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Departamento de Artes & Design
DESIGN EMOCIONAL & ENVELHECIMENTO
Aluno: Nathalia Bernardes do Amaral
Orientador: Vera Maria Marsicano Damazio
Introdução
De acordo com estimativas do relatório “Envelhecimento no Século XXI: Celebração e
Desafio” publicado em 2012 pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) 1 e pela
Help Age International2, a cada segundo duas pessoas completam 60 anos, resultando em
quase 58 milhões de novos sexagenários anualmente. E em 2050, um em cada cinco
habitantes do planeta terão 60 ou mais anos de idade.
Fonte: Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA/ONU)
O envelhecimento da população é apresentado como uma das mais significativas
tendências da atualidade, como um triunfo do desenvolvimento e um fenômeno que não pode
mais ser ignorado. A publicação ilustra que apesar de muitos países estarem progredindo em
relação ao envelhecimento com ações políticas, projetos, leis, ainda há muito a ser feito:
Com o número e a proporção de pessoas idosas aumentando mais rapidamente que
qualquer outra faixa etária, e em uma escala cada vez maior de países, surgem
preocupações sobre a capacidade das sociedades de tratar dos desafios associados a essa
evolução demográfica (UNFPA, 2012:3).
A população brasileira também está envelhecendo e o Design deve contribuir para
entender e atender suas demandas.
1 UNFPA é o organismo da ONU que trata de assuntos populacionais e tem como fim promover o direito de cada
ser humano viver de forma saudável e com igualdade de oportunidades. Colabora com os países na utilização de
dados populacionais para formular políticas públicas e programas governamentais. Ler mais em:
http://www.unfpa.org.br/novo/index.php/sobre-o-unfpa/missao 2 Help Age International é uma organização não governamental que ajuda os idosos a reivindicar seus direitos,
desafiar a discriminação e superar a pobreza, de modo a levar uma vida digna, segura, saudável e ativa. Seu
trabalho é reforçado através de uma rede global de organizações afins. Ler mais em:
http://www.helpage.org/who-we-are/
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Objetivos
O objetivo geral deste trabalho é contribuir para o desenvolvimento de produtos
relacionados ao envelhecimento ativo e à promoção de qualidade de vida da população com
mais de 60 anos. Seus objetivos específicos são: 1. levantar fontes teóricas sobre a relação
entre Design e Envelhecimento; 2. identificar ações projetuais com foco no envelhecimento;
3. localizar produtos destinados à população com mais de 60 anos com foco no bem estar em
geral e socialização e autoestima em particular; 4. identificar e classificar os atributos dos
produtos localizados e sua relação com as perspectivas do Design Emocional; 5. elaborar
apresentação dos resultados.
Metodologia
Este trabalho foi desenvolvido em quatro fases.
A 1ª fase foi dedicada ao levantamento de fontes teóricas relevantes para refletir sobre a
relação entre Design e Envelhecimento e se deu através de revisão e fichamentos
bibliográficos, acompanhamento do noticiário e debates em grupos de estudos. Mereceram
destaque as seguintes publicações:
“A Velhice” de Simone de Beauvoir
Este livro é considerado um dos mais importantes estudos sobre as condições de vida
dos idosos e apresenta vários desafios para o Design. Nele a autora denuncia uma
"conspiração do silêncio" contra a velhice e para o reconhecimento e perpetuação de sua
imagem como uma fase da vida degradante. Ela também demonstra que há muito tempo e em
várias culturas, vem se atribuindo significados específicos às distintas etapas do curso de vida
e se marcando seu início e seu fim através de ritos de passagem e mudanças de status, de
códigos de conduta, deveres e direitos. O momento preciso em que começa a velhice, no
entanto, é mal definido e “em parte alguma se encontram rituais de transição que estabeleçam
um novo estatuto” (Beauvoir, 1970:7 v.1).
Acreditamos que uma das razões para esta imprecisão pode ter relação com a
dificuldade das pessoas se reconhecerem como velhas e se identificarem com o “modelo
padrão” de identidade estabelecido para os idosos, a despeito de suas diferenças. No Brasil as
pessoas se tornam idosas para o Estado, a partir de 60 anos, mesmo não se percebendo como
tal. É fácil concordar que poucas delas se verão como “idosas”, afinal, envelhecer é um
processo gradual ao longo do qual o individuo passa por mudanças e vivencia perdas e ganhos
de toda ordem. No que se refere à identidade, em tempos contemporâneos, podemos dizer que
a infância é a fase em que se dá sua descoberta, a juventude é a fase de sua construção; ao
longo da vida adulta, acontece sua manutenção. E na velhice? O que se passa? Sua
desconstrução? Sua continuidade? Sua celebração?
Guia Mundial das Cidades Amigas dos Idosos
Esta publicação - disponível em diversas línguas - foi desenvolvida pela Organização
Mundial de Saúde (OMS) e idealizada por Alexandre Kalache, o então diretor do programa de
Envelhecimento e Curso de Vida da OMS, com o fim de contribuir com o desenvolvimento
de produtos, serviços e sistemas comprometidos com a qualidade de vida e bem estar dos
idosos em particular e de toda a população em geral. Os idosos precisam de ambientes que os
apóiem, assim, uma cidade amiga é aquela que adapta suas estruturas e serviços para incluir
seus moradores maiores de 60 anos. Elas também favorecem o "envelhecimento ativo", ou
seja, estimulam o bem-estar físico, social e mental com o objetivo de aumentar a expectativa
de vida de todos os seus habitantes.
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Os resultados apresentados foram levantados em 33 cidades do planeta, nos quais foram
feitas entrevistas com idosos para que eles apontassem as vantagens e desafios a partir de oito
aspectos cruciais da vida urbana: espaços abertos e prédios; transporte; moradia; participação
social; respeito e inclusão social; participação cívica e emprego; comunicação e informação; e
apoio comunitário e serviços de saúde.
A Nova Velha Geração, de Marina Nery
Artigo publicado na revista Desafios do Desenvolvimento, do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea) no qual a autora argumenta que o estereotipo do idoso está
desaparecendo e não há mais necessidade de ter medo de envelhecer. Ela defende que a
sociedade precisa se preparar para conviver com maiores de 60 anos ativos, que estão cada
vez mais exigentes e integrados. A estrutura familiar mudou. Vários casamentos, poucos
filhos e vida autônoma. Hoje os adultos maiores têm muito mais vontade de continuar
vivendo a sua individualidade e não se enquadram nos moldes de como deve ser e se
comportar um velho. “A nova velha geração” são os filhos do baby boom de 1946 e 1962, do
qual fazem parte mulheres que ganharam mais escolaridade e entraram no mercado de
trabalho. Elas compõem a maioria dos maiores de 60, somando 55,5% de mulheres para
44,5% de homens no Brasil. Esse fenômeno ficou conhecido como a "feminização" da
velhice, principalmente pela mortalidade diferencial entre os sexos.
De acordo com Nery, em um país desigual como o Brasil, as pessoas envelhecem de
maneiras diferentes e não é possível criar um perfil básico, pois as desigualdades sociais,
regionais e sociais influenciam na formação do indivíduo. Por isso, orienta a autora, é preciso
haver políticas públicas que atenuem essas diferenças, ou então a positividade da longevidade
pode se transformar em transtorno social. Para isso o avanço tecnológico pode contribuir,
reduzindo a necessidade de esforço físico e possibilitando a inserção de mais pessoas no
mercado de trabalho. Enxergar o comprometimento, o envolvimento e a responsabilidade dos
idosos é uma forma de aproveitar os benefícios desses candidatos ao emprego.
Nery termina seu artigo considerando que a humanidade vem criando melhores
condições para as populações na velhice e concordando com a afirmação do gerontólogo
Vicente Faleiro que "A velhice não é um peso, e sim uma conquista".
A Bela Velhice de Mirian Goldenberg
Neste importante texto publicado na Folha de São Paulo no dia 16 de outubro de 2012,
Mirian Goldenberg fala de uma geração que está rejeitando estereótipos, que está criando
novos significados para o envelhecimento e não aceita que a enquadrem no padrão de
“velho”. São conhecidos como os “ageless”, sem idade, e não acreditam na linha imaginária
que separa o ser com personalidade da juventude, do ser padronizado da velhice. Os “belos
velhos” não aceitam essa imposição social que os obriga a se comportar de um modo que
teoricamente condiz com a sua idade. Eles agem com o que condiz com a sua vontade, pois a
personalidade não se aposenta nem envelhece. A autora nos faz ver um novo significado para
a velhice, que pode se expressar de uma forma diferente em cada pessoa.
A 2ª fase deste trabalho foi dedicada ao levantamento de ações projetuais com foco no
envelhecimento e se deu a partir de revisão bibliográfica e consultas na internet. Destacamos a
designer e gerontóloga Patrícia Moore que durante três anos se passou por uma idosa de 80
anos para entender as necessidades deste público e foi capaz de projetar uma série de produtos
que favoreciam os idosos. De 1979 até 1982, ela viajou por todos os Estados Unidos e
Canadá assumindo características corporais normalmente associadas ao envelhecimento. Ela
interpretou nove personagens idosas, incluindo desde uma moradora de rua até uma senhora
rica com motorista, o que possibilitou a percepção de como o tratamento é diferenciado
dependendo da sua classe social. Moore se vestiu com roupas de sua avó, usou sapatos
desconfortáveis para obrigá-la a ter dificuldades de andar, colocou tampões nos ouvidos para
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dificultar a audição e óculos de lentes grossas para distorcer a visão. Com o uso de bengala,
andadores e cadeira de rodas, ela também experimentou diferentes níveis de mobilidade
reduzida. A forma como foi tratada a surpreendeu, principalmente quando foi atacada por uma
gangue que a deixou com lesões permanentes, inclusive a impossibilidade de engravidar. A
partir dessa experiência ela escreveu os livros “DISGUISED: A True Story”, “The Business
of Aging” e “OUCH! Why Bad Design Hurts”.
O principal objetivo de Moore é atingir a parcela da população antes ignorada pelo
design através de produtos não exclusivos para idosos, mas universais. Em parceria com Sam
Farber e Davin Stowell, ela promoveu uma revolução nos utensílios domésticos: o OXO
Good Grips (OXO Boas Pegas). Com cabos de plástico com formato para facilitar a fixação
dos dedos, os produtos da linha OXO podiam ser usados por pessoas com artrite, idosos ou
qualquer um que deseje mais praticidade e se tornaram um dos produtos mais famosos que
seguem o seu ideal de universalidade. Além disso, também foi construído um veículo
metroviário totalmente acessível em Phoenix, Arizona. O metrô na superfície projetado pelo
Moore Design Associates ganhou o prêmio de Solução Inovadora para Transportes de 2012.
OXO Good Grips Vista interior do metrô na superfície de Phoenix
Na 3ª fase foi realizado levantamento de produtos, serviços e outras soluções projetuais
inovadoras e relacionadas à promoção de qualidade de vida da população de mais de 60 anos.
Ela foi desenvolvida através de revisão bibliográfica, acompanhamento do noticiário e
consultas na internet. Dentre os exemplos levantados estão:
Talheres “Dining with Dignity”
Os talheres “jantando com dignidade” criados por Bob Bayton, tem um encaixe para
dois dedos, permitindo um melhor controle do movimento de levar a comida até a boca. O
fundador da empresa idealizou esse projeto após sofrer um acidente de carro e não conseguir
mais se alimentar sozinho. O que talvez fosse um pequeno detalhe para muitos, para Bayton
se tornou um desafio, transformando o que antes era um prazer numa obrigação desagradável.
Assim, foram criados facas, colheres e garfos que possibilitam às pessoas com dificuldades
motoras ou mãos trêmulas se alimentar com maior independência (Ver mais em:
http://www.diningwithdignity.com/)
Garfo Faca Colher
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Exemplo de manuseio
Prato “Another Hand”
A dificuldade motora pode ser contornada através não somente dos talheres, mas
também do prato. O “another hand”, projetado pelo designer Guoying Ting e vencedor do
concurso de Design Universal de Taiwan, é um prato de porcelana com um lado mais elevado,
de forma que somente uma mão é necessária para comer. Ele é destinado a qualquer pessoa
que deseja mais praticidade, pois dispensa o uso de faca para pôr a comida no garfo ou colher.
(Ver mais em: http://www.youtube.com/watch?v=uRgz2baYHUU/)
Prato Another Hand
Pashmina Clothes Protectors
Uma possível consequência ao levar comida à boca com as mãos trêmulas são alguns
respingos indesejáveis na roupa. Enquanto antes se utilizava babadores infantis em idosos, a
empresa inglesa “Bibetta” criou protetores de roupa semelhantes a um echarpe, nomeando-os
de “Pashmina Clothes Protectors” ou Protetores de Roupa Pashmina. Ainda que a palavra
“pashmina” seja frequentemente usada para mantas ou echarpes, ela na realidade se refere ao
tipo de fio utilizado nessas peças de roupas. Apesar disso, essa nomenclatura foi empregada
para se referir a uma peça que utiliza um tecido absorvente e impermeável, proporcionando
proteção total à roupa com elegância.
Além da mudança do formato, a substituição da palavra “babador” por “protetor de
roupa” foi importante para destituir a peça de um caráter infantilizado. A própria mudança na
nomenclatura já demonstra um diferencial deste produto em relação àquele destinado às
crianças. Ao contrário da palavra “babador”, “protetor de roupa” não remete diretamente a
qualquer tipo de dificuldade motora, podendo ser usado por qualquer pessoa que deseje
proteger a roupa de respingos de forma elegante e discreta. (Ver mais em:
http://www.bibetta.com/)
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Pashimina Clothes Protectors
Cravaat
Seguindo a mesma linha do item anterior, Kathy Steck criou nos Estados Unidos os
protetores Cravaat. A palavra “Cravaat” é uma referência ao “Cravat”, lenços de linho
considerados os precursores da gravata atual e que no século XVII eram utilizados para cobrir
roupas que não estavam impecavelmente limpas. Já o Cravaat moderno foi criado para
impedir que as roupas fiquem sujas com derramamento de alimentos e não para esconder as
manchas. (Ver mais em: http://www.dinerwear.com/)
Cravaat
Dress For Dinner Napkins
Idealizado por Héctor Serrano, o guardanapo criado para a marca britânica Worldwide,
ao mesmo tempo que protege a roupa, diverte, desassociando a limitação física do uso de
protetores de roupa. Qualquer um pode usá-lo e se divertir com isso. (Ver mais em:
http://www.hectorserrano.com/ )
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Dress for dinner napkins
Toalha de Mesa Underfull
Derramar comida na roupa, não é a única preocupação à mesa. Muitas vezes um
esbarrão numa taça pode provocar grande constrangimento. Entretanto, não é isso que
acontece com a toalha de mesa “Underfull”, criada pela designer norueguesa Kristine Bjaadal.
Quando um líquido cai sobre ela, revela-se um padrão de borboletas, transformando um
deslize em uma agradável surpresa. Seu conceito é transformar situações negativas em
experiências positivas. De acordo com a própria designer, trata-se de “uma toalha de mesa
que transforma o líquido derramado em poesia” (Ver mais em:
http://kristinebjaadal.wordpress.com/duk/)
Tolha Underfull
Pillbox’s Funky Shapes
O envelhecimento quase sempre é acompanhado pelo uso diário de remédios, mas a caixa
comumente usada para guardá-los é um objeto que costuma estigmatizar o idoso. Deixá-la
exposta pode causar constrangimento e guardá-la em um local de pouca visibilidade pode
dificultar o idoso a lembrar de tomar seus remédios. Diante das poucas opções existentes,
Céline Forestier criou um recipiente que se assemelha a uma obra de arte e pode ficar exposto
em qualquer ambiente. Ele contém sete caixas de formatos variados, divididas internamente,
com cores variando do tom mais claro para o mais escuro, representando os diferentes
períodos do dia. (Ver mais em: http://www.fastcodesign.com/1664584/a-design-student-
creates-pillboxes-that-are-works-of-art).
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Compartimentos diferenciados do Pilbox’s Funky Shapes
Matryoshka-Doll Pillbox
Outra forma para organizar os remédios levantado foi este suporte criado pelo designer belga
Quentin de Coster inspirado nas bonecas Matryoshka, brinquedo tradicional da Rússia,
constituído por uma série de bonecas colocadas umas dentro das outras. Coster analisou as
etapas para se tomar um remédio e buscou um meio que incluísse o copo e os comprimidos
em uma forma lúdica. Projetado para quem ingere comprimidos três vezes ao dia, o
compartimento maior corresponde ao período da manhã, o do meio corresponde ao período da
tarde e o menor ao período da noite. A maior dificuldade para o uso da “Matryoshka-Doll
Pillbox”, e de grande parte de todas as caixas de remédios, é a reposição diária do
medicamento, considerando que o esquecimento é algo frequente com o passar da idade. (Ver
mais em: http://www.fastcodesign.com/1672307/a-matryoshka-doll-pillbox-makes-med-
taking-easier)
Etapas de utilização do Matryoshka-Doll Pillbox
MEMO Box
Outra caixa de remédios diferenciada foi criada pelo designer Jules Toulemonde,
destinada principalmente para pessoas que sofrem do Mal de Alzheimer. Frequentemente, os
portadores dessa doença têm dificuldade de lembrar em que dia estão. Por esta razão, os
clássicos recipientes que organizam os remédios pelos dias da semana não os ajudam. Com
este problema em vista, Toulemonde projetou uma caixa que diariamente emite uma luz de
cor específica, indicando a cor da caixa que tem o remédio que o paciente precisa tomar. A
“MEMO Box” opera por meio de um software que pode ser programado pelo médico ou
responsável, e permite cadastrar cada pílula numa cor específica de caixa, assim como
determinar horários e quantidades. (Ver mais em: http://www.yankodesign.com/2012/02/21/
pill-box-for-alzheimer-patients/ )
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MEMO Box
Medicine Management System
Trata-se de um sistema interativo de organização de remédios para idosos, criado pelos
designers Ying-Lin Chien, Yue-Hua e Li Wei-Yin Su. Essa espécie de tablet possui uma tela
sensível ao toque, uma câmera para leitura do código de barras das embalagens de remédios,
além de caixas programáveis para lembrar que é preciso ingerir os medicamentos. Através
deste sistema os médicos podem transmitir a informação de um tratamento médico para a
caixa de pílulas e os pacientes podem ler as informações pelo sistema pessoal em casa. (Ver
mais em: http://www.yankodesign.com/2009/12/04/managing-medicines/)
Medicine Management System
What Ali Wore
“O que Ali vestiu” é um tumblr - plataforma de visualização e compartilhamento de
comentários, imagens, links, vídeos, áudios e textos – de moda estrelado por um senhor turco
de 83 anos, que tem fotos com seu "look do dia" compartilhadas nas redes sociais. Dedicado à
moda para pessoas idosas, este blog ameniza tanto preconceitos sexistas quanto etários. A
ideia de compartilhar fotos com as roupas que Ali usa é da fotógrafa e garçonete Zoe
Spawton, que publica tanto ,imagens quanto comentários sobre o que veste Ali. (Ver mais
em: http://alioutfit.tumblr.com/)
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Fotos do tumblr What Ali Wore
Advanced Style
O blog “Estilo Avançado” reúne fotos de idosos que se destacam pelo estilo e
personalidade. Na apresentação, Ari Seth Cohen escreve “Respeite seus idosos e deixe que
estas damas e cavalheiros lhe ensinem uma ou duas sobre viver a vida plenamente”. Cohen
anda pelas ruas de Nova Iorque fotografando idosos que não deixam a idade ser um motivo
para se descuidar. Ele sempre teve a avó como melhor amiga e cresceu pensando sobre beleza
e estética através de seus livros, antiguidades e filmes. Ela foi a sua grande inspiração e o que
fez crescer a vontade de mostrar imagens positivas de pessoas mais velhas. (Ver mais em:
http://advancedstyle.blogspot.com.br/)
Fotos do blog Advanced Style
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Elderly Fashion Show
O “Show Moda Idoso” foi identificado como uma “inovação social” e ação projetual
com potencial de mudar a visão da sociedade sobre a velhice. Trata-se de um desfile realizado
no Japão com roupas voltadas para pessoas idosas confeccionadas por estudantes da
Universidade Politécnica de Hong Kong e apresentadas ao público por modelos idosas. O
evento promoveu reflexão sobre a beleza após os 60 anos e demonstrou que as roupas
desenhadas para idosos podem proporcionar conforto, sem perder a elegância e a
personalidade. (Ver mais em: https://www.facebook.com/HongKongPolyU )
Desfile com modelos idosas
Juan Duyos Outono/Inverno 2010
O estilista Juan Duyos também inovou os desfiles de moda ao convidar quatro modelos
com mais de 60 anos - Sabine Jost, Eloisa Bercero, Paola Kortis e Marie-Ange Schmitt- para
apresentar a coleção outono/inverno de 2010 no Cibeles Madrid Fashion Week. Nas palavras
do próprio estilista, as mulheres idosas são "tão lindas quanto as de 20 anos de idade". (Ver
mais em: http://www.duyos.net/)
Paola Kortis Sabine Jost Eloisa Bercero Marie-Ange Schmitt
Departamento de Artes & Design
Yecoo
Morador da província de Guangdong, no sul da China, Liu Xianping teve uma “atitude
inovadora”, posando como modelo para a marca de sua neta usando perucas e roupas
femininas. O ensaio fotográfico para marca “Yecoo”, da estilista Lv Ting, é uma
demonstração de libertação do estereotipo de velhice e principalmente do julgamento alheio.
(Ver mais em: http://www.zupi.com.br/liu-xianping-o-vovo-fashion/ )
Liu Xianping posa para fotos da marca Yecoo
Mamika
Este exemplo foi considerado uma “ação inovadora” e trata-se de um ensaio fotográfico
realizado pelo francês Sacha Goldberger com sua avó de 91 anos, Frederika Goldberger,
como meio de enfrentar a depressão. A solução encontrada por Goldberger foi criar um book
fotográfico com fotos inusitadas com sua avó com trajes de super-heroína americana. As
imagens acabaram virando livros: Mamika & CO e Mamika: My Mighty Little Grandmother.
(Ver mais em: http://www.sachabada.com/)
Ensaio fotográfico da Super Mamika
Senior Self Defence Academy
Tanto o serviço oferecido pela “Senior Self Defence Academy”, quanto a propaganda
criada pela agência belga 10 Advertising, foram considerados inovadores. O objetivo de
divulgar a proposta da academia de ensinar defesa pessoal aos idosos se deu a partir do uso de
objetos inofensivos como andadores, bengalas e carrinhos de compra no enfrentamento de
assaltos e agressões. Além de promover a independência e segurança pessoal, este serviço e
ilustrações vão combatem a imagem de fragilidade recorrentemente associada aos idosos.
(Ver mais em: http://www.senior-self-defence-academy.be/)
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Cartazes criados para divulgação do Senior Self Defence Academy
Proaesthetics
Francesca Lanzavecchia é uma designer italiana que atualmente trabalha em parceria
com Hunn Wai na empresa Lanzavecchia + Wai. Antes dessa união, ela criou um projeto
chamado Proaesthetics, o qual se separa em três vertentes: cinta ortopédica; prótese; bengalas
& muletas. Este projeto destina-se a exploração a relação o usuário e o produtor, com o
objetivo de revelar as possibilidades e os novos valores que estes acessórios podem oferecer
ao usuário.
Assim, as cintas ortopédicas são reinterpretadas para se tornar algo atraente, desejáveis,
podendo se assemelhar tanto com um corpete quanto servir de porta-objeto. Transformar o
que antes era sinônimo de doença em algo belo é também o objetivo das próteses, às vezes
sendo sedutor como uma luva de couro ou funcional como um abridor de latas. Já em
bengalas & muletas, Francesca propôs um redesenho das bengalas convencionais como
extensões do corpo, exteriorização da dificuldade que o corpo está enfrentando e peças de
mobiliário. (Ver mais em: http://lanzavecchia-wai.com/)
Cintas ortopédicas Próteses Bengalas & Muletas
No Country For Old Men
Como sequência do projeto anterior, os designers Francesca Lanzavecchia e Hunn Wai
projetaram uma coleção de objetos para auxiliar os idosos, o seu grande diferencial é um
estilo mais doméstico em vez do habitual estilo hospitalar. A série inclui bengalas chamadas
de: I-cane, com suporte para iPad; U-cane, com um recipiente para armazenar objetos; T-
cane, com bandeja para servir comidas e bebidas. Além disso, também há uma cadeira
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chamada Assunta, que ajuda a pessoa se levantar e um outro objeto da série chamado
“Monolight”, uma luminária com uma lente de aumento ancorada numa base de mármore,
permitindo vários ângulos de visão. (Ver mais em: http://lanzavecchia-
wai.com/projects/together/)
Suportes em bengalas Cadeira Lentes de aumento
Roupa íntima descartável
As roupas íntimas descartáveis apresentam-se sob formas similares a calcinhas e cuecas.
Elas evitam volume sob a roupa, não fazem barulho e oferecem menos constrangimento e
desconforto que as fraldas geriátricas. Elas foram desenvolvidas para adultos que sofrem de
incontinência urinária, ocasionada por razões variadas e vão contra a corrente de tratar o idoso
como criança. (Ver mais em: http://www.sometimes.com.br e http://www.depend.com/)
Calcinha e cueca Sometimes Calcinha e cueca Depend
Aetrex GPS
O tênis desenvolvido pela empresa britânica Aetrex para pessoas com Mal de
Alzheimer traz um GPS em sua sola capaz de indicar a localização do idoso para parentes e
responsáveis. Caso o usuário se afaste do local registrado que ele costuma ficar, o sistema
envia mensagem com localização do usuário no Google Maps. (Ver mais em:
http://www.aetrex.com/)
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Aetrex GPS
The Zimmers
Este exemplo destaca-se como ação e atitude inovadora e trata-se de uma banda
formada por idosos. O documentarista da BBC Tim Samuels tinha a intenção de fazer um
filme sobre as más condições em que eram tratados os idosos na Inglaterra. E acabou tendo a
iniciativa de formar a banda “The Zimmers com adultos maiores, lhes dando a oportunidade
de ter voz e expressar seus sentimentos. Apesar de criada em 2007, o grupo ficou
mundialmente conhecido ao participar do concurso de talentos “Britain´s Got Talent”, em
2012, quando surpreenderam o júri e a platéia cantando a música “Fight for your rights” da
banda “Beastie Boys”. (Ver mais em: http://www.thezimmers.co.uk/ )
Integrantes do The Zimmers
Nova Cara da Terceira Idade
Esta é uma iniciativa brasileira que surgiu em 2012 no Facebook, liderada pela agência
Garage Interactive Marketing, com o objetivo de substituir o pictograma atual do idoso por
uma imagem que represente de forma menos negativa este público. O desenvolvimento do
novo pictograma é aberto ao público e os 10 melhores símbolos selecionados serão
divulgados em bares e restaurantes de São Paulo e outras seis capitais para ampliar a
discussão sobre o assunto. Essa ação está comprometida com a valorização e dignidade de
pessoas idosas ao desvincular a imagem da velhice com fragilidade e dependência. (Ver mais
em: http://novacaraterceiraidade.com.br/ )
Departamento de Artes & Design
Autor: Angie Lucky Autor: Gustavo Soares Autor: Marcos Oliveira
Pick-it
Esta é uma ação colaborativa entre a designer portuguesa Suzana Antonio e mulheres
idosas com experiência em costura. Dentre suas principais atividades está a criação de peças
como bolsas, bijuterias, malas e bordados. Para valorizar ainda mais o trabalho das idosas
cada peça traz uma etiqueta com a fotografia e o nome do criador e descrição das técnicas
utilizadas. (Ver mais em: http://susanaantonio.com/)
Produtos feitos pelo projeto Pick-it
Talentos da Maturidade
A iniciativa tem como objetivo “valorizar e incentivar a produção e memória cultural de
homens e mulheres com mais de 60 anos”. Ela acontece a partir de concurso realizado desde
19999 pelo Banco Santander dos melhores trabalhos das seguintes cinco categorias: artes
plásticas, literatura, música vocal, fotografia e dança de salão. Além de valoriza o
conhecimento dos idosos, esta ação incentiva o envelhecimento ativo e já recebeu mais de 100
mil inscrições. (Ver mais em: https://www.talentosdamaturidade.com.br/ )
Foto de divulgação da 13ª edição Artista: Eliane de Albuquerque, 71 anos
Departamento de Artes & Design
New Jersey Intergenerational Orchestra
A missão da NJIO é unir gerações através da música, promovendo um programa
musical educativo para integrantes de todas as idades e níveis de habilidade. Seus
participantes - de idades entre 6 a 93 anos - podem evoluir desde o nível iniciante até o
avançado, se beneficiando da interação uns com os outros, enquanto buscam o mesmo
objetivo. Criada em 1994, hoje a NJIO conta com três orquestras e mais de 100 músicos
voluntários de várias comunidades de Nova Jersey. (Ver mais em: http://www.njio.org/)
Concerto de Inverno de 2008 15º Concerto de Aniversário
Na 4ª fase foi realizado cruzamento dos dados obtidos nas fases anteriores a partir do
qual foram identificados os principais atributos dos produtos localizados. Eles foram
organizados em sete categorias e podem ser observados em alguns exemplos
simultaneamente:
(1) Coisas de Velho: esta categoria diz respeito a atitudes, produtos, serviços, imagens
e todos os tipos de representações que fortalecem a imagem do idoso como um peso para a
sociedade e um ser frágil, dependente, improdutivo, alienado, sem personalidade, desejos e
vontade de viver. Ela inclui produtos que estigmatizam e “pasteurizam” os adultos maiores, e
atendem às demandas e singularidades físicas da idade com adaptações de produtos infantis
como fraldas geriátricas e babadores e sem originalidade como andadores e bengalas.
(2) Coisas do Novo Velho: ao contrário da categoria acima, as “coisas do novo velho”
abrangem atitudes, produtos, serviços, imagens e todos os tipos de representações que vão
contra a imagem do idoso como um peso para a sociedade e um ser frágil, dependente,
improdutivo, alienado, sem personalidade, desejos e vontade de viver. Todos os exemplos
apresentados acima se enquadram nesta categoria.
(3) Intergeração: Inclui ações que unem diferentes gerações
Pick-it New Jersey Intergenerational Orchestra
(3) Exceções virtuosas
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Juan Duyos Outono/Inverno 2010 The Zimmers
(4) Autonomia
Senior Self Defence Academy Dining with Dignity
(5) Libertação
Mamika Yecoo
Conclusões Um dos principais resultados deste estudo foi a constatação da importância e pertinência
do tema envelhecimento para o campo do Design e seu potencial para a construção de um
novo paradigma do conceito de “velho”. Dentre os temas relacionados à qualidade de vida dos
idosos identificados ao longo deste trabalho, destacaram-se a sociabilidade, a identidade e
auto-expressão, a independência e a autonomia. Foram levantados também exemplos
inovadores para a construção do que passamos a designar “o novo velho” e que inclui serviços
para promover interações sociais como sites de relacionamento e produtos para contornar
dificuldades de locomoção, incontinência urinária e outras singularidades, muito diferentes de
babadores, bengalas, andadores e fraldas.
Concluímos que produtos e serviços podem contribuir para enxergamos “velhos
velhos”: indivíduos doentes, dependentes, frágeis, sem individualidade, personalidade e
identidade. Mas podem, ao contrário, contribuir para enxergamos “novos velhos”: indivíduos
sadios, ativos, independentes, seguros e autênticos, como ilustram “protetores de roupa”.
Departamento de Artes & Design
De acordo com a atriz Jane Fonda3, vemos o envelhecimento como um arco
representando o “declínio à decrepitude” e explica que a idade não pode ser entendida como
uma patologia, mas como um potencial. Ela defende a imagem de uma escada para
representar o avanço da idade e a ascensão do espírito humano que, diferente de todas as
coisas do mundo, pode continuar ascendendo e nos levar ao encontro da plenitude, da
autenticidade e sabedoria.
Retomando a ideia de que a idade não é uma patologia, mas um potencial, concluímos
que existem muitos produtos e serviços “patológicos” e destinados ao “velho velho” e pouco
produtos e serviços “potenciais” e destinados ao “novo velho”. E esta constatação abre um
grande e promissor campo para o Design.
Referências
BEAUVOIR, S.. A velhice. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1970.
GOLDENBERG, M.. Corpo, envelhecimento e felicidade. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2011.
NERY, M. A Nova Velha Geração. Revista Desafios do Desenvolvimento, Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), edição 31, ano 4, março 2007
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Guia Global: Cidade Amiga do Idoso
http://www.who.int/ageing/GuiaAFCPortuguese.pdf 2008
UNFPA e HELPAGE INTERNATIONAL. Envelhecimento no Século XXI: Celebração e
Desafio http://www.unfpa.org/webdav/site/global/shared/documents/publications/
2012/Portuguese-Exec-Summary.pdf 2012
3 Conferir palestra “O Terceiro Ato da Vida” em
http://www.ted.com/talks/lang/es/jane_fonda_life_s_third_act.html?source=facebook#.UUjH6lr5ZWg.fa
cebook