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Carta ao clero 1 Carta ao Clero Quinta-feira Santa de 2016 Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro “Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu… para apascentardes a Igreja de Deus, que ele adquiriu com seu próprio sangue”. (At 20,28) Aos sacerdotes, diáconos e aos irmãos bispos auxiliares, que tanto auxiliam na minha missão na Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. 1. Já tive ocasião de me dirigir várias vezes por carta pastoral ao povo desta amada Arquidiocese, e ultimamente também por uma carta especial aos seminaristas. Hoje, porém, irei falar ao coração daqueles que me estão mais próximos: o clero. Neste Ano da Misericórdia gostaria de ter esta proximidade, também através de uma carta que expressa um pouco daquilo que experimento no dia a dia desta grande Cidade, com aqueles que colaboram comigo em seus vários serviços e missões. Portanto, quero falar, de modo especial, aos “próvidos cooperadores da ordem episcopal” (LG 28), os padres. Incluo ainda os diáconos, que juntos formam, com aqueles, o clero desta Arquidiocese. 2. São João Paulo II já dizia na Pastores dabo vobis: “O presbítero, de fato, em virtude da consagração que recebe pelo sacramento da ordem, é enviado pelo Pai, através de Jesus Cristo, ao qual como Cabeça e Pastor do seu povo é configurado, de modo especial, para viver e atuar, na força do Espírito Santo, a serviço da Igreja e para a Salvação do Mundo” 1 . Realmente, a Ordem é sacramento destinado 1 João Paulo II. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Pastores dabo vobis, n. 12.

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Carta ao clero

1

Carta ao Clero

Quinta-feira Santa de 2016

Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro

“Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos

constituiu… para apascentardes a Igreja de Deus, que ele adquiriu com seu

próprio sangue”. (At 20,28)

Aos sacerdotes, diáconos

e aos irmãos bispos auxiliares,

que tanto auxiliam na minha missão na

Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro.

1. Já tive ocasião de me dirigir várias vezes por carta pastoral ao povo desta amada

Arquidiocese, e ultimamente também por uma carta especial aos seminaristas.

Hoje, porém, irei falar ao coração daqueles que me estão mais próximos: o clero.

Neste Ano da Misericórdia gostaria de ter esta proximidade, também através de

uma carta que expressa um pouco daquilo que experimento no dia a dia desta

grande Cidade, com aqueles que colaboram comigo em seus vários serviços e

missões. Portanto, quero falar, de modo especial, aos “próvidos cooperadores da

ordem episcopal” (LG 28), os padres. Incluo ainda os diáconos, que juntos

formam, com aqueles, o clero desta Arquidiocese.

2. São João Paulo II já dizia na Pastores dabo vobis: “O presbítero, de fato, em

virtude da consagração que recebe pelo sacramento da ordem, é enviado pelo Pai,

através de Jesus Cristo, ao qual como Cabeça e Pastor do seu povo é configurado,

de modo especial, para viver e atuar, na força do Espírito Santo, a serviço da

Igreja e para a Salvação do Mundo”1. Realmente, a Ordem é sacramento destinado

1 João Paulo II. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Pastores dabo vobis, n. 12.

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ao serviço da Igreja e tem sua identidade própria e característica. O Catecismo da

Igreja Católica nos apresenta uma síntese da doutrina e da Tradição Eclesial sobre

o sacerdócio ministerial: “A Ordem é o sacramento graças ao qual a missão

confiada por Cristo a seus Apóstolos continua sendo exercida na Igreja até o fim

dos tempos; é, portanto, o sacramento do ministério apostólico. Comporta três

graus: o episcopado, o presbiterato e o diaconato” (CEC, 1536).

3. Queremos hoje refletir sobre o testemunho vivo dos padres e dos diáconos que,

unidos aos bispos, vivem em perfeita obediência, e agradecer pelo seu sim a cada

dia nos diversos serviços, mostrando-se próximos do outro, sentindo-se

pertencentes a uma grande família, na experiência de uma vivência da caridade

verdadeira. Este seja sempre o ânimo de nossos servos pela causa do Reino de

Deus no meio do povo.

4. No sábado e domingo de Ramos, em que tivemos a ocasião de celebrar a Jornada

Diocesana da Juventude, pude me encontrar com os seminaristas e vocacionados,

tanto na igreja paroquial de São José da Lagoa, como no Santuário do Cristo

Redentor e no Santuário Arquidiocesano de Nossa Senhora da Penha. Não nos

esqueçamos de rezar pelas vocações, e desejo vivamente que se faça isso em todas

as paróquias. Porém, naqueles momentos em que iniciamos a Semana Santa,

lembrei-me da importância da unidade entre nós! Em tantos países, as ideologias

conseguiram dividir a Igreja, enquanto, em outros, a Igreja ficou ainda mais unida

diante das controvérsias e situações da sociedade. Neste tempo de tantos

sofrimentos para nossa Nação, quero pedir ainda mais a união do clero em torno a

Cristo Senhor. Não nos deixemos dividir por ideologias que passam, mas

permaneçamos firmes no Senhor. A Semana Santa, como ápice do tempo da

Quaresma e início do grande Tempo Pascal, é justamente a oportunidade de

renovarmos a nossa alegria no seguimento de Cristo.

5. Ao iniciarmos a primavera no hemisfério norte, ao comemorarmos a saída do

povo do Antigo Testamento da escravidão do Egito e ao atualizarmos a nova e

eterna aliança no Mistério Pascal de Cristo, que deu a vida por nós, somos

chamados a renovar nossa adesão a Ele. A renovação das promessas do Batismo

no Sábado Santo é precedida pela renovação de nossos compromissos sacerdotais

nesta Quinta-feira Santa. Como gostaria que esse gesto pudesse nos unir ainda

mais e, junto com todo o belo trabalho apostólico que existe nesta nossa grande

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Cidade, realizado com tanto suor por todos vocês, fosse um sinal para nosso país!

Os cristãos têm uma proposta sempre revolucionária: na unidade e no perdão,

construirmos a civilização do amor. Nestes tempos de divisões e ódios entre

grupos que se digladiam de tantas formas, somos chamados a ser a Igreja Una –

unida – que traz consigo a grande notícia da salvação em Cristo Jesus: Deus nos

ama e enviou o Seu Filho que, dando a Sua vida por todos, está Ressuscitado e

vivo entre nós.

6. O Concílio Vaticano II, que completou este ano seu cinquentenário de

encerramento, insistiu muito na busca da construção de uma Igreja pautada pelos

princípios da comunhão e da participação. Temos caminhado progressivamente

nesta direção. No entanto, podemos aperfeiçoar ainda mais os mecanismos que

permitem a efetiva implantação desta realidade, e vários são os caminhos para

isso. O primeiro passo consiste em reconhecer que, algumas vezes, queremos

influenciar decisões com nossa concepção, movendo-nos em grupos de influência.

A comunhão e participação partem, todavia, de outro fundamento: a unidade com

Cristo e com os irmãos, aos quais amamos e com os quais queremos construir um

mundo novo. A unidade nasce do amor e não da disputa e deve ser um clima a

transbordar em nosso clero. Não nos isolemos ou nos afastemos, mas aumente em

nós o sentido de pertença a uma família, que só cresce e só se desenvolve quando

estamos juntos. Temos problemas, dificuldades mas, nos ajudando e

confraternizando, sentimo-nos bem uns com os outros.

7. Depois de termos vivido intensamente o tempo quaresmal, e após a reflexão em

nossos retiros, entendemos que é o Espírito Santo que conduz não só o retiro, mas

a nossa vida testemunhal. A cada dia, respondemos à pergunta: quid vult? Que

quer de mim o Espírito neste mês, nesta semana, neste dia? Para onde quer me

conduzir? Mas é necessário que cada padre, cada diácono também participe e

responda: quid volo? O que eu desejo, a que me proponho? Eis aqui a importância

de não deixarmos de rezar, termos um tempo de oração, um tempo com Deus no

início de cada manhã. Assim, será o Espírito Santo agindo através do padre e do

diácono, não num sentido de ativismo, mas de vivência da fé a serviço da

comunidade e para a glória de Deus. Frei Boaventura Kloppenburg, OFM, em sua

obra O Ser do Padre, afirmava que “padre sem vida espiritual seria contradição”.

Por isso, “o padre deve viver aquilo que ele é”… “O padre deve viver aquilo que

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ele faz enquanto padre”… e somos chamados a ir ao encontro do outro e acolhê-lo

como se fosse o próprio Cristo. É difícil, mas aqui nasce a iniciativa de não só

esperar a volta, mas também ir ao encontro. Por isso, nunca sair de casa ou do

quarto sem o tempo de oração.

8. Diz-nos São João Paulo II: “Se quisermos exprimir totalmente a verdade acerca da

misericórdia, com aquela totalidade com que ela foi revelada na história da nossa

salvação, devemos penetrar de maneira profunda nesse acontecimento final (da

atividade messiânica de Cristo) que (…) é definido como mistério pascal,”2 um

mistério em que a morte e a vida, com uma intensidade única, se unem na cruz, o

símbolo por excelência da nossa identidade cristã. Sim, contemplemos sempre

mais a cruz como sinal do mais autêntico amor. Por isso, é preciso amar

profundamente! Por amor, Deus criou todas as coisas. Não há outra razão para a

criação senão o amor de Deus. E quem ama também deseja que o amado e a

amada saibam amar, pois somente quem ama e sabe amar é que pode ser feliz…

Então, Deus é feliz. E como! Deus é amor (cf. 1Jo 4, 8.16), puramente amor e,

porque é assim, é feliz. E espera que toda a sua criação também se realize, seja

feliz, seja completa e plena. E, se o amor faz parte da essência de Deus, também

se pode dizer, como São Tomás de Aquino, que “é próprio de Deus usar de

misericórdia e é, sobretudo nisto, que se manifesta a sua onipotência”3. Hoje

somos chamados por Deus a ser felizes no amor, pois não há ninguém que,

estando fora do amor, seja feliz de verdade. Somente no amor é que podemos ser

quem realmente somos: filhos e filhas de Deus. No Filho Jesus, somos filhos,

porque Ele é imagem do Deus invisível. Olhando para Ele, parecemo-nos mais

com Deus.

9. Para que isso aconteça, precisamos da conversão diária, a fim de que o estilo de

vida de Cristo seja sempre mais o estilo de vida de cada um de nós. Devemos

concretizar a cada dia o fato de termos sido constituídos nas coisas de Deus a

favor dos homens (Hb 5,1). Desse modo, devemos nos esforçar para viver em

comunhão com todas as pessoas, concretizando cada vez mais um amor que doa a

vida. Eis aqui também inscrita a riqueza do sagrado celibato, que leva à

solidariedade autêntica com aqueles que sofrem e com os que experimentam todos

2 JOÃO PAULO II. Rico em Misericórdia, n. 07.

3 Citação do Papa Francisco in: A Alegria do Evangelho, n. 37, e O Rosto da Misericórdia, n. 6.

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os gêneros de pobreza. Devemos ser operários para a coedificação da única Igreja

de Cristo na terra. Por isso, devemos viver com grande motivação e fidelidade a

comunhão de amor com o Papa, com os bispos, com os nossos irmãos e com

todos os fiéis, como Igreja que penetra no mistério de ser Corpo Místico de Cristo.

O Papa Francisco tem se referido constantemente à importância da oração e da

piedade na vida do padre, para ser o pastor com “cheiro de ovelhas”.

10. Sabemos que, às vezes, surge na alma de não poucos sacerdotes um doloroso

sentido de frustração, ao constatar que o mundo cada vez menos se interessa pelo

sentido do seu ofício4, e colocam em discussão as instituições, as atividades e as

obras nas quais se empenham. No interior mesmo da Igreja discute-se o específico

do sacerdote e vemos daí até hipóteses exegéticas, teológicas e históricas que

avançam nestas interrogações sobre o significado próprio do ministério sacerdotal.

No entanto, tais coisas não devem abalar o coração de um homem de oração,

unido ao Coração Amantíssimo de Jesus, pois o sacerdote é homem da

inteligência e do coração. Precisamos de padres que se situem na sociedade como

promotores da verdade e da paz, num mundo que se apresenta violento e marcado

por mentiras, onde eliminam-se os outros, ao invés de acolhê-los e recuperá-los

pelo amor transformador.

11. Algo central na vida do clero e, de modo especial, do presbitério é a comunhão

entre presbíteros, que há de manifestar-se numa amizade profunda entre todos e de

todos conosco. A distância, ou mesmo as atividades, não justificam a solidão nem

o individualismo. Para além das realidades pastorais que permitem a vida em

comum de alguns presbíteros que partilham casa e afazeres, é preciso que todos se

sintam corresponsáveis pelo bem-estar uns dos outros. Acredito que aqui se situa

uma oportuna resposta para muitas situações que vivemos. Somos chamados a ser

irmãos, amigos, unidos em Cristo, na busca de correspondermos ao chamado do

Senhor para nos santificarmos no ministério que Ele nos conferiu.

12. A capacidade de nos sentirmos todos responsáveis pela vida da Igreja

arquidiocesana depende de como nos engajamos em estruturas de participação.

Cada cristão deve sentir a Igreja como sua, e saber-se corresponsável pelos

sucessos e insucessos pelos quais ela passa. As estruturas de participação do clero,

4 Cf. PAULO VI. Discurso aos párocos e pregadores quaresmais, 17 de fevereiro de1969, in AAS 61

(1969), p. 1188, 2.

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aquelas que já existem e as que a criatividade pastoral vier a criar, hão de se

concretizar nos mais diversos níveis. A importância de corresponder aos apelos da

comunhão, com participação e corresponsabilidade, é uma decisão necessária para

darmos passos nos enormes desafios da evangelização na grande cidade. Esperar

não pode significar estar parado. Antes, significa fazer tudo o que está ao nosso

alcance para que se caminhe no sentido certo. Exige também a identificação das

forças de resistência e o seu confronto, para que não se confunda a participação e

o trabalho de equipe com populismo que quer agradar a todos. Se cada padre ou

diácono desempenhar o seu legítimo papel de liderança, em determinada

circunstância, será muito mais fácil obter resultados, ainda que saibamos que os

participantes nunca estarão todos do nosso lado.

13. A fim de que cada um possa contribuir para esta cultura participativa, é necessária

uma formação constante. Participar dos momentos de formação é indispensável

para que aqueles chamados a dar a sua opinião não o façam segundo um

sentimento momentâneo, mas alicerçados num discernimento esclarecido à luz da

fé. A formação espiritual e teológica deve acompanhar a entrega de

responsabilidades e as responsabilidades devem exigir esta formação.

14. É bom e apelamos vivamente que os padres se visitem e se ajudem mutuamente, e

que o povo de Deus possa exclamar como nos Atos dos Apóstolos: “Vede como

eles se amam”! De fato, um dos primeiros testemunhos que um padre deve dar é o

da unidade afetiva e efetiva com outros padres. O povo de Deus reconhece e

estimula esta realidade, chocando-se ao perceber contendas, disputas e inimizades.

Quando os padres manifestam autêntica fraternidade entre si, são admirados por

todos. Quando os padres, ao contrário, manifestam, em suas atitudes e palavras, a

separação, o individualismo ou o partidarismo, é o próprio Evangelho que se torna

rejeitado. Afinal, como seguir um Evangelho se nem seus ministros conseguem

praticar? Este, portanto, é um grande testemunho que precisamos dar e renovar a

cada dia: padres unidos e amigos. Paulo nos exorta, dizendo “Enfim, irmãos,

alegrai-vos, trabalhai no vosso aperfeiçoamento, encorajai-vos, tende um mesmo

sentir e pensar, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco. Saudai-

vos uns aos outros com o beijo santo” (2Cor 13,11-12).

15. A Constituição Dogmática Lumen Gentium nos recorda o relacionamento do bispo

com os sacerdotes que compõem o presbitério: “Os padres, próvidos cooperadores

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da ordem episcopal, ajuda e instrumento seu, chamados para servir ao povo de

Deus, formam, junto com seu bispo, um único presbitério” (28). E mais adiante:

“Por esta participação no sacerdócio e na missão, os presbíteros reconheçam

verdadeiramente o bispo como a um pai e lhe obedeçam reverentemente” (28). O

programa de vida dos padres está definido nos seguintes termos: “Em virtude da

comum ordenação sagrada e da missão comum, todos os presbíteros se unem

entre si em íntima fraternidade, que deve se manifestar em espontânea e gozosa

ajuda mútua, tanto espiritual como material, tanto pastoral como pessoal, nas

reuniões, na comunhão de vida, de trabalho e de caridade” (28).

16. Só é possível a um bispo reger uma porção do povo de Deus quando o quadro

proposto pela Lumen Gentium se torna uma realidade ou dela se aproxima. O

relacionamento entre os padres e o seu bispo tem sido e deve ser sempre de

verdade e de responsabilidade, na comunhão eclesial que desejamos e edificamos

cotidianamente. Quando os padres e diáconos acolhem os trabalhos a eles

confiados com o carinho e a intensidade de quem encontrou um tesouro (Mt

13,44) acrescentam novo vigor à missão a que são chamados, e ter a presença e o

interesse do bispo é momento de ajuda e estímulo. Por isso mesmo, devem todos

estar sempre de coração aberto e sem medo ou falta de confiança. Ao longo do

tempo em que temos convivido nesta Arquidiocese, tenho procurado manifestar

que estou ao lado de todos os padres, sempre disponível para acolher e ajudar,

mesmo que nem sempre a sobrecarga de compromissos permita.

17. A afetiva e efetiva comunhão entre nós é, sem dúvida, uma grande busca de cada

dia. Como é importante olharmos para o outro com olhar de compreensão e

fraternidade e nos acolhermos uns aos outros, mesmo com experiências

formativas ou pastorais diferentes! Sabemos que, na pluralidade desta grande

Cidade, necessitamos também de um pluralismo de experiências que nos

enriqueçam na unidade pastoral. Por isso, insisto em recordar: pluralismo de

experiências, sim; ausência de comunhão, não!

18. Recordo com carinho aqui os padres que, seja pela idade ou enfermidade, estão

afastados das responsabilidades pastorais. Olhemos sempre para eles com

admiração e gratidão, na certeza de que contamos com a sua oração constante,

como suporte à atividade de todo o clero. Sempre que possível, empenhemo-nos

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por visitá-los e com eles partilhar um pouco de nosso tempo sacerdotal, além de

retribuir-lhes também com nossas orações.

Os Diáconos

19. Desde a Igreja nascente os Apóstolos perceberam a necessidade do auxílio de

homens de boa fama, sobre os quais impuseram as mãos, para o serviço da

caridade (cf. At 6,1-6). O ministério dos diáconos, essencialmente diferente dos

ministérios dos presbíteros e dos bispos, é, com estes, expressão da apostolicidade

da Igreja de Cristo5. Como vocação própria e específica são escolhidos, formados,

ordenados e enviados, sobretudo para aquilo que o ritual da ordenação ressalta:

“Crê no que lês, ensina o que crês e vive o que ensinas”! Queremos que os

diáconos possam fazê-lo plenamente no exercício do tríplice ministério

evangelizador, caritativo e litúrgico6. Queremos que exista uma comunhão de

amizade e de fraternidade também entre diáconos e presbíteros e, quando possível,

não só nas formações, mas no dia a dia, respeitando suas famílias e o tempo para

elas.

A família

20. Ao lembrar-me dos padres e dos diáconos, não posso deixar de mencionar as

famílias. Tema dos dois últimos Sínodos dos Bispos, a família é indispensável a

qualquer ser humano. Na família, bem sabemos, cada um experimenta o amor, a

partilha, o acolhimento, a doação, a solidariedade e tudo o mais que forma a

estrutura mais profunda de cada pessoa. A família é o lugar da transmissão da fé.

Por isso, peço a cada clérigo um empenho ainda maior em prol da instituição

familiar. Tenho clara consciência de que cada um, padre e diácono, vivendo o

estado de vida para o qual foi chamado, dá o melhor de si para que a família seja

acolhida e fortalecida na Igreja. Agradeço profundamente o empenho de cada um

nas inúmeras atividades com noivos, casais e famílias inteiras. Sabemos, no

entanto, que, nestes tempos de profundas transformações, por mais que

5 Cf. CONGREGAÇÃO PARA O CLERO. Diretório do Ministério e da Vida dos Diáconos Permanentes, 30.

6 Idem., 22.

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trabalhemos em favor da família, sempre precisaremos trabalhar mais. É grande a

pressão contra ela!

O momento atual do Brasil e do mundo

21. Contemplando o mundo em que vivemos, deparamo-nos com inúmeras sombras

cuja força nos pode fazer desacreditar na Luz. Como já me expressei antes, 7 “o

Brasil atravessa um difícil momento de crise política, institucional e ética, que não

deixa indiferente nenhum de nós”. Em todo o mundo, inúmeros fatos nos

angustiam, mostrando, como nos lembrou o Papa Francisco em sua Encíclica

Laudato Si’, que é tempo de trabalhar por um “outro rumo” (LS 53), para os

corações, para os povos e, enfim, para todo o mundo. Por isso, não podemos nos

deixar levar pela “globalização da indiferença”, tão lembrada pelo Santo Padre. A

crise e, mais do que ela, a contemplação do Senhor Ressuscitado nos interpelam a

buscar este outro rumo, onde cada ser humano seja efetivamente reconhecido

como imagem e semelhança do Criador.

22. Num mundo plural, não somos os únicos a contribuir. Temos, contudo, nossa

parcela de contribuição, da qual não nos podemos eximir. “Em tempos como

estes, os homens da Igreja são chamados a dar uma palavra de apoio e incentivo a

todos os filhos e filhas desta amada nação que – queiramos ou não – nasceu sob o

signo da Cruz do único e divino Redentor do gênero humano”8

23. Penso e, de fato, me preocupo com a incidência destas sombras sobre nós. Como

pastores, nossa missão consiste em cuidar do rebanho, mantendo-o unido e

esperançoso. Por isso, não podemos nos deixar levar pelo desânimo e pela

consequente incapacidade de enxergar caminhos. Tampouco podemos nos deixar

levar pela desunião, que de nada serve a não ser para fortalecer ainda mais os

problemas que afligem o Brasil e o mundo. De fato, o Criador nos fez livres para,

responsavelmente, tomarmos nossas decisões e, nisso, identificarmo-nos com um

ou outro caminho. Esta identificação, contudo, não pode se transformar em

divergência ou quebra da unidade. Aquele que nos vocacionou e uniu é maior que

tudo o que nos pode separar. Ao pedir as luzes do Cristo Senhor, acolhamos as

palavras do episcopado latino-americano no encerramento do Documento de

7 Tempesta, Orani João. Um olhar sobre a realidade. Artigo publicado em 16/3/2016.

8 Idem.

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Santo Domingo: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus Vivo, Bom Pastor e Irmão

nosso, nossa única opção é por Ti”.

24. Esta certeza é um dos consolos da nossa fé. Que Jesus se compadeça de nossas

carências espirituais e escolha do meio de nós os seus prediletos e os chame… E

que os chamados, os vocacionados, confortados pela Graça não se recusem, não

se acomodem, não se desviem…

A comunhão com Cristo Pastor

25. O Sacerdócio de Cristo se enraíza na sua própria condição de Filho de Deus que,

pela misteriosa união hipostática, assume uma natureza humana unida à sua

divindade. A realidade incomparável do sacerdócio único de Cristo inclui em si

mesma também as funções profética e real, manifestando em muitos modos a

presença e eficácia do amor proveniente de Deus.

26. Na sua vida terrena, Jesus, para tornar-se testemunha do Pai que O enviou e para

fazer a Sua vontade (cf. Jo 8,28-29), compartilhou em tudo, exceto no pecado, a

nossa condição humana (cf. Fl 2,6-11; 2Cor 5,21) e anunciou aos pobres o

Evangelho da salvação (cf. Lc 4,17-21).

27. Sua pregação profética, confirmada com sinais e milagres, culminou no mistério

da sua morte e ressurreição, mensagem suprema do amor divino que o Pai nos

manifestou (cf. DV 4; SC 5). Foi na cruz que Jesus demonstrou, de forma plena,

ser o “bom pastor que dá a vida pelas suas ovelhas” (Jo 10,11). Assim superou

todos os sacerdócios rituais e os sacrifícios do Antigo Testamento e coroou de

uma vez por todas o seu sacerdócio com a oblação de si mesmo ao Pai para a

redenção do mundo (cf. Hb 10,5-7). No mistério pascal, Cristo torna-se pastor da

comunidade do Novo Testamento. Em torno d’Ele, ressuscitado, reúnem-se em

unidade e são introduzidos na comunhão do Espírito os filhos de Deus dispersos

(cf. 1Pd 5,4; Hb 13,20; At 2,25; Jo 11, 51-52).

28. A Igreja, que nasce da Páscoa e se manifesta em Pentecostes, por sua natureza e

missão “em Cristo, é como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima

união com Deus e da unidade de todo o gênero humano” (LG 1), no anúncio da

Palavra e na administração dos sacramentos. A todo o povo de Deus, reunido em

seu nome, Cristo Senhor participa o seu sacerdócio (cf. Ap 1,6; 5,9-10). Na

verdade, “pela regeneração e pela unção do Espírito Santo, são consagrados para

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serem casa espiritual, sacerdócio santo, para que, por meio de todas as obras

próprias do cristão, ofereçam oblações espirituais e anunciem os louvores daquele

que das trevas os chamou à sua admirável luz (cf. 1 Pd 2, 4-10)” (LG 10).

29. Por isso o sacerdócio da Igreja, que deriva daquele único de Cristo e é

participação nele, mostra-se essencialmente profético e, na sua dimensão interior,

se define como oferta e oblação de si mesmo a Deus em favor da humanidade (cf.

Rm 12,1; Jo 4,23). A Igreja, para realizar a sua missão de salvação, participa de

diferentes maneiras no sacerdócio único de Cristo. A partir dos escritos

neotestamentários resulta claramente que o apóstolo e a comunidade dos fiéis são

elementos próprios da originária estrutura inalienável da Igreja, que se

correspondem em recíproca conexão, sob o Cristo Cabeça e o influxo de seu

Espírito (cf. LG 10). Esta relação é expressa na afirmação: “os Apóstolos foram

assim a semente do novo Israel e ao mesmo tempo a origem da sagrada

Hierarquia” (AG 5).

30. Os que recebem o sacramento do Batismo e os que recebem o sacramento da

Ordem participam do único Sacerdócio de Cristo, cada um, porém, de modo

essencialmente diverso. Cristo, Cabeça da Igreja, faz sacerdotes todos os seus

membros, mas a alguns torna seus ministros para servir e para pastorear. No

Evangelho, Cristo declara que não veio para ser servido, mas para servir. Por

conseguinte, seus ministros são enviados para servir. Mas Cristo diz também, e é

bom não esquecer, que Ele é Pastor, e o pastor é quem apascenta e dirige o

rebanho. À pergunta formulada sobre quem deve determinar o serviço prestado, se

o que serve ou o que é servido, não vejo dificuldade em responder que é o Cristo

quem determina esse serviço, deixando, é claro, aos pastores o juízo imediato e

circunstancial, segundo sua consciência. Cristo anunciou que edificaria a sua

Igreja sobre Pedro e a fundou sobre os Doze (cf. LG 18); por isso os escritos

neotestamentários falam da Igreja fundada sobre os apóstolos (cf. Ap 21,25; Mt

16,18).

31. O ministério sacerdotal do Novo Testamento, que continua o ofício de Cristo

Mediador e Cabeça, é distinto essencialmente, e não só por grau, do sacerdócio

comum de todos os fiéis9. A função própria do ministério sacerdotal, no coração

9 Cf. Paulo VI, Mensagem para a V Jornada Mundial de Orações pelas Vocações, 19 de abril de 1968: "É

uma sorte que temos no Concílio, a honra prestada ao sacerdócio real dos fiéis, mas seria lamentável para

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Carta ao clero

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da Igreja, é de tornar presente, em Cristo, o amor de Deus por nós mediante a

Palavra e o Sacramento, e suscitar a comunhão das pessoas com Deus e entre si.

32. Por isso, o ministério sacerdotal, em sua missão específica, implica:

a) Proclamar incansável, oportuna e inoportunamente o Evangelho, finalidade

para a qual os presbíteros são consagrados (cf. LG 28) e empenhados como

primeiro de seus deveres (cf. PO 2);

b) Reunir e guiar a comunidade, exercitando o ministério da caridade (cf. LG

28; PO 6);

c) Perdoar os pecados¸ reunir e reconciliar a comunidade, sobretudo com a

celebração da Eucaristia, na qual o ministério sacerdotal alcança o seu

cume. A Eucaristia é a fonte e o centro da unidade da Igreja (cf. PO 2,5,3;

LG 21,28).

33. A Evangelização requer, por sua natureza, a diaconia da autoridade, isto é, o

serviço da unidade e a presidência da caridade. Tenho visto muitas experiências

missionárias em todos os cantos da Arquidiocese. A luta e o cansaço da missão

diante de um mundo que foge dos valores do Evangelho tem sido um caminho

percorrido com renovado ardor. Sei que temos que ir mais longe, para águas mais

profundas, porém estamos dando passos. Essa tem sido a exortação que ouvimos

sempre do Papa Francisco nessa nossa missão sacerdotal hoje.

34. Para cumprir o seu ministério, os presbíteros recebem uma particular consagração

por meio do Sacramento da Ordem, que funda uma relação original e irrevogável

com Cristo (cf. PO 2; LG 28). Por meio da imposição das mãos e a oração

comunica-se o dom inefável do Espírito Santo (cf. 2Tm 1,6). Esta realidade é

permanente e imprime um sinal que, na tradição da Igreja, denomina-se caráter

sacerdotal.

35. Marcado pelo Espírito, o ministro é, por isso, “ícone” ou imagem do Senhor,

sacramento, sinal vivente, sensível e eficaz da presença de Cristo Cabeça e da sua

missão no dúplice aspecto de autoridade e de serviço. O ministério sacerdotal

significa um modo eficaz e primado da ação de Jesus Cabeça e Mediador,

exercido na Igreja por meio do seu Espírito.

a santa Igreja se esta exaltação oportuna e necessária do sacerdócio comum de todo o povo de Deus

obscurecesse o sacerdócio ministerial ou hierárquico... ".

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Carta ao clero

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36. O ministério pastoral se inicia com a eleição e a vocação qual ato de amor

proveniente de Cristo (cf. Jo 15,16), que convida o eleito como aos Apóstolos a

segui-Lo (cf. Mc 2,14; Lc 5,27), a “ver” e a “ficar com Ele” (cf. Jo 1,39), pedindo-

lhe como a Pedro um testemunho de fé e de amor (cf. Mt 16,16; Jo 21,15). Cristo

escolhe e chama para si mesmo os seus amigos para enviá-los ao mundo. A

vocação é ordem à missão: “E escolheu doze, qualificando-os como apóstolos,

para que convivessem com Ele e os pudesse enviar a proclamar” (Mc 3,14).

37. A chamada de Cristo ao ministério pastoral pressupõe a vocação batismal sobre a

qual se funda, e que mencionei no início desta Carta. A resposta ao chamado

implica a imitação de Cristo Pastor, vivendo a graça batismal e aquela própria do

Sacramento da Ordem. Jesus resume a norma da vida sacerdotal: “Em favor deles

eu me santifico, para que também eles sejam santificados pela verdade”. (Jo 17,

19). Implementa a dedicação à missão pastoral, com destaque da realidade mais

vital e dos afetos mais queridos até à cruz como participação na sua Páscoa

salvífica (cf. Mc 8,34; 10,20; Mt 19,29; Lc 18,29).

38. Os chamados ao ministério sacerdotal são objetos de uma ulterior predileção por

parte de Cristo, não para ser mais, porém para servir mais e tornar-se disponíveis

àquela voz que é, ao mesmo tempo, convite e comando: “Vem e segue-Me” (Mt

19,21). A maturidade da vocação ao ministério se realiza em uma progressiva

união a Cristo, que prepara aquela união inefável fundada sobre o Sacramento da

Ordem.

39. A chamada do bispo, em união com o presbitério e a comunidade dos fiéis, coloca

o selo de autenticidade à vocação interior. Cabe ao bispo “o dever de pronunciar o

juízo definitivo sobre sinais da vocação divina no ordenando. A ele se reserva o

direito de chamá-lo ao Sacerdócio, tornando assim autêntico e operante diante da

Igreja um chamado divino que é lentamente amadurecido”. 10

A comunhão Eclesial

40. A relação particular com Cristo Pastor, radicada no Sacramento da Ordem, se

coliga com uma segunda relação, também total e irrevogável, na Igreja e pela

Igreja, Corpo de Cristo. O presbítero não é um indivíduo isolado, mas membro de

10 Paulo VI. Summi Dei Verbum in AAS 55 (1963), p. 988.

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Carta ao clero

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um Corpo hierarquicamente estruturado, como servo dos irmãos (cf. PO 3). Na

comunhão eclesial, acontecem relações diversas e complementares em Cristo com

o inteiro povo de Deus e em particular com o bispo e com o presbitério. Diante de

tantas exigências hoje, como fazer para que a nossa unidade nos leve a viver numa

comunhão verdadeira, e entusiasme o nosso povo a viver também em comunhão e

unidade, na busca da fraternidade que nos conduza a uma missão permanente,

principalmente para as periferias existenciais, como sempre gosta de nos recordar

o Papa Francisco?

41. A comunhão com o povo de Deus se fundamenta sob o sacerdócio comum. Por

conseguinte, os presbíteros são “irmãos entre irmãos como membros do mesmo e

único Corpo de Cristo, cuja edificação é de todos” (PO 6, LG 28). O presbítero,

no seu ministério, se distingue por uma nova consagração, com o dever de servir

aos fiéis leigos, mas se integra com eles profundamente (cf. LG 10 e 37; PC 6 e

9). Assim, torna-se testemunha com os leigos do único Mistério de Cristo. Na

Igreja, cada distinção está a serviço da unidade; ao interno desta unidade, os

presbíteros “em virtude do Sacramento da Ordem, desenvolvem a função eclesial

e irreprimível dos pais e dos mestres no povo de Deus e pelo povo de Deus” (PO

9).

42. A função de pastor não se restringe à cura dos fiéis, mas se alarga à formação da

autêntica comunidade cristã, que os presbíteros reúnem como uma fraternidade

animada pelo sentido de unidade e por meio de Cristo no Espírito, para levar a

Deus Pai (cf. PO 6; LG 28). E, para fomentar oportunamente o sentido

comunitário, necessita que vise não só à Igreja local, mas também toda a Igreja

(cf. PO 6).

43. Os presbíteros, por meio de seu bispo, estão em comunhão também com o Papa,

que, na sua qualidade de sucessor de Pedro, é o perpétuo e visível princípio e

fundamento da unidade seja dos bispos, seja da multidão dos fiéis. A consciência

da comunhão com o bispo ajuda a perceber também a unidade dos presbíteros que

vivem e operam no âmbito do mesmo grau do Sacramento da Ordem. De modo

especial, os presbíteros formam um único presbitério na diocese, a cujo serviço

são assinalados em comunhão com o próprio bispo (cf. LG 28; PO 8). Tal

comunhão sacerdotal constitui o fundamento da comunhão externa, operativa,

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sinal e manifestação da unidade como Cristo queria, a fim de que o mundo saiba

que o Filho é enviado pelo Pai (cf. PO 8, CD 30).

Servir e dar a Vida

44. Cada sacerdote sabe que não foi ordenado para serviço de si mesmo. A ordenação

contribui para que sejamos santos, porém, temos obrigação de sempre buscar a

santidade, mesmo sem o recebimento da Ordem, identificando-nos com o Cristo

Pastor, no sentido específico de que Ele veio para servir e dar a vida para resgate

da multidão. Este é o objetivo primário da nossa vocação ministerial, tal como era

dos «Doze».

45. Santo Agostinho falava do “amoris officium”. É este amor de Pastor que terá de

imbuir toda a nossa vida e ação, como princípio que vem de dentro. Ele é a grande

característica da vida ministerial. Cristo veio dar a vida e eis aqui a chave da total

entrega por amor. Este é o conteúdo essencial da caridade pastoral, um dom de

nós mesmos, tal como Cristo “amou a sua Igreja e entregou-se por ela” (cf. Ef

5,21-30).

46. A caridade pastoral é dom do Espírito. Ela necessariamente nos leva a ser dom à

Igreja, é uma identificação com Cristo Pastor que dá a vida pelas ovelhas. Eis o

essencial do nosso ministério de pastores. A nossa vocação como entrega só pode

sobreviver se for verdadeiramente uma escolha livre, feita por amor, uma doação

que nos leve a ir à frente das ovelhas, por puro espírito de caridade pastoral, com a

renúncia a nós mesmos e a doação de vida ao serviço dos outros.

47. A caridade pastoral ajuda-nos a fazer esta escolha da própria vocação ministerial,

que nunca poderá ser conduzida como quem a arrasta. Sem esta escolha amorosa

da nossa vocação ministerial, cotidianamente renovada, é muito difícil exercer um

ministério como oportunidade e meio de santificação pessoal. A nossa entrega,

resultante da caridade pastoral, é uma entrega sem fronteiras. Não pode limitar-se

somente àqueles serviços que são do nosso agrado. As contrariedades também

fazem parte da missão do Pastor e identificam-no com o mistério de Cristo, morto

e ressuscitado.

48. A caridade pastoral implica amor a Cristo, à Igreja e àqueles que vão no barco a

remar conosco, bem como a todos quantos foram confiados à nossa ação pastoral.

Quando a caridade pastoral perde força e a comunhão começa a desmoronar, o

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nosso ministério poderá estar em risco. Viver a caridade pastoral exige que

estejamos em comunhão hierárquica e nos dediquemos por inteiro ao rebanho que

nos foi confiado. Esta dedicação implica o exercício, a que somos chamados por

Deus, de dirigir, conhecer, guiar, congregar todo o povo de Deus, o que exige de

nós sabedoria para escutar, dialogar, participar e motivar.

49. O mandamento do amor é para todos, pois todos os cristãos têm como única a lei

do amor radicada no Batismo (cf. LG 9). No entanto, o amor, como caridade

pastoral, vem do Sacramento da Ordem. Por isso, se agimos pastoralmente à

margem das exigências do amor, acabamos nos dispersando, sem dar consistência

e solidez a nada. A caridade pastoral concede-nos a graça e o poder para nos

fixarmos no primário e essencial, persistindo (apesar das dificuldades e obstáculos

que inevitavelmente vão surgindo) no exercício do nosso ministério.

50. Se não houver caridade de nada aproveita aquilo que realizamos. O

amadurecimento na caridade pastoral faz da nossa vida ministerial uma verdadeira

ocasião de santificação para nós e para os fiéis a nós confiados. Mas, porque a

caridade pastoral é um dom do Espírito, precisamos buscá-la, acolhê-la e praticá-

la a cada dia. Com ela, vêm-nos os principais frutos do Espírito, principalmente os

primeiros enumerados por São Paulo aos Gálatas (5,22): a caridade, a alegria e a

paz.

51. Sim, os fiéis esperam de nós estes e todos os demais frutos ou obras do Espírito!

Vivendo-os, deixaremos transparecer tão grandes sinais de Deus para aqueles em

cujo meio estamos colocados e ao seu serviço, como guias e educadores da fé.

Embora, no exercício do ministério, por graça a nós confiado, tenhamos muitas

atividades de coordenação e de comando, não o podemos fazer deixando-nos

guiar apenas por critérios do mundo, por mais importantes que venham a ser em

outros ambientes que não a Igreja. Entre nós, disse o Senhor, “não deverá ser

assim” (Mc 10,35-45). Não podemos tratar as pessoas do modo como são tratadas

em outros ambientes, como números ou estatísticas, acolhendo apenas aquelas

com quem nos identificamos e afastando direta ou indiretamente as que nos

incomodam. As pessoas não foram colocadas em nossas vidas para nos servirem,

mas, como seguidores do Cristo Servo, para serem servidas por nós em nome do

Evangelho. Se, no exercício cotidiano da ação evangelizadora, encontramos

dificuldades, maior deve ser nosso empenho na oração pessoal, no acolhimento e

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no anúncio missionário. Da salvação de cada pessoa colocada diante de nós

depende a nossa salvação (1 Cor 9,27). Não precisamos, contudo, do medo da

condenação eterna para sermos pastores ao estilo do Cristo Pastor.

52. Por isso, sempre é bom nos perguntarmos: o meu ministério está sendo exercido

com caridade pastoral, de modo que se vai tornando, cada vez mais, ocasião de

santificação para mim e para os outros? Estou servindo e doando-me ao Povo de

Deus, ou a mim mesmo? Vou entregando a minha vida, no dia a dia, cada vez

com maior generosidade? São três perguntas que deveríamos nos fazer com

frequência, a fim de sondarmos a voz de Deus a respeito do exercício do nosso

ministério como doação de vida.

53. A alegria do serviço ao povo de Deus e a missão evangelizadora comportam

também a preocupação com as questões sociais. E, neste tempo de tantas

dificuldades, somos chamados a olhar com carinho as necessidades dos que

experimentam a angústia e a amargura devido a inúmeros problemas. É mais um

passo que o coração do pastor é sempre chamado a dar. Assim, os exemplos do

Papa Francisco devem não só nos comover, mas nos mobilizar, ainda mais

recordando as “obras de misericórdia” neste ano convocado por ele para

anunciarmos e vivermos a misericórdia.

54. A caridade pastoral se concretiza na caridade social. Na verdade, não se trata de

duas caridades, como se nos fosse possível escolher entre uma e outra. Ao

contrário, a caridade pastoral dá sentido à caridade social e esta é uma das formas

por excelência de concretizar aquela. Se, por um lado, angustiamo-nos com o

crescente número de sofredores, de pobres e solitários, de famintos e

abandonados, de esquecidos e desrespeitados, por outro, devemos sempre nos

perguntar o que estamos realmente fazendo para amenizar cada dor, tendo sempre

o sonho de sanar todas as dores. É verdade que, algumas vezes, os problemas são

maiores do que nós, e a solução total está muito distante do alcance de nossas

mãos. No entanto, o Evangelho nos indica pelo menos dois caminhos para superar

a acomodação e o desânimo. Primeiro, fazer o que pudermos fazer, nunca

deixando de praticar o bem (Gl 6,9). Segundo, unirmos nossas forças para que, no

testemunho da comunhão, encontremos maior eficácia para nossas atividades.

55. A Igreja é casa de Cristo. Por isso, ela é também casa dos sofredores. Já o salmista

dizia que até o pequeno pássaro encontrou na casa de Deus abrigo para seus

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filhotes (Sl 83,4-6) e, por isso, os peregrinos, os migrantes, os refugiados da

guerra, da fome e de tantas outras formas de pobreza e sofrimento precisam

encontrar na Igreja um local de acolhimento misericordioso.

56. Além disso, o dom de si mesmo não tem fronteiras. Ele é marcado pelo mesmo

dinamismo apostólico e missionário de Cristo Bom Pastor, que disse: “Tenho

ainda outras ovelhas que não são deste rebanho. Preciso conduzi-las também, e

ouvirão a minha voz e então haverá um só rebanho e um só pastor” (Jo 10,16). A

dimensão missionária deve estar sempre mais dentro do coração do clero, com

uma constante preocupação de como chegar aos últimos e fazê-los entender o que

o Senhor tem a lhes dizer. A utilização dos vários meios de comunicação deve

também nos ajudar no anúncio da Boa Notícia aos que a buscam, mesmo de

longe.

57. No interior da comunidade eclesial, a caridade pastoral do sacerdote preconiza e

exige de um modo particular e específico o seu relacionamento pessoal com o

presbitério, unido ao bispo, como explicitamente escreve o Concílio Vaticano II:

“a caridade pastoral exige que os presbíteros, para que não corram em vão,

trabalhem sempre em união com os bispos e com os outros irmãos no sacerdócio”

(PO 14c).

Oração

58. Caríssimos irmãos e filhos no Senhor, é com o coração cheio de contentamento

que lhes dirijo esta Carta, na esperança de compartilharmos o entusiasmo pela

santificação e um renovado ardor em nosso clero. Pois a santificação do padre é

uma exigência lógica do seu caráter sacramental e do seu ministério, assim como

uma consequência necessária do seu Batismo.

59. Para isso, o presbítero é chamado a ser sempre um homem de oração, a

interiorizar a Palavra de Deus dentro do contexto em que vive e exerce seu

ministério, para, com humildade e simplicidade, comunicá-la de modo vivo e

concreto ao povo. O ponto culminante seja a Celebração Eucarística diária. A

páscoa da Antiga Aliança recordava a saída dos filhos de Israel do Egito. A

Eucaristia, Páscoa da Nova Aliança, deverá ser o impulso constante do povo de

Deus para a autêntica libertação em Jesus Cristo.

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60. A vida do padre seja simples, austera e pobre, como sempre nos recorda o Papa

Francisco. Apascentar o rebanho de Deus, não forçado mas de boa vontade, como

um irmão entre os irmãos, não por lucro sórdido, mas com prontidão de ânimo,

não como tirano que domina sobre o seu feudo, mas como modelo para o rebanho

(1 Pd 5.2-4). Não dominador da fé do povo (cf. 2Cor 1,24), mas colaborador da

sua alegria e esperança (Rm 12,12)11. Ser discípulo missionário é escutar Jesus

(Lc 9,35), e na missão, optar pelos mais pobres, pelos mais necessitados, (Lc

4,18), na gratuidade (Mt 19,9). Aprendamos que para ser discípulo missionário,

ninguém, seja padre ou diácono, pode caminhar sozinho. Precisamos do apoio

mútuo dos irmãos para enfrentar os problemas e as dificuldades, promover um

encorajamento mútuo e praticar a perseverança em vista do crescimento na fé. A

nossa missão é continuar a missão de Jesus e ser presença do Reino no mundo em

que vivemos (cf. Jo 20,21; Mc 1,22-27).

61. Na coerência do que se prega e do que se pratica, temos que irradiar luzes no

campo bíblico, teológico, ético, litúrgico e pastoral, e testemunhar no campo

social, político, econômico e cultural. Temos que nos exercitar na prática da

escuta, da ação fundada no dialógo, da humildade e da paciência bondosa e terna

no acolhimento ao irmão (cf. Mt 6,34; Mt 11,28-29; At 10,38). Precisamos de

equilíbrio entre contemplação e ação. A atitude orante é um desafio na vida do

diácono, do presbítero e do bispo, também. Simultaneamente, devem ter o seu

tempo de descanso e de estudo, de recolhimento e de oração, para alimentar

sempre mais a caridade pastoral, eixo de sua espiritualidade e de sua vida, que

deve fazer deles autênticos servidores e pastores. Sem esse eixo, temos o perigo

de nos tornarmos semelhantes a servidores quaisquer, simplesmente “funcionários

do sagrado”, só disponíveis nos horários de expediente, ou pior, mercenários. O

funcionário é aquele que despacha de volta as pessoas, avisando que o horário de

atender acabou, ou que é dia de folga, ou não pode visitar uma família enlutada

porque tem outro compromisso. Busquemos sempre o equilíbrio, fundamentado

na verdade.

62. Todo sacerdote deve olhar a figura de Cristo a fim de ser o Bom Pastor para a sua

grei. Quantos exemplos bonitos temos de vários sacerdotes que se doam e se

consomem, como uma vela no altar, pelo povo de Deus! Aqui recordo tantos que

11 Cf. REB 246, abril (2002), pp. 305-306.

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até o fim serviram generosamente nesta Arquidiocese. Por essa razão, eu não

posso deixar de agradecer o trabalho silencioso, muitas vezes incompreendido, de

todos os sacerdotes de nossa amada Igreja Particular. Quantos dos nossos

sacerdotes são mal compreendidos e por vezes até caluniados! Peço, como irmão e

pastor, que as comunidades sejam incentivadas a rezar por cada sacerdote e ajudá-

lo, pois o sacerdote é aquele que traz a Eucaristia, e sem sacerdote não temos este

grande Sacramento.

63. Saibam que todos e cada um dos meus presbíteros e diáconos são lembrados na

minha oração cotidiana, na totalidade de suas vidas e, principalmente, nas

aflições, incompreensões e fadigas. Em minhas visitas às paróquias, admiro o zelo

pastoral e a luta de todos pela missão. Sinto-me próximo de cada um, embora nem

sempre possa estar em todos os lugares. Louvo e bendigo a Deus por cada padre

em sua bela e importante missão e pelos diversos trabalhos dos diáconos, em

tantos âmbitos de nossa Arquidiocese. Desejo que tenham neste seu servo um

porto seguro sempre pronto a atendê-los, a escutá-los, sem descanso, grato pela

bonita e fecunda missão que vocês desempenham em favor da edificação do

Reino de Cristo entre nós!

64. Carinhosamente, agradeço aos bispos auxiliares que, compartilhando comigo a

plenitude do sacerdócio, são irmãos, amigos e companheiros na missão. Com eles,

eu me alegro, partilho as preocupações e busco soluções para os desafios

evangelizadores em nossa Arquidiocese. Na diversidade dos carismas, desejamos

– e estou certo de que conseguimos – construir e fortalecer a unidade entre nós,

nela incluindo os bispos auxiliares eméritos. Deles muito eu aprendo a cada dia, e

também de cada padre e de cada diácono, a melhor servir àquele Senhor que, na

mais profunda gratuidade, um dia me vocacionou e incessantemente me fortalece.

65. Que a comunidade reze pelas vocações e por todos os sacerdotes, para que tenham

perseverança e amor ao ministério que o Senhor depositou em nós. Somos vasos

de barro contendo algo mais valioso do que todo o ouro e a prata deste mundo,

que é levar a esperança, o amor e ainda o próprio Cristo para o outro.

66. Por tudo isso temos que nos alegrar. O ministério sacerdotal significa o primado

da ação de Jesus Cabeça e Mediador, exercido na Igreja por meio do seu Espírito.

A nossa missão é uma só: continuar a missão de Jesus como presença do Reino no

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mundo em que vivemos (cf. Jo 20,21; Mc 1,22-27). Portanto, meus irmãos, somos

chamados a nunca perder a esperança, mas, pelo contrário, ser promotores desta

esperança, que é o próprio Senhor ressuscitado, habitando em nosso meio.

67. Maria é o apoio da nossa oração, pois seu Fiat ecoa para todos os seus filhos.

Chega a cada um dos vocacionados, impulsionando-os a servirem o Senhor, como

seus sacerdotes. Por isso, “rogai ao Senhor da messe”, disse Jesus (Mt 9,38).

Obedecendo, rezemos com insistente confiança. Peçamos que o Divino Mestre

nos abra a mente e o coração para entendermos e amarmos devotamente o

apostolado de nossos padres e diáconos.

68. Que Maria, ícone da misericórdia de Deus, interceda por nós junto da Santíssima

Trindade! Maria Santíssima, junto com o Papa Francisco, lhe pedimos: “Nunca se

canse de volver para nós os seus olhos misericordiosos e nos faça dignos de

contemplar o rosto da misericórdia, seu Filho Jesus” (MV 24).

69. Convido todos a fazerem esta oração pelos sacerdotes e pelos diáconos de nossa

Arquidiocese e rezem sempre por nós:

Senhor Jesus,

Presente no Santíssimo Sacramento do Altar, que vos quisestes

perpetuar entre nós por meio de vossos sacerdotes,

Fazei com que suas palavras sejam somente as vossas,

Que seus gestos sejam os vossos,

Que sua vida seja o fiel reflexo da vossa.

Que eles sejam os homens que falem a Deus dos homens

e falem aos homens de Deus.

Que sejam testemunhas do eterno em nosso tempo,

caminhando pelas estradas da história com vosso passo

e fazendo o bem a todos.

Que sejam fiéis aos seus compromissos, zelosos de sua vocação

e de sua entrega, claros reflexos da própria identidade

iluminada por Vós, e que vivam com muita alegria o dom

recebido.

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Que os diáconos não tenham medo de servir, mas que sejam

sempre fiéis ao ministério do serviço e da caridade, segundo o

que a Igreja deles espera.

Tudo isso vos pedimos pela intercessão de vossa Mãe

Santíssima: ela que esteve presente em vossa vida, esteja

sempre presente na vida daqueles que colaboram conosco no

pastoreio do povo que nos confiaste.

Amém.

70. De minha parte, como Pastor e Pai desta querida Igreja de São Sebastião do Rio

de Janeiro, a todos os que receberem com fé e boa vontade estas minhas palavras,

abençoo de coração, invocando sobre cada um as melhores graças de Deus, na

vivência da Páscoa que se aproxima.

São Sebastião do Rio de Janeiro, 24 de março de 2016,

Solenidade da Instituição do Ministério Ordenado e da Eucaristia.

Orani João Cardeal Tempesta, O.Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro