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1 Encontro Regional de Mulheres do BB - 2005 A ANABB promoveu, durante todo o mês de março, a quarta edição do Encontro Regional de Mulheres do BB. Três especialistas em temas femininos – o psiquiatra Antônio Mourão, a pro- fessora e escritora Nelma Penteado e o ginecologista Malcom Montgomery – reuniram mais de duas mil funcioná- rias do Banco do Brasil em oito capi- tais: Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Porto Alegre, Belo Horizon- te, Salvador e Florianópolis. As pales- tras agregaram informação e entrete- nimento – um convite à reflexão sobre os papéis e as frustrações da mulher neste novo milênio.

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1Encontro Regional de Mulheres do BB - 2005

A ANABB promoveu, durante todoo mês de março, a quarta edição doEncontro Regional de Mulheres do BB.Três especialistas em temas femininos– o psiquiatra Antônio Mourão, a pro-fessora e escritora Nelma Penteado e oginecologista Malcom Montgomery –reuniram mais de duas mil funcioná-

rias do Banco do Brasil em oito capi-tais: Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro,Fortaleza, Porto Alegre, Belo Horizon-te, Salvador e Florianópolis. As pales-tras agregaram informação e entrete-nimento – um convite à reflexão sobreos papéis e as frustrações da mulherneste novo milênio.

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Casamento é desentendimento

O psiquiatraAntônio Mourão, autordo livro “Casal: como vi-ver um bom desentendi-mento”, palestrou em três cidades: Salvador, Floria-nópolis e Porto Alegre. De forma bem-humorada,mostrou como é complicada, mas prazerosa, a vida adois.

Mourão trabalha há mais de vinte anos comoterapeuta de famílias e de casais em conflito. Duranteesse período, chegou às conclusões de que “casa-mento tem tudo para dar errado” e que o consenso éimpossível em uma relação. “O diálogo não servepara chegar a um acordo e sim para que cada umrespeite o ponto de vista do outro”, pontua.

O terapeuta ressalta em todas as suas palestrasque a rotina é o “câncer do amor”, afetando prin-cipalmente a sexualidade. “As pessoas, hoje, vivemmais do que no passado. A história do ‘até que amorte os separe’ demora bastante. Então, se elas nãoforem mudando, realmente fica uma coisa muitochata. Mudem, nem que seja a posição dos móveis”,aconselha.

Ele argumenta que as pessoas têm o hábito deacreditar que o amor é eterno, o que não é verdade.“Para o amor sobreviver, é preciso que haja encanta-mento, renovação e cuidado”. Mas alerta: cuidar nãosignifica ser mãe do marido. “Esse é um dos maiores

erros que as mulheres cometem”. Mourão adverte queo fato de tratar o cônjuge como filho é um dosprincipais problemas para a saúde emocional e sexualdos casais. “Alguns até se chamam de mãezinha e

paizinho. Isso é terrível, porque commãe e pai ninguém transa. Oscônjuges não podem aceitar seremchamados dessa forma. Senão, acoisa vai esfriando e ninguémpercebe o porquê, pois essecomportamento ocorre inconscien-temente”, afirma.

Mourão também abordou aseparação dos casais, classificando-a em três grupos: o primeiro, cha-mado de “Separação Prematura”,

ocorre com até dois anos de relacionamento e estáligado à influência das famílias de origem, à adapta-ção do casal a um novo tipo de vida ou à descobertade que aquela pessoa não era o que o outroimaginava.

O segundo grupo, chamado pelo médico de “OAmor Acabou”, está em primeiro lugar no ranking dasseparações, envolvendo os casais que viveram juntosentre sete e quinze anos. Nessa situação, a falta dediálogo é um dos maiores problemas. “Não sãopoucas as vezes em que uma cliente chega noconsultório dizendo que só sabe da vida de seucompanheiro por meio de amigos. É comum vercasais que saem para jantar e ficam calados a noiteinteira”, disse.

Já o terceiro grupo, intitulado “SeparaçãoTardia”, abrange os casais com mais de 20 anos deunião. Geralmente, o casal tinha uma função paren-tal (de pai e mãe) mais evidente que a conjugal. “Sãopais de crianças que cresceram e foram embora.Depois disso, o casal se descobre como dois estra-nhos vivendo na mesma casa. Como a pressão socialvem se reduzindo, hoje esses casais se separam, oque não acontecia antes”, explica.

Mourão: “a rotina é o câncer doamor, afetando principalmente asexualidade”.

Casamento é desentendimento

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Dores e amores

Música da melhor qualidade e cenasfamosas de cinema intercaladas com assuntos demulher é a receita de sucesso da palestra“Mulheres, suas dores e seus amores”, assinadapelo ginecologista Malcolm Montgomery eproferida nas cidades de São Paulo e Rio deJaneiro.

“A melhor característica das mulheres de hojeé a autonomia. E a pior também”, avaliaMontgomery. Um exemplo positivo de liberdadecitado por ele é que “a mulher não precisa maisagüentar um orangotango ao lado a vida toda”.Um aspecto negativo é que a autonomia traz maisexigências à mulher, o que, segundo ele, muitasvezes leva à solidão.

A palestra tratou dos principais aspectos decada fase da vida feminina: infância, adolescên-cia, vida adulta e velhice, abordando temas comosexualidade, namoro, casamento, maternidade,separação e menopausa. A platéia reviveuemoções que só as mulheres conhecem.

Para Malcolm Montgomery, a depressão é oprincipal problema enfrentado pelas mulheres naatualidade. “Costumo dizer que a mulher adoece

por alguém, com alguém ou para alguém. Emgeral, até os 45 anos a mulher descobre que viveuum roteiro que não foi escrito por ela. Aí aparecea depressão, não apenas sob o sintoma damelancolia, mas de várias formas, como mania dedieta, de ginástica, de segurança”, explica.

Em entrevista ao jornal Ação, no anopassado, Malcolm havia dito que a mulher viveentre cinco opressores: “o primeiro é a culturapatriarcal, que faz com que ela se inferiorizediante do homem. Ela não poupa esforços emestar linda e perfeita para um homem que estácareca e barrigudo. O segundo é o podereconômico do homem, ao qual ela continua sesubmetendo mesmo quando trabalha e nãoprecisa dele. O terceiro é a Igreja, que é umaindutora de culpa e está há dois mil anossatanizando a sexualidade; o quarto é a natureza,que subjuga a mulher. Por fim, os padrões debeleza e as receitas de comportamento impostospela mídia seriam o mais recente opressor”,afirmou.

Ele alerta que a chave para se chegar àvelhice com saúde é deixar para trás os rancores.“Temos que varrer os cacos existenciais de nossosvasos quebrados”, disse. E lembra: “Nuncapercam a adolescente dentro de vocês”.

Malcolm: “a melhor caracte-rística das mulheres de hoje éa autonomia. E a pior tam-bém”.

Dores e amores

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Nelma Penteado palestrou em trêscapitais: Brasília, Belo Horizonte eFortaleza. Com o tema “InteligênciaProfissional e Afetiva”, a palestranteabordou as diversas esferas da vida da mulher(afetiva, profissional, sensual, espiritual e pessoal)e enfatizou a auto-estima como a principalcaracterística para se obter sucesso em todaselas. De acordo com a escritora, é preciso sempreafirmar que “você é mais, pode mais, merecemais” e não se pode desperdiçar a vida pensandoo contrário.

A afirmação de que “vida feliz é uma questãode escolha” é definida por Nelma como a chavepara a condução do cotidiano. A escritoraexemplificou as possibilidades de escolha dasmulheres com duas comparações. A primeira é ada mulher que opta por ser uma “pedra de rua”,sem valor, descartável e que ninguém faz questãode guardar; a segunda é a mulher “diamante”,preciosa e desejada. Durante a palestra, Nelmatrouxe dicas para que a mulher se comporte comoum “diamante” nas diversas áreas de sua vida.

Sobre os entraves vivenciados no dia-a-dia, a

palestrante sentencia: “a gente não temproblemas, tem desafios”. Para encará-los, Nelmaé categórica ao afirmar: “chore menos e raciocinemais”. Em sua opinião, quando a mulher temdesafios, ela deve, em vez de se lamentar, buscaralternativas e oportunidades. “Eu queria que apalestra servisse para mostrar o seguinte: escolhaa felicidade, cuide de seu jardim. Pare de pôr aculpa no outro porque o seu jardim não é florido.É mais fácil dizer ‘ah, é meu marido, é meu filho, émeu chefe, é minha celulite!’ É mentira. O quefalta é a atitude de cuidar da vida”, resume apalestrante.

Nelma também trouxe dicas de sensualidadepara a mulher se sentir mais criativa e segura emseu relacionamento afetivo. “Vocês não precisamacreditar em mim. Coloquem essas dicas emprática por apenas dois dias e vejam se suas vidasnão vão mudar”, garantiu.

Mulher DiamanteNelma: “há mulheres que op-tam por ser uma pedra derua. Outras preferem serdiamante”.

Mulher Diamante

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BRASÍLIANa capital do País, o Encontro

aconteceu no Dia Internacional da Mulher, 8de março, e reuniu cerca de 450funcionárias na casa de eventos PortoVittória. Essa foi aquarta edição doencontro de mulheresna Capital Federal e,pelo número departicipantes – que au-menta a cada ano –, osucesso do evento éinquestionável. “Dia 08de março está sempremarcado no meucalendário. Não façonada porque sei que vai haver alguma coisa naANABB”, afirma a funcionária da área deTecnologia do BB Lúcia Cristina Brun. Para Lúcia, adescontração é o ponto mais importante do evento.

A funcionária da área de Varejo Ieda TeresinhaAmui faz coro com a colega. Em sua opinião, a ini-ciativa da ANABB é muito importante. “Encontra-mos pessoas conhecidas, que não vemos sempre”.Ieda afirma ainda que essa é uma oportunidade dereflexão.

Se o mote era diversão com reflexão, a escritoraNelma Penteado deu o seu recado. Com bom humor,levantou a auto-estima das participantes. A palestra,que durou quase duas horas, rendeu aplausos em-polgados das funcionárias do BB. “Foi uma iniciativamaravilhosa da ANABB. Depois de um dia estressantede trabalho, assistir a uma palestra como essa, comvida, é muito bom”, afirma a funcionária da SuperEstadual Tânia Aparecida dos Santos.

SÃO PAULOCerca de 200 funcionárias e ex-colaboradoras

do Banco do Brasil riram e se emocionaram muitona noite de 9 de março, em São Paulo, com a pa-lestra de Malcolm Montgomery.

“Foi muito bom relembrar momentos e músicasmarcantes da minha vida, me vi novamente criança,adolescente e mulher, com minhas alegrias e triste-zas”, diz Denise Vianna, 41 anos, casada, mãe detrês filhos e conselheira da ANABB. O perfil deDenise se parece com o de muitas outras presentesna palestra: o de mulheres independentes, uma ca-racterística sempre abordada na palestra do gineco-logista.

Para Malcolm, uma das conseqüências da auto-nomia é a solidão. Esse parece ser o caso de HeloisaNegreiros de Castro, 84 anos, aposentada do Ban-co do Brasil. Elegante e bonita, Heloisa diz que nun-ca se casou porque não achou a pessoa certa.

“Uma vez me apaixonei por um homem desqui-tado, mas meus pais não permitiram o namoro.

Na capital do País, o Encontro

aconteceu no Dia Internacional da

Mulher e reuniu cerca de 450

funcionárias na casa de eventos

Porto Vittória.

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Ainda bem, depois descobrique ele era um mulherengo. Ospais sempre estão certos”,acredita. Quando começou atrabalhar, na década de 30,Heloísa não saía de casa semchapéu e luvas. De lá para cá, observou grandesmudanças no papel das mulheres na sociedade.“Antes sofríamos muita discriminação, hoje asmulheres sabem discernir melhor o seu papel demãe, educadora e trabalhadora. O lado ruim é aliberdade excessiva, principalmente a sexual”, protes-ta. Economista, Heloísa diz que se realizou profissio-nalmente, mas não pessoalmente. Mas ela não desis-tiu. “Achei um amor e ainda há tempo. Para o amornunca é tarde”, afirma. Durante a palestra, ela seemocionou ao ver cenas do filme Tomates Verdes Fri-tos, ao som de Todo Sentimento, de Chico Buarque.

Malcolm concorda com Heloísa. Para ele, cora-ção de mulher tem sempre 18 anos de idade. Ele pa-rece mesmo falar a língua das mulheres. “Sua pales-tra nos faz pensar sobre a vida; saio daqui com avontade de ser feliz”, diz Denise.

Cleide Silva, 53 anos, aposentada do BB, pare-ce que já encontrou a felicidade. Viúva, está noiva eradiante. “Encontrei um amor aos 50”, diz, com umsorriso nos lábios. “A vida continua, e é sempre atra-vés das mulheres”, observou o médico, ao encerrar apalestra.

RIO DE JANEIRO No Rio de Janeiro, a comemoração aconteceu

em 10 de março, no Salão Nobre do Hotel Glória. Otradicional hotel carioca estendeu os tapetes parareceber 300 mulheres, ávi-das por ouvir a palestra doDr. Malcolm Montgomery,que, no dia anterior, ha-via estado em São Paulo.

Mulheres de todas asidades saíam dos eleva-

dores de época e assumiam o clima de requinte dohotel de 1922. Todas queriam participar do encon-tro, rever colegas de trabalho e matar a saudade. Ocoquetel de abertura foi animado por músicainstrumental brasileira.

No auditório, eram muitos os exemplos de vito-riosas que batalharam e conquistaram seu espaço.Neyde e Luciana Braga, mãe e filha, foram juntascelebrar a data. Neyde começou a trabalhar aos 14anos para ajudar a família, que morava próxima àfavela do Salgueiro, no Rio. Hoje, com 62 anos, lem-bra, sorrindo, que a primeira televisão que tiveramera dividida com a vizinhança inteira. Por influênciade colegas, fez o concurso para o BB, ondeingressou em 1969. Formou-se em Direito e decidiuque era a hora de realizar um sonho antigo: fazerteatro. Subiu ao palco pela primeira vez ao lado dafilha, Luciana, de 22 anos. “Admiro muito a força daminha mãe, tento ser como ela”, afirma, comcarinho, a filha. Neyde ressalta que o ser humanopode tudo, desde que queira, e destaca: “nuncadesista de nada, por mais dura que seja a vida”.

A aposentada Mara Souza Porto, de 52 anos,viveu algumas das experiências narradas na palestrade Malcolm. Foi criada pela mãe sergipana, no Riode Janeiro. Na infância, teve de entender e lidar como fato de não ter o pai. “Tudo era vivido com muitaluta, muito trabalho”, comenta. Aos 22 anos,começou a fazer concursos e, algum tempo depois,

Cerca de 200 funcionárias e

ex-colaboradoras do Banco

do Brasil riram e se emocio-

naram muito com a palestra

de Malcolm Montgomery,

em São Paulo.

No Rio de Janeiro, o

encontro também foi

uma ótima oportunidade

de rever colegas de

trabalho e matar a

saudade.

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ingressou no BB e fez carreira. Hoje, Mara tem umapartamento, não teve filhos e dedicou a vida ao tra-balho e a cuidar da mãe. Para ela, as conquistasprofissionais foram importantes: “Agradeço ao Ban-co do Brasil por tudo o que tenho. Se eu pudesseresumir a luta em palavras, seria como todo diaacordar e dizer: obrigada, Senhor, venci.”

Diante do Dr. Malcolm, estava o laboratório deonde ele extrai o conteúdo de suas palestras. Exem-plos de dignidade, de batalha, de gente que recebemenos aplausos do que merece.

FORTALEZAFrancisca de Moura Barros, 52 anos, chegou

quieta, com olhar desconfiado. Sentou-se noprimeiro lugar disponível. Outras Franciscas, Marias,Célias, Márcias foram chegando. No meio delas,Francisca de Moura, aposentada do Banco do Brasilem Fortaleza, começou a relaxar. Abriu um, doissorrisos e logo tagarelava as peripécias e seriedadesdos 25 anos como profissional do Banco. Um troca-troca de vidas parecia ter saído da palestra queainda nem tinha começado, tamanha a descontra-ção. Mas logo ouviu o sinal de que estava na horade conhecer uma escritora que daria mais uma

sacudida no destino dela e daquelas mulheres.Francisca franziu a testa ao ver a escritora

Nelma Penteado, vestida com um conjunto branco.De microfone na mão e cordasvocais poderosas, a especialistaem auto-estima despertou adesconfiança de Francisca, quelogo se dissipou.

“Quero dizer que achei ca-minhos tão legais que, quem sa-be, trarão coisas boas a vocêstambém”, anunciou a palestran-te. Sorrisos reconfortados.Francisca já tinha revelado queencontrou um daqueles

caminhos. “Como visionária, sempre me realizei etudo que pude dar ao Banco, dei. Não me arrependiporque me ajudou em tudo, até na afetividade”. Eraessa complementariedade de papéis que NelmaPenteado queria passar para aquelas mulheres: oque Francisca já tinha encontrado.

“A mulher assume muitas culpas ao longo davida. Ao chegar em casa, tem de cuidar dos filhos,fazer as tarefas domésticas. Tem de ser esposa,filha, mãe maravilhosa, sem esquecer de ser colegade trabalho”, lembrou Nelma.

Situações que uma moça ainda nãoexperimentou. Pertinho de Francisca estava aestagiária da Superintendência do Banco do BrasilAmara Lemos, de 23 anos. “O bom é que estousendo remunerada e isso ajuda na faculdade; possocomprar mais livros e fazer um curso. Em casa,ajudo meus pais”, revelou.

Francisca e Amara emocionaram-se com as pa-lavras da escritora e abraçaram as colegas. Riram,

Mulheres de todas

as idades

assumiram o clima

de requinte do Hotel

Glória, de 1922.

Em Fortaleza, cerca de 150 mulheres esperavam pela palestra

sobre inteligência profissional e afetiva.

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se revelaram. Outras comparavam os ditos de Nel-ma com a realidade da profissão. “É exatamente as-sim. Sempre tem uma colega que leva a gente prabaixo, que nunca está satisfeita com nada”, disseCélia Guimarães, de 44 anos, há 18 no Banco doBrasil. Esse era um dos objetivos da escritora. Fazercom que os exemplos relatados por ela fossemidênticos aos vividos no ambiente de trabalho.

Francisca prestou atenção e resumiu: “setivesse de recomeçar, faria tudo igual. Fui mãedurante esses 25 anos de trabalho e nem porisso deixei de ser a profissional, a esposa, amulher”.

PORTO ALEGREA ANABB reuniu em Porto Alegre, no dia

16 de março, cerca de 230 mulheresfuncionárias do Banco do Brasil. Uma delas eraMaria Helena Pontim, 49 anos, que se identificoucom as críticas feitas pelo Dr. Antônio Mourão. “Agente vira mãe do marido e esquece que temos onosso lado de mulher, esposa. O que ele diz faz agente pensar. Acho que depende da gente criar

casais com outros hábitos”, afirmou.Já Alba Flávia Martins Costa, 46 anos, segue a

cartilha. Ela diz que a palestra coincide muito com asua forma de pensar e de levar a vida. A funcionáriado BB conta que tem uma ótima relação afetiva,principalmente por seguir um dos conselhos doespecialista: “temos de preservar a relação demarido e mulher, senão dá problema”, afirma.

Simpático, o palestrante conseguiu conduzir opúblico do riso às lágrimas com as histórias quecontou para ilustrar sua apresentação. E, ao final,dedicou sua palestra a uma das mulheres que oassistia: “antes de começar a falar aqui, eu converseicom uma senhora que perdeu o marido há sete me-

O presidente da Cooperforte, José Valdir,o presidente da ANABB, Valmir Camilo, e os diretores daANABB Graça Machado e Emílio Ribas Rodrigues.

Graça Machado, o presidente do Conse-lho Deliberativo da ANABB, Antonio Gonçalves, Dr. Malcolm,Valmir Camilo, o diretor estadual da ANABB/SP, Armando San-tos, o diretor da ANABB Élcio Bueno e a conselheira da ANABBTereza Cristina Godoy.

A ANABB

reuniu em Porto

Alegre cerca de

230 mulheres

funcionárias do

Banco do Brasil.

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ses. Ela me disse coisas lindas sobre ele. Disse quesente uma ‘saudade suave’. Essa ‘saudade suave’ éo amor”.

Maria Margarete Scherer Vaz, 49 anos, que re-cebeu a dedicação, emocionou-se com as palavrasdo médico e concordou com seus ensinamentos.“Era exatamente o que eu vivia no meu casamento.A gente era o oposto um do outro, mas acredito queeu era a metade dele e ele era a minha metade”,suspirou. Ela conta que Mourão confirmou algo quejá havia constatado: “para mim, o casamento é co-mo o vinho. Quanto mais velho, melhor. Hoje sei quevivi um grande amor”.

BELO HORIZONTEUm encontro entre três ou quatro amigas é

sempre marcado por confidências, muitas risadas eaté mesmo por algumaslágrimas. É possível essequadro se repetir se onúmero de mulheres for maisde 400? Sim. A descriçãopode ser usada para retrataro Encontro do dia 17 demarço, em Belo Horizonte.Diversas gerações de asso-ciadas da ANABB foram

festejadas por sua condição feminina. O bate-papo,conduzido pela escritora Nelma Penteado, ocupou olugar do formato tradicional de palestra e envolveu,durante duas horas, todos os presentes no auditóriodo Hotel Mercure.

“Este é um momento de muita alegria, a genteencontra as colegas, tanto as que já se aposentaramcomo as da nova geração”, avalia a aposentadaNeuza Ribeiro Nicoliello, que, em 1972, foi a primeiramulher a trabalhar em sua agência. Para Neuza, aparticipação de Nelma Penteado foi uma ótima esco-lha. “Ela é uma mulher com mentalidade nova, quetem uma capacidade de comunicação muito grande.É sempre importante a gente ouvir sobre como conci-liar o nosso lado afetivo com o profissional”.

A aposta de Najla Sandra Ribeiro MendesAlmeida, funcionária há 17 anos, é que depois doEncontro as pessoas certamente irão trabalhar commais alegria e motivação. “A gente aprende que amulher tem de se valorizar mais e esse aprendizadoa gente levapara nossavida em fa-mília e para otrabalho”.

Valmir Camilo, a represen-tante da Cooperforte Lígia Bastos, Graça Machado e o diretorestadual da ANABB/RJ, Antônio Pedroso.

Jussara Gordin Correa, da Cooperfor-te, a assessora da ANABB Ana Lúcia Landin, coordenadora doencontro em Fortaleza, o diretor estadual da ANABB/CE, Fran-cisco Ellery, Maria José de Oliveira (Mazé) e Graça Machado.

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Para Neuza Ribeiro, Nelma Penteado

é uma mulher com mentalidade nova,

que tem grande capacidade de

comunicação.

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De acordo com Kátia Alves Guerra, o bom deouvir palestras como a de Nelma Penteado é que“muita coisa a gente até já sabe, mas não pratica. Ébom relembrar que devemos nos valorizar para estarde bem com a vida, que o afetivo influencia muito navida profissional. Nós somos um conjunto, a gentenão vive um só lado e uma coisa acaba interferindona outra”.

Já se identificando como “mulher diamante”, afuncionária Érica Foresti Pinto avalia que a mulherbrasileira precisa melhorar sua auto-estima. “A gentetem uma sobrecarga muito grande. Temos de nosdivertir e ficar muito orgulhosas de tudo o quefazemos. Aprendemos que não dá para ser feliz emuma parte só”, afirma. Ela acrescenta que “a

palestra vai ter um resultado prático na minha vida ena de todas as mulheres que estiveram aqui”.

Para a aposentada Ana Maria Paes dos Santos,a palestra foi maravilhosa. “Eu já me sentia uma

‘mulher diamante’, mas as convicções estavam guar-dadas, porque depois que você se aposenta pareceque se acomoda. E tudo o que eu tinha quando es-tava trabalhando, guardei lá num cantinho, e hoje aNelma fez brotar de novo. Me sinto uma mulher re-novada, como se tivesse 20 anos. Mudou da águapara o vinho. Esta palestra foi um presente que eunão esperava”.

A palestra foi precedida de coquetel e de umaapresentação da Cia. Teatral Strato, que retratou amulher em diversas fases da vida e situações.

SALVADORA etapa baiana teve todos os ingredientes que

marcam os traços culturais de um dos mais alegres eintensos Estados nordestinos: integração, discussõescalorosas, bom humor, emoção e festa. O eventoaconteceu no dia 18 de março, no Bahia OthonPalace, um dos mais charmosos hotéis da orla marítimade Salvador.

O encontro contou com a presença de 300

Ana Lúcia Landin, o dire-tor regional da ANABB/MG, Francisco Silva (Xixico), GraçaMachado, Élcio Bueno, a representante da Cooperforte Gelianede Souza e os conselheiros da ANABB Cecília Garcez e Éder Melo.

O diretor da ANABB DouglasScortegagna, o gerente da Cooperforte em Porto Alegre, OdilarCappellari, Dr. Mourão, Emílio Ribas Rodrigues e o diretor esta-dual da ANABB/RS, Edmundo Brandão.

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mulheres funcionárias do BB de diversas agências.Gente da ativa e muitas aposentadas, de todos ospontos da Região Metropolitana de Salvador. Mulhe-res com diferentes idades, credos, etnias, formaçõese funções, mas com importantes pontos em comum– o desejo de crescer pessoal e profissionalmente, avontade de repensar modelos de convivência e a co-ragem de discutir as fórmulas prontas.

“Estou adorando tudo isso”, disse Inês Gomes,uma aposentada de 53 anos, que ficou sabendo doEncontro pela Internet e tratou de garantir presença.“Fiquei atraída principalmente pela palestra, cujo te-ma me interessa muito”, disse, referindo-se ao tra-balho do psiquiatra Antônio Mourão.

Arilúcia Pellegrini, 44 anos, assistente de Negó-cios da agência BB da Cidadela, em Salvador, erauma das mais animadas, mostrando samba no pé.

“Iniciativas como essa já valeriam a pena só por nostirar da rotina”, disse. “Gostei muito da forma de oprofessor abordar temas tão delicados sem fazer

pesar, com bom humor. Enquanto agente ria, na verdade estavaavaliando coisas muito sérias”,opinou.

Aos 27 anos, Ieda Novaes,caixa executiva da agência BB daAvenida Barros Reis (Salvador),contou que recebeu o convite daANABB em casa, pelo correio. Juntocom a gerente da agência, SandraMaia, ela nutria expectativas emrelação ao bate-papo com Mourão.“Espero sair daqui com a cabeçamais aberta para as relações

afetivas”, declarou.“Gostei muito deste grupo, que considero ágil e

interativo”, avaliou Dr. Mourão, após um debate dequase meia hora. Temas polêmicos tratados durantea palestra foram esmiuçados calorosamente pelasbaianas quando o microfone foi aberto para per-guntas. Machismo, traição, novos modelos familia-res, mulheres com maior poder econômico que ho-mens – nada escapou à análise afiada da platéia.

“Adorei. Foi além do que eu esperava”, declarousatisfeita a aposentada Inês Gomes. Consultandoanotações que fez durante a palestra, ela garantiuque a experiência vai servir para a sua vida pessoal.“Ah, pode ter certeza de que muitas dessas reflexõesvão melhorar minha relação afetiva”, disse, sorrindo,ela que vive o segundo casamento há dez anos.

O coquetel de abertura contou com aanimação do grupo musical Jatobá.

A conselheira deliberativa da ANABBMércia Nascimento Pimentel, Graça Machado e o Dr. AntônioMourão

Ana Lúcia Landin, SheilaMaurer da Cooperforte, Antonia Lopes, Graça Machado, ÉlcioBueno, Douglas Scortegagna, o diretor estadual da ANABB/SC,Francisco Pamplona, os conselheiros Cláudio Zucco, Ana Dantas,Inácio Mafra e a representante da Cassi Maria Helena Guerreiro

A etapa baiana teve

todos os ingredien-

tes que marcam o

Estado: integração,

discussões caloro-

sas, bom humor,

emoção e festa.

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FLORIANÓPOLISEm Florianópolis, esta

primeira edição do Encontrode Mulheres fez tanto suces-so que as participantes pe-diram ao Dr. AntônioMourão que voltasse o maisbreve possível. O encontrofoi realizado no dia 29 de março, no auditório daFederação das Indústrias do Estado de Santa Ca-tarina, onde mais de 250 mulheres participaram doevento. Antes da palestra, um coquetel de confra-ternização reuniu um grupo animado, representadopelo sexo feminino de todas as faixas etárias.Durante mais de uma hora de explanação, o silênciosó foi quebrado quando Dr. Mourão encerrou sua

apresentação.Algumas das

mulheres presentesvivenciaram os pro-blemas – mas tam-bém as soluções –de um casamentolongo. Regina Ca-valer, 47 anos, es-teve casada duran-te nove anos.Segundo ela, nãohavia companhei-rismo e a rotina foitomando conta dodia-a-dia. “A deci-são do divórcio foi

minha, porque eu estava infeliz. Agora vou buscarminha felicidade e só quando encontrar alguém quetenha os mesmos projetos de vida que eu vou pensarem me relacionar novamente”, contou.

De outro lado, Maria do Carmo Mafra, 65 anosde vida e 45 de casada, diz como driblou as dificul-dades comuns de um casal. “Tivemos cinco filhos,depois cada um seguiu sua vida e meu marido sóqueria ficar em casa. Eu não me deixei abater, come-cei a sair sozinha, passear na casa de amigos, atéque ele percebeu que estava errado. Hoje vivemosem lua-de-mel, estamos com viagem marcada parao Nordeste”, comemora.

“O cooperativismo fundamenta-se na igualdade e sabe que o

sistema será cada vez mais perfeito quanto maior for a

participação feminina. As mulheres sempre demonstram que

sua competência, dedicação e sensibilidade são fundamentais

para um mundo melhor.”

José Valdir Ribeiro dos Reis

Presidente da Cooperforte

“A participação no evento é muito importante porque reforça

o posicionamento da empresa junto às mulheres. Este público

está a cada dia com maior poder de decisão, por isso, a Icatu

Hartford desenvolveu produtos exclusivos para as mulheres”.

Marcos Falcão

Presidente da Icatu Hartford

Antes da palestra, o co-

quetel de confraternização

reuniu um grupo animado,

representado por mu-

lheres de todas as faixas

etárias.

Maria do Carmo: “hoje vivemos em

lua-de-mel, estamos com viagem

marcada para o Nordeste”, diz,

após driblar o marido.

REPORTAGEM E FOTOGRAFIAS: BRASÍLIA - Ana Padilha e Clausem Bonifácio; SÃO PAULO - Denise Ramiro e Rodolfo Freitas;RIO DE JANEIRO - Elisa Campos e Américo Vermelho; FORTALEZA - Vanessa Alcântara e Eduardo Gomes; PORTO ALEGRE - MarielaTaniguchi e Jorge Sherer; BELO HORIZONTE - Raquel Novais e Fernando Machado; SALVADOR - Luiz Lasserre e Juarez Neves;FLORIANÓPOLIS - Patrícia Rodrigues e Hermes Bezerra