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  • 8/14/2019 cenaberta7

    1/12

    Rua Antnio Jos de Almeida n. 2, 3000 - 040 COIMBRA Portugal telf. e fax (+351) 239 836 679 | [email protected] | www.cenalusofona.pt

    Cena Lusfona

    n. 7 Setembro 2009

    distribuio gratuita

    ISSN 1645-9873

    A Cena no CafNewton Moreno em Coimbra

    novacasa para a

    Um encontron'As Bacantes

    conversa comRui Madeira

    CenaLusfona

    novavidae

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    cenabertacha tcnica

    DirectorAntnio Augusto Barros | Coordenao e Fotograa Augusto Baptista | Redaco Augusto Baptista,

    Pedro Rodrigues | Concepo grca Ana Rosa Assuno | Reviso Soa Lobo | ISSN 1645-9873 | N. 7 distri-buio gratuita | Tiragem2000 exemplares | ImpressoTipograa Ediliber| PropriedadeCena Lusfona, Associa-o Portuguesa para o Intercmbio Teatral, Rua Antnio Jos de Almeida, n. 2, 3000 - 040 COIMBRA,PORTUGAL | Tel. e Fax (+351) 239 836 679 | [email protected] | www.cenalusofona.pt

    ACena Lusfona

    uma estrutura nanciada por:

    cenaberta2

    Em Maio de 1897, o New York Journal publicou o obiturio de Mark Twain,confundindo a morte de um primo seu, residente em Londres, com a morte do

    prprio escritor norte-americano. A resposta de Twain, reproduzida pelo jor-nal em 2 de Junho, cou clebre: o relato da minha morte desmedidamente

    exagerado.

    Nos contactos que temos feito ao longo dos ltimos meses com muitos dos

    companheiros de percurso da Cena Lusfona, houve frequentes oportunidades

    para citar o autor de Tom Sawyer e Huckleberry Finn. Os dois anos em que fo -mos forados a suspender a nossa actividade tornaram a instituio praticamente

    invisvel aos olhos da comunidade teatral lusfona e at, aparentemente, junto de

    entidades que antes nos haviam apoiado (algumas das quais directamente respon-

    sveis pelas diculdades que atravessmos).

    Resistimos, contudo, a carpir mgoas. O novo contrato assinado com o Minis-trio da Cultura portugus permite-nos retomar o projecto em que continuamos

    a acreditar. Perdeu-se tempo, certo, e no ainda seguro que no tenham sido

    desbaratados muitos dos esforos anteriormente realizados. Apesar do minima-

    lismo dos recursos, mantemos intactas as ambies e o essencial dos objectivos

    a que nos propusemos em 1995.

    Assim entramos nesta nova fase. Reconstruindo a equipa e voltando a reunir a

    rede de parceiros construda em todo o espao lusfono. Move-nos a conscincia,

    partilhada com muitos daqueles com quem continumos sempre em contacto,

    de que o intercmbio cultural entre os pases de lngua portuguesa permanece

    demasiado refm de retricas vazias e abafado por sucessivos fogachos de oca -

    sio. Mais do que um qualquer e deslocado sentido de misso, inspira-nos um

    sentido de responsabilidade perante expectativas que crimos e alimentmos eque nos custa defraudar.

    As expectativas no nascem do vazio. Nascem das diculdades concretas, do

    quase nada que encontrmos em tantos stios e que ajudmos a transformar num

    quase alguma coisa; nascem da vontade de partilha e do interesse pela descoberta

    que encontrmos noutros locais e que ajudmos a concretizar.

    Desde 1995, o mundo lusfono mudou muito. Cada um dos (agora) oito palcos

    em que nos movemos enfrenta novos e decisivos desaos para o seu futuro. Mas

    a ausncia de discurso poltico sobre esta comunidade e sobre a forma como nos

    podemos e devemos relacionar parece ter sido preenchida apenas pela retrica

    do negcio.

    Velhos tiques, a que s a cultura pode fazer frente. Para que nos possamos

    conhecer melhor, uns aos outros e a ns prprios.

    por isso que c estamos, anal e ainda.

    Cena Lusfona

    editorial

    Coleco Cena Lusfona

    As Virgens Loucasde ANTNIO AURLIO GONALVESCabo Verde

    Teatro do Imaginrio Angolarde FERNANDO DE MACEDOSo Tom e Prncipe

    Supernovade ABEL NEVESPortugal

    As Mortes de Lucas Mateusde LEITE DE VASCONCELOSMoambique

    Teatro I e IIobra dramatrgicade JOS MENA ABRANTESem dois volumes,

    Angola

    Mar me quer

    de MIA COUTO e NATLIA LUIZAPortugal / Moambique

    Teatroobra completa do dramaturgo brasileiroNAUM ALVES DE SOUZABrasil

    Revista Setepalcos

    (esgotados nmeros 0, 1 e 2)

    N. 3 Setepalcos especial sobre TEATRO BRASILEIRO

    N. 4 Setepalcos especial sobre TEATRO GALEGO

    N. 5 Setepalcos especial sobre RUY DUARTE DE CARVALHO

    Floripes NegraFloripes na Ilha do Prncipe, em Portugal e no mundo

    de AUGUSTO BAPTISTA

    lbum Fotogrco/Reportagem/Ensaio

    edies.cena venda na sede da Cena Lusfona e no Tea-tro da Cerca de So Bernardo, em Coimbra,ou via encomenda postal, aps solicitao

    por telefone, fax, ou e-mail.

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    3/12cenaberta3

    A Cena no CafNewton Moreno em Coimbra

    Setembro 2009

    Newton Moreno veio a Coimbra e abriu a 3 de Julho umnovo ciclo de A Cena no Caf. A conversa com o conheci-

    do e reconhecido dramaturgo, actor e encenador brasileiro

    uiu amena no Teatro da Cerca de So Bernardo.

    Um dia, l em Pernambuco, ao ver actuar um

    contador de histrias, decidiu que ia ser artista. Foi

    com esse propsito que desceu grande metr-

    pole: primeiro cursou teatro em Campinas e , depois,

    a especializao em dramaturgia no Curso de Artes

    Cnicas da Universidade de So Paulo. Desde esses

    tempos de faculdade que sentiu o chamado dos dra-

    maturgos para dentro dos grupos. Por isso, precisa

    da proximidade da sala de ensaios e considera que

    o trabalho de grupo foi sempre essencial para ter a

    coragem de escrever.

    Disse estas coisas (e outras) Newton Moreno em

    Coimbra, no arranque de uma nova srie da iniciativa da

    Cena Lusfona, A Cena no Caf, desta vez no Teatro

    da Cerca de So Bernardo (3 de Julho).

    Newton Moreno (1968) actor, encenador, dra-maturgo e um dos criadores do colectivo Os fofos

    encenam, que se tem distinguido na cena paulistana

    mais recente. Os ltimos anos tm trazido a Newton

    Moreno um reconhecimento invulgar enquanto dra-

    maturgo, traduzido na atribuio de alguns dos maisprestigiados prmios (Prmios Shell 2004 e 2008 e

    da Associao Paulista de Crticos de Artes, em 2004,

    todos para melhor autor), e na montagem de textos

    seus por encenadores brasileiros de primeiro plano

    como Mrcio Aurlio (num notvel Agreste) e , mais

    recentemente (ainda em temporada), Aderbal Freire

    Filho, com As Centenrias.

    Durante A Cena no Caf, Newton fez um per-curso informal pelas suas peas, dialogou com a as -sistncia e comentou excertos videogrcos feitos a

    partir de Agreste e A Refeio.

    Dominante durante a conversa foi a sua formade abordar a tradio, a fortssima herana cultural

    nordestina, atravs da sua sensibilidade urbana e con-

    tempornea, um trnsito teatral que Newton reinventa

    em mltiplas formas.

    Toda a obra de Newton, pouco publicada ain-

    da, est disponvel no Centro de Documentao e

    Informao da Cena Lusfona (CDI). Para alm das

    j referidas, podem ser consultadas no CDI as peas

    Dentro, A Cicatriz a or, Assombraes do

    Recife Velho, Ferro em brasa, pera, Vem, vai o

    caminho dos mortos e ainda textos originais como

    The Clio Cruz show, Jacinta, Bero de pedra,

    O livro, entre outros.A razo principal da estadia de Newton Moreno

    em Coimbra foi o convite do Centro de Estudos So-ciais (CES) para participar no seminrio Espectculo /

    Teatro / Cidade, que decorreu entre 1 e 3 de Julho.

    cenaberta

    O que vem a"A Cena no Caf", assim chamada por corres-

    ponder, num primeiro momento, a encontros

    informais no Caf Santa Cruz, caf histrico no

    centro de Coimbra, entrou numa nova fase.A ideia agora, mantendo os mesmos objectivos,

    passar a promover estes encontros entre artistas

    e agentes institucionais dos pases de Lngua por-tuguesa, essas novas Cenas no Caf, em espaos

    alternativos, quer dentro da cidade de Coimbra,

    quer noutras cidades do pas e, mais tarde, do

    estrangeiro. E a prosseguir a apresentao de

    livros, a projeco de lmes, o desempenho de

    pequenas performances e espectculos, a aborda-

    gem de projectos aos quais a Cena esteja ligada.

    Em 2009, nesta nova fase, houve j a "A Cena no

    Caf" com Newton Moreno, no Bar da Cerca de

    So Bernardo.

    Esto agendadas mais trs tertlias: para Outu-bro, Novembro e Dezembro.

    "A Cena no Caf" de Outubro est programada

    para Coimbra, em ligao com a Reitoria da Uni-versidade de Coimbra, no mbito dos Encontros

    de Outono, organizados pela Universidade e

    subordinados ao tema: As ligaes entre a An-

    tropologia e a Arquitectura.

    Em Novembro, teremos a primeira Cena no Caf

    a realizar-se fora da cidade de Coimbra. Ocorre-r em Braga, num dos cafs histricos da cidade.

    A se pensa abordar o projecto da Cena Lusfo-

    na e as actividades em curso da Associao.

    A ltima Cena no Caf prevista para 2009, denovo em Coimbra, ir centrar-se no Encontro

    Internacional sobre Polticas de Intercmbio

    Cultural e no lanamento da revista Setepalcos

    sobre Cabo Verde.

    Newton Moreno apresentado por Antnio Augusto Barros

    PedroRodrigues

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    cenaberta

    O apoio do Ministrio da Cultura Cena Lusfona foi atribudo na se-quncia de uma candidatura apresen-tada ao Programa de Apoios Directos

    da DGArtes, na rea dos cruzamen-tos disciplinares. O jri avaliou positi-

    vamente o plano de actividades apre-sentado pela Cena, particularmente

    nas vertentes do dilogo efectivocom o universo de pases onde se falao Portugus, da preocupao claracom a ressonncia cultural e do

    manifesto equilbrio entre a apresen-tao de espectculos e a reexo.O montante nanceiro atribudo (120mil euros/ano) cou aqum do ne-cessrio para o relanamento pleno

    da actividade da instituio, repre-

    sentando cerca de 50% da verba so-licitada na candidatura. Ainda assim,

    permite que a Cena Lusfona man-tenha o principal propsito com quefoi criada, em 1995: promover o interconhecimento e dinamizar a comuni-cao e a circulao de artistas e es-

    pectculos de teatro, msica e danano espao lusfono. No concreto,

    este novo contrato com o Minist-rio da Cultura portugus possibilitaque a associao retome alguns dos

    principais projectos, entretanto sus-pensos, especialmente nos campos

    da documentao, da edio e do

    intercmbio teatral entre os pases deLngua portuguesa.

    Do contrato agora assinado com o Ministrio da

    Cultura portugus constam objectivos especcos,

    que do conta da ambio e da abrangncia da inter-veno a que a Cena Lusfona se prope. Entre eles,

    alm dos que se inscrevem nas actividades a desen-

    volver muito proximamente, destaca-se a concluso e

    a disponibilizao ao pblico do inventrio de espaos

    cnicos nos pases africanos um trabalho iniciado

    h vrios anos e que essencial para a denio deuma rede qualicada de circulao e intercmbio de

    espectculos de teatro, msica e dana pelo espao

    lusfono, bem como para a inventariao de obras e

    outras intervenes tcnicas necessrias.

    Depois, e retomando uma pista lanada na ltima Es-tao da Cena (Festival de Teatro que atingiu em 2003

    a sua VI edio), aposta-se no incremento das relaes

    culturais com a Galiza e na valorizao da proximi-dade entre o Galego e a Lngua portuguesa, prevendo

    actividades de intercmbio e no plano editorial.

    Treze objectivos para o binio 2009/2010

    Aprofundar a pesquisa e a divulgao das manifesta-es artsticas tradicionais africanas;

    Apoiar a investigao especializada nas reas artsticae antropolgica com vista edio de monograas edocumentrios;

    Promover o encontro, o interconhecimento e o inter-cmbio entre criadores, investigadores, educadores,promotores culturais e responsveis institucionaisdos oito pases lusfonos;

    Dar visibilidade riqueza e diversidade das manifes-taes artsticas contemporneas de cada pas lus-

    fono, em particular no que diz respeito s artes per-formativas;

    Concluir, disponibilizar ao pblico e construir umsistema de actualizao regular do inventrio de es-paos cnicos nos pases africanos;

    Concluir e disponibilizar ao pblico uma base de da-dos especializada de artes performativas do espaolusfono (espaos cnicos, festivais, grupos e escolasde teatro e dana, performances, publicaes peridi-cas, centros de documentao, actores e dramatur-gos);

    Ampliar o catlogo j existente e incrementar a dis -ponibilizao ao pblico de documentao de artes

    performativas dos pases lusfonos, a partir do CDIinstalado em Coimbra e das suas extenses j exis-tentes na Guin-Bissau e em So Tom e Prncipe;

    Contribuir para a internacionalizao de artistas por-

    tugueses no domnio do teatro, da msica e da danapelo espao lusfono;

    Contribuir para o enriquecimento da oferta editoriale para a criao de novos textos no domnio da dra-maturgia de Lngua portuguesa;

    Dar visibilidade proximidade entre a Lngua portu -guesa e o Galego, promovendo o contacto com artis-

    tas e instituies desta regio espanhola;

    Colaborar com outros projectos e instituies cujosobjectivos se encontrem na defesa comum da Lnguaportuguesa e no estmulo criao artstica e inves-tigao intercultural;

    Promover regularmente o contacto do pblico como trabalho desenvolvido pela associao, atravs deencontros, festivais e de A Cena no Caf;

    Organizar aces que valorizem a formao artsticamiscigenada numa estreita ligao entre aprendiza-gem e processos de criao artstica.

    Uma nova vida para aA Cena Lusfona assinou em Julho um contrato bi-anual com a Direco-Geral das Artesde 2010, permite relanar a actividade da associao. Centro de Documentao, edies

    Actuais instalaes da Cena Lusfona em Coimbra

    AugustoBaptista

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    5/12cenaberta5

    Setembro 2009

    Prximas actividadesA reabertura ao pblico do Centro de Documenta-

    o, desde 8 de Setembro deste ano, o primeiro

    sinal desta nova fase. O Centro pode ser visitado nas

    nstalaes da Cena em Coimbra (Rua Antnio Jos

    de Almeida, nmero 2), de segunda a sexta-feira, entre

    as 10h00 e as 13h00 e as 14h30 e as 18h00. Os utiliza-

    dores podem, ainda, consultar e fazer pedidos on-line,

    dispor de atendimento especializado por parte da equi-

    pa de documentalistas da associao.

    O programa editorial foi retomado. Para alm do

    "Cenaberta" (verso papel), com periodicidade tri-

    mestral, e do "Cenaberta on-line", esto j a ser

    preparadas as prximas revistas "Setepalcos" (cujo

    nmero seis, dedicado ao Teatro de Cabo Verde,

    sair em Dezembro) e o prximo volume da co-

    eco "Teatro", a publicar em 2010.

    Ainda em 2009, em Coimbra, vrios responsveis ins-

    titucionais e agentes culturais dos pases de Lngua

    portuguesa participaro, em Dezembro, no Encon-

    tro Internacional sobre Polticas de Intercmbio.

    "A Cena no Caf, nas variadas formas que assumiu

    at 2006 (concertos, apresentao de livros, leitu -ras, pequenas representaes, tertlias) volta igual-

    mente ribalta com regularidade e com um novo

    gurino: sesses em diferentes espaos e em dife-

    rentes cidades do pas, correspondendo dimenso

    nacional e internacional do projecto da Cena Lus-

    fona e abrangncia e diversidade dos pblicos.

    J em 2010, a Cena Lusfona espera abrir um novo

    captulo na rea das publicaes, editando os primei-

    ros DVD do projecto Narradores Orais, sobre as

    formas que a narrao oral assume em So Tom e

    Prncipe e na Guin-Bissau.

    Um projecto multidisciplinar

    Cena LusfonaMinistrio da Cultura. Este contrato, vlido at ao nal

    ntercmbio teatral so as prioridades.

    Depois de dois anos em que foi forada a suspender

    quase toda a sua a actividade, devido interrupo

    do nanciamento pblico, a Cena Lusfona agora

    que o cenrio se alterou prepara-se para dar con-

    tinuidade ao trabalho desenvolvido desde 1995.

    O nosso percurso permitiu adquirir largo reconhe-

    cimento junto dos governos e de outros parceiros

    dos pases de Lngua portuguesa e, sobretudo, um

    conhecimento pormenorizado das caractersticas e

    das realidades concretas de cada um dos oito pases.

    E de todos.

    O trabalho no terreno veio conrmar, por exemplo,

    vrias das intuies iniciais quanto s origens comuns

    de diversas manifestaes artsticas contemporneas

    portuguesas e brasileiras e aos seus pontos de con-

    tacto com as artes performativas africanas. Permitiu

    abordar o Tchiloli, o Djambi, estudar as Cavalhadas

    em Portugal, no Brasil, em Cabo Verde, acompa-

    nhar a viagem da princesa Floripes e dos Doze Pares

    de Frana por Portugal e Espanha, primeiro, e pelo

    menso mundo lusfono e ibero-americano depois,

    perceber a fora que ainda hoje o teatro populartem entre ns, no Brasil, em So Tom e Prncipe

    Permitiu documentar, lmar os narradores orais em

    So Tom e Prncipe, fotografar extensamente. Mas

    permitiu tambm encontros menos frequentes na

    explorao, por exemplo, das ligaes entre a litera-

    tura de cordel (tradicional da Bahia e do nordeste

    brasileiro) e a histria dos jograis na Europa Medie-

    val, das raizes da Comedia dell'Arte ou dos diferen-

    tes caminhos que a tradio dos narradores orais foi

    seguindo dentro do universo da Lngua portuguesa.

    Denida inicialmente como associao de intercm-

    bio teatral, a Cena Lusfona rapidamente se deu

    conta da multidisciplinaridade da sua interveno

    entre as vrias artes performativas e entre estas e

    as cincias sociais, como a Antropologia, a Histria e

    a Sociologia. Hoje em dia, a associao assume sem

    reservas a relevncia destes cruzamentos discipli-

    nares e da sua complementaridade para a compreen-

    so de vrios fenmenos artsticos contemporneos,

    tanto em Portugal e no Brasil como nos pases afri -

    canos e em Timor, tanto nas grandes cidades, como

    Luanda e So Paulo, como no interior mais remoto

    de qualquer um dos pases lusfonos. Da mesma

    forma, este conhecimento abrangente da multiplici-

    dade de manifestaes artsticas intimamente ligadas

    na origem, e que continuam a interpenetrar-se e ainuenciar-se reciprocamente, reveste-se de um in-

    teresse prtico para o prprio artista contempor-

    neo, esteja ele na Europa, em frica, no Brasil ou em

    Timor.

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    6/12cenaberta6

    cenaberta

    novas

    CenaLu

    As novas instalaes da

    Cena Lusfona, no Ptio

    da Inquisio, devero

    estar concludas em 2011,

    prev o Gabinete para oCentro Histrico da

    Cmara Municipal de

    Coimbra. Em vias de ser

    vencido, enm, um im-

    passe que dura h mais

    de uma dcada.

    LEGENDA:

    A Ptio da Inquisio

    B CAV Centro de Artes Visuais

    C Teatro da Cerca de So Bernardo

    Futuras Instalaes da Cena Lusfona

    Desenhos da autoria dos Arquitectos Eduardo Mota e Jos Martins, do Gabinete

    para o Centro Histrico da Cmara Municipal de Coimbra

    Ptio da Inquisio: futuras instalaes ao fundo

    AugustoBaptista

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    7/12cenaberta7

    Setembro 2009

    sfona

    instalaes em 2011obras de recuperao da Ala Central

    Colgio das Artes, edifcio do Centro

    trico de Coimbra em que se vai ins-

    r a Cena Lusfona, tm incio previsto

    da em 2009, aps vencida a fase de con-

    so preparado pelos servios tcnicos

    autarquia, e devem estar concludas em

    1. A obra ser nanciada pelo programaCentro, no mbito do QREN (Quadro

    Referncia Estratgico Nacional), na se-ncia da candidatura apresentada pela

    mara Municipal de Coimbra e aprovada

    passado ms de Maio.

    projecto de recuperao do edifcio, que

    paredes-meias com o Centro de Artes

    uais e junto ao Teatro da Cerca de So

    nardo, tem a assinatura dos arquitectos

    uardo Mota e Jos Martins.

    Para alm da sede e dos escritrios, o pro- jecto inclui instalaes para o Centro de

    Documentao e Informao, a abrir mais

    espao para livros e actividades e a melho-

    rar as condies de trabalho dos utiliza-

    dores. No ltimo piso, uma sala polivalente

    servir para aces de formao e para um

    programa regular de actividades da CenaLusfona.

    A entrada da Cena nas suas novas instala-

    es marcar, espera-se, o arranque de uma

    etapa decisiva do seu percurso. A partir

    delas, e caso se consiga reunir os meios ne-

    cessrios, poder desenvolver-se o Centro

    de Intercmbio Teatral (CIT) de Coimbra,

    h muito ambicionado pela associao.

    Numa altura em que a Cena Lusfona re-

    toma as suas actividades regulares, a notcia

    de que estas obras vo nalmente ter incio

    (aps um longo perodo de indenio)

    encarada com natural satisfao. Merece es-

    pecial destaque o espao reservado ao Cen-

    tro de Documentao e Informao (CDI),

    que inclui uma ampla sala de leitura e reas

    para o tratamento tcnico e para a ade-

    quada conservao do esplio, bem comomelhores condies de trabalho para os

    investigadores e para os utilizadores em

    geral. O CDI da Cena Lusfona um dos

    mais completos centros de documentao

    especializados na dramaturgia de Lngua

    portuguesa. A sua coleco constituda

    por publicaes peridicas, livros, fotogra-as, cassetes vdeo e outros materiais, que

    podem ser consultados no local ou atravs

    da internet.

    PROJECTO DE ARQUITECTURA:

    Corte e Alado Sul

    PROJECTO DE ARQUITECTURA:

    Piso1

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    8/12cenaberta8

    cenaberta

    conversa

    com Rui Madeiracenaberta conversou com Rui Madeira, membro da direco da Cena Lusfo-

    na e director da Companhia de Teatro de Braga. A entrevista agora publica-

    da uma lcida abordagem ao papel das pessoas e das estruturas no seio da

    Cena; ao que somos, para onde e com quem queremos ir. Caminhando entre

    redes de afectos e de imaterialidades. E de algum oportunismo.

    A Cena Lusfona viveu tempos

    difceis, anos sem qualquer apoio

    ocial. Como compreender este

    quase-milagre da sobrevivn-

    cia?

    Mais do que sobreviver, nestes ltimostrs anos conseguimos a proeza de con-cretizar iniciativas, naturalmente condi-cionados. Mentiria se dissesse que asituao no nos afectou. Mas zemos.Agora estamos num momento em que

    a Cena faz um esforo para retomar umpercurso conforme as expectativas queforam criadas desde a sua formao, naesperana de que voltemos rapidamente

    a ter a relevncia que esse trabalho eesse histrico merecem no panoramadas artes cnicas da lusofonia.

    Que sentido dar hoje ao traba-

    lho da Cena?

    Acho que devemos trabalhar no sentidode que a Cena seja no apenas um juntar,um agregar de pessoas, mas tambm um

    aglutinar de estruturas, para podermosresponder melhor a eventuais maus mo-mentos futuros. As diculdades vividasnos ltimos anos no tm a ver comproblemas nossos, de projecto ou depessoas, derivam da falta de perspectivaestratgica e poltica dos sucessivos go-vernos; por comodidade podemos dizer:dos sucessivos governos portugueses.

    De facto, a importncia da Cena

    extravasa os limites geogrcos

    de Portugal.

    Embora seja um projecto que se iniciouaqui, os seus objectivos ultrapassam as

    fronteiras europeias, co-responsabilizamoutros pases e governos de Lngua por-tuguesa. Neste aspecto eu acho que temhavido uma fraca anlise dos governosda lusofonia em relao quilo que a

    Cena potencia e pode ajudar, numa pers-pectiva mais alargada, na persecuo de

    objectivos estratgicos que ultrapassamem muito a questo cultural.

    Como articulas o trabalho da

    Companhia de Teatro de Braga

    com o da Cena Lusfona?

    Todo o trabalho da Companhia tem sidoenquadrado e tem sido assumido como

    um trabalho inserido no projecto CenaLusfona. Com esta losoa, nos lti-mos anos desenvolvemos uma srie deiniciativas no Brasil, em vrios Estados:"workshops", ocinas sobre escrita coma Regina Guimares, ocinas sobre aprtica teatral. Temos levado espectcu-

    los a So Paulo, Bahia e a vrias cidadesdo Estado; temos participado em algunsFestivais. Fomos a So Paulo, ao 1. Fes-

    tival Ibero-Americano, com um texto doNelson Rodrigues, "Doroteia", e temos

    feito imensos espectculos, imensasaces. Em Agosto [a entrevista foi rea-

    lizada no nal de Julho de 2009] irei aSo Paulo, mais propriamente cidadede So Vicente, na baa de Santos, fazeruma ocina sobre "A Castro", de An-tnio Ferreira, destinada a actores que

    querem experimentar este trabalho. Temsido desenvolvida uma importante aco

    no Brasil; ao mesmo tempo, ns temos

    recebido aqui companhias brasileiras.

    No domnio da aco articula-

    da da Companhia de Teatro de

    Braga com a Cena Lusfona, h

    ainda o actual estgio de trs

    actores brasileiros no seio da

    Companhia.Ns temos trs elementos a trabalharconnosco, jovens actores brasileirosoriundos da Bahia. O trabalho de "AsBacantes" comeou l e teve como ob-

    jectivo encontrar dois ou trs jovens acto- res estagirios, numa base de acordo en-tre a Secretaria de Estado da Cultura daBahia e a Perfeitura de Camaari.Feita a seleco, eles vieram, ns zemosem Portugal uma outra ocina para oCoro de "As Bacantes", juntmo-los,zemos o espectculo c e voltmos aSo Paulo. Em So Paulo zemos umaoutra ocina durante dez dias, seis horaspor dia, para criar um coro para o espec-

    tculo, com actrizes brasileiras.

    Em So Paulo, o espectculo foi

    apresentado onde?

    Fizemos ensaios no espao do TAPA,que um parceiro da Cena Lusfonah muitos anos. O Eduardo Tolentino, odirector do TAPA, tem participado em

    muitas actividades da Cena Lusfona. Eleintegra uma rede amiga, que eu entendo

    a Cena tambm como uma rede de afec-tos. Fizemos esses ensaios no espao doTAPA e depois apresentmos o espect-

    culo "As Bacantes" no Teatro Ocina doJos Celso, outro exemplo de relaesafectivas.Portanto, este mexer, numa base deprojecto Cena, ns temo-lo mantido,naquilo que eu acho que cada uma daspessoas, cada um dos responsveis do

    projecto devia manter.

    Do que atrs disseste extrai-se

    que encaras como muito estrei-

    ta, indissocivel, a relao da

    Companhia de Teatro de Braga

    com a Cena Lusfona.

    Ns pensamos que todo o trabalho

    desenvolvido pela Companhia com oBrasil ou com Moambique, quer nasaces de formao, quer na apresen-tao dos espectculos, deve e tem de

    ser enquadrado numa perspectiva de

    Cena Lusfona. No faria sentido serde outra maneira. Custa-me admitir

    que pessoas, ao longo dos anos recor-

    rentemente chamadas pela Cena parafazerem aces de formao, ali e acol,possam ir agora a esses mesmos stios,

    ignorando a Cena Lusfona.Custa-me tambm compreender quepessoas que foram convidadas pelaCena, que estiveram e participaram em

    aces da Cena, que conheceram esteprojecto, que sabiam quais eram os seusobjectivos, quando catapultadas de re-pente para lugares de responsabilidade,se esqueam de tudo, tentem apagar a

    Cena Lusfona e vo ao ponto de de-senvolver projectos que sabem ter pa-ternidade, autoria.

    E quem so essas pessoas?

    Acho que no interessa fulanizar. Soucrtico relativamente a quem andou ou

    anda pelo projecto Cena s quando hrecursos. Estou a ser completamente

    srio, porque exactamente isto queeu penso. Acho que um projecto destanatureza tambm um projecto de ima-terialidades, de sonhos, que s se con-cretiza quando as pessoas entenderemque podem juntar as responsabilidadesestratgicas das suas estruturas comaquilo que mais vasto. Talvez o tra-balho da Companhia de Teatro de Bragano Brasil nunca se concretizasse se nohouvesse Cena Lusfona.

    O trabalho de intercmbio da

    Companhia de Teatro de Braga

    com a lusofonia esgota-se no

    Brasil?Hoje a companhia tem uma rede decontactos e de conhecimentos que noslevam infelizmente a no poder assumirmuitas das propostas que nos chegam.

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    9/12cenaberta9

    Setembro 2009

    De qualquer modo, vamos receberaqui, em Setembro, o Isaas Machava, deMoambique, do Maputo, que vai dirigir oTeatro frica, onde est sedeada a Com-panhia Nacional de Canto e Dana. Vemfazer um estgio de seis meses, fruto deuma relao que ns estimulamos com a

    Companhia Nacional de Canto e Dana,e que levou a que o Frederico Bustorffesteja em Moambique, desde Abril atFevereiro do ano que vem, a fazer umdocumentrio sobre os trinta anos deactividade da Companhia, ao mesmotempo que desenvolve uma aco de

    formao para que essa estrutura tenhaum departamento de imagem.

    Essa vertente lusfona, africa-

    na, brasileira, essa valncia que

    consideras estruturante para a

    Companhia de Teatro de Braga,

    aprendeste-a na Cena?

    A experincia da Cena abriu-me clara-mente perspectivas no mbito da luso-fonia. Por isso eu falo da necessidade de

    abrir a Cena Lusfona no somente apessoas mas tambm a estruturas, nosentido de responsabilizar mais os de-sempenhos. Ns sabemos que a CenaLusfona, nos primeiros anos, foi enten-dida como mais uma instituio, vista

    de fora. Algum que pretendia acolherprojectos e distribuir apoios. E foi poucoentendida como verdadeiramente uma

    associao de pessoas que veiculam um

    objectivo, um sonho, um espao de con-fronto

    ... de confronto e de conuncia.

    Exacto, de confronto e de conuncia

    de pessoas da rea da criao artsticateatral

    de pessoas e de estruturas.

    Essa questo cou muito de fora. No

    momento em que a Cena Lusfona,por razes que a ultrapassam, viveuuma crise, de repente ns percebemosque anal no ramos tantos assim.E se a Cena hoje se mantm deve-o inuncia que essas pessoas tinhame tm em estruturas. Podia mais umavez falar de nomes, mas basta refe-rir isto: se no fossem algumas dessasestruturas talvez hoje no existssemos.

    De facto, a Cena apoiou-se nos ltimosanos em estruturas, atravs de pessoasligadas Universidade de Coimbra, aCompanhias, empresas

    Usando um ditado popular, qua-

    se parece que h males que vm

    por bem.

    No direi isso. De qualquer modo, vou

    considerar este perodo difcil da CenaLusfona, estes ltimos trs anos, comoalgo revelador e importante e profcuo.Para mim, para a estrutura que eu dirijo,toda a gente na Companhia sabe o que a Cena Lusfona. Na Companhia to-dos sabem que o trabalho que ns de-senvolvemos no Brasil tem a ver com a

    Cena Lusfona.

    O teu trabalho no Brasil tem se-

    de muito em So Paulo e Bahia.

    Quais so a os principais par-

    ceiros?So vrios. O meu amigo Sartini, quehoje dirige o Museu da Lngua em SoPaulo, a Creusa Borges, produtora e di-rectora do Grupo Drago Sete, as pes-soas da Cooperativa Paulista de Teatro,o Eduardo Tolentino, do TAPA, o Fernan-do Calvozo, que dirige o Festival Ibero--Americano, muitos dos responsveisculturais de cidades do Estado de SoPaulo H uma gerao de pessoas quetrabalham junto da Secretaria de Estadoda Cultura do Governo de So Paulo ou

    junto da Perfeitura que tm muito a vercom o nosso trabalho.

    Muita gente, muito interlocu-

    tor

    H uma rede de conhecimentos quepassa por dentro quer do Governo deSo Paulo, quer da Perfeitura, extrema-mente importante. O Mrcio Meirelles,naquilo que ns na Bahia temos desen-volvido, tem enquadrado o intercmbiodentro dos parmetros pr-estabeleci-dos da poltica cultural do Estado. Huma diferena entre o Mrcio MeirellesSecretrio da Cultura e o Mrcio Mei-relles director do Teatro Vila Velha. Eainda bem que assim. Tudo quanto sefaa apoiado pela Secretaria de Estadoda Cultura da Bahia tem de ser determi-nado em concurso claro.

    O que disseste pressupe uma

    relao continuada, ligao, re-

    de. Pergunto, h a ideia de ex-

    pandir essa malha?Ns temos a ideia de fazer coisas comAngola e inserir isso obviamente dentrodo espao da Cena Lusfona. Estamosa trabalhar com algumas empresas queesto em Braga, e que tm relaes detrabalho e comerciais com Angola, nosentido de vermos o que podemos fazer.A questo de MoambiqueBrevemente, eu e o Antnio Augusto

    Barros iremos fazer uma reunio commembros do novo Governo sado dasltimas eleies da Galiza. A Companhiade Teatro de Braga desenvolve um traba-lho de caractersticas regulares com a

    Galiza, envolvendo directores de Com-panhias, actores galegos. A Galiza podeser um valor acrescentado, pode desen-

    volver sinergias que envolvam a Cena

    Lusfona como parceiro.

    Um movimento em espiral, que,

    a dada altura, pode arrastar ou-

    tros protagonistas?

    De facto, Portugal e Espanha, ns somospases da periferia da Europa. Talvez a Es-panha no seja entendida assim, mas, sepensarmos na Galiza, percebemos me-lhor do que estamos a falar. Ao mesmotempo, este canto ibrico tem relaesprofundssimas com um vasto mundoamericano, africano o problema aqui que ns no temos sustentao, umapoltica de apoio.

    Ao contrrio do que acontece

    com outros.

    No temos a noo da fora e da im-portncia que o Instituto Cervantes

    tem hoje no Brasil. Nos ltimos dois,trs anos, mais de oitenta delegaesdo Instituto Cervantes foram criadas noBrasil. No avaliamos a fora que as es-truturas culturais francesas tm hoje emMoambique, em Cabo Verde.Ns no fazemos ideia, no fazemos

    ideia quando falamos de Pas, porquens, elementos da Cena Lusfona, te-mos esse conhecimento do terreno, dosfactos, sabemos como as coisas fun-cionam, sabemos a importncia do"Goethe-Institut" na Bahia. Ns, Pas,no conseguimos imprimir uma dinmica

    cultural estruturada. Fala-se da Galp quetem umas plataformas na Baa de San-tos, dos negcios com a Venezuela, maso governo portugus no integra issonuma poltica cultural consentnea.

    Rui Madeira (Santarm, 1955) encenador e actor (teatro,

    cinema, televiso). Director da

    Companhia de Teatro de Braga

    e administrador executivo do

    Theatro Circo de Braga, mem-

    bro da direco da Cena Lusfo-

    na e Docente, nas reas do Corpo

    e da Expresso.

    AugustoBaptista

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    cenaberta

    So trs: um rapaz, duas raparigas. Oriundos todos do Estado da Bahia, encontraram-se na ocina da Cena Lusfona

    organizada em 2008 no Brasil pela Companhia de Teatro de Braga, CTB. Encontraram-se eles e outros: quarenta, ao

    todo. O objectivo ltimo desta aco de formao era seleccionar trs actores para integrarem o elenco de "As Ba-

    cantes", do grego Eurpides. Entre os muitos participantes, foram eles os escolhidos.

    Um encontro n'As BacantesAllex Miranda, Thamara Thas e MabelleMagalhes encontraram-se na ocina

    que o encenador Rui Madeira, director

    da Companhia de Teatro de Braga, CTB,

    e membro da direco da Cena Lusfo-na, promoveu no nal de Julho de 2008

    em Salvador da Bahia, Brasil. E foram

    eles os escolhidos, entre os quarenta

    participantes na ocina, para em Braga

    integrarem depois outros patamares de

    formao.

    Ps-ocina da Bahia, em Outubro de2008 e como o previsto, os trs vieram

    para Portugal a m de trabalharem

    o espectculo "As Bacantes". A ideia

    inicial, dizem, era permanecerem em

    Braga durante seis meses e, apresen-

    tado esse espectculo aqui, rumarem

    alm-Atlntico para apresentao da

    pea, com o elenco reformulado por

    um coro de bacantes brasileiras. S

    que, neste interim, o Rui trabalhou com

    a gente "As Bacantes" e adorou fazer

    um outro espectculo para trabalhar a

    nossa formao. Por via disso, junta-

    mente com dois actores portugueses,

    entraram na pea "Preconceito Vencido",

    de Marivaux, com estreia em Fevereiro

    de 2009.

    Concretizada uma digresso dos dois

    espectculos por palcos portugueses

    (Braga, Forjes, vora e Coimbra) viajam

    para o Brasil e, em Abril de 2009, ani-

    mam outros palcos em S. Paulo (Teatro

    Ocina do Z Celso e Espao Mazaro-pi) e em Americana.

    Em Maio esto de volta a Portugal para

    responderem a novos reptos teatrais e

    prosseguirem o estgio na Companhiade Teatro de Braga, onde cenabertaos

    encontrou.

    Thamara Thas

    20 anos, fazia teatro em Camaari, vivia em Arem-pebe, estudava jornalismo em Salvador da Bahia. Oseu dia-a-dia era um tringulo complicado: Pegaro onibus em Arempebe, ir para Salvador, depoisvoltar, depois ir para Camaari para o teatro. Eramuito difcil.Quando soube da aco de formao da Cena pre-vista para Salvador, interessou-se, foi escolhida noseu Grupo de Teatro Resistncia. E a eu abando-nei a Universidade para vir para c.Eu aqui tenho aprendido muito. Aprendeu, porexemplo, que em Moambique se fala Portugus.Eu no sabia. Eu nunca imaginei. Quando o Rui es-teve l no Brasil e disse que tinha um actor moam -bicano eu me espantei: mas ser que ele sabe falarPortugus?A mudana de ares fez bem a Thas! Tanto na vidaprossional como na vida pessoal a gente vai ama-durecendo. Aqui, sem famlia, conhecemos novaspessoas, fazemos amigos, estou crescendo muitocom esta experincia. Enquanto assinala a im-portncia deste estgio da Cena para reunir todasestas pessoas que falam a mesma lngua vive o fas-cnio do palco, destaca o mrito de actuar comactores prossionais.

    Allex Miranda

    26 anos, companheiro de Thas no Grupo de TeatroResistncia, nasceu em Nazar das Farinhas, a cercade 60 quilmetros de Salvador da Bahia, instalou-secom a famlia em Ilha da Taparica, cidade vizinha deSalvador.

    Na Ilha de Taparica, Allex estudou, fez a sua difciliniciao teatral: Eu era muito tmido, cava atremer, mas. Havia um mas redentor: mastinha muita capacidade de memorizao, gravavaaqueles textos todos e conseguia diz-los diantedo pblico.Em Salvador participou depois em "workshops" doprojecto "Viver com Arte" da Secretaria da Culturado Estado da Bahia e, enm, integrou a ocina daCena Lusfona: "As Bacantes, uma Orgia de Poder".

    Vir para Portugal tem correspondido a uma ex-perincia boa para Allex Miranda: Ns aqui pode-mos ganhar o po de cada dia com a coisa que nsamamos, o teatro. Depois, reala a importncia de

    conhecer actores, com seu jeito novo de actuar.De ter descoberto o poder da palavra, o texto,

    que o teatro para ns uma coisa mais corporal.Acha-se agora com mais bagagem, com mais capaci-dade para vir a trabalhar l no Brasil de uma formamelhor. E a informar o trabalho construdo aquiem Braga, ser um vnculo de ramicao desteprojecto da Cena Lusfona, que, juntando diferen-as, cria anidades.

    Mabelle Magalhes

    25 anos, nasceu em Salvador da Bahia, cresceu comopes claras: Eu no me lembro de querer outraprosso que no fosse ser actriz. Fez ocinasde teatro no "Viver com Arte", aces gratuitasde formao promovidas pelo governo do Estadoda Bahia. Fez outras ocinas. Muitas. Ingressou nocurso de teatro da Universidade Federal da Bahia,mas a luta pela sobrevivncia tolheu-lhe o sonho:Tive de ir trabalhar numa empresa de call center.O projecto "As Bacantes" da Cena Lusfona f-lareencontrar-se com o destino, sina antiga: o Teatro.Estes tempos de formao na CTB, alm dotraquejo de palco, para Mabelle representam umdespertar da conscincia. Pensa em voz alta: Aconscincia muito importante para o trabalho doactor. Quando voc est com o pensamento ador-mecido, no capaz de fazer uma leitura clara doque o rodeia.

    O estgio, propiciador de trabalho intenso comactores mais experientes, tem-lhe permitido vercom mais clareza o que para ela signica Teatro,libertar-me de clichs, ter um olhar esclarecidono palco e na vida: Eu vejo o actor como umaparablica do mundo, conectado com tudo em re-dor. O que est acontecendo na China, no serto,tudo importante.Quanto ao mundo da lusofonia, Mabelle est-lhesurpreendendo o gingar dialctico, o somos, nosendo: Ns estamos num pas bem mais sbrio,menos colorido do que o Brasil. Por mais que a

    gente tenha a mesma Lngua, hbitos parecidos, nsno somos iguais. Ao mesmo tempo que somos,

    no somos.

    Numa viso introspectiva sobre a realidade bra-

    sileira, lamenta: A gente no se conecta com ospases que falam Portugus. A gente no tem anoo da frica. No sabe que Angola fala Portu-gus, que Moambique fala Portugus. Somos pou-cos os que falam Portugus, precisamos mesmo deintegrao.

    Os trs jovens estagirios brasileiros

    trabalham com actores da Compa-

    nhia de Teatro de Braga, prossionais

    experientes embarcados na mesma

    viagem formativa. cenaberta colheu as

    opinies de Carlos Feio, Jaime Soares

    e Rogerio Boane sobre esta aco de

    formao, questionou-os: quem ensina

    quem?

    Carlos Feio: Para eles e para

    ns este estgio importante.Ns aprendemos coisas novas,

    linguajares diferentes. Apren-demos o mais bsico e o maisfecundo, ao nvel das relaesentre as pessoas. Partilhamos

    mundos, segredos, histrias. Eles chegam coma sua experincia, o que pode signicar umagrande dose de inexperincia, e conseguemintegrar bem os desaos do palco. Surpreendecomo no se inquietam, espanta onde vo

    buscar a conana. Talvez os encenadores, oscompanheiros de palco, ns, enm, lhes criemosuma almofada que os defende quando partempara o trabalho, para os textos.

    Jaime Soares: Eles vm comoutros mtodos de trabalho,outros ritmos, outros modos

    de exprimir o Portugus, comoutra musicalidade. Isso ajuda--nos a explorar um bocadomais a Lngua e a palavra, at

    atravs da diferena. E eles aprendem a ter al-gumas noes mais europeias de trabalhar noteatro, isto a nvel dos mtodos, da organiza -o, da abordagem da palavra. Ouvi-los a ler umtexto, por causa da diferena cultural, isso tam-bm nos estimula. Eles tm uma relao com oteatro mais fsica. A ns isso d-nos um apren-

    dizado do corpo, leva-nos a explorar mais amusicalidade, o ritmo fsico.

    Rogerio Boane: Esta expe-rincia desperta outras tcni-cas, eles tm um registo de re-presentao diferente do meu.Que eu agora estou a tentarligar o registo portugus com omeu, que africano, e agora de-

    para-se-me um outro registo, que brasileiro,e que eu desconhecia. Eles tm outros tempos,outra respirao, outra vivncia. Tm uma re-presentao com alma, com sentimento, no

    muito sobre a palavra, como o teatro portu-gus; no muito sobre a terra, sobre o dia- -a-dia, como o teatro africano. Esta experinciade palco com os brasileiros est a ser muitoimportante para mim. Eles sentem mais o quedizem do que escutam o que esto a dizer.

    Mabelle Magalhes, Alex Miranda e Thamara Thas

    AugustoBaptista

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    cenasbreves

    cenaberta11

    Setembro 2009

    LuandaEspao do Elinga no

    ser demolidoO edifcio que acolhe o Elinga Teatro, clas-sicado como Patrimnio Histrico e Cultural,no ser demolido, como chegou a temer-se.A garantia foi dada pelo vice-ministro da Cul-tura, Cornlio Caley. O grupo mantm assim asua sede histrica, em pleno corao da capitalangolana.

    Conforme declaraes de Cornlio Caley veicula-das pelo jornal angolano "O Pas", edio de 17 deulho, o espao que aloja o Eli nga ser preservado,continuando a ser um verdadeiro testemunhohistrico do passado colonial e parte integrantedo patrimnio cultural do Povo Angolano. Sobrea interveno a empreender para requalicao

    do imvel, o governante defendeu: precisamos

    de textos inditos, entrevistas com autores,ensaios e outros materiais relativos ao teatro

    que actualmente se escreve no Brasil.

    Entre os autores com peas disponveis no stioesto nomes como Marcos Barbosa, Mrio Bor-tolotto, Paula Chagas, Claudia Vasconcellos.Para alm de textos originais, so disponibilizadasentrevistas com dramaturgos brasileiros contem-porneos, entre os quais Newton Moreno (queem Julho participou em Coimbra na tertlia "ACena no Caf"), Samir Yazbek e Jos Paes de Lira.Na seco teses e ensaios, esto neste momento

    acessveis os textos de Andr Luis Gomes ( Dra-maturgia contempornea: do palco ao livro) e deCssio Pires (Do drama ao fragmento).Disponvel em www.dramaturgiacontemporanea.com.br, o stio inclui ainda um frum em que to-dos os leitores podem participar e uma agenda

    diria com os espectculos em cena nas principais

    cidades do Brasil.

    tistas de seis pases lusfonos: Angola, Brasil, CaboVerde, Guin Bissau, Moambique e Portugal. Adiversicada programao incluiu espectculos

    teatrais, ocinas, palestras, espectculos musicaise ainda uma mostra culinria. De acordo com in-

    formaes avanas pela organizao, assistiram iniciativa cerca de dezassete mil pessoas.Os Artistas Unidos, com o espectculo Umasolido demasiado ruidosa (que venceu o pr-mio revelao) e Miguel Seabra, do Teatro Me -ridional (que dirigiu um workshop para actores)foram alguns dos participantes portugueses noFestival. O escritor moambicano Mia Couto foihomenageado pelo conjunto da sua obra, tendorecebido o Trofu FESTLIP 2009.

    BahiaNovos livros de

    Armindo Bio

    Armindo Bio, investigador brasileiro na readas artes cnicas, apresentou em Julho em Sal-vador da Bahia dois novos livros, que renemalguns dos seus textos dispersos: Teatro decordel e formao para a cena e Etnocenolo-gia e a cena baiana.

    Para alm da sua actividade acadmica - foi oprimeiro Coordenador do Programa de Ps-

    Graduao em Artes Cnicas PPGAC/ UFBA(1997/ 2003) e o primeiro Presidente da Associa-o Brasileira de Pesquisa e Ps-Graduao emArtes Cnicas ABRACE (1998/ 2002), da qual o Coordenador do Grupo de Trabalho de Etno-

    cenologia, desde 2007 Armindo Bio tambmactor e encenador, tendo participado em cerca de

    50 obras teatrais e audiovisuais.

    Um dia, na eternidade, o Demnio aposta comDeus que, se tirasse do homem algumas quali-dades, ele cairia em perdio. Deus, aceitando o

    desao, resolve trazer ao mundo a alma de Till. Vi-vendo numa Alemanha miservel, povoada de per-sonagens grotescas e de espertalhes, o protago-nista abandonado ao frio e fome e descobreque a nica maneira de sobreviver naquele lugar tornar-se ainda mais esperto e enganador.

    Assim comea a saga de Till, um tpico anti-heri,cheio de artimanhas e dotado de um irresistvelcharme, criado pela cultura popular alem daIdade Mdia. Uma personagem que, segundo anota de apresentao do Galpo, tem parentescocom outros tipos de vrias culturas, assemelhan-do-se, por exemplo, ao brasileiro Macunama ouao ibrico Pedro Malasartes.Com encenao de Jlio Maciel, cenrio e g-urinos de Mrcio Medina e direco musical deErnani Maletta, Till, a saga de um heri tor to re-

    presenta o regresso do Grupo Galpo ao teatrode rua e s suas formas de representao popular.Para o Grupo, a rua um espao importante paraa democratizao da arte e do teatro. Ela nostraz desaos de como apresentar o espectculopara um pblico amplo e sem restries de idade,classe social ou formao intelectual. Isso tem re-exos em todos os elementos de criao, como adramaturgia, a cenograa, os gurinos e a msica,arma Eduardo Moreira, membro do Galpo.Estreado em Belo Horizonte no dia 3 de Julho,o espectculo fez j um circuito por cinco festi-vais de Inverno - Congonhas, Ouro Preto, Itabira,Diamantina e Ouro Branco e cumpriu a TurnMinaus 2009, por quatro cidades do interior doEstado: Uberaba, Patos de Minas, Divinpolis eSete Lagoas. No nal de Setembro apresentado

    no Rio de Janeiro, em dois locais distintos: Lagoa Parque dos Patins (17 a 20) e Arcos da Lapa(24 e 25).

    A.B.

    A.B.

    saber o que que se pode preservar: se as partesfrontais, se as partes internas (). O que se vaifazer requalicar no sentido de fazer com quea parte essencial que memoriza o passado estejapresente.

    Ainda de acordo com "O Pas", a deciso de nodemolir o espao do Elinga ter resultado deprotestos protagonizados por artistas, agentesculturais e pessoas annimas, na sequncia de umconjunto de debates volta da preservao doCentro Histrico de Luanda.

    Em Maio do ano passado, nas vsperas da realiza-o do primeiro Festival Internacional de Cultura

    e Artes de Luanda , organizado pelo Elinga Teatro,o director do grupo, Jos Mena Abrantes, anun-ciou o propsito das autoridades demolirem o

    referido edifcio para a instalarem um parque deestacionamento. Em Dezembro, o Elinga chegoumesmo a receber ordem de despejo por parteda Direco Provincial da Habitao, o que de-sencadeou uma onda de indignao e de veemen-

    tes protestos pblicos.

    BrasilDramaturgia contem-pornea na net

    Abriu recentemente um novo stio na Internetdedicado dramaturgia brasileira contem-pornea. Editado por Paula Chagas Autran eThereza Dantas, rene j importante acervo

    Rio de Janeiro

    FESTLIP planeiaitinerncia lusfona

    No balano muito positivo que faz da segundaedio do FESTLIP - Festival de Teatro daLngua Portuguesa, a produtora Tnia Pires, res-ponsvel pela organizao, arma que o festivalest perto de se tornar um projeto itinerante.

    No s pelo Brasil como pelos pases queintegram o evento.

    Entusiasmada, Tnia Pires considerou o FESTLIPum marco na agenda cultural do Rio de Janeiro,superando as expectativas de crtica e pblico. Arepercusso foi de mbito internacional, o quemostra a importncia cultural do Festival, re-

    ectida na cobertura dada pelos pases partici-pantes e por toda Europa. Neste contexto, a TaluProdues, sob a direco de Tnia Pires, planeiaampliar o formato do festival j a partir de 2010,tornando-o itinerante pelos vrios pases de ln-

    gua portuguesa.

    O festival tem o activo apoio do Governo bra-sileiro: Promover a Lngua portuguesa, em suadiversidade e dinamismo tarefa indispensvel ao

    fortalecimento de nossa cultura e armao denossa viso de mundo, sustenta Marcelo Dantas,Director de Relaes Internacionais do Minist-rio da Cultura.

    O Festlip 2009 decorreu entre 2 e 12 de Julhoem vrios palcos cariocas e envolveu oitenta ar-

    Minas GeraisGalpo bate recordede espectadores

    Em menos de dois meses, o mais recenteespectculo do Grupo Galpo, Till, a sagade um heri torto foi visto por cerca de 40mil pessoas, um novo recorde na histria do

    grupo. Depois da estreia em Belo Horizontee da digresso pelo estado de Minas Gerais, oespectculo chega ao Rio de Janeiro em nalde Setembro.

    O Grupo Galpo esteve em Portugal em 2001,a convite da Cena Lusfona e do FITEI, com oespectculo Romeu e Julieta, apresentado emCoimbra, em Braga e no Porto.

    Elinga Teatro, em Luanda

    "Till, a saga de um heri torto", pelo Galpo

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    ROSTOS DA CENA

    JorgeBiagueNa primeira pessoa, Jorge Biague

    em vsperas de participar em

    Portugal num estgio de formao

    teatral promovido pela Cena Lus-

    fona cona ao cenabertao que

    ser actor hoje na Guin-Bissau, divi-

    dido entre o Cinema de Flora Gomes

    e o Teatro. Evoca os primeiros passos,

    o percurso, o seu aprender fazendo.

    Os companheiros d Os Fidalgos. O

    teimoso trabalho do Centro de Inter-

    cmbio Teatral de Bissau. E a cora-

    gem, o saber continuar, o ir alm da

    Cena, quando o cho ferve e os tem-

    pos so de tempestade.

    Nasci no Sul da Guin-Bissau, em Empada, regiode Quinara, em 12 de Maro de 1973. Fiz os estudosprimrios em Bolama e o Liceu em Bissau. A minhaformao acadmica no prosseguiu, por motivos queno vale a pena estar a dizer. Chamo-me Jorge QuintinoBiague e sou actor. Mas ser actor na Guin como serdesempregado.

    Comecei as minhas andanas de representao em1992, com o bem conhecido realizador guineense FloraGomes. Desde a participei em todos os outros lmesdo Flora, um homem muito especial na minha vida e naminha carreira artstica. Com ele aprendi muita coisa.

    Trabalhar com o Flora como andar numa bibliotecaa vasculhar livros.

    Nos lmes do Flora, como por exemplo no Podi Sangui, z um dos papis principais: o Mudo. NoNha Fala z o papel de Mito, o Doido. Entrei numlme de Sana Na Hada, outro realizador guineense. Nolme Djito tem ku tem, de Suleimane Biai, fui o actorprincipal. Sem contar com pequenas participaes emvrios documentrios.

    O lme Nha Fala foi decisivo para a formao donosso grupo, Os Fidalgos. Durante os ensaios houvecontactos entre o Flora e o Antnio Augusto Barros

    e o Flora aconselhou-nos a formar o grupo, com osactores e tcnicos que j vinham desde o primeiro

    lme, Mortu Nega. E assim crimos Os Fidalgos,sob a forma de cooperativa cultural, grupo legal, comestatutos aprovados em Assembleia Geral de 2 deFevereiro de 2002.

    Depois disso, tivemos a primeira ocina dada pel'ACena Lusfona. Montmos o primeiro espectculo dOs Fidalgos, criao colectiva dirigida pelo AndrejzKowalski. Com este espectculo, O Lutador, particip-mos na 5. Estao da Cena em So Tom e Prncipe.Crimos Makbunhe, a partir de Macbeth de Wil-liam Shakespeare, co-produo da Cena Lusfona querepresentmos na 6. Estao, em Coimbra. Depoiszemos Mistida, adaptao do romance de Abdulai Sila.E nunca mais paramos de trabalhar. Mas trabalhamosnum mercado de produtos sem valor: na Guin no sepode viver de Teatro.

    H coisas importantes que quero lembrar quandovisito o passado, como as relaes entre a Cena e OsFidalgos, sempre boas desde o incio, queira Deus queisso continue assim. Foi graas s ocinas aqui orga-nizadas pela Cena que hoje actores, encenadorese tcnicos somos o que somos. Em cada ocinabenecimos dos materiais que a Cena nos enviava,livros, peas de teatro de diversos escritores, luzes, oque nos permitiu formar uma biblioteca especializada,ter materiais de iluminao.

    Para alm dos trabalhos com Andrezj Kowalski, aCena organizou seis ocinas na Guin-Bissau. Duas debiblioteca e documentao, dirigidas por Jorge Pais de

    Sousa: a primeira em 2003, a segunda em 2005. Tambmde iluminao houve duas ocinas: a primeira em 2003,dirigida por Elias Macovela, moambicano; a segunda, em2005, por Jos Manuel Marques. Filipe Crawford dirigiuduas ocinas de actuao, em 1995 e em 2005.

    Graas a estas ocinas somos hoje actores de palcoe tcnicos, ao mesmo tempo. Tambm bom dizerque sempre nestas ocinas convidmos ou envimosconvites aos outros grupos para as integrarem, em que

    todos os participantes saem mesmo satisfeitos. Como que aprendemos nesta formao e com os meiosoferecidos organizamos ns depois outras ocinas efundou-se o CIT Bissau (Centro de Intercmbio Teatralde Bissau), com mais de uma centena de livros sobre

    Teatro: uma biblioteca especial izada que at agora est aser dirigida por mim e pela Amlia da Silva, companheirada Cena e d Os Fidalgos.

    Desde a, o CIT nunca mais parou. Quando a Cenadeixou de nos poder apoiar nanceiramente, o CITfuncionou com apoio da ONG Aco para o Desen-volvimento, AD. Isso foi possvel com a interveno doFlora Gomes, que falou com o director executivo daAD, Eng Carlos Silva (Pipito). E este nem pensou duasvezes, aceitou o pedido. Foi com esta grande ajudaque conseguimos sobreviver nesta tempestade. bomdizer que AD um dos parceiros da Cena na Guin- -Bissau e das poucas ONG que aqui apoia ou apostana Cultura.

    O CIT Bissau tem um blogspot www.citbissau.

    blogspot.com e ca situado nas instalaes da AD, noBairro Quell, onde funciona um ciber, uma bibliotecapblica e, neste mesmo espao, uma biblioteca especial-izada, frequentada sobretudo pela camada jovem, a quemais se interessa por Teatro. Em 2006 tnhamos 210leitores e, no ano seguinte, 226. O horrio de funciona-mento das oito da manh s treze, mas quando temosum trabalho na biblioteca voltamos tarde.

    A Cena contribuiu muito para que eu casse ligadoao Teatro, porque dantes era s o Cinema. Agora sinto

    que tenho obrigao de ajudar a que o Teatro ganhe oespao que merece. Quando digo eu, quero dizer ns,Os Fidalgos, e os nossos parceiros, e a AD.

    Fazer teatro na Guin para quem tem muita cora-

    gem. E no desista de aprender. Importante para a minhaformao a possibilidade de participar agora no estgioda Cena Lusfona em Portugal. Tenho muita expectativaneste estgio, j que deixei de ir a Moambique para arodagem do novo lme com o Flora Gomes e os meuscompanheiros da carreira de Cinema. No primeiroestgio organizado pela Cena participou a Amlia daSilva, em 2003, e j est a dar muitos frutos: agora elaa encenadora d Os Fidalgos.

    setembro 2009cenaberta