carto revisional - juizado - c (1)

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  • 7/28/2019 Carto Revisional - Juizado - C (1)

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    EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DO ___ JUIZADO ESPECIAL CVEL - COMARCA DA

    CAPITAL

    CLAUDIA MOREIRA DA SILVA, brasileira, solteira, garonete,portadora do documento de identidade n 09035158-6, expedida por IFP, inscrita noCPF sob o n. 018.500.137-80, residente e domiciliada na Rua Joaquim Silva, 97,Lapa, Rio de Janeiro, Cep. 20.241-110, atravs do rgo de execuo daDefensoria Pblica Geral do Estado NUDECON Ncleo de Defesa doConsumidor, vem propor, pelo procedimento sumrio, a presente

    AO REVISIONAL DE CONTRATOC/C OBRIGAO DE FAZER,

    COM PEDIDO DE ANTECIPAO DE TUTELA

    em face de BANCO CREDICARD S.A., pessoa jurdica, inscrita no CNPJsob o n. 34.098.442/0001-34, estabelecida na Rua Sete de Setembro, 100, 11andar, Centro, CEP.20050-002,Rio de Janeiro-RJ, pelos fatos e fundamentos quepassa a expor:

    I) DA GRATUIDADE DE JUSTIA

    Inicialmente, afirma, para os fins do art. 4, da Lei n. 1.060/50, com aredao dada pela Lei n. 7.510/86, que no possui recursos financeiros para arcarcom as custas do processo e honorrios advocatcios sem prejuzo do prpriosustento e de sua famlia, pelo que indica, para assistncia judiciria, a DefensoriaPblica Geral do Estado.

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    II) DOS FATOS

    A Demandante usuria titular do carto de crdito CREDICARDMASTERCARD, emitido e administrado pela empresa Demandada, sob o n.5390.6414.2992.0687.

    A Autora sempre buscou o pagamento das faturas com exatido,procedendo-o, ao menos, no patamar mnimo mensal. Contudo, em decorrnciadireta da abusividade dos juros aplicados, lanados a ttulo de encargoscontratuais, encargos financeiros, ou ainda, taxa de rotativo e crdito

    rotativo, fixados, arbitrariamente, pela administradora do carto, a Demandanteacabou submetida situao de endividamento, conduzindo inevitvelinadimplncia, at porque infrutferos se tornaram todos os pagamentos efetuadosdesde outubro de 2003, uma vez que no impediram o evoluir exponencial dosaldo devedor.

    Alm da ilegalidade e abuso na estipulao dos juros, a situao foisensivelmente agravada em razo da execrvel capitalizao dos juros, a prticailegal do ANATOCISMO, causa da elevao do saldo devedor em progressogeomtrica.

    Certo que, confrontados os pagamentos efetuados pela Autora comos CRITRIOS DA LEGALIDADE e com o PRINCPIO DA RAZOABILIDADE, dentrode um almejado EQUILBRIO CONTRATUAL, verifica-se o pagamento excessivo,configurador, inclusive, de dano patrimonial indenizvel pela repetio em dobro doindbito,j que a planilha em anexo demonstra que a autora, utilizados oscritrios legais para incidncia de juros, j quitou toda a dvida possuindoainda saldo a receber no valor de R$ 326,85.

    Importante destacar tambm que em razo da INVENCVEL situao

    de inadimplncia a empresa demandada procedeu inscrio do nome da Autora nocadastro de devedores SPC e SERASA, ampliando, sobremaneira, todos osconstrangimentos derivados da relao contratual.

    III) DO DIREITO.

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    III.I) DA NATUREZA DA ATIVIDADE DESENVOLVIDA PELA ADMINISTRADORA

    DE CARTO DE CRDITO.

    No obstante a surpreendente dico da Smula 283 do SuperiorTribunal de Justia, a caracterizao da empresa administradora de carto decrdito de extrema importncia, na medida em que no se pode confundir aoutorga de crdito atravs do carto plstico com atividade financeira tpica.ADMINISTRADORA DE CARTO DE CRDITO PRESTADORA DE SERVIO, atuandoapenas na intermediao da circulao de mercadorias e servios; a compra evenda; a utilizao de servios, levada a efeito entre fornecedor e consumidor, noexercendo atividade financeira tpica, com se depreende do teor do art. 3 da

    Circular n. 2.044/91 do Banco Central.

    Art. 3. - Esclarecer que vedado s empresasadministradoras conceder financiamento direto aosusurios de carto de crdito, relativamente parcela dafatura mensal no amortizada pelos mesmos, por seratividade privativa de instituies financeiras.(grifado)

    Deve ser ressaltado, ainda, que mesmo quando o carto de crdito(carto plstico) emitido por instituio identificada como financeira e

    administrado por pessoa jurdica integrante grupo econmico (holding), essacircunstncia por si s no transmuda o CONTRATO QUE PERMANECE COM ANATUREZA DE PURA PRESTAO DE SERVIO, e ao final tm-se verificada naverdade na hiptese uma ATUAO ATPICA, estranha ao mbito do art. 17 dalei n 4.595/64, e, ainda mais grave, constitudo em NEGCIO JURDICOCELEBRADO EM MANIFESTO ERRO SUBSTANCIAL QUANTO AS SUASQUALIDADES ESSENCIAIS (ART. 139, I, DO CDIGO CIVIL), uma vez que,tratar-se-ia ento de um simulacro de concesso de crdito direto aoconsumidor, com a desagradvel qualidade do contedo autorizativo decobrana de taxas de juros exageradamente altas.

    Ressalte-se que nem mesmo se pode argumentar a incidncia da LeiComplementar n 105, de 10 de janeiro de 2001, uma vez que no se podeemprestar interpretao no sentido de que as administradoras de cartes de crditoagora seriam instituies financeiras.

    O 1 do art. 1 da referida lei complementar dispe que soconsideradas instituies financeiras, para os efeitos desta Lei, ou seja, o

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    legislador criou a fico to-s para atingir da finalidade da obteno das

    informaes referentes a operaes e servios das instituiesfinanceiras e das entidades a elas equiparadas, em conformidade com oart. 1 , 1 e 2.

    Dessa forma, a EQUIPARAO CINGIDA PARA OS FINS DASINFORMAES DAS MOVIMENTAES FINANCEIRAS, UMA VEZ QUE,INDISCUTIVELMENTE, EM FACE DA PRPRIA AUSNCIA DE FISCALIZAOESTATAL, AS MOVIMENTAES COMERCIAIS ATRAVS DO CARTO DE CRDITOPODEM SE TORNAR INSTRUMENTO HBIL PARA A PRTICA DE CRIMES.

    Assim, resta bvio que se instituies financeiras fossem, no serianecessria a edio de legislao complementar com objetivos especficos, para emseu corpo estabelecer tal equiparao.

    Destarte, e por concluso, como consectrio lgico da ausncia danatureza de instituio financeira das administradoras de cartes de crdito aconduo da submisso delas ao parmetro de juros estabelecidos pelo legisladordo novo Cdigo Civil em seu art. 591, ou seja, tratando-se de mtuo com finalidadeeconmica aplica-se a taxa prevista para os juros moratrios, consoante o art. 406,remetendo-se taxa aplicada em caso de mora do pagamento de impostos

    devidos Fazenda Nacional, exatamente aquela fixada pelo pargrafo primeiro doart. 161 do Cdigo Tributrio Nacional, qual seja, 1% (um por cento), permitida acapitalizao somente anual.

    III.II) DA OFENSA AOS PRINCPIOS DA TRANSPARNCIA E DA BOA-FOBJETIVA.

    Da particularidade do sistema funcional do carto de crdito, decorreevidente enriquecimento sem causa das empresas administradoras, que percebem

    o lucro empresarial dos comerciantes, e posteriormente, atuando comomandatrias, ou como se instituies financeiras fossem, cobram do consumidor aremunerao do crdito com estratosfricas taxas de juros, muito acima daquelaspraticadas pelas instituies financeiras para o chamado Crdito Direto aoConsumidor, conforme podem ser confrontadas com as indicadas na tabela anexaelaborada pelo Banco Central do Brasil.

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    IRREFUTVEL, DENTRO DA PRPRIA EXPERINCIA COMUM,

    QUE A RELAO CONTRATUAL NO SISTEMA DE CARTO DE CRDITO, SEAPRESENTA DE MANEIRA DISSIMULADA, ENGANOSAMENTE FACILITADA,SEM A TRANSPARNCIA E BOA-F EXIGIDAS, ESCAPANDO INCLUSIVE DESUA FUNO SOCIALMENTE ADEQUADA (art. 421, Cdigo Civil), poissomente serve ao aumento arbitrrio de lucros das administradoras, com ocorrelato endividamento exagerado do consumidor.

    A ofensa aos princpios basilares das relaes de consumo se inicia coma notria violao do direito de informao adequada e clara (art. 6, III, CDC),haja vista que no demonstrado ao destinatrio final do servio o

    conhecimento e esclarecimento prvio do teor do instrumento de contrato,tipicamente de adeso, que nunca foi submetido apreciao daDemandante, aplicvel, portanto, o disposto no art. 46 do cdigo consumerista,que torna imprescindvel, para a validade da manifestao de vontade nos contratosque regulam as relaes de consumo, o conhecimento prvio do consumidor docontedo do contrato.

    A ilegalidade mais evidente e prejudicial aos interesses do consumidorse apresenta com a insero no contrato da denominada CLUSULA-MANDATO, OU OUTRA DE EFEITO EQUIVALENTE, onde, sub-repticiamente, o

    consumidor-aderente outorga mandato amplo administradora, para que essa, naqualidade de mandatria, e por conta e risco do mandante, ESTABELEANEGCIO JURDICO DE OBTENO DE FINANCIAMENTO JUNTO AOS BANCOSASSOCIADOS, SEJA PELA AUTORIZAO DE EMISSO DE TTULO DECRDITO ORDEM DO USURIO-CONSUMIDOR, SEJA POR ABERTURA DECRDITO ROTATIVO, estabelecendo para a administradora uma situaoextremamente privilegiada, atravs de clusula espria que determina acapitulao do usurio perante o fornecedor.

    A denominada clusula-mandato nula de pleno direito a teor do inciso

    VIII, art. 51, do CDC, portanto incapaz de gerar qualquer efeito jurdico,principalmente contra a parte vulnervel da relao contratual , ainda maisquando indemonstrada a composio dos dbitos lanados a ttulo de encargos.

    Ora, se a R atua como sociedade intermediria, que exige asubmisso do consumidor autorizao para a contratao, em seu nome, deabertura de crdito para cobrir o pagamento das compras em crdito rotativo, surgepara ela o dever legal de prestao das informaes pertinentes aos negcios

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    estabelecidos, DEVENDO APRESENTAR CONTAS CLARAS ACERCA DAS

    VARIVEIS QUE COMPEM O EXAGERADO CUSTO FINANCEIRO COBRADODO USURIO, sendo insuficiente, evidncia, o lanamento do impreciso e vagotermo encargos do prximo perodo.

    Atuando a administradora de carto de crdito como gestora denegcio de terceiro e mandatria para pagamento de transaes efetivadas pelousurio, deve ela demonstrar a contratao de crdito em nome do usurio, bemcomo demonstrar a taxa praticada pelo mercado, pois, no sendo assim, como bempercebeu com sua proficincia o Ministro Ruy Rosado, ESTAR-SE-IA DIANTE DECLUSULA POTESTATIVA, POIS O DEVEDOR NO SABE QUAL O NDICE A

    SER USADO PARA O CLCULO DO SEU DBITO(REsp. 276.003-SE)

    Incontestvel que, no complexo enredo contratual foram transgredidosvrios princpios que norteiam o direito consumerista, em especial, os princpios daboa-f objetiva e seu consectrio o princpio da transparncia.

    O princpio da transparncia foi institudo pelo CDC, no art. 4,caput, como objetivo da Poltica Nacional de Relaes de Consumo. O legislador,assim, exige do fornecedor informaes claras e precisas sobre o contedo docontrato, para que o consumidor tenha plena conscincia do que est assumindo.

    o dever de informao, garantido pelos arts. 46 e 54, 3, do CDC, violentamentedesrespeitado pelo fornecedor, ora Ru, que inclui clusulas abusivas no contrato, aexemplo da clusula-mandato e da imposio de encargos contratuais, nulas depleno direito por si ss e ineficazes por falta de esclarecimento ao consumidor.

    O princpio da boa-f objetiva, positivado pelo CDC em seus arts. 4,III e 51, IV o princpio mximo orientador do Cdigo consumerista. Nas irretocveispalavras da Professora Cludia Lima Marques, boa-f objetiva significa, portanto,uma atuao refletida, uma atuao refletindo, pensando no outro, no parceirocontratual, respeitando-o, respeitando seus interesses legtimos, suas expectativas

    razoveis, seus direitos, agindo com lealdade, sem abuso, sem obstruo, semcausar leso ou desvantagem excessiva, cooperando para atingir o bom fim dasobrigaes: o cumprimento do objetivo contratual e a realizao dos interesses daspartes.

    Conclui-se, sem dificuldades, que o atuar da empresa administradorade cartes no pautado na boa-f objetiva, quando deixa de prestar contas docusto financeiro que repassa ao usurio, quando impe ao consumidor taxa de juros

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    acima do patamar mdio das taxas de mercado sob a rubrica encargos

    contratuais e, ainda, quando submete o consumidor situao desuperendividamento ao fazer mau uso dos poderes que lhe foram outorgados (se sepode pensar em outorga de poderes sem o conhecimento e vontade ?) pelamalfadada clusula-mandato, ou de efeito equivalente.

    III.III) DA LESO ENORME AUTORIZADORA DA REVISO DA OBRIGAOCREDITCIA.

    No se olvida que o objetivo de todas as atividades empresariais o

    lucro, porm, no se pode aceitar o abuso deste direito, e, nesse aspecto, haver dese buscar um equilbrio no atendimento dos interesses econmicos das partesenvolvidas, tendo em considerao o prprio sistema contratual, sempre ematendimento aos ditames da justia social, exigncia constitucional, como princpioreitor da ordem econmica (art. 170, CF), e a represso ao abuso do podereconmico que vise o aumento arbitrrio dos lucros (art. 173, 4, CF).

    Neste raciocnio, e levando em considerao que o custo do dinheirocirculante na economia regulado pelo prprio mercado, TENDO COMOPARMETRO O RANKING DAS TAXAS DE OPERAES DE CRDITO

    ELABORADO PELO BANCO CENTRAL, NO PODE SER ACEITA A IMPOSIOUNILATERAL DE TAXA EXCESSIVAMENTE SUPERIOR MENOR TAXA MDIADO MERCADO, bem como a cobrana de forma abusiva e extorsiva de juros, sejaqual for a nomenclatura ou ttulo, quando os parmetros conduzem a patamaresbem inferiores daquele praticado pelos agentes financeiros, CONFIGURANDOVERDADEIRO FATO DO SERVIO (ART. 14, CDIGO DE DEFESA DOCONSUMIDOR) NA PRESTAO DO SERVIO DE INTERMEDIAO COMOMANDATRIA E GESTO DO NEGCIO ALHEIO.

    Ressalte-se, pois esse o caminho do abuso do direito, que no se

    pode acreditar que a administradora de carto de crdito, ao se valer da posiocontratual privilegiada de mandatria e gestora de negcio alheio, ENVIDE OSMELHORES ESFOROS E OBTENHA JUNTO AO BANCO ASSOCIADOTAXAS DE JUROS ESTRATOSFRICAS DE MAIS DE 12% (DOZE POR CENTO)AO MS, QUANDO A TAXA MDIA DE JUROS PARA CRDITO PESSOALAPONTA PARA ALGO PRXIMO DE 2% (DOIS POR CENTO).

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    Por certo que, tratando-se de negcio comutativo, o equilbrio entre

    dbito e crdito deve estar presente tanto no momento da formao do negciocomo na sua execuo, resta evidente que o contrato apresenta, no momento desua execuo, grave desconformidade aos fins a que se deveria prestar,estando, pois, distanciado da legtima expectativa do consumidor,resultando sua inaptido para a realizao dos objetivos jurdicos eeconmicos, sendo necessrio, para tornar possvel a continuidade de suaexecuo, e ajustado aos objetivos iniciais, proceder-se sua reviso.

    necessrio reafirmar que a empresa administradora do carto decrdito conveniada instituio financeira exatamente para a captao de

    clientes, o que conduz certeza da utilizao de artifcio comercial para a obtenodo aumento arbitrrio dos lucros, com o ganho de vantagem exagerada emdetrimento do usurio do carto, posto que, se considerasse vlida a obteno definanciamento atravs da malfadada clusula mandato, o custo desse financiamentono atingiria o patamar elevadssimo de mais de 12% (doze por cento) ao ms.

    No resta dvida que os juros cobrados na relao contratualextrapolam os limites da boa-f configurando verdadeira desvantagemexagerada ao consumidor fato que, por si s, j seria suficiente para seentender nula a taxa de juros exorbitante de 12 % ao ms imposta ao

    consumidor (art. 51,IV, CDC).

    Vlida a lio da ilutre Cludia Lima Marques :

    A boa-f objetiva valoriza os interesses legtimos que levam cada umadas partes a contratar e assim o direito passa a valorizar. igualmente e deforma renovada. o nexo entre as prestaes, .sua interdependncia. isto o sinalagma contratual (nexum). Da mesma forma, ao visualizar, sobinfluncia do princpio da boa-f objetiva, a obrigao como umatotalidade de deveres e direitos no tempo e ao definir tambm como

    abuso a unilateralidade excessiva ou o desequilbrio irrazovel daengenharia contratual, valoriza-se, por conseqncia, o equilbriointrnseco da relao em sua totalidade e redefine-se o que razovel emmatria de concesses do contratante mais fraco (Zumutbarkeit).(Cf.Cludia Lima Marques, Contratos ..., p. 241)

    E prossegue a mestre, com a peculiar proficincia:

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    Parece-nos uma nova conscientizao da funo do contrato comooperao econmica distributiva na sociedade atual, e a tentar evitar aexcluso social e o superendividamento atravs de uma viso mais sociale controlada do contrato. O Estado passa, assim, a interessar-sepelo sinalagma interno das relaes privadas e a revisar osexcessos, justamente porque, convencido da desigualdade intrnseca eexcludente entre os indivduos, deseja proteger o equilbrio mnimo dasrelaes sociais e a confiana do contratante mais fraco.(op. cit., p. 244,sem grifos no original)

    Ofendida a boa-f objetiva, atinge-se, de forma indisfarvel, a LESOENORME enquanto considerada como a obteno por uma parte, em detrimento daoutra, de vantagem exagerada incompatvel com a boa f ou a eqidade.

    Vale destacar que o Cdigo de Defesa do Consumidor vedaexpressamente a leso enorme, quando no 1 do art. 51, conceitua a vantagemexagerada (correlata leso enorme) sempre que tal vantagem ofende osprincpios fundamentais do sistema jurdico a que pertence.

    Destarte, dispondo o art. 4, letra b, da Lei n 1.521/51, o limite de 1/5(um quinto), ou 20% (vinte por cento), para o lucro patrimonial em qualquerespcie de contrato, resta evidenciada a leso provocada pelas administradorasde cartes de crdito, uma vez que, considerando como custo de intermediaofinanceira, a captao de recursos de terceiros, o percentual de lucro deveriapermanecer adstrito no mximo 20% (vinte por cento) sobre os custos de captao,o que, com certeza no atingiria o patamar elevadssimo de mais de 10%(dez porcento) ao ms.

    Exatamente sobre esse ponto retoma-se as lies do ex-Ministro RUY

    ROSADO DE AGUIAR JNIOR:

    O principio da leso enorme, que outro mestre desta Casa, oinsigne Prof. Ruy Cirne Lima, sempre considerou incorporado ao Direitobrasileiro, sobrevivia, no plano legislado apenas na hiptese da usura real,assim como definida no art. 4, b, da Lei n1.521/51: Obter, ou estipular,em qualquer contrato, abusando da premente necessidade, inexperinciaou leviandade da outra parte, lucro patrimonial que exceda o quinto do

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    valor comente ou justo da prestao feita ou prometida. Com a regra

    atual, a conceituao de leso enorme retoma aos termos amplos danossa tradio, assim como j constava da Consolidao de Teixeira deFreitas, sendo identificvel sempre que coloquem o consumidor emdesvantagem exagerada (art. 51, IV). A sano a mesma de antes: aclusula nula de pleno direito, reconhecvel pelo Juiz de oficio .Vale lembrar que doutrina e jurisprudncia davam as costas ao princpioda leso enorme, presas do voluntarismo exagerado.

    O intervencionismo estatal nas relaes contratuais de consumo,introduzido em nosso sistema legal pela Lei n. 8.078/90, atravs de disposies de

    ordem pblica, abandonando a viso tradicional da autonomia da vontade comobaliza dos termos do contrato, transfere ao Poder Judicirio a relevante funo deestabelecer o equilbrio contratual ao controlar clusulas abusivas, principalmenteas impostas em contratos de adeso para remunerao do crdito.

    Assim, tendo em vista a abusividade e manifesta ilegalidade daincidncia e cobrana de taxa de juros desde outubro de 2003, visa a presenteao a reviso contratual e critrios de cobrana, com a declarao denulidade das clusulas contratuais abusivas, MORMENTE A DENOMINADACLUSULA-MANDATO, ou OUTRA DE EFEITO EQUIVALENTE, autorizativa de

    emisso de ttulo de crdito ou abertura de crdito rotativo, tudo em nomee em desfavor do consumidor, e aquelas permissivas da estipulao eflutuao dos juros cobrados, PARA FIXAO DO LIMITE DE 1% (UM PORCENTO) AO MS, consoante o art. 591 c/c art. 406, ambos do Cdigo Civil e art.161 do Cdigo Tributrio Nacional, e, aps apurado o abuso de cobranadecorrente dos juros excessivos, provir mandamento judicial determinandoa repetio em dobro do cobrado indevidamente (art. 42, Lei n 8.078/90).

    IV) DA NEGATIVA DE VIGNCIA DE DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS E

    LEGAIS

    No atual estgio da doutrina jurdica lio assente que os princpiosconsagrados na Constituio brasileira so verdadeiras normas supraconstitucionais, com incidncia na relao jurdica entre particulares exatamentepara a concreo do fundamento da Repblica de proteo da dignidade da pessoahumana (art. 1, III), e o cumprimento de seus objetivos mormente a construo deuma sociedade livre, justa e solidria (art. 3, I), perpassando necessariamente

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    pela proteo do consumidor (art. 5, XXXII), de forma que a ordem econmica

    assegure a todos existncia digna (art. 170, capute inciso V).

    A insistir-se em caracterizar a administradora de cartes de crditocomo instituio financeira, e permitir a cobrana de juros exorbitantes, permitindo-se eficcia clusula-mandato, ou clusula de efeito equivalente, assim comoaquelas permissivas da estipulao e flutuao de juros, tudo a configurar de formairrefutvel a vantagem exagerada obtida pelo fornecedor com a correlata noo daleso enorme imposta ao consumidor, e diante de todos os fundamentos fartamentediscutidos nesta exordial, estar-se-ia, de forma irrefutvel, negando vigncia adispositivos constitucionais e infraconstitucionais, que so elencados para melhor

    apreciao

    art. 170, caput, da Constituio Federal;

    art. 173, 4, da Constituio Federal, reprime o aumento arbitrrio dolucro;

    art.4, inciso III, do Cdigo de Defesa do Consumidor, que erige comprincpio informativo a boa-f objetiva;

    art. 6, inciso V, do Cdigo de Defesa do Consumidor, que garante como

    direito bsico do consumidor a modificao das clusulas contratuaisque estabeleam prestaes desproporcionais;

    art. 51, inciso IV, e 1 do Cdigo de Defesa do Consumidor, queestabelece como abusivas as obrigaes que coloquem o consumidor emdesvantagem exagerada, ou que sejam incompatveis com a boa f. Opargrafo primeiro define o que vantagem exagerada;

    art. 39, incisoV do Cdigo de Defesa do Consumidor, que afirma comoprtica abusiva e vedada exigir do consumidor vantagemmanifestamente excessiva;

    art. 3, inciso VII, Decreto 2.181/97, o qual dispe sobre a organizaodo Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, que define acompetncia do SNDC, para a vedao de abusos ;

    art. 12, inciso VI, Decreto 2.181/97, que estabelece como prticainfrativa exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva;

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    art. 18, Decreto 2.181/97, que determina as penas para quem cometer

    as prticas infrativas, que vo de multa at cassao da licena doestabelecimento ou de atividade;

    art. 22, incisos II e XV, Decreto 2.181/97, que determina o reembolso dequantia paga a maior, e a infrao ao Cdigo de Defesa do Consumidor,por clusula que ameace o equilbrio do contrato;

    art. 4 da Lei 1.521/51, que prev expressamente que constitui crime damesma natureza a usura pecuniria ou real, assim se considerando:a) (...)b) Obter, ou estipular, em qualquer contrato, abusando da premente

    necessidade, inexperincia ou leviandade de outra parte, lucropatrimonial que exceda o quinto do valor corrente ou justo da prestaofeita ou prometida.

    art. 17, da Lei n 4595/64, que dispe sobre a Poltica e as InstituiesMonetrias, Bancrias e Creditcias, definindo instituio financeira.

    V) DA ANTECIPAO DA TUTELA

    Destaque-se que a situao de inadimplncia, acarretada pelos juros

    exorbitantes, traz fundado receio de dano de difcil reparao, consistente na perdado patrimnio, a autorizar, consoante o disposto no art. 273, do CPC, a concessoda antecipao parcial dos efeitos prticos da tutela, inaudita altera pars, para:

    a) determinar a suspenso de todo e qualquer pagamento, AT ODESLINDE DA CAUSA E A APURAO DO MONTANTE A SER RESTITUDO AO AUTOR,ou, se existente saldo devedor, a indicao do valor realmente devido, COM ASUSPENSO DA INCIDNCIA DOS JUROSSOBRE O SALDO DEVEDOR;

    b) determinar a suspenso de toda e qualquer medida extrajudicial

    coercitiva, principalmente a excluso do nome do Demandante dos cadastros dedevedores (SPC e SERASA), consoante o entendimento firmado pelo Superior

    Tribunal de Justia, e amparada, ainda, pelo item n. 07, da Portaria n. 03, de 15 demaro de 2001, expedida pelo Ministrio da Justia;

    E, ainda, com fulcro no 3, do art. 84, do Cdigo de Defesa doConsumidor, que autoriza a ANTECIPAO DA TUTELA ESPECFICA,

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    liminarmente, na ao que tenha por objeto o cumprimento da obrigao de fazer,

    requer a Vossa Excelncia, para que o provimento final possa vir a ser eficaz:

    a) seja determinada a R a exibio do CONTRATO DE ABERTURA DECRDITO efetuado em nome do consumidor, com a UTILIZAO DA CLUSULA-MANDATO, OU QUALQUER OUTRA COM EFEITO EQUIVALENTE, OBRIGANDOA ADMINISTRADORA DO CARTO DE CRDITO A DEMONSTRAR ter contratadoemprstimo especificamente em favor do usurio titular, HAVENDO COBRADO DOCONSUMIDOR EXATAMENTE A MESMA TAXA PAGA INSTITUIOFINANCEIRA E, AINDA, QUE AS TAXAS CONTRATADAS ERAM AS MELHORESDISPONVEIS NO MERCADO NA POCA, sob pena de incorrer em multa diria de

    R$ 200,00 (duzentos reais);

    b) seja, reconhecida a hipossuficincia do consumidor, determinada ainverso do nus da prova em favor do consumidor (inciso VIII, do art. 6 do CDC), e,como conseqncia, em conformidade com o art. 355, do CPC, determinada aexibio de planilha indicativa de todos os clculos descritivos da dvida (ou dospagamentos efetuados), apontando as taxas e forma de aplicao dos juros ecomisses, os pagamentos efetuados pela demandante, desde outubro de 2003 ata atualidade com a descrio das taxas de juros e comisses aplicadas no perodo,sob pena de incorrer em multa diria de R$ 200,00 (duzentos reais);

    V) DO PEDIDO

    Face ao exposto, requer:

    a) seja concedida a gratuidade de justia, de acordo com art. 4, 1,da Lei n. 1060/50, com nova redao introduzida pela Lei n. 7510/86;

    b) a concesso da antecipao parcial dos efeitos prticos da tutela eantecipao da tutela especfica (obrigao de fazer), inaudita altera pars, nostermos acima expostos;

    c) aps a concesso da antecipao da tutela, seja determinada acitao da R, para, comparecer audincia de conciliao e, querendo, responderao pedido, sob pena dos efeitos da revelia;

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    d) sejaJULGADO PROCEDENTE o pedido para:

    d.1) confirmar os efeitos da antecipao parcial da tutela pretendida(art. 273, CPC) e da antecipao da tutela especfica (art. 84, 3, CDC) mormentecom a condenao da R na obrigao de fazer consistente na exibio da planilhada UTILIZAO DA CLUSULA-MANDATO, OU QUALQUER OUTRA COMEFEITO EQUIVALENTE, OBRIGANDO A ADMINISTRADORA DO CARTO DECRDITO A DEMONSTRAR ter contratado emprstimo especificamente em favordo usurio titular, HAVENDO COBRADO DO CONSUMIDOR EXATAMENTE AMESMA TAXA PAGA INSTITUIO FINANCEIRA E, AINDA, QUE AS TAXASCONTRATADAS ERAM AS MELHORES DISPONVEIS NO MERCADO NA POCA;

    d.2) emitir preceito declaratrio da nulidade de todas clusulascontratuais eivadas de abusividade, a teor do disposto nos incisos IV, VIII e X, do art.51, do Cdigo de Defesa do Consumidor, e itens n. 07 e 08 da Portaria n. 03, de 15de maro de 2001, expedida pelo Ministrio da Justia, especialmente aquela queautoriza a administradora do carto de crdito, para, na qualidade de mandatria, epor conta e risco do mandante, estabelea negcio jurdico de obteno definanciamento junto aos bancos associados, SEJA PELA AUTORIZAO DEEMISSO DE TTULO DE CRDITO ORDEM DO USURIO-CONSUMIDOR,SEJA POR ABERTURA DE CRDITO ROTATIVO;

    d.3) reconhecida a nulidade da clusula-mandato, ou de efeitoequivalente, e, como consectrio lgico da ausncia da natureza de instituiofinanceira das administradoras de cartes de crdito, emitir preceito constitutivomodificativo revisionista da relao obrigacional creditcia e critrios de cobranadesde outubro de 2003 at a atualidade, com a fixao do quantum debeaturexigvel do Demandante ao longo da relao, estabelecido dentro dos parmetrosda legalidade, ou seja, aqueles estabelecidos pelo legislador do novo Cdigo Civilem seu art. 591 c/c art. 406, exatamente aquela fixada pelo pargrafo primeiro doart. 161 do Cdigo Tributrio Nacional, qual seja 1% (um por cento) e

    subsidiarimente, com a aplicao da taxa SELIC do perodo, com o expurgo dacapitalizao dos juros;

    d.4) caso ultrapassadas as proposies dos itens d.2 e d.3, no sendoreconhecida a nulidade das clusulas abusivas, e mesmo a circunstncia dasadministradoras de cartes de crdito no se constiturem instituies financeiras,SEJA RECONHECIDA A LESO ENORME, com a fixao dos juros remuneratriosdevidos no limite da MENOR TAXA MDIA DO MERCADO PARA REMUNERAO

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    DE EMPRSTIMO BANCRIO EM CRDITO PESSOAL, SENDO ESSA A NICA

    ADEQUADA AO DEVER DE MANDATRIA OU GESTORA DO NEGCIO ALHEIO,sobejamente violado pelo Ru, CONFIGURADOR INCLUSIVE DE INEGVELFATO DO SERVIO, pela violao ao dever anexo de proteo (art. 14 doCDC);

    d.5) emitir preceito declaratrio da nulidade do critrio de cobranacom a utilizao da capitalizao dos juros (ANATOCISMO), ao teor da Smula 121do STF;

    d.6) emitir preceito condenatrio compelindo a R

    na repetio em dobro do indbito, conforme o art. 42,pargrafo nico, da Lei n. 8.078/90 totalizando o valor deR$ 653,70 (2 X R$ 326,85), referentes ao pago peloDemandante durante todo o perodo acima indicado,principalmente das despesas exigidas em lanamento deoperao de crdito com a cobrana dos juros de formacapitalizada, devidamente corrigidos monetariamente,com aplicao de juros moratrios legais de 1% ao ms

    aps a condenao; e

    e) seja a R condenada nas verbas sucumbenciais, sendo revertidas asrelativas a honorrios advocatcios em favor do CEJUR-DPGE.

    Indica prova documental suplementar, oral, consistente na oitiva detestemunhas e depoimento pessoal do representante legal do Ru, sob pena deconfisso, bem como pericial, se necessria.

    D causa o valor de R$ 1.000,00.

    Rio de Janeiro, 22 de fevereiro de 2005.

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