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CENTRO ESPÍRITA LÉON DENIS o 5 Encontro Espírita sobre Obras Póstumas 22 de novembro de 2020 Tema: “A NATUREZA DO CRISTO”

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Page 1: CENTRO ESPÍRITA LÉON DENIS · 2020. 11. 17. · 5º ENCONTRO ESPÍRITA SOBRE OBRAS PÓSTUMAS 4 INTRODUÇÃO Falar de Jesus Cristo é uma tarefa agradabilíssima, mas, ao mesmo tempo,

CENTRO ESPÍRITA LÉON DENIS

o5 Encontro Espírita sobreObras Póstumas

22 de novembro de 2020

Tema:

“A NATUREZA DO CRISTO”

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CENTRO ESPÍRITA LÉON DENIS

5º ENCONTRO ESPÍRITA SOBRE OBRAS PÓSTUMAS

Tema: “A NATUREZA DO CRISTO”

Camille Flammarion

22 de novembro de 2020

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INFORMAÇÕES GERAIS

Local: CELD

Data: 22/11/2020

Horário: 9h às 12h

Obs.: O Encontro será somente transmitido ao vivo, pelo site: www.celd.org.br

ENCONTROS ANTERIORES

2019 – 4º EEOP – Explicações de Alguns Fenômenos Mediúnicos e Anímicos.

2018 – 3º EEOP – O Papel do Médium e sua Influência Moral nas Manifestações Espíritas.

2017 – 2º EEOP – Manifestações dos Espíritos.

2016 – 1º EEOP – Profissão de Fé Espírita Raciocinada.

Coordenação Geral: Alziro Cunha e Graça Rezende Coordenação Imediata: Colegiado Organização de Conteúdo: Equipe de Estudo do Encontro

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OBJETIVO GERAL: Estudo Sobre a Natureza do Cristo.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

I. Refletir sobre as fontes que mostram a natureza do Cristo, contidas na Bíblia, a origem do dogma da trindade e as consequências religiosas.

II. Observar que o Espiritismo explica os "milagres" feitos por Jesus, como sendo fenômenos naturais de manipulação fluídica. III. Conhecer a revelação de Jesus sobre sua própria natureza, antes e após sua morte. IV. Entender a dupla natureza do Cristo, através da visão Espírita. V. Conhecer a opinião dos apóstolos e a predição dos profetas concernentes a Jesus. VI. Entender o significado das expressões: "O Verbo se fez carne" e "Filho de Deus e Filho do Homem". TEMAS:

TEMA 1. Fonte das provas da natureza do Cristo e a divergência de opiniões geradas em torno do assunto. TEMA 2. Os milagres provam a natureza do Cristo? TEMA 3. Conhecer a revelação de Jesus, antes e após sua morte. TEMA 4. Dupla natureza de Jesus. TEMA 5. Opinião dos apóstolos e predição dos profetas em relação a Jesus. TEMA 6. O Verbo se fez carne, Filho de Deus e Filho do homem.

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INTRODUÇÃO Falar de Jesus Cristo é uma tarefa agradabilíssima, mas, ao mesmo tempo, um

grande desafio. Nós te convidamos a refletir sobre o que Allan Kardec disse a respeito de um tema que atravessa a história.

Citamos aqui duas obras de importantes autores espíritas, Cristianismo e Espiritismo de Léon Denis, o patrono do CELD, e o livro Procuradores de Deus, de Hermínio C. Miranda. Estes autores traduzem, com muita sabedoria, o sentimento que nos move no estudo deste ano.

“Não foi um sentimento de hostilidade ou de malevolência que ditou estas páginas. Não temos sentimento de malevolência por nenhuma ideia, por nenhuma pessoa. Quaisquer que sejam o erro ou as faltas daqueles que invocam o testemunho do nome de Jesus e da sua doutrina, eles não podem diminuir o profundo respeito e a sincera admiração que temos pelo pensamento do Cristo. (...)

(Cristianismo e Espiritismo - Introdução) “Não entro na discussão desse aspecto, sem antes declarar enfaticamente que guardo pela figura espiritual do Cristo o mais profundo e sincero respeito. Jamais passou pela Terra espírito de maior elevação, pureza e bondade. Nas suas fontes primitivas, não há doutrina ética que supere a sua. Assim, não discutirei o Jesus Cristo autêntico, mas o que dele fizeram mais de dois mil anos de especulações teológicas.”

(Procuradores de Deus, item 40)

Antes de entrarmos propriamente no tema do nosso trabalho, desejamos utilizar este pequeno espaço para uma justa homenagem ao mestre Lionês.

Amar a Kardec

Um dos pensamentos mais grandiosos que chegou ao nosso conhecimento em referência a Kardec, nestes últimos dias, foi do espírito Victor (através do médium Mário Coelho, do CELD). Foi a sua palavra sobre o amor a Kardec que nos inspirou.

Amar a Kardec seguindo os seus ensinamentos. Aprender constantemente com ele, estudando as obras que preparou, trazendo para a humanidade a Doutrina de Jesus escrita nos livros da codificação.

Amar a Kardec significa, para nós, um dever muito grande e profundo de gratidão. Porque foi através do seu trabalho que passamos a aprender o que é Deus, como amá-lo, assim como a Jesus, ao próximo e a nós mesmos.

Antes de Kardec, nosso sentimento de amor, ainda que fosse real, era sem compreensão.

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Amar a Kardec é amar a tudo e a todos com compreensão, lógica e bom senso.

Amar a Kardec é amar a vida e o viver.

Kardec, com seu grandioso trabalho de pesquisador, observador, experimentador, organizador e ampliador das ideias, organizou uma doutrina que ajuda a humanidade a descobrir, sentir e amar o mundo espiritual - o mundo real, verdadeiro e eterno.

Kardec nos ajudou a descobrir que somos imortais, que somos espíritos, individualidades dos seres extracorpóreos, seres inteligentes da criação. Que vivemos num universo, fora do mundo material. (Conforme questão 76 e nota de Kardec, em O Livro dos Espíritos)

Amar a Kardec é aprender de forma simples, racional e lógica, todos os assuntos, de todas as circunstâncias da vida material e espiritual.

Amar a Kardec é aprender, com seus ensinamentos, a autovalorização. É aprender, à luz da razão, da lógica e do amor, a trabalhar a autoestima. E aprender a ver--nos como filhos de Deus, criados por ele para sermos felizes, na perfeição.

Amar a Kardec é aprender como amar profundamente a Deus como Pai, como nosso amado Jesus nos ensinou, há mais de vinte séculos atrás.

Amar a Kardec é aprender a sentir a presença de Jesus, permanentemente, em nossas vidas. É sentir Jesus como “guia e modelo” para a nossa felicidade. (O Livro dos Espíritos, questão 625)

Amar a Kardec é aprender a reconhecê-lo como “um dos mais lúcidos discípulos do Cristo” (Emmanuel - A Caminho da Luz), reconhecer sua lucidez e entender a sua condição de espírito superior e grande missionário. “A importância das missões corresponde às capacidades e à elevação do espírito”. (O Livro dos Espíritos, questão 571, CELD)

Portanto, amar a Kardec é honrá-lo, respeitá-lo, dignificá-lo; valorizarmos todo o seu trabalho de amor pela humanidade, colocando ao alcance de todos as verdades espíritas.

Estudemos Kardec, para sermos fiéis ao evangelho de Jesus.

Estudemos Kardec.

Assim, caro irmão, te convidamos para, juntos, conhecermos mais deste “Amigo

e Irmão Maior” de todos nós, Jesus Cristo.

Equipe do Encontro

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TEMA 1 – Fonte das provas da natureza do Cristo e a divergência de opiniões geradas em torno do assunto.

“Então Jesus disse estas palavras: “Graças vou dou, meu Pai, Senhor do céu e da Terra, porque escondestes essas coisas aos sábios e aos prudentes e as revelastes aos simples e aos pequenos”. (Mateus, XI: 25)

Observação: Os textos em itálico são encontrados no item I do “Estudo sobre a

natureza do Cristo”, contidos na 1ª parte do livro Obras Póstumas.

O que teria motivado Allan Kardec a nos trazer esse tema? Através do livro Obras Póstumas, acompanharemos o seu raciocínio. Vejamos:

„A questão da natureza do Cristo foi debatida desde os primeiros séculos do Cristianismo, e pode-se dizer que ainda não está resolvida, já que ela ainda é discutida nos nossos dias. É a divergência de opinião sobre este ponto, que deu origem à maioria das seitas que dividiram a Igreja há dezoito séculos, e é notável que todos os chefes destas seitas foram bispos ou membros do clero, com títulos diversos (...) as opiniões se formaram sobre abstrações mais do que sobre fatos; procurou-se sobretudo o que o dogma poderia ter de plausível ou de irracional, e geralmente negligenciou-se, de um lado ou de outro, fazer sobressaírem os fatos que podiam lançar uma luz decisiva sobre a questão.‰

Após trezentos anos da vinda do Cristo, começa a discussão em torno da divindade, ou não, de Jesus. O desvirtuamento do pensamento de alguns homens toma corpo, afastando assim a pureza do Cristianismo primitivo e culminando na divisão da Igreja. Esquecemos a proposta fundamental trazida por Jesus, quando nos disse:

"Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará." (João 8, 32)

"Se, pois, o Filho vos libertar, sereis, realmente livres." (João 8, 36)

O que significa libertar, na fala de Jesus? Libertar da falta de compreensão da lei de Deus, pois ainda trazemos o orgulho, o egoísmo, a intolerância, o não perdão das ofensas, enfim, o personalismo. Por falta de historiadores que pudessem acompanhar a passagem do Cristo, Allan Kardec vai buscar, no Antigo Testamento, as profecias que falavam do advento do messias e, nos Evangelhos, os apóstolos, que conviveram com ele, servindo, assim, de testemunhas sobre sua vida e sua doutrina. Vamos observar que a religião vai tomando um rumo, de acordo com o ponto de vista de cada grupo, tendo ficado esquecido o significado real da religião. Vamos ver o que nos fala Emmanuel, no livro O Consolador:

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Por que ainda tanta dificuldade em entendermos a mensagem divina que nos foi trazida por Jesus?

E Jesus nos diz:

"Muitas das coisas que vos digo, ainda não as podeis compreender, e muitas outras eu teria para dizer, que não compreenderíeis; é por isso que vos falo por parábolas; mais tarde, porém, eu vos enviarei o Consolador, o Espírito de Verdade que restabelecerá todas as coisas e as explicará a vós."

(João, XIV e XVI; Mateus, XVII.)

“Em face da Ciência e da Filosofia como interpretar a Religião nas atividades da vida?

Religião é o sentimento Divino, cujas exteriorizações são sempre o Amor, nas expressões mais sublimes. Enquanto a Ciência e a Filosofia operam o trabalho da experimentação e do raciocínio, a religião edifica e ilumina os sentimentos. As primeiras se irmanam na Sabedoria, a segunda personifica o Amor, as duas asas divinas com que a alma humana penetrará, um dia, nos pórticos sagrados da espiritualidade."

(O Consolador, Terceira Parte, Q. 260)

"Reconhecendo-se que várias seitas nasceram igualmente do Cristianismo, devemos considerá-las cristãs, ou simples expressões religiosas insuladas da verdade de Jesus?

Todas as expressões religiosas nascidas do Cristianismo se identificam pela seiva do amor do tronco que as congrega, apesar dos erros humanos de seus expositores. (...)"

(O Consolador, Terceira Parte, Q. 294)

" Em que sentido deveremos tomar o conceito de religiões?

Religião, para todos os homens, deveria compreender-se como sentimento divino que clarifica o caminho das almas e que cada espírito aprenderá na pauta do seu nível evolutivo.

Neste sentido, a Religião é sempre a face augusta e soberana da Verdade; porém, na inquietação que lhes caracteriza a existência na Terra, os homens se dividiram em numerosas religiões, como se a fé também pudesse ter fronteiras, à semelhança das pátrias materiais, tantas vezes mergulhadas no egoísmo e na ambição de seus filhos.

Dessa falsa interpretação têm nascido no mundo as lutas antifraternais e as dissensões religiosas de todos os tempos."

(O Consolador, Terceira Parte, Q. 292)

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Kardec comenta:

Kardec vai questionar sobre as fontes de provas sobre a natureza do Cristo:

„Porém, onde encontrar estes fatos, se não for nos atos e nas palavras de Jesus?

Jesus nada tendo escrito, seus únicos historiadores são os apóstolos que, também, nada escreveram, enquanto ele vivia; não tendo nenhum historiador profano, seu contemporâneo, falado dele, não existe sobre sua vida e sua doutrina documento algum, a não ser os Evangelhos; é, portanto, aí somente que é preciso procurar a chave do problema. Todos os escritos posteriores, sem excluir os de São Paulo, não são, e não podem ser, senão comentários ou apreciações, reflexos de opiniões pessoais, frequentemente contraditórias, que não poderiam, em nenhum caso, ter a autoridade da narrativa daqueles que tinham recebido as instruções diretas do Mestre.‰

Temos no livro A Caminho da Luz, um capítulo que trata de „A Gênese Planetária – A

Comunidade dos Espíritos Puros‰; que nos dá uma pálida ideia de Jesus. O que o guia

espiritual do Chico, Emmanuel, nos traz?

"Se o Cristo não disse tudo o que poderia ter dito, é porque achou necessário deixar certas verdades na penumbra, até que os homens estivessem em estado de compreendê-las. Portanto, conforme suas palavras, seu ensino era incompleto, uma vez que anunciava, a vinda daquele que viria completá-lo. Ele previra, assim, que os homens se desviariam dos seus ensinamentos, numa palavra, que desfariam o que ele fez, pois que todas as coisas teriam que ser restabelecidas: ora, só se restabelece aquilo que foi desfeito."

(A Gênese, Cap. I, item 26, 2º§ Fundamentos da Revelação Espírita)

"Se as seitas religiosas nascidas do Cristianismo têm uma tarefa especializada, qual será a das correntes protestantes, oriundas da Reforma?

A Reforma e os movimentos que se lhe seguiram vieram ao mundo com a missão especial de exumar a "letra" dos Evangelhos, enterrada até então nos arquivos da intolerância clerical, nos seminários e nos conventos, a fim de que, depois da sua tarefa, pudesse o Consolador prometido, pela voz do Espiritismo cristão, ensinar os homens o "espírito divino" de todas as lições de Jesus."

(O Consolador, Parte Terceira, Q. 295)

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Hermínio Miranda, escritor e pesquisador Espírita, no seu livro Os Procuradores de

Deus nos diz o seguinte:

„Os autores sacros apenas puderam girar no mesmo círculo, dar sua apreciação pessoal, tirar consequências do seu ponto de vista, comentar sob novas formas, e com maior ou menor desenvolvimento, as opiniões contraditórias. Todos aqueles que eram do mesmo partido tiveram que escrever no mesmo sentido, senão nos mesmos termos, sob pena de serem declarados heréticos, como o foram Orígenes e tantos outros(...) O acordo dos pais da Igreja nada tem, portanto, de concludente, já que é uma unanimidade de escolha, formada pela eliminação dos elementos contrários, se se confronta tudo o que foi escrito pró ou contra, não se saberia para que lado penderia a balança.‰

Isto não tira nada do mérito pessoal dos sustentáculos da ortodoxia, nem do valor deles como escritores e homens conscienciosos; são advogados de uma mesma causa que defenderam com um incontestável talento, e deviam, forçosamente, chegar às mesmas conclusões. Longe de querer denegri-las no que quer que seja, quisemos simplesmente refutar o valor das consequências que se pretende tirar do seu acordo.

No exame que iremos fazer da questão da divindade do Cristo, colocando de lado as sutilezas da escolástica1 , que apenas serviram para confundir ao invés de

1 Escolástica – foi o método crítico dominante no ensino nas universidades medievais europeias no período dos séculos IX ao XVI, que surgiu da necessidade de responder às exigências da fé.

„Rezam as tradições do mundo espiritual que na direção de todos os

fenômenos, do nosso sistema, existe uma Comunidade de Espíritos Puros e Eleitos

pelo Senhor Supremo do Universo, em cujas mãos se conservam as rédeas diretoras

da vida de todas as coletividades planetárias.

Essa Comunidade de seres angélicos e perfeitos, da qual é Jesus um dos

membros divinos, ao que nos foi dado saber, apenas já se reuniu, nas proximidades

da Terra, para a solução de problemas decisivos da organização e da direção do

nosso planeta, por duas vezes no curso dos milênios conhecidos.

A primeira, verificou-se quando o orbe terrestre se desprendia da nebulosa

solar, a fim de que se lançassem, no Tempo e no Espaço, as balizas do nosso

sistema cosmogônico e os pródromos da vida na matéria em ignição, do planeta, e a

segunda, quando se decidia a vinda do Senhor à face da Terra, trazendo à família

humana a lição imortal do seu Evangelho de amor e redenção.‰

(A Caminho da Luz, capítulo I)

“E, afinal de contas, o que vem a divindade de Jesus acrescentar aos aspectos éticos da sua pregação? De minha parte, creio que há muito mais mérito nele e nos seus ensinos se o temos por ser humano de apuradíssima elevação espiritual, do que se o consideramos Deus. Se nem ele nem os seus seguidores imediatos declaram sua natureza divina, por que vamos nós atribuir a eles essa condição?”

(Os Procuradores de Deus, item 45)

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elucidá-la, nós nos apoiaremos exclusivamente sobre os fatos que ressaltam do texto do Evangelho, e que, friamente examinados, conscienciosamente e sem tomar partido, fornecem abundantemente todos os meios de convicção que se pode desejar. Ora, entre estes fatos, não há mais preponderantes, nem mais concludentes que as próprias palavras do Cristo, palavras que ninguém poderia recusar sem infirmar a veracidade dos apóstolos (...)‰

Na citação abaixo, trazemos a contribuição de Léon Denis:

É mais um método de aprendizagem do que uma teologia. A obra-prima de Tomás de Aquino, denominado Summa Theologica, é, frequentemente, vista como exemplo maior da escolástica.

(https://pt.wikipedia.org/wiki/Escol%C3%A1stica)

“O Deus de Jesus não é mais o déspota parcial e ciumento que protege Israel contra os outros povos, é o Deus pai da humanidade. Todas as nações, todos os homens são seus filhos. É o Deus em quem tudo vive, se agita e respira, imanente na natureza e na consciência humana.

(...) a doutrina de Jesus revelava a existência de um só Deus, Criador e Pai, por quem todos os homens são irmãos e em nome de quem eles devem assistência e afeição uns aos outros. Ela tornava possível a comunhão com o Pai, pela união fraterna dos membros da família humana. Ela abria a todos o caminho da perfeição pelo amor ao próximo e o devotamento à humanidade.

(...) em vão nos fizeram observar que o homem não pode conhecer a natureza de Deus.

Quando todos acreditavam o Filho criado pelo Pai, os bispos do século IV proclamam o Filho igual ao Pai, “eterno como ele, gerado e não criado”, dando assim um desmentido ao próprio Cristo, que dizia e repetia: Meu Pai é maior do que eu.”

(Cristianismo e Espiritismo, capítulo 6)

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5º ENCONTRO ESPÍRITA SOBRE

Kardec pergunta aos Espíritos da Codificação:

O anexo 1 contém uma séculos do cristianismo, mostrandoda natureza do Cristo, no primeiro Concílio de Nicepode motivá-lo a estudar, com No anexo 2, Kardec nos oferece material importante para nossas reflexões em torno do tema do Encontro. Ele foi extraído dano mês de setembro, intituladoele aborda a natureza de Jesus dogmática relativa à natureza do Cristo

Qual é o tipo mais perfeito que Deus tenha oferecido aoservir de guia e de modelo? “Vede Jesus.”

Jesus é para o homem o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a mais pura expressão de sua lei, porque ele era animado pelo espíritopuro de todos os que apareceram na Terra.homem na lei de Deus,algumas vezes, o têm desviado, através de falsos princípios, foi por se terem deixado dominar, eles próprios, por sentimentos muito terrestres e por terem confundido as leis que regem as condições da vida da alma com as que corpo. Muitos têm apresentado como leis divinas o que eram apenas leis humanas,criadas para servir às paixões e dominar os homens.

5º ENCONTRO ESPÍRITA SOBRE OBRAS PÓSTUMAS

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Kardec pergunta aos Espíritos da Codificação:

nexo 1 contém uma síntese da história escrita pelo homemmostrando-nos alguns fatos históricos que levaram à

, no primeiro Concílio de Niceia. É uma leitura interessante que com mais profundidade, este tema.

No anexo 2, Kardec nos oferece material importante para nossas reflexões em torno do tema do Encontro. Ele foi extraído da Revista Espírita de 1867, artigo escrito

intitulado o “Caráter da Revelação Espírita”, no item 44, nota 24aborda a natureza de Jesus Cristo.“O Espiritismo não é contrário à crença

dogmática relativa à natureza do Cristo (...)

Qual é o tipo mais perfeito que Deus tenha oferecido ao homem, para lhe servir de guia e de modelo?

Jesus é para o homem o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a

mais pura expressão de sua lei, porque ele era animado pelo espírito divino e o ser mais puro de todos os que apareceram na Terra. Se alguns daqueles que pretenderam homem na lei de Deus,algumas vezes, o têm desviado, através de falsos princípios, foi por

dominar, eles próprios, por sentimentos muito terrestres e por terem as leis que regem as condições da vida da alma com as que regem a vida do

corpo. Muitos têm apresentado como leis divinas o que eram apenas leis humanas,criadas para servir às paixões e dominar os homens.

(O Livro dos Espíritos

OBRAS PÓSTUMAS

síntese da história escrita pelo homem nos primeiros levaram à discussão

É uma leitura interessante que

No anexo 2, Kardec nos oferece material importante para nossas reflexões em 1867, artigo escrito

o “Caráter da Revelação Espírita”, no item 44, nota 24, “O Espiritismo não é contrário à crença

Boa leitura!

homem, para lhe

Jesus é para o homem o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a

divino e o ser mais Se alguns daqueles que pretenderam instruir o

homem na lei de Deus,algumas vezes, o têm desviado, através de falsos princípios, foi por dominar, eles próprios, por sentimentos muito terrestres e por terem

regem a vida do corpo. Muitos têm apresentado como leis divinas o que eram apenas leis humanas,criadas

O Livro dos Espíritos, Q. 625)

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5º ENCONTRO ESPÍRITA SOBRE OBRAS PÓSTUMAS

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TEMA 2 – Os milagres provam a natureza do Cristo?

Os milagres provam a natureza do Cristo? "Os fatos relatados no Evangelho, e que até hoje são considerados milagrosos, pertencem, na sua maioria à ordem dos fenômenos psíquicos, isto é, daqueles que têm como causa primária as faculdades e os atributos da alma."

(A Gênese, cap. XV, item 1, Os Milagres do Evangelho, Allan Kardec, CELD)

Observação: Os textos em itálico são encontrados no item II do “Estudo sobre a

natureza do Cristo”, contidos na 1ª parte do livro Obras Póstumas. „Segundo a Igreja, a divindade do Cristo é estabelecida principalmente pelos

milagres2, como testemunho de um poder sobrenatural. Esta consideração pôde ser de um certo peso numa época em que o maravilhoso era aceito sem exame; mas, hoje, quando a Ciência sustentou suas investigações nas leis da Natureza, os milagres encontram mais incrédulos do que crentes; e o que não contribuiu pouco para seu descrédito, foi o abuso das imitações fraudulentas e a exploração que dele fizeram.‰

„A Igreja, aliás, retira, ela própria, dos milagres qualquer entendimento, como

prova da divindade do Cristo, declarando que o demônio pode fazer tantos prodígios quanto ele; pois se o demônio tem um tal poder, fica evidente que os fatos desse gênero não têm um caráter exclusivamente divino; se ele pode fazer coisas espantosas para seduzir mesmo os eleitos, como simples mortais poderão distinguir os bons milagres dos maus (...)

Dar a Jesus semelhante rival em habilidade seria uma grande imperícia; mas,

pelo fato das contradições e das inconsequências, não se olharia de tão perto numa época em que os fiéis fariam um caso de consciência por pensar por si mesmos e por discutir o menor artigo imposto à sua crença; então não se contava com o progresso e não se imaginava que o reino da fé cega e inocente, reinado cômodo, pudesse ter um termo. (...)‰

2 Em sua acepção etimológica, a palavra milagre, (de mirari, admirar) significa admirável, coisa

extraordinária, surpreendente. A Academia assim a definiu: “Um ato do poder divino contrário às

leis conhecidas da Natureza.” (A Gênese, capítulo XIII, item 1)

“Aos olhos daqueles que veem a matéria como a única potência da Natureza, tudo o que não pode ser explicado pelas leis da matéria é maravilhoso ou sobrenatural; e, para eles, maravilhoso é sinônimo de superstição. Assim sendo, a religião, que se baseia na existência de um princípio imaterial, seria um tecido de superstições; eles não ousam dizê-lo em voz alta, mas o dizem baixinho e acreditam salvar as aparências, admitindo que é preciso uma religião para o povo e para que as crianças se tornem mais comportadas; ora, de duas coisas uma: ou o princípio religioso é verdadeiro, ou é falso; se é verdadeiro, ele o é para todo o mundo; se é falso, não é melhor para os ignorantes do que para as pessoas esclarecidas.”

(O Livro dos Médiuns, 1ª parte, capítulo 2, item 10)

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„O caráter essencial do milagre, no sentido teológico, é de ser uma exceção nas leis da Natureza e, por conseguinte, inexplicável para estas mesmas leis. Desde o instante em que um fato pode se explicar e que se prende a uma causa conhecida, deixa de ser milagre. É assim que as descobertas da Ciência fizeram entrar no domínio do natural certos efeitos qualificados de prodígios, enquanto a causa permaneceu ignorada. Mais tarde, o conhecimento do princípio espiritual, da ação dos fluidos sobre a economia do mundo invisível no meio do qual vivemos, das faculdades da alma, da existência e das propriedades do perispírito, deu a chave dos fenômenos de ordem psíquica, e provou que não são, não mais do que os outros, derrogações às leis da Natureza, mas que são, ao contrário, aplicações frequentes. (...)‰

O milagre se estabelece, a partir dos testemunhos de um poder sobrenatural ou maravilhoso, sustentado, por muitos séculos, pelo desconhecimento das leis Naturais, à época do Cristo, e que ainda persiste, atualmente. É o Espiritismo que vai nos dar a chave deste entendimento.

„Sabe-se agora que estes efeitos são o resultado de aptidões e de disposições

fisiológicas especiais; que eles se produziram em todos os tempos, em todos os povos, (...)‰

„A possibilidade da maioria dos fatos, que o Evangelho cita como tendo sido

efetuados por Jesus, é hoje completamente demonstrada pelo Magnetismo e o Espiritismo, como fenômenos naturais (...)‰

„Se Jesus qualificava, ele próprio, seus atos de milagres, é que nisso, como em

muitas outras coisas, ele devia apropriar sua linguagem aos conhecimentos dos seus contemporâneos; como estes teriam podido apreender nuanças de uma palavra que ainda hoje não é compreendida por todo mundo? (...) Um fato digno de observação, é de que ele se serviu deles para afirmar a missão que tinha de Deus, segundo suas próprias expressões, mas deles nunca se prevaleceu para atribuir-se o poder divino.

„(...) a religião se apoia em fatos que não são nem explicados e nem

explicáveis. Inexplicados, talvez, inexplicáveis é uma outra questão. Sabe-se que

descobertas e conhecimentos o futuro nos reserva? Sem falar do milagre da

Criação, incontestavelmente o maior de todos, e que atualmente pertence ao

domínio da lei universal, já não vemos acontecerem, no âmbito do magnetismo, do

sonambulismo e do Espiritismo, os êxtases, as visões, as aparições, a visão a

distância, as curas instantâneas, as suspensões, as comunicações orais e outras com

os seres do mundo invisível, fenômenos conhecidos desde tempos imemoriais,

considerados outrora como maravilhosos, e atualmente demonstrados como

pertencentes à ordem das coisas naturais, de acordo com a lei constitutiva dos seres? (...)‰

(A Gênese, cap. XIII, item 17)

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5º ENCONTRO ESPÍRITA SOBRE

É preciso, portanto, fundar a divindade da pessoa do Cristo

palavras.‰

Recomendamos, para mais informações, o estudo de

“Reconhecida a possibilidade de alguns fatos considerados milagrosos, teremos de concluir que, seja qual for a origem que se lhes atribua, eles são efeitos naturais de que se podem valer espíritos ou encarnados, como de tudo, como da própria inteligência e de seus conhecimentos científicos, para o bem ou para o mal, conforme sua bondade ou perversidade. Valendoperverso pode fazer coisas que passem por prodígios aos olhos dos ignorantes, mas quando esses efeitos resultam em uorigem diabólica”.

“O Espiritismo considera a religião cristã de um ponto mais elevado; ele

lhe dá uma base mais sólida que os milagres: as imutáveis leis de Deus, que

regem tanto o princípio espiritual como o princípio material. Essa b

o tempo e a Ciência, uma vez que o tempo e a Ciência virão sancioná

5º ENCONTRO ESPÍRITA SOBRE OBRAS PÓSTUMAS

14

É preciso, portanto, riscar os milagres das provas sobre as quais se pretende

fundar a divindade da pessoa do Cristo; vejamos, agora, se as encontraremos

Recomendamos, para mais informações, o estudo de A Gênese, capítulos

“Reconhecida a possibilidade de alguns fatos considerados milagrosos, teremos de concluir que, seja qual for a origem que se lhes atribua, eles são efeitos naturais de que se podem valer espíritos ou encarnados, como de tudo, como da

e de seus conhecimentos científicos, para o bem ou para o mal, conforme sua bondade ou perversidade. Valendo-se do saber adquirido, um ser perverso pode fazer coisas que passem por prodígios aos olhos dos ignorantes, mas quando esses efeitos resultam em um bem qualquer, seria ilógico atribuir

(A Gênese, cap. XIII, item 16)

“O Espiritismo considera a religião cristã de um ponto mais elevado; ele

lhe dá uma base mais sólida que os milagres: as imutáveis leis de Deus, que

regem tanto o princípio espiritual como o princípio material. Essa b

o tempo e a Ciência, uma vez que o tempo e a Ciência virão sancioná

(A Gênese, cap. XIII, item 18)

OBRAS PÓSTUMAS

riscar os milagres das provas sobre as quais se pretende

agora, se as encontraremos nas suas

capítulos 13 a 15.

“Reconhecida a possibilidade de alguns fatos considerados milagrosos, teremos de concluir que, seja qual for a origem que se lhes atribua, eles são efeitos naturais de que se podem valer espíritos ou encarnados, como de tudo, como da

e de seus conhecimentos científicos, para o bem ou para o mal, se do saber adquirido, um ser

perverso pode fazer coisas que passem por prodígios aos olhos dos ignorantes, mas m bem qualquer, seria ilógico atribuir-lhes uma

, cap. XIII, item 16)

“O Espiritismo considera a religião cristã de um ponto mais elevado; ele

lhe dá uma base mais sólida que os milagres: as imutáveis leis de Deus, que

regem tanto o princípio espiritual como o princípio material. Essa base desafia

o tempo e a Ciência, uma vez que o tempo e a Ciência virão sancioná-la.”

, cap. XIII, item 18)

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5º ENCONTRO ESPÍRITA SOBRE OBRAS PÓSTUMAS

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TEMA 3 – Conhecer a revelação de Jesus, antes e após sua morte. Observação: Os textos em itálico são encontrados nos itens III e IV do “Estudo sobre a

natureza do Cristo”, contidos na 1ª parte do livro Obras Póstumas.

“Jesus lhes disse então: “Se Deus fosse vosso Pai, vós me amaríeis, porque foi de Deus que saí, e que foi de sua parte é que vim; pois não vim por mim mesmo, mas foi ele que me enviou.”(João, VIII: 42.)

“Jesus lhes disse, então: “Ainda estou convosco por pouco tempo, e vou em

seguida para aquele que me enviou.” (João,VII: 33.)

Kardec, no texto abaixo, faz uma reflexão importante para nossa compreensão do tema:

“ O dogma da divindade de Jesus está fundado sobre a igualdade absoluta

entre sua pessoa e Deus, já que ele próprio é Deus; é um artigo de fé; ora, estas palavras tão frequentemente repetidas por Jesus: Aquele que me enviou, testemunham não somente a dualidade das pessoas, mas ainda, como o dissemos, excluem a igualdade absoluta entre elas; pois aquele que é enviado é necessariamente subordinado àquele que envia; obedecendo, faz ato de submissão. (...)”

“A dualidade das pessoas, assim como o estado secundário e subordinado de Jesus com relação a Deus, ressaltam, além do mais, sem equívoco das seguintes passagens: “Fostes vós que permanecestes firmes comigo nas minhas tentações. — É por isso que preparo-vos meu Reino como meu Pai preparou-me, — a fim de que comais e bebais na minha mesa, no meu reino, e que vos senteis nos tronos para julgar as doze tribos de Israel.” (Lucas, XXII: 28 a 30.)

“Ao mesmo tempo surgiu uma nuvem que os cobriu, e dessa nuvem saiu uma voz que fez ouvir estas palavras: Este é meu filho bem-amado; ouçam-no.” (Transfiguração, Marcos, IX: 7.)

“Pois se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, o Filho do Homem também se envergonhará dele, quando vier na sua glória e na de seu Pai e dos santos anjos.” (Lucas, IX: 26.)

“Nestas duas últimas passagens, Jesus parecia colocar acima dele os santos anjos que compõem o tribunal celeste, diante do qual ele seria o defensor dos bons e acusador dos maus.” No parágrafo acima, Kardec nos mostra que as palavras de Jesus levam a concluir que Ele e o Pai não são um ser único.

“Jesus confirma esta interpretação e reconhece sua inferioridade com relação a Deus, em termos que não deixam equívoco possível:

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5º ENCONTRO ESPÍRITA SOBRE OBRAS PÓSTUMAS

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“Vós ouvistes o que eu vos disse: Vou-me, e retorno para vós. Se vós me amásseis, vos regozijaríeis porque vou para meu Pai, porque meu Pai É MAIOR QUE EU.” (João, XIV: 28.)

“Então, um rapaz aproxima-se, e lhe diz: ‘Bom Mestre, que bem é preciso que

eu faça para conquistar a vida eterna?’ —Jesus respondeu-lhe: ‘Por que me chamais bom? Só Deus é bom. Se quiserdes entrar na vida, guardai os mandamentos’.” (Mateus, XIX: 16 e 17; Marcos, X: 17 e 18; Lucas, XVIII: 18 e 19.)”

Jesus não somente, em nenhuma circunstância, fez-se passar como igual a Deus, mas, aqui, ele afirma positivamente o contrário, ele se vê como inferior a ele em bondade; ora, declarar que Deus está acima dele pelo seu poder e suas qualidades morais,é dizer que ele não é Deus. As seguintes passagens vêm em apoio a estas, e são também explícitas.

“ Não falei por mim mesmo; mas meu Pai, que me enviou, é quem me prescreveu pelo seu comando o que devo dizer, e como devo falar; — e sei que seu comando é a vida eterna; o que digo, portanto, digo-o, segundo o que meu Pai me ordenou.” (João, XII: 49 e 50.)

“Jesus lhes respondeu: “Minha doutrina não é minha doutrina, mas a doutrina daquele que me enviou. — Se alguém quiser fazer a vontade de Deus, reconhecerá se minha doutrina é dele, ou se falo de mim mesmo — Aquele que fala de seu próprio movimento, procura sua própria glória, mas aquele que procura a glória daquele que o enviou é verídico, e não há nele injustiça.”(João, VII: 16 a 18.) Após passagens do Evangelho, acima, escolhidas no livro Obras Póstumas, o que Kardec traz para nossa reflexão?

“Já que ele nada diz por si mesmo; que a doutrina que ele ensina não é a sua, mas que a tem de Deus que lhe ordenou vir fazê-la conhecida; que ele apenas faz o que Deus lhe deu o poder de fazer; que a verdade que ele ensina, que aprendeu de Deus, à vontade do qual ele está submetido; é que ele não é o próprio Deus, mas seu enviado, seu messias e seu subordinado.

É impossível recusar, de uma maneira mais positiva, qualquer assimilação à pessoa de Deus, e nem determinar seu papel principal em termos mais precisos. Aí não estão pensamentos ocultos sob o véu da alegoria, e que só se descobre pela força da interpretação: é o sentido próprio expresso, sem ambiguidade.

Se se censurasse que Deus, não querendo se fazer conhecer na pessoa de Jesus, enganou sobre sua individualidade, poder-se-ia perguntar sobre o que está baseada esta opinião, e quem tem a autoridade para sondar o fundo do seu pensamento, e dar às suas palavras um sentido contrário àquele que elas exprimem?

Já que, quando Jesus estava em vida, ninguém o considerava como Deus, mas olhavam-no, ao contrário, como um messias, se ele não quisesse ser conhecido pelo que era, bastar-lhe-ia nada dizer; pela sua afirmação espontânea, é preciso concluir que ele não era Deus, ou se ele fosse, fez, voluntária e inutilmente, uma afirmação falsa.‰

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5º ENCONTRO ESPÍRITA SOBRE OBRAS PÓSTUMAS

17

Kardec ainda nos diz:

“As seguintes passagens poderiam deixar alguma incerteza e dar lugar a se crer numa identificação de Deus com a pessoa de Jesus; mas além de não poderem prevalecer sobre os termos precisos daqueles que precederam, elas trazem ainda nelas próprias, sua própria retificação.”

“Eles lhe disseram: Quem sois então? Jesus lhes respondeu: Sou o princípio de todas as coisas, eu que vos falo. —Tenho muitas coisas a vos dizer; mas aquele que me enviou é verdadeiro, e não digo senão o que dele aprendi.” (João, VIII: 25 e 26.)

“O que meu Pai me deu é maior do que todas as coisas e ninguém pode arrebatá-lo da mão de meu Pai. Meu pai e eu somos um.” (João, X: 29 e 30.)

E ele conclui: “Quer dizer, que seu pai e ele são um pelo pensamento, já que ele exprime o

pensamento de Deus; pois ele tem a palavra de Deus.”

Vamos trabalhar nossas ideias, junto com Kardec, no que foi anotado pelos apóstolos sobre as “Palavras de Jesus depois de sua morte”. “Jesus lhe respondeu: Não me toques, pois ainda não subi para meu Pai; mas vai encontrar meus irmãos e diga-lhes de minha parte: Subo para meu Pai e vosso Pai, para MEU DEUS e vosso Deus.” (Aparição a Maria Madalena; João, XX: 17)” “Mas, Jesus aproximando-se, falou-lhes assim: Todo poder me foi dado no Céu e na Terra.” (Aparição aos apóstolos; Mateus, XXVIII: 48 e 49) Kardec, aqui, faz uma análise:

“ Tudo, portanto, acusa nas palavras de Jesus, seja enquanto em vida, seja após sua morte, uma dualidade de pessoas perfeitamente distintas, assim como o profundo sentimento de sua inferioridade e da sua subordinação com relação ao Ser supremo. Por sua insistência em afirmá-lo espontaneamente, sem a isso ser constrangido nem provocado pelo que quer que seja, parece querer protestar antecipadamente contra o papel que ele prevê que se lhe atribuirá um dia. Se ele houvesse guardado silêncio sobre o caráter de sua personalidade, o campo teria ficado aberto a todas as suposições, como a todos os sistemas; mas a precisão de sua linguagem afasta qualquer incerteza.

Que autoridade maior pode-se encontrar do que as próprias palavras de Jesus? Quando ele diz categoricamente: sou ou não sou tal coisa, quem ousaria arrojar-se o direito de desmenti-lo, fosse para colocá-lo mais alto do que ele se coloca a si próprio? Quem é que pode, racionalmente, pretender ser mais esclarecido que ele

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5º ENCONTRO ESPÍRITA SOBRE

sobre sua própria natureza? Que interpretaçõestão formais e multiplicadas

Não venho por mim mesmo, mas aquele que me enviou é

verdadeiro. — Saí de Deus e dele venho. cabe a mim concedê-lo, mas éo meu Pai, porque o Pai é como me ensinou o Pai. (...) Deus.”

Kardec faz um fechamento das ideias: “ Quando se leem tais palavras, pergunta

lhes dar um sentido diametralmente opostode conceber uma identificação completa da natureza e do poder entre o Senhor e aquele que se diz seu servidor. Neste grande processo que duraquais são as peças de convicção? Os Evangelhos litígio, não dão lugar a qualquer equívoco. Aos documentos autênticos, que não se podecontestar, sem negar a veracidade dos evangelistas e do própriose apoiam em testemunhos oculares,puramente especulativa, nascida três séculos mais tarde de uma polêmica engajada sobre a natureza abstrata do Verbo, vigorosamente combatida durante vários séculos, e que apenas prevaleceu pela pressão de um poder civil absoluto

Recomendamos, para mais informações, o estudo de

itens 54 a 68.

5º ENCONTRO ESPÍRITA SOBRE OBRAS PÓSTUMAS

18

sobre sua própria natureza? Que interpretações podem prevalecer contra afirmações tão formais e multiplicadas como estas:

ão venho por mim mesmo, mas aquele que me enviou éSaí de Deus e dele venho. — Eu falo o que vi junto de meu Pai.

lo, mas é para aqueles aos quais meu Pai o preparou. Pai, porque o Pai é maior do que eu (...) — Nada faço por mim mesmo, mas falo

(...) — Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso

Kardec faz um fechamento das ideias:

Quando se leem tais palavras, pergunta-se como se pôde sequer penslhes dar um sentido diametralmente oposto àquele que elas exprimem tão claramente, o

identificação completa da natureza e do poder entre o Senhor e aquele que se diz seu servidor. Neste grande processo que dura há quinze séculos,

as de convicção? Os Evangelhos - não há outras que, sobre o ponto em a qualquer equívoco. Aos documentos autênticos, que não se pode

contestar, sem negar a veracidade dos evangelistas e do próprio Jesus, que documentose apoiam em testemunhos oculares, o que contrapõem? Uma doutrina teórica,

, nascida três séculos mais tarde de uma polêmica engajada sobre a natureza abstrata do Verbo, vigorosamente combatida durante vários séculos,

revaleceu pela pressão de um poder civil absoluto.”

Recomendamos, para mais informações, o estudo de A Gênese,

OBRAS PÓSTUMAS

podem prevalecer contra afirmações

ão venho por mim mesmo, mas aquele que me enviou é o único Deus o que vi junto de meu Pai. — Não

para aqueles aos quais meu Pai o preparou. — Vou para Nada faço por mim mesmo, mas falo

Pai, para meu Deus e vosso

sequer pensar em àquele que elas exprimem tão claramente, o

identificação completa da natureza e do poder entre o Senhor e há quinze séculos,

que, sobre o ponto em a qualquer equívoco. Aos documentos autênticos, que não se pode

Jesus, que documentos o que contrapõem? Uma doutrina teórica,

, nascida três séculos mais tarde de uma polêmica engajada sobre a natureza abstrata do Verbo, vigorosamente combatida durante vários séculos,

A Gênese, capítulo 15,

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5º ENCONTRO ESPÍRITA SOBRE OBRAS PÓSTUMAS

19

Tema 4 – Dupla natureza de Jesus. Observação: Os textos em itálico são encontrados no item V do “Estudo sobre a

natureza do Cristo”, contidos na 1ª parte do livro Obras Póstumas.

Que é Deus? “Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas.”

(O Livro dos Espíritos;1ª Parte, capítulo I, questão nº 1)

Qual é o tipo mais perfeito que Deus tenha oferecido ao homem, para lhe servir de guia e de modelo? “Vede Jesus.”

(O Livro dos Espíritos; 3ª Parte; capítulo I, questão nº 625)

Nas perguntas acima, são os Espíritos da Codificação que nos dão a certeza da paternidade de Deus: Jesus é seu filho! Vamos conhecer mais do pensamento e das observações de Kardec:

„Poder-se-ia objetar que, em razão da dupla natureza de Jesus, suas palavras eram a expressão do seu sentimento como homem e não como Deus. Sem examinar, neste momento, através de que encadeamento de circunstâncias fomos conduzidos, bem mais tarde, à hipótese desta dupla natureza, admitamo-la por um instante, e vejamos se, ao invés de elucidar a questão ela não a complica a ponto de torná-la insolúvel.‰

„O que devia ser humano em Jesus, era o corpo, a parte material; deste ponto de vista compreende-se que ele tenha podido, e até tenha sofrido como homem. O que nele devia ser divino, era a alma, o espírito, o pensamento, numa palavra, a parte espiritual do Ser. Se ele sentia e sofria como homem; devia pensar e falar como Deus. Falava como homem ou como Deus? Aí está uma questão importante, pela autoridade excepcional dos seus ensinamentos. Se falava como homem, suas palavras são contestáveis; se falava como Deus, são indiscutíveis; é preciso aceitá-las e a elas nos conformar, sob pena de deserção e de heresia; o mais ortodoxo será aquele que mais se aproximar delas.‰

O equívoco dessa visão de que Jesus é Deus é muito bem colocada por Kardec; ela

poderia ter atendido as necessidades dos homens que dominavam a religião naquele

século, mas enfraquecia a verdadeira imagem de Jesus, como ele bem coloca, nos

parágrafos seguintes:

“ Dir-se-á que, sob seu envoltório corporal, Jesus não tinha consciência de sua natureza divina? Mas, se fosse assim, ele não teria nem mesmo pensado como Deus, sua natureza divina existiria em estado latente; só a natureza humana teria presidido à sua missão, aos seus atos morais como aos seus atos materiais. É, portanto, impossível abstrair-se de sua natureza divina, durante sua vida, sem enfraquecer sua autoridade.

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5º ENCONTRO ESPÍRITA SOBRE OBRAS PÓSTUMAS

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Mas, se ele falou como Deus, por que este incessante protesto contra sua natureza divina, que neste caso, ele não podia ignorar? Ele teria, portanto, se enganado, o que seria pouco divino, ou ele teria conscientemente enganado o mundo, o que o seria menos ainda. Parece-nos difícil sair deste dilema.

Se se admite que ele falou tanto como homem, quanto como Deus, a questão se complica, pela impossibilidade de se distinguir o que vinha do homem e o que vinha de Deus.

Se fosse o caso em que ele tivesse tido motivos para dissimular sua verdadeira

natureza durante sua missão, o meio mais simples seria o de não falar dela, ou de se exprimir como o fez em outras circunstâncias, de uma maneira vaga e parabólica, sobre os pontos, cujo conhecimento estava reservado ao futuro; ora, não é aqui o caso, já que estas palavras não têm nenhuma ambigüidade.

Enfim, se apesar de todas estas considerações, ainda se pudesse supor que, enquanto vivo, ele tivesse ignorado sua verdadeira natureza, esta opinião não é mais admissível, após sua ressurreição; pois, quando ele aparece aos seus discípulos, não é mais o homem que fala, é o espírito desprendido da matéria, que deve ter recobrado a plenitude de suas faculdades espirituais e a consciência de seu estado normal, de sua identificação com a divindade; e, entretanto, foi então que ele disse: Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus!

A subordinação de Jesus é ainda indicada pela sua qualidade de mediador que implica a existência de uma pessoa distinta; é ele que intercede junto a seu Pai; que se oferece em sacrifício para redimir os pecadores; ora, se ele próprio é Deus, ou se é igual a ele em todas as coisas, não tem necessidade de interceder, pois não se intercede junto a si mesmo.” Léon Denis nos traz seus estudos sobre a questão da natureza do Cristo; vamos acompanhá-lo e tentar entender o real motivo desta questão, na sua visão:

“Acabamos de ver que após a morte de Mestre os primeiros cristãos ainda possuíam, em suas relações com o mundo invisível, uma fonte fecunda de inspirações. Eles a utilizavam abertamente. Mas as instruções dos espíritos nem sempre estavam em harmonia com os projetos do sacerdócio nascente, (...)”

(Cristianismo e Espiritismo, capítulo 6)

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5º ENCONTRO ESPÍRITA SOBRE OBRAS PÓSTUMAS

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Léon Denis nos indica um conflito de interesses entre os homens da Igreja

nascente. Vamos continuar com ele:

“(...) à medida que se edifica a obra dogmática da Igreja nos primeiros séculos, como os espíritos se afastam pouco a pouco dos cristãos ortodoxos, para inspirar aqueles que, então, se designavam sob o nome de heresiarcas.”

(Cristianismo e Espiritismo, capítulo 6)

Heresiarca: chefe de uma seita herética, isto é, condenada pela Igreja como contrária aos seus dogmas.

“Desde o século 3 eles afirmavam que os dogmas impostos pela Igreja como um desafio à razão não eram mais que um obscurecimento do pensamento do Cristo. Combatiam o fausto já excessivo e escandaloso dos bispos, manifestando-se com energia contra o que era, aos seus olhos, um relaxamento da moral.”

“Esta oposição crescente tornava-se intolerável aos olhos da Igreja. Os heresiarcas, aconselhados e dirigidos pelos espíritos, entraram em luta aberta contra ela. Interpretavam o Evangelho com uma amplitude de visão que a Igreja não podia admitir sem arruinar seus interesses materiais (...)”

“Essa doutrina de esperança e de progresso não inspirava, aos olhos dos chefes da Igreja, bastante terror ao pecado e à morte. Não permitia assentar sobre bases bem sólidas a autoridade do sacerdote. O homem, podendo resgatar a si mesmo de suas faltas, não tinha necessidade do padre. (...)”

“Após ter visto, durante séculos, no dom da profecia ou da mediunidade, que todos podem adquirir, segundo a promessa dos apóstolos, um excelente meio para elucidar os problemas religiosos e fortificar a lei, a Igreja veio a declarar que tudo que provinha dessa fonte era pura ilusão ou obra do demônio. Asseverou, do alto da sua autoridade, ser ela mesma a única profecia viva, a única revelação perpétua e permanente. Tudo o que não emanava dela foi condenado, aviltado. (...)”

“(...) Mas os homens desinteressados, amando a verdade pela própria verdade, não eram bastante numerosos nos concílios. Doutrinas mais bem adaptadas aos interesses terrestres da Igreja foram elaboradas por essas célebres assembleias, que não cessaram de imobilizar e materializar a religião. (...)”

(Cristianismo e Espiritismo, capítulo 6)

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5º ENCONTRO ESPÍRITA SOBRE

É na cidade de Niceia que se define a Trindade.

Léon Denis nos diz, em sua visão, quem é Jesus:

Recomendamos a leitura do livro

leitura é extremamente agradável e nos dá uma excelente noção da história do cristianismo primitivo, pelo olhar do nosso patrono

“Jesus é um desses missionários divinos, e é o maior de todos. Despojado da falsa auréola da sua divindade, ele nos parece mais imponente. Seus sofrimentos, seus desfalecimentos, sua resignação nos deixam quase insensíveis vindos de um deus, mas nos sensibilizam profundamente em um irmão. filhos dos homens, o mais digno de admiração

“Essa construção maciça, que obstrui o caminho para a humanidade, surgiu na Terra em 325, com o concílio de Niceia, (...)”

“A noção da Trindade, tirada de uma símbolo, veio obscurecer e desnaturar essa alta ideia de Deus. (...) Ela não pode explicar como três pessoas se unem para constituir um só Deus. A consubstancialidade em nada elucida o problema. (...)”

“No entanto, essa concepção trinitária, tão obscura, tão incompreensível, tinha uma grande vantagem aos olhos da Igreja. Ela lhe permitia fazer de Jesus Cristo um Deus. Dava ao poderoso espírito que ela nomeava seu fundador uma autoridade, um prestígio cujo brilho recao segredo da sua adoção pelo concílio de Niceia

5º ENCONTRO ESPÍRITA SOBRE OBRAS PÓSTUMAS

22

se define a Trindade.

Léon Denis nos diz, em sua visão, quem é Jesus:

Recomendamos a leitura do livro Cristianismo e Espiritismo, de Léon Denis. extremamente agradável e nos dá uma excelente noção da história do

pelo olhar do nosso patrono.

“Jesus é um desses missionários divinos, e é o maior de todos. Despojado da falsa auréola da sua divindade, ele nos parece mais imponente. Seus sofrimentos, seus desfalecimentos, sua resignação nos deixam quase insensíveis vindos de um

ilizam profundamente em um irmão. Jesus é, de todos os filhos dos homens, o mais digno de admiração (...)”

(Cristianismo e Espiritismo

“Essa construção maciça, que obstrui o caminho para a humanidade, surgiu na Terra em 325, com o concílio de Niceia, (...)”

“A noção da Trindade, tirada de uma lenda hindu que era a expressão de um símbolo, veio obscurecer e desnaturar essa alta ideia de Deus. (...) Ela não pode explicar como três pessoas se unem para constituir um só Deus. A consubstancialidade em nada elucida o problema. (...)”

a concepção trinitária, tão obscura, tão incompreensível, tinha uma grande vantagem aos olhos da Igreja. Ela lhe permitia fazer de Jesus Cristo um Deus. Dava ao poderoso espírito que ela nomeava seu fundador uma autoridade, um prestígio cujo brilho recaía sobre ela e assegurava seu poder. o segredo da sua adoção pelo concílio de Niceia. (...)”

(Cristianismo e Espiritismo

OBRAS PÓSTUMAS

de Léon Denis. A extremamente agradável e nos dá uma excelente noção da história do

“Jesus é um desses missionários divinos, e é o maior de todos. Despojado da falsa auréola da sua divindade, ele nos parece mais imponente. Seus sofrimentos, seus desfalecimentos, sua resignação nos deixam quase insensíveis vindos de um

Jesus é, de todos os

Cristianismo e Espiritismo, capítulo 6)

“Essa construção maciça, que obstrui o caminho para a humanidade, surgiu

lenda hindu que era a expressão de um símbolo, veio obscurecer e desnaturar essa alta ideia de Deus. (...) Ela não pode explicar como três pessoas se unem para constituir um só Deus. A

a concepção trinitária, tão obscura, tão incompreensível, tinha uma grande vantagem aos olhos da Igreja. Ela lhe permitia fazer de Jesus Cristo um Deus. Dava ao poderoso espírito que ela nomeava seu fundador uma

sobre ela e assegurava seu poder. Aí está

Cristianismo e Espiritismo, capítulo 6)

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5º ENCONTRO ESPÍRITA SOBRE OBRAS PÓSTUMAS

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TEMA 5 – Opinião dos apóstolos e predição dos profetas em relação a Jesus. Observação: Os textos em itálico são encontrados nos itens VI e VII do “Estudo sobre

a natureza do Cristo”, contidos na 1ª parte do livro Obras Póstumas. Kardec aborda os comentários dos profetas e o que falavam sobre Jesus. Será que eles referendam essa dupla natureza?

„Até agora, nós nos apoiamos exclusivamente sobre as próprias palavras do Cristo, como o único elemento peremptório de convicções, porque fora isto, não pode haver senão opiniões pessoais.

De todas estas opiniões, as que têm mais valor são incontestavelmente as dos apóstolos, já que eles o assistiram na sua missão, e que, se ele lhes deu instruções secretas tocantes à sua natureza, delas encontraríamos traços nos seus escritos. Tendo vivido na sua intimidade, melhor do que quem quer que seja, deviam conhecê-lo. Vejamos, portanto, de que maneira consideraram-no.‰

„Oh! Israelitas, ouvi as palavras3 que vou dizer-vos: Sabeis que Jesus de Nazaré foi um homem que Deus tornou célebre entre vós por suas maravilhas, os prodígios e os milagres feitos por ele entre nós. · Todavia vós o crucificastes, e o fizestes morrer pelas mãos dos maus, tendo ele vos sido entregue por uma ordem expressa da vontade de Deus e por um decreto da sua presciência. (...)‰ (Prédica de São Pedro; Atos dos Apóstolos, II: 22 a 28)‰

„Moisés disse a nossos pais: o Senhor vosso Deus vos suscitará4entre vossos

irmãos um profeta como eu; ouvi-o em tudo o que ele vos disser. · Quem quer que não ouça este profeta será exterminado do meio do povo.‰

„É por vós, primeiramente, que Deus suscitou seu Filho, ele vos enviou para vos

abençoar, a fim de que cada um se convertesse de sua má vida.‰(Prédica de São Pedro; Ato dos Apóstolos,III: 22, 23, 26)‰

„Pedro e os outros apóstolos responderam: É preciso obedecer mais a Deus do que aos homens. · O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus que fizestes morrer pendurando-o no madeiro. Foi ele que Deus elevou para sua direita como sendo o Príncipe e o Salvador, para dar a Israel a graça da penitência e a remissão dos pecados.‰ (Resposta dos Apóstolos ao grande padre; Atos dos Apóstolos, V: 29 a 31)‰

No parágrafo abaixo, Kardec faz a seguinte reflexão:

„Estas citações testemunham claramente do caráter que os apóstolos atribuíam a Jesus. A ideia exclusiva que daí ressalta é a da sua subordinação a Deus, da constante supremacia de Deus, sem que nada aí revele um pensamento de assimilação qualquer da

3 Palavras – aqui tem o significado de “conteúdo da pregação apostólica primitiva”; segundo a Bíblia

de Jerusalém; Atos dos Apóstolos II: 22. Comentários; item g. 4 Suscitará – prover o nascimento de.

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natureza e do poder. Para eles, Jesus era um homem profeta, escolhido e abençoado por Deus. Portanto, não é entre os apóstolos que a crença na divindade de Jesus nasceu. São Paulo, que não conheceu Jesus, mas que, de ardoroso perseguidor tornou-se o mais zeloso e o mais eloquente discípulo da nova fé, e cujos escritos prepararam os primeiros formulários da religião cristã, não é menos explícito a este respeito: É o mesmo sentimento de dois seres distintos, e da supremacia do Pai sobre o filho.‰

Os espíritos da Codificação não nos deixam dúvidas sobre a missão de nosso Senhor

Jesus Cristo e de sua filiação a Deus nosso Pai:

Na predição dos profetas com relação a Jesus, o que Kardec nos leva a considerar?

“Além das afirmações de Jesus e a opinião dos apóstolos, há um testemunho cujo valor o mais ortodoxo dos crentes não poderia contestar, já que o citam, constantemente, como de um artigo de fé; é o do próprio Deus; quer dizer, o dos profetas, falando sob a inspiração e anunciando a vinda do Messias. Ora, eis as passagens da Bíblia consideradas como a predição deste grande acontecimento.”

“Eu o vejo, mas não agora; olho-o, mas não de perto; uma estrela procedeu de Jacó, e um cetro elevou-se de Israel, e transpassará os chefes de Moab, e destruirá todos os filhos de Set.” (Números, XXIV: 17)

“Eu lhes suscitarei um profeta, como tu, dentre seus irmãos, e colocarei minhas

palavras em sua boca e ele lhes dirá o que eu lhe tiver ordenado. E acontecerá que quem quer que não escute as palavras que ele houver dito em meu nome, eu lhe pedirei contas.” (Deuteronômio, XVIII: 18 e 19)

“Acontecerá, portanto, quando chegarem os dias de ires com teus pais, que

farei levantar-se tua posteridade depois de ti, um de teus filhos, e estabelecerei seu reino. Ele me construirá uma casa, e afirmarei seu trono para sempre. Ser-lhe-ei pai e

“Deus é único, e Moisés é o espírito que Deus enviou em missão para fazer com que ele fosse conhecido, não somente dos hebreus, mas também dos povos pagãos. O povo hebreu foi o instrumento que Deus utilizou para se revelar, por intermédio de Moisés e pelos profetas (...)

O Cristo foi o iniciador da moral mais pura, mais sublime; da moral

evangélico-cristã que deve renovar o mundo, aproximar os homens e torná-los irmãos (...)

São chegados os tempos em que as ideias morais devem se desenvolver para

que se realizem os progressos que estão nos desígnios de Deus (...) Moisés abriu o caminho, Jesus continuou a obra, o Espiritismo irá concluí-la.”

(O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo I – Instruções dos Espíritos – A

nova Era. Um espírito Israelita. Mulhouse, 1861)

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ele me será filho; e não retirarei dele a minha misericórdia, como a retirei daquele que foi antes de ti, e eu o estabelecerei na minha casa e no meu reino para sempre, e seu trono se firmará para sempre.” (I Paralipômenos,15 XVII: 11 a 14)

“Rejubila-te ao extremo, filha de Sião; solta gritos de júbilo, filha de Jerusalém!

Eis que teu rei virá a ti, justo e salvador humilde, e montado num jumento, e sobre o potro de uma jumenta. E eu suprimirei os carros de guerra de Efraim, e os cavalos de Jerusalém, e o arco do combate também será suprimido, e o rei falará de paz às nações; e sua dominação se estenderá de um mar ao outro mar, e do rio aos extremos da Terra.” (Zacarias, IX: 9 e 10)

“E ele (o Cristo) se manterá, e governará pela força do seu Deus Eterno, e eles retornarão, e agora ele será glorificado até o extremo da Terra, e é ele que fará a paz.” (Miqueias, V: 3 e 4)

Kardec conclui, aqui, com muita simplicidade e sabedoria: “A distinção entre Deus e seu futuro enviado é caracterizada da maneira mais

formal; Deus o designa de seu servidor, por conseguinte, seu subordinado; nada há, nas suas palavras, que implique a ideia de igualdade de poder, nem de consubstancialidade entre as duas pessoas. Deus estaria, pois, enganado, e os homens que vieram três séculos após Jesus Cristo teriam visto com mais justeza do que ele? Tal parece ser a pretensão deles.”

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TEMA 6 – O Verbo se fez carne, Filho de Deus e Filho do homem. Dupla natureza de Jesus. Observação: Os textos em itálico são encontrados nos itens VIII e IX do “Estudo sobre

a natureza do Cristo”, contidos na 1ª parte do livro Obras Póstumas.

„No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. · Todas as coisas foram feitas por ele; e nada do que foi feito o foi sem ele. · Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens; · E a luz brilhou nas trevas, e as trevas não a compreenderam.‰

“E o Verbo foi feito carne, e habitou entre nós; e vimos sua glória, sua glória tal qual o Filho único devia recebê-la do Pai; e ele, digo, habitou entre nós, cheio de graça e de verdade.” (João, I: 1 a 14) As passagens bíblicas citadas acima levaram muitos a interpretar que Jesus e Deus eram o mesmo ser. O que Kardec nos diz?

“Esta passagem dos Evangelhos é a única que, à primeira vista, parece encerrar implicitamente uma ideia de identificação entre Deus e a pessoa de Jesus; é também aquela sobre a qual estabeleceu-se mais tarde a controvérsia a este respeito. Esta questão da Divindade de Jesus só apareceu gradativamente; ela nasceu das discussões levantadas a propósito das interpretações dadas por alguns às palavras Verbo e Filho. Só no quarto século é que ela foi adotada, em princípio, por uma parte da Igreja. Este dogma é, pois, o resultado da decisão dos homens e não de uma revelação divina.”

“É de se notar que as palavras que citamos mais acima, são de João, e não de

Jesus, e que admitindo que não tenham sido alteradas, elas exprimem, na realidade, apenas uma opinião pessoal, uma indução, onde se encontra o misticismo habitual de sua linguagem; não poderiam, pois, prevalecer contra as afirmações reiteradas do próprio Jesus. Porém, aceitando-as tais quais são, elas não resolvem de modo algum a questão no sentido da divindade, pois elas se aplicariam igualmente a Jesus, criatura de Deus.”

“ Com efeito, o Verbo é Deus, porque é a palavra de Deus. Jesus tendo recebido esta palavra diretamente de Deus, com a missão de revelá-la aos homens, assimilou-a; a palavra divina da qual se impregnara, encarnou nele; ele a trouxe consigo ao nascer, e é com razão que Jesus pôde dizer: O Verbo foi feito carne, e habitou entre nós. Jesus pôde, então, ser encarregado de transmitir a palavra de Deus, sem ser o próprio Deus, como um embaixador transmite as palavras de seu soberano, sem ser o soberano. Segundo o dogma da divindade, é Deus quem fala; na outra hipótese, ele fala pela boca de seu enviado, o que nada tira à autoridade de suas palavras.”

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“Mas, quem autoriza esta suposição muito mais do que a outra? A única autoridade competente para decidir a questão, é a das próprias palavras de Jesus, quando ele diz: “Não falei de mim mesmo, mas meu Pai, que me enviou, é quem me prescreve, por seu mandamento o que devo dizer; — minha doutrina não é minha doutrina, mas a doutrina daquele que me enviou, a palavra que tendes ouvido não é minha palavra, mas a de meu Pai que me enviou.” É impossível exprimir-se com mais clareza e precisão.”

Jesus era um messias divino pelo duplo motivo de que ele tinha sua missão de

Deus, e que suas perfeições o colocavam em relação direta com Deus.” Emmanuel, em A Caminho da Luz, nos traz as seguintes passagens:

O DIVINO ESCULTOR

Sim, Ele havia vencido todos os pavores das energias desencadeadas; com as suas legiões de trabalhadores divinos, lançou o escopro da sua misericórdia sobre o bloco de matéria informe, que a Sabedoria do Pai deslocara do Sol para as suas mãos augustas e compassivas. (...)

(...) Organizou o cenário da vida, criando, sob as vistas de Deus, o indispensável à existência dos seres do porvir. (...) (Escopro: ferramenta metálica para lavrar pedras, madeiras etc.) O VERBO NA CRIAÇÃO TERRESTRE

A ciência do mundo não lhe viu as mãos augustas e sábias na intimidade das energias que vitalizam o organismo do Globo. Substituíram-lhe a providência com a palavra “natureza”, em todos os seus estudos e análises da existência, mas o seu amor foi o Verbo da criação do princípio, como é e será a coroa gloriosa dos seres terrestres na imortalidade sem fim. E quando serenaram os elementos do mundo nascente, quando a luz do Sol beijava, em silêncio, a beleza melancólica dos continentes e dos mares primitivos, Jesus reuniu nas Alturas os intérpretes divinos do seu pensamento. Viu-se, então, descer sobre a Terra, das amplidões dos espaços ilimitados, uma nuvem de forças cósmicas, que envolveu o imenso laboratório planetário em repouso.

Daí a algum tempo, na crosta solidificada do planeta, como no fundo dos oceanos, podia-se observar a existência de um elemento viscoso que cobria toda a Terra.

Estavam dados os primeiros passos no caminho da vida organizada. Com essa massa gelatinosa, nascia no orbe o protoplasma e, com ele, lançara Jesus à superfície do mundo o germe sagrado dos primeiros homens.

(A Caminho da Luz, capítulo I)

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E sobre a expressão “Filho de Deus e filho do homem”, o que Kardec traz para nossas reflexões?

“O título de Filho de Deus, longe de implicar igualdade, é bem mais o indício de uma submissão; ora, ninguém é submetido a si mesmo, mas a alguém.

Para que Jesus fosse absolutamente igual a Deus, seria necessário que fosse como ele, de toda a eternidade, quer dizer, que ele fosse incriado; ora, o dogma diz que Deus o gerou de toda a eternidade; mas quem diz gerou, diz criou; que fosse ou não de toda a eternidade, não deixa de ser uma criatura, e, como tal, subordinada a seu Criador; é a ideia implicitamente encerrada na palavra Filho.

Jesus nasceu no tempo? Ou, por outra; houve um tempo, na eternidade passada,

ou ele não existia? Ou ele é coeterno como Pai? Tais são as sutilezas sobre as quais disputou-se durante séculos. Sobre que autoridade se apoia a doutrina da coeternidade que passou ao estado de dogma? Na opinião dos homens que a estabeleceram. Mas, estes homens, sobre que autoridade fundam sua opinião? Não é sobre a de Jesus, já que ele se declara subordinado; não é sobre a dos profetas que o anunciam como o enviado e o servidor de Deus. Em que documentos desconhecidos mais autênticos que os Evangelhos, eles encontraram esta doutrina? Aparentemente, na consciência e na superioridade de suas próprias luzes. Deixemos, pois, estas vãs discussões que não poderiam conduzir a nada, e cuja própria solução, se fosse possível, não tornaria melhores os homens. Digamos que Jesus é Filho de Deus, como todas as criaturas; ele o chama de seu Pai como nos ensinou a chamá-lo de nosso Pai. Ele é o Filho bem-amado de Deus, porque tendo chegado à perfeição que aproxima de Deus, possui toda sua confiança e toda sua afeição; ele se diz Filho único, não porque seja o único que tenha chegado a esse grau, mas porque era o único predestinado a desempenhar esta missão na Terra.

Se a qualificação de Filho de Deus parecia apoiar a doutrina da divindade, não acontecia o mesmo para a de Filho do homem que Jesus deu a si mesmo na sua missão, e que constituiu objeto de muitos comentários.

É evidente que a qualificação de Filho do homem quer aqui dizer: que nasceu do homem, por oposição ao que está fora da humanidade. A última citação, tirada do livro de Judite, não deixa dúvida sobre a significação dessa palavra, empregada num sentido muito literal. Deus não designa, senão Ezequiel, sob este nome, sem dúvida, para lembrar-lhe que, apesar do dom da profecia, que lhe fora concedido, ele não deixa de pertencer à humanidade, e a fim de que não se creia de uma natureza excepcional.

Jesus se dá a si mesmo esta qualificação com uma persistência notável, pois só

em muito raras circunstâncias é que ele se diz Filho de Deus. Em sua boca, não pode haver outra significação, senão a de lembrar que, ele também, pertence à humanidade; desse modo, ele se identifica aos profetas que o precederam e aos quais se comparou fazendo alusão à sua morte, quando diz: Jerusalém que mata os profetas! A insistência com que se designou como Filho do homem, parece um protesto antecipado contra a qualidade que ele prevê que se lhe dará mais tarde, a fim de que fique bem constatado que ela não saiu de sua boca.”

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“Deve-se notar que, durante esta interminável polêmica que apaixonou os homens, durante uma longa série de séculos, e que dura ainda, que acendeu as fogueiras e fez derramar rios de sangue, discutiu-se sobre uma abstração, a natureza de Jesus, da qual se fez a pedra angular do edifício, embora não se tenha absolutamente falado dele; e que se tenha esquecido de uma coisa, a de que o Cristo disse ser toda a lei e os profetas: o amor a Deus e ao próximo, e a caridade da qual fez a condição expressa da salvação. Prendeu-se à questão da afinidade de Jesus com Deus, e emudeceu-se completamente com relação às virtudes, que ele recomendou e das quais deu o exemplo.

O próprio Deus ficou apagado, diante da exaltação da personalidade do Cristo. No símbolo de Niceia, foi dito simplesmente: Cremos num Deus único, etc.; mas como é este Deus? Não há nenhuma menção aos seus atributos essenciais: a soberana bondade e a soberana justiça. Estas palavras teriam sido a condenação dos dogmas que consagram sua parcialidade para com certas criaturas, sua inexorabilidade, seu ciúme, sua cólera, seu espírito vingativo, com os quais se autoriza para justificar as crueldades em seu nome.

Se o Símbolo de Niceia, que se tornou o fundamento da fé católica, era conforme o espírito do Cristo, por que o anátema5que o termina? Não é a prova de que ele é a obra da paixão dos homens? Aliás, a que se deve sua adoção? À pressão do Imperador Constantino, que dele tinha feito uma questão mais política do que religiosa. Sem sua ordem, o Concílio de Niceia não teria acontecido; sem a intimidação que exerceu, é mais que provável que o arianismo levasse a melhor. Dependeu, portanto, da autoridade soberana de um homem, que não pertencia à Igreja, que reconheceu, mais tarde, o erro político que cometera, e que, inutilmente, procurou voltar atrás, conciliando os partidos, para que nós não fôssemos arianos ao invés de católicos, e que o arianismo não seja hoje a ortodoxia, e o catolicismo a heresia.

Após dezoito séculos de lutas e disputas vãs, durante os quais colocou-se completamente de lado a parte mais essencial do ensino do Cristo, a única que podia assegurar a paz da humanidade, estamos cansados destas discussões estéreis que só conduziram a perturbações, engendraram a incredulidade, e cujo objeto não satisfaz a razão.

Há, hoje, uma tendência manifesta da opinião geral de voltar às ideias fundamentais da primitiva Igreja; e à parte moral do ensino do Cristo, porque é a única que pode tornar melhores os homens. Essa é clara, positiva, e não pode dar lugar a nenhuma controvérsia. Se a Igreja tivesse seguido este caminho, desde o princípio, ela seria hoje, todo-poderosa ao invés de estar no seu declínio; ela teria congregado a imensa maioria dos homens, ao invés de ter sido esfacelada pelas facções.

Quando os homens marcharem sob esta bandeira, eles se estenderão uma mão fraterna, ao invés de se lançar o anátema e a maldição, por questões que a maior parte do tempo não compreendem.

5 Reprovação.

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Esta tendência de opinião é o sinal de que o momento de levar a questão para seu verdadeiro terreno chegou.”

CONCLUSÃO

Vamos encontrar, na obra A Gênese, capítulo XV, item 63, o seguinte texto de Kardec:

“ O maior milagre que Jesus realizou, aquele que atesta verdadeiramente sua superioridade, foi a revolução que os seus ensinamentos operaram no mundo, apesar da exiguidade dos seus meios de ação.”

Está em curso a grande revolução moral da humanidade, lenta é verdade, e que nos mostra a divindade de Jesus, sem ser Deus, mas, sim, seu enviado, bem como a sua missão junto à humanidade terrestre. Dá a sua vida para nos fazer conhecer o verdadeiro Deus, o Pai de amor, justiça e misericórdia. Cabe-nos, agora, como cristãos, no nosso caso “Espíritas Cristãos”, tornar-nos dignos do sacrifício de nosso irmão maior, JESUS CRISTO.

“Assim acho preferível tomar o Cristo por um espírito de elevada hierarquia que nos veio ensinar o caminho da evolução espiritual, em vez de considerá-lo um deus que aqui esteve para resgatar pecados alheios, no sofrimento vicário da cruz, disputando nossos espíritos com o demônio.”

(Procuradores de Deus, Item 49 – A divindade de Jesus)

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ANEXO 1 Trazemos para você um pouco da história, de forma bem sintética, das passagens que nos levaram a discussão da natureza de Jesus Cristo. “A Igreja foi verdadeiramente democrática e popular apenas em suas origens, quando o espírito de Jesus estava com ela, durante as épocas apostólicas, período de perseguição e de martírio; é o que então explicava sua força de proselitismo, a rapidez de suas conquistas, o seu poder de persuasão e de extensão. Desde o dia em que foi reconhecida oficialmente pelo Império, a partir da conversão de Constantino, ela tornou-se amiga dos Césares, a aliada e, algumas vezes, a cúmplice dos poderosos (...) (Cristianismo e Espiritismo – Prefácio da 2ª edição)” Após o desencarne de Jesus, os apóstolos vão se espalhar pelo mundo conhecido à época, levando a palavra de Jesus. Os que aceitam as ideias do Cristo são denominados cristãos. Durante meio século, as tradições cristãs são oferecidas de forma oral, atraindo muitos para o cristianismo. É, em torno dos anos sessenta a oitenta do primeiro século, que surgem as primeiras narrações escritas. Assim vão nascer os vários evangelhos, dos quais, por escolha dos representantes da Igreja, alguns vão formar o Novo Testamento.

Como era ser cristão no primeiro século? Léon Denis nos traz, em sua obra citada acima: “Nesta época, todos os apóstolos, menos João e Felipe estavam mortos; o laço que unia os cristãos era ainda bem frágil. Eles formavam grupos isolados uns dos outros, que recebiam o nome de igrejas (ecclesia, assembleia), dirigidos cada um por um bispo ou zelador, nomeado por eleição.”

No ano de 64 d.C., Roma é parcialmente incendiada e o imperador Nero culpa os cristãos, iniciando uma perseguição a eles. Muitos deles foram perseguidos e mortos. Até o século IV d.C., continuam a ser perseguidos e não podem praticar abertamente seu credo.

Roma vivia momentos difíceis com uma série de guerras civis e, somente quando Flávio Valério Aurélio Constantino se torna imperador do oriente é que vai haver uma mudança neste cenário. Em uma dessas guerras, ele enfrentou o exército de Maxêncio, imperador do ocidente (Roma), em Adrinoplano, em 312 d.C. Antes da batalha, ele tem, durante o sono, a visão de uma cruz; manda, então, os soldados pintarem uma cruz em seus escudos, vai para a batalha e sai vencedor, creditando a vitória ao Deus cristão. Esta narrativa se torna um fato histórico.

A partir deste evento, por ordem do imperador Constantino, através do Édito de Milão, em 313 d.C., a tolerância com os cristãos é reestabelecida, com o fim das perseguições, com devoluções de propriedades e liberdade de culto.

A Igreja prospera, mas entra em muitos desacordos, ou cismas. Constantino, após unificar o Império Romano, convoca o primeiro Concílio de Nicéia, em 325 d.C., buscando a unidade dentro da Igreja. Os bispos cristãos de todas as partes do Império são convocados. É neste Concílio que se discute a divergência sobre a natureza de Jesus e sua relação com Deus, entre outras questões. O presbítero Ário defendeu a supremacia de Deus, o Pai, e sustentou que Jesus, o filho, foi criado por um ato da sua vontade. Essa versão do arianismo foi derrotada neste Concílio.

A conversão do Império Romano ao cristianismo só ocorreu com o imperador Teodósio I, em 380 d.C., com o Édito de Tessalônica.

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ANEXO 2

“O Espiritismo não é contrário à crença dogmática relativa à natureza do

Cristo e, neste caso, pode-se dizer o complemento do Evangelho, se o contradiz? A solução desta questão não toca apenas de maneira acessória o Espiritismo,

que não deve preocupar-se com dogmas particulares de tal ou qual religião. Simples doutrina filosófica, não se apresenta como campeão, nem como adversário sistemático de nenhum culto, deixando a cada um a sua crença. A questão da natureza do Cristo é capital do ponto de vista cristão. Não pode ser tratada levianamente, e não são as opiniões pessoais, nem dos homens, nem dos Espíritos, que a podem decidir. Em assunto semelhante, não basta afirmar ou negar, é preciso provar. Ora, de todas as razões alegadas a favor ou contra, nenhuma há que não seja mais ou menos hipotética, visto que todas são questionáveis. Os materialistas não viram a coisa senão com os olhos da incredulidade e a ideia preconcebida da negação; os teólogos, com os olhos da fé cega, e a ideia preconcebida da afirmação; nem uns, nem outros estavam em condições necessárias de imparcialidade; interessados em sustentar sua opinião, só viram e buscaram o que a ela poderia ser favorável e fecharam os olhos ao que lhe podia ser contrário. Se, desde que a questão foi agitada, ainda não foi resolvida de maneira peremptória, é que faltaram elementos, os únicos que lhe podiam dar a chave, absolutamente como faltava aos sábios da antiguidade o conhecimento das leis da luz, para explicar o fenômeno do arco-íris.

O Espiritismo é neutro nesta questão; não está mais interessado numa solução do que na outra; marchou sem isto e marchará ainda, seja qual for o resultado; colocado fora dos dogmas particulares, não é para ele questão de vida ou de morte. Quando a abordar, apoiando todas as suas teorias nos fatos, resolvê-la-á pelos fatos, e em tempo oportuno; se tivesse urgência, ela já estaria resolvida. Os elementos de uma solução hoje estão completos, mas o terreno ainda não está preparado para receber a semente. Uma solução prematura, fosse qual fosse, encontraria muita oposição de parte a parte, e o Espiritismo perderia mais partidários do que os conquistaria. Eis por que a prudência nos impõe o dever de nos abstermos de toda polêmica sobre o assunto, até que estejamos certos de poder colocar o pé em terra firme. Enquanto se espera, deixemos que discutam os prós e os contras fora do Espiritismo, sem nisto tomar parte, deixando que os dois partidos esgotem seus argumentos. Quando o momento for propício, levaremos para a balança, não a nossa opinião pessoal, que não tem nenhum peso, nem pode fazer lei, mas fatos até este momento não observados, e então cada um pode julgar com conhecimento de causa. Tudo quanto podemos dizer, sem prejulgar a questão, é que a solução, em qualquer sentido em que for dada, não contradirá nem os atos, nem as palavras do Cristo, mas, ao contrário, os confirmará, elucidando-os.

Portanto, aos que nos perguntam o que diz o Espiritismo sobre a natureza do Cristo, respondemos invariavelmente: “É uma questão de dogma, estranha ao objetivo da doutrina.” O objetivo que todo espírita deve perseguir, se quiser merecer esse título, é o seu próprio melhoramento moral. Sou melhor do que o era? Corrigi-me de algum defeito? Fiz o bem ou o mal ao próximo? Eis o que todo espírita sincero e convicto deve se perguntar. Que importa saber se o Cristo era Deus, ou não, se se é sempre egoísta, orgulhoso, ciumento, invejoso, colérico, maledicente, caluniador? A melhor maneira de honrar o Cristo é imitá-lo em sua conduta. Fazendo o contrário do que ele diz, quanto mais se o eleva no pensamento, menos se é digno dele e mais se o insulta e profana. O Espiritismo diz aos seus adeptos: “Praticai as virtudes recomendadas pelo Cristo e

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sereis mais cristãos do que muitos que se fazem passar como tais.” Aos católicos, protestantes e outros, ele diz: “Se temeis que o Espiritismo perturbe a vossa consciência, não vos ocupeis dele.” Dirige-se apenas aos que a ele vêm livremente, e dele necessitam. Não se dirige aos que têm uma fé qualquer e que esta fé basta, mas aos que não a têm ou que duvidam, e lhes dá a crença que lhes falta, não mais particularmente a do catolicismo, do protestantismo, do judaísmo ou do islamismo, mas a crença fundamental, base indispensável de toda religião. Aí termina o seu papel. Estabelecida esta base, cada um é livre para seguir a rota que melhor satisfaça à sua razão.”

Allan Kardec

(Revista Espírita, setembro de 1867 – Caráter da Revelação Espírita, item 44, nota 24)

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Biografia do Patrono

Nicolas Camille Flammarion foi um brilhante cientista francês do século dezenove, cujas qualidades excepcionais se revelaram desde cedo. Aos quatro anos de idade, já sabia ler e, aos cinco, dominava rudimentos de gramática e aritmética. Com apenas 15 anos, foi admitido como estudante de astronomia no Observatório de Paris, área em que se destacou, realizando experiências como a medição de estrelas duplas e cálculos de suas órbitas, a direção das correntes aéreas, estudos higrométricos do ar, análise da rotação de corpos celestes, mapas do planeta Marte e trabalhos sobre a constituição física da Lua. Como sofria com a intransigência de seu dirigente, que não podia conceber a ideia de ter um rapazola acompanhando-o em estudos tão avançados, decidiu continuar sua trajetória com mais liberdade, fundando o Observatório de Juvisy, em 1863, e a Sociedade Astronômica da França, quatro anos depois. Várias foram as suas produções científicas, que giram todas em torno do postulado espírita da pluralidade dos mundos habitados, cuja coincidência do tema o levou a procurar Allan Kardec, passando a fazer parte das reuniões da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e das conhecidas experiências realizadas nos primórdios do espiritismo. Tornou-se espírita convicto e amigo de pessoal de Kardec, tendo sido o orador designado para proferir as últimas palavras à beira de seu túmulo. “Quanto a mim, humilde estudante do prodigioso problema do universo, eu pesquiso, interrogo as esfinges. O que somos nós? Sobre esse aspecto, não sabemos nada além do que se sabia na época em que Sócrates colocava como princípio a máxima: Conhece-te a ti mesmo, muito embora tenhamos medido a distância das estrelas, analisando o sol e pesado os mundos. Será que o conhecimento de nós mesmos nos interessaria menos que o conhecimento do mundo exterior? Não é provável. Estudemos, pois, com a convicção de que toda pesquisa sincera é útil ao progresso da humanidade.”

(As Forças Naturais Desconhecidas – Camille Flammarion)

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5º ENCONTRO ESPÍRITA SOBRE OBRAS PÓSTUMAS

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Referências Bibliográficas: KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1ª edição, Rio de Janeiro, ed. CELD, 2007. ______. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 5ª edição, Rio de Janeiro, ed. CELD, 2010. ______. O Livro dos Médiuns. 1ª edição, Rio de Janeiro, ed. CELD, 2010. ______. A Gênese. 3ª edição, Rio de Janeiro, ed. CELD, 2010. ______. Obras Póstumas. 1ª edição, Rio de Janeiro, ed. CELD, 2002. ______. Revista Espírita 1867. 2ª edição, Rio de Janeiro, ed. FEB, 2004. DENIS, Léon. Cristianismo e Espiritismo. 2ª edição, Rio de Janeiro, ed. CELD, 2012.

MIRANDA, Hermínio C. Os Procuradores de Deus, 2… edição, São Bernardo do Campo

- SP, ed. Editora Espírita Correio Fraterno, 1967. XAVIER, Francisco Cândido. Pelo Espírito Emmanuel. A Caminho da Luz, 22… edição,

Rio de Janeiro, ed. FEB, 1996.

Bíblia de Jerusalém, 1ª edição, São Paulo, ed. PAULUS, 2002. DIAS, Haroldo Dutra. O Novo Testamento. 1ª edição, Brasília-DF, ed. FEB, 2013.

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o5 Encontro Espírita sobre Obras Póstumas

Tema:

“A natureza do Cristo”

Trazemos a todos uma palavra de encorajamento, para que ninguém desista

de lutar, de trabalhar no bem, de vencer o mal que teima em permanecer junto aos

nossos corações humanos.

Tu que lutas, que sofres; tu que trabalhas não te esqueças: estás amparado por

Deus e por Jesus. Se por acaso as dificuldades e os problemas forem tão grandes que

te pareçam insuperáveis, recorda-te sempre da bondade de Deus, que vela por

todos nós. Não te deixes abater nem te deixes amofinar! Deus é o Pai, e as lutas hão

de encontrar fim um dia.

Diante de homens que agem de modo inconsiderado e diante das nações que

agem altaneiras sobre outras nações, dominando-as e tomando-lhes à força as

riquezas, não esqueçam: tudo passa, tudo segue. Os homens já se perturbaram

muito e passaram também. Aqueles outros que souberam permanecer venceram,

superaram, caminharam na direção do bem permanente.

Que todos nós que estamos aqui, envolvidos nas tarefas do estudo e da paz,

não nos esqueçamos de que tudo passa, menos Deus.

Que ele nos ajude, abençoe e fortaleça, e que dê a todos a confiança, a certeza

de que o bem será feito, a despeito de todos os gestos contrários!

Que Deus fique conosco, agora e sempre!

Hermann

(Mensagem “Ânimo Sempre”, extraída do livro Palavras do Coração, vol. 2. Recebida pela psicofonia do médium Altivo C. Pamphiro, em 13/3/1993, no CELD, RJ.)