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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE- FAC CURSO DE SERVIÇO SOCIAL MARIA MICHELLE DE SOUSA MOURA ASSISTÊNCIA SOCIAL E BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA: UM ESTUDO SOBRE O TRABALHO SOCIAL COM AS IDOSAS ATENDIDAS NO CRAS BELA VISTA EM FORTALEZA - CE FORTALEZA CEARÁ 2014

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE- FAC

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

MARIA MICHELLE DE SOUSA MOURA

ASSISTÊNCIA SOCIAL E BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA: UM

ESTUDO SOBRE O TRABALHO SOCIAL COM AS IDOSAS ATENDIDAS NO

CRAS BELA VISTA EM FORTALEZA - CE

FORTALEZA – CEARÁ

2014

MARIA MICHELLE DE SOUSA MOURA

ASSISTÊNCIA SOCIAL E BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA: UM

ESTUDO SOBRE O TRABALHO SOCIAL COM AS IDOSAS ATENDIDAS NO

CRAS BELA VISTA EM FORTALEZA - CE

Monografia submetida à aprovação pela

Coordenação do curso de Serviço Social da

Faculdade Cearense - FAC, como requisito

parcial para obtenção de título de Bacharel

em Serviço Social.

Orientadora: Ms. Luciana Sátiro Silva

FORTALEZA

2014

MARIA MICHELLE DE SOUSA MOURA

ASSISTÊNCIA SOCIAL E BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA: UM

ESTUDO SOBRE O TRABALHO SOCIAL COM AS IDOSAS ATENDIDAS NO

CRAS BELA VISTA EM FORTALEZA-CE

Monografia apresentada como pré-

requisito para obtenção de título de

bacharelado de Serviço Social,

outorgado pela Faculdade Cearense

– FaC, tendo sido aprovada pela

banca examinadora composta pelas

professoras assistentes sociais.

Data de aprovação: ___/___/___

BANCA EXAMINADORA

Ms. Luciana Sátiro Silva (Orientadora)

Ms. Ivna de Oliveira Nunes (1º Membro)

Ms. Samara Hipólito da Conceição (2º Membro)

A Deus e meus pais que me

fortaleceram em meio as diversas

dificuldades e por demostrar

que tudo é possível para

aquele que tem fé.

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço a Deus por ter permito a realização desse

sonho. Que mesmo em meio a inúmeras dificuldades posta em meu caminho,

nunca me abandonou e sempre me sustentou em todas as vezes que pensei

em desistir.

Aos meus pais Wellington Sousa e Maria José, por todos os

ensinamentos. Pela dedicação, amor e confiança. Obrigada por tudo sou grata

eternamente vocês. Aos meus tesouros que tanto amo, pai e mãe, vocês são o

meu porto seguro.

Aos meus irmãos, Newton Sousa, Wellison Sousa e Mirella Mara, pelo

carinho, amizade e apoio. Que vocês sejam grandes vencedores na vida e que

sempre Deus esteja no caminho de vocês proporcionado sabedoria, força e

perseverança para atingir os objetivos de vocês.

Aos meus avós, Nemesio de Sousa e Raimunda Almeida, obrigada

por torcerem por mim e por fazerem parte dessa conquista, quero muito bem a

vocês. E em especial quero agradecer a Aurora Morais, que infelizmente não

está mais aqui entre nós, mas sei que onde quer que esteja está muito feliz,

por essa conquista, que a senhora sempre desejou em estar presente, porém,

não podemos discutir um chamado de Deus. Te amo vó! Sinto muita saudade!

A todos os familiares, que acreditaram em mim e que vibraram com

cada conquista alcançada.

A minha orientadora, Luciana Sátiro, pela compreensão, empenho,

compromisso e dedicação. Pela espetacular e magnífica contribuição no

processo de elaboração deste trabalho. Serei grata eternamente a você!

À Banca Examinadora por ter aceitado o convite, Ivna Nunes e Samara

Hipólito que se dispuseram do seu tempo para contribuir com esse trabalho

através das suas considerações que enfatizam experiência e compromisso

com a profissão.

Aos colegas de curso, em especial Lilian Rodrigues, Emanuelle

Cristine, Maria José, Renata Sampaio e Denise Augusto; amizades

grandiosas que levarei comigo para o resto da vida, mesmo distante nunca me

esquecerei de vocês, acredito no sucesso de cada uma de vocês, sentirei

saudades.

As/(os) idosas(os) e profissionais do Serviço de Convivência e

Fortalecimento de Vínculo do CRAS Bela Vista, pela receptividade,

disponibilidade de tempo, carinho, dedicação, afeto e por tão prontamente

aceitarem a compartilha suas experiências de grande valor simbólico.

Às minhas supervisoras de campo, Maiara Rodrigues e Renata

Holanda (Centro de Semiliberdade Martin Francisca) que também contribuíram

com seus ensinamentos no meu processo de formação no que concerne a

aproximação com a prática e a atuação profissional.

Aos professores e coordenadora do Curso de Serviço Social da

Faculdade Cearense – FAC, excelentes profissionais e peças fundamentais

no meu processo de formação acadêmica.

RESUMO

O Benefício de prestação continuada - BPC foi previsto pela Constituição

Federal-CF de 1988 e regulamentado em 1993 pela a Lei Orgânica de

Assistência Social- LOAS, Nº 8.742. Esse benefício garante a concessão de

um salário mínimo para idosos(as) com idade igual ou superior a 65 anos e

deficiente em qualquer idade que comprovem a renda familiar inferior a ¼ do

salário mínimo. O presente trabalho foi realizado por meio de pesquisa

documental, bibliográfica e de cunho empírico e teve por objetivo central

analisar a relação entre o Benefício de Prestação Continuada para as idosas e

os serviços executados pelo Centro de Referência da Assistência Social

(CRAS) Bela Vista situado em Fortaleza-CE. Sobre a coleta de dados

utilizamos a técnica de entrevista semiestruturada aplicadas em profissionais

deste equipamento social e com as idosas beneficiárias do BPC inseridas no

Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) para idosos(as).

Ainda, a realização de pesquisa bibliográfica e documental nos possibilitou

desvelar o objeto analisado articulado ao conteúdo teórico mais atual sobre o

tema. Constamos como resultados que o BPC simboliza um grande avanço no

que se refere a atender as necessidades básicas deste público. Porém, sua

seletividade é um grande desafio na efetivação deste direito. Em relação ao

SCFV para idosos no CRAS Bela Vista identificamos que são inúmeros

desafios que se apresentam para a efetividade das ações que envolve

perspectivas multifatoriais, desde a fragmentação das ações, imediatismo das

respostas à demanda da pobreza por parte do Estado e a fragilização da

própria política frente à conjuntura contemporânea. Vale ressaltar que mesmo

em meio a diversas dificuldades, o benefício pesquisado consegue expressar

algumas modificações na vida dessas idosas beneficiárias principalmente no

que se refere à concepção destes se reconhecerem como sujeitos de direitos.

Palavras-chaves: Políticas Sociais. Assistência Social. BPC.

ABSTRACT

The continued provision of Benefit - BPC-CF was provided by the Federal

Constitution of 1988 and in 1993 regulated by the Organic Invalidity-Social, Law

No. 8,742 of assistance. This benefit provides for the granting of a minimum

wage for seniors (as) aged over 65 and deficient in any age that prove the

family income less than ¼ of the minimum wage. This work was conducted

through documentary, literature and empirical studies and had the main

objective to analyze the relationship between the Continuous Cash Benefit for

the elderly and the services performed by the Reference Center for Social

Assistance (CRAS) Bela Vista located in Fortaleza. On the data collection

technique used semi-structured interviews applied in this professional social

facilities and the elderly beneficiaries BPC entered service in Coexistence and

Strengthening Linkages (SCFV) for seniors (as). Still, the study of

bibliographical and documentary research enabled us to reveal the object

analyzed articulated the most current theoretical content on the subject. We

were listed as results that BPC symbolizes a breakthrough with regard to

meeting the basic needs of the public. However, its selectivity is a major

challenge in the realization of this right. Regarding the scFv for elderly in CRAS

Bela Vista identified that there are numerous challenges that are presented for

the effectiveness of actions involving multifactorial perspective, since the

fragmentation of actions, immediacy of response to the demand of poverty by

the state and the weakening of own relation to contemporary political situation.

It is noteworthy that even in the midst of many difficulties, the benefit

researched can express some changes in the lives of elderly beneficiaries

especially with regard to the design of these recognize themselves as subjects

of rights.

Keywords: Social Policies. Social Assistance. BPC.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 01: Faixa Etária.....................................................................................25

Gráfico 02: Estado Civil.....................................................................................26

Gráfico 03: Com quantas pessoas reside..........................................................26

Gráfico 04: Com quem reside............................................................................27

Gráfico 05: Renda Familiar................................................................................28

Gráfico 06: Grau de Escolaridade......................................................................28

Gráfico 07: Atividade Remunerada....................................................................29

Quadro 01- Evolução do índice envelhecimento da população Brasil 1980 /

2050...................................................................................................................54

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

BPC – Benefício de Prestação Continuada

CF – Constituição Federal

CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social

CRAS – Centro de Referência e Assistência Social

CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social

CREAS POP – Centro de Referência Especializado de Assistência Social para

a População em Situação de Rua

EAN – Espaço de Acolhimento Noturno

FNAS – Fundo Nacional de Assistência Social

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

INSS – Instituto Nacional do Seguro Social

LBA – Legião Brasileira de Assistência

LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social

MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

NOB – Norma Operacional Básica

NOB SUAS – Norma Operacional Básica do Suas

PAF – Plano de Acompanhamento Familiar

PAIF – Proteção e Atendimento Integral à Família

PBF – Programa Bolsa Família

PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

PNAS – Política de Assistência Social

SCFV – Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos

SEMAS – Secretaria Municipal de Assistência Social

SENAS – Secretaria Nacional de Assistência Social

SETRA – Secretaria de Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate à Fome

SUAS – Sistema Único de Assistência Social

TCC – Trabalho de Conclusão de Curso

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...............................................................................................13

2. ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA........................................16

2.1 Abordagem Metodológica da Pesquisa...................................................16

2.2 Sujeitos da pesquisa ................................................................................25

3. POLÍTICAS SOCIAIS, PROTEÇÃO SOCIAL E CIDADANIA PARA A

PESSOA IDOSA NO BRASIL...........................................................................31

3.1 Breve histórico das políticas sociais no Brasil .....................................31

3.2 Proteção Social e Seguridade Social: uma nova cidadania?................39

3.3 Assistência Social na cena contemporânea: caminhos e descaminhos

.......................................................................................................................... 48

3.4 Aspectos gerais sobre a velhice e envelhecimento: conceitos básicos

para se compreender o fenômeno no Brasil ............................................... 52

3.5 Políticas de proteção ao idoso no Brasil................................................ 56

3.5.1 Instrumentos normativos para a pessoa idosa no Brasil: Política Nacional

do Idoso no Brasil e Estatuto do Idoso............................................................. 56

3.5.2 O Benefício de Prestação Continuada para idoso: análise de sua

perspectiva de direito........................................................................................ 59

4. UM ESTUDO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE O BPC E O TRABALHO

SOCIAL COM AS IDOSAS ATENDIDAS NO CRAS BELA VISTA EM

FORTALEZA-CE...............................................................................................64

4.1 A Política de Assistência Social em Fortaleza – Ce..............................64

4.2 O Centro de Referência da Assistência Social – CRAS Bela Vista......67

4.3 A história da comunidade Bela Vista......................................................70

4.4 Análises das protagonistas sobre o Benefício de Prestação

Continuada e as ações do CRAS...................................................................71

4.4.1 Análise das profissionais..........................................................................71

4.4.2 Análise das Idosas...................................................................................79

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................90

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFIAS...................................................................94

APÊNDICES.....................................................................................................98

Apêndices I: Roteiro de entrevista para as idosas............................................98

Apêndices II: Roteiro de entrevista para os profissionais................................100

ANEXO............................................................................................................104

13

INTRODUÇÃO

O presente trabalho de Conclusão de Curso - TCC da graduação de

Serviço Social da Faculdade Cearense centrou-se em realizar um estudo sobre

a pesquisa intitulada “Assistência Social e Benefício de Prestação Continuada:

um estudo sobre o trabalho social com as idosas atendidas no Cras Bela Vista

em Fortaleza – CE”, na perspectiva de expressar uma relação entre o Benefício

de Prestação Continuada - BPC e as idosas atendidas no Serviço de

Convivência e o Fortalecimento de Vínculo - SCFV do Cras Bela Vista.

Queremos ressaltar que, inicialmente, para se compreender os avanços

sobre os direitos conquistados pela luta de classes no que concerne a

preocupação com a velhice, salientamos que as primeiras iniciativas estão

vinculadas aos movimentos da classe trabalhadora que buscavam melhores

condições de trabalho e da riqueza socialmente produzida.

Contudo, devido ao agravamento da pobreza exigiam se do Estado

medidas de contenção das massas na perspectiva amenizar a relação

conflituosa entre a classe dominante e classe subalterna. Assim, o Estado

lança algumas propostas para assegurar alguns direitos à classe trabalhadora

surgindo então as políticas sociais.

Porém, somente com a Constituição Federal de 1988 é que ocorre um

dado avanço significativo sobre a condição de direitos formando a Seguridade

Social juntando três políticas públicas: Previdência de caráter contributivo,

Assistência Social de caráter seletivo e Saúde de caráter universal.

A assistência social no Brasil, inicialmente esteve vinculada a um viés

conservador que consistia em ações falhas de atenção à pobreza de caráter

paternalista, clientelista e entre outros status que adquiriu ao longo da história.

No entanto, esta só rompeu com esse formato após a promulgação da

Constituição Federal de 1988, uma vez que nasce como uma política social

pública destinada a todos que dela necessitam.

Deste modo, o BPC é um mínimo social destinado a pessoas idosas

acima de 65 anos e a deficientes. Esse é conceituado, por sua vez, como

medida de proteção social garantido pelo Estado. Mas para se obter acesso a

esse benefício o indivíduo deve comprovar seu estado de miserabilidade e de

14

sua família possuindo uma renda per capita familiar inferior a ¼ do salário

mínimo vigente para a concessão do benefício.

O interesse pela temática estudada ocorreu de forma gradativa

inicialmente pelas experiências pessoais com familiares e, posteriormente, no

universo acadêmico através de visitas institucionais e o desenvolvimento de

estudo voltados para esse público, de forma que pude identificar as diversas

formas da questão social que estão expostos esse público.

Vale salientar que a escolha pelo CRAS Bela Vista ocorreu devido

conhecer pessoalmente vários integrantes do SCFV para idosos deste

equipamento social, e que sempre referenciaram de forma bastante positiva as

atividades desenvolvidas no âmbito da pessoa idosa neste espaço.

Destacamos que no segundo capítulo intitulado como “Aspectos

metodológicos da pesquisa” em que trazemos as informações sobre o

percurso metodológico perpassado pela pesquisadora para desenvolvimento

deste estudo. Ressaltamos sobre o tipo de pesquisa e as motivações da

escolha desse tipo de abordagem, os instrumentais utilizados para coletas de

dados, a escolha do campo, perfil dos entrevistados e números de amostras.

O terceiro capítulo foi nomeado por “Políticas sociais, proteção social

e cidadania para a pessoa idosa no Brasil”. Nesse, realizamos uma análise

de conjuntura sobre as políticas sociais no Brasil que desencadearam um

processo de construção e consolidação da proteção social brasileira, no qual

enfatizamos um resgate histórico no que concerne o aspecto político,

econômico e social que referencio da década de 1930 até a década de 1980, o

que determinou a promulgação da Constituição Federal de 1988 que marca

principalmente a incorporação do conceito Seguridade Social, agregando as

políticas de saúde universalizada, previdência no âmbito do seguro e

assistência social como uma política de direito para aqueles que dela

necessitarem. No horizonte da cidadania retratamos esses aspectos para um

dos grupos mais destituídos de direitos à pessoa idosa que estão em estado de

vulnerabilidade social.

O quarto capítulo foi intitulado “Um estudo sobre a relação entre o

BPC e o trabalho social com as idosas atendidas no CRAS Bela Vista em

Fortaleza – CE”, este apresenta na estrutura do texto a política de assistência

15

em Fortaleza, lócus da pesquisa e as análises das falas das idosas

acompanhadas pelo SCFV que são beneficiárias do BPC e as profissionais que

estão frente ao grupo. Contudo, nessa etapa é possível perceber um estudo

mais profundo das categorias da pesquisa e apreciar os discursos das

protagonistas desta pesquisa.

16

2. ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

2.1 Abordagem Metodológica da Pesquisa

“Entendemos por metodologia o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade”. (MINAYO, 2009, p.14)

A dimensão metodológica da pesquisa social perpassa vários caminhos

e procedimentos que norteiam o pesquisador a desvelar a realidade para se

compreender as relações sociais que envolvem o fato/fenômeno social. Ao

mesmo tempo, busca elaborar concepções teóricas que retratam os aspectos

característicos do objeto de estudo analisado, partindo do real para o teórico na

perspectiva de entender os níveis em que se configuram a dinâmica da

realidade.

Segundo Minayo:

Toda investigação se inicia por uma questão, por um problema, por uma pergunta, por uma dúvida. A resposta a esse movimento do pensamento geralmente se vincula a conhecimentos anteriores ou demanda a criação de novos referenciais. (MINAYO, 2009, p.16)

Compreendemos que, na amplitude da pesquisa, possuímos um arsenal

de procedimentos, instrumentais e técnicas que apresentam limitações próprias

de suas análises, pois reconhecemos que a realidade social se configura numa

dimensão complexa, contraditória e dinâmica.

Para nossa abordagem metodológica, definimos esta pesquisa enquanto

dimensão predominantemente qualitativa, de forma que ela permite analisar,

observar e interpretar as relações articuladas aos indivíduos com o meio ao

qual estão inseridos, nas suas múltiplas realidades, no convívio das relações

pessoais e interpessoais e nas questões cotidianas.

De acordo com Martinelli, discorrer sobre esse tipo de abordagem é

importante, tendo-se em vista que:

Trabalhamos com os fatos de forma a poder aprofundar tanto quanto possível a análise e não para conhecê-los apenas de forma sumária, a partir de uma primeira apresentação. Nesse sentido, priorizamos não os fatos épicos, os fatos de grande dimensão, mas aqueles que estão mais próximos do sujeito e que repercutem diretamente na sua vida. (1999, p.22)

17

Assim, a utilização da pesquisa qualitativa proporciona responder

questões muitos particulares, embora também tenhamos utilizados dados

quantitativos para enriquecer a amplitude da pesquisa. Todavia, como afirma

Minayo: “o conjunto de dados quantitativos e qualitativos [...] não se opõem. Ao

contrário, se complementam, pois a realidade abrangida por eles interagem

dinamicamente, excluindo qualquer dicotomia” (2009, p. 22). .

É importante mencionar que nesta abordagem, o pesquisador é um

instrumento essencial, pois o mesmo deve estar aberto a todas as situações

que observa, desvinculado de suas pré-noções já estabelecidas e preconceitos

internalizados sob a perspectiva de captar e absorver a realidade da forma

como se apresenta.

Em se tratando dessa discussão, fundamentamos também em Minayo,

quando a autora afirma que a pesquisa qualitativa “[...] trabalha com o universo

dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das

atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como

realidade social”. (MINAYO, 2009, p.21)

Dessa forma, podemos perceber que a pesquisa qualitativa nos fornece

resultados diretamente extraídos dos entrevistados que estão localizados no

seu contexto social de forma que a expressão de suas opiniões e atitudes.

De acordo com Martinelli:

[...] a pesquisa tem por objetivo trazer à tona o que os participantes pensam a respeito do que está sendo pesquisado, não é só a minha visão de pesquisador em relação ao problema, mas é também o que o sujeito tem a me dizer a respeito. (MARTINELLI, 1999, p.21)

Compreendemos que o método qualitativo não possui uma dimensão

voltada para o pesquisador, mas tem um caráter social e inovador. Sendo

extremamente necessário ser diretamente retornada aos sujeitos que

contribuíram para a construção da pesquisa.

Assim, a pesquisa de natureza qualitativa possibilita o universo do

simbólico relatado pelo sujeito sobre suas experiências sociais desveladas em

seus depoimentos e narrativas, pois as “concepções teóricas da abordagem,

articulando-se com a teoria, com a realidade empírica e com os pensamentos

sobre a realidade”. (MINAYO, 2009, p.15), nos apresenta um espaço que

18

objetiva a compreensão da fala do sujeito bem como articular essa realidade

com a teoria.

A escolha pela realização desse tipo de abordagem partiu de

inquietações e perspectivas de encontrar novos caminhos e conhecimentos

acerca de um problema a ser investigado. Consoante Minayo: “É a pesquisa

que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do mundo.

Portanto, embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula pensamento e

ação”. (MINAYO, 2009, p.16).

Neste sentido, entendemos que esse universo permite novos horizontes,

de forma que requer do pesquisador um amadurecimento e bastante

embasamento para vivenciar a experimentação da pesquisa e extrair fatores

relevantes para o entendimento das motivações e significados desvelados no

percurso investigativo, pois Martinelli discorre:

No que se refere às pesquisas qualitativas, é indispensável ter presente que, muito mais do que descrever um objeto, buscam conhecer trajetórias de vida, experiências sociais dos sujeitos, o que exige uma grande disponibilidade do pesquisador e um real interesse em vivenciar a experiência da pesquisa. (MARTINELLI, 1999, p.25)

Compreendemos que para a efetivação desse universo é necessária a

delimitação por meio de ações planejadas elaboradas pelo pesquisador para

vivenciar e absorver ao máximo a essência da pesquisa, extraindo dessa

ocasião, resultados satisfatório sobre a apreensão realidade e dos seus

fenômenos.

Refere-se, pois, a um estudo que busca compreender as relações

existentes no cotidiano dos sujeitos participantes com a finalidade de

desvendar a realidade social na qual estão inseridos. No caso dessa pesquisa,

os sujeitos, são as idosas beneficiárias do Benefício de Prestação Continuada -

(BPC)

Assim, a pesquisa expressa um panorama geral e nos possibilita

caminhos para percorrermos o contexto dos sujeitos envolvidos, por sua vez

extraímos desta realidade as contribuições de indagações e análise mais

profunda do real, por certo período determinado.

19

Queremos salientar que a elaboração deste tópico está intencionada a

desvelar e pontuar a caminhada pelo pesquisador no percurso da pesquisa,

apresentando: as técnicas, procedimentos, paradigmas, referencial teórico e as

escolhas da pesquisadora.

Durante a produção do percurso metodológico, os meios utilizados para

executar a coleta de dados e os procedimentos de análise estão pautados nos

processos de trabalho científico.

Na perspectiva de atender a todos os requisitos que exige a pesquisa

social, optamos por delimitar em três etapas classificatórias, de acordo com a

orientação de Minayo (2009): (1) fase exploratória; (2) fase de campo, na qual

iremos aplicar a pesquisa documental e as técnicas metodológicas entrevistas

e observação participante e por fim, a (3) fase de análise e tratamento do

material empírico e documental. A pesquisa bibliográfica transcorrerá todo

processo de elaboração desta pesquisa.

Conforme estabelecidas as etapas para execução da pesquisa,

queremos caracterizar a primeira etapa usada sendo nomeada como fase

exploratória, a qual:

Consiste na produção do projeto de pesquisa e de todos os procedimentos necessário para preparar a entrada em campo. É o tempo dedicado – e que merece empenho e investimento – a definir e delimitar o objeto, a desenvolvê-lo teórica e metodologicamente, a colocar hipóteses ou alguns pressupostos para seu encaminhamento, escolher e a descrever os instrumentos de operacionalização do trabalho, a pensar o cronograma de ação e a fazer os procedimentos exploratórios para escolha do espaço e da amostra qualitativa. (MINAYO, 2009, p.26)

Diante deste conceito podemos elucidar que essa etapa se configura no

momento da formulação: do título, tema, hipóteses, perguntas de partidas,

técnicas metodológicas e objetivos: geral e específicos. Estes são

componentes essenciais para efetivação desta fase.

As pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores (GIL, 1999, p.43).

20

Neste momento, determinamos como objetivo geral analisar a relação

entre o Benefício de Prestação Continuada para as idosas e os serviços

executados pelo Cras Bela Vista.

Como objetivos específicos, determinamos:

Conhecer o perfil das idosas que recebem BPC e são

acompanhadas pelo Cras Bela Vista;

Pesquisar quais as principais demandas sociais das idosas que

participam do Cras e sua relação com o BPC;

Identificar as mudanças que ocorreram na realidade social e no

convívio familiar dessas idosas beneficiárias do BPC após a oferta dos

serviços do Cras na vida dessas idosas;

Apontar a relevância dos serviços do Cras na vida dessas idosas;

Conhecer como se apresentam as respostas institucionais para

as demandas das idosas acompanhadas e como a rede de serviços está

articulada para atendê-las.

Estabelecemos também o levantamento das seguintes hipóteses:

As idosas acompanhadas pelo Cras apresentam negações no

exercício de seus direitos sociais e fragilidades nos vínculos familiares;

Os resultados atingidos pelo benefício de transferência de renda

se limitam a renda mínima, contudo, possibilitam melhorias na qualidade de

vida das idosas e seus familiares;

As idosas que participam do Cras Bela Vista têm acesso a

informações e orientações sobre legislações sobre idosos e políticas sociais

como: saúde, educação, esporte e lazer, segurança, transporte e etc;

As idosas reconhecem o Cras como referência para suas

demandas sociais;

As respostas às demandas das idosas se dão por via da rede de

proteção social aos idosos e esta se encontra frágil e inoperante.

Ainda na fase exploratória, definimos o conjunto de fatores que darão

arcabouço teórico para legitimação da pesquisa bibliográfica, determinando os

21

autores mais influentes, contextualizando, ou melhor, apresentando o material

literário que vai embasar a referida pesquisa.

Sob essa ótica, Gil discorre que a “pesquisa bibliográfica é desenvolvida

a partir de material já elaborado, constituído principalmente por livros e artigos

científicos”. (1999, p.65), nos quais estabelecem um aparato teórico à

pesquisa.

Vale mencionar que a condição pela sua aproximação com o objeto de

estudo, ao mesmo tempo, lhe apresenta uma visão macro e simultaneamente

aprofundada da situação abordada, ou melhor, a apresentação da realidade em

uma dimensão ampliada.

Ainda nesta fase, elaboramos um roteiro de perguntas (apêndice I)

direcionados às participantes da pesquisa que se dispuseram a contribuir na

produção deste trabalho e também disponibilizamos o termo de consentimento

livre e esclarecido (apêndice II) a fim de formalizar nos devidos termos legais à

livre escolha para participar ou não da pesquisa, bem como o sigilo garantido

as entrevistas.

No processo de passagem elucidado da primeira etapa para o segundo

momento implica um máximo da apreensão da realidade e aptidão nos

materiais erguidos. Sob essa perspectiva a autora discorre que:

Quando terminamos a fase exploratória de uma pesquisa qualitativa, cujo produto principal é o projeto de pesquisa no qual já está estabelecido o espaço para investigar e decidido com que grupo trabalhar, chega a hora de iniciar o trabalho de campo propriamente dito. (MINAYO, 2009, p.61)

Na segunda etapa, a fase de entrada em campo, estabelecemos o

momento da utilização da coleta de dados, que consiste na aplicação dos

instrumentais técnicos: observação participante e entrevista.

Segundo Minayo:

O trabalho de campo consiste em levar para a prática empírica a construção teórica elaborada na primeira etapa. É essa fase combina instrumentos de observação, entrevistas ou outras modalidades de comunicação e interlocução com os pesquisados, levantamento de material documental e outros. Ela realiza um momento relacional e prático de fundamental importância exploratória, de confirmação e refutação de hipóteses e de construção de teoria. (MINAYO, 2009, p.26)

É importante ressaltar que a abordagem da entrevista se estabelece

como uma conversa a dois ou entre vários interlocutores que têm como

22

objetivo desvelar dados pertinentes para o desenvolvimento do objeto de

pesquisa, ou seja, favorece o contato direto com o usuário percebendo em sua

fala a livre expressão em relação ao conteúdo de perguntas abordadas.

A técnica da entrevista possui várias classificações, mas optamos por

construir entrevista semiestruturada por acreditarmos que essa se adequa mais

a possibilidade de acesso a dados e informações que poderemos adquirir.

Definimos entrevista semiestruturada consoante a autora: “pois combina

com perguntas fechadas e abertas, sem que o entrevistado fique preso a

indagações formuladas”. (MINAYO, 2009, p. 64).

Na utilização desse instrumental, percebemos que essa técnica

proporciona uma apreensão dos elementos necessários para atender ao

objetivo central dessa pesquisa. Contudo, é de extrema relevância alcançar os

símbolos e detalhes nas falas dos entrevistados que estejam dentro de sua

concepção de perceber o seu contexto e para além do olhar dos profissionais.

Segundo Gil:

A entrevista é, portanto, uma fase de interação social. Mais especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação. (GIL, 1999, p.117).

Queremos ressaltar que a técnica entrevista foi aplicada com dois tipos

de interlocutores: as profissionais e as idosas beneficiárias. Contudo, foi

necessário estabelecer uma amostra de 10 (dez) idosas beneficiárias do

Benefício de Prestação Continuada e 03 profissionais sendo 01 assistente

social, 01 educadora social e 01 facilitadora de artes, todos que acompanham o

grupo de idosos.

Para participar da pesquisa, foi estabelecido o critério de que o(a)

idoso(a) tivesse pelo menos um ano vinculado nas atividades desenvolvidas

neste Cras para que este possa ter mais familiaridade com as ações

desenvolvidas, porém, constamos que o público do SCFV do Cras Bela Vista

não apresentava idosos que se enquadravam no perfil determinado para a

realização desta pesquisa, sendo assim, só entrevistamos idosas, por isso só

nos referimos aos sujeitos no feminino. Quanto às profissionais, objetivamos

abranger todas as trabalhadoras que têm vínculo direto com este público.

23

Contudo, para as idosas beneficiárias do BPC, foram aplicados roteiros

de entrevistas, contendo 17 questões objetivas e subjetivas destinadas àqueles

que se dispuseram a contribuir com a pesquisa.

Em relação aos profissionais que desenvolvem as atividades com os

idosos(as) do Cras Bela Vista, foi aplicado um roteiro com 17 perguntas

objetivas e subjetivas que possui a perspectiva de conhecer a relação dos

idosos beneficiários com as ações disponibilizadas pelo equipamento social.

A segunda técnica que subsidia a coleta de dados na fase de campo foi

a observação simples o “pesquisador toma contato com a comunidade, grupo

ou realidade estudada, mas sem integrar-se a ela; permanece de fora”

(LAKATOS & MARCONI, 2003,p. 193). No entanto, percebemos que ela nos

proporciona observar, entender e compreender a realidade em que se

configura a pesquisa, e através dela, podemos selecionar as perguntas que

darão um maior aparato para auxiliar a pesquisa.

Assim, o pesquisador adentra na realidade apresentada, permitindo sua

experimentação e consequentemente, salientar suas impressões e vivências

acrescentando as informações obtidas nas entrevistas.

No horizonte da pesquisa de campo é importante destacarmos que foi

possível a realização dessa análise devido o acesso da pesquisadora ao

universo do espaço explorado para efetivação da pesquisa investigativa.

Identificar o trabalho social realizado no CRAS Bela Vista com os idosos

beneficiários do Benefício de Prestação Continuada permitiu a pesquisadora a

se inquietar em conhecer os desafios e possibilidade acerca da relação entre a

política de assistência social e o benefício concedido ao idoso.

Durante esse processo de entrada no campo, inicialmente, conhecemos

o local e consequentemente a equipe técnica para compreender como se

estabelecem os acompanhamentos e ações feitas para os idosos beneficiários;

como também analisar na visão e opinião dos usuários acompanhados e o que

as ações possibilitaram modificar no seu convívio familiar e comunitário.

Finalizando essa discussão, retomamos para as etapas da pesquisa que

orienta o percurso no qual o pesquisador deve trilhar para obter os seus

resultados e atingir seus objetivos, sendo a terceira e última etapa que é a

“análise e tratamento do material empírico e documental” (MINAYO, 2009, p.26)

24

Por fim, para a última fase da pesquisa, aplicamos os três

procedimentos orientados por Minayo:

Ordenação dos dados;

Classificação dos dados;

Análise propriamente dita.

Através da utilização desses procedimentos elucidados pela autora foi

que construímos o arsenal de informações subtraído das falas dos

protagonistas da pesquisa e traçamos um paralelo com a teoria.

Minayo define essa etapa como:

O tratamento do material nos conduz a uma lógica peculiar e interna do grupo que estamos analisando, sendo esta a construção fundamental do pesquisador. Ou seja, análise qualitativa não é uma mera classificação de opiniões dos informantes, é muito mais. É a descoberta de seus códigos sociais a partir das falas, símbolos e observações. A busca da compreensão da interpretação à luz da teoria aporta uma contribuição singular e contextualizada do pesquisador. (MINAYO, 2009, p.27)

O material para levantamento de dados para auxiliar a pesquisa foram

extraídos dos documentos institucionais do Cras e da Secretaria de Trabalho,

Desenvolvimento Social e Combate à Fome (SETRA).

No tocante desta pesquisa buscamos utilizar o método dialético, pois

nos propicia um processo de idas e vindas articulando com a realidade

dinâmica para se obter a compreensão da dinâmica social e da totalidade em

que se configura uma determinada problemática, assim como discorre Minayo:

A dialética trabalha com a valorização das quantidades e da qualidade, com as contradições intrínsecas às ações e realizações humanas, e com o movimento perene entre parte e todo e interioridade e exterioridade dos fenômenos (2009, p.24).

Contudo, esse método atribui um aparato suficiente para o pesquisador

alcançar o direcionamento necessário, pois a compreensão do contexto

histórico do sujeito possibilita trazer à luz elementos antes não explorados e

analisando essa totalidade estabelecemos um olhar crítico que desvela a

realidade social.

25

2.2 Sujeitos da pesquisa

Neste tópico nos propomos a explanar graficamente os dados coletados

na pesquisa de campo na perspectiva de facilitar o entendimento das

especificidades que envolvem o perfil das idosas entrevistadas.

Vale ressaltar que neste percurso de apresentação serão

disponibilizados sete gráficos com o perfil socioeconômico das idosas traçadas

inicialmente por um roteiro de entrevistas1, atendendo ao nosso objetivo de

elaborar o perfil dos sujeitos.

Relembramos que as informações acima, foram aplicados em dez

idosas2 do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculo do Cras Bela

Vista sob a perspectiva de favorecer o entendimento do texto frente às

informações expressas nos depoimentos.

GRÁFICO 01

FAIXA ETÁRIA

Idade de 65 a 69anos

Idade de 70 a 79anos

Idade de 80 a 89anos

37%

60%

03%

Fonte: Dados diretos da pesquisadora/2014

Deste modo, analisando o gráfico 01 percebemos que 37% das

entrevistadas3 estão entre a idade de 65 a 69 anos, porém, a predominância do

objeto de estudo consiste entre a idade de 70 a 79 representado assim cerca

de 60% do arsenal da pesquisa. Apenas 03% das entrevistadas estão na idade

de 80 a 89 anos.

1 Disponível no apêndice I

2 Idosas ativas no grupo de Convivência e Fortalecimento de Vínculo a pelo menos um

ano. 3 Percentuais aproximados

26

GRÁFICO 02

ESTADO CIVIL

Solteira

União estável

Viúva

Casada65%

05%

15% 15%

Fonte: Dados diretos da pesquisadora/2014

Neste gráfico, trazemos informações referentes o estado civil das

interlocutoras. Como podemos observar, existe um indicativo bastante

expressivo de 65% de essas idosas serem viúvas, 05% estão mantendo uma

união estável, 15% declaram serem solteiras e 15% estão casadas.

GRÁFICO 03 - COM QUANTAS PESSOAS RESIDE

Nenhuma

01 pessoa

02 pessoas

03 pessoas

outros

40%

05%25%

25%

05

%

Fonte: Dados diretos da pesquisadora/2014

No tocante referente aos números de pessoas que residem no mesmo

domicilio que essas idosas percebemos que em grande maioria, 40% vivem

sozinha, 5% moram com uma pessoa, 25% residem com duas pessoas, 25%

vivem com três pessoas e por fim 5% moram com um número maior que três

pessoas em seu domicílio.

Podemos perceber que o dado mais elevado retratou que essas pessoas

residem sozinhas, nos permitindo afirmar que se trata de um dado alto já que a

27

própria idade que requer maior atenção pela própria vulnerabilidade que este

ciclo de vida exige.

GRÁFICO 04 - COM QUEM RESIDE

Esposo/Companheiros e Flhos(s)

Filhos (s) e/ou Neto (s)

Sozinho

Filhos e Genro/Nora

40%

19,08%19,08%

21,84%

Fonte: Dados diretos da pesquisadora/2014

No gráfico acima trazemos informações sobre quem vive com essas

idosas. Em concordância com o gráfico anterior à predominância ocorrerá para

o índice de idosas que vivem sozinha 40% da amostra, e os demais se dividem

entre: cerca de 19,08% moram com seus cônjuges e filhos, um proporcional de

19,08% residem com filhos e genro/nora e os que moram com os filhos e netos

marcam um indicativo de 21,84%.

Destacamos que aquelas que residem no seio da família permanecem

com os laços familiares ainda preservados.

Em contrapartida, as idosas que vivem sozinhas expressam um

indicativo mais expressivo, pois a ausência do convívio familiar decorrente da

inexistência de família e de parentes em uma idade que demanda mais

atenção por parte da família devido aos cuidados diante das fragilidades

decorrentes do processo do envelhecimento e que se torna um dado

preocupante.

28

GRÁFICO 05 - RENDA FAMILIAR

1 Salário Mínimo

Até 02 SalárioMínimo

79,99%

20,01%

Fonte: Dados diretos da pesquisadora/2014

Neste gráfico nos detemos em apresentar os dados que expõem a renda

familiar dessas idosas que atualmente recebem o BPC e de sua família. Os

indicativos expressam que 79,99% sobrevivem apenas com o “benefício da

idosa” que representa o valor de um salário mínimo, sendo a única renda fixa

da casa para a manutenção do idoso e de seus dependentes, representando

que a maioria vive na condição de pobreza e vulnerabilidade social.

Assim, o percentual de 20,01% recebe até dois salários mínimos, o que

se refere ao benefício e mais a renda de seu companheiro ou filho,

demonstrando assim, que se trata de uma população pobre, com idade

avançada, fase que exige maior potencial de gastos com saúde e alimentação.

GRÁFICO 06 - GRAU DE ESCOLARIDADE

Cursando ensinofundamental

Ensinofundamentalincompleto

Ensino médiocompleto

95,48%

2,2

6%

2,2

6%

Fonte: Dados diretos da pesquisadora/2014

No que se refere ao nível de escolaridade, esse gráfico nos demonstra

que o índice de grau de estudo é baixo entre essas idosas, pois a

29

predominância consiste em 95,48% com o ensino fundamental incompleto,

2,26% conseguiram concluir o ensino médio ainda que com muita dificuldade

segundo informações diretas das entrevistadas e 2,26% ressalta ainda estuda.

Notamos que um valor significativo expressa a evasão escolar ainda no

ensino fundamental, devido, segundo informações das interlocutoras, que

essas saíram das escolas porque se casaram ou mantiveram união estável

ainda muita nova e tinha que cuida do esposo, do lar e dos filhos porque

naquela época, o número de filhos em uma família era muito elevado.

De todas as entrevistadas, apenas uma teve apenas um único filho.

Quanto as demais, temos exemplo de que tiveram até 11 filhos. Essas idosas,

ao longo da vida, são dona de lar e essa informação se reflete no gráfico a

seguir.

GRÁFICO 07

JÁ EXERCEU ATIVIDADE REMUNERADA

Sim

Não60%

40%

Fonte: Dados diretos da pesquisadora/2014

Analisando o que concerne à informação de já terem exercido alguma

atividade remunerada com vínculo empregatício, foi de comum resposta que

60% do público entrevistado nunca trabalhou de carteira assinada, pois eram

donas de casa que dedicaram sua vida para as atividades do lar, cuidar dos

filhos e que o esposo era o provedor do sustento da família.

Sobre as que já tiveram experiência de trabalho representa 40%. Estas

ocupavam os seguintes cargos, possivelmente devido o baixo nível de

escolaridade desenvolvia atividades de: costureiras e cozinheiras. Apenas uma

já trabalhou como secretária porque obtinha o nível médio completo.

30

Podemos afirmar que aquelas que se inseriram no mercado de trabalho

ocupavam funções que historicamente é ocupado pelo gênero feminino em

decorrência do machismo, e que a evasão escolar é um forte precedentes para

que estas não tenham alcançado outras oportunidades e também em

decorrência do índice de desemprego ser bastante expressivo. Naquela época,

as vagas para trabalho eram disponibilizadas em condições precárias e

insalubres nas grandes indústrias que aqui se instalava.

Analisando o universo do público pesquisado, a maior parte das

entrevistadas são viúvas, possuindo entre 70 a 79 anos. Parte significativa

mora sozinha, porém, uma parte diminuta ainda reside com o filho (s) e neto

(s). No que se refere à escolaridade, a grande maioria das entrevistadas não

concluíram nem o Ensino Fundamental. A maioria das idosas nunca trabalhou

por ter sido dona de casa e responsável por cuidar dos filhos. A renda familiar

predominante é a do Benefício de Prestação Continuada no valor de um salário

mínimo para a manutenção de suas necessidades e de sua família.

Face ao exposto, apresentamos neste capítulo o percurso metodológico

e os sujeitos desta pesquisa através do perfil socioeconômico dos

entrevistados. No capítulo a seguir, desenvolveremos uma análise das

categorias centrais da pesquisa vinculando o referencial teórico e bibliográfico.

31

3. POLÍTICAS SOCIAIS, PROTEÇÃO SOCIAL E CIDADANIA PARA A

PESSOA IDOSA NO BRASIL

3.1 Breve histórico das Políticas Sociais no Brasil

Neste tópico, retratamos o processo histórico brasileiro da construção

das políticas sociais. Destacamos que sua gênese no Brasil está diretamente

relacionada com a correlação de forças entre trabalhadores, Estado e

burguesia.

Essa relação foi historicamente tensionada pelos movimentos sociais da

classe trabalhadora e as transformações das demandas surgidas pelo sistema

econômico capitalista ministrado pela classe social burguesa entre o fim do

capitalismo concorrencial para a fase monopolista4.

Segundo as autoras Behring e Boschetti, sobre o surgimento da política

social:

Sua origem é comumente relacionada aos movimentos de massa social-democratas e ao estabelecimento dos Estados-nação na Europa ocidental no final do final do século XIX, mas sua generalização situa-se na passagem do capitalismo concorrencial para o monopolista, em especial na fase tardia, após a Segunda Guerra Mundial de 1945 (2011, p. 47).

Referente a trajetória brasileira, queremos elucidar que a política social

teve características essenciais dos países de capitalismo, mas não segue o

mesmo tempo histórico dos países de capitalismo periférico central nem

mesmo as mesmas configurações da classe trabalhadora.

Conforme esclarece as autoras Behring e Boschetti que:

Não houve no Brasil escravista do século XIX uma radicalização das lutas operárias, sua constituição em classe para si, com partidos e organizações fortes. A questão social já é existente num país de natureza capitalista, com manifestações objetivas de pauperismo e iniquidade, em especial após o fim da escravidão e com a imensa dificuldade de incorporação dos escravos libertos no mundo do trabalho, só se colocou como questão política da primeira década do século XX, com as primeiras lutas de trabalhadores e as primeiras iniciativas de legislação voltadas ao mundo do trabalho (BEHRING & BOSCHETTI, 2011, p.78).

4 Sobre essa mudança ver em “Política Social fundamentos e história” de BEHRING &

BOSCHETTI.

32

Realizando um resgate histórico acerca da implementação das políticas

sociais, devemos salientar que até 1887, dois anos antes da instituição em que

é apresentada a Proclamação da República no Brasil ocorrida em 1889, não se

instaurava nenhuma legislação social.

Em 1888, se determina o estabelecimento de caixa de socorro5 para a

burocracia pública, iniciando uma dimensão categorial de entidade de direitos

que será a tônica da proteção social brasileira até os anos 1960 do século XX.

Posteriormente em 1889, os trabalhadores da Impressa Nacional e os

ferroviários alcançam alguns direitos que dentre eles estão 15 dias de férias, e

consequentemente, outras categorias de trabalhadores também alcançam

esses benefícios no ano subsequente.

Segundo as autoras Behring e Boschetti, salientam:

É interessante notar que a criação dos direitos sociais no Brasil resulta da luta de classes e expressa a correlação de forças predominantes. Por um lado, os direitos sociais, sobretudo trabalhistas e previdenciários, são pauta de reivindicações dos movimentos e manifestações da classe trabalhadora. Por outro, representam a busca de legitimidade das classes dominantes em ambiente de restrições de direitos políticos e civis como demonstra a expansão das políticas sociais no Brasil nos períodos de ditadura (1937-1945 e 1964-1984), que instituem como tutela e favor: nada

mais simbólico que a figura de Vargas6 como ”pai dos pobres”, nos

anos de 1930 (BEHRING & BOSCHETTI, 2011, p.79).

Em 1891, se instaura a primeira legislação para a assistência à infância

no Brasil, determinando uma regulamentação voltada para o trabalho infantil.

Foi em 1892 que os familiares dos trabalhadores marinheiros alcançaram o

direito à pensão.

Articulando a conjuntura mundial a qual o Brasil apresentou ligação

estreita, o final do século XIX se programou a criação e a propagação das

primeiras legislações e as denominadas medidas de proteção social como

resposta às lutas da classe trabalhadora. Ou seja, foi neste processo que as

nomeadas sociedades pré-capitalistas e as instituições privadas passaram a

5 A Lei n° 3.397, de 24 de novembro de 1888, criou a Caixa de Socorros para os trabalhadores

em cada uma das Estradas de Ferro do Império. 6 Momento ditatorial ministrado pelo o então Presidente Getúlio Vargas que devido a

efervescências das reinvindicações da classe operária institui alguns direitos sociais e consequentemente ficou reconhecido como Pai dos Pobres.

33

executar políticas sociais através de ações que caracterizava a filantropia e a

caridade na perspectiva de manter o controle a ordem social vigente.

Essas legislações possuíam caráter coercitivo do trabalho que tinham

um cunho punitivo e repressivo com ações que aumentaram a relação de

exploração e dependência de todos que vendiam sua força de trabalho para

promover a sua própria subsistência.

Portanto, neste contexto, a relação de troca de trabalho livre e

consequentemente a produção de mercadoria fomentam as contradições entre

capital-trabalho, sendo esta a gênese das expressões da questão social. A

busca pelo seu enfrentamento por parte do Estado se dá a partir da execução

das chamadas políticas sociais. As autoras Behring e Boschetti esclarecem

que:

O surgimento das políticas sociais foi gradual e diferenciado entre os países, dependendo dos movimentos de organização e pressão da classe trabalhadora, do grau de desenvolvimento das forças produtivas e das correlações de forças e composições de força no âmbito do Estado. (2011, p. 64)

No entanto, a partir dessas medidas, o Estado subsidia o consumo de

uma dada parcela da população que se encontra fora o mercado de trabalho e

garante assim a regulação dos “comportamentos” sociais da mesma.

Contudo, queremos ressaltar que não houveram muitas mudanças

expressivas neste momento. O que ocorreu foi a continuidade das

reivindicações e adequações que era necessária para a classe proletariada que

tiveram os primeiros resultados de suas lutas na dimensão dos direitos

políticos7.

Assim, a generalização dos direitos políticos é resultado da luta da classe trabalhadora e, se não conseguiu instituir uma nova ordem social, contribuiu significativamente para ampliar os direitos sociais, para tencionar, questionar e mudar o papel do Estado no âmbito do capitalismo a partir do final do século XIX e início do século XX (BEHRING & BOSCHETTI, 2011, p.64).

7 Os primeiros direitos políticos alcançados por essa categoria trabalhadora foi o direito

ao voto, livre expressão e manifestação e também se alcança a possibilidade de organizações em sindicatos e partidos.

34

Portanto, até a terceira década do século XX, com o predomínio do

capitalismo e a possibilidade de expansão da pobreza, aumentou-se a

execução das políticas públicas, tornando o Estado um mediador e legislador

das relações entre as classes e direitos sociais.

O processo de passagem para o século XX também foi demarcado por

várias conquistas que se retratam a política social, mas queremos enfatizar no

ano de 1923 em que é momento chave para se obter o entendimento do

formato da política social brasileira no ano subsequente: com a aprovação da

Lei Eloy Chaves, que conforme esclarece as autoras Behring e Boschetti:

“institui a obrigatoriedade de Criação de Caixas de Aposentadoria e Pensão

dos ferroviários e marítimos, dentre outros” (2011, p.80).

Dessa forma, notamos que a economia brasileira estava respaldada na

monocultura do café com índice voltado para exportação, e pelo

desenvolvimento ferroviário e marítimo, havia oferta de empregos, por isso,

esse seria o momento mais viável para a efetivação dos direitos trabalhistas

para classe proletariada ainda que de forma bastante limitada para os demais

trabalhadores.

No Brasil, a Constituição Federal de 1934 assegura as (contra)

tendências, o que cerca esse período de profundas mudanças no Estado e na

sociedade civil brasileira como se estabelece o crescimento integralista8 em

1935 e posteriormente, em 1937, se decreta a ditadura do Estado Novo com o

então presidente Getúlio Vargas.

Na Era Vargas (1930–1945) estavam pendentes as formas de

regulamentação do trabalho e a questão social era enfrentada como caso de

polícia. Em 1935, conforme ressaltam as autoras Behring e Boschetti, o então

presidente soube combinar essa atitude com uma forte iniciativa política:

[...] a regulamentação das relações de trabalho no país, buscando transformar a luta de classes em colaboração de classes, e o impulso a construção do Estado social, em sintonia com os processos internacionais, mas com nossas mediações internas particulares (BEHRING & BOSCHETTI, 2011, p.106).

8 O movimento fascista brasileiro (BEHRING & BOSCHETTI, 2011, p. 105).

35

Nesta perspectiva, queremos apontar as principais iniciativas que

instituíram a introdução da política social no Brasil em meados dos anos de

1930 e 1943.

Portanto, se faz necessário entendermos que “a política social como

processo é reveladora da interação de um conjunto muito rico de

determinações econômicas, políticas e culturais, e seu debate encerra fortes

tensões entre visões de mundos diferentes” (BEHRING, 2009, p.303).

Na esfera do trabalho, segue-se a lógica dos países desenvolvidos no

que se refere à cobertura de riscos, com algumas modificações. Em 1930, foi

instaurado o Ministério do Trabalho e o Ministério da Educação e Saúde

Pública, em 1932, a Carteira de Trabalho que passa a ser um documento que

reflete a cidadania no Brasil.

Ainda neste contexto, ressaltamos sobre o sistema público de

previdência social que se iniciou com a implementação em 1930 dos Institutos

de Aposentadoria e Pensões (IAPs) de natureza pública, criados pelo Estado e

com participação efetiva do mesmo no financiamento diferente dos CAPs, essa

instituição aumenta a cobertura de atendimento.

Que se expandem na década de 1930, cobrindo riscos ligados à perda da capacidade laborativa (velhice, morte, invalidez, doença), naquelas categorias de trabalhadores estratégicas, mas com planos poucos uniformizados e orientadas pela lógica contributiva do seguro (BEHRING & BOSCHETTI, 2011, p. 106).

Em 1942 se criou a Legião Brasileira de Assistência (LBA), instituição

para atender as famílias dos pracinhas envolvidos na Segunda Guerra Mundial.

Com caraterísticas de tutela, favor, viés primeiro-damista e instaurando o

clientelismo no que se refere a relação Estado e sociedade, essa instituição

distanciou-se da constituição da política social enquanto direito público.

Acerca dessa instituição, as autoras Behring e Boschetti elucidam que:

Posteriormente, a LBA vai se configurando como instituição articuladora da assistência social no Brasil, com uma forte rede de instituições privadas conveniadas, mas sem perder essa marca assistencialista, fortemente seletiva e de primeiro-damismo, o que só começará a se alterar muito tempo depois, com a Constituição de 1988 (BEHRING & BOSCHETTI, 2011, p.108).

36

Diante de vários acontecimentos históricos sobre a introdução da política

social brasileira, entendemos que esse processo ficou marcado pela expansão

lenta dos direitos e que as transformações que ocorreram na década de 1930 e

implementadas no governo de Getúlio Vargas necessariamente não foram

medidas que tiveram como foco o objetivo de modificação da ordem societária

vigente até então, e nem se tinha a perspectiva de promover o bem estar da

classe proletariada. Na verdade, o governo de Vargas é apontado segundo as

autoras como “formato corporativista e fragmentado” (BEHRING &

BOSCHETTI, 2011, p. 110) que se utiliza de medidas populistas para garantir o

controle do Estado sobre a classe trabalhadora.

No entanto, vale mencionar que no ano de 1974, foi também instituído o

Ministério da Previdência e Assistência Social, e consequentemente teve a LBA

associada e também incorporada ao referido ministério, a Fundação Nacional

para o Bem-estar do Menor.

Queremos também ressaltar que no período pós-guerra mundial (1939-

1945) houve uma generalização das medidas de Seguridade Social no mundo

com a constituição do modelo de regulação social denominado Welfare State9

acompanhado por vários padrões de proteção social nos países capitalistas.

O primeiro ficou conhecido como modelo Bismarckiano e teve suas

primeiras ações pautadas na lógica do seguro social na Alemanha, suas

medidas de enfrentamento “[...] mais precisamente em 1883, [...] em resposta

às greves e pressões dos trabalhadores” (BOSCHETTI, 2009, p.324). Este

modelo se configura a lógica do sistema de seguros sociais.

Em outro cenário econômico e político, é definido na Inglaterra, o Plano

Beveridge, o qual visa, através de um conjunto de políticas públicas realizada

pelo Estado, buscando garantir aos cidadãos, o mínimo necessário para

manter a sua subsistência.

A responsabilidade administrativa e financeira fica a cargo do Estado

mediante a concessão de benefícios, os quais eram concedidos de acordo com

a necessidade específica da parcela da população que demandasse, no intuito

9 Conhecido como Estado de Bem-estar social

37

de redistribuir a riqueza socialmente produzida. Sobre esse modelo a autora

esclarece a seguinte concepção:

No sistema beveridgiano, os direitos têm caráter universal, destinados a todos os cidadãos incondicionalmente ou submetidos a condições de recursos, mas garantindo mínimos sociais a todos em condições de necessidade (BOSCHETTI, 2009, p.325).

Vale ressaltar também sobre a teoria econômica inglesa de Jonh Keynes

denominada teoria keynesiana. Esta foi considerada como um conjunto de

ideias que propunha a intervenção estatal no que concerne a vida econômica

no intuito de coordenar um regime de pleno emprego. Essas teorias tiveram

grande influência no que concernem as teorias clássicas e também sobre

reformulação da política de livre mercado.

As ideias de Keynes teve enorme influência sobre a formação do regime

que estrutura o Estado de Bem-Estar social nos países constituídos pela

Europa e nos Estados Unidos da América que utiliza como estratégia o pleno

emprego e intervenção do Estado na economia com o ideário de menor

desigualdade social entre os cidadãos.

Esse modelo resultou em decorrência de um pacto estabelecido entre as

classes sociais que expressavam os conflitos entre capital e trabalho na

perspectiva de estabelecer uma conciliação entre capitalismo e democracia,

que assim se assegurava o pleno emprego, políticas sociais universalistas e se

instituía um Estado-Nação como o grande mediador, que tem a capacidade de

intervir como protagonista econômico e social.

Sobre esse cenário, percebemos que as ampliações das

responsabilidades econômicas e sociais administradas pelo Estado também

manifestam controle, ainda que de forma limitada na produção e assume as

despesas sociais.

Devemos salientar que essas transformações no que se refere à

competência do Estado se deram devido à pressão do movimento trabalhista e

ocorreram nos países dados como desenvolvidos da Europa e Estados Unidos.

Queremos ressaltar que a constituição do Keynesianismo ou Welfare

State foi uma estratégia para se mediarem as relações das classes sociais e

38

amenizar os prejuízos causados pela crise do capitalismo que decorrente de

sua lógica que criam suas próprias crises, porém, elaboram maneiras para se

renovar sem perder seu real direcionamento: o lucro e a acumulação.

Todavia, destacamos também o modelo econômico chamado plano

Marshall. Modelo americano que deu forma a concepção de cidadania

“percebe-se [...] a experiência do Welfare State como uma espécie de fim

humanista da história. Criava também uma medida de civilidade centrada na

experiência europeia, a despeito da história concreta de cada país” (BEHRING

& BOSCHETTI, 2011, p.102).

Mencionamos os acontecimentos no que se refere a política social dos

anos de 1980 no Brasil e notamos os eixos conquistas no processo histórico

constitucional, porém, do ponto de vista econômico se teve a imagem de

década perdida.

Os últimos anos de ditadura e posterior no governo de Sarney, na então

nomeada Nova República, obteve iniciativas de enfrentamento das expressões

da questão social. Contudo, explicam as autoras Behring e Boschetti que:

“Assim, nesse período, mantém-se o caráter compensatório, seletivo,

fragmentado e setorizado da política social brasileira, subsumida à crise

econômica, apesar do agravamento das expressões da questão social” (IDEM,

2011, p.144).

Contudo, queremos ressaltar que no Brasil não se instaurou um modelo

de Estado de Bem-Estar Social, pois o que ocorreu foram influências no

desenvolvimento de suas políticas sociais que tiveram destaque no momento

de redemocratização brasileira.

Vale ressaltar que surgem novas modificações consideráveis na

sociedade brasileira que estavam ligadas a ideia de ampliação de lutas sociais

diante da condição de exploração dos trabalhadores, que na verdade obrigou o

direcionamento de novas formas de estabilidade e consequentemente a

questão da recuperação da produção econômica.

39

Contudo, se enfatizava a grande novidade que se vivenciava: o

denominado processo de redemocratização, de acordo com as autoras que

elucidam:

O processo de redemocratização, apesar da crise econômica, com seu forte conteúdo reformista, no sentido de desenhar na Constituição políticas orientadas pelos princípios da universalização, responsabilidade pública e gestão democrática. Constitui-se nesse período uma Articulação Nacional de Entidades pela Mobilização Popular na Constituinte, reunindo movimentos sociais, personalidades e partidos políticos com compromissos democráticos que participaram dos grupos de trabalho (BEHRING & BOSCHETTI, 2011, p.144).

Queremos ressaltar, que diante deste cenário, a classe trabalhadora

brasileira consegue ampliar de forma significativa suas reivindicações, por meio

dos contratos coletivos de trabalho, que foram incorporados às novas

exigências referentes às condições de trabalho, produtividade e seus

benefícios sociais nas empresas, sendo recebidas por meio de propostas

encaminhadas pelas centrais sindicais e pelos partidos políticos, de natureza

mais universal e que também abriu novos horizontes para a institucionalização

de novos direitos políticos e sociais sendo: autonomia sindical, universalização

da saúde, direito a greve e mudanças na legislação trabalhista e na previdência

social que estão previstas na Constituição Federal da República do Brasil de

1988.

Abaixo iremos nos detalhar em como se definiu a Proteção Social

brasileira após a já apresentada Constituição Federal de 1988.

3.2 Proteção Social e Seguridade Social: nova cidadania?

Contextualizando sobre o processo das políticas sociais, ressaltamos

que após um período militar que se estabeleceu de (1964 – 1985) ocorre nos

anos 1980 o “surgimento de movimentos de massa, em defesa das eleições

diretas e de uma nova Constituição, ao lado de outros movimentos populares

urbanos e rurais, de caráter contestador e reivindicatório (Mota, 2010, p.138)”.

Conforme a autora esclarece, durante esse período, também se aponta

para uma crise da Previdência Social que não se restringe a números, mas

40

uma cisão político-ideológica, internalizada no momento histórico que culminou

com as reformas estabelecidas na Assembleia Nacional Constituinte, que

inseriu o sistema de Seguridade Social na Constituição Federal de 1988.

Essa CF foi considerada um progresso a respeito dos direitos sociais e

de cidadania, assim como, a garantia de acesso de todos os cidadãos aos

bens e serviços.

Contudo, o elemento que determina a cidadania como um dos

fundamentos da República Federativa, norteia como objetivo fundamental,

embora cheia de contradições, a construção de uma sociedade mais solidária,

no âmbito da erradicação da pobreza, marginalização e a redução das

desigualdades sociais.

É importante pontuarmos que a Constituição Federal delimitou um

capítulo específico aos direitos sociais e atribuiu um sistema de proteção social

por meio da Seguridade Social, o qual admite a assistência social como direito

de todos e dever do Estado.

Estabelecendo um sistema de Seguridade Social que modificou de

forma reestruturada e reorganizada quando se estabeleceu novos

direcionamentos e princípios que definiam as três políticas sociais que hoje

formam o tripé da Seguridade Social brasileira: saúde, previdência social e

assistência social.

A Seguridade Social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à Assistência Social. Parágrafo único - Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a Seguridade Social com base nos seguintes objetivos: I - universalidade da cobertura e do atendimento; II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; IV - irredutibilidade do valor dos benefícios; V - equidade na forma de participação no custeio; VI - diversidade da base de financiamento; VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. (BRASIL, 1988, p. 53)

Apresentamos que mesmo com caráter inovador, essas políticas sociais

configuram como um sistema híbrido e desarticulado, que estabelece direitos

derivados e dependentes de vínculo empregatício. No âmbito da Previdência

41

Social incorpora um direito seletivo, pois se reduz a quem contribui. Já a

política de Saúde, esta tem amplitude universal e, por fim, Assistência Social

que determina o direito seletivo para aqueles que dela necessitam.

Segundo Boschetti,

[...] aquelas diretrizes constitucionais, como universalidade na cobertura, uniformidade e equivalência dos benefícios, seletividade e distributividade nos benefícios, irredutibilidade do valor dos benefícios, equidade no custeio, diversidade do financiamento e caráter democrático e descentralizado da administração (C.F, artigo 194), não foram totalmente materializadas e outras orientaram as políticas sociais de forma bastante diferenciada, de modo que não se instituiu um padrão de Seguridade Social homogêneo, integrado e articulado. (BOSCHETTI, 2009, p. 330)

Portanto, ressaltamos que esses princípios poderiam ter transformado o

cenário da Seguridade Social brasileira na perspectiva de realmente se efetivar

uma lógica social, mas devido às contradições estruturais do sistema

impossibilitam que esta se materialize e acaba assumindo um caráter focalista,

seletiva, pontuais e assistemáticas.

Em 1990, a onda neoliberal desencadeava o desenvolvimento de uma

política econômica que tinha seus olhares voltados para o processo da

rentabilidade econômica em detrimento dos avanços sociais.

Consequentemente, ocorre a privatização do patrimônio público de

forma que afeta diretamente as relações de trabalho na perspectiva de

flexibilizar o mundo do trabalho, pois se instaura uma mudança fundamental na

transformação do Estado oriunda da expansão do processo neoliberal em que

se estrutura o país, de modo que ocorre um ataque às políticas da Seguridade

Social a partir de um novo direcionamento para essas políticas.

Contudo, percebemos que o reordenamento, direcionado pelo projeto

neoliberal em nome da “modernização”, obtém o Estado como principal alvo

repercutindo no ataque no âmbito dos direitos sociais.

Conforme esclarece as autoras Behring e Boschetti:

Reformando-se o Estado, com ênfase especial nas privatizações e na previdência social, e, acima de tudo, desprezando as conquistas de 1988 no terreno da Seguridade Social e outros – a carta constitucional era vista como perdulária e atrasada -, estaria aberto o caminho para o novo “projeto de modernidade”. (BEHRING & BOSCHETTI, 2011, p.148).

Também é interessante ressaltarmos que a política de privatizações se

apresenta como uma estratégia decisiva que perpetua o processo de

42

contrarreforma quando direciona segmentos para o capital nacional e a

especulação financeira internacional.

Os grandes estímulos têm sido realmente as privatizações e processos de aquisição e fusão, largamente estimulados com as mudanças no aparato regulatório que foram abolindo gradualmente as restrições ao IED ao longo dos anos 1990. [...] os fundos de privatização e a emissão de certificados que podem ser negociados em nível internacional foram alguns dos mecanismos criados para facilitar o fluxo do IED. O maior fluxo do IED, de fato, voltou-se para os processos de privatização e foi estimulado pelo tamanho do mercado interno brasileiro e as consequentes possibilidades de lucros anormais. (BEHRING, 2003, p.232)

Nesta perspectiva, queremos ressaltar que a argumentação utilizada

pela ordem social para a restrição e redução de direito se perpetua devido à

crise fiscal que estava inserido o Estado. Conforme esclarece as autoras

Behring e Boschetti:

[...] transformando as políticas sociais - a depender da correlação de forças entre as classes sociais e segmentos de classe e do grau de consolidação da democracia e da política social nos países - em ações pontuais e compensatórias direcionadas para os efeitos mais perversos da crise. As possibilidades preventivas e até eventualmente redistributivas tornam-se mais limitadas, prevalecendo o já referido trinômio articulado do ideário neoliberal para as políticas sociais, qual seja; a privatização, a focalização e a descentralização. (BEHRING & BOSCHETTI, 2011, p.156).

O ideário neoliberal prega que o financiamento público dos programas

sociais atinge diretamente o orçamentário, sobrecarregando-o, deixando ao

Estado a atuação na área do social através de programas assistenciais

emergenciais e focalistas.

Dessa forma, o avanço da ofensiva neoliberal repercute diretamente nos

direitos assinalados na Constituição Federal de 1988, tornando estes

secundários para as respostas das mazelas sociais. Incorporando assim um

viés de enfrentamento por meio de politicas clientelistas, fragmentadas,

descentralizadas, que neste caso, retira todo e qualquer caráter de direito das

políticas sociais e passam a atuar de forma emergencial, na medida em que

seus recursos são reduzidos com a atuação do Estado mínimo para o social e

máximo para o capital.

43

No entanto, mesmo com os esforços dos movimentos sociais no âmbito

das lutas pela garantia de direitos, no que se refere à operacionalização de fato

dessas regulamentações não se efetivou por falta de financiamento,

desorganização do Estado, falta de interesse por não ser importante para o

próprio capital.

Segundo Mestriner,

As políticas sociais atrofiam-se, desmoralizando-se numa incapacidade total de auto renovação, apesar de as propostas constitucionais terem seu detalhamento aprovado em leis orgânicas. As instituições e serviços se encolhem e deterioram, não conseguindo revidar as teses de estado mínimo e de privatizações (2005, p. 213).

Analisando os pilares da Seguridade Social, nos defrontamos com este

seguinte cenário: no campo da saúde, através de uma articulação com o

movimento sanitário e com a VIII Conferência Nacional de Saúde, ocorre a

aprovação de sua Lei Orgânica10, que realça a saúde como direito do cidadão e

dever do Estado e promove o acesso igualitário e universal.

No entanto, mesmo com esses avanços, nos confrontamos hoje com a

prática de sucateamento dos serviços públicos de saúde e o crescimento

desenfreado do sistema de saúde privado que se torna uma forma alternativa

para fugir no caos instaurado no sistema público brasileiro, o Sistema Único de

Saúde (SUS).

Sobre a previdência social, também teve a aprovação de um plano de

benefícios que estão disponíveis na lei 8.213 e a Lei Orgânica da Seguridade

Social11. Esse instrumento referia ainda na lógica do seguro social, que sempre

esteve presente no Brasil deste o início que resulta na construção de sistema

de proteção social no país, não se baseando assim na concepção de

Seguridade Social introduzida no Pós-Constituição Federal de 1988.

Quanto à última política que constitui o tripé da seguridade, trazemos a

discussão sobre a Assistência Social. A organização é efetivamente a

10

Lei nº 8.080, aprovada em 19 de setembro de 1990. 11

Lei nº 8.212, aprovada em 21 de julho de 1991.

44

participação da sociedade e decorrente de um amplo debate e também as

negociações que perpetuaram de movimentos nacionais, foi aprovada no dia

07 de Dezembro de 1993, a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS),

sancionada pelo então presidente Itamar Franco.

A LOAS possui seis capítulos com quarenta e dois artigos e ainda

regulamentou o disposto nos art. 203 e 204 da CF/1988 os quais estão

elucidados o direcionamento assistência social e organizam especificamente as

normas, critérios e objetivos, estabelecendo esta como integrante da rede de

proteção social brasileira.

Esta lei afirma a assistência social como uma política pública, direito do

cidadão e dever do Estado. Na trajetória dessa política, inicialmente

estabeleceu-se uma concepção filantrópica que não engloba todos os

cidadãos, só aqueles que são considerados extremamente pobres.

Mesmo após a regulamentação da Lei Orgânica, ainda persistiram sobre

essa perspectiva de atender apenas os mais necessitados, construindo

programas focalizados e emergenciais.

Sobre isso, a autora discorre da seguinte forma:

A política de assistência social, por sua vez, não conseguiu superar a histórica focalização em segmentos ditos hoje “vulneráveis” ou chamadas “situações de risco”. Sua abrangência é restritiva e os benefícios, serviços e programas não atingem 25% da população que teria direito, com exceção do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e do Bolsa Família, que vêm crescendo rapidamente nos últimos anos, revelando sua tendência de política de transferência de renda. (BOSCHETTI, 2009, p.333)

Portanto, sobre os benefícios socioassistenciais também chamado de

benefício de transferência de renda, o Benefício de Prestação Continuada-BPC

foi o primeiro reconhecido pela LOAS, garantindo-o assim, como um direito. A

avaliação do benefício sempre se realizou pelo Instituto Nacional do Seguro

Social12, órgão público de responsabilidade do Estado, responsável pela

Previdência social brasileira.

12

Embora o BPC seja um beneficio socioassistencial, este é habilitado pelo INSS em virtude

desta política encontrar-se mais avançada no ponto de vista estrutural e de recursos humanos, sendo quase que completamente composta por servidores públicos. Pela existência de

45

Porém, para a concessão deste benefício no caso especificamente

desse estudo, o idoso está sujeito a uma processo de seletividade que

determina a idade de 65 anos e a comprovação de seu estado de

miserabilidade possuindo um renda inferior a ¼ , como trataremos no tópico

2.5.2 com mais propriedade sobre esse benefício.

Salientamos ainda que se necessita fortalecer o debate em torno desta

política para a afirmação desta na direção de universalidade e justiça social,

com capacidade de proporcionar dignidade e autonomia para as pessoas que

se encontram na condição de pobreza.

Essa política pode definir novos horizontes de possibilidades para que

estas pessoas se revelem enquanto cidadãos providos de direitos. Este é um

dos caminhos que a política de assistência social pode se configurar como

cidadania.

Diante deste cenário de formação social e de conquista na trajetória de

direitos, falamos de cidadania no Brasil. Primeiramente, devemos ressaltar que

a dada concepção de cidadania originalmente se desenvolveu nas ciências

sociais devido a Marshall (1967). Sobre este economista, trazemos as palavras

de Freitas (2008, p. 93):

Para o pensador social britânico, a cidadania se constitui em um conjunto de direitos civis, políticos e sociais, extensivos aos membros da sociedade de um determinado Estado, não existindo um modelo determinado de cidadania. Cada sociedade, de acordo com sua estrutura social, cultural, econômica e política, tende a desenvolver a cidadania ao seu modo.

Buscamos salientar que a cidadania ao longo da história não possui

uma fórmula fixa, pois esse fenômeno é dado como um processo histórico que

resulta das contradições presentes em uma determinada sociedade, de forma

que possui especificidade peculiar oriunda do desenvolvimento das lutas

sociais pela efetivação dos direitos.

médicos peritos, favorece a inclusão do BPC deficiente pela exigência da avaliação deste profissional, o que tornaria caro demais para a Assistência Social custear. Muito além disso, a confusa herança da política de compadrio e troca de favores da assistência social nos municípios, dificulta locar este beneficio ao levar em consideração todo o pais, favorecendo a permanência do BPC ainda no INSS por tempo indeterminado.

46

Assim, ao falarmos de cidadania na dada sociedade capitalista, citamos

as maneiras de entender o campo conflituoso da igualdade e da desigualdade

nessa específica sociedade e a luta de classes por uma parcela na participação

no poder político e na riqueza social.

Deste modo, Marshall em sua ideologia, acaba mediando com a

concepção liberal da cidadania quando elucida a obrigatoriedade do Estado em

viabilizar um mínimo de provisão social básica e também, por outro viés, institui

o mercado por si ser incapaz de garantir todo o mínimos necessário a

sobrevivência.

Esse autor ressalta: “a desigualdade social como necessária e

proposital. Oferece o incentivo ao esforço e determina a distribuição de poder.

[...] A desigualdade, portanto, embora necessária, pode torna-se excessiva”

(MARSHALL, 1967, p. 77).

Portanto, a construção da cidadania perpassa no âmbito brasileiro por

vários percalços e de forma conflituosa devido a movimentação das lutas

sociais para a efetivações de direitos básicos. Conforme reflete Freitas:

No Brasil, a construção da cidadania obedece a um caminho peculiar, repleto de sinuosidades, de percalços que impedem a satisfação de demandas sociais represadas e que, de tempos em tempos, conduzem à irrupção de acontecimentos de maior projeção social, cujos objetivos se apresentam aparentemente como renovadores, mas que ocultam, fugazmente, seus desejos restaurados (2008, p.95).

No âmbito brasileiro durante muitos anos a cidadania para efetivação da

garantia de direitos sociais não existiu. Posteriormente, o sistema de proteção

não desenvolveu uma cidadania plena voltada para todos os membros da

sociedade, o que se estabeleceu foi a “cidadania regulada” voltada para

aqueles membros da comunidade que se encontram fixados em ocupações

reconhecidas e definidas por lei.

Segundo Freitas:

A cidadania regulada marginaliza um vasto segmento de trabalhadores, desde aqueles que se encontram desempregados, subempregados, os que trabalham em atividades profissionais não reconhecidas - não importante se o trabalho que executam é regular e estável - até aqueles que se encontram em luta pelo reconhecimento profissional que lhes permitirá a ascensão social para o mundo da cidadania. (2008, p.105)

47

Assim, entendemos que a cidadania não incomodava os representantes

das classes dominantes, devido este cenário apenas assegurar os direitos do

cidadão como trabalhador que está inserido no mercado formal no mundo do

trabalho.

Somente a partir do final dos anos 1970, decorrente das movimentações

sociais semearam na nação brasileira a busca por uma cultura democrática e

emancipatória que se respaldava na intenção de utilizar dos recursos públicos,

movimentar a participação da população no processo decisório das políticas

sociais públicas como resposta para as demandas sociais.

Essas conquistas legítimas apresentam importantes avanços no campo

da cidadania onde se instauram a participação popular, o processo de

democratização do Estado e da sociedade. Contudo, é importante mencionar

que as conquistas obtidas, em sua grande maioria das vezes reduzidas ao

nível da legalidade, apresentam limites acerca do agravamento das condições

de vida da maioria da população, se destaca também sobre a precarização do

trabalho e todas as consequências daí decorrentes.

De acordo com a argumentação de Freitas:

A realidade hoje existente tem levado os trabalhadores cada vez mais a degradação das condições de trabalho, de vida e das relações sociais. Longe de se estender aos trabalhadores, de forma universal, os direitos sociais encontram-se encurralados, sob o impacto do avanço do liberalismo nas relações capital-trabalho e do predomínio da ideia de que o Estado deve abdicar de suas responsabilidades no campo social, transferindo-as para o mercado. (2008, p.109)

É importante ressaltar que em um país onde não se estabeleceu a

construção de um viés de proteção social cuja concepção de cidadania seja

igualitária para todos, nunca ocorrerá uma emancipação de uma dada

sociedade.

No entanto, destacamos que a defesa da política de assistência social

realça a perspectiva de justiça social, da redistributividade e da cidadania que

necessariamente tomam para si uma dimensão estratégica, na perspectiva de

amplificar a capacidade das classes subalternas e consequentemente modificar

os direitos já regulamentados e construir novas possibilidades para a conquista

de políticas sociais universalizantes, para que esta classe se reconheça quanto

sujeito de direito e da construção da sua hegemonia.

48

No tópico a seguir iremos contextualizar a política de assistência social

na atualidade.

3.3 Assistência Social na cena contemporânea: caminhos e descaminhos

A assistência social brasileira passou por várias concepções e formatos,

ao longo de sua história até apresentar o status atual, de caráter

descentralizado e participativo para combater à pobreza.

Essa política é tida atualmente como direito do cidadão e

responsabilidade do Estado em ações que visem a erradicação da pobreza e

das desigualdades sociais.

Todavia, elucidamos que esse modelo de assistência social

contemporâneo advém dos avanços constitucionais no âmbito dos direitos

sociais e dos instrumentos normativos da política de assistência enfatizando a

LOAS que destaca a assistência social como política de Seguridade Social,

estabelece a noção dos mínimos sociais, a conquista da gratuidade dos

serviços e benefícios, co-responsabilização dos três entes federativos quanto

ao desenvolvimento de serviços e repasse de recursos, etc.

Sobre essas conquistas ressaltadas estão estabelecidas na referida lei e

da CF de 1988 que contemplam os direitos sociais “[..] equiparam o Brasil aos

sistemas securitários das sociedades desenvolvidas, o mesmo não se pode

dizer quanto às condições objetivas para a implementá-las (MOTA, 2011, p.

142).

Nesta afirmação da autora entendemos que o Brasil criou um aparato

constitucional assegurado por leis. Assim, visam atingir o reequilíbrio social

afetado e alterado pela dinâmica do mercado, porém, todo esse aparato

estruturado não avança em efetivação no âmbito da prática devido os ditames

do sistema econômico que determina estado mínimo para o social e máximo

para o capital e consequentemente só alimenta as filas da miséria, exploração,

desemprego, exclusão e subalternidade da classe pauperizada.

Contudo, destacamos que se trata de incorporação tardia em um cenário

perceptível de reformas que fomentam a necessidade de ajuste para

49

adequação da Seguridade Social brasileira as condições do modelo político e

econômico burguês que dita os ajustes necessários para satisfação do capital.

Deste modo, percebemos que a Seguridade Social conquistada com

múltiplos esforços pelos movimentos sociais e a classe trabalhadora que se

consolidaram em 1988 nasce como um marco da democracia para a sociedade

brasileira, porém, ocorre a falta de condições objetivas e a precarização para a

sua efetivação decorrente das influências do sistema neoliberal. Sobre essa

concepção, a autora esclarece que:

A premissa da qual partimos é a de que o neoliberalismo, e sua política de ajustes econômicos visando á estabilização, é incompatível com o padrão de política social amplo, universal, de qualidade e gratuito proposto na Constituição Brasileira, de modo que à massa da população brasileira são negados direitos básicos, ainda que formulados na Constituição Cidadã de 1988. (GUERRA, 2010, p.32)

Portanto, com as modificações ocorridas devido a reforma do Estado, se

estabelece um novo direcionamento que respalda a ideia de direitos vigente em

nossa sociedade brasileira, mesmo que ainda esteja em um ponto de vista

formal.

A autora revela sobre a problemática que se perpassa no âmbito do

direito da seguinte forma:

Concomitante ao avanço constitucional do ponto de vista da formalização jurídica dos direitos, amplos segmentos da classe trabalhadora no Brasil e no mundo vivenciam a sua destruição. Há uma investida neoconservadora para, de um lado, considerar direitos como privilégios, e, de outro, destruir os direitos dos seus conteúdos de classes. Ambas as tendências operam um retrocesso sobre a concepção de direitos sociais e o caráter adotado pelo mesmo na Constituição Brasileira de 1988 (GUERRA, 2010, p.32-33).

Contudo, compreendemos que as conquistas legais são passos apenas

em direção a sua efetivação. Portanto, essa concepção delibera para aqueles

que acreditam na transformação social idealizada pelos instrumentos legais

garantirem suas conquistas de forma efetiva, mesmo que estejamos inseridos

em uma lógica que busquem restringir os direitos sociais e o acesso ao

mesmo.

Decorrente de um sistema de ajuste sociais que preserva apenas a

manutenção dos mínimos sociais, visto que esses só atendem as

necessidades básicas da população pauperizada em processo de exclusão e

50

pobreza, o processo de intensificação da mundialização capitalista de

reprodução social afeta diretamente as desigualdades sociais.

Segundo afirmação de Vieira:

Países desenvolvidos asseguram mínimos sociais porque sabem que esta é uma forma de conter o processo de aprofundamento da miséria. A miséria não gera consciência e solidariedade, mas gera mais miséria, irracionalismo, violência e individualismo exacerbado. Ela não cria consciência da miséria, e sim miséria da consciência. (1998, p.19)

Vale ressaltar que as ações do Estado em atender os mínimos sociais da

população pobre não devem se fixar em concepção “minimalista” ancorada no

limiar da sobrevivência, restrita para combater as desigualdades sociais e para

enfretamento da pobreza, mas na perspectiva ampla e cidadã e que se instaura

em um “padrão básico de inclusão”.

Para garantir os “mínimos sociais”, os programas governamentais

brasileiras desenvolvem as políticas públicas de proteção social voltadas

garantir a sobrevivência de sua população de trabalhadores pobres.

Sobre o processo de mercantilizar os serviços sociais de forma que se

desencadeiam as privatizações das políticas públicas, ou seja, o Estado

estabelece saúde para todos, porém, este atendimento é totalmente precário

que obriga o cidadão sujeito de direito a recorrer aos planos particulares para

atendimento de sua necessidade hospitalar devido à rede pública não possui

subsídio para lhe prestar a atenção adequada.

Assim, o trabalhador que não possui carteira assinada mas está inserido

no mercado de trabalho informal, determina que este contribua com a

previdência para que este mesmo trabalhador tenha direito a uma aposentaria.

Quanto ao desempregado, este se torna público de atendimento da assistência

social que o incluirá em algum programa de transferência de renda para este

manter sua subsistência e atinge também a família.

Sobre essas afirmações o autor esclarece que:

[...] a burguesia busca, dentre outros objetivos, transformar o cidadão sujeito de direitos num consumidor; o trabalhador num contribuinte autônomo; o desempregado num beneficiário da assistência social; e a família e as comunidades em células de uma „sociedade solidária, socialmente responsável e cooperativa‟ (MOTA, 2010, p.144).

51

Ainda sobre o avanço da mercantilização e privatização das políticas

públicas de saúde e previdência, a autora Mota ainda acrescenta que a

assistência social tornasse a centralidade da Seguridade Social não possuindo

mais o caráter de mediadora e sim, de um equipamento estruturador da

pobreza, que agora não atendem mais aquele trabalhador inapto para o

trabalho e sim um trabalhador apto para o trabalho, mas devido algum motivo

específico não se insere no mercado de trabalho motivado pela desigualdade

social.

Enquanto avançam a mercantilização e privatização das políticas de saúde e previdência, restringindo o acesso e os benefícios que lhe são próprios, a assistência social se amplia, na condição de política não contributiva, transformando-se num novo fetiche de enfrentamento à desigualdade social, na medida em que se transforma no principal mecanismo de proteção social no Brasil. (MOTA, 2010,p.134).

Neste sentido, o debate dos programas de transferência de renda

surgem em 1990 com a implementação da LOAS e deram subsídio para a

ampliação da discussão acerca de políticas e programas de transferência de

renda nas políticas de assistência social13.Estrutura-se um novo segmento de

forma que “ao focalizar os segmentos mais pobres da sociedade, imprime outro

desenho à política de Assistência Social, principalmente porque na expansão

tiveram centralidade os programas de transferência de renda (MOTA, 2010,

p.134)”.

O público alvo dessa iniciativa são famílias em situação de pobreza ou

extrema pobreza e com renda familiar inferior a ¼ do salário mínimo. Essa

população das camadas carentes da sociedade passa a ser o foco e a

prioridade dessas políticas para estabelecer a garantia de direitos, sendo esta a

realidade contemporânea.

Permanecendo na mesma lógica de transferência de renda da LOAS,

posteriormente, em 15 de outubro 2004, por meio da Resolução nº 145 do

Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), é reconhecida a Política

Nacional de Assistência Social (PNAS) com a proposta de surgimento do

Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e, no mês de julho de 2005, foi

13

O que ocasionou o surgimento de programas como Benefício de Prestação Continuada (BPC), o Programa de Erradificação da pobreza (PETI), Bolsa Família, Programa Agente Jovem, Programa Bolsa Alimentação, Auxílio Gás, Programa Cartão-Alimentação, entre outras.

52

estabelecida uma Norma Operacional Básica para detalhar as premissas do

Sistema Único de Assistência Social – NOB/SUAS.

A Política Nacional de Assistência Social ora aprovada expressa exatamente a materialidade do conteúdo da Assistência Social como um pilar do Sistema de Proteção Social Brasileiro no âmbito da Seguridade Social. Este é um momento histórico e assim devemos concebê-lo, ensejando todos os esforços na operacionalização desta política. Trata-se, portanto, de transformar em ações diretas os pressupostos da Constituição Federal de 1988 e da LOAS, por meio de definições, de princípios e de diretrizes que nortearão sua implementação, cumprimento uma urgente, necessária e nova agenda para a cidadania no Brasil( BRASIL, 2005, p.11-12).

Ainda sobre a PNAS é inegável que este instrumento nasce de um

processo histórico e coletivo sobre o qual legitima a Assistência Social com

uma política de direito que possui seus olhares voltados para inclusão social,

portanto, no âmbito que se destaca o SUAS “[...] já está implementado em 99%

dos municípios brasileiros e a lei que rege (Lei nº 12.435/2011) [...] e inclui a

prestação de serviços, programas, projetos e benefícios especialmente para a

população em situação de vulnerabilidade (BORGES, 2012, p.108)”.

Contudo, vale salientar que o crescimento da pobreza e das

desigualdades sociais no âmbito nacional, ainda representa uma assistência

social que está vivendo no campo das promessas mesmo com os avanços

legais conquistados.

No tópico abaixo iremos destacar sobre um fenômeno mundial que

tornou se um dos principais públicos alvos da assistência social devido às

expressões sociais que estão expostos essa categoria etária.

3.4 Aspectos gerais sobre a velhice e envelhecimento: conceitos básicos

para se compreender o fenômeno no Brasil

O processo natural do envelhecimento é dado especificamente como

fenômeno mundial decorrente do aumento da longevidade, enfrentado em todo

o mundo. Configura-se em um acontecimento real e de conhecimento público.

Este fenômeno vem se manifestando de maneira diferente em diversos países

do mundo.

53

A população mundial está envelhecendo em um ritmo muito acentuado e sem precedentes na história da humanidade. Estima-se que a população mundial de idosos seja de 629 milhões de pessoas com crescimento anual na faixa de 2%, ritmo esse consideravelmente mais alto em relação ao resto da população e três vezes mais do que há 50 anos (BERZINS, 2003, p.22)

Contudo, observamos que o aumento na estimativa de vida da

população é um acontecimento que traz consigo novas configurações da

realidade, mas também elenca importantes repercussões na estrutura social,

econômica, política e cultural da sociedade.

Segundo Giacomin,

O fenômeno do envelhecimento é complexo e multifacetado, abrangendo as dimensões biológicas, psicológicas, sociais, demográficas, jurídicas, políticas, éticas, filosóficas, em torno do significado e das repercussões do prolongamento da vida humana, no âmbito do individuo e da sociedade (2012, p.19).

O processo do envelhecimento populacional demanda um horizonte de

preocupações voltadas para essa fase da vida que requer medidas efetivas

para assegurar os direitos e consequentemente que busquem preparar a

sociedade para um envelhecer com dignidade, de forma que traga à luz

reflexões que motivem a velhice como uma fase natural e desejável da vida.

No Brasil, um país considerado em desenvolvimento, esse fenômeno

surge como um grande desafio, pois, exige modificações necessárias para

atender as demandas dessa população idosa que cresce gradativamente.

Segundo dados do IBGE a projeção para o envelhecimento populacional de

1980/2050 se estabelece sobre o seguinte percentual:

54

Evolução do índice envelhecimento da população – Brasil – 1980 /

2050

Diante dos indicativos do gráfico acima, percebemos que o crescimento

populacional evolui ao longo dos anos, fruto das mudanças na sociedade

principalmente na área da saúde da população, proporcionando uma melhor

qualidade de vida e consequentemente o aumento da longevidade.

Esse fenômeno do crescimento da população já comprovado ao longo

dos anos e projeções futuras representa uma conquista para o Estado

brasileiro e para a sociedade, contudo, o nível de conscientização de como

tratar esse público ainda está longe de alcançar o real valor que este merece.

O que se propaga é uma elevação dos valores da juventude e do

consumo e se estigmatiza a velhice quase sempre “como um processo

degenerativo, oposto a qualquer progresso, como se nessa etapa da vida

deixasse de existir o potencial do desenvolvimento humano” (PASCHOAL,

2007, p. 13).

O reconhecimento da velhice na sociedade brasileira está presente em

um discurso que insiste em escondê-la como futuro potencial que atinge todos

os segmentos populacionais, de todas as camadas sociais, independente de

sua posição social ou etnia.

Entretanto, a imagem que se construiu ao longo do tempo é que essa

etapa da vida, é denominado sobre “o estereótipo tradicional da velhice é o de

55

pessoas doentes, incapazes, dependentes, demenciadas, rabugentas,

impotentes, um problema e ônus para a sociedade” (PASCHOAL, 2007, p. 13).

Diante dessa afirmação, percebemos que essa fase da vida está

internalizada pela sociedade e Estado brasileiro por uma concepção

preconceituosa, estigmatizada e excludente. Na perspectiva de Mercadante,

revela que “essa visão da velhice é geradora de representações sociais que a

homogeneízam, podendo desenvolver atitude discriminatória em relação ao

segmento idoso. A discriminação presente nos olhares e atitudes manifesta-se

nas diversas esferas da vida social” (2007, p.16).

Queremos ressaltar que estamos diante de dois vieses que cercam os

avanços da longevidade, que se configura, por um lado, como uma conquista

da humanidade, de outro lado, se apresenta como um problema, com enorme

demanda para a sociedade, exemplificando a aposentaria, a epidemia de

doenças crônicas e consequentemente suas sequelas e complicações, a

necessidade de atender a oferta aumentada de serviços sociais e de saúde e

também a necessidade de cuidados que requerem uma longa duração e

acompanhamento e dentre outros.

Os principais determinantes sociais que atingem os idosos em situação

de risco decorrentes das desigualdades sociais e econômicas que cercam o

país se destacam se: o alto nível de analfabetismo, maus tratos, violação de

direitos, negligência, violência que “vivemos em um mundo onde impera a

violência, produto de uma crise geral, política, social e econômica que afeta

todos os setores da vida social (ARANEDA, 2007, p.21)”.

Diante desta indagação percebemos que uma parcela significativa dessa

violência está voltada para a pessoa idosa, que estão inseridos nas camadas

mais vulneráveis da população em detrimento ao sistema excludente do capital

que marginaliza a vida social e os coloca em uma condição sub-humana para a

sua manutenção da vida.

Segundo a autora Araneda,

A ênfase na proteção dos direitos humanos das pessoas idosas deve superar as desvantagens existentes e evitar que perpetuem as discriminações e as situações de inferioridade dadas socialmente e culturalmente aos idosos. (2007, p. 21).

56

Portanto, em detrimento ao crescimento da população idosa e das

expressões sociais que atinge a terceira idade, tornou-se necessária a

regulamentação de medidas de proteção através de instrumentos normativos

que iremos prestar maiores esclarecimento no tópico a seguir que trata dos

avanços voltados para a pessoa idosa.

3.5 Políticas de proteção ao idoso no Brasil

3.5.1 Instrumentos normativos para a pessoa idosa no Brasil: Política Nacional

do Idoso no Brasil e Estatuto do Idoso

Decorrente desse rápido e acentuado crescimento populacional

brasileiro, surge no horizonte a necessidade de maior articulação de políticas

assistenciais destinadas à pessoa idosa na busca pela efetividade dos direitos

necessários que este público assegurado por lei, visando o envelhecimento

saudável e lhe proporcione uma maior qualidade de vida.

O Brasil não é mais um país de jovens. É um país com muitos jovens que envelhecem rápida e drasticamente. O envelhecimento populacional, num cenário socioeconômico desfavorável, acarretou o comparecimento desse fenômeno nas agendas das políticas públicas como um desafio a ser enfrentado, somando-se a uma lista de outras mazelas, tais como: a pobreza, a exclusão, a violência, que se entrecruzam potencializando-se (PRADO, 2012, p.69).

Queremos elucidar que diante deste cenário de enfrentamento das

mazelas sociais para a pessoa idosa, se estabeleceram como resposta as

conquistas das seguintes legislações: Constituição Federativa do Brasil de

1988, Política Nacional do Idoso de 1994 e posteriormente Estatuto do Idoso

de 2003.

A Constituição Federal de 1988 expressa avanços significativos na

concepção de direitos do idoso visíveis em vários capítulos da CF, sobre esse

marco que ampara o idoso, Faleiros esclarece que:

“[...] considerando-se a mudança de paradigma do idoso assistido para o idoso ativo, do idoso improdutivo excluído do mercado de trabalho para o idoso como sujeito de direitos como pessoa envelhecente, de idoso cuidado exclusivamente na família para o idoso protegido pelo Estado e pela sociedade, do idoso marginalizado para o idoso participante. (FALEIROS, 2012,p. 58)

57

Sobre esses direitos, eles estão disponíveis nos capítulos da

assistência, da família, do trabalho e da previdência em todos esses capítulos

se faz presente as regulamentações que são direcionadas especificamente

para esse público.

Posteriormente, surge no ano de 1994 a Política Nacional do Idoso14 que

tem por objetivo estabelecido no Art.1º- assegurar os direitos sociais ao idoso,

criando condições para promover sua autonomia, integração e participação

efetiva na sociedade (BRASIL,1994).

Essa dada política define as responsabilidades da família, sociedade e

Estado no artigo 3º que são as seguintes competências:

I- A família, a sociedade e o Estado tem o dever de assegurar ao idoso todos os direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem estar e o direito a vida; II- O processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, devendo ser objeto de conhecimento e informação para todos; III- O idoso não pode sofrer discriminação de qualquer natureza; IV- O idoso deve ser o principal agente e o destinatário das informações a serem efetivadas através da política; V- As diferenças econômicas, sociais, regionais e particularmente as condições entre o meio rural e urbano deverão ser observadas pelos poderes públicos e pela sociedade em geral na aplicação desta lei. (POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO,1994).

A Política Nacional do Idoso ainda é bastante desconhecida e seus

objetivos acima ressaltados no cenário contemporâneo não se atingiram essa

amplitude de garantia aos direitos da pessoa idosa.

Assim, ainda falando sobre as conquistas legais, por fim ressaltamos o

surgimento de outro instrumento legal específico para legitimação dos direitos

da pessoa idosa, em 2003, o Estatuto do Idoso15 que tem como objetivo

legitimar os direitos sociais voltados para o idoso. Segundo Prado:

O Estatuto do Idoso versa sobre diversas áreas dos direitos fundamentais e das necessidades de proteção dos idosos. Institui, dentre outras, que os idosos não poderão ser vítimas de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão. Está previsto também que, para a pessoa a partir de sessenta anos, há prioridade no atendimento prestado pelo Sistema Único de Saúde e o acesso a medicamentos sem custo. A lei prevê ainda o direito a um salário mínimo a partir de 65 anos, ou seja, dois anos a menos do que já estava estabelecido, a todos em situação de carência comprovada. O

14

Lei nº 8.842/94 15

Lei nº 10.741

58

critério de carência comprovada é o instituído na LOAS, ou seja, ¼ do salário mínimo de renda per capita [..] Está previsto também o direito a transporte coletivo gratuito a partir dos sessenta e cinco anos, bem como o desconto de pelo menos 50% em atividade culturais, esportivos e de lazer (2012, p.91).

O Estatuto do Idoso é um dos dispositivos mais completos é sem

dúvidas um aparato essencial que revela um caráter protetivo no que rege os

direitos fundamentais da pessoa idosa, direitos esses a um passe gratuito no

transporte coletivo, mas não temos um transporte público de qualidade que

promova sua locomoção com eficiência, segurança e igualdade diante dos

demais é comum presenciar a falta de respeito a esse segmento etário dentro

dos coletivos.

Assim, se fala também em atendimento médico prioritário, porém,

vivenciamos o cenário de idosos em fila de espera do SUS que aguardam

atendimento, no caso de violência contra o idoso prevê penalidades que vai de

detenção a pagamento de multas, porém, nos deparamos com a impunidade e

estabelece a garantia de renda para aquele idoso em estado de risco social, no

entanto esse idoso quanto cidadão precisa comprova seu estado de

miserabilidade e da sua família para a concessão deste beneficio sobre esse

beneficio no próximo tópico nos deteremos em discutir aprofundamento, porém,

o que percebemos é que o idoso sofre formas de violação mesmo com todo

esse aparato legal.

É importante esclarecemos também que a concepção de idoso se

estabelece com a idade igual ou superior aos sessenta anos, porém, o direito

de acesso à gratuidade no transporte coletivo e a concessão do beneficio de

prestação continuada só é possível ser adquirido pelos idosos a partir dos

sessenta e cinco anos.

Em síntese, a emergência dos direitos sociais para as pessoas idosas é

denominada como um processo histórico que se fundamenta nas relações de

força que esta internalizada em uma dada estrutura/conjuntura histórica.

Deste modo, é incontestável que houveram avanços na condição dos

direitos que atendem essa camada da sociedade que cresce expressivamente

a cada dia e que necessita de atenção do Estado, família e da sociedade para

a promoção de um envelhecer ativo, digno e saudável.

59

O aparato legal que foi construído ao longo da história através das

legislações acima explanadas, fruto de reivindicações e de demandas, é

preciso ser colocado em prática agora para que assim possamos atingir a

concepção de uma sociedade igualitária de direitos para todos.

3.5.2 O Benefício de Prestação Continuada para idoso: análise de sua

perspectiva de direito

O primeiro benefício de transferência de renda brasileiro destinado à

pobreza foi denominado de Renda Mensal Vitalícia (RMV). Foi criada em 1974,

era regulamentada pela lei nº 6.179, que estabelecia o seguinte perfil para a

concessão da renda tinha que ser: cidadãos maiores de setenta anos ou

inválidos e que não exerciam atividades remuneradas, o sustento de suas

necessidades básicas não eram mantidos por suas famílias, não aferiam

quaisquer rendimentos, mas são contribuintes para a Previdência Social com

tempo mínimo de contribuição de doze meses.

Esse direito foi remodelado pela Constituição Federal de 1988 na qual

se instaurou o Benefício de Prestação Continuada BPC como sendo de caráter

não contributivo. Este corresponde à garantia de um salário mínimo mensal

para idoso, inicialmente este deveria ter idade igual ou superior a 70 anos,

porém, devido a muitas pressões que buscavam a redução da idade mínima

atinge-se a marca de 67 anos, mas foi apenas com a vigência do Estatuto do

Idoso que alterou para o formato atual de 65 anos a idade mínima para a

concessão do benefício e a pessoa deficiente em qualquer idade, que não

possui meios de promover sua subsistência ou de tê-la promovida por sua

família, devendo a renda família per capita mensal ser calculada na expectativa

inferior a ¼ do salário mínimo, ou seja, esteja em uma condição desprovida de

meios e oportunidades de acesso aos mecanismos mais indispensáveis a uma

vida digna.

Assim, o BPC surge como um direito constituído pela transferência de

renda custeado pelo Governo Federal e assegurado por lei, que determina o

acesso de idosos e pessoas com deficiência de qualquer idade aos meios de

condições mínimas que respaldem uma vida digna. O beneficio é de caráter

60

não contributivo e acessível a todos que dele necessitarem mediante

comprovação de sua condição socioeconômica.

No ponto de vista jurídico, foi previsto pela Constituição de 1988 e

regulamentada no ano de 1993 pela LOAS (Lei nº 8.742 de 1993),

complementada e retificada pelo Decreto Federal (nº 1.744 de 1995), pela

medida provisória (nº1.426 de 1996), e posteriormente (Lei nº 9.720 de 1998).

Vale ressaltar que embora a criação tenha sido constituída em 1988, essa lei só

foi efetivada parcialmente no ano de 1996, ou seja, sua implementação só

ocorreu oito anos depois da determinação prevista na CF.

Segundo Sposati:

[...] a introdução do BPC ganhou força mais como um mecanismo para afiançar o caráter contribuído previdenciário. Até então, era realizado o pagamento da renda mensal vitalícia, cujo caráter contributivo era quase simbólico aos cofres da Previdência [...] (SPOSATI, 2008, p.127).

Deste modo, muitos desses beneficiários conseguem fixar um espaço

em nossa sociedade excludente mesmo que seja apenas para atender

minimamente as suas necessidades básicas.

Segundo essa autora, esta esclarece que:

O BPC é um mínimo social enquanto se constitui em um dispositivo de proteção social destinado a garantir, mediante prestações mensais, um valor básico de renda às pessoas que não possuem condições de obtê-la de forma suficiente por meio de suas atividades atuais ou anteriores (2008, p.126).

Quanto a sua operacionalização, sua coordenação geral é realizada pelo

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) que fornece o

financiamento e os recursos por meio do Fundo Nacional de Assistência Social

(FNAS). Este beneficio social é totalmente financiado pela União que tem como

recurso proveniente, principalmente da contribuição destinada ao

financiamento da Seguridade Social (COFINS) e do Fundo de Combate e

Erradificação da Pobreza, de forma que “a ausência de prévia contribuição (ou

independência de contribuição prévia em pecúnia) insere o BPC no campo da

responsabilidade pública e social para o alcance de um direito de cidadania

SPOSATI, 2008, p.130)”.

61

Apesar de ser um benefício assistencial, a operacionalização do BPC

fica a cargo do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Assim, o INSS fica

responsável pelo processo de concessão do benefício, revisão e pagamento

dos benefícios, mediante o repasse de verbas efetuado pelo FNAS.

No entanto, é importante esclarecermos que o BPC é um direito mesmo

que este seja nomeado um mínimo social não contributivo e

constitucionalmente garantido aos idosos e deficientes de qualquer idade.

Assim, percebemos que o Benefício de Prestação Continuada se

caracteriza em dois vieses que se unem e se separam ao mesmo tempo. Por

um lado, assegura a perspectiva do direito, porém, em contra partida

estabelece uma proporção quando esse dado direito se reveste de mecanismo

de acesso a determinado bem pelo grau de carência, ou seja, seletividade

daquele que solicita e não se analisa pela condição de ser um cidadão.

Portanto, analisamos que existe uma necessidade de revisão sobre a

dimensão do direito, pois o BPC é um direito constitucionalmente assegurado,

porém, seu usuário é desprovido de outros direitos públicos complementares

ao BPC. Sobre essa afirmação, a autora esclarece sobre seletividade adotada

para a concessão do benefício.

O critério seletivo adotado internamente pelas agências do INSS para a operação do BPC termina por diluir o caráter universal constitucionalmente estabelecido, para ressubmetê-lo a novas formas de regulação [...]. Estes procedimentos restritivos terminam por retroceder o avanço constitucional que o colocam como direito de seguridade (SPOSATI, 2008, p.126).

Vale ressaltar que a concepção de direito se configura em um cenário

que está diretamente subordinada ao desenvolvimento econômico “essa lógica

o impulsiona a reproduzir-se numa direção cada vez mais perversa e

desumana (TONET, 2009, p.111)”, que estabelece limitações a exercer, quando

muito, um viés instituído compensatório, de forma que mantém uma subclasse

constituída por pobres e indigentes que não permite a essa determinada classe

uma ascensão social.

Diante dessa classificação, Tonet esclarece que:

Miséria, pobreza, fome desnutrição, subnutrição e todo o cortejo de horrores - gerado pela falta de acesso (em quantidade e qualidade adequadas) aos bens materiais necessários à manutenção de uma vida digna - acompanham essa situação. Populações inteiras são submetidas às condições de vida mais degradantes e praticamente descartadas como supérfluas, pois o capital não pode incluí-las no

62

seu processo de reprodução. Milhões de pessoas são obrigadas a viver em condições subumanas porque não têm acesso ou têm um acesso precaríssimo à alimentação, à saúde, à habitação ao vestuário, ao saneamento, ao transporte, etc. (2009, p.111).

Atualmente, o Brasil encontra-se em processo de desenvolvimento à

custa da expansão do sistema neoliberal marcadas pela extrema concentração

de renda e altos níveis de desigualdade social.

Entendemos que os programas de transferências de renda tendem a

promover uma transformação para o combate à pobreza fruto do sistema

econômico que marginaliza o campo do direito.

De acordo com MOTA:

Os impactos econômico-sociais gerados nas famílias atendidas, assim como nos municípios, sinalizam os contornos da referida centralidade que vem adquirindo a Assistência Social. É sabido que, na maioria dos casos, os benefícios pagos pela política de assistência social, através dos programas de transferência de renda, acabam assumindo um importante peso na renda, quando não, a única fonte de renda das muitas famílias nas localidades mais longínquas do Brasil. (2010, p.154).

Sobre essa reflexão esclarecemos que com a concessão do benefício ao

idoso e deficiente em muitos casos é realmente a única fonte de renda que a

família possui para garantir seu sustento, promover impactos principalmente no

acesso a bens e serviços no circuito de compra e venda de produtos para sua

sobrevivência.

Um aspecto importante é que esse repasse financeiro promove a

sustentabilidade da economia de pequenos municípios como renda estruturada

das famílias para consumo e subsistência, e não mais a renda contributiva do

trabalhador. Este cenário se expressa em pequenos municípios e nos mais

pobres que os beneficiários estão com o poder de consumo para circular a

economia daquela região.

Contudo, entendemos que o BPC surge como uma resposta para a

proteção dos indivíduos em situação de vulnerabilidade social como é o caso

do idoso pobre e deficiente que depende do Estado para ter a garantia de uma

subsistência minimamente digna.

De acordo com Faleiros: “a inclusão dos idosos na proteção social é

uma condição da coesão social, não só intergeracional, mas também de

63

redução da pobreza na velhice hoje, para o setor progressista, de efetivação

dos direitos humanos (2012, p.49)”.

Neste sentido, compreendemos que a disponibilidade do benefício para

os idosos e deficientes pobres se inscreve numa perspectiva de grande avanço

no âmbito da promoção social, porém, devido ao critério de elegibilidade, torna-

se um desafio para os usuários da política de assistência social conseguir esse

direito.

Face ao exposto, no tópico IV, apresentaremos os dados coletados no

processo de investigação com nossos (as) interlocutores (as) da pesquisa que

são os(as) idosos(as) do Cras Bela Vista.

64

4. UM ESTUDO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE O BPC E O TRABALHO

SOCIAL COM OS IDOSOS ATENDIDOS NO CRAS BELA VISTA EM

FORTALEZA-CE

4.1 A Política de Assistência Social em Fortaleza – Ce

Analisando contextualmente a assistência social em Fortaleza,

percebemos que esta se reproduziu de maneira não muito diferenciada do

âmbito nacional. Suas ações tinham direcionamentos que se respaldavam na

concepção da “ajuda/favor” e perpetuava o viés clientelista e assistencialista.

As respostas às expressões da questão social eram de responsabilidade de um trabalho movido por solidariedade e benemerência realizadas por uma de organizações filantrópicas da sociedade civil em instituições, muitas vezes, atreladas a igrejas de diferentes credos, como as Santas Casas de Misericórdia (SILVA, 2011, p.33).

Essa direção se perpetua por longas datas neste município com a

primeira tentativa de mudança administrativa, quando se estabelece a reforma

administrativa de 1996, que tinha como órgão gestor da política, a Fundação de

Serviço Social ainda com compreensão da política com viés muito fechado.

Pela pressão iniciada por profissionais, usuários e consecutivamente

representantes da sociedade civil sobre pressões políticas no ano de 1998,

surge a Coordenadoria de Assistência Social que estava vinculada à Secretaria

Municipal de Desenvolvimento Social (SMDS).

Com o decorrente de alguns anos mais especificamente em 2001, a

SMDS foi extinta, que deu espaço para o surgimento da Secretaria Municipal

de Educação e Assistência Social (SEDAS) a qual também se agregou a uma

dada Coordenadoria que se nomeava Coordenadoria de Políticas Públicas de

Assistência Social (CASSI) que naquele momento realizava a gestão da

política de assistência social.

Esta perdurou até junho de 2007, quando ocorre a implantação da

Secretaria Municipal de Assistência Social – SEMAS16 a qual trouxe um novo

modelo de gestão municipal, acompanhando a tendência nacional, a partir da

16

Lei complementar nº 0039/07.

65

implementação do SUAS, buscando atender as condições previstas na Política

Nacional de Assistência Social (PNAS) e a NOB-SUAS/2005.

Segundo as autoras Azevedo & Oliveira:

Compete a SEMAS formular e executar serviços, programas, projetos e benefícios, além de elaborar diretrizes gerais e identificar prioridades que deverão nortear suas ações, visando ao desenvolvimento social e a melhoria das condições de vida da população em situação de pobreza, vulnerabilidade e risco social (2012, p. 89).

A SEMAS era composta por coordenações que se estruturam na direção

da PNAS. Subdividia-se em Gestão do Sistema Único da Assistência Social;

Proteção Social Básica; Proteção Social Especial; Cadastro Único e Programa

Bolsa Família e Coordenadoria Administrativo-Financeiro. O Fundo Municipal

de Assistência Social encontrava-se no mesmo endereço, mas dotava de

autonomia administrativa e de gestão.

No âmbito da Proteção Básica, os programas, projetos, serviços e

benefícios da Atenção Básica são desenvolvidos prioritariamente no

equipamento social denominando Centro de Referência de Assistência Social

(CRAS) - dentre eles, o CRAS Bela Vista lócus de investigação dessa

pesquisa. Todos estes são localizados em diferentes territórios que totalizam 23

Centros do CRAS fixos e apenas um na modalidade Itinerante17 que tem a

perspectiva de levar atendimento especializado para as áreas onde não há

cobertura dos fixos.

Até o fim da gestão em 2012, as ações realizadas nestes equipamentos

eram: Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF); Serviço de

Convivência e Fortalecimento de Vínculos subdividido em: Crianças e

Adolescentes Advindas do Trabalho Infantil e/ou crianças de 0 a 15;

Adolescente de 15 a 17 anos, e idosos com idade igual ou superior a 60 anos.

Além desses dois serviços, também desenvolve ações de Concessão de

Benefícios Eventuais; Gestão do Programa Bolsa Família; Cadastramento

17

Criado em 2011, no município de Fortaleza, a modalidade CRAS Itinerante é uma unidade móvel que atende famílias ou pessoas em situação de pobreza e vulnerabilidade social, oferecendo os serviços socioassistenciais de Proteção Social Básica nas comunidades que ainda não possuem um CRAS próximo de suas casas (AZEVEDO & OLIVEIRA, 2012, p.90).

66

Único; Ações de Segurança Alimentar e Nutricional; Projetos de Inclusão

Produtiva para Mulheres; e Núcleos de Participação Popular (NUPPs).

No que se refere ao atendimento da Proteção Social Especial, também

até o fim de 2012, foram criadas 06 unidades especializadas, de forma que

houve uma estruturação e implantação da seguinte forma: três Centros de

Referência Especializados da Assistência Social (CREAS), um Centro voltado

para a População de Rua – CREAS POP; um Espaço de Acolhimento Noturno-

EAN para população de rua e, por fim, uma Casa de Passagem.

Contudo, a SEMAS manteve a estrutura até 2012, quando ocorreu uma

mudança de gestão administrativa do município, havendo alteração de sua

nomenclatura para Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social de

Combate à Fome (SETRA), e agregando assim dois eixos a essa estrutura,

sendo eles: Políticas de Trabalho e Segurança Alimentar que juntamente com a

assistência social vinculou as ações para geração de trabalho, emprego, renda,

cursos profissionalizantes e técnicos, com direcionamento voltado para o

público inserido em programas sociais.

Atualmente, a SETRA permanece sem maiores mudanças nas ações

metodológicas dos serviços prestados à população em vulnerabilidade social,

os CRAS continuaram desenvolvendo os mesmos programas, projetos e

serviços, tendo apenas sido suprimido o projeto de Inclusão Produtiva que se

encerrou ainda na gestão anterior, e os Núcleos de Participação Popular

(NUPs) que se deu na atual gestão.

A gestão da SETRA implantou mais equipamento de atenção básica,

pois se constata atualmente o total de 26 CRAS18 fixos, sendo um na condição

de itinerante.

Esclarecemos também que no âmbito da Proteção Social Especial sobre

a gestão da SETRA, ocorre a inauguração de novos centros para a Atenção

Especial que totalizam 06 unidades do CREAS, mais um Centro voltado para a

População de Rua inaugurada em 2013 que somam atualmente dois - CREAS

POP e, por fim, continua com uma casa de passagem.

18

Conforme dados disponíveis no endereço: http://www.fortaleza.ce.gov.br/setra/equipamentos-0

67

No entanto, as unidades de atendimento permanecem com o mesmo

formato anterior dos centros especializados CREAS sem ocorrer alterações na

nomenclatura e nem de ordem metodológica.

Diante destes aspectos elucidados realizamos essa breve análise de

conjuntura para demonstrar o contexto histórico da política municipal de

Assistência Social em Fortaleza-Ce até o surgimento dos seus equipamentos

sociais, para que possamos compreender o processo histórico vivenciado e

como se estrutura atualmente as ações para efetivação dessa política de

direito.

Relacionando ao Benefício de Prestação Continuada, de forma geral, é

dever do Cras mapear e identificar todos os idosos e deficientes com perfis

socioeconômicos deste benefício e encaminhá-lo para o INSS para garantir

este direito. Deve está para além só da transferência de renda, este

beneficiário e seus familiares devem ser inseridos em todas as atividades do

Cras como PAIF e SCFV de forma a dar integralidade às demandas destes

usuários, e inclusive acionar a rede de Proteção Social no caso de situações

que exijam a intervenção de outras políticas sociais.

Veremos abaixo, as peculiaridades do Cras Bela Vista e quais suas

principais ações e serviços.

4.2 O Centro de Referência da Assistência Social – Cras Bela Vista

Este equipamento social tem seu surgimento firmado em 1º de abril de

2008, e está localizado atualmente no Centro da Cidadania Conselheiro José

Batista de Oliveira, em um espaço cedido para seu funcionamento, situado na

rua Mário de Andrade, S/N- Bela Vista pertencente a Secretaria Executiva

Regional III - SER III.

Contudo, vale mencionar que anteriormente o equipamento referenciava

oito bairros: Amadeu Furtado, Bela Vista, Pici, Padre Andrade, Presidente

Kennedy, Parque Araxá, Parquelândia e Rodolfo Teófilo, porém, em decorrente

da inauguração de novos CRAS ocorre uma reestruturação nos territórios de

abrangência desse equipamento que acaba reduzindo o número de bairros

referenciados por este equipamento. Atualmente, o CRAS Bela Vista referencia

68

seis bairros: Amadeu Furtado, Bela Vista, Pici, Parque Araxá, Parquelândia e

Rodolfo Teófilo.

Segundo informações coletadas em pesquisa de campo, no que se

refere à estrutura física do local, mesmo que este equipamento social esteja

ativo dentro do Centro da Cidadania Conselheiro José Batista de Oliveira. Este

dispõe de cinco salas de uso exclusivo do CRAS que funcionam sobre a

seguinte divisão: uma sala administrativa para todos os técnicos, cadastro

único, atendimento de escuta, sala dos educadores e almoxarifado. Portanto,

além destes já citados conta-se com mais duas salas exclusivas para as

atividades de grupos.

Além deste formado que se estrutura, os usuários também contam com

a estrutura do Centro da Cidadania, como: cozinha, bebedouro, banheiros

femininos e masculinos e adaptados para pessoas com deficiência e vias de

acessibilidade facilitada.

Em detrimento da seleção pública realizada pela Prefeitura Municipal de

Fortaleza realizada no primeiro semestre de 2014, para a contratação de

profissionais que comporiam as equipes de referência da assistência social dos

CRAS, CREAS e Centro Pop. Esses novos profissionais foram contratados por

meio de seleção pública com um prazo de prestação de serviço durante um

ano podendo ser prorrogado por mais um ano, porém, esses cargos ainda não

foram todos preenchidos afetando diretamente a prestação dos serviços para

os usuários.

Com a espera pela lotação dos cargos conquistados, a equipe do

CRAS Bela Vista está atualmente, com as profissionais, composta da seguinte

forma: uma assistente social, uma psicóloga, uma terapeuta ocupacional, três

educadoras, uma facilitadora de arte, um apoio administrativo, um para

serviços gerais, um manipulador de alimentos e 05 cadastradores. No

momento estão faltando duas assistentes sociais e a nomeação de um

coordenador que ainda não teve seu cargo preenchido.

O público-alvo desse equipamento social são as pessoas ou famílias

que estejam em risco social e pobreza, porém, que ainda não estão com os

vínculos rompidos, no entanto a rede visa atender e acompanha através de

69

ações socioassistenciais para que não ocorra rompimento de vínculo no seio

da família.

Segundo informações de campo, são atendidos em média no CRAS, de

dois a três mil usuários com as mais diversas demandas: espontânea,

encaminhadas ou busca ativa em destaque mencionamos: inscrição no bolsa

família, informações, solicitação de cadastro único, família em descumprimento

do bolsa família, solicitação de benefício eventual, inserção nos grupos

referenciados pelo equipamento, encaminhamento para outros serviços da

rede socioassistenciais e etc.

No que compete os serviços ofertados no equipamento social

ressaltamos o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF),

que é feito atendimento direto a família que sendo a autora Borges esclarece

que as principais ações do PAIF são:

Acolhida (Recepção no CRAS, Entrevista, Visita Domiciliar, Acompanhamento Familiar, Grupos de Famílias, Atendimento Particularizado, Atendimento Particularizado Domiciliar). É também atividades Coletivas/ Comunitárias (Reunião de Planejamento, Palestras, Campanhas Socioeducativas, Eventos Comunitários, Encaminhamentos, Encaminhamentos com acompanhamento para Benefícios e serviços socioassistenciais ou para as demais políticas setorais) (2012,p. 113).

Sobre o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculo, esse

desenvolve atividades por grupos etários que se dividem da seguinte forma:

dois grupos para crianças de 06 a 09 anos, dois grupos para crianças de 10 a

13 anos, dois grupos para adolescentes de 14 a 17 anos e três grupos de

idosos que apenas um funciona no próprio CRAS, outro funciona no Centro da

Cidadania Aloísio Ximenes, localizado na Parquelândia e, por fim, o último

grupo desenvolve suas atividades no Centro da Cidadania César Cals,situado

no Pici. Esse grupo tem mais idosos beneficiários do BPC e segundo o

diagnóstico Sócio-territorial dos Cras de Fortaleza, este bairro se destacam os

termos de “vulnerabilidade social acentuada, populosidade e baixo IDH (2012,

p.169)”.

Além desses grupos o CRAS conta com uma unidade do Cadastro Único

que tem suas atribuições voltadas para a realização do cadastramento dos

usuários, atualização do cadastro recursos, emissão de declaração de NIS,

70

informações à população dentre outros aspectos que estão voltados para o

cadastro único.

No tópico a seguir será feito um resgate histórico sobre a comunidade.

4.3 A história da comunidade Bela Vista

O bairro Bela Vista era um lugar privilegiado que possuía um cenário de

muitas cores, motivo pelo qual se deu a origem do nome Bela Vista e este

também faz limite com os seguintes bairros: Pici, Amadeu Furtado, Rodolfo

Teófilo e Pan Americano.

A trajetória histórica dessa comunidade começa a ser inscrita a partir de

1937, quando foi construída uma Capela de Nossa Senhora de Salete, sobre a

direção de padres holandeses.

Em se tratando do histórico do bairro, segundo Diagnóstico

Socioterritoriais dos CRAS de Fortaleza:

Documentos históricos registram que o local “era uma faixa de terra esquecida e abandonada da capital”. A partir da década de 1950, o bairro começa a se desenvolver através das mercearias que iam surgindo nas suas esquinas. A beleza da área fez com que ela fosse habitada rapidamente (2012, p.167).

Nesta localidade tem gênese uma das maiores manifestações culturais

de Fortaleza está se revela como: Escola de Samba Tradição da Bela Vista,

Cordão de Trevo Vampiros da Princesa, Grupo de Maracatu Baóba e a

quadrilha Gipão, que teve sua fundação efetivada em junho de 1973.

Também são símbolo de referência no bairro o Mercado Belo Vista e a

Igreja de Salete que esta dada paróquia desenvolve atividades de trabalhos

sociais na comunidade. Nesta localidade não existe apenas a presença da

igreja católica, mas também possui várias igrejas evangélicas.

Portanto, decorrente das primeiras iniciativas o cenário populacional do

bairro em 2010, de acordo com o censo: já alcançava uma população de

16.754 habitantes de extrema pobreza, 4,15%, os habitantes estão distribuídos

em uma extensão territorial de 95,00 HA, dado que representam 3,42% da área

71

territorial do município de Fortaleza, resultados apresentados segundo relatório

Fortaleza em números.

De acordo com o levantamento de dados feito a partir do site oficial da

prefeitura de Fortaleza, informa que com base no censo 2010, o Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH) deste bairro está cotado em 0,375 e ocupa a

posição 47 da listagem de bairros de Fortaleza avaliados.

Vale ressaltar que este bairro dispõe de um CRAS que além deste

território atende mais cinco bairros próximos a Bela Vista com serviços da

atenção básica em que iremos aprofundar o estudo no tópico sobre esse

equipamento social.

4.4 Análises das protagonistas sobre o Benefício de Prestação

Continuada e as ações do CRAS

4.4.1 Análise das profissionais

Neste momento faremos as análises dos discursos dos profissionais que

estão frente a esse serviço e apresentam em suas falas suas experiências,

inquietações, sentimento, percepções sobre o serviço. Além das informações

coletadas no discurso dos profissionais, traçamos um paralelo com falas de

autores que enriqueceram o conteúdo do texto.

No intuito de manter o sigilo da identidade dos entrevistados, optamos

por utilizar codinomes de flores.

Sobre o perfil dos profissionais é relevante ressaltar que todos possuem

nível superior. A equipe que faz o acompanhamento do SCFV para Idosos é

composta por uma assistente social, uma educadora social formada em Letras

e uma facilitadora de artes em Recursos Humanos. Vale ressaltar que os

cargos assumidos por essas profissionais, variam entre técnico e nível médio e

que todas são recém chegadas na instituição em virtude da seleção pública

municipal19.

19

Está substituiu os profissionais que estavam nas equipes de referência da assistência social

dos CRAS, CREAS e Centro Pop.

72

No âmbito da forma de contratação no CRAS Bela Vista, duas são

terceirizadas e uma contratada por seleção pública municipal.

Sobre as atividades realizadas no serviço de convivência para os idosos

foram esclarecidas que são três grupos de convivência, um ocorre no próprio

bairro da Bela Vista e os dois são itinerantes: um no Aloísio Ximenes e um no

Pici, território de abrangência do CRAS. Mensalmente são temáticas diferentes

e, a partir daí, são feitas as programações para serem trabalhadas no grupo,

sobre isso, cada profissional ressalta um pouco sobre suas atribuições de

acordo com o cargo:

Eu faço mais a parte de arte que seja o artesanato, eu vou mais assim para a cultura popular que é o folclore brasileiro, para a parte assim da educação, faço roda de conversa, acolhida nas dinâmicas [...], eu trabalho [...] com: recortarem, colagem, com desenho, com grafite, trabalho manual, dobradura e no artesanato tapete. (MARGARIDA) Nossa... [risos], eles trabalham no serviço de convivência né [...] trabalham com artes, tem artesanato, tem no meu caso assim [...] trabalho mais a parte social e toda última sexta-feira do mês, eles fazem reunião para apresentar o tema pra você trabalhar durante o mês certo. [...] trabalho com dinâmica e vou trazer debate entre eles, essas coisas, e tem a [...] que também ajuda, a gente fica uma vez por semana e ela fica outro dia que é a [...] ela trabalha também o tema, só que de uma maneira artística [...] e eu trabalho de uma maneira mais social. (ORQUÍDEA) “ [...] as temáticas do mês são escolhidas pelo MDS que passa para secretaria e a secretaria repassa para a gente [...] atividades realizadas no serviço são: atendimento técnico... é o acompanhamento do serviço. (FLOR DE LÓTUS)

Essas atividades do grupo de convivência e fortalecimento de vínculos

englobam o perfil de idosos que estão em estado de risco social e o serviço

possui um sentido preventivo de manutenção da vida como auxílio para o

processo de envelhecimento ativo. Sobre o perfil desses idosos ressaltamos a

Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (Resolução CNAS nº

109/2009) define os seguintes usuários para este serviço:

Idosos (as) com idade igual ou superior a 60 anos, em situação de vulnerabilidade social em especial, idosos beneficiários do Benefício de Prestação Continuada, idosos de famílias beneficiárias de programas de transferência de renda, idosos com vivências de isolamento por ausências de acesso a serviços e oportunidades de

73

convívio familiar e comunitário e que suas necessidades, interesses e disponibilidade indiquem a inclusão no serviço. (2009, p. 10).

Indagamos como são realizados os acompanhamentos com os grupos

de idosos, e os mesmos verbalizam da seguinte forma:

Agora no início tá difícil né? Antigamente os educadores eram contratados e terceirizados e tal, e agora fizeram essa seleção, e o que foi que aconteceu? Eles meio que jogaram os educadores, pra mim é muito fácil bem por que eu já sou [...] e já tenho essa facilidade, mas todos os outros educadores que não têm esse tipo de formação, assim não disseram o que eram, não fizeram capacitação para ensinar a turma a lida com pessoas, a lida com gente ainda mais desse meio que é mais complicado baixa renda e tal tem um monte de problemas. Problemas sociais [...] que eles não estão preparados para isso. Então o que acontece o acompanhamento feito agora no momento esta meio difícil, por exemplo: e para ver assim como é um grupo de convivência o que acontece vou fala pelo meu grupo é geralmente no grupo eu vejo que tem algum com problema com depressão, ou tá precisando de acompanhamento psicológico, ou precisa de é acompanhamento hospitalar, ou coisa desse tipo e ai a gente vai indicando os outros serviços, a gente vai buscando os outros serviços, a gente serve mesmo como mediador né. E geralmente quando acontecem esses casos eu passo para as [...] e ai elas vão averiguar no momento tá difícil porque fica difícil fazer esses acompanhamentos pela falta de profissional [...]. Só tem três técnicos na realidade e para ter uns seis se não me engano [...] então assim tá difícil o acompanhamento no momento. (ORQUÍDEA) [...] é acompanhado desde o planejamento, desde o educador até a vida pessoal de cada idoso, e acompanha o serviço em si, fazer as visitas para saber se o educador tá indo e vê se os planejamentos estão de acordo, as atividades estão de acordo com os planejamentos se os relatórios foram feitos realmente de acordo. Porque planejamento e relatório mensal são dois instrumentos que o educador ele faz mensalmente e entrega a técnica, que é responsabilidade da técnica. [...] se uma instituição procura o CRAS para uma palestra sobre a temática que é justamente a temática trabalhada no mês é claro, que é mais proveitoso pra gente pega pessoas de fora para dá palestras. [...] então o acompanhamento ao serviço é isso, é o acompanhamento dos serviços do relatório se o educador esta bem com os usuários, se eles se identificam com aquele educador, se eles aceitam aquele educador, se ele considerando aquele educador e respeitam aquele educador, porque se não isso tudo conta como uma avaliação do educador pessoal pra que a SETRA esteja fazendo a troca ou não muitas vezes não acontece existe muitos casos de educadores ruim mesmo. [...] o acompanhamento do serviço e o serviço em si as relações que o serviço tem educador com o usuário e o usuário com educador, e o acompanhamento pessoal de cada um que é feito pela técnica, a técnica faz atendimento [...] visita o grupo e pega aleatoriamente ou então eles chegavam para [...] abordar pra despeja demandas que eles estão precisando e ai parte para a vista domiciliar, para encaminhamentos daquela demanda que eles estavam precisando então o acompanhamento das atividades que a gente realiza e que o próprio equipamento o CRAS no serviço em si vai desde a realização das efetivações das atividades as relações pessoais e a efetivação

74

dos participantes que é usuário e educador com a atividades pessoalmente realizada com cada usuário [...] (FLOR DE LÓTUS). [...] a gente tem relatório, e a gente tem o nosso planejamento mensal e isso a gente se reúne na sexta-feira que é interno para a gente fazer (MARGARIDA).

É notório observarmos nas falas da Flor de Lótus e Orquídea que a

problemática que envolve a falta de profissionais especializados e a falta de

capacitação para os educadores e facilitadores para lidar com esse público,

tornando se uma preocupação por se um público que demanda atenção e

cuidado para suas necessidades mais diversas.

Quando questionado sobre as respostas institucionais para as

demandas dos idosos acompanhados, o que eles mais solicitam são: Cadastro

único e bolsa família, são raramente em segunda esfera benefício eventual

especificamente cesta básica (flor de lótus)”. Como se trata de atenção

básica esses atendimentos tem a sua resolutividade no próprio equipamento

social. Assim, “faríamos o cadastramento dessas pessoas e ficaria

acompanhando como é que tá o cadastro deles, se tá atualizado, se não tá

certo (orquídea)” e os demais cenários que necessitam de um atendimento

mais especializado:

[...] no meu caso que já pode observar [...] a demanda é grande em relação a psicóloga que assim eles estão muito com a autoestima baixa, eles estão deprimidos e eles, mesmo assim com problemas de saúde né?, problema familiar e isso eles passam pra gente e a gente passa para as técnicas (MARGARIDA). Raros são os encaminhamentos para o CREAS, CAPS

20, chegam

denúncias do ministério público para a gente acompanha e da resposta, para a gente insere em acompanhamento e da resposta foram em média uns três no que se refere ao tempo que estou lá mais não são muitos. Porque para mim idoso é uma categoria que tem muito seus direitos violados mais que não se apresentam na prática sinceramente, eu digo porque trabalhei com eles e não aparece na prática pelo o tanto de história que a gente ouve falar de idosos que é mal tratado, destituído de direitos e mal tratado de todas as formas gerais, né? não chegam para a gente essas demandas nem de vizinhos e nem de propriamente das instituições e órgãos públicos. (FLOR DE LÓTUS)

Percebemos nos discursos dos profissionais quais as principais

demandas do objeto de estudo e como são solucionadas estas, sejam elas

dadas na própria instituição que compete o atendimento ou em forma de

encaminhamentos para outros serviços.

20

Centro de Atenção Psicossocial

75

No entanto, notamos algumas inquietações na fala da Flor de Lótus no

que se refere à violação de direitos que estão sujeitos os idosos,

principalmente aqueles que estão em cenário de vulnerabilidade social

“Existem muitas razões para que as pessoas sofram violência, entre elas a

mais frequente, está a deterioração das relações familiares (ARANEDA, 2007,

p.22)” e o serviço visa principalmente promover preventivamente a fragilidade

dessas relações dentro do seio da família.

Indagamos sobre como está a rede de serviços para atender os idosos

em acompanhamento:

Totalmente falha no momento, dizem que vai vim outros profissionais mais eu não sei como vai ser. (ORQUÍDEA)

Eu faço uma crítica à rede21

de serviço como um todo [...], a rede, ela existe, mas ela é muito defasada, porque ela não tem retorno, não tem comunicação [...] a gente insiste, por exemplo, essa idosa que é conhecida pela gente, eu mandei ela pra coordenadoria do idoso o caso dela e encaminhei para o CREAS, eu articulei esse encaminhamento com os dois e peço insistentemente uma resposta e eles não me dão, num chega um relatório de contra partida. O encaminhamento vai, mas não há uma contra partida, não há uma resposta, não há uma articulação, não existe essa comunicação interna. A crítica que eu faço a rede de serviços não é só o do idoso e para a rede socioassistencial eu não sei as outras, mas a rede socioassistencial ela é muito defasada neste sentido de que as articulações elas acontecem de forma bem [pausa] é como posso dizer bem lenta, bem fragilizadas não e todo muito que realmente se desprende para articula. [...] mas respondendo a pergunta é defasada eu tenho críticas severas para fazer sobre a rede socioassistencial não só com o idoso, mas com todos os usuários, que eles chegam, eles saem e, às vezes, trazem uma demanda que se esparra em outra politica no caso da habitação a a gente faz um [...] informado que a família e encaminhada pelo CRAS está em acompanhamento mas num serve de nada para recebe ou ter prioridade no atendimento, ou ser prioritário para receber uma unidade habitacional, porque ao meu vê as politicas setoriais deveriam ser interligadas pensada nisso, puxa se eu tenho um usuários que são acompanhados por instituições que os profissionais conhecem aquela família e suas reais necessidades por que não dá uma prioridade ao atendimento dessas famílias se ela já tem, já estão acompanhados que aquilo e realmente verídico [...] o exemplo de habitação eu tenho duas famílias precisam de unidades habitacionais são pobres, não tem condições de está adquirindo a unidade e estão dentro do perfil por não escolhe aquela de vêm de uma instituição [...] que tem embasamento de profissionais, defendo a prioridade daquela família na unidade [...] porque que não dá a unidade para ela, qual o critério que eles usam para da justamente para outra que simplesmente só

21

Sobre a rede assistencial é notório que a principal problemática se estabelece na falha entre comunicação e articulação entre as políticas públicas, instituições/ equipamentos responsáveis pela efetivação das demandas.

76

foi se inscreveu e por esta dentro do perfil vai receber, eu acho que a rede e para existe para isso para todas as políticas se conhece saber quem são os usuários, para onde estão indo. [...], e para a habitação ter respalde aquela unidade foi entregue para uma usuária acompanhado pelo CRAS tem respalde e para ter um acompanhamento depois do recebimento da unidade [...] (FLOR DE LÓTUS).

Percebemos que são inúmeras as críticas feitas pelos profissionais no

que concerne a rede de atendimento, aos poucos números de profissionais que

compõem o quadro de funcionários.

Contudo, também ressaltamos a indagação de como eles percebem as

mudanças ocorridas na realidade desses idosos. Uma das entrevistadas não

expressou sua opinião devido estar pouco tempo no grupo e ainda não tinha

propriedade para apontar as transformações, quanto as demais:

Acho que a socialização, pois eles interagem bem com os companheiros, eles cooperam participam então assim boa tem uma sociabilidade entre eles. (MARGARIDA) Minha opinião o serviço de convivência com o próprio nome diz e

para a convivência e fortalecimentos de vínculos uns com outros e

com a comunidade interiormente e exteriormente ao CRAS, [...] o

serviço ao meu vê ele esta para isso para construir vínculos, como é

na proteção básica não são vínculos rompidos, mas são vínculos

fragilizados né. [...] Porém é nítido que esses idosos ganham uma

autonomia porque eles confiam nos profissionais e é recorrente

quando a gente chega, eles chega para a gente e fala assim “ah o

meu filho está bebendo demais, mas eu disse para [...] lá do CRAS

que tu ande na rédea viu porque se não”, eles tem a vantagem deles

ter os serviços para eles porque eles tem confiança na gente de que

eles pode conta com a gente se trouxe uma demanda a gente vai

atrás de solucionar, eles tem um aparato [...] eles tem então assim

auto confiança em se mesmo eu tenho a onde ir, aonde denuncia

você, eu tenho onde denuncia o vizinho, um médico que me maltratou

sabe, eles tem essa confiança [...] de profissionais que sabe que dai

lá, dai se fazer só não sabe se chega. [...] uma coisa que eu percebo

bastante no serviço é autoconfiança e o amparado por participa dos

serviços e reflexão entendimento de algumas coisas sobre direitos

deles, como a gente traz muito palestrante de fora [...] como eu acho

o serviço defasado e confio nos serviços dos outros eu trago muitas

palestras de fora [...]. Portanto eles se reconhecem com autônomo e

donos de se que isso e muito difícil pro idosos porque ele se torna um

filho dos filhos e perde total autonomia, total direito no CRAS eles

ganha essa autonomia, porque ele reflexe tipo não é verdade eu

tenho direito disso e tenho direito daquilo, eu tenho onde busca, eu

tenho o CRAS para me acompanha para articula pra onde eu devo ir

eles tem muito essa visão de autonomia né, eles se reconhecem

77

como sujeitos de direitos isso e isso e perceptível na fala deles, e eu

acredito que isso veio do serviço [..]. (FLOR DE LÓTUS)

Percebemos que em meio as inúmeras dificuldades que o serviço

enfrenta a perspectiva de proporcionar a autonomia, a troca de vivência no

grupo e a autoconfiança, esses quesitos estão sendo alcançados pelas

protagonistas da pesquisa.

Também falamos sobre a questão da família e destacamos essa fala que

engloba as inquietações dos demais profissionais:

Assim, de um modo geral precisa ser trabalhada ao meu vê[...] não todos, mas alguns falam mal da família, dos filhos, mas mal assim, por causa da exploração, principalmente ao BPC que é o beneficiozinho deles. Alguns chegam para falar, mas tem outros que ficam constrangido entendeu? Dizem que exploram, violam os direitos né? E a gente tem até que fazer esse acompanhamento como eu estou, constantemente com eles, eu observo isso (MARGARIDA).

Quando indagamos sobre como é trabalhado o BPC para os idosos(as)

atendidos no CRAS em acompanhamento e se existia alguma especificidade,

duas das entrevistadas informam não ter propriedade para falar sobre

benefício, porém, esclarecem que “não tem diferença entre os demais

(ORQUÍDEA)” porque no grupo não existe nenhuma diferenciação, todos estão

no mesmo patamar de renda, são aposentados ou pensionistas e estão no

mesmo nível igualitário de atendimento.

A relação deste público com outras políticas sociais mediadas pelo

CRAS ocorre em torno dos cadastros únicos, pois a inscrição social permite

acesso a serviços voltados para melhoria de vida para aqueles que se

encontram dentro da perspectiva de vulnerabilidade social. Destarte:

Eles, os serviços do cadastro único, cursos profissionalizantes, bolsa família, inscrição de baixa renda na Coelce e Cagece, isenção de taxa de inscrição em concurso e outros serviços do cadastro único. E assim os idosos do nosso grupo eles participam de outras atividades fora do CRAS que eu lembro e só os bombeiros a grande maioria. Mas é claro que os netos participam de grupos de crianças ou de adolescentes e as filhas participam do PAIF, entendeu? (FLOR DE LÓTUS) Tem porque assim toda pessoa segundo o governo tem que ter um número de inscrição social, esse número de inscrição social e através dele você pode ter o bolsa família, você pode beneficio de prestação continuada, você pode ter a isenção de taxa no concurso público, você pode te baixa renda na Coelce, você pode fazer ter curso no

78

pronatec então assim são diversos leque, tem carteira de habilitação né e então assim é um leque de opção. (ORQUÍDEA) Tem sim, através do cadastro único! (MARGARIDA)

É notório perceber nas falas dos profissionais que os serviços que

competem à proteção social básica e utilizada pelos idosos do serviço de

convivência, e como foi informado anteriormente quando se necessita de

atendimento em outras políticas eles são encaminhados, assim como foi

utilizado o exemplo da política de habitação.

No que refere a interpretação dos profissionais sobre a imagem

construída pelos idosos acerca do BPC destacamos os seguintes discursos; os

mesmo esclarecem que:

Até porque pra eles tudo é pensão, tudo é aposentaria, tá entendendo? Então assim o beneficio o BPC ou aposentaria eles não sabem dequitar o que é sabe, eles sabem que recebe um dinheirinho no final do mês, mais não sabem dizer o que é muito deles tratando como aposentadoria, mas agente sabe que não entendeu. (ORQUÍDEA)

[...] eu percebi como profissional [...] eles vêm como uma aposentaria fez 65 anos, eles solicitam mesmo, mesmo que eles não estejam no perfil vai que dá a sorte eles sempre dizem isso, a imagem que eu [...] percebo é essa que o BPC para eles é um aposentaria, que eles tem direito porque fizeram 65 anos e não porque não tem condições de esta suprir suas necessidades básicas e nem a sua família, já que é, o que diz a lei então eles não tem a mínima noção disso não, a noção que eles tem direito de recebe assim que faz 65 anos. (FLOR DE LÓTUS)

É perceptível que a noção que as entrevistadas tem sobre o benefício é

como se ele fosse uma “aposentaria” e que é um direito delas quando chegam

aos 65 anos. Porém, no contexto atual nos deparamos com situações em que a

solicitação do benefício é deferida, devido não estar dentro do perfil,

principalmente se tiver algum membro da família que receba o benefício.

Conforme a legislação, o direito ao auxílio possui várias restrições que

impossibilitam seu acesso no caso de outro familiar residente já o obtenha.

Dessa maneira, o que entendemos é que a condição legal determina o

estabelecimento da seletividade, o que se configura numa “barreira” para a

garantia de um direito que as idosas deveriam ter, tendo-se em vista que,

79

quando adentramos em seu universo, percebemos que só um benefício não dá

conta da qualidade de vida que deveria ser assegurada.

4.4.2 Análise das Idosas

Neste ponto iremos ressaltar uma das partes mais importantes deste

estudo: a percepção dos idosos entrevistados sobre o trabalho social do CRAS

Bela Vista e suas experiências, inquietações, sentimentos sobre suas vidas,

famílias, território, da cidade, etc. Além das informações coletadas no discurso

dos idosos, analisamos através do vinculo com influentes autores que discutem

a temática estudada, na perspectiva de trazer à luz a realidade estudada

através das discussões teóricas.

No que se referem às entrevistas, estas foram realizadas em diferentes

ambientes de acordo com a disponibilidade dos entrevistados. Algumas

ocorreram no próprio grupo do CRAS e outras ocorrem em seus domicílios. É

de extrema relevância mencionar que os discursos foram transcritos de forma

fidedigna, sem nenhuma modificação nas falas dos entrevistados e que

buscamos garantir o sigilo da identidade dos entrevistados. Para tanto,

optamos por utilizar codinomes de flores.

Atualmente, o benefício de prestação continuada é um dos programas

de transferência de renda que mais demanda recursos federais, conforme

ressalta a autora Behring:

O orçamento do Bolsa Família é de 11,4bi, ou seja, 35% do orçamento do MDS. E no âmbito do Fundo, o que verificamos é que 84,1% estão no BPC, 9,5% na renda mensal vitalícia, e para os demais, são destinados 6,4% dos recursos (CFESS, 2011, p. 90).

Corroborando com essa assertiva citamos Sposati. Afirmamos que o

BPC foi o primeiro programa de transferência de renda do país, “é o primeiro

mínimo social não contributivo garantido constitucionalmente a todos os

brasileiros, independente da sua condição de trabalho atual, ou anterior, mas

dependente da condição atual de renda” (SPOSATI, 2008, p.127), que assim

com os demais programas possuem critérios de elegibilidade.

80

Todavia, ocorre que esse direito garantido constitucional, tornou-se um

quase direito, numa proporção em que o acesso desse idoso em situação de

vulnerabilidade e de risco social submetido a uma série de critérios

respaldados na comprovação da sua condição humana, ou seja, para ser

elegível é necessário comprovar que nem a sua família e nem você mesmo ter

condições de promover sua própria subsistência e sobre isso a autora revela

que “Necessita ser duplamente vitimizado. Não basta a exclusão ser idoso [...]

são necessários duas exclusões, ou seja, além da sua, a da sua família.”

(SPOSATI, 2008, p.127)

Assim, sobre os critérios de seletividade que cercam a concessão desse

direito acaba sendo excludente “[...] os fatores de restrições do direito não

podem ser do tipo que excluam necessitados, ao invés de incluí-los (SPOSATI,

2008, p.80)” em concordância com a autora às restrições estabelecidas são um

agravante que gera uma legião de excluídos sociais.

Portanto, queremos salientar que é incontestável que esse benefício é

um grande avanço no âmbito da redução da pobreza em nosso país, mas que

esse benefício pudesse ser realmente tratado como direito social, que

garantisse a esse idoso vitimizado um autonomia e não apenas confortá-lo com

poder de compra no mercado, reduzindo assim a concepção de manter suas

necessidades básicas apenas para a alimentação e sim, promover a esses

beneficiários, além da transferência de renda, o conjunto de direitos que

compõem a proteção social brasileira, garantindo assim, uma vida mais digna e

com melhor qualidade.

Acerca das indagações sobre as mudanças ocorridas na vida depois da

concessão do benefício e para que fins é utilizado obtemos como respostas:

Há muita coisa mudou né?, porque antes eu não podia resolver minhas coisas por falta de dinheiro né?, e hoje esse benefício foi muito favorável pra mim mesmo porque eu resolvo minhas coisas paga minhas contas e assim da pra mim fazer o mercantil e resolver [...] o que é preciso, antes não dava [...] e assim eu vou vivendo. (FLOR DE LÓTUS).

As mudanças são boas, [...] eu sou a cabeça da casa eu faço as coisas, pago minha paz eterna plano funerário e faço muita coisa, seu eu não tivesse recebendo essa “aposentaria” estava penando. Eu compro gás e pago luz e faço as coisas dentro de casa e agora estou

81

sustentando um filho que está doente enquanto recebe o benefício, quando ele recebe o dele melhora para mim. (GIRASSOL)

Com o benefício tive uma melhoria porque passei muita dificuldade antes de receber e até melhorou. A melhoria que eu não tinha depois que eu recebi melhorou 100% em casa mesmo ajudo meu marido quando ele não tem eu tenho, eu dou uma ajuda para alimentação e compro remédio. (HORTÊNCIA)

Minha renda é só essa, quando eu chego pago uma conta aqui, paga uma conta acular e se acaba o dinheiro [risos] oh! minha fia a minha casa já esta bem dizer para cair eu não posso nem mulher compra uma telha porque o dinheiro não da mulher eu chego pago isso, pago aquilo e o dinheiro acaba eu preciso ajuda um filho meu que tá necessitado porque eu sou mãe. (LÍRIO)

Ficou melhor que eu não dependo de ninguém, antes dependia de meus filhos e marido, sinto liberta financeiramente, tenho meu dinheirinho a tempo e a hora, e muito bom agradeço muito ao Lula [risos] foi na época que o Lula entrou. Eu compro remédio quando não tem na farmácia do governo e roupa que agente também precisa de roupa, é alimentação que a agente precisa se alimenta também, compro as vitaminas da gente. Mas foi bom demais que é muito ruim depender dos outros[...] (ORQUÍDEAS)

Contudo, as demais cinco idosas seguem com as mesmas opiniões

sobre as mudanças ocorridas na vida e também sobre a forma de utilização do

benefício.

No entanto, mesmo este não compreendendo que o BPC é um exemplo

oriundo de um programa assistencial focalizado e emergencial, voltados aos

mais pobres e os consideráveis incapazes que obrigam atestarem sua situação

de incapacidade “porque eu não tenho mais outro meio de trabalhar, não tenho

mais força de trabalhar [...] eu tenho diabete, osteoporose e agora apareceu

uma dor nesse braço, bursite, aí pronto... tudo isso é problema” (VIOLETA).

O recebimento do benefício nas falas dos entrevistados é visto como o

único recurso que proporciona a sobrevivência e o livra da condição de

miserável “porque s’eu não tivesse esse benefício, o que era de mim, né?”

(VIOLETA), pois desta forma o idoso consegue manter a sua subsistência e de

sua família que também depende dessa renda mensal de um salário mínimo.

Quando questionado sobre o que significaria a perda do benefício e as

consequências que acarretariam em sua vida, pois como é um programa e

possui critérios de elegibilidade e permanência, ocorre a revisão do benefício

82

para se certificar se aquele idoso ainda permanece no perfil do programa. Os

entrevistados respondem de forma bastante relativa:

Ai quebraria minhas pernas né!, porque é tudo o que eu tenho, minha única maneira de ganhar dinheiro, ai se desmoronaria tudo né? Por que eu não tenho nenhuma maneira de renda, não tenho auxílio de nada só de Deus. (AZALÉIA)

Ave Maria! Não quero nem falar e nem pensar claro, Deus me livre Ave Maria! Eu ia passar fome a vontade porque eu como as custa desse negócio, se não tivesse esse salarinho eu passaria fome. (GIRASSOL)

Vixe Maria! Era muito ruim mesmo, eu não sei nem dizer, por que é minha sobrevivência, a gente dá graças a Deus ter um benefício desse, quando eu não tinha os meninos tudo pequeno, escadinha, chorava muito, para sustentar era só eu que ganhava as casas para trabalhar para sustentar eles. (HORTÊNCIA)

Ai o bicho pega! Porque assim, se eu não tivesse o benefício, meus filhos ajudavam tá entendo [...] (MARGARIDA)

Tu é doida é! Num fale isso nem de brincadeira [risos], porque eu vou morrer de fome, os meus filhos cada qual um tá desempregado, meu genro tá desemprego até agora [...]. Eu não sei que consequências poderia acontecer mais só Deus sabe. (LÍRIO)

Ave Maria! Não quero nem pensá nisso, Deus o livre [risos], num bote nem na sua cabeça isso, não tenho nem outra forma de me sustentar né?. (ORQUÍDEAS)

É notório que a possibilidade de perda do benefício representa para

essas idosas algo bastante negativo, pois logo se pensa em como vão garantir

sua sobrevivência e de sua família.

Portanto, mesmo com as críticas que cercam os programas de

transferências de renda questionadas por autores, pesquisadores e por

profissionais que lidam com esse benefício, é totalmente visível nas falas dos

entrevistados sua importância para essas idosas que em grande maioria, não

contaram com nenhum tipo de renda formal em seu percurso de vida e que

viviam em meio a condições de extrema pobreza para ter uma garantia de

alimentação.

Analisando por outro viés, o BPC tem alterado o papel do idoso dentro

da família e da comunidade em que vive decorrente de uma dada

independência financeira, mesmo que esta ocorra em bases mínimas, pois

essa autonomia desperta uma autoconfiança que ajuda a encarar o binômio

83

velhice/dependência. Deste modo, questionamos sobre a convivência familiar e

comunitária desses idosos atendidos pelo CRAS da Bela Vista e destacamos

as seguintes falas:

Meus filhos moram perto de mim, vivo bem com eles tenho muito boa comunicação com eles. Porque quando eu quero passear, eu vou [...] na minha comunidade é tudo ok, meus vizinhos eu tenho boa comunicação [...]. (MARGARIDA)

Minha família é ótima, né? São dois filhos, né?, adultos, todos são bons pra mim, me tratam com carinho, não tenho nenhum filho que é violento, que beba de jeito nenhum, graças a Deus, ainda fui do tempo ainda que as mães sabiam criar os filhos né?, hoje em dia os filhos não obedecem mas os pais é. Meu bairro todo mundo são amigos me chama de [...], sou bem conhecida na minha rua todo mundo gosta de mim, todos gostam de mim. (ORQUÍDEAS)

Ah bom! A minha convivência com minhas filhas é ótima, maravilhosa porque a gente fala a mesma linguagem né? Elas e eu também. No meu bairro aqui falo com todos, mas cada um do seu lado, todo mundo aqui nesse pedaço me conhece, não tenho inimigo e não tenho mal vizinho, é bom. (PERPÉTUA)

Todavia, as demais falas cruzam com as mesmas informações e não

ressaltam problemas de maus tratos no seio da família e da comunidade, mas

faz referência a condição de ser idoso com um momento positivo na vida,

porém, deixam claro em alguns depoimentos que seus direitos não são

respeitados pela estrutura social. Temos como exemplo a prioridade de

atendimento médico, ônibus, entrega de medicamento em postos que são

direitos básicos garantidos no Estatuto do Idoso, algumas idosas ressaltam

que:

Meu direito de idoso não é respeitado, porque primeiro que diz que temos prioridade nos postos de saúde, nos ônibus, dentro de casa mesmo, porque para a justiça ser boa começa de casa é nem toda vida as pessoas de casa não respeita a gente como deveria ser respeitada, né?. E em ônibus por ai e parada de ônibus em fila de posto também é uma negação. (PRIMAVERA)

Agora meus direitos como idoso, você sabe, diz que a gente tem o direito, mas quando a gente vai resolver nosso negócios e só fila num tem esse negocio não de preferencial, as vezes eu vou pegar o ônibus e a gente pega na frente né e mostra a carteirinha eles fazem a passar quando a gente dá sinal num param para a gente não, sobre os direitos do idoso tá tudo do mesmo jeito não mudou nada que o povo num respeita a gente, se a gente vai para o banco, vai no ônibus é superlotado só falta matar a gente. (LÍRIO)

Eles não respeitam a gente em ônibus por aí, parada de ônibus e nem nas filas de posto. (PRIMAVERA)

84

Também indagamos acerca da questão: o que significa ser idoso de

acordo com a sua percepção?

Pra mim o idoso significa que eu já tô vivendo um espaço bem legal da minha vida, que eu já tenho minha formação já feita, porque antes não tinha eu era muito boboca e hoje não, eu sei o que eu quero certo, eu tenho uma opinião formada sobre eu mesmo. Ser idoso para mim significa uma parte da vida que eu já vivi e que serve de experiência para mim muito [...] (PERPÉTUA)

Minha fia ser idoso significa ser uma coisa boa, porque eu pelo menos estou muito satisfeita com essa idade até agora, porque a juventude de hoje não chega a 20 anos e eu, graças a Deus, vou completar 70 anos com muito satisfação e que Deus ajude que eu vá até mais além, né?. (PRIMAVERA)

Eu acho que é bom ser idoso né?, abasta o que a gente já passou a muitos anos, é uma graça pra mim chegar até idade que eu tô, 74 anos, é uma grande vitória, significa que agente já passou muitos anos né de vida e tá conseguindo a vida de idoso e a gente pretende que vá até mas a frente com paz e saúde. (VIOLETA)

Oh! para mim está sendo maravilhoso né [risos]? Está sendo bom,

porque [...] quando eu era casada né, só criando filho eu tive 10 filhos

né, ai só era cuidando de filhos, agora que eu estou vivendo né [...]

todo dia agradeço a Deus por esta viva [...](ORQUÍDEAS)

Ah, pra mim está sendo maravilhoso... eu sinto umas dorezinhas, mas relevo [risos]. (LÍRIO).

É bom porque é o seguinte: assim quando eu era nova eu não tive a achasse que eu tenho hoje porque cuidava dos meus filhos, hoje eu saio, eu danço, eu faço atividade, eu vou para grupo de idosos, eu danço quadrilha, eu faço caminhada, eu faço ginástica faço tudo isso e ainda estudo à noite e em casa faço tapetinho de tirinha, é isso[...](MARGARIDA)

Pra mim eu não sou nem idosa e sendo as meninas dizem assim a mãe parece uma criança só, o idoso eu acho que não seja nada de mais não né, agora que o idoso sofre, sofre mas graças a Deus, eu tenho minhas filhas que me ajudam muito [...] (HORTÊNCIA)

Idoso é porque eu já vivi muito, já tô com 83 anos, já vive muito, faço as coisas ainda porque tem gente que tem minha idade e já se entregou. É uma vitória né, eu acho que seja uma vitória na minha idade eu corto cabelo, eu sei fazer um conserto no vestido e faço vestido pra mim, tudo eu sei fazer, faço coisa manual faço bonequinho de fuxico de arame, eu faço muita coisa [...] (GIRASSOL)

Olha sempre, sempre eu estou feliz com a idade com a minha velhice né com a minha idade sou feliz tenho orgulho 79 anos [...] estou muito satisfeita. (FLOR DE LÓTUS)

Não acho nada ruim chegar a essa idade, só espero que Deus me dê mais anos de vida. (AZALÉIA)

85

Podemos perceber que nos discursos dos entrevistados torna-se um

idoso é visto como algo positivo independente dos estereótipos internalizados

na sociedade contemporânea, onde se expressa que essa etapa da vida é algo

que esta internalizada sobre preconceito e dá espaço para uma visão de que

esta condição proporciona a incapacidade, inferioridade e quase sempre de

exclusão.

Analisando as falas de Sra. Azaléia e Sra. Lírio – ambas respondem

sucintamente a indagação - porém, se reportam a essa condição de forma

natural, assim como as demais. Em meio aos depoimentos é notório

percebermos uma dimensão que liga a condição de ser idoso, ser livre e ativo.

Portanto, é visível perceber que esta condição hoje lhe proporciona uma dada

liberdade para determinar o que quer e de que forma.

Percebemos em meio às falas que a chegada desses protagonistas na

terceira idade e estes estarem inseridos em um programa de transferência de

renda é algo bastante favorável para eles, mesmo que seja pela razão deles

estarem em um estado de risco social, e que demanda uma atenção especial

para as suas necessidades que estão para além de ações imediatas, mas que

visem à efetivação do direito em todos os sentidos da vida.

Conforme Borges:

A Seguridade Social pode garantir maior ou menor acesso aos direitos, quanto mais se afastar da lógica do seguro e da benesse e assumir a lógica social. Ambas são dependentes da organização social do trabalho. A assistência social está num momento de regulamentação e fortalecimento com a implementação do Sistema Único de Assistência Social no Brasil, valorizando a profissionalização e qualificação dos serviços direcionados aos usuários mais

vulneráveis, como direito do cidadão e dever do Estado. (2012,p.105)

No entanto, para esses idosos que estão incluídos nos critérios legais

previstos aos destinatários da assistência social, que são nomeados usuários,

com direito inegável a ações de prevenção de situação de risco e o acesso a

serviços, programas, projetos e benefícios que contribuam com o

desenvolvimento de suas potencialidades e aquisição, promovendo a

autonomia e independência e principalmente a melhoria na sua qualidade de

86

vida, já que estatisticamente os idosos são as vítimas mais frequentes de

violação de direitos.

Atualmente, os entrevistados estão inseridos em um dos serviços de

proteção social básica para os idosos que têm como direcionamento contribuir

com o processo de envelhecimento e transformação social dessas idosas e

agora daremos ênfase aos serviços voltados para a pessoa idosa no campo da

atenção básica. A autora Borges faz uma descrição especifica do serviço para

idosos:

Tem por foco o desenvolvimento de atividades que contribuam no processo de envelhecimento saudável, no desenvolvimento da autonomia e de sociabilidades, no fortalecimento dos vínculos familiares e do convívio comunitário e na prevenção de situações de risco social. A intervenção social deve estar pautada nas características, interesses e demandas dessa faixa etária e considerar que a vivência em grupo, as experiências vividas constituem formas privilegiadas de expressão, interação e proteção social. Devem incluir vivências que valorizem suas experiências e que estimulam e potencializem a condição de escolher e de decidir. (2012, p.113)

Vale ressaltar que o grupo estudado SCFV em que os protagonistas

desse estudo estão vinculados têm o intuito de contribuir para o

envelhecimento mais autônomo, ativo e saudável dos usuários e esse serviço,

segundo Borges, têm como diretrizes principais:

Trabalho com ciclos etários e gerenciais a partir dos membros da família, prevenindo o isolamento e a ruptura de vínculos familiares e comunitários;

Complementa o trabalho social com famílias;

Amplia trocas culturais e vivências;

Acompanha e monitora idosos incluídos em benefícios, principalmente o Benefício de Prestação Continuada;

Detecta necessidades e motivações despertando potencialidades e capacidades para novos projetos de vida;

Oportuniza o acesso às informações sobre direitos e sobre participação cidadã, estimulando o protagonismo dos idosos. (2012, p.114)

Diante dessa explanação dos serviços disponibilizados na proteção

social básica para os idosos e que são executados pelo CRAS,

questionamentos aos idosos beneficiários do BPC há quanto tempo participam

87

das atividades do CRAS da Bela Vista e por que motivo procuraram esses

serviços:

Há muito tempo não sei dizer quantos anos faz, porque faz muitos anos e conheço as meninas tudinho [...] e a outra que eu não me lembro do nome dela, as meninas da Bela Vista também.[...] aí quando eu cheguei aqui as meninas falaram: tu num quer entrar no grupo de idoso? Quero! E aí participo desde esse muito tempo, olhe. Aqui eu canto, danço há é bom demais não quero que falte. Eu quis participá porque assim se eu ficasse em casa eu fico pensando assim nas coisas e acaba dando uma depressão, aí eu disse: sabe de uma coisa? Eu vou participá dos grupo, faço passeio graças a Deus até os dias de hoje eu não sinto coisa nenhuma. Aqui ou aculá eu fico pensando na minha família, mas eu não tenho essas coisas, não. Eu sou católica vou para a igreja, faço minhas orações eu tiro o terço no mês de maio todinho [...] (FLOR DE LÓTUS)

Vixe! Faz muito tempo desde quando começo, aí eu não me lembro nem quantos anos faz, faz muito tempo, muito bom no começo. Iniciei no grupo porque as meninas me chamaram [...] aí eu comecei a ir. (HORTÊNCIA)

Está com mais de três anos que eu frequento aqui né?, uma amiga minha que me trouxe para cá, [...] eu adoro demais faz bem a gente. (MARGARIDA)

[...] isso daqui eu acho que eu ainda era menina [risos] nós estamos

aqui no grupo do centro comunitário. A gente começou aqui com a [...]

no campo fazendo atividade de ginástica há mais de 10 anos. Sabe

quem tomava de conta de nós aqui era a [...] ela começou a fazer

atividade com a [...] e aí quando a doutora foi embora daqui, ela ficou

com o grupo e fazia aqui as atividades física, aí foi o tempo que veio

uma lá do CRAS [...] um dia, agente tava aqui saindo da quadrilha

mesmo e ela chamou nós fez uma reunião com a gente daí começou

o CRAS, mas num sei em tempo foi faz muito tempo. Eu já era do

grupo na verdade ela foi que nós achou nóis [risos]. (ORQUÍDEAS)

Vai fazer um dois anos, porque o pessoal me deu muito conselho porque era bom era muito divertimento que a gente escutava aquelas palestras fazia bem pra a gente não vive sozinha dentro de casa né [...] me convidaram ai eu fui mas por minha conta mas eu queria que fosse uma coisa que tivesse mas proveito para a gente apreender as coisas tá entendendo mas eu gosto de lá eu nunca falto estou sempre presente né?. (PRIMAVERA)

Faz um bocado de anos (sic), já procurei exatamente porque eu tava nessa depressão ai eu fui [...] me deu muita força [...] deixei a depressão e me valorizei. (PERPETÚA)

Como podemos perceber nas falas dos entrevistados, seus vínculos com

o grupo ocorrem há bastante tempo, ao contrário da Sra. Orquídea que

participa desde o início, quando o CRAS passou a desenvolver atividades

voltadas para a pessoa idosa. Também é notório perceber que a procura pelo

88

serviço ocorre devido a recomendação de outro idoso que já está sendo

acompanhado pelo serviço e também em decorrência da ociosidade que são

preenchidas com as atividades artísticas, culturais, esportivas e outras

trabalhadas no grupo, trazendo aquisições subjetivas importantes para a vida

dessas pessoas.

Também perguntamos sobre a importância das atividades do CRAS e

quais foram as mudanças identificadas pelos idosos na sua vida desde a

inserção no grupo:

Segundo a Sra. Violeta “a gente se sente melhor no grupo[...] tudo é

bom para a saúde, e a mudança que aconteceu! É que eu vivia dentro de casa,

né? Agora tenho todo dia essa viagem para cá, [...] porque em casa a gente

fica mais doente”. A importância desse serviço foca na ocupação do tempo que

promove um bem estar frente a sua ociosidade dentro de casa, e isso também

é visto como uma mudança.

De acordo com a Sra. Perpétua: “ traz a saúde, você não se torna uma

pessoa sedentária, [...] a gente tem que fazer um exercício, uma conversa,

trava novas amizades todo isso faz bem para nós”. Percebemos que as

atividades do CRAS promove uma interação com os demais que formam laços

de amizades dentro do grupo, e quanto a mudança percebida por essa idosa

“Eu fiquei mais segura de mim certo, que eu era muito boboca, era uma pessoa

que não tinha condições de andar na “rua” sozinha, [...] eu adulava meus filhos

para ir comigo receber minha “aposentadoria”22, era dependente deles.

Percebemos nesta fala que a questão de dependência foi superada, a mesma

ainda acrescenta no final: “eu não tinha coragem de enfrentar a vida lá fora,

agora tenho minha liberdade e sou dona do meu nariz graças ao grupo”.

Logo abaixo seguem outros depoimentos que enfatizam a importância

dos serviços do CRAS e as mudanças que promoveram na sua vida.

Para a gente ficá ativa, pra a gente apreendê mais coisa né, num sabe todinho decoradinho não, mas tá todinho na cachola na cabecinha [...], ah também a questão da amizade e as atividades que a gente faz é também , dá disposição e o interesse de vim naqueles

22

Esse termo aposentaria se refere ao benefício de Prestação Continuada

89

dias marcados né, não falta. Se isso daqui se acabá vai ser muito ruim [...] é onde a gente se reúne (ORQUÍDEAS).

É uma incentiva importante para a gente né muita coisa boa pra mim, não tenho nada a falar de ruir não, só tenho a falar coisa boa, serve para o bem da gente porque só em tá em casa só cochilando, assistindo televisão prefiro esta aqui no meio das meninas se divertindo[...], o que mudou muita coisa, eu era uma pessoa que aliás eu nunca fui triste sempre foi alegre mas a mudança que aqui me diverte, converso e conhece mas pessoa tem mas intimidade com as pessoas tudo isso é bom para nós nessa idade e daqui para frente quero só alegria tristeza não. (MARGARIDA)

Ah! Muito bom, ave Maria! É uma importância muito boa porque a gente conhece as amigas né? Todas elas, eu não tenho o que dizer do grupo, pode dizer o que disserem, mas eu não tenho o dizer do grupo. Gosto muito, mas acho que poderia trazê coisas mais importante para a gente que não tem. Acabou como por exemplo: assim que elas trouxe [...] o grupo do coral era bom demais, o coral a gente ensaiava. Aí agora tinha um professor que estava aí para ensinava umas artes começavam e não terminava [risos], mas não tenho o que dizer dele não, é uma pessoa boa. Na minha vida eu acho que devo ter mudado um pouco. (HORTÊNCIA)

É perceptível que para esses idosos as atividades do CRAS Bela Vista é

de grande importância em suas vidas e que de alguma forma promoveram uma

mudança na sua realidade social, seja ela no campo da autonomia, na

ampliação dos vínculos de amizades, no âmbito da superação de problemas

emocionais.

É importante mencionar que essas ações voltadas para os segmentos

dos idosos, proporcionam o acesso ao direito de uma grande parte da

população brasileira excluída e a assistência social através de suas ações

como serviços, programas, projetos e benefícios visam atender a essa parcela

da população que decorrente da idade não está mais apta para o setor

produtivo.

90

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As políticas sociais surgiram como resposta da classe burguesa aos

movimentos sociais da classe trabalhadora que reivindicavam por melhores

condições de trabalho e a concessão de direitos em frente ao agravamento da

questão social que se acentuava gradativamente. Este processo de correlação

de força existencial entre as classes sociais foi crucial para a construção de um

sistema de proteção social.

Durante todo o processo de desenvolvimento do sistema de proteção

social se estabelece a relação entre a previdência (contribuintes) e assistência

(não aptos ao trabalho) se faz presente, tanto antes da assistência ser

considerada uma política pública e também após sua interação junto a

previdência e saúde. No entanto, apenas com a formação da Seguridade

Social que ocorreu com a Constituição de 1988 que essas políticas de fato

tornaram-se de fato um instrumento de garantia de direitos sociais e de

cidadania.

Podemos afirmar que a iniciativa de se estabelecer um sistema de

proteção democrático no Brasil de fato aconteceu, porém, com as influências

dos princípios neoliberais. Durante a década de 90, institui a atuação de Estado

mínimo para social e máximo para o capital, de modo que transfere a

responsabilidade do social para o mercado e/ou para sociedade civil. Neste

caso, as políticas sociais se destituíram do caráter de direito. Assim, fomentam-

se profundas contradições no que se refere à realização destas políticas

sociais, no que de fato se regulamenta nas referidas legislações.

Sobre esse contexto queremos destacar a condição do idoso, uma

categoria que cresce gradativamente e que requer cuidados especiais em

decorrência a sua fragilidade. Esse segmento etário teve também suas

conquistas expressas na gênese da política social, porém, somente com a

Constituição Federal pós-1988, teve a representação de uma verdadeira

conquista, pois se institui uma série de leis e regulamentações que protege

essa categoria e também impulsiona a construção da Política Nacional do

91

Idoso (1994) e o Estatuto do Idoso (2003), que representam de fato as

legislações mais peculiares destinadas a esse segmento etário.

Deste modo, buscamos nesse estudo dar ênfase especificamente a um

direito social que foi regulamentado na CF destinado exclusivamente a dois

públicos alvos: idosos e deficientes. Porém, neste estudo tratamos

exclusivamente da condição do idoso beneficiário do BPC e a participação

deste nos serviços ofertados pelo CRAS Bela Vista que desenvolve ações

direcionadas ao público da terceira idade no âmbito da proteção social básica e

que também acompanha e monitora idosos incluídos em benefícios,

principalmente o BPC através do Serviço de Convivência e Fortalecimento de

Vínculo quando estes estão incluídos no grupo.

O BPC acima citado trata-se do benefício assistencial e é concedido ao

idoso em estado de pobeza que não possui meios de promover sua

subsistência e nem sua família, porém, essa grande conquista no âmbito da

transferência de renda está restrita pela seletividade no que se refere à

concessão deste benefício em detrimento às restrições que cercam esse

direito. Tornou um mínimo social tutelado na medida em que obriga seu acesso

a uma condição externa e não a amplitude de um direito do cidadão que dela

necessita, ou seja, este vincula o acesso à condição econômica da família

calculado em uma renda per capita de ¼ do salário mínimo vigente, e não ao

cidadão individualmente considerado.

De forma específica, neste presente trabalho, pretendeu-se conhecer o

perfil dos idosos que recebem o BPC e são acompanhados pelo CRAS Bela

Vista. Percebemos que são idosos pobres, imersos a várias problemáticas

sociais, fruto de uma estrutura social desigual e excludente.

Pesquisamos também, quais são as principais demandas sociais dos

idosos que participam do CRAS e sua relação com o BPC, mas notamos que

as principais demandas giram em torno do Cadastro Único, Bolsa Família e

benefícios eventuais que competem especificamente a proteção social básica.

No que concerne à relação com o BPC, este fica mais em nível de orientação

aos beneficiários, se necessário, são direcionados ao INSS.

92

Elucidamos, ainda, sobre as mudanças ocorridas na realidade social e

no convívio familiar desses idosos beneficiários do BPC após a oferta dos

serviços do CRAS na vida deles, e percebemos que esta se reflete sobre a

condição da conquista da autonomia, formação de laços de amizades fora do

âmbito familiar, promoção do bem estar, dentre outros.

Além disso, conhecemos como se apresentam as respostas

institucionais para as demandas dos idosos acompanhados e como a rede de

serviços está articulada para atendê-las, as demandas são respondidas através

de atendimentos técnicos quanto compete à atenção básica e em outros casos

são direcionados através de encaminhamentos para os órgãos competentes e

quanto à informação de como a rede se articula para atendê-los, nos

confrontamos com uma grande problemática acerca do sistema

socioassistencial, esta se encontra fragilizada devido a falta de articulação

entre os devidos órgãos que compõem a rede socioassistencial e os

profissionais que nela estão inseridos.

Vale salientar que as hipóteses levantadas sobre essa pesquisa foram

atendidas e estas se expressam nas falas dos entrevistados que pontuam

sobre cada hipótese previamente elaborada pela pesquisadora.

Todavia, consideramos essencial reafirmar que o BPC é um direito social

que proporciona a esses idosos uma fonte de renda para prover as

necessidades básicas e consequentemente também sustenta a família na qual

esse sujeito de direito está inserido. De certa forma, esse benefício é, com

certeza, um avanço no que concerne a preocupação com esse público etário,

específico, que em nossa sociedade são marginalizados e desvalorizados.

Assim, as participações desses idosos nos serviços ofertados pelo

CRAS Bela Vista, buscam promover através de suas ações a elevação da

autoestima, qualidade de vida, autonomia desses idosos que estão em um

estado de vulnerabilidade e promovendo o fortalecimento dos vínculos

familiares de forma preventiva.

Este estudo procurou analisar o Benefício de Prestação Continuada e

objetivou estabelecer uma relação deste com os serviços ofertados pelo CRAS

93

Bela Vista através do trabalho social feitos com idosos que também são

beneficiários desta iniciativa no que se refere a transferência de renda.

Portanto, é preciso reconhecer aqui que esse processo investigativo não se

expressa de forma inacabada, este apenas dispõe de análise e reflexões aptas

para promover futuros e maiores debates sobre essa temática.

94

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98

APÊNDICES

APÊNDICE I

Entrevista para a pessoa idosa

01.Idade:

( ) 60 a 65 ( ) 66 a 70 ( ) 71 a 75 ( ) 76 a 80 ( ) 81 ou mais

02. Estado Civil:

( ) Solteiro(a) ( ) Casado(a) ( ) Viúvo(a) ( ) Separado(a) ou divorciado(a)

( ) União Estável

03.Quantas pessoas moram com você atualmente?

( ) Nenhuma ( ) Uma ou Dois ( ) Três ou Quarto ( ) Cinco ou Seis

( ) Outros:_____

04.Atualmente, com quem você mora?

( ) Sozinho ( ) Esposo/ Companheiro ( ) Esposo/ Companheiro e Filhos

( ) Com netos ( ) Com filhos e netos ( ) Outros:_____

05. Renda Familiar:

( ) 01 Salário Mínimo

( ) Mais de 01 salário mínimo e menos que 02 salários mínimos

( ) Mais de 02 salários Mínimos e menos que 03 salários mínimos

( ) 03 salário ou mais ( ) Outra:__________

06. Grau de escolaridade:

( ) Nenhum ( ) Ensino Fundamental Completo ( ) Ensino Fundamental Incompleto ( ) Ensino Médio Completo ( ) Ensino Médio Incompleto ( ) Outro:__________

07.Você já exerceu alguma atividade remunerada?

( ) Sim ( ) Não Qual? __________

08. Para você o que significa ser idoso?

_______________________________________________________________

09.Quais as mudanças que ocorreram na sua vida após o recebimento do benefício?

_______________________________________________________________

99

10. Com o que você utiliza o seu benefício (marque todos que se aplicam).

( ) Remédio ( ) Alimentação ( ) Aluguel ( ) Lazer ( ) Outros

Especifique: _____________________________________________________

11. Seus gastos são apenas com o sr(a) ou sua renda é para a família toda?

_______________________________________________________________

12.Como se estabelece a sua convivência com seus familiares?

_______________________________________________________________

13. Como se estabelece a sua convivência em sua comunidade?

_______________________________________________________________

14. O que significaria a perda do benefício? Quais consequências acarretariam para a sua vida?

_______________________________________________________________

15. Há quanto tempo você participa das atividades do CRAS Bela Vista e por que o procurou?

_______________________________________________________________

16. Qual a importância das atividades do CRAS para você?

_______________________________________________________________

17. Quais foram as mudanças que você percebeu desde quando começou a participar do grupo ministrado pelo Cras Bela Vista?

_______________________________________________________________

100

APÊNDICE II

Entrevista para profissional

01. Qual seu nível de escolaridade?

__________________________________________________________

02. Quando começou a trabalhar no CRAS Bela Vista?

__________________________________________________________

03. Forma de contrato no CRAS?

__________________________________________________________

04. Qual cargo de ocupa na Instituição?

_________________________________________________________

05. Quais as atividades realizadas pelo equipamento social no âmbito da

pessoa idosa?

__________________________________________________________

06. Como são realizados os acompanhamentos com os grupos de idosos?

__________________________________________________________

07. Como se apresentam as respostas institucionais para as demandas dos

idosos acompanhados?

__________________________________________________________

08. Como se encontra a rede de serviços para atende-las?

__________________________________________________________

09. Como você percebe as mudanças ocorridas na realidade social desses

idosos?

_________________________________________________________

10. E em sua família?

__________________________________________________________

11. Podemos afirmar que os serviços do CRAS são importantes na vida

desses idosos? Em que medida?

__________________________________________________________

12. Quais os desafios encontrados pelo Cras para efetivação dos direitos e

benefícios voltados aos idosos?

__________________________________________________________

13. Como você percebe a efetividade das politicas sociais voltadas aos

idosos. Você acredita nas suas concretizações?

__________________________________________________________

14. Como é trabalhado o BPC com os idosos atendidos pelo CRAS em

acompanhamento? Há alguma especificidade deste grupo?

_____________________________________________________________

15. De forma institucional, há alguma relação deste público com outras

politicas sociais mediado pelo CRAS?

101

__________________________________________________________

16. Na sua interpretação, como você percebe a imagem construída pelos

idosos acerca do BCP?

__________________________________________________________

17. Você considera suficientes as políticas sociais e de seguridade social

voltado para a pessoa idosa? Elas têm acontecido de fato na realidade?

Caso não, como você percebe as principais dificuldades para que elas

sejam efetivadas?

__________________________________________________________

102

APÊNDICE III

FACULDADE CEARENSE-FaC

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos o(a) Senhor(a) a participar da pesquisa “Assistência Social e

Benefício de Prestação Continuada: Um estudo sobre o trabalho social com os

idosos atendidos no CRAS Bela Vista em Fortaleza-Ce” sob a responsabilidade

da seguinte pesquisadora: Maria Michelle de Sousa Moura (orientanda) e

orientação da Esp. Luciana Sátiro Silva, a qual tem por objetivo analisar a

relação entre o Benefício de Prestação Continuada para o idoso e os serviços

executados pelo Cras Bela Vista em Fortaleza-Ce.

Sua participação é voluntária e se dará por meio do preenchimento de um

roteiro com perguntas abertas e fechadas e trará aspectos relativos da sua vida

familiar, comunitária e participação nos serviços do CRAS Bela Vista, em

Fortaleza-Ce.

A referida pesquisa possui como objetivos específicos: conhecer o perfil dos

idosos que recebem BPC e são acompanhados pelo CRAS Bela Vista;

pesquisar quais as principais demandas sociais dos idosos que participam do

CRAS e sua relação com o BPC; identificar quais mudanças ocorreram na

realidade social e no convívio familiar desses idosos beneficiários do BPC;

apontar a relevância dos serviços do CRAS na vida desses idosos; conhecer

como se apresentam as respostas institucionais para as demandas dos idosos

acompanhados e como a rede de serviços está articulada para atendê-las.

Contudo, acreditamos que essa pesquisa possa proporcionar a quebra de

paradigmas e a construção de novos horizontes reflexivos acerca dessa

temática.

Os resultados dessa pesquisa serão analisados e publicados nos meios

científicos, mas ressaltamos que sua identificação não será divulgada, sendo

resguardada em sigilo.

Não há riscos decorrentes da sua participação e o(a) Sr.(a) possui a liberdade

de retirar sua permissão a qualquer momento, seja antes ou depois da coleta

dos dados, independente do motivo e sem nenhum prejuízo ao seu

atendimento ou tratamento na Instituição a qual o(a) Sr. (a) trabalha.

103

Em qualquer etapa do estudo, poderá contatar para o esclarecimento de

dúvidas ou para retirar o consentimento de utilização dos dados coletados com

a pesquisadora: Maria Michelle de Sousa Moura - (85) 8838 5468 ou (85) 3496

7471, residente no endereço: Travessa Sinuosa nº 30

Consentimento Pós–Informação

Eu,___________________________________________________________,

fui informado e prestado os devidos esclarecimentos sobre o que a

pesquisadora deseja realizar e por que motivo precisa da minha colaboração, e

compreende a explicação transmitida pela pesquisadora. Deste modo, eu

concordo em participar da pesquisa, sabendo que não vou ganhar nada e que

posso desistir quando quiser. Este documento é emitido em duas vias que

serão ambas assinadas por mim e pela pesquisadora, ficando uma via com

cada um de nós.

________________________________________ Data: ___/ ____/ 2014.

Assinatura do(a) participante

________________________________________

Maria Michelle de Sousa Moura

Pesquisadora

104

ANEXO