centro espírita léon denis 23o encontro espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo...

68
Centro Espírita Léon Denis 23 o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos A Influência dos Espíritos em Nossas Vidas Patrono: Allan Kardec Rio de Janeiro, 18, 19 e 20 de fevereiro de 2007.

Upload: vandien

Post on 20-May-2018

217 views

Category:

Documents


3 download

TRANSCRIPT

Page 1: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

Centro Espírita Léon Denis

23o Encontro Espíritasobre

O Livro dos EspíritosA Influência dos Espíritos em Nossas Vidas

Patr

ono:

Alla

n Ka

rdec

Rio de Janeiro, 18, 19 e 20 de fevereiro de 2007.

Page 2: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

Sumário

Tema 1: O Exercício do Livre-Arbítrio (Aprendendo a Ser Livre) .................................................................... 5

Tema 2: Pensamento e Vontade ....................................................................... 15

Tema 3: A Influência dos Espíritos em Nossas Vidas (A Influenciação Espiritual) ............................................................... 27

Tema 4: A Influência dos Espíritos em Nossas Vidas (A Sintonia com o Mundo Espiritual) ................................................ 37

Tema 5: O Domínio do Pensamento e da Vontade (A Sintonia com o Mundo Espiritual Superior) ................................ 47

Tema 6: A Influência dos Espíritos em Nossos Pensamentos e Atos ............... 65

Page 3: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

CENTRO ESPÍRITA LÉON DENIS

23o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

Mensagem

Há nas criaturas encarnadas uma preocupação muito grande com os espíritos. Muitos dizem ser uns terrenos completamente desconhecidos, cheios de mistérios e,

portanto, não vale a pena inquirir. Outros, por existir um despertar das lembranças infantis, a se traduzir por medos

sistemáticos e que se conservam até a idade adulta, gerando ainda mais incerteza e pânico, especialmente nas mentes enfraquecidas, se desestimulam de investigar e entender o que há de verdadeiro nessas ditas “fantasias” de que são portadores.

Outros, ainda, empregam rituais das mais diferentes formas, para tentar chamar a atenção dos “espíritos”, “almas penadas”, “fantasmas”, buscando levianamente enfrentar esse campo desconhecido, para propor trocas, informações e/ou migalhas materiais.

O palco terreno é um berço de muitas contradições! Assim, a criatura humana passa pela vida criando mitos, misticismos e ritualismos sobre

a vida espiritual. Perguntam os que estão desejosos de conhecer e que já conseguiram perder o medo

primitivo:Como conseguir informações da vida espiritual?O que nos aguarda após a morte? O que podemos esperar dela? Serão esses ditos “espíritos” acessíveis a nós encarnados? Eles nos influenciam e/ou se misturam entre nós?Muitas outras perguntas poderiam ser colhidas nesta vertente de idéias, nas mentes

sequiosas de conhecer a verdade. A humanidade, em todas as ocasiões, pelas religiões, pelas seitas, ou até mesmo pela

Ciência, tem buscado mostrar, manipular, estabelecer contato, pesquisar e até mesmo barganhar com o mundo dos espíritos, sem que houvesse uma solução clara e concisa.

O Espiritismo, como resultado de mentes abertas, iluminadas e democráticas descortinou, mostrou e exemplificou, pelas experimentações acessíveis a todos, não só o mundo espiritual como também o intercâmbio, silencioso ou não, entre os dois mundos.

Os espíritos, habitantes do mundo espiritual, estão presentes no orbe terrestre e nos infinitos mundos. A influência deles se faz presente em todos os instantes da vida material: alguns tutelando, protegendo; outros atrapalhando, criando dificuldades de se viver.

Pais, parentes, filhos, amigos, inimigos se fazem presentes, dia a dia, como sinal deste intercâmbio. O fato de não vê-los ou senti-los não é sinal de sua inexistência; no entanto, e mesmo assim, eles se esforçam por manterem-se atuantes, dispostos e ligados aos que amam, ou aos que lhes são, de alguma forma, interligados.

Médiuns dispostos e habilitados a esse intercâmbio estão recebendo de permeio os pensamentos e sentimentos dos espíritos, mostrando e confirmando presença no mundo corpóreo. Muitos intercedem para o bem; mas outros, ainda em escala evolutiva incerta e imperfeita, interferem na vida cotidiana das criaturas terrenas, especialmente aquelas desavisadas ou que se coadunam com as mesmas idéias e sentimentos daqueles a quem atraem, promovendo quadros

Page 4: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

obsessivos dolorosos e prolongados, até que consigam, tais criaturas, pela vertente da própria vida, na sua reformulação íntima, de acordo com a Lei de Deus e pela via Cristã, se desvencilhar dessas ditas atrações malfazejas.

Todos esses valores e sentimentos colocados em movimento, no entanto, são de pleno estudo e conhecimento do Espiritismo, que, acima de tudo, valoriza os homens, a humanidade, os espíritos como um todo, propiciando, pela própria Lei de Deus, o socorro imediato, muitas vezes silencioso, dos envolvidos pelos dilemas obsessionais, dos quais são vítimas.

Ao valorizar-se o conhecimento, o estudo do Espiritismo, a análise deste intercâmbio entre os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para a nossa vida de relação com o próximo, com uma vida espiritual alegre e sadia, já que a mesma é e sempre será o berço e o porvir dos espíritos.

Na certeza e permissão deste intercâmbio é que Deus envia seus mensageiros humildes e anônimos, mas plenamente cônscios de sua tarefa, aliados a uma fé cristã, que inspiram, socorrem e orientam, que dão, geram e deixam exemplos a serem seguidos, contribuindo com a extensão do amor do nosso Criador à humanidade.

Marchemos! Conscientes de que a verdade, em qualquer instante, por mais dolorosa que possa ser aos nossos corações, é o melhor caminho para, conscientes e livres, alcançarmos a paz e vivermos paz!

Esta é a certeza, o desejo e o sentimento dos espíritos enviados por Deus: que nesta busca incessante dos “espíritos” a humanidade possa encontrar-se, um dia, com Deus.

Amemo-nos! Amemos muito! A Deus, à humanidade, ao próximo, pois somente assim contribuiremos com o nosso compromisso de verdadeiros filhos de Deus, tornando esta humanidade, ainda carente e sofrida, num portal lúcido de criaturas desejosas de realizar o bem e a paz na Terra.

Analisemos e estudemos o Espiritismo, e fazendo isso, com certeza, iremos colher o melhor resultado: simplesmente, a Verdade.

Paz!Agostinho

(Mensagem psicofônica recebida pelo médium Luiz Carlos Dallarosa em 21/1/2007, no CELD.)

Page 5: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

5

TEMA 1: O ExERCÍCIO DO LIVRE-ARbÍTRIO (APRENDENDO A SER LIVRE)

O tema da influência dos espíritos em nossas vidas faz parte dos estudos sobre o processo da encarnação. Este é o ponto de partida e o pano de fundo de nossas preocupações.

Por isso, o início do nosso trabalho parte da preocupação central com o processo encarnatório.Neste sentido, temos nos questionado sobre:

Qual o objetivo da encarnação? Quais as nossas chances de sucesso, do ponto de vista espiritual, nas experiências

por que temos passado? Quais os meios para conseguirmos superar a nós mesmos e cumprirmos nossa missão

na Terra?

Mais especificamente nos perguntamos neste encontro:

Qual a contribuição que os espíritos (os amigos espirituais) podem nos dar nas lutas e dificuldades por que passamos?

Como é o processo de influenciação espiritual? Como estamos sujeitos a este processo? Qual a capacidade que os espíritos têm de nos ajudar ou nos atrapalhar em nossas

vivências provacionais e expiatórias?

O estudo começará então com a análise do nosso processo encarnatório.Vejamos, inicialmente, a passagem de S. Luís ao tratar da necessidade de encarnação

dos espíritos:

“A passagem dos espíritos pela vida corporal é necessária para que possam realizar, com a ajuda de uma ação material, os desígnios dos quais Deus lhes confiou a execução; isso é necessário para eles mesmos, porquanto a atividade que são obrigados a desempenhar

Continuação >

Page 6: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

6

Centro Espírita Léon Denis

ajuda-os no desenvolvimento da sua inteligência. Deus, sendo soberanamente justo, deve dotar igualmente a todos os seus filhos; é por isso que ele dá a todos um mesmo ponto de partida, a mesma aptidão, as mesmas obrigações a cumprir e a mesma liberdade de agir; qualquer privilégio seria uma preferência e, qualquer preferência, uma injustiça. Mas a encarnação é apenas um estado provisório para todos os espíritos, é uma tarefa que Deus lhes impõe no início de suas vidas, como primeira prova do uso que farão do seu livre-arbítrio. Aqueles que realizam essa tarefa com zelo transpõem, rapidamente e menos penosamente, esses primeiros degraus da iniciação, e desfrutam mais cedo do resultado do seu trabalho. Aqueles que, ao contrário, fazem mau uso da liberdade que Deus lhes proporciona, retardam o seu adiantamento; é assim que, por sua obstinação, podem prolongar indefinidamente a necessidade de reencarnarem, é aí que a reencarnação torna-se um castigo.”

(Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. IV, item 25.)

Segundo S. Luís, a encarnação:

É um estado transitório, quando os espíritos iniciam suas vidas.

Nesta fase:

Todos os espíritos têm o mesmo ponto de partida, a mesma aptidão, as mesmas obrigações a cumprir e a mesma liberdade de proceder.

Este processo visa:

Desenvolver a inteligência. Permitir aos espíritos cumprir, por meio de uma ação material, os desígnios de Deus. Experimentar os espíritos no uso que fazem do seu livre-arbítrio.

Os que desempenham com zelo essa tarefa transpõem rapidamente e menos penosamente os primeiros graus da iniciação e mais cedo gozam do fruto de seus labores.

Os que, ao contrário, usam mal da liberdade que Deus lhes concede retardam a sua marcha e, tal seja a obstinação que demonstrem, podem prolongar indefinidamente a necessidade da reencarnação, é quando se torna um castigo. Devemos lembrar que o “castigo” é o mecanismo educativo da lei de Deus e que é o espírito obstinado no mal que percebe o recomeço da experiência encarnatória como um castigo.

Um dos pontos centrais do processo encarnatório está, portanto, no uso que fazemos da liberdade de agir e escolher nosso destino. Do nosso sucesso ou fracasso nesta experiência resulta um presente / futuro de mais paz ou o prolongamento indefinido da necessidade de encarnarmos.

Kardec resume este ensinamento com a seguinte passagem:

Nota de Kardec, questão 964“‘Um pai deu a seu filho educação e instrução, isto é, os meios de saber se conduzir.

Cede-lhe um campo para cultivar e lhe diz: Eis a regra a seguir e todos os instrumentos Continuação >

Page 7: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

7

23o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

necessários para tornar este campo fértil e assegurar a tua existência. Dei-te a instrução para compreenderes esta regra; se a seguires, teu campo produzirá muito e te proporcionará o repouso na velhice; do contrário, nada produzirá e morrerás de fome. Dito isso, ele o deixa agir livremente.

Não é verdade que o campo produzirá proporcionalmente aos cuidados dispensados ao cultivo, e que qualquer negligência prejudicará a colheita? Portanto, o filho será, na sua velhice, feliz ou desgraçado, conforme tiver seguido ou negligenciado a regra traçada por seu pai. Deus é, ainda, mais previdente, pois nos adverte, a cada instante, se estamos fazendo o bem ou o mal: ele nos envia os espíritos para nos inspirar, mas não os escutamos. Há ainda esta diferença: Deus sempre concede ao homem um recurso nas suas novas existências para reparar os seus erros passados, enquanto que o filho de quem falamos, se empregar mal o seu tempo, nada mais lhe restará.”

Nós temos a liberdade de agir conforme desejamos: temos a educação das experiências; a instrução das leis de Deus; os instrumentos que asseguram nossa existência material; a inteligênica para distinguir o bem do mal, o que e como fazer com o que nos foi dado por Deus. O resultado do que fizermos será sempre o fruto de nossas ações.

A liberdade de agir é uma prerrogativa do espírito que a mantém, estando encarnado ou não. O primeiro passo do nosso estudo, portanto, é o reconhecimento da liberdade de agir do espírito encarnado.

Questão 460“Vossa alma é um espírito que pensa.”

Questão 843 “Visto que tem a liberdade de pensar, tem a de agir. Sem o livre-arbítrio, o homem

seria uma máquina.”

Além disso,

Questão 844“Há liberdade de agir, desde que haja vontade de fazê-lo.”

Portanto, o pensamento e a vontade são os dois pressupostos para ação. Eles se configuram como potências da alma.

São estas duas potências que determinam, em última instância, a ação do espírito, esteja ele na condição de encarnado ou não. É o domínio sobre elas que fornece maior poder de ação para os espíritos, independente de essas potências serem utilizadas para fazer o bem ou o mal. Ao controlar seu pensamento e sua vontade, o espírito passa a ter maior domínio sobre si mesmo, sobre o sentido e a direção de sua ação.

Page 8: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

8

Centro Espírita Léon Denis

Esta liberdade, que é própria a todos os espíritos, é o que chamamos de livre-arbítrio, ou seja, todos os espíritos são livres para arbitrar sobre suas vidas, para realizar suas escolhas e decidir porque caminhos seguir. Os espíritos são senhores de si e não há nenhum tipo de constrangimento total que impeça de o espírito agir na forma e no sentido que deseja, na busca da sua felicidade.

Vamos pensar então:

Quando é que deixamos de fazer o bem? Quando podemos? Em que situações ainda nos comprazemos com o “mal”? Temos agido de forma irrefletida, leviana ou maliciosa?

A encarnação em um mundo de provas e expiações está relacionada com nossa posição de inferioridade e com a teimosia (rebeldia) com que nos mantemos distanciados do cumprimento das leis de Deus. Outra forma de caracterizar nossa inferioridade é aquela que encontramos em O Evangelho Segundo o Espiritismo, quando os espíritos afirmam que:

“A Terra, portanto fornece um dos tipos de mundos expiatórios, cujas variedades são infinitas, mas que têm por característica comum servir de lugar de exílio para os espíritos rebeldes à lei de Deus.” (Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. III, item 15. )

Assim também podemos pensar:

Temos aceitado o que a vida nos oferece, colocando-nos de forma resignada ante os imperativos do Alto ou ainda guardamos traços de rebeldia ante as dificuldades por que passamos? Já aprendemos a ver que toda dor e todo sofrimento são aprendizados para o nosso espírito e não uma punição de Deus? O que tem nos impedido de agir conforme o bem que desejamos e de acordo com o que sabemos ser o melhor?

O mais importante a saber é se temos realmente sido livres para escolher o nosso destino ou se temos, apenas, seguido os impulsos e predisposições, ainda inferiores, que existem dentro de nós.

Se não conseguimos ter domínio sobre nós mesmos e sobre o nosso pensamento e a nossa vontade, será que somos livres para escolher ou estamos presos à nossa inferioridade?

Kardec, neste sentido, questiona os espíritos se agimos com liberdade, ante:

As predisposições instintivas que todos trazem em si, resultado do nosso passado em outras vidas e dos hábitos adquiridos. Elas são:

Page 9: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

9

23o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

Questão 845“As predisposições instintivas são as do espírito antes da sua encarnação; conforme ele

seja mais ou menos adiantado, elas podem instigá-lo à prática de atos repreensíveis.”

A influência do organismo, que pode tornar-se um obstáculo à nossa completa liberdade de ação, uma vez que:

Questão 846“O espírito é certamente influenciado pela matéria que pode cerceá-lo nas suas

manifestações.”

Assim também:

Questão 847“Aquele cuja inteligência se acha perturbada por uma causa qualquer não é mais

senhor do seu pensamento e, desde então, não goza mais de liberdade.”

A posição social em que nos encontramos. As influências e pressões do meio em que nos encontramos (família, amigos, trabalho, etc.) podem nos levar a cometer atos que, em outro contexto, não realizaríamos. Sobre este ponto, afirmam os espíritos:

Questão 850 A posição social não constitui, algumas vezes, um obstáculo à inteira liberdade dos atos? “Sem dúvida, o mundo tem suas exigências; Deus é justo: leva tudo em conta, mas vos

deixa a responsabilidade dos poucos esforços que fazeis para vencer os obstáculos.”

As paixões, que podem ser caracterizadas como uma necessidade ou sentimento exagerado que temos sobre algo.

Nota de Kardec, questão 908 “Toda paixão que aproxima o homem da natureza animal afasta-o da natureza

espiritual.”

Diante de todas estas limitações para nossa capacidade de ação, afirma Léon Denis, em O Problema do Ser, do Destino e da Dor, que:

“À primeira vista, a liberdade do homem parece muito limitada no círculo de fatalidades que o encerra: necessidades físicas, condições sociais, interesses e instintos.

Continuação >

Page 10: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

10

Centro Espírita Léon Denis

Mas, considerando a questão mais de perto, vê-se que esta liberdade é sempre suficiente para permitir que a alma quebre este círculo e escape às forças opressoras.”

Afirma também:

Os obstáculos acumulados em seu caminho são meramente meios de o [ao espírito encarnado] obrigar a sair da indiferença e a utilizar suas forças latentes. Todas as dificuldades materiais podem ser vencidas.

Portanto, estes obstáculos à liberdade são aparentes (excetuando questões físicas que podem comprometer, no todo, a capacidade de expressão do espírito). Em qualquer experiência por que estejamos passando, estas circunstâncias serão, para nós, as oportunidades do exercício do nosso livre-arbítrio (pensamento e vontade). O que pensamos e queremos em cada uma destas situações:

Cedemos aos nossos impulsos, reproduzindo os hábitos do passado, ou modificamos a forma de nossas ações?

Utilizamos nossas dificuldades físicas para não agir no bem tanto quanto podemos ou vencemos a nós mesmos, superando nossas limitações?

Seguimos a tendência daqueles que nos cercam, cedendo às pressões do meio em que nos encontramos, nem sempre de acordo com nossas crenças e valores, ou passamos a ter práticas e comportamentos coerentes com o que acreditamos?

Deixamos nos levar pelas paixões ou aprendemos a domá-las?

A condição de liberdade do espírito ante as suas próprias limitações é uma conquista de domínio sobre si mesmo:

Para sermos livres é necessário querer sê-lo e fazer esforços para vir a sê-lo, libertando-nos da escravidão da ignorância e das paixões baixas, substituindo o império das sensações e dos instintos pelo da razão.

Isto só se pode obter por uma educação e uma preparação prolongada das faculdades humanas: libertação física pela limitação dos apetites; libertação intelectual pela conquista da verdade; libertação moral pela procura da virtude. É esta a obra dos séculos. Mas , em todos os graus de sua ascensão, há sempre lugar para a livre vontade do homem.

(Léon Denis, O Problema do Ser do Destino e da Dor.)

Assim, possibilidades e alternativas se colocam cotidianamente para cada um de nós quando vamos tomar uma decisão. Por isso, afirmam os espíritos que:

Page 11: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

11

23o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

Não somos fatalmente levados ao mal (Questão 872). Nossos atos não foram previamente determinados (Questão 872). O meio em que nos encontramos pode favorecer que não tomemos as melhores

decisões sob o ponto de vista espiritual (Questão 872).

Desta forma, nosso livre-arbítrio fica preservado em todas as situações, uma vez que:

Questão 872“Ele pode, como prova e como expiação, escolher uma existência em que terá

arrastamentos ao crime, quer pelo meio onde se ache colocado, quer pelas circunstâncias que sobrevenham, mas será sempre livre para agir ou não agir. Assim, o livre-arbítrio existe, na condição de espírito, na escolha da existência e das provas e, na condição de encarnado, na faculdade de ceder ou de resistir aos arrastamentos a que voluntariamente nos submetemos.”

[a fatalidade] “ela nunca está nos atos da vida moral.”

Deus nos deu a inteligência para que possamos distinguir o melhor caminho a seguir:

Questão 631 “O homem tem meios de distinguir, por si mesmo, o que é o bem do que é o mal quando

crê em Deus e o quer saber. Deus lhe deu a inteligência para discernir um do outro.”

Em outra questão, dizem os espíritos:

Questão 780 a“O progresso intelectual pode conduzir ao progresso moral fazendo compreensíveis o

bem e o mal: o homem pode, então, escolher. O desenvolvimento do livre-arbítrio acompanha o da inteligência e aumenta a responsabilidade dos atos.”

Se o espírito escolhe o caminho do “mal”:

Questão 470 “ (...) é porque age por sua própria conta, e, por conseguinte, sofre as conseqüências

disso. (...)”

Page 12: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

12

Centro Espírita Léon Denis

Por isso, afirmam os espíritos que nossos descaminhos da lei de Deus, que acarretam dores e sofrimentos, são sempre resultado:

Nota de Kardec, questão 921“(...) de um primeiro afastamento do caminho reto. Através desse desvio, enveredamos

por um outro caminho mau e, de conseqüência em conseqüência, caímos na desgraça.”

O ponto central desta discussão, e absolutamente importante para percebermos que nossa liberdade de escolha está sempre preservada, deriva do fato de que, quando tomamos nossas decisões, sempre o primeiro pensamento e o primeiro impulso que temos são um reflexo daquilo que somos:

Questão 461“Os pensamentos próprios são, em geral, os do primeiro impulso.”

Questão 463“Ele pode ser bom ou mau, conforme a natureza do espírito encarando. É sempre bom

naquele que ouve as boas inspirações.”

Voltemos às características dos “espíritos imperfeitos” e veremos que nossas “predispo-sições instintivas”, em geral, nos fazem pensar e sentir de uma forma que ainda precisa ser educada. Por isso, afirmam os espíritos, que nem sempre tomamos as melhores decisões e assim:

Questão 534 “Se vos obstinais num caminho que não é o vosso, (...) vós é que sois vosso próprio

mau gênio.” E, por isso,

Questão 530 “(...) sois vós mesmos os primeiros artesãos [das vossas decepções] pela vossa

irreflexão.”

Pela compreensão que já temos, podemos entender que:

Questão 532 “(...) depende de vós desviar esses males ou, pelo menos, atenuá-los.”

Ou ainda:

Questão 920 “(...) depende dele [o homem] suavizar seus males e de ser tão feliz quanto é possível

na Terra.”

Page 13: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

13

23o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para dominar suas más inclinações. (...) e quase sempre o consegue, se tem firme a vontade. (Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 4.)

Portanto, o exercício do nosso livre-arbítrio, chave para superarmos nossas fraquezas e acertarmos agora, é o resultado daquilo que cultivamos em nossos pensamentos e em nossa vontade.

No entanto, o que são o pensamento e a vontade? Como podemos operar com eles a nosso favor? O que ocorre quando pensamos? O que ocorre quando queremos realmente algo, quando temos um objetivo determinado e definido em nossas vidas?

O que temos realmente pensado e o que temos realmente desejado? Quais são as nossas preocupações mais imediatas? Quanto temos investido nelas? O que conseguiremos se elas forem totalmente satisfeitas? A felicidade?

Page 14: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para
Page 15: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

15

TEMA 2: PENSAMENTO E VONTADE

Vimos no término do tema 1 que nossa liberdade de ação depende do posicionamento do nosso pensamento e da nossa vontade. Vamos, então, refletir sobre o que são estas duas forças que operam em nós.

O que é o pensamento? O que penso normalmente? O que eu tenho vontade de fazer e o que não quero fazer? Tenho controle sobre meu pensamento? Consigo direcionar a minha vontade para os objetivos maiores da vida? Para as conquistas espirituais, ou ainda me vejo preso aos sentimentos e sentidos inferiores? Tento disciplinar meus pensamentos ou deixo que eles corram livremente? Já parei para meditar que a disciplina do pensamento e da vontade são importantes para o meu progresso espiritual? O que ocorre quando penso e desejo (vontade) algo?

Vamos iniciar nosso estudo identificando:

O Que São o Pensamento e a Vontade?

Existem nos espíritos que compõem a “espécie humana” quatro elementos relacionados: a inteligência, o pensamento, a vontade e o senso moral.

Tanto a inteligência quanto o pensamento são atributos essenciais da alma humana:

Questão 24

“A inteligência é um atributo essencial do espírito; porém, um e outro se confundem num princípio comum, de sorte que, para vós, são a mesma coisa.”

Page 16: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

16

Centro Espírita Léon Denis

Questão 89a“Quando o pensamento está em alguma parte, a alma também aí está, visto que é a

alma quem pensa. O pensamento é um atributo.”O pensamento é um atributo.”

Estes dois atributos engendram a vontade de atuar dos indivíduos:

Questão 71“A inteligência é uma faculdade especial, própria a algumas classes de seres orgânicos

e que lhes dá, com o pensamento, a vontade de agir (...)”

Assim como são a base para o “senso moral”:

“(...) finalmente, que entre as espécies orgânicas dotadas de inteligência e de pensamento, há uma dotada de um senso moral especial que lhes dá uma incontestável superioridade sobre as outras, é a espécie humana.” (O Livro dos Espíritos. Introdução, item 2.)

Sabemos que o progresso moral decorre do progresso intelectual, mas nem sempre o segue imediatamente (Questão 780). A moralização do espírito não é uma decorrência imediata de sua intelectualização, pois entre o aumento da intelectualização, ou seja, aumento da capacidade de discernimento entre o bem e o mal (Questão 631), e a moralização do indivíduo há o livre pensar e a vontade, também livre, de agir.

É no aproveitamento das experiências por que o espírito passa em suas encarnações que ele adquire a “maturidade do senso moral” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 4.)

O ponto delicado deste processo está na liberdade que temos decorrente do nosso pensamento e da nossa vontade. Mesmo sabendo que atos e comportamentos não são os melhores para nosso futuro espiritual ou para nossa felicidade, somos sempre livres para optar por que caminhos seguir, abreviando ou estendendo a fase primeira de nossos aprendizados.

“a encarnação é apenas um estado provisório para todos os espíritos. É uma tarefa que Deus lhes impõe no início de suas vidas, como primeira prova do uso que farão do seu livre-arbítrio (...)” (Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. IV, item 25.)

Pelo encadeamento das informações trazidas pelos espíritos, observamos que nossas decisões morais são resultado do desenvolvimento de nossa inteligência (discernimento do bem e do mal) e daquilo que pensamos. Estes são os pressupostos da vontade que nos fará agir de uma ou outra forma.

Page 17: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

17

23o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

Estando, assim, vinculado à inteligência, à vontade e ao senso moral, o pensamento possui diversas características tanto entre os espíritos desencarnados quanto para os encarnados.

Vejamos que características são estas:

1. Liberdade

A primeira característica do pensamento é que este é um espaço de liberdade para o espírito.

É no âmbito do pensamento que o espírito desfruta da mais ampla liberdade.

Questão 833“É no pensamento que o homem goza de uma liberdade sem limites, pois ele não

conhece entraves. Pode-se deter-lhe o impulso, mas não anulá-lo.”

Liberdade não significa ausência de responsabilidade sobre o que pensamos:

Questão 834“Diante de Deus, ele é responsável; Somente Deus podendo conhecê-lo, ele o condena

ou absolve, segundo a sua justiça.”

2. ComuniCação

Os espíritos se comunicam através do pensamento:

“Para os espíritos, e principalmente para os espíritos superiores, a idéia é tudo, a forma não é nada. Livres da matéria, a linguagem que utilizam entre si é rápida como o pensamento, visto que é o próprio pensamento é que se comunica sem intermediários.”

(O Livro dos Espíritos. Introdução, item 14.)

Para se comunicar através do pensamento, os espíritos utilizam-se do fluido cósmico universal:

Questão 282O fluido universal estabelece entre eles uma comunicação constante; é o veículo da

transmissão do pensamento, como o ar é para vós o veículo da transmissão do som.

Page 18: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

18

Centro Espírita Léon Denis

Esta comunicação através do fluido universal é possível, pois a partir do momento em que pensamos, estando encarnados ou desencarnados, modificamos a qualidade do fluido universal em torno de nós: (A Gênese, cap. XIV, item 14.)

“O pensamento e a vontade são para os espíritos o que a mão é para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem aos fluidos espirituais esta ou aquela direção; eles os aglomeram, combinam ou dispersam; com eles formam conjuntos tendo uma aparência, uma forma e uma cor determinadas; mudam as suas propriedades... é a grande oficina ou o laboratório da vida espiritual.” (A Gênese, cap. XIV, item 15.)

“Desde o momento em que esses fluidos são o veículo do pensamento, e que o pensamento pode modificar-lhes as propriedades, é evidente que eles devem estar impregnados das qualidades boas ou más dos sentimentos que os põem em vibração, modificados pela pureza ou impureza dos pensamentos. Os maus pensamentos corrompem os fluidos espirituais, como os miasmas deletéreos corrompem o ar respirável.”

“O pensamento do espírito encarnado atua sobre os fluidos espirituais como o dos desencarnados; ele se transmite de espírito a espírito pelas mesmas vias, e, conforme seja bom ou mau, saneia ou vicia os fluidos ambientes.” (A Gênese, cap. XIV, item 16.)

Assim, estamos constantemente modificando a qualidade do fluido universal presente a nossa volta com a qualidade daquilo que pensamos. Da mesma forma que podemos sentir a vibração de um ambiente, todos podemos sentir as vibrações emitidas e criadas pelas projeções mentais daqueles que estão ao nosso lado.

“(...) existem pensamentos harmônicos ou discordantes. Se o conjunto é harmonioso, a im- pressão é agradável; se o conjunto é discordante, a impressão é desagradável. Ora, para isso não é necessário que o pensamento seja formulado por palavras, quer o pensamento se externe ou não, a irradiação fluídica existirá sempre...” (A Gênese, cap. XIV, item 19.)

Além disso, quando pensamos em algo, imprimimos a imagem dos nossos pensamentos no fluido e criamos mentalmente o que é o objeto de nosso pensamento.

“Ao espírito basta pensar em uma coisa para que ela se produza.”(A Gênese, cap. XIV, item 14.)

Assim, não conseguimos dissimular o que pensamos, o que sentimos ou o que somos, já que, imediatamente, criamos uma ambiência espiritual compatível com nosso padrão mental. Isto se dá, principalmente, porque pensamos ininterruptamente.

“O espírito, em qualquer parte, move-se no centro das criações que desenvolveu. Defeitos escuros e qualidades louváveis envolvem-no, onde se encontre.”

(André Luiz, Libertação, cap. IV, ed. FEB.)

Page 19: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

19

23o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

Nossos pensamentos estão permanentemente expostos no mundo espiritual através das imagens mentais que criamos e da qualidade do fluido que nos circunda.

Questão 283“Os espíritos não podem, reciprocamente, dissimular seus pensamentos.”

Se isto ocorre entre os espíritos desencarnados, ocorre também entre os desencarnados e os encarnados:

Questão 257Eles [os espíritos] ouvem o som da nossa voz, todavia nos compreendem sem o auxílio

da palavra, somente pela transmissão do pensamento.

Questão 457“Os espíritos podem conhecer os nossos mais secretos pensamentos. Freqüentemente,

conhecem o que desejaríeis esconder de vós mesmos; nem atos, nem pensamentos lhes podem ser dissimulados.”

E entre os encarnados:

Questão 421 “Duas pessoas, perfeitamente despertas, têm, com freqüência, instantaneamente,

o mesmo pensamento porque são dois espíritos simpáticos que se comunicam e vêem, reciprocamente, seus pensamentos, mesmo quando o corpo não dorme.”

3. QuaLidade do Pensamento

Podemos elevar ou rebaixar nosso pensamento acima (ou abaixo) dos interesses pura-mente materiais:

Ao elevarmos o pensamento, conseguimos:

Adorar a Deus (Questão 649) e entrever algumas das suas perfeições (Questão 12);Adorar a Deus (Questão 649) e entrever algumas das suas perfeições (Questão 12); Conceber o espírito destituído de matéria �� e vice-versa (Questão 26);Conceber o espírito destituído de matéria �� e vice-versa (Questão 26); Relativizar as desgraças humanas (Questão 738b e Questão 933), percebendo que doRelativizar as desgraças humanas (Questão 738b e Questão 933), percebendo que do

mal sempre sai o bem (Questão 783).

Page 20: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

20

Centro Espírita Léon Denis

Ao rebaixarmos o pensamento:

Questão 846“(...) Aquele que anula seu pensamento por somente se preocupar com a matéria, torna-

se semelhante ao animal, e pior ainda, pois nem pensa em se precatar contra o mal (...)”.

Quanto mais elevados (acima da matéria) nossos pensamentos, mais força de irradiação eles terão, podendo, assim, atingir muitos pontos e muitas pessoas simultaneamente.

4. irradiação do Pensamento

Vejamos em que consiste a capacidade de irradiação do pensamento:

Questão 92 “Cada [espírito] é um centro que irradia em diferentes direções, (...) Vês o Sol? Ele é

apenas um, e, entretanto, irradia em todos os sentidos, e leva os seus raios muito distante (...)”

Questão 92a. “A força de irradiação depende do grau de pureza deles.”

Questão 247Seu pensamento pode irradiar e se dirigir, ao mesmo tempo, para vários pontos

diferentes, essa faculdade, porém, depende de sua pureza: quanto menos depurado, tanto mais limitada a sua visão; apenas os espíritos superiores podem abarcar o conjunto.

O poder de irradiação do pensamento está associado aos itens anteriores. Quanto mais elevados nossos pensamentos forem, maior capacidade de transmissão e de comunicação o espírito tem, entrando em contato mental com outros espíritos (encarnados ou desencarnados), simultaneamente, onde quer que eles estejam.

Um dos pontos mais importantes, para nós encarnados, é que nossos pensamentos atraem, para junto de nós, as almas que com eles se afinam:

5. afinidade esPirituaL

Para estabelecermos formas de sintonia e afinidade espiritual não é necessário qualquer objeto ou ritual. Os nossos pensamentos estabelecem o padrão de sintonia:

Assim, quando pensamos em uma pessoa, atraímos o seu espírito à nossa presença. Veja o exemplo do “dia dos mortos”:

Questão 321 “Os espíritos atendem ao chamado do pensamento, nesse dia, como nos outros dias.”

Page 21: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

21

23o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

Por isso, não é a veneração que tenhamos a um objeto que pertenceu a um espírito que o atrai para nós.

Questão 311 “O espírito fica sempre feliz com a lembrança que se tenha dele; os objetos que se

conserva dele trazem-no à memória, mas é o pensamento que o atrai para vós, e não aqueles objetos.”

Também não são os rituais, as convenções ou palavras místicas que atraem os espíritos:

Questão 553“Não há palavra sacramental nenhuma, nenhum sinal cabalístico, nenhum talismã que

tenha uma ação qualquer sobre os espíritos, pois estes só são atraídos pelo pensamento e não pelas coisas materiais.”

Assim:

Questão 100“eles [os espíritos] nenhuma importância dão ao que é puramente convencional; para

eles o pensamento é tudo.”

O que atrai os espíritos são os pensamentos, como também a vontade, os desejos e as intenções que alimentamos quando fazemos algo:

Questão 467 “ (...) eles só se apegam àqueles que os chamam através dos seus desejos e os atraem

pelos seus pensamentos.”

Esta identificação vale tanto para o bem quanto para o mal, assim como ela pode ser mais ou menos temporária:

Questão 513 “Os espíritos simpáticos algumas vezes podem ter uma missão temporária, porém, com

mais freqüência, são atraídos somente pela semelhança de pensamentos e de sentimentos, tanto para o bem quanto para o mal.”

Page 22: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

22

Centro Espírita Léon Denis

Assim, podemos ter junto a nós, de forma mais ou menos permanente, espíritos que estejam sintonizados com o que fazemos, na execução de alguma atividade, quando alimentamos algum propósito, etc.

As idéias, os propósitos e as atividades que realizamos acarretam na presença mais ou menos constante dos espíritos que se afinam conosco. Enquanto pensarmos o bem, desejarmos o bem e fizermos o bem, estaremos atraindo para junto de nós os espíritos que pensam, desejam e fazem o mesmo. Desta forma:

Questão 467 “Podemos nos libertar da influência dos espíritos que nos induzem ao mal, sim, pois

eles só se apegam àqueles que os chamam através dos seus desejos e os atraem pelos seus pensamentos.”

Questão 549“Aquele que quer cometer uma ação má, chama, por isso mesmo, em seu auxílio, maus

espíritos.”

Questão 554 “a natureza do espírito atraído depende da pureza da intenção e da elevação dos

sentimentos.”

Se temos liberdade de pensar e através do pensamento nos comunicamos com o mundo espiritual, a partir de formas-pensamento e da vibração com que impregnamos o fluido universal, é pela vontade que direcionamos o pensamento e tomamos nossas resoluções morais.

É pela vontade que dirigimos nossos pensamentos para um alvo determinado.

Léon Denis

Agir, segundo a nossa vontade, é também parte da nossa liberdade de ação e é derivado da nossa inteligência e do nosso pensamento, como visto acima. Pensamento e vontade estão, assim, associados. Vejamos, em detalhe, as características da vontade em nós.

6. Vontade

“Nosso êxito ou fracasso dependem da persistência ou da fé com que nos consagramos mentalmente aos objetivos que nos propomos a alcançar.”

(Emmanuel, Roteiro, ed. FEB.)

A vontade é a força que encontramos dentro de nós mesmos e que nos fará atingir as metas e os objetivos que almejamos e que livremente escolhemos.

Page 23: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

23

23o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

O seguir mais rapidamente o caminho do bem ou manter-se entre erros e enganos depende da vontade do espírito. A todos o caminho do bem está aberto.

Questão 117 “Depende dos espíritos apressar seus progressos para a perfeição; Eles a alcançam com

maior ou menor rapidez, conforme seu desejo e sua submissão à vontade de Deus.”

Questão 804 “Deus criou todos os espíritos iguais, mas cada um vem vivendo há mais ou menos

tempo, e, por conseguinte, possui mais ou menos aquisições; a diferença entre eles está no grau de experiência e vontade, que constitui o livre-arbítrio: daí uns se aperfeiçoarem mais rapidamente, o que lhes dá mais aptidões.”

E também:

Questão 1006“Deus não criou seres para que fossem votados perpetuamente ao mal; apenas os criou

simples e ignorantes, e todos devem progredir, num tempo mais ou menos longo, conforme as suas vontades.”

Se o progresso mais ou menos rápido do espírito decorre de sua vontade, isto significa que retardar-se em sua jornada e praticar o mal também são atos de vontade.

Questão 121 “Deus não criou, absolutamente, espíritos maus; criou-os simples e ignorantes, isto é,

tendo tanta aptidão para o bem quanto para o mal; os que são maus tornaram-se assim pela própria vontade.”

Questão 636 “A lei de Deus é a mesma para todos; o mal, porém, depende principalmente da

vontade que se tenha de fazê-lo.”

Aparecerá, cedo ou tarde, a vontade de progredir do espírito, pois há, para todos, a irresistível necessidade de sairmos da ignorância e de sermos felizes. Além disso, chega um momento em que o espírito passa a ter horror ao mal.

Questão 1006“A vontade pode ser mais ou menos tardia, como há crianças mais ou menos precoces,

mas, cedo ou tarde, ela vem através da irresistível necessidade que o espírito experimenta de sair da sua inferioridade e de ser feliz. (...)”

Page 24: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

24

Centro Espírita Léon Denis

“é preciso que o princípio do bem e o horror ao mal morem no coração do homem.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XII, item 13.)

A vontade de buscar o melhor para nossa situação espiritual irá se manifestar, cotidianamente, nas experiências da nossa vida. Vejamos em que momentos a ação de nossa vontade é decisiva para apressarmos ou retardarmos nosso progresso espiritual.

Ante os arrastamentos:

Questão 259“Se o Espírito quis nascer entre malfeitores, por exemplo, sabia a que arrastamentos

se expunha, mas não cada um dos atos que viria a praticar; esses atos são o efeito da sua vontade, ou de seu livre-arbítrio.”

Questão 845“não há, porém, arrastamento irresistível, quando se tem a vontade de resistir. Lembrai-

vos de que querer é poder.”

Questão 872“(...) depende da sua vontade ceder ou não a essas tendências.” “(...) o homem sempre pode tapar os ouvidos à voz oculta que o incita ao mal em

seu foro íntimo, como pode tapar à voz material daquele que lhe fale; ele pode pela sua vontade, pedindo a Deus a força necessária e reclamando, para esse fim, a assistência dos bons espíritos.”

Ante as más inclinações:

Questão 909 O homem poderia sempre vencer seus maus pendores através dos seus esforços, e,

algumas vezes, através de esforços insignificantes; é a vontade que lhe falta. Que pena! Quão poucos dentre vós fazem esforços!”

Ante as paixões:

Questão 911 Não existiriam paixões tão vivas e irresistíveis que a vontade seria impotente para

dominá-las? “Há muitas pessoas que dizem: Eu quero, mas a vontade está apenas nos lábios;

querem, mas gostariam muito que isto não acontecesse. Quando se acredita que não se pode vencer as suas paixões, é o espírito que se compraz nisso em conseqüência da sua inferioridade. Aquele que procura reprimi-las, compreende a sua natureza espiritual; vencê-las é para ele um triunfo do espírito sobre a matéria.”

Page 25: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

25

23o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

Ante os sofrimentos do mundo:

Questão 257“Os sofrimentos deste mundo independem, algumas vezes, de nós; muitos, porém, são

conseqüências da nossa vontade. Que se remonte à fonte e veremos que o maior número deles é a seqüência de causas que teríamos podido evitar.”

Ante os maus espíritos:

Questão 475“Pode-se sempre subtrair-se a um jugo [de um mau espírito] quando se tem a vontade

firme.”

7. ConCLusão

Embora saibamos de nossa responsabilidade perante a vida e tenhamos conhecimento sobre a moral cristã, temos tido dificuldade de exercitar a nossa liberdade (pensamento e vontade) de forma a vivermos com mais paz e mais felicidade.

Não conseguimos ter a disciplina do pensamento, assim como nossa vontade oscila e, nas mais das vezes, esmorece frente às primeiras dificuldades. Temos assim dificuldade em educar o nosso mundo íntimo de modo a torná-lo um instrumento precioso de nosso progresso espiritual.

Na nossa trajetória de aprendizado no “agir livre”, Deus nos adverte, a cada instante, através da dor, indicando-nos nossos erros e tropeços, assim como nossos desvios na senda do “mal”.

Entretanto, além das advertências através da dor, Deus envia-nos os espíritos para nos inspirarem e auxiliarem na indicação do melhor caminho a seguir.

Nota de Kardec, questão 964.“Deus é, ainda, mais previdente, pois nos adverte, a cada instante, se estamos fazendo o

bem ou o mal: ele nos envia os espíritos para nos inspirar, mas não os escutamos.”

Como foi visto, nosso pensamento e nossa vontade são capazes de atrair para junto de nós aqueles espíritos a quem chamamos. A rigor, podemos sempre chamá-los em nosso auxílio quando temos uma decisão moral a tomar, ou quando visamos resistir às nossas tentações.

Page 26: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

26

Centro Espírita Léon Denis

Então nos perguntamos:

Como os espíritos podem nos auxiliar nas decisões que tomamos diariamente? O que costumo pensar no meu dia-a-dia para atrair ou afastar a ajuda dos bons

espíritos? Que espíritos devem estar sintonizados comigo? Que tipo de ajuda os espíritos podem realmente nos dar? Por que Kardec afirma que temos desprezado a ajuda dos espíritos? Como posso estabelecer um padrão mental que favoreça o intercâmbio com os

espíritos amigos e mentores?

Page 27: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

27

TEMA 3: A INfLuêNCIA DOS ESPÍRITOS EM NOSSAS VIDAS (a infLuenCiação esPirituaL)

introdução

Objetivo: Conscientizar os encontristas de que o intercâmbio entre os planos de vida encarnado e desencarnado, um dos principais fundamentos da Doutrina Espírita, acontece com muito mais freqüência do que normalmente pensamos ou nos damos conta e que obedecer a leis, se conhecidas por nós, pode nos ajudar a lidar com estas circunstâncias a nosso favor.

Resgatando Conceitos: Vimos nos temas anteriores que todos nós, espíritos encarnados, em processo de aprendizado (evolução), embora dotados de livre-arbítrio, estamos submetidos às mais diversas influências e, entre elas, a influência dos espíritos desencarnados, fato que deveria ser considerado bastante natural, desde que aceitamos a existência dos espíritos e temos como fundamento da Doutrina Espírita a comunicação entre os dois planos (encarnado/desencarnado) em que a vida se manifesta.

No entanto, nem sempre percebemos a amplitude deste fundamento e tendemos a considerar que esta comunicação fica limitada aos processos mediúnicos que, na realidade, são decorrência desta possibilidade de intercâmbio que se realiza sempre.

“As comunicações dos espíritos com os homens são ocultas ou ostensivas. As comunicações ocultas acontecem pela influência boa ou má que exercem sobre nós, à nossa revelia; cabe à nossa razão discernir as boas e as más inspirações. As comunicações ostensivas se dão por meio da escrita, da palavra ou outras manifestações materiais, com mais freqüência por intermédio dos médiuns que lhes servem de instrumentos.”

(O Livro dos Espíritos. Introdução, cap. IV.) Buscando a afirmativa acima:”As comunicações ocultas se verificam pela influência boa ou má que exercem sobre

nós, à nossa revelia.”

Page 28: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

28

Centro Espírita Léon Denis

1. Como se ComuniCam os esPíritos desenCarnados e enCarnados?

Os espíritos se comunicam oculta ou ostensivamente porque o intercâmbio do pensamento é livre no Universo.

“o intercâmbio do pensamento é movimento livre no Universo. Desencarnados e encarnados, em todos os setores de atividade terrestre, vivem na mais ampla permuta de idéias. Cada mente é um verdadeiro mundo de emissão e recepção e cada qual atrai os que se assemelham.” (André Luiz, Missionários da Luz, cap. V.)

Concluímos, desta forma, que a comunicação oculta entre os espíritos acontece pela constante permuta de pensamentos.

Como sabemos, pensamento, sentimento e vontade são os atributos essenciais do espírito.Como encontra-se em O Livro dos Espíritos (Questão 420):

“O espírito não se acha encerrado no corpo como numa caixa: ele irradia por todos os lados” “Pode se comunicar com outros espíritos, mesmo no estado de vigília.” “A alma não se acha encerrada no corpo como o pássaro numa gaiola:” “Irradia e se manifesta exteriormente, como a luz através de um globo de vidro ou como o

som em torno de um centro sonoro.”

É por essa propriedade dos espíritos de irradiar-se e “entrar em relação” com os outros espíritos (encarnados ou desencarnados) que transmitimos-lhes os nossos pensamentos e sentimentos, impulsionados pela vontade; igualmente eles nos transmitem os seus.

Questão 460Temos pensamentos que nos são próprios e outros que nos sejam sugeridos? “Vossa alma é um espírito que pensa; não ignorais que vários pensamentos vos chegam,

ao mesmo tempo, sobre um mesmo assunto, e, com freqüência, muito contrários uns dos outros; pois bem! Há sempre pensamentos vossos e nossos; é o que vos deixa na incerteza, porque tendes, em vós, duas idéias que se combatem.”

Esta circunstância, a permuta de pensamentos e de idéias, possibilita que um pensamento influencie o outro; lembrando que influir significa: inspirar, incutir, entusiasmar, excitar.

Page 29: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

29

23o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

2. infLuênCia do mundo esPirituaL

2.1 – Nos Pensamentos e Atos

Na questão 459, nos informam os espíritos que influem eles em nossos pensamentos e atos e que, com freqüência, são eles que nos dirigem.

Questão 459 Os espíritos influem nos nossos pensamentos e nas nossas ações? “Conforme o relato, a influência deles é maior do que imaginais, pois, com muita

freqüência, são eles que vos dirigem.” Certos de que nada ocorre sem a permissão de Deus, busquemos entender porque e

como isto se dá. Afirmam os espíritos:

1. “Os espíritos vêem tudo o que fazemos, visto que estais constantemente rodeado por eles.” (Questão 456).

2. “Os espíritos podem conhecer os nossos mais secretos pensamentos. Freqüentemente, conhecem o que desejaríeis esconder de vós mesmos.” (Questão 457).

3. “Nem atos, nem pensamentos lhes podem ser dissimulados.” (Questão 457).

De acordo com estas afirmativas, perguntou Kardec:

Questão 458. O que pensam de nós os espíritos que nos cercam e que nos observam? “Depende. Os espíritos brincalhões riem dos pequenos tormentos que vos suscitam

e zombam das vossas impaciências. Os espíritos sérios deploram vossos defeitos e tentam vos ajudar.”

O que seriam esses pequenos tormentos?

Recordemos a classificação trazida pelos espíritos na questão 101 de O Livro dos Espíritos, quanto aos caracteres gerais dos espíritos imperfeitos.

Questão 101 “Caracteres gerais �� Predominância da matéria sobre o espírito. Propensão para o

mal, ignorância, orgulho, egoísmo e todas as más paixões que lhe são conseqüentes. Têm a intuição de Deus, mas não o compreendem.

Continuação >

Page 30: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

30

Centro Espírita Léon Denis

Nem todos são, essencialmente, maus; em alguns há mais leviandade, inconseqüência e malícia do que verdadeira maldade. Uns não fazem o bem nem o mal; mas, simplesmente por isso, não fazem o bem e denotam sua inferioridade. Outros, ao contrário, se comprazem no mal e ficam satisfeitos quando encontram oportunidade de praticá-lo.

Eles podem aliar a inteligência à maldade ou à malícia; porém, qualquer que seja o seu desenvolvimento intelectual, suas idéias são pouco elevadas e seus sentimentos mais ou menos abjetos.

Seus conhecimentos sobre as coisas do mundo espírita são limitados, e o pouco que sabem se confunde com as idéias e os preconceitos da vida corporal.”

Em alguns há mais leviandade, irreflexão e malícia do que verdadeira maldade.

Questão 103“Nona classe: espíritos levianos �� São ignorantes, espertos, inconseqüentes e

zombeteiros. Metem-se em tudo, respondem a tudo, sem se preocuparem com a verdade. Gostam de causar pequenos desgostos e pequenas alegrias, de fazer intrigas, de induzir, maliciosamente, ao erro através das mistificações e das espertezas.”

Questão 456 Os espíritos vêem tudo o que fazemos? “Podem vê-lo, visto que estais constantemente rodeado por eles; cada um, porém, só

vê as coisas sobre as quais dirige a sua atenção; porque sobre as que lhe são indiferentes, não se ocupa delas.”

Questão 461 Como distinguir os pensamentos que nos são próprios daqueles que nos são

sugeridos? “Quando um pensamento é sugerido, é como uma voz que vos fala. Os pensamentos

próprios são, em geral, os do primeiro impulso. De resto, não há para vós grande interesse em estabelecer essa distinção, e, freqüentemente, é útil não saber fazê-la: o homem age mais livremente; se se decide pelo bem, ele o faz voluntariamente; se toma o mau caminho, só terá mais responsabilidade.”

Não nos interessa saber quais são os pensamentos próprios ou aqueles que nos são sugeridos. O que importa são aqueles que acolhemos por estarem sintonizados com nossos desejos e emoções (bons ou maus) ou os que já conseguimos repelir por não mais estarem de acordo com a direção que buscamos dar às nossas ações, conscientemente, e num esforço da vontade. Do conjunto de nossas escolhas definimos nossas responsabilidades.

Page 31: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

31

23o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

Voltando à questão 459

Questão 459“Os espíritos influem nos nossos pensamentos e nas nossas ações, a influência deles é

maior do que imaginais, pois, com muita freqüência, são eles que vos dirigem.”

Por que ou como nos dirigem?

Dirigem pela identidade de sentimentos, desejos, e também por não estarmos ainda bastante seguros a respeito da direção que queremos empreender às nossas ações e sobre aquelas que precisamos repelir, mesmo que já as reconheçamos inadequadas a valores que buscamos conquistar, visto que ainda nos causam prazeres. Encontram em nós colaboradores passivos, que acolhem suas sugestões e pensamentos, pois objetivam simplesmente potencializar nossos próprios desejos.

A direção que os espíritos podem nos dar, e da qual somos objeto, refere-se às escolhas

morais que realizamos. Como vimos, as nossas escolhas centram-se no exercício do livre-arbítrio. Portanto, os espíritos atuam através do nosso pensamento e da nossa vontade para que façamos esta ou aquela escolha, para que sigamos esta ou aquela direção.

A responsabilidade do bem ou do mal que praticamos é nossa, e embora soframos as naturais influencias daqueles que conosco caminham, somos livres para decidir que direção imprimir às nossas escolhas, pensamentos, idéias e até mesmo que sugestões aceitar.

Na questão 525 há a clara indicação de que o ponto máximo de interferência dos espíritos em nossas vidas limita-se ao aconselhamento:

Questão 525Os espíritos exercem uma influência sobre os acontecimentos da vida? “Certamente, visto que te aconselham.”

Cumpre-nos discernir qual a qualidade do conselho que recebemos. Se está ou não adequado aos nossos conhecimentos, crenças e valores, pois a responsabilidade das escolhas sempre será nossa, levando-se em conta os atenuantes ou agravantes que porventura venham a existir.

Questão 872 Pelo pensamento os espíritos nos aconselham, sugerem, e conseqüentemente também

têm participação na direção que empreendemos aos nossos atos. Somos sempre livres para repelir pensamentos que não estejam de acordo com o que acreditamos, ou que racionalmente acolhemos como sendo as melhores opções para nossa vida, tendo como referências novos valores que já queremos construir em nós mesmos. Segundo os espíritos “nunca há fatalidade nos atos da vida moral” Continuação >

Page 32: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

32

Centro Espírita Léon Denis

A Doutrina Espírita é, evidentemente, mais moral: ela admite no homem o livre-arbítrio em toda a sua plenitude e, dizendo-lhe que se praticar o mal, ele cede a uma sugestão estranha e má, ela lhe deixa toda a responsabilidade, já que reconhece nele o poder de resistir, coisa evidentemente mais fácil do que se ele tivesse que lutar contra sua própria natureza. Assim, segundo a Doutrina Espírita, não há arrastamento irresistível: o homem sempre pode tapar os ouvidos à voz oculta que o incita ao mal em seu foro íntimo, como pode tapar à voz material daquele que lhe fale; ele pode pela sua vontade, pedindo a Deus a força necessária e reclamando, para esse fim, a assistência dos bons espíritos. Foi o que Jesus nos ensinou na sublime prece da oração dominical, quando nos mandou dizer: ‘Não nos deixeis sucumbir à tentação, mas livrai-nos do mal.’

Essa teoria da causa determinante de nossos atos ressalta, evidentemente, de todo o ensino dado pelos espíritos; não apenas ela é sublime de moralidade, mas acrescentaremos, que ela eleva o homem aos seus próprios olhos. Mostra-o livre de se subtrair a um jugo obsessor, como é livre de fechar sua casa aos importunos; não é mais uma máquina que age por um impulso independente da sua vontade, é um ser racional, que ouve, que julga e que escolhe livremente entre dois conselhos. Acrescentemos que, apesar disso, o homem não está privado da sua iniciativa; ele não deixa de agir por impulso próprio, visto que, definitivamente ele é apenas um espírito encarnado que conserva, sob o envoltório corporal, as qualidades e os defeitos que tinha como espírito. As faltas que cometemos tem, portanto, sua fonte primária na imperfeição do nosso próprio espírito.”

2.2 – Nos Acontecimentos da Vida

De que forma influem os espíritos nos acontecimentos da vida? Têm eles ação direta no cumprimento das coisas? Podem criar obstáculos à realização de nossos projetos? Têm o poder de afastar males ou favorecer-nos com prosperidade?

O estudo sobre a influência dos espíritos nos acontecimentos da vida é da maior impor-tância para que possamos ter os parâmetros desta ação, pois, ou tendemos a responsabilizá-los por todos os infortúnios, decepções e contrariedades, ou não ficamos gratos aos nossos amigos e protetores por suas interferências amorosas. Perguntou Kardec:

Questão 525Os espíritos exercem uma influência sobre os acontecimentos da vida? “Certamente, visto que te aconselham.”

a) Exercem essa influência de outra forma que não seja através dos pensamentos que sugerem, isto é, têm uma ação direta sobre o cumprimento das coisas?

“Sim, mas nunca agem em desacordo com as leis da Natureza.”

Page 33: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

33

23o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

Os espíritos interferem em nossas vidas, por exemplo:

Provocando o encontro de duas pessoas, que imaginarão terem se encontrado por acaso. Inspirando alguém a passar por determinado lugar. Chamando-lhe a atenção para certo ponto.

Nota de Kardec, questão 525Se isso levar ao resultado que desejam obter; de tal maneira que o homem, acreditando

seguir seu próprio impulso, conserva sempre seu livre-arbítrio.

Kardec nos chama atenção para o fato de que na maioria das vezes imaginamos erra-damente que aos espíritos só caiba manifestar sua ação por fenômenos extraordinários e não nos apercebemos de suas intervenções ocultas.

A maior dificuldade que enfrentamos para compreender a atuação dos espíritos está no fato de que temos a nossa atenção e a nossa percepção habitualmente dirigidas para a realidade material e, dessa forma, fica difícil a percepção da ação dos espíritos. Se fôssemos mais atentos para a realidade espiritual que nos cerca, e da qual fazemos parte, perceberíamos a atuação dos espíritos junto a nós, sugerindo, inspirando, amparando ou criando empecilhos nos mais diversos momentos de nossas vidas, fortalecendo a compreensão de como nos relacionamos com eles.

Caso – A viagem

Pronto. A última mala está fechada e Letícia eufórica. Dentro dos próximos dias, embarcará para uma estada em Nova York.

Antes do embarque, vai à Casa Espírita para as últimas tarefas e despedidas. Finalizando alguns trabalhos, é interpelada por Glória:

�� Sabe a Carmem, filha da dona Sonia, a zeladora? Está com HIV.�� Já está confirmado isso?!? Indaga Letícia.Na época, o kit de tratamento vinha do exterior. Quem não podia ir buscá-lo, contava

com a boa vontade de algum conhecido. Letícia oferece-se, então, para, no seu regresso, trazer os medicamentos; e toma todas as providências necessárias. Contudo, ao chegar à Big Apple, surpresa! Os remédios não eram vendidos nas farmácias. O laboratório responsável pela sua produção enviava-os diretamente ao paciente, mediante a requisição de um médico local.

Decepção! Como contar à doente, no Brasil, que ela não teria os medicamentos tão ansiados?

Sem mais o contentamento que a expectativa da viagem e da possível ajuda à Carmem provocara-lhe, Letícia anda meio sem rumo pelas ruas nova-iorquinas, quando um rosto conhecido destaca-se na multidão e uma voz agradável fala-lhe, alegremente:

�� Mulher, o que você está fazendo aqui? Não ia me visitar não, é? Trata-se de Estela, velha amiga, residente na cidade, e que seria visitada mais tarde.

As duas dirigem-se para o apartamento de Estela, e Letícia conta-lhe todo o drama da brasileira e a tentativa malograda de conseguir-lhe a medicação. Continuação >

Page 34: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

34

Centro Espírita Léon Denis

Médica, embora de outra especialidade, Estela prontifica-se a solicitar os remédios como se Carmem fosse sua cliente. Imediatamente, telefona para o laboratório e atende a todas as exigências apresentadas.

Tarde da noite, após um jantar regado a agradecimentos e lembranças de um tempo em que as duas dividiam sonhos e esperanças no Rio de Janeiro (Brasil), a visitante deixa a residência da amiga sentindo uma doce luz aquecer-lhe o coração.

A misericórdia de Deus não tem limites e sempre é acionada quando seus filhos aflitos recorrem a ele.

Letícia havia esquecido de que sua amiga Estela, residente em Nova York, é médica; Deus, não. E patrocinou o encontro providencial.

Dentro do cabimento da lei, os espíritos manipulam situações, sugestionam pessoas, induzem a atenção, promovem encontros, etc. Em todas estas circunstâncias o mecanismo envolvido é a utilização da influência mental sobre o encarnado. Mas há outra forma de intervenção espiritual no mundo dos homens: provocar fenômenos físicos de diversos tipos para atingir objetivos bem definidos.

2.3 – A Ação Direta

Os espíritos também podem atuar provocando efeitos materiais, independente de qualquer aprovação ou compreensão por parte dos encarnados buscando atingir objetivos específicos. É isto que significa ação direta.

Qualquer intervenção dos espíritos no mundo físico por ação direta se dá de acordo com as leis naturais, sem o que estaria quebrada a Harmonia universal.

Caso – uma brincadeira de mau gosto

Sônia estava de férias em casa de uma amiga. Em seu trabalho lidava com jóias e havia trazido um líquido que as limpava com muita eficiência para presentear a amiga.

Decidiu fazer uma demonstração limpando alguns anéis de ouro e um cordão. Colocou-os em um recipiente juntamente com o líquido e, ao retirá-los, sem saber explicar como, eles rolaram pelo chão e simplesmente ... sumiram. Para onde rolaram? Procurou-se por todos os lados, sob móveis, em frestas de aduelas, nos cômodos vizinhos e ... nada. Sônia não sabia como explicar e se sentiu completamente desconfortável, mesmo diante da posição de sua amiga, que dizia: não se preocupe ... estão por aqui, vão aparecer. Isto aconteceu de manhã, provocando em Sônia, por todo o dia, um grande mal estar. À noite, sem aviso prévio, todas as jóias começaram a aparecer nos lugares em que, com toda certeza, haviam exaustivamente procurado.

Page 35: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

35

23o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

Caso – Ajuda providencial

Um companheiro, em um final de tarde chuvoso no alto da serra das Araras, viajava com a mulher e filhos pequenos no carro, quando o mesmo parou, em decorrência de um defeito mecânico. Um reboque, quase que imediatamente, passou pelo trecho da estrada em que o carro estava parado mas não tinha possibilidade de rebocá-lo. Prontificou-se a tentar remediar a situação e, depois de algumas tentativas, fez outra vez o carro funcionar. O carro desceu a serra, cruzou todas as vias, parou nos sinais e chegou até a porta da garagem, em casa. Ao parar, “morreu” e ali ficou... até ser consertado.

Quanto à intervenção dos espíritos nos acontecimentos da vida há um ponto importante a ser observado:

Questão 872“Os espíritos não criam as circunstâncias importantes e decisivas para nossas vidas.

Estas são resultado das escolhas que fazemos no mundo espiritual �� o gênero de vida que escolhemos, como prova, expiação ou missão �� e das nossas tendências boas ou más.”

Portanto, os espíritos, mesmo os superiores, não criam situações provacionais ou expiatórias para nós, assim como não as eliminam de nossas vidas. O que eles podem realizar é influir sobre o nosso pensamento e sobre a nossa vontade, materialmente sobre algumas circunstâncias da vida, guiando-nos para tomarmos certas atitudes que podem nos desvirtuar do caminho do bem, complicando nossa jornada, ou podem nos auxiliar a superar nossas inferioridades e nos ajudar a agir no bem.

Muitos de nós, ainda sem a devida maturidade espiritual para a compreensão de nós mesmos, tendemos a responsabilizar os espíritos por todas as ocorrências desagradáveis (do nosso ponto de vista) de nossa vida. Se as coisas não vão de acordo com nossa vontade ou se somos contrariados em nossos desejos, logo nos imaginamos envolvidos por espíritos sempre prontos a nos prejudicarem, numa tendência milenar de colocar fora de nós as causas de nossas dores.

Questão 534. Quando os obstáculos parecem vir, fatalmente, em oposição aos nossos projetos, isto

se daria por influência de algum espírito? “Algumas vezes por influência dos espíritos, de outras vezes, e muito freqüentemente,

é porque procedeis mal. A situação e as condições influem muito. Se vos obstinais num caminho que não é o vosso, os espíritos não são responsáveis por isso; vós é que sois vosso próprio mau gênio.”

Page 36: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

36

Centro Espírita Léon Denis

Na resposta que os espíritos deram a Kardec, algumas vezes, são por efeito da ação espiritual os obstáculos que encontramos na realização de nossos projetos; mas, muito mais vezes, a responsabilidade cabe a nós mesmos como resultado de nossas próprias ações e escolhas.

3. ConCLusão

A influência dos espíritos sobre nossos pensamentos e atos é um fato, mas isto não significa que estejamos fatalmente sob seu domínio e direção. A ação deles é limitada ao aconselhamento, cabendo a nós o discernimento das sugestões que nos chegam, acolhendo-as ou repelindo quando em desacordo com a nossa vontade.

Em todas as circunstâncias cabe a cada um de nós discernir sobre o nosso destino, cedendo ou resistindo aos arrastamentos vindos do nosso próprio íntimo, do ambiente em que estamos, ou dos espíritos; agindo no bem de todos, ou visando o nosso próprio bem; apegando-nos à vida material ou buscando nossa espiritualização.

“Vigiai e orai” foi a recomendação de Jesus a nós. Assim sendo, vigiemos o nosso pensamento para que possamos sintonizar com as correntes de pensamentos voltadas para o bem e que a nossa oração esteja ancorada no cumprimento do dever.

Page 37: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

37

TEMA 4: A INfLuêNCIA DOS ESPÍRITOS EM NOSSAS VIDAS — A SINTONIA COM O MuNDO ESPIRITuAL

“Não nos deixe cair na tentação e livra-nos do mal”. Jesus

introdução

Resgatando conceitos: No estudo anterior vimos que, embora nem sempre percebamos, a influência espiritual acontece com freqüência e que nos colocamos como colaboradores passivos naquilo que vem de encontro aos nossos desejos, buscas e valores porque:

Os espíritos influem:

Nos Pensamentos sugerindo, aconselhando

Nos Atos no acolhimento das sugestões (boas ou más)

Compreendendo que a comunicação entre os dois planos de vida se realiza sempre, mesmo à revelia de nossa vontade, se somos influenciados por espíritos vibrando em uma faixa inferior, é porque ainda sintonizamos com esta faixa em muitos momentos de nossa vida.

1. o Que é o maL?

“Pode-se dizer que o mal é a ausência do bem, como o frio é a ausência do calor (...) Onde não existe o bem, forçosamente existe o mal. Não praticar o mal já é o começo do bem.”

(Allan Kardec. A Gênese, cap. III, item 8.)

Questão 630Como se pode distinguir o bem do mal? “O bem é tudo o que está de acordo com a lei de Deus e o mal, tudo o que se afasta dele.

Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus; fazer o mal é infringir essa lei.”

Page 38: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

38

Centro Espírita Léon Denis

Diante destas afirmativas, podemos perceber que o conceito sobre o bem e o mal se amplia, ficando claro que nem somente as ações declaradamente más podem causar a dor, mas também as omissões que muitas vezes caracterizam nossas escolhas.

Questão 642 Basta não fazer o mal para ser agradável a Deus e assegurar sua posição futura? “Não, é preciso fazer o bem no limite das suas forças, pois cada um responderá por

todo o mal que tiver resultado por causa do bem que não tiver sido praticado.”

Questão 643Há pessoas que, pelas suas posições, não tenham a possibilidade de fazer o bem? “Não há quem não possa fazer o bem: somente o egoísta jamais encontra oportunidade

de praticá-lo. Basta estar em contato com outros homens para encontrar oportunidade de fazer o bem, e todos os dias da vida oferecem a possibilidade a todo aquele que não estiver cego pelo egoísmo; porque fazer o bem não é apenas ser caridoso, é ser útil na medida do possível, todas as vezes que vosso auxílio puder ser necessário.”

2. Quem são os “maus” esPíritos Que nos infLuenCiam?

Recordando as diferentes ordens dos espíritos:Os espíritos nos trouxeram uma classificação geral, baseada no grau de adiantamento em

que se encontram, que nada tem de absoluta, mas que pode nos trazer uma idéia das diferentes posições espirituais, classificadas em três grandes ordens:

Puros Espíritos Bons Espíritos Espíritos Imperfeitos

Busquemos as características dos espíritos imperfeitos que representem a maioria da população de nosso mundo.

Questão 99 Os espíritos da terceira ordem são todos essencialmente maus? “Não, uns não fazem o bem nem o mal; outros, ao contrário, se comprazem no mal e

ficam satisfeitos quando encontram a ocasião de praticá-lo. E, depois, há ainda os espíritos levianos ou travessos, mais perturbadores do que maus, e que se comprazem muito mais na malícia do que na maldade, e que encontram prazer em mistificar e em causar pequenas contrariedades, de que se riem.”

Page 39: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

39

23o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

As qualidades deste 2o grupo que, segundo as características de nosso mundo, é a classe dominante, variam e se misturam, embora estejam separadas para efeito de estudo. Selecionamos algumas para nossa reflexão:

2.1 – Espíritos ImpurosSão inclinados ao mal, de que fazem o objeto de suas preocupações.Entendemos que ser inclinado ao mal significa ter ações sistemáticas contrárias à lei de

Deus, lei de amor expressa em atitudes de perdão, misericórdia, fraternidade, etc.

Como espíritos:Dão conselhos pérfidos, sopram a discórdia e a desconfiança e se mascaram de todas as

maneiras para melhor enganar. Ligam-se aos homens de caráter bastante fraco para cederem às suas sugestões, a fim de induzi-los à perdição. Satisfazem-se quando conseguem retardar-lhes o adiantamento, fazendo-os sucumbir nas provas por que passam.

Quando encarnados: Se mostram propensos a todos os vícios geradores das paixões vis e degradantes: a

sensualidade, a crueldade, a felonia, a hipocrisia, a cupidez, a avareza sórdida. fazem o mal por prazer, as mais das vezes sem motivo, e, por ódio ao bem, quase sempre escolhem suas vítimas entre as pessoas honestas. São flagelos para a Humanidade, pouco importando a categoria social a que pertençam, o verniz da civilização não os forra ao opróbrio e à ignomínia.

2.2 – Espíritos LevianosSão ignorantes, maliciosos, irrefletidos e zombeteiros. Metem-se em tudo, tudo respondem, sem se incomodarem com a verdade. Gostam

de causar pequenos desgostos e ligeiras alegrias, de intrigar, de induzir maldosamente ao erro, por meio de mistificações e de espertezas.

Aproveitam-se das esquisitices e dos ridículos humanos e os apreciam, mordazes e satíricos.

Se tomam nomes supostos, é mais por malícia do que por maldade.

2.3 – Espíritos Pseudo-sábiosDispõem de conhecimentos bastante amplos, porém, crêem saber mais do que realmente

sabem. Mantêm preconceitos e idéias sistemáticas que nutriam na vida terrena Presunção, orgulho, ciúme e obstinação são características de que ainda não puderam

despir-se.

2.4 – Espíritos Neutros Nem bastante bons para fazerem o bem, nem bastante maus para fazerem o mal. Pendem

tanto para um como para o outro. Não ultrapassam a condição comum da Humanidade, quer no que concerne ao moral,

quer no que diz respeito à inteligência. Apegam-se às coisas deste mundo, de cujas grosseiras alegrias sentem saudades.

Page 40: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

40

Centro Espírita Léon Denis

Podemos concluir, desta forma, que, se ainda não praticamos o bem em todas as suas expressões, por estarmos ainda construindo em nós as perfeições que trazemos por herança divina, muitas de nossas ações podem ser caracterizadas como um mal, visto que “onde não existe o bem, forçosamente existe o mal”.

Na maioria das vezes, quando pensamos em “espírito mau”, nos excluímos dessa classificação, pois concluímos que maus são os outros, e que essa posição já não é a nossa. Afinal, já não nos comprazemos com o mal ou o praticamos deliberadamente. No entanto, tem sido uma dificuldade para sairmos da condição comum da Humanidade, da condição de neutralidade, quando, nem sempre, por motivos vários, agimos buscando o bem acima de nossos interesses pessoais. É importante que nos conscientizemos de nossa realidade espiritual e que trabalhemos essa grande dificuldade que é a nossa omissão, a nossa indiferença.

“Cada época é marcada pela virtude ou pelo vício que deverão salvá-la ou perdê-la. A virtude da vossa geração é a atividade intelectual; seu vício é a indiferença moral.”

(Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. IX, item 8.)

3. as Gradações de ProGresso (moraL)

Segundo o ensino dos espíritos, o progresso é lei da Natureza e se realiza lenta e gradualmente, tanto no que se refere ao aprendizado intelectual como ao moral (regra do bem proceder). No entanto, é o progresso intelectual que acelera as conquistas morais.

Questão 780aComo pode o progresso intelectual engendrar o progresso moral?“Fazendo compreensíveis o bem e o mal. O homem, desde então, pode escolher.

O desenvolvimento do livre-arbítrio acompanha o da inteligência e aumenta a responsabilidade dos atos.”

“(...)a pessoa que não concebe o mau pensamento já progrediu; aquela a quem vem esse pensamento, mas que o repele, está próxima de alcançar o progresso e, finalmente, aquela que tem esse pensamento, e nele se satisfaz, ainda está sob toda a força do mal. Em uma o trabalho está feito, na outra ele está por fazer. Deus, que é justo, leva em consideração todas essas diferenças ao responsabilizar o homem por seus atos e pensamentos.”

(Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. VIII, item 7.)

Page 41: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

41

23o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

4. a VioLênCia da indiferença

Trechos do livro Devassando o Invisível, cap. X:

“(...) levando-nos em espírito, ao mundo invisível situado nas camadas terrenas, e autorizando nossas observações em torno de impressionantes aspectos da existência extraterrena e seus reflexos nas ações cotidianas dos homens comuns, ou na massa popular.”

As observações se referem a um grupo de espíritos desencarnados reunidos em uma taberna aos quais são atribuídas algumas ações que têm repercussão sobre os encarnados, influenciados por seus pensamentos, muitas vezes dirigidos por suas vontades.

O que provocam?

“Escândalos, confusões domésticas, assaltos, etc. É a atmosfera em que vivem e se agitam, porque já eram afins com ela antes de passarem para a vida invisível. É o que constantemente inspiram, sugerem e incitam, encontrando no homem um colaborador passivo, que facilmente se deixa dominar por suas terríveis seduções. A infelicidade alheia é o seu espetáculo preferido. Provocam mil distúrbios na sociedade e nos lares.”

Mais uma vez, chamamos atenção para suas ações, que se limitam a inspirar, sugerir, incitar...

Por quê?

“(...) pois se divertem com a prática de malefícios. Não entendem a sublime significação dos vocábulos �� amor, caridade, piedade, fraternidade, honestidade! Não crêem em Deus nem têm religião. Odeiam o bem e o belo com todas as forças vibratórias que possuem. Odeiam os homens e os seguem, sorrateira e covardemente, porque odiavam a própria sociedade, antes de morrerem, sabendo que não serão vistos nem pressentidos. E a perseguição mental que lhes movem, aos homens, é inveterada e implacável, afirmando eles que assim agem porque igualmente foram perseguidos, quando homens, pela sociedade, que nunca os protegeu contra os males com que tiveram de lutar: doenças, miséria, fome, falta de instrução, orfandade, desemprego, delinqüência, desesperos de mil e uma naturezas. E muitos destes foram, com efeito, delinqüentes que a sociedade perseguiu e levou ao desespero, em vez de ajudá-los a se reeducarem para Deus... O resultado de tal incúria por parte dos homens aí está: uma vez desaparecidos da vida objetiva, pela chamada morte, infestam, como espíritos, a sociedade, e prejudicam-na, acobertados pelo segredo da morte.”

Page 42: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

42

Centro Espírita Léon Denis

Este relato encontra perfeita concordância com a questão abaixo:

Questão 465 Com que objetivo os espíritos imperfeitos nos impulsionam para o mal? “Para vos fazer sofrer como eles.” a) Isso diminui os seus sofrimentos? “Não, mas eles o fazem por inveja de ver seres mais felizes.”

O nosso sentimento:

“Inquieta, ousamos perguntar ao paciente mentor, malgrado o respeito que nos inspirava: �� Mas, como poderão persistir em tal procedimento contra os homens? Não existirá, no Além-túmulo, uma lei que os impeça de tais monstruosidades contra pessoas que, além do mais, ignoram encontrar-se sob suas influências?”

Este tem sido o sentimento de muitos de nós, sentindo-nos vítimas destes irmãos desencarnados, assim que tomamos consciência da ação de suas vontades influenciando nossos pensamentos pela sugestão, quase perseguição mental, que movem aos encarnados.

Por que Deus permite?

“�� Minha querida irmã! �� explicou, veemente �� será oportuno considerar que, da mesma forma, monstruosidade será a sociedade deixar um órfão, ou um filho de pais miseráveis ou delinqüentes, criar-se ao abandono, pelas ruas... E a sociedade o faz, agora, e o fez com estes mesmos que estás vendo aqui... Monstruosidade será também omitir providência humanitária para que o jovem abandonado, ou o pobre, se instrua, eduque e habilite de modo a furtar-se à humilhação da ignorância, prendando-se na escola do dever e da honestidade. No entanto, estes que aqui vemos foram banidos pela sociedade, que lhes não facilitou escola, nem educação, nem exemplos bons, senão a dureza de coração com que os tratou... Não se instruíram porque não tiveram meios de remunerar professores, e as escolas públicas nem sempre são acessíveis aos deserdados, como estes foram... Não puderam educar-se porque o lar é que modela os caracteres, e eles, desde a infância, viveram perambulando pelas ruas... Tal como os vemos, são ainda frutos da sociedade... Sua impiedade foi libada na impiedade que receberam... Tornaram-se criminosos inveterados, na Terra e no além. Porque foram vítimas do crime do egoísmo da sociedade... Portanto, pertencem à sociedade terrena, esta é afim com eles e eles vivem nos ambientes que lhes convêm(...)”

Page 43: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

43

23o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

Questão 466 Por que Deus permite que espíritos nos excitem ao mal? “Os espíritos imperfeitos são os instrumentos destinados a experimentar a fé e a

constância dos homens no bem. Tu, como espírito, deves progredir na ciência do infinito, é por isso que passas pelas provas do mal para chegares ao bem. Nossa missão é de te colocar no bom caminho, e quando más influências agem sobre ti, é que tu as atrais pelo desejo do mal, quando tens a vontade de cometê-lo; eles só podem te auxiliar no mal, quando desejas o mal. Pois bem! Se fores inclinado ao assassínio, terás uma nuvem de espíritos que manterão esse pensamento em ti; mas terás também outros que tentarão te influenciar no bem, o que faz com que a balança se reequilibre e te deixe senhor dos teus atos.”

É possivel mudarmos este cenário?

“�� É, pois, irremediável esse mal social? �� No presente caso, cumprirá ao homem, para evitar o distúrbio de tais influências, habilitar-se para a harmonização com a luz, ou seja, com o bem. Para isso, ele possui a consciência, além de uma experiência secular, senão milenar, das gerações que o antecederam, e cujo patrimônio de moral e sabedoria ele herdou, para sua orientação. Será necessário que o homem compreenda que, como parcela divina que é, veio ao mundo também para colaborar na obra de aperfeiçoamento do planeta em que vive, e essa colaboração certamente subentenderá auxílio às almas mais frágeis do que a dele,entenderá auxílio às almas mais frágeis do que a dele, que gravitam ao seu lado nas peripécias da evolução. Mas, se ele prefere permanecer nas trevas do próprio egoísmo, permitindo livre curso aos instintos inferiores, negando-se a reagir contra as próprias tendências más, será envolvido pelas trevas, pois se homiziou com elas...No homem honesto, sensato, prudente, sóbrio, amigo do bem, dificilmente, ou jamais, um assédio deste encontrará repercussão... Esqueceste que isso tem livre curso no grau de afinidades e também na invigilância, na imprudência, na inadvertência de cada um? Raciocinemos, porém: é claro que nenhum homem quererá ser atropelado e fraturar uma perna ou um braço e ir para o hospital. É verdade que tanto o honesto como o indiscreto poderão ser atropelados e passar maus quartos de horas devido ao fato. Mas ambos, com a própria invigilância, com a imprudência, irreflexão e a displicência com que se habituaram a encarar as coisas do mundo, deixaram-se envolver pelas faixas maledicentes daqueles invisíveis, que vibram maliciosamente, divertindo-se com o sofrimento do próximo, e se arriscaram à travessia de uma rua em local e momento impróprios, atreveram-se a uma discussão, detiveram-se mais do que conviria em qualquer bar ou taverna, tornando-se, então, passivos aos desejos dos citados invisíveis ... E daí por diante(...)”

Questão 467Podemos nos libertar da influência dos espíritos que nos induzem ao mal? “Sim, pois eles só se apegam àqueles que os chamam através dos seus desejos e os

atraem pelos seus pensamentos.”

Page 44: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

44

Centro Espírita Léon Denis

Por que somos influenciados ao mal?

Porque ainda trazemos na intimidade de nossa alma as matrizes de sentimentos que nos levam a agir contrariamente à lei de Deus.

Que sentimentos são estes?

Egoísmo que nos leva a pensar em atender prioritariamente as nossas necessidade e às daqueles que amamos, criando compulsão de controlar a vida alheia.

Importância da personalidade, quando decidimos por nossos prazeres em detrimento daquilo que já entendemos ser de justiça.

Crítica sistemática, vigiando e espreitando os problemas alheios, julgando os outros a partir de nós mesmos.

Irresponsabilidade, criando álibis para nossos equívocos, culpando os outros naquilo que nos compete.

Ilusão, criando um mundo fantasioso e infantil a nossa volta. Mágoa por expectativas que não se realizam. Depressão quando não aprendemos a lidar com nossas emoções. Inveja, rigidez, ansiedade, etc.

“Através dos ciclos do tempo, todos se aperfeiçoam e se elevam; os criminosos do passado virão a ser os sábios do futuro. Chegará a hora em que os nossos defeitos serão eliminados, em que nossos vícios e nossas chagas morais serão curadas. As almas frívolas tornar-se-ão sisudas, as inteligências obscuras iluminar-se-ão. Todas as forças do mal que em nós vibram ter-se-ão transformado em forças do bem. Do ser fraco, indiferente, fechado a todos os grandes pensamentos, sairá, com o perpassar dos tempos, um espírito poderoso, que reunirá todos os conhecimentos, todas as virtudes, e se tornará capaz de realizar as coisas mais sublimes.”

(Léon Denis, O Problema do Ser, do Destino e da Dor, cap. XVIII.)

5. ConCLusão Desta forma, concluímos que: A influência espiritual é de acordo com as leis de Deus. A influência se realiza apoiada nas leis de sintonia. O intercâmbio do pensamento é movimento livre no Universo. Se somos passíveis de sermos influenciados, podemos também influenciar com

nossos pensamentos e atos.

Que pensamentos e atitudes podem, hoje, influenciar na sociedade, criando uma nova forma de proteção e uma nova referência de postura?

Page 45: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

45

23o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

Observamos que nós, como sociedade, temos ainda priorizado as atitudes em que refor-çamos o sentimento de revolta, solidão, abandono e exclusão em muitos de nossos irmãos.

Nos refugiamos muitas vezes nas desculpas milenares de nossa imperfeição para nos permitir, ainda, viver voltados para o atendimento de nossos desejos, no círculo pequeno de nossas relações familiares e sociais, sem percebermos(ou buscando ignorar) que estamos todos interligados uns aos outros(encarnados e desencarnados), influenciando e sendo influenciados, formando uma grande rede de afinidades e necessidades.

Temos buscado segurança criando cada vez mais guetos, gradeando o espaço em que vivemos, nos escondendo atrás de vidros pretos, quando a nossa segurança real se encontra em nossos pensamentos, atitudes e ações, buscando atender a todos que conosco caminham nesta grande aventura da vida.

Criemos um olhar diferente para a vida, para o mundo, para nós e para todos que conosco caminham.

Um novo olhar para as dores que nos alcançam, porque em cada uma se apresenta a possibilidade de libertação e construção, um novo olhar para as alegrias, sempre bem-vindas e esperadas, mas que sejam serenas e sólidas.

Busquemos o olhar de Jesus que acreditou em nós e que nos via como potências divinas: “Vós sois Deuses”.

Este novo olhar pode construir em torno de nós mais segurança, alegria, serenidade, esperança.

“A hora presente é ainda uma hora de lutas; luta das nações para a conquista do Globo, luta das classes para a conquista do bem-estar e do poder. Em redor de nós agitam-se forças cegas e profundas, forças que, ontem, não se conheciam e que, hoje, se organizam e entram em ação. uma sociedade agoniza; outra nasce. O ideal do passado vem à Terra. Qual será o de amanhã?”

(Léon Denis, O Problema do Ser, do Destino e da Dor, cap. XVIII.)

SERÁ AQUELE QUE CONSTRUIRMOS COM NOSSAS AÇÕES.

Page 46: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para
Page 47: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

47

TEMA 5: O DOMÍNIO DO PENSAMENTO E DA VONTADE (a sintonia Com o mundo esPirituaL suPerior)

Após estudarmos sobre a influência dos espíritos em nossas vidas, cabe-nos agora buscar identificar como podemos manter uma sintonia mais permanente com o mundo espiritual superior, ou seja, com nossos guias, protetores e amigos espirituais.

Como vimos até aqui, precisamos educar nossos pensamentos, sentimentos e ações, se não quisermos ficar a mercê da influência espiritual inferior e de nós mesmos.

Vamos meditar, conjuntamente, sobre as questões a seguir: Temos buscado, em nosso cotidiano, a ajuda dos amigos espirituais ante as situações

difíceis de nossas vidas? Por que meios buscamos a ajuda dos amigos espirituais? Que medidas práticas adotamos, em nosso dia-a-dia, para mantermos um padrão

mental-espiritual elevado? O que temos feito, cotidianamente, que pode atrapalhar nosso contato mais próximo

com a espiritualidade superior? Temos tido a preocupação em manter um padrão mental-espiritual mais elevado,

visando um intercâmbio mais próximo com os amigos espirituais?

Inicialmente, vamos retornar à nota de Kardec para a questão 964:

“‘Um pai deu a seu filho educação e instrução, isto é, os meios de saber se conduzir. Cede-lhe um campo para cultivar e lhe diz: Eis a regra a seguir e todos os instrumentos necessários para tornar este campo fértil e assegurar a tua existência. Dei-te a instrução para compreenderes esta regra; se a seguires, teu campo produzira muito e te proporcionará o repouso na velhice; do contrário, nada produzirá e morrerás de fome. Dito isso, ele o deixa agir livremente.’ Continuação >

Page 48: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

48

Centro Espírita Léon Denis

Não é verdade que o campo produzirá proporcionalmente aos cuidados dispensados ao cultivo, e que qualquer negligência prejudicará a colheita? Portanto, o filho será, na sua velhice, feliz ou desgraçado, conforme tiver seguido ou negligenciado a regra traçada por seu pai. Deus é, ainda, mais previdente, pois nos adverte, a cada instante, se estamos fazendo o bem ou o mal: ele nos envia os espíritos para nos inspirar, mas não os escutamos. Há ainda esta diferença: Deus sempre concede ao homem um recurso nas suas novas existências para reparar os seus erros passados, enquanto que o filho de quem falamos, se empregar mal o seu tempo, nada mais lhe restará.”

Vamos nos deter, por um momento, na reflexão do trecho grifado na mensagem:

“[Deus] nos envia os espíritos para nos inspirar não os escutamos (...)”

No trabalho espiritual, em nosso trabalho profissional, em nossa casa, nos hospitais, na via pública, etc. há falanges de espíritos empenhados no bem que podem nos ajudar na execução de alguma tarefa, ou mesmo, podem se servir de nós, da nossa boa vontade e boa intenção para a prestação de algum auxílio.

O ponto central deste estudo é buscarmos formas de, em nosso cotidiano, ampliar as chances e possibilidades de sermos influenciados pelos bons espíritos, modificando, de forma consciente, nossa maneira de proceder.

Primeiramente vamos identificar que, entre os “bons espíritos” com quem podemos nos sintonizar, há um em especial com o qual podemos e devemos estabelecer uma estreita relação:

“Há um irmão espiritual (bom gênio), pertencente a uma ordem espiritual mais elevada, (Questão 490) que se liga, particularmente, a cada indivíduo para protegê-lo (Questão 489), desde o nascimento até a morte e, muitas vezes, durante muitas vidas”. (Questão 492)

A este amigo espiritual cabe:

“A missão do espírito protetor é a de um pai com relação aos filhos; a de guiar o seu protegido pela senda do bem, auxiliá-lo com seus conselhos, consolá-lo nas suas aflições, levantar-lhe o ânimo nas provas da vida (Questão 491), auxiliá-lo a vencer suas paixões (Questão 910) e a nos livrar dos maus espíritos.” (Questão 495).

Page 49: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

49

23o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

Porque Kardec afirma que não conseguimos “escutar” nossos amigos espirituais? E nos perguntamos: por que não conseguimos “escutar” nem mesmo nosso guia espiritual?

Questão 495 [O espírito protetor] “Ele se afasta quando vê que seus conselhos são inúteis, e que a

vontade de submeter-se à influência dos espíritos inferiores é mais forte; mas não o abandona completamente e sempre se faz ouvir; é, então, o homem quem tapa os ouvidos. Ele retorna, desde que o chame.”

Assim, ao optarmos por seguir a influência dos espíritos inferiores, “tapando os nossos ouvidos” à ação dos amigos espirituais, estamos perdendo a oportunidade de sermos:

Guiados pela senda do bem. Auxiliados com os conselhos dos espíritos superiores. Consolados nas nossas aflições. Animados nas provas da vida. Auxiliados a vencer nossas paixões. Afastados dos maus espíritos.

Se sabemos que Deus nos envia os bons espíritos e que, na companhia deles, temos todas as bençãos acima descritas, então nos perguntamos: o que podemos fazer para nos aproximarmos espiritualmente deles?

A mensagem contida em O Evangelho Segundo o Espiritismo sobre o homem no mundo (cap. XVII, item 10). dá-nos um roteiro a ser seguido. Nesta mensagem encontramos recomen-dações a respeito do que irá facilitar a aproximação com os bons espíritos e o que não surte efeito para este fim.

Primeiramente, vejamos o que os espíritos afirmam ser desnecessário para a comunhão com o Alto:

Para vivermos em contato mais próximo com os amigos espirituais, não é preciso:

Viver uma vida mística, que vos conserve fora das leis da sociedade onde estais condenados a viver:

Questão 767O isolamento absoluto é contrário à lei da Natureza? “Sim, visto que os homens buscam a sociedade através do instinto e que todos devem

concorrer para o progresso, auxiliando-se mutuamente.”

Page 50: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

50

Centro Espírita Léon Denis

Chocar aqueles com quem estivermos:

“Sede, portanto, rigorosos convosco e indulgentes com os outros. Pensai naquele que julga em última instância, que conhece os pensamentos secretos de cada coração e, em conseqüência, freqüentemente perdoa as faltas que censurais, ou condena as que desculpais, porque ele sabe o que motiva todos os vossos atos. Pensai também que vós, que gritais: ‘maldito!’ talvez tenhais cometido faltas mais graves.” (Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. X, item 16.)

Assumir severo e lúgubre aspecto:

Embora não tenhamos encontrado nenhum ensino dos espíritos versando a este respeito, a própria mensagem de O Evangelho Segundo o Espiritismo a que estamos nos reportando, afirma: “Sede joviais, sede ditosos!”. Portanto, a alegria, a jovialidade não são contrários à seriedade com que lidamos com as experiências de nossas vidas.

Repelir os prazeres que as nossas condições humanas permitem:

Nota de Kardec, questão 712a“Se o homem só fosse instigado a usar os bens da Terra tendo em vista a utilidade, sua

indiferença talvez pudesse comprometer a harmonia do Universo: Deus lhe deu o atrativo do prazer que o impele ao cumprimento dos desígnios da providência. Mas, através desse mesmo atrativo, Deus quis, além disso, experimentá-lo por meio da tentação que o arrasta para o abuso, do qual a sua razão deve defendê-lo.”

Nos ciliciarmos e cobrirmo-nos de cinzas:

“Não debiliteis o vosso corpo com privações inúteis e mortificações sem objetivo, porque tendes necessidade de todas as vossas forças para realizar a vossa missão de trabalho na Terra. Torturar e martirizar voluntariamente vosso corpo é transgredir a lei de Deus, que vos dá os meios de sustentá-lo e fortificá-lo.” (Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. V, item 26.)

Todos os aspectos acima tratados são comportamentos exteriores, que não nos modificam internamente e, por isso, não são capazes de facilitar a comunicação com os amigos espirituais.

Se já sabemos o que não apresenta nenhuma utilidade quando pensamos na nossa ligação com o plano espiritual superior, vejamos quais as recomendações dos espíritos para que esta ligação seja efetiva e constante. Para isso, além de nos basearmos na mensagem “Homem no Mundo” (O Evangelho Segundo o Espiritismo) acima citada, recorremos também a diversos trechos de mensagens contidas no livro O Problema do Ser, do Destino e da Dor, de Léon Denis.

Subdividimos as instruções dos espíritos a este respeito em itens. Vejamos cada um particularmente.

Page 51: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

51

23o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

O ponto de partida da nossa reflexão encontra-se na mensagem a seguir, que tomaremos como fio condutor para os demais itens:

eLeVar o esPírito àQueLe a Quem Chamamos

“Elevai o vosso espírito até aqueles a quem chamais, a fim de que, encontrando em vós as disposições necessárias, eles possam lançar em profusão as sementes que devem germinar nos vossos corações e neles produzir os frutos da caridade e da justiça.” (Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 10.)

Ou ainda com Léon Denis:

“Em vez de convidar por meio da evocação os espíritos celestes a descerem para nós, aprenderemos assim a desprender-nos e subir para eles.” (Léon Denis. O Problema do Ser, do Destino e da Dor, cap. XXI.)

“Não basta crer e saber, é necessário viver nossa crença, isto é, fazer penetrar na prática diária da vida os princípios superiores que adotamos; é necessário habituarmo-nos a comungar pelo pensamento e pelo coração com os espíritos eminentes que foram os reveladores, com todas as almas de escol que serviram de guias à Humanidade, viver com eles numa intimidade cotidiana, inspirar-nos em suas vistas e sentir sua influência pela percepção íntima que nossas relações com o mundo invisível desenvolvem.” (Léon Denis. O Problema do Ser, do Destino e da Dor, cap. XXIV.)

Tanto no Evangelho quanto nas palavras de Léon Denis somos convocados a elevar nosso padrão vibratório-espiritual para estarmos na sintonia dos amigos espirituais. Quando conseguimos, em momentos esporádicos (como no trabalho espiritual), a comunicação entre os dois planos torna-se facilitada.

Portanto, a proposta é que façamos com que esta aproximação deixe de ser esporádica e passe a ser cada vez mais regular. Este esforço se traduz na nossa busca de “nos tornarmos um deles”, ou seja, passarmos a adotar um conjunto de hábitos, comportamentos superiores, desde agora. A proposta é a de que possamos incorporar “na prática diária da vida os princípios superiores que adotamos”.

Este chamamento que recebemos já foi realizado pelo Cristo, quando nos disse:

“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.” (Mt, XI: 28.).

Page 52: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

52

Centro Espírita Léon Denis

Para recebermos a influência dos amigos espirituais é preciso nos aproximarmos vibratoriamente deles. A aproximação vibratória significa a nossa espiritualização, ou seja, tornarmos mais delicados os nossos sentidos espirituais. Como podemos operar esta “espiritualização” em nossas vidas? Quais são “as necessárias disposições” que os espíritos precisam encontrar em nós?

É isto que veremos nos próximos itens.

1. disCiPLinamento das emoções, sentidos e sensações

“Tudo o que perderdes em sensações de ordem inferior, ganhá-lo-eis em percepções supraterrestres, em equilíbrio mental e moral, em alegrias do espírito. Vosso sentido íntimo adquirirá uma delicadeza, uma acuidade extraordinária; chegareis a comunicar um dia com as mais altas esferas espirituais.” (Léon Denis. O Problema do Ser, do Destino e da Dor, cap. XXI.)

Ou ainda:

“As preocupações de ordem material criam correntes vibratórias horizontais, que põem obstáculos às radiações etéreas e restringem nossas percepções.” (Léon Denis. O Problema do Ser, do Destino e da Dor, cap. XXI.)

Assim também,

“A palavra é brilhante, mas degenera demasiadas vezes em conversas estéreis, às vezes maléficas; com isso, o pensamento se enfraquece e a alma esvazia-se.” (Léon Denis. O Problema do Ser, do Destino e da Dor, cap. XXIV.)

E, portanto:

“Não há progresso possível sem observação atenta de nós mesmos. É necessário vigiar todos os nossos atos impulsivos para chegarmos a saber em que sentido devemos dirigir nossos esforços para nos aperfeiçoarmos. Primeiramente, regular a vida física, reduzir as exigências materiais ao necessário, a fim de garantir a saúde do corpo, instrumento indispensável para o desempenho de nosso papel terrestre. Depois disciplinar as impressões, as emoções, exercitando-nos em dominá-las, em utilizá-las como agentes de nosso aperfeiçoamento moral; aprender principalmente a esquecer, a fazer o sacrifício do “eu”, a desprender-nos de todo o sentimento de egoísmo. A verdadeira felicidade neste mundo está na proporção do esquecimento próprio.” (Léon Denis. O Problema do Ser, do Destino e da Dor, cap. XXIV.)

Se a proposta que temos é de espiritualização, então tudo o que acarreta na prevalência da matéria sobre o espírito deriva em uma perda de sensibilidade para captarmos as vibrações superiores. As sensações inferiores, as preocupações puramente materiais, o falatório, os excessos de toda sorte, tudo isso são elos fortes que criamos com a vida material.

Page 53: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

53

23o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

O propósito não é deixarmos de viver a vida material, como foi visto anteriormente. No entanto, precisamos disciplinar nosso mundo íntimo a favor de nós mesmos e dominar os atos impulsivos utilizando nossas impressões, sentimentos e sensações de modo que elas sejam “agentes de nosso aperfeiçoamento moral”.

No “Móvel das Ações Humanas”, Kardec afirma em nota:

Nota de Kardec, questão 872. “Cabe à educação combater essas más tendências.”

A educação que vai combater nossas más tendências pode ser tanto aquela que recebemos quando estávamos no período da infância (e que devemos dar aos nossos filhos), quanto o auto-disciplinamento que realizamos sobre nós mesmos.

Estamos dispostos a nos disciplinar? Estamos devidamente conscientes e seguros da necessidade e dos benefícios que este

autodisciplinamento pode nos proporcionar? Somos capazes de compreender que sem esta educação não conseguiremos vencer

a nós mesmos?

2. Piedade

Um dos elementos importantes para conseguirmos nos aproximar, em nosso cotidiano, da influência dos amigos espirituais, é agir com piedade e pureza de coração.

Afirmam os espíritos:

“Um sentimento de piedade deve sempre animar o coração daqueles que se reúnem sob os olhos do Senhor e imploram a assistência dos bons espíritos.” (Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 10.)

Mas o que vem a ser piedade?

Etimologia (segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa)Do latim piètas,Átis, ou seja, cumprimento do dever, virtude, justiça, fidelidade;

piedade (para com os deuses e familiares), culto, devoção. O seu significado traz duas acepções: 1 - devoção, amor pelas coisas religiosas; religiosidade; 1.1 -virtude que permite render a Deus o culto que lhe é devido; 2 - compaixão pelo sofrimento alheio; comiseração, dó, misericórdia.E tem como sinônimos: beneficência e comiseração.

Page 54: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

54

Centro Espírita Léon Denis

Portanto, o sentimento de piedade a que o espírito protetor refere-se tanto ao amor a Deus (devoção) quanto ao amor aos homens (piedade filial – amor aos pais), expresso na compaixão (bom samaritano), na comiseração e na misericórdia.

De acordo com O Evangelho Segundo o Espiritismo, “a piedade é a virtude que mais nos aproxima dos anjos”, pois ela consiste no enternecimento ante o espetáculo das misérias e dos sofrimentos dos nossos semelhantes, no devotamento, no esquecimento de si mesmo, na abnegação aos desgraçados... Portanto, a piedade é o “amor ao próximo” de que falava Jesus.

Piedade

A piedade é a virtude que mais vos aproxima de Deus; é a irmã da caridade que vos conduz a Deus. Ah! Deixai que o vosso coração se enterneça diante das misérias e dos sofrimentos dos vossos semelhantes. Vossas lágrimas são uma bálsamo que deixais cair sobre as suas feridas; e quando conseguis, por intermédio de uma doce simpatia, restituir-lhes a esperança e a resignação, que bem-estar experimentais! É verdade que esse bem-estar tem uma certa amargura, porque nasceu ao lado do infortúnio, mas se ele não tem a ilusão dos gozos mundanos, também não possui as dolorosas decepções do vazio que estes deixam atrás de si, ele tem uma suavidade penetrante que é agradável à alma.

A piedade, uma piedade bem sentida, vem do amor; o amor é devotamento; o devotamento é o esquecimento de si mesmo, e este esquecimento, esta abnegação em favor dos infelizes, é a virtude por excelência, aquela que o divino Mestre praticou em toda a sua vida e ensinou na sua doutrina tão santa e tão sublime. Quando essa doutrina voltar à sua pureza primitiva, quando for admitida por todos os povos, dará a felicidade para a Terra, e nela fará reinar, finalmente, a concórdia, a paz e o amor.

O sentimento mais próprio para vos fazer progredir, domando o vosso egoísmo e o vosso orgulho, aquele que dispõe vossa alma à humildade, à beneficência e ao amor do vosso próximo, é a piedade, essa piedade que vos comove até o mais íntimo do vosso ser, diante dos sofrimentos dos vossos irmãos; que vos faz estender-lhes a mão caridosa e vos arranca lágrimas de simpatia. Jamais sufoqueis, em vossos corações, essa emoção celeste; não façais como esses egoístas endurecidos que se afastam dos aflitos, porque a visão da sua miséria turvaria por um instante a sua feliz existência. Receai ficar indiferentes, quando puderdes ser úteis. A tranqüilidade adquirida ao preço de uma indiferença culposa é semelhantes à tranqüilidade do Mar Morto, que esconde no fundo das suas águas o lodo fétido e a corrupção.

Quanto, no entanto, a piedade está longe de causar a perturbação e o aborrecimento que apavoram o egoísta! Certamente, a alma experimenta, ao contato com a desgraça de outra pessoa, e fazendo um retorno sobre si mesma, um sobressalto natural e profundo, que faz vibrar todo o vosso ser e vos atinge penosamente. Mas a recompensa é grande, quando conseguis dar coragem e esperança a um irmão infeliz, que se enternece ao contato de uma mão fraterna, e cujo olhar, úmido, ao mesmo tempo, de emoção e de reconhecimento, volta-se docemente para vós, antes de se fixar no céu e agradecer por lhe ter enviado um consolador, um apoio. A piedade é a melancólica, porém celeste precursora da caridade, a primeira das virtudes, da qual ela é a irmã, e cujos benefícios prepara e enobrece.

(Miguel. Bordeaux, 1862. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XIII, item 17.)

Page 55: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

55

23o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

Assim, mais importante do que qualquer ato exterior que tivermos, é a preocupação com o outro, com as dificuldades alheias, o interesse pelos problemas daqueles que nos cercam, o grande elo de ligação entre nós e os amigos espirituais.

“E, respondendo, o Rei lhes dirá: ‘Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, foi a mim mesmo que o fizestes’.” (Mt, XXV: 40.)

Temos sido piedosos?

3. Pureza de Coração

Outro ponto importante é a pureza de coração:

“Purificai, pois, os vossos corações; não consintais que neles demore qualquer pensamento mundano ou fútil.” (Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 10.)

“Não; vivei com os homens da vossa época, como devem viver os homens. Sacrificai às necessidades, mesmo às frivolidades do dia, mas sacrificai com um sentimento de pureza que as possa santificar. “(Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 10.)

Jesus nos disse: “Bem-aventurados os que têm puro o coração, porque verão a Deus.” (Mt, V: 8.)

A idéia da pureza envolve aquilo que não tem mistura nem impurezas; que não têm maldade nem malícia; é o estado do que não tem pecados; portanto, qualidade de quem age corretamente, de quem não se deixa corromper; retidão, integridade, decência.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo (cap. VIII, item 6), encontramos: “os que têm puro o coração nem sequer pensam no mal”.

Além do estado de devoção a Deus e de compaixão pelo próximo, para que consigamos manter uma ligação com os bons amigos espirituais, precisamos purificar o nosso coração, não mantendo nenhum pensamento condizente com o mal, assim como não devemos nos deixar levar pela malícia, pelas coisas mundanas e fúteis.

Sobre este tema, afirma Léon Denis:

“Quanto mais puros e desinteressados são os pensamentos e os atos, numa palavra, quanto mais intensa é a vida espiritual e quanto mais ela predomina sobre a vida física, tanto mais se desenvolvem os sentidos interiores.”

Continuação >

Page 56: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

56

Centro Espírita Léon Denis

A partir do desenvolvimento dos “sentidos interiores”:

“(...) mais apta [se torna a alma] a recolher e a transmitir as revelações, as inspirações dos seres superiores, porque o desenvolvimento dos sentidos internos coincide, geralmente, com uma extensão das faculdades do espírito, com uma atração mais enérgica das radiações etéreas.” (Léon Denis. O Problema do Ser, do Destino e da Dor, cap. XXI.)

A pureza, o desinteresse, a devoção, o amor a Deus e ao próximo tornam a nossa vida na matéria mais espiritualizada e faz com que se desenvolvam em nós os sentidos interiores. Estas duas condições são a chave para que, sem abrir mão da vida material, possamos cada vez mais ser receptores e transmissores das revelações e inspirações dos seres superiores.

Esse é o meio de criarmos as condições propícias para a influência espiritual superior sobre nós. No trecho a seguir, o espírito protetor mostra que o sentimento de pureza é a base para a ajuda espiritual. Com isso, busca-se contrapor à idéia de que a constante exortação ao alto seria a condição para a ajuda espiritual. Sem que haja piedade e pureza de coração, as exortações se tornam palavras vazias ou letras mortas.

Temos que viver como homens de nossa época, fazendo o que as pessoas usualmente fazem, mas sempre com pureza de coração.

Temos agido com pureza de coração?

4. sermos feLizes

“Sede alegres, sede contentes; mas com a alegria que a consciência limpa proporciona, com a felicidade do herdeiro do céu, contando os dias que o aproximam da sua herança.”

(Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 10.)

Neste trecho encontramos as duas condições de felicidade na Terra, conforme a questão 922 de O Livro dos Espíritos.

Questão 922A felicidade terrestre é relativa à situação de cada um; o que bastaria para a felicidade

de um, constitui a infelicidade do outro. Há, entretanto, uma medida de felicidade comum a todos os homens?

“Com relação à vida material, é a posse do necessário; com relação à vida moral, a consciência tranqüila e a fé no futuro.”

Page 57: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

57

23o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

Portanto, afirmam os espíritos que podemos ser joviais e ditosos e, mais do que isso, que podemos ser felizes, desde agora, se mantivermos nossa consciência tranqüila e a fé no futuro. Estas duas condições são outros dois elementos que nos aproximam dos amigos espirituais.

Para mantermos a nossa consciência limpa ou tranqüila, devemos cumprir nosso dever moral que consiste em:

No cumprimento do dever:

“O dever começa precisamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranqüilidade do vosso próximo, e termina no limite que não desejaríeis ver transposto por ninguém em relação a vós mesmos.” (Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 7.)

Dito de outra forma:

“Sede felizes segundo as necessidades da Humanidade, mas que em vossa felicidade não entre jamais nem um pensamento, nem um ato que possa ofender, ou fazer entristecer a face daqueles que vos amam e dirigem.” (Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 10.)

Quanto a fé no futuro, encontramos em O Livro dos Espíritos a seguinte indicação:

Amadurecimento do conhecimento que já temos sobre a nossa vida espiritual:

Questão 919“Eu sei que muitos dizem que o presente é positivo e o futuro incerto; ora, eis precisa-

mente o pensamento que estamos encarregados de destruir em vós, pois queremos vos fazer compreender este futuro de maneira que não possa deixar dúvida alguma na vossa alma; é por isso que, primeiramente, chamamos a vossa atenção através dos fenômenos capazes de impressionar os vossos sentidos, depois, nós vos demos instruções que cada um de vós está encarregado de difundir. Foi com este objetivo que ditamos O Livro dos Espíritos.”

A certeza da vida espiritual permite que avaliemos as situações do “ponto de vista espiritual”. Este novo parâmetro faz com que pensemos a partir de nossa realidade eterna e não daquilo que é transitório e passageiro (matéria).

“A idéia clara e precisa que se faz da vida futura dá uma fé inabalável no futuro, e essa fé tem conseqüências imensas sobre a moralização dos homens, visto que ela muda completamente o ponto de vista sob o qual eles encaram a vida terrestre. Para aquele que, pelo pensamento, se coloca na vida espiritual, que é indefinida, a vida corporal não é mais que uma passagem, uma curta estada em um país ingrato. As vicissitudes e as atribulações da vida não são mais que incidentes que ele recebe com paciência, porque sabe que são de curta

Continuação >

Page 58: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

58

Centro Espírita Léon Denis

duração e devem ser seguidos por um estado mais feliz; a morte nada tem de assustador; não é mais a porta para o nada, mas a porta da liberdade que abre para o desterrado a entrada de uma morada de felicidade e de paz.

Sabendo que está em lugar temporário e não definitivo, ele aceita as inquietações da vida com mais indiferença, e disso resulta, para ele, uma calma de espírito que lhe suaviza a amargura.” (Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. II, item 5.)

A busca do cumprimento do dever, associado ao “ponto de vista” da vida espiritual são outros dois facilitadores para percebermos de forma mais ostensiva a presença dos amigos espirituais junto a nós.

5. PrátiCa da oração

“Basta atribuir todos os atos da vossa vida ao Criador que vos deu a vida; é suficiente, quando se começa ou se acaba uma obra, elevar o pensamento até o Criador e pedir-lhe, num impulso da alma, a sua proteção para triunfar, ou a sua bênção para a obra terminada. Que tudo aquilo que realizardes seja atribuído à fonte de todas as coisas; que nada seja feito sem que a lembrança de Deus venha purificar e santificar os vossos atos.” (Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 10.)

A prática da oração talvez seja o meio mais utilizado quando se busca estabelecer um intercâmbio com o mundo espiritual superior.

Sabemos que a prece é um ato de adoração e que pode visar o louvor, o pedido ou o agradecimento. Desta forma, aquele que ora aproxima-se de Deus (Questão 659). Na citação acima, nota-se que o que se busca é o reconhecimento de que todas as nossas atividades são oportunidades dadas por Deus para o nosso crescimento espiritual. Por isso, o pedido de ajuda ao início da atividade e o agradecimento ao seu término.

Léon Denis enfatiza a prática da oração explorando-a como um apelo ao Criador:

“É por isso que a prece improvisada, ardente, o impulso da alma para as potências infinitas, tem tanta virtude. Nesse diálogo solene do ser com sua causa, o influxo do Alto invade-nos e desperta sentidos novos. A compreensão, a consciência da vida aumenta e sentimos, melhor do que se pode exprimir, a gravidade e a grandeza da mais humilde das existências. A oração, a comunhão pelo pensamento com o universo espiritual e divino é o esforço da alma para a Beleza e para a Verdade eternas; é a entrada, por um instante, nas esferas da vida real e superior, aquela que não tem termo.” (Léon Denis. O Problema do Ser, do Destino e da Dor, cap. XXIV.)

Page 59: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

59

23o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

A prática regular da oração, qualquer que seja o seu conteúdo ou forma, contando que seja feita com o coração, criam, para aquele que ora, condições mais favoráveis para intercâmbio com os espíritos superiores.

6. eVoCação esPirituaL

Na questão 495, que trata dos espíritos protetores, encontramos a seguinte passagem:

“Ah! Interrogai vossos anjos guardiães; estabelecei entre eles e vós essa terna intimidade que reina entre os melhores amigos. Não penseis em lhes ocultar nada, pois eles tem o olhar de Deus e não podeis enganá-los. Pensai no futuro; procurai progredir nesta vida, vossas provas serão mais curtas, vossas existências mais felizes.”

E ainda,

“Não temais fatigar-nos com vossas perguntas; ao contrário, estejais sempre em relação contato conosco: sereis mais fortes e mais felizes.” (Questão 495)

Para isso:

“Dai-lhe o nome que quiserdes, o de um espírito superior pelo qual tendes simpatia ou veneração; vosso Espírito protetor responderá a esse apelo; pois todos os bons espíritos são irmãos e se assistem mutuamente.” (Questão 504a).

Um ponto decisivo na busca da proteção do mundo maior é a certeza de que estamos amparados. Léon Denis ensina-nos a nos comunicar com nosso guia espiritual. A concentração, o recolhimento, a preocupação com o que há de mais relevante em nossas vidas, a confiança na atuação dos espíritos amigos junto a nós são a chave da comunicação. O resultado de todos estes ingredientes são a pacificação, a calma e o consolo.

“Muitas vezes, dirigiram-se a mim almas humanas aflitas para, do Além, solicitar avisos, conselhos, indicações que não me era possível proporcionar-lhes. Recomendava-lhes, então, a experiência seguinte que, às vezes, dava bom resultado. Concentrai-vos, dizia-lhes eu, em retiro e no silêncio; elevai os pensamentos para Deus; chamai o vosso espírito protetor, o guia tutelar, que Deus nos dá para a viagem da Vida. Interrogai-o sobre as questões que vos preocupam, desde que sejam dignas dele, livres de todo interesse vil; depois, esperai! Escutai em vós mesmos, atentamente, e, ao cabo de um instante, ouvireis nas profundezas de vossa consciência como que um eco enfraquecido de uma voz longínqua ou, antes, percebereis as vibrações de um pensamento misterioso que expulsará vossas dúvidas, dissipará vossas angústias, embalar-vos-á e consolará.”

(Léon Denis. O Problema do Ser, do Destino e da Dor, cap. XXI.)

Page 60: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

60

Centro Espírita Léon Denis

Nossas inquietações podem fazer com que não percebamos a presença dos amigos espirituais junto a nós. Por isso, o espírito Icléia (Capítulo 22 do livro Os Caminhos da Paz.), lembra-nos do “não se perturbe o vosso coração” (Jo, XIV: 1).

Nunca Estamos Sós!

Nem sempre sentirás ao teu lado os amigos que velam por ti.Não sintonizado com eles, por força de tuas inquietações, terás a impressão de que te

encontras abandonado.Movimentar-te-ás, então, como autômato, de um problema para outro, sem soluções

adequadas, sentindo-te inseguro.Todavia, os teus amigos ao teu lado estão, como sempre, tentando ajudar-te.Apenas tuas ondas mentais não se interligam com as deles, como um rádio, cujas

antenas maldispostas não permitem uma transmissão perfeita.Interferências de outras mentes, afinadas com o teu lado inferior, provocarão sempre

essas sensações de abandono, de angústia, de medo.Benfeitores por ti oram. É preciso que ores também.Amigos espirituais estendem-te, pressurosamente, as mãos. É necessário tocá-las,

estendendo as tuas através da prece.Quando, pois, as impressões infelizes te assaltarem a mente e o coração, não as

alimentes, detendo-te nelas, como quem teima em provar um fruto que já se sabe amargo...Recolhe-te em oração. Refugia-te no templo de tua própria consciência, já iluminada

pelo conhecimento da Verdade, e entrega-te a Deus.Ouve, na acústica da alma, a afirmativa do Senhor Jesus:“Não vos deixarei órfãos. (...)” (Jo, XIV: 18).Ele, o nosso Irmão Maior, jamais nos abandonará. Preciso é que não o abandonemos

também! Recolhido em silêncio e prece, logo sentirás a presença de teus Amigos Espirituais,

que te inspirarão soluções, clareando-te a marcha.Uma grande paz te cercará e irá penetrando, devagarinho, todo o teu ser.Asserenado, verás, então, que não é difícil vencer a luta.Acalma-te! E pelos caminhos da serenidade, ouvirás a voz do Mestre, repetindo aos

teus ouvidos, as palavras que sustentaram os discípulos de todos os tempos:“Não se perturbe o vosso coração!” (Jo, XIV: 1).

Assim, a certeza e a confiança da presença dos espíritos amigos junto a nós são pré-condições para que possamos perceber, de forma mais ostensiva, a presença amorosa dos amigos espirituais junto a nós.

Page 61: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

61

23o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

7. meditação

“Falamos incidentemente do método a seguir para o desenvolvimento dos sentidos psíquicos. Consiste em insular-se uma pessoa em certas horas do dia ou da noite, suspender a atividade dos sentidos externos, afastar de si as imagens e ruídos da vida externa, o que é possível fazer mesmo nas condições sociais mais humildes, no meio das ocupações mais vulgares. É necessário, para isso, concentrar-se e, na calma e recolhimento do pensamento fazer um esforço mental para ver e ler no grande livro misterioso o que há em nós. Nesses momentos apartai de vosso espírito tudo o que é passageiro, terrestre, variável.”

“(...)a meditação, a contemplação e o esforço constante para o bem e o belo formam correntes ascensionais, que estabelecem a relação com os planos superiores e facilitam a penetração em nós dos eflúvios divinos.” (Léon Denis. O Problema do Ser, do Destino e da Dor, cap. XXIV.)

“Se meditarmos em assuntos elevados, na sabedoria, no dever, no sacrifício, nosso ser impregna-se, pouco a pouco, das qualidades de nosso pensamento.” (Léon Denis. O Problema do Ser, do Destino e da Dor, cap. XXIV.)

“(...)na meditação o espírito se concentra, volta-se para o lado grave e solene das coisas; a luz do mundo espiritual banha-o com suas ondas.” (Léon Denis. O Problema do Ser, do Destino e da Dor, cap. XXIV.)

“Concentremos, pois, muitas vezes, nossos pensamentos, para dirigi-los, pela vontade, em direção ao ideal sonhado. Meditemos nele todos os dias, à hora certa, de preferência pela manhã, quando tudo está sossegado e repousa ainda em roda de nós, nesse momento a que o poeta chama “a hora divina”, quando a Natureza, fresca e descansada, acorda para as claridades do dia.

Nas horas matinais, a alma, pela oração, e pela meditação, eleva-se com mais fácil impulso até as alturas donde se vê e compreende que tudo �� a vida, os atos, os pensamentos �� está ligado a alguma coisa grande e eterna e que habitamos um mundo em que potências invisíveis vivem e trabalham conosco. Na vida mais simples, na tarefa mais modesta, na existência mais apagada, mostram-se, então, faces profundas, uma reserva de ideal, fontes possíveis de beleza. Cada alma pode criar com seus pensamentos uma atmosfera espiritual tão bela, tão resplandecente, como nas paisagens mais encantadoras; e, na morada mais mesquinha, no mais miserável tugúrio, há frestas para Deus e para o Infinito!” (Léon Denis. O Problema do Ser, do Destino e da Dor, cap. XXIV.)

Page 62: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

62

Centro Espírita Léon Denis

Além da oração e da evocação que podemos fazer aos nossos amigos espirituais, Léon Denis fala-nos também da meditação. Há, entretanto, dois sentidos para este termo:

No primeiro, o autor pretende que nos desliguemos daquilo que é material, transitório e passageiro e pela elevação da mente e pelo esforço da vontade voltarmo-nos para dentro de nós mesmos, buscando identificar aquilo que realmente somos, localizando nossos sentimentos mais íntimos; assim como os assuntos relevantes da vida, ou seja, pensarmos de forma conseqüente sobre as implicações daquilo que nos acontece, sobre nossos atos, sobre as circunstâncias que vivenciamos ou que são vivenciadas em nossa sociedade.

No segundo, Léon Denis nos fala do pensamento voltado para o ideal, daquilo que queremos ser, o que desejamos para nós mesmos.

Esta proposta de Léon Denis aproxima-se muito da resposta de Sto. Agostinho à pergunta 919a.

Questão 919a“Fazei o que eu mesmo fazia quando vivi na Terra: no final do dia, interrogava minha

consciência, repassava o que havia feito e me perguntava se não havia faltado a algum dever; se ninguém tivera que se queixar de mim. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver, em mim, o que precisava ser reformado. Aquele que, todas as noites, relembrasse todas as suas ações do dia e se perguntasse o que fez de bem ou de mal, rogando a Deus e ao seu anjo guardião para esclarecê-lo, adquiriria uma grande força para se aperfeiçoar; pois, crede-me, Deus o assistiria. Perguntai, portanto, a vós mesmos e interrogai-vos sobre o que tendes feito, e com que objetivo tendes agido em tal circunstância; se fizestes alguma coisa que censuraríeis da parte de outrem; se praticastes uma ação que não ousaríeis confessar. Perguntai ainda isto: Se aprouvesse a Deus chamar-me neste momento, teria eu que temer o olhar de alguém, ao retornar ao mundo dos espíritos, onde nada fica oculto? Examinai o que podeis ter praticado contra Deus, depois, contra o vosso próximo, e, finalmente, contra vós mesmos. As respostas serão um repouso para a vossa consciência ou a indicação de um mal que precisa ser curado.”

Nesta passagem, Sto. Agostinho associa a meditação, conforme sugerida por Léon Denis, com a evocação e a prece.

Qual o resultado deste exercício?

“Com este exercício repetido e prolongado, o ser interno acha-se pouco a pouco iluminado, fecundado, regenerado. Esta obra de preparação é longa e difícil, reclama às vezes mais de uma existência. Por isso, nunca é cedo demais para empreendê-la; seus bons efeitos não tardarão a se fazer sentir.” (Léon Denis. O Problema do Ser, do Destino e da Dor, cap. XXI.)

Page 63: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

63

23o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

Ou ainda:

Questão 919a“Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver, em mim, o que precisava ser

reformado.”

8. modeLo e Guia

O último conselho que Léon Denis nos dá é que identifiquemos uma alma, um espírito iluminado, como exemplo e guia de nossas decisões.

“Entre estas grandes almas é bom escolher uma como exemplo, a mais digna de nossa admiração e, em todas as circunstâncias difíceis, em todos os casos em que nossa consciência oscila entre dois partidos a tomar, inquirirmos o que ela teria resolvido e procedermos no mesmo sentido.

Assim, pouco a pouco, iremos construindo, de acordo com esse modelo, um ideal moral que se refletirá em todos os nossos atos. Todo homem, na humilde realidade de cada dia, pode ir modelando uma consciência sublime. A obra é vagarosa e difícil, mas, por isso, são-nos dados os séculos.” (Léon Denis. O Problema do Ser, do Destino e da Dor, cap. XXIV.)

A escolha de um “exemplo” para que tenhamos como guia de nossas ações é uma ferramenta extremamente útil que podemos utilizar a nosso favor. Ao pensarmos na entidade de luz que tomamos por exemplo, imediatamente, nossa mente se sintoniza com os “espíritos do bem” que, observando nossa intenção de agir corretamente, nos trarão bons conselhos.

Que espírito podemos tomar como exemplo para nossas ações?

Incorporando em nosso cotidiano os 8 itens acima estudados, estaremos, progressivamente, ele-vando o nosso espírito àqueles por quem chamamos, aumentando assim as chances de sermos:

Guiados pela senda do bem. Auxiliados com os conselhos dos espíritos superiores. Consolados nas nossas aflições. Animados nas provas da vida. Auxiliados a vencer nossas paixões. Livrados dos maus espíritos.

Além disso, estaremos promovendo, em nós, a nossa espiritualização, ou seja, nosso amadurecimento para vivências cada vez mais centradas na vida espiritual. Em outras palavras, estaremos desenvolvendo em nós a “maturidade do senso moral” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. X, item 4), condição indispensável para conseguirmos vivenciar os princípios que abraçamos.

Page 64: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

64

Centro Espírita Léon Denis

Vamos, então, recordar os itens estudados:

Objetivo Geral:

ELEVAr O ESPíriTO ÀquELE A quEm CHAmAmOS

Passos Necessários:

DISCIPLINAMENTO DAS EMOÇÕES, SENTIDOS E SENSAÇÕES PiEDADE PUREzA DE CORAÇãO SERMOS FELIzES PRÁTICA DA ORAÇãO EVOCAÇãO ESPIRITUAL MEDITAÇãO ESCOLHA DE um ESPíriTO COmO mODELO E guiA

Page 65: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

65

TEMA 6: A INfLuêNCIA DOS ESPÍRITOS EM NOSSOS PENSAMENTOS E ATOS

Objetivos:

1. Rememorar os pontos importantes dos temas estudados no 1o e no 2o dia (recorrer aos objetivos de cada tema)

O reconhecimento da liberdade de ação do espírito encarnado. A importância do conhecimento da ação do pensamento e da vontade na determinação

dos atos da vida. Os mecanismos de influenciação espiritual, bem como o uso do discernimento e a

responsabilidade na relação do tipo de influência. Nossa posição como espíritos sugestionados e sugestionadores. O estabelecimento da sintonia com o Mundo Espiritual Superior.

2. Refletir sobre:

Nossa condição de filhos de Deus. Identificação da parte que nos toca na obra da Criação (nossa tarefa principal na

reencarnação). A necessidade de bem avaliarmos os recursos que a vida tem nos oferecido para o

cumprimento deste papel. O reconhecimento das belas intervenções recebidas desde o nascimento para o nosso

“enquadramento” nos objetivos reencarnatórios. Avaliação acerca da felicidade que o conhecimento, o sentimento dos itens anteriores

podem nos proporcionar desde AgOrA. Valorização das orientações, mensagens, passes recebidos ao longo do processo

reencarnatório.

Page 66: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

66

Centro Espírita Léon Denis

Passos:1o passo: Leitura, conversa dos pontos importantes dos temas anteriores.

2o passo: identidade. Quem sou? Como me vejo?

(Escrever, meditar, traçar um perfil real)

Qualidades Defeitos Possibilidades

3o passo: investimentos.

Que investimentos, esperança, eu sinto que o mundo deposita em mim? (Família, grupo social, grupo religioso) Que investimentos sinto que Deus, meu guia espiritual, os espíritos que ajudaram a

planejar a minha reencarnação, fizeram, fazem em mim? E que esperança depositam na minha encarnação?

O que espero e como invisto em mim?

4o passo: Identificando os recursos.

Deus, como Pai, não permitiria tarefas sem recursos.

Que recursos o mundo, a família, a profissão tem me oferecido? Que recursos percebo que a espiritualidade generosa oferece e ofereceu ao longo da

minha existência? Tenho em minha vida um momento em que ficou clara esta intervenção? O que

mudou em mim, no meu percurso?

5o passo: Abrindo a janela do ponto de vista.

Minha vida está interligada a muitas outras vidas...Como filho de Deus, sou único e há um único interesse da sua lei: minha felicidade.Estou sendo “alfabetizado” para a leitura das intervenções misericordiosas que me

amparam por meios diversos.

Page 67: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para

67

23o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos

A vida vem me oferecendo a cada momento a oportunidade de melhores e mais eficientes escolhas.

De mim depende:

Sentir-me rejeitado ou convocado ao movimento de adaptação ao grupo, situação difícil.

Aceitar o desafio da competência através da resolução de situações problemáticas ou perceber-me perseguido em meus sonhos, sentimentos, realizações.

Compreender a doença como um exercício para aprender a lidar com o próprio corpo físico, equilibrando as emoções ou caminhar cabisbaixo sob o peso de “aparentes punições”.

Entender o convite ao desenvolvimento do meu potencial criador através do corte das facilidades ou considerar-me “azarado” e perseguido por influenciações nefastas.

Aprender a conviver com o diferente, analisando seus pontos de vista, mesmo sem concordar com eles, estabelecendo laços de simpatia e tolerância ou através da intransigência estabelecer elos de desafeto e/ou obsessão.

Analisar os meios que a vida vem me ofertando para a autodescoberta ou encolher-me nos resíduos de mim mesmo (a), agasalhando a dor e a queixa.

Perceber o movimento incessante da misericórdia divina através de tantos amigos espirituais que me afagam, incentivando-me ao melhor (orientações, mensagens, intuições, encontros aparentemente fortuitos) ou sair desarvorado, sopesando reclamações quanto aos excessos de exigências em meu próprio favor.

Valorizar o que possuo ou reclamar o que me falta. Entender o processo reencarnatório como busca de solução ou a cada momento

complicar-me com a formulação de novos problemas. Perceber que a solução é simples e não a mais complicada.

Enfim... Como filho de Deus, erguer a cabeça ao Sol do equilíbrio, do discernimento e da paz ou

curvar-me diante de mim mesmo (a), afundando-me no poço da incompreensão e da ausência de alegria de viver.

De mim depende a valorização da alegria, o aprendizado na frustração, a sensibilidade perante as amizades espirituais que ombreiam comigo nas horas difíceis, os “ouvidos de ouvir” e os “olhos de ver” ante o permanente convite da vida para a possibilidade de ser feliz!

NESTE EXATO MOMENTO.

Página: Neste exato momento, você...

Page 68: Centro Espírita Léon Denis 23o Encontro Espírita sobre … os dois mundos, está-se contribuindo com a proteção espiritual que tanto se almeja, para si, para a sociedade, para