centro de políticas estratégicas (cpe) · através de políticas públicas activas e em cujo...
TRANSCRIPT
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
1
Centro de Políticas Estratégicas (CPE)
Relatório sobre a Competitividade Industrial de Cabo Verde
Cabo Verde, 10 de Fevereiro de 2012
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
2
LISTA DE ABREVIATURAS _____________________________________________________________________
ACP
ADEI
AGOA
ANAC
AT
BT
CEDEAO
COMESA
CPE
CNUCED/
UNCTAD
CTCI
CVI
DOI
EPZ
IDA
IDE
ILO
IOC
IOR-ARC
INE
ISO
MAT
MNC
MT
African, Caribbean and Pacific
Agência para o Desenvolvimento Empresarial e Inovação
Africa Growth Opportunity Act
Agência Nacional das Comunicações
Alta Tecnologia
Baixa Tecnologia
Communauté Economique des Etats de l’Afrique de l’Ouest
Common Market for Eastern and Southern Africa
Centro de Políticas Estratégicas
Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o
Desenvolvimento
Classificação Tipo para o Comércio Internacional
Cabo Verde Investimentos
Digital Opportunity Index
Exporting Processing Zone
International Development Association
Investimento Directo Estrangeiro
International Labour Organization
Indian Ocean Commission
Indian Ocean Rim-Association for Regional Cooperation
Instituto Nacional de Estatística
International Standard Organisation
Média e Alta Tecnologia
Multinational company
Média Tecnologia
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
3
NOSI
OCDE
ONUDI/UNIDO
PIB
PIP
PME
PRM
I&D
RN
SADC
TIC
UE
UIT
UNcomtrade
VAM
Núcleo Operacional para a Sociedade de Informação
Organisation pour la Coopération et le Développement Economique
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
Produto Interno Bruto
Programa de Investimento Público
Pequena e Média Empresa
País de Rendimento Médio
Investigação e Desenvolvimento
Recursos Naturais
Southern African Development Community
Tecnologias da Informação e da Comunicação
União Europeia
Union Internationale des Télécommunications
United Nations Commodity Trade Statistics Database
Valor Acrescentado Manufactureiro
PREFÁCIO
O governo definiu como principais eixos estratégicos da política, o desenvolvimento de
um Programa de Investimentos Públicos (PIP) em infraestruturas ambicioso, a criação
de medidas de melhoria do ambiente de negócios, de criação de estratégias de
marketing e de certificação e a captação de fluxos de Investimento Directo Estrangeiro
(IDE), fundamental para a materialização do PIP uma vez que o país depende dos
financiamentos externos para os programas de investimento de grande dimensão.
O Centro de Políticas Estratégicas (CPE) foi criado com a atribuição de promover o
aumento da capacidade do país na concepção de políticas económicas e de gerir e
apoiar os decisores nacionais na implementação da estratégia de transformação do
país. Nesse contexto, o CPE em parceria com a Organização das Nações Unidas para
o Desenvolvimento Industrial (ONUDI), promoveu a realização de um estudo tendo em
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
4
vista o reforço da capacidade industrial de Cabo Verde e a sua transformação a longo
prazo, conscientes que a indústria é um dos factores críticos de sucesso dos países
desenvolvidos ou de países de rendimento médio (PRM) como Cabo Verde, fonte de
emprego, de criação de valor acrescentado, de aquisição de novas tecnologias,
conhecimento e formas de trabalhar, de exportação e internacionalização.
O estudo pretende apresentar a situação industrial do país a partir da informação
macroeconómica e assim estabelecer as bases necessárias para o desenho de uma
política industrial. O estudo insere a indústria nacional num ambiente mais vasto, de
países africanos e/ou de países com características de insularidade semelhantes. O
documento, apesar de não ser exaustivo na sua análise, apresenta de forma sucinta
os factores que afectam a competitividade industrial e sobre os quais se deverá actuar
através de políticas públicas activas e em cujo desenho e implementação será
imprescindível a participação do sector privado.
O documento foi originalmente analisado por vários intervenientes institucionais e
empresariais de forma a incorporar as suas sugestões e comentários e assim
enriquecer o conteúdo.
O presente documento e os futuros estudos a serem desenvolvidos pelo CPE em
parceria com a ONUDI pretendem estabelecer as bases de apoio ao desenvolvimento
industrial pelos empresários cabo-verdianos.
Objectivos e Abordagem
O estudo tem por objectivo realizar um diagnóstico do sector industrial de Cabo Verde,
na vertente da produção industrial, utilizando nesse sentido a metodologia da ONUDI,
conforme explicitada mais adiante.
Pretende-se caracterizar a evolução da competitividade industrial do país no período
entre 2000 e 2009, o posicionamento de Cabo Verde relativamente aos indicadores
chave da ONUDI, o impacto dos principais produtos industriais e a sua evolução no
sector, a atractividade por áreas de negócio industriais mas igualmente as principais
condicionantes que impedem um maior desenvolvimento da indústria no país.
A abordagem consistiu na utilização de bases de dados internacionais actualizadas
com informação relevante de 2000 a 2009 e integra análises sobre o desempenho de
sectores e produtos específicos da indústria.
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
5
De forma a complementar a informação quantitativa com uma vertente mais qualitativa
das operações no terreno, foram também realizadas reuniões com alguns dos
principais intervenientes do sector, a nível político, empresarial e associativo.
Por fim, face aos desafios actuais de Cabo Verde e considerando as tendências
globais da indústria, são igualmente tecidas algumas considerações relevantes,
inerentes a potenciais oportunidades futuras para a indústria do país.
AGRADECIMENTOS
O estudo sobre a Competitividade Industrial de Cabo Verde foi elaborado no âmbito do
programa de Apoio Institucional e Criação de Capacidade de Análise da
Competitividade em curso pela ONUDI em Cabo Verde, a decorrer com o Centro de
Políticas Estratégicas (CPE), em estreita colaboração com o Ministério da Indústria,
Turismo e Energia (MITE).
O estudo tem por base o curso de capacitação sobre indicadores de competitividade
realizado na Praia em 2010 e é o resultado do trabalho desenvolvido por uma equipa
de profissionais nacionais e internacionais. O trabalho foi realizado sob a direcção de
Manuel Pinheiro, Coordenador do Centro de Políticas Estratégicas, com a orientação e
monitorização de Manuel Albaladejo, Gestor de Projectos da ONUDI.
Luís Barreiros foi o principal assessor internacional da ONUDI na elaboração do
documento, apoiado pela consultora da ONUDI Marielena Ayala.
A análise realizada integrou os contributos dos técnicos dos vários Ministérios que
participaram na formação facultada pelos formadores da ONUDI em Cabo Verde em
2010 sobre indicadores de competitividade industrial e cadeias de valor e que
contribuíram em áreas específicas do relatório, nomeadamente Júlio Delgado e Elias
Pereira do Banco de Cabo Verde (BCV), Gil Costa, da Câmara de Comércio da
Indústria, Agricultura e Serviços de Barlavento (CCIASB), João Tavares, do Centro de
Políticas Estratégicas (CPE), Ludovina Évora Dias, do Sector Privado, José Manuel
Mendes e João Cardoso, do Instituto Nacional de Estatística (INE), Pedro Gomes
Estêvão e Jailson Jesus da Veiga Semedo, do Ministério da Indústria, Turismo e
Energia (MITE).
Os resultados preliminares do estudo foram apresentados no dia 22 de Novembro de
2010 durante o workshop de Celebração do Dia da Industrialização em África em que
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
6
estiveram presentes representantes dos vários organismos do Governo e do sector
privado.
Um especial agradecimento à ONUDI pelo apoio técnico e financeiro facultado, o qual
permitiu o desenvolvimento das competências técnicas e humanas necessárias para
medir os indicadores que ilustram o desempenho industrial do país. Finalmente, uma
menção especial a todas as instituições e pessoas que contribuíram directa ou
indirectamente na elaboração do presente estudo.
O presente documento servirá de consulta para a futura elaboração da Estratégia
Industrial de Cabo Verde.
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
7
SUMÁRIO EXECUTIVO
Introdução
Apesar de Cabo Verde já pertencer aos países de rendimento médio desde 2008 e de
investir anualmente cerca de 147 milhões de USD em infraestruturas (cerca de 15%
do PIB), um dos níveis mais elevados no continente africano, o desenvolvimento das
infraestruturas (transportes, energia eléctrica, água) no país ainda representa um
verdadeiro desafio e tem afectado a competitividade industrial de Cabo Verde avaliada
pelo índice de desempenho da competitividade industrial (IDCI) da ONUDI.
Índice de Desempenho da Competitividade Industrial (IDCI)
Em 2009, dos onze países em análise1, Cabo Verde, com um índice de desempenho
da competitividade industrial de 20,8 colocou-se em 7º lugar no ranking, tendo descido
2 lugares em relação ao ano 2000. Além disso, o valor diminuiu, passando de 26,1 em
2000 para 20,8 em 2009.
O Valor Acrescentado Manufacturado (VAM) de Cabo Verde em 2000 era de
49,35 milhões de USD, tendo atingido em 2009 o valor de 75,84 milhões de USD,
valor que reflecte um crescimento médio anual (a preços constantes) de 5.5%
entre 2000-2009, o segundo maior crescimento no período dos países analisados.
O valor do VAM em 2000 era muito reduzido devido à sua base industrial reduzida,
o que originou um crescimento acentuado em 10 anos.
Em 2009, o VAM/capita de Cabo Verde cifrou-se em 150 USD, valor acima de
países como a Argélia, Costa do Marfim, Senegal, Gana, Nigéria e Níger. O país
em 10 anos conseguiu subir 2 lugares no ranking dos 11 países.
As exportações manufactureiras de Cabo Verde passaram de 10 milhões de
USD em 2000 para 21 milhões de USD em 2009. No entanto, Cabo Verde ocupa a
última posição no ranking dos países analisados, tanto no ano 2000 como em
2009. Apesar do crescimento, o país continua a ter uma base industrial muito
reduzida e direccionada para a transformação do pescado que tem como destino o
mercado Europeu. Este incremento das exportações nesse período deveu-se ao
1 Senegal, Marrocos, Tunísia, Argélia, lhas Maurícias, Malta, Costa do Marfim, Gana, Níger e Nigéria
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
8
facto de existirem um número importante de empresas francas cuja produção foi
na quase totalidade direccionada para o mercado externo.
Cabo Verde, em termos de exportações manufactureiras per capita (23 USD em
2000 e 42 USD em 2009), não obstante um importante incremento, ocupou
sempre os últimos postos do ranking superando apenas o Gana, o Níger e a
Nigéria.
A contribuição do VAM ao PIB em Cabo Verde diminuiu de 9,3% em 2000 para
6,7% em 2009 e o país ocupava em 2009 a mesma 8ª posição que já ocupava em
2000 no ranking elaborado, à frente unicamente do Níger, Argélia e Nigéria. Refira-
se que todos os países em análise sofreram um decréscimo quando se comparam
os valores de 2000 com valores de 2009, o que demonstra que mesmo em países
mais dinâmicos como as Maurícias ou Malta, a crise internacional que se iniciou
em 2007 tem vindo a ter efeitos negativos no sector industrial desses países.
A contribuição das actividades de média e alta tecnologia (MAT) no VAM do
país apresenta a sofisticação do sector produtivo do grupo de 11 países
considerados. Malta, cujas actividades de média e alta tecnologia representaram
47% do VAM total, lidera o ranking da sofisticação do sector produtivo dos 11
países. O país apostou fortemente no sector da electrónica e de computadores,
tendo fábricas a operarem nessas áreas. Cabo Verde regista um decréscimo de
3%, tal como as Maurícias, Argélia, Tunísia e Nigéria, o que pode indiciar um
desinvestimento em actividades de média e alta tecnologia por parte das indústrias
desses países. Cabo Verde, como consequência da não aposta em média e alta
tecnologia, passou da terceira posição em 2000 para sexto lugar em 2009. Refira-
se ainda que o peso da indústria de MAT em Cabo Verde ainda é relativamente
importante no total do VAM do país, representando 27,1% em 2009. Esta situação
deve-se essencialmente à contribuição da indústria farmacêutica
As exportações manufactureiras cabo-verdianas em 2009 representavam
cerca de 60% das suas exportações totais, traduzindo uma queda de cerca de
33 pontos percentuais relativamente ao ano 2000. No entanto, em termos
absolutos, as exportações manufactureiras aumentaram de valor de 2000 para
2009, facto que evidencia uma maior dinâmica da exportação total criada pela área
dos serviços face aos produtos manufacturados. Por outro lado, constata-se que a
exportação cabo-verdiana de produtos manufactureiros é dominada pelos produtos
de baixa tecnologia (conservas de peixe, peixes frescos e refrigerados,
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
9
confecções, partes de calçado, aguardentes e licores, lagostas frescas e
congeladas).
As exportações dos produtos de MAT representavam apenas 4.8% e 0%
respectivamente em 2000 e 2009 do total das exportações de produtos
manufacturados do país, reflectindo de forma explícita a deterioração da
sofisticação dos produtos manufacturados exportados por Cabo Verde.
O impacto do VAM de Cabo Verde na região é ainda muito reduzido, como se
pode perceber pelos valores em 2000 e 2009, respectivamente de 0,12% e 0,14%,
100 vezes menos que o 1º classificado, Marrocos, em 2009.
O impacto das exportações do sector manufactureiro cabo-verdiano no valor
global dos produtos manufacturados e transaccionados a nível mundial é
praticamente nulo. Cabo Verde ocupa, de entre o grupo de países analisados, o
penúltimo lugar no ranking de capacidade exportadora manufactureira per capita
dos 20 produtos mais dinâmicos no mundo, só ficando à frente do Níger. Cabo
Verde registou assim em 2000 o valor de 0.05 USD e em 2009 atingia o valor de
0,74 USD.
No que diz respeito ao peso dos 20 produtos mais dinâmicos para cada um
dos 11 países analisados nas respectivas exportações manufactureiras, entre
os anos 2000 a 2009, Cabo Verde ocupa o último lugar neste ranking, sendo de
notar que em 2000, o peso das exportações manufactureiras dos 20 produtos mais
dinâmicos nas exportações manufactureiras totais foi insignificante (0.2%).
O impacto dos 20 produtos mais dinâmicos para cada um dos 11 países
analisados no comércio mundial desses produtos é reduzido. Isto reflecte o
pouco dinamismo exportador da região africana e a pressão competitiva
procedente de outros países, principalmente do Sudeste Asiático, que souberam
adaptar-se com maior celeridade à procura do mercado mundial. Cabo Verde
aparece neste ranking em último lugar, sendo o peso das exportações dos 20
produtos mais dinâmicos do país no comércio mundial praticamente nulo em 2009
(0,00002%).
A análise comparativa do desempenho dos 11 países mostra que, em 2009,
Tunísia, Malta, Marrocos e Senegal foram os países que tiveram uma estrutura
exportadora manufactureira mais diversificada e com menores níveis de
concentração de produtos manufacturados exportados. Durante o período em
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
10
análise, não obstante as exportações totais cabo-verdianas terem registado um
incremento significativo, passando de 11,1 milhões de USD em 2000 para 35
milhões de USD em 2009, o peso da oferta exportadora manufactureira no total
das exportações sofreu um decréscimo de 92,6% para 59,9%, o que aliado à
redução do número de produtos manufacturados exportados colocou Cabo Verde
na cauda do ranking, como o país com o índice mais pequeno de diversificação
de produtos (IDP).
Cabo Verde apresenta-se como o país cuja oferta exportadora manufactureira é a
mais concentrada, onde apenas cinco dos produtos exportados representaram
95,4% em 2000 e 94,2% em 2009, o que faz com que as oscilações no preço e no
volume de exportação daqueles produtos tenham grandes implicações na
economia do arquipélago.
As principais indústrias manufactureiras cabo-verdianas de exportação em 2009
foram a transformação de pescado (conservas de peixe, peixes frescos e
refrigerados), as confecções e o calçado, onde são predominantes os produtos de
baixo nível tecnológico e de mão-de-obra especializada.
Em termos de índice de diversificação de mercados (IDM), Cabo Verde
encontra-se na nona posição, tendo como clientes quase que exclusivos os países
da União Europeia-27, que absorveram 97% das exportações manufactureiras em
2009 (Espanha 46%, Portugal 50%, Holanda 1%) e portanto muito sujeito às
oscilações daquelas economias.
No ranking da quota de mercado dos 11 países no comércio mundial de
manufacturas de produtos RN e BT, Cabo Verde ocupa a última posição. Refira-
se ainda que os produtos RN e BT representam cerca de 100% das exportações
manufactureiras de Cabo Verde. Em 2009 Cabo Verde exportou cerca de 21
milhões USD de produtos RN e BT, muito mais que os 10 milhões de USD do ano
2000. Apesar deste crescimento (8% ao ano), Cabo Verde não conseguiu ganhar
quota no mercado mundial, o que denota que a sua base exportadora é limitada
devido à falta de massa crítica do país e à estrutura industrial pouco desenvolvida.
Dentro da categoria RN, o sector da transformação de pescado é um dos mais
competitivos e o que tem mais peso.
Das quinze exportações mais importantes de Cabo Verde de produtos RN e
BT, existem cinco produtos estrela (produtos derivados dos cereais e farinhas,
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
11
produtos de consumo, tratamento de materiais metálicos e em ferro (sucata), mel)
e quatro produtos estrela em contexto adverso (transformação de pescado e
marisco, bebidas alcoólicas, roupa em tricô/croché e artigos de vestuário).
Os produtos MT e AT não têm expressão nas exportações manufactureiras de
Cabo Verde.
Factores complementares de avaliação da competitividade industrial de Cabo
Verde
Durante o período 2000-2009, Cabo Verde melhorou em 34% a Produtividade
Média Laboral, tendo-se colocado na 3ª posição do ranking.
O número de pessoas que ingressou no sector industrial cresceu 11% durante o
período em análise. Contudo, em valor absoluto, o número de trabalhadores em
Cabo Verde no sector industrial é ainda reduzido devido à escassez de empresas
industriais no país.
Durante o período 2000-2009, Cabo Verde tinha um dos valores mais elevados a
nível de salários no sector industrial quando comparado com os outros países,
tendo o valor crescido 57% em 10 anos, correspondendo a uma taxa de
crescimento anual de 9,46% e colocando o país na 2ª posição do ranking.
Cabo Verde tem sido dos países que mais tem apostado na educação ao longo
dos últimos 10 anos, ocupando a 1ª e 3ª posição respectivamente em 2000 e
2009, no que se refere à taxa de cobertura e de eficiência educativa no nível
primário e secundário. Em 2009, Cabo Verde possuía taxas de cobertura
superiores a 80% e 60% respectivamente nesses ensinos. Contudo, o ensino
técnico e profissional está ainda pouco desenvolvido em Cabo Verde, sendo a taxa
de escolarização no ensino profissionalizante de 15%.
Cabo Verde ainda apresenta um importante atraso na área da certificação de
qualidade, na vertente dos sistemas de gestão (ISO 9001: 2000) ou na área do
ambiente (ISO 14001). A ausência de instituições de certificação e de calibração
no país tem condicionado o processo de adesão das empresas ao sistema de
gestão da qualidade.
Cabo Verde tem pouca expressão, em termos mundiais, no que se refere aos
fluxos de investimento directo estrangeiro (IDE). Contudo, a evolução que se tem
registado nos últimos anos e as perspectivas apresentadas apontam para uma
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
12
importância cada vez maior do país, designadamente na sua qualidade de receptor
de investimento. Os fluxos de IDE registaram um forte aumento nos últimos anos,
tendo passado de 33 milhões de USD em 2000 para 119 milhões em 2009,
concentrados fortemente no sector do turismo e hotelaria, com particular destaque
nas ilhas do Sal, Boavista e São Vicente. A indústria, que há alguns anos atrás
conseguiu captar vários investimentos significativos (nas confecções, no calçado e
na transformação do pescado), vem perdendo progressivamente a posição que
detinha, representando apenas cerca de 2% no total do IDE. Portugal, Itália,
Irlanda, Espanha e Reino Unido destacam-se como os principais mercados
emissores de investimento directo estrangeiro. Os investimentos distribuem-se por
um número reduzido de sectores, nomeadamente confecções, calçado e agro-
alimentar, incluindo o processamento de pescado e materiais de construção.
O ambiente de negócios em Cabo Verde progrediu, tendo o país ganho dez
posições em 2010, estando agora na 132ª posição no ranking do Doing Business
do Banco Mundial. Além disso, foi o país que mais evoluiu entre 2009 e 2010 na
classificação do Banco Mundial relativamente ao clima de negócios.
Em Cabo Verde, existe ainda um número muito reduzido de técnicos e de
investigadores a desenvolverem uma actividade na área da investigação e do
desenvolvimento (I&D). Dos países analisados e identificados como potenciais
modelos para Cabo Verde, Malta e Tunísia têm vindo a desenvolver esforços nesta
área.
Cabo Verde, apesar de ser um grande utilizador das TIC tanto no sector privado
como público, ainda não tem significado como país exportador de serviços TIC. Os
casos mais conhecidos envolvem o call center do operador de telecomunicações
português Portugal Telecom sediado na Praia
Ao nível das infraestruturas tecnológicas de telecomunicações e de inter-ligação às
redes de acesso e de comutação, Cabo Verde possui boas condições para o
desenvolvimento do sector TIC, através da existência de um cabo submarino –
anel de fibra óptica inter-ilhas, do acesso ao cabo submarino Atlantis 2, à rede
terrestre de fibra óptica (505 km) e às comunicações via satélite (alternativa ao
cabo Atlantis 2).
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
13
Com 14,28 acessos fixos telefónicos por 100 habitantes, Cabo Verde em 2009
encontrava-se na 3ª posição, à frente de países como a Tunísia, Marrocos ou a
Argélia, relativamente à taxa de penetração da rede fixa no país.
Quanto às redes móveis, Cabo Verde passou de uma taxa de penetração dos
telefones móveis de 4,49% em 2000 para 77,53% em 2009, ocupando a 6ª posição
e demonstrando a forte adesão da população às redes de nova geração, valor que
pode ser comparado com o indicador de penetração da rede telefónica fixa em
2009 (14,9%).
O número elevado de utilizadores Internet (29,67%) demonstra o bom
posicionamento de Cabo Verde nesta matéria, pertencendo ao grupo dos 4
primeiros países da frente (Malta, Tunísia, Marrocos).
Cabo Verde, em 2009 atingiu um total de 12,2 servidores Internet seguros por
milhão de habitantes, destacando-se da maioria dos países considerados
relativamente ao número de servidores Internet seguros, tendo o número crescido
quase 6 vezes no período de 2000 a 2009. Cabo Verde coloca-se na 4ª posição,
depois de Malta, Maurícias e Tunísia.
A Visão dos Stakeholders sobre a Competitividade Industrial de Cabo Verde
Durante as entrevistas, os stakeholders mencionaram quatro áreas de impacto
fundamental sobre a competitividade industrial de Cabo Verde e sugeriram melhorias
potenciais:
Infraestrutura: melhorar o desempenho do sector da energia, reduzir as
barreiras comerciais e tarifárias, melhorar o desempenho das redes de portos e
alfândegas
Competências e recursos humanos: deter mão-de-obra especializada com
competências por exemplo nas áreas das ciências tecnológicas a nível
profissionalizante e superior, proceder a uma melhoria nas formações e na
educação profissionalizante e universitária e ter uma legislação laboral mais
flexível a fim de tornar as empresas mais competitivas nos mercados
internacionais
Tecnologia: apostar em sectores de maior valor acrescentado, aproveitando o
forte envolvimento do país na área das TIC
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
14
Governança: estabelecer uma forte cooperação entre o sector público e o
sector privado, como aconteceu com as Maurícias, através de uma política
forte a nível industrial, implicando uma vontade política ao mais alto nível e
uma coordenação entre os vários ministérios e administrações públicas,
controlando e avaliando os resultados, através de critérios definidos e
divulgados.
Principais Desafios
São vários os desafios do governo para alavancar o desenvolvimento da indústria no
país. Algumas acções são sugeridas de seguida:
Escolher os sectores chave com vantagens comparativas, promover o
investimento directo estrangeiro (IDE) junto de países que serão alvo de uma
selecção criteriosa e atrair os empreendedores para os sectores escolhidos.
Implementar reformas selectivas para melhorar a competitividade e as
capacidades das empresas nacionais e promover a mudança estrutural em
sectores escolhidos.
Privilegiar sectores e/ou indústrias com apoios na área da certificação da
qualidade e do ambiente
Apoiar as empresas através de incentivos fiscais ou de créditos bonificados
que lhes permitam alavancar o investimento em novos produtos, exportarem e
internacionalizarem-se
Apoiar actividades entre sectores, por exemplo através de I&D ou financiando
actividades inovadoras.
Nesse sentido, o governo poderá adoptar uma política industrial integrada e alicerçada
em sete medidas principais: 1. Políticas Tecnológicas e de Inovação; 2. Políticas de
Educação e de Formação; 3. Políticas de Apoio Financeiro; 4. Políticas Comerciais; 5.
Políticas de Captação de IDE; 6. Políticas de Relacionamento Regional; 7. Políticas de
Responsabilidade Social.
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
15
NOTAS EXPLICATIVAS
Nota 1: Considera-se geralmente que o sector industrial é constituído pelas indústrias
manufactureiras, as indústrias de extracção e a construção. O Departamento dos Assuntos
Sociais e Económicos da ONU (DAES) define a actividade manufactureira como a
transformação física ou química de matérias, substâncias ou componentes em novos produtos.
As matérias, substâncias ou componentes transformados são matérias-primas oriundas da
agricultura, da silvicultura, da pesca ou das actividades de extracção ou de produtos oriundos
de outras actividades manufactureiras. A modificação, a renovação ou a reconstrução de
substâncias são geralmente consideradas como actividades manufactureiras.
Nota 2: As manufacturas são definidas como a agregação dos seguintes sectores que constam
da base de dados estatística das Nações Unidas (UNComTrade): produtos manufacturados;
maquinaria e equipamentos de transporte; artigos manufacturados diversos; outras matérias-
primas refinadas.
Nota 3: O Valor Acrescentado Manufacturado (VAM) é o somatório do valor bruto dos outputs
menos o valor dos inputs intermédios utilizados na produção. A fonte de informação para os
dados sobre o valor acrescentado manufacturado (VAM) dos vários sectores industriais é a
base de dados estatística para a indústria da ONUDI. A classificação tecnológica do VAM é
baseada na Classificação Standard Internacional para a Indústria (CSII), revisão 2, e classifica
todos os produtos em quatro categorias: fabricação de produtos a partir de recursos naturais,
fabricação de produtos de baixa tecnologia, fabricação de produtos de média tecnologia, e
fabricação de produtos de alta tecnologia.
Classificação Tecnológica do Valor Acrescentado Manufacturado segundo o CSII, Rev.2
Tipo de actividade Códigos CSII
Fabricação de produtos
a partir de recursos
naturais
31, 331, 341, 353,354, 355, 362, 369
Fabricação de produtos de baixa tecnologia
32, 332, 361, 381, 390
Fabricação de produtos de média tecnologia
342, 351, 352, 356, 37, 38 (excl. 381)
Fabricação de produtos de alta tecnologia
3522, 3852, 3832, 3845, 3849, 385
Como a informação existente a nível de grupo do CSII (quatro dígitos) não é suficiente para
permitir a separação entre produtos de média e alta tecnologia, a categoria “fabricação de
produtos de alta tecnologia” não foi utilizada; em vez disso, os produtos de média e alta
tecnologia (MAT) foram combinados numa só categoria. As quotas de valor acrescentado por
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
16
sector foram então calculadas em relação ao valor acrescentado total de todos os subsectores
manufactureiros.
Nota 4: A fonte de informação para os dados sobre o comércio externo é a base de dados
estatística das Nações Unidas - United Nations Commodity Trade Statistics Database
(COMTRADE). A classificação tecnológica é baseada na classificação CSCI (Classificação
Standard para o Comércio Internacional), revisão 3, conforme tabela apresentada em seguida
e classifica todos os produtos em quatro categorias: exportações de produtos manufacturados
naturais, exportações de produtos manufacturados de baixa tecnologia, exportações de
produtos manufacturados de média tecnologia, e exportações de produtos manufacturados de
alta tecnologia.
Classificação Tecnológica das Exportações segundo o CSCI, Revisão 3
Tipo de exportação Códigos CSCI
Exportações com origem em Recursos Naturais (RN)
016, 017, 023, 024, 035, 037, 046, 047, 048, 056, 058, 059, 061, 062, 073, 098, 111, 112, 122, 232, 247, 248, 251, 264, 265, 281, 282, 283, 284, 285, 286, 287, 288, 289, 322, 334, 335, 342, 344, 345, 411, 421, 422, 431, 511, 514, 515, 516, 522, 523, 524, 531, 532, 551, 592, 621, 625, 629, 633, 634, 635, 641, 661, 662, 663, 664, 667,689
Exportações de Baixa Tecnologia (BT)
611, 612, 613, 642, 651, 652, 654, 655, 656, 657, 658, 659, 665, 666, 673, 674, 675, 676, 677, 679, 691, 692, 693, 694, 695, 696, 697, 699, 821, 831, 841, 842, 843, 844, 845, 846, 848, 851, 893, 894, 895, 897, 898, 899
Exportações de Média Tecnologia (MT)
266, 267, 512, 513, 533, 553, 554, 562, 571, 572, 573, 574, 575, 579, 581, 582, 583, 591, 593, 597, 598, 653, 671, 672, 678, 711, 712,713,714, 721, 722, 723, 724, 725, 726, 727, 728, 731, 733, 735, 737, 741, 742, 743, 744, 745, 746, 747, 748, 749, 761, 762, 763, 772, 773, 775, 778, 781, 782, 783, 784, 785, 786, 791, 793, 811, 812, 813, 872, 873, 882, 884, 885
Exportações de Alta Tecnologia (AT)
525, 541, 542, 716, 718, 751, 752, 759, 764, 771, 774, 776, 792, 871, 874, 881, 891
Nota 5: Dimensões da Competitividade Industrial segundo a metodologia da UNIDO.
Segundo a metodologia da UNIDO, a competitividade industrial envolve as seguintes
dimensões:
A capacidade produtiva e exportadora. Uma das dimensões importantes da
competitividade industrial é a capacidade dos países em produzirem e exportarem
manufacturas de forma competitiva. O Valor Acrescentado Manufacturado (VAM) e as
exportações de produtos manufacturados tendem a ser os dois indicadores mais utilizados.
É possível existirem situações de países que apesar de terem uma capacidade produtiva
limitada sejam exportadores líquidos (no caso da presença de empresas multinacionais
que utilizam o país como plataforma de assemblagem, embora o conteúdo nacional da
exportação seja escasso), ou que apresentem níveis elevados de desempenho industrial
mas valores baixos de exportações (no caso de países com políticas proteccionistas que
impedem que a indústria local seja exposta à concorrência internacional, criando distorções
sobre a competitividade real do sector). Nesse sentido, é fundamental analisar
conjuntamente a capacidade de produção e de exportação, já que a análise de uma sem a
outra poderia conduzir a conclusões tendenciosas.
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
17
O processo de industrialização e a qualidade das exportações. A competitividade
também se mede através da evolução do processo de industrialização do país e pela
qualidade das suas exportações. Os países mais competitivos industrialmente, em vez de
permanecerem estáticos, procuram constantemente uma maior sofisticação produtiva e
exportadora, reflectindo-se na participação do sector manufactureiro na economia e dos
sectores intensivos em tecnologia dentro do ramo industrial.
O impacto exportador. A quota de mercado no comércio mundial é possivelmente o
indicador mais visível da competitividade de um país já que considera também as
dinâmicas de outros países. Ganhar quota de mercado não significa só que o país
aumentou a sua capacidade exportadora mas também que conseguiu exportar mais do que
outros países concorrentes.
O dinamismo exportador. A capacidade de adaptar as estruturas produtivas para
responder de forma rápida e eficiente às variações da procura nos mercados é outra
dimensão importante da competitividade industrial. Os países que vocacionaram a sua
produção para a exportação dos produtos mais procurados pelo mundo (denominados
também de mais dinâmicos), mostram não só a sua capacidade de adaptação como
também uma visão competitiva.
A diversificação exportadora. A diversificação de mercados e produtos permite diminuir a
vulnerabilidade exportadora face à concorrência de países terceiros ou perante variações
na procura e nos preços. A diversificação requer adaptação e assimilação das tecnologias
e a criação de novos mecanismos de marketing. Estas tendências favorecem o
desenvolvimento das capacidades humanas e das instituições que as fomentam.
Nota 6: Definição de Competitividade Industrial. Segundo a definição da ONUDI, a
competitividade industrial pode ser definida como a capacidade dos países em responderem de
forma eficiente a estas dimensões. Um país competitivo, do ponto de vista da indústria é
aquele que aumenta a sua presença manufactureira em mercados nacionais e internacionais,
através da transformação das estruturas produtivas e exportadoras em direcção a sectores de
maior valor acrescentado e de maior procura mundial e utilizando uma estratégia de
diversificação que lhe permita endereçar um número maior de mercados com um maior número
de produtos.
Metodologia
Existem muitas metodologias para a análise da competitividade, mas a Organização
das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (ONUDI) desenvolveu uma
metodologia específica para avaliar a competitividade industrial. O documento utiliza o
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
18
conceito teórico e a metodologia das Análises sobre o Desenvolvimento Industrial
publicadas pela ONUDI nos últimos anos, debruçando-se ainda mais sobre a análise
sectorial e factores estruturais que afectam o sector industrial (manufactureiro) de
Cabo Verde. Em seguida, são apresentadas as principais considerações
metodológicas para a elaboração desta análise sobre a competitividade industrial em
Cabo Verde.
O Índice de Desempenho da Competitividade Industrial (IDCI). Este índice
combina as diferentes dimensões da competitividade industrial para avaliar de forma
global o desempenho e o posicionamento competitivo do sector manufactureiro cabo-
verdiano face aos países escolhidos.
Utilização de indicadores objectivos, quantitativos e comparáveis. Mostrar a
realidade industrial de Cabo Verde requer objectividade estatística e indicadores
quantitativos comparáveis. Tanto no cálculo do IDCI como na análise individual dos
indicadores que o compõem, esta análise alimenta-se fundamentalmente de dados
estatísticos transparentes publicados por organismos internacionais e fontes nacionais
acreditadas como o Instituto Nacional de Estatística de Cabo Verde (INE), o Banco de
Cabo Verde (BCV) entre outros.
Análise de níveis e tendências. O documento analisa a posição competitiva de Cabo
Verde entre 2000 e 2009 (quando e sempre que os dados para o último ano estejam
disponíveis) e analisa de que forma as variações no desempenho industrial do país
poderiam modificar no futuro a sua posição na região subsaariana.
Análise comparativa com outros países. Este tema é detalhado mais à frente no
capítulo sobre Benchmarking.
Análise industrial agregada e desagregada. A análise agregada, através do IDCI e
dos indicadores que o compõem, apresenta uma perspectiva geral da situação
competitiva da indústria cabo-verdiana. Posteriormente, a análise desagregada
permite examinar, a nível sectorial, a realidade do sector manufactureiro cabo-
verdiano. Ambas as abordagens são válidas e complementares, já que para se
desenhar uma política industrial é necessário conhecer o sector industrial tanto a nível
macro como micro.
Utilização de uma classificação para a produção e a exportação manufactureira
com base na intensidade tecnológica. Esta classificação permite distinguir entre
produtos mais ou menos sofisticados e estudar a evolução das estruturas cabo-
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
19
verdianas nos ditos segmentos. Este documento utiliza a classificação desenvolvida
pela ONUDI no documento sobre o Desenvolvimento Industrial 2002-2003, e divide as
manufacturas em quatro categorias: baseadas em recursos naturais (RN), de baixa
intensidade tecnológica (BT), de média intensidade tecnológica (MT) e de alta
intensidade tecnológica (AT). A Nota 3 (ver Notas Explicativas) apresenta cada uma
das categorias e os códigos de produtos que as compõem.
Limitações do Documento
O documento tem algumas limitações que é importante referir. A primeira está
relacionada com o nível de detalhe da informação a nível sectorial, que poderia ter
sido mais pormenorizado caso a informação existisse para se perceber todos os
factores que afectam a dinâmica competitiva de todos os sectores do país. A título de
exemplo refira-se a informação a nível da investigação e desenvolvimento (I&D), da
propriedade intelectual e das patentes.
A segunda limitação do documento diz respeito à exclusão de muitos factores que
afectam a competitividade. Isto contudo, responde à necessidade do documento se
concentrar nos factores industriais estruturantes, mensuráveis e comparáveis. Cabo
Verde carece de uma análise deste tipo e este trabalho pretende contribuir para
colmatar este vazio de informação estruturada. O trabalho que irá ser realizado
posteriormente sobre a futura elaboração da Estratégia Industrial de Cabo Verde
deverá considerar os factores que tenham sido excluídos deste documento, incluído o
sistema institucional de apoio à indústria, a governação industrial e uma análise mais
desagregada a nível das empresas e dos sectores.
A terceira limitação refere-se à actualização dos dados. Sempre que tenha sido
possível, o documento apresenta dados do ano de 2009 para Cabo Verde e para os
outros países escolhidos. No entanto para alguns indicadores os dados só estão
disponíveis para anos anteriores. Isto é inevitável num exercício comparativo como
este, em que se utilizam fontes internacionais que normalmente apresentam um atraso
estatístico de dois a três anos. Apesar de tudo, deve-se ter presente que os factores
aqui analisados são estruturais e que as mudanças que podem acontecer de um ano
para o outro são escassas. De qualquer forma, sempre que tenha sido possível, os
indicadores foram actualizados até Junho de 2010.
Finalmente, muitos indicadores do documento são aproximações daquilo que se
pretende medir e assim, nem sempre reflectem o seu impacto na indústria. Por
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
20
exemplo, as exportações de baixa tecnologia não distinguem entre a inovação
tecnológica nacional e a utilização de componentes ou de produtos semi-fabricados
(cujo valor acrescentado é muito menor). As despesas de I&D financiadas pelo sector
produtivo, que incluem também o sector de serviços, nem sempre geram o
desenvolvimento tecnológico do sector manufactureiro. Apesar destas limitações, a
utilidade e a validade dos indicadores deste documento são relevantes e
fundamentais, tendo sido utilizados noutras análises de competitividade industrial de
organismos internacionais, como a OCDE, o Banco Mundial ou a própria ONUDI
Benchmarking
A análise da competitividade é um conceito relativo e para se saber se um país é
competitivo é necessário compará-lo com outros com características semelhantes.
Nesse sentido, para se proceder à análise dos vários indicadores no estudo realizou-
se um benchmarking, utilizando-se um grupo de países escolhidos mediante um
conjunto de critérios que estão na base do racional da escolha.
Os critérios utilizados que não são mutuamente exclusivos foram os seguintes:
1. Proximidade com a localização geográfica de Cabo Verde
2. Países que pertencem à Comunidade Económica dos Estados da África
Ocidental (CEDEAO) e são parceiros comerciais
3. Países da região subsaariana com uma estrutura produtiva e de exportação
semelhantes
4. Países da região com uma participação actual ou potencial em sectores
industriais de relevância para Cabo Verde
5. Insularidade
6. Países que podem vir a servir de modelos de referência para Cabo Verde
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
21
Assim, foram escolhidos países vizinhos da Costa Oeste de África, que integram a
CEDEAO, da qual Cabo Verde faz parte, e/ou países que concorrem directamente
com Cabo Verde como o Senegal, Marrocos, Tunísia e Argélia, países com
características semelhantes de insularidade como as Ilhas Maurícias e Malta e outros
países da CEDEAO, tais como a Costa do Marfim, Gana, Níger e Nigéria, que são
utilizados por outros organismos internacionais em estudos comparativos.
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
22
ÍNDICE
PREFÁCIO ................................................................................................................................................ 3
AGRADECIMENTOS .............................................................................................................................. 5
SUMÁRIO EXECUTIVO ........................................................................................................................ 7
NOTAS EXPLICATIVAS ..................................................................................................................... 15
Metodologia ........................................................................................................ 17
Limitações do Documento ................................................................................... 19
Benchmarking ..................................................................................................... 20
SECÇÃO A: DESEMPENHO INDUSTRIAL DE CABO VERDE ................................................. 29
1 VISÃO MACROECONÓMICA DE CABO VERDE .................................................................. 29
1.1 Principais Condicionantes do Desenvolvimento Industrial de Cabo Verde .... 30
2 DIAGNÓSTICO INDUSTRIAL DE CABO VERDE .................................................................. 34
2.1 Índice de Desempenho da Competitividade Industrial (IDCI) ........................ 36
2.2 Capacidade Produtiva de Cabo Verde .......................................................... 39
2.3 Capacidade Exportadora Manufactureira ...................................................... 42
2.3.1 Exportações manufactureiras per capita ................................................ 43
2.4 O Processo de Industrialização .................................................................... 44
2.4.1 A intensidade do processo de industrialização ...................................... 45
2.4.2 A sofisticação do processo de industrialização ...................................... 46
2.5 Estrutura Exportadora Manufactureira .......................................................... 48
2.5.1 Peso das exportações manufactureiras nas exportações totais dos
países .............................................................................................................. 49
2.5.2 Peso das exportações de média e alta tecnologia (MAT) nas exportações
manufactureiras .................................................................................................. 50
2.6 Dimensões Complementares de Avaliação da Competitividade Industrial .... 53
2.6.1 Impacto manufactureiro ......................................................................... 53
2.6.2 Dinamismo exportador manufactureiro .................................................. 56
2.6.3 Diversificação de produtos manufacturados e de mercados .................. 62
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
23
3 COMPETITIVIDADE SECTORIAL MANUFACTUREIRA DE CABO VERDE ................. 71
3.1 Sectores de Recursos Naturais (RN) e de Baixa Tecnologia (BT) ................ 71
3.2 Sectores de Média e Alta Tecnologia (MT e AT) ........................................... 77
SECÇÃO B: FACTORES DE COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL ........................................... 80
4 PRODUTIVIDADE LABORAL, EMPREGO E SALÁRIOS .................................................... 82
4.1 Produtividade Laboral ................................................................................... 83
4.2 Emprego na Indústria ................................................................................... 83
4.3 Salários no Sector Industrial ......................................................................... 84
4.4 Legislação Laboral........................................................................................ 85
5 RECURSOS HUMANOS ............................................................................................................... 86
5.1 Acesso ao Ensino Primário, Secundário e Superior ...................................... 87
5.2 Despesa Pública na Educação ..................................................................... 88
6 GESTÃO DA QUALIDADE .......................................................................................................... 89
7 INVESTIMENTO DIRECTO NACIONAL E ESTRANGEIRO ............................................... 90
7.1 Investmento Nacional ................................................................................... 90
7.2 Investimento Directo Estrangeiro .................................................................. 91
8 AMBIENTE DE NEGÓCIOS ........................................................................................................ 93
9 TECNOLOGIA ............................................................................................................................... 93
10 INFRAESTRUTURA ..................................................................................................................... 95
10.1 Infraestrutura Tradicional .......................................................................... 95
10.2 Infraestrutura Tecnológica ......................................................................... 97
11 PERCEPÇÃO DOS STAKEHOLDERS SOBRE A COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DE
CABO VERDE ....................................................................................................................................... 102
SECÇÃO C. O CASO DAS ILHAS MAURÍCIAS .......................................................................... 103
12 PRINCIPAIS CONCLUSÕES ..................................................................................................... 108
13 DESAFIOS E OPORTUNIDADES ............................................................................................. 112
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................... 117
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
24
ÍNDICE DAS TABELAS
Tabela 1 – Contribuição (em %) dos sectores económicos ao PIB de Cabo Verde
(2004-2009) ................................................................................................................ 29
Tabela 2 – Resultados e Desafios de Cabo Verde ...................................................... 33
Tabela 3 – Índice de Desempenho da Competitividade Industrial (IDCI), 2000 – 200937
Tabela 4 – Valor Acrescentado Manufacturado, 2000 – 2009 ..................................... 39
Tabela 5 – Valor Acrescentado Manufactureiro (VAM) per capita, 2000 - 2009 .......... 40
Tabela 6 – Exportações Manufactureiras dos Países, 2000 – 2009 ............................ 42
Tabela 7 – Exportações Manufactureiras per Capita, 2000 – 2009 ............................. 44
Tabela 8 - Contribuição do Sector Industrial Manufactureiro na Economia dos Países
(% do VAM/PIB), 2000-2009 ....................................................................................... 45
Tabela 9 - Ranking com base na % do VAM de MAT no VAM total, 2000 - 2009 ....... 47
Tabela 10 – Contribuição das Exportações Manufactureiras no Total das Exportações,
2000 – 2009 ................................................................................................................ 49
Tabela 11 – Peso das exportações de Média e Alta Tecnologia (MAT) no Total das
Exportações Manufactureiras, 2000 - 2009 ................................................................. 51
Tabela 12 – Peso no VAM da Região Subsaariana, 2000 – 2009 ............................. 53
Tabela 13 - Quota de Mercado Mundial dos Produtos Manufacturados e Evolução,
2000 - 2009 ................................................................................................................ 54
Tabela 14 – Os Vinte Produtos Manufacturados mais Dinâmicos no Comércio Mundial,
2000 – 2009 ................................................................................................................ 56
Tabela 15 - Os Vinte Produtos Manufacturados mais Dinâmicos no Comércio da
CEDEAO, 2000 – 2009 ............................................................................................... 57
Tabela 16 - Exportações per Capita dos 20 Produtos Manufacturados mais Dinâmicos
no Mundo, 2000 – 2009 .............................................................................................. 59
Tabela 17 – Peso dos 20 Produtos mais Dinâmicos do Mundo nas Exportações de
Produtos Manufacturados, 2000 – 2009 ..................................................................... 60
Tabela 18 – Quota de Mercado por País a Nível Mundial dos 20 Produtos mais
Dinâmicos no Mundo, 2000 – 2009 ............................................................................. 61
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
25
Tabela 19 - Índice de Diversificação de Produtos Manufacturados (IDP), 2000-2009 . 64
Tabela 20 - Peso dos cinco produtos mais importantes nas exportações
manufactureiras de Cabo Verde em 2000 e 2009 ....................................................... 66
Tabela 21 - Índice de Diversificação de Mercados (IDM), 2000-2009 ......................... 68
Tabela 22 - Participação no Comércio Mundial de Produtos Manufacturados RN e BT,
2000-2009 .................................................................................................................. 72
Tabela 23 - Análise Detalhada do desempenho das quinze maiores exportações cabo-
verdianas de produtos RN e BT, 2000-2009 ............................................................... 75
Tabela 24 - Quota de mercado no comércio mundial de manufacturas MT e AT, 2000-
2009 ........................................................................................................................... 78
Tabela 25 - Análise Detalhada do desempenho das quinze maiores exportações cabo-
verdianas de produtos MT e AT, 2000-2009 ............................................................... 79
Tabela 26 – Produtividade Média Laboral, 2000-2009 ................................................ 83
Tabela 27 - Emprego no Sector Industrial, 2000-2009 ................................................ 84
Tabela 28 – Salário Médio por Trabalhador no Sector Industrial, 2000-2009 .............. 84
Tabela 29 – Dificuldade em contratar mão de obra ..................................................... 85
Tabela 30 - Dificuldade em despedir mão de obra ...................................................... 86
Tabela 31 - Taxas de Cobertura no Ensino, 2009 ....................................................... 88
Tabela 32 - Despesa Pública na Educação em % do PIB, 2000 - 2009 ...................... 89
Tabela 33 - Certificações ISO 9001 (Sistemas de Gestão) ......................................... 89
Tabela 34 - Certificações ISO 14001 (Ambiente) ........................................................ 90
Tabela 35 - Investimento Directo Nacional, 2000-2009 ............................................... 91
Tabela 36 - Investimento Directo Estrangeiro, 2000 – 2009 ........................................ 92
Tabela 37 – Investimento Directo Estrangeiro per Capita, 2000 – 2009 ...................... 92
Tabela 39 – Exportações de serviços na área das TIC, 2000-2009 ............................ 95
Tabela 40 – Estradas alcatroadas (em % do total de estradas no país), 2000-2009 ... 96
Tabela 41 – Número de partidas de voos de companhias aéreas registadas, 2000-
2009 ........................................................................................................................... 97
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
26
Tabela 42 – Número de linhas telefónicas (por 100 habitantes), 2000-2009 ............... 98
Tabela 43 – Número de assinantes de redes móveis (por 100 habitantes), 2000-2009
................................................................................................................................... 99
Tabela 44 – Número de utilizadores Internet, 2000-2009 .......................................... 100
Tabela 45 – Número de servidores Internet seguros, 2000-2009 .............................. 101
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
27
ÍNDICE DAS FIGURAS
Figura 1 - Correlação entre a Taxa de Crescimento do PIB e a Taxa de Crescimento
do Valor Acrescentado Manufacturado (VAM) ............................................................ 34
Figura 2 - Correlação entre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o Índice do
Desempenho da Competitividade Industrial (IDCI) ..................................................... 35
Figura 3 - Contribuição da Indústria de Média e Alta Tecnologia no Total do VAM ..... 46
Figura 4 - Evolução da Relação entre os Dois Indicadores ......................................... 48
Figura 5 – Evolução da Estrutura da Exportação Manufactureira em Cabo Verde e nos
Países Analisados ...................................................................................................... 52
Figura 6 - Taxa de Crescimento Anual de Produtos Manufacturados e Variação da
Quota de Mercado Mundial, 2000 - 2009 .................................................................... 55
Figura 7 - Peso das Cinco Maiores Exportações Manufactureiras no Total das
Exportações Manufactureiras dos Países, 2000-2009 ................................................ 65
Figura 8 - Posicionamento dos países de Cabo Verde na Matriz de vulnerabilidade de
produtos e mercados, 2009 ........................................................................................ 70
Figura 9 - Taxa de Crescimento Anual de Produtos Manufacturados RN e BT e
Variação da Quota de Mercado Mundial entre 2000 e 2009 ....................................... 73
Figura 10 – Desempenho das quinze maiores exportações cabo-verdianas de produtos
RN e BT, 2000-2009 ................................................................................................... 77
Figura 11 - Taxa de Crescimento Anual de Produtos Manufacturados MT e AT e
Variação da Quota de Mercado Mundial entre 2000 e 2009 ....................................... 79
Figura 12 - Modelo analítico e conceptual para a competitividade industrial ............... 80
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
28
ÍNDICE DOS QUADROS
Quadro 1 - Metodologia para o cálculo do Índice de Desempenho da Competitividade
Industrial (IDCI) ........................................................................................................... 37
Quadro 2 - Metodologia para o cálculo do Índice de Diversificação de Produtos
Manufacturados (IDP) ................................................................................................. 63
Quadro 3 - Metodologia para o cálculo do Índice de Diversificação de Mercados (IDM)
................................................................................................................................... 67
Quadro 4 - Metodologia para a análise do desempenho comercial a nível do produto 73
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
29
SECÇÃO A: DESEMPENHO INDUSTRIAL DE CABO VERDE
1 VISÃO MACROECONÓMICA DE CABO VERDE
Em 2004, o PIB de Cabo Verde a preços correntes representava 924,6 Milhões de
USD e em 2009 o PIB a preços constantes de 2004 atingiu o valor de 1.238 Milhões
de USD, representando assim uma taxa de crescimento média anual real de 6%. Este
valor reflecte o desenvolvimento acelerado do país que culminou com o acesso à
categoria de país de médio rendimento em 2008. No entanto, a economia de Cabo
Verde, apesar das iniciativas positivas do Governo, mantém as características e os
constrangimentos tradicionais. A composição do PIB assemelha-se muito à estrutura
de um país na fase pós-industrial, à excepção das infraestruturas tecnológicas que se
encontram num estado avançado de desenvolvimento. Na realidade, o sector dos
serviços constitui o principal driver do crescimento do PIB. O seu peso ultrapassa 70%
do PIB (sendo o turismo um dos principais motores), face à estagnação da indústria e
ao recuo da posição relativa da agricultura, em particular ao longo dos últimos 10
anos. A indústria e energia representam em conjunto ainda um valor reduzido do PIB,
rondando os 8% em 2009, sendo que a indústria manufactureira com uma taxa de
crescimento quase nula entre 2004 e 2009 não acompanhou a taxa de crescimento
real do PIB de 6%, não permitindo a sustentabilidade do sector. Assistiu-se assim a
uma mudança na composição do PIB de Cabo Verde, passando o turismo a deter um
peso fundamental na economia do país e juntamente com os serviços, nos últimos
anos, a constituírem o verdadeiro motor da economia do país.
Tabela 1 – Contribuição (em %) dos sectores económicos ao PIB de Cabo Verde (2004-2009)
Peso dos Sectores (%) 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Agricultura 7,4 5,2 4,8 5,1 5 8,5
Construção 7,8 8,2 9,2 9,8 11 9,2
Indústria e Energia 7,2 7,1 7 7 6,7 7,9
Pescas 1,2 0,9 0,8 0,5 0,5 0,0
Serviços 1 60,4 59,8 52,3 49,9 47,3 55,3
Turismo 11,2 10,4 18,3 20,7 19,4 18
Crescimento do PIB (%) 4,3 6,5 10,8 6,9 6,2 3,6 Fonte: Banco Central de Cabo Verde; FMI; Fevereiro de 2010
1 Nos serviços estão excluídos aqueles ligados ao turismo e incluem comércio por grosso e a retalho, transporte, armazenagem e
comunicação, imobiliárias, serviços financeiros
Em termos globais, Cabo Verde insere-se no grupo dos países mais desenvolvidos do
continente africano, apresentando um PIB por habitante em 2009 de 1.795 USD que
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
30
corresponde sensivelmente ao dobro da média do continente africano. Este facto é
significativo se considerarmos que Cabo Verde não conta com quaisquer recursos
naturais relevantes, ao contrário da generalidade dos outros países africanos, que
assentam a sua economia na exploração e exportação de matérias-primas energéticas
e de outros produtos minerais.
A indústria, apesar de representar um peso relativamente reduzido no PIB de Cabo
Verde, tem vindo a assumir uma importância crescente no que se refere às
exportações do país, sobretudo a partir de 1992, na sequência da aprovação da nova
legislação do investimento estrangeiro. Neste domínio, cabe realçar a instituição do
regime das Empresas Francas, que passaram a constituir o motor do desenvolvimento
industrial do país, mercê sobretudo dos investimentos de empresas estrangeiras nos
sectores do calçado e das confecções.
A maior parte destes investimentos foram realizados por empresas portuguesas,
destinando-se a produção aos mercados da União Europeia (UE), no quadro dos
benefícios decorrentes dos acordos que isentavam de direitos os produtos industriais
originários dos países da ACP (África, Caraíbas e Pacífico).
A par de Portugal, também alguns países asiáticos realizaram investimentos em Cabo
Verde, designadamente no sector de vestuário, com o mesmo objectivo de acesso aos
mercados europeus e, ultimamente ao mercado norte-americano no âmbito do
programa AGOA, de que Cabo Verde é um país beneficiário.
Destinando a sua produção quase que exclusivamente ao mercado interno, as
indústrias alimentares e de bebidas, produtos farmacêuticos, materiais de construção,
mobiliário e metalomecânica constituem outros ramos industriais com alguma
importância na economia cabo-verdiana, conforme será mencionado ao longo do
documento.
1.1 PRINCIPAIS CONDICIONANTES DO DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL DE
CABO VERDE
No que respeita ao processo de industrialização, África continua a padecer de sérios
obstáculos neste domínio que não incentivam a produção de produtos transformados e
limitam o seu acesso aos mercados mundiais.
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
31
A escassez de capitais, a falta de mão-de-obra técnica especializada, a insuficiência e
qualidade de meios de transporte, aliados ao baixo poder aquisitivo da população,
compõem um quadro adverso ao desenvolvimento do sector industrial.
Para além disso, Cabo Verde, assim como a grande maioria dos países africanos,
possui uma estrutura económica extremamente dependente do exterior, facto que se
torna mais evidente no sector industrial. A ausência de matérias-primas obriga a que
se importe a maior parte dos bens de consumo.
Na realidade, apesar de Cabo Verde já pertencer aos países de rendimento médio
desde 2008, o desenvolvimento das infraestruturas no país ainda representam um
verdadeiro desafio que tem afectado a competitividade industrial de Cabo Verde. Os
preços dos serviços são normalmente elevados e a qualidade deficiente.
No entanto Cabo Verde investe anualmente cerca de 147 milhões de USD em
infraestruturas (cerca de 15% do PIB), um dos níveis mais elevados no continente
africano, um esforço duas vezes maior comparativamente à média dos países de
médio rendimento em África. Infelizmente, estima-se que 50 milhões de USD são
perdidos anualmente devido à subsidiação dos preços e a ineficiências operacionais
no sector da energia.
Os seguintes factores relacionados com as infraestruturas, a dimensão do país e as
condições climatéricas têm dificultado o desenvolvimento de uma indústria mais
competitiva:
1. Transporte inter e intra-ilhas
O facto de a população estar dispersa por 10 ilhas obriga à necessidade de um
número elevado de portos para assegurar as deslocações internas, o que dificulta a
logística inerente ao abastecimento e distribuição de bens e materiais relativos à
actividade industrial de Cabo Verde.
Os meios de transporte entre as ilhas, fundamentais à circulação das matérias-primas
e dos bens finais de produção são ainda limitados e com custos elevados. Além disso,
carecem de vários problemas, nomeadamente a escassez, a irregularidade e o tempo
de viagem. Assim, os custos de transporte elevados entre ilhas têm por consequência
agravarem os custos de operação e reduzirem os canais de distribuição no mercado.
Uma optimização da produção a nível do território nacional passa assim por um
sistema de transporte marítimo inter-ilhas mais eficaz. A nível rodoviário, apesar da
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
32
cobertura ser boa, várias vias rodoviárias encontram-se em mau estado, dificultando o
transporte de mercadorias.
2. Energia Eléctrica
A energia eléctrica é instável, provocando um número elevado de cortes durante o ano
sem aviso prévio (provocando estragos nas máquinas e comprometendo a produção
em curso) e afectando assim o desempenho da indústria, obrigando a paragens
frequentes na produção e à utilização de meios alternativos de geração de energia
(geradores) que encarecem o custo do produto final. Por outro lado, os preços
praticados em Cabo Verde, que rondam os 0,40 USD por kilowatt-hora (kWh) são dos
mais caros em África e possivelmente dos mais caros do mundo2.
3. Água
O país depende essencialmente do processo de dessalinização para responder às
necessidades de abastecimento de água, em 85% das situações. O processo de
transformação utiliza de forma intensiva a energia eléctrica, das mais caras do
continente africano, tornando assim proibitivo o custo da água, que ronda os 3 USD/m3
tornando-a uma das mais caras em África e possivelmente das mais caras do mundo3.
4. Mercado Interno
O mercado interno de Cabo Verde é limitado4 devido ao número reduzido da
população (491.875 habitantes; Censos 2010) e ao fraco poder de compra ao qual
acrescem as condicionantes ligadas ao factor da insularidade do país. As fábricas são
assim de pequena dimensão e trabalham muitas vezes abaixo da capacidade de
produção o que agrava os custos finais dos produtos e reduz a competitividade. A
procura interna criada pelo crescimento do turismo poderá de alguma forma
compensar em parte esta fraqueza e melhorar a competitividade. Além disso, a
abertura e exploração de outros mercados externos, se as condições de produção
assim o permitirem e for definida uma estratégia industrial adequada, poderão todavia
2 Fonte: Relatório do Banco Mundial de Junho de 2011 intitulado Cape Verde’s Infrastructure, A Continental Approach
3 Fonte: Idem
4 Refira-se no entanto que em 2010 Cabo Verde teve um número total de turistas que atingiu os 350.000 e
que o número de emigrantes Cabo-Verdianos no mundo totaliza aproximadamente 1 milhão de pessoas.
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
33
atenuar o impacto desta condicionante e ajudar as empresas a atingirem a massa
crítica desejável.
5. Financiamento
O acesso ao crédito por parte das pequenas e médias empresas em Cabo Verde
ainda é difícil devido ao montante elevado das garantias solicitadas e aos custos de
transacção/custo do dinheiro, constituindo dessa forma as maiores barreiras ao
desenvolvimento de novos projectos e ao aumento da competitividade das empresas
industriais. A capacidade do sistema financeiro nacional é ainda limitada, apesar do
crescente papel da Bolsa, da abertura de três novos bancos em 2010 e do aumento de
capital realizado por dois bancos, em 2009. Os empréstimos concedidos pelos bancos
são limitados a 9 milhões de EUR. Esta limitação é visível sobretudo quando as
necessidades financeiras das indústrias envolvem grandes investimentos. A curto
prazo, o sector privado é penalizado pela falta de financiamento e pela concorrência
de empresas estrangeiras que beneficiam de um melhor acesso ao crédito e aos
subsídios.
A seguinte tabela resume os resultados alcançados e os desafios a enfrentar
relativamente aos sectores mencionados.
Tabela 2 – Resultados e Desafios de Cabo Verde
Sectores Resultados Desafios
Transporte Aéreo Rede de aeroportos a funcionar Cumpre com todos os standards de segurança internacionais
Subsídios contínuos à TACV
TIC Liberalização do mercado finalizada Crescimento elevado da cobertura e penetração Acesso ao cabo submarino
Redução de preços através de maior concorrência
Portos Rede de portos a funcionar
Finalizar a agenda política das reformas em curso e das obras a realizar nos portos
Energia Taxa elevada de cobertura nas ilhas
Tarifário com valores abaixo do preço de custo Redução do custo de produção da energia Melhorar a eficiência da Electra
Estradas Uma forte densidade de rede rodoviária Estabelecimento de um fundo rodoviário
Melhorar as condições das redes rodoviárias Garantir fundos adequados para a sua manutenção Clarificar os papéis das várias instituições na gestão institucional
Águas e Esgotos Taxa de cobertura da população em água corrente Melhorar a eficiência da Electra Melhorar o acesso a uma rede melhorada de saneamento
TIC: Tecnologias da Informação e da Comunicação Fonte: Relatório do Banco Mundial de Junho de 2011 intitulado Cape Verde’s Infrastructure, A Continental Approach
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
34
2 DIAGNÓSTICO INDUSTRIAL DE CABO VERDE
Várias análises têm sido efectuadas no sentido de identificar as principais vantagens
da industrialização para um país. Existem vários factores que justificam que Cabo
Verde aposte neste sector. O primeiro factor diz respeito à forte correlação que existe
entre a industrialização de um país e o crescimento do seu produto interno bruto (PIB)
bem como o papel importante da indústria manufactureira como alavanca na
transformação da estrutura económica de países de base rural. A figura seguinte,
publicada no Relatório do Desenvolvimento Industrial da ONUDI de 2009 ilustra a
estreita relação entre o crescimento do PIB e o crescimento do VAM para um universo
de 131 países.
Figura 1 - Correlação entre a Taxa de Crescimento do PIB e a Taxa de Crescimento do Valor Acrescentado Manufacturado (VAM)
Fonte: World Development Indicators
Da mesma forma, existe uma forte correlação entre o Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) e o Índice do Desempenho da Competitividade Industrial (IDCI). A
figura seguinte ilustra essa análise.
R² = 0,4299
-0,1
-0,05
0
0,05
0,1
0,15
0,2
-0,08 -0,03 0,02 0,07 0,12 0,17 0,22 0,27
Taxa d
e C
rescim
en
to d
o P
IB
Taxa de Crescimento do VAM
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
35
Figura 2 - Correlação entre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o Índice do Desempenho da Competitividade Industrial (IDCI)
Fonte: UN – COMTRADE e Indicadores de Desenvolvimento Humano
Em segundo lugar, a indústria manufactureira representa grande parte das
exportações mundiais (80 por cento em 2008 segundo a UNCTAD) e está menos
exposta aos choques externos, flutuações de preços, condições climatéricas e
políticas concorrenciais desleais. Os preços dos bens manufacturados têm tendência a
serem mais estáveis que os preços dos bens correntes. As políticas concorrenciais
desleais distorceram os preços a nível mundial, limitando o potencial de crescimento
em certos bens correntes.
Em terceiro lugar, a indústria manufactureira cria externalidades no desenvolvimento
tecnológico, desenvolve competências e aprendizagem que são fundamentais à
competitividade de um país. Por exemplo, a indústria manufactureira é o principal
veículo para o desenvolvimento tecnológico e a inovação, representando uma placa
giratória do progresso. A produção utiliza a tecnologia de muitas maneiras e a vários
níveis para aumentar o retorno sobre o investimento permitindo uma evolução de
actividades de baixa produtividade para actividades de alta produtividade. O sector
produtivo também oferece um grande potencial para actividades informais inovadoras
tais como melhorias incrementais em produtos ou processos
R2 = 0.4379
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7Índ
ice
de
De
se
nv
olv
ime
nto
Hu
ma
no
(ID
H)
Índice de Desempenho da Competitividade Industrial (IDCI)
Singapura
Japão
EUA
Alemanha
Suiça
Noruega
Austrália
Nova Zelândia
China
Forte competitividade industrial e baixo desenvolvimento humano
Baixa competitividade industrial e forte desenvolvimento humano
Forte competitividade industrial e forte desenvolvimento humano
Baixa competitividade industrial e baixo desenvolvimento humano
Média do IDH
Média do IDCI
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
36
Em quarto lugar, a produção origina um efeito “push” noutros sectores da economia. O
desenvolvimento do sector manufactureiro estimula a procura para mais e melhores
serviços em sectores como a banca, os seguros, as comunicações e os transportes.
Finalmente, a internacionalização da produção alargou as vantagens da indústria
manufactureira. A distribuição geográfica das actividades das empresas multinacionais
favoreceu o desenvolvimento da produção nos países em desenvolvimento mais do
que outros sectores da economia. A tendência para a desintegração vertical da
actividade produtiva nos países industrializados significa que os países em
desenvolvimento têm mais possibilidades de se inserirem em cadeias de valor globais.
Cabo Verde tem assim todas as vantagens em avaliar a sua posição competitiva
industrial no sentido de desenvolver em seguida as acções estratégicas necessárias à
implementação de uma política industrial focalizada em sectores nucleares e
sustentada e baseada em factores diferenciadores competitivos.
Este capítulo apresenta um diagnóstico industrial de Cabo Verde. Nele, é analisado o
posicionamento competitivo do país relativamente a outros países em todas as
dimensões da competitividade industrial. O capítulo divide-se em 6 secções. A
primeira apresenta o Índice de Desempenho da Competitividade Industrial (IDCI) para
os países escolhidos, salientando os resultados de Cabo Verde. A segunda secção
analisa a capacidade produtiva do sector manufactureiro de Cabo Verde. A terceira
secção examina a capacidade exportadora manufactureira de Cabo Verde,
comparativamente ao grupo de países escolhidos e analisa a participação do país no
comércio mundial de manufacturas. A quarta secção apresenta a intensidade e
sofisticação do processo de industrialização de Cabo Verde e a contribuição dos
sectores intensivos em tecnologia. A quinta secção estuda a evolução da estrutura
exportadora cabo-verdiana. A sexta secção aborda dimensões complementares para
avaliar a competitividade industrial de Cabo Verde, nomeadamente o impacto
manufactureiro no VAM da região e nas exportações mundiais, o dinamismo
exportador do sector manufactureiro relativamente aos 20 produtos mais dinâmicos do
mundo e a diversificação de produtos manufacturados e mercados.
2.1 ÍNDICE DE DESEMPENHO DA COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL (IDCI)
A Tabela 3 apresenta o valor do Índice de Desempenho da Competitividade Industrial
(IDCI), cuja metodologia de cálculo se descreve no Quadro 1. O IDCI combina as
diferentes dimensões da competitividade industrial para calcular o desempenho
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
37
manufactureiro de Cabo Verde no contexto dos países alvo do benchmarking. As
poucas variações que se notam no ranking demonstram que a competitividade
industrial é estruturante e sistémica, significando isso que as estratégias de
desenvolvimento dos países determinam o seu desempenho futuro e não podem ser
alteradas a curto prazo. Malta, Maurícias, Tunísia e Marrocos mantiveram as mesmas
primeiras quatro posições em 2009 face a 2000, tendo o Senegal, a Costa do Marfim e
o Níger ganho um lugar durante esse período de tempo.
Tabela 3 – Índice de Desempenho da Competitividade Industrial (IDCI), 2000 – 2009
Ranking País
IDCI
2009 2000 2000 2009
1 1 Malta 99,3 95,6
2 2 Maurícias 40,9 48,3
3 3 Tunísia 35,3 45,2
4 4 Marrocos 31,6 39,4
5 6 Senegal 25,5 29,2
6 7 Costa do Marfim 23,6 26,7
7 5 Cabo Verde 26,1 20,8
8 9 Níger (a) 14,9 20,7
9 8 Nígeria (b) 20,0 14,5
10 10 Gana 11,4 13,1
11 11 Argélia 11,4 11,1
Nota: Os dados disponíveis para o Níger e Nigéria são de 2008 para o último ano (Base de dados web da UNIDO). Fonte: UN COMTRADE
Em 2009, dos onze países em análise, Cabo Verde, com um índice de desempenho
da competitividade industrial de 20,8 colocou-se em 7º lugar no ranking, tendo descido
2 lugares em relação ao ano 2000. Além disso, o valor diminuiu, passando de 26,1 em
2000 para 20,8 em 2009. Relativamente aos 4 países industrialmente mais
competitivos em 2009, o IDCI varia entre 39,4 e 95,6 distanciando-se fortemente do
valor para Cabo Verde.
De notar que o baixo rendimento industrial de Cabo Verde em comparação com outros
países Africanos deve ser analisado num contexto de uma perda generalizada da
competitividade da região subsaariana em relação ao Sudeste Asiático.
Quadro 1 - Metodologia para o cálculo do Índice de Desempenho da Competitividade Industrial (IDCI)
O IDCI é um índice combinado que mede a competitividade industrial dos países. É composto por seis
indicadores de produção e de comércio externo que caracterizam quatro dimensões distintas: a
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
38
capacidade produtiva, a capacidade exportadora, a estrutura do processo produtivo e a estrutura
exportadora
Dimensões e Indicadores
Capacidade produtiva. (1) O Valor Acrescentado Manufacturado (VAM) per capita é o indicador
básico do desempenho industrial, tendo em consideração a dimensão da economia. Mostra a
capacidade de um país em acrescentar valor no processo de industrialização. Contudo, barreiras
comerciais e medidas proteccionistas podem distorcer o desempenho industrial de um país ao não
permitir que a sua indústria se exponha à concorrência internacional. Daí a importância de combinar
o VAM com indicadores de exportação que situam a actividade industrial de cada país na cena
internacional.
Capacidade exportadora manufactureira. Num mundo globalizado, a capacidade para exportar é
um ingrediente básico para alcançar o crescimento económico e a competitividade. O indicador (2)
exportações manufactureiras per capita é um indicador básico de competitividade comercial do sector
industrial, já que mostra a capacidade dos países em abastecerem o mercado mundial, o que implica
o cumprimento de regras e standards internacionais.
Estrutura do processo produtivo. Esta dimensão é medida através de dois indicadores: (3) a
participação do VAM no PIB (que corresponde à intensidade do processo), e (4) a participação do
VAM de média e alta tecnologia no VAM total (que corresponde à sofisticação do processo). O
primeiro indicador mostra a importância do sector manufactureiro na economia do país, enquanto que
o segundo traduz o nível tecnológico do sector manufactureiro. As actividades industriais
tecnologicamente sofisticadas fomentam a competitividade pois além de serem um reflexo de
maturidade industrial são altamente dinâmicas e apresentam externalidades positivas para o resto da
economia.
Estrutura exportadora manufactureira. A qualidade das exportações de um país é medida através
de dois indicadores: (5) a participação das exportações manufactureiras nas exportações totais, e (6)
a participação das exportações de média e alta tecnologia nas exportações manufactureiras. O
primeiro indicador mostra a importância dos produtos manufacturados na actividade exportadora do
país, sabendo que uma menor dependência comercial de produtos primários é melhor para o sector
exportador. O segundo indicador traduz a capacidade de um país para exportar produtos sofisticados
e de alto valor acrescentado.
Cálculo do IDCI
Para os onze países analisados, cada um dos seis indicadores de desempenho da competitividade
industrial que foram apresentados são normalizados de acordo com a seguinte fórmula:
100;0100),(),(
),(,,
x
rXpMinrXpMax
rXpMinrXprIp
Em que Ip,r é o índice normalizado de cada um dos indicadores r em cada país p; Xp,r corresponde ao valor
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
39
actual do indicador; e Max e Min são os valores máximos e mínimos da amostra.
Para se obter o valor final do IDCI, calcula-se a média aritmética dos valores normalizados, sendo que as
dimensões estrutura do processo produtivo e estrutura exportadora manufactureira são ponderadas com
um coeficiente de ½ no cálculo do valor agregado do IDCI.
O indicador normalizado é multiplicado por 100 para que o intervalo seja entre 0 (pior posição do
indicador) e 100 (melhor posição do indicador).
Fonte: ONUDI
2.2 CAPACIDADE PRODUTIVA DE CABO VERDE
O Valor Acrescentado Manufacturado (VAM) é considerado o indicador que melhor
traduz a capacidade produtiva industrial dos países. No caso de Cabo Verde, o VAM
em 2000 era de 49,35 milhões de USD, tendo atingido em 2009 o valor de 75,84
milhões de USD, valor esse que reflecte um crescimento médio anual (a preços
constantes) de 5.5% entre 2000-2009, o segundo maior crescimento no período dos
países analisados conforme apresentado na Tabela 4.
Tabela 4 – Valor Acrescentado Manufacturado, 2000 – 2009
Ranking País
VAM a preços constantes de 2000 (em milhões de USD)
Taxa Média Anual de Crescimento
2009 2000 2000 2009 2000 - 2009
1 1 Marrocos 5.745 7.540 3,1%
2 3 Tunísia 3.548 5.016 3,9%
3 2 Argélia 3.863 4.978 2,9%
4 5 Nigéria 1.653 3.003 7,8%
5 4 Costa do Marfim 2.258 1.976 -1,5%
6 6 Ilhas Maurícias 941 1.010 0,8%
7 8 Senegal 606 727 2,0%
8 9 Gana 449 661 4,9%
9 7 Malta 772 521 -4,3%
10 10 Níger 122 165 3,8%
11 11 Cabo Verde 49 76 5,5%
Nota: Os valores encontram-se a preços constantes; os dados disponíveis para Cabo Verde, Gana, Níger, Nigéria são de 2008 para o último ano. Fonte: World Development Indicators (WDI), base de dados web da UNIDO
Na verdade, o Produto Interno Bruto de Cabo Verde tem conhecido ao longo dos
últimos 10 anos um crescimento significativo com variações médias anuais em torno
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
40
de 6%. No entanto, quando se comparam os valores absolutos de VAM entre países,
Cabo Verde continua a manter a última posição nos últimos 10 anos.
Da análise do quadro anterior, importa referir os seguintes factores:
Durante o mesmo período, a maioria dos países, à excepção da Costa do Marfim e
de Malta, obtiveram um aumento significativo do VAM, principalmente Nigéria,
Cabo Verde e Gana.
No caso de Cabo Verde, o valor do VAM em 2000 era muito reduzido devido à sua
base industrial reduzida, o que originou um crescimento acentuado em 10 anos.
Relativamente à Nigéria, o país conseguiu acompanhar em valores absolutos o
valor do VAM dos países com um melhor desempenho, caso de Marrocos, Tunísia
e Argélia.
No caso de se considerar o VAM/capita como indicador, ou seja considerando a
população de cada país, em 2009 Cabo Verde conseguia uma melhoria substancial,
ocupando a 5ª posição do ranking dos 11 países em análise, tendo subido duas
posições desde o ano 2000 (Tabela 5).
Tabela 5 – Valor Acrescentado Manufactureiro (VAM) per capita, 2000 - 2009
Ranking País
VAM Per Capita (em USD)
2009 2000 2000 2009
1 1 Malta 1.979 1.256
2 2 Ilhas Maurícias 793 792
3 3 Tunísia 371 481
4 4 Marrocos 199 236
5 7 Cabo Verde (1) 112 150
6 6 Argélia 127 143
7 5 Costa do Marfim 131 94
8 8 Senegal 61 58
9 9 Gana (1) 23 28
10 10 Nigéria (1) 13 19
11 11 Níger (1) 11 11
Nota: (1) Os dados disponíveis para Cabo Verde, Gana, Nigéria e Níger são de 2008 para o último ano Fonte: World Development Indicators (WDI), base de dados web da ONUDI
Em 2008, o VAM/capita de Cabo Verde cifrou-se em 150 USD, valor acima de países
como a Argélia, Costa do Marfim, Senegal, Gana, Nigéria e Níger. O país em 10 anos
conseguiu subir 2 lugares no ranking dos 11 países. No entanto, os países que se
encontram nas posições cimeiras, tais como Malta, Maurícias ou Tunísia possuíam um
VAM per capita que representava em 2009, respectivamente mais de 8, 7 e 2 vezes
respectivamente o VAM de Cabo Verde. Além de evidenciar e confirmar a fraca
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
41
capacidade industrial de Cabo Verde, o VAM/capita mostra que o incremento dos
últimos anos não reflecte um verdadeiro desenvolvimento industrial. A taxa de
crescimento anual tem sido inferior a 3%.
Malta, apesar do recuo em valores absolutos do VAM/capita, que passou de 1.979
USD em 2000 para 1.256 USD em 2009, liderou o ranking entre 2000 e 2009. A
quebra verificada no sector manufactureiro ficou a dever-se em parte a uma forte
diminuição das exportações do sector industrial que em 2008 e 2009 tiveram índices
de crescimento de -14,9% e -19,2% respectivamente.
Os sectores manufactureiros de Malta que produzem maioritariamente para
exportação atravessaram um período de queda acentuada devido à crise internacional
e em que o ano 2009 foi o mais crítico, como foi o caso da fabricação de produtos
farmacêuticos entre Janeiro e Junho de 2009 que diminuiu fortemente. Nos últimos 2
anos (2008 e 2009), as exportações dos produtos manufactureiros em geral
diminuíram 25% e as vendas para consumo interno 10%. Sectores como as
confecções que enfrentam uma concorrência internacional acrescida especialmente
oriunda de países de mão-de-obra barata e custos baixos conheceram uma
diminuição nas exportações respectivamente de 40% e 30% em 2008 e 2009 e de
10% e 20% nos mesmos anos relativamente às vendas para consumo local. O sector
da borracha e dos produtos de plástico entre Janeiro e Junho de 2009 quando
comparado com o período homólogo de 2008 caiu respectivamente 20% e 45% nas
vendas locais e nas exportações. No mesmo período o sector da fabricação de
computadores, electrónica e produtos ópticos teve exportações que diminuíram cerca
de 30% e vendas locais a baixarem em 10%.
As Ilhas Maurícias mantiveram o segundo lugar, com um valor de VAM per capita
semelhante em 2000 e 2009.
Relativamente aos países do Norte de África, só Marrocos e a Tunísia têm um VAM
per capita superior ao de Cabo Verde. Tunísia liderou o ranking no período em análise.
Marrocos situou-se logo a seguir no ranking com uma taxa de crescimento médio
anual semelhante à da Tunísia, atingindo os 4%. A Argélia, com um VAM per capita de
127 USD e 143 USD respectivamente em 2000 e 2009, manteve-se na sexta posição
do ranking, depois de Cabo Verde.
A Costa do Marfim que no ano 2000 ocupava a quinta posição, desceu dois lugares no
ranking, ocupando em 2009 a sétima posição. Esta situação foi originada
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
42
principalmente pela instabilidade política, devido ao conflito armado que se instalou no
país desde 2003 e que tem afectado o bom funcionamento do tecido empresarial.
O Senegal, o Gana, a Nigéria e o Níger mantiveram as mesmas posições no ranking
em 2000 e 2009, sendo que o Senegal viu o VAM/capita diminuir entre 2000 e 2009. A
Nigéria, apesar de um incremento no VAM, não conseguiu melhorar a sua posição na
tabela. O Níger ocupou a 11ª posição no ranking com um VAM/capita em torno dos 11
USD em 2009.
2.3 CAPACIDADE EXPORTADORA MANUFACTUREIRA
O fenómeno da globalização é um processo de aceleração económica em que o
produtor adquire matéria-prima independentemente do país de origem e instala as
suas fábricas em países onde os custos são menores. As empresas multinacionais
tendem a localizar os centros de produção em países onde possam ter vantagens
competitivas em termos de custo, instalando-se em latitudes onde o binómio
custo/lucro está garantido. As distâncias tornaram-se cada vez mais irrelevantes
quando se trata de transacções comerciais. Os sistemas de comunicação avançados
têm permitido diminuir as distâncias entre os diversos pontos do planeta. Tudo isto tem
levado a um crescimento acelerado do comércio internacional sem que este seja
acompanhado às vezes pelo respectivo crescimento do PIB dos países alvo dos
investimentos das multinacionais.
A tabela que a seguir se apresenta descreve a evolução das exportações
manufactureiras dos países em análise bem como a sua taxa de crescimento entre os
anos 2000 e 2009. Com excepção dos casos de Malta e Maurícias com crescimentos
respectivamente de -0,4% e 1,2%, as exportações manufactureiras cresceram
substancialmente em todos os países analisados, com taxas anuais superiores a 5%.
Tabela 6 – Exportações Manufactureiras dos Países, 2000 – 2009
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
43
Ranking País
Exportações Manufactureiras a preços correntes
(em milhões de USD)
Taxa Média Anual de Crescimento
2009 2000 2000 2009 2000 - 2009
1 3 Tunísia 4.995 12.219 10,5%
2 2 Marrocos 5.639 10.966 7,7%
3 1 Argélia 5.965 9.166 4,9%
4 5 Costa do Marfim 1.733 4.261 10,5%
5 10 Nigéria 61 2.568 51,6%
6 4 Malta 2.166 2.091 -0,4%
7 6 Maurícias 1.457 1.620 1,2%
8 8 Senegal 374 1.412 15,9%
9 7 Gana (a) 477 790 6,5%
10 9 Níger (a) 127 336 12,9%
11 11 Cabo Verde 10 21 8,3%
Nota: (a) Os dados disponíveis para o último ano são de 2008 Fonte: UN COMTRADE
Em termos absolutos, a Argélia foi o país que teve o valor mais elevado de exportação
manufactureira no ano 2000, tendo atingido os 5,9 milhões de USD, seguido de
Marrocos e da Tunísia. Em 2009, a Tunísia ultrapassava a Argélia no ranking, com um
volume de exportações de 12,2 milhões de USD. Marrocos manteve-se na segunda
posição com 10,9 milhões de USD e a Argélia aparece na terceira posição com 9,1
milhões de USD. Cabo Verde ocupa a última posição tanto no ano 2000 como em
2009.
As exportações manufactureiras de Cabo Verde passaram de 10 milhões de USD em
2000 para 21 milhões de USD em 2009. Cabo Verde, apesar do crescimento, continua
a ter uma base industrial muito reduzida e direccionada para a transformação do
pescado que tem como destino o mercado Europeu. Este incremento das exportações
nesse período deveu-se ao facto de existirem um número importante de empresas
francas cuja produção foi na quase totalidade direccionada para o mercado externo.
No caso da Nigéria, Senegal e Níger com taxas de crescimento superiores a 12%
foram os países cujas exportações manufactureiras conheceram o maior crescimento.
No outro extremo, encontra-se Malta cujas exportações conheceram um retrocesso
considerável conforme já referido anteriormente.
2.3.1 Exportações manufactureiras per capita
A Tabela 7 apresenta as exportações manufactureiras per capita de Cabo Verde
comparativamente aos outros países em análise. Trata-se de um indicador relativo que
permite medir a capacidade comercial de um país para os mercados externos tendo
em conta a sua dimensão.
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
44
Malta, seguido das Maurícias e da Tunísia é o país com o maior valor de exportações
manufactureiras per capita, tendo atingido em 2000 o valor de 5.554 USD e 5.040
USD em 2009. Estes três países são os únicos países cujas exportações
manufactureiras per capita ultrapassaram os 1.000 USD em 2009.
Tabela 7 – Exportações Manufactureiras per Capita, 2000 – 2009
Ranking País
Exportações Manufactureiras per Capita (em USD)
2009 2000 2000 2009
1 1 Malta 5.554 5.040
2 2 Maurícias 1.227 1.270
3 3 Tunísia 522 1.171
4 4 Marrocos 196 343
5 5 Argélia 196 263
6 6 Costa do Marfim 100 202
7 7 Senegal 38 113
8 9 Cabo Verde 23 42
9 8 Gana (a) 24 34
10 10 Níger (a) 11 23
11 11 Nigéria 0 17
Nota: (a) Os dados utilizados para o último ano foram de 2008 Fonte: UN COMTRADE
Dos países do Norte de África, a Tunísia destaca-se com um volume de exportações
manufactureiras per capita superior a 3 vezes o de Marrocos. O crescimento médio
anual de 8,4% (de 522 USD em 2000 para 1.171 USD em 2009) registado nas
exportações das manufacturas da Tunísia, demonstram claramente a sua capacidade
exportadora.
Cabo Verde, em termos de exportações manufactureiras per capita (23 USD em 2000
e 42 USD em 2009), não obstante um importante incremento, ocupou sempre os
últimos postos do ranking superando apenas o Gana, Níger e Nigéria. A Costa do
Marfim, apesar de um crescimento anual de cerca de 7% nas suas exportações
manufactureiras per capita, manteve-se na sexta posição do ranking. A Nigéria
manteve a última posição do ranking.
2.4 O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO
O processo de industrialização de um país pode ser caracterizado pela intensidade do
processo de industrialização e pela sofisticação tecnológica do sector. Estes dois
indicadores são denominados de variável “intensidade industrialização”. O primeiro
indica a importância do sector industrial na economia do país, enquanto que o
segundo apresenta o nível tecnológico dessa mesma indústria. É nesta óptica que se
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
45
analisam os dois indicadores que fornecem dados sobre a evolução da
industrialização no país, nomeadamente
O peso do valor acrescentado do sector industrial manufactureiro (VAM) no
valor total do PIB (VAM/PIB);
O peso do valor acrescentado do sector de média e alta tecnologia (VAM-MAT)
no valor total do VAM da indústria (VAM-MAT/VAM);
2.4.1 A intensidade do processo de industrialização
A intensidade do processo de industrialização de um país pode ser medida através da
contribuição do VAM ao Produto Interno Bruto (VAM/PIB em %). Este indicador, no
entanto, não reflecte a eficiência e a competitividade do processo de industrialização.
Também não reflecte a contribuição de outros sectores como a agricultura e os
serviços no desenvolvimento industrial do país, seja como inputs ou como actividades
de apoio.
Em Cabo Verde, a contribuição do VAM ao PIB diminuiu de 9,3% em 2000 para 6,7%
em 2009 (Tabela 8). O país ocupava em 2009 a mesma 8ª posição que já ocupava em
2000 no ranking elaborado, à frente unicamente do Níger, Argélia e Nigéria. Refira-se
que todos os países em análise sofreram um decréscimo quando se comparam os
valores de 2000 com valores de 2009, o que demonstra que mesmo em países mais
dinâmicos como as Maurícias ou Malta, a crise internacional que se iniciou em 2007
tem vindo a ter efeitos negativos no sector industrial desses países. Os países
mantiveram na globalidade as posições que detinham em 2000, excepto Malta que,
apesar do contexto adverso, conseguiu subir 2 posições no ranking, ocupando agora a
5ª posição enquanto o Gana desceu da 7ª para 5ª posição.
Tabela 8 - Contribuição do Sector Industrial Manufactureiro na Economia dos Países (% do VAM/PIB), 2000-2009
Ranking País
Peso do VAM no PIB (%)
2009 2000 2000 2009
1 1 Ilhas Maurícias 23,5 19,4
2 2 Costa do Marfim 21,7 18,0
3 3 Tunísia 18,2 16,5
4 4 Marrocos 17,5 15,9
5 7 Malta 22,4 13,6
6 6 Senegal 14,7 12,7
7 5 Gana 10,1 6,9
8 8 Cabo Verde 9,3 6,7
9 9 Níger (a) 6,8 6,4
10 10 Argélia 7,5 6,1
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
46
11 11 Nigéria (b) 3,4 2,6
Nota: (a) Os dados utilizados para o último ano foram do ano 2003; (b) Os dados utilizados para os anos 2000 e 2009 foram respectivamente de 2002 e de 2006 Fonte: World Development Indicators (WDI), base de dados web da UNIDO
2.4.2 A sofisticação do processo de industrialização
Para medir a sofisticação do processo de industrialização de um país e o nível
tecnológico das suas indústrias ou seja a complexidade tecnológica da sua estrutura
industrial, utiliza-se um indicador que reflecte a contribuição das actividades de média
e alta tecnologia (MAT) no VAM do país (% do VAM-MAT/VAM). Quanto maior for o
seu peso, mais avançado tecnologicamente e complexo será o sector industrial do
país. Como se referiu, as actividades tecnologicamente mais complexas, ao facilitar a
absorção e aplicação de novos conhecimentos científicos, oferecem mais
oportunidades de aprendizagem, de inovação e de melhoria produtiva.
Como se encontra patente na Figura 3 que apresenta a sofisticação do sector
produtivo do grupo de 11 países considerados, Malta, cujas actividades de média e
alta tecnologia representaram 47% do VAM total, lidera o ranking da sofisticação do
sector produtivo. O país apostou fortemente no sector da electrónica e de
computadores, tendo fábricas a operarem nessas áreas. A Nigéria posicionou-se na
cadeia do sector automóvel, intervindo na vertente dos motores, ocupando assim a 2ª
posição seguido de perto pelo Senegal, que intervém na refinação de produtos
petrolíferos assim como o Níger. Marrocos, que desenvolveu competências na
vertente da indústria química, ocupava a 4ª posição em 2009 e Cabo Verde a 6ª
posição graças ao sector da indústria farmacêutica.
Figura 3 - Contribuição da Indústria de Média e Alta Tecnologia no Total do VAM
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
50%
MA
T/V
AM
Malta Nigéria Senegal Marrocos Níger Cabo
Verde
Gana Costa de
Marfim
Argélia Tunísia Ilhas
Maurícias
2000 Último Ano
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
47
Nota: Os dados para o ano 2000 foram retirados do relatório IDR 2009 e para o ano 2009 do relatório IDR 2010 Fonte: UNIDO-IDR 2009 e 2010; INDSTAT; INE
Relativamente a este indicador, Cabo Verde regista um decréscimo de 3%, tal como
as Maurícias, Argélia, Tunísia e Nigéria, o que pode indiciar um desinvestimento em
actividades de média e alta tecnologia por parte das indústrias desses países ou a
deslocalização de fábricas de multinacionais para os países de Leste ou para a China.
Os restantes países em análise registaram aumentos. Destacam-se o Níger com um
incremento de 8%, Malta com um crescimento de 7% e Marrocos com 4%, mostrando
que houve uma aposta na média e alta tecnologia por parte das indústrias nesses
países.
Malta e a Nigéria no período em análise, em resultado das apostas feitas nas
indústrias de média e alta tecnologia, respectivamente na electrónica, computadores e
motores para veículos, mantêm o primeiro e segundo lugar respectivamente desde
2000 conforme transparece da Tabela 9.
Cabo Verde, como consequência da não aposta em média e alta tecnologia, passou
da terceira posição em 2000 para sexto lugar em 2009. Refira-se ainda que o peso da
indústria de MAT em Cabo Verde ainda é relativamente importante no total do VAM do
país, representando 27,1% em 2009. Esta situação deve-se essencialmente à
contribuição da indústria farmacêutica conforme referido.
Tabela 9 - Ranking com base na % do VAM de MAT no VAM total, 2000 - 2009
Ranking País
Peso das indústrias manufactureiras de média e alta tecnologia no VAM total
(%)
2009 2000 2000 2009
1 1 Malta 40,2 47,0
2 2 Nigéria 35,5 33,4
3 4 Senegal 28,2 29,8
4 5 Marrocos 24,8 28,9
5 7 Níger 19,5 28,1
6 3 Cabo Verde 30,6 27,1
7 10 Gana 14,6 18,8
8 9 Costa do Marfim 15,0 15,0
9 8 Argélia 15,6 11,3
10 6 Tunísia 19,7 9,3
11 11 Maurícias 7,5 3,0
Nota: Os dados para o ano 2000 foram retirados do relatório IDR 2009 e para o ano 2009 do relatório IDR 2010 Fonte: UNIDO-IDR 2009 e 2010; INDSTAT; INE
De sublinhar que alguns países como o Níger, Marrocos e Senegal registaram
subidas, de pelo menos um lugar. A Argélia, a Costa do Marfim e Maurícias mantêm
os últimos lugares da tabela.
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
48
Efectuando uma análise conjunta das duas variáveis anteriormente analisadas
separadamente (Figura 4), identificaram-se três tipos de situações:
1) A Costa do Marfim reduziu a sua percentagem do VAM no total do PIB, sem
aumentar praticamente a participação do valor VAM - MAT no VAM total;
2) Malta, Senegal, Marrocos, Níger e Gana aumentaram as suas participações do
VAM - MAT no VAM total e diminuíram a percentagem do VAM no total do PIB;
3) Maurícias, Tunísia, Nigéria, Argélia e Cabo Verde registaram reduções nos dois
indicadores.
Figura 4 - Evolução da Relação entre os Dois Indicadores
Fonte: World Development Indicators; UNIDO-IDR 2009 e 2010; INDSTAT; INE
Segundo estudos realizados pela ONUDI, é claro o efeito do impacto directo e
indirecto da indústria de média e alta tecnologia no PIB de um país, a vários níveis,
através das oportunidades de aprendizagem e inovação, externalidades positivas para
o resto da economia e ganhos claros a nível da produtividade.
2.5 ESTRUTURA EXPORTADORA MANUFACTUREIRA
A fragmentação e internacionalização da indústria foram fundamentais para se
perceber a mudança na estrutura do comércio mundial. Em 2009, o comércio mundial
manufactureiro representou 77,4% do comércio mundial, e só as exportações
industriais de média e alta tecnologia representaram 60,3%. Esta mudança na
estrutura comercial significou também alterações para muitos países que estão a
beneficiar do processo de globalização graças ao facto de pertencerem a redes
integradas de comércio, controladas em muitos casos por empresas multinacionais.
O sector manufactureiro é um motor fundamental para o crescimento económico e
para a dinamização do comércio mundial, sendo os sectores manufactureiros de
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
50%
0% 5% 10% 15% 20% 25%
% VAM no total do PIB
VA
M M
AT
/ T
ota
l V
AM
2000 2009
Níger
Cabo Verde
Marrocos
Senegal
Gana
Argélia
Costa de Marfim
Nigéria
Tunísia
Malta
Maurícias
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
49
média e alta tecnologia uma alavanca para o país a nível do crescimento sustentável,
desenvolvimento tecnológico e criação de emprego.
2.5.1 Peso das exportações manufactureiras nas exportações totais dos países
A Tabela 10 apresenta o indicador mais básico da estrutura comercial: o peso das
exportações manufactureiras nas exportações totais dos países.
Dos países analisados, as Ilhas Maurícias continuam a ser o país com a estrutura
comercial mais orientada para a exportação manufactureira seguido de Malta e da
Tunísia. Maurícias e Malta lideram, detendo aparentemente uma estrutura comercial
mais orientada para o sector industrial (respectivamente 91,8% e 91,7% das suas
exportações em 2009 correspondem às de manufacturas), seguidos pela Tunísia e
Marrocos que ocupam a terceira e quarta posição no ranking em 2009.
Globalmente, nos últimos anos, assistiu-se a um decréscimo do peso das exportações
manufactureiras no total das exportações dos países, exceptuando os casos de
Marrocos, Níger, Senegal e Nigéria.
Por outro lado, os países que em 2000 já se encontravam no fim da tabela, mantêm
essa posição, caso da Costa do Marfim, Argélia, Gana e Nigéria. Este último é o país
onde os produtos manufacturados têm a menor participação nas exportações totais.
Isto deve-se fundamentalmente ao peso do petróleo nas transacções comerciais do
país.
Tabela 10 – Contribuição das Exportações Manufactureiras no Total das Exportações, 2000 – 2009
Ranking País
Contribuição das Export. Manuf./Total Export. (%)
2009 2000 2000 2009
1 1 Maurícias 97,8 91,8
2 2 Malta 97,5 91,7
3 4 Tunísia 85,4 84,6
4 5 Marrocos 75,9 78,7
5 6 Níger (a) 56,6 75,4
6 7 Senegal 53,9 70,0
7 3 Cabo Verde 92,6 59,9
8 8 Costa do Marfim 47,8 41,4
9 10 Argélia 27,1 20,3
10 9 Gana (a) 28,5 19,6
11 11 Nigéria 0,2 5,1
Nota: (a) Os dados utilizados para o último ano foram de 2008 Fonte: UN COMTRADE
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
50
As exportações manufactureiras cabo-verdianas em 2009 representavam cerca de
60% das suas exportações totais, traduzindo uma quebra de cerca de 33 pontos
percentuais relativamente ao ano 2000. No entanto, em termos absolutos, as
exportações manufactureiras aumentaram de valor de 2000 para 2009, facto que
evidencia uma maior dinâmica da exportação total criada pela área dos serviços face
aos produtos manufacturados.
Assim, Cabo Verde passou da terceira posição que ocupava no ranking em 2000 para
se colocar na sétima posição em 2009, perdendo assim quatro lugares no ranking e
colocando-se à frente apenas da Costa do Marfim, Argélia, Gana e Nigéria.
Por outro lado, constata-se que a exportação cabo-verdiana de produtos
manufactureiros é dominada pelos produtos de baixa tecnologia (conservas de peixe,
peixes frescos e refrigerados, lagostas frescas e congeladas, confecções, partes de
calçado, aguardentes e licores).
O principal produto de exportação do país tem sido o que resulta da sua actividade
piscatória, a qual, embora apresente uma moderada contribuição para o PIB, continua
a ter um impacto significativo em termos de emprego e nas vendas ao exterior, tendo a
transformação e preparação do pescado representado 49,71% do total das
exportações em 2009.
2.5.2 Peso das exportações de média e alta tecnologia (MAT) nas exportações
manufactureiras
Relativamente ao peso das exportações de Média e Alta Tecnologia (MAT) nas
exportações manufactureiras, Malta, Tunísia, Nigéria e Marrocos lideravam o ranking
em 2009, mantendo globalmente as mesmas posições relativamente ao ano 2000
(Tabela 11). Malta destaca-se deste grupo de 4 países com cerca de 77% das
exportações em 2009 a serem representadas por produtos de média e alta tecnologia
(MAT), na electrónica e computadores. No entanto, apesar de ter mantido a sua
posição no ranking e de ter aumentado o nível de exportação de MAT, Malta sofreu
uma redução do peso de MAT nas exportações manufactureiras de cerca de 4 pontos
percentuais (de 81% para 78%) evidenciando uma maior dinâmica dos produtos
manufactureiros em geral do que os de MAT em particular e também por uma
diminuição da procura global afectada pela concorrência global no sector da alta
tecnologia.
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
51
Tabela 11 – Peso das exportações de Média e Alta Tecnologia (MAT) no Total das Exportações Manufactureiras, 2000 - 2009
Ranking País
Contribuição das Export. de MAT/Total Export. Manuf.
2009 2000 2000 2009
1 1 Malta 81,1% 76,9%
2 3 Tunísia 24,8% 39,6%
3 2 Nigéria 60,8% 34,7%
4 4 Marrocos 23,2% 33,2%
5 6 Costa do Marfim 10,2% 25,0%
6 5 Senegal 20,9% 20,4%
7 8 Gana (a) 6,5% 18,1%
8 9 Maurícias 4,9% 8,7%
9 7 Níger (a) 8,3% 3,5%
10 11 Argélia 2,2% 0,7% 11 10 Cabo Verde 4,8% 0,0%
Nota: (a) Os dados utilizados para o último ano foram de 2008 Fonte: UN COMTRADE
Nos países com uma estrutura exportadora menos sofisticada destacam-se o Níger, a
Argélia e Cabo Verde ocupando este país a última posição no ranking dos países em
análise, tendo perdido uma posição relativamente ao ano 2000. A Argélia, por sua vez,
embora tenha sofrido uma diminuição considerável (menos 1,5 pontos percentuais em
2009), ganhou uma posição no ranking relativamente ao ano 2000.
As exportações dos produtos de MAT para Cabo Verde representavam apenas 4.8% e
0% respectivamente em 2000 e 2009 do total das exportações manufacturadas do
país, reflectindo de forma explícita a deterioração da sofisticação dos produtos
manufacturados exportados pelo país, pelo que Cabo Verde saiu da décima posição
em 2000 para se posicionar na décima primeira posição em 2009. Esta situação não
favorece o crescimento e a competitividade industrial cabo-verdiana, pois os sectores
manufactureiros com maior impacto sobre o crescimento e a competitividade industrial
são os sectores intensivos em média e alta tecnologia cuja externalidade é positiva
para o resto da economia e que tem crescido muito a nível mundial, nos últimos anos.
Os países em análise que diminuíram o peso das exportações de MAT nas
exportações manufactureiras foram Malta, Nigéria, Senegal, Níger, Argélia e Cabo
Verde.
A Figura 5 resume a evolução da estrutura exportadora de produtos manufacturados
de Cabo Verde e dos restantes países. O caminho exportador desejado consiste em
aumentar o peso das exportações de produtos manufacturados na exportação total do
país assim como, dentro do sector manufactureiro, aumentar a participação das
exportações de produtos MAT.
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
52
Figura 5 – Evolução da Estrutura da Exportação Manufactureira em Cabo Verde e nos Países Analisados
Nota: O diâmetro dos círculos representa o valor de exportação manufactureira per capita em 2009, reflectindo a capacidade de exportação de produtos manufacturados do país. Fonte: UN COMTRADE
Malta, apesar de ter mostrado uma evolução contrária ao desejado entre 2000 e 2009
é um modelo a seguir pois apresenta a estrutura de exportação mais sofisticada dos
países analisados. Cerca de 77% das suas exportações manufactureiras em 2009
eram compostas por produtos de média e alta tecnologia (MAT) e por outro lado a
exportação do país era totalmente dominada por produtos manufacturados. De facto, a
exportação desses produtos representava cerca de 98% em 2000 e 92% em 2009 da
exportação total. Verificou-se no entanto que as exportações manufactureiras de Malta
não acompanharam o crescimento das exportações do país, induzindo uma perda de
competitividade do sector industrial.
Cabo Verde e a Argélia, por sua vez, apresentam um comportamento idêntico. Entre
2000 e 2009 os produtos de MAT na exportação manufactureira dos dois países têm
perdido peso bem como a contribuição da indústria manufactureira nas exportações
totais. No entanto, as exportações manufactureiras, em valor absoluto, aumentaram
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
53
durante o período em análise, traduzindo assim o crescimento do peso da área de
serviços no total das exportações dos países.
Ao contrário, existe um grupo de cinco países, Tunísia, Marrocos, Costa do Marfim
Gana e Maurícias, que têm melhorado a sofisticação dos produtos que compõem as
exportações manufactureiras de 2000 para 2009. Excepto no caso da Costa do Marfim
e do Gana, estes países detêm uma posição de destaque no que diz respeito ao peso
das exportações de produtos manufacturados no total das exportações, tanto em 2000
como em 2009.
2.6 DIMENSÕES COMPLEMENTARES DE AVALIAÇÃO DA COMPETITIVIDADE
INDUSTRIAL
2.6.1 Impacto manufactureiro
O impacto industrial na região em análise e nas exportações mundiais é fundamental
para se compreender o posicionamento de Cabo Verde na região em termos do VAM
e da evolução da quota de mercado do país nos produtos manufacturados a nível
mundial entre 2000 e 2009.
Estes dois indicadores permitem obter simultaneamente uma imagem do
posicionamento do país a nível regional e a nível internacional.
- Impacto produtivo
A Tabela 12 apresenta o peso de cada país analisado em termos de VAM
relativamente ao valor global do VAM da região subsaariana.
Tabela 12 – Peso no VAM da Região Subsaariana, 2000 – 2009
Ranking País
Peso no VAM da região subsaariana
2009 2000 2000 2009
1 1 Marrocos 13,94% 14,15%
2 3 Tunísia 8,61% 9,41%
3 2 Argélia 9,38% 9,34%
4 5 Nigéria (a) 4,01% 5,64%
5 4 Costa do Marfim 5,48% 3,71%
6 6 Maurícias 2,28% 1,89%
7 8 Senegal 1,47% 1,36%
8 9 Gana (a) 1,09% 1,24%
9 7 Malta 1,87% 0,98%
10 10 Níger (a) 0,30% 0,31%
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
54
11 11 Cabo Verde (a) 0,12% 0,14%
Nota: a) os dados para o último ano correspondem a 2008 Fonte: World Development Indicators e site da ONUDI
O impacto do VAM de Cabo Verde na região é ainda muito reduzido, como se pode
concluir pelos valores em 2000 e 2009, respectivamente de 0,12% e 0,14%, 100 vezes
menos que o 1º classificado, Marrocos, em 2009.
Marrocos, Tunísia e Argélia são os 3 países que lideram a tabela, de forma
distanciada dos outros países.
- Impacto nas exportações
A Tabela 13 apresenta a quota de mercado dos produtos manufacturados de cada
país no comércio mundial de manufacturas.
Tabela 13 - Quota de Mercado Mundial dos Produtos Manufacturados e Evolução, 2000 - 2009
Ranking País
Quota de mercado mundial Diferença na quota
de mercado mundial
2009 2000 2000 2009 2000 - 2009
1 3 Tunísia 0,10183% 0,13567% 0,03384%
2 2 Marrocos 0,11497% 0,12176% 0,00678%
3 1 Argélia 0,12162% 0,10177% -0,01985%
4 5 Costa do Marfim 0,03532% 0,04731% 0,01199%
5 10 Nigéria 0,00124% 0,02851% 0,02727%
6 4 Malta 0,04416% 0,02322% -0,02094%
7 6 Maurícias 0,02970% 0,01799% -0,01171%
8 8 Senegal 0,00762% 0,01568% 0,00806%
9 7 Gana (a) 0,00972% 0,00684% -0,00287%
10 9 Níger (a) 0,00259% 0,00291% 0,00032%
11 11 Cape Verde 0,00021% 0,00023% 0,00002%
Nota: (a) Os dados utilizados para o último ano foram de 2008 Fonte: UN COMTRADE
O impacto das exportações do sector manufactureiro cabo-verdiano no valor global
dos produtos manufacturados e transaccionados a nível mundial é praticamente nulo.
Dos países analisados, Cabo Verde, em 2009 tinha a participação mais pequena no
total do mercado mundial de produtos manufacturados, ocupando a 11ª posição no
ranking. Refira-se ainda que a exportação cabo-verdiana de produtos manufacturados
sofreu uma variação positiva de 0.00002%, passando de 0.00021% em 2000 para
0.00023% em 2009. Contudo, conforme já referido, em termos absolutos, importa
mencionar que houve um aumento nas exportações de produtos manufacturados entre
2000 e 2009. Em 2000, o valor das exportações alcançou os 10 milhões de dólares
enquanto que em 2008 esse valor atingia 21 milhões de dólares, representando um
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
55
Crescimento Médio Anual de 8,3%. Refira-se ainda que em Cabo Verde duas grandes
empresas do ramo têxtil entraram em falência em 2005, a Cape Verde Cloding
Company e o Porto Grande.
Em 2000, a Argélia tinha a taxa mais alta de participação no mercado mundial de
produtos manufacturados (0,121%) em relação aos países em análise, seguido de
Marrocos, Tunísia, Malta, Costa do Marfim, Maurícias, Gana, Senegal, Níger, Nigéria e
Cabo Verde.
Já no ano de 2009, a Tunísia passou a ser o país líder com a maior quota de mercado
mundial, representando 0,135%, seguido de Marrocos, Argélia, Costa do Marfim,
Malta, Nigéria, Maurícias, Senegal, Gana, Níger e Cabo Verde.
A Tunísia que ocupava a terceira posição no ranking no ano 2000 e o primeiro lugar
em 2009, é o país onde se registou a maior variação positiva em termos de
participação no mercado internacional, passando de 0.101% em 2000 para 0.135% em
2008. Esta variação é também positiva na Tunísia, Marrocos, Costa do Marfim,
Nigéria, Senegal, Gana e Cabo Verde. Ao contrário, a Argélia, Malta, as Ilhas
Maurícias e Gana perderam relevância no mercado mundial de produtos
manufacturados conforme é retratado na figura seguinte.
Figura 6 - Taxa de Crescimento Anual de Produtos Manufacturados e Variação da Quota de Mercado Mundial, 2000 - 2009
Nota 1: O diâmetro dos círculos representa o valor da exportação manufactureira per capita em 2009, reflectindo a capacidade de exportação de produtos manufacturados do país. Nota 2: Os dados utilizados para o Gana e o Níger para o último ano foram de 2008 Fonte: UNCOMTRADE
-0,1
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
-0,03% -0,02% -0,01% 0,00% 0,01% 0,02% 0,03% 0,04% 0,05%
Variação na quota de mercado mundial 2000-2009
Taxa d
e c
rescim
ento
anual 2
000-2
009
TunísiaSenegalGana
Marrocos
Costa de Marfim
Nigéria
Malta
Cabo Verde
Maurícias
Níger
Argélia
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
56
2.6.2 Dinamismo exportador manufactureiro
A capacidade e flexibilidade de ajustar as estruturas industriais e de exportação cabo-
verdianas para responder à variação da procura global é uma outra dimensão
fundamental para se atingir a competitividade industrial. A importância da análise da
flexibilidade infraestrutural está directamente associada à competitividade da indústria
de Cabo Verde, sendo certo que quanto mais flexível for esta estrutura, mais
competitiva será a indústria, e consequentemente, maior será a capacidade de
exportação.
Isto é particularmente importante naqueles produtos altamente dinâmicos no comércio
mundial (que mais cresceram) entre 2000 e 2009, avaliando-se o dinamismo
exportador do país através dos seguintes indicadores: i) exportações per capita dos
vinte produtos manufacturados mais dinâmicos do mundo; ii) participação no comércio
mundial destes produtos; e iii) participação das exportações destes vinte produtos nas
exportações manufactureiras do país. Estes três indicadores analisam a capacidade
de adaptação de um país perante as variações da procura, o impacto do país no
comércio mundial e na sua estrutura exportadora, respectivamente.
Os países que têm mais sucesso são aqueles que são capazes de perceber as
exigências do mercado e de adaptarem com rapidez e atempadamente a sua estrutura
produtiva e comercial para satisfazer as novas exigências antes da concorrência.
Cabo Verde tem uma economia insular que apesar de pertencer a uma comunidade
económica (CEDEAO), encontra-se, por força da globalização, inserido no mercado
mundial, pelo que importa analisar a competitividade dos produtos produzidos e
comercializados tanto no mercado mundial como na CEDEAO, e com isso avaliar a
capacidade de adaptar ou reorientar a indústria manufactureira em função das
necessidades de ambos os mercados, conforme uma estratégia económica definida
pelo governo, sendo certo que o incremento das relações comerciais com os países
da CEDEAO constitui hoje um dos vértices desta estratégia económica.
Para avaliar a competitividade dos produtos produzidos a nível mundial, apresenta-se na na
Tabela 14 os vinte produtos manufacturados mais dinâmicos no comércio mundial.
Tabela 14 – Os Vinte Produtos Manufacturados mais Dinâmicos no Comércio Mundial, 2000 – 2009
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
57
Estes são os produtos manufacturados - a três dígitos da classificação CSCI (Classificação Standard para o Comércio Internacional), revisão 3 - com maior crescimento no comércio mundial entre 2000 e 2009.
Ranking Classificação Tecnológica
Produto (CUCI)
Designação do Produto Taxa de Crescimento
Anual 2000-2009
1 Recursos Naturais 281 Minério de ferro/concentrado 22,0%
2 Alta tecnologia 871 Instrumentos ópticos 20,0%
3 Recursos Naturais 283 Minério de cobre/concentrado 17,8%
4 Recursos Naturais 422 Óleos vegetais 17,6%
5 Alta Tecnologia 542 Medicamentos incluindo a área veterinária 16,8%
6 Recursos Naturais 282 Sucata de resíduos de ferro 16,6%
7 Alta Tecnologia 541 Excipientes farmacêuticos exclui medicamentos 16,3%
8 Baixa Tecnologia 691 Ferro/estruturas de alumínio 15,2%
9 Média Tecnologia 793 Navios/barcos 15,0%
10 Recursos Naturais 335 Produtos derivados do petróleo 13,6%
11 Baixa Tecnologia 679 Ferro/aço/tubo 13,6%
12 Recursos Naturais 334 Gasolina pesada/óleos 13,5%
13 Média Tecnologia 562 Produção de fertilizantes 13,5%
14 Alta Tecnologia 751 Equipamento de escritório 13,1%
15 Recursos Naturais 421 Óleo vegetal fixo/gordo, leve 12,7%
16 Média Tecnologia 761 Écrans de TV 12,7%
17 Recursos Naturais 288 Base de resíduos metálicos 12,4%
18 Baixa Tecnologia 899 Diversos artigos de manufactura 12,4%
19 Baixa Tecnologia 897 Jóias 12,1%
20 Recursos Naturais 048 Cereais, farinha, amido 11,7% Fonte: WITS (UN Comtrade)
Para avaliar a capacidade da adaptação da estrutura produtiva de Cabo Verde e dos
países da CEDEAO, é apresentada na
Tabela 15 a evolução em termos de crescimento anual para os vinte produtos
manufacturados mais dinâmicos no comércio da CEDEAO.
Tabela 15 - Os Vinte Produtos Manufacturados mais Dinâmicos no Comércio da CEDEAO, 2000 – 2009
Ranking Classificação Tecnológica
Produto Designação do Produto Taxa de
Crescimento Anual 2000-2009
1 Recursos Naturais 035 Peixe seco/salgado/fumado 41,6%
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
58
2 Média Tecnologia 737 Máquinas para a metalurgia 34,7%
3 Baixa Tecnologia 694 Pregos/parafusos/porcas 33,7%
4 Média Tecnologia 761 Écrans de TV 32,8%
5 Média Tecnologia 746 Rolamentos 31,7%
6 Média Tecnologia 749 Peças de máquinas 30,5%
7 Média Tecnologia 747 Torneiras/válvulas 29,5%
8 Recursos Naturais 621 Materiais de borracha 27,9%
9 Alta Tecnologia 759 Peças para equipamento de escritório 27,7%
10 Média Tecnologia 784 Componentes de motores de veículos/peças 26,6%
11 Média Tecnologia 553 Perfumes/cosméticos/limpeza 26,5%
12 Média Tecnologia 783 Veículos automóveis 26,3%
13 Baixa Tecnologia 679 Ferro/aço/tubo 25,7%
14 Média Tecnologia 582 Folhas de plástico/películas 24,9%
15 Média Tecnologia 513 Composto de ácido carboxílico 23,5%
16 Média Tecnologia 743 Ventiladores/filtros/bombas de gasolina 22,9%
17 Média Tecnologia 713 Motores a combustão 22,7%
18 Baixa Tecnologia 699 Fabricação de bases metálicas 22,7%
19 Baixa Tecnologia 695 Ferramentas industriais 22,5%
20 Baixa Tecnologia 658 Artigos de vestuário 21,6% Fonte: WITS (UN COMTRADE)
Constata-se que na CEDEAO os produtos com maiores taxas de crescimento são os
de baixa e média tecnologia, sendo que a nível mundial, os mais dinâmicos são os
produtos baseados em recursos naturais e os de alta tecnologia, o que pode explicar
em parte a fraca quota de mercado dos países da região no comércio mundial de
produtos manufacturados. Nesse sentido, devem ser analisadas as oportunidades
existentes de Cabo Verde poder exportar os produtos mais procurados pelo mundo, o
que se afigura como uma tendência liderada por poucos países, e/ou exportar os
produtos mais procurados intra CEDEAO e diversificar os mercados como estratégia
para reduzir a dependência do mercado da União Europeia, para o qual são hoje
exportados grande parte da produção como será analisado mais adiante. Entre 2000 e
2009, Portugal foi sempre o principal destino das exportações de Cabo Verde, sendo
que os valores exportados situaram-se sempre acima dos 69% do total das
exportações.
Ao contrário, os produtos que Cabo Verde mais exportava para a CEDEAO em 2000
eram os de alta tecnologia e a nível mundial sobretudo os de média tecnologia, sendo
certo que a exportação de produtos baseados em recursos naturais e também de alta
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
59
tecnologia assumiam então uma pequena parcela nas exportações do país para o
Mundo.
- Capacidade de exportação per capita dos vinte produtos manufacturados mais
dinâmicos do mundo
A análise da capacidade de exportação de Cabo Verde dos vinte produtos
manufacturados mais dinâmicos no comércio mundial é fundamental para se poder
avaliar a capacidade de produção industrial per capita do país, comparando o
desempenho com países semelhantes. O objectivo passa por conceber um tipo de
intervenção adequada de forma a reajustar e capacitar o tecido industrial, visando
aumentar a sua competitividade.
A Tabela 16 apresenta as exportações per capita de cada um dos países analisados
para o conjunto dos vinte produtos manufacturados mais dinâmicos no Mundo. Malta,
Tunísia e Argélia foram os países que em 2009 tiveram maior exportação per capita
nos 20 vinte produtos mais dinâmicos, respectivamente com 695 USD, 210 USD e 155
USD. Verifica-se que não obstante a pequena diferença no ranking, a capacidade de
exportação desses produtos em Malta é quase três vezes superior à da Tunísia, e
quase quatro vezes superior à da Argélia. Malta aparece nesta análise como sendo
um modelo de referência.
Tabela 16 - Exportações per Capita dos 20 Produtos Manufacturados mais Dinâmicos no Mundo, 2000 – 2009
Ranking País
Exportações per capita dos 20 produtos manufacturados mais
dinâmicos do mundo Valores a preços correntes
(em USD)
2009 2000 2000 2009
1 1 Malta 137,98 695,14
2 3 Tunísia 67,73 210,23
3 2 Argélia 110,52 155,04
4 4 Costa do Marfim 43,48 115,18
5 5 Maurícias 39,04 99,17
6 6 Marrocos 23,62 48,07
7 7 Senegal 17,14 43,51
8 8 Gana (a) 3,70 5,62
9 10 Nigéria 0,18 1,92
10 11 Cabo Verde 0,05 0,74
11 9 Níger (a) 0,39 0,65
Nota: (a) Os dados utilizados para o último ano foram de 2008
Fonte: WITS (UN Comtrade)
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
60
De salientar ainda que dos países da CEDEAO, a Costa do Marfim apresentou um
melhor desempenho neste ranking, não sofrendo nenhuma alteração em termos de
posicionamento durante o período em análise, e o seu nível das exportações per
capita teve um aumento de 167%, passando de 43 USD em 2000 para 115 USD em
2009 ou o equivalente a um crescimento médio anual de 11,6%.
Cabo Verde ocupa, de entre este grupo de países, o penúltimo lugar no ranking de
capacidade exportadora manufactureira dos 20 produtos mais dinâmicos no mundo, só
ficando à frente do Níger. As exportações desses produtos per capita não tiveram
expressão ao longo dos últimos 10 anos, razão da manutenção da posição nos últimos
lugares do ranking ao longo do período em análise. Cabo Verde registou assim em
2000 o valor de 0.05 USD e em 2009 atingia o valor de 0,74 USD.
- Estrutura das exportações considerando os 20 produtos manufacturados mais
dinâmicos no mundo
No que diz respeito ao peso dos 20 produtos mais dinâmicos para cada um dos 11
países analisados nas respectivas exportações manufactureiras, entre os anos 2000 a
2009, a Argélia assume o primeiro lugar no ranking de 2009, passando de 56,5% em
2000 para 59% em 2009, seguido da Costa do Marfim, Senegal, Tunísia e Gana.
Tabela 17 – Peso dos 20 Produtos mais Dinâmicos do Mundo nas Exportações de Produtos Manufacturados, 2000 – 2009
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
61
Ranking País
Peso dos 20 produtos mais dinâmicos do mundo nas exportações de produtos
manufacturados
2009 2000 2000 2009
1 1 Argélia 56,5% 59,0%
2 3 Costa do Marfim 43,4% 57,0%
3 2 Senegal 45,4% 38,6%
4 6 Tunísia 13,0% 17,9%
5 5 Gana (a) 15,1% 16,6%
6 7 Marrocos 12,1% 14,0%
7 10 Malta 2,5% 13,8%
8 4 Nigéria 36,0% 11,5%
9 9 Maurícias 3,2% 7,8%
10 8 Níger (a) 3,4% 2,9%
11 11 Cabo Verde 0,2% 1,8%
Nota: (a) Os dados utilizados para o último ano foram de 2008
Fonte: WITS (UN Comtrade)
Cabo Verde ocupa o último lugar neste ranking, sendo de notar que em 2000, o peso
das exportações manufactureiras dos 20 produtos mais dinâmicos nas exportações
manufactureiras totais foi insignificante (0.2%).
- Impacto em termos de quota de mercado dos países a nível mundial dos 20
produtos manufacturados mais dinâmicos do mundo
O impacto dos 20 produtos mais dinâmicos para cada um dos 11 países analisados no
comércio mundial desses produtos é retratado na Tabela 18, na qual, a Argélia, apesar
de liderar o ranking no período em análise, diminuiu a sua participação a nível
mundial, passando de 0.658% em 2000, para 0.306% em 2009, seguido da Costa do
Marfim e da Tunísia.
Tabela 18 – Quota de Mercado por País a Nível Mundial dos 20 Produtos mais Dinâmicos no Mundo, 2000 – 2009
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
62
Ranking País
Quota de mercado a nível mundial dos 20 produtos mais dinâmicos no mundo
2009 2000 2000 2009
1 1 Argélia 0,65802% 0,30630%
2 2 Costa do Marfim 0,14666% 0,13743%
3 4 Tunísia 0,12641% 0,12417%
4 3 Marrocos 0,13288% 0,08708%
5 5 Senegal 0,03312% 0,03087%
6 9 Nigéria 0,00427% 0,01679%
7 7 Malta 0,01050% 0,01633%
8 8 Maurícias 0,00904% 0,00716%
9 6 Gana (a) 0,01409% 0,00596%
10 10 Níger (a) 0,00084% 0,00044%
11 11 Cabo Verde 0,00000% 0,00002%
Nota: (a) Os dados utilizados para o último ano foram de 2008 Fonte: WITS (UN Comtrade)
Refira-se ainda que Marrocos e Gana perderam respectivamente uma e três posições
no ranking bem como quota de mercado no comércio mundial desses produtos, tal
como a maioria dos países, excepto Nigéria, Malta e Cabo Verde. Isto reflecte o pouco
dinamismo exportador da região africana e a pressão competitiva procedente de
outros países, principalmente do Sudeste Asiático, que souberam adaptar-se com
maior celeridade à procura do mercado mundial.
Por fim, há que mencionar também o caso da Nigéria que, para além de melhorar a
sua posição no ranking, aumentou a sua quota de mercado a nível mundial.
Cabo Verde aparece neste ranking em último lugar, sendo o peso das exportações
dos 20 produtos mais dinâmicos do país no comércio mundial praticamente nulo em
2009 (0,00002%).
Análise comparativa dos indicadores: Capacidade, Estrutura e Impacto
A análise efectuada ao longo deste capítulo circunscreveu-se aos indicadores da
Capacidade, Estrutura e Impacto, das exportações de Cabo Verde relativas aos 20
produtos mais dinâmicos no comércio mundial, comparando-as com um grupo restrito
de países da CEDEAO (Costa do Marfim, Gana, Níger, Nigéria e Senegal), incluindo,
no entanto, alguns países modelos, tanto a nível de similaridade geográfica (Malta e
Maurícias), como a nível do continente africano (Marrocos, Argélia, Tunísia).
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
63
A capacidade de exportação de Cabo Verde, e por conseguinte, dos países da
CEDEAO está em média abaixo da capacidade de produção de Malta (um dos países
modelo), bem como de alguns dos países do Magrebe (Argélia e Tunísia).
No entanto, e contrariamente a este indicador de Capacidade, no indicador de
Estrutura, alguns países da CEDEAO (Costa do Marfim, Senegal e Gana) já aparecem
nas posições cimeiras do ranking, o que denota a importância que estes produtos têm
nas suas exportações manufactureiras.
Relativamente ao indicador de Impacto, nota-se um comportamento quase semelhante
àquele verificado no indicador de Capacidade, onde os países considerados modelos,
ocupam as melhores posições neste ranking (Argélia, Tunísia e Marrocos). Refira-se
ainda que dos países da CEDEAO, a Costa do Marfim, à semelhança do desempenho
no indicador de Capacidade, ocupa um lugar de destaque. É o país, depois da Argélia,
que mais peso tem nas exportações dos 20 produtos mais dinâmicos a nível mundial.
Cabo Verde, para todos os indicadores analisados, denota ter um sector industrial com
limitações para se adaptar à procura mundial. Assim sendo, para aumentar a
competitividade industrial de Cabo Verde, será necessário repensar a política industrial
e comercial do país, tendo em atenção os produtos mais procurados a nível mundial,
os mercados mais dinâmicos e uma preocupação constante em diversificar os
mercados visando reduzir a dependência de um único mercado/região.
Finalmente, importa dizer que o dinamismo associado aos produtos varia ao longo do
tempo, e não está necessariamente associado à intensidade tecnológica e à
sofisticação no curto prazo, pelo que se Cabo Verde quiser ser realmente competitivo,
terá de apostar num sector industrial com uma estrutura bastante flexível.
2.6.3 Diversificação de produtos manufacturados e de mercados
A diversificação de produtos e mercados tem demonstrado estar na base do sucesso
industrial dos países e na capacidade em alcançar a competitividade industrial. Os
países que exportam uma maior gama de produtos manufacturados, além de
demonstrarem capacidade para competirem internacionalmente, reduzem a sua
dependência face à dinâmica do mercado doméstico. Além disso, ao diversificarem os
mercados de destino diminuem a vulnerabilidade perante eventuais choques externos
com consequências na queda da procura em mercados específicos.
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
64
A diversificação de mercados e produtos gera, além disso, externalidades positivas
que fomentam a competitividade industrial. A competitividade exige a adaptação e
assimilação de novas tecnologias e a criação de novos mecanismos de mercado.
Estas tendências favorecem o desenvolvimento das capacidades humanas e das
instituições que as promovem. No entanto, a diversificação comercial é um processo
moroso, dispendioso e arriscado que requer o apoio institucional.
Neste capítulo são introduzidos os índices que serviram para analisar a diversificação
de produtos e mercados dos 11 países, respectivamente o Índice de Diversificação de
Produtos Manufacturados (IDP) e o Índice de Diversificação de Mercados (IDM).
Posteriormente, Cabo Verde é posicionado na matriz de vulnerabilidade e comparada
a sua posição com os outros países.
2.6.3.1 Diversificação de produtos manufacturados
O Quadro 2 apresenta a metodologia utilizada para o cálculo do Índice de
Diversificação de Produtos Manufacturados (IDP).
Quadro 2 - Metodologia para o cálculo do Índice de Diversificação de Produtos Manufacturados (IDP)
O IDP mostra a dependência exportadora manufactureira de um dado país em relação à estrutura do comércio mundial. Compara assim a estrutura exportadora manufactureira de cada país com a do mundo em geral, penalizando aqueles países que apresentam uma concentração exportadora em produtos manufacturados que não têm procura no mercado mundial. A metodologia de cálculo baseia-se no Índice de Diversificação de Produtos elaborado pela UNCTAD, mas com a seguinte diferença: primeiro o IDP da ONUDI contempla unicamente a diversificação de produtos manufacturados, excluindo, portanto, as exportações primárias e outro tipo de transacções. A fórmula utilizada é a seguinte:
Em que IDPp é o Índice de Diversificação de Produtos Manufacturados para o paísp; Σ é a soma dos valores entre parênteses, hpx é a percentagem das exportações de um produto específico do paísp no total das exportações manufactureiras X do mesmo país; hi é o peso do produto específico no total das importações manufactureiras mundiais i. Uma vez obtidos os valores do índice, estes são normalizados e a ordem é invertida (calcula-se 1- IDP normalizado) para que o índice tenha valores compreendidos entre 0 (maior concentração) e 1 (maior diversificação). Fonte: ONUDI
A Tabela 19 mostra o ranking do IDP para os países analisados. As posições dos
países no ranking, entre 2000 e 2009, revelam que em quase uma década não se
verificaram alterações significativas, o que confirma assim a premissa que a
diversificação da carteira exportadora de produtos manufacturados de um país é um
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
65
processo moroso, pois está associado à um conjunto importante de variáveis, tais
como a disponibilidade financeira, a capacidade em atrair Investimento Directo
Estrangeiro (IDE), a criação de competências, as barreiras fitossanitárias e
alfandegárias impostas para certos produtos, entre outros, que só se conseguem
ultrapassar a longo prazo.
Tabela 19 - Índice de Diversificação de Produtos Manufacturados (IDP), 2000-2009
Ranking País
Valor do IDP
2009 2000 2000 2009
1 1 Tunísia 0,284 0,418
2 3 Malta 0,225 0,323
3 2 Marrocos 0,284 0,317
4 4 Senegal 0,224 0,285
5 5 Costa do Marfim 0,199 0,279
6 6 Gana (a) 0,190 0,277
7 7 Nigéria 0,156 0,256
8 8 Maurícias 0,130 0,220
9 10 Argélia 0,076 0,096
10 9 Níger (a) 0,115 0,083
11 11 Cabo Verde 0,067 0,045
Nota: (a) Os dados utilizados para o último ano foram de 2008
Fonte: UN Comtrade
A análise comparativa do desempenho dos 11 países mostra que, em 2009, Tunísia,
Malta, Marrocos e Senegal foram os países que tiveram uma estrutura exportadora
manufactureira mais diversificada e com menores níveis de concentração de produtos
manufacturados exportados. Marrocos que no ano 2000 ocupava o segundo lugar no
ranking caiu uma posição situando-se no terceiro lugar enquanto Malta subiu uma
posição, alcançando o segundo lugar. Os outros países mantiveram as posições que
tinham em 2000.
Todos os países, com excepção de Cabo Verde e Níger, registaram um ligeiro
incremento no número de produtos manufacturados exportados, de onde se destaca o
desempenho da Nigéria seguido de Malta, Tunísia e Maurícias.
Durante o período em análise, não obstante as exportações totais cabo-verdianas
terem registado um incremento significativo, passando de 11,1 milhões de USD em
2000 para 35 milhões de USD em 2009, o peso da oferta exportadora manufactureira
no total das exportações sofreu um decréscimo de 92,6% para 59,9%, o que aliado à
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
66
redução do número de produtos manufacturados exportados colocou Cabo Verde na
cauda do ranking, como o país com menor diversificação de produtos.
A Figura 7 permite fazer a comparação do peso das cinco maiores exportações
manufactureiras no total das exportações manufactureiras de Cabo Verde, Senegal e
Maurícias. A comparação de Cabo Verde com o Senegal tem por racional o facto de
estes países serem vizinhos e concorrentes em mercados e produtos sendo que o
Senegal se posiciona melhor nos rankings internacionais de competitividade industrial.
No caso das Ilhas Maurícias, justifica-se pela insularidade dos dois países e por se
tratar de um país que pode servir de modelo a ser seguido por Cabo Verde nalguns
sectores conforme já referido anteriormente.
Figura 7 - Peso das Cinco Maiores Exportações Manufactureiras no Total das Exportações Manufactureiras dos Países, 2000-2009
Fonte: UN Comtrade
Como se pode observar Cabo Verde apresenta-se como o país cuja oferta
exportadora manufactureira é a mais concentrada, onde cinco dos produtos
exportados representaram 95,4% em 2000 e 94,2% em 2009, o que faz com que as
oscilações no preço e no volume de exportação daqueles produtos tenham grandes
implicações na economia do arquipélago.
O cabaz de produtos manufacturados de Cabo Verde, já de si reduzido, sofreu uma
evolução desfavorável de 2000 para 2009, devido a 3 factores:
Diminuição dos produtos manufacturados exportados que passaram de 42 para
19
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
67
Redução das exportações de produtos manufacturados que de 92,6%
passaram a representar apenas 59,9% das exportações totais do país, facto
explicado pelo encerramento naquele período de várias empresas industriais
do sector do calçado, vestuário e da electrónica; e
Aumento das exportações de produtos primários, de 7% para 40,1% das
exportações totais do país, principalmente na vertente da transformação de
pescado e marisco (conservas nomeadamente), do calçado e roupa de
homem, que passaram de 501 mil euros para 6,3 milhões de euros entre 2000
e 2009.
Com valores claramente vantajosos em relação a Cabo Verde encontram-se Maurícias
e Senegal que para além de terem aumentado significativamente as suas exportações
manufactureiras registaram uma menor concentração dos cinco principais produtos,
reduzindo o seu peso respectivamente para 65,8% e 62,3% em 2009, de uma situação
inicial em 2000 com 77,9% e 66,3%.
Principais Indústrias em Cabo Verde
Como se pode observar pela Tabela 20, as principais indústrias manufactureiras cabo-
verdianas de exportação em 2009 foram a transformação de pescado (conservas de
peixe, peixes frescos e refrigerados), as confecções e o calçado, onde são
predominantes os produtos de baixo nível tecnológico e de mão-de-obra
especializada, com implicações negativas na competitividade industrial do país quando
confrontado com os novos desafios da globalização, onde as indústrias são
tecnologicamente mais avançadas e dispõem de trabalhadores mais qualificados.
Tabela 20 - Peso dos cinco produtos mais importantes nas exportações
manufactureiras de Cabo Verde em 2000 e 2009
Destino/ Ano
Classificação tecnológica
CTCI Produto Em
Milhares Participação no
Total das
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
68
de USD Exportações Manufactureiras
Mundo (2000)
BT 851 Calçado 5.730,46 55,70%
95,4%
BT 841 Roupa homem/rapazes 2.783,96 27,06%
BT 842 Vestuário senhora/rapariga 896,658 8,72%
AT 771 Equipamentos Electrónicos 244,221 2,37%
RN 112 Bebidas Alcoólicas 154,578 1,50%
Mundo (2009)
RN 037 Transformação, preparação de pescado e amêijoas 10.464,16 49,71%
94,2%
BT 851 Calçado 3.657,41 17,38%
BT 841 Roupa homem/rapazes 3.323,94 15,79%
BT 845 Artigos de vestuário 1.194,21 5,67%
BT 843 Roupa de homem/rapaz, em tricô ou croché 1.191,51 5,66%
Fonte: UN Comtrade
2.6.3.2 Diversificação de mercados
O Quadro 3 apresenta a metodologia que se utiliza para o cálculo do Índice de
Diversificação de Mercados (IDM).
Quadro 3 - Metodologia para o cálculo do Índice de Diversificação de Mercados (IDM)
O IDM mostra a dependência de um país em relação aos mercados de destino de produtos manufacturados tendo conta a importância desses mercados nas importações mundiais de manufacturas. A metodologia de cálculo segue a mesma lógica da metodologia do Índice de Diversificação de Produtos Manufacturados (IDP), explicada previamente. Os mercados considerados para o presente estudo são os seguintes: União Europeia, África Subsariana, América Latina, Este Asiático e Ásia do Sul, Médio Oriente e Norte de África e a categoria “resto do mundo”. Só são consideradas as exportações manufactureiras agregadas, como se estas fossem um único produto. A forma utilizada é a seguinte:
Em que IDMp é o Índice de Diversificação de Mercados para o paísp; Σ é a soma dos valores entre parênteses, hpx é a percentagem que representa as exportações manufactureiras do paísp em cada mercadoX no total das exportações manufactureiras totais do país ao mundo; hi é a percentagem de importações de produtos manufactureiros de cada região nas importações mundiais de manufacturas i. Uma vez obtidos os valores do índice, estes são normalizados e a sua ordem é invertida (calcula-se 1-IDM normalizado) para que o índice final tenha valores compreendidos entre 0 (maior concentração) e 1 (maior diversificação). Fonte: ONUDI
A Tabela 21 apresenta o ranking do IDM para os países analisados. Malta lidera o
ranking, apresentando-se diversificado tanto em termos de mercados como de
produtos (como se viu na secção anterior), de modo que uma eventual quebra na
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
69
procura dos mercados para onde exporta não afectará gravemente o sector exportador
do país. Em 2009, o seu principal mercado exportador foi a União Europeia-27, que
absorveu cerca de 44% do total das exportações manufactureiras do país, seguido dos
países do Leste Asiático e Pacifico (26%), os Estados Unidos (10%), o Médio Oriente
e Norte de África (10%) e a África Subsariana (1%).
Tabela 21 - Índice de Diversificação de Mercados (IDM), 2000-2009
Ranking País
Valor do IDM
2009 2000 2000 2009
1 1 Malta 0,85 0,84
2 3 Níger (a) 0,66 0,71
3 6 Nigéria 0,61 0,69
4 2 Argélia 0,77 0,67
5 8 Marrocos 0,51 0,61
6 5 Gana (a) 0,63 0,59
7 7 Tunísia 0,52 0,56
8 4 Maurícias 0,64 0,55
9 9 Cabo Verde 0,46 0,41
10 11 Costa do Marfim 0,39 0,37
11 10 Senegal 0,46 0,33
Nota: (a) Os dados utilizados para o último ano foram de 2008
Fonte: UN Comtrade
De notar que apesar da carteira de produtos do Níger e da Argélia ser muito limitada,
encontrando-se, respectivamente, na décima e nona posição do ranking de IDP em
2009, estes países mesmo com uma reduzida gama de produtos conseguem aceder a
um maior número de mercados comparativamente a outros países em análise,
ocupando a segunda e quarta posição no ranking do IDM para 2009.
A Argélia tem como mercados principais os países dos três continentes: União
Europeia-27, Médio Oriente e Norte de África e os Estados Unidos, que em 2009
absorveram, respectivamente, 37%, 18% e 28% das suas exportações. No caso do
Níger, é de realçar a entrada deste país de forma significativa num novo mercado em
2006 (países do Leste Asiático e Pacífico) e ao contrário a gradual dependência face
ao seu principal mercado exportador, a União Europeia-27, para onde canalizou 52%
das suas exportações em 2008, 5% menos que no ano 2000.
O Senegal é o país em último lugar na tabela devido à retracção dos mercados para
onde exporta e à alta concentração das exportações manufactureiras para países da
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
70
África Subsariana, que concentraram 56% das exportações manufactureiras deste
país em 2009.
Cabo Verde encontra-se na nona posição, tendo como clientes quase que exclusivos
os países da União Europeia-27, que absorveram 97% das exportações
manufactureiras em 2009 (Espanha 46%, Portugal 50%, Holanda 1%) e portanto muito
sujeito às oscilações daquelas economias. De notar que os acordos comerciais e
económicos regionais, como o acordo da CEDEAO, ainda relativamente recente, têm
tido um reflexo limitado na abertura de novos mercados, o que poderá estar
fortemente relacionado com o tempo necessário de implementação e com o facto de
aqueles países acederem aos mesmos sectores e produtos, tornando deste modo
ineficazes estes acordos na vertente da expansão das trocas comerciais.
De 2000 a 2009, Malta, Tunísia e Cabo Verde mantiveram as posições no ranking do
IDM, não se tendo observado alterações significativas no valor dos índices. Níger,
Nigéria, Argélia, Marrocos e Costa do Marfim melhoraram a posição no ranking ao
diversificarem os mercados de destino bem como a gama de produtos
manufacturados, enquanto que nos restantes países verificou-se uma maior
concentração em ambas as variáveis.
2.6.3.3 Matriz de vulnerabilidade
A Figura 8 combina os dois índices de diversificação (IDP e IDM) apresentados neste
estudo para os países seleccionados. Obtém-se assim uma matriz de vulnerabilidade
com quatro cenários possíveis: forte vulnerabilidade em produtos e mercados (risco
máximo); fraca vulnerabilidade em produtos e mercados (risco mínimo); fraca
vulnerabilidade em produtos e forte em mercados (risco médio); fraca vulnerabilidade
em mercados e forte em produtos (risco médio). A uma maior diversificação está
associada uma menor vulnerabilidade e vice-versa.
Malta, Gana, Marrocos e Nigéria situam-se no quadrante de fraca vulnerabilidade em
produtos e mercados. Estes países foram capazes de diversificar os seus produtos e
mercados de exportação. O Senegal, a Costa do Marfim e a Tunísia apresentam uma
forte vulnerabilidade em mercados e fraca em produtos. A prioridade destes países
consistirá em diversificar os mercados de destino para a gama alargada de
exportações manufactureiras. Numa situação contrária encontram-se países como o
Níger e a Argélia que apresentam uma forte vulnerabilidade em produtos e uma fraca
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
71
vulnerabilidade em mercados, pelo que a sua estratégia deverá focar-se no
desenvolvimento e comercialização de novos produtos, aproveitando os muitos
mercados a que já têm acesso.
Finalmente, Cabo Verde e as Maurícias encontram-se no quadrante de forte
vulnerabilidade tanto a nível dos produtos como dos mercados pois apresentam
maiores níveis de concentração tanto a nível de produtos como de mercados, estando
assim mais expostos a variações na procura da carteira reduzida de produtos
exportados para os poucos mercados de destino. Saliente-se ainda que as Maurícias
estão muito perto de passarem a pertencer ao grupo dos países com fraca
vulnerabilidade a nível dos produtos e dos mercados. No caso de Cabo Verde, a
diversificação tanto nos produtos como nos mercados representa um factor essencial
para o sucesso da indústria no país.
Figura 8 - Posicionamento dos países de Cabo Verde na Matriz de vulnerabilidade de produtos e mercados, 2009
Nota: O Gana e o Níger apresentaram dados para o ano 2008
Fonte: UN Comtrade
3 COMPETITIVIDADE SECTORIAL MANUFACTUREIRA DE
CABO VERDE
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45
índ
ice
de
Div
ers
ific
ação
de
Me
rcad
o (I
DM
)
Índice de Diversificação de Produto (IDP)
Maurícias
Níger
Argélia
Nigéria
Tunísia
Gana
Malta
Cabo Verde
Marrocos
Costa de Marf im
Senegal
Forte vulnerabilidade a nível dos
mercados e fraca a nível de produtos
Forte vulnerabilidade a nível dos
produtos e fraca a nível de mercados
Forte vulnerabilidade a nível de
produtos e mercados
Fraca vulnerabilidade a nível dos
produtos e dos mercados
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
72
Este capítulo apresenta uma análise sectorial da competitividade manufactureira de
Cabo Verde e avalia a posição competitiva do país nos produtos mais significativos de
quatro sectores, divididos de acordo com o seu nível tecnológico: sectores baseados
em recursos naturais (RN), sectores de baixa tecnologia (BT), sectores de média
tecnologia (MT) e sectores de alta tecnologia (AT).
Refira-se que esta análise não é conclusiva dado que se focaliza unicamente no
desempenho das exportações. Para se avaliar de forma global a competitividade
sectorial seria necessário proceder-se a um levantamento do impacto na procura a
nível nacional e compreender a profundidade e complexidade das competências do
sector industrial. Esta vertente ultrapassa largamente o âmbito deste estudo. Apesar
das limitações, a análise que se apresenta de seguida contem informação chave sobre
o desempenho sectorial que reflecte a capacidade do país em competir
internacionalmente nesses sectores.
3.1 SECTORES DE RECURSOS NATURAIS (RN) E DE BAIXA TECNOLOGIA
(BT)
Recursos Naturais (RN)
A categoria de bens manufacturados baseados em recursos naturais (RN) inclui bens
tais como a transformação de alimentos, produtos simples de madeira, produtos
derivados da refinação do petróleo, tintas, couro, pedras preciosas e produtos
químicos orgânicos. Inclui assim produtos de base agro-industriais mas também outro
tipo de produto simples derivado de indústrias extractivas. Com excepção da indústria
de refinação de petróleo e de alguns produtos químicos, os produtos RN requerem
tecnologias relativamente simples e estáveis e mão-de-obra não muito qualificada. A
competitividade destes sectores está ligada principalmente à existência de recursos no
país e às oscilações dos preços no mercado internacional. As empresas
multinacionais desempenham um papel predominante nas indústrias extractivas pois
contribuem com o capital e a tecnologia necessários.
Baixa Tecnologia (BT)
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
73
Os produtos manufacturados de baixa tecnologia (BT) incluem, por um lado, produtos
de confecção, têxteis, calçado e cabedal, e por outro, produtos simples de metal,
plástico, cristal, jogos e móveis. Estes produtos caracterizam-se por serem intensivos
em mão-de-obra e por utilizarem tecnologias relativamente simples; os gastos em
investigação e desenvolvimento (I&D) tendem a serem reduzidos e a inovação a ser
limitada. Nos produtos menos sofisticados dentro da categoria (por exemplo a
confecção de roupa), a competitividade reside em manter os custos de mão-de-obra
baixos e ter níveis elevados de produtividade. Estes sectores têm poucas barreiras à
entrada e portanto estão muito expostos à penetração de novos concorrentes. Nos
produtos mais sofisticados dentro da categoria (por exemplo desenho de roupa ou
criação de novos tecidos), a competitividade exige uma maior capacidade tecnológica
e humana, organização produtiva e uma rápida capacidade de resposta face às
necessidades do mercado.
A Tabela 22 apresenta a quota de mercado dos 11 países no comércio mundial de
manufacturas de produtos RN e BT. No respectivo ranking, Cabo Verde ocupa a última
posição. Refira-se ainda que os produtos RN e BT representam cerca de 100% das
exportações manufactureiras de Cabo Verde.
Tabela 22 - Participação no Comércio Mundial de Produtos Manufacturados RN e BT, 2000-2009
Ranking País
Quota de mercado no comércio mundial de RN e BT
2009 2000 2000 2009
1 1 Argélia 0,334% 0,256%
2 3 Tunísia 0,215% 0,208%
3 2 Marrocos 0,248% 0,206%
4 4 Costa do Marfim 0,089% 0,090%
5 10 Nigéria 0,001% 0,047%
6 5 Maurícias 0,079% 0,042%
7 8 Senegal 0,017% 0,032%
8 6 Gana (a) 0,026% 0,014%
9 7 Malta 0,023% 0,014%
10 9 Níger (a) 0,007% 0,007%
11 11 Cabo Verde 0,001% 0,001%
Nota: (a) Dados para 2000 e 2008 Fonte: UN Comtrade
Em 2009 Cabo Verde exportou cerca de 21 milhões USD de produtos RN e BT, muito
mais que os 10 milhões de USD do ano 2000. Apesar deste crescimento (8% ao ano),
Cabo Verde não conseguiu ganhar quota no mercado mundial, o que denota que a
sua base exportadora é limitada devido à falta de massa crítica do país e à estrutura
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
74
industrial pouco desenvolvida. Dentro da categoria RN, o sector da transformação de
pescado é um dos mais competitivos e o que tem mais peso.
Nigéria e Senegal, além de apresentarem crescimentos significativos nas suas
exportações aumentaram a quota no mercado mundial.
Figura 9 - Taxa de Crescimento Anual de Produtos Manufacturados RN e BT e Variação da Quota de Mercado Mundial entre 2000 e 2009
Nota 1: O diâmetro dos círculos representa o valor de exportação manufactureira de produtos RN e BT em 2009 Nota 2: Os dados utilizados para o Gana e o Níger para o último ano foram de 2008 Fonte: UNCOMTRADE
A procura mundial de produtos agro-industriais e derivados da indústria mineira fez
com que o sector RN tenha adquirido uma importância estratégica. Por outro lado, os
produtos BT representam uma fonte de criação de emprego, especialmente em países
como Cabo Verde que carece de economias de escala e que possui uma mão-de-obra
abundante. Neste contexto, é importante saber se as principais exportações cabo-
verdianas de produtos RN e BT se encontram entre as mais dinâmicas a nível mundial
e se Cabo Verde tem sido capaz de incrementar a sua participação no comércio
internacional destes bens. A metodologia utilizada para responder a estas questões é
apresentada no Quadro 4.
Quadro 4 - Metodologia para a análise do desempenho comercial a nível do produto
-10%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
-0,100% -0,080% -0,060% -0,040% -0,020% 0,000% 0,020% 0,040% 0,060%
Variação na quota de mercado mundial de RN e BT, 2000-2009
Taxa d
e c
rescim
en
to a
nu
al d
e p
rod
uto
s
man
ufa
ctu
rad
os R
N e
BT
, 2
00
0-2
00
9
ArgéliaMarrocos
Maurícias
TunísiaSenegal
Nigéria
Níger
Costa de Marfim
Gana
MaltaCabo Verde
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
75
A metodologia baseia-se em dois indicadores fundamentais: 1) o crescimento do produto no comércio
mundial durante um período determinado; 2) a variação da quota de mercado do país no comércio
mundial do dito produto durante o mesmo período. O primeiro indicador mostra o dinamismo da procura
mundial de um produto (um produto dinâmico é aquele cujo comércio mundial cresceu acima da média da
categoria de produtos manufacturados a que pertence); o segundo mostra se um país é ganhador ou
perdedor no comércio mundial desse produto. O cruzamento das duas variáveis permite classificar os
produtos em quatro categorias:
Produtos estrela: Produtos cujo comércio mundial cresceu acima da média da categoria à qual
pertencem e para os quais o país em análise aumentou a sua quota de mercado. Os países com maior
peso no comércio mundial têm um número elevado destes produtos entre as suas principais exportações.
Produtos em declínio: Produtos que têm uma procura mundial estática ou muito limitada (devido a uma
saturação do mercado, uma mudança nos hábitos do consumidor ou a descoberta de produtos
substitutos) e além disso o país em análise perdeu quota de mercado no comércio mundial destes bens.
Considerando a evolução permanente da indústria, é natural que um país tenha produtos em declínio nas
suas exportações. Na verdade, isso não é necessariamente negativo se o país for capaz de compensar
essa queda com a introdução de produtos estrela.
Produtos estrela num contexto adverso: O país analisado ganhou quota de mercado no comércio
mundial destes produtos que apesar de tudo não se mostram muito dinâmicos a nível internacional. Dado
o pouco ou nenhum crescimento da sua procura, estes produtos não são os mais interessantes. Além
disso, nalguns casos o crescimento da quota de mercado conseguida por um país pode ficar a dever-se
sobretudo à saída de algum país concorrente.
Produtos que representam oportunidades perdidas: Produtos que têm uma forte procura
internacional, mas a quota de mercado do país no comércio mundial dos mesmos diminuiu. São sectores
que requerem acções internas concertadas para se poder vencer os obstáculos nacionais ou
internacionais que estão a impedir que um país tenha um melhor desempenho. São uma oportunidade
perdida já que o país analisado não foi capaz de beneficiar da tendência internacional favorável destes
produtos que poderia ter repercussões nos anos seguintes.
Fonte: ONUDI
Das quinze exportações mais importantes de Cabo Verde de produtos RN e BT,
existem cinco produtos estrela, cinco em declínio, quatro em adversidade e uma
oportunidade perdida (Tabela 23 e Figura 10).
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
76
Tabela 23 - Análise Detalhada do desempenho das quinze maiores exportações cabo-verdianas de produtos RN e BT, 2000-2009
Fonte: UN - COMTRADE
Produtos Estrela. Cabo Verde teve nos produtos derivados dos cereais e farinhas e
produtos de consumo alguns dos seus produtos RN e BT estrela. Estes produtos, no
período de 2000 a 2009, cresceram acima da taxa de crescimento anual mundial das
quinze maiores exportações cabo-verdianas, que foi de 8,21%. Foi o caso por exemplo
dos produtos derivados dos cereais e farinhas em que a procura internacional cresceu
11,73% ao ano durante o período, e o país, graças às suas exportações de 140 mil
USD em 2009 conseguiu aumentar a sua quota de mercado nesse produto. Outros
produtos estrela foram o tratamento de materiais metálicos e em ferro (sucata), mel e
produtos de consumo, sendo que qualquer um deles tem um valor residual no total dos
produtos manufacturados no país, representando em conjunto cerca de 2% do valor
total dos produtos manufacturados em Cabo Verde.
Produtos em declínio. Os produtos RN e BT em declínio são o calçado, a roupa de
homem/rapaz, a roupa de mulher/rapariga, o couro e o mobiliário. Estes produtos têm
pesos muito distintos dentro da oferta exportadora cabo-verdiana, sendo que as suas
implicações são diferentes. A queda preocupante da participação de Cabo Verde no
mercado internacional das confecções, calçado e mobiliário demonstra a dificuldade
do país em melhorar a posição na cadeia de valor.
Em 2009, Cabo Verde conseguia apenas 0,005% do comércio mundial de calçado
(menos 0,009% do que em 2000). Cabo Verde teve uma taxa de crescimento anual de
-4,9%, num sector que nos últimos 10 anos cresceu a uma taxa anual de 7,3% a nível
mundial. O fim da imposição de quotas no mercado mundial prejudicou muitos países
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
77
africanos como Cabo Verde. A concorrência feroz da China, Vietname, Roménia,
Tunísia e Turquia vieram agravar ainda mais o fenómeno. Por outro lado, os
fabricantes neste sector tornaram-se também gestores de stocks dos clientes (sejam
eles clientes finais, distribuidores, armazenistas ou retalhistas), obrigando a que as
empresas possuam sistemas sofisticados de gestão da informação para monitorizar os
stocks e as entregas dos vários intervenientes na cadeia de valor. As empresas em
Cabo Verde não detêm essas competências nem a tecnologia de informação e
comunicação adequada. O tempo de colocação dos produtos no mercado é cada vez
menor, obrigando aqui mais uma vez a um sistema complexo e sofisticado de
informação para gerir os pedidos irregulares dos clientes, muitas vezes envolvendo
pequenos lotes de produtos.
Produtos estrela em contexto adverso. Das exportações cabo-verdianas de
produtos manufacturados RN e BT, os produtos estrelas em contexto adverso são os
seguintes: transformação de pescado e marisco, bebidas alcoólicas, roupa em
tricô/croché e artigos de vestuário. Entre 2000 e 2009, a procura da transformação de
pescado e marisco a nível mundial cresceu a uma taxa anual de 7,67%, valor elevado
mas inferior à taxa média de crescimento de todos os produtos RN e BT que foi de
8,21%. Em 2009, as exportações de Cabo Verde neste sector, que representavam
quase 50% das exportações do país, atingiu 10,4 milhões de USD, valor relativamente
importante face ao total de exportações. Um aumento significativo da sua quota
mundial terá de passar por uma reformulação da estratégia do mar no país e por
políticas sustentadas de desenvolvimento, nomeadamente através da criação de um
cluster ou de um pólo de competitividade à semelhança do que já foi feito noutros
países e que está em curso em Cabo Verde.
Quanto à situação da produção das bebidas alcoólicas e licores em que a produção de
grogue é a mais típica, a capacidade produtiva (que só representava em 2009 3,63%
dos produtos manufacturados no país) não consegue responder à procura do
mercado, estando o país a perder quota de mercado para outros países concorrentes.
Para a roupa em tricô/croché e artigos de vestuário, a situação é idêntica à do calçado
com a diferença que estes artigos são característicos do país, personalizados, de
qualidade e com uma produção escassa que dificilmente poderá ir ao encontro das
necessidades do mercado mundial que cresce a uma taxa que varia entre os 5 e 8%
ano e em que a China se apresenta novamente como um concorrente muito agressivo.
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
78
Oportunidades Perdida. Os produtos RN e BT que representam uma oportunidade
perdida são as bebidas não alcoólicas (refrigerantes, águas, cerveja), sendo que o
crescimento mundial anual foi de 12,44% durante o período em análise e Cabo Verde
perdeu quota de mercado para outros países por falta de capacidade de resposta e
procura de novos mercados, nomeadamente na CEDEAO. É importante referir que a
produção das indústrias alimentares e de bebidas, materiais de construção, mobiliário
e metalomecânica é destinada quase que exclusivamente ao mercado interno.
Figura 10 – Desempenho das quinze maiores exportações cabo-verdianas de produtos RN e BT, 2000-2009
Nota 1: O diâmetro dos círculos representa o valor de exportação manufactureira de produtos RN e BT em 2009; valores em milhares de USD. Nota 2: Os valores de 4 das exportações são residuais, impossibilitando a sua colocação em gráfico (roupa de mulher e rapariga, produtos de consumo, couro, mobiliário) Fonte: UN – COMTRADE
3.2 SECTORES DE MÉDIA E ALTA TECNOLOGIA (MT E AT)
Média tecnologia (MT)
Os produtos manufacturados de intensidade tecnológica média (MT) incluem três
linhas de produtos: produtos do sector automóvel (veículos, acessórios e
componentes); produtos de processamento avançado (por exemplo processos de
polimerização, produção de álcool, fenóis e derivados, etc.) e produtos de engenharia
(como maquinaria, equipamentos de distribuição eléctrica, etc.). Todas estas indústrias
-5%
0%
5%
10%
15%
20%
-0,03% -0,02% -0,01% 0,00% 0,01% 0,02% 0,03% 0,04% 0,05% 0,06% 0,07%
Ta
xa
de
cre
sc
ime
nto
an
ua
l d
e p
rod
uto
s
ma
nu
fac
tura
do
s R
N e
BT
20
00
-20
09
(%
)
Variação na quota de mercado mundial de RN e BT 2000-2009 (%)
Transformação do pescado, marisco (10464)
Resíduos materiais metálicos (7)
Açucar, melaço, mel (25)
Bebidas não alcoólicas (47)
Sucata, materiais de ferro (227)
Bebidas Alcoólicas (765)
Roupa de homem, rapaz, em tricô, croché (1192)
Artigos de vestuário (1194)
Roupa de homem, rapaz e tecidos (3324)
Calçado (3657)
Cereais, farinhas (136)Taxa de crescimento anual mundial dos
produtos RN e BT,
2000-2009
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
79
requerem tecnologia sofisticada e mão-de-obra com forte capacidade técnica
sobretudo nos departamentos de criação de novos produtos. As barreiras à entrada
nestes sectores que representam o motor industrial e económico da maioria dos
países desenvolvidos são fortes e dificilmente ultrapassáveis para a maioria dos
países em desenvolvimento pois exigem processos de aprendizagem, inovação e
melhoria contínua de técnicas e procedimentos.
Alta tecnologia (AT)
Os produtos de alta tecnologia (AT) incluem um número importante de produtos que
requerem níveis elevados de I&D, como fármacos, computadores, transístores,
semicondutores, maquinaria eléctrica complexa, aviões e instrumentos de precisão. A
competitividade nestes processos produtivos exige competências muito avançadas e
investimentos e riscos importantes. Contudo, a assemblagem final de muitos produtos
electrónicos de alta tecnologia não requer mão-de-obra especializada nem processos
que exijam competências técnicas elevadas.
Em 2009, a quota de mercado dos produtos manufacturados MT e AT de Cabo Verde
a nível mundial era próxima de 0%, colocando Cabo Verde no 11º lugar do ranking dos
países analisados.
A Tabela 24 apresenta a quota de mercado dos 11 países no comércio mundial de
manufacturas de produtos MT e AT. Refira-se ainda que os produtos MT e AT não têm
expressão nas exportações manufactureiras de Cabo Verde.
Tabela 24 - Quota de mercado no comércio mundial de manufacturas MT e AT, 2000-2009
Ranking País
Quota de mercado no comércio mundial de manufacturas MT e AT
2009 2000 2000 2009
1 3 Tunísia 0,03927% 0,08882%
2 2 Marrocos 0,04137% 0,06671%
3 1 Malta 0,05562% 0,02950%
4 4 Costa do Marfim 0,00560% 0,01955%
5 8 Nigéria 0,00117% 0,01635%
6 6 Senegal 0,00247% 0,00529%
7 7 Maurícias 0,00225% 0,00257%
8 9 Gana (a) 0,00098% 0,00207%
9 5 Argélia 0,00419% 0,00111%
10 10 Níger(a) 0,00033% 0,00017%
11 11 Cabo Verde 0,00002% 0,00000%
Nota: (a) Dados para 2000 e 2008 Fonte: UN Comtrade
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
80
Como se pode constatar pela Figura 11, entre 2000 e 2009 as exportações de MT e
AT de Cabo Verde não tiveram qualquer significado. Em 2009 Cabo Verde exportou
cerca de 4 mil USD de produtos MT e AT, muito menos que os 497 mil USD do ano
2000, não acompanhando a tendência de crescimento de países como a Tunísia,
Marrocos, Costa do Marfim e Nigéria. Por outro lado, o país não tem expressão em
termos de quota de mercado mundial de produtos MT e AT, apesar de produzir e
distribuir fármacos para consumo interno.
Figura 11 - Taxa de Crescimento Anual de Produtos Manufacturados MT e AT e Variação da Quota de Mercado Mundial entre 2000 e 2009
Nota 1: O diâmetro dos círculos representa o valor de exportação de produtos manufacturados MT e AT em 2009 Nota 2: Os dados utilizados para o Gana e o Níger para o último ano foram de 2008
Fonte: UN – COMTRADE
Das duas exportações de Cabo Verde de produtos MT e AT, um produto é estrela
(pertence à área dos produtos químicos de limpeza) e o outro uma oportunidade
perdida (pertence á área da indústria farmacêutica) conforme transparece da Tabela
25.
Tabela 25 - Análise Detalhada do desempenho das quinze maiores exportações cabo-verdianas de produtos MT e AT, 2000-2009
Fonte: UN – COMTRADE
-60%
-40%
-20%
0%
20%
40%
60%
-0,030% -0,010% 0,010% 0,030% 0,050%
Variação na quota de mercado mundial de MT e AT, 2000-2009
Taxa d
e c
rescim
en
to a
nu
al d
e p
rod
uto
s
man
ufa
ctu
rad
os M
T e
AT
, 2
00
0-2
00
9
Argélia
Marrocos
Maurícias
Tunisia
Senegal
Nigéria
GanaCosta de Marfim
Malta
Níger
Cabo Verde
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
81
SECÇÃO B: FACTORES DE COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL
O conceito da competitividade industrial está definido como a capacidade que os
países têm de aumentarem a sua presença industrial nos mercados nacionais e
internacionais ao desenvolverem estruturas industriais em sectores e actividades com
maior valor acrescentado e conteúdo tecnológico. Competir através da inovação e da
aprendizagem pode conduzir os países a obterem receitas industriais maiores e mais
sustentáveis (ONUDI, Industrial Development Report 2002/2003).
Para os legisladores, torna-se essencial produzir uma checklist dos factores
determinantes da competitividade industrial. Muitos factores sociais, históricos,
políticos e económicos afectam o desenvolvimento industrial e os efeitos variam ao
longo do tempo e com o contexto. Apesar de tudo, é útil listar os factores económicos
importantes que moldam hoje o desenvolvimento industrial e a lista de circunstâncias
particulares para os países e as prioridades. Este relatório baseia-se no modelo
analítico da UNIDO para identificar os drivers estruturais da competitividade industrial
conforme se apresenta na Figura seguinte.
Figura 12 - Modelo analítico e conceptual para a competitividade industrial
Fonte: UN COMTRADE
Sistema de Suporte
(Instituições Intermediárias)- Associações Industriais
- Formações às instituições
- Suporte Tecnológico
- Instituições Financeiras
- Institutos de Investigação- Universidades
Contexto de Negócios- Políticas Macroeconómicas
- Regimes Industriais & Regimes de Comércio- Modelo de Regulação & Jurídico
- Custos de Transacção
Factores de mercado- Recursos Naturais
- Tecnologia
- Trabalho e competências- Finanças
- Fornecimentos
- Infraestrutura
SistemaIndustrial
Nacional
Internacional
Cadeia de ValorGlobal
Fluxos de bens, conhecimento, competências, tecnologia, capital, etc.
Mudanças Tecnológicas
-Geral: TICs, etc.
-Sector- específico: tecnologia-sofisticação dos processos do sector
fronteira tecnológica
etc.
Regimes de Comércio
- Geral: acordos regionais
- Acordos sectoriais
Globalização
- Geral: IDE e Comércio
- Sector específico: sistemasde produção integrados
(vocação para o comprador/abastecimento
dependendo da indústria)
CONTEXTO GLOBAL
Governança Industrial
Capacidades do Governo na formulação, implementação, e monitorização
das estratégias industriais, políticas eprogramas
Produtores
Locais
Compradores
GlobaisEmpresas
Transnacionais
Compradores
Locais FornecedoresLocais
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
82
O sistema industrial com os seus principais actores (fabricantes locais, fornecedores,
compradores, instituições e legisladores) encontra-se no centro deste modelo. Os
sistemas industriais podem ser divididos em sectores, sub-sectores e clusters. Actores
cooperam e concorrem entre eles, sendo que as suas interacções estão
condicionadas pelas regras locais, regulamentação, alfândegas e capital social.
O resultado é um contexto social e económico que afecta o desenvolvimento industrial
e o sistema nacional de inovação e de aprendizagem no país. Um sistema forte produz
uma aprendizagem rápida e abrangente e uma competitividade com uma ampla
disseminação. Ao contrário, um sistema fraco conduz à ineficiência, atrasos e
dificuldade em competir.
O desenvolvimento industrial depende de forma vital do contexto internacional. Como
referido, esse contexto está a mudar rapidamente, devido à globalização, liberalização
e mudanças tecnológicas. Em particular, caracteriza-se por ligações mais estreitas
dentro das cadeias de valor globais, com uma coordenação mais próxima entre os
actores nacionais e internacionais que operam no seio de sistemas integrados. O
sucesso das indústrias nacionais depende assim até certo ponto da capacidade das
empresas de criarem competências tecnológicas em produtos particulares, processos
ou funções.
Para cada país, o desenvolvimento industrial depende do contexto de negócios, da
eficiência dos factores de mercado (trabalho, competências, capital financeiro, inputs e
infraestrutura) e da qualidade de suporte disponível de instituições intermediárias (para
formação, serviços tecnológicos, I&D, entre outros). As políticas do Governo podem
melhorar ou piorar esses determinantes estruturais do desenvolvimento industrial,
assumindo a governança (a capacidade de criar, implementar e monitorizar as
políticas) uma importância cada vez maior.
Muitos mercados em países em desenvolvimento são ineficazes e as instituições
necessárias não existem. Em muitos casos essas deficiências provêm de políticas
governamentais anteriores e para revitalizar a indústria requer eliminarem-se
intervenções ineficientes. Noutros casos, o governo tem de elaborar novos programas
para criar ou melhorar os mercados e as instituições que estão ausentes ou que são
disfuncionais.
A identificação de onde e como o governo deverá intervir (menos, mais ou de forma
diferente) é a essência de uma boa política industrial. O processo deverá reforçar o
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
83
contexto tecnológico global, as tendências nas cadeias de valor nas quais as
indústrias nacionais operam e a sua posição nas cadeias de valor. O processo deverá
ser capaz de perceber as perspectivas de aprendizagem, os níveis tecnológicos e os
benefícios directos e indirectos bem como os custos envolvidos. Devido à mudança
das condições tecnológicas, as melhores políticas industriais hoje são diferentes
daquelas que se sucederam duas ou três décadas atrás. Por essa razão, é importante
analisar e interpretar as experiências anteriores com algum cuidado.
A competitividade não se deve limitar ao desempenho industrial de uma economia.
Deve avaliar também o impacto social que isso cria. Nesse sentido, uma melhoria na
competitividade deve reflectir-se em maiores níveis de emprego e salários sempre que
a estrutura do mercado de trabalho assim o permita.
Este capítulo apresenta um diagnóstico de um conjunto de factores que influenciam a
competitividade industrial de Cabo Verde, utilizando-se na análise o grupo de países
escolhidos no início e analisando-se a sua evolução ao longo do tempo, no período
2000 - 2009.
São considerados vários factores estruturais na base do desempenho industrial em
Cabo Verde: o capital humano, a gestão da qualidade, o investimento directo nacional
e estrangeiro, o ambiente de negócios, o esforço tecnológico entre outros. A lista não
inclui todos os factores que influenciam a competitividade industrial (como transparece
na Figura 12) mas abrange todos aqueles para os quais os dados puderam ser
obtidos.
4 PRODUTIVIDADE LABORAL, EMPREGO E SALÁRIOS
Um aumento do valor acrescentado manufacturado (VAM) baseado puramente na
expansão do emprego, sem melhorias a nível da produtividade não ajudará a
aumentar a competitividade industrial de um país. No outro extremo, um incremento do
VAM que se baseia unicamente numa maior produtividade sem criar novos empregos
não será bem aceite a nível social. Da mesma forma, um aumento salarial que não
seja acompanhado por uma maior produtividade provocará uma deterioração da
competitividade. Por fim, uma melhoria na competitividade originada por uma redução
salarial, além de não ser socialmente desejável, será facilmente superada pela entrada
de novos concorrentes no comércio internacional com mão-de-obra barata.
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
84
4.1 PRODUTIVIDADE LABORAL
Apesar de não estarem disponíveis dados para quatro dos países em análise (Tunísia,
Gana, Costa do Marfim e Níger), elaborou-se uma tabela comparativa da
produtividade média laboral. O indicador utilizado consiste na produtividade média
laboral, definido como o quociente entre o VAM (a preços constantes de 2000) e o
número de trabalhadores empregados no sector manufactureiro.
Como se observa na Tabela 26, durante o período 2000-2009, Cabo Verde melhorou a
produtividade média laboral, tendo-se colocado na 3ª posição do ranking, apesar dos
valores do indicador serem em média 50% daqueles dos países nas duas primeiras
posições. Cabo Verde foi depois da Nigéria, o país a ter a maior taxa de crescimento
de produtividade na indústria (+34% entre 2002 e 2007), correspondendo a uma taxa
de crescimento anual de 5,99%.
Tabela 26 – Produtividade Média Laboral, 2000-2009
Ranking País
Valores em USD a preços constantes de 2000
Crescimento médio anual
2009 2000 2000 2009 2000 - 2009
1 1 Senegal 24.797 29.370 8,83%
2 2 Malta 22.873 26.606 1,91%
3 3 Cabo Verde 10.334 13.821 5,99%
4 4 Ilhas Maurícias 6.760 8.101 2,29%
5 5 Marrocos 6.406 6.170 -0,62%
6 6 Argélia 6.235 4.981 -7,21%
7 7 Nigéria 214 293 8,17%
Nota: Dados indisponíveis para a Tunísia, Gana, Costa do Marfim e Níger; Os dados apresentados para a Argélia correspondem aos anos de 2001 e 2004, para Cabo Verde a 2002 e 2007, para Malta e as Maurícias a 2000 e 2008, para Marrocos a 2000 e 2006, para a Nigéria a 2000 e 2004 e para o Senegal a 2000 e 2002. Fonte: International Labour Organization (ILO), Industrial Statistics Database (INDSTAT), INE e World Development Indicators (WDI)
4.2 EMPREGO NA INDÚSTRIA
Apesar de não estarem disponíveis dados para quatro dos países em análise (Tunísia,
Gana, Costa do Marfim e Níger), elaborou-se uma tabela comparativa do emprego
existente no sector industrial. A
Tabela 27 apresentada refere o número de empregados no sector industrial nos
países em análise para o período 2000-2009.
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
85
Como se observa, para Cabo Verde o número de pessoas que ingressou no sector
industrial cresceu 11% em 10 anos, correspondendo a uma taxa de crescimento anual
de 2,06% e colocando o país na última posição do ranking. Em valor absoluto, o
número de trabalhadores em Cabo Verde no sector industrial é ainda reduzido devido
à escassez de empresas industriais no país.
Tabela 27 - Emprego no Sector Industrial, 2000-2009
Ranking País
Número de trabalhadores no sector industrial
Crescimento médio anual
2009 2000 2000 2009 2000 - 2009
1 1 Nigéria 7.690.413 8.450.380 2,38%
2 2 Marrocos 896.700 1.142.027 4,11%
3 3 Argélia 631.812 846.700 10,25%
4 4 Maurícias 139.200 123.300 -1,50%
5 5 Malta 33.749 24.311 -4,02%
6 6 Senegal 24.418 22.863 -3,24%
7 7 Cabo Verde 4.956 5.487 2,06%
Nota: Dados indisponíveis para a Tunísia, Gana, Costa do Marfim e Níger; Os dados apresentados para a Argélia correspondem aos anos de 2001 e 2004, para Cabo Verde a 2002 e 2007, para Malta e as Maurícias a 2000 e 2008, para Marrocos a 2000 e 2006, para a Nigéria a 2000 e 2004 e para o Senegal a 2000 e 2002. Fonte: International Labour Organization (ILO), Industrial Statistics Database (INDSTAT), INE e World Development Indicators (WDI)
4.3 SALÁRIOS NO SECTOR INDUSTRIAL
Apesar de não estarem disponíveis dados para quatro dos países em análise (Tunísia,
Gana, Costa do Marfim e Níger), elaborou-se uma tabela comparativa dos salários no
sector industrial. O Quadro apresentado refere os valores médios auferidos
anualmente por trabalhador por país no sector industrial, para o período 2000-2009.
Como se observa na Tabela 28, durante o período 2000-2009, Cabo Verde tinha um
dos valores mais elevados de salários no sector industrial quando comparados com os
outros países, tendo o valor crescido 57% em 10 anos, correspondendo a uma taxa de
crescimento anual de 9,46% e colocando o país na 2ª posição do ranking.
Tabela 28 – Salário Médio por Trabalhador no Sector Industrial, 2000-2009
Ranking País
Salário médio anual por trabalhador (em USD)
Crescimento médio anual
2009 2000 2000 2009 2000 - 2009
1 1 Senegal 3.680 4.832 3,07%
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
86
2 2 Cabo Verde 2.729 4.288 9,46%
3 3 Ilhas Maurícias 2.482 3.803 5,48%
4 4 Marrocos 2.188 3.413 5,71%
5 5 Nigéria 906 931 0,68%
Nota: Dados indisponíveis para a Argélia, Tunísia, Gana, Costa do Marfim, Níger e Malta; Os dados apresentados para Cabo Verde correspondem aos anos de 2002 e 2007, Maurícias e Marrocos a 2000 e 2008, para a Nigéria a 2000 e 2004 Fonte: International Labor Organization (ILO), Industrial Statistics Database (INDSTAT), INE e World Development Indicators (WDI)
Assim, o custo do trabalho em Cabo Verde é mais elevado do que nos outros países
analisados, sendo só ultrapassado pelo Senegal. É também o caso se compararmos
com países da Ásia como a Indonésia e as Filipinas. Esta situação é compensada pelo
desempenho da produtividade média por trabalhador conforme referido anteriormente.
4.4 LEGISLAÇÃO LABORAL
A Tabela 29 apresenta a dificuldade existente em contratar mão-de-obra nos
diferentes países analisados. A classificação varia entre 0 (nenhuma dificuldade em
contratar) e 100 (dificuldade máxima em contratar).
O índice de dificuldade de contratação mede os seguintes factores: (i) se os contratos
por tempo fixo estão proibidos para tarefas permanentes; (ii) a duração máxima
cumulativa de contratos por tempo fixo; e (iii) a relação entre o salário mínimo de um
estagiário ou empregado no início de carreira e o valor médio agregado por
trabalhador.
Cabo Verde, com um índice de dificuldade de contratação de 33, apresenta ainda
alguns problemas de legislação quanto à gestão da mão-de-obra no posto de trabalho,
requerendo uma maior flexibilização da legislação laboral, ocupando a 5ª posição no
ranking depois de países como as Ilhas Maurícias, Nigéria, Gana e Tunísia.
Tabela 29 – Dificuldade em contratar mão de obra
Ranking País
Índice de Dificuldade de Contratação
2009 2009
1 Maurícias 0
2 Nigéria 0
3 Gana 11
4 Tunísia 28
5 Cabo Verde 33
6 Argélia 44
7 Senegal 72
8 Níger 100
Fonte: Doing Business (2010) – Banco Mundial
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
87
Nota: Dados indisponíveis para Malta, Marrocos e Costa do Marfim.
Por sua vez, a Tabela 30 mostra que em Cabo Verde os custos e as dificuldades
inerentes ao processo de despedimento de um empregado são maiores do que na
maioria dos países analisados, excepto na Tunísia. Alguns destes países simplificaram
os trâmites legais do processo de despedimento.
O índice de dificuldade de despedimento analisa 8 componentes: (i) a extinção do
posto de trabalho na empresa como base para o despedimento; (ii) a necessidade do
empregador precisar de notificar uma terceira parte (por exemplo o Ministério do
Trabalho) para demitir um trabalhador considerado excedentário para a empresa; (iii) o
empregador precisar de notificar uma terceira para demitir um grupo de 9
trabalhadores considerados excedentários na empresa; (iv) o empregador precisar de
aprovação de uma terceira parte para demitir um trabalhador considerado
excedentário na empresa; (v) o empregador precisar de aprovação de uma terceira
parte para demitir um grupo de 9 trabalhadores considerados excedentários para a
empresa; (vi) a lei exigir que o empregador elabore uma nova atribuição ou recapacite
um trabalhador antes de demiti-lo quando este é considerado excedentário para a
empresa; (vii) as regras de prioridade aplicarem-se aos despedimentos que ocorrem
com base no facto do trabalhador ser excedentário para a empresa; e (viii) as regras
de prioridade aplicarem-se ao reemprego.
Tabela 30 - Dificuldade em despedir mão de obra
Ranking País
Indice de Dificuldade de Despedimento
2009 2009
1 Maurícias 20
2 Nigéria 20
3 Argélia 40
4 Gana 50
5 Senegal 50
6 Níger 50
7 Cabo Verde 70
8 Tunísia 80
Fonte: Doing Business (2010) – Banco Mundial Nota: Dados indisponíveis para Malta, Marrocos e Costa do Marfim.
5 RECURSOS HUMANOS
No novo contexto internacional caracterizado por um desenvolvimento tecnológico e
uma difusão de novas tecnologias da informação e da comunicação, é necessário ter
uma mão-de-obra capaz de enfrentar os desafios actuais.
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
88
Para se melhorar a competitividade da indústria deve-se aumentar a taxa de cobertura
e de eficiência educativa no nível primário e secundário, devendo-se também ter uma
mão-de-obra especializada e pessoas com estudos técnicos que possam ingressar
nas indústrias de média e alta tecnologia. Além disso, devem-se promover os
processos de aprendizagem e de capacitação no próprio local de trabalho. Este
desafio exige alocar recursos públicos suficientes ao ensino e à formação melhorando
os níveis de desempenho, e criando incentivos para que as empresas interessadas em
melhorar a sua competitividade ganhem novos conhecimentos.
O ensino técnico e profissional está ainda pouco desenvolvido em Cabo Verde. A taxa
de escolarização no ensino profissionalizante ronda só os 15% e, não obstante todos
os esforços, existe ainda uma grande diferença entre as qualificações exigidas pelo
mercado de trabalho e aquelas que as pessoas possuem após a conclusão da sua
formação.
5.1 ACESSO AO ENSINO PRIMÁRIO, SECUNDÁRIO E SUPERIOR
O indicador que é utilizado para medir o acesso à educação é a taxa de cobertura no
ensino, definida como a percentagem da população que está matriculada nos vários
níveis educativos relativamente à população em idade de frequentar esses níveis
educativos Isto aplica-se ao ensino primário e secundário. Relativamente ao ensino
superior, a taxa de cobertura é a percentagem da população matriculada na
universidade de qualquer idade relativamente àquela em idade de frequentar o ensino
universitário.
A diferenciação é importante pois a taxa líquida de matriculados no ensino primário e
secundário não considera os alunos repetentes e cuja idade ultrapassou a média de
idade para frequentar o ensino primário e secundário. Ao eliminar-se a taxa de
repetentes, permite compreender melhor a eficiência do sistema académico.
A
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
89
Tabela 31 permite constatar que Cabo Verde pertence ao grupo de países que mais
se têm preocupado com o ensino, aparecendo no ensino primário e secundário com
taxas superiores a 80% e 60% respectivamente.
Tabela 31 - Taxas de Cobertura no Ensino, 2009
Ensino Primário Ensino Secundário Ensino Terciário
Ranking País Taxa Ranking País Taxa Ranking País Taxa
1 Tunísia 97,9%1 1 Malta 80,4%
2 1 Tunísia 33,7%
5
2 Maurícias 94,0% 2 Maurícias 80,1%6 2 Malta 32,2%
5
3 Argélia 93,8% 3 Tunísia 71,3%2 3 Argélia 30,6%
4 Malta 91,3%1 4 Argélia 66.3%
5 4 Mauritius 25,9%
5
5 Marrocos 89,7% 5 Cabo Verde 63,3% 5
Cabo Verde 14,9%
6 Cabo Verde 82,6% 6 Gana 46,0% 6 Marrocos 12,9%
7 Gana 75,9% 7 Marrocos 34,5%4 7 Nigéria 10,1%
2
8 Senegal 73,1% 8 Nigéria 25,8%7 8 Ghana 8,6%
9 Nigéria 61,4%2 9 Senegal 20,8%
8 9
Costa do Marfim 8,4%
4
10 Costa do Marfim 57,2% 10
Costa do Marfim 19,5%
3 10 Senegal 8,0%
11 Níger 54,0% 11 Níger 8,9%7 11 Níger 1,4%
Nota: Para o Ensino Primário: 1 (2008),
2 (2007)
Para o Ensino Secundário: 2 (2008),
3 (2001),
4 (2003),
5 (2004),
6 (2005),
7 (2007),
8 (2006)
Para o Ensino Terciário: 1 (2001),
2 (2005),
3 (2003),
4 (2007),
5 (2008)
Fonte: World Development Indicators
A taxa de alfabetização/literacia5, extremamente elevada (85% em 2009) é o resultado
de 34 anos de investimento no sector da educação, representando 20,4% do
Orçamento do Estado entre 2004 e 2006. Cabo Verde possui uma das taxas mais
altas de investimento na educação do continente africano. A taxa líquida de
escolarização é próxima dos 96% a nível nacional. O ensino primário é gratuito (82,6%
de taxa líquida de escolarização) e obrigatório até aos 11 anos de idade. 82,6% dos
alunos deste nível de ensino terminam sem repetir nenhum ano e só 2,7%
5 Literacia: Capacidade de ler e de escrever e de perceber e interpretar o que é lido.
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
90
abandonam a escola. A taxa líquida de escolarização no ensino secundário (dos 12
aos 17 anos) atinge já 63,3%.
No entanto, no ensino terciário, a taxa de cobertura ainda é limitada (14,9%) e
representa metade da taxa dos 3 primeiros países classificados no ranking,
respectivamente a Tunísia, Malta, Argélia e Ilhas Maurícias.
5.2 DESPESA PÚBLICA NA EDUCAÇÃO
Na Tabela 32 observa-se que Cabo Verde tem sido dos países que mais tem apostado
na educação ao longo dos últimos 10 anos, ocupando a 1ª e 3ª posição
respectivamente em 2000 e 2009.
Tabela 32 - Despesa Pública na Educação em % do PIB, 2000 - 2009
Ranking País
Gasto Público/PIB (em %)
2009 2000 2009 2000
1 2 Tunísia 7%4 6,8%
2 5 Malta 6,3%4 4,3%
2
3 1 Cabo Verde 5,9% 7,9%2
4 9 Senegal 5,8% 3,1%
5 3 Marrocos 5,5%1 5,7%
6 4 Gana 5,4%3 5,4%
3
7 8 Costa do Marfim 4,6%1 3,8%
8 10 Níger 4,5% 3,1%
9 6 Argélia 4,3% 4,3%
10 7 Ilhas Maurícias 3,2% 3,8%
Nota: Dados indisponíveis para a Nigéria; 1 (2008),
2 (2002),
3 (2005),
4 (2007)
Fonte: World Development Indicators
6 GESTÃO DA QUALIDADE
Cabo Verde ainda apresenta um importante atraso na área da certificação de
qualidade, na vertente dos sistemas de gestão (ISO 9001: 2000) ou na área do
ambiente (ISO 14001). A ausência de instituições de certificação e de calibração no
país tem condicionado o processo de adesão das empresas ao sistema de gestão da
qualidade. Por outro lado, a falta de sensibilização e formação dos quadros para os
sistemas da qualidade tem impedido uma maior divulgação das normas por entidades
competentes junto das empresas em geral.
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
91
O resultado está patente no ranking que se apresenta de seguida e que posiciona o
país, em 2008, no último lugar quando comparado com os países em análise, na
vertente dos sistema de gestão da qualidade e do ambiente.
Tabela 33 - Certificações ISO 9001 (Sistemas de Gestão)
Ranking País
Total de certificações ISO 9001
2008 2004 2004 2008
1 5 Tunísia 123 848
2 1 Marrocos 296 405
3 2 Malta 230 355
4 3 Maurícias 212 266
5 6 Nigéria 99 163
6 4 Argélia 126 159
7 7 Senegal 29 56
8 9 Níger 0 34
9 10 Costa do Marfim 0 32
10 8 Gana 17 14
11 11 Cabo Verde 0 1
Fonte: ISO Survey – 2008
Tabela 34 - Certificações ISO 14001 (Ambiente)
Ranking País
Total de certificações ISO 14001
2008 2004 2004 2008
1 1 Tunísia 30 102
2 2 Marrocos 26 35
3 5 Argélia 5 24
4 4 Nigéria 8 22
5 3 Maurícias 10 12
6 6 Malta 5 8
7 9 Costa do Marfim 3 5
8 10 Gana 2 5
9 8 Senegal 3 3
10 7 Níger 4 2
11 11 Cabo Verde 0 0
Fonte: ISO Survey – 2008
As empresas que foram visitadas durante o estudo possuem um laboratório que
controla a qualidade dos produtos fabricados. No entanto, não existe um laboratório
nacional acreditado para proceder à certificação dos produtos. Assim, as empresas
recorrem a laboratórios acreditados e independentes no estrangeiro para realizar a
análise das amostras segundo as normas internacionais, o que implica custos
adicionais no processo de fabrico.
7 INVESTIMENTO DIRECTO NACIONAL E ESTRANGEIRO
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
92
7.1 INVESTMENTO NACIONAL
Apesar de não existir informação posterior ao ano 2000 para dois dos países em
análise (Gana e Níger), elaborou-se uma tabela comparativa do investimento directo
nacional. A Tabela 35 - Investimento Directo Nacional, 2000-2009apresenta os
valores médios investidos por cada um dos países para o período 2000 - 2009.
Como se observa, Cabo Verde tinha um dos valores mais baixos de investimento
doméstico quando comparado com os outros países, tendo no entanto o valor
duplicado em 10 anos, o que corresponde a uma taxa de crescimento anual de 15,9%
no período entre 2000 e 2009 mas colocando o país nas últimas posições do ranking.
Tabela 35 - Investimento Directo Nacional, 2000-2009
Ranking País
IDN em milhões de USD
2009 2000 2009 2000
1 2 Argélia 25.670 11.328
2 5 Marrocos 18.701 9.618
3 1 Tunísia 7.225 5.050
4 9 Senegal 2.218 1.050
5 3 Maurícias 1.776 1.051
6 4 Costa do Marfim (a) 1.008 1.165
7 8 Malta 578 899
8 10 Cabo Verde 217 104
9 6 Gana - 1.149
10 7 Níger - 201
Nota: A Costa do Marfim apresentou dados para o período 2000 – 2005. Não existe informação disponível para a Nigéria. Fonte: World Development Indicators
7.2 INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO
Cabo Verde tem pouca expressão, em termos mundiais, no que se refere aos fluxos
de investimento directo estrangeiro (IDE). Contudo, a evolução que se tem registado
nos últimos anos e as perspectivas apresentadas apontam para uma importância cada
vez maior do país, designadamente na sua qualidade de receptor de investimento.
De acordo com o World Investment Report publicado pela UNCTAD em 2010,
constata-se que os fluxos de IDE registaram um forte aumento nos últimos anos, tendo
passado de 33 milhões de USD em 2000 para 212 milhões em 2008. A crise de
liquidez nos mercados financeiros internacionais tem condicionado a recente evolução
do investimento directo estrangeiro em Cabo Verde, tendo-se verificado uma descida
acentuada em 2009 (-43% face ao ano anterior). No final de 2009 o IDE acumulado no
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
93
período 2000-2009 atingia perto de 1,19 mil milhões de USD, o que correspondia a
mais de dez vezes o valor alcançado no final da década anterior.
O IDE tem-se concentrado fortemente no sector do turismo e hotelaria, com particular
destaque nas ilhas do Sal, Boavista e São Vicente. A indústria, que há alguns anos
atrás conseguiu captar vários investimentos significativos (nas confecções, no calçado
e na transformação do pescado), vem perdendo progressivamente a posição que
detinha, representando apenas cerca de 2% no total do IDE. Portugal, Itália, Irlanda,
Espanha e Reino Unido destacam-se como principais mercados emissores de
investimento directo estrangeiro. Os investimentos distribuem-se por um número
reduzido de sectores, nomeadamente as confecções, o calçado e o sector agro-
alimentar (incluindo o processamento de pescado e materiais de construção).
A transferência de tecnologias e o investimento directo estrangeiro (IDE) e doméstico
no sector da indústria são de extrema importância no processo de desenvolvimento
industrial. A título de exemplo, um grande número de países asiáticos (principalmente
os países do Leste Asiático) utilizou o IDE como meio para a aquisição de tecnologia e
de acesso ao mercado internacional através das multinacionais (Indonésia, Tailândia,
Filipinas e Malásia).
O investimento directo estrangeiro permite o acesso a novos mercados, novas
tecnologias e conhecimento. A importação de maquinaria industrial comporta um
grande conteúdo técnico e pode ser um factor que impulsione a aprendizagem
tecnológica. Contudo, não se pode afirmar que existe uma ligação directa entre estes
dois factores, porque a absorção e a integração de tecnologias no local de trabalho e a
sua aprendizagem é um processo que acarreta custos elevados e requer um alto nível
de conhecimento tecnológico.
Tabela 36 - Investimento Directo Estrangeiro, 2000 – 2009
Ranking País
IDE (em Milhões de USD)
2009 2000 2009 2000
1 1 Nigéria 5.786 1.140
2 4 Argélia 2.846 438
3 7 Marrocos 1.970 220
4 9 Gana 1.684 165
5 2 Tunísia 1.595 752
6 3 Malta 895 601
7 8 Níger 738 8
8 6 Costa do Marfim 380 234
9 5 Maurícias 256 265
10 10 Senegal 207 63
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
94
11 11 Cabo Verde 119 33
Fonte: World Development Indicators
Tabela 37 – Investimento Directo Estrangeiro per Capita, 2000 – 2009
Ranking País
IDE per capita (em USD)
2009 2000 2009 2000
1 1 Malta 2.158 1.541
2 4 Cabo Verde 237 76
3 2 Tunísia 201 224
4 3 Maurícias 153 79
5 5 Argélia 82 14
6 8 Costa do Marfim 71 8
7 9 Marrocos 62 8
8 11 Níger 48 1
9 7 Nigéria 37 9
10 6 Gana 18 14
11 10 Senegal 17 6
Fonte: World Development Indicators
8 AMBIENTE DE NEGÓCIOS
O ambiente de negócios em Cabo Verde progrediu, tendo o país ganho dez posições
em 2010, estando agora na 132ª posição no ranking do Doing Business do Banco
Mundial. Além disso, foi o país que mais evoluiu entre 2009 e 2010 nessa classificação
do Banco Mundial relativa ao clima de negócios. Para isso contribuíram quatro
grandes reformas levadas a cabo e aprovadas no país: a abolição da inspecção
municipal obrigatória para iniciar um negócio, a informatização das autorizações
municipais, a redução dos custos de transferência de propriedade e a abolição do
imposto de selo sobre vendas e cheques. Assim, o tempo necessário para iniciar um
negócio passou de 52 dias em 2007 para 1 dia em 2010. A criação de empresas e o
pagamento de impostos tornaram-se mais rápidos e fáceis.
A Agência para o Desenvolvimento Empresarial e Inovação (ADEI), criada em Maio de
2009 com vista a apoiar os pequenos empresários, desenvolver planos de negócio e
facilitar o acesso ao crédito veio também contribuir para a dinamização do tecido
empresarial no país.
9 TECNOLOGIA
Investigação e Desenvolvimento (I&D)
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
95
As actividades de investigação e desenvolvimento (I&D) são essenciais como suporte
ao desenvolvimento industrial de um país. Os países mais avançados
tecnologicamente e industrialmente investem em média entre 2 a 3,5% do PIB em I&D
(como foi o caso por exemplo em 2008 da Suécia, Finlândia, Japão, EUA, Alemanha e
Israel com respectivamente 3,75%, 3,47%, 3,44%6, 2,77%, 2,69% e 4,86% segundo o
OECD Factbook 2010: Economic, Environmental and Social Statistics e o Eurostat
2010.
O esforço tecnológico de um país também se traduz pelo nível de competências e de
formação para desempenhar as actividades no sector da investigação e
desenvolvimento. Geralmente, a estrutura produtiva dos países em desenvolvimento
apresentam tecnologias que são intensivas em mão de obra, para as quais as
competências necessárias são basicamente operacionais. Contudo, dada a tendência
mundial de mudança tecnológica constante e tendo em consideração que o segmento
de produtos que exigem níveis elevados de I&D é um dos mais dinâmicos a nível
internacional segundo as estatísticas da ONUDI, o sector industrial em Cabo Verde
deve realizar melhorias tecnológicas contínuas para se posicionar no grupo dos países
com maior contribuição no valor acrescentado manufacturado a nível mundial.
Dos países analisados e identificados como potenciais modelos para Cabo Verde,
Malta e Tunísia têm vindo a desenvolver esforços nesta área. A informação disponível
para os países em análise provém de anos diferentes não permitindo uma
comparação coerente.
Em Cabo Verde, existe ainda um número muito reduzido de técnicos e de
investigadores em I&D (menos de 100 pessoas segundo o World Development
Indicators). O Governo de Cabo Verde, através das suas instituições de ensino
superior e em parceria com o sector privado, deverá assim desenvolver políticas de
promoção à investigação e de apoio ao sector industrial, contribuindo para o
desenvolvimento do I&D no país.
Exportações de serviços na área das TIC
Todos os países em análise cresceram substancialmente, tentando posicionar-se a
jusante da cadeia de valor das TIC, em áreas como os call centers, desenvolvimento
6 Este valor refere-se ao ano de 2007, sendo que o de 2008 não se encontra disponível.
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
96
de software, criação de centros de competência técnicos para a região África. Cabo
Verde, apesar de ser um grande utilizador das TIC tanto no sector privado como
público, ainda não tem expressão como país exportador de serviços TIC. Os casos
mais conhecidos envolvem o call center do operador de telecomunicações português
Portugal Telecom sediado na Praia e o processo ainda recente da exportação de
serviços do Núcleo Operacional para a Sociedade de Informação (NOSI) para outros
países africanos. A tabela seguinte demonstra uma clara aposta de países como
Marrocos, Tunísia e Senegal que em dez anos multiplicaram as suas exportações por
valores entre 4 a 8 vezes.
Tabela 38 – Exportações de serviços na área das TIC, 2000-2009
Ranking País
Exportações TIC (em mlhões de USD, preços correntes)
2009 2000 2000 2009
1 1 Marrocos 113,52 926,99
2 4 Tunísia (a) 32,10 268,02
3 2 Senegal 52,29 202,19
4 5 Malta 27,24 112,69
5 3 Costa do Marfim 39,51 112,42
6 6 Maurícias (a) 18,77 82,08
7 8 Nigéria - 36,60
8 7 Cabo Verde (a) 10,53 28,03
Nota: a) o último ano corresponde a 2008 Fonte: World Development Indicators
10 INFRAESTRUTURA
Um país torna-se mais competitivo se adoptar uma infraestrutura adequada para o
desenvolvimento eficaz das actividades produtivas. A infraestrutura pode ser dividida
em duas categorias: a infraestrutura tradicional (que se refere às estradas, portos e
aeroportos, entre outros) e a infraestrutura tecnológica que envolve tanto as
tecnologias da informação e da comunicação (TICs) que ajudam a dinamizar os
processos de gestão e de disseminação do conhecimento, como a infraestrutura de
suporte à inovação empresarial (laboratórios acreditados de calibração, de ensaio e
análise, infraestrutura de certificação, serviços públicos de assistência técnica para a
indústria, entre outros).
10.1 INFRAESTRUTURA TRADICIONAL
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
97
A competitividade está directamente relacionada com a disponibilidade e a qualidade
da infraestrutura física. Uma infraestrutura física adequada (terrestre, aérea ou
marítima) ajuda a melhorar a produtividade do investimento privado, reduz custos e é
um elemento determinante na hora da escolha do destino do investimento. Uma
empresa de média e alta tecnologia que queira inserir-se com sucesso no comércio
internacional necessita de um contexto de investimento público ou público-privado em
estradas, portos, barragens hidroeléctricas, redes de telecomunicações e aeroportos.
A infraestrutura torna-se assim imprescindível de forma a permitir o abastecimento em
matérias-primas ou de outros bens às fábricas e a sua distribuição aos mercados, a
tempo e a custos reduzidos, contribuindo para o desenvolvimento da indústria do país.
- Infraestrutura rodoviária
Actualmente, Cabo Verde conta com uma rede rodoviária de aproximadamente 1.600
km. Em fins de 2009, quase 70% das estradas estavam alcatroadas conforme
transparece da tabela seguinte.
Tabela 39 – Estradas alcatroadas (em % do total de estradas no país), 2000-2009
Ranking País
% de Estradas Alcatroadas
2009 2000 2000 2009
1 1 Maurícias 97,00 98,03
2 2 Malta 88,00 87,53
3 5 Tunísia 68,40 75,18
4 4 Argélia 68,90 73,46
5 3 Cabo Verde 69,04 69,04
6 6 Marrocos 56,42 67,77
7 8 Senegal 29,30 29,26
8 9 Níger 25,66 20,65
9 7 Gana 29,60 14,93
10 10 Costa do Marfim 9,70 7,93
Nota: Os dados para o último ano correspondem aos seguintes anos: Cabo Verde 2001, Costa do Marfim 2007, Gana 2005 e Senegal 2003 Fonte: World Development Indicators
Face aos países em análise, Cabo Verde pertence ao grupo dos 5 países com a
percentagem mais elevada de estradas alcatroadas, mesmo assim ainda algo distante
das Maurícias e de Malta que detêm respectivamente taxas de 98,03% e 87,53%.
Refira-se ainda que Cabo Verde perdeu 2 posições em 10 anos, passando do 3º para
o 5º lugar, devido a um maior dinamismo por parte da Tunísia neste domínio, que
ocupou a 3ª posição em 2009.
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
98
Refira-se ainda que no caso de Cabo Verde, a qualidade das estradas varia
substancialmente entre ilhas, sendo que em São Nicolau e São Vicente 100% das vias
estão pavimentadas enquanto que em Santiago esse valor só atinge os 50%.
- Transporte aéreo
Num contexto de fragmentação geográfica, de fraca densidade populacional, de
insularidade mas de crescimento turístico importante, o transporte aéreo desempenha
um papel relevante na economia do país. Assim, Cabo Verde tem 4 aeroportos
internacionais cujas infraestruturas foram renovadas e são recentes (Praia, Sal, São
Vicente e Boavista) e 3 aeródromos (Fogo, Maio e São Nicolau) que servem
unicamente voos domésticos.
O crescimento elevado do turismo em Cabo Verde permitiu a entrada de novas
companhias aéreas no mercado (registadas e charter). O tráfego aéreo cresceu a uma
taxa média anual de 2,5% entre 2001 e 2005 segundo a IATA (International Air
Transport Association).
Tabela 40 – Número de partidas de voos de companhias aéreas registadas, 2000-2009
Ranking País
Número de partidas de voos de companhias aéreas registadas
2009 2000 2000 2009
1 1 Marrocos 44.542 62.037
2 2 Argélia 40.202 52.731
3 3 Tunísia 19.907 24.225
4 4 Malta 15.394 18.362
5 6 Nigéria 12.761 16.851
6 5 Cabo Verde 13.010 11.560
7 7 Maurícias 12.162 11.144
8 9 Senegal 2.415 6.441
9 8 Gana 4.873 3.333
Nota: Os dados para o último ano para o Gana e Senegal correspondem respectivamente aos anos 2004 e 2005 Fonte: World Development Indicators
O número de partidas de voos de companhias aéreas registadas em Cabo Verde
sofreu um decréscimo nos últimos 10 anos, indiciando eventualmente a utilização de
aeronaves de maior capacidade mas sobretudo o aumento substancial de companhias
aéreas charter a operarem no país, situação que acontece também com as Maurícias.
10.2 INFRAESTRUTURA TECNOLÓGICA
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
99
Ao nível das infraestruturas tecnológicas de telecomunicações e de interligação às
redes de acesso e de comutação, Cabo Verde possui boas condições para o
desenvolvimento do sector TIC, através da existência de um cabo submarino – anel de
fibra óptica inter-ilhas, do acesso ao cabo submarino Atlantis 2, à rede terrestre de
fibra óptica (505 km) e às comunicações via satélite (alternativa ao cabo Atlantis 2).
O investimento na infraestrutura tecnológica tem muitas vantagens das quais podemos
salientar as seguintes:
A massificação da sociedade da informação e a banalização do acesso ao
conhecimento por parte da população
A criação de competências avançadas neste sector que permitam desenvolver
uma indústria de suporte ao sector
A criação e acesso a novos mercados na economia global por parte das
empresas sendo a Internet a plataforma privilegiada de interacção, através das
redes sociais, portais empresariais e logísticos entre outros.
De forma geral, as TICs melhoram a coordenação em todas as etapas da
cadeia de produção e de comercialização, reduzem custos de transacção e de
administração de processos e são um elemento nuclear das cadeias de valor
globais.
Para medir o acesso de um país às telecomunicações e às tecnologias da informação
e comunicação (TICs), são utilizados indicadores como a cobertura da telefonia fixa e
móvel, a variação do número de assinantes das redes e a penetração da Internet e
dos computadores pessoais.
- Telefonia Fixa
Refira-se que actualmente, a nível mundial, parte da população prescinde do telefone
fixo e opta por utilizar as comunicações móveis devido ao facto de poder estar
contactável em todo o lado e a todo o momento (anytime, anywhere, by anyone and
anything). Nos últimos anos tem-se assistido a um decréscimo do número de acessos
fixos telefónicos por 100 habitantes nos países mais desenvolvidos, o que não
acontece em África devido ao custo ainda elevado das comunicações móveis.
Cabo Verde em 2009 encontrava-se na 3ª posição, à frente de países como a Tunísia,
Marrocos ou a Argélia. Só Malta e Maurícias tiveram um desempenho melhor mas os
3 países mantiveram as mesmas posições em 2000 e 2009.
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
100
Tabela 41 – Número de linhas telefónicas (por 100 habitantes), 2000-2009
Ranking País
Número de linhas telefónicas (por 100 habitantes)
2009 2000 2000 2009
1 1 Malta 52,36 60,90
2 2 Maurícias 23,67 29,72
3 3 Cabo Verde 12,45 14,28
4 4 Tunísia 9,99 12,26
5 6 Marrocos 4,94 10,99
6 5 Argélia 5,77 7,38
7 7 Senegal 2,08 2,22
8 8 Costa do Marfim 1,53 1,34
9 9 Gana 1,09 1,12
10 10 Nigéria 0,44 0,92
11 11 Níger 0,18 0,43
Fonte: World Development Indicators
- Redes Móveis
Em Cabo Verde, com a introdução em 1998 da telefonia móvel pelo operador Cabo
Verde Telecom, através da sua filial Cabo Verde Móvel, o número de assinantes não
tem parado de crescer apesar dos custos de comunicações ainda elevados devido a
só recentemente em 2008 ter entrado um 2º concorrente, a empresa T+, permitindo
dessa forma uma maior opção de escolha de serviços. A entrada em funcionamento
deste segundo operador móvel tem sido determinante para uma completa
reconfiguração da concorrência no mercado das telecomunicações em Cabo Verde.
Todos os países sem excepção conheceram crescimentos exponenciais neste período
de análise devido à introdução das redes móveis em África e do modelo dos telefones
pré-pagos, evitando o custo de uma assinatura mensal fixa para a maioria da
população com rendimentos muito baixos. Refira-se que em Malta, aliás como em
grande parte dos países da UE e das economias mais desenvolvidas, em 2009 em
média os habitantes já possuíam mais de 1 telemóvel por pessoa (o número de
assinantes por 100 habitantes em 2009 em Malta era de 101,71). Cabo Verde passou
de uma taxa de assinantes da rede móvel de 4,49% em 2000 para 77,53% em 2009,
ocupando a 6ª posição e demonstrando a forte adesão da população às redes de nova
geração, valor que pode ser comparado com o indicador de penetração da rede
telefónica fixa em 2009 (14,9%).
Tabela 42 – Número de assinantes de redes móveis (por 100 habitantes), 2000-2009
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
101
Ranking País
Número de assinantes de redes móveis (por 100 habitantes)
2009 2000 2000 2009
1 1 Malta 29,34 101,71
2 9 Argélia 0,28 93,79
3 7 Tunísia 1,25 93,50
4 2 Maurícias 15,17 85,21
5 3 Marrocos 8,12 79,11
6 4 Cabo Verde 4,49 77,53
7 8 Gana 0,67 63,38
8 5 Costa do Marfim 2,74 63,33
9 6 Senegal 2,53 55,06
10 10 Nigéria 0,02 47,24
11 11 Níger 0,02 17,00
Fonte: World Development Indicators
- Número de utilizadores Internet, 2000-2009
Entendem-se como utilizadores Internet as pessoas que acedem à rede de forma
regular, indiferentemente se o fazem de um local público ou privado, no seu local de
trabalho ou na sua residência. Assim, em todos os países existem mais utilizadores
Internet que computadores ligados a esse serviço e para todos os países em análise o
crescimento do número de utilizadores tem sido exponencial. A Tabela 43 vem
também confirmar o bom posicionamento de Cabo Verde nesta matéria, pertencendo
ao grupo dos 4 primeiros países da frente conjuntamente com Malta, Tunísia e
Marrocos. Os dados sustentam também o destaque dado pelo Banco Mundial
relativamente à Governação Electrónica, em que o país é considerado uma referência
mundial tendo sido identificado como caso de estudo do Banco Mundial e exemplo
para vários países do continente africano.
Tabela 43 – Número de utilizadores Internet, 2000-2009
Ranking País
Número de utilizadores Internet (por 100 pessoas)
2009 2000 2000 2009
1 1 Malta 13,08 57,97
2 3 Tunísia 2,72 33,55
3 5 Marrocos 0,69 32,19
4 4 Cabo Verde 1,82 29,67
5 10 Nigéria 0,06 28,43
6 2 Maurícias 7,33 22,74
7 6 Argélia 0,49 13,47
8 7 Senegal 0,40 7,36
9 9 Gana 0,15 5,44
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
102
10 8 Costa do Marfim 0,23 4,59
11 11 Níger 0,04 0,76
Fonte: World Development Indicators
A “Acessibilidade para Todos” é um dos pilares do Plano Estratégico para a Sociedade
da Informação (PESI). Pretende-se “promover a acessibilidade ao menor custo,
fomentar a coesão digital e estimular a presença universal”… “ligar tudo a todos em
termos de conectividade básica e, posteriormente, em banda larga segura e inter-
operável, promovendo o acesso universal e a coesão digital a nível insular e
socioeconómico, bem como a conectividade com a diáspora.”
Um bom exemplo é o projecto de “praças digitais” que se pretende instalar por todo o
país. Em 2009 existiam já dez praças digitais: três na Praia, Santa Catarina, Tarrafal,
Mindelo, Brava, Mosteiros, São Filipe e Espargos. Outro exemplo é o caso dos
Telecentros Comunitários para as zonas rurais que possibilitem o acesso às novas
tecnologias. Refira-se o importante papel que as “praças digitais” têm junto das
populações rurais, principalmente junto dos jovens que possuem portáteis ou
telemóveis com tecnologia WiFi. Igualmente, o aumento do número de prestadores de
serviços Internet e serviços VoIP prova que o sector está em desenvolvimento e a
atrair novos investidores estrangeiros e nacionais. Em 2009 já existiam cinco
empresas prestadoras de serviços, incluindo o Grupo Cabo Verde Telecom com as
suas filiais CV Multimédia e CV WiFi (S. Vicente). Finalmente, refira-se ainda que
segundo a Autoridade Nacional para as Comunicações (ANAC), em 2009, a Internet
ainda tinha uma fraca penetração no mundo rural com cerca de 87% dos subscritores
a localizarem-se nos centros urbanos.
- Número de servidores Internet seguros, 2000-2009
Nem todos os servidores Internet são seguros e só o são aqueles que cumprem os
requisitos internacionais de transmissão de dados encriptados, o que é igualmente
imprescindível para qualquer negócio ou serviço que opera on-line.
Tabela 44 – Número de servidores Internet seguros, 2000-2009
Ranking País
Número de servidores Internet seguros (por milhão de pessoas)
2009 2000 2000 2009
1 1 Malta 148,02 989,62
2 2 Maurícias 13,90 61,95
3 4 Tunísia 1,32 12,45
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
103
4 3 Cabo Verde 2,09 12,20
5 5 Marrocos 0,50 1,96
6 6 Senegal 0,29 0,91
7 11 Nigéria 0,02 0,81
8 7 Gana 0,24 0,71
9 10 Costa do Marfim 0,06 0,62
10 8 Argélia 0,13 0,54
11 9 Níger 0,08 0,33
Nota: Os dados para o ano 2000 para o Senegal e Cabo Verde correspondem respectivamente aos anos 2005 e 2006 Fonte: World Development Indicators
A Tabela 44 ilustra o facto de Cabo Verde, em 2009, ter atingido um total de 12,2
servidores Internet seguros por milhão de habitantes, destacando-se da maioria dos
países analisados quanto ao número de servidores Internet seguros, tendo o número
crescido quase 6 vezes no período de 2000 a 2009. Cabo Verde coloca-se na 4ª
posição, depois de Malta, Maurícias e Tunísia. No entanto, o país ainda está bastante
longe dos valores alcançados pelos dois primeiros países, Malta com 989,62 e
Maurícias com 61,95 servidores Internet seguros (por milhão de pessoas).
11 PERCEPÇÃO DOS STAKEHOLDERS SOBRE A
COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL DE CABO VERDE
Das reuniões mantidas com os vários stakeholders e da análise elaborada no
documento, estruturaram-se as lições aprendidas sobre a competitividade da indústria
de Cabo Verde sob forma de matriz sintética com os principais pontos fortes e fracos e
oportunidades e ameaças que poderão afectar a competitividade industrial e
condicionar o seu funcionamento.
Síntese das Oportunidades e Ameaças
Pontos Fortes Pontos Fracos
Estabilidade política do país Acordos comerciais existentes Investimento em infraestruturas: 15%/PIB/ano) País de rendimento médio Capacidade de aprendizagem dos recursos
humanos e flexibilidade de adaptação
Inexistência de tradição no sector industrial Base instalada industrial insignificante (sem massa
crítica) Inexistência de economias de escala Dimensão do país (procura/poder compra) Certificação da qualidade pouco divulgada e sem
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
104
Nível de desenvolvimento das TICs Localização estratégica Sector de transformação do pescado Ambiente de negócios (ranking Doing Business)
adesão no país I&D nas empresas industriais inexistente Infraestruturas deficientes: energia (custo/
fiabilidade), água (custo/acesso), transportes Financiamento das empresas/projectos com
custos elevados Legislação laboral
Oportunidades Ameaças
Acordo AGOA e ACP/UE (vantagens alfandegárias e acesso aos mercados americano e europeu)
Continente africano alvo da procura dos investidores
Número elevado de emigrantes no estrangeiro (captação e desenvolvimento de negócios na indústria)
Sector turístico dinâmico (350.000 turistas em 2010): cadeia importante de abastecimento
Sinergias da indústria com o sector agrícola (sector agro-industrial)
Conceito de pólos de competitividade/clusters (i.e. mar)
Parques tecnológicos Aproveitar o desenvolvimento do país nas TICs
e capitalizar em indústrias mais avançadas Explorar o mercado da CEDEAO e da SADC
A actual crise mundial conduz a uma selecção criteriosa dos países receptores de investimento
Concorrência forte a nível mundial no sector industrial face à globalização dos mercados
Liberalização acrescida nas trocas comerciais mundiais
Imposição pelos países compradores da certificação de qualidade nos produtos
Empresas exigentes na vertente qualidade e ambiente
Aumento do custo de mão-de-obra em Cabo Verde
SECÇÃO C. O CASO DAS ILHAS MAURÍCIAS
Apesar da insularidade do país, do afastamento dos mercados mundiais e dos fracos
recursos naturais da ilha, vários factores chave foram essenciais e desencadearam o
milagre económico nas Ilhas Maurícias, nomeadamente as boas práticas a nível da
política macroeconómica, particularmente na vertente fiscal e política cambial
competitiva, a colaboração intensiva e produtiva entre os organismos do sector público
e privado e um sistema vocacionado para o comércio externo suportado por políticas
liberais. Os parques industriais (EPZ) estão na origem do modelo industrial do país e
do seu desenvolvimento. Por ser um exemplo referido em inúmeros estudos realizados
por organizações internacionais como um modelo de competitividade industrial de
sucesso, apresenta-se de forma resumida os principais desafios das Maurícias, a
abordagem, os resultados e as lições aprendidas deste caso de sucesso.
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
105
Desafios
O país, situado no Oceano Índico, era fortemente subsidiado pelo programa de
assistência técnica IDA (International Development Association), com uma economia
de monocultura, baseada predominantemente no cultivo da cana do açúcar, de fraco
rendimento, com uma elevada população para a dimensão do país (1,3 milhões de
habitantes/1865 km2), e uma taxa de desemprego importante. A indústria de
manufacturas tornou-se num dos pilares da economia, com o país a aceder à posição
de país de rendimento médio (PRM), com um dos valores de PIB per capita mais alto
da região, e a conseguir diversificar as actividades económicas explorando nichos no
sector das confecções, no turismo e nos serviços financeiros.
O país esforçou-se em diversificar a economia, definindo quatro pilares de suporte (o
açúcar, o têxtil, o turismo e os serviços financeiros) de forma a melhorar a
produtividade e a competitividade e favorecer o crescimento e a criação de emprego.
Abordagem
A abordagem adoptada resume-se à combinação inteligente de vários factores:
A estabilidade política, um forte modelo institucional, baixos níveis de
corrupção e um ambiente de regulação e de regulamentação favoráveis com
políticas comerciais abertas (incentivos fiscais e financeiros, protecção tarifária
comercial, esquemas com subsídios e bolsas, suporte institucional e serviços
de infraestrutura)
A adopção nos anos 70 de uma estratégia orientada para a exportação,
baseada no modelo dos países como Hong Kong e Singapura
A elaboração do Export Processing Zone Act em 1970 (EPZ) que converteu a
ilha numa zona de exportação com concessão de incentivos para a promoção
do desenvolvimento de actividades de exportação. Durante três décadas,
houve coexistência de uma estratégia de substituição de importações pela
produção nacional com o desenvolvimento de uma política de exportação
desses produtos nacionais, o que permitiu a diversificação da economia, a
criação de uma cultura industrial, a criação de uma política comercial
vocacionada para as exportações, com impacto a nível de emprego e de
crescimento do país. Refira-se que contrariamente ao modelo desenvolvido
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
106
nos anos 70, o modelo adoptado pelas Maurícias teve sucesso por se ter
escolhido de forma inteligente os produtos a serem produzidos localmente, não
numa óptica de evitar importações a qualquer custo mas sim numa perspectiva
de agregar competências únicas a factores de produção distintivos, permitindo
uma diferenciação face à concorrência.
Para além do desenvolvimento da infraestrutura, o país deu prioridade às PMEs que
foram a principal fonte de criação de emprego durante a crise económica e financeira.
Hoje o Estado continua com o mesmo modelo de políticas de incentivos, aumentando
as ajudas aos sectores exportadores, em particular o sector têxtil e as confecções que
sofreram muito durante a crise e com o fim do acordo multifibras em 2005.
No âmbito dos esforços que estão a ser desenvolvidos para melhorar a capacidade do
país para ultrapassar o fenómeno da globalização, o país está a equipar-se com um
sistema de informação sobre a produção e a comercialização de produtos agro-
alimentares, permitindo aos agricultores e aos criadores de gado optimizarem o
volume de negócios. Os poderes públicos estão também a ajudar as cooperativas do
sector do açúcar a obterem a marca Fair Trade da UE, o que lhes permitirá receber
um bónus de 60 USD por tonelada de açúcar.
Resultados e Ambições
Em 2010, o país ocupava a 20ª posição no ranking do Doing Business do Banco
Mundial. O rendimento médio per capita aumentou progressivamente, atingindo 7.100
USD em 2009, correspondendo a quatro vezes o valor médio do continente africano.
Apesar do crescimento do PIB em 2009 ter caído para mínimos históricos (3,1%), em
2010 já atingia 4,1% e estima-se um valor idêntico para 2011. Em 2008, a indústria de
produtos manufacturados representava 19% do PIB, 23% do emprego total e 85% das
exportações do país, com 810 empresas de média e grande dimensão com mais de 10
trabalhadores e 13.000 micro ou pequenas empresas (com menos de 10
trabalhadores). O crescimento anual da indústria de manufacturas tem sido desde1969
em média de 5% a 6%, o que tem contribuído muito para a melhoria da distribuição de
rendimentos no país e melhorado a sua infraestrutura.
O país atraiu entre 2004 e 2007 mais IDE que o stock acumulado de IDE nos 25 anos
anteriores. Cite-se a título de exemplo o caso do IDE vindo da Índia devido a um
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
107
tratamento fiscal especial que permite que os investimentos estrangeiros na Índia de
empresas sediadas nas Maurícias possam usufruir do regime fiscal das Maurícias e
serem taxadas pela lei do país a valores muito inferiores aos da Índia. Assim, muitos
investimentos são realizados na Índia através das Maurícias nos sectores do cimento,
equipamento eléctrico, telecomunicações e sector financeiro, permitindo ao país
competir globalmente em sectores de forte valor acrescentado.
O sector industrial tornou-se num pilar importante da economia, permitindo a
diversificação da sua base, a criação de oportunidades de emprego, a substituição das
importações, poupança em divisas, aumento de exportações, e criação de ganhos
cambiais.
A economia está também a vocacionar-se para a transformação do pescado, as TICs
e o imobiliário. Nos últimos anos, empresas de alta tecnologia lançaram-se na
produção de componentes para a indústria aeroespacial e componentes sofisticados
para o sector clínico e de precisão para o sector dos plásticos e moldes.
O facto do país ser actualmente membro de várias organizações regionais (COMESA,
SADC, IOR-ARC, IOC) tem também contribuído para posicionar o país como um
interface chave entre a Ásia e as regiões do sul e do este de África. Esta situação tem
sido reforçada pelo sector financeiro, que pelo seu elevado grau de desempenho tem
permitido ao país posicionar-se como uma plataforma de investimento ligando a África
de leste à Índia e à China.
Ambições
O país pretende evoluir do sector agrícola e da área industrial de fraca qualificação e
valor acrescentado para sectores altamente qualificados. O país pretende tornar-se
numa ciber-ilha, plataforma tecnológica da região, e exemplo máximo da tecnologia de
informação e comunicação (que o governo pretende adoptar como 5º pilar da
economia), e num centro de excelência na área da educação, formação e saúde como
Singapura ou Malásia. O país quer ainda desenvolver uma política de crescimento
responsável e sustentável, adequada às novas exigências do meio ambiente.
O país possui hoje redes de comunicação de ponta, e quer seguir o exemplo de
Bangalore, na Índia, tornando-se o centro das tecnologias de informação da região,
apoiando-se numa mão-de-obra que domina simultaneamente as línguas francesa e
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
108
inglesa. As Maurícias investiram também num cabo submarino de comunicações em
fibra óptica que liga o Este Asiático à África do Sul e está a modificar a legislação
laboral de forma a atrair os investidores. A Índia acordou-lhe um empréstimo de 100
milhões de USD a uma taxa de juro reduzida para a construção da ciber-cidade,
projecto que se estima irá criar bens no sector das TICs e criará 5.000 empregos.
Lições Aprendidas
O país focalizou-se no comércio internacional, usufruindo de um acesso
privilegiado a parceiros da UE no sector do açúcar, nas confecções e nos
têxteis, resultando em subsídios para as exportações e ganhos cambiais.
O regime liberal para atrair IDE utilizou incentivos, um regime especial para as
empresas exportadoras a nível da legislação laboral e dos impostos
alfandegários e a criação de EPZs. Refira-se a título de exemplo que a taxa de
imposto sobre o rendimento para as empresas é de 15% com um bónus de
10% para os investidores estrangeiros (taxa efectiva de 5%).
Para combater a reduzida dimensão do país, o governo apostou numa forte
capacidade de liderança do Governo e das suas instituições. Adicionalmente, o
sector público e privado mantêm uma estreita colaboração em inúmeras áreas.
O sector público formulou e implementou políticas sectoriais para estimular o
sector privado que respondeu aderindo, como foi o caso dos protocolos na
área do açúcar, na criação das EPZs e no turismo. O governo actuou sempre
como facilitador da expansão do sector privado.
Devido à política proteccionista anterior, a economia tinha-se tornado
demasiado dependente das zonas francas estabelecidas pelo governo no fim
dos anos 80. No entanto, a legislação flexível e preferencial dessas zonas teve
um impacto inegável sobre outros sectores, possibilitando a sua diversificação
e desenvolvimento. Até 2002, as zonas francas representavam 60% das
exportações do país.
O sector privado teve e tem um papel fundamental no processo de formulação
das políticas do país. Todas as delegações do país presentes em organizações
internacionais têm um membro do sector privado no grupo de trabalho.
O governo levou a cabo reformas para aliviar os problemas que existiam e que
condicionavam o desenvolvimento industrial:
Taxas de juro elevadas
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
109
Procedimentos burocráticos com atrasos para autorização de IDE
Autorização por parte do Banco Central para concessões de
empréstimos
Autorizações de trabalho
Acesso a financiamento pelas PMES; e
Custos de frete marítimos
O país soube desde muito cedo ter uma atitude aberta e de adaptabilidade a
novas ideias desenvolvendo actividades fora da área tradicional como na área
das TICs, no sector da iluminação, dos serviços financeiros e offshore. O
sucesso deveu-se a um planeamento cuidado e de políticas adequadas que
têm permitido ao país resistir ao fim do acordo multifibras e aos efeitos da tripla
crise desde 2007, conforme será referido no Capítulo 8 – Principais
Conclusões.
Em conclusão, o sucesso do país deve-se à conjugação dos seguintes esforços:
1. Consenso entre a classe política indiana e a elite empresarial franco-maurícia
do país gerindo os vários interesses étnicos e a combinação de instituições
flexíveis e o forte interface entre os sectores público e privado, que se traduziu
na criação do Conselho Económico Conjunto
2. Os rendimentos gerados nos anos 70 e 80 foram colocados em produtos de
poupança e não dedicados ao consumo, com disciplina fiscal, taxas de câmbio
competitivas e endividamento público a níveis moderados
3. Abertura ao IDE nas confecções e têxteis e no turismo e um bom clima de
investimento e de negócios desde muito cedo (EPZs)
4. Capacidade de aceder aos mercados de países desenvolvidos através das
exportações, com uma política fiscal inteligente (caso do IDE para a Índia
através do país).
12 PRINCIPAIS CONCLUSÕES
Cabo Verde como todos os países de África sofreu custos económicos e sociais com
os 3 choques recentes, de forte intensidade e interligados entre eles:
O aumento do preço dos produtos alimentares
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
110
O aumento do preço da energia; e
A crise económica e financeira mundial desencadeada pelos acontecimentos
nos mercados imobiliários nos EUA em fins de 2007
A taxa de crescimento do PIB passou de 10,8% em 2006 para 3,6% em 2009,
comprometendo de alguma forma as perspectivas iniciais de se atingirem os
objectivos do Millenium para o desenvolvimento em 2010. A crise serviu também de
lição para lembrar que Cabo Verde é muito sensível aos choques externos e que é
necessário diversificar a estrutura de produção e de exportação do país para poder
absorver melhor os choques. O governo também identificou que o bom
desenvolvimento nas tecnologias de informação e comunicação era necessário mas
não suficiente para provocar uma mudança no desenvolvimento económico de forma a
possibilitar que a indústria passasse de actividades de baixa produtividade e reduzido
valor acrescentado a actividades de forte produtividade e alto valor acrescentado. Era
necessária uma mudança estrutural no país que o governo tem hoje por missão
desenvolver através de um conjunto de reformas e em que o sector industrial terá um
papel fundamental como motor da economia.
O governo estabeleceu um programa de reformas a fim de liberalizar e diversificar a
economia do país, o que permitiu estabelecer uma certa estabilidade macroeconómica
com uma taxa de inflação reduzida, uma credibilidade internacional forte e uma taxa
de câmbio com o Euro fixa e forte.
Apesar dos progressos realizados, o país tem sido confrontado com um conjunto de
obstáculos. Com a sua passagem a país de rendimento médio, Cabo Verde enfrenta
uma redução do acesso a empréstimos concessionais e solicitou uma extensão para o
período de 2012 a 2015, a fim de aceder aos instrumentos inerentes aos países
menos avançados, no pressuposto de que aquele espaço de tempo será suficiente
para ultrapassar os principais estrangulamentos estruturais.
A taxa de desemprego, segundo o INE atingiu em 2009 os 13,2% da força de trabalho.
Nesse ano, a repartição dos rendimentos ainda era desigual com 24% da população
ainda considerada pobre segundo o relatório de 2010 das Nações Unidas sobre o
índice de desenvolvimento humano.
Apesar das tentativas de utilizar a sua situação geopolítica e a estabilidade económica
para encontrar novos parceiros, os parceiros comerciais, bem como os investidores,
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
111
continuam a ser maioritariamente europeus. A diversificação tem sido mais lenta do
que o previsto pelo governo. Poucas empresas do país exportam (com um número
reduzido de produtos), o que causa um deficit comercial importante. As que exportam
limitam-se a um número de países restrito (Espanha, Canárias, Portugal, Brasil, EUA),
o que as torna vulneráveis às flutuações do mercado.
A produtividade do trabalho é relativamente elevada. As empresas industriais de Cabo
Verde são na realidade muito mais produtivas que as suas homólogas em países com
níveis de rendimento semelhantes. No entanto a produtividade é inferior se comparada
com a dos países de rendimento médio elevado como as Ilhas Maurícias, as Maldivas
ou a África do Sul. Refira-se também que só 6% das empresas industriais exportam.
Essa situação pode ser explicada pelos seguintes factores:
A maior parte das empresas do país são micro ou pequenas empresas, com
menos de 10 trabalhadores e portanto não podem suportar os custos pesados
inerentes a operações de exportação
Apesar de uma produtividade elevada por trabalhador, o custo da mão-de-obra
é relativamente importante. Na realidade, o custo do trabalho no país é
bastante elevado quando comparado com países semelhantes, o que penaliza
consideravelmente a competitividade internacional do país.
O isolamento geográfico do país e das principais rotas marítimas são outro
obstáculo. Os dados indicam também que os procedimentos alfandegários e a
burocracia nos portos são lentos e ineficazes, o que desincentiva
consideravelmente as exportações.
Apresentam-se de seguida de forma resumida as principais conclusões do estudo:
1. A indústria de manufactura em Cabo Verde representou só 9,3% do PIB em
2009 (face aos 20% no continente africano) e tem vindo a perder peso ao longo
dos últimos 10 anos
2. O índice de desempenho da competitividade industrial (IDCI) elaborado pela
ONUDI situou-se em 2009 nos 20,8 colocando Cabo Verde na 7ª posição do
ranking dos 11 países analisados (perdendo 2 lugares em 10 anos)
3. O VAM do país é inferior ao VAM dos 11 países analisados apesar de ter tido a
maior taxa anual de crescimento (5,5% no período em análise) e um VAM per
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
112
capita de 150 USD em 2009 (face a 112 USD em 2000), próximo da barreira
dos 200 USD
4. A quota de mercado do país a nível mundial nos produtos manufacturados
(RN, BT, MT ou AT) não tem expressão
5. O país tem uma forte concentração em 2 mercados: Espanha e Portugal que
perfazem mais de 90% das exportações manufactureiras do país, reflectido no
fraco valor do índice IDM
6. O país tem uma forte concentração em 3 produtos principais: transformação do
pescado, confecções e calçado, em que o primeiro representa quase 50% do
total dos produtos manufacturados exportados e a globalidade dos três
representam 90%, reflectido no fraco valor do índice IDP
7. O país possui uma produtividade acima da média face aos países analisados
mas com um custo laboral elevado
8. Os produtos manufacturados MAT representaram em 2009 27% do total dos
produtos manufacturados no país, colocando Cabo Verde na 6ª posição no
ranking dos países analisados, devido principalmente a área farmacêutica e de
medicamentos mas o peso diminuiu ao longo dos anos (o peso era de 30% em
2000).
9. Os produtos manufacturados representam uma parte considerável das
exportações do país mas o peso diminuiu ao longo dos anos (93 % em 2000
para 60% em 2009).
10. O país não progrediu na área dos produtos manufacturados MAT. O peso
destes produtos no valor das exportações de produtos manufacturados do país
ronda os 0% em 2009 face a 4,8% em 2000.
11. Cabo Verde encontra-se ainda num estado de desenvolvimento industrial
pouco avançado com actividades de manufactura baseadas em RN e BT, com
uma intervenção forte de mão-de-obra
12. Mesmo os sectores de forte intensidade de mão-de-obra (têxtil, confecções,
couro) têm um peso médio na indústria de produtos manufacturados de Cabo
Verde, tanto do ponto de vista da produção local como das exportações.
13. As actividades industriais de manufactura consideradas de cariz tecnológico
baixo (RN e BT) são constituídas principalmente por 3 famílias de produtos: a
transformação do pescado e marisco, as confecções, calçado e suas partes,
bebidas e licores
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
113
14. O mercado nacional sendo exíguo, a quase totalidade da produção de produtos
manufacturados é para exportação (95%)
15. A certificação na área da qualidade e do ambiente é inexistente no país
16. Cabo Verde, no ensino primário e secundário, possui taxas de cobertura
superiores a 80% e 60% respectivamente e tem sido dos países que mais tem
apostado na educação ao longo dos últimos 10 anos, ocupando a 1ª e 3ª
posição respectivamente em 2000 e 2009 na análise realizada
17. Os fluxos de IDE registaram um forte aumento nos últimos anos, tendo
passado de 33 milhões de USD em 2000 para 212 milhões em 2008 e têm-se
concentrado fortemente no sector do turismo e hotelaria, a indústria perdendo
progressivamente peso e representando hoje apenas cerca de 2% no total do
IDE (através das confecções, calçado e transformação do pescado). Portugal,
Itália, Irlanda, Espanha e Reino Unido destacam-se como principais mercados
emissores de investimento directo estrangeiro no país.
18. O ambiente de negócios em Cabo Verde progrediu, tendo o país ganho dez
posições em 2010, estando agora na 132ª posição no ranking do Doing
Business do Banco Mundial.
19. Ao nível das infraestruturas tecnológicas de telecomunicações e de interligação
às redes de acesso e de comutação, Cabo Verde possui um cabo submarino –
anel de fibra óptica inter-ilhas, acesso ao cabo submarino Atlantis 2, à rede
terrestre de fibra óptica (505 km) e às comunicações via satélite (alternativa ao
cabo Atlantis 2).
20. Cabo Verde passou de uma taxa de assinantes da rede móvel de 4,49% em
2000 para 77,53% em 2009 comparativamente ao indicador de penetração da
rede telefónica fixa que foi de 14,9% no mesmo ano.
21. O crescimento do número de utilizadores da Internet no país tem sido
exponencial (1,82% em 2000 e 29,67% em 2009) e Cabo Verde já pertence ao
grupo dos 4 primeiros países da frente conjuntamente com Malta, Tunísia e
Marrocos.
13 DESAFIOS E OPORTUNIDADES
Comparada com outras economias de outros países da região subsaariana de
rendimento médio, a economia de Cabo Verde registou resultados bastante
satisfatórios nos últimos 10 anos, obtendo uma produtividade bastante forte, uma
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
114
política macroeconómica credível e por conseguinte uma boa estabilidade
macroeconómica.
No entanto, o país tem de fazer face ao grande desafio colocado pela fraca propensão
à exportação. Se bem que em parte isso seja devido a causas estruturais conforme já
mencionado, tais como a insularidade, o número muito importante de pequenas e
micro empresas, entre outras, Cabo Verde ainda exporta muito pouco quando
comparado com outras economias insulares como as Maldivas ou as Ilhas Maurícias.
As vantagens para o país de uma aposta na indústria manufactureira seriam de vária
ordem :
Como fonte de tecnologia e de inovação que são essenciais ao
desenvolvimento da economia
Possibilitar a I&D associadas às empresas industriais e assim dinamizar a área
em Cabo Verde em parceria com as instituições de ensino e os institutos
sectoriais
Como meio de disseminação de novas tecnologias noutros sectores da
economia
Criar um efeito de sinergia a montante e jusante nos sectores da economia em
termos da procura (sector agrícola, turismo, agro-industrial, banca e serviços,
transportes, seguros, electricidade, telecomunicações) alavancando o
crescimento destes sectores e contribuindo para o investimento nacional, a
criação de emprego, de competências e conhecimento e a criação de riqueza
no país
Durante as entrevistas, os stakeholders mencionaram quatro áreas de impacto
fundamental sobre a competitividade industrial de Cabo Verde: a infraestrutura, a
governança, as competências e a tecnologia. De forma não exaustiva foram referidos
alguns factores críticos relativos a essas áreas:
Infraestrutura
Melhorar o desempenho do sector da energia: a electricidade é considerada
uma das condicionantes mais importantes no país
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
115
Reduzir as barreiras comerciais e tarifárias: apesar de Cabo Verde ter um
regime comercial liberal, as taxas ainda continuam acima dos standards
internacionais
Melhorar o desempenho das redes de portos: um obstáculo principal à
exportação é o tempo demasiado longo e a ineficácia dos procedimentos nas
alfândegas
A eliminação destas condicionantes permitirão reduzir o custo do trabalho pois apesar
da produtividade ser elevada, o custo relativo do trabalho relativamente à
produtividade é igualmente muito alto.
Competências e recursos humanos
Mão-de-obra especializada: num contexto internacional caracterizado pelo
progresso tecnológico e a difusão das tecnologias de informação, a
competitividade requer competências na área das ciências tecnológicas,
engenharia mecânica, engenharia electrotécnica, engenharia informática e as
ciências em geral, a nível profissionalizante e superior.
Formação: uma melhoria nas formações e na educação profissionalizante e
universitária seriam igualmente reformas benéficas a médio prazo
Legislação laboral mais flexível: afim de tornar as empresas mais competitivas
nos mercados internacionais, é necessário tornar a legislação laboral mais
flexível.
Tecnologia
Aposta em sectores de maior valor acrescentado: Cabo Verde deverá
aproveitar o forte envolvimento na área das TIC em termos de adesão às
tecnologias e da sua utilização (conforme consta no Índice de Oportunidade
Digital (DOI)7 elaborado pela UIT), para sustentar o desenvolvimento de
actividades de maior valor acrescentado, onde as tecnologias desempenham
um papel fundamental
7 http://www.itu.int/ITU-D/ict/doi/index.html
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
116
Governança
Em todo o processo, o governo terá um papel preponderante a desempenhar
como aconteceu com as Maurícias, através de uma política forte a nível
industrial, implicando uma vontade política ao mais alto nível e uma
coordenação entre os vários ministérios e administrações públicas, controlando
e avaliando os resultados, através de critérios definidos e divulgados.
Assim, são vários os desafios do governo para eliminar as condicionantes que
impedem o desenvolvimento da indústria manufactureira no país. Alguns objectivos
sugeridos são apresentados de seguida:
Escolher os sectores chave com vantagens comparativas, promover o IDE
junto de países que serão alvo de uma selecção criteriosa, desenvolvendo
programas de incubação de empresas para cativar as empresas privadas a
aderirem aos sectores designados. Atrair os empreendedores para os sectores
escolhidos, através de medidas para reduzir os custos de transacção
comerciais.
Implementar reformas selectivas para melhorar a competitividade e as
capacidades das empresas nacionais e promover a mudança estrutural em
sectores escolhidos, dinamizando o sector industrial e alavancando as
exportações, melhorando o desempenho das empresas e da economia em
geral.
Privilegiar sectores e ou indústrias com apoios sectoriais, nomeadamente na
área da certificação da qualidade e do ambiente e facultando o acesso
privilegiado e facilitado ao financiamento às empresas.
Apoiar as empresas através de incentivos fiscais ou de créditos bonificados
que lhes permitam alavancar o investimento em novos produtos, exportarem e
internacionalizarem-se
Apoiar actividades entre sectores, por exemplo através de I&D ou financiando
actividades inovadoras.
Nesse sentido, o governo poderá adoptar uma política industrial alicerçada em sete
medidas principais:
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
117
1. Políticas Tecnológicas e de Inovação. Criação de clusters ou de pólos de
competitividade, através da criação de pólos industriais permitindo economias de
escala e criando massa crítica, como por exemplo o cluster do mar, captando
capacidades tecnológicas (através da criação local das competências necessárias ou
através de IDE, de aquisição de licenças ou de bens de equipamento) promovendo a
ciência, a tecnologia e a inovação. Explorar e reforçar as complementaridades entre o
sector agrícola e a indústria.
2. Políticas de Educação e de Formação. Formação aos recursos humanos das
PMEs para produzirem produtos com qualidade, rapidez e eficácia e estarem
preparados para as mudanças tecnológicas, o processo da gestão da inovação e a
concorrência global. Criação de organismos de certificação e de testes e apoio à I&D
nas empresas. Desenvolvimento de cursos técnicos e científicos no ensino médio e
superior capazes de responder às necessidades do mercado e de formar uma mão-
de-obra qualificada indispensável à industrialização do país.
3. Políticas de Apoio Financeiro. Financiamento do desenvolvimento industrial
através da concepção e aplicação de políticas destinadas a apoiar o desenvolvimento
industrial, mobilizando e afectando os recursos necessários e envolvendo o sector
público e privado.
4. Políticas Comerciais. Promoção das exportações através de uma política
económica de abertura baseada na exportação com integração comercial e criação de
cadeias de valor integradas no plano regional e forte colaboração entre as empresas.
5. Políticas de Captação de IDE. Captação de IDE através da criação de parques
tecnológicos ou de zonas francas para atrair empresas estrangeiras e nacionais a
investirem nos sectores definidos.
6, Políticas de Relacionamento Regional. Intensificar o relacionamento com os
países da CEDEAO no sentido de garantir um mercado privilegiado para os produtos
manufacturados de baixa e média tecnologia.
7. Políticas de Responsabilidade Social. Adoptar regras de produção amigas do
meio ambiente, adoptando tecnologias e novos métodos de produção bem como os
processos e a formação adequados.
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
118
BIBLIOGRAFIA
African Development Bank (AfDB)/OECD 2008 Economic Outlook, Cape Verde African Development Bank, African Development Fund: Republic of Cape Verde Country
Strategy Paper, 2009-2012; Regional–West 2 Department (ORWB), September 2009
Ampah, M., Camos, D., Briceño-Garmendia, C., Minges, M., Shkratan M., and Williams, M., (2009) Africa Infrastructure Country Diagnostic (AICD) Background Paper 10. Information and Technology in Sub-Saharan Africa: A Sector Review. Washington, DC.
Albaladejo, M. (2003); Working Paper Number 10; Industrial Realities in Nígeria: From Bad to
Worse Andries Bezuidenhout, University of the Witwatersrand in association with the NEDLAC
Research Department (National Economic Development&Labour Council, South Africa): An evaluation of industrial Policy Perspectives in the south African context – case studies: Malaysia, Mauritius and Ireland, March 2002
BAD, OCDE, PNUD, CEA (2011) : Pespectives Économiques en Afrique BAD, OCDE, PNUD, UNECA (2011); Perspectives économiques en Afrique 2011 Thème
Spécial: L'Afrique et ses partenaires émergents Banco de Cabo Verde, Relatório Anual de 2009: Capítulo 1 - Evolução Económica e Monetária Banco de Cabo Verde, Relatório Anual de 2008: Capítulo 1 - Evolução Económica e Monetária Banco de Cabo Verde, Relatório Anual de 2007: Capítulo 1 - Evolução Económica e Monetária Banco de Cabo Verde, Relatório Anual de 2006: Capítulo 1 - Desenvolvimento Económico e
Política Monetária Banco de Cabo Verde, Departamento de Estudos Económicos e Estatísticas, Indicadores
Económicos e Financeiros, Maio 2011 Banque Mondiale (2006). Royaume du Maroc : promouvoir la croissance et l’emploi par la
diversification productive et la compétitivité, mémorandum économique pays, World Bank, Washington DC
Bartels F. and Lederer S., Changing Patterns in Industrial Performance, A UNIDO Competitive
Industrial Performance Perspective: Implications for Industrial Development, Research and Statistics Branch, working paper 05/2009, 2009
Boston Consulting Group (BCG) (2010). The African Challengers : Global Competitors Emerge
from the Overlooked Continent Central Institute for Economic Management, Asia Competitiveness Institute, National University
of Singapore, Christian Ketels C., Nguyen C., Nguyen T., Do H.; Vietnam Competitiveness Report, 2010
Cabo Verde 2016: Programa do Governo para a VIII Legislatura, 2011-2016 Cecilia M. Briceño-Garmendia; Daniel Alberto Benitez: Relatório do Banco Mundial de Junho de
2011 intitulado Cape Verde’s Infrastructure, A Continental Approach
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
119
Chuhan-Pole P., Angwafo M., Yes Africa Can, Success Stories from a Dynamic Continent, The
World Bank, 2011 Commission Économique des Nations Unies pour l'Afrique (CEA), Rapport économique sur
l’Afrique 2011 - Gérer le développement: Le rôle de l’État dans la transformation économique
Commission Économique des Nations Unies pour l'Afrique (CEA), Rapport économique sur
l’Afrique 2010 – Promouvoir une croissance forte et durable pour réduire le chômage en Afrique
Commission Économique des Nations Unies pour l'Afrique (CEA), Rapport économique sur
l’Afrique 2005: Relever le défi posé par le chômage et la pauvreté en Afrique Commission Économique des Nations Unies pour l'Afrique (CEA), Union Africaine ; Rapport
économique sur l’Afrique 2003 – Accélérer le rythme de développement Development Policy Research Unit University of Cape Town, South Africa, Policy for Industrial
Development: A Case Study of the Clothing Industry in Mauritius, DPRU Policy Brief nº 02/P21, March 2002
Economic Policy Department, Ministry of Finance, the Economy and Investment of Malta,
Economic Survey, October, 2010 Ernst & Young's 2011 Africa attractiveness survey, It' s time for Africa; 2011 Espírito Santo Research, Inovação e Internacionalização, Relações Comerciais Portugal –
Cabo Verde, Oportunidades de Exportação de Mercadorias, Outubro 2010 European Commission; Directorate-General for Research – International Cooperation (INCO):
The Changing face of EU-African cooperation in science and technology Financial Times, This is Africa, A Global Perspective, March 2009: A Digital Generation Financial Times, fDiIntelligence: FDI trends, Manufacturing dominates business activity in 2010,
April/May 2011 Financial Times, fDiIntelligence: African Countries of the Future, August/September 2011 Financial Times, FDI Global Outlook Report 2011, Manufacturing makes a comeback Fonds monétaire international (FMI) Perspectives économiques régionales, Afrique
subsaharienne, Reprise et nouveaux risques, Avril 2011, Édition française Fond Monétaire International (FMI), rapport nº8/221, Sénégal: Questions Générales, 2008 Global Business Policy Council, A.T. Kearney, Inc.: Investing in a Rebound: The 2010 A.T.
Kearney FDI Confidence Index Instituto Nacional de Estatística de Cabo Verde (INE), Inquérito anual às empresas, 2008 Instituto Nacional de Estatística de Cabo Verde (INE), III.º Recenseamento Empresarial, 2007 International Telecommunication Union (ITU), Partnership on Measuring ICT for Development,
Core ICT Indicators 2010 International Telecommunication Union (ITU), Measuring the Information Society 2010; ITU – D
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
120
International Telecommunications Union (ITU). 2010. World Telecommunications/ ICT indicators Database
Kaplinsky R., McCormick D, Morris M. (2008); China and Sub Saharan Africa: Impacts and
Challenges of a Growing Relationship, SAIS Working Papers in African Studies, African Studies Program, The Johns Hopkins University, Paul H. Nitze School of Advanced International Studies, Washington, DC
La Documentation Française, Questions Internationales, L’Afrique en Mouvement, nº 33
septembre-octobre 2008
Lin, J. Y., and J. Chang (2008) DPR Debate: Should Industrial Policy in Developing Countries Conform to Comparative Advantage or Defy it? , Development Policy Review, 27(5), 483-502
Ministère de l’Economie et des Finances du Sénégal: Rapport national sur la compétitivité du Sénégal, Avril 2011
Mckinsey Global Institute; Lions on the move: the progress and potential of African economies,
June 2010 National Programme on Sustainable Consumption and Production (SCP) for Mauritius (2008-
2013) OECD, Aid for Trade at a Glance 2009: Cape Verde Case Story OECD, African Economic Outlook 2011 Africa and its Emerging Partners OECD, African
Development Bank, United Nations Economic Commission for Africa (UNECA), United Nations Program Development.
OECD Trade Policy Working Papers, No. 121, OECD Publishing, Kowalski, P. (2011),
“Comparative Advantage and Trade Performance: Policy Implications” OECD Science, Technology and Industry Scoreboard 2011, Innovation and Growth in
Knowledge Economies ONU, Afrique Renouveau, Vol.18#3 (Octobre 2004) Petersen I., Human Sciences Research Council, South Africa; Project data source document;
Innovation in sub-Saharan Africa: Competitiveness, Capability and Achievements in South Africa, Nígeria and Uganda, April 2008
Republic of Mauritius Industrial and SME Strategic Plan 2010 – 2013 Rodrik, D. (2005) Growth Strategies, in P. Aghion and S. Durlauf, eds., Handbook of Economic
Growth, vol. 1A, North-Holland.
Rodrik, D. (2005) Industrial policy: Don’t ask why, ask how, Middle East Development Journal, Demo Issue (2008) 1–29
The African Union Commission (AUC) and the United Nations Economic Commission for Africa (UNECA), Experts Group Meeting on the Implementation Strategy for the Accelerated Industrial
Development of Africa (AIDA), Addis Abeba, Ethiopia., Étude de cas : La politique industrielle au Sénégal, Octobre 2010
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
121
The African Capacity Building Foundation, Africa Capacity Indicators 2011: Capacity development in fragile states, 2011
The African Capacity Building Foundation: Africa Capacity Indicators 2011 The Economist Intelligence Unit (EIU): Banking in Sub-Saharan Africa to 2020, Promising
frontiers The Economist Intelligence Unit (EIU): Cape Verde country profile The Economist Intelligence Unit (EIU), Banking in Sub-Saharan Africa to 2020: Promising
frontiers, 2011 The International Bank for Reconstruction and Development / The World Bank/IFC, Doing
Business Project, Doing Business 2011, Making a difference for entrepreneurs, Comparing Business Regulation in 183 Economies, 2010
The International Bank for Reconstruction and Development / The World Bank/IFC, Doing
Business Project, Doing Business 2010, Reforming through difficult times, Comparing Business Regulation in 183 Economies, 2009
The International Bank for Reconstruction and Development / The World Bank, Doing Business
Project, Doing Business 2008 Cape Verde, A Project Benchmarking the Regulatory Cost of Doing Business in 178 Economies, 2008
The World Bank, Multilateral Investment Guarantee Agency (MIGA), Snapshot Africa
Benchmarking FDI Competitiveness in Sub-Saharan African Countries, January 2007 The World Bank, Development Economics Research Group, Africa Region Human
Development Department, Accelerating Catch-Up: Tertiary Education for Growth in Sub-Saharan Africa, October 2008
The World Bank, Doing Business in small islands developing states 2009, November 2008 The World Bank, Benno J. Ndulu, Challenges of African Growth: Opportunities, Constraints, and
Strategic Directions, 2007 The World Bank, Africa Success Stories Project, Ali Zafar, Mauritius: An Economic Success
Story, January 2011 The World Bank, Région Afrique, Département du Secteur Privé, L’Évaluation du Climat
d’Investissement de l’Ile Maurice, Note nº 17, Août 2006 The World Bank, Région Afrique, Département du Secteur Privé, L’Évaluation du Climat
d’Investissement du Cap Vert, Note nº 21, Août 2006 The World Bank, Desenvolvimento do Sector Financeiro e Privado, AFTFP, Departamento do
País AFCF1, Região de África, Relatório No. 58551 – CV: Cabo Verde: Avaliação Inicial do Mercado de Trabalho Formal, 2010
The World Bank, Public Expenditure Review (In Two Volumes) Volume II: Background
Chapters, PREM 4, Africa Region, Report No. 44350-CV, Cape Verde: Enhancing Planning to Increase Efficiency of Public Spending, February 2009
The World Bank, Report No. 36483 – NG, Nígeria: Competitiveness and Growth, May 30, 2007 The World Bank/IFC, report nº 45253, Enterprise Surveys - Country Profile: Cape Verde, 2006
Organisation des Nations Unies pour le Développement Industriel
CPE – Centro de Políticas Estratégicas
Competitividade Industrial de Cabo Vede
122
The World Bank Africa’s Pulse Team: Africa’s Pulse, April 2011, Volume 3 The World Bank, Africa Region Sustainable Development Department, June 2011, Policy
Research Working Paper 5687 United Nations, Office of the Special Adviser on Africa, Africa’s Cooperation with New and
Emerging Development Partners: Options for Africa’s Development, 2010
UNCTAD, Examen de la Politique de l’Investissement : Maroc, 2008 UNCTAD Handbook of Statistics, 2010 UNCTAD, Enhancing the Role of Domestic Financial Resources in Africa’s Development, A
policy handbook, 2009 UNCTAD, World Investment Report 2010: Investing in a low-carbon economy UNCTAD, Rapport 2010 sur la technologie et l’innovation; renforcer la sécurité alimentaire en
Afrique grâce à la science, à la technologie et à l’innovation, 2009 Unesco/ Unesco - Breda, Institute for Statistics; Financing Education in Sub-Saharan Africa:
Meeting the Challenges of Expansion, Equity and Quality, 2011 UNIDO – UNCTAD: Economic Development in Africa – 2011 Report: Fostering Industrial
Development in Africa in the New Global Environment UNIDO, Industrial Development Report (IDR), 2009: Breaking in and moving up: New Industrial
Challenges for the Bottom Billion and the Middle-Income Countries, UNIDO, Vienna: see also www.unido.org/idr
UNIDO, Industrial Development Report (IDR), 2005: Capability building for catching-up:
Historical, empirical and policy dimensions, UNIDO, Vienna: see also www.unido.org/idr UNIDO, Industrial Development Report (IDR), 2002-2003: Competing through innovation and
learning, UNIDO, Vienna: see also www.unido.org/idr UNIDO (2002), Guide méthodologique: restructuration, mise à niveau et compétitivité
industrielle, ONUDI, Vienne UNIDO; Making it, Cape Verde: the graduate
UNIDO database and the United Nations Statistics Division (UNSD) USAID support for industrial diversification in Mauritius, REDSO, Nairobi, Kenya Vinaye Dey Ancharaz, Department of Economics and Statistics, Faculty of Social Studies and
Humanities, University of Mauritius, Réduit, MauritiusTrade Policy, Trade Liberalisation and Industrialization in Mauritius; Lessons for Sub-Saharan Africa, November 2003
Vivien Foster and Cecilia Briceño-Garmendia, Africa’s Infrastructure: a time for transformation,
2010 World Economic Forum, the World Bank and the African Development Bank: The Africa
Competitiveness Report 2011 World Economic Forum, the World Bank and the African Development Bank: The Africa
Competitiveness Report 2009