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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL OSCARILDA ALVES DE MENESES AS PERCEPÇÕES DOS IDOSOS ATENDIDOS NO CRAS-MONDUBIM SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS A ELES DIRIGIDAS FORTALEZA 2015

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

OSCARILDA ALVES DE MENESES

AS PERCEPÇÕES DOS IDOSOS ATENDIDOS NO CRAS-MONDUBIM SOBRE AS

POLÍTICAS PÚBLICAS A ELES DIRIGIDAS

FORTALEZA

2015

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OSCARILDA ALVES DE MENESES

AS PERCEPÇÕES DOS IDOSOS ATENDIDOS NO CRAS MONDUBIM SOBRE AS

POLITICAS PÚBLICAS A ELES DIRIGIDAS

Monografia submetida à aprovação pela Coordenação do curso de Serviço Social da Faculdade Cearense - FAC, como requisito parcial para obtenção do grau de graduação. Orientadora: Ms. Francisca Martír da Silva

FORTALEZA

2015

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OSCARILDA ALVES DE MENESES

AS PERCEPÇÕES DOS IDOSOS ATENDIDOS NO CRAS-MONDUBIM SOBRE AS

POLITICAS PÚBLICAS A ELES DIRIGIDAS

Monografia como pré-requisito para obtenção de título de bacharelado de Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FAC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelas (os) professores (as). Data de aprovação: ___/___/___

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________

Professora Ms. Francisca Martír da Silva (Orientadora)

___________________________________________

Professor Esp. Elizio de Araujo Loiola

___________________________________________

Professor Ms. Daniel Rogers de Souza Ferreira

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Dedico este trabalho aos meus pais, que de forma indireta me inspiraram sua realização.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela a oportunidade de poder estudar depois de tanto

tempo, pela saúde física e mental e por não ter me abandonado um só momento.

Aos meus filhos e marido, que financiaram minha graduação e, com muito

carinho, me incentivaram a acreditar na minha capacidade intelectual.

A minhas seis irmãs, que nos momentos de fadiga e estresse sempre

estavam do meu lado, auxiliando-me com seus conselhos e orações.

A minhas amigas, Adriana Nunes, Aurineide Eloi, Aline Sales, Samila

Mary, Elizangela Silva, Marizete Santiago, Sandra Regina, Francilene Menezes,

Márcia Chaves e outras, pelos momentos de debates e estudos sobre o tema do

meu trabalho, e por me auxiliarem nas horas de dúvidas e desânimos.

Não poderia deixar de mencionar as funcionárias do CRAS- Mondubim,

que me acolheram com carinho e profissionalismo no momento da pesquisa de

campo, principalmente a estagiaria Mariana Silva e as Educadoras Sociais, e

também os idosos, como sujeitos da pesquisa, os quais se dispuseram a conceder

as informações para a realização desse trabalho.

Ao corpo docente da Faculdade Cearense, de modo particular a Priscilla

Norttingan, Jerffesson Salles, Marcia Mourão, Renato Ângelo, Rubia Cristina,

Hamilton Teixeira, Lenha Aparecida, Socorro Leticia, Walney Rocha, e Mariana

Aderaldo, que colaboraram com ética e profissionalismo no percurso acadêmico

para meu crescimento intelectual.

À minha orientadora, Francisca Martír da Silva, por entender meus limites,

pela atenção e disposição, contribuindo para a realização deste trabalho. E aos

professores: Daniel Rogers e Elizio Loiola participantes da banca examinadora.

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“Talvez não tenha conseguido fazer o melhor, mas lutei para que o melhor fosse feito. Não sou o que deveria ser, mas Graças a Deus, não sou o que era antes”. (Marthin Luther King)

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo identificar as percepções dos idosos

atendidos pelo CRAS Mondubim sobre as políticas públicas a eles dirigidas, visto

que há uma necessidade desses idosos compreenderem as informações dos

direitos que eles têm. A pesquisa tem como categorias centrais: idoso, assistência,

políticas públicas e CRAS. Aborda-se a compreensão do significado da velhice, do

idoso, das políticas públicas para esse segmento, e a legislação pertinente, como

também a importância do CRAS na vida desses idosos. As escolhas metodológicas

aconteceram por meio da pesquisa de campo, bibliográfica e documental, tendo

como instrumento de pesquisa a entrevista semiestruturada. Através de dados,

coletados foi possível traçar o perfil dos idosos atendidos no CRAS e analisar a

situação dos mesmos dentro desse contexto.

Palavras-Chave: Idoso. Políticas Públicas. CRAS-Mondubim.

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ABSTRACT

This presented work aims to identify the perceptions of the elderly seen by CRAS

Mondubim on public policies addressed to them. Since there is a need for these

seniors understand the information of the rights they have. The research is central

categories: aged, assistance, public policy and CRAS. Deals with the understanding

of the meaning of old age, the elderly of public policies for this segment and the

relevant legislation, as well as the importance of CRAS in the lives of seniors. The

methodological choices happened through field research, literature and documents,

and as a research tool to semi-structured interview. Through data collected was

possible to trace the profile of the elderly attended at CRAS and analyze the situation

of the same in this context.

Keywords: Elderly. Public Policies. CRAS-Mondubim.

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LISTA DE SIGLAS

BPC - Benefício de Prestação Continuada

CNAS - Conselho Nacional de Assistência Social

CRAS - Centro de Referência da Assistência Social

LBA - Legião Brasileira de Assistência

LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social

MDS - Ministério do Desenvolvimento Social

PAIF- Proteção e Atendimento Integral a Família

PNAS - Política Nacional de Assistência Social

PNI - Política Nacional do Idoso

PNDH - Programa Nacional de Direitos Humanos

SCFV - Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos

SUAS - Sistema Único de Assistência Social

SETRA - Secretaria Municipal de Trabalho, Desenvolvimento Social, e combate à

Fome

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10

2 IDOSO ................................................................................................................... 12

2.1 Discussão histórica e conceitual das categorias Idoso/velhice ................... 12

2.2 Imagem do idoso no Brasil .............................................................................. 18

2.3 As conquistas dos idosos ............................................................................... 21

3 POLITICAS PÚBLICAS ........................................................................................ 24

3.1 Conceito de Políticas Públicas ....................................................................... 24

3.2 Contexto histórico da Assistência Social ...................................................... 25

3.3 Direito dos Idosos através das Políticas: um breve contexto da Política

Nacional do Idoso ao Estatuto do Idoso .............................................................. 32

3.4 Os direitos dos idosos: a criação de legitimação própria ............................ 34

4 CRAS MONDUBIM: TRAJETÓRIA E CONTEXTUALIZAÇÃO ............................ 37

5 O CENÁRIO DA PESQUISA ................................................................................ 40

5.1 Perfil dos entrevistados ................................................................................... 41

5.2 A percepção dos entrevistados sobre políticas públicas para idosos ........ 43

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 49

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 51

APÊNDICE .................................................................................................................... 54

ANEXOS ....................................................................................................................... 56

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1 INTRODUÇÃO

Falar de idoso e de velhice, nos dias atuais, tem sido de extrema

relevância para a sociedade. Mostrar à sociedade a importância que o idoso tem é

um desafio, pois o que prevalece ainda em nosso meio é o ser jovem. No cenário

contemporâneo da sociedade brasileira, é possível observar que o país está

passando por um processo de envelhecimento populacional. Esse fato se dá devido

ao aumento da expectativa de vida da população.

O objetivo geral deste trabalho é verificar as percepções dos idosos

atendidos no CRAS-Mondubim sobre as políticas públicas a eles dirigidas, tendo

como objetivos específicos: pesquisar o perfil sócio econômico dos idosos do CRAS-

Mondubim; analisar as políticas públicas conhecidas pelos idosos do CRAS;

descrever como as atividades oferecidas pelo CRAS-Mondubim têm influenciado no

cotidiano dos idosos.

O interesse pela temática surgiu dos cuidados com a minha1 mãe no

ápice de sua velhice, quando pude perceber a importância de mostrar, à sociedade

e à família, os direitos dos idosos e a necessidade de saber sobre o processo de

envelhecimento através das políticas públicas para esse segmento.

Ao perceber a carência do conhecimento da minha mãe e suas irmãs em

relação aos direitos que as mesmas e a sociedade que está envelhecendo possuem,

me ocorreu a necessidade de estudar sobre esse tema.

Para alcançar os objetivos deste estudo, optamos pela metodologia da

pesquisa qualitativa. Conforme Goldenberg (2004), “os pesquisadores que adotam a

abordagem qualitativa em pesquisa se opõem ao pressuposto que defende um

modelo único de pesquisa para todas as ciências, baseado no modelo de estudo das

ciências da natureza.” (pp. 16 e 17).

Também fizemos uso da pesquisa bibliográfica à luz de autores que

discutem a temática, como também da pesquisa documental e da pesquisa de

campo. Para Gil (2002), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em

material já elaborado e constitui-se principalmente de livros e artigos científicos. A

1 Será utilizada em alguns momentos a primeira pessoa por se tratar de uma motivação pessoal da pesquisadora.

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pesquisa documental assemelha-se muito a pesquisa bibliográfica, a diferença entre

ambas está na natureza da fonte.

A pesquisa de campo caracteriza-se pelas investigações em que, além da

pesquisa bibliográfica e documental, realiza-se coleta de dados junto a pessoas com

recursos de diferentes tipos de pesquisa. (FONSECA, 2002). No tocante ao

instrumental utilizado para a coleta de dados, fizemos uso da entrevista

semiestruturada com os idosos que participam das oficinas realizadas pelo CRAS.

Minayo (1992) diz que a entrevista é o procedimento mais usual no

trabalho de campo. Através dela o pesquisador procura obter informação contida

dos atores sociais. A presente pesquisa de campo foi realizada no CRAS do

Mondubim localizado na Avenida Waldir Diogo, nº 840, Mondubim.

O CRAS tem como missão atender as famílias e indivíduos em situação

de vulnerabilidade e risco social por meio de serviços e programas socio-

assistenciais de proteção social básica, com vistas ao empoderamento, autonomia e

qualidade de vida. E o objetivo do CRAS é realizar um serviço composto por uma

equipe de trabalho multidisciplinar que visa atender de forma equânime o cidadão e

sempre buscando alcançar as metas propostas.

O presente trabalho é composto por três capítulos. No primeiro capítulo

está a discussão acerca das categorias que remetem ao idoso, à velhice e ao

CRAS, relacionando os aspectos que se ligam ao envelhecimento na sociedade

fazendo uma pequena discussão histórica sobre essas categorias. O segundo

capítulo retrata as políticas públicas, procurando conceituá-las e identificar as

conquistas e políticas existentes para a população idosa. No terceiro capítulo,

trazemos a aproximação com a realidade pesquisada, fazendo a análise das

entrevistas com os idosos que participaram e relacionando com a base teórica que

norteou esse trabalho.

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2 IDOSO 2.1 Discussão histórica e conceitual das categorias Idoso/velhice

Nos tempos mais remotos, ou seja, nas civilizações tidas como primitivas,

as pessoas consideradas velhas eram entregues ao descaso e excluídos de maiores

responsabilidades, das festividades, dos rituais, chegando mesmo a serem

abandonados pelas tribos, já que os mesmos não tinham vigor físico. (MARINHO,

2006).

Uma característica comum dos países desenvolvidos e emergentes é o

envelhecimento da sua população. Ao longo dos séculos XIX e XX, as classificações

das fases da vida passam a avançar. Mascaro (1997) nos informa que, atualmente,

vive-se um momento de grandes transformações demográficas. O número de idosos

está aumentando, enquanto o de jovens diminui gradativamente.

O que se pensava antigamente relacionado ao envelhecimento, é que

essa fase era associada às perdas, aos declínios e às fraquezas, que passavam a

identificar esse processo como uma doença. Mascaro (1997) expõe que, em sua

maioria, os debates acerca do envelhecimento eram tratados com uma expectativa

desigual em alguns casos de aspecto degenerativo, seja cultural ou histórico, em

que o indivíduo estava envolvido.

A sociedade que vemos na contemporaneidade elege a juventude como

uma idade padrão, e a esta eleição estão associadas as categorias de

desenvolvimento, mudança social, e não podemos esquecer dos padrões estéticos

de beleza. Para Debert (1999), a mudança no corpo, no rosto, na pele, certamente

se opera de forma contínua, e é essa continuidade que faz com que as pessoas não

percebam o envelhecimento. Desta forma, o envelhecimento é um processo que se

dá no tempo, e não é percebido.

O conceito que está ligado à velhice envolve inúmeras dimensões, que

fazem parte do nosso ciclo vital. Não podemos fugir dela, a menos que ocorra uma

interrupção em nossa vida ainda na juventude. As dimensões que podemos destacar

aqui são a biológica, a cronológica, a social, a demográfica, a econômica, a cultural,

a psicológica e a política. “Ser velho ou jovem depende do estado de espírito de

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cada pessoa, a velhice não é uma doença, é uma etapa da vida sobrecarregada de

perdas e ganhos.” (XIMENES, 2002, p. 12).

A velhice modifica a relação da pessoa com o mundo. Ela passa a ver o

mundo de outra forma e seus relacionamentos mudam com o passar dos anos.

Velhice é um fenômeno biológico com conseqüências psicológicas que modificam a relação do homem no tempo e, portanto, seu relacionamento com o mundo e com a sua própria história, por outro lado, o homem nunca vive em estado natural: um estatuto lhe é imposto também na velhice, pela sociedade a que pertence. (XIMENES, 2002, p. 12).

No processo de compreensão da velhice, é importante entender que ela

precisa ser compreendida em sua totalidade. Devemos levar em conta não apenas o

fator biológico, mas também o cultural. A velhice, como explicita Beauvior (1990), em

todas as situações humanas, tem uma dimensão existencial que modifica a relação

do indivíduo com o tempo.

A mesma autora afirma que:

A sociedade destina ao velho seu lugar e seu papel levando em conta sua idiossincrasia individual: sua impotência, sua experiência; reciprocamente, o indivíduo é condicionado pela atitude prática e ideológica da sociedade em relação a ele. Não basta, portanto, descrever de maneira analítica os diversos aspectos da velhice; cada um deles reage sobre todos os outros e é afetado por eles; é no movimento indefinido desta circularidade que é preciso apreendê-la. (BEAUVIOR, 1990, p. 18).

Portanto, percebemos que a velhice é algo natural, que faz parte da vida,

não há como fugir de seu ciclo. Mascaro (2004) diz que a velhice faz parte de

nossas experiências como ser vivo no seu ciclo de: nascimento, crescimento,

amadurecimento, envelhecimento e morte. Quando pensamos na velhice,

descobrimos que ela é um rito de passagem para uma nova fase da vida.

Ao contextualizar a velhice, Oliveira (2014) afirma que o sentido da

palavra ganhou nova definição em sua nomenclatura, justificando dessa maneira a

categoria que utiliza, o idoso. Nessa dimensão, ao se analisar os termos usados

acerca dos idosos, pode-se considerar expressões como envelhecimento, velhice,

velho, terceira idade, até chegar ao termo idoso, que é o mais utilizado atualmente.

Os autores Neri e Freire (2000) elucidam tais questionamentos:

[...] os termos empregados para a fase de envelhecimento produzindo que velho, idoso e terceira idade refere-se a pessoas idosas com idade média de sessenta anos. A velhice seria a última fase da existência humana, sendo que o envelhecimento está atrelado às mudanças físicas,

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psicológicas e sociais. Logo, amadurecer e maturidade significam a sucessão de alterações ocorridas no organismo e a obtenção de papéis sociais. (NERI e FREIRE, 2000, p. 13).

O envelhecimento, no entanto, está intimamente ligado com a

coletividade. Bolsanello (1996) afirma que conceitos estão relacionados com a

experiência de vida e acrescenta, também, que o principal objetivo dos cuidados

para com o idoso deve ser o de mantê-lo como parte integrante da sociedade.

Quando falamos em envelhecimento, idoso, estamos ponderando o conceito de

vida. Todos envelhecemos, com ou sem atividades, independentemente da idade.

O certo é que tem aumentado o número de idosos, particularmente nos

países em desenvolvimento, entre os quais se situam o Brasil. Filho (1996) expõe

que o envelhecimento pode ser conceituado como um processo dinâmico. Todo ser

vivo apresenta um padrão genético que condiciona o seu desenvolvimento.

A velhice precoce, a velhice excluída e o pseudo-idoso são as faces

anônimas e certamente a mais silenciosa e cruel consequência do envelhecimento

vivido nas atuais condições de produção e organização econômica. (MAGALHÃES,

2007). Entretanto, não podemos negligenciar o isolamento e a marginalidade do

idoso que as transformações sociais estão produzindo em outros setores e níveis da

sociedade brasileira. Cada um deles nos transmite uma imagem pessoal e particular

do que seja envelhecer.

A velhice idealizada masculina e prestigiada é representada na maioria das vezes pela imagem do homem idoso, cheio de vigor, bondade e sabedoria, enquanto que a imagem da velhice feminina é identificada inúmeras vezes com o lado negativo e sombrio da vida. (MASCARO, 1997, p. 16).

Em nossos dias, uma pessoa aos 60 anos, saudável e interessada na

vida, pode ser considerada velha? Mascaro (1997) nos traz a ideia de que podemos

chegar a conhecer idosos de 80 anos, integrados na família e na sociedade,

satisfeitos e alegres. Por outro lado, muitas pessoas aos 40 ou 50 anos já estão

desgastadas, doentes e parecem velhas. A autora também destaca e nos leva a

entender que em várias sociedades há determinações de com quantos anos a

pessoa se torna idosa: uns, aos 70, outros, aos 60 e até mesmo com 40 anos, em

outras sociedades.

A diferença existencial entre ser idoso e sentir-se idoso e as dificuldades

de se determinar qual é a idade da velhice, nos revela um estereótipo que identifica

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a velhice na sociedade. Isso nos leva a crer na distância do olhar que existe

daqueles que se percebem como idoso e não são visto como tal e daqueles em que

a idade determina a sua velhice, mas que não se sentem desta forma.

Com frequência a sociedade considera idosa aquela pessoa que está se retirando do mundo do trabalho, ou seja, está se aposentando. Mas a saúde física e mental, e a dependência de outras pessoas para a realização de suas necessidades básicas ou tarefas cotidianas, é também um indicador de que a pessoa está entrando na fase da velhice. (MASCARO, 1997, p. 41).

O envelhecimento, a vivência e a situação do idoso são marcadamente

diferentes se ele é rico ou pobre. Neri (1997) ainda complementa se é saudável ou

doente, se é dependente ou independente, se é homem ou mulher, se trabalha ou é

aposentado, se mora em sua casa ou em asilo, por exemplo. Basta olharmos a

nossa volta para percebermos a existência de muitos contrastes e, portanto, de uma

grande diversidade da velhice.

O que atinge negativamente os idosos são os preconceitos existentes na

sociedade, a ideia de que a velhice é sinônimo de doença e incapacidade. Para Neri

(2001), as doenças que vêm com a idade podem ser prevenidas, diagnosticadas e

tratadas, como a hipertensão, o diabetes, a osteoporose e a arteriosclerose, por

exemplo. Os órgãos e sistemas declinam lentamente e progressivamente, havendo

uma redução da capacidade para as atividades cotidianas, mas nem por essas

causas deve haver preconceito por parte da sociedade com a autonomia dos idosos.

Na realidade, a sociedade vai determinar o lugar e o papel em que os

idosos irão representar ou viver nessa mesma sociedade, mas fica a critério dos

idosos absorverem ou rejeitarem os traços culturais do espaço social em que vivem.

Conforme a exposição de Mascaro (1997), a mídia costuma tratar aqueles que

chegam aos 100 anos com muita admiração e respeito. A velhice extrema desperta

no público curiosidade e desejo de conhecer a fórmula mágica e desvendar os

mistérios da longevidade.

Os modelos de uma velhice valorizada são representados em nossa

sociedade por idosos que enfrentam desafios, fazem projetos para o futuro, mantêm

uma agenda repleta de atividades e mostram-se criativos. Isso, para muitos, é

valorizar o que é ser idoso. Contudo, está mais para uma questão de status social

que representa uma situação bem sucedida.

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Diante de tudo isso, existem políticas públicas para os idosos na

sociedade atual. Santos e Silva (2013) fornecem a informação de que as

dificuldades das políticas públicas para acompanhar o rápido crescimento da

população idosa, registrado no Brasil principalmente no início do século XXI, traz

como consequências as distorções das responsabilidades sobre o idoso

dependente, que acaba sendo assumida por seus familiares como um problema

individual ou familiar, devido à ausência ou precariedade do suporte do Estado.

Podemos perceber que as famílias dos idosos, diante dos cuidados com

os mesmos, transferem essas responsabilidades somente para o Estado. Desde

então, enxergamos as dificuldades na implementação das políticas sociais para

atender a todas as necessidades dos idosos em todos os seus níveis e estágios.

O termo “política” refere-se a um conjunto de objetivos que informam

determinado programa de ação governamental que condiciona sua execução.

“Política pública” é uma expressão atualmente utilizada nos meios oficiais e nas

ciências sociais para substituir o que até a década de setenta era chamado de

“planejamento estatal”. (BORGES, 2000).

E, quando nos referimos às políticas públicas, estamos voltados para

todos os setores: saúde, educação e assistência, e demais direitos sociais. No

Brasil, muito se avançou na elaboração de políticas sociais voltadas aos idosos,

dentre as quais podemos citar: a Política Nacional do Idoso (1994); a Política

Nacional de Saúde do Idoso (1999); o Estatuto do Idoso (2003); a Política Nacional

de Assistência Social (2004); a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (2006),

além dos direitos conquistados pela Constituição Federal em 1988. (SANTOS e

SILVA, 2013). As formas de respostas contemporâneas à “problemática social” do envelhecimento, mediante reforma das políticas de seguridade social, que mantém o Estado na proteção social, mas que introduz modificações substanciais na orientação, na cobertura, no nível dos benefícios, na qualidade de prestação de serviços, ou normatizando uma política setorial específica e outros instrumentos de direitos e as iniciativas diversas da sociedade civil na proteção social aos idosos, financiadas ou não pelo Estado, são expressões de alterações no formato da proteção social e das “novas” simbioses entre público e privado na política social (TEIXEIRA, 2008, p. 199).

O discurso atual que envolve as políticas públicas de atenção ao idoso

prevê uma redistribuição de atividades, na qual a participação do Estado, da

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sociedade e da Família nas ações de proteção e assistência ao idoso são

consideradas essenciais. Assim, percebe-se o incentivo à participação do setor

público e da sociedade na atuação dessas políticas. Dessa maneira, o nosso foco

neste trabalho é destacar as políticas de assistência ao idoso.

A Política Nacional do Idoso, descrita na Lei 8.842/94, é um importante e

pioneiro documento na contemplação dos direitos dos idosos. Quando falamos em

política de assistência ao idoso, nos deparamos com a LOAS – Lei 8.742/93 (Lei

Orgânica da Assistência Social). Entre os benefícios desta lei está o Benefício de

Prestação Continuada (BPC), o qual garante o repasse de um salário mínimo para

as pessoas idosas. Segundo Pereira (2002), a Assistência Social destaca-se como

importante forma de contribuir para melhoria das condições de vida e de cidadania

desse estrato populacional em irreversível crescimento.

No atendimento a grupos particulares, entre os quais os idosos, a política pública de Assistência Social pauta-se pelo princípio da democracia participativa como um contrapeso ao domínio da democracia representativa, privilegiando duas grandes linhas de atuação: a da descentralização político-administrativa e a da participação da população, seja diretamente, ou por meio de organizações representativas, na formulação e implementação da política, bem como no controle desta. Para tanto, a nova institucionalidade da Assistência Social prevê a construção e funcionamento de uma cadeia de mecanismos gestores constituída das seguintes instituições: Conferências de Assistência Social nas três unidades da Federação (União, Estados e Municípios, além do Distrito Federal), que periodicamente avaliam a política e apresentam recomendações; Órgão Gestor, representado por uma Secretaria de governo, que elabora e implementa a política de Assistência Social, com base nas recomendações das Conferências; Conselhos de Assistência Social. (PEREREIRA, 2002, p. 03).

Não podemos nos esquecer do Centro de Referência da Assistência

Social (CRAS), que é uma instituição que presta serviços de assistência ao idoso.

Segundo o MDS2, o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) é uma

unidade pública estatal descentralizada da Política Nacional de Assistência Social

(PNAS).

O principal equipamento do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) são os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS); são 7.214 unidades em 5.411 municípios do território brasileiro, o que representa 97,2% de cobertura. O CRAS é responsável pela oferta do principal serviço socioassistencial, o Serviço de Proteção e Atendimento Integral a Família (PAIF), que visa fortalecer a função protetiva da família, prevenindo a ruptura de vínculos familiares e comunitários. Um dos serviços ofertados

2 Disponível em: http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/protecaobasica/cras. Acesso em: 06 out. 2014.

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pelos CRAS, complementar ao PAIF, é o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos. (BRASIL, 2012, p. 30).

O CRAS deverá atuar como a principal porta de entrada do Sistema Único

de Assistência Social (SUAS), dada sua capilaridade nos territórios, sendo

responsável pela organização e oferta de serviços da Proteção Social Básica nas

áreas de vulnerabilidade e risco social.

Além de ofertar serviços e ações de proteção básica, o CRAS possui a

função de gestão territorial da rede de assistência social básica, promovendo a

organização e a articulação das unidades a ele referenciadas e o gerenciamento dos

processos nelas envolvidos. O principal serviço ofertado pelo CRAS é o Serviço de

Proteção e Atendimento Integral à Família (Paif), cuja execução é obrigatória. Este

consiste em um trabalho de caráter continuado que visa fortalecer a função protetiva

das famílias, prevenindo a ruptura de vínculos, promovendo o acesso e usufruto de

direitos e contribuindo para a melhoria da qualidade de vida.

Quanto a esses serviços de convivência, os idosos são direcionados para

participarem deles dentro do CRAS.

O SCFV para Idosos tem como foco o desenvolvimento de atividades que contribuam para o processo de envelhecimento saudável, para o desenvolvimento da autonomia e de sociabilidades, para o fortalecimento dos vínculos familiares e para o convívio comunitário. Incluem atividades artísticas, culturais, esportivas e de lazer que valorizam suas experiências e estimulam e potencializam a condição de escolher e decidir, bem como a participação social. Os usuários do serviço são idosos em situação de vulnerabilidade social. (BRASIL, 2012, p. 31).

Percebe-se que não se pode distanciar os idosos da vida comunitária. Os

idosos fazem uma significativa diferença nesse contexto, desenvolvendo um

exemplo de vida para aqueles que os rodeiam. Ao mesmo tempo, isso fortalece a

sua cidadania.

2.2 Imagem do Idoso no Brasil

A população brasileira vem envelhecendo desde o início da década de

1960, quando a queda de taxas de fecundidade começou a alterar sua estrutura

etária. Podemos ver que o aumento da longevidade, o progresso social e científico,

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as transformações na estrutura da família e a modernização dos costumes têm

transformado o comportamento da sociedade no Brasil em relação ao idoso e ao

envelhecimento.

Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, essa transição demográfica se deve mais às tecnologias de saúde do que ao próprio desenvolvimento do país. De acordo com a literatura, o crescimento da população idosa é consequência de dois processos: a diminuição da fecundidade, a redução da mortalidade da população idosa e aumento da expectativa de vida. (SANTOS e SILVA, 2013, p. 05).

Observa-se que a expectativa de vida dos brasileiros em 1950, como

detalha Mascaro (1997), era de cerca de 50 anos, e atualmente é de 67 anos,

devendo alcançar os 72 anos até o ano de 2020. Por meio desses dados, percebe-

se que a imagem da velhice está sendo empurrada para frente, e os idosos estão

tendo mais tempo de vida para a realização de novos projetos.

Assim, iniciar uma carreira musical aos 78 anos, encontrar o amor e casar-se depois dos 80 anos, voltar a estudar e matricular-se na Universidade da Terceira Idade aos 56 anos, cultivar novos hobbies, despertar para novos projetos, são alguns exemplos estimulantes noticiados na imprensa, que revelam novos interesses e comportamentos inovadores. (MASCARO, 1997, p. 68).

.

Segundo Minayo (2006), o crescimento do grupo dos mais longevos

provocou um novo olhar social sobre o segmento idoso e a necessidade de

reinvenção dos padrões culturais intergeracionais vigentes até o momento. Quando

lemos tal afirmação, observamos que o Brasil está a cada dia voltando o seu olhar

social para esse segmento. É o que podemos ver no documento:

O Brasil vem implementando as recomendações do Plano de Ação Internacional do Envelhecimento, resultado da II Assembleia Mundial da Organização das Nações Unidas sobre o Envelhecimento, realizada em Madri, em 2002, o qual está pautado em três direções prioritárias: idosos e desenvolvimento, promoção da saúde e bem-estar na velhice e criação de um ambiente de vida propício e favorável. A declaração reitera o compromisso de chefes de Estado e de governo no que diz respeito à promoção de ambientes internacionais e nacionais que propiciem o estabelecimento de uma sociedade para todas as idades. (CONFERÊNCIA REGIONAL DE ENVELHECIMENTO, 2012).

Refletir sobre o envelhecimento e sobre o significado de ser idoso na

sociedade atual pode ajudar na compreensão das várias formas de ser e de tornar-

se velho.

Chaimowicz (1998) nos mostra em seu livro Os idosos Brasileiros no

Século XXI que, embora a presença dos idosos já se faça sentir em diversos

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momentos do nosso dia-a-dia, nas manchetes de jornais, no discurso político, nas

propagandas de televisão, esse aumento da proporção de idosos deverá ser ainda

maior dentro de 10 ou 15 anos. Inclusive, no ano de 2020, o país terá a sexta

população de idosos do mundo, 33 milhões de idosos aos quais a sociedade terá de

se adaptar.

Uma das características marcantes da população idosa no Brasil é o

baixo poder aquisitivo. “Aposentadorias e pensões constituem sua principal fonte de

rendimentos, se por um lado o número de benefícios concedidos a cada ano é

crescente, por outro as despesas médias vem apresentando variações negativas.”

(CHAIMOWICZ, 1998, p. 65). Em consequência disso, idosos brasileiros se mantém,

ou pelo menos tentam se manter no mercado de trabalho, pela necessidade de uma

segunda renda.

Segundo as projeções das Nações Unidas descritas na Conferência

Nacional de Envelhecimento (2012), entre 2000 e 2050, a população idosa brasileira

ampliará a sua importância relativa, passando de 7,8% para 23,6%, enquanto a

jovem reduzirá de 28,6% para 17,2%, e a adulta de 66,0% para 64,4%. Todo o

aumento se concentra na população idosa, intensificando sobremaneira o

envelhecimento demográfico brasileiro, com taxas médias de crescimento de 3,2%

entre idosos e de 4% ao ano dos muitos idosos (de 80 anos ou mais).

Ainda assim, em 2050 a população de 65 anos ou mais ascenderia a 38

milhões de pessoas, superando a de jovens. Em 2025, na população brasileira

haverá mais de 50 adultos com 65 anos ou mais, por cada conjunto de 100 jovens

menores de 15 anos. Em 2045, o número de pessoas idosas ultrapassará o de

crianças. (BRASIL, 2012).

Diante disso, nos últimos anos no Brasil, o governo vem promovendo

avanços institucionais e também nas políticas públicas voltadas à promoção dos

direitos humanos das pessoas idosas. Isto ocorre pelo engajamento do governo

federal na garantia desses direitos, mas principalmente pela mobilização dos

próprios idosos e da sociedade civil. Com isso, foi possível estruturar políticas mais

abrangentes para a promoção e efetivação dos direitos dos idosos, e criar

instituições adequadas. É o que veremos no tópico a seguir sobre os direitos dos

idosos adquiridos ao longo dos anos.

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2.3 As conquistas dos idosos

Quando nos referimos aos aspectos legais dos direitos e conquistas dos

idosos, não podemos esquecer a Constituição de 1988, a Lei Política Nacional do

Idoso – Lei nº 8.842 de 04 de Janeiro de 1994, o Estatuto do Idoso de 2003 - Lei nº

10.741/2003, e a Declaração Universal dos Direitos Humanos3. Em relação aos

direitos e deveres dos cidadãos brasileiros, a Constituição brasileira de 1988 estipula

marcos de idade. A aposentadoria está assegurada aos 65 anos para o homem e

aos 60 para a mulher.

Na década de 1990, quando foi aprovada a Política Nacional do Idoso,

isso objetivou colocar em prática ações voltadas não apenas para os idosos, mas

para aqueles que ainda iam envelhecer:

A Política Nacional do Idoso (PNI) tem como objetivo definido no art.1º “de assegurar os direitos sociais dos idosos, criando condições para promover a sua autonomia, integração e participação na sociedade”. A referida lei cria os Conselhos de Direitos dos Idosos e um leque de ações governamentais que devem implementar as políticas para o idoso em várias áreas, como assistência, habitação, saúde, educação, cultura, lazer e Previdência Social. (FALEIROS, 2008, p. 156).

A Política Nacional do Idoso é, desde 2009, coordenada pela Secretaria

de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR). Este processo reflete

a ampliação do escopo das políticas públicas voltadas à pessoa idosa, partindo de

um viés mais restrito à assistência e à garantia de renda e culminando numa visão

integral das pessoas idosas como detentoras de direitos, incluindo saúde, educação,

emprego, lazer, moradia, entre outros. (BRASIL, 2012).

Nesse mesmo ano, foi instituído o terceiro Programa Nacional de Direitos

Humanos (PNDH-3), por meio do Decreto Presidencial nº 7.037, de 21 de dezembro

de 2009, o qual, em observância ao Pacto Federativo (que sinaliza as

responsabilidades dos três Poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – , do

Ministério Público e da Defensoria Pública, bem como os compromissos das três

3 O Brasil é signatário dos mais importantes pactos, da lei universal e de acordos e convenções internacionais. Temos uma legislação reconhecida internacionalmente como “avançada”. O Estatuto do Idoso é um marco importante do ponto de vista dos direitos dos idosos. Disponível em: <http://portal.anpocs.org/portal/index.php?option=com_docman&task=doc_view&gid=8317&Itemid=217>.

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esferas administrativas do Estado), previu em um de seus eixos orientadores

objetivos estratégicos e ações programáticas que contemplassem a questão da

“valorização da pessoa idosa e promoção de sua participação na sociedade”.

(BRASIL, 2012).

O Estatuto do idoso também é uma das conquistas deste segmento. Ele

garante todos os direitos que são devidos ao idoso, que são saúde, lazer, educação

entre outros direitos inerentes a pessoa humana.

O Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741/2003, aprofunda a PNI, afirmando que o idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, e que o envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito social. Pelo art. 9º - é obrigação do Estado garantir a pessoa idosa à proteção à vida e a saúde e, junto com a família e a sociedade, garantir sua liberdade e dignidade. (FALEIROS, 2007, p. 156).

Dentro do Estatuto, também são estabelecidos outros direitos, como a

educação, o exercício profissional e a habitação. Também não podemos esquecer

do Benefício de Prestação Continuada (BPC), no valor de um salário mínimo, que

garante ao idoso a partir dos 65 anos, renda para sua subsistência.

O Benefício de Prestação Continuada (BPC) é um benefício da Política de Assistência Social, individual, não vitalício e intransferível, que integra a Proteção Social Básica. É um direito de cidadania que garante a proteção social não contributiva da Seguridade Social. Como o benefício não é vitalício, a cada dois anos é feito um processo de revisão de sua concessão para que seja examinada a manutenção ou não das condições que deram origem ao BPC. (BRASIL, 2012, p. 28).

A legislação também assegura direito ao transporte para idoso:

O artigo 40 do Estatuto do Idoso (Lei nº. 10.741, de 1º de outubro de 2003) prevê que o sistema de transporte coletivo interestadual, nos modais rodoviário, ferroviário e aquaviário, deverá reservar duas vagas gratuitas por veículo para idosos (pessoa com sessenta anos ou mais), com renda igual ou inferior a 2 (dois) salários mínimos, e quando excedidas as vagas gratuitas, o desconto de 50% (cinqüenta por cento), no mínimo, no valor das passagens. (BRASIL, 2012, p. 33).

Em 2009, com o lançamento do Programa habitacional Minha Casa,

Minha Vida, por meio de acesso a créditos bancários no direito à moradia própria os

idosos tiveram seus direitos garantidos.

Quando falamos também da política de saúde, o SUS, que é a garantia

universal para todos no quesito saúde, também beneficia os idosos. O Art. 15 do

Estatuto do Idoso fala: É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde - SUS, garantindo-lhe o acesso universal e

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igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos.

Em 2010, foi criado o Fundo Nacional do Idoso, por meio da Lei n.º

12.213, de 20 de janeiro de 2010, e regulamentado por meio da Resolução n.º 07,

de 01/10/2010 (publicada no Diário Oficial da União, em 23 de novembro de 2011),

com o objetivo de financiar os programas e as ações relativas ao idoso com vistas

em assegurar os seus direitos sociais e criar condições para promover sua

autonomia, integração e participação efetiva na sociedade. (BRASIL, 2012).

Desta forma, para uma política e um direito existirem, não basta estarem

descritos nas leis, eles precisam ser aproveitados pelos cidadãos e construídos

democraticamente. E quando falamos do segmento da população idosa, mesmo

com as lutas que garantiram esses direitos, ainda existem controvérsias de não

serem levados à prática o efeito que deveriam ter. É fundamental que a sociedade

se conscientize acerca dos direitos da população idosa e se sensibilize de que

envelhecer é um processo pessoal único, mas é também um direito fundamental da

pessoa humana. Com base em todo aparato legal de proteção ao idoso, hoje

podemos falar que está firmado um novo direito: o direito de envelhecer.

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3 POLÍTICAS PÚBLICAS

3.1 Conceito de Políticas Públicas

Quando falamos em conceito de políticas públicas, logo sinalizamos a

questão dos direitos adquiridos para que essas políticas se efetivem pelo Estado

através de ações, projetos e afins para a sociedade.

As políticas públicas não são meras ações estatais resultantes de

processos decisórios governamentais (HÖFLING, 2001, p. 31), porquanto são

complexas e emblemáticas da realidade social. A discussão sobre essa temática

sugere uma problematização teórico-epistemológica, mas também de natureza

prática, política, a fim de possibilitar o mínimo de profundidade e abrangência

capazes de conferir alguma precisão a sua conceituação. (SILVA, 2014)

Então, para Augusto (1989), políticas públicas:

Referem-se a intervenção estatal nas mais diferentes dimensões da vida social. A mesma autora adverte que política social não pode ser vista como dicotomia da política econômica, mas como um conjunto de ações estatais que atuam no âmbito de um sistema de garantia e proteção de direitos sociais. (AUGUSTO, 1989, pp. 105, 119).

Sobre políticas públicas, Ahlert (2004) define da seguinte forma:

As políticas públicas são as ações empreendidas pelo Estado para efetivar as prescrições constitucionais sobre as necessidades da sociedade em termos de distribuição e redistribuição das riquezas, dos bens e serviços sociais no âmbito federal, estadual e municipal. São políticas de economia, educação, saúde, meio ambiente, ciência e tecnologia, trabalho, etc. (AHLERT, 2004, p. 48).

As políticas públicas decorrem de ações do Estado e têm arcabouço na

estrutura política e jurídica. Esta expressão está na opinião de Giron (2008), que diz:

Quando se fala em políticas públicas, deve-se ter em mente as estruturas de poder e de dominação presentes no tecido social das quais derivam as políticas. As políticas foram e são implementadas, reformuladas ou desativadas de acordo com as diferentes formas, funções e opções ideológicas assumidas pelos dirigentes do Estado, nos diferentes tempos históricos. (GIRON, 2008, p. 21).

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Analisando a partir dessa afirmação que o Estado, dentro da estrutura

capitalista, atua socialmente com a finalidade de amparar o contingente que,

temporariamente ou permanentemente, está excluído das relações de trabalho

assalariado, mediante a distribuição de serviços e benefícios, percebe-se os

benefícios que as políticas públicas trazem para os cidadãos.

3.2 Contexto histórico da Assistência Social

Ao analisar o conceito de Política de Assistência Social, Pastorini (1997,

p. 81) denomina de “perspectiva tradicional” aquela “concebida como um conjunto

de ações por parte do aparelho estatal, que tende a diminuir as desigualdades

sociais”. Sua função principal é a "correção" dos efeitos negativos produzidos pela

acumulação capitalista. Nesta concepção, a Política de Assistência Social é

entendida como concessão por parte do Estado para melhorar o bem-estar da

população, cuja solução para os problemas seria uma melhor redistribuição de renda

ou uma distribuição “menos desigual” dos recursos sociais. Nesta ótica, a política

teria o papel de restabelecer o equilíbrio social via redistribuição de renda.

A assistência social no Brasil tem sua origem na caridade, filantropia,

ligada à solidariedade, principalmente através da Igreja:

(...) exceções, que até 1930 em nosso país não se compreendia a pobreza enquanto expressão da questão social. Quando esta se colocava como questão para o Estado, era de imediato enquadrada como caso de polícia e tratada no interior de seus aparelhos repressivos. (YAZBECK, 2007, p. 41).

Os problemas sociais eram mascarados sob a forma de fatos isolados, a

pobreza era tratada como disfunção pessoal dos indivíduos. Essa forma de

intervenção que se dava a esse fenômeno, a “questão social”4, era remetida aos

cuidados de uma rede de organismos de solidariedade social da sociedade civil.

4 A questão social, no sentido universal do termo, significa o conjunto de problemas sociais e econômicos que o surgimento da classe operária impôs no curso da constituição da sociedade capitalista. Assim, a questão social está fundamentalmente vinculada ao conflito capital e trabalho. (Netto, 2005, p.17).

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Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, em 1930, Damásio (2009)

expõe que a partir da sua criação, o Estado passou a fiscalizar e também a ordenar

e controlar as relações de trabalho. Assim, gradualmente, o Estado Brasileiro passa

a reconhecer a “questão social” como uma questão política a ser revolvida sob sua

direção. Os direitos eram garantidos àqueles que tinham vinculação legal, que quer

dizer a carteira de trabalho assinada. Mas, esses direitos eram vistos como uma

doação do Estado protetor. E para os indivíduos que não se inseriam no mercado

formal de trabalho não havia proteção social, a eles era dada sua condição de

necessitados e indigentes.

Vale aludir às condições de trabalho e habitação da época que eram de bastante precariedade e começaram a proliferar os grandes centros urbanos e as empresas industriais, o que veio a intensificar a relação entre capital e trabalho, a exploração abusiva a que eram submetidos os trabalhadores A população operária era tratada de forma marginalizada socialmente, nos bairros insalubres, dentro das cidades, que já expressavam o seu desenvolvimento. Portanto, é dentro do Estado que se consolida a legislação trabalhista, com a centralização política e completa com a submissão dos sindicatos. (DAMÁSIO, 2009, p. 19).

No que concerne aos trabalhadores que não estavam inseridos no

mercado formal de trabalho, a intervenção estatal se fazia presente através da

assistência prestada pela Legião Brasileira de Assistência (LBA), criada em 1947

com o objetivo de atender as famílias dos pracinhas combatentes da 2ª Guerra

Mundial:

Inicialmente caracterizou-se por um atendimento materno-infantil. Posteriormente esta instituição foi crescendo e sua linha programática foi acompanhando as demandas do desenvolvimento econômico e social do país, bem como da população em estado de vulnerabilidade social. (BRASIL, 2000).

Podemos aqui destacar algumas ações da linha programática da LBA,

que se constituía da seguinte forma: assistência social, assistência judiciária,

atendimento médico, social e materno, distribuição de alimento para gestantes,

assistência à pessoa com deficiência e assistência ao idoso.

Esta instituição adequava a sua linha programática aos ciclos de vida das populações mais vulneráveis, na ótica de promover o desenvolvimento social e comunitário. Estabeleceu ampla parceria com organizações não governamentais (cerca de 6.000), governos estaduais e municipais (cerca de 3.800 municípios), CNBB, APAEs, Pestallozzi, Caixa Econômica Federal e outros. Dispunha de um Programa Nacional de Voluntariado, com coordenação nos 26 Estados e no Distrito Federal, contando com aproximadamente 3.000 voluntários. (BRASIL, 2000).

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No ano de 1985, surgiu um novo contexto histórico para a assistência

social, onde começaram a surgir práticas inovadoras devido às demandas impostas

pela nova realidade que estava surgindo com a transição democrática, e a

população em si exigia respostas ágeis e efetivas da política de assistência social.

Desde então, “se discutiu mais um caminho para se formular uma política pública de

assistência social através da inclusão dos direitos sociais.” (BRASIL, 2000, p. 02).

O processo de redemocratização sintetizou a revolução democrática

brasileira que desembocou na Constituição de 1988, que se tornou o marco legal

para a assistência social. Ela traz a compreensão, transformação e redefinição do

perfil histórico da assistência social no Brasil, qualificando-a como Política de

Seguridade Social. O art. 194 da Constituição afirma que:

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Parágrafo único -Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos: I -universalidade da cobertura e do atendimento; II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; IV - irredutibilidade do valor dos benefícios; V - equidade na forma de participação no custeio; VI - diversidade da base de financiamento; VII - caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, com a participação da comunidade, em especial de trabalhadores, empresários e aposentados. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988).

Boschetti destaca uma primeira restrição do direito à assistência social,

que não é para todos, mas destinado apenas aos desamparados ou aos que dela

tiverem necessidade:

[...] a proteção, o amparo, a habilitação e a garantia de uma renda mínima destinam-se especificamente àqueles cuja situação não lhes permite trabalhar: maternidade, infância, adolescência, velhice, deficiência. Àqueles que não se inserem nestas situações, o objetivo é outro: não assistir, mas promover a integração ao mercado de trabalho (BOSCHETTI, 2003, p. 46).

A Constituição Federal de 05 de outubro de 1988 traz em suas

Disposições Transitórias a definição de que a organização da seguridade social e

dos planos de custeio e de benefícios seria apresentada (pelo Poder Executivo) no

prazo máximo de seis meses ao Congresso Nacional, que teria igual período para

apreciá-los, ou seja, desde 5 de outubro de 1989, o país deveria ter adotado o

conjunto de leis-regulamentadoras da seguridade social, cuja implantação

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progressiva deveria ter acontecido até o prazo máximo de 5 de abril de 1991. Sobre

essa questão, vejamos a seguinte posição:

(...) a Constituição de 1988 apontava para a construção pela primeira vez assim posta na história brasileira de uma espécie de Estado de bem-estar social. Não é por acaso que, no texto constitucional, de forma inédita em nossa lei máxima, consagram-se explicitamente, como tais e para além de direitos civis e políticos, os direitos sociais (coroamento, como se sabe, da cidadania moderna). Com isto, colocava-se o arcabouço jurídico-político para implantar, na sociedade brasileira, uma política social compatível com as exigências de justiça social, equidade e universalidade. (NETTO, 1999, p. 77).

Os direitos foram ampliados na Constituição Federal de 1988. Sobre esta

afirmação, Pereira (2008) argumenta que graças à mobilização da sociedade, as

políticas sociais tornaram-se centrais, nessa década, na agenda de reformas

institucionais que culminou com a promulgação da Constituição Federal de 1988.

Daí então, a reformulação formal do sistema de proteção social que incorporou

valores e critérios que, embora já fossem comuns em países desenvolvidos, no

Brasil significaram grandes inovações:

Os conceitos de direitos sociais, seguridade social, universalização, equidade, descentralização político administrativa, controle democrático, mínimos sociais, dentre outros, passaram, de fato, a constituir categorias-chaves norteadoras da constituição de um novo padrão de política social a ser adotado no país. (PEREIRA, 2008, p. 152).

Sendo assim, a Seguridade Social marca de forma pontual a trajetória da

Assistência Social:

A problemática da ajuda e do socorro, que já perdera a sua significação religiosa, perde a sua dimensão moral, passando a ser sancionada como direito social de cidadania pelo fato de pertencer a uma dada comunidade política (TEIXEIRA, 2008, p. 98).

Segundo Barbosa (1991, p. 07), até o prazo constitucional de 05 de abril

de 1989, e logo depois desse prazo, o Poder Executivo não havia encaminhado ao

Congresso propostas de lei da Assistência Social. Houve algumas tentativas de

instituições como o IPEA e a UnB, além do MPAS, de apresentarem uma proposta

da LOAS. Contudo, nenhuma delas prosperou no sentido de induzir o Executivo a

propor a regulamentação. Subsídios havia, a intenção é que faltou.

Assim sendo, a assistência social percorreu um longo caminho para chegar à categoria de política pública garantida pelo Estado, ocorrendo somente em 1993, expressa na Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS.

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Posteriormente, o Estado sofrerá modificações, que consequentemente comprometerão suas funções principalmente no âmbito da seguridade social, em especial a assistência social. (DAMÁSIO, 2009, p. 33).

Em 1993, foi aprovada a lei Orgânica da Assistência Social. Essa lei deixa

claro que a assistência é direito do cidadão e dever do Estado e que também se

trata de uma política não contributiva da seguridade social, que deve prover os

mínimos sociais através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da

sociedade. E como todo direito social deste país, ela teve uma forte resistência da

classe dominante.

Assim, “a LOAS nasceu subordinada a processos e interesses

econômicos e políticos que mediam as relações sociais da sociedade brasileira e

consequentemente trabalham na contramão do desenvolvimento da mesma.”

(DAMÁSIO, 2009, p. 62).

É certo que a história da Política de Assistência Social não termina com a

promulgação da LOAS. Yasbek (2004) confirma que esta Lei introduziu uma nova

realidade institucional, propondo mudanças estruturais e conceituais, um cenário

com novos atores revestidos com novas estratégias e práticas, além de novas

relações interinstitucionais e intergovernamentais, confirmando-se enquanto

“possibilidade de reconhecimento público da legitimidade das demandas de seus

usuários e serviços de ampliação de seu protagonismo”, assegurando-se como

direito não contributivo e garantia de cidadania.

Durante o governo Fernando Henrique Cardoso, no campo da assistência

social houve algumas especificidades tais como o caráter universal da assistência

social, que foi trocado por políticas residuais, vinculadas a critérios clientelistas para

intervir na questão social. Destaca-se a Medida Provisória nº 813 de 01 de janeiro

de 1995, que criou o Programa Comunidades Solidárias, coordenado pela então

primeira-dama Ruth Cardoso, com o objetivo de combater a fome e a miséria. Suas

prioridades se destinavam à alimentação, nutrição e desenvolvimento urbano.

Em dezembro de 1998 foi aprovado pelo Conselho Nacional de

Assistência Social (CNAS), a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e a

primeira Norma Operacional Básica de Descentralização, construída em parceria

com Estados e Municípios e referendada em reunião ampliada do CNAS, em Belém

do Pará.

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Segundo Pereira (2002), em 1999, foi criada em âmbito Federal a

Secretaria de Estado de Assistência Social, responsável pela implementação da

PNAS, pela implementação do sistema descentralizado e participativo da

Assistência Social e pela coordenação da Política Nacional do Idoso.

As tentativas de entendimento da política de assistência apontam para

várias direções, e uma das mais correntes é a afirmação de que:

A assistência social é uma ação pública e privada que, tradicionalmente, não se constitui como componente das políticas de desenvolvimento econômico e social, não avançando, em consequência, para além das clássicas medidas reparadoras e/ou amenizadoras das situações de pobreza. (BOSCHETTI, 2003, p. 41).

Em 2003, dá-se início no Brasil, através do governo de Luís Inácio Lula da

Silva, ao programa Fome Zero, de caráter assistencialista. Porém, o programa não

obteve a extensão que o governo desejava e no seu primeiro ano sua cobertura foi

mínima, o que não garantiu à população-alvo o acesso à distribuição de alimentos.

Fica evidente, portanto, que o programa Fome Zero permaneceu apenas no plano

do assistencialismo. No final deste mesmo ano é lançado o Programa Bolsa Família

(PBF) através de medida provisória incorporando o Programa Fome Zero, dentro do

Ministério do Desenvolvimento e Combate à Fome, compreendido como um

programa de transferência de renda para beneficiar as famílias pobres com renda

per capta de R$ 60,00 a R$ 120,00. (DAMASIO, 2009).

O Estado, ao longo da história, se apropriou não só da prática assistencial

como expressão de benemerência, como também incentiva e direciona os esforços

de solidariedade social na sociedade. A assistência social é uma política pública que

precisa ser consolidada na efetivação dos direitos.

A Política Nacional de Assistência Social (PNAS) é a expressão material

do artigo constitucional que garante o direito de Assistência Social a todos que dela

necessitarem. Em consonância com art. 1º da LOAS, trata-se de uma “Política de

Seguridade Social não contributiva que provê os mínimos sociais e é realizada

através de um conjunto integrado de iniciativas públicas e da sociedade, para

garantir o atendimento às necessidades básicas” (Lei nº 8.842, In CRESS 7ª).

A Política de Assistência Social atualmente se estrutura no Sistema Único de Assistência Social (SUAS) estabelecido como pacto federativo entre os gestores da Assistência Social, das três esferas do governo (União, Estados e Municípios) e a sociedade civil. Fomenta a descentralização na gestão, no

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monitoramento e no financiamento dos serviços sob o modelo de gestão descentralizada e participativa. (DAMASIO, 2009, p. 68).

No âmbito da Assistência, o SUAS assegura a proteção social para os

cidadãos que dela necessitarem. A Proteção Social Básica tem um caráter

preventivo, tem por fim evitar situação de risco, desenvolvimento de potencialidades

e aquisições dos usuários, que vem a fortalecer os vínculos familiares e

comunitários. Os serviços de Proteção Social Básica serão executados nos Centros

de Referência de Assistência Social (CRAS) que “são unidades públicas estatais de

base territorial devendo ser localizados em áreas de vulnerabilidade social, podendo

abranger até 1.000 famílias/ano” (MDS, Idem).

Sendo assim, a função dos CRAS é de executar os Serviços de Proteção

Social Básica, organizar e coordenar a rede de serviços socioassistenciais locais da

política de Assistência Social, objetivando a orientação e convívio sociofamiliar e

comunitário das famílias e pessoas assistidas. E, por último, a Proteção Social

Especial se configura em uma modalidade de atendimento assistencial destinado a

famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social (MDS),

decorrentes de situações de abandono, violência, uso de substâncias psicoativas,

cumprimento de medidas sócias educativas, situação de rua, situação de trabalho

infantil, etc.

A assistência social também compreende a família como um espaço contraditório, marcado por tensões, conflitos, desigualdades e, até mesmo, violência. Nessa direção, ao eleger a matricialidade sociofamiliar como eixo do SUAS, a família é enfocada em seu contexto sociocultural e econômico, com composições distintas e dinâmicas próprias. Essa compreensão busca superar a concepção tradicional de família, o modelo padrão, a unidade homogênea idealizada e acompanhar a evolução do seu conceito, reconhecendo que existem arranjos distintos, em constante movimento, transformação. (BRASIL, 2009, p. 14).

No contexto social brasileiro, percebe-se o avanço no conjunto de

legislação na concepção de proteção social, que garante essa proteção como um

direito de cidadania. Damásio (2009) confirma que há certa dualidade na concepção

e na execução da Política de Assistência Social brasileira que parece transitar entre

a definição de direito e benemerência, onde se observa certa resistência de setores

da sociedade quanto à necessidade de resguardar aqueles que foram excluídos do

processo produtivo.

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Dar conteúdo técnico à Política Nacional de Assistência Social, preservando o diálogo com as especificidades decorrentes da diversidade cultural, étnica e social, próprias da realidade brasileira, é ainda um desafio, que poderá ser superado por meio da produção de materiais complementares, nos próximos anos. Esta produção depende do conhecimento de boas práticas e das necessárias adequações delas decorrentes, a fim de que o SUAS se traduza em conquistas importantes para os povos e comunidades tradicionais, indígenas, população rural e demais segmentos populacionais do nosso país. (BRASIL, 2009, p. 03).

Na história de luta e desafios da Assistência Social sempre estiveram

presentes elementos que no seu processo de consolidação intervieram com o

propósito de retardar sua concretização, e atualmente estão presentes com um novo

formato modernizador, ou seja, considerado um avanço dentro da própria Política

Nacional de Assistência Social (PNAS). Diante deste contexto, consideramos

importante mencionar quais os direitos dos idosos no âmbito da assistência

mostrando à sociedade que a evolução que a mesma teve impactou a vida de

muitos segmentos, como crianças, gestantes, e principalmente os idosos, que são o

nosso foco nesta pesquisa.

3.3 Direito dos Idosos através das Políticas: um breve contexto da Política Nacional do Idoso ao Estatuto do Idoso

No final do século XIX, são criadas as primeiras legislações e medidas de

proteção social, com destaque para países como a Alemanha e a Inglaterra. No

entanto, a generalização de medidas de Seguridade Social no capitalismo se dará

no período posterior à Segunda Guerra Mundial, no qual se assiste à singular

experiência da construção do Welfare State5, ou Estado Social, em alguns países da

Europa Ocidental, acompanhado de diversas tipologias de política social, tanto no

capitalismo central, ou “capitalismo organizado”, como na periferia capitalista.

(FALEIROS, 2000).

No Brasil, a proteção ao idoso surgiu no bojo da assistência social. À

medida que a assistência social foi se transformando em política pública, a atenção

5 No Brasil, o sistema de proteção social brasileiro começa a se estruturar a partir de 1930, sob o governo de Getúlio Vargas. Apesar da expansão na cobertura das políticas, o que ocorreu foi um aumento acentuado nas desigualdades sociais, com uma intensa precarização dos serviços prestados, diante de uma crescente clientela.

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ao idoso foi assumindo o mesmo caráter, especialmente a partir da Constituição de

1988.

No atendimento da assistência a grupos específicos, dentre os quais

destacamos aqui os idosos, a política pública de Assistência Social pauta-se pelo

princípio da democracia participativa como um contrapeso ao domínio da

democracia representativa.

No que diz respeito especificamente ao idoso, a política pública de

Assistência Social constitui área estratégica de expressiva cobertura em todas as

unidades federadas, que engloba, segundo Pereira (2002), no âmbito federal,

transferência continuada de renda a idosos impossibilitados de prover a sua própria

manutenção ou de tê-la provida por sua família, e especial à pessoa idosa; no

âmbito estadual, municipal e/ou no Distrito Federal, ações desenvolvidas pelos

governos que, em parceria com o governo federal ou instituições privadas, podem

contemplar celebração de convênios para prestação de serviços especiais:

distribuição de benefícios eventuais; criação e regulamentação de atendimentos

asilares; realização de programas educativos e culturais; isenções fiscais de

entidades particulares, dentre outros.

Falando dos tipos de proteção, temos a proteção social básica e especial

à pessoa idosa: constitui apoio financeiro federal a serviços, programas e projetos

executados por governos de Estados, Municípios e Distrito Federal, bem como por

entidades sociais, tendo em vista o atendimento de pessoas idosas pobres, a partir

dos 60 anos de idade. Seu objetivo é contribuir para a promoção da autonomia,

integração e participação do idoso na sociedade e fortalecer seus vínculos

familiares.

Outra proteção social básica desenvolvida pela política de Assistência

Social que indiretamente beneficia os idosos é o Programa de Atenção Integral à

Família (PAIF), realizado nos Municípios, em unidades locais de Assistência Social,

denominadas Casa das Famílias, com vistas ao acolhimento, convivência,

socialização e estímulo à participação social das famílias e seus membros. A assistência social constitui uma área estratégica para a manutenção de

uma ampla rede de proteção para as pessoas idosas. Carvalho (1998) afirma que,

para além do benefício de prestação continuada, previsto na LOAS, inclui também

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outros benefícios tais como: centros de convivência, casas lares, abrigos, centros de

cuidados diurnos, atendimento domiciliares, dentre outros, em articulação com as

demais políticas públicas.

3.4 Os direitos dos idosos: a criação de legitimação própria

Em 1994, surgiu a Lei N° 8.842, fruto de um processo histórico de luta

pelo reconhecimento e direitos, como dignidade e cidadania da população idosa,

assim como também se cria o Conselho Nacional do Idoso. A referida Lei tem em

seu art. 1º a especificidade para que foi criada: “A política nacional do idoso tem por

objetivo assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua

autonomia, integração e participação efetiva na sociedade.” Constituída de seis

capítulos e vinte e dois artigos, tem por objetivo “assegurar os direitos sociais do

idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação

efetiva na sociedade”.

Algumas ações governamentais em diversas áreas sociais são previstas

na Política Nacional do Idoso, dentre as quais destacaremos as principais:

Área de Promoção e Assistência Social – Prevê o desenvolvimento de ações voltadas para o atendimento das necessidades básicas do idoso. Criação de centros de convivência, casas lares, oficinas abrigadas de trabalho, enfim, locais onde os idosos possam desenvolver atividades úteis e que afastem o ócio de suas vidas, trazendo contribuição para a comunidade fazendo com que o idoso sinta-se engajado à comuna em que vive. Área de Saúde – Garante ao idoso o acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS), prevendo ainda medidas profiláticas para a recuperação de sua saúde, utilizando-se de serviços alternativos de saúde para o idoso. Área de Educação – Promove o acesso do idoso à formas alternativas de educação, trazendo a educação para o dia-a-dia do ancião. Incentiva a alfabetização do idoso e o seu acesso às universidades. Área do Trabalho e Previdência Social – Cria mecanismos que evitam a discriminação do idoso no mercado de trabalho. Prioriza o atendimento dos idoso na previdência social e, principalmente, determina a criação de programas que preparem os trabalhadores para se aposentarem. Área de habitação e Urbanismo – Ciente das dificuldades enfrentadas pelo idoso a lei determina o incentivo ao acesso à habitação pelo idoso e a adaptação de suas moradias às suas condições físicas. Diminuir barreiras arquitetônicas e urbanas. Área da Justiça – Garantir o acesso à Justiça e o respeito dos direitos dos idosos. Área da Cultura, Esporte e Lazer – Não concebe um idoso alheio à produção cultural. Incentiva o idoso a produzir culturalmente e também a participar ativamente das atividades culturais. Para tanto propõe o acesso a eventos culturais com valores reduzidos e a criação de programas de lazer, esporte e atividades físicas que melhorem a qualidade de vida do idoso. (BRASIL, 2003, p. 13).

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Sancionado em 2003, o Estatuto do Idoso amplia os direitos dos cidadãos

com idade acima de 60 anos, sendo que dois princípios merecem destaque: o

princípio da proteção integral e o princípio da absoluta prioridade do idoso.

O Estatuto do Idoso, elaborado com intensa participação das entidades de defesa dos interesses das pessoas idosas, aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado pelo presidente Lula, ampliou em muito a resposta do Estado e da sociedade às necessidades dessas pessoas. Trata dos mais variados aspectos da sua vida, abrangendo desde direitos fundamentais até o estabelecimento de penas para crimes mais comuns cometidos contra as pessoas idosas. (BRASIL, 2003, p.05).

O idoso em sua essência já é um indivíduo que necessita de tutela

específica e o Estatuto do Idoso veio promover a garantia de direitos a essa

população e as famílias:

A Lei nº 10.741- Estatuto do Idoso - entrou em vigor no dia 1º de outubro de 2003, após a aprovação pelo Congresso Nacional. Foi necessária, no entanto, uma trajetória de 20 anos. Em 1999 a Comissão de Seguridade da Câmara aprovou o projeto, sendo criada a Comissão Especial, que, na tarde de 29 de agosto de 2001, sancionou de forma unânime. Três (3) meses depois, em 22 de novembro, foi realizado um grande seminário que tornou público o texto aprovado pela Comissão Especial, no qual todos os participantes concordaram em reconhecer a necessidade do Estatuto do Idoso, que foi aprovado pelo Plenário da Câmara dos Deputados na noite de 21 de agosto de 2003, com alguns dispositivos sugeridos em emenda substitutiva do governo, que enfatiza a responsabilização da família e sociedade civil ao pleno atendimento das necessidades dos idosos. (BRASIL, 2003, p. 111).

E ainda:

Os principais temas tratados pela legislação foram abordados de forma pontual, objetivando com isso a consciência de alguns direitos que os idosos possuem, ou ainda, que alguns não conhecem, e por não conhecerem não podem exercê-los. Procura-se exatamente fazer conhecer para se pôr em prática. Não se pode cobrar ou solicitar providências sem que se conheçam os institutos e direitos existentes. Não se tem a pretensão de esgotar o tema, seria mais uma abordagem sintética, pincelada, sem adentrar na questão com seus pormenores, é uma forma de fazer com que os cidadãos em geral e os idosos conheçam seus direitos, fazendo com que cobrem a sua efetiva realização. (BRASIL, 2003, p. 03).

O Estatuto avança ainda em relação ao Plano Nacional do Idoso no que

diz respeito ao controle social e fiscalização. Quando define a responsabilidade do

governo, enfatiza no artigo 9º: “É obrigação do Estado garantir à pessoa idosa a

proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que

permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade” (BRASIL,

2003).

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O que podemos questionar é que algumas ações que estão descritas

neste Estatuto não são postas em prática pela sociedade. Por isso, a luta de

expansão do conhecimento em relação e essa lei deve ser não somente do

segmento da população idosa, mas da sociedade em si.

No entanto, mesmo que haja legislação específica que deveria garantir o exercício da cidadania e direitos dos idosos como assistência, habitação, alimentação e lazer estabelecidos por meio das políticas sociais, constitui espaço contraditório, pois, o assistencial, como mecanismo presente nas políticas sociais, revela-se, ao mesmo tempo, como exclusão e inclusão aos bens e serviços. (SPOSATI, 2003, p. 30).

O envelhecimento enquanto condição ganha visibilidade por meio das

reivindicações dos idosos. Isso rompe com a dimensão privada da realidade

assumindo uma dimensão cultural e de problema social.

Dessa forma, a política social torna-se importante para o idoso como possibilidade de garantia de direito. O entendimento da trajetória e a constituição da legislação de amparo ao idoso podem levar pesquisadores e interessados na Gerontologia Social a adquirir, compreensão de como o processo de envelhecimento e o estabelecimento das políticas sociais vem constituindo-se na contemporaneidade. (PESSÔA, 2010, p. 103).

Ao longo do caminho, os idosos vão escrevendo sua história. Quando

falamos de política e nos referimos ao Estatuto, percebemos que muito se avançou,

mas que a caminhada ainda é longa para o reconhecimento. Desse modo, Pessôa

(2010) expõe que os programas para aos idosos podem se apresentar sob forma de

benefício ou de um serviço, por meio de ações paliativas que não abrem margem

para discussões sobre a real situação vivenciada pelos idosos.

Em muitos casos, são desenvolvidas atividades que não levam em conta

a opinião da população idosa, como se ela não tivesse condição de realizar

escolhas. É preciso que a sociedade se reconheça como envelhecida. As políticas

sociais precisam promover a integridade dos mais velhos e a importância da sua

participação na sociedade e proporcionar atividades que venham a estimular o

desenvolvimento em diferentes âmbitos na terceira idade.

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4 CRAS MONDUBIM: TRAJETÓRIA E CONTEXTUALIZAÇÃO6

Inicialmente, o atendimento social da população do Mondubim se dava no

CSU do bairro José Walter. A partir de 2007, como resultado de reivindicações dos

moradores, através do Orçamento Participativo7, foi criado o CRAS-Mondubim para

atender a população desse bairro.

O bairro Mondubim, situado na Secretaria Executiva Regional (SER V),

delimita-se com o Parque Presidente Vargas, Parque Santa Rosa, Conjunto

Esperança, Vila Manoel Sátiro, Maraponga, Jardim Cearense, Parque Dois Irmãos e

Prefeito José Walter. O nome primitivo de Mondubim, grafado em carta holandesa

de 1649, era Mondoig (mondo = caçar) e (ig = água, lagoa). A revista do Instituto

Histórico do Ceará traduz o termo como sendo lagoa onde os índios caçavam

pássaros e animais. O nome Mondubim já era citado no mapa da Expedição de

Matias Beck à Maranguape, quando os holandeses estiveram no Ceará.

O bairro tem como atração principal natural a Lagoa do Mondubim, onde

os índios habitantes originais do local pescavam e caçavam. Ao lado da lagoa, foi

construída uma capela e depois a Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro,

em 1908. Essa capela foi tombada pelo Patrimônio Histórico e Cultural. Em 1875, foi

construída a estação de trem da Estrada de Ferro de Baturité, o que estimulou a

economia desta localidade, que ficou baseada em olarias.

Outra referência do Bairro é o sítio do casal Nice e Nilo Firmeza, sendo

este último conhecido como Estrigas. O espaço transformou-se em um pequeno

6 Disponível no Diagnóstico Socioterritorial do CRAS Mondubim/2012. 7 Orçamento Participativo (OP) é um mecanismo governamental de democracia participativa que permite aos cidadãos influenciar ou decidir sobre os orçamentos públicos, geralmente o orçamento de investimentos de prefeituras municipais, através de processos da participação da comunidade. Esses processos costumam contar com assembleias abertas e periódicas e etapas de negociação direta com o governo. No Orçamento Participativo retira-se poder de uma elite burocrática repassando-o diretamente para a sociedade. Com isso a sociedade civil passa a ocupar espaços que antes lhe eram "furtados. A execução do OP em Fortaleza iniciou-se em 2005 como fruto do Programa de Governo, da então prefeita Luizianne Lins, do Partido dos Trabalhadores (PT), que trazia como diretriz central de seu governo a participação popular e a democratização dos processos de gestão da cidade. O OP então se desenvolveu ao lado de outros instrumentos que visavam à efetivação e o aprimoramento dos processos participativos em Fortaleza, como por exemplo: o Plano Plurianual Participativo, Plano Diretor Participativo, as Conferências Municipais, os Conselhos Municipais e a Coordenadoria da Participação Popular.

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museu da pintura cearense e reúne um acervo de 300 peças entre óleo sobre tela e

pequenas esculturas.

O Mondubim passou por grandes interferências para atender ao processo

de urbanização e mobilidade da cidade. A lagoa e seu entorno receberam obras de

terraplanagem, drenagem, pavimentação, recuperação do sangradouro e limpeza. A

revitalização da lagoa possibilita lazer e pesca. Outra grande obra ocorre no entorno

da lagoa. Onde antes funcionava uma casa de forró, foi construído mais um Centro

Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (CUCA), que recebe moradores dos

bairros Vila Manoel Sátiro, Maraponga, Vila Peri, entre outros.

O Mondubim é um bairro muito populoso, conta com uma área de

1.605,10 e com uma população de 76.044 habitantes. (PMF, 2012).

Segundo uma avaliação da Assistência no bairro, o Centro de Referência

de Assistência Social, em março de 2008, foi transferido para um equipamento da

prefeitura de Fortaleza, conhecido como salão do idoso Rosa Amaro Cavalcante,

situado no bairro Mondubim, onde desde o ano de 2007 o Cadastro Único já

funcionava. Com a mudança de local, o CRAS do Mondubim tinha como serviços

ofertados à comunidade os grupos de Inclusão Produtiva, o PABI, e o Projovem

Adolescente. Esse último funcionava no antigo ABC do Parque São José. O

momento de transição foi um período delicado, pois com a chegada dos

adolescentes no espaço, os idosos tiveram dificuldades em assimilar a mudança e

apropriação do espaço físico que outrora era apenas daquela faixa etária.

O CRAS do Mondubim atende aos seguintes territórios: Mondubim, Novo

Mondubim, Vila Manoel Sátiro, Parque São José, Maraponga e Jardim Cearense,

além do Parque Santo Antônio, da comunidade do Arroz, na Maraponga, e da

Comunidade Cônego de Castro, no Parque São José. Salientamos que algumas

comunidades do Grande Mondubim, como Loteamento São Mateus, Renascer,

Aracapé e Parque Santana, são atendidos por outros equipamentos assistenciais –

o CRAS Conjunto Esperança e o CRAS Aracapé.

Como em toda comunidade, os territórios atendidos pelo CRAS

Mondubim apresentam problemas sociais. Conforme os atendimentos feitos pela

instituição aos usuários da política de assistência social, os seguintes problemas

foram observados: uso e tráfico de drogas, criança/adolescente se recusando a

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frequentar escola, descumprimento de condicionalidades do programa bolsa família,

gravidez precoce, trabalho infantil, violência urbana, lixo acumulado nas ruas, além

de demanda para acompanhamento psicológico para crianças e adolescentes. E

quanto aos equipamentos de assistência social, estes contam com o apoio do

Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS II), situado no

bairro Parquelândia, e do Conselho Tutelar situado no bairro Conjunto Ceará.

O território atendido pelo CRAS Mondubim conta com nove entidades

inscritas no Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS), que compõem a rede

social assistencial. Na área da saúde, há cinco unidades de atenção básica e um

Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas (CAPS ad). Na área de educação,

há dezesseis escolas municipais, dez creches, seis escolas estaduais e quarenta e

cinco escolas particulares.

O CRAS do Mondubim, desde sua implantação em 2008, tem em seu

histórico a rotatividade da equipe técnica e coordenação, o que prejudica a

continuidade dos serviços e conhecimento dos problemas sociais do território.

Apesar do espaço físico ser amplo, ainda não existe sala para trabalho em grupo e

de atendimento individual adequado, o que ocasiona choque nas atividades

executadas.

Não há nenhum equipamento assistencial nos bairros Maraponga e

Jardim Cearense e as famílias que são atendidas pelo CRAS Mondubim ressaltam

como ponto negativo a distância, pois muitas não têm como arcar com despesas de

transporte público. Como alternativa, são realizados ações no território, mas isso

não responde à demanda da comunidade.

Segundo a equipe do CRAS-Mondubim, também são feitos trabalhos

intersetoriais, como saúde, educação, segurança, direitos humanos, que

movimentam a articulação da rede local e se aproximam de resultados eficazes no

cotidiano da comunidade.

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5 O CENÁRIO DA PESQUISA

Para a realização desta pesquisa, ocorreram diversos encontros no

CRAS-Mondubim. O primeiro contato com a instituição ocorreu no mês de outubro

de 2014, para conhecer um pouco do local e conversar com a Assistente Social, no

intuito de entender os processos e realizar a pesquisa ali. Fomos recebidas pela

coordenadora do local, a qual passou todos os dados solicitando, para isso, o ofício

da Faculdade (Anexo) direcionado para a Secretaria de Trabalho, Desenvolvimento

Social e Combate à Fome (SETRA), que é responsável pela assistência social em

Fortaleza.

Realizamos todo o procedimento em relação ao pedido do ofício e à

entrega na SETRA até a espera da liberação do documento. Depois de quase um

mês, recebemos a resposta positiva para realizar a pesquisa no CRAS Mondubim

com os idosos. O segundo contato com o CRAS ocorreu para a entrega da liberação

da pesquisa e uma possível conversa com a Assistente Social para reforçar os

objetivos da pesquisa.

Muitos dias após a autorização, a coordenadora ligou-nos para avisar

sobre a liberação da pesquisa. A partir daí, participamos dos encontros com os

idosos, que ocorrem três vezes por semana no CRAS. No primeiro encontro, que

ocorreu no final do mês de novembro, nos limitarmos a observar o grupo e os

métodos que os educadores sociais utilizavam com os idosos. No segundo encontro,

participamos de atividades junto com os idosos, tais como: confecções de cartões de

natal artesanais, alongamento corporal e ensaio musical. Fomos construindo laços

com eles e nos familiarizando. No terceiro encontro, já nos apresentamos para

alguns idosos e dissemos qual a finalidade de nossa presença naquele local.

A partir de então, foi possível a coleta de dados através das entrevistas

individuais, ou seja, separadas do grupo. Nesse momento, foi feita a entrega do

termo de compromisso (Anexo) para assinatura.

Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com cinco idosos, com

perguntas abertas.

Os entrevistados (quatro mulheres e um homem) têm idade entre 70 e 81

anos. Por decisão conjunta entre a pesquisadora e os participantes, os nomes reais

foram trocados por codinomes.

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5.1 Perfil dos entrevistados

Dom Juan tem 70 anos, é residente do Bairro Mondubim, apresenta um

porte físico jovial e vive maritalmente com uma pessoa mais jovem do que ele há 15

anos. Recebe o Benefício de Prestação Continuada (BPC), mas ainda permanece

no mercado de trabalho atuando como vendedor autônomo de bolsas e cintos e, nas

horas vagas, ainda auxilia sua esposa no processo de venda de quentinhas.

Segundo os funcionários do CRAS-Mondubim, sua presença no grupo de idosos

provoca suspiros entre as idosas por ser considerado um sujeito charmoso e

elegante. Não estudou porque priorizou o trabalho, mas seu irmão o ensinou a

escrever seu nome. Segundo o próprio, procurou o CRAS porque estava se sentindo

triste e precisava se divertir um pouco. Frequenta o espaço que hoje é o CRAS há

12 anos. É uma pessoa assídua, cordial, é educado com todos e gosta de se

posicionar nas reuniões sugerindo ideias para melhorar as atividades no grupo.

Também gosta de dançar forró, praticar esporte e de se vestir com roupas

modernas. Segundo ele, ainda se sente muito jovem. Sua esposa não frequenta o

grupo de idosos porque trabalha durante o dia e não possui idade apropriada.

Dona Margarida tem 75 anos, é residente do Bairro Novo Mondubim, é

simpática, doce e educada, casou ainda adolescente e teve 14 filhos. Hoje, é viúva.

Recebe o BPC e sempre trabalhou em seu domicílio com tarefas domésticas. Mora

com a filha, um neto e o genro. Nunca estudou porque perdeu os pais aos quatro

anos de idade e seu irmão, que a criou, não permitiu que ela frequentasse a escola,

pois ela era responsável pela cozinha de sua casa, ou seja, precisava cozinhar os

alimentos para os trabalhadores contratados pelo seu irmão mais velho, que

trabalhava na agricultura. Sentia-se explorada pelo irmão, mas acreditava que ele a

obrigava por conta da situação econômica difícil que eles enfrentavam. À noite, sem

que o irmão percebesse, fugia para assistir aula na sala do Movimento Brasileiro de

Alfabetização (MOBRAL), com o objetivo de aprender a escrever seu nome.

Segundo Dona Margarida, isso era suficiente. Ela gosta de cuidar da família,

passear, conversar e dançar forró. Informou que procurou o CRAS-Mondubim

porque estava depressiva e queria sair de casa para fazer amizades. Considera-se

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jovem porque é uma idosa saudável. Frequenta o espaço que hoje é o CRAS há 10

anos.

Dona Teinha tem 78 anos, é uma senhora de aparência jovial, gosta de

dançar forró, se comunicar, fazer amizades e praticar caminhada todas as manhãs

com suas amigas. É casada e mora com o esposo, uma filha e dois netos, no Bairro

Vila Manoel Sátiro. Recebe o BPC e já trabalhou informalmente como professora

particular ministrando aulas de reforço escolar para crianças. Estudou até a quinta

série e se considera uma pessoa feliz, jovem e bonita. Segundo os profissionais do

CRAS, ela é considerada a rainha dos idosos, por ser bela, de olhos verdes e corpo

definido. Sua beleza já lhe proporcionou o título de "Idosa Bela" no concurso de

beleza realizado no ano de 2013, no Bairro Sitio Córrego. Procurou o Grupo Rosa

Amaro no CRAS-Mondubim porque estava com depressão. Frequenta o espaço há

10 anos. Seu esposo não frequenta esse espaço porque não gosta de sair de casa.

Dona Florzinha tem 80 anos, reside no Bairro Novo Mondubim, é viúva,

aposentada e ex-funcionária pública. Recebe a pensão do marido, que também era

funcionário público. Estudou até a quinta série do primeiro grau e, atualmente, mora

com um filho e próximo à casa da filha. Florzinha faz bonecas, crochê e bichinhos de

lã como forma de terapia. Gosta de citar poemas porque se considera uma pessoa

romântica e apaixonada. É vaidosa e assídua no salão de beleza, porque acredita

que a mulher precisa estar sempre bonita e perfumada. Dona Florzinha foi

convidada pela sua vizinha para frequentar o Grupo Rosa Amaro porque estava

depressiva, solitária e doente, sem ânimo e sem força pra viver. Frequenta o espaço

que hoje é o CRAS há 15 anos.

Dona Prefeita tem 81 anos, reside no Bairro Novo Mondubim, é viúva e

recebe a pensão do esposo, que era funcionário estadual. Quando jovem, tinha o

sonho de estudar e se tornar uma escritora, mas só estudou até a quinta série do

primeiro grau. Casou com dezesseis anos de idade por imposição dos pais. Teve

doze filhos e sempre trabalhou em sua residência nas atividades domésticas. Reside

atualmente com o filho. Como não gosta de dirigir, precisou contratar uma pessoa

para realizar essa tarefa. Ela gosta de ler, escrever e se comunicar. Segundo os

funcionários do CRAS, essa idosa é considerada por todos como uma velha rica,

porque chega no CRAS sempre elegante, demonstrando uma postura diferente no

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sentar, no andar e no falar. Não gosta de dançar, prefere assistir aos idosos

dançarem. Frequenta o espaço que hoje é o CRAS há 12 anos.

5.2 A percepção dos entrevistados sobre políticas públicas para idosos

Em uma análise prévia, podemos identificar que ser idoso é uma questão

não de escolha, mas faz parte do natural da vida. Chegar à fase de ser uma pessoa

idosa tem seus percalços, pois podem ocorrer fatalidades que interrompam esse

processo da vida em continuidade.

Quando questionamos os sujeitos sobre o que é ser idoso, idosa, já que

os mesmos tiveram o privilégio de chegar a essa fase, suas respostas são enfáticas:

Ser idoso é poder viver bem, viver o que não podia viver. Ser idoso é ser feliz, é poder sair, se comunicar, se relacionar com outras pessoas, é ter saúde e usufruir de seus direitos. Sinto-me muito jovem ainda, é por isso que as pessoas daqui me taxam de Dom Juan. (DOM JUAN, 70 anos).

Os estereótipos sociais incorporados ao cotidiano da velhice podem

passar a definir algum quadro clínico psicopatológico (LOPES, 2008). O mesmo

autor considera importante ressaltar que a ausência de projetos, de sonhos e de

conquistas nesta fase é um convite à depressão. Essa opinião se explica na fala da

Dona Teinha, que afirma que o idoso precisa realmente se cuidar, viver, dançar e se

divertir, para não ficar depressivo, afirmando que isso a leva a uma vida melhor.

Ser idosa é ser feliz, é dançar, sair, fazer amizades, ter a liberdade de poder usufruir de seus direitos que até então não podia usufruir. É ser reconhecida como uma pessoa útil. Pois acredito que já colaborei muito para o desenvolvimento do nosso país, pagando meus impostos. Ser idoso é também ter saúde, pois quando a pessoa é nova ela não pensa muito em se cuidar: ela bebe, fuma, vira a noite e come de tudo. Aí quando fica mais madura a pessoa quer ter mais cuidado com sua saúde, mas sem deixar de viver, de se divertir, dançar, namorar, fazer caminhada e outras coisas. Aqui o povo me chama de pé de valsa, porque eu danço muito. Eu não me sinto velha, eu faço parte da classe que é madura. (DONA TEINHA, 78 anos).

Lopes (2008) afirma que, na velhice, muitos idosos dizem que as

melhores coisas estão presentes nessa fase da vida, como: sabedoria, tempo livre,

proteção, carinho, independência econômica e direitos sociais. Essa conclusão do

autor é confirmada nos depoimentos de Dona Florzinha e Dona Margarida e, como

podemos observar, também nas outras falas em relação ao significado do que é ser

idoso.

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Ser idoso, idosa, é ser feliz, é poder andar sem dar explicação, é ser livre, é poder amar sem ser recriminada. Ser idosa é ter saúde, é poder dialogar com outros idosos, é ser vista e respeitada. É poder ter o direito de sentar dentro do ônibus no local para os idosos, reivindicar e ser atendido. Ser idoso é ter direito a remédios, ao benefício e outras muitas coisas, porque pra mim o idoso tem muito direito, mas não vemos isso na prática. (DONA FLORZINHA, 80 anos). Minha filha, apesar de eu ser analfabeta, sabe, sei que ser velha ou idosa é ser feliz, pois não me sinto velha, ao contrário, me sinto mais nova do que antes, pois quando era jovem me sentia mais velha, era muito cansada de tanto trabalhar, não aproveitava e nem sentia a vida. Não namorei muito, não ia às festas, casei nova demais (ficou em silêncio e pensativa nessa hora), tive muitos filhos, e sofria muito. Hoje não, hoje eu me sinto jovem, feliz e livre, faço dança, brinco, converso e falo com todo mundo. Em casa, tenho meus netos e isso é muito bom pra mim. Ser idosa é isso, minha filha. (DONA MARGARIDA, 75 anos).

A identificação negativa atribuída à velhice ocasiona, em grande parte das

pessoas, uma visão negativa de futuro. Lopes (2008) expõe que isso ocorre porque

muitas pessoas têm a percepção da chegada da velhice predominantemente

associada a doenças e algumas debilidades físicas. Essa visão negativa não ocorre

na argumentação de Dona Prefeita, pois a mesma relata que chegar à fase da

velhice é uma alegria para ela. Já que a fase da juventude não trouxe boas

recordações, estar na fase da velhice, para ela, é apreciar a vida de uma outra

forma, mais eficiente e feliz.

Ser uma pessoa idosa é muita felicidade, porque quando olho pra trás e vejo minha vida como era antes e como é hoje... hoje é um mar de rosas. Sofri muito, casei nova sob pressão de ameaças, fui infeliz. Quando me tornei idosa, comecei a viver. Quando jovem, estudei um pouco; sempre tive planos e sonhos de me tornar uma escritora, mas fui impedida de estudar para isso. (nessa hora baixou a cabeça com tristeza e engasgou a voz). Sabe, minha filha, é tão bom ver as pessoas estudando, se formando. Ser idosa, para mim, me proporciona liberdade. Posso sair, conversar, sair de grupos com minhas amigas e me socializar com outros idosos sem ter pessoas me impedindo. Se fosse um pouco mais nova, iria voltar aos estudos (nesse momento, sorri). Ser idosa, minha filha, é isso: é ser livre! (DONA PREFEITA, 81 anos).

Mercadante (2007) ressalta que, existir como velho hoje, na nossa

sociedade, implica viver em uma situação de discriminação social. No futuro, esta

situação poderá ser modificada, na medida em que passe a ser construída e

constituída culturalmente. Quando observamos tal afirmação do autor, ligamos ao

processo de mudança que ocorre na vida dos idosos pela assistência social através

do CRAS.

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Isso é descrito pelos sujeitos da pesquisa quando afirmam que o CRAS-

Mondubim modificou a vida deles, que discriminações na instituição não existem,

pois a mesma tenta prezar pelo bem estar e pela modificação que deseja alcançar

de igualdade entre a sociedade. Vejamos a seguir:

O CRAS é um local muito bom, é onde faz a ponte entre nós idosos e os direitos que nós temos. E o CRAS também realiza encontros dos idosos entre si, para que eles possam fazer amizades, dançar, fazer alongamento no corpo e outras coisas. O CRAS é muito importante para o idoso, pois se não existir CRAS, os velhos vão ficar todos no fundo da rede, doentes e murchos. Os encontros que os idosos realizam duas vezes por semana neste espaço proporcionam pra gente a felicidade da socialização e de viver, isso é viver bem. (DOM JUAN, 70 anos).

O CRAS para mim foi um presente, porque eu estava em casa muito doente, muito triste, desanimada e meio depressiva e foi no CRAS que eu encontrei amigos, alegria, e o forró (muitos risos nessa hora). É no CRAS que os idosos se reúnem para fazer artesanato, cantar, declamar poesia e dançar muito. Esse grupo Rosa Amaro me traz também informações inclusive sobre os meus direitos, os cuidados com a saúde. Minha vida mudou muito depois que vim pra cá, me senti mais gente porque aqui todo mundo me trata bem. Enfim, o CRAS é uma instituição maravilhosa. (DONA TEINHA, 78 anos).

Segundo Brasil (2012), garantir o atendimento dessa parcela da

população não é luxo, mas uma necessidade fundamentada em direitos

constituídos, principalmente desenvolvida em instituições como o CRAS. As

políticas e programas devem ser baseados nos direitos, necessidades, preferências

e habilidades das pessoas mais velhas, considerando que cada Município, Região e

Estado, tem demandas especificas que precisam ser consideradas. Deve-se manter

a autonomia e a independência do idoso, com qualidade de vida. Observamos tal

afirmação na fala da Dona Teinha, acima. Do mesmo modo, os demais

entrevistados expõem que:

O CRAS tem um trabalho maravilhoso por que os profissionais fazem de tudo para que os direitos dos idosos possam ser visto e garantido. Mas tem coisas que eles não podem fazer porque são problemas estruturais. O CRAS é muito importante não só para nós idosos, mas para as crianças, os jovens, a comunidade em si. Aqui, as pessoas fazem o cadastro do bolsa família, as grávidas ganham até kits enxoval. Tem oficina, palestra, lanche e outras coisas. Só o PAIF parece que não está funcionando, não sei te explicar bem. (DONA FLORZINHA, 80 anos).

O CRAS pra mim é uma benção, não tinha o que fazer no período da tarde, só assistia televisão e isso era ruim, já estava com as juntas duras. Aí, quando cheguei no CRAS, vi que tem alongamento, tem dança, isso ajuda nós. Há mais de dez anos estou por aqui, mesmo antes de ser CRAS. Só

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tenho coisa boa para contar. A equipe do CRAS é boa, as meninas me tratam bem, faz a gente se sentir mais nova e muito bem. O CRAS traz muita felicidade para todos nós, mas também para os jovens e as crianças. O prédio só está um pouco feio, né! (DONA MARGARIDA, 75 anos).

O trabalho social desenvolvido com os idosos no CRAS, segundo os

entrevistados, reflete o que Borges (2006) afirma sobre uma perspectiva

socioeducativa, com o objetivo de criar espaços de convivência para minimizar a

solidão e o isolamento social crescente entre os idosos. Percebemos na fala desses

idosos, quando os mesmos se referem à solidão, à tristeza e à depressão que

tinham antes de participarem dos serviços ofertados pelo CRAS.

Minha filha, o CRAS é um refúgio para os velhos, para a garotada e as crianças e as famílias também. Esse povo que trabalha aqui são pessoas maravilhosas, os educadores sociais são atenciosos. Só precisa explicar mais sobre os direitos dos idosos, as políticas voltadas para nós. Porque tem gente aqui que não sabe explicar e nem entende do assunto, e quando a Assistente Social fala é bem resumido, as pessoas quase não entende e ela só fala mais sobre o BPC. Gostaria que você coloque aí na sua pesquisa que o CRAS do Mondubim é de extrema importância para essa comunidade, nossa vida mudou muito com ele. (DONA PREFEITA, 81 anos).

O CRAS é um centro especializado em manter e garantir os direitos

desses sujeitos e dos demais. Em relação a tal perspectiva, as políticas públicas

deverão ser analisadas e informadas através destas instituições para o público

atendido. Como observamos, os idosos afirmam que o CRAS é um refúgio, é

felicidade, é paz. Isso nos leva a considerar que as ações realizadas por esse

equipamento são bem recebidas pelos entrevistados.

Borges (2006) diz que os direitos sociais têm características diferenciais,

como o fato de serem pessoais e intransferíveis, devendo ser concedidos perante a

possibilidade de confirmação objetiva da necessidade dos usuários, sem que

estejam sujeitos a julgamentos morais, porém normalmente são categorias definidas

por leis.

Eu tenho consciência dos meus direitos; conheço um pouco do Estatuto do Idoso, tenho até um livrinho, mas não acredito na efetivação deles em sua totalidade. Sei que nós idosos somos um pouco ingênuo, no sentido de acreditar naquilo que não existe. (DOM JUAN, 70 anos).

Mas, como esses idosos reconhecem e entendem as políticas públicas

em suas vidas? Haja vista os direitos que lhe são garantidos por lei. A seguir,

faremos a análise de suas respostas.

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Para mim, políticas públicas, se refere aos direitos dos idosos efetivado, do tipo: dar sinal no ônibus e ele parar e obedecer para o idoso, que na prática isso não acontece. É poder também entrar no ônibus e usufruir do assento preferencial para o idoso, isso também não acontece. É também chegar na fila do banco e ser atendido na hora, mas isso não acontece. (DOM JUAN, 70 anos).

As políticas públicas no Brasil têm importantes alterações sociais na vida

das pessoas. Conforme Borges (2006), o Estado ampliou essas políticas para todos

os segmentos e, quando nos referimos ao idoso, ela surgiu como forma de resposta

às reivindicações dos movimentos organizados.

Políticas públicas para mim é ter direitos garantidos para a população e para a pessoa idosa, como o Estatuto do Idoso, que fala sobre o que o idoso tem direito garantido por lei, é como dizer que tem ação dos órgãos do governo, junto com a sociedade em prol dos idosos. Acho que é isso, mais ou menos isso. Não sei explicar muito. (DONA TEINHA, 78 anos). Políticas públicas para mim, minha querida, é eu ter direito principalmente quando se refere ao assento nos ônibus e do benefício. Não sei explicar bem. As meninas daqui me falam de vez enquanto sobre isso, mas eu não entendo muito. Isso é muito difícil de entender e como eu não estudei fica mais difícil ainda (muitos risos). (DONA MARGARIDA, 75 anos).

Quando vemos as afirmações de Dona Teinha e de Dona Margarida

sobre as políticas, vemos duas realidades: a de entender que essas políticas

referem-se a direitos, como também a falta de compreensão de Dona Margarida,

que se refere à falta de estudos para entender o que são políticas, sendo que

educação é uma delas.

Concordando com Ferreira (2000), a política tem um significado em

conjunto, seus objetivos identificam os programas que devem ser elaborados pelo

Governo e isso conduz a uma orientação para a melhoria do bem comum.

Percebemos a falta de informações do que é política. Porém, elas devem ser

repensadas pela sociedade e órgãos na condução de socialização e orientação

destes direitos à sociedade, principalmente à população idosa.

É por essa falta de socialização de direitos e da concretização dos

mesmos que alguns desses idosos, como Dona Florzinha, chegam a desacreditar

nas políticas públicas para eles.

Políticas públicas para idosos para mim é a maior mentira! Me desculpe minha filha, mas quase não vejo pessoas falarem desse tema. Porque, pelo que eu saiba, políticas públicas para nós, a maioria está só no papel, como por exemplo o Estatuto do Idoso. Porque quando vou sentar no banco do ônibus que é preferencial para o idoso já tem um jovem sentado, e se vou

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informar que é meu direito sentar ali, eu sou maltratada. Isso é política voltada para nós idosos? É ruim hein! (DONA FLORZINHA, 80 anos).

Para enfrentar o atual contexto brasileiro de garantia efetiva de direitos,

mais idosos buscam se fortalecer conhecendo as políticas que são voltadas para

eles. Embora desacreditando, eles lutam e se informam, conhecem, como Dona

Prefeita, que afirma conhecer os direitos, mas ao mesmo tempo garante que esses

não são efetivamente garantidos, e diante disso, luta por uma sociedade de respeito

a esses direitos.

Bom, políticas públicas voltadas para os idosos conheço várias: Estatuto do Idoso diz que temos direito de andar nos ônibus de graça, sentar nos assentos preferenciais, chegar em uma fila de banco e ser atendida primeiro. Ter direito a saúde, aos remédios de pressão e até viajar para outra cidade sem pagar. Precisamos mudar isso! Temos direito a ter uma boa velhice e tem políticas pra isso! É isso e mais coisa que não lembro no momento, mas veja bem, às vezes esse direito é só de “H”, não funciona como deveria. (DONA PREFEITA, 81 anos).

Neste contexto da luta pela efetivação dos direitos dos idosos, vimos que

muitos conhecem seus direitos, conhecem as políticas. Mas o que percebemos é

que deve haver mudanças na sociedade, não só nas leis e nas políticas, mas na

socialização destes direitos para o bem comum. Os idosos lutam, e se permitem

posicionarem pela concretização de ideias democráticas, como a conquista de sua

liberdade, cidadania plena, para que possam reinventar sua própria velhice, uma

velhice garantida pelas políticas públicas.

O Estado tem o papel fundamental através de suas políticas para garantia

dos direitos de todos, principalmente do segmento dos idosos, o qual retratamos

neste trabalho. A luta por esses direitos através destas políticas foi conquista dos

mesmos na tentativa de fortalecer o papel que o Estado tem na garantia não de

favores, mas de direitos. Direito a tudo que existe na sociedade e que o Estado

fornece e fortalece: saúde, educação, lazer e, principalmente, qualidade de vida.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalhou objetivou entender como os idosos compreendem as

políticas públicas que lhes são atribuídas. Tendo como base de cenário o CRAS-

Mondubim, com fundamento dos teóricos estudados, passamos a ter uma

compreensão maior sobre o conceito de envelhecimento, de assistência social, da

instituição CRAS e, principalmente, das políticas públicas voltadas para essa

população. A articulação da empiria com a teoria é importante porque o

envelhecimento populacional, neste século, é compreendido como um fenômeno

mundial, como vimos com os autores citados, tendo em vista o grande crescimento

da população idosa.

Reportamo-nos à percepção desses idosos sobre a velhice, as

transformações que eles estão vivendo, e sobre as políticas públicas voltadas para

este segmento, para que isso nos possibilitasse uma reflexão sobre suas

percepções em relação a essas mudanças no mundo atual.

Em nossa sociedade, visualizamos a importância da socialização acerca

dos direitos não só para os idosos, mas para todos os segmentos que tem seus

direitos conquistados e garantidos pelas políticas públicas. Pontuamos, no percurso

deste trabalho, as políticas públicas através da assistência social, por pesquisar um

grupo de idosos que faz parte dos programas oferecidos pelo CRAS. Tentamos

focalizar, na visão de cada um, esses serviços oferecidos pela instituição e as

demais políticas para esta categoria.

Percebemos que muitos deles ainda não entendiam como funciona a

assistência social, pois levavam a questão de estar no CRAS como uma satisfação

pessoal, no sentido de que o local oferece forró, dança e laços afetivos. Estar ali é

um motivo para sair de casa e estar em convivência com outros idosos. A ação

através dos grupos de vínculos proporciona isso, mas o objetivo dela ainda é muito

maior. É de garantir a socialização dos direitos, através das políticas para estes

idosos.

Considero que essa pesquisa alcançou o objetivo maior, pois foi possível

captar a percepção dos idosos sobre os serviços oferecidos para eles no CRAS-

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Mondubim, embora eles tenham expressado mais sua subjetividade com relação às

políticas sociais voltadas para eles do que as políticas propriamente ditas.

A pesquisa realizada reflete e aponta para a necessidade de uma maior

valorização da sociedade e, principalmente, do poder público, em proporcionar

atenção privilegiada no atendimento à pessoa idosa, além do suporte financeiro para

os programas destinados a essa faixa etária, como também priorizar um maior

esclarecimento para esses idosos sobre a conquista dos direitos no contexto social.

Diante do exposto, faz-se imprescindível reafirmar a necessidade de o

Estado assumir suas funções de intervenção junto às pessoas idosas. Esta pesquisa

me proporcionou, como futura profissional, refletir sobre a fundamental importância

dessa temática e da valorização dos idosos como pessoas humanas no contexto da

sociedade, da família e do Estado, por isso se deve investir mais em políticas

públicas que melhorem a qualidade de vida dos idosos e que a cada dia eles

possam conseguir enxergar seus direitos.

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APÊNDICE

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APÊNDICE - A

ROTEIRO DE ENTREVISTA

1- Você pode falar seu nome e sua idade?

2- E seu estado civil e com quem você mora?

3- Você pode me falar o seu grau de instrução? Você estudou muito?

4- Você trabalha? Qual sua profissão?

5- Você pode me falar um pouco de como é ser idoso pra você?

6- Pra você, qual papel os idosos ocupam hoje na sociedade?

7- Você já ouviu falar sobre políticas públicas, principalmente aquelas que são voltadas para a população idosa? Por exemplo: política da saúde do trabalho da assistência social ...

8- O você pode me falar sobre o estatuto do idoso? E sobre os direitos dos idosos?

9- Você recebe algum tipo de benefício? (BPC, bolsa família, etc.) Você pode me falar sobre isso?

10- O que você entende sobre Previdência Social?

11- E sobre o Centro de Referência de Assistência Social-CRAS- Mondubim, o que você tem pra me dizer?

12- Faz quanto tempo que você está aqui no CRAS e com qual frequência você vem?

13- O que motivou você a procurar o CRAS- Mondubim?

14- Quais atividades o CRAS-Mondubim proporciona a vocês idosos? O que você faz aqui no grupo?

15- Você pode me falar se as atividades do CRAS têm influenciado positivamente ou negativamente na sua vida? Em qual sentido, como assim? Essas atividades te ajudam a aprender sobre os assuntos relacionados aos direitos, às políticas públicas voltada para vocês idosos?

16- Sua vida mudou depois que você passou a participar do grupo de idosos? Você pode me falar sobre o que você acha desse grupo ROSA AMARO?

17-Você participa de outros programas (projetos, grupos) além desses? Você pode me falar quais?

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ANEXOS

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ANEXO - A

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ANEXO - B