cÉlulas-tronco: argumentos favorÁveis e … · em todos os 216 tecidos que formam o corpo humano,...

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CÉLULAS-TRONCO: ARGUMENTOS FAVORÁVEIS E CONTRÁRIOS1Edemeres Zanella

2 Luciana Paula Grégio d'Arce Rodrigues

RESUMO: Este trabalho tem como finalidade apresentar estratégias de ação para o trabalhocom o conteúdo células-tronco, fazendo com que os alunos compreendam os avançoscientíficos existentes nesta área. Como objetivos de estudos planejou-se: organizar materialinformativo para propiciar um pensamento reflexivo a respeito do conteúdo células-tronco, paraque os alunos tenham um melhor entendimento e posicionamento sobre o assunto; elaboraçãode textos complementares sobre células-tronco para que os alunos compreendam o que são ecomo funcionam; pesquisar diferentes materiais sobre o conteúdo células-tronco em sala deaula, comparando com o conteúdo apresentado no livro didático; realizar discussões e debatescom os alunos sobre o tema células-tronco para que se posicionem contrários ou favoráveis aouso dessa célula; elaborar material pedagógico, para pesquisa na escola; promover exposiçãodos trabalhos sobre a pesquisa do conteúdo células-tronco para socialização do conhecimentoentre o grupo de alunos. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica para buscaraprofundamento do tema em estudo. A pesquisa de campo foi o desenvolvimento de atividadescom 26 alunos do 3º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Barão do Rio Branco de Flor daSerra do Sul. Buscar novos conhecimentos, novas metodologias, novas estratégias detrabalho, permite ao professor apresentar aulas mais dinâmicas, despertando no aluno maiorinteresse em aprender os conteúdos trabalhados em sala de aula.

Palavras-chave: biologia; células-tronco; material didático.

1. INTRODUÇÃO

O ensino de biologia passou por diversas reformulações e avanços nos

últimos anos. Os temas relacionados à área de biologia vêm sendo

apresentados pelos meios de comunicação, ou seja, jornais, revistas e internet,

constantemente fazendo com que o professor seja responsável em apresentar

os conteúdos de maneira diferenciada e contextualizada, despertando o

interesse do aluno pelos assuntos.

O presente trabalho é resultado do desenvolvimento do Caderno

Pedagógico, elaborado a partir do Programa de Desenvolvimento em

Educação – PDE, oferecido aos professores da rede estadual do estado do

Paraná. Tem como tema ”Células-tronco no Ensino Médio”, um dos temas,

atualmente, mais abordados pela mídia mundial. A temática de pesquisa surgiu

pela deficiência na descrição e na apresentação de figuras sobre células-tronco

nos livros didáticos do Ensino Médio na disciplina de Biologia.

1 Professora de Biologia Colégio Estadual Barão do Rio Branco – Flor da Serra do Sul, PDE2012/2013.2 Professora de Genética – Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus Cascavel.

Dessa forma, apesar do livro didático não ser a única ferramenta

pedagógica, justifica-se este trabalho para complementação dos conteúdos, de

modo que se apresentem para os alunos os avanços científicos nesta área,

dando um novo enfoque aos conceitos aprendidos em sala de aula, bem como

para que eles tenham oportunidade de acompanhar as novas descobertas.

Portanto, este trabalho, foi uma estratégia de ação que visou facilitar o

aprendizado do aluno sobre o conteúdo células-tronco e suas possíveis

aplicações, despertando o interesse do mesmo para as novas tecnologias e

suas aplicações na área da biologia.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O ensino de biologia passou por diversas reformulações e avanços nos

últimos anos. Os temas relacionados à área de biologia vêm sendo

apresentados pelos meios de comunicação, ou seja, jornais, revistas e internet,

constantemente fazendo com que o professor seja responsável em apresentar

os conteúdos de maneira diferenciada e contextualizada, despertando o

interesse do aluno pelos assuntos.

Nesse sentido, a primeira tentativa de organização da disciplina de

Biologia no Brasil foi em 1938, quando houve a criação do Colégio Pedro II, no

Rio de Janeiro, com predomínio da formação humanista e poucas atividades na

área de ciências. O método usado era o experimental com ênfase à teoria

científica. Foram criados ainda neste período os cursos superiores de ciências

naturais, ampliando a abordagem dos conhecimentos biológicos, considerando

os fatores sociais e econômicos além da ampliação da abordagem dos

conhecimentos biológicos. Em 1945, destaca-se o ensino em ciências a

incorporação curricular de conteúdos decorrentes da produção científica.

(PARANÁ, 2008).

Em 1946, foi criado o Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura

(IBECC) com a finalidade de promover a formação científica dos alunos no

ensino superior. Na década de 60 “surgiram os Centros de Ciências, com a

finalidade de melhorar o ensino, treinar professores, produzir e distribuir textos

didáticos e materiais de laboratório para as escolas de seus respectivos

estados” (PARANÁ, 2008, p. 52). Nessa época as Ciências Biológicas

assumem especialização maior na Universidade, substituindo os cursos de

História Natural. A formação dos professores passa a ser preocupação

específica inclusive dos legisladores (BIZZO, 2013).

No início dos anos 70, foi criada a Lei 5692/71, que reformulou o ensino

de 1º e 2º grau, aprimorando um ensino mais tecnicista e a formação técnica

compulsória para o 2º grau (PARANÁ, 2008). Nos anos 80, por iniciativa da

comunidade científica brasileira, houve uma proposta de popularizar a ciência

produzida no país. Os conteúdos eram aprendidos com base na observação,

explicadas por raciocínios lógicos, comprovados pela experimentação,

garantindo a revelação de fatos novos.

Em 1998, foram publicados os Parâmetros Curriculares Nacionais, onde

o ensino passou a ser organizado por áreas do conhecimento, ficando a

Biologia disposta na área de: Ciências da Natureza, Matemática e suas

Tecnologias (PARANÁ, 2008). Este documento traz como ênfase o

desenvolvimento de competências e habilidades, direcionando o ensino para

temas e desenvolvimento de projetos considerados necessários para a vida do

aluno.

Em 2008, o estado do Paraná publica as Diretrizes Curriculares de

Biologia para a Educação Básica, onde foram definidos os seguintes conteúdos

estruturantes: ”organização dos seres vivos; mecanismos biológicos;

biodiversidade e manipulação genética”. A disciplina de Biologia neste

documento deve ser capaz de relacionar diversos conhecimentos específicos

entre si e com outras áreas de conhecimento; deve priorizar conceitos

cientificamente produzidos e propiciar reflexões constantes sobre mudanças de

conceitos devido às questões emergentes (PARANÁ, 2008, p. 61).

Assim, a disciplina da biologia é muita vasta e diversificada, sendo

pouco provável que uma única pessoa consiga deter todos os conhecimentos

disponíveis. Essa diversificação, fez com que surgisse uma inifinidade de

termos e conceitos específicos. Com isso, os alunos acabam não se

entusiasmando com o conhecimento da biologia, devido a estrutura do ensino

médio, onde a mesma acaba sendo uma simples decoreba e preparação para

o vestibular (ZATZ, 2013).

O que se observa é que a biologia está presente na vida diária das

pessoas e influencia diretamente as tomadas de decisões, mesmo sem que se

perceba. Os temas a seguir, por exemplo, são facilmente explicados com os

conhecimentos advindos da biologia: consumo de bebidas alcoólicas, drogas,

alimentos geneticamente modificados, agricultura orgânica, AIDS, gravidez na

adolescência, higiene, prática de atividades físicas, preservação do ambiente,

poluição, e outros (PARANÁ, 2008).

Outro avanço importante no campo da biologia é o uso das novas

tecnologias, que são capazes de modificar a vida das pessoas com

conseqüências em suas relações sociais. Assim, a aula de biologia precisa

mostrar aos alunos as consequências diretas e indiretas das ações promovidas

no campo da biologia, seja consigo mesmo, com o meio e com os outros seres

vivos (ZATZ, 2013).

Muitas das novas tecnologias surgiram depois de 1953, com o início de

uma nova era no estudo da genética, quando Watson, J. e Crick F.,

descreveram a estrutura química da molécula do DNA. Com isso, além do

melhoramento genético, passou a existir a possibilidade de alterar a molécula

do DNA (PAULINO, 2005).

Na década de 70, o geneticista Paul Berg, depois de vários estudos, fez

descobertas na área da biologia molecular, desenvolvendo tecnologias com a

utilização de células-tronco embrionárias. Para Zatz (2013) “as células-tronco

são células progenitoras que mantêm a capacidade de diferenciar os inúmeros

tecidos (sangue, músculos, nervos, ossos etc.) do corpo humano”. Porém,

somente na década de 90 foi que se confirmou a existência de células-tronco

embrionárias em humanos e começou o estudo de sua aplicação na cura de

diversas doenças.

Existem dois tipos de células-tronco: as células-tronco embrionárias e as

células-tronco reprodutivas. (PARANÀ, 2006). As extraídas de tecidos maduros

(cordão umbilical ou a medula óssea) são as reprodutivas e as embrionárias

são as mais eficazes para formar qualquer tecido do corpo, porém com um

problema que para extrair esse tipo de célula-tronco, o embrião é destruído

(ZATZ, 2013).

Para Zatz (2013), as células-tronco têm a seguinte classificação:

Totipotentes, aquelas células que são capazes de diferenciarem-seem todos os 216 tecidos que formam o corpo humano, incluindo aplacenta e anexos embrionários. As células totipotentes sãoencontradas nos embriões nas primeiras fases de divisão, isto é,quando o embrião tem até 16 - 32 células, que corresponde a 3 ou 4dias de vida; Pluripotentes ou multipotentes, aquelas células capazesde diferenciar-se em quase todos os tecidos humanos, excluindo aplacenta e anexos embrionários, ou seja, a partir de 32 - 64 células,aproximadamente a partir do 5º dia de vida, fase considerada deblastocisto. As células internas do blastocisto são pluripotentesenquanto as células da membrana externa destinam-se a produçãoda placenta e as membranas embrionárias; Oligotentes, aquelascélulas que se diferenciam em poucos tecidos; Unipotentes, aquelascélulas que se diferenciam em um único tecido.

Pode-se dizer então que as células-tronco adultas permanecem sendo

tronco e as células-tronco embrionárias podem formar qualquer tecido do corpo

(PARANÁ, 2006).

As células-tronco embrionárias podem ser obtidas por meio de clonagem

terapêutica e de embriões.

Zatz (2013), diz que,Clonagem Terapêutica é a técnica de manipulação genética quefabrica embriões a partir da transferência do núcleo da célula jádiferenciada, de um adulto ou de um embrião, para um óvulo semnúcleo. A partir da fusão inicia-se o processo de divisão celular, naprimeira fase 16-32 são consideradas células totipotentes. Nasegunda fase 32-64 serão células pluripotentes, blastocisto que serãoretiradas as células-tronco para diferenciação, in vitro, dos tecidosque se pretende produzir. Nesta fase ainda não existe nenhumadiferenciação dos tecidos ou órgãos que formam o corpo humano epor isso podem ser induzidas para a terapia celular. (...). De EmbriõesDescartados (inviáveis para implantação) e Congelados nas clínicasde reprodução assistida

Assim, é preciso entender que “na clonagem para fins terapêuticos,

serão gerados só tecidos, em laboratório, sem implantação no útero” (ZATZ,

2013).

A principal vantagem da clonagem terapêutica é a fabricação de células

pluripotentes, potencialmente capazes de produzir qualquer tecido em

laboratório, o que poderá permitir o tratamento de doenças cardíacas, doença

de Alzheimer, Parkinson, câncer, além da reconstituição de medula óssea, de

tecidos queimados ou tecidos destruídos etc, sem o risco da rejeição, caso o

doador seja o próprio beneficiado com a técnica. Mas a principal limitação é

que no caso de doenças genéticas, o doador não pode ser a própria pessoa

porque todas as suas células têm o mesmo defeito genético (ZATZ, 2013).

Muitas discussões estão sendo feitas atualmente com relação à criação

e fertilização do embrião em laboratório, considerado um benefício para a

infertilidade, porém tem “aqueles que vêem nessa manipulação um atentado

contra a vida e a espécie humana” (SALEM, 2013).

Para Garrafa; Pessini (2004),

(...) as células-tronco humanas podem dar origem a muitos tiposdiferentes de células. Logo elas possibilitam grandes avanços nocuidado da saúde. Por exemplo, podem ser usadas para gerar célulase tecidos substitutos para tratar muitas doenças e condições (...)células medulares para tratar pacientes com leucemia (...).

Mas será que todos os segmentos da sociedade são favoráveis a esse

tipo de pesquisas? É importante que o aluno perceba que nem todos os

segmentos da sociedade são favoráveis as pesquisas sobre células-tronco.

A Igreja Católica, por exemplo, segundo Goldim (2013), afirma que,

A Igreja Católica Romana tem defendido esta posição, igualmenteaceita por muitos cientistas e filósofos não vinculados a ela, de que avida de uma pessoa tem início na fecundação, desta forma não hájustificativa eticamente adequada para tal tipo de pesquisa.

A Igreja Católica defende seu posicionamento, dizendo que é contrária,

pois o bem da sociedade não pode advir a partir da morte de alguns indivíduos,

mesmo sendo ainda um embrião. A igreja defende as questões éticas que

envolvem as pesquisas de embriões, ou seja, a vida de uma pessoa começa

na fecundação (GOLDIM, 2013).

Outras igrejas cristãs, como a Igreja da Escócia, também defendem esta

mesma posição, porém aceitam com reservas as pesquisas com embriões que

visem situações que envolvam infertilidade ou doenças transmitidas

geneticamente (ZATZ, 2013).

Por outro lado, existem os que são favoráveis as pesquisas sobre

células-tronco,Utilização de células tronco para produzirem materiais biológicos -tem sido utilizado como justificativa moral para esta prática. Os quedefendem a realização de pesquisas com células-tronco embrionáriashumanas utilizam o raciocínio moral de que um bem social, que seráútil para muitas pessoas que sofrem de doenças hoje incuráveis, sesobrepõe ao de um indivíduo (GOLDIM, 2013).

Moralmente, o professor Paul Berg, considera um bem para a

humanidade, as pesquisas com células-tronco, pois é a esperança de um

grande número de pessoas para possíveis tratamentos para doenças

incuráveis (GOLDIM, 2013).

Discutir o conteúdo células-tronco com os alunos é uma oportunidade

para mostrar as novas descobertas científicas e inovações na área da Biologia,

como possibilidades para o tratamento de doenças consideradas incuráveis,

bem como perceber se existem riscos e benefícios na utilização de células-

tronco embrionárias. Isso é possível por meio de discussões, leituras,

depoimentos e outros meios, desconstruindo ideias negativas que foram

disseminadas ao longo do tempo pela sociedade brasileira e os pontos

positivos sobre o assunto.

Assim, parte-se para aulas práticas de uma situação-problema, com

formulação de hipóteses, para investigação, dando oportunidade para que o

aluno construa seu conhecimento de forma significativa. A grande maioria dos

professores reclama que não ministram aulas práticas devido ao número

elevado de alunos nas turmas, que não se tem estrutura e materiais adequados

para desenvolver esse trabalho na escola.

Além de aulas práticas, existem outros elementos que são importantes e

devem ser utilizados nas aulas de biologia, como a fotografia, a internet, aulas

de campo, análise de casos reais, visitas orientadas a museus, reservas

ecológicas, dentre outros.

Sabe-se que muitas experiências educacionais estão sendo

desenvolvidas nas escolas brasileiras, porém precisam ser divulgadas, para

que os demais colegas compartilhem.

2. DESENVOLVIMENTO DA IMPLEMENTAÇÃO

Este Caderno Pedagógico foi implementado no 1º semestre de 2013, no

Colégio Estadual Barão do Rio Branco – Flor da Serra do Sul/PR, com uma

turma de 26 alunos do turno matutino do 3º ano do Ensino Médio, tendo como

tema “Células-tronco no Ensino Médio”, onde a finalidade foi produzir material

didático como complementação dos conteúdos apresentados no livro didático

dos alunos.

Como metodologia foi feito a princípio uma revisão bibliográfica e

documental, mediante leitura sistemática, consultando uma série de livros

pertinentes ao tema escolhido, com fichamento de cada obra, para entender o

tema em estudo.

Realizou-se também uma pesquisa de campo, “investigação prática

realizada em um local previamente definido que atende aos objetivos propostos

na pesquisa” (SANTOS; MOLINA; DIAS, 2007, p. 127), com o desenvolvimento

de pesquisas com os alunos durante as aulas para saber e discutir o assunto

células-tronco.

Células-tronco, é o conteúdo da disciplina de Biologia, proposto para ser

trabalhado na implementação do projeto de intervenção. As ações da

implementação foram planejadas no 2º semestre de 2012, com ficha específica

contendo o tempo de realização, as ações que seriam desenvolvidas, ciência

da equipe pedagógica e observações do professor orientador. O

desenvolvimento do trabalho teve início em fevereiro de 2013 até maio de

2013.

A primeira ação foi desenvolvida na semana pedagógica de fevereiro de

2013, onde foi apresentado o Caderno Pedagógico para toda a comunidade

escolar do Colégio Estadual Barão do Rio Branco, por meio de slides. Os

presentes acharam o projeto muito interessante, onde houve discussões sobre

o tema, sugestões de atividades e propostas de ajuda para a professora

responsável pelo trabalho.

Na segunda ação foi apresentado o projeto aos alunos do 3º ano do

Ensino Médio e partiu-se para uma problematização do tema células-tronco. A

professora proporcionou aos alunos os seguintes questionamentos: Vocês

sabem o que é células-tronco? Para que servem? Como você ficou sabendo

sobre esse assunto? As células-tronco existem no corpo humano ou apenas

em laboratório? Quais são os tipos de células-tronco?

Na seqüência os alunos foram lendo as respostas e o professor foi

registrando no quadro e ficando atento para as respostas, na tentativa de

identificar o que eles já sabiam sobre o assunto. Durante a leitura o professor

foi ressaltando informações não contempladas e prestando esclarecimentos

para as dúvidas apresentadas e que os alunos não soubessem responder.

Depois da discussão e intervenções do professor, foi solicitado que os alunos

pesquisassem num site de pesquisa, para responderem as questões iniciais

em forma de texto, acrescentando outros dados que achassem interessantes.

No final leram, os textos foram lidos.

Esse trabalho foi muito significativo, pois se valorizou o conhecimento

prévio dos alunos e permitiu-se a pesquisa como forma do aluno construir e

aumentar seu próprio conhecimento. De acordo com Marques (2013, p. 95),

“pesquisar é buscar um centro de incidência, uma concentração, um pólo

preciso das muitas variações ou modulações de saberes que se irradiam a

partir de um mesmo ponto”.

O professor deve preparar seus alunos para uma permanente busca do

conhecimento. Alunos e professores, são sujeitos da aprendizagem, devem

participar em conjunto do processo escolar, pois ambos ensinam e aprendem.

Em seus estudos Freire (2002) diz que

“não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Enquantoensino, continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco,porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso paraconstatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo.Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ouanunciar a novidade.”

Nesse sentido, a pesquisa é um recurso que ajuda o aluno adquirir seu

conhecimento de forma autônoma, porém as suas técnicas devem ser

discutidas e elaboradas para que a mesma seja um processo consciente.

Na terceira ação a turma foi dividida em 6 grupos, que foram

organizados da seguinte maneira: 1º grupo: células-tronco: características e

tipos; Texto para estudo: células-tronco – Biotecnologia – SEED; 2º grupo:

Polêmica envolvendo as células-tronco. Texto para estudo: A polêmica das

células-tronco – Heloísa Agudo Simões; 3º grupo: Principais interesses no uso

de células tronco. Texto para estudo: Células-tronco e suas aplicações. 4º

grupo: Avanços que as pesquisas científicas com células-tronco podem trazer

para a medicina; 5º grupo: Legislação sobre células-tronco; 6º grupo:

Pesquisas com células-tronco: panorama nacional e mundial.

Na sequência, o professor distribuiu textos para cada grupo,

pesquisados na internet, para que lessem e fizessem um relatório destacando

os pontos essenciais de cada um e compassem com o que está escrito no livro

didático sobre o assunto pesquisado. Cada grupo apresentou sua produção de

forma diferente. O 1º grupo fez uma poesia; o 2º grupo uma paródia; o 3º grupo

um texto narrativo; o 4º grupo um diálogo; o 5º grupo: uma entrevista; e o 6º

grupo: uma notícia. Cada grupo no final apresentou seu trabalho aos colegas,

destacando como ele está sendo apresentado no livro didático. Os trabalhos

foram expostos no saguão da escola.

Na quarta ação foi organizado com os alunos um júri simulado sobre o

posicionamento favorável ou contrário ao uso das células-tronco. O júri

simulado trata-se de uma encenação sem roteiro predefinido, mas exige que os

alunos estudem com antecedência o conteúdo a ser dramatizado. O trabalho

foi previamente organizado pelo professor, que distribuiu os papéis entre os

alunos, cuidando para que todos participassem encaixando cada um nos

papéis, de acordo com suas habilidades.

Foram representadas as seguintes funções: o juiz que iria coordenar o

andamento do júri; o promotor que acusou o réu; e o advogado de defesa que

fez a defesa das acusações; as testemunhas se apresentaram. primeiro as que

falaram a favor, e, na sequência as que falaram contra o réu; o corpo de jurado

foi constituído por número impar de alunos, que ouviu todo o processo e a

seguir, votou culpado ou inocente; o público que estava dividido em dois

grupos, o da defesa e o da acusação, ajudaram seus advogados a prepararem

os argumentos para acusação ou defesa. Durante o júri, os mesmos

acompanharam em silêncio. Os trabalhos foram encaminhados da seguinte

forma: o professor orientou os alunos, dizendo como cada um deveria

proceder. Os alunos se organizaram e se prepararam para o júri.

Começaram os trabalhos quando o juiz abre a sessão. O promotor

acusou o réu ou ré. O advogado de defesa o(a) defendeu. O promotor

continuou a acusação. As testemunhas se apresentaram, primeiro a de defesa,

depois a de acusação. O advogado de defesa voltou a defender o réu ou ré. Os

jurados decidiram a sentença junto com o juiz. O público avaliou o debate entre

os advogados, destacando o que foi bom, o que faltou. No final o juiz leu o

veredicto final. O professor promoveu no final dos trabalhos, uma roda de

conversa para as conclusões com o tema células-tronco do júri simulado.

Na quinta ação foi organizado todo o material pesquisado e selecionado

durante as aulas aqui propostas para a montagem de uma apostila com todas

as informações sobre células-tronco, a fim de que fique na biblioteca da escola

para pesquisa de todos os alunos. Foi confeccionado também com os alunos,

um panfleto com informações sobre células-tronco para ser distribuído na

escola e na comunidade em geral.

Na sexta ação os alunos escrevem um texto colocando tudo que

aprenderam sobre células-tronco, destacando sua posição, ou seja, se é

favorável ou contrário ao uso da mesma.

Neste mesmo período teve o desenvolvimento do Grupo de Trabalho em

Rede – GTR, onde os participantes discutiram e fizeram os seguintes

apontamentos: acharam interessante como foi abordado o tema células tronco

na produção didático pedagógico; o professor deve estimular o debate; a

metodologia escolhida pela professora tutora não deixa lacunas; a proposta do

júri simulado contribui para a formação do senso crítico e opinião pessoal dos

alunos. Trabalhar diferentes estratégias requer tempo, 2 aulas de Biologia é

muito pouco; o professor deve promover o conhecimento científico e o senso

crítico; houve sugestões de vídeos para trabalhar células-tronco e outros.

Percebe-se, nas respostas dos professores do GTR, os quais são de

diferentes regiões do Paraná, que existe uma preocupação com relação à

melhoria da aprendizagem dos alunos. Assim, essas discussões

proporcionadas pelos fóruns e diários possibilitam a troca de experiências e

ideias, fazendo com que se possam aperfeiçoar as metodologias trabalhadas

com os alunos e, consequentemente, favorecendo a melhoria na sua

aprendizagem. Trabalhar uma metodologia diferenciada promovendo a

interação dos alunos na sala de aula motiva os mesmos a aprenderem melhor,

pois passam a ser o sujeito de sua aprendizagem.

Dessa forma, o tema células-tronco, que é um assunto bastante

polêmico, que diverge muito as opiniões, não foi diferente com os alunos. O

material disponível na escola sobre esse assunto é bastante restrito, não dando

condições para que se discutam alguns conceitos.

Quando foi feita a proposta para os alunos pesquisarem em grupo sobre

células-tronco, não levaram com seriedade no começo, mas depois que

começaram a ler sobre o assunto se empolgaram e queriam saber cada vez

mais sobre o tema. Eles se ajudavam, discutiam sobre as diferentes

abordagens.

Quando foi proposto o júri simulado, já tinham muitas informações sobre

o assunto, os quais deram condições para que argumentassem com bastante

convicção ao defenderem suas ideias.

A organização final do material pesquisado e coletado durante o

desenvolvimento das atividades envolveu todos os alunos da turma, que

confeccionaram uma apostila que foi mostrada para toda a escola.

Pode-se dizer, ao concluir o caderno pedagógico e verificar as

avaliações dos alunos, que a aprendizagem se efetivou realmente, que os

alunos tiveram participação direta na aquisição do conhecimento, puderam

trocar ideias com os colegas, com o professor, permitindo mudanças de

opiniões, de ideias, adquirindo conceitos novos na área da Biologia.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A referida pesquisa oportunizou os alunos adquirirem novos

conhecimentos sobre o conteúdo de Biologia células-tronco, por meio da

pesquisa em diferentes documentos.

Os alunos obtiveram informações que permitiu mostrar os avanços

científicos nesta área, dando condições de acompanhar as novas descobertas

que estão acontecendo.

Percebeu-se ao desenvolver este trabalho, que o aluno indo a busca do

seu conhecimento e o professor sendo o mediador do trabalho, dá condições

para os mesmos ter autonomia para adquirir sua aprendizagem.

Com relação às aulas desenvolvidas na sala com os alunos, verificou-se

que o conteúdo foi muito importante, pois os alunos demonstraram interesse e

participaram efetivamente das atividades com empenho e dedicação.

Portanto, o professor precisa buscar novas metodologias para trabalhar

com seus alunos, peara melhorar e atualizar sua prática pedagógica para que

as aulas se tornem mais interessantes e a aprendizagem realmente se efetive.

REFERÊNCIAS

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PARANÁ. Secretaria do Estado da Educação do Paraná. Biologia. DiretrizesCurriculares da Educação Básica. 2008. p. 53

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