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FACULDADE DE ECONOMIA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA Catarina Angélica Mendonça Coimbra, Dezembro de 2007

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FACULDADE DE ECONOMIA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

Catarina Angélica Mendonça Coimbra, Dezembro de 2007

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Ficha Técnica Título: Profissões de Risco Autor: Catarina Angélica Ferreira Ornelas de Mendonça Nº de Estudante: 20040591 Imagem: Fotografia da Capa Fontes: -http://amadeo.blog.com/repository/152672/2562973.jpg -http://clix.expresso.pt/users/0/12/6e4c7a29.jpg -http://www.tudoin.com.br/images/colunas/Noticias/167/bombeiros.gif -http://www.cursovigor.com.br/imagens/fotos_concursos_militares2.jpg

Trabalho realizado no âmbito disciplina de Fontes de Informação Sociológica sob orientação do

Prof. Doutor Paulo Peixoto.

Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

Coimbra, Dezembro de 2007

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o simples alívio do tédio às satisfações mais profundas. Na maior parte dos casos, o trabalho que as

pessoas têm de executar não é interessante, mas ainda em tais circunstâncias oferece grandes

vantagens. Em primeiro lugar, preenche uma boa parte do dia sem haver necessidade de decidir sobre

o que se há-de fazer. A maioria das pessoas, quando estão em condições de escolher livremente o

emprego do seu tempo, tem dificuldade em encontrar o que quer que seja suficientemente agradável

para as ocupar. E tudo o que decidam deixa-as atormentadas pela ideia de que qualquer outra coisa

seria mais agradável.

Ser capaz de utilizar inteligentemente os momentos de lazer é o último degrau da civilização, mas

presentemente muito poucas pessoas o atingiram. Além disso, a acção de escolher é fatigante. Excepto

para os indivíduos dotados de extraordinário espírito de iniciativa, é muito cómodo ser-se informado

do que se tem a fazer em cada hora do dia, desde que tais ordens não sejam desagradáveis em

demasia.”

Bertrand Russell, in 'A Conquista da Felicidade'

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Índice

1.Introdução…………………………………………………………….………………. 1

2.Estado das Artes……………………………………………………….........................2

3.Desenvolvimento……………………………………………………………………....3

3.1. O que é uma profissão……………………………………………………....3

3.2 O que é o risco……………………………………………………………….4

3.3 Sectores de grande risco profissional………………………..........................6

3.4 Sociedade de risco…………………………………………….......................8

4. Ficha de Leitura………………………………………………………………………9

5. Descrição detalhada da pesquisa…………………………………………………….12

6. Avaliação da página da Internet…………………………………………………….14

7. Conclusão…………………………………………………………………………...15

8. Referências Bibliográficas………………………………………………………….16

Anexo A Texto suporte da Ficha de Leitura

Anexo B Página da Internet avaliada

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Introdução

A partir do momento em que a vida social passou a ser organizada pelos meios

modernos e recursos tecnológicos, um elevado número de riscos foi aparecendo no mundo do

trabalho.

É obvio que não podemos esquecer que houve um avanço da “doutrina do risco” nas

legislações mais modernas, e um dos seus grandes exemplos é a Lei dos Acidentes de

trabalho. Com esta doutrina, o homem simples, o pobre, o trabalhador sem grandes

habilitações escolares e os que não têm um acesso fácil à justiça puderam ver que já existe

algo que os possa, de certa forma, proteger.

O presente trabalho procura sobretudo fazer uma pequena reflexão sobre as

“Profissões de Risco”, tratando apenas de algumas das dimensões, dado o tema ser demasiado

abrangente.

Deste modo, torna-se importante retermos que todas as profissões têm sempre riscos,

mas há certas profissões que, pela sua natureza e circunstâncias, criam perigos de danos aos

próprios profissionais ou a outrem (Guiddens, 2004).

Neste sentido, optei por dividir o Estado das Artes nos seguintes sub-temas, sendo

eles: “o que é uma profissão?”; “o que é o risco?”; “sectores de grande risco profissional” e

por último, “sociedade de risco”. Posteriormente, apresento uma ficha de leitura do capítulo:

“Risk Society and the Welfare State” do livro Risk Society: Towards a New Modernity, e faço

uma descrição detalhada da pesquisa que serviu para a concretização deste trabalho. Em

seguida, procedo à avaliação duma página da Internet do ExpressoEmprego intitulada

“Profissões de Risco”.

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Estado das Artes

As profissões de risco são actividades especializadas dentro de uma dada sociedade.

Antigamente, falávamos em profissões de risco e pensava-se imediatamente no bombeiro ou no

polícia. Mas, com o avanço da ciência, dos trabalhos nos laboratórios, na construção civil, nas

redes de alta tensão, nas minas, nas plataformas outras profissões adquiriram o adjectivo de risco.

No entanto, para percebermos o que é que entendemos como profissões de risco, é

importante que tenhamos alguma noção sobre o que para nós é uma profissão, assim como é

essencial dar conta da noção de risco. Depois de chegarmos a algumas conclusões podemos

relacionar estes dois conceitos com outras dimensões da vida social.

Muitos pensam que um “trabalho decente seria um trabalho sem riscos” (Navarro,

Cardoso e Telma, 2005). Porém, esta realidade está longe de se tornar possível, na medida em que

com o actual estado de desenvolvimento industrial e económico em que se encontram muitos

países, a prevenção e redução dos riscos em muitas profissões, torna-se cada vez mais difícil de

alcançar. É certo que muita coisa pode ser feita, e que provavelmente muitas destas coisas são da

responsabilidade da sociedade em geral, mas não nos devemos esquecer que também muitas das

formas de prevenção e de controlo dos riscos passam pelo modo como se organiza a próprio

trabalho. Deste modo, valerá a pena pensarmos que de facto existem profissões que pela sua

natureza estão muito mais sujeitas a riscos, isto é, a probabilidade de estes profissionais perderem

a vida, ou de contraírem doenças é muito elevada (Clube dos Amigos Vida Simples).

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3.1 O que é uma profissão?

No final do século XIX pensadores como Saint-Simon, Weber, Durkheim, analisaram o

fenómeno das profissões. Todavia, só a partir da segunda metade do século XIX é que o

fenómeno das profissões é estudado minuciosamente.

Na Europa, o termo profissão pode designar um ofício ou uma simplesmente uma

ocupação. Na tradição inglesa Professional é utilizado quando nos referimos a trabalhadores que

possuem um nível elevado de qualificação, ou seja, aqueles que possuem um diploma do ensino

superior (Rodrigues, 2002)

Por várias vezes já fizemos as seguintes perguntas: o que é uma profissão? Ou o que

distingue uma profissão de outra profissão? Apesar de cada um de nós fazer uma pequena ideia

das respostas possíveis a estas questões, é necessário ter em linha de conta que o estudo das

profissões se baseia em teorias diferentes.

O paradigma funcionalista, inicialmente, preocupou-se por identificar as características

que permitiam distinguir as profissões das ocupações, “uma profissão emerge quando um número

definido de pessoas começa a praticar uma técnica fundada sobre uma formação especializada,

dando resposta a necessidades sociais” (Rodrigues, 2002). Para Talcott Parsons, “o papel das

profissionais exerce-se na relação com os clientes e a sua reciprocidade é assimétrica

(conhecimento/ignorância) que permite a sua institucionalização (autoridade/confiança). A

diferença da relação e o potencial de risco de exploração, criam um sistema de controlo social

suportado pela ideologia e pela mística do profissionalismo” (Rodrigues, 2002). Mas, para Goode

[1957], um dos discípulos de Parsons, “as profissões são comunidades onde os membros

partilham a mesma identidade, valores, linguagem e um estatuto adquirido para toda a vida.

Assim sendo, é a sociedade que concede poder às comunidades profissionais” (apud Rodrigues,

2002).

Neste sentido, as profissões são definidas por dois aspectos essenciais: por um lado, o

conhecimento profissional, isto é, os conhecimentos abstractos a partir de um conjunto de

princípios estabelecidos, aceites pela sociedade e transmitidos por uma comunidade para criar,

organizar e transmitir esses conhecimentos; por outro lado, o ideal de serviço ou orientação para

a comunidade, isto é, o conjunto de regras segundo as quais os resultados são baseados nas

necessidade dos clientes. Assim, a visão funcionalista assenta em três premissas que definem

conceito de profissão, sendo elas: o estatuto profissional resultante do saber científico e prático e

do ideal de serviço, formado por comunidades em torno dos mesmos conhecimentos, dos mesmos

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valores e da mesma ética de serviço; o reconhecimento social da competência alicerçada numa

formação duradoira, e por ultimo, as instituições profissionais como resposta a necessidades

sociais (ibidem, 2002).

Na corrente interaccionista, as profissões são encaradas como objectos e produtos da vida

social. Por sua vez, “a divisão do trabalho provoca uma hierarquização de funções e uma

separação entre funções sagradas e profanas”. Esta é feita de acordo com dois instrumentos que

ajudam na selecção dos profissionais: a licença, que não é mais do que a autorização legal para o

exercício de certas actividades; o mandato que é a obrigação de manter uma função específica.

Assim sendo, quando uma actividade estabelece o seu mandato perante a sociedade, surge uma

profissão (ibidem, 2002).

A noção de profissionalização assume também uma extrema importância quando tratamos

sobre o fenómeno da/s profissão/s. Esta remete-nos para uma afirmação de ocupações, sendo que

estas necessitam de transformações tecnológicas e novas técnicas; aumento dos níveis de

qualificação; alterações na organização do trabalho das profissões, etc. Neste sentido, “as

profissões são apenas ocupações que adquiriram e mantêm a posse de títulos…”. No entanto,

convém referir que o paradigma interaccionista não se debruça sobre o estudo dos privilégios

profissionais, nem sobre as causas da sua existência, mas sim na transformação das ocupações,

nas interacções e nos conflitos, procurando chamar a atenção para o que explica a passagem de

uma ocupação a uma profissão (Rodrigues, 2002).

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3.2. O que é o Risco?

O desenvolvimento das instituições modernas criou mais oportunidades para os seres

humanos usufruírem de uma existência segura do que qualquer outro tipo de sistema pré-

moderno. No entanto, a modernidade trouxe também algumas desvantagens, que se tornaram mais

evidentes no século presente (Giddens, 2000).

De todas as definições que encontrei sobre risco, esta parece-me a mais correcta: “o risco

é a probabilidade do potencial danificador ser atingido, nas condições de uso e/ou exposição, bem

como a possível amplitude do dano” (Lopes, 2002).

Segundo Giddens, podemos traçar o perfil de risco específico da modernidade: 1)

globalização do risco, que tem que ver com a intensidade, por exemplo a guerra nuclear pode

ameaçar a sobrevivência da humanidade; 2) globalização do risco, no que diz respeito ao número

de acontecimentos que afectam todas as pessoas ou um elevado número de pessoas no planeta

(por exemplo, mudanças na divisão global do trabalho); 3) o risco proveniente do ambiente

criado, ou natureza socializada: a infusão de conhecimento humano no ambiente material; 4)

desenvolvimento de ambientes de risco institucionalizado que afectam oportunidades de vida de

milhões de pessoas (por exemplo, os mercados de investimentos); 5) a consciência do risco

enquanto risco; 6) a consciência bem difundida do risco: muitos dos perigos que enfrentamos

colectivamente são conhecidos de vastos públicos; 7) consciência das limitações da

pericialidade: nenhum sistema pericial o pode ser totalmente em ermos das consequências da

adopção de princípios de pericialidade. (Giddens, 2000)

Contudo, é necessário ter em linha de conta que a intensidade de certos tipos de riscos

ultrapassa as diferenças sociais e económicas. Por sua vez, a noção de risco pode-se aplicar ao

domínio dos problemas sociais. É neste contexto que se torna importante analisar o papel das

instituições supranacionais, na gestão do risco social através de meios de segurança e de protecção

social para a eventualidade de produção de riscos. (Santos, 2002)

A avaliação do próprio risco assume aqui também um carácter determinante, na medida

em que procura avaliar o risco para a saúde e segurança dos trabalhadores no trabalho, devido às

circunstâncias em que o perigo ocorre no local de trabalho.

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3.3. Sectores de grande risco profissional

A agricultura é um dos sectores com mais riscos para os trabalhadores, tanto nos países

industrializados como nos países em desenvolvimento. Este sector, de acordo com os últimos

dados, emprega aproximadamente 1,3 milhões de pessoas da mão-de-obra mundial. A OIT

(Organização Internacional del Trabajo) acha que uns 170.000 trabalhadores agrícolas morrem

cada ano, e que estes correm um risco pelo menos duas vezes maior de morrer no seu trabalho que

os trabalhadores de outros sectores. As taxas de mortalidade na agricultura têm-se mantido

particularmente elevadas durante a última década, enquanto que a maioria dos outros sectores a

taxa de acidentes mortais diminuiu. Estes trabalhadores sofrem graves lesões com a maquinaria

agrícola e são envenenados com pesticidas ou outros produtos químicos (OIT, 2003).

O trabalho mineiro representa penas 1 por cento da mão-de-obra mundial e é responsável

por uns 5 por cento dos acidentes mortais no trabalho, ou seja, pelos menos uns 15.000 por ano e

mais de 40 por dia. Ao mesmo tempo, existe um elevado número de trabalhadores que se vê

afectado por doenças profissionais (perda de audição, efeitos de vibração, pneumonias, etc.).

Apesar dos esforços aplicados em várias áreas da indústria para melhorar os seus índices de

segurança, o trabalho mineiro tem sido considerado um dos mais perigosos na maioria dos países

em que este existe (ibidem, 2003).

Na indústria de construção, existem pelo menos 60.000 pessoas que sofrem lesões

mortais em cada ano. Outras centenas de milhar sofrem lesões graves e doenças profissionais. As

principais causas de morte no sector são: as quedas, lesões mortais por esmagamento, golpes de

objectos que caem e a electrocussão. Entre os principais problemas de saúde encontram-se as

síndromes de vibração, problemas musculares, a exposição a substâncias nocivas (soldadura,

pesticidas nas vigas de ferro, tratamentos químicos para a humidade, etc.), as poeiras e fibras

(poeiras de cimento, poeira de madeira, retardadores de fogo e o mais grave, o amianto). Estes

trabalhadores vivem frequentemente em vivendas de má qualidade especialmente nos países em

desenvolvimento. A tuberculose, a cólera, a malária e o VIH/SIDA podem ainda representar

riscos particulares (ibidem, 2003).

A pesca encontra-se entre as indústrias mais perigosas em vários países. Por exemplo, na

Austrália, entre 1982 e 1984, a taxa de mortalidade para os pescadores fora de 143/100.000

pessoas, bem acima da taxa normal que é de 8,1/100.000. Na Dinamarca, entre 1989 e 1996, a

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taxa fora 25 a 30 vezes maior que para os trabalhadores empregados em terra. Na China, verifica-

se a morte de mais de 400 pescadores em acidentes por ano.

A demolição de barcos também é uma actividade que implica muito risco. A segurança

dos trabalhadores tem falta de condições de trabalho básicas, de planificação e de formação. A

maior parte dos riscos deve-se à falta de normas sobre as condições em que se deveriam encontrar

um barco quando chega para ser demolido. Estes riscos incluem a forte exposição a toxinas e

outras substâncias cancerígenas. Por sua vez, o ruído, as más instalações sanitárias e a exposição

geral do sítio tem efeitos tanto a curto como a médio prazo (ibidem, 2003).

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3.4. Sociedade de Risco

O conceito sociedade de risco remete-nos para um estágio da modernidade em que

começam a fazer sentido as ameaças produzidas pela sociedade industrial (Beck, 1986).

Segundo Ulrich Beck, o processo de industrialização é indissociável do processo de

produção de riscos, na medida em que uma das principais consequências do desenvolvimento

industrial é a exposição dos indivíduos a riscos. Deste modo, os riscos acompanham a distribuição

dos bens, resultantes da industrialização e do desenvolvimento das novas tecnologias. Estes

emergiram sem que a produção de novos conhecimentos fosse capaz de reduzir os mesmos ou de

criarem mecanismos para os controlar.

Na modernidade clássica, acreditava-se que seria possível controlá-los através da ciência

e da tecnologia, pois os riscos eram entendidos como algo estável, ou seja, que diziam

respeito a determinados contextos. Na sociedade de risco, os riscos seriam produtos dos

excessos da produção industrial, uma vez que a tecnologia assume um papel relevante na sua

produção e extensão. Assim sendo, o conceito de sociedade de risco incorpora três

características, tais como: a globalização, a individualização e a reflexividade. A

globalização, na visão de Beck trata-se de um processo de separação das relações entre

tempo e espaço que tem como consequências a desterritorialização. A articulação de relações

sociais que atravessam vastas fronteiras de tempo e espaço, torna-se possível porque o

movimento de pessoas, de produtos e de informação, passou a ser facilitado pelos avanços

nos meios de transporte.

Quanto à individualização, tem que ver com a própria afirmação do sujeito perante o

mundo social, e com uma nova concepção de olhar para o indivíduo. Digamos que este passa

a preocupar-se muita mais consigo do que com o que o rodeia.

A reflexividade refere-se ao modo como o indivíduo reflecte sobre a sua vida

quotidiana, a sociedade, as suas acções, os seus problemas, enfim, sobre o seu passado, o seu

presente e o seu futuro.

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Ficha de Leitura

Título da publicação: Risk Society: Towards a New Modernity.

Autor: Ulrich Beck

Local onde se encontra: Biblioteca da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

Data da publicação: 1986

Edição: 1ª

Local de Edição: London

Editora: Sage Publications

Título do capítulo: Risk Society and Welfare State

Cota: BP 316.4 BEC

Nº de páginas do capítulo: 73-90

Assunto: Organização social. Mudança Social. Desigualdade Social. Análise de Riscos.

Palavras-chave: Sociedade de risco, sociedade de risco residual, Estado de bem-estar, riscos

residuais, riscos, modernidade da modernidade, modernidade reflexiva e crise ambiental.

Data de leitura: Dezembro de 2007

Observações: tive algumas dificuldades em conseguir traduzir o texto.

Notas sobre o autor

Ulrich Beck nasceu em 1944 na cidade de Stolp, Greater German Empire (agora Słupsk na

Polónia). A partir de 1966 estudou sociologia, filosofia, psicologia e ciência política na

Universidade de Munique. Em 1972, passou a trabalhar como sociólogo na Universidade de

Munique. Desde 1992 que Beck é director do Instituto de Sociologia da Universidade de

Munique. Ele é também o responsável pelo British Journal e professor de Sociologia na London

School of Economics. As suas obras debruçam-se sobre a modernidade, os problemas ecológicos,

o individualismo, a globalização, a perda de influência dos sindicatos, a flexibilização do mercado

de trabalho e o cosmopolitismo.

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Resumo

O presente capítulo, faz uma pequena reflexão acerca da relação entre a Sociedade de

Risco e o Estado Providência. Num primeiro momento, o autor diz-nos que devemos aceitar a

ideia de que a modernidade também envelhece; alerta para o facto de terem surgido riscos sociais

com o processo de industrialização; defende que o estado providência apareceu para conseguir

reduzir muitos dos riscos provocados pela primeira modernidade; considera que os problemas

ambientais têm que ver com problemas internos das sociedades, e por último, acha que a segunda

modernidade é marcada por aquilo que chama de “reflexividade” dos indivíduos.

Estrutura

O sociólogo começa por dizer que se a modernidade é percebida como um processo de

desenvolvimento, então deveremos aceitar que a dada altura esta envelhecerá. Este

envelhecimento provocará o aparecimento da sociedade de risco. Esta remete-nos para uma fase

de desenvolvimento da sociedade moderna, em que os riscos sociais, políticos, ecológicos e

individuais criados pela inovação técnica, modificaram o controlo e as instituições de protecção

social que foram criados para garantir o equilíbrio da sociedade industrial. Posteriormente, o autor faz a distinção entre uma primeira e uma segunda modernidade.

Quanto à primeira modernidade diz-nos que o “auto-posicionamento” e o perigo são

sistematicamente produzidos, mas que não são objecto de debate público, e por isso esta fase é

dominada pela “auto-identidade” da sociedade industrial, sendo que ambas contribuem para um

acentuar dos “riscos residuais” (sociedade de risco residual); esta fase é também marcada por

aquilo que ele designa “modernidade simples e industrial”. Por sua vez, esta institui-se a partir do

século XVIII através de várias revoluções políticas e industriais. No final do século XX, passamos a viver uma fase de “modernização da modernização”

ou “segunda modernidade”, ou ainda “modernidade reflexiva”. Esta é essencialmente

caracterizada pelo modo como os perigos da sociedade industrial começaram a fazer parte do

debate público, político e privado. Aqui os indivíduos começam a ter consciência dos seus

verdadeiros problemas e dos perigos com os quais têm que se confrontar no seu dia-a-dia. Deste

modo, os riscos que fazem parte desta fase não são os mesmo que faziam parte de primeira, pois

estes caracterizam-se agora por englobar problemas relacionados com o rendimento, com a

distribuição dos bens sociais, com o trabalho, com a segurança social e com o meio ambiente.

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5. Descrição detalhada da pesquisa

Quando escolhi o tema (“Profissões de Risco”) muito pouco sabia sobre o assunto.

Digamos que fazia uma ideia e algumas profissões que estão mais sujeitas a riscos, tais como: a

profissão de policia e a de bombeiro. Com isto quero dizer que se me fizessem uma pergunta do

género: Que profissões é que consideras como profissões de risco? Estas seriam as que

imediatamente me ocorreriam. Daí ter optado por este tema, visto querer saber mais sobre o

assunto. Numa primeira fase do trabalho, decidi ir à Casa Municipal da Cultura de Coimbra para

ver o que é que encontrava sobre o assunto. Mas, como não encontrei nada que pudesse ser

requisitado, optei por me dirigir então à Biblioteca da Faculdade de Economia da Universidade de

Coimbra.

Assim sendo, comecei por fazer uma pesquisa simples no catálogo da biblioteca,

introduzindo em «assuntos» as palavras «profissões de risco». Porém, não obtive quaisquer

resultados unicamente relativos ao assunto. Apenas, me foram disponibilizados resultados

próximos ao tema. Torna-se importante referir que assim que isto me aconteceu senti-me triste e

comecei a perceber que iria ter muito trabalho pela frente. No entanto, continuei muito optimista e

decidi vir para casa e fazer uma pesquisa simples na Internet no catálogo da Biblioteca Geral.

Mais uma vez fiquei desanimada porque não encontrei nada que fosse directo ao assunto, na

medida em que os resultados que obtinha apenas tinham que ver com «profissões». Isto porque até

aqui eu estava apenas a pesquisar por «profissões de risco» e «profissões + risco» no google. Ora,

foi assim que decidi então elaborar um índice prévio para que a minha pesquisa se tornasse mais

fácil. Comecei então por fazer várias pesquisas na Internet procurando apenas por «profissões».

Posteriormente, passei a pesquisar por «riscos». Relativamente às profissões encontrei um livro

que me pareceu útil de Maria de Lurdes Rodrigues, intitulado “Sociologia das Profissões”. Foi por

esta altura também que me lembrei de recorrer ao site da OIT (Organização Internacional do

Trabalho), pois estava convencida que talvez fosse encontrar alguma coisa de relevante, o que na

verdade aconteceu, deixando-me assim, mais animada e entusiasmada. Esta satisfação fez com

que várias ideias me começassem a surgir e uma delas foi a ideia de «sociedade de risco» de

Ulrich Beck. Pensei imediatamente que essa noção também era o título de uma obra do autor.

Decidi então ir à Biblioteca da Faculdade de Economia buscar o livro.

Numa segunda fase, recorri ao Google Scholar e pesquisei por «sociedade de risco», sendo

que obtive 73.700 resultados. Aproveitei e introduzi mais uma vez «profissões + risco» e obtive

18.600, não houve nenhum documento que me interessasse. Todavia, por esta altura a informação

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que já possuía já me servia para começar a realizar o trabalho. Torna-se importante referir que

também efectuei várias pesquisas no site de Biblioteca Nacional, no Aieou, na Sapo, na Biblioteca

do Centro de Estudos Sociais na tentativa de poder encontrar alguma coisa. Nesta última fiz uma

pesquisa na Oficina do CES, procurando por «riscos+trabalho», encontrei também alguma

informação interessante, mas que apenas serviu como complemento e não como necessária.

Quanto à página da Internet para ser avaliada recorri apenas ao Google.

Por último, devo confessar que não sabia muito bem que livro haveria de escolher para

realizar a ficha de leitura, por aquilo que já referi acima. Porém, a minha ideia era encontrar

algum que de certa forma pudesse conciliar os dois conceitos, ou seja, «profissões» e «risco»,

sendo que optei então por fazer um capítulo da obra “Risk Society: Towards a New Modernity”.

Contudo, torna-se importante sublinhar que foi extremamente complicado a sua leitura devido ao

facto de estar em inglês, e apesar de eu ter percebido a mensagem, não considero que seja um

texto fácil de interpretar.

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6. Avaliação da página da Internet

Para realizar a avaliação de uma página da Internet decidi optar pela página intitulada

”Profissões de Risco” (Mateus, C., Antunes, M., 2006). Esta foi editada numa altura

particularmente difícil para centenas de bombeiros portugueses que procuravam a todo o custo

combater os incêndios.

Inicialmente quando estava a escolher a página que efectivamente iria utilizar para avaliar,

as coisas não foram muito fáceis. Isto porque, o trabalho não estava a correr muito bem, pois

quando escolhi o tema, fi-lo porque o achei verdadeiramente curioso. Mas, quando comecei a

fazer as pesquisas na Internet as coisas complicaram-se, dado haver pouca informação sobre o

tema, daí ter sido difícil escolher qual seria a melhor página para a realização deste trabalho.

Na verdade todas as profissões deveriam ser encaradas com alma e coração, mas nem

sempre esta missão se torna possível, e já que falo em missão gostaria de salientar que a profissão

de bombeiro não é somente um mero labutar… é uma vida em risco na maior parte das vezes.

Assim penso que aquela frase feliz que se ouve frequentemente faz todo o sentido, ou seja, “é

preferível esperar um minuto na vida que perder a vida num minuto”. Mas, é com muita pena

minha que esta expressão não se ajuste à vida de um bombeiro que arrisca constantemente a sua

vida para salvar outra. Imaginar que existem pessoas capazes de enfrentar labaredas enormes a

altas temperaturas sobre o risco de tudo e mais alguma coisa é de louvar.

Contudo, assim como os bombeiros arriscam as suas vidas para salvar outra(s),

enfermeiros são infelizmente desrespeitados constantemente durante a sua missão, estando

sujeitos a agressões verbais e físicas. Também os polícias estão evidentemente muito expostos a

grandes riscos. É uma profissão que tem tanto de acção como de lesão. Recentemente a questão

dos professores tem sido muito mediatizada, pois são cada vez mais vítimas de maus-tratos por

parte de alunos e pais. No entanto, torna-se necessário não esquecer que para além destas

mencionadas, existem outras que enfrentam elevados riscos profissionais.

Relativamente ao site considero o layout da página simples e de fácil navegabilidade no

que toca ao encontro da informação pretendida. Valorizo também o site do expresso no que diz

respeito ao acesso das informações e conteúdos. No que toca ao destaque fotográfico, considero

que a imagem do bombeiro poderia estar mais realçada.

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Conclusão

O controlo das condições no local de trabalho está cada vez mais exigente, mas mesmo

assim continuam a ser comuns os elevados riscos profissionais, associados a determinadas

profissões.

Depois de ter realizado o trabalho, concluo dizendo que é necessário que todos os países

apostem seriamente na prevenção e no controlo desses mesmos riscos. Há muita coisa que se pode

fazer. Agora, também é importante que não nos esqueçamos que existem determinadas profissões

que comportam muitos riscos que não têm necessariamente que ver com factores internos do

próprio trabalho, mas com as condições externas. Por vezes, as profissões de alto risco têm

salários mais elevados, justamente pelo o facto de a sua segurança se encontrar constantemente

em perigo, como é o caso dos militares, dos pilotos de aviões, dos militares, dos policias, dos

trabalhadores de plataformas, entre outras. Porém, existem outras, como os bombeiros, os

trabalhadores agrícolas, os da construção civil, os mineiros, os condutores de camiões onde as

coisas não funcionam da mesma maneira. Neste sentido, é importante que cada um de nós

valorize, a todos os níveis, a profissão de cada um. Só assim, se tornará possível reduzir o número

de acidentes de trabalho, de doenças profissionais e de mortes.

Em suma, devo ainda salientar que apesar de me ter confrontado com várias dificuldades

aquando da realização deste trabalho, gostei imenso de o ter feito.

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7. Referências Bibliográficas

I)Livros

Beck, Ulrich (1986), Risk Society. Towards a New Modernity. Londres: Sage

Giddens, Anthony (2000), As consequências da Modernidade. Oeiras: Celta.

Giddens, Anthony (2004), Sociologia. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

Rodrigues, Maria de Lurdes (2002), Sociologia das Profissões. Oeiras: Celta.

Santos, Boaventura de Sousa (2002), “A globalização do risco social: uma introdução”, in Pedro

Hespanha e Graça Carapinheiro (orgs.), Risco social e incerteza: pode o estado social recuar

mais? Porto: Afrontamento, 13-23.

II)Webgrafia

Clube dos Amigos Vida Simples (s.d), “Profissões de Risco”. Página consultada em 20 de

Novembro de 2007, disponível em:

http://www.vidasimples.com.br/Profissoes_Recusadas.asp?Tipo=Plano_Vivo.htm

Lopes, Luís (2002), “Avaliação de Riscos”. Página consultada em 24 de Novembro de 2007,

disponível em:

http://www.itcilo.it/actrav/english/calendar/2002/A1_2744/recurosos/avaliacao_de_riscos.ppt

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Mateus, Cátia, Antunes, Marisa (2006), “Profissões de Risco”. Página consultada em 26 de

Novembro de 2007, disponível em:

http://clix.expressoemprego.pt/scripts/Actueel/displayarticle.asp?ID=1604&artCount=2&startPos

=1&artsLoaded=1.

Organización Internacional del Trabajo (2003), “La seguridad en cifras” – OIT. Página consultada

em 2 de Dezembro de 2007, disponível em: http://www.osl.upf.edu/pdfs/report_esp.pdf.

Navarro, Marli B.M de A., Cardoso, Telma A. de O. (2005), “Percepção de Risco e cognição:

reflexão sobre a sociedade de risco.” Página consultada em 24 de Novembro de 2007, disponível

em: http://www.cienciasecognicao.org/

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ANEXO A

“Risk Society and the Welfare State”, capítulo da obra Risk Society: Towards a New

Modernity (fotocopiado)

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Anexo B

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