centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO PARANÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA ENERGIA ELÉTRICA: UM INDUTOR DE MUDANÇAS NA COMUNIDADE DA VILA DA BARRA DO SUPERAGÜI - ENTORNO DO PARQUE NACIONAL DO SUPERAGÜI - PARANÁ. DAILEY FISCHER Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Tecnologia. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná. Orientadora: Prof. a Ph.D. Líbia Patrícia Peralta Agudelo Co-orientador: Prof. Dr. Ademar Heemann CURITIBA 2004

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Page 1: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO PARANÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA

ENERGIA ELÉTRICA: UM INDUTOR DE MUDANÇAS NA COMUNIDADE DA VILA DA BARRA DO SUPERAGÜI - ENTORNO DO PARQUE NACIONAL DO

SUPERAGÜI - PARANÁ.

DAILEY FISCHER

Dissertação apresentada como requisito parcial para a

obtenção do grau de Mestre em Tecnologia. Programa

de Pós-Graduação em Tecnologia, Centro Federal de

Educação Tecnológica do Paraná.

Orientadora: Prof.a Ph.D. Líbia Patrícia Peralta Agudelo

Co-orientador: Prof. Dr. Ademar Heemann

CURITIBA 2004

Page 2: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

DAILEY FISCHER

ENERGIA ELÉTRICA: UM INDUTOR DE MUDANÇAS NA COMUNIDADE DA VILA DA BARRA DO SUPERAGÜI - ENTORNO DO PARQUE NACIONAL DO

SUPERAGÜI - PARANÁ.

Dissertação apresentada como requisito parcial para a

obtenção do grau de Mestre em Tecnologia. Programa

de Pós-Graduação em Tecnologia, Centro Federal de

Educação Tecnológica do Paraná.

Orientadora: Profª. PhD. Líbia Patrícia Peralta Agudelo

Co-orientador: Prof. Dr. Ademar Heemann

CURITIBA 2004

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F529e Fischer, Dailey Energia elétrica : um indutor de mudanças na comunidade da Vila da Barra do Superagüi - entorno do Parque Nacional do Superagüi - Paraná / Dailey Fischer. – Curitiba : CEFET-PR, 2004. xii, 117 f. : il. ; 30 cm Orientadora : Profª PhD. Líbia Patrícia Peralta Agudelo Co-orientador : Profº Drº Ademar Heemann Dissertação (Mestrado) – CEFET-PR. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia. Curiti- ba, 2004. Bibliografia : f. 99-103

1. Energia elétrica - Aspectos sócio-econômicos - Superagüi, Vila da Barra do (PR). 2. Energia elétrica - Ascpectos culturais - Superagüi, Vila da Barra do (PR). 3. Desenvolvimen- to regional - Superagüi, Vila da Barra do (PR). 4. Cidades e vilas - Melhoramentos públicos

- Aspectos sociais. 5. Comunidades tradicionais - Tecnologia. 6. Tecnologia. 7. Ecoturismo - Paraná. 8. Superagüi,Vila da Barra do (PR). 9. Parque Nacional do Superagüi (PR). I. Agu-

delo, Líbia Patrícia Peralta, orient. II. Heemann, Ademar, co-orient. III. Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná. Curso de Pós-Graduação em Tecnologia. IV. Título. CDD : 333.7932 CDU : 621.3

Page 4: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

Ao que desconheço.

ii

Page 5: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

AGRADECIMENTOS

À Comunidade da Vila da Barra do Superagüi, pela acolhida e presteza no

momento das entrevistas.

A Luiz Fernando Ribeiro, por todo companheirismo, amparo e contribuição

dispensados durante o desenvolvimento desse trabalho.

À Prof.ª Ph.D. Líbia Patrícia Peralta Agudelo, pela paciência no processo de

orientação, pelas contribuições e pela tradução do resumo.

À Prof.ª Dr.ª Maclovia Corrêa da Silva, por me apresentar o mestrado em

Tecnologia do Cefet–PR e pelo incentivo e encorajamento no transcorrer do curso.

Ao Prof. Dr. Ademar Heemann, por todas as dicas dadas durante sua

disciplina e, especialmente, por semear a incerteza.

Ao Dr. Frederico Reichmann Neto, por iniciar os estudos referentes aos

impactos da disponibilização da energia elétrica, abrindo, assim, caminho para a

realização deste trabalho, bem como pelo incentivo para a utilização dos dados

fornecidos pela Copel e pelas bibliografias e dicas.

À Coordenação de Meio Ambiente da Copel, pelos dados fornecidos.

À Prof.ª Dr.ª Serlei Fischer Ranzi, pelas dicas fundamentais para o

andamento e conclusão deste trabalho e por me incentivar sempre, e quando

necessário me empurrar.

A Leosergio Ranzi, pela leitura, revisão e importante contribuição dada para o

fechamento deste trabalho.

À Mariana e Juliana Fischer Mendes, pelo apoio para conseguir várias

bibliografias, e a Eduardo Fischer Ranzi, por ajudar a digitar os dados.

À Teresa Urban, pela compreensão e pelos momentos de discussão a

respeito de alguns dos assuntos deste trabalho.

A Luiz, Maria Alice, Serlei, Leo, Cae, Dudu, Mariana, Juliana, Flávio, Luiza,

Lourdes, Dilson, Sydadão, Sula, Ypoema, e a todos os meus amigos e familiares

que me incentivaram a prosseguir, compreendendo os momentos de abandono.

À Íris Labonde (Dinda), pelo incentivo e a Karina Luiza, pelas consultorias.

A SPVS, pelo empréstimo de bibliografias importantes, em especial à Sueli.

Ao Engenheiro Marco Antônio Biscaia, pelas informações fornecidas e pela

atenção gentilmente dispensada.

iii

Page 6: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

No final, nossa sociedade será definida, não pelo que criamos, mas pelo que nos

recusamos a destruir.

John C. Sawhill (1936-2000) Presidente, The Nature Conservancy, 1990-2000

iv

Page 7: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................ viii

LISTA DE GRÁFICOS ......................................................................................... viii

LISTA DE QUADROS .......................................................................................... viii

LISTA DE TABELAS ............................................................................................. ix

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ................................................................ x

RESUMO ................................................................................................................. xi

ABSTRACT .......................................................................................................... xii

INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 1

1 CONTEXTUALIZAÇÃO TEMÁTICA: ESPAÇO, SUJEITOS E TECNOLOGIA ................................................................................................................................

4

1.1 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ................................................................ 4

1.1.1 As APAs no contexto da Floresta Atlântica........................................... 5 1.1.2 Os Parnas ............................................................................................. 6

1.2 POPULAÇÕES TRADICIONAIS ................................................................... 7

1.2.1 Os Caiçaras .......................................................................................... 9

1.3 ECOTURISMO .............................................................................................. 10

1.4 HOMEM, TÉCNICA, CIÊNCIA E TECNOLOGIA .......................................... 12 1.4.1 E. E., a Passagem da Técnica para a Tecnologia ............................... 13 1.4.2 Tecnologia e as Transformações Sociais ............................................. 14

1.5 RETROSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA DA ENERGIA ELÉTRICA NO PARANÁ ...................................................................

15

1.5.1 A E. E. no Município de Guaraqueçaba ............................................... 19 1.5.2 A E. E. no entorno do PNS ................................................................... 20

2 DESCRIÇÃO DO CONTEXTO GEOGRÁFICO E DA METODOLOGIA UTILIZADA.............................................................................................................

24

2.1 LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO .... 24

2.1.1 O PNS .................................................................................................. 24 2.1.2 A APA Estadual de Guaraqueçaba ...................................................... 26

2.2 AS TÉCNICAS DE PESQUISA ..................................................................... 27 2.2.1 Descrição da Metodologia Adotada no Campo .................................... 27 2.2.2 A Elaboração do Formulário ................................................................. 31

2.3 TABULAÇÃO E TRATAMENTO DOS DADOS DA PESQUISA ................... 34

v

Page 8: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 37 3.1 A PROGRESSÃO DO CONSUMO DE E. E. NOS DOMICÍLIOS DA VILA DA BARRA DO SUPERAGÜI, DE 1998 A 2003 .................................................

37

3.1.1 Ambiente Residencial/Comercial .......................................................... 40 3.1.2 Ambiente Residencial ........................................................................... 42

3.2 O CRESCIMENTO DO NÚMERO DE DOMÍCILIOS NA VILA DA BARRA DO SUPERAGÜI ANTES E DEPOIS DA DISPONIBILIZAÇÃO DA E. E. ..........

43

3.2.1 Número de Domicílios Residenciais e Comerciais na Vila da Barra do Superagüi antes e depois da Disponibilização da E. E. ................................

45

3.2.1.1 As características dos domicílios comerciais antes e depois da disponibilização da E. E. ..........................................................................

47

3.2.1.2 As características dos domicílios residenciais antes e depois da disponibilização da E. E. ..........................................................................

49

3.3 COMPARAÇÃO ENTRE AS CONDIÇÕES HABITACIONAIS DE 18 DOMICÍLIOS DA VILA DA BARRA DO SUPERAGÜI ANTES E DEPOIS DA E. E. .....................................................................................................................

50 3.3.1 Densidade de Moradores por Domicílio e por Dormitório .................... 51 3.3.2 Condições do Saneamento Básico nos Domicílios ............................. 52 3.3.3 Aquisição de Bens Duráveis Básicos .................................................. 53

3.4 A E. E. E O COTIDIANO NA VILA DA BARRA DO SUPERAGÜI ................ 55 3.4.1 As Principais Mudanças Decorrentes do Acesso à Eletricidade .......... 55 3.4.2 O Comércio na Vila depois da Eletricidade .......................................... 57 3.4.3 O Transporte Marítimo ......................................................................... 60 3.4.4 A Saúde na Vila .................................................................................... 62 3.4.5 E. E.: uma Impulsionadora da Ampliação do acesso à Educação? ..... 64 3.4.6 A Preferência por Morar na Ilha ou na Cidade ..................................... 66 3.4.7 A Religiosidade ..................................................................................... 67 3.4.8 Disponibilização da E. E. e a Possibilidade de Incremento das Ações do Associativismo ..........................................................................................

69

3.5 A PERCEPÇÃO DOS MORADORES EM RELAÇÃO ÀS MUDANÇAS PROVENIENTES DA DISPONIBILIZAÇÃO DA E. E. SOBRE O TURISMO LOCAL .................................................................................................................

73 3.5.1 Impactos Socioeconômicos do Turismo ............................................... 73

3.5.1.1 A E. E. como infra-estrutura básica para o turismo ...................... 73 3.5.1.2 Os reflexos do turismo sobre a comunidade ................................ 75 3.5.1.3 A infra-estrutura turística da Vila da Barra do Superagüi ............. 80

3.5.2 Impactos Ambientais do Turismo .......................................................... 86 3.5.2.1 O turismo e o saneamento básico na Vila .................................... 87 3.5.2.2 O turismo e a poluição sonora ...................................................... 89 3.5.2.3 O veranista ................................................................................... 91

3.5.3 A Percepção dos Moradores sobre o PNS ........................................... 92

vi

Page 9: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 96

REFERÊNCIAS ................................................................................................... 99

APÊNDICE .......................................................................................................... 104

ANEXO ................................................................................................................ 111

vii

Page 10: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - LOCALIZAÇÃO DO PNS ................................................................ 21 FIGURA 2 - IMAGEM DE SATÉLITE DO LITORAL NORTE DO PARANÁ ....... 24 FIGURA 3 SENTIDO DA APLICAÇÃO DOS FORMULÁRIOS NA VILA DA

BARRA DO SUPERAGÜI ...............................................................

29 FIGURA 4 - LOCALIZAÇÃO DO CANAL PRETENDIDO LIGANDO O RIO

BOGUAÇU AO RIO DAS PEÇAS ...................................................

84

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 - PROGRESSÃO DO CONSUMO DE E. E. NOS AMBIENTES RESIDENCIAL E COMERCIAL DA VILA DA BARRA DO SUPERAGÜI ................................................................................

39 GRÁFICO 2 - PROGRESSÃO DO CONSUMO DE E. E. NO AMBIENTE

RESIDENCIAL/COMERCIAL DA VILA DA BARRA DO SUPERAGÜI ................................................................................

41 GRÁFICO 3 - PROGRESSÃO DO CONSUMO DE E. E. NOS AMBIENTES

RESIDENCIAIS DA VILA DA BARRA DO SUPERAGÜI .............

43 GRÁFICO 4 - NÚMERO DE DOMICÍLIOS RESIDENCIAIS E COMERCIAIS

EXISTENTES NA BARRA DO SUPERAGÜI, ENTRE 1993 e 2003 .............................................................................................

47 GRÁFICO 5 - NÚMERO DE CÔMODOS NOS DOMICÍLIOS COMERCIAIS

DA VILA DA BARRA DO SUPERAGÜI, ENTRE 1993 E 2003 ....

48 GRÁFICO 6 - NÚMERO DE CÔMODOS NOS DOMICÍLIOS RESIDENCIAIS

DA VILA DA BARRA DO SUPERAGÜI, ENTRE 1993 E 2003 ....

50 GRÁFICO 7 - VARIAÇÃO DO NÚMERO DE ELETRODOMÉSTICOS

BÁSICOS, ENTRE 1993 E 2003 .................................................

53

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - NÚMERO MÉDIO DE PESSOAS POR DOMICÍLIO E DORMITÓRIO ..............................................................................

51

QUADRO 2 - SITUAÇÃO SANITÁRIA DAS MORADIAS .................................. 52

viii

Page 11: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - CONSUMO DE E. E. DO ESTADO DO PARANÁ POR CATEGORIAS - 1961 - 1965 .......................................................

18

TABELA 2 - DEMANDA DE E. E. E N.º DE GERADORES NA BARRA DO SUPERAGÜI EM 1998 ................................................................

23

TABELA 3 - NÚMERO DE ENTREVISTAS REALIZADAS E FORMULÁRIOS RESPONDIDOS ..........................................................................

33

TABELA 4 - VALORES MÉDIOS DE CONSUMO DE E. E. EM KWH ............ 38 TABELA 5 - COMPARAÇÃO ENTRE MÉDIAS AMOSTRAIS DO CONSUMO

DE E. E. .......................................................................................

39 TABELA 6 - NÚMERO DE DOMICÍLIOS EXISTENTES NA BARRA DO

SUPERAGUI, ENTRE 1986 E 2003 ............................................

44 TABELA 7 - NÚMERO DE DOMICÍLIOS RESIDENCIAIS E COMERCIAIS

LEVANTADOS NA BARRA DO SUPERAGÜI, ENTRE 1993 E 2003 .............................................................................................

46 TABELA 8 - A E. E. E AS MUDANÇAS QUE COM ELA VIERAM .................. 56 TABELA 9 - A ELETRICIDADE E O COMÉRCIO NA VILA ............................ 57 TABELA 10 - ONDE SÃO FEITAS AS COMPRAS PELAS FAMÍLIAS ............. 58 TABELA 11 - A DIFERENÇA DO PREÇO DOS MANTIMENTOS ENTRE A

VILA E O CONTINENTE .............................................................

59 TABELA 12 - CULTIVO DE HORTA NO QUINTAL ........................................... 60 TABELA 13 - O TRANSPORTE E O DESLOCAMENTO PARA O MORADOR

......................................................................................................

61 TABELA 14 - O ATENDIMENTO NO POSTO DE SAÚDE ................................ 63 TABELA 15 - MUNICÍPIO DE DESTINO DOS ENFERMOS ............................. 64 TABELA 16 - A EDUCAÇÃO NA VILA .............................................................. 65 TABELA 17 - A PREFERÊNCIA POR MORAR NA ILHA OU NA CIDADE ....... 67 TABELA 18 - RELIGIOSIDADE DOS MORADORES ........................................ 68 TABELA 19 - ASSOCIATIVISMO ...................................................................... 70 TABELA 20 - AUMENTO DO TURISMO EM FUNÇÃO DA E. E. ...................... 74 TABELA 21 - PERCEPÇÃO DA COMUNIDADE COM RELAÇÃO AO

TURISMO ....................................................................................

75 TABELA 22 - A VIDA NA COMUNIDADE E A PRESENÇA DOS TURISTAS

......................................................................................................

76 TABELA 23 - O USO DE DROGAS E ÁLCOOL NA VILA E O TURISMO ........ 78 TABELA 24 - A VILA COM RELAÇÃO À INFRA-ESTRUTURA PARA O

TURISMO E UM NÚMERO LIMITE DE TURISTAS ....................

80 TABELA 25 - O ACESSO À ILHA E O TURISMO ............................................. 85 TABELA 26 - AS AUTORIDADES QUE ATUAM NA ILHA E O TURISMO ....... 86 TABELA 27 - O TURISMO E O AUMENTO DO LIXO NA VILA ........................ 88 TABELA 28 - O AUMENTO DE BARES E RESTAURANTES E O BARULHO

......................................................................................................

90 TABELA 29 - O VERANISTA NA VILA .............................................................. 91 TABELA 30 - A VISÃO DO MORADOR SOBRE O PARQUE NACIONAL DO

SUPERAGÜI ................................................................................

93 TABELA 31 - OS PRÓS E CONTRAS À CRIAÇÃO DE UMA TAXA DE

VISITAÇÃO ..................................................................................

95

ix

Page 12: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AMFORP - American & Foreign Power Company

APA - Área de Proteção Ambiental

C - Domicílio Comercial

CEFET - Centro Federal de Educação Tecnológica

CMA - Coordenação de Meio Ambiente da Companhia Paranaense de Energia

CNAEE - Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica COPEL - Companhia Paranaense de Energia

DAEE - Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado do Paraná

DNPM - Departamento Nacional de Produção Mineral

E. E. - Energia Elétrica

FUPEF - Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná

GLP - Gás Liquefeito de Petróleo

IAP - Instituto Ambiental do Paraná

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPARDES, - Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social

IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas

ONG - Organização Não-Governamental

PARNA - Parque Nacional

PNS - Parque Nacional do Superagüi

PUC-PR - Pontifícia Universidade Católica do Paraná

RP - Domicílio de Residencial Permanente SEED - Secretaria de Educação do Estado do Paraná SNUC - Sistema Nacional de Unidade de Conservação SPVS - Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental SUCAM - Superintendência de Campanhas de Saúde Pública UNESP - Universidade Estadual Paulista

x

Page 13: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

RESUMO

O presente estudo tem como objetivo central identificar se um insumo tecnológico, no caso a energia elétrica, pode vir a acelerar transformações socioeconômicas em pequenas comunidades e, conseqüentemente, ocasionar mudanças nas suas atividades tradicionais. Para tanto, além de entrevistas realizadas em 2003, com os moradores da Vila da Barra do Superagüi, localizada no litoral do Estado do Paraná, Sul do Brasil, foram utilizados dados de uma pesquisa similar realizada em 1998, pela Companhia Paranaense de Energia (Copel), na mesma localidade. Esses dados permitiram a comparação da realidade da Vila em três períodos – 1993, 1998 e 2003. Este estudo é de particular interesse porque a Vila da Barra do Superagüi se encontra no entorno de uma importante unidade de conservação de proteção integral no bioma da Mata Atlântica, o Parque Nacional do Superagüi (PNS). Identificou-se uma pressão sobre esta área por meio de constantes construções e ampliações dos domicílios residenciais e comerciais pelos próprios nativos, com o objetivo de ampliar o turismo, intensificado depois da disponibilização da energia elétrica. O desenvolvimento do turismo na Ilha sem planejamento pode conduzir a comunidade à transformações sociais e econômicas, como por exemplo, a alteração da atual identidade baseada na pesca. Palavras-chave: unidades de conservação; populações tradicionais; energia

elétrica; turismo. Áreas de conhecimento: conservação da natureza;

multidisciplinar / desenvolvimento e meio ambiente; multidisciplinar / desenvolvimento regional; multidisciplinar / tecnologia.

xi

Page 14: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

ABSTRACT

The present study has the objective of investigating if a technological input, in this case, electricity, can stimulate social and economic changes in small traditional communities and consequently, have an effect on their traditional practices. For that, a series of interviews were conducted in the Vila da Barra do Superagüi during 2003, a community located in the coastal region of the State of Paraná, southern Brazil. These were compared with similar data collected in 1998 by the Paraná State Electricity Company (Copel) in the same community, thus allowing the study of the situation of the Vila in three periods, namely 1993, 1998 and 2003. This study is of particular importance because the Vila is located in the buffer area of the National Park of Superagüi (NPS), an important conservation unit of the Atlantic Forest biome. The study identified pressure occurring over the NPS through new residential buildings and the increase of commercial units to serve the tourism that developed after the arrival of electricity. Tourism without adequate planning can cause social and economic unexpected changes such as abandonment of the current economic identity based on traditional fishing. Keywords: conservation units; traditional communities; electricity; tourism. Areas of study: nature conservation; multidisciplinary/ development & environment;

regional development; technology.

xii

Page 15: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

INTRODUÇÃO

O presente estudo tem como objetivo investigar como a chegada de um

insumo tecnológico em comunidades tradicionais pode vir a gerar (ou não)

transformações sociais e mudanças nas suas atividades econômicas.

Esta pesquisa estabelece relações com estudos anteriores (ROCHA, 1997;

COLCHESTER, 2000; DIEGUES; ARRUDA, 2001), nos quais discute-se que

populações tradicionais, ao serem expostas à tecnologia, sofrem mudanças rápidas

que afetam seus modos de vida e as inserem de forma desigual numa economia de

mercado (capítulo 1).

No caso específico, investiga-se os efeitos da disponibilização da energia

elétrica (doravante E. E.) na comunidade da Vila da Barra do Superagüi, localizada

na Ilha Artificial do Superagüi, parte do Complexo Estuarino Lagunar de Iguape –

Cananéia e Paranaguá, litoral do Estado do Paraná, Sul do Brasil.

Este estudo torna-se particularmente relevante devido ao fato da Vila estar

localizada no entorno imediato de uma importante unidade de conservação

brasileira, o Parque Nacional do Superagüi (PNS), o qual, por sua vez, está inserido

na Área de Proteção Ambiental (APA) de Guaraqueçaba, que contém o maior

fragmento contínuo de remanescentes da Floresta Tropical Atlântica (Mata Atlântica)

que ainda restam no território brasileiro (capítulo 2). Sendo assim, deseja-se

investigar a natureza e magnitude das potenciais mudanças advindas da

disponibilização da E. E. e se estas, de alguma forma, poderiam representar uma

ameaça para as relações sociais pré-existentes e/ou para os ecossistemas locais.

Com o intuito de verificar estas mudanças, utilizou-se, nesta pesquisa, um

levantamento feito pela Companhia Paranaense de Energia (Copel), em 1998, o

qual buscava diagnosticar a situação socioeconômica e ambiental da região e

averiguar se a população desejava ter acesso a este serviço. Esses dados,

complementados com a pesquisa realizada em 2003, permitiram uma análise

comparativa das mudanças ocorridas na Vila ao longo de quatro anos de

fornecimento de E. E.

Portanto, partindo-se do pressuposto de que a E. E. representa um marco de

mudanças que afetam a curto prazo o contexto social e econômico, repercutindo no

desenvolvimento da comunidade da Vila da Barra do Superagüi e podendo

Page 16: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

2

potencializar a pressão sobre a área pertencente ao PNS, foram estabelecidos os

seguintes objetivos específicos:

a) buscar elementos que demonstrassem como a disponibilização da E. E. e

seus efeitos podem interferir no sentido de desorganizar algumas atividades

tradicionais;

b) evidenciar de que forma a eletricidade poderia contribuir para o

crescimento econômico da Vila da Barra do Superagüi;

c) verificar como a disponibilização da E. E. pode, indiretamente,

potencializar a pressão sobre a área pertencente ao PNS, ocasionando impactos

ambientais;

d) contribuir para as discussões existentes sobre os efeitos das

transformações socioeconômicas de populações tradicionais no entorno de unidades

de conservação sob o foco da introdução de insumos tecnológicos.

Visando alcançar tais objetivos, realizou-se entrevistas com os moradores da

Vila da Barra do Superagüi, bem como um levantamento de dados secundários,

obtidos por meio de pesquisas realizadas na região. As entrevistas contaram com

questões fechadas e abertas, tendo como base o formulário (anexo) criado e

aplicado em 1998, pela Copel, na referida comunidade, e complementado pela

autora deste trabalho.

A estrutura deste trabalho é composta por quatro capítulos. O primeiro teve

um caráter contextualizador em relação aos temas que apresentam inter-relação

com o problema estudado. Para tanto, de forma breve, mostrou-se como se deu o

surgimento das áreas naturais protegidas e algumas especificidades da legislação

com relação às unidades de conservação. Procurou-se, a seguir, entender a

comunidade de pescadores da Vila da Barra do Superagüi, tomando como

referência o debate sobre as características distintivas das chamadas populações

tradicionais e suas relações com o ambiente em que vivem. Tendo em vista a

hipótese de que a tecnologia provoca modificações em diferentes segmentos da

sociedade, introduziu-se uma discussão sobre o tema, a fim de esclarecer

conceitualmente a relação da E. E. com a tecnologia e seu papel transformador.

No segundo capítulo foi delineada a área de estudo e detalhada a

metodologia adotada para a obtenção e análise dos dados.

Page 17: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

3

No terceiro capítulo investigou-se, prioritariamente, a percepção da

comunidade frente à chegada da E. E. e as principais mudanças dela decorrentes,

que afetaram direta ou indiretamente vários setores da Vila. Examinou-se, ainda, a

progressão do consumo de E. E. nos domicílios da Vila nos quatro anos estudados,

buscando estabelecer relação desta com o crescimento do número de domicílios e

qualidade de vida.

Page 18: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

4

1 CONTEXTUALIZAÇÃO TEMÁTICA: ESPAÇO, SUJEITOS E TECNOLOGIA

1.1 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

As áreas naturais protegidas surgiram em contraposição à destruição

efetuada por diferentes civilizações durante suas trajetórias. O século XIX é o marco

de suas criações e a motivação inicial não estava essencialmente ligada à

conservação da biodiversidade, mas sim à preservação de belezas cênicas. Com o

passar do tempo, pelo mundo, várias reservas isoladas foram criadas e as razões

para a conservação da natureza modificadas.

No Brasil, as primeiras iniciativas para criação de áreas protegidas datam da

segunda metade do século XIX, mas somente em 1937 foi criado o primeiro Parque

Nacional Brasileiro, o Parque Nacional do Itatiaia (MAGNANINI, 2002, p. 153).

Durante muito tempo se utilizou a expressão áreas protegidas como designação dos

espaços destinados à conservação. Mas no final da década de 1970, iniciou-se o

processo de substituição da expressão, considerada muito abrangente, pelo termo

unidade de conservação (MILANO, 2002, p. vii). Entretanto, somente através da Lei

Federal N.º 9985/2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de

Conservação (Snuc), as unidades de conservação tiveram sua conceituação

consolidada para o Brasil (MAGNANINI, 2002, p. 154). Desde então, se passou a

entender por Unidade de Conservação:

espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.1

Ou seja, são áreas cujo objetivo fundamental é a conservação do Patrimônio

Natural e a proteção de porções dos ecossistemas naturais do Brasil.

Por terem propósitos distintos, as unidades de conservação foram divididas

em dois grupos: (1) Unidades de Proteção Integral e (2) Unidades de Uso

Sustentável.

1 BRASIL, 2000, p. 9.

Page 19: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

5

As Unidades de Proteção Integral têm por essência o objetivo de preservar a

natureza, sendo permitido apenas seu uso indireto, ou seja, sem envolver consumo,

coleta, dano ou destruição dos recursos naturais (BRASIL, 2000, p. 10, 15). Em

contrapartida, o intuito básico das Unidades de Uso Sustentável é “compatibilizar a

conservação da natureza com o uso sustentável2 de parcela dos seus recursos

naturais” (BRASIL, 2000, p. 15).

Neste trabalho, serão aprofundados os objetivos de duas categorias de

manejo que integram esses grupos, uma de uso sustentável, as Áreas de Proteção

Ambiental (APAs), e outra de uso indireto, os Parques Nacionais (Parnas).

1.1.1 As APAs no contexto da Floresta Atlântica

As APAs, em geral, abrangem áreas extensas, constituídas por terras

públicas e/ou privadas e com ocupação humana. Segundo o Snuc, os objetivos

básicos dessa categoria são proteger a diversidade biológica, regulamentar a

ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais (BRASIL,

2000, p. 18). No entanto, para Magnanini, a existência das APAs está mais voltada

para o planejamento e licenciamento de uso e de atividades do que para a

conservação propriamente dita (MAGNANINI, 2002, p. 154). Esta observação

procede e é preocupante, principalmente quando cabe a esta categoria o papel de

auxiliar na conservação da maior e mais representativa porção de Floresta Tropical

Atlântica, em seu estado primitivo, de toda a costa brasileira, como é o caso da APA

de Guaraqueçaba (IPARDES, 2001, p. iii).

A Floresta Atlântica é considerada um dos 25 centros de alta biodiversidade

(hotspots) do planeta. MYERS et al. (2000, p. 854), utilizou como critérios para a

escolha desses centros de biodiversidade a alta concentração de espécies, o alto

índice de endemismo (no mínimo 0,5% de plantas vasculares endêmicas) e o baixo

estado de conservação do habitat (com no máximo 30% da cobertura vegetal

original). Atualmente, a área que resta da Floresta Atlântica encontra-se altamente

reduzida e fragmentada, com seus remanescentes florestais localizados,

principalmente, em áreas de difícil acesso. Com a necessidade premente da

2 Uso sustentável é definido pelo Snuc como “exploração do ambiente de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável” (BRASIL, 2000, p. 10).

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6

conservação, manejo e recuperação dos fragmentos que ainda restam, e de seus

ecossistemas associados, as Unidades de Conservação têm papel fundamental na

salvaguarda desse bioma. No entanto, as APAs, unidades de conservação com

características de manejo amplas, não garantem sua conservação.

1.1.2 Os Parnas

Os Parnas, como são uma categoria de manejo mais restritiva, teoricamente

possuem meios legais para uma proteção mais efetiva. No entanto, existem ainda

muitos obstáculos a serem superados, desde a sua criação, regularização fundiária3

e elaboração e implantação dos seus planos de manejo.4 Os Parnas são

constituídos por áreas terrestres e/ou marinhas extensas e têm por objetivo “a

preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza

cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e desenvolvimento de

atividades educativas, lazer e turismo ecológico” (BRASIL, 2000, p. 16). No entanto,

para serem realizadas, as pesquisas científicas precisam ser autorizadas pelo órgão

responsável pela administração da unidade, da mesma maneira que as atividades

que envolvem visitação pública são regulamentadas pelo plano de manejo.

A ocupação humana no interior de Unidades de Proteção Integral é proibida,

assim como o uso direto dos seus recursos naturais. Todavia, no processo de

criação dessas unidades, muitas vezes é necessária a inclusão de territórios já

ocupados, pois as áreas públicas não são suficientes para contemplar as amostras

necessárias dos ecossistemas a serem protegidos (ROCHA, 1997, p. 370). A

existência dessa sobreposição de uma área natural protegida a espaços

tradicionalmente habitados, ou mesmo situados no entorno das unidades criadas,

com freqüência, tem gerado conflitos ambientais e de ordem social (DIEGUES;

NOGARA, 1999; MALDONADO, 1997). Para MILANO (2000, p. 20-21), em muitos

casos, esses conflitos entre as populações residentes e os interesses

conservacionistas da implantação de unidades de conservação são

despropositados. O pesquisador argumenta que pessoas e comunidades de todas

3 Os Parnas são exclusivamente de posse e domínio públicos. Assim as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas. 4 Plano de manejo é o “documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma unidade de conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem residir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade” (BRASIL, 2000, p. 10-11).

Page 21: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

7

as origens e índoles são sistematicamente deslocadas de suas terras originais, em

razão de grandes e destrutivos empreendimentos econômicos. No entanto, nesses

casos, não há uma disposição tão vigorosa por parte dos defensores da

permanência de tais populações em suas áreas quanto a que acontece quando se

trata da criação de unidades de conservação.

Existe uma ampla discussão sobre este tema envolvendo cientistas de

diferentes áreas, principalmente no que concerne ao papel e ao direito sobre a terra

das populações ou comunidades chamadas de tradicionais. Uma vez que as

análises realizadas neste trabalho envolvem uma população tradicional, que reside

no entorno de um Parna, será buscado, a seguir, entender melhor as características

dessas populações.

1.2 POPULAÇÕES TRADICIONAIS

Há uma dificuldade conceitual mundial em relação ao termo “população

tradicional” ou “nativa”5 (COLCHESTER, 2000, p. 230-231; DIEGUES; ARRUDA,

2001, p. 23). No Brasil, pelo menos no que se refere a populações tradicionais

indígenas, existe um consenso, pelo seu reconhecimento como grupos étnicos

(DIEGUES; ARRUDA, 2001, p. 23). Todavia, existe no país uma diversidade de

populações ou comunidades intituladas de “tradicionais” (não indígenas), entre elas,

ribeirinhos, seringueiros, quilombolas, sitiantes e roceiros, caiçaras e outras

variantes.

DIEGUES, um dos maiores defensores dos direitos das populações

tradicionais do Brasil, e NOGARA (1999, p. 81-82) enumeraram uma série de

características que distinguem essas comunidades, sendo elas: a) dependência e até simbiose com a natureza, os ciclos naturais e os recursos naturais renováveis a partir do qual se constrói um “modo de vida”;

5 O termo “tribal peoples”, foi utilizado pelo Banco Mundial por quase uma década para designar povos nativos e era baseado principalmente nas condições de vida dos povos indígenas amazônicos. Uma nova definição, mais ampla, substituiu, na década de 1990, o termo “povos tribais” por “povos nativos ou tradicionais” (indigenous peoples) (COLCHESTER, 2000, p. 230; DIEGUES; ARRUDA, 2001, p. 23).

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8

b) conhecimento aprofundado da natureza e de seus ciclos que se reflete na elaboração de estratégias de uso e de manejo dos recursos naturais. Esse conhecimento é transferido de geração em geração por via oral; c) noção de “território” ou espaço onde o grupo social se reproduz econômica e socialmente; d) moradia e ocupação desse “território” por várias gerações, ainda que alguns membros individuais possam ter se deslocado para os centros urbanos e voltado para a terra de seus antepassados; e) importância das atividades de subsistência, ainda que a produção de “mercadorias” possa estar mais ou menos desenvolvida, o que implica uma relação com o mercado; f) reduzida acumulação de capital; g) importância dada à unidade familiar, doméstica ou comunal e às relações de parentesco ou compadrio para o exercício das atividades econômicas, sociais e culturais; h) importância das simbologias, mitos e rituais associados à caça, à pesca e atividades extrativistas; i) a tecnologia utilizada é relativamente simples, de impacto limitado sobre o meio ambiente. Há uma reduzida divisão técnica e social do trabalho, sobressaindo o artesanal, cujo produtor (e sua família) domina o processo de trabalho até o produto final; j) fraco poder político, que em geral reside com os grupos de poder dos centros urbanos; l) auto-identificação ou identificação pelos outros de se pertencer a uma cultura distinta das outras.

Todavia, para os autores, além do modo de vida das comunidades, uma das

principais características que as define como tradicionais é o reconhecimento do

pertencimento a um grupo social. Esse “auto-reconhecimento” pode ser entendido,

em alguns casos, em parte, como uma resposta aos conflitos do contato com a

sociedade urbano-industrial (DIEGUES; NOGARA, 1999, p. 82). Este é um aspecto

positivo, uma vez que leva as comunidades a se perceberem como tal, podendo

distinguir suas características culturais próprias, se organizarem e, quem sabe, se

protegerem de uma possível homogeneização sociocultural. Em contrapartida,

muitos grupos marginais e etnicamente distintos têm se autodeterminado

“tradicionais” na esperança de que essa denominação lhes garanta alguns

benefícios, como por exemplo, o direito a suas terras (COLCHESTER, 2000, p. 231).

Além de problemas relacionados com eventuais abusos do termo “tradicional”

por comunidades que não se enquadrariam nesta categoria, existe ainda a questão

da descaracterização socioeconômico-cultural das populações tradicionais

“autênticas”. Essas comunidades não são imutáveis e o contato com a moderna

tecnologia muitas vezes desencadeia os processos de mudanças. Para DIEGUES e

ARRUDA (2001, p. 18), o que diferencia as transformações sociais das comunidades

tradicionais, daquelas urbano-industriais, é o ritmo mais lento com que elas ocorrem

nas primeiras. Mas segundo ROCHA (1997, p. 375), a crescente exposição das

populações tradicionais à moderna tecnologia está mudando rapidamente seu modo

Page 23: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

9

de vida, através de uma difícil transição de uma economia de subsistência para uma

economia de mercado.

Na visão do Ibama,6 as populações tradicionais não são sinônimo de

populações atrasadas, refratárias ao progresso ou à modernização, podendo ser tão

modernas quanto populações urbanas, pois o que interessa é a sua relação

conservacionista com o meio ambiente. Contudo, segundo COLCHESTER (2000, p.

239), as rápidas mudanças pelas quais vêm passando as sociedades tradicionais,

em quase todos os lugares, acabam gerando incerteza com relação à manutenção

das suas relações não destrutivas com o ambiente.

O tema populações tradicionais é muito polêmico, a começar pela definição

do termo, passando pela sua relação com o ambiente no passado, presente e futuro,

e, finalmente chegando, mas não findando, nos conflitos pelo direito a terra e ao uso

dos recursos naturais por comunidades que tiveram suas áreas sobrepostas ou

localizadas nos arredores de unidades de conservação de proteção integral. No

entanto, alguns fatos são inegáveis. Não dá para afirmar, por exemplo, que as

populações tradicionais, indígenas ou não indígenas, em todos os lugares, mantêm

uma relação não depredatória com o ambiente, assim como crer que as relações

“equilibradas” com o ambiente, caso existam, sejam mantidas mesmo com a

sucessão de transformações socioeconômico-culturais que podem estar ocorrendo

nestas comunidades.

Em muitos momentos, fatores políticos, sociais e econômicos, que envolvem

as diferentes esferas do poder público, muito mais que as questões ligadas à

conservação da natureza, é que acabam por levar algumas comunidades

tradicionais a uma certa marginalização e desvalorização da sua cultura, como

aconteceu com algumas populações caiçaras.

1.2.1 Os Caiçaras

Ao longo do litoral dos Estados de São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro,

existem comunidades cuja cultura e modo de vida as diferenciam das tradicionais do

interior desses estados. Por isso, elas têm uma denominação própria, sendo

chamadas de caiçaras (DIEGUES, 1988, p. 9).

6 Citação retirada da página do Ibama na internet, sem data e autor. Ver referências.

Page 24: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

10

Os caiçaras são descentes de índios e de colonizadores europeus e vivem na

região da Mata Atlântica e ecossistemas associados. Uma característica importante

do modo de vida e subsistência dessas populações é o uso de recursos naturais

(HANAZAKI, 2001, p. 1). Alguns trabalhos recentes têm se referido aos caiçaras

“antigos” como pescadores, sendo a agricultura considerada apenas uma atividade

suplementar para sua subsistência e economia (ADAMS, 2000, p. 152). Todavia,

para ADAMS (2000, p. 154),

as populações caiçaras eram constituídas, no passado, primordialmente por lavradores-pescadores, com raras exceções em comunidades dependentes essencialmente da pesca. Após a introdução do cerco e do barco a motor, em meados do século XX, essas comunidades passaram a dedicar uma parte cada vez maior de seu tempo às atividades de pesca, em detrimento à lavoura.

Após passar por diferentes ciclos econômicos, a economia caiçara,

atualmente, está baseada na pesca e no turismo (ADAMS, 2000, p. 157). Esse

último tem tido, em vários lugares, uma série de conseqüências negativas sobre a

cultura e a sociedade caiçara, assim como sobre o ambiente em que vivem. De

acordo com LUCHIARI (1997, p. 61), os caiçaras, após terem permanecido no

passado à mercê da economia colonial, estão sendo subjugados, no período

contemporâneo, pelo setor turístico. Em contraposição a esse turismo depredatório,

há o chamado ecoturismo, que pode vir a ser uma alternativa para a manutenção do

ambiente e da cultura de algumas comunidades tradicionais, tema discutido a seguir.

1.3 ECOTURISMO

São muitos e variáveis os conceitos e definições de ecoturismo encontrados

na literatura especializada. Segundo PIRES (1998, p. 86), é consenso entre os

principais envolvidos com o tema, que não existe ainda uma definição ou conceito

universalmente aceito por todos os setores, com interesse na atividade. Já

Ruschmann aponta como um dos conceitos mais aceitos, apesar das discussões

sobre o termo, o proposto pela Ecotourism Society.7 Segundo esta organização,

ecoturismo pode ser definido como “as viagens responsáveis a áreas naturais,

7 Organização considerada uma referência internacional na discussão sobre o ecoturismo.

Page 25: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

11

visando preservar o meio ambiente e promover o bem-estar da população local”

(LINDBERG; HAWKINS, 1993, apud RUSCHMANN, 2000, p. 84).

Ao analisar os conceitos e definições de ecoturismo, emitidos tanto pela

academia, quanto por consultores da área, PIRES (1998, p. 81) detectou como

aspectos recorrentes:

- a ênfase na natureza, na história natural e nas culturas autóctones dos destinos caracterizados pela sua originalidade e autenticidade; - a preocupação com os impactos sócio-ambientais da atividade nos destinos e com a sustentabilidade dos recursos utilizados; - a prioridade à geração de benefícios advindos da atividade para as comunidades locais e preocupação com o seu bem estar; - o apoio e engajamento nas ações de desenvolvimento conservacionista junto aos destinos; - a opção pelo desfrute, conhecimento e educação sobre os ambientes visitados.

Distingue-se, dentro dos conceitos analisados por Pires, assim como no

conceito proposto pela Ecotourism Society, uma grande preocupação com o meio

natural, mas também uma preocupação com as comunidades locais.

No entanto, o que se tem observado na prática, em muitos locais, é o uso do

termo ecoturismo como uma estratégia de mercado, colocando tanto as áreas

naturais, quanto a população local, em segundo plano frente aos interesses

econômicos. Em alguns casos, as próprias populações são seduzidas pelo retorno

econômico rápido e acabam por abrir as portas para a descaracterização cultural e

do ambiente que as cerca.

Como o ecoturismo ainda está em estágio experimental, existem relatos de

fracassos e sucessos de projetos realizados em áreas naturais protegidas

espalhadas pelo mundo (HORWICH et al., 2002, p. 275). Ainda há um caminho

longo a ser percorrido para de fato se alcançar os pressupostos do ecoturismo. No

Brasil, tem-se alguns trabalhos, dentre eles os realizados por SERRANO (1997),

LIMA (2000), SILVA (2002) e PRADO (2003), que mostram um pretenso ecoturismo

desenvolvido em alguns locais, que acaba por se desencontrar dos objetivos da

conservação da natureza, uma vez que a preocupação com os impactos ambientais

e sociais, próprios do ecoturismo, não é convertida à prática.

Segundo NIEFER (2002, p. 11), o ecoturismo é a forma ideal de turismo a ser

praticada em unidades de conservação, mesmo que ainda estejamos longe de

alcançar todos os seus objetivos. Talvez, um dos caminhos para encurtar a distância

Page 26: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

12

entre o ecoturismo e sua prática autêntica, seja através do planejamento sério do

desenvolvimento da atividade turística local. Para RUSCHMANN (2001, p. 84),

no turismo, o plano de desenvolvimento constitui o instrumento fundamental na determinação e seleção das prioridades para a evolução harmoniosa da atividade, determinando suas dimensões ideais, para que, a partir daí, possa-se estimular, regular ou restringir sua evolução.

Como Ruschmann, existem vários outros autores enfocando a necessidade

do planejamento turístico. No entanto, PRADO (2003, p. 206) faz uma crítica a

muitos desses estudos, pois a maioria deles parte da premissa de que essa

atividade ainda é incipiente nas localidades receptoras. Mas, na maioria dos casos, a

realidade é outra, e muitos dos impactos negativos inerentes ao turismo já estão em

curso.

Na comunidade tradicional caiçara que habita a Vila da Barra do Superagüi,

local do presente estudo, o turismo está começando a se desenvolver, mas em ritmo

acelerado e, por enquanto, sem planejamento.

Sendo que o presente estudo tem como objetivo investigar como a chegada

de um insumo tecnológico em comunidades chamadas tradicionais pode vir a gerar

transformações, considera-se importante realizar uma discussão relativa à E. E.

enquanto tecnologia e resgatar o processo de inserção da eletricidade na sociedade

paranaense.

1.4 HOMEM, TÉCNICA, CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Desde que a técnica faz parte da história do homem, novas formas de

interagir com o ambiente se reproduziram. Com a sistematização do conhecimento,

e conseqüente afloramento da ciência moderna, instaura-se a tecnologia, entendida,

então, “como a solução de problemas técnicos por meio de teorias, métodos e

processos científicos” (VARGAS, 1994, p. 179). Inicialmente, a ciência teórica

procurava explicar os resultados da técnica; a termodinâmica, por exemplo, veio a

explicar o funcionamento das máquinas a vapor. Mas essa relação se inverte

quando iniciam-se as descobertas no campo da eletricidade e as máquinas elétricas

começam a ser feitas com base em teorias científicas. Contudo, somente depois da

Segunda Guerra Mundial houve uma maior aceitação de que estudos científicos

Page 27: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

13

poderiam contribuir para as realizações técnicas, sendo, a partir daí, estabelecida a

importância da tecnologia na sociedade industrial (VARGAS, 1994, p. 179). Passa-

se, então, a diferenciar a técnica da tecnologia. Para GAMA (1994, p. 51), a

tecnologia é a “sistematização científica dos conhecimentos relacionados com as

técnicas. Isso quer dizer que tecnologia não se confunde com técnica”. Por outro

lado, VARGAS (1994, p. 213) tem uma posição diferenciada para essa discussão.

Tecnologia para ele é “o estudo ou tratado das aplicações de métodos, teorias,

experiências e conclusões das ciências ao conhecimento dos materiais e processos

utilizados pela técnica”.

Enquanto Gama e Vargas buscaram na história suas respostas, Castells

seguiu as vias da Sociologia para definir tecnologia como “o uso de conhecimentos

científicos para especificar as vias de se fazerem as coisas de uma maneira

reproduzível” (2002, p. 67).

Como o trabalho proposto nessa pesquisa é verificar o caráter socioambiental

da disponibilização da E. E. na Vila da Barra do Superagüi, a definição de Castells,

Gama e Vargas, vem apoiar teoricamente as análises dos impactos trazidos pela

modernidade, que investe no aperfeiçoamento das tecnologias via pesquisas

científicas, reproduzidas na geração de E. E. para comunidades em diferentes

localidades. A própria forma como a ilha recebe a E. E. implicou em altos

investimentos tecnológicos.

Como os trabalhos que discutem a questão da E. E., geralmente não

distinguem claramente os termos técnica e tecnologia, procurar-se-á definir qual

conceito será utilizado neste trabalho.

1.4.1 E. E., a Passagem da Técnica para a Tecnologia

Uma série de experiências realizadas por cientistas e pesquisadores leigos,

durante o século XVIII, marcou os avanços técnicos, que culminaram, mais de meio

século depois, num novo ramo industrial – a indústria de eletricidade. A viabilização

da eletricidade foi progressiva, tendo seu início nas comunicações, depois na

metalurgia e na indústria química leve, e, por último, na iluminação (UFPR, 1994, p.

17-18; HÉMERY et al., 1993, p. 180).

A E. E., hoje distribuída nos ambientes domiciliares residenciais e comerciais,

que faz parte do nosso cotidiano, resultou da montagem de várias peças de um

Page 28: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

14

enorme quebra-cabeça durante a segunda metade do século XIX. Para alguns

autores, entre eles Koyré, o desenvolvimento da eletricidade seria um dos marcos

responsáveis por distinguir a técnica da tecnologia (KOYRÉ apud GAMA, 1987, p.

209; VARGAS, 1994, p. 179), todavia, o autor não apresenta esta discussão. Já

DIAS JÚNIOR e PENTEADO JÚNIOR (1994, p. 179-180) se referem à eletricidade

como uma técnica, considerando sua aplicação produtiva como um dos grandes

fatores de transformação tecnológica no mundo contemporâneo, considerando ainda

que dentre os avanços técnicos do século XIX, ela é um verdadeiro ícone da

modernidade, sinônimo de civilização e progresso.

Neste trabalho, a E. E. será tratada como tecnologia, pois é entendida aqui

como resultante de um conhecimento científico, que envolve o estudo dos

processos, métodos e conclusões que nos levam a analisar a pertinência deste

insumo dentro de um contexto social. Ainda hoje, suas formas de geração,

distribuição e transmissão são alvo de constante aprimoramento tecnológico.

1.4.2 Tecnologia e as Transformações Sociais

A tecnologia tem grande poder transformador, uma vez que seu campo de

influência permeia as diferentes dimensões da sociedade. No caso da eletricidade,

pode-se afirmar que o processo de modernização e as transformações

socioeconômicas do Brasil, ocorridas a partir da segunda metade do século XIX,

tiveram uma relação direta com o desenvolvimento das empresas geradoras e

distribuidoras de E. E. (DIAS JÚNIOR; PENTEADO JÚNIOR, 1994, p. 247).

Atualmente, no Brasil, segundo MAGALHÃES (1994, p. 369), “há um altíssimo ônus

social associado à má alimentação do povo, à pobreza, à ignorância e a baixas

taxas de consumo e crescimento energético”. Apesar do autor extrapolar a análise

para outras fontes energéticas além da eletricidade, ele afirma que a “concentração

de renda é indissociável da concentração de energia nas classes mais favorecidas”

(p. 370).

A eletricidade é um produto tecnológico particular, pois dela depende a

grande maioria dos novos artefatos tecnológicos existentes no mercado. Ela não é

uma tecnologia nova, mas com ela vem a possibilidade de acesso à técnicas e

tecnologias capazes de alterar drasticamente os estilos de vida, com mudanças nos

hábitos, nas prioridades, nos comportamentos e valores, já que possibilitam o

Page 29: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

15

contato com um mundo globalizado. Para CASTELLS (2002, p. 43), “a tecnologia

não determina a sociedade”, pois “a tecnologia é a sociedade, e a sociedade não

pode ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecnológicas”.

A partir dessa perspectiva, procurou-se entender, em linhas gerais, como se

deu o processo de incorporação da eletricidade no Estado do Paraná, e,

particularmente, no Município de Guaraqueçaba e na Vila da Barra do Superagüi.

1.5 RETROSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA DA E. E. NO

PARANÁ

A E. E. chegou no Paraná primeiramente na capital, em 1889, produzida pela

Usina Termelétrica Curitiba, também conhecida como Capanema. Contudo, o

serviço de iluminação elétrica pública e residencial de Curitiba teve início apenas

três anos depois, por iniciativa da Companhia de Água e Luz do Estado de São

Paulo. O serviço de iluminação instalado pela companhia paulista buscou sanar a

insuficiência e a precariedade no fornecimento de luz à capital. O problema não foi

solucionado nem mesmo com a avocação feita em 1898, pelo empresário José

Hauer, da concessão do serviço de iluminação e da compra da Usina de Capanema,

pela sua empresa (UFPR, 1994, p. 41-42).

Cidades como Paranaguá, Ponta Grossa e Guarapuava, logo começaram a

contar com serviços semelhantes por meio da instalação de usinas isoladas,

principalmente pela iniciativa de empresários locais (SANTOS, 2002, p. 19).

Inicialmente, a E. E. produzida era consumida, geralmente, por um único município,

atendendo além da iluminação pública, as indústrias e algumas residências (UFPR,

1994, p. 44).

Com o passar do tempo, o potencial da nova tecnologia foi despertando o

interesse de grandes empresas, inclusive as estrangeiras, que tentavam

monopolizar o setor. Em 1910, a Empresa de Eletricidade de Curitiba foi comprada

pela The South Brazilian Railways Company Limited, dos Estados Unidos e, na

década de 20, vendida para o grupo American & Foreign Power Company (Amforp),

também norte-americano, passando a se chamar Companhia de Luz e Força do

Paraná. Ao término da década de 1920, as principais cidades do Paraná, Santa

Catarina e Rio Grande do Sul possuíam E. E. No Paraná e no Rio Grande do Sul,

suas principais fontes geradoras foram as usinas termelétricas, mas nas pequenas

Page 30: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

16

cidades as iniciativas locais voltaram-se à instalação de locomóveis, de pequenas

hidrelétricas e de geradores a óleo combustível (SANTOS, 2002, p. 23-26).

Nos primeiros anos da República, o sistema de distribuição da E. E. ainda era

local, limitado e deficiente, com cortes freqüentes, dando origem a inúmeras

reclamações às empresas e críticas ao governo. Esse clima de insatisfação

propiciou a discussão sobre a necessidade de uma regulamentação para o setor.

Somente com a posse de Getúlio Vargas é que esse processo teve início no âmbito

federal. Em 1933 foi criado o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM),

contando com uma Divisão de Água, concebida para tratar dos assuntos

concernentes a E. E. Já em 1934, foi elaborado o Código das Águas, que definiu

regras para as empresas hidrelétricas e, na década de 1940, instalado o Conselho

Nacional de Águas e Energia Elétrica (CNAEE) (SANTOS, 2002, p. 26).

A partir da década de 1930, a demanda por E. E. foi progressiva, pois sua

utilização deixou de se limitar essencialmente à iluminação pública, passando a ser

empregada na indústria e em outros usos, à medida que foram ocorrendo

aperfeiçoamentos e avanços tecnológicos da sua aplicação. Entretanto, somente em

1945, após o fim da Segunda Guerra Mundial, sua utilização como força motriz

ultrapassou sua destinação para a iluminação pública e particular (UFPR, 1994, p.

51).

Com base no Plano Nacional de Eletrificação, proposto pelo Conselho

Nacional de Comércio Exterior, o recém criado Departamento de Águas e Energia

Elétrica (DAEE) do Estado propôs, em 1948, o Plano Hidrelétrico Paranaense, que

visava a realização de um conjunto de obras em duas etapas. As maiores e mais

potentes usinas se destinavam ao litoral, para o atendimento de seus municípios e

de Curitiba.

A sucessão de Moysés Lupion (1947-1950) por Bento Munhoz da Rocha

garantiu, inicialmente, a seqüência do plano original. Somente três anos depois

houve a primeira reformulação relevante no plano, que passou a ter como prioridade

atender regiões de grande demanda energética, em detrimento dos pequenos

centros de consumo. No mesmo ano, o governo Vargas criou o Fundo Federal de

Eletrificação, que permitiu a obtenção de recursos para viabilização das novas

centrais geradoras hidrelétricas do Estado e também o surgimento ou a

consolidação de várias empresas estatais. Dessa forma, em 1954, surge a Copel –

Page 31: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

17

chamada então de Companhia Paranaense de Energia Elétrica (UFPR, 1994, p. 78-

104).

Em 1956, Lupion retornou ao governo do Estado e a Copel passou a

responder pelas grandes usinas, enquanto o DAEE passou a administrar e construir

as de pequeno porte. Obedecendo a nova divisão, coube à Copel levar adiante o

projeto da usina de Capivari-Cachoeira, da usina Itararé e encampar a usina de

Marumbi. Contudo, em 1959, a Copel recebeu concessão para o aproveitamento e

distribuição de energia hidrelétrica em vários municípios do interior e do litoral, com a

justificativa de que eles estavam na zona de influência dos futuros grandes sistemas

hidrelétricos do Estado. Entre os municípios do litoral a serem assumidos pela Copel

estavam Paranaguá, Guaratuba, Morretes, Antonina e Guaraqueçaba (UFPR, 1994,

p. 105-106).

Nessa época, a energia produzida pela Copel ainda era insuficiente e sua

produção precária, estando 95% dela apoiada em geradores diesel-elétricos (UFPR,

1994, p. 127).

A complexidade crescente das questões que envolviam o setor elétrico

culminou, em 1960, na criação do Ministério de Minas e Energia e, dois anos depois,

na criação da Eletrobrás.

No Paraná, em 1960, assume o governo Ney Braga, que em 1961, com base

em novos estudos, adotou um novo plano de eletrificação para o Estado. Ao final de

seu mandato, a potência instalada do estado passou de 128.183 kW para 221.956

kW, dando-se um salto significativo na produção (UFPR, 1994, p. 107) e um

aumento considerável do consumo, principalmente o industrial (tabela 1). Mas

somente com a inauguração da Hidrelétrica Capivari-Cachoeira em 1971, o Paraná

deu um passo fundamental na constituição da infra-estrutura indispensável para a

aceleração do seu desenvolvimento, podendo atender em larga escala a demanda

por energia existente (UFPR, 1994, p. 137).

Page 32: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

18

TABELA 1 - CONSUMO DE E. E. DO ESTADO DO PARANÁ POR CATEGORIAS 1961 - 1965

CONSUMO – 103 kWh

Residencial Comercial Industrial

Iluminação pública e poderes públicos

Rural Outros consu-

mos Total kWh/

Hab.

População do Estado

(Hab.)

1961 150.657 94.387 346.196 51.901 - 16.632 659.773 144 4.581.000

1962 164.476 107.009 373.443 54.932 - 20.591 720.451 147 4.905.000

1963 179.310 126.623 451.087 64.527 - 23.271 844.818 161 5.253.000

1964 196.143 130.396 551.672 72.157 - 26.810 977.178 174 5.625.000

1965 198.494 134.456 565.490 75.739 25.723 59.086 1.058.990 179 6.024.000

FONTE: Copel / DAEE

O processo de encampação das empresas de energia que atendiam o Estado

se intensificou entre os anos de 1971 e 1974. Assim, nesse período, o Paraná

assumiu empresas como a Hidrelétrica Vale do Ivaí (1972); a Empresa de

Eletricidade Alexandre Schelemm, a Companhia Prada de Eletricidade e a

Companhia Força e Luz do Paraná (1973); e a Empresa Elétrica de Londrina S. A.

(1974) (UFPR, 1994, p. 147).

Em 1975, a Copel iniciou as obras de construção da Usina Hidrelétrica Foz do

Areia. Na década de 1980, além da inauguração desta usina, teve início o projeto da

Usina Hidrelétrica de Segredo e obteve-se a concessão para a construção da Usina

Hidrelétrica de Salto Caxias (UFPR, 1994, p. 150).

No final da década de 1970 e início da década de 1980, através do Programa

Especial de Eletrificação Rural, a Copel expandiu ainda mais suas áreas de atuação.

Contudo, em 1983, grandes enchentes assolaram o Paraná, ocasionando enormes

prejuízos financeiros à empresa. A crise local, associada à crise econômica na qual

o país se encontrava mergulhado, levou a empresa a enfrentar sérias dificuldades.

Mesmo assim, em meados da década de 1980, surge o “Clic Rural”, um novo

programa de eletrificação rural, que mesmo com a estiagem ocorrida no período

continuou a ser implantado nas áreas rurais do Estado. Com o sucesso do “Clic

Rural” surge o programa “Clic Urbano”, que estendeu o fornecimento de E. E. às

periferias das grandes cidades (UFPR, 1994, p. 149-161).

Page 33: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

19

Em 1990, apesar dos problemas financeiros enfrentados e das dificuldades

para levar adiante as obras da Usina Hidrelétrica de Segredo, os programas de

eletrificação rural e urbana, então chamados de “Força Rural” e “Força Comunitária”,

ganharam novas metas. O primeiro teve como prioridade as pequenas propriedades,

buscando apoiar a produção de hortifrutigranjeiros e a instalação de agroindústrias.

O segundo, assim como seu antecessor, o “Clic Urbano”, visou atender as periferias

das cidades, abrangendo também favelas e pequenas localidades (UFPR, 1994, p.

168).

A operacionalização de Foz do Areia na década de 80 e o desenvolvimento

de uma política de distribuição energética urbana e rural em acordo com o

desenvolvimento dos planos federais, garantiram o avanço da política energética no

Paraná (UFPR, 1994, p. 153). Mas a consolidação da Copel no setor elétrico

nacional ocorreu com a inauguração da Usina Governador Ney Aminthas de Barros

Braga (Segredo), em 1992, e com as obras de construção da Usina de Salto Caxias,

três anos depois.

1.5.1 A E. E. no Município de Guaraqueçaba

Dados esparsos colhidos em documentos do DAEE, fornecidos pela Copel,

indicam que o município de Guaraqueçaba veio a dispor de E. E. em 1952, sendo a

concessionária a própria Prefeitura Municipal. A empresa responsável pelo

fornecimento da E. E. para a cidade era a Dr. Oscar Lopes Munhoz, sendo a

potência instalada, de origem térmica, de 37 kW.

A Copel, durante o governo Lupion, era responsável somente pelas usinas de

grande porte; entretanto, em 1959, recebeu concessão para atuar em vários

municípios do litoral, entre eles Guaraqueçaba. Contudo, um ano depois, foi

instituído o Governo Ney Braga e, em 1961, criado outro plano de eletrificação para

o Estado, com novas prioridades.

Entre os anos de 1971 e 1975, o Paraná teve três governadores diferentes,

ocorrendo, nesse período, a encampação de várias empresas de pequeno porte. A

usina termelétrica Dr. Oscar Lopes Munhoz não escapou a esse processo, sendo

incorporada à Copel em janeiro de 1974, passando então, a concessão de E. E. de

Guaraqueçaba a pertencer à Companhia.

Page 34: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

20

Nas narrativas feitas por ALVAR e ALVAR (1979, p. 30), sobre seus estudos

nas comunidades de Guaraqueçaba, é mencionado que havia um motor que

produzia a eletricidade para esta localidade, e que seu fornecimento era até as 23

horas. Já VON BEHR (1998, p. 32) relata em seu livro, proveniente de um estudo

mais recente, que até o ano de 1980 a E. E. era fornecida por geradores apenas até

às 22 horas. Ambas as informações indicam que apesar da administração da

geração e distribuição da E. E. ter passado a pertencer à Copel em 1974, esta ainda

sofreu restrições de uso durante vários anos.

No governo Paulo Pimentel (1966-1971), o sistema elétrico do Paraná

projetava, em 1969, a distribuição da E. E. para Guaraqueçaba através da Usina

Hidrelétrica Capivari-Cachoeira (UFPR, 1994, p. 131). Apesar da inauguração oficial

da Usina em 1971, a distribuição da energia para o município por Capivari-Cachoeira

teve início somente na década de 1980. Ainda hoje, algumas áreas rurais

pertencentes ao município não dispõem de E. E. ou a dispõem por meio de painéis

fotovoltaicos.

1.5.2 A E. E. no entorno do PNS

O município de Guaraqueçaba, além da porção continental, possui várias

ilhas, sendo as maiores as de Peças e Superagüi. Ambas possuem comunidades

humanas nas suas áreas costeiras. A mais populosa é a da Vila da Barra do

Superagüi, segundo dados do senso realizado pelo IBGE em 2000. Apesar de

menor, a comunidade da Vila Ilha das Peças, situada na ilha de mesmo nome, já

possuía energia diselétrica desde 1995, pela sua proximidade maior do continente e

facilidade de acesso.

Segundo CARRANO (1998, p. 28), a eletrificação em algumas comunidades

da APA de Guaraqueçaba, inclusive aquelas pertencentes ao entorno do PNS, tem

sido inibida pela severidade das restrições ambientais próprias às Unidades de

Conservação. Além destas, existem as questões de ordem técnica e financeira,

associadas à dificuldade de implantação de redes aéreas em terrenos instáveis e de

difícil acesso, comuns na região. Entretanto, em 1998, um cabo submarino (figura 1),

– saindo de Pontal do Sul e submerso até chegar na praia de Encantadas, na Ilha do

Mel, passando por terra até o Cassual, ficando novamente submerso, chegando

Page 35: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

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21

Page 36: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

22

então na Vila Ilha das Peças, dando a volta na Ilha por terra, até a sua extremidade

mais próxima à Vila da Barra do Superagüi, ficando novamente submerso até chegar

na Vila – possibilitou que, hoje, o fornecimento de E. E. seja contínuo, graças à

conexão com o continente por cabo, para as comunidades da Ilha do Mel e das

comunidades das Vilas das Peças e da Barra do Superagüi.1

Essa alternativa foi apresentada pela Copel na tentativa de atender uma

demanda por E. E. existente há vários anos na região. O fornecimento dessa energia

através de um gerador a diesel para a Vila da Barra do Superagüi, como ocorria na

Ilha do Mel e na Vila da Ilha das Peças, era inviável pela distância a ser percorrida,2

pela dificuldade de acesso à Vila3 e pelos riscos de acidente e danos ambientais

durante o transporte do óleo diesel. Já a opção da implantação de painéis

fotovoltaicos, como acontece nas comunidades menores de Guaraqueçaba, também

era inviável devido ao elevado número de casas existentes na Vila.4

O estudo realizado pela Fupef (1997, p. 28), na APA de Guaraqueçaba, um

ano e meio antes da disponibilização da E. E. pela Copel, para a Barra do

Superagüi, mostrou que os moradores da Vila estavam ansiosos pela energia e

responsabilizavam o Ibama pela sua inexistência, mas apontaram como questões

mais prementes saúde e emprego.

Na pesquisa de campo realizada pela Coordenação de Meio Ambiente (CMA)

da Copel,5 em maio de 1998, quando questionados se gostariam de possuir E. E.

disponibilizada 24 horas, 96 moradores responderam que sim e apenas um

respondeu que não gostaria, num total de 98 entrevistados (tabela 2).

1 Na Barra do Superagüi o fornecimento de E. E. é apenas por ligações monofásicas e/ou bifásicas. 2 No caso do acesso ser através da Baía dos Pinheiros (figura 1). 3 No caso do acesso ser através do Canal do Norte (figura 1). 4 Informações fornecidas através de comunicação pessoal entre a autora deste trabalho e o Eng. Marco Antônio Biscaia, da Copel. 5 Pesquisa realizada como intuito de diagnosticar a situação socioeconômica e ambiental na Vila da Barra do Superagüi, antes da disponibilização da E. E. via cabo submarino.

Page 37: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

23

TABELA 2 - DEMANDA DE E. E. E NÚMERO DE GERADORES NA VILA DA BARRA DO SUPERAGÜI EM 1998

E. E. PELA COPEL* POSSUI LUZ ELÉTRICA** GERADOR PRÓPRIO***

N.º Citações Freqüência N.º Citações Freqüência N.º Citações Freqüência Sim 96 98% 74 64,35% 13 11,13% Não 1 1% 40 34,78% 102 88% Não respondeu - - 1 0,87% 1 0,87% Não soube responder 1 1% - - - -

TOTAL (1) 98 100% 115 100% 115 100%

FONTE: Copel / CMA NOTA: 1 Perguntas realizadas:

(*) Gostaria de ter energia elétrica distribuída 24 horas pela Copel? (**) Possui luz elétrica? (***) Possui gerador elétrico próprio? 2 Dados de 1998.

(1) A primeira questão apresenta o número de questionários respondidos diferente das outras duas questões, pois nelas a mesma pessoa pode responder para categorias diferentes de consumo.

A mesma pesquisa apontou que um número grande de moradores já possuía

E. E. produzida por geradores próprios individuais ou comunitários, sendo

levantados, na época, 13 geradores na Vila (tabela 2).

A pesquisa de campo realizada junto à comunidade da Vila da Barra do

Superagüi, em 1998, antes da disponibilização da E. E., ao ser comparada com os

resultados da pesquisa realizada em 2003, permitiu analisar de forma mais concreta

as principais transformações iniciadas ou já efetivadas, dentro de aproximadamente

quatro anos de contato com a eletricidade, na Vila.

Page 38: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

24

2 DESCRIÇÃO DO CONTEXTO GEOGRÁFICO E DA METODOLOGIA UTILIZADA

2.1 LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO

2.1.1 O PNS

O PNS está localizado no litoral norte do Estado do Paraná, no Município de

Guaraqueçaba, entre as coordenadas 25º12’21,79’’ e 25º29’18,50’’S e 48º10’39,33’’

e 48º20’35,12’’W, com uma área de 33.988,00 ha (figura 2). O território do PNS faz

parte do Complexo Estuarino Lagunar de Iguape – Cananéia e Paranaguá –,

apresentando aproximadamente 5.800 Km2, se estendendo por 200 Km de litoral

(VIVEKANANDA, 2001, p. 22).

FIGURA 2 - IMAGEM DE SATÉLITE DO LITORAL NORTE DO PARANÁ

Fonte: SPVS

Page 39: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

25

O solo predominante é do tipo podzol sobre planície de restinga, cobrindo

aproximadamente 75% da sua extensão. São solos de fertilidade muito baixa e

quando drenados ou desprovidos de vegetação natural, podem perder rapidamente

a matéria orgânica superficial (FOWLER, 2000, anexo 9, p. 7). O relevo nas Ilhas

das Peças e do Superagüi é plano e suavemente ondulado, existindo três elevações

nesta última, denominadas Morros do Superagüi, das Pacas e do Canudal. O morro

do Canudal é o ponto culminante da Ilha do Superagüi, com 245 m de altitude. Já na

porção continental do PNS existe uma elevação maior denominada Morro Bico

Torto, que apresenta a altitude de 575 m (FOWLER, 2000, anexo 9, p. 3-4;

VIVEKANANDA, 2001, p. 24).

As praias do PNS situam-se nas Ilhas das Peças e do Superagüi. A maior

extensão está localizada no Superagüi, ao longo da costa de mar aberto, possuindo

aproximadamente 28 km, conhecida como Praia Deserta. A Ilha do Superagüi,

originalmente uma península, foi separada do continente na década de 1950,

através da abertura do Canal do Varadouro, facilitando o comércio entre Cananéia

(SP) e Paranaguá (PR) (NIEFER, 2002, p. 44).

A vegetação existente na área do PNS é caracterizada por dois ambientes

distintos, a Floresta Ombrófila Densa e as Áreas de Formações Pioneiras. Cerca de

75% da área do PNS é ocupada por Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas ou

das Planícies Quaternárias até a altitude de 40-50 m. Já nas encostas da Serra do

Gato e da Utinga e nos morros isolados da Ilha do Superagüi, em altitudes entre 40-

50 m e 500-700 m, ocorre a Floresta Ombrófila Densa Submontana. Na planície

aluvial da bacia do Rio dos Patos, ocorre a Floresta Ombrófila Densa das Planícies

Aluviais, com solos mais férteis pela grande deposição de matéria orgânica,

viabilizando uma floresta exuberante (FOWLER, 2000, anexo 9, p. 9-10). Por

conseguinte, as Formações Pioneiras correspondem àquela vegetação de primeira

ocupação em constante sucessão, que se instala em terrenos instáveis devido às

constantes deposições sedimentares ao longo do litoral. Estas formações podem ser

divididas em: pioneiras com influência marinha (restingas); pioneiras com influência

fluviomarinha (manguezais e campos salinos) e pioneiras com influência fluvial

(FOWLER, 2000, anexo 9, p. 11; NIEFER, 2002, p. 47-48).

O município de Guaraqueçaba, segundo estimativas, apresenta mais de 10%

das espécies conhecidas de vertebrados ameaçados de extinção da fauna brasileira

Page 40: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

26

(FOWLER, 2000, anexo 9, p. 12). Na área pertencente ao PNS são encontradas as

espécies: Leontopithecus caissara (mico-leão-de-cara-preta), Amazona brasiliensis

(pagagaio-de-cara-roxa ou chauá), Puma concolor (suçuarana) e Alouatta guariba

(bugio), todas sob ameaça de extinção (VIVEKANANDA, 2001, p. 29).

Apesar da sua grande importância para conservação do bioma Mata Atlântica

e das restrições legais imputadas aos Parnas, no que se refere à presença humana

no seu interior, vivem, atualmente, seis comunidades de pescadores e uma

comunidade indígena dos Guaranis Mbya dentro dos limites do PNS.

2.1.2 APA Estadual de Guaraqueçaba

Na região do presente estudo existe a sobreposição de uma APA Federal a

uma APA Estadual. A APA Federal de Guaraqueçaba, mais antiga, foi criada em

janeiro de 1985, pelo Decreto N.º 90.883 e a APA Estadual de mesmo nome foi

criada em março de 1992, através do Decreto N.º 1.228.

A APA Federal abrange o município de Guaraqueçaba e parte dos municípios

de Antonina, Paranaguá e Campina Grande do Sul, já da APA Estadual faz parte

somente o município de Guaraqueçaba.

No momento da ampliação da área do PNS, ocorrida através da Lei N.º 9.513,

de novembro de 1997, ficaram excluídas da APA Federal de Guaraqueçaba as

porções das Ilhas do Superagüi e das Peças não integrantes do PNS. As porções

citadas se referem às vilas que estão no entorno do PNS, incluindo a da Barra do

Superagüi. A área das vilas passou, desde então, a pertencer somente à APA

Estadual de Guaraqueçaba, não fazendo parte da APA Federal. Entretanto, o

administrador da área é o Ibama e não o IAP, inclusive pelo fato das vilas estarem

localizadas na zona de amortecimento de um Parna.

A população urbana que vive em Guaraqueçaba se restringe à sede do

município, que possui aproximadamente 2.500 habitantes. Já a população rural, de

aproximadamente 5.700 habitantes,6 se distribui em cerca de 50 pequenas vilas. No

entorno do PNS vivem seis comunidades de pescadores. A Barra do Superagüi,

localizada na Ilha de Superagüi, é a maior das vilas de pescadores, sendo

levantados 580 habitantes e 171 domicílios durante o censo do IBGE de 2000.

6 Ambos os dados foram retirados do censo de 2000 do IBGE.

Page 41: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

27

2.2 AS TÉCNICAS DE PESQUISA

Esse estudo pode ser caracterizado como exploratório/explicativo,7 uma vez

que se buscou analisar a influência da chegada da E. E. na comunidade da Vila da

Barra do Superagüi, bem como suas conseqüências diretas e indiretas. Para atingir

tal objetivo, pesquisou-se o universo dos consumidores de E. E. da Vila.

Os procedimentos técnicos utilizados para este estudo foram as pesquisas

bibliográfica, documental e de campo.

Através da pesquisa bibliográfica, procurou-se obter o maior conjunto possível

de obras (livros, periódicos, teses, dissertações e relatórios) com abordagens

correlatas ao tema e à área de estudo, para construção das bases para a análise

dos dados primários.

A pesquisa documental indireta permitiu o acesso: (1) a dados secundários,

obtidos em 1998 através do levantamento de campo realizado pela Copel para a

elaboração de um diagnóstico socioeconômico e ambiental da Vila Barra do

Superagüi; (2) a dados secundários fornecidos pela Secretaria de Educação de

Guaraqueçaba, referentes ao ensino na Vila, que possibilitaram a confrontação com

as informações fornecidas pelos moradores.

No campo, a pesquisa foi realizada através de entrevistas do tipo estruturada,

as quais tiveram como roteiro um formulário, observações assistemáticas não-

participantes e técnicas de história-oral. Estes métodos serão detalhados a seguir.

2.2.1 Descrição da Metodologia Adotada no Campo

Houve duas incursões à Vila da Barra do Superagüi para a realização da

pesquisa de campo, ocorridas nos meses de fevereiro e maio de 2003, sendo a

permanência na Ilha de dez dias na primeira e de sete dias durante a segunda visita.

As entrevistas com os moradores da Vila foram realizadas pela pesquisadora, com o

auxílio de mais um profissional da área biológica.

7 As pesquisas exploratórias “têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições. Seu planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado” (GIL, 2000, p. 41). Já as pesquisas explicativas “têm como preocupação central identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos. Esse é o tipo de pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o porquê das coisas” (GIL, 2000, p. 42).

Page 42: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

28

Tendo em vista a participação da pesquisadora no levantamento de campo

realizado pela Copel, em 1998, houve uma maior interação com o ambiente da Vila,

bem como com sua comunidade. Essa experiência anterior permitiu acelerar a

construção da metodologia a ser aplicada no campo, de modo que ela foi

desenvolvida sem a necessidade de um reconhecimento prévio da área de estudo,

bem como da aplicação de um formulário piloto. No entanto, o formulário de 1998 foi

complementado com novas questões e ajustado no início da pesquisa de campo em

2003.

Na primeira visita à Vila da Barra do Superagüi para aplicação dos

questionamentos impressos em formulários, os entrevistadores contataram o

Presidente da Associação de Moradores para lhe informar sobre o trabalho e seus

objetivos. Apesar da autorização fornecida pelo Ibama para a realização das

entrevistas, o contato com a liderança comunitária foi considerado fundamental para

a legitimação do trabalho perante os moradores.

Visando situar-se em território neutro, os pesquisadores permaneceram

hospedados em uma das pousadas da Vila. Considerou-se melhor não permanecer

no alojamento do Ibama para evitar que os moradores fizessem uma eventual

ligação entre a pesquisa e o órgão fiscalizador da área. Mesmo assim, a decisão deu

origem a indagações por parte de alguns entrevistados, que questionaram a escolha

da referida pousada. A partir do momento em que a comunidade já estava

familiarizada com sua presença e com os objetivos do trabalho, os pesquisadores

optaram por se alojar nas dependências do Ibama.

Territorialmente, a aplicação dos formulários obedeceu ao sentido

sudeste/noroeste da Vila e oeste/leste da praia em direção ao interior (figura 3).

Page 43: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

29

FIGURA 3 - SENTIDO DA APLICAÇÃO DOS FORMULÁRIOS NA VILA DA BARRA DO SUPERAGÜI

Com base na metodologia utilizada por REICHMANN NETO (1999, p. 60),

buscou-se adotar como unidade amostral o consumidor de E. E., identificado por

meio do número da fatura da Copel,8 presente nos wattímetros (relógios-medidores

de energia) dos domicílios. Para a verificação e confirmação da realização das

entrevistas na totalidade das residências que possuíam E. E., foi utilizado o rol de

leituras do consumo de E. E. usado no mês de dezembro de 2002 pelos funcionários

8 A fatura da Copel, também chamada de conta de luz, “é tecnicamente considerada como unidade consumidora. Pode ser residencial, comercial, industrial, poder público ou próprio da concessionária de energia elétrica” (REICHMANN NETO, 1999, p. 60).

Page 44: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

30

da Copel. Por isso, antes da entrevista, era verificado e anotado o número do

wattímetro do domicílio, para posterior conferência no rol de leituras. Contudo, além

dos consumidores de E. E., foram também entrevistados os moradores dos

domicílios que possuíam ligações clandestinas (“rabichos”) junto a consumidores

cadastrados na Copel.

O rol de leituras não se mostrou eficiente para estabelecer a comparação dos

formulários respondidos com os números de medidores presentes no rol de leituras,

pois, dos 165 medidores listados, nem todos foram encontrados e alguns não

estavam cadastrados, o que prejudicou a confirmação do número total de

consumidores de E. E. com a listagem fornecida pela Copel.

Foram pesquisados, no total, 179 domicílios, incluindo as construções

conjugadas que agregam tanto o ambiente comercial quanto o residencial, comuns

na Vila. De acordo com o levantamento feito no campo, não foram entrevistados os

responsáveis por 19 domicílios residenciais, um comercial, três domicílios públicos

(o Ibama, o Posto de Saúde e a Escola Municipal), a Associação de Senhoras e a

Igreja Católica.

No caso de residências fechadas, ou de não haver uma pessoa responsável

para responder ao formulário, o procedimento adotado foi o de anotar o número do

medidor do domicílio para facilitar o retorno, realizado pelo menos duas vezes.

As entrevistas ocorreram individualmente nas residências ou locais de

trabalho dos moradores. Buscou-se entrevistar, preferencialmente, um dos cônjuges,

no caso de domicílio particular, e o proprietário no domicílio comercial. O tempo

médio de duração das entrevistas foi de 40 minutos, variando em decorrência da

disponibilidade e vontade dos entrevistados.

Os pesquisadores seguiram um roteiro de procedimentos éticos adotados

antes e durante a realização das entrevistas, buscando estabelecer uma relação de

confiança com os entrevistados através: (1) do uso de crachá com o logo do Cefet-

PR e o nome do entrevistador; (2) da apresentação do entrevistador, seguida da

explicação do trabalho, de seus objetivos e à qual instituição estava ligado; (3) do

relato de uma pesquisa similar que já havia sido realizada em 1998, antes da E. E.

Page 45: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

31

ser disponibilizada na Vila;9 (4) da exposição do tempo aproximado de duração da

entrevista; (5) do sigilo com relação a quem forneceu a resposta; (6) do

questionamento se o morador aceitava participar voluntariamente da pesquisa; e (7)

do compromisso que, durante a pesquisa, eventuais dúvidas eram esclarecidas,

tomando-se os devidos cuidados para não induzir as respostas dos entrevistados.

Como procedimento de segurança, após o término da entrevista, fixava-se um

adesivo conspícuo na caixa do wattímetro para que os pesquisadores evitassem

acessar duas vezes o mesmo morador.

Além das entrevistas, outros instrumentos que auxiliaram a coleta de dados

no campo foram a observação assistemática não-participante e técnicas adotadas

pela história oral.

A observação assistemática não-participante permitiu a verificação de alguns

aspectos referentes às relações sociais existentes na Vila, que serviram de

subsídios, principalmente para a análise dos dados qualitativos. Para LAKATOS

(1985, p. 169) “a observação ajuda o pesquisador a identificar e a obter provas a

respeito de objetivos sobre os quais os indivíduos não têm consciência, mas que

orientam seu comportamento”. Por isso, foram considerados durante as entrevistas,

entre outros aspectos, as expressões corporais, os sentimentos empregados e as

ênfases dadas a determinadas palavras ou expressões.

Já a história oral10 foi utilizada para resgatar a memória de alguns moradores

com relação ao passado sem E. E. e suas percepções frente à introdução dessa

tecnologia na comunidade, ocorrida no espaço de tempo de quatro anos, até a

realização do presente estudo.

2.2.2 A Elaboração do Formulário

O formulário utilizado na pesquisa de campo (apêndice) foi do tipo estruturado

não-disfarçado, contendo 48 questões das quais 14 foram adaptadas do modelo

criado11 e aplicado, em 1998, por uma equipe de pesquisadores da Copel na 9 Vários moradores recordaram-se da pesquisa executada pela Copel e como, de modo geral, a Companhia é bem quista pela comunidade; esse dado auxiliou na quebra da desconfiança com relação a pesquisa. 10 Para ALBERTI (1990, p. 1-2), a história oral pode ser definida de forma rápida como “método de pesquisa (histórica, antropológica, sociológica) que privilegia a realização de entrevistas com pessoas que participaram, ou testemunharam, acontecimentos, conjunturas, visões de mundo, como forma de se aproximar do objeto de estudo”. 11 Formulário já adaptado de REICHMANN NETO (1999).

Page 46: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

32

comunidade estudada e nas comunidades da Ilha do Mel e na da Vila das Peças

(anexo). O formulário de 1998 foi complementado pela autora, visando atingir os

objetivos propostos pela pesquisa. Existiam inicialmente 54 questões no formulário,

mas cinco delas foram excluídas após a realização das três primeiras entrevistas de

cada um dos dois pesquisadores. Constatou-se que três perguntas produziam

respostas redundantes e duas retratavam uma situação que já não existia na Vila.

Foram empregadas para a pesquisa perguntas do tipo:

a) fechadas dicotômicas (sim/não; bom/ruim), nas quais são possíveis

apenas dois tipos de respostas;12

b) fechadas de múltipla escolha;

c) escalas nominais, nas quais o número serve apenas para nomear dados;

d) abertas, que visaram obter uma justificativa do entrevistado para sua

resposta.

O formulário contou com questões quantitativas e qualitativas. As questões

quantitativas, existentes tanto no formulário de 1998 quanto no de 2003, buscaram

levantar características dos domicílios residenciais e comerciais, tais como: tipo,

número de pessoas atendidas e condição de ocupação do domicílio; número de

cômodos existentes, tipo de cobertura, tipo de parede externa, tipo de piso e

condição dos imóveis; forma de abastecimento de água, forma de canalização da

água, número de banheiros, existência de sanitário, tipo de escoadouro do banheiro

ou sanitário e destino do lixo; e a existência e quantidade de bens duráveis como

rádio, televisor, geladeira ou freezer, videocassete, máquina de lavar roupa, forno de

microondas, telefone celular, entre outros, antes e depois da disponibilização

da E. E. Com relação aos moradores da Vila, buscou-se levantar as seguintes

características qualitativas: tipos de moradores na mesma residência, nível de

escolaridade, ocupação e setor de atividade, antes e depois da disponibilização da

E. E.

Foram acrescentadas, no questionário de 2003, questões que permitiram

arrolar as opiniões dos moradores sobre aspectos socioeconômicos e ambientais

que envolvem o cotidiano da comunidade, que por sua vez estão relacionados direta

ou indiretamente com a chegada da E. E. Visando suprir as limitações das

12 Os entrevistadores utilizaram também a alternativa “não soube responder”.

Page 47: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

33

respostas, impostas pelas alternativas das questões quantitativas, as opiniões dos

moradores foram acompanhadas por questões qualitativas. Para CHIZZOTTI (1991,

p. 79), “a abordagem qualitativa parte do fundamento de que há uma relação

dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e

o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do

sujeito”. Em busca de detectar aspectos dessa subjetividade e de tentar superar as

limitações intrínsecas da objetividade das alternativas, procurou-se investigar a

motivação dos entrevistados por meio das respostas às perguntas sobre as

mudanças promovidas pela chegada da E. E. e suas implicações socioeconômicas e

ambientais.

Foram aplicados 94 formulários que contemplaram todas as questões e 179

que abrangeram somente as questões relacionadas aos domicílios e bens duráveis

(tabela 3). O número de domicílios pesquisados (179) não condiz com o número de

entrevistados (94), pois um entrevistado poderia responder por um ou mais

domicílios que possuía ou pelos quais era responsável, como, por exemplo, os

comerciantes, que puderam responder pela sua residência e pelo(s) seu(s)

comércio(s).

TABELA 3 - NÚMERO DE ENTREVISTAS REALIZADAS E FORMULÁRIOS RESPONDIDOS

NÚMERO BARRA DO SUPERAGÜI EM 1998*

BARRA DO SUPERAGÜI EM 2003

Consumidores cadastrados** - 165 Pessoas entrevistadas 93 94 Formulários respondidos 115 179 Domicílios residenciais 101 144 Domicílios comerciais 10 45 Rabichos - 46

FONTES: * REICHMANN NETO, F. As inter-relações da energia elétrica com aspectos de conforto e modernidade em pequenas comunidades: um estudo de caso na Ilha do Mel – PR. Curitiba, 1999. 224 f. Tese (Doutorado em Meio Ambiente e desenvolvimento) – Nimad, Universidade Federal do Paraná. p. 61. ** Rol de leituras da Copel

A mesma situação foi observada nos resultados da pesquisa feita pela Copel

na Vila em 1998, pois uma única pessoa poderia responder pelo seu ambiente

doméstico e comercial ou por algum parente, gerando um total de 115 formulários

respondidos por 93 pessoas (tabela 3).

Page 48: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

34

2.3 TABULAÇÃO E TRATAMENTO DOS DADOS DA PESQUISA

Para compilação dos dados, o formulário foi subdividido em dois grupos: um

contendo as questões dicotômicas e qualitativas que as acompanhavam e outro com

questões referentes ao tipo de consumidor (residencial ou comercial), quantidade de

pessoas residentes no imóvel, características do imóvel e tipo e quantidade de bens

duráveis.

A tabulação dos dados do formulário foi realizada no programa de

computador Sphinx Léxica para Windows.13 Este programa foi escolhido por

possibilitar: (1) a criação do formulário, como o desdobramento das questões do

formulário base aplicado no campo; (2) a digitação das respostas separadamente

em cada formulário; (3) diversas tabulações estatísticas que permitem, inclusive,

recodificações, criação e combinações entre variáveis; e (4) por ter sido utilizado

pela Copel para a compilação dos dados da pesquisa de campo realizada em 1998

na Vila da Barra do Superagüi.

A análise das questões qualitativas não pôde ser feita pelo Sphinx, apesar do

programa permitir a análise estatística de dados tipo texto, mas a complexidade das

respostas abertas não permitiu nenhum tipo de agrupamento proposto pelo

programa. Desse modo, cada questão qualitativa que acompanhou as questões

quantitativas dicotômicas, primeiramente, teve sua resposta separada em sim/não e

bom/ruim, sendo posteriormente agrupadas segundo suas semelhanças e

analisadas as suas freqüências de ocorrência. Esse método manual permitiu

detectar as respostas mais citadas pelos moradores.

Além dos dados obtidos pela pesquisa de campo, foram utilizados e

trabalhados o histórico de consumo14 de E. E. dos moradores da Vila da Barra do

Superagüi, de janeiro de 1999 até agosto de 2003, e dados da pesquisa de campo15

realizada em maio de 1998 pela Copel. Estes dados permitiram verificar o aumento

ano a ano do consumo de E. E. da comunidade e de certa forma corroborar os

dados obtidos através da pesquisa de opinião.

13 Programa de autoria da Société Le Sphinx Dévelopment, realizado pela Société Ergole, França. 14 Dados fornecidos pela Copel Distribuição S. A. de Paranaguá. 15 Dados cedidos pela Coordenação de Meio Ambiente da Copel.

Page 49: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

35

Os dados da pesquisa de campo realizada em 1998, ou seja, antes da E. E.

ser disponibilizada, permitiram a comparação entre a situação socioeconômica dos

moradores da Vila antes e depois da E. E.

Para a análise da progressão do consumo de E. E., foram obtidas amostras

aleatórias simples, através do sorteio dos números dos formulários aplicados na Vila.

Com o número do formulário se obtinha o número do medidor correspondente ao

domicílio pesquisado e, então, se buscava o consumidor na listagem dos históricos

de consumo fornecidos pela Copel. Os dados referentes aos tipos e quantidade de

consumidores (tabela 3) existentes na Vila permitiram a determinação dos seguintes

estratos: (1) domicílios residenciais e (2) residenciais/comerciais. Devido à baixa

ocorrência de domicílios comerciais com medidores de consumo próprios,

independentes dos medidores residenciais dos seus proprietários, foi inviável a

inclusão isolada deste estrato na análise da progressão do consumo.

Para a determinação da progressão do consumo de E. E. pela comunidade,

foi utilizada uma amostra de consumidores divididos em residenciais e

residenciais/comerciais. Após a tabulação da amostra, foram calculadas as médias

aritméticas anuais de consumo dessas duas categorias de consumidores. As médias

obtidas foram comparadas através de um teste t, conforme a fórmula apresentada

abaixo:

( )BA

BA

nnSxxt

1120 +

−= (1);

onde, xA e xB são as médias anuais de consumo de E. E. entre um ano e outro, nA e

nB são os tamanhos amostrais e é a média ponderada da variância entre as duas

médias. obtém-se do seguinte modo:

20S

20S

( ) ( )2

11 2220 −+

⋅−+⋅−=

BA

BBAA

nnSnSn

S (2);

onde, e são as variâncias das duas amostras estudadas. O nível de

significância considerado foi de 95%.

2AS

2BS

Page 50: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

36

Também foi calculado o índice aritmético de crescimento do consumo de

E. E., conforme a fórmula abaixo:

0

0

ynyy

r n

⋅−

= (3);

onde, yn é o consumo médio final, y0 é consumo médio inicial e n é o número de

períodos analisados. A partir dessa última fórmula, obtém-se a equação para o

cálculo de yn em n períodos:

( nryyn ⋅+⋅= 10 ) (4).

Para a análise das alterações nas condições habitacionais dos moradores da

Vila, antes e depois da disponibilização da E. E., utilizou-se uma amostra de 18

domicílios residenciais. A montagem desta amostra foi possível através dos nomes

dos entrevistados ou de seus cônjuges, dado levantado tanto na pesquisa realizada

em 1998, como na pesquisa de campo, em 2003.

Page 51: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

37

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 A PROGRESSÃO DO CONSUMO DE E. E. NOS DOMICÍLIOS DA VILA DA

BARRA DO SUPERAGÜI, DE 1998 A 2003

O uso de energia costuma ser associado ao grau de desenvolvimento de um

país ou região (IBGE, 2002, p. 140). Na Vila da Barra do Superagüi, esse fato se

manifesta pelo crescimento da utilização da E. E. pela comunidade, principalmente

pelos empreendedores locais, durante o período de estudo.

Essa seção busca analisar o comportamento da sociedade e da economia

local, frente a disponibilização da E. E., através da incorporação e uso dessa

tecnologia ao longo de quatro anos. Para auxiliar o entendimento da extensão das

transformações por ela impulsionadas, também foram trabalhadas as alterações

ocorridas no número e tipos de domicílios e condições habitacionais.

Desde que a E. E. foi levada até a Vila, em dezembro de 1998, foram

efetuadas, até fevereiro de 1999, praticamente todas as ligações domiciliares à rede

de distribuição. Pelos históricos do consumo fornecidos pela Copel, 91% das

ligações existentes em 2003 haviam sido concretizadas em 1999. No entanto, a

existência de ligações clandestinas, servindo a mais de um domicílio, mascara o

número real de conexões à rede de distribuição no primeiro ano. Os 9% restantes

podem pertencer a novos domicílios que surgiram na Vila no decorrer dos anos, mas

também à domicílios antigos, ligados clandestinamente, que passaram a ter seu

próprio wattímetro.

Durante a pesquisa realizada em 1998, alguns moradores se mostraram

preocupados com os novos gastos a que estariam sujeitos. Na época ainda não

havia a percepção por parte de alguns das novas possibilidades econômicas que a

E. E. traria. Mesmo com todas as dificuldades financeiras que afligem membros da

comunidade, a aceitação e a incorporação da nova tecnologia foi praticamente

unânime.

Buscando verificar o processo de expansão do consumo de E. E. pelos

moradores da Vila, foram amostrados aleatoriamente um total de 39 históricos de

consumo, para análise da progressão ao longo do período entre 1999 e 2003. Desse

total, oito são referentes a domicílios residenciais/comerciais (RC) e 31 a

Page 52: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

38

residenciais (R). Foram realizadas análises desses dois tipos de domicílios

separadamente e em conjunto (RC + R). Como na Vila as ligações clandestinas são

uma prática usual, os oito históricos de consumo dos domicílios

residenciais/comerciais correspondem efetivamente ao consumo de 20 domicílios.

Entre estes estão residências, estabelecimentos comerciais e domicílios mistos,

residenciais/comerciais. Os 31 históricos de consumo residenciais correspondem a

34 residências. Na tabela 4 é apresentado o consumo médio anual por tipo de

domicílio.

TABELA 4 - VALORES MÉDIOS DE CONSUMO DE E. E. EM KWH

Ano 1999 2000 2001 2002 2003 RC 1010,75 1427,50 1537,12 1404,87 (1)1857,75 R 616,96 878,84 974,87 966,12 (1)852,99

RC + R 697,74 991,38 1090,20 1056,13 (1)1058,61

FONTE: Copel/Regional Litoral NOTAS: (RC) residencial/comercial; (R) residencial; (RC + R) residencial/comercial somado com

residencial. Dados trabalhados pela autora. (1) Valores obtidos do consumo de apenas oito meses no ano.

O consumo médio anual de 2003, quando comparado com o ano de início da

disponibilização da E. E., cresceu 51,8% (tabela 4).

Ao considerar o conjunto dos domicílios RC + R, o ritmo de crescimento do

consumo diminui ao longo dos quatro anos. No entanto, continua havendo uma

demanda ascendente pelo uso da E. E. (gráfico 1).

Page 53: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

39

GRÁFICO 1 - PROGRESSÃO DO CONSUMO DE E. E. NOS AMBIENTES RESIDENCIAL E COMERCIAL DA VILA DA BARRA DO SUPERAGÜI

0

200

400

600

800

1000

1200

1999 2000 2001 2002 2003

Anos

KWH

FONTE: Copel/Regional Litoral

Essa tendência de aumento do consumo pode ser também evidenciada

através da comparação entre as médias anuais amostrais do consumo, conforme

dados da tabela 5.

TABELA 5 - COMPARAÇÃO ENTRE MÉDIAS AMOSTRAIS DO CONSUMO DE E. E.

VALORES DE t Comparação/anos 1999/2000 1999/2001 1999/2002 1999/2003

RC 0,87 0,91 0,89 (4) 1,56 R (1) 2,30 (3)2,81 (2) 2,66 (1), (4) 2,02

RC + R 1,97 (2) 2,49 (2) 2,59 (1), (4) 2,30

FONTE: Copel/Regional Litoral NOTAS: (RC) residencial/comercial; (R) residencial; (RC + R) residencial/comercial somado com

residencial; (RC x R) comparação entre as médias residencial e comercial com residencial. Dados trabalhados pela autora.

(1) < 0,05. (2) < 0,02. (3) < 0,01. (4) Valores obtidos do consumo de apenas oito meses no ano.

Essa comparação foi realizada através de um teste t (fórmula 1, seção 2.3),

com o objetivo de verificar se as diferenças obtidas entre as médias ocorrem devido

ao acaso (por se tratar de uma amostra) ou devido à algum fator externo,

influenciando o consumo de E. E. Para o conjunto dos domicílios (RC + R), a

diferença entre as médias anuais e o ano de 1999 é significativa, com exceção do

Page 54: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

40

ano de 2000, que apesar de não significativa, é muito próxima da significância, cujo

valor crítico é de t = 2,00. Isso quer dizer que as médias comparadas são realmente

distintas e são um indicativo do crescimento do consumo de E. E. Pode-se atribuir

esse aumento ao incremento do turismo na Ilha e ao aumento do número de

aparelhos eletroeletrônicos, associado à mudança de alguns hábitos de vida dos

habitantes.

Buscando verificar se há uma diferença nos padrões de consumo de E. E.

entre os domicílios residencial/comercial e residencial, foram realizadas análises

separadas da progressão do consumo nestes dois ambientes.

3.1.1 Ambiente Residencial/Comercial

A distribuição da E. E. pela Copel é considerada, neste trabalho, como o

principal fator de influência do desenvolvimento do comércio da Vila da Barra do

Superagüi, pois após sua disponibilização, além da ampliação do mercado da

pesca,16 com a possibilidade de conservação do pescado, pode ter contribuído

também com o aumento no número de visitas e, possivelmente, no tempo de

permanência dos turistas na Vila.

A progressão do consumo de E. E., neste ambiente, foi utilizada para refletir o

ritmo de crescimento das atividades ligadas ao turismo, pois praticamente todo o

comércio local está voltado exclusivamente para atender aos turistas, com exceção

dos empreendimentos que exploram a pesca, as mercearias e padarias. O primeiro

por atender basicamente o mercado situado no continente e os dois últimos por

atenderem principalmente os moradores locais.

De 1999 para 2000 houve um crescimento na utilização da eletricidade no

ambiente residencial/comercial de 41,2%. Continuou a existir um crescimento de

2000 para 2001, porém de apenas 7,7%. Entre 2001 e 2002 houve uma diminuição

no consumo de 8,6%. No entanto, de 2002 para 2003 houve um crescimento

bastante acentuado, de 32,2%, apesar de estarem faltando dados de consumo de

quatro meses referentes ao ano de 2003.

16 Principal atividade econômica existente na Vila atualmente.

Page 55: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

41

Os aumentos médios anuais dos anos estudados não foram significativos

(tabela 5), apesar de se observar um aumento progressivo do consumo, mais

acentuado, inclusive, que na comparação das médias amostrais anuais do conjunto

dos domicílios (RC + R). Do ano de 1999 para 2003 houve um aumento de 83,8% no

consumo de E. E. nos domicílios residencial/comercial (gráfico 2). O índice aritmético

de crescimento (fórmula 3, seção 2.3) também é maior nos domicílios

residencial/comercial (0,17) do que do conjunto dos domicílios (RC + R) (0,10).

Adicionalmente, pode-se notar um aumento da significância ao longo dos anos, o

que evidência mais uma vez o aumento progressivo do consumo de E. E. (tabela 5).

GRÁFICO 2 - PROGRESSÃO DO CONSUMO DE E. E. NO AMBIENTE RESIDENCIAL/COMERCIAL DA VILA DA BARRA DO SUPERAGÜI

0200400600800

100012001400160018002000

1999 2000 2001 2002 2003

Anos

KWH

FONTE: Copel/Regional Litoral NOTA: Dados trabalhados pela autora.

A falta de significância para o teste t para o ambiente residencial/comercial

pode, em um primeiro momento, apontar que o consumo médio anual não se alterou

ao longo dos últimos quatro anos. Entretanto, três fatores influenciaram nos

resultados, porém não comprometeram a análise do consumo médio de E. E.

relacionada com um possível incremento do turismo na Vila da Barra do Superagüi.

O primeiro decorre dos inúmeros “rabichos” existentes na amostra dos

domicílios residencial/comercial. A informação do consumo de 20 domicílios foi

sintetizada no histórico de consumo de oito wattímetros. Deste modo, o tamanho

amostral, para efeito de cálculo, foi muito reduzido. Conseqüentemente, a

Page 56: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

42

comparação entre as médias anuais não foi significativa, apesar da alta taxa de

crescimento. Outro fator, mais pontual, pode ter sido o plano de racionamento de

E. E., iniciado em 2001 pelo Governo Federal. Em junho daquele ano teve início o

racionamento e foi lançada uma campanha, divulgada nacionalmente, visando a

diminuição do consumo de E. E. para evitar o então chamado “apagão”. Apesar do

Paraná não fazer parte dos estados atingidos pelo racionamento, a campanha do

Governo Federal incentivou muitas famílias de todo o Brasil à mudanças de hábitos,

que levaram à economia da E. E. Por último, pelos históricos de consumo referentes

a 2003 referirem-se a apenas os oito primeiros meses do ano.

3.1.2 Ambiente Residencial

No ambiente residencial também houve uma intensificação do uso da nova

fonte energética, pois entre os anos de 1999 e 2000 houve uma ampliação de

42,45% no consumo. Essa expansão foi ocasionada quase que exclusivamente pelo

aumento na utilização da eletricidade como força motriz e não pelo incremento de

ligações, pois houve apenas 3,7% no decorrer do ano.

Entre 2000 e 2001 a quantidade de kWh consumidos teve um aumento de

apenas 11%. Em 2001, assim como no ambiente residencial/comercial, também

aconteceu uma queda no consumo. Já no intervalo de 2002 a 2003 houve uma

diminuição ainda maior do consumo de energia (gráfico 3), entretanto, os dados

representam o consumo de apenas oito meses do ano de 2003.

O índice de crescimento em todo período estudado foi de 0,08. Mas se

considerados apenas os quatro primeiros períodos, ou seja, de 1999 a 2002, o

índice de crescimento é de 0,14. Esse fato se deve ao baixo consumo de 2003, por

faltarem os dados de consumo de quatro meses. Através da projeção do consumo

(fórmula 4, seção 2.3) para o ano de 2003, com base no consumo dos quatro

primeiros períodos, cujo índice de crescimento é de 0,14, o consumo seria de

1048,83 kWh. O que mostra a retomada do crescimento, após a diminuição ocorrida

em 2001, provavelmente em função do racionamento já comentado. O que reforça a

tendência do aumento do consumo.

Page 57: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

43

GRÁFICO 3 - PROGRESSÃO DO CONSUMO DE E. E. NOS AMBIENTES RESIDENCIAIS DA VILA DA BARRA DO SUPERAGÜI

0

200

400

600

800

1000

1200

1999 2000 2001 2002 2003

Anos

KWH

FONTE: Copel/Regional Litoral NOTA: Dados trabalhados pela autora.

Nos domicílios residenciais o aumento do consumo médio foi significativo,

quando se compara o ano de 1999 com os demais (tabela 5). Isso mostra que a

diferença entre as médias é real, e, conseqüentemente, a tendência de aumento do

consumo de E. E. Essa análise é possível porque a redução do tamanho amostral

para efeito de cálculo não é drástica como nos domicílios residencial/comercial,

reduzida de 34 residências para 31 históricos de consumo. No entanto, a

significância se reduz, devido a diminuição do consumo, chegando próxima do valor

crítico (t = 2,00).

Na seção 3.2 será analisado o crescimento do número de domicílios, antes e

depois da distribuição da E. E. por cabo submarino. Visando a obtenção de mais um

indicativo das mudanças socioeconômicas ocorridas na Vila da Barra do Superagüi,

que podem ter influência direta e indireta sobre a área do PNS.

3.2 O CRESCIMENTO DO NÚMERO DE DOMICÍLIOS NA VILA DA BARRA DO

SUPERAGÜI ANTES E DEPOIS DA DISPONIBILIZAÇÃO DA E. E.

A Vila da Barra do Superagüi, em virtude dos vários atrativos naturais do

PNS, é alvo de investidas de especuladores. A venda de terrenos e domicílios para

veranistas é comum em algumas localidades do entorno do Parna, principalmente na

Vila das Peças. Como essas áreas pertencem à União, e muitas das transações

entre nativos e veranistas foram efetivadas após a promulgação da Lei N.º

Page 58: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

44

9.636/1998, que dispõe sobre a administração, aforamento e alienação de bens

imóveis de domínio da União, o que impede sua regularização, muitos nativos

apresentam-se como proprietários das edificações de veranistas (AMATO;

SUGAMOSTO; GRANDO, 2000, p. 366). Na Vila da Barra do Superagüi essa prática

tem sido evitada, mas com a chegada da E. E. e o crescimento descontrolado do

turismo a especulação imobiliária é uma ameaça latente à área do Parna.

Pelo fato das áreas pertencentes às APAs Federal e Estadual de

Guaraqueçaba e PNS serem amplamente estudadas por diversos institutos de

pesquisa, instituições públicas e ONG’s, acaba existindo um monitoramento regular

do crescimento das vilas. Com isso, foi possível o acesso a dados do número de

domicílios existentes na Vila da Barra do Superagüi, em diferentes anos. A

pesquisadora Guadalupe Vivekananda apresentou na sua dissertação um

levantamento do número de domicílios17 feito por algumas instituições (tabela 6).

Esse levantamento permitiu a comparação entre os dados apresentados e aqueles

obtidos através do diagnóstico realizado pela Copel e pela pesquisa de campo deste

trabalho.

TABELA 6 - NÚMERO DE DOMICÍLIOS EXISTENTES NA VILA DA BARRA DO SUPERAGÜI, ENTRE 1986 E 2003

SUCAM1 1986

IBGE1 1992

COPEL1 1996

FUNAS1 1997

COPEL2 1998

MATER NATURA1

1998

SPVS1 1999

PESQ. CAMPO3

2003 Barra do

Superagüi 90 121 106 100 135* 194 199 199

FONTES: 1 VIVEKANANDA, Guadalupe. Parque Nacional do Superagüi: a presença humana e os objetivos de conservação. Curitiba, 2001, Dissertação (Pós-Graduação em Engenharia Florestal), Universidade Federal do Paraná, p. 45; 2COPEL/CMA; 3Pesquisa de Campo

NOTA: Foram aplicados 115 questionários, mas o número estimado de domicílios é de 135.

17 A autora, no seu trabalho, não distingue número de famílias de número de domicílios. A tabela de onde foram extraídos os dados, classifica-os no enunciado como sendo referentes ao número de famílias. No entanto, no texto, os dados são utilizados para mensurar o aumento do número de casas. Tendo em vista que os dados obtidos pelo IBGE referem-se ao número de domicílios, bem como os dados obtidos pelo Mater Natura, neste estudo os dados serão tratados como referentes ao número de domicílios.

Page 59: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

45

Os números de domicílios apresentados na tabela 6 variam em curtos

intervalos de tempo e até em levantamentos realizados no mesmo ano. Como a

estrutura predial da Vila é desordenada, sem quadras definidas, nome de ruas e

numeração de casas, inviabiliza a obtenção de um dado totalmente preciso do

número de domicílios. As variações metodológicas entre os levantamentos também

devem ser consideradas. Outros fatores que podem ter influenciado na diminuição

do número de residências, entre os períodos analisados, são a desmontagem de

algumas residências para construções de novas; o avanço da maré, que provocou a

retirada de algumas casas na linha da praia, não relocadas entre uma pesquisa e

outra; além da construção de casas por alguns veranistas, que posteriormente foram

demolidas por determinação do Ibama.

Mesmo com o descompasso dos números de domicílios, os dados

apresentados na tabela 6 representam a realidade da Vila.

No entanto, para obter dados mais precisos sobre os ambientes residencial e

comercial, no item 3.2.1, serão investigadas separadamente as diferenças existentes

entre eles, com relação ao crescimento do número de domicílios.

3.2.1 Número de Domicílios Residenciais e Comerciais na Vila da Barra do

Superagüi antes e depois da Disponibilização da E. E.

Para a análise da tendência do crescimento do número de domicílios da Vila

foram utilizados os dados obtidos nas pesquisas de campo realizadas em 1998, pela

Copel,18 e em 2003, para este trabalho.

A análise considerou apenas os estratos mais numerosos,19 que são aqueles

compostos pelos domicílios residenciais permanentes (RP) e pelos domicílios

comerciais (C) (tabela 7).

18 No formulário aplicado pela Copel, em 1998 (anexo), os entrevistados foram questionados sobre a existência e características do imóvel cinco anos antes da data da entrevista, ou seja, 1993. Isso permitiu a análise de um período temporal de dez anos. 19 Foram excluídos da análise os domicílios pertencentes ao poder público e os ambientes comunitários.

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46

TABELA 7 - NÚMERO DE DOMICÍLIOS RESIDENCIAIS E COMERCIAIS LEVANTADOS NA VILA DA BARRA DO SUPERAGÜI, ENTRE 1993 E 2003

19931 19972 19981 20003 20034 RP 80 - 100 - 144 C 3 9 10 - 45 TOTAL 83 - 110 171 189

FONTE: 1Copel/CMA; 2FUNDAÇÃO DE PESQUISAS FLORESTAIS DO PARANÁ. Ecologia e economia na APA de Guaraqueçaba: percepções da população e investimentos realizados. Curitiba: Fupef, 1997, p. 43-44; 3IBGE; 4Pesquisa de Campo NOTA: foram utilizados os dados do IBGE e da Fupef, para uma comparação com números apresentados por outras pesquisas. Dados trabalhados pela autora.

Nos dados fornecidos pela Copel, não havia o registro do número aproximado

de domicílios fechados e, conseqüentemente, não entrevistados. Mas a estimativa

feita pela autora, que participou do trabalho, é de que, assim como na pesquisa de

campo de 2003, foram visitados, no mínimo, 90% dos domicílios. O que padroniza a

diferença no universo das duas pesquisas.

O gráfico 4 mostra o acréscimo do número de domicílios, ocorrido entre os

anos de 1998 e 2003. Os domicílios comerciais tiveram um aumento acentuado em

relação aos números de comércios existentes em 1993.

Atualmente, os estabelecimentos comerciais são de posse e estão sendo

gerenciados pelos moradores da Vila. Todavia, existe o risco de desapossamento

por parte de pessoas vindas de fora, que não vão comprar os terrenos ou os

estabelecimentos, pois isso não é permitido. Podem, no entanto, melhorar a

estrutura física dos imóveis em troca de um arrendamento da propriedade ou de

parte do terreno, iniciando-se, assim, um processo de ocupação via subterfúgios,

podendo resultar em prejuízos para os nativos.

Para DIEGUES (1999, p. 37), existe nas comunidades caiçaras a noção de

“posse coletiva” do território, que facilita a especulação imobiliária. Na Vila da Barra

do Superagüi, por entenderem que a expansão predial é limitada, os moradores

sabem das conseqüências da cessão dos seus terrenos. No entanto, existe a

predisposição, por parte de alguns, de “vender” uma porção dos seus domínios, para

ganhar um “dinheirinho” e poder investir no comércio.

Page 61: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

47

GRÁFICO 4 - NÚMERO DE DOMICÍLIOS RESIDENCIAIS E COMERCIAIS EXISTENTES NA VILA DA BARRA DO SUPERAGÜI, ENTRE 1993 e 2003

80

3 10

144

45

100

020406080

100120140160180

RP C

Tipo de domicílio

Núm

ero

de d

omic

ílios

199319982003

FONTE: Copel/CMA, Pesquisa de Campo NOTA: Dados trabalhados pela autora.

No ambiente residencial o crescimento entre os anos de 1998 e 2003 foi de

44%, enquanto no qüinqüênio anterior foi de apenas 20%. Isso pode ser explicado,

em parte, pelo fato de novos casais terem constituído família, e pelo retorno de

alguns nativos que haviam deixado a Ilha para morar na cidade. A existência da

eletricidade pode ter sido mais um estímulo para o regresso à Ilha.

Outro dado utilizado para auxiliar na análise da tendência de crescimento do

número de domicílios em direção à área do PNS, foi a característica dos domicílios,

pois, assim, pode-se analisar, além do número de novos domicílios, o número de

ampliações ocorridas nos já existentes.

3.2.1.1 As características dos domicílios comerciais antes e depois da

disponibilização da E. E.

Ao longo dos dez anos analisados, os domicílios comerciais foram os que

passaram por um maior incremento do número de cômodos, reflexo do aumento do

número de novas construções, mas também da ampliação das já existentes.

No ano de 1993 praticamente não existia comércio na Vila, havendo apenas

um bar, uma casa para locação e uma mercearia. Em 1998 já havia iniciado o

comércio voltado para o turismo, pois existiam quatro pousadas, dois bares e dois

bares/restaurantes, além de duas mercearias.

Page 62: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

48

De 1998 para 2003, após a chegada da E. E., ocorreu um incremento do

comércio voltado para o atendimento ao turismo, sendo este fato percebido através

do aumento do número de domicílios comerciais. O número de pousadas no período

passou de quatro para 15, o de bares de dois para cinco e surgiram dez lanchonetes

e três restaurantes.

No gráfico 5, os aposentos que têm um crescimento destacado são os

quartos e os banheiros/sanitários,20 resultado do aumento do número de pousadas.

Já o aumento do número de bares, restaurantes e lanchonetes é refletido no número

de salas e cozinhas, pois existem poucos desses estabelecimentos que possuem

banheiros/sanitários para uso dos clientes.

GRÁFICO 5 - NÚMERO DE CÔMODOS NOS DOMICÍLIOS COMERCIAIS DA VILA DA BARRA DO SUPERAGÜI, ENTRE 1993 E 2003

1 2 0 0 0 0

29

2 4

17

06

91

31

16

77

4

20

0102030405060708090

100

quartos salas cozinha banheiros lavanderia varanda

Tipo de Cômodo

Núm

ero

de C

ômod

os

199319982003

FONTE: Copel/CMA, Pesquisa de Campo NOTA: Dados trabalhados pela autora.

Alguns entrevistados comentaram que na alta temporada alugam suas casas

ou quartos. Essa disposição não foi mensurada, impossibilitando o diagnóstico de

uma possível tendência de incorporação desse hábito pela comunidade. Essa nova

prática poderia ser uma forma alternativa de atendimento ao mercado do turismo,

sem a necessidade de novas construções. Esse tipo de relação entre os moradores

20 Não foi feita distinção entre estes cômodos durante as entrevistas.

Page 63: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

49

e o turista pode ser benéfica para ambos. Na Ilha de Fernando de Noronha, por

exemplo, que também possui um espaço limitado para construções prediais, existem

as chamadas pousadas familiares, onde as casas dos ilhéus são transformadas em

pousadas.

3.2.1.2 As características dos domicílios residenciais antes e depois da

disponibilização da E. E.

Foram levantados durante a pesquisa de campo 144 domicílios residenciais.

Em muitos casos, os domicílios residenciais e comerciais se confundem, dividindo

concomitantemente espaços. Dos 144 domicílios residenciais (tabela 7), 12 são

mistos, ou seja, são residências e comércios dividindo o mesmo medidor, quando

não o mesmo espaço físico do imóvel, dificultando a separação dos cômodos, que

de tão interdependentes serviam tanto aos moradores quanto aos turistas.

Apesar dessa interdependência, os números de cômodos das residências

aqui analisadas correspondem somente aos domicílios residenciais, pois os

comerciais/residenciais foram analisados caso a caso e tiveram seus cômodos

separados por tipo de consumidor.

No ambiente residencial, o número de cômodos ao longo de dez anos

aumentou progressivamente, no mínimo duas vezes e meia (gráfico 6). Isso pode ter

ocorrido em função da disponibilização da eletricidade, pois sem ela o crescimento,

possivelmente, não seria tão elevado.

Page 64: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

50

GRÁFICO 6 - NÚMERO DE CÔMODOS NOS DOMICÍLIOS RESIDENCIAIS DA VILA DA BARRA DO SUPERAGÜI, ENTRE 1993 E 2003

51 4923

2 8

93 9367

628

315

134 139111

1947

105

205

0

50

100

150

200

250

300

350

quart

ossa

las

cozin

has

banh

eiros

lavan

deria

s

varan

das

Tipo de Cômodo

Núm

ero

de C

ômod

os

199319982003

FONTE: Copel/CMA, Pesquisa de Campo NOTA: Dados trabalhados pela autora.

De 1993 para 1998, como já apontado, houve um aumento de 20% no

número de casas (tabela 5), mas também houve um aumento no número de

cômodos (gráfico 6), ou seja, além de novas construções, houve também

ampliações nos domicílios. O número de ampliações foi, inclusive, superior ao de

novas construções. Provavelmente pelo fato das ampliações serem controladas com

menor rigor pelo Ibama, do que as novas construções.

3.3 COMPARAÇÃO ENTRE AS CONDIÇÕES HABITACIONAIS DE 18

DOMICÍLIOS DA VILA DA BARRA DO SUPERAGÜI ANTES E DEPOIS DA

E. E.

Para analisar as modificações nas condições habitacionais dos moradores da

Vila, utilizou-se uma amostra de 18 domicílios residenciais (capítulo 2, seção 2.3),

cujos proprietários foram entrevistados tanto em 1998 quanto em 2003.

Segundo o IBGE (2003, p. 143), “as condições habitacionais são elementos

fundamentais para a análise da qualidade de vida da população”. Com base nesse

preceito e nos principais indicadores do nível de bem-estar proporcionados pelas

moradias, utilizados pelo Instituto, foram estudadas as alterações referentes ao

Page 65: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

51

número médio de pessoas por domicílio e dormitório, acesso à água, destino final do

lixo e esgotamento sanitário, além da posse de bens duráveis. Esses fatores

refletem o nível de bem-estar da população em termos de saúde, conforto e acesso

à informação (IBGE/PNAD, 2002, p. 1).

3.3.1 Densidade de Moradores por Domicílio e por Dormitório

Nas residências da Vila da Barra do Superagüi, a densidade de moradores

por domicílio cresceu de 3,8 em 1993, para 4,8 em 2003 (quadro 1), enquanto a

média nacional, de 1999 e 2001, manteve-se em torno de 3,6 pessoas (IBGE/PNAD,

1999; IBGE, 2003, p. 147).

Apesar de haver um aumento do número de pessoas por domicílio, a relação

pessoas por dormitório demonstra que houve um aumento superior da quantidade

de quartos, em relação ao número de pessoas por residência. A média nacional em

2001 mostrou uma relação de duas pessoas por dormitório (IBGE, 2003, p. 147), e a

média para a Vila, em 2003, ficou em 1,54 (quadro 1).

QUADRO 1 - NÚMERO MÉDIO DE PESSOAS POR DOMICÍLIO E DORMITÓRIO

Anos 1993 1998 2003 Número total de pessoas 69 82 88 Número total de quartos 25 34 57 Pessoas por domicílio 3,8 4,5 4,8 Pessoas por dormitório 2,75 2,41 1,54

FONTE: Copel/CMA, Pesquisa de Campo NOTA: Dados trabalhados pela autora, referentes à amostra de 18 domicílios.

Essa relação reflete uma melhora nas condições de moradia, mesmo com o

crescimento do número de pessoas por domicílio. Para o IBGE (2003, p. 143), “a

densidade de moradores por domicílios ou dormitórios proporciona uma medida de

grau de conforto dos mesmos e serve como indicador da demanda por novas

construções”. No caso da Vila, essa demanda por novas construções, ao que tudo

indica, tem sido atenuada pela ampliação dos domicílios já existentes, como já

comentado no subitem 3.2.1.2.

Page 66: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

52

3.3.2 Condições do Saneamento Básico nos Domicílios

No abastecimento de água e no esgotamento sanitário, ao longo dos anos de

1993 e 1998, não houve mudanças quantitativas e qualitativas expressivas. A

exceção entre os itens de saneamento básico foi a destinação final do lixo, que

sofreu um retrocesso do ano de 1998 para o ano de 2003. Nesse período, ocorreu a

desativação do Programa Baía Limpa, que garantia o recolhimento do lixo das Ilhas.

Com a finalização do programa aos moradores restaram basicamente as alternativas

de queimar e enterrar o lixo (quadro 2). Aqueles que possuem embarcações,

também possuem a opção de levar o lixo para o continente.

QUADRO 2 - SITUAÇÃO SANITÁRIA DAS MORADIAS

1993 1998 2003 ABASTECIMENTO DE ÁGUA Rede com canalização interna 10 16 14 Rede sem canalização interna 4 2 1 Rede com canalização interna e poço - - 2 Poço com canalização interna - - 1 DESTINO FINAL DO ESGOTO Poço morto 4 14 13 Lançado no rio - - 3 Sem resposta 7 1 2 DESTINO FINAL DO LIXO Recolhido pela Prefeitura e enterrado 1 12 - Recolhido pela Prefeitura, enterrado e queimado - 6 - Enterrado e queimado 12 - 9 Queimado e levado para o continente - - 3 Queimado - - 1 Enterrado e levado para o continente - - 2 Enterrado, jogado em terreno baldio e levado para o continente - - 1 Enterrado, queimado e levado para o continente - - 1 Sem resposta 1 - - LOCALIZAÇÃO DOS SANITÁRIOS/BANHEIROS Interno 1 7 9 Externo 10 7 7 Sem banheiro 3 3 - Sem resposta - 1 2

FONTE: Copel/CMA, Pesquisa de Campo NOTA: Dados trabalhados pela autora, referentes à amostra de 18 domicílios.

A mudança percebida com relação ao abastecimento de água, é a de que,

após a chegada da E. E., a comunidade optou pela abertura de poços residenciais,

como uma alternativa de combate à falta de água na Vila. Isso se deveu,

provavelmente, pela possibilidade de utilização de bombas elétricas (quadro 2).

Page 67: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

53

Quanto às unidades sanitárias, destaca-se, além do aumento efetivo, a

redução do número de banheiros/sanitários externos (quadro 2). Já no item

esgotamento sanitário, apesar do aparecimento no ano de 2003 do lançamento do

esgoto direto nos rios, não houve uma intensificação do problema. Tanto a opção

dos poços mortos, quanto a do lançamento in natura do esgoto em córregos, são

prejudiciais à saúde dos moradores, e ao ambiente, tema que será aprofundado na

seção 3.5. Neste caso, o principal problema não está na forma do esgotamento, mas

sim no volume lançado diretamente no ambiente, sem qualquer tratamento.

3.3.3 Aquisição de Bens Duráveis Básicos

Outro indicador de qualidade de vida utilizado pelo IBGE, e vinculado

diretamente à disponibilidade de eletricidade no domicílio, é a posse de bens

duráveis, entre eles, rádio, televisão, geladeira e máquina de lavar roupa. O gráfico 7

mostra que mesmo quando não havia E. E. distribuída por cabo submarino, os

eletrodomésticos básicos já estavam presentes em alguns domicílios. O rádio e a

televisão eram os mais numerosos.

GRÁFICO 7 - VARIAÇÃO DO NÚMERO DE ELETRODOMÉSTICOS BÁSICOS, ENTRE 1993 E 2003

10

1 1

7

3

1

8

1

1312

11 1112

1

0

2

4

6

8

10

12

14

16

TV color tanquinho geladeira rádio ventiladorTipo de eletrodoméstico

Qua

ntid

ade

199319982003

FONTE: Copel/CMA, Pesquisa de Campo NOTA: Dados trabalhados pela autora, referentes à amostra de 18 domicílios.

Page 68: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

54

A geladeira, apesar de um bem importante para conservação dos alimentos e

manutenção da saúde, ainda não pôde ser adquirida por todos os moradores.

Na amostra trabalhada não apareceu a máquina de lavar roupa, mas sim o

tanquinho, que também é um facilitador dos trabalhos domésticos.

Mesmo possuindo muitas vezes uma renda mensal baixa e variável, a

aquisição de equipamentos foi constante na comunidade.

Visão de Conjunto das seções 3.1, 3.2 e 3.3

Os dados analisados demonstram que houve um aumento do consumo de

E. E. em todos os ambientes estudados. No ambiente residencial, em decorrência do

aumento do número de eletroeletrônicos, e no ambiente residencial/comercial,

essencialmente em decorrência do incremento da atividade turística.

Constata-se, ainda, que houve de 1998 a 2003, após a disponibilização da

E. E., um crescimento maior no número de domicílios do que no qüinqüênio anterior,

com destaque para o residencial/comercial. Além de se observar um incremento de

domicílios, houve também um aumento no número de cômodos. No ambiente

residencial, o aumento decorreu mais de ampliações do que de novas construções,

ao contrário do ambiente residencial/comercial, no qual prevaleceram novas

construções.

Na análise isolada do ambiente residencial, apesar de ter havido um aumento

do número de pessoas por domicílio, não se pode inferir que houve uma piora na

condição de moradia, pois ocorreu, em contrapartida, um aumento no número de

dormitórios. Os indicativos de qualidade de vida ligados ao saneamento básico não

sofreram muitas alterações, permanecendo precária a infra-estrutura geral da Vila

nesse item.

A aquisição de bens duráveis básicos, mesmo com a baixa renda da

comunidade, apresentou uma expansão crescente.

Page 69: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

55

3.4 A E. E. E O COTIDIANO NA VILA DA BARRA DO SUPERAGÜI

A disponibilização da E. E. para a Vila da Barra do Superagüi pela Copel era

vislumbrada pela grande maioria dos seus moradores (tabela 2). Como apresentado

no capítulo 1, a comunidade ansiava pelos benefícios advindos da eletricidade e os

quatro anos de acesso a essa tecnologia bastaram para torná-la uma necessidade

indispensável.

As principais fontes de energia utilizadas antes de 1998 eram o GLP, os

geradores elétricos e a biomassa. Em 1998, a vela, que representava um perigo

constante de incêndio, foi abandonada, assim como o lampião. A energia de

biomassa, amplamente utilizada pelos moradores da Vila para aquecer a água do

banho, foi substituída pelo chuveiro elétrico.

Hoje, práticas como a salga foram trocadas pelo congelamento. Os

eletrodomésticos ganham cada vez mais espaço, tanto nos domicílios residenciais,

quanto nos comerciais, facilitando as tarefas cotidianas e proporcionando novas

formas de lazer. Com a geladeira e o freezer, produtos perecíveis passaram a fazer

parte da dieta dos moradores. Enfim, muitas foram, e continuam sendo, as

transformações na vida da comunidade da Vila da Barra do Superagüi ocorridas

após a introdução da E. E. Nesta seção, são analisadas as percepções dos

moradores com relação a essas modificações e a temas que não estão envolvidos

diretamente com a E. E., mas que poderiam ter sido afetados de modo indireto pela

sua disponibilização.

3.4.1 As Principais Mudanças Decorrentes do acesso à Eletricidade

A eletricidade, ao chegar nos ambientes domésticos da Vila da Barra do

Superagüi, provocou uma mudança nos hábitos da comunidade, causada pela

possibilidade de acesso a muitos bens de consumo antes inviáveis, como, por

exemplo, o acesso a eletrodomésticos, que foi classificado como a principal

alteração. Destes, a geladeira foi o utensílio mais citado, por causa da conservação

dos alimentos, juntamente com o freezer. Pois, além de serem importantes no

ambiente residencial, eles são fundamentais para conservação do produto do

trabalho dos pescadores. Além do aspecto funcional, a chegada da eletricidade

proporcionou um maior conforto para os moradores, possibilitando o uso de

ventiladores, de chuveiro quente, de repelente elétrico, de telefone celular, e

Page 70: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

56

também novas oportunidades de lazer, pelo acesso mais fácil à televisão e ao rádio.

A iluminação dentro dos domicílios foi considerada como um benefício indiscutível,

principalmente pela preocupação que existia por parte das pessoas, que usavam

vela para iluminar, com incêndios ocasionados por pequenos descuidos e, para

outros, por não precisar mais utilizar o “liquinho” (GLP) como forma de iluminação.

Apenas alguns moradores relacionaram esta pergunta com a importância da E. E.

para o desenvolvimento do turismo e para a viabilização de melhorias no comércio

local, o destaque foi para a aquisição de equipamentos eletrônicos que facilitaram a

vida dos comerciantes e a abertura da primeira padaria na Vila.

É indiscutível para a comunidade (97%) que a eletricidade trouxe mudanças

para a Vila e a maioria delas foram apontadas como positivas (tabela 8). Mas uma

moradora deu um depoimento sobre as desvantagens por ela percebidas em função

da chegada da E. E.:

antes de vir a luz, as pessoas conversavam mais, contavam histórias na lua cheia, as crianças brincavam muito; a televisão tira muito tempo das crianças; nas noites frias, o pessoal se reunia para conversar no fogo de chão, na beira da praia; as pessoas vinham assistir televisão (bateria) e já ficavam para conversar; em noite de luar, as crianças brincavam de roda, esconde-esconde; hoje, quando falta luz, eles começam a brincar; hoje os bares que têm TV são mais freqüentados, bebem, jogam e assistem TV. (entrevista em 28 jan. 2003)

TABELA 8 - A E. E. E AS MUDANÇAS QUE COM ELA VIERAM

E. E. X MUDANÇAS * N.º Citações Freqüência

Sim 91 97% Não 1 1% Não respondeu 2 2%

TOTAL 94 100%

NOTA: Pergunta realizada: (*) A chegada da energia trouxe mudanças?

Embora não seja perceptível para a maioria dos moradores, percebe-se que a

disponibilização da E. E. provoca o desencadeamento de uma série de mudanças

potencializadas pela aquisição de novas tecnologias, que vão alterar a relação dos

moradores da Vila da Barra do Superagüi com o ambiente e as pessoas que os

cercam. Isso acontece pelo simples acesso à luz elétrica no ambiente doméstico,

Page 71: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

57

passando pela mudança dos hábitos noturnos de muitos moradores que não

possuíam gerador próprio.

3.4.2 O Comércio na Vila depois da Eletricidade

Com as questões relacionadas ao comércio na Vila pretendeu-se verificar de

que forma a disponibilização da E. E. impactou positivamente algumas atividades

voltadas a atender, prioritariamente, à comunidade da região. Antes do cabo

submarino, os alimentos perecíveis precisavam ser armazenados com gelo, o que

inviabilizava a compra de muitos produtos. Da mesma forma que nos ambientes

residenciais, a maioria dos entrevistados (87,5%), como mostra a tabela 9,

considerou que houve uma melhora no comércio local, em função da possibilidade

de refrigeração através de freezers e geladeiras, o que, conseqüentemente,

aumentou a qualidade e a variedade de produtos oferecidos.

TABELA 9 - A ELETRICIDADE E O COMÉRCIO NA VILA

ELETRICIDADE X COMÉRCIO* N.º Citações Freqüência

Sim 82 87,5% Não 7 7,5% Não respondeu 2 2% Não soube responder 3 3%

TOTAL 94 100%

NOTA: Pergunta realizada: (*) Com a chegada da energia, melhorou o comércio na Ilha?21

Uma pequena parcela, 7,5% (tabela 9), se mostrou descontente com os

recursos do comércio local, pois para eles ainda faltam alguns equipamentos a

serem adquiridos pelos comerciantes para atender aos anseios dos consumidores –

"os frios não são fatiados, eles não têm fatiadora". Para alguns, o preço dos

mantimentos aumentou depois da chegada da E. E. e para outros, os comerciantes

vendem produtos velhos, com higiene precária – "eles [os comerciantes] não trazem

em isopor [os alimentos perecíveis], não têm higiene com a mistura.22 A luz não

ensinou eles a melhorar a qualidade". A tendência é que, com o passar do tempo,

21 Nas questões do formulário foi utilizado o termo Ilha ao invés de Vila, pois o primeiro pareceu ser mais habitual para os moradores. 22 Termo utilizado para designar as carnes que vão acompanhar o restante da refeição.

Page 72: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

58

esse descontentamento se estenda entre um número maior de moradores e que os

comerciantes se adaptem às demandas. Entretanto, por se tratar de uma ilha onde

não há muita concorrência entre os comerciantes, essa situação de precariedade

pode perdurar.

Muitas pessoas que têm embarcação própria optam por fazer suas compras

no continente, evitando ao máximo o comércio local, em virtude da qualidade, da

variedade e dos preços dos produtos. A cidade de Paranaguá, mesmo antes da

disponibilização da E. E., já era o principal mercado para os moradores da Vila da

Barra do Superagüi, seguido pelo de Guaraqueçaba (tabela 10).

TABELA 10 - ONDE SÃO FEITAS AS COMPRAS PELAS FAMÍLIAS

DEPOIS DA E. E.* ANTES DA E. E.** N.º Citações Freqüência N.º Citações Freqüência

Paranaguá 55 58,5% 44 47% Guaraqueçaba 39 41,5% 35 37,5% Na Ilha 27 29% 23 24,5% Não respondeu 1 1% 13 14%

TOTAL 122 130% 115 123%

NOTAS: 1 Perguntas realizadas: (*) Onde sua família faz as compras? (**) Onde sua família fazia as compras antes da energia elétrica chegar? 2 Esta questão era de múltipla escolha, por isso o número de citações ultrapassa o número de questionários aplicados.

O comércio da Vila, nas duas épocas, tinha uma clientela menor. Pôde-se

constatar um pequeno aumento na utilização do comércio da Vila depois da E. E.,

mas o aumento maior ocorreu no comércio de Paranaguá, provavelmente em função

da possibilidade de estocagem dos alimentos nos freezers e geladeiras domésticas

(tabela 10).

A diferença entre os preços cobrados pelos alimentos também foi um dos

principais fatores que levou ao aumento das compras no comércio de Paranaguá.

Para 96% (tabela 11) dos entrevistados, existe diferença entre os preços cobrados

na Vila dos preços cobrados no continente. Para a grande maioria deles, essa

diferença é muito grande, compensando os gastos com combustível e o esforço de ir

até o comércio de Paranaguá para realizar as compras (ver tabela 12).

Page 73: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

59

TABELA 11 - A DIFERENÇA DO PREÇO DOS MANTIMENTOS ENTRE A VILA E O CONTINENTE

VILA X CONTINENTE* N.º Citações Freqüência

Sim 90 96% Não 1 1% Não respondeu 2 2% Não soube responder 1 1%

TOTAL 94 100%

NOTA: Pergunta realizada: (*) Você acha que tem diferença entre os preços dos mantimentos do comércio da Ilha e do continente?

O comércio de Guaraqueçaba também é apreciado por vários moradores por

ser mais barato e variado que o da Vila e mais próximo que o de Paranaguá (tabela

10). Já a maioria dos moradores que fazem suas compras na Vila não as fazem por

opção, mas por não terem embarcação própria, o que acaba encarecendo muito o

custo final dos produtos em função do transporte.

Outro aspecto que envolve a diversificação e qualidade da alimentação dos

nativos, arrolado durante a pesquisa de campo, foi o cultivo de hortas nos quintais,

uma vez que esta poderia ser uma opção para diminuir os custos dos mantimentos e

enriquecer o cardápio dos moradores da Vila. Entretanto, mais da metade das

residências (58,5%) não possui nenhuma parte dos seus terrenos cultivada (tabela

12). Essas hortas poderiam suprir a necessidade de algumas verduras, legumes e

temperos que, segundo alguns entrevistados, têm sua oferta ainda deficiente no

comércio da Ilha. Apesar da maioria não possuir uma horta, muitos alegaram que já

tiveram ou já tentaram fazê-la, mas o avanço da maré e a maresia impedem o

cultivo. Também foi introduzida uma espécie exótica de gastrópoda que se alimenta

das plantas por eles cultivadas, o que fez com que alguns desanimassem e

desistissem de seus cultivos.

Page 74: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

60

TABELA 12 - CULTIVO DE HORTA NO QUINTAL

HORTA* N.º Citações Freqüência

Não 55 58,5% Sim 38 40,5% Não respondeu 1 1%

TOTAL 94 100%

NOTA: Pergunta realizada: (*) Possui horta no quintal?

Entre os que conseguiram manter suas hortas (40,5%), os cultivos mais

comuns eram: cebolinha, tomate, alfavaca, alface, cebola, aipim, batata, abóbora,

couve, mandioca, salsa, cenoura, cheiro-verde, salsão, salsinha, chuchu, café,

inhame, milho, moranga, alho-poró, pimentão, pimenta, coentro, orégano,

manjericão, confrei, hortelã, erva-doce, boldo, gengibre e babosa. Algumas frutas

que podem ser colhidas nos quintais também foram citadas, entre elas: banana,

maracujá, limão, abacate, laranja, mamão (em maior quantidade) e abacaxi, goiaba,

caju, melancia, pitanga, acerola, amora, coco e pêssego (em menor quantidade).

Nenhum dos entrevistados afirmou vender os produtos cultivados, sendo apenas

utilizados para o consumo da família. O enriquecimento da dieta dos moradores da

Vila pelo consumo dos frutos e frutas é importante e poderia ser incentivado,

contudo deve-se levar em consideração os riscos da possível introdução de

espécies exóticas na área do PNS. Apesar do número de árvores frutíferas

levantadas pela presente pesquisa ser de aproximadamente 50, um número que

pode ser considerado pequeno, a área da Vila pertence à zona de amortecimento do

Parque. Este é um ponto a ser levado em consideração no momento da elaboração

do Plano de Manejo.23

3.4.3 O Transporte Marítimo

Nesse item procurou-se investigar se a disponibilização da E. E. teve algum

impacto na regularidade ou na freqüência dos meios de transporte que atendem a

Vila, em decorrência do aumento do número de moradores e da intensificação do

comércio e/ou do turismo.

23 Este assunto, por depender de um conhecimento mais aprofundando dos processos ecológicos da Ilha, não será aprofundado pela autora.

Page 75: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

61

Os moradores da Vila da Barra do Superagüi têm como principais opções de

transporte para sair da Ilha os barcos próprios, a carona nos barcos de outros

moradores ou o barco de carreira. A primeira alternativa não serve a todos, já que

parte da população não tem embarcação própria. A carona depende da

oportunidade e às vezes os proprietários cobram pela viagem, principalmente

quando envolve o transporte de algum tipo de carga. O barco de carreira acaba

sendo a escolha menos viável para os moradores, pois chega na Ilha aos sábados,

retornando para o continente somente no domingo. Isso impossibilita sua utilização

pelos moradores para a realização de compras e outras atividades em Paranaguá ou

Guaraqueçaba, os quais dependem do horário comercial.

Além da insatisfação com relação ao dia de chegada e saída do barco de

carreira, a maioria dos entrevistados (71,5%) considera alto o valor cobrado para os

moradores (tabela 13). Mesmo quem possui embarcação própria reclama dos gastos

altos com o óleo diesel e a gasolina.

Os 20% (tabela 13) que julgam o preço cobrado para o transporte justo,

levaram em consideração os gastos com o óleo diesel e a distância a ser percorrida,

que é longa, segundo eles.

TABELA 13 - O TRANSPORTE E O DESLOCAMENTO PARA O MORADOR

PREÇO DO TRANSPORTE* DESLOCAMENTO*** N.º Citações Freqüência N.º Citações Freqüência

Sim 67 71,5% 61 65% Não 19 20% 25 26,5% Não respondeu 1 1% 5 5,5% Não soube responder 7 7,5% 3 3%

TOTAL 94 100% 94 100%

NOTA: Perguntas realizadas: (*) O preço do transporte é alto para o morador? (**) Você gostaria de poder se deslocar mais da Ilha para o continente?

Muitos moradores (65%), inclusive parte dos que possuem embarcação

própria, gostariam que houvesse um barco de carreira regularmente para a Vila. A

maioria afirmou que gostaria de poder ir mais vezes até o continente para fazer

compras, consultar um médico ou dentista, comprar remédios, pagar contas, visitar

parentes, participar de eventos festivos, e outras atividades.

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62

Entre os 26,5% que não gostariam de ir mais vezes para o continente, estão

alguns proprietários de embarcação satisfeitos com a freqüência com que viajam e

alguns moradores que não têm costume de sair da Ilha.

O transporte para os moradores da Vila é ainda precário. O deslocamento

marítimo dos ilhéus, que poderia ter sido afetado pela disponibilização da E. E.,

continuou apresentando as mesmas limitações.

3.4.4 A Saúde na Vila

Havia a expectativa na comunidade da Vila de que com a chegada da E. E. o

posto de saúde existente na Vila fosse reativado e que fosse implantada uma infra-

estrutura mínima tanto para o atendimento médico quanto para o dentário. No

entanto, os serviços de saúde na Vila seriam inexistentes, não fossem duas agentes

comunitárias que visitam as residências e que têm como principal função monitorar a

pressão dos hipertensos, segundo informações dos moradores. Existem vários

casos de hipertensão arterial entre os ilhéus, em função da grande quantidade de sal

ingerida, por causa do antigo método empregado para a conservação dos alimentos

através da salga do peixe e do camarão, fora sua ampla utilização no preparo dos

alimentos.

Ocorrem visitas ocasionais de médicos enviados pela Prefeitura de

Guaraqueçaba, que às vezes tornam-se um pouco mais freqüentes, outras vezes

deixam de ocorrer.

Segundo a avaliação dos moradores, a situação do posto de saúde piorou

depois da disponibilização da eletricidade, porque a condição de abandono se

agravou. Para 69% dos entrevistados, os serviços de saúde da Vila são péssimos.

Chama a atenção o fato de que em 1998, 59% do entrevistados os descreviam como

péssimos, o que demonstra uma piora nos serviços já considerados precários antes

do fornecimento da E. E. (tabela 14). Os moradores alegam não haver

medicamentos disponíveis, nem aparelho de inalação para as crianças e idosos,

nem sequer materiais gerais de primeiros socorros.

A Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), na época desta

pesquisa, estava realizando um projeto com seus alunos de medicina e odontologia

na Vila, prestando atendimento gratuito à comunidade. Como este, vários projetos

são implantados na Vila, mas, na maioria dos casos, são isolados, sazonais e de

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63

pouca duração, gerando uma sensação de descrença cada vez maior na

comunidade.

TABELA 14 - O ATENDIMENTO NO POSTO DE SAÚDE

DEPOIS DA E. E.* ANTES DA E. E.** N.º Citações Freqüência N.º Citações Freqüência

Péssimo 65 69% 56 59,5% Ruim 27 29% 25 27% Bom 0 0% 3 3% Não soube responder 2 2% 2 2% Não respondeu 0 0% 8 8,5%

TOTAL 94 100% 94 100%

NOTA: Pergunta realizada: (*) O que você acha do atendimento no posto de saúde? (**) O que você achava do atendimento no posto de saúde antes da energia elétrica?

Devido às condições precárias do posto e da falta de um médico permanente

na Vila, quando alguém adoece ou sofre algum acidente tem que rapidamente ser

levado até os hospitais de Guaraqueçaba ou Paranaguá. Guaraqueçaba é o

município preferido (tabela 15), pois, segundo os entrevistados, é mais perto, o

acesso é mais fácil, tem médico e o atendimento é melhor, uma vez que “em

Paranaguá é difícil pegar a ficha",24 já que a Vila pertence ao município de

Guaraqueçaba.

24 O entrevistado refere-se à ficha de atendimento do Posto de Saúde ou do Hospital, necessária para marcar a consulta com o médico.

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64

TABELA 15 - MUNICÍPIO DE DESTINO DOS ENFERMOS

DEPOIS DA E. E.* ANTES DA E. E.** N.º Citações Freqüência N.º Citações Freqüência

Guaraqueçaba 70 74,5% 62 66% Paranaguá 37 39,5% 33 35% Posto da Ilha 0 0% 0 0% Outro 3 3% 3 3% Não respondeu 0 0% 10 10,5%

TOTAL 122 130% 115 123%

NOTA: 1 Perguntas realizadas: (*) Quando alguém adoece, para onde se leva a pessoa? (**) Quando alguém adoecia, para onde se levava a pessoa antes da energia elétrica chegar? 2 Esta questão era de múltipla escolha, por isso o número de citações ultrapassa o número de questionários aplicados.

Os que preferem Paranaguá (39,5%) consideram o atendimento melhor, pois

existem mais recursos, médicos e remédios, além do atendimento ser mais rápido

(tabela 15). Para eles, o atendimento no hospital de Guaraqueçaba é bastante

precário, compensando levar os doentes direto até Paranaguá. Os 10,5% que não

responderam à pergunta correspondem àquelas pessoas que não residiam na Ilha

antes da chegada da E. E. (tabela 15).

A disponibilização da E. E. e os benefícios por ela trazidos, com a

possibilidade de aumento da renda familiar, através do advento do turismo e da

armazenagem do pescado, por enquanto não fez com que a maioria dos moradores

buscasse os hospitais de Paranaguá, considerados melhores, praticamente

mantendo-se a preferência por Guaraqueçaba, já identificada em 1998 (tabela 15). A

compra de uma embarcação mais veloz que servisse a comunidade em situações de

emergência também foi lembrada por um dos moradores. Nesses momentos,

dependendo da gravidade do caso, há a necessidade de se recorrer aos poucos

moradores que possuem voadeiras, para se poder chegar mais rápido ao hospital.

Enfim, no caso da área da saúde, o fornecimento da E. E. não trouxe os

benefícios esperados pela comunidade.

3.4.5 E. E.: uma Impulsionadora da Ampliação do acesso à Educação?

Na Vila existe uma escola pública municipal que, segundo dados fornecidos

pela Secretaria de Educação de Guaraqueçaba, conta com um corpo de

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65

funcionários de nove professores e três serventes contratados pela Prefeitura. Essa

escola oferta apenas o ensino fundamental incompleto, que vai até a 4.ª série. Essas

informações demonstram a precariedade e justificam a percepção dos entrevistados

(73,5%), os quais julgam insuficiente o grau de ensino ofertado na Vila25 (tabela 16).

Para grande parte deles, as crianças saem muito cedo da escola e precisariam

estudar pelo menos até o ensino médio, para ampliar suas oportunidades de

emprego. Existe a preocupação manifesta, por parte de alguns pais, de que seus

filhos não consigam mais sucesso com a pesca,26 tendo que buscar outras formas

de sobrevivência. Um número menor considera o ensino “fraco”, de baixa qualidade,

não preparando adequadamente as crianças. A baixa qualificação dos professores

também é uma preocupação. Já para alguns entrevistados, há um descaso por parte

dos políticos, que também não investem no setor educacional da Vila. Outros, que

possuem condições de proporcionar aos filhos a oportunidade de estudar no

continente, demonstram intranqüilidade com o fato dos filhos terem que deixar a Ilha

para estudar.

TABELA 16 - A EDUCAÇÃO NA VILA

NÍVEL DE EDUCAÇÃO* CONTINUAÇÃO DOS ESTUDOS**

N.º Citações Freqüência N.º Citações Freqüência Não 69 73,5% 1 1% Sim 22 23,5% 90 96% Não respondeu 1 1% 1 1% Não soube responder 2 2% 2 2%

TOTAL 94 100% 94 100%

NOTA: Perguntas realizadas: (*) Você acha que o nível de educação ofertado na comunidade é suficiente? (**) Você considera a continuação dos estudos importante?

Houve quase uma unanimidade quanto à importância da continuação dos

estudos (96%); e dentre estes, a grande maioria considera que continuar estudando

abrirá novas oportunidades, aumentando as chances de conseguir um emprego,

25 A expressão “nível de educação”, utilizada na pergunta “Você acha que o nível de educação ofertado na comunidade é suficiente?” (tabela 9), gerou a possibilidade de dupla interpretação pelos entrevistados. Alguns consideraram “nível de educação” como qualidade e outros como grau de ensino. Entretanto, a questão foi mantida, pois a dupla interpretação não interferiu na análise. 26 Alguns pescadores afirmam que a “pesca está diminuindo”, por causa dos grandes pesqueiros clandestinos que atuam na região.

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66

mesmo que isso signifique o deslocamento do filho temporário ou definitivo para um

centro urbano no continente.

A preocupação manifestada pelos moradores da Vila envolve, sobretudo, a

necessidade de uma formação de melhor qualidade e por mais tempo para que os

jovens e as crianças possam ter condições de buscar novas oportunidades no

mercado de trabalho, tanto dentro, quanto fora da Ilha. Nesse aspecto, a chegada da

E. E. poderia ter contribuído para o desenvolvimento de um ensino de melhor

qualidade, pois abre a oportunidade de utilização de recursos tecnológicos no

processo de aprendizagem e da oferta do ensino noturno regular. No entanto,

verificou-se que isso não ocorreu ao longo desses quatro anos.27

3.4.6 A Preferência por Morar na Ilha ou na Cidade

O objetivo desse item é analisar se a disponibilização da E. E. modificou a

relação do morador com a Ilha. Para a grande maioria dos entrevistado (91,5%)

(tabela 17), a Ilha é o melhor lugar para se viver, principalmente por que, na

percepção deles, a vida na Vila é mais tranqüila, sossegada e segura do que a da

cidade. Além disso, para eles, o custo de vida é mais baixo do que o da cidade,

sendo mais agradável e melhor de viver onde se está aclimatado.

As poucas pessoas que gostariam de morar na cidade (6,5%) (tabela 17) a

consideram melhor que a Ilha por causa da infra-estrutura existente, principalmente

dos serviços de saúde e educação. Apenas um dos entrevistados afirmou que

"queria vender tudo e ir embora por causa da condução para sair da Ilha, só não vou

porque não posso vender a casa" e outro que só iria embora “se tivesse um bom

emprego”.

27 Algumas tentativas de resolver o problema da continuidade dos estudos dos filhos dos ilhéus foram a partir de programas esporádicos como: o “Projeto Escola das Águas”, de 5.ª a 8.ª séries, vinculado à Secretaria de Educação do Estado do Paraná e executado de abril de 1998 a maio de 2000 pela ONG Amprodec, sendo a continuidade do projeto assumida, de abril de 2000 a maio de 2001, pela ONG Instituto Ecoplan (ALBERTON, 2002, p. 5); e em 2003 com a implantação de um Posto Avançado do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos (PAC), do Governo Estadual, com aulas ministradas no período noturno (SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DE GUARAQUEÇABA, 2004, E-mail).

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67

TABELA 17 - A PREFERÊNCIA POR MORAR NA ILHA OU NA CIDADE

ILHA OU CIDADE* FILHOS - ILHA OU CIDADE**

N.º Citações Freqüência N.º Citações Freqüência Ilha 86 91,5% 52 55,5% Cidade 6 6,5% 33 35% Não respondeu 2 2% 5 5,5% Não soube responder 0 0% 4 4%

TOTAL 94 100% 94 100%

NOTA: Perguntas realizadas: (*) Você prefere morar na Ilha ou na cidade? (**) Para seus filhos, o melhor é morar na Ilha ou na cidade?

Já com relação à saída dos filhos da Ilha, as respostas foram mais

aproximadas. Para 55,5% dos entrevistados é melhor que seus filhos permaneçam

na Ilha, mas 35% preferem a cidade (tabela 17). Os que escolheram a Ilha como

melhor lugar para seus filhos, apresentaram os seguintes argumentos: mais

segurança, uma vida mais tranqüila e fácil, mais liberdade, menos violência e um

custo de vida menor. Para um número menor de entrevistados, morar na Ilha seria a

melhor opção se houvesse estudo, mas como não têm, eles preferem que os filhos

morem na cidade. Para os 35% que preferem a cidade à Ilha, a formação dos filhos

foi a justificativa mais relevante para que eles saiam do local, seguida da maior

oportunidade de emprego.

Estudos realizados em ilhas indicam que “para quem deixa a ilha para morar

no continente, o desaparecimento dos contornos insulares que delimitam a

territorialidade gera angústia, a insegurança e o desejo de voltar ao refúgio, aos

limites definidos e seguros” (DIEGUES, 1998, p. 101). Pode-se atribuir a esse

sentimento, o fato dos adultos preferirem permanecer na Ilha, mesmo com as

dificuldades que ainda perduram. Todavia, existe a vontade, por parte de um número

grande de moradores, de que os filhos migrem para a cidade em busca de

educação, de novas oportunidades e de uma vida mais fácil que a que seus pais têm

na Ilha.

3.4.7 A Religiosidade

A religiosidade na Vila é atendida através de uma igreja Católica e dois

templos, um da Assembléia de Deus e outro da Congregação Cristã no Brasil. A

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68

grande maioria (82%) dos entrevistados freqüenta a igreja ou um dos templos

(tabela 18). A católica figura como a principal religião dos moradores da Vila,

enquanto que as outras duas congregações religiosas estão empatadas, com pouco

menos da metade do número de fiéis.

TABELA 18 - RELIGIOSIDADE DOS MORADORES

RELIGIOSIDADE* N.º Citações Freqüência

Sim 77 82% Não 17 18% Não respondeu 0 0%

TOTAL 94 100%

NOTA: Pergunta realizada: (*) Freqüenta alguma igreja ou templo?

Tanto a igreja quanto os templos foram construídos antes da chegada da

E. E. na Vila, mas com ela foi possível a realização de missas e cultos noturnos,

além da utilização de aparelhagem de som.

A existência de três opções religiosas na Vila acirrou, em determinados

momentos, as diferenças entre os moradores, e prejudicou o encaminhamento de

práticas de interesse comum, conforme dados das pesquisas realizadas pela Copel,

em 1998, e pela Unesp de Rio Claro, em 2000. Os pesquisadores da Copel

observaram, principalmente entre as mulheres, fortes divergências religiosas que

gerou uma certa intolerância entre as praticantes do catolicismo e as das demais

congregações religiosas. Em função desse enfrentamento, a Associação das

Senhoras não foi contemplada com uma cozinha comunitária, como a existente, até

hoje, na Ilha das Peças. No Projeto realizado pela Unesp, sobre o PNS, um casal de

moradores da Vila alegou que por desentendimentos religiosos a Associação de

Moradores estaria praticamente esvaziada (FOWLER, 2000, anexo 21, p. 4). No

entanto, nesta pesquisa, a clivagem religiosa e suas possíveis conseqüências para o

sucesso e/ou insucesso de ações conjuntas não foi alvo do discurso dos moradores,

quando inquiridos sobre sua religião e sobre o associativismo. Essa mudança de

enfoque pode estar relacionada à configuração das questões apresentadas, ou ao

surgimento de uma maior tolerância religiosa entre os moradores motivada pelas

transformações sociais pelas quais a comunidade vem passando.

Page 83: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

69

3.4.8 Disponibilização da E. E. e a Possibilidade de Incremento das Ações do

Associativismo

Aparentemente, existe um alto grau de adesão ao associativismo na

comunidade da Vila da Barra do Superagüi, uma vez que 90,5% dos entrevistados

declararam participar de uma ou das duas associações da Ilha (tabela 19).

Entretanto, esse instrumento de organização comunitária não é utilizado pela maioria

dos moradores, pois eles apenas são associados, mas não atuantes. As decisões

das prioridades e metas a serem alcançadas não são tomadas em assembléias com

grande participação da comunidade. A atuação da Associação no âmbito das

resoluções de políticas públicas municipais que interessam aos moradores é ainda

muito precária, ou até inexistente. Para RENNÓ (2003, p. 72), grupos sociais locais,

como por exemplo as associações de moradores, são organizações não

necessariamente vinculadas a assuntos políticos, sendo mais voltadas para

problemas do dia-a-dia, servindo “principalmente para formar uma rede de proteção

e conforto a seus membros em relação aos acontecimentos cotidianos”. Essa

afirmação de Rennó sobre o papel das associações não se aplica para a

organização dos moradores da Vila da Barra do Superagüi, pois os problemas

diários da comunidade são o principal motivo de reclamação dos entrevistados.

Para a maioria dos entrevistados (66%), a Associação de Moradores28 não

possui uma atuação efetiva junto ao poder público (tabela 19). Esse fato pode

explicar a falta de participação da comunidade nas deliberações da Associação.

Segundo RENNÓ (2003, p. 77), os fatores que fazem com que haja um aumento da

“participação em associações locais é a leitura de jornais, a avaliação positiva sobre

a eficiência (apoio específico) e a legitimidade de instituições (apoio difuso)”. Ou

seja, a comunidade precisaria de acesso à informação local, perceber que a

Associação realmente é eficiente para resolver seus problemas cotidianos e que sua

atuação é legitimada por outras instituições. No entanto, aparentemente, nenhum

desses fatores foi atingido até o momento.

28 Além da Associação de Moradores, existe a Associação das Senhoras que não tem aspirações políticas, sendo seu maior objetivo a geração alternativa de renda para as mulheres. Apenas 7,5% dos entrevistados declararam participar também da Associação das Senhoras, que na época encontrava-se enfraquecida.

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70

TABELA 19 - ASSOCIATIVISMO

ASSOCIATIVISMO* ASSOCIAÇÃO X PODER PÚBLICO**

N.º Citações Freqüência N.º Citações Freqüência Sim 85 90,5% 21 22,5% Não 9 9,5% 62 66% Não soube responder 0 0% 11 11,5%

TOTAL 94 100% 94 100%

NOTA: Pergunta realizada: (*) Participa de alguma associação da Ilha? (**) Sua associação tem uma atuação efetiva junto ao poder público?

A maioria dos entrevistados argumenta não verem melhorias acontecendo, o

que os leva a concluir que a Associação “não funciona”, sendo chamada, inclusive,

de “totalmente inoperante”. A justificativa apresentada por um dos entrevistados

ilustra a insatisfação da comunidade, “a Associação não faz nada pelo lugar, não

adianta entrar”. Já para um número menor de entrevistados, a Associação até faz a

sua parte, mas o poder público não colabora liberando as verbas. Essas são

algumas das razões que fazem com que a população da Vila ainda esteja

inacessível à Associação e que seu poder de reunir, mobilizar e organizar os

moradores seja muito pequeno.

O presidente da Associação, na época da pesquisa de campo, atribuiu a uma

de suas gestões o mérito de conseguir o fornecimento de E. E. para a Vila,

entretanto, a maioria dos moradores não confere o benefício às ações da

Associação.

A busca de soluções para todos os problemas da Vila, apontados pelos

moradores, deveria partir da coletividade. Todavia, como acontece na maioria das

comunidades da APA Federal de Guaraqueçaba, essa vontade coletiva não tem

apresentado “capacidade de organização que venha a superar o clientelismo, o

assistencialismo e o paternalismo que marcam as relações políticas locais” (SPVS;

IBAMA/PNMA/UC, 1996, p. 24). Observação próxima a essa foi feita em 2001 pela

pesquisadora VIVEKANANDA (2001, p. 40), alertando que a falta de organização e

união da própria comunidade fez com que a situação precária de conservação do

pescado e a conseqüente desvalorização do seu produto perdurasse mesmo após a

chegada da E. E.

Page 85: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

71

Apesar das críticas à atuação da Associação serem variadas, existe a

percepção de que possuir uma liderança representativa e de que se autogerir em

conjunto é importante para o desenvolvimento socioeconômico da comunidade, mas

por desafetos pessoais, brigas entre famílias, entre outros, essa representatividade

fica comprometida e enfraquecida pela falta de coesão da comunidade.

Apesar das possibilidades de melhorias decorrentes da disponibilização E. E.,

não verificou-se o fortalecimento do associativismo na Vila e conseqüentes ações

para conquistar benefícios a favor da comunidade, principalmente nos setores

básicos da saúde e da educação.

Visão de conjunto da seção 3.4

Conforme foi possível destacar nesta seção, as principais mudanças positivas

decorridas da disponibilização da E. E. no cotidiano da comunidade, segundo sua

percepção, foram a possibilidade de aquisição de eletrodomésticos, especialmente a

geladeira e o freezer, e a iluminação no ambiente doméstico.

Nos demais itens analisados, nos quais se buscou uma possível relação

direta ou indireta com a disponibilização da E. E., as mudanças foram pequenas ou

inexistentes. No comércio, por exemplo, ainda faltam equipamentos elétricos que

possibilitariam uma melhora no atendimento. O transporte da Ilha até o continente, e

vice-versa, não sofreu nenhum tipo de alteração e continuou não atendendo as

necessidades dos moradores, dependentes do continente para questões

relacionadas à saúde e comércio.

A expectativa de que a E. E. possibilitasse uma melhora na qualidade de vida

não foi correspondida nos campos da saúde e educação. Continuou existindo na

comunidade uma forte dependência de Paranaguá e Guaraqueçaba para estas

questões.

Mesmo considerando a pesca uma atividade “sofrida” e que atualmente não

tem dado o mesmo retorno que antigamente, a grande maioria dos moradores

deseja permanecer na Ilha e que seus filhos também permaneçam.Apesar da

grande maioria dos moradores pertencer a uma das duas associações da Ilha, eles

não consideram que elas sejam representativas junto ao poder público. Mesmo com

a disponibilização da E. E., não houve ainda uma mobilização da comunidade, por

meio da Associação de Moradores, para buscar melhores condições, por exemplo,

Page 86: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

72

nos setores da saúde e educação da Vila, que poderiam ser desenvolvidos a partir

de seu uso.

A seguir serão analisadas as mudanças derivadas da E. E. sobre o turismo

local.

Page 87: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

73

3.5 A PERCEPÇÃO DOS MORADORES EM RELAÇÃO ÀS MUDANÇAS

PROVENIENTES DA DISPONIBILIZAÇÃO DA E. E. SOBRE O TURISMO

LOCAL

3.5.1 Impactos Socioeconômicos do Turismo

O turismo e o seu impacto na Ilha adquire papel relevante nesse trabalho,

pois o seu incremento é considerado um dos maiores efeitos ligados à

disponibilização da E. E. via cabo submarino.

O acréscimo do número de turistas e da diversificação desse público

desencadeia, na Ilha, uma seqüência de impactos negativos nem sempre percebidos

pela comunidade, que ainda está inebriada com as perspectivas de melhora da sua

qualidade de vida, devido o aumento do fluxo turístico. “Apesar da sedução que o

turismo exerce, por ser um empreendimento de baixo custo e alto lucro, o turismo de

massa pode ter conseqüências negativas e de longo alcance para os povos nativos

e o meio ambiente” (HORWICH et al., 2002, p. 259).

A E. E. atrai um público mais exigente nos padrões de conforto e

modernidade, e como observado por REICHMANN NETO (1999, p. 189) em estudo

realizado na Ilha do Mel, a disponibilização contínua da E. E. propiciou um novo

cenário econômico para a ilha, que acelerou o processo migratório, provocando uma

alteração nos conceitos tradicionais de conforto e modernidade da população nativa.

Até o momento, o turismo na Vila da Barra do Superagüi é baseado na

comunidade, o interesse de pessoas de fora em investir na região tem sido tolhido

pelo Ibama e pelos próprios moradores. A população local ainda detém os privilégios

sobre o turismo na Ilha, sem muitas interferências externas.

Nesta seção, a discussão da percepção dos moradores com relação ao

turismo na Ilha do Superagüi pôde ser, em alguns dos itens estudados, comparada à

percepção dos visitantes da Ilha, em função do trabalho de doutorado realizado pela

pesquisadora Inge Andrea Niefer. Os dados levantados por Niefer no Superagüi,

foram coletados entre dezembro de 1998 e maio de 2000.

3.5.1.1 A E. E. como infra-estrutura básica para o turismo

Com relação ao turismo, o aumento do número de pessoas e a diversificação

do público que visita a Vila são as principais conseqüências depois da

Page 88: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

74

disponibilização da E. E., principalmente pelas possibilidades de melhoria na infra-

estrutura dos campings, pousadas e restaurantes e de confortos como ventilador,

banho quente, bebidas geladas, entre vários outros. Essa expectativa se confirma

segundo o que apontam 94% dos entrevistados (tabela 20), pois para eles houve um

aumento do turismo após a chegada da E. E.

TABELA 20 - AUMENTO DO TURISMO EM FUNÇÃO DA E. E.

E. E. > TURISMO * N.º Citações Freqüência

Sim 88 94% Não 3 3% Não respondeu 1 1% Não soube responder 2 2%

TOTAL 94 100%

NOTA: Pergunta realizada: (*) Com a energia elétrica aumentou o turismo?

Apesar dessa percepção por parte dos moradores, nas entrevistas realizadas

por NIEFER (2002, p. 125) com os visitantes da Vila, foi freqüente o comentário de

que era melhor quando não havia luz.29 Mas nos dados apresentados pela

pesquisadora, 58,10% (NIEFER, 2002, p. 88) dos seus entrevistados estavam

visitando a Ilha pela primeira vez. Como a época de início da pesquisa coincidiu com

o primeiro mês de disponibilização da E. E. via cabo submarino, isso nos leva a

concluir que mais da metade dos visitantes estavam vindo pela primeira vez, não

tendo, portanto, contato com a Ilha antes da chegada da E. E. Na mesma pesquisa,

31% dos entrevistados apontaram a falta de energia como um fato que aconteceu

durante sua permanência na Vila, mas o considerou, pela freqüência de ocorrência,

um problema que não chegou a incomodar (NIEFER, 2002, p. 114). A manifestação

de que era melhor quando não havia luz na Vila, pode ser lida como um aparente

saudosismo de alguns antigos freqüentadores da Ilha, pois a E. E., nos estudos

sobre os seus efeitos, tem sido considerada infra-estrutura básica necessária para

29 Esse comentário foi feito por visitantes que já haviam estado na Ilha antes da E. E., mas esse dado bruto não é apresentado, não sendo possível inferir o número exato de respondentes.

Page 89: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

75

oferecer um conforto mínimo para os turistas mais exigentes que vão passar suas

férias em lugares menos urbanizados.

Segundo o observado por NIEFER (2002, p. 2),

a demanda turística ainda é relativamente pequena, mas em conseqüência da instalação de eletricidade (...) e da proximidade do parque a dois grandes centros urbanos, Curitiba e São Paulo, é provável que a demanda aumente consideravelmente num futuro próximo.

3.5.1.2 Os reflexos do turismo sobre a comunidade

O turismo é apontado por vários autores (HORWICH et al., 2002, p. 256;

UNESCO apud POLETTE, 1993, p. 175; LINDBERG; HUBER JR., 2002, p. 190)

como uma alternativa de desenvolvimento de comunidades rurais,30 como a da Vila

da Barra do Superagüi. A própria comunidade vê o turismo como única alternativa de

crescimento econômico, pois 96% dos entrevistados consideraram que o turismo é

bom para a Ilha, e os 4% restantes ou não responderam a pergunta ou não

souberam responder (tabela 21). De 94 questionários, 74% dos respondentes que

justificaram suas respostas apontaram como o principal benefício do turismo o

aumento da renda da comunidade.

TABELA 21 - PERCEPÇÃO DA COMUNIDADE COM RELAÇÃO AO TURISMO

TURISMO* N.º Citações Freqüência

Bom 90 96% Ruim 0 0% Não respondeu 2 2% Não soube responder 2 2%

TOTAL 94 100%

NOTA: Pergunta realizada: (*) O turismo é bom ou ruim para a Ilha?

Os moradores da Vila (86%) afirmaram que a vida ficou melhor com a

chegada dos turistas (tabela 22). Isso é compreensível, pois o turismo é a fonte de

renda extra para grande parte da comunidade, que pode aproveitar o fluxo de

visitantes de diversas formas, entre elas a venda de peixe e camarão às pousadas,

30 Classificação adotada para a vila pelo IBGE.

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76

bares, lanchonetes, restaurantes ou diretamente aos turistas, conduzindo os turistas

nos passeios de barco, alugando as casas ou quartos, através da venda de pão

caseiro, sonhos, salgados e artesanato, entre outros produtos. Inclusive as crianças

participam, principalmente ajudando os adultos a vender os produtos e cuidando das

embarcações dos turistas. Além da prestação de serviços e da venda de produtos,

existem também os empregos temporários abertos pelos donos de bares,

lanchonetes, restaurantes e pousadas, durante a temporada do verão. Dentre os que

defendem (11%) que a vida não melhorou com a chegada dos turistas, estão

aqueles que vivem exclusivamente da pesca e para os quais o turismo pouco ou

nada contribui no orçamento.

TABELA 22 - A VIDA NA COMUNIDADE E A PRESENÇA DOS TURISTAS

VIDA MELHOR* TURISTAS** N.º Citações Freqüência N.º Citações Freqüência

Sim 81 86% 5 5% Não 10 11% 85 91% Não respondeu 2 2% 2 2% Não soube responder 1 1% 2 2%

TOTAL 94 100% 94 100%

NOTA: Perguntas realizadas: (*) A vida ficou melhor com a chegada dos turistas? (**) A presença dos turistas interfere na vida da comunidade?

Os moradores (91%) não vêem a interferência do turista como um aspecto

prejudicial à vida da comunidade (tabela 22). A forma como eles expressam o

movimento do turismo e seus efeitos, na Vila, revela uma certa cautela, pois há um

interesse manifesto que essa atividade permaneça. Das 94 entrevistas realizadas

30,8% foram justificadas. Dentre elas, a maioria dos entrevistados afirmou que o

turista permanece pouco tempo na Ilha e logo vai embora, vindo principalmente na

temporada; outros complementam que além de não afetar a vida da comunidade, os

turistas auxiliam os nativos, intermediando consultas médicas e dentárias,

oferecendo hospedagem na cidade e auxiliando economicamente; outros

comentários endossam que os turistas, de modo geral, podem ser qualificados como

“pessoas boas”, não fazem coisas erradas, não se envolvem com os nativos, não

incomodam e a comunidade já está acostumada com a sua presença. Algumas

Page 91: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

77

manifestações esparsas colocam os turistas como fonte de informação, trazendo

conhecimento e alegria para os moradores da Vila, sendo inclusive um bom exemplo

pela sua boa educação. Alguns entrevistados fizeram a ressalva de que os turistas

são “muito bem vindos, desde que não venham trazer problemas para a comunidade

como, por exemplo, drogas e desordem”.

Apesar da expressiva maioria dos entrevistados responder que a presença

dos turistas não interfere na vida da comunidade, alguns destacaram a existência de

uma interferência negativa. Dentre os que consideram o turismo influindo no

cotidiano da comunidade, alguns apontam como problema os efeitos exercidos

sobre os jovens, principalmente quanto aos modismos de vestuário, acessórios e

comportamentos – como por exemplo o uso de piercing, tatuagem, pintura dos

cabelos, permanência nos bares durante a temporada –, o uso de drogas em público

por parte dos turistas, o barulho e a bagunça existente quando “vem gente demais”,

que acaba por “agitar” a comunidade. É pequeno o número de pessoas que têm a

percepção de que a comunidade pode estar caminhando rumo à mudanças

estruturais irreversíveis, que irão refletir no processo de manutenção de uma

identidade baseada na pesca, em função, ainda, do forte efeito causado pela euforia

das vantagens trazidas pelo incremento da atividade turística.

Com a chegada da E. E. houve um aumento do turismo, principalmente pelo

conforto e facilidades por ela fornecidos, o que favoreceu a demanda de uma

categoria mais exigente de visitantes. Apesar dos visitantes que freqüentavam a Vila

serem considerados por NIEFER (2000, p. 60) ecoturistas,31 o incremento do turismo

possivelmente levará cada vez mais a uma diversificação de público. Nesse sentido,

observou-se que a comunidade considera o turismo bom para a Vila justamente pela

possibilidade do aumento do poder aquisitivo, que poderá ser aplicado na melhoria

da infra-estrutura ofertada para os turistas a fim de diversificar e selecionar ainda

mais o público, encarecendo cada vez mais os serviços prestados, à medida que

eles forem ficando mais requintados. Para eles, depois da intensificação das

atividades turísticas, suas vidas melhoraram devido o acesso à novas fontes de

renda e o turista é bem vindo e considerado, de modo geral, como uma alternativa

31 Assim classificados com base na sua grande preocupação com os problemas ambientais, preferências para certas atividades e motivação relacionadas com a natureza, bem como sua grande preocupação com o bem estar social da população local (NIEFER, 2000, p. 60).

Page 92: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

78

de melhoria da qualidade de vida da comunidade.

Esse entusiasmo diminui na Ilha com a baixa temporada pois, segundo os

moradores, o movimento cai e a Ilha fica parada, com pouca gente de fora. Para um

grupo há uma diminuição da renda, pois quem depende do turismo fica sem

trabalho, uma vez que o comércio praticamente fecha, resultando numa queda dos

serviços prestados, e quem “não trabalha não ganha”. Para outros, há uma

mudança, mas não a consideram muito significativa, uma vez que suas atividades

giram basicamente em torno da pesca ou do comércio local; outros consideram que

muda o movimento. Quando o turismo passa pelas estações de baixa, muitos

moradores não têm como ganhar dinheiro, voltando-se exclusivamente para a

pesca. E, por fim, poucos vêem esse momento como uma mudança cotidiana

agradável – “fica um lugar quieto, mais sossegado, só com o movimento do lugar”.

Outro assunto abordado junto aos moradores, na tentativa de identificar a

interferência dos turistas no seu cotidiano, foi a problemática das drogas. Apesar

deles (85%) perceberem a existência do consumo de drogas ilícitas – principalmente

a maconha – e do álcool, as opiniões estão divididas quanto ao agravamento da

situação pelo aumento do número e constância de turistas na Vila (tabela 23).

TABELA 23 - O USO DE DROGAS E ÁLCOOL NA VILA E O TURISMO

DROGAS E ALCOOLISMO* AUMENTO DO CONSUMO COM O TURISMO**

N.º Citações Freqüência N.º Citações Freqüência Sim 80 85% 37 39% Não 4 4,5% 39 41,5% Não respondeu 3 3% 5 5,5% Não soube responder 7 7,5% 13 14%

TOTAL 94 100% 94 100%

NOTA: Perguntas realizadas: (*) Existe o uso de drogas e alcoolismo na Ilha? (**) Com o turismo, essa situação tem se agravado?

Para uma parcela dos entrevistados, tanto os nativos quanto os turistas são

usuários, sem distinção entre ambos; outra, praticamente paritária, considerou o

nativo o maior usuário. Alguns moradores relatam que o aumento do consumo

começou no verão de 1987, quando o navio “Solana Star” derramou na costa do

Brasil latas contendo maconha, que chegaram até as praias de pelo menos cinco

Page 93: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

79

estados brasileiros. Os entrevistados não escondem que o nativo também é usuário,

mas para alguns, o nativo consome mais bebidas alcoólicas do que outras drogas, e

um conjunto pequeno de pessoas julgou ser o turista o principal usuário.

O tema não foi muito bem recebido por alguns dos entrevistados, que

mostraram uma certa insegurança em conversar sobre a questão levantada, mas de

modo geral, o vício parece não ser visto como um problema social sério. Apenas um

dos respondentes salientou que a vida na Ilha não melhorou com o aumento do

turismo por causa da entrada das drogas trazidas pelos visitantes: "a vida não

melhorou por causa das drogas. Gostaria que tivesse um fiscal para quando o turista

chegasse".

Como já comentado, a maioria dos moradores da Vila considera benéfico o

desenvolvimento da atividade turística, já que depois dele sua condição de vida ficou

melhor em virtude da renda extra trazida pelos turistas. Esse entusiasmo inicial com

o turismo é observado em vários outros estudos em comunidades pequenas ao

longo do litoral brasileiro. Para RUSCHMANN (2001, p. 47), a euforia é o primeiro de

cinco estágios dos impactos sociais, resultantes do incremento das atividades

turísticas, nas comunidades receptoras, por todas as vantagens que o acompanham.

Depois, com a consolidação da atividade, vem a apatia e o turista passa a ser visto

como lucro fácil, o que tornaria os contatos mais formais. O terceiro estágio seria o

da irritação, quando a atividade turística atinge níveis de saturação ou quando os

equipamentos existentes já não atendem à demanda. Na seqüência, o turista passa

a ser responsabilizado por todos os males e problemas da localidade, passando a

ser hostilizado pela comunidade receptora. No último estágio, a população percebe

que não considerou as mudanças que estavam ocorrendo em função da ânsia de

obter todas as vantagens possíveis com o turismo. Nesse nível é que ficam claras as

transformações ocorridas, inclusive no ecossistema. A comunidade do Superagüi,

segundo o observado, ainda se encontra no primeiro estágio dos impactos sociais. E

por se tratar de uma comunidade lindeira a uma unidade de conservação de

proteção integral, o crescimento desordenado e de maior escala do turismo na Ilha

pode representar, além de uma ameaça à área do Parna, uma ameaça à área

pertencente à Vila, bem como à estrutura social da comunidade. Por tanto, seria

recomendável que esta comunidade não ultrapasse o segundo estágio dos impactos

sociais.

Page 94: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

80

3.5.1.3 A infra-estrutura turística da Vila da Barra do Superagüi

Dos principais itens referentes à infra-estrutura da Vila, tais como: E. E.,

transporte, comunicação, saneamento (lixo, esgoto e água), hospedagem e

alimentação, somente o item comunicação – telefones fixo e móvel – não foi citado

nas justificativas apresentadas pelos entrevistados. Optou-se, na elaboração do

questionário, por realizar uma pergunta envolvendo o tema infra-estrutura da Vila de

forma abrangente, sem a apresentação de uma relação de subitens para escolha do

entrevistado, deixando a seu critério elencar quais itens gostaria de salientar no

momento da justificativa da resposta dicotômica.

De um total de 94 questionários aplicados, 37% consideram que a Vila tem

infra-estrutura e 47% que a Vila não está preparada para receber os turistas (tabela

24). Aqueles que consideraram que a Vila possui infra-estrutura suficiente teceram

alguns comentários, tais como, “os atrativos da Vila são a boa comida, pescado

fresco, preço bom, muitos campings e pousadas”, e também o tratamento dado aos

turistas, alegando que estes são bem recebidos pela comunidade. No entanto, para

outros, a infra-estrutura é boa ou quase boa, mas ela ainda precisa melhorar; já um

pequeno número de moradores considera que apesar da ilha ter infra-estrutura para

receber os turistas, ela é pouca e insuficiente. Um exemplo citado é o transporte

regular insuficiente até a Vila.

TABELA 24 - A VILA COM RELAÇÃO À INFRA-ESTRUTURA PARA O TURISMO E UM NÚMERO LIMITE DE TURISTAS

INFRA-ESTRUTURA* LIMITE DE TURISTAS** N.º Citações Freqüência N.º Citações Freqüência

Não 44 47% 51 54% Sim 35 37% 38 39,5% Não respondeu 4 4% 1 1% Não soube responder 11 12% 5 5,5%

TOTAL 94 100% 94 100%

NOTA: Perguntas realizadas: (*) A Ilha tem infra-estrutura para receber os turistas? (**) Você acha que deveria ter um número limite de turistas?

Os 47% (tabela 24), que não entendem que a Vila tenha infra-estrutura para

receber os turistas, levantaram como principais problemas de infra-estrutura a falta

de pousadas, restaurantes e lanchonetes, pois, segundo alguns entrevistados, tem

Page 95: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

81

momentos em que “sobram turistas”, faltando lugares para acomodá-los. A

insuficiência de água foi apontada como questão preocupante, bem como a

inexistência de saneamento básico (esgoto) e a praia suja. Pelos comentários dos

moradores, pôde-se constatar que, de forma geral, eles estão desassistidos pelo

poder público.

O que chama a atenção nas entrevistas é a pouca citação da água como

questão preocupante, pois mesmo tendo sido mencionada nas respostas de outras

perguntas do questionário, o número de referências pode ser considerado muito

baixo frente à precariedade da rede de abastecimento da Vila. Em épocas de

estiagem, a oferta de água não é suficiente nem mesmo para a população, e a

presença dos turistas agrava consideravelmente a situação. A captação de água

para a Vila é feita na própria Ilha, de uma nascente no Morro das Pacas, não sendo

necessário o tratamento, pois a água ainda é considerada de boa qualidade

(NIEFER, 2002, p. 115).

NIEFER (2002, p. 115), durante um ano e meio de pesquisa, verificou que

para os visitantes da Ilha, a falta de água foi um problema encontrado com

freqüência e vivenciado por 34% dos seus entrevistados, o que reforça a seriedade

da questão, uma vez que a tendência é de um aumento progressivo do número de

turistas, que implica num aumento progressivo na demanda por água na Vila.

Segundo NIEFER (2000, p. 58), a maioria dos turistas que visitam o

Superagüi vem disposta a enfrentar as limitações com relação à alimentação, ao

acesso difícil e às acomodações rústicas, não tendo, provavelmente, expectativas

altas em termos de infra-estrutura.

Entretanto, durante as entrevistas com os moradores, foi possível perceber

uma preocupação em demonstrar a necessidade de ampliação dos imóveis já

existentes e da construção de novos imóveis para atender as demandas de

acomodação, alimentação e conforto que estão surgindo, o que é conflitante com as

normas que regulamentam a expansão predial na Vila. O crescimento inevitável do

turismo exige um planejamento turístico e uma normatização rápida, principalmente

pela limitação física existente. Uma adequação da demanda turística às limitações

físicas e espaciais da Vila precisa ser trabalhada pelos gestores da área, junto à

comunidade, para que a percepção dessa limitação e dos problemas advindos de

uma extrapolação da capacidade suporte do ambiente seja incorporada pelos

Page 96: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

82

moradores. A diferença entre os que consideram que deve haver um número limite

de turistas e dos que acham que não, é pequena. Isso mostra que quase metade da

comunidade se preocupa com os possíveis problemas advindos de um

desenvolvimento descontrolado do turismo.

O envolvimento da comunidade no planejamento turístico e no plano de

manejo do PNS é passo importante para garantir o sucesso de sua implementação.

Percebe-se entre os moradores, por exemplo, uma suscetibilidade ao

estabelecimento de número limite de turistas que visitem a Ilha. Apesar da maioria

dos depoentes, o equivalente a 54% (tabela 24), ser contra a limitação, segundo as

respostas dicotômicas, observa-se na fala de moradores uma certa preocupação

expressa da seguinte forma: “por enquanto, ainda não precisa estipular um limite,

pois o número de turistas que visita a Ilha ainda é pequeno”. Caso seja necessário,

eles são a favor de que se estabeleça um limite. Aqueles que se posicionam

taxativamente a favor da completa liberdade de acesso à Ilha, consideram-na

grande, com bastante espaço a ser ocupado ainda. Uma minoria acha que quanto

mais turistas vierem será melhor para a Vila, ou seja, para a economia da Vila.

No entanto, 39,5% (tabela 24) dos entrevistados consideram o limite de

turistas importante, pois “quanto mais passa o tempo, mais turistas vêm até a Ilha” e

isso é uma preocupação, pois alguns têm receio das conseqüências de um número

muito grande de pessoas na Vila. Um dos entrevistados teceu o seguinte comentário

fazendo menção a outras realidades presenciadas na região litorânea: "para não

ficar igual a Ilha do Mel". Suas palavras carregam um teor de preocupação futura,

caso haja um desenvolvimento descontrolado como o ocorrido na Ilha vizinha.

Segundo RUSCHMANN (2001, p. 117),

a capacidade de carga social da comunidade receptora estará ultrapassada quando os moradores da localidade já não aceitarem os turistas e passarem a hostilizá-los, pois eles destroem seu meio ambiente natural, agridem sua cultura e impedem sua participação nas atividades e a freqüência a lugares que lhes pertencem.

Esse tipo de situação não foi relatado pela comunidade durante as

entrevistas, mas não está tão distante de acontecer, uma vez que, boa parte dos

entrevistados já demonstra preocupação com relação a entrada excessiva de

turistas na Ilha.

Page 97: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

83

Com relação ao tema transporte, não foi realizada uma pergunta específica

envolvendo o turismo. Somente foi abordado como essa situação se apresentava

para o morador da Ilha, dando-se preferência por diagnosticar a percepção dos

entrevistados sobre o acesso à Ilha, que envolve a questão do transporte, mas que

permite, de certo modo, uma abrangência maior da visão dos moradores com

relação ao assunto.

Para 82% dos respondentes, o acesso à Ilha dificulta o turismo (tabela 25).

Dentre as justificativas apresentadas, a falta de um transporte regular que facilite

este acesso, foi a assertiva mais citada, seguida pelo translado demorado e a longa

distância a ser percorrida. Houve também uma pequena referência ao preço cobrado

pela travessia. Este custo é, segundo os moradores, obstáculos à ampliação do

número de turistas.

Os bancos de areia próximos à Vila são considerados por todos muito

perigosos, dificultando a viagem e obrigando a barqueiros e pescadores darem a

volta pela Baía dos Pinheiros, o que deixa o trajeto até a Ilha mais longo,

encarecendo-o. Devido às dificuldades enfrentadas para a pescaria, e para sair da

Ilha quando o mar fica “bravo”, alguns moradores manifestaram o desejo de que seja

aberto um canal atravessando a Ilha das Peças, do Rio Boguaçu até o Rio das

Peças, para que o acesso à Baía das Laranjeiras seja mais fácil, e a viagem mais

curta e menos perigosa. Para esses moradores, a operação aparentemente é

simples, pois seria um trecho curto a ser aberto para que os dois rios se

encontrassem. Essa compreensão dos moradores dificulta o entendimento das

razões pelas quais o Ibama proíbe a realização da obra. A referida área está contida

inteiramente dentro dos limites do PNS. Esclarecer a comunidade os aspectos legais

e técnicos envolvidos na questão é importante, evitando futuros desentendimentos,

dada a impossibilidade de construção do canal (figura 4).

Page 98: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

84

FIGURA 4 - LOCALIZAÇÃO DO CANAL PRETENDIDO LIGANDO O RIO BOGUAÇU AO RIO DAS PEÇAS

Page 99: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

85

TABELA 25 - O ACESSO À ILHA E O TURISMO

ACESSO X TURISMO * N.º Citações Freqüência

Sim 77 82% Não 14 15% Não respondeu 1 1% Não soube responder 2 2%

TOTAL 94 100%

NOTA: Pergunta realizada: (*) O acesso à Ilha dificulta o turismo?

Apenas 15% dos entrevistados considerou que o acesso não interfere no

fluxo turístico da Ilha (tabela 25). Poucos justificaram suas respostas, e os

argumentos apresentados foram: a existência de um grande número de barcos dos

moradores para transportar os turistas; a vinda dos turistas mais “por dentro” – pela

Baía dos Pinheiros (figura 1) –, que é o caminho mais seguro; e por último, o de que

o transporte melhorou um pouco nos últimos tempos.

Já para os turistas que visitaram o Superagüi entre 1999 e 2000, o acesso

difícil foi o problema que menos os incomodou, pois consideram a dificuldade de

chegar um fator positivo por impedir uma visitação mais intensa (NIEFER, 2000, p.

59; 2002, p. 124). Pelo relato e análise feita pela autora, infere-se que o turista avalia

a importância de que a Vila não perca suas características, não desejando, inclusive,

que o turismo se desenvolva muito. Todavia, a visão da maioria dos moradores, por

enquanto, é contrária.

A Vila da Barra do Superagüi, como já mencionado anteriormente, pertence

ao município de Guaraqueçaba e possui dois representantes na Câmara Municipal

de Vereadores. O órgão gestor, tanto da APA, como do Parna, é o Ibama.

A principal instituição, identificada como autoridade pelos moradores, foi o

Ibama. Para 70,2% (tabela 26) dos entrevistados, as autoridades não têm

demonstrado preocupação com o crescimento do turismo.

Page 100: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

86

TABELA 26 - AS AUTORIDADES QUE ATUAM NA ILHA E O TURISMO

AUTORIDADES X TURISMO * N.º Citações Freqüência

Não 66 70,2% Sim 11 11,7% Não respondeu 2 2,1% Não soube responder 15 16%

TOTAL 94 100%

NOTA: Pergunta realizada: (*) As autoridades têm demonstrado preocupação com relação ao crescimento do turismo?

Os políticos são acusados de negligência com a comunidade e de total

desinteresse pelos problemas enfrentados pela Vila pela grande maioria das

pessoas. O Ibama aparece também nas respostas como o único que se importa,

mas para alguns, em tom de crítica, por ser visto como opositores ao turismo e por

embargar as construções dos nativos. Outros argumentos apresentados foram os de

que: “haveria um interesse da Prefeitura de Guaraqueçaba que o turismo no

Superagüi não se desenvolva, e assim deixe de ser um concorrente com a sede do

Município”; “os políticos só procuram os moradores antes das eleições, buscando

conquistar votos”; “o lixo é um reflexo do descaso dos governantes com a Vila”; “as

autoridades não incentivam o turismo”; “há muita corrupção e não há investimentos e

sim muitas restrições”.

Com base em uma análise feita pela FUPEF (1997, p. 33), em 1997, concluiu-

se que a falta de coordenação entre as instituições atuantes na APA de

Guaraqueçaba reduziu o efeito que os investimentos realizados poderiam

proporcionar para a melhoria das condições ambientais e econômicas da região.

Essa ação desordenada das instituições é percebida ainda hoje na Vila da Barra do

Superagüi, pela própria comunidade, que identifica a existência de vários órgãos

atuando na Vila, sem um objetivo comum definido.

3.5.2 Impactos Ambientais do Turismo

Os impactos ambientais que podem vir a decorrer indiretamente do

fornecimento de E. E., analisados neste trabalho, estão relacionados,

principalmente, ao aumento do turismo e suas implicações, tais como problemas

Page 101: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

87

com o saneamento (lixo, água e esgoto), com a poluição sonora e avanços

domiciliares sobre a área do PNS. Para RUSCHMANN (2001, p. 34),

os impactos do turismo referem-se à gama de modificações ou à seqüência de eventos provocados pelo processo de desenvolvimento turístico nas comunidades receptoras. As variáveis que provocam os impactos têm natureza, intensidade, direções e magnitude diversas; porém, os resultados interagem e são geralmente irreversíveis quando ocorrem no meio ambiente natural.

Nos subitens abaixo serão analisados, individualmente, os principais impactos

ambientais ligados indiretamente ao fornecimento de E. E.

3.5.2.1 O turismo e o saneamento básico na Vila

A comunidade da Vila na época da pesquisa de campo não estava tendo

acesso ao serviço de coleta de lixo doméstico, sendo sua destinação final precária.

Em 1996, foi implantado em Guaraqueçaba, pelo Governo Estadual, o projeto Baía

Limpa, cujo objetivo era buscar a sustentabilidade e o desenvolvimento

socioeconômico do litoral paranaense. O projeto era dirigido aos pescadores

artesanais do litoral, tendo quatro fases distintas, que não foram implementadas na

sua totalidade. O projeto era realizado em parceria com as prefeituras municipais e,

no caso de Guaraqueçaba, não existia um barco destinado somente à coleta e

transporte do lixo, o que muitas vezes inviabilizava o serviço, sendo em alguns

casos utilizadas as embarcações de pescadores. O projeto foi mantido em condições

instáveis até o ano de 2002.

Atualmente, muito lixo permanece na Ilha, sendo enterrado, queimado,

acumulado e algumas vezes transportado pelos próprios moradores e turistas,

principalmente para Paranaguá. A chegada da E. E. pode ter promovido uma

diversificação do tipo de lixo produzido na Vila, proporcionada pela possibilidade de

refrigeração, podendo ter ocasionado um aumento do número de embalagens não

recicláveis ou de reciclagem deficiente como, isopores, tetra pak, alguns tipos de

plásticos, papéis laminados, entre outros; no entanto, a grande maioria (71,3%) dos

entrevistados considerou que o aumento do turismo não promoveu um acréscimo no

volume de lixo produzido na Vila (tabela 27). As justificativas apresentadas foram as

de que: os próprios turistas recolhem seu lixo, inclusive o lixo jogado na praia; o

turista leva parte do lixo que trouxe, quando deixa a Ilha; o lixo por eles produzido é

Page 102: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

88

o resultante dos produtos oferecidos nas pousadas e no comércio local, sendo de

responsabilidade dos estabelecimentos seu destino final; os turistas são vistos por

alguns como pessoas que ensinam a população a cuidar mais da Vila.

A percepção dos moradores com relação a questão do lixo é conflituosa, pois

para 20,2% (tabela 27) há uma contraposição entre os argumentos apresentados, ou

seja, os turistas trazem muita coisa e não levam o lixo embora; que o aumento do

turismo naturalmente gera uma acumulação maior de lixo; que muitos turistas não

“dão um destino correto para o lixo"; que gostariam que houvesse alguém para

recolher o lixo.

Muitas vezes, os visitantes que vêm para permanecer nos campings são

apontados como os principais responsáveis por trazer mais lixo para a Ilha, uma vez

que praticamente toda sua alimentação é trazida do continente. Contudo, percebe-se

nessa referência aos chamados “barraqueiros” uma certa discriminação,

principalmente pela sua independência do comércio local.

TABELA 27 - O TURISMO E O AUMENTO DO LIXO NA VILA

TURISMO X > LIXO* N.º Citações Freqüência

Não 67 71,3% Sim 19 20,2% Não respondeu 3 3,2% Não soube responder 5 5,3%

TOTAL 94 100%

NOTA: Pergunta realizada: (*) O turismo tem trazido mais lixo para a Ilha?

Com relação ao lixo, não foi identificada uma associação significativa por

parte dos entrevistados sobre o aumento na sua produção (71% acham que não)

que possa ser correlacionado com o aumento do número de turistas que visita a Ilha.

No entanto, como já abordado na discussão referente aos impactos sociais, a falta

de infra-estrutura básica de saneamento é uma questão a ser observada, pois com o

aumento crescente do turismo esse problema tende a se agravar, tanto ambiental,

pela contaminação do solo e da água, quanto socialmente, pelos riscos de

transmissão de doenças (FUPEF, 1997; IPARDES, 2001).

Page 103: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

89

Como já abordado no subitem infra-estrutura, a falta de água e a inexistência

de esgotamento sanitário foram apontadas como questões preocupantes por uma

parcela muito pequena dos entrevistados, apesar de serem problemas evidentes. Na

tentativa de suprir a falta de água durante a temporada de verão, alguns

proprietários de pousadas estão abrindo poços de água nos seus terrenos.

Entretanto, esta água pode estar contaminada em virtude da contaminação do lençol

freático. Uma vez que muitos destes poços de água são construídos próximos às

fossas, o uso da água fica comprometido, pela possibilidade de contrair doenças

veiculadas pela urina e fezes. Não existem na Vila fossas sépticas ou qualquer outro

tipo de tratamento ao esgoto produzido. Alguns moradores lançam os resíduos

provenientes dos domicílios diretamente em um banhado localizado nas margens de

um córrego que atravessa parte da Vila. As taboas, plantas típicas de banhado,

nesse caso, teriam condições de reduzir a matéria orgânica do esgoto in natura.

Contudo, os fosfatos32 lançados em função do aumento do número de máquinas de

lavar roupa ou tanquinhos, podem afetar o desenvolvimento das taboas, segundo

estudo realizado por Van Kaick,33 diminuindo com o tempo a eficiência reprodutiva

das plantas, bem como a eficiência na capacidade de tratamento dos resíduos

produzidos. Outras áreas da Vila não dispõem de nenhum tipo de tratamento para o

esgoto, e o aumento do fluxo turístico pode gerar uma sobrecarga das fossas e

contaminação do solo e da água. Além do tratamento do esgoto produzido na Vila,

faz-se necessário uma avaliação da rede de abastecimento d’água, para o controle

de vazamentos, buscando minimizar o problema da falta d’água na Vila.

3.5.2.2 O turismo e a poluição sonora

Apesar da diminuição do ruído, ocasionado pelo funcionamento dos

geradores a óleo diesel existentes na Vila, com a disponibilização da E. E. via cabo

submarino, surge um novo tipo de poluição sonora, provocada pelo uso de

eletrodomésticos. Além dos ruídos dentro dos domicílios, causados pelo

funcionamento de televisores, aparelhos de som, máquinas de lavar roupa,

batedeiras, liquidificadores, aspiradores, geladeiras, freezer e outros

eletrodomésticos que podem estar ligados concomitantemente e, somando vários

32 Presentes principalmente nos sabões em pó. 33 Informação fornecida através de comunicação pessoal entre a autora deste trabalho e a pesquisadora.

Page 104: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

90

decibéis, existe também o ocasionado pelos bares, lanchonetes e restaurantes com

a utilização de equipamentos de som para atrair os turistas. O uso de aparelhagem

de som no ambiente doméstico, por vizinhos, também foi motivo de reclamação por

parte de alguns dos entrevistados, não ficando restrita somente ao ambiente

comercial. Mais da metade dos entrevistados (57,5%) (tabela 28) considerou que o

aumento de bares e restaurantes não ocasionou um aumento do barulho na Vila. Do

total de entrevistados que justificaram suas respostas, a maioria argumentou que

mora em lugares mais distantes e que não ouve o barulho produzido; outros

argumentos apresentados foram os de que o barulho aumenta nas épocas de festa,

como por exemplo no carnaval, sábados e feriados, e para alguns continua a mesma

coisa, calmo e tranqüilo como antigamente.

TABELA 28 - O AUMENTO DE BARES E RESTAURANTES E O BARULHO

BARES X > BARULHO* N.º Citações Freqüência

Não 54 57,5% Sim 39 41,5% Não respondeu 1 1% Não soube responder 0 0,0%

TOTAL 94 100%

NOTA: Pergunta realizada: (*) Você acha que com o aumento de bares e restaurantes houve um aumento do barulho?

Para 41,5% dos entrevistados há um aumento do barulho (tabela 28), que é

mais intenso durante a estação do verão, quando o comércio permanece mais

tempo aberto. Alguns moradores exprimiram a vontade de que houvesse um horário

limite para acabar o barulho. Outro fato não relatado pelos entrevistados, mas

observado em campo, foi o surgimento de pequenos empreendimentos temporários

durante os períodos de maior fluxo de visitantes, que também usam como atrativo o

som alto. Pelos números apresentados, pode-se inferir que a maioria dos

entrevistados que atestaram um aumento do barulho residem nas áreas adjacentes

aos bares, restaurantes, lanchonetes e pousadas e não são proprietários dos

estabelecimentos.

Page 105: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

91

3.5.2.3 O veranista

Desde a sua descoberta no século XIX, a E. E. provocou intensas mudanças

no cotidiano das pessoas, tendo como uma de suas conseqüências os aglomerados

urbanos (UFPR, 1994, p. 17). O crescimento demasiado da população da Vila da

Barra do Superagüi pode ser o catalisador de impactos que podem vir a ocorrer nas

diferentes dimensões desta comunidade. Por isso existe uma grande preocupação,

por parte do órgão gestor do Parna, relacionada à ampliação e à construção de

novos domicílios na Vila. Não é permitida a “compra” de terrenos ou construção de

casas no terreno de nativos por pessoas externas à comunidade da Ilha.34 Para

DIEGUES e ARRUDA (2001, p. 43), a especulação imobiliária, que visa a

construção de residências secundárias de veraneio, é uma das ameaças às

comunidades caiçaras e às suas atividades tradicionais.

Na comunidade da Vila da Barra do Superagüi, essa preocupação pode ser

percebida, pois a maioria dos moradores entrevistados, o equivalente a 59,5%, é

contra a existência de casas de veranistas na Vila (tabela 29). A perda do espaço

destinado ao nativo para os de “fora” é vista como prejudicial à comunidade;

entretanto, eles não demonstram perceber as conseqüências de um crescimento

excessivo da população ou da Vila. A rejeição aos veranistas é manifestada,

principalmente, pelo fato de que eles não representam uma fonte de renda extra

para a comunidade, uma vez que não trazem lucro para o comércio local, pois não

freqüentam as pousadas, restaurantes, lanchonetes, trazendo “tudo da cidade”.

TABELA 29 - O VERANISTA NA VILA

ACEITAÇÃO À CASAS DE VERANEIO* N.º Citações Freqüência

Não 56 59,5% Sim 31 33% Não respondeu 2 2% Não soube responder 5 5,5%

TOTAL 94 100%

NOTA: Pergunta realizada: (*) Vocês aprovam a presença dos veranistas?

34 Neste trabalho serão considerados como “veranistas” os proprietários de casas de veraneio que as freqüentam sazonal ou esporadicamente, segundo termo adotado por REICHMANN NETO (1999, p. 53).

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92

De qualquer forma, o risco de avanços domiciliares sobre a área do PNS

encontra-se, atualmente, sob controle, devido à regulamentação e fiscalização do

uso do solo da área da Vila da Barra do Superagüi, que tem cerceado quaisquer

tentativas de construção de residências secundárias de veraneio.

3.5.3 A Percepção dos Moradores sobre o PNS

A disponibilização da E. E. para a Vila, via cabo submarino, é um exemplo de

que a existência do Parna não impediu o acesso da comunidade a essa infra-

estrutura (item 1.5.2), mas essa relação não foi estabelecida pelos entrevistados. A

maioria deles (61%) considera que a existência do Parna não interfere nas suas

vidas, principalmente por não dependerem mais do “mato” para viver (tabela 30).

Outros argumentos isolados apresentados foram os de que: “se não fosse o parque,

estariam caçando ainda e a mata já estaria destruída”; “o parque preserva, pois

impede que as pessoas de fora invadam a Ilha”; “se não fosse o parque, o comércio

local não se desenvolveria”. Mesmo considerando que o Parna não atrapalha suas

vidas, três entrevistados fizeram críticas à fiscalização e à impossibilidade de extrair

madeira da mata. Para VIVEKANANDA (2001, p. 94), apesar dos moradores da Vila

afirmarem que o Parna não trouxe mudanças nos seus hábitos de vida, foi a

fiscalização que fez com que uma série de práticas extrativistas fossem cessadas ou

pelo menos diminuídas.

Para 35% (tabela 30) dos entrevistados, com a implantação do Parna, as

práticas que antes eram comuns, como a pequena agricultura de subsistência, a

caça, a coleta e o extrativismo vegetal, tiveram que ser abandonadas, e para a

maioria deles a impossibilidade do uso dos recursos naturais foi prejudicial à

comunidade. Não poder mais “tirar um pau do mato”, nem para fazer um remo, um

balaio, arrumar o barco, aumentar ou consertar a casa, nem mesmo “cortar um

palmito para comer” é o que mais incomoda. Alguns entrevistados comentaram que

essa prática ainda acontece dependo do grau de necessidade. O fato de não

poderem mais plantar, fazer uma horta ou uma roça também foi citado por alguns,

assim como a caça para consumo próprio. Poucos mencionaram a questão da

dificuldade para conseguir autorização para novas construções ou para a ampliação

dos domicílios. Alguns acham desnecessárias tantas proibições, pois para eles "se

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93

tá preservado assim, não foi o Ibama que preservou, mas foram os moradores em

toda uma vida".

A prática agrícola já havia decaído antes da criação do Parna

(VIVEKANANDA, 2001, p. 64), mas a extração de madeira da floresta para consertar

os barcos e reformar os domicílios, apesar de ser uma ação rara atualmente, foi uma

prática difícil de ser abandonada, pelo discurso de alguns moradores que

consideram o preço da madeira elevado para o seu poder aquisitivo.

TABELA 30 - A VISÃO DO MORADOR SOBRE O PNS

PNS X VIDA DO MORADOR* PNS X BENEFÍCIOS**

N.º Citações Freqüência N.º Citações Freqüência Não 57 61% 44 47% Sim 33 35% 31 33% Não respondeu 2 2% 3 3% Não soube responder 2 2% 16 17%

TOTAL 94 100% 94 100%

NOTA: Perguntas realizadas: (*) O Parque Nacional atrapalha sua vida? (**) Você acha que o PNS pode trazer benefícios para você e para a comunidade?

A maioria do entrevistados (47%) não considera que a existência do Parna

possa trazer algum benefício para eles e para a comunidade (tabela 30). Poucos

justificaram suas respostas, e destes, a maioria considera que não obtiveram

nenhum benefício com o Parna até o momento, e não acreditam que ainda possam

vir a ter. Para outros, o Parna atrapalha mais do que ajuda, pois “não se pode cortar

nada” e é um obstáculo ao desenvolvimento da Vila; um dos moradores apresentou

o seguinte argumento:

fico em cima do muro, numa parte é bom e na outra já é ruim. Não querem que o Superagüi progrida no lado do transporte. Virou Parque Nacional e eles acharam que tinha que cuidar só dos bichos, para as pessoas eles não tão nem aí, mas por outro lado eles ajudam na conservação. Os benefícios é que eles não deixam destruir a Ilha.

A visão de que há uma preocupação maior com a fauna e a flora existentes

no PNS do que com a comunidade da Vila é recorrente, como, por exemplo, na

justificativa apresentada para essa mesma pergunta por um entrevistado que não a

respondeu, mas justificou com o seguinte argumento: "desde que seja num método

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94

diferente, um projeto comunitário, pois hoje só tem para os animais". A comunidade

se sente abandonada, pois apesar de existir uma grande movimentação de

pesquisadores e técnicos na região, alguns não vêem projetos voltados para a

comunidade sendo implantados, apesar deles existirem na prática.

Para os entrevistados que percebem os benefícios advindos da presença do

PNS (33%), a maioria os associa à atração que este exerce para o turismo e as

vantagens que dele resultam, seguidos da “ajuda na preservação do lugar” e

também o impedimento de construções ilegais e, novamente, por trazer os turistas.

Outros argumentos apresentados foram a geração de novas oportunidades de

trabalho, através de cursos de guia para os moradores; a ajuda às pessoas carentes

da Vila para acabar com a dependência “do mato e só da pesca”; e “melhorias para

o lugar” nas áreas da saúde e educação. De forma geral, o desenvolvimento do

turismo e o crescimento do comércio seriam o grande saldo positivo da existência do

PNS.

Nenhum dos entrevistados na pergunta acima estabeleceu uma relação entre

possíveis benefícios advindos da existência do Parna com uma possível cobrança

de taxa de visitação para os turistas. Mas quando consultados se essa taxa deveria

ser cobrada, a grande maioria (64%) julgou que sim e que ela deveria ser convertida

em favor da comunidade (tabela 31). Dentre estes, a maioria gostaria que esse

dinheiro fosse administrado pela Associação dos Moradores e as benfeitorias

desejadas elencadas foram: a compra de uma voadeira para as emergências,

serviços médicos, remédios, cestas básicas, viagens e a limpeza da praia, sendo

esta última a mais citada pelos entrevistados. Um número menor de respondentes

gostaria que o dinheiro arrecadado fosse “revertido para a comunidade” para ajudar

e trazer benefícios para os moradores, contudo não citaram a Associação como a

administradora do suposto novo recurso. Alguns desses entrevistados foram além

dos benefícios, citando, inclusive, um possível aumento direto na renda dos

moradores em função da cobrança da taxa. Já uma parcela menor acha justa a

cobrança da taxa, desde que a renda seja revertida em benefícios aos próprios

turistas, através de banheiros públicos, um “bom trapiche”, serviços de informação

ao visitante e limpeza da praia.

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TABELA 31 - OS PRÓS E CONTRAS À CRIAÇÃO DE UMA TAXA DE VISITAÇÃO

TAXA DE VISITAÇÃO* N.º Citações Freqüência

Sim 60 64% Não 24 25,5% Não respondeu 1 1% Não soube responder 9 9,5%

TOTAL 94 100%

NOTA: Pergunta realizada: (*) Você acha que deveria ser cobrada uma taxa para o turista entrar na Ilha?

Dos 25,5% (tabela 31) que são contra a cobrança da taxa para os turistas, a

maioria acha que eles já trazem benefícios ao visitarem a Ilha e desfrutarem dos

serviços oferecidos pelos empreendimentos locais, trazendo novas fontes de renda

para muitas famílias. Para um número menor, a taxa poderia “espantar” os turistas,

diminuindo o fluxo turístico na Vila. NIEFER (2000, p. 56) identificou nos visitantes

do Superagüi uma forte predisposição a pagar uma taxa para visitar o Parna, mas

muitos esclareceram que gostariam que esse dinheiro fosse aplicado no lugar.

A cobrança de taxas turísticas tem sido uma alternativa usada por vários

administradores de unidades de conservação visando “cobrir os custos de

administração do visitante, bem como os custos de estratégias tradicionais de

conservação ou dos programas de desenvolvimento da comunidade” (LINDBERG;

HUBER JR., 2002, p. 144-145). Mais uma vez, o envolvimento da comunidade no

processo de planejamento do turismo para a Ilha do Superagüi é fundamental para

que haja o entendimento da finalidade da cobrança da taxa para os visitantes e para

que eles possam participar na hora de estabelecer as prioridades de aplicação do

dinheiro arrecadado.

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96

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A disponibilização da E. E. para a comunidade da Vila da Barra do Superagüi

veio acompanhada de benefícios corriqueiros, principalmente a possibilidade de

iluminação doméstica e acesso à bens duráveis, que facilitam o cotidiano dos

moradores. Entretanto, apesar do fornecimento da E. E., setores que dela

dependem diretamente para se desenvolver, como os da saúde e educação, não

apresentaram os avanços que a comunidade ansiava.

As transformações sociais e econômicas suscitadas pela disponibilização da

E. E. podem estar conduzindo a comunidade à modificações estruturais, que irão

refletir no processo de manutenção de uma identidade baseada na pesca, já que a

E. E., fornecida continuamente, desencadeou um processo de crescimento

acelerado da atividade turística.

O fato da E. E. ser distribuída para a comunidade da Vila da Barra do

Superagüi apenas através de ligações monofásicas e/ou bifásicas pode ser

considerado um fator de restrição ao crescimento da microeconomia local. Todavia,

este fato não tem impedido o crescimento progressivo do consumo de E. E. e nem o

desenvolvimento da infra-estrutura comercial voltada ao turismo.

Observa-se uma excessiva valorização, por parte da comunidade, do turista

como fonte de renda. O desejo de crescimento econômico existente, se não

direcionado e planejado adequadamente, pode vir a ser, em um futuro próximo, um

detonador de processos de degradação ambiental e social, ao se exceder a

capacidade de suporte do ambiente, com o aumento descontrolado do turismo, e ao

se criar condições de competitividade individual dentro da comunidade, para atrair

para si os benefícios do turismo.

A desestruturação do modo de vida tradicional pode alterar profundamente o

sistema de valores tradicionais e a organização da comunidade, por meio do acesso

a artefatos tecnológicos e ao mundo globalizado, factível devido à eletricidade, e

através do contato com valores urbanos, trazidos pelos visitantes.

A E. E., como um serviço de infra-estrutura básica essencial à urbanidade,

estimula a especulação imobiliária, que é rejeitada pelo morador da Vila, e até o

momento tem sido controlada pelo órgão gestor, o Ibama. No entanto, o próprio

Page 111: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

97

nativo pode, se o ritmo de crescimento existente na Vila atualmente se mantiver,

através das ampliações e novas construções, exercer pressão sobre a área do PNS.

Os moradores da Vila da Barra do Superagüi não vêem a criação do PNS, de

modo geral, como uma decisão contrária aos seus interesses, até porque são 14

anos de convívio estável, desde sua criação. Contudo, é premente a elaboração de

um plano de manejo, que conte com a participação das comunidades do seu

entorno, regulamentando a atividade turística e viabilizando a manutenção do

Patrimônio Natural existente no PNS. Considera-se que os vários estudos já

realizados na área (por instituições como SPVS, IPÊ, Fupef, UFPR, PUC-PR, Cefet,

Seed, Unesp-Rio Claro, entre outros), integrados à pesquisas que visem a geração

de alternativas de renda para a população do entorno do PNS, como a da Vila da

Barra do Superagüi, podem em muito auxiliar na conciliação dos interesses de

conservação da natureza com os interesses socioculturais.

Por sua vez, os danos ambientais e sociais causados pela falta de

saneamento básico da Vila, que poderão ser progressivamente agravados pelo

crescimento do turismo, podem ser evitados através da implantação de tecnologias

alternativas. Sugere-se o tratamento de esgoto por meio de zona de raízes,

tecnologia desenvolvida por Van Kaick e testada em uma residência localizada na

Ilha Rasa, Município de Guaraqueçaba, que, com estudos direcionados, poderia ser

adaptada ao ambiente da Vila da Barra do Superagüi.35

Sob a perspectiva cultural, existem estudos que têm como objeto a análise

dos impactos da introdução de motores nas embarcações das comunidades

caiçaras, porém não foram encontrados trabalhos que revelem os resultados da

disponibilização da eletricidade para essas e outras comunidades tradicionais.

Um tema instigante não examinado neste trabalho, mas relacionado direta ou

indiretamente às alterações provocadas no modo de vida dos nativos, em função da

chegada da E. E., é a relação do morador da Vila com a noção de tempo (DIEGUES,

1998). O tempo social urbano, imposto pela atividade turística, é regulado de forma

diferente daquele dos nativos, marcado pela sua relação com a natureza. A

existência da eletricidade e de artefatos tecnológicos, bem como a presença do

35 Para maiores informações consultar a dissertação da autora. VAN KAICK, T. S. Estação de tratamento de esgoto por meio de zona de raízes: uma proposta de tecnologia apropriada para saneamento básico no litoral do Paraná. Curitiba, 2002. 116 f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia), Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná.

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98

turista, estão provocando tensões múltiplas em aspectos do cotidiano dos

moradores.

Por fim, espera-se que este estudo possa contribuir com dados que subsidiem

discussões e estudos sobre a compatibilização dos interesses de comunidades

tradicionais e não tradicionais, com as propostas de conservação da natureza.

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99

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104

APÊNDICE – FORMULÁRIO APLICADO DURANTE A PESQUISA DE CAMPO REALIZADA EM 2003

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105

CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA E AMBIENTAL, DEPOIS DA DISPONIBILIZAÇÃO DA ENERGIA ELÉTRICA, DA COMUNIDADE DA BARRA

DO SUPERAGÜI

1.ª visita: ___/___/___ hora: __:__ Motivo:

2.ª visita: ___/___/___ hora: __:__ Motivo:

3.ª visita: ___/___/___ hora: __:__ Motivo:

Número do medidor:

Imóvel no mesmo medidor: A B C Nome do entrevistado: _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ Procedê

Razão Social: _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _

1 Quem está sendo entrevistado? Naturalidade:_ _ _ _ _1 proprietário 4 caseiro 2 cônjuge do proprietário 5 empregado(a) 3 filho ou filha do proprietário 6 outro (especificar):

1 Adulto Ausente 2 Recusa 3 Fechado 4 Abandonado

m o t i v o 5 Realizada

n.º de pessoas atendida2 tipo do consumidor ou consumidor potencial 2003 199

1 residencial permanente 2 residencial veranista

empregados 3 bar/ restaurante *

empregados 4 pousada *

empregados 5 hotel *

empregados 6 camping *

7 indústria 8 prestação de serviço 9 outros:

(*) Capacidade máxima de atendimento (número de pessoas).

3 Apropriação do imóvel 2003

1 imóvel próprio 2 imóvel alugado 3 imóvel cedido 4 imóvel ocupado 5 imóvel que não existia 6 outras:

1 Residência 2 Pousada 3 Restaurante 4 Bar 5 Outros

ncia:_ _ _ _ _ _ _ _ _

_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _

s 8

1998

Page 120: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

106

4 A chegada da energia trouxe mudanças? sim não

Códigos a serem utilizados na Tabela 5 A B C tipo de morador na

mesma residência nível de escolaridade ocupação setor de atividade

1 titular da família 1 idade não escolar 1 empregado 1

transporte com barcos

2 cônjuge da família 2 analfabeto 2 autônomo 2 pesca

3 filho 3 alfabetizado 3 empresário/ empregador 3 construção civil

4 filha 4 fundamental incompleto 4 vive de renda 4 indústria

5 pai 5 fundamental 5 estudante 5 pousadas/hotel

6 mãe 6 ensino médio incompleto 6 “bico” 6 bares/restaurantes

7 sogro 7 ensino médio 7 do lar 7 carreto

8 sogra 8 superior incompleto 8 aposentado 8 servidor público

9 genro 9 superior 9 desempregado 9 serviços domésticos 10 nora 10 pós-graduação 10 inválido 10 associação 11 outros: 11 outros: 11 outros: 11 outros:

0 não sabe informar

Dados necessários somente para consumidor RESIDENCIAL. 2003 1998 tipo de morador na mesma

residência A B C A B C

6 Você acha que o nível de educação ofertado na comunidade é suficiente?

sim não

7 Você considera a continuação dos estudos importante?

sim não

8 Possui horta no quintal? sim não

Comercializa os produtos? sim não

9 Freqüenta alguma igreja ou templo? sim não

10 Participa de alguma associação da ilha? sim não

11 Sua associação tem uma atuação efetiva

junto ao poder público? sim não

Qual(is) produto(s) cultiva?____________________________

Qual(is)?_______________

Por quê? ____________ ____________________

Qual(is)? _________________________ _________________________ _________________________

Qual(is)?_________________

Como?___________________

Por quê? ____________

5

Page 121: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

107

CARACTERÍSTICAS DO IMÓVEL

QUANTIDADE 12 Infra-estrutura do

imóvel 2003 1998

1 quartos2 salas 3 cozinhas 4 banheiros 5 salas de escritórios 6 dispensa; depósito 7 varandas 8 garagem 9 churrasqueiras 10 piscina 11 lavanderia

12 outros:

13 cobertura 2003 1998

1 telha de concreto

2 telha de cerâmica (barro)

3 telha de amianto (eternit)

4 zinco

5 madeira

6 plástico

7 material aproveitado

8 outra:

14 Paredes externas 2003 1998

1 alvenaria

2 tábua/compensado

3 mista

4 material aproveitado

5 outra:

15 Piso 2003 1998

1 tábua

2 madeira bruta; cimento

3 chão batido

4 outro:

16 situação do imóvel 2003 1998

1 concluído

2 em ampliação/reforma

3 em construção

4 outra:

17 abastecimento de água 2003 1998

1 Cachoeira com canalização interna

2 Cachoeira/canalização interna e poço

3 poço ou nascente com canalização interna

4 Cachoeira sem canalização interna

5 poço ou nascente sem canalização interna

6 outro:

18 banheiro 2003 1998

1 interno(s)

2 externo

3 coletivo

4 outro:

19 para onde vai o esgoto da residência

2003 1998

1 fossa

2 valeta a céu aberto

3 lançado no mar ou rio

4 outro:

20 para onde vai o lixo da residência 2003 1998

1 recolhido e enterrado

2 enterrado

3 queimado

4 jogado em terreno baldio

5 jogado no mar ou rio

6 outro:

Page 122: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

108

QUANTIDADE

utensílios eletro-eletrônicos existentes 2003 1998

1 chuveiro elétrico

2 aquecimento solar de água

3 geladeira

4 geladeira à gás

5 freezer

6 ferro elétrico

7 liqüidificador

8 batedeira de bolo

9 estufa de alimentos (comercial)

10 espremedor de frutas

11 multiprocessador

12 sanduicheira

13 forno microondas/forno elétrico

14 máquina de lavar roupa

15 rádio/aparelho de som

16 televisor Preto e Branco

17 televisor colorido

18 ventilador

19 ventilador de teto

20 máquina de cortar grama elétrica

21 máquina de cortar grama c/ combustível

22 telefone

23 gerador elétrico próprio

24 rádio transmissor (VHF/UGF)

25 vídeo

26 antena parabólica

27 Outros: _______________________ ______________________________

__________ __________

___________ ___________

21

22 O que você acha do atendimento no posto de saúde?

2003 1998

1 Bom

2 Ruim

3 Péssimo

OBS.: _________________________________ ____________________________________ ____________________________________ ____________________________________

23 Quando alguém adoece, para

onde se leva a pessoa? 2003 1998

1 Posto de Saúde da Ilha

2 Paranaguá

3 Guaraqueçaba

4 Pontal do Paraná

5 Outro

Por quê? _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________

Page 123: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

109

24 Onde sua família faz as compras? 2003 1998

1 Na Ilha

2 Paranaguá

3 Guaraqueçaba

4 Pontal do Paraná

5 Outro

25 Com a chegada da energia, melhorou o comércio na Ilha?

26 Você acha que tem diferença entre os preçosdos mantimentos do comércio da Ilha e do continente?

27 Com a energia elétrica aumentou o turismo?

28 O quê muda na Ilha com a baixa temporada?

29 O turismo é bom ou ruim para a Ilha?

30 A vida ficou melhor c/ a chegada dos turistas?

31 As autoridades responsáveis têm demonstrado preocupação com relação ao crescimento do turismo?

32 A ilha tem infra-estrutura para receber os turistas?

33 O acesso à Ilha dificulta o turismo?

34 Você gostaria de poder se deslocar mais da Ilha para o continente?

35 O preço do transporte interfere na freqüência

que você vai para o continente?

36 A presença dos turistas interfere na vida da comunidade?

37 O turismo tem trazido mais lixo para a Ilha?

38 Existe o uso de drogas e alcoolismo na Ilha?

Por quê? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

sim não

sim não

sim não

bom ruim

sim não

sim não

sim não

sim não

sim não

sim não

sim não

sim não

sim não

Por quê? _________________

Por quê? _________________

Quem são os usuários?

Por quê? _________________

Por quê? _________________

Por quê? _________________

OBS.:____________________

Por quê? _________________

Por quê? _________________

Por quê? _________________

Por quê? _________________

Por quê? _________________

________________________________________________________________________________________

OBS.:____________________

Page 124: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

110 39 Com o turismo, essa situação tem se

agravado? sim não

40 Você acha que com o aumento de bares e

restaurantes houve um aumento do barulho? sim não

41 Você acha que deveria ser cobrada uma taxa

para o turista entrar na Ilha? sim não

42 Você acha que deveria ter um número limite

de turistas? sim não

43 Você aprova a presença dos veranistas? sim não

44 O Parque Nacional atrapalha sua vida? sim não

45 A fiscalização do Ibama é importante? sim não

46 Você prefere morar na Ilha ou na cidade? Ilha cidade

47 Para seus filhos, o melhor é morar na Ilha ou na cidade?

Ilha cidade

48 Você acha que o PNS pode trazer benefícios para você e para a comunidade?

sim não

49 O que você acha do fornecimento de energia na Ilha? Bom Regular Ruim

Como?___________________

Por quê? _________________

Por quê? _________________

Por quê? _________________

Por quê? _________________

Por quê? _________________

Por quê? _________________

Por quê? _________________

Por quê?_________________

OBS.: ___________________

Page 125: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

111

ANEXO – FORMULÁRIO APLICADO DURANTE A PESQUISA DE CAMPO REALIZADA NA BARRA DO SUPERAGUI, PELA COPEL, EM 1998

Page 126: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

(

112 C CA NA

te

Lo NR

2 2

2 _

3

5_ _

ARACTERIZAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA E AMBIENTAL DA ENERGIA ELÉTRIILHA DE SUPERAGÜI

visita: ___/___/___ hora: __:__ Motivo:

visita: ___/___/___ hora: __:__ Motivo:

visita: ___/___/___ hora: __:__ Motivo:

1 Adulto Ausen

2 Recusa

3 Fechado

4 Abandonado

m o t i v o 5 Realizada

A B C

calização do consumidor ou consumidor potencial (vila e outras referências):

ome do entrevistado: _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ Procedência:_ _ _ _ _ _ _ _ _ azão Social: _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ Ano em que veio morar na Ilha: _ _ _ _ _ _

1 Quem está sendo entrevistado? 1 Proprietário 4 Caseiro 2 cônjuge do proprietário 5 empregado(a) 3 filho ou filha do proprietário 6 outro (especificar):

Possuí luz elétrica? sim não

.1 Possuí gerador elétrico próprio? sim não

.2 Nome do proprietário do gerador de quem recebe luz? _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _

gostaria de ter energia 24 horas pela Copel? sim não

1998 4 Nº de imóveis no mesmo gerador

participa em alguma associação na ilha? Sim não

1 Residência 2 Pousada 3 Restaurante 4 Bar 5 Outros

Qual(is)?________________________________

nº de pessoas atendidas 6 tipo do consumidor ou consumidor potencial 1998 há cinco anos

atrás 1 residencial permanente 2 residencial veranista

empregados 3 bar/ restaurante *

empregados 4 pousada *

empregados 6 camping *

7 indústria 8 prestação de serviço 9 outros:

*) Capacidade máxima de atendimento (número de pessoas).

Page 127: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

113

Códigos a serem utilizados na Tabela 7

A B C Tipo de morador na mesma residência nível de

escolaridade ocupação setor de atividade

1 Titular da família 1 idade não escolar 1 empregado 1 transporte com

barcos 2 cônjuge da família 2 analfabeto 2 autônomo 2 Pesca

3 Filho 3 alfabetizado 3 empresário/ empregador 3 construção civil

4 Filha 4 1º Grau incompleto 4 vive de renda 4 Indústria

5 pai 5 1 º Grau 5 estudante 5 pousadas/hotel

6 mãe 6 2º Grau incompleto 6 "bico” 6 bares/restaurantes

7 sogro 7 2º Grau 7 do lar 7 Carreto

8 sogra 8 Superior incompleto 8 aposentado 8 servidor público

9 genro 9 Superior 9 desempregado 9 serviços domésticos 10 nora 10 Pós-Graduação 10 inválido 10 Associação 11 outros: 11 outros: 11 outros: 11 outros:

0 não sabe informar

Dados necessários somente para consumidor residencial. 7 1998 há cinco anos

atrás CÓ-

DIGO

tipo de morador na mesma residência

A B C A B C

8 Apropriação do imóvel 1998 há cinco anos atrás

1 imóvel próprio 2 imóvel alugado 3 imóvel cedido 4 imóvel ocupado 5 imóvel não existia 6 outras:

(marque com um “X” o tipo do imóvel no caso de haver mais de um no mesmo medidor) CARACTERÍSTICAS DO IMÓVEL Residência Pousada Restaurante Bar

Page 128: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

114

QUANTIDADE 9 infraestrura do imóvel 1998 há cinco anos

atrás

1 quartos 2 salas 3 cozinhas 4 banheiros 5 salas de escritórios 6 dispensa; almoxarifado; depósito 7 varandas 8 garagem 9 churrasqueiras 10 piscina 11 lavanderia

12 outros:

10 cobertura 1998 há cinco anos atrás

1 telha de concreto 2 telha de cerâmica (barro) 3 telha de amianto (eternit) 4 zinco 5 madeira 6 plástico 7 material aproveitado 8 outra:

11 Paredes externas 1998 há cinco anos atrás

1 alvenaria 2 tábua/compensado 3 mista 4 material aproveitado 5 outra:

12 Piso 1998 há cinco anos atrás

1 tábua aplainada/taco/lajota/carpet 2 madeira bruta; cimento 3 chão batido 4 Outro:

Page 129: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

115

13 situação do imóvel 1998 há cinco anos atrás

1 Concluído 2 em ampliação/reforma 3 em construção 4 Outra:

14 abastecimento de água 1998 há cinco anos

atrás 1 Da Rede com canalização interna

2 Rede/canalização interna & poço

3 Poço ou nascente com canalização interna

4 Rede sem canalização interna

5 Poço ou nascente sem canalização interna

6 Outro:

15 banheiro 1998 há cinco anos atrás

1 Interno(s) 2 Externo 3 Coletivo 4 Outro:

16 para onde vai o esgoto da residência 1998 há cinco anos atrás

1 fossa 2 valeta a céu aberto 3 lançado no mar rio ou córrego 4 outro:

17 para onde vai o lixo da residência 1998 há cinco anos atrás

1 recolhido e enterrado

2 enterrado

3 queimado

4 jogado em terreno baldio

5 jogado no mar rio ou córrego

6 outro:

Page 130: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

116

QUANTIDADE 18 utensílios eletro-eletrônicos existentes 1998 há cinco anos

atrás 1 chuveiro elétrico 2 aquecimento solar de água 3 geladeira 4 geladeira à gás 5 freezer 6 ferro elétrico 7 liqüidificador 8 batedeira de bolo 9 estufa de alimentos (comercial) 10 espremedor de frutas 11 multiprocessador 12 sanduicheira 13 forno microondas/forno elétrico 14 máquina de lavar roupa 15 rádio/aparelho de som 16 televisor PRETO e BRANCO 17 televisor colorido 18 ventilador 19 ventilador de teto 20 máquina de cortar grama elétrica 21 máquina de cortar grama c/

combustível

22 telefone 23 gerador elétrico próprio 24 rádio transmissor (VHF/UGF) 25 vídeo 26 antena parabólica 27 outros:__________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________

_________________________________________________________________

18.1 Costuma utilizar lenha? sim não 18.2 Com que finalidade? _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _

SOMENTE PARA RESIDENTES PERMANENTES NA RESIDÊNCIA

Page 131: centro federal de educação tecnológica do paraná programa de pós

117 SUPERAGÜI

19 Preocupações 1998 há cinco anos atrás

1 brigas entre pessoas na vila 2 consumo de drogas e álcool na ilha

4 representação política da ilha perante o governo (associações)

5 ocupação desordenada dos lotes/terrenos

6 falta de atividade econômica na ilha na baixa temporada

7 infra-estrutura turística da Ilha 8 o turismo prejudica o meio ambiente 9 Policiamento

11 Parque Nacional atrapalha a vida (econômica) da vila

12 fiscalização do IBAMA 14 postos de saúde 15 escolas/educação 16 Água 17 saneamento e drenagem 18 a questão do lixo na Ilha 19 cachorros / gatos 20 preço e disponibilidade mantimentos 22 preço e disponibilidade transporte

marítimo

23 cobrança de pedágio para turistas 25 doenças de pele e parasitas 26 falta de banheiros públicos

27 outra: (cobra)_________ _________________________________

OBS.: MARQUE COM UM “X” PARA MARCAR A PREOCUPAÇÃO DO ENTREVISTADO E “NS”

QUANDO O ENTREVISTADO NÃO SABE INFORMAR

Conceito sobre o imóvel A B C Identificação do Pesquisador:

NOME:__________________________________ Visto:_______________ Data: ____/____/_____