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CATEGORIAS DE ANÁLISE DA MEMÓRIA PARA ESTUDO NO CIBERESPAÇO1

Silvana Drumond Monteiro2

Ana Esmeralda Carelli3

RESUMO: A "memória" é objeto das mais variadas áreas do conhecimento humano. Já o objeto específico de estudo é a memória virtual no ciberespaço, visando formular um corpus teórico inicial sobre o assunto. Para tanto, houve necessidade de se estabelecer as categorias de estudo da memória, para compreensão de sua natureza e ao mesmo tempo de sua mudança no ciberespaço. Por meio de uma análise de conteúdo, criou-se as categorias filosóficas de estudo para a investigação, a saber: tipo de memória, representação, espaço, tempo e preservação. De acordo com discussões preliminares, percebe-se que a categoria "preservação", fortemente associada à memória escrita, está em declínio na memória virtual no ciberespaço, em função da desterritorialização do signo e do saber em fluxo.

PALAVRAS-CHAVE: Memória-categorias de análise; Ciberespaço.

1 INTRODUÇÃO

Para este estudo, inicialmente foi identificado na literatura outras pesquisas sobre

o objeto memória. Entretanto, existe uma multiplicidade de áreas e enfoques para

investigação da memória, no que pela abrangência e não pertinência à área, dificulta a

construção do objeto específico de pesquisa.

O conceito de memória abarca uma constelação de áreas e definições e quem

deseja estudá-la deve fazer uma incursão teórica para enfim defini-la como objeto

específico.

Esse quadro teórico nos remete a autores como Bergson (1859-1941), na

Filosofia, Freud (1856-1939), na Psicanálise, Ebbinghaus (1885-1913), na Psicologia,

Halbwachs (1877-1945), na Sociologia, Proust (1871-1922) na Literatura e Le Goff

(1924-2004) na História, entre outros não menos importantes.

Vale notar que a memória está intimamente ligada aos aspectos da mente e suas

representações, seja individual ou coletiva e, sobretudo, nas especialidades

1 Pesquisa desenvolvida com apoio financeiro do CNPq.2 Pesquisadora coordenadora da pesquisa. Professora Adjunta do Departamento de Ciência da Informação, Universidade Estadual de Londrina, doutora em Comunicação e Semiótica. Campus Universitário, Setor Leste Perobal, s/n. CEP: 8604655-900, Londrina, Pr. [email protected] 3

Pesquisadora autora, doutora em Psicologia: Produção e Ciência. Professora Adjunta do Departamento de Ciência da Informação, Universidade Estadual de Londrina. Campus Universitário, Setor Leste Perobal, s/n. CEP:86055-900, Londrina, Pr. [email protected]

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supracitadas, a possibilidade de dispor dos conhecimentos passados, da lembrança, da

conservação de conhecimentos e impressões adquiridas, da recordação e também do

esquecimento.

O estudo da memória individual ou biológica está relacionado, em especial, às

áreas da Filosofia, da Psicanálise, da Psicologia e das Ciências Cognitivas, cada qual

no contexto de seus limites teórico-metodológicos. Já o conceito de memória coletiva é

mais abrangente, pois diz respeito tanto às representações individuais quanto às

sociais. Nesse contexto, as Ciências Sociais, a Lingüística, a História e a Ciência da

Informação têm trazido contribuições teóricas na relação da memória com a sociedade.

No âmbito da Ciência da Informação, a categoria proeminente de estudo da

memória recai sobre a preservação. Esta categoria, evidentemente é muito importante

para o profissional da informação, sobretudo porque as tecnologias da comunicação e

da informação têm uma relação estreita com o conceito de memória.

A despeito da multiplicidade dos conceitos de memória, o sentido original do

termo, de acordo com Lopes (2002, n.p.) “[…] seria a capacidade humana de guardar

no cérebro impressões das experiências vividas”, com o intuito de armazená-las e

recuperá-las a posteriori.

Dessa forma, percebe-se uma aproximação do conceito original do termo e o

sentido atribuído pelos profissionais da informação. A preservação é a garantia de

guarda e recuperação da memória. A diferença entre o conceito original e o conceito

adotado pelos bibliotecários está no fato que, no segundo caso, a memória está

midiatizada, isto é, foi externalizada por intermédio das linguagens nas mídias, portanto,

representada.

Se até o momento, a categoria “preservação” assegurava a memória dos registros

do conhecimento, com o advento do ciberespaço percebe-se que a “preservação” não

atende satisfatoriamente a memória virtual no ciberespaço, devido à complexidade das

novas representações, dada a virtualidade, tanto dos signos, quanto da mídia

Isso significa dizer que novas categorias para estudo da memória devem ser

consideradas, até mesmo para entender a questão da preservação na memória virtual.

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2 CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E A MEMÓRIA EM QUESTÃO

Devemos ultrapassar a dicotomia clássica entre indivíduo e sociedade, posto que

um pertence ao outro e se representam o tempo todo.

Com efeito, podemos dizer que a memória tanto está presente em nós quanto

exterior a nós, “[…] pois a memória se cristaliza fora de nós, em lendas, movimentos e

objetos[…]”, de acordo com Santos (2003, p.46).

Mas, de que forma ela se cristaliza? A resposta a essa questão vincula-se a área

de conhecimento em questão; os sociólogos responderiam: “nos artefatos culturais”, os

bibliotecários: “nos registros do conhecimento e nos lugares de memória como os

museus, arquivos e bibliotecas”, os historiadores responderiam: “nas fontes históricas,

como monumentos, documentos, nas comemorações e obras de arte”, os lingüistas

responderiam: “nos discursos”. O fato é, seja qual for a especialidade, a memória

envolve dois aspectos cruciais: diz respeito à linguagem e à mídia, esta última,

entendida como Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC).

Santos (2003, p.46) afirma que “[...] a linguagem é uma forma de memória que nos

antecede”. Ela está lá, seja na nossa mente em forma de pensamento, seja organizada

sob a forma de discursos ou textos.

Para Barbosa (1998) o sistema simbólico é a essência da memória. Por simbólico

entendemos também, além das linguagens, as entidades materiais, ou seja, as

Tecnologias da Informação e Comunicação, posto que as semióticas são inseparáveis

dos componentes materiais (DELEUZE; GUATTARI, 1997, v.4).

O cerne da questão, neste momento, é a relação das Tecnologias da Informação e

Comunicação com a memória, uma vez que as tecnologias moldam as subjetividades

(BELLEI, 2002) ou ainda, para Nicolelis (apud ARQUIVOS... 2004), o cérebro incorpora

ferramentas do cotidiano.

É inegável a influência dos meios de comunicação na memória, seja humana

(biológica) ou física (midiatizada), de modo que as Tecnologias da Informação e

Comunicação provocam profundas mudanças culturais e sociais, afetando, portanto, a

própria memória.

Para viabilizar o estudo que ora relatamos, utilizou-se como metodologia a análise

de conteúdo da literatura, para o levantamento das outras categorias necessárias no

intuito de compreender e melhor elucidar a memória no ciberespaço.

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3 ANÁLISE DE CONTEÚDO

O ponto de partida de análise de conteúdo é a mensagem, como destaca Franco

(2003), seja ela verbal (oral ou escrita), gestual, figurativa e/ou documental.

Bardin (1997, p.38) pondera que “A análise de conteúdo pode ser considerada

como um conjunto de técnicas de análises de comunicações, que utiliza procedimentos

sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens […]”.

Assim, diferentemente da análise do discurso, é o conteúdo manifesto e explícito

que se inicia o processo de análise.

O campo teórico da análise de conteúdo vai do domínio da Lingüística, ou

métodos lógico-estéticos e formais, passando pelos métodos lógico-semânticos aos

domínios da hermenêutica, isto é, dos métodos semânticos e semânticos estruturais.

O primeiro método trata das questões que buscam os aspectos formais típicos do

autor ou do texto. A dimensão central da análise de conteúdo, ou seja, os métodos

lógicos-semânticos, torna-se importante face aos programas de computadores que

podem ser utilizados como auxílio para uma análise. Reiterando os métodos lógico-

semânticos, Franco (2003, p.31-32) salienta que:

• não se vinculam às pesquisas que se dedicam à análise de estrutura formal

de um texto, como, por exemplo, o procedimento de sua construção ou de

seu estilo;

• aplicam-se às mais variadas modalidades de textos, após o “índex” dos

diversos conceitos utilizados (sua enumeração simples e seus

desdobramentos) e a classificação dos elementos de informação

(reagrupamento por categorias);

• em suma, esses métodos concentram semelhanças comuns em relação

àqueles que precedem: inventários, desdobramentos, caracterização,

codificação, pesquisa de eventuais correlações,..., mas sempre, e ao mesmo

tempo, a partir da compreensão do sentido. Sentido das palavras, sentido

expresso nas palavras, imagem e símbolos, sentido das percepções e

analogias das mensagens (base de todos os reagrupamentos e

classificações de sentido das hierarquias dos sentidos).

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Segundo Franco (2003), nos métodos na fronteira com a hermenêutica, a

metodologia de análise deve ser considerada como uma das dimensões da

compreensão e interpretação, muitas vezes de cunho de investigação social; mas

comporta também a análise lógica, formal e objetiva dos campos lógico e semântico.

A metodologia utilizada em nossa análise de conteúdo preliminar, na detecção das

categorias de estudo, insere-se no contexto dos métodos lógico-semânticos, uma vez

que não nos situamos nos aspectos formais-estéticos e também eminentemente em

questões hermenêuticas, tendo por objetivo após a leitura, a composição de um "índex"

para a formulação das categorias para o estudo da memória no ciberespaço.

3.1 Criação das Categorias

Categoria, em geral, é qualquer noção que sirva de regra para a investigação ou

sua expressão lingüística em qualquer campo (ABBAGNANO, 2003).

Para criação das categorias que visariam o estudo da memória, de modo a

compreender a natureza da memória virtual, isto é, da nova memória constituída a partir

das mídias eletrônicas, fez-se uma análise de conteúdo preliminar do artigo de Smolka

(2000) por considerá-lo um texto referencial para o conceito de memória, obtendo-se

como resultado as categorias, as quais serão descritas no Quadro 01. Portanto, o texto

citado foi escolhido respeitando-se o critério de representatividade ao tema pesquisado.

Para exemplificar o procedimento da referida análise, mostraremos no Quadro 01

apenas uma pequena parte da mesma:

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AUTORES DEFINIÇÕES/CONCEITOS PALAVRAS TIPO EPISTEME

Smolka, 2000, p. 169

(Mitologia)

Mnemosyne, deusa, Memória divinizada, gera nove Musas, as Palavras Cantadas.

[...]É na voz das Musas, pelas palavras, na linguagem, que se dá a nomeação, a presentificação, a revelação, e também o simulacro, a mentira, o esquecimento. [...]Na palavra cantada, o poder da palavra. Inspiração. Emoção. Sedução.Mímesis: o impacto, o efeito, a ação, a força da palavra do outro, levam a imitar, a repetir, a reter, a memorizar (canto do poeta, do aedo). Mas podem também levar a esquecer (o retorno), a perder-se (canto da sereia).[...]Prática da memória na palavra (en) cantada, na poesia. Poesia como comunicação conservada. Toda memorização da tradição poetizada depende da recitação constante e reiterada.

PALAVRA (EN)CANTADALINGUAGEMRETERMEMORIZARCONSERVARESQUECER

MemóriaBiológica

Mímeses -Palavra cantada

(Memória da tradição)

Simônides de Ceos(séc V- 556-469 aC)

(Poeta grego)

Simônides de Céos, poeta e pintor no século V a.C., parece ter sido o primeiro a estabelecer os princípios, ou a definir as regras dessa arte. A recordação mnemônica requer 1. a lembrança e a criação de imagens na memória; 2. a organização das imagens em locais, ou lugares da memória. Como poeta e pintor, Simônides trabalha articuladamente os métodos da poesia e da pintura: pintura é poesia silenciosa; poesia é pintura que fala. Tanto para a poesia como para a pintura, e também para a arte da memória, é dada importância excepcional à visualização intensa. É preciso ver locais, ver imagens.*Importância e necessidade de exercitar a memória: além da reminiscência, o esforço da recordação. Memória não tanto, ou não só, como deusa. Dessacralização da memória. Memória não apenas como tradição. Memória como techné, Mnemotécnica. Arte da memória. (Smolka, p.170)

LEMBRANÇAIMAGENSLOCAIS/LUGARESORGANIZAÇÃO

MemóriaBiológica

Mímeses p/*Mnemotécnica=(Arte da memória)

DessacralizaçãoDa memória

Heródoto(484-424 aC)

(Historiador grego)

Heródoto narra o que viu ou o que ouviu dizer. Há uma oposição crescente à narrativa mítica. História é testemunho. Distingue-se da epopéia homérica.

Heródoto de Halicarnassus apresenta aqui os resultados da sua investigação, para que a memória dos acontecimentos não se apague entre os homens com o passar do tempo, e para que os efeitos admiráveis dos helenos e dos bárbaros não caiam no esquecimento...

Heródoto retoma e transforma a tarefa do poeta arcaico: contar os acontecimentos passados, conservar a memória, resgatar o passado, lutar contra o esquecimento. (Gagnebin 1997, p.17 apud Smolka, 2000, p.178)Ele procura a causa dos acontecimentos. Ele fala de um tempo dos homens, de testemunhas. Mas ele não usa documentos escritos. Ele narra – primazia da oralidade – para informar e ensinar, mas também, pelo simples prazer de contar.

TESTEMUNHOTEMPOPASSADOCONSERVARRESGATAR

Memória Biológica

História

(oral)

Imbricação e separação da palavra mítica e do discurso racional emergente:

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Tucídides(460-390 aC)

(Historiador grego)

Segundo Gagnebin (1997), a desconfiança de Tucídides em relação à memória inscreve-se num projeto muito mais amplo, que chamaríamos, hoje, de crítica ideológica, pois memória e tradição formam este conglomerado confuso de falsas evidências, do qual o presente tira sua justificativa.

Tucidides trabalha na arquitetura austera e argumentativa do texto escrito para ser lido no futuro. Reivindica a escrita como meio de fixação dos acontecimentos, fazendo da imutabilidade do escrito uma garantia de fidelidade (bem ao contrário de Platão). Inaugura, assim, uma política da memória, e delimita os domínios de um novo saber histórico (Detienne 1998; Gagnebin 1997 apud Smolka, 2000, p.179).

TEXTO ESCRITOESCRITAFIXAÇÃO DOS ACONTECIMEN-TOSARQUITETURAARGUMENTATIVA DO TEXTOFUTURO

MemóriaFísica

Escrita da História

Platão séc. V e IVaC (428-348aC)

(Filosofia Clássica)

No Teeteto, Platão usa a metáfora de um bloco de cera para falar da memória – há um bloco de cera em nossas almas. É presente de Mnemosine, mãe das Musas. Em cada indivíduo o bloco de cera tem qualidades diferentes. A cera não é nem tão flúida quanto a água, que não permite reter, nem tão dura quanto o ferro, que não permite marcar. Guarda impressões por excelência. (apud Smolka, 2000, p.173)

No Fedro, a verdadeira função da retórica é falar a verdade e persuadir os homens do conhecimento da verdade. (apud Smolka, 2000 p. 174)

No Fedon, Platão expõe claramente a teoria das Idéias. O conhecimento da verdade e da alma consiste na recordação. Como a lógica platônica opera por modelos, aprender é recordar, reconhecer. (apud Smolka, 2000, p. 174)

Memória é conhecimento da Verdade. Toda aprendizagem e todo conhecimentosão uma tentativa de relembrar as realidades, as essências. Desse modo, a memória em Platão não é organizada nos termos (triviais?) da mnemotécnica, mas concebida em relação às realidades. Não é uma parte da arte da retórica. Memória como re-conheci- mento.* Os nomoi (normas, leis) e os ethe (práticas, hábitos, costumes, sentimentos e reações particulares) persistem como estado mental oral do povo. Mudanças, lentas e gradativas nas formas de produção e organização social, de base exclusivamente oral, em transição para a escrita. (Smolka, 2000, p.173)

Não é para a memória, é para a rememoração que descobriste o remédio (Fedro, 275a)Agora, o lógoi in biblíois, um outro modo de falar, uma outra forma de discurso, um outro modo de lembrar: a escrita – Pharmakon – remédio e veneno.

Formas DAS IDÉIAS (REALIDADES)MARCACONHECIMENTO DA VERDADE

LEMBRARRECORDARRE-CONHECIMEN-TO

APRENDIZAGEM

Memória Biológica eFísica

*Logos= (razão)

(Teoria do Conhecimento)

Formas das idéias, de realidades contra o conhecimento sensível

o lógoi in biblíois Escrita do conhecimento

QUADRO 01: MEMÓRIA - Análise de ConteúdoFONTE: SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. A memória em questão: uma perspectiva histórico- cultural. Educação & Sociedade, ano 21, n. 71, p. 166-193, jul. 2000.

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Após

a análise de conteúdo supracitada foi possível a elaboração do índex

dos diversos conceitos utilizados pelos vários autores citados por

Smolka (2000) a partir da extração, classificação e reagrupamento das

palavras para a formulação das categorias, conforme o Quadro 02:

PRESERVAÇÃO

1. Gravar2. Recordar3. Resgatar4. Reter5. Memorizar6. Conservar7. Fixar (memória natural)8. Esquecer 9. Lembrar

REPRESENTAÇÃO E/OU LINGUAGEM1. Signo2. Discurso 3. Palavra 4. Linguagem 5. Imagem 6. Texto escrito7. Escrita8. Texto argumentativo9. Arquitetura sinais10. Conhecimento11. (Re)conhecimento12. Escrita interna / Escrita externa13. Língua14. Sentido

ESPAÇO (LUGAR)1. Espaço2. Locais3. Lugar4. Palácio

TEMPO1. Tempo2. Passado3. Futuro

HISTÓRIA1. Testemunho2. Acontecimento

FACULDADES MENTAIS1. Razão2. Verdade3. Estado ou qualidade4. Faculdade5. Prudência6. Inteligência7. Consciência8. Aprendizagem9. Imaginação

QUADRO 02: ANÁLISE DE CONTEÚDO- Índex das palavras extraídas dos conceitos e as categoriasFONTE: SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. A memória em questão: uma perspectiva histórico-cultural. Educação & Sociedade, ano 21, n. 71, p. 166-193, jul. 2000.

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Esclarecendo mais detalhadamente, houve, a partir desses conceitos, uma

seleção de palavras-chave que melhor representavam os conceitos. Assim, as

categorias foram criadas a posteriori, isto é, após o reagrupamento dos léxicos

(palavras-chave) em grupos semânticos semelhantes (classificação), que

pudessem representar sua categoria mais abrangente, ou o termo mais geral,

mas sem descaracterizar a sua compreensão.

Uma categoria criada a priori foi o tipo de memória, isto é, memória

biológica (ainda sem os recursos externos de memorização) e a memória física ou

mediada pelas tecnologias ou mídias. Já a episteme, como categoria estabelecida

a priori, se prestará à discussão, na pesquisa, do gênero do saber proeminente

em uma ou outra tecnologia da informação e comunicação e a relação com a

memória.

Assim, foram estabelecidas as categorias que comporão o estudo: tipo de

memória, representação, espaço (ou lugar), tempo e preservação.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dentro desse recorte apresentado, estudar-se-á as categorias eleitas que

julgamos essenciais à compreensão do conceito de memória, como um todo,

possibilitando a compreensão de sua essência para finalmente chegar à memória

virtual.

As referidas categorias são importantes ao conceito e estudo da memória na

Ciência da Informação. A memória, para essa área, como mencionado, está

relacionada especialmente aos mecanismos externos ou físicos de representação

e de registro do conhecimento humano. Isso quer dizer que a memória está

relacionada à representação da Linguagem, às Tecnologias da Informação e

Comunicação, que se tornam o espaço de inscrição dessas linguagens, com o

tempo de permanência dos signos nessas tecnologias, bem como a preservação

como decorrência da relação das categorias anteriores.

As outras categorias extraídas na análise de conteúdo (QUADRO 02) ou

seja, as Faculdades mentais e a História não farão parte deste estudo e estarão,

seguramente, dispersas e inclusas na discussão sobre a memória.

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Percebe-se, a partir das discussões preliminares, que a categoria

"preservação, fortemente associada à memória escrita está em declínio na

memória virtual no ciberespaço, em função da desterritorialização do signo e do

saber em fluxo.

REFERÊNCIAS

ABAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

ARQUIVOS selecionados. Novas pesquisas sobre memória investem na busca por melhor desempenho e drogas capazes de apagar lembranças indesejadas. Época, p.88-95, set. 2004.

BARBOSA, Marialva. Memória e tempo: arcabouços do sentido da contemporaneidade. Ciberlegenda, n.1, 1998. Disponível em : <http: www.uff.br/mestcii/maria12.htm> . Acesso em : 05 nov. 2004.

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Ed.70, 1997.

BELLEI, Sérgio Luiz Prado. O livro, a literatura e o computador. São Paulo: EDUC; Florianópolis : UFSC, 2002.

BERGSON, Henri. Matéria e memória. Rio de Janeiro: M. Fontes, 1999.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: esquizofrenia e capitalismo. São Paulo: Ed. 34, 1997. V.4.

FRANCO, Maria Laura P. B. Análise de conteúdo. Brasília: Plano, 2003.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2004.

LE GOFF, Jacques. História e memória. 5 ed. Campinas: Ed. Unicamp, 2003.

LOPES, Luís Carlos. Artefatos de memória e representação nas mídias. Ciberlegenda, n.7, 2002. Disponível em : <http: www.uff.br/mestcii/lclop7.htm>. Acesso em 05 nov. 2004.

SANTOS, Myriam Sepúlveda dos. História e memória. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 23, n. 46, p. 271-295, 2003.

SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. A memória em questão: uma perspectiva histórico-cultural. Educação & Sociedade, ano 21, n.71, p.166-193, jul. 2000.

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