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CARTASGEOTÉCNICASDEAPTIDÃOÀURBANIZAÇÃO:INSTRUMENTODEPLANEJAMENTOPARAPREVENÇÃODEDESASTRESEPARAAGESTÃODOUSODOSOLO

FernandoRochaNOGUEIRA,UFABC,[email protected]

KátiaCANIL,UFABC,ká[email protected]

1 Professores do CECS-UFABC e do Programa de Pós Graduação em Planejamento e Gestão do Território destaUniversidade.

SESSÃO TEMÁT ICA 8 : TÉCNICAS E MÉTODOS PARA ANÁLISE URBANAE REGIONAL

DESENVOLVIMENTO,CRISEERESISTÊNCIA:QUAISOSCAMINHOSDOPLANEJAMENTOURBANOEREGIONAL? 2

RESUMO

InstrumentocartográficorecomendadopelaLei12608/2012aosmunicípiosbrasileiroscom“áreassuscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processosgeológicosouhidrológicos correlatos”, as cartas geotécnicasde aptidãoàurbanização frente adesastresnaturaistêmresultadoemprodutoscomgrandepotencialidadedeusonoplanejamentoterritorial. Neste artigo, discutem-se os principais conceitos e procedimentos metodológicosutilizadospelaequipedepesquisadoresdaUniversidadeFederaldoABCnaelaboraçãodascartasgeotécnicas de aptidão à urbanizaçãodosmunicípios de SantoAndré, SãoBernardodoCampo,RibeirãoPireseRioGrandedaSerraesuaintegraçãoàcartageotécnicadeMauánaproduçãodeuma carta regional doGrandeABC, sub-região localizada a Sul da RegiãoMetropolitana de SãoPaulo, como subsídio ao Plano Diretor Regional. Ressalta-se a inclusão do componente deproteçãoambiental juntoaosatributosdomeio físiconaconstruçãodestascartas. Apontam-seaindapotencialidadesnoseuusonaescalametropolitana.

Palavras Chave: cartografia geotécnica; cartas geotécnicas de aptidão à urbanização; região doGrandeABC,PlanoDiretor

ABSTRACT

Geotechnical Map for Urban Planning is recommended by Law 12608/2012 to Brazilianmunicipalities. This map indicates the susceptible areas to the occurrence of natural disasters(high-impact landslides, flash floods or related geological or hydrological processes). This paperdiscussesthemainconceptsandmethodologicalproceduresusedbytheteamofresearchersfromthe Federal University of ABC - UFABC in the preparation of the geotechnical maps for theurbanizationofthemunicipalitiesofSantoAndré,SãoBernardodoCampo,RibeirãoPiresandRioGrandedaSerra,intheelaborationofaregionalmapoftheGreaterABC,asubregionlocatedintheSouthoftheSãoPauloMetropolitanRegion,inordertointegratetheRegionalMasterPlan.Itis important to include the environmental protection component with the attributes of thephysicalenvironmentintheconstructionofthesemaps.It isalsopointedouttobeusedinthemetropolitanscale.

Keywords:geotechnicalmapping,geotechnicalmapforUrbanPlanning,ABCRegion,MasterPlan



INTRODUÇÃO

A Lei 12.608/12, que instituiu a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC ganhouespecialdestaquenacurta,vacilanteefrágilhistóriadagestãoderiscosnoBrasil(Nogueira,2008;Nogueiraetal,2014)aoapontaranecessidadedeincorporaçãodasaçõesdereduçãoderiscodedesastresnagestãoterritorial,noplanejamentourbanoedemaispolíticassetoriais.Emseuartigo22, entre outrasmedidas, determina que osmunicípios sujeitos a inundações, deslizamentos eprocessoscorrelatossignificativos,entreoutros instrumentosdegestão,devemelaboraraCartaGeotécnica de Aptidão à Urbanização frente aos desastres naturais. De acordo com esta LeiFederal, este instrumento cartográfico tem por objetivo “o fornecimento de informações queorientemo parcelamento do solo no processo de uso e ocupação, de forma equilibrada com acondiçãodesuportedomeiofísico,evitando-seosriscoseasconsequênciasdosdesastres”(Diniz& Freitas, 2013). Estes autores destacam a especial importância destas cartas como referênciapara licenciamento de novos projetos de parcelamento dos terrenos, e também “para apreparação de planos e projetos de recuperação de áreas que já foram parceladas, mas queapresentamurbanizaçãoprecáriaesituaçõesderisco”.

Aconcepçãometodológicapreliminar,expostanareferênciaacimacitadaeresultantedeprocessodedebateentreespecialistasorganizadopeloMinistériodasCidadesem2012,remeteoolhar para o território do ponto de vista dos aspectos geotécnicos determinados pelascaracterísticasdomeio físicoedoambienteconstruído.Noentanto,noprocessodeelaboraçãodascartasdeaptidãoparaquatrodossetemunicípiosdaregiãodoGrandeABC,porçãoasuldaRegiãoMetropolitanadeSãoPaulo,ogrupoexecutivo,compostoporpesquisadoresediscentesda Universidade Federal do ABC, técnicos e gestores das Prefeituras, pode perceber muitoprontamenteavinculaçãodestesaspectoscomassuasrelaçõesambientais.NaregiãodoGrandeABC,expressivaporçãodosterritóriosmunicipaisquecorrespondeemparteàsáreasdepressãopara expansão urbana está localizada em áreas ambientalmente protegidas, por pertencer aoParqueEstadualdaSerradoMarouporconstituirÁreadeProteçãoeRecuperaçãodeMananciaisdaRepresaBillings(APRM,LeidaBillings,Ano).

Nessa Região se sobrepõem limitações à urbanização oriundas das três esferas degoverno - são limitações relativas às áreas de preservação permanente, de proteção dosremanescentesdevegetação,deproteçãoaosmananciaisetambémoriundasdasprópriasleisdomunicípio. É importante destacar que vários destes instrumentos normativos não vedam aocupaçãodaárea,masestabelecemlimitaçõescrescentesemfunçãodosseusatributosnaturaisedasuaimportânciadopontodevistaambiental.Avedaçãopuraesimplesdapossibilidadedeusonãonecessariamentegaranteaconservaçãodasáreasprotegidasfrenteàsdinâmicasterritoriais.

Tambémsepercebenesteprocessoqueoscenáriosfuturosdousodosoloimplicamemreflexosdiretosnadinâmicadomeiofísicoenaconstruçãodecondiçõesderiscoedeinaptidão(Canil&Nogueira,2015).

Nesteartigo,pretende-serelatarosprincipaisconceitoseprocedimentosmetodológicosutilizadospelaequipedepesquisadoresdaUFABC,coordenadapelosautores,naelaboraçãodascartas geotécnicas de aptidão à urbanização dos municípios de Santo André, São Bernardo doCampo, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra e sua integração à carta geotécnica de Mauá(elaborada pela própria Prefeitura municipal com assessoria técnica do Instituto de PesquisasTecnológicasdoEstadodeSãoPaulo)naproduçãodeumacartaregionalcomosubsídioaoPlanoDiretor Regional - PDR.Objetiva-se ainda discutir a utilização destes produtos no planejamentoterritorial.



ALGUNSCONCEITOSMETODOLÓGICOSECONTEXTUALIZAÇÃO

Cartografia geotécnica envolve, na definição de Prandini et al (1995), produtoscartográficos que expressam a prática do conhecimento geológico aplicado para enfrentar osproblemasgeradospelousoeocupaçãodosoloou,deacordocomZuquette(1993),quebusquemavaliareretratarascaracterísticasdoscomponenteseoscomportamentosdomeiofísicofrenteaosdiferentestiposdeocupação,indicandosuaslimitaçõeseseuspotenciais.ParaCerri(1990),acartografiageotécnicaéarepresentaçãodascaracterísticasdomeiofísiconatural,englobandoadistribuição espacial dos diferentes tipos de solos e rochas, com suas propriedades geológico-geotécnicas, formas de relevo, dinâmica dos principais processos atuantes e as eventuaisalteraçõesdecorrentesda implantaçãodeobrasdeengenhariaedasdiferentesformasdeusoeocupaçãodosolo.

A carta geotécnica sintetiza o conhecimento sobre o meio físico e seus processosatuantes (geo) em uma determinada área, demodo a subsidiar o estabelecimento demedidaspara a adequada ocupação do solo (técnica). É composta geralmente por uma carta síntese,quadro-legendaetextoexplicativo(Bitar,FreitaseSepe,2012).

A partir desta formulação, um grupo multiprofissional de especialistas em cartografiageotécnica foi constituído, em 2011, pelos Ministérios do Governo Federal responsáveis pelaaplicação do Plano Nacional de Gestão de Riscos e Respostas a Desastres, com o objetivo deconstruirumconsensomínimoemtornodemetodologiaseescalas(Tabela1)pararesponderàsdiversasexigênciasdaLei12608/2012.



Tabela1.Síntesedeprocedimentosgeraisparaelaboraçãodecartasgeotécnicasdesuscetibilidade,deaptidãoederisco

(adaptadodeDiniz&Freitas,2013edeSouza&Sobreira,2014)

Este grupopropôs tambéma elaboraçãodeCartasGeotécnicas deAptidãoUrbanísticafrenteaosDesastresNaturaisparaParcelamentodoSolo,tendometacentral“ofornecimentodeinformações que orientem o parcelamento do solo no processo de uso e ocupação, de formaequilibrada coma condiçãode suportedomeio físico, evitando-seos riscose as consequênciasdosdesastres”.Destacouaespecial importânciadestascartascomoreferêncianosprocessosdelicenciamentodenovosprojetosdeparcelamentodos terrenos,particularmentenosmunicípiossujeitosariscosgeotécnicos.

“Osestudosdomeiofísicodeverãoserinstrumentosbásicosparasubsidiaraaçãomunicipaldefornecimentodediretrizesaosprojetosdeparcelamentodosolo, e também para a preparação de planos e projetos de recuperação deáreas que já foram parceladas,mas que apresentam urbanização precária esituaçõesderisco”.(Diniz&Freitas,2013)

Aindarecomendouqueas legendasparaasáreasvaziasaseremocupadasfuturamentepela expansão do território urbano e para aquelas com urbanização pouco consolidada sejamdiferenciadasdemodosemafórico.Paraasáreasvazias,devemserprevistas:

TIPOSDECARTAGEOTÉCNICA

INFORMAÇÕESBÁSICAS

CARTADESUSCETIBILIDADE

Escala:1:25.000

OrdenamentoTerritorial

ü Classificaçãodosterrenosquantoaograudeprobabilidadedeocorrênciadeprocessosgeodinâmicosehidrodinâmicos

ü Zoneamentodeunidadesdeterrenolevandoemcontaosdiferentestiposesuscetibilidadeaprocessos;

ü Adequabilidadedaocupaçãoemcadaunidadedeterrenos(zonasfavoráveis,aceitáveisedesfavoráveis);

ü Propostasdeaçõesrelacionadasàocupação,valoresambientaisesubsídiosgeraisparaalegislaçãomunicipal;

ü Indicaçãodeáreasqueprecisamdedetalhamentoparaavaliaçãogeotécnicavoltadaàaptidãourbanística,devidoarestriçõesaloteamentos,necessidadesdeobrasdeinfraestruturaviária,saneamentoedrenagem,eriscospotenciasadesastresnaturais.

CARTADEAPTIDÃOÀURBANIZAÇÃOEscala:1:10.000PlanejamentoUrbano/PlanoDiretor

ü Classificaçãodosterrenosemunidadesgeotécnicas(caracterização;potencialidadeselimitações;ediretrizesparaocupação)

ü Avaliaçãodeperigoemáreasocupadascomriscospotenciaisfrenteadesastresnaturais.

ü Normasparaloteamentosemáreasdemédiasuscetibilidadeaprocessos,necessitandodeestudosdeavaliaçãogeotécnica;

ü Informaçõesdetalhadasparaexpansãourbana;CARTADERISCOEscala:1:2.000PlanejamentoUrbano/PlanosMunicipaisdeReduçãodeRiscos/PlanosPreventivosdeDefesaCivil

ü Avaliaçãodascondiçõesdevulnerabilidade(graudeperdaoudanodeumelementoouconjuntodeelementos,associadoaumaameaçaouprocesso,comumadadaintensidadeoumagnitudedeocorrência)dasocupaçõessobrisco;

ü Zoneamento/Setorizaçãodegrausderisco(análisedeperigoevulnerabilidade.

ü Indicaçãodemedidasestruturaisü Elaboraçãodesistemadegestãoderiscocomaçõesestruturaisenão

estruturais.



ü Áreas de urbanização favorável (cor verdel): locais de baixo perigo frente aos desastresnaturaiseondeaocupaçãodemandaapenasoscuidadosusuaiscomrelaçãoaosestudosparafundaçãoeobrasdecontenção;

ü Áreasdeurbanizaçãocondicionadaacontroleespecial(coramarela):locaisondesãoexigidoscontroleseestudosespeciaiscomocondiçãopréviaàocupação,faceaoperigoexistenteouquepodeserpotencializadopeloprocessodeurbanização.Dentreessasmedidasdecontrole,estão incluídas a exigência de implantação de infraestrutura completa; a exigência deimplantação das edificações concomitantemente ao processo de parcelamento do solo, ouseja,nãosepermiteavendadeterranua;aexigênciadecritériosespeciaisdeusoeocupaçãodosolode formaaminimizaros riscos;eaexigênciadeestudosprévios,detalhados,comoporexemplodeestabilidadedeencostas;

ü Áreasdeurbanizaçãorestrita(corvermelha):locaisondenãosepermitemedificaçõesdeuso

permanente,ouedificaçõesdequalquercaráterouaindaondenãosepermitemobrasdeurbanizaçãodequalquernatureza.Faceaosriscosdaocupaçãoirregulardeáreasondeexistemsériaslimitaçõesàurbanização(portanto,áreasdeurbanizaçãorestrita),entende-sequeosestudosquelevamàproposiçãodascartasdeaptidãoàurbanizaçãodevemseaprofundarnoestudodealternativasdedestinaçãodeusoeocupaçãodosoloparaessasáreasdeurbanizaçãorestrita.

Para as áreas de urbanização ainda não consolidada, recomendou-se que a legenda dacartadeaptidãoàurbanizaçãocontemple:

ü oslocaisonde,faceaoestudoderisco,nãoépermitidaaedificação(deusopermanente)-cor

vermelha;

ü asáreasondeseidentificaaprioridadenaimplantaçãodainfraestrutura,paraprevençãoderiscos,eotipodeinfraestruturademandada-coramarela;

ü oslocaisondeaedificaçãoe/ouaimplantaçãodeinfraestruturaécondicionadaaestudosespeciais-coramarela;

ü oslocaisondesedemandaaimplantaçãodeobrasdecontençãodeencostasoudeprevençãoderiscosdeacidentesgeotécnicos-coramarela;

ü asáreasondenãohálimitaçõesouexigênciasespeciais,emtermosdeprevençãoderiscosdedesastresnaturais-corverde.

AS CARTAS GEOTÉCNICAS DE APTIDÃO À URBANIZAÇÃO NA REGIÃO DOGRANDEABC

Ainda que o texto de Diniz & Freitas (2013) tenha servido de referência para aeleaboração de diversas cartas geotécnicas de aptidão, debates contínuos sobre aspectosmetodológicos e conceituais foram realizados desde então, com destaque especial para asdiscussõespromovidaspelaAssociaçãoBrasileiradeGeologiadeEngenhariaeAmbiental-ABGEduranteo9ºSimpósioBrasileirodeCartografiaGeotécnicaeGeoambiental,ocorridoemmarçode2015emCuiabáeo15ºCongressoBrasileirodeGeologiadeEngenhariaeAmbiental,realizadoem



BentoGonçalvesemoutubrode2015.OMinistériodasCidades tambémestabeleceuconvênioscom diversas Universidades Federais (UFPE, UFSC, UFRGS, UFOP e UFABC) para construção demetodologiaspormeiodaelaboraçãodecartasgeotécnicaslocaisemregiõesdistintas.

Por meio deste convênio, a UFABC elaborou as cartas de Rio Grande da Serra e SãoBernardodoCampo,em2015.Nestemesmoano,comassessoriadeespecialistasdoInstitutodePesquisasTecnológicas– IPT,aequipetécnicadaSecretariadePlanejamentodeMauáproduziuuma carta geotécnica para todo o território municipal. Em 2016, por meio de Termo deCooperação Técnico Científico entre a UFABC e o Consórcio Intermunicipal Grande ABC, foramelaboradasascartasgeotécnicasdosmunicípiosdeRibeirãoPireseSantoAndré.

AregiãodoGrandeABCéconstituídaporsetemunicípios(SantoAndré,SãoBernardodoCampo, SãoCaetanodo Sul,Diadema,Mauá, Ribeirão Pires e RioGrandeda Serra) situados naporçãosuldaRegiãoMetropolitanadeSãoPaulo(Figura1).

Figura1.LocalizaçãodaRegiãodoGrandeABC(emamarelo)naRegiãoMetropolitanadeSãoPaulo.Fonte:http://www.emplasa.sp.gov.br/emplasa/RMSP/rmsp.pdf Estaregiãoéocupadapormaisde2,5milhõesdehabitantesecontacomumaextensãoterritorialde635km²(IBGE,2010). Porumlado,possuiumadinâmicaeconomia industrialedeserviços, com importantes complexos de produção industrial e um PIB regional deaproximadamente R$ 80 bilhões, o segundo do Estado de São Paulo e o quarto nacional. Estaintensa economia atraiu, desde a metade do século XX, forte ocupação do território e grandedemandapor infraestruturaurbanaeviária.EmtodaestasubregiãodaRMSPobserva-segrandeconurbação, sobretudo comomunicípiode SãoPaulo. PelaRegiãodoABCpassam importantessistemas viários (Rodoanel Metropolitano e as Rodovias Anchieta e Imigrantes), que ligam oPlanaltoPaulistaàBaixadaSantista,aoComplexoindustrialdeCubatãoeaoPortodeSantos.Os



fluxos populacionais e de produtos demandam permanentemente terra urbanizável parahabitaçãoeparainstalaçõeslogísticasedeplantasindustriais.

Poroutrolado,naRegiãodoGrandeABCconcentram-seimportantesremanescentesdecoberturavegetaleáreasdemananciaisdoReservatórioBillings,quedemandamforteproteçãopela sua importância parao abastecimentohidrícodaRMSP, alémdamanutençãodos serviçosecossistêmicos.

Oprimeiropassodoprocessodeelaboraçãodecadacartadeaptidãofoiadefiniçãodaárea de estudo – ou de intervenção. Para tanto, foram considerados os limites da área deexpansão domunicípio de acordo com a legislaçãomunicipal, a definição do perímetro urbanomunicipal previsto no plano diretor, bem como as áreas estratégicas do ponto de vistasocioeconômico. Para essa tarefa, foi essencial o diálogo com as equipes técnicas de diversosórgãosesecretariasdecadaMunicípio.Assim,foramrealizadasváriasoficinasparadefiniraáreadeintervençãoemconsensocomtodaaequipe.

Além dos critérios técnico-científicos empregados, foi de grande importância oenvolvimento do corpo técnico das prefeituras, permitindo o diálogo entre pesquisadores egestores públicos, facilitando a compreensão do processo de elaboração do produto e seusrespectivos resultados. Um dos pressupostos adotado pelo texto de referência (Diniz& Freitas,2013) para orientar os procedimentos é que o usuário da carta de aptidão é o planejadorurbanista,ouseja,éfundamentalaparticipaçãodaequipetécnicaedegestoresdaPrefeituradoMunicípio no fornecimento de informações e materiais, no acompanhamento da elaboraçãointegraldosestudosparaelaboraçãodacarta,navalidaçãodasdecisõesedosresultadosobtidos.

AFigura2apresentaoroteirometodológicodesenvolvidoparaaelaboraçãodasCartasGeotécnicas de Aptidão à Urbanização dos municípios de Santo André, São Bernardo, RibeirãoPires e Rio Grande da Serra. Embora façam parte da mesma Região, os municípios estudadosapresentamgrandediversidadetantofísico-ambientalquantosocioeconômicaeadministrativa.Asbacias hidrográficas foram adotadas como unidade de análise das ações de prevenção dedesastresrelacionadosacorposd’água..

Naconstruçãodaprimeiracartajuntoàsequipesmunicipais(Caniletal,2016)surgiramalguns questionamentos sobre o papel da carta de aptidão. Como instrumento de informaçõessobre atributos domeio físico para o planejamento, pode induzir pressão para que se autorizeparcelamento em áreas que não deveriam ser urbanizadas. Nesse sentido, a inquietação quesurgiuaolongodoprocessodeelaboraçãodacartadeaptidãoàurbanizaçãoobtidapelaanálisedos condicionantes físicos foi: como compatibilizá-la às restrições ambientais e à dinâmica deocupaçãodoterritório?

Motivadaporestequestionamento,aparticipaçãodaequipedaprefeiturafoiimportanteparaagregardebatesparaalémdoscruzamentosdedadosdomeiofísico,incluindocruzamentosdas restrições da legislação ambiental, especialmente a Lei da Billings (Lei 13579/2009, SP) elegislação florestal (Lei Federal 12.727/ 2012). Optou-se como orientação metodológica, pelapreparação prévia de uma carta que sinalizasse a prioridade de conservação ambiental dosdiversossetoresaseremmapeadospelacartageotécnica.Essacartadeprioridadedeconservaçãoambientalseamparounosseguinteselementos:

a) avaliação da densidade de áreas de preservação permanente: o fato de um setorapresentarumasignificativapresençadeáreasprotegidas,taiscomoaquelassituadasjuntoaoscursosd’água,



emsi, jáéuma indicaçãodasua importânciaambiental.Foipreparadaumacartaespecíficacomestafinalidade;b) mapeamento e limitações ao uso do solo apresentados pela lei específica de proteção aosmananciais;c)mapeamentodavegetaçãoelimitaçõesassociadasàproteçãodosremanescentesdevegetação;d)mapeamentodeusoelimitaçõesdeusoeocupaçãodalegislaçãomunicipal.

Figura2.ProcedimentosmetodológicosparaelaboraçãodasCartasGeotécnicasdeAptidãoàUrbanizaçãofrenteaosDesastresNaturais(Canil;Nogueira,2015).



Com base nestes elementos, preparou-se uma carta que indicou a prioridade deconservação emquatro categorias:muito alta, alta,média e baixa (Figura 3). Na carta final, oucarta-síntese (Figura 4), onde se indicam as áreas aptas, aptas com limitações e não aptas, foiadicionada uma quarta unidade, aquela das áreas com alta ou muito alta prioridade deconservação. Nas cartas intermediárias (Figura 4), porém, onde se sinalizam as característicasgeotécnicasdecadaumdossetoreseosprocessosquesãoalipredominantes, forammapeadastambém as áreas de alta ou muito alta prioridade de conservação, pois mesmo nesses locaispodemocorrer intervençõespermitidaspela legislaçãoeé importantequeas informaçõessobresuascaracterísticasgeotécnicasestejamdisponíveis. A escala 1:10.000 adotada neste estudo gerou inicialmente unidades de classificaçãomuitopequenas.Assim,optou-sepordefinirumtamanhomínimodepolígonosdeumhectare.Asmanchas inferiores a esse tamanho foram analisadas e absorvidas pelos compartimentoscontíguos.Essatarefatevecomopressupostoconsiderarastendênciasediretrizesdeocupaçãoeagregar áreasde interesseestratégicodomunicípio, observandoassimaspequenasporçõesdoterritório não como áreas individualizadas, mas integradas ao processo geral das áreas deocupaçãoounãoocupadasdoterritório.

Figura3.ExemplodeCartadeÁreasPrioritáriasparaConservaçãoemtrechodaRegiãodoAlvarenga,SãoBernardodoCampo.Emverde,estãoasáreascomaltaprioridadedeconservação,emvermelhoaquelascombaixaprioridadeeemamarelo,asintermediárias.



Figura4.CartaGeotécnicadeAptidãoàUrbanização-SíntesedeSãoBernardodoCampo.AscartasgeotécnicasdeaptidãodeSãoBernardodoCampoedeRioGrandedaSerraesuaslegendaspodemserencontradasemhttp://www.visualizador.inde.gov.br/,napastainstitucionaldaUFABC.



AINTEGRAÇÃODASCARTASGEOTÉCNICASDEAPTIDÃOÀURBANIZAÇÃONAREGIÃODOGRANDEABCCOMOSUPORTEAOPDR

Assinado em2015, o Termode Cooperação Técnico Científico entre o Consórcio IntermunicipalGrandeABCeaUniversidadeFederaldoABCtevecomoeixocentralaconstruçãodoPlanoDiretorRegional (PDR-ABC), processo que se desenvolveu paralela e integradamente ao do Plano deDesenvolvimento Urbano Integrado (PDUI) da RegiãoMetropolitana de São Paulo. No entanto,outrossubprojetos,comooDiagnósticoHabitacionalRegionaldoGrandeABCeaelaboraçãodecartasgeotécnicasdeaptidãoàurbanizaçãoparaosmunicípiosdeRibeirãoPireseSantoAndréeaintegraçãodestacartografiaemescalaregionalcomosuporteaoPDR-ABC.

OPDRcorrespondeaumaescalaregional-Intermediáriaquearticulaosdiversosplanosdossetemunicípios associados aoConsórcio e o PlanodeDesenvolvimentoUrbano IntegradodaRegiãoMetropolitana de São Paulo, conforme prevê o Estatuto da Metrópole (Lei 13.089, de 12 dejaneirode2015).Paraaelaboraçãodeumdiagnósticoterritorialqueincluisseaquestãodosriscosambientais urbanos, a sua suscetibilidade a processos domeio físico e a aptidão à urbanizaçãofrenteàsdinâmicasdomeio físicoedoseuusoeocupação, foramelaboradas,noâmbitodesteconvênio, as cartas geotécnicas de aptidão à urbanização para osmunicípios de Santo André eRibeirãoPires.Comisso,pelofatodenãoexistiremáreasdeexpansãourbananosmunicípiosdeDiademaeSãoCaetanodoSul,foipossívelintegrarosresultadosdascincocartasgeotécnicasdeaptidãoàurbanização,disponíveis (SantoAndré,SãoBernardodoCampo,Mauá,RioGrandedaSerraeRibeirãoPires)numprodutocartográficodesuporteaoPDR-ABC.

Os setemunicípiosdoGrandeABC já contavamcomPlanosMunicipais deReduçãodeRiscos–PMRRs e com cartas de suscetibilidade a movimentos gravitacionais de massa e inundação(IPT;CPRM,2014).

Na carta geotécnica regional de aptidão à urbanização (Figura 5), os compartimentos em verderepresentamasáreasaptasàurbanizaçãousualouàconsolidaçãourbanasimples.Sãoasáreasmais favoráveis,dopontodevistageotécnico,aosprocessosdeurbanizaçãoouconsolidaçãodaurbanização existente. Em amarelo estão as áreas aptas à urbanização ou à consolidação comrestrições, cuja urbanização ou consolidação deve atender a critérios especiais, e/ou estudosprévios considerando os processos geodinâmicos, geotécnicos e hidrológicos. Apresentampotencialidadedeusoheterogêneadopontodevistageotécnico, incluindodesdeáreasemqueestudos pontuais são necessários até trechos de urbanização complexa que só devem serocupados em condições muito especiais. Em vermelho, estão indicadas as áreas inaptas àurbanização ou com consolidação muito complexa. São áreas onde é desaconselhável aurbanizaçãoe implantaçãodeedificaçõesparausopermanente.Apresentamaltasuscetibilidadee/ou histórico de ocorrências de processos geodinâmicos, geotécnicos e hidrológicos. Asedificações existentes devem ser, quando possível, objeto de reassentamento. Devem serpriorizadasalternativasdeusoquelevemàconservaçãoourecomposiçãodavegetaçãoarbórea.

Porfim,naquelescompartimentosemmarromestãoáreascomaltaprioridadeparaconservaçãoambiental, em função da densidade de áreas de preservação permanente, da presença deremanescentesflorestaisouporcondicionantesdalegislaçãodeproteçãoaosmananciais.Nãoserecomendaurbanização,devendoserpriorizadosusosqueconduzamaessaconservação.

Nosquadros-legendadascartasgeotécnicasdecadamunicípio,ondeacompartimentaçãosedáem13 classes de aptidão, há tabelas com as potencialidades e limitações de uso e ocupação erecomendaçõesparaurbanizaçãoparacadaclasse.



.

Figura5.CartaGeotécnicaRegionaldeAptidãoàUrbanização-SíntesedoGrandeABC



Necessidadedeumaanáliseintegradadasinterdependênciasqueocorremnoterritórioregional,eda capacidade do sistema de planejamento e gestão regional induzir uma trajetória dedesenvolvimento sustentável (os mapeamentos devem ultrapassar os limites político-administrativoseconsiderarasunidadesdebaciashidrográficas–Lei12.608/12).

Aleituradasdinâmicasterritoriaisexistentesedosistemadegovernançaatualdevemsubsidiaraelaboraçãodeumasériedediscussõeseestudosadicionaissobretendências,cenáriosdesejadosdo futuro, assim como as implicações destes para uma agenda de desenvolvimento regionalarticulado.Dessaforma,aCartaGeotécnicadeAptidãoàUrbanizaçãoqueforneceorientaçõesediretrizes para uso e ocupação do solo considerando as fragilidades e potencialidades dosterrenos, a partir de uma análise das características do meio físico, dos processos que geramsituaçõesderiscosedasformasdousoeocupaçãodosoloconsisteemuminstrumentodeapoioaoDiagnósticoTerritorialRegional.Essediagnósticoserámuitomaiscompletoporconteralémdaanálisedasdinâmicaseconômicas,socioambientaiseurbanasasáreasdeaptidãoàurbanização,configurandoumquadrodo sistemadeplanejamentoegestãodos serviçosurbanos-ambientaisde interesse comum. O Plano Diretor Regional indica, portanto, os eixos temáticos prioritários,alinhadosaoPlanoPlurianual(PPAregional),acarteiradeprogramaseprojetosemandamentoeasdiversasestratégiaslocaisdedesenvolvimentoeconômico,urbano-habitacionaleambiental.

A perspectiva da utilização das Cartas Geotécnicas na Região do ABC está sendo consideradatambémcomoinstrumentoquedeveráintegraroPlanodeDesenvolvimentoUrbanoIntegrado–PDUIdaRegiãoMetropolitanadeSãoPaulo,coordenadopela(EmpresaPaulistadePlanejamentoMetropolitano SA –Emplasa). Esse processo está em andamento pormeio de reuniões técnicasentreosmembrosdaCâmaraTemáticaMetropolitanaparaGestãodeRiscosAmbientaisUrbanos,técnicos e pesquisadores de instituições de pesquisas e universidades e gestores públicos. AsaçõespropostaspeloPrograma IIGestãodeRiscosGeológicosnaRegiãoMetropolitanaprevêaconfecção de cartas de suscetibilidade aos processos geodinâmicos e hidrodinâmicos, CartasGeotécnicasdeAptidãoàUrbanizaçãoemapeamentodeáreasderiscogeológico.Entende-sequehá uma sinergia entre os órgãos de governo, gestores públicos e comunidade acadêmica ecientífica em tornar as cartas geotécnicas instrumentos fundamentais para o ordenamento e agestãoterritorial.

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