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COMÉRCIO DO CLIMA? COMÉRCIO DO CLIMA? COMÉRCIO DO CLIMA?

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COMÉRCIO DO CLIMA?COMÉRCIO DO CLIMA?COMÉRCIO DO CLIMA?

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COMÉRCIO DO CLIMA?

Eunápolis – Bahia2013

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Copyright ©: CEPEDES – Centro de Estudos e Pesquisas para oDesenvolvimento do Extremo Sul da BahiaRua Paulino Mendes Lima, 53 –Anexo - Centro45820-440 – Eunápolis - BAwww.cepedes.org.br/ [email protected]/Fax: +73 3281 2768

Ficha Técnica:

CARTILHA: Comércio do Clima?

Textos:Diagramação:Ilustrações e capa:Revisão de Texto:Colaboração:Realização:

1º EdiçãoIvonete Gonçalves e Philip Reed

Aline Guimarães e Regiomar SantosLevi Cunha

Ariadini SantosWinfridus Overbeek

Centro de Estudos e Pesquisas para oDesenvolvimento do Extremo Sul da Bahia - CEPEDES

Publicação: 2013

Este documento foi produzido com o apoio financeiro daSociedade Suéca para Conservação da Natureza - SSNC. Asopiniões neste documento não refletirão necessariamente aposição oficial da SSNC.SSNC

Colaboração:

Realização:

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Mensagem de Padre José pelos direitos humanos e cidadania*

O que me chama muito a atenção,até hoje, é que existe, geralmente,muito medo ou vergonha, para queas pessoas assumam a luta emdefesa dos direitos humanos, comose esta luta fosse uma coisaindecente. Nós defendemosaqueles cujos direitos fundamentaisestão sendo violados: os sem teto,os sem terra, os sem trabalho, os

sem saúde, os sem escola, os sem moradia, os sem pão… Trabalho, saúde,moradia, terra, educação, respeito, salário digno, não é um direito de todos?

Se você como Pai ou Mãe oferece tudo para um dos filhos e aos outrosnada, você cria desunião, violência, guerra dentro da própria família.Assim,também, numa nação, se uns tem muito e outros não tem nem o necessáriopara viver dignamente, cria-se guerra e violência. Não é isto o que estamosvivendo?

Este modelo econômico com sua bandeira da globalização não fornecemuitas perspectivas, pois, é um modelo perverso que exclui uma grandeparte da população mundial dos frutos do desenvolvimento. Neste sentido,estou pessimista e não vejo mudanças em breve.

Este modelo econômico não é sustentável, tem de morrer para nascer umnovo modelo que respeite a vida. Tanto do ser humano como da natureza.Nós devemos nos organizar melhor. Não podemos ficar com os braçoscruzados. ATerra é nossa casa. Somos responsáveis por ela. Denunciar asarmadilhas deste modelo é “arma” poderosa para que possamos exercer anossa cidadania.

* O Padre José ou Josephus Julius Maria Koopmans, holandês que viveu mais de 40 anos noBrasil foi co-fundador do Centro de Defesa e Direitos Humanos (CDDH)- Teixeira de Freitas edo Centro de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento do Extremo Sul da Bahia(CEPEDES). In memoriam

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Agradecimento:

À Bier e o Sindicato dos Bancários de PortoAlegre por ter cedido gentilmente a charge.

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Apresentação

Ocomércio de carbono ou mercado de carbono, ou ainda,

“economia verde” é mais uma perigosa armadilha para que

os grandes grupos internacionais lucrem cada vez mais. É o

instrumento gerado para viabilizar o Protocolo de Quioto e

outros acordos internacionais visando supostamente reduzir

as mudanças climáticas.

Em vez de reduzir drasticamente suas emissões de CO²

através de mudanças na matriz energética, e do alto

consumo de produtos a base de petróleo, e o incentivo de

desmatamento de florestas nativas para substituir por

monoculturas, os países industrializados formulam um

comércio e continuam a poluir cada vez mais. Uma manobra

nefasta, que impede o desafio de conter o uso extensivo de

combustíveis fósseis e a busca de novos caminhos que

impeçam de fato, o aquecimento do planeta!

Esta cartilha objetiva alertar sobre os perigos que estaproposta representa para o mundo.

Apresentação

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- Ei compadre, como os tempos tá mudando heim!

Chove quando antes não chovia, tá seco quando antes

chovia. Faz calor quando fazia frio, faz frio quando fazia

calor. Tá tudo de cabeça para baixo! É tanta coisa

estranha acontecendo pelo mundo – o tal de tsunami,

grandes estiagens e secas medonhas e um furacão no

Brasil. Já pensou?

- Isso é o tal de aquecimento global e mudanças

climáticas, cumpadre!

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- Mmmmm..... Já ouvi falar desse negócio no jornal, mas

é tantas praabras cumpriiiiiidas que não entendi é quase

nada!

- Não tem nada de complicado. Pelo contrário, é bem

simples: é a maior ameaça à humanidade e todos os

seres de nossa Mãe Terra do século XXI!

- Vixe! Não brinca!

- Não é brincadeira. A terra está esquentando além do

natural. Nos últimos 50 anos a temperatura já aumentou

quase 1Cº e muitos cientistas dizem que se as coisas

continuarem do jeito que estão, até o final deste século a

Terra pode aquecer até 5ºC!

É, a terra está esquentando! E como será que isso

acontece?

-

02

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- Ao redor da terra há uma camada de gases que

envolve o planeta chamado atmosfera. Alguns destes

gases aprisionam o calor que a Terra recebe do Sol.

Esses gases funcionam como um cobertor para nosso

Planeta que regula a temperatura da terra. Sem este

cobertor de gases, parte do calor do sol voltaria para o

espaço e o Planeta seria 30ºC mais frio! Os cientistas

chamam isso de efeito estufa e estes gases de gases de

efeito estufa (GEEs).

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OS GASES DE EFEITO ESTUFA E SUA

CONCENTRAÇÃO NA AMOSFERA

A atmosfera é feita de diferentes tipos de gases. A maioria não é dotipo efeito estufa, como Nitrogênio (N2) e Oxigênio (O2), que juntosrepresentam 99% da atmosfera. Os gases de efeito estufa (GEEs)estão presentes em pequenas quantidades, e os três maisimportantes são: dióxido de carbono (CO2), metano (Ch4) e óxidonitroso (N2O).

A maior parte (80%) de todos os GEEs jogados na atmosfera écomposta pelo dióxido de carbono (CO2). As duas principais fontessão: a queima exagerada de combustíveis fósseis - gás natural,carvão mineral e, especialmente, o petróleo - principalmente para aprodução de energia (usinas termelétricas), indústria e transporte(automóveis, ônibus, aviões, etc.); e as mudanças de uso da terra,como o desmatamento e as queimadas em regiões tropicais comoo nosso Cerrado eAmazônia.

Já o metano é produzido mais do cultivo de arroz, da criação deanimais e de nosso lixo. O óxido nitroso vem principalmente do usode fertilizantes (produtos químicos, feitos à base de petróleo) naagricultura, oriunda do Agronegócio , tanto que a agricultura éresponsável por cerca de 20% das emissões globais de gases deefeito estufa.

A contribuição que cada tipo de gás faz para o Efeito Estufa édiferente. Por exemplo: o metano é 21 vezes mais forte do que oCO2 e então a contribuição de uma unidade de metano é 21 vezesmaior do que uma unidade de dióxido de carbono. Como o Co2 é oprincipal gás de efeito estufa na atmosfera, as quantidades dosdemais gases são calculadas em uma quantidade “equivalente” deCO2. A concentração de gases de efeito estufa na atmosfera émedida em partes por milhão (ppm) de CO2 no ar.

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- Mas se estes gases servem para regular a temperatura

da Terra porque está esquentando?

- É porque o homem está destruindo a natureza e

poluindo a atmosfera. Jogando muitos gases de efeito

estufa que a Terra não tem mais condições de regular. A

temperatura e parte do calor do Sol que deveria voltar

para o espaço permanece na atmosfera. É como se a

ação do homem fizesse com que o cobertor ficasse cada

vez mais “grosso” e a Terra se aquecendo além do

normal, mexendo com todo o ritmo do Planeta e

causando a tal de mudanças climáticas.

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- Mas um pequeno aumento nas temperaturas pode

afetar a gente?

- Com certeza. Os cientistas dizem que um aumento de

apenas 2ºC vai causar mudanças desastrosas. Já

estamos vivenciando alguns efeitos. As chuvas,

tempestades e secas estão ficando cada vez mais fortes,

o nível do mar está subindo e o gelo das calotas polares

e geleiras está derretendo além do normal. O futuro da

civilização está em jogo!

ALGUNS EFEITOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Muitos cientistas confirmam que o aquecimento global causaráalterações drásticas no meio ambiente e que os impactos dessasmudanças serão sentidos em todo o mundo. Veja alguns exemplos:

em média entre 18 e 59 centímetros até ofinal do século 21. Isso significa que muitas ilhas podem desaparecer.No Brasil, uma elevação de 50 cm no nível do Oceano Atlântico poderiaconsumir 100 metros da praia em algumas regiões do litoral Norte eNordestino.

- algumas previsões indicam que atétodo o Ártico poderá estar sem gelo no verão.

- O Brasil, um país que não conhecia desastres naturais,tem vivenciado, nos últimos anos muitos acontecimentos devido aoaquecimento global, como o furacão que ocorreu em 2004 em SantaCatarina. Só nos últimos cinco anos ocorreram duas grandes secas euma das piores enchentes já vistas naAmazônia.

Aumento no nível do mar

Derretimento de gelo dos pólos

Aumento da intensidade de eventos climáticos extremos,alteração do regime das chuvas e maior ocorrência de secas eenchentes

2020

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Segundo as previsões, as enchentes e os deslizamentos que vêmocorrendo nos grandes centros urbanos do país vão se tornar cada vezmais freqüentes nas regiões Sul e Sudeste. Se houver um aumento detemperatura entre 2°C e 3°C, o número de chuvas intensas na cidade deSão Paulo poderá dobrar.

Estudos mostram que, além de colocarem em risco a vida de muitagente nas cidades, tais mudanças no clima deverão aumentar aquantidade de vetores de doenças transmissíveis e desencadearepidemias e pragas, ameaçar a infraestrutura de abastecimento deágua e luz e comprometer os sistemas de transporte.

Aagricultura também será bastante afetada, especialmente nas regiõesonde já tem pouca água.Aseca no Sul em 2006 foi a maior em 70 anos eafetou a produção de mais de 300.000 famílias.

E as populações que são menos responsáveis pela causa do problemasão as que mais vão sofrer os impactos das mudanças climáticasporque são justamente elas que são mais vulneráveis e que tem menoscondições de suportar os efeitos.

- Aiaiai. Então, o sertão vai mesmo virar mar. Estou

ferrado, nem sei nadar!!! Mas como a gente deixou isso

acontecer?

- Bom, na verdade não fomos nós. O problema começou

mais ou menos há 250 anos atrás, na segunda metade do

século XVIII com a revolução industrial nos países ricos.

A partir de então, com os avanços da tecnologia,

aumentou muito a capacidade do homem explorar a

Natureza para satisfazer suas “necessidades”.

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A fome do consumo é sem fim e precisa de enormes

quantidades de carvão mineral, petróleo e gás natural -

os chamados “combustíveis fósseis” - como fontes de

energia e matéria prima. São justamente estes os

principais responsáveis pelo aumento dos gases de

efeito estufa e nossas economias são totalmente

dependentes delas. A queima dos combustíveis fósseis

polui muitíssimo e com isso os países jogaram bilhões e

bilhões de toneladas destes gases na atmosfera. Isso fez

com que a concentração de CO2 na atmosfera dobrasse

nos últimos 250 anos, aumentando de 280 partes por

milhão para 389,6 ppm em 2010. Então todos somos

responsáveis, mas essas responsabilidades são

diferentes e, historicamente, são os países ricos que tem

a maior responsabilidade pelos problemas de

aquecimento global e mudanças climáticas.09

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QUEM É QUE MAIS CONTRIBUI PARA AS EMISSÕES

DE GEEs?

Os cientistas chamam os gases de efeito estufa que são jogados naatmosfera de emissões. Muitas atividades humanas causam emissões equem joga os gases, os poluidores, são conhecidos como emissores.

Embora historicamente os países ricos sejam os grandes emissores,ouseja, os grandes poluidores, hoje em dia, países em desenvolvimento,como China, Índia, e o próprio Brasil, estão entre os grandes emissoresdo mundo. Isso ocorre porque os governos destes países adotaram omesmo modelo de desenvolvimento dos países ricos, suas populaçõescresceram muito e têm cada vez mais condições de consumir.

O Brasil* está entre os cinco países mais poluidores do mundo e,atualmente, as emissões do Brasil representam cerca de 5% dasemissões globais. Na tabela abaixo vemos que a China ultrapassou osEstados Unidos como o maior emissor de CO2 do planeta.

Emissões globais resultantes da queima de combustível fóssil maismudanças no uso do solo, uso do solo e florestas (2005).

http://www.ipam.org.br/saiba-mais/abc/mudancaspergunta/quem-sao-os-grandes-emissores-de-gases-de-efeito-estufa-/16/7

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Mas sempre temos que examinar bem a informação que recebemos!Verificando bem, a China tem mais de quatro vezes mais gente de queos Estados Unidos (1,3 bilhões de habitantes, comparado com 294milhões nos Estados Unidos). Então, é bem normal que a China emitamais gases do que os Estados Unidos, certo? Tem quatro vezes maisgente, então deve emitir quatro vezes mais gases né? Mas não é assim,a China lança apenas um pouquinho mais de que os Estados Unidos.Porque isso? É porque uma pessoa que mora nos Estados Unidoslança quatro vezes mais a quantidade de CO2 na atmosfera de que umapessoa que vive na China, e quase 14 vezes mais de que uma pessoana Índia!

Atualmente, a maioria dos produtos consumidos nos países ricos e noBrasil são fabricados na China. É só olhar as coisas em sua casa e veráque a maioria diz (feito na China). Isso quer dizer quemuitas das emissões da China não são em função do consumo, pois aChina, junto com outros paises asiáticos, se tornou a “fábrica domundo”. Não para o seu próprio povo, mas para as populações deoutros países que consomem seus produtos. Temos que nos perguntarentão, quem está poluindo: quem está produzindo ou quem estáconsumindo o que está sendo produzido?

Então as emissões de um país não têm a ver apenas com número depessoas que vivem lá – pode ter muito mais a ver como o tipo de‘desenvolvimento’ e ‘estilo de vida’ da população. O que acontece é quea maioria de “os que tem” estão usando muito mais de que seu quinhão,enquanto “os que não tem” estão usando muito menos. Para ter umaidéia, apenas 20% da população do mundo vive em países ricos, masestes países usam 80% do que a Terra nos oferece para satisfazernossas necessidades. Se fosse uma pizza de cinco pedaços a serdistribuída de forma igual para todos os países do mundo, os paísesricos deviam comer só um dos pedaços e deixar o resto para os paísespobres. Mas os países ricos comem quatro pedaços e os países pobresficam com apenas um.

A fome do consumo é insaciável e ilimitado. Mas a Mãe Terra é finita,e se todos que vivem nela tivessem o padrão de vida desfrutado pelamaioria de “os que tem” precisaria de muito mais de um planeta parasatisfazer as pessoas.

“Made in China”

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Já há quase 70 anos Gandhi, o líder pacifista da Índia, disse: “A Terrapode oferecer o suficiente para satisfazer as necessidades de todos oshomens, mas não a ganância de todos ....... que Deus jamais permitaque a Índia adote a industrialização à maneira do Ocidente. A Inglaterraprecisou de metade dos recursos do planeta para alcançar talprosperidade. De quantos planetas um país grande como a Índia iriaprecisar”?

- E agora José? Qual a solução?

- Para ev i tar mudanças

c l i m á t i c a s d e s a s t r o s a s

p r e c i s a m o s m a n t e r a

concentração de gases de

efeito estufa abaixo de 350 ppm.

Isso significa reduzir emissões

em 85% até o ano 2050. Mas,

alguns cientistas dizem que,

mesmo assim, só tem 50% de

chance de evitar uma catástrofe

e por isso tem que reduzir as

emissões ainda mais!

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- Vixe Maria! Como vamos reduzir as emissões!!? E os

Governos, estão fazendo alguma coisa??

- Há muito tempo as lideranças mundiais vem se

reunindo para discutir o problema de aquecimento

global e mudanças climáticas. Até que se fez um acordo

chamado o Protocolo de Quioto, em 1997. Além dos

Estados Unidos, países como Austrália e Canadá não

aderiram e a Rússia somente assinou o acordo após

descobrir que com a adesão, eles poderiam usá-la como

moeda de troca para conseguir ingresso na Organização

Mundial do Comércio (OMC).

- E, então??

- Um dos problemas enfrentados para a implementação

do Protocolo de Quioto foi que, pelo documento, para se

tornar um regulamento internacional, o acordo

precisava da adesão de um grupo de países que, juntos,

seriam responsáveis por pelo menos 55% das emissões

de gases tóxicos. Os Estados Unidos, responsáveis por

mais de 35% das emissões de gases, se negavam a

participar do acordo sem que fossem feitas alterações

nas medidas exigidas pelo protocolo e, em 2001, se

retiraram definitivamente das negociações. Apesar de

existir desde 1997, o Protocolo de Quioto, só foi

implementado em 2004 com a adesão da Rússia,

segundo maior emissor de gases nocivos ao efeito

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estufa, atingindo assim a porcentagem de 55% de países

poluentes. Os países ricos que aprovaram este acordo

deveriam reduzir suas emissões durante o período 2008

e 2012 e emitir 5,2% menos gases do que emitia em 1990.

- Uai! Só 5%!!! Não temos que reduzir emissões em pelo

menos 85% para evitar mudanças climáticas

desastrosas? E o outro 80%?

- Para reduzir as emissões é necessário uma profunda

mudança no padrão de produção e consumo e como

produzimos energia. Também necessita buscar novas

formas de energia que não sejam poluentes. E, ainda,

reduzir nossa dependência do petróleo e outros

combustíveis fósseis. O problema é que estas

mudanças vão contra os interesses da maioria dos

grandes grupos econômicos, empresas multinacionais

e indústrias, especialmente a petrolífera, química e os

setores de papel e celulose, cimento e mineração. Estes,

seriam os primeiros a ter que se enquadrar. Por isso

existe muita resistência por parte destes a fazer as

reduções que realmente necessitam. Tanto que os

Estados Unidos, por exemplo, o país que mais contribui

para o aquecimento global, recusou aprovar o Protocolo

de Quioto. Estes grupos fazem que criam e

promovem soluções falsas para as mudanças climáticas

como o “limite e comércio” e “créditos de carbono” que

servem os interesses deles.

lobby

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- Vixe! Que cargas D’água é isso?

- O “limite e comércio” funcionam assim: o governo

coloca limites máximos de emissões/poluição e as

empresas ou indústrias podem poluir até estes limites.

Para limitar são emitidos permissões de poluir para

empresas e indústrias. Se um poluidor não usa todas

suas permissões, ele pode “vender” as que não usou

para outro poluidor que poluiu mais do que deveria. Por

exemplo, empresas A e B recebem permissões para

jogar 100 toneladas de gases de efeito estufa na

atmosfera. EmpresaA joga apenas 90 toneladas, ou seja,

teria direito de jogar ainda mais 10 toneladas. Empresa B

emite 110 unidades, ou seja, poluiu 10 toneladas mais do

que tinha direito. Empresa B pode então, “comprar” as

10 toneladas de permissões de poluir da empresa A e

assim, eles dizem estar resolvendo o problema.

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- Vixe! Que loucura! Puxa, a idéia não é poluir menos e

reduzir emissões?

- Pois é, os supostos limites que os governos impõem

para as indústrias poluidoras reduzirem a poluição se

transformam em um estímulo para poluir mais. E tem

mais um detalhe: as empresas e indústrias poluidoras

fazem um forte lobby para que o governo e reguladores

definam limites e regras para poluição que favoreçam a

elas, às vezes a tal ponto que as empresas podem

continuar a aumentar a poluição, permanecendo dentro

do limite. Também, as permissões são dadas e

muitas vezes as empresas e indústrias poluidoras

recebem mais permissões do que realmente

necessitam. Além disso, conseguem repassar os custos

de qualquer redução de emissões para o consumidor e

vendem as permissões lucrando com isso. Na Europa,

alguns dos maiores poluidores já ganharam lucros

bilionários vendendo suas permissões enquanto

emissões aumentaram em 7%!

- Oxe! Isso não é justo, o poluidor ainda ganha dinheiro

para poluir?! E como funciona este tal de créditos de

carbono?

- Países ricos ou empresas podem investir em projetos

que supostamente removam gases de efeito estufa da

atmosfera ou “reduzem” emissões em países em

de graça

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desenvolvimento na área de produção de energia,

transporte e plantio de árvores. Para cada tonelada de

CO2 que um projeto deste consegue remover ou reduzir,

o país ou empresa que investe no projeto recebe um

“crédito de carbono”, que é um certificado que serve

como uma mercadoria imaginária que pode ser vendido

no “mercado de carbono”. Este mercado já movimenta

bilhões de dólares por ano no mundo todo. Os

poluidores que ultrapassam seus limites podem

comprar estes “créditos de carbono” como uma

“compensação” para suas emissões para poder

continuar poluindo.

CRÉDITOS DE CARBONO

Tem duas possibilidades para comprar e vender créditos decarbono: ou pelo “mercado de carbono de cumprimento” doMecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Quiotoque está oficialmente regulamentado, ou pelo “mercadovoluntário” (em grande parte não regulamentado). No mercado decarbono de cumprimento, os créditos de carbono se chamamRedução Certificada de Emissões (CERs na sigla em Inglês) e nomercado voluntário são chamados Redução Verificada deEmissões (VERs na sigla em Inglês). Em 2009, o valor do comerciode créditos de carbono dentro do Mecanismo de DesenvolvimentoLimpo foi de aproximadamente US$17.5 bilhões. Empresas,governos e indivíduos podem comprar créditos do mercadovoluntário para “compensar” as emissões de quase qualqueratividade que se pode imaginar desde shows de música asepultamento! Muitas empresas compram estes créditos parapropagar que estão fazendo algo de bom pelo meio ambiente. Em2008, aproximadamente US$ 705 milhões de créditos de carbonoforam comercializados no mercado voluntário.

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- Nossa, tem que tirar o chapéu para estes tais de

grandes grupos econômicos, empresas multinacionais

e indústrias, como você diz. São muito ‘espertos’ -

tornaram a crise climática num meio de ganhar dinheiro!

Todo mundo sai ganhando, que bom heim!

- Não. Somente os grandes grupos continuam

ganhando! Inventaram um mercado artificial para fugir

de sua responsabilidade pela crise climática.

Transformaram o clima e a Mãe Natureza numa

mercadoria e fonte de novos negócios. E, pior de tudo,

esta solução não reduz emissões coisa alguma. Ela

apenas as substitui, mudando a poluição de um lugar

para outro enquanto eles continuam lucrando e a

humanidade e o planeta perdendo. Criaram outra bolha,18

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que nem aquela das hipotecas nos Estados Unidos que

estourou levando a maior crise financeira na história do

mundo.

- É mesmo? E eu aqui de bobão achando que está tudo

lindo e maravilhoso. E as florestas, o que elas tem a ver

com isso?

19

- As árvores e outras plantas da floresta têm muito

carbono em seus caules, troncos, galhos, folhas e

raízes. Então grandes quantidades de CO2 são liberadas

para a atmosfera na fumaça das queimadas. Calcula-se,

por exemplo, que 17% das emissões globais de CO2 vem

do desmatamento das florestas tropicais e no Brasil a

maioria das emissões vem do desmatamento. Também,

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as florestas diminuem a concentração de CO2 na

atmosfera porque removem CO2 do ar convertendo-o

em carbono (que vira folhas, raízes etc..) e oxigênio que

devolvem para a atmosfera. Os cientistas chamam este

p r o c e s s o d e “ s e q u e s t r o ” d e c a r b o n o .

O QUE É SEQUESTRO DE CARBONO?

“Seqüestro” de carbono é outro nome para remoção de carbonodo ar. As plantas acumulam energia da luz do sol através de umprocesso chamado fotossíntese no qual as plantas retiram CO2da atmosfera e o transformam em carbono e oxigênio. Namedida em que vão crescendo, o carbono vai sendo incorporadona planta formando troncos, galhos, folhas e raízes - cerca de50% das plantas é feita de carbono – e o oxigênio é liberado paraa atmosfera.

20

- Então também existem projetos com florestas que

produzem créditos de carbono?

- Tem sim. Existem os chamados projetos de REDD -

Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação

Florestal. Empresas e países ricos pagam organizações

em países mais pobres para implementarem atividades

de ‘conservação’ e ‘manejo sustentável’ das florestas. A

idéia destes projetos é reduzir o desmatamento e

r e c u p e r a r á r e a s d e g r a d a d a s .

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Teoricamente eles compram o carbono armazenado nos

caules, troncos, galhos, folhas e raízes das plantas e o

CO2 que a vegetação da floresta remove da atmosfera

por sequestro de carbono. Estes projetos geram

créditos de carbono em função de supostas “emissões

evitadas” e remoção de CO2 associada ao possível

desmatamento e degradação florestal nas áreas dos

projetos. Além de poderem vender os créditos de

carbono, as empresas que investem nestes projetos

podem dizer que estão fazendo algo de bom pelo meio

ambiente como uma espécie de propaganda para a

e m p r e s a q u e s e c h a m a r e s p o n s a b i l i d a d e

socioambiental.

- Me parece tudo muuuuuito

complexo este negócio de

créditos de carbono. Como

se mede a quantidade que

estes projetos reduzem de

emissões ou removem CO2

da atmosfera?

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- Este é um dos perigos desta “solução”– nunca se sabe

com certeza. Muitas vezes as reduções alegadas por

estes projetos estão, literalmente, só no papel porque é

praticamente impossível garantir quanto carbono está

sendo realmente removido da atmosfera ou emissões

reduzidas. O crédito de carbono é uma mercadoria

imaginária calculada da seguinte forma: Subtrai o que

você espera que aconteça daquilo que você adivinha

que teria acontecido sem o projeto . Os reais resultados

destes projetos não podem ser comprovados com

certeza porque ninguém tem certeza de que vai

acontecer no futuro ou o que teria acontecido se o

projeto nunca existisse.

-Ah, então é feito através de bola de cristal! rsrsrsrs

1

¹ Dan Welch, co-editor da Ethical Consumer Magazine22

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- É. Mas existe outro perigo. Grandes quantidades de

dinheiro podem ser gerados por projetos de créditos de

carbono e isso cria um risco de fraude muito grande. Já

há muitos exemplos de empresas inescrupulosas que

exageram a quantidade de reduções, criando créditos

falsos ou até vendendo o mesmo crédito para quatro ou

cinco clientes diferentes.

CONHEÇA ALGUNS DOS PERIGOS DO LIMITE E

COMÉRCIO E CRÉDITOS DE CARBONO

Na Europa, até 2020, créditos de carbono deverão representantar maisdo que a metade das “reduções” de CO2 deste continente. Depender delimite e comércio de créditos de carbono como uma solução paraameaça das mudanças climáticas é perigoso porque estudos eexperiências mostram que estes projetos não podem garantir reduções.Veja porque:

Até hoje todas as propostas para reduzir poluição baseadas em limite ecomércio foram um fracasso total. Porque vai funcionar agora?

A “redução de emissões” causada por um projeto deve ser adicional emrelação ao que ocorreria na ausência do projeto. Mas não é possíveldizer se a redução é adicional ao que “teria acontecido” sem o projetoporque é impossível prever o futuro. A taxa futura de desmatamento, porexemplo, é influenciado por vários fatores, muitos dos quais sãoimpossíveis prever. Uma avaliação realista dos projetos de Mecanismosde Desenvolvimento Limpo (MDL) revela que entre 30 e 50% dasreduções de emissões alegadas por projetos não são de forma algumaadicionais.

Também, um projeto pode minimizar um problema em algum lugar, maseste problema acaba sendo transferido para outro lugar. Por exemplo:embora o projeto de conservação florestal possa levar a prevenção dedesmatamento no local onde as atividades são realizadas, pode muitobem deslocar o desmatamento para outra localidade. O projeto

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não tem como garantir que isso não aconteça. E então muitas vezes oprojeto não evita desmatamento, apenas o desloca de um local para outro.

Além disso, existem grandes dificuldades técnicas e práticas para medir emonitorar as quantidades de carbono removidas e/ou que deixam de seremitidas em função de um projeto, especialmente os de conservaçãoflorestal. Muitas vezes os cálculos dependem de estimativas e não sãorigorosos e confiáveis. Portanto, o risco de erros na mensuração da reduçãoefetiva de emissões é muito grande e os reais resultados destes projetos nãopodem ser comprovados.

Então é praticamente impossível garantir as emissões que estão sendosupostamente reduzidas e a redução real pode ser bem menor do que aesperada. Isso significa que existe um grande risco de que estes projetoscriam créditos de carbono “fantasmas”, ou seja, reduções apenas no papel.

Esta “solução” portanto, está gerando um falso senso de segurança de queestamos reduzindo emissões e resolvendo o problema sem que haja umareal redução de emissões.

Também, em vez de apoiar outras fontes de energia renováveis e limpasacaba subsidiando fontes de energia suja como por exemplo usinaselétricas alimentadas a gás e carvão, promovendo a continuação dadependência de combustíveis fósseis.Até 2012, quase 4,7 bilhões de Eurosem créditos de carbono foram negociados por este tipo de projeto, gerandoenormes lucros para grandes empresas.

Mesmo que um projeto consiga superar todos estes problemas e riscos,mesmo que fosse implementado de forma perfeita e que fosse possívelverificar com certeza reduções adicionais de CO2, qualquer ganho éanulado pelo aumento de emissões de quem compra o crédito. Desta formanão há nenhuma redução de emissões, apenas existe umdeslocamento de um lugar para outro.

real

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PROJETOS DE REDD - QUEM BENEFICIA E

QUEM PAGA

“Nós não vamos e não podemos trocar nossa caça, nossa pesca, enossas vidas pela poluição. Você não pode trocar

a poluição pela natureza.Somos a favor da vida - por isso somos contra o REDD”.João Alberto Nunes Carmelio, conhecido como Ninawá, o presidente da

Federação do Povo Huni Kui do Acre.

Há uma verdadeira avalanche de projetos implementados porempresas estrangeiras interessadas em explorar os direitos sobrecréditos de carbono a partir da preservação da floresta em terras decomunidades indígenas e tradicionais. No entanto, muitas vezes acomunidade é mal informada sobre os custos e benefícios do projetoe seus potenciais riscos. É importante saber que a maior parte dosbenefícios dos projetos vai para os governos, , consultores eempresas ou ONGs (Organizações Não Governamentais) queimplementam o projeto e não para as comunidades locais eatividades de conservação. Inclusive, os riscos sociais destesprojetos são altos. Muitas vezes, em vez de ser beneficiada, acomunidade acaba sendo prejudicada, ou porque o projeto resultaem conflitos e divisões entre a comunidade, ou porque os custos dedireitos de conservação recaem sobre ela, já que usava a florestapara a sua sobrevivência e acaba perdendo os direitos sobre o seuuso. Projetos também podem violar os direitos territoriais decomunidades indígenas e tradicionais e até levar a expulsão emcasos onde não são reconhecidos os direitos costumeiros sobre aárea do projeto.

Além disso, por não existir no Brasil regulamentação sobre o REDD,os contratos para projetos em terras indígenas não tem validadejurídica e ignoram o direito de usufruto exclusivo sobre suas terras,reconhecido pela Constituição Federal.

Também existem vendas de créditos de carbono de plantações deárvores não nativas como eucalipto e pino para produção decelulose e carvão. Os projetos de plantações de árvores promovema expansão de atividades que aumentam a desigualdade e causam

brokers

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conflitos sobre a terra, violência e deslocamento de pessoas docampo para a cidade. Além de degradação do solo e poluição daságuas. Em Minas Gerais uma empresa conhecida como Plantarrecebeu créditos de carbono para plantar 23.000 hectares deeucalipto para produzir carvão vegetal para a produção de ferro. Ajustificativa utilizada pela empresa para garantir os créditos decarbono é que, se não produzisse carvão vegetal, teria que usarcarvão mineral como fonte de energia para produção de ferro, queé uma energia “mais suja” do que o carvão vegetal, o que não écorreto, pois já vimos que plantar eucalipto ou pino gera gravesproblemas socioambientais. Esta manobra gerou 1.5 milhões decréditos de carbono que valiam US$25 cada. Além dos efeitosnegativos associados ao plantio de eucalipto nesta região, esteprojeto é mais um exemplo de produção de créditos de carbono“fantasmas”.

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O ESCÂNDALO DAS FALSAS REDUÇÕES DE EMISSÕES

As organizações CDM Watch e a Agência de Pesquisa Ambiental

descobriram que quase 60% dos créditos de carbono vieram de

apenas 19 projetos de um total de 2.900 projetos registrados no

MDL. Estes 19 projetos produziam HCFC-22 (hidrolorofluorcarbono)

um gás refrigerante . O

subproduto deste gás é HFC-23 que é 11.700 vezes mais prejudicial

do que o dióxido de carbono. Empresas que queimam este gás em

vez de lançá-lo para a atmosfera podem adquirir 11.700 créditos de

carbono por tonelada de gás queimado! O preço de produzir uma

tonelada desse gás é entre US$ 1 mil e US$ 2 mil, enquanto a

mesma tonelada vale entre US$ 5 mil e US$ 5,8 mil em créditos de

carbono. Produzir este gás para ganhar créditos tornou-se um

negócio lucrativo, tanto que empresas e governos europeus

financiaram estes projetos num valor de pelo menos US$ 1,5 bilhão,

enquanto o verdadeiro custo para reduzir este gás é de US$ 150

milhões. Dados indicam que entre 2004 e 2009, a produção de

HCFC-22 passou de 15 milhões para 28 milhões de toneladas.

Desta forma criou falsas reduções (porque as empresas produzem

este gás para ganhar créditos) e falso créditos que foram vendidos

para empresas poluírem mais.

proibido nos Estados Unidos e Europa

(De um artigo do )Inter Press Service - Reportagens

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- Mas, mesmo com estes problemas, com todos estes

projetos pelo mundo as emissões de CO2 devem ter

caído muito né?

- Não. Depois de mais de uma década de ‘limite ecomércio de créditos de carbono’ a situação está pior doque nunca. Entre 1990 e 2010, em vez de diminuirem asemissões globais de CO2, ! Apenas em2010 foi registrado um aumento de 5,8% em emissõesglobais. Embora alguns países ricos afirmem queconseguiram “reduzir” suas emissões, muitos destes“cortes” são anulados pelo aumento de emissõescausadas pelo crescimento da importação de produtosde países como China, que registrou um aumento de1 0 % e m e m i s s õ e s a p e n a s e m 2 0 1 0 !

- Uai! É isso que estão dizendo que vai salvar o planeta?

A idéia original de créditos de carbono era “comprartempo” enquanto estratégias e tecnologias deveriam serdesenvolvidas para reduzir nossa dependência doscombustíveis fósseis e substituí-los com outras fontesde energia renováveis e limpas - antes que seja tardedemais. Mas não é isso que está acontecendo. Além deserem carregadas de riscos e incertezas, estas“soluções”que deixam empresas e indústriascontinuarem a poluir, desviam a atenção do problemareal e, em lugar de buscar alternativas e/ou

aumentaram 45%

-

abandonar modelos de produção, prolongam o uso decombustíveis fósseis, atrasando as mudanças urgentes

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que são realmente necessárias - ou seja, países,empresas e indústrias poluidores deixam de reduzirsuas próprias emissões mudando suas práticas epadrão de produção e consumo. Uma empresacompensar suas emissões ou um consumidor comprarcompensações desvia a atenção do perigo dasmudanças climáticas. É como comprar umaconsciência limpa e se convencer que pode continuarpoluindo e negando que temos que mudar nosso estilode vida, permitindo que os níveis de emissõescontinuem aumentando a todo vapor e dificultando oenfrentando das causas verdadeiras da crise climática.

- Está claro para mim que não podemos deixar este

problema nas mãos de quem o causou. Se as velhas

soluções de sempre não estão funcionando, temos que

mudar! Chega de falsas soluções! É hora de soluções

reais para conter o aquecimento global. Soluções que

não impactam a vida das pessoas e da natureza.

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PUBLICAÇÕES CONSULTADAS PARA ELABORAR A CARTILHA

- CARRASCO, Brisa Violeta; VARGAS, Jorge Tadeu.. Editores: Marea Creciente. México Jubileo SurAméricas.

- CARTILHA., Florestas e Plantações do Hemisfério do Sul. Vários

Autores.

- GILBERTSON, Tamara; REYES, Oscar.. Dag Hammarskjöld Foundation, 2009.

- LOHMANN, Larry. MERCADO DE CARBONO. .2012.

- Understanding Climate:Nations Environment Programme (UNEP)

and the Climate Change Secretariat (UNFCCC).

- Site: http://www.guardian.co.uk/environment/2012/apr/18/britain-outsourcingcarbon-emissions-china

Los Mitos Del Mercado deCarbono

Os Mercados de Carbono não apresentarão soluções para osGovernos

Carbon Trading How it Works andWhy it Fails

La neoliberalizacion del clima

A Beginners Guide to the UM FrameworkConvention and Its Kyoto Protocol.

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