jornal tabloide universo ipa #6

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Ano 6 | Edição 6 | Dezembro de 2012 | Versão TABLOIDE Curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA | http://universoipa.metodistadosul.edu.br página 9 Ponto de partida e chegada de milhares de pessoas, o aeropor- to internacional Salgado Filho de Porto Alegre passa por obras e melhorias. Faltando pouco menos de dois anos para a Copa do Mundo de 2014, as obras no aeroporto têm etapas concluídas e outras em andamento. A realidade e as projeções do aeroporto Salgado Filho para 2014 página 3 As obras de revitalização do Cais do Porto têm o objetivo de transformar uma parte esquecida e danificada do Centro Históri- co Cultural de Porto Alegre em um conjunto de lazer e um novo ponto de encontro dos gaúchos. Cais do Porto e os impactos ambientais página 6 FOTO: JÉSSICA TELES O Código Penal brasileiro já tem mais de 70 anos. Foi decretado em 1940. Com a mudança de cultura, de hábitos e a modernização da sociedade – em diversos aspectos, urge também a alteração do Código. O decreto foi revisado e a proposta deve ser votada ainda em 2012 pelo Congresso Nacional. página 15 Aborto é direito ou crime? A morte da Cidade Baixa? Você combina uma cervejinha com os amigos, se arruma todo e sai pra balada. De repente chega na entrada do barzinho em que se encontraria com o pessoal e dá de cara com a porta. É o que vem ocorrendo, depois das duas horas da manhã, nos bares do bairro Cidade Baixa. página 5 página 10 A década de noventa marca o início de um novo momento na história da fotografia. Em 1990, foi lançada a primeira máquina digital disponível comercialmente. Da fotografia analógica para a digital página 13 Sem motivo aparente, você sente medo de que algo de ruim aconteça? Têm medo de per- der o controle sobre si? Esses sintomas podem ser sinais da Síndrome do Pânico. Da síndrome ao bem-estar FOTO: LEONARDO SOUZA FOTO: MARCELO NOMS

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Projeto desenvolvido pelos alunos do 2º semestre do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA, Porto Alegre, RS, Brasil. Ano 6, edição 6, dezembro de 2012

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Page 1: Jornal tabloide Universo IPA #6

Ano 6 | Edição 6 | Dezembro de 2012 | Versão TABLOIDE Curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA | http://universoipa.metodistadosul.edu.br

página 9

Ponto de partida e chegada de milhares de pessoas, o aeropor-to internacional Salgado Filho de Porto Alegre passa por obras e melhorias. Faltando pouco menos de dois anos para a Copa do Mundo de 2014, as obras no aeroporto têm etapas concluídas e outras em andamento.

A realidade e as projeções do aeroporto Salgado Filho para 2014

página 3

As obras de revitalização do Cais do Porto têm o objetivo de transformar uma parte esquecida e danificada do Centro Históri-co Cultural de Porto Alegre em um conjunto de lazer e um novo ponto de encontro dos gaúchos.

Cais do Porto e os impactos ambientais

página 6

Foto: Jéssica teles

O Código Penal brasileiro já tem mais de 70 anos. Foi decretado em 1940. Com a mudança de cultura, de hábitos e a modernização da sociedade – em diversos aspectos, urge também a alteração do Código. O decreto foi revisado e a proposta deve ser votada ainda em 2012 pelo Congresso Nacional.

página 15

Aborto é direito ou crime?

A morte da Cidade Baixa?Você combina uma cervejinha com os amigos,

se arruma todo e sai pra balada. De repente chega na entrada do barzinho em que se encontraria com o pessoal e dá de cara com a porta. É o que vem ocorrendo, depois das duas horas da manhã, nos bares do bairro Cidade Baixa.

página 5

página 10

A década de noventa marca o início de um novo momento na história da fotografia. Em 1990, foi lançada a primeira máquina digital disponível comercialmente.

Da fotografia analógica para a digital

página 13

Sem motivo aparente, você sente medo de que algo de ruim aconteça? Têm medo de per-der o controle sobre si? Esses sintomas podem ser sinais da Síndrome do Pânico.

Da síndrome ao bem-estar

Foto: leonardo souza

Foto: Marcelo noMs

Page 2: Jornal tabloide Universo IPA #6

2 Porto Alegre, DezemBro De 2012Jornal do curso de Jornalismo do

centro universitário Metodista do iPaopinião

■ texto coletivo

O ano de 2012 foi marcado por diversos acontecimentos políticos. Foram julgamentos sem fim, condenações inesperadas, eleições municipais e discursos inflamados em torno da privatização de espaços públicos, mascarados atrás de um simples mascote.

Houve o surgimento de um novo herói nacional, que atende pelo nome Joaquim Barbosa e que, ao condenar políticos considerados imunes, foi muito além das expectativas que qualquer brasileiro alimentava, em um país rotulado de corrupto.

São fatos relevantes e que, com certeza, entram para a nossa história. São as experiências de um povo que vive hoje a consciência de que só chegará a ser o tão sonhado ‘primeiro mundo’ quando se livrar destes inconvenientes culturais.

E é nessa realidade que nós, acadêmicos de jornalismo, preparamos esta edição do Jornal Universo IPA.

O jornal aqui apresentado aos leitores é o resultado de um trabalho longo, de produção. Não é fácil para os estudantes prepararem uma reportagem que fará parte de um jornal, afinal de contas esses materiais são os primeiros registros de uma carreira que se inicia.

Esta edição, produzida inteiramente por estudantes de jornalismo, retrata através das mais variadas editorias assuntos de interesse coletivo. Abordamos desde temas regionais como o acampamento farroupilha na Copa do Mundo 2014, os impactos ambientais que a reestruturação do Cais do Porto pode gerar, as obras no aeroporto Salgado Filho e as restrições definidas pela prefeitura para funcionamento de bares no bairro Cidade Baixa. Passamos pela cultura, através da arte de rua, comum a todos os centros urbanos. Tratamos também de temas polêmicos como a legalização do aborto e assuntos delicados como a síndrome do pânico e a inclusão de pessoas com deficiência. Não deixamos de tocar em assuntos que estão em voga, como educação ambiental, tecnologia, fotografia digital, intercâmbio e a incrível relação entre a realidade e ficção produzida pelas novelas. Fatos políticos como o aniversário de 18 anos do plano Real e a visão da política pelos olhos dos populistas também são contemplados. E como todo jornal que se presa o esporte não poderia ficar de fora, contudo, o enfoque saiu dos campos e entrou na área da psicologia.

Após a conclusão do jornal tivemos em comum a certeza que sim é possível, no campo acadêmico, realizar um jornal de qualidade e diversificado, produzidos totalmente por alunos de jornalismo. Esperamos que a leitura desta edição seja um prazerosa. E terminamos mais um semestre com a sensação de missão cumprida!

IPA - Instituto Porto Alegre da Igreja Metodistaconselho superior de administração - consad

Presidente: Paulo Roberto Lima Bruhn Vice-presidente: Carlos Alberto Ribeiro Simões Junior Secretário: Nelson Custódio Fer Conselheiros: Henrique de Mesquita Barbosa Corrêa, Osvaldo Elias de Almeida, Maria Flávia Kovalski, Augusto Campos de Rezendee Eric de Oliveira Santos Conselheiros suplentes: Jairo Werner Junior e Ronald da Silva Lima

reitor: Roberto Pontes da Fonseca

Jornal elaborado por estudantes do2º semestre do curso de Jornalismo IPA

coordenação do curso de jornalismo

Mariceia Benetti

professores(as)Lisete Ghiggi, Michele Limeira e Renata Stoduto.

projeto experimental ii e produção e planejamento editorial e gráfico iieditora-chefe: Michele Limeira

ajor - agência experimental de jornalismo

• arte-final e diagramação: Carlos Tiburski• revisão: Lisete Ghiggi e Michele Limeira endereço ajor: Rua Joaquim Pedro Salgado, 80, Rio Branco - Porto Alegre/RS CEP: 90420-060 • contato: 51 3316.1269 e [email protected]ão: Zero Hora (1.000 exemplares)

Nós e o Brasil

■ giovani gafforelli ■ luciana teló Piccoli ■ Fredo tarasuk

É impressionante que no pa-ís do futebol, em vésperas de Copa do Mundo, a ar-

bitragem brasileira seja tão des-qualificada. Não nos parece que a preocupação da CBF com os juízes seja muito grande, afinal, o próprio presidente da institui-ção máxima do futebol brasi-leiro, José Maria Marin, já foi flagrado pelas câmeras do canal ESPN roubando uma medalha da Copa São Paulo de Futebol Júnior.

Todos os anos ocorrem erros que acabam sendo determinan-tes no rumo dos campeonatos. No Campeonato Brasileiro 2012 não está sendo diferen-te. Entre os times favorecidos encontram-se Santos, Inter-nacional e Flamengo. Entre os prejudicados estão times

como Vasco, Atlético MG e Palmeiras.

Na 28ª rodada do Campeo-nato Brasileiro os erros foram grosseiros, prejudicando os ti-mes da Ponte Preta, do Sport e do Grêmio. Os dois árbitros dos jogos Atlético MG x Sport e Flu-minense x Ponte Preta, Flávio Guerra e Nielson Nogueira Dias, respectivamente, foram afas-tados do quadro de árbitros da CBF e deverão passar por pro-cesso de reciclagem devendo retornar somente após estarem aptos novamente.

Em 2005 foi descoberto um esquema de manipulação de resultados que teve como grande favorecido o time do Corinthians. O responsável pela “lavança” foi o então ár-bitro Edílson Pereira de Carva-lho que prejudicou o resultado de onze jogos dando o título ao time paulista.

Por mais que os erros já ve-

nham de um longo período o futebol brasileiro ainda neces-sita de uma reformulação políti-ca para que os times não sejam prejudicados por decisões que fiquem fora das quatro linhas. Já não basta a corrupção do con-gresso ainda temos de conviver com a “roubalheira” na nossa maior paixão.

A solução? Talvez a pro-fissional ização da arbit ra-gem com a criação de órgão para regulamentar a profis-são, qualificando sempre es-tes profissionais; alteração no calendário, como, por exemplo, quando houver jogos da Sele-ção do Brasil não devem ocor-rer jogos no campeonato. Essas são medidas que se forem cria-das podem ser a solução para que o Campeonato Brasileiro seja mais parelho. Aí sim, po-deremos ter a arbitragem que o nosso futebol pentacampeão mundial merece.

reciclem nossos árbitros, por um futebol melhor

■ renato Araújo ■ Fernanda Cadore

N ão importa o horário que tenhas que te locomover pela cidade, o trânsito de

Porto Alegre chegou a um es-tado caótico. Há poucos anos isso ocorria apenas na tal hora do rush, hoje o engarrafamento é em qualquer momento. Por-to Alegre está rumando para ser uma São Paulo no quesito trânsito.

A enxurrada de incentivos para compra de carro teve con-sequências terríveis para o trân-sito de nossa cidade. Quem não

tinha condições de comprar um carro agora tem um, e quem já tinha tem dois. Daqui a algum tempo será impossível de transi-tar sem ficar horas em um trân-sito estressante.

Obras para solucionar este problema não são apresentadas, por mais que o trânsito pertur-be a todos que moram aqui. Em ano de eleição só se ouviu as mesmas promessas de sempre, mas nada de prático para ame-nizar a situação do tráfego. Se continuarmos nesse ritmo a ci-dade irá parar. Seja na Ipiranga, na Borges ou na Oswaldo, os engarrafamentos não perdoam

nenhuma via de grande circu-lação. Há dez anos era possível fazer o trajeto do Menino Deus até a Tristeza, na zona sul, em pouco mais de quinze minutos.

Seja aeromóvel, ferry boat, ou corredor de ônibus em via expressa, algo tem que ser fei-to para que Porto Alegre não se torne insuportável. Além de aturar uma rotina cansativa de trabalho, temos que suportar ho-ras em um engarrafamento, sa-bendo que era possível percorrer esse mesmo trecho em menos da metade do tempo que se ocupa hoje. É triste, qual será o desti-no de nossa cidade?

toda hora é hora do rush

Page 3: Jornal tabloide Universo IPA #6

3GeralPorto Alegre, dezembro de 2012Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA

■ renan Agostini ■ leonardo Souza

P onto de partida e che-gada de milhares de pessoas, o aeroporto internacional Salgado

Filho de Porto Alegre passa por obras e melhorias. Faltan-do pouco menos de dois anos para a Copa do Mundo de 2014, as obras no aeroporto têm eta-pas concluídas e outras em an-damento. Para dar conta das demandas do mundial, o aero-porto terá que aumentar a pista de pouso e decolagem (PPD); implementar um novo siste-ma anti-neblina e reformar os terminais de passageiros e de cargas. Atingir essas metas é o desafio da Empresa Brasilei-ra de Infraestrutura Aeropor-tuária (Infraero). Na avaliação da Infraero, o andamento das obras é satisfatório. A adminis-tração da empresa garante que os passageiros não sofrerão ne-nhum tipo de transtorno, pois as obras serão realizadas à noi-te, turno de menor frequência de pessoas.

As obras no aeroporto dos gaúchos já estão 26% concluí-das, incluindo a elaboração de projetos, licitações e as obras propriamente ditas, conforme informa a Infraero. Os proje-tos incluem um novo terminal

de cargas e as ampliações da pista de pouso e decolagem, do pátio para aeronaves e do ter-minal de passageiros, além do sistema anti-neblina.

De acordo com a empresa, o governo federal irá desembolsar aproximadamente R$ 717 mi-lhões. Os valores fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Copa no Brasil. O terminal de cargas te-rá uma ampliação significativa. O espaço físico do pátio do no-vo Terminal de Carga Aérea (TECA) comportará até quatro Boeing 747 ao mesmo tempo. O investimento será em torno de R$ 100 milhões. A pista de pousos também será ampliada. Hoje o aeroporto tem uma pista de pousos e decolagens de 2.280 metros e aumentará para 3.200 metros, 920 metros mais, segun-do dados da Infraero. A nova pista vai permitir o pouso e a decolagem de aviões de grande porte, tanto para transporte de passageiros como para cargas. Segundo a Infraero, a pista é in-dispensável para a instalação do equipamento anti-neblina.

Capacidade do aeroporto irá

aumentar

Hoje, conforme dados da Infraero, o aeroporto Salgado

Filho tem o movimento mé-dio diário de 174 aeronaves de vôos regulares, ligando Porto Alegre direta ou indiretamen-te a todas as capitais do País, às cidades do interior dos es-tados do Sul e São Paulo, além de linhas internacionais com vôos diretos aos países do Co-ne Sul. A capacidade do ae-roporto hoje é de 12 milhões passageiros/ano. A projeção da Infraero é de que com as re-formas a capacidade aumente

43% e chegue a 17,2 milhões em 2014.

Sobre a demanda de vôos que o aeroporto receberá du-rante o Mundial, o funcionário da Infraero, André Luís Olivei-ra, 39, afirma que no embarque ocorrerá a priorização dos vôos que já estão em processo de fe-chamento, ou seja, na hora do embarque. “Devido à grande movimentação, há uma chama-da de passageiros desses voos que estão em fase de conclusão

e a esses é dada prioridade de passarem à frente. Com isso, os voos sairão no horário e a infra-estrutura será capaz de suprir a demanda”, projeta.

Segundo André Oliveira, além das obras que já estão em andamento, o aeroporto neces-sitará aumentar os funcionários da empresa, seja da Infraero ou terceirizados, pois haverá maior movimentação de passageiros e, é inevitável, um maior número de colaboradores.

A realidade e as projeções do aeroporto Salgado Filho para 2014

➜ Mesmo com reformas, o aeroporto Salgado Filho segue funcionando normalmente

Foto: leonardo souza

Aeroporto de Porto Alegre passa por mudanças, entre elas o aumento da pista e da capacidade e a implantação do novo sistema anti-neblina

Devido aos diversos problemas com atrasos e cancelamentos de vôos em razão da neblina em Porto Alegre, a Infraero decidiu investir em um sistema anti-neblina, chamado ILS (sistema de pouso por instrumentos, na sigla em inglês) de categoria 2, composto por vários equipamentos. Os elementos necessários para se ter condições de funcionamento são o sistema de luzes de aproximação na pista; as luzes da linha central da pista e o alargamento do acostamento. Após instalado, o sistema vai melhorar a iluminação da pista e permitir a sincronização entre a aeronave e o solo, facilitando a aproximação e aterrissagem em dias de neblina. As obras começaram em agosto de 2010 e a expectativa de conclusão é novembro de 2013.

A Infraero está confiante que com o novo sistema anti-neblina o maior problema atual do aeroporto seja sanado. O empresário financeiro, Giovanni Cataldi, 35 anos, que viaja freqüentemente a negócios, reforça que o grande problema do aeroporto são as condições de pouso e decolagem. “No quesito atendimento, praça de alimentação e estrutura em geral, está tudo bem, o que mais dificulta são as condições climáticas de Porto Alegre, que atrapalham muito os voos, mas diante deste novo sistema os problemas serão menos frequentes”, projeta.

o novo sistema anti-neblina

Page 4: Jornal tabloide Universo IPA #6

4 Porto Alegre, dezembro de 2012Jornal do curso de Jornalismo do

Centro Universitário Metodista do IPAgeral

■ giovani gafforelli ■ luiz Antunes

e m 2014, não vai haver somente Copa do Mun-do em Porto Alegre. Em julho, ocorrerá o início

do Acampamento Farroupilha Extraordinário, no Parque da Harmonia, de Porto Alegre. A iniciativa já é lei municipal e tem por objetivo expor a cultu-ra tradicionalista do Rio Gran-de do Sul ao turista que vier à cidade durante a Copa do Mundo.

As secretarias de Cultura e Turismo de Porto Alegre, em conjunto com o Movimento Tra-dicionalista Gaúcho (MTG), or-ganizarão em julho de 2014 o Acampamento Farroupilha Ex-traordinário. A ideia é montar um mini-acampamento, com aproximadamente 10% do ta-manho normal e apenas durante o período em que Porto Alegre

for sede de jogos. O enfoque é voltado para que o turista possa conhecer a diversidade cultural do Estado.

O assessor da Secretaria da Cultura de Porto Alegre, Geral-do Angeloni, informa que ainda não estão previstos custos para o futuro evento. Uma referên-cia é o atual Acampamento Far-roupilha, realizado anualmente, e que custa em torno de R$ 2 milhões. As atrações do acam-pamento devem ser definidas, segundo a Secretaria Municipal de Cultura, a partir dos melho-res projetos culturais apresen-tados pelos piquetes.

Os responsáveis por centros de tradições gaúchas (CTGs) e piquetes comemoram a novida-de e estão entusiasmados com a possibilidade de poder mos-trar a cultura dos gaúchos pa-ra o mundo. O patrão do CTG Armada Grande, de Viamão, Armando Coelho, diz que o tu-

rista poderá aprender no Acam-pamento Extraordinário hábitos típicos do Rio Grande do Sul.

“Por exemplo, o significado da bombacha que usamos tradicio-nalmente para montar a cavalo, o lenço vermelho representan-do a luta dos farrapos até as fa-mosas gineteadas, onde o ginete deve permanecer montado no cavalo mal domado. A ginete-ada serve como demonstração do estilo de vida dos antepas-sados”, afirma Coelho.

O churrasco deve ser uma das atrações principais do Acampamento. A intenção é conquistar os turistas com o prato típico do Rio Grande do Sul. O patrão Armando Coelho diz que o churrasco é mais que apenas uma culinária: “une to-dos ao redor do fogo”. O fun-cionário do Piquete Pago da

Saudade, Clóvis Morais, acre-dita que o entendimento do tu-rista com os gaúchos se dará através do tradicional churras-co e do chimarrão, linguagem que o assador do Pago da Sau-dade considera universal.

Visitante do evento há mais de 40 anos, Julio César Correa Lima, natural de Porto Alegre, também concorda com a ante-cipação das comemorações do 20 de Setembro para julho. “Os gaúchos estão se preparando para receber outras nações e é importante mudar a data tradi-cional para levar um pouco da cultura ‘’gaudéria’’ para os es-trangeiros na Copa do Mundo”.

Em relação ao ‘’jeito’’ gaú-cho de ser, Júlio Lima acredita que os estrangeiros serão rece-bidos com muita cordialidade e hospitalidade. “Quando eles

sentarem nos piquetes para to-marem um bom chimarrão e comerem uma boa carne, to-dos serão mais iguais do que imaginam”.

Curiosidade

O local onde o acampamento se localiza, Parque da Harmo-nia, foi construído pelo enge-nheiro Curt Alfredo Guilherme Zimmermann e foi inaugurado no dia 4 de setembro de 1982. Em 1987, ocorreu o primeiro Acampamento Farroupilha da história do Parque da Harmonia, logo foi batizado oficialmente de Parque Maurício Sirotski So-brinho. Antigamente eram gru-pos de amigos que se reuniam e construíam seus piquetes pa-ra comer o churrasco e manter a tradição.

A chama que aquecerá 2014o Acampamento Farroupilha extraordinário irá expor a cultura gaúcha aos turistas durante a Copa de 2014

➜ Carreteiro é preparado para os visitantes do piquete Pago da Saudade. Segundo prato mais tradicional do Rio Grande do Sul, pode ser feito a partir das sobras do churrasco

➜ Tradicional “costelão” é atração no acampamento do parque Maurício Sirotski Sobrinho

Fotos: luiz antunes

O “mate”, como é chamado pelos gaúchos, é um dos principais símbolos tradicionalistas do Rio Grande do Sul. O ato de tomar, reúne gaúchos do interior até a capital. Com a ajuda de uma cuia, uma bomba, a erva e água morna, a festa está armada.

ChimarrãoAs danças típicas

do Rio Grande do Sul são variações de danças de salão, que ocorriam no centro europeu. Da valsa surgiu o xote, logo a mazurca, depois vaneira, vaneirão, chamamé, chimarrita e outras.

DançaO traje de um gaúcho é

composto por chapéu, lenço, camisa branca, colete, rebenque, guaiaca, tirador, bombacha, botas

Lenço: O lenço tradicional é o vermelho farroupilha, usado em homenagem aos heróis farroupilhas. Existem também o lenço branco dos chimangos e o verde dos republicanos.

trajes

Page 5: Jornal tabloide Universo IPA #6

5GeralPorto Alegre, dezembro de 2012Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA

■ Frederico tarasuk ■ marcelo Noms

V ocê combina uma cer-vejinha com os ami-gos, se arruma todo e sai pra balada. De re-

pente chega na entrada do barzi-nho em que se encontraria com o pessoal e dá de cara com a porta. É o que vem ocorrendo, depois das duas horas da manhã, nos bares do bairro Cidade Bai-xa (CB). O decreto 17.766, que entrou em vigor em 7 de agosto de 2012, estipula o horário de funcionamento de todos bares e restaurantes do bairro mais boêmio de Porto Alegre. O as-sunto causa polêmica e acalora uma discussão entre moradores, comerciantes e habitués do bair-ro. Há opiniões divididas, pois é aclamado por uns e conside-rado injusto por outros.

O secretário de Produção, In-dústria e Comércio do municí-pio, Omar Ferri Júnior, explica que a maior parte das reclama-ções de moradores do bairro são referentes à perturbação do sos-sego, venda de bebidas alcoóli-cas em copos plásticos, o que

resulta em lixo acumulado nas ruas, e aglomerações nas vias públicas. Além de estabeleci-mentos funcionando como ca-sas noturnas sem alvará para a atividade ou com alvará em de-sacordo. Segundo ele, é compe-tência da Brigada Militar coibir os casos de perturbação do sos-sego e a Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comércio (Smic) só pode agir se o incô-modo estiver dentro de algum estabelecimento.

Do lado dos moradores, há muita reclamação sobre atos de vandalismo cometido pelos frequentadores do bairro. Nel-son Santos, 28, morador da rua General Lima e Silva, reclama principalmente de filas duplas feitas pelos motoristas e da insa-lubridade das ruas: “Já tive pro-blemas duas vezes com pessoas que urinam na porta do meu pré-dio”. Apesar de ter ocorrido uma convocação da prefeitura para uma reunião que avaliou a regu-lamentação permanente do de-creto, no dia primeiro de agosto, Santos não sabia da situação até o documento ser assinado e di-vulgado na imprensa.

Nelson avalia que o cum-primento do decreto é positivo, mas que mais ações devem ser realizadas no bairro: “a questão do trânsito ainda é muito com-plicada, há muitos flanelinhas trabalhando de forma irregular.”

Antes do decreto, foi criada, em novembro de 2011, uma ação por parte da prefeitura denominada Operação Sossego, quando a situação entre morado-res, empresários e frequentado-res da CB era tensa. A Smic e a Vigilância Sanitária chegaram a notificar 90 estabelecimentos, autuaram 80 e interditaram ou-tros 23. De todos, apenas quatro continuam fechados porque os empresários ou não procuraram

a Smic para regularizar a situ-ação ou se negaram a fazer as adequações. Com as ações inte-gradas, em 2012, foram mais de mil vistorias, 180 notificações e 115 autuações. O secretário Omar Ferri destaca que os índi-ces de criminalidade no bairro diminuíram cerca de 30% desde a implantação do novo decreto, e houve uma significante dimi-nuição na média de ocorrências no trânsito de 25 para sete nos finais de semana.

Sobre o decreto a opinião dos proprietários de alguns dos mais frequentados bares da CB. Confrontaram-se, mostrando de forma clara as divergências. O responsável pela administração

do Bar Pinguim, Jaimir Seibez, comemora o aumento no movi-mento que trouxe mais clientes para o estabelecimento e tem uma expectativa positiva para o próximo verão.

Segundo o dono do Bar Be-verly Hills, Jacinto Luis Aires Soares, o impacto foi negativo, pois houve demissões em fun-ção do limite no horário de fun-cionamento, que antes era até as 6 horas: “É muito triste ser im-pedido de trabalhar por conta de tantas burocracias.”

O impasse segue entre mo-radores, comerciantes e órgãos públicos, mas uma coisa é certa: o bairro mais boêmio da cidade não pode morrer.

A morte daCidade Baixa?Decreto municipal limita horário de bares e restaurantes na Cidade Baixa

➜ Rua General Lima e Silva, um dos pontos mais frequentados na Cidade Baixa, registra baixo movimento

Fotos: Marcelo noMs

➜ Rua da República, repleta de bares apresenta boa iluminação à noite ➜ Flanelinhas atuam de forma irregular à noite, conforme denunciam moradores

Page 6: Jornal tabloide Universo IPA #6

6 Porto Alegre, dezembro de 2012Jornal do curso de Jornalismo do

Centro Universitário Metodista do IPAgeral

Cais do Porto e os impactos ambientais ■ Jéssica teles ■ lizandra otero

A s obras de revitaliza-ção do Cais do Por-to têm o objetivo de transformar uma parte

esquecida e danificada do Cen-tro Histórico Cultural de Porto Alegre em um conjunto de la-zer e um novo ponto de encon-tro dos gaúchos.

Um dos pontos a ser estuda-do é o impacto ambiental que será causado com o início das obras. Alguns engenheiros já fo-ram consultados e dizem que se forem utilizadas formas susten-táveis não ocorrerá dano algum ao meio ambiente.

As obras estão previstas para iniciarem logo após as eleições deste ano, mas já deveriam ter começado há algum tempo. En-quanto isso, aguarda-se até que tudo realmente saia do papel.

A restauração do cais Mauá era um dos projetos idealizados para a Copa do Mundo de 2014, mas apenas parte do projeto es-tará pronta até esta data. A pre-feitura de Porto Alegre ainda não tem certeza da data concreta para a conclusão das obras de re-vitalização do cais, já que o iní-cio atrasou. Há quem diga que as obras nem sairão do papel, outras pessoas afirmam que só começarão em janeiro de 2013 e que logo após as eleições o projeto terá início. Independen-te do calendário a ser seguido, uma das preocupações é com os impactos ambientas que serão causados pelas obras.

“o cais é um ponto fixo e a área em que se encontra é pouco arborizada, o que se tem de vegetação é fora do cais, nas ruas e nas calçadas”

e o futuro Cais do Porto

Fotos: Jéssica teles

O novo Cais do Porto contará com centro de eventos e áreas verdes, visando a sustentabilidade do meio ambiente. Além disso, os aramazéns irão servir de centro comercial, serão reformados e ganharão nova pintura.

➜ Após a reestruturação contará com pequenas plantações e áreas de lazer

O atual Cais do Porto é uma área que conta com os armazéns abandonados, entretanto, é bastante frequentado. Um dos lugares preferidos dos gaúchos para tirar fotos, curtir o pôr- do-sol e tomar um chimarrão ao fim de tarde. Os navios que se encontram no cais, tornam a paisagem náutica, um lugar encantador.

➜ O cais abriga exposições populares, tais como a Bienal do Mercosul e feiras latino-americanas

Foto: divulgação PMPa

Engenheiros, arquitetos e especialistas analisam como a obra irá transformar o local e seus arredores. Conforme o engenheiro ambiental e coorde-nador do Gabinete de Assuntos

Especiais da prefeitura, Edemar Tutikian, produtos que utilizam menos energia e são biodegra-dáveis estão dentre os materiais usados no projeto.

O projeto de revitalização

do cais irá contar com centros comerciais, haverá áreas de la-zer e hoteis, o que irá permitir maior integração entre os cida-dãos porto-alegrenses. Tutikian afirma que será instalada uma

área denominada “Rampa Ver-de”, visando à sustentabilidade e consciência com o meio am-biente. As rampas também per-mitirão acesso a alguns locais do porto.

Segundo o arquiteto da coordenação do Gabinete de Planejamento Estratégico da prefeitura, Glênio Viana Bo-hrer, a área em que o cais do porto se encontra é fixa e não apresenta tanta vegetação, por-tanto, o impacto não será gran-de. Apesar disso, estão sendo tomadas medidas para que não haja poluição no lago Guaíba e no ambiente ao redor.

Já o engenheiro Edemar Tu-tikian afirmou que está sendo feito o possível para que não ha-ja nenhum problema com rela-ção à área. “O cais é um ponto fixo e a área em que se encon-tra é pouco arborizada, o que se tem de vegetação é fora do cais. Nas ruas e nas calçadas”, disse o engenheiro e um dos coorde-nadores do projeto para Revita-lização do Cais.

O que a maioria da popu-lação não sabe é que as obras só ocorrerão e se concretiza-rão porque a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) assinou um termo de compromisso, autorizando a concessão da área portuária ao governo do Rio Grande do Sul. Com o termo assinado o projeto poderá ser entregue em quatro anos e seis meses. O que não se tem certeza ainda é de quando o projeto irá começar e sair de-finitivamente do papel.

o Cais do Porto hoje

Page 7: Jornal tabloide Universo IPA #6

■ renato Araújo

A temática ambiental é predominante nos dias de hoje e tornou as pa-

lavras sustentabilidade e educa-ção ambiental (EA) conhecidas. No entanto, esses conceitos so-frem desgaste, na medida em que incorporados ao senso co-mum. Para aprofundar o co-nhecimento sobre educação ambiental nada como uma boa conversa com o educador ambiental da Fundação Gaia, Alexandre Freitas, em seu es-critório. No local, ele orques-trou um jardim na sacada de um prédio comercial em frente ao parque Farroupilha. “A sensa-ção é de uma continuidade en-tre o jardim e o parque”, relata Alexandre com orgulho de seu trabalho como jardineiro. Há mais de 20 anos trabalhando com educação ambiental, Ale-xandre prefere chamar seu tra-balho de educação ecológica.

E essa mudança de termo não é meramente formal, pois para Freitas “o ambiental pa-rece uma coisa muito preser-vacionista, trabalha muito com o ambiente físico, e o ecológi-co, uma noção mais atualizada do que é ecologia, ela é com-pletamente holográfica.” Exis-te ecologia de tudo, porque tudo está relacionado com tudo, essa é a ideia de holográfico. O con-ceito apresentado por Freitas é a proposta de aprofundamento da educação ecológica.

Segundo o educador, a eco-logia é entendida não só como uma questão de preservar os seres vivos, se pensava antes nas florestas, nas plantas e nos animal. O ponto fundamental da educação ecológica não é a questão dos seres vivos, é a questão do sistema como um todo, que inclui tudo, inclusi-ve, o que existe de imaterial faz parte do ambiente. Há ainda a

língua e a cultura, que são de-rivados da interação das pes-soas com o ambiente em que elas vivem.

Por isso o pensamento mais atual do que seja a ecologia é essa maneira sistêmica e holo-gráfica de ver as coisas. Esse é o motivo pelo qual Freitas pre-fere o termo educação ecológica, que é uma educação que leva a perceber isso, como diria o fí-sico e escritor austríaco Fritjof Capra: “tu és alfabetizado na vida”. É uma questão de ver a vida de maneira mais holística ou holográfica.

No âmbito acadêmico a dis-cussão sobre a educação am-biental segue o impasse sobre qual lugar ela deve ocupar no currículo do ensino. Para a pro-fessora adjunta do Programa de Pós-Graduação e da Faculdade de Educação da PUCRS, Isabel Carvalho, a ideia de que a edu-

cação ambiental tenha obrigato-riamente de ser transdisciplinar tem impedido que esta discipli-na seja considerada importante.

Devido ao tema da educa-

ção ambiental ser transdisci-plinar, por se ocupar de várias disciplinas, muitos pesquisa-dores, educadores ambientais e ambientalistas, sempre foram contra a se instituir uma disci-plina única de EA, atitude que para Isabel deixou a EA em um

“não lugar”, sendo apenas trata-da de forma superficial nas es-

colas, em datas pontuais, como na Semana do Meio Ambiente.

A ex-bolsista da pesquisa de Isabel, Márcia Prochnow, per-cebe que o dia-a-dia do edu-cador ambiental nas escolas é ao mesmo tempo gratificante e muito cansativo. Prestes a se formar em Biologia, Márcia lida com a rotina árdua das escolas públicas da capital. Para a futu-ra bióloga a prática da educação ambiental exige a vivência do educador, sendo ele ao mesmo tempo um autor e um atuante no processo de aprendizagem.

Não existe uma fórmula de se promover a educação ambiental (ou ecológica) afirma o educa-dor Alexandre Freitas, cada ins-tituição tem sua metodologia. A Fundação Gaia, onde Alexandre atua, é uma entidade que realiza um trabalho continuado de 15 anos focado em educação ecoló-gica com fundamentação teórica

própria, na qual em sua criação teve a consultoria da pesquisa-dora Isabel Carvalho.

A educação ambiental, ou mais precisamente ecológica, ao invés de adotar um já batido discurso alarmista, o qual nos coloca em um estado de culpa, deve ser introduzida na vida das pessoas de forma alegre, pos-sibilitando com que possamos nós mesmos perceber a maravi-lha que é a manutenção da vida em nosso planeta. É assim que Freitas atua no Rincão Gaia, se-de rural da Fundação Gaia, por meio do prazer os visitantes en-tram em contato com os ideais ecológicos. Mais que entender como a natureza funciona Frei-tas pensa que temos de ter uma admiração por ela. Como dizia José Lutzenberger: “quando a gente passa a perceber esse ti-po de coisa, temos que olhar pra vida com reverência”.

7meio AmbientePorto Alegre, DezemBro De 2012Jornal do curso de Jornalismo do centro universitário Metodista do iPa

educação ambiental: um conceito a ser aprofundado

“Quando a gente passa a perceber

esse tipo de coisa , temos que olhar para a vida com

reverência”

Além de recilagem de lixo e preservação, a educação ambiental abrange a vida como um todo

➜ Rincão Gaia - Sede Rural da Fundação Gaia, área degradada recuperada pelo ecologista José Lutzenberger

JeFFerson Pietroski/Fundação gaia

Page 8: Jornal tabloide Universo IPA #6

8 Porto Alegre, DezemBro De 2012Jornal do curso de Jornalismo do

centro universitário Metodista do iPaPolítica

No caminho dos populistas

movimento político se destacou por presidentes paternalistas que viam no povo sua maior fonte de poder

P opulismo é um tipo de governo onde o presi-dente é marcado por seu carisma e por su-

as ações governamentais à po-pulação de massa. No Brasil, o fenômeno populista teve início na década de 1930, quando Ge-túlio Vargas assumiu o governo, inaugurando o Estado Novo. Nas demais nações latino-america-nas, foi representado em diver-sos países como a Argentina, de Juan Perón; o Equador, de José Maria Velasco; e a Colômbia, de

Gustavo Rojas Pinilla.Em 1945, o Estado Novo

chegou ao fim, mas a política populista de Getúlio teria con-tinuidade em 1950, na segunda fase da Era Vargas. Durante qua-se 20 anos (1945-1964), a ideolo-gia, sob o comando de diversos presidentes, trouxe conquistas significativas ao Estado brasi-leiro. “Populismo é um governo onde um líder político fala dire-tamente com a população, sem maiores delongas, seja ela rica, pobre ou uma instituição”, expli-

Vargas (1951- 1954)

Primeiro presidente populis-ta brasileiro. De acordo com o historiador Lúcio Schneider, Ge-túlio Vargas, do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), era uma personalidade de caráter tempe-ramental, que direcionou suas políticas públicas ao povo, discu-tindo o benefício das classes me-nos favorecidas. Após oito anos de Estado Novo, seria deposto em 1945, retornando em 1950 em uma eleição democrática a qual conquistou 48% dos votos. De início moderado, admitindo a participação de diversos parti-dos no poder, “o estadista primou pela identificação ao naciona-lismo, com a Criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), da Petro-brás”, diz Schneider.

Jango(1961-1964)

O governo de João Goulart (Jango), do mesmo PTB de Var-gas, começou atribulado pela pressão militar e o Movimento da Legalidade. Depois de mui-tas reviravoltas, assumiu o car-go em 1961, nos braços do povo. Saul Chervenski comenta que

“Jango, como populista, usava muito bem seu carisma peran-te as classes. Ele deixava isso claro em seus discursos, onde abusava de palavras como povo, trabalhador e brasileiros além de minimizar os seus oponentes e maximizar, e muito, os seus feitos”. Em nível de políticas públicas, o Brasil iniciou com efetividade a reforma agrária e tributária, a reorganização do sistema de crédito e limitação do capital estrangeiro.

Lula (2002-2010)

Em 2002, o principal líder do PT (Partido dos Trabalhadores), Luís Inácio Lula da Silva, se elegia Presidente da República. Resgatando a política paterna-lista típica dos populistas, Lula, logo nos primeiros anos, atingiu altos índices de aprovação por suas políticas sociais. O jorna-lista André Haar, nesse contexto, afirma que o governo do petista fez o país acreditar no próprio potencial, com uma linguagem simples – do povo – batendo me-tas como a diminuição da pobre-za e uma distribuição de renda mais igualitária no país. “Lula, mesmo não cumprindo determi-nadas vontades políticas, e, mui-tas vezes, rodeado de situações graves como o mensalão, con-seguia o apoio popular”.

Gaspar Dutra(1946-1951)

Eurico Gaspar Dutra, do PSD (Partido Social Democrático) assumiu o Brasil em um período atribulado após os anos do auto-ritarismo do Estado Novo. Lúcio Schneider lembra que a primeira iniciativa do novo presidente foi convocar a Assembleia Consti-tuinte, dando origem a Consti-tuição de 1946, que incorporou os direitos trabalhistas do go-verno de Getúlio no texto legal. O historiador ainda destaca as dificuldades econômicas do pe-ríodo – marcado pela dependên-cia capital estrangeiro. “Neste momento histórico a influência financeira dos Estados Unidos foi decisiva. Os comunistas fo-ram cassados e foi criada a Es-cola Superior de Guerra, que deu força aos militares”.

Juscelino(1956-1961)

O presidente “Bossa Nova” era filiado ao PSD (Partido So-cial Democrático). Sua gestão deu ênfase ao desenvolvimento econômico da nação, principal-mente na indústria e na urbani-zação. Sob o lema “50 anos em 5 de mandato”, inaugurou um plano de metas que privilegiava os setores de energia, transporte, alimentação e educação. Nesse sentido, Saul Chervenski afir-ma que no governo de Jusceli-no, o uso do capital estrangeiro incentivou as multinacionais e ajudou na construção de Brasí-lia: “Juscelino tinha por objetivo o desenvolvimentismo e a dívi-da externa aumentou considera-velmente. Entretanto, o período foi marcado por grandes trans-formações econômicas”.

■ gabriel guidotti ■ Érik Pastoris

ca o professor de história, Saul Chervenski. No Brasil, além de Getúlio, outros mandatários ti-veram participação significati-va no período: Eurico Gaspar Dutra, Juscelino Kubitschek, João Goulart e, anos mais tar-de, Luís Inácio Lula da Silva.

De acordo com o jornalista André Haar, os populistas ti-nham preocupação com o tra-balho - com o trabalhador. Ele afirma que alguns especialistas acreditam no populismo como um termo para designar um mandatário que usa a política com intenção de enganar o povo, de não cumprir com as promes-sas. “Não vejo, por exemplo, que Lula não tenha cumprido diver-sas de suas promessas, mas de fato, acredito que somente num futuro poderemos concluir e fa-

zer uma análise mais precisa”.O historiador Saul Cher-

venski destaca que, no po-pulismo, o líder exalta suas façanhas por meio de muita propaganda pessoal e, geral-mente, costuma ser carismáti-co. Entretanto, na maioria das vezes eles tomam para si o con-trole de tudo, desrespeitando seus aliados políticos, soando como prepotente e arrogante por seus atos. Chervenski ain-da afirma que vivemos uma nova era do Populismo, a qual começou no momento em que Lula iniciou a sua carreira po-lítica. “Conhecedor dos pro-blemas do povo ele destinava os seus comícios para as clas-ses oprimidas e, desde então, ele se diferencia de outros po-pulistas como Jango e Vargas,

pois ele representa a face do brasileiro trabalhador”.

O período populista teve sua importância na história do pa-ís, sendo marcado por fatos que mudaram a vida dos brasileiros, em virtude das diversas melho-rias implantadas. A política era governar tratando o povo como um só, sem distinção de raça, cor, poder aquisitivo, faixa etá-ria ou grau de instrução.

E assim, nas mãos de presi-dentes paternalistas, a história do Brasil se construiu. Vindos das mais diferentes classes e segmentos sociais, os populis-tas marcaram toda uma era da política brasileira, valorizando o trabalho dos mais pobres da população e influenciando um movimento que permanece até os dias atuais.

Fotos: divulgação

Page 9: Jornal tabloide Universo IPA #6

9economiaPorto Alegre, DezemBro De 2012Jornal do curso de Jornalismo do centro universitário Metodista do iPa

■ Jair Farias ■ Fernanda Cadore

S ob olhar desconfiado da população, que via o pa-ís colecionar insucessos nas três décadas ante-

riores com planos econômicos mirabolantes e ineficientes, es-pecialmente no controle da in-flação, surgia em julho de 1994 o Plano Real, programa econô-mico mais bem sucedido da his-tória recente do Brasil. Com o objetivo de estabilizar a econo-mia, o plano atingiu o âmago dos anseios dos brasileiros à época: liquidou a inflação, au-mentou o poder de compra e per-mitiu o investimento em longo prazo. No decorrer de seus 18 anos, resistiu a crises enquanto outras economias do mundo im-plodiam. Mas qual é futuro do

real diante de um cenário eco-nômico mundial cheio de incer-tezas, com crises recorrentes? Que fatores fazem com que a economia do país não sinta tão fortemente os efeitos da atual crise que nocau-teou países como Espanha e Grécia?

De acordo com o economista da Fundação de Eco-nomia e Estatística do Rio Grande do Sul (FEE), Antônio Carlos Fraquelli, a posição do Brasil é confortável e o real deve se manter em torno da cotação atual devido à gra-vidade da crise das economias avançadas. “Ao contrário das crises anteriores, o país possui reservas cambiais expressivas, está com a economia estabiliza-da e com as contas públicas rela-tivamente ajustadas”, explica o

especialista. Fraquelli enten-de que o acionamento das

reformas – administrati-va, orçamentária, previ-

denciária e tributária – é o mecanismo

que falta para au-mentar

a pro-teção

ao re-a l d o s

efeitos da c r i se i n -ternacio-nal. Para a jornalista especiali-z ad a e m economia

Giane Guerra, as perspectivas para o

futuro são positivas, no entan-to, a projeção passa por fatores como transparência, pensar no longo prazo, eliminar a corrup-ção e acabar com os gargalos por onde jorra dinheiro público.

“É preciso pensar em infraes-trutura e na economia susten-tável do futuro. O Brasil tem o dinheiro. É só decidir melhor onde aplicá-lo, quem incenti-var”, afirma.

Controle da inflação

Fantasma que assustava em um passado não muito distan-te – e que por vezes ainda pre-ga alguns sustos –, a inflação está controlada, segundo Fra-quelli. Para o economista, a pre-ocupação mais recente é com os preços em dólares, incluin-do matérias primas valoriza-das pela seca norte-americana, que acessam aos preços via Ín-dice Geral de Preços do Mer-cado (IGP-M). De acordo com o Banco Central, a previsão da inflação para este ano é 5,24%. Em 2013, a projeção é 5,54%.

Para quem viveu na época da inflação alta, como o apo-sentado João Valmor Corrêa, 64 anos, o Plano Real foi a tábua de salvação do povo que não su-portava mais a instabilidade da

economia. “A inflação dizima-va os salários antes do final do mês. Os preços subiam a todo o momento e não tínhamos poder de compra. Nos supermercados é que sentíamos os efeitos, a re-

marcação dos pre-ços era frequente e causava um caos no orçamento das famílias”, conta. Nas três décadas anteriores ao re-al, a inflação acu-mulada chegou a assustadores 1,1

quatrilhão por cento. No perí-odo entre 1994 e 2011, o acu-mulado foi de 297,03%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ou seja, uma compra no valor de R$ 10 em 1994 sairia por R$ 39,70 em 2011.

Giane Guerra acredita que a política de controle da infla-ção do governo Dilma Rousseff (PT) tem de passar por alguns ajustes. “A Selic (Sistema Espe-cial de Liquidação e Custódia) é o principal mecanismo que vem sendo usado. É a proposta, aber-tamente. Mas congelar preços de combustível está prejudican-do uma empresa importante pa-ra o país, que é a Petrobras. As importações também têm aju-dado, pois entram no mercado produtos com preços inferiores. É preciso conter gasto público, mas não vejo essa intenção em curto prazo”, avalia.

Poder de compra e endividamento

Um dos principais trunfos do Plano Real e mola propul-

sora da ascensão da classe C, o poder de compra da popula-ção, agora reforçado pela políti-ca de incentivo ao consumo do governo, sofre questionamentos pelo crescente endividamento das famílias. Exemplos como o da autônoma Beatriz Martinez, 62 anos, são cada vez mais fre-quentes. “Acabei me empolgan-do com o acesso fácil ao crédito e hoje estou endividada, tudo o que ganho por mês é para sal-dar dívidas”, relata.

O Brasil vinha de mais de duas décadas de crescimen-to insuficiente. Quando re-tomou o ritmo da atividade econômica, houve avanço da renda e do emprego. Com is-so, um grande contingente de trabalhadores teve acesso ao consumo, diz Fraquelli. Para o especialista, o governo ofere-ceu condições de crédito, mas é preciso que a adimplência seja preservada.

Longevidade do plano

A transparência da aplicação, medidas em conjunto, atenção ao câmbio, dívida externa, com-bate à memória inflacionária e o engajamento da sociedade são fatores que contribuíram para a longevidade do Plano Real, de acordo com Giane Guerra. Para o futuro, ações são necessárias para que a economia se mante-nha estável. “O real vai bem. A economia brasileira, no entan-to, precisa de medidas de lon-go prazo usando as ferramentas disponíveis e mantendo o equi-líbrio no uso delas”, analisa a jornalista.

real completa 18 anos com o desafio de manter a estabilidade econômicaPlano que deu equilíbrio à economia do Brasil enfrenta as consequências resultantes da crise internacional

“Ao contrário das crises anteriores, o país possui reservas cambiais

expressivas, está com a economia estabilizada e com as contas

públicas relativamente ajustadas”

Page 10: Jornal tabloide Universo IPA #6

10 tecnologia

Da fotografia analógica para a digitalVinte anos após seu lançamento, a fotografia digital fica mais acessível e popular às pessoas

A década de noventa marca o início de um novo momento na his-tória da fotografia. Em

1990, foi lançada a primeira má-quina digital disponível comer-cialmente da marca Kodak. Seu uso em fotojornalismo e aplica-ções profissionais foi impedido por conta do seu custo, mas nas-ceu com ela a fotografia digital. As máquinas digitais se torna-ram produtos de consumo cerca de 10 anos após o seu nascimen-to e foram tomando o lugar das câmeras analógicas.

Fotógrafo profissional há 15 anos, Arley da Cruz, 31 anos, começou a fotografar com a câ-mera analógica e hoje utiliza a digital, mas observa que pro-cesso de fotografar sofreu pou-cas mudanças. Na sua opinião, a câmera digital só facilitou na rapidez de tirar fotos. Também atuando como fotógrafo pro-

fissional, Guiliano Cecatto, 26 anos, trabalha com câmera SLR e reconhece as vantagens: “Com a fotografia digital é difícil per-der uma foto, pois todas podem ser vistas na hora, refeitas e ou manipuladas”.

Na avaliação de Arley da Cruz, os avanços estão nos recursos tecnológicos. Uma câmera de filme profissional tinha excelentes recursos que os profissionais utilizavam na hora da foto, mas, só isso não bastava.“Parece que no perío-do analógico o que poderia ser melhorado na câmera estava travado, investíamos mais em lentes e filtros,” lembra. Para ele, com o passar dos anos e com o avanço da tecnologia e a chegada dos equipamentos di-gitais os recursos melhoraram significativamente.

Um exemplo, segundo Ar-ley da Cruz, é o photoshop, fer-

ramenta para manipulação de imagens. O programa é alia-do dos profissionais, mas não é de hoje que as imagens são manipuladas. “Mesmo na foto analógica havia manipulação, podíamos mesclar negativos e fazer uma alteração gráfica inte-ressante ou mesmo maldosa. Eu manipulava os níveis de satura-ção com mais químico ou mais exposição nas fotos”, exempli-fica. E empolga-se: “Fotografia significa pintar com a luz e é maravilhoso poder fazer isso com os programas de manipu-lação atuais”.

O fotógrafo Giuliano Cecat-to também usa o photoshop, mas apenas para fazer pequenos re-toques, nada de montagens ou tratamento de pele. “O bonito é o natural. Esforço-me ao máxi-mo para fazer com que a ima-gem saia da forma que eu quero no momento do clique.”

Com a grande variedade de modelos, marcas e com preços mais acessíveis a fotografia vai ficando popular e se torna um elemento essencial na vida das pessoas. É o que conta a estu-dante de ciências biológicas, Thayse Macário, que usa um equipamento digital semi-pro-fissional. O interesse por foto-grafia veio com o objetivo de deixar registrados momentos especiais da sua vida. Por ser estudante de biologia e ter uma proximidade com a natureza, a fotografia começou a ser vista também como uma opção de carreira profissional com o ob-jetivo de fotografar elementos como plantas e animais. “Fico emocionada com cada foto que tiro, seja de animais ou até mes-mo de pessoas, como os meus amigos, festas de aniversário. A emoção acontece, pois essas fo-tos que tirei me lembram mo-mentos que eu vivi, lugares onde eu estava”, conta Thayse, que costuma compartilhar as fotos com os amigos em redes sociais.

Aplicativos de internet, sites e redes sociais também contri-buem com a popularização da fotografia. “É bom ver como o

Istagram (aplicativo usado em smarthfones. Ver box a seguir) incentiva a fotografia. O pesso-al tira muita foto de tudo”, diz Arley, que encara o fator como uma motivação, pois agora pre-cisa fazer melhor para conven-cer de que seu trabalho é bom.

“Nossa vida é escrita e lida em postagens de 140 caracteres, fo-tos são compartilhadas. É mais fácil, não tem erros de portu-guês, é mais bonito e estimulam sentimentos”, explica Giuliano.

Com o mercado cada vez mais concorrido, o profissional tem que saber como ganhar des-taque. “O problema é que existe muita gente entrando no merca-do e oferecendo seus serviços por preços baixíssimos. Atra-palha quem já está no mercado, mas começo é assim. Nada que um pouquinho de nome, algu-mas referências, uma conversa com o cliente e principalmente um belo portfólio não resolvam”, conta Giuliano.

Para um fotógrafo, buscar aperfeiçoamento é essencial.

“Eu sou estudante de fotografia, pois no dia que eu achar que já sei tudo sobre a fotografia deixei de ser fotógrafo”, acredita Arley.

Popularização da fotografia: desafio aos profissionais

o fenômeno InstagramInstagram é um aplicativo gratuito

para smartphones que tem como função tirar fotos, escolher filtros e compartilhar

o resultado nas redes sociais. Além dos efeitos, é possível seguir outros usuários na própria rede do aplicativo para visualizar, curtir e

comentar nas imagens postadas.

Usuária do Instagram desde janeiro de 2012, a estudante de design gráfico, Maria Clara de Oliveira, afirma que no começo, quando estava conhecendo o

aplicativo, se considerava um pouco viciada, mas depois de um tempo isso diminuiu.

É um aplicativo feito para quem gosta de fotografar,

mas que deve ser usado com moderação.

Fotos: taiane Fagundes

■ gabriele rocha ■ taiane Fagundes

➜ Thayse Macário, estudante de Biologia, tem a fotografia como hobby

Porto Alegre, DezemBro De 2012Jornal do curso de Jornalismo do

centro universitário Metodista do iPa

Page 11: Jornal tabloide Universo IPA #6

11tecnologia

governo na palmada mão do cidadão

■ Charline Bicca ■ thamires rosa

U m levantamento re-cente feito pelo ins-t ituto de pesquisa Ipsos Marplan cons-

tatou que o Brasil tem mais de 200 milhões de celulares, des-tes 30% têm acesso à internet e 10% são smartphones. A ten-dência é que em até três anos a comparação vire: os smarts de-vem passar para mais de 50% dos telefones ativos, assim co-mo o acesso à internet pelos mó-veis cruzará a barreira dos 60% de fones habilitados. Pensando nesse crescimento e em busca

de maior contato com o cida-dão, o governo do Rio Grande do Sul têm buscado criar apli-cativos para que o serviço che-gue de forma rápida ao público.

O RS Móvel, criado pela Se-cretaria de Comunicação e In-clusão Digital, da Companhia de Processamento de Dados do RS (Procergs), permite o acesso a diversos serviços do Governo, assim como denúncias em tem-po real através de dispositivos móveis. É o que fez o funcio-nário público, Roberto Silveira, 48 anos, quando precisou loca-lizar uma clínica que atendes-se pelo IPE.

Como havia já usado o site decidiu utilizá-lo e em instantes conseguiu as informações que precisava.“Estava com pressa e na rua, não tinha ou-tra forma de pro-curar, o site me ajudou muito, consegui lo-calizar uma

clínica perto de onde eu estava e no mesmo dia consegui mar-car o exame, foi rápido e fácil”, complementa. De acordo com o usuário, o que diferencia o apli-cativo é encontrar muitas infor-mações em uma mesma página, sem precisar fazer uma busca em toda a internet. “Abri o apli-cativo e lá estava a lista de ser-viços”, salienta Roberto.

Agilidade de informação é o que mais chama a atenção dos usuários. O advogado Fa-bio Ramos tem o site como um dos mais utilizados. Ele acessa o serviço para informações do trânsito, por exemplo. “Posso ver como está o trânsito em vá-rios sites na internet, mas optei pelo RS Móvel pela facilidade e confiabilidade das informações, como saber onde está a blitz da Balada Segura, por exemplo”, comenta Fábio.

Criação do aplicativo

Tendo como maior desafio

criar um site disponível para o maior número de dispositivos móveis e que permita acesso rápido e fácil com informa-ções resumidas e totalmente em software livre, o RS Móvel foi elaborado depois de ampla pesquisa. A Procergs consultou mais de 170 sites nacionais e in-ternacionais. Quando o trabalho iniciou, em 2011, não existia no Brasil plataforma semelhante. Os exemplos seguidos foram de programas criados nos gover-nos de Barack Obama, nos EUA, e Ângela Merkel, na Alemanha. A especialista em inteligência competitiva, Cristine Silva, ex-plica que a pesquisa foi emba-sada por uma lista pré-existente que pontuava entre outros itens a aplicabilidade e os níveis de informação. “Nosso foco é sem-pre olhar do cidadão”, completa.

A gerente do projeto, Carín Elisabeth Horst, explica que a principal exigência para a cria-ção do aplicativo apresentada à Procergs foi o desenvolvimen-to total em software livre. Com

a pesquisa em mãos e as refe-rências bem sucedidas de ou-tras plataformas semelhantes, os analistas buscaram a interativi-dade e o diálogo em tempo real. Para o andamento do processo, foram realizados testes e parce-rias com a Divisão de Tecnologia e Infraestrutura, nos setores de Desenvolvimento Econômico e Social, de Trânsito e de Gover-nadoria de outros poderes. “Es-ta é uma iniciativa simples e de grande impacto. Em uma sema-na a solução estava disponível”, explica a Carín Horst.

Na avaliação da pesquisa-dora da Procergs, Cristine Sil-va, o RS Móvel é estratégico e uma ferramenta para desbu-rocratização, comunicação e ampliação do acesso aos ser-viços públicos, ou seja, da ra-dicalização democrática clara e direta. “No Brasil o RS foi pioneiro no uso do móbile, mas isso muda toda hora e hoje já têm outros estados usando es-se formato, como ao Amazo-nas”, explica.

Foto: charline Bicca

Como utilizarEm dispositivos móveis como smartphones, tablets e celulares ou em computadores

com acesso a internet é só acessar o link: http://m.rs.gov.br/ e encontrar todos os serviços disponíveis como, por exemplo, denúncias para a Polícia Civil, enviando fotos e vídeos que serão recebidos na mesma hora ou encontrar locais de atendimento pelo Instituto de Previdência do Estado (IPE).

RS MÓVEL é uma plataforma

preparada para o crescimento

contínuo, para que todos

os órgãos do estado possam

oferecer seus serviços

e ampliar as ofertas.

Em desenvolvimento para a

Copa 2014, estão os projetos

para a implantação dos

pontos turísticos, guia de

hospitais e consulados.

Site para acesso a serviços públicos através de dispositivos móveis tem cada vez mais recursos

Porto Alegre, DezemBro De 2012Jornal do curso de Jornalismo do centro universitário Metodista do iPa

Page 12: Jornal tabloide Universo IPA #6

12 turismo

e que tal saber o que elas têm a dizer sobre a viagem?

Q uem nunca sonhou em viajar para fora do país, em busca de aprender

uma nova cultura, fazer um cur-so, trabalhar, conhecer lugares diferentes, enfim, buscar uma nova oportunidade e, quem sa-be, até ficar morando?

É o que fizeram as amigas Paula Lopes e Nádia Lima. Pro-fessoras formadas, as duas, que se conheceram durante o cur-so superior de letras - habilita-ção em língua inglesa da FAPA, sempre tiveram o sonho de re-forçar o que aprenderam na fa-culdade fora do país. Com um sonho desses, depois de consul-tar uma agência e saber o desti-no, Dublin, o jeito era arregaçar as mangas e buscar um emprego para conseguir o valor neces-sário, R$ 14 mil. Nádia e Pau-la trabalharam por quatro anos em escolas municipais de Guaí-ba. E como as escolas ficavam

próximas, elas percorriam todo o caminho conversando.

Terminado os quatro anos, com os R$ 7 mil da agência pa-gos e os outros R$ 7 mil exigi-dos pela agência, na conta, era começar a arrumar as malas e partir. Antes da viagem, para se despedirem dos parentes e ami-gos, elas decidiram fazer uma grande festa. Para a surpresa de-las, receberam muitas homena-gens dos pais, dos amigos da faculdade e dos que fizeram ao longo da vida. Dublin é um lugar maravilhoso com uma arquite-tura rica em prédios antigos e novos, onde neva e, também, lu-gar onde é cultuado o dia de São Patrício, cultuado na língua in-glesa de San Patrick.

No dia de São Patrí-cio, todos se vestem de verde e fazem festas pa-ra comemorar o famoso santo do trevinho ver-

de. Em Dublin, Paula e Nádia, ficaram por duas semanas na casa de uma família seleciona-da pela agência, após foram pa-ra o apartamento que dividiam com colegas do curso de inglês onde estudaram por seis me-

ses, aprenderam a pronunciar corretamente a língua, tiraram as dúvidas, além de trazerem na bagagem um belo currículo, a fim de conseguir melhores oportunidades aqui no Bra-sil. Os outros seis meses fo-

ram aproveitados para conhecer lugares como a exposição dos artis-tas do museu de cera de Madame Tussauds, a ci-nemas e parques. Tam-

bém trabalharam como babás nesses seis meses para, antes de voltarem, fazerem um tour. Elas conheceram: Ibiza, Barce-lona, Edinburgo, Atenas, Ro-ma, Milão, Paris, Amisterdan, Bruxelas, Londres e a român-tica Veneza. Após dois meses da viagem, elas já sonham fa-zer uma nova, mas agora com destinos diferentes. Já deram até uma pista: México ou No-va York.

Do outro ladodo mundo

■ Danglar Duarte

“Conhecer outro país é uma experiência incrível!”

Nádia Lima

Nádia Lima: “Conhecer outro país é uma experiência incrível. Dublin não foi diferente, lá eu melhorei meu inglês, através do curso e também conheci pessoas de várias partes do mundo, com algumas a experiência de conviver foi tão gratificante, que me despertaram o desejo de conhecer seu lugar de origem como o Japão e o México”.

estudantes aproveitam viagens ao exterior para aperfeiçoar idiomas estrangeiros

➜ Paula Lópes e Nádia Lima em frente ao Museu do Louvre, em Paris

Fotos: arquivo Pessoal

Paula Lopes: “Considero essa viagem como algo muito importante em minha vida. Fui para aprender e conhecer algo novo e diferente do que vivi no Brasil. O curso de inglês foi maravilhoso, me ajudou a melhorar significativamente meu inglês, conheci pessoas legais de várias culturas, dividi apartamento com alguns e aprendi a me virar sozinha, pois estava longe da minha família. Os lugares que visitamos são incríveis, os que mais gostei foram Veneza, Edinburgo e as praias paradisíacas de Ibiza.

Porto Alegre, DezemBro De 2012Jornal do curso de Jornalismo do

centro universitário Metodista do iPa

Page 13: Jornal tabloide Universo IPA #6

A síndrome do pânico é um tipo de transtorno de ansiedade e a cau-sa é desconhecida. Os

sintomas normalmente são ta-quicardia, sudorese nas mãos e no corpo, enjoos, visão turva e tremor nas pernas. Conforme o psicólogo Benomy Silberfarb, os sintomas surgem para avi-sar que o corpo está em perigo e emitir aviso para fugir da situ-ação. O psicólogo explica que o transtorno é incurável, mas com tratamento não causa riscos físi-cos, apesar de os pacientes pro-curarem os hospitais com medo de enfartar, pois a sensação é idêntica a um enfarto.

Os pacientes, em tratamento, preferem não se identificar, mas aceitam falar sobre as dificulda-des enfrentadas. A advogada, de 28 anos, A.F, afirma que perdeu o controle várias vezes por não saber lidar com os sintomas. “O medo que eu sentia aumentava cada vez mais. Tenho medo de alguma coisa que não sei o que é”, conta. O medo e a inseguran-ça cresciam a cada dia, lembra a advogada. A decisão de pro-curar ajuda surgiu quando es-tava andando pelo shopping e teve a sensação de que estava enfartando. Naquele momento, resolveu procurar um cardio-logista. O profissional indicou que a paciente procurasse um especialista da área psicológi-ca. Atualmente, está em trata-mento e faz sessões de hipnose cognitiva.

O método de hipnose cog-nitiva inicia com o teste de avaliação de sensibilidade do paciente, e tem como objeti-vo conhecer se o paciente tem facilidade de entrar em transe.

O psicólogo explica que é fun-damental que o paciente tenha controle da respiração, relaxe, maneje imagens mentais e con-siga perder o medo. A hipno-se é uma técnica que pode ser aprendida e praticada em casa pelo paciente, conforme expli-ca Benomy. Ele observa que a hipnose é um tratamento para fins de relaxamento e não para regressão. “A hipnose é 100% consciente. Não existe cura pa-ra a ansiedade, o que existe é o controle. Através da hipnose podemos encontrar o caminho certo para auto-controlar a an-siedade, a Síndrome do Pânico e demais causas que afligem as pessoas que convivem com es-te mal”, explica o profissional.

Conforme a paciente, E.M, empresária, 42, o medo de mor-rer, enfartar e deixar as pessoas ainda fazem parte de sua vida, mas não são mais constantes. Ainda em tratamento, a paciente se auto-monitora com as técni-cas que aprendeu durante as ses-sões para controlar a ansiedade.

“Todos temos medo, mas têm de ser adequado e não catastrófico como eu tinha. O meu psicólogo une hipnose com a terapia e isso me deixa mais segura, porque hoje eu tenho controle da situ-ação”, afirma.

Uma das causas da Síndro-me do Pânico é o estresse. O psicólogo Benomy afirma que o estresse é o estado crônico da ansiedade. Ele produz hormô-nios como o cortisol, que faz baixar a imunidade das pessoas afetadas pela síndrome do pâni-co, transformando o mundo em uma ameaça. A depressão, se-gundo ele, também é uma alia-da e parceira da pessoa ansiosa

que vê os outros melhores que a si próprias, e faz com que as mesmas vejam o mundo sendo ameaçado pelo futuro. Para elas, o futuro está distante e muitas vezes acabam se iludindo, cain-do em uma cilada chamada de-pressão. As consequências são falta de auto-estima, de confian-ça e, com isso, acabam deixan-do de fazer aquilo que gostam e desistem dos seus ideais e das suas perspectivas de vida.

É o que aconteceu com a estudante universitária de bio-logia, S.D, 20. Ela conta que le-vava uma vida normal, porém teve uma grande transformação que mudou tudo. O lado profis-sional foi prejudicado e sentia vontade de largar tudo o que fa-zia, principalmente os estudos, pelo simples fato de ter medo e não conseguir chegar até o fi-nal. Insegurança? Medo? De tu-do um pouco. Quanto ao lado

emocional, relata que se sentia mal, vulnerável em relação ao namorado e com a família, sen-tia que os outros eram melhores que ela, porém, hoje afirma com segurança que está confiante e que aprendeu ter controle das si-tuações que regem sua vida. E recomenda: “quando temos algo de errado em nossas vidas de-vemos procurar um especialista no assunto para que possamos nos sentir melhores”.

13Saúde

Sem motivo aparente, você sente medo que algo de ruim aconteça? têm medo de perder o controle sobre si? Sudorese nas mãos? tremor nas pernas? esses sintomas podem ser sinais da Síndrome do Pânico

■ Cristine Kleinert loureiro ■ luciana teló Piccoli

➜ Psicólogo Benomy Silberfarb em uma de suas palestras gratuitas no shopping Bourbon Country demonstra as técnicas de hipnose cognitiva e relaxamento, que também são usadas em consultas a pacientes com Síndrome do Pânico

Da síndrome ao bem-estar

Foto: cristine loureiro

Porto Alegre, DezemBro De 2012Jornal do curso de Jornalismo do centro universitário Metodista do iPa

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14 Comportamento

o clima noturno predo-mina. Com a maioria das pessoas já em casa, descansando de um

dia árduo de trabalho, as prin-cipais emissoras de televisão preparam o seu horário nobre. Dentre os ingredientes, preva-lecem alguns noticiários e vá-rias telenovelas. Das 18h até as 23h não existe intervalo, levan-do em conta que alguns canais colocam suas novelas duran-te os telejornais da concor-rência. Na principal emissora do Brasil, abrindo a faixa no-

bre, o enredo é simples e melosamente

romântico, muitas vezes num ambiente de época ou regional. Na sequencia, o espectador re-cebe um produto geralmente cômico e que possa atingir a família inteira. É a partir das 21h, horário que a criançada deveria estar sendo preparada para dormir, que as famílias esquecem os deveres e esta-cionam na frente da TV para assistir as tramas que também envolvem dramas com pitadas de sexo e violência, levando a audiência a picos iguais ao atin-

gido pela novela Irmãos

Co-ragem,

que con-seguiu ba-

ter o Ibope da final da Co-

pa do Mundo no México.

A inspira-ção para criar as cenas, mui-tas vezes, vem daqui lo que está na boca do povo. “Pelo que já ouvi de várias palestras com roteiristas, eles procuram buscar no murmurinho das ruas o que está sendo motivo de con-versas por parte da sociedade. E eis aí o tema”, afirma a doutora em Comunicação Maria Apare-cida Baccega, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Teleno-vela da Universidade São Pau-lo (USP).

O sociólogo Max Marcel explica que muitas vezes o autor parte de situações

reais e cria, em cima, uma obra de ficção. “Outras vezes

estas situações reais se encai-xam em obras de ficção que o público recebe desde a infância, como os contos de fadas, por exemplo”, afirma. Na sua ava-liação, a ficção permite tudo:

“As pessoas podem sonhar, su-perar suas frustrações e limites”.

O sociólogo acredita que o gosto pela ficção se explica por-que a realidade humana é mais

dura e decep-cionante e a ficção traz um remédio para esta questão.

“A moc i n ha pobrezinha

pode se casar com o príncipe, pode ser amada pelo príncipe. Isso é ficção. Se voltarmos na Idade Média, o príncipe jamais casa com a mocinha se ela não for da nobreza também. A rea-lidade é diferente”, argumenta.

O estudante Airan Albino concorda. Para ele, a novela pode ser uma fuga da realida-de: “Às vezes, a realidade de al-gumas pessoas não está muito boa e a novela é uma fuga”. Ai-ran completa dizendo que a te-levisão é um momento de lazer, desfrutado pelas pessoas após passar várias horas trabalhando em dois ou três empregos.

Além de remédio para as di-ficuldades do dia a dia, a novela também interfere na identida-de dos brasileiros. De acordo com Baccega, “as telenovelas são produtos culturais de extre-ma importância. Colaboram, in-clusive, para a constituição da identidade nacional”.

Sua vida na tV?

Novelas de maior repercução nas

redes sociais1° Lugar

De acor do com pr ofessores, pesq ui s adores e ad miradores, por não serem fatos reai s, mas sim apenas uma representaç ão da vida em q ue vivemos, as obras de f icç ão desper tam mai s interesse no público, func ionando como uma ferramenta para fug ir da realidade.

■ Felipe Valli ■ edye

“As pessoas podem sonhar, superar suas frustrações

e limites”.

http://telinhadatv.wordpress.com

2° Lugar

3° Lugar

4° Lugar

Porto Alegre, DezemBro De 2012Jornal do curso de Jornalismo do

centro universitário Metodista do iPa

Page 15: Jornal tabloide Universo IPA #6

15Comportamento

o Código Penal brasilei-ro já tem mais de 70 anos. Foi decretado em 1940. Com a mu-

dança de cultura, de hábitos e a modernização da sociedade

– em diversos aspectos -, urge também a alteração do Código. O decreto foi revisado e a pro-posta deve ser votada ainda em 2012 pelo Congresso Nacional.

Algumas modificações pro-postas no novo texto estão cau-sando alvoroço. Entre elas, a mudança no tópico que trata sobre aborto. Pela proposição, o aborto continuaria a ser cri-me, mas com pena reduzida de até cinco para no máximo dois anos de cadeia. E poderia ser admitido em mais casos: se a gravidez for resultado do uso de técnicas de reprodução assisti-da sem consentimento; quando o feto tiver anomalias graves e incuráveis que inviabilizem a vida fora do útero – desde que atestadas por dois médicos; e, o ponto mais polêmico, por vonta-de da mãe, até a 12ª semana de gravidez, se um médico ou psi-cólogo constatar que a mulher não tem condições psicológicas de arcar com a maternidade.

Fernanda Lima, 24, anos, es-tudante universitária, ao desco-brir que estava grávida, decidiu, junto ao companheiro, que iria interromper a gravidez. Por uma série de questões, acabou de-morando demais para procurar uma clínica e quando o fez já estava com cerca de 16 semanas de gestação. Por isso, a clínica negou-se a realizar o procedi-mento. Nanda é mãe de Clara, de um ano, e conta: “Hoje amo a minha filha completamente, indiscutivelmente, mas foi um amor construído, não nascido em mim desde o momento da concepção”. Mas mantém sua posição: “Certamente teria re-alizado aborto se ele fosse le-galizado, mas, principalmente, se fosse provido pelo SUS, pois

a questão financeira é um dos principais condicionantes”.

Nanda não é a única que pen-sa assim. A descriminalização e legalização do aborto é pauta de diversos movimentos mundiais. Militante da causa, a jornalista Flavia Alli, defende a descrimi-nalização e legalização do aborto, mas ressalta que o mesmo “não deve ser a primeira opção a ser trabalhada quando a mulher de-cide. Ela deve ter a opção de es-colher se pode e quer levar a gravidez adiante conforme suas condições econômicas e sociais”.

No outro extremo de pen-samentos está a cristã Vanes-sa Reis, 26 anos, que coloca o aborto no mesmo patamar que o homicídio doloso, pois con-sidera que as únicas coisas que diferenciam o adulto e o feto são tempo e nutrição. Sobre liberda-

de, ela acrescenta: “a mãe é do-na do seu corpo, mas não é dona do corpo de seu filho ou filha. Todas as pessoas que existem e se dizem donas do próprio cor-po o são porque antes seus pais lhes deram o direito de nascer”.

Flavia considera que o de-bate do aborto trata sobre uma necessidade humana colocada na sociedade que vivemos, ao pé que Vanessa acusa de irres-ponsáveis os pais que não que-rem encarregar-se dos filhos, de uma cultura desleixada que nos levou a banalizar o que é importante para esconder infi-delidades, escândalos e vergo-nhas. Tudo isso sendo colocado à frente do direito a viver, que essa menina ou menino tem.

Clarisse*, de 19 anos, é sol-teira e sem filhos, realizou um aborto tomando chá de arruda e

cabacinho, sem orientação, pas-sou o dia em jejum. No mesmo dia, foi atendida em uma mater-nidade pública. Para ela, foi uma péssima experiência, ninguém chegava perto para perguntar se estava bem. Por diversas vezes, ouviu enfermeiras dizerem: ‘na hora que ela fez, não chorou e nem gritou, e a criança que ela carrega nem pode se defender. Deveria aguentar a dor calada’.

“Não nasci para ser mãe e não tenho condições de criar”, re-sume. Sobre a decisão de abor-tar, Clarisse acredita que cada mulher tem um motivo. “Não sinta-se culpada, pois quem vai falar mal nem vai cuidar, nem vai dar de comer. Ninguém sen-te prazer em abortar, sente a ne-cessidade de que precisa fazer”.

O aborto no Brasil é uma realidade clandestina. Segundo

o Ministério da Saúde, uma em cada sete mulheres brasileiras já fez aborto. A operação, ge-ralmente realizada em clínicas sem controle, pode resultar em mortes. As complicações e os procedimentos não acabados le-vam muitas mulheres aos hospi-tais. A médica e diretora da ONG brasileira Ações Afirmativas em Direito e Saúde (AADS), Lei-la Adesse, afirma que, segundo os dados do Banco de Dados do Sistema Único de Saúde (DA-TASUS), os abortamentos in-completos são responsáveis por cerca de 230 mil internações por ano só na rede pública.

Para a obstetra Márcia*, “aborto não deveria ser tema de polícia, porque é uma questão de saúde pública”. Na opinião da médica, o impacto mais grave da criminalização recai sobre as mulheres com pior situação sócio-econômica. “Elas correm maior risco de sofrerem sérias consequências para a saúde ou até a morte decorrente da práti-ca do aborto ilegal, pois nessas condições geralmente é realiza-do de forma insegura e precá-ria”, explica.

* Os nomes foram trocados para preservar as identidades

Aborto é direito ou crime?

➜ Nanda: “amo a minha filha completamente”

Foto: arquivo Pessoal

Pelas modificações propostas no Código Penal, o aborto continuaria a ser crime,mas com pena reduzida de até cinco para no máximo dois anos de cadeia

■ André Freitas ■ marilia Cancelli

o que diz a legislação brasileiraComo é hoje – O aborto só é permitido em casos de risco de vida para a mãe, em

casos de estupro ou de fetos anencéfalos, segundo o Art. 128 do Código Penal - Decreto Lei 2848/40.

Como ficaria – Caso as alterações do Código Penal sejam aprovadas, além do já permitido, passa a admitir se a gravidez for resultado do uso de técnicas de reprodução assistida sem consentimento; quando o feto tiver anomalias graves e incuráveis que inviabilizem a vida fora do útero – desde que atestadas por dois médicos; e por vontade da mãe, até a 12ª semana de gravidez, se um médico ou psicólogo constatar que a mulher não tem condições psicológicas de arcar com a maternidade.

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16 Comportamento

H á muitos anos as pes-soas com deficiência lutam para garantir o direito de viver com

igualdade na sociedade. O es-porte aparece como uma grande opção. A prática de atividade fí-sica por pessoas que têm algum tipo de deficiência, seja ela vi-sual, auditiva, mental ou física, pode proporcionar, dentre os benefícios, a oportunidade de testar limites e potencialidades. Também pode prevenir doenças paralelas à deficiência e promo-ver a integração social do in-divíduo. “Quando temos uma deficiência, em muitos momen-tos nos sentimos bloqueados por nossos limites, mas o esporte nos mostra que eles não são tão graves assim, pois acabamos fa-zendo coisas que nunca imagi-namos que poderíamos fazer”, comenta a estudante de Direito, Rute Mello, portadora de defi-ciência visual, Miss Deficiente Visual Destaque 2012 e pratican-te de barco com vela adaptada.

A escolha de uma modalida-de esportiva pode depender em grande parte das oportunidades que são oferecidas às pessoas com deficiência, de suas limi-tações, da facilidade nos meios de locomoção e de transporte, de profissionais preparados pa-ra atendê-los, entre outros fato-res. A jornalista recém-formada, Daiane Fagundes Bochi, que é cadeirante, encontrou uma al-ternativa para começar a pra-ticar esporte. “Comecei a me interessar quando fiz amizade com o instrutor Anderson Pai-xão, do Iate Clube Guaíba, que trabalha com um projeto de ve-la adaptada. Tive a oportunida-de de andar num bote e poder sentir a sensação de liberdade e emoção, fazendo um esporte que proporciona a melhoria do meu bem estar”.

No aspecto psicológico, o es-porte melhora a autoconfiança e a autoestima, tornando as pes-soas mais otimistas e seguras para alcançarem seus objetivos.

“O esporte é muito importante e acredito que tudo é possível, mesmo dentro das minhas limi-tações, para realizar aquilo que desejo fazer ou praticar”, expli-ca Daiane. Segundo o professor de Educação Física e Fisiotera-pia do IPA, Marcelo Morganti Sant’Anna, “todas as pessoas têm o direito de trabalhar, de ter seu espaço de lazer, de buscar seu desenvolvimento profissio-nal e humano, enfim, de buscar a sua felicidade”. E o esporte pode ser o caminho para isso.

Um exemplo sobre a impor-tância do esporte para as pesso-as com deficiência é o resultado obtido pelo Brasil nas últimas Paralimpíadas, realizadas em Londres. Nos jogos, o país con-seguiu um recorde histórico no quadro geral de medalhas ocu-pando a sétima colocação no ranking mundial e conquistan-do 21 medalhas de ouro, qua-torze de prata, oito de bronze totalizando 43 medalhas no quadro geral.

O professor Marcelo Mor-ganti acredita que o esporte pa-

ralímpico possa crescer muito no Brasil: “o governo federal tem viabilizado recursos fi-nanceiros bem expressivos pa-ra o desenvolvimento do esporte em geral, incluindo o adapta-do. Além disso, as associações de pessoas com deficiência e as federações esportivas estão captando estes recursos atra-vés da elaboração de projetos sociais, divulgando e buscan-do a participação das pessoas

para a prática de modalidades paradesportivas. Acredito que para 2014 o Brasil já terá um aumento expressivo no núme-ro de pessoas com deficiência praticantes de atividade física e esportes”.

Diante disso, pode-se dizer que a inclusão social das pes-soas com deficiência significa torná-las participantes ativos e assegurando o respeito aos seus direitos como cidadãos.

A importância do esporte para pessoas com deficiênciamuitos são os benefícios proporcionados pelo esporte, entre eles a autoestima e a autoconfiança

■ mAteUS Ítor CHArÃo

Foto: divulgação iate cluBe guaiBa

➜ Barco com vela adaptada é usado por pessoas com deficiência praticarem o esporte

➜ O instrutor Anderson Paixão em passeio de bote com Daiane Bochi

➜ Luis Fernando Silveira, Rafael Rossoni, Anderson Paixão, Roni Silva, Alexsandro Bittencourt, Éder Renato e Rafael Pereira Corrza, parceiros no Iate Clube em busca da inclusão

Foto: Mateus Ítor charão

divulgação: iate cluBe guaÍBa

Porto Alegre, DezemBro De 2012Jornal do curso de Jornalismo do

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17esportes

■ roberto Valle

C om a maior profissiona-lização dos clubes de fu-tebol, cresce o número de itens que são levados

em consideração para a prepa-ração dos atletas, um deles é o trabalho psicológico realizado com os jogadores. Grêmio e Internacional utilizam o auxí-lio de psicólogos desde as cate-gorias de base para orientar os jovens dentro e fora de campo, esse auxílio pode ser decisivo para momentos importantes da carreira, como transação envol-vendo grandes valores financei-ros, problemas extra-campo e até mesmo em jogos difíceis.

No Grêmio, há quase dez anos o goleiro Marcelo Grohe recebeu apoio de profissionais especializados, que ficam a dis-posição dos atletas nas divisões de base. O novo camisa um tri-color ressalta a importância des-se trabalho com os garotos. “A competitividade no futebol mo-derno é enorme e trabalhar o as-pecto psicológico é importante. Hoje é importante ter atenção em todas as áreas que envolvem o esporte, e qualquer desequi-líbrio pode fazer a diferença. E falo desequilíbrio dentro e fo-ra de campo”, afirma Grohe. Após a saída de Victor, nego-ciado com o Atlético Mineiro, Marcelo Grohe tornou-se titular absoluto da meta gremista, po-rém o jovem goleiro afirma que desde 2006 vem se preparando para esta oportunidade. “Na fi-nal do Gauchão de 2006, eu ti-nha 19 anos, era muito jovem e estava diante do maior clássico do estado e me preparei muito emocionalmente para os dois jo-gos”, completa o jogador.

Suporte familiar como “fortaleza

mental” No lado colorado, a situa-

ção é a mesma, jovens atletas das categorias de bases rece-bem auxílio constante de um

psicólogo contrato pelo clube. O goleiro Muriel, oriundo da base colorada, destaca a im-portância deste trabalho para os jovens recém chegados ao clube. “Ajuda principalmen-te os mais jovens, alguns que vem de fora e moram, às vezes, na concentração ou com outros companheiros. É uma pessoa que dá um suporte para os ga-rotos entenderem algumas coi-sas, aprenderem a se conhecer para ter um desempenho me-lhor tanto no lado profissional

quanto no lado pessoal”, afir-ma o goleiro.

Muriel já passou por situ-ações adversas na carreira, no começo, considerado uma gran-de promessa, foi emprestado pa-ra vários clubes para adquirir experiência, o último deles a Portuguesa no ano de 2010, re-tornando para o Inter em 2011, quando se firmou como titular da equipe principal. Mas nenhu-ma dessas idas e vindas tirou a vontade de vencer do arquei-ro colorado, que contou com o

apoio da família para superar o seu maior problema até agora na carreira, em 2008, quando um surto de hepatite A conta-minou o Beira-rio e o tirou dos gramados por mais de um mês.

Para o ex-jogador e auxiliar técnico, Emerson da Rosa, o controle emocional é primor-dial na formação de um atleta. Segundo Emerson, os jogado-res em começo de carreira estão muito expostos às “armadilhas” do futebol. O auxiliar gremista afirma também que uma equi-

pe de alto nível deve sempre ter suporte psicológico. “Importan-te o trabalho psicológico para manter o grupo motivado. São muitos compromissos e a par-te psicológica precisa estar pre-sente na hora em que o cansaço físico bater”, enfatiza.

Segundo Muriel, para a sua posição o atleta necessita de um reforço mental, pois qual-quer erro pode ser prejudicial à equipe, e o fator psicológico é que forma um time bem estrutu-rado e vencedor. “Grande parte da força de uma equipe é men-tal. É um jogo coletivo então é importante ter a consciência e a fortaleza mental em campo pa-ra trabalhar como time e ajudar os companheiros. Para o goleiro, que é o meu caso, é também fun-damental porque precisamos es-tar sempre em um nível alto de concentração, já que precisamos estar prontos e preparados para o próximo lance”, finaliza.

Para a psicóloga Ana Hert-zog Ramos, o acompanhamento feito por profissionais da psico-logia com os jovens atletas é es-sencial para orientar e acolher estes jogadores, sendo que mui-tos são garotos de, em média, 13 ou 14 anos, oriundos de famílias humildes. “É importante para fazer com que ele entenda o por-quê de estar ali. Também serve como espaço de escuta, alguns precisam de orientação vocacio-nal, bem como para sentirem-se acolhidos”, constata a psicóloga.

Com a profissionalização ca-da vez mais avançada e atenta aos passos dos futuros craques, Grêmio e Internacional seguem formando jogadores de qualida-de, além de manter o suporte necessário para os atletas pro-fissionais seguirem com um rendimento de alto nível, que poderá render muitos títulos e milhões de reais aos cofres dos clubes. Grandes goleiros e pra-tas da casa, Marcelo Grohe e Muriel são exemplos deste tra-balho psicológico que passa muitas vezes despercebido por milhares de torcedores.

➜ Goleiro Marcelo Grohe: “qualquer desequilíbrio pode fazer a diferença”

o equilíbrio entre o corpo e a menteexperiências em clubes gaúchos como Inter e grêmio demonstrama importância do trabalho psicológico dentro e fora de campo

Fotos: roBerto valle

➜ Muriel conta com o apoio da família para superar desafios que a carreira apresenta

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18 Cultura

■ gisele gonçalves

e ntre os ruídos corriquei-ros do Centro da Capi-tal, um som chama a atenção de quem circu-

la pela movimentada Esquina Democrática. Logo, os olhares procuram encontrar de onde vêm aqueles miados desespe-rados, de um suposto felino em apuros. Em seguida, ouvem-se batidas, precedidas de gritos de um homem, que aparentemente surra seu bichano. Os curiosos aproximam-se, alguns descon-fiados, outros já sorridentes, em um movimento harmônico, se reúnem em círculo, para assis-tirem ao desfecho da história. O que inicialmente parecia uma cena de crueldade contra o ga-tinho, logo se transforma num espetáculo de rua, protagoniza-dos por Feliciano Falcão, vul-go homem do gato, e o próprio felino, ou pelo menos o que se supunha ser um. Adiante, uma melodia disputa a atenção dos andantes do Centro. Não existe letra, somente os sons do vio-lão, pandeiro e de um terceiro instrumento ainda indefinido. A sonoridade desconhecida na-da mais é que o som do atrito dos lábios de um cantor, com a folha de uma árvore. É isso mesmo, José da Costa, ou Zé da Folha, como é artisticamen-te conhecido, produz músicas a partir da folha da árvore de João Bolão, mas garante que al-cança a sonoridade com qual-quer folha.

Artistas como Feliciano Fal-cão e José da Costa, pertencem ao movimento cultural dos ar-tistas de rua. Dois artistas, em meio a uma multidão de tantos outros nomes. Para comprovar tal teoria, basta circular pelos pontos de grande concentração de pessoas, para encontrá-los em plena atividade.

Entretanto não existem da-dos que revelem quantos ar-tistas de rua atuam em Porto Alegre. A Secretaria de Cul-tura da capital, segundo o ges-tor executivo do Pró Cultura

RS, Rafael Balle, não dispõe desse levantamento. “Isso de-penderia da sensibilidade do produtor cultural, responsável pelo cadastro do projeto, pois na inclusão não há o que de-fina o artista como de rua ou não, o que aparece no cadas-tro é a descrição da atividade ou da peça”, argumenta Rafael.

“É uma coisa implícita, pouco objetiva e o sistema não teria como mapear isso, não tem co-mo ter indicadores”.

Artistas urbanos

Feliciano Falcão é natural de Recife, tem 56 anos e atua em Porto Alegre, como o homem do gato desde 1987. Formado em artes cênicas pela Escola de Tea-tro Dirceu de Mattos, no Rio de Janeiro, começa a vida artística na capital fluminense, apresen-tando-se no Largo da Carioca, reduto de artistas no Rio.

“Eu trabalhava na Festa de Nossa Senhora da Penha, fazen-do mágicas, quando de repente eu vi um cara metendo o pau num gato dentro de uma caixa, eu fiquei fascinado”, relata Fe-liciano. “Olhei para o cara e ri com ele”. O artista era Ideníl-son de São Paulo, que contou

com a ajuda de Feliciano para vender seus apitos. “Na terceira apresentação, ele me disse que estava cansado e iria parar. En-tão perguntei: “E se eu fizer um pouquinho?”. Ali começou o ho-mem do gato. Isso ocorreu entre os anos de 1975 e 1976.

Aproximadamente dez anos

após o início do homem do gato, por volta do ano de 1986, que Feliciano chega ao Rio Grande do Sul, onde vive até hoje. O artista mantém-se exclusiva-mente de sua arte, além dos es-petáculos de rua, cada vez mais raros, Feliciano faz shows fe-chados, para empresas, em fei-

ras, eventos e outros, e chega a fazer dez apresentações por mês. A venda dos apitos, que repro-duzem o miado do gato é parte importante de sua renda.

Quando questionado sobre a possibilidade de trocar de pro-fissão, Feliciano explica: “Já fui convidado diversas vezes, mas nenhuma proposta foi tentado-ra e financeiramente à altura do que ganho com meus shows e palestras motivacionais”.

Diferente da posição con-quistada por Feliciano, Zé da folha, com 70 anos, vive das colaborações daqueles que as-sistem as suas apresentações na rua. “Há pouco tempo eu mo-rava nas ruas, hoje moro sozi-nho em uma pensão no Centro”, relata Zé.

O músico profissional co-meçou a tirar o som das folhas com nove anos, em São Valen-tim, sua cidade de origem. Zé da folha interage com o público a partir de suas canções, entre clássicos gaúchos, sertanejos e hinos de times de futebol, es-te último motivo de simultâ-neas vaias e aplausos. Porém, a alegria demonstrada através da música se transforma num olhar triste, quando o assunto é sua vida. Zé desabafa: “Pou-cas pessoas consideram o que faço uma arte, elas não sabem o que é cultura, poucas valori-zam”. Contudo, encara a faci-lidade de tirar som das folhas como um dom divino e, mes-mo com todas as dificuldades, afirma que não troca o que faz por nada.

Centros urbanos viram cenário de apresentações culturais e reúnem artistas de diferentes estilos

Arte de rua: o palco a céu aberto

➜ Homem do gato aproveita evento, como a Expointer 2012, para divulgar seu trabalho

➜ Zé da folha e seus inseparáveis instrumentos

Fotos: gisele gonçalves

Porto Alegre, DezemBro De 2012Jornal do curso de Jornalismo do

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19Cultura

No Brasil, segundo a pesqui-sadora, os indícios de pichação, vêm desde a época da ditadura militar, quando cidadãos des-contentes escreviam palavras de ordem e também letras de músicas para protestarem. As-sim como no país, a pichação em Porto Alegre começa no trans-correr da ditadura militar.

No auge da ditadura militar, em 1972, o então policial civil Sérgio José Toniolo, começa a escrever nos jornais, na colu-na do leitor, cartas dirigidas à segurança pública, contendo duras críticas contra o siste-ma, ao qual ele próprio perten-cia. O conteúdo de suas cartas repercutiu de forma negativa ante seus superiores, que num

primeiro momento aplicam--lhe uma repreensão, seguida por uma detenção no Hospital Espírita psiquiátrico.

Após sucessivas intempéries vividas por Toniolo, que culmi-nam no ano de 1982 com sua candidatura a deputado esta-dual “barrada arbitrariamente”, segundo ele próprio, inicia na capital o que chamou de “picha-ção agressiva”. O precursor da pichação em Porto Alegre passa a pichar frases ofensivas contra a justiça e a espalhar sua assi-natura por toda a cidade.

A história é contada no do-cumentário, Quem é Toniolo?

Para Luiza Abrantes, “To-niolo é sem dúvida um grande marco no grafite da capital”.

o nascimento do grafi-te na idade contempo-rânea ocorre em Nova

Iorque nos anos 70, em áreas como o Bronx e Brooklyn. Ado-lescentes residentes destas áreas passam a escrever seus apeli-dos (tags) e o nome da rua on-de moravam nas paredes. “Era puramente demarcação de terri-tório”, comenta a professora de artes visuais e pesquisadora do grafite, Luiza Abrantes.

O grafite surge de forma paralela ao hip-hop (cultura de periferia), originária dos guetos americanos, que une o RAP (música muito mais fa-lada do que cantada), o break (dança robotizada) e o grafi-te (arte plástica do movimento cultural) “A street art está sem dúvida ligada à cultura do hip-

-hop, ligada à cultura suburba-na”, diz Luiza.

A arte do

➜ Pintura de Basquiat, primeira forma de grafite a ser considerada arte

➜ Grafiteiro Lucas Vernieri

Fotos: Divugalção

A arte de rua, assim como qualquer outra manifestação cultural, é incentivada na capital gaúcha por órgãos ligados à Secretaria Municipal de Cultura ou do Estado. Segundo Rafael Balle, o programa estadual Pró Cultura abrange toda a forma de expressão artística, porém os projetos para serem aprovados precisam ter méritos, relevância cultural e, o principal, público.

“Não adianta ter 1% de demanda e querer 50% do bolo”, compara Rafael. Além de financiar os projetos culturais aprovados, o Pró Cultura RS também oferece aos artistas capacitações gratuitas e oficinas de

qualificação.Na capital as apresentações de artistas

de rua ocorrem em diferentes espaços públicos, sendo que cada local, segundo a sua natureza, é fiscalizado por um órgão do município. “Se a apresentação for numa Praça ou Parque, o agente fiscalizador será a Secretaria do Meio Ambiente do Município (Smam), porém, se o evento não tiver uma grande estrutura, com cenário e sonorização, não é necessária autorização prévia”, exemplifica o coordenador de Manifestações Públicas da Secretaria de Cultura do Município, Silvio Leal.

Incentivos e fiscalização ➜ Toniolo é o precursor do grafite na capital

Porto Alegre, DezemBro De 2012Jornal do curso de Jornalismo do centro universitário Metodista do iPa

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20 Porto Alegre, DezemBro De 2012Jornal do curso de Jornalismo do

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grafiteiros ou pichadores?e xistem duas frentes que se encontram

num centro de polêmica que envolve o movimento do grafite e a manifes-tação através da pichação. O grafite é

conceituado como arte de rua e tem como ob-jetivo enaltecer espaços públicos, tornando-os verdadeiras galerias de arte a céu aberto. Por outro lado, a pichação não passa de poluição visual e vandalismo contra esses mesmos es-paços públicos.

O tema é controverso, e identificar aspec-tos que diferenciem um grafiteiro de um pi-chador não é o objetivo do artista que pertence a esse movimento.

Para Lucas Vernieri ou Lucas Anão, como é conhecido no grafite, é complicado dizer a diferença entre um e outro. “Muitas vezes, o que pensam que é pichação é apenas o início do artista. É a forma dele começar a riscar, buscar sua identidade. Acho que não tem como criminalizar, condenar é muito mais fácil do que trabalhar o problema”, diz Lucas.

O começo de Lucas foi pela pi-chação, em sua adolescência numa época de gangues e torcidas orga-

nizadas. Tempos depois, conheceu o grafite, através do movimento Hip Hop, onde come-çou a grafitar com o objetivo de se tornar um artista. Para Lucas não há distinção entre o grafite e a pichação. “Eu nunca entendo por que separar as duas coisas. Aprendi a me-xer com o spray fazendo pichação, então não gosto de separar e sim de explicar isso tudo”, desabafa Lucas.

Segundo a professora Luiza, o grafite sempre se mostrou à margem da sociedade e também do sistema da arte, mesmo quando o americano Jean-Michel Basquiat, primei-ro artista do grafite a expor em uma galeria de arte, adentrou e ganhou seu espaço nes-se cenário. “Estar à margem não é só não se subordinar às regras do todo, mas também criar as suas próprias regras. Isto fica claro principalmente quando falamos da pichação,

que além de ter suas regras, não é destinada ao público, por isso nem sempre compreende-mos os escritos”. Para a pesquisadora, a ideia do artista de rua é de fato parecer um trans-gressor, e afirma: “a marginalização não me parece um ponto negativo”.

Para Lucas, a questão do vandalismo preci-sa ser estudada e compreendida, pois, segundo ele, “vivemos num mundo onde nos impõem coisas através dos meios de comunicação, e o que levamos ao público nas ruas é livre e isso não tem preço”, acrescenta Lucas.

O tema é polêmico, e a lei independente das opiniões é o que prevalece, e no Brasil, a pichação é considerada vandalismo e cri-me ambiental nos termos do art. 65 da Lei nº 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais). En-tretanto, a lei em 2011 sofre alterações, des-criminaliza o ato de grafitar, desde que a

manifestação artística tenha como objetivo valorizar o patrimônio pú-blico ou privado e, que tenha o con-sentimento do proprietário no caso de bens privados, e a autorização do órgão competente quando referir-se ao bem público.

“Muitas vezes, o que pensam que é pichação é apenas o início do artista. É a forma dele começar a riscar, buscar sua

identidade. Acho que não tem como criminalizar, condenar é muito mais fácil do que trabalhar o problema”, diz Lucas.