. E-mail: [email protected];[email protected]; [email protected]** Prof. Dr., Universidade Estadual de Maringá - UEM - Departamento de Engenharia Civil. E-mail: [email protected]

A IMPORTÂNCIA DA ENGENHARIA E SEGURANÇA DO TRABALHO NAPREVENÇÃO DE ACIDENTES E DOENÇAS OCUPACIONAIS

THE IMPORTANCE OF THE SECURITY ENGINEERING OF WORK IN THE PREVENTION OFOCCUPATIONAL ACCIDENT AND DISEASES

Zuleide Maria JaneschFernanda de Souza Moura

Giselle Chagas Bueno*Antonio Belincanta**

RESUMO:O presente artigo teve como objetivo tecer uma reflexão acerca da comemoração do Dia Nacionalde Prevenção de Acidentes de Trabalho. Precipuamente neste dia são divulgadas estatísticas so-bre acidentes de trabalho e doenças ocupacionais e o quanto essas despesas oneram os cofrespúblicos. Ressalta-se que tais dados são computados somente através dos cadastros dos trabalha-dores formais, ou seja, aqueles trabalhadores que possuem registro em Carteira de Trabalho ePrevidência Social. É lastimável constatar que com o aumento do número de postos de trabalhotambém há o aumento de acidentes e doenças ocupacionais. No Estado do Paraná houve umaumento do número de acidentes de trabalho no ano de 2004 para 2005, passando o referido estadoa ocupar a terceira posição no ranking nacional. No ano de 2005, dos 491 mil acidentes ocorridosno país, 36 mil foram no Paraná, sendo que o maior número de acidentes registrados por classe detrabalho se deu em atividades de atendimento hospitalar. Assim, o momento é oportuno para sedefinir o conceito de acidente de trabalho e doença ocupacional, como também para pensar comoprevenir e tentar eliminar tais ocorrências. Para tanto foi preciso proceder à revisão bibliográficaacerca do tema bem como frizar a necessidade das empresas saberem da importância em contra-tar profissionais habilitados para que estes minimizem tais problemas. Saliente-se a importância daEngenharia de Segurança como forma de contribuição nos processos industriais, ergonômicos e degerenciamento nas organizações. Demonstra-se o exemplo de um grupo de hospitais da cidade deCuritiba que adotou medidas de prevenção e de redução do número de acidentes para que maisempresas divulguem suas ações.

PALAVRAS-CHAVE: acidentes de trabalho; doenças ocupacionais; engenharia de segurança dotrabalho.

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A Importância da Engenharia e Segurança do Trabalho na Prevenção de Acidentes e Doenças Ocupacionais

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ABSTRACT:The present article had as a goal to weave a reflection about the commemorations of the NationalDay of Prevention of Accidents at Work. Mainly in this day there are divulgated the statistics aboutwork accident and occupational diseases and how much those expenses burden the public safes. Itis shown that those bases are calculated trough the official registers of formal workers, or else,those workers that have a registration in the Worker Identity and Social Security. It is pitiable toverify that with the raising of the number of work position there is also an increasing of occupationalaccidents and diseases. In the State of Paraná there where an increasing of the number of workaccidents on the year of 2004 to 2005, it makes the reported state to occupy the third position in thenational rank. In the year of 2005, from the 491 thousand accidents that happened in the country,36 thousand where in Paraná, and the greater number of accident registered by category of workhappened in hospital attendance activities. So, the moment is convenient to define the concept ofwork accident and occupational disease, as well to think on how to prevent and try to eliminatethose occurrences. For that it was needed to proceed to the bibliographical review about the themeas well as to frieze the need of the companies to know the importance on hiring qualified professionalsso those problems cam be dropped to the minimal. To point out the importance of Security Engineeringas a way to contribute in the industrial, ergometrical and management process in the organizations.It is demonstrated and example of a group of hospitals in the city of Curitiba that adopted theprevention measures and the reduction of the number of accidents so more companies can publishtheir actions.

KEY-WORDS: work accident; occupational diseases; job security engineering.

1. INTRODUÇÃO

O trabalho, enquanto atividade humana produtiva, na forma como se estrutura e seorganiza, produz danos à saúde do trabalhador. Tais danos podem ser identificados através dedoenças ocupacionais, acidentes de trabalho, morte do trabalhador e outros diversos e inespecíficosdanos. À medida que o homem modifica o mundo em que vive, também modifica e transforma a simesmo, e isso revela quem ele realmente é:

Além de o trabalho ser necessário para a manutenção da vida humana sobrea terra, ele também é fundamental para definir as condições de saúde de cadaindivíduo, pois o momento do trabalho é o espaço privilegiado para a realiza-ção do ser humano enquanto espécie consciente de sua própria existência ede sua intemporalidade (MERLO apud BAPTISTA, 2004).

Os acidentes de trabalho são considerados um problema de saúde pública em todoo mundo, por se tratarem de eventos potencialmente fatais, incapacitantes e acometerem, emespecial, pessoas jovens e em idade produtiva, fato que acarreta grandes conseqüências sociais eeconômicas. “São responsáveis pelo maior número de mortes e incapacidades graves causadospelo trabalho em todo o mundo” (TAKALA apud SANTANA et. al., 2005).

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2. ACIDENTES DE TRABALHO E DOENÇAS OCUPACIONAIS

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) define acidente do traba-lho como “(...) ocorrência imprevista e indesejável, instantânea ou não, relacionada com o exercí-cio do trabalho, de que resulte ou que possa resultar lesão pessoal” (apud FISCHER, 2005).

Segundo Araújo (2006, p. 191), os conceitos legais de acidente do trabalho e dedoença profissional utilizados atualmente pela Previdência Social brasileira referem-se ao estabe-lecido no artigo 19 e 20 da Lei 8.213 de 24 de julho de 1991, que os definem respectivamente daseguinte maneira:

Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço daempresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VIIdo art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcionalque cause a morte ou a perda ou a redução, permanente ou temporária, dacapacidade para trabalho”; e “Doença profissional, assim entendida a pro-duzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinadaatividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério doTrabalho e da Previdência Social.

Além das definições propostas na legislação, verificam-se outras definições naliteratura.

Meister (apud FISCHER, 2005) define acidente como “um evento não antecipadoque prejudica o sistema e/ou o indivíduo ou afeta a realização da missão do sistema ou de umatarefa individual”. Na concepção de Guimarães e Costella (apud FISCHER, 2005), acidente “é oincidente que tem como conseqüência a ocorrência de lesão corporal, com perda ou redução dacapacidade, permanente, temporária ou morte”.

Do ponto de vista prevencionista, um “acidente” é o evento não desejado quetem por resultado uma lesão ou enfermidade a um trabalhador ou um dano à propriedade(SHERIQUE, s/d).

Para Chiavenato (1999, p. 382), “acidente é um fato não premeditado que resultadano considerável”. Segundo este mesmo autor, o National Safety Council define acidente comouma ocorrência numa série de fatos que, sem intenção, produz lesão corporal, morte ou danomaterial.

Barbosa Filho (2001, p. 30) tece algumas considerações acerca do acidente detrabalho e da doença profissional, entendendo que “o acidente tem como resultado uma respostaabrupta, a curto prazo, e, geralmente, associa danos pessoais e perdas materiais, tendo uma ocor-rência mais aparente. A doença, por sua vez, apresenta na maioria dos casos uma resposta lenta.Manifesta-se a médio e longo prazos de forma insidiosa e sorrateira”.

Muitas são as teorias que se propõem a explicar as causas dos acidentes, a maio-ria delas tende a uma interpretação monocausal sendo a causa do acidente uma característicaindividual: propensão nata para o acidente, habilidades tendenciosas, grau de maturidade (idadeversus experiência) e desvios psicológicos, por exemplo. Contudo, isso não é a regra pois, apesarde um número reduzido, verificam-se algumas teorias que enfocam o acidente como decorrênciadas condições de trabalho sobre o trabalhador, entre elas fatores ambientais, técnicos eorganizacionais.

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2.1 Custos dos Acidentes de Trabalho e Doenças OcupacionaisNo dia 27 de julho comemora-se o Dia Nacional de Prevenção de Acidentes no

Trabalho. Durante esse dia deve-se prestar a atenção nas estatísticas e nos custos com acidentese doenças ocupacionais. Dentre muitas coisas que preocupam os brasileiros, uma delas é a perdacom gastos em acidentes de trabalho e doenças ocupacionais. Segundo uma estimativa da USP –Universidade de São Paulo, o país perde todos os anos cerca de R$ 21 bilhões por conta dosacidentes de trabalho ou doenças ocupacionais, considerando os custos diretos e indiretos. Taisgastos são somente sobre o emprego formal, calcula-se que o número de trabalhadores informaise a atualização monetária podem levar a gastos em torno de R$ 51 bilhões. Somente no estado doParaná foram gastos R$ 2 bilhões, o estado, de 2004 para 2005, pulou do quarto para o terceirolugar no ranking nacional de acidentes de trabalho . Durante o ano de 2005, no Brasil, ocorreram491 mil acidentes, no estado do Paraná foram 36 mil, sendo que o maior número de acidentes detrabalho registrado em uma única classe aconteceu com as atividades de atendimento hospitalar.Tais dados são assustadores, pois 4% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro estão sendo perdi-dos por conta de acidentes e doenças ocupacionais. José Pastore, pesquisador da USP revela quea cada R$ 1,00 investido em segurança e saúde do trabalhador, economiza-se R$ 4,00 com aciden-tes e doenças ocupacionais (BEMPARANÁ, 2007).

De acordo com o boletim da Previdência Social, os acidentes de trabalho ocorridosno Brasil nos anos de 2003 a 2005 alcançam o importe de um bilhão e trezentos e cinqüenta e seismilhões de reais, assim distribuídos:

Tabela 1 – Demonstrativo do número de acidentes de trabalho no Brasilentre o período de 2003 a 2005

Fonte: BEMPARANÁ, 2007.

No ano de 2005, dos 491 milhões de acidentes 2.700 foram com vítimas fatais noambiente de trabalho. O motivo dos aumentos de acidentes e doenças ocupacionais se deve ao fatode que houve um aumento de registros em carteira, conforme dados fornecidos pelo Caded –Cadastro Geral de Empregados e Desempregados:

Tabela 2 – Demonstrativo do aumento do número de registros em carteira entre operíodo de 2003 a 2005

Fonte: BEMPARANÁ, 2007.

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De acordo com o diretor do Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho doMinistério do Trabalho e Emprego (MTE), Rinaldo Marinho, há um número maior de trabalhadoresexpostos, consequentemente um número maior de acidentes de trabalho. Marinho cita que háoutros fatores que contribuem:

• Aumento das fiscalizações do trabalho;

• Notificações de acidentes de trabalho e

• Profissionais capacitados para reconhecer os casos que são acidentes detrabalho.

De acordo com a Previdência Social em junho de 2007 foram pagos 29.290 bene-fícios que somaram R$ 20.700.000,00 divididos da seguinte maneira:

Tabela 3 – Relação dos benefícios pagos no mês de Junho de 2007

Fonte: BEMPARANÁ, 2007.

É importante salientar que no Brasil, os dados divulgados pelo Ministério da Previ-dência Social (MPS) limitam-se somente aos trabalhadores segurados, uma vez que esses dadossão obtidos através do número de CAT’s (Comunicados de Acidente de Trabalho) emitidas pelasempresas.

Entretanto, sabe-se que é crescente no país o número de trabalhadores sem contratoformal de trabalho, chegando a representar “a maioria da força de trabalho em algumas regiõesurbanas (CACCIAMALLI apud SANTANA et. al., 2003). Estes trabalhadores informais muitasvezes estão envolvidos em atividades mais perigosas que as dos trabalhadores formais, como manu-tenção, ou atividades que são realizadas sem as medidas de proteção impostas aos demais trabalha-dores. Tais aspectos colocam o referido grupo de trabalhadores “em maior risco para acidentes eouras enfermidades ocupacionais” (QUINLAN et. al. apud SANTANA et. al., 2003).

Muito embora se verifique uma tendência de declínio nas ultimas décadas, a mor-talidade por acidente de trabalho no Brasil vem se mantendo em níveis mais elevados do que emoutros países (MACHADO & GOMES apud SANTANA et. al., 2005). Isso expressa a precarie-dade das condições de trabalho e a baixa efetividade da regulamentação dos ambientes de trabalhoexistentes no país. Entretanto, há que se atentar ao fato de que, inversamente à queda do índice deacidentes de trabalho, ocorreu um forte crescimento das doenças relacionadas ao trabalho, afigu-rando-se como caso emblemático as LER/Dort (SALIM, 2003).

Para que esses números não sejam tão elevados e os acidentes possam ser evita-dos é necessário que as empresas e organizações implementem ações que visem conscientizar ostrabalhadores sobre os acidentes de trabalho e as doenças profissionais. Neste sentido, a Engenha-ria de Segurança do Trabalho galga um patamar de extrema importância na medida em que figuracomo a sentinela da integridade e capacidade laborativa do trabalhador.

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3. ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

Segundo o Dicionário de Segurança do Trabalho da Universidade Paulista, Enge-nharia de Segurança do Trabalho é o ramo da Engenharia que se dedica a planejar, elaborar pro-gramas e a desenvolver soluções que visam minimizar os acidentes de trabalho, doençasocupacionais, como também proteger a integridade e a capacidade de trabalho do trabalhador.

Um dos elos mais importantes no processo de melhoria dos ambientes laborais é oEngenheiro de Segurança do Trabalho, profissional que após ter completado o curso de graduaçãoem qualquer uma das áreas da engenharia ou o curso de arquitetura, habilita-se através de umcurso de pós-graduação em nível de especialização, com carga horária de 600 horas, a desenvolveras várias atividades prevencionistas na área de segurança e saúde do trabalho (MOREIRA, 2003).

O engenheiro de segurança do trabalho é o profissional que visa à proteção dotrabalhador em todas as instâncias de sua atuação dentro de uma empresa. É ele quem analisa oambiente de trabalho, segundo as condições de higiene, segurança e verifica se as normas doMinistério do Trabalho estão sendo cumpridas, para que o trabalhador não seja explorado ou trata-do de forma sub-humana pelos seus empregadores.

De acordo com Moreira (2003), o profissional da engenharia e segurança do tra-balho poderá atuar na área de consultoria às empresas, ser perito judicial e/ou assistente nasquestões trabalhistas, fazer parte do Serviço Especializado de Segurança e Medicina do Trabalho- SESMT, ser professor, etc. Tem como objetivo prevenir a ocorrência de acidentes e doençasdentro da empresa. As responsabilidades do Engenheiro de Segurança do Trabalho, enquanto inte-grante do Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho – SESMT, estãoestabelecidas na Norma Regulamentadora nº 4, dentre as quais destacam-se:

• aplicar os conhecimentos de engenharia de segurança do trabalho ao ambientede trabalho e a todos os seus componentes, inclusive máquinas e equipamentos,de modo a reduzir até eliminar os riscos ali existentes à saúde do trabalhador;• determinar, quando esgotados todos os meios conhecidos para a eliminação do riscoe este persistir, mesmo reduzido, a utilização, pelo trabalhador, de Equipamentos deProteção Individual-EPI, de acordo com o que determina a NR 6, desde que a con-centração, a intensidade ou característica do agente assim o exija;• manter permanente relacionamento com a CIPA, valendo-se ao máximo de suasobservações, além de apoiá-la, treiná-la e atendê-la, conforme dispõe a NR 5;• colaborar, quando solicitado, nos projetos e na implantação de novas instalaçõesfísicas e tecnológicas da empresa;• responsabilizar-se tecnicamente pela orientação quanto ao cumprimento do dis-posto nas NR aplicáveis às atividades executadas pela empresa e/ou seus estabe-lecimentos;• promover a realização de atividades de conscientização, educação e orientaçãodos trabalhadores;• esclarecer e conscientizar os empregadores sobre acidentes do trabalho e doen-ças ocupacionais, estimulando-os em favor da prevenção;• analisar e registrar em documento(s) específico(s) todos os acidentes e doençasocupacionais ocorridos na empresa ou estabelecimento.

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A Norma Regulamentadora nº 4 prevê ainda que as atividades dos profissionaisintegrantes dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalhosão essencialmente prevencionistas, embora não seja vedado o atendimento de emergência, quan-do se tornar necessário.

Essa é a forma mais eficiente de se promover e preservar a saúde e integridadefísica dos trabalhadores e prevenir os riscos ocupacionais. Uma vez conhecido o nexo causal entrediversas manifestações de enfermidades e a exposição a determinados riscos, fica claro que, todavez que se atua na eliminação ou neutralização desses riscos, está-se prevenindo uma doença ouimpedindo o seu agravamento.

A antecipação dos riscos envolve a análise de projetos de novas instalações, méto-dos ou processos de trabalho, ou de modificação dos já existentes, visando identificar os riscospotenciais e introduzir medidas de proteção para sua redução ou eliminação. A atuação eficaz doEngenheiro de Segurança, nessa etapa, irá garantir projetos que eliminem alguns riscos antecipa-dos e neutralizem aqueles inerentes à atividade ou aos equipamentos.

4. METODOLOGIA

Com base na tipologia de (VERGARA, 1998), que classifica as pesquisas quantoaos fins e quanto aos meios, este estudo pode ser classificado como uma pesquisa descritivaqualitativa, quanto aos fins; e como uma pesquisa bibliográfica e de campo, quanto aos meios.Pesquisas descritivas, segundo (GIL, 1996), podem ter como objetivo estudar as características deum grupo, levantar opiniões, atitudes e crenças de uma população. A pesquisa também é bibliográ-fica porque, para a fundamentação teórico-metodológica do trabalho, foi realizada uma investiga-ção sobre os preceitos teóricos dos acidentes de trabalho e doenças ocupacionais e engenharia desegurança do trabalho. Configura-se como pesquisa de campo porque foi realizado um estudo nasunidades hospitalares do GRUPO VITA, localizadas no município de Curitiba, capital do estado doParaná.

A coleta de dados e a estruturação de modelos para diagnóstico se processarampela observação, análise de documentos e pela realização de entrevistas não-estruturadas com osuperintendente do grupo e funcionários responsáveis pelo gerenciamento das ações preventivascontra acidentes do trabalho e doenças ocupacionais.

Ressalta-se que os dados obtidos foram tratados de forma qualitativa e interpreta-dos a partir das discussões contidos na fundamentação teórica que norteou o desenvolvimentodeste estudo.

5. O CASO DO HOSPITAL VITA DE CURITIBA/PR

As organizações iniciam o processo de desenvolvimento de uma unidade respon-sável pela saúde e segurança do trabalho adotando as condições impostas pela legislação trabalhis-ta, garantindo à força de trabalho as condições adequadas para a execução de suas atividades.

A implantação de um sistema de saúde e segurança do trabalho torna-se cada vezmais incorporada ao dia-a-dia das organizações, uma vez que essas começam a perceber as van-tagens intrínsecas desta prática, inclusive como diferencial frente à sociedade.

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Os processos de desenvolvimento e manutenção das unidades que constituem osistema de saúde e segurança do trabalho acontecem lentamente, por meio de muitas lutas econquistas. Entretanto, pode-se observar um grande avanço na permanência da saúde e segurançado trabalho como uma função nobre das organizações. Esse interesse vem crescendo por iniciativadas organizações e é controlado com base no aperfeiçoamento dos documentos legais que visamgarantir os direitos e as condições de trabalho dos trabalhadores. Um número expressivo de em-presas traz para si campanhas e programas permanentes de desenvolvimento social, ambientaçãoe educação, que incluem questões relevantes de saúde e segurança do trabalho, como o exemplodo Grupo VITA.

Os hospitais do Grupo VITA, na cidade de Curitiba contam com mais de 1.200colaboradores diretos e indiretos, entre médicos, pessoal de enfermagem, administrativo e de su-porte, adotam constantemente ações preventivas contra acidentes do trabalho e doenças ocupacionais(PARANASHOP, 2007).

A prevenção nos hospitais do grupo VITA é prioridade e todos os setores estãoengajados num mesmo objetivo, segundo o superintendente Maurício Uhle, a empresa precisa dehomens e mulheres sadios, criativos, inteligentes, felizes e com qualidade de vida. Para isso algunslocais da empresa são disponibilizados para os colaboradores, destinados ao convívio, descanso,sessões de quick massage e ginástica laboral, alimentação e lazer, bem como as atividades físicas,culturais e religiosas oferecidas dentro dos próprios hospitais.

As medidas preventivas adotadas pelos hospitais VITA Curitiba e VITA Batel sãoas seguintes (PARANASHOP, 2007):

• controle de ruídos, vibrações, temperatura, radiação, umidade;• controle de produtos químicos;• treinamento constante da brigada de incêndio e primeiros socorros;• campanhas educativas;• controle de higiene;• vacinação dos trabalhadores;• utilização de equipamentos de segurança;• manutenção dos equipamentos;• eliminação adequada dos materiais tóxicos;• adoção de rotinas corretas quanto ao recolhimento, transporte e processamentoda roupa suja.

O grande destaque, em termos de prevenção e redução no número de acidentesde trabalho, é o Projeto de Gerenciamento de Resíduos, adotado pelo Grupo VITA desde o ano de2004. Só o VITA Curitiba – uma das unidades hospitalares do grupo – descarta mais de 10 tonela-das de lixo por mês. O hospital realiza treinamento e campanhas de orientação do manejo e destinocorreto dos dejetos e monitora diariamente todos os processos dos resíduos.

Também há a campanha de conscientização lançada pelo grupo visando alertar oscolaboradores para os riscos presentes dentro do ambiente hospitalar. A campanha inclui peçasgráficas por todas as áreas dos hospitais envolvidos, além de treinamentos, palestras e consultoriasindividualizados.

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Segundo a infectologista do Grupo VITA, Marta Fragoso, doenças infecto conta-giosas, dores na coluna, fadigas musculares, doenças alérgicas, exposição a produtos químicos eradiação, quedas por piso liso ou molhado e sofrimento psíquico são os riscos aos quais os profis-sionais da saúde estão mais expostos. Todo funcionário da área da saúde deve ser vacinado – éuma forma de prevenir a Hepatite B e outros vírus – exceto a Hepatite C e o HIV (Vírus da AIDS)(PARANASHOP, 2007).

A médica ressalta a importância do uso de equipamentos de proteção individual(EPI’s), tais como: máscaras, luvas, aventais, óculos e roupas adequadas para cada ambiente esituação. “No caso de acidentes perfurocortantes com agulhas, foi demonstrado que uma luvapode reduzir o volume de sangue injetado de 35% a 70%”.

6. CONCLUSÕES E PROPOSTAS

Através do trabalho o homem transforma a natureza e produz sua vida material,satisfazendo assim as suas necessidades. O trabalho é também um dos meios pelo qual o homemse diferencia dos outros animais e através do qual se realiza. Todavia, o trabalho pode causar danosao ser humano, inclusive a sua morte.

Os acidentes de trabalho e as doenças ocupacionais são atos de violência ao tra-balhador que têm onerado gravemente o setor financeiro das empresas e também os cofres públi-cos. Entretanto, medidas podem ser adotadas e ações podem ser empreendidas no intuito de minimizaros danos advindos desses eventos.

Conforme mencionado, a Engenharia de Segurança do Trabalho é imprescindívelquando o propósito é manter um ambiente de trabalho saudável e produtivo. Tais questões estãodiretamente ligadas à valorização do elemento humano como primordial para o sucesso de qual-quer organização.

A disseminação de informações sobre a prevenção de acidentes e doenças dotrabalho se torna decisiva para que a qualidade de vida no ambiente de trabalho seja valorizada. Otrabalho educativo dentro das empresas é de extrema importância, uma vez que permite que hajacada vez mais trabalhadores e empresários conscientes da importância da Engenharia e Seguran-ça do Trabalho.

A produção de conhecimentos necessários à proteção e promoção da saúde dostrabalhadores deve levar em consideração dois aspectos:

• o primeiro deles é o entendimento de que o acidente de trabalho deve ser vistocomo uma forma de violência contra a saúde do trabalhador;• o segundo é o fato de que a realização de estudos analíticos sobre fatores derisco e determinantes de acidentes de trabalho pode conduzir à implementação deações que visem condições de trabalho mais seguras culminando com a reduçãono nível de acidentes e doenças laborais.

Considerando sua grande responsabilidade social, é indispensável que a indústria eos órgãos institucionais brasileiros se preocupem com a promoção de iniciativas que possibilitem aredução de problemas tão graves.

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O presente trabalho abriu caminho para outros estudos, que podem aprofundar oentendimento da prática dos profissionais, como a realização de pesquisa com outras categoriasprofissionais envolvidas com a questão da prevenção de acidentes e doenças ocupacionais, taiscomo Técnicos de Segurança do Trabalho e Médicos do Trabalho.

7. REFERÊNCIAS

ARAÚJO, L. C. G. de. Gestão de pessoas: estratégias e integração organizacional. São Paulo:Atlas, 2006.

BAPTISTA, R. C. Doenças e outros agravos à saúde produzidos pelo trabalho. In: Revista Re-dentor – Cadernos Interdisciplinares: Saúde, Tecnologia e Questão Social. ano 1, n. 1, v. 1, 2004.Disponível em: <http://revista.redentor.edu.br/documentos/02_2004.pdf>. Acesso em 27 de julhode 2007.

BARBOSA FILHO, A. N. Segurança do trabalho & gestão ambiental. São Paulo: Atlas, 2001.

BEMPARANÁ. Meio milhão de pessoas sofreram acidentes de trabalho em 2005. Disponívelem:<http://www.jornaldoestado.com.br/>. Acesso em 02 de agosto de 2007.

BRASIL. Norma regulamentadora nº 4 – Portaria 3.217/Ministério do Trabalho. Disponívelem <http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulamentadoras/nr_04.pdf>. Acesso em 01 deagosto de 2007.

_______. Lei 8.213 de 24 de julho de 1991 – Lei da Previdência. Disponível em: <http://www81.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1991/8213.htm>. Acesso em 29 de agosto de 2007.

CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações.Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1999.

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MOREIRA, A. C. da S. Características da atuação profissional do engenheiro de segurançado trabalho: uma pesquisa quantitativa com os engenheiros catarinenses. Dissertação (Mestradoem Engenharia de Produção) – Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção, Univer-sidade Federal de Santa Catarina – UFSC, 2003, 185 p. Disponível em: <http://www.fundacentro.sc.gov.br/arquivos/dissertacao_artur.pdf>. Acesso em 29 de julho de 2007.

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Bioenergia e sua Relação com a Administração

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* Discentes do curso de Administração – Gestão Empresarial pela UniFil 4º Ano.** Mestre em Administração, Administrador, Professor de Administração na UNIFIL e de Pós-Graduação, Consultor Empre-sarial, Pesquisador e autor de artigos científicos, Executivo, Palestrante, Coordenador de Estágio Supervisionado na UNIFIL,Diretor Presidente do INDESPE-Instituto de Desenvolvimento Social Pesquisa e Ensino, autor de projetos de extensão,Coordenador Acadêmico de Pós-Graduação. Diretor Vice-Presidente da BPC- Brasil/Paraná-China.Câmara de Comércio,Industria, Desenvolvimento e Cultura. BPI- Brasil/Paraná-India. Conciliador do Tribunal de Justiça do Est. do Paraná.Orientador de trabalhos de conclusão a nível de graduação e pós-graduação. [email protected].

BIOENERGIA E SUA RELAÇÃO COM A ADMINISTRAÇÃOBIOENERGY AND ITS RELATION WITH THE ADMINISTRATION

Alexandre Roberto StrellingAlexandro Nunes de Lima

André Vieira CostaGilson Eduardo Igawa*Adalberto Brandalize**

RESUMO:Com a atual preocupação em preservar e diminuir a agressão ao meio ambiente e a de diminuir adependência de países quanto a utilização do petróleo vindo de países em crise no oriente médio,vários acordos entre países estão sendo feitos para incentivar a produção e utilização de combus-tíveis renováveis.O Brasil tem despertado interesse de países como Itália, EUA e Japão, por estarà frente em termos de tecnologia e pesquisa e produção deste meio alternativo de energia“biocombustível, etanol, entre outros”. O Brasil tem vários projetos em negociação do biocombustívele álcool a outros países como África, Itália e Japão, que apontam esse segmento como promissoraao país, destacando o Brasil como provável matriz energética, em futuro não muito distante.

PALAVRAS-CHAVE: Biocombustível, Oportunidades, Commodities,Vantagens, álcool.

ABSTRACT:With the actual concern to preserve and to reduce the aggression to the environment and to reducethe dependence of countries, related to the utilization of the petroleoum from countries in crisis inthe meddle east, several agreements between countries in the world are being made to stimulatethe production and utilization of renovated fuel, and Brazil has awakened the interest of countriesas Italy, EUA and Japan, because Brazil is ahead in terms of technology and research and productionof this alternative way of energy “biofuel, ethanol, among others”. Brazil has several projects beingnegotiated of biofuel and alcohol to other countries as Africa, Italy and Japan, witch notice thesedivisions as promising to the country, pointing out Brazil as the most probable energetic matrix, in anot far future.

KEY-WORDS: Biofuel, Oportunities, Commodities, Advantages, Alcohool.

1. INTRODUÇÃO

Pesquisas mostram que a quantidade de petróleo existente no mundo abastecerápor mais cinqüenta anos as necessidades de demanda da população mundial. Sendo que países dooriente médio detêm as maiores reservas de petróleo existentes no mundo, fazendo com que, quemprecise por não ter produção ou tecnologia própria, importe pagando altos preços.

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Com essa escassez de combustíveis fósseis, os altos preços pagos e a preocupa-ção que se volta para a preservação do meio ambiente, se fizeram necessários a pesquisa eutilização de energias alternativas que agridam menos o meio ambiente e que possam serrenováveis. Foi por meio dessas necessidades, e também pelo fato de que a energia renovável émais barata, que se começou a ser introduzida nas políticas de utilização energéticas de paísesque têm déficits na produção interna de energia o biocombustível, com a promessa de solucionaro problema no mundo.

O Brasil saiu na frente, sendo utilizado desde os anos 80 o etanol provido da cana-de-açúcar, e agora investe na pesquisa do biocombustível.

Este trabalho aborda as oportunidades do Brasil se desenvolver ainda mais nessafonte energética através de produção na África e também as necessidades e interesses de outrospaíses com relação a este combustível.

2. METODOLOGIA

Na pesquisa bibliográfica utilizou-se de fontes primárias, buscando a coleta dedados em publicações adequadas e direcionadas de autores a cada abordagem do trabalho. Napesquisa de sites, utilizou-se de reportagens e pesquisas publicadas de autores citados.

3. BIOCOMBUSTÍVEIS

Os biocombustíveis são fontes de energias renováveis, derivados de produtos agrí-colas como a cana-de-açúcar, plantas oleaginosas, biomassa florestal e outras fontes de matériaorgânica. Em alguns casos, os biocombustíveis podem ser usados tanto isoladamente, como adici-onados aos combustíveis convencionais. Como exemplos, podemos citar o biodiesel, o etanol, ometanol, o metano e o carvão vegetal.

4. OPORTUNIDADES PARA O BRASIL

Segundo Garcia (2007) o governo brasileiro está convencido de que os combustí-veis renováveis – etanol e biodiesel – apontam para o enfrentamento de quatro grandes desafios doséculo. O primeiro é o da crise energética, que afeta todos os países, inclusive os desenvolvidos, eque, em nossa região, constitui sério obstáculo à retomada do desenvolvimento acelerado de quenecessitamos. Na África, na Ásia, na América Central e em quase todo Caribe, os biocombustíveissão a grande alternativa para resolver o dramático déficit energético de muitos países vítimas daestagnação e da dependência externa. O segundo desafio é dar resposta ao problema do desem-prego e da concentração de renda. A produção de biocombustíveis é capaz de gerar milhões deempregos, fixando o homem na terra e distribuindo a renda, sobretudo se, como prevê a legislaçãobrasileira, a agricultura familiar for estimulada. O terceiro é o de contribuir para a redução doaquecimento do planeta. Como combustível ou aditivo aos combustíveis fósseis o etanol e o biodieselreduzem consideravelmente a emissão de poluentes na atmosfera. O último desafio é o de assentaras bases para uma indústria de nova geração, sucessora da petroquímica, capaz de produzir mate-riais, medicamentos, adubos e alimentos para animais.

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Resta ao Brasil aproveitar as oportunidades que advém dessa nova fonte energéticaque poderia trazer benefícios não somente para o país, como também para muitas pessoas quedependem de um emprego.

Com a demanda que pode surgir, o país ainda pode estudar uma forma de formaruma joint venture com uma empresa, como por exemplo, na África, para poder produzir umvolume maior de matéria-prima para a produção industrial.

5. BRASIL É EXEMPLO PARA DESENVOLVIMENTO DE COMMODITIES

O Brasil é o maior exemplo no desenvolvimento sustentado de commodities agrí-colas como café, soja, cana-de-açúcar, entre outras. Essa é a avaliação do CFC (Common Fundfor Commodities), que financia projetos relacionados a esses produtos em países de todo o mundo.Por conta disso, a entidade escolheu o país para ser sede do primeiro Global Initiative on Commodities(Iniciativas Globais para Commodities) que irá discutir o crescimento sustentado do mercado decommodities agrícolas. O Brasil irá receber representantes de mais de 100 países entre os dias 7e 11 de maio, em Brasília.

De acordo com Ali Mchumo, embaixador e diretor geral do CFC, o intuito doencontro será construir um relatório que promova uma agenda de desenvolvimento em relação àscommodities, contribuindo para a redução da pobreza (RODRIGUES, 2007).

6. ÁLCOOL

O secretário de relações internacionais do Ministério da Agricultura do Brasil,Célio Porto, disse que dois temas têm despertado interesse de outros países no Brasil: as tecnologiasda Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e o álcool. Tanto que visitas à Embrapae a uma usina de álcool estão na programação do encontro promovido pelo CFC.

“O petróleo é finito e produzido por poucos países em região de conflito. Por isso,queremos repassar nossa experiência para que o álcool seja produzido por muitos países. Assim, oconsumidor não migrará para um combustível concentrado em poucos países e não terá inseguran-ça na oferta”, disse Porto.

Ali Mchumo disse que do ponto de vista teórico, o álcool pode oferecer novasoportunidades de negócios para o desenvolvimento de outros países. No entanto, ele afirmou queuma comissão do CFC na Malásia estuda os aspectos positivos e negativos do combustível paraque a entidade tome partido definitivo sobre o assunto.

Porto listou exemplos de sucesso do Brasil na área de commodities, reforçando oaumento de produtividade conseguido pelo Brasil e a experiência com o álcool. “Queremos com-partilhar a experiência da agricultura tropical com outros países.”Questionado sobre as manifesta-ções contrárias de Venezuela e Bolívia sobre a produção de biocombustível, sob a alegação de queisso ocupa áreas para plantação de alimentos, Porto disse que na visão brasileira o problema não éa falta de alimentos, mas sim a falta de renda da população para comprar alimentos.

A produção de álcool pode ser uma oportunidade de renda para a popula-ção mais pobre, que é, na maioria dos casos, a que vive no campo(RODRIGUES, 2007).

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7. VANTAGENS DO BIODIESEL

Por se tratar de uma fonte de energia renovável, o Brasil possui terras cultivá-veis que podem produzir matérias-primas para a produção em solos menos produtivos e comum baixo custo.

8. JOINT VENTURES

As joint ventures são empresas diferentemente constituídas, sobretudo quanto aseus objetivos sociais, que influenciam nas cadeias produtivas agroindustriais de acordo com seuporte em relação a seus demais componentes. Quanto maior seu porte relativo dentro da cadeiaprodutiva, maior é sua possibilidade de coordenação (ARAÚJO, 2005).

9. A LOGÍSTICA DO BIODIESEL

Quanto à logística de suprimento de biodiesel dois pontos fundamentais devem serobservados, a localização relativa das áreas de produção e os centros de consumo, e os locais ondese dará a mistura com o diesel de petróleo.

10. CRISE ENERGÉTICA

Cada vez mais o preço da gasolina, diesel e derivados de petróleo tendem a subir.A cada ano o consumo aumenta e as reservas diminuem. Além do problema físico, há o problemapolítico: a cada ameaça de guerra ou crise internacional, o preço do barril de petróleo dispara(BIODIESELBR, 2007).

11. O BIOCOMBUSTÍVEL É UMA BOA OPORTUNIDADE PARA O BRASIL

Os chamados biocombustíveis, como por exemplo, o etanol e o biodiesel, são alter-nativas reais à gasolina e ao diesel tradicionalmente utilizado no setor de transportes.

As tecnologias voltadas à produção do álcool, desenvolvidas no Brasil durante oPró-Álcool, bem como um geo-clima extremamente favorável à cultura de cana de açúcar, colo-cam o país numa posição estratégica e de liderança, no setor sucroalcocooleiro.

O bioetanol, em estado puro ou em mistura, não é apenas uma alternativa aoscombustíveis derivados do petróleo, mas uma fonte de energia não poluente que se encontra emconformidade com os mais exigentes padrões internacionais. Esse é, portanto, um mercadoemergente, altamente atrativo para os produtores brasileiros que têm todas as condições de sedestacar nele.

A demanda por biocombustíveis é grande. Em dezembro de 2003, a União Euro-péia editou a Diretiva 2003/30/CE relativa à promoção da utilização de biocombustíveis ou decombustíveis renováveis no setor de transportes. Essa não é apenas uma declaração política, masuma verdadeira norma jurídica de caráter obrigatório, que vincula todos os Estados Membros daUnião Européia.

De acordo com as disposições previstas no documento, os países europeus têm aobrigação de, até o final de 2005, acrescentarem à gasolina e ao diesel 2% de biocombustíveis ou

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de outros combustíveis renováveis. Os níveis da referida meta são elevados para 5,57% até 31 dedezembro de 2010. Os países deverão ainda apresentar à Comissão Européia, anualmente, asmedidas que estão sendo adotadas para promover a utilização dos biocombustíveis ou de outroscombustíveis renováveis.

Ocorre que, até o momento, apenas alguns países encaminharam à Comissão suaspropostas. Esta, no intuito de zelar pelos interesses comunitários, enviou cartas de notificação denão cumprimento da norma aos diversos Estados-Membros que ainda não informaram, oficialmen-te, quais medidas estão sendo adotadas para efetivar a transposição da norma comunitária para alegislação nacional.

O cenário parece, portanto, adequado para que os produtores e exportadores bra-sileiros, já organizados e experientes no setor de biocombustíveis, comecem a se mobilizar e autilizar os mecanismos internamente disponíveis para oferecerem, desde já, oportunidades atrati-vas aos futuros compradores europeus.

O papel do governo brasileiro, neste contexto, também será de grande relevância.As tarifas incidentes sobre a importação do biocombustível ainda são elevadas. Cabe, portanto, aonosso Governo, conduzir negociações com a União Européia, apoiando os importadores europeuse os exportadores brasileiros (MORAIS, 2005).

12. PRODUÇÃO DE BIODIESEL NA ÁFRICA

A Petrobras receberá na próxima semana executivos da Ente Nazionale Idrocarburi(ENI), multinacional italiana do setor de petróleo que está interessada em adquirir tecnologia derefino de óleos pesados da estatal brasileira* .

O objetivo da parceria com a ENI, segundo Costa, seria a implantação de unidadesde biodiesel no Brasil e na África, em países como Moçambique e Angola, visando à exportação doproduto para o mercado italiano.

Dentro de uma visão, num futuro não muito distante, de que o etanol se torne umacommodity, é bastante importante que outros países de clima tropical venham a aderir a esse tipode programa. Então, podem existir oportunidades tanto na produção de biodiesel como na produçãode etanol em países da África.

A Petrobras também está em negociações com o Japão, informou Costa, avalian-do a possibilidade de aquisição de uma refinaria na cidade de Okinawa, com capacidade de refinode 60 a 70 mil barris de petróleo (AGENCIABRASIL, 2007).

13. INTERESSE DOS EUA SOBRE A INTENÇÃO DE AUMENTAR A PRODUÇÃODE ÁLCOOL NO BRASIL

Após a visita no terminal da Transpetro, subsidiária da Petrobras, em Guarulhos,os presidentes George W. Bush e Luiz Inácio Lula da Silva discursaram sobre a intenção deaumentar a produção de etanol e biodiesel, como forma de alterar o panorama mundial das fontesde energia, muito dependente do petróleo. A proposta é um dos principais pontos discutidos peloschefes de Estado.

* Notícia vinculada no dia 20 de maio de 2007 pelo site Agência Brasil.

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O presidente Lula da Silva levantou a possibilidade de incentivar os países emgeral a trocar suas principais fontes de produção de energia. Dirigindo-se a George W. Bush,sugeriu uma atuação conjunta com esse fim. “A sua visita ao Brasil pode significar definitiva-mente uma aliança estratégica que permita um convencimento do mundo mudar sua matrizenergética”, disse.

O presidente citou a criação do Fórum Internacional de Biocombustíveis, lançadona última sexta-feira (2) por Brasil, África do Sul, China, Estados Unidos, Índia e União Européiana Organização das Nações Unidas (ONU)* . “Somente assim teremos a escala de produçãonecessária para potencializar os benefícios do etanol e o biodiesel”, comentou.

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, disse que planeja aumentarem mais de seis vezes o consumo de etanol (álcool combustível) de seu país até 2017, passando dosatuais 20 bilhões de litros anuais para 132 bilhões. Ao lado de Lula, Bush fez um discurso queenfatizou as vantagens do etanol, a necessidade de proteger o meio ambiente e as vias de coope-ração com o Brasil.

Uma das possibilidades mencionadas foi na área de pesquisa. Bush elogiou osacadêmicos dos dois países e afirmou que eles podem trabalhar conjuntamente no desenvolvimen-to de tecnologia de biocombustível. Contou também que pediu ao Congresso a aplicação de US$1,6 bilhão a mais nos próximos dez anos em pesquisas na área. O presidente mencionou também arelação com países pobres, citando especificamente a América Central. “Quero colaborar com oLula para fazer com que a América Central aumente sua independência do petróleo e se torneauto-suficiente em energia”.

A idéia recebe apoio e crítica. Nos bastidores, a parceria anda a todo o vapordesde o fim do ano passado. Segundo o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, uma comis-são de âmbito continental criada em dezembro, Comissão Interamericana de Etanol, já encomen-dou um diagnóstico geral sobre a América Latina, para saber onde e como será possível plantarcana-de-açúcar ou aproveitar a produção já existente para fabricar etanol (TOYOMURA, 2007).

14. JAPONESES TÊM INTERESSE EM INVESTIR EM ETANOL NO BRASIL

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, explicou hoje o interesse do Japãoem investir na produção de etanol e biodiesel no Brasil* . “A idéia central se prende a uma substi-tuição das importações do Japão: de produtos derivados do petróleo para produtos de origem agrí-cola”, afirmou. Uma nova lei japonesa obriga a mistura de 3% de etanol à gasolina, o que deman-dará 1,8 bilhões de litros por ano. O Japão quer garantir fornecedores. Além da diversificação nadependência de combustíveis, os japoneses estão preocupados com a questão ambiental.

A contrapartida do Brasil será a tecnologia, capacitação e desenvolvimento deprojetos. “O aporte de capital japonês nos ajuda a manter a liderança mundial (na produção deetanol)”, comentou. Na terça-feira, o ministro recebeu de representantes do Japan Bank InternationalCooperation (JBIC) o estudo “Programa Brasileiro de Agricultura Energética”, que detalha a libe-ração de recursos da instituição financeira para a produção de etanol e biodiesel no País.

* Notícia vinculada no dia 17 de julho de 2007 pelo site Polobio.* Notícia vinculada dia 17 de junho de 2007 pelo site Biodiselbr.

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O estudo começou a ser feito em 2003 numa parceria entre técnicos da Secretariade Produção e Agroenergia e do banco japonês, principal instituição de desenvolvimento do Japão.Ao entregar o estudo de 350 páginas, o banco comprometeu-se a liberar R$ 1,286 bilhão para oprograma, recursos que serão disponibilizados a partir de abril de 2007, início do calendário japo-nês. O estudo avalia a situação atual e as restrições do etanol no País (JORNALCANA, 2007).

15. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos próximos anos haverá grande substituição do petróleo, atendendo aos acordosgovernamentais em diminuir a emissão de poluentes, e devido ao aumento da utilização de combus-tíveis alternativos ao petróleo. Com toda a tecnologia que o Brasil tem neste segmento energético,o país, nos próximos anos terá um grande crescimento econômico proveniente das negociaçõesque devem ser feitas com potências econômicas e do aumento da utilização do biocombustível,aproveitando uma tendência do cenário mundial e ajudando a derrubar outras barreiras políticasque o Brasil tem com países desenvolvidos.

A adaptação em relação à demanda que poderá surgir é uma questão que deve serprevista com certa urgência. Existem países que poderão suprir a capacidade que o Brasil não poderáatender, é o caso dos países africanos. Com isso, não somente o Brasil, mas também esses paísespoderão tirar vantagem e se desenvolver através do cultivo e da produção dessa fonte energética.

16. REFERÊNCIAS

BIODIESELBR 2007. Disponível em <http://www.biodieselbr.com/biodiesel/economia/biodiesel-logistica.htm>. Acesso em 17 de junho de 2007.

ARAÚJO, Massilon J. Fundamentos de Agronegócios. 2ª Edição, São Paulo: Atlas, 2005.

GARCIA, Marco Aurélio. Defesanet. Disponível em <http://www.defesanet.com.br/zz/br_usa_biofuel_11.htm>. Acesso em 26 de abril de 2007.

POLOBIO. Disponível em <http://www.polobio.esalq.usp.br/biocombustiveis.html>. Acesso em17 de junho de 2007.

AGENCIABRASIL. Disponível em <http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2007/03/20/materia.2007-03-20.2014328337/view>. Acesso em 20 de maio de 2007.

TOYOMURA. Disponível em <http://ccbj.jp/index.php?option=com_ ontent&task=view&id=1337&Itemid=42>. Acesso em 20 de maio de 2007.

JORNALCANA. Disponível em <http://www.jornalcana.com.br/conteudo/noticia.asp?area=Politica+Setorial&secao=Cana-Clipping&id_materia=22270>. Acesso em 20 de maio de 2007.

MORAIS Roberta Jardim de. Disponível em <http://conjur.estadao.com.br/static/text/36389,1>.Acesso em 17 de junho de 2007.

RODRIGUES, Márcio Rodrigues. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u116833.shtml>. Acesso em 17 de junho de 2007.

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ÉTICA NA PESQUISA: UMA ABORDAGEM EM SALA DE AULA UTILIZANDOO FILME “COBAIAS”

ETHICS IN RESEARCH: AN APPROACH IN SCHOOL CLASSES USING THE MOVIE “MISS EVERSBOYS”

Alessandra Cabral Leite DuimJuliandra Rodrigues RosiscaEduardo Mozart Machado*

Lázara Pereira Campos Caramori**

RESUMO:A utilização de materiais audiovisuais como vídeos, documentários e animações tem sido umaalternativa para levar o conhecimento nos diversos níveis de ensino, do fundamental ao universitá-rio. Embora haja muitas produções especialmente para uso em salas de aula, o acesso a essesmateriais nem sempre é fácil. O uso de filmes comerciais para discutir temas como o papel dossujeitos envolvidos na construção do conhecimento científico e os valores morais e éticos tem sidouma alternativa utilizada por diversos autores. Neste trabalho utilizou-se o filme “Cobaias” (MissEver´s Boys) como meio de reflexão sobre os aspectos éticos envolvidos no projeto de pesquisaTuskegee, realizado em seres humanos no período entre 1932 e 1972 pelo Serviço de SaúdePública dos Estados Unidos da América, que conduziu a conseqüências trágicas. Para analisar ofilme, foi seguido um roteiro de oito questões, que faz parte da publicação “Capacitação paraComitês de Ética em Pesquisa vol. I”, do Ministério da Saúde. Os alunos assistiram ao filme e asquestões foram debatidas dentro da sala de aula como parte da disciplina de Bioética do primeiroano do Curso de Ciências Biológicas. Observou-se grande interesse dos alunos pelo assunto e aferramenta didática mostrou-se uma excelente forma de transferir os conhecimentos bioéticos eestimular a reflexão sobre os temas abordados no filme. Essa experiência com os alunos de gradu-ação mostra que outros filmes comerciais podem ser utilizados no ensino de bioética e outrosassuntos da biologia, ampliando as possibilidades de difusão do conhecimento nas escolas.

PALAVRAS-CHAVE: Bioética, ética em pesquisa, filmes.

* Alunos do Curso de Ciências Biológicas da UniFil** Bióloga, Doutora, Docente da UniFil, orientadora.

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ABSTRACT:The utilization of audiovisual materials as videos, documentary and animations has been an alternativeto carry knowledge in the different level of teaching, from elementary school to university. Eventhere are several productions made specially to be used in classrooms, the access to this material isnot easy. The use of commercial movies to argue themes as the paper of the individual involved inthe construction of the scientific knowledge, the moral values and ethics have been and alternativeused by several authors. This work used the movie Miss Evers Boys as a way of reflection aboutthe ethics aspects involved in the research project Tuskegee realized in human beings in the periodof 1932 and 1972 by the Public Health Service of the United States of America that conducted totragic consequences. To analysis the movie there where followed and guide of eight questions, thatare part of the publication “Capability for Ethics Committee in Research vol. I”, from the HealthMinistry. The students watched to the movie and the questions where debated inside classroom asa part of the discipline of Bioethics from the first year of the course of Biological Science. It wasobserved great interest from the students by the subject and the teaching tool showed to be anexcellent way to transfer the bioethical knowledge and stimulate the reflection about themesapproached by the movie. This experience with the graduation students shows that other commercialmovies can be used in the bioethics teaching and other topics of biology, amplifying the possibilitiesof diffusion of the knowledge in schools.

KEY-WORDS: Bioethics, research ethics, movies.

1.INTRODUÇÃO

Diferentes fontes de material audiovisual têm sido difundidas nas escolas, envol-vendo desde o nível fundamental até o universitário. Se por um lado o avanço tecnológico tempropiciado a multiplicação de animações, documentários e vídeos produzidos especialmente parauso em salas de aula, por outro lado o acesso a essas informações nem sempre é fácil. A Internettem se constituído uma importante fonte de busca, mas muitas vezes os melhores conteúdos sãopartes de livros caros, ou são comercializados a preços pouco acessíveis à maioria dos profissio-nais e alunos.

Filmes comerciais têm sido utilizados como ferramenta de ensino em diferentescampos do conhecimento como saúde, educação e ética. Encontramos relatos do uso de filmescomerciais no ensino superior não só para auxiliar o ensino de temas ligados à microbiologia,farmacologia, psicologia e psiquiatria (Bhagar, 2005; Lepicard e Fridman, 2003; Garcia-Sanchez etal., 2002; Fritz e Poe, 1979; Alexander et al., 1994; Pappas et al., 2003; Farre et al., 2004; Sierles etal., 2005; Baumann et al., 2003; Koren, 1993), e para abordar o trato com os pacientes, principal-mente em cursos de enfermagem (Hyde e Fife, 2005; Elder e Schwarzer, 2002; Masters, 2005;Wall e Rossen, 2004; Matusevich e Matusevich, 2005; Weerts, 2005; Hyler e Schanzer ,1997).

Maestrelli e Ferrari (2006) utilizaram o filme “O Óleo de Lorenzo”, uma produçãoamericana de 1992, baseada em fatos reais, para explorar junto aos alunos os conhecimentosbásicos de genética e fisiologia humana, bem como os efeitos psicossociais na família do diagnós-tico de uma doença rara e aspectos do relacionamento médico-paciente.

No presente trabalho foi utilizado filme “COBAIAS” como meio de reflexão sobreos aspectos éticos envolvidos no projeto de pesquisa Tuskegee, realizado em seres humanos noperíodo entre 1932 e 1972 pelo Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos.

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2. METODOLOGIA

Inicialmente todos os alunos assistiram o filme “Cobaias”, cujos dados e sinopsesão apresentados a seguir:

Filme: Cobaias (Miss Ever´s Boys)Diretor: Joseph SargentAno: 1997Atores: Alfre Woodard, Laurence Fishburne, Craig Sheffer, Joe Morton, Obba

Babatunde.Sinopse: Baseado em uma história verdadeira e chocante, o filme Cobaias (Miss

Ever´s Boys) apresenta o relato de uma pesquisa médica em seres humanos, financiada pelogoverno dos Estados Unidos, desenvolvida durante o período de 40 anos e que conduziu a conseqü-ências trágicas. Ancorado na investigação realizada pelo Senado Americano sobre o infame Estu-do Tuskegee, o filme utiliza uma estrutura retrospectiva para nos levar de volta a esse período de40 anos e mostrar a inserção da enfermeira Eunice Evers (Alfre Woodword) no programa projeta-do para tratar a sífilis entre negros no Alabama e que se transformou em um experimento absolu-tamente desumano. Em 1932, a leal e dedicada enfermeira Eunice Evers é convidada para traba-lhar com Dr. Brodus (José Morton) e Dr. Douglas (Craig Sheffer) no programa financiado comfundos federais. Tratamento gratuito é oferecido aos pacientes com teste positivo para a doença,do qual participaram os profissionais Caleb Humphries (Laurence Fishburne) e Willie Johnson(Obba Babatunde). Mas quando o governo decide retirar o financiamento para o tratamento, sãooferecidos fundos para aquele que ficou conhecido como o Estudo Tuskegee, um experimento paraverificar os efeitos de sífilis em pacientes que não receberam tratamento. A partir desse momentoos pacientes são levados a acreditar que existe uma preocupação especial para com eles e queestão sendo tratados com os melhores recursos disponíveis, quando na realidade lhes está sendonegado o tratamento que poderia curá-los. O filme, com uma estrutura moral complexa, foge daspolaridades existentes entre negros e brancos e focaliza os acordos iniciais entre o governo federale os médicos que coordenam o estudo e que terão influência direta sobre o resto de suas vidas. Afaceta perturbadora do drama está direcionada para o fato de que o estudo não poderá ser desco-berto de forma alguma e que os homens inseridos no experimento foram utilizados como bodesexpiatórios pelos pesquisadores e pelo governo sem que lhes fossem oferecida a oportunidade detratamento que lhes salvaria a vida. Eunice Evers enfrenta um terrível dilema: abandonar o expe-rimento e contar a verdade para os pacientes/sujeitos ou permanecer calada e oferecer apenascuidado e conforto. É uma decisão entre a vida e a morte que ditará os rumos não apenas da vidadela, mas, também, de todos os seus “garotos”.

A seguir, foi utilizado o roteiro proposto pelo Comitê de Ética em Pesquisa comSeres Humanos do Ministério da Saúde para analisar o filme, que consta de um questionário paraorientar e direcionar as discussões sob o ponto de vista ético. O roteiro foi utilizado pelo professorpara conduzir as discussões em sala de aula.

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O roteiro para análise do filme “Cobaias” proposto pelo Ministério da Saúde mos-trou-se muito adequado para a discussão e entendimento dos aspectos éticos do projeto Tuskegee.Para cada questão proposta, foram seguidos os comentários e observações conforme apresentadoa seguir:

1. Qual o contexto social de inserção da pesquisa?O professor procurou destacar as principais questões relativas à pesquisa envol-

vendo seres humanos e que estão retratadas no filme, de forma que fossem discutidas em grupo.Os seguintes aspectos foram focalizados:

a) desigualdade social – donos de fazendas (ricos) e agricultores (pobres);b) desigualdade racial – brancos X negros;c) desigualdade de acesso a bens de consumo e serviços – incluindo os

serviços de saúde;d) desigualdade de gênero – homens e mulheres;e) momento histórico – 1932 a 1972.

2. Como se davam as relações de poder entre:a) equipe do Governo Federal dos Estados Unidos (NIH) x equipe local;b) entre os membros da equipe médicos-pesquisadores (negro e branco) x enfer-

meira pesquisadora;c) entre equipe de pesquisa x sujeitos do estudoEm relação a este aspecto é importante salientar:a) a existência da hierarquização de saberes e poderes em todas as esferas;b) um claro viés de gênero nas relações;c) a omissão de informações.

3. O que leva os profissionais médico/pesquisador e enfermeira/pesquisadora aagirem de forma contrária ao preconizado pelos seus códigos de ética?

Os seguintes aspectos foram enfatizados nas discussões em grupo:a) a opressão pode submeter pessoas a agirem de forma contrária às suas convic-

ções e concepções pessoais e profissionais;b) a possibilidade de ganhos pessoais resultantes da inserção de um profissional

em um projeto de pesquisa pode obscurecer aquilo que é considerado uma postura correta (nestecaso procurou-se mostrar competência, que negros são tão inteligentes como os brancos, passarpara a história, conseguir emprego na sua área de atuação);

c) a confusão entre os papéis de “profissional de saúde” e de “pesquisador” podecontribuir para concepções errôneas sobre o que é certo e errado em determinada situação (aquientra a questão do cuidado x o avanço científico).

4. As pessoas incluídas como sujeitos da pesquisa poderiam ser consideradasvulneráveis?

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Seguramente os sujeitos de pesquisa envolvidos eram pessoas vulneráveis. Esti-mulou-se o grupo a fazer uma comparação entre vulnerabilidade e desigualdade (semelhanças ediferenças). No caso desses sujeitos de pesquisa, a vulnerabilidade estava vinculada aos seguintesaspectos:

a) pobreza;b) baixa ou nenhuma escolaridade;c) submissão a uma hierarquia social e racial iníqua;d) dificuldade de acesso aos serviços de saúde;e) estavam doentes;f) falta de informações que lhes permitisse decidir sobre o que era melhor para eles;g) foram enganados, pois não tiveram a informação de que faziam parte de um

experimento científico;h) foi-lhes negada a possibilidade de acesso aos medicamentos que poderiam curá-

los (cerca de 3 décadas);i) foram submetidos a procedimentos altamente invasivos.

5. Houve algum tipo de sedução/indução/coerção para a participação na pesquisa?Conduziu-se a discussão para apontar alguns momentos em que claramente foram

envolvidos no que se refere a estes aspectos:Sedução/Indução:a) quando eles foram levados no carro do hospital para participar do concurso

de música;b) quando o médico branco diz que visitou o Cotton Club e dança, demonstrando

interesse pelos ídolos daquelas pessoas;c) o oferecimento de um “seguro de vida” para comprarem o caixão e deixar de

serem enterrados como seus avós-escravos;Coerção:d) entrar no Programa seria a forma de obterem os melhores tratamentos para

sua doença;e) ter profissionais que cuidavam exclusivamente deles e que zelavam pela

sua saúde.

6. Quais os grandes dilemas (conflitos morais) enfrentados pelos personagensdo filme?

Médico negro:a) aceitar participar de um programa que ele sabia que seria prejudicial para as

pessoas que ele cuidava e que pertenciam à sua comunidade;b) decidir entre seguir o juramento de sua profissão e “passar para a história” na

condução do experimento;c) ir contra os princípios da profissão e negar o tratamento aos sujeitos, mesmo

quando este tornou-se disponível para todas as outras pessoas;d) enganar as pessoas em nome dos benefícios para a ciência e para a raça.

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Enfermeira:a) decidir sobre sua participação em um experimento infame e enganoso e que

colocava as pessoas de sua própria comunidade e raça em situação de extrema vulnerabilidade;b) saber que existia tratamento disponível e oferecer “placebos” como se esses

fossem o “melhor tratamento disponível”;c) por ser o elo com os sujeitos de pesquisa, fornecer as alternativas de acesso a

estas pessoas;d) continuar como membro da equipe de pesquisa.

Sujeito mais esclarecido:Ao tomar conhecimento do objetivo da pesquisa e ter acesso ao tratamento, tomou

a iniciativa de levar os companheiros para tomar a penicilina, mas deparou-se com a negativa dosserviços e depois da enfermeira do Programa. Frente a essa situação não encontrou a maneira desubverter a situação estabelecida.

7. Como analisar a relação risco-benefício no contexto desta pesquisa?Estimulou-se o grupo no sentido de discutir a diferença existente entre direito e

benefício, pois persiste uma confusão sobre estes dois conceitos e muitas vezes se oferece comobeneficio algo que é de direito das pessoas. A questão da análise entre riscos e benefícios e comoestes riscos são distribuídos entre os participantes e a sociedade também foi focalizada.

Sujeitos:a) foram alvos de todos os riscos, sem ter conhecimento de que faziam parte do

experimento e sem ter sido informados sobre a sua participação na pesquisa e tão pouco fornece-rem sua permissão para isso;

b) foram submetidos a procedimentos invasivos de alta periculosidade;c) receberam placebo quando existia tratamento disponível;d) foram estudados mesmo após a sua morte;e) receberam “incentivos” para continuar no estudo.

Sociedade:a) não é possível negar que grande parte do conhecimento que hoje se tem sobre

a sífilis é resultante da realização deste experimento;b) os ganhos para a sociedade foram imensos, pois muito do que se conhece a

respeito da sífilis hoje é decorrente da realização deste estudo. É importante relembrar que oexperimento só terminava com a realização da necropsia. Mas a que custo? É justo utilizar umgrupo de pessoas vulneráveis para o benefício principal de outras pessoas ou grupos? Neste casoespecífico, não houve retorno para o grupo incluído no experimento, pois a eles foi negado o acessoao medicamento (penicilina) que poderia tê-los curado. Essa é uma situação de franca exploraçãodos sujeitos de pesquisa em nome da ciência.

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Ciência:a) obteve “dados puros” sobre a sífilis, já que o Estudo Tuskegee era sobre a sífilis

não tratada;b) o custo para as pessoas envolvidas em nenhum momento foi impeditivo para a

interrupção do estudo ou a modificação de suas premissas;c) a presença de diretrizes internacionais e legislações nacionais específicas para

a proteção de sujeitos de pesquisa e para a condução ética dos estudos nem sempre fornecem agarantia de que estes critérios serão cumpridos.

Departamento de Saúde Pública:a) financiaram a pesquisa durante 40 anos, sem questionar, justamente porque ela

era realizada com pessoas negras, pobres e sem educação formal;b) permitiram que os sujeitos fossem mantidos em situação de vulnerabilidade

como forma de perseguirem a obtenção de “dados puros”;c) em nenhum momento tiveram qualquer tipo de conflito em manter a continuida-

de do estudo.

8. Como encarar a questão dos direitos humanos e sua relação com a pesquisa emsituação de desigualdade social, moral e hierárquica dentro da sociedade?

Para resposta a esta pergunta seguiu-se o seguinte procedimento:a) foi enfatizada a importância que a Declaração Universal dos Direitos Humanos

assume como instrumento (ainda que teórico) de proteção dos direitos e dignidade da pessoahumana;

b) em situações de desigualdade, a parte mais favorecida (que detém conhecimen-to e recursos) deverá assumir a responsabilidade de garantir a implementação das diretrizesdelineadas na Declaração de forma a assegurar a sua aplicabilidade prática;

c) essa premissa diz respeito, portanto, à responsabilidade que devem assumirpatrocinadores, instituições de pesquisa e pesquisadores de respeitar e garantir os direitos e adignidade dos sujeitos envolvidos.

A motivação e as respostas dos alunos durante as discussões dos aspectos éticosda pesquisa abordada no filme mostraram que essa ferramenta tem um enorme potencial didáticoe deve ser melhor explorada nos cursos de graduação. As questões que fazem parte do roteiropara estudo e interpretação do filme “COBAIAS” aqui apresentadas foram utilizadas no curso deBioética da UniFil, mas podem ser adaptadas para nortear discussões sobre ética na pesquisa comseres humanos nos Comitês de Ética em Pesquisa ou em salas de aula nos cursos de graduaçãonas áreas de saúde em geral, direito ou biologia.

Através de discussões dos limites da ciência, ética e sociedade, é possível contri-buir para a formação de cidadãos conscientes e críticos, de maneira que absurdos como os relata-dos no filme jamais venham a ocorrer novamente.

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4. CONCLUSÕES

A utilização de filmes comerciais como ferramenta para discutir temas importan-tes do cotidiano tem grande potencial para utilização em cursos de graduação, pela sua fácil dispo-nibilidade, acessibilidade e interesse dos estudantes. A escolha de temas ligados à ética, seguindouma orientação embasada em critérios estabelecidos oficialmente, possibilita a capacitação deestudantes e profissionais para a realização de atividades de pesquisa envolvendo seres humanos eestimula a reflexão sobre temas importantes do cotidiano.

5. REFERÊNCIAS

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AOS COLABORADORES

A Revista TERRA E CULTURA é uma publi-cação semestral da UniFil. Tem por finalidadedivulgar artigos científicos e/ou culturais quepossam contribuir para o conhecimento, o de-senvolvimento e a discussão nos diversos ra-mos do saber. Um artigo encaminhado para pu-blicação deve obedecer às seguintes normas:

1- Estar consoante com as finalidades daRevista.

2- Ser escrito em língua portuguesa e digitadoem espaço 1,5 (um e meio), papel tama-nho A4, mantendo a configuração eformatação de acordo com as normasda ABNT. Recomenda-se que o númerode páginas não ultrapasse a 15 (quinze).

3- Publicar-se-ão trabalhos originais que se en-quadrem em uma das seguintes categorias:

3.1- Relato de Pesquisa: apresentação de in-vestigação sobre questões direta ouindiretamente relevantes ao conhecimento ci-entífico, através de dados analisados comtécnicas estatísticas pertinentes.

3.2- Artigo de Revisão Bibliográfica: destinado aenglobar os conhecimentos disponíveis sobredeterminado tema, mediante análise e inter-pretação da bibliografia pertinente.

3.3- Análise Crítica: será bem-vinda, sempre queum trabalho dessa natureza possa apresentarespecial interesse.

3.4- Atualização: destinada a relatar informa-ções técnicas atuais sobre tema de interes-se para determinada especialidade.

3.5- Resenha: não poderá ser mero resumo, poisdeverá incluir uma apreciação crítica.

3.6- Atualidades e informações: texto destinadoa destacar acontecimentos contemporâneossobre áreas de interesse científico.

4 - Redação:4.1) Nos casos de relato de pesquisa, embora

permitindo liberdade de estilos aos autores,recomenda-se que, de um modo geral, sigamà clássica divisão:

Introdução – proposição do problema e dashipóteses em seu contexto mais amplo, incluin-do uma análise da bibliografia pertinente;

Metodologia - descrição dos passos principaisde seleção da amostra, escolha ou elaboraçãodos instrumentos, coleta de dados e procedimen-tos estatísticos de tratamento de dados;Resultados e Discussão – apresentação dosresultados de maneira clara e concisa, seguidosde interpretação dos resultados e da análise desuas implicações e limitações.

4.2) Nos casos de Revisão Bibliográfica, Análi-ses Críticas, Atualizações e Resenhas, reco-menda-se que os autores observem às tradi-cionais etapas:

Introdução, Desenvolvimento e Conclusões.

5- Deve ser encaminhado por e-mail, para oendereço [email protected]

6- O artigo deverá apresentar resumo e pala-vras chaves em português e abstract ekeywords em inglês.

7- Indicar, por uma chamada de asterisco, emnota de rodapé, a qualificaçãotécnicoprofissional do(s) autor(es), comacréscimo dos respectivos e-mails para queocorram possíveis contatos por parte dosleitores.

8- O sistema de chamada para citações deveráser o alfabético (autor-data), nesse caso, asreferências deverão ser listadas por ordemalfabética ao final do Artigo, respeitando aúltima edição das Normas da ABNT.

A publicação do trabalho nesta Revista depen-derá da observância das normas acimasugeridas, da apreciação por parte do ConselhoEditorial e dos pareceres emitido pelos Consul-tores. Serão selecionados os artigos apresenta-dos de acordo com a relevância a atualidade dotema, com o n° de artigos por autor, e com aatualidade do conhecimento dentro da respecti-va área.

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