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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ
CURSO DE DIREITO
EDILSON FERRO RIBEIRO
A RESPONSABILIDADE DO ALIMENTANTE NO NOVO DIREITO DE FAMILIA
MACAPÁ
2008
EDILSON FERRO RIBEIRO
A RESPONSABILIDADE DO ALIMENTANTE NO NOVO DIREITO DE FAMILIA
Monografia apresentada ao Curso de Direito do Centro de Ensino Superior do Amapá, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito, sob a orientação da Profª. Helisia Costa Góes.
MACAPÁ
2008
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Dedico este trabalho monográfico a Deus, pela minha vida, aos meus pais Manoel e Sebastiana, pela minha educação, à minha esposa Alda, pelo apoio e paciência e ao meu filho Junior, pela ausência, que foi de suma importância para que pudesse ter êxito na elaboração deste trabalho.
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Agradeço a Professora e Orientadora Helisia Costa Góes, pelo apoio e encorajamento contínuo na orientação, aos demais Mestres do CEAP pelos conhecimentos transmitidos, e à Coordenação de graduação do Centro de Ensino Superior do Amapá pelo apoio institucional e pelas facilidades oferecidas.
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“A verdade alivia mais do que machuca. E estará sempre acima de qualquer falsidade como o óleo sobre a água”.
John Scully
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RESUMO Pelo novo Código Civil, ao se completar 18 (dezoito) anos, o alimentário
perderá o direito à percepção de alimentos decorrentes do Poder Familiar, mas
poderá continuar a recebê-los em razão do parentesco, que não se extingue
com a maioridade civil, podendo a obrigação se prolongar até os 24 (vinte e
quatro) anos, como ocorre hoje com o estudante de instituição de ensino
superior. A grande diferença entre o novo sistema e o do atual código está no
fato de que a partir dos 18 (dezoito) anos, o alimentário é que deverá provar a
necessidade de continuar a receber alimentos, em virtude do parentesco
existente entre ele e o alimentante. Há inversão do ônus da prova. Há
necessidade de ajuizamento de uma nova ação, visando à exoneração da
obrigação alimentar, quando o alimentário completar a maioridade civil, uma
vez que não se pode formular pedido novo em processo findo, por medida de
economia processual e justiça, entendendo-se que pode o alimentante, nos
mesmos autos em que foram fixados os alimentos, pleitear sua exoneração
dessa obrigação, cabendo ao juiz, intimar o alimentário para que se manifeste
sobre o pedido, ocasião em que poderá produzir prova de que a continuidade
do recebimento dos alimentos é necessária, o que reduziria as despesas e
dissabores de alimentantes e alimentários, com a demora do processo. Em
verdade, o art. 1.708 do Código Civil de 2002 traz em si muito mais que a
exoneração do alimentante. O art. 1.699 apenas diz que “poderá o interessado
reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, a exoneração”. Diferentemente,
e seguindo os passos do art. 29 da Lei do Divórcio, o art. 1.708 é taxativo,
determinando que, na hipótese aventada, “cessa o dever de prestar alimentos”.
Palavras-chave: Código Civil; Alimentos; Obrigação; Dever e Lei do Divórcio.
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ABSTRACT
For the new Civil Code, when completed 18 (eighteen) years, the food
industries will lose the right to the perception of food arising from the Power
Family, but could continue to receive them because of kinship, which is not
extinguished with the majority civilian, and may the obligation was extended
until the twenty-four (24) years, as happens today with students of higher
education institution. The big difference between the new system and the
current code is the fact that from 18 (eighteen) years, the food industries that
should prove the need to continue to receive food because of kinship between
him and alimentante. There reversal of the burden of proof. There is need for
filing of a new action, seeking the resignation of maintenance, when the food
industries complete the majority civilian, since you can not make a new
application process ended, by measure of procedural economy and justice,
understanding that can the alimentante, in the same file that were set in the
food, plead his resignation that requirement, leaving the court to instruct the
food industries in order to express on the request, when it can produce
evidence that the continuity of the receipt of food is needed , Which would
reduce the costs and difficulties of alimentantes and alimentários, with the delay
of the process. In fact, art. 1,708 of the Civil Code of 2002 brings in many more
that the dismissal of alimentante. The art. 1,699 only says that "he could claim
the judge, as the circumstances, the exemption." Unlike, and following the
footsteps of art. 29 of the Divorce Act, the art. 1,708 is exhaustive, determining
which, if reached, "ended the duty to provide food".
Keywords: Civil Code; Foods; Obligation; Duty; Law of Divorce.
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SUMÁRIO
RESUMO............................................................................................................. 06
ABSTRACT......................................................................................................... 07
INTRODUÇÃO.................................................................................................... 09
Capítulo 1. BREVE PERCURSO SOBRE OS ALIMENTOS............................. 10
1.1 Conceituação............................................................................................... 10
1.2 Classificação................................................................................................ 11
1.3 Dever de alimentar....................................................................................... 15
1.4 Pressupostos da obrigação de alimentar................................................. 17
1.5 Naturezas do instituto dos alimentos........................................................ 20
Capítulo 2. EXECUÇÃO DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR................................. 23
2.1 Considerações preliminares....................................................................... 23
2.2 Da execução de prestação alimentícia...................................................... 24
2.3 Procedimentos comuns a todas as modalidades executivas................. 26
2.3.1 Execução mediante desconto em folha de pagamento........................ 26
2.3.2 Execução mediante outros rendimentos do devedor........................... 28
2.3.3 Execução por quantia certa..................................................................... 28
Capítulo 3. DA OBRIGATORIEDADE DO PEDIDO DE EXONERAÇÃO.......... 31
3.1 Considerações preliminares....................................................................... 31
3.2 A maioridade dos filhos e a exoneração dos alimentos.......................... 34
3.3 Transmissibilidades da obrigação alimentar............................................ 37
CONCLUSÃO...................................................................................................... 40
REFERÊNCIAS................................................................................................... 43
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INTRODUÇÃO
Desde a entrada em vigor do novo Código Civil Brasileiro, no ano de 2002, uma
questão, mais que outras, causou dúvidas no meio jurídico. Essa questão diz
respeito à maioridade civil. No antigo Código Civil Brasileiro de 1916 (Lei n.
3.071) mais precisamente no art. 9º, determinou-se a maioridade aos 21 (vinte
e um) anos completos. Já no novo Código Civil brasileiro, de 2002, esse limite
ficou reduzido há (18) dezoito anos.
O ordenamento jurídico brasileiro prevê as modalidades de prestação
alimentícia com fundamento na necessidade de subsistência ou mantença do
alimentando. Em razão disso, a proposta central deste trabalho é o estudo da
exoneração de alimentos, em todas as modalidades, desde que o fundamento
seja a manutenção da pessoa.
O presente estudo foi conduzido, com base na pesquisa bibliográfica da
Doutrina e Jurisprudência para a compreensão mais efetiva sobre o tema
abordado, buscando obter informações sobre a situação atual do tema
pesquisado, por meio de publicações existentes sobre o assunto e os aspectos
que já foram tratados. Também direcionou-se a examinar os julgamentos
similares e aspectos relacionados ao tema da pesquisa, com os alimentos
prestados pelo laço de parentesco, os alimentos prestados a ex-cônjuges e os
alimentos prestados em decorrência de atos ilícitos, e tem por finalidade fazer
uma análise da responsabilidade do alimentante no novo Direito de Família.
Há mais de 20 (vinte) anos pago pensão alimentícia às minhas filhas, e sempre
tive uma série de dúvidas em relação à binômia necessidade-possibilidade
desta temática, sendo que no decorrer do curso tive oportunidade ímpar para
aprofundar meus conhecimentos dentro dos conteúdos ministrados, assim
como no decorrer das leituras direcionadas.
Por aproximadamente 01 (um) ano e meio tive a oportunidade de estagiar na
Defenap - Núcleo de Santana, onde convivi diariamente com o assunto em
epígrafe, pois saindo dos referenciais para a praticidade é que se cria um novo
olhar que nos leva a uma melhor absorção dos ensinamentos repassados em
sala de aula.
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Capítulo 1. BREVE PERCURSO SOBRE OS ALIMENTOS 1.1 Conceituação
A figura dos alimentos não é recente, existindo já nos princípios da
civilização, como um dever moral, concedidos pietatis causa15, sem que
houvesse uma regra jurídica a impor-lhe a prestação. Dever moral, officium
pietatis2, concedidos “pietatis causa”, originariamente, os alimentos não
apresentavam conotação de obrigação, dever inescusável, mesmo porque a
sociedade de então ainda não se apresentava estruturada nos mesmos moldes
da atual família.
De origem latina, a palavra alimento (alimentum), tem significado de
sustento, dar assistência, manutenção, subsistência, etc. Percebe-se que por
volta do séc. XII a.C. era função de solidariedade entre os parentes doar
alimentos uns para os outros.
Os gregos acreditavam que pais e filhos deviam se sustentar em um
sistema de mútua assistência, pois os filhos devem como forma de gratidão
alimentar seus pais quando estes chegassem a uma idade mais avançada.
Essa regra de cooperação entre pais e filhos era obrigatória por lei.
A idéia de que os membros de uma mesma família se devem
amparo recíproco, surge, naturalmente, como forma de preservar o
próprio grupo, cuja existência é muito importante para o ser humano,
considerando-se a sua condição de animal social.
Somente com a adoção de uma teoria que procurasse afortunar mais
a questão da consangüinidade entre os familiares que se passou observar a
família sobre uma nova ótica. Nesta nova visão da família, não se considerava
esta apenas como uma forma de agrupamento de pessoas que são submetidas
aos ditames de apenas um líder.
Nota-se que essa mudança na concepção da família acabou por
extinguir a figura do pater familias3, ou seja, aquele dever apenas moral de
alimentar passou a ser substituído pela obrigação jurídica legal, possibilitando
até mesmo a tutela por intermédio do cognitio extra ordinem4.
1- por causa da piedade 2- dever de afeição 3- poder de autoridade do pai 4- conhecimento extraordinário
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Com a necessidade de regulamentação do pedido judicial de
alimentos, houve a criação da Lei n. 5.478/68, chamada de Lei dos Alimentos.
Essa lei vigorou até 1973, momento em que surgiu uma nova lei que
regulamentava a questão do rito de processamento dos assuntos pertinentes
aos alimentos. A Lei n. 6.014/73 versou também sobre a fixação provisória de
alimentos pelo juiz, além de regulamentar os meios de execução da obrigação
de alimentar.
Outras leis também regeram sobre a obrigação de alimentar, como a
Lei n. 8.971/94, chamada de Lei do Concubinato e da União Estável, que
dispunha sobre a existência de obrigação de alimentar entre pessoas que
conviviam através da união estável. Com a chegada do Novo Código Civil é
estabelecida uma nova forma de obrigação alimentar, caracterizada por ser
recíproca entre pais e filhos, sendo estendidos a todos os ascendentes e
descendentes, como parentes, cônjuges ou até mesmo companheiros.
Os alimentos abrangem todas aquelas importâncias, sejam em
dinheiro ou até mesmo aquelas prestações in natura, em que uma pessoa está
obrigada por virtude de lei, a prestar pensão em virtude de outra. Entretanto,
segundo Beviláquia, (1976, p. 154) “o instituto dos alimentos foi criado para
socorrer os necessitados e não para fomentar a ociosidade e favorecer o
parasitismo”.
A obrigação de alimentar no Direito de Família é dever moral de uma
pessoa para com outra de sua família que se ache necessitado. Entretanto,
esse dever moral é também, antes de tudo, dever legal, sendo que a pessoa
que tem a obrigação de prestar o alimento, caso não o faça por vontade própria
e sem justificativa, responderá legalmente pela omissão cometida.
1.2- Classificação
Distintas as causas geradoras do direito à alimentos, múltiplas
também são as estruturas jurídicas internas (materiais),
que as disciplinam, bem como os expedientes destinados a dinamizar sua
exigibilidade. A diversidade de tratamento e regramento da matéria leva em
conta a obrigação alimentar quanto à sua natureza, sua causa jurídica, sua
finalidade e o momento da sua prestação.
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Em razão do próprio tratamento diversificado dado ao instituto, vê-se
que está repelida a unificação dos princípios aplicáveis às diversas
modalidades da obrigação, regulando-se cada uma delas segundo normas
específicas.
“Atualmente, existe uma forte tendência no sentido de se buscar uniformizar, pelo menos o tratamento procedimental acerca da exigibilidade dos alimentos, ainda que variadas as fontes da obrigação, constatando-se uma verdadeira migração normativa entre os vários ramos do direito.” (CAHALI,1999. p. 26).
Os alimentos podem ser classificados de várias maneiras, sendo que
a primeira delas se refere à natureza destes que pode ser civil ou natural.
Consideram-se como naturais aquelas prestações de alimentos que se tratam
de uma necessidade para a vida do titular dos alimentos, ou seja, aquelas que
se referem à necessitum vitae56.
Com relação à natureza civil, pode-se considerar como aquelas
formas de alimentos que abrangem além da obrigação de alimentar outros
variados fatores, que não são necessários para a sobrevivência do beneficiado,
ou seja, são aqueles necessarium personae6, como, por exemplo, a educação.
“Os alimentos podem ser naturais, se estritamente necessário à sobrevivência de uma pessoa, nos limites de necessarium vitae, e civis, se abrangem outras necessidades, intelectuais ou morais, compreendendo o necessarium personae”. (AZEVEDO, 2000. p. 49.)
É regra de acordo com o artigo 1.964, caput, do Código de Processo
Civil, que sejam fixados os alimentos de natureza civil como base da obrigação
de alimentar, pois estes são de extrema necessidade para a pessoa que
carece do beneficio. Não obstante, os alimentos naturais elencados nos arts.
1.694, § 2º e no art. 1.704 parágrafo único, são considerados como exceção a
essa regra.
5- necessidades de alimentos na vida 6- necessidade do ser humano
19
Discute-se, quanto à natureza jurídica da obrigação alimentar, se ela
se constitui em obrigação solidária, em caso de haver dois ou mais devedores.
É o caso, por exemplo, da mãe que, sem meios disponíveis para se manter,
possui dois filhos com possibilidades de prestar alimentos. É de se notar que o
nosso Código Civil não regulamenta essa situação.
Quanto à finalidade os alimentos podem ser provisionais, ou seja,
aqueles que são cedidos ao beneficiado ainda no decorrer da demanda, ou os
alimentos ad item7, que são aqueles alimentos estipulados em caráter definitivo
em que o juiz fixa, ou as partes acordam o valor da prestação em caráter
definitivo.
Rodrigues, (1996, p.245) abrilhanta essa afirmativa com o seguinte
parecer:
“Alimentos provisionais, também chamados ad litem, são constituídos por prestação reclamada por um dos litigantes contra outro, como preliminar das ações de destaque, de divórcio de anulação de casamento, de investigação de paternidade e de alimentos.”
Azevedo, (2000, p.49), em consonância afirma que:
Os alimentos quanto à finalidade podem ser provisionais, ou in litem, os concebidos para manutenção do alimentando ou dele e de seus filhos, na pendência do processo; os regulares ou definidos, são os fixados pelo juiz ou convencionados, por acordo das partes, com prestações periódicas e de caráter permanente.
Com basilar em tais afirmações pode-se concluir que os alimentos ad
litem são os alimentos que tem como principal função a garantia da integridade
do beneficiado até a conclusão do processo.
Sérgio Carlos Coelho (1998, p. 196), avalia os alimentos provisórios
como aqueles que "são fixados segundo o prudente critério do magistrado,
levando em consideração as necessidades do alimentando e as possibilidades
do alimentante".
7- para o processo
20
Provisório apresenta característica de não permanente, ou seja,
aquele que possui característica de liminar, sendo despachado pelo magistrado
para que haja a obediência à norma do artigo 4º da Lei n. 5.478/68, na seguinte
redação: “ao despachar o pedido, o juiz fixará desde logo alimentos provisórios
a serem pagos pelo devedor, salvo se o credor expressamente declarar que
deles não necessita”.
Depois que são fixados os alimentos provisórios, estes são
considerados como devidos até que haja a tramitação em julgado do processo,
em que serão fixados os alimentos definitivos, desde que não haja uma revisão
cautelar. Com relação aos alimentos definitivos pode-se afirmar que é aquela
obrigação de alimentar dada depois de julgada a lide.
Os alimentos são classificados com relação à causa jurídica em:
Legítimos: compreende aqueles que são oriundos de uma obrigação
legalmente reconhecida, ou seja, aquela obrigação que se funda em uma
obrigação reconhecida pela consangüinidade, com relação ao parentesco.
De acordo com as afirmações de Cahali, (1999, p. 132), "só os
alimentos legítimos, assim chamados por derivarem ex dispositione juris8,
inserem-se no Direito de Família".
Volitivos: compreendem-se como aqueles que são estipulados após
uma convenção voluntária, sejam inter vivos ou através de causa mortis.
Segundo Cahali, (1999, 134), devem-nos bem nos seguintes termos:
“Voluntários são os que se constituem em decorrência de uma declaração de vontade, inter vivos ou causa mortis; resultantes ex dispositiones hominis, também chamados obrigacionais, ou prometidos ou deixados, prestam-se em razão de contrato ou de disposição de última vontade; pertencem, pelo que, ao Direito das Obrigações ou ao Direito das Sucessões, onde se regulam os negócios jurídicos que lhes servem de fundamento.”
Indenizatórios: compreende aqueles que são oriundos da prática de
algum ato ilícito pelo devedor, ou seja, pela pessoa que tem a obrigação de
prestar alimentos.
Os indenizatórios também são conhecidos como ressarcitórios ou ex
delicto9, pois possuem características de indenização.
8- por disposição do direito 9- dano causado por infração penal
21
Quanto ao momento da prestação, pode-se afirmar que os alimentos
são classificados em futuro e pretérito. Considera-se futuro aquela prestação
de alimentos que é acordado e homologado ou que decorra de sentença já
transitada em julgado.
Segundo a afirmação de Cahali (1999, p. 140), essa distinção possui
muita importância no setor jurídico, pois “na determinação do termo a quo a
partir do qual os alimentos se tornam exigíveis". Sendo assim, pode-se afirmar
que os alimentos possuem uma função ad futurum, não ad praeteritum, já que
estes devem suprir uma necessidade atual ou que irá ainda surgir e não uma
necessidade que já passou.
De acordo com Azevedo, (2000, p. 57).
“Quanto à modalidade o dever de alimentar pode ser próprio e impróprio. Próprio é aquele que compreende a prestação do que é indispensável, necessário, à manutenção da pessoa; Impróprio é a hipótese em que se fornecem meios idôneos à aquisição de bens necessários à subsistência.”
Com relação à modalidade, é atribuída a diferenciação entre alimento
próprio e impróprio. Consideram-se como próprios todos aqueles alimentos
extremamente necessários para a manutenção da saúde do beneficiado. Por
sua vez, os alimentos classificados como impróprios são aqueles que dão ao
beneficiado a condição de manter uma vida confortável.
1.3- Dever de alimentar
Entre parentes existe uma obrigação recíproca de alimentação, seja
em qualquer hipótese. Esta regra apenas recai sobre aquelas pessoas que
estão elencadas pelo artigo 1.694 do Código Civil vigente, podendo então
afirmar que apenas são amparados pelas normas os ascendentes e os
descendentes, sem que haja qualquer limitação de grau de parentesco, entre
os colaterais até o segundo grau e entre cônjuges e similares.
Entre os ascendentes, descendentes e colaterais, a obrigação é
outorgada devido a um e falta do outro, sendo preferencialmente os parentes
em graus mais próximos. Dessa forma, fica claro que aquela pessoa que vier a
22
necessitar de pensão alimentícia deverá recorrer e observar a ordem que é
preferencialmente elencado pela norma legal.
Entretanto, deve-se observar que o grau de parentesco pode ser
suspenso para obrigar que a prestação de dar alimentos seja cumprida pelo
parente que se encontrar em melhores condições financeiras, mesmo que o
parente mais pobre possa cumprir a obrigação, sem que haja prejuízo ao seu
sustento, mesmo que de forma parcial.
Entre os ascendentes e descendentes em linha reta não há nenhuma
limitação com relação ao grau de parentesco, e caso recaia sobre ascendente
ou descendente a obrigação de prestar alimentos, esta em falta de um parente
mais próximo, pode ser considerado como responsável pela prestação até
mesmo o tataraneto ou tataravô do alimentado.
Segundo Venosa, (2005, p.403).
“Atende-se processualmente ao princípio da divisibilidade da obrigação alimentícia, permitindo-se que, no mesmo processo, sejam outros alimentantes chamados para integrar a lide. A lei processual deve traçar normas concretas para possibilitar a eficiência do dispositivo. O dispositivo cria nova modalidade de intervenção de terceiros no processo, instrumento que merece toda a cautela do magistrado, pois pode se tornar expediente para procrastinar feitos.”
Os filhos de origem adotiva são possuidores dos mesmos direitos do
filho legítimo, sendo que a eles se aplicam as mesmas disposições alimentares
que há entre pais, filhos e colaterais. É ele o sujeito ativo e passivo da
obrigação de alimentar, podendo ser beneficiado e ser prestador de obrigações
alimentares.
Entre os parentes colaterais a obrigação de alimentar recai até o
segundo grau de parentesco, sem que haja qualquer distinção de natureza,
nem com relação aos irmãos unilaterais e adotivos.
Existe um dever mútuo de assistência entre os cônjuges, este é um
dos variados princípios que norteiam a relação matrimonial. Trata-se de um
dever mútuo pela imposição legal da assistência como um dos deveres do
casamento, pois ambos os cônjuges devem se auto-ajudarem.
23
É importante que esta obrigação não se caracterize como uma
obrigação de prestação de alimentos, mas sim uma prestação voltada para a
questão do auxílio ao cônjuge. Essa pensão se limitará ao valor que é
indispensável para a sobrevivência do cônjuge que foi considerado culpado
pela separação.
A união estável por sua vez, apresenta também a assistência como
um dos deveres entre os conviventes, já que de acordo com o art. 1.724 do
Código Civil no art. 19 e parágrafos da Lei n. 9.278/96, a essa forma de união
se aplica todos os dispositivos existentes na relação matrimonial.
1.4 - Pressupostos da obrigação de alimentar
O Novo Código Civil inseriu a obrigação alimentícia entre parentes ou
cônjuges no título referente ao direito patrimonial da Família que trata dos
deveres de mútua assistência, muito possivelmente objetivando, com isso, o
legislador, dar substrato ao tratamento técnico-jurídico que é
atinente à novidade que introduziu no instituto, com os alimentos
indispensáveis, cuja concessão a favor do necessitado, independerá da culpa.
A prestação de alimentos constitui objeto de obrigações jurídicas que
têm diferentes fontes. Com efeito, a obrigação alimentar pode resultar:
“Da lei, pelo fato de existir entre pessoas determinadas um vínculo familiar; Do testamento, mediante legado; Da sentença judicial condenatória do pagamento de indenização para ressarcir danos provenientes de atos ilícitos; Do contrato. Ponderando sobre as fontes das obrigações alimentares, estabelece a seguinte divisão: Obrigações alimentares legais resultantes do direito de família; Obrigações alimentares legais resultantes do ato ilícito; Obrigações legais convencionais”. Brum (1997, p. 26 e 27)
São legítimos os alimentos que se devem por um vínculo de
parentesco ou relação de natureza familiar, ou ainda, em decorrência do
matrimônio, em que pese não haver parentesco entre os cônjuges ou
conviventes.
24
A Lei do Divórcio dispõe sobre a obrigação alimentar dos pais para
com os filhos (art. 20), bem como o Estatuto da Criança e do Adolescente (art.
22), que estabelece o dever dos pais para com o sustento, guarda e educação
dos filhos. Com o advento da Constituição Federal de 1988, a proteção à
criança foi ampliada, inexistindo qualquer diferença entre filho legítimo,
ilegítimo, adulterino, adotado ou natural (art. 227, § 6º).
No concernente aos cônjuges, a obrigação alimentar origina-se no
dever a mútua assistência, como está no art. 231, III, do Código Civil, transcrito
para o art. 1.566, III, do Novo Código Civil. No caso de separação judicial ou
divórcio, o cônjuge tem assegurados os alimentos, conforme os arts. 19 e 30
da Lei
do Divórcio (Lei n. 6.515/77).
Pode-se perceber que por força da Lei n. 9.278/96, e agora, de
conformidade com as disposições do Novo Código Civil (art. 1.694 e 1.723), há
o dever de mútua assistência entre os companheiros, oriundos da
união estável ressalva que se faz também aos oriundos do concubinato puro,
como será visto mais adiante.
O vínculo de parentesco é considerado como o principal basilar para
que haja a obrigação de prestar alimentos. É importante que se ressalte que o
cônjuge e o convivente não são considerados pela justiça como parentes, por
disposição legal têm estes direito a alimentos, mesmo não sendo considerados
como parentes são indispensáveis para que haja a formação familiar. Sobre
este tema dispõe os seguintes artigos do Código Civil vigente:
“Artigo 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação”. Artigo. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros. Artigo 1.697. Na falta dos ascendentes cabe a obrigação aos descendentes, guardada a ordem de sucessão e, faltando estes, aos irmãos, assim germanos como unilaterais”.
25
Trata-se de um pressuposto da prestação de alimentos a
necessidade de requerimento pela parte interessada ou seu representante.
Considera-se então, apto ao recebimento da pensão alimentícia somente
aquela pessoa que não possui nenhuma forma de renda que lhe garanta o
sustento da família.
A prestação de alimentos trata-se de uma prestação extensiva,
abrangendo todos os parentes em linha reta e os parentes em linha colateral
até o segundo grau, sempre dando preferência aos mais próximos. Portanto, se
o pai não tiver condições de prestar alimentos ao filho, essa obrigação
fatalmente será revertida ao avô se este tiver condições.
De acordo com a redação do artigo 1.694, § 1º, do Código Civil, a
prestação de alimentos deve ser compatível com a situação financeira de quem
recai a obrigação de alimentar, assim como as necessidades do alimentado.
No mesmo sentido salienta Venosa, (2005, p. 415):
“O pagamento é periódico, tendo em vista a natureza dessa obrigação. Nessa fixação reside a maior responsabilidade do juiz nessas ações. Nem sempre será fácil aquilatar as condições de fortuna do indigitado alimentante: é freqüente, por exemplo, que o marido ou pai, sabedor que poderá se envolver nessa ação simule seu patrimônio, esconda bens e se apresente a juízo como um pobre eremita. A prova dos ganhos do alimentante é fundamental. Não há norma jurídica que imponha um valor ou padrão ao magistrado. Quando se trata de pessoa assalariada regularmente, os tribunais têm fixado a pensão em torno de um terço dos vencimentos, mormente quando se trata de alimentos pedidos pela mulher ao marido. Os alimentos devem ser fixados com base nos rendimentos do alimentante, e não com fundamento em seu patrimônio. O sujeito pode ter bens que não produzem renda. Não há mínima condição de forçá-lo a vender seus bens para suportar o pagamento.”
A obrigação de alimentar é fixada caso a caso, de acordo com as
condições de quem lhe pede e de quem seja chamada a respondê-la. É
necessário que se aponte a necessidade de um valor razoável para a
prestação, pois esta deve atender pelo menos todas as necessidades básicas
da pessoa humana. Essa também não pode atingir um valor muito alto, que
possa vir a afetar a situação financeira do portador da obrigação. Caso não
advenha a prestação de alimentar de culpa do alimentante, esta prestação
26
deverá ser equilibrada, resumindo-se no necessário para a subsistência
saudável do alimentado.
Venosa, (2005, p. 416.) ressalta que:
“O artigo 1.701 (antigo, art. 403) também faculta ao devedor prestar alimentos sob a forma de pensão periódica ou sob a forma de concessão de hospedagem e sustento ao alimentando. O art. 25 da Lei n. 5.478/68 eliminara em parte essa faculdade do devedor, estabelecendo que a prestação não pecuniária só possa ser autorizada pelo juiz se com ela anuir o alimentando capaz. De qualquer modo, compete ao juiz estabelecer as condições dessa pensão, conforme as circunstancias. Na maioria das vezes, a obrigação alimentar gira em torno de uma quantia em dinheiro a ser fornecida periodicamente ao necessitado. O fornecimento direto de alimentos no próprio lar do alimentante caracteriza a denominada obrigação alimentar própria, pouco utilizada na prática, em razão das inconveniências que apresenta. Sem dúvida, duas pessoas que se digladiam em processo judicial não serão as melhores companhias para conviver sob o mesmo teto. Embora a lei faculte ao alimentante escolher a modalidade de prestação, o juiz poderá impor a forma que melhor atender ao caso concreto, de acordo com as circunstâncias, conforme estampado no parágrafo único do mencionado art. 1.701”.
Com relação à fixação do cumprimento da obrigação, esta pode se
dá através de prestações periódicas ou em espécie in natura, que caracteriza
as prestações de obrigação alimentar a concessão de hospedagem e sustento.
1.5 - Naturezas do instituto dos alimentos
O disciplinamento difuso do instituto, a necessidade de sua
sistematização é recomendada seja em razão das múltiplas alterações que são
introduzidas por um complexo de leis extravagantes, seja em razão da
reformulação de muitos de seus conceitos por ativa elaboração jurisprudencial.
A falta de unanimidade no trato da matéria é notada no
posicionamento tomado pelos doutrinadores, e, além de todos aqueles
estatutos legais específicos, ainda é prudente registrar, em que pese não
alcançados pelo objetivo deste estudo, a existência das prestações alimentícias
decorrentes da reparação pela prática dos atos ilícitos, o provimento advindo
do reconhecimento e da investigação da paternidade de filhos havidos fora do
27
casamento, conforme a Lei n. 8.560, de 29 de Dezembro de 1992, os alimentos
reservados aos pais que, na velhice ou enfermidade, restem sem condições de
prover suas necessidades básicas de subsistência, conforme reforçou a Lei n.
8.648/93.
De acordo com Cahali,(1999, p. 51).
“A lembrança histórica que uma nação organizada consegue preservar, acerca dos episódios mais significativos da sua trajetória, é responsável pelo padrão de qualidade e grau de desenvolvimento das suas instituições políticas, pela relevância das suas conquistas sociais e pelo aperfeiçoamento do seu sistema jurídico.”
É de justiça recordar que, além das então inovadoras e
corajosas decisões isoladas, atribuindo alimentos à companheira da
convivência de longos anos, foi à legislação previdenciária a pioneira em
reconhecer à concubina o direito de receber pensão em razão do passamento
do companheiro, daí muitos estudiosos afirmarem que a previdência social foi o
primeiro abrigo da companheira.
Existem controvérsias acerca da natureza da ação de alimentos, pois
há parte da doutrina que a considera como uma ação de estado e outros que
não lhe dão tal atribuição. Entretanto, há de se ressaltar que existe na ação de
alimentos uma característica de estado, pois esta está relacionada ao estado
de família, já que sua natureza funda-se no direito familiar.
Outra divergência esta relacionada à sua característica, parte da
doutrina que considera a ação de alimentos como uma ação com característica
de direito pessoal extrapatrimonial. Existe corrente doutrinária que a considera
como uma ação de natureza mista, tendo caráter patrimonial com finalidade
pessoal, como afirma Gomes, (1998, p. 234).
“O interesse ao alimentando não seria propriamente econômico e a prestação recebida não constituiria um valor que aumente seu patrimônio e sirva de garantia aos credores, nem a dívida se classificaria como uma verba do passivo de seu patrimônio. Sob a influência de Cicu, alguns definem o direito de alimentos, na órbita familiar, como um direito familiar público, mas a aceitação dessa construção implica uma adesão aos conceitos discutíveis sobre o próprio Direito de Família.
28
Mantida a posição clássica, que o enquadra no direito privado, a sua extrapatrimonialidade apresenta-se como uma das manifestações do direito à vida, que é personalíssimo, e, por isso mesmo, necessário e indisponível. A despeito dessas particularidades, não se pode negar a qualidade econômica da prestação própria da obrigação alimentar, pois consiste no pagamento periódico, de soma de dinheiro ou no fornecimento de viveres, cura e roupas. Apresenta-se conseqüentemente, como uma relação patrimonial de crédito-débito; há um credor que pode exigir de determinado devedor uma prestação econômica”.
Não se pode considerar o direito a alimentos apenas como direito
pessoal e extrapatrimonial, uma vez que se deve levar em consideração
também seu fundamento ético e social, isso porque o alimentado não tem
apenas um interesse econômico, já que a verba que lhe é dada não aumenta
seu patrimônio, nem dá garantia aos seus credores.
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Capítulo 2: EXECUÇÃO DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR 2.1 Considerações preliminares
Devido à importância que a obrigação de alimentar tem para o Direito
de Família, é cedida pela justiça ao credor de obrigação alimentícia uma
espécie de proteção especial, pois este tem ao seu dispor, quatro modalidades
de ações de caráter de execução para propor. Tais ações são ordenadas de
forma hierárquica e gradativa, para que assim se possa conscientizar o
devedor da importância do pagamento correto da prestação e da gravidade de
seu descumprimento, demonstrando ao credor todo amparo judicial para que
seja feito o recebimento.
De acordo com Filho, (1993, p. 87), disciplinadas
complementarmente pelas leis de Alimentos (Lei n. 5.478/68), Lei de Divórcio
(Lei n. 6.515/77), e pelo Código de Processo Civil as ações executivas da
obrigação de alimentar consistem:
1. No desconto efetuado direto na folha de pagamento do inadimplente (Lei n.
5.478/68, art. 16, c/c o art. 734 do CPC);
2. Em execução por meio de descontos em aluguéis ou outras formas de renda
do devedor (artigo 17 da Lei de Alimentos) que abarca a execução para a
entrega ao cônjuge, mensalmente de parte da renda líquida dos bens
comuns, administrados pelo devedor, se o regime de casamento for o da
comunhão universal de bens (Lei n. 5.478/68, art. 4º, parágrafo único);
3. Na execução por quantia certa (art. 732 do CPC);
4. Na prisão do devedor (art. 733 do CPC, e art. 19 da Lei n. 5.478/68).
A Lei n. 5.478/68 que também é conhecida no Brasil como “Lei de
Alimentos”, nos diz que existe uma ordem que coordena a utilização dos meios
de execução, sendo estes organizados da seguinte forma: o que ocorre em
primeiro lugar é a intervenção patrimonial, estando esta prevista no art. 734 do
Código de Processo Civil e arts. 16 e 17 da Lei de Alimentos, sendo estes
hierarquizados pelo legislador, ou seja, não pode o executor a escolha de qual
forma de execução irá adotar primeira.
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De acordo com a redação dada pela Lei n. 6.014, de 27/12/73 artigo
16: “na execução da sentença ou do acordo nas ações de alimentos será
observado o disposto no artigo 734 e seu parágrafo único do Código de
Processo Civil”. Apresenta ainda o mesmo diploma legal em seus arts:
“Artigo 17. Quando não for possível a efetivação executiva da sentença ou do acordo mediante desconto em folha, poderão ser as prestações cobradas de alugueres de prédios ou de quaisquer outros rendimentos do devedor, que serão recebidos diretamente pelo alimentando ou por depositário nomeado pelo juiz. Artigo 18. Se ainda assim, não for possível a satisfação do débito, poderá o credor requerer a execução da sentença na forma dos artigos 732, 733 e 735 do Código de Processo Civil.
Artigo 19. O juiz, para instrução da causa ou na execução da sentença ou do acordo, poderá tomar todas as providências necessárias para seu esclarecimento ou para o cumprimento do julgado ou do acordo, inclusive a decretação de prisão do devedor de um (01) a três (03) meses”.
Caso não seja possível a efetivação da cobrança de forma direta
como, por exemplo, o desconto em folha de pagamento alugue etc., é aplicado
o que dispõe o artigo 18 supracitado. Nesse caso, é cedido ao credor o direito
de opção pelo meio executivo a utilizar, pois o digesto processual não
estabeleceu nenhuma forma de hierarquia entre ambos.
2.2 Da execução de prestação alimentícia
Ante o fato de que a prestação alimentícia tem a função essencial de
propiciar meios de subsistência a quem não possui condições de obtê-los por
iniciativa própria, é inegável a natureza publicística das normas de direito que
disciplinam o assunto, uma vez que a matéria, inegavelmente, interessa à
sociedade brasileira em geral.
Também é considerado um direito personalíssimo, eis que, visando
exclusivamente preservar a vida do indivíduo e as condições de dignidade
inerentes, os alimentos devem ser considerados um direito pessoal, no sentido
de que a sua titularidade não pode ser transferida a outrem, vez que não há
qualquer sentido em que tal coisa possa ocorrer, seja em razão de negócio ou
de fato jurídico.
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“Também é considerado um direito personalíssimo, eis que, visando exclusivamente preservar a vida do indivíduo e as condições de dignidade inerentes, os alimentos devem ser considerados um direito pessoal, no sentido de que a sua titularidade não pode ser transferida a outrem, vez que não há qualquer sentido em que tal coisa possa ocorrer, seja em razão de negócio ou de fato jurídico. (CAHALI, 1999, p. 54)”.
Toda a ordem hierárquica não é pacífica entre todos os
doutrinadores, pois existe determinada corrente doutrinária que defende a
possibilidade do credor poder escolher de forma livre a medida de execução
que irá tomar contra o devedor. Se for feita à interpretação da disposição legal
acerca do assunto fica evidente que é necessário ao executor seguir uma
ordem de atos de execução, tendo que haver primeiramente o esgotamento de
todas as vias de execução que estão elencadas nos já citados artigos. 16 e 17.
Posteriormente a esse esgotamento de opções é que será aberta a
possibilidade de escolher quais das modalidades de ação de execução
elencadas no Código de Processo Civil o credor vai escolher, seja a execução
por quantia certa ou a execução mediante coerção em consonância com o
disposto nos artigos. 18 e 19 do diploma legal que versa sobre a ação
alimentícia.
O entendimento anteriormente apresentado ventila a valoração da
liberdade que o credor deve ter com relação à execução de alimentos, fulcrado
principalmente na questão da urgência que permeia em via de regras as ações
executivas de alimentos. Por essa relevante razão, existem situações que
tamanha é a necessidade do alimentado que não se pode esperar a adoção da
expropriação dos bens como ensina a lei.
“Não se cogita de qualquer dúvida sobre a prevalência das duas primeiras formas, desconto em folha de pagamento ou de aluguéis e outros rendimentos, sobre as últimas duas. Todavia, não se exaurindo o débito por nenhuma daquelas possibilidades iniciais, não se pode, como muitos já sustentaram, impedir a deflagração da ação executiva, com pedido de prisão, antes de esgotada a possibilidade da execução com penhora de bens. Na verdade, ainda que a execução deva ser sempre a menos gravosa para o devedor, neste caso, diante das peculiaridades do crédito exeqüendo, estimo que não haja qualquer hierarquia de uma forma sobre a
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outra. Pelo contrário, tenho que o credor compete escolher a forma executiva mais conveniente aos seus interesses. Se duas interpretações se mostram razoáveis, deve-se optar pela que melhor atenda os fins sociais e ao bem comum. (BEBER, nº. 1, abr/jun,1999.)”
Deve-se fazer uma avaliação de sobrepeso entre bens jurídicos,
sendo que em determinadas situações a liberdade e a vida, “vencem” a
burocracia legal.
2.3 Procedimentos comuns a todas as modalidades executivas
A execução da prestação alimentícia terá abrangência sobre todas
as prestações passadas inadimplida, limitadas a três anos do vencimento, e as
vincendas, nos termos do artigo 290 do Código Civil Brasileiro.
Existe a garantia constitucional que versa com relação ao devido
processo legal, do direito que a pessoa possui de ampla defesa e do
contraditório, devendo todas estas garantias ser respeitadas, mesmo a
interposição de exceções substanciais, não importando qual seja a forma de
execução alimentar.
Pela importância que se dá a prestação de alimentos, terá o
alimentado exeqüente direito de investigação da vida particular do devedor,
com o intuito de obter informações que possam fazer transparecer algum
patrimônio de propriedade do alimentado que seja passível de execução. Essa
investigação pode ser iniciada mediante oficio as repartições públicas, sendo
incluída nessa lista até mesmo a Receita Federal.
De acordo com o artigo 20, Lei n. 5.478/68: “as repartições públicas,
civis ou militares, inclusive do Imposto de Renda, darão todas as informações
necessárias à instrução dos processos previstos nesta lei e à execução do que
for decidido ou acordado em juízo”.
2.3.1 Execução mediante desconto em folha de pagamento
Essa é a primeira das modalidades de execução que devem ser
utilizadas pelo credor que tem o direito a receber alimentos. Tal forma
executiva é portadora de preferências com relação às demais formas
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executivas, sendo basicamente constituída pelo desconto do valor da
prestação na folha de pagamento do devedor, efetuado diretamente na fonte
pagadora.
Pode-se considerar essa forma de execução como a mais prática
das formas de execução que estão em atividade, pois não tem como o devedor
se apoderar do dinheiro. É também considerado como o meio mais rápido de
se conseguir a quantia devida, sendo esta utilizada contra devedores que
sejam funcionários, públicos, diretores ou gerentes de empresa, aposentados,
reformados e demais funcionários que estejam sujeitos aos ditames da
legislação trabalhista.
É um método de execução que atua cumulativamente pelo artigo 16
da Lei n. 5.478/68 com o artigo 734 do Código de Processo Civil, sendo que
através deste método executório o desconto na folha de pagamento do
devedor não depende de seu consentimento, nem estipulação através de
acordo judicial ou extrajudicial, ou decisão que fixe a obrigação alimentícia.
No caso de não pagamento da prestação, deve o alimentado fazer o
ajuizamento da ação de execução alimentícia, devendo constar o empregador
ou a fonte pagadora do devedor, pedindo a expedição de determinação que
autorize a feitura dos descontos da pensão do pagamento do devedor de forma
periódica, de acordo com a estipulação de valor que foi feita, não importando
se esta foi decretada na forma consensual ou litigiosa.
O devedor deverá ser citado de forma regular, sendo-lhe
demonstrado todo o conteúdo da ação de execução. Na execução de
prestação alimentícia por intermédio do desconto na folha de pagamento é
importante que se note que o desconto deverá ser equivalente ao valor da
penhora que dá basilar ao ajuizamento, pelo alimentante executor, dos
competentes embargos, que seguem o rito comum.
De acordo com a afirmativa, "essa modalidade de execução
comporta, perfeitamente, a cobrança de parcelas pretéritas, desde que
reservado ao alimentante valor necessário à sua sobrevivência" Assis (2002,
p.45). Pode-se compreender que existe a possibilidade de efetuação do
parcelamento da dívida pretérita, para que possa não haver prejuízo ao credor
na sua necessidade e nem ao devedor no cumprimento de suas obrigações.
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2.3.2 Execução mediante outros rendimentos do devedor
Caso não haja a possibilidade de efetuação do desconto do valor da
prestação alimentícia diretamente na folha de pagamento do devedor, poderá
então o alimentado buscar a segunda forma de execução da prestação
alimentícia elencada no artigo 17 da Lei de alimentos. Tal forma de execução
se trata da captação de parte da renda do executado que equivale a prestação
de alimentos, sendo que esta colheita pode incidir sobre alugueis e outros
investimentos.
A execução que recai sobre os alimentos abrange também a forma
de execução que se encontra disciplinada no art. 4º, parágrafo único do mesmo
diploma legal, que tange a entrega do valor devido ao cônjuge pelo devedor de
parte de sua renda líquida dos bens comuns que foram por ambos ministrados,
caso o regime de casamento seja o de comunhão universal de bens.
É exigido que o devedor seja citado de todo o conteúdo da ação de
execução, depois que tiver conscrito o valor da renda mensal através de
aluguéis ou de investimentos, oferecer seus embargos correspondentes ao
caso. O procedimento citado se trata de um procedimento mais ágil e eficaz
que a penhora comum, que é disciplinada pelo Código de Processo Civil.
Caso não haja a possibilidade de recebimento de dinheiro suficiente
para que ocorra o pagamento dos créditos, poderão ser penhorados e leiloados
os bens e investimentos que possui o devedor, para que assim possa ser
efetuado o pagamento da prestação de maneira a liquidar o débito pendente.
Cabe ainda ressaltar que é permitido que o pagamento da dívida ocorra
através do usufruto em favor do alimentado. Não é permitido que sejam
descumpridos os descontos de locativos, vencimentos, dentre outros, pois
estes somente se dão através de ordem judicial, e tem obrigatoriamente que
ser cumprida. Contudo, o devedor pode apresentar sua defesa em caso de
resignação.
35
2.3.3 Execução por quantia certa
Caso ocorra a frustração da ação de execução da obrigação de
alimentar na forma de desconto na folha de pagamento, na captação de
percentual do rendimento do devedor ou na sua impossibilidade utilização,
conforme afirma:
“Poderá o credor eleger por qual meio executivo, dentre os disciplinados pelo Código de Processo Civil, prosseguirá a cobrança: se a coação pessoal pelo procedimento da coerção patrimonial exposta pelos artigos 732 e 735 do Código de Processo Civil, que remetem o credor à execução por quantia certa contra devedor solvente. (ASSIS, 2002, p.47)”.
A obrigação alimentar possui a característica de ser uma obrigação
de dívida líquida, certa, de caráter urgente, fixada judicial ou extrajudicialmente,
podendo ser objeto de execução forçada, seja através da expropriação ou da
apreensão dos bens do devedor para que possa haver a quitação da dívida.
O processo de execução é dividido em três fases distintas, sendo
organizada na seguinte ordem:
1. Proposição: consubstanciada na constituição da relação jurídico-processual;
2. Instrução: consubstanciada na apreensão e desapropriação dos bens;
3. Liquidação: consubstanciada na entrega do produto da arrematação, para
satisfação do crédito.
Caso a petição inicial esteja confeccionada de forma correta deverá
determinar o magistrado que se faça a citação do executado, sendo que tal
citação deverá ser efetivada por meio de mandado. No caso do executado ser
domiciliado em local incerto e não sabido, será este intimado pela via de edital.
Cabe ainda ressaltar que se faz incabível no processo de execução por quantia
certa contra devedor solvente a citação por hora certa ou por carta com aviso
de recebimento.
Deverá constar no mandato à determinação da citação do devedor
para que este efetue o pagamento com as devidas correções monetárias e
juros, assim como os honorários advocatícios e todas à custa processual, ou
nomeação de seus bens para que seja feita a penhora em prazo de vinte e
36
quatro horas. Importante se faz ressaltar que a contagem desse prazo se fará
da efetiva citação e não da juntada dos autos ao mandado. Caso não haja a
nomeação de bens a penhora por parte do autor da ação, serão nomeados
tantos quantos bens forem necessários para que haja a compensação do valor
da dívida, associada à custa processual. Em qualquer caso, recairá a penhora
em dinheiro. Os embargos apresentados não inibirão ou obstarão o
levantamento, pelo credor, do valor da pensão, independente de prestação de
caução.
37
Capítulo 3. DA OBRIGATORIEDADE DO PEDIDO DE EXONERAÇÃO
3.1- Considerações preliminares
O posicionamento quanto à obrigatoriedade do pedido de exoneração,
por vezes se iguala a uma determinada ala doutrinária, por vez, se coloca
contra, já que em seu entendimento: "cessada a menoridade, cessa ipso jure a
causa de a obrigação alimentar, sem que se faça necessário o ajuizamento,
pelo devedor, de uma ação exoneratória." (CAHALI, 1999, p.440).
Conclui-se que, o fato dos filhos alcançarem a maioridade civil não
importa na perda do direito de requerer amparo alimentar. Ao contrário, os
mesmos continuam com legitimidade para pleitear alimentos, todavia, fundada
na relação não mais filial, mas de parentesco, a qual se sujeita aos
pressupostos da prova da necessidade daquele que pede e da possibilidade
daquele que é chamado a dar.
Até a maioridade, em conseqüência e por força da paternidade,
nasce a obrigação de alimentar. Depois de alcançada a maioridade,
pressupõe-se que o filho consiga sobreviver por seus próprios recursos. O
surgimento do pedido de alimentos surge tão somente, nos casos previstos no
Novo Código Civil Brasileiro. O momento em que finda a obrigação de
alimentar e se inicia o dever de alimentos, que são situações distintas uma da
outra. O fim é o mesmo, contudo, a forma e o fundamento são diferentes.
No caso de haver exoneração da pensão alimentícia e, estando o
filho ainda a necessitar de tais recursos, mediante prova de suas
necessidades, sejam estas por estudo ou por doença, ou outro motivo plausível
qualquer, obterá, durante a nova ação de alimentos, a concessão de verba
provisória, consoante previsão contida na Lei n. 5.478/68.
Em caso singular, envolvendo a matéria em pauta, o TJDF (Tribunal
de Justiça do Distrito Federal), por via de mandado de segurança (n. 3.599),
cujo relator foi o Des. José Hilário de Vasconcelos acolheu o pedido formulado
pelo impetrante, para, em conseqüência, dar efeito suspensivo ao agravo de
instrumento interposto contra a decisão que recebeu o apelo do vencido no seu
duplo efeito. Tal acolhimento é um precedente que assim se fundamenta:
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“Com o advento da maioridade, cessa para o pai o dever de sustentar o filho, notadamente se este se encontrar empregado, auferindo renda própria. Eventual necessidade de o filho poder reclamar novos alimentos, não mais fundados no pátrio poder, a qual deverá ser comprovada em ação própria. O cancelamento da pensão liminarmente é medida que se impõe. Des.Vasconcelos\TJDF, MS, n. 3.599”
Já bastante discutido neste trabalho, a questão do pedido de
alimentos sob a proteção do "dever de alimentar", mas há outra questão que se
mantém em discussão é em relação ao pedido de exoneração. Há a hipótese
de que não seja necessário o alimentante pedir a exoneração em juízo, e sim
deixar de fazê-lo de imediato, consoante a maioridade do alimentado.
Percebe-se que nesse caso, caberia ao segundo a tarefa de, em
juízo, comprovar sua real necessidade em continuar recebendo os alimentos,
agora já não mais por obrigação do alimentante, mas sim por dever deste.
O ônus da iniciativa do pedido de alimentos compete ao filho adulto,
e não ao pai, pois este já cumpriu com as obrigações decorrentes do pátrio
poder. A comprovação do binômio necessidade/possibilidade encontra-se
previsto no Código Civil Brasileiro. Vejam-se mais alguns julgados acerca do
tema:
“ALIMENTOS. REVISIONAL. ALEGAÇÃO DE MAIORIDADE DOS BENEFICIÁRIOS. CASAMENTO DE UM DELES. REDUÇÃO NEGADA. A simples maioridade civil do alimentando não é motivo, por si só, de redução ou exoneração da verba alimentar, notadamente se o seu quantum foi fixado de maneira única, abrangendo todos os beneficiários. (Ap. Cív. nº 29.781, de Joinville, Rel. Des. Eralton Viviani, DJE nº 7.743, de 10.04.89, pág. 15) AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXONERAÇÃO DE ALIMENTOS À VISTA DE MERO REQUERIMENTO DO ALIMENTANTE EM AUTOS DE EXECUÇÃO. RECURSO INCABÍVEL. DECISUM, ENTRETANTO, DECLARADO NULO DE OFÍCIO. A ação exoneratória, com observância fiel ao princípio do contraditório, constitui-se à luz dos preceitos legais incidentes, na via própria para a desoneração do alimentante quanto à obrigação alimentar que lhe foi imposta. Nulo é o decisum que, em sede de execução de alimentos, promovida pelo alimentário, através de carta de sentença, desonera o executado de sua obrigação, em atendimento a simples petição do mesmo, sobre a qual sequer foi ouvido o credor. (Agravo de Instrumento 97.001527-5, de Joinville, Relator Des. Trindade dos Santos, TJSC). A maioridade do filho, que é estudante e não trabalha, a exemplo do que acontece com as famílias abastadas, não justifica a exclusão da
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responsabilidade do pai quanto ao amparo financeiro para os estudos. (RJTJSP 18/201). Não obstante ter completado 21 anos e tendo emprego onde percebe pouco, necessita a filha, ainda, dos alimentos prestados pelo pai, vez que nem sempre a maioridade é capaz de desobrigar os pais, pois, se por um lado, com o atingimento dela cessa o pátrio poder, isto não implica e acarreta a imediata cessação do dever de alimentar." (RJTJMG 178/64) Sendo o filho maior, estudante e sem emprego, tem-se-lhe reconhecido direito a alimentos pelo pai, isto por espírito de eqüidade, mas, para tanto, o descendente deverá provar que não pode trabalhar e que, conseqüentemente, necessita ainda do sustento paterno. Todo homem maior e capaz deve prover o próprio sustento, e, no caso do filho estudante, este deverá comprovar que em face do horário de suas aulas está impedido de trabalhar, e, assim não correndo, fica o pai exonerado de a obrigação alimentar. (RT 680/174) Ação de exoneração de alimentos. Alegada maioridade e condições de trabalho dos filhos beneficiados. Necessidade de citação dos mesmos. Anulação da sentença para que se complete a relação processual. (Ap. Cív. n. 33.368, de São José, Rel. Des. Protásio Leal, TJSC)”
Insensato seria o julgamento só da exoneração de alimentos para no
final processo informar ao impetrante que seu dever de sustento terminou com
a maioridade do filho, mas que pode se dá início a uma nova ação de
alimentos, a título de obrigação alimentar decorrente do parentesco. O correto
e o mais sensato que tanto uma, quanto outra questão seja discutida na ação
originária, evitando-se assim, a interposição de ação de exoneração de
alimentos, seguida da ação de pedido de alimentos pelo direito de relação de
parentesco.
Atendendo ao principio da economia processual, propõe-se a
dispensa da propositura de ação de exoneração de alimentos, lembrando
sempre que a maioridade não faz cessar o pagamento da pensão alimentícia,
mas também não há nenhuma necessidade de exigir-se que a questão seja
discutida em outro processo, mas sim no processo inicial.
A conclusão que se extrai da jurisprudência, é que a maioridade não
implica na extinção da pensão alimentícia devida pelos pais aos filhos. Em
verdade, ocorre apenas a mudança da causa da obrigação alimentar, que
deixa de ser o "dever de sustento" decorrente do "pátrio poder" e passa a ser o
"dever de solidariedade" conseqüência do parentesco.
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3.2- A maioridade dos filhos e a exoneração dos alimentos
Em via de regra, pode-se afirmar que existe a possibilidade da parte
devedora se exonerar da obrigação de prestar alimentos, sendo quando o
alimentado não mais necessita da contribuição alimentar ou quando o
alimentante não tem mais condições de produzir alimentos necessários para
sua subsistência e a do alimentado. O motivo de não ter condições para pagar
a prestação alimentícia não é causa de exoneração da pensão alimentícia, mas
sim uma justificativa para a inadimplência em caráter temporário.
No mesmo sentido pode-se observar o seguinte labor
jurisprudencial:
“CIVIL – ALIMENTOS – DESEMPREGO DO ALIMENTANTE – SITUAÇÃO TRANSITÓRIA – EXONERAÇÃO INVIÁVEL – A modificação ou a exoneração da obrigação alimentar reclama uma relativa estabilidade das alterações supervenientes nas possibilidades do alimentante ou nas necessidades dos alimentados porque destinadas a incidir sobre entidade de prestação periódica. Bem por isso, o desemprego ocasional do alimentante não incapacita a prestação alimentícia para efeito de exoneração, podendo apenas justificar a inadimplência transitória. Recurso improvido”. (TJSC – AC 00.013642-5 – 2ª C.Cív. – Rel. Des. Vanderlei Romer – J. 08.02.2001)”
Em se tratando de obrigação de alimentar referente ao poder
familiar pode-se dizer que a obrigação somente se extingue com os completos
vinte e um anos de idade pelo alimentado, isto porque de acordo com o art.
1.635, III, do Novo Código Civil, quando o alimentado completa vinte e um anos
cessa-se o poder familiar referente a este.
Pode-se notar que existem discussões acerca desse dispositivo
legal, pois com o advento do mesmo diploma legal a maioridade que era de 21
(vinte e um) anos decaiu para a idade de 18 (dezoito anos).
O que se afirma no artigo 6º da Lei de Instrução ao Código Civil
(Decreto-lei n. 4.657/42), no seguinte dizer: "a lei em vigor terá efeito imediato e
geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada”,
sem deixar de observar o tão ilustre art. 5º, XXXVI, da Lei Maior, no dizer de
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que "a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa
julgada". Pode-se dizer que a lei se trata de uma lei retroativa, tendo esta
apenas ineficácia perante o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa
julgada.
A disposição que está presente no art. 5º do Novo Código Civil deve
ser de aplicabilidade imediata, sendo possibilitada a exoneração da prestação
alimentícia aos completos dezoito anos, mesmo que a sentença tenha sido
dada sobre a vigência do Código Civil anterior, não há porque haver ofensa ao
direito adquirido, nem mesmo a coisa julgada, pois a pessoa recebe a
prestação de alimentos até completar a maioridade legal, sendo esta
atualmente de dezoito anos, e não mais de vinte um.
Ocorre a ofensa ao direito adquirido do alimentado se na sentença
referente à obrigação de prestação alimentícia do alimentante para com o
alimentado, constou que os alimentos deveriam ser prestados até os completos
21 (vinte e um) anos de idade, e não até completar a maioridade civil.
Deve-se observar que nessa mudança não há que se falar em
retroação da lei, pois tal mudança apenas se deu com a vigência do Código
Civil de 2002, sendo que todos os filhos que eram menores de vinte e um
tinham a expectativa de receber a prestação até os vinte e um anos, não
caracterizando retroação da lei. Isso porque de acordo com o direito a mera
expectativa, apesar de ser legítima, não tem garantia alguma em face de nova
lei.
A diferenciação entre o direito adquirido e expectativa de direito no
seguinte dizer:
“Diante de uma lei que exclui da sucessão os colaterais a partir do 4º grau, um parente nessas condições, que já herdou porque a sucessão abriu-se antes da nova lei, tem um ‘direito adquirido’, e a nova lei não o atinge. Enquanto no caso de não ter havido ainda a sucessão, os colaterais do 4º grau têm apenas ‘expectativa de direito’; são por isso alcançado pela nova lei e excluído da sucessão. (MONTORO, 1999, p.393)”.
Pode-se afirmar que a mesma coisa deve ocorrer com relação à
pensão alimentícia que decorre de poder familiar, ou seja, esta se extingue
com o alcance da maioridade civil por parte do alimentado, sendo lógico que a
obrigação de alimentar também deva cessar com o alcance da referida idade,
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tendo em vista que a mudança na lei terá efeito erga omnes, ou seja, terá
alcance sobre todas as pessoas, sendo irrelevante se a sentença foi decretada
em momento anterior ou posterior a entrada em vigor da nova lei.
Devem-se observar as situações em que mesmo com a chegada da
maioridade civil a pensão deve continuar a ser prestada, sendo este, o caso do
filho que estuda, pois nesse caso pode-se afirmar que o Código Civil de 2002,
não apresentou nenhuma modificação. Tanto os estudiosos quanto os
operadores do direito clamam por uma uniformização na sistematização da
matéria atinente a alimentos, uma vez que muitos são os diplomas legais e
fórmulas jurisprudenciais que, admitindo-se ou não, regram e balizam o
assunto.
“Ao se estabelecer que a pensão deva ser fixada ‘inclusive para atender às necessidades de sua educação’ (art. 1694), fácil será sustentar a subsistência da obrigação mesmo depois de alcançada a capacidade civil aos 18 anos, quando destinado o valor para mantença do filho estudante. (CAHALI, 2001, p.196 e 197)”.
Além de tudo, ainda deve-se observar que a efetivação do direito
de receber prestação alimentícia para o filho que possui idade entre dezoito e
vinte e quatro anos não é oriundo do poder familiar, mas sim da relação de
parentesco que há entre eles. Sobre o mesmo tema tem-se o seguinte labor
jurisprudencial do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em 24/10/2002:
“EMBARGOS À EXECUÇÃO. PENSÃO ALIMENTÍCIA. MAIORIDADE CIVIL DA ALIMENTADA. ESTUDANTE. VÍNCULO DE PARENTESCO. Ainda que se reconheça que a obrigação decorrente do pátrio poder tenha se encerrado com a emancipação da filha, por força do vínculo de parentesco, determinado pelo artigo 397, do Código Civil brasileiro, persiste o direito à prestação de alimentos, mormente se a alimentada estiver cursando faculdade, e não tiver condições de arcar sozinha com seus custos”.
Deve-se observar sobre a pensão de alimentos que esta é de direito
do filho para estudar após ter completado a sua maioridade civil, mas esta fica
sujeita a exoneração por parte do pai ou da mãe se por acaso estes não tiver
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condições ou tiver sua condição reduzida de maneira que torne impossível o
cumprimento de tal prestação sem que haja prejuízo a sua subsistência.
3.3- Transmissibilidades da obrigação alimentar
O art. 402 do Código Civil de 1916 estabelecia que “a obrigação de
prestar alimentos não se transmite aos herdeiros do devedor”, isto em razão do
caráter personalíssimo da obrigação alimentar. É, ademais, o que determinava
o art. 928 do mesmo Código, que afirmava que a obrigação, não sendo
pessoalíssimos, opera assim entre as partes, como entre seus herdeiros.
“Se uma pessoa obrigada a alimentar o pai morre, deixando descendentes, estes não herdam o dever de prosseguir fornecendo aqueles alimentos, que ordinariamente caberá a seus tios paternos. Não havendo parentes mais próximos, os descendentes do de cujus podem ser chamados a alimentar o avô, mas por nova obrigação, não por sucessão da obrigação de seu pai. (RODRIGUES, 1999,p.367)”.
A Lei do Divórcio, inovando a matéria, dispôs, no “Art. 23, A
obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na
forma do art. 1.796 do Código Civil”.
Não cabe mais repetir toda a divergência doutrinária que este
dispositivo criou na doutrina e na jurisprudência. Isto porque o art. 1.700 do
novo Código, repetindo a regra do citado art. 23, revogou expressamente o art.
402 do velho estatuto civil. Agora se pode afirmar com segurança: a obrigação
de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor.
Segundo Veiga (1983, p.53):
“O mais hilariante do absurdo é o fato traduzido em mulher vivendo à custa de outra mulher, quando esta se confunde como herdeira. Até certo ponto compreensível já que queriam macular a perfeição jurídica antevista no Código Civil (art. 402 [do CC de 1916]), deveriam ressalvar a jocosidade. (PEREIRA, v. 5, 1997, p.297). O marido que se divorcia da mulher e com outra casa, morrendo esta outra, entendível que o marido continue a prestar alimentos à primeira, porque a obrigação é pessoal. Ao revés, se morrendo o marido, os filhos deste ou segunda mulher, se herdeira, vai sustentar a primeira. Maior teratologia
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jurídica é que a dívida pessoal do de cujus transmite-se aos herdeiros. Aí, a pena civil é em maior dose do que a penal, que é individual e com uma conotação ímpar contra de cujus. A obrigação alimentícia é personalíssima, diga-se era: Atualmente, é familiaríssima. (VEIGA, 1983, p.53)”.
Aceita a transmissibilidade da obrigação alimentar, pode ocorrer, por
exemplo, que a segunda esposa de um divorciado seja obrigada a alimentar
sua esposa anterior. Basta, para tanto, se considerar que, com o divórcio,
tenha ele ficado com a obrigação de alimentar sua ex-esposa. Casando-
se novamente e, em seguida, morrendo sem deixar descendentes ou
ascendentes, esta obrigação se transmitirá, nos limites das forças da herança,
ao seu cônjuge atual.
O legislador não atentou para as conseqüências de seu ato. Tal
transmissibilidade tem um limite: as forças da herança. O art. 23 da Lei do
Divórcio deixava isto claro ao se referir ao art. 1.796 do Código Civil de 1916. O
novo Código, contudo, fez incorreta referência ao art. 1.694. Deve-se entender
que a referência correta é ao art. 1.997, que corresponde ao art. 1.796 do velho
Código. De acordo com Oliveira e Muniz, (1999, p.74).
“Não se trata, a rigor, de uma obrigação alimentar transmitida por morte. Neste caso, o credor de alimentos vê assegurado o direito de ser alimentado à custa dos rendimentos dos bens deixados pelo devedor, como sucede, por exemplo, com o apanágio do cônjuge sobrevivente no Direito português. O cônjuge separado judicialmente ou divorciado que tinha direito a alimentos, em vida, conserva-o sobre os rendimentos da herança. Os herdeiros não são obrigados pessoalmente pela dívida de alimentos do autor da sucessão. Fala-se de encargo que atinge os bens da herança em termos reais (ônus real)”.
Percebe-se que para fazer valer seu direito, cabe ao alimentando,
porém, habilitar-se nos autos do inventário, antes da partilha, a fim de que seja
computada, entre as dívidas do espólio, a pensão a que tem direito. Parece
haver transmissão da obrigação inclusive na hipótese de
herança vacante, quando então a Fazenda Pública, assumindo os bens da
herança, assume também a obrigação de continuar a prestar os alimentos.
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Duas outras questões se colocam. Primeiramente, se o devedor
falecido deixa pensão previdenciária, com o que já se beneficiará o credor da
pensão, aplica-se o art. 1.700\CC, para transmitir a obrigação alimentar aos
herdeiros? Embora uma coisa e outra não se confundam, parece não poder o
credor ser beneficiado duplamente, até porque, recebendo pensão
previdenciária, não necessitará, em regra, de pensão alimentícia, deixando de
existir um de seus fundamentos.
Embora não se encontre na doutrina solução para esta questão
específica, parece-nos que, à luz do que aponta a doutrina para as obrigações
criadas pelo testamento, não poderá a legítima ser atingida pela transmissão
desta obrigação alimentar.
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CONCLUSÃO O ordenamento jurídico nacional consagra o direito aos alimentos,
entendidos estes em uma concepção ampla, abrangendo tudo quanto é
necessário para satisfazer as necessidades humanas, ou seja, não apenas o
necessário para a alimentação, mas, também ao vestuário, moradia, saúde etc.
Alimentos são, pois, as prestações devidas, feitas para que quem as receba
possa subsistir, isto é, manter sua existência, realizar o direito à vida, tanto
física, como a intelectual e moral.
Na legislação brasileira, este direito está consagrado no Código Civil,
que, em seus artigos 396 a 405, prevê a possibilidade de os parentes exigirem
alimentos uns dos outros. E a Lei n. 5.478/68, regula o procedimento da ação
de alimentos para os casos em que já há prova documental do parentesco. A
clareza da legislação neste aspecto torna indiscutível o direito de os filhos
menores pleitearem que seus pais lhes prestem alimentos, caso não estejam
cumprindo esta obrigação, quer por tê-los abandonado ou por outra razão
qualquer. Os pais têm a obrigação legal de sustentar os filhos menores, e estes
têm o direito de serem mantidos pelos pais até que possam fazê-lo por seus
próprios meios.
Este é um direito de tal importância que o não pagamento da pensão
alimentícia devida por força de decisão judicial gera a mais grave conseqüência
em matéria civil, que é a prisão do devedor inadimplente. É uma das poucas
exceções à regra de que a privação da liberdade pela prisão só pode ocorrer
em virtude de cometimento de crime. A prisão pelo não pagamento de pensão
judicial está autorizada pela própria Constituição Federal de 1988, em seu art.
5º, inciso LXVII. Esta grave conseqüência é plenamente justificada em face do
bem jurídico protegido, que no caso é a sobrevivência digna de seres humanos
incapazes de prover o próprio sustento.
Percebe-se que os pedidos de alimentos efetuados por filhos
menores aos seus pais assumem importância ainda maior ao se verificar a
elevada freqüência com que ocorrem na realidade. Os processos envolvendo
pensão alimentícia figuram entre os mais numerosos no Poder Judiciário de
todo o país. Não obstante, as inúmeras causas submetidas a julgamento, um
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dos problemas de mais difícil solução nas questões de alimentos ainda não têm
tido uma solução satisfatória: a correta fixação do valor da pensão.
A lei determina que os alimentos sejam fixados "na proporção das
necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada" (art. 400 do
Código Civil). Este dispositivo consagra os dois critérios fundamentais
utilizados para determinar o valor da pensão, quais sejam:
· As necessidades do "reclamante" (aquele que promove a ação, também
denominado de "alimentário" ou "alimentado", isto é, aquele que recebe ou
pretende receber a pensão);
· As possibilidades do "reclamado" (aquele contra quem a ação é promovida,
também denominado de "alimentante", ou seja, aquele que deve pagar a
pensão).
Os critérios estabelecidos pela lei, embora justos, não são precisos
na medida em que, de um lado, as necessidades, entendidas amplamente para
incorporar não apenas as prerrogativas biológicas, mas também as demais
necessidades fundamentais dependem de fatores culturais, geográficos e do
próprio status sócio-econômico da família. De outro, as condições financeiras
do reclamado são de difícil mensuração. Em termos práticos, as principais
dificuldades enfrentadas pelo Juiz para decidir o valor da pensão são as
seguintes:
· Conhecimento preciso das possibilidades do alimentante;
· Dificuldade de o alimentário provar o exato valor dos ganhos do
alimentante;
· Conhecimento das reais necessidades do alimentário.
No que tange às duas primeiras dificuldades, excetuando-se os
casos em que o alimentante tem salário fixo, nas demais situações utilizam-se
métodos indiretos para se obter elementos que permitam avaliar as
possibilidades do reclamado, como o depoimento de testemunhas, a
verificação do padrão de vida por meio da análise de dados relativos a cartões
de crédito, movimentação de conta bancária etc. No que diz respeito à terceira,
valores vêm sendo utilizados empiricamente com base em dados pouco
sistemáticos e não adequados.
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Na grande maioria dos casos a fixação do valor da pensão
alimentícia torna-se assim um problema difícil, envolvendo questões de ordem
ética e econômica, com implicações importantes para as partes envolvidas e
que vem sendo resolvida, basicamente, pelo bom senso da Justiça, dada a
falta de elementos objetivos que permitam trazer maior segurança às decisões.
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