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FGV Projetos CE Nº 1974/15

APOSTILA DO PROGRAMA DE CERTIFICAÇÃO DE DIRIGENTES –

CATEGORIA CONSELHO FISCAL

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FGV Projetos CE Nº 1974/15

Sumário

1. INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................9

2. O SISTEMA COOPERATIVISTA DE CRÉDITO ............................................................................. 11

2.1 OS ALICERCES CONCEITUAIS DO COOPERATIVISMO ............................................................. 11

2.1.1 VALORES DO COOPERATIVISMO .............................................................................................. 12

2.1.2 PRINCÍPIOS DO COOPERATIVISMO ........................................................................................... 13

2.2 PERCURSO HISTÓRICO DO COOPERATIVISMO NO BRASIL..................................................... 15

2.3 EMPREENDIMENTO COOPERATIVO NA ESSÊNCIA .................................................................. 23

2.4 INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS COOPERATIVAS X BANCOS: DISTINÇÕES RELEVANTES......... 24

2.4.1 POR QUE FAZER PARTE DE UMA COOPERATIVA DE CRÉDITO E QUAL A SUA IMPORTÂNCIA

PARA A SOCIEDADE? ................................................................................................................ 28

2.4.2 MARCO REGULATÓRIO ESSENCIAL DO COOPERATIVISMO DE CRÉDITO FINANCEIRO ......... 32

2.5 FUNDO GARANTIDOR DO COOPERATIVISMO DE CRÉDITO - FGCOOP .................................... 40

3. SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL - SFN ................................................................................... 44

3.1 ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL ................................................................. 44

3.2 OUTROS INTERMEDIÁRIOS FINANCEIROS OU AUXILIARES FINANCEIROS: CONCEITOS E

ATRIBUIÇÕES............................................................................................................................. 48

3.2.1 BOLSAS DE VALORES ............................................................................................................... 48

3.2.2 SOCIEDADES CORRETORAS DE TÍTULOS E VALORES MOBILIÁRIOS - CTVM ........................ 48

3.2.3 SOCIEDADES DISTRIBUIDORAS DE TÍTULOS E VALORES MOBILIÁRIOS - DTVM ................... 49

3.2.4 SISTEMA ESPECIAL DE LIQUIDAÇÃO E CUSTÓDIA - SELIC ..................................................... 49

3.2.5 SUPERINTENDÊNCIA DE SEGUROS PRIVADOS - SUSEP.......................................................... 50

3.2.6 ESTRUTURA DO SISTEMA DE COOPERATIVAS DE CRÉDITO DO BRASIL ............................... 50

4. O SICOOB ................................................................................................................................... 51

4.1 COOPERATIVAS SINGULARES .................................................................................................. 54

4.2 COOPERATIVAS CENTRAIS ....................................................................................................... 56

4.3 SICOOB CONFEDERAÇÃO ......................................................................................................... 56

4.4 BANCO COOPERATIVO DO BRASIL S.A. - BANCOOB ............................................................... 57

4.5 CABAL BRASIL........................................................................................................................... 58

4.6 FUNDAÇÃO SICOOB DE PREVIDÊNCIA PRIVADA - SICOOB PREVI .......................................... 58

4.7 BANCOOB DISTRIBUIDORA DE TÍTULOS E VALORES MOBILIÁRIOS LTDA - BANCOOB DTVM59

4.8 PONTA ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS ........................................................................... 59

4.9 SICOOB SEGURADORA ............................................................................................................. 60

4.10 SERVIÇOS DE ADQUIRÊNCIA DE MEIOS ELETRÔNICOS DE PAGAMENTOS............................ 60

4.11 PRODUTOS E SERVIÇOS ........................................................................................................... 60

4.11.1LINHAS DE CRÉDITO E APLICAÇÕES........................................................................................ 60

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4.11.2PRODUTOS E SERVIÇOS ........................................................................................................... 61

5. GOVERNANÇA CORPORATIVA .................................................................................................. 62

5.1 CONCEITUAÇÃO ........................................................................................................................ 62

5.2 NORMAS LEGAIS RELATIVAS À CONSTITUIÇÃO DA GOVERNANÇA NAS COOPERATIVAS.... 64

6. A FORMAÇÃO DA GOVERNANÇA NO ÂMBITO DO SICOOB ...................................................... 66

6.1 FUNDAMENTOS.......................................................................................................................... 66

6.2 NORMAS E PROCEDIMENTOS DA GOVERNANÇA - ÂMBITO DO SICOOB ................................ 66

7. OPERADORES DA GOVERNANÇA COOPERATIVA .................................................................... 70

7.1 CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO .............................................................................................. 70

7.1.1 CONCEITUAÇÃO ........................................................................................................................ 70

7.1.2 ATRIBUIÇÕES DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO ................................................................ 71

7.2 DIRETORIA EXECUTIVA ............................................................................................................. 74

7.2.1 CONCEITUAÇÃO ........................................................................................................................ 74

7.2.2 ATRIBUIÇÕES DOS DIRETORES ................................................................................................ 74

7.3 CONSELHO FISCAL .................................................................................................................... 75

7.3.1 CONCEITUAÇÃO ........................................................................................................................ 75

7.3.2 ATRIBUIÇÕES DO CONSELHEIRO FISCAL ................................................................................ 75

7.3.3 FUNCIONAMENTO DO CONSELHO FISCAL ............................................................................... 77

7.3.4 O PAPEL DO CONSELHO FISCAL E A ASSEMBLEIA ................................................................. 79

7.3.5 ROTINAS DO CONSELHO FISCAL .............................................................................................. 80

7.3.6 ELEIÇÃO ..................................................................................................................................... 82

7.3.7 EDUCAÇÃO COOPERATIVISTA .................................................................................................. 83

7.3.8 FISCALIZAÇÃO E CONTROLE NO ÂMBITO DO CONSELHO FISCAL ......................................... 84

7.4 COMITÊ DE AUDITORIA.............................................................................................................. 87

7.4.1 CONCEITUAÇÃO ........................................................................................................................ 87

7.4.2 ATRIBUIÇÕES DO COMITÊ DE AUDITORIA ................................................................................ 87

7.5 ASSEMBLEIA .............................................................................................................................. 88

7.5.1 ATRIBUIÇÕES DA ASSEMBLEIA ................................................................................................ 88

7.6 OUTROS INTEGRANTES DO PROCESSO DE GOVERNANÇA .................................................... 88

8. COOPERATIVAS BEM POSICIONADAS EM GOVERNANÇA ....................................................... 89

8.1 ÂMBITO INDIVIDUAL DOS ASSOCIADOS ................................................................................... 90

8.2 ÂMBITO DA ASSEMBLEIA GERAL DE ASSOCIADOS ................................................................ 91

8.3 ÂMBITO DOS CONSELHOS ........................................................................................................ 92

8.4 ATUAÇÃO DE CARGOS ESTATUTÁRIOS NAS COOPERATIVAS ............................................... 93

8.4.1 RESTRIÇÕES E VEDAÇÕES EM RELAÇÃO AOS CARGOS ESTATUTÁRIOS ............................. 95

8.4.2 CAPACITAÇÃO TÉCNICA EXIGIDA PARA CARGOS ESTATUTÁRIOS ........................................ 96

8.4.3 CARGOS ESTATUTÁRIOS - DISPOSIÇÕES COMPLEMENTARES .............................................. 96

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9. DOCUMENTOS SOCIETÁRIOS.................................................................................................... 97

9.1 CONSIDERAÇÕES ...................................................................................................................... 97

9.2 ESTATUTO SOCIAL .................................................................................................................... 97

9.3 ATAS DAS ASSEMBLEIAS........................................................................................................ 100

9.3.1 ASSEMBLEIA DE CONSTITUIÇÃO ............................................................................................ 100

9.3.2 ASSEMBLEIAS GERAIS DE ASSOCIADOS ............................................................................... 101

9.3.3 REPRESENTAÇÃO POR DELEGADOS ..................................................................................... 102

9.3.4 ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA ........................................................................................... 103

9.3.5 ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA ................................................................................ 104

9.3.6 ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA E EXTRAORDINÁRIA ......................................................... 104

10. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO ............................................................................................. 105

10.1 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DO SICOOB ......................................................................... 105

10.2 DIRECIONADORES ESTRATÉGICOS DO SISTEMA SICOOB .................................................... 106

11. CONCEITOS BÁSICOS DE FINANÇAS ...................................................................................... 107

11.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 107

11.2 VALOR DO DINHEIRO NO TEMPO ............................................................................................ 108

11.2.1INFLAÇÃO ................................................................................................................................ 109

11.2.2ANÁLISE DE RISCO.................................................................................................................. 109

11.2.3PREFERÊNCIA PELA LIQUIDEZ ............................................................................................... 110

11.3 ANÁLISES DO FLUXO DE CAIXA (CAPACIDADE DE PAGAMENTO) DOS TOMADORES DE

EMPRÉSTIMO ........................................................................................................................... 110

12. CONCEITOS DE ECONOMIA ..................................................................................................... 112

12.1 NOÇÕES DE ECONOMIA .......................................................................................................... 112

12.2 MICROECONOMIA .................................................................................................................... 112

12.2.1ANÁLISE DA DEMANDA OU PROCURA ................................................................................... 113

12.3 MACROECONOMIA................................................................................................................... 114

12.4 MODELOS DE POLÍTICAS ECONÔMICAS................................................................................. 114

12.5 FATORES RELACIONADOS AO PROCESSO INFLACIONÁRIO................................................. 116

12.5.1DÉFICIT PÚBLICO E INFLAÇÃO ............................................................................................... 117

13. INDICADORES ECONÔMICOS .................................................................................................. 118

13.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 118

13.2 INDICADORES DE NÍVEL DE ATIVIDADE.................................................................................. 118

13.2.1PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB) ........................................................................................... 118

13.2.2DESEMPREGO ......................................................................................................................... 119

13.3 ÍNDICES DA FGV....................................................................................................................... 119

13.3.1ÍNDICE GERAL DE PREÇOS - DISPONIBILIDADE INTERNA (IGP-DI) ....................................... 119

13.3.2ÍNDICE GERAL DE PREÇOS DE MERCADO (IGPM) ................................................................. 119

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13.4 ÍNDICES DO IBGE ..................................................................................................................... 120

13.4.1ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR AMPLO (IPCA) ........................................................... 120

13.4.2ÍNDICE NACIONAL DE PREÇOS AO CONSUMIDOR (INPC) ...................................................... 120

13.4.3ÍNDICE DA FIPE (ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR - IPC) .............................................. 120

13.4.4ÍNDICES DO SETOR EXTERNO ................................................................................................ 121

13.5 ÍNDICES FINANCEIROS ............................................................................................................ 121

14. PLANEJAMENTO ORÇAMENTÁRIO ......................................................................................... 122

14.1 CONCEITUAÇÃO ...................................................................................................................... 122

14.2 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO X ORÇAMENTO ................................................................... 123

14.3 ORÇAMENTO X PROJEÇÕES ................................................................................................... 123

15. CONTABILIDADE E GESTÃO FINANCEIRA .............................................................................. 125

15.1 ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS....................................................................... 125

15.1.1BALANÇO PATRIMONIAL......................................................................................................... 126

15.1.2ATIVO CIRCULANTE - DISPONIBILIDADE E RELAÇÕES INTERFINANCEI RAS ........................ 128

15.1.3OPERAÇÕES DE CRÉDITO E PROVISIONAMENTO ................................................................. 128

15.1.4OUTROS CRÉDITOS E OUTROS VALORES E BENS ................................................................ 129

15.1.5REALIZÁVEL A LONGO PRAZO/OPERAÇÕES DE CRÉDITO/OUTROS CRÉDITOS .................. 130

15.1.6PERMANENTE .......................................................................................................................... 130

15.1.7PASSIVO CIRCULANTE - DEPÓSITOS E RELAÇÕES INTERFINANCEIRAS ............................. 130

15.1.8 PASSIVO CIRCULANTE - RELAÇÕES, INTERDEPENDÊNCIAS, OBRIGAÇÕES POR REPASSES E

OUTRAS OBRIGAÇÕES E EXIGÍVEL DE LONGO PRAZO ......................................................... 131

15.1.9PATRIMÔNIO LÍQUIDO - CAPITAL SOCIAL, RESERVAS LEGAIS E SOBRAS ACUMULADAS.. 132

15.2 DEMONSTRAÇÃO DE SOBRAS OU PERDAS - DSP ................................................................. 132

15.2.1RESULTADO OPERACIONAL ................................................................................................... 134

15.2.2RESULTADO NÃO OPERACIONAL, ANTES DA TRIBUTAÇÃO E PARTICIPAÇÕES ................. 135

15.2.3 SOBRAS/PERDAS ANTES DAS DESTINAÇÕES, JUROS AO CAPITAL E SOBRA LÍQUIDA DO

EXERCÍCIO ............................................................................................................................... 135

15.3 DEMONSTRAÇÕES NAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO - DMPL ............................... 136

15.4 DEMONSTRAÇÃO DE FLUXO DE CAIXA .................................................................................. 138

15.5 ANÁLISE DOS INDICADORES DE DESEMPENHO .................................................................... 140

15.5.1LIQUIDEZ CORRENTE .............................................................................................................. 141

15.5.2LIQUIDEZ IMEDIATA................................................................................................................. 141

15.5.3ÍNDICE DE INADIMPLÊNCIA ..................................................................................................... 141

15.5.4PROVISÃO DE CLD/OPERAÇÕES DE CRÉDITO....................................................................... 141

15.5.5ENDIVIDAMENTO ..................................................................................................................... 142

15.5.6ADIANTAMENTO A DEPOSITANTE .......................................................................................... 142

15.5.7RENTABILIDADE DO PATRIMÔNIO DO PLA ............................................................................ 142

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FGV Projetos CE Nº 1974/15

15.5.8RENTABILIDADE DO ATIVO ..................................................................................................... 142

15.5.9SPREAD GLOBAL .................................................................................................................... 142

15.5.10DESPESAS DE PESSOAL / MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO..................................................... 143

15.5.11HONORÁRIOS E CÉDULAS C.A / MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO ........................................... 143

15.5.12PLA POR ASSOCIADOS ......................................................................................................... 143

15.5.13ATIVO POR ASSOCIADO ATIVO ............................................................................................. 143

15.5.14DEPÓSITOS POR ASSOCIADOS ATIVOS ............................................................................... 143

15.5.15OPERAÇÕES DE CRÉDITO POR ASSOCIADOS ATIVOS ........................................................ 144

15.5.16RENDAS DE SERVIÇO POR ASSOCIADOS ATIVOS ............................................................... 144

15.5.17ÍNDICE DE COBERTURA (PESSOAL) ..................................................................................... 144

15.5.18ÍNDICE DE COBERTURA (ADM.)............................................................................................. 144

16. GESTÃO DE RISCO NAS COOPERATIVAS DE CRÉDITO ......................................................... 145

16.1 CONCEITO ................................................................................................................................ 145

16.2 FATORES DE RISCO OPERACIONAL NAS COOPERATIVAS ................................................... 148

16.3 ETAPAS DO GERENCIAMENTO DO RISCO OPERACIONAL EM COOPERATIVAS DE CRÉDITO150

16.3.1IDENTIFICAÇÃO ....................................................................................................................... 151

16.3.2AVALIAÇÃO.............................................................................................................................. 153

16.3.3MONITORAMENTO, CONTROLE E MITIGAÇÃO (TRATAMENTO) ............................................. 155

16.4 DOCUMENTAÇÃO E ARMAZENAMENTO DE INFORMAÇÃO .................................................... 156

16.4.1COMUNICAÇÃO........................................................................................................................ 157

16.4.2PERDAS OPERACIONAIS ......................................................................................................... 158

16.5 TIPOS DE RISCOS MAIS COMUNS ÀS COOPERATIVAS .......................................................... 159

16.5.1RISCO LEGAL........................................................................................................................... 159

16.5.2RISCO DE IMAGEM................................................................................................................... 159

16.5.3RISCO DE CONCENTRAÇÃO.................................................................................................... 159

16.5.4RISCO DE TECNOLOGIA .......................................................................................................... 161

16.5.5RISCO ESTRUTURAL ............................................................................................................... 161

16.5.6RISCO DE FALHA HUMANA E FRAUDES ................................................................................. 162

16.5.7RISCO NA QUALIDADE DOS CONTROLES - COMPLIANCE ..................................................... 162

16.5.8RISCO DE PRODUTOS E SERVIÇOS ........................................................................................ 162

16.5.9RISCO PATRIMONIAL............................................................................................................... 162

17. ROTEIRO SOBRE PRÁTICAS DO CONSELHO FISCAL ............................................................. 164

17.1 PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DAS ATIVIDADES DE FISCALIZAÇÃO ............................ 164

17.2 CONTEÚDO ESTRUTURAL/LEGAL ........................................................................................... 164

17.3 CONTEÚDO ADMINISTRATIVO ................................................................................................. 165

17.4 CONTEÚDO ORIENTATIVO ....................................................................................................... 165

18. CONTEÚDO OPERACIONAL DO CONSELHO FISCAL .............................................................. 166

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FGV Projetos CE Nº 1974/15

18.1 DOCUMENTOS ADMINISTRATIVOS.......................................................................................... 166

18.1.1RELATÓRIOS ........................................................................................................................... 166

18.1.2INFORMAÇÕES FINANCEIRAS E DE TRANSAÇÕES................................................................ 167

18.2 DOCUMENTOS CONTÁBEIS ..................................................................................................... 168

18.2.1DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS .............................................................................................. 168

18.2.2ORÇAMENTO DE DESPESAS DIVERSAS, ORÇAMENTO DE COMPRAS.................................. 168

18.2.3RELAÇÃO DE PAGAMENTOS DE COMPRAS ........................................................................... 169

18.3 REGISTRO ................................................................................................................................ 169

18.4 PLANEJAMENTO ...................................................................................................................... 170

18.5 RELATÓRIO .............................................................................................................................. 170

18.6 ATA DO CONSELHO FISCAL .................................................................................................... 171

18.7 PARECER ................................................................................................................................. 173

18.8 RELAÇÕES INTERNAS DO CONSELHO FISCAL E SETORES ADMINISTRATIVOS................... 173

18.9 MÉTODOS E TÉCNICAS DE REUNIÃO DO CONSELHO FISCAL ............................................... 174

18.10 INDICAÇÕES IMPORTANTES PARA REUNIÕES ....................................................................... 174

18.11 PREPARATIVOS PARA UMA REUNIÃO .................................................................................... 175

18.11.1FASES DE UMA REUNIÃO ...................................................................................................... 175

18.12 SUGESTÕES AOS CONSELHEIROS FISCAIS ........................................................................... 176

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FGV Projetos CE Nº 1974/15

1. INTRODUÇÃO

Esta apostila se destina a preparar os membros do Conselho Fiscal (CF) de Cooperativas de

Crédito do Sicoob, para a obtenção da Certificação que tem como objetivo promover o

reconhecimento do sistema de governança do Sicoob.

Ela aborta temas relevantes, mas o texto não esgota o assunto. É fundamental que os

Conselheiros tenham pleno conhecimento dos deveres, responsabilidades e poderes previstos

nas normas legais, objeto da bibliografia mencionada abaixo e, também, das boas práticas de

Governança Corporativa, apresentadas neste trabalho.

O CF como um dos órgãos das sociedades cooperativas, tem o seu funcionamento - ininterrupto e

compulsório - garantido pela Lei nº 5.764/71, mais conhecida como Lei Cooperativista. Essa

mesma norma, em seu Art. 53, informa “que os componentes da Administração e do Conselho

Fiscal, bem como os liquidantes, equiparam-se aos administradores das sociedades anônimas

para efeito de responsabilidade criminal”. Vale ressaltar que, no caso específico das instituições

financeiras cooperativas, agrega-se o reforço da Lei Complementar nº 130/09, que estende o

mandato dos conselheiros para até 3 anos (Art. 6º).

Neste ano de 2015, em 5 de agosto, a importância do CF foi novamente ressaltada pela

Resolução do BACEN de nº 4.434. Essa regulamentação, de grande relevância, consolida as

normas relativas à constituição e o funcionamento de cooperativas de crédito, e altera

substancialmente a Resolução no 3.859/10. Nela, o agente regulador define com precisão e

minúcia, no Art. 31, os poderes, deveres e atribuições do CF. Por todos esses atributos o CF é o

principal agente da Governança Corporativa sendo o legítimo representante dos cooperativados

perante os gestores dos recursos deles captados.

A bibliografia1 recomendada, que trata do tema acima exposto, refere-se a:

Lei Complementar nº 130, de 2009, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Crédito

Cooperativo;

Lei nº 5.764, de 1971, que institui o regime jurídico das sociedades cooperativas;

1 Fontes: http://cosif.com.br/mostra.asp?arquivo=governanca05; http://cooperativismodecredito.coop.br/2013/08/o-conselho-fiscal-nas-instituicoes-financeiras-cooperativas-outro-importante-tema-da-ordem-do-dia-por-enio-meinen/ Acesso em: 18 set. 2015

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FGV Projetos CE Nº 1974/15

Lei nº 4.595, de 1964, no que concerne à sua condição de integrantes do Sistema

Financeiro Nacional;

Atos normativos baixados pelo Conselho Monetário Nacional e pelo Banco Central do

Brasil, em especial a Resolução nº 4.434, de 2015, que dispõe sobre a constituição e o

funcionamento de cooperativas de crédito, e a Circular nº 3.502, de 2010, que trata dos

procedimentos a serem por elas observados para instrução de processos de

autorização no Banco Central do Brasil; e

Manual SISORF - Manual de Organização do Sistema Financeiro - Banco Central do

Brasil - Cooperativas de Crédito, disponível no site do Banco Central do Brasil.

O conhecimento desses dispositivos é importante para administradores e dão suporte ao texto a

seguir apresentado. Desta forma, nas páginas que se seguem são tratados temas relativos a

Sistema Cooperativista de Crédito, Governança Corporativa, Documentos Societários,

Planejamento Estratégico, bem como são apresentados conceitos básicos sobre Finanças,

Economia, Indicadores Econômicos, Planejamento Orçamentário, Demonstrativos

Contábeis, e, por fim, sobre Gestão de Risco nas Cooperativas Financeiras.

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2. O SISTEMA COOPERATIVISTA DE CRÉDITO

2.1 Os Alicerces Conceituais do Cooperativismo

De acordo com a Aliança Cooperativa Internacional (ACI), entidade máxima do movimento

cooperativo global:

"COOPERATIVA é uma associação autônoma de pessoas, unidas voluntariamente, para

atender às suas necessidades e aspirações econômicas, sociais e culturais comuns, através

de uma empresa coletiva e democraticamente controlada".

Já segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT),

"COOPERATIVA é uma associação de pessoas que se uniram voluntariamente para realizar

um objetivo comum, através da formação de uma organização administrada e controlada

democraticamente, realizando contribuições equitativas para o capital necessário e aceitando

assumir de forma igualitária os riscos e benefícios do empreendimento no qual os sócios

participam ativamente".

Pelas definições propostas nesses dois fóruns, os mais relevantes para o cooperativismo mundial,

nota-se uma preocupação imediata com valores e ideais humanitários. E aí está a grande

distinção em relação a outras iniciativas de caráter empresarial, por se tratar o cooperativismo, de

um movimento socioeconômico que se desenvolve sob uma mesma orientação doutrinária, desde

seu surgimento, na primeira metade do Século XIX, em Rochdale, na Inglaterra.

Seus direcionadores filosófico-doutrinários são representados especialmente por valores e

princípios de adoção universal. Mas o que vem primeiro, valores ou princípios? Por terem

abrangência além do mundo cooperativista, tratam-se ambos de imperativos morais perenes,

sendo que os valores - como raízes mais profundas - antecedem e dão origem aos princípios, os

quais, por seu turno, traduzem os valores e levam a que esses sejam exercitados no meio

cooperativo, de modo a vincular diretrizes a ações. Os dois tópicos seguintes abordam ambos

esses conceitos à luz dos temas inerentes a presente apostila.

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2.1.1 Valores do Cooperativismo

Diferentemente dos princípios, que são demarcados formalmente, não existe em relação aos

valores um rol conclusivo ou exaustivo a respeito, de modo que em meio às inúmeras referências

feitas por doutrinadores no mundo todo, as enunciações a respeito sempre recaem sobre a:

1) Solidariedade, cuja essência reside no compromisso e na responsabilidade que todos

têm para com todos, fazendo a força do conjunto e assegurando o bem de cada um dos

membros. É uma espécie de reciprocidade obrigacional, justificada pelo interesse

comum. Ser solidário é praticar a ajuda mútua (esta, por vezes aparece como valor

autônomo), é cooperar por definição, é tornar empreendimento sólido.

2) Liberdade, que está no direito de escolha pela entidade cooperativa, tanto na hora do

ingresso como no momento da saída podendo a pessoa, enquanto cooperada, mover-

se e manifestar-se de acordo com a sua vontade e consciência, respeitados os limites

estabelecidos coletivamente.

3) Democracia, que está diretamente relacionada ao pleno direito de o associado

participar da vida da cooperativa em toda a sua dimensão, especialmente pela palavra e

pelo voto, implicando, em contrapartida, respeito às decisões majoritárias. Indica

também acesso universal, sem discriminação de qualquer espécie. É pela democracia

que se exerce a cidadania cooperativa.

4) Equidade, que se manifesta, fundamentalmente, pela garantia da igualdade de direitos,

pelo julgamento justo e pela imparcialidade, tanto em termos em aspectos econômicos

como sociais.

5) Igualdade, que impede a segregação em razão de condição socioeconômica, raça,

gênero ou sexo, ideologia política, opção religiosa, idade ou de qualquer outra

preferência ou características pessoais. A todos devem ser assegurados os mesmos

direitos e as mesmas obrigações.

6) Responsabilidade, que tem a ver com assunção e o cumprimento de deveres. Como

cooperada, a pessoa é responsável pela viabilidade do empreendimento, incumbindo-

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lhe operar com a cooperativa e participar das atividades sociais. Cada qual responde

pelos seus atos, devendo conduzir-se com retidão moral e respeito às regras de

convívio adotadas coletivamente.

7) Honestidade, que se liga à verdade por excelência. É uma das marcas de pessoas de

elevado caráter. Tem a ver com retidão, probidade e honradez. Dignidade, enfim.

8) Transparência, que diz respeito à clareza, àquilo que efetivamente é, sem

ambiguidade, sem segredo. No meio cooperativo, todos têm de ter conhecimento

preciso sobre a vida da entidade: suas regras, sua gestão, seus números.

9) Responsabilidade socioambiental, que se conecta ao compromisso do

empreendimento cooperativo, naturalmente de caráter comunitário, com o bem-estar

das pessoas e com a proteção do meio ambiente compreendidos na sua área de

atuação, preocupação que envolve desenvolvimento econômico e social e respeito ao

equilíbrio e às limitações dos recursos naturais.

A palavra-chave, aqui, é sustentabilidade. Pelo seu significado e a sua atualidade, estuda-se, no

âmbito da ACI, considera-la como um novo e exclusivo princípio universal do Cooperativismo.

2.1.2 Princípios do Cooperativismo

Os princípios do Cooperativismo abaixo listados2 remontam ao período da fundação das primeiras

cooperativas, por volta de 1844. Não obstante o tempo, eles ainda hoje se mostram consistentes

com esse modelo de associação. São:

1) Adesão voluntária e livre - as cooperativas são organizações voluntárias, abertas a

todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviços e assumir as responsabilidades como

membros, sem discriminações de sexo, sociais, raciais, políticas e religiosas.

2) Gestão democrática - as cooperativas são organizações democráticas, controladas

pelos seus membros, que participam ativamente na formulação das suas políticas e na

2 Fonte: http://www.ocb.org.br/site/cooperativismo. Acesso em: 8 jul. 2015.

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tomada de decisões. Os homens e as mulheres, eleitos como representantes dos

demais membros, são responsáveis perante estes. Nas cooperativas de primeiro grau

os membros têm igual direito de voto (um membro, um voto); as cooperativas de grau

superior são também organizadas de maneira democrática.

3) Participação econômica dos membros - os membros contribuem equitativamente

para o capital das suas cooperativas e controlam-no democraticamente. Parte desse

capital é, normalmente, propriedade comum da cooperativa. Os membros recebem,

habitualmente, se houver, uma remuneração limitada ao capital integralizado, como

condição de sua adesão. Os membros destinam os excedentes a uma ou mais das

seguintes finalidades:

a) Desenvolvimento das suas cooperativas, eventualmente através da criação de

reservas, parte das quais, pelo menos será, indivisível;

b) Benefícios aos membros na proporção das suas transações com a cooperativa; e

c) Apoio a outras atividades aprovadas pelos membros.

4) Autonomia e independência - as cooperativas são organizações autônomas, de ajuda

mútua, controladas pelos seus membros. Se firmarem acordos com outras

organizações, incluindo instituições públicas, ou recorrerem a capital externo, devem

fazê-lo em condições que assegurem o controle democrático pelos seus membros e

mantenham a autonomia da cooperativa.

5) Educação, formação e informação - as cooperativas promovem a educação e a

formação dos seus membros, dos representantes eleitos e dos trabalhadores, de forma

que estes possam contribuir, eficazmente, para o desenvolvimento das suas

cooperativas. Informam o público em geral, particularmente os jovens e os líderes de

opinião, sobre a natureza e as vantagens da cooperação.

6) Intercooperação - as cooperativas servem de forma mais eficaz aos seus membros e

dão mais força ao movimento cooperativo, trabalhando em conjunto, através das

estruturas locais, regionais, nacionais e internacionais.

7) Interesse pela comunidade - as cooperativas trabalham para o desenvolvimento

sustentado das suas comunidades através de políticas aprovadas pelos membros.

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2.2 Percurso Histórico do Cooperativismo no Brasil

A difícil situação vivida no velho continente, tanto nos centros urbanos como no meio rural,

provocou o surgimento de inúmeras cooperativas em vários países, notadamente na Inglaterra,

Alemanha e Itália. As dificuldades vividas pelos tecelões de Rochdale, na Inglaterra, também

chamaram a atenção de Franz Hermann Schulze Delítzsch e de Friedrich Wilhelm Raiffeisen,

pioneiros do cooperativismo de crédito (financeiro) - urbano e rural, respectivamente – na

Alemanha.

Nesse cenário de crise, entre 1824 e 1899, cerca de 80 mil alemães desembarcaram no Bras il,

vindo a instalar-se, em grande parte, no Rio Grande do Sul (RS). Entre eles, então com 34 anos

de idade, estava o padre jesuíta Theodor Amstad, suíço de nascença, mas ordenado padre na

Inglaterra. O seu primeiro trabalho no Brasil foi o de doutrinar famílias de imigrantes que estavam

chegando ao estado. Como era jovem, Amstad foi destinado pelos padres mais idosos para o

atendimento às capelas do interior, comunidades nas quais também prestava assistência a

pessoas doentes, que precisavam ser visitadas em casa.

Depois de percorrer de mula, por anos seguidos (de 1885 a 1905), o município de São Sebastião

do Caí/RS, que na época tinha uma vasta extensão territorial, o missionário percebeu que muitas

eram as carências socioeconômicas dos imigrantes estabelecidos na região. Foi então que, no

ano de 1899, baseado nas experiências europeias, lançou a sua plataforma cooperativista e

associativista fundando a Companhia de Colonização Bauerverein (Bauerverein) em 1912, o

trabalho iniciado pelo Bauernverein teve continuidade por meio da fundação da Volksverein

(Sociedade União Popular). Nessa fase, a igreja assumiu para si um papel de fundamental

importância, organizando os agricultores e constituindo escolas, asilos, hospitais, sindicatos e

também cooperativas.

Baseado nos ideais do Padre Amstad, inicialmente disseminados por meio do Bauerverein, no ano

de 1902, em Linha Imperial, no município de Nova Petrópolis - RS, foi constituída a mais antiga

instituição financeira cooperativa da América Latina, atual Sicredi Pioneira RS, e uma das maiores

cooperativas financeiras do Brasil. À iniciativa de Amstad atribuiu-se a criação de outras 37

cooperativas de crédito, das quais oito permanecem em funcionamento sendo uma delas em

Santa Catarina (SC). As cooperativas criadas nessa época, a exemplo da Pioneira, seguiam,

normalmente, o modelo alemão Raiffeisen (de caixas rurais), que se adaptava ao perfil econômico

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e social das comunidades dos imigrantes alemães, caracterizadas pela presença nas pequenas

localidades, com capital limitado.

Sob o ponto de vista legal, em 6 de janeiro de 1903, poucos dias após a fundação da cooperativa

pioneira, o Decreto do Poder Legislativo nº 979, posteriormente regulamentado pelo Decreto nº

6.532/1907, permitia aos sindicatos a organização de caixas rurais de crédito agrícola, bem como

de cooperativas de produção ou de consumo, sem qualquer detalhamento do assunto. A primeira

norma a disciplinar o funcionamento das sociedades cooperativas, no entanto, foi o Decreto do

Poder Legislativo nº 1.637/1907, que permitia que as cooperativas fossem constituídas sob a

forma de sociedades anônimas, sociedades em nome coletivo ou em comandita, sendo regidas

pelas leis específicas. Garantia ainda condições para que, no prazo de trinta anos, a sociedade

optasse por outra natureza societária que não cooperativa, permitindo que muitas cooperativas de

crédito (ou cooperativas financeiras)3 fossem transformadas, no decorrer de sua história, em

Sociedades Anônimas.

Em 1906 (12 de março), no Município de Lajeado - RS, o Padre Amstad ainda patrocinava a

constituição de uma cooperativa de crédito denominada Spar Und Darlehnskasse - Caixa de

Poupança e Empréstimos, atual Sicredi Vale do Taquari RS, que em 1926 transformou-se em

Luzzattí, sendo a mais antiga desse segmento em atividade no país. Esse modelo de cooperativa

de crédito tem por referência os "bancos populares" da Itália, movimento liderado por Luigi

Luzzattí, cujo vínculo associativo é aberto ao público em geral (não segmentado).

Nas décadas que se seguiram as cooperativas se multiplicaram por todo o país, muito em função

de legislação moderna e flexível. As cooperativas de crédito - que, em 8 de setembro de 1925, no

RS (em reunião de 18 entidades singulares, conceberam a primeira central no Rio Grande do Sul,

Sociedade Cooperativa de Responsabilidade Limitada) figuravam entre os principais agentes de

financiamento da atividade rural -, chegou a conceder crédito até mesmo para aquisição de terras.

O cooperativismo de crédito no interior do país levou a que um grupo de bancários da capital

gaúcha, liderado, entre outros, por Protheu Fontoura Ribeiro e Newton Riograndino Fiori Rebem, a

constituírem, em 1946, a Cooperativa de Crédito dos Funcionários da Matriz do Banrisul Limitada,

a número 1 entre as entidades tipicamente urbanas. A Assembleia de fundação ocorreu em Porto

3 Existem estudos sobre a adoção do termo cooperativismo financeiro em virtude da atuação das cooperativas, que passaram a oferecer nos últimos anos serviços e produtos f inanceiros mais amplos, acompanhando uma tendência mundial.

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Alegre, no dia 2 de maio daquele ano, vindo a ser registrada no Ministério da Agricultura no dia 24

de julho de 1947.

Alguns anos depois, em 1960, seria constituída, no Estado do Rio de Janeiro, a Cooperativa dos

Colaboradores da CNBBPax, composta por colaboradores do Palácio São Joaquim do

Episcopado, iniciativa liderada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Essas

cooperativas, como aspecto distintivo das inspiradas em Raiffeisen e Luzzattí, têm em comum o

fato de serem formadas exclusivamente por colaboradores/trabalhadores assalariados da

iniciativa privada e (posteriormente) por servidores públicos, desenvolvendo-se nas regiões

metropolitanas. A influência vem do modelo Desjardins, movimento liderado por Alphonse

Desjardíns, baseado em Quebec, no Canadá.

Nessa época, em que o movimento cooperativo também teve forte apoio institucional /

governamental, foi criado o Banco Nacional de Crédito Cooperativo (BNCC), por meio da Lei nº

1.412/1951, instituição que, por longos anos, foi uma importante fomentadora e apoiadora do

cooperativismo de crédito, fazendo surgir novas cooperativas, além de permitir a integração de

entidades ao sistema financeiro, garantindo a compensação de cheques e outros papéis, e

assegurando remuneração em escala para sobras de caixa.

A trajetória promissora do cooperativismo de credito brasileiro, entretanto, começou a sofrer forte

revés a partir de 1962, com a edição do Decreto Lei nº 1.503 e posteriormente pela reformulação

da legislação bancária (Lei nº 4.595), em que foram fortemente prestigiados os bancos oficiais

como instrumentos canalizadores de recursos para o campo.

Os órgãos de normatização e de controle também decidiram restringir sobremaneira o espectro

societário e operacional das cooperativas. Não bastasse a recaída regulatória (na verdade, um

atraso histórico de lamentável proporção) e a opção privilegiada pelas instituições financeiras

públicas no sistema de crédito rural, alguns administradores, entre a 1930 e 1960, especialmente

de cooperativas do tipo Luzzatti, resolveram, ainda, destoar dos melhores padrões de gestão (por

vezes confundindo interesse coletivo com interesse particular, em que muitas vezes se fazia

prevalecer este último). Todos esses eventos fizeram com que, nos anos seguintes, sucumbissem

as associativas, incluindo todas as cooperativas centrais, então em atividade.

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Nos anos que se seguiram, amparado pela legislação restritiva, o Banco Central do Brasil

(BACEN) desenvolveu rigorosa fiscalização sobre o cooperativismo de crédito, sendo responsável

pelo cancelamento do registro e autorização de funcionamento de muitas cooperativas: “Um dos

motivos alegados pela fiscalização, além de outras irregularidades segundo notícias da época, era

o regime de dinastia presidencial adotada, ficando sempre a presidência da cooperativa na

mesma família”. Destaca também que “havia na verdade, contabilidades atrasadas, associados

não pertencentes ao meio rural, e outras irregularidades perfeitamente sanáveis se houvesse um

pouco mais de tolerância e sensibilidade sócia por parte do órgão fiscalizador”.

Já no início dos anos oitenta, tendo em vista a acentuada diminuição do volume de recursos

oficiais destinados ao financiamento da atividade rural (menor presença do Estado), e com

recrudescimento do quadro inflacionário (surgia a indexação de preços e diminua as subvenções

ao crédito), abriu-se nova possibilidade para o movimento. No Estado do Rio Grande do Sul,

liderado por Mario Kruel Guimarães, o cooperativismo de crédito, como que “ressurgindo das

cinzas”, recompôs-se na forma de modelo sistêmico integrado (em dois níveis) sob modernos

preceitos de gestão, reagrupando, de partida, nove das 13 cooperativas sobreviventes no Estado,

as quais passaram a ser coordenadas por uma nova e remodelada central estadual – Cooperativa

Central de Credito Rural do rio Grande do Sul Ltda. (COCECRER) -, fundada em 27 de outubro de

1980 - hoje Central Sicredi Sul - a primeira dos novos tempos.

Segundo o Dr. Mario Kruel Guimarães,

“é lógico que os cooperativistas que, comigo, planejavam a reestruturação do cooperativismo

de crédito rural, reconheciam quão errônea era a maneira como funcionavam as cooperativas

de crédito no Brasil. Diante algumas raras exceções, elas eram isoladas, pequenas, sem

pessoal treinado, mal instaladas, com administradores improvisados, sem nenhuma habilitação

para o exercício das funções, além de operar com associados indiferentes, decepcionados e

não participativos. Dificilmente poderiam manter-se e progredir, competindo com o sistema

bancário tradicional”.

E continua:

“A primeira certeza com que nos deparamos, diante disso, foi a de que jamais

poderíamos pensar na reestruturação do cooperativismo de crédito apenas propugnando

pelas mudanças das normas vigentes e permitindo que ele fosse recomposto com os

mesmos defeitos e vícios estruturais do passado. Era mister que se pensasse na criação

de um modelo Cooperativista que, conquanto com características adaptadas às

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condições brasileiras, fosse orientando pelos inumeráveis sistemas que tiveram sucesso

em quase todos os países de primeiro mundo. Esse pensamento nos levou a fazer um

aprofundado estudo do cooperativismo de crédito de uma série de onde ele funcionava

com grande sucesso".

A iniciativa arrojada do Dr. Mario Kruel Guimarães faz surgir um novo definitivo formato

organizacional do cooperativismo financeiro, mais conhecido como “sistêmico”, baseado na

integração horizontal e vertical das cooperativas, em que, unidas e estruturando-se com entidades

estratégicas e operacionais de nível superior, se tornariam mais fortes e eficientes, pois esse

rearranjo institucional, além de permitir ganhos de escala e gerar economia de escopo, facilitaria a

aplicação de conceitos de autorregularão, autogestão (com forte ênfase em capacitação) e

autofiscalização, pilares que já há muito sustentavam o vigoroso cooperativismo financeiro

europeu e canadense. Segundo ele,

“O pensamento era o de criar uma organização financeira pujante, que pudesse

liberar,paulatinamente, o produtor e suas cooperativas de usura bancaria e evitasse que

as pequenas economias do interior, depositadas em cadernetas de poupança bancária,

continuassem a financiar, como era corrente acontecer, a construção de majestosos

edifícios nas capitais e até, em sofisticados balneários, por ser a atividade imobiliária,

como é natural. Muito mais rentável que o credito rural para pequenos produtores”.

Mediante ações de fomento da central recém-criada, e com o apoio das cooperativas de produção

e comercialização (agropecuárias) lideradas pela Fecotrigo (Federação das Cooperativas de Trigo

e Soja do Rio Grande do Sul), inúmeras novas cooperativas de crédito rural surgiram no Rio

Grande do sul, expansão que se fez sentir em outros estados, onde logo em seguida foram

também formadas centrais, tais como em: Santa Catarina (SC), Paraná (PR), São Paulo (SP),

Minas Gerais (MG), Rio de Janeiro (RJ), Espírito Santo (ES), Mato Grosso do Sul (MS), Mato

Grosso (MT), Goiás (GO) e Pernambuco (PE).

Esse ambiente, positivo, também chamou a atenção das lideranças do cooperativismo de crédito

mútuo (urbano) que, sob a coordenação de Dona "Therezita" e de Alzira Silva, partiram para a

criação das próprias cooperativas centrais, sendo a Central das Cooperativas de Credito Mutuo do

Rio de Janeiro (Cecrerj) a primeira ser autorizada pelo BACEN, em 1984. Logo depois, surgiam a

Cecresp, em São Paulo (SP); a Cecrest, no Espírito Santo (ES); a Cecrespa, no Para (PA); a

Cecremge, em Minas Gerais (MG); a Cecremat, no Mato Grosso (MT); a Cecredif, no Distrito

Federal (DF), e a Centracoop, na Paraíba (PB).

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Ainda na área urbana, foi criada em 1 de novembro de 1986, na cidade de Vitoria - ES, a primeira

confederação do setor, a Confederação Brasileira das Cooperativas de Credito (Confebras),

(como sucessora da Federação Leste Meridional de cooperativas de Credito (FELEME), nascida

em 3 de agosto de 1961, cuja sede inaugural foi Belo Horizonte (MG), estando atualmente

estabelecida em Brasília (DF).

Um pouco mais tarde, no dia 10 de agosto de 1989, concebia-se, no município de Casca (RS),

sob a liderança do médico Antônio Moacir de Azevedo, a primeira cooperativa de crédito de

médicos e demais profissionais da saúde, denominada Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo

dos Profissionais da Saúde Vinculados à Unimed do Vale das Antas Ltda. (UNICRED Vale das

Antas), cujo exemplo, em rápida sequência, serviria para o acelerado e salutar alastramento

próprias do segmento.

A partir de 1992, colhendo os efeitos benéficos do novo padrão regulamentar que começava a ser

ditado sob os auspícios do BACEN, as cooperativas de crédito urbano, compostas de múltiplos

setores econômico-profissionais, efetivamente passaram a ostentar representatividade ao lado

das - já melhor desenvolvidas - cooperativas de crédito rural. Nesse contexto, em 19 de outubro

de 1995, com a também pioneira Central das Cooperativas de Economia e Crédito do Estado de

Minas Gerais Ltda. (Cecremge), era constituída a primeira cooperativa de crédito de

empreendedores do país, a Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo de Comerciantes de

Confecções do Pará de Minas Ltda. (ASCICRED), hoje de livre admissão.

Desta forma, nos anos 1990 foi intenso o ritmo de criação de novas cooperativas, que já somavam

mais de 800 unidades no início da década.

O cenário de abertura normativa, somado aos componentes da liquidação do BNCC - iniciada em

15 de março de 1990 (MP 151) - e a diferença dos bancos convencionais, (inclusive os públicos)

em relação ao movimento cooperativista de crédito, também permitiu que surgissem os bancos

cooperativos - Banco Cooperativo Sicredi e Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob) -, nessa

ordem. O primeiro deles foi constituído em 16 de outubro de 1995, em Porto Alegre - RS, e o

segundo, em 4 de novembro de 1996, na Capital Federal, com o propósito de integrar as

cooperativas ao sistema nacional de pagamentos, gerir liquidez sistêmica e prover soluções

corporativas de negócio. A chegada desses bancos cooperativos, aliás, foi um triunfo histórico,

uma espécie de marco da independência do cooperativismo de crédito nacional.

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Aos bancos cooperativos seguiram-se as confederações dos principais sistemas de crédito

cooperativo hoje existentes, a saber: Unicred do Brasil, em 11 de julho de 1994; Confederação

Sicredi, em 31 de março de 2000; Sicoob Confederação, em 28 de dezembro de 2001; e

Confesol, em 6 de agosto de 2008. Essas confederações tinham como macro-objetivos coordenar

estrategicamente e representar os respectivos sistemas, desenvolver soluções corporativas de

apoio aos negócios e alocar componentes organizacionais a serviço do conjunto das cooperativas

dos sistemas associados.

No ano de 2003, nascia a Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo dos Pequenos Empresários,

Microempresários e Microempreendedores da Produção Industrial do DF Ltda. (Credindústria),

que atualmente se denomina Sicoob Empresarial, englobando todos os setores do micro e

pequeno empresariado, sendo a primeira desta modalidade de cooperativas autorizada pela

Resolução CMN no 3.058/2002.

Ainda sob a égide do aprimoramento regulamentar, com suporte na festejada Resolução CMN nº

3.106/2003, em 18 de dezembro 2003 surgia, por conversão, a primeira cooperativa de crédito

de livre admissão do país, cujo pioneirismo coube à (então) Cooperativa de Crédito de Livre

Admissão de Associados Missões - Sicredi Missões (hoje Sicredi União RS). Em linha com essa

postura, a Resolução nº 4.434/15 permite que qualquer cooperativa financeira do país atue com

todos os públicos, a exemplo das referidas cooperativas de crédito de livre admissão, desde que

aprovado pelos associados em assembleia geral que proponha a mudança estatutária.

Digna também de registro é a constituição, em 9 de agosto de 2007, da Confederação Nacional

de Auditoria Cooperativa (CNAC), primeira iniciativa societária intersistêmica (unindo Sicoob,

Sicredi e Unicred), que tem por finalidade executar auditoria externa nas cooperativas financeiras.

A criação da CNAC teve forte incentivo do BACEN, que, aliás, vem estimulando um maior número

de adesões aos serviços da entidade, além de coordenar debates com vistas à eventual expansão

do seu escopo.

Ainda sobre auditoria, o BACEN através da mencionada Resolução no 4.434 assim se

manifestou:

Art. 43 As cooperativas de crédito, na contratação de serviços de auditoria de

demonstrações contábeis, devem certificar-se da observância da regulamentação em

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vigor sobre auditoria independente, especialmente da Resolução nº 3.198, de 27 de maio

de 2004, no que não conflitar com esta Resolução.

§ 1º A auditoria a que se refere este artigo pode ser realizada por auditor independente

ou por entidade de auditoria cooperativa destinada à prestação de serviços de auditoria

externa, constituída e integrada por cooperativas centrais de crédito e/ou por suas

confederações.

Mais recentemente, cada um dos sistemas vem, ainda, constituindo empresas e entidades de

natureza não-cooperativa, para cuidar de negócios específicos e de atividades especializadas -

não atribuíveis aos bancos e às confederações - no interesse do conjunto das cooperativas

(corretoras de seguros, seguradoras, administradoras de cartões e de consórcios, DTVMs,

fundações, associações sem fins lucrativos, entre outras).

Por fim, merece todo o destaque a criação do FGCoop, até aqui o mais relevante e abrangente

movimento societário intersistêmico. A iniciativa alcança a totalidade do cooperativismo financeiro

brasileiro, e é voltada para assegurar a solidez das empresas associadas (cooperativas e seus

bancos cooperativos), e também garantir o pagamento, até o valor-limite definido pela

regulamentação, dos investimentos financeiros do quadro social e clientes. A entidade – uma

associação civil sem fins lucrativos - foi constituída em Assembleia geral, de 27 de setembro de

2013, e entrou oficialmente em funcionamento no dia 12 de fevereiro de 2014, quando seus atos

foram arquivados no cartório competente da Capital Federal, onde fica sediada.

Considerando os seus desdobramentos, que em muito ultrapassam o simples - embora não

irrelevante - objetivo de garantir depósitos do quadro social em casos de insucesso de entidades

vinculadas, pode-se dizer que a criação do FGCoop significa um passo concreto de cooperação

(societária) intersistêmica e identifica um novo recomeço na história recente do movimento

cooperativo financeiro.

Essa iniciativa conduzirá à aproximação dos diferentes subsistemas cooperativos e o grupo de

cooperativas independentes, atualmente isolados estratégica e operacionalmente porquanto seus

representantes estarão frequentemente reunidos em um mesmo fórum para discutir múltiplos

aspectos de interesse comum, com foco na solidez do conjunto dos empreendimentos. Em outras

palavras, a solidariedade fará aumentar o interesse e o diálogo e, nesse ambiente, haverão de se

descortinar e tomar forma inúmeras oportunidades de fortalecimento intersistêmico, entre elas a

atuação conjunta em projetos negociais ou de apoio ao negócio.

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2.3 Empreendimento Cooperativo na Essência

O cooperativismo é uma iniciativa socioempreendedora (ou socioeconômica) baseada em valores

e princípios cujo objetivo é a construção de uma vida melhor para mais de um bilhão de pessoas

ao redor do mundo, constituindo-se na maior organização não governamental do planeta.

Mas o que liga, de fato, o cooperativismo a uma existência mais digna, mais justa, enfim, a um

mundo melhor?

Começa que esse movimento coloca as pessoas no centro das atenções, reservando ao capital

um papel instrumental (de respaldo operacional). As individualidades cedem espaço à construção

conjunta da prosperidade. Os ganhos, obtidos com equilíbrio e isonomia pelo trabalho coletivo,

são de todos, na proporção de seus esforços em prol da iniciativa4.

Os excedentes apurados ao fim de cada ciclo anual, tendo em vista a dupla condição dos

membros da cooperativa, de donos e de usuários, não se confundem com lucro, inerente a

empreendimentos, cujo capital é preponderante e, muitas vezes, a serviço de poucos. No caso do

cooperativismo a cooperação satisfaz necessidades econômicas recíprocas, em diferentes

campos, apreço justo e à luz de preceitos éticos.

Por sua inserção de natureza comunitária, por tratar-se de contexto em que elas também

costumam emergir, as cooperativas estão naturalmente vocacionadas a beneficiar nos locais em

que se estabelecem. Daí a razão do 7º Princípio Universal, referente ao interesse pela

comunidade que trata da preocupação em se gerar progresso, conforme a aptidão das

populações, de acordo com o potencial econômico da região cooperativada.

Pelas mesmas razões, as cooperativas lideram inúmeras iniciativas de caráter sócio-cultural-

humanitário. Aliás, é difícil imaginar um evento cultural, um encontro esportivo ou uma mobilização

comunitária para arrecadar fundos com propósitos filantrópicos, sem o engajamento de

associados, dirigentes e colaboradores de alguma cooperativa. O apoio não se limita à simples

entrega de fundos financeiros. Usualmente, a própria organização e a execução são confiadas

aos representantes das cooperativas.

4 Fonte: http://cooperativismodecredito.coop.br/2015/07/cooperativismo-equidade-em-essencia/ Acesso em 10 jul. 2015.

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Aqui não se cogita recorrer ao apelo midiático-mercadológico da "responsabilidade social",

utilizado para iludir a população visando atraí-la para compor uma legião de clientes, pois é da

essência do movimento - faz parte de seu "DNA" - ocupar-se das necessidades e dos interesses

dos seus membros e do meio em que vivem ou operam.

Nessa forma organizativa, o social confunde-se com o econômico. Tal associação de propósitos,

por sinal, foi bem traduzida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em pronunciamento

em 2012.

"A cooperativa, como uma empresa caracteriza-se por aliar diretamente, na mesma

organização cooperativa dois aspectos fundamentais do desenvolvimento sustentável:

racionalidade econômica e o sentido da solidariedade social. Um híbrido de entre

empresa e organização do terceiro setor, uma empresa com o coração".5

A manifestação cooperativa pode assumir diferentes formas operacionais. A mutualidade, com

efeito, envolve atividades de prestação de serviços nas mais diversas áreas profissionais,

inclusive nas cooperativas.

As cooperativas, enfim, são os únicos formatos empresariais realmente diferentes. Só elas são, de

fato, comprometidas com a comunidade. Por esse motivo, as Organizações das Nações Unidas

(ONU), em 2012, ao fazer o que jamais fizera (e possivelmente fará) em relação a qualquer outra

organização socioempreendedora, elegeu o cooperativismo como tema-destaque para o seu

calendário de ações globais.

Em síntese, com legitimidade e expressão não equiparável a nenhuma iniciativa socioeconômica,

o cooperativismo é um movimento propulsor para a construção de uma sociedade mais

equilibrada e sustentável.

2.4 Instituições Financeiras Cooperativas x Bancos: Distinções

Relevantes

A manifestação cooperativa pode assumir diferentes formas operacionais. A mutualidade, com

efeito, envolve desde atividades de produção e comercialização até oferta de itens para consumo

5 Fonte: http://cooperativismodecredito.coop.br/2015/07/cooperativismo-equidade-em-essencia/ Acesso em 8 jul. 2015

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e prestação de serviços nas mais diversas áreas profissionais, inclusive no setor financeiro, em

que se inserem as instituições financeiras cooperativas. Nesse particular, a primeira pergunta que

surge é: por que optar por uma cooperativa de crédito e não por um banco convencional?

A fim de responder a essa indagação, é importante conhecer as diferenças entre uma e outra

iniciativa societária. No quadro a seguir, é possível ter uma noção dos aspectos (relevantes) que

diferenciam tais organizações.

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Quadro 2.4.1

Diferenças entre bancos e instituições financeiras cooperativas

Bancos Cooperativa

São sociedades de capital. São sociedades de pessoas.

O poder é exercido na proporção do

número de ações. O voto tem peso igual para todos (uma pessoa, um voto).

As deliberações são concentradas. As decisões são partilhadas entre muitos.

Os administradores são terceiros (homens do mercado).

Os administradores-líderes são do meio (associados).

O usuário das operações é mero cliente.

O usuário é o próprio dono (cooperado).

O usuário não exerce qualquer

influência na definição dos produtos e na sua precificação.

Toda a política operacional é decidida pelos próprios associados por meio do papel de conselheiro.

Podem tratar distintamente cada usuário.

Não podem distinguir: o que vale para um, vale para todos os demais na mesma situação.

Preferem público de maior renda e as maiores corporações.

Não discriminam, servindo a todos os públicos.

Priorizam os grandes centros (embora

não tenham limitação geográfica).

Não restringem, tendo forte atuação nas comunidades mais

remotas.

Tem propósitos mercantilistas. A atividade mercantil não é cogitada.

A remuneração das operações e dos serviços não tem parâmetro/limite.

O preço das operações e dos serviços tem como referência

os custos e como parâmetro as necessidades de reinvestimento.

Atendem em massa, priorizando, ademais, o autosserviço.

O relacionamento é personalizado/individual, com o apoio da informática.

Não tem vínculo com a comunidade e o público-alvo.

Estão comprometidas com as comunidades e os usuários.

Avançam pela competição. Desenvolvem-se pela cooperação.

Visam ao lucro por excelência. O lucro está fora do seu objeto, seja pela sua natureza, seja por determinação legal e sim a prestação de serviço com melhor custo/benefícios.

O resultado é de poucos.

O excedente (sobras) é distribuído entre todos (usuários), na proporção das operações individuais, reduzindo ainda mais o preço final, pago pelos cooperados e aumentando a

remuneração de seus investimentos.

No plano societário, são regulados pela Lei das sociedades anônimas.

São reguladas pela Lei Cooperativista e por legislação própria (especialmente pela Lei Complementar 130/2009).

Fonte: Adaptado de MEINEN, PORT. Cooperativismo Financeiro: percurso histórico, perspectivas e desafios.

A apreciação comparativa dos dois modelos organizacionais não deixa dúvida: cooperativa de

crédito não é banco e com banco não se confunde. Por isso mesmo, é vedado a elas o emprego

do vocábulo "Banco" (Lei no 5.764/1971, Art. 5º, parágrafo único).

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Como essa matéria, apesar da clareza da distinção, tem permeado recorrentemente as diversas

instâncias do poder judiciário, ora envolvendo aspectos da relação trabalhista cooperativa x seus

colaboradores, ora questões tributárias, ou ainda a aplicação do código de defesa do consumidor

nos atos cooperativos, vale reprisar trechos de manifestações proferidas por representantes dos

tribunais superiores que não deixam a menor margem para pretensas equiparações entre os dois

tipos societários:

Do Ministro Barros Levenhagen (Tribunal Superior do Trabalho - RR 720.811/2001.7) tem-se que:

“A cooperativa de crédito é distinta de instituições bancárias, não estando incluída entre

aquelas discriminadas no enunciado n° 55 do TST e não se aplicando a seus

empregados as disposições próprias dos bancários. Ainda que haja semelhança no

funcionamento das entidades, a cooperativa não se confunde com as instituições

financeiras, pois distintas são a sua forma jurídica e a sua finalidade social, uma vez que

as atividades ali desempenhadas são de interesse comum apenas dos filiados então

visam lucros".

Já a Orientação Jurisprudencial (OJ) do Tribunal Superior do Trabalho, de nº 379 afirma que:

"EMPREGADO DE COOPERATIVA DE CRÉDITO. BANCÁRIO. EQUIPARAÇÃO.

IMPOSSIBILIDADE. Os empregados de cooperativas de crédito não se equiparam a

bancário, para efeito de aplicação do art. 224 da CLT, em razão da inexistência de

expressa previsão legal, considerando, ainda, as diferenças estruturais e operacionais

entre as instituições financeiras e as cooperativas de crédito. Inteligência das Leis nº

4.594, de 29.12.1964, e 5J64, de 16.12.1971".

Para finalizar, o Ministro Gilmar Mendes (Supremo Tribunal Federal, no AI 756974-MG) afirma:

"Em que pesem as cooperativas de crédito exercerem atividade econômica com alguma

similitude com a atividade bancária, com ela não se identifica, de modo que os

recorrentes hão de deter representação limitada aos empregados dos Bancos, abrindo-

se a possibilidade constitucional, pelo princípio da unicidade sindical, de as cooperativas

de crédito serem representadas por sindicato específico e seus empregados pelo

correlato sindicato profissional”.

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2.4.1 Por que Fazer Parte de uma Cooperativa de Crédito e qual a sua

Importância para a Sociedade?

Não são poucas as motivações para ser associado de uma instituição financeira cooperativa ou,

simplesmente, apoiador da causa. Sem desconhecer as vantagens comuns a todos os ramos

cooperativos, precedentemente estudados, poder-se-ia iniciar relembrando que nas cooperativas

financeiras o destinatário das soluções é o próprio dono do empreendimento, o associado, ao

passo que na atividade bancária clássica o usuário é um terceiro, cliente, estranho à empresa.

Como instrumentos de desenvolvimento local, as cooperativas asseguram a reciclagem dos

recursos nas próprias comunidades. Ou seja, o resultado monetário do que se gera é reinvestido

ali mesmo, produzindo novas riquezas. Além disso, as entidades têm plena autonomia para

ajustar a sua política creditícia e de gestão da poupança à realidade do lugar. Essa liberdade

permite acompanhar adequadamente o ciclo econômico de cada região e respeitar as suas

aptidões e potencialidade sócio-econômico-culturais, com geração e incremento de renda

estimulando, ainda, a fixação dos jovens nas próprias comunidades.

Se os investimentos dos cidadãos e das empresas forem destinados às cooperativas, estas,

muitas vezes junto com outros recursos captados no mercado financeiro (trazidos de fora), os

realocam na mesma região; redistribuídos, geram renda e aumentam o poder aquisitivo da

população, que passa a consumir mais; em decorrência, há incremento nas vagas de trabalho,

absorvendo especialmente o público jovem; o aumento também repercute na arrecadação de

impostos; com mais cidade produtiva, gerando novas riquezas. O resultado final é a qualidade de

vida na área de abrangência da cooperativa.

Há, também, mais flexibilidade, democracia e justiça no relacionamento negocial entre a

cooperativa e seu associado, na comparação com o relacionamento entre banco e cliente. No

meio cooperativo, existe um maior protagonismo por parte de quem é o principal interessado (o

cooperado). Como corolário, os produtos e serviços vêm ao encontro das experiências do usuário-

dono, alinhando-se à sua vocação e às suas possibilidades econômicas.

Já o dimensionamento dos excedentes deve ter como referência as necessidades de

reinvestimento (para solidez e o crescimento) da própria organização cooperativa. O que passar

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disso deve ser devolvido aos próprios usuários, na proporção de suas operações, medida que, de

um lado, faz reduzir as taxas de juros pactuadas nos empréstimos e também as tarifas pagas no

exercício, e, de outro, amplia a remuneração dos depósitos. Nesse ponto, aparece com toda a

nitidez a singularidade societária representada pelo “ato cooperativo”.

Assim cumprem duplo papel nesses locais: promovem o desenvolvimento econômico e

asseguram o exercício da cidadania pela inclusão financeira. Nos dizeres de Henrique Meirelles,

como ex-presidente do Banco Central, “a importância do cooperativismo de credito para a

econômica brasileira baseia-se no binômio concorrência e inclusão financeira”.

As cooperativas também se diferenciam no quesito diluição do crédito. Nesse particular,

considerando as operações de custeio agrícola (R$ 74,4 bilhões - base: 2013), por exemplo, o

setor é responsável por aproximadamente um quarto de todos os contratos, embora o volume total

emprestado seja de apenas 14%.

Enquanto isso, o sistema bancário tradicional privado, detendo 28% do volume emprestado,

responde por apenas 13% dos contratos. Nessa mesma linha de desconcentração, reforçando a

importância socioeconômica das cooperativas, mais um indicador relevante: cerca de 76% de

suas operações de crédito, em todas as modalidades, estão abaixo de R$ 5.000,00 (Banco

Central do Brasil data-base abril de 2015). No caso do Sicoob, 79% das operações de crédito são

menores que R$ 5.000,00.

No que se refere ao público de interesse mais imediato do sistema convencional (de maior renda),

tem-se visto movimentos cada vez mais arrojados dos bancos no sentido de recuperar antigos

clientes que resolveram migrar para suas próprias instituições financeiras, ao tornarem-se

associados de cooperativas. Para isso, oferecem condições atrativas a esses usuários,

notadamente reduzindo spreads, estendendo prazos de suas linhas de crédito, remunerando

melhor os investimentos e propondo-se a atendê-los de forma mais personalizada ou atenciosa.

Nessa linha, o presidente do Banco Central do Brasil, Ministro Alexandre Tombini, como grande

conhecedor e incentivador do movimento, proclama que:

“a importância do cooperativismo de credito para o país concentra-se nos objetivos de

prover e ampliar a oferta de serviços financeiros, fomentando assim a promoção da

inclusão financeira e do desenvolvimento regional. Consequentemente, contribui também

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para a melhoria da qualidade e redução dos custos da atividade de intermediação

financeira”.

Em outra manifestação (em depoimento dado por ocasião do lançamento da agenda legislativa do

cooperativismo, Brasília - DF, 28 de fevereiro de 2012), o dirigente máximo do BACEN lembra

que:

“onde há presença forte do cooperativismo, há uma tendência de as tarifas financeiras e as

taxas dos empréstimos serem menores do que nos municípios onde o cooperativismo de

credito não está presente”.6

É dizer que uma é a realidade do sistema financeiro nacional com a presença - em notável

progressão - das cooperativas e outra, na sua ausência, em que se beneficiam, não apenas

associados, mas também clientes dos bancos em geral que buscam tornar seus produtos mais

competitivos, de modo que quem ganha é a sociedade.

No que diz respeito à segurança e solidez do empreendimento, vale frisar que as cooperativas

têm de cumprir regras operacionais e diretrizes de governança semelhantes às dos grandes

bancos brasileiros, e, para as (pouco prováveis) situações de insucesso, dispõem de fundo

intersistêmico nacional (FGCoop) que, em situação extrema, garante o pagamento dos depósitos

dos associados até o limite regularmente definido. Ou seja, tem de reunir capital/patrimônio

suficiente para fazer face aos riscos de suas operações, cumprindo as diretrizes (internacionais)

de Basiléia; contar com gestores idôneos e qualificados, cujos nomes são submetidos ao BACEN,

e acumular reservas, em regime de solidariedade com as coirmãs, para apoiar as ações que

reestabeleçam o equilíbrio econômico-financeiro de entidades em dificuldades ou, em casos de

inviabilidade e irreversível/descontinuidade da operação, assegurar a devolução dos depósitos

aos cooperados.

Além disso, afora a supervisão executada pelo Conselho de Administração, estão sujeitas à

fiscalização do BACEN; à auditoria independente; à auditoria interna direta e permanente de suas

respectivas centrais, sem contar que muitas delas têm, adicionalmente, os seus próprios agentes

de controles internos ligados ao conselho de administração; ao monitoramento indireto por parte

de suas centrais, confederações, bancos cooperativos (no que se refere à gestão de riscos de

crédito, mercado e liquidez); e pelo fundo garantidor, além de disporem de conselho fiscal.

6 Fonte: http://br.reuters.com/article/businessNews/idBRSPE81S00S20120229. Acesso em: 8 jul. 2015

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Em síntese, além de movidas pelo compromisso com o bem-estar econômico e social dos

associados e das comunidades, as cooperativas são tão (ou mais) seguras quanto os melhores

bancos brasileiros. Uma inequívoca evidência nesse sentido é o fato de apenas nove (todas

independentes/solteiras), de um universo médio de cerca de 1.150 entidades, terem sido

submetidas à decretação de regimes especiais pelo BACEN nos últimos seis anos (2009-2014),

ao passo que, no mesmo intervalo, 46 instituições financeiras convencionais, de um total de 776

(dez/14), passaram pela ação interventiva do órgão de supervisão. Ou seja, apesar de representar

60% do conjunto das instituições financeiras do país, as cooperativas responderam por apenas

16% das intervenções feitas pelo BACEN no sistema financeiro nacional.

Estes são alguns dos muitos apelos para o incremento do quadro de beneficiários do

cooperativismo de crédito brasileiro. Seguramente, há inúmeras outras razões que remetem para

a causa da cooperação e a recomendam. Portanto é também de todo justificável o apoio e o

estímulo institucionais ao movimento cooperativo, representados, entre outras ações, pelo

aprimoramento constante do marco regulatório e sua inclusão em Programas e Políticas de

Estado e Governo, neste caso, especialmente quando os associados estiverem entre os

beneficiários das medidas. Não é sem motivo, portanto, que a Constituição Federal de 1988, em

seu Art. 174, §2, determina que “A lei apoiará e estimulará o cooperativismo".

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2.4.2 Marco Regulatório Essencial do Cooperativismo de Crédito

Financeiro

Os principais instrumentos regulatórios estão apresentados nos quadros abaixo:

Quadro 2.4.2.1

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

Artigo Definição

Art. 5º

XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter

paramilitar; XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;

Art. 146,

III

c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades

cooperativas.

Art. 174 § 2º A lei apoiará e estimulará o cooperativismo e outras formas de associativismo.

Art. 192

O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento

equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do capital

estrangeiro nas instituições que o integram.

Fonte: Constituição da República Federativa do Brasil.

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Quadro 2.4.2.2 Lei Cooperativista no 5.764/71

Artigo Definição

Art. 3º

Celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas que reciprocamente se

obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo de lucro.

Art. 4º

As cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas a falência, constituídas para prestar serviços aos

associados, distinguindo-se das demais sociedades pelas seguintes características: I - adesão voluntária, com número ilimitado de associados, salvo impossibilidade técnica de prestação de serviços;

II - variabilidade do capital social representado por quotas-partes; III - limitação do número de quotas-partes do capital para cada associado, facultado, porém, o estabelecimento de critérios de proporcionalidade, se assim for mais

adequado para o cumprimento dos objetivos sociais; IV - incessibilidade das quotas-partes do capital a terceiros, estranhos à sociedade; V - singularidade de voto, podendo as cooperativas centrais, federações e

confederações de cooperativas, com exceção das que exerçam atividade de crédito, optar pelo critério da proporcionalidade; VI - quorum para o funcionamento e deliberação da Assembléia Geral baseado no

número de associados e não no capital; VII - retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente às operações realizadas pelo associado, salvo deliberação em contrário da Assembléia Geral;

VIII - indivisibilidade dos fundos de Reserva e de Assistência Técnica Educacional e Social; IX - neutralidade política e indiscriminação religiosa, racial e social;

X - prestação de assistência aos associados, e, quando previsto nos estatutos, aos empregados da cooperativa; XI - área de admissão de associados limitada às possibilidades de reunião, controle,

operações e prestação de serviços.

Art. 5º

As sociedades cooperativas poderão adotar por objeto qualquer gênero de serviço, operação ou atividade, assegurando-se-lhes o direito exclusivo e exigindo-se-lhes a obrigação do uso da expressão "cooperativa" em sua denominação.

Parágrafo único. É vedado às cooperativas o uso da expressão "Banco".

Art. 11 As sociedades cooperativas serão de responsabilidade limitada, quando a responsabilidade do associado pelos compromissos da sociedade se limitar ao valor do capital por ele subscrito.

Art. 12

As sociedades cooperativas serão de responsabilidade ilimitada, quando a

responsabilidade do associado pelos compromissos da sociedade for pessoal, solidária e não tiver limite

Art. 13 A responsabilidade do associado para com terceiros, como membro da sociedade, somente poderá ser invocada depois de judicialmente exigida da cooperativa.

Art. .79 Denominam-se atos cooperativos os praticados entre as cooperativas e seus associados, entre estes e aquelas e pelas cooperativas entre si quando associados,

para a consecução dos objetivos sociais.

Art. 111 Serão considerados como renda tributável os resultados positivos obtidos pelas

cooperativas nas operações de que tratam os artigos 85, 86 e 88 desta Lei.

Fonte: D.O.U. 16/12/1971.

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Quadro 2.4.2.3

Lei Complementar no 130, de 2009

Art. 1o As instituições financeiras constituídas sob a forma de cooperativas de crédito submetem-

se a esta Lei Complementar, bem como à legislação do Sistema Financeiro Nacional - SFN

e das sociedades cooperativas.

§ 1o As competências legais do Conselho Monetário Nacional - CMN e do Banco Central do

Brasil em relação às instituições financeiras aplicam-se às cooperativas de crédito.

§ 2o É vedada a constituição de cooperativa mista com seção de crédito.

Art. 2o As cooperativas de crédito destinam-se, precipuamente, a prover, por meio da mutualidade,

a prestação de serviços financeiros a seus associados, sendo-lhes assegurado o acesso

aos instrumentos do mercado financeiro.

§ 1o A captação de recursos e a concessão de créditos e garantias devem ser restritas aos

associados, ressalvadas as operações realizadas com outras instituições financeiras e os

recursos obtidos de pessoas jurídicas, em caráter eventual, a taxas favorecidas ou isentos

de remuneração.

§ 2o Ressalvado o disposto no § 1

o deste artigo, é permitida a prestação de outros serviços

de natureza financeira e afins a associados e a não associados.

§ 3o A concessão de créditos e garantias a integrantes de órgãos estatutários, assim como

a pessoas físicas ou jurídicas que com eles mantenham relações de parentesco ou

negócio, deve observar procedimentos de aprovação e controle idênticos aos dispensados

às demais operações de crédito.

§ 4o A critério da Assembleia geral, os procedimentos a que se refere o § 3

o deste artigo

podem ser mais rigorosos, cabendo-lhe, nesse caso, a definição dos tipos de

relacionamento a serem considerados para aplicação dos referidos procedimentos.

§ 5o As cooperativas de crédito, nos termos da legislação específica, poderão ter acesso a

recursos oficiais para o financiamento das atividades de seus associados.

Art. 3o As cooperativas de crédito podem atuar em nome e por conta de outras instituições, com

vistas à prestação de serviços financeiros e afins a associados e a não associados.

Art. 4o O quadro social das cooperativas de crédito, composto de pessoas físicas e jurídicas, é

definido pela Assembleia geral, com previsão no estatuto social.

Parágrafo único. Não serão admitidas no quadro social da sociedade cooperativa de

crédito pessoas jurídicas que possam exercer concorrência com a própria sociedade

cooperativa, nem a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios bem como suas

respectivas autarquias, fundações e empresas estatais dependentes.

Art. 5o As cooperativas de crédito com conselho de administração podem criar diretoria executiva

a ele subordinada, na qualidade de órgão estatutário composto por pessoas físicas

associadas ou não, indicadas por aquele conselho.

Art. 6o O mandato dos membros do conselho fiscal das cooperativas de crédito terá duração de

até 3 (três) anos, observada a renovação de, ao menos, 2 (dois) membros a cada eleição,

sendo 1 (um) efetivo e 1 (um) suplente.

Art. 7o É vedado distribuir qualquer espécie de benefício às quotas-parte do capital, excetuando-

se remuneração anual limitada ao valor da taxa referencial do Sistema Especial de

Liquidação e de Custódia - Selic para títulos federais.

Art. 8o Compete à Assembleia geral das cooperativas de crédito estabelecer a fórmula de cálculo

a ser aplicada na distribuição de sobras e no rateio de perdas, com base nas operações de

cada associado realizadas ou mantidas durante o exercício, observado o disposto no art.

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7o desta Lei Complementar.

Art. 9o É facultado às cooperativas de crédito, mediante decisão da Assembleia geral, compensar,

por meio de sobras dos exercícios seguintes, o saldo remanescente das perdas verificadas

no exercício findo.

Parágrafo único. Para o exercício da faculdade de que trata o caput deste artigo, a

cooperativa deve manter-se ajustada aos limites de patrimônio exigíveis na forma da

regulamentação vigente, conservando o controle da parcela correspondente a cada

associado no saldo das perdas retidas.

Art. 10. A restituição de quotas de capital depende, inclusive, da observância dos limites de

patrimônio exigíveis na forma da regulamentação vigente, sendo a devolução parcial

condicionada, ainda, à autorização específica do conselho de administração ou, na sua

ausência, da diretoria.

Art. 11. As cooperativas centrais de crédito e suas confederações podem adotar, quanto ao poder

de voto das filiadas, critério de proporcionalidade em relação ao número de associados

indiretamente representados na Assembleia geral, conforme regras estabelecidas no

estatuto.

Art. 12. O CMN, no exercício das competências que lhe são atribuídas pela legislação que rege o

SFN, poderá dispor, inclusive, sobre as seguintes matérias:

I - requisitos a serem atendidos previamente à constituição ou transformação das

cooperativas de crédito, com vistas ao respectivo processo de autorização a cargo do

Banco Central do Brasil;

II - condições a serem observadas na formação do quadro de associados e na celebração

de contratos com outras instituições;

III - tipos de atividades a serem desenvolvidas e de instrumentos financeiros passíveis de

utilização;

IV - fundos garantidores, inclusive a vinculação de cooperativas de crédito a tais fundos;

V - atividades realizadas por entidades de qualquer natureza, que tenham por objeto

exercer, com relação a um grupo de cooperativas de crédito, supervisão, controle,

auditoria, gestão ou execução em maior escala de suas funções operacionais;

VI - vinculação a entidades que exerçam, na forma da regulamentação, atividades de

supervisão, controle e auditoria de cooperativas de crédito;

VII - condições de participação societária em outras entidades, inclusive de natureza não

cooperativa, com vistas ao atendimento de propósitos complementares, no interesse do

quadro social;

VIII - requisitos adicionais ao exercício da faculdade de que trata o art. 9o desta Lei

Complementar.

§ 1o O exercício das atividades a que se refere o inciso V do caput deste artigo,

regulamentadas pelo Conselho Monetário Nacional - CMN, está sujeito à fiscalização do

Banco Central do Brasil, sendo aplicáveis às respectivas entidades e a seus

administradores as mesmas sanções previstas na legislação em relação às instituições

financeiras.

§ 2o O Banco Central do Brasil, no exercício de sua competência de fiscalização das

cooperativas de crédito, assim como a entidade que realizar, nos termos da

regulamentação do CMN, atividades de supervisão local podem convocar Assembleia geral

extraordinária de instituição supervisionada, à qual poderão enviar representantes com

direito a voz.

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Art. 13. Não constitui violação do dever de sigilo de que trata a legislação em vigor o acesso a

informações pertencentes a cooperativas de crédito por parte de cooperativas centrais de

crédito, confederações de centrais e demais entidades constituídas por esse segmento

financeiro, desde que se dê exclusivamente no desempenho de atribuições de supervisão,

auditoria, controle e de execução de funções operacionais das cooperativas de crédito.

Parágrafo único. As entidades mencionadas no caput deste artigo devem observar sigilo

em relação às informações que obtiverem no exercício de suas atribuições, bem como

comunicar às autoridades competentes indícios de prática de ilícitos penais ou

administrativos ou de operações envolvendo recursos provenientes de qualquer prática

criminosa.

Art. 14. As cooperativas singulares de crédito poderão constituir cooperativas centrais de crédito

com o objetivo de organizar, em comum acordo e em maior escala, os serviços econômicos

e assistenciais de interesse das filiadas, integrando e orientando suas atividades, bem

como facilitando a utilização recíproca dos serviços.

Parágrafo único. As atividades de que trata o caput deste artigo, respeitada a competência

do Conselho Monetário Nacional e preservadas as responsabilidades envolvidas, poderão

ser delegadas às confederações constituídas pelas cooperativas centrais de crédito.

Art. 15. As confederações constituídas de cooperativas centrais de crédito têm por objetivo orientar,

coordenar e executar atividades destas, nos casos em que o vulto dos empreendimentos e

a natureza das atividades transcenderem o âmbito de capacidade ou a conveniência de

atuação das associadas.

Art. 16. As cooperativas de crédito podem ser assistidas, em caráter temporário, mediante

administração em regime de cogestão, pela respectiva cooperativa central ou confederação

de centrais para sanar irregularidades ou em caso de risco para a solidez da própria

sociedade, devendo ser observadas as seguintes condições:

I - existência de cláusula específica no estatuto da cooperativa assistida, contendo previsão

da possibilidade de implantação desse regime e da celebração do convênio de que trata o

inciso II do caput deste artigo;

II - celebração de convênio entre a cooperativa a ser assistida e a eventual cogestora, a ser

referendado pela Assembleia geral, estabelecendo, pelo menos, a caracterização das

situações consideradas de risco que justifiquem a implantação do regime de cogestão, o

rito dessa implantação por iniciativa da entidade cogestora e o regimento a ser observado

durante a cogestão; e

III - realização, no prazo de até 1 (um) ano da implantação da cogestão, de Assembleia

geral extraordinária para deliberar sobre a manutenção desse regime e da adoção de

outras medidas julgadas necessárias.

Art. 17. A Assembleia geral ordinária das cooperativas de crédito realizar-se-á anualmente, nos 4

(quatro) primeiros meses do exercício social.

Art. 18. Ficam revogados os arts. 40 e 41 da Lei no 4.595, de 31 de dezembro de 1964, e o § 3º do

art. 10, o § 10 do art. 18, o parágrafo único do art. 86 e o art. 84 da Lei no 5.764, de 16 de

dezembro de 1971.

Art. 19. Esta Lei Complementar entra em vigor na data de sua publicação.

Fonte: D.O.U. de 17/04/2009.

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FGV Projetos CE Nº 1974/15

Quadro 2.4.2.4

Resolução Nº 4.434, de 5 de agosto de 2015

Art. 2º Os pedidos envolvendo a constituição, a autorização para funcionamento, a

alteração estatutária, a mudança de categoria na qual a cooperativa se enquadra e

as demais autorizações e aprovações previstas na regulamentação aplicável às

cooperativas de crédito devem ser submetidos à aprovação do Banco Central do

Brasil (BCB), nos termos da legislação em vigor.

Art. 3º O funcionamento de cooperativa de crédito pressupõe a constituição na forma da

legislação e da regulamentação em vigor e a autorização para funcionamento.

Art. 4º Os interessados na constituição de cooperativa de crédito devem indicar responsável

tecnicamente capacitado para acompanhamento do processo junto ao BCB.

Art. 5º A autorização para constituição de cooperativa de crédito singular que não pretender

se filiar a cooperativa central está condicionada, previamente ao atendimento do que

dispõe o art. 6º, à apresentação ao BCB de sumário executivo do plano de negócios,

de que trata o inciso IV do art. 6º, cujo conteúdo mínimo será definido pelo BCB.

Art. 14º Os pedidos de mudança da categoria em que a cooperativa de crédito se enquadra e

de alteração estatutária envolvendo modificação nas condições de admissão de

associados e da área de atuação, fusão, incorporação ou desmembramento podem

ser submetidos, a critério do BCB, às condições estabelecidas no art. 6º.

Art. 15º A cooperativa de crédito singular, de acordo com as operações praticadas, se

classifica nas seguintes categorias: I - cooperativa de crédito plena: a autorizada a

realizar as operações previstas no art. 17; II - cooperativa de crédito clássica: a

autorizada a realizar as operações previstas no art. 17, observadas as restrições

contidas no art. 18; e III - cooperativa de crédito de capital e empréstimo: a

autorizada a realizar as operações previstas no art. 17, exceto as previstas em seu

inciso I, observadas as restrições contidas no art. 18.

Art. 16º As condições de admissão de associados e área de atuação, conforme definido pela

assembleia geral, devem constar no estatuto social da cooperativa de crédito.

Art. 17º A cooperativa de crédito pode realizar as seguintes operações e atividades, além de

outras estabelecidas na regulamentação específica.

Art. 18º Às cooperativas de crédito enquadradas nas categorias previstas nos incisos II e III

do art. 15 é vedada a prática de: I - operações nas quais assumam exposição

vendida ou comprada em ouro, em moeda estrangeira, em operações sujeitas à

variação cambial, à variação no preço de mercadorias (commodities), à variação no

preço de ações, ou em instrumentos financeiros derivativos, ressalvado o

investimento em ações registrado no ativo permanente; II - aplicação em títulos de

securitização de créditos, salvo os emitidos pelo Tesouro Nacional; III - operações

de empréstimo de ativos; IV - operações compromissadas, exceto: a) operações de

venda com compromisso de recompra com ativos próprios; ou b) operações de

compra com compromisso de revenda com títulos públicos federais prefixados,

indexados à taxa de juros ou a índice de preços; e V - aplicação em cotas de fundos

de investimento, exceto em fundos que atendam aos seguintes requisitos: a)

observem as restrições estabelecidas nos incisos I a IV; b) não mantenham

exposições oriundas de operações de crédito; e c) sejam classificados, nos termos

da regulamentação da CVM, como Fundo de Curto Prazo, Fundo de Renda Fixa,

Fundo Referenciado cujo indicador de desempenho seja a taxa de Depósitos

Interfinanceiros (DI) ou Fundo de Investimento em Cotas de Fundo de Investimento

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FGV Projetos CE Nº 1974/15

classificado como uma das três modalidades mencionadas nesta alínea.

Art. 19º

A cooperativa de crédito deve observar os seguintes limites mínimos, em relação ao

capital integralizado e ao Patrimônio Líquido (PL): Art. 19. A cooperativa de crédito

deve observar os seguintes limites mínimos, em relação ao capital integralizado e ao

Patrimônio Líquido (PL): I - cooperativa central de crédito e confederação de

centrais: integralização inicial de capital de R$200.000,00 (duzentos mil reais) e PL

de R$1.000.000,00 (um milhão de reais); II - cooperativa de crédito de capital e

empréstimo, classificada nos termos do inciso III do art. 15: integralização inicial de

capital de R$10.000,00 (dez mil reais) e PL de R$100.000,00 (cem mil reais); III -

cooperativa de crédito clássica, classificada nos termos do inciso II do art. 15, filiada

a cooperativa central: integralização inicial de capital de R$10.000,00 (dez mil reais)

e PL de R$300.000,00 (trezentos mil reais); IV - cooperativa de crédito clássica,

classificada nos termos do inciso II do art. 15, não filiada a cooperativa central:

integralização inicial de capital de R$20.000,00 (vinte mil reais) e PL de

R$500.000,00 (quinhentos mil reais); V - cooperativa de crédito plena, classificada

nos termos do inciso I do art. 15, filiada a cooperativa central: integralização inicial

de capital de R$2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos mil reais) e PL de

R$25.000.000,00 (vinte e cinco milhões de reais); e VI - cooperativa de crédito

plena, classificada nos termos do inciso I do art. 15, não filiada a cooperativa central:

integralização inicial de capital de R$5.000.000,00 (cinco milhões de reais) e PL de

R$50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais).

Art. 20º Para efeito de verificação do atendimento dos limites mínimos de capital

integralizado e de PL das cooperativas de crédito, devem ser deduzidos os valores

correspondentes ao patrimônio líquido mínimo fixado para as instituições financeiras

de que participe, ajustados proporcionalmente ao nível de cada participação.

Art. 22º São vedados à cooperativa de crédito: I - a integralização de quotas-partes mediante

a concessão de crédito ou retenção de parte do seu valor, bem como a concessão

de garantia ou assunção de coobrigação em operação de crédito com essas

finalidades, exceto quando realizada mediante a concessão de crédito com recursos

oriundos de programas oficiais para capitalização de cooperativas de crédito; II - o

rateio de perdas de exercícios anteriores mediante concessão de crédito ou

retenção de parte do seu valor, bem como concessão de garantia ou assunção de

coobrigação em operação de crédito com essas finalidades; e III - a adoção de

capital rotativo, assim caracterizado o registro, em contas de patrimônio líquido, de

recursos captados em condições semelhantes às de depósitos à vista ou a prazo.

Parágrafo único. O estatuto social pode estabelecer regras relativas a resgates

eventuais de quotas de capital, quando de iniciativa do associado, desde que

preservado, além do número mínimo de quotas, o cumprimento dos limites

estabelecidos pela regulamentação em vigor e a integridade e inexigibilidade do

capital e PL, cujos recursos devem permanecer por prazo suficiente para refletir a

estabilidade inerente à sua natureza de capital fixo da instituição.

Art. 23º A cooperativa de crédito deve observar os limites de exposição por cliente.

Art. 24º A cooperativa central de crédito que, juntamente com a adoção de sistema de

garantias recíprocas entre as cooperativas singulares filiadas, realize a centralização

financeira das disponibilidades líquidas dessas filiadas pode valer-se do limite de

exposição por cliente de 10% (dez por cento) da soma do PR total das filiadas,

limitado ao PR da central, nas seguintes operações.

Art. 26º As cooperativas de crédito devem observar política de governança corporativa

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FGV Projetos CE Nº 1974/15

aprovada pela assembleia geral, que aborde os aspectos de representatividade e

participação, direção estratégica, gestão executiva e fiscalização e controle, e que

contemple a aplicação dos princípios de segregação de funções na administração,

remuneração dos membros dos órgãos estatutários, transparência, equidade, ética,

educação cooperativista, responsabilidade corporativa e prestação de contas.

Art. 27º A cooperativa de crédito clássica que detiver média dos ativos totais, nos três últimos

exercícios sociais, igual ou superior a R$50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais)

e a cooperativa de crédito plena devem adotar estrutura administrativa integrada por

conselho de administração e por diretoria executiva a ele subordinada.

Art. 28º Compete ao conselho de administração, como órgão de deliberação colegiada, no

caso de cooperativas de crédito que adotem estrutura administrativa segregada nos

termos do art. 27, entre outras funções estratégicas.

Art. 29º O estatuto da cooperativa de crédito que adotar estrutura administrativa segregada

nos termos do art. 27 deve estabelecer: I - o número de diretores, ou o máximo e o

mínimo permitidos; II - o modo de designação e destituição; III - o prazo de mandato,

que não será superior a quatro anos, permitida a reeleição; IV - as atribuições e

poderes de cada diretor; e V - a forma de tomada de decisões.

Art. 30º O estatuto deve estabelecer as atribuições e os poderes de cada diretor ou membro

do conselho de administração com função executiva, podendo estabelecer que

determinadas decisões sejam tomadas em reunião colegiada.

Art. 31º Compete ao conselho fiscal, entre outras atribuições estabelecidas no es tatuto

social.

Art. 32º A cooperativa central de crédito deve prever, em seu estatuto e normas operacionais,

dispositivos que possibilitem prevenir e corrigir situações que possam configurar

infrações a normas legais ou regulamentares ou acarretar risco para a solidez das

cooperativas filiadas e do sistema cooperativo.

Art. 33º A confederação constituída por cooperativas centrais de crédito pode incumbir-se,

em relação a suas próprias filiadas, das atribuições e correspondentes obrigações de

que trata este capítulo, mediante disposições específicas nos estatutos das

entidades envolvidas.

Art. 34º O sistema cooperativo deve estabelecer, por ato da respectiva confederação, ou, na

sua ausência, da respectiva central de crédito, diretrizes de atuação sistêmica com

vistas à observância dos princípios da eficiência, da economicidade, da utilidade e

dos demais princípios cooperativistas.

Art. 35º Para o cumprimento das atribuições de que trata este capítulo, a cooperativa central

de crédito, ou a confederação, deve desempenhar as seguintes funções, com

relação às cooperativas filiadas, conforme as disposições estatutárias adotadas em

função dos arts. 32 e 33.

Art. 36º A cooperativa central ou a confederação, conforme o caso, deve comunicar ao BCB.

Art. 37º A cooperativa central deve designar administrador responsável perante o BCB pelas

atividades tratadas neste capítulo, bem como por parte de confederação, visando ao

exercício da faculdade estabelecida no art. 32 e das funções referidas no § 1º do art.

35.

Art. 43º As cooperativas de crédito, na contratação de serviços de auditoria de

demonstrações contábeis, devem certificar-se da observância da regulamentação em

vigor sobre auditoria independente, especialmente da Resolução nº 3.198, de 27 de

maio de 2004, no que não conflitar com esta Resolução.

Art. 44º Aplicam-se à realização de auditoria externa pela entidade de auditoria cooperativa

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referida no art. 43, § 1º, as seguintes disposições [...]

Art. 45º A auditoria de que trata este capítulo deve ter por objeto [...]

Art. 46º As demonstrações contábeis de encerramento de exercício, acompanhadas do

respectivo relatório de auditoria, devem ser divulgadas pela cooperativa com

antecedência mínima de dez dias da data de realização da respectiva assembleia

geral ordinária.

Art. 47º A dissolução da cooperativa de crédito implica o cancelamento da respectiva

autorização para funcionamento.

Art. 48º São requisitos indispensáveis para o cancelamento, a pedido, da autorização para

funcionamento da cooperativa de crédito.

Art. 49º O BCB poderá cancelar a autorização para funcionamento da cooperativa de crédito

quando constatada, a qualquer tempo, uma ou mais das seguintes situações [...]

Art. 52º O BCB, no exercício de suas atribuições de fiscalização, caso constate deficiências

na estrutura de controles internos e de gerenciamento de riscos ou insuficiência na

estrutura física e tecnológica utilizadas na operação, gerenciamento e colocação de

produtos de cooperativa de crédito singular, pode determinar a suspensão da

admissão de novos associados pela cooperativa de crédito singular, enquanto não

sanadas as deficiências.

Art. 54º Respeitadas a legislação e a regulamentação em vigor, a cooperativa de crédito

somente pode participar do capital de [...]

Art. 55º É vedado aos membros de órgãos estatutários e aos ocupantes de funções de

gerência de cooperativa de crédito participar da administração ou deter 5% (cinco por

cento) ou mais do capital de outras instituições financeiras e demais instituições

autorizadas a funcionar pelo BCB, bem como de empresas de fomento mercantil,

excetuadas as cooperativas de crédito.

Art. 57º As infrações aos dispositivos da legislação em vigor e desta Resolução, bem como a

prática de atos contrários aos princípios cooperativistas, sujeitam os diretores e os

membros de conselhos administrativos, fiscais e semelhantes de cooperativas de

crédito às penalidades previstas na Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964, sem

prejuízo de outras estabelecidas na legislação em vigor.

FONTE: BACEN: http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/Lists/Normativos/Attachments/4850 7/Res

_4434_v1_O.pdf/ Acesso em 17 set. 2015.

2.5 Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito - FGCOOP

O FGCoop é um dos mecanismos da rede proteção do sistema financeiro, cujos instrumentos são

utilizados preventivamente para evitar o risco sistêmico a partir da mitigação do risco de crises

localizadas. São instituições associadas ao FGCoop as cooperativas singulares de crédito e os

bancos cooperativos. As confederações e centrais são associadas, representantes constituídas

pelas cooperativas singulares, com o propósito exclusivo de representá-las, não tendo aquelas

direito a qualquer tipo de garantia, assistência ou suporte financeiro prestados pelo FGCoop.

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O FGCoop contará com número ilimitado de instituições associadas e terá por finalidade: (i)

proteger depositantes e investidores das instituições associadas; (ii) contribuir para a manutenção

da estabilidade do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC); (iii) contribuir para

prevenção de crise sistêmica no segmento cooperativista.

É vedado ao FGCoop ressarcir, mesmo que parcialmente, crédito de cooperados e clientes de

instituições que não sejam suas associadas, bem como créditos de associadas representantes.

O FGCoop tem por objeto prestar garantia de créditos nas instituições associadas em situações

de decretação da intervenção ou da liquidação extrajudicial de instituição associada.

São beneficiários da garantia ordinária prestada pelo FGCoop às instituições associadas os

investidores e depositantes de tais instituições. Os seguintes recursos estão cobertos por esta

garantia:

Depósitos à vista ou sacáveis mediante aviso prévio e depósitos de poupança;

Depósitos a prazo, com ou sem emissão de certificado;

Depósitos mantidos em contas não movimentáveis por cheques, destinadas ao registro

e controle do fluxo de recursos referentes à prestação de serviços de pagamento de

salários, vencimentos, aposentadorias, pensões e similares; e

Letras de câmbio; letras imobiliárias; letras hipotecárias; letras de crédito imobiliário;

letras de crédito do agronegócio; operações compromissadas que têm como objeto

títulos emitidos.

Não são cobertos pela garantia ordinária os demais créditos, incluindo:

Os depósitos, empréstimos ou quaisquer outros recursos captados ou levantados no

exterior; as operações relacionadas a programas de interesse governamental instituído

por lei; os depósitos judiciais; qualquer instrumento financeiro que contenha cláusula de

subordinação, autorizado ou não pelo Banco Central do Brasil a integrar o Patrimônio

de Referência das cooperativas singulares de crédito e bancos cooperativos integrantes

do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC).

Os depósitos e quaisquer outros créditos de titularidade de:

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Associadas representantes, exceto os depósitos à vista e a prazo mantidos nos

bancos cooperativos; e

Cooperados e clientes de instituições que não sejam associadas ao FGCoop.

Não são cobertos pela garantia ordinária os créditos por cotas de Fundos de Investimento

administrados por instituições associadas. A afiliação ao FGCoop pelas cooperativas singulares

de crédito e pelos bancos cooperativos constituídos a partir de 25 de novembro de 2013 deve ser

comprovada ao Banco Central do Brasil previamente ao início de suas operações. Não possuem

direito à garantia do FGCoop os créditos de titularidade dos membros dos órgãos de Conselho de

Administração e Conselho Fiscal da associada que:

Estiver no exercício da função à data da decretação do regime especial;

Tenha exercido nos últimos 24 (vinte e quatro) meses anteriores à decretação do

regime especial; ou

Esteja com os seus bens indisponíveis em razão da decretação da intervenção; ou

Esteja em liquidação extrajudicial, respeitado o disposto na Lei nº 6.024/1974, e

legislação posterior.

São direitos das associadas:

Usufruir dos serviços, garantias e ações desenvolvidas pelo FGCoop, desde que

preenchidos os requisitos e as condições fixadas em Estatuto e no Regulamento

próprio;

Tomar parte nas Assembleias gerais, discutindo e votando os assuntos que nelas se

tratarem, ressalvadas as vedações legais e estatutárias, e respeitado o disposto no art.

15 do estatuto do FGCoop; e

Propor ao Conselho de Administração ou à Assembleia Geral medidas de interesse do

FGCoop ou das próprias associadas.

São deveres das associadas:

Cumprir e fazer cumprir o Estatuto e o Regimento Interno;

Votar, respeitar e cumprir as decisões da Assembleia Geral;

Respeitar e cumprir as decisões dos órgãos de administração do FGCoop;

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Honrar pontualmente com as contribuições, conforme critérios estabelecidos; e

Disponibilizar ao FGCoop, até 30 de abril e 30 de setembro de cada ano, e sempre que

solicitado, cópia das demonstrações financeiras semestrais e dos relatórios de auditoria,

e outras informações solicitadas pelo Fundo.

São órgãos do FGCoop: a Assembleia Geral; o Conselho de Administração, a Diretoria Executiva;

e o Conselho Fiscal. Os integrantes dos órgãos do FGCoop não respondem, subsidiária ou

solidariamente, pelas obrigações sociais do FGCoop, nos termos do inciso V do Art. 46 do Código

Civil Brasileiro. A Assembleia Geral é o órgão deliberativo máximo do FGCoop e as associadas

serão nela representadas da seguinte forma:

As cooperativas singulares de crédito integrantes de sistemas cooperativos organizados

em 2 (dois) ou 3 (três) níveis, conforme o caso, serão representadas na Assembleia

Geral do FGCoop por sua Central ou Confederação, respectivamente;

Os bancos cooperativos serão representados na Assembleia Geral pela respectiva

Confederação do sistema cooperativo ao qual está vinculado; e

As cooperativas singulares não filiadas a centrais serão representadas pela

Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).

O exercício do direito de voto na Assembleia Geral do FGCoop constitui prerrogativa de todas as

instituições associadas adimplentes, observadas as seguintes regras:

Os representantes legais ou procuradores com poderes específicos das associadas

representantes terão direito de voto correspondente ao somatório das unidades de voto

das respectivas associadas representadas; e

Cada real desembolsado na última contribuição ordinária antes da respectiva

Assembleia Geral, desprezados os centavos, conferirá à instituição associada uma

unidade de voto.

Até 30 de abril de cada ano, as instituições associadas devem reunir-se em Assembleia Geral

Ordinária para apreciar as contas dos administradores do FGCoop, examinar, discutir e votar

suas demonstrações financeiras, à vista do relatório da auditoria independente e do parecer do

Conselho Fiscal, e até mesmo eleger os membros do Conselho de Administração e do Conselho

Fiscal, quando for o caso.

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3. SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL - SFN

3.1 Estrutura do Sistema Financeiro Nacional

Para compreender o funcionamento das cooperativas financeiras, assim como as regras de

mercado que as mesmas estão submetidas, é preciso ter conhecimento da composição de todo o

SFN, assim como da interação entre os diversos órgãos e suas respectivas atribuições

normativas.

Em uma definição clássica, o SFN é um conjunto de instituições que se dedicam, de alguma

forma, ao trabalho de propiciar condições satisfatórias para a manutenção de um fluxo de

recursos entre poupadores e investidores. O local onde se processam essas transações é

denominado “mercado financeiro”; ele permite que um indivíduo ou empresa (“agente econômico”)

detentor de poupança, seja colocado em contato com outro, que demanda essa poupança para

investimento. O SFN é composto por instituições que possuem papel de regulamentação,

fiscalização e intermediação financeira. A Figura 3.1.1 apresenta a estrutura simplificada dos

principais órgãos que compõe o SFN.

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Figura 3.1.1

Composição do Sistema Financeiro Nacional

Fonte: Sicoob Universidade.

O Conselho Monetário Nacional (CMN) é o órgão máximo do SFN e possui a competência de

regular o funcionamento do mercado de financeiro. O CMN é formado pelos Ministros da Fazenda

e do Planejamento e pelo Presidente do BACEN. As principais competências do CMN são:

Autorizar as emissões de papel moeda;

Fixar diretrizes e normas de política cambial;

Regular a oferta de crédito na economia por meio da política monetária;

Determinar as taxas de juros da economia;

Regulamentar as operações de redesconto; e

Regular a constituição, o funcionamento e a fiscalização de todas as instituições

financeiras do país.

O CMN possui dois importantes órgãos que são responsáveis pela execução de suas

determinações, os quais são BACEN e a CVM. O BACEN tem por competência:

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Formular as políticas monetárias e cambiais de acordo com as diretrizes do Governo

Federal;

Regular e administrar o SFN;

Conduzir a política monetária;

Administrar o Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) e o meio circulante;

Emitir papel moeda;

Receber o recolhimento compulsório dos bancos;

Autorizar e fiscalizar o funcionamento das instituições financeiras, punindo-as, se for o

caso;

Controlar o fluxo de capitais estrangeiros; e

Exercer o controle de crédito.

Estão submetidas à fiscalização e supervisão do BACEN as instituições financeiras captadoras de

depósitos a vista, como os bancos múltiplos, de investimento, os bancos comerciais e as

cooperativas de crédito. Os bancos múltiplos são instituições financeiras privadas ou públicas que

realizam as operações ativas (operações de crédito), passivas (operações de captação de

recursos) e acessórias (leasing, seguros, etc.). Os bancos múltiplos atuam nas carteiras

comerciais, de investimento, de desenvolvimento (exclusiva para bancos públicos), crédito

imobiliário, financiamento e investimento e de arrendamento mercantil (leasing) (VIEIRA, 2006).

Por sua vez, os bancos de investimento são bancos essencialmente, direcionados para a

concessão de crédito de médio e longo prazo podendo, simultaneamente, prestar apoio nas áreas

da gestão e administração de ativos financeiros. São instituições financeiras privadas

especializadas em:

Operações de participação societária de caráter temporário;

Financiamento da atividade produtiva para suprimento de capital fixo e capital de giro;

Administração de recursos de terceiros;

Subscrição pública de valores mobiliários;

Operações de maior escala (repasses de recursos oficiais e do exterior); e

Fusões e aquisições.

Devem ser constituídos sob a forma de sociedade anônima e adotar, obrigatoriamente, em sua

denominação social, a expressão "Banco de Investimento". Estes bancos não possuem contas

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correntes e captam recursos via depósitos a prazo, repasses de recursos internos e externos e

administram e vendem cotas de fundos de investimento.

Os bancos comerciais são instituições financeiras privadas ou públicas que têm como objetivo

principal proporcionar suprimento de recursos necessários para financiar, a curto e médio prazo, o

comércio, a indústria, as empresas prestadoras de serviços, as pessoas físicas e terceiros em

geral. A captação de depósitos à vista, livremente movimentáveis, é atividade típica do banco

comercial, o qual pode também captar depósitos a prazo. Os bancos comerciais devem ser

constituídos sob a forma de sociedade anônima e na sua denominação social deve constar a

expressão "Banco" (Resolução CMN 2.099, de 1994).

No caso do Sicoob, em 1996 surge o Banco Cooperativo do Brasil S.A, de propriedade das

cooperativas, cujo objetivo é oferecer suporte tecnológico e comercial às transações realizadas

pelas cooperativas singulares. Compreende-se como suporte comercial os aspectos de

normatização, operacionalização e representação dos negócios das cooperativas diante do

sistema financeiro.

O Quadro apresenta o portfólio simplificado dos produtos e serviços financeiros oferecidos pelos

bancos comerciais e, neste caso, também pelas cooperativas financeiras. Ainda cabe ressaltar

que as cooperativas não são por natureza bancos comerciais, porém exercem atividades similares

e, com o suporte do Bancoob, podem se inserir no mercado financeiro.

Quadro 3.1.1

Atividades Oferecidas pelos Bancos Comerciais

Atividade Produto Modalidade

Captação de depósitos

à vista.

Depósitos a vista. Conta corrente.

Captação de depósitos

a prazo.

Depósitos a prazo. CDB, RDB, Recursos de instituições

Financeiras.

Aplicação de recursos. Empréstimos e

transações

Comerciais.

Desconto de títulos, abertura de crédito simples em

conta corrente, limites de crédito, operações de

crédito rural, câmbio e comercio internacional.

Produtos e serviços. Prestação de

serviços

financeiros.

Cartões, seguros, previdência, consignado,

cobrança bancária, arrecadação de tarifas e tributos

federais.

Fonte: Sicoob Universidade.

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As cooperativas de crédito realizam o mesmo papel dos bancos comerciais, oferecendo a maior

parte dos produtos e serviços, cumprindo função de instituição financeira cooperativa, com a

finalidade de intermediar as transações de seus associados. Dessa forma, as cooperativas

financeiras, assim como os demais bancos, estão sujeitas às regras de gestão e supervisão

estipuladas pelo BACEN.

Assim, é importante que os associados das cooperativas financeiras tenham compreensão da

segurança quanto ao seu funcionamento como instituições financeiras e quanto à submissão às

regras de operação e aos mecanismos de controle estipulados pelas autoridades monetárias

3.2 Outros Intermediários Financeiros ou Auxiliares Financeiros:

Conceitos e Atribuições

3.2.1 Bolsas de Valores

As Bolsas de Valores objetivam garantir a existência de um local adequado para o encontro de

seus membros e a transação por parte deles de compra e venda de títulos e valores mobiliários

pertencentes a pessoas jurídicas (públicas e privadas), em mercado livre e aberto, organizado e

fiscalizado por esses membros e pela CVM. A BM&FBOVESPA é a principal instituição brasileira

de intermediação para operações do mercado de capitais e a única bolsa de valores, mercadorias

e futuros em operação no Brasil.

3.2.2 Sociedades Corretoras de Títulos e Valores Mobiliários - CTVM

As Corretoras são instituições financeiras que realizam operações de compra e venda de ações e

outros ativos na Bolsa. Elas são responsáveis por intermediar a negociação do investidor na

Bolsa. As Corretoras que operam na Bolsa são autorizadas a funcionar pelo BACEN e pela CVM.

As principais funções são:

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Divulgar para o investidor informações sobre preço e volumes das ações e outros títulos

disponíveis;

Orientar nas decisões de compra e venda; e

Distribuir produtos e serviços da BM&FBOVESPA e intermediar negociações.

3.2.3 Sociedades Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários -

DTVM

As Sociedades Distribuidoras atuam na intermediação de Títulos e Valores Mobiliários, nos

mercados Financeiros e de Capitais. Elas se assemelham às Sociedades Corretoras e possuem

atuação regional (cidades), sendo delimitadas, expressamente, na autorização para

funcionamento expedida pelo BACEN. Como instituições auxiliares do SFN, têm como objetivo

intermediar operações com Títulos e Valores Mobiliários. Por exemplo: Título de Renda Fixa,

Ações, Debêntures, e, ainda, atuar no mercado de Commodities na Bolsa de Mercadorias.

No caso do Sicoob, tem-se o Bancoob DTVM cuja finalidade é gerenciar os ativos financeiros por

meio dos fundos de investimento.

3.2.4 Sistema Especial de Liquidação e Custódia - SELIC

O SELIC é um sistema eletrônico que processa o registro, a custódia e a liquidação financeira das

operações realizadas com títulos públicos federais, garantindo segurança, agilidade e

transparência nos negócios. Esse sistema realiza as transações primárias e secundárias com os

títulos públicos, a saber

Letras Financeiras do Tesouro (LFTs);

Letras do Tesouro Nacional (LTNs); e

Notas do Tesouro Nacional (NTNs).

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3.2.5 Superintendência de Seguros Privados - SUSEP

A SUSEP é o órgão responsável pela fiscalização dos mercados de seguro, previdência aberta,

capitalização e resseguro. A atuação da SUSEP está no monitoramento das companhias de

seguros e objetiva proteger a captação de poupança popular, que é feita por meio de operações

de seguros, previdência e capitalização.

Cabe também à SUSEP o aperfeiçoamento das regras comerciais das instituições, primando pela

qualidade dos processos, e a segurança para os clientes, garantindo a liquidez das companhias e

ofertando segurança e confiança ao mercado segurador.

3.2.6 Estrutura do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil

As cooperativas de crédito fazem parte do Sistema Financeiro Nacional (SFN) que é formado

por um conjunto de instituições, reguladoras e operacionais, e tem por objetivo garantir o fluxo de

recursos entre emprestadores e tomadores de recursos.

Em relação ao Sicoob, tratado em detalhe no tópico a seguir, refere-se a um sistema que

congrega as cooperativas singulares, centrais, confederação, banco e empresas coligadas, as

quais ocupam diferentes papeis dentro do SFN. Esse tema está detalhado no capítulo referente a

Conceitos de Economia.

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4. O SICOOB

O Sicoob é o maior sistema financeiro cooperativo do País com mais de 3,0 milhões de

associados 2,3 mil pontos de atendimento, distribuídos em 25 estados e no Distrito Federal. É

composto por cooperativas financeiras e empresas de apoio, que, em conjunto, oferecem aos

associados serviços de conta corrente, crédito, investimento, cartões, previdência, consórcio,

seguros, cobrança bancária, adquirência de meios eletrônicos de pagamento, dentre outros. Ou

seja, tem todos os produtos e serviços bancários, mas não é banco. É uma cooperativa de crédito,

onde os clientes são os donos e, por isso, os resultados financeiros são divididos entre os

cooperados.

Figura 4.1

Modelo Organizacional Sicoob

Fonte: Relatório Anual 2014 Sicoob.

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Figura 4.2

Sicoob no território nacional

Fonte: Sicoob Confederação.

COOPERATIVAS CENTRAIS

ESTADOS E DISTRITO FEDERAL

COOPERATIVAS SINGULARES

AGÊNCIAS NO PAÍS

MILHÕES DE COOPERADOS

EMPREGADOS E DIRIGENTES

MUNICÍPIOS BRASILEIROS

ATENDIDOS EXCLUSIVAMENTE PELO SICCOB

15

25

498

3,0

2.305

227

31.601

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Figura 4.3

Evolução dos principais números do Sicoob Confederação 2012-2014

Fonte: Relatório Anual 2014 Sicoob.

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Quadro 4.1

Grandes Números do Sicoob

Indicadores Março / 2015

Singulares 498

PA’s 1.807

Pontos de Atendimento (Sing. + PA) 2.305

Associados 2.978.889

Funcionários 24.223

Dirigentes Estatutários 7.378

Fonte: Sicoob Confederação.

Quadro 4.2

Grandes Números (em milhões)

Indicadores Março / 2014 Março / 2015 Variação %

Operações de Crédito 27.726.244 31.576.408 13,9%

Depósitos 28.266.974 33.732.819 19,3%

Depósitos à Vista 5.125.486 6.044.349 17,9%

Depósitos a Prazo 23.141.489 27.688.470 19,6%

Patrimônio Líquido 10.318.288 12.446.366 20,6%

Capital Social 6.968.201 8.362.126 20,0%

Sobras (Resultado) 407.681 536.378 31,6%

Ativos 44.544.865 52.826.284 18,6% Fonte: Relatório Anual 2014 Sicoob.

4.1 Cooperativas Singulares

As Cooperativas de Singulares do Sicoob são instituições financeiras resultantes da união de

pessoas integrantes de diferentes segmentos econômicos, que buscam a melhor maneira de

atendê-las nas suas necessidades financeiras. Os cooperados, portanto, tornam-se ao mesmo

tempo usuários dos produtos e serviços da cooperativa e também seus donos.

Ainda no âmbito das Singulares o BACEN, através da Resolução 4.434/15, realizou um

aprimoramento no arcabouço regulatório do segmento de cooperativas

financeiras, introduzindo uma nova classificação para essas entidades de acordo com as

operações realizadas e, consequentemente, eliminando da regulamentação as restrições

ao quadro associativo. Nesse sentido, as cooperativas financeiras singulares passaram a

ser classificadas nas seguintes categorias:

Plenas - que podem praticar todas as operações autorizadas às cooperativas

financeiras, previstas no art.17 da referida Resolução;

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Clássicas - não podem realizar operações que geram exposição vendida ou

comprada em ouro, moeda estrangeira, variação cambial, variação no preço de

mercadorias, ações ou em instrumentos financeiros derivativos, bem como a

aplicação em títulos de securitização, empréstimos de ativos, operações

compromissadas e em cotas de fundos de investimento; e

Capital e Empréstimo - não podem realizar a captação de depósitos e a realização

de operações que geram exposição vendida ou comprada em ouro, moeda

estrangeira, variação cambial, variação no preço de mercadorias, ações ou em

instrumentos financeiros derivativos, bem como a aplicação em títulos de

securitização, empréstimos de ativos, operações compromissadas e em cotas de

fundos de investimento.

O novo dispositivo legal manteve o vasto conjunto de documentos (Art. 6º), para a

criação de novas cooperativas, dentre os quais se incluem: planos de negócios com

projeções financeiras; plano mercadológico; plano operacional; plano de negócios

financeiros e ampliou de três para cinco os anos de abrangência esses estudos.

Também exigiu que pelo menos um dos fundadores possuam conhecimento sobre o

ramo de negócio e o seu segmento.

Outro aspecto relevante, diz respeito ao detalhamento das operações passíveis de

serem realizadas (Art.17) por cada categoria de cooperativa, assim como as referidas

restrições/vedações (Art.22). Da mesma forma foram instituídos novos limites de créditos

(Art.23), visando dar maior segurança ao sistema.

Considerando a segmentação proposta, foram definidos novos valores de capital inicial e

de patrimônio líquido (Art.19). A estrutura de governança exigida e o regime de apuração

do capital requerido também serão diferenciados de acordo com a classificação da

cooperativa financeira.

O Governança Corporativa foi explicitada no Capítulo VII, com destaque para as

atribuições do Conselho de Administração (Art.28), e do Conselho Fiscal (art.31), assim

como das obrigações estatutárias referentes à Diretoria (Art. 29). A Auditoria Externa,

Capítulo X, também mereceu item específico. As relações envolvendo Cooperativas

Centrais e Confederações, inclusive perante o BACEN, foi objeto do Capítulo VIII, onde

estão listadas as responsabilidade dessas entidades perante as cooperativas filiadas.

Por conta dos dispositivos acima mencionados, pode-se dizer que qualquer cooperativa

financeira do país, mesmo que hoje atue apenas com o público rural, ou com alguma

categoria profissional específica (médicos, policiais, advogados, professores,

funcionários públicos, …), poderá passar a atuar com todos os públicos, a exemplo das

atuais cooperativas de livre admissão de associados, desde que aprovado pelos

associados em assembleia geral que proponha a mudança estatutária. 7

7Fonte: Parte do texto acima foi retirada do site: http://cooperativismodecredito.coop.br/tag/resolucao-443415/ Acesso em 29 set. 2015.

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4.2 Cooperativas Centrais

Com o intuito de incrementar a qualidade dos serviços prestados aos associados, as cooperativas

singulares do Sicoob se organizaram e constituíram as Cooperativas Centrais do Sicoob, como

forma de ampliar ainda mais a capacidade de atendimento. As Centrais são instituições

independentes, promotoras da integração regional e estadual das cooperativas do Sistema.

O Sicoob possui 15 cooperativas centrais, as quais atuam proativamente na prevenção e

correção de situações que acarretem risco para a solidez das cooperativas filiadas e do Sistema.

Elas prestam diversos serviços, entre os quais: centralização dos recursos captados pelas suas

cooperativas, padronização e supervisão de sistemas operacionais e de controle de depósitos e

empréstimos, supervisão auxiliar, educação e capacitação, adoção de medidas corretivas,

assessoria jurídica, assessoria de comunicação, compras em comum, intercâmbios para

qualidade e treinamento profissional.

A prestação de tais serviços propicia a redução de custos e o fortalecimento do Sistema perante o

mercado, mediante a união de projetos e de forças. Serve de alicerce para empreendimentos

cooperativos, que buscam encontrar soluções dos problemas comuns e necessidades coletivas.

4.3 Sicoob Confederação

A Confederação Nacional das Cooperativas do Sicoob Ltda. - Sicoob Confederação é uma

cooperativa de terceiro grau, segundo a legislação cooperativista e, como instituição, possui

personalidade jurídica própria. Foi constituída pelas cooperativas centrais do Sicoob, com a

finalidade de defender seus interesses, promovendo a padronização, supervisão e integração

operacional, financeira, normativa e tecnológica. Define ainda, políticas e estratégias de

comunicação e marketing, principalmente em relação à marca Sicoob.

Por meio da Confederação, as cooperativas de crédito do Sicoob, de primeiro e segundo grau,

têm acesso a serviços de auditoria direta e indireta, ouvidoria e relacionamento com associados,

capacitação de pessoas, informações gerenciais e soluções tecnológicas - como o Sistema de

Informática do Sicoob (Sisbr), criado em 2001.

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O Sisbr integra de forma operacional em nível nacional as cooperativas do Sicoob, permitindo

que os associados possam utilizar a estrutura das agências das cooperativas para realizar

transações financeiras. Esta integração fortalece a marca do sistema, além de oferecer mais

conforto aos associados durante seu deslocamento.

A Confederação representa a materialização da proposta de consolidação, organização e

fortalecimento do Sicoob, com vistas à atuação sistêmica, formando, em conjunto com as

Cooperativas Centrais, Cooperativas Singulares e o Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), uma

rede de negócios de produtos e serviços financeiros.

A representação das cooperativas do Sicoob também é exercida em parceria com os demais

sistemas cooperativos por intermédio da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), na

busca do aperfeiçoamento da regulamentação que disciplina o segmento. Em sintonia, os órgãos

cooperativos ampliam o campo de atuação, fazendo esforço adicional em benefício de todos.

4.4 Banco Cooperativo do Brasil S.A. - Bancoob

O Banco Cooperativo do Brasil S.A. (Bancoob) é um banco comercial privado, sociedade

anônima de capital fechado, cujo controle acionário pertence às cooperativas centrais de crédito

do Sicoob. Criado em 1996, é regido e regulamentado pela Lei no 4.595/1964 e pela Resolução

2.788/2000 do Conselho Monetário Nacional.

Juridicamente independente das demais entidades do Sicoob, o Bancoob foi constituído com a

finalidade de oferecer produtos e serviços financeiros às cooperativas, ampliando e criando novas

possibilidades de negócios e gestão centralizada dos recursos financeiros do Sistema.

O Bancoob atua como agente facilitador na redução dos custos das cooperativas, desenvolvendo

e disponibilizando produtos e serviços tipicamente bancários para elas. Desta forma, as

cooperativas de crédito assemelham-se às demais instituições do mercado bancário, contando

com uma linha de cartões de crédito, poupança, cobrança bancária, linhas de créditos de recursos

repassados por instituições governamentais, fundos de investimentos, entre outros, em condições

significativamente competitivas.

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4.5 Cabal Brasil

A Cabal Brasil, bandeira, administradora e processadora de cartões, foi constituída em 2000 e

tem sede em Brasília - DF. Ela é resultado da aliança entre duas importantes entidades de origem

cooperativista, o Bancoob, que detém 80% do capital da empresa. e a Cabal Cooperativa de

Provisión de Servícios Ltda, com sede em Buenos Aires - Argentina.

Com uma estratégia de atuação bem definida para o mercado brasileiro, oferece aos emissores

de cartões, instituições financeiras ou não, a possibilidade de uso de uma nova bandeira, bem

como toda a infraestrutura de processamento e apoio operacional, fundamental para o sucesso da

operação.

4.6 Fundação Sicoob de Previdência Privada - Sicoob Previ

A Fundação Sicoob de Previdência Privada - Sicoob Previ é uma entidade fechada de

previdência complementar, sem fins lucrativos. Constituída como Fundação, em conformidade

com a Lei Complementar nº 109, teve seu funcionamento autorizado em 5 de maio de 2006, pela

Portaria nº 394 do Ministério da Previdência Social. Em novembro do mesmo ano, foram iniciadas

as operações da instituição.

Com o objetivo de constituir e executar planos de benefícios de caráter previdenciário,

complementares aos assegurados pelo Regime Geral de Previdência Social, a Sicoob Previ

administra os planos Sicoob Multipatrocinado e Sicoob Multi Instituído.

O plano Sicoob Multipatrocinado é voltado, especificamente, aos empregados de empresas que

celebram convênio de adesão junto à Fundação. Por sua vez, o plano Sicoob Multi Instituído é

direcionado, exclusivamente, aos membros e associados de entidades denominadas

"instituidoras" - de caráter profissional, classista ou setorial - que, igualmente, celebrem convênio

de adesão com a Sicoob Previ.

Detentora de autonomia administrativa, financeira e patrimonial, a Sicoob Previ tem como

empresas patrocinadoras além da própria fundação, o Bancoob, o Sicoob Confederação, a

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Bancoob DTVM a Cabal Brasil e a Ponta Administradora de Consórcios. Como instituidoras estão

a Confederação Nacional, as Centrais e as Singulares do Sicoob.

4.7 Bancoob Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários Ltda -

Bancoob DTVM

A Bancoob Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários Ltda (Bancoob DTVM) é uma

empresa especializada na administração e gestão de recursos do Sicoob e de terceiros, tendo

como sócio majoritário o Bancoob. É credenciada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e

foi constituída com a finalidade de gerenciar ativos financeiros por meio de Fundos de

Investimento, inclusive Fundos exclusivos para as cooperativas do Sicoob. As cooperativas de

crédito poderão relacionar-se com a Bancoob DTVM como:

a) Cotistas: investindo nos Fundos administrados; e

b) Distribuidoras: disponibilizando Fundos de Investimentos aos cooperados.

4.8 Ponta Administradora de Consórcios

Há 40 anos no mercado, a Ponta Administradora de Consórcios é uma das mais tradicionais

empresas do segmento e conta com o diferencial de ter sido a primeira administradora de

consórcios a obter autorização de funcionamento pelo órgão regulador no País, servindo de

modelo para a estruturação de outras empresas do ramo.

Desde julho de 2011, a Ponta Administradora de Consórcios integra o conjunto de instituições que

formam o Sicoob, a partir de sua aquisição pelo Bancoob. A operação ampliou o ambiente de

atuação da instituição, que passou a administrar também o Sicoob Consórcios, produto feito para

que as cooperativas possam atender, de forma diferenciada e completa, as necessidades de seus

associados.

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4.9 Sicoob Seguradora

A Seguradora do Sistema Sicoob é constituída através de uma Joint Venture entre Mongeral

Aegon Seguros e Previdência, primeira seguradora do Brasil constituída em 1835 e o Bancoob.

Esta Seguradora atende, inicialmente, aos ramos de Vida e Previdência e os demais através de

contratos de distribuição com as melhores seguradoras do mercado brasileiro. O objetivo desse

empreendimento, a exemplo dos demais, é proporcionar aos associados ainda mais segurança e

tranquilidade através de produtos desenvolvidos sob medida.

4.10 Serviços de Adquirência de Meios Eletrônicos de Pagamentos

Serviço de captação dos meios de pagamentos através de máquinas preparadas para receber os

cartões das bandeiras Cabal, Mastercard e Visa. Os usuários da nova operação de adquirência

que forem associados/domiciliados das cooperativas financeiras do Sicoob utilizarão a marca

“SIPAG”, sendo que os não associados/domiciliados em cooperativas poderão utilizar o serviço,

porém com a marca “Bin”.

4.11 Produtos e Serviços

O Sicoob, através das várias entidades parceiras, pode oferecer um portfólio bastante variado de

produtos e serviços aos seus associados, segundo o seguinte perfil:

4.11.1 Linhas de Crédito e Aplicações

Para Pessoa Física:

Cheque especial;

Empréstimos;

Financiamentos;

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Crédito rural (custeio, comercialização e investimentos); e

Aplicações financeiras.

Para Pessoa Jurídica:

Cheque especial;

Empréstimos para Capital de Giro;

Descontos de Títulos;

Financiamentos; e

Aplicações financeiras.

4.11.2 Produtos e Serviços

Cartões;

Adquirência;

Seguros;

Cobrança; e

Prestação de Serviços (arrecadação e prestação de serviços de recebimento).

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5. GOVERNANÇA CORPORATIVA

5.1 Conceituação

O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) define Governança Corporativa como

sendo o sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo os

relacionamentos entre acionistas/cotistas, conselheiros de administração, diretoria, auditoria

independente e conselho fiscal. As boas práticas de governança corporativa têm como finalidade

aumentar o valor da sociedade, facilitar o seu acesso ao capital e contribuir para a sua

perenidade.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) entende que Governança Corporativa deve ser

entendida como o conjunto de procedimentos que tem por finalidade:

i. Otimizar o desempenho de uma companhia;

ii. Aumentar o valor da companhia;

iii. Reduzir o custo de capital;

iv. Aumentar a viabilidade de obtenção de recursos no mercado de capitais como

alternativa de capitalização; e

v. Proteger as partes interessadas contra desvios de ativos por indivíduos que têm poder

de influenciar ou tomar decisões em nome da companhia.

Ainda segundo a CVM, as boas práticas de governança corporativa relacionam-se, principalmente

a:

i. Transparência;

ii. Equidade de tratamento entre os acionistas/cotistas;

iii. Prestação de contas (accountability); e

iv. Responsabilidade corporativa.

Embora as práticas acima estejam voltadas para todas as entidades, o objetivo maior da sua

aplicabilidade, por serem companhias de capital aberto, é a redução dos custos de captação e a

maximização dos resultados.

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A priori, as cooperativas não necessitam dos instrumentos de governança por serem sociedades

de pessoas e não de capital e, principalmente, pelo fato de que:

a) sua gestão é plenamente democrática, pois cada associado possui um único voto nas

Assembleias, independente do seu poder econômico; e

b) o objetivo da entidade não é ter lucro e suas metas são de longo prazo, uma vez que o

objetivo maior é atender às necessidades dos associados, que são efetivamente, “os

donos do negócio”.

Ainda que seja difícil priorizar a natureza desses conflitos, o mais latente diz respeito a não

distinção entre órgãos de decisão estratégica e órgãos voltados para o processo de execução.

Nas empresas que seguem as melhores práticas de governança corporativa, este conflito vem

sendo minimizado pela segregação entre:

a) o órgão político-estratégico de representação, que é o Conselho de Administração; e

b) o órgão que executa as decisões, que é a Diretoria Executiva ou assemelhada.

Outro aspecto a ser ressaltado, diz respeito ao maior conhecimento possuído pelos executivos -

que tocam o dia a dia da entidade e, por isso, acumulam maior quantidade de conhecimentos,

especialmente técnicos - em relação ao acervo de conhecimentos dos Conselheiros. Por conta

dessa não simetria de conhecimentos, com o passar dos anos, os executivos podem debilitar o

papel de monitoramento que o Conselho de Administração deve desempenhar. Por conta dessa

possibilidade, a redução do desequilíbrio de conhecimentos, deve ser tratada no âmbito da

Governança.

Ainda no âmbito da necessidade da adoção das boas práticas de governança está a não

participação efetiva dos associados, por entender que a sua contribuição individual representa

pouco para o todo ou que ela não irá lhe proporcionar benefícios particulares. Por conta disso o

cooperado se omite e segue “descontente” com a maioria.

Finalizando essa exemplificação, temos o processo de gestão da própria entidade que, embora

não busque o lucro, tem a árdua missão de gerar uma remuneração adequada aos participantes

e, ao mesmo tempo, conceder-lhes empréstimos a taxas inferiores às praticadas pelo mercado e,

ainda, gerar saldos passíveis de serem distribuídos.

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No contexto acima, vale ressaltar que, como os cooperados são os proprietários da entidade e a

eles cabe o processo de gestão, é possível a existência de situações em que o cooperado, na

condição de conselheiro/diretor, seja o agente da decisão sobre a operação de crédito, em que o

próprio seja o beneficiário. Tal fato configura nítido conflito de interesse.

Como foi exposto, fica evidente a necessidade da aplicação das boas práticas de governança

também nas cooperativas e nos demais agentes que integram o Sistema, razão pela qual o

segmento mereceu dos estudiosos uma definição própria de governança cooperativa:

“É o conjunto de mecanismos e controles, internos e externos, que permite aos cooperados

definirem e assegurarem a execução dos objetivos da cooperativa, contribuindo para sua

continuidade e para fortalecimento dos princípios cooperativistas”.

Nesse sentido, as diretrizes da boa governança para as cooperativas devem contribuir para:

Assegurar a gestão eficiente e monitorar a atuação dos gestores;

Equilibrar os sistemas internos e externos de controles, visando minimizar custos e

melhorar o desempenho;

Promover o alinhamento de interesse dos gestores e dos técnicos com as prioridades

da cooperativa; e

Preservar a equidade no tratamento dos interesses dos diversos associados.

5.2 Normas Legais Relativas à Constituição da Governança nas

Cooperativas

Atualmente, a constituição e o funcionamento de cooperativas de crédito são disciplinados pela

Resolução nº 4.434/2015, editada em consonância com a Lei Complementar nº 130/2009. Além

das normas legais mencionadas, o estatuto social (aprovado pela Assembleia Geral), também

aborda a política de governança cooperativa no que tange aos aspectos de representatividade e

participação, direção estratégica, gestão executiva e fiscalização e controle, e que contemple a

aplicação dos princípios de segregação de funções na administração, transparência, equidade,

ética, educação cooperativista, responsabilidade corporativa e prestação de contas.

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No âmbito da segregação de funções, que são os pilares da boa governança, a referida

Resolução, nos Arts. 26 e 27, determina que as cooperativas de crédito devam observar política

de governança corporativa aprovada pela assembleia geral, que aborde os aspectos de

representatividade e participação, direção estratégica, gestão executiva e fiscalização e controle,

e que contemple a aplicação dos princípios de segregação de funções na administração,

remuneração dos membros dos órgãos estatutários, transparência, equidade, ética, educação

cooperativista, responsabilidade corporativa e prestação de contas.

A adoção de estrutura administrativa integrada por conselho de administração e por diretoria

executiva a ele subordinada, torna-se obrigatória para as cooperativas de crédito clássicas, que

detiverem média dos ativos totais, nos três últimos exercícios sociais, igual ou superior a

R$50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais) e para as cooperativas de crédito plenas.

Ainda no âmbito da boa governança, é explicitado que os membros da diretoria executiva devem

ser indicados pelo conselho de administração entre pessoas naturais associadas ou não

associadas, nos termos do Art. 5º da Lei Complementar nº 130, de 2009, sendo vedado o

exercício simultâneo de cargos no conselho de administração e na diretoria executiva.

Ainda visando à segurança do sistema, o BCB também pode determinar, para outros conjuntos

definidos de cooperativas de crédito, a adoção da estrutura administrativa acima referida.

Com referência à vedação de acumulo das presidências do Conselho de Administração e da

Diretoria Executiva, mencionada no parágrafo anterior, serão assim considerados,

respectivamente, o Presidente do Conselho e o diretor indicado no estatuto, como os principais

executivos, observadas as atribuições a eles conferidas, independentemente de ser utilizada ou

não a denominação “presidente” para o principal executivo. A vedação deve ser observada

inclusive nos casos de substituição em decorrência de ausências temporárias dos titulares.

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6. A FORMAÇÃO DA GOVERNANÇA NO ÂMBITO DO SICOOB

6.1 Fundamentos

O Sicoob considera como pilares da Governança Cooperativa:

i. Transparência

Mais do que a obrigação de informar é o desejo de disponibilizar para as partes

interessadas as informações que sejam de seu interesse e não apenas aquelas

impostas por disposições de leis ou regulamentos. A adequada transparência resulta em

um clima de confiança, tanto internamente quanto nas relações da instituição com

terceiros. Não deve restringir-se ao desempenho econômico-financeiro, contemplando

também os demais fatores (inclusive intangíveis) que norteiam a ação gerencial e que

conduzem à criação de valor.

ii. Equidade

Caracterizam-se pelo tratamento justo de todos os sócios e demais partes interessadas.

Atitudes ou políticas discriminatórias, sob qualquer pretexto, são totalmente inaceitáveis.

iii. Prestação de Contas (accountability)

Os agentes de governança devem prestar contas de sua atuação, assumindo

integralmente as consequências de seus atos e omissões.

iv. Responsabilidade na gestão da cooperativa

Os agentes de governança devem zelar pela sustentabilidade das organizações, visando

à sua longevidade, incorporando considerações de ordem social e ambiental na

definição dos negócios e operações.

6.2 Normas e Procedimentos da Governança - Âmbito do Sicoob

A política de Governança Corporativa do Sicoob que contém as diretrizes de atuação sistêmica é

aprovada no âmbito do Sicoob Confederação, do Bancoob e das cooperativas centrais e

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singulares através das respectivas Assembleias Gerais. Posteriormente, cabe à área de Normas

do Sicoob Confederação manter atualizada através de revisões, caso seja necessário, em

decorrência de fatos relevantes, de alterações estatutárias e por sugestões encaminhadas pelas

cooperativas centrais e singulares e pelo Bancoob. A política de Governança lança diretrizes

aplicadas à:

i. Representatividade e participação;

ii. Direção estratégica;

iii. Gestão executiva, fiscalização e controle;

iv. Princípios de segregação de funções na administração;

v. Transparência, equidade, ética e educação cooperativista;

vi. Responsabilidade corporativa e de prestação de contas das entidades integrantes do

Sicoob; e

vii. Necessidade de cumprimento das exigências legais e regulamentares.

Na descrição da política também são considerados os resultados dos testes das auditorias

internas e externas, a experiência dos órgãos componentes da estrutura de governança

corporativa das entidades integrantes do Sicoob e as normas aplicáveis. A estrutura de

governança cooperativa adotada visa assegurar os direitos e os interesses dos associados das

entidades integrantes do Sicoob e favorece o alinhamento de direitos, de clientes, de

empregados, de fornecedores, das esferas de Governo e da comunidade em geral.

Tanto o Sicoob Confederação quanto o Bancoob são administrados por Conselho de

Administração e por Diretoria Executiva a ele subordinada, sendo a composição, as competências

e as condições de elegibilidade fixadas nos respectivos estatutos sociais, e de forma

complementar, nos regimentos internos. Esse modelo também é adotado por algumas Centrais e

Singulares.

Os conselheiros de cooperativas de crédito podem participar no Conselho de Administração (ou

conselho equivalente) de instituições financeiras e demais entidades controladas, direta ou

indiretamente, pelas referidas cooperativas, não assumindo, como consequência, funções

executivas nessas controladas. É importante ressaltar que o Conselho de Administração, ou na

ausência desses, a Diretoria, desempenha atribuições estratégicas e eletivas, não abrangendo

funções operacionais ou executivas (segregação de funções).

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Com o objetivo de resguardar os interesses das entidades integrantes do Sicoob, que prevalecem

sobre quaisquer interesses pessoais, existem vedações, requisitos e impedimentos legais e

regulamentares (normativos internos e sistêmicos) para ocupação e atuação do Conselho de

Administração, ou, da Diretoria.

A administração das entidades coligadas do Sicoob utiliza comitês para a tomada de decisões

técnicas e de negócios, de forma a garantir agilidade, qualidade e segurança aos processos dos

quais seja responsável, conforme normativos internos e sistêmicos.

A gestão executiva das entidades integrantes do Sicoob é realizada por Diretoria Executiva, ou na

ausência desses, por outro órgão executivo da estrutura organizacional, cuja função é de cumprir

e fazer cumprir o Estatuto Social, as deliberações da Assembleia Geral e do Conselho de

Administração, ou na ausência desses, da Diretoria.

Para assegurar a fiscalização dos atos da gestão estratégica e executiva, as entidades integrantes

do Sicoob possuem Conselho Fiscal, Unidade de Auditoria Interna e contratam serviços de

auditoria externa. Os conselhos fiscais são compostos de membros com condições efetivas de

independência em relação aos integrantes do Conselho de Administração, ou na ausência desse,

da Diretoria, e da Diretoria Executiva das entidades do Sicoob.

A área de Auditoria Interna, se reporta, diretamente, ao Conselho de Administração ou, na

ausência desse, à Diretoria da entidade (conselho de diretores).

As entidades integrantes do Sicoob possuem mecanismos destinados ao acolhimento de

reclamações, de denúncias e de sugestões de clientes e de cidadãos (Ouvidoria), que auxiliam no

monitoramento da observância das normas relacionadas à ética e à conduta.

Além de requisitos, exigências e vedações aplicáveis à participação nos Conselhos de

Administração e Fiscal e na Diretoria Executiva, para diminuir possíveis conflitos de interesses, as

entidades integrantes do Sicoob pautam-se em definições estratégicas. Para proporcionar

transparência na condução dos negócios, as entidades integrantes do Sicoob se referenciam nos

seguintes requisitos:

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a) Fortalecimento da credibilidade e da imagem do Sicoob, ao garantir que quaisquer

informações sejam transitadas de forma objetiva, clara, confiável e tempestiva;

b) Proteção de informações de caráter restrito e protegidas por lei, por meio da adoção de

mecanismos mitigadores de riscos; e

c) Divulgação ampla e oportuna de informações financeiras e não financeiras, permitindo

que as partes interessadas acompanhem e entendam de forma inequívoca os

fundamentos econômicos e os resultados da entidade.

A administração das entidades integrantes do Sicoob prestam contas, continuamente e de forma

clara e transparente, aos associados, aos órgãos de fiscalização e demais partes interessadas

sobre os atos praticados no exercício de seus mandatos.

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7. OPERADORES DA GOVERNANÇA COOPERATIVA

Como já mencionado, a governança objetiva possibilitar o perfeito funcionamento da entidade.

Para tal, busca tornar mais eficiente os instrumentos de gestão (normas de atuação, metodologia

de execução, o funcionamento dos controles, avaliação/verificação dos procedimentos), de forma

absolutamente transparente, dando tratamento rigorosamente igual a todos os associados e

atendendo, em toda a sua extensão, às normas legais e estatutárias que regem a entidade. Para

tanto, os seguintes organismos participam ativamente do processo de governança:

Conselho de Administração;

Diretoria Executiva;

Conselho Fiscal;

Comitê de Auditoria (se existente);

Assembleia Geral.

7.1 Conselho de Administração

7.1.1 Conceituação

O Conselho de Administração é o órgão de maior poder e, também, o que possui maiores

responsabilidades, reportando-se apenas à Assembleia dos Associados. Efetivamente, cabe ao

Conselho, conforme dispuser o estatuto, e à Diretoria, ou somente à Diretoria, a administração da

entidade.

Por conta dessa atribuição, cabe ao Conselho propor à Assembleia linhas de ações relativas à

condução dos negócios. Uma vez aprovadas pela Assembleia, essas ações se transformam em

políticas, metas e objetivos da entidade.

O Conselho tem como principal função fazer com que as políticas sejam implementadas mediante

ações que serão executadas pela Diretoria. Essa delegação é o principal componente do sistema

de governança, pois se torna o elo entre os associados e a gestão visando orientar e

supervisionar a relação destes últimos com as demais partes interessadas. O Conselho recebe

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poderes dos associados e presta contas a eles mediante relatórios, demonstrativos contábeis,

pareceres e outros documentos necessários ao completo entendimento da situação da entidade.

No caso do Bancoob, além das condições básicas inerentes a esses cargos estabelecidas pela

legislação e regulamentação (Estatuto Social) em vigor, os conselheiros e diretores terão de

atender as de capacitação técnica compatível com as atribuições do cargo, comprovada pela

formação acadêmica, por experiência profissional ou por outros quesitos julgados relevantes.

(Para maiores conhecimentos, consultar o Estatuto Social do Bancoob).

7.1.2 Atribuições do Conselho de Administração

Nos termos do Art. 28 da Resolução no 4.434/15, compete ao conselho de administração, como

órgão de deliberação colegiada, no caso de cooperativas de crédito que adotem estrutura

administrativa segregada - nos termos do Art. 27 da mencionada Resolução - dentre outras

funções estratégicas:

i. Fixar a orientação geral dos negócios da cooperativa de crédito;

ii. Indicar e destituir os diretores e fixar-lhes as atribuições, observadas as disposições

contidas no estatuto;

iii. Fiscalizar a gestão dos diretores;

iv. Examinar, a qualquer tempo, os livros e papéis da cooperativa de crédito;

v. Solicitar informações sobre contratos celebrados ou em via de celebração, e quaisquer

outros atos;

vi. Convocar a assembleia geral;

vii. Manifestar-se sobre o relatório da administração e as contas da diretoria;

viii. Manifestar-se previamente sobre atos ou contratos, quando o estatuto assim o exigir;

ix. Autorizar, se o estatuto não dispuser em contrário, a alienação de bens do ativo não

circulante e a constituição de ônus reais; e

x. Escolher e destituir os auditores externos.

Numa tentativa de decomposição das macrocompetências, poder-se-ia atribuir os seguintes

papéis descritos a seguir.

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a) Orientação geral e estratégica no campo dos negócios e das atividades de

apoio/retaguarda da cooperativa;

b) Aprovação dos planos estratégicos da cooperativa, incluindo as metas quantitativas de

negócios e de expansão geográfica e associativa, bem como as metas qualitativas da

gestão;

c) Avaliação e aprovação das políticas e diretrizes relativas aos controles internos, à

segurança e à gestão de riscos e aos planos de contingência/continuidade de negócios

da cooperativa, propostos pela diretoria;

d) Fixação de normas de controle das operações e serviços, verificando periodicamente o

estado econômico/financeiro da sociedade e do desenvolvimento das operações e

atividades em geral;

e) Definição de programas relacionados à organização do quadro social, desenvolvimento

e gestão, a fim de garantir a continuidade do negócio e a formação de novas lideranças

cooperativistas;

f) Apreciação de regras sistêmicas definidas no âmbito das cooperativas centrais e

entidades corporativas do sistema associado, inclusive quanto à alocação centralizada

de componentes organizacionais de gestão e controle/supervisão;

g) Aprovação de instrumentos normativos internos (regimentos, regulamentos, manuais e

outros expedientes que veiculem normas gerais);

c) Definição e execução de plano com vistas à sucessão dos diretores da cooperativa;

h) Autorização para contratação de operações (ativas e passivas) e realização de outros

negócios cuja expressão financeira, em face do patrimônio líquido da cooperativa,

recomende a intervenção;

i) Proposta à Assembleia quanto ao pagamento de juros às cotas-partes de capital,

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j) Definição de mecanismo claro, incondicional e formal de acesso de todos os

administradores, em conjunto e individualmente, aos resultados dos trabalhos o

controles internos, auditoria e fiscalização;

k) Exame e apuração das denúncias de infrações praticadas no âmbito da cooperativa,

inclusive as que lhe forem encaminhadas pelos órgãos de controle, auditoria e

fiscalização, determinando, se for o caso, a aplicação das sanções pertinentes;

l) Deliberação acerca da eliminação e exclusão de associados, incluindo, nos termos do

estatuto a orientação quanto à devolução do capital social para as diferentes hipóteses

de desfiliação, mediante aprovação da Assembleia Geral;

m) Decisão prévia sobre participações de capital em outras empresas ou empresas e

entidades, fixando diretrizes, mediante aprovação da Assembleia Geral;

n) Autorização para abertura de dependências e alteração de endereço da sede e das

demais unidades da cooperativa, mediante aprovação da Assembleia Geral;

o) Prestação de contas anual à Assembleia Geral;

p) Definição de regras para os casos omissos, nos casos de matérias sujeitas à sua

deliberação;

q) Avaliação de aspectos intangíveis como marca, reputação, relacionamentos e

credibilidade da cooperativa; e

r) Além das atribuições acima, é importante mencionar a possibilidade da existência de

outras, razão pela qual é fundamental a atenta leitura do Estatuto Social e, no caso das

instituições financeiras, como já mencionadas, também se faz necessária a leitura das

normas específicas do BACEN, em especial ao contido no Capítulo VIII da Resolução no

4.434/15, que trata das atribuições especiais das Cooperativas Centrais de Crédito e das

Confederações de Centrais.

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7.2 Diretoria Executiva

7.2.1 Conceituação

Tratam-se dos gestores responsáveis pela execução do negócio, ou seja, pela implementação das

estratégias e dos objetivos da cooperativa fixados pelo Conselho.

Como abordado anteriormente, deve-se haver uma clara segregação entre funções de estratégica

e de execução, sendo esperado dos administradores executivos, as qualificações, posturas e

responsabilidade descritas adiante.

Oportuno mencionar que o estatuto da cooperativa de crédito que adotar estrutura administrativa

segregada nos termos do Art. 27 da Resolução no 4.434/15, deve estabelecer:

i. O número de diretores, ou o máximo e o mínimo permitidos;

ii. O modo de designação e destituição;

iii. O prazo de mandato, que não será superior a quatro anos, permitida a reeleição;

iv. As atribuições e poderes de cada diretor; e

v. A forma de tomada de decisões.

A referida norma também exige que o estatuto estabeleça as atribuições e os poderes de cada

diretor ou membro do conselho de administração com função executiva, podendo estabelecer que

determinadas decisões sejam tomadas em reunião colegiada.

7.2.2 Atribuições dos Diretores

Os ocupantes de funções executivas (diretores) devem assegurar o cumprimento dos planos de

trabalho, das metas e das demais diretrizes fixadas pelo conselho de administração:

a) Competência técnica gerencial especializada compatível com a complexidade do

empreendimento;

b) Comprometimento e tempo para desincumbir-se de suas tarefas que:

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a) Assegurem aos executivos contratados o adequado preparo para o cumprimento de

suas tarefas;

b) Assegurem a instalação e o regular funcionamento de comitês técnicos;

c) Estejam disponíveis e mostrem solícitos para atender aos chamados dos

conselheiros de administração e fiscais; e

d) Respondam tempestivamente e precisamente aos apontamentos feitos pelos

agentes/órgãos internos e externos de controle e supervisão, promovendo as

regularizações e os ajustes pertinentes.

c) Racionalidade e transparência em suas ações; e

d) Postura ética (conduta exemplar/observância de atributos de caráter).

7.3 Conselho Fiscal

7.3.1 Conceituação

A administração da cooperativa será fiscalizada, assídua e minuciosamente, por um Conselho

Fiscal, constituído de três membros efetivos e três suplentes, todos associados, eleitos pela

Assembleia Geral.

7.3.2 Atribuições do Conselheiro Fiscal

Tarefas ligadas ao Conselho Fiscal:

A já mencionada Resolução no 4.434/15, em seu Art. 31 informa que compete ao Conselho Fiscal,

entre outras atribuições estabelecidas no estatuto social:

I - fiscalizar, por qualquer de seus membros, os atos dos administradores e verificar o

cumprimento dos seus deveres legais e estatutários;

II - opinar sobre as propostas dos órgãos de administração, a serem submetidas à assembleia

geral, relativas à incorporação, à fusão ou ao desmembramento da cooperativa;

III - analisar as demonstrações contábeis elaboradas periodicamente pela cooperativa;

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IV - opinar sobre a regularidade das contas da administração e as demonstrações contábeis do

exercício social, elaborando o respectivo parecer, que conterá, se for o caso, os votos

dissidentes;

V - convocar os auditores internos e externos, sempre que preciso, para prestar informações

necessárias ao desempenho de suas funções;

VI - convocar assembleia geral, por deliberação da maioria de seus membros, sempre que

ocorrerem motivos graves ou urgentes;

VII - comunicar, por meio qualquer de seus membros, aos órgãos de administração, à

assembleia geral e ao BCB, os erros materiais, fraudes ou crimes de que tomarem ciênc ia,

bem como a negativa da administração em fornecer-lhes informação ou documento; e

VIII - Exercer essas atribuições, durante a liquidação, tendo em vista as disposições especiais

que a regulam.

Quadro 7.3.2.1 Atuação do Conselho Fiscal

Aconselhar Fazer suas recomendações e/ou sugestões por escrito

Acompanhar Registrar as ocorrências no Livro de Atas

Ouvir Solicitar esclarecimentos

Participar Exigir cumprimento da legislação, do Estatuto Social e das

normas

Recomendar Dar ou negar parecer de balanço

Verificar Verificar todos os documentos da cooperativa

Fiscalizar Analisar os registros e os fluxos

Fonte: Sicoob Universidade.

Além dessas atribuições, tem-se como boa prática para as reuniões de agendamento a não

coincidência de datas com as reuniões de Conselho Administração, propiciando melhor fluxo de

informações entre os conselhos com relação às deliberações. A ata do Conselho Fiscal deve ser

lida na reunião do Conselho Administração. Quando houver temas de interesse do Conselho

Fiscal, o presidente ou o coordenador pode ser convidado a participar como ouvinte, seja para

prestar informações ou acompanhar deliberações.

Os membros do Conselho Administração devem buscar o melhor para a cooperativa em

detrimento de benefícios individuais próprios. Os normativos da cooperativa devem dispor de

mecanismos que possibilitem e exijam esclarecimento de eventuais benefícios ou prejuízos

individuais decorrentes das decisões a serem tomadas.

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7.3.3 Funcionamento do Conselho Fiscal

Os órgãos de administração são obrigados, através de comunicação por escrito, a colocar à

disposição dos Conselheiros Fiscais, cópias das atas de suas reuniões e cópias dos balancetes

e demais demonstrações financeiras elaboradas periodicamente e, quando houver, dos relatórios

de execução de orçamentos.

O escopo de fiscalização do Conselheiro Fiscal deve ser o mais amplo possível, em virtude das

responsabilidades legais que lhe são impostas, em caso de má conduta. O Art. nº 1.070 do Novo

Código Civil e o Art. 53 da Lei nº 5.764/1971 estabelece que os componentes da Administração

e do CF se equiparam aos administradores das sociedades anônimas para efeito de

responsabilidade criminal, podendo responder a ações oriundas de cooperados ou terceiros.

Além disso, o CF pode requerer à administração os recursos humanos, materiais e financeiros

para consecução de suas funções e, a pedido de qualquer dos seus membros, poderá:

i. Solicitar aos órgãos de administração esclarecimentos ou informações, desde que

relativos à sua função fiscalizadora, bem como a elaboração de demonstrações

financeiras ou contábeis especiais;

ii. Solicitar aos auditores externos e internos esclarecimentos ou informações e a apuração

de fatos específicos; e

iii. Convocar membros do Conselho de Administração, da gestão executiva ou do quadro

funcional, bem como convidar associados, a fim de prestar esclarecimentos.

A eficácia da atuação do Conselho Fiscal depende de sua independência e imparcialidade na

realização dos trabalhos, podendo o estatuto da cooperativa e/ou o regimento do conselho

estabelecer regras para isso, ponderando as características da cooperativa e os limites da lei. A

legislação estabeleceu algumas regras para assegurar a independência desse conselho Lei no

5.764/71.

Os participantes de ato ou operação social em que se oculte a natureza da sociedade podem ser

declarados pessoalmente responsáveis pelas obrigações em nome dela contraídas, sem prejuízo

das sanções penais cabíveis. Os componentes do Conselho de Administração e do CF, bem

como os liquidantes, equiparam-se aos administradores das sociedades anônimas para efeito de

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responsabilidade criminal sem prejuízo da ação que couber ao associado, a sociedade, por seus

diretores, ou representada pelo associado escolhido em Assembleia Geral, terá direito de ação

contra os administradores, para promover sua responsabilidade.

Entretanto, observa-se que os membros do Conselho Fiscal não devem:

iv. Ter qualquer tipo de envolvimento, especialmente de negócios, com a cooperativa além

daqueles realizados na condição de associados;

v. Ser empregados de entidade e/ou empresa que esteja oferecendo algum serviço ou

produto à cooperativa;

vi. Ser cônjuge ou parente até segundo grau de membros da diretoria executiva ou de

gerentes da cooperativa;

vii. Interferir na administração da cooperativa;

viii. Decidir atos administrativos; e

ix. Interferir no processo operacional

Embora o CF e as auditorias sejam órgãos pertencentes à estrutura de fiscalização e controle,

suas funções dentro da cooperativa são distintas e complementares. As auditorias devem prestar

contas tanto ao Conselho de Administração quanto ao CF. Portanto, o CF não só pode, mas

deve usar os relatórios, pareceres e recomendações das auditorias, interna e externa, como fonte

de informação para realização e conclusão de seus trabalhos, bem como reunir-se com a auditoria

de forma a buscar a colaboração mútua.

No CF deve predominar a capacidade técnica dos seus membros. A esse respeito, vale

mencionar que, de acordo com o Art. 56 da Lei no 5.764/1971, as cooperativas devem ser

fiscalizadas assídua e minuciosamente. Mas, uma fiscalização com alto nível de profundidade só

é possível com pessoa qualificada, que deve, se possível, ser adequadamente remunerada.

Tendo em vista que o CF tem a atribuição específica de fiscalizar e a razão de sua existência é

dar mais segurança aos associados. A cooperativa deve adotar também canais institucionais para

que os associados possam acompanhar e cobrar o trabalho desse conselho. E, uma vez que os

conselheiros devem prestar contas aos associados e à Assembleia Geral, recomenda-se que

pelo menos um dos membros do CF compareça às reuniões da Assembleia Geral para

responder aos pedidos de informações formulados pelos associados.

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7.3.4 O Papel do Conselho Fiscal e a Assembleia

A limitação das responsabilidades dos sócios ao montante do capital subscrito, nos termos do Art.

11 da Lei no 5.764 - Cooperativas de Responsabilidade Ltda.- tende a reduzir os seus riscos e,

também, a reduzir a motivação para o monitoramento do processo de gestão.

Nesse contexto, o processo de debate entre os proprietários da entidade e seus gestores, debate

este identificado como Conflitos de Agência, deixa de existir podendo acarretar falta de

aprimoramento nos negócios e nos controles, propiciando desvios de poder.

Por conta dessa ineficiência, as cooperativas devem implantar estímulos, financeiros ou não, para

despertar, de forma urgente, a participação crítica e criativa dos associados no âmbito da gestão

das entidades. Efetivamente, a questão central desse modelo de autogestão está centrada na

baixa participação dos associados, o que pode favorecer as chances de “captura” política da

organização por um grupo que pode instituir mecanismos para assegurar sua continuidade no

poder.

As cooperativas carecem de fatores externos que influenciem sua governança. Os únicos fatores

atuais são órgãos reguladores e associados. A representatividade dos associados pode ser

favorecida por ações como as assembleias, pré-assembleias, assim como outros canais de

comunicação em que são discutidas as posições e expectativas. A participação confere

legitimidade aos processos de controle interno.

A Assembleia Geral é o órgão supremo da cooperativa, conforme os limites legais e estatutários,

com poderes para decidir os negócios relativos ao objeto da cooperativa e zelar por seu

desenvolvimento e defesa.

Devido à baixa participação dos associados nas assembleias, cabe à cooperativa realizar esforços

para garantir a participação destes, assim como nos conjuntos ou grupos de interesse que

compõem o quadro social.

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Segundo Marucci et. al (2009)8 “A participação passiva foge ao espírito cooperativista e pode

representar risco à organização. É direito e obrigação fundamental dos proprietários definir os

objetivos de sua organização“. Isso ocorre em virtude da percepção do cooperado na sua

“insuficiente capacidade individual” de influenciar os destinos da organização, distanciando-se da

tomada de decisão nas Assembleias.

Para prestação de conta, a deliberação deve ser precedida da leitura dos pereceres da Auditoria

Interna e do CF. A leitura desses pareceres sinaliza a política da prestação de contas, facilitando

ao associado o entendimento e orientação de debates para as deliberações de pontos críticos ou

frágeis.

7.3.5 Rotinas do Conselho Fiscal

a) Fiscalizar nas reuniões:

i. Livros de Atas de Assembleias e de Reuniões do Conselho de Administração e

Diretoria Executiva;

ii. Análise dos Resultados;

iii. Aspectos contábeis e financeiros do Balanço;

iv. Aspectos comerciais e orçamentos de contratos e licitações;

v. Relatórios dos Controles Internos da Cooperativa;

vi. Relatórios da Auditoria da Cooperativa;

vii. Acompanhamento dos encargos referentes à Folha de Pagamento da Cooperativa; e

viii. Acompanhamento dos processos judiciais e destinação de reservas.

b) Elaborar Atas de Reuniões e de Relatórios;

c) Verificação de Caixa;

d) Relatórios:

8 BANCO CENTRAL DO BRASIL, Governança cooperativa: diretrizes e mecanismos para fortalecimento da governança em cooperativas de crédito. Brasília: BCB, 2008. Disponível em: <https://w w w .bcb.gov.br/pre/microFinancas/coopcar/pdf/DiretrizesVersaoCompleta.pdf> Acesso em: 15 out. 2015.

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No mínimo uma vez ao mês o Termo de Conferência de Caixa deve ser lavrado pelos

funcionários da área referente. Esse documento deve ser apresentado ao Conselho

Fiscal na reunião, assinado por dois funcionários (Caixa, Gerente, Tesoureiro ou

Encarregado), bem como pelos Auditores, no ato de suas fiscalizações, para

averiguação das conferências dos Caixas.

Alguns dos relatórios que devem fazer parte da análise do Conselheiro Fiscal em sua

rotina de verificação:

Relatório de Operações Vencidas: o documento demonstra os títulos vencidos,

indicando nome, data de vencimento, valor nominal, taxa de mora, correção pelo

atraso e total a receber;

Relatório dos Maiores Devedores: o documento demonstra a concentração dos

empréstimos concedidos a associados, o quanto cada empréstimo representa

sobre o total da carteira/patrimônio líquido;

Relatório de Maiores Depositantes: o documento identifica a concentração dos

valores depositados sobre o total de depósitos;

Relatório de Adiantamentos: o documento apresenta os associados com saldo

negativo, apontando aqueles que emitiram cheque sem fundo e a quantidade de

dias com saldo em aberto;

Relatório do Cheque Especial: o documento aponta os associados que estão

utilizando o limite do cheque especial e os respectivos encargos;

Relatório de Inventário Contábil: o documento traz as operações de empréstimo por

conta contábil;

Relatório de Conciliação de Despesas: o documento apresenta os saldos das

aplicações financeiras dos correntistas; e

Relatório da Conta Capital: o documento mostra o saldo individual da conta capital

de cada associado.

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7.3.6 Eleição

Nas cooperativas e confederação, o CF é composto exclusivamente por associados eleitos pela

Assembleia Geral. O mandato dos membros do CF das cooperativas de crédito terá duração de

até três anos, observada a renovação de, ao menos, dois membros a cada eleição, sendo um

efetivo e um suplente, com base no Art. 6º da Lei Complementar nº 130/09 e:

a) Devem ser eleitos pelo menos um membro efetivo e um membro suplente que não

tenham integrado o Conselho Fiscal que está sendo renovado. A eleição, como efetivo,

de um membro suplente, não é considerada renovação para efeito do dispositivo legal; e

b) No caso das cooperativas Centrais e Confederação, a renovação exigida na lei deve ser

atendida mediante a rotatividade entre as cooperativas singulares filiadas, sendo

insuficiente a mera substituição das pessoas físicas que as representam, exceto se isso

não for possível sob a perspectiva fática, por não haver número suficiente de filiadas em

condições de exercer, por meio de seus representantes, função no referido órgão.

Se o Estatuto Social da cooperativa de crédito estabelecer condições mais restritivas do que as da

lei, exigindo maior renovação do Conselho Fiscal, prevalecem as condições estabelecidas no

Estatuto, que devem ser observadas no ato de eleição.

Os novos conselheiros fiscais ao serem empossados, devem receber dos administradores e dos

conselheiros fiscais remanescentes, informações necessárias à efetividade de atuação:

a) Ambiente interno: histórico, estrutura e planejamento da cooperativa, regras de

funcionamento do CF, legislação pertinente ao exercício do cargo, processos e sistemas

gerencias e de controle, relatórios anuais, atas das AG e das reuniões dos órgãos de

administração e do CF; e

b) Ambiente externo: características do mercado financeiro e de crédito e do segmento de

cooperativas de credito, como a estrutura do sistema está organizada, os principais

concorrentes e as políticas dos órgãos reguladores.

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Nos termos do Art. 4º da Lei nº 5.764, que trata da neutralidade política das cooperativas, deve

ser inserido no estatuto um prazo para desincompatibilização prévia dos cargos eletivos,

ocupados na cooperativa, para cargos públicos ou vice-versa. A instituição de uma “quarentena”,

que é o período subsequente à ocupação de um cargo público, em que um ex ocupante do cargo

fica impedido de empregar-se no setor privado, evita a utilização de informações privilegiadas em

benefício próprio ou de outrem.

7.3.7 Educação Cooperativista

O processo educativo, ao enfatizar o papel do associado como proprietário e usuário da

cooperativa, esclarece seus direitos e deveres, ao mesmo tempo em que destaca os benefícios da

cooperação e estimula sua prática. A evidenciação da condição de proprietário explicita, ao

mesmo tempo, a responsabilidade do associado e a segurança da cooperativa. Assim, o

associado poderá cuidar melhor de seus interesses, qualificando-se para tarefas de controle,

fiscalização e administração da cooperativa.

A formação cooperativista contribui para preparar futuros administradores e conselheiros fiscais

qualificados a planejar, se autodesenvolver e dar continuidade às ações institucionais.

Programas de formação de novas lideranças podem estimular o ensinamento de estratégicas

comportamentais de partilha de poder, necessárias ao processo decisório em ambiente

participativo e fundamental na gestão democrática.

A preparação dos dirigentes para o desempenho das suas funções é tema de especial

importância para as boas práticas de governança. É importante que ele se submeta a programas

de capacitação para atualizar e reciclar os conhecimentos. Os temas que os conselheiros

precisam conhecer:

a) Estratégia;

b) Avaliação de desempenho;

c) Funcionamento dos mercados financeiros;

d) Gestão de risco;

e) Responsabilidades legais dos conselheiros; e

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f) Recursos tecnológicos.

A Resolução nº 3.041/06 estabelece condições para o exercício da função em órgãos estatutários,

e determina a existência de capacitação técnica compatível com as atribuições do cargo como

condição para o exercício do cargo de conselheiro, estabelecendo parâmetros.

Com relação à capacitação, diferentemente do Conselho de Administração, que é um órgão de

representatividade política, no Conselho Fiscal deve predominar a capacidade técnica dos seus

membros. Oportuno citar que, nos termos da Lei nº 5.764/71, as cooperativas devem ser

fiscalizadas assídua e minuciosamente, o que somente é possível, com a profundidade exigida,

por pessoas com a devida qualificação.

7.3.8 Fiscalização e Controle no Âmbito do Conselho Fiscal

Na constituição de uma estrutura de fiscalização e controle, necessária à boa governança, deve-

se ter alguns mecanismos de controle para arbitragem dos efeitos dos comportamentos

oportunistas dos agentes. Porém, os custos de controle, que buscam alinhar os interessem dos

dirigentes aos associados, são conhecidos como custos de agência, e apresentam os custos de:

a) Constituição da estrutura e de elaboração de contratos entre cooperados e dirigentes;

b) Monitoramento das atividades;

c) Custos promovidos pelos próprios dirigentes para prestar contas aos cooperados;

d) Custos residuais - inerentes à divergência de interesses entre gestão e associados; e

e) Custos de monitoramento, que são compostos por:

1) Controle interno - são obrigatórios conforme a Resolução no 3.442 do CMN (Art. 3º)

estabelecendo plano de negócios, com definição da estrutura de controles internos e

mecanismos que garantem a supervisão adequada por parte da administração e

atuação efetiva de auditoria interna e externa como instrumentos de controle.

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2) Conselho Fiscal - refere-se a instrumento de fiscalização legal obrigatório segundo a

Lei nº 5.764 (Art. 56) e que atende segundo suas atribuições, podendo gerar impactos

financeiros na instituição.

A estrutura de fiscalização e controle em uma cooperativa de crédito deve ser compatível com a

capacidade financeira da instituição, os potenciais riscos oportunistas e os custos , de modo a

reduzir as eventuais diferenças de interesses múltiplos dos atores envolvidos com a cooperativa

de crédito - administradores, gestores executivos, associados, funcionários, órgãos

governamentais.

A eficiência e eficácia de qualquer instrumento de fiscalização e controle, tanto interno quanto

externo, estão fortemente associadas à quantidade e à qualidade das informações divulgadas aos

agentes responsáveis pela função. Os instrumentos de controle interno não são constituídos

apenas formalmente (sistema de controle padronizado), mas pelas partes interessadas. O

Conselho Fiscal é o mais importante agente de fiscalização e controle, pois está subordinado

exclusivamente à AG.

Visto de forma equivocada, como um órgão que se atém a assuntos de natureza contábil

(balancetes e demonstrações financeiras), a sua principal e mais importante função é fiscalizar os

atos dos administradores e verificar o cumprimento de seus deveres legais e estatutários.

Entende-se como ato dos administradores qualquer ato de gestão praticado pelo Conselho de

Administração e pela Diretoria.

O escopo de fiscalização do CF deve ser o mais amplo possível em virtude de suas

responsabilidades legais. O Art. 1.070 da Lei no 10.406 do Código Civil considera que a

responsabilidade dos membros do CF é a de obedecer a regras que define a responsabilidade

dos administradores – respondendo solidariamente perante a sociedade e os terceiros

prejudicados por culpa no desempenho de suas funções.

Os membros do CF podem responder por crimes tipificados na Lei no 7.492/86 - que define os

crimes contra o sistema financeiro nacional - na condição de autor e coautor, por suas ações e

omissões no exercício de sua função, uma vez que o Art. 53 da Lei no 5.764/71 estabelece que os

componentes do Conselho de Administração e do CF se equiparam aos administradores das

sociedades anônimas para efeito de responsabilidade criminal.

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Para o bom exercício de sua função, o CF precisa de autonomia para acessar informações

pertinentes à sua atribuição, podendo comunicar à Assembleia as situações em que os órgãos da

administração estejam dificultando ou impedindo esse acesso.

O inciso IV do Art. 163 da Lei no 6.404/76 e o inciso IV do Art. 1.069 da Lei no 10.406/02 (que

institui o Código Civil) conferem poderes ao CF para denunciar aos órgãos de administração e, se

não forem tomadas as providencias necessárias para proteção dos interesses da organização à

Assembleia, os erros, fraudes ou crimes por eles descobertos. Inclusive permite ao Conselho

Fiscal sugerir providências úteis à cooperativa.

A eficácia da atuação do CF depende de sua independência e imparcialidade na realização dos

trabalhos. O estatuto da cooperativa e regimento do conselho podem estabelecer regras para

isso, ponderando as características da cooperativa e da lei. O novo Código Civil – parágrafo 1º do

Art. 1.066 assegura algumas regras desse conselho.

Sugere-se também que o CF tenha um regimento interno que discipline o funcionamento do órgão

e o planejamento de suas atividades. O documento deve conter, no mínimo, plano de trabalho e

forma de divulgação dos resultados de sua atuação, podendo ser através de pareceres, opiniões,

recomendações, e encaminhamento de denúncias recebidas. O relatório de trabalho deve

expressar a atuação do órgão, abordando aspectos relevantes constatados em sua análise e

fazendo referência às recomendações dos auditores.

Os conselheiros representam o elo entre o associado “pessoa física” e a “pessoa jurídica“ da

cooperativa. Segundo o BACEN, o Conselho Fiscal é o organismo protagonista de fiscalização de

governança de cooperativas de crédito, sendo estruturas capazes de funções de fiscalização e

controle da instituição, já que representam a função fiscalizadora do associado inserida no

contexto da alta administração. Dessa forma, ele dispõe do melhor nível informacional para

execução das funções de atores fiscalizadores.

Vale destacar que fiscalizar não quer dizer interpor-se entre o ilícito e a atividade exercida.

Fiscalizar quer dizer participar, oferecer sugestões, acompanhar, promover, sugerir, enfim,

partilhar de ações honestas que visem ao melhor desenvolvimento, e atendimento igualitário,

dentro da proporcionalidade recíproca de cada associado.

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Para que o modelo de governança seja visto como um processo eficaz, a cooperativa deve

associar a funcionalidade de fiscalização interna com os outros agentes de governança. O modelo

de gestão aplicado pelo Conselho de Administração e Diretoria Executiva, em conjunto com o

Conselho Fiscal, apresentará resultados de crescimento e correspondência das expectativas dos

associados que eles representam. A mitigação de conflitos de interesse nos órgãos estatutários é

fundamental para o alcance das melhores práticas de governança, de forma a melhor posicionar a

instituição que administra, num contexto do mercado financeiro cooperativo, que se caracteriza

pelo dinamismo e constante expansão.

7.4 Comitê de Auditoria

7.4.1 Conceituação

Caso tenha sido implantado o Comitê de Auditoria, tanto por decisão dos associados como por

determinação do BACEN (como ocorre em algumas instituições) é importante que o conselheiro -

a quem esse comitê presta assessoramento - esteja atento a sua formação e, principalmente, aos

seus relatórios produzidos, todos de grande importância no processo de gestão. Em relação aos

profissionais, é desejado que sejam especialistas em auditoria, compliance, contabilidade e

tributação e, ainda, em avaliação e gerenciamento de riscos.

7.4.2 Atribuições do Comitê de Auditoria

O Comitê de Auditoria tem como principais atribuições, avaliar:

i. Integridade e qualidade dos serviços executados pelos auditores internos e externos;

ii. Qualidade e suficiência dos controles internos;

iii. Controles de gerenciamento de riscos legais, de inadimplências, tributários e

trabalhistas;

iv. Aderência dos atos praticados pelos administradores com as normas constantes na lei,

no estatuto social e nas atas de Assembleias;

v. Credenciais e recomendação para contratação de auditor externo;

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vi. Manifestação sobre operações atípicas, como hedge, opções, contratos futuros, etc.;

vii. Atendimento a eventuais consultas do Conselho de Administração; e

viii. Participação das reuniões do Conselho de Administração e da Assembleia Geral.

7.5 Assembleia

A Assembleia Geral é o órgão soberano da cooperativa. É o local onde os sócios reunidos

podem e devem exercer seu direito de proprietários/cooperados.

7.5.1 Atribuições da Assembleia

As Assembleias devem deliberar sobre os planos de desenvolvimento e sobre a aprovação das

contas, considerando o planejamento estratégico do ano anterior. Os orçamentos anuais ou

plurianuais também devem ser pautados em Assembleia para aprovação. De acordo com as

competências/deliberações, as Assembleias Gerais podem ser ordinárias ou extraordinárias, tema

que será discutido no tópico adiante.

7.6 Outros Integrantes do Processo de Governança

Apesar dos poderes atribuídos ao CF, também cabem aos empregados pela adoção de valores

éticos institucionais da cooperativa, a comunicação de preocupações relativas a práticas ilegais ou

antiéticas. O entendimento dos processos de controle aprovados pela gestão executiva e pelo

Conselho de Administração é fundamental para que esse monitoramento ocorra.

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8. COOPERATIVAS BEM POSICIONADAS EM GOVERNANÇA

A par dos muitos bons exemplos, dignos de reconhecimento, é preciso admitir que ainda há

deficiências e vulnerabilidades na gestão das entidades. Nessa direção, são consideradas

práticas inadequadas:

1) Inatividade do quadro social, com inexpressiva participação nos fóruns (mal organizados),

em que são avaliados a prestação de contas e os planos de trabalho para os exercícios

subsequentes;

2) Falta de independência dos órgãos conselhos, especialmente do Conselho Fiscal como

discutido anteriormente;

3) Não segregação entre atividades reservadas ao Conselho de Administração e atribuíveis

à Diretoria Executiva, denotando-se forte acúmulo de poder (estratégico e

executivo/operacional) pelos componentes do último conselho, e consequente

fragilização ou baixo protagonismo do Conselho;

4) Ausência de comitês técnicos e de alçada claras de deliberação, notadamente no âmbito

das operações de crédito;

5) Pouca representatividade do quadro social no Conselho de Administração;

6) Despreparo e inatividade dos Conselhos de Administração e Fiscais;

7) Pouca atenção aos comportamentos sugeridos pelo código de ética;

8) Falta de transparência na gestão, especialmente por parte dos dirigentes executivos;

9) Abuso de poder por parte de dirigentes, conduzindo em alguns casos a benefícios

(pessoais) indevidos em razão do cargo;

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10) Ingerência político-partidária e de entidades de classe, estimulando relações que

invariavelmente conduzem à sobreposição ou prevalência de interesses pessoais/ou de

baixa densidade técnica; e

11) Baixa supervisão dos membros do Conselho de Administração sobre os dirigentes

executivos, potencializando o descompasso destes com o quadro social (risco de

desmutualização).

A partir desse retrato, buscando amparo na melhor doutrina sobre a matéria e nas melhores

práticas de gestão, é possível traçar, em algumas linhas gerais, um modelo referencial de boa

governança em cooperativa singular, extensivo em grande parte às demais organizações

sistêmicas, suficiente para corrigir as distorções diagnosticadas.

Além de clara e adequada definição de papéis dos principais órgãos de administração, e da

suficiente preparação de seus membros, o êxito na gestão passa essencialmente pelo cultivo das

práticas descritas adiante.

8.1 Âmbito Individual dos Associados

Os cooperados devem ter participação efetiva (atitude de dono) na vida corporativa:

a) Valendo-se das operações e dos serviços de sua entidade;

b) Comparecimento às Assembleias e aos demais fóruns do seu interesse;

c) Compondo ativamente os núcleos que forem organizados em seu benefício;

d) Sendo assíduo nos eventos de formação;

e) Requerendo esclarecimentos acerca das práticas de gestão e propondo medidas de

aprimoramento; e

f) Pleiteando acesso a cargos em órgãos de administração e fiscalização respeitado o

percurso estatutário-regimental para tanto traçado.

A participação mais efetiva do associado na vida da cooperativa pressupõe a adoção de

mecanismos que facilitem e estimulem o acesso a informações (da administração para os

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associados) e manifestações (dos associados para a administração). Para isso, é fundamental

que sejam instituídos canais formais e informais para levar informações aos associados e, da

mesma forma, para deles receber reclamações e colher sugestões e recomendações. Um dos

mecanismos mais eficazes, devidamente testado, é a organização/nucleação do quadro social,

com base em critérios geográficos e/ou afinidade socioeconômica entre os associados, elegendo-

se líderes e definindo-se agenda (datas, temas etc.) periódica de encontros. É fundamental para a

credibilidade dos fóruns que os encaminhamentos feitos pelos associados tenham o devido

tratamento com retorno breve (positivo ou negativo).

A adequada organização do quadro social, além de facilitar a comunicação, permite a instituição

de programas de formação de cooperados (sobre seus direitos e deveres na entidade; mercado

financeiro; cooperativismo e administração), fortalecendo os vínculos associativos e

potencializando o surgimento de novos líderes a assegurarem a continuidade da gestão do

empreendimento. É desejável, aliás, que as renovações nos Conselho de Administração e

Fiscal sejam feitas com associados que se destacam nesse ambiente.

8.2 Âmbito da Assembleia Geral de Associados

A Assembleia Geral deve, realmente, funcionar como órgão máximo de deliberação da

cooperativa. Sua efetividade está no nível de participação do quadro associativo. Daí que é

indispensável que:

a) Sejam escolhidos o dia horário e local mais apropriados ao comparecimento do maior

número possível de associados nos certames;

b) Sejam as convocações feitas com boa antecedência, inclusive para dar tempo de os

associados apresentarem considerações prévias à administração (destinadas à

Assembleia) e difundidas por meios/veículos a que os associados efetivamente tenham

acesso;

c) Sejam os itens da pauta escritos de maneira a permitir a adequada compreensão pelos

associados, evitando-se textos com sentido duvidoso;

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d) Sobre a ordem do dia, especialmente os que envolvam matérias complexas ou de

grande impacto econômico ou societário, haja pré-discussão em núcleos/pequenos

(grupos de associados ou equivalentes) e em pré-assembleias, com a presença dos

administradores com vistas a permitir a adequada compreensão e a estimular debates

acerca das diferentes matérias; e

e) Nos casos de cooperativas com grande número de associados, ou cuja área de atuação

envolva localidades muito distantes entre si, seja praticado o regime de representação

por delegados, permitindo, assim, uma participação mais densa e assídua do quadro

social. Nesse caso, é necessária a realização de encontros prévios dos delegados com

seus representados com vista à discussão preliminar e encaminhamentos sobre os

assuntos pautados para a Assembleia Geral.

8.3 Âmbito dos Conselhos

O Conselho deve ser representativo dos interesses do quadro social, servindo de elo e controle

entre associados e os dirigentes executivos. Para isso deve:

a) Buscar melhor alternativa para os associados;

b) Reunir adequada preparação, participando dos eventos de capacitação;

c) Comparecer às reuniões e preparar-se previamente sobre os itens da pauta;

d) Examinar atentamente os pareceres das auditorias internas e externas e buscar

informações e documentos sobre ressalvas e/ou parágrafos de ênfase contidos no texto;

e) Prover o Conselho Fiscal dos recursos necessários ao cumprimento de seu papel

fiscalizatório, e dar aos demais agentes/órgãos de supervisão as condições adequadas

ao cumprimento de suas atividades; e

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f) Assegurar que o Conselho Fiscal, assim que empossado, receba dos gestores

executivos as necessárias informações sobre aspectos relevantes da gestão da

cooperativa, incluindo contato e familiarização com os principais relatórios gerenciais.

8.4 Atuação de Cargos Estatutários nas Cooperativas

São condições para o exercício de cargos em órgãos estatutários de Cooperativas de Crédito,

além de outras exigidas pela legislação e pela regulamentação em vigor:

a) Ter reputação ilibada;

b) Ser residente no país;

c) Não estar impedido por lei especial, nem condenado por crime falimentar, de sonegação

fiscal, de prevaricação, de corrupção ativa ou passiva, de concussão, de peculato, contra

a economia popular, a fé pública, a propriedade ou o Sistema Financeiro Nacional, ou

condenado a pena criminal que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos

públicos;

d) Não estar declarado inabilitado ou suspenso para o exercício de cargos de conselheiro

fiscal, de conselheiro de administração, de diretor ou de sócio administrador em

instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo BACEN ou em

entidades de previdência complementar, sociedades seguradoras, sociedades de

capitalização, companhias abertas ou entidades sujeitas à supervisão da Comissão de

Valores Mobiliários;

e) Não responder, nem qualquer empresa da qual seja controlador ou administrador, por

protesto de títulos, cobranças judiciais, emissão de cheques sem fundos,

inadimplemento de obrigações e outras ocorrências ou circunstâncias análogas;

f) Não estar declarado falido ou insolvente; e

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g) Não ter controlado ou administrado, nos dois anos que antecedem a eleição, firma ou

sociedade objeto de declaração de insolvência, liquidação, intervenção, falência ou

recuperação judicial.

Nos casos de eleitos que não atendam às condições previstas nas alíneas “e”, “f” e/ou “g” do item

precedente, o BACEN poderá analisar a situação individual dos pretendentes, com vistas a avaliar

a possibilidade de aprovação de seus nomes. Para avaliar o cumprimento, pelo eleito, do requisito

de reputação ilibada, o BACEN poderá levar em conta as seguintes situações e ocorrências:

a) Processo crime ou inquérito policial a que esteja respondendo o eleito ou qualquer

sociedade de que seja ou tenha sido, à época dos fatos, controlador ou administrador;

b) Processo judicial ou administrativo que tenha relação com o Sistema Financeiro

Nacional; e

c) Outras situações, ocorrências ou circunstâncias análogas julgadas relevantes pelo

BACEN.

Na análise, o BACEN considerará as circunstâncias de cada caso, bem como o contexto em que

ocorrer a eleição dos pretendentes, com vistas a avaliar a possibilidade de aceitar ou recusar seus

nomes, tendo em vista o interesse público. Sem prejuízo dos demais documentos necessários à

instrução do processo, os eleitos deverão apresentar ao BACEN:

a) Caso se enquadre em quaisquer das situações previstas, o eleito deve indicar as

ocorrências na própria declaração, apresentando descrição detalhada da sua natureza,

informação acerca de sua situação atual, bem como justificativa para que tais fatos não

sejam considerados como restritivos para o cumprimento das condições estabelecidas

para o exercício do cargo, juntando a documentação comprobatória;

b) Autorização à Secretaria da Receita Federal do Brasil para fornecimento, ao BACEN, de

cópia da declaração de rendimentos, de bens e direitos e de dívidas e ônus reais,

relativa aos três últimos exercícios fiscais, para uso exclusivo no respectivo processo; e

c) Autorização ao BACEN para acesso a informações a seu respeito constantes de

qualquer sistema público ou privado de cadastro e informações, inclusive processos e

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procedimentos judiciais ou administrativos e inquéritos policiais para uso exclusivo no

respectivo processo.

8.4.1 Restrições e Vedações em Relação aos Cargos Estatutários

Só podem ser eleitos para cargos estatutários de cooperativa singular de crédito pessoas físicas

associadas da própria instituição, não sendo admitida, portanto, a eleição de representante de

pessoa jurídica integrante do quadro de associados. No caso de cooperativa central ou

confederação de crédito, o eleito deve ser pessoa física associada de cooperativa singular de

crédito filiada.

Constitui exceção à obrigatoriedade de o ocupante de cargo estatutário ser associado da

cooperativa a eleição, pelo Conselho de Administração, de membros de Diretoria Executiva

criada nos termos do Art. 5º da Lei Complementar nº 130, de 2009, e do Art. 18 da Resolução

CMN nº 3.859, de 2010, descritos no Sisorf 5.1.30.32, itens 4 e 8.

De acordo com o Art. 117, inciso X, da Lei nº 8.112/1990, com a redação dada pela Lei nº

11.094/2005, é permitido aos servidores públicos civil federais participar de Conselho de

Administração e de CF de cooperativas. Quanto a outros órgãos da cooperativa, ou ainda quanto

a servidores de outras esferas públicas, cabe aos interessados certificarem-se de que não estão

impedidos, por lei especial, para o exercício do cargo pretendido.

Não podem ser eleitos ao mesmo tempo, seja para cargos na Diretoria ou no Conselho de

Administração, sejam para cargos no CF, os parentes entre si até segundo grau, em linha reta,

colateral ou por afinidade. O associado não pode exercer cumulativamente cargos nos órgãos de

administração e de fiscalização.

É vedado aos membros de órgãos estatutários e aos ocupantes de funções de gerência de

cooperativa de crédito participar da administração ou deter 5% (cinco por cento) ou mais do

capital de outras instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo

BACEN, bem como de empresas de fomento mercantil, excetuadas as cooperativas de crédito.

Esta vedação não se aplica à participação de membros de órgãos estatutários de cooperativas de

crédito no Conselho de Administração ou conselho equivalente de instituições financeiras e

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demais entidades controladas, direta ou indiretamente, pelas referidas cooperativas, desde que

não assumidas funções executivas nessas controladas.

É vedado aos membros de órgãos estatutários e aos ocupantes de funções de gerência de

cooperativa de crédito ocupar cargo de conselheiro fiscal em sociedades que possam ser

consideradas concorrentes no mercado financeiro ou tenham interesse conflitante com a

cooperativa, salvo dispensa das Assembleias Gerais, da cooperativa e da sociedade em

questão.

8.4.2 Capacitação Técnica Exigida para Cargos Estatutários

É também condição para o exercício dos cargos de Conselheiro de Administração e Fiscal e de

Diretor em cooperativa de crédito possuir capacitação técnica compatível com as atribuições do

cargo para o qual foi eleito, a qual deve ser comprovada com base na formação acadêmica, na

experiência profissional ou em outros quesitos julgados relevantes, por intermédio de documentos

e de declaração firmada pela instituição, submetida à avaliação do BACEN quando da instrução

do processo de eleição.

8.4.3 Cargos Estatutários - Disposições Complementares

A posse de administradores e conselheiros fiscais das cooperativas de crédito, bem como de

membros de quaisquer outros órgãos estatutários, depende de prévia aprovação de seus nomes

pelo BACEN. Os órgãos de administração podem contratar gerentes-técnicos ou comerciais não

pertencentes ao quadro de associados, fixando-lhes as atribuições e os salários.

Os administradores e os membros do CF responderão a qualquer tempo, salvo prescrição

extintiva, pelos atos que tiverem praticado ou pelas omissões em que houverem incorrido. Os

administradores da cooperativa respondem solidariamente pelas obrigações por ela assumidas

durante sua gestão, até que se cumpram. A responsabilidade solidária circunscrever-se-á ao

montante dos prejuízos causados.

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9. DOCUMENTOS SOCIETÁRIOS

Por conta disso, são apresentadas as matérias tratadas, os objetivos e quórum das Assembleias

de Constituição, Ordinária e Extraordinária.

9.1 Considerações

Os documentos societários são à base do processo de gestão, principalmente o Estatuto Social,

e as Atas das Assembleias. Esses são os documentos finais e definitivos que norteiam a

atuação dos Conselheiros e Diretores. Toda decisão relevante (consoante norma estatutária)

deverá estar registrada em ata e o seu atendimento é obrigação dos gestores. Posições contrárias

às decisões deverão ser consignadas, com os respectivos fundamentos. Em qualquer processo

de auditoria e fiscalização, especialmente visando à apuração de responsabilidades, as atas são

instrumentos vitais para confrontar as práticas adotadas pelos gestores com as decisões tomadas

pelos associados.

9.2 Estatuto Social

As cooperativas de crédito são regidas pelo seu Estatuto Social, que constitui a lei interna da

sociedade. O Estatuto da cooperativa, além de atender aos conceitos relacionados no Sisorf -

BACEN deve conter:

A denominação, a sede, o prazo de duração, a área de atuação, o objeto da sociedade,

a fixação do exercício social (que no caso das cooperativas de crédito deve ser de um

ano, encerrando-se em 31 de dezembro, por força do que determinam os princípios

gerais do Cosif - Plano Contábil das Instituições Financeiras, instituído pela Circular nº

1.273/1987) e a data do levantamento do balanço geral (no caso das instituições

financeiras, inclusive cooperativas de crédito, devem ser levantados balanços gerais em

30 de junho e 31 de dezembro, por força do que determina o Art. 31 da Lei nº

4.595/1964);

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FGV Projetos CE Nº 1974/15

Os direitos e os deveres dos associados, a natureza de suas responsabilidades e as

condições de admissão, demissão, eliminação e exclusão e as normas para sua

representação nas Assembleias Gerais;

O capital mínimo, o valor da quota-parte, o mínimo de quotas-partes a ser subscrito pelo

associado, o modo de integralização das quotas-partes, bem como as condições de sua

retirada nos casos de demissão, eliminação ou exclusão do associado;

A forma de devolução das sobras registradas aos associados, ou do rateio das perdas

apuradas por insuficiência de contribuição para cobertura das despesas da sociedade;

O modo de administração e fiscalização, estabelecendo os respectivos órgãos, com

definição de suas atribuições, seus poderes e seu funcionamento, a representação ativa

e passiva da sociedade em juízo ou fora dele, o prazo do mandato (que deve ser

definido de forma precisa, sem utilização de expressão do tipo “mandato de até x anos,

que não define este prazo”), bem como o processo de substituição dos administradores

e dos conselheiros fiscais;

As formalidades de convocação das Assembleias Gerais e a maioria requerida para a

sua instalação e validade de suas deliberações, vedado o direito de voto aos que nelas

tiverem interesse particular, sem privá-los da participação nos debates;

Os casos de dissolução voluntária da sociedade;

O modo e o processo de alienação ou operação de bens imóveis da sociedade;

O modo de reformar o Estatuto; e

O número mínimo de associados, que não pode ser inferior a vinte pessoas físicas,

quando se tratar de cooperativa singular de crédito.

A indicação da sede deve se dar pelo registro no estatuto social do seu endereço completo. Tais

definições podem dar-se por meio da nominação de todos os municípios ou entes da federação

nos quais existam unidades das entidades definidas nas condições de associação, inclusive para

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FGV Projetos CE Nº 1974/15

efeito de verificação das possibilidades de reunião, controle, operações e prestação de serviços,

uma vez que a extensão da área de atuação pode exigir a representação dos associados por meio

de delegados, nas Assembleias Gerais. O valor do Capital mínimo expresso no Estatuto deve

atender aos seguintes aspectos:

Não ser inferior ao resultado da multiplicação dos números fixados pelo próprio

Estatuto, relativos ao mínimo de associados, ao valor da quota-parte e ao mínimo de

quotas-partes a ser subscrito por cada associado; e

Não ser inferior ao limite mínimo regulamentar para o capital integralizado, aplicável ao

tipo de cooperativa. É permitido o estabelecimento, no Estatuto Social de cooperativa

de crédito, de limite mínimo de subscrição de capital diferenciado, tendo em vista o

associado ser pessoa jurídica, pessoa física empregada da cooperativa ou pessoa física

não empregada. A diferenciação consiste nas características dos três tipos de

pretensos associados (pessoa jurídica associada, pessoa física não empregada e

pessoa física empregada da cooperativa de crédito) e deve ser considerada apenas

para a subscrição do limite mínimo de capital social, não devendo servir de base para a

imposição de tratamento diferente aos associados, aos quais são assegurados direitos

iguais pela Lei nº 5.764/1971.

Carece de respaldo legal a eventual inserção, no Estatuto Social de cooperativa de crédito, de

artigo dispondo sobre a incorporação de saldos de conta de depósito e quotas de capital de

cooperativados demitidos, eliminados ou excluídos. O Estatuto Social não pode conter

dispositivo que contrarie o princípio da igualdade de direitos entre os associados ou que

estabeleça restrições de qualquer espécie ao livre exercício dos direitos sociais. O Estatuto da

cooperativa de crédito deve conter, ainda, cláusula explicitando que o mandato dos ocupantes de

cargos estatutários estender-se-á até a posse dos seus substitutos.

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9.3 Atas das Assembleias

9.3.1 Assembleia de Constituição

A Ata da Assembleia de Constituição ou dos Fundadores é o documento básico para

formação de uma cooperativa. A partir dessa Assembleia e da obtenção da documentação legal

exigida, dá-se o registro e a autorização para funcionamento pelo BACEN. Efetivamente, a

Resolução no 4.434/15, em seu Art. 6o definiu um conjunto de documentos necessários a

constituição de cooperativas, dentre os quais se incluem:

i. Documentos aptos à comprovação das possibilidades de reunião dos associados, de

controle, de realização de operações e de prestação de serviços na área de atuação

pretendida, bem como de manifestação da respectiva cooperativa central ou

confederação, na hipótese de existência de compromisso de filiação;

ii. Identificação dos integrantes do grupo de fundadores e, quando for o caso, das

entidades fornecedoras de apoio técnico e/ou financeiro;

iii. Declarações e documentos que demonstrem que pelo menos um dos integrantes do

grupo de fundadores detém conhecimento sobre o ramo de negócio e sobre o segmento

no qual a cooperativa de crédito pretende operar, inclusive sobre os aspectos

relacionados à dinâmica de mercado, às fontes de recursos operacionais, ao

gerenciamento e aos riscos associados às operações;

iv. Plano de negócios, dividido em: plano financeiro, plano mercadológico, plano

operacional e

v. Minutas dos atos societários de constituição da cooperativa de crédito.

Ainda sobre o tema, o Art. 8º § 2º da referida Resolução:

I - formalizar e submeter ao BCB os atos societários de constituição da cooperativa a ser

objeto da autorização para funcionamento, contemplando a eleição para os cargos

estatutários e a aprovação, pela assembleia geral, de estatuto social contendo cláusula

estabelecendo expressamente que, até a expedição da autorização para funcionamento

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FGV Projetos CE Nº 1974/15

da instituição, é vedada a realização de qualquer atividade, especialmente as operações

privativas de que trata o Capítulo IV, permitidas somente aquelas necessárias ao

cumprimento do disposto neste artigo.

9.3.2 Assembleias Gerais de Associados

A Assembleia Geral dos Associados é o órgão supremo da sociedade, dentro dos limites legais e

estatutários. Essa Assembleia tem poderes para decidir os negócios relativos ao objeto da

cooperativa e tomar as resoluções convenientes ao desenvolvimento e à defesa desta. Suas

deliberações atingem a todos os associados, mesmo aqueles que discordam ou que estejam

ausentes. As Assembleias Gerais devem ser convocadas com antecedência mínima de dez dias,

em primeira convocação, de forma tríplice da seguinte forma:

a) Editais afixados em locais apropriados das dependências comumente mais freqüentadas

pelos associados;

b) Publicação em jornal; e

c) Comunicação aos associados por intermédio de circulares.

Para a contagem do prazo, considera-se o número de dias corridos, úteis ou não. Assim, está

regular a convocação se, entre a data da Assembleia e a data da convocação, transcorrerem dez

dias, excluindo-se a data da convocação e incluindo-se a data da Assembleia. Exemplo: para uma

Assembleia a ser realizada no dia 30, a convocação deve ter sido feita até o dia 20 do referido

mês.

Não havendo, no horário estabelecido, quórum de instalação, a Assembleia poderá ser realizada

em segunda ou terceira convocações, desde que assim permita o Estatuto e conste no edital,

quando, então, deve ser observado o intervalo mínimo de uma hora entre a realização por uma ou

outra convocação.

A convocação é, usualmente, feita pelo presidente, mas pode ser feita também por qualquer dos

órgãos de administração ou pelo Conselho Fiscal em casos especiais. Associados em pleno

gozo dos seus direitos que representem pelo menos 1/5 (um quinto) do quadro social podem

solicitar a convocação da Assembleia Geral e, em caso de não atendimento, podem efetivar a

convocação. O quórum de instalação das Assembleias Gerais deve ser o seguinte:

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a) 2/3 (dois terços) do número de associados, em primeira convocação;

b) Metade mais um dos associados, em segunda convocação; e

c) Mínimo de dez associados na terceira convocação, ressalvado o caso de cooperativas

centrais e confederações de cooperativas, em que podem ser instaladas com qualquer

número.

É de competência das Assembleias Gerais a destituição dos membros dos órgãos de

administração ou fiscalização. Ocorrendo destituição que possa afetar a regularidade da

administração ou da fiscalização da entidade, poderá a Assembleia designar administradores e

conselheiros provisórios, até a posse dos novos, cuja eleição deve efetuar-se no prazo máximo de

30 dias.

Nas Assembleias gerais das cooperativas centrais e das confederações de cooperativas, a

representação deverá ser feita por delegados indicados na forma dos seus estatutos e

credenciados pela diretoria das respectivas filiadas.

As cooperativas centrais de crédito e suas confederações podem adotar, quanto ao poder de voto

das filiadas, critério de proporcionalidade em relação ao número de associados indiretamente

representados na Assembleia Geral, conforme regras estabelecidas no Estatuto.

Prescreve em quatro anos a ação para anular as deliberações de Assembleia Geral viciadas de

erro, dolo, fraude ou simulação, ou tomadas com violação da lei ou do Estatuto, contado o prazo

da data em que a Assembleia foi realizada.

9.3.3 Representação por Delegados

Se o número de associados ultrapassar três mil ou, ainda, se a área de atuação da cooperativa

tiver ampla abrangência (associados residindo a mais de 50 quilômetros da sede, âmbito regional,

estadual ou nacional), pode ser adotada a representação por meio de delegados que tenham a

qualidade de associados no gozo de seus direitos sociais e que não exerçam cargos eletivos na

sociedade, para tratarem de todas as matérias que constituem objeto de decisão da Assembleia

Geral de Associados.

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9.3.4 Assembleia Geral Ordinária

A Assembleia Geral Ordinária deve ser realizada anualmente, nos quatro primeiros meses do

exercício social.

As demonstrações contábeis de encerramento do exercício, acompanhadas do respectivo

relatório de auditoria, devem ser divulgadas pela cooperativa com antecedência mínima de 10

dias da data de realização da respectiva Assembleia Geral. A Assembleia Geral Ordinária

deliberará sobre os seguintes assuntos, que deverão constar na ordem do dia.

a) Prestação de contas dos órgãos de administração, acompanhada de parecer do

Conselho Fiscal, compreendendo relatório da gestão, balanço e demonstrativo das

sobras apuradas ou das perdas decorrentes da insuficiência das contribuições para

cobertura das despesas da sociedade;

b) Destinação das sobras apuradas ou do rateio das perdas, deduzindo-se, no primeiro

caso, as parcelas para os fundos obrigatórios;

c) Eleição dos componentes do órgão de Administração, do Conselho Fiscal e de outros,

quando for o caso;

d) Quando previsto, fixação do valor dos honorários, das gratificações e da cédula de

presença dos membros do Conselho de Administração ou da Diretoria e do Conselho

Fiscal; e

e) Quaisquer assuntos de interesse social, excluídos os de competência exclusiva da

Assembleia Geral Extraordinária.

Os membros dos órgãos de administração e fiscalização não poderão participar da votação das

matérias referidas nas alíneas “a” e “d” do item anterior.

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9.3.5 Assembleia Geral Extraordinária

A Assembleia Geral Extraordinária realizar-se-á sempre que necessário e poderá deliberar

sobre qualquer assunto de interesse da cooperativa, desde que mencionado no edital de

convocação.

É de competência exclusiva de Assembleia Geral Extraordinária deliberar sobre os seguintes

assuntos. Deliberações cuja validade depende dos votos de, no mínimo, 2/3 (dois terços) dos

associados presentes:

Reforma do Estatuto Social;

Fusão, incorporação ou desmembramento;

Mudança do objeto da sociedade;

Dissolução voluntária da sociedade e nomeação de liquidantes; e

Contas do liquidante.

O BACEN, no exercício de sua competência de fiscalização das cooperativas de crédito, assim

como a entidade que realizar, nos termos da regulamentação do Conselho Monetário Nacional,

atividades de supervisão local, podem convocar Assembleia Geral Extraordinária de instituição

supervisionada, à qual poderão enviar representantes com direito a voz.

9.3.6 Assembleia Geral Ordinária e Extraordinária

A Assembleia Geral Ordinária e a Assembleia Geral Extraordinária poderão ser

cumulativamente convocadas e realizadas no mesmo local, data e hora e instrumentadas em ata

única. Os requisitos de convocação, instalação, ordem do dia e quórum devem ser observados, de

forma individualizada, em relação a cada Assembleia. A ata não precisa registrar, separadamente,

as deliberações de cada Assembleia. Observe-se que constitui faculdade, e não imposição legal,

a instrumentação em ata única.

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10. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

10.1 Planejamento Estratégico do Sicoob

O Sicoob é um sistema de cooperativas atualizado com as mais modernas metodologias de

negócio aplicadas no mundo empresarial, como, por exemplo, o planejamento estratégico. A

elaboração de um plano estratégico tem como objetivo principal fornecer direcionamento comum a

ser seguido por toda a organização, identificando responsabilidades, garantindo alinhamento e

oferecendo meios para medição do sucesso da estratégia de modo focado, visando o alcance dos

objetivos institucionais e a maximização dos resultados.

O planejamento estratégico do Sicoob é revisto a cada triênio e visa consolidar as suas

orientações estratégicas a partir das experiências e do conhecimento de seus dirigentes. O novo

ciclo estratégico de 2016-2018 apresenta os seguintes movimentos:

1) Ampliar os níveis de estrutura de capitalização nas entidades do sistema;

2) Empreender ações que levem a maior fidelidade no sistema;

3) Empreender ações que consolidem a posição de liderança do Sicoob no

cooperativismo financeiro brasileiro;

4) Promover ações para ampliar o mix de produtos do Sicoob;

5) Desenvolver plataforma de gestão comercial;

6) Estruturar a confederação para conduzir plano de expansão territorial e de novos

associados;

7) Elevar o grau de eficiência no sistema Sicoob;

8) Consolidar a política de comunicação e marketing sistêmica;

9) Manter tecnologia atualizada que atenda às necessidades sistêmicas;

10) Empreender ações que aperfeiçoem a governança sistêmica;

11) Empreender ações que aperfeiçoem a formação e a qualificação de dirigentes e

colaboradores; e

12) Implantar processo sistêmico de planejamento, orçamento e gestão.

O planejamento estratégico visa promover o diálogo aberto em busca da construção de

consensos em relação ao direcionamento estratégico, promovendo o alinhamento entre as

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entidades Sicoob, sinergia e comprometimento, com o objetivo de enfrentar as incertezas de um

mercado cada vez mais imprevisível e complexo. Cada sistema regional deve construir o seu

planejamento, alinhando as diretrizes gerais apontadas pelo Sicoob com os planos mais

específicos de cada Cooperativa.

10.2 Direcionadores Estratégicos do Sistema Sicoob

VISÃO

"Ser reconhecido como a principal instituição financeira propulsora do desenvolvimento

econômico e social dos associados".

MISSÃO

"Gerar soluções financeiras adequadas e sustentáveis, por meio do cooperativismo, aos

associados e às suas comunidades".

VALORES

Transparência, Comprometimento, Respeito, Ética, Solidariedade, Responsabilidade.

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11. Conceitos Básicos de Finanças

11.1 Introdução

Embora os membros do Conselho de Administração e Conselho Fiscal (CA e CF) não

necessitem ser experts em administração financeira, o conhecimento de alguns conceitos dessa

disciplina, ligados ao setor de atuação, é necessário. Como mencionado em publicação do

BACEN, o principal negócio de uma cooperativa é a concessão de crédito seguro a seus

associados, sendo a rentabilidade dessas operações um dos fatores formadores do seu

desempenho.

É fundamental, portanto, controlar os riscos das operações e conhecer melhor o perfil econômico

de seus associados, cuidados que garantem uma carteira rentável, evitando riscos que possam

levar a instituição a uma situação difícil, como a inadimplência e, até mesmo, a insolvência.

Pelo exposto, fica entendido que, ao conceder crédito, a cooperativa espera obter um retorno para

o capital investido, capaz de lhe permitir atender ao objetivo de continuar operando e atendendo

aos interesses dos associados. Se houvesse certeza de seus ganhos futuros, seria possível

aceitar uma remuneração que compensasse apenas a sua renúncia à liquidez, durante o período

da operação. Essa remuneração, denominada prêmio de liquidez, seria igual à taxa pura de juros

da Economia, que é considerada livre de risco.

Considerando as incertezas relativas ao desempenho da economia e do próprio negócio onde os

recursos foram investidos, entretanto, os rendimentos esperados são incertos. É essa incerteza

que faz a cooperativa fixar um prêmio adicional, como recompensa pelo risco do investimento.

Desse modo, o custo de oportunidade ou taxa mínima de atratividade de um investimento tem

dois componentes distintos: o prêmio de liquidez e o prêmio de risco.

O prêmio de liquidez é a remuneração básica exigida pelo investidor, ao renunciar à liquidez

durante o período da operação. Este prêmio independe do risco a que o capital se encontra

submetido. Por essa razão, é também conhecido na literatura financeira como taxa livre de risco.

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O prêmio de risco é a remuneração adicional exigida pelo investidor, para compensar o risco

associado à operação. Quanto maior for o risco a que o capital estiver exposto, maior será este

prêmio. Dessa forma, os gestores devem estar atentos à definição e condução das políticas da

cooperativa, zelando para que elas possam conduzir as atividades operacionais dentro de

padrões aceitáveis de risco, atendendo a necessidade dos associados de forma individual, como

também os objetivos da entidade cooperativa, como instituição financeira. Neste contexto, dois

questionamentos são relevantes:

Como reduzir ou amenizar o nível de risco inerente a um investimento?

Como lidar com o risco que não pode ser eliminado ou reduzido?

A primeira questão é respondida com o rápido acesso e tratamento adequado das informações

relevantes aos devedores, de modo a se viabilizar a tomada de decisões eficazes, no tempo

apropriado. Em resumo, o conhecimento da qualidade do credor pode implicar na concessão de

menores taxas de empréstimos.

Contudo, restará sempre uma certeza: a de que a incerteza inerente às decisões econômicas

jamais poderá ser completamente eliminada. Primeiro, porque a enorme complexidade envolvida

nas transformações ambientais impede o controle total das informações relevantes para as

decisões. Segundo, porque os modelos quantitativos utilizados nas previsões e nas avaliações de

investimentos, mesmo os mais sofisticados e abrangentes, sempre se constituirão em

representações simplificadas da realidade. Esta constatação leva à segunda questão proposta

anteriormente: a da necessidade de gerenciamento do risco.

Uma vez constatada a impossibilidade de se eliminar completamente a incerteza associada às

decisões de investimento, torna-se necessário criar regras e técnicas de convivência com o risco

remanescente. Surge, assim, o conceito de administração do risco, tarefa que pode ser

praticada através da diversificação da carteira ou da chamada engenharia financeira.

11.2 Valor do Dinheiro no Tempo

O valor do dinheiro no tempo é um elemento essencial quando de trata de analisar operações de

concessão de crédito. Um velho ditado popular diz “mais vale um pássaro na mão do que dois

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voando”. Em termos monetários ele significa que o dinheiro em caixa hoje vale mais do que no

futuro. Em outras palavras, o valor do dinheiro muda ao longo do tempo. As três razões que levam

o valor do dinheiro a decrescer, progressivamente, ao longo do tempo são as seguintes:

Inflação;

Risco; e

Preferência pela liquidez.

11.2.1 Inflação

Das três razões acima, a inflação é a única que o administrador de qualquer entidade não possui

gerência direta. Efetivamente, os índices que refletem a perda do poder aquisitivo da moeda -

apresentados no capítulo Economia - deixam claro que diversos fatores e agentes, inclusive o

governo, contribuem para sua formação. De qualquer forma é necessário entender que a

existência da inflação - qualquer que seja a sua natureza - implica na ocorrência de perda.

De fato, se houver uma inflação de 5% ao ano (a.a.), um empréstimo de R$1,00 hoje, concedido

para pagamento neste prazo, será depreciado em R$0,05 e o seu valor, na época do resgate,

será de somente R$0,95.

11.2.2 Análise de Risco

Risco, ou incerteza acerca do futuro, também causa declínio no valor presente do dinheiro pelo

fato de ninguém poder prever, com certeza, as condições futuras, tanto da economia como da

“saúde financeira” do credor.

Toda operação envolve determinado grau de risco. Em algumas, ele é pequeno, como as

aplicações feitas em títulos do governo federal, ou de títulos emitidos por bancos de grande porte,

em operações de curto prazo. No entanto, mesmo nessas operações, na medida em que se tem

um horizonte de tempo mais logo, o risco de inadimplência aumenta.

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De qualquer forma, na escolha das operações a avaliação de risco, usualmente, está centrada em

três parâmetros: (a) relação entre o fluxo de caixa do credor; (b) garantias ofertadas; (c) período

de tempo da operação. De fato, quanto maior for o tempo fixado para o pagamento da dívida,

maiores serão as possibilidades da ocorrência de fatores (ligados ou não ao devedor) que

poderão inibir o pagamento da dívida.

Portanto, nas políticas de crédito e definição de taxas das operações, os Conselhos de

Administração devem avaliar a relação Risco x Retorno, ou seja, as linhas que oferecem maior

risco devem, de forma racional, ter uma taxa mais elevada, como forma de prêmio pelo risco

incorrido pela cooperativa.

11.2.3 Preferência pela Liquidez

É importante para o credor ter uma perfeita noção da possibilidade da conversão das garantias

em caixa. Em outras palavras: não basta ter uma garantia com valor elevado. É importante,

também, que ela seja passível de se transformar em dinheiro, de preferência em curto espaço de

tempo. Por exemplo: uma trefilaria (processo de fabricação de arame e barras finas de metal) é de

grande importância e valor para uma siderurgia, mas tem pouco valor e utilidade para uma

cooperativa.

Dessa forma, nas políticas de concessão de crédito devem-se observar os critérios de seleção

das garantias, resguardando que as mesmas possam não comprometer a liquidez das

cooperativas e estar alinhado com sua realidade em termos de prazos de captação (depósitos) e

aplicação (operações de crédito).

11.3 Análises do Fluxo de Caixa (capacidade de pagamento) dos

Tomadores de Empréstimo

O Fluxo de Caixa sintetiza o movimento das aplicações e das fontes de recursos utilizadas nas

diversas transações das empresas. Sem dúvida, as decisões relacionadas à compra de matérias-

primas, investimentos, desinvestimentos, aporte de capital, recebimento de empréstimos,

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reembolso de fundos constituem um contínuo fluxo entre os usos dos investimentos e as fontes

geradoras.

A projeção do fluxo de caixa permite avaliar a capacidade da companhia gerar recursos para

cobrir o incremento de sua necessidade de capital de giro (função do volume de vendas e do ciclo

financeiro da empresa), dos investimentos em Ativo Imobilizado, além de satisfazer as

necessidades relativas ao pagamento de dividendos, de imposto de renda, pagamento de juros e

das parcelas do financiamento de longo prazo que estejam vencendo.

O modelo de fluxo de caixa permite avaliar a política de investimentos e de financiamentos da

empresa, permitindo, inclusive, a comparação entre o fluxo de caixa projetado e o realizado. A

demonstração do fluxo de caixa responde a importantes questões, tais como:

A empresa tem um fluxo de caixa operacional positivo?

Será que mesmo tendo boa geração de caixa operacional a empresa desperdiçou

recursos em investimentos improdutivos?

A busca por empréstimos, de forma sucessiva é condição necessária para a

sobrevivência da sociedade?

Os investimentos de novos ativos, que incorporam mudanças tecnológicas avançadas,

são realmente necessários à manutenção do fluxo de caixa gerado?

Como existe geração de caixa positivo, qual a razão dos vultosos empréstimos junto

aos bancos?

É mais interessante para a empresa comprar a prazo ou obter um desconto a vista?

Será que a empresa somente sobrevive porque está vendendo seus ativos a fim de

financiar a drenagem de dinheiro relacionada à atividade operacional?

Qual é o impacto no fluxo de caixa de uma elevação no prazo concedido aos clientes?

O que acontece com o fluxo de caixa da empresa se houver uma redução pela metade

no prazo médio concedido pelos fornecedores?

Uma das formas mais eficientes de se responder às perguntas acima, e outras mais, é analisar o

Fluxo de Caixa das empresas, considerando seu potencial e sua saúde financeira diante das

condições do mercado em que atuam.

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12. CONCEITOS DE ECONOMIA

12.1 Noções de Economia

A principal questão da Economia é estudar as formas de comportamento humano resultantes da

relação existente entre a escassez de recursos e as necessidades ilimitadas. A Economia estuda

a alocação de recursos escassos (dinheiro, capacidade de trabalho, energia, etc.) entre fins

alternativos (lazer, segurança, sucesso, etc.) por parte dos proprietários de recursos que buscam

obter o máximo benefício por unidade de dispêndio.

O comportamento individual de pessoas e empresas, bem como sua inter-relação, compreende-se

como objeto de estudo da Microeconomia. Por outro lado, a Macroeconomia se refere ao estudo

do comportamento dos agregados econômicos como, produção, consumo, renda, emprego,

políticas de desenvolvimento econômico e o papel dos governos na economia. As duas áreas de

estudo serão apresentadas a seguir.

12.2 Microeconomia

A Microeconomia estuda o comportamento dos consumidores, produtores e do mercado no qual

interagem. Enfim, estuda a determinação dos preços e quantidades em determinados mercados.

Microeconomia é a parte da Economia que se volta ao estudo e sistematização dos distintos

padrões de produção e determinação dos preços dos bens e serviços transacionados nos mais

diversos mercados.

A Microeconomia tem um núcleo central: o processo de determinação dos preços. E, a despeito

desta determinação não ser homogênea, mas marcada por profundas diferenças nos mercados

organizados sobre bases distintas, comporta uma dimensão universal: todo o processo de

determinação de preços se realiza a partir da interação de compradores (ou demandantes) e

vendedores (ou ofertantes).

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Por outro lado, a oferta de determinado produto é definida pelas várias quantidades que os

produtores estão dispostos e aptos a oferecer ao Mercado, em função de vários níveis possíveis

de preços, em dado período de tempo.

12.2.1 Análise da Demanda ou Procura

A procura de determinado produto é determinada pelas várias quantidades que os consumidores

estão dispostos e aptos a adquirir, em função de vários níveis possíveis de preços, em dado

período de tempo. Os fatores de Produção são os elementos básicos utilizados na produção de

bens e serviços e suas respectivas remunerações, conforme o Quadro.

Quadro 12.2.1

Fatores de Produção

Fatores de produção Remuneração

Trabalho Salários

Recursos naturais Aluguel Capacidade empresarial Lucros

Capital financeiro Juros Capacidade tecnológica Royalties

Fonte: Sicoob Universidade.

As cooperativas devem observar o comportamento dos agentes econômicos de sua região,

considerando as sazonalidades da produção, níveis salariais, desenvolvimento tecnológico e

econômico, entre outras variáveis, para estabelecer suas políticas de captação de recursos,

operações de crédito, gestão da cobrança, portfólio de produtos e serviços e as necessidades

específicas de seus associados.

As cooperativas do Sicoob atuam em regiões com realidades econômicas diversificadas e

diferentes umas das outras. Desse modo, uma característica particular das cooperativas é a

capacidade de adequar sua estrutura operacional e comercial para atender às necessidades de

seus associados. Nesta lógica, considerar os fatores microeconômicos torna-se fator essencial

para a consolidação dos negócios assim como a expansão de suas áreas de atuação.

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Como os fatores microeconômicos consideram particularidades dos agentes econômicos, a

microeconomia é a área de conhecimento da economia que irá analisar os agregados

econômicos, em seus aspectos de produção, consumo, renda e relação com os agentes

institucionais como governos e órgãos internacionais.

12.3 Macroeconomia

É a parte da teoria econômica que estuda o conjunto de agentes econômicos. Ela tem por objetivo

obter uma visão, mesmo que simplificada, do funcionamento da economia, que permita não

apenas conhecer, mas também atuar sobre o nível de renda e sobre o nível geral de preços de

um determinado país.

A determinação do nível de renda, emprego, utilização da capacidade instalada de uma economia

configura-se em uma das questões mais importantes da análise econômica. Trata-se, em última

instância, de se questionar porque as economias apresentam, ao longo do tempo, ritmos

diferenciados de crescimento. Ou, olhando-se o mesmo fenômeno por outra perspectiva,

investigam-se aqui os determinantes da criação da riqueza em uma economia de mercado.

Não se pretende aqui esgotar as várias respostas que podem ser elaboradas para cada uma das

questões anteriores. Até porque há vários paradigmas dentro das Ciências Econômicas e, dentro

destes, distintas teorias que procuram explicar aqueles e outros fenômenos. Nosso foco aqui será

a análise dos determinantes gerais das flutuações da renda no curto prazo, bem como apontar

para os fatores que explicam o crescimento da renda no longo prazo.

12.4 Modelos de Políticas Econômicas

Para os economistas clássicos, o Estado não deve gastar (G) mais do que arrecada (T). Quando

G > T, o Estado precisa tomar dinheiro emprestado oferecendo juros mais elevados, o que reduz

a poupança disponível. A elevação da taxa de juros reduz o papel da iniciativa privada e eleva o

papel do Estado no PIB (efeito deslocamento ou crowding-out). Para os clássicos, uma política

fiscal expansionista eleva o Produto Interno Bruto (PIB) e os preços no curto prazo e uma política

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fiscal contracionista reduz o PIB e os preços no curto prazo. No entanto, para os clássicos, esses

efeitos de curto prazo não se sustentam no longo prazo. A Lei da Responsabilidade Fiscal (LRF)

tem o papel de garantir certo equilíbrio fiscal nas contas públicas, a fim de evitar que políticas de

curto prazo mais expansionistas prejudiquem a economia no longo prazo.

Para os economistas keynesianos (influenciados pelos estudos do economista britânico John

Maynard Keynes) as nações deveriam aceitar que os entes estatais poderiam influenciar os níveis

de produtividade macroeconômicos, aumentando ou diminuindo o número de tributos, bem como

o gasto público.

Tal política, por sua vez, controlaria a inflação e aumentaria o emprego. Ou seja, os governos

passam então a regular os níveis de desemprego, inflação, desaceleração na economia e, para

exercer esse controle, contando com uma combinação das políticas monetárias e fiscais que

serão utilizadas de modo a controlar os fenômenos econômicos.

É nesse momento que, além das políticas econômicas e fiscais, se presencia o nascimento do

"Welfare State", um conjunto de políticas econômicas e sociais promovidas pelo governo de modo

a garantir não só a normalidade do setor econômico, mas também o bem-estar da população em

geral.

Outra forma de intervir no funcionamento da economia dá-se por meio do controle dos meios de

pagamento e no nível de preços dos bens. Esta intervenção refere-se à política monetária, a qual

alude ao controle da moeda (dinheiro) na economia tendo por objetivo manter a inflação sob

controle e, ao mesmo tempo, garantir a liquidez ideal (equilíbrio do sistema econômico) no país.

Para controlar a moeda e a taxa de juros, as autoridades monetárias utilizam-se dos instrumentos

diretos e indiretos, a saber: compra e venda de títulos públicos, recolhimento compulsório,

operações de redesconto e seleção de crédito. A taxa de juros é o instrumento utilizado pelo

BACEN para estabilizar e controlar o nível de preços ou para estimular a economia. Se a taxa de

juros cai (política monetária expansionista), a população tem maior acesso ao crédito, estimulando

o consumo. No entanto, esse aumento no consumo pode estimular uma elevação nos preços,

caso as indústrias e o país não estejam preparados (gargalo na educação - pessoal qualificado - e

infraestrutura, como falta de investimentos em geração de energia, rodovias, portos e/ou

empresas trabalhando perto do limite da capacidade). Por outro lado, se a taxa de juros sobe

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(política monetária contracionista), a autoridade monetária inibe o consumo e os investimentos. A

redução do consumo ajuda a combater a inflação.

Se há um aumento da taxa básica de juros (Selic), é mais atrativo aplicar em títulos da dívida

pública e menos atrativo aplicar na atividade produtiva; e se a taxa de juros cai, diminui a

atratividade em aplicar em títulos públicos e passa a ser mais vantajoso aplicar na atividade

produtiva.

No entanto, a política monetária está intimamente ligada à política fiscal, pois uma política fiscal

muito expansionista (arrecadação bem inferior aos gastos do governo) força a autoridade

monetária a adotar uma política monetária contracionista (elevação das taxas de juros). Ou seja, é

necessário oferecer juros mais elevados para atrair os recursos para financiar o déficit público

(caso contrário, a autoridade monetária teria que aumentar a emissão da moeda para financiar a

parcela dos gastos de governo que não são financiados via arrecadação, o que significaria mais

inflação).

12.5 Fatores Relacionados ao Processo Inflacionário

A literatura denomina de causas clássicas da inflação aquelas derivadas de problemas

relacionados a (i) excesso de demanda ou (ii) choques de oferta. Assim, a inflação de demanda se

originaria de um aumento nos gastos agregados para além da capacidade produtiva no curto

prazo. Este aumento poderia ter uma fonte eminentemente monetária, qual seja: governos com

orçamentos desequilibrados buscariam se financiar por meio da expansão da oferta de moeda

(para além do crescimento do produto real).

Com mais recursos líquidos, o público em geral buscaria ampliar sua posse de bens e serviços,

pressionando o nível geral de preços. O processo inflacionário se caracteriza por uma elevação

contínua do nível geral de preços, com uma consequente queda do valor da unidade monetária. A

inflação não é um fenômeno simples. Deste modo, não há uma única explicação para as causas

deste processo, sendo necessário considerar fatores estruturais, variáveis econômicas e as

imperfeições de mercado.

Devido às imperfeições do mercado, os estrangulamentos na oferta de setores críticos e quebras

de safras provocam elevações nos preços de determinados produtos e em determinados setores.

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Numa economia com o mercado bem organizado, estas elevações nos preços podem ser

corrigidas recorrendo-se, inclusive, ao aumento do volume dos bens importados. No entanto, num

país com mercados mal estruturados e graves problemas no balanço de pagamentos, há

dificuldades para correção desses desequilíbrios setoriais, gerando, como consequência, um

efeito propagador de aumento de preços nos demais setores.

Além das causas associadas às pressões de demanda e às pressões de custo, ou poder de

mercado, há um componente inflacionário associado às expectativas formadas pelos agentes

econômicos sobre os níveis futuros da inflação. Nele os agentes econômicos incorporam, em seus

cálculos e contratos, suas expectativas de taxas de inflação para o futuro (taxas esperadas).

Assim, as expectativas inflacionárias tendem a realimentar o processo, cada vez com maior

intensidade, gerando, em consequência, o encurtamento dos prazos na economia, uma menor

intermediação financeira, forçando para cima os níveis da inflação.

12.5.1 Déficit Público e Inflação

Nos países desenvolvidos as poupanças privadas excedem significativamente os investimentos

privados. Na ausência de déficit público, os países enfrentariam uma contínua queda da renda,

deflação e estagnação. Ao produzir um déficit da magnitude da diferença entre poupança e

investimento privados, os governos evitam a estagnação, e conseguem financiar-se com taxas

reais de juros moderadas, sem provocar inflação.

No caso brasileiro, as poupanças voluntárias privadas não excedem os investimentos privados, e

somente é possível absorver poupança de não residentes através de taxas de juros extremamente

elevadas, provocando uma forte aceleração da dívida interna. O financiamento do déficit público

tem de ser conseguido por mecanismos que, de alguma forma, forcem poupanças privadas

adicionais, ou cortem investimentos privados.

Se o BACEN resiste à monetização do déficit, tem de elevar a taxa real de juros, a fim de atrair

poupança, provocando uma queda de investimentos privados, abrindo espaço para ser ocupado

pelo setor público. Assim, no caso brasileiro, deve haver um controle rigoroso do déficit público,

controlando os gastos e aumentando a fiscalização de impostos.

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13. INDICADORES ECONÔMICOS

13.1 Introdução

Os indicadores econômicos (IEs) referem-se a dados e/ou informações que sinalizam o

comportamento (individual ou integrado) das diferentes variáveis e fenômenos que integram o

sistema econômico de um país, região ou estado. Eles são importantes porque permitem maior

compreensão da situação presente e o delineamento das tendências de curto prazo da economia,

a fim de subsidiar o processo de tomada de decisões estratégicas dos agentes públicos (governo)

e privados (empresas e consumidores).

Desta forma, procurar-se-á demonstrar os agrupamentos mais convencionais no que tange aos

diferentes IEs - de acordo com a variável macroeconômica principal que os mesmos tentam

explicar - e especificar aspectos como conceito, finalidade, metodologia de determinação e

instituição produtora.

13.2 Indicadores de Nível de Atividade

Os indicadores do Nível de Atividade servem como um “termômetro das condições gerais dos

elementos mais sensíveis às flutuações cíclicas do lado real da economia”, sintetizados no

comportamento do produto interno bruto (PIB), da produção industrial e das estatísticas de

emprego e desemprego.

13.2.1 Produto Interno Bruto (PIB)

O PIB corresponde ao valor de mercado do fluxo de bens e serviços finais disponibilizados por

uma economia em um determinado período de tempo (normalmente um ano), propiciando o

acompanhamento de suas modificações estruturais e de seu curso conjuntural.

O PIB pode ser aferido a preços correntes (nominais ou monetários) e constantes (reais). Ambos

representam importantes medidas de desempenho. Os valores monetários servem para dar uma

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ideia da dimensão do sistema, pois resultam da agregação da produção física de todos os bens e

serviços pelos respectivos preços, descontadas as transações intermediárias.

13.2.2 Desemprego

O Desemprego constitui preocupação da maioria das economias capitalistas desde o final do

século XX, devido à modernização tecnológica, à automação, à abertura pouco criteriosa dos

mercados e à proliferação de distorções conjunturais. A taxa de desemprego é definida pela

relação entre o número de pessoas desempregadas e a população economicamente ativa (PEA).

A estimativa da taxa de desemprego no Brasil envolve uma polêmica metodológica nada

desprezível entre as instituições que procuram medir o fenômeno, o que acaba se refletindo nos

números finais. As divergências começam com a população em idade ativa (PIA) e terminam com

os conceitos de procura e não obtenção de emprego.

13.3 Índices da FGV

13.3.1 Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI)

É obtido a partir de uma média do Índice de Preços no Atacado (IPA), Índice de Preços ao

Consumidor (IPC) e Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), com ponderações 06 (seis),

03 (três) e 01 (um), respectivamente. As coletas de preços abrangem os municípios de Rio de

Janeiro e São Paulo para o IPC, 19 capitais para o INCC, e as capitais e algumas regiões

produtoras no caso do IPA (apesar do cálculo não ser regionalizado).

13.3.2 Índice Geral de Preços de Mercado (IGPM)

Apresenta praticamente as mesmas características e limitações do IGP- DI. A diferença principal

corresponde à periodicidade da coleta dos preços, cobrindo o intervalo entre os dias 21 do mês

anterior e 20 do mês corrente.

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Surgiu em 1989, na época da hiperinflação indexada, dada a necessidade de os agentes

econômicos, notadamente aqueles atuantes no mercado financeiro, disporem de um índice de

atualização de preços logo no começo do mês e atualmente é utilizado especialmente nos

contratos de reajustes de tarifas de telefonia e de energia elétrica.

13.4 Índices do IBGE

13.4.1 Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)

Este índice reflete as variações dos preços dos bens e serviços consumidos por famílias com

renda mensal urbana entre 01 e 40 salários mínimos, independentemente da fonte. Os preços são

pesquisados em dez regiões metropolitanas, a saber: Belém, Recife, Fortaleza, Salvador, Belo

Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e Goiânia, além do Distrito Federal. O

IPCA é adotado pelo BACEN para a fixação das metas de inflação do país, acordadas entre o

governo brasileiro e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

13.4.2 Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC)

Este índice capta a evolução de uma cesta de produtos consumidos por famílias com rendimento

entre um e oito salários mínimos, provenientes exclusivamente do trabalho assalariado urbano. O

indicador cobre as mesmas regiões metropolitanas do IPCA e a agregação é efetuada pela

população residente urbana, levantada pelo Censo Demográfico.

13.4.3 Índice da FIPE (Índice de Preços ao Consumidor - IPC)

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) calcula a variação de preços de bens e serviços para

famílias que ganham entre 01 e 20 salários mínimos no município de São Paulo. É utilizado para

reajustar impostos estaduais e municipais no Estado de São Paulo.

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13.4.4 Índices do Setor Externo

Refere-se a:

Exportações - valor das vendas e outras remessas de bens e serviços de propriedade

para o exterior, realizadas por agentes econômicos residentes do país, a preços de

embarque, excluindo o pagamento de fretes, seguros, impostos e taxas;

Importações - valor das compras e outros ingressos de mercadorias e serviços

procedentes do exterior do país;

Saldo da balança comercial - exportação menos importação;

Saldo em transações correntes - consolidação da balança comercial e de serviços e

das transferências unilaterais. Os serviços compreendem transportes, seguros, viagens

internacionais, assistência técnica, lucros e dividendos e juros da dívida externa;

Transferências unilaterais - correspondem às doações, remessas de imigrantes etc.; e

Dívida externa - valor total de débitos do país, contratados com residentes no exterior e

garantidos pelo governo, decorrentes de empréstimos e financiamentos, com prazo de

vencimento superior a um ano.

13.5 Índices Financeiros

Refere-se a:

Juros Over/Selic - taxa de juros média (em %) praticada pelo BACEN para a rolagem

dos títulos da dívida pública por um dia. Apesar de terem sido concebidos para propiciar

a gestão da liquidez do sistema econômico, os papéis do governo sempre

representaram ativos de primeira linha, indicando o piso da rentabilidade do mercado

financeiro, devido à sua pronta liquidez e à plena garantia de recompra.

Poupança - rendimento calculado para a remuneração mensal dos depósitos em

caderneta de poupança, a partir da Taxa Referencial de Juros (TR), acrescida de 0,5%.

A TR é obtida a partir da combinação da remuneração média mensal, livre de impostos,

dos depósitos, a prazo fixo, captados pelos bancos comerciais e de investimentos e

agências operadoras com títulos públicos.

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14. PLANEJAMENTO ORÇAMENTÁRIO

14.1 Conceituação

O orçamento empresarial é uma ferramenta relevante para todos os tipos de sociedades, inclusive

as sociedades cooperativas. Weston e Brigham (2000)9 conceituam orçamento como um plano

que estabelece os gastos projetados para certa atividade e indica as fontes dos recursos

necessários à sua execução, ou seja, relaciona os recursos financeiros para fazer face a esses

gastos.

Segundo os mesmos autores, ciclo orçamentário é o período no qual se elabora, aprova e executa

um orçamento. Quanto à periodicidade, geralmente os orçamentos são estabelecidos em bases

mensais. Normalmente, comparam-se os valores reais com os projetados no orçamento, sendo

que as diferenças devem ser esclarecidas e os valores projetados para o restante do ano devem

ser revistos, caso as projeções iniciais mostrem-se fora da realidade.

Normalmente o período do orçamento é de um ano. O orçamento empresarial precisa estar

conectado com o processo de planejamento operacional da organização, ou seja, o planejamento

estratégico estabelece as principais premissas a partir das quais o orçamento anual será

elaborado.

O orçamento empresarial corresponde a uma projeção de um ano da demonstração de

resultados, fluxo de caixa e balanço patrimonial de uma organização e constitui-se em ferramenta

importante para a avaliação dos planos e controles organizacionais.

O orçamento permite a apuração de resultados por área de responsabilidade, desempenhando

papel de planejamento e controle. Além disso, envolve a vinculação de recursos para o ano

seguinte. Tal vinculação deve ser programada com clara ideia da direção que a organização

tomará a longo prazo.

9 WESTON, J.F.; BRIGHAM, E.F. Fundamentos da Administração Financeira. São Paulo: Makron Books, 2000.

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14.2 Planejamento Estratégico X Orçamento

Normalmente o planejamento orçamentário é feito pelo prazo de um ano e o planejamento

estratégico por um período maior, geralmente de três a quatro anos. O planejamento estratégico é

feito antes do orçamento e, desta forma, proporciona a estrutura para a elaboração deste. Ou

seja, o orçamento corresponde a uma fração anual do plano estratégico da organização, mas com

um nível de detalhamento bem maior do que o do planejamento.

14.3 Orçamento X Projeções

Muitas vezes, os gestores elaboram projeções financeiras ao invés de orçamentos, e isso ocorre

frequentemente em sociedades cooperativas. Muitas organizações que dizem usar o orçamento

empresarial utilizam, em verdade, projeções de valores de receitas, despesas e resultados.

Almeida et al. (2009)10 concluíram que as cooperativas agropecuárias da região Sul do Brasil

usam algum tipo de orçamento como parte das atividades de planejamento, execução e controle.

As que declararam não o fazer elaboram projeções de receitas e de despesas.

Anthony e Govindarajan (2006)11 discorrem sobre a diferença entre orçamento empresarial e

projeções financeiras. O orçamento é um plano gerencial que vincula uma área de

responsabilidade ao cumprimento da proposta aprovada pela autoridade superior, da forma mais

realista possível e uma projeção é mera previsão do que se espera que ocorrerá, sem qualquer

compromisso por parte de seu responsável. Esses autores apresentam as seguintes

características da projeção:

a) Pode ou não ser expressa monetariamente;

b) Pode cobrir qualquer período;

c) Seu autor ou responsável não tem a responsabilidade de atingir os resultados

projetados;

d) As projeções não são em geral aprovadas por autoridade superior;

10 ALMEIDA, Lauro Brito de; MACHADO, Esmael Almeida; RAIFUR, Léo; NOGUEIRA, Daniel Ramos. A Utilização do Orçamento como

Ferramenta de Apoio à Formulação de Estratégia, de Controle e de Interatividade: um estudo exploratório nas cooperativas agropecuárias da região sul do Brasil. Revista Contabilidade Vista & Revista. Belo Horizonte, v. 20, n. 3, jul-set, 2009. p. 65-99 11 Anthony, Robert N.; GOVINDARAJAN, Vijay. Sistemas de Controle Gerencial. 10a ed. Americana. São Paulo: Atlas, 2006.

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e) As projeções são atualizadas rapidamente, tão logo ocorram alterações nas condições

anteriores; e

f) As variações das projeções não são em regra analisadas formal e periodicamente, e o

objetivo das análises é aperfeiçoar a capacidade de projetar.

Diante do exposto, constata-se que são grandes as diferenças entre o orçamento e a projeção,

em especial com relação aos aspectos de compromisso e responsabilização por resultados dos

administradores envolvidos em ambos os processos.

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15. CONTABILIDADE E GESTÃO FINANCEIRA

15.1 Análise das Demonstrações Contábeis

A contabilidade exerce um importante papel dentro do processo administrativo das cooperativas

de crédito. As análises financeiras são feitas com base em relatórios contábeis, os quais foram

construídos pela área contábil com a finalidade de oferecer aos gestores informações sobre os

fatos e mudanças ocorridas nos ativos, obrigações e resultado das atividades fim da organização.

Além do fator interno, a divulgação das informações contábeis permite que os associados possam

ter conhecimento da estrutura patrimonial da cooperativa, assim como a sua capacidade de gerar

resultados financeiros. A confiança gerada pelos relatórios contábeis aos associados é importante

para ampliar a atuação das cooperativas, haja vista que mais pessoas terão interesse de se

associar a uma organização que possui saúde financeira e adota políticas de transparência de

suas atividades.

Dessa forma, a segurança e confiança das informações prestadas pelos relatórios contábeis são

ampliadas a medida que são auditadas por profissionais externos e também pelos Conselheiros

Fiscais, que conforme exposto, são associados eleitos no formato de representação para conferir,

examinar, auditar e validar as informações fornecidas pela área contábil.

De acordo com Franco (1999)12 a trajetória da área contábil passa pelas seguintes etapas:

i. Registro dos fatos contábeis (escrituração);

ii. Demonstração expositiva destes fatos (relatórios contábeis);

iii. Verificação da adequabilidade dos registros e demonstrações (auditoria); e

iv. Análise e interpretação dos relatórios (análise de balanços e demais demonstrações).

Dessa forma, o propósito deste conteúdo reside em explicitar os conhecimentos

relacionados a identificação dos principais relatórios contábeis apresentados pelas

12 FRANCO, H. A contabilidade na era da globalização. São Paulo: Atlas, 1999.

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cooperativas, assim como as análises necessárias para atestar a condição financeira

das cooperativas.

Os principais relatórios contábeis que são examinados pelos conselheiros fiscais publicados aos

associados como forma de prestação de contas são: i) Balanço Patrimonial; ii) Demonstração de

Sobras ou Perdas; iii) Demonstração de Mutações no Patrimônio Líquido; e iv) Demonstração de

Fluxos de Caixa. Nas seções a seguir, serão apresentados os principais tópicos de análises que

devem ser observados pelos Conselheiros Fiscais para que possam cumprir de forma adequada

seu papel de fiscalização.

15.1.1 Balanço Patrimonial

O Balanço Patrimonial (BP) reflete o a posição financeira da cooperativa de crédito em

determinado momento, sendo considerada uma demonstração estática do patrimônio, que

envolve bens e direitos (ativo), obrigações com terceiros (passivo) e capital próprio (patrimônio

líquido). Dessa forma, tem-se a equação 1 que demonstra o equilíbrio patrimonial.

ATIVO = PASSIVO + PATRIMÔNIO LÍQUIDO

Em outras palavras, a equação descrita acima expressa à lógica entre os investimentos realizados

pela empresa (ativo) e o total de recursos captados (passivo + patrimônio líquido) que são

representadas pela forma estruturada do balanço. O Balanço Patrimonial das cooperativas de

crédito segue o plano contábil das Instituições do Sistema Financeira Nacional - COSIF, criado em

1987 com a finalidade de facilitar o acompanhamento, análise e avaliação do desempenho e

controle das instituições financeiras atuantes no país.

O Balanço Patrimonial apresentado a seguir será utilizado para representar a funções e análises

dos principais grupos de contas patrimoniais utilizadas para registrar os eventos e modificações

patrimoniais da cooperativa.

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Tabela 15.1.1.1 Balanço Patrimonial Simplificado

ATIVO Balanço Patrimonial Simplificado

Circulante

Disponibilidade

Relações Interfinanceiras

Centralização Financeira - Cooperativa

Operações de Crédito

Operações de Crédito

(Provisão para operações de crédito de liquidação duvidosa)

Outros créditos

Créditos por avais e fianças honrados

Rendas a receber

Diversos

(provisão para outros créditos de liquidação duvidosa

Outros valores e bens

Realizável a longo prazo

Operações de crédito

Outros créditos

Permanente

Investimentos

Participação em cooperativas

Outros investimentos

Imobilizados

Imóveis em uso

Outras imobilizações em uso

(Depreciações acumuladas)

Diferido

(Amortizações acumuladas)

TOTAL

PASSIVO

Circulante

Depósitos

Depósitos a vista

Depósitos a prazo

Relações Interfinanceiras

Repasses interfinanceiros

Correspondentes

Relações Interdependências

Obrigações por repasses do país - Instituições oficiais

Outras obrigações

Exigível a longo prazo

Relações interfinanceiras

Repasses interfinanceiros

Outras obrigações

Resultados de Exercícios Futuros

Patrimônio líquido

Capital Social

Reservas legais

Sobras acumuladas

TOTAL Fonte: Adaptado BACEN (2015).

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15.1.2 Ativo Circulante - Disponibilidade e Relações Interfinanceiras

Refere-se às disponibilidades que estão sob a forma de aplicações em fundos e geram receitas

para as cooperativas. São originados dos depósitos das cooperativas e outros fundos que estão

aplicados e podem ser utilizados para cobrir possíveis desenquadramentos dos limites técnicos.

Esta conta deve ser monitorada com a finalidade de avaliar a liquidez imediata da cooperativa,

evitando que a mesma tenha problemas de liquidez e tenha que realizar a interrupção de suas

operações de crédito por falta de disponibilidades. Além dos valores aplicados, considera-se como

disponibilidade o valor contido na conta caixa, ou seja, os recursos financeiros disponíveis para

transações de numerário da cooperativa.

Por outro lado, um elevado nível de disponibilidade pode sinalizar que a cooperativa tem sido

pouco efetiva nas transações de empréstimos e deve adotar ações mais objetivas de expansão de

crédito e aplicar recursos em operações de crédito, com vistas a aumentar as receitas

operacionais da cooperativa. O indicador de avaliação é o de liquidez imediata (LI) e deve ser

gerenciado dentro de parâmetros estabelecidos pela cooperativa e o Conselho Fiscal a qualquer

tempo deve ter acesso a tal informação para acompanhar as medidas os possíveis ajustes

realizados pela cooperativa.

15.1.3 Operações de Crédito e Provisionamento

Neste subgrupo encontram-se as operações de crédito realizadas pela cooperativa em suas

diversas modalidades de empréstimos. De forma consolidada apresentam-se as seguintes linhas:

Cheque especial/conta garantida;

Empréstimos;

Financiamentos;

Títulos descontados;

Financiamento Rural Próprio e Repassados; e

Adiantamento a depositante.

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Nesta rubrica é possível analisar periodicamente a evolução de cada conta, ou especificamente, a

evolução de cada modalidade de empréstimo. Ao acompanhar a evolução das carteiras é possível

mapear em quais linhas a cooperativa tem conseguido ser mais eficiente, assim como as

modalidades de crédito que estão sendo mais trabalhadas e demandas pelos associados.

Além das carteiras, também é possível avaliar a qualidade do crédito através do estoque de

provisão. A provisão se refere a uma reserva financeira feita de acordo com o risco com que cada

operação foi realizada. A análise deve ser feita pelo índice de provisão (Provisão de CL /

Operações de Crédito). Este índice se refere a participação percentual do estoque de provisão em

relação ao total de operações de crédito. Os Conselheiros Fiscais podem monitorar

mensalmente o desempenho das carteiras através de:

a) Operações de crédito total;

b) Maiores devedores - Consolidado e por carteira;

c) Índice de provisão por carteira;

d) Composição e distribuição da carteira por modalidades de operação;

e) Prazo médio das operações; e

f) Operações de crédito por perfil do tomador.

15.1.4 Outros Créditos e outros Valores e Bens

Nestas rubricas são realizados os lançamentos de direitos a receber pela cooperativa que não são

diretamente lotados nas carteiras de crédito. Também podem ser considerados nesta conta

valores relacionados a bens que serão recebidos pelas cooperativas. Como se trata de direito da

entidade, é considerado um ativo e está em condição de recebê-la. Nestes casos, não se analisa

indicadores, haja vista que são lançados valores menores e não estão diretamente relacionados

com a atividade operacional da cooperativa.

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15.1.5 Realizável a Longo Prazo/Operações de Crédito/outros Créditos

As operações lançadas nestas rubricas se diferenciam das anteriores, devido ao prazo para

serem realizadas, nestes casos, normalmente superiores a 365 dias, ou seja, operações que

estarão vencendo a contar desta, com prazos superiores ao período de um ano corrente.

15.1.6 Permanente

São os ativos não circulantes que estão aplicados a longo prazo. Podem ser consideradas a

participação em outras instituições, investimentos, bens e equipamentos fixos e diferidos. As

rubricas que compõe o Permanente do Balanço são: Investimentos em outras instituições,

Imobilizado e Diferido.

Os Conselheiros Fiscais podem acompanhar a evolução desta conta patrimonial para monitorar

as aplicações em ativos fixos feitos pelas cooperativas, venda de patrimônio e valor dos

investimentos, como feito na participação nas cooperativas centrais e também no Bancoob. Como

exemplo de ativos fixos, citam-se máquinas e equipamentos, imóveis, automóveis, móveis, entre

outros.

A análise do imobilizado deve ser feita em conjunto com o índice imobilização, visando avaliar se

a cooperativa não está imobilizando recursos acima dos parâmetros aceitáveis.

15.1.7 Passivo Circulante - Depósitos e Relações Interfinanceiras

O passivo circulante contém as obrigações de curto prazo da cooperativa com terceiros. São

registrados nestas rubricas os depósitos a vista e a prazo dos associados pessoa física e jurídica.

Os depósitos são todos os recursos financeiros com saldo em conta corrente e nas aplicações

financeiras.

Já os recursos originados das relações interfinanceiras são aqueles captados pelas cooperativas

junto a terceiros e aplicados em linhas de crédito específicas. Nestas rubricas, os Conselheiros

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FGV Projetos CE Nº 1974/15

Fiscais poderão acompanhar o desempenho das cooperativas na captação de recursos que, por

sua vez, sinaliza a condição de credibilidade da cooperativa junto aos associados, fluxo de

movimentação financeira e eficiência da política de captação de depósitos. No que se refere à

política de captação de depósitos, é objeto de monitoramento:

Prazos médios das aplicações;

Taxas de remuneração;

Faixas de valores estipulados para aplicação;

Proporção de depósitos a vista e a prazo; e

Perfil dos aplicadores.

15.1.8 Passivo Circulante - Relações, Interdependências, Obrigações

por Repasses e outras Obrigações e Exigível de Longo Prazo

Nesta rubrica, são feitos os registros dos recursos repassados aos associados. Em sua maioria

são financiamentos rurais repassados, além de recursos direcionados, como para aqueles para

investimentos de longo prazo. Os recursos direcionados são importantes para as cooperativas

atenderem demandas específicas de seus associados e o monitoramento destes justifica-se para

avaliar se a cooperativa está cumprindo adequadamente seu papel de agente propulsora do

desenvolvimento econômico.

Vale destacar que os Conselheiros Fiscais devem estar atentos à proporção de tais obrigações

em relação às demais obrigações de curto prazo, considerando que não é recomendável que as

cooperativas atuem com a maior parcela de recursos repassados, pois também é relevante a

aplicações de recursos próprios e de maior giro, resguardando pela saúde financeira e

rentabilidade das operações.

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15.1.9 Patrimônio Líquido - Capital Social, Reservas Legais e Sobras

Acumuladas

Na rubrica de Patrimônio Líquido são lançados os recursos de capital social, reservas legais e as

sobras acumuladas da cooperativa, ou seja, os recursos que são próprios da entidade. O

monitoramento destas contas é importante para avaliar a condição de crescimento do patrimônio

da cooperativa. O crescimento do Patrimônio se faz importante não somente pelo fato de oferecer

maior segurança para atividade operacional da cooperativa, mas também por ampliar os limites

operacionais de captação de depósitos de aplicações (operações de crédito).

A partir destas contas os Conselheiros Fiscais podem monitorar as políticas de capitalização

realizadas pela cooperativa, além de avaliar a proporção das sobras que são destinadas para as

reservas legais, ou seja, verificar se a condição de crescimento patrimonial está alinhada e é

capaz de suportar o projeto de expansão das atividades da cooperativa. A expansão do capital

social se faz importante devido às perdas financeiras inerentes à atividade operacional das

cooperativas. Dessa forma, quanto maior o fortalecimento do patrimônio líquido, maior será a

capacidade de a cooperativa resistir a possíveis perdas ocorridas.

Do mesmo modo, é possível identificar retiradas de capital, ou seja, associados que encerraram

suas contas e solicitaram a retirada do seu respectivo capital. Esta condição pode representar

uma condição desfavorável aos objetivos da cooperativa.

15.2 Demonstração de Sobras ou Perdas - DSP

Conforme apresentado, o Balanço Patrimonial nada mais é do que uma demonstração estática

dos bens, direitos e obrigações da entidade. Já a Demonstração de Resultado de Exercícios -

DRE pode ser classificada como dinâmica, pois informa o total das operações que envolvem

determinada conta no decorrer do período (caráter não cumulativo). Porém, apesar da

diferenciação, a DRE está contida no Balanço Patrimonial na medida em que o resultado apurado

integra o Patrimônio Líquido e as despesas e receitas da entidade têm como contrapartida

alterações das contas ativas e passivas.

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O instrumento de integração entre o Balanço Patrimonial e a DRE, no que diz respeito ao

resultado líquido das entidades cooperativas, é chamado de “Demonstração de Sobras ou Perdas”

- DSP. As sobras ou perdas apuradas serão incorporadas à conta do Balanço Patrimonial Sobras

ou Perdas Acumuladas. A seguir apresenta-se a estrutura simplificada de tal demonstração.

Tabela 15.2.1

Demonstração de Sobras ou Perdas

Demonstração de Sobras ou Perdas

Descrições das contas

Receitas (ingressos) da intermediação financeira

Operações de Crédito

Resultado das aplicações compulsórias

Despesas (dispêndios) da intermediação financeira

Operações de captação no mercado

Operações de empréstimos, cessões e repasses

Provisão para operações de crédito

Resultado bruto da intermediação financeira

Outras receitas/despesas/ (ingressos/dispêndios) operacionais

Receitas (ingressos) prestação de serviços

Rendas (ingressos) de tarifas bancárias

Despesas (dispêndios) de pessoal

Outras despesas (dispêndios) administrativas

Despesas (dispêndios) tributárias

Ingressos de depósitos intercooperativos

Outras receitas (ingressos) operacionais

Outras despesas (dispêndios) operacionais

Resultado Operacional

Resultado não operacional

Resultado antes da tributação/Participações

Imposto de renda sobra atos não cooperativos

Contribuição social sobre atos não cooperativos

Sobras e perdas antes das destinações

Participação Estatutária no lucro

F.A.T.E. S - Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social

Reserva legal

LUCRO/PREJUÍZO (SOBRAS/PERDA) LÍQUIDO

JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO

SOBRA LÍQUIDA DO EXERCÍCIO Fonte: Relatório anual Sicoob.

A DSP apresenta a composição das receitas e despesas com as atividades operacionais da

cooperativa, resultado com atividades não operacionais, destinações legais e resultado apurado

que será submetido à decisão da Assembleia Geral Ordinária quanto a sua destinação.

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No exercício de suas atividades, cabe ao CF analisar e avaliar o desempenho da cooperativa,

assim como averiguar se os resultados apurados estão alinhados com o projeto estratégico

estabelecido pelo Conselho de Administração para aquele período. Não estando, cabe ao CF,

apoiar a gestão apontando informações adicionais que poderão auxiliar na compreensão do

resultado financeiro, assim como identificar os fatores que contribuíram para a geração de tal

resultado. Como exemplo, cita-se o resultado bruto da intermediação financeira, que pode advir de

uma política de captação feita com taxas de juros mais elevadas e, por esse motivo, apresentar

resultado abaixo do desejado. A seguir serão expostos os principais grupos de análise, que são

objeto de análise do CF.

15.2.1 Resultado Operacional

O resultado bruto da intermediação financeira refere-se à apuração das receitas auferidas com as

operações de crédito e as aplicações obrigatórias (centralização financeira), deduzido as

despesas de captação (juros pagos pelos depósitos a prazo) e também as provisões das

operações de crédito. Nesta rubrica será possível avaliar a eficiência da intermediação financeira,

que é um dos principais objetivos das cooperativas de crédito.

Esta avaliação dependerá dos objetivos estratégicos da cooperativa, sendo que, as cooperativas

que objetivam ter uma política de maior valorização dos depósitos e taxas de operações de crédito

menores terão um resultado operacional menor. Nesta avaliação, o Conselheiro Fiscal poderá

monitorar o spread da cooperativa, que se refere à diferença média entre as taxas de captação de

depósitos e as aplicações financeiras (operações de crédito). O spread das cooperativas em sua

maioria é maior quando o mercado financeiro opera com taxas de juros mais elevadas, pois as

mesmas operam com taxas de empréstimos mais baixas do que o mercado, porém ainda mais

elevada do que em cenários com taxas de juros mais baixas.

Adicionalmente, compõem o resultado operacional as receitas oriundas da comercialização de

produtos e a prestação de serviços. Após somar todas as receitas com as atividades operacionais

da cooperativa, deduzem-se as despesas de pessoal, administrativas, tributárias e os custos dos

serviços bancários. Neste caso, os Conselheiros Fiscais devem observar:

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1) Proporção de receitas com a intermediação financeira e rendas com a prestação

de serviços;

2) Custo de captação de depósitos;

3) Custo dos serviços bancários (exemplo: tarifas de transações interbancárias como

DOC/TED/compensação e outros);

4) Evolução das despesas administrativas, pessoal, tributárias, outras despesas

operacionais; e

5) Evolução do resultado operacional.

15.2.2 Resultado não Operacional, antes da Tributação e Participações

O resultado não operacional é formado a partir das atividades que não possuem relação direta

com a atividade fim da cooperativa. Como exemplo cita-se a apuração da venda de ativos fixos,

descontados o valor residual (valor restante após depreciação).

Após a apuração do resultado operacional e não operacional têm-se os descontos dos impostos

sobre as operações com atos não cooperativos. Vale destacar que os atos não cooperativos são

receitas auferidas com transações com não associados. Sobre estas transações incidem o

Imposto de Renda e a Contribuição Social sobre o lucro. Descontados os valores dos impostos

sobre atos não cooperativos, o valor é destinado obrigatoriamente para Fundo de Assistência

Técnica, Educacional e Social - FATES.

Nestas rubricas, é importante monitorar a proporção das transações realizadas com não

associados e as condições necessárias para a cooperativa atender à necessidade não somente

de seus associados, como também de não associados e da comunidade onde atua.

15.2.3 Sobras/Perdas antes das Destinações, Juros ao Capital e Sobra

Líquida do Exercício

De acordo com a legislação cooperativista, as cooperativas são obrigadas a destinar parte do seu

resultado para compor o Fundo de Reserva (10%) e o FATES (5%), respectivamente. Os

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percentuais apresentados são os mínimos exigidos pela legislação, considerando que estes

percentuais podem ser maiores caso seja interesse da cooperativa e constar em seu estatuto

social.

Aos Conselheiros Fiscais cabe o monitoramento para verificar a adequada destinação para os

fundos, assim como o volume do resultado operacional após as destinações. Além destes, cabe a

análise quanto ao pagamento de juros ao capital, que é a remuneração recebida pelo associado

referente ao volume de capital aplicado na singular.

A remuneração do capital tem ganhado maior expressividade nos últimos anos devido à

necessidade de expansão do crescimento do patrimônio das cooperativas singulares e também

para criar incentivo para os associados capitalizarem a cooperativa.

Após dedução do valor destinado ao pagamento de juros ao capital, conforme definido pela

cooperativa, apura-se a sobra do exercício que irá compor a conta patrimonial de Sobras e Perdas

Acumuladas do Balanço Patrimonial.

15.3 Demonstrações nas Mutações do Patrimônio Líquido - DMPL

A Demonstração de Sobras e Perdas da AGO pode ser complementada pela Demonstração de

Mutações do Patrimônio Líquido - DMPL que, ao invés de discriminar apenas as alterações da

conta “Sobras ou Perdas a Disposição da AGO”, explicita as alterações feitas em todas as contas

do Patrimônio Líquido. As informações contidas na DMPL destacam-se pela importância de

identificar as ações que geraram maior impacto na variação do patrimônio, sendo este fator

relevante na solidez da cooperativa na ampliação da sua capacidade operacional.

A Tabela 15.3.1 apresenta as contas que compõe a DMPL, as quais apresentam as alterações

ocorridas na estrutura patrimonial da cooperativa.

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Tabela 15.3.1

Modelo simplificado da demonstração das mutações no patrimônio líquido - DMPL

Demonstração das mutações no patrimônio líquido - DMPL

Descrições

Capital Reservas de

Sobras Sobras ou

Perdas acumuladas

Total Capital

subscrito Capital a realizar

Legal

Saldo Inicial

(±) Ajustes

Aumento de Capital

Reversões (Reservas)

Sobras líquidas

Reserva Legal

Fates

Fundo desenvolvimento

econômico

Distribuição

Saldo Final Fonte: Adaptado dos Relatórios internos Sicoob (2015).

A DMPL inicia apresentando as informações de saldo inicial do capital subscrito e a ser

integralizado. Essa diferenciação ocorre devido à condição do associado poder realizar a

integralização de capital de forma parcelada. Como exemplo, um associado no ato da abertura do

capital subscreve um valor de R$ 100,00 – ou seja, uma promessa que irá aplicar esse valor em

cotas de capital, e posteriormente divide em dez parcelas mensais de R$ 10,00. No 5º mês, o

mesmo terá capitalizado ainda R$ 50,00 e no valor do saldo de capital consta R$ 100,00. Dessa

forma, através da demonstração contábil será possível identificar quanto de capital subscrito que

foi efetivamente integralizado.

A conta “Ajustes da DMPL” será utilizada para registrar as movimentações de capital como

devolução de cota capital, estorno de capital subscrito, devoluções de capital e subscrições de

capital. Após os ajustes apuram-se os aumentos/reduções de capital advindos das sobras e

perdas, novas capitalizações e subscrições dos associados. Assim, são apuradas as sobras

líquidas e abatem-se os fundos obrigatórios e outros fundos estipulados pela cooperativa.

Por fim, considera-se nesta demonstração contábil a remuneração de juros ao capital adotada por

algumas cooperativas, além de desconto dos impostos, entre outros. E, por último, tem-se a

rubrica de distribuição do capital aos associados e o saldo líquido à disposição da Assembleia.

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15.4 Demonstração de Fluxo de Caixa

A demonstração de fluxo de caixa tem por objetivo principal apresentar as oscilações de caixa, ou

seja, o volume de numerário (recursos financeiros) aplicado nas transações operacionais. Os

eventos que afetam a disponibilidade financeira são: i) Provisões; ii) Depreciações e

amortizações; iii) Provisão de juros ao capital; iv) Baixa de imobilizado; v) Impostos e outros que

sejam específicos de algumas cooperativas.

Além dos eventos citados, tem-se o aumento/redução em ativos operacionais como operações de

crédito, outros créditos e valores e bens. Considera-se também, o aumento/redução em passivos

operacionais como depósitos, relações interfinanceiras e outras obrigações por empréstimos e

repasses. Também afetam a disponibilidade de caixa as atividades de investimentos,

financiamento, as variações no capital social e as movimentações nos fundos obrigatórios (fundo

de reserva e FATES).

Ao analisar a demonstração de fluxo de caixa, os Conselheiros Fiscais devem analisar as contas

que apresentaram maior oscilação, assim como os eventos para confirmar a efetividade das

ações de crescimento e/ou sugerir melhorias quando necessário. A Tabela 15.4.1 apresenta como

exemplo um modelo simplificado de demonstração do fluxo de caixa.

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Tabela 15.4.1

Demonstração Simplificada do Fluxo de Caixa

Demonstração de Fluxo de Caixa

Descrições das contas da demonstração

Atividades Operacionais

Sobra/Perda do Exercício antes da tributação

Outros ajustes

IRPJ/CSLL

Provisão para operações de crédito

Depreciação e amortizações

Provisão para juros ao capital

Baixa no imobilizado

Aumento (Redução) em ativos operacionais

Operações de crédito

Outros créditos

Outros valores e bens

Aumento (redução) em passivos operacionais

Depósitos a vista

Depósitos sob aviso

Depósitos a prazo

Outras obrigações

Relações interdependências

Relações interfinanceiras

Obrigações por empréstimos e repasses

Resultados de exercícios futuros

Caixa líquido aplicado em atividades operacionais

Atividades de investimentos

Aplicação em diferido

Alienação de investimentos

Inversões em imobilizado de uso

Inversões em investimentos

Outros ajustes

Caixa líquido aplicado/ originado em investimentos

Atividades de financiamentos

Aumento por novos aportes de capital

Devolução de capital à cooperados

Destinação de sobras exercícios anterior - cotas de capital a pagar

Integralização de juros ao capital

IRRF sobre juros ao capital

FATES - Resultado de atos não cooperativos

FATES - Sobras do Exercício

Estorno de capital subscrito

Caixa líquido aplicado / Originado em Financiamento

Aumento/ Redução líquida das Disponibilidades

Modificações em Disponibilidade

No início do período

No fim do período

Variação líquida da disponibilidade Fonte: Adaptado dos Relatórios internos Sicoob (2015).

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É importante ressaltar que a Lei no 11.638/07 tornou obrigatória a apresentação do Demonstrativo

do Fluxo de Caixa (DFC), e eliminou a exigência relativa à apresentação da Demonstração de

Origens e Aplicações de Recursos - DOAR. Por conta dessa determinação, o Comitê de

Pronunciamentos Contábeis - CPC emitiu o Comunicado nº 03/2010 (CPC 03), o qual passou a

integrar o Plano Contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional - COSIF: NBC - TG - 03.

As instituições autorizadas a funcionar pelo BACEN também estão obrigadas a elaborar este

documento, nos termos da Resolução nº 3.604/08. Essa demonstração objetiva a prestação de

informações acerca das alterações históricas no caixa e equivalentes a caixa, por meio de

demonstração dos fluxos de caixa que classifique os fluxos de caixa do período por atividades

operacionais, de investimento e de financiamento.

Entendeu o legislador que os usuários das demonstrações contábeis de uma entidade estão

interessados em saber como a entidade gera e utiliza o caixa e os equivalentes de caixa. Esse é o

ponto, independentemente da natureza das atividades da entidade. Nesse contexto, a

demonstração dos fluxos de caixa, quando usada em conjunto com as demais demonstrações

contábeis, proporciona informações que permitem aos usuários avaliarem as mudanças nos ativos

líquidos da entidade, sua estrutura financeira, inclusive, sua liquidez e capacidade de solvência.

15.5 Análise dos Indicadores de Desempenho

O processo de análise de desempenho deve ser feito a partir da avaliação de um conjunto de

indicadores, à luz das políticas fixadas pelos gestores que deverá contemplar o comportamento

atual e esperado da economia para um determinado período de tempo. Não é factível uma

avaliação baseada num único indicador. A análise também não deve contemplar um período

estático. É importante que haja uma avaliação da evolução temporal dos índices, isto é, uma

comparação dos dados/indicadores ao longo de um período de tempo. Muito comum é a

comparação entre o período analisado e o imediatamente anterior, ou o apurado em igual período

do ano anterior. A comparabilidade permite estabelecer uma tendência ou uma reversão, o que

quase sempre permite adoção de medidas capazes de mitigar riscos ou de maximizar as metas

fixadas. Não é necessário um vasto conjunto de indicadores para identificar a situação de uma

entidade. Basta o cálculo de alguns deles, dentro da postura acima mencionada. Alguns

indicadores comumente utilizados estão apresentados a seguir.

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15.5.1 Liquidez Geral

Conceito: Trata-se de um índice de liquidez, que calcula a relação em valor monetário existente

entre o ativo circulante + realizável a longo prazo dividido pelo passivo circulante + exigível a

longo prazo. Este índice nos diz quanto existe de ativo mais realizável para cada R$ 1,00 de

passivo mais exigível. É desejável que este parâmetro seja próximo de 1.

15.5.2 Liquidez Imediata

Conceito: Este índice nos diz quanto existe de Disponibilidade para cada R$ 1,00 de passivo

circulante. Trata-se de um índice de liquidez. O conceito segue o da liquidez corrente.

15.5.3 Índice de Inadimplência

Conceito: Valor percentual das operações de crédito que se encontram vencido no último dia do

mês. As operações vencidas correspondem ao valor da parcela da operação de crédito que esteja

em atraso de pagamento há mais de um dia. Na modalidade de Cheque Especial e Conta

Garantida não existe atraso. É possível ter o índice de inadimplência considerando variações de

dias de operações vencidas, como o INAD 10, INAD 90; os quais consideram apenas as

operações vencidas acima de 10 dias ou operações vencidas a mais de 90 dias, respectivamente.

Quanto menor a inadimplência melhor deverá ser o desempenho financeiro.

15.5.4 Provisão de CLD/Operações de Crédito

Conceito: Valor percentual das Provisões para Créditos em Liquidação em relação ao total de

Operações de Crédito. O ideal é este percentual seja irrelevante.

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15.5.5 Endividamento

Conceito: Refletem quantas vezes o patrimônio líquido ajustado (PLA) está comprometido com

depósitos, repasses e empréstimos e outras obrigações. Trata-se de um índice de estrutura de

capital. As instituições financeiras devem ater-se aos limites estabelecidos pela legislação em

vigor.

15.5.6 Adiantamento a Depositante

Conceito: Compreende o valor realizado de adiantamento a depositantes pela singular em saldo

final. Deve ser atendida a política fixada pelos dirigentes da cooperativa.

15.5.7 Rentabilidade do Patrimônio do PLA

Conceito: Compreende o valor percentual de quanto foi o retorno do Capital Próprio. Deve ser o

suficiente para atender ao perfeito funcionamento da entidade, inclusive para investimentos e,

também, aos anseios dos cooperados.

15.5.8 Rentabilidade do Ativo

Conceito: Compreende o valor percentual de quanto o ativo foi remunerado pelo resultado da

CREDI. Identifica se houve adequada remuneração dos recursos captados ou o nível de

rentabilidade atingida pela cooperativa.

15.5.9 Spread Global

Conceito: Compreende a diferença entre a rentabilidade média do ativo pelo custo médio do

passivo. Evidencia se a gestão foi eficiente na difícil tarefa de captar recursos e de aplicá-los de

forma adequada aos interesses dos associados.

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15.5.10 Despesas de Pessoal / Margem de Contribuição

Conceito: Compreende o valor percentual das despesas de pessoal em relação à margem de

contribuição. Demonstra a eficiência do gestor em cobrir os custos diretos, principalmente a mão

de obra direta e, ainda, gerar sobras para pagar os demais custos.

15.5.11 Honorários e Cédulas C.A / Margem de Contribuição

Conceito: Compreende o valor percentual dos honorários e cédulas do conselho de administração

e diretoria em relação à margem de contribuição. Seu objetivo é avaliar a adequação dessas

despesas as realizadas por outras cooperativas como forma de aperfeiçoar o processo de gestão.

15.5.12 PLA por Associados

Conceito: Índice de Produtividade que mede o quanto do Patrimônio Líquido Ajustado à

cooperativa possui por associado, em moeda corrente. O aumento desse parâmetro indica

aumentos ou reduções no patrimônio dos associados.

15.5.13 Ativo por Associado Ativo

Conceito: Compreende a análise de quanto de ativos a cooperativa aplicou por associado ativo.

Evidencia o potencial de realização da entidade.

15.5.14 Depósitos por Associados Ativos

Conceito: Compreende a análise de quanto de depósito a cooperativa captou por associado ativo.

Demonstra a adesão/confiança dos associados no ideal cooperativista e na capacidade dos

gestores.

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15.5.15 Operações de Crédito por Associados Ativos

Conceito: Compreende a análise de quanto de operações de crédito a cooperativa efetuou por

associados ativos. Evidencia a capacidade de gestão dos administradores, mas não garante a

existência de sobras.

15.5.16 Rendas de Serviço por Associados Ativos

Conceito: Compreende o quanto das rendas de serviço a cooperativa obteve por associados

ativos. Assim como outros indicadores, mede a eficiência dos gestores.

15.5.17 Índice de Cobertura (Pessoal)

Conceito: Representa o percentual das Despesas de Pessoal pagas pelas Rendas de Serviços

obtidas pela CREDI no período. Para as cooperativas torna-se relevante para explicitar a

necessidade de expandir as rendas adicionais. O ponto de referência é a despesa de pessoal.

Idem anterior.

15.5.18 Índice de Cobertura (Adm.)

Conceito: Representa o percentual das Despesas Administrativas pagas pelas Rendas de

Serviços obtidas pela CREDI no período. Após a cooperativa conseguir custear as despesas de

pessoal com as rendas de serviços, a cooperativa buscará aumentar as rendas de serviços para

custear as despesas administrativas. As rendas com intermediação obtidas serão adicionadas ao

resultado sem necessidade reduzi-las para custeio das operações. Idem anterior

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16. GESTÃO DE RISCO NAS COOPERATIVAS DE CRÉDITO

16.1 Conceito

Todas as organizações estão expostas a algum tipo de risco, em maior ou menor grau. O risco é

inerente às atividades empresariais e, por isso, necessita de especial atenção quanto ao seu

gerenciamento. De um modo geral, o risco pode ser atribuído à possibilidade de ocorrência de

determinado evento, seja ele positivo ou negativo, bem como atinge, de diferentes formas, as

atividades das empresas.

Os riscos podem ser classificados em dois grupos, risco sistemático e risco não sistemático. O

risco sistemático é aquele que provém do ambiente político, econômico e social e das

características de mercado, como taxas de juros e câmbio, que circundam todas as instituições e

impactam-nas de forma indiscriminada.

Por outro lado, há o risco não sistemático, também chamado de risco próprio, que é consequência

direta dos aspectos financeiros, da administração e do setor de atuação, sendo específico à

posição de cada instituição financeira no mercado. Assim, pode-se denominar a análise de risco

como o estudo dos eventos que tem efeitos sobre a empresa. A Figura 16.1.1 apresenta a

subdivisão do risco.

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Figura 16.1.1

Risco Sistemático e Não-Sistemático

Fonte: Sicoob Universidade.

No mercado financeiro, a mensuração do risco está relacionada com a capacidade de mensurar a

chances de ocorrência de oscilações nos preços dos ativos financeiros, como previsão das

oscilações nas cotações de determinada ação, título ou contrato negociados no mercado

financeiro.

O mercado financeiro tem passado por mudanças ao longo dos últimos 40 anos com profundas

implicações para as operações - mudanças em mercados, serviços e produtos, além da mudança

de técnicas e tecnologia, as quais têm alterado as operações e serviços - que tem propiciado

significativo desenvolvimento e sofisticação da gerência de riscos.

Nas cooperativas financeiras, assim como em outros agentes financeiros, há a incidência dos

diversos tipos de riscos. Desse modo, os gestores devem estar atentos aos riscos não

sistemáticos, que podem gerar maior impacto no desempenho das cooperativas. Os riscos

inerentes ao sistema financeiro são os riscos de mercado, de crédito, de liquidez e operacional. O

Quadro 16.1.1 abaixo apresenta os principais riscos a que as cooperativas estão expostas:

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Quadro 16.1.1

Principais Riscos que Impactam as Cooperativas Financeiras

Principais riscos Conceitos Forma de mensuração

Risco de Mercado

Possibilidade de perda em posições, dentro e fora do balanço, provocada por movimentos nos valores de

mercado, originadas de alterações nas taxas de juros e câmbio, nos preços das ações e de commodities.

É calculada sobre os depósitos, operações de crédito e em

derivativos, remuneradas pelas taxas de juros pré-fixada ou pós-fixada, ou cujo valor sofra

alteração quando há variação na taxa de juros

Risco de liquidez É causado pelo descasamento de prazo, indexador, moeda e valor entre

os pagamentos e os recebimentos.

Monitoramento das políticas de prazos de captação de depósitos

e nas concessões de crédito.

Risco de Crédito

Risco de crédito é definido pela perda no evento de não pagamento do devedor, ou no evento de

deteriorização da qualidade do crédito do devedor.

Utilização de métodos

quantitativos e análise qualitativa das informações financeiras do tomador.

Risco operacional

Possibilidade de ocorrência de perdas resultantes de falha, deficiência ou

inadequação de processos internos, pessoas e sistemas, ou de eventos externos. (art. 2º. Res. 3.380 / 2006).

Pode ser mensurado a partir de metodologia quantitativa com

pesos diferenciados de acordo com o grau de impacto do risco e chance de ocorrência.

Fonte: Universidade Sicoob.

Os riscos são agrupados de acordo com as áreas de impacto nas atividades das cooperativas.

Entre os grupos, destaca-se o de risco operacional como de maior amplitude organizacional e que

os conselhos, diretorias e área de controles internos devem monitorar de forma sistemática, como

forma de evitar perdas provenientes das falhas causadas por este tipo de risco.

No que se refere ao risco operacional, as cooperativas financeiras não estão acompanhando a

evolução das metodologias mais recentemente adotadas. Por serem organizações que visam o

acesso ao crédito pelos seus cooperados e revertem seus resultados em benefícios do

desenvolvimento próprio, da comunidade e dos cooperados, as cooperativas financeiras devem

conhecer e administrar bem os seus riscos.

Os princípios que compreendem o sistema de gestão de risco operacional devem permear todas

as estruturas da organização para que sejam incorporadas à sua cultura e a todos os seus

métodos gerenciais e operacionais. O principal benefício do gerenciamento específico é garantir

que os riscos operacionais estejam em níveis estrategicamente aceitáveis. Quantificar o risco é

uma maneira de alcançar esse objetivo. O principal requisito é manter sob controle as fontes de

risco, caso tenham ou não ocasionado perdas.

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16.2 Fatores de Risco Operacional nas Cooperativas

Considerando o conceito de risco operacional como sendo a possibilidade de falhas ocorridas em

processos operacionais, pessoas e também originados de fatores externos à cooperativa, é

importante que os gestores das cooperativas tenham consciência de quais são estes fatores, a

que são atribuídos e como podem ser mapeados, visando reduzir sua incidência no âmbito das

cooperativas.

A identificação de tais fatores não é importante apenas pelo fato de se poder gerenciá-los, como

também para que as cooperativas tenham a real dimensão das dificuldades a fim de que

construam processos e corrijam tais incidências. Desse modo, tais fatores podem ser agrupados

da seguinte forma:

a) Fatores internos: o risco operacional, de fato, está associado à potencial falha nos

fatores de produção, que são as decisões (estratégica ou operacional), os projetos, os

processos e os controles utilizados pela cooperativa. Dessa forma, para minimizar sua

exposição aos riscos operacionais os gestores deverão definir processos e seus

respectivos controles em todos os níveis da organização, considerando que todas as

áreas são relevantes e impactam o nível de atividade do negócio.

b) Fatores externos: os fatores externos são origens frequentes de risco operacional e têm

causas às vezes não gerenciáveis, restando para a organização sua assimilação. Muitas

causas externas, entretanto, permitem a construção de elementos de proteção ou

intervenção mitigadora. A proteção pode ocorrer com o aumento dos meios de

segurança, no desenvolvimento tecnológico e acompanhamento dos atos de ocorrência

e do cenário político e comercial. A intervenção exige atuação em ambientes externos de

modo a neutralizar fontes de ameaças aos interesses da organização.

c) Fatores acidentais: muitos fatores de riscos têm causas imponderáveis, entendidos

como sendo aqueles casos de acidentes que possam ser provocados pelo ser humano

por falhas de equipamento ou por atos da natureza.

Além dos aspectos citados, que são potenciais geradores de riscos operacionais, há outros

relacionados à dificuldade de integrar sistemas quando empresas passam por processo de fusão,

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aquisição, ou de terceirização. É necessário também ficar atento para que as técnicas financeiras

de redução do risco de crédito e de liquidez não venham incrementar o risco operacional.

Para adotar um processo adequado de contingência de riscos operacionais é necessário ter um

referencial metodológico de seu gerenciamento:

i. Conhecimento, participação e responsabilidade do corpo diretor: sobre esse princípio o

corpo diretor deverá estar ciente de que os principais aspectos dos riscos operacionais

da empresa são uma distinta e controlável categoria de risco e deverá aprovar, e

periodicamente avaliar, a estrutura gerencial montada para este fim.

ii. Auditoria da estrutura de gerenciamento do risco: o corpo diretor deve garantir que a

estrutura de risco operacional seja submetida a uma efetiva e compreensiva auditoria

interna.

iii. Implementação das estratégias de gerenciamento: todos os níveis da organização

devem compreender as suas responsabilidades relativas ao gerenciamento deste risco.

É necessário que cada papel a ser cumprido seja devidamente esclarecido.

iv. Identificação, avaliação, monitoramento e mitigação: devem-se identificar os tipos de

risco para depois elaborar ações para monitorá-los, estabelecendo políticas, processos e

procedimentos de controle e mitigação dos riscos operacionais, além de estabelecer um

plano de contingências e de continuidade.

v. Divulgação das informações: a organização deverá efetuar suficiente divulgação de

informações, de maneira a permitir que os participantes do mercado avaliem sua

exposição aos riscos operacionais e a qualidade do gerenciamento para essa categoria

de risco.

Os argumentos citados na Resolução CMN 3.380/2007 foram construídos a partir da estrutura

jurídica definida pelo Comitê de Basiléia, a qual será mais bem explicitada na Figura 16.2.1.

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Figura 16.2.1

Fatores de Risco Operacional de Acordo com a Resolução 3.380/2007

Fonte: Sicoob Universidade.

De acordo com o Art. 2º da Resolução CMN 3.380/2007 o risco operacional pode se originar a

partir de falhas, deficiências ou inadequação de processos internos, pessoas, sistemas ou eventos

externos. Cada fator relacionado considera a possibilidade de emergir diversos eventos e

subeventos que podem ocasionar perdas para as cooperativas financeiras. Os riscos são

agrupados de acordo com perfil e também procedimentos das cooperativas.

16.3 Etapas do Gerenciamento do Risco Operacional em Cooperativas

de Crédito

A partir da definição dos fatores chave para gerenciamento do risco, foram definidas seis etapas

que destacam a importância do gerenciamento do risco operacional. O ciclo de gerenciamento

está representado na Figura 16.3.1:

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Figura 16.3.1

Ciclo de Gerenciamento

Fonte: Sicoob Universidade.

16.3.1 Identificação

A identificação é o primeiro estágio do processo do gerenciamento de risco operacional. Ela busca

apontar o evento interno ou externo que pode afetar a implementação da estratégia e o alcance

dos objetivos da cooperativa.

Um exemplo relacionado às cooperativas, é o atendimento das exigências legais atribuídas à

gestão dos cadastros dos associados. O cadastro é peça fundamental para que a Cooperativa de

Crédito conceda e acompanhe os empréstimos a seus associados, usando e observando os

princípios de seletividade, garantias, liquidez, diversificação e concentração de riscos, com a

devida garantia do retorno do capital aplicado. A habilidade na confecção do Cadastro, na

extração das informações e na cautela ao recebimento e aplicação das mesmas, é extremamente

importante para que se obtenha um cadastro confiável e útil. Dessa forma, este será a base

utilizada pelos órgãos competentes no momento da decisão quanto à concessão de limites

operacionais e liberação de crédito.

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A responsabilidade da identificação dos riscos é atribuída aos gestores (executivos) dos

processos, como superintendente, gerentes, supervisores (funções correlatas), entre outros.

É importante considerar que todo o relacionamento de negócios entre os associados e a

cooperativa se inicia no cadastro. Dessa forma, quando ocorrem descuidos, nesta fase,

provocadas por erros operacionais oriundas de falhas humanas ou do não cumprimento das

normas, há grandes chances de se propagarem deficiências operacionais que podem finalmente

gerar outros riscos para a cooperativa, como o risco de liquidez. A responsabilidade da

identificação desses riscos é atribuída aos gestores (executivos) dos processos, como

superintendentes, gerentes, supervisores (funções correlatas), entre outros.

Para identificação dos mecanismos de risco operacionais é utilizada a Lista de Verificação de

Conformidades - LVC, o registro de histórico de perdas operacionais, o mapeamento dos

processos internos, as entrevistas com o agente de controle interno - ACI (observar os processos

operacionais) e, por fim, os pontos levantados pela auditoria interna e externa e pelo ACI. Assim,

são identificados eventos e subeventos que caracterizam riscos operacionais nas cooperativas de

crédito, tais como:

a) Fraude Interna: Atividades não autorizadas, roubo e atividades fraudulentas internas;

b) Fraude externa: Roubo externo e fraude eletrônica provenientes de deficiências de

sistema;

c) Demandas trabalhistas: Relações trabalhistas e discriminação. Ambiente de trabalho

inseguro;

d) Práticas inadequadas quanto à gestão de produtos e serviços e clientes: neste caso,

pode haver perdas de negócios, pois o associado pode ficar insatisfeito com algum

serviço, ou ainda ver-se prejudicado com a cobrança de algum débito;

e) Danos a ativos físicos: são danos que foram causados por motivos naturais de origem

interna ou externa - como tempestade, incêndio, entre outros. Além deste, podem

ocorrer danos quanto à má utilização de equipamento e acontecimentos internos

involuntários;

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f) Eventos que acarretam a interrupção dos serviços ao público estes podem se originar de

falhas ou deficiências do sistema de informação da cooperativa. A consequência é a

interrupção dos produtos e serviços ao público;

g) Falhas nos sistemas de TI: tais acontecimentos são suscetíveis de ocorrerem, pois as

cooperativas são 100% dependentes dos sistemas para operacionalização de seus

negócios. São originados por erros de processamento, perda de equipamento por curto

circuito, entre outros; e

h) Falhas no gerenciamento de atividades: essa falha é muito propensa a ocorrer quando

há rotinas manuais e dependentes das pessoas. São perdas na relação com órgãos

reguladores e, principalmente, por falhas na execução dos controles. Outra fonte são as

perdas decorrentes na relação com fornecedores e parceiros, os quais se sentiram

prejudicados ou tiveram relação de desconforto com a cooperativa. E, por fim, têm-se as

falhas que ocorrem na execução dos processos e na comunicação com os associados.

As etapas apresentadas contribuem para detectar os pontos que geram erros no ambiente interno

e externo à organização, além dos processos que envolvem o relacionamento entre a cooperativa

e os associados. Desse modo, o Conselho Fiscal deve acompanhar o cumprimento das políticas e

mecanismos de prevenção a fraudes, os relatórios de monitoramento de perdas operacionais, os

planos de contingências e relacionar os pontos mais vulneráveis a riscos na cooperativa.

O acompanhamento dos riscos operacionais revela um comportamento proativo da cooperativa

em minimizar as perdas financeiras provenientes destes. Identificar os fatores de risco é o

primeiro passo para instituir ações específicas de correção de falhas, revisar as políticas internas

e avaliar o grau de exposição ao risco operacional por parte da cooperativa.

16.3.2 Avaliação

Além de realizar o mapeamento dos riscos operacionais é importante que se tenha parâmetro que

estabeleça qual o nível de exposição ao risco que a cooperativa está disposta a incorrer. Para

tanto, uma ferramenta proposta é a Matriz de Avaliação de Risco Operacional.

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O grau de exposição ao risco é definido a partir das respostas negativas e dos pontos de controle

da LVC. Cada questão considera seu peso (impacto) e a sua frequência de ocorrência no período

analisado. A Tabela 16.3.2.1 apresenta o modelo de matriz de avaliação de risco operacional.

Tabela 16.3.2.1

Matriz de Avaliação de Risco Operacional

Fonte: Sicoob.

Considerando a execução do papel do Agente de Controle Interno (ACI), no que tange ao

monitoramento e cumprimento das normas e procedimentos, a tabela de avalição de risco

operacional é preenchida e definida como de acordo com os itens estabelecidos. Ao final do

processo tem-se um índice final e uma classificação quanto ao risco, que pode ser baixo, médio

ou alto.

Por outro lado, não se tem apenas esta abordagem para controle e avaliação do risco operacional.

Têm-se também outros procedimentos que as cooperativas podem adotar para evitar sua maior

exposição aos riscos operacionais; quais sejam:

a) Mitigar: um sistema efetivo de controles internos irá reduzir a possibilidade de erros

humanos e irregularidades em processos e sistemas, auxiliando a instituição financeira a

resguardar seus ativos, minimizando o risco de perdas e contravenções contra leis e

regulamentações;

b) Reter: em algumas situações, as instituições financeiras podem decidir reter certo nível

de risco operacional, que poderá ser precificado através de um orçamento para perdas

operacionais;

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c) Transferir: nem todos os eventos de risco operacional podem ser evitados. Por exemplo,

desastres naturais, ataques terroristas, dentre outros, são tipos de eventos que as

ferramentas ou programas de mitigação de risco operacional não conseguem evitar.

Para estes casos, a instituição financeira poderá definir algumas estratégias para

externar parte da severidade, como, por exemplo, estabelecer políticas de seguro;

d) Recusar: a instituição financeira poderá reduzir o nível de atividades do negócio

envolvido, ou mesmo, retirar-se desta atividade completamente, eliminando o risco

operacional.

Conforme acima exposto, as cooperativas de crédito possuem ferramentas para tratamento e

avaliação do risco operacional. Por esta razão, é importante o pleno engajamento do Conselho de

Administração e da Diretoria no seu uso e, também, o constante monitoramento do Conselho

Fiscal quanto à realização desse trabalho por parte dos gestores.

16.3.3 Monitoramento, Controle e Mitigação (Tratamento)

A terceira etapa do ciclo de gerenciamento do risco operacional está relacionada ao

monitoramento, controle e ações de correção no que toca à política das cooperativas quanto ao

risco operacional. Conforme encerrado na seção anterior, o grande desafio das cooperativas é

construir mecanismos de controles que sejam eficazes e também autossustentáveis.

Dessa forma, a etapa citada propõe que sejam realizadas ações de monitoramento, controle e

mitigação, que nada mais é do que o tratamento adequado aos fatos que são propostos. O

desmembramento das etapas consiste em:

Monitoramento: são as ações que possibilitam manter o risco sob supervisão, inclusive

a performance dos controles aplicados, de forma que qualquer variação que possa

redundar em perdas seja tempestivamente identificada e devidamente corrigida;

Controle: arranjo ou conjunto de arranjos aplicados ao risco com o objetivo de mantê-los

dentro de determinados parâmetros; e

Mitigação: redução da probabilidade e/ou do impacto do risco.

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Os pontos mencionados recomendam que sejam elaborados planos de ação para tratamento dos

riscos operacionais. Devido à complexidade do assunto, os gestores da organização devem

selecionar os pontos e implementar ações de correção de falhas, procedimentos e

acompanhamento contínuo. Tais ações são aquelas relacionadas ao item monitoramento.

O segundo elemento é o acompanhamento por parte do Agente de Controle Interno e da Diretoria

Executiva. Estes devem estar sempre em contato com a equipe para a construção e

implementação de melhores práticas e alinhamento com as políticas fixadas pelo Conselho.

Outro foco a ser considerado é a necessidade de alteração dos procedimentos, devido à

ocorrência de mudanças nos processos de negócios, volume de produtos e serviços

comercializados e, por fim, até mesmo por restrição legal, que pode ser imposta pelos órgãos

reguladores.

O Agente de Controle Interno deve realizar testes periódicos para medir se as rotinas padrão

estão sendo cumpridas, como testes em nobreaks, conferências de alarmes, senhas, entre outros.

Os principais desafios estão relacionados ao efetivo engajamento dos gestores no constante

processo de melhoria dos sistemas de controles e do processo de gestão.

16.4 Documentação e Armazenamento de Informação

O processo de documentação e armazenamento da informação consiste em realizar a apuração

das informações relativas aos processos, diariamente, de forma a construir uma base histórica

que seja possível fornecer suporte à área de gerenciamento do risco operacional. Os quatro

pontos básicos são:

a) Arquivar a documentação que dá suporte ao tratamento do risco operacional,

evidenciando a efetividade, a tempestividade e conformidade das ações;

b) Relatar todas as informações referentes aos sistemas de controles e planos de ação

para tratamento dos riscos;

c) Manter a documentação à disposição para solicitações e análises das auditorias interna

e externa, pelo Banco Central e pela Confederação; e

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d) Documentar e comunicar, ao ACI todas as perdas operacionais, mesmo aquelas que

apresentarem dificuldade de mensuração.

Em síntese, esta etapa é a que gera a sustentação para medir e avaliar a efetividade das ações

de controle do risco operacional. A próxima etapa consiste em estabelecer um processo de

comunicação eficaz para integrar setores, departamentos e pessoas em torno de objetivos

comuns.

16.4.1 Comunicação

A etapa de comunicação no processo de gerenciamento do risco operacional consiste em garantir

a adequada integração entre a área de riscos operacionais com todas as demais áreas. Deve

assegurar, por meio de relatórios estruturados, com periodicidade bimestral, o conhecimento ao

CA, CF e a Diretoria executiva das deficiências de controle e do gerenciamento do risco

operacional, permitindo a sua correção tempestiva, bem como a sua transparência.

Considerando o Agente de Controle Interno e o Conselho de Administração como atores principais

no processo de gerenciamento, a comunicação entre eles deve ser efetiva e frequente. Como

proposta, sugere-se que o Agente de Controle Interno informe à Diretoria Executiva sobre:

a) Matriz de Exposição ao Risco Operacional (Matriz de Impacto x Frequência);

b) Relatório de Providências por Área;

c) Relatório de Ações de Regularização de Perdas;

d) Relatório Consolidado de Perdas Operacionais do aplicativo “Exportação Dados para

Excel”;

e) Relatório de Fornecedores Críticos, sempre que houver alterações ou novas inserções; e

f) Relatório de Plano de Contingências, sempre que houver alterações ou novas inserções.

Por outro lado, a Diretoria Executiva deve:

a) Caso considere apropriados os relatórios, encaminhar aos gestores das áreas

responsáveis da cooperativa para que sejam tempestivamente implementados;

b) Caso considere inapropriados, solicitar as adequações julgadas necessárias;

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c) Na ausência de manifestação formal da Diretoria, no prazo máximo de dez dias, o ACI

deve encaminhar os relatórios ao Conselho de Administração informando o envio prévio

à Diretoria; e

d) Diretoria Executiva, assessorada pelo Agente de Controle Interno, deve apresentar, no

mínimo, semestralmente, ao Conselho de Administração, informações sobre perdas

operacionais.

Por fim, a boa relação entre estas unidades garantirá uma boa gestão do risco operacional nas

cooperativas, reduzindo falhas e determinando responsáveis de novas rotinas e gargalos que

possam aparecer.

16.4.2 Perdas Operacionais

As perdas operacionais estão relacionadas aos prejuízos financeiros ou não, que podem ocorrer

devido às falhas dos fatores críticos oriundos das etapas operacionais. Todas as perdas

operacionais, identificadas pelas cooperativas durante o bimestre de avaliação, deverão ser

registradas nesse aplicativo. Os registros poderão ser relativos às perdas financeiras, de

oportunidade ou de baixa de ativo.

É bastante remota a possibilidade de zerar perdas operacionais. No entanto, elas devem ficar

dentro dos parâmetros suportáveis e aceitos pela Diretoria e Conselho de Administração da

entidade quando do processo de identificação, avaliação e tratamento dos riscos operacionais.

O registro das perdas operacionais possibilita à organização a discussão da qualidade do

processo, objetivando:

a) Verificar se o risco foi identificado e aplicado os controles necessários. Caso não tenha

sido identificado, avaliado e tratado, é necessário que então isso aconteça;

b) Levantar as causas da geração da perda, o que possibilita direcionamento de ações

específicas aos pontos certos;

c) Estabelecer plano de ação para implementação de ações mitigadoras (que minimizam

novas ocorrências), sempre observada à relação benefício/custo, ou seja, não se deve

gastar mais recursos do que a perda potencial; e

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d) Monitorar se os controles têm efetividade, ou seja, se funcionam adequadamente

mantendo as perdas nos patamares determinados pela diretoria e pelo conselho de

administração.

Por fim, o ciclo de gestão do risco operacional constitui-se em uma importante ferramenta para

subsidiar o CF no desempenho de suas atividades.

16.5 Tipos de Riscos Mais Comuns às Cooperativas

Os gestores das cooperativas devem estar atentos a riscos específicos do negócio. Os principais

riscos que influenciam o desempenho das cooperativas são:

16.5.1 Risco Legal

Risco de perda resultante da não observância de dispositivos legais ou regulamentares, da

mudança da legislação ou de alterações na jurisprudência aplicáveis às transações da

cooperativa.

16.5.2 Risco de Imagem

Risco decorrente da publicação negativa, má qualidade no atendimento, participação de dirigentes

em situações não recomendadas.

16.5.3 Risco de Concentração

É o risco decorrente da concentração de crédito, depósitos, produtos e serviços em região,

segmento de mercado ou dependência de pessoa (associados) para fazer negócios e executar

serviços.

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As perdas financeiras advindas na inadimplência, de maior impacto no resultado financeiro das

cooperativas, em sua grande parte são geradas pelo elevado nível de concentração de crédito

para um grupo de tomadores. Os motivos para tais condições podem ser atribuídos a diversos

fatores: perfil dos demandantes de crédito (associados que demandam valores mais elevados),

segmento de atuação da cooperativa, pouco diversificada, falta de monitoramento e incentivo a

pulverização do crédito/depósitos na base de associados, cooperativas que possuem associados

vinculados a um único segmento da economia podem estar mais suscetíveis a crises/oscilações

setoriais que venham a impactar o negócio de seus associados, entre outros.

O risco de atuar de forma concentrada não pode ser atribuído apenas às operações de crédito,

pois a concentração de depósitos também pode impactar negativamente as atividades da

cooperativa, pois um grupo de poucos associados com elevados volumes de depósitos podem,

em alguns momentos, retirar seus recursos e comprometer seriamente a capacidade de

empréstimo da cooperativa. Dessa forma, é importante que o CF, em sua sistemática de trabalho,

inclua o monitoramento dos seguintes indicadores de concentração:

Relatório dos Maiores Devedores (podem ser os 20/40/60 maiores devedores -

parâmetro a ser estipulado); e

Relatório dos Maiores Depositantes (podem ser os 20/40/60 maiores depositantes -

parâmetro a ser estipulado).

O gerenciamento do risco de concentração, relacionado aos depósitos e empréstimos, é tão

importante quanto a constituição de provisão das operações de crédito e dos prejuízos, os quais

devem ser objeto de monitoramento por parte dos Conselheiros Fiscais. Para realizar o

monitoramento sugerem-se os seguintes relatórios:

Provisão para créditos em liquidação - CL

Relatório que aponta os valores que são contabilizados como despesas de créditos

provisionados/mês. Deve ser observado também o valor do estoque o estoque de

provisão da carteira de Crédito.

Recuperação de crédito em liquidação - CL

Relatório que aponta os valores que são contabilizados como receita de créditos

liquidados/mês.

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Relatório de créditos baixados para prejuízo

Relatório que aponta os valores que são contabilizados na carteira de prejuízo. Deve-se

observar o crescimento ou decréscimo da carteira de prejuízos.

Operações em aberto

Relatório que aponta as parcelas vencidas e seus respectivos valores.

Conforme as boas práticas de gestão, a pulverização das carteiras constitui-se uma importante

condição para manter a sustentabilidade dos negócios das cooperativas. Além das ações para

manter as carteiras dentro dos padrões de segurança, a administração deve adotar políticas de

crédito com destaque para alguns tópicos relevantes:

Definição de comitês de análise, supervisão e liberação de crédito;

Instituição de alçadas para cada comitê;

Critérios bem definidos e padronizados para elaboração das propostas de crédito;

Procedimentos padronizados para formalização das propostas de créditos;

Análise criteriosa dos coeficientes técnicos e dos cálculos de risco de crédito oferecidos

pelo sistema; e

Adequação das garantias ao perfil de risco da operação.

16.5.4 Risco de Tecnologia

Risco da descontinuidade das atividades apoiadas nos serviços tecnológicos. Falta de meios

seguros de acesso ao sistema, obsolescência de sistemas/equipamentos, falta de back-up, falta

de legalização do software, contingenciamento.

16.5.5 Risco Estrutural

Risco ocasionado pela inexistência ou deficiência de segregação de função, registro, autorização,

normas, regulamentação interna sobre políticas de procedimentos. Risco em que se encontram

todos os produtos, processos e unidades ou sistemas.

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16.5.6 Risco de Falha Humana e Fraudes

Risco de negligência de funcionários, comportamento fraudulento (desvio de valores, vazamento

de informações privilegiadas, descumprimento de normas).

16.5.7 Risco na Qualidade dos Controles - Compliance

Risco da não observância de normas operacionais e de limites definidos pelo BACEN, não

cumprimento de alçadas de crédito, não implantação de controles, falta de comitê, normas,

monitoramento e conciliação.

16.5.8 Risco de Produtos e Serviços

Risco decorrente da má qualidade dos produtos/serviços, irregularidade na formalização e na

legalização do produto.

16.5.9 Risco Patrimonial

Risco de falta de segurança física das pessoas e falta de segurança dos valores custodiados.

Visando minimizar o impacto dos riscos e propor um modelo de gestão, propõem-se sete etapas

que podem ser utilizadas para mitigar o risco e sua influência na atividade das cooperativas, a

saber:

1) Identificação, avaliação, monitoramento, controle e mitigação do risco operacional;

2) Documentação e armazenamento de informações referentes às perdas associadas

ao risco operacional;

3) Elaboração, com periodicidade mínima anual, de relatórios que permitam a

identificação e correção tempestiva das deficiências de controle e de

gerenciamento do risco operacional;

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4) Realização, com periodicidade mínima anual, de testes de avaliação dos sistemas

de controle de riscos operacionais implementados;

5) Elaboração e disseminação da política de gerenciamento de risco operacional ao

pessoal da instituição, em seus diversos níveis, estabelecendo papéis e

responsabilidades, bem como as dos prestadores de serviços terceirizados;

6) Existência de plano de contingência contendo as estratégias a serem adotadas

para assegurar condições de continuidade das atividades e para limitar graves

perdas decorrentes de risco operacional; e

7) Implementação, manutenção e divulgação de processo estruturado de

comunicação e informação.

A execução do plano de gerenciamento deverá ser objeto de observância dos gestores da

organização, resguardando para o correto cumprimento de cada etapa, monitoramento dos

relatórios dos controles internos e demonstrações contábeis.

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17. ROTEIRO SOBRE PRÁTICAS DO CONSELHO FISCAL

17.1 Planejamento e Organização das Atividades de Fiscalização

Esta seção dedica-se ao detalhamento das atividades exercidas pelo CF. Os tópicos discutidos

consideram a natureza das rotinas fiscalizatórias, assim como disponibiliza aos Conselheiros

Fiscais um guia direcionador para execução de suas atividades alinhadas às ações do CF e aos

objetivos e atribuições estabelecidos no estatuto social. A efetiva participação dos Conselheiros

Fiscais não somente fortalece a governança na cooperativa, como também contribui,

significativamente, para o aperfeiçoamento dos processos, considera o planejamento estratégico

definido e o cumprimento dos normativos e políticas instituídas pelo Conselho de Administração.

De forma resumida, pode-se considerar o CF como o representante dos cooperados junto aos

administradores, com a missão de aferir o fiel cumprimento das normas legais e dos regulamentos

da entidade.

Para tanto, os Conselheiros Fiscais devem estar atentos ao planejamento de suas tarefas

garantindo que as mesmas sejam realizadas com esmero, considerando a qualidade das análises

dos processos e informações de desempenho, e mantendo a satisfação dos associados que os

elegeram para representá-los nas decisões executivas e estratégicas de sua cooperativa. De

acordo com Valadares (2015)13

, a atividade de fiscalização do CF deve ser fundamentada em

estruturas formais, considerando a natureza e o alinhamento entre os conteúdos documentais. Os

três principais conteúdos são apresentados a seguir.

17.2 Conteúdo Estrutural/legal

É composto de:

a) Cooperativismo, princípios e valores;

b) Lei nº 5.764/71;

c) Estatuto da Sociedade;

13 Valadares, J.H. Curso de Formação de Conselheiros Fiscais . Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo. Mimeo. 2015.

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d) Leis e regulamentos pertinentes às cooperativas de crédito; e

e) Legislação trabalhista e fiscal.

17.3 Conteúdo Administrativo

Reúne normas, procedimentos e rotinas administrativas, contendo:

a) Estrutura organizacional;

b) Definições de atribuições e competência;

c) Funções, fluxos e rotinas;

d) Normas e instruções de serviços;

e) Política de acesso a sistemas;

f) Regimento interno funcional (políticas de seleção e contratação de funcionários, acordos

coletivos, programas de remuneração variável, outros); e

g) Políticas internas (captação, crédito, cadastro, cobrança e recuperação de créditos,

manual de produtos e serviços - MPS).

17.4 Conteúdo Orientativo

Abrange os seguintes itens:

a) Atas de reuniões do CF;

b) Atas de reuniões do Conselho de Administração e da Diretoria;

c) Ofícios recebidos e emitidos;

d) Relatórios de atividades;

e) Pareceres do Conselho Fiscal;

f) Relatórios de Auditoria; e

g) Comunicação interna formal (comunicados, cartas circulares, memorandos, outros).

As rotinas de trabalho dos Conselheiros Fiscais devem ser transcritas em pauta de reuniões de

trabalho, avaliando os processos da cooperativa e verificando se esta tem cumprido os

normativos, considerando sua estrutura legal, administrativa e de orientação para melhorias de

processos.

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18. CONTEÚDO OPERACIONAL DO CONSELHO FISCAL

Todo o processo operacional do CF deve ser documentado. Não há informalidade no processo.

Todos os atos e fatos administrativos geram, necessariamente, documentos. Os documentos

podem ser de natureza administrativa, contábil ou legal.

18.1 Documentos Administrativos

18.1.1 Relatórios

a) Área de controles internos - o CF remeter-se-á aos apontamentos realizados pelo agente

de controles internos. O acompanhamento deste relatório é de grande importância, pois

permite uma leitura dos processos administrativos e de todos os fatores de risco

operacional. Um dos pilares desse relatório é a Lista de Verificação de Conformidades -

LVC, que possui um conjunto de eventos observados e demonstra a condição

operacional da cooperativa. Dessa forma, o Conselho Fiscal poderá ter uma visão ampla

da situação operacional da cooperativa e atuar de forma mais objetiva naqueles pontos

mais relevantes de melhoria.

b) Auditoria interna e externa - os relatórios da auditoria, tanto interna quanto externa,

também são importantes fontes de informações para o Conselho Fiscal. Os pontos que

são auditados avaliam a adequação das operações de acordo com os manuais e

políticas internas estabelecidas pelo Conselho de Administração. Pode-se averiguar se

operações de crédito realizadas estão de acordo com as políticas de crédito (que define

taxas e prazos) e se as aplicações dos associados estão de acordo com taxas e prazos

estabelecidos. Além destes, considera-se também a adequação dos processos de

cobrança às políticas estabelecidas, assim como os relatórios dos créditos baixados

para prejuízo por mês e o do volume total da carteira de prejuízo.

c) Relatório dos projetos executados - Planejamento Estratégico. Outro importante relatório

que mede a evolução estratégica da cooperativa refere-se aos projetos do planejamento

estratégico. O CF deve monitorar as entregas dos planos estratégicos e, sempre que

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necessário, informar ao Conselho de Administração pontos que devem ser observados

para garantir o sucesso das estratégias definidas no planejamento.

18.1.2 Informações Financeiras e de Transações

a) Fluxo de caixa

b) O CF deve monitorar os relatórios de fluxo de caixa da cooperativa. O objetivo é ter sob

sua supervisão o fluxo de numerários para evitar e identificar ações de tentativas de

lavagem de dinheiro e movimentações suspeitas. Adicionalmente, será possível

identificar fuga de depósitos, aumentos de poupança e o enquadramento técnico de

limite global da singular.

c) Estoque de numerário

O CF verificará, por meio de relatórios gerados pela tesouraria, o estoque de numerário

contido nos Pontos de Atendimento - PA’s, na tesouraria da sede da cooperativa e em

todos os ATMs. Tal monitoramento justifica-se pela necessidade de acompanhar as

despesas com seguros e transportes de valores. Para melhorar a eficiência das

cooperativas, deve ser considerada a possibilidade da redução destas despesas para os

padrões desejados, desde que a qualidade do serviço aos associados seja mantida.

d) Tabelas de taxas de aplicação, empréstimos, tarifas e serviços.

As tabelas de taxas de captação e aplicação devem ser divulgadas a todos os

associados. Além destas, as regras de acesso ao crédito e às linhas de aplicação devem

ser conhecidas pelos associados e as regras devem ser aplicadas a todos. No caso das

cooperativas de crédito, o princípio da isonomia deve ser resguardado, ou seja,

proporcionando a todo associado o acesso às mesmas condições.

e) Certidões legais da cooperativa.

As cooperativas têm de cumprir uma série de obrigações de natureza trabalhistas e

tributárias. Nestes casos, o CF deve monitorar se todas as documentações estão em dia

e se as obrigações com os órgãos fiscalizadores e autoridades governamentais estão

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sendo cumpridas. Como exemplo, cita-se desde os alvarás fornecidos pelos órgãos

locais até confirmação da quitação de débitos junto à Receita Federal.

18.2 Documentos Contábeis

18.2.1 Demonstrações Contábeis

O desempenho financeiro e comercial das cooperativas de crédito pode ser analisado a partir das

demonstrações contábeis, considerando o fechamento mensal, semestral e anual. Mensalmente,

o Conselho Fiscal poderá analisar o Relatório chamado Análise de Produtividade do Negócio -

APN. Esse relatório contém todas as informações das carteiras, dos produtos e dos serviços, além

das despesas administrativas e dos custos dos serviços. É uma importante ferramenta que está

disponível na plataforma de apoio a decisão - PAD no Sisbr.

As informações também poderão ser levantadas a partir dos balancetes dos Pontos de

Atendimento - PA’s e do consolidado da cooperativa, sendo estes também de igual importância

para avaliação da saúde financeira da Cooperativa.

18.2.2 Orçamento de Despesas Diversas, Orçamento de Compras

Faz parte das atribuições do CF o monitoramento do orçamento e despesas da cooperativa, assim

como o de compras. É sugerido que os Conselheiros Fiscais, periodicamente, façam uma

análise dos processos de orçamento, dos fornecedores, avaliem as políticas de compras da

cooperativa e comparem os orçamentos de produtos e serviços contratos no mercado.

A qualidade de tais processos passa pelo acompanhamento do CF com ações de sugestão de

melhoria e, quando necessário, encaminhamento dessas recomendações para o Conselho de

Administração.

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18.2.3 Relação de Pagamentos de Compras

É saudável o monitoramento dos pagamentos, com conferência de notas fiscais, recibos,

checagem da idoneidade de fornecedores e a avaliação da relação custo/benefício dos

fornecedores que tem atendido a cooperativa.

Cabe considerar aqui a verificação das licenças de softwares, o pagamento de equipamentos, as

condições comerciais das compras realizadas e a avaliação da relação custo/benefício dos

fornecedores. Por fim, tais informações irão contribuir para melhorar a eficiência administrativa da

cooperativa. Todos estes documentos têm o sentido legal que tornam os seguintes procedimentos

de cunho obrigatório:

As compras são acompanhadas de nota fiscal, devidamente preenchida com o nome da

cooperativa, seu endereço, seu CNPJ e inscrição estadual, caso tenha. Observação:

nota de venda ao consumidor não é documento legal/contábil para a cooperativa. A

mesma só é válida para o consumidor;

A prestação de serviço, seja a cooperativa a prestadora ou usuária do mesmo, deve ser

acompanhada de nota fiscal. O profissional autônomo que não tem empresa constituída

deve ser pago com recibo de pagamento a autônomo (RPA); e

Pagamentos: O Conselho Fiscal deve analisar a relação dos pagamentos realizados,

notas fiscais e o tratamento dos eventos financeiros junto à contabilidade.

18.3 Registro

O registro das atividades executadas pelo CF, das ocorrências identificadas, bem como as

orientações e as sugestões devem ser registradas de acordo com sua relevância. Os registros

deverão ser apresentados em formato de relatório e encaminhados para as devidas áreas e

responsáveis.

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Exemplo: Constatou-se, quando da conferência do caixa do dia 10/01/20xx, diferença significativa

na ordem de R$ 1.000,00.

18.4 Planejamento

Em sua primeira reunião, do ciclo de gestão ou do ano, o CF deverá planejar suas atividades de

acordo com áreas internas da organização, estabelecendo cronograma de trabalho e os recursos

necessários para a adequada execução de suas tarefas.

No planejamento elaborado, deverão constar, necessariamente, além das atividades definidas no

Estatuto Social, os seguintes assuntos/negócios:

Acompanhamento e cobrança do planejamento Estratégico e Orçamentário;

Verificação e controle do aporte de recursos em investimentos;

Política de produção e de comercialização;

Verificação e aferição dos contratos celebrados entre a cooperativa e clientes,

fornecedores.

Nível de comprometimento e de participação do Quadro Social;

Política social da cooperativa; e

Participação em reuniões de Diretoria/Auditoria e contabilidade.

O planejamento deverá ser formal e objetivo, estabelecendo a data, o conteúdo e o objetivo do

mesmo.

18.5 Relatório

Os relatórios das atividades do CF devem registrar de forma clara e objetivamente o que

aconteceu. Os fatos devem ser relatados com precisão e minúcia de forma a permitir o seu pleno

entendimento pelos associados e, sempre que possível, suas consequências para a entidade.

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Quadro 18.5.1

Exemplo de Relatório de Atividades

Relatório n.º 01 - Data = 00/00/20xx Atividade/Assunto

O Conselho Fiscal, nesta data, desenvolveu as seguintes atividades: a) Verificação dos processos judiciais e contratos inadimplentes;

b) Estoque de numerário nas agências; e c) Monitoramento dos projetos do planejamento estratégico a serem implantados no mês.

Os trabalhos foram executados por todos os conselheiros fiscais e o tempo despendido foi de quatro horas.

Constataram-se durante o processo de aferição as seguintes situações:

a) Foi levantado que a taxa de inadimplência da carteira de empréstimo é de x% da data

levantada. Além disso, verificou-se que todos os contratos com mais 90 dias de atraso já foram encaminhados para o escritório de cobrança para realizar o devido ajuizamento das operações.

b) Verificou-se que as agências estão com estoque de numerário dentro dos parâmetros estabelecidos e de acordo com o plano de contingência.

c) Acompanhando os projetos do Planejamento Estratégico, constatou-se que dois

processos, projetados para serem concluídos neste mês, não foram, ainda, iniciados. São eles:

1º. Integração da Contabilidade. 2º. Mudança do leiaute interno, impossibilitando acesso de pessoas estranhas ao serviço.

Local, 10/10/20xx Conselho Fiscal Efetivo Conselho Fiscal Efetivo Conselho Fiscal Efetivo

18.6 Ata do Conselho Fiscal

Outro instrumento de registro de atividades é a elaboração das atas das reuniões do CF. A Ata é o

registro oficial e legal da atividade do CF. Independente de constatação, ou não, fatos relevantes,

a Ata deve ser elaborada. Sua forma deve ser redacional continuada, observando-se a clareza e a

objetividade. A Ata, sendo documento legal, deve ser assinada, primeiramente, pelos conselheiros

fiscais efetivos, vindo, a seguir dos suplentes (quando estes participarem). Seu conteúdo deve

conter a síntese constante no relatório, evidenciando os assuntos relevantes. A Ata é um

documento formal ao qual a Administração e o Quadro Social têm acesso. Mas, somente a ciência

dos fatos narrados não é suficiente para solucionar as pendências.

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Após a lavratura da Ata, o coordenador do CF oficializa, por escrito, à Administração, sobre os

assuntos relevantes constantes na Ata e solicita à mesma providência sobre os mesmos. A

Administração, por sua vez, retorna ao CF as repostas e justificativas pertinentes a cada questão

apontada na comunicação escrita, com as devidas ações serem realizadas. Quando do

recebimento da resposta, o seu teor deverá constar no relatório e, consequentemente, na Ata.

Acompanhar-se-á a evolução das providências tomadas e, se insuficientes, haverá a geração de

nova correspondência. Em não sendo tomadas as providências necessárias, o Conselho Fiscal

deverá, em casos graves, tomar as seguintes iniciativas:

a) Comunicação formal e tácita de que o assunto pendente será levado ao

conhecimento da Assembleia Geral;

b) Exigir, convocação de Assembleia Geral Extraordinária ou convocá-la; e

c) Oficiar ao BACEN a ocorrência registrada.

Quadro 18.6.1

Exemplo de Ata de Reunião

Ata do Conselho Fiscal Aos doze dias do mês de outubro do ano de dois mil e xx, reuniram-se todos os integrantes

do Conselho Fiscal na sede da cooperativa. Iniciando os trabalhos o coordenador Sr. xxx leu o relatório das atividades realizadas constando: análise da inadimplência e processos judiciais, estoque de numerário e planejamento estratégico. Como o relatório menciona,

tanto os contratos de ajuizamento e estoque de numerário estão de acordo com o parâmetro estabelecido e não registraram nenhuma ocorrência ou fato que deva ser esclarecido.

No tocante, porém, ao planejamento estratégico, constatou-se que o projetado para este mês não foi executado, razão pela qual o assunto será levado a Diretoria para que o

Conselho possa tomar conhecimento das decisões tomadas. Após, deixou livre a palavra aos participantes, como ninguém se pronunciou, ratificou a data da próxima reunião de acordo com o planejamento elaborado, encerrando a reunião.

Local, 00/00/20xx

Conselho Fiscal Efetivo Conselho Fiscal Efetivo Conselho Fiscal Efetivo

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18.7 Parecer

O parecer é a tarefa-fim do CF. É no parecer que o CF sugere e/ou aconselha à Assembleia Geral

de Associados a aprovação, ou não, do processo contábil, devendo conter:

a) Demonstração de Sobras e Perdas; e

b) Balanço Patrimonial, acompanhado de:

1) Notas Explicativas;

2) Demonstração de Origem e Aplicação de Recursos; e

3) Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido.

O Parecer do Conselho Fiscal é o atestado formal de verificação e aferições documentais e

contábeis, além dos procedimentos e das rotinas operacionais. O parecer é um documento próprio

de cada sociedade cooperativa. Cada uma delas, independentemente das outras, tem

características e peculiaridades próprias e um CF próprio, o que dificulta a sua padronização.

18.8 Relações Internas do Conselho Fiscal e Setores Administrativos

Considerando que a cooperativa é um empreendimento que tem metas a cumprir e compromissos

diários, é conveniente tomar as seguintes providências ao solicitar serviços junto aos setores

administrativos:

a) Quando se executar a fiscalização em determinado setor, convém que se comunique ao

responsável pelo mesmo;

b) Quando se precisar recrutar alguém para auxiliar, convém solicitar autorização ao

supervisor imediato da pessoa a ser recrutada;

c) Se precisar de funcionários fora do horário normal de expediente, convém que o

coordenador do CF comunique isso com antecedência para evitar transtornos; e

d) Se não for atendido em suas solicitações, o CF deve exercer o poder estatutário,

passando a exigir das áreas responsáveis o atendimento das solicitações apontadas nos

relatórios e atas.

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18.9 Métodos e Técnicas de Reunião do Conselho Fiscal

A reunião é um método de ação social que integra diversas pessoas em torno de um objetivo,

ideia, mensagem ou plano. É uma técnica de comunicação coletiva que, se planejada, pode

proporcionar informações, participação e cooperação de um grupo. É um veículo para que as

ideias sejam coletadas, estruturadas e realizadas.

As reuniões e o trabalho em equipe são cada vez mais usados e precisam ser planejados e bem

dirigidos. Elas são importantes instrumentos de participação coletiva no papel fiscalizatório do CF

e de gestão do Conselho de Administração. No cooperativismo, por ser um sistema democrático e

participativo, as reuniões costumam ser mais frequentes e necessitam de técnicas para melhorar

sua qualidade e tornar as atividades do CF mais efetivas.

18.10 Indicações Importantes para Reuniões

Uma reunião é uma atividade de trabalho e todos devem participar de forma profissional. Assim,

planejar, preparar e coordenar uma reunião garante objetividade na abordagem dos temas em

pauta e a efetiva participação dos convidados.

a) Integrar as pessoas: quando as pessoas se sentem participantes de uma equipe de

trabalho, elas se aproximam mais, discutem os problemas e buscam conjuntamente as

soluções;

b) Diagnosticar os problemas: um problema bem diagnosticado, já está resolvido pela

metade, enquanto que um problema mal diagnosticado pode gerar soluções

inadequadas, que geralmente geram mais problemas. A reunião pode servir para fazer

um bom diagnóstico;

c) Caracterizar os elementos determinantes: a participação de diversas pessoas aumenta a

gama de informações e contribui para estabelecer as relações de causa e efeito. Alguns

chefes discutem apenas os efeitos dos problemas, evitando discutir as causas, pois

estas podem recair sobre eles mesmos. O verdadeiro líder se submete às críticas;

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d) Coletar críticas e sugestões: é sempre conveniente saber o que os outros pensam e, se

possível, obter as informações e experiências dos participantes. Existem várias formas

de coleta:

1) Caixa de sugestões escritas;

2) Reuniões especiais para desenvolvimento de autocrítica e aperfeiçoamento de

ideias apresentadas; e

3) Reuniões periódicas com a equipe para analisar e julgar as sugestões.

e) Equacionar os problemas: quando os problemas não são resolvidos, a motivação para

participar de reuniões diminui. Líder é aquele que busca as informações necessárias,

com a participação dos colaboradores e com eles encontra a solução adequada.

18.11 Preparativos para uma Reunião

a) Definir o local, o número de pessoas e os detalhes do ambiente em que será realizada a

reunião. É importante verificar quem de direito pode participar e, em caso de votação,

tomar os cuidados com as disposições legais;

b) Providenciar o material de apoio: apostilas, livros, data-show, assessorias, disponibilizar

água e café aos participantes etc.; e

c) Preparar a pauta da reunião e a lista de presença.

18.11.1 Fases de uma Reunião

1ª FASE - ABERTURA

a) Cumprimentar e identificar os participantes;

b) Agradecer a presença e deixar o grupo à vontade;

c) Informar o término previsto para a reunião.

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2ª FASE - APRESENTAÇÃO DA PAUTA

a) Expor o motivo da convocação;

b) Apresentar os objetivos a serem alcançados;

c) Apresentar o assunto.

3ª FASE - CONDUÇÃO DO DEBATE

a) Incentivar a participação de todos;

b) Coordenar a troca de ideias e apresentação de experiências;

c) Evitar a monopolização e a fuga do assunto;

d) Manter a sequência da pauta;

e) Resumir, com frequência, as ideias já apresentadas, buscando consenso; e

f) Obedecer e fazer cumprir o horário pré-estabelecido.

4° FASE - CONCLUSÃO

a) Fazer um resumo geral das principais ideias discutidas;

b) Averiguar o grau de consenso em relação a cada assunto;

c) Chegar a um resultado conclusivo com o grupo;

d) Definir o plano de ação; e

e) Registrar em ata o ocorrido na reunião.

18.12 Sugestões aos Conselheiros Fiscais

Na primeira reunião que se realizar, logo após uma eleição, sugere-se:

a) Solicitar à gerência ou chefes de departamentos que os acompanhem pela cooperativa,

apresentando os funcionários e descrevendo a função de cada um. Fazendo isso, os

conselheiros:

1) Conhecem o empreendimento com maiores detalhes;

2) Sabem o trabalho de cada colaborador, facilitando a fiscalização, pois assim,

quando necessário, podem dirigir-se diretamente à pessoa certa; e

3) Tornam-se conhecidos, evitando estranheza nas primeiras fiscalizações.

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b) Visitar os setores da administração, dependências e entrepostos, conhecendo todas as

atividades, poderes de decisão, dependências com a sede, além dos três itens acima;

c) Programar visitas para um dia inteiro;

d) Evitar reuniões à noite, pois a ação torna-se mais eficaz quando realizada durante o

expediente, vendo a realidade do dia a dia;

e) Programar reuniões, preferentemente, em dias alternados no mês, evitando, assim, a

“preparação dos colaboradores”;

f) Nos dias de fiscalização, conversar com alguns associados que se encontram na

cooperativa sobre os serviços por ela prestados, o atendimento pelos funcionários etc.;

g) Utilizar-se das fiscalizações para propor feedback, ou seja, soluções aos problemas

encontrados, procurando auxiliar a Diretoria Executiva em sua ação administrativa;

h) Convidar, quando possível, mesmo estando presentes todos os membros efetivos, os

suplentes para participarem das reuniões, apesar de não terem direito a voto;

i) Em cada reunião, cobrar dos responsáveis as exigências feitas na reunião anterior;

j) Dividir-se durante a fiscalização, abrangendo, assim, maior número de itens fiscalizados;

k) Para cada reunião, fazer a programação de atividades (do dia), facilitando e agilizando

os trabalhos;

l) Quando as reuniões ocorrerem junto com a Diretoria Executiva, para decisões

importantes, e os conselheiros forem convidados a opinar, lavrar ata em separado,

mesmo que a redação seja igual;

m) Quando não estiver fiscalizando, aproveitar todas as oportunidades: conversas, visita às

unidades de atendimento (PA), ao comércio etc., para conhecer a percepção dos

associados e comunidade quanto ao papel da cooperativa de crédito na comunidade;

n) O planejamento e o respectivo orçamento são peças fundamentais da cooperativa. O

seu acompanhamento é essencial para o trabalho do Conselho Fiscal; e

o) Manter-se sempre atento: conferir, controlar, desconfiar e colaborar constantemente,

com o espírito de zelar pelo patrimônio comum de todos os associados.