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CENTRO UNIVERSITÁRIO METODISTA - IPA CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO Raquel Cardoso Coelho A INTERPRETAÇÃO DAS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS E A FORMATAÇÃO CURRICULAR EM EDUCAÇÃO FÍSICA: uma análise em três instituições Porto Alegre 2014

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CENTRO UNIVERSITÁRIO METODISTA - IPA

CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO

Raquel Cardoso Coelho

A INTERPRETAÇÃO DAS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS E A

FORMATAÇÃO CURRICULAR EM EDUCAÇÃO FÍSICA:

uma análise em três instituições

Porto Alegre

2014

RAQUEL CARDOSO COELHO

A INTERPRETAÇÃO DAS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS E A

FORMATAÇÃO CURRICULAR EM EDUCAÇÃO FÍSICA:

uma análise em três instituições

Trabalho de Conclusão de Curso do Curso de Educação Física – Bacharelado, do Centro Universitário Metodista – IPA, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Educação Física.

Orientador: Prof. Dr. Alexandre Scherer.

Porto Alegre

2014

RAQUEL CARDOSO COELHO

A INTERPRETAÇÃO DAS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS E A

FORMATAÇÃO CURRICULAR EM EDUCAÇÃO FÍSICA:

uma análise em três instituições

Este trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para a obtenção do grau

de Bacharel no Curso de Educação Física do Centro Universitário Metodista - IPA.

Porto Alegre, ___ de novembro de 2014.

Denise Inazacki Rangel

Coordenadora do Curso

Apresento à banca examinadora integrada pelos professores (as)

________________________________________

Professor (a) 1 Centro Universitário Metodista - IPA

________________________________________

Professor (a) 2 Centro Universitário Metodista - IPA

DEDICATÓRIA

Aos meus eternos e verdadeiros amores, minha amada mãe Iracema e a razão

da minha vida meu lindo filho Nicolas.

AGRADECIMENTOS

Agradeço de todo meu coração á Deus por ter me dado à inspiração e força

necessária para ter chegado até aqui, sem Ele nada seria!

Agradeço em especial à minha mãe por quem sou extremamente apaixonada e

orgulhosa, por seu amor, fé, dedicação incondicional a mim, sempre acreditando e me

apoiando em tudo.

Ao meu filho por ser ele a principal motivação de toda essa trajetória, por ter que

abrir mão de seu tempo em função das minhas ausências, é por ele!

A minha cunhada Aline que é como uma irmã, por muitas vezes ter feito o papel

de mãe do meu Nico.

Agradeço a meus irmãos Fernando e Ezequiel por também estarem sempre ao

meu lado, e também ao meu padrasto Marcos.

A meu namorado Luciano Couto que se mostrou ser a pessoa que sempre

busquei encontrar, um companheiro para vida.

Sem o apoio da minha família seria impossível ter chegado até aqui.

Agradeço de coração aberto a meu professor e orientador Alexandre Scherer por

ter acreditado em mim e me inserido no mundo maravilhoso da educação e do saber,

realmente minha gratidão é imensa, ainda mais por ser ele o motivador deste trabalho.

À minha amiga Daiane Freitas, mais uma surpresa maravilhosa que Deus pôs

em meu caminho que também contribuiu de forma definitiva para que esse trabalho

fosse possível.

Aos colegas do grupo de estudo que trocaram experiências e conhecimentos, em

especial os professores Solon que é um dos poucos e raros professores de caráter e

humanidade incríveis, à Luciane Fraga, à Alessandra Quadros, Deninson Ferenci, e

também os colegas Alan furtado, Ana Paula Hossel e novamente ao professor

Alexandre Scherer o responsável por tudo isso.

Agradeço de forma carinhosa e verdadeira a todos os mestres que tive a

oportunidade de aprender ao longo da caminhada, em especial ao professor Afonso

que em uma aula despertou reflexões que determinaram mudanças em minha vida, à

professora Dione por seu carinho e sensibilidade, e a meu querido mestre João

Francisco que adoro e admiro.

Aos colegas do inicio do curso que me acolheram e acompanharam por um

longo tempo Lidiano Rocha e Adriana Fraga, levarei para sempre o exemplo de

acolhida e carinho para com nosso semelhante.

A minha amiga Liliane Córdova por abrir meus olhos para a relevância sobre a

escolha do curso que tanto amo.

Aos funcionários e amigos da biblioteca em especial ao Décio Ferreira, Bruno

Clemente, e novamente a Ana Paula Hossel Garcia por ser extremamente generosa

com todos a sua volta ajudando em momentos críticos sempre com um sorriso no rosto.

A minha amiga Andreza Schefer e Aline Souza a que também pude ter o

privilégio de ter conhecido e me ajudado nessa caminhada.

Ao Solon e a sua esposa Jussara donos do bar do Édem que também me

acompanharam ao longo desses quatro anos com boas conversas e bons cafés.

A todos os colegas, funcionários, pessoas que de uma forma ou outra

contribuíram para que eu pudesse me tornar alguém melhor.

Não fui eu que ordenei a você? Seja forte e corajoso! Não se apavore nem desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar".

Josué 1:9

RESUMO Este estudo pesquisou as formas de interpretação que algumas Instituições de Ensino superior estão tendo em relação às Diretrizes Curriculares Nacionais para a formatação dos currículos dos cursos de Licenciatura e de bacharelado em Educação Física. Para isso foram escritos no referencial teórico um capitulo que expos o retrospecto sobre a formação em Educação Física no Brasil, e um segundo capitulo falando sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais. Está pesquisa é de cunho qualitativo em caráter documental e bibliográfico. Para isso foram objetos de análise os Projetos Pedagógicos Curriculares de três instituições de ensino superiores, Leis, Resoluções, Pareceres e outros documentos. Para compreender as formas de interpretações das Instituições foram utilizado a categorização como forma de analise de dados. Foram criadas três categorias, uma abordando como as Instituições de Ensino superior interpretam as Diretrizes Curriculares Nacionais, a segunda categoria fala sobre a Estrutura dos cursos em Educação Física no aspecto de carga horária e a terceira categoria retratando o perfil de egresso. Os resultados apontam que as instituições privadas de ensino compreendem que as Diretrizes Curriculares Nacionais orientam e normatizam condutas para duas formações, uma em Educação Física em Licenciatura e a outra em Educação Física bacharelado com campos de atuação distintos. Já a instituição pública discute essas diretrizes e em nome de sua autonomia universitária cria um curso de licenciatura ampliada ou unificada com entrada única e dupla modalidade de egresso. Com o exposto sugere-se que se repense as leis balizadoras do curso de Educação Física a fim de se possa formar um profissional que atenderá de forma eficiente e condizente com a modalidade que este escolheu seguir. Palavras chaves: Formação Profissional. Educação Física Licenciatura e Bacharelado. Diretrizes Curriculares Nacionais.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 9

2 REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................................... 11

2.1 HISTÓRICO CURRICULAR DA EDUCAÇÃO FÍSICA ............................................. 11

2.2 AS DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO FÍSICA ................................. 21

3 METODOLOGIA ......................................................................................................... 31

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ....................................................................... 31

3.2 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA ................................................................................ 31

3.3 TÉCNICAS E INSTRUMENTOS .............................................................................. 32

3.4 ANÁLISE DE DADOS............................................................................................... 33

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DO DADOS ....................................................................... 35

4.1 AS INSTITUIÇÕES E A INTERPRETAÇÃO DAS DIRETRIZES CURRICULARES

NACIONAIS .................................................................................................................... 35

4.2 A ESTRUTURA DOS CURSOS ............................................................................... 43

4.3 O PERFIL DE EGRESSO ........................................................................................ 48

5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES ................................................................................ 56

REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 59

9

1 INTRODUÇÃO

Com a divisão do curso de Educação Física nas distintas áreas de Bacharelado

e Licenciatura, observa-se a necessidade de verificar como as instituições de ensino

superior estão formatando seus currículos dentro de cada curso, a fim de compreender

como está acontecendo a formação dos professores/profissionais em Educação Física

no Brasil.

Existem dúvidas sobre o que cada área de formação tem como dever ofertar em

seus cursos, muito em função também da precoce separação que houve em

bacharelado e licenciatura, dúvidas estas, debatidas em sala de aula, em grupos de

estudos e no ambiente acadêmico como um todo, que motivaram a busca por esses

esclarecimentos.

O presente trabalho explora os aspectos históricos sobre a formação do curso de

Educação Física em um capítulo específico sobre sua origem, para que possamos

compreender sua trajetória até os momentos atuais, toda a evolução e mudanças que o

curso vem sofrendo ao longo dos anos. Entender como as instituições de ensino

interpretam as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de seus currículos é

vital, ora que, são elas que instituem o que cada curso especificamente deve ofertar

como disciplina e também suas cargas horárias, para isso foi escrito também um

capítulo que elucida o que são as Diretrizes Curriculares Nacionais.

Em face a essas recentes dúvidas sobre as interpretações dos currículos, nossa

questão de pesquisa se estruturou em: Como as diferentes interpretações das

Diretrizes Curriculares Nacionais estão influenciando a configuração dos cursos de

Educação Física no Rio Grande do Sul?

Como objetivo primário procurou-se compreender de que forma se estruturam

atualmente os diferentes currículos de formação em Educação Física a partir das

orientações das Diretrizes Curriculares Nacionais.

Para os objetivos secundários buscaram verificar a parte histórica dos currículos,

a fim de, compreender a origem do curso e como estes fatos contribuíram para a atual

10

formatação dos currículos; analisar as Diretrizes curriculares Nacionais compreendendo

suas orientações e determinações tanto do bacharelado como as da licenciatura.

Frente a separação do curso de Educação Física em bacharelado e licenciatura,

podemos observar por meio de leituras e debates, tanto em sala de aula como em

grupos de estudos, que existem muitas dúvidas sobre a intervenção de cada

profissional, uma vez que foi observado que em alguns casos um Licenciado está

atuando na área não escolar, e isto é defendido com base no currículo que oferta a

disciplina que o habilita a tal função. Face a essas contradições surge a necessidade

em elucidar como esta dando-se a formatação de cada currículo.

Atualmente há muitos questionamentos sobre a formação do

profissional/professor de Educação Física devido a várias mudanças que vem

acontecendo com o passar dos anos, compreender para onde a profissão está

caminhado e como está estruturada essa formação é vital para o esclarecimento dos

interessados pela área.

Este trabalho tem o interesse em gerar reflexões de que como diferentes

interpretações dos currículos podem interferir na formação do profissional/professor,

uma vez que, cada área tem suas especificidades, e sendo assim, uma distorção

dessas interpretações podem contribuir de forma diferenciada para a formação do

profissional/professor em Educação Física.

11

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 HISTÓRICO CURRICULAR DA EDUCAÇÃO FÍSICA

Para que tenhamos uma boa compreensão sobre a atual situação dos currículos

do curso da Educação Física no Brasil, se faz necessário compreender sua origem

através de seu resgate histórico.

Em um retrospecto da história e origem da Educação Física, não só no Brasil

mas em todo o mundo, Marinho (1987) explica porque deve-se compreender as raízes

históricas que permeiam um entendimento sobre algo que é alvo de estudo.

Neste trecho o autor deixa explicito seu ponto de vista:

História é uma palavra vinda do grego, por intermédio do latim, que significa conhecimento por inquirição. Todavia, o que deflue de sua etmologia não exprime totalmente a sua significação. História é muito mais que o conhecimento obtido pela inquirição. É, de um modo geral, o conhecimento do passado. É o estudo dos fatos sob o ponto de vista do seu desenvolvimento no tempo. (MARINHO, 1987, p. 82).

As origens da Educação Física no Brasil tiveram grande influência das escolas

militares e da marinha, os métodos de ensino eram predominantemente alemão para

atividades esportivas nos meios militares, até que em 27 de Abril de 1921 o método foi

substituído pelo francês, pelo decreto n. 14. 784 (MARINHO, 1987).

Corroborando com Marinho, Benites, Souza Neto e Hunger (2008) relatam que o

processo de formação profissional do curso de Educação Física estava fortemente

ligado ao meio militar, que teve utilização de métodos de ginástica alemã e francês. Sua

origem dá-se nas primeiras décadas do século passado, em cursos curtos com caráter

de formação militar.

Tais dados sobre a formação com formato militar, tem reafirmações por outros

autores. Segundo Azevedo e Malina (2004, p.1 29): “A formação em Educação Física

no brasil origina-se no meio militar”.

Segundo Benites, Souza Neto e Hunger (2008), os cursos eram ministrados pelo

exército, e em 1929 aconteceu a aceitação de civis para inscreverem-se ao mesmo. A

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partir de então começa a surgir a criação da Escola de Educação Física do Exército

(EsEFEx).

Quelhas e Nozaki (2006) reiteram tal informação relatando que a Escola de

Educação Física do Exército surge através do curso provisório de Educação Física.

Este tinha a duração de cinco meses e vinte professores civis. Até 1930 este era o

quadro de diplomados em Educação Física: vinte professores de Educação Física civis;

trinta e quatro Oficiais Instrutores; noventa e um Monitores do Exército; e vinte

monitores da Marinha.

Ainda nesta linha de pensamento os autores citados acima, complementam que

foi observada a formação profissional em Educação Física para o meio civil que teve

seu início durante a vigência do estado novo, através da criação da escola Nacional de

Educação Física (ENEFED) da Universidade do Brasil (decreto-lei n°1.212/39) e da

Escola de Educação Física do Estado de São Paulo.

Azevedo e Malina (2004) reforçam o fato ocorrido, confirmando que o primeiro

curso de graduação superior em Educação Física foi em 1939 com a criação da

ENEFED.

Quelhas e Nozaki, (2006) relatam que através da criação de uma escola padrão

em Educação Física (ENEFD), a forma intervencionista dos militares imperavam sua

influência sobre a sociedade, onde haviam dirigido seu foco desde o final da década de

1920, utilizando a Educação Física como instrumento de “revigoramento da raça” e de

“preparação física do futuro soldado”. Os autores seguem seu discurso afirmando que o

modelo para a organização profissional foi a (EsEFEx) e dentre seus principais focos foi

a disseminação do método francês para a formação profissional da Educação Física e

técnicos especializados em Educação Física e Desportos, que são: 1. Curso superior

de Educação Física; 2. Curso de Técnica Desportiva; 3; Curso de Educação Física

infantil; 4. Curso de Medicina aplicada à Educação Física e aos Desportos; 5. Curso de

Massagem. Observa-se que a origem sobre a formação do licenciado em Educação

Física se constrói de forma diferenciada em relação aos demais licenciados. Seguindo o

texto, ainda com base em Quelhas e Nozaki (2006), para o ingresso na ENEFD era

necessário apenas o curso secundário complementar, considerado pré-requisito para

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acesso ao curso superior segundo a legislação da época, enquanto que para outros

cursos como filosofia, ciências, letras, pedagogia e didática, cursos esses que

adivinham da recente criada Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi), era exigido o curso

secundário complementar, no qual os eram conferidos no término de sua formação de

três anos, o título de bacharel. Para aquele que concluísse o curso de didática em mais

um ano, era outorgado o diploma de licenciatura, desta forma habilitando ao exercício

do magistério no ensino secundário.

Outro ponto curioso desta época é que enquanto as demais licenciaturas tinham

a duração de 4 anos, a licenciatura em Educação Física levava apenas 2 anos. Em

termos de conteúdo a Educação Física diferenciava-se das demais licenciaturas elas

aproximavam-se apenas na matéria Metodologia da Educação Física e Desporto, com

alguns conteúdos das demais matérias pedagógicas dos cursos de didática das

faculdades de filosofia (QUELHAS; NOZAKI, 2006).

Fausto (2001) afirma que este período que vai até a década de 1930, no qual era

regido pelo governo Vargas, teve uma proposta que visava uma formatação mais

aberta e com mais aderência. Conforme o estado novo organizava-se, a educação

passou a ter perspectivas óticas de variações de prioridades como conservadorismo e a

doutrinação, contribuindo desta forma para o surgimento de universidades sólidas.

Podemos observar que a primeira parte da história da Educação Física, que é

até a quarta década do século XX, estava muito influenciada pela intervenção militar

sem regulamentação e sem formação definida, porém, já começa apresentar tentativas

de formalização.

O período histórico político começa a modificar, e com ele o rumo da Educação

Física também. Benites, Souza Neto e Hunger (2008) relatam que o fim do estado novo,

em 1945, inicia o período democrático e, uma nova fase surge para a Educação Física,

através do decreto-lei n° 8270 que redimensionava o curso de 2 anos para 3 anos, mas

manteria os cursos de 1 ano e promoveria mudanças nas cargas horárias das

disciplinas, através da primeira proposta de revisão curricular.

Os autores ainda mencionam que as manobras políticas eram pontuais à época,

principalmente após a derrocada de Getúlio Vargas e a substituição por Juscelino

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Kubistchek no cenário democrático. O decreto n° 1921, de 1953 fazia menção a

exigência da conclusão do 2º ciclo (ensino médio) para os interessados que

intencionavam ingressar na área. Essa foi a novidade da época para a Educação

Física, pois o curso que era apenas técnico com a duração de dois anos passa

somente em 1957 a deixar de ser um curso técnico para ser curso em nível superior.

Seguindo a linha de pensamento de Benites, Souza Neto e Hunger (2008), em

1960 foi a vez de Jânio Quadros assumir a presidência do Brasil, mas renunciando

posteriormente em 1961. Os embates políticos e econômicos eram registrados em

várias partes do mundo, como nos EUA a luta de Martin Luther King a favor dos negros.

No Brasil o Manifesto dos Pioneiros da Educação, de 1932, possibilitou a conquista da

Lei de Diretrizes e Bases (LDB) 4024/61 que gerou uma nova reflexão sobre a

formação de professores.

Segundo Azevedo e Malina (2004) o governo de Goulart, que veio substituir o

governo Jânio Quadros em 1961, foi marcado por reflexões e mudanças nas áreas

política, econômica e educacional, sendo a parte da Educação Física contemplada com

a criação de programas revolucionários entre alguns de Paulo Freire.

Porém a visão de Quelhas e Nozaki (2006) é mais radical em relação as

intenções de regulamentação da Educação Física. Os autores afirmam que a Educação

Física foi usada novamente de forma em que ela se integrava aos interesses do estado

sobre a repressão da ditadura militar, que governou o país após o golpe de 1964. Para

eles:

Caberia à Educação Física, via uma subordinação ao esporte de rendimento, elevar os níveis de aptidão física da população, fornecer campeões que pudessem fazer propaganda do governo e desviar a intenções para as dissidências e as barbaridades cometidas pela repressão.Tais fatos podem ser reconhecidos na introdução da obrigatoriedade de Educação Física no ensino superior, no contento da reforma universitária e, nas determinações oficiais para a Educação Física no 1° e 2° graus. (decreto-lei n° 705/69 e decreto-lei n° 69-450/71) entre outros (p. 73).

Faria Junior (1987) destaca outra mudança significativa que houve na área

educacional. Foi o sancionamento da lei nº 4.064/61, complementando a constituição

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de 1946, no âmbito de regulamentação a intervenção educacional da união, dos

estados, dos municípios e da atividade particular.

Nesta caminhada pela implementação de um novo currículo, é apresentado por

Azevedo e Malina (2004):

[...] foi aprovado, 1962, pelo Conselho Federal de Educação (CFE), o parecer n.292/62 do relator, conselheiro Valmir Chagas, estabelecendo as matérias pedagógicas que deveriam compor os currículos relativo aos cursos de licenciaturas. Em seguida, foi aprovado pelo CFE o parecer n.298, de 17 de novembro de 1962, que estabeleceu distintamente o currículo com um núcleo obrigatório de matérias para os cursos de formação em nível superior do professor de Educação Física e do técnico desportivo. Em ambos os casos, as matérias pedagógicas compuseram o núcleo obrigatório determinado, de acordo com o parecer n. 292/62.” (AZEVEDO; MALINA, 2004 apud DA COSTA, 1998; FARIA JUNIOR, 1987, p. 133).

Ainda nesta esfera, Azevedo e Malina (2004) interpretam que esta mudança para

a Educação Física, implicou na obrigatoriedade da sua prática nos cursos primários e

médios, conhecidos atualmente como ensino básico, dados que se conferem no art. 22.

No art. Nº 70 origina-se o que viria a ser posteriormente o currículo mínimo para todas

as licenciaturas, formalizando disciplinas obrigatórias, intencionando assim assegurar

uma eficaz formação profissional e cultural.

Além disso, a matéria pedagógica também deveria compor esse núcleo,

substituindo a metodologia da Educação Física dos desportos.

Porém mesmo com a modificação curricular que substituía a disciplina de

metodologia pela de pedagogia na ENEFD em 1963, houve resistência por parte do

colegiado em cumprir o que determinava o Conselho Federal de Educação (CFE)

alegando que não havia a cultura de utilização de fundamentos pedagógicos, e que a

prática sim era elemento de prioridade.

Está resolução começa a apresentar uma dualidade do curso, apontando

diferentes intervenções do curso de Educação Física (AZEVEDO; MALINA, 2004).

João Goulart é destituído do poder pelo golpe militar em março de 1964. Os

militares obtiveram apoio dos Estados Unidos da América (EUA) com forte influência e

manipulação, logo, isto teria reflexo na educação brasileira (AZEVEDO; MALINA, 2004).

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Tais intervenções absorveram influências que modificariam de forma definitiva os

rumos da Educação Física, de modo que, está passaria para status de nível superior

conforme expõe Quelhas e Nozaki (2006).

Para Azevedo e Malina (2004) a normatização do funcionamento e organização

do ensino superior, a lei n. 5.540/68, faz suas posições, ligando-se com a escola, e

objetivando o ensino à disseminação (popularização) do ensino superior aos atuais

ensinos fundamental e médio.

Frente à realidade da regulamentação e inserção da Educação Física no ensino

superior em 1969, ficou a preocupação em uma nova formatação do currículo mínimo,

sendo que foi dado ênfase à formação de técnico esportivo. Então configurou-se uma

formação em curso de graduação em duas esferas, Licenciatura em Educação Física e

Técnico de Desportos, apontando seis disciplinas básicas (biológicas) e seis disciplinas

profissionais, e matérias pedagógicas pertinentes a todas licenciaturas. (QUELHAS;

NOZAKI,1996).

Desta forma com a resolução CFE 69/69 aplicou-se uma nova grade curricular,

reconstruindo o curso de Licenciatura e Técnico Desportivo, a grade horária

estabeleceu-se em 1.800 horas para configurar o currículo mínimo, com o foco voltado

para a biologia e o cuidado no “saber-fazer” (BENITES, SOUZA NETO; HUNGER,

2006).

Segundo os autores, observa-se que este modelo de formação foi usado até os

anos de 1980 quando uma expansão na área da ginástica associada a criação de

academias e implementação de escolinhas esportivas junto a este fato, ficou evidente o

crescimento da pós-graduação no Brasil, da mesma forma em que se multiplicaram os

cursos de graduação no seu inicio.

Azevedo e Malina (2004) retratam que partir deste apontamento começa então a

configurar mudanças na área de atuação do professor de Educação Física, projetando

modificações no cenário de Educação Física. Tais mudanças acompanharam o

processo político, ao qual sempre esteve ligado. A reforma curricular do curso de

Educação Física veio através da resolução nº 3./87, que foi resultado de muitas

discussões nos anos de 1987 a 1986. Esta época foi marcada pelo fim da ditadura, que

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imperou no poder por 21 anos, o governo militar vinha sofrendo desgaste e, teve seu

golpe de misericórdia com o processo de abertura política, conciliando com a piora da

crise econômica, a inflação descontrolada, corrupção, defasagem dos serviços públicos

entre outros de ordem pública.

Na visão dos autores, a partir desta desconfiguração do governo militar para o

governo civil, as mais diversas classes uniam-se em prol de seus interesses, surgindo

assim, sindicatos e associações. Exemplo desta são os professores e especialistas em

educação.

Betti e Betti (1996) acreditam que sem dúvida alguma, a década de 1980 foi

crucial para a constituição da formação do profissional de Educação Física no Brasil, a

ponto de ter sido objeto de inúmeros debates e publicações.

Benites, Souza Neto e Hunger (2006) acreditam que a resolução CFE n°03/87

promoveu uma reforma no currículo da Educação Física, obtendo uma organização por

áreas de conhecimentos como, área de conhecimento humanístico; abordando

aspectos filosóficos e sociológicos, e conhecimento técnico; compreendendo o

conhecimento técnico. Surge assim as titulações de licenciatura e bacharelado, porém

diversos cursos de Educação Física optaram pela formação de licenciatura ampliada,

com base na formação que não se restringia somente à escolas. Esse foi o momento

que surgiram as primeiras concepções de dois profissionais com duas formações

distintas e específicas, gerando debates sobre a intervenção, área de atuação e

formação. Desta maneira, desconstruindo um mercado de trabalho em que não se

discriminava as diferenças entre os profissionais.

Quelhas e Nozaki (2006) expõe que mesmo com a abertura do bacharelado

através 03/87, para atuar em espaços não escolares, a adesão das universidades a

esta habilitação era inferior a adesão em relação à licenciatura na primeira metade da

década de noventa. Então surge a possibilidade de formação do bacharel pelo sistema

3+1, junto à licenciatura. Este fato estava demonstrando a fragilidade do sistema pela

ineficiência de fundamentação teórica para ambas habilitações e consequentemente

seus formandos.

18

A partir da segunda metade dos anos 1990 no governo Fernando Henrique

Cardoso (FHC), ocorreu uma reforma educacional envolvendo os diferentes níveis de

ensino, fundamental, médio, profissionalizante e superior, sustentados por aparato do

estado, com regulamentações jurídicas e orientações legais. No entanto estas reformas

tinham fortes motivações políticas, uma que o país tratava de reformas para sair da

crise mundial do capital, e para suprir as exigências das agencias multilaterais do

capital internacional. Capacitando o povo conseguiria estimular a economia e gerar

crescimento para o país (QUELHAS; NOZAKI, 1996).

Segundo Scherer (2005), com o avanço do mercado capital se faz notória a

expansão sobre a intervenção do professor de Educação Física em espaços como:

hospitais, hotéis, salas personalizadas, academias, empresas, festas infantis, etc.

Sendo que até a década de 1980 este professor atuava basicamente em escolas,

praças públicas e clubes.

As mudanças do mercado econômico para adaptação das áreas de trabalho

ficam evidentes no posicionamento de Scherer (2005, p. 31-32):

Percebe-se que, nos últimos vinte anos, a ampliação do campo de intervenção profissional seguiu caminhos influenciados por uma visão de rendimento pautada por uma perspectiva de desenvolvimento profissional ligada ao individualismo e ao funcionalismo, com ênfase na preocupação estética, característica da sociedade socialista. Foram construídas outras atividades, antes não exercidas pelo professor de Educação Física, como, por exemplo, a ginástica laboral, o treinamento físico personalizado, a recreação hospitalar e as mais diferentes atividades de academias (aulas de ginástica, musculação, lutas, danças, alongamentos e etc.) com o objetivo de melhorar o rendimento no trabalho, de embelezar corpos e de explorar culturalmente a busca de uma qualidade de vida, normalmente relaciona ao consumo de bens.”

Segundo Silva (2010), o Ministério da Educação frente as exigências que o

modelo socioeconômico da década de 1990 faziam e reformulavam novamente os

currículos dos cursos Licenciatura, realizado em 2002 com as resoluções CNE/CES 01

e 02 de 2002. Com base nesta nova formatação curricular para a formação de

professores, criaram-se várias comissões de especialistas para definir os distintos

conteúdos dos cursos de Licenciatura e Bacharelado nas mais diversas áreas, o que

também incluía a Educação Física. Diversas discussões sobre a regulamentação da

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profissão eram levantadas. Alguns defendiam a separação do curso em Licenciatura e

Bacharelado com currículos específicos para cada área de atuação: o escolar para

licenciatura e o não escolar para o Bacharelado. Outra proposta defendia a criação de

uma habilitação unificada em licenciatura que abrangesse todo o conhecimento da

Educação Física, indiferente a área de atuação. Baseados na Resolução n°03/87

interpretando que havia uma separação do curso em Bacharelado/Licenciatura, é criado

em 1° de setembro de 1998 o Conselho Federal de Educação Física (CONFEF), com a

missão de regulamentar a profissão e estabelecer limites para o controle da atuação

dos profissionais, e impedindo a atuação de pessoas sem a formação devida.

Enfim, após muitas disputas e discussões ficou estabelecido pelo parecer

CNE/CES 58/2004 e homologada pela resolução CNE/CES n° 07/2004, substituindo

assim a resolução CFE n° 03/87 a legitimidade do Bacharel em Educação Física,

deixando a entender que passaria então a existir dois profissionais distintos atuando em

áreas especificas, o licenciado nos espaços escolares e o bacharel em espaços não

escolares.

Para Mendes e Prudente (2011) com a configuração do processo de formação

pautada pelas DCN do CNE CNE/CP n°1/2002 e CNE/CES n°7/2004. (Políticas para o

Ensino Superior) sofreu a influência do sistema CONFEF/CREF que regulamenta a

profissão.

Para Scherer (2005) o CONFEF tem como principal característica o controle

institucional, tentando regulamentar locais, profissionais e atuações relacionadas com a

atividade física no Brasil.

Segundo o autor dois grupos distintos surgem a partir da nova configuração da

atual Educação Física no Brasil, para atuarem em diferentes mercados de trabalho.

Para esmiuçar de forma mais precisa as diferenciações sobre as áreas de

atuação cito Scherer (2005, p. 41-42):

Vai continuar existindo o professor de Educação Física para Educação Básica, o qual será formado por cursos de licenciatura regimentados pela resolução 9/2001 que regulamenta a formação específica para atuação no ensino básico. Estes serão os “professores de Educação Física” Caracterizados: 1) por uma formação específica; 2) por deterem um conhecimento próprio voltado para a educação e para a saúde; 3)

20

por uma intervenção pedagógica; 4) por uma grande autonomia nas suas ações; 5) por atuarem em um espaço específico (a escola); 6) por continuarem com empregos estáveis. Entretanto, o controle de suas atividades continuará restrito ao Estado através do Ministério da Educação, do Conselho Nacional de Educação, das Secretarias Estaduais de Educação, das Secretarias Municipais de Educação, dos Conselhos Estaduais de educação e dos Conselhos Municipais de Educação, não obedecendo a um código de ética próprio nem a um controle institucional de seus pares. E os “profissionais de Educação Física” serão aqueles oriundos dos cursos de graduação que os caracterizarão também: 1) por uma formação específica; 2) por deterem um conhecimento próprio, não necessariamente voltado para a educação, mas especialmente voltado para a saúde e para a qualidade de vida; 3) por uma intervenção que necessariamente não terá um aprofundamento pedagógico; 4) por uma pequena autonomia que se restringirá aos padrões estabelecidos no CONFEF dentro do Código de Ética; 5) por uma intervenção diversificada (menos no ensino formal); 6) por uma relação autônoma e empreendedora que não caracteriza o emprego formal.

Freitas (2013) diz que os cursos de licenciatura “ampliada” ou “generalista”

puderam ser ofertados de forma regular até o ano de 2005, balizados pela resolução

MEC/CNE/CP n° 02/2002 que os tornavam aptos a exercerem funções em qualquer

campo de trabalho mesmo sendo uma formação em licenciatura, estes professores

estão categorizados pelo CONFEF/CREF/ “licenciado/bacharel.”

Com os pareceres 01 e 02/2002 e a 07/2004 constituem-se as duas formações

distintas: uma Educação Física Licenciatura e outra denominada de Educação Física

bacharelado.

Baseado nos autores supracitados é notório que a motivação para a divisão do

curso em licenciatura e bacharelado está atrelada ao mercado de trabalho e ás

necessidades da sociedade em usufruir de um profissional melhor qualificado.

Existem muitas críticas que mesmo como o surgimento de um novo profissional

ainda assim não há condições deste novo profissional suprir toda demanda do mercado

de trabalho, trazendo a tona uma reflexão sobre a importância de uma formação

baseada na docência, uma vez que, independente da atuação do trabalho, somos todos

transmissores de conhecimento, e não podemos por meio da necessidade de consumo,

perder as origens do curso que privilegia a docência e a formação de seres críticos.

Muitas são as discordâncias em função da separação em distintas modalidades.

Pontos de vistas são defendidos. Mas independente das opiniões, observa-se que o

21

curso de Educação Física atualmente está separado com atuações específicas para

cada área e legislações que sancionam cada uma delas, mas isso não impede que o

assunto esteja sendo estudado a fundo. Afim de que compreendamos melhor de onde

viemos, onde estamos e para onde vamos, quem nos representa e a quem podemos

recorrer de fato. Por isso se faz necessário aos acadêmicos, professores, profissionais

e a todos os interessados pela Educação Física, o estudo permanente motivado pela

inquietude do saber que rompe as barreiras da ignorância.

2.2 AS DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO FÍSICA

O papel que as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) têm é vital para que se

possa entender como acontece à formação do profissional/professor de Educação

Física e de que forma os currículos são formatados segundo suas orientações.

Em face de toda evolução do processo histórico que permeia a trajetória da

Educação Física fica evidente a importância e a influência que as DCN impõem para a

mesma.

Existem muitas leis, normativos, pareceres, atos institucionais, entre outras

nomenclaturas que estão balizadas a partir da constituição brasileira, formando uma

hierarquia. Temer (1993) conceitua constituição como o objeto de estudo do direito

constitucional, menciona que o que nos interessa é seu significado jurídico, porém para

que se possa compreender melhor sua função, utiliza uma forma didática, que em

significado comum todas as coisas têm uma dada estrutura, um corpo, uma

conformação, uma constituição. Ele faz uma analogia em que ao examinar uma

poltrona percebemos que esta é formada sobre uma estrutura, o seu ser, neste exame

pode-se apontar as peças constituintes daquele objeto que, somados, concretizaram a

unidade.

Em síntese, Constituição significa “corpo”, a “estrutura” de um ser que se

convencionou cognominar Estado.

Com maior clareza sobre os aspectos legais, poderemos acompanhar a dinâmica

que cerca as origens e interpretações das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN).

22

Corroborado pela explanação de Freitas (2013), que diz, que a Lei Federal Nº 9131/95,

delibera ao Ministério público (MEC) autonomia para formular e analisar a política

nacional de educação, zelando pela qualidade do ensino e pela execução das leis que

a administram, por meio do Conselho Pleno Nacional de Educação, Câmara de

Educação Superior (CES), Câmara de Educação Básica (CEB) e Conselho Pleno (CP):

Art. 6º O Ministério da Educação e do Desporto exerce as atribuições do poder público federal em matéria de educação, cabendo-lhe formular e avaliar a política nacional de educação, zelar pela qualidade do ensino e velar pelo cumprimento das leis que o regem. [...] § 1º No desempenho de suas funções, o Ministério da Educação e do Desporto contará com a colaboração do Conselho Nacional de Educação e das Câmaras que o compõem. (BRASIL, 1995, paginação irregular).

Freitas (2013) segue seu pensamento relatando que a partir dessa mudança de

lei o MEC, através do CNE, poderá regular na esfera das Universidades e escolas,

porém não fora delas.

Art. 7º O Conselho Nacional de Educação, composto pelas Câmaras de Educação Básica e de Educação Superior, terá atribuições normativas, deliberativas e de assessoramento ao Ministro de Estado da Educação e do Desporto, de forma a assegurar a participação da sociedade no aperfeiçoamento da educação nacional. § 1º Ao Conselho Nacional de Educação, além de outras atribuições que lhe forem conferidas por lei, compete: [...] d) emitir parecer sobre assuntos da área educacional, por iniciativa de seus conselheiros ou quando solicitado pelo Ministro de Estado da Educação e do Desporto; [...] f) analisar e emitir parecer sobre questões relativas à aplicação da legislação educacional, no que diz respeito à integração entre os diferentes níveis e modalidade de ensino; Art. 9º As Câmaras emitirão pareceres e decidirão, privativa e autonomamente, os assuntos a elas pertinentes, cabendo, quando for o caso, recurso ao Conselho Pleno. [...] § 2º São atribuições da Câmara de Educação Superior: a) analisar e emitir parecer sobre os resultados dos processos de avaliação da educação superior; b) oferecer sugestões para a elaboração do Plano Nacional de Educação e acompanhar sua execução, no âmbito de sua atuação; c) deliberar sobre as diretrizes curriculares propostas pelo Ministério da Educação e do Desporto, para os cursos de graduação;

23

d) deliberar sobre os relatórios encaminhados pelo Ministério da Educação e do Desporto sobre o reconhecimento de cursos e habilitações oferecidos por instituições de ensino superior, assim como sobre autorização prévia daqueles oferecidos por instituições não universitárias; Art. 5º São revogadas todas as atribuições e competências do Conselho Federal de Educação previstas em Lei. Art. 6º São extintos os mandatos dos membros do Conselho Federal de Educação, devendo o Ministério da Educação e do Desporto exercer as atribuições e competências do Conselho Nacional de Educação, até a instalação deste. (BRASIL, 1995, paginação irregular).

A partir de 1995, as atribuições e competências passam a ser da alçada do CNE

e não mais do Conselho Federal de Educação (CFE). Nesta trajetória é sancionada em

1996 a Lei Federal Nº 9.394/96 que define as Diretrizes e Bases da Educação Nacional,

tanto na Educação Básica quanto na Educação Superior, incluindo nesta temática,

Cursos de Graduação, Pós Graduação e Extensão (FREITAS, 2013).

As Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) vem agregar mais

autonomia para as instituições de ensino, seja ela no âmbito da Educação Básica

quanto na Educação superior, legitimando o início de profundas mudanças

principalmente na formação curricular da Educação:

Art. 8º. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas ensino. §1º Caberá à União a coordenação da política nacional de educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em relação às demais instâncias educacionais. §2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organização nos termos desta Lei. (BRASIL, 1996, paginação irregular).

A Educação Básica compreende nível de educação infantil, ensino fundamental e

ensino médio, que tiveram suas regulamentações também pela Lei 9.394/1996.

(BRASIL, 1996).

Da mesma forma, essa mesma lei vem orientando também a educação em nível

superior, sobre os cursos, programas e pré requisitos para a inserção no meio

universitário:

24

Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes cursos e programas: I – cursos sequenciais por campo de saber, de diferentes níveis de abrangência, abertos a candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos pelas instituições de ensino; II – de graduação, abertos a candidatos que tenham concluído o ensino médio ou equivalente e tenham sido classificados em processo seletivo; III – de pós-graduação, compreendendo programas de mestrado e doutorado, cursos de especialização, aperfeiçoamento e outros, abertos a candidatos diplomados em cursos de graduação e que atendam às exigências das instituições de ensino; IV – de extensão, abertos a candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos pelas instituições de ensino. (BRASIL, 1996, paginação irregular).

Mais adiante, especifica os critérios para a formação dos docentes em educação

básica:

Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, e oferecida em nível médio na modalidade Normal. (BRASIL, 1996, paginação irregular).

Dentre tantas leis e direitos que defendem a Constituição Federal, estão as DCN

que tiveram sua origem nas Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN).

Em 2000 o Ministério da Educação incumbiu ao Conselho Nacional de Educação,

através do Conselho Pleno (CP), de redigir propostas de Diretrizes para a formação de

professores da Educação Básica, em curso de nível superior, curso de licenciatura, de

graduação plena, homologado pela resolução nº 01/2002.

Assim, compreende-se inicialmente que o objetivo da diretriz aponta para a

formação do licenciado para a atuação do professor de educação básica no âmbito

escolar, pois tem suas especificações e delimitações. No entanto posteriormente,

algumas mudanças aconteceram no campo da formação das Diretrizes Curriculares,

alterando o cenário da formação da Educação Física. Ao encontro deste

posicionamento está a posição de Benites, Souza Neto Hunger (2008) ao relatarem que

é nos anos de 2002 e 2004 através de novas diretrizes na forma de resoluções

baseadas na LDBEN que ocorrem as principais mudanças na configuração da

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formação do professor da Educação Básica, Licenciatura Plena, gerando muitas

discussões sobre um novo rumo que estava caminhando a Educação Física no sentido

do surgimento de uma nova formação de profissão.

Os autores seguem afirmando que as novas DCN CNE/CP 01/2002, 02/2004 e

7/2004 proporcionam melhores perspectivas na formação de um professor qualificado

para sua área de atuação através de um currículo mais especifico.

No entanto, em face destas novas diretrizes inicia-se uma dualidade do curso de

Educação Física como poderemos averiguar:

RESOLUÇÃO CNE/CP 1, DE 18 DE FEVEREIRO DE 2002. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. (BRASIL, 2002, paginação irregular).

Complementando segue a resolução que define a carga horária dos cursos de

licenciatura RESOLUÇÃO CNE/CP 2/02:

Resolução CNE/CP 2, DE 19 DE FEVEREIRO DE 2002.(*) Institui a duração e a carga horária dos cursos de licenciatura, de graduação plena, de formação de professores da Educação Básica em nível superior. (BRASIL, 2002, paginação irregular).

Aqui observa-se a nova diretriz que veio substituir a 03/87:

Resolução CNE/CES Nº 7 DE 31 DE MARÇO DE 2004 Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Educação Física, em nível superior de graduação plena. (BRASIL, 2004, paginação irregular).

Respectivamente Resolução nº 4, de 6 de abril de 2009 define sua carga horária:

Dispõe sobre carga horária mínima e procedimentos relativos à integralização e duração dos cursos de graduação em Biomedicina, Ciências Biológicas, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição e Terapia Ocupacional, bacharelados, na modalidade presencial. (BRASIL, 2009, paginação irregular).

26

Podemos observar que foram elaboradas e sancionadas duas Diretrizes

diferentes, uma para formação de professores da educação básica, em nível superior,

curso de licenciatura, CNE/CP nº01/2002 e a outra para os cursos de graduação em

Educação Física, em nível superior de graduação plena CNE/CES Nº 7/2004. Além

disto, temos a resolução que vem para definir a carga horária dos Cursos de

Licenciatura em Educação Física, através da Resolução CNE/CP nº02/2002, e outra

definidora da carga horária para os cursos de bacharelado, inclusive em Educação

Física, através da Resolução CNE n° 04/2009.

Na resolução CNE/CP nº01/2002 acompanhamos quais as prerrogativas para a

formação do professor de educação básica.

Art. 3º A formação de professores que atuarão nas diferentes etapas e modalidades da educação básica observará princípios norteadores desse preparo para o exercício profissional específico, que considerem: [...] II - a coerência entre a formação oferecida e a prática esperada do futuro professor[...]; Art. 5º O projeto pedagógico de cada curso, [...] levará em conta que: I - a formação deverá garantir a constituição das competências objetivadas na educação básica; II - o desenvolvimento das competências exige que a formação contemple diferentes âmbitos do conhecimento profissional do professor; III - a seleção dos conteúdos das áreas de ensino da educação básica deve orientar-se por ir além daquilo que os professores irão ensinar nas diferentes etapas da escolaridade; IV - os conteúdos a serem ensinados na escolaridade básica devem ser tratados de modo articulado com suas didáticas específicas; Art. 10. A seleção e o ordenamento dos conteúdos dos diferentes âmbitos de conhecimento que comporão a matriz curricular para a formação de professores, de que trata esta Resolução, serão de competência da instituição de ensino, sendo o seu planejamento o primeiro passo para a transposição didática, que visa a transformar os conteúdos selecionados em objeto de ensino dos futuros professores. [...] Art. 12. Os cursos de formação de professores em nível superior terão a sua duração definida pelo Conselho Pleno, em parecer e resolução específica sobre sua carga horária. § 1º A prática, na matriz curricular, não poderá ficar reduzida a um espaço isolado, que a restrinja ao estágio, desarticulado do restante do curso. § 2º A prática deverá estar presente desde o início do curso e permear toda a formação do professor. § 3º No interior das áreas ou das disciplinas que constituírem os componentes curriculares de formação, e não apenas nas disciplinas pedagógicas, todas terão a sua dimensão prática.

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Art. 13. Em tempo e espaço curricular específico, a coordenação da dimensão prática transcenderá o estágio e terá como finalidade promover a articulação das diferentes práticas, numa perspectiva interdisciplinar. § 3º O estágio curricular supervisionado, definido por lei, a ser realizado em escola de educação básica, e respeitado o regime de colaboração entre os sistemas de ensino, deve ser desenvolvido a partir do início da segunda metade do curso e ser avaliado conjuntamente pela escola formadora e a escola campo de estágio. (BRASIL, 2002, paginação irregular).

Freitas (2013) expõe esta nova legislação como uma definição, especialmente do

perfil do professor que atuará na educação básica, corroborado pela obrigatoriedade do

estágio curricular obrigatório em ambiente escolar. Possibilitando inclusive as

Universidades a responsabilidade de organizar a seleção e o ordenamento dos

conteúdos das distintas esferas de conhecimento da matriz curricular, referenciado no

Art. 10 supracitado.

O parecer 09/2001caracteriza e expões as diretrizes para os componentes

específicos da formação em Educação Básica:

Complementando as disposições do Artigo 13, a LDBEN dedica um capítulo específico à formação dos profissionais da educação, com destaque para os professores. Esse capítulo se inicia com os fundamentos metodológicos que presidirão a formação: Art. 61. A formação de profissionais da educação, de modo a atender aos objetivos dos diferentes níveis e modalidades de ensino e às características de cada fase do desenvolvimento do educando, terá como fundamentos: 1.a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação em serviços; 2.aproveitamento da formação e experiências anteriores em instituições de ensino e outras atividades. [...] Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. Art. 63. Os Institutos Superiores de Educação manterão: 1.cursos formadores de profissionais para a educação básica, inclusive o Curso Normal Superior, destinado à formação de docentes para a educação infantil e para as primeiras séries do ensino fundamental; 2.programas de formação pedagógica para portadores de diplomas de educação superior que queiram se dedicar à educação básica; 3.programas de educação continuada para os profissionais de educação dos diversos níveis. (BRASIL, 2001, paginação irregular).

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Ao encontro da citação supra mencionada está a CNE/Cp 01/2002:

Art. 3º A formação de professores que atuarão nas diferentes etapas e modalidades da educação básica observará princípios norteadores desse preparo para o exercício profissional específico, que considerem: I - a competência como concepção nuclear na orientação do curso; II - a coerência entre a formação oferecida e a prática esperada do futuro professor, tendo em vista: a) a simetria invertida, onde o preparo do professor, por ocorrer em lugar similar àquele em que vai atuar, demanda consistência entre o que faz na formação e o que dele se espera; b) a aprendizagem como processo de construção de conhecimentos, habilidades e valores em interação com a realidade e com os demais indivíduos, no qual são colocadas em uso capacidades pessoais; c) os conteúdos, como meio e suporte para a constituição das competências; d) a avaliação como parte integrante do processo de formação, que possibilita o diagnóstico de lacunas e a aferição dos resultados alcançados, consideradas as competências a serem constituídas e a identificação das mudanças de percurso eventualmente necessárias. III - a pesquisa, com foco no processo de ensino e de aprendizagem, uma vez que ensinar requer,t anto dispor de conhecimentos e mobilizá-los para a ação, como compreender o processo de construção do conhecimento. (BRASIL, 2002, paginação irregular).

Ainda em 2002, através do CNE nº 02, é instituída a duração e a carga horária

mínima dos cursos de Licenciatura, de Graduação plena, de formação de professores

da Educação Básica em nível superior, conforme descrita a seguir:

Art. 1º A carga horária dos cursos de Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, será efetivada mediante a integralização de, no mínimo, 2800 (duas mil e oitocentas) horas, nas quais a articulação teoria-prática garanta, nos termos dos seus projetos pedagógicos, as seguintes dimensões dos componentes comuns: I - 400 (quatrocentas) horas de prática como componente curricular, vivenciadas ao longo do curso; II - 400 (quatrocentas) horas de estágio curricular supervisionado a partir do início da segunda metade do curso; III - 1800 (mil e oitocentas) horas de aulas para os conteúdos curriculares de natureza científico cultural; IV - 200 (duzentas) horas para outras formas de atividades acadêmico-científico-culturais. Art. 2° A duração da carga horária prevista no Art. 1º desta Resolução, obedecidos os 200 (duzentos) dias letivos/ano dispostos na LDB, será integralizada em, no mínimo, 3 (três) anos letivos. (BRASIL, 2002, paginação irregular).

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A partir disto, pode-se entender que a Instituição de Ensino Superior será

responsável pela construção curricular, obedecendo então as normas descritas

anteriormente especificamente para o curso e Educação Física Licenciatura.

Já no parecer CNE/CES Nº 7/2004 fica estabelecido:

Art. 3º A Educação Física é uma área de conhecimento e de intervenção acadêmico-profissional que tem como objeto de estudo e de aplicação o movimento humano, com foco nas diferentes formas e modalidades do exercício físico, da ginástica, do jogo, do esporte, da luta/arte marcial, da dança, nas perspectivas da prevenção de problemas de agravo da saúde, promoção, proteção e reabilitação da saúde, da formação cultural, da educação e da reeducação motora, do rendimento físico-esportivo, do lazer, da gestão de empreendimentos relacionados às atividades físicas, recreativas e esportivas, além de outros campos que oportunizem ou venham a oportunizar a prática de atividades físicas, recreativas e esportivas. Art. 4º O curso de graduação em Educação Física deverá assegurar uma formação generalista, humanista e crítica, qualificadora da intervenção acadêmico-profissional, fundamentada no rigor científico, na reflexão filosófica e na conduta ética. § 1º O graduado em Educação Física deverá estar qualificado para analisar criticamente a realidade social, para nela intervir acadêmica e profissionalmente por meio das diferentes manifestações e expressões do movimento humano, visando a formação, a ampliação e o enriquecimento cultural das pessoas, para aumentar as possibilidades de adoção de um estilo de vida fisicamente ativo e saudável. (BRASIL, 2004, paginação irregular).

Nota-se que as áreas de conhecimentos do bacharel são quase as mesmas da

licenciatura, porém neste mesmo parecer é apontado uma resalva indicando que para a

formação do professor da Educação Básica se faz necessário reportar-se a sua própria

legislação através do CNE e suas específicas orientações:

§ 2º O Professor da Educação Básica, licenciatura plena em Educação Física, deverá estar qualificado para a docência deste componente curricular na educação básica, tendo como referência a legislação própria do Conselho Nacional de Educação, bem como as orientações específicas para esta formação tratadas nesta Resolução. (BRASIL, 2004, paginação irregular).

Em síntese, observa-se que houve uma evolução das leis que regulamentam a

Educação Física.

30

Com a Resolução CFE n° 69/69 os currículos tinham um caráter generalista,

dando ênfase à formação do técnico esportivo e, foi em 1987 que ocorreu a tentativa de

organização do currículo com a criação da CFE n° 03/87 onde criava um diretriz

especifica para o bacharelado, originando-se assim a primeira tentativa de divisão do

curso. E através da LDBEN n° 9.394/96 que apontava novas diretrizes para a formação

do professor, dando mais poder para as instituições de ensino superior para formar

seus currículos respeitando as peculiaridades de cada região. No ano de 1998 cria-se

através da homologação da lei n° 9.696/98 o Conselho Federal de Educação Física

(CONFEF) e os Conselhos Regionais de Educação Física (CREF). Estes órgãos tinham

um poder fiscalizador de controle da profissão que antes não havia. Em 1997 o

Conselho Nacional de Saúde, CNS n° 218/1997 que propõe o reconhecimento como

profissional da área da saúde, entre alguns também o Profissional de Educação Física.

Em 2002 então é aprovada a Resolução do CNE n° 01/2002 as Diretrizes

Curriculares para a formação de Professores de Educação Básica, em Nível Superior,

Curso de Licenciatura, de Graduação plena, para todos que queiram atuar na escola.

A resolução MEC/CNE/CES n° 07/2004 institui as Diretrizes Curriculares

Nacionais para os Cursos de Graduação Plena em Educação Física, em Nível Superior

de Graduação Plena, para todos aqueles que queiram atuar em espaços não escolares.

Com este breve retrospecto sobre a evolução das diretrizes, nota-se que as

mudanças ocorreram em função da alteração histórica profissional política do país em

frequente evolução econômica, gerando a necessidade de um profissional preparado

para suprir as novas exigências do mercado econômico, alterando de forma significativa

a formarão do professor/profissional de Educação Física.

Cabe a todos observarmos uma vez que instituídas as novas diretrizes, se estas

estão sendo interpretadas de forma correta pelas Instituições de Ensino superior para a

formação de seus alunos, futuros professores e profissionais, a fim de que se possa

formar de forma competente um servidor que servirá a sociedade de forma eficiente.

31

3 METODOLOGIA

Demo (1995) descreve que a Metodologia é a ferramenta de instrumento para o

cientista social, é a condição necessária para a competência científica, nada mais

revela a incompetência do que o desleixo metodológico.

Para o autor a ciências propõe-se em lidar com a realidade da forma que ela é,

enquanto a metodologia preocupa-se em como realizar, como fazer.

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa e fundamenta-

se na análise documental.

Para Creswell (2007) a pesquisa qualitativa emprega diferentes formas de

conhecimentos, estratégias de investigação e métodos de coleta e analise de dados. O

autor diz que pesquisa qualitativa é fundamentalmente interpretativa, ou seja, o

pesquisador faz interpretações dos dados através de sua ótica em um tempo

sociopolítico e histórico específico.

Gil (2006) explica que a pesquisa documental se assemelha muito com a

bibliográfica. O que as difere são a natureza de suas fontes. A pesquisa documental

utiliza-se de materiais que ainda não obtiveram um tratamento analítico, ou que podem

ainda serem modificados dependendo dos objetivos da pesquisa.

3.2 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

A coleta de dados dessa pesquisa foi feita através de análise documental dos

currículos das Instituições de Ensino Superior e também nas suas respectivas

propostas curriculares.

A pesquisa foi feita através da análise dos documentos de três Instituições de

Ensino Superior (IES) do Rio Grande do Sul, que apresenta em seus projetos

pedagógicos os cursos de licenciatura e de bacharelado em Educação Física. A

32

decisão de pesquisar os currículos tem motivação frente à tradição que todas carregam

sobre suas histórias. São Instituições de ensino superior com trajetória marcada e

relevante, que já formaram diversas turmas nos cursos de Educação Física, outro

critério adotado foi o fato delas terem a avaliação do Exame Nacional de desempenho

de Estudantes (ENADE). Segundo informações obtidas pelo Portal INEP, o ENADE é

instrumento de avaliação do desempenho dos estudantes em relação aos conteúdos

programáticos previstos nas diretrizes curriculares do referente curso de graduação, e

as habilidades e competências em sua formação.

Para garantir o anonimato das Instituições de Ensino definimos sua identificação

da seguinte forma: Instituição “A”, Instituição “B” e Instituição C, sendo que a Instituição

“A” e “B” são Instituições privadas, uma delas representando Porto Alegre e outra

representando a região metropolitana, e por fim a Instituição “C” que representa o

ensino público.

3.3 TÉCNICAS E INSTRUMENTOS

Para Marconi e Lakatos (2010), as técnicas de pesquisa são consideradas um

conjunto de preceitos ou processos de que se serve uma ciência, e também a

habilidade para usar esses preceitos ou normas, na obtenção de seus propósitos. Diz

respeito então ao momento prático do trabalho que será a coleta de dados. Sendo

conhecidas como documentação indireta e documentação direta.

No caso deste trabalho foi utilizada a técnica de documentação indireta, que é o

levantamento de dados em documentos pré-existentes que por sua vez é subdividida

em pesquisa documental. No caso deste estudo foi realizada a análise na grade

curricular das Instituições de ensino Superior e na proposta curricular disponível através

dos sites das IES pesquisadas.

33

3.4 ANÁLISE DE DADOS

Para análise de dados foi utilizada a categorização de dados, um procedimento

que agrupa os dados considerando a parte comum existente entre eles.

Conforme Marconi e Lakatos (2010), a principal relevância dos dados não está

ligados propriamente em si, mas sim nas respostas que buscam as investigações.

Para os autores a análise é a tentativa de esclarecer as ligações existentes entre

o objeto estudado e outros elementos, eles citam que a análise se resume em três

níveis: interpretação, explicação e especificação.

Para Bardin (2011) o princípio para a categorização está na operação da

classificação dos elementos integrativos de um conjunto por distinção e, logo após por

aproximação, definido como “analogia”, com critérios definidos previamente.

Ao encontro de Bardin (2011) está o posicionamento de Moraes (1999) que

relata existir uma classificação para a categorização que é por semelhança ou analogia,

segundo critérios e procedimentos previamente estabelecidos no processo.

O autor segue expondo que existem alguns critérios que definem os diferentes

tipos de categorias, como os semânticos, originando categorias temáticas. Relata haver

os sintáticos definindo categorias a partir de adjetivos, verbos, substantivos e entre

outros. As categorias podem ainda serem formadas por critérios léxicos, com ênfase

nas palavras e seus significados, e também em critérios expressivos centrando em

problemas de linguagem.

Portanto, para análise documental, foram coletados seis tipos de documentos

que dividimos em três categorias: Interpretação das Diretrizes Curriculares Nacionais;

Estrutura dos Cursos; O Perfil de Egresso.

Esses documentos são os Projetos Pedagógicos Curriculares dos cursos de

Educação Física Licenciatura e Bacharelado das três instituições, sendo que cada

instituição têm os dois cursos, totalizamos a análise em seis projetos pedagógicos.

No entanto é preciso relatar que as primeiras intenções quando iniciamos a

pesquisa, era a análise dos Projetos Pedagógicos curriculares em instituições de todo

o país. Conforme nos interávamos do teor de complexibilidade, nos limitamos em

34

verificar os Projetos Pedagógicos de todas as instituições de Porto Alegre e região

metropolitana que ofertassem os cursos de Educação Física Licenciatura e

Bacharelado, porém esbarramos na dificuldade de captação dos documentos, uma vez

que estes foram obtidos através dos sites das instituições e nem todas disponibilizam

esses documento. Por fim conseguimos ter acesso a seis Projetos Pedagógicos

Curriculares de três instituições, duas de instituições privadas, uma representando a

capital gaúcha e a outra a região metropolitana, sendo a terceira uma instituição

pública. Ainda assim essas três análises tem uma possibilidade de visão limitada ou

própria.

35

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DO DADOS

4.1 AS INSTITUIÇÕES E A INTERPRETAÇÃO DAS DIRETRIZES CURRICULARES

NACIONAIS

Com a Divisão do Curso de Educação Física em duas modalidades, Bacharelado

e Licenciatura, criou-se diretrizes especificas para cada área de formação com

apontamentos e normativas que veem para orientar as instituições de ensino de que

forma devem montar seus Projetos Pedagógicos e Currículos. Como já mencionado no

referencial teórico deste trabalho citamos três resoluções entre outros pareceres e leis

servirão como base para categorizar e analisar os PPC: a Resolução n°. 7/2004 para o

Curso de Graduação (Bacharelado) em Educação Física e Resoluções CNE/CP n°. 1 e

n°. 2/2002 para o Curso de Licenciatura em Educação Física.

Observa-se analisando os PPC da Instituição “A” e “B” que ambas interpretam

haver dois cursos distintos, construindo assim organizações curriculares diferentes para

mercados de trabalhos diferentes.

O primeiro curso de Educação Física da instituição A teve seu inicio no ano de

1971 e desde sua concepção, ele se caracterizava por ser uma licenciatura plena

ampliada, onde sua formação habilitava para atender na Educação Básica em escolar

públicas e privadas no ensino da Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio

e na Educação profissional, e com o passar dos anos também se ampliou no sentido de

atender outras demandas como academias, clubes, centros comunitários, escolas

esportivas, hospitais, condomínios, hotéis, asilos, instituições assistenciais, entre outros

espaços. Independente da área de atuação todas as faixas etárias e segmentos sociais

eram atendidos.

No processo de transição entre 2002 e 2005 a Instituição “A” passa a

compreender que existem cursos diferentes e tanto o PPC do Curso de Bacharelado

como no curso de Licenciatura fica explícita que a organização curricular entre as duas

modalidades serão distintas, interpretado que as Diretrizes Curriculares Nacionais

(DCN) para a organização curricular diferente mediante ação profissional distinta.

36

Com a transformação das Faculdades existentes em Centro Universitário, segundo a Portaria 3.186/2004, no primeiro semestre de 2005 o Curso de Educação Física passou a oferecer duas habilitações, Licenciatura e Bacharelado, distintamente, atendendo às respectivas diretrizes que orientam a organização curricular e a terminalidade definidora da futura ação profissional. (PPC Bacharelado Instituição “A”, 2013, p. 24).

Um dado curioso é que o curso de Educação Física de Ensino Superior foi o

primeiro curso desta instituição e foi também o primeiro de Instituição privada no estado

do Rio grande do Sul.

O Curso de Educação Física em Licenciatura da Instituição “A” foi montada a

partir de um programa de formação para professores de Educação Básica juntamente

com outras áreas de ensino.

Esta proposta se dispôs a considerar o professor um sujeito capaz de

desempenhar novas demandas de trabalho a partir da complexidade de suas funções

evidenciando orientações avaliativa proposta pela Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Esta Instituição de Ensino superior leva em consideração especialmente as DCN

para a formação de professores para a Educação Básica unindo a concepção religiosa

com os objetivos das DCN com:

Formar profissionais qualificados e capacitados para superar, questionar e gerenciar sua vida profissional, com respeito ao outro, com atitudes éticas perante a sociedade e a multiplicidade cultural é o objetivo central deste programa. Com isso, contribuímos para a qualificação da educação básica ao formar educadores ativos na sociedade e cientes de seu papel transformador da mesma. (PPC Licenciatura Instituição “A”, 2013, p. 30).

Também leva em consideração a interdisciplinaridade do curso e a

transdisciplinariedade entre as áreas valorizando a relação teórica e prática apesar de

não promover trabalho de conclusão de curso ao final da formação.

Está instituição compreende que o reconhecimento das diferentes formações traz

a necessidade de criar uma matriz curricular que esteja pautada com o objetivo de

contemplar conhecimentos que habilitem para a formação profissional do Bacharelado

em Educação Física, a capacidade de entendimento de que o aluno deva ser

sujeito/agente na concepção desse conhecimento, num mecanismo que envolva teoria

37

e prática, numa visão inter e multidisciplinar. Observando e compreendendo as

mudanças nas leis a instituição “A” passa a montar um novo Projeto Curricular para o

curso de bacharelado:

O presente Projeto Pedagógico foi elaborado com a perspectiva de atender às alterações curriculares decorrentes do Parecer CNE/CES 58/2004 e da Resolução CNE/CES 7/2004 que instituem as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Educação Física; bem como o Parecer CNE/CES nº 213/2008 e Resolução nº 4/2009 que instituem a carga horária mínima dos cursos de graduação, especificamente dos cursos de bacharelado da área da saúde. (PPC Bacharelado Instituição “A”, 2013, p. 38).

A Instituição “B” tem suas origens e perfil inspirados na educação cristã, seu

primeiro curso em nível superior foi no ano de 1976 e o primeiro Curso de Educação

Física em Licenciatura foi no ano de 1999. Mais tarde a instituição “B” foi recredenciada

e criou novos cursos entre eles a Educação Física Bacharelado em 2004.

Ela entende que existem duas modalidades de formação, ofertando então cursos

de licenciatura e de bacharelado em Educação Física. Curiosamente o curso de

bacharelado estava aprovado pelo Conselho Universitário desde 2003 mesmo antes da

resolução 07/2004. Já, o Curso de licenciatura ele tem sua portaria efetivada em

novembro de 2008 (PPC instituição “B”, 2009).

Na sessão 2 de seu PPC em licenciatura que é denominado de IDENTIFICAÇÃO

E LOCAL DE FUNCIONAMENTO DO CURSO se especifica à área do conhecimento e

está definido que a Educação Física faz parte da área da ciências da saúde. Este fato

despertou uma certa estranheza, o que nos motivou a procurar no sistema da CAPES

na Tabela de Áreas de Reconhecimento, as possíveis áreas que a educação física

estivesse ligada, e ao averiguar os dados constatou-se que de fato a Educação Física

está presente somente na área da Ciências da Saúde e ausente da Área da Educação

sob este reconhecimento: “40000001 CIÊNCIAS DA SAÚDE; 40900002 ÁREA DE

AVALIAÇÃO: EDUCAÇÃO FÍSICA”. (BRASIL, 2014, paginação irregular).

Percebe-se, então, estudando os objetivos do curso, que a Instituição “B”

constrói seu PPC em licenciatura com direcionamento para a formação na habilitação

da Educação Básica conforme o que indica a resolução CNE/CP 01/2002 que institui as

38

DCN para a formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de

Licenciatura, de graduação plena. Entre alguns dos objetivos:

*Formar profissionais habilitados para a docência na Educação Básica com sólida formação ética, cultural, filosófica, científica, tecnológica e pedagógica levando em conta os princípios da Instituição e as constantes mudanças na sociedade na qual irão atuar. *Oferecer vivências nas diversas situações pedagógicas da Educação Física escolar. *Incentivar a progressiva autonomia intelectual do aluno licenciado. *Integrar as atividades de estágio e demais atividades que constituem o saber acadêmico com a prática profissional, construindo as habilidades e competências necessárias para a atuação no ambiente escolar. (PPC Licenciatura Instituição “B”, 2009, p. 11-12).

Nota-se que a Instituição “B” diferencia bem a existência e peculiaridades

notórias ao curso, como também evidencia a diferenciação quando abre um curso novo

de Educação Física de Bacharelado em 2004.

Até o momento conseguimos compreender que as duas instituições privadas (A

e B) possuem as mesmas interpretações das diretrizes, considerando que existe uma

diretriz para o curso de licenciatura e uma diretriz para o curso de bacharelado e que

essas diretrizes tem um aspecto de conhecimento especifico da área balizado na

Resolução n. 07/2004, e em função disso possuem dois currículos diferenciados para a

licenciatura e para o bacharelado. Já a Instituição pública discute essas diretrizes e

interpreta elas de outra forma.

Para que se possa compreender a atual interpretação da Instituição “C” se faz

necessário olhar à trajetória da mesma. No percorrer da análise de seus PPC tanto da

licenciatura quanto do bacharelado em Educação física constatou-se que existem

dentro da universidade um entendimento e uma forma de sistematização própria que

motivou a criação de alguns conceitos e atitudes que motivaram a formatação e

formação diferenciada dos currículos e discentes.

Na primeira parte dos PPC tanto do Bacharelado quanto da Licenciatura em

Educação Física na sessão intitulado “APRESENTAÇÃO” (sendo essa sessão idêntica

em ambos PPC), o texto traz a tona de que forma se estabeleceu sua elaboração,

relatando que este documento foi resultado de dois anos de trabalho realizado pela

39

“comunidade C” e sistematizado por uma Comissão Especial de Reestruturação

Curricular (CERC) instituída pela portaria no. 5 de 1 de setembro de 2010 pela direção

da Escola de Educação Física constituída por alguns professores. A CERC tinha a

missão de elaborar um documento que materializasse as discussões antes realizadas

pela Comissão de Reforma Curricular (CRC) que viabilizasse a formação unificada e

reforma do currículo de formação em Educação Física e proporcionasse a implantação

de um novo currículo para os ingressantes do vestibular no ano de 2012.

Algumas das principais motivações para a reforma curricular vieram pela

expressividade dos estudantes que se preocupavam com o currículo, principalmente em

relação à dualidade de bacharelado e licenciatura e os impactos dessa divisão no

cenário de exercício profissional.

Diferentemente do que ocorreu com a maioria dos processos de reformulação implementados anteriormente, neste, a Instituição “C” não foi pressionada a mudar em função de uma legislação educacional específica. A mobilização emanou de um desconforto proveniente da estrutura curricular vigente associado à discriminação das habilitações no exercício profissional imposta pela Lei n. 9696/1998 que regulamentou a profissão de EF. Fundamentalmente pela discriminação do licenciado no mercado de trabalho fora dos ambientes escolares, algo que exigia uma resposta efetiva e urgente por parte da instituição de formação mais antiga do estado e uma das mais antigas do país. (PPC Licenciatura e Bacharelado Instituição “C”, 2012, p. 3-4).

A CRC com a intenção de mobilizar os mais diferentes segmentos para

elaboração de um novo currículo, organizaram várias atividades. A partir desses

debates gerados por essas atividades a CRC formulou um documento intitulado Carta

ao Conselho da Unidade (CONSUNI) da Escola de Educação Física que aconselhava a

necessidade da construção de um currículo unificado e que concedesse dupla

modalidade de formação (licenciatura/bacharelado) num único curso de Educação

Física.

Dessa forma as possibilidades de egressos seriam ampliadas, porém sem deixar

de atender as exigências do mercado de trabalho atual e as diretrizes para a formação

superior da área. Este foi o momento mais importante dessa primeira comissão, pois a

carta foi aprovada por unanimidade pelo CONSUNI em 9 de julho de 2010.

40

Os rumos políticos e princípios do novo currículo da Instituição “C” já estavam

delineados na carta ao CONSUNI, faltava a efetivação da mesma através da

materialização destes princípios em um projeto. Era necessário a reformulação da

CERC a fim de atender ao marco regulatório educacional vigente, e que se adaptasse à

estrutura organizacional da instituição em pauta. No entanto alguns contratempos

ocorreram em virtude da formação da CERC, a intenção era instituir três representantes

docentes e dois discentes para a finalização do documento que daria corpo ao novo

currículo. A representação política dos alunos não indicou seus representantes por

divergência relativas a formação da CERC, sendo que esta passa a seguir o trabalho

sem a representação estudantil. Por fim a CERC em primeiro de setembro de 2010 é

instituída pela Direção. O primeiro movimento foi montar uma estrutura de trabalho para

a organização das estratégias que contemplassem as diretrizes da Carta do CONSUNI,

mas sem deixar de obedecer as Diretrizes Curriculares Nacionais, especialmente a

Resolução n°. 07/2004 e a Resolução CNE n°.1/2002:

Portanto, não bastava simplesmente unificar o curso e seguir com a mesma estrutura curricular, era preciso criar um dispositivo de desestabilização da fragmentação do curso sem deixar brechas legais que pudessem desestabilizar o processo de formação baseado em uma única entrada no vestibular e a dupla modalidade (licenciatura e bacharelado). (PPC Instituição “C”, 2012, p. 6).

O primeiro passo dado pela nova CERC foi pautar a formação em fundamento

que possibilitassem a colocação do diplomado no mundo do trabalho segundo seus

princípios. Esses princípios abordam competências, áreas e/ou campos que colocam o

aluno como epicentro inspirador da estrutura do novo currículo, desde sua entrada até a

conclusão de sua formação, embora este, não faça parte da construção do mesmo.

Definidos os princípios faltava definir o campo de atuação, que foram divididos

na área da Educação Física Escolar, na formação da área do Esporte e Lazer, e por

último o campo da saúde. A CERC distribui as competências e habilidades através de

três eixos de formação: geral (comum a todo estudante universitário), especifica

(Comum a todo aluno da educação física) e a orientada (de acordo com o campo de

atuação profissional). A CERC resolve começar a discussão pelo eixo da formação

orientada, porém no meio deste processo ocorre um importante empecilho. A CERC foi

41

avisada da Nota técnica n°003/2010 do SESU pedida pelo CONFEF em que relata ao

bacharel e licenciado devam ter dois diplomas diferentes, um ingresso para cada curso,

com uma matriz curricular própria e campos de trabalhos específicos. Nota técnica

SESU/MEC n°. 003/2010:

15. Portanto, os cursos de Bacharelado/Licenciatura Plena puderam ser ofertados conjuntamente, de forma regular, até 15/10/2005 sendo licito afirmar que apenas os alunos ingressantes até essa data nos cursos de Educação Física estavam aptos a obter a graduação de "bacharel e licenciado em Educação Física". A partir dessa data, os cursos de Licenciatura em Educação Física e Bacharelado em Educação Física passaram a representar graduações diferentes. 16. Com essa nova regulamentação, o licenciado em Educação Física está habilitado a atuar na docência em nível de Educação Básica e o bacharel a atuar no ambiente não-escolar. Portanto, o aluno que deseja atuar nas duas frentes deverá obter ambas as graduações, comprovadas através da expedição de dois diplomas, como consequência de haver concluído dois cursos distintos, com um ingresso para cada curso. 17. Assim, em relação aos cursos de Licenciatura em Educação Física, é absolutamente necessário que as instituições estruturem suas licenciaturas ajustando-se às exigências da Resolução CNE/CP n° 1/2002 definindo os conteúdos programáticos específicos da área em acordo com o que está indicado na Resolução CNE/CES n° 7/2004 que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Educação Física, em nível superior de graduação plena. Ainda, é necessário considerar para tais cursos a Resolução CNE/CP n° 2/2002, que estabelece a duração e a carga horária dos cursos de licenciatura, de graduação plena, de Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior: IV- CONCLUSÃO 19. Os cursos de Licenciatura e Bacharelado em Educação Física possuem legislação específica para cada qual, apresentando finalidade e integralidade próprias, exigindo-se, assim, projeto pedagógico e matriz curricular adequados a cada grau. Apenas os alunos ingressantes nos cursos de Educação Física até 15/10/2005 estão aptos a obter a graduação de "bacharel e licenciado em Educação Física". Portanto, as instituições que ainda ofertam ambos os graus em um único curso devem providenciar as adequações necessárias em conformidade com a norma vigente. 20. Salienta-se que as instituições devem ofertar seus cursos de acordo com o grau estabelecido nos atos autorizativos dos mesmos, nos termos dos arts. 10 e 11 do Decreto n° 5.773, de 9 de maio de 2006. (NOTA TÉCNICA n° 003/2010 - CGOC/DESUP/SESu/MEC, paginação irregular).

A Instituição “C” acredita que esta resolução fere o princípio de autonomia

universitária, mas mesmo assim procura ajustar-se ao que referia a nota (um diploma

para vestibular) às diretrizes prevista na Carta CONSUNI (ingresso único e dupla

modalidade de formação).

42

Percebe-se que a criação de um novo currículo teve forte motivação frente a

mudança em relação ao mercado de trabalho que através da Lei n°. 9696/1998 que

regulamenta a profissão de Educação Física e cria o Conselho Federal e os Conselhos

Regionais de Educação Física, que de certa forma excluí o Licenciado em Educação

Física em atuar fora da área escolar causando forte preocupação por parte dos

discentes do curso em relação ao currículo. Então, a Instituição “A” entende que

existem duas formações distintas e diretrizes especificas a cada delas, mas que por sua

representação na formação do licenciado em Educação Física, acredita, através de sua

Autonomia Universitária, achar brechas legais que possibilitem uma formação unificada

em um único curso de Educação Física.

Analisando os dados supracitados fica claro o posicionamento e interpretação da

Instituição “A” em face a existência de dois cursos de Educação Física um com

formação em Licenciatura e o outro em Bacharelado mediante as leis, resoluções,

pareceres utilizados pela mesma para sustentar e formatar seu PPC dividindo os cursos

desde a entrada dos acadêmicos até sua certificação.

Quando analisamos a interpretação da Instituição “B” não fica tão evidente essa

diferenciação, pois a mesma não traz a tona de forma direta e clara através de citações

das DCN ou outras Leis para sustentar seu PPC. Ainda assim, consegue-se observar

que ela reconhece haver dois cursos com currículos e áreas de atuações distintas

através de menções supracitadas que definem áreas especificas de atuação. As duas

instituições privadas têm a mesma interpretação das diretrizes, considerando que existe

uma resolução específica para o curso de licenciatura n°. 01 e n°. 02/2002 e uma

resolução específica para o curso de bacharelado n°. 07/2004, interpretam também

haver um aspecto comum aos dois cursos que está na resolução n°. 07/2004 que

aborda à área de conhecimento especifico, sendo está ao tratar sobre os

conhecimentos identificadores da Educação Física.

Avaliando a Instituição “C” observamos uma certa resistência em aceitar as

DCNs como balizadoras de cursos diferentes, ela discute essas diretrizes e passa à

interpreta-las segundo sua autonomia universitária. Propõe a formação de Comissões

para reestruturar o currículo na tentativa de fazer um curso de entrada única como

43

dupla formação, alegando haver discriminação por parte dessas leis na exclusão do

licenciado ao mercado de trabalho fora da órbita escolar. Montam estratégias a fim de

contemplar ao máximo algumas determinações das diretrizes mas sempre focando em

um modelo que privilegiassem os interesses dos estudantes.

Portando as instituições privadas entendem e atendem as resoluções n°. 01 e n°.

02/2002 para curso de licenciatura e a resolução de n°. 07/2004 para curso de

bacharelado interpretando haver dois curso de Educação física com modalidades

distintas, organizando seus PPC e Matriz curricular de forma especifica a cada

resolução, enquanto a Instituição “C” controverte assas diretrizes e formata seus

currículos mediante sua autonomia universitária e legislações próprias ofertando um

curso de Licenciatura Educação Física com entrada única e em caráter de ampla

possibilidade de intervenção, mas disponibilizando o curso de bacharelado para seu

alunos da licenciatura que completarem no mínimo 75% da carga horária e a vagas

remanescentes para alunos de outras instituições que já estejam formados no curso de

Licenciatura em Educação Física.

4.2 A ESTRUTURA DOS CURSOS

Esta categoria tem o objetivo de traçar as características da estrutura das três

instituições alvo da pesquisa, analisando dados como duração do curso, carga horária,

estágio e horas complementares. Analisaremos também de que forma as instituições

organizam suas matrizes curriculares por área de conhecimento e disciplinas, e como

estás áreas e disciplinas caracterizam o perfil do curso.

As leis balizadoras para a duração e carga horária do curso de Licenciatura para

formação de professores estão nas DCN especificamente na Resolução CNE/CP n°.

02/2002:

Art. 1º A carga horária dos cursos de Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, será efetivada mediante a integralização de, no mínimo, 2800 (duas mil e oitocentas) horas, nas quais a articulação teoria-prática garanta, nos termos dos seus projetos pedagógicos, as seguintes dimensões dos componentes comuns: I - 400 (quatrocentas) horas de prática como componente curricular, vivenciadas

44

ao longo do curso; II - 400 (quatrocentas) horas de estágio curricular supervisionado a partir do início da segunda metade do curso; III - 1800 (mil e oitocentas) horas de aulas para os conteúdos curriculares de natureza científico cultural; IV - 200 (duzentas) horas para outras formas de atividades acadêmico- científico-culturais. Art. 2° A duração da carga horária prevista no Art. 1º desta Resolução, obedecidos os 200 (duzentos) dias letivos/ano dispostos na LDB, será integralizada em, no mínimo, 3 (três) anos letivos. (BRASIL, 2002, paginação irregular).

E para orientar o tempo de duração e as cargas horárias pertinentes aos cursos

de bacharelado baseiam-se nas seguintes resoluções CNE/CES n°. 07/2004 e

resolução CNE/CES n°. 4/2009:

Art. 1o- Ficam instituídas, na forma do Parecer CNE/CES n°. 213/2008, as cargas horárias mínimas para os cursos de graduação em Biomedicina, Ciências Biológicas, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição e Terapia Ocupacional, bacharelados, na modalidade presencial, constantes do quadro anexo presente. Parágrafo único. Os estágios e as atividades complementares dos cursos de graduação referidos no caput não deverão exceder a 20% (vinte por cento) da carga horária total do curso, salvo nos casos de determinações específicas contidas nas respectivas Diretrizes Curriculares. Art. 2o- As Instituições de Educação Superior, para o atendimento ao art. 1o- , deverão fixar os tempos mínimos e máximos de integralização curricular por curso, bem como sua duração, tomando por base as seguintes orientações: I - a carga horária total dos cursos, ofertados sob regime seriado, por sistema de crédito ou por módulos acadêmicos, atendidos os tempos letivos fixados na Lei n°. 9.394/96, deverá ser dimensionada em, no mínimo, 200 (duzentos) dias de trabalho acadêmico efetivo; II - a duração dos cursos deve ser estabelecida por carga horária total curricular, contabilizada em horas (60 minutos), passando a constar do respectivo Projeto Pedagógico; III - os limites de integralização dos cursos devem ser fixados com base na carga horária total, computada nos respectivos Projetos Pedagógicos do curso, observados os limites estabelecidos nos exercícios e cenários apresentados no Parecer CNE/CES no- 8/2007, da seguinte forma: [...] c) Grupo de CHM entre 3.000h e 3.200h: Limite mínimo para integralização de 4 (quatro) anos. [...] Carga horária mínima dos cursos de graduação considerados da área de saúde, bacharelados, na modalidade presencial Curso Carga Horária Mínima Educação Física 3.200. (BRASIL, RESOLUÇÃO CNE/CES n°. 4/2009, paginação irregular).

Na busca por informações no PPC da Instituição “A” relativo ao curso de

licenciatura identificamos que ela utiliza para a formação de seu licenciado no período

mínimo de integralização três anos como permite lei com a duração de 2990 horas

sendo dessas 200 horas de Atividades Acadêmico Cultural e 432 horas de estágio

curricular supervisionado e 417 horas de práticas pedagógicas.

45

O curso de Bacharelado de Educação Física também da instituição A forma seus

bacharéis no período mínimo de integralização em quatro anos e prevê uma carga

horária de 3366 horas sendo 432 horas de estágio curricular supervisionado e 72 horas

de atividades complementares e 414 horas de prática profissional.

Na instituição “B” o curso de Licenciatura em Educação Física é realizado em

três anos e meio num total de 2800 horas sendo 180 de atividades complementares,

300 horas de estágio supervisionado, Já, o Curso de Bacharelado é realizado no

período mínimo de quatro anos em um total de 3200 horas com 200 horas de atividade

complementares e 180 horas de estágio supervisionado.

Na Instituição “C” o tempo de formação no curso de licenciatura em Educação

Física é de quatro anos realizados em oito semestres com carga horária total de 3240

horas distribuídas da seguinte forma segundo seu PPC:

400 horas de prática como componente curricular, 450 horas de estágio

supervisionado, 2090 horas de conteúdos curriculares de natureza científico-cultural e

300 horas de atividades complementares. Já o curso de bacharelado da mesma

Instituição possui 3210 horas totais sendo 353 horas de prática como componente

curricular, 150 horas de estágio supervisionado, 2407 horas de conteúdos curriculares

de natureza científico-cultural e 300 horas de atividades complementares. Porém o

tempo de integralização do curso tem um diferencial como descrito a seguir:

Os estudantes do Curso Educação Física – habilitação Licenciatura, que solicitarem permanência na Universidade para ingressar na habilitação Bacharelado deverão concluir a carga horária total desta última habilitação em dois semestres. O prazo máximo para a integralização da carga horária da habilitação Bacharelado para os estudantes oriundos do Curso Educação Física – habilitação Licenciatura, desta Universidade, será o prazo recomendado no parágrafo anterior, acrescido do prazo não utilizado para fins de jubilamento na habilitação Licenciatura. Os licenciados em Educação Física, ingressantes no Curso Educação Física – habilitação Bacharelado através do ingresso extra vestibular, modalidade ingresso de diplomado, deverão integralizar a carga horária dessa habilitação no tempo mínimo de 2 semestres e no tempo máximo de 4 semestres. Ao integralizar a carga horária prevista para o Curso Educação Física- Habilitação Bacharelado, o estudante receberá o Diploma de Bacharel em Educação Física. (PPC Bacharelado Instituição “C”, 2013, p. 14).

Embora existam as leis balizadoras que determinam e norteiam a construção dos

PPC dos cursos com especificações orientadas, ainda sim permanece a autonomia e o

46

modo particular com que as instituições às assimilam e materializam essas

informações, fazendo com que se depare com estruturas diferentes que nos levam a ter

um pouco mais de dificuldade para traduzi-las em nível de igualdade e imparcialidade

para explanação dos dados pesquisados. Portanto, procura-se comparar e aproximar

as áreas de conhecimento com as disciplinas caracterizadoras daqueles PPC que

contemplem as dimensões do conceito de cultura do movimento humano que é um dos

componentes identificadores da Educação Física.

Esta dimensão despertou interesse pois no decorrer da análise dos PPC dos

cursos de licenciatura e também dos cursos de bacharelado da instituição “A” e “B”

notou-se semelhanças em sua concepção teórica em relação ao conceito de cultura do

movimento humano que se relaciona com as tendências pedagógicas crítico-

superadora e construtivista e sociointeracionista levando em consideração a cultura do

movimento humano que segundo Soares et al. (1992) vai envolver não só o esporte

como cultura do movimento mas também atividades como a ginástica, lutas, danças e

outras práticas corporais que foram construídas historicamente pelo ser humano,

relembrando que está área de conhecimento está balizada na resolução n°. 07/2004

como componente integrador na parte de Formação Específica que abrange os

conhecimentos identificadores da Educação Física:

Art. 7º Caberá à Instituição de Ensino Superior, na organização curricular do curso de graduação em Educação Física, articular as unidades de conhecimento de formação específica e ampliada, definindo as respectivas denominações, ementas e cargas horárias em coerência com o marco conceitual e as competências e habilidades almejadas para o profissional que pretende formar. [...] § 2º A Formação Específica, que abrange os conhecimentos identificadores da Educação Física, deve contemplar as seguintes dimensões: a) Culturais do movimento humano; b) Técnico-instrumental;

c) Didático-pedagógico. (RESOLUÇÃO CNE/CES n°. 07/2004, paginação

irregular).

Por esse elemento ter nos despertado muita atenção, fomos verificar nos seis

currículos objetos desta pesquisa o número percentual deste componente, presente em

cada um destes currículos.

47

Os valores encontrados traduzem que a Instituição “A” ministra 34% no curso de

licenciatura e 42% no curso de bacharelado do componente curricular em pauta,

enquanto a Instituição “B” no curso de licenciatura utiliza 28% e no curso de

bacharelado 38%. Esses mesmos elementos de cultura do Movimento Humano

aparecem na Instituição “C” com valores bem inferiores aos dados das instituições

privadas sendo 7% para ambos os cursos.

Levou-se em consideração o desenvolvimento de disciplinas teórico-práticas

tradicionais na cultura corporal do movimento como as ginásticas, os esportes, as lutas

as atividades rítmicas, a recreação, entre outros.

Observando os dados da instituição “A” nota-se um alto índice de atividades

corporais mais de 1/3 em cada uma das modalidades de formação.

Na instituição “B” no curso de licenciatura os 28% traduzem um certo equilíbrio

entre as demais atividades prescritas pelas DCN, enquanto os 38% do curso de

bacharelado caracteriza um teor mais prático. As instituições “A” e “B” assemelhando-se

seus currículos de bacharelado enquanto que os cursos de licenciatura se distanciam

um pouco mais.

No entanto quando analisamos a prática como componente da cultura do

movimento humano da Instituição “C” notamos um caráter com menos prioridade deste

componente curricular em relação as demais instituições privadas o que pode estar

revelando um distanciamento do desenvolvimento de experiências corporais utilizadas

no fazer pedagógico do professor de Educação Física.

Analisando a carga horária do curso de Bacharelado da instituição “C” percebe-

se em uma primeira análise que aparentemente tudo está em ordem. Contudo como

não existe uma entrada inicial específica para esta formação foi constituída uma opção

para suprir as leis balizadoras da profissão. Desta forma, não existe a possibilidade de

se formar somente com bacharel a partir da entrada do vestibular, pois o curso existe

para suprir a demanda dos universitários desta instituição com migração para este

curso após no mínimo de 75 % da carga horária total do curso de licenciatura e as

vagas remanescentes para graduados de licenciatura em Educação Física de outras

instituições. Portanto em uma análise mais criteriosa percebe-se que o curso de

48

bacharelado em Educação Física atende o que manda as DCN, porém com certos

desdobramentos complexos ao entendimento, evidenciando uma formação de caráter

ampliado.

No curso de licenciatura o único elemento que é sustentável pela diretriz da

graduação da Educação Física são as orientações das horas de Atividade Acadêmico

cientifico culturais que está disposta da mesma forma no currículo do bacharelado.

O curso de Educação Física da instituição “A” tem em seu currículo TCC no

bacharelado, porém esse elemento de avaliação não aparece como proposta

pedagógica de aprendizagem no curso de licenciatura, enquanto que na instituição “B”

o TCC é cobrado em ambos os cursos, porém com direcionamento para o curso de

licenciatura orientando temas específicos ligados à educação e educação Superior. Na

Instituição “C” também é exigido TCC nas duas modalidades de formação.

Tanto a Instituição “A” e “C” estão em conformidade quanto sua carga horária

estabelecida para os estágios supervisionados em licenciatura, enquanto que a

Instituição “B” apresenta apenas 300 horas deste componente sendo que a legislação

determina 400 horas mínimas causando um estranhamento na análise

As estruturas dos currículos dos cursos das instituições privadas não

apresentaram nenhum núcleo comum, embora tenham muitas disciplinas semelhantes.

Entretanto no currículo da Instituição “C” nós vimos claramente que ele é dividido

em categorias geral e específica. Neste sentido há uma diferenciação curricular de treze

disciplinas entre os cursos de licenciatura e de bacharelado que totalizam 825 horas.

Por isso o curso de licenciatura tem mais horas que o curso de bacharelado. Algumas

modalidades que num curso aparecem como formação específica em outro curso

aparece como formação orientada.

4.3 O PERFIL DE EGRESSO

Está categoria visa traçar o perfil de egresso, tanto da licenciatura como do

bacharelado das três Instituições objeto desta pesquisa, para averiguar de que forma o

professor/profissional está saindo para o mercado de trabalho, quais as características

49

que definem este formando e quais os campos de trabalho que cada profissional está

assumindo.

Betti e Betti (1996) acreditam que sem dúvida alguma, a década de 1980 foi

crucial para a constituição da formação do profissional de educação física no Brasil, a

ponto de ter sido objeto de inúmeros debates e publicações.

Os rumos da Educação Física sofreram diversas mudanças no decorrer dos

anos, como exposto no referencial teórico deste trabalho, sendo os anos de 1980 o

percussor das mudanças em relação ao mercado de trabalho, que antes era de

predominância ao campo escolar, praças e parques.

Mas ainda assim os perfis de egresso das universidades formavam de forma

generalista para atuar em vários campos de trabalho com uma única formação.

Enfim, após muitas disputas e discussões ficou estabelecido pelo parecer

CNE/CES n°. 58/2004 e homologada pela resolução CNE/CES n°. 07/2004,

substituindo assim a resolução CFE n°. 03/87 a legitimidade do Bacharel em Educação

Física, dando a impressão que passaria então a existir dois profissionais distintos

atuando em áreas especificas, o licenciado nos espaços escolares e o bacharel em

espaços não escolares.

A instituição “A” reconhecendo estas mudanças concebe em seu PPC os perfis

de egresso das duas modalidades de formação licenciatura e bacharelado.

No PPC da Instituição “A” a Educação Física como área de intervenção ampliou

as possibilidades de intervenção no mercado de trabalho a partir da década de 1980 e

que além da escola o professor se inseriu em academias, praças e parques, hotéis,

hospitais, empresas, clinicas e a possibilidade de trabalho no SUS:

Com a transformação das Faculdades existentes em Centro Universitário, segundo a Portaria 3.186/2004, no primeiro semestre de 2005 o Curso de Educação Física passou a oferecer duas habilitações, Licenciatura e Bacharelado, distintamente, atendendo às respectivas diretrizes que orientam a organização curricular e a terminalidade definidora da futura ação profissional. Com isso, verifica-se que o amplo espectro de áreas de atuação, como Saúde, Lazer, Rendimento e Gestão, identifica o bacharel em Educação Física como agente de educação, tornando-o promotor da qualidade de vida. (PPC Bacharelado, Instituição “A”, 2013, p. 24).

50

O Curso de Educação Física em Licenciatura da Instituição “A” foi montada a

partir da criação de um programa chamado Programa de Formação para Professores

de Educação Básica juntamente com outras áreas de ensino.

Este programa se prontificou a considerar o professor um sujeito capaz de

desempenhar novas demandas de trabalho a partir da complexidade de suas funções

evidenciando orientações avaliativa proposta pela CAPES (Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

Esta Instituição de Ensino superior leva em consideração especialmente as DCN

n°. 01e 02/2002 para a formação de professores para a Educação Básica unindo a

concepção religiosa com os objetivos das DCN com:

Formar profissionais qualificados e capacitados para superar, questionar e gerenciar sua vida profissional, com respeito ao outro, com atitudes éticas perante a sociedade e a multiplicidade cultural é o objetivo central deste programa. Com isso, contribuímos para a qualificação da educação básica ao formar educadores ativos na sociedade e cientes de seu papel transformador da mesma. (PPC Licenciatura Instituição “A”, 2013, p. 30).

Também leva em consideração a interdisciplinaridade do curso e a

transdisciplinariedade entre as áreas valorizando a relação teórica e prática apesar de

não promover trabalho de conclusão de curso ao final da formação.

O perfil de egresso do licenciado em Educação Física da Instituição “A” deve

estar calcado para a aprendizagem de conteúdo, mas também participando de

transformações educacionais e no mercado de trabalho que influenciem no

desenvolvimento do conhecimento e na vida social. São características deste perfil a

apreensão de conhecimento na área especifica para atuação na educação básica, a

capacidade de comunicação com clareza e precisão, uma formação crítica e reflexiva.

Seu perfil de egresso é a cópia fiel nas competências apresentadas na resolução

CNE/CP n°. 01/2002 (BRASIL, 2002, paginação irregular):

Art. 6º Na construção do projeto pedagógico dos cursos de formação dos docentes, serão consideradas: I - as competências referentes ao comprometimento com os valores inspiradores da sociedade democrática; II - as competências referentes à compreensão do papel social da escola;

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III - as competências referentes ao domínio dos conteúdos a serem socializados, aos seus significados em diferentes contextos e sua articulação interdisciplinar; IV - as competências referentes ao domínio do conhecimento pedagógico; V - as competências referentes ao conhecimento de processos de investigação que possibilitem o aperfeiçoamento da prática pedagógica; VI - as competências referentes ao gerenciamento do próprio desenvolvimento profissional.

Definindo assim o perfil de um profissional que atuará em espaços escolares

sejam estes públicos ou privados. Já o perfil de egresso de Bacharelado desta IES é a

cópia fiel do que afirma seu PPC em que diz:

O egresso do curso de Bacharelado em Educação Física da Instituição A terá uma formação profissional pautada por valores de uma sociedade democrática, pela visão interdisciplinar dos conteúdos, pela permanente busca do domínio do conhecimento pedagógico e pelo aperfeiçoamento da prática profissional. “A educação será tão mais plena quanto mais esteja sendo um ato de conhecimento, um ato político, um compromisso ético e uma experiência estética.” (FREIRE, 1993, p. 28). A implementação de um projeto pedagógico comprometido com uma visão progressista e emancipatória de educação e saúde pressupõe uma coerência e articulação entre as vivências e o referencial teórico que as sustentam. Assim, é necessário promover situações de prática profissional que exercitem coordenação de grupos nos diferentes contextos (clubes, academias, centros comunitários, parques e praças, entre outros) articulados às demandas das respectivas comunidades, garantindo participação igualitária, atenção à diversidade, situações de inclusão e solidariedade, consubstanciadas nas políticas afirmativas institucionais. (PPC Bacharelado Instituição “A”, 2013, p. 35).

Este perfil de egresso vai ao encontro com a resolução n°. 7 de 31 de março de

2004. Portanto a Instituição “A” assimila que a graduação de bacharelado em Educação

Física atende em seu perfil de egresso a um mercado de trabalho distante das

instituições de Educação Básica, atuando em diversos campos de trabalho fora da

órbita escolar.

A instituição “B” justifica seu perfil de egresso do bacharelado pela expansão do

mercado de trabalho frente as novas necessidades que a vida moderna traz em

decorrência das mudanças cientifica e tecnológicas. Determinando que seu bacharel é

um profissional ligado a área da saúde e que pode atuar em diversas áreas:

[...] os novos profissionais poderão atuar em diversos seguimentos da sociedade na área da saúde pública e preventiva a empreender uma luta pelos

52

direitos de cidadania e saúde, Em qualquer campo de atuação do egresso a finalidade deverá ser a de possibilitar que as pessoas independentemente de idade, de condições sócio-econômicas, de condições física e mentais, de gênero, de etnia, de crença, tenham conhecimento e a possibilidade de acesso à prática das diferentes expressões e manifestações culturais do movimento humano, compreendidas como direito inalienável de todo (a) cidadão e como importante patrimônio histórico da humanidade e do processo de construção da individualidade humana. (PPC Bacharelado Instituição “B”, 2009, p. 11).

O documento do bacharelado da instituição “B” ao definir seu perfil de egresso,

não deixa claro se seu egresso pode também atuar na educação básica quando afirma

que a sua atuação pode ocorrer em atividades formais:

[...] os profissionais formados na Instituição “B” poderão trabalhar em atividades prestando serviços á sociedade na área da Educação Física, nas suas diversas formas de manifestações no âmbito da cultura e do movimento humano intencional, através das atividades físicas, esportivas e similares, sejam elas formais ou não formais tais como (ginástica, esporte, jogos, danças, lutas, arte marciais, exercícios físicos, musculação entre tantas outras) [...]. (PPC Instituição “B”, 2009, p. 12).

Entre as atividades formais, e talvez a mais formal se encontra à escola e a

Educação Física escolar.

Um dado curioso sobre a citação acima é que também aparece no PPC da

Licenciatura, deixando dúvidas sobre possíveis intervenções em campos distintos de

trabalho.

Entretanto dois aspectos devem ser resaltados: o documento original analisado

tem data de 10/2003 que é anterior a resolução 04/2007 que em nosso ver faz

diferenciação entre as intervenções do licenciado e do bacharel; o documento do

projeto da licenciatura da instituição “B” aponta claramente que a formação do

licenciado é para atuação na Educação Básica, salvo pela citação supramencionada.

Afirma-se que a atuação de egresso do licenciado da instituição “B” ocorre na

Educação Básica em escolas baseados no que aponta seu perfil de egresso:

O licenciado em Educação Física terá áreas de atuação os espaços e ambientes escolares nos diferentes níveis de ensino. Portanto, poderá atuar em instituições de ensino na educação infantil, séries iniciais e finais do ensino fundamental e no ensino médio. (PPC Licenciatura Instituição “B”, 2009, p. 10).

53

Quando analisamos os perfis de egressos da instituição “C” nos deparamos com

visões muito distante à das instituições privadas, que claramente compreendem haver

duas modalidades de formação em Educação Física com diferentes esferas de

atuação, escolar e não escolar.

O perfil de egresso do licenciado em educação Física da Instituição “C” tem

caráter de formação ampliado, sendo possuidor de habilidades para desenvolver

atividades no âmbito escolar e não escolar, como publicado em seu PPC da

licenciatura:

O Licenciado em Educação Física da Instituição “C” é o professor que planeja, organiza e desenvolve atividades de ensino referentes às práticas corporais sistematizadas na Educação Básica, na Educação de Jovens e Adultos e em ambientes extra-escolares. Elabora e analisa materiais didáticos e projetos curriculares pertinentes à Educação Física Escolar. Realiza ainda pesquisas em Educação Física, coordena e supervisiona equipes de trabalho em ações e programas que tematizem as práticas corporais sistematizadas dentro e fora da escola. Em sua atuação, prima pelo desenvolvimento do educando, incluindo sua formação ética, a construção de sua autonomia intelectual e de seu pensamento crítico. (PPC Licenciatura Instituição “C”, 2012, p. 28).

Este perfil de egresso é reforçado na missão do curso:

Propiciar que o egresso desenvolva as habilidades relativas às competências do atuar com a Educação Física, seja no contexto Escolar, nos diferentes níveis e modalidades de ensino (Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Educação de Jovens e Adultos e Educação Inclusiva), bem como em ambientes educacionais extra-escolares. (PPC Licenciatura Instituição “C”, 2012, p. 28).

Corroborando ao perfil de egresso do licenciado em Educação Física da

Instituição “C” o PPC orienta para às áreas de atuação como exposto abaixo:

Diferentes níveis e modalidades de ensino (Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Educação Inclusiva), bem como em ambientes educacionais extra-escolares (escolas esportivas, projetos sociais esportivos, serviços privados de orientação de práticas corporais, serviços de saúde pública, serviços de recreação e lazer e outros similares). (PPC Licenciatura Instituição “C”, 2012, p. 20).

54

Relembrando que a Nota Técnica n°. 03/2010 do SESU/MEC emitida para o

CONFEF que elucida os campos de trabalho específicos a cada modalidade de

formação (licenciatura escolar, bacharelado não escolar) foi absorvida pela Instituição

“C” como discriminatória com o licenciado na tentativa de impedi-lo em atuar fora da

escola, como um fator para a reformulação e criação de um novo currículo de formação

unificada, ou seja, uma entrada e ampla possibilidade de intervenção.

Já o perfil de egresso do Bacharelado em Educação Física da Instituição em

foco, segundo seu PPC diz que preferencialmente sua atuação é para a promoção da

aprendizagem e a prática de elementos da cultura corporal do movimento por ações

pedagógicas balizadas no contexto cultural do local de atuação no campo do esporte,

lazer e da saúde. Promovendo pesquisas em diferentes categorias da Educação Física,

coordenando, supervisionando equipes de trabalho que representem as práticas

corporais sistematizadas.

A Missão do Curso de Educação Física Bacharelado expõe o egresso em

ambiente não escolares, mas deixa dúvidas quando cita instituições públicas e/ou

privadas quanto a sua possível intervenção na escola:

Propiciar que o egresso desenvolva as habilidades relativas às competências do atuar com a Educação Física em clubes, unidades de saúde, academias, centros comunitários, instituições públicas e/ou privadas. (PPC Bacharelado Instituição “B”, 2009, p. 15).

Quanto as áreas de atuação são citados alguns locais, mas permanece ainda a

incógnita em relação à possível intervenção na Educação Básica, como exibido logo a

seguir:

Ensino, aprendizagem e prática dos elementos da cultura corporal de movimento (jogos, esportes, danças, ginásticas, lutas) em clubes, unidades de saúde, academias, centros comunitários, instituições públicas e/ou privadas. (PPC Licenciatura Instituição “B”, 2009, p. 17).

Contudo deve-se resaltar que a forma de ingresso ao bacharelado se dá

somente via mecanismo de permanência para alunos da licenciatura da instituição “C”

ou via ingresso diplomado para as vagas remanescente:

55

O ingresso no curso será, prioritariamente, para os alunos do Curso Educação Física – Licenciatura da Instituição “C” que já tiverem concluído 75% da formação da Habilitação Bacharelado mediante solicitação de permanência na Universidade, de forma facultativa aos mesmos.As vagas remanescentes serão destinadas a licenciados em Educação Física, por processo de ingresso extra- vestibular – modalidade ingresso de diplomado. (PPC Bacherelado Instituição “C”, 2012, p. 13).

Enquanto que a entrada do curso de Licenciaturas dar-se-á por via de vestibular:

160 vagas anuais, em duas entradas As 80 vagas de cada semestre serão divididas, na ocasião de realização do vestibular, nos turnos manhã e tarde (40 vagas para o turno da manhã e 40 vagas para o turno da tarde). (PPC Licenciatura Instituição “C”, 2012, p. 17).

Esses estranhamentos e dúvidas sobre os egresso da Instituição “C” afloram

através de seus esforços para a construção de um PPC que promova uma formação de

caráter ampliada, uma vez que é notório que existem diretrizes que apontam um

modelo de formação e campo de atuação distintas à cada uma. Sendo essas diretrizes

e pareceres reguladores reconhecidos pela própria Instituição “C” que tentam criar

através de sua autonomia um modelo de formação unificada baseados nas suas

concepções epistemológicas.

Observa-se que as duas instituições privadas assimilam a ideia de dois cursos

diferentes, como duas entradas e duas saídas distintas, ou seja, vestibular para

Educação Física Licenciatura com egresso atuando na educação Básica e vestibular

para Educação Física Bacharelado com egresso intervindo em locais não escolares.

Todavia a instituição “B” deixa um resquício de dúvida quanto a seu perfil de egresso do

bacharelado quando cita espaços formais.

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5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES

À luz do exposto trabalho, conferimos que há divergências na forma de

interpretar e formatar os currículos das distintas Instituições que foram pesquisadas.

Na categoria Intitulada Interpretação das Diretrizes, constatamos que as

instituições privadas identificam a existência de duas modalidades de formação em

Educação Física, licenciatura e bacharelado, através das DCN, ofertando vestibular

para as duas modalidades conferindo ao término dos cursos diplomas específicos às

áreas de formação, enquanto que a Instituição privada discute essas diretrizes e

reformula seu currículo em caráter de formação ampliada, conferindo entrada via

vestibular somente para a licenciatura e para o bacharelado ingresso via permanência

após 75% da conclusão do curso de licenciatura e as vagas remanescentes para

licenciados de Educação Física de outras instituições.

Na categoria Estrutura do curso, constatamos que as três Instituições obedecem

o tempo de integralização do curso e as horas mínimas para formação, sendo que a

Instituição “A” faz está integralização no tempo mínimo no curso de licenciatura nos três

anos mas com carga horária total de 2990 horas, enquanto a Instituição “B” realiza a

integralização em três anos e meio porém com a carga mínima exigida que é de 2800

horas, já a Instituição “C” tem seu tempo de integralização no período de quatro anos

com carga horária total de 3240 horas para o curso de licenciatura. Tanto a Instituição

“A”, “B” e “C” também contemplam o tempo de integralização do curso de bacharelado

que é em quatro anos com carga horária mínima de 3200.

A Instituição “A” possui TCC no curso de bacharelado mas não usa essa

ferramenta de aprendizagem no curso de licenciatura. Já as Instituições “B” e “C” fazem

uso do TCC em ambos os cursos, porém na Instituição “B” fica bem claro que o foco de

estudo dos trabalhos dos cursos de Licenciatura devem estar vinculados com foco na

área da educação básica ou do ensino superior.

As três instituições respeitam o número de horas mínimas de atividades

complementares tanto na licenciatura como no bacharelado. Elas também respeitam as

as cargas horárias do estágio curricular supervisionado do bacharelado. Porém,

57

enquanto as Instituições “A” e “C” cumprem horas mínimas na licenciatura, a Instituição

“B” apresenta uma carga horária menor do que referencia a resolução CNE/CP n°.

2/2002 o que causa um estranhamento.

A Cultura Corporal do Movimento que é um componente da Formação Especifica

e uma das áreas identificadoras do curso de Educação Física, esteve muito presente na

Instituição “A” em ambas modalidades de formação, como também se mostrou na

Instituição “B” porém de maneira mais discreta na licenciatura equilibrando-se as

demais áreas, mas quando comparada a Instituição “C” esse componente é baixíssimo

tanto na licenciatura como no bacharelado, possibilitando a compreensão de que ela

tem um caráter mais teórico deixando de lado a formação mais prática/técnica que

traduz uma crítica reprodutivista aos modelos tradicionais da Educação Física que vem

sido discutidos desde meados dos anos 1980.

Pode-se verificar que os perfis de egressos dos formandos das instituições

privadas seguem o que estabelecem as DCN, para cada modalidade de ingresso um

diploma. Elas assimilam o que dizem as diretrizes e compreendem haver dois cursos de

formação para mercados de trabalhos diferentes, com um caráter de intervenção

particular as áreas especificas e determinam perfis distintos. Enquanto a Instituição “C”

configura esse egresso para a atuação em qualquer campo de trabalho, ou seja, seu

vestibular é para licenciatura, porém sua intervenção profissional dar-se-á em quaisquer

ambientes profissionais, alegando haver por parte dessas diretrizes discriminação para

com o licenciado na tentativa de barrar sua atuação fora do ambiente escolar, ferindo o

conceito de a autonomia universitária, que possibilita a construção autônoma de um

currículo que contemple todas as áreas possíveis de atuação do formando em

Educação Física. Desta forma está Instituição ignora em parte suas normativas e com

base epistemológica própria cria um modelo de formação com entrada única e ampla

possibilidade de intervenção, habilitando seu discente a atuar, teoricamente, em

quaisquer campos de trabalho.

Com base no exposto supracitado obervamos que a recente divisão do curso de

Educação Física em licenciatura e Bacharelado trouxe através dessa separação,

consequentemente novas diretrizes, leis, conselhos e formas de regulamentar as

58

profissões. Estas regulamentações se apresentam ainda com diversas dúvidas e

maneiras de interpretação não só das instituições, mas de toda a comunidade que

envolve a Educação Física, refletindo de forma importante na sociedade de forma geral.

Esta pesquisa não tem o interesse em desqualificar ou enaltecer qualquer

instituição, mas compreender de que forma as instituições interpretam estas leis e como

estão configurando seus currículos. Concluímos que nenhuma instituição está certa ou

errada, apresentamos pontos de vista, interpretações particulares e defesas destas,

contudo apenas entendemos que se faça uma reavaliação sobre a formação da

Educação Física no País, que se reveja as leis e que possamos avançar como área

científica e de formação e de intervenção social qualificada na sociedade brasileira.

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