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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ – CEAP
CURSO DE DIREITO
LEDA DE SOUSA COUTINHO RIBEIRO
O DIREITO COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO DAS ÁREAS DE RESSACA DE MACAPÁ
MACAPÁ/AP - 2008
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LEDA DE SOUSA COUTINHO RIBEIRO
O DIREITO COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO DAS ÁREAS DE RESSACA DE MACAPÁ
Monografia jurídica apresentada como exigência à conclusão do Curso de Bacharelado em Direito, promovido pelo Centro de Ensino Superior do Amapá – CEAP, sob a orientação do Professor Renato Ribeiro Santos
MACAPÁ/AP - 2008 LEDA DE SOUSA COUTINHO RIBEIRO
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O DIREITO COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO DAS ÁREAS DE RESSACA DE MACAPÁ
Monografia para obtenção do grau de Bacharel em Direito, sendo a comissão composta por Professores do Centro de Ensino Superior do Amapá – AP.
Aprovada em: ______/______/______
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________. Orientador
______________________________________________. Avaliador
______________________________________________. Avaliador
4
No princípio, criou Deus os céus e a terra.
E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.
Gêneses. 1.1
5
Dedico este trabalho aos meus pais, Moacir e
Francisca, e mesmo diante da dor pelas suas ausências,
encontrei forças para continuar os estudos e terminar este curso,
tendo a certeza de que o sonho por eles sonhado não foi em
vão.
Dedico também este trabalho ao meu esposo,
Waldeir, e aos meus filhos Moacir, Marcell e Larissa, amores de
minha vida.
6
Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus, maior fonte de inspiração e sabedoria para
quem acredita ser possível a realização de um objetivo pessoal na busca do
conhecimento, trabalhando com respeito, dignidade e amor ao próximo.
Ao professor Renato Ribeiro, pela orientação e acompanhamento nas fases
de desenvolvimento deste trabalho, especialmente pelo seu profissionalismo e sua
dedicação à arte de ensinar.
A todos os professores do Centro de Ensino Superior do Amapá – CEAP, que
não só contribuíram para o meu aprendizado e para a minha formação acadêmica,
mas também pela participação que tiveram no meu crescimento como ser humano.
Agradeço ainda, ao Professor Leonil Pena Amanajás, Diretor do CEAP, e a
todos os funcionários desta instituição de ensino superior, pela atenção dedicada e
pelo tratamento dispensado durante o curso.
Aos meus colegas de estudo, pelos momentos que passamos juntos, pela
forma sempre respeitosa e carinhosa com que sempre me trataram, especialmente,
Alexsandro Acioli, Jaime Ferreira, Jorge Nunes, Luiz Carlos Lobato, Ruth Helena
Monteiro, Sandrely Chermont e Socorro Nascimento.
A minha família, pela compreensão e pelo incentivo que sempre me deram
para que pudesse chegar ao final deste curso, especialmente, minhas irmãs,
Jussara, Jaciara, Lane, Regina, Ieda e Iara.
Aos meus amigos, porque acreditaram na realização deste sonho.
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Resumo
O processo de globalização vivido no final do século XX, com sua
conseqüente destruição/reconstrução dos lugares, padrões e valores, e a
consciência do Homem de que a agressão ao meio ambiente poderá trazer em
breve conseqüências negativas para as futuras gerações, traz à tona a importância
do meio ambiente e a preocupação com a deterioração da qualidade de vida da
população.
Se por um lado temos o privilégio de morar num país tão rico, ambientalmente
falando, e também numa região considerada de extrema importância para a
humanidade, que é a região amazônica, por outro lado, temos a responsabilidade de
preservar todo este patrimônio que herdamos e que devemos deixar de herança
para nossos descendentes.
Desde a década de 40 já existia um processo lento de agressão ao meio
ambiente em Macapá, porém, este se acentuou após a década de 90 com a
implantação da Área de Livre Comercio de Macapá e Santana – ALCMS, já que em
apenas dois anos a população de Macapá cresceu cerca de 83%. Saltou de 191 mil
para 350 mil habitantes, segundo o IBGE.
Essa agressão ao meio ambiente em Macapá pode ser facilmente percebida
através de um simples olhar nas áreas de ressaca que circundam a cidade. As
invasões para instalação de residências da população carente, sem nenhuma infra-
estrutura e a instalação de atividades econômicas sem o mínimo de controle, são
alguns dos exemplos dessas agressões contra a natureza.
Não podemos fugir da nossa responsabilidade. Temos que enfrentar o
problema de frente, e para isso, temos que aprender a utilizar melhor o Direito como
instrumento legal para proteção das áreas de ressaca de Macapá, para que se
possa garantir às futuras gerações um meio ambiente equilibrado e saudável. Essa
é a nossa missão.
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Abstract
The process of globalization lived at the end of the twentieth century, with its
consequent destruction / reconstruction of the posts, standards and values, and
awareness of human aggression that the environment may soon have negative
consequences for future generations, brings to light the importance of the
environment and concern about the deteriorating quality of life.
If on the one hand we have the privilege of living in a country so rich,
environmentally speaking, and also in a region considered to be of extreme
importance to humanity, which is the Amazon region, on the other hand, we have a
responsibility to preserve this heritage that all inherited and we should stop legacy for
our descendants.
Since the decade of 40 was already a slow process of aggression to the
environment in Macapá However, he stressed after the 90s with the establishment of
the Free Trade Zone Macapa and Santana - ALCMS, because in just two years after
Macapa population grew by 83%. Jumps of 191 mil para 350 thousand inhabitants,
according to the IBGE.
This aggression to the environment in Macapá can easily be perceived by a
simple look in the areas of hangover that surround the city. The installation of home
invasions for the poor, with no infrastructure and installation of economic activities
without the least control, are some examples of these aggressions against nature.
We can not shirk our responsibility. We must face the problem head on, and
for this, we must learn to make better use of law as a legal instrument for protection
of areas of hangover Macapa in order to guarantee future generations a healthy and
balanced environment. That is our mission.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 11
CAPÍTULO I. ............................................................................................................ 13
1. DA PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE ...................................................... 13
1.1 PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE – HISTÓRICO.................................. 13
1.2 RECURSOS HÍDRICOS: PANORAMA DA ÁGUA NO PLANETA .................. 17
1.3 A DISPONIBILIDADE HÍDRICA E A CONDIÇÃO DAS ÁGUAS NO BRASIL. 21
CAPÍTULO II. ........................................................................................................... 23
2. DAS ÁREAS DE RESSACA............................................................................... 23
2.1 CONCEITO ..................................................................................................... 23
2.2 RESSACAS – SOLO, FAUNA E FLORA. ....................................................... 23
2.3 PRINCIPAIS RESSACAS DE MACAPÁ. ........................................................ 23
2.4. FUNÇÕES ECOLÓGICAS DAS ÁREAS DE RESSACA ............................... 26
2.5 PROCESSO DE OCUPAÇÃO DAS RESSACAS .......................................... 27
2.5.1 Ação Antrópica ..................................................................................... 30
2.5.2 Degradação das Áreas de Ressacas .................................................. 31
2.5.3 Impactos Sócio-Ambientais ................................................................ 31
2.5.4 Qualidade da água nas ressacas ....................................................... 33
2.5.5 Destinação do Lixo .............................................................................. 34
CAPÍTULO III. .......................................................................................................... 35
3. O DIREITO E O MEIO AMBIENTE ...................................................................... 35
3.1 O DIREITO E A PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE ...................................... 35
3.2 EVOLUÇÃO DO DIREITO AMBIENTAL ......................................................... 35
3.3 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO AMBIENTAL ......................................... 39
3.4 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL ............................................................................ 41
3.4.1 Constituição Federal ............................................................................ 42
3.4.2 Lei nº 4771/65 – Do Código Florestal ................................................ 43
3.4.3 Lei nº 6.938/81 – Da política nacional de meio ambiente ................. 43
3.4.4 Lei 6.766/79 – Do parcelamento do solo urbano ............................... 44
3.4.5 Lei 10.257/01 – Do Estatuto da Cidade ............................................... 45
10
3.4.6 Constituição do Estado do Amapá – Meio Ambiente ................... 46
3.4.7 Lei Estadual nº 0835/2004 – Da ocupação urbana e reordenamen-
to territorial nas áreas de ressacas . .................................................
48
3.4.8 Lei Estadual nº 0455/99 dispõe sobre delimitação e tombamento
das áreas de ressaca localizadas no Estado do Amapá. .................
49
3.4.9 Lei Municipal nº 026/2004 – Institui o Plano Diretor de Desenvolvi-
mento Urbano e Ambiental do Município de Macapá. ......................
50
CAPÍTULO IV. ......................................................................................................... 51
4 – DA RESPONSABILIDADE, DO DANO E DA REPARAÇÃO. .......................... 51
4.1 A RESPONSABILIDADE DO PODER PÚBLICO PELA DEGRADAÇÃO
DAS ÁREAS DE RESSACA . ......................................................................
51
4.2 DANO E REPARAÇÃO. .................................................................................. 52
4.3 TIPOS DE RESPONSABILIDADE. ................................................................ 53
4.4 COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR SOBRE DANO AMBIENTAL. ................. 53
4.5 CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL. ................................. 54
CAPÍTULO V. .......................................................................................................... 55
5.DAS POLÍTICAS PARA O MEIO AMBIENTE E A PARTICIPAÇÃO DO
CIDADÃO. ...............................................................................................................
55
5.1 POLÍTICA NACIONAL URBANA..................................................................... 55
5.2 PLANO DIRETOR E ZONEAMENTO AMBIENTAL. ....................................... 56
5.3 PARTICIPAÇÃO CIDADÃ. .............................................................................. 57
CAPÍTULO VI. ......................................................................................................... 58
6. O DIREITO AMBIENTAL NA PRÁTICA. ............................................................ 58
6.1 A EFETIVA APLICAÇÃO DO DIREITO AMBIENTAL NA PROTEÇÃO DAS
ÁREAS DE RESSACA. ...................................................................................
58
a) Relatório de Visita à SEMA. ..................................................................... 58
b) Relatório de visita à Promotoria de Justiça do Meio Ambiente. .......... 60
7. CONCLUSÃO. ..................................................................................................... 62
REFERÊNCIAS. ...................................................................................................... 65
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INTRODUÇÃO
Todo cidadão consciente dos seus direitos e deveres jamais poderá
esquecer que o meio ambiente é um conjunto de fatores, naturais e humanizados,
que envolvem não só os seres vivos, mas também o clima, o solo, e a água, sendo
assim, verdadeiramente patrimônio da humanidade, e por isso merece ser cuidado e
preservado.
O Brasil é um país privilegiado pela natureza. Clima excelente, solo fértil,
fauna e flora com uma diversidade enorme e água em abundância. Talvez por isso,
não é dado a devida importância a esses elementos. Esquece-se, porém, que tudo
isso é finito, e se não for cuidado ou preservado, a nossa geração e as futuras
poderão sofrer graves conseqüências pelo mau uso que se faz de tudo isso.
O processo de globalização vivido no final do século XX, com sua
conseqüente destruição/reconstrução dos lugares, padrões e valores, já presente na
Amazônia, traz à tona a importância do meio ambiente e a preocupação com a
deterioração da qualidade de vida da população.
Se por um lado temos o privilégio de morar num país tão rico, ambientalmente
falando, e também numa região considerada de extrema importância para a
humanidade, que é a região amazônica, por outro lado, temos a responsabilidade de
preservar todo este patrimônio que herdamos e que devemos deixar de herança
para nossos descendentes.
É premente a necessidade de analisar as precárias condições de vida na
Amazônia, frente ao crescimento urbano desordenado, através da habitação,
principalmente em locais impróprios, como as ressacas, onde meio ambiente e ser
humano se agridem.
Legalmente, o termo “ressaca” aparece em 1998, quando a Lei Ambiental do
município de Macapá (Lei no 948/98) se refere a ressaca como "bacias de
acumulação de águas, influenciadas pelo regime de marés, de rios e drenagens
pluviais”.
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Não é preciso ir longe para ver o resultado desta verdadeira agressão do
homem ao meio ambiente. Basta olhar em nossa volta para se ver como este tipo de
agressão vem acontecendo cada vez mais rápido e com maior intensidade em
nossa Macapá.
Sabe-se que esse processo de agressão sempre existiu em Macapá, mas se
acentuou após a década de 90 com a implantação da Área de Livre Comercio de
Macapá e Santana – ALCMS, já que em apenas dois anos a população de Macapá
cresceu cerca de 83%. Saltou de 191 mil para 350 mil habitantes, segundo o IBGE.
A migração é a grande vilã do crescimento desenfreado. Brasileiros de vários
estados, principalmente paraenses, maranhenses e piauienses chegaram à cidade
atraídos pela ALCMS. Proliferam as invasões por toda a cidade sem nenhuma infra-
estrutura. E pior, as áreas invadidas foram principalmente as áreas de ressaca,
comprometendo sobremaneira o nosso frágil meio ambiente. O LIBERAL (1996)
A sociedade acadêmica, de diversas áreas, detentora que é dos mais
variados conhecimentos, precisa oferecer elementos para o debate urbano-
ambiental e para uma política que fortaleça a harmonia entre ser humano e meio
ambiente.
Não é outra a finalidade deste estudo, senão analisar a ação do homem e
sua interferência no frágil sistema de ressacas que circunda Macapá, e em que
ponto o Direito vem contribuindo para a preservação dessas áreas. É preciso
verificar se todo o arcabouço jurídico/ambiental e o aparelho estatal destinado à
proteção do meio ambiente estão funcionando, e portanto, conseguindo mitigar os
efeitos negativos da ação humana no meio ambiente, principalmente nas ressacas.
Afinal, o direito ao meio ambiente sadio e equilibrado é direito fundamental e
difuso, já que transcende o indivíduo e ultrapassa o limite de direitos e deveres
individuais, devendo, portanto, ser protegido e efetivado por todos e, em especial,
pelo Poder Público, em todas as suas esferas.
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CAPÍTULO I
1. DA PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE
1.1 PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE – HISTÓRICO
É consenso geral que o século XX foi marcado pela destruição ambiental
causada pela ostensiva intervenção humana sobre a natureza. O modelo de
desenvolvimento econômico adotado, o aquecimento da atividade industrial, o
aumento populacional, a devastação das florestas, as grandes correntes migratórias
de populações indo habitar as periferias das grandes metrópoles, dentre outros,
levaram a uma profunda degradação das condições ambientais, afetando de forma
negativa a qualidade de vida dos seres do planeta, deixando à mostra os vínculos
indissolúveis entre desenvolvimento, ambiente e saúde.
A partir da segunda metade do século passado, o mundo tomou consciência
de que os efeitos provocados pela agressão ambiental não se restringem a
determinados lugares e nem obedecem a limites fronteiriços e que, portanto, deve
haver uma responsabilidade comum no seu uso, obrigando a se pensar em um
sistema globalizado que vislumbre soluções compartilhadas.
Com a constatação pelo mundo da impossibilidade da manutenção de um
modelo de desenvolvimento provocador da destruição dos recursos naturais com a
derrubada indiscriminada das florestas, a poluição dos rios e mares e a retirada cada
vez maior de minérios e combustíveis fósseis provocando catástrofes ambientais
cada vez mais perigosas para o planeta, ficou claro para todas as nações a
necessidade de se pensar um modelo alternativo que respeite o nosso bem comum:
o meio ambiente.
Pode-se dizer que o marco histórico para esse novo pensar foi a Conferência
das Nações Unidas, sediada em Estocolmo, em 1972, quando, pela primeira vez, a
comunidade internacional se reuniu para discutir o meio ambiente no âmbito global e
as necessidades de mudanças no modelo de desenvolvimento vigente. Desde a
14
Conferência de Estocolmo houve uma preocupação em se instituir regras para a
preservação do ambiente planetário. (VIEIRA, 1995)
Em 1983, foi criada a Comissão Mundial de Meio Ambiente e
Desenvolvimento, sendo que em 1987 a Comissão publicou o documento “Nosso
Futuro Comum”, também conhecido como Relatório Brundtland. Esse relatório,
dentre outras coisas, legou ao mundo, o hoje tão apregoado conceito de
Desenvolvimento Sustentável. Desde então, o conceito de desenvolvimento
sustentável tem sido largamente difundido como uma forma de desenvolvimento
econômico que atenda às necessidades do presente sem comprometer a
capacidade das futuras gerações em atenderem suas necessidades. Para lograr
esse êxito, a população mundial terá que efetuar mudanças expressivas em sua
forma de viver e em suas modalidades de produção e consumo, caso contrário, o
mundo estará condenado a níveis inadmissíveis de sofrimento e deterioração
ambiental. Coporali, (1997) apud Nery (2004, p.25)
Sob a regência de organismos como ONU e OMS, outros eventos
internacionais ocorreram com o objetivo de discutir a problemática ambiental, sendo
que merece destaque a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, em 1992.
Esse encontro produziu como resultado a Convenção sobre Diversidade
Biológica, a Convenção de Mudança de Clima, a Declaração do Rio sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, e a Agenda 21 que é um programa de ação, contendo
uma série de compromissos firmados entre diversos países que assumiram o
desafio de adotar políticas visando a um novo modelo de desenvolvimento
econômico, capaz de promover uma economia mais eficiente, melhor distribuída em
nível mundial e que tivesse a preocupação com o equilíbrio e a conservação do meio
ambiente. Porém, é bom lembrar, o desenvolvimento só será sustentável, na sua
plenitude, se houver de fato, a cooperação entre os povos e a gestão compartilhada
do patrimônio natural. É preciso fazer com que todos desfrutem desse
desenvolvimento, sem alijar quaisquer segmentos sociais ou áreas geográficas,
independente de limites físicos ou políticos impostos pela sociedade.
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A idéia de desenvolvimento sustentável vem se contrapor ao modelo de
desenvolvimento vigente que se fundamentou em ações do processo produtivo que
produziram reações catastróficas sobre o ambiente. Buss (1992, pp. 15-29), adverte
que o modelo de desenvolvimento que aniquila o ambiente, polui o ar, contamina a
água e os alimentos, derruba e queima as florestas, desertifica áreas e atenta contra
a biodiversidade, também é a causa dos incontáveis problemas de saúde que
afetam a população.
Tambellini e Câmara (1998) também afirmam que muito embora as
populações possam ser afetadas por desastres naturais, na grande maioria das
vezes, as populações ficam expostas às poluições ambientais de grandes
proporções ocasionadas pelos processos produtivos. Para reforçar essa relação
existente entre os processos produtivos e a saúde ambiental, os autores citam
alguns casos de grandes epidemias causadas por poluentes químicos no mundo:
Metil-mercúrio em Minamata, Japão; Metil-mercúrio no Iraque; PCB
(difenilpoliclorados) no Japão e chumbo nos Estados Unidos e Austrália (WHO).
O caso da Baía de Minamata, no Japão, foi uma contaminação que atingiu as
águas e os peixes, ocasionada por mercúrio descarregado na água por uma fábrica
que produzia aldeído acético. Segundo relatos científicos, apesar dos resíduos
terem sido lançados a partir da década de 30, no entanto, só na de 60, o quadro de
uma epidemia por intoxicação por metil-mercúrio tomou proporção alarmante,
ceifando a vida de 1.000 pessoas, provocando o nascimento de crianças com
defeitos congênitos, causando abortos e deixando seqüelas graves por lesões
neurológicas. Nery (2004, p. 26)
Também o Iraque foi acometido por uma grave epidemia (culminando com a
morte de 460 pessoas e mais de seiscentas precisaram ser hospitalizadas)
provocada pelo metil-mercúrio, no período de 1971 e 1972, quando um número
expressivo de sementes de trigo foi “tratado” com um fungicida mercurial e enviado
como doação internacional para uso na plantação e, involuntariamente, utilizado
para produção de alimentos. Nery, (2004, p. 26)
No Brasil, o modelo de desenvolvimento econômico adotado, onde a
concentração de renda e riqueza é privilégio de poucos, “deixa à mostra” os reflexos
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negativos sobre o meio ambiente e a qualidade de vida. É coerente dizer que esse
modelo de desenvolvimento impõe ao homem condições aviltantes de vida, como
também favorece a degradação ambiental, por meio da exploração predatória e
indiscriminada dos recursos naturais e isso, por sua vez, vai causar impacto direto
na condição de saúde e bem-estar da população.
Estudos revelam que a exclusão das grandes massas dos frutos do
crescimento econômico, a ausência das reformas estruturais de base necessárias
(sobretudo a reforma agrária, a educacional e a fiscal) trazem, como conseqüência,
uma condição de morbimortalidade, em que há a adição das doenças do
subdesenvolvimento com as oriundas da industrialização e da urbanização. Aliadas
a esses fatores, a insuficiência dos serviços de saneamento, a aglomeração humana
em determinadas áreas e a habitação inadequada, colaboram para o surgimento de
doenças como: dengue, malária, cólera, leptospirose, filariose, febre amarela que
têm relação direta com o ambiente degradado. (NERY, 26)
Conforme consta no documento elaborado para a CONFERÊNCIA PAN-
AMERICANA SOBRE SAÚDE E AMBIENTE NO DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL (1995), determinadas doenças típicas do passado e do
subdesenvolvimento que ressurgem no contexto atual, afetam não só as áreas rurais
como regiões urbanas do país. É o caso da leishmaniose e da malária, dentre
outras.
Os movimentos migratórios, impulsionados pela mineração, extração
madeireira e expansão agrícola, contribuíram de certa forma, com o agravamento do
quadro endêmico e epidêmico de determinadas doenças em algumas regiões do
país.
Isso é factível de acontecer porque, muitas vezes, indivíduos sadios são
expostos em áreas endêmicas, bem como, doentes que chegam, introduzem
doenças em ambientes indenes. Sabroza e Leal (1992) citam, por exemplo, que com
a abertura das fronteiras agrícolas, os casos de malária no Brasil aumentaram de
65.000 na década de 70, para aproximadamente 600.000, em 1987. Nery, (2004, 27)
17
A ocupação desenfreada e a conseqüente aglomeração de pessoas nas
metrópoles, ocasionadas pelas migrações intensivas, geram graves conseqüências
para o homem e o meio ambiente urbano. A demanda por empregos, serviços de
saúde, saneamento, educação, moradia é muito maior, e a oferta não consegue
atingir a todos de maneira eqüitativa. As pessoas, então, são compelidas a habitar
ocupações irregulares e inadequadas, ficando expostas a riscos de contrair
doenças, vulneráveis a problemas decorrentes da falta de infra-estrutura. Com isso,
as metrópoles terminam transformando-se em focos de tensão social, núcleos de
doenças endêmicas e verdadeiros teatros de guerra pela sobrevivência. Nery, (2004,
p. 27)
1.2 RECURSOS HÍDRICOS: PANORAMA DA ÁGUA NO PLANETA
A água foi, por muito tempo, considerada pela humanidade uma fonte
inesgotável, abundante e um recurso renovável. Só a partir do advento da
Conferência das Nações Unidas sobre Meio ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92,
que o conceito da água, como recurso natural limitado, de valor econômico e fator
competitivo no mercado tornou-se universal.
Embora três quartos da superfície da terra sejam recobertos por água, 97%
de toda a água existente no planeta é salgada, restando apenas 3% de água doce.
Desse percentual, 2,2% estão armazenados nas geleiras e calotas polares e apenas
0,8% pode ser aproveitada para o consumo. Ainda assim, dos 0,8% restantes,
somente 3% apresentam-se na forma de água superficial e 97% estão contidos em
aqüíferos subterrâneos. Rebouças (2000) apud Nery, (2004, p. 27).
A água é um recurso natural, indispensável para a existência do ser humano,
fundamental para a qualidade de vida das pessoas e do meio ambiente. Quase
todas as atividades humanas necessitam da água para o seu desenvolvimento.
A realidade da escassez já atinge a muitos e põe o mundo em alerta. A
comunidade científica é unânime em afirmar que em 2025, aproximadamente, 2/3 da
população mundial, estimada para alcançar 8 bilhões de pessoas, estarão vivendo
com restrições ou com a falta absoluta de água.
18
Para alguns pesquisadores, a água doce do planeta assumirá o papel
precioso que no século passado pertencera ao petróleo. Alguns países do Oriente
Médio já compram água da Bulgária, pagando um preço sete vezes superior ao
preço do petróleo.
A escassez de água no planeta é uma conseqüência de um conjunto de
fatores que englobam: o aumento vertiginoso da população, o excessivo
crescimento das atividades humanas que consomem água para produção, o
desmatamento e o comprometimento da qualidade dos mananciais ocasionado pela
poluição.
Basta olhar as matérias de jornais para perceber que as principais causas de
degradação dos recursos hídricos, são, sem dúvida alguma, o lançamento de esgoto
in natura e de resíduos industriais em corpos d’água.
Exemplo disso, é a matéria publicada no site do jornalista Correa Neto, no dia
01 de setembro de 2008, com o título “Rio Amazonas deve deixar de receber
esgoto”, onde afirma que o Ministério Público Federal no Amapá, juntamente com o
Ministério Público Estadual e União, ajuizou Ação Civil Pública, no dia 29 de
setembro, com o objetivo de impedir o dano ambiental causado ao Rio Amazonas
pelo despejo de esgoto sanitário não tratado das cidades de Macapá e Santana.
Segundo a referida matéria, a degradação ambiental da orla de Macapá foi
confirmada durante uma inspeção realizada pelo MPF/AP e técnicos do Instituto
Evandro Chagas, ligado ao Ministério da Saúde, que apontaram índices alarmantes
de contaminação das águas do trecho do Amazonas que banha a capital
amapaense.
Esta contaminação foi confirmada através da coleta de amostragem da água,
nos períodos de enchente e vazante da maré, onde foram constatados níveis
elevados de nitrogênio amoniacal e fósforo, decorrentes do emprego doméstico em
larga escala de detergentes superfosfatados e efluentes industriais provenientes de
fertilizantes, pesticidas, químicas em geral, conservas alimentícias, abatedouros,
frigoríficos e laticínios. www.correaneto.com.br (01/09/2008)
19
A disponibilidade da água tem a ver, também, com as questões fisiográficas.
Por diversos fatores, a água não está distribuída uniformemente em todas as regiões
do planeta. Enquanto determinadas áreas possuem abundâncias de rios e índices
pluviométricos elevados, em outras, os mananciais são raros e possuem baixos
índices pluviométricos ao longo do ano. É o exemplo da Índia. Noventa por cento de
suas precipitações estão concentradas na estação das monções, acontecendo no
período de Junho a Setembro, ficando os demais meses do ano, praticamente, sem
chuvas. Há casos também de indisponibilidade em função de questões puramente
sociais ignorando-se o fato de ser a água um bem imprescindível à vida, uma
necessidade de todos os seres vivos e um direito do ser humano.
A má gestão dos recursos hídricos tem resultado em incidentes irreversíveis
que afetam, drasticamente, o meio ambiente e a qualidade de vida das pessoas. Foi
o caso do expressivo desastre ambiental, envolvendo o Mar Aral. Localizado na Ásia
Central, entre as Repúblicas do Turcomenistão, Uzbequistão, Casaquistão,
Quirguistão e Tadjiquistão, pertencentes à antiga União Soviética, o Mar Aral,
outrora foi o quarto maior lago do mundo. Suas águas eram alimentadas através dos
rios Amu Daria e Sir Daria. Durante o regime soviético, o curso das águas desses
rios fora desviado para atender a projetos de irrigação das plantações de algodão,
que é uma cultura dependente de água em abundância e do uso de sais, pesticidas
e herbicidas. Em conseqüência disso, houve uma redução de 90% de volume nas
águas do Mar Aral. ÁGUA..., (2004) – Apud Nery, (2004, p. 29)
Aproximadamente, 27 mil km2 secaram e o que era o fundo do mar
transformou-se em deserto, a concentração de sal duplicou e a indústria pesqueira,
que empregava em torno de 60 mil pessoas, acabou. Houve a extinção quase que
total das espécies de peixes e aves.
O crescente consumo de água em escala planetária e sua iminente escassez
têm colocado a água no centro das discussões ambientais. Em todo mundo, uma
série de conferências e debates vem sendo promovida, com o intuito específico de
tratar da problemática da água, a saber:
* I Conferência das Nações Unidas sobre a Água, realizada em Mar Del Plata,
Argentina, em Março de 1977;
20
* II Conferência sobre Água e Meio Ambiente, realizada em Dublin, Irlanda,
em Janeiro de 1992;
* I Fórum Mundial da Água, Marraquech, Marrocos, em 1997;
* II Fórum Mundial da Água, Haia, Holanda, em 2000;
* III Fórum Mundial da Água realizado em três cidades japonesas (Kyoto,
Shiga e Osaka), em 2003. A Conferência de Dublin pode ser considerada uma
referência na história ambiental isso porque, nesse encontro “se explicitou muito
claramente a relação entre a água e a diminuição da pobreza e das doenças; as
medidas de proteção contra os desastres naturais; a conservação e o
reaproveitamento da água; o desenvolvimento urbano sustentável; a produção
agrícola e o fornecimento de água potável ao meio rural; a proteção dos sistemas
aquáticos e as questões transfronteiriças e se reconheceu a existência de conflitos
geopolíticos derivados da posse das bacias hidrográficas”.
Tendo em vista o que acontecera em décadas anteriores, é pertinente o temor
por conflitos, envolvendo nações, causados pela escassez da água no século atual.
Pesquisadores enfatizam que o Oriente Médio, o Sul da Ásia e a África são áreas
propensas a sofrer estresse hídrico até o ano de 2025. E justamente essas regiões
têm em comum a questão de viverem envolvidas com conflitos bélicos ou questões
de ordem social.
Ainda estão recentes, para o mundo, as contendas envolvendo países do
Oriente Médio na segunda metade do século passado. No período de 1970 a 1990,
o Iraque se envolveu em conflitos com a Síria e a Turquia, respectivamente, por
causa das águas do Rio Eufrates. Também Egito e Etiópia enfrentaram um longo
período de tensão na disputa pelas águas do Nilo e, no auge da crise, o então
Presidente do Egito, Anuar Sadat, teria dito que o único motivo que poderia levar o
Egito à guerra novamente era a água.
Segundo Gomes e Mendes, (2004), apud Nery, (2004, p. 27), se as
projeções, com relação às estimativas do aumento populacional para as próximas
décadas, estiverem corretas e a humanidade continuar gastando os recursos de
21
água doce do planeta de forma irresponsável e perdulária, haverá não só escassez
de água, como também de alimentos, configurando um cenário de verdadeiro
flagelo. A produção mundial de alimentos depende da disponibilidade de água.
Atualmente, 70% da água doce do planeta são utilizados pela agricultura irrigada
para a produção de grãos. O grande desafio, então, será investir em pesquisas e
inovações tecnológicas que tornem a agricultura irrigada capaz de produzir
alimentos com muito menos utilização de água.
1.3 A DISPONIBILIDADE HÍDRICA E A CONDIÇÃO DAS ÁGUAS NO
BRASIL
O Brasil é detentor de 12% da água doce superficial existente no planeta e
isto faz com que ocupe uma posição privilegiada no cenário internacional. A bacia
Amazônica, a maior do mundo, cobre uma área total de 6.925.674 km², desde suas
nascentes nos Andes Peruanos até sua foz no oceano Atlântico, ao norte do País,
abrangendo territórios do Brasil (63,88%), Colômbia (16,14%), Bolívia (15,61 %),
Equador (2,31 %), Guiana (1,35 %), Peru (0,60 %) e Venezuela (0,11 %) (ANA,
2004). No Brasil, abrange os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia,
Roraima e Mato Grosso. ANA, (2004), apud NERY, 30
Macapá está situada às margens do Rio Amazonas, considerado o segundo
maior rio do mundo em extensão, pois possui 6.515 km, e o primeiro em vazão
(vazão média igual a 133.861m3/s). No entanto, durante o período de cheia, ele se
estende mar adentro, e, considerando esse prolongamento, provavelmente será
também o mais longo. Nasce no Peru com o nome de Vilcanota e, antes de chegar
ao Brasil, recebe ainda os nomes de Ucaiali, Urubanda e Marañon. Entra no Brasil
com o nome de Solimões e, só a partir da confluência com o Rio Negro, passa a ser
chamado de Amazonas. Dados do Ministério do Meio Ambiente, MMA (2004)
revelam que o Amazonas é um rio de planície, sua largura média oscila entre 4 a
5km, podendo chegar a 50km em alguns trechos. É atravessado pela Linha do
Equador e, conseqüentemente, apresenta afluentes nos dois hemisférios.
22
A Região Amazônica concentra 80% dos recursos hídricos superficiais do
Brasil. No entanto, essa região é a que possui a menor densidade populacional do
país, representando apenas 5% da população. Isso quer dizer que os 20% das
águas restantes deverão abastecer os 95% da população brasileira. Nery, (2004, p.
29)
23
CAPÍTULO II
2. DAS ÁREAS DE RESSACA
2.1 CONCEITO
Ressaca é uma expressão regional empregada para designar um
ecossistema típico da zona costeira do Amapá. São áreas encaixadas em terrenos
Quaternários que se comportam como reservatórios naturais de água,
caracterizando-se como um ecossistema complexo e distinto, sofrendo os efeitos da
ação das marés, por meio de uma intricada rede de canais e igarapés e do ciclo
sazonal das chuvas. Nery, (2004, p. 27)
De forma mais sintética podemos dizer que as ressacas são bacias de
acumulação de água, influenciadas pelo regime de marés, dos rios e das chuvas.
Servem de lar para as diversas formas de vida (plantas e animais), de grande
importância para a cidade de Macapá visto que o sitio urbano de Macapá encontras-
se permeado por varias áreas de ressaca, entre as quais podemos citar: Lagoa dos
índios, ressacas do Beirol, do Muca, Buritizal, Universidade, Ressaca do Novo
Horizonte entre outras.
Algumas dessas áreas permanecem alagadas o ano todo, outras somente se
inundam no período mais chuvoso.
Levando-se em consideração o conceito e a temática em questão, o
desenvolvimento econômico pode ter a sua atuação definida, em que as ressacas
são algo novo no âmbito das discussões científico-filosófica, não existe ainda uma
definição fechada acerca do sentido etimológico do termo, entretanto podemos usar
o conceito estabelecido em um trabalho científico desenvolvido por técnicos da
SEMA ( Secretária do Meio Ambiente do Estado do Amapá) como sendo: Bacias de
recepção, rica em biodiversidade, de dimensões e formas variadas, configurando
como fontes naturais hídricas, e composição clorídrica e fauna variada (junco,
buritizeiro, aningas, carana, camaleões, camarões, jacurarus, insetos, ofídios, etc),
encravadas na formação barreira, apresentando características evidentes argila e
areia no seu domínio, com comunicação endógena e exógena pertencente a rede de
24
drenagem da bacia do Amazonas, confluindo com o Oceano Atlântico. Coelho
(2006)
2.2 RESSACAS – SOLO, FAUNA E FLORA.
O tipo de solo das áreas de ressacas foi classificado por Lima (1998) apud
Maciel (2001) “como hidromórficos gleisados, sedimentares de média fertilidade
natural e com um alto grau de vulnerabilidade natural” e, portanto, inadequados para
suportar determinados tipos de construções, devido à baixa resistência.
As ressacas são habitat para reprodução de espécies aquáticas nativas da
Amazônia tais como: tamoatá, tucunaré, tambaqui, traíra, acari, pescada, aracu,
acará, bacu, piranha e, até mesmo, crustáceos como caranguejo e o camarão de
água doce.
Sua vegetação é predominantemente herbácea e, segundo inventário
florístico realizado por Thomaz et.al. (2003), as espécies dominantes nas áreas de
ressacas são: Eleocharis interstincta (Vahl) Roem. e Schult (piripiri), Thalia
geniculata L. (sororoca), Sagittaria rhombifolia Cham. (chapéu-de-couro),
Montrichardia arborescens Schott. (aninga) e Mauritia flexuosa L.f. (buriti). Ainda,
conforme esses autores, “a vegetação das ressacas possui características
indispensáveis para o desenvolvimento da dinâmica desse ecossistema, pois
fornece a base para a cadeia alimentar desse ambiente aquático, proporcionando
abrigos, refúgios e alimentos para larvas, alevinos e adultos de crustáceos, insetos,
peixes, anfíbios, aves e pequenos mamíferos, além de forragem para roedores e
ruminantes”. Há ainda, em algumas ressacas, a presença das árvores
frutíferas como sapucaias, bacuris, jenipapeiros, dentre outras espécies. É de uma
beleza singular a paisagem dos buritizais, que são típicos da região, circundando as
margens das ressacas. Takiyama (2003, pp. 1-22)
2.3 PRINCIPAIS RESSACAS DE MACAPÁ.
As ressacas, a partir do momento que são ocupadas, recebem, por parte da
população, nomes próprios que, na maioria das vezes, estão ligados a nome de
bairros da cidade, de antigos moradores, canais ou igarapés.
25
NOME ÁREA RESSACA (Km²)
ESTIMATIVA DOMICÍLIOS
ESTIVATIVA PESSOAS
Ressaca do Tacacá 4,30 876 3.986 Ressaca do Congos 1,99 2.695 12.478 Ressaca Nova Esperança 0,26 560 2.822 Ressaca Chico Dias 1,23 1.232 5.584 Ressaca Sá Comprido 1,15 95 443 Ressaca Lago da Vaca 1,53 1.015 4.612 Ressaca Canal do Jandiá 3.57 866 3.903 Ressaca do Pacoval 1,71 757 3.590 Ressaca do Perpétuo Socorro 0,95 2.520 11.626 Ressaca do Mucajá 0,06 270 1.416 Ressaca do Coração 2,35 41 190 Ressaca do Marabaixo 0,79 45 206 Ressaca do Infraero II 1,01 14 54 Ressaca da Lagoa dos Índios 15,54 377 1.714 Ressaca do Açaí 2,07 208 805 Ressaca do Ramal do 9 1,42 8 32 Fonte: IEPA/GERCO (2001)
Nas áreas urbanas e peri-urbanas da cidade de Macapá, capital do estado, as
ressacas estão inclusas nos limites das bacias hidrográficas do igarapé da Fortaleza
e do Rio Curiaú, conforme demonstra a figura a seguir:
Fonte: TAKIYAMA et.al. (2003).
A bacia do igarapé da Fortaleza extende-se ao sul do centro de Macapá, com
uma área aproximada de 194.500 km2 , enquanto a bacia do Rio Curiaú, situada a
cerca de 8 km ao norte do centro de Macapá, apresenta uma superfície de
aproximadamente 185.000 km2. SEMA (2004)
26
2.4 FUNÇÕES ECOLÓGICAS DAS ÁREAS DE RESSACA
Conforme citado anteriormente, a área, onde está localizado o núcleo urbano
do município de Macapá, é cortada intensamente por ressacas, que no seu conjunto
formam as bacias hidrográficas do igarapé da Fortaleza e do rio Curiaú que por sua
vez integra a bacia do rio Amazonas.
Bacias hidrográficas podem ser entendidas como uma área limitada por um
divisor de água, toda chuva que se precipita escorre para o rio principal. Desta forma
pode-se perceber que as ressacas recebem as águas da chuva e as direcionam
para os canais, lançando-as no rio Amazonas.
Com relação a sua importância para o equilíbrio ambiental podemos citar que
ecologicamente as ressacas são de utilidade primordial em relação: COELHO (2006)
a) Ao clima da cidade de Macapá: A ressaca é excelente regulador térmico,
por ser fonte de umidade e servirem de corredores de vento, já que estes ventos se
deslocam para os centros de concentração populacional e de fluxo de automotores,
dissolvendo o calor e desconcentrando os agentes poluentes, o que proporciona
uma temperatura mais amena na área urbana de Macapá, assim, portanto
funcionando as ressacas como fonte de equilíbrio climático.
b) Reprodutor biológico: São criadouros naturais para muitas espécies de
peixes, crustáceos que migram para as ressacas e lá se reproduzem e na seqüência
retornam ao rio, pelos canais naturais que interligam os rios às ressacas.
c) Circulação e equilíbrio das águas: Em sua comunicação as águas fluviais e
pluviais, as áreas de ressacas se interligam umas com as outras e com os canais de
drenagem, onde há a circulação e o equilíbrio das águas, permitindo a determinação
da pressão dos leitos fluviais primários, orientando escoamento e trânsito das águas
interiores e superficiais com o rio Amazonas, convergindo com as águas do Oceano
Atlântico.
d) Centro natural paisagístico: A harmonia gerada pela rica biodiversidade
presente nas ressacas e pelos seus aspectos físicos (solo e água, por exemplo), cria
um ambiente saudável que contribui para o bem-estar das pessoas e demais seres
vivos. Para a cidade, o cenário natural proporcionado pelas ressacas, valoriza as
27
áreas urbanas situadas próximas a elas. As ressacas possuem um grande potencial
econômico que pode ser explorado pelo turismo.
Em sua caracterização geral as áreas de ressacas apresentam uma
diversidade muito grande na composição florística e uma variedade de barreira
apresentando características de argila e areia no seu domínio, sendo bacias de
acumulação de águas influenciadas pelo regime de marés, ou rios e drenagem
pluviais.
Segundo Lima (1998), apud Maciel (2001), o tipo de solo das áreas de
ressacas é classificado como hidromórficos gleisados, sedimentares de média
fertilidade natural e com um alto grau de vulnerabilidade natural e, portanto,
inadequados para suportar determinados tipos de construções, devido à baixa
resistência.
2.5 PROCESSO DE OCUPAÇÃO DAS RESSACAS
O processo de ocupação das áreas do ecossistema ressaca começou na
década de 50. No entanto, a partir do início dos anos 90 intensificou-se esse
processo, sendo essas áreas, cada vez mais, ocupadas de forma desordenada,
devido à falta de planejamento urbano e políticas públicas adequadas, agravado
pelos altos índices migratórios de pessoas oriundas de outros estados da federação
brasileira, que chegam ao Estado do Amapá em busca de novas oportunidades de
emprego e melhores condições de vida, principalmente, em função da
transformação do então Território Federal em Estado do Amapá (1988) e da criação
da Área de Livre Comércio de Macapá e Santana (1991) Nery, (2004, p. 83).
Esses migrantes, na grande maioria, pessoas sem qualificação profissional,
que foram atraídos ao novo estado, na esperança de uma vida melhor, deparam-se
com uma realidade inteiramente diferente da que esperavam, ficando à mercê da
sorte, sem emprego e sem recursos financeiros, restando-lhes, como opção, a
invasão das ressacas que são áreas desprovidas dos equipamentos sociais, ou seja:
grande quantidade de domicílios não possui abastecimento de água potável, a
cobertura de coleta de lixo é bastante incipiente, a rede de esgoto pública
inexistente, o suprimento dos serviços de energia elétrica na maioria das vezes,
clandestino e a qualidade da água, nessas áreas, deteriorada, principalmente nas
28
ressacas com maior densidade populacional. Sabe-se que, por piores que sejam as
condições ambientais nas áreas urbanas de ocupação recente, essas representam,
para milhões de indivíduos, a única possibilidade de acesso à cidadania e ao
consumo.
A preferência desses novos habitantes pela construção de moradia nas áreas
de ressaca, se deu principalmente por estarem próximo ao centro da cidade, dotado
de escolas, postos de saúde, comércio e transporte.
Com isso, passaram a construir palafitas, que são casas suspensas por
estacas, em meio as águas das ressacas. Estas moradias se interligam entre si e
com a terra firma por meio de uma extensa rede de passarelas, que são pontes de
madeira. Segundo a Secretaria do Meio Ambiente – SEMA, atualmente 90% das
ressacas encontram-se ocupadas, e os 10% restantes estão sofrendo algum tipo de
impacto, como desmatamento ou retirada de argila. Nery, (2004, p. 84)
Sobre a qualidade de vida da população, especificamente em cada ressaca,
não existem dados específicos do município de Macapá. Os dados existentes são,
em geral, coletados e divulgados, usando o bairro ou setor censitário como unidade
espacial de análise. Essa estratégia não permite avaliar com precisão a qualidade
de vida, condições de saúde e saneamento no interior das áreas de ressacas e,
principalmente, sobre os impactos causados no meio ambiente.
A ocupação através da construção de casas é a mais perceptível. Esse tipo
de ocupação pode ter sido ocasionada pela falta de um planejamento urbano dessas
cidades que dispõem de áreas reduzidas de terra firme para a expansão urbana que
surgiu em decorrência da intensa migração, algo em torno de 5% ao ano, pois
historicamente os centros urbanos atraem a população pela oferta de serviços que
dispõem, tais como saúde, educação, saneamento e oportunidade de trabalho.
ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO AMAPÁ (2000)
Nas áreas de ressaca pode-se verificar ainda que diversas atividades
econômicas são desenvolvidas, como exemplo, a exploração mineral através da
retirada de argila para a fabricação de tijolos – em alguns casos os buracos abertos
com a extração de argila são utilizados como tanques para a criação de peixes
(piscicultura). A pecuária é outra atividade freqüente no Curiaú com a criação de
búfalos.
29
Locais como o balneário do Abel, Gruta e o Curiaú, são freqüentados pelos
moradores que nos finais de semana, principalmente, utilizam como pontos de
recreação. São nesses locais que no mês de junho ocorrem as atividades de verão
promovidas pelos órgãos públicos.
Além disso, é comum encontrar pessoas pescando ao longo do igarapé da
Fortaleza, na Lagoa dos Índios e na ponte do rio Curiaú.
A figura abaixo mostra de uma forma bem sintética a concentração
demográfica nas áreas de ressaca de Macapá:
Fonte: SEMA
30
2.5.1 Ação Antrópica:
Não é necessário nenhum estudo científico para demonstrar que as áreas de
ressacas, que são predominantes em quase todo o perímetro urbano da capital do
Estado do Amapá, vêm sofrendo com este processo acelerado e desordenado pela
ocupação humana, causando com isso, a degradação ambiental na maioria do
domínio de ressacas. O rápido crescimento populacional influenciado pelo intenso
processo migratório provocou uma forte pressão populacional em busca por
moradias, acarretando uma situação em que as ressacas passam a ser o alvo de
constantes ocupações, pela população de baixa renda. O fato de não haver,
efetivamente uma política habitacional satisfatória, tem gerado uma maior
preocupação das pessoas ligadas as questões ambientais, no que diz respeito a
preservação das áreas de ressacas, o que se confirma com a promulgação da Lei
Estadual n.º 0455/99, que determinou o tombamento das referidas áreas com intuito
de preservar seu valor paisagístico, econômico e ambiental.
As áreas de ressacas não apresentam condições de infra-estrutura mínimas
para a sua utilização com fins habitacionais, visto que às áreas de alagados que não
permitem a instalação de rede de esgotos.
Fonte: SEMA
31
2.5.2 Degradação das Áreas de Ressacas:
Durante o processo de ocupação nas áreas de ressacas é retirada a
vegetação do local acompanhado de aterramento, despejo de lixo doméstico, tanto
dos moradores das ressacas, quanto os resíduos de origem lixíval, procedente da
área de entorno, como também os dejetos humanos que são lançados diretamente
sem nenhum tipo de tratamento poluindo as águas, além de provocar mudanças no
ecossistema e transformando a configuração paisagista do entorno das ressacas.
Dentro desta relação homem - natureza que vai transformando as áreas de
ressacas, podemos observar um outro problema muito sério, que é provocado pelo
aterramento das ressacas, o que provoca a obstrução dos canais naturais que se
ligam ao rio Amazonas, causando assim, a ruptura do ciclo biológico de reprodução
da fauna e flora, para os quais as áreas de ressacas são de fundamental
importância. Nery, (2004, p. 31)
2.5.3 Impactos Sócio-Ambientais:
Na obra intitulada Ressacas: Por quê protege-las, Coelho (2006) cita alguns
dos problemas sócio-ambientais, que ocorrem em função da ocupação das áreas de
ressaca:
- Desequilíbrio ecológico nas ressacas;
- Risco de proliferação de doenças;
- Acúmulo de lixo doméstico;
- Risco de afogamento em época de fortes chuvas;
- Carência de infra-estrutura;
- Risco de incêndio, principalmente nos períodos de estiagem.
- Aterro e interrupção da drenagem das águas pluviais, ocasionando com isso
alagamentos;
- Retirada da mata ciliar, que fragiliza a proteção dos corpos d’água;
- Perda da biodiversidade, pela fuga ou desaparecimento de espécies nativas de
fauna e flora;
- Redução da umidade e aumento do calor nas áreas alteradasw.
32
As competências legislativas em matéria ambiental possuem instrumentos
legais para alavancar suporte para as ações do poder público e da sociedade civil,
no que diz respeito à preservação dos ambientes das ressacas urbanas de Macapá,
contra qualquer tipo de ação humana que possa potencialmente vir a provocar
degradação ambiental. A repartição das competências legislativas, feita com o claro
intuito de descentralizar a responsabilidade dos poderes públicos quanto a proteção
ambiental, vem causando conseqüências economicamente ambientais pela atuação
humana desordenada no meio ambiente. SILVA, (2007, p. 51)
De modo geral ao aplicar-se a legislação ambiental, entende-se como
necessárias, o desenvolvimento de determinadas atividades estatais:
- Planejamento ambiental;
- Atividade Normativa;
- Vigilância, Fiscalização, Controle e Monitoramento Ambiental;
- Atividade Sancionatária.
José Afonso da Silva, (2007) afirma que o enfoque da atividade normativa
(comportamento obrigatório, juridicamente sancionado) nos leva a um conjunto de
normas de caráter geral para o regulamento do aproveitamento dos recursos
naturais (renováveis e não renováveis), bem como das condições ou qualidade do
meio ambiente e dos próprios recursos naturais. A atividade normativa, matéria
ambiental, pode ter um cunho proibitivo/ restritivo significativamente marcante
quanto ao livre desenvolvimento de atividades econômicas.
Na atividade Sancionatária direcionadas ao infrator em decorrência de faltas
e violações às normas, com vistas a reprimir as atividades (inclusive as econômicas)
que constituam infrações à legislação ambiental.
Diante das vertentes jurídicas da abordagem ambiental, principalmente no
âmbito dos poderes legislativo e executivo, verifica-se a falta de interesse dos
órgãos públicos, para a grande problemática ambiental que atingem as áreas de
ressacas localizadas no centro urbano da cidade de Macapá como:
- Proliferação de doenças como: hepatite, malária, doenças epidérmicas;
- Alterações na fauna e flora;
33
- Alterações climáticas, devido às altas temperaturas;
- Poluição;
- Aterramento indevido.
As autoridades locais deveriam se preocupar com este processo de agressão
ao meio ambiente e principalmente promover estudos para valorar o custo
econômico que a saúde pública tem com o tratamento das doenças endêmicas
provocadas pela poluição desastrosa das áreas de ressacas na cidade de Macapá.
E através de políticas habitacionais, educação ambiental e legislativa, amenizar os
impactos sócios - econômicos e as principais causas que estão levando o homem a
sua própria degradação.
2.5.4 Qualidade da água nas ressacas
Estudo realizado pelos pesquisadores Luís Roberto Takiyama, Arnaldo de
Queiroz da Silva, Wagner José Pinheiro Costa e Heraldo dos Santos Nascimento
revelou a qualidade de água das áreas das ressacas de Macapá, onde foi
investigada a partir da análise dos seguintes parâmetros: amônia, cloretos,
coliformes fecais, condutividade elétrica, fosfato, nitrato, oxigênio dissolvido, pH,
sólidos totais, turbidez, sólidos totais dissolvidos, temperatura do ambiente,
temperatura da água. Takiyama, (2003, pp. 81-104)
Neste trabalho foi utilizado o Índice de Qualidade de Água (IQA) para a
classificação da qualidade. As amostras foram coletadas em 16 pontos, abrangendo
o Igarapé da Fortaleza e as áreas de ressacas da Lagoa dos Índios, Curiaú,
Curralinho e Congós (Ressaca Chico Dias).
Os resultados demonstram que a dinâmica do rio Amazonas influencia
diretamente a qualidade da água do Igarapé da Fortaleza.
Com relação às ressacas, demonstrou-se no referido estudo que o impacto
causado pela ocupação humana foi bem maior em áreas como o Congos, quando
comparado a locais mais preservados como a Lagoa dos Índios, Curiaú e
Curralinho.
34
A qualidade da água é deteriorada principalmente em relação aos parâmetros
coliformes fecais, oxigênio dissolvido e concentração de nutrientes, os quais são
detectados em concentrações inadequadas nos locais onde há intervenção do
homem.
Fez-se também a comparação sazonal da qualidade de água e constatou-se
que, no período das chuvas as água das ressacas apresentam um IQA levemente
inferior ao período da estiagem, principalmente causado pelo baixo pH e baixa
concentração de oxigênio dissolvido. Entretanto, no período e estiagem, ocorrem
altas concentrações de coliformes fecais e nutrientes (fosfato, nitrato e amônia).
2.5.5 Destinação do Lixo
Outro problema gravíssimo detectado nas áreas de ressacas é a destinação
dada aos resíduos sólidos urbanos, e que está intimamente relacionado à saúde
pública da população que vive nesses locais.
Com a falta de um espaço apropriado para deposição do lixo, a população
simplesmente joga-o nas proximidades das residências, o entulho resultante torna o
local propício à criação de vetores transmissores de doenças, a situação se agrava
na zona costeira onde a água é, freqüentemente, a mesma utilizada para o uso
doméstico.
É significativo o volume de lixo encontrado nas áreas de ressacas, onde a
população simplesmente joga os resíduos fora, no solo ou na água, sem nenhum
cuidado com o ambiente em que vive. o que caracteriza, principalmente, carência de
um programa de educação ambiental das comunidades.
35
CAPÍTULO III
3. O DIREITO E O MEIO AMBIENTE
3.1 O DIREITO E A PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE.
O Direito é imprescindível na proteção do meio ambiente. Como vivemos num
Estado democrático de Direito, onde as regras jurídicas têm que ser claras, para que
haja verdadeiramente a proteção do cidadão e da sociedade, é fundamental
conhecer que instrumentos jurídicos estão à disposição daqueles que têm a
obrigação de agir quando o meio ambiente é agredido.
3.2 EVOLUÇÃO DO DIREITO AMBIENTAL
Segundo Machado, (2008), a questão da proteção ao meio ambiente até
recentemente era tratada em nossa legislação de uma forma indireta e reflexa,
atrelando-o ao interesse privado, representando nítida limitação a sua defesa, pois o
interesse ambiental somente seria de fato tutelado quando surgisse para o particular
prejuízo ou risco de ameaça ao seu pretenso direito. Machado, (2008)
Para Oliveira Júnior, (2008), apesar do primeiro Código Florestal ser de
1934, (Decreto-Lei nº 23.793, de 23.01.1934), e em 1965 ter entrado em vigor o
Novo Código Florestal, como também é chamada a Lei N.º 4.771 de 15 de setembro
de 1965, que trata das florestas em território brasileiro e demais formas de
vegetação, somente em 1975 é que surge realmente o primeiro diploma normativo
do Brasil que tratou especificamente da proteção ambiental, que foi o Decreto-Lei nº
1.413, de 14.08.1975 que abordava a prevenção sobre ocorrência de poluição de
indústrias.
Como fonte imediata do direito ambiental e, inclusive, de integração, a Lei nº
6.938/81, que trata da Política Nacional do Meio Ambiente, previu desde princípios
norteadores das políticas públicas, objetivos e instrumentos capazes de implementá-
la, como também criou o SISNAMA (Sistema Nacional do Meio Ambiente) do qual
são integrantes os órgãos ambientais da União (Instituto Brasileiro do Meio
36
Ambiente e Recursos Naturais Renováveis-IBAMA), dos Estados e dos Municípios e
consignou de relevante a exigência de licença ambiental para eventual liberação de
financiamento público.
Pela primeira vez surgiu um mecanismo formal de tutela jurisdicional do meio
ambiente, incumbindo tanto o Ministério Público Estadual quanto o Federal o poder-
dever de adotar providências no sentido do resguardo deste superior interesse,
inclusive, possibilitando a promoção da ação penal, nos casos das infrações penais
ambientais (crimes ou delitos ou ilícitos penais e contravenções penais) quanto a
propositura da ação civil pública.
Aparece assim no Direito brasileiro a responsabilidade objetiva ou sem culpa
em consonância com a teoria da responsabilidade objetiva, instituto jurídico este por
demais salutar e, em tese, eficiente para o pronto resguardo, isto porque implica no
dever do órgão acusatório demonstrar a prática do ato, o seu autor e, como
conseqüência, o nexo de causalidade, e à defesa é que incumbe o direito de provar
o contrário, ou seja, inverte-se o ônus da prova em prol do meio ambiente (Art 14,
§1º), isto em matéria civil, pois na penal a responsabilidade é de ordem subjetiva.
Neste ponto, antecipando a própria lei, o doutrinador Sérgio Ferraz, pioneiramente
aduziu que em termos de dano ecológico, não se pode pensar em outra colocação
que não seja a do risco integral. Oliveira Júnior, (2005)
Garantiu, ademais, a Lei nº 6.938/81 a aplicação da responsabilidade
administrativa perante os órgãos ambientais competentes e integrantes do Sistema
Nacional do Meio Ambiente, possibilitando em concreto a ocorrência e incidência
concomitante, autônoma e cumulativa dos três tipos de responsabilidade, quais
sejam a civil, a penal e a administrativa em decorrência de um mesmo fato.
Em 24 de julho de 1985, a Lei da Ação Civil Pública, (Lei nº 7.347/85)
disciplinou a responsabilidade pelos danos causados ao meio ambiente, (Art. 1º,
inciso I, textualmente asseguram proteção ao meio ambiente), cujo interesse é de
toda uma coletividade e portanto de ordem difusa, transindividual, o qual poderá ser
resguardado mediante facere de órgãos ou instituições legitimadas em rol taxativo: o
Ministério Público é o titular na maioria dos casos e mesmo naqueles em que não é
o acusador obrigatoriamente entra no processo na qualidade de fiscal da lei - custos
37
legis – Art. 5º, §1º c/c Art. 129, III, da CF/88, União, Estados, Distrito Federal,
Municípios, autarquias, empresas públicas, fundações públicas, sociedades de
economia mista ou associação constituídas a mais de um ano e que tenha entre
suas finalidades a proteção do meio ambiente. Portanto, ampliou o leque dos
titulares do poder de responsabilizar civilmente. OLIVEIRA JÚNIOR, (2005)
Mas foi a Constituição Federal promulgada de 1988 que rompeu todo um
paradigma anterior e prontamente estabeleceu regras e princípios protetivos para o
meio ambiente, recepcionando inúmeras normas editadas antes de sua entrada em
vigor que ocorreu no dia 05.10.1988, no Diário Oficial da União nº 5 A, como o
Código Florestal, a Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, a Lei da Ação Civil
Pública, Lei do Patrimônio Histórico, dentre outros.
A Carta de 88 elevou o meio ambiente como norma-princípio fundamental,
configurando-o como cláusula pétrea e desta forma não pode ser abolido por
emenda à constituição, muito embora não conste do rol do Art. 5º, isto em função do
interesse imanente para a preservação das espécies, com destaque, para a humana
e ligado intrinsecamente ao bem-estar da pessoa com a sadia qualidade de vida em
meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Atribuiu responsabilidade a todos, Poder Público (União, Estados-Membros,
Distrito Federal e Municípios: Art. 22, 23, 24 e 30, I e II) e coletividade, para a sua
defesa e assegurou que o interesse das futuras gerações, não só a presente, deve
ser observada (Art 225). Estabeleceu, no geral, o meio ambiente como objeto
comum de análise, regulação e tutela para todos os entes federados, evidentemente
com atenção para os princípios da supremacia e o da simetria e sem olvidar da
questão indeclinável da hierarquia das normas jurídicas, cada um resguardando sua
esfera de competência.
Fez constar implicitamente o atendimento a trilogia moderna do
desenvolvimento ecologicamente e socialmente sustentável, aliando-se deveras a
força econômica com o interesse social e respeito ao meio ambiente, tanto que
prescreveu como princípio da ordem econômica e financeira em harmonia com os
ditames da justiça social a proteção do meio ambiente (Art. 170, VI). No Título VIII,
da Ordem Social, está previsto o Capítulo VI que trata exclusivamente do Meio
38
Ambiente e pela sua relevância registrou como incumbência do Poder Público
promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização
pública para a sua preservação.
Um dos fatores que preponderam na concepção constitucional
preservacionista é o enfoque aos princípios da prevenção e da precaução em sua
narrativa. O princípio da prevenção sugere que sejam tomadas pelos Estados e
empreendedores as medidas necessárias para se evitar a ocorrência de danos
ambientais, sendo que o princípio da precaução, originário do primeiro e tendo como
fundamento a urgência e a prudência, difere deste quando os riscos e danos que se
quer evitar sejam incertos e o conhecimento científico escasso ou controvertido
sobre os efeitos de um dado produto ou substância no meio ambiente.
Somando estes fatores fundamentais com a imprescindibilidade de Estudo
Prévio de Impacto Ambiental-EPIA e controle da poluição das atividades ou
empreendimentos que direta ou indiretamente comportem em risco para a vida, a
qualidade de vida e o meio ambiente, seguindo as premissas do licenciamento
ambiental e aplicação do princípio da publicidade, percebe-se o condão visionário e
acautelatório da Carta Magna. Machado, (2008, p.274)
Com amparo na CF/88 entrou em vigor a Lei nº 9.605, de 12.02.1998,
conhecida como Lei dos Crimes Ambientais ou Lei da Vida, trazendo em seu bojo
figuras típicas criminais e a correlação da imposição da sanção administrativa (Art.
70) que se viu implantada somente em 1999 com a regulamentação dada pelo
Decreto Federal nº3.179/1999.
Esta lei não condensa todas as infrações penais ambientais, muito embora
tenha revogado algumas e alterado (derrogado) outras(art. 26 da Lei nº4.771/65,
Decreto-Lei nº3.688/41). A grande maioria dos crimes ambientais é de menor
potencial ofensivo(Art. 61 da Lei nº9.099/95 – Lei dos Juizados Especiais Cíveis e
Criminais), principalmente aplicando-se analogicamente o posicionamento, correto
diga-se de passagem, da Lei nº 10.259/01 (instituiu os Juizados Especiais perante o
órgão do Poder Judiciário no âmbito da Justiça Federal) que ampliou o leque para os
preceitos secundários das normas penais incriminadores que prevêem em seus
dispositivos sanção máxima até dois anos.
39
Oliveira Júnior, (2005), chama a atenção para o fato de que um dos fatores
que elevam tal norma legislativa ao rol das principais do Brasil é a previsão textual
da imprescindibilidade de reparação do meio ambiente degradado para a aplicação
dos benefícios descriminalizantes, como a transação penal e a suspensão
condicional do processo, no que exigiu a reparação do dano ambiental com
expressa demonstração de sua implementação para a decretação da extinção da
punibilidade.
A desconsideração da pessoa jurídica é outra implicação legal com vista a
busca da reparação do meio ambiente afetado quando a entidade infratora pretende
paralisar suas atividades e cessar sua existência para eximir-se da responsabilidade
ambiental, pois nesta situação o ônus passará aos instituidores.
3.3 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO AMBIENTAL
O Direito Ambiental, como um ramo autônomo do Direito, também possui
seus princípios, e estes são verdadeiras pilastras que sustentam todo o edifício
jurídico/ambiental.
Dos princípios abaixo relacionados, muitos têm guarida constitucional e status
de Direito Fundamental:
a). Princípio do direito humano fundamental,
b). Princípio da cooperação ou da participação (de la coopération),
c). Princípio do poluidor- pagador (pollueur - payeur),
d). Princípio da responsabilidade (responsabilité)
e). Princípio do ônus social (gemeinlastprinzip),
f). Princípio da responsabilidade civil objetiva,
g). Princípio da prevenção
h). Princípio do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito
fundamental da pessoa humana;
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i). Princípio do desenvolvimento econômico sustentável (ou sustentado),
j). Princípio da universalidade ou da ubiqüidade.
k). Princípio da participação comunitária l). Princípio da natureza pública da proteção ambiental. Dentre estes princípios, destacamos quatro, que são de fundamental
importância para a nossa realidade:
a) Princípio do ambiente ecologicamente equilibrado como direito
fundamental da pessoa humana: segundo este princípio, o meio ambiente,
por conta mesmo do progressivo quadro de degradação a que se assiste em
todo o mundo, ascendeu ao posto de valor supremo das sociedades
contemporâneas, passando a compor o quadro de direitos fundamentais ditos
de terceira geração incorporados nos textos constitucionais dos Estados
Democráticos de Direito. O reconhecimento do direito a um meio ambiente
sadio configura-se, na verdade, como extensão do direito à vida. Milaré,
(2007, p. 761)
b) Princípio da natureza pública da proteção ambiental: Este princípio
decorre da previsão legal que considera o meio ambiente um valor a ser
necessariamente assegurado e protegido para uso de todos ou, como
queiram, para fruição humana coletiva. Isto significa, que o reconhecimento
do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado não resulta em
nenhuma prerrogativa privada, mas apenas da fruição em comum e solidária
do mesmo ambiente com todos os seus bens. Milaré, (2007, p. 764)
c) Princípio da prevenção: Aplica-se este princípio quando o perigo é certo e
quando se tem elementos seguros para afirmar que uma determinada
atividade é efetivamente perigosa. Na prática, este princípio tem como
objetivo impedir a ocorrência de danos ao meio ambiente, através da
imposição de medidas acautelatórias. Milaré, (2007, p. 765)
d) Princípio da participação comunitária: este princípio expressa a idéia de
que, para resolução dos problemas do ambiente, deve ser dada especial
ênfase à cooperação entre o Estado e a sociedade através da participação
dos diferentes grupos sociais na formulação e na execução da política
41
ambiental. Isto vale para os três níveis da Administração Pública. Milaré,
(2007, p. 776)
e) Princípio da obrigatoriedade da intervenção do Poder Público: “Deve ser
confiada às instituições nacionais competentes a tarefa de planificar,
administrar e controlar a utilização dos recursos ambientais dos Estados, com
o fim de melhorar a qualidade do meio ambiente” (Declaração de
Estocolmo/72). A Declaração do Rio de Janeiro/92, também reforça este
princípio, ao declarar que “Os Estados deverão promulgar leis eficazes sobre
o meio ambiente”. Machado, (2008, p. 98)
3.4 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
A Carta Constitucional de 88 inseriu normas relativas à preservação do meio
ambiente, ordenando a distribuição das competências administrativas e
legislativas, que regem as relações entre a Federação e os Estados.
Tais competências foram divididas em privativas, comuns e concorrentes,
sendo certo que as dificuldades surgem quando da aplicação das duas últimas,
uma vez que inexiste uma clara definição onde cada uma delas se inicia e se
finda.
No âmbito da competência concorrente, deve-se observar o princípio da
hierarquia das normas, onde a legislação federal tem primazia sobre a estadual e
municipal, e a estadual sobre a municipal.
Em matéria ambiental, a União pode legislar concorrentemente aos Estados e
ao Distrito Federal, conforme determina o artigo 24 da Carta Magna, editando
normas gerais, assim como permitindo a edição de legislação suplementar por
parte desses.
Ocorre também a possibilidade de que o Município suplemente tanto a
legislação federal e estadual (CF, art. 30, inciso II), em âmbito estritamente local,
sem contrariar, porém, as normas gerais da União e dos Estados.
Inexistindo, porém, lei federal sobre normas gerais, os Estados podem
exercer sua competência legislativa, assim como também os Municípios,
devendo atender às normas gerais estaduais. Nesse caso, passam a exercer
competência legislativa plena (CF, art. 24, § 3º).
42
Certo é que a inserção na Carta Constitucional de capítulo específico à
proteção do meio ambiente, ensejou edição de farta legislação complementar por
parte dos Estados e Municípios.
A problemática, porém, surge quando da aplicação dos mandamentos
constitucionais, que, aliados à legislação suplementar (em caso de competência
concorrente), geram invariavelmente a triplicidade de fiscalização pelos órgãos
ambientais.
Ocorre, porém, que tais mandamentos pouco são observados. Na realidade, é
nessa oportunidade que se constata o nefasto efeito da competência
concorrente: gera uma fiscalização concorrente, onde os órgãos ambientais dos
três níveis praticam atuação tripla, a um único agente, causador de um mesmo
dano.
Vê-se, portanto, a falha de interação por parte dos órgãos responsáveis pela
fiscalização ambiental, que mais parecem buscar visibilidade de sua atuação, ao
invés de promover ações coordenadas e conjuntas, a fim de promover sua
função maior de zelar por um meio ambiente sadio. Marques, (2005)
3.4.1 Constituição Federal
Nossa Constituição Federal oferece instrumentos para proteção do meio
ambiente.
O Artigo 23 da Constituição Federal dispõe que:
[É competência da União, dos Estados, do Distrito Federal e Municípios: VI Proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer uma de suas formas; VII Preservar as florestas, a fauna e a flora.]
Já o artigo 26 da nossa Carta Magna estabelece que:
[Incluem-se entre os bens dos Estados: I – As águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União.]
Sobre a competência dos municípios em legislar sobre o meio ambiente, o
artigo 30 da referida Carta, dispõe que:
43
[Compete aos Municípios: VIII – promover no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante Planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo.]
E o artigo 225, também da nossa Constituição trás o seguinte entendimento:
[Todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem do uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e a coletividade o dever de defende-lo e preserva-lo para as futuras gerações.]
3.4.2 Lei nº 4771/65 – Do Código Florestal
O artigo 2º da referida Lei, estabelece critérios para ocupação das áreas de
ressaca, conforme podemos ver:
[Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas: a) Ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima seja: I – de 30 (trinta) metros para os cursos d’água de menos de 10 metros de largura. II – de 50 metros para os cursos d’agua que tenha de 10 a 50 metros de largura. PARÁGRAFO ÚNICO: No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas nos perímetros urbanos, são definidas por lei municipal e nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo o território abrangido, observar-se-á os dispostos nos respectivos Planos Diretores e Leis de Uso do Solo, respeitados os princípios e limites a que se refere este artigo
3.4.3 Lei nº 6.938/81 – Da política nacional de meio ambiente
A referida Lei dispõe sobre a política nacional de meio ambiente, conforme
observa-se no artigo 2º:
[A política Nacional de Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar no país, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e a proteção da dignidade da vida humana, atendido os seguintes princípios: I – Ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerado o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e
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protegido, tendo em vista o uso coletivo. ... VIII – Recuperação de áreas degradadas. ... IX Proteção de áreas ameaçadas de degradação].
3.4.4 Lei 6.766/79 – Do parcelamento do solo urbano
O parcelamento do solo urbano tem como objetivo desenvolver as diferentes
atividades urbanas, com a concentração equilibrada dessas atividades e de pessoas
no Município, estimulando e orientando o desenvolvimento urbano, mediante o
controle racional do uso e aproveitamento do solo.
O artigo 2º da Lei. 6.766/79 estabelece a infra-estrutura básica para que seja
feito o parcelamento do solo urbano, conforme se observa abaixo:
[Art. 2º - O parcelamento do solo urbano poderá ser feito mediante loteamento ou desmembramento, observadas as disposições desta Lei e as das legislações estaduais e municipais pertinentes. ... 5o A infra-estrutura básica dos parcelamentos é constituída pelos equipamentos urbanos de escoamento das águas pluviais, iluminação pública, esgotamento sanitário, abastecimento de água potável, energia elétrica pública e domiciliar e vias de circulação. ... § 6º A infra-estrutura básica dos parcelamentos situados nas zonas habitacionais declaradas por lei como de interesse social (ZHIS) consistirá, no mínimo, de: I - vias de circulação; II - escoamento das águas pluviais; III - rede para o abastecimento de água potável; e IV - soluções para o esgotamento sanitário e para a energia elétrica domiciliar.]
Portanto, de acordo com artigo acima, somente poderá haver loteamento se
tiver a mínima infra-estrutura, coisa impossível de se fazer numa área de ressaca.
O artigo 3º da referida Lei dispõe que não será permitido o parcelamento nos
seguintes casos:
[Art. 3º Somente será admitido o parcelamento do solo para fins urbanos em zonas urbanas, de expansão urbana ou de urbanização específica, assim definidas pelo plano diretor ou aprovadas por lei municipal. Parágrafo único. Não será permitido o parcelamento do solo: I - em terrenos alagadiços e sujeitos a inundações, antes de tomadas as providências para assegurar o escoamento das águas; II - em terrenos que tenham sido aterrados com material nocivo à saúde pública, sem que sejam previamente saneados; III - em terreno com declividade igual ou superior a 30% (trinta por cento), salvo se atendidas exigências específicas das autoridades competentes; IV - em terrenos onde
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as condições geológicas não aconselham a edificação; V - em áreas de preservação ecológica ou naquelas onde a poluição impeça condições sanitárias suportáveis, até a sua correção.]
Já este artigo, é bem taxativo quanto a proibição de se fazer parcelamento ou
loteamento em terrenos alagados. Portanto, quem mora nessas áreas deve saber
que jamais terá seu imóvel legalizado, consequentemente, os aparelhos estatais
também ficam impedidos de disponibilizar qualquer infra-estrutura necessária aos
moradores dessas áreas, em função desse artigo.
3.4.5 Lei 10.257/01 – Do Estatuto da Cidade
Esta lei estabelece diretrizes gerais de política urbana e também os
instrumentos legais que serão utilizados pelos municípios nesta política urbana.
O artigo 4º trata exatamente desses instrumentos, conforme observa-se:
[Art. 4o Para os fins desta Lei, serão utilizados, entre outros instrumentos: I – planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social; II – planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões; III – planejamento municipal, em especial: a) plano diretor; b) disciplina do parcelamento, do uso e da ocupação do solo; c) zoneamento ambiental; d) plano plurianual; e) diretrizes orçamentárias e orçamento anual; f) gestão orçamentária participativa; g) planos, programas e projetos setoriais; h) planos de desenvolvimento econômico e social; IV – institutos tributários e financeiros: a) imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana - IPTU; b) contribuição de melhoria; c) incentivos e benefícios fiscais e financeiros; V – institutos jurídicos e políticos: a) desapropriação; b) servidão administrativa; c) limitações administrativas; d) tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano; e) instituição de unidades de conservação; f) instituição de zonas especiais de interesse social; g) concessão de direito real de uso; h) concessão de uso especial para fins de moradia; i) parcelamento, edificação ou utilização compulsórios; j) usucapião especial de imóvel urbano; l) direito de superfície; m) direito de preempção; n) outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso; o) transferência do direito de construir; p) operações urbanas consorciadas; q) regularização fundiária; r) assistência técnica e jurídica gratuita para as comunidades e grupos sociais menos favorecidos; s) referendo popular e plebiscito; VI – estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e estudo prévio de impacto de
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vizinhança (EIV). § 1o Os instrumentos mencionados neste artigo regem-se pela legislação que lhes é própria, observado o disposto nesta Lei. § 2o Nos casos de programas e projetos habitacionais de interesse social, desenvolvidos por órgãos ou entidades da Administração Pública com atuação específica nessa área, a concessão de direito real de uso de imóveis públicos poderá ser contratada coletivamente. § 3o Os instrumentos previstos neste artigo que demandam dispêndio de recursos por parte do Poder Público municipal devem ser objeto de controle social, garantida a participação de comunidades, movimentos e entidades da sociedade civil.]
Neste artigo são traçadas as diretrizes básicas que nortearão a política
urbana no país. Dentre estas diretrizes, destaca-se o item VI, que trata do estudo
prévio de impacto ambiental (EIA) e estudo prévio de impacto de vizinhança, já que
são instrumentos legais que se encontram à disposição do gestor municipal e que
muito podem contribuir para evitar que estragos maiores sejam feitos na natureza.
3.4.6 – Constituição do Estado do Amapá – Meio Ambiente
A Constituição do Estado do Amapá teve seu texto promulgado em 20 de
dezembro de 1991, sendo que foi atualizada pelas Emendas Constitucionais de nºs.
0035, de 21 de março de 2006 e 0036, de 08 de agosto de 2006. É de se ressaltar,
que após as respectivas Emendas, nossa Constituição Estadual deu uma
importância toda especial à questão do meio ambiente, conforme pode-se observar
nos artigos abaixo:
Art. 310. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à Coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º O Poder Executivo, através de seus órgãos executores das políticas ambientais, elaborará, anualmente, o relatório de qualidade ambiental do Estado do Amapá. § 2º O relatório de qualidade ambiental refletirá quaisquer alterações naturais ou construídas ocorridas no período anterior, devendo ser apresentado até o fim do primeiro quadrimestre do ano subseqüente Redação dada pela Emenda Constitucional nº. 38, de 05.06.2007. Art. 311. O Poder Público estadual realizará o zoneamento ecológico-econômico do Estado, de modo a compatibilizar o desenvolvimento com a preservação e a conservação do meio
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ambiente, bem como promoverá o levantamento e o monitoramento periódico da área geográfica estadual, de acordo com a tendência e desenvolvimento científico e tecnológico, de modo que o zoneamento ecológico-econômico esteja sempre atualizado, garantindo a conservação das amostras representativas dos ecossistemas. Art. 312. A execução de obras, atividades industriais, processos produtivos e empreendimentos e a exploração de recursos naturais de qualquer espécie, quer pelo setor público, quer pelo setor privado, será admitida, se houver resguardo do meio ambiente ecologicamente equilibrado, ficando proibida a exploração desordenada e predatória das espécies frutíferas nativas do Estado.
É de se ressaltar, que se as nossas autoridades cumprissem apenas o que
determina o artigo seguinte, da nossa Constituição Estadual, nosso meio ambiente
estaria devidamente protegido e nossas áreas de ressaca não estariam sendo
degradadas:
Art. 313. O Estado, mediante lei, criará um sistema de administração da qualidade ambiental, proteção e desenvolvimento do meio ambiente e uso adequado dos recursos naturais, para organizar, coordenar e integrar as ações de órgãos e entidades da administração pública direta e indireta, assegurada a participação da coletividade, com o fim de: I - propor uma política estadual de proteção do meio ambiente; II - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e disseminar, na forma da lei, as informações necessárias à conscientização pública para a preservação do meio ambiente; III - fiscalizar e zelar pela utilização racional e sustentada dos recursos naturais; IV - assegurar a participação popular em todas as decisões relacionadas ao meio ambiente e o direito à informação sobre essa matéria; V - proteger e restaurar a diversidade e a integridade do patrimônio genético, biológico, paisagístico, histórico e arquitetônico relativo ao meio ambiente; VI - definir, implantar e administrar espaços territoriais e seus componentes representativos de todos os ecossistemas originais a serem protegidos, sendo a alteração e supressão, incluindo as já existentes, permitidas somente por lei; VII - proteger e preservar a flora e a fauna, as espécies ameaçadas de extinção, as vulneráveis e raras, vedadas as práticas que submetem os animais à crueldade, por ação direta do homem sobre os mesmos; VIII - estimular e promover o reflorestamento ecológico em áreas degradadas, objetivando especialmente a proteção de encostas e dos recursos hídricos, a consecução de índices mínimos de cobertura vegetal, o reflorestamento econômico em áreas ecologicamente adequadas, visando suprir a demanda de
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matéria-prima de origem florestal e a preservação das florestas nativas; IX - assegurar, na forma da lei, o livre acesso às informações básicas sobre o meio ambiente; X - prevenir e controlar a poluição, a erosão, assoreamento e outras formas de degradação ambiental; XI - preservar os ecossistemas essenciais e promover o manejo ecológico de espécies; XII - zelar pelas áreas de preservação dos corpos aquáticos, principalmente, as nascentes, inclusive os olhos d’água, cuja ocupação só se fará na forma da lei, mediante estudos de impactos ambientais.
E ainda,
Art. 315. As terras marginais dos cursos d’água são consideradas áreas de preservação permanente, proibido o seu desmatamento.
Como se pode observar, a nossa Constituição Estadual deu um tratamento
especial na questão ambiental, inclusive nas áreas de ressacas, conforme se
observa neste último artigo. O que falta agora são as leis ordinárias regulamentando
todas as situações constitucionalmente previstas, oferecendo assim ferramentas
mais eficazes de proteção ao meio ambiente.
3.4.7 Lei Estadual nº 0835/2004 – Da ocupação urbana e
reordenamento territorial nas áreas de ressacas.
Visando dar uma maior proteção às áreas de ressaca, em 2004 foi instituída a
Lei Estadual nº 0835, tratando da ocupação urbana, reordenamento territorial, uso
econômico e gestão ambiental das áreas de ressacas localizadas no Estado do
Amapá, e, consequentemente, da preservação, da importância dessas áreas para o
meio físico, biológico e principalmente para a população de nossa cidade.
Dentre os artigos inseridos na referida lei, destaca-se o artigo 2º:
[Ficam proibidas novas ocupações e uso de áreas de ressaca urbana e periurbana, exceto para execução de obrar de infra-estrutura]
O artigo 3º da referida lei disciplina que:
[As atividades econômicas já existentes em áreas de ressaca e várzea, poluidoras ou potencialmente poluidoras, conforme
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estabelecida na legislação vigente, terão prazo de até 01 (um) ano, após a aprovação do Zoneamento Ecológico Urbano – ZEEU, para a regularização de suas atividades perante os órgãos competentes, ficando obrigadas a apresentar plano especial de recuperação das áreas por elas degradadas.]
O artigo 4º, estabelece prioridade no ordenamento urbano e paisagístico,
conforme se vê abaixo:
[Após a conclusão do Estudo do Zoneamento Ecológico Econômico Urbano ZEEU, e constatando-se que a ocupação urbana de uma área é irreversível do ponto de vista ambiental, fica essa área priorizada no ordenamento urbano e paisagístico, par melhoria da qualidade de vida dos habitantes da mesma.]
3.4.8 Lei Estadual nº 0455/1999, que dispõe sobre delimitação e
tombamento das áreas de ressaca localizadas no Estado do Amapá.
A referida lei foi publicada em 1999, determinando a proteção das áreas de
ressacas localizadas no Estado do Amapá, especialmente em Macapá, conforme se
verifica abaixo:
Art. 1º - Fica o Governo do Amapá obrigado a delimitar e a fazer o tombamento das áreas de ressaca localizadas no Estado do Amapá, com a finalidade de preservar o valor paisagístico e a proteção do meio ambiente. Parágrafo Único - As áreas protegidas deverão privilegiar as ressacas localizadas nas áreas municipais urbanas, com a delimitação iniciando-se pela Lagoa dos Índios, no município de Macapá. Art. 2º - A contar da publicação desta Lei, e o conseqüente tombamento das áreas de ressaca localizadas no Estado, ficam proibidas: I - A implantação e o funcionamento de indústrias potencialmente poluidoras, assim como qualquer outro empreendimento degradador do meio ambiente; II - A realização de obras de terraplanagem, aterramentos, loteamento e abertura de canais em qualquer situação, exceto em casos de prevenção e degradações ambientais provenientes de erosão ou assoreamento naturais; III - O uso de biocidas, pesticidas, quando indiscriminados, ou em desacordo com as normas ou recomendações técnicas dentro do padrão oficial; IV - Utilização como depósito de lixo; V - O exercício de atividades que ameacem extinguir as espécies bióticas regionais.
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Art. 3º - Toda e qualquer atividade lesiva ou em desacordo ao disposto nesta Lei sujeitará aos infratores sanções administrativas, com aplicação de multas diárias e progressivas, independentes de restauração aos danos causados, aplicados pelos órgão estaduais de fiscalização e proteção do meio ambiente. Art. 4º - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação. Art. 5º - Revogam-se as disposições em contrário.
Se esta lei estivesse sendo colocada em prática, nossas áreas de ressaca
estavam devidamente protegidas, porém, esta lei não vem sendo obedecida nem
pelos empresários, que teimam em fazer seus empreendimentos nessas áreas, nem
pela população mais carente, que também escolhem estes locais para construírem
suas residências.
3.4.9 Lei Municipal nº 026/2004 – Institui o Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano e Ambiental do Município de Macapá.
O Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental de Macapá, em seu
Artigo 5º, parágrafo 4º, define as ressacas como “as áreas que se comportam como
reservatórios naturais de água, apresentando um ecossistema rico e singular e que
sofrem a influência das marés e das chuvas de forma temporária”. Considera, o
referido Plano, essas áreas como patrimônio ambiental do Município de Macapá
(Art. 5º, parágrafo 2º, inciso II).
51
CAPÍTULO IV
4. DA RESPONSABILIDADE, DO DANO E DA REPARAÇÃO.
4.1 A RESPONSABILIDADE DO PODER PÚBLICO PELA DEGRADAÇÃO
DAS ÁREAS DE RESSACA
Para Milaré, (2007, p. 909), as pessoas jurídicas de direito público interno,
podem ser responsabilizadas pelas lesões que causarem ao meio ambiente. O
renomado jurista diz ainda que:
[...não é só como agente poluidor que o ente público se expõe ao controle do Poder Judiciário (p. ex., em razão de construção de estradas, aterros sanitários, troncos, coletores e emissários de esgotos sanitários, sem a realização de estudo de impacto ambiental), mas também quando se omite no dever constitucional de proteger o meio ambiente (falta de fiscalização, inobservância das regras informadoras dos processos de licenciamento, inércia quanto à instalação de sistemas de disposição de lixo e tratamento de esgotos, p. ex.).
Segundo, entendemos, o Estado também pode ser solidariamente responsabilizado pelos danos ambientais provocados por terceiros, já que é seu dever fiscalizar e impedir que tais danos aconteçam. Essa posição mais se reforça com a cláusula constitucional que impôs ao Poder Público o dever de defender o meio ambiente e de preserva-lo para as presentes e futuras gerações.]
E para completar o seu raciocínio, aquele doutrinador conclui que:
[...Assim, afastando-se da imposição legal de agir, ou agindo deficientemente, deve o Estado responder por sua incúria, negligência ou deficiência, que traduzem em ilícito ensejador do dano não evitado que, por direito, deveria sê-lo. Nesse caso, reparada a lesão, a pessoa jurídica de direito público em questão poderá demandar regressivamente o direito causador do dano.]
52
Portanto, os entes federados são obrigados a elaborar um plano de gestão
ambiental, onde deixa claro como será sua condução, a direção e o controle pelo
governo do uso dos recursos naturais, através de determinados instrumentos, o que
inclui medidas econômicas, regulamentos e normatização, investimento públicos e
financiamento, requisitos interinstitucionais e judiciais.
É a gestão ambiental que faz o controle apropriado do meio ambiente físico,
para propiciar o seu uso com o mínimo de abuso, de modo a manter as
comunidades biológicas, para o benefício continuado do homem.
A condução do processo de manutenção e garantia de qualidade ambiental
em face da utilização de recursos naturais (renováveis e não-renováveis) e da
produção de quaisquer resíduos, fatores estes capazes de alterar o equilíbrio e as
características essenciais do meio natural e dos assentamentos humanos. A gestão
ambiental trabalha com elementos de ciências e técnicas variadas, supondo a
interdiciplinaridade.
Para Milaré (2007), atualmente é consensual que não se pode fazer uma
gestão ambiental eficaz sem implementação de políticas públicas com participação
comunitária.
4.2 DANO E REPARAÇÃO
Para José Afonso da Silva, (2008, p. 301), o dano ecológico é qualquer lesão
ao meio ambiente causada por condutas ou atividades de pessoa física ou jurídica
de Direito Público ou de Direito Privado. Esse conceito harmoniza-se com o disposto
no art. 225, § 3º da Constituição da República, segundo o qual as condutas e
atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas
físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da
obrigação de reparar os danos causados.
53
4.3 TIPOS DE RESPONSABILIDADE
O dispositivo constitucional, como se vê, reconhece três tipos de
responsabilidade, independentes entre si – a administrativa, a criminal e a civil -,
com as respectivas sanções, o que não é peculiaridade do dano ecológico, pois
qualquer dano a bem de interesse público pode gerar os três tipos de
responsabilidade. Silva, (2008, p. 302)
4.4 A COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR SOBRE DANO AMBIENTAL
A Constituição inscreveu uma disposição de difícil interpretação quando, no
art. 24, VIII, declara competir à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao
consumidor, a bens e direitos e valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico.
Ao comentar o assunto, José Afonso da Silva, (2008, p. 302) ressalta que no
âmbito dessa competência, a União estabelece normais gerais e os Estados,
normas complementares. Isso quer dizer que em matéria de responsabilidade por
dano ao meio ambiente a União tem competência para estabelecer as normas
gerais, deixando aos Estados e Distrito Federal as providências suplementares. A lei
federal não incidirá em inconstitucionalidade se, nesse assunto, determinar aos
Estados que, por lei própria, definam a responsabilidade do causador do dano
ecológico nas situações a eles peculiares, como também não se reputará
inconstitucional a lei estadual que, na inexistência de lei federal, suprir a carência,
com base nos parágrafos do art. 24 da Constituição.
Importante conseqüência no inciso constitucional é que a responsabilidade
administrativa na matéria fica sujeita à correlação norma geral (federal), e norma
suplementar (estadual). Assim, se uma lei, considerada norma geral federal, como a
de nº 6.938/81, estabelece sanções administrativas genéricas para infrações
ambientais, poderão estas ser aplicadas por Estados e Municípios ainda que no
54
silêncio das respectivas legislações, o que não seria possível sem questionado
dispositivo.
4.5 CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL
Milaré (2008, p. 952), ressalta que a Lei nº 9.605/98 trata na Seção V do
Capítulo V, sobre alguns crimes decorrentes da improbidade administrativa,
regrando a conduta tolerante ou irresponsável do agente público que faz afirmação
falsa ou enganosa, omite a verdade, sonega informações, concede licença,
autorização ou permissão em desacordo com as normais ambientais ou que deixa
de cumprir obrigação de relevante interesse ambiental.
Se as atitudes acima elencadas são consideradas criminosas, não estará
cometendo crime o funcionário da Companhia de Eletricidade que autoriza a
instalação de energia elétrica nessas áreas alagadas.
É de se imaginar também o dilema que vive um diretor da Companhia de
Água do Estado, ao ter que autorizar a instalação de tubulação de água potável para
as residências localizadas nessas áreas de ressaca. Se autorizar a instalação estará
cometendo um crime ambiental, se não autorizar, poderá estar cometendo um crime
contra a saúde pública.
55
CAPÍTULO V
5. DAS POLÍTICAS PARA O MEIO AMBIENTE E A PARTICIPAÇÃO CIDADÃ
5.1 – POLÍTICA NACIONAL URBANA
O jurista Edis Milaré (2007, p. 514) chama a atenção para o fato de que a
Política Urbana está inserida na ordem econômica, diversamente do que ocorre com
o Meio Ambiente, que integra a ordem social (Título VIII, Capítulo VI, art. 225). Ao
tratar da questão urbana no contexto da ordem econômica, o legislador situou-a ao
lado da Política Fundiária e da Reforma Agrária, assim como o Sistema Financeiro
Nacional. MILARÉ, (2007)
Segundo o mesmo jurista, esta posição da Política Urbana em nossa Carta
Magna enseja duas reflexões e uma interrogação.
A primeira reflexão se faz a respeito da ordem econômica: o porquê dessa
posição. Na realidade, a problemática urbana é mais social do que econômica,
porquanto ela está ligada aos assentamentos humanos, a processos demográficos,
a estilos de vida, a valores culturais próprios, à forte interação de indivíduos e de
grupos.
Por que teria o legislador se preocupado mais com o aspecto econômico, ou
seja, com a propriedade do solo urbano e com o direito de acesso a ele?
Ao tentar responder esta pergunta, o próprio jurista afirma que as
circunstâncias históricas da elaboração da Constituição talvez tivessem induzido o
constituinte a enfatizar o direito à propriedade urbana e o seu uso, porque o
processo acelerado de urbanização gerava (e ainda gera) duas aberrações infensas
aos direitos humanos fundamentais: a especulação imobiliária e a exclusão social.
A segunda reflexão vem da expressão textual de “política urbana”. O
legislador infraconstitucional, ao editar a Lei 10.257/2001, conhecida como “Estatuto
da Cidade”, não usou a expressão “Política Nacional”, tal qual o fez em casos
análogos, como a “Política Nacional de Recursos Hídricos” (Lei 9.433/1997) e a
“Política Nacional de Educação Ambiental” (Lei 9.795/1999),
56
Quanto a interrogação ensejada por Edis Milaré, o mesmo pergunta porque o
legislador maior, ao abrir espaço para uma Política Urbana, não contemplou o meio
ambiente sadio da cidade como um fator essencial, um requisito mesmo, para uma
política urbana abrangente e, quanto possível, completa? Em vez disso, teria ele
confinado o seu interesse na solução de pendências de ordem econômica? O jurista
afirma que certamente não foi este o propósito. Afirma também que a Constituição
deve ser interpretada no seu conjunto, com a necessária amarração entre suas
partes.
5.2 – PLANO DIRETOR E ZONEAMENTO AMBIENTAL
O Estatuto da Cidade, em seu art. 40, define o Plano Diretor como o
“instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana”. Milaré
afirma que a expectativa quanto à importância e à eficácia do Plano Diretor
impregna o texto e o espírito da Lei 10.257/2001, como bem se pode ver nas
menções explícitas e nas entrelinhas. A tal ponto vai a ênfase dada a esse
instrumento de gestão ambiental que, em caso de ofensa às normas legais definidas
para a implementação do Plano Diretor, os agente públicos, inclusive o próprio
prefeito, poderão incorrer em improbidade administrativa, nos termos da Lei
8.429/92, que estabelece severas sanções civis. Milaré, (2007, 534)
O zoneamento ambiental é um dos instrumentos da Política Nacional do Meio
Ambiente, como reza o art. 9º, II, da Lei 9.638/1981. Segundo diz o próprio nome,
trata-se, em síntese, de um disciplinamento de ocupação e destinação de áreas
geográficas para que elas atendam à sua vocação geoeconômica e ecológica.
A novidade é a introdução do zoneamento ambiental em escala municipal,
consoante estabelece o art. 4º, III, c, do Estatuto da Cidade. Como é de supor, o
zoneamento ambiental municipal tem uma dupla relação político-administrativa: a)
como o uso e a ocupação do solo no âmbito do Município e b) como o zoneamento
ambiental em âmbito e escala maiores (intermunicipal, metropolitano, microrregional,
estadual, regional e nacional). O município não é um ente federativo isolado e
encapsulado, ou seja, fechado, precisa estar em sintonia com o que acontece ao
seu redor. Milaré, (2007, p. 536)
57
5.3 – PARTICIPAÇÃO CIDADÃ
Segundo Milaré (2007, p. 539), não é possível entender a cidadania sem
participação. Se a política é a arte do bem comum, o empenho individual de cada
qual na busca e na realização dos ideais e objetivos comunitários configura-se,
implicitamente, como fator necessário e obrigatório da cidadania, por tratar-se do
interesse coletivo, da coisa pública.
Milaré afirma também que o exercício da cidadania não é apenas uma virtude
social e política da pessoa humana: é também a sua força, aquele fator psicológico,
social e político que impulsiona a sociedade para frente, mediante o estabelecimento
de foros de negociação e grupos de pressão autênticos e legítimos. Daí se constata
a força dos movimentos sociais. Milaré, (2007, p. 539)
Se o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito
fundamental, que tem associados a si outros direitos e também deveres, o exercício
da cidadania ambiental não pode separar-se do meio ambiente urbano e da sua
respectiva qualidade de vida.
A gestão democrática da cidade não será completa se não estiverem
incluídos, nesse processo, os interesses e as necessidades das aglomerações
urbanas dentro das quais se inserem os Municípios
58
CAPÍTULO VI
6. O DIREITO AMBIENTAL NA PRÁTICA
6.1 A EFETIVA APLICAÇÃO DO DIREITO AMBIENTAL NA PROTEÇÃO DAS
ÁREAS DE RESSACA
A Secretaria do Meio Ambiente e a Promotoria de Justiça do Meio Ambiente
são os órgãos responsáveis pelo combate aos abusos praticados pelos diversos
setores da sociedade contra o meio ambiente.
Levando-se em consideração a importância destes órgãos para a
preservação do nosso meio ambiente, fez-se necessária uma visita aos mesmos,
para que se pudesse verificar com os profissionais que ali atuam, quais as
dificuldades encontradas no dia-a-dia e também se os resultados obtidos com suas
ações podem ser considerados satisfatórios.
a) Relatório de Visita à SEMA
Segundo técnicos da Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Amapá, em
especial o senhor Benedito de Assis Coelho, Diretor do Núcleo de Fiscalização de
Recursos Hídricos, as invasões das áreas de ressaca no município de Macapá
acontecem devido a conflitos de leis existentes. Segundo aquele técnico, as leis
atuais protegem o invasor, dificultando uma ação mais enérgica por parte dos
órgãos encarregados de fazer a fiscalização ambiental, especialmente a SEMA.
Para o Diretor da SEMA, existem leis que garantem ao cidadão o direito a
habitação, outras que garantem o direito ao mínimo de infra-estrutura, como água e
energia elétrica, existem ainda leis que garantem o direito ao trabalho e ao acesso a
matéria prima localizadas nestas áreas. Estas leis acabam entrando em conflito com
as leis que protegem o meio ambiente, e por questões políticas, o meio ambiente
acaba sendo prejudicado, pois entre proteger o meio ambiente e beneficiar algumas
famílias, geralmente o gestor prefere a segunda opção, já que esta lhe dá um
retorno político mais rápido.
59
Ainda, segundo o referido Diretor, a aplicação rigorosa da legislação
ambiental se torna difícil, porque o Estado tem que ter uma visão ampla, olhando
não só o lado ambiental, mas também social e econômico. Ao fazer tal análise, o
referido Diretor comentou que se o Estado obrigar a retirada das pessoas das áreas
de ressacas e consequentemente a derrubada de suas moradias, não terá como
construir outras a curto e médio prazo, tanto por falta de recursos quanto por falta de
espaço físico em áreas de terra firme que ofereçam condições, conforme determina
a legislação em vigor.
Outro exemplo citado, é o caso dos oleiros que tiram barro das áreas de
ressacas para a fabricação de diversos artefatos, principalmente panelas, potes e
tijolos. Também, segundo o Diretor, se a SEMA fizer uma fiscalização rigorosa,
proibindo a retirada desse material das áreas de ressaca, haverá um problema
econômico e social, já que é dessas áreas que diversas pessoas tiram o seu
sustento e de sua família. Além do mais, teríamos que comprar produtos similares
vindo de outros estados, por um preço bem maior do que os praticados aqui.
A Secretaria do Meio Ambiente do Estado do Amapá contratou a
pesquisadora Norma Crud Maciel e o Instituto Estadual de Pesquisa do Amapá -
IEPA, para elaborar diagnóstico socioambiental sobre as áreas alagadas que
ocorrem nos municípios de Macapá e Santana. A primeira autora, contratada pela
SEMA, é clara ao propor que mesmo que a população reaja não aceitando as
ponderações do governo quanto à remoção deles, é dever e responsabilidade do
governo retirá-los do local, por ser uma área de risco, imprópria para ocupação.
SEMA (2001)
Outro ponto de fundamental importância para a preservação das áreas de
ressaca de Macapá, e que inclusive já foi apresentado estudo sobre isso, seria o
cadastramento das pessoas que ali vivem. As famílias seriam cadastradas em cada
ressaca e as fotos aéreas que a SEMA dispõe ajudariam no trabalho dos assistentes
sociais. O cadastramento seria feito em todas as ressacas, a partir das mais
poluídas para as menos poluídas.
E por último, os pesquisadores concluíram que os governantes deveriam
planejar conjuntos habitacionais, onde as construções seriam financiadas parte pelo
60
Governo Federal, pelo Estadual e pelo Municipal, oferecendo condições facilitadas
para que as pessoas pudessem arcar com as prestações. Como qualquer
empreendimento imobiliário teria água tratada e encanada, esgoto, luz, creches,
escolas de primeiro e segundo grau, postos médicos e telefônicos, delegacias, corpo
de bombeiros, centros esportivos, etc. ou seja, o mínimo necessário para que as
pessoas pudessem viver com dignidade, e melhor ainda, sem afetar o meio
ambiente.
b) Relatório de visita à Promotoria de Justiça do Meio Ambiente.
O Ministério Público é um órgão atuante e de reconhecida credibilidade,
sendo considerado como verdadeiro fiscal da lei. Porém, os Promotores Públicos
que atuam na Promotoria de Justiça do Meio Ambiente, Conflitos Agrários,
Habitação e Urbanismo, na Comarca de Macapá, vêm encontrando dificuldades
para conseguir êxitos em suas ações.
Segundo o Promotor Haroldo José de Arruda Franco, a Ação Civil Pública tem
sido o instrumento jurídico mais utilizado por aquele órgão para tentar combater a
enorme quantidade de invasões nas áreas de ressacas de Macapá. Para este
Promotor, a Ação Civil Pública contém uma enorme força intrínseca, por defender os
verdadeiros interesses da sociedade. Porém, para o citado Promotor, os resultados
obtidos até o momento não são nada animadores, pois o Judiciário tem se mostrado
extremamente lento no julgamento das ações envolvendo o meio ambiente, se
contrapondo, portanto, à ligeireza com que as invasões vêm acontecendo em
Macapá.
A Promotoria do Meio Ambiente vem acompanhando de perto as atuações do
Batalhão Ambiental e da Secretaria do Meio Ambiente do Amapá nas questões
envolvendo as invasões das áreas de ressacas de Macapá. Segundo o Promotor
Haroldo Franco, as invasões nessas áreas acontecem, porque o Poder Executivo
não enfrenta de frente o problema, se preocupando somente com as questões
políticas e esquecendo das questões ambientais. A prova disso é a enorme
quantidade de invasões que acontecem em ano eleitoral.
Para o citado Promotor, o Poder Executivo não vem sendo somente omisso,
mas acima de tudo conivente com este tipo de invasão, pois, uma invasão ilegal mal
61
começa e já se observa toda uma infra-estrutura colocada à disposição dos
moradores dessas áreas, como água encanada, energia elétrica e pontes de
madeira, sendo estas inclusive pintadas com a cor padrão do Governo que se
encontra no poder naquele momento, o que, para o mesmo, demonstra um certo
descaso dos nossos governantes com o meio ambiente e a pouca preocupação com
o nosso futuro e da nossa cidade.
62
7 CONCLUSÃO
Percebe-se claramente que nas últimas décadas o homem vem tendo uma
visão mais humanista sobre as questões ambientais, tendo a consciência que o
direito ao meio ambiente sadio e equilibrado transcende qualquer outro direito,
devido a magnitude do seu alcance. Quando se fala em meio ambiente, se fala
numa partícula que faz parte de um todo, e que representa a vida no planeta, não só
dos seres humanos, mas de toda e qualquer espécie existente na Terra.
A questão é tão séria que o jurista Paulo Affonso Machado afirma que a
gestão do meio ambiente não é matéria que diga respeito somente à sociedade civil,
ou uma relação entre poluidores e vítimas da poluição. Para o jurista, os países,
tanto no Direito interno como no Direito internacional, têm que intervir ou atuar.
Portanto, qualquer trabalho sobre o meio ambiente, deve ter uma visão
holística da coisa, já que esta visão refere-se à percepção ou conhecimento que
integra os componentes ou partes num todo compreensivo e abrangente, a partir do
princípio ou constatação de que há uma integração e não apenas mera justaposição
dos componentes como um todo. A visão holística é essencial à visão do mundo e à
formulação de políticas ambientais.
As invasões nestas áreas alagadas trazem, além da questão ambiental,
outras, de ordem social e econômica. De ordem social porque nenhum proprietário
de imóvel localizado nessas áreas de ressaca terá um documento onde poderá
comprovar que é o legitimo dono do imóvel em que reside, e em conseqüência
disso, não poderá vender sua propriedade, assim como também não poderá
requerer financiamentos em bancos para construir ou reformar seus imóveis,
transformando assim, também num problema de ordem econômica já que centenas
ou milhares de empregos deixaram de existir em conseqüência desse entrave.
Para elaborar este trabalho, teve-se que sair do campo teórico para a prática
para que se pudesse ter uma noção de como as coisas realmente acontecem. Se
dependesse somente das leis as nossas ressacas estariam protegidas, e o mundo
seria uma maravilha. No entanto, na prática, o que se percebe é que existe um certo
isolamento por parte de cada órgão público encarregado de dar proteção ao meio
63
ambiente, o que acaba comprometendo o resultado final e trazendo prejuízos para a
sociedade e para o próprio meio ambiente.
Trabalhos científicos mostram que as ressacas de Macapá vêm sendo
invadidas e degradadas numa velocidade enorme, o que poderá comprometer todo
o seu ecossistema num futuro bem próximo. É necessário que o governo e
sociedade estejam empenhados em dar uma efetiva proteção a essas áreas de
ressacas, enquanto há tempo, caso contrário, não se terá muito o que fazer daqui há
alguns anos. É preciso também identificar quais são os instrumentos legais que
estão disponíveis para serem usados nessa proteção.
Sem dúvida alguma, o Direito é um desses instrumentos, já que é capaz de
obrigar que todos cumpram o que determinam as leis. A escolha do tema deste
trabalho, “O Direito como instrumento legal para proteção das áreas de ressaca de
Macapá”, teve como intuito trazer para discussão, dentro de uma Academia, a
problemática ambiental dessas áreas de ressacas, e, através dessa discussão,
conscientizar a todos, principalmente aos acadêmicos do curso de Direito, sobre o
tamanho da responsabilidade que carregamos em nossos ombros.
Uma faculdade não forma somente bacharéis. Forma antes de tudo cidadãos.
É com a formação do cidadão que poderemos de fato e de direito cumprir estas
obrigações, sendo pertinente asseverar que a capacitação formará pessoas mais
conscientes com o meio ambiente e formalmente aptas a buscar fazer-valer o
interesse geral sobre este bem transcendental e de caráter universal. A longo prazo
poder-se-á colher bons frutos, frutos esses que servirão não apenas ao povo do
Amapá, mas à toda humanidade.
Durante a elaboração deste trabalho, ficou patente a necessidade da criação
de Varas especializadas em meio ambiente e/ou Juizados Ambientais, para dar
maior celeridade aos processos ligados a esta matéria. Com isso, a população
poderá ter mais incentivo para o encaminhamento de demandas com vista à
reparação de quaisquer agressões ao meio ambiente. É de ressaltar ainda, que a
maior reclamação dos representantes do Ministério Público, especialmente da
Procuradoria Estadual do Meio Ambiente, é quanto a morosidade do Judiciário nas
questões envolvendo o meio ambiente. Segundo os mesmos, esta morosidade se
contrapõe à velocidade com que o meio ambiente local vem sendo agredido,
sobretudo, as nossas áreas de ressacas.
64
Também se faz urgente a criação de uma Lei estadual, determinando que
seja incluído no currículo escolar dos estudantes amapaenses, desde o ensino
fundamental, matéria disciplinar ligada ao meio ambiente, efetivando assim o que já
determina a nossa Constituição Estadual, no seu artigo 313. inciso II.
Todo governante tem a obrigação de saber que a educação e a repressão
são instrumentos que estão à disposição do aparelho estatal e que devem ser
utilizados em benefício de toda sociedade. Não adiante a educação sem a repressão
ou vice-versa.
Também foi observado um certo isolamento por parte dos órgãos
responsáveis pela proteção ao meio ambiente de Macapá e do Amapá. Faltam aos
mesmos mais interação, mais trocas de experiências. Talvez fosse o caso de se
escolher um dia do ano para fazer esta troca de experiências, colocando assim um
Promotor de Justiça do meio ambiente para exercer a função de policial no Batalhão
Ambiental. Colocando um policial deste Batalhão para ser fiscal da SEMA e
consequentemente, um fiscal da SEMA para atuar na Promotoria do Meio Ambiente,
logicamente, não sendo um Promotor, mas trabalhando ao lado de um destes. Isso
fará com que cada um tenha uma visão mais ampla da importância do trabalho que
o outro desenvolve, e trará, certamente, maior interação por parte dos órgãos
responsáveis pela fiscalização ambiental no município de Macapá e também no
estado do Amapá.
Portanto, como se pode observar, para implementação do Direito Ambiental,
imprescindível se faz a adoção de política pública ambiental conscientizadora,
preventiva e, se for o caso, sancionatória, e que envolva os diversos setores
educacionais, públicos ou privados, meios de comunicação, assim como entidades
não governamentais interessadas legitimamente na questão, para que possa surtir
os efeitos desejados pela norma cogente. Afinal, o meio ambiente é um bem de uso
comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida, que o Poder Público e a
coletividade tem o dever de defender e preservar.
65
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