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GeografiaUniversidade Estadual de Londrina Revista do Departamento de Geocincias ISSN 0102-3888EDITORIAL

Reitor Pedro Alejandro Gordan VICE-REITORA Vera Lcia Tieko Suguihiro

GEOGRAFIA: Revista do Departamento de Geocincias da Universidade Estadual de Londrina, uma publicao semestral destinada a editar matrias de interesse cientfico de qualquer rea de conhecimento, desde que tenham relao com a cincia geogrfica

Comisso de Publicao do Departamento de Geocincias Coord. Prof. Claudio Roberto Bragueto Profa. Mirian Vizintim Fernandes Barros Funcionria: Edna Pereira da Silva

Conselho Editorial Prof. Dalton ureo Moro UEM Prof. Eliseu Savrio Spsito UNESP Presidente Prudente Prof. Francisco de Assis Mendona UFPR Prof. Geraldo Cesar Rocha UFJF Prof. Jos Barreira UEL Prof. Jos Paulo Piccinini Pinese UEL Prof. Jos Pereira de Queiroz Neto - USP Profa. Maria Encarnao Beltro Sposito UNESP Presidente Prudente Prof. Messias Modesto dos Passos UEM Profa. Nilza Aparecida Freres Stipp UEL Prof. Roberto Rosa UFU Profa. Rosana Figueiredo Salvi UEL Profa. Rosngela Doin de Almeida UNESP Rio Claro Profa. Sonia Maria Vanzella Castellar USP Profa. Yoshiya Nakagawara Ferreira UEL

Estamos publicando mais um nmero da revista Geografia, com atraso de alguns meses. No entanto, a quantidade e qualidade dos artigos recebidos nos do a certeza de que esta nova etapa da revista veio para ficar, e que a periodicidade da mesma ser mantida. Neste nmero, contamos com dois artigos na rea de Ensino de Geografia: um deles traz a discusso dos semiforos e do motivo ednico no imaginrio social brasileiro, e faz algumas indagaes acerca do papel dos professores de Geografia, no cenrio inicial do sculo XXI. O outro traz uma reflexo sobre o curso profissionalizante de formao docente de nvel mdio em Londrina e as contribuies da Geografia. Dois artigos enfocam o Programa Vilas Rurais implantado no Estado do Paran, e a questo das migraes. Ainda, quanto questo agrria, um artigo discute a modernizao da pecuria leiteira e a excluso do pequeno produtor, e outro faz a anlise da piscicultura em cativeiro como alternativa para as reas rurais. Uma das ferramentas importantes da Geografia atualmente o Sistema de Informao Geogrfica, que abordado em trs artigos. Dois deles tratam da implantao do mesmo na cidade de Londrina, e no outro, utilizado para a anlise dos remanescentes florestais da Bacia Hidrogrfica do Rio Tibagi, no Estado do Paran. Apresentamos, tambm duas contribuies da rea de Geologia: a primeira discute os impactos das vibraes geradas por desmontes em taludes da mina de Timbopeba, em Ouro Preto (MG). A segunda faz a avaliao das reservas subterrneas do Aqfero Caiu, tendo em vista, o aumento do interesse pela explorao da gua do mesmo, nos ltimos anos. Finalizando, publicamos duas notas: uma relata os trabalhos do grupo de estudo Histria e Filosofia da Cincia Geogrfica, composto por alunos do curso de graduao em Geografia, da Universidade Estadual de Londrina, que busca resgatar uma viso epistmica da Geografia, como conhecimento do mundo e conhecimento cientfico. A outra nos chama a ateno para a importncia e atualidade do contedo das obras de Josu de Castro, no momento em que as discusses sobre a fome no pas retornam com maior intensidade. Destacamos o apoio fundamental, para a publicao deste nmero, da Coordenadoria de Pesquisa e Ps-Graduao da Universidade Estadual de Londrina, e do Curso de Mestrado em Geografia, Meio Ambiente e Desenvolvimento. Comisso de Publicao

VOLUME 10 NMERO 2 JUL./DEZ. 2001

Editora da Universidade Estadual de Londrina Campus Universitrio Caixa Postal 6001 Fone/Fax: (43) 371-4674 E-mail: [email protected] 86051-990 Londrina - PRComisso de Publicao do Departamento de Geocincias Coord. Prof. Claudio Roberto Bragueto Prof Mirian Vizintim Fernandes Barros Funcionria: Edna Pereira da Silva Conselho Editorial Prof. Dalton ureo Moro UEM Prof. Eliseu Savrio Spsito UNESP Presidente Prudente Prof. Francisco de Assis Mendona UFPR Prof. Geraldo Cesar Rocha UFJF Prof. Jos Barreira UEL Prof. Jos Paulo Piccinini Pinese UEL Prof. Jos Pereira de Queiroz Neto - USP Profa. Maria Encarnao Beltro Sposito UNESP-Presidente Prudente Prof. Messias Modesto dos Passos - UEMProfa. Nilza Aparecida Freres Stipp UEL Prof. Roberto Rosa - UFU Profa Rosana Figueiredo Salvi UEL Profa. Rosngela Doin de Almeida UNESP-Rio Claro Profa. Sonia Maria Vanzella Castellar - USP Profa Yoshiya Nakagawara Ferreira - UEL Editorao Eletrnica e Composio Kely Moreira Cesrio Capa Projeto Ilustrao UEL / CECA / Arte / Design Coord.: Cristiane Affonso de Almeida Zerbeto\to Vice-Coord.: Rosane Fonseca de Freitas Martins Aluno: Alexandre Hayato Shimizu Normalizao Documentria e Reviso Geral Ilza Almeida de Andrade CRB 9/882 Montagem e Acabamento Antonio Moacyr Ferreira Rubens Vicente

Geografia / Departamento de Geocirncias, Universidade Estadual de Londrina Vol. 1, n 1 (Dez, 1983). Londrina : Ed. UEL, 1983- . v. ; 29 cm Semestral. Publicado anualmente at 1993. Suspensa de 1994-1998. Descrio baseada em: Vol. 8, n 1 (Jan./Jun. 1999) ISSN 0102-3888 1. Geografia humna Peridicos. 2. Geografia fsica Peridicos. I. Universidade Estadual de Londrina. Departamento de Geocincias CDU 91 (05) Indexada em Geodados

Geografia: Revista do Departamento de Geocincias Universidade Estadual de Londrina Centro de Cincias Exatas Departamento de Geocincias Caixa Postal, 6001 86051-990 Londrina Paran Fone: (43) 371-4246 - Fax: (43) 371-4216 E-mail: [email protected]

PEDE-SE PERMUTA

GeografiaRevista do Departamento de GeocinciasEDITORIAL .................................................................................................................................................................. 125 DE SEMIFOROS, MOTIVO EDNICO E ENSINO DE GEOGRAFIA ............................................................... 129 Maria Lcia de Amorim Soares REFLEXES SOBRE AS MUDANAS NA FORMAO DOCENTE DE NVEL MDIO EM LONDRINA PARAN. CONTRIBUIES DA GEOGRAFIA ...................................................................................................... 135 Rosely Sampaio Archela, Jeani Delgado Paschoal Moura A MODERNIZAO DA PECURIA LEITEIRA E A EXCLUSO DO PEQUENO PRODUTOR ..................... 147 Jerri Augusto da Silva, Ruth Youko Tsukamoto PROGRAMA VILAS RURAIS: RETORNO DO TRABALHADOR RURAL AO CAMPO? ..................................... 163 Alice Yatiyo Asari, Karina Furini da Ponte A PISCICULTURA EM CATIVEIRO COMO ALTERNATIVA ECONMICA PARA AS REAS RURAIS .......... 175 Acio Rodrigues de Melo, Nilza A. Freres Stipp A ATUAO GOVERNAMENTAL E O PROCESSO DE MIGRAO INTERNA: O CASO DA VILA RURAL DA PAZ ROLNDIA (PR) ........................................................................................ 195 Jlia Luciana Pereira das Dores, Alice Yatiyo Asari UMA PROPOSTA PARA IMPLANTAO DO SIG NA CIDADE DE LONDRINA ............................................. 211 Omar Neto Fernandes Barros, Mirian Vizintim Fernandes Barros, Joo Henrique Caviglione SIG EM LONDRINA ................................................................................................................................................... 225 Osvaldo Coelho Pereira Neto, Andr de Lima ANLISE DOS REMANESCENTES FLORESTAIS DA BACIA HIDROGRFICA DO RIO TIBAGI PARAN, UTILIZANDO SISTEMAS DE INFORMAO GEOGRFICA .................................. 231 Graziele Hernandes Volpato , Miriam Vizintim Fernandes Barros ANLISE DOS IMPACTOS DAS VIBRAES GERADAS POR DESMONTES EM TALUDES DAS MINERAES ESTUDO DE CASO DA MINA DE TIMBOPEBA EM OURO PRETO (MG) ............................. 245 Gabriel Alves da Costa Lima AVALIAO DAS RESERVAS SUBTERRNEAS DO AQFERO CAIU NA SUB-BACIA DO RIO DOS NDIOS - PR. ................................................................................................................. 257 Andr Celligoi, Maurcio Moreira dos Santos

NOTASGRUPO DE ESTUDO HISTRIA E FILOSOFIA DA CINCIA GEOGRFICA .............................................. 273 Eduardo Marandola Jr., Juliano Augusto, Mario Alberto dos Santos, Pablo Sebastian JOSU DE CASTRO, O MAPA DA FOME E O MAPA DO FIM DA FOME .......................................................... 279 Mrcia Siqueira de Carvalho INSTRUES PARA PUBLICAO ........................................................................................................................... 283

GEOGRAFIA LONDRINA VOLUME 10 NMERO 2 JUL./DEZ. 2001

De Semiforos, Motivo Ednico e Ensino de GeografiaMaria Lcia de Amorim Soares* RESUMOTomando o conceito de semiforos a autora trabalha a questo dos mapas, atlas, televiso, vdeos, filmes, computador e internet e seu uso nas aulas de Geografia; o motivo ednico revela o papel da natureza no imaginrio social escolar e nacional a viso do pas como natureza paradisaca da terra. Trazendo para a sala de aula a questo dos semiforos e o motivo ednico no imaginrio social brasileiro a autora faz algumas indagaes acerca do papel dos professores de Geografia no cenrio inicial do sculo XXI.

PALAVRAS-CHAVE: semiforos; motivo ednico; ensino de Geografia.Semeiophoros uma palavra grega composta de duas outras palavras: semeion sinal ou signo, e phoros trazer para a frente, expor. Apanhando POMIAN (Entre linvisible et le visible, Libre, n 3, 1987), citado por Marilena CHAU, em Brasil Mito fundador e sociedade autoritria (2000), indica a Nao como Semiforo Matriz, aquele que ser o lugar e o guardio dos semiforos pblicos. Por meio da intelligentsia, da escola, da biblioteca, do museu, do arquivo de documentos raros, do patrimnio histrico e geogrfico e dos monumentos celebratrios, o poder poltico faz da Nao o sujeito produtor de semiforos nacionais, e ao mesmo tempo, o objeto do culto integrador da sociedade una e indivisa. Diz Chau:Um semeion um sinal distintivo que diferencia uma coisa de outra, mas tambm um rastro ou vestgio deixado por algum animal ou por algum. Signos indicativos de acontecimentos naturais como as constelaes, indicadores das estaes do ano , sinais gravados para o reconhecimento de algum como os desenhos num escudo, as pinturas num navio, os estandartes , pressgios e agouros so tambm semeion. E pertence famlia dessa palavra todo sistema de sinais convencionados, como os que se fazem em assemblias, para abri-las ou fech-las ou para anunciar uma deliberao. Inicialmente, um semeiophoros era a tabuleta na estrada indicando o caminho; quando colocada frente de um edifcio, indicava uma funo. Era tambm o estandarte carregado pelos exrcitos, para indicar sua provenincia e orientar seus soldados durante a batalha. Como semforo, era um sistema de sinais para comunicao entre navios e deles com a terra. Como algo precursor, fecundo ou carregado de pressgios, o semiforo era a comunicao com o invisvel, um signo vindo do passado ou dos cus, carregando uma significao com conseqncias presentes e futuras para os homens. Com esse sentido, um semiforo um signo trazido frente ou empunhado para indicar algo que significa alguma outra coisa e cujo valor no medido por sua materialidade e sim por sua fora simblica: uma simples pedra, se for o local onde um deus apareceu, ou um simples tecido de l, se for o abrigo usado, um dia, por um heri, possuem um valor incalculvel, no como pedra ou como um pedao de pano, mas como lugar sagrado ou relquia herica. Um semiforo fecundo porque dele no cessam de brotar efeitos de significao (2000, p.11-12).

*

Coordenadora do Curso de Geografia, Professora de Geografia Regional e Professora do Programa de Mestrado da Universidade de Sorocaba (UNISO). Doutora em Cincias: Geografia Humana pela Universidade de So Paulo (USP). Endereo: Av. Dr. Eugnio Salerno, 140 Cmpus Seminrio- Santa Terezinha - 18.035-430 - Sorocaba-SP 129

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Na exposio visibilidade que os semiforos realizam sua significao e sua existncia. Seu lugar pblico: templos, museus, bibliotecas, teatros, cinemas, campos esportivos, praas e jardins, lugares santos como montanhas, rios, lagos, cidades, em resumo, locais onde a sociedade possa comunicar-se celebrando algo comum e que conserva o sentimento de comunho e de unidade. Um objeto, um acontecimento, um animal, uma pessoa, uma instituio um semiforo. A celebrao de um semiforo pode acontecer por meio de cultos, peregrinaes representaes de feitos hericos, passeatas, desfiles, monumentos, uma vez que o semiforo capaz de relacionar o visvel e o invisvel no espao e no tempo: o invisvel pode ser o sagrado um espao alm de todo espao, ou o passado ou o futuro distantes um tempo sem tempo. Entretanto, Max Weber, no incio do sculo passado, j expressava a condio de estarmos vivendo um mundo desencantado, mundo onde mistrios, maravilhas, prodgios tornaramse inteligveis pelo conhecimento cientfico e regidos pela racionalidade por meio da lgica de mercado. A clebre expresso weberiana induz-nos a dizer que, no modo de produo capitalista, no pode haver semiforos, pois, no capitalismo, tudo mercadoria, no tendo como ser retirado do circuito da circulao mercantil. Mas, a suposio da impossibilidade de semiforos na sociedade capitalista s surgiu porque havamos deixado na sombra um outro aspecto decisivo dos semiforos, ou seja, que so signos de poder e prestgio. (CHAU, 2000,p.13), visto serem, tambm, posse e propriedade daqueles que detm o poder para produzir e conservar um sistema de crenas ou um sistema de instituies que lhes permite dominar o meio social: chefias religiosas, detentoras do saber sobre o sagrado, e chefias poltico-militares, detentoras do saber sobre o profano, so os detentores iniciais dos semiforos. Agora, a aquisio de semiforos passa a ter uma nova determinao a de seu valor por seu preo em dinheiro.130

Os semiforos religiosos so particulares cada crena, os semiforos da riqueza os do poder econmico, so propriedade privada e os semiforos poltico-militares, constituintes do patrimnio histrico-geogrfico, so nacionais. O semiforo fundamental, aquele que ser o guardio e o lugar dos outros semiforos pblicos a nao, construdo pelo poder poltico por meio da intelligentsia (ou de seus intelectuais orgnicos), da biblioteca, do museu, do arquivo de documentos raros, do patrimnio histrico e geogrfico, dos monumentos celebratrios e da escola. Na escola, o motivo ednico que habita o imaginrio social brasileiro desde os primrdios da presena europia a viso do pas como natureza paradisaca da terra, cristaliza-se: o rio Amazonas o maior rio do mundo; a floresta amaznica a maior floresta tropical do planeta; somos um pas continental cortado pela linha do Equador e pelo trpico de Capricrnio donde provm contrastes regionais cuja riqueza natural e cultural inigualvel; nossa terra desconhece ciclones, furaces, vulces, desertos, nevascas, terremotos; aqui em se plantando, tudo d. O prprio Hino Nacional ednico. Tomemos a primeira estrofe por exemplo: o brado retumbante do povo herico inveno. Quem bradou foi D. Pedro e o ouvinte do brado foi a natureza, foram as margens do Ipiranga: a referncia liberdade, uma conquista humana, feita logo a seguir, aparece via metfora natural a liberdade o sol cujos raios brilham no cu. Mais frente, surgem de novo o cu risonho e lmpido e o gigante belo, impvido, colosso colosso pela natureza. A grandeza do futuro garantida pelo gigantismo natural, o pas est deitado em bero esplndido, iluminado ao sol do novo mundo, nossas terras tm palmeiras, e o smbolo de amor eterno o Cruzeiro do Sul, que aparece duas vezes no hino. Nas palavras crticas de Nelson Rodrigues (1997): o Brasil uma paisagem. Nas palavras reflexivas de Machado de Assis (1983): o meu sentimento nativista (...) sempre se doeu desta adorao daGeografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 129-133, jul./dez. 2001

natureza. (...) eu no fiz, nem mandei fazer, o cu e as montanhas, as matas e os rios. J os achei prontos. Uma pesquisa nacional feita em 1996 pelo Instituto Vox Populi e outra pelo Centro de Pesquisa e Documentao de Histria Contempornea do Brasil (CPDOC) da Fundao Getlio Vargas, indagaram se os entrevistados sentiam orgulho de ser brasileiros e quais os motivos para o orgulho. Enquanto 60% responderam afirmativamente, somente 5% disseram sentir vergonha do pas. Esses dados indicam uma taxa de orgulho que se coloca entre as mais altas do mundo. Segundo dados do Word value survey para 1990, apenas os Estados Unidos e a Irlanda registram percentagem de muito orgulho bem acima da brasileira. Taxas comparveis so as do Canad, Mxico e frica do Sul. Muito abaixo esto as da Holanda, Alemanha e Japo. Quanto aos motivos de orgulho, foram enumerados, em ordem decrescente: a natureza (35%), o carter do povo (16%), as caractersticas do pas (13%), esportes/msica/ carnaval (9%). No item natureza, alguns exemplos de respostas: natureza maravilhosa, paisagem, terra maravilhosa, terra santa, Amaznia, florestas, montanhas, pantanal, cachoeiras, orla martima, o verde, o sol, ar puro, a fauna, a flora, aspecto geogrfico, beleza fsica, beleza geogrfica, beleza natural, beleza das praias, praias do Nordeste, pas mais bonito do mundo, pas abenoado, fertilidade do solo, terra rica, pas mais rico do mundo, riquezas minerais, pas continental, grandeza do pas, clima tropical, clima bom, no ter terremoto, furaco, tufo, beleza do povo, as mulheres bonitas (corpo natureza). Carter do povo inclui traos de personalidade do brasileiro considerados positivos. Exemplos: povo solidrio, trabalhador, unido, esforado, cordial, artstico, hospitaleiro, bom, alegre, pacfico, ordeiro, simples, acolhedor, amigo, amoroso, carinhoso, capaz, honesto, humanitrio, religioso, inteligente, livre, festivo, feliz, Getlio Vargas,Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 129-133, jul./dez. 2001

Airton Senna, Juscelino Kubitschek, Xuxa, etc. Caractersticas do pas incluem conquistas humanas. Exemplos: ausncia de discriminao racial, de terrorismo, de conflitos, de pena de morte, paz, liberdade de opinio, de expresso, de religio, democracia, progresso, campanha da fome, o Plano Real, etc. Na escola, o motivo ednico que habita o imaginrio social brasileiro cristaliza-se nas aulas de Geografia. O Brasil :1) um dom de Deus e da Natureza; 2) tem um povo pacfico, ordeiro, generosos, alegre e sensual, mesmo quando sofredor; 3) um pas sem preconceitos ( raro o emprego da expresso mais sofisticada democracia racial), desconhecendo discriminao de raa e de credo, e praticando a mestiagem como padro fortificador da raa; 4) um pas acolhedor para todos os que nele desejam trabalhar e, aqui, s no melhora e s no progride quem no trabalha, no havendo por isso discriminao de classe e sim repdio da vagabundagem, que, como se sabe, a me da delinqncia e da violncia; 5) um pas dos contrastes regionais, destinado por isso a pluralidade econmica e cultural. Essa crena se completa com a suposio de que o que ainda falta ao pas a modernizao isto , uma economia avanada, com tecnologia de ponta e moeda forte, com a qual sentar-se- mesa dos donos do mundo (CHAU,2000, p.8).

A contradio passa desapercebida, apesar de visvel: existncia de crianas de rua, chacinas dessas crianas, desperdcio de terras no cultivadas, massacres dos sem-terra, existncia de favelas, grande nmero de desempregados ao mesmo tempo, afirmando que temos orgulho de ser brasileiros porque somos um povo pacfico, ordeiro e inimigo da violncia. Na escola, o motivo ednico que habita o imaginrio social brasileiro cristaliza-se nas aulas de Geografia atravs de um semiforo: o mapa do Brasil. Mapas e globos fazem parte do mito fundador da Geografia mito enquanto representao homognea e forte e que permite crer na identidade da coisa. Assim, pendurado na parede ou carregado em pesados atlas, ou, ainda, colado de livros em papel vegetal, pintado131

com cores vistosas e (re)colado em cadernos espiralados, o mapa do Brasil apenas a certeza que o lugar existe, reforando o verso musical do poeta modernista Cassiano Ricardo(1970): O Brasil tem a forma de uma harpa. No h conflitos, apenas existem os planaltos, as plancies, os rios, as matas. No dizer de Cassiano Ricardo: parece que Deus derramou tinta por tudo, mas no sangue, j que nossa histria foi escrita sem derramamento desse lquido pastoso. No semiforo mapa do Brasil (ou qualquer outro mapa nos dias de hoje, especialmente o do Afeganisto e seu entorno), cristaliza-se o sinal distintivo do professor de Geografia: fazer a ligao com o invivel, um signo que, vindo do passado pela construo dos bandeirantes no caso do Brasil, construo solidificada por Caxias e o Baro do Rio Branco posteriormente, carrega uma significao com conseqncias presentes e futuras para os homens, visto um semiforo ser fecundo porque dele no cessam de brotar efeitos de significao. Entretanto, um mito fundador no cessa de encontrar novos meios para exprimir-se. No caso da disciplina escolar Geografia, o imperativo do desenvolvimento das mdias passa a predominar e o professor passa a requisitar televiso, vdeo, filmes para se ver a evaso rural e o inchamento das cidades, a multiplicao das favelas e as populaes de rua, os sem-terra, semteto, sem-cidadania, as habitaes verticais, o trnsito que paralisa as ruas, os luxuosos condomnios suburbanos, as grades, as cercas eletrificadas, os ces ferozes, os shoppingscenters. Tudo via tela, no dizer de Baudrillard: um simulacro. Agora, uma nova quadra histrica traz o computador e a internet (re)atualizando o mito fundador. Uma ptina densa de grafite cobre as cidades brasileiras, por exemplo, tornando-as veladas, opacas, desarticuladas, porosas, devorando uma populao negligenciada, difusa, erradia, malevel. Mudaram os tempos. Mudamos ns? Trazendo para a sala de aula a questo dos

semiforos e o motivo ednico no imaginrio social brasileiro fica uma profunda indagao: so os mapas e globos, as televises, os vdeos e os filmes, o computador e a internet somente semiforos, enquanto signos de poder e de prestgio do professor de Geografia? Enquanto providos de significao ou de valor simblico, capazes de relacionar o visvel e o invisvel, seja no espao ou no tempo, e expostos visibilidade a realizando sua significao e existncia , respondem os semiforos ao verdadeiro ensino e a real aprendizagem da Geografia no cenrio inicial do sculo XXI? como inquietao que os professores entendem o desabafo de Nelson Rodrigues ao se exprimir de maneira contundente como era de seu feitio: Ah, o Brasil no uma ptria, no uma nao, no um povo, mas uma paisagem? Empunha o professor de Geografia o mapa para indicar algo que significa alguma outra coisa e cujo valor no medido por sua materialidade e sim por sua fora simblica como relquia herica? Evento emblemtico a aula de Geografia, como emblemtico este nosso Brasil no dizer de Mrio de Andrade (1976): Juntos formamos esse assombro de misrias e grandezas, Brasil, nome de vegetal! ... [...]

REFERNCIAS BIBLIOGRFICASANDRADE, Mrio de. Poesias completas. So Paulo: Crculo do Livro, 1976. CHAU, Marilena. Brasil mito fundador e sociedade autoritria. So Paulo: Editora Fundao Perseu Abramo, 2000. MACHADO DE ASSIS. Obras completas: A semana (1892-1893). Rio de Janeiro: W.M.Jackson. v.1, 1983 RICARDO, Cassiano. A Marcha para oeste: a influncia da bandeira na formao social e poltica do Brasil. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1970. RODRIGUES, Nelson. A cabra vadia novas confisses. So Paulo: Companhia das Letras, 1997.

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Of Semeiophoros, the Eden Motif and Geography TeachingABSTRACTFrom the concept of semeiophoros the author addresses the issue of using maps, atlas, television, videos, films, computers and the internet in the geography classes; and the Eden Motif reveals the role of nature in the school and national social imaginary, the way of seeing the nation as a paradisiacal nature of the earth. Bringing into the classroom the question of semeiophoros and the Eden motif within the Brazilian social imaginary, the author poses some questions on the role of the geography teacher in the scenario of the early Century XXI.

KEY-WORDS: semeiophoros; the eden motif; geography teaching

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Reflexes Sobre as Mudanas na Formao Docente de Nvel Mdio em Londrina Paran. Contribuies da GeografiaRosely Sampaio Archela* Jeani Delgado Paschoal Moura** RESUMOReflexes sobre o curso profissionalizante de formao docente de nvel mdio em Londrina, com base nas mudanas ocorridas na educao brasileira e paranaense ao longo das ltimas dcadas.

PALAVRAS-CHAVE: educao, formao docente, nvel mdio, metodologia de ensino, ensino de Geografia.INTRODUO Nas ltimas dcadas tem ocorrido um intenso debate sobre os rumos da Educao no Brasil. Tendo em vista as inmeras reformulaes que ocorreram na educao brasileira, procuramos apresentar uma discusso em torno da formao docente1 de nvel mdio a partir de um breve histrico sobre sua implantao em Londrina. Em seguida realizamos algumas reflexes a respeito dos desdobramentos que vm ocorrendo nessa formao docente, devido s deliberaes da legislao em vigor. professores em Londrina foi implantado em 1944 no Instituto de Educao Estadual de Londrina IEEL. Aps dez anos, um segundo curso comeou a funcionar na rede particular Colgio Me de Deus (Lei de Diretrizes e Bases in Dirio Oficial, de 17 de maio de 1966, p.86 apud Proposta Pedaggica do Colgio, 2001). Mais recentemente, foram implantados outros cursos para formao de professores na Escola Estadual Professora Maria do Rosrio Castaldi em 1985, e em 1989 no Colgio Marista de Londrina. Atualmente, apenas o Colgio Me de Deus oferece esta modalidade de formao de docentes da Educao Infantil e sries iniciais do Ensino Fundamental, atravs do Curso Normal Nvel Mdio. Com a Lei 5692/71 e seus pareceres complementares, foi autorizado em 1972, o funcionamento do curso de Habilitao Profissional para o Magistrio de 1 Grau (1 a 4 sries do atual Ensino Fundamental), especfico para professores no habilitados para o magistrio, no Colgio Me de Deus. O curso

1. BREVE HISTRICO DA ESCOLA NORMAL EM LONDRINA: FORMAO DE PROFESSORES PARA ATUAR EM EDUCAO INFANTIL E SRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL O primeiro curso para formao de* **

Professora Adjunto do Departamento de Geocincias da Universidade Estadual de Londrina [email protected] Professora Assistente do Departamento de Geocincias da Universidade Estadual de Londrina [email protected] 135

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funcionou sob a forma de Experimento Pedaggico, at 1975. Em 1980 o mesmo curso foi reativado, atendendo legislao vigente, como Curso Supletivo de 2 Grau (atual Ensino Mdio), Funo Suplncia Habilitao Magistrio de 1 a 4 sries de 1 Grau destinado tambm a professores no habilitados. O Colgio passou a ofertar tambm a Habilitao Magistrio (Educao Geral + Formao Especial + Parte Diversificada) em perodo de frias. Em 1984, em virtude da clientela possuir, na sua maioria, o curso de 2 Grau completo (atual Ensino Mdio), o Colgio solicitou a aprovao do Curso de 2 Grau Supletivo Funo Suplncia Profissionalizante Habilitao de Magistrio de 1 a 4 sries do 1 Grau. O Projeto de implantao foi aprovado pelo Parecer n. 8.434/84 SEED e reconhecido pela Resoluo n. 3.441/87 SEED, com base no Parecer n. 200/87 CEE e ofertado com as mesmas caractersticas do anterior, em etapas Quadro 1 Curso Magistrio em Londrina 1992.Estabelecimento IEEL- INSTITUTODE EDUCAO ESTADUAL DE LONDRINA

nos perodos de frias. A Deliberao n. 003/ 92 de 07/04/92 aprovou a estrutura e funcionamento do curso com base nas Diretrizes Curriculares para os Cursos de Magistrio no Paran. O Curso de 2 Grau Supletivo Funo Suplncia Profissionalizante Habilitao de Magistrio de 1 a 4 sries do 1 Grau, era ofertado em quatro etapas, com atividades presenciais nos perodos de frias e atividades complementares mais Estgio Supervisionado entre os mesmos perodos. Este curso, com durao de dois anos foi ofertado no perodo de 1984 a 2000. Diante das exigncias da nova Legislao, o Colgio elaborou a proposta para a criao do Curso Normal Superior, em perodo de frias, sendo que o projeto de implantao encontra-se em tramitao. Segundo Archela (1993), no incio da dcada de 90, o curso magistrio em Londrina era ofertado em quatro estabelecimentos de ensino (Quadro 1).

Caractersticas Estadual

Perodo Manh/Noite

Nmero de Turmas 25

Nmero de Alunos 988

ESCOLA ESTADUAL PROFESSORA MARIA DO ROSRIO CASTALDI COLGIO MARISTADE LONDRINA

Estadual

Manh/Tarde

09

330

Particular Particular -

Manh Integral/friasi1 -

03 04 41

60 116 1494

COLGIO ME DE DEUS Total

Fonte: Dados levantados junto ao NCLEO REGIONAL DE EDUCAO Londrina, 1992

i1

Curso de 2 grau supletivo Formao Suplncia Profissionalizante Habilitao Magistrio de 1 a 4 sries do 1 grau. Aprovado pela Secretaria Estadual de Educao em 1984.

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O Colgio Me de Deus2 oferecia alm do curso magistrio regular (4 anos), uma modalidade de curso com 3 anos de durao, e o curso magistrio de 2 grau supletivo em regime especial, concentrado no perodo de frias, para alunos que possuiam o 2 grau completo. O Colgio Marista de Londrina oferecia um curso especfico para a formao de Irmos Maristas, voltados para a Educao. Com relao as escolas da rede estadual de ensino, Archela (1993) observou que estes cursos de formao docente, apresentavam problemas comuns as demais modalidades de ensino: falta de equipe pedaggica concursada e efetiva nos estabelecimentos estaduais; problemas com relao falta de concurso pblico; muitos professores contratados sentiam-se desmotivados para dar continuidade aos trabalhos, uma vez que eram apenas temporrios; alguns professores contratados para o curso magistrio, desconheciam a realidade das sries iniciais do ensino fundamental, dificultando a superviso de estgio, alm dos problemas referentes ao acompanhamento dos alunos aos locais de estgio. Aponta ainda, a falta de dados e pesquisas sobre o curso magistrio em Londrina. Na verdade, os problemas e caractersticas levantadas durante a realizao da pesquisa em 1992, refletem a estrutura escolar, firmada atravs das constantes mudanas que ocorreram no ensino brasileiro, em nome de uma boa formao profissional. A formao de docentes da Educao Infantil e sries iniciais do Ensino Fundamental tem como finalidade bsica, formar um professor com profunda conscincia da realidade. Por isso necessita de uma slida fundamentao terica e metodolgica, aliada a uma competente instrumentalizao tcnica. Esta preocupao tem sido verificada ao longo da existncia do curso magistrio no Brasil. Embora saibamos que as mudanas de currculo no modificam a estrutura do ensino, acreditamos que o processo de mudana envolve um empenho significativo do Estado, daGeografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 135-145, jul./dez. 2001

universidade, dos professores, da escola, dos alunos e da sociedade. At 1971, a formao de professores para as sries iniciais, se dava atravs de escolas normais. A escola normal sofreu diversas modificaes. Entre estas, destaca-se a Lei Federal N. 4024/ 61, Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, que teve por objetivo, no que diz respeito ao ensino normal, a formao de professores, educadores, orientadores, supervisores e administradores escolares, destinados ao ensino primrio e ao desenvolvimento dos conhecimentos tcnicos relativos educao da infncia. Com base nesta Lei Federal, em 1964 foram estabelecidas as bases curriculares da Escola Normal de Grau Colegial (atual Ensino Mdio), com as seguintes disciplinas: Obrigatrias de Cultura Geral: Portugus, Matemtica, Histria, Geografia e Cincias. Obrigatrias Complementares: Fundamentos da Educao e Teoria e Prtica da Escola Primria. A disciplina Fundamentos da Educao abrangia o Estudo da Criana (Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem), Introduo aos Estudos Pedaggicos, Filosofia da Educao e Problemas da Educao Brasileira e Paranaense. A disciplina Teoria e Prtica da Escola Primria abrangia: Organizao da Escola Primria, Currculo, Metodologia e Prtica do Ensino Primrio; constituindo-se em nova denominao da disciplina Didtica e Prtica de Ensino. Poderiam ser includas prticas educativas nas disciplinas de Fundamentos da Educao e Teoria e Prtica da Escola Primria. At duas disciplinas optativas poderiam ser includas no currculo do curso em regime semestral, entre as seguintes: Histria da Educao, Psicologia Educacional, Biologia Educacional, Estatstica Aplicada, Administrao Escolar, Estudos Sociais, Higiene e Puericultura. Estas disciplinas poderiam ser oferecidas em uma ou mais sries, cabendo ao estabelecimento a sua distribuio. A prtica de ensino, sob a forma de Estgio Dirigido, era137

obrigatria para todos os alunos da Escola Normal de Grau Colegial com cargas horrias ampliadas gradativamente da 1 3 srie normal. No entanto, a possibilidade do Estado e dos estabelecimentos de ensino anexarem disciplinas optativas ao currculo mnimo estabelecido pelo Conselho Federal de Educao, foi um progresso somente em matria de legislao, porque as escolas acabaram compondo o seu currculo de acordo com os recursos materiais e humanos que j dispunham. A Lei Federal N. 5692/71, estabeleceu a qualificao obrigatria para o trabalho ao nvel de 2 Grau (Ensino Mdio). Esta lei determinava para o exerccio do magistrio de 1 a 4 sries, que o professor fosse habilitado especificamente em nvel de 2 Grau, em curso de trs ou quatro sries. Poderia atuar at a 5 e 6 sries do 1Grau (Ensino Fundamental), se a habilitao fosse obtida em quatro sries, ou em trs com estudos adicionais de um ano. Assim, o antigo Curso Normal transformou-se numa Habilitao de 2 Grau, como qualquer outra. No Estado do Paran, foram definidos os contedos obrigatrios com o respectivo ementrio, segundo Deliberao N. 22/79, a ordenao das matrias obrigatrias, os contedos correspondentes aos Estudos Complementares, a carga horria de cada disciplina e o horrio de funcionamento indicado para perodo diurno. Houve predominncia da parte de Formao Especial sobre a Educao Geral, sendo caracterizada no Currculo Pleno. A durao foi estipulada em trs anos com uma carga horria total de 1890 horas/aula. Dessa forma, a transformao da Escola Normal em Habilitao ao Magistrio teve como pano de fundo a prpria descaracterizao do ensino de 2 Grau. Com o objetivo de melhorar a qualidade de ensino do magistrio, em 1985 foi elaborada a Proposta Curricular do Magistrio e encaminhada ao Conselho Estadual de Educao. A proposta envolvia as seguintes questes: Abordagem Curricular e Metodolgica; Plano de Estudos; Ementrio das Disciplinas; Prtica de Ensino e Bibliografia.138

A partir de 1986, esta proposta comeou a ser implantada de forma gradativa, nos estabelecimentos de 2 Grau da rede estadual que ofertavam o curso magistrio. Em 1987, o currculo foi adequado ao Parecer 785/86 CFE, Deliberao 004/87 CEE e, Instruo Conjunta N. 01/87 SUED/SEED. A adequao realizada alterou a nomenclatura das matrias do Ncleo Comum e consequentemente as disciplinas componentes da matria Didtica, alm da incluso da disciplina Organizao Social e Poltica Brasileira na 3 srie. No perodo 1987/1990, a Secretaria de Estado da Educao do Paran, atravs do Departamento de Ensino de Segundo Grau DESG, iniciou um processo de Avaliao da Proposta Curricular da Habilitao Magistrio, considerando as principais deficincias detectadas: falta de embasamento terico dos professores sobre a sua disciplina e mesmo sobre as questes mais amplas da Educao; falta de compreenso da diferena entre mtodo e metodologia; conhecimento restrito quanto a bibliografia atualizada existente na sua rea de atuao e defasagem nos contedos apresentados. O processo de avaliao comeou a ser revisto a partir da questo curricular, porque esta era no momento, a primeira preocupao do DESG para o magistrio, devido as dificuldades existentes. Os estudos realizados durante o desenvolvimento do Projeto de Avaliao da Proposta Curricular da Habilitao Magistrio apontaram para uma nova estruturao curricular, alm da necessidade de uma reorganizao da escola. A implantao do novo currculo nos estabelecimentos de ensino da rede estadual, passou a ser feita de forma gradativa, a partir de 1990 opcionalmente e, obrigatoriamente a partir de 1991, com durao de quatro anos com a seguinte grade:

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NCLEO COMUM: Lngua Portuguesa e Literatura Lngua Estrangeira Geografia (2 aulas por semana na 1 srie, e 2 aulas na 2 srie) Histria Organizao Social e Poltica do Brasil Matemtica Fsica Qumica Biologia Educao Fsica Programa de Sade Ensino Religioso (no listado no currculo da rede estadual) PARTE DIVERSIFICADA Filosofia da Educao Sociologia da Educao Histria da Educao Psicologia da Educao Biologia Educacional Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1 grau Didtica Alfabetizao Metodologia do Ensino de Portugus Metodologia do Ensino de Matemtica Metodologia do Ensino de Histria Metodologia do Ensino de Geografia (2 aulas por semana na 4 srie) Metodologia do Ensino de Cincias Metodologia do Ensino de Educao Fsica Metodologia do Ensino de Arte ESTUDOS COMPLEMENTARES (opo do estabelecimento) Introduo Metodologia Cientfica Fundamentos da Educao Pr-Escolar Fundamentos da Educao de Adultos Literatura Infantil Fundamentos da Educao Especial Outra modificao fundamental pode ser atribuda s Metodologias de Ensino que tiveram seu campo de atuao ampliados. A cada disciplina do Ncleo Comum foi acrescida uma metodologia especfica os fundamentosGeografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 135-145, jul./dez. 2001

metodolgicos do ensino das cincias histricosociais e naturais. A disciplina Metodologia do Ensino de Geografia daria conta dos seguintes contedos: Concepo de Geografia: O que Geografia? O conhecimento geogrfico e sua utilizao. Produo do espao e suas inter-relaes: Noo de espao; o capital e o trabalho na produo do espao. Programas e contedos trabalhados no 1 grau: Anlise de livros didticos; recursos como auxiliares no ensino de Geografia. Critrios de avaliao em Geografia: o que avaliao? Os processos de avaliao. Tanto os contedos das disciplinas de Geografia como os objetivos da Habilitao Magistrio, apontavam para a importncia da Cartografia como instrumento de grande eficcia para o ensino-aprendizagem. Com este novo currculo, o Conselho Estadual de Educao do Estado do Paran esperava formar professores capacitados para atuar nas quatro primeiras sries, com conhecimentos, atitudes e habilidades adequadas para o desenvolvimento de uma conscincia da realidade de atuao profissional; adequada fundamentao terica e com instrumentalizao tcnica satisfatria. No ano de 2001 o Curso Normal Nvel Mdio foi reformulado e passou a ter a durao de trs anos com jornada diria em tempo integral, com 5920 horas aulas. O curso tem como objetivo formar docentes para atuarem na Educao Infantil e nas quatro sries do Ensino Fundamental. A proposta contempla um acrscimo de 2480 horas aulas ou 1533 horas relgio no quadro curricular do curso para que seja garantido ao aluno o domnio dos contedos curriculares necessrios para a sua formao geral, de forma articulada e contextualizada com a formao bsica para o Ensino Mdio, assim como, a formao especfica assegurando a capacitao139

profissional, para o cumprimento das Diretrizes Curriculares Nacionais relativas Educao Infantil e ao Ensino Fundamental. O Curso Normal Nvel Mdio, foi criado para substituir o Curso de Magistrio Habilitao de 1 Grau (1 a 4 sries) 3 , lembrando que sua reestruturao obedece as normas da Deliberao n. 010/99 do Conselho Estadual de Educao do Paran e est de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais Resoluo n. 02/99 CEB/CNE e Parecer n. 01/99 CEB/CNE. Conforme delibera a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, o Projeto Pedaggico do Colgio Me de Deus no ano 2001, contempla entre os cursos profissionalizantes as seguintes modalidades: Curso Normal Nvel Mdio: Profissional da Educao; Curso de Magistrio em Msica: Profissional em Educao Musical; Curso de Formao de Professores para a Educao Infantil, na modalidade de Estudos Adicionais4 . Diante das exigncias da nova Legislao, o Colgio elaborou a proposta para a criao do Curso Normal Superior, em perodo de frias (projeto em tramitao). Ao aluno concluinte do Curso Normal, ser fornecido diploma com certificao independente, especificando o direito ao exerccio profissional em cada uma dessas reas. importante frisar que, todas as reas ou ncleos curriculares so constitudos por conhecimentos, valores e competncias que asseguram a formao bsica, geral e comum. Segundo a Proposta Pedaggica do colgio (2001), a Organizao da Ao Pedaggica e a Prtica Supervisionada interagem com as duas reas de atuao: Educao Infantil e sries iniciais do Ensino Fundamental uma vez que estes so o campo prtico onde os alunos do Curso Normal, nvel mdio encontram as vivncias do dia-a-dia com as crianas no prprio estabelecimento, que o local de atuao dos alunos-mestres nas duas reas que sero formados: Educao Infantil e sries iniciais do Ensino Fundamental. A opo do Colgio em continuar com a formao do educador em nvel mdio,140

orientando o jovem profissional com fundamentos bsicos da Educao, justifica-se pela importncia desta orientao nesta idade escolar (adolescentes), mesmo que a maioria continue seus estudos em nvel superior. A proposta pedaggica procura adequar os contedos formao de valores de nossa sociedade, fazendo-se necessrio uma formao tica para o exerccio da cidadania. As diferentes linguagens e formas de expresso so contempladas nas mais diversificadas disciplinas as quais interagem de forma interdisciplinar (PROPOSTA Pedaggica do Colgio, 2001). A nova disciplina Abordagens do Ensino de Conhecimentos da Sociedade na Educao Infantil ser ministrada na 2 srie do Curso Normal, nvel Mdio a partir de 2002, abordando os seguintes contedos: O conhecimento e as formas de sua apreenso nas Cincias Humanas: o que conhecimento? Como se produz o conhecimento? Cincias Humanas: seus objetos e mtodos. Propostas oficiais para a educao infantil: referencial curricular para a educao infantil; Currculo do Estado do Paran (PARAN,1992) e Proposta Curricular da Rede Municipal de Ensino de Londrina (LONDRINA,1994); objetos do eixo temtico Conhecimento de Mundo: Contedos para as crianas de zero a trs anos: tradies culturais de sua comunidade e de outros grupos; explorao de objetos seu espao e noes topolgicas; relaes de lgica: causa e efeito. Contedos para as crianas de quatro a seis anos: organizao dos grupos e seu modo de ser, viver e trabalhar; lugares e as paisagens; objetos e processos de transformao. Orientaes didticas: elaborao de recursos materiais; elaborao de situaes concretas que favoream a socializao e cooperao; atividades permanentes com jogos e brincadeiras; elaborao de projetos de ensino; atividades para a organizao do espao prximo; Formas de avaliao na Educao Infantil: questes terico-prticas sobre o aspecto formativo da avaliao.Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 135-145, jul./dez. 2001

Quadro 2 Matriz Curricular Curso Normal Nvel Mdio (2001).Formao de Docentes da Educao Infantil e Sries Iniciais do Ensino Fundamental Estabelecimento: Colgio Me de Deus Educao Infantil, Ensino Fundamental, Mdio e Profissional Localidade: Londrina Ncleo Regional Educao: Londrina - Ano de Implantao: 2001 Mdulo: 40 semanas - Turno: Diurno Integral - Carga Horria em H/A: 6.240 / 6.480 - Implantao: Gradativa Carga Horria em Horas: 5.200 / 5.400 reas de Conhecimento LINGUAGENS, CDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS CINCIAS DA NATUREZA, MATEMTICA E SUAS TECNOLOGIAS CINCIAS HUMANAS E TECNOLOGIAS Disciplinas Lngua Portuguesa e Literatura Artes Educao Fsica Sub-total Matemtica Fsica Qumica Biologia Sub-total Histria Geografia Sub-total Total da Base Comum Educao Religiosa Filosofia Sociologia Oficina de Leitura Matemtica Contextualizada L.E.M. Ingls Lngua Alem (Opcional) Total da Parte Diversificada Fundamentos Filosficos Fundamentos Scio-antropolgicos Fundamentos Psicolgicos Histria da Educao Iniciao Pesquisa Sub-Total Literatura Infantil Abordagens de Linguagem e Alfabetizao na Educao Infantil Abordagens do Ensino de Portugus no Ensino Fundamental Abordagens do Ensino de Matemtica na Educao Infantil Abordagens do Ensino de Matemtica no Ensino Fundamental Abordagens do Ensino de Cincias na Educao Infantil Abordagens do Ensino de Cincias no Ensino Fundamental Abordagens do Ensino de Conhecimentos da Sociedade no Educao Infantil Abordagens do Ensino de Geografia no Ensino Fundamental Abordagens do Ensino de Histria no Ensino Fundamental Ldico e Recreao na Educao Infantil Abordagens do Ensino de Educao Fsica no Ensino Fundamental Abordagens do Ensino religioso na Educao Infantil Abordagens do Ensino Religioso no Ensino Fundamental Sub-Total Organizao da Ao Pedaggica Sub-Total Total da Formao Especfica Prtica Supervisionada Total Geral Total Geral em H/A Total Geral em Horas Fonte: Proposta Pedaggica do Colgio Me de Deus, Londrina-PR, 2001. 1 3 1 2 6 4 4 3 3 14 2 2 4 24 2 2 2 2 2 8/10 2 2 2 1 7 2 2 4 1 1 12 7 51/53 2.040/ 2.120 1.700/ 1.766 Srie 2 3 1 2 6 4 4 3 3 14 2 2 4 24 2 2 2 2 2 8/10 3 1 1 2 1 1 9 2 2 11 8 51/53 2.040/ 2.120 1.700/ 1.766 Total H/A 3 3 1 2 6 4 4 3 3 14 2 2 4 24 2 1 1 2 2 2 8/10 2 2 2 2 1 1 1 1 1 9 2 2 13 9 54/56 2.160/ 2.240 1.800/ 1.866 360 120 240 720 480 480 360 360 1680 240 240 480 2880 240 160 40 200 80 240 240 960/ 1.200 80 80 80 80 40 360 80 120 80 80 120 40 40 80 40 40 40 40 40 40 880 80 80 1.440 960 6.240/ 6.480 6.240/ 6.480 5.200/ 5.400

B A S E C O M U M

PARTEDIVERSIFI DIVERSI

CADA

F O R M A O E S P E C F I C A

G E S T O P E D A G G I C A

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A disciplina Abordagens do Ensino de Geografia no Ensino Fundamental substituiu a disciplina Metodologia do Ensino de Geografia, ministrada para os alunos da 3 srie, com aborda os seguintes contedos: Concepo de Geografia: geografia crtica; espao e as noes topolgicas; Organizao do espao geogrfico: espao geogrfico social e econmico; Espao geogrfico e social da criana: a casa, a escola e o bairro; o municpio, o estado e o pas. A relao homem-natureza: transformao da natureza pela ao humana; o homem construindo o espao e a histria por meio de sua transformao; Propostas Oficiais para o Ensino Fundamental: Parmetros Curriculares Nacionais; o Currculo da Escola Pblica do Paran; Proposta Curricular da Rede Municipal de Ensino. Mtodos e Tcnicas para o Ensino de Geografia: alfabetizao cartogrfica a leitura dos mapas; oficinas das possibilidades mtodos e tcnicas de trabalho. Estes contedos expressam uma preocupao em relacionar teoria e prtica, onde o alunoprofessor poder discutir os caminhos para a melhor maneira de trabalhar os contedos, buscando possveis solues para a melhoria do ensino de Geografia no Ensino Fundamental. Por outro lado, a nova disciplina parte do pressuposto de que ser importante a vivncia e a criao do conhecimento por parte dos futuros professores da Educao Infantil para que os mesmos possam perceber que o conhecimento no algo que est fora do indivduo e, assim privilegiar o despertar de idias que favoream o ensino voltado observao, explorao e conhecimento do meio vivido pela criana. Trata-se de explorar as formas de abordar a vivncia dos contedos na Educao Infantil. As disciplinas Abordagens do Ensino de Conhecimentos da Sociedade e Abordagens do Ensino de Geografia, compem a parte diversificada Formao Especfica do Curso142

Normal Nvel Mdio, fornecem o embasamento necessrio para subsidiar a leitura e representao do espao geogrfico. A aplicabilidade destas disciplinas no Estgio se faz por meio de observaes de aulas na Educao Infantil e no Ensino Fundamental5 , bem como da elaborao de planejamentos para a posterior aplicao em sala de aula.

2. CONTRIBUIES DA GEOGRAFIA Desde o incio da dcada de oitenta, a preocupao com a formao docente foi reforada pela atuao direta do Estado e da universidade objetivando melhor qualidade no ensino, atravs de cursos de atualizao para professores do Ensino Fundamental e Mdio na maioria dos estados brasileiros. O contato com estes professores, atravs de cursos realizados no estado do Paran, demonstrou a existncia de grandes problemas relacionados formao docente. Atualmente temos verificado nos cursos de atualizao para professores do Ensino Fundamental e Mdio, realizados atravs de projetos de Extenso da Universidade Estadual de Londrina 6 , que os professoresalunos levantam questes que apontam em direo necessidade de um maior embasamento terico-metodolgico, da reviso e atualizao de contedos e da metodologia de ensino. Apesar dos esforos despendidos nos ltimos anos, no sentido de promover uma atualizao necessria aos professores, ainda podemos verificar que a perspectiva de melhor qualidade no ensino, principalmente na rede estadual, tem evoludo mais em termos tericos do que prticos. Muitas pesquisas foram realizadas na rea de ensino de Geografia, com o objetivo de desenvolver metodologias de ensino a fim de contribuir para a formao docente. Destacamse pesquisas significativas que contriburam nas ltimas dcadas, como Callai e Zarth (1988); Almeida e Passini (1989). As pesquisas que tratam destas questes, se concentram nasGeografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 135-145, jul./dez. 2001

ltimas sries (5 a 8) do Ensino Fundamental. Apesar da significativa contribuio destas pesquisas para o ensino, pouco se sabe sobre estas experincias com alunos que devero participar diretamente da Educao Infantil e das sries iniciais do Ensino Fundamental. No sentido de contribuir com a formao de docentes para a Educao Infantil e sries iniciais do Ensino Fundamental, Archela (1993) busca a compreenso dos aspectos essenciais que norteiam as questes relacionadas s representaes grficas no ensino de Geografia. Faz uma reviso bibliogrfica da cartografia escolar e adota como embasamento terico e metodolgico da pesquisa a linguagem da representao grfica, desenvolvida por Jacques Bertin (1967), pouco utilizada no Ensino Fundamental no Brasil at o incio dos anos noventa. Nesta linha, elaborou representaes grficas simplificadas a partir de um mapa do Atlas escolar, para serem completadas e analisadas pelos alunos do curso magistrio em Londrina, no qual verificou uma grande dificuldade com relao a leitura de mapas. Ressalta que os professores precisam de uma formao mais adequada com relao capacidade de utilizar mapas, e que os alunos desde as primeiras sries, precisam conhecer o melhor caminho para ler o mapa e estabelecer correspondncias entre a representao e a realidade. fundamental que as propostas de trabalho relacionadas a formao docente em Geografia, estejam comprometidas com a qualificao profissional onde os contedos cartogrficos somados leitura crtica do espao geogrfico auxiliem a formao cientfica e conscincia das tarefas scio-polticas e pedaggicas do profissional que queremos formar, visto que a slida formao docente est diretamente ligada a melhoria da qualidade do ensino. Ademais, consideramos que devemos trabalhar a Geografia de forma interdisciplinar, relacionando-a com outras reas do conhecimento priorizando o desenvolvimento de idias, do raciocnio e da investigao cientfica, pois entendemos que o domnio deGeografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 135-145, jul./dez. 2001

contedos somados competncia tcnica so de fundamental importncia para a formao docente. A Geografia na atualidade, como todos os ramos da cincia, tem sofrido uma acentuada reformulao em seus princpios frente s novas tecnologias ligadas ao seu campo de atuao. Por isso, importante sensibilizar os futuros professores para a necessidade de trabalhar os contedos por diferentes linguagens, como a criao de oficinas de aprendizagem para a elaborao de materiais didticos e projetos de ensino visando a aplicao de um trabalho interdisciplinar. Neste sentido, Pontuschka (1999) aponta o uso de diferentes linguagens como um dos caminhos para alcanar a melhoria no ensino de Geografia. importante ultrapassar a utilizao exagerada dos livros didticos com o uso de outras metodologias como: o uso de filmes didticos, documentrios, slides associados a msicas, pesquisas de campo, artigos de jornais e revistas, elaborao e interpretaes de mapas e grficos, literatura, histria em quadrinhos, montagem de peas teatrais, tcnicas de laboratrio, computao, entre outros. Atravs da utilizao destas linguagens os alunosprofessores tero a oportunidade de criar estratgias de ensino que podero nortear as primeiras noes geogrficas em sala de aula, lembrando que nestas propostas metodolgicas fundamental a participao das crianas para a elaborao do saber. Neste sentido, Archela e Gomes (1999) apresentam vrias sugestes de metodologias para diferentes temas trabalhados no Ensino Mdio. Trabalhando com a realidade do cotidiano, e o uso de diferentes linguagens e metodologias, certamente ser mais interessante observar, interpretar e analisar o espao geogrfico.

3. CONSIDERAES SOBRE AS MUDANAS NA FORMAO DOCENTE A atual legislao que criou o Curso Normal Superior, alterou os cursos Magistrio e Pedagogia. A principal mudana foi a143

obrigatoriedade de diploma de ensino superior a todos os professores que se formarem a partir de 2007. Os currculos dos cursos e a formao de professores encontram-se da seguinte forma: Magistrio (Ensino Mdio) o professor com essa formao, atualmente pode dar aulas para classes da Educao Infantil at a 4 srie do Ensino Fundamental. A partir de dezembro de 2007, quem fizer o magistrio no poder mais dar aulas, porque o diploma universitrio passar a ser obrigatrio. Normal Superior (Magistrio) atualmente, o professor com magistrio superior pode lecionar para classes at a 4 srie do Ensino Fundamental. No entanto o curso deixou de ser o nico do Ensino Superior a oferecer licenciatura para o Magistrio, pois a Pedagogia tambm recebeu esta habilitao, e no dever sofrer alteraes profundas, pois o curso continuar a oferecer a licenciatura para a Educao Infantil e para as quatro primeiras sries do Ensino Fundamental. Pedagogia o pedagogo possui atualmente habilitao para o magistrio e pode lecionar at a 4 srie do Ensino Fundamental. Quem iniciar o curso a partir de 2005, dever fazer habilitao em licenciatura para atuar como professor; caso contrrio, poder atuar apenas como pedagogo, em reas como formao de professores e administrao, planejamento e orientao educacional. O curso continuar oferecendo o bacharelado. A partir de 2007, o professor ser obrigado a ter diploma universitrio de um curso de conhecimento especfico para lecionar no Ensino Superior, Mdio ou Fundamental (5 srie em diante). Segundo a Secretaria de Educao Superior do Ministrio da Educao, o Curso Normal Superior, como as demais Licenciaturas, devero ter a carga horria mnima de 3200 horas, sendo que destas, 800 horas devem destinar-se 144

prtica pedaggica. Das 800 horas de Prtica Pedaggica, 300 horas so para as atividades de Estgio Supervisionado. Para solicitao de autorizao nas duas licenciaturas possveis no interior do Curso Normal Superior: formao de professores para a Educao Infantil e formao de professores para os anos iniciais do Ensino Fundamental, so necessrios dois projetos acadmicos, um para cada uma das duas licenciaturas (BRASIL, 2002). No que se refere especificamente geografia, notamos que a formao docente ainda deixa a desejar. Entendemos que o professor deveria ter em sua formao inicial, um grau de discusso terica que lhe permitisse avaliar sua formao em funo do processo de aprendizagem do aluno. No entanto, temos observado ao longo de nossa experincia profissional, que muitas vezes, professores recm-formados necessitam de cursos de atualizao porque sua formao foi insuficiente. Acreditamos que as mudanas na legislao so importantes porm, a formao docente s estar estruturada quando a formao inical der condies para que os futuros profissionais faam opes e tenham clareza sobre os contedos a serem ensinados pois a atuao do professor em sala de aula est diretamente ligada qualidade do curso de licenciatura.

NOTAS1

Formao docente: terminologia utilizada no sentido amplo de formao de professores 2 Em 1993, o Colgio voltou a oferecer o Curso Magistrio em 3 anos, aps a aprovao de um Projeto junto Secretaria Estadual de Educao do Estado do Paran. O Projeto foi aprovado porque o curso desenvolvido em perodo integral. 3 Este curso entrou em extino gradativa e ter sua ltima turma no ano de 2003. 4 Este curso ofertado em 1 (um) ano, para os profissionais que possuem a Habilitao Magistrio de 1 Grau (1 a 4 sries) e buscam tambm a Habilitao em Educao Infantil. 5 O Estgio de Observao ocorre por meio da participao ativa dos estagirios, onde os mesmos tm

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a oportunidade de auxiliar nas atividades propostas pelo professor regente. Projeto de Extenso da Universidade Estadual de Londrina intitulado: Geologia para Ensino Fundamental e Mdio: Um Programa de Atendimento e Atualizao para Professores, cadastrado sob n. 003.001.01.0069.

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Reflections on the Changes in the Teaching Formation of Average Level in Native of Londrina Paran. Contributions of GeographyABSTRACTReflections on the professionalizing course of teaching formation of average level in Londrina Paran , on the basis of the occured changes in the Brazilian and paranaense education to the long one of the last decades.

KEY-WORDS: education, teaching formation, average level, methodology of education, education of Geography.

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A Modernizao da Pecuria Leiteira e a Excluso do Pequeno ProdutorJerri Augusto da Silva* Ruth Youko Tsukamoto* * RESUMONo Brasil a produo leiteira vem aumentando gradativamente, graas ao fim do tabelamento que perdurou at 1990. Porm, os produtores brasileiros esto sofrendo os efeitos das importaes provenientes da Argentina, via MERCOSUL, com baixos preos e longo prazo de pagamento. Atualmente, as indstrias de laticnios esto em processo de fuso para se tornarem mais competitivas no mercado globalizado. Mesmo sendo uma atividade pouco rentvel, com baixos preos pagos pelas indstrias/cooperativas, sempre foi um meio de sobrevivncia do pequeno produtor de leite. Na esteira da modernizao, o pequeno produtor de leite vem sofrendo inmeras imposies por parte das indstrias para acompanhar a evoluo tecnolgica no seu sistema de produo. Este um dos problemas que tem provocado o abandono gradativo destes produtores, pois falta apoio financeiro para cumprir tais exigncias. Estas indstrias e/ou cooperativas de laticnios, sujeitam o produtor estabelecendo o monoplio na circulao pagando o preo que lhes conveniente e, por outro lado, sujeita tambm os consumidores, com seus preos monopolistas. Embora a cooperativa no exproprie diretamente o produtor, ela subjuga o produto de seu trabalho, realizando assim, uma clara transferncia de renda, da pequena produo agrcola para o grande capital industrial. Assim, observa-se a excluso e/ou a explorao desta populao rural, principalmente daqueles que produzem at 50 litros/leite/dia. Uma das alternativas encontradas para estes produtores excludos foi a comercializao informal, tornando-se independentes da subordinao do capital industrial.

PALAVRAS-CHAVE: pecuria leiteira, pequeno produtor, capital industrial.INTRODUO O Brasil tem um potencial de produo de leite que s no explorado na totalidade pela falta de poder aquisitivo da populao. O baixo poder aquisitivo da populao o principal impedimento ao aumento do consumo, argumento que tm sido usado pelos vrios segmentos do setor. Se as pessoas tm dinheiro, vo, inevitavelmente, comprar mais leite. Prova disso foi o que ocorreu no Plano Cruzado, em que houve at desabastecimento. Aquela utopia serviu para comprovar que, se h dinheiro, a nossa produo realmente insuficiente, afirmou Jos Otaviano de Oliveira Ribeiro, presidente da Confederao das Cooperativas Centrais* **

Agropecurias do Paran (CONFEPAR) em 1994, acrescentando que em 86 o Brasil importou trs vezes mais do que costuma trazer normalmente de outros pases. A produo fica atrelada ao consumo. O preo, considerado como um dos impedimentos para a aquisio do produto, tambm no satisfaz aos produtores, pois:Um elemento central nesse processo o fator preo: a fixao do preo do leite abaixo de seu valor que permite essa transferncia do excedente da pecuria leiteira para o capital industrial. O preo do leite um preo poltico, elaborado em funo das relaes de fora dentro da economia em geral, e do setor de laticnios em particular (FREDERICQ, 1980, p.38).

Acadmico do curso de Geografia Bolsista CPG/UEL Professora do Dept de Geocincias UEL- Londrina. [email protected] 147

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Toda a nossa produo lctea se insere dentro de um processo chamado crise agrria permanente. Segundo este processo, o preo do leite segue uma tendncia decrescente quando comparados com outros produtos industriais. Estes preos so meramente polticos, destinados a garantir o processo de acumulao industrial. Por sua vez, os produtores tentam equilibrar este dficit com o aumento de produtividade, o que conseguido com a utilizao de tecnologia moderna, porm nem todos conseguem incorpor-la. Em razo do leite ter um preo relativamente pouco compensador para o produtor, nota-se, nestes ltimos anos, algumas tendncias nesta atividade. De um lado, uma pequena parte destes produtores, beneficiados por programas do governo e incentivos fiscais, conseguiu capitalizar-se. Vemos tambm outra frao que diversificou sua produo ou passaram a exercer outra atividade. Mas a grande maioria, que so os pequenos produtores tradicionais, vm-se descapitalizando gradativamente. O maior problema que estes produtores utilizam-se de tcnicas atrasadas, onde, acabam sendo pressionados a modernizar-se, porm sem capital. De acordo com Fredericq (1980, p.19), os produtoresso submetidos a presses do Estado e das empresas agroindustriais produtoras de insumos agropecurios ou de laticnios. Nesse sentido, preocupamo-nos em analisar quais so as alternativas encontradas por esses produtores bem como entender como se d a relao entre o produtor e a indstria. Alm do processo de globalizao da economia e da forte insero do capital multinacional, na entressafra de 2001, observou-se uma situao atpica da produo leiteira no Brasil que refletiu nos preos praticados nesse perodo, provocando uma crise ainda maior nesse setor de atividade.

1. PANORAMA DA PRODUO LEITEIRA NO BRASIL E NO PARAN

1.1.CONSIDERAES SOBRE A PECURIA BRASILEIRASegundo Szmrecsnyi (1998, p.71) de 1930 a 1970, estabeleceu-se e consolidou-se no pas um novo padro de desenvolvimento crescente, baseado exclusivamente nos setores urbanos e industriais da economia, voltado para o atendimento de seu mercado interno, que estava em franca expanso. At o final da dcada de 1920, a economia brasileira era predominantemente rural, com apenas uma atividade bsica, a produo de caf para exportao. Com a Grande Crise de 1929/30, o governo fundouse numa industrializao voltada para a substituio das importaes, onde o processo de urbanizao foi acelerado pela intensificao do xodo rural (devido basicamente quebra na economia cafeeira). Somente, a partir da dcada de 50 que o setor agropecurio passa a constituir um importante mercado para os produtos industrializados, ocorrendo um acentuado processo de modernizao do pas, principalmente na regio sudeste, mais particularmente no Estado de So Paulo.A crescente introduo destes nos processos produtivos do setor agropecurio deu incio chamada industrializao da agricultura no Brasil. Por industrializao da agricultura entende-se aqui a adaptao dos processos produtivos da indstria de transformao aos processos produtivos do setor agropecurio (SZMECSNYI, 1998, p. 72).

A pecuria leiteira um setor da economia quase totalmente monopolizado pelo capital industrial, e a sua gnese no pas, est ligada prpria histria da NESTL. Esta empresa domina at hoje o setor lcteo, atravs de um:...processo de subordinao que ela cria nas reas de captao de leite ou, como ela prefere chamar os pecuaristas leiteiros, fornecedores associados. Fornecedores associados, estes que pagam no apenas o transporte do leite at o ponto de

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recebimento, como tambm deste at a fbrica, mas que a Nestl os atende com sua Assistncia Nestl aos produtores de leite. Como se v, o setor leiteiro est submetido praticamente ao capital multinacional, sobrando para o capital nacional, a fatia da distribuio do leite in natura, que, sabidamente, de mais baixa rentabilidade no setor (OLIVEIRA, 1981, p. 35).

Como sabemos, o agribusiness lcteo agrega renda em diversos setores, dentre os quais: produtos veterinrios, vacinas, raes, sementes, ordenhadeiras, inseminao artificial e equipamentos agrcolas. A maioria destes setores so dominados pelo capital estrangeiro, pois apenas algumas empresas nacionais de porte mdio conseguiu especializar-se. Estas firmas tiveram um certo crescimento nos ltimos anos, mas grande parte foi e est sendo incorporada por empresas estrangeiras, sendo liderada pelo capital transnacional. O tabelamento de preos no Brasil, que persistiu at o incio da dcada de 1990, resultou em uma srie de conseqncias. Dentre as mais importantes, podemos considerar a inibio do uso de tecnologia no setor, devido falta de recursos e incentivo governamental. Entretanto, h que se salientar que detemos tecnologia mais que suficiente para obter uma oferta de leite regular o ano todo, mas isto no ocorre, pois temos abundncia de pasto no vero e carncia no inverno ou seja, a safra e a entressafra. Nesse sentido, quando a produo mais abundante, pagam-lhe menos (vero) e no inverno melhor remunerado. A partir da implantao do Plano Real, em julho de 1994, ocorreu um conseqente aumento do consumo de leite e derivados. Isto ocorreu, em grande parte, devido ao aumento do poder aquisitivo da populao, principalmente da mais carente. Os preos mdios recebidos pelos produtores apresentaram significativo aumento em 1995, sendo considerada a melhor fase da pecuria leiteira em todo o pas.

A partir de 1996, estes mesmos preos comearam a declinar, chegando, em 1999, a US$0,13 , o menor preo de toda a histria da pecuria leiteira. Este fato, juntamente com a globalizao da economia, que vem a exigir dos produtores: qualidade, produtividade e baixo custo, fez com que muitos, principalmente os pequenos, se encontrassem em uma situao invivel de produo. De acordo com Koehler(1999), estas importaes tm desestimulado toda a cadeia produtiva, do produtor aos laticnios. Um dos maiores problemas que estimulam as importaes o prazo de pagamento, que pode chegar a quase dois anos. Outro item a taxao, pois a maior parte do leite que entra no Brasil via MERCOSUL. Se este leite viesse diretamente da Europa, teria que pagar a Tarifa Externa Comercial (TEC), de 27%. Entrando por qualquer pas pertencente ao MERCOSUL, ser pago para o mesmo leite apenas 16%, ou seja, uma diferena de 11%. O sistema agroindustrial de leite no Brasil passou por mudanas estruturais desde o incio dos anos 90, com o desenvolvimento de um ambiente competitivo inteiramente novo, sendo este, resultado da desregulamentao do mercado, da abertura comercial ao exterior e da formao do MERCOSUL, e tambm devido ao processo de estabilizao da economia nacional. Quando, ocorreu a liberao de preos por parte do governo, a diferena de preos no mercado foi geral, causando uma verdadeira guerra de ofertas nas gndolas dos supermercados. Hoje, ainda estamos no processo de mudanas institucionais, organizacionais e tecnolgicas que foram deflagradas no incio da dcada, como pode ser observado na tabela 01, a seguir:

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Tabela 1 Mercado Brasileiro de Leite e Derivados 1990 e 1998.Milhes de litros equivalente leite fluido CONSUMO Per capita (l/hab/ano) PRODUO Formal Pasteurizado Longa Vida Derivados Informal IMPORTAES LONGA Vida/Fluido Importao/Mercado Formal Tamanho do Mercado Formal 1990 15393 106 14484 9609 4030 184 5395 4875 909 4% 9% 34% 1998 22307 136 20087 11345 2745 3100 5500 8742 2220 53% 16% 44% Variao 36% 28% 29% 16% -27% 895% 9% 52% 146%

Fonte: DECEX/MAARA/LEITE BRASIL/SUNAB/ABLV/ABIQ. In: O Agribusiness do leite no Brasil.

Segundo Jank et al (1999), este considervel aumento no consumo per capita pode ser atribudo, em grande parte, instalao do Plano Real, aumentando assim, o poder aquisitivo da populao. Este plano econmico utilizou e continua a utilizar at hoje, a agricultura e a pecuria como sua ncora verde, ou seja, a estabilidade da moeda (de 1994 a 1997),deve-se, em grande parte, ao congelamento de preos dos gneros que constituem a cesta bsica, sendo que, nesta, o leite est includo como um dos itens fundamentais. Se o consumo per capita aumentou em 28%, podemos notar que a produo cresceu no mesmo nvel (29%). Porm, para o desestmulo geral dos produtores, as importaes chegaram a crescer 146%. Este fato vem a significar um abandono geral, tanto poltico, quanto econmico e social por parte do Estado em detrimento da pecuria leiteira, pois, ao invs do governo incentivar os produtores do pas, torna-se benevolente aos especuladores do sistema produtivo. Interessante ressaltar o aumento de 895% do consumo de leite longa vida. Conforme a opinio de um produtor de leite B, ttipo longa vida pode ser considerado um produto de qualidade duvidosa, pois passa por um processo de esterilizao a 130 C, onde destrudo grande parte das vitaminas e micro-elementos nutritivos deste alimento. Alm do mais, so aditivados conservantes neste leite, o que ir tirar do mesmo a qualidade de natural. Em150

detrimento a este aumento do consumo de leite longa vida, temos o leite pasteurizado, que teve seu consumo diminudo em 27%. O leite longa vida representa para a indstria um investimento de grande interesse. Representa reduo de custos no transporte, distribuio, logstica e armazenamento. Para o consumidor significa comodidade. O produto permite estocagem por um longo perodo, sem resfriamento. Dentro deste aumento produtivo, podemos observar que a produo de leite formal sofreu um aumento gradativo de 16% enquanto, o leite informal produzido no pas teve um considervel aumento de 52%. A existncia deste seguimento produtivo, a do produtor informal, que est seguindo uma economia s margens da legalidade, deve-se relao entre o pequeno produtor de leite mantida com a indstria, culminando no baixo preo praticado pela ltima. Nota-se neste processo que o sobretrabalho do produtor est sendo apropriado pelo capital no momento da circulao de sua mercadoria.Enquanto estamos na esfera da produo agrcola tradicional, no distinguimos capitalista, proprietrio fundirio ou proletrio; h somente um produtor. Mas quando esse produtor vende suas mercadorias a um preo mais baixo que seu valor o que garante a reproduo de sua fora de trabalho est transferindo um excedente para o capital comercial ou industrial com que trata (FREDERICQ, 1980, p. 125).Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 147-162, jul./dez. 2001

Assim, nota-se que, para se livrar da explorao capitalista exercida pelas indstrias e/ou cooperativas leiteiras, onde parte de sua renda transferida a este capital, um grande nmero de produtores vm aderindo ao mercado informal. Comercializando diretamente seu produto com o consumidor final, este produtor consegue agregar sua produo, parte da renda que seria apropriada pelos intermedirios, fazendo, assim, valer o risco da ilegalidade. No caso em anlise, as cooperativas iro constituir um poderoso instrumento para o avano da industrializao da agricultura, onde o capital ir ter o domnio total. Desta forma, o capital que ir estruturar a cooperativa, destruindo neste processo aqueles elementos que lhe conferiam um carter especfico.

Porm este aumento precisava vir acompanhado da formalidade da produo, ou seja, o leite precisava passar por inspeo sanitria para ser comercializado, o que no era feito. O abastecimento era realizado de forma tradicional, onde eram empregados intensivamente os fatores de produo, a terra e a mo-de-obra familiar, sendo o capital e os investimentos para o aumento da produo pouco significativos. Conforme Stier e Fernandes (199-) com a melhoria dos eixos virios, ocorreu a intensificao da produo leiteira na regio, favorecendo tambm a comercializao dos produtos agropecurios. neste espao e tempo que passam a surgir as primeiras indstrias de laticnios,...deixando que o leite fosse produzido nos arrabaldes dos centros fornecedores e entregue diretamente do produtor ao consumidor; utilizando como meio de transporte carroas puxadas por animais e s vezes meninos que de porta em porta entregavam o leite, em condies precrias de higiene (STIER e FERNANDES, [199-], p. 51).

1.2. P RODUO L EITEIRA BREVES CONSIDERAES

NO

P ARAN

O Paran, segundo dados elaborados pela SEAB/DERAL no diagnstico de 1999 est ocupando o quinto lugar na produo de leite do Brasil, colocao esta que vem se mantendo h mais de 10 anos. Segundo esta mesma fonte, em 1998, o Paran participou com aproximadamente 8,5% do total da produo brasileira. Conforme Filippsen e Pellini (1999, p.7) nas pequenas propriedades rurais a atividade leiteira desempenha um importante papel econmico, possibilitando a utilizao de mo-de-obra familiar excedente e a entrada mensal de receita. Permite, ainda, que o produtor rural tenha uma reserva de valor de elevada liquidez(rebanho). Essas caractersticas amenizam as dificuldades financeiras de pequenos produtores ou, at mesmo, viabilizam a sua permanncia no meio rural. Alm disso, a produo de leite contribui na melhoria das condies de vida da prpria famlia servindo como fonte alimentar. No municpio de Londrina, por exemplo, medida que a populao aumentava, fazia-se necessrio a intensificao da produo leiteira.Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 147-162, jul./dez. 2001

Ainda segundo Stier e Fernandes, as primeiras usinas destinadas pasteurizao do leite no Paran, surgiram a partir de 1960, sendo que a CATIVA (1964), foi a primeira no setor. Ela surgiu adotando padres tecnolgicos modernos, abordando solues e equacionando problemas referentes indstria do leite. Praticamente, todas as indstrias que surgiram, de certo modo, tiveram o apoio do governo estadual. Assim, a mdio prazo, repercutiram na economia do Estado, tendo viabilizado a expanso do setor. Cronologicamente, conforme dados organizados por Stier & Fernandes, as primeiras usinas lcteas a se instalarem no Estado do Paran foram: Cooperativa Agropecuria de Londrina, 1964; Cooperativa Laticnios Central do Paran Ltda 1966; Cooperativa Laticnios de Mandagua Ltda, 1967;151

Laticnios Londrina Ltda, 1967; Cooperativa agropecuria de Witmarsum Ltda, 1967; Cooperativa de Laticnios Curitiba Ltda, 1967; Cooperativa de Laticnios Coroados Ltda, 1968; Cooperativa de Laticnios Maring, 1970; Companhia Leco de Produo Alimentcia Ltda, 1971; Laticnios Norte do Paran Ltda, 1972; Usina de Pasteurizao e Padronizao do Leite Apucarana Ltda, 1973; Usina e Comrcio de Laticnio Cascavel Ltda, 1973. Nota-se que entre estas usinas mencionadas, sete j iniciaram sob a forma de cooperativa, apoiada em seus estatutos. Hoje, na cidade de Londrina, temos a CATIVA e a CONFEPAR. O leite cr dirigido s indstrias de processamento, que neste caso so representadas pela CATIVA (Cooperativa Agropecuria de Londrina), que trabalha a nvel regional, captando a produo de mais de 35 municpios do estado, tendo em seu quadro aproximadamente 560 cooperados. A outra indstria processadora a CONFEPAR (Confederao das Cooperativas Centrais Agropecurias do Paran Ltda), sendo esta uma das maiores do estado, recebendo leite de produtores de So Paulo, Gois, Minas Gerais e do prprio Paran. Cabe ressaltar tambm que a CONFEPAR a nica indstria que produz leite em p no estado, comercializando sua produo com grandes empresas de mbito nacional, como a LACTA. A CONFEPAR uma unidade industrial formada pela fuso de vrias cooperativas do Norte do Paran, inclusive a CATIVA, que detm 33% da mesma. Esta fuso deve-se tentativa de se reduzir custos de produo e dos impostos, uma vez que a mesma instalao e o mesmo quadro de funcionrios sero utilizados pelo grupo. Segundo estudos do DESEP/SNF (1999, p.16-17),

A desregulamentao, a abertura comercial e a formao do Mercosul desencadearam um processo de mudana acompanhado da intensificao da concorrncia. As estratgias adotadas pelas empresas tm alterado as caractersticas das relaes entre produtores e indstrias, exigindo novas formas de negociao entre si. Essas estratgias tm como caractersticas principais o grande nmero de fuses e aquisies, a presena crescente das multinacionais, a segmentao, a diferenciao e inovao de produtos, fortes investimentos em marcas, promoes de vendas e lanamentos de produtos.(...) /as empresas de laticnios ocupam uma posio de destaque entre as que mais realizaram fuses, aquisies e parcerias no Brasil entre 1990 e 1998. Entre elas destaca-se a Parmalat, que de 90 a 98 comprou 18 empresas no mercado brasileiro.

De acordo com Koehler (1999, p.43), atravs de dados da produo de leite dos principais estados do pas, em 1998, o Paran ocupava a quinta colocao, com uma produo anual de 1850 milhes de litros e o Norte do estado ocupava o segundo lugar com 40% de participao. Dentro do estado, a Microrregio Geogrfica de Londrina tambm apresenta certa expressividade.(tab.2) Acompanhando a evoluo da produo leiteira desta microrregio, notam-se que no ano de 1970, sua produo era de 16.720.000 de litros de leite, com 17137 vacas ordenhadas. Entre os anos de 75 e 80, principalmente devido geada negra que atingiu todo o estado do Paran, ocorreu o abandono da cafeicultura como atividade econmica predominante. Na diversificao econmica que ocorreu neste perodo, a pecuria leiteira entrou com grande fora, saltando sua produo para 27.597.000 litros, sendo ordenhadas 21673 vacas. Por outro lado, h que se considerar a melhoria gentica e o consequente aumento da produtividade.

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Tabela 2 Evoluo da Produo de Leite na Microrregio de Londrina.Microrregio de Londrina/ano 1970 1975 1980 1985 1995/96 Produo de leite Informantes Vacas ordenhadas 2.205 1.952 2.136 ------1.954 17.137 16.488 21.673 20.393 13.465 Quantidade. (mil litros) 16.720 14.654 27.597 27.120 23.716

------- dado no disponvel no Censo Agropecurio. Fonte:IBGE - Censo Agropecurio do Paran

De acordo com dados da produo de leite de vaca por grupo de rea total, do Censo Agropecurio de 95/96, o extrato de maior produo estava nos estabelecimentos que apresentam rea de 20 a 50 ha, representando 24,02% da produo desta microrregio. A partir deste mesmo censo, constatamos tambm que a microrregio de Londrina est em 5 lugar com relao ao nmero de vacas ordenhadas do Norte do estado, ocupando a 4 posio no que diz respeito a quantidade de leite produzido, representando 8,3% deste total.

Segundo Filippsen e Pellini (1999, p.16)embora exista um grande nmero de produtores de leite a maioria no est integrada a uma cadeia (produtores no comerciais), como observado pela diferena entre os nmeros de informantes da atividade leite e informantes de venda de leite. Apesar da atividade leiteira destes produtores no ter relevncia econmica sob ptica da cadeia, apresenta uma importncia sob o aspecto social e de qualidade de vida da famlia.

2. O PRODUTOR FAMILIAR E A PRODUO LEITEIRA

2.1. O PRODUTOR FAMILIAR DE LEITECom base nos dados do Censo Agropecurio do IBGE 1995/96, tanto no contexto estadual quanto no contexto microrregional e/ou local o maior ndice de informantes estava em estabelecimentos de 10 a 100 hectares, salientando-se o estrato de 20 a 50 hectares, cuja a relao leite produzido e leite comercializado estava em torno de 80%. Os dados coletados demonstraram que cerca de 57% dos produtores iniciaram esta atividade na dcada de 1980, como uma das alternativas de renda e diversificao da produo, para ficarem menos susceptveis s crises econmicas e climticas. A geada de 1975 foi uma das causas dessa mudana.Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 147-162, jul./dez. 2001

Os estabelecimentos analisados mostram que a mo-de-obra familiar predominante. Est em torno de trs pessoas envolvidas na atividade. Somente no perodo da silagem cerca de 82% desses estabelecimentos recorrem mo-de-obra temporria. A troca de dias de servio no comum nesta atividade. A contratao de mode-obra temporria denominada por Santos (1978) de trabalho acessrio uma caracterstica nas relaes de produo familiar. Segundo Rodrigues (1985, p.18) a fora de trabalho assalariada uma relao que complementa a fora de trabalho familiar. Estes braos auxiliares, so contratados, geralmente, durante o tempo de servio mais pesado (produo de silagem) ou quando as famlias no tm filhos homens em idade para trabalhar. Assim, pode ser notado que a varivel tamanho da famlia, vem a provocar a necessidade de contratao de trabalhadores. No universo pesquisado detectou-se que a presena de mo-de-obra masculina e feminina153

na atividade semelhante, 53% e 47% respectivamente, ou seja, uma diferena de apenas 6%. Quanto diviso do trabalho cabe aos homens executar servios mais pesados, como, por exemplo, trabalhar com o trator, moer a rao para os animais. J as mulheres ficam encarregadas da limpeza do estbulo e at da prpria ordenha, juntamente com os homens. Pode ser observado tambm que o maior nmero destes produtores tm entre 41 e 60 anos de idade, onde, a maioria destes (53%), possuem apenas o Ensino Fundamental (antigo Primrio, por vezes, incompleto). A maior parte dos que tem o Ensino Mdio completo esto na faixa etria entre 21 e 40 anos. Do total de trabalhadores entrevistados, apenas 11% possuem o Ensino Superior. Diante deste quadro, vale a pena ressaltar que, aqueles que apresentam maior produtividade e esto mais abertos s inovaes tecnolgicas, so os da faixa etria de 21 a 40 anos e possuem, pelo menos, o Ensino Mdio completo. Esses pequenos produtores de leite analisados, apresentaram um nmero mdio de cabeas de vaca por produtor em torno de 12 animais. uma quantia considerada razovel, j que, dentre 12 vacas, sempre haver 8 ou 9 em lactao. Com relao produo diria, temos produtores com 30 litros/leite/dia, at produtores que produzem 1000 litros/leite/dia, como o caso do produtor de leite tipo B, j mencionado anteriormente, sendo considerado modelo pela CATIVA. So duas realidades totalmente distintas, onde um trabalha com formas arcaicas de produo, enquanto que o outro, agrega em sua propriedade padres tecnolgicos e produtivos de primeiro mundo. J os estabelecimentos com mo-de-obra assalariada so aqueles mais tecnificados e apresentam maior produtividade. So os produtores que utilizam a raa holandesa mais apurada, e j possuem em sua propriedade a ordenhadeira mecnica, o resfriadouro e outros itens indispensveis produo voltada ao mercado globalizado em que nos encontramos. Entretanto, cerca de 64% dos produtores154

entrevistados do preferncia ao girolanda, pois so animais menos sensveis s doenas e no exigem uma alimentao to rica em protenas como as holandesas. A pecuria a atividade principal em 82% das propriedades, sendo que em 21% destas, a produo menor que 100 litros/leite/dia. Dentre as propriedades onde a pecuria no a atividade principal, predominam as culturas de soja e caf. Neste caso, as palavras de Schneider (1999, p.94) so pertinentes pois afirma que,A atividade leiteira pode ser compreendida como uma estratgia de reproduo da famlia.... E, no obstante a falta de reconhecimento no interior da unidade produtiva, dada sua condio de marginal em relao s outras atividades agrcolas e complementar em termos de gerao de rendas, a ela que a famlia recorre como fonte de recursos permanentes para a aquisio de bens no produzidos na propriedade. Talvez seja o prprio papel regulador que o leite desempenha no interior da propriedade que explica o pouco prestgio e a falta de investimentos que esta atividade recebe dos colonos.

Perguntados sobre o auge nesta atividade, cerca de 14,5% responderam que foi na dcada de 1980, quando conseguiram melhorar tecnologicamente sua atividade. Mas, 55%, responderam estar vivendo o auge na atividade pois, agregaram valor ao seu produto, comercializando sua produo na rua. Este fato fez com que os produtores pudessem apurar mais a gentica dos animais, aumentando, assim, a produtividade.

2.2. NVEL TECNOLGICO DOS PRODUTORESQuanto ao nvel tecnolgico dos produtores, nota-se que pelo fato de todos serem proprietrios no s da terra, mas tambm dos outros meios de produo onde a atividade leiteira no a nica atividade desenvolvida, na maioria das propriedades entrevistadas, todas, sem exceo, possuem pelo menos umGeografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 147-162, jul./dez. 2001

trator. Alm disso, contam tambm com os implementos utilizados como a grade, o arado e a semeadeira. Porm, grande parte destes tratores esto com mais de 20 anos de uso. Cerca de 64% dos produtores possuem a forrageira, um dos equipamentos indispensveis para a produo de silagem. Todos os produtores que alimentam o gado com silagem utilizam sementes, adubos e herbicidas. Pode ser notado que grande parte destas terras esto exauridas, com a fertilidade baixa, necessitando de corretivo de acidez. Os produtos veterinrios (remdios), os vermfugos, o sal mineral e as vacinas (principalmente contra aftosa), so utilizados por 100% destes produtores. J a rao balanceada e outros complementos alimentares, so adquiridos e utilizados por apenas 64% destes. Ficou evidenciado que so os produtores mais tecnificados, que apresentam maior produtividade por animal, que iro utilizar este recurso para aumentar sua produo. Um fato interessante e ao mesmo tempo alarmante, que 55% dos produtores entrevistados no recebem nenhuma assistncia tcnica. A assistncia tcnica de fundamental importncia porque foi ela queveio colocar, pela primeira vez, de forma aguda, a necessidade de reduo dos custos e/ou aumento da produtividade em nossa agricultura. Tais objetivos s poderiam ser alcanados pela modernizao do processo produtivo (SZMRECSNYI, 1998, p. 50).

Cerca de 50 % dos produtores utilizam em suas atividades o resfriador de leite, a ordenha mecnica e a inseminao artificial, alm da mecanizao da lavoura para a produo de silos. A dcada de 80 pode ser mesmo considerada um perodo em que ocorreu grande inovao tecnolgica na atividade, pois, 50% dos entrevistados instalaram o processo de resfriamento do leite nesta fase. Estes produtores s no se tecnificam mais devido aos altos juros, que so cobrados nos financiamentos em geral. Cerca de 64% dosGeografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 147-162, jul./dez. 2001

produtores no utilizaram linhas de crdito at hoje pelo simples fato de, ao efetuarem o emprstimo, ter de deixar sua propriedade hipotecada. A taxa de juro praticada alta, sempre tendo um referencial para a correo monetria do perodo. O fato injusto que o preo do leite pago ao produtor no acompanha esta correo, ou melhor, este preo fica congelado por longos perodos, no acompanhando nem sequer a inflao. Este fato torna a renda da propriedade muito baixa, o que pode ser comprovado segundo o depoimento de um agricultor:Eu v entr im banco pr qu ? depois eu sei qui num v consegu pag mesmo. Pode ser verificado que foi entre as dcadas de 1980 e 1990 que os produtores mais utilizaram financiamentos agrcolas. Dentre os quais, o PRONAF e o FINAME, que so linhas de crdito do governo federal. Porm, os produtores consideram as taxas de juros muito altas, onde, de acordo com um produtor que utilizou-se do FINAME para a compra de uma mquina agrcola, afirmou: Eu comprei um trator e acabei pagando trs. Outro programa muito utilizado, no s pelos produtores de leite, mas tambm pelos agricultores em geral, foi o PANELA CHEIA. Este sistema de crdito foi idealizado pelo governo do estado no final da dcada de 1980 . A partir deste, o agricultor comp