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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
MARIA VILDERLANE DE SOUSA
SIGNIFICADOS DAS ATIVIDADES GRUPAIS: IDOSOS DO SERVIÇO DE
CONVIVÊNCIA - CRAS GRANJA PORTUGAL
FORTALEZA – CE 2014
MARIA VILDERLANE DE SOUSA
SIGNIFICADOS DAS ATIVIDADES GRUPAIS: IDOSOS DO SERVIÇO DE
CONVIVÊNCIA - CRAS GRANJA PORTUGAL.
Monografia apresentada ao curso de graduação em Serviço Social da Faculdade Cearense – FAC, como requisito parcial para obtenção do titulo de bacharelado. Orientadora: Profª Msª. Valney Rocha Maciel.
FORTALEZA 2014
Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274
S725s Sousa, Maria Vilderlane de
Significados das atividades grupais: Idosos do Serviço de
Convivência – CRAS Granja Portugal / Maria Vilderlane de
Sousa. Fortaleza – 2014.
66f. Orientador: Profª. Ms. Valney Rocha Maciel.
Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Faculdade
Cearense, Curso de Serviço Social, 2014.
1. Velhice. 2. Motivação. 3. Assistência Social. I. Maciel,
Valney Rocha. II. Título
CDU 364(813.1)
MARIA VILDERLANE DE SOUSA
SIGNIFICADOS DAS ATIVIDADES GRUPAIS: IDOSOS DO SERVIÇO DE
CONVIVÊNCIA - CRAS GRANJA PORTUGAL
Monografia como pré-requisito para obtenção do título de bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense- FAC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores.
Data de aprovação: 17/ 07 /2014.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________
Profª. Msª Valney Rocha Maciel – Orientadora
_______________________________________________________
Profª. Msª. Mariana A. Dias Aderaldo
1ª Examinadora
_______________________________________________________
Profª. Msª. Rúbia Cristina Martins Gonçalves
2ª Examinadora
A minha família, irmãos, pais e esposo por fazerem
parte da minha vida, e por serem os principais
incentivadores da minha caminhada acadêmica.
AGRADECIMENTOS
Tenho tanto a agradecer...
Primeiramente agradeço a Deus, por ter me dado força e fé, e por ter permitido, que
eu concretizasse mais essa conquista em minha vida.
Aos meus pais, José Teodoro e Maria Estelina, especialmente a minha mãe, por ser
para mim um grande exemplo de vida, e mesmo com sua pouca instrução sempre
ter me incentivado a nunca desistir dos meus sonhos.
Aos meus irmãos Valdeci Sousa, Valdelina Sousa, Virgilian Sousa, Valdizio Sousa,
Valdenice Sousa, Valdizar Sousa, Vanessa Sousa, Viviane Sousa, Valesca Sousa e
Vauiris Sousa, que sempre torceram e acreditaram em mim.
Ao meu esposo José dos Santos, que durante toda essa trajetória acadêmica
sempre me apoiou e contribuiu bastante para essa realização.
A minha sobrinha e afilhada Yasmin Sousa, por fazer parte da minha vida e por me
transmitir sempre muita alegria.
Aos meus colegas e amigos que fiz durante os oitos anos que trabalhei no CRAS
Granja Portugal, onde na qual vivenciamos grandes momentos de alegrias e de
angústias, e sem dúvidas contribuíram de forma direta e indiretamente para essa
conquista em minha vida.
A minha amiga Alais Silva, que sempre acreditou no meu potencial.
As minhas amigas Jacqueline Lopes e Marlucia Roseno pela amizade, incentivo e
ajuda durante essa trajetória de construção desse trabalho.
A minha supervisora de campo Marisa Frota, pelos ensinamentos e pela paciência
que teve comigo durante o período de estágio, o meu muito obrigada.
A todas as minhas amigas que fiz durante esses quatro anos de graduação, em
especial Germana Vasconcelos, Janielle Lira, Inácia Fernandes, Maíra Rodrigues,
Jamille Ximenes e Jéssica Lima.
A minha orientadora, Profª Msª. Valney Rocha Maciel, pelo incentivo, paciência,
simplicidade e pelos ensinamentos repassados.
A banca examinadora, Profª. Msª. Mariana A. Dias Aderaldo e Profª. Msª. Rúbia
Cristina Martins Gonçalves pela disponibilidade em participar desse momento.
Aos professores da Faculdade Cearense que me acompanharam durante toda essa
trajetória acadêmica.
Aos idosos do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos do CRAS da
Granja Portugal, que foram importantes e fundamentais para a concretização desse
trabalho.
Por fim, agradeço a todos que contribuíram de alguma forma para a concretização
desse sonho.
A todos, o meu muito obrigada.
“O maior prazer que resta aos velhos é o de viver: e nada
lhes assegura tanto a vida quanto seu amor...”.
Simone de Beauvoir
RESUMO
A população idosa vem crescendo muito nos últimos anos, principalmente nos países em desenvolvimento como, por exemplo, o Brasil. Devido a esse crescente aumento dessa população o tema velhice vem se tornado extremamente relevante, despertando o interesse de vários estudiosos em pesquisar o tema em questão. O presente trabalho teve por objetivo principal analisar as motivações que levaram os idosos a participarem do Serviço de Convivência do CRAS Granja Portugal. E, ainda, traçar o perfil do sujeito da pesquisa; identificar como o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para idosos funciona como espaço de sociabilidade e, por fim, perceber o significado do grupo na vida dos idosos atendidos. Para alcançar os objetivos do trabalho tivemos como categorias centrais: velhice, motivação e assistência social. No que concerne às escolhas metodológicas, o trabalho abrangeu uma pesquisa bibliográfica, documental e de campo, optou-se por uma abordagem qualitativa e como coleta de dados utilizamos a entrevista semiestruturada. Foram entrevistados oito participantes do Serviço de convivência que tinham pelo menos dois anos de participação no serviço e idosos assíduos. De acordo com as análises, concluímos que as atividades em grupos são extremamente relevantes na vida desses idosos, pois busca promover para esse público uma maior qualidade de vida, através do resgate da autoestima dos participantes, do desenvolvimento da autonomia dos mesmos, assim como os possibilitam o exercício da cidadania, a troca de experiências e o resgate de vínculos de amizades e familiares.
Palavras-Chave: Velhice; Motivação; Assistência Social.
ABSTRACT
The elderly population has been increasing in recent years, especially in developing countries, for example, Brazil. Because of this increasing population of this theme comes the age old become extremely relevant, attracting the interest of several scholars in researching the topic. The present work was aimed to analyze the motivations that led the elders to participate in the Service of the Living CRAS Granja Portugal. And also profile the research subject; identify how the service Coexistence and Strengthening Linkages for older works as a space of sociability and finally realize the significance of the group in the lives of the elderly. To achieve the objectives of the work had as main categories; age, motivation, and social assistance. Regarding the methodological choices, the work included a literature, documentary and field research, we chose a qualitative and as data collection approach used the semi-structured interview. Eight participants in the Department of coexistence that had at least two years of participation in the service and old regulars were interviewed. According to the analysis, we conclude that the group activities are extremely relevant in the lives of the elderly, because it seeks to promote this public a higher quality of life, through the redemption of the self-esteem of participants, development of autonomy thereof, as well as allow the exercise of citizenship, the exchange of experiences and the redemption of bonds of friendship and family.
Key Words: Aging; Motivation; Social Assistance.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
GRÁFICO 1 – Evolução da população de idosos – Brasil, Nordeste e Ceará– 1998/ 2008. Extraído do IPECE (2010)............................................................................... 23
GRÁFICO 2 – População de idosos por gênero: Brasil, Nordeste e Ceará –1998/ 2008. Extraído do IPECE (2010)............................................................................... 24
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BPC – Benefício de Prestação Continuada
CAF – Coordenadoria Administrativa e Financeira
CAS – Coordenadoria de Assistência Social
CASSI – Coordenadoria de Políticas Públicas de Assistência Social
CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social
CONGEMAS – Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social
CRAS – Centro de Referência de Assistência Social
CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social
DAS – Distrito de Assistência Social
EAN – Espaço de Acolhimento Noturno
FMAS – Fundo Municipal de Assistência Social
FONSEAS – Fórum Nacional de Secretários de Estado da Assistência Social
FSSF– Fundação de Serviço Social de Fortaleza
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IPECE – Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará
LBA – Legião Brasileira de Assistência
LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social
MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
NOB – Norma Operacional Básica
PAIF – Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família
PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio
PNAS – Política Nacional de Assistência Social
PNI – Política Nacional do Idoso
PSB – Proteção Social Básica
PSE – Proteção Social Especial
SAS – Secretaria de Assistência Social
SCFV – Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculo
SEDAS – Secretaria de Educação e Assistência Social
SEMAS – Secretaria Municipal de Assistência Social
SER – Secretaria Executiva Regional
SESC – Serviço Social do Comércio
SESI – Serviço Social da Indústria
SETAS – Secretaria do Trabalho e Ação Social
SETRA – Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate à Fome
SMDS – Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social
SUAS – Sistema Único de Assistência Social
SUS – Sistema Único de Saúde
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................... CAPÍTULO 1: COMPREENDENDO VELHICE.................................................... 1.1 Breve resgate histórico sobre velhice............................................................. 1.2 Conceituando velhice e o processo de envelhecimento................................ 1.3 O fenômeno do crescimento da população idosa brasileira........................... 1.4 Principais instrumentos legais que regem a pessoa idosa.............................
CAPÍTULO 2: A POLÍTICA DE ASSITÊNCIA SOCIAL....................................... 2.1 Assistência Social e seus principais aspectos legais..................................... 2.2 A Política de Assistência Social no Município de Fortaleza........................... 2.3 Cenário da Pesquisa: O CRAS Granja Portugal – um equipamento da Política de Assistência Social............................................................................... CAPÍTULO 3: ANÁLISE DOS RESULTADOS.................................................. 3.1 Percursos Metodológicos............................................................................... 3.2 Perfil dos sujeitos da pesquisa....................................................................... 3.3 Análises da pesquisa...................................................................................... CONSIDERÇÕES FINAIS.................................................................................... REFERÊNCIAS.................................................................................................... APÊNDICES.........................................................................................................
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INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas a população mundial vem vivenciando um processo
acelerado de envelhecimento devido as grandes mudanças ocorridas neste período,
sobretudo o desenvolvimento da medicina. Visto que nos últimos anos tem se
observado um aumento significativo de pessoas com 60 anos de idade ou mais. De
acordo com o IBGE:
O crescimento da população de idosos, em números absolutos e relativos, é um fenômeno mundial e está ocorrendo em nível sem precedentes. Em 1950, eram cerca de 204 milhões de idosos no mundo e, já em 1998, quase cinco décadas depois, este contingente alcançava 579 milhões de pessoas, um crescimento de quase oito milhões de pessoas idosas por ano. As projeções indicam que, em 2050, a população idosa será de 1.900 milhões de pessoas, montante equivalente à população infantil de 0 a 14 anos de idade (IBGE, 2000)1
O Brasil também vem apresentando um processo de crescimento
acelerado. Em 1960, o país tinha cerca de três milhões de sua população idosa
passando para sete milhões em 1975 e, em 2002, para 14 milhões (VERAS, 2003).
É importante destacar também, que a maioria da população idosa é composta por
mulheres, pois de acordo com dados do IBGE (2012) as mulheres chegam mais na
fase da velhice do que os homens, isso acontece principalmente devido aos efeitos
da mortalidade diferencial por sexo.
Com o aumento da expectativa de vida da população brasileira, faz-se
necessário, cada vez mais, programas de atendimento a população idosa, por meio
de grupos e serviços de convivência. Por sua vez, esses espaços ofertam atividades
diversificados tais como: atividades culturais, artísticas e recreativas, possibilitando
para o idoso o resgate de sua autoestima, autonomia e ainda uma maior qualidade
de vida na fase da velhice. “O trabalho com grupos é diversificado e visa sempre
aliar satisfação do participante com atividades que levem a uma melhoria da
qualidade de vida” (CARVALHO, 2010, p. 56).
Desse modo, a pesquisa que se apresenta teve como objetivo geral
analisar as motivações que levaram os idosos a participarem do Serviço de
Convivência do CRAS Granja Portugal, e como objetivos específicos traçar o perfil
1 Disponível em:< http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/25072002pidoso.shtm> acessado em
14/06/2014
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do sujeito da pesquisa; identificar como o Serviço de Convivência e Fortalecimento
de Vínculos para idosos funciona como espaço de sociabilidade e, por fim, perceber
o significado do grupo na vida dos idosos atendidos.
O desejo pela pesquisa se deu há oito anos, quando a pesquisadora teve
a oportunidade de trabalhar no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS),
no território da Granja Portugal em 2006, no qual é desenvolvido o Serviço de
Convivência e Fortalecimento de Vínculos para a Pessoa Idosa.
É importante destacar ainda, que a disciplina de estágio curricular
obrigatória do Curso de Serviço Social também contribuiu para nos despertar o
interesse em estudar o tema em questão, pois durante essa vivência de estágio que
também ocorreu na referida instituição o olhar sobre o objeto ampliou-se, buscando
cada vez mais realizar leituras sobre a realidade cotidiana da pessoa idosa
principalmente no decorrer das atividades realizadas no grupo.
Para atingirmos o objetivo da pesquisa contextualizamos o tema velhice,
seus conceitos e o processo de envelhecimento, apresentamos os principais
documentos legais que regem a pessoa idosa, e ainda pesquisamos acerca da
Política de Assistência como Política Pública de Direito. Os principais autores que
contribuíram para esse processo foram: Beauvoir (1990); Mascaro (2004); Teixeira
(2008); Minayo (1994); Gil (2011); Messy (1999); Veras (2003); Shneider e Irigaray
(2008); Sposati (2004). Utilizamos também a Política Nacional do Idoso (1994);
Estatuto do Idoso (2003); Lei Orgânica da Assistência Social (1993); Política da
Assistência Social (2004) dentre outros que também contribuíram para a realização
dessa pesquisa.
Em relação à metodologia de pesquisa, optamos em realizar uma
pesquisa de campo, e como técnica de coleta de dados a entrevista
semiestruturada. Essa modalidade permite que o entrevistador discorra sobre o tema
em questão sem se prender a questões formuladas, por meio de perguntas fechadas
e abertas elaboradas antecipadamente.
O tipo de pesquisa que utilizamos foi de natureza qualitativa,
considerando que a mesma procura compreender o sujeito de acordo com sua
subjetividade, seus valores, sentimentos, crenças e outros. É importante ressaltar
que o método de pesquisa que nos aproximamos no decorrer do trabalho foi o
método dialético por ter uma visão de conjunto de totalidade e principalmente por
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compreender que o conhecimento nunca alcança uma etapa definitiva e acabada. A
seleção dos sujeitos da pesquisa se deu através da amostragem por acessibilidade.
A pesquisa foi realizada durante os meses de abril e maio de 2014.
A presente monografia está dividida em três capítulos: no primeiro
capítulo denominado “Compreendendo Velhice” realizamos um breve resgate
histórico sobre a velhice, desde a sociedade antiga até a sociedade moderna.
Procuramos também apreender os principais fatores e conceitos sobre velhice, que
nos possibilitaram uma maior compreensão acerca do tema. Elucidamos alguns
fatores que contribuíram para o crescimento da população idosa no Brasil e no
Estado do Ceará, identificando em que ritmo essa população vem crescendo. E,
finalizamos este capítulo trazendo os principais instrumentos legais que regem os
direitos das pessoas idosas.
No segundo capítulo cujo tema é “Política de Assistência Social”
trouxemos as principais conquistas da Assistência Social a partir da Constituição
Federal de 1988, quando a mesma passa a fazer parte do tripé da Seguridade
Social juntamente com a saúde e a previdência. Realizamos também um breve
relato sobre a Política de Assistência Social no município de Fortaleza. Nesse
mesmo capítulo, apresentamos nosso cenário de pesquisa CRAS Granja Portugal,
tendo em vista que o mesmo é um equipamento da Política de Assistência Social.
No terceiro capítulo intitulado “Análises dos Resultados” abordamos a
metodologia utilizada, destacamos o perfil dos sujeitos da pesquisa bem como as
análises qualitativas que foram subdivididas em: motivações que os levaram a
participar do Serviço de Convivência, Atividades de grupo, Sociabilidade e
significado de grupo.
Finalizamos o trabalho expondo nossas conclusões que obtivemos a partir
das análises dos dados que foram coletados durante a pesquisa. Constatamos que
as atividades realizadas no grupo tem um significado extremamente relevante na
vida dos idosos atendidos. Tendo em vista que é nesse ambiente de socialização
que os mesmos buscam uma melhor qualidade de vida.
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1. COMPREENDENDO VELHICE
1.1 Breve resgate histórico sobre velhice
Como temos a pretensão de estudarmos o tema velhice, faz-se
necessário realizarmos uma breve contextualização histórica acerca do tema, bem
como a sua inserção na sociedade desde a antiguidade até os dias de hoje, pois
como bem afirma Beauvoir (1990, p. 109) “Estudar a condição dos velhos através
das diversas épocas não é uma empresa fácil [...]”. Nesse sentido, conhecer o
contexto histórico da velhice torna-se pertinente para compreendermos o fenômeno
da velhice na sociedade atual.
Nas palavras de Mascaro “Conhecer a realidade da velhice nas
sociedades antigas é uma tarefa muito árdua para os historiadores [...]” (MASCARO,
2004, p. 24). Em outras palavras é possível afirmar que tais dificuldades se dão por
meio da insuficiência de documentos que fazem alusão aos idosos principalmente
no que se refere aos tempos antigos.
A sociedade chinesa dentre as sociedades ocidentais destaca-se como
uma sociedade que mais prestigiou os idosos, tanto no que se refere aos negócios
públicos, como no âmbito familiar, uma vez que todos da casa deviam obediência ao
homem mais velho da família, o filho devia obediência ao pai e o mais moço ao mais
velho. Essa autoridade não diminuía com o passar dos anos. (BEAUVOIR, 1990)
Beauvoir afirma ainda que “[...] O respeito se estendia, fora dos limites da
família, a todos os idosos: muitas vezes as pessoas fingiam-se mais velhas do que
realmente eram, para ter direito a atenções [...]” (BEAUVOIR, 1990, p. 113). Deste
modo, é possível afirmar que na sociedade chinesa os mais velhos tinham condições
de vida favoráveis em virtude de sua idade, experiência e sabedoria.
De acordo com Mascaro (2004), na Grécia também existia uma
valorização dos mais velhos em relação aos mais jovens, principalmente em relação
aos negócios públicos, que eram administrados impreterivelmente pelas pessoas
mais velhas. Dessa forma, “[...] os anciões eram bastante respeitados e tinham muita
autoridade: além de mestres possuíam o poder de avaliar e decidir qual recém-
nascido deveriam viver ou morrer [...]” (Ibid, 2004, p. 27).
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Em Esparta a velhice foi honrada e prestigiada, pois nessa sociedade
oligárquica, o poder se concentrava nas mãos das pessoas mais velhas e também
mais ricas, estes eram encarregados de formar a juventude. Entretanto, ressalta-se
que nos momentos de grandes transformações da sociedade os idosos foram
substituídos pelos jovens nos papéis sociais mais prestigiados. Em Atenas o respeito
pelos anciões também era evidenciado, haja vista que as Leis de Sólon conferiram
todo poder as pessoas idosas.
Enquanto na sociedade feudal, segundo Beauvoir (1990), existia uma cultura
de supervalorização da juventude, pois o guerreiro ativo era o adulto na força da
idade com condições de defender a viúva e o órfão, capaz de lançar qualquer
desafio. Esse fato se confirma na seguinte afirmação:
[...] O bom cavaleiro é um atleta ‘ossudo’, ‘membrudo’, de corpo ‘bem talhado’, dotado de um vigoro apetite, que ama a guerra, a caça, os torneios. [...] O herói admirado é o que não mede esforços na luta: dá seu sangue por seu senhor. Defende a viúva e o órfão, vem em socorro dos fracos, lança desafios aos rivais. [...] Exaltar esses valores – heroísmo, magnificência – é exaltar a juventude: são valores que não podem estar encanados em velhos de sangue gelado, de nervos enferrujados. (BEAUVOIR, 1990, p. 161)
Ainda, segundo a autora acima mencionada, no Baixo-Império e Alta
Idade Média a juventude também era supervalorizada e exaltada, principalmente no
que se refere à vida pública, uma vez que a credibilidade relacionada aos negócios
públicos era posta aos mais jovens, excluindo os mais velhos dessa posição.
Na Idade Média, a igreja exercia um poder de influência em todas as
esferas da vida humana, o pai tinha muita autoridade e seu poder era comparado ao
poder de Deus. Nas palavras de Mascaro, “Existia na sociedade da Idade Média
uma identidade entre o poder patriarcal e o poder das estruturas monásticas, e os
jovens obedeciam e respeitavam os mais velhos, como obedeciam a Deus”
(MASCARO, 2004, p. 29).
Já na Baixa Idade Média, com o advento da burguesia surge um
renascimento comercial e urbano, este por sua vez passou a valorizar a juventude
pela sua força e maior resistência física, o que trouxe como consequência a
desvalorização das pessoas com idade mais avançada.
De acordo com afirmações de Mascaro (2004), na sociedade francesa do
século XVII as pessoas idosas não eram valorizadas e nem reconhecidas, isso se
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dava em virtude da baixa expectativa de vida e do fato de que o indivíduo a partir da
idade de 50 anos já não possuía mais um lugar na sociedade. Destaca-se que, na
Inglaterra, nesse mesmo período, as pessoas pobres, enfermas e os velhos
abandonados passaram a ser acolhidos em hospitais e asilos.
Na Europa do século XVIII houve um crescimento da população. Esse
fato ocorreu em decorrência de inovações nas questões relacionadas à saúde e à
higiene, entretanto, a população idosa em virtude da vida árdua que levava,
necessitava de bastante resistência física para ultrapassar as enfermidades que lhes
acometiam.
As condições dos velhos, assim como a ideia que a sociedade possuía
acerca deste sujeito sofreram influência das transformações que ocorreram na
Europa no século XIX e tais mudanças foram provocadas pelo impulso demográfico
ocasionado pelo progresso da ciência, considerando que houve um aumento da
população idosa em determinadas classes da sociedade (BEAUVOIR, 1990). Ainda,
segundo a autora:
Hoje, os adultos interessam-se pelo velho de outra maneira: é um objeto de exploração. Nos EUA, sobretudo, mas também na França, multiplicam-se clínicas, casas de repouso, residências, e até mesmo cidades e aldeias, onde se faz as pessoas idosas que dispõem de meios pagarem o mais caro possível por conforto e por cuidados que frequentemente deixam muito a desejar. (BEAUVOIR, 1990, p. 269)
Dessa forma, podemos dizer que cada sociedade de acordo com sua
época tinha uma forma diferenciada de definir a velhice. O reconhecimento que era
destinado às pessoas com mais idade variava de acordo com a época, sociedade,
cultura, assim como as condições socioeconômicas de cada um. Percebe-se que em
determinados momentos da história o velho era tratado com prestígio e valorização
em virtude principalmente de suas experiências de vida, em outros momentos com
insignificância. Para tanto, para melhor compreendermos o processo de
envelhecimento torna-se necessário conceituarmos o tema velhice.
1.2 Conceituando velhice e o processo de envelhecimento
A compreensão da velhice está associada a uma série de fatores e
conceitos que envolvem o processo de envelhecimento. Diante disto, torna-se
necessário identificarmos os principais destes, para que possamos estabelecer um
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conceito adequado sobre velhice. Segundo Mascaro, “A velhice faz parte de um
ciclo natural da vida – nascer, crescer, amadurecer, envelhecer e morrer [...]”
(MASCARO, 2004, p. 51).
A velhice pode ser compreendida por diferentes conceitos. São eles:
cronológica, biológica, social e psicológica. A idade cronológica diz respeito a data
de nascimento da pessoa, entretanto, muitas vezes se difere da idade biológica. A
idade biológica refere-se à herança genética e ambiente.
A idade social tem haver com as normas, crenças e estereótipos, ou seja,
são as normas postas pela sociedade determinando o que devemos ou não fazer. Já
a idade psicológica envolve as mudanças de comportamento que são decorrentes
das transformações biológicas do envelhecimento. (MASCARO, 2004)
Schneider e Irigaray (2008) nos seus estudos sobre os aspectos do
envelhecimento também caracterizam cada uma das diferentes idades, cronológicas,
biológicas, social e psicológica. Para os autores supracitados a idade cronológica
corresponde à passagem no tempo, ou seja, os dias e anos vividos pelo indivíduo
desde seu nascimento. A idade biológica é determinada pelas mudanças no corpo
que se desenvolve no processo de envelhecimento humano.
Já a idade social é caracterizada pelos comportamentos e status
adquirido pelo indivíduo, que varia de acordo com os papéis sociais, cultura, gênero,
classe social, condições de vida e de trabalho, sendo que as desigualdades dessas
condições torna o processo de envelhecer desigual.
No que diz respeito à idade psicológica os mesmos definem que ela se
caracteriza pelas habilidades e a adaptação dos indivíduos no meio em que vive.
Entretanto é valido ressaltar que tais características psicológicas que envolvem o
aprendizado, a memória e a inteligência dentre outros, podem se apresentar em um
grau maior ou menor nos indivíduos, caracterizando estes em jovens ou velhos
psicologicamente. Para tanto, a velhice deve ser compreendida a partir dessa
relação dos diferentes aspectos que foram elencados. Afirmam ainda que:
[...] Essa interação institui-se de acordo com as condições de cultura na qual o indivíduo está inserido. Condições históricas, políticas, econômicas, geográficas e culturais produzem diferentes representações sociais da velhice e também do idoso [...] (SCHNEIDER; IRIGARAY, 2008, p. 585).
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Mascaro (2004) faz uma reflexão sobre o envelhecimento biológico, pois
segundo a mesma, esse aspecto é elencado por meio de enumeração de uma série
de insuficiências, perdas e limitações. Entretanto, a mesma faz um alerta para não
confundirmos senescência com senilidade, ou seja, envelhecimento biológico com
envelhecimento seguido de doenças. Ainda sobre o envelhecimento biológico
Mercadante afirma que:
Com certeza a velhice é um fenômeno biológico: o organismo do ser idoso apresenta certas particularidades. Há no envelhecimento um sentido relativamente claro da noção de decadência no plano biológico [...] (MERCADANTE, 2002, p. 74).
Embora a velhice seja compreendida pelo fato biológico, Beauvoir (1990)
diz que, a velhice não deve ser compreendida somente por um fato biológico, deve
também ser levado em consideração os fatos culturais. Pois segundo a mesma, para
compreendermos a realidade da velhice é importante examinar o lugar que é
destinado aos velhos e suas representações em diferentes tempos e lugares.
Portanto, a condição de ser velho se modifica de acordo com seu tempo e lugar.
Messy (1999) afirma que o processo de envelhecimento não é a velhice,
não se reduz a uma etapa como uma viagem, por exemplo, esse processo de
envelhecer começa no nascimento que se inscreve no tempo, portanto a velhice
deve ser caracterizada pelo estado que distingue a posição do idoso.
Esta posição do indivíduo idoso é definida de acordo com o estatuto
político e econômico, que é caracterizada principalmente pela aposentadoria. Pois
ao chegar à idade em que é estabelecida para o individuo adquirir sua
aposentadoria, logo este passa a ser visto como um idoso, um velho, ou seja, fase
da velhice. Nas palavras de Messy:
Essas noções autônomas contidas no termo envelhecimento são de um lado, as que evocam a ideia de desgaste, de enfraquecimento, de diminuição e, de outra parte as que evocam a bonificação, (por exemplo, o vinho se beneficia), a maturação, o acréscimo. (MESSY, 1999, p. 16)
Diante do exposto, é possível afirmar que, para compreendermos o
processo de envelhecimento é preciso analisar o contexto no qual o idoso está
inserido, bem como seus fatores econômicos e culturais da sociedade, assim como
seus aspectos biológicos, sociais, cronológico e psicológico que envolve o processo
de envelhecer.
Todavia, o processo de envelhecer, ou seja, o envelhecimento varia de
acordo com a estória de vida de cada indivíduo, pois como vimos uma pessoa de
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pouca idade cronologicamente falando, pode ser considerada uma pessoa velha,
bem como uma pessoa de idade avançada ser considerada uma pessoa jovem, isso
pode vir acontecer devido às características diferentes do que é estabelecido pela
sociedade para os “velhos” e “jovens”. Contudo, vale ressaltar que não podemos
compreender a velhice apenas pela idade cronológica, mas levar em consideração
também todos os fatores e aspectos que foram discutidos.
A partir dessa maior apreensão acerca do tema velhice, iremos avançar
em nossa pesquisa abordando como se instituiu o processo de crescimento da
população idosa brasileira, trazendo os principais fatores que contribuíram para esse
processo de crescimento tanto no Brasil como no Estado do Ceará.
1.3 O fenômeno do crescimento da população idosa brasileira
O envelhecimento populacional é um fenômeno na história da
humanidade. Nas últimas décadas o Brasil vem vivenciando um processo acelerado
de envelhecimento. E isso tem despertado o interesse de estudiosos, que buscam
entender melhor esse acontecimento. Nas palavras de Mascaro:
Em nosso país, o tema velhice é da maior importância, pois, com o aumento da expectativa de vida e a diminuição da taxa de mortalidade, houve um crescimento no número de idosos na população brasileira. [...] (MASCARO, 1997, p. 9).
Em 1960, o Brasil tinha cerca de três milhões de sua população idosa
passando para sete milhões em 1975 e, em 2002, para 14 milhões. Logo percebe-se
um aumento considerável de 500% em 40 anos da população idosa brasileira
devendo chegar em 2020 em 322 milhões de brasileiros idosos representando 15 %
da população. (VERAS, 2003).
De acordo com informações do IBGE no período de 2001 a 2011, o
crescimento do número de idosos de 60 anos ou mais de idade, em termos
absolutos, é marcante: passou de 15,5 milhões de pessoas para 23,5 milhões de
pessoas. (IBGE, 2012). Ainda sobre esse crescimento acelerado da população
idosa:
[...] A partir dos anos 1960, quando até então todos os grupos etários registravam um crescimento quase igual, o grupo de idosos passou a liderar
22
esse crescimento; as projeções indicam que, num período de 70 anos, (1950 a 2020), enquanto a população brasileira estará crescendo cinco vezes, o grupo da população de idosos estará se ampliando em 16 vezes [...] (VERAS, 2003, p. 6).
O envelhecimento da população brasileira é reflexo principalmente dos
avanços da medicina e tecnológicos, ocasionando uma maior expectativa de vida da
população, devido à redução da taxa de natalidade e mortalidade por meio de ações
voltadas para a área da saúde tais como: vacinas, antibióticos e outros. Conforme
afirma Mendes (et al):
Nos países menos desenvolvidos como o Brasil, o aumento da expectativa de vida tem sido evidenciada pelos avanços tecnológicos relacionados a área de saúde nos últimos 60 anos, como as vacinas, uso de antibióticos, quimioterápicos que tornaram possível a prevenção ou cura de muitas doenças.[...] (MENDES et al, 2005, p. 423).
Outro aspecto relevante sobre o crescimento da população idosa, que é
importante destacar, são os aspectos relacionados ao gênero. Dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que grande parte da população
idosa brasileira é do sexo feminino. “A maioria da população idosa de 60 anos ou
mais de idade é composta por mulheres (55,7%), devido aos efeitos da mortalidade
diferencial por sexo”. (IBGE, 2012).
Segundo Veras (2003) existem algumas suposições que explicam porque
as mulheres chegam mais na fase da velhice do que os homens. São elas:
Diferenças na exposição de riscos a acidentes domésticos, trabalho, trânsito, assim
como homicídios e suicídios que se apresentam em uma proporção de até quatro
vezes maior em relação aos homens. O maior consumo de cigarro e álcool entre os
homens, causadores da neoplasia e doenças cardiovasculares, principais causas de
morte na faixa etária acima dos 45 anos.
Destaca-se a maior presença das mulheres nas unidades de saúde,
podendo ser diagnosticada uma doença precoce. Por fim, houve também uma
redução da taxa de mortalidade materna; isso aconteceu devido ao atendimento
médico obstétrico. Contudo, pelo fato das mulheres viverem mais do que os homens,
são mais propicias a viverem sozinhas na fase da velhice, ocasionando a solidão
que traz como consequência o estado depressivo, além de sofrerem riscos maiores
de doenças crônicas.
É possível também perceber um considerável crescimento da população
idosa nas regiões brasileiras. Iremos, agora, fazer destaque desse fenômeno na
23
Região do Nordeste, mais especificamente no Estado do Ceará. Segue abaixo
dados de uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica
do Ceará (IPECE) que demostra a evolução da população idosa no Brasil, Nordeste
e Ceará.
GRÁFICO 1 : EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO DE IDOSOS – BRASIL, NORDESTE E CEARÁ - 1998 A 2008. EXTRAÍDO DO IPECE (2010)
De acordo com os dados da pesquisa, a população do Ceará em 1998
apresentava um total de 618.917 idosos, enquanto que no ano de 2008, essa
população cresceu para 919.514, havendo assim um crescimento de 300.597 da
população idosa no Ceará em dez anos.
Ainda tendo como base a pesquisa realizada pelo IPECE, o Ceará em
2008 se apresentava como um dos dez estados brasileiros com uma maior
população de idosos. Desta forma, o Estado passou a ocupar a 6ª posição do
ranking nacional em 1998, o que representava 10% de sua população, e no ano de
2008 o Ceará aparece na 10ª posição, contudo se insere no grupo de Estados que
apresenta mais de 10% de sua população constituída por idosos.
24
Em relação aos aspectos de gênero a Região Nordeste e o Estado do
Ceará também lideram com uma proporção maior do número de idosos do sexo
feminino, no que se refere ao Estado do Ceará, a pesquisa mostra que em 1998 o
número de homens era de 283.811 enquanto que o de mulheres era de 335.106; o
mesmo acontece em 2008 quando o número de homens era de 404.566 e das
mulheres de 514.948. Esses dados comprovam mais uma vez que as mulheres
vivem mais do que os homens. Vejamos a seguir o gráfico que comprova esses
dados.
GRÁFICO 2: POPULAÇÃO DE IDOSOS POR GÊNERO: BRASIL, NORDESTE E CEARÁ - 1998 A 2008. EXTRAÍDO DO IPECE (2010)
Como podemos perceber a população idosa está crescendo em todo país,
logo se faz necessário políticas de atendimento e defesa de direitos dessa
população, para que estes possam envelhecer com dignidade e maior qualidade de
vida. Em virtude disto iremos destacar a seguir os principais aparatos legais que
regem os direitos da população idosa.
25
1.4 Principais instrumentos legais que regem a pessoa idosa
Torna-se necessário conhecermos os principais aparatos legais que
regem os direitos das pessoas idosas, considerando que tais documentos legais
foram e são uma grande conquista para os idosos. Pois é por meio dessas leis que a
população idosa tem seus direitos respaldados e garantidos. Em relação ao
surgimento dessas leis, Teixeira afirma que:
As demandas por gestão democráticas das políticas nasceram dos movimentos populares, no interior da sociedade civil, no contexto de luta pela redemocratização do Estado e da sociedade, e penetram no aparelho do Estado formalmente instituído na Constituição Federal de 1988 e referendado pelas políticas setoriais posteriores, dentre elas, a PNI e Estatuto do Idoso, denominados como Conselhos de Direitos ou Conselhos Gestores – órgãos colegiados, constituídos nas instâncias federal, estadual e municipal, por representação paritária da sociedade civil e sociedade política, com funções deliberativas sobre a política social. (TEIXEIRA, 2008, p. 277)
Ressalta-se que as primeiras formas de organização voltadas para a
população idosa se deu através de um movimento realizado por um grupo de idosos
do SESC; além de grupos de Ribeirão Preto e Catanduva que começaram a lutar por
revisão da aposentadoria que não chegava a ser um salário-mínimo. (BORGES,
2006)
Esse movimento despertou a sociedade acerca da problemática em torno
dos idosos. Surgindo então os primeiros movimentos sociais, estes por sua vez
passaram a buscar parcerias junto a instituições de atendimento aos idosos, tais
como: Serviço Social do Comércio - SESC, Serviço Social da Indústria – SESI,
Legião Brasileira de Assistência - LBA e o Ministério da Previdência e Assistência
Social.
Essas organizações tinham como objetivo principal refletir sobre os
direitos dos idosos, além de fazer pressões políticas acerca da problemática dos
mesmos. Destaca-se a primeira Assembleia Nacional de Idosos que foi realizada em
1982, no Estado de São Paulo e que reuniu 2.200 idosos de 22 Estados brasileiros e
culminou com a inclusão de alguns parágrafos na Constituição de 1988.
A constituição Federal de 1988 foi uma das primeiras conquistas em
termo de caráter legal para toda população brasileira. Foi por meio desta que se
tornou possível consolidar as políticas de proteção social para os idosos. Seu artigo
26
230 faz referência aos idosos afirmando que “A família, a sociedade e o Estado têm
o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na
comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à
vida.” (BRASIL, 1988).
A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), Lei nº 8.742, de 7 de
dezembro de 1993, traz como um dos objetivos da assistência no seu artigo 2º: a) a
proteção a família, a maternidade, a infância, a adolescência e a velhice” (BRASIL,
1993). Destaca ainda a garantia de uma renda mensal equivalente a um salário-
mínimo para os idosos que não tenham condições de se manter nem de serem
mantidos por sua família. É importante ressaltar que esse direito que está previsto
na LOAS, mas conhecido como 2BPC foi uma grande conquista para a população
idosa, tendo em vista que esse direito lhe permite assegurar-lhe melhores condições
de vida na fase da velhice.
Logo após a Constituição Federal de 1988, especificamente na década de
1990, surge outra conquista para a população idosa, a Política Nacional do Idoso
(PNI), sancionada pela Lei 8.842/94 e regulamentada pela Lei 1.948/96. A PNI deu
continuidade às iniciativas posta pela Constituição Federal, a mesma passou a
regular as ações de proteção ao idoso por meio de seus princípios e diretrizes. De
acordo com Teixeira:
A Politica Nacional do Idoso (PNI) passou não apenas a regular as diversas iniciativas privadas e públicas de ações de proteção ao idoso, criando princípios e diretrizes para uniformizá-las, mas também a legalizar formalmente e incentivar essas instituições privadas como executoras da política [...] (TEIXEIRA, 2008, p. 265).
É importante destacar o Art. 3º da PNI que rege pelos seguintes princípios:
I - a família, a sociedade e o estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem-estar e o direito à vida; II - o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, devendo ser objeto de conhecimento e informação para todos; III - o idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza; IV - o idoso deve ser o principal agente e o destinatário das transformações a serem efetivadas através desta política; V - as diferenças econômicas, sociais, regionais e, particularmente, as contradições entre o meio rural e o urbano do Brasil deverão ser
2 BPC- Benefício de Prestação Continuada é a garantia de um salário-mínimo á pessoa com deficiência e ao
idoso com sessenta e cinco anos ou mais que não possui condições de suprir suas necessidades básicas de
sobrevivência nem de tê-las supridas por sua família.
27
observadas pelos poderes públicos e pela sociedade em geral, na aplicação desta lei. (BRASIL, 1994).
Ressalta-se que os princípios adotados pela Política Nacional do Idoso,
são de fundamental importância na garantia dos direitos da população idosa, tanto
no que se refere a sua cidadania, como em sua participação ativa na sociedade,
bem como em seu processo de envelhecimento e outros.
Logo se torna necessário elucidar as diretrizes que norteiam a PNI que se
constituem em:
I - viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso, que proporcionem sua integração às demais gerações; II - participação do idoso, através de suas organizações representativas, na formulação, implementação e avaliação das políticas, planos, programas e projetos a serem desenvolvidos; III - priorização do atendimento ao idoso através de suas próprias famílias, em detrimento do atendimento asilar, à exceção dos idosos que não possuam condições que garantam sua própria sobrevivência; IV - descentralização político-administrativa; V - capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na prestação de serviços; VI - implementação de sistema de informações que permita a divulgação da política, dos serviços oferecidos, dos planos, programas e projetos em cada nível de governo; VII - estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais do envelhecimento; VIII - priorização do atendimento ao idoso em órgãos públicos e privados prestadores de serviços, quando desabrigados e sem família; IX - apoio a estudos e pesquisas sobre as questões relativas ao envelhecimento. (BRASIL, 1994).
As diretrizes da PNI se constituem como um avanço para a população
idosa, pois elas reafirmam o que já estava previsto pela Constituição Federal tais
como “[...] a descentralização político-administrativa e financeira [...] reafirma outra
modalidade de participação dessa esfera, bem como dos próprios idosos [...]”
(TEIXEIRA, 2008, p. 277).
Outra importante e grande conquista dos idosos foi o Estatuto do Idoso,
Lei nº 10.741, sancionada em 1º de outubro de 2003. Segundo Teixeira (2008, p.
288) O Estatuto do Idoso “cria mecanismos necessária à regulamentação dos
direitos assegurados às pessoas com mais idade”. O Estatuto do Idoso surge com o
objetivo de ampliar e regulamentar os direitos dos idosos. Nas palavras de Teixeira:
28
O Estatuto do Idoso avança sobre a PNI, não só na garantia dos instrumentos de fiscalização, de controle social sobre as ações das organizações governamentais e não governamentais, mas também na tendência de definir as responsabilidades do governo, suas obrigações, para além de textos e verbos imprecisos, como incentivar, estimular e apoiar. (TEIXEIRA, 2008, p. 290)
Nas disposições preliminares do Estatuto do Idoso, o Art. 2º afirma que,
“O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem
prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei [...]” (BRASIL, 2003). Destacam-se
ainda os direitos políticos, civis e sociais que também é apontado no referido artigo.
O direito à vida está inserido no estatuto como um direito social, portanto
a lei inclui-os como obrigação do Estado (TEIXEIRA, 2008). O Art. 9º diz que “É
obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante
efetivação de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e
em condições de dignidade.” (BRASIL, 2003).
Dentre os direitos sociais é possível destacar o direito à saúde que é
intermediada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que assegura a atenção integral
à saúde do idoso, promovendo o acesso igualitário e universal do mesmo. Vale
destacar também aspectos relevantes nas áreas de educação, cultura, esporte e
lazer que são previsto na Lei no Art. 20. É garantido também no Art. 37 do Estatuto,
o direito a moradia digna.
Todavia, constatamos que as leis que regem a pessoa idosa trouxeram
grandes avanços para a população idosa desde a Constituição Federal de 1988 até
a mais recente conquista com o Estatuto do Idoso. Entretanto, é valido considerar
que estes instrumentos legais que representam a garantia de proteção social para
os idosos ainda precisam avançar muito.
Ainda nessa perspectiva de garantia de direito, iremos realizar uma breve
discussão acerca da Política de Assistência Social enquanto política de direitos,
elucidando seus principais aspectos legais, bem como as principais conquista da
política em termos de direitos da população.
29
2. A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
2.1 Assistência Social e seus principais aspectos legais.
No Brasil, a Assistência Social e a filantropia estiveram associadas às
práticas caritativas desde o século XVIII. As iniciativas filantrópicas caracterizavam-
se em voluntárias e isoladas de auxílio aos pobres. Entretanto, é apenas com a
Constituição de 19883, que a Assistência Social passa a fazer parte do tripé da
Seguridade Social, juntamente com a saúde e a previdência. A partir daí, começa-
se a perceber uma mudança nas relações entre o poder público e os usuários dos
serviços sociais prestados pelo Estado. Estas relações passam a se basearem numa
concepção de Estado Democrático de Direitos. Contudo, para que a Política de
Assistência pudesse avançar em termos de garantias de direitos era necessário à
aprovação de Leis, que regulamentassem o que está disposto na Constituição.
(CEARÁ, S/D)
Após a sua inclusão no âmbito da Seguridade Social, a Carta Magna
trouxe um novo significado para a Assistência Social. Em 1993, como política pública
de proteção social não contributiva, ela passa a ser regulamentada pela Lei
Orgânica da Assistência Social (LOAS). A regulamentação da Assistência Social
possibilitou a sua inserção no campo de direitos, e foi construída uma nova
3 Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes: I - descentralização político-administrativa, cabendo à coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social; II - participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis. (BRASIL, 1988)
30
concepção enquanto política pública de seguridade não contributiva, o direito do
cidadão e dever do Estado.
Entretanto, é importante destacar que a LOAS teve na sua gênese, a
aprovação do seu projeto no Legislativo, porém, foi vetado pelo presidente Fernando
Collor. Em julho de 1993, foi enviado um projeto que regulamentava a Assistência
Social, no entanto, não foi viabilizada a sua aprovação pelo executivo. Em agosto do
mesmo ano, o projeto de lei de nº 4.100/93 foi encaminhado pelo presidente Itamar
Franco para a Câmara Federal. Enfim, no dia 7 de dezembro de 1993, a LOAS
nasce e se transforma em Lei de nº 8.742 (SPOSATI, 2004). No Artigo 1º desta lei
está disposto o seguinte conceito sobre a Assistência Social:
Art. 1° A assistência Social, direito do cidadão e dever do Estado, é política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento das necessidades básicas. (BRASIL, 1993)
A nova configuração da Assistência Social traz para o Brasil uma
compreensão distinta de política de proteção social, capaz de garantir a todos que
dela necessitarem a provisão dessa proteção não contributiva. Torna-se importante
destacar o Art. 2º da LOAS que trata dos objetivos que regem a Assistência Social:
I - a proteção social, que visa à garantia da vida, à redução de danos e à prevenção da incidência de riscos, especialmente: a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; b) o amparo às crianças e aos adolescentes carentes; c) a promoção da integração ao mercado de trabalho; d) a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; e e) a garantia de 1 (um) salário-mínimo de benefício mensal à pessoa com deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família; II - a vigilância socioassistencial, que visa a analisar territorialmente a capacidade protetiva das famílias e nela a ocorrência de vulnerabilidades, de ameaças, de vitimizações e danos; III - a defesa de direitos, que visa a garantir o pleno acesso aos direitos no conjunto das provisões socioassistenciais (LOAS, 1993)
É importante ressaltar que os objetivos acima explicitados se
concretizarão de forma efetiva sob a condição da emancipação dos cidadãos e de
31
suas famílias, visando o protagonismo desses, através da superação das
vulnerabilidades, da fragilidade dos vínculos familiares e comunitários e dos riscos
social e pessoal. Destacamos que o conjunto de ações protetivas devem se realizar
integralmente com as outras políticas setoriais.
Os princípios que norteiam a Política da Assistência Social, estão dispostos
no artigo 4° da LOAS da seguinte forma:
I - supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica; II - universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas; III - respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade; IV - igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais; V - divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua concessão.
Ressalta-se que a proteção social da Assistência Social opera com um
modelo emancipatório que visa à promoção de autonomia dos cidadãos e suas
famílias, através da afiança dos direitos e aquisições materiais e sociais conforme
suas necessidades. O alcance desses direitos e a garantia destes só serão
possíveis a partir da concretização dos princípios explicitados acima.
A Política de Assistência Social dispõe no seu artigo 5º da LOAS as seguintes
diretrizes:
I - descentralização político-administrativa para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e comando único das ações em cada esfera de governo; II - participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis; III - primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de assistência social em cada esfera de governo.
32
Em 1997, a edição da Norma Operacional Básica (NOB)4 ampliou o
terreno de competência das três esferas de governo, ou seja, federal, estadual e
municipal e a criação de Conselhos, Fundo e Plano Municipal de Assistência Social
através da conceituação de um sistema descentralizado e participativo. Isso se deu
em função de um extenso caminho democrático de debates percorrido pelos
conselhos deliberativos e paritários. (CEARÁ, S/D)
No ano seguinte a NOB foi reeditada. Essa reedição traz a diferenciação
para os serviços, programas, projetos e benefícios. As atribuições dos Conselhos de
Assistência Social foram ampliadas e criados novos espaços de negociações e
pactuações, que são as Comissões Intergestores Bipartite e Tripartite, onde nesses
espaços de gestão operacional, foi conseguido o poder de deliberação.
A Comissão Intergestores Tripartite foi criada pelas três instâncias da
gestão do sistema: a União, os Estados e os Municípios. As referidas instâncias
foram representadas pela Secretaria de Assistência Social (SAS), Fórum Nacional
de Secretários (as) de Estado da Assistência Social (FONSEAS) e Colegiado
Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social (CONGEMAS)
respectivamente. A NOB de 1998 propôs que o recurso financeiro para os serviços
de Assistência Social fosse repassado regularmente e automaticamente do Fundo
Nacional para os Fundos Estaduais, Distrito Federal e Municipais. (PNAS, 2004)
Em 2003, foi realizada a IV Conferência Nacional de Assistência que teve
o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), como principal deliberação, pois
possibilitou a viabilização da execução da Política de Assistência Social através da
normatização dos serviços socioassistenciais, da qualidade destes aos usuários, a
definição de indicadores de avaliação e resultados dos serviços prestados.
No ano de 2004, foi criado O Ministério de Desenvolvimento Social e
Combate à Fome (MDS) no governo do Presidente Luis Inácio Lula da Silva. Com a
criação desse Ministério, o processo de construção do SUAS se intensificou e se
fortaleceu.
4 A Norma Operacional Básica disciplina a base de operacionalização do Sistema Único de
Assistência Social (SUAS).
33
A Política Nacional de Assistência Social foi aprovada em 22 de setembro
de 2004 pelo Conselho Nacional de Assistência Social. Assim PNAS5 representa a
materialidade da Assistência Social, considerando que a mesma busca assegurar os
direitos sociais da população, e ainda institui um novo modelo de gestão, o Sistema
Único de Assistência Social (SUAS). (PNAS, 2004)
O SUAS normatiza os padrões de atendimento dos serviços, a qualidade
desses aos cidadãos e suas famílias, ou seja, é imprescindível na organização das
ações executadas pela política pública de Assistência Social. A organização dessas
ações está dividida por níveis de complexidade: Proteção Social Básica e Proteção
Social Especial. Essas ações foram determinadas em média e alta complexidade,
considerando o território, a realidade regional, a população dos Municípios e a
família como parte central das suas ações. Esse modelo de gestão descentralizado
e participativo assim como preconiza a LOAS.
A proteção social básica é de responsabilidade dos Centros de
Referência da Assistência Social - CRAS6, neste espaço são ofertados os serviços
para as famílias cujos vínculos familiares e comunitários encontram-se fragilizados.
Ainda no que se refere aos CRAS faremos menção posteriormente, tendo em vista
que o mesmo se configura como cenário de nossa pesquisa. É importante
considerar ainda que o CRAS:
(...) se caracteriza como a porta de entrada do SUAS, ou seja, é uma unidade que possibilita o acesso de um grande número de famílias à rede de proteção social de assistência social. (ORIENTAÇÕS TÉCNICAS DA PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA DO SUAS, 2009, p. 9).
A proteção especial está relacionada aos direitos violados pelos
indivíduos, situação em que os vínculos familiares e comunitários encontram-se
5 São objetivos da PNAS: Prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica e, ou, especial para famílias, indivíduos e grupos que deles necessitarem; Contribuir com a inclusão e a equidade dos usuários e grupos específicos, ampliando o acesso aos bens e serviços socioassistenciais básicos e especiais, em áreas urbana e rural; Assegurar que as ações no âmbito da assistência social tenham centralidade na família, e que garantam a convivência familiar e comunitária. (PNAS, 2004) 6 ART. 6 º- C. § 1º O CRAS é uma unidade pública municipal, de base territorial, localizada em áreas com maiores índices de vulnerabilidade e risco social, destinada à articulação dos serviços socioassistenciais de proteção social básica às famílias. (BRASIL, 1993)
34
rompidos. Esses serviços são ofertados principalmente pelos Centros de Referência
Especializado de Assistência Social - CREAS7.
Os serviços de proteção básica e especial poderão ser executados em
parceria com outras unidades não governamentais de assistência social,
constituindo a rede socioassistencial. É na perspectiva de rede socioassistencial que
a PNAS propõe operacionalizar suas ações a partir dos pressupostos de
territorialização, descentralização e intersetorialidade.
Sendo assim, é possível a superação da fragmentação da política de
assistência social. Ou seja, através de uma concepção territorial, por exemplo, olhar
para a realidade como ela se apresenta, e considerar que a integração e articulação
dos serviços socioassistenciais são imprescindíveis para o rompimento dos antigos
modelos segmentados e focalizados de práticas assistenciais, assim como também,
para o enfrentamento dos desafios postos no cotidiano. Dessa forma, a PNAS
(2004) estabelece uma abordagem de proteção social e especial a partir da
perspectiva de rede com as demais politicas setoriais. (PNAS, 2004).
Além disso, fundamentou o caráter do SUAS, e esse foi delineado através
dos seguintes eixos estruturantes:
a. precedência da gestão pública da política; b. alcance de direitos socioassistenciais pelos usuários; c. matricialidade sociofamiliar; d. territorialização; e. descentralização político-administrativa; f. financiamento partilhado entre os entes federados; g. fortalecimento da relação democrática entre estado e sociedade civil; h. valorização da presença do controle social; i. participação popular/cidadão usuário; j. qualificação de recursos humanos; k. informação, monitoramento, avaliação e sistematização de resultados. (PNAS, 2004, p. 86-87)
O SUAS foi criado pela Resolução nº 130 de 15 de julho de 2005, pelo
Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) que aprovou a NOB/SUAS 20058
que em consonância com a Constituição Federal de 1988, juntamente com a LOAS
e outras legislações complementares introduziu e aperfeiçoou os avanços
conquistados pelas NOBs anteriores, tais como, os níveis de gestão do SUAS, que
7 ART. 6 º- C. § 2º O CREAS é a unidade pública de abrangência e gestão municipal, estadual ou regional, destinada à prestação de serviços a indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal ou social, por violação de direitos ou contingência, que demandam intervenções especializadas da proteção social especial. (BRASIL, 1993) 8 Informação obtida por meio da: Assistência Social e Direitos Humanos NOB/SUAS - Norma operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social. Disponível em: http://www.rj.gov.br/web/seasdh/exibeconteudo?article-id=1775877> Acesso em: 13 de maio de 2014.
35
são os seguintes: gestão inicial, básica e plena. Aprimorou ainda os instrumentos
técnicos e financeiros de gestão pública de Assistência.
O SUAS9 foi regulamentado pela Lei Federal 12.435/11 no dia 06 de julho
de 2011. Anteriormente foi indicado como orientação para os municípios, e a partir
dessa data passa a ser instrumento de observância obrigatório para os órgãos
gestores. Essa lei altera alguns dispositivos da LOAS.
No ano de 2012 a Política de Assistência Social alcança mais uma
conquista a NOB/SUAS 201210 que veio fortalecer a Assistência Social como política
de seguridade social, assegurando os direitos sociais aplicados no texto
constitucional de 1988 que representa um avanço na estruturação do SUAS uma
mudança qualitativa na oferta de serviços socioassistenciais em nível nacional,
tendo como bases norteadoras: a participação e o controle social.
2.2 A Política de Assistência Social no Município de Fortaleza
No município de Fortaleza a Assistência Social e a filantropia também
estiveram associadas, com ações voluntárias, caritativas e isoladas de benefícios
aos pobres, ou seja, ações assistencialistas. De acordo com Cavalcante (2012)11 a
Assistência Social em Fortaleza era conduzida pela Fundação de Serviço Social de
Fortaleza (FSSF), que foi criada em 1969, com a responsabilidade de oferecer
serviços aos pobres da cidade. Isso se deu até o ano de 1992, com a criação da
Secretaria do Trabalho e Ação Social (SETAS) a mesma passou a desenvolver
ações voltadas para política de direitos conforme estabelecido pela Constituição
Federal de 1988.
Em 1997, na então gestão do prefeito Juraci Magalhães o município de
Fortaleza passa por muitas mudanças, uma delas foi a extinção da SETAS, surgindo
9 Informações obtidas por meio do Centro de Apoio Operacional das Promotorias dos Direitos Constitucionais. Disponívelem: HTTP://WWW.DIREITO.CAOP.MP.PR.GOV.BR/MODULES/NOTICIAS/ARTICLE.PHP?STORYID=138 > ACESSO EM: 14 DE MAIO DE 20014 . 10 Informação obtida por meio da Norma Operacional Básica NOB/ SUAS 2012. Disponível em: http://www.fortaleza.ce.gov.br/sites/default/files/u2085/nob_suas_2012.pdf> Acesso em: 13 de maio de 2014. 11 CAVALCANTE, Maria Camila Lima. A mulher como responsável familiar pelo beneficio do Programa Bolsa Família: Um estudo de caso com as beneficiárias do bairro Granja Portugal. 2012. Monografia (Graduação) Faculdade cearense, Curso Serviço Social. Fortaleza, 2012.
36
em 1998 a Secretária Municipal de Desenvolvimento Social (SMDS), nesse mesmo
período, com o objetivo de descentralizar a gestão, Fortaleza é dividida em
Secretarias Executivas Regionais (SER), as secretarias por sua vez eram
subdivididas em distritos tais como: educação, saúde, assistência dentre outros; a
assistência era denominado de Distrito de Assistência Social (DAS). Contudo, a
procura pelos serviços da assistência social aumentou muito chegando a ser maior
do que o número de serviços ofertados para a população, surgindo então a
Coordenadoria de Assistência Social (CAS) a mesma passa a atuar junto com a
SMDS com o objetivo de atender as demandas da população com maior qualidade e
eficiência.
Em 2001, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SMDS) foi
extinta, e a assistência passa a ser conduzida pela Secretaria Municipal de
Educação e Assistência Social (SEDAS). As duas políticas passam a coexistirem
num mesmo espaço institucional, e ambas trabalham separadamente suas políticas.
Em 2005, no começo da gestão da prefeita Luiziane Lins, deu-se início ao
processo de criação de uma assistência social baseada numa política pública de
direitos. A assistência social ficou sob a orientação da Coordenadoria de Políticas
Públicas de Assistência Social (CASSI), criada na gestão anterior, até 2007. Nesse
mesmo ano, a Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS) foi criada através
da Lei Complementar nº 0039/07. A Política de Assistência Social passa a ser em
conformidade com a PNAS (2004), assim também, com a NOB/SUAS de 2005, e
com a legislação anteriormente mencionada. (AZEVEDO E OLIVEIRA, 2012).
As competências da SEMAS consistia em: formular, elaborar e executar
as ações voltadas para Política de Assistência, apontando as suas prioridades,
norteando as ações e buscando cada vez mais a melhoria de vida da população
menos favorecida. A SEMAS têm como diretrizes “(...) os princípios da
descentralização político-administrativa e da participação popular. Além da ouvidoria
vinculada ao gabinete da SEMAS [...]” (AZEVEDO E OLIVEIRA, 2012, p. 89).
A estrutura organizacional da referida secretaria se dava da seguinte
forma: “[...] Gestão do Sistema Único de Assistência Social, Cadastro Único e
Programa Bolsa Família, Proteção Social Básica e Proteção Social Especial,
Administrativo e Financeiro e Fundo Municipal de Assistência Social” (AZEVEDO e
OLIVEIRA, 2012, p. 89).
37
É importante destacar que a SEMAS era vinculada aos DAS, esses por
sua vez funcionavam como gestores locais, que coordenavam os serviços de
assistência de acordo com sua área de abrangência. Os equipamentos vinculados e
coordenados pela SEMAS eram os seguintes: 24 Centros de Referência de
Assistência Social (CRAS) sendo que 1 era itinerante12; 9 unidades
socioassistenciais; 3 Centros Referência Especializados de Assistência Social
(CREAS); 1 Centro Referência Especializado para população em Situação de Rua
(CentroPop); 1 Espaço de Acolhimento Noturno (EAN); 1 Casa de Passagem; 5
Núcleos de Liberdade Assistida; 1 Núcleo de Prestação de Serviços à Comunidade.
Os responsáveis em captar os recursos para a execução e efetivação da
Política de Assistência, era a Coordenadoria Administrativa e Financeira (CAF) e o
Fundo Municipal de Assistência Social (FMAS). Para tanto, no ano de 2013, na
gestão do então prefeito Roberto Cláudio a SEMAS foi extinta, dando lugar a
Secretaria de Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate a Fome (SETRA). A
SETRA tem como missão:
Assegurar assistência social integral, segurança alimentar e nutricional, participação na vida produtiva e segurança de renda, contribuindo para o desenvolvimento da sua autonomia cultural, social, política e econômica e viabilização do pleno exercício da sua cidadania13.
Tem ainda como finalidade: Prover mínimos e atender necessidades
básicas (sobrevivência, acolhida e convívio); Oferecer condições para que as
pessoas e grupos estejam livres da fome, de forma regular e permanente; Contribuir
para promover a integração das políticas e articulação das ações de qualificação
social e profissional e ações vinculadas ao emprego, ao trabalho, à renda e à
educação; Gerar emprego e trabalho decente para combater a pobreza e as
desigualdades; Erradicar o trabalho escravo e eliminar o trabalho infantil. Suas
Diretrizes são: Comando único na assistência social; Descentralização
12 CRAS Itinerante é uma unidade móvel que oferece seus serviços socioassistenciais nas comunidades que não possuem um CRAS de referência no território. 13 Informações obtidas por meio de slides disponibilizados pela Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate à Fome referenciando a sua Reforma 2013. Disponível em: http://www.fortaleza.ce.gov.br/sites/default/files/u2085/apresentacao_setra_2014_ok_0.pdf > Acesso em: 16 de maio de 2014.
38
administrativa, política e financeira; Universalização do acesso; Atendimento às
necessidades sociais; Participação popular.
A estrutura organizacional da SETRA se apresenta da seguinte forma:
Secretário, Secretário Executivo, as Assessorias: Assessoria Especial de Gabinete,
Assessoria de Planejamento e Desenvolvimento Institucional, e por último, a
Assessoria Jurídica, juntamente com as Coordenadorias e suas Células de trabalho.
A Coordenadoria de gestão integrada da assistência social é composta
pelas seguintes células: Célula da proteção básica; Célula da proteção especial;
Célula de benefícios; Célula de gestão do SUAS; Célula de gestão do fundo
municipal de assistência social.
A Coordenadoria de gestão integrada do trabalho e qualificação
profissional e suas respectivas células: Células de emprego/renda e gestão do SINE;
Célula da qualificação profissional. A Coordenadoria de gestão integrada de
segurança alimentar e nutricional é composta pelas Células de agricultura urbana,
periurbana e gestão do SISAN. A Coordenadoria administrativo-financeiro é
composta pelas: Célula gestão administrativa; Célula de gestão financeira; Célula de
gestão da rede física; Coordenadoria de tecnologia da informação.
Os equipamentos coordenados pela SETRA são os seguintes: 03 Centros
de Referência de Qualificação Profissional (antigas Casas Brasil); 03 Unidades
SINE-PMF; 24 Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e 01 itinerante;
06 Centros Referência Especializados de Assistência Social (CREAS); 02 Centros
de Referência Especializado para população em Situação de Rua (CentroPOp); 01
Casa de Passagem.
Vale destacar que no ano de 2013, a Secretaria de Trabalho,
Desenvolvimento Social e Combate a Fome - SETRA na então gestão Roberto
Cláudio, ampliou alguns de seus equipamentos dentre eles: 01 Centro pop, 02
CREAS e 01 CRAS, por isso os números desses equipamentos se difere da
Secretaria anterior (SEMAS).
39
2.3 Cenário da Pesquisa: O CRAS Granja Portugal – um equipamento da
Política de Assistência Social
A presente pesquisa ocorreu no Centro de Referência de Assistência
Social (CRAS) Granja Portugal. Esse equipamento público está localizado no bairro
da Granja Portugal, na zona oeste do município de Fortaleza, e é um dos bairros
que integra a Secretaria Executiva Regional - SER V.
O CRAS Granja Portugal14 compõe o Complexo de Cidadania Martins
Filho, onde são disponibilizados também os serviços nas áreas de saúde e
educação. Os equipamentos da área da saúde são os seguintes: Oca Comunitária
Fênix e Centro de Saúde da Família Fernandes Diógenes. Na área de educação:
Escola de Ensino Fundamental Reitor Martins Filho, a Creche Creusa do Carmo
Rocha e a Casa Brasil. Nos equipamentos mencionados transitam os usuários do
Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Realizamos a pesquisa de campo no
referido equipamento e aplicamos entrevista com alguns dos idosos atendidos no
mesmo. São antigos moradores do bairro e fazem parte do Serviço de Convivência e
Fortalecimento de Vínculos (SCFV) - Idosos.
Conforme seus relatos, o bairro em questão foi denominado de Granja
Portugal em homenagem àqueles que primeiramente chegaram ao território. De
acordo com as reminiscências de alguns desses moradores, existia uma fazenda,
cujos proprietários eram portugueses, e trabalhavam com a criação de galinhas. Daí
a explicação para nome dado ao bairro.
O bairro Granja Portugal possui uma densidade demográfica de 71
pessoas por km², têm 113.826 domicílios, sua população é de 37.369 mil habitantes.
Ele foi subdividido em 07 comunidades: Mela-Mela, Novo Mundo, Santo Antônio,
Menino Deus, Cacimbinhas, Santa Clara e Belém.
Os equipamentos públicos e particulares do bairro Granja Portugal são os
seguintes: 01 CRAS, 02 postos de saúde, 02 escolas de educação infantil, 02
creches, 08 escolas municipais, 15 escolas particulares, 01 Casa Brasil e 26
entidades socioassistenciais. Na comunidade existe também uma Praça da Igreja
14
Todas as informações institucionais assim como informações acerca do bairro Granja Portugal foram obtidas por meio da: Secretaria Municipal de Assistência Social. Diagnóstico socioterritorial. 2012.
40
Santo Antônio, que se configurou como palco de muitas manifestações populares
em busca de melhorias para a população.
Seus moradores vivem em sua maioria do trabalho artesanal, comércio e
feiras locais. É importante destacar o trabalho na área da economia solidária que é
realizado por um grupo de mulheres, que foi se formando em virtude do incentivo da
Organização Granja Portugal Solidária. A partir daí, esse grupo de mulheres criou a
marca “Soliart confeccionando arte com solidariedade”. No ano de 2010, através de
uma lei municipal, ficou instituído o dia 12 de setembro como a data oficial do
aniversário do bairro da Granja Portugal.
Em 2004, a Prefeitura Municipal de Fortaleza inaugurou o Centro de
Convivência Maria Adélia Feijó Benevides, conhecido entre os moradores por salão
dos idosos. Nesse local eram realizadas atividades destinadas às pessoas idosas.
Atualmente, nesse espaço encontra-se o CRAS Granja Portugal, onde são
desenvolvidas ações do Sistema Único de Assistência Social.
De acordo com as orientações técnicas da proteção social básica do
SUAS (2009, p. 9), o conceito de CRAS é o seguinte :
Uma unidade pública estatal descentralizada da política de assistência social, responsável pela organização e oferta de serviços da proteção social básica do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) nas áreas de vulnerabilidade e risco social dos municípios e do DF (...).
Considerando a Resolução de nº 109, de 11 de novembro de 2009, traz a
Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, aprovada pelo Conselho
Nacional de Assistência Social (CNAS), que normatiza e organiza os serviços
socioassistenciais do SUAS por níveis de complexidade: a Proteção Social Básica e
a Proteção Social Especial de média e alta complexidade.
Dentre os Serviços da Proteção Social Básica desenvolvidos no âmbito do
CRAS, está o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família - PAIF. De
acordo com a tipificação, o PAIF consiste no:
Trabalho social com famílias, de caráter continuado, com a finalidade de fortalecer a função protetiva das famílias, prevenir a ruptura dos seus vínculos, promover seu acesso e usufruto de direitos e contribuir na melhoria de sua qualidade de vida [...] (TIPIFICAÇÃO, 2009, p. 6).
É importante ressaltar que os serviços de Proteção Social Básica
desenvolvidos no território de abrangência do CRAS, em especial, os Serviços de
41
Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) devem ser referenciados e
articulados com o PAIF. No que tange os Serviços de Convivência e Fortalecimento
de Vínculos:
Serviço realizado em grupos, organizado a partir de percursos, de modo a garantir aquisições progressivas aos seus usuários, de acordo com o seu ciclo de vida, a fim de complementar o trabalho social com famílias e prevenir a ocorrência de situações de risco social [...] (TIPIFICAÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS, 2009, p. 9).
Ainda no que se refere à tipificação, os serviços de proteção social básica
são:
Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Crianças de até 6 anos: Tem por foco o desenvolvimento de atividades com crianças, familiares e comunidade, para fortalecer vínculos e prevenir ocorrência de situações de exclusão social e de risco, em especial a violência doméstica e o trabalho infantil, sendo um serviço complementar e diretamente articulado ao PAIF[...] (TIPIFICAÇÃO, 2009, p.10). Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Crianças e Adolescentes de 6 a 15 anos: Tem por foco a constituição de espaço de convivência, formação para a participação e cidadania, desenvolvimento do protagonismo e da autonomia das crianças e adolescentes, a partir dos interesses, demandas e potencialidades dessa faixa etária [...] (TIPIFICAÇÃO, 2009, p.10). Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Adolescentes e Jovens de 15 a 17 anos: Tem por foco o fortalecimento da convivência familiar e comunitária e contribui para o retorno ou permanência dos adolescentes e jovens na escola, por meio do desenvolvimento de atividades que estimulem a convivência social, a participação cidadã e uma formação geral para o mundo do trabalho [...] (TIPIFICAÇÃO, 2009, p.10). Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Idosos: Tem por foco o desenvolvimento de atividades que contribuam no processo de envelhecimento saudável, no desenvolvimento da autonomia e de sociabilidades, no fortalecimento dos vínculos familiares e do convívio comunitário e na prevenção de situações de risco social [...] (TIPIFICAÇÃO, 2009, p. 11).
Em relação ao Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para
Idosos (SCFV) do CRAS da Granja Portugal, este atualmente conta com um grupo
de 70 idosos inscritos, com idade igual ou superior a 60 anos. De acordo com
informações obtidas na instituição, dentre estes idosos inscritos, 45 participam
assiduamente. As atividades acontecem duas vezes por semana, as terças e
quintas-feiras, no horário das 14h00min as 16h00min horas. A elaboração e
execução das atividades são realizadas por uma profissional de nível superior
(Assistente Social, Psicóloga, Pedagoga ou Terapeuta ocupacional) e uma
profissional de nível médio (Educador Social).
42
Esses profissionais participam de formações metodológicas mensalmente,
promovidas pela SETRA. Nesses momentos, uma determinada temática é
trabalhada das mais variadas formas, tais como: palestras, oficinas e vivências, com
o objetivo de direcionar e uniformizar os trabalhos executados em todos os CRAS do
município de Fortaleza15.
Após a participação nas formações metodológicas, os profissionais de
referência do SCFV para Idosos elaboram o planejamento mensal das atividades
que serão posteriormente executadas. O planejamento é baseado conforme os
direcionamentos recebidos durante as suas vivências nas oficinas. A partir daí, as
atividades são realizadas e conduzidas de acordo com o planejamento. Ao final de
cada mês, esses mesmos profissionais elaboram o relatório mensal, informando
todas as atividades que foram executadas, ressaltando os parceiros que
contribuíram com sua efetivação, os recursos materiais disponíveis e indisponíveis,
os encaminhamentos realizados no dia, enfim, todos os aspectos facilitadores e
dificultadores da execução das atividades.
15 Ressaltamos que essas informações foram adquiridas no decorrer da atuação profissional da pesquisadora no referido equipamento.
43
3. ANÁLISE DOS RESULTADOS
3.1 Percursos Metodológicos
Neste capítulo será apresentado o percurso metodológico utilizado
durante todo o processo que se deu o presente trabalho, objetivando esclarecer e
nortear o leitor como ele se deu, assim como elucidar as principais estratégias que
foram empregadas. De acordo com Gondim a metodologia explicita:
[...] as questões norteadoras e as estratégias que serão utilizadas para a abordagem empírica do objeto, as quais devem ser articuladas ao quadro teórico adotado. Essas questões que já aparecem, implícita ou explicitamente, na definição do objeto, devem ser recolocadas ou redefinidas em termos da estratégia metodológica que se pretende seguir [...] (GONDIM, 1999, p.19).
Gondim (1999, p. 17) chama a atenção para as seguintes questões: “[...] o
que será feito; por que e a partir de que se pretende fazê-lo? como e onde será
realizada a pesquisa; quando será feita? [...]”. A mesma autora acrescenta ainda que
é de fundamental importância que o pesquisador responda essas questões com
precisão, pois estas proporcionarão a qualidade do trabalho científico. Ressalta-se
ainda que o texto torna-se mais esclarecedor.
Compreendendo que a realidade cotidiana é dinâmica e o processo de
mudanças é sempre contínuo, optou-se por uma aproximação com o método
dialético, por ter uma visão de conjunto, de totalidade, e por ter uma maior
compreensão das contradições da realidade social, “o conhecimento é totalizante e
a atividade humana, em geral é um processo de totalização, que nunca alcança uma
etapa definitiva e acabada”. (KONDER, 1981, p. 43).
Vale ressaltar que o método materialista dialético está sempre muito
presente em pesquisas do serviço social, haja vista que ele permite a compreensão
do contexto social na sua totalidade, permitindo ao pesquisador ir muito além da
superficialidade. Minayo afirma que a dialética trabalha da seguinte forma:
A dialética trabalha com a valorização das quantidades e da qualidade, com as contradições intrínsecas às ações e realizações humanas, e com o movimento perene entre parte e todo interioridade e exterioridade dos fenômenos. (MINAYO, 1994, p. 24)
44
Segundo Gil (2011) a dialética oferece as bases para que o pesquisador
tenha uma visão de totalidade da realidade, pois de acordo com este método, é
impossível entender os fatos sociais quando considerados isoladamente. É
importante considerar ainda que a dialética prioriza as mudanças qualitativas.
A técnica de pesquisa que utilizamos para alcançar os objetivos da
pesquisa foi de natureza qualitativa. Tendo em vista que a mesma procura
compreender os fatos sociais de acordo com a subjetividade do indivíduo, seus
valores, sentimentos, crenças, ou seja, tudo que não pode ser quantificado.
A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se ocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes [...] (MINAYO, 1994, p. 21).
Ainda sobre técnica qualitativa faz-se necessário mencionar Chizzotti,
pois o mesmo afirma que:
A abordagem qualitativa parte do fundamento que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. [...] (CHIZZOTTI, 2003, p. 79).
Antes da realização da pesquisa de campo foi necessário fazermos uma
pesquisa bibliográfica e documental, com o intuito de obtermos um maior
conhecimento do objeto em questão; isso se deu por meio de leituras a respeito do
mesmo tema. Gondim (1999) adverte sobre a importância da preparação de um bom
projeto numa etapa que antecede a pesquisa de campo:
[...] Contudo, a preparação de um bom projeto de pesquisa requer um volume razoável de leituras, capaz de subsidiar uma revisão de literatura que dê conta dos principais autores que estudam o tema, tanto em termos teóricos, como empíricos [...] (GONDIM, 1999, p. 32).
Para Gil (2011), a pesquisa bibliográfica se desenvolve a partir de
conhecimentos e estudos elaborados anteriormente por diferentes autores,
compostos prioritariamente por livros e artigos científicos. Sua principal vantagem
refere-se ao fato de que as informações obtidas por meio da pesquisa bibliográfica
tornam-se mais vasta do que as informações conseguidas pelo próprio pesquisador.
Ainda de acordo com Gil a pesquisa documental é muita parecida com a pesquisa
45
bibliográfica, sua principal diferença diz respeito à natureza das fontes, pois
diferentemente da pesquisa bibliográfica, a documental apropria-se de materiais que
ainda não passaram por um tratamento analítico.
Após a etapa mencionada acima, realizamos a pesquisa de campo com o
grupo de idosos que participam do Serviço de Convivência e Fortalecimento de
Vínculo para Idosos (SCFV), do CRAS Granja Portugal, e como coleta de dados
utilizamos a entrevista na modalidade semiestruturada.
Entrevista semiestruturada refere-se a “perguntas fechadas e abertas, em
que o entrevistador tem a possibilidade de discorrer sobre o tema em questão sem
se prender à indagação formulada [...]” (MINAYO, 2010, p. 161). Nesse sentido
ressalta-se que a modalidade da entrevista semiestruturada com perguntas
antecipadamente elaboradas pelas pesquisadoras possibilitou que a entrevista
ocorresse de forma livre.
A seleção dos sujeitos da pesquisa se deu através da amostragem por
acessibilidade. “Aplica-se esse tipo de amostragem em estudos exploratórios ou
qualitativos, onde não é requerido elevado nível de precisão [...]” (GIL, 2011, p. 94).
Ainda de acordo com o autor esse tipo de amostragem não apresenta tanto rigor em
relação aos outros tipos de amostragem.
Para que a realização desta pesquisa de campo fosse concretizada,
inicialmente foi requerido um ofício junto à Faculdade Cearense solicitando a
autorização da Secretaria de Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate à Fome -
SETRA à realização da referida pesquisa no equipamento de referência, CRAS
Granja Portugal. No prazo de três dias o documento foi fornecido pela instituição de
ensino. De posse do documento a pesquisadora deu entrada no Sistema de
Protocolo da referida secretaria. Contudo em virtude do processo de mudança em
que a instituição estava passando, houve um atraso na autorização da pesquisa.
Sendo necessário refazer novamente todo esse processo burocrático para darmos
inicio a pesquisa.
Diante disso, no primeiro contato realizado com o grupo de idosos da
supracitada instituição, o presente trabalho foi exposto e os seus objetivos. No
ensejo, foi realizado o convite para a participação do grupo na pesquisa. Os critérios
que foram utilizados para a escolha dos participantes da pesquisa foram: idosos que
tivessem no mínimo dois anos de participação no serviço de convivência e uma
46
maior assiduidade nos encontros, ressaltando a satisfação da participação de cada
um deles.
Ressalta-se que foi feito maiores esclarecimentos acerca de todos os
trâmites que envolvem o processo da pesquisa, solicitando dos participantes seu
consentimento para sua realização. É importante registrar que os idosos se
mostraram bastante solícitos e extremamente disponíveis em participar da pesquisa.
A pesquisa foi realizada durante os meses de abril e maio de 2014. Nas
primeiras semanas foi realizado o processo de sensibilização dos idosos,
posteriormente deu-se início a seleção dos sujeitos da pesquisa. Após isto iniciamos
as entrevistas individuais com oito participantes do SCFV para Idosos, com data e
hora marcada. Ressalta-se que no ato da entrevista, foi lido para cada participante o
termo de consentimento livre e esclarecido, solicitando dos mesmos a autorização
da entrevista e o uso do gravador.
3.2 Perfil dos sujeitos da pesquisa
Preservadas as identidades dos participantes os nomes dos entrevistados
foram substituídos por nomes fictícios.
Margarida, 70 anos, divorciada, natural de Guaramiranga – CE, possui o Ensino
Fundamental Incompleto, reside no bairro Granja Portugal, mora com uma filha e um
neto e é aposentada com renda familiar de um salário mínimo.
Cravo, 64 anos, casado, natural de Parnaíba - PI, possui o Ensino Fundamental
Incompleto, reside no bairro Bom Jardim, mora com a esposa e é aposentado com
renda familiar de dois salários mínimo.
Girassol, 78 anos, viúva, natural de São Gonçalo - CE, possui o Ensino
Fundamental Incompleto, reside no bairro Granja Portugal, mora sozinha e é
aposentada com renda familiar de um salário mínimo.
Orquídea, 68 anos, separada, natural de Sobral - CE, possui o Ensino Fundamental
Incompleto, reside no bairro Granja Portugal, mora com uma filha e um neto e é
aposentada com renda familiar de um salário mínimo.
47
Lírio, 71 anos, solteira, natural de Icó - CE, possui o Ensino Fundamental
Incompleto, reside no bairro Granja Portugal, mora sozinha e é aposentada com
renda familiar de um salário mínimo.
Pinheiro, 75 anos, casado, natural de Pentecoste - CE, nunca estudou, reside no
bairro Granja Portugal, mora com a esposa e é aposentado com renda familiar de
dois salários mínimos.
Rosa, 68 anos, casada, natural de Pernambuco - PE, possui o Ensino Fundamental
Incompleto, reside no bairro Granja Portugal, mora com uma filha e é aposentada
com renda familiar de um salário mínimo.
Violeta, 69 anos, casada, natural de Fortaleza - CE, possui o Ensino Fundamental
completo, reside no bairro Granja Portugal, mora com o esposo e é aposentada com
renda familiar de dois salários mínimos.
No que se refere à idade dos sujeitos da pesquisa, percebe-se que
mescla em torno dos 64 a 75 anos. Constatamos que a participação dos indivíduos
nesses espaços inicia-se logo que estes passam a ser considerados idosos de
acordo com o que está previsto no Estatuto do Idoso em seu Art. 1º: “É instituído o
Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com
idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos” (BRASIL, 2003).
Verifica-se também que há uma maior participação das mulheres nesses
espaços de convivência. Nas palavras de Debert: “No Brasil, os programas para
terceira idade têm mobilizado, sobretudo um público feminino. A participação
masculina raramente ultrapassa os 20% [...]” (DEBERT, 2004, p. 139).
No entanto, vale ressaltar que, de acordo com dados do IBGE (2012) as
mulheres vivem mais do que os homens, pois a maioria da população idosa é
composta por mulheres. Isso Talvez explique o maior número de mulheres
participando dos serviços e grupos de convivência para pessoas idosas.
Veras (2003) expõe algumas suposições que explicam o fato das
mulheres chegarem mais na fase da velhice do que os homens. Uma delas está
relacionada ao fato de que os homens estão mais expostos a riscos de acidentes e
ainda estão entre os maiores consumidores de álcool e cigarro. Outro fator que
também tem contribuído para uma maior expectativa de vida das mulheres são os
48
avanços na medicina e o baixo índice de mortalidade materna, bem como uma maior
frequência entre as mulheres nas unidades de saúde.
Sobre a escolaridade dos entrevistados podemos constatar que os
mesmos possuem um baixo nível de escolaridade, pois dos oito entrevistados
apenas um conseguiu concluir o ensino fundamental. Em relação ao estado civil,
revela-se a maior presença de idosos casados, sendo que dois deles encontram-se
separados, um dos entrevistados possui o estado civil de solteiro, e apenas um
encontra-se viúvo. No que tange à renda familiar, podemos perceber que todos são
aposentados e possuem uma renda entre um a dois salários-mínimos e, é essa
renda que se configura como a maior fonte de sobrevivência dos entrevistados e
seus familiares.
3.3 Análises da pesquisa
Apresentados então os perfis dos participantes da pesquisa, trazemos
neste ponto as motivações que levaram esses idosos a participarem do Serviço de
Convivência e Fortalecimento de Vínculos para idosos do CRAS Granja Portugal.
Segundo os estudos realizados por Leite et al (2002), a busca pela
inserção em grupos de convivência tem aumentado muito entre as pessoas idosas,
isso resulta da busca incessante desses indivíduos por uma melhor qualidade de
vida e também por esses espaços proporcionarem para eles sua entrada no convívio
social com outras pessoas. Ainda de acordo com os autores, a partir do momento
em que os idosos passam a frequentar os espaços de convivência há uma troca de
conhecimentos e de experiências e, além disso, por meio de sua inserção auxiliam
na desmistificação da imagem negativa da velhice.
Em relação às motivações que levaram os idosos do CRAS Granja
Portugal a participarem do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos
para idosos, para identificá-los, inicialmente foram realizadas as seguintes
indagações: Como tomou conhecimento da existência do grupo de idosos? Qual o
tempo de participação no grupo? As respostas foram as seguintes:
Acho que foi mesmo através da necessidade, pois sentia essa necessidade dentro de mim sabe? Acho que eu era uma pessoa triste, foi então que uma
49
amiga me informou sobre o grupo e me convidou pra eu vir participar, ela disse que aqui era muito bom para os idosos, disse que eu ia me sentir muito bem, aí eu vim, então eu encontrei o melhor para mim, me senti muito bem aqui desde da primeira vez que eu vim e hoje eu me sinto uma pessoa muito feliz aqui. Venho participando há dez anos desse grupo. É bom está aqui. (Margarida) Ah foi de junho, junho. Agora eu não me lembro o ano, eu sei que tá com 11 anos que nós estamos aqui ,eu participei daqui desde do dia que uma pessoa passou lá em casa e disse: rapaz, tem um grupo de idosos ali , eu não me lembro quem foi a pessoa. Eu sei que ele disse: tem um grupo dos idosos ali, rapaz, que começou agora, eu já venho é de lá. Eu disse: ou rapaz, pois amanhã eu vou pra lá, aí quando foi no outro dia eu vim pra cá logo, aí pronto gostei e não saí mais. (Cravo) Foi através de uma amiga. Foi assim: ela me falou do grupo, mas na época eu tinha só 59 anos de idade, aí eu vim aqui com ela, mas fui informada que eu só podia participar quando eu completasse 60 anos, aí quando eu completei os 60 anos eu vim com essa minha amiga e foi daí que eu comecei a participar. Eu acho, eu no tô bem lembrada, mas... de 60 anos pra cá? Oito anos, é isso mesmo, já faz oito anos que eu tô aqui, e tá sendo muito bom pra mim, me sinto muito feliz aqui. (Orquídea)
Foi por intermédio de uma amiga minha. Um dia ela passou lá em casa, eu era novata aqui, eu não sabia que existia isso aqui não, aí ela me chamou, que foi a florzinha, aí ela me explicou tudinho como era aqui né? Aí eu disse pra ela: ou mulher, pois eu vou eu me acho tão só as minhas meninas tudo trabalham no tem tempo pra mim, os meus filhos trabalham são tudo assim ocupados, e eu fico aqui sozinha, só pensando em tanta coisa, que no dar nem pra dizer o tanto de coisa que eu penso, porque a gente pensa coisas boas e pensa coisas ruins também, porque a gente pensa os dois lados né? Sim, pois é, aí então como eu tava dizendo um dia essa minha amiga passou, e me viu sentada na calçada aí ela chegou e disse: mulher tu mora aqui sozinha? Eu disse: moro, porque nesse tempo a minha menina no morava nem comigo ainda, aí ela disse: mulher eu vou te dar um conselho eu tõ no grupo ali no CRAS e eu gosto muito de lá e eu tenho muita pena de você por isso eu queria lhe convidar pra você ir pra lá, aí eu disse: mais mulher eu no sei nem onde é, ela disse: não se preocupe você vai comigo, aí foi isso eu vim e gostei muito, amei tudo quanto eu vi aqui. Eu acho que já tá mais ou menos com uns quatro a cinco anos que eu participo daqui. (Rosa)
De acordo com os depoimentos acima, destaca-se que os entrevistados
desconheciam a existência do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS)
Granja Portugal, vindo a conhecer através dos amigos, que os informou e os
convidou a participar do grupo. Dessa forma percebe-se a importância da figura do
amigo para a inserção desses idosos no referido equipamento.
Constata-se ainda, que o grupo mencionado acima, foi muito bem
recomendado e referenciado pelos amigos dos entrevistados. Uma vez que estes
declaram gostar muito das atividades desenvolvidas na instituição, despertando
nesses idosos o interesse em conhecer e participar do grupo.
50
Assim sendo, a busca por esse serviço resultou-se principalmente por
intermédio de amigos. É interessante destacar, a forma como se deu a inserção
desses idosos no grupo, através do estimulo, incentivo, motivação e recomendação
de pessoas mais próximas que já participavam do serviço.
Observam-se também outros fatores que contribuíram para a inserção
desses idosos nos serviços, a saber: a solidão ocasionada pelo fato desse sujeito
morar sozinho, ou mesmo em virtude da ausência dos filhos em decorrência do
trabalho destes. De acordo com Deps (1993) essa solidão é minimizada na interação
com amigos.
Além da necessidade de interagir com amigos, perceberam-se outras
necessidades como, por exemplo: a possibilidade de fazer algo novo, e a
necessidade de se sentir útil, pois, “ao ingressar em um grupo de convivência, tanto
a pessoa idosa como seus familiares, buscam a valorização do idoso como indivíduo
socialmente útil, com possibilidade de resgatar sua cidadania”. (Leite, et. al., 2002, p.
23).
Diferentemente dos relatos anteriores, cuja inserção no Serviço se deu
principalmente por intermédio de amigos, existem também aqueles idosos que
procuraram esses espaços de forma espontânea, seja por curiosidade ou por
estarem abertos a novas possibilidades. Isso se reflete na fala seguinte da senhora
Violeta:
Curiosidade. Passei aqui quando estavam construindo o prédio, já quis logo saber o que era que ia ser construído aqui, foi aí que me disseram que ia ser um espaço pra fazer atividades com os idosos. No inicio a pessoa responsável não queria me escrever por causa da minha idade, mas eu pelejei muito, eu dizia rapaz coloca logo o meu nome aí pra eu ir logo aprendendo alguma coisa falta bem pouquinho pra eu completar sessenta anos, aí depois de muita peleja mesmo ela resolveu escrever. Eu participo desde quando começou, acho que já tá com uns dez ou onze anos uma coisa assim. (Violeta)
Além da curiosidade despertada pela entrevistada acima, verificou-se
também no seu depoimento, a persistência em participar das atividades do grupo,
gerada pelo desejo de aprender coisas novas, mesmo sabendo que não tinha ainda
a idade estabelecida (60 anos) para sua inserção no grupo.
Independentemente da via que foi utilizada para inserção desses idosos
no grupo de convivência, seja por convites de amigos, como foi relatado nos
depoimentos anteriores, ou mesmo pela espontaneidade ou curiosidade do idoso,
51
conforme declara a Senhora Violeta, ambas as formas se configuram como formas
de acesso ao grupo.
Sobre o tempo de participação dos entrevistados no serviço todos
informaram que tem pelo menos cinco anos de participação e é percebida, no
decorrer das falas, a satisfação desses idosos em frequentar esse espaço há
bastante tempo. Foi perceptivo também o sentimento de felicidade e de realização
demonstrado pelos mesmos nas seguintes falas:
[...] me senti muito bem aqui desde da primeira vez que eu vim, e hoje eu me sinto uma pessoa muito feliz aqui. Venho participando há dez anos desse grupo. É bom está aqui. (Margarida) [...] Eu acho, eu no tô bem lembrada, mas... de 60 anos pra cá? Oito anos, é isso mesmo, já faz oito anos que eu tô aqui e tá sendo muito bom pra mim, me sinto muito feliz aqui. (Orquídea)
Ressalta-se também o seguinte depoimento: “[...] gostei e não sai mais...”.
Essa expressão de satisfação nos leva a perceber a importância do acolhimento
desses idosos no referido equipamento, considerando que é a partir desse primeiro
contato, que os idosos passam a querer ou não a participar das atividades do grupo.
Quanto ao acolhimento, é importante destacar a Tipificação (2009), que
orienta e norteia todos os serviços de convivência nos CRAS. No que diz respeito ao
serviço para a pessoa idosa, tem como finalidade precípua desenvolver atividades
que contribuam para o desenvolvimento saudável dos idosos, além de desenvolver a
autonomia e a sociabilidade dos mesmos.
Em relação às atividades ofertadas no Serviço de convivência foram
realizados os seguintes questionamentos: Quais atividades realizadas no grupo?
Quais as atividades que proporcionam maior satisfação ao realizá-las?
É teatro, é dança artesanato, trabalho de pintura, palestras. São várias atividades, o diálogo entre as pessoas que eu não conhecia, hoje eu conheço como uma família, eu gosto de fazer todas as atividades, mas aquela que trabalha com a mente eu gosto muito. (Pinheiro) Eu participo de um bocado de atividade que tem aqui sabe? Às vezes assim... Tem artesanato, palestras, têm mais um bocado de arte, principalmente aquela... Como é mesmo o nome...? Ah, é artesanato, quando chega na época das festas a gente faz um bocado de coisas pra enfeitar o nosso salão, faz mascaras pro carnaval, faz vários enfeites, depois a gente coloca na parede pra ficar bonito, é arte. A gente faz muita coisa aqui, dança também. Eu gosto de tudo, mas pra mim o que eu mais gosto de fazer era se tivesse né? Uma comparação costura, bordado eu
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gostaria de costurar e bordar porque não é só dançar, tem outras coisas que são importantes também. (Lírio)
As atividades desenvolvidas são as seguintes: culturais, físicas, artísticas,
manuais e outras. Essas, geralmente, são as que chamam mais atenção dos idosos,
sobretudo quando estes se identificam ou mesmo quando são despertados e
estimulados a participar. Miranda e Banhato em seus estudos sobre a influência da
participação em grupos descrevem sobre o sentido da atividade em grupos.
Segundo as autoras:
A atividade é um meio de contrabalançar as perdas comuns [...], ao mesmo tempo o de proporcionar um espaço para que outras características sejam desenvolvidas e até potencializadas, proporcionando ao idoso uma forma de crescimento pessoal, além de ser uma aliada na superação do estresse. A ação ou o ato de fazer alguma coisa é uma das necessidades básicas do ser humano. Independentemente da idade [...] (MIRANDA E BANHATO, 2008, p. 71).
Reportando-nos para as falas dos entrevistados, dentre as diversas
atividades ofertadas, foi possível perceber que os participantes sentem prazer ao
executá-las, pois afirmam participar de tudo. “A participação dos idosos em
diferentes atividades, além de fortalecer laços de amizade fora do contexto familiar,
abre a perspectiva de novas e enriquecedoras experiências” (CARVALHO, 2010,
apud TEIXEIRA, 2001).
Entretanto, quando os questionamos acerca de suas atividades
preferidas, declararam gostar de todas, mas sentem necessidade de outras
atividades que consideram também importantes, como por exemplo: atividades com
bordado e costura que foi citado no depoimento da senhora Lírio.
Para tanto, dentre as atividades desenvolvidas no serviço de convivência
que foram elencadas pelos entrevistados, foi possível perceber que a dança e outras
atividades corporais têm despertado bastante a atenção dos idosos atendidos pelo
equipamento. Isso se reflete no depoimento do senhor Cravo:
Ah... (suspiro) aqui é bom, a gente faz exercício, faz alongamento, mexe com o corpo, faz tudo, a gente conversa, a gente senta participa uns com os outros e todo mundo é amigo, aqui é bom demais eu gosto de fazer tudo, mas se você me perguntar o que eu mais gosto, ah... Eu gosto mesmo é de dançar (gargalhadas) (Cravo)
Ainda fazendo menção às declarações do senhor Cravo, foi perceptivo no
decorrer da entrevista que a dança, para ele, tem um significado muito forte, pois a
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dança representa algo renovador, que causa prazer e realização. Vale destacar que
o mesmo suspirou muito forte quando se referiu à dança e depois sorriu
manifestando a sua alegria. Ainda no que se refere à dança temos também a
declaração da senhora Violeta que também declara gostar muito de dançar.
Aqui a gente faz artesanato, tem atividade física, inclusive já vieram até os bombeiros fazer exercício aqui com a gente, tem também trabalhos com pinturas é bom pra abrir a mente né? Tem dança, dança é o que o pessoal mais gosta, eu também gosto muito de dançar... (Violeta)
No geral, as atividades trabalhadas em grupos buscam estimular a
autoestima dos participantes, seu protagonismo, sua autonomia enquanto sujeito.
“[...] A atividade em grupo é uma forma de manter o indivíduo engajado socialmente,
onde a relação com outras pessoas contribui de forma significativa em sua qualidade
de vida [...]” (MENDES et al., 2005, p. 426). Carvalho diz ainda que “[...] A partir do
trabalho grupal são trabalhadas as potencialidades e vulnerabilidades, facilitando a
compreensão, aprendizagem e elevação da autoestima dos envolvidos.”
(CARVALHO, 2010, p. 56)
O questionamento seguinte foi acerca das relações de convivência dos
entrevistados com os demais participantes do grupo. As respostas obtidas foram as
seguintes:
No resta dúvidas que é uma experiência que a gente tem sempre, conviver com novos amigos fazer novas amizades é muito bom, inclusive eu sou consultora de vendas elas são até minhas clientes. È uma relação muito boa eu faço de tudo pra que aconteça sempre isso né? Todos aqui aparentemente gostam de mim, eu também gosto muito de todos e faço amizade com qualquer pessoa, relação de amizade é a melhor coisa que possa existir. (Violeta)
Eu me sinto muito bem em dividir esse espaço com os meus colegas respeitando os direitos de cada um, respeitando cada um como eles são e assim a gente vive uma vida feliz e sorrindo, isso acontece quando a gente aprende a conviver com o irmão da maneira que ele é respeitando o eu de cada um, e assim a gente vive feliz. (Margarida) Eu me sinto muito feliz porque eu considero aqui como se fosse minha família. Ás vezes o que a gente não encontra lá fora ou na casa da gente, a gente encontra aqui dentro do CRAS. Que dizer, só a amizade e a união que a gente tem vale tudo. A gente aqui se dá muito bem. (Lírio)
Nos depoimentos citados acima referentes à convivência com os demais
colegas do grupo, é possível perceber que há uma relação de amizade muito forte
entre os participantes, quando eles relatam sentirem-se muito bem em dividir o
54
mesmo espaço com os colegas do grupo. É uma relação de satisfação, de amizade,
de companheirismo, de troca, de respeito e de felicidade.
É importante ressaltar que os espaços de convivência geralmente
manifestam uma relação de amizade e de confiança entre os participantes. Como foi
citado na fala de uma das idosas: “relação de amizade é a melhor coisa que possa
existir”. Outro relato corresponde com o que foi exposto pela entrevistada acima: “a
amizade vale mais que tudo”. E ainda nas palavras de Debert (2004) esses espaços
também promovem o resgate e a dignidade do idoso.
De acordo com Zimerman (2000) a palavra convivência é de origem latina
que significa cum (com) + vivere (viver) = convivência. Diz ainda que estamos
sempre em contato com diversas pessoas desde o nosso nascimento, passamos por
muitos grupos e ocupamos diferentes papéis, tais como: filha, mãe, amiga etc.
Conviver com outras pessoas é um exercício contínuo que está sempre
presente em nossas vidas, pois faz parte da natureza humana. Afirma ainda que: “O
indivíduo é, por natureza, um ser gregário. Desde que nasce, vive em interação com
outras pessoas e durante seu desenvolvimento passa por diferentes grupos: família,
amigos, escola, trabalho” (Ibid, 2000, p. 74).
De acordo com a mesma autora: “o velho, no decorrer da vida, transitou
por todos esses grupos, devendo ter todas as condições internas e a necessidade
de se filiar a um grupo de pessoas iguais a ele.” (Ibid., 2000, p. 74). Sobre essa
necessidade que o indivíduo tem de participar de grupos com pessoas, que se tenha
afinidade, ou seja, pessoas que façam parte da mesma geração, das mesmas
ideias, dos mesmos gostos, enfim, que compartilhem dos mesmos interesses.
Remetemo-nos para a fala de uma das entrevistadas, pois esta revela se sentir
muito bem em conviver com pessoas da sua mesma idade.
Ah eu me sinto muito bem, eu me sinto muito bem, tudo da mesma idade no tem o que desfazer umas das outras né? Nós todos somos iguais pode no ser no dinheiro, mas na convivência é bom demais, ah... (Girassol)
Os grupos se constituem a partir de interesses comuns, conforme foi
relatado no depoimento acima, entretanto Carvalho faz uma reflexão acerca da
subjetividade de cada indivíduo, pois segundo a mesma cada indivíduo apresenta os
seus próprios objetos e é a partir dessa diversidade que o espaço se torna uma rede
de apoio. (CARVALHO, 2010)
55
O nosso último questionamento que foi feito para os entrevistados foi
sobre o significado do grupo para eles. Vejamos a seguir:
Avemaria é muito importante esse grupo aqui pra nós, é maravilhoso porque se no tivesse esse grupo aqui, o que é que a gente ia fazer? Passar o dia todo deitada, pensando em besteira. Aí a gente vem pra cá, aí a gente se distrai muito, dançando, conversando, aprendendo coisas, arrumando mais amizade quanto mais a gente vem mais amizade a gente tem. (Girassol) É muito importante esse grupo pra todos nós aqui né? É muito bom poder participar daqui, conviver com todo mundo, eu gosto muito de vir pra cá, eu gosto de dançar, eu gosto de conversar, gosto de assistir as palestras, está com todos aqui, é só alegria, graças a Deus eu já tô com onze anos aqui. (Pinheiro) Esse grupo é muito importante, aliás, as pessoas do grupo são muito importantes para todos nós, porque quem faz o grupo são as pessoas do grupo, por isso mais importante do que o grupo são as pessoas do grupo, as amizades, aquele carinho, aquele abraço que a gente dar quando a gente chega né? Todas as pessoas que tem aqui são gente do bem, todas. (Rosa)
Nos respectivos depoimentos percebe-se a satisfação dos idosos em falar
da importância do grupo para eles, tendo em vista que é nesse ambiente de
socialização que estes buscam uma melhor qualidade de vida através das atividades
realizadas, das danças, das conversas e principalmente pelos vínculos de amizades
conquistados.
Além disso, destaca-se ainda, a importância das pessoas que compõem o
grupo, conforme foi relatado por uma das entrevistadas [...] quem faz o grupo são as
pessoas do grupo [...] logo é possível afirmar que estes são os principais
responsáveis pela sua essência. Ainda sobre o significado de grupo temos o
depoimento seguinte:
Pra mim esse grupo é tudo de bom, é muito bom esse grupo, porque a gente se diverte, aprende, passa o tempo, faz amigos, aqui a gente tem paz de espirito, saúde e tudo isso. Antes deu participar do grupo eu era mais triste, calada, hoje está aqui me faz muito bem, acho muito bom está aqui. (Orquídea)
É notório que o grupo contribuiu positivamente na vida dessa idosa
atendida, tendo em vista que a mesma relata que ocorreram mudanças em sua a
vida a partir do momento em que iniciou sua participação no grupo, pois antes se
percebia como uma pessoa triste, inibida hoje se sente bem e feliz.
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Quanto às declarações a respeito do significado do grupo para os idosos,
percebeu-se que as atividades em grupo significam momentos de prazer, alegria,
paz, distração, amizade e aprendizado vivenciados dentro do grupo. Essas
assertivas levam a crer que o grupo é de fundamental importância na vida dos
idosos, pois a partir da inserção destes no grupo, observou-se nos depoimentos dos
entrevistados que houve uma melhora na autoestima, no convívio com outras
pessoas, na construção de novas amizades, e dentre outros aspectos positivos
presentes no discurso dos idosos durante as entrevistas.
O grupo exerce um poder importantíssimo na recuperação da afetividade e da
autoestima dos participantes, pois evita o isolamento e a solidão dos mesmos, e
ainda cria espaço para a participação e integração social. Possibilita também a troca
de experiências e estabelece vínculos de amizade. Por isso o grupo torna-se
primordial para qualquer ser humano em qualquer fase da vida. As autoras Beraldo e
Carvalho dizem que grupo é:
Uma experiência primordial e constituinte para qualquer indivíduo. No caso da pessoa idosa, em especial, a experiência grupal é crucial, pois no grupo se encontra reconhecimento interpessoal, sentimento de pertencimento, criação de objetos comuns, coesão, trocas afetivas e cognitivas. Pertencer a um grupo pode significar a construção ou reconstrução de identidades, resgate de vínculos familiares que levem o velho a retomada de seu papel social, tanto na família quanto na comunidade, como também no grupo ocorre o reconhecimento de seus direitos como cidadãos, estimulando a reflexão sobre as possibilidades da construção de novos papéis sociais e políticos. (Beraldo e Carvalho, 2009, p. 163).
Mediante a tudo podemos analisar por meio das entrevistas que foram
realizadas com os idosos que participam do Serviço de Convivência e
Fortalecimento de Vínculos para Idosos do CRAS Granja Portugal, que o trabalho
que é desenvolvido no referido equipamento por meio das atividades grupais
promove para esses idosos uma maior qualidade de vida, através do resgate da
autoestima dos participantes, do desenvolvimento da autonomia dos mesmos, assim
como os possibilitam o exercício da cidadania, a troca de experiências de vida, o
resgate de vínculos de amizades e familiares. Portanto, as atividades grupais
tornam-se essenciais na vida desses idosos, pois é a partir da inserção destes no
grupo que ocorrem mudanças significativas em suas vidas.
57
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo buscou ao longo de sua construção discutir sobre velhice e o
seu processo de envelhecimento. Constatamos que o tema em questão vem
ganhando bastante destaque na sociedade atual, devido ao crescimento acelerado
da população idosa brasileira. Contudo, para entendermos melhor esse fenômeno
fez-se necessário realizarmos uma breve contextualização histórica, bem como a
sua inserção na sociedade desde a antiguidade até os dias de hoje.
Ao realizarmos esse resgate, percebemos que a valorização e o
reconhecimento que eram destinados às pessoas com mais idade, variava de
acordo com a época, cultura e condições socioeconômicas de cada sociedade em
que o indivíduo estava inserido. Pois em determinadas sociedades e épocas um
idoso era tratado com prestigio e valorização e, em outros momentos com desprezo
e insignificância.
Além disso, constatamos também que o processo de envelhecimento não
pode ser compreendido de forma isolada, é preciso levar em consideração os fatores
cronológico, biológico, social e psicológico que envolve o processo de envelhecer de
cada individuo. Levando-nos a afirmar que existem várias maneiras de se chegar à
fase da velhice, e isso vai variar de acordo com o estilo de vida de cada um, papéis
sociais, condições socioeconômicas dentre outras.
Procuramos também durante a construção desse trabalho identificar em
que ritmo a população idosa vem crescendo, tanto no Brasil como no Estado do
Ceará, através de dados obtidos pelo Instituto de Pesquisa Estratégia Econômica do
Ceará (IPECE). Verificamos que as mulheres chegam mais na fase da velhice do
que os homens, pois de acordo com as pesquisas realizadas a maioria da população
idosa é composta por mulheres. Talvez esse fato explique o maior número de
mulheres nos serviços e grupos de convivência para idosos.
Apontamos também as principais conquistas dos idosos através dos
instrumentos legais que regem a pessoa idosa, dentre eles: a Política Nacional do
Idoso e o Estatuto do Idoso, tendo em vista que ambos se configuram como os
principais instrumentos legais que visam à garantia dos direitos dessa população,
58
sendo-lhes garantido por meio dessas leis o direito a saúde, transporte público,
habitação, previdência social, assistência social, e outros.
Todavia, constatamos que esses instrumentos legais trouxeram grandes
avanços para a população idosa em termos de garantia de direitos. Entretanto,
apesar de seus direitos estarem assegurados por lei, precisamos ainda avançar
muito para termos uma população idosa com maior dignidade e qualidade de vida na
fase da velhice.
Realizamos um breve relato acerca dos principais documentos legais que
configuram a política de Assistência Social como Política de direitos. Percebemos
que a Política de Assistência Social perpassou por várias modificações desde sua
inclusão no âmbito da Seguridade Social, pois como vimos foi a partir daí que a
política de Assistência Social se consolidou como Política Pública de Direitos.
Em relação às motivações que levaram os idosos a participar do Serviço
de Convivência, constatamos que várias são as razões que os levam a tomar parte
do serviço. Percebemos que os mesmos foram motivados principalmente pelos
amigos, entretanto, observaram-se ainda outros fatores que contribuíram para sua
inserção, a saber: a solidão, a curiosidade, assim como a vontade de conhecer e
aprender algo novo.
No que tange as atividades desenvolvidas no grupo, no geral podemos
dizer que elas têm como finalidade estimular e trabalhar a autoestima dos
participantes, seu protagonismo e sua autonomia enquanto sujeito. Trabalhando
ainda suas potencialidades e vulnerabilidades dentro do grupo. Contudo, em relação
à identificação pelas atividades foi perceptível um maior interesse de alguns
participantes pela dança, no entanto, verificamos ainda o desejo de alguns em fazer
algo novo.
Sobre as relações de convivência dentro do grupo percebemos que os
participantes se sentem muito bem em dividir o mesmo espaço com os demais
colegas do grupo. Entendemos que os mesmos têm uma relação muito forte de
amizade, companheirismo, respeito e carinho uns com os outros dentro do grupo.
Em relação ao significado do grupo na vida dos participantes, analisamos
que o grupo é extremamente importante na vida de cada um deles. Pois as
atividades realizadas no grupo os possibilitam trocar experiências de vida além de
estabelecer vínculos de amizade, partilhar preocupações e sentimentos. Desta
59
forma, ressaltamos que o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos Para
Pessoa Idosa é um serviço essencial na vida dos idosos atendidos.
Podemos constatar que mesmo diante das limitações recorrentes da
idade avançada, os idosos estão cada vez mais buscando uma melhor qualidade de
vida, por meio de sua inserção em grupos e serviços de convivência que tem como
objetivo trabalhar a autoestima dos participantes a socialização, a autonomia,
participação ativa desse sujeito na sociedade dentre outros.
Ressaltamos que essa pesquisa não teve pretensão de esgotar as
discursões acerca do tema, pois acreditamos que o assunto merece ainda muitas
outras discussões. No entanto, o estudo até aqui realizado traz algumas
contribuições e reflexões sobre o tema em questão, fornecendo subsídios para a
realização de futuras pesquisas relacionadas a esse mesmo tema.
60
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ZIMERMAN, Guite I. Velhice: Aspectos Biopsicossociais. Porto Alegre: Artmed, 2000.
64
APÊNDICE A - Roteiro de entrevista semiestruturada.
Prezado, Prezada: afirmo que as respostas dadas serão utilizadas apenas para fins
acadêmicos, sendo constituintes da monografia em Serviço Social em processo.
Garanto que sua identidade será preservada por meio do anonimato, conforme os
princípios éticos em pesquisa.
Nome completo:
Data de nascimento:
Idade:
Sexo:
Naturalidade:
Escolaridade:
Estado civil:
Com quem reside;
Renda familiar;
Bairro:
1) Como tomou conhecimento da existência do grupo de idosos?
2) Qual o tempo de participação no grupo?
3) Quais atividades realizadas no grupo? Quais as atividades que proporcionam
maior satisfação ao realiza-las?
4) Como são as relações de convivência com os demais participantes do grupo?
5) Para você qual a importância do grupo em sua vida? Exemplifique.
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APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Título da Pesquisa: “Significados das atividades grupais: Idosos do Serviço de
Convivência - CRAS Granja Portugal”.
Pesquisador: Maria Vilderlane de Sousa
Orientadora: Profª MsValney Rocha Maciel
O Sr. (Sra.) está sendo convidado (a) a participar desta pesquisa que tem
como finalidade analisar as motivações que levaram os idosos a participarem do
Serviço de Convivência do CRAS Granja Portugal. Tal pesquisa é requisito para a
conclusão do curso de Bacharelado em Serviço Social pela Faculdade Cearense.
Ao participar deste estudo, o Sr. (Sra.) permitirá que o pesquisador utilize
suas informações para a realização desta pesquisa. Entretanto, as informações
obtidas serão mantidas em sigilo, somente o pesquisador e sua orientadora terão
conhecimento das informações. O participante tem a liberdade de desistir a
qualquer momento do estudo caso julgue necessário, sem qualquer prejuízo. A
qualquer momento poderá pedir maiores esclarecimentos sobre a pesquisa através
do telefone do pesquisador.
O maior benefício para o participante será a sua contribuição pessoal para o
desenvolvimento de um estudo científico de grande importância, onde o pesquisador
se compromete a divulgar os resultados obtidos. O Sr. (Sra.) não terá nenhum tipo
de despesa para participar desta pesquisa, bem como nada será pago por sua
participação.
Após estes esclarecimentos, solicito o seu consentimento de forma livre para
participar desta pesquisa.
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APÊNDICE C - Consentimento Livre e Esclarecido.
Tendo em vista os esclarecimentos apresentados, eu, de forma livre e
esclarecida, manifesto meu consentimento em participar da pesquisa “Significados
das atividades grupais: Idosos do Serviço de Convivência - CRAS Granja Portugal”.
____________________________________________ Nome do participante
____________________________________________ Assinatura do participante
____________________________________________ Assinatura do pesquisador
____________________________________________ Profª Valney Rocha Maciel
Orientadora/ Faculdade Cearense