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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE FaC CURSO DE SERVIÇO SOCIAL ANTÔNIA ERISLEIDE DE CASTRO ASSUNÇÃO O SIGNIFICADO DE FAMÍLIA PARA AS IDOSAS DO RECANTO DO SAGRADO CORAÇÃO FORTALEZA CE 2014.

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE – FaC CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

ANTÔNIA ERISLEIDE DE CASTRO ASSUNÇÃO

O SIGNIFICADO DE FAMÍLIA PARA AS IDOSAS DO RECANTO DO SAGRADO CORAÇÃO

FORTALEZA – CE 2014.

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ANTÔNIA ERISLEIDE DE CASTRO ASSUNÇÃO

O SIGNIFICADO DE FAMÍLIA PARA AS IDOSAS DO RECANTO DO SAGRADO CORAÇÃO

Monografia submetida à aprovação do Curso de Bacharelado em Serviço Social da Faculdade Cearense – FaC, como requisito parcial para obtenção de título de Bacharel em Serviço Social. Orientadora: Profª. Ms. Ivna de Oliveira Nunes.

FORTALEZA – CE 2014.

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Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274

A851s Assunção, Antônia Erisleide de Castro

O significado da família para as idosas do recanto do

Sagrado Coração / Antônia Erisleide de Castro Assunção. –

Fortaleza; 2014.

79f. Orientador: Profª. Ms. Ivna de Oliveira Nunes.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Faculdade

Cearense, Curso de Serviço Social, 2014.

1. Envelhecimento - Velhice. 2. Família. 3.

Institucionalização. I. Nunes, Ivna de Oliveira. II. Título

CDU 364

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ANTÔNIA ERISLEIDE DE CASTRO ASSUNÇÃO

O SIGNIFICADO DE FAMÍLIA PARA AS IDOSAS DO RECANTO DO SAGRADO CORAÇÃO

Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FaC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores.

Data de aprovação: ____/____/____

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________________ Prof.ª Ms. Ivna de Oliveira Nunes

(Orientadora)

_______________________________________________________________ Prof.ª Ms. Mariana de Albuquerque Dias Aderaldo

_______________________________________________________________ Profª. Esp. Gabriela Brilhante Rabelo

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Aos meus queridos e amados pais, Elenilce de Castro Assunção e Manuel Elaízio Pereira Assunção, por tudo que fizeram e fazem por mim e por sempre acreditarem na minha capacidade, apoiando minhas decisões durante toda a minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Deus, que me concedeu o dom da vida, ajudando-

me a vencer cada batalha, iluminando minhas decisões e me concedendo

sabedoria e garra para lutar por meus ideais. Muito obrigada Senhor!

Aos meus pais, Elenilce e Elaizio, que sempre depositaram muita

confiança em mim, acreditando sempre no meu sucesso pessoal, acadêmico e

profissional. Pelo apoio, compreensão, ajuda, conselho, amor e carinho que

sempre me deram. Obrigada, vocês são meus maiores tesouros, amor igual eu

não poderia sentir. Amo muito vocês.

À minha avó, Helena, que sempre acreditou na minha capacidade,

estando sempre ao meu lado, me apoiando. Agradeço aos demais familiares

também, que sempre estiveram ao meu lado nessa e em outras caminhadas.

Amo todos vocês.

À minha irmã, Elaine, que mesmo sendo uma criança, sempre ficou me

fazendo companhia nas longas noites de estudo. Muito obrigada maninha, te

amo.

Ao meu namorado, Mário, que apesar de termos nos conhecido quase

no final do curso, sempre me apoiou, incentivou-me, aconselhou-me, acreditou

na minha capacidade, parabenizou-me pelos esforços e, principalmente,

sempre compreendeu meus momentos de ausência quando precisei estudar.

Amor, muito obrigada, te amo.

Aos meus amigos, aqueles que se encontram presentes em meu ciclo

de amizade até hoje, aqueles a quem conheci a pouco tempo, aqueles que por

algum motivo tiveram que se ausentar e, até mesmo, aqueles que por alguma

razão resolveram se afastar. Pelo apoio e compreensão, por entender a minha

ausência por diversas vezes, pelos conselhos e por acreditarem que eu seria

capaz. Obrigada, amo a cada um de vocês.

A todos os meus colegas de curso, em especial às minhas amigas

Claudia, Luana, Laiana, Iracema, e Tamara, que me acolheram desde a minha

chegada à faculdade e que, sem dúvidas alguma, me proporcionaram

grandiosos momentos, e também à Marjorie, que encontrei no meio do

percurso acadêmico, mas que também fez parte de grandes momentos.

Meninas nossa amizade é eterna, muito obrigada pelos momentos de

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descontração, os momentos de estudo, os conselhos, o apoio, a compreensão

e o carinho. Amo vocês.

A todos os professores do curso de Serviço Social. Pelos conhecimentos

transmitidos, pela dedicação, paciência e compreensão. Todos tiveram

importância na minha formação acadêmica.

À minha supervisora de estágio, Patrícia Águiar, que me deu a

oportunidade de estar ao seu lado durante três semestres. Pela dedicação,

conhecimento, carinho e, principalmente, pelos ensinamentos enquanto

profissional. Tenha certeza de que você é uma profissional excepcional,

desejo-te muito sucesso.

À minha orientadora Professora Ms. Ivna de Oliveira Nunes, pelas

palavras de incentivo, pelos elogios, por me transmitir conhecimento e

experiência e, principalmente, pelo tempo e pela disponibilização para me

orientar. Obrigada!

Às professoras Ms. Mariana de Albuquerque Dias Aderaldo e Esp.

Gabriela Brilhante Rabelo, por terem aceito o convite em participar da Banca

Examinadora e pelas sugestões propostas para o aprimoramento desse

trabalho. Obrigada.

Ao Recanto do Sagrado Coração, a assistente social Naiandra e as

idosas que aceitaram participar da minha pesquisa. Pelo acolhimento,

compreensão, solidariedade e por terem compartilhado um pouco de suas

histórias de vida.

Por fim, agradeço a todos, que de alguma maneira se fizeram presente

durante todo o meu percurso acadêmico, e que contribuíram para que eu

alcançasse mais um objetivo na vida.

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“Na minha velhice, não me rejeiteis; ao declinar de minhas forças não me abandoneis." (Sl 70, 9)

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RESUMO

Este estudo teve como objetivo geral compreender qual o significado atribuído à família pelas idosas institucionalizadas no Recanto do Sagrado Coração, que é uma Instituição de Longa Permanência para Idosos destinada para pessoas do sexo feminino. A instituição localiza-se na Avenida da Universidade, nº 3106, bairro Benfica, Fortaleza/Ceará. Os objetivos específicos foram: compreender como se estabelecem as relações familiares das idosas institucionalizadas; conhecer como ocorreu o processo de institucionalização dessas idosas; analisar a opinião das idosas a cerca da vivência na instituição; e analisar o perfil socioeconômico das idosas. Quanto à natureza da pesquisa, esta caracterizou-se como sendo de cunho qualitativo, pois buscou refletir teoricamente as categorias envelhecimento e velhice, família e institucionalização. A coleta de dados se deu através de entrevistas semiestruturadas, que foram devidamente agendadas com a assistente social que trabalha na instituição, e que abrangeram um universo de seis entrevistadas, por meio do diário de campo, que permitiu conhecer um pouco da rotina das mesmas, e por meio da observação, que permite ao pesquisador observar as características do campo de pesquisa. Os dados da instituição foram coletados através de documentos da mesma, disponibilizados pelo serviço social. Essa pesquisa permitiu que pudéssemos compreender que mesmo estando institucionalizadas, as idosas continuam atribuindo significados positivos a seus familiares, buscando sempre se retratar dos mesmos da melhor maneira possível, e procuram se adaptar a convivência e ao dia-a-dia da instituição.

Palavras-chave: Envelhecimento e velhice. Família. Institucionalização.

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ABSTRACT

This study aimed to understand the meaning attributed to the family by the elderly institutionalized in the Corner of the Sacred Heart, which is a long-stay institution for Seniors intended for females. The institution is located in the University Avenue, No. 3106, Benfica neighborhood, Fortaleza / Ceará. The specific objectives were to understand how to establish family relationships of institutionalized elderly; know how was the process of institutionalization of these older; analyze the opinion of older about the experience at the institution; and analyze the socioeconomic profile of the elderly. The nature of the research, this was characterized as a qualitative one, since sought theoretically reflect the categories aging and old age, family and institutionalization. Data collection occurred through semi-structured interviews, which were duly scheduled with the social worker working in the institution, and covering a universe of six interviewed by the daily course, which helped identify some of the routine same, and through observation, which allows the researcher to observe the characteristics of the search field. The data were collected through the institution of the same documents, provided by the social service. This research allowed that we could understand that even though institutionalized elderly continue attributing positive meanings to their families, always seeking to portray the same as best you can, and try to adapt to living and day-to-day operations.

Keywords: Aging and old age. Family. Institutionalization.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Perfil socioeconômico das idosas ................................................... 57

Tabela 2 - Perfil socioeconômico das idosas ................................................... 57

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AASCL – Associação de Assistência Social Catarina Labouré.

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

ILPI – Instituição de Longa Permanência para Idosos.

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas.

MDS – Ministério do Desenvolvimento Social.

RSC – Recanto do Sagrado Coração.

RT – Responsável Técnico.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 13

2 O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E AS IMAGENS DE FAMÍLIA NA

CONTEMPORANEIDADE ........................................................................... 19

2.1 Conceitos e dados sobre o envelhecimento na atualidade: relações

geracionais ............................................................................................... 19

2.1.1 Envelhecimento populacional .............................................................. 24

2.2 Conceitos de família na cena contemporânea e sua relação na vida

dos idosos ................................................................................................ 29

2.2.1 Idoso e família ....................................................................................... 33

3 UMA ABORDAGEM SOBRE O PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO

DE IDOSOS ................................................................................................. 36

3.1 Origem histórica das Instituições de Longa Permanência ................... 36

3.1.1 Parâmetros e critérios para seu funcionamento ................................ 41

3.2 Motivos que levam o idoso ao processo de institucionalização ......... 45

4 AS IDOSAS INSTITUCIONALIZADAS NO RECANTO DO SAGRADO

CORAÇÃO................................................................................................... 52

4.1 O Recanto do Sagrado Coração ............................................................. 53

4.2. Perfil socioeconômico ............................................................................ 56

4.3 Significado de família............................................................................... 60

4.4 Relações familiares .................................................................................. 62

4.5. A vida após a institucionalização .......................................................... 65

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 70

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 74

APÊNDICES .................................................................................................... 78

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1 INTRODUÇÃO

Este estudo tem como proposta compreender o significado de família

para as idosas institucionalizados no Recanto do Sagrado Coração, diante da

sociedade atual, em que é possível observar um aumento do envelhecimento

populacional.

O despertar do interesse por essa temática se deu durante a realização

da disciplina de Gerontologia, em que elaboramos um artigo identificando

alguns códigos simbólicos na fala de idosos institucionalizados, para que

pudéssemos elaborar esse trabalho tivemos que realizar uma pesquisa de

campo no Lar Torres de Melo.

No decorrer das entrevistas, a partir das falas dos entrevistados e ao

observar em alguns momentos as atitudes dos idosos, surgiu à curiosidade de

buscar entender quais os significados que idosos institucionalizados atribuem à

família.

A cada conversa o desejo de entender essa questão só aumentava, pois

alguns depoimentos me inquietavam, como, por exemplo, quando eram

questionados sobre visitas de familiares, pois a maioria apresentava uma

expressão triste, porém justificava a ausência dessas visitas, dizendo que

entendiam o porquê de seus familiares não realizarem visitas com tanta

frequência.

O Lar Torres de Melo possui espaços de moradia divididos, então,

aqueles idosos que são independentes, ou seja, que conseguem realizar suas

atividades sem necessitar de ajuda de outras pessoas, moram em locais

chamados de apartamentos, enquanto aqueles que tem algum problema de

saúde que impossibilitam a realização de tarefas rotineiras, ou seja, são

dependentes e necessitam de ajuda para realizar suas atividades, ficam em um

espaço amplo que contém diversos leitos, e que recebe o nome de enfermaria.

Ao conhecermos esses espaços foi possível observar sentimentos

diversos advindos desses idosos, pois uns se mostravam alegres, enquanto

outros demonstravam-se tristes, alguns nos abordavam nos corredores pra que

pudéssemos conversar um pouco afim de distraí-los, enquanto outros

preferiam ficar sozinhos em seus apartamentos.

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Conseguimos observar muitas coisas, além de ouvirmos alguns

desabafos e pedidos por parte dos entrevistados, como foi o caso de uma

senhora que nos chamou em seu leito na enfermaria e pediu que a levássemos

pra casa, pois ela não queria continuar naquele lugar.

Diante do que foi exposto, a motivação para o estudo foi despertada,

passando então a serem desenvolvidos alguns questionamentos, tais como:

Quais os sentimentos que esses idosos desenvolvem por seus familiares? Qual

o significado de família pra eles? Como ocorreu o processo de

institucionalização? Será que após a institucionalização a relação com os

familiares mudou? O que mudou em suas vidas após a vinda para a ILPI? O

que acham da vivência na Instituição?

Apesar da aproximação do tema ter ocorrido no Lar Torres de Melo, o

Recanto do Sagrado Coração foi escolhido para que a pesquisa de campo

fosse realizada, pois já havia um conhecimento prévio dessa instituição e a

receptividade foi bem presente ao ter sido realizada uma visita anterior1. O

Recanto do Sagrado Coração localiza-se na Avenida da Universidade, número

3106, no bairro Benfica, Fortaleza – Ceará.

A população idosa aumenta tanto nos países desenvolvidos quanto nos

em desenvolvimento, tendo como uma das causas desse aumento a

diminuição das taxas de fecundidade, como afirmam Espitia e Martins (2006) e

Berzins (2003), ou seja, com um número menor do índice de nascimentos, a

população já existente poderá envelhecer e tornar-se idosa. De acordo com

Camarano e Kanso (2010), pode-se destacar também como uma causa desse

aumento, a questão da diminuição da mortalidade, que acarreta diretamente na

perspectiva do crescimento populacional de idosos. A partir de então a procura

por instituições de longa permanência para idosos (ILPIs) poderão se tornar

mais frequentes.

De acordo com Furini et al. (2007) existem algumas justificativas para

essa tomada de decisão, como, por exemplo, a falta de tempo por parte dos

familiares para disponibilizar uma atenção devida aos idosos, a falta de um

cuidador que possa acompanhá-los em casa, embate de opiniões entre os

idosos e seus familiares, limitações apresentadas desses idosos para realizar

1 Esta visita aconteceu através da realização de um trabalho acadêmico durante o 2º semestre da faculdade.

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atividades da vida diária, a questão do idoso não ter descendentes diretos

(filhos, irmãos, sobrinhos, etc.), dentre outros.

Quando os idosos passam a residir nessas instituições suas vidas

mudam. Sobre isso, Espitia e Martins (2006) afirmam que é um momento de

mudanças, porque aquelas pessoas nas quais eles estavam habituados a

conviver diariamente, que geralmente são os seus familiares, quando esses

idosos se encontram em uma dessas instituições de longa permanência,

passam a visitá-los casualmente ou quase nunca, então, eles tem que começar

a construir novos laços afetivos dentro desses locais, tendo que adaptar-se a

novas convivências.

O processo de institucionalização acaba sendo uma nova fase na vida

desses idosos, pois estes terão que conviver com pessoas até então

desconhecidas, deverão adaptar-se a um novo ambiente físico e a uma nova

rotina.

Essa fase de institucionalização, esse processo de mudanças, é um

momento difícil, pois essa questão de ter que deixar a sua casa pode ser

encarada como uma crise, uma perda do território, além de desenvolver nos

idosos um sentimento de abandono por parte de seus familiares (CARDÃO,

2009).

É preciso entender se a decisão de residir em uma ILPI é realmente a

melhor solução, se os outros idosos que já se encontram na instituição poderão

vir a ser seus novos familiares, se o novo ambiente poderá ser considerado

como um novo lar, como ficam suas relações familiares após a

institucionalização e quais suas concepções sobre família.

Os objetivos específicos desse estudo foram: compreender como se

estabelecem as relações familiares das idosas, conhecer como ocorreu o

processo de institucionalização, analisar o significado para as idosas no que

trata das vivências na instituição e analisar o perfil socioeconômico das

mesmas.

Este estudo teve uma abordagem de cunho qualitativo, pois como afirma

Bastos (2008), foi um estudo desenvolvido com uma pequena parcela da

população, não tendo como objetivo um fator numérico, pois se preocupou com

a qualidade dos dados que foram coletados.

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Quanto aos fins, a pesquisa caracterizou-se como uma pesquisa

descritiva, pois esta, segundo Gil (2008, p. 28) “[...] tem como objetivo

primordial a descrição das características de determinada população ou

fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis”. Ou seja, o estudo

realizado buscou descrever e interpretar as características relacionadas às

idosas institucionalizadas, tentando observar e analisar quais seus sentimentos

em relação ao tema família.

Utilizou-se a pesquisa bibliográfica, a documental e a de campo. A

pesquisa bibliográfica foi utilizada porque ela consegue explicar uma situação-

problema a partir de referências teóricas, além de basear-se em literaturas já

existentes, permitindo ao pesquisador comparar várias posições acerca do seu

objeto de pesquisa, para então desenvolver seu estudo.

Foram utilizados na pesquisa bibliográfica autores como: Beauvoir

(1990); Alcântara (2004); Berzins (2003); Deecken (1997); Dias (2000); Gueiros

(2002); Guiddens (2005); IBGE (2010); Lemos (2003); Messy (1999); Mascaro

(1997); Mioto (1997); dentre outros. As categorias que permeiam esse estudo

são: velhice e envelhecimento, família e institucionalização.

A pesquisa documental foi utilizada a fim de identificar o processo

histórico de construção da instituição, no intuito de descobrir sua data de

fundação, quem eram e quem são seus responsáveis, quais suas regras, seus

fundamentos, sua ideologia, dentre outras informações, para isso o Serviço

Social disponibilizou um guia institucional com tais informações. De acordo com

Gil (2002, p. 46),

[...], na pesquisa documental, as fontes são mais diversificadas e dispersas. Há, [...], os documentos “de primeira mão”, que não recebem nenhum tratamento analítico. Nesta categoria estão os documentos conservados em arquivos de órgãos públicos e instituições privadas, tais como associações científicas, igrejas, sindicatos, partidos políticos, etc.

A pesquisa de campo possibilita a construção de um conhecimento a

partir da realidade. A partir do momento em que o pesquisador entra em

contato com seu campo de pesquisa, com seu objeto de estudo, ele passa a

entender o assunto de outras maneiras, diferentes daquelas só apresentadas

em registros.

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Esse tipo de pesquisa é a maneira pela qual entramos em contato com

as idosas do Recanto do Sagrado Coração, tendo um envolvimento direto com

as entrevistadas, para que assim conseguíssemos coletar os dados, por meio

das falas, das atitudes, dos comportamentos, das expressões.

A pesquisa de campo requer, em primeiro lugar, a realização de uma pesquisa bibliográfica sobre o tema em estudo. Através dela o pesquisador saberá como se encontra o problema, que trabalhos já foram escritos, e quais são as opiniões sobre o assunto (BASTOS, 2008, p. 34).

A partir dessa observação de Bastos (2008), fica claro que para que

aconteça uma pesquisa de campo, é necessário que aconteça uma pesquisa

bibliográfica prévia, pois assim o pesquisador pode chegar a campo tendo um

conhecimento sobre o que será investigado.

As técnicas utilizadas foram a observação, o diário de campo e a

entrevista. De acordo com Gil (2002, p.35), a observação é “o procedimento

fundamental na construção de hipóteses. O estabelecimento assistemático de

relações entre os fatos no dia-a-dia é que fornece os indícios para a solução

dos problemas propostos pela ciência”.

O diário de campo é uma maneira de se conhecer o dia-a-dia das

idosas, além de permitir que se conheça o contexto em que essas pessoas

estão inseridas.

As entrevistas tiveram como enfoque principal descobrir os fatores que

influenciam ou determinam opiniões, sentimentos e/ou condutas das idosas

institucionalizadas. Quanto aos tipos de entrevistas, podemos caracterizá-las

como entrevista semiestruturada, que segundo Gil (2008) a entrevista guiada

por pontos de interesse apresenta graus de estruturação, pois o pesquisador,

ao longo da conversa, vai explorando pontos principais que são de extrema

importância para a pesquisa.

Deste modo o trabalho foi estruturado em três capítulos, em que o

primeiro, com o título “O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E AS IMAGENS

DE FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE”, traz as discussões sobre os

conceitos e dados sobre o envelhecimento na atualidade, fazendo uma breve

ligação com as relações geracionais, além de apresentar, brevemente, os

conceitos de família na cena contemporânea e sua relação na vida dos idosos.

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O segundo capítulo, intitulado de “UMA ABORDAGEM SOBRE O

PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DE IDOSOS”, fala sobre a origem

histórica das Instituições de Longa Permanência, trazendo uma síntese sobre

os parâmetros e critérios para o funcionamento das mesmas, e sobre alguns

motivos mais frequentes que levam ao processo de institucionalização, este

tópico foi relacionado com alguns depoimentos das entrevistadas.

O terceiro capítulo tem como título “AS IDOSAS

INSTITUCIONALIZADAS NO RECANTO DO SAGRADO CORAÇÃO”, e aborda

o universo da pesquisa, as informações da instituição (campo de pesquisa), as

percepções das entrevistadas a cerca da categoria família, envolvendo todas

as questões referentes às relações familiares, e o que essas idosas expõem

sobre o cotidiano na ILPI.

A relevância dessa pesquisa para a sociedade é a de que as pessoas

precisam atentar-se e sensibilizar-se para o aumento significativo do número

de pessoas idosas e os impactos que esse aumento vem ocasionando, para

que assim não sejam criados ou reproduzidos estigmas e estereótipos que

possam atrapalhar o desenvolvimento dessas pessoas diante a convivência

social. É preciso que laços afetivos não sejam rompidos, principalmente

quando os idosos encontram-se institucionalizados, por isso a importância do

apoio, do acompanhamento e das visitas por parte dos familiares.

Para o Serviço Social, a pesquisa é importante porque ela pode propiciar

espaços capazes de desenvolver reflexões críticas, afim de que os assistentes

sociais analisem temas como o envelhecimento, velhice e idoso, afinal tais

temáticas vem ganhando amplitude diante a sociedade atual. Atuando em tais

áreas, os assistentes sociais devem buscar práticas que desvelem as reais

necessidades das pessoas idosas, pautando-se na lógica do direito e da

cidadania.

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2 O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E AS IMAGENS DE FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE

2.1 Conceitos e dados sobre o envelhecimento na atualidade: relações geracionais

Diante do envelhecimento populacional que a sociedade está

vivenciando na contemporaneidade, abordaremos alguns conceitos que

definem o envelhecimento e a velhice, assim como apresentaremos alguns

dados e traremos breves discussões sobre algumas de suas características.

Sobre o envelhecimento, Messy (1999, p. 17) diz que “[...] é um

processo irreversível, que se inscreve no tempo. Começa com o nascimento e

acaba na destruição do indivíduo”. Afirma também que o envelhecimento pode

trazer, ao mesmo tempo, um sentimento de perda e de aquisição, pois a

sociedade define a juventude como algo benéfico enquanto que a velhice seria

um déficit.

A velhice não deve ser considerada como algo estático, porque ela é o

resultado de todo um processo, ela deve ser compreendida em toda a sua

totalidade, pois além de ser um fato biológico também é um fato cultural

(BEAUVOIR, 1990).

Mascaro (1997) diz que a velhice é uma etapa natural da vida, e que não

existe possibilidades de não enfrentar esse processo a que todos os seres

humanos terão que vivenciar, pois ao nascer todos terão que crescer,

amadurecer, envelhecer e por fim, morrer.

Assim como as outras fases da vida, o envelhecimento faz parte do

nosso processo biológico, mas ele é encarado pela sociedade de diferentes

maneiras. Os japoneses, por exemplo, trazem uma de suas características, o

respeito pelas pessoas mais velhas, demonstrando isso através de

homenagens prestadas aos seus antepassados (DEECKEN, 1997).

Já na França, as pessoas mais velhas não são tratadas da mesma

maneira, sobre isso Deecken (1997, apud BEAUVIOR, 1990) diz que os

franceses levam os idosos para abrigos ou hospitais no período de férias, e a

partir daí eles permanecem na instituição porque as pessoas que os levaram

para lá, simplesmente “esqueceram-se” de voltar para levá-los pra casa.

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Envelhecer pode não ser uma tarefa fácil, pois a natureza contribui para

as transformações do homem, para que ele assuma seu posto diante ao

processo de envelhecimento. Algumas pessoas não conseguem enfrentar a

crise da idade e durante um tempo tentam lutar contra isso, podendo chegar a

uma fase de amargura, porém, com o passar dos anos, a ambição vai sendo

renunciada, o cansaço vai ganhando espaço e a vitalidade vai sendo perdida. É

como se na velhice a vida tivesse chegado ao fim, mesmo que ainda existam

anos de vida pela frente (DEECKEN, 1997).

Para muitas pessoas, a velhice seria a fase de enfrentar a solidão,

principalmente quando se perde o cônjuge, é como se fosse criada uma

experiência deprimente que causa uma sensação assustadora. Sem contar que

à medida que se envelhece pode ser que se encontrem dificuldades em

conquistar novas amizades, e isso porque pode existir um receio de ser

importuno, causando assim um impedimento em realizar hábitos como, por

exemplo, o de sair para conhecer novas pessoas (DEECKEN, 1997).

A respeito, Lemos (2003) afirma que o processo de envelhecimento

pode acarretar muitas mudanças físicas e biológicas, além de trazer muitos

desgastes. É um processo que pode trazer limitações, mas nem sempre estas

limitações significam o impedimento de realizar tarefas. Por isso, deve-se

desenvolver estratégias que demonstrem a importância de viver.

No Brasil os idosos são, de certa forma, amparados por uma legislação,

como o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741 de 1/ 10/ 2003) e a Política Nacional

do Idoso (Lei nº 8.842 de 4/ 1/ 1994), que foram elaboradas a fim de obter um

olhar mais apurado e compreensivo sobre os idosos brasileiros, onde estes

passaram a ser tidos como sujeitos de direitos. Mas não podemos afirmar que

a população idosa brasileira consegue ter seus direitos assegurados

concretamente, pois como diz Bruno (2003), ainda existe um grande

distanciamento entre essa legislação e a realidade vivida por essas pessoas.

No artigo 1º do Estatuto do Idoso2 identificamos a definição que

classifica a população idosa, sendo esta caracterizada a partir de sua idade

cronológica, pois os idosos brasileiros são considerados como tal, quando tem

2 Artigo 1º - É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos (Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741, de 1/10/2003).

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uma idade igual ou superior a 60 anos. Ou seja, No Brasil, os direitos

estabelecidos para as pessoas idosas devem ser garantidos a partir dessa

idade (Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741, de 01/10/2003).

Mas, não podemos caracterizar a população idosa apenas por um fator

cronológico, como previsto no Estatuto, pois os idosos podem ser considerados

como tal a partir de outros fatores, como explica Irigaray e Schneider (2008).

[...] o envelhecimento não é algo determinado pela idade cronológica, mas é consequência das experiências passadas, da forma como se vive e se administra a própria vida no presente e de expectativas futuras; é, portanto, uma integração entre as vivências pessoais e o contexto social e cultural em determinada época, e nele estão envolvidos diferentes aspectos: biológico, cronológico, psicológico e social. (IRIGARAY E SCHNEIDER, 2008, p. 586).

Ou seja, para que uma pessoa seja considerada idosa, nem sempre

deve ser a partir de seus 60 anos, para que ela se enquadre em tal grupo

populacional outros fatores podem contribuir, como por exemplo: seu estado de

saúde, suas características físicas, seus hábitos cotidianos, perda de algumas

habilidades adaptativas para se adequar as exigências do meio, dentre outros.

A respeito, Camarano et al. (2004) afirma que a pessoa não deve ser

definida especificamente pelo critério cronológico, porque a categoria idoso é

construída socialmente.

Sobre isso Deecken (1997) diz que no campo da gerontologia atual

existem três tipos de idades diferentes ao mesmo tempo para cada pessoa,

que são elas: a idade cronológica, que define o tempo de vida, o número de

anos já vivido; a idade biológica, que caracteriza o estado de mudanças

corporais; e a idade psicológica, que é a idade que a própria pessoa sente que

tem, ou seja, é definida a partir de seus comportamentos, do seu modo de agir.

Esse mesmo autor faz uma alusão à idade psicológica, onde ele deixa

claro que algumas pessoas acabam envelhecendo biologicamente porque

passam a se sentir velhas, ou seja, muitas vezes nem tem uma idade tão

avançada, mas por se sentir assim, a aparência acaba sendo outra, enquanto

outras pessoas já tem uma idade bem avançada, mas seu coração permanece

jovem, fazendo com que assim as pessoas os vejam com uma idade menor do

que realmente é.

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Mascaro (1997) evidencia que a tarefa de determinar a idade que

caracterize uma pessoa idosa pode não ser fácil, pois as idades podem variar

em alguns aspectos, como no momento histórico em que está sendo vivido, na

sociedade em que se está inserido e nas variadas situações sociais que estão

sendo vivenciadas. Por isso mesmo, uma pessoa pode ser considerada idosa

com seus 40, 50, ou 60 anos.

Considerando todos esses tipos de idade, temos que destacar uma

característica em comum, o cuidado que deve ser estabelecido as pessoas

idosas, que segundo Carreira et al. (2011), quando se chega a determinada

idade os cuidados devem ser maiores, devem ser destinadas mais atenção,

amor, afeto, pois é justamente nessa fase da vida que os sentimentos afloram.

Mas, além disso, temos que ter garantias ofertadas pelo Estado para que a

população possa envelhecer de maneira saudável e eficaz.

O Brasil, diante dessa revolução demográfica que está passando na

atualidade, não possui estruturas para atender esse contingente de idosos, por

isso a sociedade precisa ser sensibilizada ou deve atentar-se para a questão

da perspectiva da autonomia e do protagonismo da pessoa idosa, a fim de que

se construa um processo coletivo para que os idosos possam ser empoderados

(BRUNO, 2003).

Sobre isso, Mascaro (1997) conclui que, com esse aumento do

contingente populacional idoso e a diminuição na taxa de pessoas jovens, o

futuro trará grandes desafios para o país, pois a população economicamente

ativa não terá um crescimento proporcional ao crescimento de idosos. Então,

“torna-se urgente a realização de reformas na área da previdência social para a

resolução dos dois principais problemas da velhice em nosso país: a

aposentadoria e o sistema de saúde” (MASCARO, 1997, p. 83). Ou seja, terá

que haver um cuidado sobre esses desafios, para que eles não se tornem

grandes problemas.

Lobato (2011) refere-se ao processo de envelhecimento destacando que

“envelhecer com dignidade não é uma responsabilidade individual, mas

coletiva. Implica não só a criação de políticas públicas como também a garantia

de acesso dos idosos a essas políticas” (LOBATO, 2011, p. 215).

O aumento no número de pessoas idosas pode acarretar no crescimento

da desigualdade social, pois a concentração de renda permanece, tornando

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mais distante os ricos e pobres da sociedade, por isso mesmo é preciso que

sejam criadas políticas públicas que visem à melhoria dessa parcela da

população (LOBATO, 2011, p. 214).

O crescimento da população idosa necessita de investimentos, pois a

questão social do idoso, de acordo com sua amplitude, “exige uma política

ampla e articulada entre os vários órgãos de governo e organizações não

governamentais” (VERAS, 2003, p. 14).

É preciso que o envelhecimento não seja visto como um problema, mas

para que esse estigma não seja enraizado e a população não resolva tratá-lo

como tal, devem ser elaborados programas que busquem o bem-estar dos

idosos, podendo garantir seus direitos, atender suas necessidades, ter um

olhar sobre suas preferências, sem deixar de descobrir suas capacidades. As

políticas que promovam um envelhecimento ativo e saudável é um desafio que

deverá fazer parte da agenda de desenvolvimento socioeconômico dos países,

pois estes deverão ter condições de fortalecer uma sociedade inclusiva e

coesa, para que assim o direito à vida, à dignidade e à longevidade possam ser

reconhecidos (BERZINS, 2003).

Quando falamos em direitos que devem ser garantidos, não podemos

esquecer que deve existir direito de igualdade de oportunidades, pois como

Veras (2003) destaca, as pessoas idosas tiveram e ainda tem sua parcela de

contribuição para sociedade. Não foi porque as pessoas envelheceram que

devem ser esquecidas ou tratadas como indiferentes.

Mas, temos que lembrar que os direitos não devem ser garantidos

apenas aos idosos, e sim a todas as parcelas da população, pois como Veras

(2003) expõe,

O envelhecimento diz respeito a toda a sociedade. As crianças que nascem no Brasil de hoje têm uma expectativa de vida de 68 anos. Se essas crianças tiverem atendidas as suas condições de cidadania e dignidade no decorrer dos anos que viverão, certamente, quando se tornarem idosas, terão níveis melhores de vida e justiça social (VERAS, 2003, p. 33).

Ou seja, se desde criança a população tiver seus direitos garantidos

concretamente, quando se chegar à velhice, esta poderá ser bem mais

amparada e assegurada.

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O envelhecimento populacional necessita de cuidados, mas nem por

isso deve ser pensado negativamente, afinal essa é a realidade que não só o

Brasil, mas o mundo em geral está vivendo. Mascaro (1997) diz que para que

se possa envelhecer bem, não se deve cobrar apenas do idoso, é necessário

algo além, como por exemplo, as condições de vida que são propostas a essas

pessoas. A velhice deve ser assegurada aos idosos de maneira eficaz, pois

quanto mais assegurados tiverem mais digno esse processo de

envelhecimento será.

Os idosos necessitam de pessoas que lhes representem, que lutem por

eles, e que principalmente, estabeleçam uma forma de comunicação entre as

gerações, para que dessa maneira possa estabelecer-se uma relação de

respeito mútuo entre todos (BRUNO, 2003).

Depois de abordarmos essas questões que permeiam o envelhecimento

na atualidade, o tópico a seguir apresenta alguns dados sobre o

envelhecimento populacional, além de destacar algumas considerações a

respeito do mesmo.

2.1.1 Envelhecimento populacional

O envelhecimento populacional está aumentando desde o início do

século XX, fazendo com que assim o Brasil comece a ter um avanço

significativo no número de idosos. Segundo dados apresentados pelo IBGE3

(2010, p. 191), o número de pessoas idosas cresce em um ritmo acelerado, “no

período de 1999 a 2009, o peso relativo dos idosos (60 anos ou mais de idade)

no conjunto da população passou de 9,1% para 11,3%”. De acordo com as

ideias apresentadas por Veras (2003) a cada ano mais de 650 mil idosos estão

se inserido à população brasileira, por isso as pessoas devem deixar de lado

essa convicção de que o Brasil continua sendo um país com maior percentual

de pessoas jovens.

Mas esse aumento não está acontecendo apenas em nível de Brasil,

pois segundo dados apresentados por Berzins (2003, p. 23), a previsão da

ONU é de que por volta do ano de 2050, “[...] pela primeira vez na história da

3 Esses dados apresentados pelo IBGE baseiam-se na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada durante o ano de 2009.

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espécie humana, o número de pessoas idosas será maior que o de crianças

abaixo dos 14 anos. A população mundial deve saltar de 6 bilhões para 10

bilhões em 2050”.

O ritmo de crescimento do envelhecimento da população mundial está

acentuado, a respeito, pode-se dizer,

Estima-se que a população mundial de idosos seja 629 milhões de pessoas com um crescimento anual na taxa de 2%, ritmo este consideravelmente mais alto em relação ao resto da população e três vezes mais do que há 50 anos. Até pouco tempo o envelhecimento populacional era encarado como algo sendo específico dos países desenvolvidos (BERZINS, 2003, p. 22).

A evolução do envelhecimento humano depende da época em que se

vive e do lugar em que se vive, a respeito Berzins (2003) destaca,

Na Pré-história, no Império Romano e na Grécia Antiga, a idade média das pessoas era em torno de 25 anos. As condições de vida influenciavam grandemente o número de anos que os homens podiam alcançar nas suas vidas. A longevidade e a expectativa de vida foram crescendo com o decorrer da história. No século XVIII subiu para 30 anos e foi somente na metade do século XIX que se aumentou mais cinco anos na vida humana. Para se ganhar dez anos de vida foram necessários quase dois mil anos. De 1900 a 1915 foram acrescidos mais 10 anos de vida na humanidade. Em 1950, a expectativa de vida dos países industrializados já era de 65 anos. Atualmente, a média de vida nos países desenvolvidos é de 76 anos (BERZINS, 2003, p. 21-22).

O envelhecimento, também, pode ser uma questão de gênero, pois 55%

da população idosa pode ser formada por mulheres (CAMARANO et al., 2004).

“A proporção do contingente feminino é mais expressiva quanto mais idoso for

o segmento, fato este explicado pela mortalidade diferencial por sexo”

(CAMARANO et al., 2004, p. 29).

Para justificar esse aumento da população idosa, Espitia e Martins

(2006) afirmam que isso está acontecendo por conta da diminuição das taxas

de fecundidade, ou seja, o número de nascimentos está diminuindo, então o

número de crianças e jovens está menor, possibilitando assim o aumento do

número de pessoas adultas e idosas.

Berzins (2003) também acredita que esse aumento se dê por conta da

diminuição nas taxas de fecundidade, mas que a queda da mortalidade

também contribui para que haja “[...] evolução da composição etária da

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população do país que segue em processo de envelhecimento” (BERZINS,

2003, p. 25).

O aumento da expectativa de vida, onde o processo de envelhecimento

está se tornando cada vez mais comum, vinculando-se as questões familiares,

que vem se modificando na cena contemporânea, acarreta alguns aspectos

que podem acabar contribuindo para o desenvolvimento de estereótipos, que

em alguns casos são desenvolvidos pelos próprios membros da família desses

idosos. Por isso, torna-se importante procurarmos entender como se dão as

relações entre gerações distintas e como os jovens veem os idosos, além de

buscarmos debater sobre o receio que as pessoas têm de envelhecer.

Mascaro (1997) acredita que existam receios em relação ao

envelhecimento biológico, pois existem algumas características que vem

acompanhando esse processo, como a questão das perdas e limitações

naturais e também, por ser uma aproximação com a morte. Existe também um

receio a essa fase por conta das dificuldades econômicas que podem surgir,

além da existência de estereótipos e preconceitos que são associados ao

envelhecimento e aos idosos.

Quando se está na fase da juventude o processo de envelhecimento

aparece como algo distante de acontecer, pois as pessoas acreditam que isso

será uma fase onde apenas os outros é que vão passar e não eles, só quem

está ao seu redor é que vai envelhecer e morrer (MASCARO, 1997).

Hoje, vivemos num mundo permeado por valores e comportamentos

jovens, onde a aparência e a moda valorizadas são aquelas impostas pela

juventude. Os cuidados com o corpo se tornarão mais frequentes, um corpo

bonito, saudável, jovem está sendo exibido com prazer, a partir de então, o

envelhecimento começa a ser negado e as pessoas começam a criar

estratégias para combater os sinais da velhice. As pessoas não querem ser ou

parecer velhas, e por isso estão cuidando mais da saúde para prevenir

doenças e estão também utilizando os recursos da indústria da beleza para

que assim possam alcançar o rejuvenescimento (MASCARO, 1997).

Mas, será que essa procura pela juventude está modificando as relações

geracionais? Será que aquela imagem da pessoa idosa como sendo a avó que

fica em casa cozinhando ou bordando continua vigorando? Como as pessoas

mais novas estão convivendo com as pessoas mais idosas na sociedade

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contemporânea? Esses são alguns dos questionamentos que surgem a partir

das imagens impostas à velhice na contemporaneidade.

Mascaro (1997) ressalta que no Império Romano as famílias que

possuíam um poder aquisitivo maior, deixavam sobre as idosas, sendo elas

avós ou outra parente virtuosa e responsável, a responsabilidade de cuidar de

suas casas de campo ou de seus filhos, ou seja, essas idosas exerciam um

papel importante dentro da família. A autora destaca que na Antiguidade a

idade mais avançada tinha seus prestígios.

Os filhos tinham como obrigação cuidar da subsistência de seus pais

idosos quando estes precisavam, e se isso não fosse realizado como deveria,

eles estavam sujeitos a multas ou à prisão. Na Idade Média o respeito dos

jovens pelos mais velhos era muito presente, e era como se esses jovens

tivessem obedecendo a Deus (MASCARO, 1997).

Mas Mascaro (1997) deixa claro que a situação das mulheres idosas, na

Alta Idade Média, tinha suas dificuldades, principalmente quando estas eram

viúvas, pois passavam a ter um papel de inferioridade dentro da família, tendo

como destino a solidão e a pobreza, e quando conseguiam abrigo na casa de

um dos filhos se sentiam desamparadas.

Já na Baixa Idade Média (Séculos X ao XV) os idosos das classes mais

poderosas acumulavam riquezas e eram reverenciados, mas a decadência

física, o envelhecimento do corpo e o afastamento da juventude eram tidos

como algo péssimo, pois era o corpo jovem quem atraía e era exaltado, sendo

visto como algo ridículo o cuidado com o corpo envelhecido (MASCARO,

1997).

No início do capitalismo e no século XIX, durante a Revolução Industrial,

a vida dos idosos continuou difícil, especificamente daqueles que não eram

ricos nem poderosos, que tinha como destino viver nas mãos de suas famílias,

que decidia como seria o tratamento que eles iriam receber, podendo este ser

um tratamento benévolo ou simplesmente, podiam esquecê-los, deixando-os

em hospitais ou abrigos (MASCARO, 1997).

Para Deecken (1997) as pessoas idosas, muitas vezes, não são tratadas

como seres humanos, porque os jovens os exploram e os degradam

frequentemente, e a idade, então, acaba se tornando algo secreto.

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A civilização é orientada para os jovens, então o processo de

envelhecimento se torna mais difícil, porque a partir disso os idosos começam

a conviver com uma perspectiva do isolamento, em que muitas vezes a

sociedade trata tais questões como uma segregação da vida social, fazendo

com que esse processo de transição para a velhice se torne mais doloroso

(DEECKEN, 1997).

A palavra “envelhecer” já assusta um pouco muitas pessoas, justamente

pelo fato de indicar que sua idade será outra, seu corpo será outro, seu

processo psicológico não será mais o mesmo, são impostas algumas

limitações. Então, o quadro só piora quando se vive em um país onde o jovem

é reverenciado a todo momento, sobre isso podemos destacar que,

Vivemos num país caracterizado por uma cultura jovem e todos sentem que devem permanecer jovens ou pelo menos dar a impressão de sê-lo. Mas essa preocupação maciça de enganar-se a si próprio em nossa cultura ocidental não muda a simples realidade: cada um está envelhecendo gradualmente e tem que enfrentar a crise da velhice (DEECKEN, 1997, p. 12).

São muitos os problemas pelos quais os idosos tem que passar e

enfrentar, dentre eles podemos destacar os preconceitos sofridos, pois como

Mascaro (1997) afirma, “O que atrapalha os idosos são os preconceitos, a ideia

de que velhice é sinônimo de doença e incapacidade” (MASCARO, 1997, p.

54).

Como a expectativa de vida está sendo um fator relevante na atualidade,

fazendo com que a sociedade comece a ser pensada como uma sociedade

que está em processo de envelhecimento, devemos pensar no bem-estar da

população. Por isso mesmo temos que tentar extinguir essas imagens

idealizadas e esses estereótipos que são postos aos idosos, pois como

Mascaro (1997) expõe, essas imagens podem fazer com que muitos idosos as

internalizem, fazendo com que criem sentimentos de inadequação e frustração,

porque não conseguem se ver dentro desses modelos de envelhecimento.

Temos que ter consciência de que, quanto mais forem criados

mecanismos que possam auxiliar a população idosa, para que esta não se

sinta incapaz, melhor será para que ela seja considerada como sujeito de

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direitos, fazendo com que assim o envelhecimento não se torne algo visto

como maléfico.

Diante do que foi exposto, é de extrema importância que possamos

buscar entender como se estabelecem as relações família/idoso na atualidade,

por isso abordaremos essa questão no tópico seguinte.

2.2 Conceitos de família na cena contemporânea e sua relação na vida dos idosos

Após estudarmos sobre o conceito e o processo de envelhecimento da

população, torna-se importante abordarmos questões que dizem respeito aos

vínculos familiares e os idosos, a fim de compreendermos como a relação

familiar pode contribuir na vida dessas pessoas. Iniciaremos nossa discussão

trazendo alguns conceitos de família, depois iremos descrever alguns tipos de

famílias existentes na atualidade, e posteriormente, traremos uma síntese da

relação família/idoso, pois assim como diz o Estatuto do Idoso, a família é um

ente responsável pela vida da pessoa idosa, além disso, observa-se que não

houveram mudanças na contemporaneidade só no que concerne ao idoso, mas

também a família.

As formas de família que são postas na sociedade atual sofreram

modificações ao longo do processo de construção histórica da humanidade. A

família existente no século passado era aquela com um modelo padrão,

pai/mãe/filhos, onde a figura paterna representava a autoridade maior dentro

de casa, tendo autonomia total nas decisões.

Com o passar dos anos, novas concepções sobre família apareceram,

isso por conta das transformações sociais que vem moldando a sociedade

contemporânea.

Para que possamos discutir sobre as novas configurações familiares,

procuramos entender o que alguns autores discutem sobre o que seria família.

Sobre isso Dias (2000) afirma

A família é um grupo de parentesco que tem como responsabilidade principal a socialização de suas crianças e a satisfação de outras necessidades básicas. Consiste num grupo de pessoas que são relacionadas entre si pelo sangue, casamento ou adoção, vivendo juntas por um período de tempo definido. (DIAS, 2000, p. 150)

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Ou seja, para esse autor a família seria um grupo de pessoas que se

relacionam, podendo ter laços sanguíneos ou não, vivendo juntas por um

determinado período, tendo como responsabilidade prestar cuidado às crianças

e satisfazer as necessidades básicas. Dias (2000) também destaca duas

características da família, pois ele considera que ela seria uma unidade social

básica, pois a existência da sociedade depende dela, e seria também,

universal, porque se encontra “[...] em todas as sociedades humanas, de uma

forma ou de outra” (DIAS, 2000, p. 150).

Guiddens (2005, p.151) também define o que seria família, que segundo

ele “é um grupo de pessoas diretamente unidas por conexões parentais, cujos

membros adultos assumem a responsabilidade pelo cuidado das crianças”.

A família seria um grupo de pessoas que convivem em um determinado

local, por um período de tempo determinado, em que elas acreditam que existe

ou não um laço consanguíneo, e tem como dedicação primordial cuidar e

proteger seus membros (MIOTO, 1997).

O IBGE (2010) considera a família como sendo um grupo que se limita

pela condição de residência em um mesmo espaço domiciliar, mesmo que não

existam vínculos entre seus membros4.

Quanto às mudanças no modelo familiar, Dias (2000) destaca que existe

um estereótipo de família imposto na nossa cultura, que seria o modelo de

família composto por marido, esposa e filhos, mas que em outras culturas

existem outras variações familiares.

Mas, de acordo com as ideias de Gueiros (2002), as famílias vêm se

modificando desde o século XVIII, onde as famílias brasileiras começaram a se

configurar como famílias modernas. A partir da segunda metade do século XIX

outras importantes mudanças começaram a ocorrer, e surge então um

questionamento do modelo patriarcal, passando a desencadear-se a família

conjugal moderna. Nas últimas décadas do século XX, ocorrem novas

mudanças que são incorporadas na Constituição Federal de 1988, que dizem

respeito especialmente, aos arranjos familiares e a condição do homem ou da

mulher como sendo chefe de família.

4 Essa definição foi posta de acordo com as pesquisas domiciliares realizadas até o período de investigação do IBGE.

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Alguns aspectos que favorecem nessas novas configurações familiares,

são apontados por Gueiros (2002), que acredita que o aumento no número de

divórcios, a queda do índice de casamentos formais e a redução da taxa de

fecundidade podem ser favoráveis às características da família

contemporânea. Esses novos arranjos familiares estão se tornando cada vez

mais presentes na sociedade, especialmente nas grandes metrópoles.

A síntese realizada pelo IBGE no ano de 2010 também traz justificativas

para essas mudanças que vem permeando o padrão de organização das

famílias, que segundo o estudo isso está acontecendo por conta das “reduções

do tamanho da família e do número de casais com filhos, e o crescimento do

tipo de família formado por casais sem filhos [...]” (IBGE, 2010, p. 99).

Quando nos referimos aos arranjos familiares da modernidade, podemos

destacar a família nuclear, que para Guiddens (2005) seria aquela formada por

dois adultos que vivem juntos num determinado espaço doméstico com seus

filhos, sendo de sangue ou adotados. Furini et al. (2007) também define a

família nuclear como sendo aquela constituída de pais e filhos.

A família ampliada, para Furini et al. (2007) se denomina como família

expandida e é caracterizada por incluir as pessoas que são tidas como

membros de uma mesma família, tendo laços consanguíneos ou apenas de

parentesco5.

Para Guiddens (2005) a família ampliada é composta, além do casal e

dos filhos, por parentes próximos, que convivem em um determinado espaço

domiciliar ou que tem apenas uma aproximação contínua uns com os outros.

Esse tipo de família pode ter incluída em sua composição avós, irmãos e suas

esposas, irmã e seus esposos, tias e sobrinhos.

Existem, também, as famílias monoparentais, que são aquelas em que

se convive um único genitor com seus filhos, onde estes ainda não são adultos

(VITALE, 2002). Sobre essa expressão ‘Famílias Monoparentais’, essa mesma

autora destaca que

5 De acordo com as ideias de Guiddens (2005) os Laços de Parentesco se caracterizam como “conexões entre indivíduos, estabelecidas tanto por casamento como por linhas de descendência, que conectam parentes consanguíneos (mães, pais, irmãos, prole, etc.)” (GUIDDENS, 2005, p. 151).

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A expressão ‘famílias monoparentais’ foi utilizada segundo Nadine Lefaucher (1997), na França, desde a metade dos anos setenta, para designar as unidades domésticas em que as pessoas vivem sem cônjuge, com um ou vários filhos com menos de 25 anos e solteiros (VITALE, 2002, apud LECHAUFER, 1997).

Há ainda outros modelos associados à família contemporânea como, por

exemplo, a família reconstituída, definida por Guiddens (2005) como sendo

aquela na qual ao menos um dos cônjuges já tem filhos de outro casamento ou

relacionamento anterior; e a família homossexual, que de acordo com Uchôa

(2014, apud Prado, 1981) seria definida como sendo uma família composta por

duas pessoas do mesmo sexo que moram juntas, tendo filhos adotivos,

oriundos de casamentos anteriores, ou, no caso de mulheres, especificamente,

por meio de inseminação artificial.

Apesar de atualmente existirem esses ‘tipos’ de família, podemos dizer

que sua qualidade de vida dependerá, como Mioto (1997) afirma, da maneira

como elas se articulam para atender suas demandas internas (que são as

necessidades de cada membro familiar nas diversas fases de

desenvolvimento), suas demandas trazidas de seu espaço social e da maneira

de lidar com as transformações que ocorrem no âmbito das relações entre

homem e mulher e entre pais e filhos.

Mioto (1997) também destaca que as famílias brasileiras, principalmente

as de camadas populares, são pressionadas pela política econômica

desenvolvida pelo governo, pois ao invés de ela assegurar a essas famílias as

condições mínimas que elas necessitam (como por exemplo: emprego, serviço

públicos com qualidade, educação, segurança, renda, etc.), elas estão

influenciando situações que estão acarretando problemas familiares, como a

questão de desemprego, migrações, etc.

Szymanski (2002) diz que ao pensarmos a família hoje, temos que levar

em conta as mudanças que a sociedade vem sofrendo, a maneira como as

relações humanas estão se desenvolvendo e como estão se estabelecendo os

cuidados das vidas familiares. A autora está querendo deixar claro que as

mudanças que acontecem mundialmente influenciam na dinâmica familiar

como um todo e de maneira particular, de acordo com a sua composição, com

seu desenvolvimento histórico e seu pertencimento social.

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Quanto às trocas afetivas dentro da família, Szymanski (2002) acredita

que essas deixam marcas nas quais as pessoas carregam a vida toda, e por

consequência interferem na maneira de agir e de se relacionar com as outras

pessoas. Ela destaca: “Esse ser com os outros, aprendido com as pessoas

significativas, prolonga-se por muitos anos e frequentemente projeta-se nas

famílias que se formam posteriormente” (SZYMANSKI, 2002, p. 12). Ou seja,

as pessoas irão reproduzir tudo aquilo que vivenciaram em sua relação familiar.

A partir dessas definições expostas, podemos fazer uma breve síntese

sobre como se estabelecem as relações entre essas famílias contemporâneas

e os idosos.

2.2.1 Idoso e família

Quando nos referimos à relação família/idoso podemos destacar que,

ocorreram transformações histórico-culturais que marcaram à segunda metade

do século XX e que imprimiram marcas na atenção à velhice. Isso porque

foram surgindo novos arranjos familiares, como já citamos anteriormente

alguns modelos existentes, que fizeram com que a família nuclear deixasse de

ser o único modelo, sem falar no aumento das separações e recasamentos,

que acabaram fazendo com que houvesse uma vulnerabilidade dos vínculos. A

partir da modernização da sociedade, as famílias brasileiras vão se

modificando, e a mulher, que até então era reconhecida culturalmente como

cuidadora, encontra dificuldades para assumir esse papel. Alguns fatores

influenciam para que esse papel de cuidador esteja deixando de ser

responsabilidade principal da mulher, como por exemplo, a inserção da mulher

cada vez mais no mercado de trabalho, a redução no tamanho das famílias e a

falta de tempo das pessoas (ASSIS E POLLO, 2008).

Quando se envelhece inúmeros cuidados devem ser impostos, por isso

mesmo que o cuidado familiar deve ser propiciado, pois a família deve

funcionar como um ponto de apoio, na qual o idoso deve, ou pelo menos

deveria, confiar. Sobre isso podemos ressaltar,

A família propicia os aportes afetivos necessários ao desenvolvimento de seus componentes, tornando-se um espaço indispensável para a sobrevivência e proteção dos idosos e espaço privilegiado para a

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absorção dos valores éticos e humanitários e aprofundamento dos laços de solidariedade (CARREIRA et al., 2011, p. 3).

Furini et al. (2007) também acredita que a família venha a ser um ponto

de referência quando se fala em cuidados à pessoa idosa, além de ter a

responsabilidade de prover um espaço domiciliar adequado para que esse

idoso possa residir. Essa autora mostra que não importa o modelo de família

em que se encontrem, o importante é que essa família seja uma fonte primária

que auxilie e cuide de seus integrantes, desde o momento do nascimento até o

momento da morte.

É importante que, além dos cuidados físicos que devem ser propostos

(como fornecer um ambiente saudável e seguro), devem existir cuidados

afetivos, pois quando se envelhece os sentimentos começam a se aflorar com

mais intensidade, e a necessidade de mais cuidado, afeto, carinho, amor,

compreensão se fazem necessário. É justamente por isso que a família deve

estar presente cada vez mais nessa etapa da vida, para que consiga

desenvolver um papel ativo e presente durante esse processo de

envelhecimento (ESPITIA e MARTINS, 2006).

Mas esses mesmos autores destacam que a família está perdendo suas

tradições, não está deixando transparecer aquilo que antes era algo essencial

para o relacionamento, como a questão do amor, do contato físico e da

convivência diária. Estão se tornando famílias marcadas por mudanças em

seus hábitos e atitudes, enquanto seu papel deveria ser o de administrar os

conflitos que vão surgindo, para que assim o desenvolvimento humano se

fortaleça dentro do contexto social (ESPITIA e MARTINS, 2006).

A partir de então, devemos considerar importante que sejam

desenvolvidas maneiras para fortalecer esses vínculos familiares, afinal todos

os membros de uma família, em algum momento de suas vidas irão precisar de

um apoio ou ajuda familiar.

Sobre isso, Szymanski (2002) propõe que para que possam ser

desenvolvidos projetos voltados para atenção familiar é importante que se olhe

para esse agrupamento humano como sendo um núcleo onde as pessoas

devam se unir por razões afetivas, havendo um projeto de vida em comum,

onde se compartilha um quotidiano. Deve ser de sua competência também

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transmitir tradições, planejar o futuro acolher e atender as necessidades

impostas pelos idosos e formar crianças e adolescentes.

Como Espitia e Martins (2006) destacam, não tem como discutir a

importância que a família tem para auxiliar no processo de envelhecimento,

pois isso é mais do que necessário para que o idoso se sinta mais acolhido

afetivamente. Deve-se considerar a importância que a convivência pode

desenvolver, pois ela pode ser responsável por haver um equilíbrio afetivo

entre os idosos e a família.

Os idosos necessitam de uma convivência familiar, mesmo que eles não

compartilhem do mesmo espaço físico, como por exemplo, quando se

encontram em instituições de longa permanência.

Sobre esses espaços institucionais, no capítulo que se segue, iremos

fazer uma abordagem sobre o processo de institucionalização de idosos,

tomando início a partir da origem das Instituições de Longa Permanência para

Idosos, destacando alguns parâmetros e critérios estabelecidos pela legislação

para que as mesmas possam funcionar devidamente e expondo alguns motivos

que levam os idosos a procurarem um desses locais para residirem.

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3 UMA ABORDAGEM SOBRE O PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DE IDOSOS

A partir do que abordamos no capítulo anterior, que trouxe informações

sobre o envelhecimento populacional e as imagens da família na

contemporaneidade, destacando breves conceitos sobre o envelhecimento no

cenário atual da sociedade e a relação família/idoso, esse capítulo que segue,

aborda o processo de institucionalização, dando ênfase às origens históricas

das Instituições de Longa Permanência e os motivos que levam os idosos a

procurarem essas instituições.

3.1 Origem histórica das Instituições de Longa Permanência

Com o aumento da expectativa de vida, por consequência um

crescimento no número de pessoas idosas na sociedade atual, e com as

mudanças que vem permeando as estruturas familiares na atualidade6, alguns

sentimentos podem ter-se tornado “líquidos”, fazendo com que laços fraternos

comecem a se desprender.

Supõe-se que a institucionalização de idosos esteja diretamente ligada a

esses sentimentos destituídos. Sobre isso, Almeida (2005) supõe que “À

medida que as famílias vão se modificando, as famílias nucleares passam a

requerer o subsídio de instituições que as ajudem no momento de decidir a

melhor assistência e providência para o idoso” (ALMEIDA, 2005, p. 35).

De acordo com essa nova demanda imposta pela sociedade, torna-se

importante buscarmos entender como as Instituições de Longa Permanência

(ILPI), antes tendo outras denominações como abrigos para idosos, asilos,

casas de repouso para idosos, etc., começaram a surgir na sociedade.

Segundo Assis e Pollo (2008), o surgimento das instituições destinadas

à população idosa não é algo da modernidade. Sobre isso, Alcântara (2004)

expõe que o primeiro asilo teria sido criado pelo Papa Pelágio II (520-590), ele

usou sua própria casa para fundar um hospital para idosos.

6 Atualmente as estruturas familiares não se concentram apenas no modelo de família nuclear (pai/mãe/filhos), existem, como citado no capítulo anterior, outros modelos, como a família ampliada, a reconstituída, a monoparental, a homossexual e etc (GUEIROS, 2002).

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No século XVIII, as instituições tidas como asilos, eram destinadas a

abrigar, também, mendigos. Ainda nesse século, em meados dos anos de

1780, o hospital, que até então se caracterizava como um lugar que internava

pessoas doentes e/ou tidas como devassas, pobres, loucos e prostitutas, no

intuito de prestar assistência material e espiritual, começa a trabalhar sobre a

perspectiva de um instrumento terapêutico. Era como se, nesse período, os

hospitais tivessem a função de fazer uma divisão de classes sociais, onde as

pessoas tidas como doentes ou que se enquadravam em um desses casos

citados acima, deveriam ser postas à margem da sociedade, porque não eram

consideradas pessoas dignas de fazerem parte do convívio social da mesma

(ASSIS E POLLO, 2008).

No século XIX, na Europa, os asilos que eram criados tinham como

característica marcante a sua grandiosidade, e justamente por isso, eles

conseguiam concentrar um grande número de idosos. O maior de todos ficou

conhecido como Salpêtrière, que além de idosos, também recebiam um grande

percentual de doentes (ASSIS e POLLO, 2008).

Quando nos retratamos as instituições brasileiras, podemos destacar

que exatamente no ano de 1794, no Rio de Janeiro, começa a funcionar uma

instituição, que tinha o nome de Casa dos Inválidos. Esse local surge por conta

do Conde de Resende, que durante o Brasil Colônia, começou a pensar na

possibilidade de ser criado um local que abrigasse os soldados que se

encontravam com uma idade mais avançada, para que estes pudessem ter

uma velhice digna e tranquila. A instituição pregava a ideia de que não deveria

prestar caridade ou assistência, pois seu interesse maior era reconhecer

aqueles senhores, que por muito tempo prestaram serviço à pátria (ASSIS E

POLLO, 2008).

A primeira instituição brasileira considerada como um local para idosos

surge no Rio de Janeiro, no ano de 1890, com o nome de Asilo São Luiz para a

Velhice Desamparada. Quando não havia instituições que abrigavam

especificamente idosos, estes ficavam em locais que recebiam pobres, doentes

mentais, mendigos, crianças abandonadas, pessoas desempregadas, etc.

(ASSIS E POLLO, 2008).

De acordo com Alcântara (2004), as instituições filantrópicas, que

prestavam cuidados a idosos e que recebiam a denominação de abrigos, asilos

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ou lares, no século XX, no Brasil, continuavam atendendo a velhice

desamparada, que na maioria das vezes, era uma população pobre e sem

vínculos familiares. Porém, essa velhice institucionalizada continuava

abrangendo aos pobres, indigentes, moribundas, solitários, alcoólatras, dentre

outros desvalidos.

Mas, exatamente, a partir desse século XX, que os espaços começaram

a se ordenar e as categorias sociais se encaixaram em suas devidas

definições, ou seja, as crianças abandonadas passaram a serem abrigadas

pelos orfanatos, as pessoas com problemas mentais foram institucionalizadas

pelos hospícios e os idosos começaram a ser abrigados por locais específicos

que continuavam com o nome de asilos7 (ALCÂNTARA, 2004).

A palavra asilo começou a ser analisada e então se concluiu que ela

trazia uma carga negativa, pois geralmente era empregada para referir-se a

instituição de idosos carentes, então quando se falava em idoso

institucionalizado, logo esse termo era relacionado a uma imagem negativa de

pobreza e abandono. Sem falar que, quando se denominavam assim, essas

instituições, na maioria das vezes, eram mantidas por associações religiosas,

ou por outras instituições de caridade (COSTA e MERCADANTE, 2013), e

como veremos a seguir, essas instituições com o passar dos anos, começaram

a mudar um pouco sua forma de atuação. Atualmente, ainda existem

instituições para idosos de cunho religioso, outras filantrópicas, mas há

também instituições governamentais, que tem alguma forma de parceria com o

governo, então, por essa questão e outros motivos (como os atendimentos

prestados, as atividades realizadas, os critérios para o ingresso nesses locais,

dentre outros), a nomenclatura teve que ser mudada.

Alcântara (2004) também acredita na conotação negativa da palavra

asilo, pois a autora diz que esses locais podem ser relacionados a um

momento em que o idoso fica a espera da morte.

A partir dos anos de 1909, segundo Barbosa et al. (2012) apud Novaes

(2003), essas instituições começaram a deixar de lado o cunho filantrópico,

passando a desenvolver uma fonte de arrecadação de renda, pois começaram

a criar alas prioritárias para as pessoas que tinham condições financeiras mais

7 As nomenclaturas que foram destinadas aos espaços que institucionalizaram crianças e doentes mentais, com o passar dos anos, também sofreram modificações.

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elevadas, afinal, essas pessoas podiam pagar por quaisquer serviços que lhes

fossem prestados.

Em 1964, a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, passa a ser

especificamente uma instituição gerontológica, e isso por conta do aumento de

internações de pessoas idosas, pois antes, no fim do século XIX essa

instituição prestava assistência, também, a mendigos (ASSIS e POLLO, 2008).

A década de 1960 traz consigo o surgimento das primeiras clínicas

geriátricas e das casas de repouso não filantrópicas, e é também a época em

que a Organização da Sociedade Brasileira de Geriatria inicia-se. Com essas

novas formas de institucionalização, a velhice passa a ir além de uma prática

filantrópica, tornando-se, também, uma fonte de renda, pois as famílias, por

apresentarem alguns motivos que os impossibilitam de prestar os cuidados

necessários a esses idosos, começam a pagar por tais cuidados (ESPITIA e

MARTINS, 2006).

As instituições destinadas a atender especificamente a população idosa

começaram a ganhar visibilidade por parte da sociedade e passaram a ter um

novo modelo de instituição. Em relação a tais instituições, Espitia e Martins

(2006) afirmam,

As instituições surgem para atender necessidades sociais de diversas naturezas. Independente de sua essência e de análises mais substantivas a respeito delas, é possível dizer que não há uma instituição sem um referencial social que a explique (ESPITIA e MARTINS, 2006, p. 54).

Atualmente esses locais, recebem o nome de Instituição de Longa

Permanência para Idosos (ILPIs), estando estabelecido em normas. De acordo

com Camarano e Kanso (2010), no Brasil não existe um consenso que

determine o que de fato seja uma ILPI, mas sabe-se que ela se origina dos

asilos, que eram dirigidos à população mais carente que necessitava de

amparo, sendo este dado pela caridade cristã, pois havia uma ausência de

políticas públicas.

De acordo com a definição de ILPI para a ANVISA, estas são

“instituições governamentais ou não governamentais, de caráter residencial,

destinadas ao domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60

anos, com ou sem suporte familiar, em condição de liberdade, dignidade e

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cidadania” (CAMARANO e KANSO, 2010, p. 2). Essas autoras concluem essa

definição dizendo que as ILPIs seriam uma forma de residência coletiva, que

atende as necessidades tanto de idosos independentes, que possuem uma

carência financeira ou familiar, quanto os dependentes, que necessitam de

ajuda para realizar tarefas do cotidiano.

Como já foi citado anteriormente, antes de ser elaborada essa

nomenclatura para denominar as instituições destinadas ao acolhimento de

idosos, outros nomes vinham sendo utilizados, como: asilos, abrigos, casa de

repouso, etc. Mas com o aumento significativo no número de idosos e o

aumento da sobrevivência de pessoas com capacidades físicas, cognitivas e

mentais limitadas, foram surgindo novas necessidades que fizeram com que os

asilos deixassem de ser apenas da rede de assistência social, passando a

integrar também outras áreas, como a da saúde, por exemplo. A partir disso a

Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia sugeriu essa nova

denominação (CAMARANO e KANSO, 2010).

A partir dessas mudanças Barbosa et al. (2012) acredita que as ILPIs

tem que começar a reaver suas formas de atendimento, sobre isso ele ressalta,

O atendimento aos idosos no Brasil de hoje exige que a ILPI preste serviços tanto na área social quanto na área sanitária, sendo assim objeto de ação de ambas as esferas. Pode-se, portanto, dizer que a ILPI é um tipo especial de instituição de natureza sócio-sanitária. Essa natureza híbrida demanda a criação de um modelo sócio-sanitário de assistência, que conjugue valores e práticas de ambas as esferas (BARBOSA et al., 2012, p. 157).

Quanto ao número de instituições existentes, os dados apresentados

pelo IPEA (2011) demonstraram que não foi possível contabilizar um número

concreto de instituições de longa permanência que estão em pleno

funcionamento no Brasil e nem o número exato de idosos que vivem

institucionalizados.

Sobre essa dúvida em relação ao número de instituições e de idosos

institucionalizados, Costa e Mercadante (2013) afirmam que, na atualidade, os

estudos a respeito ainda são poucos, por isso é possível que não se tenha um

levantamento mais preciso dessa situação.

Observa-se que, do seu surgimento aos dias atuais, as ILPIs

perpassaram por muitas mudanças, tanto quando se refere ao seu público

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acolhido, a sua nomenclatura, a sua forma de subsistência, quanto as suas

formas de atendimento aos idosos, pois atualmente, além de servir como

moradia, esses locais devem apresentar atividades variadas que atendam a

demanda do público residente. A seguir traremos alguns parâmetros e critérios

que foram elaborados para definir como deve ser a atuação dessas

instituições.

3.1.1 Parâmetros e critérios para seu funcionamento

Diante de todo o processo histórico pelo qual as ILPIs passaram até que

se tornaram instituições especificamente para idosos, sendo estes

dependentes ou não, foi elaborada uma legislação específica, responsável por

definir normas que estabeleçam como deve ser o funcionamento das mesmas.

Antes de iniciarmos essas normas, é importante destacar o que o

Ministério do Desenvolvimento Social8 – MDS considera como um Serviço de

Acolhimento Institucional, ou seja, seria uma maneira de acolher em diferentes

espaços, sendo estes destinados a indivíduos e/ou famílias que tenham

vínculos fragilizados ou rompidos, tendo como objetivo a proteção integral dos

mesmos. O atendimento prestado por tal serviço deve destacar a importância

do convívio familiar e comunitário (MDS, 2014).

Quando se fala em Serviço de Acolhimento Institucional para Idosos, o

Ministério do Desenvolvimento Social (2014, p. 1) deixa exposto,

Acolhimento para idosos com 60 anos ou mais, de ambos os sexos, independentes e/ou com diversos graus de dependência. A natureza do acolhimento deverá ser provisória e, excepcionalmente, de longa permanência quando esgotadas as possibilidades de autossustento e convívio com os familiares. É previsto para idosos que não dispõem de condições para permanecer com a família, com vivência de situações de violência e negligência, em situação de rua e abandono, com vínculos fragilizados ou rompidos.

De acordo com a portaria nº 67/2012 de 21 de Março de 2012, do

Ministério da Solidariedade e da Segurança Social, as ILPIs são

estabelecimentos de alojamentos coletivos, podendo ser permanente ou

8 Disponível em: <http:// www.mds.gov.br/falemds/perguntas-frequentes/assistencia-social/pse-protecao-social-especial/servicos-de-alta-complexidade/servico-de-acolhimento-institucional>. Acesso em: 20 de setembro de 2014.

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provisório9, devendo desenvolver atividades de apoio social, além de ter que

prestar cuidados de enfermagem (Diário da República, 2012, p. 1324).

De acordo com as normas estabelecidas pela ANVISA, quanto às

condições gerais, as ILPIs devem ter responsabilidade pela pessoa idosa como

o que está previsto no regulamento técnico para o funcionamento das mesmas

(ANVISA, 2005).

Continuando nas disposições gerais, a instituição deve disponibilizar o

exercício dos direitos humanos (civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e

individuais) dos idosos institucionalizados, devendo atender algumas

premissas, como: a questão do respeito à liberdade de credo, ou seja, eles têm

o direito de crer no que acharem mais conveniente; a liberdade de ir e vir (esta

quando não tiverem sido estabelecidas restrições médicas quanto a sua

saúde); a preservação da identidade e da privacidade do idosos, para que seja

assegurado um espaço de respeito e dignidade; e promover um ambiente

acolhedor, para que possam se sentirem bem (ANVISA, 2005).

A instituição deve, também, promover uma convivência mista entre os

residentes; promover integração dos idosos com as atividades que são

desenvolvidas na comunidade em que a instituição se encontra; favorecer a

realização de atividades conjuntas que envolvam pessoas de outras gerações,

para que possam ser estabelecidas novas relações; incentivar para que

aconteça uma participação familiar e comunitária, a fim de atender o idoso ali

residente; desenvolver atividades que procurem estimular a autonomia dos

idosos, promover momentos de lazer (como atividades físicas, recreativas e

culturais); desenvolver atividades que possam prevenir e/ou coibir qualquer tipo

de violência e discriminação contra os idosos residentes (ANVISA, 2005).

Quanto a sua forma de organização, a ANVISA (2005) determina:

4.5.1. A Instituição de Longa Permanência para Idosos deve possuir alvará sanitário atualizado expedido pelo órgão sanitário competente, de acordo com o estabelecido na Lei Federal nº 6.437, de 20 de agosto de 1977 e comprovar a inscrição de seu programa junto ao Conselho do Idoso, em conformidade com o Parágrafo Único, Art. 48 da Lei nº 10.741 de 2003 (Resolução da Diretoria Colegiada – RDC, nº 283, de 26 de setembro de 2005).

9 A portaria não deixa claro por quantos anos o idoso poderá permanecer em uma Instituição de Longa Permanência.

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Toda ILPI, de acordo com a ANVISA, deve apresentar um estatuto

registrado, um registro de entidade social e um regimento interno. Deve possuir

um Responsável Técnico (RT) que se responsabilize pelo serviço prestado, e

que responderá pela instituição junto à autoridade sanitária local (ANVISA,

2005).

Quanto a esse Responsável Técnico, ele deve ter formação em nível

superior, e quanto a isso, a Portaria nº 67/2012 de 21 de março de 2012

estabelece que este técnico deve ter “formação superior em ciências sociais e

do comportamento, saúde ou serviço sociais e, preferencialmente, com

experiência profissional para o exercício das funções” (DIÁRIO DA

REPÚBLICA, 2012, p. 1326).

A ILPI deve estabelecer um contrato formal de prestação de serviços

com o idoso, com seu responsável legal ou com seu curador (este quando se

trata de interdição judicial). Neste contrato deve vir estabelecido o tipo de

serviço que será prestado pela instituição (ANVISA, 2005).

Em relação à estrutura física, a instituição deve seguir o modelo padrão,

imposto pelo Regulamento Técnico da ANVISA, além de ter que seguir as

exigências postas em leis, códigos ou normas pertinentes à esfera municipal,

estadual ou federal. O ambiente físico deve encontrar-se em condições de

habitabilidade, higienizado, ter salubridade, segurança, além de ter que

apresentar acessibilidade para aqueles que têm dificuldades de locomoção

(ANVISA, 2005).

Quando houver algum caso de abandono familiar do idoso ou ausência

de identificação civil, a ILPI deve entrar em contato com a Secretaria Municipal

de Assistência Social ou congênere, assim como com o Ministério Público, para

que estes órgãos possam se encarregar de tomar as providências cabíveis

para solucionar tais problemas (ANVISA, 2005).

Quanto ao monitoramento e avaliação do funcionamento das

instituições, qualquer irregularidade que for constatada que se refiram ao

funcionamento da ILPI, a vigilância sanitária local deve ser comunicada, e a

avaliação do desempenho e padrão da instituição, a mesma é quem deve se

encarregar de realizar (ANVISA, 2005).

O Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741 de 1º de outubro de 2003) também se

posiciona quanto ao funcionamento das ILPIS, destacando isso no seu Título

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IV – Da Política de Atendimento ao Idoso, especificamente o Capítulo II – Das

Entidades de Atendimento ao Idoso, o Capítulo III – Da Fiscalização das

Entidades de Atendimento, e o Capítulo IV – Das Infrações Administrativas.

O Artigo 49 (Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741 de 1º de outubro de 2003),

define princípios que deverão aplicados pelas ILPIs, como: preservar as

relações familiares para que os vínculos afetivos não se rompam; articular

atendimentos personalizados e em grupos com menor quantidade de idosos,

para que assim o trabalho aconteça de maneira mais eficaz; garantir a

permanência do idoso na mesma instituição, a não ser que ocorra algum

problema ou ação que lhe impossibilite de permanecer ali; desenvolver

atividades que objetivem a participação do idoso, para que ele consiga interagir

dentro do espaço institucional; observar os direitos e as garantias pelas quais

os idosos são assegurados; preservar a identidade do idoso, para que assim

ele se sinta mais protegido e assegurado; oferecer um ambiente de respeito e

dignidade, para que esses idosos consigam internalizar uma imagem positiva

da instituição.

O Artigo 51 diz que as Instituições de Longa Permanência para Idosos

têm, por direito, assistência judiciária gratuita para quando necessitar de

serviços judiciários (Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741, de 1 de outubro de 2003).

Quanto às fiscalizações que devem haver sobre o atendimento prestado

pelas ILPIs, podemos destacar o Artigo 52, que diz que essa responsabilidade

deve ser dos Conselhos do Idoso, do Ministério Público, da Vigilância Sanitária

e de outros órgãos previstos em lei (Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741, de 1 de

outubro de 2003). Essa fiscalização é importante porque é uma forma de

controlar como os idosos estão sendo tratados dentro dessas instituições,

como está sendo o cotidiano, suas atividades, como estão se desenvolvendo

as relações dos idosos com os funcionários e com os outros idosos, dentre

outros aspectos.

Alguns artigos seguintes determinam medidas que são previstas para as

instituições que descumprirem o que o Estatuto aponta, podendo chegar ao

caso até de pagarem multas, dependendo da gravidade da questão.

Todo esse aparato legal que foi exposto, tem ideias que se completam a

fim de garantir ao idoso institucionalizado um melhor atendimento por parte das

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Instituições de Longa Permanência e de seus profissionais, para que estes não

se sintam desamparados.

A partir dessa discussão torna-se interessante abordarmos os principais

motivos apontados por alguns autores, a respeito do que leva o idoso a residir

em uma ILPI.

3.2 Motivos que levam o idoso ao processo de institucionalização

Com o aumento no número de pessoas idosas na sociedade

contemporânea, buscaremos desenvolver algumas ideias expostas a respeito

dos motivos mais frequentes que levam os idosos a residirem em ILPIs,

motivos esses que podem se dar por conta da família ou dos próprios idosos,

assim como podem acontecer por consequência das mudanças ocorridas na

sociedade e, principalmente, nas estruturas familiares.

As causas para que os idosos sejam institucionalizados podem variar,

pois há inúmeros motivos que podem contribuir para esse processo, dentre

eles podemos destacar a questão dos conflitos entre gerações, o aumento do

número de familiares que vão trabalhar fora, um rompimento de laços afetivos,

o grau de dependência em que o idoso se encontra, ou por conta do

agravamento da pobreza (ESPITIA e MARTINS, 2006).

A procura por um acolhimento institucional não está acontecendo

apenas quando se trata de idosos dependentes, pois os idosos considerados

jovens (com idade entre 60 e 65 anos) e que são independentes, também

estão buscando essa alternativa, e isso, muitas vezes, por conta da exclusão

do mercado de trabalho, ou seja, porque já não são considerados ativos para

manterem-se em atividades remuneradas, e também, por conta da exclusão do

convívio familiar (BARBOSA et al., 2012).

A legislação brasileira, reforçada pelo Estatuto do Idoso, deixa claro que

a família, prioritariamente, é quem deve se responsabilizar pelos cuidados de

um familiar idoso,

Artº 3 – É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à

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dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária (Estatuto do Idoso, Lei Nº 10.741, de 1º de outubro de 2003).

Porém, algumas famílias não estão conseguindo manter essa

responsabilidade, podendo ser apontados alguns motivos, tais como: a redução

da fecundidade, as mudanças intrafamiliar (que podem ocasionar

desentendimentos entre os membros da família), e o aumento do número de

mulheres que ingressam no mercado de trabalho (pois são elas, geralmente,

que tomam pra si a responsabilidade de cuidar do familiar idoso). Por conta de

questões como essas, o Estado, juntamente com o mercado privado, estão

trazendo para si a responsabilidade de tais cuidados, criando alternativas que

atendam aos idosos em forma de moradia, como as Instituições de Longa

Permanência, estas podendo ser de cunho público ou privado (CAMARANO e

KANSO, 2010).

Mas, de acordo com Alcântara (2004), a prioridade é manter o idoso com

a família, por isso é importante que sejam elaborados serviços que defendam

as modalidades “não asilares” de assistência, como, por exemplo, os Centros

de Convivência e o atendimento domiciliar. A autora ainda defende a ideia de

que a ILPI deve ser a última opção, pois mesmo que o idoso precise de alguns

cuidados, ele não deve ser mantido longe de seus familiares.

De acordo com as ideias de Carreira et al. (2011), quando as famílias

resolvem buscar uma ILPI que possa institucionalizar seu familiar idoso, estão

a procura de um local que cuide bem deles, lhes oferecendo companhia, para

que tenham espaços de convivência e socialização. Mas, nem sempre o idoso

está de acordo com tal decisão, e quando isso acontece ele vai ter que

aprender a adaptar-se a tais mudanças.

O enfraquecimento dos laços familiares pode acarretar num

agravamento da história de vida dos idosos, pois eles podem adquirir doenças,

tais como a depressão, por conta de sentimentos desenvolvidos, como a

questão de sentirem-se inferiores e incapazes, acreditando que por isso foram

abandonados por seus familiares (CARREIRA et al., 2011).

Outro motivo que leva a procura por um acolhimento institucional seria a

questão das relações intergeracionais, que podem acarretar desentendimentos,

principalmente dentro da família. A respeito, Furini et al. (2007) acredita que as

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dificuldades de relacionamento dos idosos com seus familiares, podem

influenciar na decisão de buscar uma instituição em que possam residir.

[...] minha prima [...], num sei porque, mas era o começo da doença, ela ficou com uma rixa tão grande em mim, tudo que era meu ela acabava, uma coisa horrível, aí eu vi que num dava certo, porque eu achava que era pra família ter se juntado e ter dito: “A Orquídea não pode sair daqui, porque a Orquídea foi a que fez a casa”. Mas ninguém disse nada [...]. Eu [...], todos os dias 13 [...] ia pra 13 de Maio, [...] quando foi um dia eu conversei com o padre e depois eu contei minha situação, [...] ele falou: “Minha filha, saía o quanto antes, porque pode depois ser pior pra você. Ali para o Benfica tem uma casa de idoso, mais eu não sei mais ou menos onde é, procure saber”. [...] foi Deus mesmo que me deu esse quarto, eu só tenho que agradecer o que Deus tem feito por mim [...]. (Senhora Orquídea – 91 anos).

Na fala da Sra. Orquídea, foi possível perceber que a situação de saúde

da prima estava lhe afetando e lhe incomodando, fazendo com que assim ela

fosse procurar uma solução, e, então ela viu que ir morar em outro local seria

melhor, pois assim os conflitos familiares poderiam deixar de existir.

Assis e Pollo (2008) também acreditam que os conflitos familiares

impulsionem a institucionalização, fazendo com que assim a decisão parta da

própria família, ou até mesmo, o próprio idoso pode optar por essa forma de

resolver a questão. Mas, acreditam que a institucionalização também pode ser

ocasionada quando a família não possui condições necessárias de manter o

idoso dependente em casa, pois este necessita de cuidados mais especiais,

podendo desencadear um desgaste físico e/ou emocional por parte de seu

cuidador.

Quando a família possui “condições financeiras”, os cuidados são

realizados por cuidadores particulares. Mas, na atualidade, não são todas as

famílias que tem poder aquisitivo alto que lhes possibilitem essa escolha,

porque a crise econômica e as mudanças que o mundo do trabalho vem

sofrendo, estão influenciando na situação financeira da população, então,

muitas famílias acabam não tendo uma situação financeira relativamente boa a

ponto de contratar alguém que se encarregue de tal função (ASSIS e POLLO,

2008).

Continuando nessa questão de falta de um cuidador, Furini et al. (2007),

também acredita que a capacidade da família pode chegar a um determinado

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momento em que se encontre debilitada, então não se consegue conciliar os

afazeres (tanto externos quanto domésticos) com o cuidado com o idoso, além

da mesma não conseguir disponibilizar um familiar que se responsabilize por

tal tarefa, acreditando assim que a institucionalização venha a ser a melhor

solução.

Quando o idoso adoece, sendo impossibilitado de realizar certas

atividades, ou quando necessita de cuidados especiais, é mais provável a

procura por uma instituição de longa permanência (FURINI et al., 2007). Isso

porque, como já foi citado, fatores como a falta de um cuidador particular ou

incapacidade de haver um familiar que se responsabilize, influenciem na

decisão.

Eu morava só. [...], a minha menina estava operada, morava em uns altos [...] e não podia nem descer e nem tomar conta de mim. Eu levei uma queda e desmantelei a coluna, fiquei prostada [...], aí ela não podia me tratar e me trouxe pra cá. (Senhora Margarida – 84 anos).

O fato da Sra. Margarida ter sofrido uma queda que a deixou

impossibilitada de realizar algumas atividades, juntamente com a questão de

sua filha não poder lhe prestar cuidados, pois a mesma havia feito uma

cirurgia, influenciaram na busca por uma ILPI, ou seja, foi exatamente a falta de

um cuidador que levou a institucionalização dessa idosa.

Em alguns casos as patologias podem resultar em incapacidades

motoras ou cognitivas, então a família procura por uma ILPI que além de

oferecer moradia, disponibilize recursos humanos que venham a atender as

necessidades do idoso, além de ter que prestar os cuidados necessários

(FURINI et al., 2007).

Quando o idoso chega a um determinado grau de dependência pode ser

que ocorra uma alteração na estrutura familiar, pois esta terá que se adequar

as necessidades do idoso, por isso, algumas famílias entendem que a

institucionalização seja a melhor solução (ESPITIA e MARTINS, 2006). Mas,

essas autoras acreditam que fatores como a diminuição de membros da família

e a mudança de parentes pra outro endereço, podem, também, ser

responsáveis pela busca de uma ILPI.

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Outra questão que se torna alvo de preocupação dos familiares seria à

velhice em sua fase mais avançada, pois a partir de uma determinada fase,

[...] a pessoa idosa pode já não mais possuir condições de viver só, no espaço doméstico, uma vez que passa a apresentar limitações para realizar as atividades da vida diária e, muitas vezes, estar impossibilitada de gerenciar seu domicílio, como prover alimentação, pagar água, luz, ir ao banco, entre outros. Estes motivos podem se apresentar de forma isolada ou estarem associados entre si (FURINI et al., 2007, p. 231).

Ou seja, depois de uma determinada idade, o idoso pode começar a

apresentar limitações em relação a atividades diárias, havendo assim, mais um

motivo para a institucionalização.

Há casos em que o idoso não possui descendentes diretos (filhos,

irmãos, sobrinhos), então a institucionalização é algo quase certo, pois

geralmente são esses descendentes que assumem o cuidado dessas pessoas

depois de uma determinada idade. Quando há a ausência ou a morte de um

dos cônjuges a quem o idoso mantinha laços conjugais, essa busca por uma

ILPI como forma de residência se torna mais evidente (FURINI et al., 2007).

[...] meu filho morreu, meu marido morreu, aí, minha cunhada botou eu aqui, passei foi tempo lá na casa dela. [...], eu quis vim mesmo pra cá, ela botou eu aqui mesmo. (Senhora Rosa – 72 anos). [...] tô viúva [...], eu não queria morar em casa de ninguém [...]. (Senhora Girassol – 91 anos).

Como seu filho faleceu e seu esposo também, a Sra. Rosa acabou

ficando sobre os cuidados da cunhada, que logo a acolheu em sua casa e

depois de um tempo buscou uma ILPI para a ela residir. Como a fala de Furini

et al. (2007) acima, essa foi a solução encontrada, pois havia uma ausência de

descendentes diretos para essa idosa. Quanto a Sra. Girassol, essa ausência

do cônjuge também influenciou, pois ao ficar sozinha, não quis residir na casa

de nenhum parente, optando por buscar uma instituição pra morar.

Furini et al. (2007) acredita que além da questão da dependência e da

ausência de um cuidador, existe a necessidade de os familiares trabalharem,

então os idosos ficam sem uma assistência familiar em determinados

momentos, porém as pessoas necessitam do trabalho para sobreviver, a partir

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disso os cuidados que são necessários, começam a não serem prestados,

optando-se assim, por buscar um acolhimento institucional.

A opção por residir em uma ILPI também pode partir do próprio idoso,

quando este começa a desenvolver sentimentos que lhe impulsione a buscar

um local que lhe dê atenção e conforto, além de ter que atender as suas

necessidades. Quando o idoso tem uma situação financeira estável, essa

decisão se torna mais preponderante (FURINI et al., 2007).

Porque eu quis vir [...]. (Senhora Violeta – 83 anos). [...] a gente morava num apartamento assim, pequeno, [...] mais foi isso, os meus sobrinhos, quando era de manhã bem cedo, os livros deles era guardado no meu quarto, aí eles iam apanhar os livros, aí um ficava com o outro: “Cuidado pra não acordar a tia!” [...] aquela discussãozinha sabe, só pra me proteger. Eu disse: “Minha nossa senhora, isso não é possível, todo dia esse lenga-lenga”. Aí eu pensei: “Eu vou procurar um lugar pra mim assim [...], ficar mais folgado lá pra eles”. Ah, mas foi uma briga quando eu disse que vinha, “Não! Você ainda é muito nova, você num vai”, eu digo “Eu vou, depois vocês vão achar é bom”. Aí procurei, procurei primeiro lá no [...] Torres de Melo [...], num gostei porque lá é homem e mulher [...]. A assistente social de lá me deu o endereço daqui. (Senhora Tulipa – 78 anos).

Apesar da fala da Sra. Violeta ter sido breve, nota-se que ela quem

optou por residir em uma ILPI, podendo haver motivos que a levaram a essa

decisão, porém ela preferiu não expressá-los. Já a Sra. Tulipa deixou claro que

sua busca por uma instituição, se deu porque precisava deixar seus parentes

mais a vontade.

A partir do momento em que o idoso começa a enxergar a velhice como

sendo uma fase de recolhimento e de inatividade, e isso porque deixaram de

participar da esfera da produção, ou seja, saíram do mercado de trabalho, a

institucionalização pode ser uma alternativa encontrada pelo mesmo,

principalmente quando ele não provem de condições financeiras ou não tem

assistência familiar, nestes casos, buscando as instituições filantrópicas ou

religiosas (LOBATO, 2011).

A partir de todas essas questões que foram apontadas, podemos

destacar o que Barbosa et al. (2012, p. 161) afirma, pois segundo ela, a

procura por uma instituição pode ser ocasionada pela “[...] questão do

abandono, da exclusão social, da perda dos vínculos familiares, inatividade,

improdutividade [...]”.

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A autora também aponta outros motivos, tais como:

Solidão, abandono, carência ou desintegração da família, falta de rede social de suporte, necessidades decorrentes da falta de saúde e diminuição do poder aquisitivo que leva à impossibilidade de pagar serviços, de manter a moradia ou de ter acesso a uma alimentação adequada [...] (BARBOSA et al., 2012, p. 161).

É perceptível que os motivos apontados são claros e frequentes, que a

institucionalização acontece tanto com aqueles idosos que tem uma situação

financeira estável, quanto com aqueles que são de classes mais carentes, e

que nem sempre a decisão parte prioritariamente da família, mas que essa tem

uma parte significante de contribuição na ida do idoso para uma ILPI. Mesmo

que a vontade parta do próprio idoso, em alguns casos, essa decisão é tomada

por conta de algum conflito decorrente da convivência familiar.

O capítulo seguinte destina-se a pesquisa de campo, trazendo um pouco

da história da Instituição de Longa Permanência em que o estudo foi realizado,

além de buscar interligar a fala das entrevistadas com a opinião de alguns

autores, a fim de que se alcancem os objetivos da pesquisa.

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4 AS IDOSAS INSTITUCIONALIZADAS NO RECANTO DO SAGRADO CORAÇÃO

No presente capítulo iremos discorrer sobre o momento da pesquisa de

campo, descrevendo um pouco sobre o próprio campo de pesquisa, analisando

os dados obtidos através do roteiro de entrevistas, além de referenciar esses

dados, com estudos bibliográficos.

As entrevistas foram realizadas durante o mês de outubro de 2014, no

Recanto do Sagrado Coração. Os dados referentes à instituição foram

disponibilizados pelo Serviço Social, através de um guia institucional, e a partir

destes, observamos que, durante esse período, havia o universo de 30 idosas.

A escolha das entrevistadas se deu por indicação da assistente social

que atua na instituição, que buscou: uma amostra de 6 idosas que se

propusessem a responder as entrevistas e participar do estudo, com faixa

etária de 72 a 91 anos, que tenham familiares e que mantenham contato com

os mesmos, tendo um tempo de institucionalização de 1 a 11 anos.

As idosas foram informadas quanto ao teor da pesquisa, concordando

com a realização da mesma, indicando isto através da assinatura do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido10 e aceitando a gravação da entrevista, em

que uma das participantes não autorizou. Elas ficaram cientes, também, de que

seus nomes não seriam divulgados, pois nomes fictícios (nomes de flores)

seriam usados para preservar suas identidades.

Foram realizadas três visitas, sendo a primeira destinada apenas a uma

aproximação com o campo e uma conversa informal com a assistente social.

Na segunda visita foram realizadas 4 entrevistas, sendo a primeira dentro do

apartamento da idosa, pois esta possui certas limitações físicas, a segunda em

um espaço semelhante a uma área de lazer, pois em seu apartamento havia

muito barulho por conta de uma reforma ao lado, a terceira também foi no

próprio apartamento por preferência da própria idosa, e a quarta foi no

corredor, em frente ao apartamento de uma colega, pois a idosa já estava

sentada no local.

10 Em apêndice.

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No terceiro contato com o campo, foram realizadas duas entrevistas,

uma das idosas preferiu que a entrevista acontecesse em seu apartamento, e a

outra entrevista aconteceu em frente ao apartamento da entrevistada, pois a

mesma já se encontrava no local realizando algumas tarefas domésticas.

Ao chegar ao campo nessa terceira visita, as idosas estavam

participando de uma aula de dança, então foi preciso esperar até que a aula

fosse concluída. Porém a última idosa indicada pela assistente social não pôde

participar da entrevista no horário em que estávamos na instituição, pois ela

tinha que ir para fisioterapia, então buscamos outra idosa que pudesse

participar, depois de algumas tentativas, conseguimos identificar uma que se

propusesse (Diário de Campo do dia 21 de outubro de 2014).

Não houve dificuldades em relação às entrevistas e às visitas ao campo,

pois as idosas se mostraram solicitas, apesar da indisponibilidade de uma, e a

assistente social demonstrou-se a disposição para o que fosse preciso (Diário

de Campo do dia 21 de outubro de 2014).

4.1 O Recanto do Sagrado Coração

Para que pudéssemos compreender um pouco da história da criação da

instituição, o Serviço Social da mesma disponibilizou um material que resgata

brevemente o histórico do Recanto do Sagrado Coração, trazendo sua missão,

sua visão e seus valores11.

Em 02 de setembro de 1917 é fundada a Associação de Assistência

Social Catarina Labouré – AASCL (antes essa associação era conhecida como

Dispensário dos Pobres do Sagrado Coração de Fortaleza), localizada na

Avenida da Universidade, 3106, no bairro do Benfica, em Fortaleza – Ceará.

Esta desde seus primórdios caracterizou-se como uma associação civil e

religiosa, de caráter formativo e assistencial, sem fins lucrativos (GUIA

INSTITUCIONAL, 2014).

Esta instituição, desde seu surgimento aos dias atuais, tem um caráter

beneficente, buscando sempre resgatar a dignidade da pessoa humana por

11 Todos os dados apresentados foram retirados do material disponibilizado pelo serviço social, por isso, alguns trechos tiveram que continuar iguais ao original, como por exemplo, a missão, a visão e os valores.

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meio da promoção integral. Sua atividade social baseou-se sempre nas

necessidades dos que mais precisassem, então, justamente por possuir esse

caráter beneficente, várias foram as modalidades de serviços prestados como,

por exemplo, a distribuição de viveres, de remédios, realização de visitas

domiciliares, assistência a velhice desamparada, etc. (GUIA INSTITUCIONAL,

2014).

No final da década de 1920 as obras sociais da Associação foram

assumidas pelas Filhas de Caridade (até então quem coordenava eram as

Senhoras Católicas), que deram continuidade aos trabalhos filantrópicos que já

vinham sendo prestados, não ficando engajadas apenas em oferecer ajudas

materiais, pois ofertaram também presença amiga e palavras orientadoras, ou

seja, uma ajuda mental e espiritual, oferecendo também um serviço destinado

à educação para as crianças carentes12 (GUIA INSTITUCIONAL, 2014).

Em 28 de agosto de 1988, a Associação assumiu outra modalidade:

criou espaços que pudessem institucionalizar, de forma material e espiritual,

idosas desamparadas, para que essas pudessem ter melhores condições

nessa fase da vida. O Recanto do Sagrado Coração passa a compor um

desses espaços previstos (GUIA INSTITUCIONAL, 2014).

O Recanto do Sagrado Coração é integrante da AASCL e, atualmente

atende 30 idosas em regime de institucionalização, com idades a cima de 60

anos, oriundas de vários locais. A instituição também realiza trabalhos com

pessoas em situação de rua, diariamente, durante o período da manhã, ela

disponibiliza local para banho, lavanderia, oficinas profissionalizantes e

alimentação material e espiritual, e são 130 beneficiários, sendo 90% do sexo

masculino (GUIA INSTITUCIONAL, 2014).

A instituição tem como missão “Promover o desenvolvimento humano

através de ações de caridade e assistenciais para a velhice desamparada e

proporcionar a população que vive nas ruas, oportunidade para retorno a uma

moradia com dignidade” (GUIA INSTITUCIONAL, 2014, p. 2).

Sua visão é a de “Ser reconhecida como uma instituição assistencial civil

proativa, eficaz, transformadora da realidade social, acessível ao cidadão,

12 Esse serviço de educação se deu através de uma Escolinha, que acolhia as netas das idosas atendidas pela Associação. Mas, a escolinha só funcionou até 1998, pois não haviam mais recursos disponíveis que pudessem dar continuidade ao seu funcionamento.

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promotora dos direitos fundamentais e dos interesses sociais voltados para o

idoso e para a população em situação de rua” (GUIA INSTITUCIONAL, 2014,

p. 2).

A instituição aponta alguns elementos basilares que motivam suas ações

e suportam a base de sua missão, são eles: honestidade (capacidade de agir

conforme os valores institucionais, respeitando os preceitos legais, morais e

éticos); compromisso (a disposição, a atitude e a responsabilidade para com a

instituição e a sociedade); dedicação (a junção do empenho, devotamento,

determinação, afinco utilizado no desempenho da missão); coragem (a

capacidade de perseverança ante os desafios e dificuldades); e conhecimento

(o conjunto de experiências pessoais e institucionais acumuladas, aprimoradas

e compartilhadas) (GUIA INSTITUCIONAL, 2014).

A instituição trabalha como agente técnico e executor de projetos,

atuando na assistência social a senhoras idosas carentes e em situação de

vulnerabilidade social e com pessoas em situação de rua, sendo estes

amparados na alimentação, qualificação profissional e desenvolvimento

pessoal. O objetivo é o de educá-los para o futuro através da formação

profissional e humana, desenvolvendo-lhes a autoestima e conscientizando-os

de sua dignidade pessoal. Por meio da prestação de diversos serviços

comunitários, assiste a comunidade jovem, oferecendo-lhes sua infraestrutura

e experiência acumulada para estudos preparatórios, científicos e espirituais

(GUIA INSTITUCIONAL, 2014).

O RSC, atualmente, é coordenado pela Irmã Terezinha Silva dos

Santos, que tem apoio das Irmãs de Caridade. A instituição só recebe para

institucionalização pessoas do sexo feminino e com idade acima de 60 anos.

Uma boa parte das idosas institucionalizadas tem uma relativa autonomia

motora e cognitiva, tendo as condições necessárias para se manter na

unidade, mas, quando a idosa não tem essa capacidade e tem condições

financeiras que lhes permitam, são acompanhadas por cuidadores particulares

(Diário de Campo do dia 16 de outubro de 2014).

O quadro de funcionários da instituição é diversificado, além das irmãs,

tem o porteiro, serviços gerais, cozinheiras, professores de diferentes

atividades, assistente social, dentre outros. A assistente social não é

funcionária direta da instituição, ela trabalha em um projeto chamado “A arte de

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envelhecer”, que está sendo executado no RSC e na Casa de Nazaré (Diário

de Campo do dia 16 de outubro de 2014).

A instituição tem muros altos na lateral e grades na parte frontal, é

pintada de uma cor alaranjada e tem letreiros azuis com o nome da mesma. Ao

centro tem-se um jardim com um pequeno santuário que tem a imagem de

Nossa Senhora das Graças. Nesse período da pesquisa, a mesma se

encontrava em reforma, e a sala do serviço social estava sendo construída,

porque até então esse setor não possuía um local exclusivo para realizar seus

trabalhos (Diário de Campo do dia 16 de outubro de 2014).

Existem algumas salas de convivência para que as idosas possam

passar o tempo livre, e cada interna tem seu próprio espaço de moradia, sendo

este chamado de apartamento, estes tem um tamanho mediano e contém um

banheiro. Existem também espaços para orações, como uma pequena capela,

afinal a instituição tem um viés religioso (Diário de Campo do dia 16 de outubro

de 2014).

O local tem uma boa higienização e possui acessibilidade para as idosas

poderem se locomover com mais segurança, além de ter um silêncio

estonteante, que perpassa a impressão de um local calmo, tranquilo (Diário de

Campo do dia 21 de outubro de 2014).

São ofertadas algumas atividades de lazer para as idosas, como aula de

canto e de dança, além de disponibilizar fisioterapia e massagens (Diário de

campo do dia 21 de outubro de 2014).

A seguir, apresentaremos perfil socioeconômico das idosas

entrevistadas.

4.2 Perfil socioeconômico

Após discutirmos sobre o envelhecimento, sobre família e sobre o

processo de institucionalização nos capítulos anteriores, a partir da pesquisa

de campo discutiremos os dados obtidos nas entrevistas, em que estes se

referem ao perfil socioeconômico, a questões familiares e a instituição. Quanto

aos motivos da institucionalização, já utilizamos os dados obtidos sobre tal

assunto, no capítulo anterior.

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Para que possamos ter uma melhor compreensão acerca das

entrevistadas, a seguir tem-se duas tabelas com um breve perfil

socioeconômico das mesmas, em que se pode identificar a idade, a

escolaridade, a renda mensal, a profissão exercida, o número de filhos, o

tempo de institucionalização e com quem residiam antes da ida para a

instituição.

Tabela 1 - Perfil socioeconômico das idosas

Idade Escolaridade Renda

Mensal

Profissão

Exercida

Número de

Filhos

Sra. Violeta 83 anos Ensino Médio Sem renda Dona de casa 1

Sra. Margarida 84 anos Magistério 1 salário Professora 1

Sra. Rosa 72 anos Ensino

Fundamental

1 salário Dona de casa 1*

Sra. Orquídea 91 anos Ensino

Fundamental

(incompleto)

1 salário Cozinheira** 0

Sra. Tulipa 78 anos Ensino Médio 1 salário Caixa do

Bradesco

0

Sra. Girassol 91 anos Ensino

Fundamental

(incompleto)

1 salário Costureira 0

Fonte: Próprio autor – Pesquisa Direta, Outubro de 2014.

*A entrevistada teve um filho, mas este faleceu quando criança. ** A entrevistada exerceu diversas profissões, dentre as quais, a de cozinheira permaneceu por mais tempo.

Tabela 2 - Perfil socioeconômico das idosas

Tempo

de

Institucionalização

Com quem residiam

antes

da institucionalização

Sra. Violeta 4 anos Filha

Sra. Margarida 3 anos e 6 meses Sozinha

Sra. Rosa 1 ano e 6 meses Cunhada

Sra. Orquídea 6 anos Primos

Sra. Tulipa 2 anos e 8 meses Irmãs e sobrinhos

Sra. Girassol 11 anos Sobrinha de seu esposo

Fonte: Próprio autor – Pesquisa Direta, Outubro de 2014.

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Observa-se que a idade das idosas entrevistadas varia de 72 a 91 anos,

a escolaridade também é variada, pois em maior quantidade, elas não

chegaram a uma formação acadêmica, tendo estudado, no máximo, até o

ensino médio, ou não ter conseguido nem completar o ensino fundamental. A

renda é a mesma para 5 das entrevistadas, enquanto uma se assume sem

renda no momento13.

Quanto as profissões que elas exerciam antes de estarem na ILPI, estas

foram bem variadas, podendo serem analisadas de acordo com o processo

histórico de construção da sociedade civil, pois tais profissões se enquadram

dentro de um viés feminino, como professora, dona de casa, costureira, etc., e

há alguns anos atrás as famílias educavam suas filhas para uma dessas

funções.

Três das entrevistadas casaram-se e duas destas tiveram filhos,

enquanto as outras três não relataram a existência de um cônjuge, afirmando

que residiam com outros familiares, mas uma destas que não casaram tem

uma filha adotiva.

O tempo de institucionalização das idosas é bem variado, umas já se

encontram na instituição há tempos, como é o caso da Sra. Girassol (está a 11

anos), enquanto outras chegaram recentemente, como a Sra. Rosa (1 ano e 6

meses). Com quem elas residiam antes da ida para a ILPI era com familiares

diversos, sendo que enumeramos apenas a última residência que as mesmas

se encontravam antes da ida para a instituição.

A partir dessa analise sobre com quem residiam antes da

institucionalização, pode-se observar que cinco das entrevistadas moravam

com familiares diversos, que de acordo com os novos arranjos familiares, se

enquadram dentro da definição de família extensa ou ampliada (irmãos,

sobrinhos, cunhados, primos, etc.) e uma afirmou morar sozinha.

Ao observarmos o período em que elas se encontram

institucionalizadas, podemos contrapor o que Beauvoir (1990, p. 317) afirma

em seus estudos, pois a mesma observa em uma estatística levantada na

13 Essa idosa que se assumiu sem renda, não explicou o porquê disso estar acontecendo e quanto as outras 5, não informaram de onde provém os salários que recebem, ou seja, não especificaram se seria benefício ou aposentadoria.

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época da publicação de sua obra, que “[...] mais da metade dos velhos morrem

no primeiro ano de sua admissão”.

Mas temos que deixar claro que nesse período, as instituições de longa

permanência, na época tidas como asilos, tinham outros aspectos, e em alguns

países suas condições eram desumanas, sendo vistas por muitos como um

local em que os idosos iam para ficar a espera da morte (BEAUVOIR, 1990).

Ou seja, atualmente, a maior duração de idosos em ILPIs podem ser

acarretadas pelas mudanças ocorridas, tanto nos ambientes físicos, quanto nas

suas formas de atendimento.

Analisando essa tabela em geral, podemos destacar variadas falas das

entrevistadas a respeito de ter família e filhos, sobre isso segue-se:

Tenho uma filha, dois netos. Minha vida são esses dois netos [...]. (Senhora Violeta – 83 anos). Eu tenho uma menina que eu criei, ela tem 32 anos, ela tem a casa dela. [...] eu sou solteira. (Senhora Margarida – 84 anos). [...] eu tem família. Sou casada, só tive um filho, mas morreu, com 12 anos morreu. [...] meu filho morreu, meu marido morreu [...]. (Senhora Rosa – 72 anos). Não, eu nunca me casei e nunca tive menino, tinha só um irmão, mas faleceu ano passado, com 91 anos. (Senhora Orquídea – 91 anos). Não, eu não tenho filhos, tenho a minha família, irmãs, sobrinhos, irmãos. (Senhora Tulipa – 78 anos). Filhos não, família tenho, graças a Deus. [...] tô viúva [...]. (Senhora Girassol – 91 anos).

Como citado anteriormente e a partir dessas falas, podemos observar

que a família dessas idosas não se resumiram a filhos ou a marido, e sim a

todos os outros familiares, como netos, sobrinhos, irmãos, cunhadas/os

(quanto a estes, outros depoimentos descrevem melhor a relação com as

idosas), etc., pois nem todas as entrevistadas foram casadas, e as que

casaram, tiveram que conviver por um determinado período com a ausência do

cônjuge após seu falecimento, tendo que residir por um tempo com outros

familiares.

A seguir traremos as discussões sobre o significado de família para as

entrevistadas.

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4.3 Significado de família

A família é uma instituição de extrema importância na vida de qualquer

um de seus membros, pois ela é a principal responsável pela construção de

valores, podendo estes serem espirituais, morais e éticos, e é através dela,

também, que os padrões de comportamentos começam a ser formados

(FERNANDES, s/n).

De acordo com Mioto (1997) a família é uma instituição social que se

articula dialeticamente com a sociedade em que se insere, então, pode-se dizer

que:

Isto pressupõe compreender as diferentes formas de famílias em diferentes espaços de tempo, em diferentes lugares, além de percebê-las como diferentes dentro de um mesmo espaço social e num mesmo espaço de tempo. Esta percepção leva a pensar as famílias sempre numa perspectiva de mudança, dentro da qual se descarta a ideia dos modelos cristalizados para se refletir as possibilidades em relação ao futuro (MIOTO, p. 128, 1997).

Os significados de família para as idosas do Recanto do Sagrado

Coração, são interpretados de diferentes formas, como podemos ver a seguir:

Família é tudo, quando realmente tem, porque hoje em dia tá difícil. Eu, graças a Deus, tenho minha filha. (Senhora Violeta – 83 anos). Família pra mim é tudo, é tudo, mesmo que seja grosseira, mas é família, a gente sabe perdoar e esquecer [...]. (Senhora Margarida – 84 anos). Família é boa, eu gosto de todo mundo, todo mundo gosta de mim. Ela14 sempre vem aqui me visitar, meu irmão também vem [...]. Eu não tenho nem pai e nem mãe não, só tenho um irmão, uma irmã mora em Mato Grosso, a outra morreu, só tem essa daí [...], mora aqui vizinho [...]. (Senhora Rosa – 72 anos). Eu acho que (pausa), família, assim, fica tudo bem, porque abasta [...] a gente precisar de qualquer um da família, [...] as pessoas não me deixam só. [...], a gente precisa da família. Eu tenho uma afilhada que ela também foi muito boa pra mim, tem sido muito legal, ela fala pra mim que o que eu precisar, essas coisas que eu comprei depois que eu cheguei, tudo foi ela, essa minha afilhada que se interessava em comprar [...]. Tinha uma prima minha que eu adorava, era uma pessoa maravilhosa, eu passava dias na casa dela [...], ela morreu no ano passado, eu senti tanto a morte dessa criatura, que eu acho que, era como se fosse uma mãe pra mim. Ela era prima, prima, mas muito amiga, amiga mesmo, ainda hoje eu não esqueço dela, porque foi uma pessoa muito boa pra mim. (Senhora Orquídea – 91 anos). Eu acho que é amor (risos). A gente tem aquele amor [...] desde criancinha, vai crescendo, e cada vez mais aumenta aquele amor,

14 A entrevistada refere-se a sua cunhada.

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aquela responsabilidade um pelos outros [...]. (Senhora Tulipa – 78 anos). Meu significado de família, eu vou dizer, [...] num é nem questão de ser rico, é um pessoal assim pobre, mas inteligente, que trabalha, que seja unido, marido e mulher, filho com pai [...]. [...] é muita felicidade, é essa a riqueza que eu vejo numa família, é a união da minha família, do meu marido, graças a Deus, tudo vivendo com suas mulheres, tudo tem sua casinha, tem seu carrinho pra andar, pra que coisa melhor [...]? Tem empregada, tudinho, Ave Maria, essa que eu acho uma família importante. A minha família [...] era muito grande, de gente grande, [...] mas era tudo unido [...]. (Senhora Girassol – 91 anos).

Ao analisarmos essas falas, podemos perceber que a Sra. Violeta, assim

como a Sra. Margarida, acredita que a família, apesar de suas particularidades,

é tudo. A primeira afirma que hoje em dia é difícil ter uma família, porém esta

não deixa de ter sua significância, e a segunda, destaca que, mesmo que a

família tenha algumas atitudes desagradáveis, ela deve ser perdoada.

Já a Sra. Rosa, atribui ao significado de família a atenção prestada pelos

familiares, destacando as visitas que recebe, ainda ressalta que as pessoas

gostam dela, assim como ela também tem um sentimento amigável por todos.

A Sra. Orquídea acredita que a família é uma fonte de ajuda, principalmente,

quando se é preciso, ela até cita algumas pessoas que lhe prestam ou

prestaram assistência diante de algumas situações, e demonstra também seus

sentimentos por tais pessoas.

Sra. Tulipa relaciona família com o amor, pois segundo ela esse amor

desenvolve-se desde cedo e com o tempo vai aumentando. E a Sra. Girassol

acredita que a família não deve ser relacionada a questão de riqueza, pois o

que realmente importa é a inteligência, o trabalho, a união entre os membros.

Como vimos anteriormente, a família tem sua importância frente à

sociedade, sobre isso Camarano et al. (2004, p. 52) diz que “A família é uma

das instituições mais importantes e eficientes no tocante ao bem-estar dos

indivíduos e à distribuição de recursos”.

Apesar de todos esses significados que foram atribuídos a instituição

familiar, sua maior responsabilidade é prestar cuidados e direcionar uma

devida atenção a todos os seus membros, inclusive a pessoa idosa. Sobre isso

podemos destacar o Artigo 230 da Constituição Federal que diz “A família, a

sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando

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sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e

garantindo-lhes o direito à vida”.

A partir dessa discussão inicial, indagamos as entrevistadas a fim de

entendermos se suas concepções sobre o que seria família mudaram após

terem ido morar na instituição.

Não mudou, porque eu acho que a família é a principal coisa. (Senhora Violeta – 83 anos). Não, da minha parte. (Senhora Margarida – 84 anos). Não mudou. (Senhora Rosa – 72 anos). Não, a mesma coisa. (Senhora Orquídea – 91 anos). Não, eu só sinto é mais saudade (risos). Lá eu não sentia saudade porque era tudo junto, aqui eu sinto saudade. Quando eu sinto assim, mais saudade, eu vou lá na capela, aí fico rezando, pronto, aquilo passa, parece que Deus me dá [...] conformação [...]. (Senhora Tulipa – 78 anos). Não, mesma coisa. (Senhora Girassol – 91 anos).

As idosas foram breves em relação a essas falas, não hesitaram em

conversar muito sobre tal assunto, então, as respostas foram praticamente as

mesmas para todas, com exceção da Sra. Tulipa, que diz que a única coisa

que aconteceu após vir para a instituição, foi a saudade que aumentou, mas a

mesma diz que quando essa começa a apertar, ela vai a capela, faz suas

orações a fim de que Deus a conforte.

De acordo com essas discussões que permeiam o significado de família,

abordaremos no tópico a seguir como se estabelecem as relações das

entrevistadas com seus familiares, se algo mudou após a institucionalização e

se as visitas familiares são frequentes.

4.4 Relações familiares

Sobre as relações familiares, podemos destacar a fala de Alcântara

(2004) que afirma que a família é de extrema importância, principalmente na

vida dos idosos, pois seu aparato é fundamental, afinal, esta pode se

responsabilizar e decidir determinadas questões, como as que são

relacionadas às necessidades físicas, psíquicas e sociais dessas pessoas.

A partir dessa caracterização da importância familiar, considerando a

observação de uma família ampliada, que por sinal caracteriza grande parte

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das entrevistadas, podemos destacar as falas que elas tiveram após serem

questionadas sobre receber visitas de familiares e sobre como as relações

entre eles são estabelecidas.

Recebo da minha filha e dos meus dois netos, porque eu não saio daqui. São boa, mas quase não vejo eles. (Senhora Violeta – 83 anos). Recebo. A única pessoa que vem me visitar é ela, porque a gente tem amigos, mas na hora “H”, que a gente precisa de amigo, amigo num aparece. Parece que nunca caem numa situação dessa. [...] eu sempre dou orientação cristã a ela, ela me aceita, conversa bem comigo, eu noto que ela precisa de compreensão, como todos nós [...].15 (Senhora Margarida – 84 anos). Minha família vem, minha cunhada [...]. A minha família são muito boa, minhas cunhada tudo, minha família são ótima [...]. Essa [...] aqui é minha irmã, [...] quando eu cheguei aqui ela já estava morando aqui. (Senhora Rosa – 72 anos). Recebo. Tem o filho desse meu irmão, que é uma pessoa maravilhoso, faz tudo por mim, o que eu precisar, ele diz que pode falar [...], eu acho que se eu tivesse um filho não era igual a ele [...]. Tudo bem, todos são maravilhosos, vem aqui, telefonam. Que visita tem essas minhas irmãs adotivas, tem amigos que vem aqui, graças a Deus, eu sou uma pessoa que todo mundo gosta de mim. Essa senhora que eu ficava com ela, a filha dela, ave Maria, aniversário e natal ela não esquece de me dar um presente [...], tem outra pessoa, que foi casada com um sobrinho meu, [...] ela é maravilhosa, vem aqui, telefona [...]. (Senhora Orquídea – 91 anos). Recebo. Às vezes passo semana na casa das minhas primas, das minhas irmãs. É ótima, muito bem, saudade, eles vêm, me levam [...] pra passear, assistir cinema, pra praia, é boa, muito boa. (Senhora Tulipa – 78 anos). Recebo. Antes de ontem recebi uma prima, que ela mora bem aqui [...]. Muito bem minha filha, graças a Deus, [...], com a família do meu marido especialmente, que é muito difícil [...]. (Senhora Girassol – 91 anos).

Quanto às visitas recebidas pelos idosos dentro de uma ILPI, Beauvoir

(1990) afirma que, geralmente, elas podem ser realizadas todos os dias, porém

a família nem sempre está disponível para tal tarefa e acaba indo algumas

vezes apenas. A autora ainda justifica dizendo que essa baixa frequência de

visitas pode ser ocasionada pelo acesso a instituição, pois a mesma pode

localizar-se em locais mais distantes, e pela disponibilidade dos parentes e

amigos, que em alguns casos só tem horário disponível aos fins de semana e

em outros, prefere não ir por conta do tempo que irá perder no deslocamento

de sua casa a instituição.

15 Quando a entrevistada fala “ela” está se referindo a sua filha.

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É necessário que existam verdadeiras afeições para que essas visitas

ocorram, porque pra algumas pessoas essa é uma forma de sacrificar o seu

tempo de lazer, pois, muitas vezes, passam a semana inteira trabalhando e o

fim de semana que tem para o descanso e lazer não querem disponibilizar para

as visitas, então, o idoso, em alguns casos, pode ficar em estado de abandono

afetivo familiar (BEAUVOIR, 1990).

É importante que a família, mesmo que o idoso esteja institucionalizado,

acompanhe a vida dos mesmos, por mais que tenham que sacrificar algumas

horas de seu dia, a visita é necessária, o diálogo também, pois como Alcântara

(2004) diz, a chegada da velhice impacta a vida do indivíduo, independente de

sua classe social, pois são muitas as mudanças que permeiam o

envelhecimento, como a questão das limitações (físicas, cognitivas, motoras,

mentais), o preconceito, a solidão, o desprestígio social, a ausência de um

emprego, as novas adaptações, etc.

Levando em consideração essa importância do acompanhamento

familiar, as entrevistadas foram questionadas sobre como passou a ser sua

relação com os familiares após terem ido para o RSC.

Sempre foi boa. Minha filha que me leva ao médico, resolve tudo meu. (Senhora Violeta – 83 anos). Saudade, ela quer que eu volte, mas eu não quero [...]. Ela trabalha, saí pra trabalhar, eu acho mais difícil. (Senhora Margarida – 84 anos). Mesma coisa. (Senhora Rosa – 72 anos). Muito bom minha relação com eles [...]. Só agora, ultimamente, que eu tô com essa coisa, aí eu fiquei mais afastada dessa minha prima, porque ela não reconheceu o que eu fiz, não reconheceu. (Senhora Orquídea – 91 anos). Muito bem, sabe? Eles vêm, vão passar dia, minha irmã tem uma casa na praia [...], na Taíba, passar fim de semana. Elas vêm me apanhar, às vezes eu não vou porque eu não quero (risos). Gosto mais, [...] que às vezes acontece muitas festas aqui, aí eu deixo de ir pra ficar nas festas daqui [...]. Mas eu adoro a minha família, [...], minhas irmãs, meu aniversário me enchem de presente (risos), eu adoro, só não dão dinheiro (risos). (Senhora Tulipa – 78 anos). A mesma coisa, graças a Deus tudo bem, eu gosto de todo mundo [...], eu não ando na casa de ninguém, se tiver muito doente, vai morrer, eu vou lá, [...] mais num gosto de ir na casa de ninguém. (Senhora Girassol – 91 anos).

De acordo com as falas das entrevistadas, a relação delas com seus

familiares após a institucionalização permaneceu a mesma de como era antes,

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algumas saem para passear e/ou passar o fim de semana com amigos e

familiares.

As falas mais marcantes são a da Sra. Margarida, que cita a vontade

que sua filha tem para que ela vá residir em sua casa, porém a idosa prefere

continuar na instituição, afirmando que por sua filha ter que sair pra trabalhar

as coisas seriam mais difíceis do que dentro da instituição, e a da Sra.

Orquídea, que mesmo afirmando que sua relação com os familiares é boa, diz

que por conta de um incidente entre ela e a prima teve que se afastar da

mesma.

Após esse aparato de depoimentos a respeito de família e relações

familiares, que por sinal é uma temática delicada pra ser trabalhada com idosos

institucionalizados mesmo que estes se mostrem solícitos em responder as

indagações, a seguir serão abordadas as questões relativas à

institucionalização, destacando pontos que se referem às suas opiniões sobre

residirem na ILPI, os seus sentimentos em relação a esse estilo de moradia,

como se dá o dia-a-dia, se houve uma adaptação e o que mudou após a ida

para a instituição.

4.5 A vida após a institucionalização

A institucionalização pode ser encarada como um momento de decisões

importantes, vindo a ser uma fase difícil, porque podem ser gerados alguns

sentimentos entristecedores, como a questão da culpa, do remorso, da

impotência, do medo do que os outros vão pensar e falar, pois em muitos

casos, o processo de institucionalização é enxergado pela sociedade como

uma forma de abandono, pois a mesma acredita e espera que os filhos se

responsabilizem pelos cuidados quando os pais estiverem idosos, quando

estes se encontrarem dependentes, necessitados de atenção, apoio e cuidados

especiais (ALCÂNTARA, 2004).

É como se a sociedade acreditasse que assim como os pais cuidam dos

filhos enquanto estes estão em fase de desenvolvimento para a vida adulta,

precisando de cuidados, atenção, conselhos, etc., os filhos devem se mostrar

disponíveis para prestarem tais cuidados quando os pais estiverem idosos,

necessitando de basicamente das mesmas coisas.

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De acordo com Beauvoir (1990), quando o idoso entra em uma ILPI,

esta entrada pode ser tida pelo mesmo como um drama, sendo agravada a

situação quando esta se trata de mulheres, pois elas têm um apego maior pelo

lar, então passam a apresentar maior ansiedade.

Sobre isso, as idosas foram convidadas a relatarem sobre o que acham

de residir na instituição, obtemos como discurso o seguinte:

[...] morar aqui é bom, mas num tem como a casa da gente, eu me dou aqui, não quero confusão. (Senhora Violeta – 83 anos). [...] pra quem é sadia todo canto é bom, mas pra quem depende dos outros, todo canto é difícil, [...] na família, é em todo canto, depender dos outros [...]. Não tem coisa melhor do que você puder fazer tudo pra você [...]. (Senhora Margarida – 84 anos). Muito bom, gosto muito daqui. (Senhora Rosa – 72 anos). É maravilhoso, acho muito bom, [...], eu, graças a Deus, eu toda vida gostei de rezar, e aqui tem, tem o que eu gosto de fazer. (Senhora Orquídea – 91 anos). Eu acho ótimo (risos), maravilhoso, aqui [...], esse quartinho aqui, ave Maria, eu agradeço todo dia, agradeço a Deus por ele “Obrigado Senhor!”, porque eu venho meio dia, depois do almoço durmo, acordo, vou merendar, aí vou pras atividades [...], como você viu. Pronto, a vida é essa, [...], uma pessoa como eu o que que quer mais? 78 anos né? [...] agora, eu não gosto de tristeza, eu gosto de dançar, eu gosto de me divertir [...], foi tristeza pra mim eu desvio, não, não dá, eu gosto de me divertir, de dançar, de ir pra festa, de ficar com as colegas, [...]. Eu só gosto de coisa instrutiva, que me bote pra frente, [...]. Adoro ler livro de autoajuda [...], tem tantos ensinamentos bom e que você botar em prática, dar tudo certo, pra mim dar né, porque [...] pensamentos positivos é o meu lema (risos), nada negativo [...]. (Senhora Tulipa – 78 anos). Eu acho bom, muito calmo, é o que eu gosto [...], da calma, num gosto de movimento [...]. (Senhora Girassol – 91 anos).

As mesmas demonstram em seus discursos que gostam de residir no

RSC, porém algumas fazem observações pessoais, como a Sra. Violeta, que

afirma gostar da instituição mas que nada se compara a sua residência, e a

Sra. Margarida, que diz que quando se tem boas condições de saúde qualquer

lugar é bom de adaptar-se.

A Sra. Orquídea afirma gostar da instituição porque a mesma tem

espaços reservados para orações, enquanto a Sra. Girassol tem sua

preferência pela tranquilidade proporcionada no local.

A Sra. Rosa não prolonga sua resposta, falando em breves palavras que

o local é bom, e que ela gosta de residir ali. Já a Sra. Tulipa tem um discurso

bem prolongado, em que a mesma fala da sua afeição pelo lugar, descrevendo

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um pouco sobre seu dia-a-dia e deixando claro como gosta de elevar sua

autoestima, buscando sempre maneiras de se divertir.

Sobre como as idosas se sentem morando no RSC e como é a vida

delas dentro da mesma, elas ressaltaram,

Minha vida, eu acho, que é boa. Não é como a gente na casa da gente, é inevitável. Não gosto de confusão, fico no meu quarto, vivo bem com a menina que vive comigo, ela é minha companheira16. (Senhora Violeta – 83 anos). Minha vida se resume em rezar, ler alguma coisa quando eu posso, eu sou pessoa de silêncio, eu prefiro às vezes o silêncio. [...] participo, a não ser que eu esteja muito doente, mas eu num falto não. (Senhora Margarida – 84 anos). Maravilha, muito bom. Tem a missa aí, tem meu quarto, tem televisão. Ando em quarto de ninguém não, num gosto, [...] vou pra capela. (Senhora Rosa – 72 anos). Me sinto bem, [...] participo das atividades de manhã, de tarde, muito passeio, muita coisa boa [...]. (Senhora Orquídea – 91 anos). Aqui é muito [...] calmo, é muito bom, logo eu não gosto de me meter na vida de ninguém, [...], gostou de mim eu gosto também, se não gostou eu também fico amiga, mas num fico, não sou de provocar não, mas acho bom aqui. (Senhora Tulipa – 78 anos). Eu me sinto muito bem, satisfeita, num frequento toda festa que tem porque eu não gosto, [...]. Aqui, o meu caso, lavo minha roupa [...], varro, passo o pano, tem uns gato aqui, que ave Maria, amanhece o dia [...] o mau cheiro, eu limpo [...]. (Senhora Girassol- 91 anos).

De acordo com as falas, é perceptível que elas gostam de morar na

instituição, que se sentem bem no local, pois o mesmo é acometido de um

silêncio, além de lhes proporcionar locais reservados a orações, proporcionam

atividades recreativas, passeios, festas, dentre outras distrações. Algumas

delas, como a Sra. Violeta, a Sra. Rosa e a Sra. Tulipa, preferem ressaltar suas

falas, afirmando que não gostam de confusão e que, geralmente, na maioria

das vezes preferem ficar em seus apartamentos.

A Sra. Violeta, além de destacar essa questão, volta a ressaltar em sua

fala, a falta que sente em ter a sua própria casa, apesar de dizer que sua vida

na instituição é boa.

Para que finalizássemos as conversas, questionamos as entrevistadas

se elas haviam se adaptado a instituição e o que mudou em suas vidas após a

ida para a ILPI, as primeiras idosas foram bem breves em suas respostas,

como a Sra. Rosa, que respondeu algo muito superficial. A seguir, podemos

observar,

16 A menina a quem a entrevistada se refere é a sua acompanhante, que auxilia no dia-a-dia.

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[...], eu gosto daqui, o que mudou? Mudou tudo. Eu ainda pretendo, se Deus quiser, ter minha casa. (Senhora Violeta – 83 anos). Mudou nada [...]. (Senhora Margarida – 84 anos). Vou todas as aulas. (Senhora Rosa – 72 anos). Me adaptei. Não, num mudou muito não, agora que ultimamente [...] eu não posso sair, eu tenho tontura, essas coisas, e as pernas cansadas, mas o mal é da idade, [...]. Mas eu andava, saía, fazia o que eu queria, tinha minhas amigas, que às vezes, eu ia passar o dia lá, agora não [...]. Mudou isso aí, porque eu não posso sair só, as irmãs, pra sair [...] pra ir na farmácia, elas num querem que eu vá só, tem que ir com uma pessoa [...]. (Senhora Orquídea – 91 anos). Após vir pra cá, [...] mudou muito, lá (risos), lá na minha irmã só dormia, comia, às vezes dava uma caminhada assim embaixo, no [...] condomínio, só isso. Passeava, ia pros aniversários [...]. Mas aqui mudou completamente, me soltei mais [...], fiz mais amigas [...]. Faço ginástica, faço dança sênior, [...]. De noite a gente reza um terço antes de ir dormir, dia de segunda-feira tem a novena de Nossa Senhora das Graças [...]. Num gosto é de ficar parada [...]. (Senhora Tulipa – 78 anos). Muito, gosto muito da minha vida, maravilhosa [...], tenho uma vida boa, calma, graças a Deus eu num aperreio por nada, quando tá um negócio que num tá dando certo, aí eu vou lá [...] assistir televisão. Mudou assim, porque eu não gosto de movimento [...]. Eu, nessa minha vida de velho, num me sinto aborrecida com nada e nem com ninguém, ‘Ah eu sou velho já devia ter morrido’, não, vou morrer no dia que Deus quiser, se ele quiser me levar, pode ele me levar, porque eu tô na hora de ir [...]. (Senhora Girassol – 91 anos).

Como citamos acima, as primeiras entrevistadas falaram brevemente,

como a Sra. Margarida e a Sra. Rosa, esta última, deixou uma fala confusa em

relação ao que lhe foi questionado, dando a entender apenas, que ela participa

das atividades ofertadas pela ILPI.

A Sra. Violeta, em breves palavras, afirma que mudou tudo em sua vida,

mas não prolonga seu discurso, complementando apenas, como já havia falado

antes, que pretende ter sua casa.

A fala da Sra. Orquídea deixa subtendida que a mudança que a mesma

percebeu foi o fato de, depois de um tempo, não poder realizar algumas tarefas

sozinhas, como ir à farmácia, porém, ela demonstra entender que isso está

acontecendo por conta de sua idade, pois já está com 91 anos e sente-se tonta

e com as pernas cansadas.

O depoimento da Sra. Tulipa, deixa claro que a mesma gostou da

mudança em sua vida, pois sua rotina passou a ser outra, realizando coisas

que antes não realizava. E a Sra. Girassol, afirma que sua vida mudou, que

gosta de viver na instituição, que não sente tristeza pela idade que tem e que

só vai morrer quando for a vontade de Deus.

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Nota-se que as idosas deram preferência ao questionamento que fala

sobre o que mudou em suas vidas após a institucionalização, ou não se

lembraram do que vinha antes, então o mesmo ficou sem respostas.

Após analisarmos as falas das entrevistadas e discutirmos os achados

da pesquisa, a seguir traremos as considerações finais, que buscam expor um

breve apanhado sobre todas as questões discutidas durante o estudo.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na pesquisa apresentada pretendeu-se investigar qual o significado

atribuído a família por parte das idosas institucionalizadas no Recanto do

Sagrado Coração, bem como compreender como se estabelecem as relações

familiares entre as idosas e seus parentes, quais os motivos que as levaram ao

processo de institucionalização e como elas veem sua vivência na instituição.

Observam-se, na pesquisa bibliográfica, questões relacionadas ao

processo de envelhecimento, que trazem breves conceitos e dados sobre o

envelhecimento e a velhice na atualidade, às imagens de família na

contemporaneidade, mostrando conceitos dos arranjos familiares e

relacionando idoso e família, e ao processo de institucionalização de idosos,

buscando resgatar, brevemente, a origem das Instituições de Longa

Permanência, apresentando alguns parâmetros e critérios para o

funcionamento das mesmas e apontando motivos que levam os idosos à

institucionalização.

A partir dessas questões desenvolvidas foi possível apreender que o

envelhecimento populacional está aumentando e por consequência a

institucionalização de idosos está se tornando algo mais frequente. Quanto à

classificação enquanto ser uma pessoa idosa, esta não pode atentar-se apenas

a idade cronológica, porque outros fatores, como a idade psicológica, por

exemplo, podem influenciar.

Por ser uma fase da vida como qualquer outra, a velhice seria uma

consequência do processo de envelhecer, e este faz parte de nosso processo

biológico, ou seja, é algo vivenciado por uma boa parcela da população, mas,

nem sempre, as pessoas vivem essa fase de maneira positiva, porque em

alguns casos ela é associada a valores negativos, como o aparecimento de

patologias, falta de limitações, os cuidados devem ser maiores, etc.

A partir de uma determinada idade as atenções tanto por parte de

familiares quanto por parte da sociedade civil e do governo, devem ser

ampliadas para que essas pessoas consigam ter acesso aos seus direitos,

principalmente àqueles que já são previstos em lei, além de poderem desfrutar

com mais vantagens de tal momento.

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Quando nos referimos à família na contemporaneidade e aos arranjos

familiares que surgiram com o decorrer do desenvolvimento histórico social,

podemos observar que a partir das modificações que permearam a sociedade

atual, o modelo de família que perdurou por alguns anos, ou seja, a família

nuclear acabou não se consolidando como único, pois outros arranjos foram se

formando, como, por exemplo, as famílias ampliadas, as monoparentais, as

reconstituídas, dentre outras. Apesar dessas mudanças, podemos destacar a

importância da família sem atentar-se para o arranjo em que ela se enquadra,

pois esta é fundamental na vida das pessoas, principalmente de idosos, que

em determinados momentos precisam de apoio, compreensão, cuidado, etc.

Mesmo a pessoa idosa estando em uma Instituição de Longa

Permanência, a convivência familiar se faz necessária e deve estar ou

demonstrar-se disponível para quando estes precisarem.

Sobre as ILPIs foi possível apreender que quando estas começaram a

surgir diante a sociedade, tinham uma atenção ampla, pois seus atendimentos

institucionais eram voltados não só para idosos, como também para as

pessoas consideradas pobres, desvalidas, doentes, etc. Então, a partir do

desenvolver social e as mudanças em relação às demandas atendidas, essas

instituições começaram a ter um viés residencial, ou seja, as pessoas

atendidas podiam ser institucionalizadas, mas o público alvo ainda não era

exclusivo para idosos, porque essa exclusividade só vem acontecer a partir dos

anos de 1960.

Como as instituições passam a ser de caráter especificamente

gerontológico, são elaborados parâmetros e critérios que norteiam o

funcionamento das mesmas a fim de que possam disponibilizar um ambiente

de cunho legal.

O estudo teve como campo de pesquisa o Recanto do Sagrado

Coração, podendo ser exposto, a partir do que foi proposto pela pesquisa, a

opinião das idosas institucionalizadas sobre qual seria o significado de família

para as mesmas. Foi possível observar que para as entrevistadas, a família

significa algo muito importante, pois algumas até ressaltam que ela é tudo, e

outras relacionam esta a um ponto de apoio que está sempre posta a ajudar e

a dar amor. Apenas um dos depoimentos foi por um viés negativo, que foi o da

Senhora Orquídea, que teve um pequeno desentendimento com um de seus

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parentes, os outros não deixaram transparecer, em momento algum,

sentimentos ruins.

Quanto aos motivos que levaram as idosas a residirem na instituição,

estes foram variados, sendo apontados por elas: pequenos desentendimentos

com parentes próximos; a falta de um cuidador ou de um integrante da família

que possa assumir a responsabilidade de tais cuidados, principalmente,

quando tal idoso está acometido por alguma patologia; a ausência de

descendentes diretos ou falecimento ou inexistência de um cônjuge; e, por

vontade própria do idoso.

De acordo com os questionamentos realizados, as entrevistadas

afirmaram que suas relações familiares são de cunho positivo, porém, as falas

da Senhora Violeta e a da Senhora Margarida deixam transparecer

sentimentos mais tristonhos, mas, mesmo assim, as mesmas afirmam ter

relações boas.

Essa temática familiar que vinha sendo abordada estendeu-se para

outro questionamento relevante, que foi o de entender como ficaram as

relações familiares após a institucionalização. Quanto a isso, as idosas

responderam em grande maioria, que é uma relação boa e que não mudou,

continuou a mesma coisa de antes. Pode ser muito dificultoso pra essas

pessoas terem que viver longe de seus parentes e amigos, mas estas não

demonstraram essa dificuldade extrema durante as entrevistas.

Sobre a opinião das entrevistadas em relação à morada na ILPI,

podemos observar que as mesmas apresentam discursos positivos sobre a

instituição, tendo até uma que prefere a vida cotidiana que leva dentro do RSC

do que o seu dia-a-dia que era vivido com os familiares, pois ela afirma que sua

vida ficou mais movimentada e satisfatória após a institucionalização. Porém,

algumas das idosas, como a Senhora Violeta e a Senhora Margarida, apesar

de afirmarem gostar da instituição trazem algumas falas aos seus discursos,

que remetem ao desejo de retornar para casa.

Quanto ao último objetivo da pesquisa, que consiste em analisar o perfil

socioeconômico das idosas, observa-se que as idades são bem variadas, o

grau de escolaridade também, as profissões são historicamente femininas

(professora, dona de casa, costureira, etc.), três das entrevistadas tiveram

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filhos e três não tiveram, e o tempo de institucionalização também é bem

diferente.

A partir dos dados coletados, é possível perceber que as idosas se

sentem bem convivendo na instituição, gostam e participam das atividades

ofertadas, como aulas de dança e de canto, passeios, etc., apesar de alguns

depoimentos se remeterem a tristeza. Acredita-se que é complicado para essas

pessoas terem que se afastar de uma cotidiano para adentrarem em outro,

porém, para que não se deixem levar pelos sentimentos negativos, é

importante que a instituição desenvolva atividades que eduquem e distraiam ao

mesmo tempo.

O estudo em questão representa uma pequena amostra do número de

idosos que vivem institucionalizados no Brasil, porém ele é capaz de

demonstrar aspectos importantes e necessários para a sociedade para que a

mesma possa analisar e refletir as mudanças que vem acontecendo na

atualidade, afinal, como demonstrado nos dados bibliográficos, a população

idosa está aumentando demograficamente.

O estudo também foi relevante por proporcionar conhecimentos acerca

da vivência de idosos institucionalizados, do contexto em que estes estão

inseridos, das mudanças nos arranjos familiares, dos idosos e suas relações

familiares, do seu olhar sobre a vivência institucional.

Como o processo de envelhecimento é acometido por muitos

acontecimentos, os sentimentos dos idosos podem ser diversos, então, para

que essas pessoas não se deparem com a solidão, a tristeza, o abandono, é

importante que a instituição atue na perspectiva do fortalecimento de vínculos

familiares, pois a presença familiar pode contribuir muito para uma melhor

qualidade de vida.

Esse estudo se fez muito enriquecedor, visto que atendeu aos objetivos

propostos, contribuiu amplamente para o âmbito pessoal e profissional, além

de proporcionar conhecimentos teóricos e práticos que possam estimular

estudos e pesquisas posteriores ligadas a tais temáticas.

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APÊNDICES

APÊNDICE A - Termo de Consentimento

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

O Sr (a). está sendo convidado(a) a participar da pesquisa O significado de família para

as idosas do Recanto do Sagrado Coração, que tem o objetivo de compreender qual o

significado atribuído à família pelas idosas institucionalizadas no Recanto do Sagrado

Coração.

Dessa forma, pedimos a sua colaboração nesta pesquisa, respondendo a uma

entrevista semiestruturada sobre o tema acima proposto que poderá ser gravado se o(a) Sr(a).

concordar. Todas as informações obtidas neste estudo serão mantidas em sigilo e sua

identidade não será revelada. Vale ressaltar, que sua participação é voluntária e a Sra. poderá

a qualquer momento deixar de participar desta, sem qualquer prejuízo ou dano.

Comprometemo-nos a utilizar os dados coletados somente para pesquisa e os resultados

poderão ser veiculados através de artigos científicos, revistas especializadas ou encontros

científicos e congressos, sempre resguardando sua identificação.

Todos os participantes poderão receber quaisquer esclarecimentos acerca da pesquisa

e, ressaltando novamente, terão liberdade para não participarem quando assim acharem mais

conveniente. Contatos com a graduanda Antônia Erisleide de Castro Assunção e com a

orientadora Ivna de Oliveira Nunes.

A Faculdade Cearense encontra-se disponível para os esclarecimentos pelo fone:

32017011, a instituição localiza-se no seguinte endereço: Avenida João Pessoa, 3834, bairro

Damas, Fortaleza-Ce.

Este termo está elaborado em duas vias sendo uma para o sujeito participante da

pesquisa e outro para o arquivo do pesquisador.

Eu,_________________________________________________________ tendo sido

esclarecido a respeito da pesquisa, aceito participar da mesma.

Fortaleza, ______ de _____________ de 2014.

_____________________________ _____________________________

Assinatura do participante Assinatura do pesquisador

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APÊNDICE B - Roteiro da Entrevista

Roteiro de Entrevista (Semiestruturada)

01. Qual sua idade?

02. Qual sua escolaridade?

03. Qual profissão o(a) senhor(a) exercia?

04. O(A) senhor(a) tem família (filhos)? Quantos?

05. O(A) senhor(a) recebe visita de seus familiares?

06. Como se estabelece sua relação com seus familiares?

07. Há quanto tempo está morando na instituição?

08. Qual o significado de família para o(a) senhor(a)?

09. Com quem o(a) senhor(a) morava antes de vir para o Recanto do

Sagrado Coração?

10. Quais os motivos que levaram o(a) senhor(a) a vir morar em uma

Instituição de Longa Permanência?

11. O que o(a) senhor(a) acha sobre morar na instituição?

12. Depois que a senhora veio para o Recanto do Sagrado Coração, como

passou a ser sua relação com seus familiares?

13. Depois que o(a) senhor(a) veio para essa instituição, a sua concepção

sobre o que é família mudou?

14. Como se sente morando no Recanto do Sagrado Coração? Como é sua

vida na instituição?

15. O(A) senhor(a) se adaptou à Instituição? O que mudou na sua vida após

a vinda para a instituição?