centro de políticas estratégicas (cpe) · através de políticas públicas activas e em cujo...

123
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel CPE Centro de Políticas Estratégicas Competitividade Industrial de Cabo Vede 1 Centro de Políticas Estratégicas (CPE) Relatório sobre a Competitividade Industrial de Cabo Verde Cabo Verde, 10 de Fevereiro de 2012

Upload: vohanh

Post on 13-Dec-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

1

Centro de Políticas Estratégicas (CPE)

Relatório sobre a Competitividade Industrial de Cabo Verde

Cabo Verde, 10 de Fevereiro de 2012

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

2

LISTA DE ABREVIATURAS _____________________________________________________________________

ACP

ADEI

AGOA

ANAC

AT

BT

CEDEAO

COMESA

CPE

CNUCED/

UNCTAD

CTCI

CVI

DOI

EPZ

IDA

IDE

ILO

IOC

IOR-ARC

INE

ISO

MAT

MNC

MT

African, Caribbean and Pacific

Agência para o Desenvolvimento Empresarial e Inovação

Africa Growth Opportunity Act

Agência Nacional das Comunicações

Alta Tecnologia

Baixa Tecnologia

Communauté Economique des Etats de l’Afrique de l’Ouest

Common Market for Eastern and Southern Africa

Centro de Políticas Estratégicas

Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o

Desenvolvimento

Classificação Tipo para o Comércio Internacional

Cabo Verde Investimentos

Digital Opportunity Index

Exporting Processing Zone

International Development Association

Investimento Directo Estrangeiro

International Labour Organization

Indian Ocean Commission

Indian Ocean Rim-Association for Regional Cooperation

Instituto Nacional de Estatística

International Standard Organisation

Média e Alta Tecnologia

Multinational company

Média Tecnologia

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

3

NOSI

OCDE

ONUDI/UNIDO

PIB

PIP

PME

PRM

I&D

RN

SADC

TIC

UE

UIT

UNcomtrade

VAM

Núcleo Operacional para a Sociedade de Informação

Organisation pour la Coopération et le Développement Economique

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

Produto Interno Bruto

Programa de Investimento Público

Pequena e Média Empresa

País de Rendimento Médio

Investigação e Desenvolvimento

Recursos Naturais

Southern African Development Community

Tecnologias da Informação e da Comunicação

União Europeia

Union Internationale des Télécommunications

United Nations Commodity Trade Statistics Database

Valor Acrescentado Manufactureiro

PREFÁCIO

O governo definiu como principais eixos estratégicos da política, o desenvolvimento de

um Programa de Investimentos Públicos (PIP) em infraestruturas ambicioso, a criação

de medidas de melhoria do ambiente de negócios, de criação de estratégias de

marketing e de certificação e a captação de fluxos de Investimento Directo Estrangeiro

(IDE), fundamental para a materialização do PIP uma vez que o país depende dos

financiamentos externos para os programas de investimento de grande dimensão.

O Centro de Políticas Estratégicas (CPE) foi criado com a atribuição de promover o

aumento da capacidade do país na concepção de políticas económicas e de gerir e

apoiar os decisores nacionais na implementação da estratégia de transformação do

país. Nesse contexto, o CPE em parceria com a Organização das Nações Unidas para

o Desenvolvimento Industrial (ONUDI), promoveu a realização de um estudo tendo em

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

4

vista o reforço da capacidade industrial de Cabo Verde e a sua transformação a longo

prazo, conscientes que a indústria é um dos factores críticos de sucesso dos países

desenvolvidos ou de países de rendimento médio (PRM) como Cabo Verde, fonte de

emprego, de criação de valor acrescentado, de aquisição de novas tecnologias,

conhecimento e formas de trabalhar, de exportação e internacionalização.

O estudo pretende apresentar a situação industrial do país a partir da informação

macroeconómica e assim estabelecer as bases necessárias para o desenho de uma

política industrial. O estudo insere a indústria nacional num ambiente mais vasto, de

países africanos e/ou de países com características de insularidade semelhantes. O

documento, apesar de não ser exaustivo na sua análise, apresenta de forma sucinta

os factores que afectam a competitividade industrial e sobre os quais se deverá actuar

através de políticas públicas activas e em cujo desenho e implementação será

imprescindível a participação do sector privado.

O documento foi originalmente analisado por vários intervenientes institucionais e

empresariais de forma a incorporar as suas sugestões e comentários e assim

enriquecer o conteúdo.

O presente documento e os futuros estudos a serem desenvolvidos pelo CPE em

parceria com a ONUDI pretendem estabelecer as bases de apoio ao desenvolvimento

industrial pelos empresários cabo-verdianos.

Objectivos e Abordagem

O estudo tem por objectivo realizar um diagnóstico do sector industrial de Cabo Verde,

na vertente da produção industrial, utilizando nesse sentido a metodologia da ONUDI,

conforme explicitada mais adiante.

Pretende-se caracterizar a evolução da competitividade industrial do país no período

entre 2000 e 2009, o posicionamento de Cabo Verde relativamente aos indicadores

chave da ONUDI, o impacto dos principais produtos industriais e a sua evolução no

sector, a atractividade por áreas de negócio industriais mas igualmente as principais

condicionantes que impedem um maior desenvolvimento da indústria no país.

A abordagem consistiu na utilização de bases de dados internacionais actualizadas

com informação relevante de 2000 a 2009 e integra análises sobre o desempenho de

sectores e produtos específicos da indústria.

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

5

De forma a complementar a informação quantitativa com uma vertente mais qualitativa

das operações no terreno, foram também realizadas reuniões com alguns dos

principais intervenientes do sector, a nível político, empresarial e associativo.

Por fim, face aos desafios actuais de Cabo Verde e considerando as tendências

globais da indústria, são igualmente tecidas algumas considerações relevantes,

inerentes a potenciais oportunidades futuras para a indústria do país.

AGRADECIMENTOS

O estudo sobre a Competitividade Industrial de Cabo Verde foi elaborado no âmbito do

programa de Apoio Institucional e Criação de Capacidade de Análise da

Competitividade em curso pela ONUDI em Cabo Verde, a decorrer com o Centro de

Políticas Estratégicas (CPE), em estreita colaboração com o Ministério da Indústria,

Turismo e Energia (MITE).

O estudo tem por base o curso de capacitação sobre indicadores de competitividade

realizado na Praia em 2010 e é o resultado do trabalho desenvolvido por uma equipa

de profissionais nacionais e internacionais. O trabalho foi realizado sob a direcção de

Manuel Pinheiro, Coordenador do Centro de Políticas Estratégicas, com a orientação e

monitorização de Manuel Albaladejo, Gestor de Projectos da ONUDI.

Luís Barreiros foi o principal assessor internacional da ONUDI na elaboração do

documento, apoiado pela consultora da ONUDI Marielena Ayala.

A análise realizada integrou os contributos dos técnicos dos vários Ministérios que

participaram na formação facultada pelos formadores da ONUDI em Cabo Verde em

2010 sobre indicadores de competitividade industrial e cadeias de valor e que

contribuíram em áreas específicas do relatório, nomeadamente Júlio Delgado e Elias

Pereira do Banco de Cabo Verde (BCV), Gil Costa, da Câmara de Comércio da

Indústria, Agricultura e Serviços de Barlavento (CCIASB), João Tavares, do Centro de

Políticas Estratégicas (CPE), Ludovina Évora Dias, do Sector Privado, José Manuel

Mendes e João Cardoso, do Instituto Nacional de Estatística (INE), Pedro Gomes

Estêvão e Jailson Jesus da Veiga Semedo, do Ministério da Indústria, Turismo e

Energia (MITE).

Os resultados preliminares do estudo foram apresentados no dia 22 de Novembro de

2010 durante o workshop de Celebração do Dia da Industrialização em África em que

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

6

estiveram presentes representantes dos vários organismos do Governo e do sector

privado.

Um especial agradecimento à ONUDI pelo apoio técnico e financeiro facultado, o qual

permitiu o desenvolvimento das competências técnicas e humanas necessárias para

medir os indicadores que ilustram o desempenho industrial do país. Finalmente, uma

menção especial a todas as instituições e pessoas que contribuíram directa ou

indirectamente na elaboração do presente estudo.

O presente documento servirá de consulta para a futura elaboração da Estratégia

Industrial de Cabo Verde.

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

7

SUMÁRIO EXECUTIVO

Introdução

Apesar de Cabo Verde já pertencer aos países de rendimento médio desde 2008 e de

investir anualmente cerca de 147 milhões de USD em infraestruturas (cerca de 15%

do PIB), um dos níveis mais elevados no continente africano, o desenvolvimento das

infraestruturas (transportes, energia eléctrica, água) no país ainda representa um

verdadeiro desafio e tem afectado a competitividade industrial de Cabo Verde avaliada

pelo índice de desempenho da competitividade industrial (IDCI) da ONUDI.

Índice de Desempenho da Competitividade Industrial (IDCI)

Em 2009, dos onze países em análise1, Cabo Verde, com um índice de desempenho

da competitividade industrial de 20,8 colocou-se em 7º lugar no ranking, tendo descido

2 lugares em relação ao ano 2000. Além disso, o valor diminuiu, passando de 26,1 em

2000 para 20,8 em 2009.

O Valor Acrescentado Manufacturado (VAM) de Cabo Verde em 2000 era de

49,35 milhões de USD, tendo atingido em 2009 o valor de 75,84 milhões de USD,

valor que reflecte um crescimento médio anual (a preços constantes) de 5.5%

entre 2000-2009, o segundo maior crescimento no período dos países analisados.

O valor do VAM em 2000 era muito reduzido devido à sua base industrial reduzida,

o que originou um crescimento acentuado em 10 anos.

Em 2009, o VAM/capita de Cabo Verde cifrou-se em 150 USD, valor acima de

países como a Argélia, Costa do Marfim, Senegal, Gana, Nigéria e Níger. O país

em 10 anos conseguiu subir 2 lugares no ranking dos 11 países.

As exportações manufactureiras de Cabo Verde passaram de 10 milhões de

USD em 2000 para 21 milhões de USD em 2009. No entanto, Cabo Verde ocupa a

última posição no ranking dos países analisados, tanto no ano 2000 como em

2009. Apesar do crescimento, o país continua a ter uma base industrial muito

reduzida e direccionada para a transformação do pescado que tem como destino o

mercado Europeu. Este incremento das exportações nesse período deveu-se ao

1 Senegal, Marrocos, Tunísia, Argélia, lhas Maurícias, Malta, Costa do Marfim, Gana, Níger e Nigéria

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

8

facto de existirem um número importante de empresas francas cuja produção foi

na quase totalidade direccionada para o mercado externo.

Cabo Verde, em termos de exportações manufactureiras per capita (23 USD em

2000 e 42 USD em 2009), não obstante um importante incremento, ocupou

sempre os últimos postos do ranking superando apenas o Gana, o Níger e a

Nigéria.

A contribuição do VAM ao PIB em Cabo Verde diminuiu de 9,3% em 2000 para

6,7% em 2009 e o país ocupava em 2009 a mesma 8ª posição que já ocupava em

2000 no ranking elaborado, à frente unicamente do Níger, Argélia e Nigéria. Refira-

se que todos os países em análise sofreram um decréscimo quando se comparam

os valores de 2000 com valores de 2009, o que demonstra que mesmo em países

mais dinâmicos como as Maurícias ou Malta, a crise internacional que se iniciou

em 2007 tem vindo a ter efeitos negativos no sector industrial desses países.

A contribuição das actividades de média e alta tecnologia (MAT) no VAM do

país apresenta a sofisticação do sector produtivo do grupo de 11 países

considerados. Malta, cujas actividades de média e alta tecnologia representaram

47% do VAM total, lidera o ranking da sofisticação do sector produtivo dos 11

países. O país apostou fortemente no sector da electrónica e de computadores,

tendo fábricas a operarem nessas áreas. Cabo Verde regista um decréscimo de

3%, tal como as Maurícias, Argélia, Tunísia e Nigéria, o que pode indiciar um

desinvestimento em actividades de média e alta tecnologia por parte das indústrias

desses países. Cabo Verde, como consequência da não aposta em média e alta

tecnologia, passou da terceira posição em 2000 para sexto lugar em 2009. Refira-

se ainda que o peso da indústria de MAT em Cabo Verde ainda é relativamente

importante no total do VAM do país, representando 27,1% em 2009. Esta situação

deve-se essencialmente à contribuição da indústria farmacêutica

As exportações manufactureiras cabo-verdianas em 2009 representavam

cerca de 60% das suas exportações totais, traduzindo uma queda de cerca de

33 pontos percentuais relativamente ao ano 2000. No entanto, em termos

absolutos, as exportações manufactureiras aumentaram de valor de 2000 para

2009, facto que evidencia uma maior dinâmica da exportação total criada pela área

dos serviços face aos produtos manufacturados. Por outro lado, constata-se que a

exportação cabo-verdiana de produtos manufactureiros é dominada pelos produtos

de baixa tecnologia (conservas de peixe, peixes frescos e refrigerados,

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

9

confecções, partes de calçado, aguardentes e licores, lagostas frescas e

congeladas).

As exportações dos produtos de MAT representavam apenas 4.8% e 0%

respectivamente em 2000 e 2009 do total das exportações de produtos

manufacturados do país, reflectindo de forma explícita a deterioração da

sofisticação dos produtos manufacturados exportados por Cabo Verde.

O impacto do VAM de Cabo Verde na região é ainda muito reduzido, como se

pode perceber pelos valores em 2000 e 2009, respectivamente de 0,12% e 0,14%,

100 vezes menos que o 1º classificado, Marrocos, em 2009.

O impacto das exportações do sector manufactureiro cabo-verdiano no valor

global dos produtos manufacturados e transaccionados a nível mundial é

praticamente nulo. Cabo Verde ocupa, de entre o grupo de países analisados, o

penúltimo lugar no ranking de capacidade exportadora manufactureira per capita

dos 20 produtos mais dinâmicos no mundo, só ficando à frente do Níger. Cabo

Verde registou assim em 2000 o valor de 0.05 USD e em 2009 atingia o valor de

0,74 USD.

No que diz respeito ao peso dos 20 produtos mais dinâmicos para cada um

dos 11 países analisados nas respectivas exportações manufactureiras, entre

os anos 2000 a 2009, Cabo Verde ocupa o último lugar neste ranking, sendo de

notar que em 2000, o peso das exportações manufactureiras dos 20 produtos mais

dinâmicos nas exportações manufactureiras totais foi insignificante (0.2%).

O impacto dos 20 produtos mais dinâmicos para cada um dos 11 países

analisados no comércio mundial desses produtos é reduzido. Isto reflecte o

pouco dinamismo exportador da região africana e a pressão competitiva

procedente de outros países, principalmente do Sudeste Asiático, que souberam

adaptar-se com maior celeridade à procura do mercado mundial. Cabo Verde

aparece neste ranking em último lugar, sendo o peso das exportações dos 20

produtos mais dinâmicos do país no comércio mundial praticamente nulo em 2009

(0,00002%).

A análise comparativa do desempenho dos 11 países mostra que, em 2009,

Tunísia, Malta, Marrocos e Senegal foram os países que tiveram uma estrutura

exportadora manufactureira mais diversificada e com menores níveis de

concentração de produtos manufacturados exportados. Durante o período em

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

10

análise, não obstante as exportações totais cabo-verdianas terem registado um

incremento significativo, passando de 11,1 milhões de USD em 2000 para 35

milhões de USD em 2009, o peso da oferta exportadora manufactureira no total

das exportações sofreu um decréscimo de 92,6% para 59,9%, o que aliado à

redução do número de produtos manufacturados exportados colocou Cabo Verde

na cauda do ranking, como o país com o índice mais pequeno de diversificação

de produtos (IDP).

Cabo Verde apresenta-se como o país cuja oferta exportadora manufactureira é a

mais concentrada, onde apenas cinco dos produtos exportados representaram

95,4% em 2000 e 94,2% em 2009, o que faz com que as oscilações no preço e no

volume de exportação daqueles produtos tenham grandes implicações na

economia do arquipélago.

As principais indústrias manufactureiras cabo-verdianas de exportação em 2009

foram a transformação de pescado (conservas de peixe, peixes frescos e

refrigerados), as confecções e o calçado, onde são predominantes os produtos de

baixo nível tecnológico e de mão-de-obra especializada.

Em termos de índice de diversificação de mercados (IDM), Cabo Verde

encontra-se na nona posição, tendo como clientes quase que exclusivos os países

da União Europeia-27, que absorveram 97% das exportações manufactureiras em

2009 (Espanha 46%, Portugal 50%, Holanda 1%) e portanto muito sujeito às

oscilações daquelas economias.

No ranking da quota de mercado dos 11 países no comércio mundial de

manufacturas de produtos RN e BT, Cabo Verde ocupa a última posição. Refira-

se ainda que os produtos RN e BT representam cerca de 100% das exportações

manufactureiras de Cabo Verde. Em 2009 Cabo Verde exportou cerca de 21

milhões USD de produtos RN e BT, muito mais que os 10 milhões de USD do ano

2000. Apesar deste crescimento (8% ao ano), Cabo Verde não conseguiu ganhar

quota no mercado mundial, o que denota que a sua base exportadora é limitada

devido à falta de massa crítica do país e à estrutura industrial pouco desenvolvida.

Dentro da categoria RN, o sector da transformação de pescado é um dos mais

competitivos e o que tem mais peso.

Das quinze exportações mais importantes de Cabo Verde de produtos RN e

BT, existem cinco produtos estrela (produtos derivados dos cereais e farinhas,

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

11

produtos de consumo, tratamento de materiais metálicos e em ferro (sucata), mel)

e quatro produtos estrela em contexto adverso (transformação de pescado e

marisco, bebidas alcoólicas, roupa em tricô/croché e artigos de vestuário).

Os produtos MT e AT não têm expressão nas exportações manufactureiras de

Cabo Verde.

Factores complementares de avaliação da competitividade industrial de Cabo

Verde

Durante o período 2000-2009, Cabo Verde melhorou em 34% a Produtividade

Média Laboral, tendo-se colocado na 3ª posição do ranking.

O número de pessoas que ingressou no sector industrial cresceu 11% durante o

período em análise. Contudo, em valor absoluto, o número de trabalhadores em

Cabo Verde no sector industrial é ainda reduzido devido à escassez de empresas

industriais no país.

Durante o período 2000-2009, Cabo Verde tinha um dos valores mais elevados a

nível de salários no sector industrial quando comparado com os outros países,

tendo o valor crescido 57% em 10 anos, correspondendo a uma taxa de

crescimento anual de 9,46% e colocando o país na 2ª posição do ranking.

Cabo Verde tem sido dos países que mais tem apostado na educação ao longo

dos últimos 10 anos, ocupando a 1ª e 3ª posição respectivamente em 2000 e

2009, no que se refere à taxa de cobertura e de eficiência educativa no nível

primário e secundário. Em 2009, Cabo Verde possuía taxas de cobertura

superiores a 80% e 60% respectivamente nesses ensinos. Contudo, o ensino

técnico e profissional está ainda pouco desenvolvido em Cabo Verde, sendo a taxa

de escolarização no ensino profissionalizante de 15%.

Cabo Verde ainda apresenta um importante atraso na área da certificação de

qualidade, na vertente dos sistemas de gestão (ISO 9001: 2000) ou na área do

ambiente (ISO 14001). A ausência de instituições de certificação e de calibração

no país tem condicionado o processo de adesão das empresas ao sistema de

gestão da qualidade.

Cabo Verde tem pouca expressão, em termos mundiais, no que se refere aos

fluxos de investimento directo estrangeiro (IDE). Contudo, a evolução que se tem

registado nos últimos anos e as perspectivas apresentadas apontam para uma

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

12

importância cada vez maior do país, designadamente na sua qualidade de receptor

de investimento. Os fluxos de IDE registaram um forte aumento nos últimos anos,

tendo passado de 33 milhões de USD em 2000 para 119 milhões em 2009,

concentrados fortemente no sector do turismo e hotelaria, com particular destaque

nas ilhas do Sal, Boavista e São Vicente. A indústria, que há alguns anos atrás

conseguiu captar vários investimentos significativos (nas confecções, no calçado e

na transformação do pescado), vem perdendo progressivamente a posição que

detinha, representando apenas cerca de 2% no total do IDE. Portugal, Itália,

Irlanda, Espanha e Reino Unido destacam-se como os principais mercados

emissores de investimento directo estrangeiro. Os investimentos distribuem-se por

um número reduzido de sectores, nomeadamente confecções, calçado e agro-

alimentar, incluindo o processamento de pescado e materiais de construção.

O ambiente de negócios em Cabo Verde progrediu, tendo o país ganho dez

posições em 2010, estando agora na 132ª posição no ranking do Doing Business

do Banco Mundial. Além disso, foi o país que mais evoluiu entre 2009 e 2010 na

classificação do Banco Mundial relativamente ao clima de negócios.

Em Cabo Verde, existe ainda um número muito reduzido de técnicos e de

investigadores a desenvolverem uma actividade na área da investigação e do

desenvolvimento (I&D). Dos países analisados e identificados como potenciais

modelos para Cabo Verde, Malta e Tunísia têm vindo a desenvolver esforços nesta

área.

Cabo Verde, apesar de ser um grande utilizador das TIC tanto no sector privado

como público, ainda não tem significado como país exportador de serviços TIC. Os

casos mais conhecidos envolvem o call center do operador de telecomunicações

português Portugal Telecom sediado na Praia

Ao nível das infraestruturas tecnológicas de telecomunicações e de inter-ligação às

redes de acesso e de comutação, Cabo Verde possui boas condições para o

desenvolvimento do sector TIC, através da existência de um cabo submarino –

anel de fibra óptica inter-ilhas, do acesso ao cabo submarino Atlantis 2, à rede

terrestre de fibra óptica (505 km) e às comunicações via satélite (alternativa ao

cabo Atlantis 2).

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

13

Com 14,28 acessos fixos telefónicos por 100 habitantes, Cabo Verde em 2009

encontrava-se na 3ª posição, à frente de países como a Tunísia, Marrocos ou a

Argélia, relativamente à taxa de penetração da rede fixa no país.

Quanto às redes móveis, Cabo Verde passou de uma taxa de penetração dos

telefones móveis de 4,49% em 2000 para 77,53% em 2009, ocupando a 6ª posição

e demonstrando a forte adesão da população às redes de nova geração, valor que

pode ser comparado com o indicador de penetração da rede telefónica fixa em

2009 (14,9%).

O número elevado de utilizadores Internet (29,67%) demonstra o bom

posicionamento de Cabo Verde nesta matéria, pertencendo ao grupo dos 4

primeiros países da frente (Malta, Tunísia, Marrocos).

Cabo Verde, em 2009 atingiu um total de 12,2 servidores Internet seguros por

milhão de habitantes, destacando-se da maioria dos países considerados

relativamente ao número de servidores Internet seguros, tendo o número crescido

quase 6 vezes no período de 2000 a 2009. Cabo Verde coloca-se na 4ª posição,

depois de Malta, Maurícias e Tunísia.

A Visão dos Stakeholders sobre a Competitividade Industrial de Cabo Verde

Durante as entrevistas, os stakeholders mencionaram quatro áreas de impacto

fundamental sobre a competitividade industrial de Cabo Verde e sugeriram melhorias

potenciais:

Infraestrutura: melhorar o desempenho do sector da energia, reduzir as

barreiras comerciais e tarifárias, melhorar o desempenho das redes de portos e

alfândegas

Competências e recursos humanos: deter mão-de-obra especializada com

competências por exemplo nas áreas das ciências tecnológicas a nível

profissionalizante e superior, proceder a uma melhoria nas formações e na

educação profissionalizante e universitária e ter uma legislação laboral mais

flexível a fim de tornar as empresas mais competitivas nos mercados

internacionais

Tecnologia: apostar em sectores de maior valor acrescentado, aproveitando o

forte envolvimento do país na área das TIC

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

14

Governança: estabelecer uma forte cooperação entre o sector público e o

sector privado, como aconteceu com as Maurícias, através de uma política

forte a nível industrial, implicando uma vontade política ao mais alto nível e

uma coordenação entre os vários ministérios e administrações públicas,

controlando e avaliando os resultados, através de critérios definidos e

divulgados.

Principais Desafios

São vários os desafios do governo para alavancar o desenvolvimento da indústria no

país. Algumas acções são sugeridas de seguida:

Escolher os sectores chave com vantagens comparativas, promover o

investimento directo estrangeiro (IDE) junto de países que serão alvo de uma

selecção criteriosa e atrair os empreendedores para os sectores escolhidos.

Implementar reformas selectivas para melhorar a competitividade e as

capacidades das empresas nacionais e promover a mudança estrutural em

sectores escolhidos.

Privilegiar sectores e/ou indústrias com apoios na área da certificação da

qualidade e do ambiente

Apoiar as empresas através de incentivos fiscais ou de créditos bonificados

que lhes permitam alavancar o investimento em novos produtos, exportarem e

internacionalizarem-se

Apoiar actividades entre sectores, por exemplo através de I&D ou financiando

actividades inovadoras.

Nesse sentido, o governo poderá adoptar uma política industrial integrada e alicerçada

em sete medidas principais: 1. Políticas Tecnológicas e de Inovação; 2. Políticas de

Educação e de Formação; 3. Políticas de Apoio Financeiro; 4. Políticas Comerciais; 5.

Políticas de Captação de IDE; 6. Políticas de Relacionamento Regional; 7. Políticas de

Responsabilidade Social.

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

15

NOTAS EXPLICATIVAS

Nota 1: Considera-se geralmente que o sector industrial é constituído pelas indústrias

manufactureiras, as indústrias de extracção e a construção. O Departamento dos Assuntos

Sociais e Económicos da ONU (DAES) define a actividade manufactureira como a

transformação física ou química de matérias, substâncias ou componentes em novos produtos.

As matérias, substâncias ou componentes transformados são matérias-primas oriundas da

agricultura, da silvicultura, da pesca ou das actividades de extracção ou de produtos oriundos

de outras actividades manufactureiras. A modificação, a renovação ou a reconstrução de

substâncias são geralmente consideradas como actividades manufactureiras.

Nota 2: As manufacturas são definidas como a agregação dos seguintes sectores que constam

da base de dados estatística das Nações Unidas (UNComTrade): produtos manufacturados;

maquinaria e equipamentos de transporte; artigos manufacturados diversos; outras matérias-

primas refinadas.

Nota 3: O Valor Acrescentado Manufacturado (VAM) é o somatório do valor bruto dos outputs

menos o valor dos inputs intermédios utilizados na produção. A fonte de informação para os

dados sobre o valor acrescentado manufacturado (VAM) dos vários sectores industriais é a

base de dados estatística para a indústria da ONUDI. A classificação tecnológica do VAM é

baseada na Classificação Standard Internacional para a Indústria (CSII), revisão 2, e classifica

todos os produtos em quatro categorias: fabricação de produtos a partir de recursos naturais,

fabricação de produtos de baixa tecnologia, fabricação de produtos de média tecnologia, e

fabricação de produtos de alta tecnologia.

Classificação Tecnológica do Valor Acrescentado Manufacturado segundo o CSII, Rev.2

Tipo de actividade Códigos CSII

Fabricação de produtos

a partir de recursos

naturais

31, 331, 341, 353,354, 355, 362, 369

Fabricação de produtos de baixa tecnologia

32, 332, 361, 381, 390

Fabricação de produtos de média tecnologia

342, 351, 352, 356, 37, 38 (excl. 381)

Fabricação de produtos de alta tecnologia

3522, 3852, 3832, 3845, 3849, 385

Como a informação existente a nível de grupo do CSII (quatro dígitos) não é suficiente para

permitir a separação entre produtos de média e alta tecnologia, a categoria “fabricação de

produtos de alta tecnologia” não foi utilizada; em vez disso, os produtos de média e alta

tecnologia (MAT) foram combinados numa só categoria. As quotas de valor acrescentado por

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

16

sector foram então calculadas em relação ao valor acrescentado total de todos os subsectores

manufactureiros.

Nota 4: A fonte de informação para os dados sobre o comércio externo é a base de dados

estatística das Nações Unidas - United Nations Commodity Trade Statistics Database

(COMTRADE). A classificação tecnológica é baseada na classificação CSCI (Classificação

Standard para o Comércio Internacional), revisão 3, conforme tabela apresentada em seguida

e classifica todos os produtos em quatro categorias: exportações de produtos manufacturados

naturais, exportações de produtos manufacturados de baixa tecnologia, exportações de

produtos manufacturados de média tecnologia, e exportações de produtos manufacturados de

alta tecnologia.

Classificação Tecnológica das Exportações segundo o CSCI, Revisão 3

Tipo de exportação Códigos CSCI

Exportações com origem em Recursos Naturais (RN)

016, 017, 023, 024, 035, 037, 046, 047, 048, 056, 058, 059, 061, 062, 073, 098, 111, 112, 122, 232, 247, 248, 251, 264, 265, 281, 282, 283, 284, 285, 286, 287, 288, 289, 322, 334, 335, 342, 344, 345, 411, 421, 422, 431, 511, 514, 515, 516, 522, 523, 524, 531, 532, 551, 592, 621, 625, 629, 633, 634, 635, 641, 661, 662, 663, 664, 667,689

Exportações de Baixa Tecnologia (BT)

611, 612, 613, 642, 651, 652, 654, 655, 656, 657, 658, 659, 665, 666, 673, 674, 675, 676, 677, 679, 691, 692, 693, 694, 695, 696, 697, 699, 821, 831, 841, 842, 843, 844, 845, 846, 848, 851, 893, 894, 895, 897, 898, 899

Exportações de Média Tecnologia (MT)

266, 267, 512, 513, 533, 553, 554, 562, 571, 572, 573, 574, 575, 579, 581, 582, 583, 591, 593, 597, 598, 653, 671, 672, 678, 711, 712,713,714, 721, 722, 723, 724, 725, 726, 727, 728, 731, 733, 735, 737, 741, 742, 743, 744, 745, 746, 747, 748, 749, 761, 762, 763, 772, 773, 775, 778, 781, 782, 783, 784, 785, 786, 791, 793, 811, 812, 813, 872, 873, 882, 884, 885

Exportações de Alta Tecnologia (AT)

525, 541, 542, 716, 718, 751, 752, 759, 764, 771, 774, 776, 792, 871, 874, 881, 891

Nota 5: Dimensões da Competitividade Industrial segundo a metodologia da UNIDO.

Segundo a metodologia da UNIDO, a competitividade industrial envolve as seguintes

dimensões:

A capacidade produtiva e exportadora. Uma das dimensões importantes da

competitividade industrial é a capacidade dos países em produzirem e exportarem

manufacturas de forma competitiva. O Valor Acrescentado Manufacturado (VAM) e as

exportações de produtos manufacturados tendem a ser os dois indicadores mais utilizados.

É possível existirem situações de países que apesar de terem uma capacidade produtiva

limitada sejam exportadores líquidos (no caso da presença de empresas multinacionais

que utilizam o país como plataforma de assemblagem, embora o conteúdo nacional da

exportação seja escasso), ou que apresentem níveis elevados de desempenho industrial

mas valores baixos de exportações (no caso de países com políticas proteccionistas que

impedem que a indústria local seja exposta à concorrência internacional, criando distorções

sobre a competitividade real do sector). Nesse sentido, é fundamental analisar

conjuntamente a capacidade de produção e de exportação, já que a análise de uma sem a

outra poderia conduzir a conclusões tendenciosas.

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

17

O processo de industrialização e a qualidade das exportações. A competitividade

também se mede através da evolução do processo de industrialização do país e pela

qualidade das suas exportações. Os países mais competitivos industrialmente, em vez de

permanecerem estáticos, procuram constantemente uma maior sofisticação produtiva e

exportadora, reflectindo-se na participação do sector manufactureiro na economia e dos

sectores intensivos em tecnologia dentro do ramo industrial.

O impacto exportador. A quota de mercado no comércio mundial é possivelmente o

indicador mais visível da competitividade de um país já que considera também as

dinâmicas de outros países. Ganhar quota de mercado não significa só que o país

aumentou a sua capacidade exportadora mas também que conseguiu exportar mais do que

outros países concorrentes.

O dinamismo exportador. A capacidade de adaptar as estruturas produtivas para

responder de forma rápida e eficiente às variações da procura nos mercados é outra

dimensão importante da competitividade industrial. Os países que vocacionaram a sua

produção para a exportação dos produtos mais procurados pelo mundo (denominados

também de mais dinâmicos), mostram não só a sua capacidade de adaptação como

também uma visão competitiva.

A diversificação exportadora. A diversificação de mercados e produtos permite diminuir a

vulnerabilidade exportadora face à concorrência de países terceiros ou perante variações

na procura e nos preços. A diversificação requer adaptação e assimilação das tecnologias

e a criação de novos mecanismos de marketing. Estas tendências favorecem o

desenvolvimento das capacidades humanas e das instituições que as fomentam.

Nota 6: Definição de Competitividade Industrial. Segundo a definição da ONUDI, a

competitividade industrial pode ser definida como a capacidade dos países em responderem de

forma eficiente a estas dimensões. Um país competitivo, do ponto de vista da indústria é

aquele que aumenta a sua presença manufactureira em mercados nacionais e internacionais,

através da transformação das estruturas produtivas e exportadoras em direcção a sectores de

maior valor acrescentado e de maior procura mundial e utilizando uma estratégia de

diversificação que lhe permita endereçar um número maior de mercados com um maior número

de produtos.

Metodologia

Existem muitas metodologias para a análise da competitividade, mas a Organização

das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (ONUDI) desenvolveu uma

metodologia específica para avaliar a competitividade industrial. O documento utiliza o

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

18

conceito teórico e a metodologia das Análises sobre o Desenvolvimento Industrial

publicadas pela ONUDI nos últimos anos, debruçando-se ainda mais sobre a análise

sectorial e factores estruturais que afectam o sector industrial (manufactureiro) de

Cabo Verde. Em seguida, são apresentadas as principais considerações

metodológicas para a elaboração desta análise sobre a competitividade industrial em

Cabo Verde.

O Índice de Desempenho da Competitividade Industrial (IDCI). Este índice

combina as diferentes dimensões da competitividade industrial para avaliar de forma

global o desempenho e o posicionamento competitivo do sector manufactureiro cabo-

verdiano face aos países escolhidos.

Utilização de indicadores objectivos, quantitativos e comparáveis. Mostrar a

realidade industrial de Cabo Verde requer objectividade estatística e indicadores

quantitativos comparáveis. Tanto no cálculo do IDCI como na análise individual dos

indicadores que o compõem, esta análise alimenta-se fundamentalmente de dados

estatísticos transparentes publicados por organismos internacionais e fontes nacionais

acreditadas como o Instituto Nacional de Estatística de Cabo Verde (INE), o Banco de

Cabo Verde (BCV) entre outros.

Análise de níveis e tendências. O documento analisa a posição competitiva de Cabo

Verde entre 2000 e 2009 (quando e sempre que os dados para o último ano estejam

disponíveis) e analisa de que forma as variações no desempenho industrial do país

poderiam modificar no futuro a sua posição na região subsaariana.

Análise comparativa com outros países. Este tema é detalhado mais à frente no

capítulo sobre Benchmarking.

Análise industrial agregada e desagregada. A análise agregada, através do IDCI e

dos indicadores que o compõem, apresenta uma perspectiva geral da situação

competitiva da indústria cabo-verdiana. Posteriormente, a análise desagregada

permite examinar, a nível sectorial, a realidade do sector manufactureiro cabo-

verdiano. Ambas as abordagens são válidas e complementares, já que para se

desenhar uma política industrial é necessário conhecer o sector industrial tanto a nível

macro como micro.

Utilização de uma classificação para a produção e a exportação manufactureira

com base na intensidade tecnológica. Esta classificação permite distinguir entre

produtos mais ou menos sofisticados e estudar a evolução das estruturas cabo-

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

19

verdianas nos ditos segmentos. Este documento utiliza a classificação desenvolvida

pela ONUDI no documento sobre o Desenvolvimento Industrial 2002-2003, e divide as

manufacturas em quatro categorias: baseadas em recursos naturais (RN), de baixa

intensidade tecnológica (BT), de média intensidade tecnológica (MT) e de alta

intensidade tecnológica (AT). A Nota 3 (ver Notas Explicativas) apresenta cada uma

das categorias e os códigos de produtos que as compõem.

Limitações do Documento

O documento tem algumas limitações que é importante referir. A primeira está

relacionada com o nível de detalhe da informação a nível sectorial, que poderia ter

sido mais pormenorizado caso a informação existisse para se perceber todos os

factores que afectam a dinâmica competitiva de todos os sectores do país. A título de

exemplo refira-se a informação a nível da investigação e desenvolvimento (I&D), da

propriedade intelectual e das patentes.

A segunda limitação do documento diz respeito à exclusão de muitos factores que

afectam a competitividade. Isto contudo, responde à necessidade do documento se

concentrar nos factores industriais estruturantes, mensuráveis e comparáveis. Cabo

Verde carece de uma análise deste tipo e este trabalho pretende contribuir para

colmatar este vazio de informação estruturada. O trabalho que irá ser realizado

posteriormente sobre a futura elaboração da Estratégia Industrial de Cabo Verde

deverá considerar os factores que tenham sido excluídos deste documento, incluído o

sistema institucional de apoio à indústria, a governação industrial e uma análise mais

desagregada a nível das empresas e dos sectores.

A terceira limitação refere-se à actualização dos dados. Sempre que tenha sido

possível, o documento apresenta dados do ano de 2009 para Cabo Verde e para os

outros países escolhidos. No entanto para alguns indicadores os dados só estão

disponíveis para anos anteriores. Isto é inevitável num exercício comparativo como

este, em que se utilizam fontes internacionais que normalmente apresentam um atraso

estatístico de dois a três anos. Apesar de tudo, deve-se ter presente que os factores

aqui analisados são estruturais e que as mudanças que podem acontecer de um ano

para o outro são escassas. De qualquer forma, sempre que tenha sido possível, os

indicadores foram actualizados até Junho de 2010.

Finalmente, muitos indicadores do documento são aproximações daquilo que se

pretende medir e assim, nem sempre reflectem o seu impacto na indústria. Por

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

20

exemplo, as exportações de baixa tecnologia não distinguem entre a inovação

tecnológica nacional e a utilização de componentes ou de produtos semi-fabricados

(cujo valor acrescentado é muito menor). As despesas de I&D financiadas pelo sector

produtivo, que incluem também o sector de serviços, nem sempre geram o

desenvolvimento tecnológico do sector manufactureiro. Apesar destas limitações, a

utilidade e a validade dos indicadores deste documento são relevantes e

fundamentais, tendo sido utilizados noutras análises de competitividade industrial de

organismos internacionais, como a OCDE, o Banco Mundial ou a própria ONUDI

Benchmarking

A análise da competitividade é um conceito relativo e para se saber se um país é

competitivo é necessário compará-lo com outros com características semelhantes.

Nesse sentido, para se proceder à análise dos vários indicadores no estudo realizou-

se um benchmarking, utilizando-se um grupo de países escolhidos mediante um

conjunto de critérios que estão na base do racional da escolha.

Os critérios utilizados que não são mutuamente exclusivos foram os seguintes:

1. Proximidade com a localização geográfica de Cabo Verde

2. Países que pertencem à Comunidade Económica dos Estados da África

Ocidental (CEDEAO) e são parceiros comerciais

3. Países da região subsaariana com uma estrutura produtiva e de exportação

semelhantes

4. Países da região com uma participação actual ou potencial em sectores

industriais de relevância para Cabo Verde

5. Insularidade

6. Países que podem vir a servir de modelos de referência para Cabo Verde

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

21

Assim, foram escolhidos países vizinhos da Costa Oeste de África, que integram a

CEDEAO, da qual Cabo Verde faz parte, e/ou países que concorrem directamente

com Cabo Verde como o Senegal, Marrocos, Tunísia e Argélia, países com

características semelhantes de insularidade como as Ilhas Maurícias e Malta e outros

países da CEDEAO, tais como a Costa do Marfim, Gana, Níger e Nigéria, que são

utilizados por outros organismos internacionais em estudos comparativos.

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

22

ÍNDICE

PREFÁCIO ................................................................................................................................................ 3

AGRADECIMENTOS .............................................................................................................................. 5

SUMÁRIO EXECUTIVO ........................................................................................................................ 7

NOTAS EXPLICATIVAS ..................................................................................................................... 15

Metodologia ........................................................................................................ 17

Limitações do Documento ................................................................................... 19

Benchmarking ..................................................................................................... 20

SECÇÃO A: DESEMPENHO INDUSTRIAL DE CABO VERDE ................................................. 29

1 VISÃO MACROECONÓMICA DE CABO VERDE .................................................................. 29

1.1 Principais Condicionantes do Desenvolvimento Industrial de Cabo Verde .... 30

2 DIAGNÓSTICO INDUSTRIAL DE CABO VERDE .................................................................. 34

2.1 Índice de Desempenho da Competitividade Industrial (IDCI) ........................ 36

2.2 Capacidade Produtiva de Cabo Verde .......................................................... 39

2.3 Capacidade Exportadora Manufactureira ...................................................... 42

2.3.1 Exportações manufactureiras per capita ................................................ 43

2.4 O Processo de Industrialização .................................................................... 44

2.4.1 A intensidade do processo de industrialização ...................................... 45

2.4.2 A sofisticação do processo de industrialização ...................................... 46

2.5 Estrutura Exportadora Manufactureira .......................................................... 48

2.5.1 Peso das exportações manufactureiras nas exportações totais dos

países .............................................................................................................. 49

2.5.2 Peso das exportações de média e alta tecnologia (MAT) nas exportações

manufactureiras .................................................................................................. 50

2.6 Dimensões Complementares de Avaliação da Competitividade Industrial .... 53

2.6.1 Impacto manufactureiro ......................................................................... 53

2.6.2 Dinamismo exportador manufactureiro .................................................. 56

2.6.3 Diversificação de produtos manufacturados e de mercados .................. 62

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

23

3 COMPETITIVIDADE SECTORIAL MANUFACTUREIRA DE CABO VERDE ................. 71

3.1 Sectores de Recursos Naturais (RN) e de Baixa Tecnologia (BT) ................ 71

3.2 Sectores de Média e Alta Tecnologia (MT e AT) ........................................... 77

SECÇÃO B: FACTORES DE COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL ........................................... 80

4 PRODUTIVIDADE LABORAL, EMPREGO E SALÁRIOS .................................................... 82

4.1 Produtividade Laboral ................................................................................... 83

4.2 Emprego na Indústria ................................................................................... 83

4.3 Salários no Sector Industrial ......................................................................... 84

4.4 Legislação Laboral........................................................................................ 85

5 RECURSOS HUMANOS ............................................................................................................... 86

5.1 Acesso ao Ensino Primário, Secundário e Superior ...................................... 87

5.2 Despesa Pública na Educação ..................................................................... 88

6 GESTÃO DA QUALIDADE .......................................................................................................... 89

7 INVESTIMENTO DIRECTO NACIONAL E ESTRANGEIRO ............................................... 90

7.1 Investmento Nacional ................................................................................... 90

7.2 Investimento Directo Estrangeiro .................................................................. 91

8 AMBIENTE DE NEGÓCIOS ........................................................................................................ 93

9 TECNOLOGIA ............................................................................................................................... 93

10 INFRAESTRUTURA ..................................................................................................................... 95

10.1 Infraestrutura Tradicional .......................................................................... 95

10.2 Infraestrutura Tecnológica ......................................................................... 97

11 PERCEPÇÃO DOS STAKEHOLDERS SOBRE A COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DE

CABO VERDE ....................................................................................................................................... 102

SECÇÃO C. O CASO DAS ILHAS MAURÍCIAS .......................................................................... 103

12 PRINCIPAIS CONCLUSÕES ..................................................................................................... 108

13 DESAFIOS E OPORTUNIDADES ............................................................................................. 112

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................... 117

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

24

ÍNDICE DAS TABELAS

Tabela 1 – Contribuição (em %) dos sectores económicos ao PIB de Cabo Verde

(2004-2009) ................................................................................................................ 29

Tabela 2 – Resultados e Desafios de Cabo Verde ...................................................... 33

Tabela 3 – Índice de Desempenho da Competitividade Industrial (IDCI), 2000 – 200937

Tabela 4 – Valor Acrescentado Manufacturado, 2000 – 2009 ..................................... 39

Tabela 5 – Valor Acrescentado Manufactureiro (VAM) per capita, 2000 - 2009 .......... 40

Tabela 6 – Exportações Manufactureiras dos Países, 2000 – 2009 ............................ 42

Tabela 7 – Exportações Manufactureiras per Capita, 2000 – 2009 ............................. 44

Tabela 8 - Contribuição do Sector Industrial Manufactureiro na Economia dos Países

(% do VAM/PIB), 2000-2009 ....................................................................................... 45

Tabela 9 - Ranking com base na % do VAM de MAT no VAM total, 2000 - 2009 ....... 47

Tabela 10 – Contribuição das Exportações Manufactureiras no Total das Exportações,

2000 – 2009 ................................................................................................................ 49

Tabela 11 – Peso das exportações de Média e Alta Tecnologia (MAT) no Total das

Exportações Manufactureiras, 2000 - 2009 ................................................................. 51

Tabela 12 – Peso no VAM da Região Subsaariana, 2000 – 2009 ............................. 53

Tabela 13 - Quota de Mercado Mundial dos Produtos Manufacturados e Evolução,

2000 - 2009 ................................................................................................................ 54

Tabela 14 – Os Vinte Produtos Manufacturados mais Dinâmicos no Comércio Mundial,

2000 – 2009 ................................................................................................................ 56

Tabela 15 - Os Vinte Produtos Manufacturados mais Dinâmicos no Comércio da

CEDEAO, 2000 – 2009 ............................................................................................... 57

Tabela 16 - Exportações per Capita dos 20 Produtos Manufacturados mais Dinâmicos

no Mundo, 2000 – 2009 .............................................................................................. 59

Tabela 17 – Peso dos 20 Produtos mais Dinâmicos do Mundo nas Exportações de

Produtos Manufacturados, 2000 – 2009 ..................................................................... 60

Tabela 18 – Quota de Mercado por País a Nível Mundial dos 20 Produtos mais

Dinâmicos no Mundo, 2000 – 2009 ............................................................................. 61

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

25

Tabela 19 - Índice de Diversificação de Produtos Manufacturados (IDP), 2000-2009 . 64

Tabela 20 - Peso dos cinco produtos mais importantes nas exportações

manufactureiras de Cabo Verde em 2000 e 2009 ....................................................... 66

Tabela 21 - Índice de Diversificação de Mercados (IDM), 2000-2009 ......................... 68

Tabela 22 - Participação no Comércio Mundial de Produtos Manufacturados RN e BT,

2000-2009 .................................................................................................................. 72

Tabela 23 - Análise Detalhada do desempenho das quinze maiores exportações cabo-

verdianas de produtos RN e BT, 2000-2009 ............................................................... 75

Tabela 24 - Quota de mercado no comércio mundial de manufacturas MT e AT, 2000-

2009 ........................................................................................................................... 78

Tabela 25 - Análise Detalhada do desempenho das quinze maiores exportações cabo-

verdianas de produtos MT e AT, 2000-2009 ............................................................... 79

Tabela 26 – Produtividade Média Laboral, 2000-2009 ................................................ 83

Tabela 27 - Emprego no Sector Industrial, 2000-2009 ................................................ 84

Tabela 28 – Salário Médio por Trabalhador no Sector Industrial, 2000-2009 .............. 84

Tabela 29 – Dificuldade em contratar mão de obra ..................................................... 85

Tabela 30 - Dificuldade em despedir mão de obra ...................................................... 86

Tabela 31 - Taxas de Cobertura no Ensino, 2009 ....................................................... 88

Tabela 32 - Despesa Pública na Educação em % do PIB, 2000 - 2009 ...................... 89

Tabela 33 - Certificações ISO 9001 (Sistemas de Gestão) ......................................... 89

Tabela 34 - Certificações ISO 14001 (Ambiente) ........................................................ 90

Tabela 35 - Investimento Directo Nacional, 2000-2009 ............................................... 91

Tabela 36 - Investimento Directo Estrangeiro, 2000 – 2009 ........................................ 92

Tabela 37 – Investimento Directo Estrangeiro per Capita, 2000 – 2009 ...................... 92

Tabela 39 – Exportações de serviços na área das TIC, 2000-2009 ............................ 95

Tabela 40 – Estradas alcatroadas (em % do total de estradas no país), 2000-2009 ... 96

Tabela 41 – Número de partidas de voos de companhias aéreas registadas, 2000-

2009 ........................................................................................................................... 97

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

26

Tabela 42 – Número de linhas telefónicas (por 100 habitantes), 2000-2009 ............... 98

Tabela 43 – Número de assinantes de redes móveis (por 100 habitantes), 2000-2009

................................................................................................................................... 99

Tabela 44 – Número de utilizadores Internet, 2000-2009 .......................................... 100

Tabela 45 – Número de servidores Internet seguros, 2000-2009 .............................. 101

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

27

ÍNDICE DAS FIGURAS

Figura 1 - Correlação entre a Taxa de Crescimento do PIB e a Taxa de Crescimento

do Valor Acrescentado Manufacturado (VAM) ............................................................ 34

Figura 2 - Correlação entre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o Índice do

Desempenho da Competitividade Industrial (IDCI) ..................................................... 35

Figura 3 - Contribuição da Indústria de Média e Alta Tecnologia no Total do VAM ..... 46

Figura 4 - Evolução da Relação entre os Dois Indicadores ......................................... 48

Figura 5 – Evolução da Estrutura da Exportação Manufactureira em Cabo Verde e nos

Países Analisados ...................................................................................................... 52

Figura 6 - Taxa de Crescimento Anual de Produtos Manufacturados e Variação da

Quota de Mercado Mundial, 2000 - 2009 .................................................................... 55

Figura 7 - Peso das Cinco Maiores Exportações Manufactureiras no Total das

Exportações Manufactureiras dos Países, 2000-2009 ................................................ 65

Figura 8 - Posicionamento dos países de Cabo Verde na Matriz de vulnerabilidade de

produtos e mercados, 2009 ........................................................................................ 70

Figura 9 - Taxa de Crescimento Anual de Produtos Manufacturados RN e BT e

Variação da Quota de Mercado Mundial entre 2000 e 2009 ....................................... 73

Figura 10 – Desempenho das quinze maiores exportações cabo-verdianas de produtos

RN e BT, 2000-2009 ................................................................................................... 77

Figura 11 - Taxa de Crescimento Anual de Produtos Manufacturados MT e AT e

Variação da Quota de Mercado Mundial entre 2000 e 2009 ....................................... 79

Figura 12 - Modelo analítico e conceptual para a competitividade industrial ............... 80

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

28

ÍNDICE DOS QUADROS

Quadro 1 - Metodologia para o cálculo do Índice de Desempenho da Competitividade

Industrial (IDCI) ........................................................................................................... 37

Quadro 2 - Metodologia para o cálculo do Índice de Diversificação de Produtos

Manufacturados (IDP) ................................................................................................. 63

Quadro 3 - Metodologia para o cálculo do Índice de Diversificação de Mercados (IDM)

................................................................................................................................... 67

Quadro 4 - Metodologia para a análise do desempenho comercial a nível do produto 73

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

29

SECÇÃO A: DESEMPENHO INDUSTRIAL DE CABO VERDE

1 VISÃO MACROECONÓMICA DE CABO VERDE

Em 2004, o PIB de Cabo Verde a preços correntes representava 924,6 Milhões de

USD e em 2009 o PIB a preços constantes de 2004 atingiu o valor de 1.238 Milhões

de USD, representando assim uma taxa de crescimento média anual real de 6%. Este

valor reflecte o desenvolvimento acelerado do país que culminou com o acesso à

categoria de país de médio rendimento em 2008. No entanto, a economia de Cabo

Verde, apesar das iniciativas positivas do Governo, mantém as características e os

constrangimentos tradicionais. A composição do PIB assemelha-se muito à estrutura

de um país na fase pós-industrial, à excepção das infraestruturas tecnológicas que se

encontram num estado avançado de desenvolvimento. Na realidade, o sector dos

serviços constitui o principal driver do crescimento do PIB. O seu peso ultrapassa 70%

do PIB (sendo o turismo um dos principais motores), face à estagnação da indústria e

ao recuo da posição relativa da agricultura, em particular ao longo dos últimos 10

anos. A indústria e energia representam em conjunto ainda um valor reduzido do PIB,

rondando os 8% em 2009, sendo que a indústria manufactureira com uma taxa de

crescimento quase nula entre 2004 e 2009 não acompanhou a taxa de crescimento

real do PIB de 6%, não permitindo a sustentabilidade do sector. Assistiu-se assim a

uma mudança na composição do PIB de Cabo Verde, passando o turismo a deter um

peso fundamental na economia do país e juntamente com os serviços, nos últimos

anos, a constituírem o verdadeiro motor da economia do país.

Tabela 1 – Contribuição (em %) dos sectores económicos ao PIB de Cabo Verde (2004-2009)

Peso dos Sectores (%) 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Agricultura 7,4 5,2 4,8 5,1 5 8,5

Construção 7,8 8,2 9,2 9,8 11 9,2

Indústria e Energia 7,2 7,1 7 7 6,7 7,9

Pescas 1,2 0,9 0,8 0,5 0,5 0,0

Serviços 1 60,4 59,8 52,3 49,9 47,3 55,3

Turismo 11,2 10,4 18,3 20,7 19,4 18

Crescimento do PIB (%) 4,3 6,5 10,8 6,9 6,2 3,6 Fonte: Banco Central de Cabo Verde; FMI; Fevereiro de 2010

1 Nos serviços estão excluídos aqueles ligados ao turismo e incluem comércio por grosso e a retalho, transporte, armazenagem e

comunicação, imobiliárias, serviços financeiros

Em termos globais, Cabo Verde insere-se no grupo dos países mais desenvolvidos do

continente africano, apresentando um PIB por habitante em 2009 de 1.795 USD que

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

30

corresponde sensivelmente ao dobro da média do continente africano. Este facto é

significativo se considerarmos que Cabo Verde não conta com quaisquer recursos

naturais relevantes, ao contrário da generalidade dos outros países africanos, que

assentam a sua economia na exploração e exportação de matérias-primas energéticas

e de outros produtos minerais.

A indústria, apesar de representar um peso relativamente reduzido no PIB de Cabo

Verde, tem vindo a assumir uma importância crescente no que se refere às

exportações do país, sobretudo a partir de 1992, na sequência da aprovação da nova

legislação do investimento estrangeiro. Neste domínio, cabe realçar a instituição do

regime das Empresas Francas, que passaram a constituir o motor do desenvolvimento

industrial do país, mercê sobretudo dos investimentos de empresas estrangeiras nos

sectores do calçado e das confecções.

A maior parte destes investimentos foram realizados por empresas portuguesas,

destinando-se a produção aos mercados da União Europeia (UE), no quadro dos

benefícios decorrentes dos acordos que isentavam de direitos os produtos industriais

originários dos países da ACP (África, Caraíbas e Pacífico).

A par de Portugal, também alguns países asiáticos realizaram investimentos em Cabo

Verde, designadamente no sector de vestuário, com o mesmo objectivo de acesso aos

mercados europeus e, ultimamente ao mercado norte-americano no âmbito do

programa AGOA, de que Cabo Verde é um país beneficiário.

Destinando a sua produção quase que exclusivamente ao mercado interno, as

indústrias alimentares e de bebidas, produtos farmacêuticos, materiais de construção,

mobiliário e metalomecânica constituem outros ramos industriais com alguma

importância na economia cabo-verdiana, conforme será mencionado ao longo do

documento.

1.1 PRINCIPAIS CONDICIONANTES DO DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL DE

CABO VERDE

No que respeita ao processo de industrialização, África continua a padecer de sérios

obstáculos neste domínio que não incentivam a produção de produtos transformados e

limitam o seu acesso aos mercados mundiais.

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

31

A escassez de capitais, a falta de mão-de-obra técnica especializada, a insuficiência e

qualidade de meios de transporte, aliados ao baixo poder aquisitivo da população,

compõem um quadro adverso ao desenvolvimento do sector industrial.

Para além disso, Cabo Verde, assim como a grande maioria dos países africanos,

possui uma estrutura económica extremamente dependente do exterior, facto que se

torna mais evidente no sector industrial. A ausência de matérias-primas obriga a que

se importe a maior parte dos bens de consumo.

Na realidade, apesar de Cabo Verde já pertencer aos países de rendimento médio

desde 2008, o desenvolvimento das infraestruturas no país ainda representam um

verdadeiro desafio que tem afectado a competitividade industrial de Cabo Verde. Os

preços dos serviços são normalmente elevados e a qualidade deficiente.

No entanto Cabo Verde investe anualmente cerca de 147 milhões de USD em

infraestruturas (cerca de 15% do PIB), um dos níveis mais elevados no continente

africano, um esforço duas vezes maior comparativamente à média dos países de

médio rendimento em África. Infelizmente, estima-se que 50 milhões de USD são

perdidos anualmente devido à subsidiação dos preços e a ineficiências operacionais

no sector da energia.

Os seguintes factores relacionados com as infraestruturas, a dimensão do país e as

condições climatéricas têm dificultado o desenvolvimento de uma indústria mais

competitiva:

1. Transporte inter e intra-ilhas

O facto de a população estar dispersa por 10 ilhas obriga à necessidade de um

número elevado de portos para assegurar as deslocações internas, o que dificulta a

logística inerente ao abastecimento e distribuição de bens e materiais relativos à

actividade industrial de Cabo Verde.

Os meios de transporte entre as ilhas, fundamentais à circulação das matérias-primas

e dos bens finais de produção são ainda limitados e com custos elevados. Além disso,

carecem de vários problemas, nomeadamente a escassez, a irregularidade e o tempo

de viagem. Assim, os custos de transporte elevados entre ilhas têm por consequência

agravarem os custos de operação e reduzirem os canais de distribuição no mercado.

Uma optimização da produção a nível do território nacional passa assim por um

sistema de transporte marítimo inter-ilhas mais eficaz. A nível rodoviário, apesar da

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

32

cobertura ser boa, várias vias rodoviárias encontram-se em mau estado, dificultando o

transporte de mercadorias.

2. Energia Eléctrica

A energia eléctrica é instável, provocando um número elevado de cortes durante o ano

sem aviso prévio (provocando estragos nas máquinas e comprometendo a produção

em curso) e afectando assim o desempenho da indústria, obrigando a paragens

frequentes na produção e à utilização de meios alternativos de geração de energia

(geradores) que encarecem o custo do produto final. Por outro lado, os preços

praticados em Cabo Verde, que rondam os 0,40 USD por kilowatt-hora (kWh) são dos

mais caros em África e possivelmente dos mais caros do mundo2.

3. Água

O país depende essencialmente do processo de dessalinização para responder às

necessidades de abastecimento de água, em 85% das situações. O processo de

transformação utiliza de forma intensiva a energia eléctrica, das mais caras do

continente africano, tornando assim proibitivo o custo da água, que ronda os 3 USD/m3

tornando-a uma das mais caras em África e possivelmente das mais caras do mundo3.

4. Mercado Interno

O mercado interno de Cabo Verde é limitado4 devido ao número reduzido da

população (491.875 habitantes; Censos 2010) e ao fraco poder de compra ao qual

acrescem as condicionantes ligadas ao factor da insularidade do país. As fábricas são

assim de pequena dimensão e trabalham muitas vezes abaixo da capacidade de

produção o que agrava os custos finais dos produtos e reduz a competitividade. A

procura interna criada pelo crescimento do turismo poderá de alguma forma

compensar em parte esta fraqueza e melhorar a competitividade. Além disso, a

abertura e exploração de outros mercados externos, se as condições de produção

assim o permitirem e for definida uma estratégia industrial adequada, poderão todavia

2 Fonte: Relatório do Banco Mundial de Junho de 2011 intitulado Cape Verde’s Infrastructure, A Continental Approach

3 Fonte: Idem

4 Refira-se no entanto que em 2010 Cabo Verde teve um número total de turistas que atingiu os 350.000 e

que o número de emigrantes Cabo-Verdianos no mundo totaliza aproximadamente 1 milhão de pessoas.

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

33

atenuar o impacto desta condicionante e ajudar as empresas a atingirem a massa

crítica desejável.

5. Financiamento

O acesso ao crédito por parte das pequenas e médias empresas em Cabo Verde

ainda é difícil devido ao montante elevado das garantias solicitadas e aos custos de

transacção/custo do dinheiro, constituindo dessa forma as maiores barreiras ao

desenvolvimento de novos projectos e ao aumento da competitividade das empresas

industriais. A capacidade do sistema financeiro nacional é ainda limitada, apesar do

crescente papel da Bolsa, da abertura de três novos bancos em 2010 e do aumento de

capital realizado por dois bancos, em 2009. Os empréstimos concedidos pelos bancos

são limitados a 9 milhões de EUR. Esta limitação é visível sobretudo quando as

necessidades financeiras das indústrias envolvem grandes investimentos. A curto

prazo, o sector privado é penalizado pela falta de financiamento e pela concorrência

de empresas estrangeiras que beneficiam de um melhor acesso ao crédito e aos

subsídios.

A seguinte tabela resume os resultados alcançados e os desafios a enfrentar

relativamente aos sectores mencionados.

Tabela 2 – Resultados e Desafios de Cabo Verde

Sectores Resultados Desafios

Transporte Aéreo Rede de aeroportos a funcionar Cumpre com todos os standards de segurança internacionais

Subsídios contínuos à TACV

TIC Liberalização do mercado finalizada Crescimento elevado da cobertura e penetração Acesso ao cabo submarino

Redução de preços através de maior concorrência

Portos Rede de portos a funcionar

Finalizar a agenda política das reformas em curso e das obras a realizar nos portos

Energia Taxa elevada de cobertura nas ilhas

Tarifário com valores abaixo do preço de custo Redução do custo de produção da energia Melhorar a eficiência da Electra

Estradas Uma forte densidade de rede rodoviária Estabelecimento de um fundo rodoviário

Melhorar as condições das redes rodoviárias Garantir fundos adequados para a sua manutenção Clarificar os papéis das várias instituições na gestão institucional

Águas e Esgotos Taxa de cobertura da população em água corrente Melhorar a eficiência da Electra Melhorar o acesso a uma rede melhorada de saneamento

TIC: Tecnologias da Informação e da Comunicação Fonte: Relatório do Banco Mundial de Junho de 2011 intitulado Cape Verde’s Infrastructure, A Continental Approach

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

34

2 DIAGNÓSTICO INDUSTRIAL DE CABO VERDE

Várias análises têm sido efectuadas no sentido de identificar as principais vantagens

da industrialização para um país. Existem vários factores que justificam que Cabo

Verde aposte neste sector. O primeiro factor diz respeito à forte correlação que existe

entre a industrialização de um país e o crescimento do seu produto interno bruto (PIB)

bem como o papel importante da indústria manufactureira como alavanca na

transformação da estrutura económica de países de base rural. A figura seguinte,

publicada no Relatório do Desenvolvimento Industrial da ONUDI de 2009 ilustra a

estreita relação entre o crescimento do PIB e o crescimento do VAM para um universo

de 131 países.

Figura 1 - Correlação entre a Taxa de Crescimento do PIB e a Taxa de Crescimento do Valor Acrescentado Manufacturado (VAM)

Fonte: World Development Indicators

Da mesma forma, existe uma forte correlação entre o Índice de Desenvolvimento

Humano (IDH) e o Índice do Desempenho da Competitividade Industrial (IDCI). A

figura seguinte ilustra essa análise.

R² = 0,4299

-0,1

-0,05

0

0,05

0,1

0,15

0,2

-0,08 -0,03 0,02 0,07 0,12 0,17 0,22 0,27

Taxa d

e C

rescim

en

to d

o P

IB

Taxa de Crescimento do VAM

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

35

Figura 2 - Correlação entre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o Índice do Desempenho da Competitividade Industrial (IDCI)

Fonte: UN – COMTRADE e Indicadores de Desenvolvimento Humano

Em segundo lugar, a indústria manufactureira representa grande parte das

exportações mundiais (80 por cento em 2008 segundo a UNCTAD) e está menos

exposta aos choques externos, flutuações de preços, condições climatéricas e

políticas concorrenciais desleais. Os preços dos bens manufacturados têm tendência a

serem mais estáveis que os preços dos bens correntes. As políticas concorrenciais

desleais distorceram os preços a nível mundial, limitando o potencial de crescimento

em certos bens correntes.

Em terceiro lugar, a indústria manufactureira cria externalidades no desenvolvimento

tecnológico, desenvolve competências e aprendizagem que são fundamentais à

competitividade de um país. Por exemplo, a indústria manufactureira é o principal

veículo para o desenvolvimento tecnológico e a inovação, representando uma placa

giratória do progresso. A produção utiliza a tecnologia de muitas maneiras e a vários

níveis para aumentar o retorno sobre o investimento permitindo uma evolução de

actividades de baixa produtividade para actividades de alta produtividade. O sector

produtivo também oferece um grande potencial para actividades informais inovadoras

tais como melhorias incrementais em produtos ou processos

R2 = 0.4379

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7Índ

ice

de

De

se

nv

olv

ime

nto

Hu

ma

no

(ID

H)

Índice de Desempenho da Competitividade Industrial (IDCI)

Singapura

Japão

EUA

Alemanha

Suiça

Noruega

Austrália

Nova Zelândia

China

Forte competitividade industrial e baixo desenvolvimento humano

Baixa competitividade industrial e forte desenvolvimento humano

Forte competitividade industrial e forte desenvolvimento humano

Baixa competitividade industrial e baixo desenvolvimento humano

Média do IDH

Média do IDCI

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

36

Em quarto lugar, a produção origina um efeito “push” noutros sectores da economia. O

desenvolvimento do sector manufactureiro estimula a procura para mais e melhores

serviços em sectores como a banca, os seguros, as comunicações e os transportes.

Finalmente, a internacionalização da produção alargou as vantagens da indústria

manufactureira. A distribuição geográfica das actividades das empresas multinacionais

favoreceu o desenvolvimento da produção nos países em desenvolvimento mais do

que outros sectores da economia. A tendência para a desintegração vertical da

actividade produtiva nos países industrializados significa que os países em

desenvolvimento têm mais possibilidades de se inserirem em cadeias de valor globais.

Cabo Verde tem assim todas as vantagens em avaliar a sua posição competitiva

industrial no sentido de desenvolver em seguida as acções estratégicas necessárias à

implementação de uma política industrial focalizada em sectores nucleares e

sustentada e baseada em factores diferenciadores competitivos.

Este capítulo apresenta um diagnóstico industrial de Cabo Verde. Nele, é analisado o

posicionamento competitivo do país relativamente a outros países em todas as

dimensões da competitividade industrial. O capítulo divide-se em 6 secções. A

primeira apresenta o Índice de Desempenho da Competitividade Industrial (IDCI) para

os países escolhidos, salientando os resultados de Cabo Verde. A segunda secção

analisa a capacidade produtiva do sector manufactureiro de Cabo Verde. A terceira

secção examina a capacidade exportadora manufactureira de Cabo Verde,

comparativamente ao grupo de países escolhidos e analisa a participação do país no

comércio mundial de manufacturas. A quarta secção apresenta a intensidade e

sofisticação do processo de industrialização de Cabo Verde e a contribuição dos

sectores intensivos em tecnologia. A quinta secção estuda a evolução da estrutura

exportadora cabo-verdiana. A sexta secção aborda dimensões complementares para

avaliar a competitividade industrial de Cabo Verde, nomeadamente o impacto

manufactureiro no VAM da região e nas exportações mundiais, o dinamismo

exportador do sector manufactureiro relativamente aos 20 produtos mais dinâmicos do

mundo e a diversificação de produtos manufacturados e mercados.

2.1 ÍNDICE DE DESEMPENHO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL (IDCI)

A Tabela 3 apresenta o valor do Índice de Desempenho da Competitividade Industrial

(IDCI), cuja metodologia de cálculo se descreve no Quadro 1. O IDCI combina as

diferentes dimensões da competitividade industrial para calcular o desempenho

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

37

manufactureiro de Cabo Verde no contexto dos países alvo do benchmarking. As

poucas variações que se notam no ranking demonstram que a competitividade

industrial é estruturante e sistémica, significando isso que as estratégias de

desenvolvimento dos países determinam o seu desempenho futuro e não podem ser

alteradas a curto prazo. Malta, Maurícias, Tunísia e Marrocos mantiveram as mesmas

primeiras quatro posições em 2009 face a 2000, tendo o Senegal, a Costa do Marfim e

o Níger ganho um lugar durante esse período de tempo.

Tabela 3 – Índice de Desempenho da Competitividade Industrial (IDCI), 2000 – 2009

Ranking País

IDCI

2009 2000 2000 2009

1 1 Malta 99,3 95,6

2 2 Maurícias 40,9 48,3

3 3 Tunísia 35,3 45,2

4 4 Marrocos 31,6 39,4

5 6 Senegal 25,5 29,2

6 7 Costa do Marfim 23,6 26,7

7 5 Cabo Verde 26,1 20,8

8 9 Níger (a) 14,9 20,7

9 8 Nígeria (b) 20,0 14,5

10 10 Gana 11,4 13,1

11 11 Argélia 11,4 11,1

Nota: Os dados disponíveis para o Níger e Nigéria são de 2008 para o último ano (Base de dados web da UNIDO). Fonte: UN COMTRADE

Em 2009, dos onze países em análise, Cabo Verde, com um índice de desempenho

da competitividade industrial de 20,8 colocou-se em 7º lugar no ranking, tendo descido

2 lugares em relação ao ano 2000. Além disso, o valor diminuiu, passando de 26,1 em

2000 para 20,8 em 2009. Relativamente aos 4 países industrialmente mais

competitivos em 2009, o IDCI varia entre 39,4 e 95,6 distanciando-se fortemente do

valor para Cabo Verde.

De notar que o baixo rendimento industrial de Cabo Verde em comparação com outros

países Africanos deve ser analisado num contexto de uma perda generalizada da

competitividade da região subsaariana em relação ao Sudeste Asiático.

Quadro 1 - Metodologia para o cálculo do Índice de Desempenho da Competitividade Industrial (IDCI)

O IDCI é um índice combinado que mede a competitividade industrial dos países. É composto por seis

indicadores de produção e de comércio externo que caracterizam quatro dimensões distintas: a

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

38

capacidade produtiva, a capacidade exportadora, a estrutura do processo produtivo e a estrutura

exportadora

Dimensões e Indicadores

Capacidade produtiva. (1) O Valor Acrescentado Manufacturado (VAM) per capita é o indicador

básico do desempenho industrial, tendo em consideração a dimensão da economia. Mostra a

capacidade de um país em acrescentar valor no processo de industrialização. Contudo, barreiras

comerciais e medidas proteccionistas podem distorcer o desempenho industrial de um país ao não

permitir que a sua indústria se exponha à concorrência internacional. Daí a importância de combinar

o VAM com indicadores de exportação que situam a actividade industrial de cada país na cena

internacional.

Capacidade exportadora manufactureira. Num mundo globalizado, a capacidade para exportar é

um ingrediente básico para alcançar o crescimento económico e a competitividade. O indicador (2)

exportações manufactureiras per capita é um indicador básico de competitividade comercial do sector

industrial, já que mostra a capacidade dos países em abastecerem o mercado mundial, o que implica

o cumprimento de regras e standards internacionais.

Estrutura do processo produtivo. Esta dimensão é medida através de dois indicadores: (3) a

participação do VAM no PIB (que corresponde à intensidade do processo), e (4) a participação do

VAM de média e alta tecnologia no VAM total (que corresponde à sofisticação do processo). O

primeiro indicador mostra a importância do sector manufactureiro na economia do país, enquanto que

o segundo traduz o nível tecnológico do sector manufactureiro. As actividades industriais

tecnologicamente sofisticadas fomentam a competitividade pois além de serem um reflexo de

maturidade industrial são altamente dinâmicas e apresentam externalidades positivas para o resto da

economia.

Estrutura exportadora manufactureira. A qualidade das exportações de um país é medida através

de dois indicadores: (5) a participação das exportações manufactureiras nas exportações totais, e (6)

a participação das exportações de média e alta tecnologia nas exportações manufactureiras. O

primeiro indicador mostra a importância dos produtos manufacturados na actividade exportadora do

país, sabendo que uma menor dependência comercial de produtos primários é melhor para o sector

exportador. O segundo indicador traduz a capacidade de um país para exportar produtos sofisticados

e de alto valor acrescentado.

Cálculo do IDCI

Para os onze países analisados, cada um dos seis indicadores de desempenho da competitividade

industrial que foram apresentados são normalizados de acordo com a seguinte fórmula:

100;0100),(),(

),(,,

x

rXpMinrXpMax

rXpMinrXprIp

Em que Ip,r é o índice normalizado de cada um dos indicadores r em cada país p; Xp,r corresponde ao valor

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

39

actual do indicador; e Max e Min são os valores máximos e mínimos da amostra.

Para se obter o valor final do IDCI, calcula-se a média aritmética dos valores normalizados, sendo que as

dimensões estrutura do processo produtivo e estrutura exportadora manufactureira são ponderadas com

um coeficiente de ½ no cálculo do valor agregado do IDCI.

O indicador normalizado é multiplicado por 100 para que o intervalo seja entre 0 (pior posição do

indicador) e 100 (melhor posição do indicador).

Fonte: ONUDI

2.2 CAPACIDADE PRODUTIVA DE CABO VERDE

O Valor Acrescentado Manufacturado (VAM) é considerado o indicador que melhor

traduz a capacidade produtiva industrial dos países. No caso de Cabo Verde, o VAM

em 2000 era de 49,35 milhões de USD, tendo atingido em 2009 o valor de 75,84

milhões de USD, valor esse que reflecte um crescimento médio anual (a preços

constantes) de 5.5% entre 2000-2009, o segundo maior crescimento no período dos

países analisados conforme apresentado na Tabela 4.

Tabela 4 – Valor Acrescentado Manufacturado, 2000 – 2009

Ranking País

VAM a preços constantes de 2000 (em milhões de USD)

Taxa Média Anual de Crescimento

2009 2000 2000 2009 2000 - 2009

1 1 Marrocos 5.745 7.540 3,1%

2 3 Tunísia 3.548 5.016 3,9%

3 2 Argélia 3.863 4.978 2,9%

4 5 Nigéria 1.653 3.003 7,8%

5 4 Costa do Marfim 2.258 1.976 -1,5%

6 6 Ilhas Maurícias 941 1.010 0,8%

7 8 Senegal 606 727 2,0%

8 9 Gana 449 661 4,9%

9 7 Malta 772 521 -4,3%

10 10 Níger 122 165 3,8%

11 11 Cabo Verde 49 76 5,5%

Nota: Os valores encontram-se a preços constantes; os dados disponíveis para Cabo Verde, Gana, Níger, Nigéria são de 2008 para o último ano. Fonte: World Development Indicators (WDI), base de dados web da UNIDO

Na verdade, o Produto Interno Bruto de Cabo Verde tem conhecido ao longo dos

últimos 10 anos um crescimento significativo com variações médias anuais em torno

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

40

de 6%. No entanto, quando se comparam os valores absolutos de VAM entre países,

Cabo Verde continua a manter a última posição nos últimos 10 anos.

Da análise do quadro anterior, importa referir os seguintes factores:

Durante o mesmo período, a maioria dos países, à excepção da Costa do Marfim e

de Malta, obtiveram um aumento significativo do VAM, principalmente Nigéria,

Cabo Verde e Gana.

No caso de Cabo Verde, o valor do VAM em 2000 era muito reduzido devido à sua

base industrial reduzida, o que originou um crescimento acentuado em 10 anos.

Relativamente à Nigéria, o país conseguiu acompanhar em valores absolutos o

valor do VAM dos países com um melhor desempenho, caso de Marrocos, Tunísia

e Argélia.

No caso de se considerar o VAM/capita como indicador, ou seja considerando a

população de cada país, em 2009 Cabo Verde conseguia uma melhoria substancial,

ocupando a 5ª posição do ranking dos 11 países em análise, tendo subido duas

posições desde o ano 2000 (Tabela 5).

Tabela 5 – Valor Acrescentado Manufactureiro (VAM) per capita, 2000 - 2009

Ranking País

VAM Per Capita (em USD)

2009 2000 2000 2009

1 1 Malta 1.979 1.256

2 2 Ilhas Maurícias 793 792

3 3 Tunísia 371 481

4 4 Marrocos 199 236

5 7 Cabo Verde (1) 112 150

6 6 Argélia 127 143

7 5 Costa do Marfim 131 94

8 8 Senegal 61 58

9 9 Gana (1) 23 28

10 10 Nigéria (1) 13 19

11 11 Níger (1) 11 11

Nota: (1) Os dados disponíveis para Cabo Verde, Gana, Nigéria e Níger são de 2008 para o último ano Fonte: World Development Indicators (WDI), base de dados web da ONUDI

Em 2008, o VAM/capita de Cabo Verde cifrou-se em 150 USD, valor acima de países

como a Argélia, Costa do Marfim, Senegal, Gana, Nigéria e Níger. O país em 10 anos

conseguiu subir 2 lugares no ranking dos 11 países. No entanto, os países que se

encontram nas posições cimeiras, tais como Malta, Maurícias ou Tunísia possuíam um

VAM per capita que representava em 2009, respectivamente mais de 8, 7 e 2 vezes

respectivamente o VAM de Cabo Verde. Além de evidenciar e confirmar a fraca

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

41

capacidade industrial de Cabo Verde, o VAM/capita mostra que o incremento dos

últimos anos não reflecte um verdadeiro desenvolvimento industrial. A taxa de

crescimento anual tem sido inferior a 3%.

Malta, apesar do recuo em valores absolutos do VAM/capita, que passou de 1.979

USD em 2000 para 1.256 USD em 2009, liderou o ranking entre 2000 e 2009. A

quebra verificada no sector manufactureiro ficou a dever-se em parte a uma forte

diminuição das exportações do sector industrial que em 2008 e 2009 tiveram índices

de crescimento de -14,9% e -19,2% respectivamente.

Os sectores manufactureiros de Malta que produzem maioritariamente para

exportação atravessaram um período de queda acentuada devido à crise internacional

e em que o ano 2009 foi o mais crítico, como foi o caso da fabricação de produtos

farmacêuticos entre Janeiro e Junho de 2009 que diminuiu fortemente. Nos últimos 2

anos (2008 e 2009), as exportações dos produtos manufactureiros em geral

diminuíram 25% e as vendas para consumo interno 10%. Sectores como as

confecções que enfrentam uma concorrência internacional acrescida especialmente

oriunda de países de mão-de-obra barata e custos baixos conheceram uma

diminuição nas exportações respectivamente de 40% e 30% em 2008 e 2009 e de

10% e 20% nos mesmos anos relativamente às vendas para consumo local. O sector

da borracha e dos produtos de plástico entre Janeiro e Junho de 2009 quando

comparado com o período homólogo de 2008 caiu respectivamente 20% e 45% nas

vendas locais e nas exportações. No mesmo período o sector da fabricação de

computadores, electrónica e produtos ópticos teve exportações que diminuíram cerca

de 30% e vendas locais a baixarem em 10%.

As Ilhas Maurícias mantiveram o segundo lugar, com um valor de VAM per capita

semelhante em 2000 e 2009.

Relativamente aos países do Norte de África, só Marrocos e a Tunísia têm um VAM

per capita superior ao de Cabo Verde. Tunísia liderou o ranking no período em análise.

Marrocos situou-se logo a seguir no ranking com uma taxa de crescimento médio

anual semelhante à da Tunísia, atingindo os 4%. A Argélia, com um VAM per capita de

127 USD e 143 USD respectivamente em 2000 e 2009, manteve-se na sexta posição

do ranking, depois de Cabo Verde.

A Costa do Marfim que no ano 2000 ocupava a quinta posição, desceu dois lugares no

ranking, ocupando em 2009 a sétima posição. Esta situação foi originada

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

42

principalmente pela instabilidade política, devido ao conflito armado que se instalou no

país desde 2003 e que tem afectado o bom funcionamento do tecido empresarial.

O Senegal, o Gana, a Nigéria e o Níger mantiveram as mesmas posições no ranking

em 2000 e 2009, sendo que o Senegal viu o VAM/capita diminuir entre 2000 e 2009. A

Nigéria, apesar de um incremento no VAM, não conseguiu melhorar a sua posição na

tabela. O Níger ocupou a 11ª posição no ranking com um VAM/capita em torno dos 11

USD em 2009.

2.3 CAPACIDADE EXPORTADORA MANUFACTUREIRA

O fenómeno da globalização é um processo de aceleração económica em que o

produtor adquire matéria-prima independentemente do país de origem e instala as

suas fábricas em países onde os custos são menores. As empresas multinacionais

tendem a localizar os centros de produção em países onde possam ter vantagens

competitivas em termos de custo, instalando-se em latitudes onde o binómio

custo/lucro está garantido. As distâncias tornaram-se cada vez mais irrelevantes

quando se trata de transacções comerciais. Os sistemas de comunicação avançados

têm permitido diminuir as distâncias entre os diversos pontos do planeta. Tudo isto tem

levado a um crescimento acelerado do comércio internacional sem que este seja

acompanhado às vezes pelo respectivo crescimento do PIB dos países alvo dos

investimentos das multinacionais.

A tabela que a seguir se apresenta descreve a evolução das exportações

manufactureiras dos países em análise bem como a sua taxa de crescimento entre os

anos 2000 e 2009. Com excepção dos casos de Malta e Maurícias com crescimentos

respectivamente de -0,4% e 1,2%, as exportações manufactureiras cresceram

substancialmente em todos os países analisados, com taxas anuais superiores a 5%.

Tabela 6 – Exportações Manufactureiras dos Países, 2000 – 2009

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

43

Ranking País

Exportações Manufactureiras a preços correntes

(em milhões de USD)

Taxa Média Anual de Crescimento

2009 2000 2000 2009 2000 - 2009

1 3 Tunísia 4.995 12.219 10,5%

2 2 Marrocos 5.639 10.966 7,7%

3 1 Argélia 5.965 9.166 4,9%

4 5 Costa do Marfim 1.733 4.261 10,5%

5 10 Nigéria 61 2.568 51,6%

6 4 Malta 2.166 2.091 -0,4%

7 6 Maurícias 1.457 1.620 1,2%

8 8 Senegal 374 1.412 15,9%

9 7 Gana (a) 477 790 6,5%

10 9 Níger (a) 127 336 12,9%

11 11 Cabo Verde 10 21 8,3%

Nota: (a) Os dados disponíveis para o último ano são de 2008 Fonte: UN COMTRADE

Em termos absolutos, a Argélia foi o país que teve o valor mais elevado de exportação

manufactureira no ano 2000, tendo atingido os 5,9 milhões de USD, seguido de

Marrocos e da Tunísia. Em 2009, a Tunísia ultrapassava a Argélia no ranking, com um

volume de exportações de 12,2 milhões de USD. Marrocos manteve-se na segunda

posição com 10,9 milhões de USD e a Argélia aparece na terceira posição com 9,1

milhões de USD. Cabo Verde ocupa a última posição tanto no ano 2000 como em

2009.

As exportações manufactureiras de Cabo Verde passaram de 10 milhões de USD em

2000 para 21 milhões de USD em 2009. Cabo Verde, apesar do crescimento, continua

a ter uma base industrial muito reduzida e direccionada para a transformação do

pescado que tem como destino o mercado Europeu. Este incremento das exportações

nesse período deveu-se ao facto de existirem um número importante de empresas

francas cuja produção foi na quase totalidade direccionada para o mercado externo.

No caso da Nigéria, Senegal e Níger com taxas de crescimento superiores a 12%

foram os países cujas exportações manufactureiras conheceram o maior crescimento.

No outro extremo, encontra-se Malta cujas exportações conheceram um retrocesso

considerável conforme já referido anteriormente.

2.3.1 Exportações manufactureiras per capita

A Tabela 7 apresenta as exportações manufactureiras per capita de Cabo Verde

comparativamente aos outros países em análise. Trata-se de um indicador relativo que

permite medir a capacidade comercial de um país para os mercados externos tendo

em conta a sua dimensão.

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

44

Malta, seguido das Maurícias e da Tunísia é o país com o maior valor de exportações

manufactureiras per capita, tendo atingido em 2000 o valor de 5.554 USD e 5.040

USD em 2009. Estes três países são os únicos países cujas exportações

manufactureiras per capita ultrapassaram os 1.000 USD em 2009.

Tabela 7 – Exportações Manufactureiras per Capita, 2000 – 2009

Ranking País

Exportações Manufactureiras per Capita (em USD)

2009 2000 2000 2009

1 1 Malta 5.554 5.040

2 2 Maurícias 1.227 1.270

3 3 Tunísia 522 1.171

4 4 Marrocos 196 343

5 5 Argélia 196 263

6 6 Costa do Marfim 100 202

7 7 Senegal 38 113

8 9 Cabo Verde 23 42

9 8 Gana (a) 24 34

10 10 Níger (a) 11 23

11 11 Nigéria 0 17

Nota: (a) Os dados utilizados para o último ano foram de 2008 Fonte: UN COMTRADE

Dos países do Norte de África, a Tunísia destaca-se com um volume de exportações

manufactureiras per capita superior a 3 vezes o de Marrocos. O crescimento médio

anual de 8,4% (de 522 USD em 2000 para 1.171 USD em 2009) registado nas

exportações das manufacturas da Tunísia, demonstram claramente a sua capacidade

exportadora.

Cabo Verde, em termos de exportações manufactureiras per capita (23 USD em 2000

e 42 USD em 2009), não obstante um importante incremento, ocupou sempre os

últimos postos do ranking superando apenas o Gana, Níger e Nigéria. A Costa do

Marfim, apesar de um crescimento anual de cerca de 7% nas suas exportações

manufactureiras per capita, manteve-se na sexta posição do ranking. A Nigéria

manteve a última posição do ranking.

2.4 O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO

O processo de industrialização de um país pode ser caracterizado pela intensidade do

processo de industrialização e pela sofisticação tecnológica do sector. Estes dois

indicadores são denominados de variável “intensidade industrialização”. O primeiro

indica a importância do sector industrial na economia do país, enquanto que o

segundo apresenta o nível tecnológico dessa mesma indústria. É nesta óptica que se

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

45

analisam os dois indicadores que fornecem dados sobre a evolução da

industrialização no país, nomeadamente

O peso do valor acrescentado do sector industrial manufactureiro (VAM) no

valor total do PIB (VAM/PIB);

O peso do valor acrescentado do sector de média e alta tecnologia (VAM-MAT)

no valor total do VAM da indústria (VAM-MAT/VAM);

2.4.1 A intensidade do processo de industrialização

A intensidade do processo de industrialização de um país pode ser medida através da

contribuição do VAM ao Produto Interno Bruto (VAM/PIB em %). Este indicador, no

entanto, não reflecte a eficiência e a competitividade do processo de industrialização.

Também não reflecte a contribuição de outros sectores como a agricultura e os

serviços no desenvolvimento industrial do país, seja como inputs ou como actividades

de apoio.

Em Cabo Verde, a contribuição do VAM ao PIB diminuiu de 9,3% em 2000 para 6,7%

em 2009 (Tabela 8). O país ocupava em 2009 a mesma 8ª posição que já ocupava em

2000 no ranking elaborado, à frente unicamente do Níger, Argélia e Nigéria. Refira-se

que todos os países em análise sofreram um decréscimo quando se comparam os

valores de 2000 com valores de 2009, o que demonstra que mesmo em países mais

dinâmicos como as Maurícias ou Malta, a crise internacional que se iniciou em 2007

tem vindo a ter efeitos negativos no sector industrial desses países. Os países

mantiveram na globalidade as posições que detinham em 2000, excepto Malta que,

apesar do contexto adverso, conseguiu subir 2 posições no ranking, ocupando agora a

5ª posição enquanto o Gana desceu da 7ª para 5ª posição.

Tabela 8 - Contribuição do Sector Industrial Manufactureiro na Economia dos Países (% do VAM/PIB), 2000-2009

Ranking País

Peso do VAM no PIB (%)

2009 2000 2000 2009

1 1 Ilhas Maurícias 23,5 19,4

2 2 Costa do Marfim 21,7 18,0

3 3 Tunísia 18,2 16,5

4 4 Marrocos 17,5 15,9

5 7 Malta 22,4 13,6

6 6 Senegal 14,7 12,7

7 5 Gana 10,1 6,9

8 8 Cabo Verde 9,3 6,7

9 9 Níger (a) 6,8 6,4

10 10 Argélia 7,5 6,1

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

46

11 11 Nigéria (b) 3,4 2,6

Nota: (a) Os dados utilizados para o último ano foram do ano 2003; (b) Os dados utilizados para os anos 2000 e 2009 foram respectivamente de 2002 e de 2006 Fonte: World Development Indicators (WDI), base de dados web da UNIDO

2.4.2 A sofisticação do processo de industrialização

Para medir a sofisticação do processo de industrialização de um país e o nível

tecnológico das suas indústrias ou seja a complexidade tecnológica da sua estrutura

industrial, utiliza-se um indicador que reflecte a contribuição das actividades de média

e alta tecnologia (MAT) no VAM do país (% do VAM-MAT/VAM). Quanto maior for o

seu peso, mais avançado tecnologicamente e complexo será o sector industrial do

país. Como se referiu, as actividades tecnologicamente mais complexas, ao facilitar a

absorção e aplicação de novos conhecimentos científicos, oferecem mais

oportunidades de aprendizagem, de inovação e de melhoria produtiva.

Como se encontra patente na Figura 3 que apresenta a sofisticação do sector

produtivo do grupo de 11 países considerados, Malta, cujas actividades de média e

alta tecnologia representaram 47% do VAM total, lidera o ranking da sofisticação do

sector produtivo. O país apostou fortemente no sector da electrónica e de

computadores, tendo fábricas a operarem nessas áreas. A Nigéria posicionou-se na

cadeia do sector automóvel, intervindo na vertente dos motores, ocupando assim a 2ª

posição seguido de perto pelo Senegal, que intervém na refinação de produtos

petrolíferos assim como o Níger. Marrocos, que desenvolveu competências na

vertente da indústria química, ocupava a 4ª posição em 2009 e Cabo Verde a 6ª

posição graças ao sector da indústria farmacêutica.

Figura 3 - Contribuição da Indústria de Média e Alta Tecnologia no Total do VAM

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

50%

MA

T/V

AM

Malta Nigéria Senegal Marrocos Níger Cabo

Verde

Gana Costa de

Marfim

Argélia Tunísia Ilhas

Maurícias

2000 Último Ano

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

47

Nota: Os dados para o ano 2000 foram retirados do relatório IDR 2009 e para o ano 2009 do relatório IDR 2010 Fonte: UNIDO-IDR 2009 e 2010; INDSTAT; INE

Relativamente a este indicador, Cabo Verde regista um decréscimo de 3%, tal como

as Maurícias, Argélia, Tunísia e Nigéria, o que pode indiciar um desinvestimento em

actividades de média e alta tecnologia por parte das indústrias desses países ou a

deslocalização de fábricas de multinacionais para os países de Leste ou para a China.

Os restantes países em análise registaram aumentos. Destacam-se o Níger com um

incremento de 8%, Malta com um crescimento de 7% e Marrocos com 4%, mostrando

que houve uma aposta na média e alta tecnologia por parte das indústrias nesses

países.

Malta e a Nigéria no período em análise, em resultado das apostas feitas nas

indústrias de média e alta tecnologia, respectivamente na electrónica, computadores e

motores para veículos, mantêm o primeiro e segundo lugar respectivamente desde

2000 conforme transparece da Tabela 9.

Cabo Verde, como consequência da não aposta em média e alta tecnologia, passou

da terceira posição em 2000 para sexto lugar em 2009. Refira-se ainda que o peso da

indústria de MAT em Cabo Verde ainda é relativamente importante no total do VAM do

país, representando 27,1% em 2009. Esta situação deve-se essencialmente à

contribuição da indústria farmacêutica conforme referido.

Tabela 9 - Ranking com base na % do VAM de MAT no VAM total, 2000 - 2009

Ranking País

Peso das indústrias manufactureiras de média e alta tecnologia no VAM total

(%)

2009 2000 2000 2009

1 1 Malta 40,2 47,0

2 2 Nigéria 35,5 33,4

3 4 Senegal 28,2 29,8

4 5 Marrocos 24,8 28,9

5 7 Níger 19,5 28,1

6 3 Cabo Verde 30,6 27,1

7 10 Gana 14,6 18,8

8 9 Costa do Marfim 15,0 15,0

9 8 Argélia 15,6 11,3

10 6 Tunísia 19,7 9,3

11 11 Maurícias 7,5 3,0

Nota: Os dados para o ano 2000 foram retirados do relatório IDR 2009 e para o ano 2009 do relatório IDR 2010 Fonte: UNIDO-IDR 2009 e 2010; INDSTAT; INE

De sublinhar que alguns países como o Níger, Marrocos e Senegal registaram

subidas, de pelo menos um lugar. A Argélia, a Costa do Marfim e Maurícias mantêm

os últimos lugares da tabela.

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

48

Efectuando uma análise conjunta das duas variáveis anteriormente analisadas

separadamente (Figura 4), identificaram-se três tipos de situações:

1) A Costa do Marfim reduziu a sua percentagem do VAM no total do PIB, sem

aumentar praticamente a participação do valor VAM - MAT no VAM total;

2) Malta, Senegal, Marrocos, Níger e Gana aumentaram as suas participações do

VAM - MAT no VAM total e diminuíram a percentagem do VAM no total do PIB;

3) Maurícias, Tunísia, Nigéria, Argélia e Cabo Verde registaram reduções nos dois

indicadores.

Figura 4 - Evolução da Relação entre os Dois Indicadores

Fonte: World Development Indicators; UNIDO-IDR 2009 e 2010; INDSTAT; INE

Segundo estudos realizados pela ONUDI, é claro o efeito do impacto directo e

indirecto da indústria de média e alta tecnologia no PIB de um país, a vários níveis,

através das oportunidades de aprendizagem e inovação, externalidades positivas para

o resto da economia e ganhos claros a nível da produtividade.

2.5 ESTRUTURA EXPORTADORA MANUFACTUREIRA

A fragmentação e internacionalização da indústria foram fundamentais para se

perceber a mudança na estrutura do comércio mundial. Em 2009, o comércio mundial

manufactureiro representou 77,4% do comércio mundial, e só as exportações

industriais de média e alta tecnologia representaram 60,3%. Esta mudança na

estrutura comercial significou também alterações para muitos países que estão a

beneficiar do processo de globalização graças ao facto de pertencerem a redes

integradas de comércio, controladas em muitos casos por empresas multinacionais.

O sector manufactureiro é um motor fundamental para o crescimento económico e

para a dinamização do comércio mundial, sendo os sectores manufactureiros de

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

50%

0% 5% 10% 15% 20% 25%

% VAM no total do PIB

VA

M M

AT

/ T

ota

l V

AM

2000 2009

Níger

Cabo Verde

Marrocos

Senegal

Gana

Argélia

Costa de Marfim

Nigéria

Tunísia

Malta

Maurícias

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

49

média e alta tecnologia uma alavanca para o país a nível do crescimento sustentável,

desenvolvimento tecnológico e criação de emprego.

2.5.1 Peso das exportações manufactureiras nas exportações totais dos países

A Tabela 10 apresenta o indicador mais básico da estrutura comercial: o peso das

exportações manufactureiras nas exportações totais dos países.

Dos países analisados, as Ilhas Maurícias continuam a ser o país com a estrutura

comercial mais orientada para a exportação manufactureira seguido de Malta e da

Tunísia. Maurícias e Malta lideram, detendo aparentemente uma estrutura comercial

mais orientada para o sector industrial (respectivamente 91,8% e 91,7% das suas

exportações em 2009 correspondem às de manufacturas), seguidos pela Tunísia e

Marrocos que ocupam a terceira e quarta posição no ranking em 2009.

Globalmente, nos últimos anos, assistiu-se a um decréscimo do peso das exportações

manufactureiras no total das exportações dos países, exceptuando os casos de

Marrocos, Níger, Senegal e Nigéria.

Por outro lado, os países que em 2000 já se encontravam no fim da tabela, mantêm

essa posição, caso da Costa do Marfim, Argélia, Gana e Nigéria. Este último é o país

onde os produtos manufacturados têm a menor participação nas exportações totais.

Isto deve-se fundamentalmente ao peso do petróleo nas transacções comerciais do

país.

Tabela 10 – Contribuição das Exportações Manufactureiras no Total das Exportações, 2000 – 2009

Ranking País

Contribuição das Export. Manuf./Total Export. (%)

2009 2000 2000 2009

1 1 Maurícias 97,8 91,8

2 2 Malta 97,5 91,7

3 4 Tunísia 85,4 84,6

4 5 Marrocos 75,9 78,7

5 6 Níger (a) 56,6 75,4

6 7 Senegal 53,9 70,0

7 3 Cabo Verde 92,6 59,9

8 8 Costa do Marfim 47,8 41,4

9 10 Argélia 27,1 20,3

10 9 Gana (a) 28,5 19,6

11 11 Nigéria 0,2 5,1

Nota: (a) Os dados utilizados para o último ano foram de 2008 Fonte: UN COMTRADE

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

50

As exportações manufactureiras cabo-verdianas em 2009 representavam cerca de

60% das suas exportações totais, traduzindo uma quebra de cerca de 33 pontos

percentuais relativamente ao ano 2000. No entanto, em termos absolutos, as

exportações manufactureiras aumentaram de valor de 2000 para 2009, facto que

evidencia uma maior dinâmica da exportação total criada pela área dos serviços face

aos produtos manufacturados.

Assim, Cabo Verde passou da terceira posição que ocupava no ranking em 2000 para

se colocar na sétima posição em 2009, perdendo assim quatro lugares no ranking e

colocando-se à frente apenas da Costa do Marfim, Argélia, Gana e Nigéria.

Por outro lado, constata-se que a exportação cabo-verdiana de produtos

manufactureiros é dominada pelos produtos de baixa tecnologia (conservas de peixe,

peixes frescos e refrigerados, lagostas frescas e congeladas, confecções, partes de

calçado, aguardentes e licores).

O principal produto de exportação do país tem sido o que resulta da sua actividade

piscatória, a qual, embora apresente uma moderada contribuição para o PIB, continua

a ter um impacto significativo em termos de emprego e nas vendas ao exterior, tendo a

transformação e preparação do pescado representado 49,71% do total das

exportações em 2009.

2.5.2 Peso das exportações de média e alta tecnologia (MAT) nas exportações

manufactureiras

Relativamente ao peso das exportações de Média e Alta Tecnologia (MAT) nas

exportações manufactureiras, Malta, Tunísia, Nigéria e Marrocos lideravam o ranking

em 2009, mantendo globalmente as mesmas posições relativamente ao ano 2000

(Tabela 11). Malta destaca-se deste grupo de 4 países com cerca de 77% das

exportações em 2009 a serem representadas por produtos de média e alta tecnologia

(MAT), na electrónica e computadores. No entanto, apesar de ter mantido a sua

posição no ranking e de ter aumentado o nível de exportação de MAT, Malta sofreu

uma redução do peso de MAT nas exportações manufactureiras de cerca de 4 pontos

percentuais (de 81% para 78%) evidenciando uma maior dinâmica dos produtos

manufactureiros em geral do que os de MAT em particular e também por uma

diminuição da procura global afectada pela concorrência global no sector da alta

tecnologia.

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

51

Tabela 11 – Peso das exportações de Média e Alta Tecnologia (MAT) no Total das Exportações Manufactureiras, 2000 - 2009

Ranking País

Contribuição das Export. de MAT/Total Export. Manuf.

2009 2000 2000 2009

1 1 Malta 81,1% 76,9%

2 3 Tunísia 24,8% 39,6%

3 2 Nigéria 60,8% 34,7%

4 4 Marrocos 23,2% 33,2%

5 6 Costa do Marfim 10,2% 25,0%

6 5 Senegal 20,9% 20,4%

7 8 Gana (a) 6,5% 18,1%

8 9 Maurícias 4,9% 8,7%

9 7 Níger (a) 8,3% 3,5%

10 11 Argélia 2,2% 0,7% 11 10 Cabo Verde 4,8% 0,0%

Nota: (a) Os dados utilizados para o último ano foram de 2008 Fonte: UN COMTRADE

Nos países com uma estrutura exportadora menos sofisticada destacam-se o Níger, a

Argélia e Cabo Verde ocupando este país a última posição no ranking dos países em

análise, tendo perdido uma posição relativamente ao ano 2000. A Argélia, por sua vez,

embora tenha sofrido uma diminuição considerável (menos 1,5 pontos percentuais em

2009), ganhou uma posição no ranking relativamente ao ano 2000.

As exportações dos produtos de MAT para Cabo Verde representavam apenas 4.8% e

0% respectivamente em 2000 e 2009 do total das exportações manufacturadas do

país, reflectindo de forma explícita a deterioração da sofisticação dos produtos

manufacturados exportados pelo país, pelo que Cabo Verde saiu da décima posição

em 2000 para se posicionar na décima primeira posição em 2009. Esta situação não

favorece o crescimento e a competitividade industrial cabo-verdiana, pois os sectores

manufactureiros com maior impacto sobre o crescimento e a competitividade industrial

são os sectores intensivos em média e alta tecnologia cuja externalidade é positiva

para o resto da economia e que tem crescido muito a nível mundial, nos últimos anos.

Os países em análise que diminuíram o peso das exportações de MAT nas

exportações manufactureiras foram Malta, Nigéria, Senegal, Níger, Argélia e Cabo

Verde.

A Figura 5 resume a evolução da estrutura exportadora de produtos manufacturados

de Cabo Verde e dos restantes países. O caminho exportador desejado consiste em

aumentar o peso das exportações de produtos manufacturados na exportação total do

país assim como, dentro do sector manufactureiro, aumentar a participação das

exportações de produtos MAT.

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

52

Figura 5 – Evolução da Estrutura da Exportação Manufactureira em Cabo Verde e nos Países Analisados

Nota: O diâmetro dos círculos representa o valor de exportação manufactureira per capita em 2009, reflectindo a capacidade de exportação de produtos manufacturados do país. Fonte: UN COMTRADE

Malta, apesar de ter mostrado uma evolução contrária ao desejado entre 2000 e 2009

é um modelo a seguir pois apresenta a estrutura de exportação mais sofisticada dos

países analisados. Cerca de 77% das suas exportações manufactureiras em 2009

eram compostas por produtos de média e alta tecnologia (MAT) e por outro lado a

exportação do país era totalmente dominada por produtos manufacturados. De facto, a

exportação desses produtos representava cerca de 98% em 2000 e 92% em 2009 da

exportação total. Verificou-se no entanto que as exportações manufactureiras de Malta

não acompanharam o crescimento das exportações do país, induzindo uma perda de

competitividade do sector industrial.

Cabo Verde e a Argélia, por sua vez, apresentam um comportamento idêntico. Entre

2000 e 2009 os produtos de MAT na exportação manufactureira dos dois países têm

perdido peso bem como a contribuição da indústria manufactureira nas exportações

totais. No entanto, as exportações manufactureiras, em valor absoluto, aumentaram

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

53

durante o período em análise, traduzindo assim o crescimento do peso da área de

serviços no total das exportações dos países.

Ao contrário, existe um grupo de cinco países, Tunísia, Marrocos, Costa do Marfim

Gana e Maurícias, que têm melhorado a sofisticação dos produtos que compõem as

exportações manufactureiras de 2000 para 2009. Excepto no caso da Costa do Marfim

e do Gana, estes países detêm uma posição de destaque no que diz respeito ao peso

das exportações de produtos manufacturados no total das exportações, tanto em 2000

como em 2009.

2.6 DIMENSÕES COMPLEMENTARES DE AVALIAÇÃO DA COMPETITIVIDADE

INDUSTRIAL

2.6.1 Impacto manufactureiro

O impacto industrial na região em análise e nas exportações mundiais é fundamental

para se compreender o posicionamento de Cabo Verde na região em termos do VAM

e da evolução da quota de mercado do país nos produtos manufacturados a nível

mundial entre 2000 e 2009.

Estes dois indicadores permitem obter simultaneamente uma imagem do

posicionamento do país a nível regional e a nível internacional.

- Impacto produtivo

A Tabela 12 apresenta o peso de cada país analisado em termos de VAM

relativamente ao valor global do VAM da região subsaariana.

Tabela 12 – Peso no VAM da Região Subsaariana, 2000 – 2009

Ranking País

Peso no VAM da região subsaariana

2009 2000 2000 2009

1 1 Marrocos 13,94% 14,15%

2 3 Tunísia 8,61% 9,41%

3 2 Argélia 9,38% 9,34%

4 5 Nigéria (a) 4,01% 5,64%

5 4 Costa do Marfim 5,48% 3,71%

6 6 Maurícias 2,28% 1,89%

7 8 Senegal 1,47% 1,36%

8 9 Gana (a) 1,09% 1,24%

9 7 Malta 1,87% 0,98%

10 10 Níger (a) 0,30% 0,31%

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

54

11 11 Cabo Verde (a) 0,12% 0,14%

Nota: a) os dados para o último ano correspondem a 2008 Fonte: World Development Indicators e site da ONUDI

O impacto do VAM de Cabo Verde na região é ainda muito reduzido, como se pode

concluir pelos valores em 2000 e 2009, respectivamente de 0,12% e 0,14%, 100 vezes

menos que o 1º classificado, Marrocos, em 2009.

Marrocos, Tunísia e Argélia são os 3 países que lideram a tabela, de forma

distanciada dos outros países.

- Impacto nas exportações

A Tabela 13 apresenta a quota de mercado dos produtos manufacturados de cada

país no comércio mundial de manufacturas.

Tabela 13 - Quota de Mercado Mundial dos Produtos Manufacturados e Evolução, 2000 - 2009

Ranking País

Quota de mercado mundial Diferença na quota

de mercado mundial

2009 2000 2000 2009 2000 - 2009

1 3 Tunísia 0,10183% 0,13567% 0,03384%

2 2 Marrocos 0,11497% 0,12176% 0,00678%

3 1 Argélia 0,12162% 0,10177% -0,01985%

4 5 Costa do Marfim 0,03532% 0,04731% 0,01199%

5 10 Nigéria 0,00124% 0,02851% 0,02727%

6 4 Malta 0,04416% 0,02322% -0,02094%

7 6 Maurícias 0,02970% 0,01799% -0,01171%

8 8 Senegal 0,00762% 0,01568% 0,00806%

9 7 Gana (a) 0,00972% 0,00684% -0,00287%

10 9 Níger (a) 0,00259% 0,00291% 0,00032%

11 11 Cape Verde 0,00021% 0,00023% 0,00002%

Nota: (a) Os dados utilizados para o último ano foram de 2008 Fonte: UN COMTRADE

O impacto das exportações do sector manufactureiro cabo-verdiano no valor global

dos produtos manufacturados e transaccionados a nível mundial é praticamente nulo.

Dos países analisados, Cabo Verde, em 2009 tinha a participação mais pequena no

total do mercado mundial de produtos manufacturados, ocupando a 11ª posição no

ranking. Refira-se ainda que a exportação cabo-verdiana de produtos manufacturados

sofreu uma variação positiva de 0.00002%, passando de 0.00021% em 2000 para

0.00023% em 2009. Contudo, conforme já referido, em termos absolutos, importa

mencionar que houve um aumento nas exportações de produtos manufacturados entre

2000 e 2009. Em 2000, o valor das exportações alcançou os 10 milhões de dólares

enquanto que em 2008 esse valor atingia 21 milhões de dólares, representando um

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

55

Crescimento Médio Anual de 8,3%. Refira-se ainda que em Cabo Verde duas grandes

empresas do ramo têxtil entraram em falência em 2005, a Cape Verde Cloding

Company e o Porto Grande.

Em 2000, a Argélia tinha a taxa mais alta de participação no mercado mundial de

produtos manufacturados (0,121%) em relação aos países em análise, seguido de

Marrocos, Tunísia, Malta, Costa do Marfim, Maurícias, Gana, Senegal, Níger, Nigéria e

Cabo Verde.

Já no ano de 2009, a Tunísia passou a ser o país líder com a maior quota de mercado

mundial, representando 0,135%, seguido de Marrocos, Argélia, Costa do Marfim,

Malta, Nigéria, Maurícias, Senegal, Gana, Níger e Cabo Verde.

A Tunísia que ocupava a terceira posição no ranking no ano 2000 e o primeiro lugar

em 2009, é o país onde se registou a maior variação positiva em termos de

participação no mercado internacional, passando de 0.101% em 2000 para 0.135% em

2008. Esta variação é também positiva na Tunísia, Marrocos, Costa do Marfim,

Nigéria, Senegal, Gana e Cabo Verde. Ao contrário, a Argélia, Malta, as Ilhas

Maurícias e Gana perderam relevância no mercado mundial de produtos

manufacturados conforme é retratado na figura seguinte.

Figura 6 - Taxa de Crescimento Anual de Produtos Manufacturados e Variação da Quota de Mercado Mundial, 2000 - 2009

Nota 1: O diâmetro dos círculos representa o valor da exportação manufactureira per capita em 2009, reflectindo a capacidade de exportação de produtos manufacturados do país. Nota 2: Os dados utilizados para o Gana e o Níger para o último ano foram de 2008 Fonte: UNCOMTRADE

-0,1

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

-0,03% -0,02% -0,01% 0,00% 0,01% 0,02% 0,03% 0,04% 0,05%

Variação na quota de mercado mundial 2000-2009

Taxa d

e c

rescim

ento

anual 2

000-2

009

TunísiaSenegalGana

Marrocos

Costa de Marfim

Nigéria

Malta

Cabo Verde

Maurícias

Níger

Argélia

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

56

2.6.2 Dinamismo exportador manufactureiro

A capacidade e flexibilidade de ajustar as estruturas industriais e de exportação cabo-

verdianas para responder à variação da procura global é uma outra dimensão

fundamental para se atingir a competitividade industrial. A importância da análise da

flexibilidade infraestrutural está directamente associada à competitividade da indústria

de Cabo Verde, sendo certo que quanto mais flexível for esta estrutura, mais

competitiva será a indústria, e consequentemente, maior será a capacidade de

exportação.

Isto é particularmente importante naqueles produtos altamente dinâmicos no comércio

mundial (que mais cresceram) entre 2000 e 2009, avaliando-se o dinamismo

exportador do país através dos seguintes indicadores: i) exportações per capita dos

vinte produtos manufacturados mais dinâmicos do mundo; ii) participação no comércio

mundial destes produtos; e iii) participação das exportações destes vinte produtos nas

exportações manufactureiras do país. Estes três indicadores analisam a capacidade

de adaptação de um país perante as variações da procura, o impacto do país no

comércio mundial e na sua estrutura exportadora, respectivamente.

Os países que têm mais sucesso são aqueles que são capazes de perceber as

exigências do mercado e de adaptarem com rapidez e atempadamente a sua estrutura

produtiva e comercial para satisfazer as novas exigências antes da concorrência.

Cabo Verde tem uma economia insular que apesar de pertencer a uma comunidade

económica (CEDEAO), encontra-se, por força da globalização, inserido no mercado

mundial, pelo que importa analisar a competitividade dos produtos produzidos e

comercializados tanto no mercado mundial como na CEDEAO, e com isso avaliar a

capacidade de adaptar ou reorientar a indústria manufactureira em função das

necessidades de ambos os mercados, conforme uma estratégia económica definida

pelo governo, sendo certo que o incremento das relações comerciais com os países

da CEDEAO constitui hoje um dos vértices desta estratégia económica.

Para avaliar a competitividade dos produtos produzidos a nível mundial, apresenta-se na na

Tabela 14 os vinte produtos manufacturados mais dinâmicos no comércio mundial.

Tabela 14 – Os Vinte Produtos Manufacturados mais Dinâmicos no Comércio Mundial, 2000 – 2009

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

57

Estes são os produtos manufacturados - a três dígitos da classificação CSCI (Classificação Standard para o Comércio Internacional), revisão 3 - com maior crescimento no comércio mundial entre 2000 e 2009.

Ranking Classificação Tecnológica

Produto (CUCI)

Designação do Produto Taxa de Crescimento

Anual 2000-2009

1 Recursos Naturais 281 Minério de ferro/concentrado 22,0%

2 Alta tecnologia 871 Instrumentos ópticos 20,0%

3 Recursos Naturais 283 Minério de cobre/concentrado 17,8%

4 Recursos Naturais 422 Óleos vegetais 17,6%

5 Alta Tecnologia 542 Medicamentos incluindo a área veterinária 16,8%

6 Recursos Naturais 282 Sucata de resíduos de ferro 16,6%

7 Alta Tecnologia 541 Excipientes farmacêuticos exclui medicamentos 16,3%

8 Baixa Tecnologia 691 Ferro/estruturas de alumínio 15,2%

9 Média Tecnologia 793 Navios/barcos 15,0%

10 Recursos Naturais 335 Produtos derivados do petróleo 13,6%

11 Baixa Tecnologia 679 Ferro/aço/tubo 13,6%

12 Recursos Naturais 334 Gasolina pesada/óleos 13,5%

13 Média Tecnologia 562 Produção de fertilizantes 13,5%

14 Alta Tecnologia 751 Equipamento de escritório 13,1%

15 Recursos Naturais 421 Óleo vegetal fixo/gordo, leve 12,7%

16 Média Tecnologia 761 Écrans de TV 12,7%

17 Recursos Naturais 288 Base de resíduos metálicos 12,4%

18 Baixa Tecnologia 899 Diversos artigos de manufactura 12,4%

19 Baixa Tecnologia 897 Jóias 12,1%

20 Recursos Naturais 048 Cereais, farinha, amido 11,7% Fonte: WITS (UN Comtrade)

Para avaliar a capacidade da adaptação da estrutura produtiva de Cabo Verde e dos

países da CEDEAO, é apresentada na

Tabela 15 a evolução em termos de crescimento anual para os vinte produtos

manufacturados mais dinâmicos no comércio da CEDEAO.

Tabela 15 - Os Vinte Produtos Manufacturados mais Dinâmicos no Comércio da CEDEAO, 2000 – 2009

Ranking Classificação Tecnológica

Produto Designação do Produto Taxa de

Crescimento Anual 2000-2009

1 Recursos Naturais 035 Peixe seco/salgado/fumado 41,6%

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

58

2 Média Tecnologia 737 Máquinas para a metalurgia 34,7%

3 Baixa Tecnologia 694 Pregos/parafusos/porcas 33,7%

4 Média Tecnologia 761 Écrans de TV 32,8%

5 Média Tecnologia 746 Rolamentos 31,7%

6 Média Tecnologia 749 Peças de máquinas 30,5%

7 Média Tecnologia 747 Torneiras/válvulas 29,5%

8 Recursos Naturais 621 Materiais de borracha 27,9%

9 Alta Tecnologia 759 Peças para equipamento de escritório 27,7%

10 Média Tecnologia 784 Componentes de motores de veículos/peças 26,6%

11 Média Tecnologia 553 Perfumes/cosméticos/limpeza 26,5%

12 Média Tecnologia 783 Veículos automóveis 26,3%

13 Baixa Tecnologia 679 Ferro/aço/tubo 25,7%

14 Média Tecnologia 582 Folhas de plástico/películas 24,9%

15 Média Tecnologia 513 Composto de ácido carboxílico 23,5%

16 Média Tecnologia 743 Ventiladores/filtros/bombas de gasolina 22,9%

17 Média Tecnologia 713 Motores a combustão 22,7%

18 Baixa Tecnologia 699 Fabricação de bases metálicas 22,7%

19 Baixa Tecnologia 695 Ferramentas industriais 22,5%

20 Baixa Tecnologia 658 Artigos de vestuário 21,6% Fonte: WITS (UN COMTRADE)

Constata-se que na CEDEAO os produtos com maiores taxas de crescimento são os

de baixa e média tecnologia, sendo que a nível mundial, os mais dinâmicos são os

produtos baseados em recursos naturais e os de alta tecnologia, o que pode explicar

em parte a fraca quota de mercado dos países da região no comércio mundial de

produtos manufacturados. Nesse sentido, devem ser analisadas as oportunidades

existentes de Cabo Verde poder exportar os produtos mais procurados pelo mundo, o

que se afigura como uma tendência liderada por poucos países, e/ou exportar os

produtos mais procurados intra CEDEAO e diversificar os mercados como estratégia

para reduzir a dependência do mercado da União Europeia, para o qual são hoje

exportados grande parte da produção como será analisado mais adiante. Entre 2000 e

2009, Portugal foi sempre o principal destino das exportações de Cabo Verde, sendo

que os valores exportados situaram-se sempre acima dos 69% do total das

exportações.

Ao contrário, os produtos que Cabo Verde mais exportava para a CEDEAO em 2000

eram os de alta tecnologia e a nível mundial sobretudo os de média tecnologia, sendo

certo que a exportação de produtos baseados em recursos naturais e também de alta

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

59

tecnologia assumiam então uma pequena parcela nas exportações do país para o

Mundo.

- Capacidade de exportação per capita dos vinte produtos manufacturados mais

dinâmicos do mundo

A análise da capacidade de exportação de Cabo Verde dos vinte produtos

manufacturados mais dinâmicos no comércio mundial é fundamental para se poder

avaliar a capacidade de produção industrial per capita do país, comparando o

desempenho com países semelhantes. O objectivo passa por conceber um tipo de

intervenção adequada de forma a reajustar e capacitar o tecido industrial, visando

aumentar a sua competitividade.

A Tabela 16 apresenta as exportações per capita de cada um dos países analisados

para o conjunto dos vinte produtos manufacturados mais dinâmicos no Mundo. Malta,

Tunísia e Argélia foram os países que em 2009 tiveram maior exportação per capita

nos 20 vinte produtos mais dinâmicos, respectivamente com 695 USD, 210 USD e 155

USD. Verifica-se que não obstante a pequena diferença no ranking, a capacidade de

exportação desses produtos em Malta é quase três vezes superior à da Tunísia, e

quase quatro vezes superior à da Argélia. Malta aparece nesta análise como sendo

um modelo de referência.

Tabela 16 - Exportações per Capita dos 20 Produtos Manufacturados mais Dinâmicos no Mundo, 2000 – 2009

Ranking País

Exportações per capita dos 20 produtos manufacturados mais

dinâmicos do mundo Valores a preços correntes

(em USD)

2009 2000 2000 2009

1 1 Malta 137,98 695,14

2 3 Tunísia 67,73 210,23

3 2 Argélia 110,52 155,04

4 4 Costa do Marfim 43,48 115,18

5 5 Maurícias 39,04 99,17

6 6 Marrocos 23,62 48,07

7 7 Senegal 17,14 43,51

8 8 Gana (a) 3,70 5,62

9 10 Nigéria 0,18 1,92

10 11 Cabo Verde 0,05 0,74

11 9 Níger (a) 0,39 0,65

Nota: (a) Os dados utilizados para o último ano foram de 2008

Fonte: WITS (UN Comtrade)

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

60

De salientar ainda que dos países da CEDEAO, a Costa do Marfim apresentou um

melhor desempenho neste ranking, não sofrendo nenhuma alteração em termos de

posicionamento durante o período em análise, e o seu nível das exportações per

capita teve um aumento de 167%, passando de 43 USD em 2000 para 115 USD em

2009 ou o equivalente a um crescimento médio anual de 11,6%.

Cabo Verde ocupa, de entre este grupo de países, o penúltimo lugar no ranking de

capacidade exportadora manufactureira dos 20 produtos mais dinâmicos no mundo, só

ficando à frente do Níger. As exportações desses produtos per capita não tiveram

expressão ao longo dos últimos 10 anos, razão da manutenção da posição nos últimos

lugares do ranking ao longo do período em análise. Cabo Verde registou assim em

2000 o valor de 0.05 USD e em 2009 atingia o valor de 0,74 USD.

- Estrutura das exportações considerando os 20 produtos manufacturados mais

dinâmicos no mundo

No que diz respeito ao peso dos 20 produtos mais dinâmicos para cada um dos 11

países analisados nas respectivas exportações manufactureiras, entre os anos 2000 a

2009, a Argélia assume o primeiro lugar no ranking de 2009, passando de 56,5% em

2000 para 59% em 2009, seguido da Costa do Marfim, Senegal, Tunísia e Gana.

Tabela 17 – Peso dos 20 Produtos mais Dinâmicos do Mundo nas Exportações de Produtos Manufacturados, 2000 – 2009

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

61

Ranking País

Peso dos 20 produtos mais dinâmicos do mundo nas exportações de produtos

manufacturados

2009 2000 2000 2009

1 1 Argélia 56,5% 59,0%

2 3 Costa do Marfim 43,4% 57,0%

3 2 Senegal 45,4% 38,6%

4 6 Tunísia 13,0% 17,9%

5 5 Gana (a) 15,1% 16,6%

6 7 Marrocos 12,1% 14,0%

7 10 Malta 2,5% 13,8%

8 4 Nigéria 36,0% 11,5%

9 9 Maurícias 3,2% 7,8%

10 8 Níger (a) 3,4% 2,9%

11 11 Cabo Verde 0,2% 1,8%

Nota: (a) Os dados utilizados para o último ano foram de 2008

Fonte: WITS (UN Comtrade)

Cabo Verde ocupa o último lugar neste ranking, sendo de notar que em 2000, o peso

das exportações manufactureiras dos 20 produtos mais dinâmicos nas exportações

manufactureiras totais foi insignificante (0.2%).

- Impacto em termos de quota de mercado dos países a nível mundial dos 20

produtos manufacturados mais dinâmicos do mundo

O impacto dos 20 produtos mais dinâmicos para cada um dos 11 países analisados no

comércio mundial desses produtos é retratado na Tabela 18, na qual, a Argélia, apesar

de liderar o ranking no período em análise, diminuiu a sua participação a nível

mundial, passando de 0.658% em 2000, para 0.306% em 2009, seguido da Costa do

Marfim e da Tunísia.

Tabela 18 – Quota de Mercado por País a Nível Mundial dos 20 Produtos mais Dinâmicos no Mundo, 2000 – 2009

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

62

Ranking País

Quota de mercado a nível mundial dos 20 produtos mais dinâmicos no mundo

2009 2000 2000 2009

1 1 Argélia 0,65802% 0,30630%

2 2 Costa do Marfim 0,14666% 0,13743%

3 4 Tunísia 0,12641% 0,12417%

4 3 Marrocos 0,13288% 0,08708%

5 5 Senegal 0,03312% 0,03087%

6 9 Nigéria 0,00427% 0,01679%

7 7 Malta 0,01050% 0,01633%

8 8 Maurícias 0,00904% 0,00716%

9 6 Gana (a) 0,01409% 0,00596%

10 10 Níger (a) 0,00084% 0,00044%

11 11 Cabo Verde 0,00000% 0,00002%

Nota: (a) Os dados utilizados para o último ano foram de 2008 Fonte: WITS (UN Comtrade)

Refira-se ainda que Marrocos e Gana perderam respectivamente uma e três posições

no ranking bem como quota de mercado no comércio mundial desses produtos, tal

como a maioria dos países, excepto Nigéria, Malta e Cabo Verde. Isto reflecte o pouco

dinamismo exportador da região africana e a pressão competitiva procedente de

outros países, principalmente do Sudeste Asiático, que souberam adaptar-se com

maior celeridade à procura do mercado mundial.

Por fim, há que mencionar também o caso da Nigéria que, para além de melhorar a

sua posição no ranking, aumentou a sua quota de mercado a nível mundial.

Cabo Verde aparece neste ranking em último lugar, sendo o peso das exportações

dos 20 produtos mais dinâmicos do país no comércio mundial praticamente nulo em

2009 (0,00002%).

Análise comparativa dos indicadores: Capacidade, Estrutura e Impacto

A análise efectuada ao longo deste capítulo circunscreveu-se aos indicadores da

Capacidade, Estrutura e Impacto, das exportações de Cabo Verde relativas aos 20

produtos mais dinâmicos no comércio mundial, comparando-as com um grupo restrito

de países da CEDEAO (Costa do Marfim, Gana, Níger, Nigéria e Senegal), incluindo,

no entanto, alguns países modelos, tanto a nível de similaridade geográfica (Malta e

Maurícias), como a nível do continente africano (Marrocos, Argélia, Tunísia).

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

63

A capacidade de exportação de Cabo Verde, e por conseguinte, dos países da

CEDEAO está em média abaixo da capacidade de produção de Malta (um dos países

modelo), bem como de alguns dos países do Magrebe (Argélia e Tunísia).

No entanto, e contrariamente a este indicador de Capacidade, no indicador de

Estrutura, alguns países da CEDEAO (Costa do Marfim, Senegal e Gana) já aparecem

nas posições cimeiras do ranking, o que denota a importância que estes produtos têm

nas suas exportações manufactureiras.

Relativamente ao indicador de Impacto, nota-se um comportamento quase semelhante

àquele verificado no indicador de Capacidade, onde os países considerados modelos,

ocupam as melhores posições neste ranking (Argélia, Tunísia e Marrocos). Refira-se

ainda que dos países da CEDEAO, a Costa do Marfim, à semelhança do desempenho

no indicador de Capacidade, ocupa um lugar de destaque. É o país, depois da Argélia,

que mais peso tem nas exportações dos 20 produtos mais dinâmicos a nível mundial.

Cabo Verde, para todos os indicadores analisados, denota ter um sector industrial com

limitações para se adaptar à procura mundial. Assim sendo, para aumentar a

competitividade industrial de Cabo Verde, será necessário repensar a política industrial

e comercial do país, tendo em atenção os produtos mais procurados a nível mundial,

os mercados mais dinâmicos e uma preocupação constante em diversificar os

mercados visando reduzir a dependência de um único mercado/região.

Finalmente, importa dizer que o dinamismo associado aos produtos varia ao longo do

tempo, e não está necessariamente associado à intensidade tecnológica e à

sofisticação no curto prazo, pelo que se Cabo Verde quiser ser realmente competitivo,

terá de apostar num sector industrial com uma estrutura bastante flexível.

2.6.3 Diversificação de produtos manufacturados e de mercados

A diversificação de produtos e mercados tem demonstrado estar na base do sucesso

industrial dos países e na capacidade em alcançar a competitividade industrial. Os

países que exportam uma maior gama de produtos manufacturados, além de

demonstrarem capacidade para competirem internacionalmente, reduzem a sua

dependência face à dinâmica do mercado doméstico. Além disso, ao diversificarem os

mercados de destino diminuem a vulnerabilidade perante eventuais choques externos

com consequências na queda da procura em mercados específicos.

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

64

A diversificação de mercados e produtos gera, além disso, externalidades positivas

que fomentam a competitividade industrial. A competitividade exige a adaptação e

assimilação de novas tecnologias e a criação de novos mecanismos de mercado.

Estas tendências favorecem o desenvolvimento das capacidades humanas e das

instituições que as promovem. No entanto, a diversificação comercial é um processo

moroso, dispendioso e arriscado que requer o apoio institucional.

Neste capítulo são introduzidos os índices que serviram para analisar a diversificação

de produtos e mercados dos 11 países, respectivamente o Índice de Diversificação de

Produtos Manufacturados (IDP) e o Índice de Diversificação de Mercados (IDM).

Posteriormente, Cabo Verde é posicionado na matriz de vulnerabilidade e comparada

a sua posição com os outros países.

2.6.3.1 Diversificação de produtos manufacturados

O Quadro 2 apresenta a metodologia utilizada para o cálculo do Índice de

Diversificação de Produtos Manufacturados (IDP).

Quadro 2 - Metodologia para o cálculo do Índice de Diversificação de Produtos Manufacturados (IDP)

O IDP mostra a dependência exportadora manufactureira de um dado país em relação à estrutura do comércio mundial. Compara assim a estrutura exportadora manufactureira de cada país com a do mundo em geral, penalizando aqueles países que apresentam uma concentração exportadora em produtos manufacturados que não têm procura no mercado mundial. A metodologia de cálculo baseia-se no Índice de Diversificação de Produtos elaborado pela UNCTAD, mas com a seguinte diferença: primeiro o IDP da ONUDI contempla unicamente a diversificação de produtos manufacturados, excluindo, portanto, as exportações primárias e outro tipo de transacções. A fórmula utilizada é a seguinte:

Em que IDPp é o Índice de Diversificação de Produtos Manufacturados para o paísp; Σ é a soma dos valores entre parênteses, hpx é a percentagem das exportações de um produto específico do paísp no total das exportações manufactureiras X do mesmo país; hi é o peso do produto específico no total das importações manufactureiras mundiais i. Uma vez obtidos os valores do índice, estes são normalizados e a ordem é invertida (calcula-se 1- IDP normalizado) para que o índice tenha valores compreendidos entre 0 (maior concentração) e 1 (maior diversificação). Fonte: ONUDI

A Tabela 19 mostra o ranking do IDP para os países analisados. As posições dos

países no ranking, entre 2000 e 2009, revelam que em quase uma década não se

verificaram alterações significativas, o que confirma assim a premissa que a

diversificação da carteira exportadora de produtos manufacturados de um país é um

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

65

processo moroso, pois está associado à um conjunto importante de variáveis, tais

como a disponibilidade financeira, a capacidade em atrair Investimento Directo

Estrangeiro (IDE), a criação de competências, as barreiras fitossanitárias e

alfandegárias impostas para certos produtos, entre outros, que só se conseguem

ultrapassar a longo prazo.

Tabela 19 - Índice de Diversificação de Produtos Manufacturados (IDP), 2000-2009

Ranking País

Valor do IDP

2009 2000 2000 2009

1 1 Tunísia 0,284 0,418

2 3 Malta 0,225 0,323

3 2 Marrocos 0,284 0,317

4 4 Senegal 0,224 0,285

5 5 Costa do Marfim 0,199 0,279

6 6 Gana (a) 0,190 0,277

7 7 Nigéria 0,156 0,256

8 8 Maurícias 0,130 0,220

9 10 Argélia 0,076 0,096

10 9 Níger (a) 0,115 0,083

11 11 Cabo Verde 0,067 0,045

Nota: (a) Os dados utilizados para o último ano foram de 2008

Fonte: UN Comtrade

A análise comparativa do desempenho dos 11 países mostra que, em 2009, Tunísia,

Malta, Marrocos e Senegal foram os países que tiveram uma estrutura exportadora

manufactureira mais diversificada e com menores níveis de concentração de produtos

manufacturados exportados. Marrocos que no ano 2000 ocupava o segundo lugar no

ranking caiu uma posição situando-se no terceiro lugar enquanto Malta subiu uma

posição, alcançando o segundo lugar. Os outros países mantiveram as posições que

tinham em 2000.

Todos os países, com excepção de Cabo Verde e Níger, registaram um ligeiro

incremento no número de produtos manufacturados exportados, de onde se destaca o

desempenho da Nigéria seguido de Malta, Tunísia e Maurícias.

Durante o período em análise, não obstante as exportações totais cabo-verdianas

terem registado um incremento significativo, passando de 11,1 milhões de USD em

2000 para 35 milhões de USD em 2009, o peso da oferta exportadora manufactureira

no total das exportações sofreu um decréscimo de 92,6% para 59,9%, o que aliado à

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

66

redução do número de produtos manufacturados exportados colocou Cabo Verde na

cauda do ranking, como o país com menor diversificação de produtos.

A Figura 7 permite fazer a comparação do peso das cinco maiores exportações

manufactureiras no total das exportações manufactureiras de Cabo Verde, Senegal e

Maurícias. A comparação de Cabo Verde com o Senegal tem por racional o facto de

estes países serem vizinhos e concorrentes em mercados e produtos sendo que o

Senegal se posiciona melhor nos rankings internacionais de competitividade industrial.

No caso das Ilhas Maurícias, justifica-se pela insularidade dos dois países e por se

tratar de um país que pode servir de modelo a ser seguido por Cabo Verde nalguns

sectores conforme já referido anteriormente.

Figura 7 - Peso das Cinco Maiores Exportações Manufactureiras no Total das Exportações Manufactureiras dos Países, 2000-2009

Fonte: UN Comtrade

Como se pode observar Cabo Verde apresenta-se como o país cuja oferta

exportadora manufactureira é a mais concentrada, onde cinco dos produtos

exportados representaram 95,4% em 2000 e 94,2% em 2009, o que faz com que as

oscilações no preço e no volume de exportação daqueles produtos tenham grandes

implicações na economia do arquipélago.

O cabaz de produtos manufacturados de Cabo Verde, já de si reduzido, sofreu uma

evolução desfavorável de 2000 para 2009, devido a 3 factores:

Diminuição dos produtos manufacturados exportados que passaram de 42 para

19

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

67

Redução das exportações de produtos manufacturados que de 92,6%

passaram a representar apenas 59,9% das exportações totais do país, facto

explicado pelo encerramento naquele período de várias empresas industriais

do sector do calçado, vestuário e da electrónica; e

Aumento das exportações de produtos primários, de 7% para 40,1% das

exportações totais do país, principalmente na vertente da transformação de

pescado e marisco (conservas nomeadamente), do calçado e roupa de

homem, que passaram de 501 mil euros para 6,3 milhões de euros entre 2000

e 2009.

Com valores claramente vantajosos em relação a Cabo Verde encontram-se Maurícias

e Senegal que para além de terem aumentado significativamente as suas exportações

manufactureiras registaram uma menor concentração dos cinco principais produtos,

reduzindo o seu peso respectivamente para 65,8% e 62,3% em 2009, de uma situação

inicial em 2000 com 77,9% e 66,3%.

Principais Indústrias em Cabo Verde

Como se pode observar pela Tabela 20, as principais indústrias manufactureiras cabo-

verdianas de exportação em 2009 foram a transformação de pescado (conservas de

peixe, peixes frescos e refrigerados), as confecções e o calçado, onde são

predominantes os produtos de baixo nível tecnológico e de mão-de-obra

especializada, com implicações negativas na competitividade industrial do país quando

confrontado com os novos desafios da globalização, onde as indústrias são

tecnologicamente mais avançadas e dispõem de trabalhadores mais qualificados.

Tabela 20 - Peso dos cinco produtos mais importantes nas exportações

manufactureiras de Cabo Verde em 2000 e 2009

Destino/ Ano

Classificação tecnológica

CTCI Produto Em

Milhares Participação no

Total das

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

68

de USD Exportações Manufactureiras

Mundo (2000)

BT 851 Calçado 5.730,46 55,70%

95,4%

BT 841 Roupa homem/rapazes 2.783,96 27,06%

BT 842 Vestuário senhora/rapariga 896,658 8,72%

AT 771 Equipamentos Electrónicos 244,221 2,37%

RN 112 Bebidas Alcoólicas 154,578 1,50%

Mundo (2009)

RN 037 Transformação, preparação de pescado e amêijoas 10.464,16 49,71%

94,2%

BT 851 Calçado 3.657,41 17,38%

BT 841 Roupa homem/rapazes 3.323,94 15,79%

BT 845 Artigos de vestuário 1.194,21 5,67%

BT 843 Roupa de homem/rapaz, em tricô ou croché 1.191,51 5,66%

Fonte: UN Comtrade

2.6.3.2 Diversificação de mercados

O Quadro 3 apresenta a metodologia que se utiliza para o cálculo do Índice de

Diversificação de Mercados (IDM).

Quadro 3 - Metodologia para o cálculo do Índice de Diversificação de Mercados (IDM)

O IDM mostra a dependência de um país em relação aos mercados de destino de produtos manufacturados tendo conta a importância desses mercados nas importações mundiais de manufacturas. A metodologia de cálculo segue a mesma lógica da metodologia do Índice de Diversificação de Produtos Manufacturados (IDP), explicada previamente. Os mercados considerados para o presente estudo são os seguintes: União Europeia, África Subsariana, América Latina, Este Asiático e Ásia do Sul, Médio Oriente e Norte de África e a categoria “resto do mundo”. Só são consideradas as exportações manufactureiras agregadas, como se estas fossem um único produto. A forma utilizada é a seguinte:

Em que IDMp é o Índice de Diversificação de Mercados para o paísp; Σ é a soma dos valores entre parênteses, hpx é a percentagem que representa as exportações manufactureiras do paísp em cada mercadoX no total das exportações manufactureiras totais do país ao mundo; hi é a percentagem de importações de produtos manufactureiros de cada região nas importações mundiais de manufacturas i. Uma vez obtidos os valores do índice, estes são normalizados e a sua ordem é invertida (calcula-se 1-IDM normalizado) para que o índice final tenha valores compreendidos entre 0 (maior concentração) e 1 (maior diversificação). Fonte: ONUDI

A Tabela 21 apresenta o ranking do IDM para os países analisados. Malta lidera o

ranking, apresentando-se diversificado tanto em termos de mercados como de

produtos (como se viu na secção anterior), de modo que uma eventual quebra na

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

69

procura dos mercados para onde exporta não afectará gravemente o sector exportador

do país. Em 2009, o seu principal mercado exportador foi a União Europeia-27, que

absorveu cerca de 44% do total das exportações manufactureiras do país, seguido dos

países do Leste Asiático e Pacifico (26%), os Estados Unidos (10%), o Médio Oriente

e Norte de África (10%) e a África Subsariana (1%).

Tabela 21 - Índice de Diversificação de Mercados (IDM), 2000-2009

Ranking País

Valor do IDM

2009 2000 2000 2009

1 1 Malta 0,85 0,84

2 3 Níger (a) 0,66 0,71

3 6 Nigéria 0,61 0,69

4 2 Argélia 0,77 0,67

5 8 Marrocos 0,51 0,61

6 5 Gana (a) 0,63 0,59

7 7 Tunísia 0,52 0,56

8 4 Maurícias 0,64 0,55

9 9 Cabo Verde 0,46 0,41

10 11 Costa do Marfim 0,39 0,37

11 10 Senegal 0,46 0,33

Nota: (a) Os dados utilizados para o último ano foram de 2008

Fonte: UN Comtrade

De notar que apesar da carteira de produtos do Níger e da Argélia ser muito limitada,

encontrando-se, respectivamente, na décima e nona posição do ranking de IDP em

2009, estes países mesmo com uma reduzida gama de produtos conseguem aceder a

um maior número de mercados comparativamente a outros países em análise,

ocupando a segunda e quarta posição no ranking do IDM para 2009.

A Argélia tem como mercados principais os países dos três continentes: União

Europeia-27, Médio Oriente e Norte de África e os Estados Unidos, que em 2009

absorveram, respectivamente, 37%, 18% e 28% das suas exportações. No caso do

Níger, é de realçar a entrada deste país de forma significativa num novo mercado em

2006 (países do Leste Asiático e Pacífico) e ao contrário a gradual dependência face

ao seu principal mercado exportador, a União Europeia-27, para onde canalizou 52%

das suas exportações em 2008, 5% menos que no ano 2000.

O Senegal é o país em último lugar na tabela devido à retracção dos mercados para

onde exporta e à alta concentração das exportações manufactureiras para países da

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

70

África Subsariana, que concentraram 56% das exportações manufactureiras deste

país em 2009.

Cabo Verde encontra-se na nona posição, tendo como clientes quase que exclusivos

os países da União Europeia-27, que absorveram 97% das exportações

manufactureiras em 2009 (Espanha 46%, Portugal 50%, Holanda 1%) e portanto muito

sujeito às oscilações daquelas economias. De notar que os acordos comerciais e

económicos regionais, como o acordo da CEDEAO, ainda relativamente recente, têm

tido um reflexo limitado na abertura de novos mercados, o que poderá estar

fortemente relacionado com o tempo necessário de implementação e com o facto de

aqueles países acederem aos mesmos sectores e produtos, tornando deste modo

ineficazes estes acordos na vertente da expansão das trocas comerciais.

De 2000 a 2009, Malta, Tunísia e Cabo Verde mantiveram as posições no ranking do

IDM, não se tendo observado alterações significativas no valor dos índices. Níger,

Nigéria, Argélia, Marrocos e Costa do Marfim melhoraram a posição no ranking ao

diversificarem os mercados de destino bem como a gama de produtos

manufacturados, enquanto que nos restantes países verificou-se uma maior

concentração em ambas as variáveis.

2.6.3.3 Matriz de vulnerabilidade

A Figura 8 combina os dois índices de diversificação (IDP e IDM) apresentados neste

estudo para os países seleccionados. Obtém-se assim uma matriz de vulnerabilidade

com quatro cenários possíveis: forte vulnerabilidade em produtos e mercados (risco

máximo); fraca vulnerabilidade em produtos e mercados (risco mínimo); fraca

vulnerabilidade em produtos e forte em mercados (risco médio); fraca vulnerabilidade

em mercados e forte em produtos (risco médio). A uma maior diversificação está

associada uma menor vulnerabilidade e vice-versa.

Malta, Gana, Marrocos e Nigéria situam-se no quadrante de fraca vulnerabilidade em

produtos e mercados. Estes países foram capazes de diversificar os seus produtos e

mercados de exportação. O Senegal, a Costa do Marfim e a Tunísia apresentam uma

forte vulnerabilidade em mercados e fraca em produtos. A prioridade destes países

consistirá em diversificar os mercados de destino para a gama alargada de

exportações manufactureiras. Numa situação contrária encontram-se países como o

Níger e a Argélia que apresentam uma forte vulnerabilidade em produtos e uma fraca

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

71

vulnerabilidade em mercados, pelo que a sua estratégia deverá focar-se no

desenvolvimento e comercialização de novos produtos, aproveitando os muitos

mercados a que já têm acesso.

Finalmente, Cabo Verde e as Maurícias encontram-se no quadrante de forte

vulnerabilidade tanto a nível dos produtos como dos mercados pois apresentam

maiores níveis de concentração tanto a nível de produtos como de mercados, estando

assim mais expostos a variações na procura da carteira reduzida de produtos

exportados para os poucos mercados de destino. Saliente-se ainda que as Maurícias

estão muito perto de passarem a pertencer ao grupo dos países com fraca

vulnerabilidade a nível dos produtos e dos mercados. No caso de Cabo Verde, a

diversificação tanto nos produtos como nos mercados representa um factor essencial

para o sucesso da indústria no país.

Figura 8 - Posicionamento dos países de Cabo Verde na Matriz de vulnerabilidade de produtos e mercados, 2009

Nota: O Gana e o Níger apresentaram dados para o ano 2008

Fonte: UN Comtrade

3 COMPETITIVIDADE SECTORIAL MANUFACTUREIRA DE

CABO VERDE

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45

índ

ice

de

Div

ers

ific

ação

de

Me

rcad

o (I

DM

)

Índice de Diversificação de Produto (IDP)

Maurícias

Níger

Argélia

Nigéria

Tunísia

Gana

Malta

Cabo Verde

Marrocos

Costa de Marf im

Senegal

Forte vulnerabilidade a nível dos

mercados e fraca a nível de produtos

Forte vulnerabilidade a nível dos

produtos e fraca a nível de mercados

Forte vulnerabilidade a nível de

produtos e mercados

Fraca vulnerabilidade a nível dos

produtos e dos mercados

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

72

Este capítulo apresenta uma análise sectorial da competitividade manufactureira de

Cabo Verde e avalia a posição competitiva do país nos produtos mais significativos de

quatro sectores, divididos de acordo com o seu nível tecnológico: sectores baseados

em recursos naturais (RN), sectores de baixa tecnologia (BT), sectores de média

tecnologia (MT) e sectores de alta tecnologia (AT).

Refira-se que esta análise não é conclusiva dado que se focaliza unicamente no

desempenho das exportações. Para se avaliar de forma global a competitividade

sectorial seria necessário proceder-se a um levantamento do impacto na procura a

nível nacional e compreender a profundidade e complexidade das competências do

sector industrial. Esta vertente ultrapassa largamente o âmbito deste estudo. Apesar

das limitações, a análise que se apresenta de seguida contem informação chave sobre

o desempenho sectorial que reflecte a capacidade do país em competir

internacionalmente nesses sectores.

3.1 SECTORES DE RECURSOS NATURAIS (RN) E DE BAIXA TECNOLOGIA

(BT)

Recursos Naturais (RN)

A categoria de bens manufacturados baseados em recursos naturais (RN) inclui bens

tais como a transformação de alimentos, produtos simples de madeira, produtos

derivados da refinação do petróleo, tintas, couro, pedras preciosas e produtos

químicos orgânicos. Inclui assim produtos de base agro-industriais mas também outro

tipo de produto simples derivado de indústrias extractivas. Com excepção da indústria

de refinação de petróleo e de alguns produtos químicos, os produtos RN requerem

tecnologias relativamente simples e estáveis e mão-de-obra não muito qualificada. A

competitividade destes sectores está ligada principalmente à existência de recursos no

país e às oscilações dos preços no mercado internacional. As empresas

multinacionais desempenham um papel predominante nas indústrias extractivas pois

contribuem com o capital e a tecnologia necessários.

Baixa Tecnologia (BT)

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

73

Os produtos manufacturados de baixa tecnologia (BT) incluem, por um lado, produtos

de confecção, têxteis, calçado e cabedal, e por outro, produtos simples de metal,

plástico, cristal, jogos e móveis. Estes produtos caracterizam-se por serem intensivos

em mão-de-obra e por utilizarem tecnologias relativamente simples; os gastos em

investigação e desenvolvimento (I&D) tendem a serem reduzidos e a inovação a ser

limitada. Nos produtos menos sofisticados dentro da categoria (por exemplo a

confecção de roupa), a competitividade reside em manter os custos de mão-de-obra

baixos e ter níveis elevados de produtividade. Estes sectores têm poucas barreiras à

entrada e portanto estão muito expostos à penetração de novos concorrentes. Nos

produtos mais sofisticados dentro da categoria (por exemplo desenho de roupa ou

criação de novos tecidos), a competitividade exige uma maior capacidade tecnológica

e humana, organização produtiva e uma rápida capacidade de resposta face às

necessidades do mercado.

A Tabela 22 apresenta a quota de mercado dos 11 países no comércio mundial de

manufacturas de produtos RN e BT. No respectivo ranking, Cabo Verde ocupa a última

posição. Refira-se ainda que os produtos RN e BT representam cerca de 100% das

exportações manufactureiras de Cabo Verde.

Tabela 22 - Participação no Comércio Mundial de Produtos Manufacturados RN e BT, 2000-2009

Ranking País

Quota de mercado no comércio mundial de RN e BT

2009 2000 2000 2009

1 1 Argélia 0,334% 0,256%

2 3 Tunísia 0,215% 0,208%

3 2 Marrocos 0,248% 0,206%

4 4 Costa do Marfim 0,089% 0,090%

5 10 Nigéria 0,001% 0,047%

6 5 Maurícias 0,079% 0,042%

7 8 Senegal 0,017% 0,032%

8 6 Gana (a) 0,026% 0,014%

9 7 Malta 0,023% 0,014%

10 9 Níger (a) 0,007% 0,007%

11 11 Cabo Verde 0,001% 0,001%

Nota: (a) Dados para 2000 e 2008 Fonte: UN Comtrade

Em 2009 Cabo Verde exportou cerca de 21 milhões USD de produtos RN e BT, muito

mais que os 10 milhões de USD do ano 2000. Apesar deste crescimento (8% ao ano),

Cabo Verde não conseguiu ganhar quota no mercado mundial, o que denota que a

sua base exportadora é limitada devido à falta de massa crítica do país e à estrutura

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

74

industrial pouco desenvolvida. Dentro da categoria RN, o sector da transformação de

pescado é um dos mais competitivos e o que tem mais peso.

Nigéria e Senegal, além de apresentarem crescimentos significativos nas suas

exportações aumentaram a quota no mercado mundial.

Figura 9 - Taxa de Crescimento Anual de Produtos Manufacturados RN e BT e Variação da Quota de Mercado Mundial entre 2000 e 2009

Nota 1: O diâmetro dos círculos representa o valor de exportação manufactureira de produtos RN e BT em 2009 Nota 2: Os dados utilizados para o Gana e o Níger para o último ano foram de 2008 Fonte: UNCOMTRADE

A procura mundial de produtos agro-industriais e derivados da indústria mineira fez

com que o sector RN tenha adquirido uma importância estratégica. Por outro lado, os

produtos BT representam uma fonte de criação de emprego, especialmente em países

como Cabo Verde que carece de economias de escala e que possui uma mão-de-obra

abundante. Neste contexto, é importante saber se as principais exportações cabo-

verdianas de produtos RN e BT se encontram entre as mais dinâmicas a nível mundial

e se Cabo Verde tem sido capaz de incrementar a sua participação no comércio

internacional destes bens. A metodologia utilizada para responder a estas questões é

apresentada no Quadro 4.

Quadro 4 - Metodologia para a análise do desempenho comercial a nível do produto

-10%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

-0,100% -0,080% -0,060% -0,040% -0,020% 0,000% 0,020% 0,040% 0,060%

Variação na quota de mercado mundial de RN e BT, 2000-2009

Taxa d

e c

rescim

en

to a

nu

al d

e p

rod

uto

s

man

ufa

ctu

rad

os R

N e

BT

, 2

00

0-2

00

9

ArgéliaMarrocos

Maurícias

TunísiaSenegal

Nigéria

Níger

Costa de Marfim

Gana

MaltaCabo Verde

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

75

A metodologia baseia-se em dois indicadores fundamentais: 1) o crescimento do produto no comércio

mundial durante um período determinado; 2) a variação da quota de mercado do país no comércio

mundial do dito produto durante o mesmo período. O primeiro indicador mostra o dinamismo da procura

mundial de um produto (um produto dinâmico é aquele cujo comércio mundial cresceu acima da média da

categoria de produtos manufacturados a que pertence); o segundo mostra se um país é ganhador ou

perdedor no comércio mundial desse produto. O cruzamento das duas variáveis permite classificar os

produtos em quatro categorias:

Produtos estrela: Produtos cujo comércio mundial cresceu acima da média da categoria à qual

pertencem e para os quais o país em análise aumentou a sua quota de mercado. Os países com maior

peso no comércio mundial têm um número elevado destes produtos entre as suas principais exportações.

Produtos em declínio: Produtos que têm uma procura mundial estática ou muito limitada (devido a uma

saturação do mercado, uma mudança nos hábitos do consumidor ou a descoberta de produtos

substitutos) e além disso o país em análise perdeu quota de mercado no comércio mundial destes bens.

Considerando a evolução permanente da indústria, é natural que um país tenha produtos em declínio nas

suas exportações. Na verdade, isso não é necessariamente negativo se o país for capaz de compensar

essa queda com a introdução de produtos estrela.

Produtos estrela num contexto adverso: O país analisado ganhou quota de mercado no comércio

mundial destes produtos que apesar de tudo não se mostram muito dinâmicos a nível internacional. Dado

o pouco ou nenhum crescimento da sua procura, estes produtos não são os mais interessantes. Além

disso, nalguns casos o crescimento da quota de mercado conseguida por um país pode ficar a dever-se

sobretudo à saída de algum país concorrente.

Produtos que representam oportunidades perdidas: Produtos que têm uma forte procura

internacional, mas a quota de mercado do país no comércio mundial dos mesmos diminuiu. São sectores

que requerem acções internas concertadas para se poder vencer os obstáculos nacionais ou

internacionais que estão a impedir que um país tenha um melhor desempenho. São uma oportunidade

perdida já que o país analisado não foi capaz de beneficiar da tendência internacional favorável destes

produtos que poderia ter repercussões nos anos seguintes.

Fonte: ONUDI

Das quinze exportações mais importantes de Cabo Verde de produtos RN e BT,

existem cinco produtos estrela, cinco em declínio, quatro em adversidade e uma

oportunidade perdida (Tabela 23 e Figura 10).

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

76

Tabela 23 - Análise Detalhada do desempenho das quinze maiores exportações cabo-verdianas de produtos RN e BT, 2000-2009

Fonte: UN - COMTRADE

Produtos Estrela. Cabo Verde teve nos produtos derivados dos cereais e farinhas e

produtos de consumo alguns dos seus produtos RN e BT estrela. Estes produtos, no

período de 2000 a 2009, cresceram acima da taxa de crescimento anual mundial das

quinze maiores exportações cabo-verdianas, que foi de 8,21%. Foi o caso por exemplo

dos produtos derivados dos cereais e farinhas em que a procura internacional cresceu

11,73% ao ano durante o período, e o país, graças às suas exportações de 140 mil

USD em 2009 conseguiu aumentar a sua quota de mercado nesse produto. Outros

produtos estrela foram o tratamento de materiais metálicos e em ferro (sucata), mel e

produtos de consumo, sendo que qualquer um deles tem um valor residual no total dos

produtos manufacturados no país, representando em conjunto cerca de 2% do valor

total dos produtos manufacturados em Cabo Verde.

Produtos em declínio. Os produtos RN e BT em declínio são o calçado, a roupa de

homem/rapaz, a roupa de mulher/rapariga, o couro e o mobiliário. Estes produtos têm

pesos muito distintos dentro da oferta exportadora cabo-verdiana, sendo que as suas

implicações são diferentes. A queda preocupante da participação de Cabo Verde no

mercado internacional das confecções, calçado e mobiliário demonstra a dificuldade

do país em melhorar a posição na cadeia de valor.

Em 2009, Cabo Verde conseguia apenas 0,005% do comércio mundial de calçado

(menos 0,009% do que em 2000). Cabo Verde teve uma taxa de crescimento anual de

-4,9%, num sector que nos últimos 10 anos cresceu a uma taxa anual de 7,3% a nível

mundial. O fim da imposição de quotas no mercado mundial prejudicou muitos países

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

77

africanos como Cabo Verde. A concorrência feroz da China, Vietname, Roménia,

Tunísia e Turquia vieram agravar ainda mais o fenómeno. Por outro lado, os

fabricantes neste sector tornaram-se também gestores de stocks dos clientes (sejam

eles clientes finais, distribuidores, armazenistas ou retalhistas), obrigando a que as

empresas possuam sistemas sofisticados de gestão da informação para monitorizar os

stocks e as entregas dos vários intervenientes na cadeia de valor. As empresas em

Cabo Verde não detêm essas competências nem a tecnologia de informação e

comunicação adequada. O tempo de colocação dos produtos no mercado é cada vez

menor, obrigando aqui mais uma vez a um sistema complexo e sofisticado de

informação para gerir os pedidos irregulares dos clientes, muitas vezes envolvendo

pequenos lotes de produtos.

Produtos estrela em contexto adverso. Das exportações cabo-verdianas de

produtos manufacturados RN e BT, os produtos estrelas em contexto adverso são os

seguintes: transformação de pescado e marisco, bebidas alcoólicas, roupa em

tricô/croché e artigos de vestuário. Entre 2000 e 2009, a procura da transformação de

pescado e marisco a nível mundial cresceu a uma taxa anual de 7,67%, valor elevado

mas inferior à taxa média de crescimento de todos os produtos RN e BT que foi de

8,21%. Em 2009, as exportações de Cabo Verde neste sector, que representavam

quase 50% das exportações do país, atingiu 10,4 milhões de USD, valor relativamente

importante face ao total de exportações. Um aumento significativo da sua quota

mundial terá de passar por uma reformulação da estratégia do mar no país e por

políticas sustentadas de desenvolvimento, nomeadamente através da criação de um

cluster ou de um pólo de competitividade à semelhança do que já foi feito noutros

países e que está em curso em Cabo Verde.

Quanto à situação da produção das bebidas alcoólicas e licores em que a produção de

grogue é a mais típica, a capacidade produtiva (que só representava em 2009 3,63%

dos produtos manufacturados no país) não consegue responder à procura do

mercado, estando o país a perder quota de mercado para outros países concorrentes.

Para a roupa em tricô/croché e artigos de vestuário, a situação é idêntica à do calçado

com a diferença que estes artigos são característicos do país, personalizados, de

qualidade e com uma produção escassa que dificilmente poderá ir ao encontro das

necessidades do mercado mundial que cresce a uma taxa que varia entre os 5 e 8%

ano e em que a China se apresenta novamente como um concorrente muito agressivo.

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

78

Oportunidades Perdida. Os produtos RN e BT que representam uma oportunidade

perdida são as bebidas não alcoólicas (refrigerantes, águas, cerveja), sendo que o

crescimento mundial anual foi de 12,44% durante o período em análise e Cabo Verde

perdeu quota de mercado para outros países por falta de capacidade de resposta e

procura de novos mercados, nomeadamente na CEDEAO. É importante referir que a

produção das indústrias alimentares e de bebidas, materiais de construção, mobiliário

e metalomecânica é destinada quase que exclusivamente ao mercado interno.

Figura 10 – Desempenho das quinze maiores exportações cabo-verdianas de produtos RN e BT, 2000-2009

Nota 1: O diâmetro dos círculos representa o valor de exportação manufactureira de produtos RN e BT em 2009; valores em milhares de USD. Nota 2: Os valores de 4 das exportações são residuais, impossibilitando a sua colocação em gráfico (roupa de mulher e rapariga, produtos de consumo, couro, mobiliário) Fonte: UN – COMTRADE

3.2 SECTORES DE MÉDIA E ALTA TECNOLOGIA (MT E AT)

Média tecnologia (MT)

Os produtos manufacturados de intensidade tecnológica média (MT) incluem três

linhas de produtos: produtos do sector automóvel (veículos, acessórios e

componentes); produtos de processamento avançado (por exemplo processos de

polimerização, produção de álcool, fenóis e derivados, etc.) e produtos de engenharia

(como maquinaria, equipamentos de distribuição eléctrica, etc.). Todas estas indústrias

-5%

0%

5%

10%

15%

20%

-0,03% -0,02% -0,01% 0,00% 0,01% 0,02% 0,03% 0,04% 0,05% 0,06% 0,07%

Ta

xa

de

cre

sc

ime

nto

an

ua

l d

e p

rod

uto

s

ma

nu

fac

tura

do

s R

N e

BT

20

00

-20

09

(%

)

Variação na quota de mercado mundial de RN e BT 2000-2009 (%)

Transformação do pescado, marisco (10464)

Resíduos materiais metálicos (7)

Açucar, melaço, mel (25)

Bebidas não alcoólicas (47)

Sucata, materiais de ferro (227)

Bebidas Alcoólicas (765)

Roupa de homem, rapaz, em tricô, croché (1192)

Artigos de vestuário (1194)

Roupa de homem, rapaz e tecidos (3324)

Calçado (3657)

Cereais, farinhas (136)Taxa de crescimento anual mundial dos

produtos RN e BT,

2000-2009

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

79

requerem tecnologia sofisticada e mão-de-obra com forte capacidade técnica

sobretudo nos departamentos de criação de novos produtos. As barreiras à entrada

nestes sectores que representam o motor industrial e económico da maioria dos

países desenvolvidos são fortes e dificilmente ultrapassáveis para a maioria dos

países em desenvolvimento pois exigem processos de aprendizagem, inovação e

melhoria contínua de técnicas e procedimentos.

Alta tecnologia (AT)

Os produtos de alta tecnologia (AT) incluem um número importante de produtos que

requerem níveis elevados de I&D, como fármacos, computadores, transístores,

semicondutores, maquinaria eléctrica complexa, aviões e instrumentos de precisão. A

competitividade nestes processos produtivos exige competências muito avançadas e

investimentos e riscos importantes. Contudo, a assemblagem final de muitos produtos

electrónicos de alta tecnologia não requer mão-de-obra especializada nem processos

que exijam competências técnicas elevadas.

Em 2009, a quota de mercado dos produtos manufacturados MT e AT de Cabo Verde

a nível mundial era próxima de 0%, colocando Cabo Verde no 11º lugar do ranking dos

países analisados.

A Tabela 24 apresenta a quota de mercado dos 11 países no comércio mundial de

manufacturas de produtos MT e AT. Refira-se ainda que os produtos MT e AT não têm

expressão nas exportações manufactureiras de Cabo Verde.

Tabela 24 - Quota de mercado no comércio mundial de manufacturas MT e AT, 2000-2009

Ranking País

Quota de mercado no comércio mundial de manufacturas MT e AT

2009 2000 2000 2009

1 3 Tunísia 0,03927% 0,08882%

2 2 Marrocos 0,04137% 0,06671%

3 1 Malta 0,05562% 0,02950%

4 4 Costa do Marfim 0,00560% 0,01955%

5 8 Nigéria 0,00117% 0,01635%

6 6 Senegal 0,00247% 0,00529%

7 7 Maurícias 0,00225% 0,00257%

8 9 Gana (a) 0,00098% 0,00207%

9 5 Argélia 0,00419% 0,00111%

10 10 Níger(a) 0,00033% 0,00017%

11 11 Cabo Verde 0,00002% 0,00000%

Nota: (a) Dados para 2000 e 2008 Fonte: UN Comtrade

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

80

Como se pode constatar pela Figura 11, entre 2000 e 2009 as exportações de MT e

AT de Cabo Verde não tiveram qualquer significado. Em 2009 Cabo Verde exportou

cerca de 4 mil USD de produtos MT e AT, muito menos que os 497 mil USD do ano

2000, não acompanhando a tendência de crescimento de países como a Tunísia,

Marrocos, Costa do Marfim e Nigéria. Por outro lado, o país não tem expressão em

termos de quota de mercado mundial de produtos MT e AT, apesar de produzir e

distribuir fármacos para consumo interno.

Figura 11 - Taxa de Crescimento Anual de Produtos Manufacturados MT e AT e Variação da Quota de Mercado Mundial entre 2000 e 2009

Nota 1: O diâmetro dos círculos representa o valor de exportação de produtos manufacturados MT e AT em 2009 Nota 2: Os dados utilizados para o Gana e o Níger para o último ano foram de 2008

Fonte: UN – COMTRADE

Das duas exportações de Cabo Verde de produtos MT e AT, um produto é estrela

(pertence à área dos produtos químicos de limpeza) e o outro uma oportunidade

perdida (pertence á área da indústria farmacêutica) conforme transparece da Tabela

25.

Tabela 25 - Análise Detalhada do desempenho das quinze maiores exportações cabo-verdianas de produtos MT e AT, 2000-2009

Fonte: UN – COMTRADE

-60%

-40%

-20%

0%

20%

40%

60%

-0,030% -0,010% 0,010% 0,030% 0,050%

Variação na quota de mercado mundial de MT e AT, 2000-2009

Taxa d

e c

rescim

en

to a

nu

al d

e p

rod

uto

s

man

ufa

ctu

rad

os M

T e

AT

, 2

00

0-2

00

9

Argélia

Marrocos

Maurícias

Tunisia

Senegal

Nigéria

GanaCosta de Marfim

Malta

Níger

Cabo Verde

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

81

SECÇÃO B: FACTORES DE COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL

O conceito da competitividade industrial está definido como a capacidade que os

países têm de aumentarem a sua presença industrial nos mercados nacionais e

internacionais ao desenvolverem estruturas industriais em sectores e actividades com

maior valor acrescentado e conteúdo tecnológico. Competir através da inovação e da

aprendizagem pode conduzir os países a obterem receitas industriais maiores e mais

sustentáveis (ONUDI, Industrial Development Report 2002/2003).

Para os legisladores, torna-se essencial produzir uma checklist dos factores

determinantes da competitividade industrial. Muitos factores sociais, históricos,

políticos e económicos afectam o desenvolvimento industrial e os efeitos variam ao

longo do tempo e com o contexto. Apesar de tudo, é útil listar os factores económicos

importantes que moldam hoje o desenvolvimento industrial e a lista de circunstâncias

particulares para os países e as prioridades. Este relatório baseia-se no modelo

analítico da UNIDO para identificar os drivers estruturais da competitividade industrial

conforme se apresenta na Figura seguinte.

Figura 12 - Modelo analítico e conceptual para a competitividade industrial

Fonte: UN COMTRADE

Sistema de Suporte

(Instituições Intermediárias)- Associações Industriais

- Formações às instituições

- Suporte Tecnológico

- Instituições Financeiras

- Institutos de Investigação- Universidades

Contexto de Negócios- Políticas Macroeconómicas

- Regimes Industriais & Regimes de Comércio- Modelo de Regulação & Jurídico

- Custos de Transacção

Factores de mercado- Recursos Naturais

- Tecnologia

- Trabalho e competências- Finanças

- Fornecimentos

- Infraestrutura

SistemaIndustrial

Nacional

Internacional

Cadeia de ValorGlobal

Fluxos de bens, conhecimento, competências, tecnologia, capital, etc.

Mudanças Tecnológicas

-Geral: TICs, etc.

-Sector- específico: tecnologia-sofisticação dos processos do sector

fronteira tecnológica

etc.

Regimes de Comércio

- Geral: acordos regionais

- Acordos sectoriais

Globalização

- Geral: IDE e Comércio

- Sector específico: sistemasde produção integrados

(vocação para o comprador/abastecimento

dependendo da indústria)

CONTEXTO GLOBAL

Governança Industrial

Capacidades do Governo na formulação, implementação, e monitorização

das estratégias industriais, políticas eprogramas

Produtores

Locais

Compradores

GlobaisEmpresas

Transnacionais

Compradores

Locais FornecedoresLocais

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

82

O sistema industrial com os seus principais actores (fabricantes locais, fornecedores,

compradores, instituições e legisladores) encontra-se no centro deste modelo. Os

sistemas industriais podem ser divididos em sectores, sub-sectores e clusters. Actores

cooperam e concorrem entre eles, sendo que as suas interacções estão

condicionadas pelas regras locais, regulamentação, alfândegas e capital social.

O resultado é um contexto social e económico que afecta o desenvolvimento industrial

e o sistema nacional de inovação e de aprendizagem no país. Um sistema forte produz

uma aprendizagem rápida e abrangente e uma competitividade com uma ampla

disseminação. Ao contrário, um sistema fraco conduz à ineficiência, atrasos e

dificuldade em competir.

O desenvolvimento industrial depende de forma vital do contexto internacional. Como

referido, esse contexto está a mudar rapidamente, devido à globalização, liberalização

e mudanças tecnológicas. Em particular, caracteriza-se por ligações mais estreitas

dentro das cadeias de valor globais, com uma coordenação mais próxima entre os

actores nacionais e internacionais que operam no seio de sistemas integrados. O

sucesso das indústrias nacionais depende assim até certo ponto da capacidade das

empresas de criarem competências tecnológicas em produtos particulares, processos

ou funções.

Para cada país, o desenvolvimento industrial depende do contexto de negócios, da

eficiência dos factores de mercado (trabalho, competências, capital financeiro, inputs e

infraestrutura) e da qualidade de suporte disponível de instituições intermediárias (para

formação, serviços tecnológicos, I&D, entre outros). As políticas do Governo podem

melhorar ou piorar esses determinantes estruturais do desenvolvimento industrial,

assumindo a governança (a capacidade de criar, implementar e monitorizar as

políticas) uma importância cada vez maior.

Muitos mercados em países em desenvolvimento são ineficazes e as instituições

necessárias não existem. Em muitos casos essas deficiências provêm de políticas

governamentais anteriores e para revitalizar a indústria requer eliminarem-se

intervenções ineficientes. Noutros casos, o governo tem de elaborar novos programas

para criar ou melhorar os mercados e as instituições que estão ausentes ou que são

disfuncionais.

A identificação de onde e como o governo deverá intervir (menos, mais ou de forma

diferente) é a essência de uma boa política industrial. O processo deverá reforçar o

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

83

contexto tecnológico global, as tendências nas cadeias de valor nas quais as

indústrias nacionais operam e a sua posição nas cadeias de valor. O processo deverá

ser capaz de perceber as perspectivas de aprendizagem, os níveis tecnológicos e os

benefícios directos e indirectos bem como os custos envolvidos. Devido à mudança

das condições tecnológicas, as melhores políticas industriais hoje são diferentes

daquelas que se sucederam duas ou três décadas atrás. Por essa razão, é importante

analisar e interpretar as experiências anteriores com algum cuidado.

A competitividade não se deve limitar ao desempenho industrial de uma economia.

Deve avaliar também o impacto social que isso cria. Nesse sentido, uma melhoria na

competitividade deve reflectir-se em maiores níveis de emprego e salários sempre que

a estrutura do mercado de trabalho assim o permita.

Este capítulo apresenta um diagnóstico de um conjunto de factores que influenciam a

competitividade industrial de Cabo Verde, utilizando-se na análise o grupo de países

escolhidos no início e analisando-se a sua evolução ao longo do tempo, no período

2000 - 2009.

São considerados vários factores estruturais na base do desempenho industrial em

Cabo Verde: o capital humano, a gestão da qualidade, o investimento directo nacional

e estrangeiro, o ambiente de negócios, o esforço tecnológico entre outros. A lista não

inclui todos os factores que influenciam a competitividade industrial (como transparece

na Figura 12) mas abrange todos aqueles para os quais os dados puderam ser

obtidos.

4 PRODUTIVIDADE LABORAL, EMPREGO E SALÁRIOS

Um aumento do valor acrescentado manufacturado (VAM) baseado puramente na

expansão do emprego, sem melhorias a nível da produtividade não ajudará a

aumentar a competitividade industrial de um país. No outro extremo, um incremento do

VAM que se baseia unicamente numa maior produtividade sem criar novos empregos

não será bem aceite a nível social. Da mesma forma, um aumento salarial que não

seja acompanhado por uma maior produtividade provocará uma deterioração da

competitividade. Por fim, uma melhoria na competitividade originada por uma redução

salarial, além de não ser socialmente desejável, será facilmente superada pela entrada

de novos concorrentes no comércio internacional com mão-de-obra barata.

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

84

4.1 PRODUTIVIDADE LABORAL

Apesar de não estarem disponíveis dados para quatro dos países em análise (Tunísia,

Gana, Costa do Marfim e Níger), elaborou-se uma tabela comparativa da

produtividade média laboral. O indicador utilizado consiste na produtividade média

laboral, definido como o quociente entre o VAM (a preços constantes de 2000) e o

número de trabalhadores empregados no sector manufactureiro.

Como se observa na Tabela 26, durante o período 2000-2009, Cabo Verde melhorou a

produtividade média laboral, tendo-se colocado na 3ª posição do ranking, apesar dos

valores do indicador serem em média 50% daqueles dos países nas duas primeiras

posições. Cabo Verde foi depois da Nigéria, o país a ter a maior taxa de crescimento

de produtividade na indústria (+34% entre 2002 e 2007), correspondendo a uma taxa

de crescimento anual de 5,99%.

Tabela 26 – Produtividade Média Laboral, 2000-2009

Ranking País

Valores em USD a preços constantes de 2000

Crescimento médio anual

2009 2000 2000 2009 2000 - 2009

1 1 Senegal 24.797 29.370 8,83%

2 2 Malta 22.873 26.606 1,91%

3 3 Cabo Verde 10.334 13.821 5,99%

4 4 Ilhas Maurícias 6.760 8.101 2,29%

5 5 Marrocos 6.406 6.170 -0,62%

6 6 Argélia 6.235 4.981 -7,21%

7 7 Nigéria 214 293 8,17%

Nota: Dados indisponíveis para a Tunísia, Gana, Costa do Marfim e Níger; Os dados apresentados para a Argélia correspondem aos anos de 2001 e 2004, para Cabo Verde a 2002 e 2007, para Malta e as Maurícias a 2000 e 2008, para Marrocos a 2000 e 2006, para a Nigéria a 2000 e 2004 e para o Senegal a 2000 e 2002. Fonte: International Labour Organization (ILO), Industrial Statistics Database (INDSTAT), INE e World Development Indicators (WDI)

4.2 EMPREGO NA INDÚSTRIA

Apesar de não estarem disponíveis dados para quatro dos países em análise (Tunísia,

Gana, Costa do Marfim e Níger), elaborou-se uma tabela comparativa do emprego

existente no sector industrial. A

Tabela 27 apresentada refere o número de empregados no sector industrial nos

países em análise para o período 2000-2009.

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

85

Como se observa, para Cabo Verde o número de pessoas que ingressou no sector

industrial cresceu 11% em 10 anos, correspondendo a uma taxa de crescimento anual

de 2,06% e colocando o país na última posição do ranking. Em valor absoluto, o

número de trabalhadores em Cabo Verde no sector industrial é ainda reduzido devido

à escassez de empresas industriais no país.

Tabela 27 - Emprego no Sector Industrial, 2000-2009

Ranking País

Número de trabalhadores no sector industrial

Crescimento médio anual

2009 2000 2000 2009 2000 - 2009

1 1 Nigéria 7.690.413 8.450.380 2,38%

2 2 Marrocos 896.700 1.142.027 4,11%

3 3 Argélia 631.812 846.700 10,25%

4 4 Maurícias 139.200 123.300 -1,50%

5 5 Malta 33.749 24.311 -4,02%

6 6 Senegal 24.418 22.863 -3,24%

7 7 Cabo Verde 4.956 5.487 2,06%

Nota: Dados indisponíveis para a Tunísia, Gana, Costa do Marfim e Níger; Os dados apresentados para a Argélia correspondem aos anos de 2001 e 2004, para Cabo Verde a 2002 e 2007, para Malta e as Maurícias a 2000 e 2008, para Marrocos a 2000 e 2006, para a Nigéria a 2000 e 2004 e para o Senegal a 2000 e 2002. Fonte: International Labour Organization (ILO), Industrial Statistics Database (INDSTAT), INE e World Development Indicators (WDI)

4.3 SALÁRIOS NO SECTOR INDUSTRIAL

Apesar de não estarem disponíveis dados para quatro dos países em análise (Tunísia,

Gana, Costa do Marfim e Níger), elaborou-se uma tabela comparativa dos salários no

sector industrial. O Quadro apresentado refere os valores médios auferidos

anualmente por trabalhador por país no sector industrial, para o período 2000-2009.

Como se observa na Tabela 28, durante o período 2000-2009, Cabo Verde tinha um

dos valores mais elevados de salários no sector industrial quando comparados com os

outros países, tendo o valor crescido 57% em 10 anos, correspondendo a uma taxa de

crescimento anual de 9,46% e colocando o país na 2ª posição do ranking.

Tabela 28 – Salário Médio por Trabalhador no Sector Industrial, 2000-2009

Ranking País

Salário médio anual por trabalhador (em USD)

Crescimento médio anual

2009 2000 2000 2009 2000 - 2009

1 1 Senegal 3.680 4.832 3,07%

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

86

2 2 Cabo Verde 2.729 4.288 9,46%

3 3 Ilhas Maurícias 2.482 3.803 5,48%

4 4 Marrocos 2.188 3.413 5,71%

5 5 Nigéria 906 931 0,68%

Nota: Dados indisponíveis para a Argélia, Tunísia, Gana, Costa do Marfim, Níger e Malta; Os dados apresentados para Cabo Verde correspondem aos anos de 2002 e 2007, Maurícias e Marrocos a 2000 e 2008, para a Nigéria a 2000 e 2004 Fonte: International Labor Organization (ILO), Industrial Statistics Database (INDSTAT), INE e World Development Indicators (WDI)

Assim, o custo do trabalho em Cabo Verde é mais elevado do que nos outros países

analisados, sendo só ultrapassado pelo Senegal. É também o caso se compararmos

com países da Ásia como a Indonésia e as Filipinas. Esta situação é compensada pelo

desempenho da produtividade média por trabalhador conforme referido anteriormente.

4.4 LEGISLAÇÃO LABORAL

A Tabela 29 apresenta a dificuldade existente em contratar mão-de-obra nos

diferentes países analisados. A classificação varia entre 0 (nenhuma dificuldade em

contratar) e 100 (dificuldade máxima em contratar).

O índice de dificuldade de contratação mede os seguintes factores: (i) se os contratos

por tempo fixo estão proibidos para tarefas permanentes; (ii) a duração máxima

cumulativa de contratos por tempo fixo; e (iii) a relação entre o salário mínimo de um

estagiário ou empregado no início de carreira e o valor médio agregado por

trabalhador.

Cabo Verde, com um índice de dificuldade de contratação de 33, apresenta ainda

alguns problemas de legislação quanto à gestão da mão-de-obra no posto de trabalho,

requerendo uma maior flexibilização da legislação laboral, ocupando a 5ª posição no

ranking depois de países como as Ilhas Maurícias, Nigéria, Gana e Tunísia.

Tabela 29 – Dificuldade em contratar mão de obra

Ranking País

Índice de Dificuldade de Contratação

2009 2009

1 Maurícias 0

2 Nigéria 0

3 Gana 11

4 Tunísia 28

5 Cabo Verde 33

6 Argélia 44

7 Senegal 72

8 Níger 100

Fonte: Doing Business (2010) – Banco Mundial

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

87

Nota: Dados indisponíveis para Malta, Marrocos e Costa do Marfim.

Por sua vez, a Tabela 30 mostra que em Cabo Verde os custos e as dificuldades

inerentes ao processo de despedimento de um empregado são maiores do que na

maioria dos países analisados, excepto na Tunísia. Alguns destes países simplificaram

os trâmites legais do processo de despedimento.

O índice de dificuldade de despedimento analisa 8 componentes: (i) a extinção do

posto de trabalho na empresa como base para o despedimento; (ii) a necessidade do

empregador precisar de notificar uma terceira parte (por exemplo o Ministério do

Trabalho) para demitir um trabalhador considerado excedentário para a empresa; (iii) o

empregador precisar de notificar uma terceira para demitir um grupo de 9

trabalhadores considerados excedentários na empresa; (iv) o empregador precisar de

aprovação de uma terceira parte para demitir um trabalhador considerado

excedentário na empresa; (v) o empregador precisar de aprovação de uma terceira

parte para demitir um grupo de 9 trabalhadores considerados excedentários para a

empresa; (vi) a lei exigir que o empregador elabore uma nova atribuição ou recapacite

um trabalhador antes de demiti-lo quando este é considerado excedentário para a

empresa; (vii) as regras de prioridade aplicarem-se aos despedimentos que ocorrem

com base no facto do trabalhador ser excedentário para a empresa; e (viii) as regras

de prioridade aplicarem-se ao reemprego.

Tabela 30 - Dificuldade em despedir mão de obra

Ranking País

Indice de Dificuldade de Despedimento

2009 2009

1 Maurícias 20

2 Nigéria 20

3 Argélia 40

4 Gana 50

5 Senegal 50

6 Níger 50

7 Cabo Verde 70

8 Tunísia 80

Fonte: Doing Business (2010) – Banco Mundial Nota: Dados indisponíveis para Malta, Marrocos e Costa do Marfim.

5 RECURSOS HUMANOS

No novo contexto internacional caracterizado por um desenvolvimento tecnológico e

uma difusão de novas tecnologias da informação e da comunicação, é necessário ter

uma mão-de-obra capaz de enfrentar os desafios actuais.

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

88

Para se melhorar a competitividade da indústria deve-se aumentar a taxa de cobertura

e de eficiência educativa no nível primário e secundário, devendo-se também ter uma

mão-de-obra especializada e pessoas com estudos técnicos que possam ingressar

nas indústrias de média e alta tecnologia. Além disso, devem-se promover os

processos de aprendizagem e de capacitação no próprio local de trabalho. Este

desafio exige alocar recursos públicos suficientes ao ensino e à formação melhorando

os níveis de desempenho, e criando incentivos para que as empresas interessadas em

melhorar a sua competitividade ganhem novos conhecimentos.

O ensino técnico e profissional está ainda pouco desenvolvido em Cabo Verde. A taxa

de escolarização no ensino profissionalizante ronda só os 15% e, não obstante todos

os esforços, existe ainda uma grande diferença entre as qualificações exigidas pelo

mercado de trabalho e aquelas que as pessoas possuem após a conclusão da sua

formação.

5.1 ACESSO AO ENSINO PRIMÁRIO, SECUNDÁRIO E SUPERIOR

O indicador que é utilizado para medir o acesso à educação é a taxa de cobertura no

ensino, definida como a percentagem da população que está matriculada nos vários

níveis educativos relativamente à população em idade de frequentar esses níveis

educativos Isto aplica-se ao ensino primário e secundário. Relativamente ao ensino

superior, a taxa de cobertura é a percentagem da população matriculada na

universidade de qualquer idade relativamente àquela em idade de frequentar o ensino

universitário.

A diferenciação é importante pois a taxa líquida de matriculados no ensino primário e

secundário não considera os alunos repetentes e cuja idade ultrapassou a média de

idade para frequentar o ensino primário e secundário. Ao eliminar-se a taxa de

repetentes, permite compreender melhor a eficiência do sistema académico.

A

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

89

Tabela 31 permite constatar que Cabo Verde pertence ao grupo de países que mais

se têm preocupado com o ensino, aparecendo no ensino primário e secundário com

taxas superiores a 80% e 60% respectivamente.

Tabela 31 - Taxas de Cobertura no Ensino, 2009

Ensino Primário Ensino Secundário Ensino Terciário

Ranking País Taxa Ranking País Taxa Ranking País Taxa

1 Tunísia 97,9%1 1 Malta 80,4%

2 1 Tunísia 33,7%

5

2 Maurícias 94,0% 2 Maurícias 80,1%6 2 Malta 32,2%

5

3 Argélia 93,8% 3 Tunísia 71,3%2 3 Argélia 30,6%

4 Malta 91,3%1 4 Argélia 66.3%

5 4 Mauritius 25,9%

5

5 Marrocos 89,7% 5 Cabo Verde 63,3% 5

Cabo Verde 14,9%

6 Cabo Verde 82,6% 6 Gana 46,0% 6 Marrocos 12,9%

7 Gana 75,9% 7 Marrocos 34,5%4 7 Nigéria 10,1%

2

8 Senegal 73,1% 8 Nigéria 25,8%7 8 Ghana 8,6%

9 Nigéria 61,4%2 9 Senegal 20,8%

8 9

Costa do Marfim 8,4%

4

10 Costa do Marfim 57,2% 10

Costa do Marfim 19,5%

3 10 Senegal 8,0%

11 Níger 54,0% 11 Níger 8,9%7 11 Níger 1,4%

Nota: Para o Ensino Primário: 1 (2008),

2 (2007)

Para o Ensino Secundário: 2 (2008),

3 (2001),

4 (2003),

5 (2004),

6 (2005),

7 (2007),

8 (2006)

Para o Ensino Terciário: 1 (2001),

2 (2005),

3 (2003),

4 (2007),

5 (2008)

Fonte: World Development Indicators

A taxa de alfabetização/literacia5, extremamente elevada (85% em 2009) é o resultado

de 34 anos de investimento no sector da educação, representando 20,4% do

Orçamento do Estado entre 2004 e 2006. Cabo Verde possui uma das taxas mais

altas de investimento na educação do continente africano. A taxa líquida de

escolarização é próxima dos 96% a nível nacional. O ensino primário é gratuito (82,6%

de taxa líquida de escolarização) e obrigatório até aos 11 anos de idade. 82,6% dos

alunos deste nível de ensino terminam sem repetir nenhum ano e só 2,7%

5 Literacia: Capacidade de ler e de escrever e de perceber e interpretar o que é lido.

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

90

abandonam a escola. A taxa líquida de escolarização no ensino secundário (dos 12

aos 17 anos) atinge já 63,3%.

No entanto, no ensino terciário, a taxa de cobertura ainda é limitada (14,9%) e

representa metade da taxa dos 3 primeiros países classificados no ranking,

respectivamente a Tunísia, Malta, Argélia e Ilhas Maurícias.

5.2 DESPESA PÚBLICA NA EDUCAÇÃO

Na Tabela 32 observa-se que Cabo Verde tem sido dos países que mais tem apostado

na educação ao longo dos últimos 10 anos, ocupando a 1ª e 3ª posição

respectivamente em 2000 e 2009.

Tabela 32 - Despesa Pública na Educação em % do PIB, 2000 - 2009

Ranking País

Gasto Público/PIB (em %)

2009 2000 2009 2000

1 2 Tunísia 7%4 6,8%

2 5 Malta 6,3%4 4,3%

2

3 1 Cabo Verde 5,9% 7,9%2

4 9 Senegal 5,8% 3,1%

5 3 Marrocos 5,5%1 5,7%

6 4 Gana 5,4%3 5,4%

3

7 8 Costa do Marfim 4,6%1 3,8%

8 10 Níger 4,5% 3,1%

9 6 Argélia 4,3% 4,3%

10 7 Ilhas Maurícias 3,2% 3,8%

Nota: Dados indisponíveis para a Nigéria; 1 (2008),

2 (2002),

3 (2005),

4 (2007)

Fonte: World Development Indicators

6 GESTÃO DA QUALIDADE

Cabo Verde ainda apresenta um importante atraso na área da certificação de

qualidade, na vertente dos sistemas de gestão (ISO 9001: 2000) ou na área do

ambiente (ISO 14001). A ausência de instituições de certificação e de calibração no

país tem condicionado o processo de adesão das empresas ao sistema de gestão da

qualidade. Por outro lado, a falta de sensibilização e formação dos quadros para os

sistemas da qualidade tem impedido uma maior divulgação das normas por entidades

competentes junto das empresas em geral.

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

91

O resultado está patente no ranking que se apresenta de seguida e que posiciona o

país, em 2008, no último lugar quando comparado com os países em análise, na

vertente dos sistema de gestão da qualidade e do ambiente.

Tabela 33 - Certificações ISO 9001 (Sistemas de Gestão)

Ranking País

Total de certificações ISO 9001

2008 2004 2004 2008

1 5 Tunísia 123 848

2 1 Marrocos 296 405

3 2 Malta 230 355

4 3 Maurícias 212 266

5 6 Nigéria 99 163

6 4 Argélia 126 159

7 7 Senegal 29 56

8 9 Níger 0 34

9 10 Costa do Marfim 0 32

10 8 Gana 17 14

11 11 Cabo Verde 0 1

Fonte: ISO Survey – 2008

Tabela 34 - Certificações ISO 14001 (Ambiente)

Ranking País

Total de certificações ISO 14001

2008 2004 2004 2008

1 1 Tunísia 30 102

2 2 Marrocos 26 35

3 5 Argélia 5 24

4 4 Nigéria 8 22

5 3 Maurícias 10 12

6 6 Malta 5 8

7 9 Costa do Marfim 3 5

8 10 Gana 2 5

9 8 Senegal 3 3

10 7 Níger 4 2

11 11 Cabo Verde 0 0

Fonte: ISO Survey – 2008

As empresas que foram visitadas durante o estudo possuem um laboratório que

controla a qualidade dos produtos fabricados. No entanto, não existe um laboratório

nacional acreditado para proceder à certificação dos produtos. Assim, as empresas

recorrem a laboratórios acreditados e independentes no estrangeiro para realizar a

análise das amostras segundo as normas internacionais, o que implica custos

adicionais no processo de fabrico.

7 INVESTIMENTO DIRECTO NACIONAL E ESTRANGEIRO

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

92

7.1 INVESTMENTO NACIONAL

Apesar de não existir informação posterior ao ano 2000 para dois dos países em

análise (Gana e Níger), elaborou-se uma tabela comparativa do investimento directo

nacional. A Tabela 35 - Investimento Directo Nacional, 2000-2009apresenta os

valores médios investidos por cada um dos países para o período 2000 - 2009.

Como se observa, Cabo Verde tinha um dos valores mais baixos de investimento

doméstico quando comparado com os outros países, tendo no entanto o valor

duplicado em 10 anos, o que corresponde a uma taxa de crescimento anual de 15,9%

no período entre 2000 e 2009 mas colocando o país nas últimas posições do ranking.

Tabela 35 - Investimento Directo Nacional, 2000-2009

Ranking País

IDN em milhões de USD

2009 2000 2009 2000

1 2 Argélia 25.670 11.328

2 5 Marrocos 18.701 9.618

3 1 Tunísia 7.225 5.050

4 9 Senegal 2.218 1.050

5 3 Maurícias 1.776 1.051

6 4 Costa do Marfim (a) 1.008 1.165

7 8 Malta 578 899

8 10 Cabo Verde 217 104

9 6 Gana - 1.149

10 7 Níger - 201

Nota: A Costa do Marfim apresentou dados para o período 2000 – 2005. Não existe informação disponível para a Nigéria. Fonte: World Development Indicators

7.2 INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO

Cabo Verde tem pouca expressão, em termos mundiais, no que se refere aos fluxos

de investimento directo estrangeiro (IDE). Contudo, a evolução que se tem registado

nos últimos anos e as perspectivas apresentadas apontam para uma importância cada

vez maior do país, designadamente na sua qualidade de receptor de investimento.

De acordo com o World Investment Report publicado pela UNCTAD em 2010,

constata-se que os fluxos de IDE registaram um forte aumento nos últimos anos, tendo

passado de 33 milhões de USD em 2000 para 212 milhões em 2008. A crise de

liquidez nos mercados financeiros internacionais tem condicionado a recente evolução

do investimento directo estrangeiro em Cabo Verde, tendo-se verificado uma descida

acentuada em 2009 (-43% face ao ano anterior). No final de 2009 o IDE acumulado no

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

93

período 2000-2009 atingia perto de 1,19 mil milhões de USD, o que correspondia a

mais de dez vezes o valor alcançado no final da década anterior.

O IDE tem-se concentrado fortemente no sector do turismo e hotelaria, com particular

destaque nas ilhas do Sal, Boavista e São Vicente. A indústria, que há alguns anos

atrás conseguiu captar vários investimentos significativos (nas confecções, no calçado

e na transformação do pescado), vem perdendo progressivamente a posição que

detinha, representando apenas cerca de 2% no total do IDE. Portugal, Itália, Irlanda,

Espanha e Reino Unido destacam-se como principais mercados emissores de

investimento directo estrangeiro. Os investimentos distribuem-se por um número

reduzido de sectores, nomeadamente as confecções, o calçado e o sector agro-

alimentar (incluindo o processamento de pescado e materiais de construção).

A transferência de tecnologias e o investimento directo estrangeiro (IDE) e doméstico

no sector da indústria são de extrema importância no processo de desenvolvimento

industrial. A título de exemplo, um grande número de países asiáticos (principalmente

os países do Leste Asiático) utilizou o IDE como meio para a aquisição de tecnologia e

de acesso ao mercado internacional através das multinacionais (Indonésia, Tailândia,

Filipinas e Malásia).

O investimento directo estrangeiro permite o acesso a novos mercados, novas

tecnologias e conhecimento. A importação de maquinaria industrial comporta um

grande conteúdo técnico e pode ser um factor que impulsione a aprendizagem

tecnológica. Contudo, não se pode afirmar que existe uma ligação directa entre estes

dois factores, porque a absorção e a integração de tecnologias no local de trabalho e a

sua aprendizagem é um processo que acarreta custos elevados e requer um alto nível

de conhecimento tecnológico.

Tabela 36 - Investimento Directo Estrangeiro, 2000 – 2009

Ranking País

IDE (em Milhões de USD)

2009 2000 2009 2000

1 1 Nigéria 5.786 1.140

2 4 Argélia 2.846 438

3 7 Marrocos 1.970 220

4 9 Gana 1.684 165

5 2 Tunísia 1.595 752

6 3 Malta 895 601

7 8 Níger 738 8

8 6 Costa do Marfim 380 234

9 5 Maurícias 256 265

10 10 Senegal 207 63

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

94

11 11 Cabo Verde 119 33

Fonte: World Development Indicators

Tabela 37 – Investimento Directo Estrangeiro per Capita, 2000 – 2009

Ranking País

IDE per capita (em USD)

2009 2000 2009 2000

1 1 Malta 2.158 1.541

2 4 Cabo Verde 237 76

3 2 Tunísia 201 224

4 3 Maurícias 153 79

5 5 Argélia 82 14

6 8 Costa do Marfim 71 8

7 9 Marrocos 62 8

8 11 Níger 48 1

9 7 Nigéria 37 9

10 6 Gana 18 14

11 10 Senegal 17 6

Fonte: World Development Indicators

8 AMBIENTE DE NEGÓCIOS

O ambiente de negócios em Cabo Verde progrediu, tendo o país ganho dez posições

em 2010, estando agora na 132ª posição no ranking do Doing Business do Banco

Mundial. Além disso, foi o país que mais evoluiu entre 2009 e 2010 nessa classificação

do Banco Mundial relativa ao clima de negócios. Para isso contribuíram quatro

grandes reformas levadas a cabo e aprovadas no país: a abolição da inspecção

municipal obrigatória para iniciar um negócio, a informatização das autorizações

municipais, a redução dos custos de transferência de propriedade e a abolição do

imposto de selo sobre vendas e cheques. Assim, o tempo necessário para iniciar um

negócio passou de 52 dias em 2007 para 1 dia em 2010. A criação de empresas e o

pagamento de impostos tornaram-se mais rápidos e fáceis.

A Agência para o Desenvolvimento Empresarial e Inovação (ADEI), criada em Maio de

2009 com vista a apoiar os pequenos empresários, desenvolver planos de negócio e

facilitar o acesso ao crédito veio também contribuir para a dinamização do tecido

empresarial no país.

9 TECNOLOGIA

Investigação e Desenvolvimento (I&D)

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

95

As actividades de investigação e desenvolvimento (I&D) são essenciais como suporte

ao desenvolvimento industrial de um país. Os países mais avançados

tecnologicamente e industrialmente investem em média entre 2 a 3,5% do PIB em I&D

(como foi o caso por exemplo em 2008 da Suécia, Finlândia, Japão, EUA, Alemanha e

Israel com respectivamente 3,75%, 3,47%, 3,44%6, 2,77%, 2,69% e 4,86% segundo o

OECD Factbook 2010: Economic, Environmental and Social Statistics e o Eurostat

2010.

O esforço tecnológico de um país também se traduz pelo nível de competências e de

formação para desempenhar as actividades no sector da investigação e

desenvolvimento. Geralmente, a estrutura produtiva dos países em desenvolvimento

apresentam tecnologias que são intensivas em mão de obra, para as quais as

competências necessárias são basicamente operacionais. Contudo, dada a tendência

mundial de mudança tecnológica constante e tendo em consideração que o segmento

de produtos que exigem níveis elevados de I&D é um dos mais dinâmicos a nível

internacional segundo as estatísticas da ONUDI, o sector industrial em Cabo Verde

deve realizar melhorias tecnológicas contínuas para se posicionar no grupo dos países

com maior contribuição no valor acrescentado manufacturado a nível mundial.

Dos países analisados e identificados como potenciais modelos para Cabo Verde,

Malta e Tunísia têm vindo a desenvolver esforços nesta área. A informação disponível

para os países em análise provém de anos diferentes não permitindo uma

comparação coerente.

Em Cabo Verde, existe ainda um número muito reduzido de técnicos e de

investigadores em I&D (menos de 100 pessoas segundo o World Development

Indicators). O Governo de Cabo Verde, através das suas instituições de ensino

superior e em parceria com o sector privado, deverá assim desenvolver políticas de

promoção à investigação e de apoio ao sector industrial, contribuindo para o

desenvolvimento do I&D no país.

Exportações de serviços na área das TIC

Todos os países em análise cresceram substancialmente, tentando posicionar-se a

jusante da cadeia de valor das TIC, em áreas como os call centers, desenvolvimento

6 Este valor refere-se ao ano de 2007, sendo que o de 2008 não se encontra disponível.

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

96

de software, criação de centros de competência técnicos para a região África. Cabo

Verde, apesar de ser um grande utilizador das TIC tanto no sector privado como

público, ainda não tem expressão como país exportador de serviços TIC. Os casos

mais conhecidos envolvem o call center do operador de telecomunicações português

Portugal Telecom sediado na Praia e o processo ainda recente da exportação de

serviços do Núcleo Operacional para a Sociedade de Informação (NOSI) para outros

países africanos. A tabela seguinte demonstra uma clara aposta de países como

Marrocos, Tunísia e Senegal que em dez anos multiplicaram as suas exportações por

valores entre 4 a 8 vezes.

Tabela 38 – Exportações de serviços na área das TIC, 2000-2009

Ranking País

Exportações TIC (em mlhões de USD, preços correntes)

2009 2000 2000 2009

1 1 Marrocos 113,52 926,99

2 4 Tunísia (a) 32,10 268,02

3 2 Senegal 52,29 202,19

4 5 Malta 27,24 112,69

5 3 Costa do Marfim 39,51 112,42

6 6 Maurícias (a) 18,77 82,08

7 8 Nigéria - 36,60

8 7 Cabo Verde (a) 10,53 28,03

Nota: a) o último ano corresponde a 2008 Fonte: World Development Indicators

10 INFRAESTRUTURA

Um país torna-se mais competitivo se adoptar uma infraestrutura adequada para o

desenvolvimento eficaz das actividades produtivas. A infraestrutura pode ser dividida

em duas categorias: a infraestrutura tradicional (que se refere às estradas, portos e

aeroportos, entre outros) e a infraestrutura tecnológica que envolve tanto as

tecnologias da informação e da comunicação (TICs) que ajudam a dinamizar os

processos de gestão e de disseminação do conhecimento, como a infraestrutura de

suporte à inovação empresarial (laboratórios acreditados de calibração, de ensaio e

análise, infraestrutura de certificação, serviços públicos de assistência técnica para a

indústria, entre outros).

10.1 INFRAESTRUTURA TRADICIONAL

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

97

A competitividade está directamente relacionada com a disponibilidade e a qualidade

da infraestrutura física. Uma infraestrutura física adequada (terrestre, aérea ou

marítima) ajuda a melhorar a produtividade do investimento privado, reduz custos e é

um elemento determinante na hora da escolha do destino do investimento. Uma

empresa de média e alta tecnologia que queira inserir-se com sucesso no comércio

internacional necessita de um contexto de investimento público ou público-privado em

estradas, portos, barragens hidroeléctricas, redes de telecomunicações e aeroportos.

A infraestrutura torna-se assim imprescindível de forma a permitir o abastecimento em

matérias-primas ou de outros bens às fábricas e a sua distribuição aos mercados, a

tempo e a custos reduzidos, contribuindo para o desenvolvimento da indústria do país.

- Infraestrutura rodoviária

Actualmente, Cabo Verde conta com uma rede rodoviária de aproximadamente 1.600

km. Em fins de 2009, quase 70% das estradas estavam alcatroadas conforme

transparece da tabela seguinte.

Tabela 39 – Estradas alcatroadas (em % do total de estradas no país), 2000-2009

Ranking País

% de Estradas Alcatroadas

2009 2000 2000 2009

1 1 Maurícias 97,00 98,03

2 2 Malta 88,00 87,53

3 5 Tunísia 68,40 75,18

4 4 Argélia 68,90 73,46

5 3 Cabo Verde 69,04 69,04

6 6 Marrocos 56,42 67,77

7 8 Senegal 29,30 29,26

8 9 Níger 25,66 20,65

9 7 Gana 29,60 14,93

10 10 Costa do Marfim 9,70 7,93

Nota: Os dados para o último ano correspondem aos seguintes anos: Cabo Verde 2001, Costa do Marfim 2007, Gana 2005 e Senegal 2003 Fonte: World Development Indicators

Face aos países em análise, Cabo Verde pertence ao grupo dos 5 países com a

percentagem mais elevada de estradas alcatroadas, mesmo assim ainda algo distante

das Maurícias e de Malta que detêm respectivamente taxas de 98,03% e 87,53%.

Refira-se ainda que Cabo Verde perdeu 2 posições em 10 anos, passando do 3º para

o 5º lugar, devido a um maior dinamismo por parte da Tunísia neste domínio, que

ocupou a 3ª posição em 2009.

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

98

Refira-se ainda que no caso de Cabo Verde, a qualidade das estradas varia

substancialmente entre ilhas, sendo que em São Nicolau e São Vicente 100% das vias

estão pavimentadas enquanto que em Santiago esse valor só atinge os 50%.

- Transporte aéreo

Num contexto de fragmentação geográfica, de fraca densidade populacional, de

insularidade mas de crescimento turístico importante, o transporte aéreo desempenha

um papel relevante na economia do país. Assim, Cabo Verde tem 4 aeroportos

internacionais cujas infraestruturas foram renovadas e são recentes (Praia, Sal, São

Vicente e Boavista) e 3 aeródromos (Fogo, Maio e São Nicolau) que servem

unicamente voos domésticos.

O crescimento elevado do turismo em Cabo Verde permitiu a entrada de novas

companhias aéreas no mercado (registadas e charter). O tráfego aéreo cresceu a uma

taxa média anual de 2,5% entre 2001 e 2005 segundo a IATA (International Air

Transport Association).

Tabela 40 – Número de partidas de voos de companhias aéreas registadas, 2000-2009

Ranking País

Número de partidas de voos de companhias aéreas registadas

2009 2000 2000 2009

1 1 Marrocos 44.542 62.037

2 2 Argélia 40.202 52.731

3 3 Tunísia 19.907 24.225

4 4 Malta 15.394 18.362

5 6 Nigéria 12.761 16.851

6 5 Cabo Verde 13.010 11.560

7 7 Maurícias 12.162 11.144

8 9 Senegal 2.415 6.441

9 8 Gana 4.873 3.333

Nota: Os dados para o último ano para o Gana e Senegal correspondem respectivamente aos anos 2004 e 2005 Fonte: World Development Indicators

O número de partidas de voos de companhias aéreas registadas em Cabo Verde

sofreu um decréscimo nos últimos 10 anos, indiciando eventualmente a utilização de

aeronaves de maior capacidade mas sobretudo o aumento substancial de companhias

aéreas charter a operarem no país, situação que acontece também com as Maurícias.

10.2 INFRAESTRUTURA TECNOLÓGICA

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

99

Ao nível das infraestruturas tecnológicas de telecomunicações e de interligação às

redes de acesso e de comutação, Cabo Verde possui boas condições para o

desenvolvimento do sector TIC, através da existência de um cabo submarino – anel de

fibra óptica inter-ilhas, do acesso ao cabo submarino Atlantis 2, à rede terrestre de

fibra óptica (505 km) e às comunicações via satélite (alternativa ao cabo Atlantis 2).

O investimento na infraestrutura tecnológica tem muitas vantagens das quais podemos

salientar as seguintes:

A massificação da sociedade da informação e a banalização do acesso ao

conhecimento por parte da população

A criação de competências avançadas neste sector que permitam desenvolver

uma indústria de suporte ao sector

A criação e acesso a novos mercados na economia global por parte das

empresas sendo a Internet a plataforma privilegiada de interacção, através das

redes sociais, portais empresariais e logísticos entre outros.

De forma geral, as TICs melhoram a coordenação em todas as etapas da

cadeia de produção e de comercialização, reduzem custos de transacção e de

administração de processos e são um elemento nuclear das cadeias de valor

globais.

Para medir o acesso de um país às telecomunicações e às tecnologias da informação

e comunicação (TICs), são utilizados indicadores como a cobertura da telefonia fixa e

móvel, a variação do número de assinantes das redes e a penetração da Internet e

dos computadores pessoais.

- Telefonia Fixa

Refira-se que actualmente, a nível mundial, parte da população prescinde do telefone

fixo e opta por utilizar as comunicações móveis devido ao facto de poder estar

contactável em todo o lado e a todo o momento (anytime, anywhere, by anyone and

anything). Nos últimos anos tem-se assistido a um decréscimo do número de acessos

fixos telefónicos por 100 habitantes nos países mais desenvolvidos, o que não

acontece em África devido ao custo ainda elevado das comunicações móveis.

Cabo Verde em 2009 encontrava-se na 3ª posição, à frente de países como a Tunísia,

Marrocos ou a Argélia. Só Malta e Maurícias tiveram um desempenho melhor mas os

3 países mantiveram as mesmas posições em 2000 e 2009.

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

100

Tabela 41 – Número de linhas telefónicas (por 100 habitantes), 2000-2009

Ranking País

Número de linhas telefónicas (por 100 habitantes)

2009 2000 2000 2009

1 1 Malta 52,36 60,90

2 2 Maurícias 23,67 29,72

3 3 Cabo Verde 12,45 14,28

4 4 Tunísia 9,99 12,26

5 6 Marrocos 4,94 10,99

6 5 Argélia 5,77 7,38

7 7 Senegal 2,08 2,22

8 8 Costa do Marfim 1,53 1,34

9 9 Gana 1,09 1,12

10 10 Nigéria 0,44 0,92

11 11 Níger 0,18 0,43

Fonte: World Development Indicators

- Redes Móveis

Em Cabo Verde, com a introdução em 1998 da telefonia móvel pelo operador Cabo

Verde Telecom, através da sua filial Cabo Verde Móvel, o número de assinantes não

tem parado de crescer apesar dos custos de comunicações ainda elevados devido a

só recentemente em 2008 ter entrado um 2º concorrente, a empresa T+, permitindo

dessa forma uma maior opção de escolha de serviços. A entrada em funcionamento

deste segundo operador móvel tem sido determinante para uma completa

reconfiguração da concorrência no mercado das telecomunicações em Cabo Verde.

Todos os países sem excepção conheceram crescimentos exponenciais neste período

de análise devido à introdução das redes móveis em África e do modelo dos telefones

pré-pagos, evitando o custo de uma assinatura mensal fixa para a maioria da

população com rendimentos muito baixos. Refira-se que em Malta, aliás como em

grande parte dos países da UE e das economias mais desenvolvidas, em 2009 em

média os habitantes já possuíam mais de 1 telemóvel por pessoa (o número de

assinantes por 100 habitantes em 2009 em Malta era de 101,71). Cabo Verde passou

de uma taxa de assinantes da rede móvel de 4,49% em 2000 para 77,53% em 2009,

ocupando a 6ª posição e demonstrando a forte adesão da população às redes de nova

geração, valor que pode ser comparado com o indicador de penetração da rede

telefónica fixa em 2009 (14,9%).

Tabela 42 – Número de assinantes de redes móveis (por 100 habitantes), 2000-2009

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

101

Ranking País

Número de assinantes de redes móveis (por 100 habitantes)

2009 2000 2000 2009

1 1 Malta 29,34 101,71

2 9 Argélia 0,28 93,79

3 7 Tunísia 1,25 93,50

4 2 Maurícias 15,17 85,21

5 3 Marrocos 8,12 79,11

6 4 Cabo Verde 4,49 77,53

7 8 Gana 0,67 63,38

8 5 Costa do Marfim 2,74 63,33

9 6 Senegal 2,53 55,06

10 10 Nigéria 0,02 47,24

11 11 Níger 0,02 17,00

Fonte: World Development Indicators

- Número de utilizadores Internet, 2000-2009

Entendem-se como utilizadores Internet as pessoas que acedem à rede de forma

regular, indiferentemente se o fazem de um local público ou privado, no seu local de

trabalho ou na sua residência. Assim, em todos os países existem mais utilizadores

Internet que computadores ligados a esse serviço e para todos os países em análise o

crescimento do número de utilizadores tem sido exponencial. A Tabela 43 vem

também confirmar o bom posicionamento de Cabo Verde nesta matéria, pertencendo

ao grupo dos 4 primeiros países da frente conjuntamente com Malta, Tunísia e

Marrocos. Os dados sustentam também o destaque dado pelo Banco Mundial

relativamente à Governação Electrónica, em que o país é considerado uma referência

mundial tendo sido identificado como caso de estudo do Banco Mundial e exemplo

para vários países do continente africano.

Tabela 43 – Número de utilizadores Internet, 2000-2009

Ranking País

Número de utilizadores Internet (por 100 pessoas)

2009 2000 2000 2009

1 1 Malta 13,08 57,97

2 3 Tunísia 2,72 33,55

3 5 Marrocos 0,69 32,19

4 4 Cabo Verde 1,82 29,67

5 10 Nigéria 0,06 28,43

6 2 Maurícias 7,33 22,74

7 6 Argélia 0,49 13,47

8 7 Senegal 0,40 7,36

9 9 Gana 0,15 5,44

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

102

10 8 Costa do Marfim 0,23 4,59

11 11 Níger 0,04 0,76

Fonte: World Development Indicators

A “Acessibilidade para Todos” é um dos pilares do Plano Estratégico para a Sociedade

da Informação (PESI). Pretende-se “promover a acessibilidade ao menor custo,

fomentar a coesão digital e estimular a presença universal”… “ligar tudo a todos em

termos de conectividade básica e, posteriormente, em banda larga segura e inter-

operável, promovendo o acesso universal e a coesão digital a nível insular e

socioeconómico, bem como a conectividade com a diáspora.”

Um bom exemplo é o projecto de “praças digitais” que se pretende instalar por todo o

país. Em 2009 existiam já dez praças digitais: três na Praia, Santa Catarina, Tarrafal,

Mindelo, Brava, Mosteiros, São Filipe e Espargos. Outro exemplo é o caso dos

Telecentros Comunitários para as zonas rurais que possibilitem o acesso às novas

tecnologias. Refira-se o importante papel que as “praças digitais” têm junto das

populações rurais, principalmente junto dos jovens que possuem portáteis ou

telemóveis com tecnologia WiFi. Igualmente, o aumento do número de prestadores de

serviços Internet e serviços VoIP prova que o sector está em desenvolvimento e a

atrair novos investidores estrangeiros e nacionais. Em 2009 já existiam cinco

empresas prestadoras de serviços, incluindo o Grupo Cabo Verde Telecom com as

suas filiais CV Multimédia e CV WiFi (S. Vicente). Finalmente, refira-se ainda que

segundo a Autoridade Nacional para as Comunicações (ANAC), em 2009, a Internet

ainda tinha uma fraca penetração no mundo rural com cerca de 87% dos subscritores

a localizarem-se nos centros urbanos.

- Número de servidores Internet seguros, 2000-2009

Nem todos os servidores Internet são seguros e só o são aqueles que cumprem os

requisitos internacionais de transmissão de dados encriptados, o que é igualmente

imprescindível para qualquer negócio ou serviço que opera on-line.

Tabela 44 – Número de servidores Internet seguros, 2000-2009

Ranking País

Número de servidores Internet seguros (por milhão de pessoas)

2009 2000 2000 2009

1 1 Malta 148,02 989,62

2 2 Maurícias 13,90 61,95

3 4 Tunísia 1,32 12,45

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

103

4 3 Cabo Verde 2,09 12,20

5 5 Marrocos 0,50 1,96

6 6 Senegal 0,29 0,91

7 11 Nigéria 0,02 0,81

8 7 Gana 0,24 0,71

9 10 Costa do Marfim 0,06 0,62

10 8 Argélia 0,13 0,54

11 9 Níger 0,08 0,33

Nota: Os dados para o ano 2000 para o Senegal e Cabo Verde correspondem respectivamente aos anos 2005 e 2006 Fonte: World Development Indicators

A Tabela 44 ilustra o facto de Cabo Verde, em 2009, ter atingido um total de 12,2

servidores Internet seguros por milhão de habitantes, destacando-se da maioria dos

países analisados quanto ao número de servidores Internet seguros, tendo o número

crescido quase 6 vezes no período de 2000 a 2009. Cabo Verde coloca-se na 4ª

posição, depois de Malta, Maurícias e Tunísia. No entanto, o país ainda está bastante

longe dos valores alcançados pelos dois primeiros países, Malta com 989,62 e

Maurícias com 61,95 servidores Internet seguros (por milhão de pessoas).

11 PERCEPÇÃO DOS STAKEHOLDERS SOBRE A

COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DE CABO VERDE

Das reuniões mantidas com os vários stakeholders e da análise elaborada no

documento, estruturaram-se as lições aprendidas sobre a competitividade da indústria

de Cabo Verde sob forma de matriz sintética com os principais pontos fortes e fracos e

oportunidades e ameaças que poderão afectar a competitividade industrial e

condicionar o seu funcionamento.

Síntese das Oportunidades e Ameaças

Pontos Fortes Pontos Fracos

Estabilidade política do país Acordos comerciais existentes Investimento em infraestruturas: 15%/PIB/ano) País de rendimento médio Capacidade de aprendizagem dos recursos

humanos e flexibilidade de adaptação

Inexistência de tradição no sector industrial Base instalada industrial insignificante (sem massa

crítica) Inexistência de economias de escala Dimensão do país (procura/poder compra) Certificação da qualidade pouco divulgada e sem

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

104

Nível de desenvolvimento das TICs Localização estratégica Sector de transformação do pescado Ambiente de negócios (ranking Doing Business)

adesão no país I&D nas empresas industriais inexistente Infraestruturas deficientes: energia (custo/

fiabilidade), água (custo/acesso), transportes Financiamento das empresas/projectos com

custos elevados Legislação laboral

Oportunidades Ameaças

Acordo AGOA e ACP/UE (vantagens alfandegárias e acesso aos mercados americano e europeu)

Continente africano alvo da procura dos investidores

Número elevado de emigrantes no estrangeiro (captação e desenvolvimento de negócios na indústria)

Sector turístico dinâmico (350.000 turistas em 2010): cadeia importante de abastecimento

Sinergias da indústria com o sector agrícola (sector agro-industrial)

Conceito de pólos de competitividade/clusters (i.e. mar)

Parques tecnológicos Aproveitar o desenvolvimento do país nas TICs

e capitalizar em indústrias mais avançadas Explorar o mercado da CEDEAO e da SADC

A actual crise mundial conduz a uma selecção criteriosa dos países receptores de investimento

Concorrência forte a nível mundial no sector industrial face à globalização dos mercados

Liberalização acrescida nas trocas comerciais mundiais

Imposição pelos países compradores da certificação de qualidade nos produtos

Empresas exigentes na vertente qualidade e ambiente

Aumento do custo de mão-de-obra em Cabo Verde

SECÇÃO C. O CASO DAS ILHAS MAURÍCIAS

Apesar da insularidade do país, do afastamento dos mercados mundiais e dos fracos

recursos naturais da ilha, vários factores chave foram essenciais e desencadearam o

milagre económico nas Ilhas Maurícias, nomeadamente as boas práticas a nível da

política macroeconómica, particularmente na vertente fiscal e política cambial

competitiva, a colaboração intensiva e produtiva entre os organismos do sector público

e privado e um sistema vocacionado para o comércio externo suportado por políticas

liberais. Os parques industriais (EPZ) estão na origem do modelo industrial do país e

do seu desenvolvimento. Por ser um exemplo referido em inúmeros estudos realizados

por organizações internacionais como um modelo de competitividade industrial de

sucesso, apresenta-se de forma resumida os principais desafios das Maurícias, a

abordagem, os resultados e as lições aprendidas deste caso de sucesso.

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

105

Desafios

O país, situado no Oceano Índico, era fortemente subsidiado pelo programa de

assistência técnica IDA (International Development Association), com uma economia

de monocultura, baseada predominantemente no cultivo da cana do açúcar, de fraco

rendimento, com uma elevada população para a dimensão do país (1,3 milhões de

habitantes/1865 km2), e uma taxa de desemprego importante. A indústria de

manufacturas tornou-se num dos pilares da economia, com o país a aceder à posição

de país de rendimento médio (PRM), com um dos valores de PIB per capita mais alto

da região, e a conseguir diversificar as actividades económicas explorando nichos no

sector das confecções, no turismo e nos serviços financeiros.

O país esforçou-se em diversificar a economia, definindo quatro pilares de suporte (o

açúcar, o têxtil, o turismo e os serviços financeiros) de forma a melhorar a

produtividade e a competitividade e favorecer o crescimento e a criação de emprego.

Abordagem

A abordagem adoptada resume-se à combinação inteligente de vários factores:

A estabilidade política, um forte modelo institucional, baixos níveis de

corrupção e um ambiente de regulação e de regulamentação favoráveis com

políticas comerciais abertas (incentivos fiscais e financeiros, protecção tarifária

comercial, esquemas com subsídios e bolsas, suporte institucional e serviços

de infraestrutura)

A adopção nos anos 70 de uma estratégia orientada para a exportação,

baseada no modelo dos países como Hong Kong e Singapura

A elaboração do Export Processing Zone Act em 1970 (EPZ) que converteu a

ilha numa zona de exportação com concessão de incentivos para a promoção

do desenvolvimento de actividades de exportação. Durante três décadas,

houve coexistência de uma estratégia de substituição de importações pela

produção nacional com o desenvolvimento de uma política de exportação

desses produtos nacionais, o que permitiu a diversificação da economia, a

criação de uma cultura industrial, a criação de uma política comercial

vocacionada para as exportações, com impacto a nível de emprego e de

crescimento do país. Refira-se que contrariamente ao modelo desenvolvido

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

106

nos anos 70, o modelo adoptado pelas Maurícias teve sucesso por se ter

escolhido de forma inteligente os produtos a serem produzidos localmente, não

numa óptica de evitar importações a qualquer custo mas sim numa perspectiva

de agregar competências únicas a factores de produção distintivos, permitindo

uma diferenciação face à concorrência.

Para além do desenvolvimento da infraestrutura, o país deu prioridade às PMEs que

foram a principal fonte de criação de emprego durante a crise económica e financeira.

Hoje o Estado continua com o mesmo modelo de políticas de incentivos, aumentando

as ajudas aos sectores exportadores, em particular o sector têxtil e as confecções que

sofreram muito durante a crise e com o fim do acordo multifibras em 2005.

No âmbito dos esforços que estão a ser desenvolvidos para melhorar a capacidade do

país para ultrapassar o fenómeno da globalização, o país está a equipar-se com um

sistema de informação sobre a produção e a comercialização de produtos agro-

alimentares, permitindo aos agricultores e aos criadores de gado optimizarem o

volume de negócios. Os poderes públicos estão também a ajudar as cooperativas do

sector do açúcar a obterem a marca Fair Trade da UE, o que lhes permitirá receber

um bónus de 60 USD por tonelada de açúcar.

Resultados e Ambições

Em 2010, o país ocupava a 20ª posição no ranking do Doing Business do Banco

Mundial. O rendimento médio per capita aumentou progressivamente, atingindo 7.100

USD em 2009, correspondendo a quatro vezes o valor médio do continente africano.

Apesar do crescimento do PIB em 2009 ter caído para mínimos históricos (3,1%), em

2010 já atingia 4,1% e estima-se um valor idêntico para 2011. Em 2008, a indústria de

produtos manufacturados representava 19% do PIB, 23% do emprego total e 85% das

exportações do país, com 810 empresas de média e grande dimensão com mais de 10

trabalhadores e 13.000 micro ou pequenas empresas (com menos de 10

trabalhadores). O crescimento anual da indústria de manufacturas tem sido desde1969

em média de 5% a 6%, o que tem contribuído muito para a melhoria da distribuição de

rendimentos no país e melhorado a sua infraestrutura.

O país atraiu entre 2004 e 2007 mais IDE que o stock acumulado de IDE nos 25 anos

anteriores. Cite-se a título de exemplo o caso do IDE vindo da Índia devido a um

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

107

tratamento fiscal especial que permite que os investimentos estrangeiros na Índia de

empresas sediadas nas Maurícias possam usufruir do regime fiscal das Maurícias e

serem taxadas pela lei do país a valores muito inferiores aos da Índia. Assim, muitos

investimentos são realizados na Índia através das Maurícias nos sectores do cimento,

equipamento eléctrico, telecomunicações e sector financeiro, permitindo ao país

competir globalmente em sectores de forte valor acrescentado.

O sector industrial tornou-se num pilar importante da economia, permitindo a

diversificação da sua base, a criação de oportunidades de emprego, a substituição das

importações, poupança em divisas, aumento de exportações, e criação de ganhos

cambiais.

A economia está também a vocacionar-se para a transformação do pescado, as TICs

e o imobiliário. Nos últimos anos, empresas de alta tecnologia lançaram-se na

produção de componentes para a indústria aeroespacial e componentes sofisticados

para o sector clínico e de precisão para o sector dos plásticos e moldes.

O facto do país ser actualmente membro de várias organizações regionais (COMESA,

SADC, IOR-ARC, IOC) tem também contribuído para posicionar o país como um

interface chave entre a Ásia e as regiões do sul e do este de África. Esta situação tem

sido reforçada pelo sector financeiro, que pelo seu elevado grau de desempenho tem

permitido ao país posicionar-se como uma plataforma de investimento ligando a África

de leste à Índia e à China.

Ambições

O país pretende evoluir do sector agrícola e da área industrial de fraca qualificação e

valor acrescentado para sectores altamente qualificados. O país pretende tornar-se

numa ciber-ilha, plataforma tecnológica da região, e exemplo máximo da tecnologia de

informação e comunicação (que o governo pretende adoptar como 5º pilar da

economia), e num centro de excelência na área da educação, formação e saúde como

Singapura ou Malásia. O país quer ainda desenvolver uma política de crescimento

responsável e sustentável, adequada às novas exigências do meio ambiente.

O país possui hoje redes de comunicação de ponta, e quer seguir o exemplo de

Bangalore, na Índia, tornando-se o centro das tecnologias de informação da região,

apoiando-se numa mão-de-obra que domina simultaneamente as línguas francesa e

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

108

inglesa. As Maurícias investiram também num cabo submarino de comunicações em

fibra óptica que liga o Este Asiático à África do Sul e está a modificar a legislação

laboral de forma a atrair os investidores. A Índia acordou-lhe um empréstimo de 100

milhões de USD a uma taxa de juro reduzida para a construção da ciber-cidade,

projecto que se estima irá criar bens no sector das TICs e criará 5.000 empregos.

Lições Aprendidas

O país focalizou-se no comércio internacional, usufruindo de um acesso

privilegiado a parceiros da UE no sector do açúcar, nas confecções e nos

têxteis, resultando em subsídios para as exportações e ganhos cambiais.

O regime liberal para atrair IDE utilizou incentivos, um regime especial para as

empresas exportadoras a nível da legislação laboral e dos impostos

alfandegários e a criação de EPZs. Refira-se a título de exemplo que a taxa de

imposto sobre o rendimento para as empresas é de 15% com um bónus de

10% para os investidores estrangeiros (taxa efectiva de 5%).

Para combater a reduzida dimensão do país, o governo apostou numa forte

capacidade de liderança do Governo e das suas instituições. Adicionalmente, o

sector público e privado mantêm uma estreita colaboração em inúmeras áreas.

O sector público formulou e implementou políticas sectoriais para estimular o

sector privado que respondeu aderindo, como foi o caso dos protocolos na

área do açúcar, na criação das EPZs e no turismo. O governo actuou sempre

como facilitador da expansão do sector privado.

Devido à política proteccionista anterior, a economia tinha-se tornado

demasiado dependente das zonas francas estabelecidas pelo governo no fim

dos anos 80. No entanto, a legislação flexível e preferencial dessas zonas teve

um impacto inegável sobre outros sectores, possibilitando a sua diversificação

e desenvolvimento. Até 2002, as zonas francas representavam 60% das

exportações do país.

O sector privado teve e tem um papel fundamental no processo de formulação

das políticas do país. Todas as delegações do país presentes em organizações

internacionais têm um membro do sector privado no grupo de trabalho.

O governo levou a cabo reformas para aliviar os problemas que existiam e que

condicionavam o desenvolvimento industrial:

Taxas de juro elevadas

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

109

Procedimentos burocráticos com atrasos para autorização de IDE

Autorização por parte do Banco Central para concessões de

empréstimos

Autorizações de trabalho

Acesso a financiamento pelas PMES; e

Custos de frete marítimos

O país soube desde muito cedo ter uma atitude aberta e de adaptabilidade a

novas ideias desenvolvendo actividades fora da área tradicional como na área

das TICs, no sector da iluminação, dos serviços financeiros e offshore. O

sucesso deveu-se a um planeamento cuidado e de políticas adequadas que

têm permitido ao país resistir ao fim do acordo multifibras e aos efeitos da tripla

crise desde 2007, conforme será referido no Capítulo 8 – Principais

Conclusões.

Em conclusão, o sucesso do país deve-se à conjugação dos seguintes esforços:

1. Consenso entre a classe política indiana e a elite empresarial franco-maurícia

do país gerindo os vários interesses étnicos e a combinação de instituições

flexíveis e o forte interface entre os sectores público e privado, que se traduziu

na criação do Conselho Económico Conjunto

2. Os rendimentos gerados nos anos 70 e 80 foram colocados em produtos de

poupança e não dedicados ao consumo, com disciplina fiscal, taxas de câmbio

competitivas e endividamento público a níveis moderados

3. Abertura ao IDE nas confecções e têxteis e no turismo e um bom clima de

investimento e de negócios desde muito cedo (EPZs)

4. Capacidade de aceder aos mercados de países desenvolvidos através das

exportações, com uma política fiscal inteligente (caso do IDE para a Índia

através do país).

12 PRINCIPAIS CONCLUSÕES

Cabo Verde como todos os países de África sofreu custos económicos e sociais com

os 3 choques recentes, de forte intensidade e interligados entre eles:

O aumento do preço dos produtos alimentares

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

110

O aumento do preço da energia; e

A crise económica e financeira mundial desencadeada pelos acontecimentos

nos mercados imobiliários nos EUA em fins de 2007

A taxa de crescimento do PIB passou de 10,8% em 2006 para 3,6% em 2009,

comprometendo de alguma forma as perspectivas iniciais de se atingirem os

objectivos do Millenium para o desenvolvimento em 2010. A crise serviu também de

lição para lembrar que Cabo Verde é muito sensível aos choques externos e que é

necessário diversificar a estrutura de produção e de exportação do país para poder

absorver melhor os choques. O governo também identificou que o bom

desenvolvimento nas tecnologias de informação e comunicação era necessário mas

não suficiente para provocar uma mudança no desenvolvimento económico de forma a

possibilitar que a indústria passasse de actividades de baixa produtividade e reduzido

valor acrescentado a actividades de forte produtividade e alto valor acrescentado. Era

necessária uma mudança estrutural no país que o governo tem hoje por missão

desenvolver através de um conjunto de reformas e em que o sector industrial terá um

papel fundamental como motor da economia.

O governo estabeleceu um programa de reformas a fim de liberalizar e diversificar a

economia do país, o que permitiu estabelecer uma certa estabilidade macroeconómica

com uma taxa de inflação reduzida, uma credibilidade internacional forte e uma taxa

de câmbio com o Euro fixa e forte.

Apesar dos progressos realizados, o país tem sido confrontado com um conjunto de

obstáculos. Com a sua passagem a país de rendimento médio, Cabo Verde enfrenta

uma redução do acesso a empréstimos concessionais e solicitou uma extensão para o

período de 2012 a 2015, a fim de aceder aos instrumentos inerentes aos países

menos avançados, no pressuposto de que aquele espaço de tempo será suficiente

para ultrapassar os principais estrangulamentos estruturais.

A taxa de desemprego, segundo o INE atingiu em 2009 os 13,2% da força de trabalho.

Nesse ano, a repartição dos rendimentos ainda era desigual com 24% da população

ainda considerada pobre segundo o relatório de 2010 das Nações Unidas sobre o

índice de desenvolvimento humano.

Apesar das tentativas de utilizar a sua situação geopolítica e a estabilidade económica

para encontrar novos parceiros, os parceiros comerciais, bem como os investidores,

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

111

continuam a ser maioritariamente europeus. A diversificação tem sido mais lenta do

que o previsto pelo governo. Poucas empresas do país exportam (com um número

reduzido de produtos), o que causa um deficit comercial importante. As que exportam

limitam-se a um número de países restrito (Espanha, Canárias, Portugal, Brasil, EUA),

o que as torna vulneráveis às flutuações do mercado.

A produtividade do trabalho é relativamente elevada. As empresas industriais de Cabo

Verde são na realidade muito mais produtivas que as suas homólogas em países com

níveis de rendimento semelhantes. No entanto a produtividade é inferior se comparada

com a dos países de rendimento médio elevado como as Ilhas Maurícias, as Maldivas

ou a África do Sul. Refira-se também que só 6% das empresas industriais exportam.

Essa situação pode ser explicada pelos seguintes factores:

A maior parte das empresas do país são micro ou pequenas empresas, com

menos de 10 trabalhadores e portanto não podem suportar os custos pesados

inerentes a operações de exportação

Apesar de uma produtividade elevada por trabalhador, o custo da mão-de-obra

é relativamente importante. Na realidade, o custo do trabalho no país é

bastante elevado quando comparado com países semelhantes, o que penaliza

consideravelmente a competitividade internacional do país.

O isolamento geográfico do país e das principais rotas marítimas são outro

obstáculo. Os dados indicam também que os procedimentos alfandegários e a

burocracia nos portos são lentos e ineficazes, o que desincentiva

consideravelmente as exportações.

Apresentam-se de seguida de forma resumida as principais conclusões do estudo:

1. A indústria de manufactura em Cabo Verde representou só 9,3% do PIB em

2009 (face aos 20% no continente africano) e tem vindo a perder peso ao longo

dos últimos 10 anos

2. O índice de desempenho da competitividade industrial (IDCI) elaborado pela

ONUDI situou-se em 2009 nos 20,8 colocando Cabo Verde na 7ª posição do

ranking dos 11 países analisados (perdendo 2 lugares em 10 anos)

3. O VAM do país é inferior ao VAM dos 11 países analisados apesar de ter tido a

maior taxa anual de crescimento (5,5% no período em análise) e um VAM per

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

112

capita de 150 USD em 2009 (face a 112 USD em 2000), próximo da barreira

dos 200 USD

4. A quota de mercado do país a nível mundial nos produtos manufacturados

(RN, BT, MT ou AT) não tem expressão

5. O país tem uma forte concentração em 2 mercados: Espanha e Portugal que

perfazem mais de 90% das exportações manufactureiras do país, reflectido no

fraco valor do índice IDM

6. O país tem uma forte concentração em 3 produtos principais: transformação do

pescado, confecções e calçado, em que o primeiro representa quase 50% do

total dos produtos manufacturados exportados e a globalidade dos três

representam 90%, reflectido no fraco valor do índice IDP

7. O país possui uma produtividade acima da média face aos países analisados

mas com um custo laboral elevado

8. Os produtos manufacturados MAT representaram em 2009 27% do total dos

produtos manufacturados no país, colocando Cabo Verde na 6ª posição no

ranking dos países analisados, devido principalmente a área farmacêutica e de

medicamentos mas o peso diminuiu ao longo dos anos (o peso era de 30% em

2000).

9. Os produtos manufacturados representam uma parte considerável das

exportações do país mas o peso diminuiu ao longo dos anos (93 % em 2000

para 60% em 2009).

10. O país não progrediu na área dos produtos manufacturados MAT. O peso

destes produtos no valor das exportações de produtos manufacturados do país

ronda os 0% em 2009 face a 4,8% em 2000.

11. Cabo Verde encontra-se ainda num estado de desenvolvimento industrial

pouco avançado com actividades de manufactura baseadas em RN e BT, com

uma intervenção forte de mão-de-obra

12. Mesmo os sectores de forte intensidade de mão-de-obra (têxtil, confecções,

couro) têm um peso médio na indústria de produtos manufacturados de Cabo

Verde, tanto do ponto de vista da produção local como das exportações.

13. As actividades industriais de manufactura consideradas de cariz tecnológico

baixo (RN e BT) são constituídas principalmente por 3 famílias de produtos: a

transformação do pescado e marisco, as confecções, calçado e suas partes,

bebidas e licores

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

113

14. O mercado nacional sendo exíguo, a quase totalidade da produção de produtos

manufacturados é para exportação (95%)

15. A certificação na área da qualidade e do ambiente é inexistente no país

16. Cabo Verde, no ensino primário e secundário, possui taxas de cobertura

superiores a 80% e 60% respectivamente e tem sido dos países que mais tem

apostado na educação ao longo dos últimos 10 anos, ocupando a 1ª e 3ª

posição respectivamente em 2000 e 2009 na análise realizada

17. Os fluxos de IDE registaram um forte aumento nos últimos anos, tendo

passado de 33 milhões de USD em 2000 para 212 milhões em 2008 e têm-se

concentrado fortemente no sector do turismo e hotelaria, a indústria perdendo

progressivamente peso e representando hoje apenas cerca de 2% no total do

IDE (através das confecções, calçado e transformação do pescado). Portugal,

Itália, Irlanda, Espanha e Reino Unido destacam-se como principais mercados

emissores de investimento directo estrangeiro no país.

18. O ambiente de negócios em Cabo Verde progrediu, tendo o país ganho dez

posições em 2010, estando agora na 132ª posição no ranking do Doing

Business do Banco Mundial.

19. Ao nível das infraestruturas tecnológicas de telecomunicações e de interligação

às redes de acesso e de comutação, Cabo Verde possui um cabo submarino –

anel de fibra óptica inter-ilhas, acesso ao cabo submarino Atlantis 2, à rede

terrestre de fibra óptica (505 km) e às comunicações via satélite (alternativa ao

cabo Atlantis 2).

20. Cabo Verde passou de uma taxa de assinantes da rede móvel de 4,49% em

2000 para 77,53% em 2009 comparativamente ao indicador de penetração da

rede telefónica fixa que foi de 14,9% no mesmo ano.

21. O crescimento do número de utilizadores da Internet no país tem sido

exponencial (1,82% em 2000 e 29,67% em 2009) e Cabo Verde já pertence ao

grupo dos 4 primeiros países da frente conjuntamente com Malta, Tunísia e

Marrocos.

13 DESAFIOS E OPORTUNIDADES

Comparada com outras economias de outros países da região subsaariana de

rendimento médio, a economia de Cabo Verde registou resultados bastante

satisfatórios nos últimos 10 anos, obtendo uma produtividade bastante forte, uma

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

114

política macroeconómica credível e por conseguinte uma boa estabilidade

macroeconómica.

No entanto, o país tem de fazer face ao grande desafio colocado pela fraca propensão

à exportação. Se bem que em parte isso seja devido a causas estruturais conforme já

mencionado, tais como a insularidade, o número muito importante de pequenas e

micro empresas, entre outras, Cabo Verde ainda exporta muito pouco quando

comparado com outras economias insulares como as Maldivas ou as Ilhas Maurícias.

As vantagens para o país de uma aposta na indústria manufactureira seriam de vária

ordem :

Como fonte de tecnologia e de inovação que são essenciais ao

desenvolvimento da economia

Possibilitar a I&D associadas às empresas industriais e assim dinamizar a área

em Cabo Verde em parceria com as instituições de ensino e os institutos

sectoriais

Como meio de disseminação de novas tecnologias noutros sectores da

economia

Criar um efeito de sinergia a montante e jusante nos sectores da economia em

termos da procura (sector agrícola, turismo, agro-industrial, banca e serviços,

transportes, seguros, electricidade, telecomunicações) alavancando o

crescimento destes sectores e contribuindo para o investimento nacional, a

criação de emprego, de competências e conhecimento e a criação de riqueza

no país

Durante as entrevistas, os stakeholders mencionaram quatro áreas de impacto

fundamental sobre a competitividade industrial de Cabo Verde: a infraestrutura, a

governança, as competências e a tecnologia. De forma não exaustiva foram referidos

alguns factores críticos relativos a essas áreas:

Infraestrutura

Melhorar o desempenho do sector da energia: a electricidade é considerada

uma das condicionantes mais importantes no país

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

115

Reduzir as barreiras comerciais e tarifárias: apesar de Cabo Verde ter um

regime comercial liberal, as taxas ainda continuam acima dos standards

internacionais

Melhorar o desempenho das redes de portos: um obstáculo principal à

exportação é o tempo demasiado longo e a ineficácia dos procedimentos nas

alfândegas

A eliminação destas condicionantes permitirão reduzir o custo do trabalho pois apesar

da produtividade ser elevada, o custo relativo do trabalho relativamente à

produtividade é igualmente muito alto.

Competências e recursos humanos

Mão-de-obra especializada: num contexto internacional caracterizado pelo

progresso tecnológico e a difusão das tecnologias de informação, a

competitividade requer competências na área das ciências tecnológicas,

engenharia mecânica, engenharia electrotécnica, engenharia informática e as

ciências em geral, a nível profissionalizante e superior.

Formação: uma melhoria nas formações e na educação profissionalizante e

universitária seriam igualmente reformas benéficas a médio prazo

Legislação laboral mais flexível: afim de tornar as empresas mais competitivas

nos mercados internacionais, é necessário tornar a legislação laboral mais

flexível.

Tecnologia

Aposta em sectores de maior valor acrescentado: Cabo Verde deverá

aproveitar o forte envolvimento na área das TIC em termos de adesão às

tecnologias e da sua utilização (conforme consta no Índice de Oportunidade

Digital (DOI)7 elaborado pela UIT), para sustentar o desenvolvimento de

actividades de maior valor acrescentado, onde as tecnologias desempenham

um papel fundamental

7 http://www.itu.int/ITU-D/ict/doi/index.html

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

116

Governança

Em todo o processo, o governo terá um papel preponderante a desempenhar

como aconteceu com as Maurícias, através de uma política forte a nível

industrial, implicando uma vontade política ao mais alto nível e uma

coordenação entre os vários ministérios e administrações públicas, controlando

e avaliando os resultados, através de critérios definidos e divulgados.

Assim, são vários os desafios do governo para eliminar as condicionantes que

impedem o desenvolvimento da indústria manufactureira no país. Alguns objectivos

sugeridos são apresentados de seguida:

Escolher os sectores chave com vantagens comparativas, promover o IDE

junto de países que serão alvo de uma selecção criteriosa, desenvolvendo

programas de incubação de empresas para cativar as empresas privadas a

aderirem aos sectores designados. Atrair os empreendedores para os sectores

escolhidos, através de medidas para reduzir os custos de transacção

comerciais.

Implementar reformas selectivas para melhorar a competitividade e as

capacidades das empresas nacionais e promover a mudança estrutural em

sectores escolhidos, dinamizando o sector industrial e alavancando as

exportações, melhorando o desempenho das empresas e da economia em

geral.

Privilegiar sectores e ou indústrias com apoios sectoriais, nomeadamente na

área da certificação da qualidade e do ambiente e facultando o acesso

privilegiado e facilitado ao financiamento às empresas.

Apoiar as empresas através de incentivos fiscais ou de créditos bonificados

que lhes permitam alavancar o investimento em novos produtos, exportarem e

internacionalizarem-se

Apoiar actividades entre sectores, por exemplo através de I&D ou financiando

actividades inovadoras.

Nesse sentido, o governo poderá adoptar uma política industrial alicerçada em sete

medidas principais:

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

117

1. Políticas Tecnológicas e de Inovação. Criação de clusters ou de pólos de

competitividade, através da criação de pólos industriais permitindo economias de

escala e criando massa crítica, como por exemplo o cluster do mar, captando

capacidades tecnológicas (através da criação local das competências necessárias ou

através de IDE, de aquisição de licenças ou de bens de equipamento) promovendo a

ciência, a tecnologia e a inovação. Explorar e reforçar as complementaridades entre o

sector agrícola e a indústria.

2. Políticas de Educação e de Formação. Formação aos recursos humanos das

PMEs para produzirem produtos com qualidade, rapidez e eficácia e estarem

preparados para as mudanças tecnológicas, o processo da gestão da inovação e a

concorrência global. Criação de organismos de certificação e de testes e apoio à I&D

nas empresas. Desenvolvimento de cursos técnicos e científicos no ensino médio e

superior capazes de responder às necessidades do mercado e de formar uma mão-

de-obra qualificada indispensável à industrialização do país.

3. Políticas de Apoio Financeiro. Financiamento do desenvolvimento industrial

através da concepção e aplicação de políticas destinadas a apoiar o desenvolvimento

industrial, mobilizando e afectando os recursos necessários e envolvendo o sector

público e privado.

4. Políticas Comerciais. Promoção das exportações através de uma política

económica de abertura baseada na exportação com integração comercial e criação de

cadeias de valor integradas no plano regional e forte colaboração entre as empresas.

5. Políticas de Captação de IDE. Captação de IDE através da criação de parques

tecnológicos ou de zonas francas para atrair empresas estrangeiras e nacionais a

investirem nos sectores definidos.

6, Políticas de Relacionamento Regional. Intensificar o relacionamento com os

países da CEDEAO no sentido de garantir um mercado privilegiado para os produtos

manufacturados de baixa e média tecnologia.

7. Políticas de Responsabilidade Social. Adoptar regras de produção amigas do

meio ambiente, adoptando tecnologias e novos métodos de produção bem como os

processos e a formação adequados.

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

118

BIBLIOGRAFIA

African Development Bank (AfDB)/OECD 2008 Economic Outlook, Cape Verde African Development Bank, African Development Fund: Republic of Cape Verde Country

Strategy Paper, 2009-2012; Regional–West 2 Department (ORWB), September 2009

Ampah, M., Camos, D., Briceño-Garmendia, C., Minges, M., Shkratan M., and Williams, M., (2009) Africa Infrastructure Country Diagnostic (AICD) Background Paper 10. Information and Technology in Sub-Saharan Africa: A Sector Review. Washington, DC.

Albaladejo, M. (2003); Working Paper Number 10; Industrial Realities in Nígeria: From Bad to

Worse Andries Bezuidenhout, University of the Witwatersrand in association with the NEDLAC

Research Department (National Economic Development&Labour Council, South Africa): An evaluation of industrial Policy Perspectives in the south African context – case studies: Malaysia, Mauritius and Ireland, March 2002

BAD, OCDE, PNUD, CEA (2011) : Pespectives Économiques en Afrique BAD, OCDE, PNUD, UNECA (2011); Perspectives économiques en Afrique 2011 Thème

Spécial: L'Afrique et ses partenaires émergents Banco de Cabo Verde, Relatório Anual de 2009: Capítulo 1 - Evolução Económica e Monetária Banco de Cabo Verde, Relatório Anual de 2008: Capítulo 1 - Evolução Económica e Monetária Banco de Cabo Verde, Relatório Anual de 2007: Capítulo 1 - Evolução Económica e Monetária Banco de Cabo Verde, Relatório Anual de 2006: Capítulo 1 - Desenvolvimento Económico e

Política Monetária Banco de Cabo Verde, Departamento de Estudos Económicos e Estatísticas, Indicadores

Económicos e Financeiros, Maio 2011 Banque Mondiale (2006). Royaume du Maroc : promouvoir la croissance et l’emploi par la

diversification productive et la compétitivité, mémorandum économique pays, World Bank, Washington DC

Bartels F. and Lederer S., Changing Patterns in Industrial Performance, A UNIDO Competitive

Industrial Performance Perspective: Implications for Industrial Development, Research and Statistics Branch, working paper 05/2009, 2009

Boston Consulting Group (BCG) (2010). The African Challengers : Global Competitors Emerge

from the Overlooked Continent Central Institute for Economic Management, Asia Competitiveness Institute, National University

of Singapore, Christian Ketels C., Nguyen C., Nguyen T., Do H.; Vietnam Competitiveness Report, 2010

Cabo Verde 2016: Programa do Governo para a VIII Legislatura, 2011-2016 Cecilia M. Briceño-Garmendia; Daniel Alberto Benitez: Relatório do Banco Mundial de Junho de

2011 intitulado Cape Verde’s Infrastructure, A Continental Approach

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

119

Chuhan-Pole P., Angwafo M., Yes Africa Can, Success Stories from a Dynamic Continent, The

World Bank, 2011 Commission Économique des Nations Unies pour l'Afrique (CEA), Rapport économique sur

l’Afrique 2011 - Gérer le développement: Le rôle de l’État dans la transformation économique

Commission Économique des Nations Unies pour l'Afrique (CEA), Rapport économique sur

l’Afrique 2010 – Promouvoir une croissance forte et durable pour réduire le chômage en Afrique

Commission Économique des Nations Unies pour l'Afrique (CEA), Rapport économique sur

l’Afrique 2005: Relever le défi posé par le chômage et la pauvreté en Afrique Commission Économique des Nations Unies pour l'Afrique (CEA), Union Africaine ; Rapport

économique sur l’Afrique 2003 – Accélérer le rythme de développement Development Policy Research Unit University of Cape Town, South Africa, Policy for Industrial

Development: A Case Study of the Clothing Industry in Mauritius, DPRU Policy Brief nº 02/P21, March 2002

Economic Policy Department, Ministry of Finance, the Economy and Investment of Malta,

Economic Survey, October, 2010 Ernst & Young's 2011 Africa attractiveness survey, It' s time for Africa; 2011 Espírito Santo Research, Inovação e Internacionalização, Relações Comerciais Portugal –

Cabo Verde, Oportunidades de Exportação de Mercadorias, Outubro 2010 European Commission; Directorate-General for Research – International Cooperation (INCO):

The Changing face of EU-African cooperation in science and technology Financial Times, This is Africa, A Global Perspective, March 2009: A Digital Generation Financial Times, fDiIntelligence: FDI trends, Manufacturing dominates business activity in 2010,

April/May 2011 Financial Times, fDiIntelligence: African Countries of the Future, August/September 2011 Financial Times, FDI Global Outlook Report 2011, Manufacturing makes a comeback Fonds monétaire international (FMI) Perspectives économiques régionales, Afrique

subsaharienne, Reprise et nouveaux risques, Avril 2011, Édition française Fond Monétaire International (FMI), rapport nº8/221, Sénégal: Questions Générales, 2008 Global Business Policy Council, A.T. Kearney, Inc.: Investing in a Rebound: The 2010 A.T.

Kearney FDI Confidence Index Instituto Nacional de Estatística de Cabo Verde (INE), Inquérito anual às empresas, 2008 Instituto Nacional de Estatística de Cabo Verde (INE), III.º Recenseamento Empresarial, 2007 International Telecommunication Union (ITU), Partnership on Measuring ICT for Development,

Core ICT Indicators 2010 International Telecommunication Union (ITU), Measuring the Information Society 2010; ITU – D

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

120

International Telecommunications Union (ITU). 2010. World Telecommunications/ ICT indicators Database

Kaplinsky R., McCormick D, Morris M. (2008); China and Sub Saharan Africa: Impacts and

Challenges of a Growing Relationship, SAIS Working Papers in African Studies, African Studies Program, The Johns Hopkins University, Paul H. Nitze School of Advanced International Studies, Washington, DC

La Documentation Française, Questions Internationales, L’Afrique en Mouvement, nº 33

septembre-octobre 2008

Lin, J. Y., and J. Chang (2008) DPR Debate: Should Industrial Policy in Developing Countries Conform to Comparative Advantage or Defy it? , Development Policy Review, 27(5), 483-502

Ministère de l’Economie et des Finances du Sénégal: Rapport national sur la compétitivité du Sénégal, Avril 2011

Mckinsey Global Institute; Lions on the move: the progress and potential of African economies,

June 2010 National Programme on Sustainable Consumption and Production (SCP) for Mauritius (2008-

2013) OECD, Aid for Trade at a Glance 2009: Cape Verde Case Story OECD, African Economic Outlook 2011 Africa and its Emerging Partners OECD, African

Development Bank, United Nations Economic Commission for Africa (UNECA), United Nations Program Development.

OECD Trade Policy Working Papers, No. 121, OECD Publishing, Kowalski, P. (2011),

“Comparative Advantage and Trade Performance: Policy Implications” OECD Science, Technology and Industry Scoreboard 2011, Innovation and Growth in

Knowledge Economies ONU, Afrique Renouveau, Vol.18#3 (Octobre 2004) Petersen I., Human Sciences Research Council, South Africa; Project data source document;

Innovation in sub-Saharan Africa: Competitiveness, Capability and Achievements in South Africa, Nígeria and Uganda, April 2008

Republic of Mauritius Industrial and SME Strategic Plan 2010 – 2013 Rodrik, D. (2005) Growth Strategies, in P. Aghion and S. Durlauf, eds., Handbook of Economic

Growth, vol. 1A, North-Holland.

Rodrik, D. (2005) Industrial policy: Don’t ask why, ask how, Middle East Development Journal, Demo Issue (2008) 1–29

The African Union Commission (AUC) and the United Nations Economic Commission for Africa (UNECA), Experts Group Meeting on the Implementation Strategy for the Accelerated Industrial

Development of Africa (AIDA), Addis Abeba, Ethiopia., Étude de cas : La politique industrielle au Sénégal, Octobre 2010

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

121

The African Capacity Building Foundation, Africa Capacity Indicators 2011: Capacity development in fragile states, 2011

The African Capacity Building Foundation: Africa Capacity Indicators 2011 The Economist Intelligence Unit (EIU): Banking in Sub-Saharan Africa to 2020, Promising

frontiers The Economist Intelligence Unit (EIU): Cape Verde country profile The Economist Intelligence Unit (EIU), Banking in Sub-Saharan Africa to 2020: Promising

frontiers, 2011 The International Bank for Reconstruction and Development / The World Bank/IFC, Doing

Business Project, Doing Business 2011, Making a difference for entrepreneurs, Comparing Business Regulation in 183 Economies, 2010

The International Bank for Reconstruction and Development / The World Bank/IFC, Doing

Business Project, Doing Business 2010, Reforming through difficult times, Comparing Business Regulation in 183 Economies, 2009

The International Bank for Reconstruction and Development / The World Bank, Doing Business

Project, Doing Business 2008 Cape Verde, A Project Benchmarking the Regulatory Cost of Doing Business in 178 Economies, 2008

The World Bank, Multilateral Investment Guarantee Agency (MIGA), Snapshot Africa

Benchmarking FDI Competitiveness in Sub-Saharan African Countries, January 2007 The World Bank, Development Economics Research Group, Africa Region Human

Development Department, Accelerating Catch-Up: Tertiary Education for Growth in Sub-Saharan Africa, October 2008

The World Bank, Doing Business in small islands developing states 2009, November 2008 The World Bank, Benno J. Ndulu, Challenges of African Growth: Opportunities, Constraints, and

Strategic Directions, 2007 The World Bank, Africa Success Stories Project, Ali Zafar, Mauritius: An Economic Success

Story, January 2011 The World Bank, Région Afrique, Département du Secteur Privé, L’Évaluation du Climat

d’Investissement de l’Ile Maurice, Note nº 17, Août 2006 The World Bank, Région Afrique, Département du Secteur Privé, L’Évaluation du Climat

d’Investissement du Cap Vert, Note nº 21, Août 2006 The World Bank, Desenvolvimento do Sector Financeiro e Privado, AFTFP, Departamento do

País AFCF1, Região de África, Relatório No. 58551 – CV: Cabo Verde: Avaliação Inicial do Mercado de Trabalho Formal, 2010

The World Bank, Public Expenditure Review (In Two Volumes) Volume II: Background

Chapters, PREM 4, Africa Region, Report No. 44350-CV, Cape Verde: Enhancing Planning to Increase Efficiency of Public Spending, February 2009

The World Bank, Report No. 36483 – NG, Nígeria: Competitiveness and Growth, May 30, 2007 The World Bank/IFC, report nº 45253, Enterprise Surveys - Country Profile: Cape Verde, 2006

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

122

The World Bank Africa’s Pulse Team: Africa’s Pulse, April 2011, Volume 3 The World Bank, Africa Region Sustainable Development Department, June 2011, Policy

Research Working Paper 5687 United Nations, Office of the Special Adviser on Africa, Africa’s Cooperation with New and

Emerging Development Partners: Options for Africa’s Development, 2010

UNCTAD, Examen de la Politique de l’Investissement : Maroc, 2008 UNCTAD Handbook of Statistics, 2010 UNCTAD, Enhancing the Role of Domestic Financial Resources in Africa’s Development, A

policy handbook, 2009 UNCTAD, World Investment Report 2010: Investing in a low-carbon economy UNCTAD, Rapport 2010 sur la technologie et l’innovation; renforcer la sécurité alimentaire en

Afrique grâce à la science, à la technologie et à l’innovation, 2009 Unesco/ Unesco - Breda, Institute for Statistics; Financing Education in Sub-Saharan Africa:

Meeting the Challenges of Expansion, Equity and Quality, 2011 UNIDO – UNCTAD: Economic Development in Africa – 2011 Report: Fostering Industrial

Development in Africa in the New Global Environment UNIDO, Industrial Development Report (IDR), 2009: Breaking in and moving up: New Industrial

Challenges for the Bottom Billion and the Middle-Income Countries, UNIDO, Vienna: see also www.unido.org/idr

UNIDO, Industrial Development Report (IDR), 2005: Capability building for catching-up:

Historical, empirical and policy dimensions, UNIDO, Vienna: see also www.unido.org/idr UNIDO, Industrial Development Report (IDR), 2002-2003: Competing through innovation and

learning, UNIDO, Vienna: see also www.unido.org/idr UNIDO (2002), Guide méthodologique: restructuration, mise à niveau et compétitivité

industrielle, ONUDI, Vienne UNIDO; Making it, Cape Verde: the graduate

UNIDO database and the United Nations Statistics Division (UNSD) USAID support for industrial diversification in Mauritius, REDSO, Nairobi, Kenya Vinaye Dey Ancharaz, Department of Economics and Statistics, Faculty of Social Studies and

Humanities, University of Mauritius, Réduit, MauritiusTrade Policy, Trade Liberalisation and Industrialization in Mauritius; Lessons for Sub-Saharan Africa, November 2003

Vivien Foster and Cecilia Briceño-Garmendia, Africa’s Infrastructure: a time for transformation,

2010 World Economic Forum, the World Bank and the African Development Bank: The Africa

Competitiveness Report 2011 World Economic Forum, the World Bank and the African Development Bank: The Africa

Competitiveness Report 2009

Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel

CPE – Centro de Políticas Estratégicas

Competitividade Industrial de Cabo Vede

123

World Economic Forum; The Global Competitiveness Report 2010-2011