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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PR UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CAMPUS PONTA GROSSA GERÊNCIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO PPGEP ROBERTO BONDARIK PARADIGMAS PRODUTIVOS INDUSTRIAIS E MODELOS DE HOMEM CONEXÕES PERCEPTIVEIS PRESENTES NA OBRA DE ALBERTO GUERREIRO RAMOS PONTA GROSSA DEZEMBRO - 2007

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁPR

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

CAMPUS PONTA GROSSA

GERÊNCIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

PPGEP

ROBERTO BONDARIK

PARADIGMAS PRODUTIVOS INDUSTRIAIS E

MODELOS DE HOMEM

CONEXÕES PERCEPTIVEIS PRESENTES NA OBRA DE ALBERTO

GUERREIRO RAMOS

PONTA GROSSA

DEZEMBRO - 2007

ROBERTO BONDARIK

PARADIGMAS PRODUTIVOS INDUSTRIAIS E

MODELOS DE HOMEM

CONEXÕES PERCEPTIVEIS PRESENTES NA OBRA DE ALBERTO

GUERREIRO RAMOS

Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Área de Concentração: Gestão Industrial, da Gerência de Pesquisa e Pós-Graduação, do Campus Ponta Grossa, da UTFPR.

Orientador: Prof. Luiz Alberto Pilatti, Doutor

PONTA GROSSA

DEZEMBRO - 2007

B 711 Bondarik, Roberto Paradigmas produtivos industriais e modelos de homem: conexões perceptíveis presentes na obra de Alberto Guerreiro Ramos. / Roberto Bondarik. – Ponta Grossa: UTFPR, Campus Ponta Grossa, 2007. 180 f.: 30 cm.

Orientador: Prof. Dr. Luiz Alberto Pilatti Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa. Curso de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Ponta Grossa, 2007. 1. Homem parentético. 2. Modelos de homem. 3. Paradigmas produtivos. 4. Industrialização. 5. Sociedade do conhecimento. I. Pilatti, Luiz Alberto. II. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa. III. Título.

CDD 658.51

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

À minha esposa Cidinha, que me

incentivou, sacrificou-se e cobrou a

conclusão deste curso.

Aos meus pais e ao meu filho Bruno, o

qual me ensina a cada dia que é especial

viver.

AGRADECIMENTOS

À minha esposa e ao meu filho Bruno por terem me proporcionado o tempo e o

incentivo necessários a esta tarefa, abrindo mão de outras situações mais importantes em

nossas vidas.

Ao meu orientador Professor Luiz Alberto Pilatti por ter acreditado e investido seu

tempo em mim, me adotado, pelo trabalho de me ensinar a pesquisar e a escrever e por me

fazer vencer as limitações do tempo e da distância.

Aos meus colegas de curso, pelo grande apoio e compartilhamento, pelo

companheirismo e pelo sentimento de harmonia.

À Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa por ter

construído a realidade deste curso.

À Direção do Campus Cornélio Procópio da Universidade Tecnológica Federal do

Paraná, pela liberação parcial da carga horária de trabalho, possibilitando-me a conclusão

da pesquisa.

Ao Colégio Estadual “Vandyr de Almeida” Ensino Fundamental e Médio, de Cornélio

Procópio – Paraná, seus professores, funcionários, alunos e, em especial, à Diretora Ana

Bernardino Narente. Pela colaboração e compreensão de todos no estabelecimento de

horários que favoreceram meu estudo e pesquisa.

À Secretaria de Estado da Educação, Núcleo Regional de Educação de Cornélio

Procópio.

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Na parede de um botequim em Madri, um

cartaz avisa: Proibido cantar.

Na parede do aeroporto do Rio de

Janeiro, um aviso informa: É proibido

brincar com os carrinhos porta-bagagem.

(...) ainda existe gente que canta, ainda

existe gente que brinca.

(EDUARDO GALEANO)

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

RESUMO

Alberto Guerreiro Ramos idealizou os homens operacional, reativo e parentético, que tiveram uma existência paralela aos três paradigmas produtivos industriais presentes no século XX, fordismo, toyotismo e volvismo, formando uma trilogia produtiva que influenciou o desenvolvimento tecnológico e organizacional deste período histórico. O objetivo deste trabalho é estabelecer as conexões entre os modelos de homem de Alberto Guerreiro Ramos e os paradigmas produtivos industriais identificados na passagem da Sociedade da Produção para a sociedade do Conhecimento evidenciada no século XX. A pesquisa desenvolvida foi exploratória e qualitativa, o método utilizado foi o de história de vida. A coleta dos dados ocorreu por meio de entrevistas semi-estruturadas, os sujeitos da amostra selecionados entre funcionários de uma empresa do setor de alimentos, detentora de alto nível tecnológico, certificados internacionais de qualidade, sendo líder em seu setor de atuação. A técnica de análise de conteúdo foi utilizada para o entendimento dos dados coletados, sendo que se fez necessário a decomposição das informações em categorias distintas, mas conectas. Os modelos de homem guerreirianos e sua vinculação aos paradigmas produtivos podem assim ser considerados: o homem operacional, passivo diante do ambiente produtivo, programável e movido apenas pelas recompensas materiais, vincula-se de forma mais evidente ao paradigma Ford de produção, cujo funcionamento estático pode ser comparado a uma máquina; o homem reativo que não vincula ainda a sua existência pessoal a organizacional, é dotado de uma racionalidade mais desenvolvida e possui uma flexibilidade mais aprimorada no ambiente produtivo, conecta-se ao paradigma Toyota de produção, que pode ser comparado a um organismo vivo; o homem parentético, mais sofisticado e racional é capaz de analisar a realidade que o cerca, com isenção, como se dela não fizesse parte, sendo a sua conexão mais evidente o paradigma Volvo de produção, cuja imagem é vinculada a um cérebro, e que exige um ser humano critico e responsável, por ter sido planejado pensando-se na ação do homem na planta de Uddevalla na Suécia. O homem parentético detém características dos modelos anteriores, que, como eles possuíam as raízes formativas deste, sua capacidade crítica-analítica é bastante desenvolvida em relação a sua existência e aos fatores que lhe são relacionados. A empresa estudada passou de um paradigma fordiano, em que os seus funcionários eram com peças de uma máquina, para o paradigma toyotista, onde a qualidade produtiva, organizacional e laboral passou a ser considerada. Matizes identificadas na organização permitiram a vinculação de práticas ao paradigma volvista: espírito de trabalho em equipe e a consciência de sua necessidade; elevado grau de tecnologia aplicado à produção; preocupação organizacional com a qualidade de vida pessoal e operacional dos colaboradores; entusiasmo com o ambiente de trabalho considerado prazeroso. Concluiu-se que os modelos de homem e os paradigmas produtivos possuem conexões identificáveis no ambiente produtivo contemporaneamente, permitindo um melhor entendimento do ambiente organizacional.

Palavras-chave Homem parentético; modelos de homem; paradigmas produtivos; industrialização; sociedade do conhecimento.

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

ABSTRACT

The social behavior and the human cultural level have suffered influence from the technological and material development. The sociologist Alberto Guerreiro Ramos tried to comprehend and explain the human being from his mastership of racionality and the relations with productive organizations. Ramos idealized men as operational, reactive and parenthetic. These models had a paralel existence with three productive and industrial paradigms. such as Fordism, Toyotism, and Volvism, forming a productive trilogy that influenced the technological and organizational development. This dissertation responds the questioning on the perceived conections between Ramos' models of man and the productive paradigms in the passage from the production society to the knowledge society that was evident in the twentieth century. It is been regarded the hipothesis that considers identifiable connections that respond the question proposed by the research. Its confirmation is the aim of this work. The operational man, passive before the productive enviroment, programable and powered only by material rewards, links more evidently to Ford's model of production, whose static functioning can be compared to a machine. The reactive man who does not link his personal existence to the organizational one, and he is possessor of a more developed rationality and has more flexibility in the productive enviroment. The reactive man connects to the production model of Toyota, that can be compared to a living being. It is the moment of quality and fight againg waiste. The parenthetic man, who is more sophisticated and racional, is able to analize the reality tha surrounds him, with isention, as if he were not a part of it. His connection is more evident in the model of Volvo, whose image is linked to a brain, and demands a critic and responsible human being, for having being planned with the focus on the action of the man working in the plant of Uddevala, in Sweden. The parenthetic man holds many of the previous caracteristics, as they possessed its formative roots. The models of man and the productive paradigms are broadly existent and identifiable in productive enviroment of our days. The test of the hipothesis was done with the employees of a company of the food sector and possessor of a high technological level, holding international quality certificates, and being a leader in its segment. The research developed was exploratory and qualitative, the method used was the history of life one. The collection of the data happened through semi-structured interviews, and the samples were selected among the employees of the company with different extensions of time working for the company. The technique analysis of the contents was used for the understanding of the data collected, which was necessary for the decomposition of the information into different categories, however connected.

Keywords

Parentethical men; models of man; paradigms productive; industrialization; the

knowledge society.

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - DELIMITAÇÃO DOS SISTEMAS SOCIAIS. ........................................32

QUADRO 2 – TIPOS DE RACIONALIDADE E PROCESSOS ORGANIZACIONAIS

...........................................................................................................................39

QUADRO 3 – CONCEITOS E DEFINIÇÕES: DADO, INFORMAÇÃO E

CONHECIMENTO..............................................................................................60

QUADRO 4 – PARADIGMAS PRODUTIVOS / PERÍODO DE VIGÊNCIA................63

QUADRO 5 – CONSTRUÇÃO DO MODELO FORD DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL

...........................................................................................................................69

QUADRO 6 – CONSTRUÇÃO DO MODELO TOYOTA DE PRODUÇÃO

INDUSTRIAL......................................................................................................76

QUADRO 7 – CONSTRUÇÃO DO MODELO VOLVO DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL

...........................................................................................................................83

QUADRO 8 – CAMPOS DE APLICAÇÃO DA ANÁLISE DE CONTEÚDOS...........103

QUADRO 9 – MODELOS DE HOMEM DE ALBERTO GUERREIRO RAMOS.......134

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS

RESUMO

ABSTRACT

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE TABELAS

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

LISTA DE SÍMBOLOS

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 16 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO 16 1.2 PROBLEMA DE PESQUISA E HIPÓTESE 17

1.2.1 PROBLEMA DE PESQUISA 17 1.2.2 HIPÓTESE 18

1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA 20 1.3.1 OBJETIVO GERAL 20 1.3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 20

1.4 JUSTIFICATIVA 20 1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO 24

2 MARCO REFERENCIAL TEÓRICO 25 2.1 ALBERTO GUERREIRO: SOCIÓLOGO 25

2.1.1 REDUÇÃO SOCIOLÓGICA 28 2.1.2 DELIMITAÇÃO DOS SISTEMAS SOCIAIS 31

2.2 OS MODELOS DE HOMEM IDEALIZADOS POR ALBERTO GUERREIRO 33 2.2.1 HOMEM OPERACIONAL 35 2.2.2 HOMEM REATIVO 40 2.2.3 HOMEM PARENTÉTICO 41

2.3 A CONSTRUÇÃO DA SOCIEDADE DA PRODUÇÃO 47 2.3.1 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 49 2.3.2 SOCIEDADE DA PRODUÇÃO 53

2.4 A SOCIEDADE DO CONHECIMENTO 57 2.4.1 CARACTERÍSTICAS DA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO 58

2.5 MODELOS E PARADIGMAS PRODUTIVOS INDUSTRIAIS 62 2.5.1 MODELO FORD DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL: AS ORGANIZAÇÕES COMO MÁQUINAS 64

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

2.5.2 MODELO TOYOTA DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL: A ORGANIZAÇÃO COMO ORGANISMO VIVO 71 2.5.3 MODELO VOLVO DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL: A ORGANIZAÇÃO COMO UM CÉREBRO 78

3 METODOLOGIA E MÉTODOS 89 3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA 89

3.1.1 PESQUISA EXPLORATÓRIA 89 3.1.2 PESQUISA QUALITATIVA 91

3.2 MÉTODOS 93 3.2.1 HISTÓRIA DE VIDA 93 3.2.2 ENTREVISTAS 95

3.3 SUJEITOS QUE COMPUSERAM A AMOSTRA 100 3.4 COLETA DE DADOS 101 3.5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE 101

4 RESULTADOS E ANÁLISES 106 4.1 ENTREVISTAS: RESULTADOS E DISCUSSÃO 106

4.1.1 CATEGORIZAÇÃO 108 4.1.2 INDÚSTRIA TRADICIONAL RÍGIDA 109 4.1.3 INDÚSTRIA MODERNA FLEXÍVEL 114 4.1.4 INDÚSTRIA SOFISTICADA FLEXÍVEL-CRIATIVA 122

5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 126 5.1 CONCLUSÕES 126 5.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS 135

REFERÊNCIAS 136 APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTAS (SEMI-ESTRUTURADO) 152 ANEXO 1 – ENTREVISTA COM DEPOENTE NÚMERO 01 (D-01) 154 ANEXO 2 – ENTREVISTA COM DEPOENTE NÚMERO 02 (D-02) 160 ANEXO 3 – ENTREVISTA COM DEPOENTE NÚMERO 03 (D-03) 166 ANEXO 4 – ENTREVISTA COM DEPOENTE NÚMERO 04 (D-04) 171 ANEXO 5 – ENTREVISTA COM DEPOENTE NÚMERO 05 (D-05) 175

Capítulo 1 Introdução 16

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

1 INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

Compreender e explicar o ser humano, analisando-o criticamente a partir de

seu domínio da racionalidade foi o que procurou fazer Guerreiro Ramos (1984). Os

modelos de homem, identificados por ele, possibilitam uma melhor compreensão

sobre sua natureza, qualidades e importância para o ambiente produtivo e

organizacional. Ambientes que se constituem no amalgama que solidifica as

relações humanas e a organização social.

As organizações, por sua vez, atuam como um cimento que solidifica e une as

estruturas sociais, influenciando-as constantemente e por elas sendo transformadas.

As organizações atingiram tal grau de importância no mundo contemporâneo que,

autores como Zoboli (2001) afirmam que os tempos atuais configuram uma época

managerial, cujo paradigma é a empresa.

Os modelos de homem de Guerreiro Ramos (1984) fundamentam-se na teoria

administrativa, estabelecendo-se uma relação evolutiva do mais simples, o homem

operacional, passando pelo homem reativo até que sua análise identificou o homem

parentético, o mais sofisticado e racional de todos. A evolução do homem

guerreiriano teve como cenário toda a história do século XX, onde se desenvolveram

modelos de produção industrial que se constituíram em paradigmas para o tempo

em que existiram. Os modelos de produção, agrupados em uma trilogia que se

locupleta, influenciaram e promoveram considerável parte do desenvolvimento social

e tecnológico contemporâneo. As necessidades produtivas fizeram desenvolver-se

um mercado consumidor que completou o ciclo mútuo de desenvolvimento da

humanidade. Os paradigmas produtivos estabelecidos pelas industrias Ford, Toyota

e Volvo, em diferentes épocas, produziram necessidades no mercado, que por sua

vez produziu outras necessidades que a indústria teve de atender. As necessidades

de mercado provocaram desenvolvimento tecnológico e organizacional em escala

Capítulo 1 Introdução 17

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

constante, e junto a elas o homem influenciou e foi influenciado em sua forma de ser

e de existir.

As mudanças dos modelos de homem e também dos paradigmas produtivos

caracterizaram um maior desenvolvimento na sociedade, que teve a sua riqueza

transferida dos bens materiais para os bens de natureza intelectual. A Sociedade da

Produção criou condições para que paralelamente se desenvolvesse a Sociedade

do Conhecimento, cuja proeminência é sentida em diversos aspectos.

O processo de evolução da produção industrial, base organizacional da

sociedade e dos modelos de homem em Guerreiro Ramos, possui conexões e

interdependências. Explorar estas conexões constitui o tema deste trabalho.

1.2 PROBLEMA DE PESQUISA E HIPÓTESE

1.2.1 PROBLEMA DE PESQUISA

Considerando-se a revisão de literatura relacionada ao tema em pauta,

constatou-se a existência de trabalhos versando sobre os paradigmas produtivos

industriais e os modelos de homem idealizados por Alberto Guerreiro Ramos.

Porém tais estudos tratam desses dois assuntos de forma separada, ou seja, não

tratam das conexões entre os paradigmas produtivos e os modelos de homem. Os

trabalhos assim considerados podem ser agrupados distintamente:

• trabalhos em maior quantidade e que versam sobre o Modelo Ford e Toyota,

relacionando suas diferenças como paradigmas produtivos;

• trabalhos em menor quantidade, que versam sobre o modelo Volvo de

produção e as experiências produtivas em Kalmar e Uddevala, na Suécia;

• trabalhos que conjugam os três paradigmas produtivos são bastante raros,

sendo o mais importante o de Wood Jr. (1992);

Capítulo 1 Introdução 18

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

• sobre Sociedade da produção e do Conhecimento, são encontrados trabalhos

em bom número;

• foram identificados também trabalhos sobre Guerreiro Ramos, porém que

tratam sua obra de uma maneira fragmentada e individual;

Analisados estes grupos constatou-se a existência de uma lacuna que

considerada em relação aos objetivos propostos, torna-se relevante. Esta lacuna

evidencia-se pela inexistência de trabalhos que conduzam a uma correlação e

conseqüente análise das conexões existentes ou possíveis entre os modelos de

Alberto Guerreiro Ramos, os paradigmas produtivos e os tipos de sociedade.

Identificada esta lacuna na literatura, pode-se passar à delimitação do

problema de pesquisa que norteará a construção desta dissertação. O problema é

proposto nos seguintes termos: Quais são as conexões percebidas entre os

modelos de homem idealizados por Alberto Guerreiro Ramos e os paradigmas

industriais na passagem da Sociedade da Produção para a Sociedade do

Conhecimento?

1.2.2 HIPÓTESE

Assim, pretende-se considerar como hipótese que existem conexões que

podem ser estabelecidas entre os modelos de homem de Guerreiro Ramos (1984) e

os paradigmas produtivos desenvolvidos no século XX. Mesmo não sendo uma

vinculação mecanicamente rígida ou automática, pode-se, seguindo os princípios

dos tipos ideais weberianos presentes no pensamento de Guerreiro Ramos,

estabelecer conexões que se seguem: homem operacional ao modelo Ford, sendo

esta a conexão mais nítida de todas; o evoluir constante da sociedade e do

ambiente produtivo é sofisticado, podendo o modelo seguinte de homem - homem

reativo – ser correlacionado ao modelo Toyota; e a sofisticação do homem

parentético, vinculado ao modelo Volvo considerado no conjunto deste trabalho

como o modelo melhor desenvolvido, não faz desaparecer os modelos anteriores,

Capítulo 1 Introdução 19

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

sendo mantidos muitos dos traços comportamentais do homem operacional e do

reativo.

Para a confirmação da hipótese, de maneira empírica, devidamente

fundamentada no marco referencial teórico, buscou-se um setor produtivo e dentro

dele uma organização empresarial e pessoas que contemplassem os seguintes

requisitos:

I. organização industrial que fosse de médio ou grande porte –

Organizações deste porte permitiriam uma melhor análise das relações

entre as pessoas e o sistema de produção ou de trabalho;

II. organizações que possuam uma estrutura organizacional clara –

Empresas com estas características permitiriam uma melhor definição da

escala de decisão e do sistema de administração da produção;

III. indivíduos que atuem ou tenham atuado na atividade produtiva em linha

de produção ou chefiando setores desta – podendo assim conhecer-se o

processo de produção, o modelo de sociedade e suas inter-relações com

os modelos comportamentais destes indivíduos;

IV. um setor em que fossem percebidas transformações tecnológicas

consideráveis nos últimos quarenta ou cinqüenta anos – o que permitirá a

análise da influência do fator tecnológico na produção industrial e na

relação com o modelo de homem.

A organização selecionada teve sua identidade preservada por motivos de

maior isenção e liberdade científica, possibilitando maior clareza na obtenção dos

dados úteis à pesquisa. A empresa autorizou que se conduzisse a pesquisa em seu

interior, disponibilizando tempo e pessoas para a sua realização.

A empresa onde a pesquisa foi conduzida é uma industria do setor de

alimentos e atua no mercado nacional e internacional há quase quarenta anos,

configurando-se atualmente como uma das líderes em seu segmento de mercado.

Detentora de diversos selos e certificações, a indústria coloca seus produtos nos

mais diversos paises, nos cinco continentes. Implantou programas de qualidade de

forma mais intensa a partir da década de 1990, provocando mudanças perceptíveis

em seu funcionamento organizacional e produtivo. A possibilidade de conhecer sua

Capítulo 1 Introdução 20

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

realidade antes e depois de tal transformação, tornou-a ideal para a aplicação do

teste da hipótese deste trabalho, que contou com o depoimento de seus

funcionários.

1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA

1.3.1 OBJETIVO GERAL

Estabelecer as conexões entre os modelos de homem idealizados por Alberto

Guerreiro Ramos e os paradigmas produtivos industriais, identificados na passagem

da Sociedade da Produção para a Sociedade do Conhecimento.

1.3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

A construção do objetivo geral exige, por sua complexidade, que sejam

trabalhados paralelamente os seguintes objetivos específicos:

• apontar as características da Sociedade da Produção e da Sociedade do

Conhecimento;

• caracterizar os paradigmas produtivos industriais;

• verificar as transformações nos modelos de homem em decorrência das

transformações nos paradigmas produtivos;

1.4 JUSTIFICATIVA

O estudo proposto, relacionado aos modelos de homem e paradigmas

produtivos, desenvolve-se no cenário estabelecido pelo século XX. A busca pela

compreensão deste período histórico apóia-se na quantidade e profundidade das

Capítulo 1 Introdução 21

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

transformações nele ocorridas, que devidamente percebidas, possibilitarão um

melhor entendimento sobre o ser humano, a estrutura social em que se insere e as

relações produtivas culturalmente estabelecidas.

O estudo dos paradigmas produtivos e dos modelos de homem verificados no

século XX justifica-se por ter sido uma época historicamente marcada por

transformações que alteraram profundamente o cotidiano da humanidade, com o

estabelecimento de paradigmas produtivos industriais, modelos de homem

culturalmente estabelecidos, bem como estruturas sociais que produziram

momentos hegemônicos, sem considerá-los bons ou maus, com seus respectivos

momento de ascensão, declínio e superação. Guerreiro Ramos (1983) considera ser

preciso encarar as hegemonias sem considerá-las boas ou más, através de uma

atitude parentética e cientifica. Para o autor, o estabelecimento da Sociedade do

Conhecimento, considerando-se que ele ainda não se utilizava desta nomenclatura,

a produção de riquezas adquiriu um novo significado. Até este momento a riqueza

era obtida diretamente das forças da natureza, socialmente transformadas pelo

trabalho físico do homem. A concepção da Sociedade do Conhecimento leva em

conta que o conhecimento e o saber superam a força física do homem como

geradores de riqueza e no domínio das forças naturais.

O século XX, considerado breve por Hobsbawm (1995), foi o século de maior

progresso e transformações nos campos social e político. Mudanças materiais e

tecnológicas também foram profundas, e a humanidade evoluiu e produziu

inovações em todos os aspectos que dizem respeito a sua existência. Sabe-se que o

ser humano adaptou e transformou a natureza, tornando a inovação tecnológica e a

invenções de novos equipamentos e processos uma realidade cotidiana e constante.

Hobsbawm (2003) evidenciou que o século XX foi marcado pelo desenvolvimento

tecnológico que caracterizou e produziu um sentimento constante de progresso. O

mundo tornou-se muito mais rico materialmente e culturalmente desenvolvido,

diversificado e poderoso em sua capacidade de produzir bens e serviços. A

humanidade vive uma profunda revolução com a percepção de transformações

absolutas, quando comparadas com as mudanças percebidas em tempos e

situações anteriores. Os modernos meios de comunicação encurtaram o tempo, as

Capítulo 1 Introdução 22

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

distâncias e tornaram mais intensos os relacionamentos entre os povos que habitam

as mais diversas regiões do planeta.

Uma tecnologia em avanço constante; Uma população mundial muitas vezes maior do que jamais antes na história da humanidade; A humanidade tornou-se mais culta. A maioria das pessoas é considerada alfabetizada, embora seja crescente o enorme fosso entre o analfabetismo funcional e o domínio da leitura e da escrita; Nas últimas décadas, a maioria das pessoas vivia melhor do que seus pais, principalmente nas economias avançadas; (...) Queda dos grandes impérios coloniais e declínio da Europa como centro da civilização ocidental; A globalização das economias: uma economia mundial única, cada vez mais integrada, operando por sobre as fronteiras dos Estados, com predomínio das grandes empresas multinacionais; A economia cada vez mais dominada pelas grandes corporações. (HOBSBAWM, 2003).

A compreensão das transformações que se pretende atingir torna necessário

um processo de redução em que, conforme princípios estabelecidos por Guerreiro

Ramos (1996), buscar-se-á a eliminação de tudo aquilo que, revestido de um caráter

secundário, venha a perturbar o entendimento sobre um determinado processo. Os

paradigmas produtivos aqui analisados (Ford, Toyota e Volvo), quando justapostos

aos modelos de homem guerreiriano (operacional, reativo e parentético) não

representam situações ou condições estáticas e herméticas.

O evoluir da produção industrial e os modelos de homem requeridos a cada

nova realidade devem ser encarados como processos e como tal não se

transformam, mas se incorporam às novas condições. Guerreiro Ramos (1996)

afirma que uma estrutura ao incorporar novas condições, tornando-se superior à

anterior, provocará necessariamente, a substituição dos problemas presentes por

outros que sejam menos grosseiros e mais sofisticados. Segundo o autor, não há, na

realidade histórica, Idade de Ouro alguma na qual tivessem cessado a complexidade

existencial humana e os problemas dela decorrentes. Para ele todo grau de

desenvolvimento atingido por uma sociedade, por mais elevado que seja, sempre

gestará um outro seguinte, superior e historicamente desenvolvido.

Identificar em um processo determinado os traços que o caracterizam é um

tarefa do cientista social que partindo daí, procurará as raízes de sua conseqüente

Capítulo 1 Introdução 23

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

evolução e sofisticação, e de futuros significativos. A busca por tais futuros

significativos, nos dizeres de Gilberto Freyre (2001) faz com que o cientista social se

socorra das demais ciências sociais existentes e dos seus métodos humanísticos. O

autor de Casa Grande e Senzala destaca ainda que os métodos, além de

científicos, devem ser poéticos, novelísticos, literários e filosóficos. O futuro, e nisto

há uma concordância entre Gilberto Freyre (2001) e Guerreiro Ramos (1996), é uma

construção e criação de predecessores, que concorrem com o estabelecimento de

suas bases.

O entendimento de cada modelo de homem guerreiriano e de cada paradigma

produtivo permite que se compreendam as bases do modelo ou paradigma seguinte,

suas necessidades e sofisticações. Destaque-se que não há limites rígidos e nem

barreiras solidificadas entre os diversos modelos de homem e os paradigmas

produtivos, existindo apenas idealizações que os diferenciam. Guerreiro Ramos

(1983) corrobora com essa ponderação ao colocar que o curso do processo de

industrialização não se vincula a um único padrão de desenvolvimento determinado.

Pode-se falar em industrializações plurais em seus objetivos produtivos e busca pela

otimização na geração de riquezas, mas singulares nos processos e condições que

assimilaram ao longo desta construção.

A geração de riqueza também se transforma ao longo do século XX. Guerreiro

Ramos (1983) coloca que a riqueza ganhava novo sentido, uma vez que deixava de

ser um produto da natureza, para tornar-se uma produção essencialmente humana.

A assimilação deste processo faz surgir uma nova sociedade calcada no

conhecimento do homem: a “Sociedade do Conhecimento”.

O desenvolvimento industrial então presente, não significou, conforme

ponderação de Guerreiro Ramos (1996), um desprezo para com a agricultura. A

atividade agropecuária aumentou sua produtividade e conseguiu integrar-se ao

sistema capitalista de produção. A intensificação industrial em uma determinada

sociedade gera efeitos econômicos diversos e positivos sobre as suas atividades

pecuárias e agrícolas. A industrialização produz um aumento da renda agrícola, com

uma melhor condição de vida para os agricultores, que assimilaram novos e mais

sofisticados hábitos de consumo. Guerreiro Ramos (1996) coloca ainda que uma

estrutura produtiva será considerada mais desenvolvida e elevada quanto mais força

Capítulo 1 Introdução 24

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

de trabalho for liberada à agropecuária e extração, e transferida para a indústria e

setor de serviços.

1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO

Do primeiro capítulo consta a introdução do tema, subdividida em:

contextualização, problema de pesquisa, hipótese, objetivos e justificativa.

O segundo capítulo constitui-se do marco referencial teórico, sendo

explicitada a revisão bibliográfica, em cujas bases fundamentam-se o problema e a

hipótese. Cabe a este capitulo auxiliar na execução dos objetivos colocados. Nesta

revisão, contemplou-se:

• Guerreiro Ramos e seus modelos de homem idealizados;

• a Sociedade da produção e a Sociedade do Conhecimento e;

• modelos e paradigmas produtivos industriais presentes no século XX,

discorrendo-se sobre os modelos Ford, Toyota e Volvo.

O terceiro capítulo centra-se no estabelecimento das bases metodológicas da

pesquisa, sua caracterização e fundamentos.

No quarto capítulo discute-se os dados coletados coma revisão bibliográfica,

e também se apresenta a pesquisa de campo desenvolvida para se testar a hipótese

aventada.

No quinto capitulo colocam-se as conclusões da pesquisa, apresentando em

seu final sugestões para a continuação da mesma no futuro.

Na sua parte final relacionam-se as obras e trabalhos que propiciaram a

construção e o embasamento deste trabalho, permitindo a conclusão e seus

resultados.

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 25

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

2 MARCO REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 ALBERTO GUERREIRO: SOCIÓLOGO

Alberto Guerreiro Ramos nasceu em Santo Amaro da Purificação, Estado da

Bahia, em 13 de setembro de 1913, faleceu em Los Angeles, Califórnia, Estados

Unidos da América, em 06 de abril de 1982. Graduou-se em Direito e em Ciências

Sociais. Prestou concurso público e passou a atuar como Técnico de Administração

do Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP). A partir deste órgão,

Guerreiro Ramos atuou na Casa Civil da Presidência da República, nesta função

assessorando três Presidentes brasileiros: Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek de

Oliveira e João Goulart. Devido aos esforços despendidos pelo DASP, implantou-se

o primeiro curso superior de Administração no Brasil, em 1952, onde atuou como

professor.

O primeiro curso superior de Administração no Brasil (Escola Brasileira de Administração Pública – EBAP – da Fundação Getúlio Vargas), surgiu em 1952, graças aos esforços de Luiz Simões Lopes, presidente do DASP, valeu-se Simões Lopes da experiência e competência de daspianos ilustres para dar início ao ensino regular de Administração, contando com a participação de Asterio Dardeau Vieira, Beatriz Warhrlich, Belemiro Siqueira, Benedito Silva (primeiro diretor da EBAP), Cleantho de Paiva Leite, Guerreiro Ramos, que, a propósito, proferiu a primeira aula da Escola (PIZZA JR, 2007).

Por sua atuação no DASP e na EBAP em especial, Guerreiro Ramos ligou-se

à Administração de tal forma que a principal parte de sua produção acadêmica viria

a centra-se nesta área, porém não separava a administração do conjunto das

ciências sociais ou do fenômeno social. Eleito Deputado Federal pelo Partido

Trabalhista Brasileiro, em 1963, afasta-se da EBAP, assumindo como suplente a

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 26

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

vaga deixada por Leonel Brizola, que assume o governo do Estado do Rio Grande

do Sul.

Com a deposição de João Goulart da Presidência da República, em 1964, e o

subseqüente Governo Militar que se instaura, Guerreiro Ramos teve seus direitos

políticos cassados em 1966. Obrigado a exilar-se, viveu dezesseis anos nos Estados

Unidos da América (EUA), atuando como professor e pesquisador, ao aprofundar

seus estudos, com sua experiência aperfeiçoou suas teorias. Conforme Begazo

(2003), Guerreiro Ramos foi um dos professores mais brilhantes e polêmicos da

Escola de Administração da University of Southern Califórnia. Realizou conferências

em diversas universidades e academias de ciências na Europa e Ásia. Visitou a

Universidade de Paris, a Academia de Ciências de Moscou, esteve ainda em

Pequim e Belgrado (Ex-Iuguslávia). Atuou como professor em universidades norte-

americanas como Yale e Wesleyian, na Nova Inglaterra. De acordo com

Schwartzman (2007), o exílio representou para Guerreiro Ramos a possibilidade de

ter uma carreira acadêmica em uma universidade estrangeira, com condições para

estudar, escrever e relacionar-se com intelectuais.

É possível que sua obra de maturidade, A Nova Ciência das Organizações, seja sua contribuição sociológica mais substantiva. Sem ter condições de avaliar este trabalho em seu mérito neste contexto, não há dúvida, de qualquer forma, que seu impacto foi bem menor do que o das obras criticas anteriores de Guerreiro Ramos. Por isto, e independentemente deste último livro, parece bastante provável que Guerreiro Ramos fique na história das ciências sociais brasileiras principalmente como debatedor, crítico, motivador e criador de um sentido de compromisso e responsabilidade social sem o qual não é possível desenvolver nenhuma ciência social que tenha algum valor. "Sou um homem", dizia ele uma vez, anos atrás, a um grupo de ávidos estudantes de sociologia belorizontinos, "que tem a responsabilidade de pensar o Brasil 24 horas por dia". (SCHWARTZMAN, 2007).

Após a anistia política, Guerreiro Ramos retornou ao Brasil e como professor

visitante auxiliou na instalação do Curso de Mestrado em Administração da

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Publicou mais de cem artigos de

opinião sobre diversos assuntos (política, sociologia, questão racial, entre outros),

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 27

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

principalmente em jornais cariocas. Escreveu diversos livros, alguns reeditados após

seu passamento. Entre suas obras destacam-se as seguintes:

• Uma introdução ao histórico da organização racional do trabalho

(1950);

• A sociologia industrial: formações, tendências atuais (1952);

• Cartilha brasileira do aprendiz de sociólogo (1954);

• Introdução crítica à sociologia brasileira (1957);

• A redução sociológica (1958, publicado também no México, em 1959);

• O problema nacional do Brasil (1960);

• A crise do poder no Brasil (1961);

• Mito e verdade da revolução brasileira (1963);

• A redução sociológica, 2ª edição (1965);

• Administração e estratégia do desenvolvimento (1966), que foi

republicado, após sua morte, com novo título: Administração e contexto

brasileiro (1983).

As idéias de Guerreiro Ramos provocaram agitação no meio acadêmico, de

acordo com Begazo (2003), por serem inovadoras e especialmente pela forma como

ele as defendia. Para alguns intelectuais, ele era um teórico puro, não se

encontrando vinculado à realidade. Outros por sua vez, em menor número

consideravam-no o autor de novas idéias baseadas na retomada do racionalismo

substantivo, repensando o papel do indivíduo nas organizações.

Guerreiro Ramos,porém, foi vitíma de um esquecimento de sua obra que

segundo aponta Figueiredo (2007), pode ter sido deliberado. Algumas hipóteses

podem ser aventadas sobre as causas que levaram a esta situação: o fato do

sociólogo reagir aos cânones institucionais das ciências sociais no Brasil. A adesão

de Guerreiro Ramos ao integralismo na década de 19301; problemas relacionados à

sua personalidade.

1 Movimento de orientação fascista e nacionalista, que existiu no Brasil durante a década de 1930, era liderado por Plínio Salgado. (Nota do Autor);

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 28

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Algumas explicações sobre o esquecimento de Guerreiro Ramos giram também em torno de sua personalidade. Todos que o conheceram concordam com o fato de Guerreiro ser extremamente polêmico, controverso e disposto a embates teóricos e políticos não muito freqüentes na academia branca brasileira. Guerreiro tem uma forma de fazer ciência e de produzir conhecimento que vai de encontro aos moldes hegemônicos, que se contrapõe à nossa propalada cordialidade (FERREIRA, 2007, p.39).

Detentor de um comportamento considerado provocador e de um estilo

contraditório, Guerreiro Ramos destoava do estilo polido de se fazer ciência no

Brasil. Ele dirigiu criticas contundentes a nomes que na época já eram considerados

importantes no âmbito das ciências sociais brasileiras, como Arthur Ramos e

Florestan Fernandes, a quem dirige suas farpas em um capítulo do livro Redução

Sociológica. Mesmo considerado polêmico no meio acadêmico, contribuiu

significativamente com as Ciências Sociais ao estabelecer conceitos seminais como

a Redução Sociológica, a Delimitação dos Sistemas Sociais e os Modelos de

Homem.

2.1.1 REDUÇÃO SOCIOLÓGICA

Guerreiro Ramos considerava que a formação econômica, política, cultural e

social brasileira, havia sido construída com base na influencia exercida pelo

pensamento estrangeiro, conforme colocado por Bariani (2006). Segundo ele, a elite

brasileira subordinava-se culturalmente aos povos e continentes mais desenvolvidos,

Europa em especial, além dos Estados Unidos da América.

Era mister, então, fazer uso da razão sociológica, da capacidade da sociologia de aplicar (se) seu instrumental, de rever-se, refletir a respeito de si e com relação à estrutura social à qual estava vinculada, refazendo (se) métodos e objetivos. Ao método critico capaz de proceder a uma reflexão dessa natureza, assimilando criticamente as contribuições

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 29

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

teóricas “importadas”, Guerreiro Ramos chamou “redução sociológica” (BARIANI, 2006, p.87).

A redução sociológica, na concepção de Guerreiro Ramos, pode ser resumida

como uma situação em que os métodos e técnicas de análise e entendimento dos

fenômenos sociais, desenvolvidos e aplicados em outras sociedades, são

sopesados e adaptados à realidade da sociedade brasileira. Para Bariani (2006), a

redução sociológica guerreiriana é uma atitude parentética, porém não espontânea,

e o processo de redução coloca os fenômenos entre parênteses, recusando a

aceitação espontânea, pura e simples, das percepções, alocando filtros ao

raciocínio. Esta teria sido a mais influente obra de Guerreiro Ramos, compreendida

como uma proposta política científica e intelectual.

Se olharmos este livro do ponto de vista estrito da metodologia que propõe e dos resultados práticos a que esta metodologia acena, o resultado é decepcionante. O que fica de interessante é uma proposta de que a sociologia deve ser constituída a partir da realidade nacional, pelo desenvolvimento de uma metodologia também própria, e que a partir desta realidade toda a tradição cultural da sociologia européia e norte-americana poderia ser recuperada (SCHWARTZMAN, 2007).

Guerreiro Ramos procurou desenvolver um pensamento e uma prática

sociológica adequada à realidade do Brasil e que pudesse auxiliar na solução dos

seus problemas especificamente.

A constante reivindicação de Guerreiro acerca de uma sociologia brasileira, que, como já dissemos, deveria estar empenhada em resolver os problemas nacionais, mantinha uma relação diretamente oposta ao que o sociólogo define como sociologia “consular”. “Além de ‘consular’, esta é uma sociologia que pode ser dita enlatada, visto que é consumida como uma verdadeira conserva cultural”. Isto é, a perspectiva crítica de Guerreiro era de que alguns conceitos cunhados alhures não permitiam interpretar adequadamente a realidade nacional (FIGUEIREDO, 2007, p.38).

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 30

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

A corrente consular procura compreender a Sociologia no Brasil como um

apêndice ou um episódio, de acordo com Figueiredo (2007), da expansão cultural da

Europa e Estados Unidos. À segunda corrente, é que Guerreiro Ramos vinculava-se,

embora se aproveitando do conhecimento e experiências acumuladas nos paises

mais desenvolvidos. O conhecimento universal, então seria utilizado como um

instrumento para o auto-conhecimento das estruturas do país e fomentar seu

desenvolvimento. É esta segunda corrente que a redução sociológica guerreiriana

procura compreender e justificar. De acordo com Bariani (2005), a preocupação de

Guerreiro Ramos naquele momento centrava-se na assimilação critica do

conhecimento produzido fora do Brasil, procurando aumentar a produção teórica

nacional. Para Simões (2006) a redução sociológica perpassa a idéia de construção

de uma ciência social engajada e participante no entendimento e melhoria da

realidade brasileira.

Fazem parte da natureza da redução sociológica defendida por Guerreiro

Ramos, conforme estabelecido por Simões (2006):

(a) ter uma atitude metódica, para uma melhor percepção da realidade; (b) não admitir a existência na realidade social de objetos sem pressupostos; (c) postular a noção de mundo, ou seja, admitir que a consciência e os objetos estão sempre interligados; (d) ser perspectivista, sabendo que um objeto jamais se dá desligado de um determinado contexto, não havendo possibilidades de repetição da realidade social; (e) ter seus suportes coletivos e não individuais, para que a autoconsciência assuma proporções de um processo da sociedade; (f) ser um procedimento critico assimilativo da experiência estrangeira, não incorporando acriticamente praticas ou produtos de outros paises; e (g) ter uma atitude altamente elaborada, demandando um grande esforço de reflexão. (SIMÕES, 2006, p.103).

Guerreiro Ramos era um teórico interessado na natureza das mudanças

vivenciadas pelo homem, influenciadas pela realidade histórica percebida ao longo

do século XX.

Para aquellas personas preocupadas por las organizaciones y su administración, Guerreiro fue el que mejor canalizo y

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 31

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

sintetizo las ideas de vários estudiosos del “Homo Novus”, creando lo que él llamo el “Hombre Parentético” (BEGAZO, 2003, p.60).

Guerreiro Ramos colocou em prática a redução sociológica ao estabelecer

seus modelos de homem, em especial sua condição mais sofisticada, que é o

homem parentético, fundamentado na fenomenologia de Edmund Husserl (1859-

1938). Os modelos de homem do pensamento guerreiriano, foram idealizados com

base no desenvolvimento da racionalidade e podem ser usados para auxiliar na

melhor percepção e assimilação de determinadas condições sociais e recortes

históricos.

2.1.2 DELIMITAÇÃO DOS SISTEMAS SOCIAIS

O objetivo de Guerreiro Ramos (1989), ao tabular a “Delimitação dos

Sistemas Sociais”, era reconceitualizar os sistemas sociais em que predomina o

mercado como um dos principais (não o único) paradigmas identificáveis. Desta

forma propõe o autor um modelo que engloba diversas dimensões, baseado em dois

pontos centrais: o mercado e o Estado.

O ponto central desse modelo multidimensional é a noção de delimitação organizacional que envolve: a) uma visão da sociedade como sendo constituída de uma variedade de enclaves (dos quais o mercado é apenas um), onde o homem se empenha em tipos nitidamente diferentes, embora verdadeiramente integrativos, de atividades substantivas; b) um sistema de governo social capaz de formular e implementar as políticas e decisões distributivas requeridas para a promoção do tipo ótimo entre enclaves sociais. (RAMOS, 1996, p.140).

O primeiro ponto considerado pelo autor aponta o mercado como necessário,

legitimado pela sociedade e necessário ao relacionamento entre os diversos

enclaves sociais. O segundo ponto correlaciona-se com a atuação do Estado, do

governo que deverá criar condições para que este mercado seja efetivado de

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 32

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

maneira eficaz e justa entre os diversos segmentos ou enclaves da sociedade,

ordenando-o e regulamentando-o. Guerreiro Ramos (1989) destaca a capacidade do

mercado em modelar todo o conjunto da sociedade e que o tipo de organização que

o controla tomou ares de paradigma pra a organização social.

O Quadro a seguir demonstra como funciona a delimitação dos sistemas

sociais.

QUADRO 1 - DELIMITAÇÃO DOS SISTEMAS SOCIAIS.

SER HUMANO DIMENSÃO CONSTITUIÇÃO ESPAÇOS

DE EXISTÊNCIA

MODELOS DE HOMEM

Política Razão Fenonomia Parentético

Social Convivial / Comportamento Isonomia Reativo

ÚNICO E

MULTIDIMENSIONAL Biológica Física Economia Operacional

FONTE: SERAFIM (2001)

Influenciada pelo mercado, a sociedade acaba por submeter-se também as

suas leis, agindo desta forma sobre os diversos espaços da existência humana.

Guerreiro Ramos (1996) propõe que os espaços influenciados pelo mercado, sejam

limitados e ordenados para que não absorvam a totalidade da vida dos indivíduos. O

autor entende que o desenvolvimento de cada ser humano, individualmente, não é

uma preocupação das mais essenciais em uma organização empresarial. Desta

forma, conforme especificado por Serafim (2001), o sociólogo busca construir um

modelo alternativo de pensamento que restaure aquilo que dois séculos de domínio

do mercado sobre a sociedade alteraram, os elementos permanentes da vida

humana e seus valores centrados no indivíduo.

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 33

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

2.2 OS MODELOS DE HOMEM IDEALIZADOS POR ALBERTO GUERREIRO

A condição do ser humano, como um objeto de pesquisa e análise, foi

demonstrada por Guerreiro Ramos (1984), quando da publicação no Brasil do artigo

“Modelos de Homem e Teoria Administrativa”. O título original deste artigo era “A

Ascenção do Homem Parentético”, e neste trabalho o autor evidenciou três modelos

de homem. Idealizou-os como portadores do comportamento necessário à plena

efetivação e ao entendimento dos modelos produtivos percebidos no século XX. São

eles:

� Homem Operacional;

� Homem Reativo;

� Homem Parentético.

O homem, como um ser social, desde o advento do industrialismo nos

séculos XVIII e XIX, tem vivenciado profundas transformações em sua condição de

ser e de atuar no meio em que habita. Houve momentos em que as mudanças se

intensificaram, aumentando seu ritmo e despertando maiores atenções e momentos

de estabilidade quando estas transformações se solidificam, lançando bases para

futuras evoluções. O homem é o personagem das mudanças, seu ator e autor,

conforme as necessidades de seu tempo. Pinker (2004) apontou essa condição ao

relatar que o ser humano não é um ser abstrato, fora da realidade de seu contexto.

Ele é o resultado da sua própria ação, das interações percebidas no mundo e na

vida em sociedade.

Sendo personagem atuante e condutor das Revoluções Tecnológicas, o ser

humano foi influenciado por elas, sofrendo mudanças em seu comportamento e em

sua visão da realidade. Não encontrando amparo teórico para que se afirme que

cada novo momento da sociedade industrial ou da produção possuiu um modelo

especificamente fechado de homem, busca-se identificar qual modelo ideal de

homem conjugaria suas qualidades com os determinados paradigmas produtivos

industriais que foram percebidos no século XX.

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 34

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Dissertando disserta sobre a utilização da teoria das possibilidades, Guerreiro

Ramos (1983) ressalta a influência recebida de Max Weber, ao estabelecer os seus

tipos ideais, e um paralelo pode ser estabelecido com os modelos de homem

guerreirianos. Neste momento específico, a ligação desta teoria se dá com os níveis

de desenvolvimento das sociedades, mas, em um exercício imaginativo, como a

teoria das possibilidades propõe, substituir-se-ia desenvolvimento por homem,

resultando no estabelecimento de homens ideais, cujo estudo permitiria um melhor

entendimento sobre o tempo e a sociedade em que viveram.

Toda a explicação ou interpretação que se baseie unicamente nos aspectos mais evidentes dos fatos não merece o nome de ciência [...] É esse sentido da ênfase de Weber na possibilidade objetiva como instrumento analítico para análise sociológica. Ele utiliza essa categoria não somente para formular “tipos ideiais”, mas também para encontrar uma explicação mais satisfatória dos eventos ocorridos (RAMOS, 1983, p.16).

Fundamentado-se em Weber, é justamente uma explicação mais satisfatória

sobre o ser humano que Guerreiro Ramos (1984) busca ao estabelecer seus

modelos de homem e procura também fazer compreender a sociedade onde

floresceram. O autor atuou como um sintetizador das teorias de pensadores

anteriores e contemporâneos a ele.

Três modelos de homem são evidenciados na sua obra, como já referido.

Cada um deles tornou-se mais evidente ou, melhor caracterizado em um

determinado período da história, ligado especificamente a um sistema organizacional

ou paradigma produtivo, porém os conceitos evidenciados por Guerreiro Ramos

(1984) vinculam-se especialmente ao domínio da racionalidade e da capacidade

decisória de cada um deles. Neste sentido, é possível encontrar as raízes formativas

de um modelo de homem quando teoricamente domina o anterior e quando se

estabelece aquele que seria o mais sofisticado de todos, o homem parentético.

Desta forma é possível vislumbrar indivíduos e organizações com

comportamentos específicos e ainda ligados a paradigmas já ultrapassados. Cada

modelo de homem, a exemplo dos modelos produtivos, apresentou características

provenientes dos modelos anteriores e trouxe em seu âmago as raízes do modelo

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 35

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

seguinte em um processo dinâmico. Os modelos de homem formam, desta forma,

mais uma possibilidade de análise do ser humano, do que exatamente uma fórmula

descritiva e absoluta do viver e produzir do homem em determinada época. Os

modelos de homem guerreiriano não seriam somente modelos classificatórios de

qualidades e especificidades. Da mesma forma que Guerreiro Ramos (1983) afirma

não existir um único modelo de industrialização, não existiria um único modelo de

homem, em especial nos países em desenvolvimento:

O curso da industrialização não obedece a um modelo único, a um padrão determinado. Os paises subdesenvolvidos não necessitam de crescimento em todos os setores “segundo a imagem” de qualquer país desenvolvido (RAMOS, 1983, p.27).

Em síntese, os modelos de homem que podem ser vinculados aos

paradigmas industriais variam conforme o espaço e o tempo em que são percebidos.

Os modelos de homem e produção alteram-se conforme as exigências da produção,

da sociedade, do segmento social e da temporalidade.

2.2.1 HOMEM OPERACIONAL

O homem operacional, primeira escala na trilogia evolutiva guerreiriana, foi

idealizado com base na sociedade industrial ou da produção. Compreende-se a

produção industrial como o primeiro degrau na escala de desenvolvimento de uma

sociedade que ultrapassa os limites de uma economia natural e agrícola, em busca

da sofisticação produtiva, organizacional e social. Guerreiro Ramos (1984) imaginou

o homem operacional como personagem de uma sociedade como esta, um homem

iniciando sua caminhada em busca de racionalidade mais sofisticada.

O modelo produtivo em vigor naquele momento, nas sociedades baseadas na

produção industrial e nas organizações preponderantes, exigia um modelo de

homem com uma mentalidade mais simples. Um ser humano cuja capacidade

decisória não seria ainda profundamente exigida para o desenvolvimento de suas

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 36

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

atividades, sendo capaz de conduzir uma máquina, submetendo-se ao ritmo de

trabalho por ela determinado. As operações produtivas eram previamente

ordenadas, ao homem cabia operar a máquina ou agir como ordenado. As pessoas

atuavam como peças em um mecanismo, substituíveis e descartáveis.

O homem operacional submete-se a um sistema administrativo rígido dentro

das organizações. As suas praticas produtivas, como as dos demais modelos

refletem-se diretamente em seu comportamento social.

Este hombre es calculador, motivado por recompensas materiales y económicas, según uma visión de la Administracion y de la Teoria de la Administracion Neutra, con indiferencia de lãs nociones de ética, valor y del ambiente externo; las cuestiones de la libertad personal son estrañas em este modelo de esquema de la organización (BEGAZO, 2003, p.60).

As características mais perceptíveis do homem operacional foram relacionadas

por Guerreiro Ramos (1984). Para ele, tal modelo subsiste em um meio social e

produtivo no qual se encontra, submetido a um método administrativo autoritário,

que aloca recursos de forma a manter o trabalhador em uma condição de extrema

passividade diante dos meios de produção. Esta passividade na qual o homem é

mantido e se enxerga, permite que ele seja devidamente programado por

especialistas para atuar nas organizações, na mais pura acepção taylorista. A

concepção de treinamento nestas organizações e para o homem operacional

destina-se como técnica, apenas a proceder os ajustes necessários à adequação do

individuo à máquina, obtendo uma maximização da produção. Guerreiro Ramos

(1984) evidencia ainda a visão que se tem neste momento do homem operacional: a

de que ele representa um ser humano calculista, cuja motivação decorre de

recompensas materiais e financeiras. Enxerga-se esse homem como um trabalhador

psicologicamente isolado e independente de outros indivíduos.

Neste período persiste a crença de que a administração de uma organização

seria imparcial, Guerreiro Ramos (1984) afirma ainda que esta crença aplicava-se

também à teoria administrativa. Desta forma seriam ambas, administração e teoria

administrativa, imparciais, isentas ou neutras. O autor evidencia ainda, nesta

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 37

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

condição, uma indiferença sistemática aos princípios éticos, norteadores da vida em

sociedade e aos seus valores, relegados desta forma, das organizações.

Ordenações que impliquem em questões ligadas à liberdade pessoal são

segregadas do ambiente organizacional e de seu organograma. Um dos pontos

principais apresentados por Guerreiro Ramos (1984), em relação ao homem

operacional, é a convicção de que o trabalho representa, em sua essência, um

adiamento da satisfação, do prazer e da qualidade de vida.

Finalmente um concepto de trabajo vinculado a la idea de la satisfaccíon. Punto referente a este concepto de “Hombre Operacional”, es Douglas MacGregor, por su propuesta que llamó Tória X, em la que el trabaljo es considerado com um castigo o punición (BEGAZO, 2003, p. 60).

O homem operacional é definido por Begazo (2003) como um trabalhador

passivo diante do processo produtivo, que necessita ser programado por um

especialista que lhe dirá o que e como fazer. É um mero operador de máquinas a

quem não se permite entender os mecanismos muito menos a totalidade do

ambiente produtivo em que atua. Begazo (2003) considera ainda que o homem

operacional precisa ser treinado e adestrado, motivado por recompensas materiais.

O tipo de organização onde o homem operacional atua é administrada como

uma máquina. Conforme Wood Jr. (1992), isto significa fixar metas, estabelecendo

como elas serão atingidas, organizar e detalhar todas as tarefas e controlar tudo:

produção e trabalhadores. Quando de seu surgimento, este tipo de administração foi

considerado extremamente inovador, porém sucumbiu à evolução social e

organizacional, porém é ainda utilizada.

Após dois séculos de industrialização e desenvolvimento capitalista, temos estes valores já interiorizados. Quando do seu surgimento, o gerenciamento cientifico foi visto como a solução para todos os problemas. Ainda hoje muitas industrias, ou mesmo unidades ou departamentos dentro de empresas, encontram na administração cientifica uma resposta para seus problemas (WOOD JR, 1992, p.8).

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 38

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Desta forma percebe-se que organizações com condições típicas para a

manutenção do homem operacional continuam existindo, duzentos e tantos anos

após o advento dos industrialismo e quase cem anos após a divulgação das teorias

de F. W. Taylor. Se ainda persistem tais organizações, devem persistir também as

condições que exigem a permanência e a existência do homem operacional.

Guerreiro Ramos (1984) dá sustentação a esta afirmação, ao colocar a

permanência, naquele tempo, nos Estados Unidos da América, de organizações que

se baseavam no homem operacional e no modelo imediatamente seguinte, o homem

reativo:

Os modelos reativo e operacional ainda estão influenciando largamente a estrutura dos sistemas sociais e organizacionais deste país [Estados Unidos da América]. No meio intelectual, estes modelos são profundamente criticados, mas nenhuma alternativa de ampla aceitação foi ainda apresentada para eles (RAMOS, 1984, p.06).

As condições para a existência de uma organização mecanicista são

enumeradas por Wood Jr. (1992):

• condições ambientais estáveis;

• produtos que sofram poucas mudanças ao longo do tempo;

• fator humano previsível.

Esta condição de previsibilidade conjuga-se com as condições do homem

operacional. Uma organização mecanicista basear-se-á em uma racionalidade

funcional ou instrumental, segundo Wood JR. (1992), e isto indicaria o ajuste das

pessoas e das funções aos métodos de trabalho ou a projetos organizacionais pré-

definidos. A racionalidade substantiva, por sua vez, incentiva a reflexão e a

organização, conforme explicitado por Guerreiro Ramos (1984).

O quadro analítico a seguir permite que se vislumbrem as diferenças entre as

racionalidades substantiva e instrumental em consonância com os processos

organizacionais:

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 39

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

QUADRO 2 - TIPOS DE RACIONALIDADE E PROCESSOS ORGANIZACIONAIS.

Tipo de Racionalidade X

Processos Organizacionais

RACIONALIDADE SUBSTANTIVA

RACIONALIDADE INSTRUMENTAL

Hierarquia e normas Entendimento Julgamento ético

Fins Desempenho

Estratégia interpessoal

Valores e objetivos Autorealização

Valores emancipatórios Julgamento ético

Utilidade Fins

Rentabilidade

Tomada de decisão Entendimento Julgamento ético

Calculo Utilidade

Maximização de recursos

Controle Entendimento Maximização de recursos

Desempenho Estratégia interpessoal

Divisão do trabalho Autorealização Entendimento

Autonomia

Maximização de recursos Desempenho

Calculo

Comunicação e relações interpessoais

Autenticidade Valores emancipatórios

Autonomia

Desempenho Êxito / resultados

Estratégia interpessoal

Ação social e relações ambientais Valores emancipatórios Fins Êxito / resultados

Reflexão sobre a organização Julgamento ético Valores emancipatórios

Desempenho Fins

Rentabilidade

Conflitos Julgamento ético

Autenticidade Autonomia

Cáculo Fins

Estratégia interpessoal

Satisfação individual Autorealização Autonomia

Fins Êxito

Desempenho

Dimensão simbólica Autorealização Valores emancipatórios

Utilidade Êxito /resultados

desempenho

Fonte: SERVA (1997, p.24)

A compreensão da racionalidade é essencial para o entendimento dos

modelos de homem, da forma como foram idealizados por Alberto Guerreiro Ramos.

Cada modelo representa especificamente um estágio do homem no estabelecimento

e no domínio da racionalidade e da percepção da realidade. Representa também a

busca da razão como fundamento das ações humanas.

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 40

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

2.2.2 HOMEM REATIVO

O homem reativo surgiu como uma alternativa ao homem operacional,

conforme Guerreiro Ramos (1984), pela primeira vez na primeira metade do século

XX. De acordo com Begazo (2003), o homem reativo evidencia-se a partir dos

estudos de Hawthorne, no final da década de 1920 e início da de 1930. Estes

estudos deram origem à Escola de Relações Humanas, pala qual o homem é

considerado muito mais complexo do que supunham os pensadores tradicionais.

Para Guerreiro Ramos (1984), os humanistas possuíam uma visão mais sofisticada

do homem e da natureza de sua motivação e, em oposição aos operacionalistas,

eles não relegavam o ambiente externo à organização, definindo-a como um sistema

social aberto. Os humanistas perceberam que os valores, sentimentos e atitudes

desempenham um papel importante e influenciam o processo de produção. Seu

modelo idealizado de homem é o seguinte:

O modelo de homem desenvolvido pelos humanistas pode ser chamado de “homem reativo”, com tudo que o termo envolve. Para os humanistas, como também para os seus antecessores, o sistema industrial e a empresa funcionam como variáveis independentes (RAMOS, 1984, p.5).

Os humanistas enxergavam o trabalhador como um ser reativo. Para

Guerreiro Ramos (1984) isto significa que seu principal objetivo era ajustar o

individuo ao seu contexto de trabalho, não procurando desenvolvê-lo

individualmente.

O modelo de homem reativo é fruto de uma nova visão da motivação e da constatação da influência de seus sentimentos e valores no espaço de produção econômica ou organizacional. [...] O homem reativo se caracteriza pela adaptabilidade às normas do grupo institucional; pela subordinação aos ditames do grupo informal e adaptabilidade ao meio. Constitui uma categoria que expressa a adaptabilidade e a sociabilidade do ser humano, imergindo-o no grupo e subordinando-o a ele. O espaço do homem reativo é a economia, a burocracia, ou seja, o ambiente de massas ou grupos sociais maiores. Ele também

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 41

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

pertence, eventualmente, aos espaços isonômicos ou conviviais (SERAFIM, 2001, p.5).

A utilização dos conceitos de relações humanas resultou na inserção total do

individuo na organização. Como informa Pizza Jr. (2007), a mudança do conceito de

homem operacional para homem reativo, provoca na verdade a mudança apenas no

enfoque que é dado a este novo modelo:as conseqüências dos relacionamentos

entre os indivíduos não sofreram alterações. Ao enfocar o trabalhador como reativo,

os pensadores humanistas destacavam apenas o seu ajustamento ao contexto

produtivo, desconsiderando o crescimento individual. A perfeita integração do

individuo à organização esbarra ainda neste momento na questão da racionalidade

substantiva e objetiva, conforme já explicitado.

2.2.3 HOMEM PARENTÉTICO

O homem parentético é o estágio mais sofisticado da teoria guerreiriana: este

modelo de homem poderia dotar a teoria administrativa do nível de sofisticação

conceitual necessário ao enfrentamento de questões relacionadas a às tensões

entre os tipos de racionalidade. Guerreiro Ramos (1984) preocupava-se com a

dinâmica dos novos tempos sem que o mercado influenciasse cada vez mais as

estruturas sociais.

O homem parentético idealizado por ele e relatado por Begazo (2003)

diferencia-se dos modelos anteriormente discutidos (operacional e reativo), por

possuir uma criticidade maior e melhor desenvolvida. Sua percepção sobre os

aspectos relacionados a sua existência e ao conjunto de suas ações e conduta

diárias também tem uma dimensão ampliada. O homem parentético supera os

limites que eram impostos aos modelos anteriores.

O adjetivo parentético deriva diretamente da noção retirada de Husserl, “em

suspenso” e “entre parênteses”, conforme explicitado por Guerreiro Ramos (1984). A

atitude de exercício da crítica, segundo o autor, permite ao ser humano suspender-

se ou mesmo colocar entre parênteses o entendimento imediato do mundo comum,

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 42

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

fazendo com que o indivíduo alcance um nível mais elevado do pensamento, ou

nível conceitual, representando desta forma uma maior liberdade. Ao procurar

entender sua própria existência, o ser humano necessita isolar-se de tudo aquilo que

lhe aflige, assusta, comove ou mesmo agrada. A solução para a dúvida humana

encontra-se, conforme Guerreiro Ramos, no desenvolvimento da racionalidade. O

home parentético domina a razão e a criticidade de uma forma muito mais profunda

e sofisticada que os modelos anteriores. Essa afirmação é uma das premissas do

pensamento guerreiriano, ao lado da busca latente pelo conhecimento.

O homem parentético consegue abstrair-se do fluir da vida diária, para examiná-lo e avaliá-lo como um espectador; Ele é capaz de distanciar-se do meio que lhe é familiar; Ele tenta deliberadamente romper suas raízes e ser um estranho em seu próprio meio social, de maneira a maximizar sua compreensão desse meio (RAMOS, 1984, p.6).

Guerreiro Ramos (1984) explora essa capacidade de pensar do ser humano,

suas habilidades perceptíveis e investigatórias da realidade, buscando desta forma

despertar o estado de dúvida. É a busca por respostas que torna o ser humano

especial. A busca por conhecimento torna-se latente:

Como essa criatura chamada homem pôde colocar "todo" o mundo entre parênteses, se ela nunca esteve fora do mundo? Não temos realmente a experiência de ficar “fora” dos nossos sentidos, das nossas memórias e imaginações, muito menos dos nossos próprios pensamentos -- simplesmente não temos essa experiência. Se não temos essa experiência, de onde obtivemos a possibilidade de concebê-la e de tentar colocar-nos neste estado, mesmo que não consigamos? Neste sentido, é claro que nenhum outro animal, além do homem, experimenta esse estado (CARVALHO, 2007, p.4).

Este estado ou condição parentética é a razão ou o seu exercício prático. A

racionalidade e a criticidade conduzem ao conhecimento.

Guerreiro Ramos (1984) buscou em Husserl a base da racionalidade que

define seus modelos de homem. Em Husserl ele encontra a fenomenologia.

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 43

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Carvalho (1998), discorre sobre as conexões entre o pensamento de Descartes e

Husserl, procurando apontar a importância da fenomenologia do filósofo alemão.

Husserl vai tornar a dúvida cartesiana um processo muito mais preciso, muito mais detalhado. Comparar a dúvida cartesiana com a suspensão, como a chama Husserl -- a epokhé, com a qual ele coloca tudo entre parênteses -- é mais ou menos como comparar um relógio de areia com um relógio suíço a quartzo: a máquina se tornou muito mais precisa, mas a função continua exatamente a mesma. Essa análise realizada aqui valeria tanto para Husserl quanto para Descartes. Husserl chegava a dizer que o que ele chama de atitude fenomenológica é não só diferente, mas é radicalmente oposta à atitude natural. A atitude natural é crer no que se pensa, crer no que se sente, crer no que se imagina. Crer ou descrer: ou afirmamos, ou negamos, mas em ambos os casos cremos: cremos na afirmação ou na negação. Ora, a atitude fenomenológica não afirma nem nega, ela simplesmente descreve o que está se passando diante da nossa consciência, ou seja, o próprio conteúdo intencional do ato cognitivo é observado por nós, sem que o afirmemos ou neguemos (CARVALHO, 2007, p.6-7).

A fenomenologia de Husserl traduz uma atitude oposta à condição natural do

ser humano, quando se acredita naquilo que se pensa, naquilo que se sente e

imagina, ou ainda na sua negação. Para Carvalho (2007), a atitude fenomenológica

não afirma nem nega coisa alguma, ela simplesmente descreve aquilo que passa da

consciência humana.

As condições e circunstâncias sociais encontradas nas sociedades industriais

mais avançadas no início da década de 1970, sendo os Estados Unidos da América

seu mais expressivo exemplo, favorecia o desenvolvimento de comportamentos,

atitudes e posturas parentéticos.

A atitude parentética é definida como a capacidade psicológica do indivíduo de separar a si mesmo de seu ambiente interno e externo. Os homens parentéticos prosperam quando termina o período da ingenuidade social. Por isso, a sociedade “informada” é o ambiente natural do homem parentético (RAMOS, 1984, p.8).

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 44

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Azevedo (2006) afirma que o homem parentético é um modelo útil às ciências

sociais, especialmente no que tange à avaliação do projeto de funcionamento das

organizações e dos sistemas sociais. Este modelo não se resumiria apenas ao seu

caráter avaliativo, pois contempla elementos capazes de conduzir analistas e

planejadores de sistemas sociais a imaginar uma infinidade de novos tipos de

organizações. Azevedo (2006) destaca que estas seriam organizações direcionadas

a atender às aspirações de realização e desenvolvimento dos seres humanos.

Conforme este autor, Guerreiro Ramos elaborou três advertências com o intuito de

auxiliar o entendimento sobre o homem parentético:

1. o modelo de homem parentético não é descritivo, desta forma não deve ser

aplicável a um individuo considerado isoladamente, sua essência é

puramente normativa;

2. o homem parentético é uma possibilidade consistente nas sociedades

contemporâneas. Sua existência pode ser concretizada uma vez que estas

sociedades possuem condições adequadas ao desenvolvimento e efetivação

deste modelo de homem;

3. o homem parentético não representa uma conformidade ao meio em que

coexiste, dificultando assim a sua explicação pela psicologia do ajustamento.

Considerando estas advertências, o homem parentético guerreiriano pode ser

definido como um ser racional que se empenha em atualizar de forma constante as

suas potencialidades. O entendimento das concepções de Guerreiro Ramos trilha

um caminho em torno da razão, sua construção, entendimento e manutenção. O

domínio da razão em sua opinião permitirá ao ser humano entender e transformar a

sociedade.

Além dessa característica do homem parentético (um ser de razão), outra merece destaque especial: o seu incessante empenho na atualização de suas potencialidades humanas. Dessa forma, as noções de realização pessoal (personal actualization), auto-realização (self-actualization) e crescimento pessoal (personal growth) são essenciais para a compreensão de homem em Guerreiro Ramos, embora ele as tenha apresentado de maneira um tanto quanto confusas, principalmente em seu último livro, onde procurou esclarecer

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 45

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

melhor alguns de seus conceitos. De todo modo, era sua opinião que um dos principais obstáculos para a compreensão do tipo parentético de homem e de seu modo de vida estaria na própria ciência que se preocupa em estudar o comportamento humano – a psicologia (AZEVEDO, 2006, p.14).

Para atingir a sua realização pessoal e profissional e o conseqüente

crescimento pessoal, tornou-se essencial ao homem parentético a manutenção de

uma criticidade em relação ao seu meio, permitindo o uso constante da razão, mas

uma crítica isenta, não comprometida com os aspectos pessoais da existência

humana. Carvalho (1998) coloca que o primeiro passo da investigação filosófica, da

busca do conhecimento, é isolar-se ou suspender-se do objeto de estudo ou daquilo

que se procura compreender. “Quase tudo o que os filósofos descobriram ao longo

dos milênios foi estranhando coisas que o hábito nos faz esquecer que são

estranhas” (CARVALHO, 1998, p.4). O homem parentético desenvolve a capacidade

dos filósofos de estranhar aquilo que lhe é corriqueiro e coloca-se mentalmente fora

da realidade que busca entender. Desta forma, nas sociedades industriais mais

avançadas, o homem coloca-se “entre parênteses”, pode estranhar esta realidade,

conduzindo sua investigação, como procederam no passado diversos indivíduos que

se destacaram em suas atividades:

Os padrões de comportamento, que apenas existem em forma residual nas sociedades em estágios anteriores de evolução, tendem agora a se tornar universais nas sociedades industriais avançadas. De fato, no passado, esses padrões de comportamento podiam ser encontrados apenas em indivíduos excepcionais. Sócrates, Bacon e Maquiavel, por exemplo, tinham a capacidade psicológica, [...] de ‘diferenciar o eu do mundo interior do eu do mundo em volta’, o que os tornava capazes de perceber suas respectivas sociedades como arranjos precários. Enquanto a massa da população, nas sociedades menos evoluídas, interpretava a si própria e a realidade social de acordo com as definições convencionalmente estabelecidas, estes pensadores tiveram a capacidade de suspender suas circunstâncias internas e externas, podendo assim examiná-las com visão crítica. Esta claramente se qualifica como uma capacidade parentética. De fato, a suspensão equivale aqui a pôr as circunstâncias ‘entre parênteses’ (RAMOS, 1984, p.6).

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 46

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Guerreiro Ramos pondera sobre as características parentéticas. Um

comportamento e práticas que no passado eram domínios exclusivos de certos

indivíduos podem no final do século XX, ser aplicados para a caracterização de toda

uma sociedade. Portanto o autor enumera as qualidades do homem parentético que

seriam necessárias ao novo tempo, além de toda a suspensão e estranhamento

básicos ao entendimento deste modelo:

Esse quarto homem não se empenharia em excesso para ser bem sucedido segundo padrões convencionais, como o faz o alpinista. Ele teria um grande senso de individualidade e uma forte compulsão por encontrar sentido para sua vida. Não aceitaria padrões de desempenho sem um senso crítico, embora possa ser um grande realizador quando lhe forem atribuídas tarefas criativas. Ele evitaria trabalhar apenas com o intuito de fugir à apatia ou à indiferença, pois o comportamento passivo ofenderia seu senso de auto-estima e autonomia. Empenhar-se-ia no sentido de influenciar o ambiente, para retirar dele tanta satisfação quanto fosse capaz. Seria ambivalente em relação à organização [...] Sua ambivalência qualificada decorreria de seu entendimento de que as organizações têm que ser tratadas de acordo com seus próprios termos relativos, já que elas são limitadas por sua racionalidade funcional (RAMOS, 1984, p.8).

A necessidade de comportamentos parentéticos justifica-se, de acordo com

Begazo (2003), pelo fato de ser o mundo contemporâneo composto por ambientes

turbulentos, que se modificam muito rápida e profundamente. Essa característica

torna necessário que existam organizações empresariais flexíveis, ágeis e que

acima de tudo sejam capazes de operar mudanças em sua estrutura de maneira

rápida e eficaz. Logo, é preciso que as empresas que sejam capazes de entender o

mercado e a sociedade que constitui esse mercado. Um exemplo significativo de

uma organização empresarial do Futuro foi dada por Wood Jr (1992), quando fez

uma comparação desta empresa com uma banda de jazz.

Talvez o modelo de organização do futuro esteja ainda mais próximo de uma banda de jazz. Uma forma musical surgida em nosso século, caracterizada pela utilização de escalas africanas com harmonias européias, pela pequena ou quase nenhuma importância do maestro – substituído pela primazia

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 47

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

do senso comum, pelo pequeno porte, pela produção de uma música marcada pela existência de padrões mas com enorme espaço para a improvisação individual e coletiva, pela valorização dos músicos e, principalmente, pelo prazer da execução (WOOD JR, 1992, p.18).

Para operar essas empresas são necessários indivíduos que sejam capazes

de refletir e pensar, que possuam consciência crítica e que a exerçam, homens e

mulheres que busquem alternativas e soluções para os problemas do ambiente

produtivo e também da sociedade, problemas novos e diferentes daqueles que antes

atormentavam a sociedade; homens que pensem e ajam colocando em pratica os

seus sentimentos.

2.3 A CONSTRUÇÃO DA SOCIEDADE DA PRODUÇÃO

A Sociedade da Produção caracteriza-se pela preponderância da indústria,

valorada no conjunto das atividades econômicas. A atividade principal de geração de

riqueza nesta sociedade encontra-se na produção industrial e na escala que esta

consegue atingir.

As ondas de desenvolvimento foram diversas, com força, velocidade e

intensidade variadas que atingiram os mais remotos confins do planeta. Situações

que transformaram e alteraram profundamente a existência e os relacionamentos

humanos. As ondas do desenvolvimento humano são classificadas como

“Revoluções Tecnológicas”, pois produziram profundas transformações na maneira

como as sociedades produziam, desenvolviam-se e construíam seus

relacionamentos.

O termo Revolução Tecnológica, apesar de bastante amplo em seu significado, pode ser conceituado como [...] as descobertas ou as criações realizadas pelo Homem, que afetam, de forma profunda, ampla e generalizada, os conhecimentos, os costumes e as práticas cotidianas do seu meio. Para que seja considerada uma revolução tecnológica, o objeto do estudo deve contemplar o amplo aspecto desse conceito, uma vez que não poderá, simplesmente, se ater a modificar os

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 48

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

conhecimentos ou os costumes de determinada comunidade, por maior e mais influente que seja essa comunidade em seu tempo e espaço (FERREIRA, 2006).

São considerados como “Revoluções Tecnológicas” todos os acontecimentos

verificados em decorrência do desenvolvimento do conhecimento humano, que

provoquem alterações profundas nos modelos produtivos e de organização das

sociedades humanas. Essas mudanças podem ocorrer de maneira rápida ou mesmo

paulatinamente nas sociedades e os acontecimentos deverão produzir mudanças

que lhes sejam decorrentes ou alterem o meio ambiente e a organização do sistema

produtivo e social nos locais onde ocorram.

A primeira onda de desenvolvimento intensificado pela qual a humanidade

passou é representada pelo início da prática da agricultura e da pecuária. A

Revolução Agrícola marca o início de um longo processo que levou à sedentarização

do ser humano e ao seu desenvolvimento. Ocorrida na Pré-história, em um período

denominado Pedra Polida ou Neolítico, dela decorre a denominação de “Revolução

Neolítica”, dada ao conjunto de eventos e situações.

Há cerca de 10 mil anos, o homem passou de coletor de alimentos e caçador a criador de animais e agricultor. Os coletores e caçadores viajavam em bandos compostos em média de quarenta indivíduos, seguindo manadas de animais para assegurar o suprimento de comida. Mas depois de encerrada a Era Glacial, houve um surto de crescimento de nova vegetação, e os humanos começaram a permanecer em um local para domesticar animais e cultivar plantas. Nós nos tornamos modeladores da paisagem. Essa foi uma mudança significativa na evolução da cultura e do comportamento de nossa espécie, pois então se tornou possível a criação de povoados e comunidades e, certamente, da civilização como a concebemos hoje. Antes dessa mudança, era difícil a tecnologia desenvolver-se em um grau significativo, pois os povos nômades precisavam carregar tudo consigo em suas jornadas diárias de perseguição às manadas (BRODY & BRODY, 1999, p.280).

A organização do ser humano em sociedades agrárias durou mais de oito mil

anos, terminando no século XVIII quando começa a Revolução Industrial ou

“Primeira Revolução Tecnológica”. Nesse período as informações e o conhecimento

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 49

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

eram restritos a pessoas autorizadas e aos próprios governantes, aqueles que

autorizavam o conhecimento. Durante a vigência das sociedades agrárias,a principal

riqueza que poderia vir a ser possuída, portanto disputada, era a terra. O solo fértil

constituía-se um bem palpável e material, fonte da alimentação e da força de um

povo.

2.3.1 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Entende-se por Revolução Industrial o processo de transformações no

ambiente da produção manufatureira que levou à substituição da força e da

habilidade humana pela força mecânica e pela habilidade da máquina, ou ainda uma

habilidade que é obtida através da utilização de máquinas. O processo de

mecanização da produção teve registrado o seu início no século XVIII, na Grã-

Bretanha. A expansão da produção industrial ainda hoje se encontra em franco e

continuo desenvolvimento:

A máquina, da qual parte a Revolução Industrial, substitui o trabalhador, que maneja uma única ferramenta, por um mecanismo, que opera com uma massa de ferramentas iguais ou semelhantes de uma só vez, e que é movimentada por uma única força motriz, qualquer que seja sua força.12 Aí temos a máquina, mas apenas como elemento simples da produção mecanizada (MARX, 1996, p.11).

Dentre os diversos fatores apontados como iniciadores do processo de

desenvolvimento da indústria na Inglaterra destacam-se a tradição comercial e a

disponibilidade de recursos financeiros em volume considerável e acessível. A base

política encontra-se na Revolução Gloriosa, eclodida em 1689, pela qual a burguesia

conquistou o poder político que criou para a burguesia britânica as condições

necessárias ao pleno desenvolvimento do comércio marítimo, a aplicação definitiva

de princípios capitalistas ao meio agrário e o conseqüente acúmulo de riqueza,

conforme explicitado por Camargo Neto (2005).

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 50

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

O início da Revolução Industrial caracterizou-se por ser um período de

inovações e constante progresso técnico. Sua característica principal é justamente a

ocorrência da invenção e aperfeiçoamento de engenhos mecânicos. As invenções

não resultam de atos individuais, nem são frutos do mero acaso. A inovação atende

sempre a uma necessidade prática, ou será inútil. O inovador deve estar

perfeitamente conectado com sua realidade e com as necessidades de seu trabalho.

Por exemplo, Leonardo da Vinci imaginou uma máquina a vapor em pleno século

XVI, porém ela somente foi ter aplicação prática no século XVIII. Karl Marx (1996)

aponta as três partes que constituem o conjunto de máquinas:

Toda maquinaria desenvolvida constitui-se de três partes essencialmente distintas: a máquina-motriz, o mecanismo de transmissão, finalmente a máquina-ferramenta ou máquina de trabalho. A máquina-motriz atua como força motora de todo o mecanismo. Ela produz a sua própria força motriz, como a máquina a vapor, a máquina calórica, a máquina eletromagnética etc., ou recebe o impulso de uma força natural já pronta fora dela, como a roda-d’água, o da queda-d’água, as pás do moinho, o do vento etc. O mecanismo de transmissão, composto de volantes, eixos, rodas dentadas, rodas-piões, barras, cabos, correias, dispositivos intermediários e caixas de mudanças das mais variadas espécies, regula o movimento, modifica, onde necessário, sua forma, por exemplo, de perpendicular em circular, o distribui e transmite para a máquina-ferramenta. Essas duas partes do mecanismo só existem para transmitir o movimento à máquina-ferramenta, por meio do qual ela se apodera do objeto do trabalho e modifica-o de acordo com a finalidade. É dessa parte da maquinaria, a máquina-ferramenta, que se origina a revolução industrial no século XVIII. Ela constitui ainda todo dia o ponto de partida, sempre que artesanato ou manufatura passam à produção mecanizada (MARX, 1996, p.8-9).

O setor produtivo onde teve início o processo de mecanização da produção

foi o têxtil de algodão. De acordo com Camargo Neto (2005), o que motivou esse

setor a mecanizar-se foi o fato da inexistência de regulamentos corporativos

medievais que protegiam a ação dos artesãos britânicos e que proibissem a

produção de tecidos de algodão utilizando-se de máquinas. Esta situação não

ocorria, porém com a tecelagem de lã de ovelhas, controlada por antigos

regulamentos, alguns da Idade Média ainda. E quem possuía poder nesse setor

eram as antigas corporações de artesãos.

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 51

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

O processo de industrialização passou por fases bem delimitadas com uma

duração temporal variável, conforme os autores também devido aos equívocos que

ocorrem entre as denominações “Revolução Tecnológica”, “Revolução Industrial” e

as “Ondas de Desenvolvimento” relacionadas por Alvim Tofler (1992). Arruda e Piletti

(1999) coloca pelo menos quatro fases ou momentos no processo de

industrialização, bem como as suas características principais:

1760 a 1850 – A Revolução se restringe à Inglaterra [...] Prepondera a produção de bens de consumo, especialmente têxteis, e a energia a vapor; 1850 a 1900 – A Revolução espalha-se por Europa, América e Ásia [...] Cresce a concorrência, a indústria de bens de produção se desenvolve, as ferrovias se expandem; surgem novas formas de energia, como a hidrelétrica e a derivada do petróleo. [...] 1900 até 1980 – Surgem conglomerados industriais e multinacionais. A produção se automatiza; surge a produção em série; e explode a sociedade de consumo de massas, com a expansão dos meios de comunicação. Avançam a indústria química e eletrônica, a engenharia genética, a robótica. De 1980 em diante – A Revolução tecnológica ganha enorme impulso com a disseminação da informática; surgem os computadores pessoais. A informática passa a dar saltos cada vez mais rápidos, envolvendo quase todas as áreas da atividade humana. A internet torna-se o novo veículo unificador, ao dinamizar a transmissão de informações em todo o mundo (ARRUDA, 1999, p. 238).

Fatores culturais e técnicos favoreceram o desenvolvimento tecnológico e o

surgimento de inovações produtivas na Europa, em maior intensidade a partir da

Revolução Industrial, no século XVIII. Segundo Landes (1998), diversos

equipamentos, técnicas e objetos, atualmente corriqueiros, contribuíram para o

desenvolvimento do espírito inovador e também para o desenvolvimento material,

econômico e cultural dos europeus. Segundo o autor, eles contribuíram para o

surgimento da Revolução Industrial ou Tecnológica, a partir do século XVIII. Seriam

eles: a roda d’água ou azenha; os óculos; o relógio mecânico e a pólvora.

Além dos equipamentos, materiais e técnicas, Landes (1998), sugere ainda

que muitos fatores religiosos e culturais contribuíram para o desenvolvimento desta

cultura da inovação na Europa. Com base em seu espírito inovador, os europeus

transportaram sua cultura e seu domínio praticamente a todo o mundo: o respeito

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 52

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

judaico-cristão pelo trabalho manual; a noção judaico-cristã de tempo e o mercado e

a iniciativa livre.

A existência do trabalho manual na Europa Medieval contribuiu para o

desenvolvimento daquele continente. Nas cidades medievais (burgos) era o próprio

dono da oficina que, além de comandar os serviços, também produzia, juntamente

com os demais trabalhadores (oficiais e aprendizes). Os europeus, por onde

passaram, submeteram a natureza a sua vontade e controle. Práticas como a

construção de canais e barragens em rios, drenagem de pântanos, irrigação de

desertos, mineração e pesca em larga escala servem para exemplificar este

segundo fator. Os europeus encurtaram distâncias e dominaram mares e a terra

além deles. O tempo linear traduz e transmite uma idéia de progresso, logo, há a

idéia de que o dia de hoje deve ser melhor que o dia de ontem; conseqüentemente o

amanhã deverá ser melhor que hoje. Não há um recomeço a cada ciclo, aliás, não

existem ciclos, segundo este pensamento e noção de tempo. Os europeus

apegaram-se a esta idéia e também àquela de que se transformam a natureza por

seu trabalho estarão em constante progresso. A existência do mercado livre, ou seja,

a existência de alguém disposto a adquirir o resultado do trabalho de alguém,

funciona como uma recompensa para o trabalho e para o gênio daquele que procura

inovar. Assim, as inovações surgiram das possibilidades de mercado, que foi o

propulsor da inovação tecnológica.

A produção industrial tornou-se essencial para a Grã-Bretanha, provocando

mudanças ideológicas e também nos paradigmas produtivos há muito enraizados na

Cultura Ocidental. A Grã-Bretanha, na primeira metade do século XIX, era o país

mais industrializado que existia. A Europa, na área industrial, era ainda muito

incipiente. A Inglaterra era chamada de a “Oficina do Mundo”. A rivalidade

econômica e a disputa por mercados consumidores e fornecedores com a Alemanha

ainda não havia sido iniciada. O desenvolvimento industrial e seus desdobramentos

comerciais provocaram a construção de um império colonial e econômico pela Grã-

Bretanha. Um império poderoso e forte a ponto de influir em governos e intervir em

diversos países, conforme os seus interesses.

As conseqüências sociais do processo de industrialização britânico e europeu

foram apontadas por Hobsbawm (1982). A exploração dos operários no ambiente de

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 53

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

trabalho, aliada às péssimas condições de trabalho e de vida, somadas à

remuneração insuficiente, fomentaram diversos movimentos políticos ao longo do

século XIX.

As conseqüências mais graves foram de ordem social: a transição para a nova economia criou miséria e descontentamento, ou seja, os ingredientes para a revolução social. E, na verdade, a revolução social eclodiu, sob a forma de sublevações espontâneas dos explorados urbanos e da indústria, e esteve na base das revoluções de 1848 no continente e do vasto movimento cartista na Grã-Bretanha. [...] Os trabalhadores reagiram ao novo sistema destruindo as máquinas, que eles consideravam responsáveis pelas suas preocupações. Porém, um grupo surpreendentemente vasto de negociantes e agricultores (/59) locais estava profundamente solidário com estas actividades dos seus trabalhadores, porquanto também eles se sentiam vítimas de uma diabólica minoria de inovadores egoístas. [...] Foi esta situação que os uniu nos movimentos de massas do ‘radicalismo’, da ‘democracia’ ou do ‘republicanismo’, dos quais se destacaram entre 1815 e 1848 os Radicais Britânicos, os Republicanos Franceses e os Democratas Jacksonianos Americanos (HOBSBAWM, 1982, p. 58-59).

O desenvolvimento da indústria teve desdobramentos comerciais que

resultaram no estabelecimento do império colonial britânico. A Grã-Bretanha tornou-

se tão poderosa que foi capaz de influenciar governos e intervir em países conforme

suas necessidades econômicas e interesses. Outras conseqüências puderam ser

sentidas, especialmente nas relações de trabalho. Hobsbawm (1982) apontou esta

situação como sendo a mais grave conseqüência do processo de industrialização.

As terríveis condições de trabalho e a baixa remuneração resultaram em péssimas

condições de sobrevivência para a classe operária britânica e européia, fomentando

diversos movimentos políticos contestatórios ao longo do século XIX.

2.3.2 SOCIEDADE DA PRODUÇÃO

A Revolução Industrial fez surgir e se desenvolver um modelo de organização

social, com necessidades e anseios específicos. Situada em um período histórico

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 54

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

que vai da metade do século XVIII até a segunda metade do século XX, a

“Sociedade Industrial” possui um conjunto de características que a torna distinta do

modelo anterior, seja esta uma sociedade de base comercial ou mesmo aquele

modelo social anterior e que se fundamentava na agricultura, típico da Europa

Feudal.

A sociedade industrial nasce na mesma época em se desenvolve na Europa o

movimento iluminista ou Ilustração, conforme afirmado por De Masi (1999). O

Iluminismo foi um movimento intelectual em favor da racionalidade e contra a

emotividade mística que até então conduzia as ações humanas. O século XVIII ficou

conhecido como a “Época das Luzes”, um período em que ocorre a difusão de idéias

que procuram transformar a realidade até então percebida. As idéias iluministas se

espalharam pelo mundo, conquistando adeptos, alguns deles seguidores fervorosos

e defensores dedicados de seus princípios, conforme Aquino (1998). Até o

movimento das luzes, o ser humano dominava apenas o aspecto emotivo e aceitava

as explicações mítico-religiosas para os fenômenos naturais que eram percebidos. O

Iluminismo veio promover a substituição das explicações emotivas por explicações

racionais. Mas as indústrias que nasciam exatamente naquele período procuravam

dar uma interpretação para o Iluminismo de uma forma que fosse possível justificar a

sua própria existência e as suas atividades produtivas. A exemplo do Iluminismo, a

indústria reafirma que tudo aquilo que é adequado ao ser humano deve,

necessariamente, ser racional2.

Algumas das características que podem ser percebidas no conjunto da

sociedade industrial foram identificadas por De Mais (1999): grande concentração de

2 Na cultura da chamada sociedade ocidental, a palavra Razão origina-se de duas fontes: a palavra latina ratio e a palavra grega logos. Essas duas palavras são substantivos derivados de dois valores que tem sentido muito parecido em latim e em grego. Logos vem do verbo Legein, que quer dizer: contar, reunir, juntar, calcular. Ratio vem do verbo Reor, quer dizer: contar, reunir, medir, juntar, separar, calcular. Que fazemos quando medimos, juntamos, separamos, contamos e calculamos? Pensamos de modo ordenado. E de que meios usamos para essas ações? Usamos palavras (mesmo quando usamos números estamos usando palavras, sobretudo os gregos e os romanos, que usavam letras para indicar números). Por isso, Logos, Ratio ou Razão significam pensar e falar ordenadamente, com medida e proporção com clareza e de modo compreensível para os outros. Assim, na origem, Razão é a capacidade intelectual para pensar e exprimir-se correta e claramente, para pensar e dizer as coisas tais como são. A Razão é um amaneira de organizar as coisas porque são organizáveis, ordenáveis, compreensíveis nelas mesmas e por elas mesmas, isto é, as próprias coisas são racionais. (CHAUI, Marilena. Convite a Filosofia. 5ª ed. São Paulo: Ática, 1996. p.59-60);

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 55

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

trabalhadores assalariados em fábricas e em organizações financiadas por

investidores, conforme o sistema produtivo industrial; predomínio quantitativo dos

trabalhadores do setor secundário em relação aos demais setores da economia; a

indústria prevalece como principal fonte de renda de uma sociedade e desta forma

as descobertas cientificas são mais facilmente aplicadas à ela; o trabalho é cientifico

e racionalmente organizado e socialmente dividido; o local de trabalho é distinto do

ambiente familiar particular de cada pessoa; há aumento considerável da vida

urbana com progressão do nível de escolarização da sociedade; percebe-se uma

redução das desigualdades culturais e sociais; os espaços públicos e privados são

melhor adequados para o consumo e a produção dos produtos da indústria; o ocorre

uma mobilidade geográfica e social mais intensificada e um considerável aumento

da produção e do consumo de massa; há a crença no progresso constante, que é

irreversível; o ritmo de vida do ser humana é ditado pela máquina e não mais por

seu organismo.

Um aspecto marcante de uma sociedade industrializada reside no fato de que

esta se apresenta muito mais desenvolvida que em estágios anteriores, nos quais a

agricultura servia de base à estrutura econômica. Guerreiro Ramos (1996) apega-se

a esta questão das estruturas econômicas para analisar o nível de desenvolvimento

de uma sociedade.

Uma estrutura será tanto mais elevada quanto mais força de trabalho liberar das atividades secundárias primárias (agropecuária e extração) e transferir para as atividades secundárias (industriais) e terciárias (serviços) (RAMOS, 1996, p.140).

O termo estrutura é considerado por Guerreiro Ramos (1996), neste caso, em

sua acepção econômica, tomando-a com base na distribuição da força de trabalho

nos diversos níveis da produção. O autor considera a sociedade industrial muito

mais desenvolvida que seus modelos anteriores.

O desenvolvimento é uma promoção mediante a qual as regiões e nações passam de uma estrutura a outra superior.

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 56

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Diz-se que uma região se encontra em desenvolvimento quando, em sua estrutura, estão surgindo os fatores genéticos de outra superior. Da transformação da estrutura atual em outra superior, decorrerá a substituição dos problemas atuais por outros menos grosseiros ou mais refinados. Não há, no domínio da realidade histórico-social, nenhuma idade de ouro, na qual cesse a problematicidade da vida humana. Para todo grau de desenvolvimento, por mais elevado que seja, haverá sempre outro seguinte superior (RAMOS, 1996, p.140).

Desta forma uma sociedade que é considerada desenvolvida, não apenas

necessita possuir uma estrutura econômica superior a um modelo anterior baseado

na agricultura, mas também ter em seu interior condições que propiciem a sua

evolução. Uma sociedade desenvolvida é propensa ao progresso. Conforme

Guerreiro Ramos (1996), para todo grau elevado de desenvolvimento sempre

existirá um outro ainda superior a ele e que lhe será posterior na história. Mesmo

assim o autor coloca que não se está empobrecendo a agricultura como atividade

produtiva muito menos se pensando em polarizá-la com a indústria.

Note-se que ao falar em industrialização não se esta desprezando a agricultura, a qual só eleva sua produtividade quando, pelo aumento de suas inversões, se integra no sistema capitalista de produção. Não tem, pois, sentido a polaridade que habitualmente se costuma afirmar entre agricultura e indústria. Quando um país entra em fase de industrialização, os efeitos desta sobre a agricultura são positivos do ponto de vista econômico e sociológico (RAMOS, 1996, p.153).

A agricultura faz parte das atividades capitalistas e a industrialização aumenta

sua capacidade de produção, assim como a riqueza da região ou da nação. A

indústria alavanca a agricultura elevando o nível das estruturas econômicas. Para

Guerreiro Ramos (1996), com a indústria ocorre um aumento da renda com o

trabalho agrícola, os custos de produção se reduzem e há uma melhoria das

condições de vida dos agricultores, não apenas pelo aumento do poder seu

aquisitivo, mas pela assimilação de novos e mais sofisticados hábitos de consumo.

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 57

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

2.4 A SOCIEDADE DO CONHECIMENTO

O modelo de sociedade baseado na produção industrial predominou até a

década de 1960, quando se torna evidente um novo modelo produtivo baseado no

conhecimento. A sociedade não mais se fundamentava na produção intensa e

ilimitada da indústria. Guerreiro Ramos (1983) coloca que na década de 1980,

diversos estudiosos já se encontravam convencidos de que o conhecimento,

especialmente em seu viés tecnológico, encontrava-se na iminência de assumir o

papel desempenhado até então pela capital financeiro. Havia, segundo ele, uma

aposta de que o domínio e a utilização do conhecimento se sobreporiam a qualquer

outra atividade humana.

Possuímos, agora, ou sabemos como obter a capacidade técnica para fazer qualquer coisa que queiramos. Não seria difícil citar muitos autores que sustentam ponto de vista idêntico e, consequentemente, sugerem que o progresso, ao menos teoricamente poderia ser ilimitado nos dias de hoje. Dessa maneira, a riqueza ganha novo sentido. Deixa de ser produzida exclusivamente pela natureza; tornou-se essencialmente obra do homem. È possível criar a riqueza por meio de uma administração adequada, isto é, mediante conhecimento aplicado (RAMOS, 1983, p.36-37);

Chamado atualmente de “Terceira Revolução Industrial-Tecnológica”,

momento imaginado por Guerreiro Ramos quando o homem supera a natureza,

representa o surgimento de um modelo produtivo no qual se percebe a superação

dos processos mecânicos e industrialistas repetitivos, evidentes nas duas fases da

Revolução Industrial que a antecederam. A Terceira Revolução Industrial tem por

sua base a micro-eletrônica e a microbiologia, pontos essenciais nos quais se

fundamentam diversos outros aspectos desta revolução tecnológica:

A terceira revolução tecnológica (a atual) começou na segunda metade da década de 60 e se consolidou nos anos 70 com o sistema flexível de produção da Toyota. A fábrica monta muitos modelos e em quantidade. Quando um carro é vendido, outro é produzido para reposição. A demanda é que puxa a produção.

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 58

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

O elemento que marca definitivamente seu perfil é o computador. A informática, a robótica, telecomunicações, novos materiais e a biotecnologia assumem papel fundamental nas transformações na indústria. Capitaneada pelas indústrias automobilística e eletroeletrônica, ela provoca um salto vertiginoso de produtividade (LUNA, 2006).

Outros aspectos da Terceira Revolução Industrial podem ser ainda

identificados como o emprego do binômio informática-robótica. Este aspecto

especificamente acabou por implicar na difusão da automação dos processos

produtivos da indústria dos principais países dentro da economia capitalista.

Apesar de serem conceitos que transmitem idéias que possam ser

confundidas entre si, há diferenças fundamentais: Sociedade do Conhecimento

transmite o conceito de que a informação é utilizada diretamente pelo individuo,

proporcionando uma maior interação entre quem transmite e quem recebe a

informação; Sociedade da Informação representa um estágio anterior e inferior à

Sociedade do Conhecimento, transmitindo o conceito da informação como produto

ou insumo.

2.4.1 CARACTERÍSTICAS DA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO

Devido a sua relativa complexidade, o termo “Sociedade Pós-Industrial”,

utilizado por um certo tempo, foi gradativamente substituído por “Sociedade da

Informação” e “Sociedade do Conhecimento”. A utilização desses termos que

buscam definir o modelo social e produtivo em o mundo contemporâneo vive,

possibilitando a identificação dos seus diversos paradigmas, tornou-se o objeto de

uma intensa discussão conceitual:

A realidade que os conceitos das ciências sociais procuram expressar refere-se às transformações técnicas, organizacionais e administrativas que têm como “fator-chave” não mais os insumos baratos de energia – como na sociedade industrial – mas os insumos baratos de informação propiciados pelos avanços tecnológicos na microeletrônica e telecomunicações” (WERTHEIN, 2000, p.71).

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 59

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

A expressão “Sociedade da Informação” deve, conforme Assman (2000), ser

compreendida primeiro como uma abreviação de um dos aspectos singulares dessa

sociedade: a presença cada vez mais acentuada das novas tecnologias da

informação e da comunicação. Segundo ele, a expressão serviria apenas para

chamar a atenção para este aspecto, porém não caracterizaria a sociedade como

um todo. O autor assegura que a expressão “sociedade da informação” não

representa a totalidade dos aspectos relacionais identificados como fundamentais e

expressivos deste modelo de sociedade. Assim sendo discorre sobre uma série de

denominações que são aplicadas a tal modelo de sociedade:

Do conceito de sociedade da informação, passou-se, por vezes sem as convenientes cautelas teóricas, ao de Knowledge Society (Sociedade do Conhecimento) e Learning Society (Sociedade Aprendente). Em francês alguns falam em Societé Cognitive. Parece haver alguma conveniência para admitir, em português, a expressão sociedade aprendente. Nas teorias de gerenciamento empresarial, alastra-se o discurso sobre learning organisations (organizações aprendentes) [...] A incrível abundância e variedade de linguagens acerca desse processo tecnológico e, ao mesmo tempo, ideológico-político é um fenômeno deveras impressionante” (ASSMANN, 2000, p.8).

Informação é um conceito que admite muitos significados e profunda

complexidade, conforme colocado por Assmann (2000). Destaca-se que o caminho a

ser trilhado para a transformação da informação em conhecimento é um processo

relacional humano, e não apenas uma operação tecnológica. Para que se obtenha

uma maior e melhor compreensão deste processo, é importante que se procure

estabelecer uma distinção clara entre os significados de “dados”, “informação” e

“conhecimento”, termos comuns aos conceitos que se procura conhecer. A produção

de dados que sejam ou não analisados e estruturados não conduz necessariamente,

de forma clara à criação imediata da informação. Dessa mesma forma não se pode

considerar que toda e qualquer informação venha a ser transformada ou concebida

como sendo conhecimento.

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 60

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

O termo conhecimento é polissêmico e permite diversas compreensões sobre

seu significado. O conceito de conhecimento, para Squirra (2005), é até

escorregadio, e seu estudo e entendimento tem despertado a atenção de diversos

campos do saber.

Para uma melhor compreensão de tudo aquilo que foi exposto, o quadro a

seguir, baseado nas citações anteriores procura estabelecer algumas delimitações

entre os diversos conceitos, vinculando as ponderações sobre o que seja dado,

informação e conhecimento:

QUADRO 3 – CONCEITOS E DEFINIÇÕES: DADO, INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO

DADO Conjunto de fatos discretos e objetivos sobre eventos. Em uma organização são os registros de transações.

INFORMAÇÃO

Dados com atributos de relevância e propósito. É entendida como mensagem. É apresentada sob a forma de documentos, mensagens visuais ou audíveis. É acima de tudo contextual. Constitui-se pelo entendimento, experiência e pela ação do ser humano. É intuitivo e se encontra ligado à:

• capacidade de agir; • experiências e valores do usuário; • padrões de reconhecimento, analogias e regras implícitas; • esta na cabeça das pessoas (TÁCITO) ou em documentos

(EXPLÍCITO). CONHECIMENTO

Familiaridade ou estado de consciência que se obtém com a experiência de estudar determinado fato. Soma da extensão / percurso / área do que tem sido encontrado, percebido ou aprendido. Especifica informação sobre alguma coisa.

Fonte: Adaptação de SQUIRRA (2005, p.257-258).

O conhecimento quando relacionado ao ambiente organizacional assume,

conforme Squirra (2005), três dimensões que facilitam a sua compreensão. Estas

dimensões englobam três aspectos específicos do conhecimento: declarativo,

procedimental e estratégico.

O conhecimento declarativo diz respeito ao funcionamento das coisas

(máquinas, aparelhos, etc), mostrando como e porque atuam daquela forma. O

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 61

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

conhecimento procedimental traz implícitas as indicações de como realizar uma

determinada atividade, perpassando os procedimentos necessários à sua execução,

vindo daí a sua denominação. O conhecimento estratégico procura tratar do

contexto em que procedimentos específicos deverão ser implementados,

estabelecendo a importância e a aplicação deste conhecimento.

As transformações cotidianas que ocorrem nas sociedades, evoluindo-as

provocaram esta transposição ou passagem de um modelo de sociedade em que a

geração de riquezas encontrava-se centrada na capacidade da produção industrial

para um modelo de sociedade em que o conhecimento ocupa esse espaço. Os

paises que são mais desenvolvidos economicamente e também se encontram

industrializados há muito tempo fizeram primeiro essa passagem. Este processo de

transformação e assimilação pode ser atualmente identificado e visualizado e alguns

paises com economia periférica.

Uma sociedade fundamentada na informação, segundo Werthein (2000),

possui algumas características que lhes são peculiares, sendo que a principal é

possuir a informação como matéria-prima, base da geração de riqueza e poder. O

desenvolvimento tecnológico é maior nos segmentos que permitem ao homem atuar

sobre a informação. Em um passado recente o objetivo era utilizar a informação para

atuar sobre as tecnologias, criando novos usos e aplicações para o que já existia. As

novas tecnologias da informação encontram alta penetrabilidade e aplicação na

sociedade e na economia, porque a informação integra todas as atividades

humanas, sejam estas individuais ou coletivas.

A mera disponibilização da informação não basta, conforme Werthein (2000),

para caracterizar uma sociedade como sendo do conhecimento. É preciso algo mais

profundo segundo ele, para atingir esse estado. Um amplo processo de

aprendizagem e entendimento deve necessariamente ser desencadeado e

ordenadamente conduzido. O grau de flexibilização ou adequação às novas

conjunturas é o elemento que melhor identifica uma sociedade baseada no

conhecimento.

A transformação da sociedade baseada na produção para uma outra que seja

fundamentada na informação, ainda não pode ser considerada definitiva ou absoluta

ainda no atual momento. Este processo de mudanças encontra-se em evolução

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 62

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

constante, buscando afirmar-se com um novo paradigma. Em um futuro não muito

distante poderão ser percebidas uma variada gama de situações em que a

informação será utilizada pelas sociedades, dependendo do grau de

aprofundamento tecnológico e da sofisticação destas sociedades. Esta ponderação

afirma-se sobre o fato que contemporaneamente coexistem no mundo diversos

modelos de industrialização em diferentes níveis de sociedades industrializadas.

2.5 MODELOS E PARADIGMAS PRODUTIVOS INDUSTRIAIS

Durante o século XX a produção industrial atingiu níveis que nunca haviam sido

imaginados em toda a história da humanidade, acompanhada por um progresso

tecnológico ímpar. A atividade industrial tornou-se um parâmetro para a mensuração

da capacidade tecnológica e do nível de desenvolvimento material de uma

sociedade. Porém segundo Guerreiro Ramos (1983) não existe um único padrão de

industrialização que possa ser determinado.

O curso da industrialização não obedece a um modelo único, a um padrão determinado. Os paises subdesenvolvidos não necessitam de crescimento em todos os setores, segundo a imagem de qualquer país desenvolvido (RAMOS, 2003, p.27).

Desta forma, no período em questão surgiram diversos modelos que

embasaram a organização da atividade produtiva, influenciando o desenvolvimento

de modelos específicos de sociedade e a percepção de modelos comportamentais

humanos.

Os paradigmas produtivos industriais que influenciaram os sistemas

organizacionais podem ser reunidos em uma trilogia que marcou profundamente a

produção e a sociedade do século XX, com reflexos ainda no século XXI. O primeiro

foi criado por Henry Ford ao implantar em sua fábrica, na América do Norte, o

sistema de linhas móveis fixas e de produção rígida, idealizado por ele próprio. O

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 63

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

segundo foi estabelecido quan do a Toyota implantou um sistema produtivo flexível,

adequado às necessidades produtivas e de consumo do Japão pós-guerra. O

sistema desenvolvido pelo Volvo Group da Suécia e implantado na fábrica de

Uddevalla, o terceiro paradigma, fez com que a produção flexível passasse a ser

também criativa.

O quadro a seguir expõe o período de vigência dos paradigmas produtivos:

QUADRO 4 – PARADIGMAS PRODUTIVOS / PERÍODO DE VIGÊNCIA Em cinza o período de vigência de cada modelo

1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 Séc. XXI

MODELO FORD

MODELO TOYOTA

MODELO VOLVO

Fonte: Adaptado de Wood Jr (1992)

Evidencia-se da análise do quadro que mesmo com a plena vigência de um

paradigma produtivo, o anterior continua a ser praticado. Isto é evidenciado por

Guerreiro Ramos (1983), quando discorre sobre a produção industrial e níveis de

desenvolvimento industrial das nações.

Estes modelos baseados na produção e no consumo de massa

fundamentam-se na indústria automobilística. Tal foco é explicitado por Wood Jr.

(1992), que colocou este segmento industrial como aquele que melhor refletiu as

mudanças tecnológicas e organizacionais percebidas ao longo do século XX.

Poucas como ela espelham tão bem os processos de mudança ocorridos neste século. Sua evolução esta diretamente ligada ao desenvolvimento do pensamento gerencial e das escolas administrativas. Se hoje este vínculo é menor evidente, não menos verdade que o seu estudo e a sua análise ainda podem fornecer valiosos subsídios para a compreensão dos fenômenos organizacionais (WOOD JR, 1992, p.09).

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 64

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Os modelos produtivos industriais representam momentos distintos da

produção, do consumo, do pensamento gerencial administrativo e, em especial, do

estabelecimento dos modelos de homem ideais a cada momento histórico. Os

modelos a serem considerados existiram e existem em diferentes níveis de

desenvolvimento nas mais diversas sociedades. De acordo com Guerreiro Ramos

(1983), o mundo atual é moderno e os conceitos de atraso e modernidade perdem

de maneira gradativa a sua conotação geográfica e especificidades. Este autor

afirma que, hoje em dia, as sociedades são atrasadas e modernas ao mesmo tempo.

O que diferencia as sociedades atuais é apenas o grau de percepção sobre elas. No

aspecto referente a modernização o desenvolvimento de qualquer sociedade será

sempre parcial e o processo de modernização nunca chegará a um ponto terminal.

Para Guerreiro Ramos (1983) no mundo existe muito mais de possível do que de

realizado, há ainda muito que se fazer e se descobrir.

2.5.1 MODELO FORD DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL: AS ORGANIZAÇÕES COMO

MÁQUINAS

Henry Ford foi um dos principais industriais norte-americano durante a primeira

metade do século XX, e também o responsável pela popularização do automóvel. A

Companhia fundada por Ford em 1903, a Ford Motor Company, já centenária, possui

unidades fabris em diversos países do globo e é considerada uma das maiores

corporações do mundo contemporâneo. Historicamente, a indústria automobilística

desenvolveu-se conforme os padrões de produção e funcionamento estabelecidos

por Henry Ford, inicialmente em sua fábrica de Detroit (EUA). Ford foi capaz de,

observando as diversas técnicas de trabalho presentes em seu entorno, assimilá-las,

moldando-as e aperfeiçoando-as criteriosamente. Desta forma, criaram-se os novos

procedimentos necessários ao atendimento das necessidades produtivas de sua

incipiente organização e ao produto que se propunha montar e oferecer ao mercado,

com um custo cada vez menor e de acessibilidade maior aos consumidores.

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 65

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

A data inicial simbólica do fordismo deve por certo ser 1914, quando Henry Ford introduziu seu dia de oito horas e cinco dólares como recompensa para os trabalhadores da linha automática de montagem de carros, que ele estabeleceu no ano anterior em Dearbon, Michigan (HARVEY, 2005, p.121).

Diversos dos princípios estabelecidos por Ford eram fundamentalmente

inspirados e reduzidos de outros já existentes: a produção estandardizada de armas

de fogo; as linhas móveis de Swift e Armour e os princípios de administração

científica de Taylor.

A produção estandardizada de armas de fogo com peças intercambiáveis era

um processo usado nos Estados Unidos da América desde meados do século XIX.

Segundo Santos (2003), a The Springfild Armory, em Massachusetts, foi a

introdutora deste método em que a montagem de mosquetes, tornava parte

dispensável da habilidade e da qualificação necessária aos antigos artesãos. Este

sistema foi desenvolvido por Eli Witney. O operário necessário à efetivação da

produção era semi-especializado e trabalhava em um sistema de produção em série,

em que se produziam peças exatamente iguais umas as outras. Conforme Keegan

(2006), esta foi a primeira vez em que esse processo foi utilizado:

Os inventores e fabricantes americanos, localizados principalmente no vale do rio Connecticut, foram os primeiros a dotar o conceito de ‘partes intercambiáveis’. Fresadoras automáticas e semi-automáticas, hidráulicas, e depois a vapor produziam esses componentes segundo um tamanho prescrito com alta velocidade e grande precisão, eliminando o dispendioso trabalho manual de adequar as peças umas às outras. Os rifles feitos por esse processo – que superaram rapidamente os mosquetes de cano liso na década de 1850 – podiam ser montados por trabalhadores semi-especializados a partir de cestas de componentes, com a certeza do fornecedor de que o comprador acharia todos de igual qualidade (KEEGAN, 2006, p. 325).

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 66

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Este conjunto de processos, que priorizava a intercambiabilidade3 de peças,

recebeu o nome de “Sistema Americano de Produção”, porém, segundo Santos

(2003), ainda não poderia ser considerado de produção em massa.

A expressão “Sistema Americano de Manufatura” (American System of Manufature) refere-se a uma nova maneira de produzir bens industriais, que se difunde desde a metade do século XIX entre as empresas americanas, a partir dos métodos de produção introduzidos na indústria de armas – The Springfield Armory - em Massachusetts, relatados por Best (1990). A novidade na produção diz respeito à fabricação de peças intercambiáveis por meio de máquinas especializadas. Até então, a arte de produzir era realizada por artesãos qualificados possuidores do pleno domínio das diferentes funções necessárias à confecção do produto, trabalhando e ajustando as peças mediante a aplicação de máquinas e ferramentas de uso universal (SANTOS, 2003, p.23).

As linhas móveis também já eram utilizadas em frigoríficos da cidade de

Chicago desde a década de 1860. A sua elaboração é atribuída a Gustavus Swift e

Philip Armour. Henry Ford conheceu este procedimento durante visitas a esse tipo

de empresas, observou seu funcionamento, adaptando seus princípios à montagem

de automóveis. Swift e Armour podem ser considerados como os pais da produção

em massa, quando colocaram em funcionamento sua linha de abate e desmonte das

carcaças dos animais em seu frigorífico. Observando o funcionamento destas linhas,

Henry Ford reduziu tecnologicamente esse processo à realidade de sua fábrica e às

suas necessidades específicas.

Em seu sentido mais genérico, redução consiste na eliminação de tudo aquilo que, pelo seu caráter acessório e secundário, perturba o esforço de compreensão e a obtenção do essencial de um dado. E, portanto, a redução, seja praticada no domínio teórico, seja no domínio das operações empíricas, é sempre a

3 “O conceito de intercambiabilidade está associado à divisão do produto em suas diferentes partes, cada uma delas podendo ser reproduzida com as mesmas especificações que as demais por meio de máquinas especializadas desenhadas para tal fim. Isto, por sua vez, criava as condições para a fabricação de produtos padronizados e a desqualificação do trabalho, dado que o operário não mais necessitava conhecer todo o processo de fabricação para bem desempenhar suas tarefas”. (SANTOS, 2003, p.23);

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 67

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

mesma atividade. A redução de uma idéia ou de um minério, por exemplo, consiste em desembaraçá-los de suas componentes secundárias para que se mostrem no que são essencialmente (RAMOS, 1996, p.71).

Guerreiro Ramos (1996) especifica que redução tecnológica, a exemplo do

que foi feito por Ford, é justamente a adaptação de um determinado processo à

realidade específica e às necessidades pontuais de cada um. Cabe ressaltar, porém,

que na indústria automobilística, a linha de Swift e Armour funcionava de maneira

invertida, ou seja, não era mais o desmembramento de um animal em variados

cortes, mas sim a construção de um automóvel com diversas peças que deveriam

ser colocadas no lugar correto e no momento certo.

A produção em série de automóveis já era praticada nos Estados Unidos

desde o ano de 1900. Seu início ocorreu na fábrica da Oldsmobille, uma das

montadoras que associada a outras quatro, formaria a montadora General Motors.

Os procedimentos iniciados por Ransom Elis Olds, fundador da Olds Motor Works,

são dignos de referência na história da produção industrial. Olds iniciou suas

atividades industriais construindo carros a vapor, entre 1887 e 1893, passando aos

veículos movidos à gasolina. Ford mais uma vez atuou como um redutor tecnológico,

fazendo uso das práticas apreendidas com a produção em série da Oldsmobile,

construindo seus automóveis em série, idênticos. A utilização de peças

intercambiáveis e a produção em série apresentar-se-iam como a mais forte

característica da indústria automotiva nas décadas seguintes. O princípio básico da

produção em massa era conseguir produzir a quantidade máxima de um mesmo

produto.

Ford utilizou-se também dos princípios administrativos de Frederick Wislow

Taylor, que já eram conhecidos. Em 1911, Taylor publicou Princípios de

Administração Científica, onde apresentou modelos que sobrevivem até a

atualidade. Taylor foi responsável pela organização burocrática da produção fordista.

Segundo Braütigam (2003) o Taylorismo consiste na dissociação entre o processo

de trabalho e a especialidade operacional:

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 68

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

[...] o processo de trabalho deve ser independente do ofício, da tradição e do conhecimento dos trabalhadores, mas inteiramente dependente das políticas gerenciais. (...) Ele acreditava que havia uma melhor maneira de realizar uma tarefa, e a produtividade poderia ser aumentada com os operários desempenhando tarefas rotineiras e não exigindo que eles tomassem decisões (BRAÜTIGAM, 2003, p. 5).

Até a época de Taylor, os operários ficavam livres para definir por si os

métodos e os meios para efetivar a produção e realizar, com isso, o seu trabalho. A

crítica elaborada por Taylor destacava que a administração da organização

empresarial não poderia depender da iniciativa dos trabalhadores. O controle do

trabalho e dos processos produtivos deveria ser conduzido e mantido nas mãos do

administrador. Taylor analisou os movimentos e ações de cada operário, apontando

os movimentos úteis e os que poderiam ser descartados ou aperfeiçoados. O

aumento da produtividade e do rendimento individual na empresa foi uma conquista

da administração científica. As organizações empresariais que adotaram os

princípios preconizados por Taylor enxergavam o ser humano como mais uma das

peças assentadas entre as engrenagens da fábrica. Uma fábrica que não mais

transformava matéria-prima em produtos acabados, mas que em especial produzia

capital. Um objetivo que pra ser atingido tornava necessário utilizar a mão-de-obra

da maneira mais rentável possível.

Com base nos princípios e procedimentos tayloristas, o modelo de produção

implementado por Ford necessitava de um modelo especifico de homem, com

comportamento e mentalidade moldada às necessidades de sua organização.

Chamado por Guerreiro Ramos (1981) de “Homem Operacional”, sua função era ser

apenas um operador de máquinas. O comportamento deste homem foi demonstrado

por Charles Chaplin no filme Tempos Modernos, produzido em 1936, onde o

personagem de Chaplin aparece como um operário, vigiado e cronometrado,

inclusive quando vai ao banheiro. Ele tenta em vão, em sua tarefa repetitiva,

acompanhar o ritmo estabelecido pela máquina (linha de montagem), até ser

literalmente engolido por ela. Fora da fábrica, envolve-se em diversas situações

constrangedoras devido às experiências e ao comportamento que assimilava no

ambiente fabril Esta obra é considerada uma crítica contundente ao sistema de

controle da produção estabelecido por Taylor.

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 69

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

QUADRO 5 – CONSTRUÇÃO DO MODELO FORD DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL

AÇÕES DE HENRY FORD RESULTADO Identificação dos

Elementos pré-existentes Construção do Paradigma

Produtivo Produção estandardizada

de armas de fogo (Peças Intercambiáveis) Linhas móveis de Swift e

Armour (Frigoríficos)

Administração científica (Taylor)

Redução Tecnológica

Observação contínua e

melhorias no sistema

MODELO FORD

DE PRODUÇÃO

INDUSTRIAL

Deve-se ressaltar o grande mérito de Ford em juntar todas as práticas e

técnicas aplicáveis que já existiam, mas que eram utilizadas com finalidades

diferentes. Ford assimilou tudo, fazendo funcionar pela primeira vez na história de

maneira eficiente e sistemática, a linha móvel de montagem, estabelecendo o

modelo mais profundo, até então, de produção em série e grande escala. No sistema

de linha de montagem o trabalhador fica em uma posição fixa junto a uma esteira

móvel. O produto é conduzido ou deslocado ao longo de um determinado percurso

por esta esteira. Assim, ele vai sendo gradualmente montado, recebe seus diversos

componentes, parte por parte, até ser definitivamente concluído. Esse processo faz

com que o tempo total de montagem dos produtos seja drasticamente reduzido:

Em 1913, criava-se a linha de montagem: cada operário passava a realizar sempre uma operação; por exemplo, só apertava parafusos de uma peça ou só pintava as portas dos carros, etc., como se faz até hoje nas indústrias. A instalação desse processo significou um aumento enorme na produtividade, queda nos preços, crescimento das vendas e maior lucro (...) com esses resultados tão positivos, a linha de montagem logo se tornou padrão na indústria norte-americana e mundial (SCHVAZMAN, 2004, p. 35).

A linha móvel de montagem representou uma inovação tão importante no

processo de produção industrial que passou a ser um modelo para as demais

organizações ao longo do século XX. As práticas e inovações implementadas por

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 70

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Ford, reunidas em um conjunto de conceitos, foram denominadas em diferentes

formas, em cada época e com cada um dos estudiosos de sua obra: Modelo Ford de

Produção Industrial, Linhas Móveis, ou simplesmente Fordismo. Conforme colocado

por Sampaio (1994), o Modelo Ford de Produção caracteriza-se pela existência de

uma divisão bastante acentuada e visível do trabalho. Uma divisão que apresenta

três níveis bem distintos: Concepção, organização, métodos e engenharia;

Fabricação qualificada, Execução e montagem desqualificadas (trabalho em

migalhas).

Outra característica considerada importante é a imposição de um tempo

especifico e previamente determinado para execução de cada um das etapas da

produção, cujo princípio foi colocado por Taylor. Desta forma, a utilização da esteira

com posição fixa do operário (linha móvel) e o encadeamento de diversas linhas de

produção, impunham uma disciplina de trabalho rígida que deveria ser respeitada

pelo trabalhador. O ambiente industrial assemelhava-se a uma máquina, cujos

componentes poderiam ser facilmente substituídos por outros quando

apresentassem defeitos. O ambiente fabril era um lugar de obediência irrestrita e

com operários sem qualificação formal:

Neste pacto social cabe ao trabalhador a obediência jesuítica às prescrições dos organizadores do trabalho que gera aumento de produtividade e é recompensada através da manutenção de uma norma salarial e aumentos periódicos atrelados aos ganhos de produtividade obtidos. Neste contexto temos um trabalhador de "chão de fábrica" pouco especializado e mal escolarizado, mas muito bem disciplinado e qualificado a exercer sua função empobrecida (SAMPAIO, 1994, p. 2).

Apesar das atividades desenvolvidas pela Fábrica de Henry Ford tornaram-se

um paradigma para a indústria mundial até meados da década de1970, o sistema

acabou sendo superado por outro mais flexível. Entre os motivos que levaram à

superação do Fordismo, Sampaio (2006) coloca a rigidez de métodos existentes no

sistema como a mais significativa. Esta rigidez acabou apontada como uma das

fontes de inspiração para o modelo produtivo seguinte, porém, um exemplo negativo

que deveria ser combatido, como evidenciado nas causas e contexto histórico, social

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 71

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

e produtivo que levou ao estabelecimento do modelo produtivo, adotado pela

Toyota. Outra indústria automobilística, porém, do Japão, cujo modelo pode ser

chamado de modelo de produção flexível.

2.5.2 MODELO TOYOTA DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL: A ORGANIZAÇÃO COMO

ORGANISMO VIVO

No período anterior à Segunda Guerra Mundial os japoneses constituíram um

modelo de Estado social e politicamente organizado, segundo objetivos militares,

expansionista e imperialista. Todo o esforço e o orgulho nacional centravam-se no

Exército e na Marinha de Guerra do Império Japonês e no esforço para mantê-los

fortes e operantes. A derrota frente aos Estados Unidos, ao final da Segunda Guerra

Mundial, fez com que surgissem estudos que visavam entender o avassalador

desastre que atingira e abatera o Japão e seus principais motivos. Segundo Landes

(1998), uma das muitas conclusões apontava para o fato de que os japoneses

teriam perdido a Guerra não porque os americanos fossem superiores aos

japoneses em suas capacidades de combate, mas devido à enorme e organizada

produção da indústria da América.

Com o desmonte da indústria e da organização militar japonesa, realizada

pelos norte-americanos, todo o esforço do país passou a ser aplicado na produção

civil. Os oficiais do Exercito, da Marinha de Guerra e os engenheiros militares

transpuseram o orgulho e dedicação prestadas ao regimento ou navio, às fábricas

que agora estavam sendo reconstruídas. Esta situação assemelha-se ao processo

redutor conforme estabelecido por Guerreiro Ramos (1996). Um processo

intensificado especialmente após 1950, com o inicio a Guerra da Coréia. Um setor

industrial bastante fomentado foi o automobilístico, devido a sua capacidade de

agregar e alavancar diversos outros. Neste processo de modernização que foi

desencadeado, o governo japonês foi essencial nos resultados obtidos. Enquanto

permaneceu em uma situação de inferioridade e fraqueza econômica em relação ao

mercado internacional, o Japão procurou adaptar-se a constante influencia externa.

Sobre esta condição é interessante a opinião de Guerreiro Ramos (1983):

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 72

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Tudo que podem fazer é adaptar-se a esse permanente efeito, enquanto permanecem em sua situação de fraqueza. A adaptação pode ser passiva ou ativa. Normalmente, a modernização eficaz, como no caso do Japão, por exemplo, coincide com uma adaptação ativa, em que o papel do Governo foi decisivo no processo de mudança social e econômica (RAMOS, 1983, p.39).

A indústria automobilística japonesa desenvolveu-se de tal maneira que, em

1974, superou a Alemanha Ocidental como a maior exportadora de automóveis do

mundo. Em 1980, ultrapassou a indústria norte-americana em nível de produção. O

mercado japonês era considerado pequeno para as grandes séries produzidas pelos

métodos tradicionais norte-americanos. A cada nova situação surgida em sua

recuperação material e econômica, os japoneses necessitavam de veículos

específicos e quantidades limitadas e pontuais. Havia a necessidade de mudar os

modelos dos automóveis em produção conforme as necessidades da demanda

exigida. A produção deveria ser puxada pelo consumo e não mais empurrada pela

indústria ao mercado. A Toyota aprendeu a projetar, testar e colocar seus produtos

mais rapidamente que as indústrias da América do Norte e isto foi essencial para

seu sucesso. Com isso, os japoneses entre outros avanços:

[...] aprenderam a projetar e a testar mais depressa: 46 meses no Japão contra 60 nos Estados Unidos [...] 1,4 mês versus 11 para voltar a qualidade habitual após a produção do novo modelo. Esta ultima comparação é crucial a pressa gera desperdício, a qualidade é decisiva e os anais da produção americana estão pontilhados de exemplos de poupança rápida engolidas por demorados consertos (SAMPSON, 2000, p. 189).

Essa capacidade de flexibilizar a produção, adequando-a às necessidades

pontuais do mercado, tornou o Japão detentor da vantagem do lançamento de

novidade. Os japoneses puderam copiar rapidamente as experiências de sucesso

dos concorrentes, reduzindo-as as suas necessidades. Essa foi a raiz da produção

flexível que fez surgir uma tecnologia adequada e versátil. Segundo Carrão (2000),

as origens da flexibilização produtiva relaciona-se à introdução, na Toyota, de

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 73

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

experiências conduzidas quando a empresa operava no setor têxtil. O operador

conduzia dois teares de maneira simultânea, obtendo desta forma o dobro de

produtividade.

O Sistema Toyota teve seu início quando, na década de 1950, Eiji Toyoda

passou três meses nos Estados Unidos estudando o sistema produtivo,

especificamente a fábrica da Ford em Detroit. Seu objetivo era encontrar técnicas e

práticas aplicáveis na melhoria do desempenho produtivo da Toyota, aproveitando o

clima favorável à recuperação e desenvolvimento industrial japonês. Toyoda estava

em busca dos segredos, particularidades e especificidades da produção em massa

da indústria norte-americana. Analisou o sistema empregado pela Ford, considerado

muito rígido, mas possível de ser melhorado e reduzido à realidade da Toyota e ao

cotidiano japonês. Esta tarefa foi delegada ao principal engenheiro da Toyota, Taiichi

Ohno, que deveria implantar um sistema produtivo adequado às necessidades do

mercado consumidor e à realidade dos trabalhadores japoneses. Ohno deveria

tornar a Toyota adequada às novas necessidades da produção. Os operários

japoneses eram fortemente influenciados ainda pelas tradições artesanais e

relutavam em executar tarefas repetitivas e estáticas de uma linha de produção ao

estilo de Ford e das indústrias norte-americanas. A mudança deveria ser

organizacional e comportamental.

Ohno precisava promover uma mudança profunda nos padrões de

comportamento produtivo, tanto japonês como ocidental. Eram costumes bastante

enraizados na cultura produtiva, aceitos como normais e considerados imutáveis na

opinião absoluta dos envolvidos com o universo da produção industrial. A resistência

ao sistema da Toyota, não ficou apenas no âmbito interno. A indústria foi atacada

por diversos especialistas administrativos que a denominavam fábrica do desespero,

tanto para os operários como para os seus fornecedores, que eram pressionados

para que produzissem mais barato, com maior rapidez e com qualidade superior.

Estas resistências intensas às mudanças e inovações implantadas ocorreram em

conseqüência de diversos fatores:

Embora não houvesse aumento na quantidade ou tempo de trabalho, os operários especializados tinham o temperamento

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 74

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

forte dos artesãos e resistiram fortemente à mudança. Não mudaram facilmente o sistema de um homem, uma máquina, para o de um homem, muitas máquinas, numa seqüência de processos diferentes (SAMPSON, 2000, p. 189).

Com o tempo, as resistências diminuíram e com isso, surgiu um espírito de

cooperação e motivação após a constatação de bons resultados produtivos. Ohno

obteve a cooperação dos operários, que enriqueceram o sistema contribuindo com

suas opiniões e, especialmente, suas experiências. Eles ofereciam suas próprias

idéias e soluções para os problemas surgidos dentro do novo processo produtivo. O

sistema existente a partir de então, passou a evoluir de maneira constante e

progressiva, provocando o envolvimento e o contato mais estreito dos operadores da

linha de montagem com o corpo dirigente da empresa.

Ohno propôs um tipo bastante diferente de linha de montagem, que podia produzir uma variedade de carros dando responsabilidade individual aos operários. Inventou uma maneira de trocar matrizes (...) que permitia mudanças bem mais rápidas sem segurar o andamento da linha de montagem. Deu uma competência muito maior aos trabalhadores colocando-os em equipes responsáveis pela qualidade total a cada estágio da montagem, com direito de parar a linha quando descobriam algum erro (SAMPSON, 2000 - p189).

Para evitar a formação de grandes estoques de componentes, que ocupavam

espaços físicos e consideráveis somas de capitais, foi idealizado um processo

considerado revolucionário, apesar de simples, onde a produção era puxada pelo

consumo. As peças necessárias à produção, somente eram encomendadas quando

estavam para ser utilizadas na montagem. Entregues e utilizados os componentes,

retornava-se o container vazio ao fornecedor, para que este fosse devolvido

novamente cheio, à fábrica, com o que era solicitado. Tudo isso na quantidade e no

prazo que já haviam sido estipulados. Ao procedimento de controle utilizado neste

processo denominou-se “Kanban”, cartão em japonês, devido ao registro escrito

empregado. No Ocidente esse processo foi chamado de Just-in-time (no momento

certo).

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 75

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

No enfoque just-in-time, o ritmo da produção é determinado pela demanda do mercado. O sistema é de “puxar”. A liberação de matéria-prima para a fábrica resulta de uma reação em cadeia iniciada pelo consumidor final. À medida que os produtos vão sendo vendidos, vão sendo fabricados. [...] O sistema funciona como os elos de uma corrente (PLANTULIO, 1994, p.36).

Ao encomendar os componentes que seriam usados de maneira imediata,

combatia-se o desperdício de espaço, capital e especialmente de atenção (tempo),

visto que o desperdício é uma das maiores fontes geradoras de custos em qualquer

organização produtiva:

O método de operação do Sistema Toyota de Produção é o Kanban. A forma mais freqüentemente usada é um pedaço de papel dentro de um envelope de vinil retangular [...] o Kanban carrega a informação vertical e lateralmente dentro da própria Toyota e entre a Toyota e as empresas colaboradoras [...] a idéia surgiu do supermercado (OHNO, 1997, p. 46).

O sistema Kanban foi idealizado quando Eiji Toyoda observou que as donas

de casa norte-americanas, ao fazer compras em supermercados, tinham sempre em

mãos uma lista de produtos que necessitavam comprar, e somente pegavam nas

gôndolas aquilo que necessitavam e em quantidade necessária. Esta observação foi

responsável pelo conceito de clientes internos, aplicados entre os diversos setores

da linha de montagem da Toyota.

[...] combinar automóveis e supermercados pode parecer muito esquisito [...] desde que aprendemos sobre a troca de mercadorias nos supermercados dos Estados Unidos, estabelecemos uma relação entre os supermercados e o sistema just-in-time. Um supermercado é onde um cliente pode obter (1) o que é necessário, (2) no momento em que é necessário, (3) na quantidade necessária [...] em princípio, entretanto, o supermercado é um lugar onde compramos conforme a necessidade [...] Do supermercado pegamos a idéia de visualizar o processo inicial numa linha de produção como um tipo de loja. O processo final (cliente) vai até o processo inicial (supermercado) para adquirir as peças necessárias (gêneros) no momento e na quantidade que precisa (OHNO, 1997, p. 45).

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 76

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

O segredo do sucesso e abrangência deste sistema, no Japão e em outras

diversas partes do mundo, está na atenção dispensada ao ser humano. Atenção

especial também ao consumidor, que teve a possibilidade de encomendar seu carro

customizado, sem custo adicional, dedicada também ao trabalhador, que, na

indústria, envolvia-se com a manutenção e melhoria contínua da qualidade,

tornando-se muito mais capacitado para suas funções e mais instruído, de uma

forma geral. No sistema Toyota, o operário fazia parte de uma equipe, um organismo

vivo, não de uma máquina. O sistema produzia agora, não somente automóveis de

maneira inovadora, mas gerava também um homem com comportamento

diferenciado na indústria. Fossem operários ou administradores, as ações e reações

humanas não eram mais as mesmas esperadas no sistema fordiano.

QUADRO 6 – CONSTRUÇÃO DO MODELO TOYOTA DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL

AÇÕES DE TAIICHI OHNO RESULTADO Identificação e Análise dos Elementos pré-existentes

Construção do Paradigma Produtivo

Modelo Ford de Produção Industrial

Condições do Pós-guerra

Limitações do Mercado Japonês

Limitações de Capitais e Estoques

Supermercados norte-americanos

Combate ao desperdício

Redução Tecnológica

Observação contínua e

melhorias no sistema

MODELO TOYOTA DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL

Em 1950, foi criado um ambiente produtivo ideal para a atuação plena desse

novo homem, quando a Toyota construiu a fábrica de Montomachi, instalada em

Koromo, rebatizada como Toyota City. Moderna e adequada, a nova planta

empregava 70 mil, dos cerca de 300 mil habitantes da agora cidade de Toyota. A

produção girava em torno de um automóvel a cada quatro minutos, todos com nome

em inglês. Em Montomachi, o sistema Toyota podia ser percebido em sua plenitude.

Caminhões descarregavam containeres com peças e componentes e carregavam os

recipientes vazios de volta aos fornecedores para que no momento certo, fossem

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 77

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

devolvidos. O galpão da fábrica era semelhante a um ambiente de exposições,

faixas educativas e motivacionais pendiam do teto e em uma passarela, os visitantes

podiam contemplar os diversos componentes, sendo conduzidos e gradualmente

colocados nos veículos, que passavam por diversas áreas de montagem até sua

conclusão. Cada veículo era montado conforme especificações particulares e os

operários recebiam especial atenção na linha de montagem, alguns usando roupas

informais e agindo como se fossem os donos do lugar, devido à tamanha

familiaridade adquirida no sistema.

Quando Sampson (2000) visitou Montomachi, registrou a opinião de um dos

diretores da indústria, Mikio Kitano, um cético em relação aos cortes de pessoal e

sua ubstituição por máquinas. Para esse diretor, montar automóveis é uma atividade

humana. A montagem depende da atmosfera favorável e do ambiente motivado na

indústria, algo muito diferente da produção em massa, concebida na época de ouro

da indústria norte-americana. Para a Toyota, seus operários não deveriam ser

pessoas especiais, mas apenas seres humanos normais, um aspecto que deve ser

destacado. As pessoas, para a Toyota, são partes de um organismo, não peças de

uma máquina.

A Toyota permitia que observadores japoneses e estrangeiros tivessem

acesso às suas linhas e plantas, alguns deles propositalmente a serviço de seus

concorrentes. Segura sobre seus métodos, a indústria sempre revelou seus

segredos, em especial aqueles tocantes à observação contínua e acompanhamento

dos processos produtivos, transformação e melhoramentos constantes. Desta forma,

a Toyota tem demonstrado ser confiante em sua posição de destaque e em seu

processo de inovação permanente, sendo assim pode ser mais aberta e dar

publicidade ao seu processo. Seu contínuo avanço é o que garante que, mesmo

sendo copiada, a Toyota apresente processos e produtos com projetos

revolucionários em relação aos seus concorrentes. Em Março de 2007, a Toyota

tornou-se líder mundial na produção e vendas de automóveis, ultrapassando a

General Motors, empresa norte-americana que detinha esta posição desde o ano de

1931, quando tomou a colocação da Ford.

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 78

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

2.5.3 MODELO VOLVO DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL: A ORGANIZAÇÃO COMO UM

CÉREBRO

O Modelo Volvo de Produção Industrial, a exemplo dos anteriores, foi criado

também em uma indústria automobilística. Este modelo se destaca, inicialmente,

pelo fato de ser comparado a um cérebro, por ser planejado e desenvolvido com o

intuito de aprender com suas ações e coordenar todas as suas partes de maneira

inteligente procura também melhorar e evoluir em ritmo constante.

As atividades da Volvo (Volvo Group) tiveram seu início em 1926, montando

automóveis e caminhões em Göteborg, na Suécia. Os seus fundadores, Assar

Gabrielsson e Gustaf Larson, associaram-se com o intuito de produzir veículos que

fossem seguros resistentes e capazes de suportar o clima frio do país, bem como a

falta de estradas adequadas. A Volvo começa a atuar no momento em que seus

principais concorrentes internacionais já possuíam sólidas posições estabelecidas no

mercado. Até o inicio da década de 1970, a Volvo restringia as suas atividades

apenas a Suécia, atuando como uma montadora local, com uma produção pequena

comparada com a totalidade mundial da produção automobilística internacional.

Em 1974, a Volvo adquiriu a montadora de automóveis holandesa DAF. Desta

forma, a corporação sueca deu início a um processo de internacionalização de suas

atividades industriais. Ao longo de décadas a Volvo transmitiu uma imagem positiva

e firmou-se como montadora, dona de uma marca considerada atenta à segurança,

durabilidade e a qualidade dos veículos que produzia. Apesar do seu grande porte

(possuindo15% do Produto Interno Bruto sueco em 1992), a Volvo se caracterizou

por demonstrar e implementar um alto grau de experimentalismo. As ações

implementadas desafiaram os princípios fordistas e ohnistas. Wood Jr. (1992)

destacou que as ações em Uddevalla foram confundidas com uma simples retomada

da produção artesanal. Foram introduzidos no ambiente de produção equipamentos

e inovações tecnológicas e conceituais. A maior parte das inovações já havia sido

testada nas plantas de Kalmar, em funcionamento desde 1974, Torsdlanda, e,

1980/81 e na própria Uddevalla, a partir de 1989.

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 79

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

A partir de meados da década de 70 até o início dos anos 80, não foram feitas inovações importantes na perspectiva iniciada pela linha de Kalmar. Esse fato deve ser creditado principalmente à crise econômica porque passou a indústria automobilística na segunda metade da década de 70 e, por conseqüência, à ausência de estímulos oriundos do mercado e à diminuição do poder de pressão sindical por tais inovações (MARX, 1992, p.37).

Outros fatores contribuíram ainda com a implantação de plantas fabris

inovadoras pela Volvo na Suécia. Marx (1992) coloca que havia durante a década de

1980 uma pressão intensa por uma maior flexibilização da produção de automóveis.

Segundo ele, buscava-se fabricar lotes menores de um conjunto cada vez mais

variado de modelos de automóvel. Preparava-se, somando estes fatores, a

construção e o estabelecimento de um novo paradigma da produção industrial. A

planta de Kalmar, conforme exposto por Marx (1992), desde a década de 1960, já

incorporava em seu processo produtivo muitos dos pressupostos teóricos sócio-

tecnicos. A Volvo com esta fábrica instalada em Kalmar, procurava reorganizar-se

produtivamente, procurando atingir os seus objetivos empresariais, tornando o

favorável a ação do ser humano como responsável pela operação de um a planta

onde seriam montados inúmeros modelos de automóveis.

A experiência de Kalmar se tornou uma espécie de paradigma de uma nova forma de organização do trabalho onde aspectos do tipo enriquecimento de cargos, autonomia de decisões sobre ritmo e melhores condições ambientais se mostraram possíveis (MARX, 1992, p.37).

A Volvo desenvolveu um processo inovador, quando planejou inserir uma

nova planta industrial em Uddevalla, região no litoral oriental da Suécia que se

encontrava, na década de 1980, em declínio econômico acentuado. O governo

sueco, de tradição social-democrata, ofereceu subsídios e incentivos para que a

companhia se instalasse no local. Por decisão do governo, os sindicatos de

trabalhadores foram envolvidos com o desenvolvimento do projeto desde o seu início

e a participação dos trabalhadores ocorreu inclusive na organização da produção. O

planejamento de Uddevalla foi pensado para ser um avanço em relação às outras

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 80

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

plantas do grupo, inclusive kalmar. Segundo Marx (1992) esse era o desejo

manifestado pela direção da Volvo. O planejamento conjunto deu a planta de

Uddevalla condições de diferenciar-se das plantas convencionais. Seu diferencial

residiria na organização do trabalho, na qualidade de vida laboral e na produtividade.

Podem ser apontados como exemplos concretos desta busca pelo aspecto inovador:

A participação de órgãos sindicais e de seus técnicos especialistas em automação e organização do trabalho, que conferiram a ênfase no alargamento das possibilidades de introdução de grupos com autonomia maior do que a existente em outros casos; A participação de uma equipe da Escola de Engenharia de Gotemburgo (a Chalmers Institute of Technology), chamada a participar a fim de auxiliar na solução de problemas técnicos considerados inéditos e complexos pelo grupo Volvo, trouxe consigo a inserção dos conhecimentos ligados à ergonimia de concepção nas preocupações da equipe que trabalhou no projeto da nova fábrica (MARX, 1992, p. 41).

O objetivo do Sindicato era garantir empregos com qualidade no trabalho a

ser desenvolvido na nova planta.. Derivou daí o comprometimento com a qualidade

de vida no ambiente de trabalho e fora dele, plenamente identificado no modelo

Volvo de produção.

Na Volvo, os trabalhadores, organizados através de sindicatos fortes, manifestavam insatisfação com as práticas da produção em massa, o que levou a empresa a testar alternativas para a organização do trabalho no chão-de-fábrica, de modo que este se tornasse menos repetitivo, com maior conteúdo e, portanto, com maior significado e motivação para o trabalhador. [...] elimina-se totalmente a linha de montagem, e o automóvel é montado por uma equipe de oito a dez pessoas em um único local, para onde convergem os seus materiais, peças, etc. As pessoas têm conhecimento do processo de montagem de todo o automóvel e executam esse trabalho com um mínimo de repetição das tarefas (CLETO, 2002, p. 39).

O sindicato estabeleceu quatro condições consideradas fundamentais para o

funcionamento adequado da planta fabril: montagem dos veículos estacionaria, sem

esteira móvel ou rolante; ritmo de trabalho não fixado pelas máquinas; ciclo de

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 81

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

trabalho com um máximo de 20 minutos cada um e; processo de montagem dos

veículos não excedendo 60% do tempo de trabalho, exigência que não foi

efetivamente atendida.

Tais pressões, aliadas às características econômicas e sociais vigentes na Suécia, parecem agora ser responsáveis por uma onda de inovações e aprofundamentos de plantas calcadas em trabalho em grupo, autonomia crescente dos trabalhadores e aplicações diferenciadas de recursos de informática e automação, embora tais plantas ainda tenham boa parte de seu funcionamento baseado fundamentalmente em trabalho humano (MARX, 1992, p.37).

Os pesquisadores e consultores acadêmicos atuaram em três áreas, onde

com seus conhecimentos e habilidades, contribuíram para o desenvolvimento e

implantação da planta fabril de Uddevalla. A primeira destas áreas foi o

desenvolvimento de estratégias de treinamento e preparação dos trabalhadores

apara atuarem no novo processo de produção. A segunda área foi a logística, onde

se estabeleceu um sistema que atenderia a necessidades das seis fábricas

instaladas em Uddevalla, ligadas e atendidas por um único depósito central de

componentes. O sistema deveria ser, segundo Marx (1992), o mais próximo possível

do just-in-time, desenvolvido e difundido pela Toyota, no Japão. A terceira área que

os acadêmicos e consultores deveriam responder era a elaboração do projeto de um

sistema de informações integrado, para controle de todo o processo.

No caso de Uddevalla, desenvolveram-se novos sistemas de classificação e codificação dos componentes de cada produto, tendo-se como pano de fundo a idéia de um atlas geográfico com diversos níveis de detalhamento das informações: um trabalhador pode intuir sobre o código dessa peça através do conhecimento adquirido sobre a função de cada peça/componente (e vice-versa), em diferentes níveis de agregação, ou seja, desde uma porca até, por exemplo, um sistema de freios (MARX, 1992, p.42).

A planta industrial da Volvo em Uddevalla iniciou as suas operações na

primavera de 1988 (primeiro semestre no hemisfério norte). O planejamento dos

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 82

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

recursos humanos foi uma constante preocupação no planejamento geral da

produção da indústria. A preocupação com o conforto (ergonomia) e a saúde

(salubridade) dos operários na linha de montagem foi integral. Por situar-se em um

mercado de trabalho complexo, a Volvo adequou-se a dois fatores fundamentais:

internacionalização da produção, e a democratização da vida no trabalho. Uddevalla

foi projetada considerando a presença de seres humanos atuando em meio à

tecnologia e equipamentos avançados, advindo assim à denominação sócio-técnica,

que também poderia ser atribuída ao modelo que se desenvolveu. A Volvo teve por

objetivo criar condições para tornar tanto operários como ambiente produtivo mais

saudáveis:

Além desses aspectos, existe toda uma infra-estrutura de apoio. Cada grupo de trabalho possui salas espaçosas equipadas com cozinha, banheiro, chuveiros e até um computador. A planta é iluminada com luz natural e os ambientes são extremamente limpos. Antes de iniciar o trabalho, cada novo operário passa por um período de treina mento de quatro meses seguidos posteriormente de mais três períodos de aperfeiçoamento. Espera-se que, ao final de dezesseis meses, ele seja capaz de montar total mente um automóvel. Uma característica interessante é que 45% da mão-de-obra é feminina, o que é causa e conseqüência de várias alterações no sistema de produção (CLETO, 2002, p. 39).

A experiência da Volvo causou grande impacto, com alguma repercussão

internacional, pois atribuía ao homem um papel preponderante dentro do ambiente

fabril no processo de produção. Os modelos de produção em vigor até então, com

maior ou menor influencia junto às indústrias, não propiciavam ao estabelecimento

de boas condições de trabalho.

Seta experiência obteve uma repercussão extremamente grande, não só nos meios acadêmicos interessados na questão da organização do trabalho e ergonomia, como também nos meios empresariais e sindicais. Essa notabilidade pode ser explicada pelo fato de que a industria automobilística sempre foi conhecida como um tipo de planta onde as operações repetitivas e as más condições de trabalho foram, quase sempre, a regra (MARX, 1992, p.37).

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 83

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

A organização do trabalho foi baseada em grupos. De simples montadores de

partes de veículos, os trabalhadores de Uddevalla foram transformados em

construtores de um automóvel completo, dominando todas as etapas de sua

produção. Cada equipe montava um veículo inteiro, em cerca de duas horas. As

principais características inovadoras, que podem ser identificadas no modelo Volvo

de produção, podem ser resumidas nos seguintes pontos: funcionamento de seis

plantas fabris, idênticas e interligadas, operadas por equipes de no máximo dês

operários; cada equipe executa a montagem e o s testes de seu produto acabado,

em sua totalidade; o sistema de trabalho conjuga trabalho manual, transporte,

armazenamento e comunicação controlados por uma rede informatizada; a própria

equipe é responsável pela qualidade e reparos nos produtos defeituosos; a maior

parte dos trabalhadores não possuía experiência no setor automobilístico; todo o

processo de elaboração do projeto contou com a participação do sindicato de

trabalhadores local e nacional.

QUADRO 7 – CONSTRUÇÃO DO MODELO VOLVO DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL

AÇÕES CONJUNTAS VOLVO/GOVERNO SUECO/SINDICATOS/SOCIEDADE ORGANIZADA RESULTADO

Identificação dos Elementos pré-existentes

Construção do Paradigma Produtivo

Mão-de-obra Qualificada

Política Social-Democrata (Valorização do ser humano)

Necessidade de Combate ao Desemprego

Desenvolvimento Tecnológico

Especificidades do Mercado Europeu

Redução Tecnológica

Observação contínua e

melhorias no sistema

MODELO VOLVO DE PRODUÇÃO

INDUSTRIAL

As fábricas da Volvo possuíam níveis elevados de absenteísmo ao trabalho.

Existia também um significativo índice de rotação de trabalhadores e pedidos de

demissão (turnover), percebidos durante as décadas de 1970 e 1980, era isso que o

novo modelo produtivo deveria também procurar diminuir.

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 84

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Altas taxas de turnover, absenteísmo crônico e utilização de mão-de-obra estrangeira são de muito tempo marcas do mercado de trabalho sueco. Desde a metade dos anos 80, os jovens suecos passaram a rejeitar empregos que refletissem conceitos tayloristas. Isto está ligado não só aos constantes esforços de reestruturação do trabalho como ao fato de a Suécia ter o mais alto índice de uso de robôs entre todos os países industrializados. Por outro lado, o país tem uma longa tradição social-democrata e os sindicatos têm posição extremamente forte. Assim, o processo de inovações na Volvo tem sido dirigido pela empresa, mas com participação ou acordo dos sindicatos (CLETO, 2002, p. 39).

O objetivo do modelo desenvolvido pela Volvo, a exemplo dos outros modelos

existentes, era procurar aumentar a capacidade produtiva, reduzindo custos e

produzindo cada vez mais com qualidade superior. Em Uddevalla, foram

combinados aspectos relacionados com a produção manual, quase artesanal, em

consonância com uma automação altamente aplicada e tecnologicamente superior.

Ocorreram condições para a existência de alta flexibilização tanto em nível de

produto, como em nível de processo de produção. O treinamento, a reeducação e a

qualificação dos operários que se habilitaram e acostumaram a fabricar variados

produtos competitivos e de qualidade elevada, completou o processo. A combinação

de tecnologia avançada, preocupação e comprometimento social possibilitaram

ainda, a redução da intensidade do controle do capital em uma organização

empresarial flexível e criativa.

Wood Jr. (1992) afirma ser possível estabelecer duas imagens do cérebro e,

metaforicamente, aplicá-las ao modelo produtivo que foi implementado pela Volvo.

Pode-se, assim, estabelecer uma ligação entre estas características cerebrais e a

efetiva aplicação dos princípios decorrentes dela ao mundo organizacional: A

imagem da organização empresarial como um sistema de processamento de

informações; a imagem da organização empresarial como um sistema holográfico.

No processamento de informações, as organizações não atuavam de forma

totalmente racional, pois as pessoas que compõem as organizações, exercem

funções especificas, possuindo níveis diferenciados de acesso às redes de

informações, constituindo um fator que as tornava limitadas. Cada funcionário

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 85

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

desempenhava funções especificas na organização e na produção. Desta forma,

faltava a cada membro da organização um conhecimento maior e uma compreensão

mais ampla da totalidade do processo produtivo do qual faziam parte. A alienação

dos operários em relação à produção, resultado do sistema taylorista/fordista,

prejudica o desempenho organizacional. Como então, aprender e produzir novo

conhecimento visto que não havia entendimento sobre onde utilizá-lo?

O processamento de informações e o processo de aprendizado são pilares do

sistema Volvo. Para que as organizações tornem-se inteligentes dependerá em

grande parte da sua capacidade em aprender, bem como da forma como serão

programadas para que atuem como cérebros humanos. Indicando este caminho,

quatro princípios foram desenvolvidos a partir dos conceitos de “aprendizado” e

também “aprendizado do aprendizado” (Single-loops e Double loops,

respectivamente). Wood Jr. (1992) aponta que uma organização atuando como um

cérebro deverá possuir necessariamente estes quatro princípios: capacidade de

sentir ou monitorar o ambiente e o processo de produção; relacionamento das

informações colhidas com normas predefinidas; detecção das variações no

processo; início da correção no processo.

A metáfora da organização como um sistema holográfico transmite uma

imagem com uma série de conexões, a exemplo dos neurônios interconectados no

tecido cerebral. Cada um deles representa uma função específica, com comunicação

e troca mútua de informações:

[...] cada componente tem funções específicas — e generalista — com grande possibilidade de intercambiabilidade. O controle e execução não são centralizados. O córtex, o cerebelo e o mesencéfalo são simultaneamente independentes e intersubstituíveis em termos de função. O grau de conectividade é alto, geralmente maior que o necessário, mais fundamental em momentos específicos. É esta redundância o vetor de flexibilidade que possibilita ações probabilísticas e a capacidade de inovação (WOOD JR., 1992, p. 16).

Um modelo produtivo, este que se proponha a reproduzir as características

holográficas do cérebro, deve obrigatoriamente seguir quatro princípios

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 86

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

fundamentais, conforme estabelecido por Oderich e Techemayer (2006): fazer o todo

em cada parte ou etapa da produção; criar conexões (conectividade) entre as etapas

e dotando-as de redundância; promover especialização de funções ao mesmo

tempo em que se difunde um conhecimento generalista sobre a totalidade do

processo de produção, de maneira simultânea; capacitar para a auto-organização

dos trabalhadores. O administrador deve assumir a postura de um regente de

orquestra, que conduz cada uma das partes da produção de maneira harmoniosa ao

conjunto produtivo. Produzir-se-ia, assim, um rendimento e um resultado otimizado.

Em uma orquestra existe um alto grau de especialização e qualificação individual,

cada músico, fazendo sua parte, trabalha em conjunto com outros detentores de

especialidades diferentes. Todos possuem um objetivo comum claramente definido.

Deve-se dotar a organização ao máximo possível de flexibilidade, de maneira

criativa, capacitada para ter condições de inovar e se auto-organizar.

O aprendizado do aprendizado é um ponto fundamental, pois evita que um excesso de flexibilidade leve ao caos. Permite, igualmente, ao sistema, guiar-se em relação às normas e valores existentes (WOOD JR, 1992, p. 16).

Ao visualizar-se a organização empresarial como um cérebro ou holograma, é

estabelecida uma fronteira além da racionalidade instrumental presente nas análises

mais comuns. Uma ação capaz de redirecionar o gerenciamento e a administração

organizacional.

A fábrica de Uddevalla foi fechada em 1992, como parte de um acordo de

fusão não concretizado com a indústria francesa de automóveis Renault, conforme

registrado por Santos (2003). Em 1996, a Volvo reabriu a planta e, em 2003 ela

produzia automóveis de luxo em pequena escala, não mais pertencendo ao Volvo

Group. Apesar da elevada qualidade de sua produção e da importância que

representou em termos de paradigmas organizacionais para a indústria

contemporânea, era a produtividade a principal deficiência de Uddevalla. A baixa

produção da planta chocava-se com os problemas de competitividade enfrentados

pelo Volvo Group e com as exigências do mercado internacional naquele momento,

fatores que não desqualificam a utilização deste processo inovador.

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 87

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Os engenheiros e sindicalistas envolvidos com o projeto consideram que ainda não é possível avaliar os resultados de performance da planta pelo fato de que ainda se considera que ela está em fase de implantação (MARX, 1992, p.40).

Este é um aspecto importante que deve ser considerado profundamente em

relação ao fechamento da planta de Uddevalla, o pouco tempo de funcionamento e a

não readequação dos processos. Os engenheiros e sindicalistas opinaram pouco

antes do anuncio do fechamento. O projeto da planta começou a ser discutido em

1986, implantado efetivamente em 1989 e encerrado sem maiores explicações em

1992. A fábrica vinha aumentando gradativamente a sua produção em torno de 50%

a cada ano. Caminhava a passos contínuos para uma melhoria considerável de sua

produtividade aliada a suas condições sofisticadas de trabalho.

Ainda que as plantas de Kalmar e Uddevalla tenham sido fechadas no início dos anos 90, a utilização dos princípios da produção em docas continua a ocorrer na Suécia e, fora dela, aqueles princípios vem despertando o interesse de outras empresas em todo o mundo (LOMBARDI, 1997, p.70).

O encerramento das atividades originais da fábrica de Uddevalla, chegou a

ser apontado por alguns como o fracasso desse modelo, considerado utópico.

Guerreiro Ramos (1983), atribui uma conotação positiva ao termo utopia,

considerando-o como uma visão das mais diversas possibilidades disfarçadas sob a

cobertura de uma aparente realidade. Para este autor, a utopia constitui-se em um

instrumento que é denominado por estudiosos como “Dialética Antecipatória”. Ele

também faz uso da Teoria das Possibilidades, um conceito apreendido em Marx

Weber, que utiliza a possibilidade ao procurar apresentar explicações mais

satisfatórias par aos eventos e situações. Segundo Guerreiro Ramos (1983), Weber

faz uso das possibilidades ao formular seus tipos ideais. A imaginação do cientista

social deve ser treinada para a ocorrência de possibilidades. No caso de Uddevalla,

considerando a ponderação de Guerreiro Ramos (1983) havia uma possibilidade de

pleno sucesso do projeto original, caso contrário não o teriam colocado em

Capítulo 2 Marco Referencial Teórico 88

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

funcionamento. Ajustes poderiam ter sido efetuados da mesma forma que o Modelo

Volvo de produção Industrial foi reduzido e implantado por outras empresas.

Segundo Marx (1992), a planta de Uddevalla influenciou na Suécia o grupo Saab-

Scania, que adotou muitos dos procedimentos e princípios de Uddevalla em sua

fábricas.

Capítulo 3 Metodologia e Métodos 89

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

3 METODOLOGIA E MÉTODOS

Levando-se em consideração sua natureza científica e os objetivos que foram

estabelecidos, é necessário que se determinem as bases metodológicas que

fundamentam e embasam esta dissertação.

3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA

O presente trabalho, decorrente de uma pesquisa etnográfica, pode ser

classificado da seguinte forma:

• Pesquisa Exploratória, em função de sua natureza e;

• Pesquisa Qualitativa, por sua abordagem do problema.

3.1.1 PESQUISA EXPLORATÓRIA

As pesquisas exploratórias possuem como sua principal finalidade procurar

desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, conforme colocado por Gil

(1999). A pesquisa exploratória auxilia na construção de problemas mais precisos e

no estabelecimento de hipóteses melhor estruturadas para a condução de estudos e

pesquisas.

A pesquisa exploratória proporciona ao pesquisador, segundo Vieira (2002),

uma maior familiaridade com problema em estudo. É um trabalho que objetiva tornar

o problema da pesquisa menos complexo e mais explicito.

A pesquisa exploratória utiliza métodos bastante amplos e versáteis. Os métodos empregados compreendem:

Capítulo 3 Metodologia e Métodos 90

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

levantamentos em fontes secundárias (bibliográficas, documentais, etc), levantamentos de experiências, estudos de caso selecionados e observação informal [a olho nu ou mecânico] (VIEIRA, 2002, p.65).

O objetivo deste procedimento metodológico é conhecer as variáveis do

estudo, suas representações e principalmente o contexto onde o estudo ocorre, pois

se pressupõe que o comportamento humano é melhor compreendido no contexto

em que ocorre.

Nessa concepção, esse estudo tem um sentido geral diverso do aplicado à maioria dos estudos: é realizado durante a fase de planejamento da pesquisa, como se fosse uma sub-pesquisa e de destina a obter informação do Universo de Respostas de modo a refletir verdadeiramente as características da realidade. (...) A pesquisa exploratória, permitindo o controle dos efeitos desvirtuadores da percepção do pesquisador, permite que a realidade seja percebida tal como ela é, e não como o pesquisador pensa que seja. Enquanto, segundo as concepções tradicionais, a pesquisa exploratória tem por finalidade o refinamento dos dados da pesquisa e o desenvolvimento e apuro das hipóteses, nesta nova concepção é realizada com a finalidade precípua de corrigir o viés do pesquisador e, assim, aumentar o grau de objetividade da própria pesquisa, tornando-a mais consentânea com a realidade (PIOVESAN, 1995, p.321).

Desta forma, percebe-se que a pesquisa exploratória possibilita ao pesquisador

descobrir novos enfoques, percepções da realidade e também novas terminologias.

Com o desenvolvimento da pesquisa exploratória os resultados obtidos acabam

contribuindo com a modificação do modo de pensar do próprio pesquisador. De

maneira progressiva, o pesquisador ajusta sua capacidade de percepção à realidade

que está estudando, assim consegue controlar seu viés pessoal, distanciando-se e

não se envolvendo com seu objeto de pesquisa.

Capítulo 3 Metodologia e Métodos 91

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

3.1.2 PESQUISA QUALITATIVA

O entendimento das transformações ocorridas ao longo do processo histórico

evolutivo do ser humano centra-se no entendimento de fenômenos que foram se

somando e produziram em seu conjunto as mudanças que contemporaneamente se

fazem sentir. Giovinazzo (2006) coloca que nas pesquisas qualitativas o pesquisador

procura o entendimento e a compreensão dos fenômenos que por ele vão sendo

identificados. O pesquisador consegue a partir deste processo de compreensão

situar-se e assim produzir uma melhor interpretação dos fenômenos e das

transformações que está estudando.

A pesquisa qualitativa surgiu no interior da Sociologia e em especial da

Antropologia, de forma promissora, passou nos últimos trinta anos ganhar um

espaço cada vez maior no campo das ciências sociais. Áreas como a Psicologia,

Educação e Administração de Empresas, entre tantas outras, tem feito uso cada vez

maior deste tipo de procedimento cientifico, e podem ser considerados como sendo

dados de natureza qualitativa, os seguintes resultados, conforme relacionado por

Dias (2002): descrições detalhadas de fenômenos, comportamentos; citações diretas

de pessoas sobre suas experiências; trechos de documentos, registros,

correspondências; gravações ou transcrições de entrevistas e discursos; dados com

maior riqueza de detalhes e profundidade; interações entre indivíduos, grupos e

organizações.

Os métodos qualitativos são indicados quando o fenômeno em questão e em

estudo seja considerado complexo e possua uma natureza social, conforme Dias

(2002). O fenômeno não deve ainda ser inclinado à quantificação ou mesmo

mensuração numérica ou estatística. Os métodos qualitativos são utilizados pelo

pesquisador para que este tenha a sua percepção e conseqüente entendimento

sobre os contextos histórico, social e cultural aumentados. O pesquisador torna-se

assim um intérprete da realidade. O aumento dessa percepção contextual deve ser

considerado importante para que seja possível atingir os objetivos da pesquisa e a

confirmação das hipóteses.

Capítulo 3 Metodologia e Métodos 92

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

A pesquisa qualitativa é utilizada para detectar a presença ou não de algum

fenômeno. Segundo Giovinazzo (2006), ela recebe este nome porque, em

contraposição à pesquisa quantitativa, os seus dados são coletados e processados

de forma diferente desta. Sua preocupação está em detectar as transformações

sociais, culturais e históricas. Estas mudanças são percebidas de maneira abstrata,

sem maiores possibilidades de uma quantificação mais numérica ou exata. Os

resultados deste modelo metodológico apresentam-se de forma mais abstrata

necessitando de análise e interpretação apuradas.

O método qualitativo tem se mostrado extremamente útil para a afirmação de

conceitos e objetivos a serem atingidos nos trabalhos de pesquisa, bem como para

sugestionar variáveis que necessitem, em maior profundidade, tornar-se alvo de

melhores análises. Para Giovinazzo (2006), os métodos qualitativos apresentam

uma mistura de procedimentos racionais e intuitivos que permitem uma melhor

compreensão dos fenômenos, permitindo a imersão do pesquisador no contexto,

além de uma perspectiva interpretativa para a condução do trabalho de pesquisa.

Como características importantes da pesquisa qualitativa, Neves (1996)

enumera um conjunto que considera essencial para identificar uma pesquisa deste

tipo e natureza. Destacam-se:

1. o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como

instrumento fundamental;

2. o caráter descritivo;

3. o significado que as pessoas dão às coisas e á vida como preocupação do

investigador;

4. enfoque indutivo.

A intuição, que é um atributo importante ao pesquisador, para Martins (2004)

não é um dom simplesmente natural e espontâneo. A intuição científica é resultante

da formação teórica profunda do pesquisador e pela condução de exercícios práticos

por meio deste.

Capítulo 3 Metodologia e Métodos 93

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

3.2 MÉTODOS

O método utilizado para a efetivação deste trabalho de pesquisa foi o de

história de vida.

3.2.1 HISTÓRIA DE VIDA

A pesquisa de natureza qualitativa preocupa-se com os indivíduos e com seus

ambientes, sendo eles considerados conjuntamente em sua complexidade. Assim

procura-se entender o indivíduo que atua em um ambiente, relacionando-se com

outros indivíduos, construindo um determinado contexto, conhecendo-se a sua

história, sua versão dos acontecimentos e de sua existência. Atuando assim o

pesquisador compreenderá de maneira mais dinâmica a natureza da sua existência

e de suas ações. A história de vida apresenta-se, portanto, como uma das

modalidades de estudo utilizada dentro da pesquisa de natureza qualitativa.

Neste trabalho considerar-se-á a história de vida como sendo um relato de vida

em que, segundo Spindola (2003), aquilo que realmente interessa ao pesquisador é

o ponto de vista do entrevistado (pesquisado). O objetivo da história de vida é

apreender e procurar compreender a vida conforme ela venha a ser apresentada,

relatada e interpretada pelo próprio ator dos acontecimentos ou fenômenos

relatados.

Com a aplicação desta modalidade de trabalho, o pesquisador é despido de

sua autoridade de dono exclusivo do saber e colocado na condição de ouvinte e de

observador da realidade relatada. O pesquisador passa desta forma a ouvir o que o

entrevistado tem a lhe dizer sobre suas experiências de vida, suas construções, seu

imaginário e aquilo tudo que lê julga importante sobre a sua vida. Porém, apesar de

ser um relato individualizado, a história de vida permite que se adquira um

conhecimento que sirva para caracterizar, de forma coletiva, as práticas sociais e o

contexto cultural e histórico de um grupo muito maior:

Capítulo 3 Metodologia e Métodos 94

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Toda entrevista individual traz à luz direta ou indiretamente uma quantidade de valores, definições e atitudes do grupo ao qual o indivíduo pertence. O método de história de vida, portanto, procura apreender os elementos gerais contidos nas entrevistas das pessoas, não objetivando, contudo, analisar suas particularidades históricas ou psicodinâmicas Nesse sentido, histórias de vida, por mais particulares que sejam, são sempre relatos de práticas sociais: das formas com que o indivíduo se insere e atua no mundo e no grupo do qual ele faz parte (SPINDOLA, 2003, p.121).

O método de história de vida permite que o momento relatado pelo individuo

se destaque dos outros vividos por ele pode ser considerado essencialmente

histórico, uma vez que faz referência a fatos, acontecimentos, experiências e

fenômenos que são detentores de uma duração temporal. Assim sendo, o relato é

dinâmico, pois permite que sejam analisadas as estruturas de relacionamento

sociais a ele pertinentes, bem como os processos de mudança a ele ligados. O

relato pode ser apresentado como uma experiência dialética, pois a teoria e a prática

são constantemente colocados em confronto com os fatos reprisados pela memória,

ainda mais que, com o transcorrer do tempo, o indivíduo pode vir a refletir e analisar

o teor e o conteúdo de suas ações.

A narrativa permite ao individuo que ele faça uma reflexão sobre a natureza

da verdade dos acontecimentos que ele esteja reproduzindo ao pesquisador. Cabe

ao pesquisador analisar a profundidade e a veracidade dos fatos que estejam sendo

relatados, em conformidade com o método histórico. O grau de reflexão ou

consciência do individuo sobre seus atos pode ser levado em conta e deve servir

para auxiliar na avaliação do seu grau de envolvimento no fenômeno estudado. Por

reflexão ou consciência, pode-se, segundo Franco (2006) entender:

Reflexão pode ser considerada como processo através do qual o homem considera suas próprias ações. Na filosofia contemporânea o termo é usado como sinônimo de consciência. [...] a ação de introspecção pela qual o pensamento volta-se a si mesmo, examinando a natureza de sua própria atividade e estabelecendo os princípios que a fundamentam. Caracteriza assim a consciência crítica, isto é, a consciência na medida em que examina sua própria constituição, seus próprios pressupostos. [...] a imersão consciente do homem no mundo de sua experiência, portanto

Capítulo 3 Metodologia e Métodos 95

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

no mundo de seus valores, significados, representações, processo esse repleto de emocionalidade que coloca o ser em contato com seus contornos sócio-históricos. Adentrar nesse universo, construído historicamente, requer cuidados e espaços especiais, requer uma ação orientada que se organiza em movimentos dialéticos entre história e futuro.

O pesquisador através da história de vida, em relação com o presente, deve

procurar captar o impacto das transformações vivenciadas no passado. Ele precisa

adentrar na história para que, com seu conhecimento acumulado e sua percepção,

produza a devida ligação entre os diversos fatos e experiências relatadas. Deve-se

levar em conta que, segundo Spindola (2003), as histórias de vida não falam

sozinhas, sendo necessário, desta forma, que sejam colocadas nos seus respectivos

contextos onde se desenvolveram e puderam adquirir sentido. Assim, os relatos

estarão transmitindo o conhecimento que lhes é pertinente e o pesquisador poderá

lhes dar forma e avaliar todo o conjunto de significações da vida cotidiana.

3.2.2 ENTREVISTAS

É por meio de entrevistas que se torna possível realizar pesquisas como as

“histórias de vida”, conforme exposto por Minayo (2007). As entrevistas constituem

uma técnica de coleta de dados não documentados, de acordo com Matallo e Pádua

(2004). Estes autores colocaram que certas limitações da técnica de entrevistas

devem ser devidamente consideradas, em especial o fato de que alguns dos

entrevistados podem não repassar todas as informações buscadas pelo

entrevistador. Isto pode ocorrer de forma deliberada ou mesmo em decorrência de

falhas no procedimento de condução das entrevistas. Um outro ponto igualmente

considerado centra-se no entrevistador que, despreparado, pode vir a avaliar de

forma distorcida os dados coletados.

Como vantagens, que superam em grau de importância as suas limitações, a

entrevista possibilita que os dados coletados possam ser analisados de forma

qualitativa e quantitativamente. Outro ponto importante, segundo Matallo e Pádua

Capítulo 3 Metodologia e Métodos 96

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

(2004), é que a entrevista pode ser utilizada em qualquer segmento populacional,

auferindo eficiência na obtenção de dados referentes ao comportamento humano.

A entrevista como fonte de informação pode nos fornecer dados secundários e primários de duas naturezas: (a) os primeiros dizem respeito a fatos que o pesquisador poderia conseguir por meio de outras fontes como censos, estatísticas, registros civis, documentos, atestados de óbitos e outros; (b) os segundos – que são objetos principais da investigação qualitativa – referem-se a informações diretamente construídas no diálogo com o indivíduo entrevistado e tratam da reflexão do próprio sujeito sobre a realidade que vivencia (MINAYO, 2007, p.65).

Os dados que são obtidos desta última forma denominam-se de subjetivos e

só podem ser obtidos por meio da contribuição de indivíduos, pois se constituem em

uma representação da realidade, segundo Minayo (2007). Eles podem ser: crenças,

idéias, formas de pensamento, sentimentos, condutas, projeções do futuro,

idealizações do passado, entre outros.

A entrevista permite uma interação maior entre o pesquisador e os sujeitos

pesquisados, fator que, segundo Minayo (2007) é essencial quando se trata de uma

pesquisa qualitativa e é uma técnica privilegiada de comunicação.

Entrevista, tomada no sentido amplo de comunicação verbal, e no sentido restrito de coleta de informações sobre determinado tema cientifico é a estratégia mais usada no processo de trabalho de campo. Entrevista é acima de tudo uma conversa a dois, ou entre vários interlocutores, realizada por iniciativa do entrevistador (MINAYO, 2007, p.64).

O objetivo da técnica de comunicação é construir informações que sejam

pertinentes ao objeto de pesquisa e ao ritmo de trabalho desenvolvido pelo

pesquisador, porém uma entrevista é uma conversa que possui uma finalidade,

caracterizada pela sua forma de organização. Minayo (2007) elaborou a seguinte

classificação para as entrevistas:

Capítulo 3 Metodologia e Métodos 97

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

a) sondagem de opinião: quando é elaborada por meio de um questionário

estruturado, com respostas condicionadas pelo pesquisador;

b) semi-estruturada: quando combina perguntas fechadas e abertas, permitindo

que se discorra sobre o tema, não se fixando necessariamente à questão

formulada;

c) aberta ou em profundidade: o entrevistado fala livremente sobre um tema,

as perguntas procuram aprofundar a reflexão;

d) focalizada: destinada à elucidação de um problema especifico;

e) projetiva: utiliza-se de estímulos visuais ou sonoros, para que o entrevistado

discorra sobre isso.

Este trabalho utilizou a entrevista semi-estruturada, julgando-a ser mais

adequada à natureza dos objetivos que foram propostos. Boni e Quaresma (2005)

consideraram este modelo de entrevista, procurando destacar as suas vantagens.

As entrevistas semi-estruturadas combinam perguntas abertas e fechadas, onde o informante tem a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto. O pesquisador deve seguir um conjunto de questões previamente definidas, mas ele o faz em um contexto muito semelhante ao de uma conversa informal. O entrevistador deve ficar atento para dirigir, no momento que achar oportuno, a discussão para o assunto que o interessa fazendo perguntas adicionais para elucidar questões que não ficaram claras ou ajudar a recompor o contexto da entrevista, caso o informante tenha “fugido” ao tema ou tenha dificuldades com ele. Esse tipo de entrevista é muito utilizado quando se deseja delimitar o volume das informações, obtendo assim um direcionamento maior para o tema, intervindo a fim de que os objetivos sejam alcançados (BONI e QUARESMA, 2005, p.75).

A vantagem dos tipos de entrevistas semi-estruturadas e aberta, reside no

fato que possibilitam produzir uma melhor amostra da população que se pretende

estudar. Segundo Boni e Quaresma (2005), muitas pessoas apresentam dificuldades

em responder questionamentos por escrito. Com ambos os tipos de entrevistas,

pode-se trabalhar com mesmo com depoentes que não saibam ler ou escrever. Os

Capítulo 3 Metodologia e Métodos 98

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

autores colocam ainda que é possível a correção dos informantes quanto a enganos,

uma situação um tanto que mais difícil quando se trata de um questionário escrito.

As técnicas de entrevista aberta e semi-estruturada possibilitam uma maior

profundidade em determinados assuntos, uma vez que é bastante flexível quanto a

sua duração. O contato entre pesquisador e depoente permite uma melhor interação

entre ambos, possibilitando a ocorrência de respostas espontâneas. A proximidade

auferida permite ao pesquisador que aborde assuntos ou temas mais complexos e

delicados. Boni e Quaresma (2005) colocam que quanto menos a entrevista for

estruturada, maior será a troca de informações e a interação pesquisador e

depoente:

Desse modo, este tipo de entrevista colabora muito na investigação dos aspectos afetivos e valorativos dos informantes que determinam significados pessoais de suas atitudes e comportamentos. As respostas espontâneas dos entrevistados e a maior liberdade que estes têm podem fazer surgir questões inesperadas ao entrevistador que poderão ser de grande utilidade em sua pesquisa (BONI e QUARESMA, 2005, p.75).

O envolvimento entre entrevistado e entrevistador é considerado fundamental

por Minayo (2007), ao contrário do que alguns cientistas poderiam supor. Para a

autora, essa atitude não é uma falha ou risco à subjetividade, mas uma forma de

aprofundar a investigação e a objetividade do procedimento de pesquisa.

Em geral os melhores trabalhadores de campo são os mais simpáticos e que melhor se relacionam com os entrevistados. A inter-relação, que contempla o afetivo, o existencial, o contexto do dia-a-dia, as experiências e a linguagem do senso comum no ato da entrevista é condição sine qua non do êxito da pesquisa qualitativa (MINAYO, 2007, p.68).

A qualidade da entrevista e de seus resultados efetivos decorre do

planejamento da mesma. Boni e Quaresma (2005) colocam que a situação em que é

realizada a entrevista corrobora para seu efetivo sucesso. Logo o pesquisador deve

criar empatia e procurar ganhar a confiança do depoente:

Capítulo 3 Metodologia e Métodos 99

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

A entrevista deve proporcionar ao pesquisado bem-estar para que ele possa falar sem constrangimento de sua vida e de seus problemas e quando isso ocorre surgem discursos extraordinários. [...] O pesquisador deve levar em conta que no momento da entrevista ele estará convivendo com sentimentos, afetos pessoais, fragilidades, por isso todo respeito à pessoa pesquisada. O pesquisador não pode esquecer que cada um dos pesquisados faz parte de uma singularidade, cada um deles têm uma história de vida diferente, têm uma existência singular (BONI e QUARESMA, 2005, p.77).

O registro fidedigno do que foi conversado, perguntado e respondido durante

a entrevista é o mais importante dos procedimentos, que se espera seja realizado.

Minayo (2007) coloca que dentre todos os instrumentos de garantia da

fidedignidade, o mais prático é a gravação da entrevista, seja por meios magnéticos

ou eletrônicos, utilizando-se do armazenamento de som ou imagem. Destaca-se que

a gravação de imagens (filmagens) deve levar em conta o grau de abertura e

concordância do depoente.

É necessário ressaltar que qualquer tentativa de assegurar o registro em toda a sua integridade precisa do consentimento dos interlocutores. Em geral, o pesquisador de campo não costuma ter dificuldade na apresentação desses instrumentos e na consecução da licença dos entrevistados para utilizá-los. Ocorrem restrições e oposições, no entanto, quando o tema da fala é espinhoso, controverso ou polêmico e coloca em risco a pessoa e sua reputação. Nesse caso o pesquisador deve anotar tudo com suas próprias palavras, tentando manter fidedignidade ao sentido conferido pelo interlocutor. É obvio que tudo deve ser mantido no anonimato, pois um pesquisador social não é um repórter e não precisa identificar seu informante diretamente e, sim, a partir de atributos gerais que designem seu lugar social (MINAYO, 2007, p.69).

Uma entrevista não é um simples diálogo, ou mesmo uma conversa, mas um

procedimento científico e como tal deve ser trabalhado, conforme auferido de

Tompson (1992). Para esse autor, o objetivo do entrevistador é fazer o depoente

falar sobre seus conhecimentos ou vivências, mantendo-se em segundo plano,

Capítulo 3 Metodologia e Métodos 100

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

apenas conduzindo o procedimento. Ele recomenda que após ser encerrado o

procedimento, o pesquisador faça o mais rápido possível o registro sobre o contexto

em que se deu a entrevista, possibilitando uma melhor análise sobre o conteúdo da

mesma.

3.3 SUJEITOS QUE COMPUSERAM A AMOSTRA

Foi buscada no cenário produtivo industrial uma empresa que permitisse o

teste da hipótese prevista neste trabalho. Buscava-se evidenciar as conexões entre

os modelos de homem de Alberto Guerreiro Ramos e os paradigmas produtivos

industriais.

A empresa selecionada e que permitiu a efetivação desta pesquisa é uma

indústria do setor de alimentos, detentora de certificações e selos de qualidade

nacionais e internacionais. O alto grau de desenvolvimento e aplicação tecnológica

no desenvolvimento e produção, auferidos junto à empresa foi devidamente

considerado e desejado. Obtida a autorização para a pesquisa, foi assumido o

compromisso de sigilo quanto à identificação da empresa e dos depoentes,

procurando-se desta forma auferir maior isenção e autenticidade das informações

levantadas. Protegidos pelo anonimato, os depoentes puderam falar de maneira

menos impositiva, demonstrando um profundo detalhamento de suas atividades

cotidianas. A transcrição integral das entrevistas pode ser auferida na parte referente

aos anexos, reproduzidos ao final do trabalho.

O grupo de entrevistados, todos atuando na linha de produção da indústria, foi

composto de cinco funcionários com diferentes tempos de permanência na empresa.

Buscou-se esta quantidade por ser considerada adequada ao método de história de

vida.

O grupo de funcionários, bastante heterogêneo quanto ao seu tempo de

trabalho na empresa, foi selecionado tendo como referencial seu setor de trabalho. A

linha de produção em que atuam utiliza-se dos mais avançados equipamentos e

Capítulo 3 Metodologia e Métodos 101

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

procedimentos técnico-produtivos em termos nacionais ou mesmo mundiais, em seu

ramo de atividade.

3.4 COLETA DE DADOS

A coleta dos dados necessários foi conduzida por meio de entrevistas

gravadas semi-estruturadas e conversas entre o pesquisador e o depoente.

Colocada uma determinada situação, o depoente discorria sobre o que sabia

daquilo, suas impressões e entendimento. Para melhor delimitar o contexto a ser

estudado, foi elaborado um roteiro com algumas questões pertinentes à pesquisa

que poderiam ser utilizadas.

Não era objetivo, ao estabelecer-se o roteiro (Anexo A), conduzir plenamente

todas as entrevistas, padronizando-as. Sua função especifica era servir como um

ordenador dos elementos de ligação entre os diversos pontos relacionados ao

objetivo do trabalho, permitindo posteriormente uma melhor tabulação dos dados.

As informações obtidas por meio das entrevistas foram analisadas e

organizadas cronologicamente, permitindo um relato histórico reflexivo e único sobre

a evolução dos procedimentos produtivos, organizacionais e dos modelos de homem

exigidos dentro da empresa. O estabelecimento desse relato histórico e evolutivo

permitiu a identificação de características dos modelos de homem e suas

correlações com os paradigmas produtivos, como segue no próximo capítulo.

3.5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE

Por ser este um trabalho de pesquisa qualitativa, a técnica de análise utilizada

é a “análise de conteúdo” das entrevistas. Esse procedimento é discutido e

apresentado por Gomes (2007), o qual coloca que a análise de conteúdo torna

necessário a ponderação sobre alguns pontos:

Capítulo 3 Metodologia e Métodos 102

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

1. a análise de conteúdo dentro de uma pesquisa de caráter qualitativo não

possui como finalidade contar opiniões ou pessoas. Seu obejtivo é explorar o

conjunto das opiniões e das representações sociais relacionadas ao tema

investigado;

2. a análise de conteúdo deve ter por propósito ultrapassar o que foi descrito

pelo depoente, fazendo uma decomposição das informações obtidas,

buscando-se as interrelaçoes entre as diversas partes ou categorias em que o

conteúdo foi dividido. Deve-se buscar com isso a compreensão e o

entendimento que se encontra além do que foi descrito e analisado. A

interpretação é o ponto de partida e de chegada do trabalho;

3. a análise de conteúdo é o momento em que o pesquisador procura concluir o

seu trabalho, fundamentando-se no material levantado, articulando-o com os

objetivos da pesquisa e ao seu marco referencial teórico. É uma etapa final do

processo de pesquisa.

Não existe uma delimitação nítida o suficiente sobre o momento em que se

ocorre a coleta das informações e quando se inicia o seu processo de análise e

interpretação, segundo colocado por Costa (2007). Para ele é importante apenas

que se verifique a qualidade e a suficiência do material levantado e disponível à

efetivação dos objetivos do trabalho de pesquisa.

O procedimento de análise de conteúdo teve seu aparecimento registrado por

volta do início do século XIX. Priorizava, conforme Costa (2007), um máximo de rigor

científico e cientificidade à descrição dos comportamentos, enxergados como uma

reação aos mais diversos estímulos. Era uma técnica de pesquisa voltada à

descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo coletado ou auferido. Essa

técnica, segundo o autor, tornou-se conhecida através de pesquisas nos Estados

Unidos da América, que versavam sobre a imprensa.

A utilização da análise de conteúdo é bastante diversificada. Gomes (2007)

menciona as seguintes situações: análise das obras de um escritor buscando

identificar seu estilo literário e personalidade; análise dos depoimentos de

espectadores de um programa, espetáculo ou leitores de um jornal para determinar

Capítulo 3 Metodologia e Métodos 103

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

seus efeitos; análise dos depoimentos de representantes de um segmento um grupo

social visando conhecer seu universo vocabular.

O quadro a seguir apresenta as possibilidades de utilização da análise de

conteúdo e sua aplicação:

QUADRO 8 – CAMPOS DE APLICAÇÃO DA ANÁLISE DE CONTEÚDO

Exemplos em relação ao número de pessoas implicadas na comunicação CÓDIGO E

SUPORTE 1 pessoa (monólogo)

2 pessoas (diálogo) Grupo restrito Comunicação

de massa

Lingüístico – escrito Agenda, diário

Cartas, trabalhos escolares

Notas e documentos

Jornais, livros, cartazes

Lingüístico – oral Delírios, sonhos, histórias

Entrevistas e conversas

Entrevistas e conversas

Discurso. Palestra,

programas de rádio e tv

Iconográfico (sinais, imagens, filmes fotografia)

Rabiscos, sonho,

desenhos

Comunicação utilizando imagens

Comunicação utilizando imagens

Cartazes, quadros, imagens

publicitárias Outros códigos

semióticos (Comportamentos, música e objetos)

Tiquetes, coleções,

dança

Comunicações verbais

(vestuário, posturas)

Comunicações não verbais

(vestuário,posturas)

Monumentos, sinais urbanos,

comportamentos institucionais

Fonte: Adaptação de GOMES (2007, p.85).

Os procedimentos metodológicos da análise de conteúdo, segundo a

perspectiva qualitativa, podem ser os seguintes: categorização, inferência, descrição

e interpretação. Gomes (2007) coloca que a ocorrência desses procedimentos não é

seqüencial. O mais usual, segundo o autor, é proceder da seguinte forma:

(a) decompor o material a ser analisado em partes (o que vai depender da unidade de registro e da unidade de contexto que escolhemos); (b) distribuir as partes em categorias; (c) fazer uma descrição do resultado da categorização (expondo os achados encontrados na análise); (c) fazer uma descrição do resultado da categorização (expondo os achados encontrados na análise); (d) fazer inferências dos resultados (lançando-se mão de premissas aceitas pelos pesquisadores); (e) interpretar

Capítulo 3 Metodologia e Métodos 104

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

os resultados obtidos com auxilio da fundamentação teórica adotada (GOMES, 2007, p.88).

Porém, destaca-se que a análise de conteúdo não segue necessariamente,

em seu conjunto, a seqüência colocada anteriormente. Os procedimentos auferidos

pelo pesquisador dependem dos seus propósitos relativos à pesquisa, referentes

aos objetivos almejados, à natureza dos materiais levantados e disponíveis e por fim

a sua perspectiva teórica.

Por categorização entende-se a divisão dos dados obtidos com as entrevistas

e identificados pela análise de conteúdo, em categorias ou grupos que permitam sua

melhor compreensão. É uma operação de classificação dos elementos que formam

o conjunto dos resultados obtidos pela pesquisa. Para Gomes (2007), a

categorização pode também ser previamente realizada, atitude que exige um

conhecimento teórico profundo e sólido por parte do pesquisador que deverá

encontrar um procedimento que permita uma classificação adequada a sua análise.

Esta classificação pode emergir também, a partir da análise do material de pesquisa.

A categorização é um procedimento que se propõe a seguir rumo à

objetividade no procedimento de analise. Gomes (2007) coloca que é importante a

garantia da homogeneidade das categorias ou classes. Assim, as categorias devem

ser construídas partindo-se dos mesmos princípios usados para todo o procedimento

de categorização. Todo o conjunto do material a ser analisado deve

necessariamente ser submetido aos mesmos e idênticos critérios.

Além da homogeneidade, em uma categorização, as categorias devem ser,

segundo Gomes (2007):

a) exaustivas, abarcando todo o material analisado;

b) exclusivas, isto é, um mesmo material não deve ser classificado em mais de

uma categoria;

c) concretas, ou seja, não podem ser expressas em termos abstratos;

d) adequadas, adaptanado-se aos conteúdos e objetivos almejados.

Capítulo 3 Metodologia e Métodos 105

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

As categorias podem ser construídas segundo diversos critérios: temáticos,

sintáticos, léxicos e expressivos.

Por fim, a análise de conteúdos exige uma sólida base teórica do

pesquisador. Quando o pesquisador atingir a elaboração de uma síntese entre as

questões da pesquisa, os resultados obtidos com a análise do material levantado,

inferências conduzidas e perspectiva teórica adotada, chegar-se-á a uma

interpretação considerável.

Capítulo 4 Resultados e Análises 106

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

4 RESULTADOS E ANÁLISES

Este capítulo centra-se na discussão das entrevistas com trabalhadores de

uma indústria do setor de alimentos que, atuante há 40 anos, evoluiu de um modelo

produtivo tradicional para um outro mais sofisticado, quer seja no aspecto produtivo

industrial quer no organizacional e administrativo. Pretende-se preservar anônima a

empresa para que ocorra uma melhor discussão dos resultados obtidos.

Cabe ressaltar que o acesso à planta e aos trabalhadores foi devidamente

autorizada pela direção da empresa, que se absteve de qualquer ingerência,

preservando-se apenas o direito de ter acesso ao trabalho de pesquisa quando de

sua conclusão e apresentação.

A indústria em questão apresentou um grau elevado de evolução em seus

princípios produtivos e organizacionais, atingindo um elevado grau de sofisticação

em suas atividades.

4.1 ENTREVISTAS: RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram escolhidos aleatoriamente cinco trabalhadores vinculados à empresa,

sendo que todos ainda atuam diretamente na produção, entrando na empresa em

diferentes momentos(de 1986 até 2005).

As entrevistas objetivaram identificar nas falas dos trabalhadores

determinados aspectos que caracterizem os paradigmas produtivos e também outros

que levem a identificação dos modelos de homem de Alberto Guerreiro Ramos,

dentro de determinadas situações. Procurou-se, sendo fiel ao método de história de

vida, deixar que os entrevistados falassem espontaneamente sobre suas atividades

laborais e pessoais, porém procurou-se encaminhar a conversa, conforme o modelo

Capítulo 4 Resultados e Análises 107

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

pré-estruturado de entrevistas, buscando situações especificas onde os aspectos

que se procuram tornar evidentes pudessem ser conhecidos.

A entrevista ateve-se aos aspectos relacionados à seleção para o trabalho,

treinamento para a função, trabalho e responsabilidade sobre a produção, qualidade,

adequação de processos produtivos e preocupação ambiental. A análise das

entrevistas seguirá, portanto, essa ordem.

Dividiu-se a evolução histórica da empresa em dois períodos com

peculiaridades bastante distintas: o primeiro na década de 1980 e anteriores; o

segundo, na década de 1990 após o início da aplicação e desenvolvimento dos

programas de qualidade em 1992, ano em que ocorreu a implantação do programa

5S. Apesar de ser uma certificação e um programa voluntário de qualidade, visando

ao combate ao desperdício, lançaram-se bases para a conscientização dos

funcionários e administração. A partir da implantação do 5S, a empresa buscou

adequar-se e conquistou diversas certificações nacionais e internacionais na área de

qualidade, entre as quais destacam-se:

• BRC - Norma para venda no mercado Britânico. Foi criada pela rede

varejista da Inglaterra visando a garantia da qualidade e a segurança dos

alimentos.

• HACCP - Norma que demostra a preocupação em garantir a segurança

alimentar dos alimentos, minimizando os riscos de contaminação física,

química e microbiológica nos produtos da indústria.

• ISO 14.001:2004 – Norma que aponta a preocupação da empresa com a

preservação do meio ambiente, com minimização dos impactos ambientais

decorrentes de sua atividade industrial e atua na melhoria de sua

sustentabilidade ambiental, minimizando o consumo de recursos naturais.

• ISO 9.001:2000 – Norma que mostra a empresa prezar os conceitos para

garantia da qualidade de seus produtos e serviços.

• Norma 18.001:1999 - Norma que ressalta a preocupação da empresa em

garantir a segurança e a saúde dos colaboradores, terceirizados e

prestadores de serviço nos limites da mesma.

Capítulo 4 Resultados e Análises 108

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

• PQC - Selo de qualidade do café torrado e moído no mercado interno para

garantia da qualidade e segurança alimentar do café TM.

• Selo Fairtrade - Venda para o mercado fair trade de produtos considerados

"justos" do ponto de vista comercial, ambiental e social.

• Selo Halal - Norma para venda de produtos nos países de cultura Islâmica.

Garante a qualidade e a segurança dos produtos de acordo com o critério

da religião islâmica desses países.

• Selo Kosher - Fundamental para a venda no mercado de alimentos Kosher

israelense

• USDA - Norma para venda de produtos orgânicos no mercado americano.

4.1.1 CATEGORIZAÇÃO

Para uma melhor análise das informações coletadas, optou-se por categorizar

os conteúdos das falas, procurando na fragmentação dos testemunhos encontrar

pontos de intersecção e convergência das experiências dos depoentes.

As categorias que foram estabelecidas tomaram por base os aspectos

relacionados aos paradigmas produtivos: Ford, Toyota e Volvo. Atendo-se aos

objetivos deste trabalho, procurou-se vincular às especificidades produtivas, a

identificação dos modelos de homem de Alberto Guerreiro Ramos: operacional,

reativo e parentético. Destaca-se que apesar da evidente vinculação entre o

paradigma fordista e o modelo de homem operacional ser quase que automática, o

mesmo não ocorre com os paradigmas e modelos seguintes. Não há uma vinculação

mecânica e automática, sendo possível identificar a existência dos diversos modelos

de homem ainda contemporaneamente e nos diversos paradigmas produtivos. O

que se apresenta é uma identificação maior ou conexão de um modelo de homem

com um paradigma produtivo. Dessa forma, as categorias assim foram

denominadas:

• indústria tradicional rígida;

Capítulo 4 Resultados e Análises 109

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

• indústria moderna flexível;

• indústria sofisticada, flexível-criativa.

4.1.2 INDÚSTRIA TRADICIONAL RÍGIDA

Os aspectos relacionados ao paradigma fordista podem ser relacionados

quando se identificam nas falas dos depoentes, informações referentes às formas

como se conduzia a produção no período anterior à implantação dos programas de

qualidade (1992). A fala do depoente 01 (Anexo 01) é bastante significativa ao

apontar esse aspecto:

Quando a gente era auxiliar, auxiliar é assim você sempre tava auxiliando onde estava precisando [...] Então o que acontecia a pessoa era contratada pra trabalha junto com aquele operador entendeu. Então ali o conhecimento que você ia ter ali é com aquele operador. Ai às vezes no caso do operador se você ia trabalha com outro, ele falava não é assim que funciona ta mais por que não é assim o outro me ensino daquele jeito. Então eu aprendi daquele jeito, entendeu! Como que é ai as idéias não batiam uma coisa com a outra (DEPOIMENTO 01).

A ausência de um operador causava um sério dano à seqüência da linha de

produção da empresa. Quando ocorria a falta de um operador específico, era

comum não existir naquele turno de trabalho outro que soubesse realizar suas

funções. Conforme o depoente 02 (Anexo 02), a empresa contornava isso muitas

vezes buscando em casa outro operador que estivesse de folga, ou mesmo acabado

seu turno.

Antigamente eles buscavam o operador que tava de folga, agora não. Agora como a gente já sabe já vários setores, a gente mesmo (DEPOIMENTO 02).

Percebe-se que não havia uma troca de funções, o funcionário trabalhava

apenas naquilo para o que havia sido contratado. Suas atribuições eram apenas

Capítulo 4 Resultados e Análises 110

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

operar a máquina, conforme o modelo de homem idealizado por Guerreiro Ramos. O

funcionário apenas conduzia a máquina conforme haviam lhe determinado. Uma

confirmação dessa condição é passada pelos depoentes quando afirmam sobre os

procedimentos executados quando da ocorrência de um problema em máquina,

quando havia a necessidade de realizar o serviço de manutenção. Pelo que colocam

os depoentes, o operador não possuía autonomia nem para fazer a identificação do

problema: apenas comunicava que o equipamento não estava funcionando.

A pessoa [encarregado] mostrava a empresa, mas era assim rápido, em questão meia hora te mostrava a fábrica. E voltava ao setor porque era lá que você vai trabalhá (DEPOIMENTO 01).

Este aspecto reforça a imagem fordiana desse período na empresa em

questão. Relaciona-se com a rigidez identificada na execução das funções na linha

de produção. Nos dizeres dos depoentes, cada um operava sua máquina e tinha sua

função especifica e única. A linha de produção era estática, no que se referia ao

papel dos operadores.

Antigamente, quando você entrava em uma fábrica fazia aquele serviço o resto da vida, se tivesse que colocar ele na outra ponta aqui ele não sabia, não tinha treinamento pra esse tipo de coisa. (DEPOIMENTO 03)

O operador não era responsável pela qualidade do que produzia, pelo menos

pela verificação detalhada daquilo que estava produzindo com a mesma, sendo

verificada no final do processo. Quando eram encontrados problemas na qualidade,

o trabalho precisava ser refeito, gerando esse resserviço custos e desperdícios de

tempo e matéria prima. O operador sozinho não tinha autonomia para interromper a

linha de produção. Em caso de necessidade, tinha que se comunicar com chefes,

supervisores e assim sucessivamente.

Quando ocorria quebra do equipamento, esperava-se a chegada do

responsável pela manutenção, sem maiores preocupações com a natureza do

Capítulo 4 Resultados e Análises 111

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

defeito por parte do operador. Tornou-se evidente, nestes dizeres, a caracterização

do homem operacional e do fordismo como modelo produtivo e organizacional.

Antes quebrava o equipamento você, ligava pro mecânico, o mecânico sabe lá quando vinha à informação era só entre você e ele mesmo daí daqui a pouco chegava o teu supervisor e perguntava o que aconteceu, eu não to sabendo de nada. Hoje a informação ta mais evoluída entendeu. (DEPOIMENTO 01)

A não autonomia do operador retrata os fundamentos da teoria administrativa

de Taylor, separando a empresa em trabalhadores (blue-collars) e administradores

(white-collars).

No período anterior à implementação dos programas de qualidade, a seleção

dos candidatos a emprego era bastante simples: normalmente indicava-se o

candidato, por um amigo ou parente já funcionário, procedimento que reforça a

imagem de um paradigma fordiano e um modelo de homem operacional. O

candidato fazia um cadastro, conduzia-se uma entrevista bastante simples, conforme

explicitado pelos depoentes. Uma vez aprovado, o candidato era empregado pela

empresa. A escolaridade exigida girava também em torno de padrões mínimos. A

empresa sempre possuiu uma procura considerada grande por candidatos a vagas

de trabalho. O depoente 01 colocou sobre a época em que entrou para o quadro da

empresa, no ano de 1985:

Mas só que a seleção quando eu entrei aqui. Na época nós entramos aproximadamente oito pessoas aqui dentro. Na época tinha sete homens e uma mulher, entendeu. A concorrência era grande porque a empresa, quando falava nela, a empresa era muito cogitada aqui na cidade. O povo falava que a empresa era isso e aquilo, é aquilo e tal vamos trabalhar lá então, você chegava à portaria era cheio de gente era repleto de pessoas querendo entrar aqui e consegui um emprego aqui dentro, porque a empresa era muito visada (DEPOIMENTO 01).

Quanto ao processo de seleção dos funcionários, quando se candidatavam ao

emprego, era no primeiro período ausente de critérios mais rigorosos. Buscava-se

Capítulo 4 Resultados e Análises 112

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

um homem operacional, adequado a suas funções. Os entrevistados foram

unânimes em afirmar que sempre existiu um grande número de pessoas

interessadas em trabalhar na empresa, reflexo segundo alguns deles da erradicação

da cafeicultura na região, provocando a migração de grandes contingentes de

trabalhadores do campo para a cidade. As aglomerações urbanas cresceram

enormemente com esse novo contingente populacional oriundo da zona rural, das

fazendas que, a partir de 1975, mudaram seu perfil produtivo, mecanizando-se. O

emprego na indústria, com carteira assinada apresentava-se como uma alternativa

segura a todos, especialmente na indústria objeto da pesquisa.

Teste não foi feito não, foi só mais entrevista não é igual a esta em que a gente esta conversando no momento. Foi feito à entrevista perguntado o que você gostaria de fazer? Quanto você queria ganhar? E grau de escolaridade e mais nada, era mais simples. (DEPOIMENTO 01)

O próprio nível de escolaridade exigido era o mínimo. Buscava-se um homem

que apenas operasse a máquina. O depoente 04 (D-04) lembrou essa questão, cujo

conteúdo ouviu falar por funcionários mais antigos da empresa, “[...] pelo que eu sei,

a escolaridade era mais baixa, o nível de escolaridade era bem inferior a que tem

hoje” (Depoimento 04).

Uma vez contratado, o funcionário era encaminhado diretamente à produção.

As mudanças de setor ocorriam quando a empresa achasse necessário. A

transferência não significava ainda neste período uma maior flexibilidade produtiva,

mas apenas uma readequação de pessoal à linha de produção, muitas vezes

significando um novo aprendizado, mas as funções eram estáticas e repetivas.

Fui direto para a produção, mais daí a gente começava em um setor como auxiliar aí depois conforme ia precisar em outro setor ai a gente era transferido para outro setor entendeu? (DEPOIMENTO 01)

Na função de auxiliar, o operador acabava tomando contato com diversas

funções, mas isso era apenas temporário.

Capítulo 4 Resultados e Análises 113

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Ás vezes você, por exemplo, trabalha em uma máquina hoje ta eu tenho um auxiliar uma pessoa que trabalha comigo. Um auxiliar, nesse caso o auxiliar não veio, então o que é que acontece eu estou trabalhando meio serviço, estou precisando de alguém pra me ajudar. Então nesse caso ai eles pegariam uma outra pessoa de um outro setor para me auxiliar entendeu? Então quando a gente quando era auxiliar você não tinha um lugar específico você tinha o seu mais quando alguém saía de férias tinha que ficar alguém pra suprir o teu lugar então pegava uma pessoa de outro lugar pra ficar ali. (DEPOIMENTO 01)

O ponto referente ao treinamento especifico para o desempenho da função,

versa sobre o seguinte: uma vez admitido, no período anterior aos programas de

qualidade, o funcionário era conduzido ao seu posto de trabalho, à máquina que iria

operar. O treinamento consistia, segundo os depoentes, em aprender rapidamente a

operar a máquina em questão. Normalmente admitido como auxiliar de produção, o

novo funcionário era instruído por um outro operador, mais experiente. As

informações eram repassadas de maneira incompleta, pois o operador mais antigo

retinha consigo a maior parte do conhecimento e da sua experiência naquela função.

Restava ao funcionário neófito ir trabalhando e assimilando os erros e acertos,

formando sua própria experiência na condução de sua parte no processo produtivo.

Não, na época não existia assim um treinamento específico, entendeu o próprio operador aprendia operar a máquina, o próprio operador. Só que aprendia do jeito dele se ele souber como se diz ele era operador da máquina, só que ele tinha o limite dele opera, dele ensina, ele não era tão todo transparente, entendeu. Então chegava em certo ponto e falava assim, olha negócio é o seguinte você vai aprender a fazer isso é isso. E se como é que é aquilo lá? Como que é aquilo lá, não aquilo lá quem faz sou eu. Não tinha, não tinha liberdade total (DEPOIMENTO 01).

Esta situação acontecia segundo opinião dos depoentes em diversos motivos

que puderam aventar pelo não comprometimento como resultado produtivo da

empresa, pela falta de espírito de equipe e, principalmente, pelo sentimento de

Capítulo 4 Resultados e Análises 114

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

propriedade que os trabalhadores mais antigos possuíam em relação ao seu

conhecimento, adquirido com base no trabalho e na experiência produtiva.

O pessoal fala que antigamente o operador mais antigo não gostava de passar porque tinha medo de perder o lugar para o mais novo mais agora não tem isso não, a gente usa o profissionalismo. No caso meu, eu sou, eu treino as pessoas. (Depoimento 02).

O funcionário imaginava-se revestido de poder e importância, julgando que

desta forma tornar-se-ia insubstituível, uma peça essencial às engrenagens da

máquina industrial, garantindo a efetividade de seu emprego. Evidenciam-se nesta

situação muitas características das empresas que adotavam o paradigma fordista de

produção industrial, bem como se apresentam fatores que levam à identificação do

modelo de homem operacional, conforme idealizado por Guerreiro Ramos (1984).

4.1.3 INDÚSTRIA MODERNA FLEXÍVEL

Os programas de qualidade implantados no Brasil em fins da década de 1980

e início dos anos 1990 representam à transposição dos princípios que norteavam o

Modelo Toyota de Produção Industrial, para a realidade das indústrias nacionais.

Pelo teor dos depoimentos, a indústria objeto da pesquisa deve ter sido uma das

pioneiras deste movimento no Brasil. Não era objetivo deste trabalho o

aprofundamento no teor dos programas de qualidade, sua eficácia ou não por esta

empresa. Com o desenvolvimento de programas de qualidade, especificamente a

partir de 1992, a empresa pesquisada deixou de lado aspectos profundamente

fordistas, como a rigidez das funções na linha de produção, a falta de autonomia dos

operadores e o treinamento.

Com a implantação dos programas de qualidade, a partir da década de 1990,

foi possível identificar nas entrevistas, as evidências da implantação e efetivação do

Modelo Toyota de Produção. O modelo de homem transforma-se rapidamente,

evoluindo para o modelo reativo de Guerreiro Ramos (1984), sendo possível já

Capítulo 4 Resultados e Análises 115

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

enxergar algumas nuances relativas ao estabelecimento do modelo de homem

parentético. Essa mudança organizacional possibilitou o estabelecimento de uma

cultura na empresa, conforme verificado nos depoimentos.

Em 1992, a empresa implantou o programa 5S, um programa voluntário de

qualidade, que serviu de fundamento à efetivação de diversos outros. O programa

5S criou efetivamente uma mentalidade nos funcionários voltada à preocupação com

a qualidade e o combate ao desperdício. O depoente 02 (D-02) coloca que quando

passou a trabalhar na empresa, em 1993, esta se encontrava com esse programa

em andamento.

É já pegamos o 5S, porque o 5S exige não é só limpeza exige muito mais do que isso. Enquanto alguém cuidando do produto a gente cuida também do ambiente, pra passar no setor da gente do jeito que tem que ser (Depoimento 02).

Os programas de qualidade e a preocupação com a qualidade total são uma

das características mais evidentes do paradigma toyotista. Conforme o depoente 01

(D-01), o programa 5S ajudou também a desenvolver uma consciência ambiental

tanto na empresa como em seus colaboradores. A busca por certificações

ambientais exigidas pelo mercado nacional e internacional criou as condições mais

sofisticadas de coleta, tratamento e destinação de resíduos.

Não, hoje é diferente, porque hoje já tem o tratamento de resíduo aqui na fábrica. Antes não tinha, antes o lixo que era gerado você jogava tudo dentro de um tambor, ou então dentro da própria fábrica você encontrava o lixo jogado, entendeu como que é hoje não hoje já tem a área reservada identificada certinho, foi quando surgiu o 5S, porque antes não existia o 5S, o povo foi se conscientizando, a firma começou a se organizar, porque não era organizada. Hoje o lixo é tudo separado, tem lá os recipientes pronto pra cada um deles. O pessoal da limpeza faz a coleta separada do jeito que ta lá, ai leva pro tratamento de resíduos pra ver o que vai aproveita o que não vai, o que vai descartar o que não vai, então ai já é outra área (DEPOIMENTO 01).

Capítulo 4 Resultados e Análises 116

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Essa condição é reforçada pelo depoente 02 (D-02), no que diz respeito aos

procedimentos de limpeza e manejo de resíduos que desenvolveram:

O que eu vejo falar é que antigamente o negócio era assim, eles se preocupava mais mesmo é com o produto, com a produção, eu não posso afirmar porque eu não vi, mas não era do jeito que é hoje. Hoje é difícil o senhor ver um papelzinho jogado no chão, têm as vezes você vê um, mais é uma pessoa que as vezes não se conscientizo, mais é pelo menos tudo jogado no lixo adequado e a água é tratada lá embaixo, o senhor sabe né, tem tratamento de água tudo é tratado antes de jogar (DEPOENTE 02).

A organização passou a incentivar o quadro de funcionários a procurar se

aperfeiçoar cada vez mais, e a aprofundar seus conhecimentos. Exemplo disso é a

colocação do depoente 04 (D-04):

Não hoje existem muitos operadores que estão estudando curso de tecnologia ou fazem por fora no SENAI [Serviço Nacional de aprendizagem Industrial] pra ter um certo conhecimento mais devido a segurança do trabalho hoje em daí não pode estar executando qualquer tipo de serviço. [...] tem até um programa lá que a empresa libera, antes do término do horário de trabalho, para o pessoal ta se deslocando pra poder estudar (DEPOIMENTO 04).

A adoção de normas e programas de qualidade, aliada àquilo que os

depoentes chamam de “evolução dos tempos”, fez com que o processo de seleção

se tornasse sofisticado. A seleção passou a exigir testes psicológicos, de aptidão às

funções e a escolaridade exigida passou a ser no mínimo o Ensino Médio (antigo

Segundo Grau).

Demonstra isso que a empresa, adotando normas de qualidade

internacionais, precisou exigir mais conhecimento formal e capacidade cultural de

seus funcionários, caracterizando também uma mudança significativa no modelo de

homem ideal e suas funções produtivas.

Capítulo 4 Resultados e Análises 117

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Na época que eu fiz a 1ª ficha em 1993, tinha tinha 300 pessoas mais ou menos concorrendo. [...] Primeiro foi teste com questões de matemática, português e depois quem foi selecionado, teve uma entrevista. O segundo grau passou a ser exigido de uns tempos pra cá isso passo a ser exigido de uns anos pra cá quando a empresa começou a usar os ISO, ISO 1901, ISSO 14.000 etc. Então a empresa que tem ISO, os funcionários têm que ter um grau de escolaridade, então no caso o 2º grau (DEPOIMENTO 01).

Seus funcionários, a partir dessa mudança, seriam denominados

“colaboradores”. Indagado sobre ser um colaborador, todos responderam que era

assim que se consideravam, pois colaboram com os objetivos da empresa e com

seus interesses; essa, por sua vez, lhe proporciona as condições para atingir e

desenvolver os seus, trabalhar e viver com qualidade.

Com as mudanças do segundo período, o funcionário, denominado e

assumidamente colaborador, passa, ao ser admitido, por um treinamento mais longo

e detalhado. O funcionário agora se intera da realidade da empresa, seu mercado,

missão, etc. É-lhe transmitido o conhecimento sobre as atividades da empresa, o

setor onde esse colaborador irá atuar, e sobre todas as etapas que lhe são

concernentes. Quando chega à linha de produção, o novo colaborador é

acompanhado por um funcionário mais experiente, que procura dirimir as duvidas

sobre a efetivação de seu trabalho, um acompanhamento constante. O depoente 01

(D-01) assim explicou como funciona agora, no período da qualidade, o tratamento

junto ao novo funcionário ou colaborador que inicia na empresa:

Primeiramente ele vai passar por um sistema de integração, uns cursos que tem ali embaixo que as pessoas explicam como que é a fábrica tudo aí depois. [...]hoje esta mais evoluído nessa parte. Hoje tem as pessoas do treinamento ai então elas tem ai uns dois dias praticamente pra mostra para pessoa como que é, como que funciona entendeu. As vezes até até começa a trabalhar na função no mesmo dia, mas ai mesmo assim ele tem que passa pela integração (DEPOIMENTO 01).

Indagado sobre o repasse dos conhecimentos ao novo colaborador, e se esse

repasse era completo, o depoente 01 (D-01) respondeu que sim, destacando que

Capítulo 4 Resultados e Análises 118

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

este repasse era total. Do sucesso do novo colaborador depende o sucesso da

empresa, do produto e dos demais funcionários. O novo colaborador recebe desta

forma todo o conhecimento necessário e o treinamento específico para

desempenhar corretamente as suas funções e outras que lhe couberem.

Hoje em dia a gente tem um procedimento é todo automatizado a gente tem um sistema de informática em toda a fábrica todo setor tem um computador, todas as pessoas tem o acesso àquela página da internet e tal, ali está os procedimentos de operação de todos os equipamentos que esses procedimentos foram todos desenvolvidos através dos operadores, então toda área tem operador que ele é operador e é também o instrutor do PGMO como no meu caso, no meu caso desde quando foi (DEPOIMENTO 01).

Sobre este programa Programa de Movimentação de Mão-de-Obra (PGMO),

o depoente continuou sua explanação:

Programa de Movimentação de Mão-de-Obra, então esse PGMO quando foi desenvolvido foi feito vários operador de cada setor, foi feito vários cursos na empresa em cima do PGMO: o que era como era desenvolvido; como que seria esse procedimento implantado na fábrica. Então esses operadores eles já foram já inscrito como instrutor educador do PGMO então quer dizer o que, que em cada setor hoje tudo bem se tiver dois ou três operador ali não vou dizer que todos os três são educador, não às vezes um deles são, um deles é o educador do PGMO, porque ele tem toda liberdade pra chega no auxiliar, uma pessoa que não conhece nada esse aqui vai trabalha contigo e como ele não sabe nada você vai passa todo conhecimento pra ele em cima dos procedimentos que tem seguindo as regras de segurança e tudo junto (DEPOIMENTO 01).

O depoente 02 (D-02) destacou a importância do PGMO, comparando a

situação atual com aquela vivenciada no passado, quando o operador retinha para si

o conhecimento necessário ao perfeito desempenho de suas funções.

Isso eu sou, eu passo o que tem que passo mesmo, eu passo até assim, eu procuro passar pra pessoa que ta aprendendo

Capítulo 4 Resultados e Análises 119

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

até, ir além daquilo pra quando ele fica no meu lugar ele ir, bem, sabe. [...] Quanto ao operador antigamente só ele sabia, agora não agora mudou a gente sabe vários, porque quando precisar procura-se o lugar que esteja mais tranqüilo. O operador sai um do lugar mais tranqüilo e vai para o lugar que ta faltando outro lá [...] É assim o treinamento pra gente mudar de setor, tipo assim eu saio de um setor e vou aprende em outro setor o operador que ta lá operando há vários anos ou que já é operador lá não precisa ser há vários anos, pode ser dois, três, quatro anos ele ensina a gente, mas pra ele ensina ele teve um treinamento aqui dentro da empresa (DEPOIMENTO 02).

Essa transferência de funções e de setor não é feita de uma maneira simples

e mecânica. Conforme o depoente 03 (D-03), existe todo um procedimento

elaborado que deve ser seguido detalhadamente. Esse procedimento envolve desde

os encarregados dos setores até os psicólogos da empresa.

É o seguinte a gente passa tempo em um setor dai a gente adquiri experiência a gente passa pra outro setor. [...] Eles dão treinamento sim, tipo assim a gente começa em outro setor sempre tem uma conversa antes com a psicóloga com o supervisor (DEPOIMENTO 03).

Criou-se, dessa maneira, uma cultura organizacional de trabalho em equipe,

somada a uma responsabilidade compartilhada pelo desempenho e qualidade da

empresa.

Hoje esta, o grupo esta mais evoluído, antes não! Antes era mais separado. Hoje não! Hoje tem fazer, tem! Então tem que envolver quem? Operador, mecânico e supervisor, é! Então vamos envolver esse povo, esse pessoal (DEPOIMENTO 01).

A operação das máquinas e da linha de produção tornou-se mais dinâmica

com a implantação do rodízio de funções fazendo com que cada um dos

colaboradores se familiarize e aprenda a desempenhar todas as tarefas pertinentes

à atividade de produção. A qualidade da produção e do ambiente de trabalho tornou-

se responsabilidade conjugada e compartilhada. Ao perceber um problema, o

Capítulo 4 Resultados e Análises 120

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

operador possui autonomia para interroper a linha de produção, até que o problema

seja sanado.

Outro aspecto importante do paradigma toyotista que pode ser identificado é o

que diz respeito ao controle de qualidade da produção. No paradigma anterior, o

controle de qualidade realizava-se em um setor específico, geralmente no final da

linha de produção, e cujos encarregados apontavam erros falhas e resserviços

necessários.

A preocupação com a qualidade é colocada como uma necessidade

constante do ambiente produtivo, atitude requerida de todos os envolvidos na

produção. Na empresa pesquisada isso pode ser identificado na fala do depoente 01

(D-01).

Hoje a gente controla o equipamento o produto que esta entrando através da carta de controle porque todos os produtos tem uma forma de acabamento do produto, cliente que é diferente, às vezes a especificação do produto é diferente então tem que trabalha em cima daquela forma, daquela forma que foi desenvolvida ta acontece de lá na frente ter todo o processo posterior é diferente do anterior. Acontece algum problema no produto aqui você deixa passar você não constata ninguém entendeu quando ai vai chega ao processo posterior com certeza vai dar problema ai você consegue produzir, mas produz com dificuldade. Então não se você detectou um problema antes você tem que envolver já o supervisor chega nele fala com ele explica pra ele o que ta acontecendo pra ele esta ciente ou interrompe o processo separa aquele produto (DEPOIMENTO 01).

Esta preocupação com a qualidade é também compartilhada pelos depoentes

01 (D-01) e 02 (D-02) que afirmaram o seguinte:

Hoje é o seguinte, em parte de problema no equipamento, a gente mesmo identifica você percebe quando a máquina não ta normal, parte de ruídos quando o motor está super aquecendo então você percebe só que o primeiro passo você tem que envolve a manutenção, liga pra manutenção a manutenção ta ciente e liga para o supervisor para o supervisor está ciente do que esta acontecendo, então tem que ter mais informações (DEPOIMENTO 01).

Capítulo 4 Resultados e Análises 121

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

É quando o produto no meu setor lá não ta chegando de acordo do jeito que tem que deve vir, a gente que trabalha a gente sabe se isso esta normal. Ai a gente liga para o operador que ta passando pra gente e fala olha ta mandando quente e tem que vim frio, ta mandando quente, daí ele vai ver o que ta acontecendo lá se o resfriador deu problema ou ta mandando muito sujo, ele vai ver lá se o filtro não está furado. [...] quando ele não identifica lá, porque às vezes fura um filtro lá, não tem como ele saber que furo, eu vou ver lá embaixo como é que se sujar muito meu filtro lá, ai eu ligo pra ele e digo que tem alguma coisa errada ai ele vai ver se o filtro não ta furado (DEPOIMENTO 02).

O operador possui autonomia para identificar o problema, conforme colocado

pelo depoente 04 (D-04):

Ele [o operador] já faz primeiro um diagnóstico, digamos assim ele faz um controle de qualidade inicial, mas na frente ainda tem o setor de controle de qualidade que faz um teste mais apurado (DEPOIMENTO 04).

Essa autonomia não torna a manutenção da indústria desnecessária, ela é

mais uma auxiliar da manutenção, colaborando com a parada da produção, evitando

assim maiores desperdícios. O depoente 02 coloca que nem sempre o operador

consegue fazer o conserto da máquina, mas é capaz de identificá-lo.

É se for um problema na máquina a gente que é operador sabe o que que é, ... agora se é um problema elétrico, ou um problema de entupimento aí a gente tem que chama o eletricista ou o mecânico pra ele vim mexer porque as vezes só ele tem a chave lá que, o eletricista só ele que pode mexer mesmo agora o mecânico nem sempre a gente tem no setor a chave que ele tem. (DEPOIMENTO 02)

Quanto à parada na produção, o depoente 02 coloca como importante à

manutenção da própria qualidade da indústria, seu nome, marca e produtos:

Pode, pode com certeza porque ali você vai tá envolvendo a qualidade do produto, hoje a gente ta trabalhando muito em cima da qualidade, antes não, antes do jeito que vinha ia. Hoje

Capítulo 4 Resultados e Análises 122

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

a qualidade é o principal entendeu você faz o produto, mais tem que garanti que ele vai chega lá 100% (DEPOIMENTO 02).

O homem reativo é perceptível nestes procedimentos produtivos. A busca do

comprometimento dos colaboradores com a qualidade e produtividade da empresa

fez emergir esse modelo de homem. A preocupação dos funcionários com os

destinos da produção e da empresa evidenciam comportamentos reativos.

4.1.4 INDÚSTRIA SOFISTICADA FLEXÍVEL-CRIATIVA

A indústria pesquisada possui uma linha de produção flexível, porém

contínua, não trabalhando com células de produção, típicas do paradigma volvista.

Mesmo assim podem ser identificados alguns procedimentos que evidenciam um

avanço rumo a esse paradigma, ainda que de maneira involuntária.

A preocupação com a inovação e a melhoria constante é um desses

procedimentos, sendo esse um principio dos programas de qualidade típico do

paradigma toyotista. Os depoimentos puderam identificar essa preocupação, na

realização de plenárias periódicas, onde podem ser apresentadas propostas de

inovação:

Todo ano, a gente tem uma plenária, que é a apresentado as melhores são várias a gente seleciona lá umas 50 a 100 e passa na plenária que é melhoramento continuo que é para sua máquina é que nem senhor falo o operador acha que se ele muda um negocinho vai produzir mais vai melhora o rendimento da máquina e eles aceita sim eles fazem se precisa muda eles mudam. (DEPOIMENTO 02)

Esse incentivo acontece para que os procedimentos produtivos estejam

sempre adequados a realidade do mercado. O depoente 01 (D-01) destaca tal

condição:

Capítulo 4 Resultados e Análises 123

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Assim a gente nunca fica pra trás porque o que hoje você tem em mãos amanhã já está superado. Então tem que estar sempre ali adequado com o mundo não é! (DEPOIMENTO 01).

Um outro ponto importante é a adaptação de equipamentos à realidade

produtiva da empresa. Apesar de ser uma atividade considerada até comum, o

processo de redução tecnológica e produtiva foi plenamente desenvolvido em

Uddevalla, na Suécia. Era bastante comum nas indústrias fordistas a encomenda de

equipamentos específicos para uma função e a sua plena desativação ou

substituição, quando não mais tivesse serventia.

A respeito da redução ou readaptação de equipamentos, implantação de

inovações a realidade produtiva da empresa, os depoentes colocaram o seguinte:

É o que geralmente mais acontece, porque a máquina vem, vem estipulada para aquele determinado limite, então ali o próprio operador ele constata que se você fizer um ajustinho aqui, um ajustinho ali, e tal você vai consegui a melhor eficiência, entendeu, eu creio que hoje a fábrica está com os mesmos equipamentos, quer dizer não todos porque ela cresceu, mais a parte dela mais antiga são os mesmos equipamentos só que estão sendo reajustados. [...] você vai reajustando pra você consegui uma melhor produtividade daquele equipamento um desempenho maior (DEPOIMENTO 01).

Ainda sobre as modificações e inovações que frequentemente acontecem, o

depoente 02 (D-02) afirmou que tudo deve funcionar conforme a realidade e as

necessidades da fábrica:

Pelo menos no setor que eu trabalho antes de comprar mesmo a máquina paga, ela é testada vários meses pra ver se ela trabalha de acordo com a necessidade da fábrica. (DEPOIMENTO 02)

Quando uma parte da linha de produção da indústria funcionava em outra

cidade e foi transferida para sua sede, segundo o depoente 03 (D-03), diversas

modificações tiveram de ser conduzidas nos equipamentos.

Capítulo 4 Resultados e Análises 124

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Então lá no meu setor é o seguinte como faz pouco tempo que eu estou lá, a gente ouve que quando era lá em outra cidade, ela era de um jeito daí quando veio pra cá ela teve que ser, modificada do jeito que tem que ser. (DEPOIMENTO 03)

A capacidade exigida, do ser para propor inovações ou conduzir adaptações,

é a capacidade de raciocínio crítico. Ele deve ser capaz de analisar a realidade que

o cerca, tirar suas conclusões e propor as inovações. O espírito inovador é um

espírito parentético.

No tocante ao Modelo de Produção especificamente, alguns outros matizes

indicam características volvistas, mesmo que de forma involuntária, decorrente da

evolução produtiva e dos programas e normas de qualidade internacionais que ali

são adotados. Destacam-se, nesse sentido, o espírito de trabalho em equipe, o alto

grau de tecnologia aplicado ao processo produtivo, preocupação individual e coletiva

com a qualidade e seu aprimoramento, além da preocupação da empresa com a

qualidade de vida de seus colaboradores, seja ela laboral ou pessoal. A principal

evidência volvista e parentética é a presença prática de um espírito de grupo e a

importante consciência critica da necessidade de sua efetivação.

Uma característica parentética plenamente identificável evidencia-se na

afirmação de todos os entrevistados, com maior ou menos grau de entusiasmo, de

que o ambiente de trabalho, com a nova organização, é voltada à qualidade e sua

busca constante. Segundo eles, o ambiente tornou-se muito mais agradável, sendo

prazeroso trabalhar ali.

Como já colocado, a natureza da pesquisa não permitiu aprofundar, ainda, em

aspectos mais específicos, como é a qualidade de vida dos colaboradores, a

preocupação ambiental, os programas de qualidade efetivados pela empresa

pesquisada, motorers das transformações apontadas. Foi possível, porém,

evidenciar o desenvolvimento de qualidades parentéticas nestes

funcionários/colaboradores, como o conhecimento de toda a planta fabril da

empresa, domínio sobre as etapas desenvolvidas na linha de produção, natureza do

produto e do mercado ao qual se destina, comprometimento e responsabilidade no

tocante à qualidade, tudo aliado ao desenvolvimento de um senso critico e analítico

Capítulo 4 Resultados e Análises 125

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

que lhes permite atuar produtivamente neste meio. A principal evidência parentética,

porém, foi o entusiasmo e o prazer com que descreveram suas funções, sua vida e

seu pensamento.

Capítulo 5 Conclusões e Recomendações 126

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

5.1 CONCLUSÕES

O trabalho de pesquisa possibilitou a confirmação da hipótese que se levantou,

ou seja, existem conexões, apontadas a seguir, que podem ser auferidas entre os

paradigmas produtivos industriais e os modelos de homem idealizados por Alberto

Guerreiro Ramos. Tal afirmação respalda-se necessariamente no cumprimento dos

objetivos propostos, que foram plenamente considerados no desenvolvimento deste

trabalho, tanto em sua parte teórica como na sua verificação empírica.

O homem produziu as revoluções tecnológicas sentidas ao longo da história e

seu comportamento sofreu alterações, progressões e regressões, com a mesma

intensidade com que as mudanças tecnológicas e produtivas se fizeram perceber.

Em cada um do diversos momentos produtivos, foi possível imaginar um modelo de

homem ideal, possuindo características e vivenciando especificidades próprias de

seu tempo. Cada modelo de homem, a exemplo dos modelos produtivos, apresentou

características provenientes dos modelos anteriores e trouxe em seu âmago as

raízes do modelo seguinte em um processo dinâmico. As características de cada

modelo de homem puderam assim ser reconhecidas em maior ou menor medida nos

modelos anteriores e posteriores.

Há que se procurar ater ao caráter analítico e normativo dos modelos de

homem de Guerreiro Ramos. O sociólogo destacou que seus modelos eram

paradigmáticos de comportamentos e condutas sócio-econômicas e para concebê-

los baseou-se na construção de tipos-ideais, no sentido que lhes foi atribuído por

Max Weber. Desta forma, Guerreiro Ramos ponderou que não esperava

especificamente que situações pontuais existentes na vida social coincidissem com

os diversos tipos ideais, sejam modelos de homem, sociedade ou desenvolvimento.

Guerreiro Ramos demonstra, assim, um respeito acadêmico pela individualidade e

capacidade de discernimento e escolha de cada ser humano. Um idêntico respeito é

demonstrado pelo contexto e conjuntura vivenciado em cada sociedade e situação

histórica. O autor valoriza a singularidade humana, cujo desenvolvimento não

Capítulo 5 Conclusões e Recomendações 127

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

poderia ser construído com base em um igualitarismo teórico, que se apresentaria

forçosamente autoritário. Seus modelos de homem priorizam a capacidade do ser

humano em desenvolver sua racionalidade e refletir sobre a realidade do mundo,

conhecendo suas dimensões, compreendendo-o e atuando racionalmente em sua

transformação e adequação. Os modelos de homem de Guerreiro Ramos partem da

generalidade social para buscar compreender as condições em que ocorre o

estabelecimento da singularidade humana, procurando encontrar, identificar e

trabalhar os fatores que levaram a sua sofisticação.

O homem passou por um profundo processo evolutivo, que atingiu os

diversos aspectos da sua existência. Houve momentos em que estas mudanças se

intensificaram, acelerando seu ritmo e despertando maiores atenções e momentos

de estabilidade quando estas transformações se solidificam lançando bases para

futuras evoluções. O homem é o personagem dessas mudanças, seu ator e autor

conforme as necessidades e especificidades de seu tempo. O ser humano não é um

ser abstrato, fora da realidade de seu contexto, ele é o resultado da sua própria

ação, das interações percebidas no mundo e na vida em sociedade.

A condição do ser humano, como um objeto de pesquisa e análise, foi

demonstrada por Guerreiro Ramos (1984) que evidenciou três modelos de homem

idealizados como portadores do comportamento necessário à plena efetivação dos

diversos modelos produtivos percebidos no século XX. Os modelos apontados são o

do homem operacional, o do homem reativo e o do homem parentético, sendo este

último portador de especial atenção em virtude de suas características especiais.

O modelo Ford de produção exigiu um modelo de homem ideal, com o

comportamento e mentalidade moldada adequadamente às necessidades da linha

de produção estática e rígida. O homem operacional era apto apenas a conduzir a

máquina e por ela ser conduzido, em operações previamente ordenadas,

adequando-se às exigências desse paradigma produtivo. O homem operacional é

considerado como uma peça recambiável dentro da indústria fordista, concebida

como se fosse uma máquina, rigidamente controlado no desempenho das práticas

produtivas pelas técnicas organizacionais de Taylor. A passividade característica

deste modelo de homem advinha do principio de intercambiabilidade dos

componentes de uma máquina, cujo modelo de funcionamento influenciou

Capítulo 5 Conclusões e Recomendações 128

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

profundamente a organização administrativa das empresas de cunho fordiano. A

organização como já dito, assemelhava-se em sua concepção a uma máquina, o

homem enxergado como um dos muitos de seus componentes, intercambiável e

substituível. Tal fato pode ser auferido empiricamente, quando foram entrevistados

os funcionários da empresa estudada e foi verificado que ela, no período anterior à

assimilação dos programas de qualidade em 1992, era uma indústria tradicional e

rígida. A vinculação da empresa neste período ao paradigma fordiano é evidente,

em especial pela rigidez, o que pode ser verificado na execução das atividades na

linha de produção. Evidencia-se também a vinculação ao modelo operacional de

homem, pois requeria-se apenas de cada indivíduo que conduzisse sua máquina e

exercesse uma função apenas, de maneira específica.

A imagem do homem operacional é reforçada na organização pesquisada,

pois como se constatou nos depoimentos, não havia uma troca efetiva de funções

entre os funcionários. Cada qual operava apenas sua máquina, não possuindo

autonomia dentro da linha de produção, muito menos pela verificação da qualidade

do que produziam.

O comportamento operacional laboral reflete-se profundamente em seu

comportamento social. Não se estranharia vincular a passividade encontrada no

homem operacional e melhor vivenciada na década de 1930, à proliferação de

regimes e idéias políticas autoritárias e também de grupos políticos que se

colocavam como os detentores do saber e das condições ideais para tomar as

decisões e conduzir os destinos de toda uma sociedade. Muitas destas doutrinas

revestiam-se de aspectos que se pretendiam ver como científicos.

O homem operacional é percebido, conforme explicitado por Begazo (2003),

como um trabalhador plenamente passivo diante do processo produtivo

necessitando de que lhe seja dito constantemente e demonstrado aquilo que deve

ser produzido ou realizado na organização onde atua. Evidenciando-se como um

mero operador de máquinas, não lhe é necessário ou permitido entender os

mecanismos da totalidade do meio produtivo em que atua. O homem operacional

necessita ser treinado e supervisionado e a sua motivação advém de recompensas

materiais ou econômicas. A melhoria da sua qualidade de vida laboral ou social não

é cogitada, pois a sua opinião sobre o ambiente produtivo não é considerada.

Capítulo 5 Conclusões e Recomendações 129

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Empiricamente foi possível constatar que na organização estudada, no período em

que operava como uma industria tradicional rígida, dentro da plenitude do paradigma

fordiano ao qual se vinculava, não existia uma preocupação com um nível

educacional mais elevado entre os funcionários. Buscava-se nela justamente um

homem que operasse a máquina. O treinamento dos funcionários era reduzido à

operação que não passava de um aprendizado rápido, condizente ao modelo de

homem que se adequava ao paradigma produtivo rígido (Ford). Havia uma retenção

das experiências laborais de cada operador, dificilmente compartilhada ou

socializada no ambiente produtivo. Esta retenção foi a forma que cada trabalhador

procurou utilizar para permanecer essencial à organização e tornar-se uma peça

insubstituível na máquina fordista que era a indústria tradicional rígida.

Com a crise do modelo Ford, a partir da década de 1970, o modelo ideal de

homem exigido pelo meio produtivo passou a ser mais complexo, assimilando os

novos processos e contextos surgidos, o que não significa um abandono pontual das

práticas até então desenvolvidas. A crise do sistema Ford não significa seu imediato

abandono, mas a aceleração da busca por mudanças em sua estrutura, afim de que

sua produtividade seja acentuada. Com as necessidades de flexibilização da

produção percebidas ao longo daquela década, a difusão do Modelo Toyota de

Produção foi ampliada. Novas capacidades tiveram de ser desenvolvidas nos

homens. A partir de então, evidencia-se no meio produtivo a figura do homem

reativo.

O Modelo Toyota concebe e compreende a organização empresarial como

um “organismo vivo”, onde o ser humano não é mais um simples componente

mecânico. O homem torna-se uma peça vital, sem o qual a organização não

sobreviverá de maneira satisfatória, atingindo seus objetivos. O homem reativo

possui uma visão muito mais sofisticada sobre a natureza de sua motivação laboral,

e busca não apenas recompensas materiais, mas também qualidade de vida e de

trabalho. O homem reativo preocupa-se com o ambiente social externo ou contextual

da organização, sendo esta encarada como um sistema aberto e passível de

mudanças. Não desconsidera a importância dos valores pessoais e sociais, dos

sentimentos e das suas atitudes sobre a efetivação do processo produtivo. A

preocupação com a qualidade, presente no modelo Toyota, fez com a melhoria da

Capítulo 5 Conclusões e Recomendações 130

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

qualidade de vida dos trabalhadores fosse considerável, em relação aos modelos

anteriores. Critérios de higiene, organização e ergonomia passaram a fazer parte do

cotidiano dos trabalhadores. A organização e a valorização da capacidade do

homem passou a refletir-se em sua vida social e pessoal. A vinculação da empresa

estudada ao paradigma toyotista, conforme auferido, inicia-se a partir de 1992, ano

em que foi implantado nesta organização o programa 5S, utilizado como uma

ferramenta para a conscientização dos funcionários quanto à sua participação e co-

responsabilidade na qualidade da produção. A partir deste momento, a organização

passou a incentivar os funcionários, doravante considerados colaboradores, a se

aperfeiçoar e a aprofundar seus conhecimentos educacionais bem como saberes

relacionados às suas atividades produtivas. O colaborador passou a ser admitido na

organização após um processo de seleção e treinamento melhor elaborado e mais

profundo.

A organização estudada desenvolveu uma cultura organizacional de trabalho

em equipe, à qual somou-se um sentimento de co-responsabilidade pelo

desempenho e pela qualidade da produção. Esta reponsabilidade individual pela

qualidade é um dos mais importantes aspectos do paradigma toyotista, ligada à

autonomia dos operadores na linha de produção. Percebe-se nestes aspectos

toyotistas diversos a presença do homem reativo guerreiriano, em especial na

preocupação com os destinos da produção e da própria organização empresarial a

qual pertencem.

Estudiosos humanistas entendiam que o sistema de produção industrial e as

organizações empresariais funcionavam de maneira independente. O objetivo da

administração era dar suporte e apoio aos objetivos finais e específicos da

organização, gerando uma organização mais preocupada com os seres humanos

que a constituem. Os homens tornaram-se mais conscientes das suas condições,

implicados e comprometidos com os objetivos das organizações em que atuavam.

Já eram perceptiveis nos Estados Unidos da América, na década de 1970,

evidências sobre o estabelecimento do homem parentético. Reflexo das condições

sociais, produtivas e culturais comuns às sociedades com um grau ou estágio maior

de desenvolvimento.

Capítulo 5 Conclusões e Recomendações 131

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

O conceito de homem parentético apresentado por Guerreiro Ramos se

diferencia dos diversos modelos anteriores. Para ele, esse homem possui uma

consciência ou capacidade crítica-analítica bastante desenvolvida em relação a sua

existência e aos fatores relacionados. O homem parentético possui percepções

sobre as suas ações do dia-a-dia, superando os limites impostos aos modelos

anteriores que paralelamente continuam a existir em diversos meios. Guerreiro

Ramos colocou que o homem parentético consegue abstrair-se do fluxo cotidiano da

existência, sendo capaz de avaliá-la como se fosse um expectador. Essa

capacidade permite que ele tome distância do meio que lhe é familiar e tome

atitudes como se fosse um estranho em seu meio social, maximizando sua

compreensão desse contexto. Pode-se afirmar que o homem parentético analisa as

situações, ponderando e sopesando-as de maneira extremamente racional, sua

percepção do mundo é mais sofisticada que a dos anteriores; o conhecimento e a

informação lhe são importantes para que possa compreender a realidade do mundo.

Age como um cientista ao realizar seu experimento. O comportamento parentético

define-se, portanto, como a capacidade psicológica do homem em afastar-se das

circunstâncias externas e internas que influenciam suas opiniões e seu senso critico.

Isentando-se de envolvimento, o homem parentético pode analisar de forma

aguçada as situações em que se envolve, observando-as à luz da razão e de seus

conhecimentos.

A isenção necessária ao homem parentético é construída com base no

conhecimento amplo e específico sobre as diversas situações. A busca pelo

conhecimento e pelo aprendizado é primordial ao estabelecimento de uma situação

parentética. Rompendo provisoriamente com os vínculos que o ligam à sociedade ou

às organizações, o homem parentético pode livremente criticá-las, resultando assim

melhorias significativas e avanços em sua realidade. Igual isenção em receber deve

possuir a sociedade ou instituição analisada. O objetivo da crítica parentética é

corrigir descontinuidades e fomentar o desenvolvimento pleno. O homem parentético

é racional e se empenha continuadamente na atualização de suas capacidades e

potencialidades.

A referência ao Modelo Volvo de Produção Industrial e sua efetiva aplicação

na planta fabril de Uddevalla, com a sua conseqüente vinculação ao conceito de

Capítulo 5 Conclusões e Recomendações 132

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

homem parentético, pode ser estabelecida em referência ao fato de que, nesta

fábrica, os suecos colocaram em prática um modelo de produção industrial que

enxergava a organização como um cérebro. Uma organização cerebral é capaz de

aprender continuadamente, aumentando seu conhecimento com as novas situações

e exigências do ambiente produtivo e do mercado, exigindo dos homens e mulheres

que nela atuavam comportamentos parentéticos, evidenciados conforme o modelo

analítico de Guerreiro Ramos. Mesmo sendo uma planta localizada em um ponto

específico, os procedimentos desenvolvidos e os comportamentos gerados pela

Volvo, em Uddevalla, produziram percepções e análises no mundo acadêmico e

interesse corporativo. As organizações e corporações contemporâneas possuem

aspirações e necessidades semelhantes às evidenciadas em Uddevalla. Guerreiro

Ramos destacou as especificidades do homem parentético que possui qualidades

que existiam apenas de forma residual nos estágios anteriores de desenvolvimento

da humanidade, e que tendem, a partir desse momento a tornarem-se universais na

sociedade industrializadas mais avançadas. Destaca o autor ainda que tais padrões

de comportamento, anteriormente, somente eram encontrados em pessoas

excepcionais como Sócrates, Bacon e Maquiavel, que possuíam a capacidade

psicológica de diferenciar a individualidade do mundo em que existiam. Esta

capacidade tornava-os capazes de perceber suas sociedades como arranjos

precários.

A organização pesquisada apresentou alguns matizes que permitiram a

vinculação de algumas de suas práticas ao paradigma volvista, decorrentes

provavelmente da assimilação de novos processos produtivos, de novas e

avançadas técnicas e tecnologias e, principalmente, dos mercados consumidores

sofisticados com os quais mantém relação com suas normas rígidas de qualidade

adotadas. Podem ser desta forma enumerados:

• espírito de trabalho em equipe;

• elevado grau técnico e tecnológico aplicado aos processos de produção;

• preocupação individual e coletiva com a qualidade produtiva e sua

constante melhoria e adequação às exigências de mercado;

Capítulo 5 Conclusões e Recomendações 133

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

• preocupação organizacional com a qualidade de vida pessoal e

operacional dos colaboradores;

• presença de um espírito de grupo vinculado a consciência critica de sua

necessidade;

• entusiasmo com o ambiente da industria, considerado mais prazeroso

para o desenvolvimento do trabalho.

O homem parentético traduz os resultados da soma de diversos

comportamentos há muito existentes, porém singulares em meio à sociedade, agora

pluralizados e essenciais. Repercute o conceito de homem parentético ainda, a

efemeridade atual de atitudes antes consideradas importantes para as atividades

produtivas. A necessidade de comportamentos parentéticos justifica-se por ser o

mundo contemporâneo pleno de turbulência, com ambientes que muito rapidamente

se transformam, característica que torna necessária a existência de organizações

flexíveis, ágeis e capazes de operar mudanças estruturais de maneira rápida e

eficaz, ou seja, empresas capazes de entender o mercado e responder

pontualmente a sociedade consumidora. Deve ser lembrada a comparação de uma

organização empresarial ideal com uma banda de jazz, na qual é possível identificar

tanto aspectos do comportamento parentético como características inerentes ao

modo de produção sócio-técnico implementado pela Volvo em Uddevalla. Nesta

forma musical, que surgiu no século XX, utilizam-se escalas africanas conjugadas

com harmonias européias. O maestro tem sua importância substituída pelo domínio

do senso comum e pelo pequeno porte do grupo. A produção musical é

profundamente marcada pelo prevalecimento de padrões, porém são preservados

espaços para a improvisação tanto individual como coletiva. Os músicos são

valorizados e destacam-se especialmente pelo prazer da execução das músicas e

de sua apresentação.

Capítulo 5 Conclusões e Recomendações 134

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

QUADRO 9 – MODELOS DE HOMEM DE ALBERTO GUERREIRO RAMOS

Conexões Modelo de Homem Características Básicas Paradigmas

Produtivos Modelo de Sociedade

PRODUÇÃO

OPERACIONAL

• É passivo diante do ambiente produtivo.

• É motivado por recompensas materiais.

• É um repetidor de procedimentos. • Desvincula o trabalho do prazer.

Modelo Ford Organização

como máquina

REATIVO

• Melhor ajustado ao ambiente produtivo.

• Importa-se com sua qualidade de vida.

• Não vincula sua vida particular ao ambiente produtivo.

• Não consegue dissociar-se da realidade que o cerca.

• Trabalha em equipe.

Modelo Toyota Organização

como um organismo vivo

PARENTÉTICO

• Dissocia-se da realidade em que encontra-se vinculado.

• Possui capacidade critica, o que o torna capaz de analisar a realidade.

• Associa ambiente produtivo e qualidade de vida.

• Valoriza seus sentimentos pessoais.

Modelo Volvo Organização

como um cérebro CONHECIMENTO

Fonte: Adaptação de Ramos (1984).

Para operar a organizações da “Sociedade do Conhecimento”, são

necessários indivíduos que sejam capazes de pensar e refletir. Detentores de uma

consciência racional que os torna capazes de criticar e receber críticas, os indivíduos

deverão buscar alternativas e soluções para os problemas identificados no ambiente

produtivo. Um comportamento organizacional destes trará reflexos à sociedade, que

tenderá a se tornar cada vez mais sofisticada. Surgirão novos problemas que

assumirão aspectos e formas bastante diferenciados daqueles que, no passado

atormentavam a sociedade e as organizações, exigindo a ação dos homens

parentéticos.

Capítulo 5 Conclusões e Recomendações 135

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

5.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Sugere-se que, no futuro, a temática desta pesquisa tenha prosseguimento e,

dentro do possível, atenha-se aos seguintes pontos:

1. aprofundar o estudo no que se refere ao estabelecimento do conceito de

homem parentético e a construção da racionalidade;

2. aprofundar a exploração das características do paradigma produtivo

representado pelo modelo Volvo, visando oferecer novas perspectivas e e

estabelecendo as bases de sua influencia e aplicação no ambiente produtivo

brasileiro;

3. desenvolver procedimentos que permitam adaptar os paradigmas produtivos

à realidade de segmentos econômicos específicos, não somente industriais;

4. propor um instrumento que permita auxiliar no estabelecimento de condições

econômicas, culturais e sociais, em uma determinada sociedade, que

possibilite idealizar suas possibilidades de desenvolvimento industrial e

sofisticação.

Referências 136

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

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ZOBOLI, Elma Campos Pavoni. A Ética nas Organizações. São Paulo: Instituto

Ethos, Reflexão ano 2, n. 4, março 2001;

ZOUEIN, Georges Francisco Vilela. Organizações de Aprendizagem Instrumental:

Convivência possível? Disponível em <http://www.unincor.br> Acesso em 30

Setembro de 2007;

Anexo A Título do Anexo A 152

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTAS (SEMI-ESTRUTURADO)

ROTEIRO DE ENTREVISTAS

Serão omitidos os nomes dos funcionários, o setor e a atividade poderão ser generalizados para

dificultar a sua identificação.

01) Qual foi sua função na empresa?

- Qual seu setor?.

02) Como ocorreu sua seleção para o emprego?

- Como o senhor foi empregado?

- Havia concorrência?

03) Descreva a sua rotina de trabalho?

- Como é o seu trabalho?

04) Há um chefe, encarregado ou supervisor para seu setor?

- Basicamente quais são as funções e as tarefas desse chefe?

05) Quantas pessoas trabalham em seu setor?

- Quantos são os funcionários da empresa?

- Existem funcionários terceirizados? Quais são as suas funções?

06) Qual é a formação escolar dos funcionários da sua empresa?

- Qual é a escolaridade exigida para se trabalhar na empresa?

- Há necessidade de treinamento específico para exercer sua função ou outras

funções na empresa?

- Quem fornece o treinamento quando necessário?

- Existem funcionários com formação técnica? Qual?

- A empresa incentiva o estudo formal dos funcionários?

- Existe incentivo para que estudem em cursos regulares? Quais são esses cursos?

07) O funcionário desempenha apenas uma função?

- O que o funcionário desempenha além de sua função especifica?

- Existe uma divisão das funções entre os funcionários?

08) Quais são os serviços realizados pela empresa?

- Todos eles são realizados na empresa?

- Quais são os serviços feitos por outras empresas?

- Isto é freqüente?

- Quais são estas empresas?

Anexo A Título do Anexo A 153

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

- Por que esses serviços não são realizados na própria empresa ou com seus

próprios recursos?

09) Quando ocorrem problemas:

- Quais são os procedimentos executados?

- Quem é comunicado sobre o problema?

- Quem resolve ou soluciona o problema?

- O operador possui alguma autonomia para solucionar o problema? Qual é o grau

dessa autonomia?

- Era possível solucionar os problemas dentro da oficina?

- A quem se recorria quando isso não era possível?

10) De que forma ou formas, é realizado o controle da qualidade sobre os serviços

realizados?

- Quem é o responsável? Existe um setor especifico para isso?

- Em que consistia o procedimento de controle da qualidade?

- Havia uma supervisão sobre este trabalho?

11) Foi criada alguma inovação, equipamento ou melhoria nos procedimentos realizados

na empresa?

- Qual?

- Há incentivos para a inovação? Quais?

12) Algum procedimento teve de ser adaptado a realidade do local de trabalho ou à

produção da empresa?

- Por que isso ocorreu?

- Como isso ocorreu?

- Em que consistiu essa adaptação?

13) Quais foram as mudanças mais significativas que ocorreram nos procedimento

durante seu período de trabalho?

14) Existe produção de resíduos sólidos ou líquidos (lixo) em decorrências do trabalho da

oficina?

- O que são esses resíduos?

- Como esses resíduos são tratados?

- Qual a destinação desses resíduos?

Anexo A Título do Anexo A 154

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

ANEXO 1 – ENTREVISTA COM DEPOENTE NÚMERO 01 (D-01)

Entrevista – Depoente 01

Entrevista tomada em 12 de Setembro de 2007, no ambiente da Indústria Pesquisada. Entrevistado Depoente 01 (D-01), funcionário da empresa. Entrevistador Professor Roberto Bondarik. Objetivo: coletar dados para subsidiar trabalho de dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa.

1 – Entrevistador: Que setor que é o seu aqui na empresa?

Depoente 01: Hoje eu trabalho na área de produção, na parte do greco e greco 1.

2 – Entrevistador: Faz tempo que o senhor trabalha aqui ou não?

Depoente 01: Está indo pra 23 anos.

3 – Entrevistador: Quando você foi empregado aqui tinha muita concorrência pra entra aqui

como é foi à seleção? Você lembra ou não?

Depoente 01: Na época, na época sim. A concorrência tinha concorrência não!

Mas só que a seleção quando eu entrei aqui. Na época nós entramos aproximadamente oito pessoas

aqui dentro. Na época tinha sete homens e uma mulher, entendeu.

A concorrência era grande porque a empresa, quando falava nela, a empresa era muito cogitada aqui

na cidade. O povo falava que a empresa era isso e aquilo, é aquilo e tal vamos trabalhar lá então,

você chegava à portaria era cheio de gente era repleto de pessoas querendo entrar aqui e consegui

um emprego aqui dentro, porque a empresa era muito visada.

4 – Entrevistador: E como é que, lembra como foi à seleção? Se foi feito algum teste?

Depoente 01: Não teste não foi feito não, foi só mais entrevista não é igual a esta em que a gente

esta conversando no momento. Foi feito à entrevista perguntado o que você gostaria de fazer?

Quanto você queria ganhar? E grau de escolaridade e mais nada, era mais simples.

5- Entrevistador: Havia exigência de escolaridade? No caso qual era o grau de escolaridade

exigido aqui pra trabalhar? E Hoje pede-se qual nível normalmente?

Anexo A Título do Anexo A 155

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Depoente 01: Na época não tinha, hoje tem, mas na época não tinha. Hoje pede no mínimo 2º grau

6 – Entrevistador: E em que função que você foi empregado? Você no caso foi direto pra a

produção?

Depoente 01: Fui direto pra produção, mais daí a gente começava em um setor como auxiliar aí

depois conforme ia precisar em outro setor ai a gente era transferido para outro setor entendeu.

7 – Entrevistador: E o treinamento para trabalhar a própria empresa que deu ou vocês tiveram

que fazer fora ou alguma coisa assim?

Depoente 01: Não na época não existia sim um treinamento específico entendeu o próprio operador

aprendia operar a máquina, o próprio operador. Só que aprendia do jeito dele se ele souber como se

diz ele era operador da máquina, só que ele tinha o limite dele opera, dele ensina, ele não era tão

todo transparente, entendeu. Então chegava em certo ponto e falava assim, olha negócio é o

seguinte você vai aprender a fazer isso é isso. E se como é que é aquilo lá? Como que é aquilo lá,

não aquilo lá quem faz sou eu. Não tinha, não tinha liberdade total.

9 – Entrevistador: Era segurança para o emprego dele?

Depoente 01: Exatamente ele preservava o conhecimento pra ele.

10 – Entrevistador: Comportamento considerado normal para a época.

11 – Entrevistador: E no caso hoje em dia vocês fazem um treinamento até mais geral ou não?

Depoente 01: hoje é geral, hoje a gente chega no setor.

12 – Entrevistador: E o funcionário que chega novo hoje aqui? Como é o procedimento com

ele?

Depoente 01: Novo, primeiramente ele vai passar por um sistema de integração, uns cursos que tem

ali embaixo que as pessoas explicam como que é a fábrica tudo aí depois.

13 – Entrevistador: Antes existia este procedimento?

Depoente 01: Antes tinha mais a pessoa mostrava mais era assim rápido, em questão meia hora te

mostrava a fábrica. E voltava porque era lá que você vai trabalha.

Hoje não, hoje ta mais evoluído nessa parte. Hoje tem as pessoas do treinamento ai então elas tem ai

uns dois dias praticamente pra mostra para pessoa como que é, como que funciona entendeu.

14 – Entrevistador: Então dois dias antes para o novo funcionário pegar na máquina? Vai dois

dias para isso?

Depoente 01: Ou às vezes até começa, até começa, mais ai mesmo assim ele tem que passa pela

integração.

15 – Entrevistador: E no caso da função que você desempenha ou desempenhava antes, você

tinha uma função específica só ou variava mudava de setor, de serviço, de máquina?

Anexo A Título do Anexo A 156

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Depoente 01: Quando a gente era auxiliar, auxiliar é assim você sempre tava auxiliando onde tava

precisando.

16 – Entrevistador: Mais era só o mesmo tipo de máquina mesmo tipo de serviço?

Depoente 01: Não às vezes não, às vezes você, por exemplo, trabalha em uma máquina hoje ta eu

tenho um auxiliar uma pessoa que trabalha comigo. Um auxiliar, nesse caso o auxiliar não veio, então

o que é que acontece eu estou trabalhando meio serviço, estou precisando de alguém pra me ajudar.

Então nesse caso ai eles pegariam uma outra pessoa de um outro setor para me auxiliar entendeu?

Então quando a gente quando era auxiliar você não tinha um lugar específico você tinha o seu mais

quando alguém saía de férias tinha que fica alguém pra suprir o teu lugar então pegava uma pessoa

de outro lugar pra ficar ali

17 – Entrevistador: Daí hoje em dia como é que é?

Depoente 01: Hoje é o seguinte cada setor tem seu auxiliar específico. Nada impede que falte um

num lugar ele vai auxilia mais só que ele não tem toda liberdade que ele teria no setor dele entendeu.

Porque atrás disso tem o operador. O operador ta ali pra te orienta, ele vai ta te orientando até onde

você pode mexer. Porque não é todos, porque no grau de operação, não é todos os lugares que

auxiliar pode mexer se ele não tiver um específico conhecimento. Então hoje a gente trabalha assim

um setor que necessita de auxiliar é aquele auxiliar se no caso falte vai busca o auxiliar que ta

faltando e que tenha um conhecimento ali.

18 – Entrevistador: No caso como é que é que funcionava antes? Tinha muito funcionário com

formação técnica mesmo pra atua ou nem tinha ficha de curso na época?

Depoente 01: Não, não tinha pelo seguinte hoje. Antes se tava precisando de uma pessoa pra

trabalha naquele setor. Então o que acontecia a pessoa era contratada pra trabalha junto com aquele

operador entendeu. Então ali o conhecimento que você ia ter ali é com aquele operador. Ai às vezes

no caso do operador se você ia trabalha com outro, ele falava não é assim que funciona ta mais por

que não é assim o outro me ensino daquele jeito então eu aprendi daquele jeito entendeu como que é

ai as idéias não batia uma coisa com a outra.

19 – Entrevistador: Então na prática tinha uma divisão de função entre os funcionários

mesmo?

Depoente 01: Divisão do conhecimento porque a função você pegava você fazia só que você não

sabia se tava fazendo certo ou errado entendeu porque às vezes você virava a alavanca para um

lado um lado e dava a volta total. Ou trabalha com três quarto, entendeu como que é, sendo que no

final daria o mesmo resultado só que não era o correto.

20 – Entrevistador: E hoje em dia como é que é esse negócio do conhecimento? O pessoal

restringe o conhecimento ou normalmente repassa mais?

Depoente 01: Não hoje em dia a gente tem um procedimento é todo (inaudível) a gente tem um

sistema de informática em toda a fábrica todo setor tem um computador, todas as pessoas tem o

Anexo A Título do Anexo A 157

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

acesso àquela página da internet e tal (inaudível) ali está os procedimentos de operação de todos os

equipamentos que esses procedimentos foram todos desenvolvidos através dos operadores, então

toda área tem operador que ele é operador e é também o instrutor do PGMO como no meu caso, no

meu caso desde quando foi.

21 – Entrevistador: PGMO no caso é o que?

Depoente 01: Programa de Movimentação de Mão-de-Obra, então esse PGMO quando foi

desenvolvido foi feito vários operador de cada setor, foi feito vários cursos na empresa em cima do

PGMO: o que era como era desenvolvido; como que seria esse procedimento implantado na fábrica.

Então esses operadores eles já foram já inscrito como instrutor educador do PGMO então quer dizer

o que, que em cada setor hoje tudo bem se tiver dois ou três operador ali não vou dizer que todos os

três são educador, não às vezes um deles são, um deles é o educador do PGMO, porque ele tem

toda liberdade pra chega no auxiliar, uma pessoa que não conhece nada esse aqui vai trabalha

contigo e como ele não sabe nada você vai passa todo conhecimento pra ele em cima dos

procedimentos que tem seguindo as regras de segurança e tudo junto.

22 – Entrevistador: E no caso dos serviços terceirizados sem entrar em detalhes do serviço

que a pessoa faz sempre existiu, quando o senhor entrou aqui existiu ou era tudo feito pela

empresa a empresa fazia tudo?

Depoente 01: Na época era uma parte terceirizada que era a parte da limpeza ai depois extinguiu

passo tudo pra empresa.

23 – Entrevistador: Daí hoje vocês tem empresa terceirizada?

Depoente 01: hoje tem hoje a parte da segurança que envolve a portaria e os guardas, o restaurante

também é terceirizado antes não era a parte a limpeza ai dentro, e tem uma parte que é terceirizado

que é a parte embalamento, a embalagem, porque ai pessoal que entra ali é tudo contratado e

temporário não todos os mais antigos eles são efetivos alguns que estão entrando hoje que são tudo

temporário.

24 – Entrevistador: E tem uma coisa que é importante pra mim. Quando o senhor esta na área

de produção e tem algum problema com a máquina ou não ta produzindo de maneira correta?

Como que era antigamente? Ocorreu lá um problema que procedimento vocês faziam? Você

avisava alguém, procurava solucionar o problema, tinha autonomia pra consertar aquele

problema ou tinha que esperar alguém pra avaliar, pra ver o que havia acontecido?

Depoente 01: Antes não havia autonomia.

25 – Entrevistador: Tem lá o problema vocês identificavam o esperava o controle de qualidade

identificar?

Depoente 01: Não hoje é o seguinte, em parte de problema no equipamento, a gente mesmo

identifica você percebe quando a máquina não ta normal, parte de ruídos quando o motor está super

aquecendo então você percebe só que o primeiro passo você tem que envolve a manutenção, liga

Anexo A Título do Anexo A 158

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

pra manutenção a manutenção ta ciente e liga para o supervisor para o supervisor está ciente do que

esta acontecendo, então tem que mais informações.

26 – Entrevistador: E antes como que era esse procedimento?

Depoente 01: antes quebrava o equipamento você, ligava pro mecânico, o mecânico sabe lá quando

vinha à informação era só entre você e ele mesmo daí daqui a pouco chegava o teu supervisor e

perguntava o que aconteceu, eu não to sabendo de nada. Hoje a informação ta mais evoluída

entendeu.

Hoje esta, o grupo esta mais evoluído, antes não! Antes era mais separado. Hoje não! Hoje tem fazer,

tem! Então tem que envolver quem? Operador, mecânico e supervisor, é! Então vamos envolver esse

povo, esse pessoal.

27 – Entrevistador: No caso de controle de qualidade do que esta sendo produzido o próprio

operador começa a controlar?

Depoente 01: Antigamente era assim, hoje a gente controla o equipamento o produto que ta

entrando através da carta de controle porque todos os produtos tem uma forma do produto, cliente

que é diferente, às vezes a especificação do produto é diferente então tem que trabalha em cima

daquela forma, daquela forma que foi desenvolvida ta acontece de lá na frente ter todo o processo

posterior é diferente do anterior. Acontece algum problema no produto aqui você deixa passar você

não constata ninguém entendeu quando ai vai chega ao processo posterior com certeza vai dar

problema ai você consegue produzir, mas produz com dificuldade. Então não se você detectou um

problema antes você tem que envolver já o supervisor chega nele fala com ele explica pra ele o que

ta acontecendo pra ele esta ciente ou interrompe o processo separa aquele produto.

28 – Entrevistador: Vocês podem interromper o processo?

Depoente 01: Pode, pode com certeza porque ali você vai ta envolvendo a qualidade do produto,

hoje a gente ta trabalhando muito em cima da qualidade, antes não, antes do jeito que vinha ia. Hoje

a qualidade é o principal entendeu você faz o produto, mais tem que garanti que ele vai chega lá

100%.

29 – Entrevistador: Antes não tinha essa preocupação? A qualidade ficava lá na frente?

Depoente 01: Exatamente, que nem aquele ditado (inaudível) ta beleza entendeu como é negócio

hoje não hoje é mais rigoroso, porque a gente trabalha em cima da qualidade

30 – Entrevistador: Em até por final, sem até especificar o que foi feito, vocês tem incentivo pra

inovar, inovação, procedimentos inovadores às vezes de equipamentos?

Depoente 01: Exatamente, assim a gente nunca fica pra trás porque o que hoje você tem em mãos

amanhã já está superado. Então tem que ta sempre ali adequado com o mundo não é!

Anexo A Título do Anexo A 159

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

31 – Entrevistador: E já chegou a ter o caso de vocês terem que adapta um equipamento,

alguma técnica, algum sistema? Ter que adaptar, pegar ele pronto de fora da empresa e ter

que adaptar a realidade e as necessidades aqui da empresa?

Depoente 01: É o que geralmente mais acontece, porque a máquina vem, vem estipulada para

aquele determinado limite, então ali o próprio operador ele constata que se você fizer um ajustinho

aqui, um ajustinho ali, e tal você vai consegui a melhor eficiência, entendeu, eu creio que hoje a

fábrica está com os mesmos equipamentos, quer dizer não todos porque ela cresceu, mais a parte

dela mais antiga são os mesmos equipamentos só que estão sendo reajustados.

32 – Entrevistador: Com um sistema moderno?

Depoente 01: exatamente você vai reajustando pra você consegui uma melhor produtividade daquele

equipamento um desempenho maior.

33 – Entrevistador: Então daí por fim pra gente encerrar vocês tem produção de resíduos

sólidos líquidos lixo no setor de vocês?

Depoente 01: Não sai.

34 – Entrevistador: E hoje em dia vocês têm uma preocupação com esse lixo coisa que não

tinha, não existia antes, ou se antes era diferente, ou hoje é diferente do que era antes?

Depoente 01: Não hoje é diferente porque hoje já tem o tratamento de resíduo aqui na fábrica, antes

não tinha antes o lixo que era gerado você jogava tudo dentro de um tambor, ou então dentro da

própria fábrica você encontrava o lixo jogado, entendeu como que é hoje não hoje já tem a área

reservada identificada certinho, foi quando surgiu o 5S, porque antes não existia o 5S, o povo foi se

conscientizando, a firma começou a se organizar, porque não era organizada hoje o lixo é tudo

separado, tem lá os recipientes pronto pra cada um deles. O pessoal da limpeza faz a coleta

separada do jeito que ta lá, ai leva pro tratamento de resíduos pra ver o que vai aproveita o que não

vai, o que vai descartar o que não vai, então ai já é outra área.

35 – Entrevistador: Bom eu vou ter que ir parando! Acho que para o que eu estou querendo

fazer já esta bom senão dava pra conversa mais tempo.

Depoente 01: É a conversa vai

36 – Entrevistador: Eu tenho que pegar sua data de nascimento e daí o ano que você entrou

aqui na Empresa?

Depoente 01: Eu entrei em 22 de março de 1985 e nasci 22 de dezembro de 1963.

Anexo A Título do Anexo A 160

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

ANEXO 2 – ENTREVISTA COM DEPOENTE NÚMERO 02 (D-02)

Entrevista – Depoente 02

Entrevista tomada em 12 de Setembro de 2007, no ambiente da Indústria Pesquisada. Entrevistado Depoente 02 (D-02), funcionário da empresa. Entrevistador Professor Roberto Bondarik. Objetivo: coletar dados para subsidiar trabalho de dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa.

1 – Entrevistador: A sua data de nascimento?

Depoente 02: Eu nasci em 03 de dezembro de 1971

2 – Entrevistador: Você começou a trabalha quando aqui na empresa?

Depoente 02: 06 de dezembro de 1993

3 – Entrevistador: O setor seu aqui é o de produção?

Depoente 02: É produção, desde quando eu entrei, desde o 1º dia

4 – Entrevistador: Na época que você entrou aqui tinha muita concorrência muita gente

querendo trabalha, funcionário essas coisas ou não?

Depoente 02: Concorrência não, a procura era grande.

5 – Entrevistador: A procura era grande não é? E continua ainda?

Depoente 02: É continua ainda... Agora a concorrência eu não sei informar não

6 – Entrevistador: Daí vocês tiveram uma seleção?

Depoente 02: Isso teve. Na época que eu fiz a 1ª ficha minha tinha 300 pessoas mais ou menos

7 – Entrevistador: E como é que foi a seleção foi entrevista, a prova como é que foi?

Depoente 02: É primeiro foi teste assim matemática, português e depois quem foi selecionado, teve

uma entrevista.

8 – Entrevistador: Tinha alguma exigência de escolaridade já naquela época ou não?

Anexo A Título do Anexo A 161

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Depoente 02: Não pediam pra gente trazer o histórico escolar da gente.

9 – Entrevistador: O que tivesse?

Depoente 02: É o que tivesse

10 – Entrevistador: Mas não era exigido tipo você não tem 2º grau, você não vai pode trabalha?

Depoente 02: Não isso passo a ser exigido de uns anos pra cá quando a empresa começou a usar

os ISO, ISO 1901, ISSO 14.000 etc.

11 – Entrevistador: Conheço estas certificações quase que todas.

Depoente 02: Então a empresa que tem ISO, os funcionários têm que ter um grau de escolaridade,

então no caso o 2º grau.

12 – Entrevistador: No caso no setor que o senhor trabalha produção, o senhor opera

máquinas?

Depoente 02: Opero

13 – Entrevistador: Nesse setor o funcionário faz uma função só ele opera uma máquina só,

sempre aquela mesma máquina, sempre a mesma coisa?

Depoente 02: Não no setor que eu trabalho são várias máquinas. Só que o sistema de opera é o

mesmo assim, o que a máquina faz é a mesma coisa só que uma várias máquinas uma diferente da

outra.

14 – Entrevistador: Mas no caso supondo que lá no seu setor tenha um serviço um pouco

diferente daquele que você faz. Se precisar você acaba tendo que, se precisa substituir aquele

setor vocês estão preparados pra isso?

Depoente 02: Estamos sim, no caso meu eu passei por um, dois, três, quatro setores já

15 – Entrevistador: E no caso também. Vocês tem uma divisão de função?

D: Tem

16 – Entrevistador: No caso um é preparado pra substitui a função do outro se precisa?

Depoente 02: Antigamente eles buscavam o operador que tava de folga, agora não. Agora como a

gente já sabe já vários setores a gente mesmo...

17 – Entrevistador: Então tinha que buscar o operador fora, porque só ele sabia usar a

máquina?

Depoente 02: É só ele sabia, agora não agora mudou a gente sabe vários, porque no se precisar o

lugar que ta mais tranqüilo sai um do lugar mais tranqüilo e vai para o lugar que ta faltando outro lá

18 – Entrevistador: E no caso vocês tiveram que fazer um treinamento pra vocês entrarem

aqui?

Anexo A Título do Anexo A 162

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Depoente 02: É a gente teve que fazer um treinamento.

19 – Entrevistador: E o treinamento quem que oferecia?. Quem que dava o treinamento é o

próprio pessoal do setor ou não?

Depoente 02: É assim o treinamento pra gente muda de setor, tipo assim eu saiu de um setor e vou

aprende em outro setor o operador que ta lá operando há vários anos ou que já é operador lá não

precisa ser há vários anos, pode ser dois, três, quatro anos ele ensina a gente, mas pra ele ensina

ele teve um treinamento aqui dentro da Iguaçu

20 – Entrevistador: E logo que você entrou aqui o pessoal que ia passava o treinamento vocês

sentiam que eles passavam todas as informações, você dominava todo o conhecimento, pra

opera aquela máquina?

Depoente 02: Passava, sim, passava.

21 – Entrevistador: Passava e não tinha aquela coisa do cara segurar uma parte pra ele?

Depoente 02: Isso ai o pessoal fala que antigamente o operador mais antigo não gostava de passar

porque tinha medo de perder o lugar para o mais novo mais agora não tem isso não, a gente usa o

profissionalismo no caso meu eu sou educador, eu treino as pessoas.

22 – Entrevistador: Então o senhor é educador?

Depoente 02: Isso eu sou, eu passo o que tem que passo mesmo, eu passo até assim, eu procuro

passar pra pessoa que ta aprendendo até, ir além daquilo pra quando ele fica no meu lugar ele ir

bem sabe.

23 – Entrevistador: E no caso a empresa ela incentiva o estudo formal dos funcionários?

Depoente 02: Isso incentiva, incentiva sim.

24 – Entrevistador: Curso regular?

Depoente 02: Isso quem trabalha tem um horário pra escola, pode sair.

25 – Entrevistador: No caso de terceirização você chegou a pegar aqui, aliás tem alguma

empresa que faça alguma desempenhasse alguma função na área de produção aqui

terceirizada em alguma época ou não?

Depoente 02: Como assim?

26 – Entrevistador: No setor de produção, teve alguma época que veio ou teve alguma

empresa terceirizada que foi contratada pra faze aquilo lá?

Depoente 02: Não, na área de produção não.

27 – Entrevistador: Nunca?

Depoente 02: Nunca só a gente mesmo

28 – Entrevistador: São terceirizados que setores que existem hoje aqui ?

Anexo A Título do Anexo A 163

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Depoente 02: Terceirizado é a área de limpeza, não a manutenção.

29 – Entrevistador: Segurança?

Depoente 02: Não segurança é da empresa mesmo

30 – Entrevistador: Não estou falando de segurança me expressei mal é vigilância no portão?

Depoente 02: É isso?

31 – Entrevistador: Portaria é terceirizada?

Depoente 02: É portaria é terceirizada

32 – Entrevistador: E no caso quando você tem um problema lá na linha de produção de

repente tem algum problema lá, algum defeito na máquina ou o produto não esta saindo bem

feito que procedimento vocês, fazem? É comunicado?

Depoente 02: É quando o produto no meu setor lá não ta chegando de acordo do jeito que tem que

vim, a gente que trabalha a gente sabe se ta normal. Ai a gente liga para o operador que ta passando

pra gente e fala - olha ta mandando quente e tem que vim frio, ta mandando quente - daí ele vai ver

o que ta acontecendo lá se o resfriador deu problema ou ta mandando muito sujo, ele vai ver lá se o

filtro não está furado.

33 – Entrevistador: Isso quando ele não conserta lá não identifica lá não é ?

Depoente 02: Isso quando ele não identifica lá, porque às vezes fura um filtro lá, não tem como ele

saber que furo, eu vou ver lá embaixo como é que se sujar muito meu filtro lá, ai eu ligo pra ele e oh

tem alguma coisa errada ai ele vai ver se o filtro não ta furado.

34 – Entrevistador: E antes como é que era esse negócio antigamente quando vocês não esse

problema de qualidade e tudo mais ?

Depoente 02: não mais aqui desde a época que eu trabalho aqui sempre foi assim.

35 – Entrevistador: É sempre foi assim?

Depoente 02: Sempre foi controlado

36 – Entrevistador: Você entrou aqui em que ano?

Depoente 02: 1993

37 – Entrevistador: Já pegou a fase de qualidade?

Depoente 02: É já pegamos o 5S, porque o 5S exige não é só limpeza exige (inaudível) mais alguém

cuidando do produto a gente cuida, pra passar no setor da gente do jeito que tem que ser.

38 – Entrevistador: E normalmente quando tem algum defeito algum problema vocês

conseguem solucionar dentro lá mesmo?

Anexo A Título do Anexo A 164

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Depoente 02: É se for um problema na máquina a gente que é operador a gente sabe o que que é,

agora se é um problema elétrico, ou um problema de entupimento aí a gente tem que chama o

eletricista ou o mecânico pra ele vim mexer porque as vezes só ele tem a chave lá que, o eletricista

só ele que pode mexer mesmo agora o mecânico nem sempre a gente tem no setor a chave que ele

tem.

39 – Entrevistador: Ta certo. E no caso de inovação você tem incentivo pra inovar criar as

vezes até uma técnica nova, um procedimento novo esses tipo de coisa é conversado com

vocês, vocês tem esse tipo de incentivo ou não ?

Depoente 02: Mas como assim?

40 – Entrevistador: Inovar as vezes você tem uma máquina que ta funcionando de uma certa

maneira e você acha se modificasse tal coisa nela ela iria funcionar melhor ?

Depoente 02: ah isso ai é o que a gente mais tem aqui é chamada a plenária, as melhorias

continuas.

41 – Entrevistador: É isso mesmo é que eu não usei a palavra adequada.

Depoente 02: Todo ano a gente tem uma plenária, que é a apresentado as melhores são várias a

gente seleciona lá umas 50 a 100 e passa na plenária que é melhoramento continuo que é para sua

máquina é que nem senhor falo o operador acha que se ele muda um negocinho vai produzir mais vai

melhora o rendimento da máquina e eles aceita sim eles fazem se precisa muda eles mudam.

42 – Entrevistador: Dentro dessa linha teve algum procedimento, a técnica como você utiliza a

máquina, ou mesmo a máquina que teve que se adaptar a realidade da fábrica pra algum tipo

de produto, não precisa especifica esse tipo de coisa, já teve esse tipo de procedimento ?

Depoente 02: não tem, tem assim porque as vezes pelo menos no setor que eu trabalho antes de

comprar mesmo a máquina paga, ela é testada vários meses pra ver se ela trabalha de acordo com a

necessidade da fábrica.

43 – Entrevistador: Mais já aconteceu de vocês pegarem uma máquina e chega aqui tem que

adapta ela modifica alguma coisa nela ou até usar de uma maneira diferente daquilo que ela foi

feito?

Depoente 02: Não, tem pelo menos tem uma centrifuga lá onde eu trabalho, a centrifuga tem

algumas modificações nela pra ela faze ela trabalha de acordo mesmo.

44 – Entrevistador: No caso de produção de resíduo sólido, de lixo, como é que funciona? Que

tipo de lixo ou resíduos que vocês produzem ali ou como ele é tratado como que é o

procedimento é separado?

Depoente 02: É todo setor tem os tamborzinho lá neh de plástico, de papel, de não reciclável, de

orgânico

45 – Entrevistador: Ai seleciona?

Anexo A Título do Anexo A 165

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Depoente 02: É a gente seleciona tudo, metal.

46 – Entrevistador: Antes não tinha, você entrou em 1993 já tinha esse procedimento?

Depoente 02: já tinha porque a gente usa o 5S

47 – Entrevistador: É já tava naquela época?

48 – Entrevistador: O pessoal mais antigo eles contam tinha esse tipo de preocupação ou não?

Depoente 02: O que eu vejo fala é que antigamente o negócio era assim, eles se preocupava mais

mesmo é com o produto, com a produção, eu não posso afirmar porque eu não vi mais não era do

jeito que é hoje. Hoje é difícil o senhor ver um papelzinho jogado no chão, têm as vezes você vê um,

mais é uma pessoa que as vezes não se conscientizo, mais é pelo menos tudo jogado no lixo

adequado e a água é tratada lá embaixo, o senhor sabe, tem tratamento de água tudo é tratado

antes de jogar.

49 – Entrevistador: E no caso vocês são bem incentivados pra participar disso não é?

Depoente 02: Somos, somos sim, eu em particular estou satisfeito

50 – Entrevistador: Então esta certo seu eu acho que já é suficiente já da para encerrarmos a

entrevista.

Anexo A Título do Anexo A 166

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

ANEXO 3 – ENTREVISTA COM DEPOENTE NÚMERO 03 (D-03)

Entrevista – Depoente 03

Entrevista tomada em 12 de Setembro de 2007, no ambiente da Indústria Pesquisada. Entrevistado Depoente 03 (D-03), funcionário da empresa. Entrevistador Professor Roberto Bondarik. Objetivo: coletar dados para subsidiar trabalho de dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa.

1 – Entrevistador: Você tem 29 anos neh ?

Depoente 03: Vinte e nove!

2 – Entrevistador: O setor que você trabalha aqui na Iguaçu é setor de produção neh?

Depoente 03: É produção sim!

3 – Entrevistador: Você me disse que entro aqui faz cinco anos e meio. Na época que você

entro tinha muita concorrência com os funcionários que pretendia arruma emprego aqui?

Depoente 03: É isso sempre teve.

4 – Entrevistador: Então acho que é comum aqui desde que abriu e como é que foi a seleção de

emprego aqui teve alguma exigência de escolaridade ou alguma coisa ?

Depoente 03: Olha eles exigiu o 2º grau, quem não tivesse não podia concorrer

5 – Entrevistador: E que tipo de seleção que foi feita?

Depoente 03: Do que você fala?

6 – Entrevistador: o tipo de teste pra entrar.

Depoente 03: Então a psicóloga passo pra gente um teste de psicotécnico que fala passo um teste

de com mais ou menos matemática um “testesinho” pra gente de português.

7 – Entrevistador: Isso pra testa a escolaridade, entendimento e outras coisas ?

Anexo A Título do Anexo A 167

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Depoente 03: Pra ver a reação da gente neh.

8 – Entrevistador: No caso o tipo, como você trabalha na produção você faz só um tipo de

função que você desempenha ali, opera só a mesma máquina ou muda as vezes de função, de

serviço de trabalho de função?

Depoente 03: É o seguinte a gente passa tempo em um setor dai a gente adquiri experiência a gente

passa pra outro setor só que ali a gente opera uma máquina só que só a noite, quando esta no

horário das 23:00 as 7:00, só no caso de muita emergência que usa durante o dia na (inaudível) na

câmera fria

9 – Entrevistador: E no caso se você precisar fazer outra função você ta preparado pra isso?

Tem esse treinamento pra isso, treinam isso é preparado pra fazer esse tipo de coisa ?

Depoente 03: Eles dão treinamento sim, tipo assim a gente começa em outro setor sempre tem uma

conversa antes com a psicóloga com o supervisor.

10 – Entrevistador: Supondo chegar um dia aqui e faltou um operador, tem que operar uma

determinada e máquina faltou um operador lá por um motivo qualquer, o seu setor é outro

você tem condições de substitui ele naquele setor lá?

Depoente 03: Então no meu caso eu ainda não tenho não porque faz um ano e pouco que estou

trabalhando lá.

11 – Entrevistador: E no caso naquele setor que você já passo você teria condições?

Depoente 03: Não, teria e seria tranqüilo

12 – Entrevistador: Eu faço esse tipo de perguntas porque antigamente, quando você entrava

em uma fábrica fazia aquele serviço o resto da vida, se tivesse que colocar ele na outra ponta

da produção, aqui ele não sabia, não tinha treinamento pra esse tipo de coisa

13 – Entrevistador: E no caso da área de formação vocês tem incentivo pra estudar para

procurar formação formal, regular, dentro ou fora da empresa até?

Depoente 03: Rapaz eles mandam e-mail pra gente mas dentro aqui da empresa já não é tanto neh

mas eles mandam e-mail tipo assim sempre quando tem um curso lá no CEFET

14 – Entrevistador: Eles podem incentivar a empresa na medida do possível. E no caso de

serviço terceirizado o setor de vocês aqui tem alguma empresa terceirizada que trabalha junto

ou não?

Depoente 03: Tem isso ai é certo mais só na parte de limpeza e (inaudível)

15 – Entrevistador: E na área de produção mesmo?

Depoente 03: Na produção não

16 – Entrevistador: A na produção não há terceirização?

Anexo A Título do Anexo A 168

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Depoente 03: No setor onde eu estou não.

17 – Entrevistador: Ta certo, no caso quando você tem um problema no setor seu lá uma

máquina deixa de funcionar ou o café não ta saindo como deveria sair ou não ta chegando do

jeito que deveria chegar, que procedimento vocês fazem é comunicado o problema para

quem?

Depoente 03: Então primeiramente a gente tenta resolver o problema neh se for do nosso alcance

assim.

18 – Entrevistador: Vocês tem autonomia pra consertar?

D: A gente tem, mas se for fora daquilo que a gente ta treinado a fazer a gente pede, liga para o

supervisor

19 – Entrevistador: Mas no caso vocês tem autonomia se tiver um problema pra identifica o

problema parar a produção se precisar?

Depoente 03: Parar a gente pode parar desde que o supervisor esteja sabendo a gente tem que

passa pra ele antes de parar

20 – Entrevistador: Você avisa diretamente a ele “vou parar, deu problema aqui estou

parando”. Vocês tem autonomia pra parar supondo que você não tem o supervisor lá na hora

supondo um motivo qualquer o supervisor não pode atende vocês poderia parar ?

Depoente 03: Não a gente pode desde que a gente esteja habituado (inaudível)

21 – Entrevistador: É tem coisa que a gente não sabe! No caso do controle de qualidade o café

que ta saindo ou chegando vocês tem autonomia também pra ver se esta dentro da qualidade

exigida ou não?

Depoente 03: Então aqui é o seguinte: lá no final de produção lá nossa ele passa pelo túnel, depois

passa é coletado uma amostra assim, daí eles tira lá cor, tira densidade, umidade, ai passa lá mas

depois de lá passa para outro.

22 – Entrevistador: Mais uma outra coisa tem até haver com a pergunta interior se você ver

que esta tendo algum problema lá você pode tentar corrigir?

Depoente 03: Você fala no produto?

23 – Entrevistador: É no próprio produto!

Depoente 03: não, pode e no caso quem faz essa análise é o pessoal do túnel neh, então o túnel liga

lá no (inaudível) onde é feito (inaudível)

24 – Entrevistador: Eu lembro um dia que eu vi esse túnel lá o funcionário com um casacão,

não sei se esta usando ainda?

Depoente 03: Não a gente usa essa roupa aqui olha, essa roupa aqui é normal

Anexo A Título do Anexo A 169

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

25 – Entrevistador: Lá dentro nos 40ºnegativos

Depoente 03: Dentro! É isso mesmo. Lá tem que usa mesmo senão usar não agüenta mesmo.

26 – Entrevistador: No caso deixa eu ver o que mais aqui, vocês são incentivados pra inovar as

vezes algum equipamento que você acha que ele poderia ser usado de uma maneira melhor

ou poderia ser transformado vocês tem esse tipo de incentivo esses tipos de coisa ou não?

Depoente 03: Eles sempre comentam com a gente, sempre quando a gente entra em (inaudível) vai

mudar de setor, eles fala que o mais que ele quer é que renova.

27 – Entrevistador: Esta certo! É para incentivar vocês?

Depoente 03: É eles estão incentivando sempre

28 – Entrevistador: E dentro desse processo de melhorias de inovação e tudo mais já teve o

caso não precisa especifica o que foi feito, mas já teve o caso de vocês receberem uma

máquina ou equipamento ou até alguma técnica que vocês tiveram que adaptar pra realidade

do produto aqui da empresa?

Depoente 03: Uma máquina nova?

29 – Entrevistador: É pegar uma máquina nova ou um equipamento ou um componente novo

dela?

Depoente 03: Então lá no meu setor é o seguinte como faz pouco tempo que eu estou lá, a gente

ouve que quando era lá em Campinas ela era de um jeito daí quando veio pra cá ela teve que ser,

modificada do jeito que tem que ser.

30 – Entrevistador: Do jeito que funcionava a empresa do jeito que funcionava a Iguaçu, então

acabou acontecendo. E por fim para encerrarmos, no caso de produção de lixo líquido ou

sólido o que acontece é recolhido separado?

Depoente 03: É recolhido mais tem outra empresa que faz o serviço a transporte de papelão, de

plástico, a gente leva até a caçamba e eles levam até a central de resíduos.

31 – Entrevistador:: E no caso do resíduo orgânico parece que é dado outro destino a ele? É

levado em outro lugar?

Depoente 03: É levado sim e daí é dado outro procedimento e não quero entrar em detalhe não, mas

usado como adubo e é um negócio mais complicado.

32 – Entrevistador: E daí então é encaminhado pra reciclagem ou coisa assim?

Depoente 03: então como ele serve de adubo ai levam para um deposito. É adubo mesmo que eles

falam, ai os fazendeiros pegam e usam na lavoura.

33 – Entrevistador: E no caso lixo aqui dentro lixo comum do dia-a-dia o pessoal também é

incentivado a colocar no lugar certo?

Anexo A Título do Anexo A 170

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Depoente 03: Tem, tem lá olha lá jogar papel plástico

34 – Entrevistador: Então envolve a empresa toda?

Depoente 03: A empresa toda

35 – Entrevistador: Esta certo! Eu acho que pra nós aqui ta bom, eu não precisava de coisa

muito mais especifica. O que você passou pra mim já esta bom! Muito obrigado por sua

colaboração.

Anexo A Título do Anexo A 171

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

ANEXO 4 – ENTREVISTA COM DEPOENTE NÚMERO 04 (D-04)

Entrevista – Depoente 04

Entrevista tomada em 25 de Setembro de 2007. Entrevistado Depoente 04 (D-04), funcionário da empresa. Entrevistador Professor Roberto Bondarik. Objetivo: coletar dados para subsidiar trabalho de dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa.

1 – Entrevistador: Quando você foi empregado? Quando tempo faz que você trabalha lá na

empresa?

Depoente 03: Eu entrei pela primeira vez em 97, eu sai em 2000 e retornei em 2003.

2 - Entrevistador: E está lá até hoje. Quando você entro lá na empresa havia muita

concorrência, muita gente procurando, disputa pela vaga?

Depoente 03: Tinha bastante, porque já havia o curso técnico no CEFET, então já tinha um pouco de

concorrência, eu comecei fazendo estágio na realidade.

3 - Entrevistador: E no caso como foi a seleção para o trabalho? Como é que foi você fez uma

ficha, uma inscrição?

Depoente 03: Eu fiz uma ficha depois fui chamado pra fazer o teste seletivo, que eram umas

provinhas e entrevista com a psicóloga.

4 - Entrevistador: E na época que você fez que você entrou era exigido já alguma escolaridade

específica ou não?

Depoente 03: Ah já teria que ter o curso técnico pra essa função, pra exercer teria que ter o

certificado de técnico.

5 - Entrevistador: Técnico então seria que ter o 2º grau completo praticamente? Eu sei que a

empresa no período desenvolveu um programa de qualidade a partir do ano de 1992, e antes

Anexo A Título do Anexo A 172

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

desse período os funcionários mais antigos eles comentam como que eram a escolaridade

naquela época se era exigida ou não?

Depoente 03: Pelo que eu sei a escolaridade era mais baixa, o nível de escolaridade era bem inferior

a que tem hoje neh

6 - Entrevistador: E no caso a empresa incentiva os funcionários a estudarem a se capacitar?

Depoente 03: Incentiva, incentiva tem até um programa lá que a empresa libera, antes do término do

horário de trabalho, para o pessoal ta se deslocando pra pode estudar.

7 - Entrevistador: Ta certo, e no caso quando a função que você exerce lá na empresa você

apenas você que faz esse serviço, ou existem mais pessoas que estariam habilitadas pra

desempenhar esse trabalho?

Depoente 03: Não tem mais pessoas que exercem a mesma função, mesmo porque pelo tamanho

da empresa uma pessoa somente não daria conta de fazer tudo sozinha.

8 - Entrevistador: E no caso vocês estão preparados pra desempenha até uma outra função

que não seja essa específica de vocês ou não?

Depoente 03: Várias pessoas exerce, normalmente ela exerce pela necessidade de estar executando

o serviço mais rápido então além da elétrica que eu exerço, eu faço automação e instrumentação

9- Entrevistador: Então pode se dizer que o funcionário desempenha mais de uma função lá

não apenas uma função especifica?

Depoente 03: Com certeza

10 - Entrevistador: No período anterior a esses programas de qualidade isso era comum ou não

cada um fazia a mesma função e pronto e acabo aquilo?

Depoente 03: Não que eu sei antigamente cada um fazia uma função e precisava de outra pessoa

pra executando outro tipo de serviço.

11 - Entrevistador: E no caso quando ocorre, quando ocorre problemas lá, problemas de

manutenção ou as vezes até problema com a própria produção, quem ta executando a

produção ele tem autonomia pra parar a linha de produção ou não?

Depoente 03: Normalmente eles sugerem que avaliam a situação e passam para o supervisor de

turno, o supervisor de turno da produção ele que fica responsável e libera ou não a parada, mais

com antecedência tudo é possível.

12 - Entrevistador: Tem flexibilidade?

Depoente 03: Tem flexibilidade.

13 - Entrevistador: E no passado como que era isso, alguém comenta como que era no

passado tinha essa autonomia ou quando parava ou quebrava o operador ele tinha, ele podia

identificar o problema ou ele tinha que esperar alguém vim pra fazer isso?

Anexo A Título do Anexo A 173

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Depoente 03: Normalmente ele chamava alguém de imediato

14 - Entrevistador: Então não tinha?

Depoente 03: Não

15 - Entrevistador: Deixa eu ver o que mais aqui. No caso de controle de qualidade lá pelo que

você sabe o operador ele controla a qualidade do que ele ta produzindo ou ele deixa pra um

setor especifico?

Depoente 03: Não, ele já faz primeiro um (inaudível), digamos assim ele faz um controle de

qualidade inicial.

16 - Entrevistador: No passado isso acontecia ou não?

Depoente 03: Já existia.

17 - Entrevistador: ah sim já existia. No caso ainda no que diz respeito ao equipamentos vocês

tem incentivo pra inovação pra criar equipamento novo procedimentos novo, técnica nova ou

não?

Depoente 03: Ah sim, conforme a gente vai descobrindo melhorias a gente tem uma certa autonomia

pelo menos sugerindo inicialmente, sendo aprovado a gente executa.

18 - Entrevistador: Então existe esse incentivo da empresa. É comum ocorrer adaptação de

algum equipamento que vem de um, de algum, equipamento novo que tenha que se adaptar a

realidade da fábrica?

Depoente 03: Existe, existe equipamento que eles chegam e na realidade não funciona exatamente

como a gente queria.

19 - Entrevistador: Como foi projetado? Ta certo. E no que diz respeito a produção de resíduos

lixo ou qualquer outro material que seja descartável qual é o procedimento que é feito?

Depoente 03: Hoje nos temos uma coleta seletiva e esses materiais são encaminhados pra uma

central de

20 - Entrevistador: No passado como que era isso alguém comenta, alguém fala?

Depoente 03: Que eu sei é que não existia essa central, não tinha um controle tão bom, quanto tem

hoje mais existia uma certa coleta seletiva, mas talvez não igual hoje, com certeza neh não é igual

hoje.

21 - Entrevistador: É comum em outros setores os funcionários eles estarem habilitados pra

desempenharem outras funções?

Depoente 03: Não é comum.

22 - Entrevistador: Não é comum?

Anexo A Título do Anexo A 174

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Depoente 03: Não hoje existem muitos operadores que estão estudando curso de tecnologia ou

fazem por fora no SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) para ter um certo

conhecimento mais devido a segurança do trabalho hoje em daí não pode estar executando qualquer

tipo de serviço

23 - Entrevistador: Mais dentro do setor dele ele pode, ele estaria preparado pra fazer mais de

uma função.

Depoente 03: Sim

24 - Entrevistador: Eu acho que é suficiente, lhe agradeço por prestar esta entrevista.

Anexo A Título do Anexo A 175

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

ANEXO 5 – ENTREVISTA COM DEPOENTE NÚMERO 05 (D-05)

Entrevista – Depoente 05

Entrevista tomada em 28 de Setembro de 2007. Entrevistado Depoente 05 (D-05), funcionário da empresa. Entrevistador Professor Roberto Bondarik. Objetivo: coletar dados para subsidiar trabalho de dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Ponta Grossa.

1 – Entrevistador: Teu setor lá na empresa é de produção, você trabalha na área de produção?

Depoente 05: Isso

Depoente 05: É eu deixei meu currículo lá no RH, ai depois de seis meses, fui chamado pra seleção,

pra seleção na área de embalagem, era temporário pra três meses, fiz a seleção na época eram 27

pessoas para três vagas, consegui passa, daí fiquei três meses temporário trabalhando em

revezamento de turno mas só que como era pra embalagem o supervisor acho melhor eu ir pra

(inaudível), que era uma área de operação já, daí passa os três meses fui efetivado e estou lá até

hoje.

2 – Entrevistador: Você trabalha lá a quanto tempo já?

Depoente 05: cinco anos

3 – Entrevistador: Você entrou em 2003?

Depoente 05: Final de 2002

4 – Entrevistador: Final de 2002. Basicamente qual é a tua função, como eu poderia dizer qual

é a sua função lá na empresa qual é o seu trabalho?

Depoente 05: Hoje atualmente eu estou como operador de produção, na área de (inaudível), ai todo

o processo de equipamento lavagem, o setor tem que fazer eu sou um operador pleno e hoje minha

função é essa, hoje eu estou treinando uma pessoa pra ficar no meu lugar porque eu vou estar

saindo do setor de produção e estou indo para o setor de manutenção.

5 – Entrevistador: Como que é esse treinamento pra pessoa?

Anexo A Título do Anexo A 176

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

Depoente 05: A pessoa vem para o seu setor, com o sistema de PGMO lá de mão de obra e como

eu vou sair do meu setor são três pessoas lá no meu setor, como eu vou sair daí tem que ir outra

pessoa lá pra me substituir, daí no caso essa pessoa já veio agora já, eu estou acompanhando essa

pessoa, passando tudo que eu sei pra ela, pra em breve eu estar saindo do setor, e ela estar

assumindo a responsabilidade minha

6 – Entrevistador: Esse repasse de conhecimento é sem restrição? Você passa praticamente

tudo que você sabe, e incentivado pela empresa, passar tudo que você sabe?

Depoente 05: Isso é incentivado pela empresa tudo que você sabe, tudo de macete, tudo que você

aprendeu de experiência, alguma coisa é incentivado a passar.

7 – Entrevistador: E pelo que os funcionários mais antigos falam lá na empresa isso acontecia

sempre ou não, antigamente as pessoas passavam tudo o que sabiam ou seguravam um

pouco do conhecimento pra ela?

Depoente 05: Olha eu trabalhei com pessoas experientes, com pessoas com mais de 25, 30 anos de

empresa, eles mesmo falam que na época deles as pessoas tinham medo de passar as informações

para os novatos, porque eles achavam que passando a informação para o novato, ele ia tá

assumindo seu lugar, e ia ser mandando embora, e isso pelo que eu vi lá de uns 10 anos pra cá, que

começou entra as pessoas novas, começou a muda essa idéia que tinha ficado e hoje já é

totalmente diferente, hoje pode ser notado que pra pegar uma pessoa nova de empresa ou uma

pessoa de 25, 30 anos de empresa tem a mesma qualidade

8 – Entrevistador: Ah tá certo. Então isso foi depois da implantação dos programas de

qualidade neh?

Depoente 05: Isso.

9 – Entrevistador: No setor como você falo vocês trabalham em quantos lá?

Depoente 05: no todo são 3 pessoas

10 – Entrevistador: E todos eles fazem a mesma função?

Depoente 05: Isso todos fazem a mesma função.

11 – Entrevistador: Supondo que alguém tenha que faltar algum dia os outros dois são

capazes de suprir?

Depoente 05: São

12 – Entrevistador: Ah certo. E qual é a formação escolar dos funcionários lá do setor, como

geral da empresa como a do seu setor, qual é a escolaridade exigida pra trabalhar lá na

empresa?

Depoente 05: No caso no meu setor 2º grau

Anexo A Título do Anexo A 177

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

13 – Entrevistador: E antes, antes desse programa de qualidade havia uma exigência de

escolaridade ou não alguém fala alguma coisa?

Depoente 05: Olha aqui tem pessoas com a 4ª série do primário que conseguiu entrar lá.

14 – Entrevistador: Então não havia exigência

Depoente 05: Não, não havia, daí já foram pedindo pra fazer o ginásio, depois já foi pedindo pra

fazer o 2º grau e hoje a empresa...

15 – Entrevistador: A empresa deu condições pra fazer esses cursos?

Depoente 05: Deu condições, eu mesmo, no caso pra fazer a faculdade aqui eu sou liberado

quando eu faço turno no horário da tarde eu tenho liberação eu posso trabalha até as 7:00 da noite, e

fazer o curso aqui, eles incentivam você estudar.

16 – Entrevistador: ah então tem um incentivo.

Depoente 05: Isso tem incentivo.

17 – Entrevistador: E cada funcionário ele desempenha apenas uma função ou não na linha de

produção ou ele é preparado pra desempenhar a função que for necessária ele pode operar

vários equipamentos.

Depoente 05: Com certeza, o que a empresa vê na pessoa é cada vez aprendendo mais, não operar

só determinado equipamento, aprendeu aquele equipamento já vai partindo pra outro equipamento,

porque na falta de uma pessoa que opera aquele outro equipamento você vai lá suprir ele. Você esta

fazendo o que eles chamam lá de rodízio neh

18 – Entrevistador: ah sim rodízio de mão de obra.

Depoente 05: Isso rodízio de mão de obra

19 – Entrevistador: E quando ocorre um problema lá no seu setor, com máquina ou com algum

problema na produção, a máquina que quebra ou a matéria prima que para de chegar, ou de

repente, começa a produzir com defeito, com problema, qual o procedimento executado,

alguém é comunicado sobre isso daí ou vocês tem autonomia pra mexer, pra tentar solucionar

o problema, até identifica o problema, ou para pode passar pra alguém?

Depoente 05: É primeiramente a gente identificar o problema, tenta identificar o problema e já é

comunicado a supervisão, no caso o chefe imediato nosso para estar tomando as decisões que

devem ser tomadas, ou até mesmo as manutenções, as pequenas manutenções eu mesmo a gente

mesmo solicita a manutenção, ai depois já é comunicado o que esta sendo feito e o

acompanhamento.

20 – Entrevistador: Vocês tem autonomia pra solucionar o problema ou não?

Depoente 05: Depende do problema nós podemos solucionar.

Anexo A Título do Anexo A 178

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

21 – Entrevistador: Deixa eu ver o que mais, na maioria das vezes é possível solucionar o

problema dentro da própria empresa ou as vezes tem que contratar alguma empresa fora? E: A

maior parte é lá dentro

Depoente 05: É já tem pessoas capacitadas para estar solucionando, o que está acontecendo mais

agora é a Iguaçu esta terceirizando alguns tipos de serviços. Por exemplo automação veio uma

empresa de fora especializada nisso e faz pra Iguaçu, lá já tem pessoas que acompanham, só esta

dando uma manutenção, só em extrema necessidade mesmo que é (inaudível).

22 – Entrevistador: Só em extrema necessidade. É no que diz respeito ao controle de qualidade

da empresa, quem que é, vocês são responsáveis pelo controle da qualidade de produção

vocês são responsáveis pela produção por aquilo que vocês produzem ou vocês tem que

esperar alguém vistoriar essa qualidade lá na frente?

Depoente 05: Não. Nós somos responsáveis, nós fazemos o controle, a gente tem também que ter o

bom senso. Você que não tá saindo uma coisa bem feita, tem que comunicar falar o que tá

acontecendo, para o negócio não ir pra frente, porque se você deixar o produto ir pra frente ele vai

pegar lá e vai acaba voltando em você, já é, já tem o bom senso de

23 – Entrevistador: E no caso vocês tem autonomia pra parar a linha de produção se for o

caso?

Depoente 05: Temos, temos sim

24– Entrevistador: Ah certo.

Depoente 05: Se não tiver 100% a gente tem que parar, ir parando a produção e já comunicando a

supervisão falando olha não tem mais condição de trabalhar

25 – Entrevistador: E pelos funcionários mais antigos lá da empresa fala isso acontecia, antes

ou não do programa de qualidade?

Depoente 05: Dizem segundo eles que já eram assim complicado, que chefe era chefe, peão era

peão.

26 – Entrevistador: Não havia envolvimento.

Depoente 05: Não tinha esse envolvimento, toda pessoa que trabalha comigo fala que o

encarregado que passava a ordem pra ele não tinha nenhuma comunicação com supervisor, era tudo

assim tinha uma hierarquia que tinha que ser seguido.

27 – Entrevistador: Não havia um contato entre chão da fábrica e topo da fábrica.

Depoente 05: É não havia era tudo uma hierarquia que tinha que ser seguido, hoje não, hoje em

qualquer momento você pode tá conversando com o gerente com o diretor, ele pode chegar no meu

setor e perguntar alguma coisa como vai a produção e tudo, dizem que antigamente não existia isso

se você quisesse falar com a pessoa tinha que tá passando...

Anexo A Título do Anexo A 179

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

28 – Entrevistador: passando de um por um até chegar. E no caso o que diz respeito a

inovação vocês tem algum incentivo lá pra inovar, pra tentar inovar modificar, alterar o serviço

o setor que você trabalha ou não, tem muito incentivo pra inovação pra melhorar?

Depoente 05: nós trabalhamos em cima de (inaudível), uma empresa japonesa.

29 – Entrevistador: é um método?

Depoente 05: é um método de melhoras, sempre é incentivado e todo ano tem as plenárias, em que

são apresentadas os novos (inaudível) ai todos os operários são incentivados, quem tem alguma

idéia ou alguma melhoria de processo e pra estar ajudando o pessoal pra...

30 – Entrevistador: E vocês são incentivados a participar dessa plenária

D: Isso a gente é, a gente vai, é incentivado, todo mundo é convidado eles incentivam sim

31 – Entrevistador: Todo mundo assiste todo mundo ouve?

Depoente 05: Olha depende muito como no caso da produção que trabalha 24 horas, talvez naquele

dia não tem como você liberar 100% das pessoas.

32 – Entrevistador: Mais sempre tem um grupo?

Depoente 05: Sempre, sempre tem um grupo assistindo e outro trabalhando

33 – Entrevistador: E no caso vocês já tiveram que adaptar algum equipamento algum

(inaudível) que veio pronto pra indústria e vocês tiveram que adaptar aqui pra realidade de

vocês ou não?

Depoente 05: Já. já tivemos experiência com um equipamento que veio para o nosso setor, há dois

anos atrás, pra eles era o melhor do mundo daí chego lá Iguaçu, não foi da teve que adaptar daí foi

trocado, por que estava na garantia, já foi trocado várias peças que estavam na garantia, na verdade

70% do equipamento já foi trocado, então teve que fazer muitas adaptações no equipamento pra ele

trabalhar de acordo com que a Iguaçu pede.

34 – Entrevistador: De acordo com que a empresa precisa.

Depoente 05: Isso de acordo com que a empresa precisa

35 – Entrevistador: De acordo com que a empresa precisa

36 – Entrevistador: E por fim como tem sido o tratamento de resíduo sólido de lixo lá, existi

conscientização pra preservação do meio ambiente, existe separação de resíduo sólido ou

resíduo líquido, existe também programas de manejos desses resíduos?

Depoente 05: Existe. No caso existe a coleta seletiva, que é separado o papel, do vidro, metal, no

caso o que é reciclável é reaproveitado, tem uma empresa que faz esse reaproveitamento mandando

pra uma empresa terceirizada para estar usando esses materiais. Tem os resíduos sólidos lá, no caso

sobra muita borra a borra de café, essa borra é levado para o que chamamos de adubo e é

Anexo A Título do Anexo A 180

PPGEP – GESTÃO INDUSTRIAL (2007)

repassado para o agricultores estar colocando lá no café, que é o adubo orgânico, e é controlado

também tipo vazamento essas coisas, é conscientizado a estar monitorando para não acontecer isso.

37 – Entrevistador: Deixa eu ver o que mais, acho que já tá bom pra gente. Lhe agradeço pela

atenção e por responder a esta entrevista.