carpeaux - o livro de ouro da história da música: da idade média ao século xx

200
7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 1/200 Otto Maria CARPEAUX 2001 [1958] O Livro de Ouro da História da Música: da idade média ao século XX . Rio de Janeiro: Ediouro. ( a . Edi!"o# C  APÍTULO  1  As Origens brindo qualquer história da música, o leitor encontrará alguns ca!tulos introdutórios sobre a arte musical dos chineses, dos indianos, dos o"os do Oriente antigo# deois, discuss$es mais ou menos ormenori%adas sobre a teoria e os &ragmentos e'istentes da antiga música grega# en&im, descri()o laboriosa do desen"ol"imento da oli&onia "ocal, at* seu aer&ei(oamento no s*culo +-. A /ada ou muito ouco de tudo aquilo constará do resente ca!tulo. Con&orme os conceitos e'ostos na 0'lica()o Pr*"ia deste li"ro, n)o nos ocuará a música dos orientais nem a dos gregos antigos. Por outro lado, a e'osi()o das origens da nossa música &icará redu%ida a oucas obser"a($es introdutórias. Pois nosso assunto só * a música que "i"e hoe. /ossa literatura, nossas artes lásticas, nossa &iloso&ia seriam incomreens!"eis sem o conhecimento dos seus &undamentos greco2romanos. 3as n)o acontece o mesmo com a nossa música. 0sse roduto aut4nomo da ci"ili%a()o ocidental moderna n)o tem suas origens na Antig5idade que se costuma chamar clássica. 6uando muito, alguns germes da e"olu()o osterior &icam escondidos num outro &en4meno musical, 7 maneira de documentos seultados nos &undamentos de uma catedral ou uma constru()o multissecular. 0sse &en4meno, de imort8ncia realmente &undamental, * o coral gregoriano, o cantoch)o, o canto litúrgico da grea 9omana 1 . :em dú"ida, escondem2se nas melodias do cantoch)o &ragmentos dos hinos cantados nos temlos gregos e dos salmos que acomanha"am o culto no temlo de ;erusal*m. /)o odemos, or*m, areciar a roor()o em que esses elementos entraram no cantoch)o. Tamouco nos auda, ara tanto, o estudo das liturgias que recederam a re&orma do canto eclesiástico elo aa <regório # das liturgias da grea oriental# da liturgia galicana, á desaarecida# da liturgia ambrosiana, que se canta at* hoe na arquidiocese de 3il)o# e da liturgia "isigótica ou mo%árabe que, or ri"il*gio esecial, sobre"i"e em algumas igreas da cidade de Toledo. A única música litúrgica católica que conta ara o Ocidente * o coral gregoriano, a liturgia 7 qual <regório , o <rande =>?@ B@D, concedeu es*cie de monoólio na grea 9omana i . O coral gregoriano n)o * obra do grande aa. A atribui()o a ele só data de EFG =;ohannes HiaconusD. 0nt)o, o que se canta"a na :chola Cantorum de 9oma á n)o era e'atamente o mesmo como no &im do s*culo -. O cantoch)o so&reu, durante os muitos s*culos de sua e'istIncia, numerosas modi&ica($es, quase semre ara o ior. Aos monges do mosteiro de :olesmes e a outros benem*ritos da Ordem de :)o Jento de"e2 se, or*m, em nosso temo, o restabelecimento dos te'tos originais. :)o estas as 1  P. Kagner, Einfuehrurgindie Gregorianischen Melodien, G "ols., reiburg, 1?111?M1. ;. P. :chmit, Geschichte des Gregorianischen Choralgesanges, Trier, 1?>M.

Upload: hg-erik

Post on 02-Mar-2018

257 views

Category:

Documents


3 download

TRANSCRIPT

Page 1: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 1/200

Otto Maria CARPEAUX

2001 [1958] O Livro de Ouro da História da Música: da idade média ao

século XX . Rio de Janeiro: Ediouro. (a. Edi!"o#

C APÍTULO  1

 As Origens

brindo qualquer história da música, o leitor encontrará alguns ca!tulosintrodutórios sobre a arte musical dos chineses, dos indianos, dos o"os do

Oriente antigo# deois, discuss$es mais ou menos ormenori%adas sobre a teoria e os&ragmentos e'istentes da antiga música grega# en&im, descri()o laboriosa dodesen"ol"imento da oli&onia "ocal, at* seu aer&ei(oamento no s*culo +-.

A

/ada ou muito ouco de tudo aquilo constará do resente ca!tulo. Con&orme osconceitos e'ostos na 0'lica()o Pr*"ia deste li"ro, n)o nos ocuará a música dosorientais nem a dos gregos antigos. Por outro lado, a e'osi()o das origens da nossamúsica &icará redu%ida a oucas obser"a($es introdutórias. Pois nosso assunto só * amúsica que "i"e hoe.

/ossa literatura, nossas artes lásticas, nossa &iloso&ia seriam incomreens!"eis semo conhecimento dos seus &undamentos greco2romanos. 3as n)o acontece o mesmocom a nossa música. 0sse roduto aut4nomo da ci"ili%a()o ocidental moderna n)o temsuas origens na Antig5idade que se costuma chamar clássica. 6uando muito, algunsgermes da e"olu()o osterior &icam escondidos num outro &en4meno musical, 7 maneirade documentos seultados nos &undamentos de uma catedral ou uma constru()omultissecular. 0sse &en4meno, de imort8ncia realmente &undamental, * o coralgregoriano, o cantoch)o, o canto litúrgico da grea 9omana1.

:em dú"ida, escondem2se nas melodias do cantoch)o &ragmentos dos hinos cantadosnos temlos gregos e dos salmos que acomanha"am o culto no temlo de ;erusal*m./)o odemos, or*m, areciar a roor()o em que esses elementos entraram nocantoch)o. Tamouco nos auda, ara tanto, o estudo das liturgias que recederam are&orma do canto eclesiástico elo aa <regório # das liturgias da grea oriental# daliturgia galicana, á desaarecida# da liturgia ambrosiana, que se canta at* hoe naarquidiocese de 3il)o# e da liturgia "isigótica ou mo%árabe que, or ri"il*gio esecial,sobre"i"e em algumas igreas da cidade de Toledo. A única música litúrgica católica queconta ara o Ocidente * o coral gregoriano, a liturgia 7 qual <regório , o <rande =>?@B@D, concedeu es*cie de monoólio na grea 9omanai.

O coral gregoriano n)o * obra do grande aa. A atribui()o a ele só data de EFG=;ohannes HiaconusD. 0nt)o, o que se canta"a na :chola Cantorum de 9oma á n)o erae'atamente o mesmo como no &im do s*culo -. O cantoch)o so&reu, durante os muitoss*culos de sua e'istIncia, numerosas modi&ica($es, quase semre ara o ior. Aosmonges do mosteiro de :olesmes e a outros benem*ritos da Ordem de :)o Jento de"e2se, or*m, em nosso temo, o restabelecimento dos te'tos originais. :)o estas as

1 P. Kagner, Einfuehrurgindie Gregorianischen Melodien, G "ols., reiburg, 1?111?M1. ;. P.:chmit, Geschichte des Gregorianischen Choralgesanges, Trier, 1?>M.

Page 2: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 2/200

melodias litúrgicas que se cantam, diariamente, em :olesmes e em Jeuron, em 3ariaLaach e em Cler"eau' e em todos os con"entos beneditinos do -elho 3undo e do /o"o#e se cantar)o, eseramos, at* a consuma()o dos s*culos. N a mais antiga música ainda

em uso. As qualidades caracter!sticas do coral gregoriano s)o a inesgotá"el rique%a melódica,o ritmo uramente rosódico, subordinado ao te'to, disensando a seara()o doscomassos elo risco, e a rigorosa homo&onia o cantoch)o, or mais numeroso que seao coro que o e'ecuta, semre * cantado em un!ssono, a uma "o%. /ossa música, or*m,* muito menos rica em mat*ria melódica# rocede rigorosamente con&orme o ritmorescrito# e, a n)o ser a música mais simles ara uso oular ou das crian(as, semrese caracteri%a ela di"ersidade das "o%es, seam linhas melódicas oli&onicamentecoordenadas, seam acordes que acomanham uma "o% rincial. /ossa música *, emtodos os seus elementos, &undamentalmente di&erente do cantoch)o, que areceertencer a um outro mundo. 9ealmente ertence, histórica como teologicamente, a umoutro mundo * a música dos c*us e de um assado imensamente remoto.

Outra &or(a sub"ersi"aQ &oi a resen(a da música ro&ana a oesia l!rica aristocrática

dos troubadours, cantada nos castelos, e a oesia l!rica oular, cantada nas aldeias.Uma can()o oular inglesa, guardada num manuscrito do come(o do s*culo +, oCuckoo-Song =Sumer is icumen in...D, * um c8none a seis "o%es, isto *, as seis "o%esentram sucessi"amente, 7 dist8ncia de oucos comassos, com a mesma melodia.0"identemente ha"ia mais outras can($es assim ao cantoch)o gregoriano,rigorosamente homó&ono, o$e o o"o a oli&onia# e esta entrará nas igreas. Aquelec8none *, n)o or acaso, uma can()o de "er)o. Assim como nos c*lebres murais doCamo :anto de Pisa os eremitas e ascetas saem dos seus cub!culos ara resirar umar di&erente, assim come(a tamb*m na música contemor8nea o "er)o da alta dade3*diaii.

0ssa música &oi, mais tarde, chamada de ars antiqua. 3as antigaQ ela só * emrela()o a outra, osterior a ars nova. /o s*culo +, ars antiqua era no"a# * a arte queertence 7 chamada 9enascen(a do s*culo +Q, &lorescimento das cidades e

constru()o das catedrais, "ida no"a nas uni"ersidades, tradu()o de Aristóteles e deescritos árabes ara o latim e elabora()o da grande s!ntese &ilosó&ica de santo Tomásde Aquino.

Rou"e, dentro do coral gregoriano, o germe de uma e"olu()o a contradi()o entre aobriga()o de acomanhar &ielmente o te'to litúrgico, 7 maneira de recitati"o, e, or outrolado, a resen(a de t)o rica mat*ria melódica, os melismasQ que se estendemlongamente quase como coloraturas, sem considera()o do "alor da ala"ra. 0ssacontradi()o le"aria 7 di"is)o das "o%es uma, recitando o te'to# outra, ornando2omelodicamente. :)o essas as origens das rimeiras tentati"as de música oli&4nica, doOrganum e do Discantus, detidamente estudados e descritos elos historiadores# masn)o nos reocuar)o.

Os rimeiros te'tos da ars antiqua &oram encontrados na biblioteca da igrea de :aint23artial, em Limoges. 3as o desen"ol"imento dessa no"a arte reali%ou2se na :chola

Cantorum da catedral de /otre2Hame de Paris. 9egistra2se a ati"idade de um magister  Leoninus. 3as o grande nome da ars antiqua * seu disc!ulo e sucessor na dire()odaquela escola arisiense or "olta de 1M@@, o magister  P09OT/U:# na história danossa música, * o rimeiro comositor que sai da obscuridade do anonimato. -áriasobras de Perotinus encontram2se no manuscrito R1?B da biblioteca da aculdade de3edicina de 3ontellier e no Antihonarium de 3ediceum da Jiblioteca Lauren%iana em

Page 3: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 3/200

loren(a. :)o obras de uma oli&onia rudimentar, blocos sonoros rudes como as edrasnas &achadas rom8nicas de catedrais que mais tardes &oram continuadas em estilogótico. A imress)o ode ser descrita como maestosamente ocaQ. A liga()o rigorosa da

segunda "o% 7 melodia gregoriana n)o ermite a di"ersidade r!tmica. Algumas dessase(as curtas, Quis tibi Christe e Sederunt !rinci!es, &orma modernamente gra"adas emdiscosiii.

O imobilismoQ da ars antiqua e'lica2se insu&iciIncia do sistema de nota()o, atribu!doao monge <uido =ou <uittoneD de Are%%o todas as notas tinham o mesmo "alor, amesma dura()o, sem ossibilidade de distinguir bre"es e longas. O rimeiro granderogresso da ars nova, dos s*culos + e +-, * o sistema mensural, que á se arececom o nosso sistema de nota()o ermite distinguir notas longas e menos longas#bre"es e mais bre"es# ermitiu maior e, en&im, in&inita di"ersidade do mo"imentomelódico nas di&erentes "o%es. N um rogresso que lembra as descobertas, naquelamesma *oca, da ciIncia matemática, elas quais s)o resonsá"eis eruditos comoOresmius e outros grandes reresentantes do nominalismo, dessa última e á meioher*tica &orma da &iloso&ia escolástica.

 A ars nova n)o *, simlesmente, o equi"alente do estilo gótico na arquitetura.Precisa"a2se de s*culos ara construir as grandes catedrais. 6uando esta"am rontas=ou quando as constru($es &oram, incomletas, abandonadasD, á tinha mudado muito oestilo de ensar e o estilo de construir. A ars nova á corresonde 7 elabora()o cada "e%mais sutil do ensamento &ilosó&ico e das &ormas góticas. Os grandes teóricos da arsnova, o biso Philius de -itrS e os outros, elaboram com recis)o matemática asregras da arte de coordenar "árias "o%es di&erentes sem &erir as e'igIncias do ou"idoor disson8ncias mais áseras. :)o as regras do contraonto.

0is a teoria. /a rática da ars nova in&luiu muito a música ro&ana, inclusi"e a italianado "recento, de interesse histórico, mas sem ossibilidades de ser hoe re"i"i&icada. Ogrande comositor da ars nova * <uillaume de 3ACRAUT =c. 1G1@1GFFD, que &oidignitário eclesiástico em -erdun e 9eims, en&im na corte do rei Charles - da ran(a.:eu nome só &igura"a, durante s*culos, na história literária da ran(a, como oeta

&ecundo, autor de ballades, rondeau#  e outras e(as ro&anas. 3achaut tamb*mescre"eu ara essas oesias a música a trIs ou quatro "o%es, da mesma maneira e nomesmo estilo em que escre"eu motetos ara trIs ou quatro "o%es sobre te'tos litúrgicos.Uma obra de "ulto e imort8ncia * sua Messe du Sacre, escrita em 1GBF ara acoroa()o daquele rei na catedral de 9eims. N uma data histórica. 3achaut &oi, arece, orimeiro que escolheu cinco artes &i'as do te'to da missa ara 42las em música $%rie,Gloria, Credo, Sanctus =com &enedictusD e 'gnus Dei . Criou, dessa maneira, umesquema, uma &orma musical de que os comositores se ser"ir)o, durante s*culos, coma mesma assiduidade com que os músicos do s*culo ++ escre"er)o sin&onias equartetos. A missa, naquele sentido musical, * a rimeira grande cria()o da músicaocidental, e a Messe du Sacre de 3achaut * o rimeiro e'emlo do gInero. N a obrae'emlar da ars nova, emregando as regras comlicadas da arte contraont!stica, seme"itar, or*m, certas discord8ncias sonoras que nos arecem, hoe, arcaicas ou ent)o

estranhamente modernas. N uma arte medie"al, na qual se descobrem, or*m, osgermes da arte renascentista * uma música que será aut4noma. N o come(o do ciclo decria()o que em nossos dias acaba i".

Page 4: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 4/200

C APÍTULO  M

 A Polifonia Vocal O OUTO/O  HA   HAH0  3NHA

 rimeira grande *oca da música ocidental, a da oli&onia "ocal, costuma serchamada medie"alQ. 3as esse adeti"o n)o * e'ato. 3edie"al * a ars antiqua.

3edie"al * a ars nova. 3as as obras &undamentais sobre aquela grande *oca1 tratamtamb*m e sobretudo de ;osquin des Prs e de Orlandus Lassus, de Palestrina, -ictoriae dos dois <abrieli, um ouco indistintamente toda a música dos s*culos +- e +- *chamada, desde os come(os da historiogra&ia musical na *oca do romantismo, demúsica antigaQ, em rela()o 7 no"aQ, isto *, desde o in!cio do s*culo +-. /essaersecti"a con&undem2se a dade 3*dia, a 9enascen(a e arte do Jarroco. 3as, na

"erdade, a dade 3*dia roriamente dita á n)o &a% arte da grande *oca na qualredomina a oli&onia "ocal.

A

6uanto 7 rimeira &ase dessa *oca se costuma &alar em mestres &lamengosQ. Oadeti"o signi&ica menos uma na()o do que determinado esa(o geográ&ico de Paris aHion, atra"*s de 9eims e Cambrai e 3ons at* Jru'elas, Jruges e Antu*ria, quer di%er,a J*lgica e o norte da ran(a. 9egi)o na qual se &ala"a, ent)o, o &lamengo e o &rancIs,aquela l!ngua mais no norte e ara o uso cotidiano, esta mais ara os &ins sueriores dasociedade e da arte. N o esa(o ent)o ocuado elo ducado de Jorgonha, que duranteo s*culo +- * a regi)o mais altamente ci"ili%ada ao norte dos Ales. :ó no &im dos*culo, a Jorgonha será desmembrada, &icando arte com a ran(a, enquanto a outraarte &ormará os Pa!ses2Jai'os austr!aco2esanhóis.

 A música da Jorgonha no s*culo +- corresonde 7 intura dos -an 0Sc, 9oger "ander KeSden, Rugo "an der <oes e 3emling# 7 oesia de 0ustache Heschams e -illon#

7 arquitetura flambo%ante, último roduto do es!rito gótico á em decomosi()o. N a*oca 7 qual o grande historiador holandIs ;an Rui%inga deu o aelido inesquec!"el deoutono da dade 3*diaQ.

N uma ci"ili%a()o caracteri%ada elas requintadas &ormas de "ida de uma corte, a daJorgonha, na qual o &eudalismo á erdeu sua &un()o ol!tica, social e militar,&ornecendo aenas regras de ogo como num grande esetáculo itoresco. O &undo *menos requintado a grosseria oular in"ade os costumes aristocráticos# na arte, elaaarece como es*cie de &olclore sabiamente estili%ado, na oesia de -illon. Oscostumes s)o brutais. 3as or esses ecadores re%am e cantam os monges e asbeguinas, "o%es da angústia religiosa de uma *oca de agonia esiritual.

 As &ormas musicais dessa ci"ili%a()o s)o a missa e o motete cantados, a caela, isto*, sem acomanhamento instrumental. Parecem2se com as constru($es do góticoflambo%ant , os a(os municiais de Lou"ain e Audenarde, &eitos como de rendas de

edra arabescos e ornamentos in&initamente comle'os. A ciIncia contraont!stica dosmestres &lamengosQ constrói catedrais sonoras, de comle'idade sem ar em qualquer

1 K. Ambros, Geschichte der Musik , G "ols., Jreslau, 1EBM1EEM. =/o"a edi()o, comletada or R.Leichtentritt, Lei%ig, 1?@?.D R. Jesseler, Die Musik des Mittelalters und der (enaissance,Potsdam, 1EME. A. Pirro, )istoire de la musique de la fin de *+, oe. sicle la fun du *, e. sicle,Paris, 1?@.

Page 5: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 5/200

*oca osterior. A escritura * rigorosamente linearQ, hori%ontalQ, isto *, as "o%esrocedem com indeendIncia =enquanto na música modernaQ se sucedem acordes,colunas "erticaisQ de sonsD. N essa indeendIncia das "o%es que, quando coincidem

eu&onicamente, rodu% a imress)o de coros ang*licos. 3as como temas musicais, qued)o os nomes 7s missas dos comositores, ser"em can($es oulares da *oca/0homme arm1, Malheur me bat , 2ortuna des!erata..., Se la face... can($es eróticas eat* obscenas. 0sse oulismoQ n)o ilude. /)o se trata de arte oular. /as cidades&lamengas e &rancesas está em lena decomosi()o o cororati"ismo medie"al. Osmestres &lamengosQ n)o s)o artes)os. :)o cientistas da música, e'ercendo uma arteque só o músico ro&issional * caa% de e'ecutar e comreender. As incr!"eis artescontraont!sticas de escre"er em at* GB e mais "o%es indeendentes, de in"ers)o erein"ers)o de temas, em escritura de eselhoQ, em asso de carangueoQ, nem semrearecem destinadas ao ou"ido# a comle'idade da constru()o só se re"ela na leitura. Nmúsica que menos se dirige aos sensos do que 7 inteligIncia. N arte abstrata.

O mar que banha aquela regi)o &ranco2&lamenga * o canal da 3ancha. Ho outro ladoda 3ancha, do a!s do c8none Sumer is icumen in, "eio o rimeiro grande

contraontista, o inglIs ;ohn Hunstable =c. 1GF@1G>D, ao qual á se atribui maiorliberdade de in"en()o que aos mestres da ars nova# que os leitores ulguem con&ormeseu motete Quam !ulcra es, que &oi gra"ado em disco". Hunstable este"e esquecidodurante s*culos. 3as em seu temo assa"a or comositor de grande categoria emestre dos mestres &lamengosQ. O rimeiro "erdadeiro &lamengoQ * <uillaume Hu&aS =c.1@@1FD1, natural de ChimaS, que este"e na tália como membro da caela aal#sua música corresonde, ao norte dos Ales, 7 9enascen(a do Quattrocento italiano. Ncontemor8neo de -an 0Sc# e certas obras recentemente reeditadas, como a missa Sela face, seriam V ode2se imaginar V a música que os anos cantam na arte sueriordo altar dos -an 0Sc, na catedral de :t. Ja"o em <ent. 3as * uma ilus)o. Aquelesquadros ainda hoe tIm o mesmo brilho de cores como no temo em que &oramintados# sua imort8ncia n)o * só histórica, orque s)o de uma in&inita rique%aesiritual. A música de Hu&aS * mais ricaQ só em comara()o com a de seusredecessores# mas dá a imress)o de estranho, 7s "e%es de bi%arrro. O mestre ádomina as regras todas# ainda n)o sabe aro"eitá2las ara comunicar2nos sua emo()oreligiosa# ou ent)o, nós á n)o sabemos areciar2lhe os modos de e'ress)o"i.

O mestre de todos os &lamengosQ osteriores &oi ;ohannes OCW0<R03 =1G@1?>DM, maestro da caela da catedral de Antu*ria e, deois, na corte do rei da ran(a.Parece ter sido um grande ro&essor# deois da sua morte, todos os músicos emosi($es de resonsabilidade, na J*lgica, ran(a e tália, dedicaram elegias 7 suamemória# &amosa * a D1!loration d0Ockeguem, de ;osquin Hes Prs. 0logiaram2lhe,sobretudo a Missa cuiusvis toni , que ode ser transosta ara todas as tonalidades, e omotete Deo gratias, ara nada menos que GB "o%es. oi um mestre de arti&!cios eruditos,de irregularidades ineseradas, de solu($es no"as. :ua música nos imressiona comosendo ainda mais arcaica que a dos Hunstable e Hu&aS, dir2se2ia mais gótica# a&inal, &oiele que regia o coro naquele milagre de arquitetura gótica que * a :aint2Chaelle emParis"ii.

Chegamos a sentir mais "i"amente com a arte de ;aob Obrecht =c. 1G@1>@>D,regente de coro na catedral de Utrecht e, deois, na corte do duque 0rcole dX0ste, em

1 Ch. ". d. Jorren, Guillaume Dufa% , Jru'elas, 1?M>.M L. de Jurbute, 3an Ockeghem, Antu*ria, 1E>G. 3. Jrenet, Musique et musiciens de la vielle2rance, Paris 1?11. ;. Plamenac, 3ean Ockeghem, Paris 1?M>.

Page 6: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 6/200

errara. :ua missa 2ortuna des!erata * obra que realmente lembra os -an 0Sc# 7arquitetura em torno do altar corresonderia seu gigantesco motete Salve cru4 arborvitae, uma catedral sonora em gótico flambo%ant "iii. 3as n)o con"*m e'agerar. Toda

essa música dos Hu&aS, Oceghem, Obrecht só tem interesse histórico. /)o oderá sere"i"i&icada. O rimeiro mestre ainda "i"oQ da história da música ocidental * ;osquin.

;osquin H0: P9Y: =c. 1>@1>M1D1 *, na música, o reresentante do Quattrocento. Ahistoriogra&ia rom8ntica, con&undindo as di"ersas &ases da 9enascen(a, gosta"a decomará2lo a 9a&aelo, a Andr*a del :arto, a Correggio, comara($es que se encontramem escritos musicológicos da rimeira metade do s*culo ++, em *tis e em Ambros.3as ;osquin n)o tem nada de italiano# sua 9enascen(a * nórdica, a das cidades delandres, <ent, Jruges# regi)o de t)o intensa "ida est*tica como a loren(a e a -ene%ado Quattrocento, mas insirada or mais ro&unda religiosidade. A roósito da 'veMaria de ;osquin, a quatro "o%es, n)o nos ocorrem 9a&aelo nem Correggio, mas as"irgens humildes e secretamente e'táticas de 3emling# o De 5rofundis e o sombrio eincomara"elmente oderosos Grande Miserere nos lembram os anos retos que, nosquadros de 9oger "an der KeSden, "oam como grandes a"es da morte em torno da cru%

erigida em <ólgota. /o entanto, ;osquin este"e na tália# mas n)o ara arender e, sim,ara ensinar. Ali, assim como na ran(a, &oi chamado de 5rince!s musicae# suaosi()o, no &im do s*culo +-, arece ter sido a de Jeetho"en em nosso temo. 3ascomara($es dessas nunca se re&erem ao estilo nem sequer ao "alor. Pois este últimon)o nos * comletamente acess!"el. 0ssa música, com suas requintad!ssimas artescontraont!sticas, com seus arti&!cios audaciosos na in"ers)o e imita()o das "o%es oroutras "o%es, com as suas comle'idades que n)o odem ser ou"idas, mas que só seercebem na leitura, essa música nos * ermanentemente estranha. ;á se a"enturaramhiótese de que arte dessas obras n)o estaria destinada 7 e'ecu()o, mas ao ensino#ou ent)o, de que só oderiam ser e'ecutadas com acomanhamento do órg)o, orquesem isso, os coros &icariam desorientados, caindo na con&us)o. Podemos admirarin&initamente obras como a comlicad!ssima missa /0)omme arm1, o salmo +n e#itu+srael , os grandiosos motetes 5raeter rerum seriem =seis "o%esD, )ic in sidereo e Quihabitat in ad6ut7rio =M "o%esD, que arecem di%er de um outro mundo, ine&á"el. 3asara a nossa "ida musical, na igrea ou na sala de concertos, só oucas obras de;osquin ainda tIm atualidade aqueles De 5rofundis e 've Maria# a missa 5ange lingua,ro"a"elmente a obra2rima de ;osquin, de bele%a ang*lica# a gloriosa missa 8nemusique de &isca%e á ressucitada em disco =9enaissance Chorus de /o"a orqueD# e osereno Stabat Mater  =cinco "o%esD, que está de&initi"amente reincororado ao reertóriodas grandes associa($es corais. :)o obras de comle'idade algo menor, que os corosmodernos odem e'ecutar em uro estilo a caela, isto *, sem qualquer aoio de "o%eshumanas or instrumentos# e que re"ela melhor o elemento no"o da arte de ;osquin suamúsica comunica emo()o religiosa, tal"e% á um ouco subeti"a. 3as n)o e'ageremos.O comositor n)o ode nem retende e'rimir musicalmente o conteúdo todo dasala"ras litúrgicas# ois as muitas "o%es cantam, ao mesmo temo, te'tos di&erentes,dos quais um * quase semre ro&ano# e todas as ala"ras &icam incomreens!"eis,como de"oradas elas colossais ondas sonoras. /a "erdade, as ala"ras n)o signi&icam

nada ara o comositor# s)o aenas o &undamento da arquitetura, constru!da com "o%eshumanas. N arte abstrata i'.

3uitos outros &lamengosQ oder2se2iam citar, entre os contemor8neos e sucessores

1 0di()o das obras comletas or A. :miers, 1?M1 e seguintes. . de 3*nil, 3osquin Des 5rs,Paris 1E??. A. :chering, Die niederlaendische Orgelmesse im 9eitalter des 3osquin Des 5rs,Lei%ig, 1?1M. O. Ursrung, ;osquin Hes PrsQ, in &ulletin de l08nion Musicologique, 1?MB.

Page 7: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 7/200

de ;osquin# e"in, La 9ue, <ombert, Clemens non aa, -aet, Rollander. 3as n)oadiantaria. ora do c!rculo limitado dos musicólogos, s)o aenas nomes. Pelo menos,n)o será esquecido o do inglIs Thomas Tallis =c. 1>@>1>E>D, comositor insular que

ainda culti"a o estilo de ;osquin quando á o tinham abandonado no continente euroeu.3as á s)o alestrinianas suas imonentes /amentationes 3eremiae. :eu motete S!emin alium e o Miserere =@ "o%esD s)o imensas constru($es góticas, edras de toque, at*hoe, ara a arte de cantar a caela dos coros ingleses'.

90/A:C0/ZA 0  90O93A

9enascen(a e 9e&orma s)o mo"imentos antag4nicos, na música assim como osoutros setores da "ida. /)o * oss!"el de&ini2los em termos musicais, orque o no"os*culo n)o signi&ica, or enquanto, mudan(a de estilo continua2se a escre"er em estilo&lamengoQ# mas o centro desloca2se ara outras regi$es, a ran(a, a Alemanha, a tália,a nglaterra. Tamb*m se nota uma di&eren(a de nature%a social nos a!ses quecontinuam &i*is 7 &* romana, a música sai, mais que antes, do recinto das igreas ara

encher a "ida da sociedade aristocrática# nos a!ses que aderem 7 9e&orma, a músicaretira2se, rincialmente, ara a igrea, adatando2se 7s &ormas mais simles dade"o()o do o"o.

 A regi)o &ranco2&lamenga &oi o &oco de irradia()o da música renascentista ara ondeha"ia sociedades aristocráticas que continua"am &i*is ao credo de 9oma, como na

 Alemanha do :ul e na tália# ou ent)o, sociedade que escolheu uma via media entre a"elha &* e os rigores do cal"inismo, como na nglaterra elisabetiana. 3as os rimeirosortadores dessa no"a mensagem musical ainda s)o os &lamengosQ.

O rimeiro grande nome * Philie de 3O/T0 =1>M11B@GD, natural de 3echelen=3alinesD, que trabalhou na tália, ara tornar2se deois regente da caela do imeradoralem)o 9odol&o em Praga. :ua obra imensa * hoe um dos obetos re&eridos dosestudiosos da musicologia, mas sem ter sa!do desse c!rculo estreito# hou"eoortunidade de ou"ir sua bela missa +nclina cor meum.

O lugar que hoe se retende conceder a 3onte ertence, tradicionalmente, e comra%)o, a Orlandus LA::U: =9oland de LattreD =c. 1>G@1>?D1 natural de 3ons, regentede coros na ran(a e na tália# de 1>B@ at* sua morte, regente da caela da corte de3unique, centro do catolicismo romano na Alemanha do :ul. :eu uni"ersalismo lembraos grandes gInios da 9enascen(a, os Leonardo, os 3iguel [ngelo. :abe dirigir asmassas sonoras como se &osse um Randel da *oca do canto a caela. Assim comoRandel, Lassus * cosmoolita * &lamengo, &rancIs, italiano e alem)o ao mesmo temo.O es!rito e a t*cnica da música contraont!stica &lamenga s)o incon&und!"eis emgrande arte dos seus inúmeros motetes o Salve (egina =quatro "o%esD e o 5ater:oster em f; maior , que ertencem ao reertório das associa($es corais# o motete"imor et "remor , que ainda continua sendo cantado no Homingo de Páscoa nas igreasde 3unique e -iena# os Magnificats, o motete 3ustorum animae e o mais &amoso detodos, Gustate e videte, do qual conta a lenda &oi escrito em 3unique, ara rociss)o

que ediu chu"as deois de longo er!odo de seca# e como"eu de tal maneira do c*u

1 0di()o das obras comletas or . +. Raberl e A. :andberger, B@ "ols., 1E? e seguintes. A.:andberger, &eitrage 4ur Geschichte der Muencher )fka!elle unter Orlando /assus, M. "ols.,3unique, 1E?1E?>. Ch. "an den Jorren, Orlandus /assus, Paris, 1?M@. A. :andberger, Orlando/assus und die geistigen Stroemungen seiner 9eit , 3unique, 1?MB. 0. :chmidt, Orlando di /asso,Ma. ed., Kiesbaden, 1?>.

Page 8: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 8/200

que a chu"a logo come(ou a cair. :)o obras góticasQ. 3as seu autor tamb*m escre"eu,com a mesma m)o in&ali"elmente segura do e&eito sonoro, chansons eróticas com letra&rancesa =Quand mon mari , Margot , 30ai cherch1D, 7s "e%es humor!sticas =/e March1 

d0'rrasD, e coros latinos ara as tertúlias alegres de estudantes =2ertur in convivioD. Nautor de madrigais italianos como 'mor mi strugge e Matona mia cara. N latinistaerudito, ondo em música te'tos de -irg!lio ="it%reD e Rorácio =&eatus illeD. 0 *, aesarde certas "eleidades re&ormatórias, um de"oto católico romano, em cua obra á seanuncia a Contra29e&orma. 0sse grande humanista, humorista e homem da sociedadearistocrático * o autor do Magna o!us musicum =ublicado ostumamente em 1B@Dnada menos que >1B motetes ara todas as &estas e comemora($es do ano litúrgico, deuma "ariedade in&inita de t*cnicas, insira($es e emo($es o e'tático 3ustorum animae,descre"endo a ascen()o das almas dos ustos ara o c*u, e o amargo "ristis es animamea, de essimismo brahmsiano, o retumbante Creator omnium e o solene (esonet inlaudibus, e tantos outros. /o entanto, a obra caital de Orlandus Lassus, tal"e% a maiordo s*culo, s)o os 5salmi !oenitentiales =1>B@D, isto *, os salmos nos. B, G1, GF, >@, 1@1,1M? e 1M =con&orme a numera()o da -ulgataD, de ro&unda contri()o e energia sombria#sobretudo o salmo >@ =MiserereD, e o salmo 1M? =De 5rofundisD. N a música maisemocionada, mais dramática de toda a *oca do canto a caela, n)o acomanhado. /ocoro ro&ano )ola Charon =1>F1D, Lassus tinha e"ocado a morte com o es!rito ag)ode um homem da 9enascen(a. /as Sacrae /ectiones e# 3ob =1>B>D e nas/amentationes )ieremiae =1>E>D á o insiram te'tos essimistas da -ulgata do -elhoTestamento. 3udaram os temos. /o &im do s*culo, 3unique será o centro da Contra29e&orma na Alemanha. /as /agrime di San 5ietro =1>?D á se sente algo do es!ritobarroco, tal"e% de"ido ao te'to, do oeta italiano Luigi Tansillo.

Orlando Lassus *, ela intensidade do seu sentimento ro&ano e ela angústiareligiosa, o mais modernoQ entre os mestres antigosQ. :ua s!ntese de constru()origorosamente arquitet4nica e de abundante lirismo á &e% ensar na s!ntese deelementos equi"alentes em Jrahms. 3as as comara($es dessa nature%a nunca dei'amde &erir a consciIncia historicista. A arquitetura oli&4nica de Lassus n)o tem nada que"er com a oli&onia instrumental de um ós2beetho"ianiano# e o seu lirismo re&lete oestado de es!rito de uma sociedade da qual só subsistem recorda($es li"rescas.

0ssa sociedade aristocrática * a da 9enascen(a, mais e'atamente a do Cinquecento,de uma *oca á sacudida elas temestades da 9e&orma e Contra29e&orma, enquantoa aristocracia está amea(ada de se trans&ormar num mero ornamento das cortes der!ncies absolutos. A música dessa sociedade *, na ran(a, a chanson, cuo grandemestre * Cl*ment ;A//06U/ =1E>1>B@D# e, na tália, o madrigal, a can()o a quatroou cinco "o%es, cantada or damas e ca"alheiros, sem acomanhamento =embora maistarde se admita o do alaúdeD# es*cie de motete ro&ano, as mais das "e%es de lirismoerótico. Uma arte &ina e requintada que tem, hoe, o sabor de recorda()o de álbum denobre &am!lia e'tinta. 3as o madrigal n)o * um gInero inteiramente morto. Algumasdessas equenas obras de Jaldassare Honato HO/AT =m. 1B@GD e <io"anni<A:TOLH =1>>B1BMMD ainda s)o cantadas elas associa($es corais, embora emarranos ouco &i*is ao es!rito dos originais, &eitos or comositores ós2rom8nticos dos*culo ++, como Peter Cornelius e Rer%ogenberg s)o esecialmente conhecidos osmadrigais "utti venite amati  e ' liete vita de <astoldi. O maior dos madrigalistas italianos* Luca 3A90/\O =c. 1>>@1>??D, que &oi chamado il !i< dolce cigno. :ua arte *estuendamente e'ressi"a# n)o e"ita cromatismos, modula($es audaciosas,disson8ncias ara interretar te'tos como Gi torna, O voi che sos!irate, Scaldava il sol ,Cantiam la bella Clori , +n un boschetto, Se il raggio del sol , Scendi dal !aradiso V 7s

Page 9: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 9/200

"e%es lembra a arte de Rugo Kol&. N a música com que se di"ertiram, nas ausas dacon"ersa()o sobre &iloso&ia lat4nica, literatura latina e educa()o dos nobres, asrincesas, literatos e relados reunidos na corte de Urbino das con"ersas que "i"em

ara semre na obra literária mais nobre da 9enascen(a italiana, no Cortegiano deJaldassare Castiglione.

O madrigal, embora &orma arcaica, ainda hoe n)o morreu de todo# sobre"i"eesecialmente na nglaterra, onde se culti"a a memória da música elisabetiana. 3úsicade uma sociedade aristocrática que imita assiduamente as maneiras &inas dos italianos#e que, elo menos em arte, guarda &idelidade 7s e'ress$es est*ticas do mundocatólico# mas a 9e&orma á liberou as &or(as de "italidade ro&ana da merr% old England  da 9ainha 0lisabeth e de Killiam :haeseare.

0ntre os comositores elisabetianos há um número surreendentemente grande dosque continuam &i*is ao catolicismo romano, aesar do rigor com que a monarquia im4sa seara()o da grea anglicana de 9oma# tal"e% orque as no"as &ormas litúrgicas n)oconcederam 7 música as mesmas oortunidades de outrora. /o terreno ro&ano culti"amo madrigal, as comosi($es ara alaúde e uma es*cie de elementar música ian!stica

o instrumento * chamado de "irginalQ. N uma arte aristocrática, que tamb*m sabeinterretar os cris de la rue, do o"o. /unca &oi t)o inteiramente esquecida como amúsica renascentista no continente euroeu. Rá, na nglaterra moderna, numerosasassocia($es de madrigal# e no iano ou no cra"o se toca, ainda ou de no"o, a música de"irginalQ1.

O gInio da música elisabetiana * Killiam J]9H =1>G1BMGDM, que &icou &iel 7 &*romana, aesar de desemenhar o cargo de maestro da caela da rainha rotestante.Obra meio clandestina &oi, ortanto, sua Missa ara cinco "o%es =1>EED, or causa daqual a osteridade lhe concedeu o t!tulo de Palestrina inglIsQ obra realmente de grande"alor, mas menos alestriniana do que góticaQ, &lamengaQ. /o resto, JSrd &oi umdaqueles gInios uni"ersais da 9enascen(a, dominando todos os gIneros. N estuendaa amlitude emocional dos seus 5salms, Sonnets and Songs of Sadness and 5iet% .:eus madrigais =/ullab% , "his S=eet  and Merr% Month, "hough 'mar%llis DancesD

lembram o ambiente erótico e alegre das com*dias da rimeira &ase de :haeseare. Amerr% old England  tamb*m "i"e na música ian!sticaQ de JSrd, ara o "irginal, na qual oPalestrina inglIsQ se re"ela de estranha modernidade, dei'ando de lado a oli&oniaedante ara escre"er "aria($es esirituosas sobre dan(as aristocráticas e oularesCarman0s >histle, Sellenger0s (ound , "he &ells e a 5avane Earl of Salisbur%  s)o, at*hoe, música "i"a.

Os outros culti"am arcelas desse &eudo musical. Thomas 3orleS =1>>F1B@GD * ocantor da "ida nos camos e do bucolismo de "eraneio# &orneceu grande arte dase(as que s)o cantadas elas modernas associa($es madrigalescas Since m% "ear ,:e= is the Month of Ma%ing , Sing >e and Chant . ;ohn HOKLA/H =1>BG1BMBD &oigrande comositor ara o alaúde, &amoso elas suas a"anas maestosas e sombrias. Agente mais simles arece ter re&erido suas can($es melancólicas =Go Cr%stal "ears#Shall + Sue# >ee! ?ou no MoreD. Assim &oi Do=land... =hose )eavenl% "ouch @ 8!on

the /ute doth (avish )uman Sense os "ersos est)o no 5assionate 5ilgrim, de Killiam:haeseare. O último dos grandes elisabetianos &oi Orlando <JJO/: =1>EG1BM>D,que tamb*m escre"eu docesQ madrigais, tal"e% os mais belos de todos Silver S=an e

1 ;.Werman, "he Elisabethan Madrigal , O'&ord, 1?BG. M 0di()o das obras or R. ello^es, 1?GF e seguintes. . Ro^es, >illiam &%rd , Londres, 1?ME. 0.ello^es, >illiam &%rd , Ma. ed., Londres, 1?E.

Page 10: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 10/200

>hat +s Our /ife s)o as !ices de r1sistance do reertório das associa($esmadrigalescas. 3as <ibbons á ertence 7 *oca acob*iaQ# as reocua($es religiosas"oltaram. -i"e em <ibbons, ela última "e%, algo do es!rito de JSrd no Service em &á

maior, es*cie de missa anglicana# e no )osanna to the Son of David , que os corosingleses ainda costumam cantar nos dias de /atal. Heois, o uritanismo "itorioso nasguerras ci"is acabou, dentro e &ora da grea, com a música.

O cal"inismo &rancIs n)o &oi t)o radicalmente in&enso 7 música, elo menos no in!cio.Contudo, o regime democrático das comunidades cal"inistas n)o ermitiria a osi()ori"ilegiada de um coro de músicos ro&issionais, e'ecutando obras comlicadas 7squais os outros &i*is só oderiam assistir assi"amente, a t!tulo de edi&ica()o est*tica. Oculto tem de ser de todos. Um grande oli&onista como Claude <oudimel =c. 1>@>1>FMD,uma das "!timas dos massacres de huguenotes na ro"!ncia, deois da /oite de :)oJartolomeu, de"ia limitar sua arte a &ormas mais simles, ara a comunidade toda cantarseus FB salmos =1>B>D, dignos e se"eros. 0ssa simli&ica()o e, mais tarde, a e'clus)ode toda a música instrumental dos temlos cal"inistas, com a única e'ce()o de relúdiose acomanhamentos do órg)o, acabaram com a música do cal"inismo &rancIs e

holandIs. Hentro do mundo rotestante, a arte &oi sal"a elo acaso da &eli% musicalidadede Lutero.

Tal"e% nem &osse acaso. A esse reseito como a outros, Lutero &oi o orta2"o% dana()o germ8nica, cua ro&unda musicalidade * o mais imortante elemento em toda ahistória da música moderna. 3as só da moderna. /a dade 3*dia e nos s*culos +- e+- a contribui()o dos alem)es n)o * de rimeira ordem. O único nome indisensá"el *o de ;acobus <allus =RandlD =1>>@1>?1D, que os historiadores da sua na()o chamamde Palestrina Alem)oQ# cada na()o retende ter tido seu Palestrina, o s*culo +-. Oaelido * inadmiss!"el quanto ao estilo de <allus, que * gótico2&lamengoQ. 3as umgrande mestre &oi esse último oli&onista católico alem)o d)o testemunho motetes comoO magnum m%sterium, /audate Dominum e o como"ente Ecce quomodo moritur , queainda * cantado, na :emana :anta, nas igreas da Ja"iera, _ustria e 9en8nia.

Para essa arte oli&4nica, catada or coros searados do o"o, o culto luterano n)o

tinha uso. 3as tamouco ensa"a Lutero em e'cluir das igreas a música, que lhearecia a maneira mais digna de adorar Heus ois 7 grea in"is!"el do luteranismocorresonde a arte in"is!"el do coral. 0ste tem só o nome em comum com o coralgregoriano da "elha grea. O coral luterano * coisa comletamente di&erente * umamelodia sacra oular ou de origem oular e deois harmoni%ada, cantada n)o or umcoro de cantores ro&issionais, mas ela comunidade inteira, acomanhada elo órg)o,ao qual tamb*m se concede o direito de reludiar o canto ou de orná2lo com "aria($esli"res. Pelo coral entrou na grea luterana um imortante e in&initamente rico elemento&olclórico# ao mesmo temo, sal"ou2se a relati"a indeendIncia musical do órg)o# eouco mais tarde á n)o ha"erá obe($es, da arte das autoridades eclesiásticas, contraa articia()o de outros instrumentos e contra a elabora()o mais sutil de certos temascorais em obras que só um coro de cantores ro&issionais oderia e'ecutar as cantatas.

 Assim encontramos nada menos que 1.M "ers$esQ de corais com acomanhamento

instrumental na obra Musae Sionae, de 3ichael P90TO9U: =1>F11BM1D. ;á est)oreunidos os elementos de que se constituirá a obra de Jach.

 A CO/T9A290O93A P AL0:T9/A

O mo"imento caracteri%ado ela &unda()o da Comanhia de ;esus e elo Conc!lio deTrento só odia ser bati%ado com o nome de Contra29e&orma or historiadores

Page 11: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 11/200

rotestantes, que o considera"am como resistIncia da "elha grea agoni%ante contra a9e&orma "itoriosa. Os &atos históricos n)o con&irmam essa &alsa ersecti"a. A grea de9oma n)o morreu. Ao contrário no &im do s*culo +- á tinha reconquistado metade dos

a!ses ao norte dos Ales, al*m de &icarem e'tintos os &ocos de heresia na tália e0sanha. He"eu essas "itórias ao &ato de que a chamada Contra29e&orma &oi uma"erdadeira 9e&orma dogmática =dentro dos limites da tradi()o imutá"elD, administrati"a emoral. Tamb*m se re&ormou o culto. Tamb*m se re&ormou a música do culto.

Um dos instrumentos mais oderosos da roaganda esu!tica &oi a liturgia romana 7qual os rotestantes n)o tinham o que oor sen)o o "erbo b!blicoo, interretado noserm)o elo ministro. 3as na igrea católica colaboraram as artes lásticas e a músicaara reresentar a "erdade religiosa de uma maneira que assombra os es!ritossimles, ele"a os de elite e con&unde a todos. 6uanto 7 música, trata2se de uma re&orman)o somente litúrgica, mas tamb*m musical. Para a "erdade religiosa &icar reresentada,tIm os &i*is de entender bem as ala"ras sacras que o coro canta. 0ssa e'igIncia e'cluiinaela"elmente os /0homme arm1 Malheur me bat , Se la face e outras melodiasro&anas que os mestres &lamengos tomaram como bases temáticas de suas obras#

deois, obriga a redu%ir a abund8ncia e suntuosidade de artes contraont!sticas,imedindo tamb*m o canto simult8neo de te'tos di&erentes# en&im, essa simli&ica()o daoli&onia torna disensá"el o aoio do coro em acomanhamento instrumental, de modoque at* o órg)o ode &icar calado ou ent)o limitar2se a oucos acordes iniciais, 7 guisade relúdio. A música da Contra29e&ormaQ * rigorosamente desacomanhada, a caela.:ó a "o% da criatura humana * digna de lou"ar o Criador. 0is os elementos básicos doestilo chamado de PalestrinaQ.

:uas origens n)o se encontram na tália, mas na 0sanha assim como a re&orma dagrea esanhola ela rainha sabel e elo cardeal +im*ne% recedera 7 re&orma dagrea uni"ersal e romana elo Conc!lio de Trento. O rimeiro mestre daquele estilo * oesanhol Cristóbal 3O9AL0: =1>1M1>>GD1, que &oi membro da Caela :istina em9oma ali ainda hoe se canta, ocasionalmente, seu motete /amentabatur 3acob, que átem as qualidades caracter!sticas do no"o estilo. Outros motetes de 3orales, como

Emendemns in Melins, &oram reimressos e cantados no 3*'ico. O mestre * recursorde Palestrina.

<io"anni Perluigi da PAL0:T9/A =c. 1>M>1>?DM * o mais clássicoQ doscomositores# naturalmente, n)o no sentido da música clássica "ienense de RaSdn,3o%art e Jeetho"en, mas no sentido de equil!brio er&eito, latino, assim como s)ochamados clássicos os grandes escritores &ranceses da *oca de Lu!s +-. 3as *reciso ad"ertir contra comara($es il!citas. Chamar, or e'emlo, Palestrina de JachcatólicoQ só ode signi&icar que o latino ocua dentro da música da grea romana amesma osi()o de destaque que Jach ocua dentro da música da grea luterana# masara nós, numa *oca em que nem esta nem aquela grea dis$e de música "i"a,aquelas osi($es históricas n)o tIm nenhuma imort8ncia ou signi&ica()o acomara()o ser"e aenas ara esconder ao menos in&ormado as di&eren(as&undamentais Jach n)o * clássicoXQ em nenhum sentido estil!stico da ala"ra, de modo

1 9. 3itana, Crist7bal Morales, 3adrid, [email protected] 0di()o das obras comletas or Kitt, 0sagne, Commer e Raberl, GG "ols., 1EBM1?@E. /o"aedi()o das obras or 9. Casimiri, 9oma, 1?G? e seguintes. 3. Jrenet, 5alestrina, Ma. ed., Paris,1?1. A. Cametti, 5alestrina, 3il)o, 1?M>. W. ;eesen, Der 5alestrinastil und die Dissonan4 ,Lei%ig, 1?M>. W.<. ellerer, Der 5alestrina-Stil , Lei%ig, 1?M?. ;. :amson, 5alestrina ou la 5o1siede l0E#actitude, <enebra, 1?@.

Page 12: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 12/200

que * caa% de e'ercer a mais ro&unda in&luIncia sobre a música moderna# enquantoPalestrina * clássicoQ dentro de um estilo há s*culos e'tinto e á or ningu*m culti"ado.N um grande &en4meno histórico.

 A "ida de Palestrina &oi mais agitada do que a serenidade imerturbá"el da sua artedei'a entre"er. oi, sucessi"amente, regente da caela <iulia, cantor na caela aal,regente do coro de :an <io"anni in Laterano, do coro de :anta 3aria 3aggiore, en&imde :an Pietro in -aticano# e mudou tanto orque hou"e muitos con&litos# orque o triun&ode sua música, sendo o&icialmente reconhecida como a da grea romana, &oi a &ase &inalde uma grande luta. Uma lenda muito di"ulgada e at* hoe reetida or certoshistoriadores concentra todas aquelas lutas num único momento histórico no Conc!lio deTrento. nsatis&eitos com a oli&onia dos mestres &lamengosQ, com aincomreensibilidade das ala"ras sacras e a inter"en()o de te'tos ro&anos, oscardeais, bisos e doutores reunidos naquele conc!lio teriam ensado em roibir todamúsica oli&4nica, ermitindo aenas o coral gregoriano# mas a audi()o da c*lebreMissa 5a!ae Marcelli , de Palestrina, obra oli&4nica sem nenhuma daquelas o&ensas 7liturgia, teria &eito mudar de oini)o os relados e teólogos. N uma lenda. 9ealmente,

hou"e a inten()o de roibir a oli&onia na música litúrgica. 3as n)o &oi aquela missa queimediu a catástro&e. /o entanto, a lenda tem "ida tena% ainda em nosso temo&orneceu o enredo ara a notá"el óera 5alestrina, de P&it%er, cua música n)o tem,aliás, o menor onto de contato coma alestriniana. 3as o úblico recisa, arece, deest!mulos literário ou seudoliterários ara encontrar algo de interessanteQ naquelamúsica. A arte de Palestrina arece2nos a de um mundo alheio da nossa "ida musical.9ealmente, só e'iste ara ser"ir 7 liturgia. Palestrina n)o * um grande comositor queescre"e música sacra# * um liturgista que sabe &a%er grande música. N isto que lhegarantiu, en&im, a "itória# mas tamb*m * isto que o torna t)o di&icilmente acess!"el. PoisPalestrina * mais modernoQ do que se ensa. :eu obeti"o &oi este tornar o te'to sacro,na boca dos cantores, comreens!"el =o que n)o acontecera na música dos mestres&lamengosQD, sem renunciar 7 oli&onia. Para esse &im, redu%iu as comlica($escontraont!sticas# tra(ou limites certos 7 indeendIncia melódica das muitas "o%es,obrigando2as a coincidir em acordes que, ela conson8ncia, &ocali%am a ala"ra.Heclamando o te'to sacro, con&ere2lhe a ronúncia certa or colunas de acordes queacentuam as s!labas imortantes. Com isso, o rinc!io da oli&onia linear, o daindeendIncia das "o%es está arcialmente abandonado a música de Palestrina ainda *hori%ontal, melódica, mas tamb*m á * "ertical, harm4nica# e or isso * de eu&onia nuncaantes obtida. Palestrina escre"e nesse estilo declamatórioQ orque retende, muito maisdo que os mestres &lamengosQ, e'rimir musicalmente o sentido emocional dos te'tos atriste%a neste "ale de lágrimas e o úbilo dos santos. :ua música *, dentro de limitescertos, e'ressi"a. Para tanto n)o rocura, na "erdade, as modula($es de umatonalidade ara outra, o cromatismo# mas n)o o e"ita quando arece indisensá"el. 0quando n)o escre"e diretamente ara uso litúrgico, como nos madrigais sobre te'tos doCAntico dos CAnticos =1>ED nem sequer e"ita a disson8ncia.

3as * reciso e'licar e comentar ao ou"inte moderno esses tra(os de modernidadeQara ele ercebI2los. 6uem n)o estudou em ro&undidade o estilo alestriniano, acharáque todas as obras do mestre s)o iguais# assim como nos museus de loren(a e 9oma,todos os quadros de Andr*a del :arto arecem igualmente belos, at* monotonamentebelos. N uma ilus)o rodu%ida or aquele equil!brio clássico entre a oli&onia e adeclama()o, e mais or algumas outras qualidades caracter!sticas, sobretudo ela &altade mo"imento r!tmico em nosso sentido a nota()o dessa música n)o recisa de di"is)oem comassos. Ha! a imress)o de monotonia. Um cr!tico inglIs disse, ocosamente,

Page 13: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 13/200

que na e'ecu()o de uma missa de Palestrina se oderiam ular "árias áginas sem queningu*m ercebesse. Rá nessa obser"a()o irre"erente um gr)o de "erdade mas oou"inte logo erceberia a omiss)o se acomanhasse a música, na igrea, com o missal

na m)o. A música de Palestrina n)o de"eria ser e'ecutada nas salas de concerto,embora as grandes associa($es corais n)o queiram desistir de ocasional e'ecu()o daMissa 5a!ae Marcelli  ou do Stabat Mater . /o recinto ro&ano, essas obras est)o t)odeslocadas como os quadros de altar de 9enascen(a nos grandes museus# cansam, em"e% de edi&icar. O lugar das obras de Palestrina * na igrea.

N uma arte antiga# mas n)o * uma arte morta. Pelo menos nas bas!licas e em outrasgrandes igreas da cidade de 9oma, um certo número de missas de Palestrina ertenceao reertório ermanente as missas 'lma (edem!toris, &eatus /aurentius, Ecce3ohannes, Su!er ,oces, O admirabile commercium, O Magnum m%sterium, Quem dicunthomines, "u es !astor , "u es 5etrus, ,iri Galilaei , a missa )odie Christus natus est , araa noite de /atal e a calma Missa !ro defunctis. Hurante a :emana :anta cantam2se naCaela :istina os motetes 5ueri hebraeorum e 2rates ego enim, as &amosas/amentationes =1>EED e os n)o menos &amosos +m!ro!eria# e deois das cerim4nias que

iniciam a Páscoa, * e'ecutada a Missa 5a!e Marcelli . 0sta missa, de 1>BF, n)o * amaior obra de Palestrina, mas * a mais &amosa, de ur!ssima eu&onia e de solenidadesóbria# o te'to litúrgico * declamado, de roósito, com grande simlicidade, como arasalientar a ortodo'ia imecá"el da interreta()o do te'to. 0m comensa()o, Palestrinadá brilhante amostra das suas artes contraont!sticas na missa /0)omme arm1 =1>F@D, aúltima que &oi escrita 7 maneira dos mestres &lamengosQ# e em mais outras missas sabehabilmente esconder as comlica($es oli&4nicas ara imressionar os músicos semdesagradar aos teólogos. :ua obra2rima tal"e% sea a missa 'ssum!ta est  =1>EGD,maestosa e no entanto ro&undamente sentida# menos ubilosa do que se oderiaensar, antes insirada ela triste%a dos que, tendo assistido 7 Assun()o, continuam,&ilhos de 0"a, neste "ale de lágrimas.

 Ao leigo que retende iniciar2se na música alestriniana, ser)o mais acess!"eis asobras curtas, os motetos. :)o muitos# e alguns continuam sendo cantados n)o só em

9oma, mas em todas as maiores igreas do mundo católico Surge illuminare e Omagnum m%sterium# os Magnificats =sobretudo o no o tonoD# o Salve (egina =quatro"o%esD# o ubiloso e e'tático Dum com!lerentur =ara o Homingo de PentecostesD#"ribularer si nescires# o melancólico 5aucitas dierum, di%endo das atribula($es de ;ó# o5ange lBngua# 5eccavimus# ,iri Galilaei # 'cce!it 3esus calicem# e os salmos Su!erflumina e Sicut cervus. N, or*m, muito caracter!stico o &ato de que nenhuma obra dePalestrina conquistou &ama t)o uni"ersal como o equeno Stabat Mater de 1>?1, que, áno s*culo +-, o musicólogo inglIs JurneS oulari%ou ois * a obra menos t!ica emais modernaQ do mestre. /ela, as "o%es á n)o tIm indeendIncia melódica, acomosi()o * uma sucess)o de admirá"eis acordes "ocais de sabor m!stico, decolunasQ sonoras. N a transi()o da música oli&4nica, hori%ontal, ara a música "ertical,harm4nica.

`...

N oss!"el de&inir e'atamente as qualidades musicais do estilo alestriniano. N muitomais di&!cil coordená2lo com o estilo de outras artes da mesma *oca. Os musicólogosdo s*culo ++ comararam Palestrina a 9a&aelo e Correggio, o que hoe nos areceouco acertado# n)o considera bem a osi()o do comositor dentro do mo"imentocontra2re&ormista# em comara()o com ele, aqueles dois intores s)o ag)os. Palestrina

 á n)o ertence 7 9enascen(a. 3as tamb*m n)o * oss!"el de&ini2lo V como á se &e%V como músico barroco# ara tanto, n)o * batante m!stico nem e'altado nem realista

Page 14: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 14/200

nem omoso. A corresondIncia er&eita do seu estilo com a no"a bas!lica de :anPietro in -aticano antes &a% ensa no maior arquiteto dela, em 3iguel [ngelo, dosúltimos anos da sua "ida. He Palestrina e de 3iguel [ngelo chega2se, na música e nas

artes lásticas, ao maneirismo.

O 3 A/09:3O

O termo maneirismoQ á n)o tem, como antigamente, sentido eorati"o. N geralmenteusado, na história das artes lásticas, ara a &ase intermediária entre as últimas &ormasrenascentistas e o Jarroco. N r*2barroco orque á se aro'ima do meraviglioso estu!endo# ainda n)o * barroco orque, mesmo usando recursos colossais, continuadentro de limites clássicos ou classicistas da e'ressi"idade. 3aneiristaQ * o estilo queretende suerar2se a si mesmo, sem disor, ainda, de recursos inteiramente no"osara tanto. Ha! a imress)o do e'agero e da auto2imita()o, que n)o e'cluem aossibilidade de criar obras2rimas.

Um dos recursos t!icos do maneirismo em música * a ollicoralidadeQ. O &lamengo

 Adrian KLLA09T =c. 1E@1>BMD, natural de Jruges, nomeado em 1>MF regente docoro da bas!lica de :an 3arco em -ene%a, obser"ara as ossibilidades sonoras de &a%eralternar os coros colocados nos dois balc$es sueriores de que aquela bas!lica dis$e.0m motetes como /audate !ueri  e Confitebor  e'erimentou essa conquista do esa(omusicalQ, de&ini()o que lembra o caráter r*2barroco da iniciati"a.

0ssa conquista * obra de dois disc!ulos "ene%ianos do mestre nórdico Andrea<AJ90L =c. 1>1@1>EBD e seu sobrinho <io"anni <abrieli =1>>F1B1MD1, ambosorganistas em :an 3arco. A música de Andrea, em motetes como Deus misereatur  e&enedicam Domino, á * de um colorido sonoro que lembra imediatamente a intura"ene%iana contemor8nea, Ti%iano sobretudo. <io"anni, que &oi gInio, acrescenta acaacidade de e'ress)o dramática. /as suas Sacrae S%m!honiae, de 1>?F, há obras2rimas em que a altern8ncia e reuni)o dos coros rodu% e&eitos sonoros"erdadeiramente assombrosos assim o Miserere =seis "o%esD, o Domine 3esus Christe 

=oito "o%esD, Domine e#audi orationem meam =1@ "o%esD, 'scendit Deus in 6ubilo =1B"o%esD e o &amoso &enedictus =ara trIs corosD. 0ste último e oucas outras obras,menores, ertencem ao reertório das associa($es corais. 3as, ainda mais que comreseito a Palestrina, cabe lembrar que só &a%em o de"ido e&eito na igrea e mesmo sóem igreas que dis$em das condi($es acústicas de :an 3arco. Por outro lado, só elaleitura, elo estudo atento, re"elam2se as grandes artes oli&4nicas de <io"anni <abrieli,

 á muito di&erentes do estilo alestriniano, ela distribui()o sábia das "o%es emregadas,assim como um sin&onista moderno distribui os instrumentos da orquestra. Tudo issoser"e a um &im que n)o ti"era ara Palestrina a mesma imort8ncia ser"e 7 arte dainterreta()o e'ressi"a e at* dramática dos te'tos sacros. <io"anni <abrieli á * ummestre r*2barroco. Antecia &ases muito osteriores da e"olu()o da música. Algumasdaquelas obras odem ser e'ecutadas ad libitum, a caela ou com acomanhamento deórg)o, mas outras arecem e'igir o acomanhamento or instrumentos de soro. 0n&im,

esses instrumentos tornam2se indeendentes. Os musicólogos tIm dedicado estudointenso a uma obra como a Sonata 5iano e 2orte, de <io"anni <abrieli, obra uramenteinstrumental, na qual os dois coros de "o%es humanas s)o substitu!dos or dois coros de

1 0di()o das Sacrae S%m!honiae, or P. Rindemith, 3ain%, 1?B1. C. Kinter&eld, 3ohanne sGrabieli und sein 9eitalter , M "ols. Jerlim, 1EG. =obra antiga, mas ainda n)o suerada.D L. Torchi,/0'rte Musicale in +talia, "ols. . Ma. ed., Turim, 1?MF.

Page 15: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 15/200

trombones. /o seu temo, <io"anni <abrieli &oi certamente um ino"ador re"olucionário.6uando, em 1>?B, gor :tra"insS regeu na bas!lica de :an 3arco, em -ene%a, seuCanticum Sacrum ad honorem Sacti Marci nominis, a e'ecu()o da obra moderna &oi

recedida ela de alguns coros de Andrea e <io"anni <abrieli. A música olicoral ainda ertence 7 *oca da Contra29e&orma seu lugar * nas igreas"astas do estilo esu!tico, em que a liturgia, audada or todas as outras artes, retendeimressionar os &i*is. A mais imressionante dessas obras * de"ida a Ora%io J0/0-OL=1B@M21BFMD a Missa Solene ara a inaugura()o do no"o domo de :al%burgo =1BMED.0ssa obra esta"a, como tantas outras da *oca, destinada ara ser e'ecutada só uma"e%, em determinada ocasi)o# dormiu, deois, durante quase trIs s*culos, esquecidanos arqui"os da Cúria 3etroolitana de :al%burgo# quando o grande musicólogo"ienense <uido Adler a redescobriu e editou em 1?@G =Monumentos da Msica na

 ustria, "ol. +D, nada &oi mais natural do que ensar nas missas sin&4nicas de Jrucner enas colossais sin&onias corais de 3ahler ois a missa de Jene"oli * escrita ara oitosolistas, oito coros, orquestra de G "o%es instrumentais e dois órg)os. As oini$essobre o "alor musical dessa obra s)o di"ididas alguns censuram a e'trema simlicidade

dos temas =mas com temas mais comle'os ningu*m chegaria a dominar a massasonora, >M "e%es di"ididaD# outros =entre eles o rório <uido AdlerD admiram a &or(aimressionante de trechos como 8nam sanctam. Os contemor8neos, de queossu!mos testemunhos da e'ecu()o de 1BME, considera"am Jene"oli como o sucessore suerador de Palestrina, orque teria conquistado no"os esa(os sonorosQ. Ae'ress)o tem sabor barroco# mas a argumenta()o antes lembra as de&ini($es domaneirismo, cuo último reresentante, escre"endo ara E "o%es e mais, em *oca delena homo&onia oer!stica, será o outrora &amoso <iusee Otta"io PTTO/ =1BMF1FGD.

/o resto, * reciso considerar que o oli&onismo e'tremo de um Jene"oli só *, muitas"e%es, aarente n)o ode =nem querD e"itar que os coros =os "ocais e os instrumentosDaenas alternem, ou ent)o, que certas "o%es dobrem ou redobrem outras. Obras dessanature%a á n)o teriam á n)o teriam sido oss!"eis a caela, orque os coros cairiam em

con&us$es ine'tricá"eis# mas a necessidade de acomanhamento or acordes &a"orecea maneira de escre"er "erticalmenteQ, harmonicamente. A oli&onia olicoral assou orum rocesso de autodestrui()o# o resultado será o acomanhamento instrumental deuma "e% só a homo&onia.

 Ao mesmo resultado le"ou a e"olu()o do madrigal. /os madrigais sacros dePalestrina, o deseo de e'ressi"idade á rodu%iu cromatismos ineserados edisson8ncias. Assim tamb*m, nos de 3aren%io. Um caso e'tremo, comará"el 7olicoralidadeQ e'trema de Jene"oli, * Carlo <esualdo, r!ncie de -enosa =c.1>@1B1D1. Rá s*culos, esse nobre diletante * um autor re&erido dos que rocuram nahistória histórias interessantesQ. Pois te"e uma "ida rom8ntica# assassinou sua esosain&iel 3aria dXA"alos e o amante dela# e só deois de longos anos de enitIncia, aangústia !ntima le"ou2o a dedicar2se 7 arte. 0ntre seus madrigais, ublicados em "ários"olumes entre 1>? e 1B11, há e(as que n)o odem dei'ar de assombrar os

musicólogos. Moro lasso e (esta di darmi noia, que, hoe em dia, se "oltou a cantar, tImsabor rom8ntico. 0m outros madrigais, o cromatismo e'tremado lembra "risto e +solda.0m mais outros, á n)o * oss!"el reconhecer a tonalidade, como se &osse obras da &aseatonal de :choenberg. O sistema tonal da *oca da oli&onia "ocal está em lenadissolu()o está 7s ortas daquele caos com que se inicia, na música, a *oca barroca.

1 C. e Ph. Reseltine, Carlo Gesualdo, Londres, ,1?MB.

Page 16: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 16/200

<esualdo &oi um embriagado de sons no"osQ como HebussS. :ua modernidadearece inesgotá"el. :tra"isS transcre"eu2lhe ara equena orquestra de c8mera os trIsmadrigais 'scingate +begli occhi , Ma tu cagion di quella, e &elt !oi che t0assenti , como

Monumentum !ro Gesualdo di ,enose =1?B@D. 0'ecu($es recentes de certos madrigaisnunca dei'aram de surreender o úblico. 3as nem isto ode le"ar2nos a "er nesseersonagem rom8ntico um gInio V com Aldous Ru'leS o &e% num ensaio V o criador damúsica moderna. :ó &oi o s)o ;o)o Jatista de um maior 3onte"erde.

Page 17: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 17/200

C APÍTULO  G

O Barrococreditamos saber, deois de tantas discuss$es, o que * Jarroco# tamb*m namúsica. Os teóricos da música do s*culo +- con&irmam nossos conceitos ou

reconceitos. Citam um &amoso soneto do oeta barroco 3arinoA

F del !oeta il fin la meraviglia

Chi non sa far stu!ir vada alla striglia.

0'igem que a música tamb*m sea meravigliosa, grandiosa, am!ollosa, massicia# quechegue a rodu%ir lo stu!ore dos ou"intes e a col!ire i sensi . :)o conceitos &amiliares.3as n)o se alicam só 7 música barroca. Alguns "alem, igualmente, ara acontraont!stica &lamenga# outros, ara a grande óeraQ de 3eSerbeer, a música

rogramática de Jerlio%, os dramas musicais de Kagner, as sin&onias e óeras de9ichard :trauss. 0sses crit*rios s)o, no &undo, subeti"os aenas se re&erem 7simress$es recebidas elos ou"intes.

  3as a tentati"a de re&erir2se 7 t*cnica musical e ao es!rito atrás dela &orneceresultado ainda mais insatis&atório. Pensando nas artes lásticas e na literatura doJarroco, odemos eserar da sua música as mais ricas comle'idades oli&4nicas e ae'ress)o de uma religiosidade m!stica. 3as ent)o, os &atos nos dececionamtotalmente. O gInero musical dominante do s*culo +- n)o tem nada que "er comreligiosidade m!stica * a óera. 0 em "e% das comlica($es oli&4nicas, esera2nos ocanto do solista, a homo&onia, a ária. O gInio com que, na música, abre o s*culo * ooerista homo&4nico 3onte"erde.

O esetáculo * desconcertante. O s*culo +- *, nas artes lásticas, o de Jernini e9embrant, 0l <reco e -ermeer, -ela%que% e Cara"aggio# *, na literatura, o de Cer"antes

e :haeseare, Honne e 3olire, Calderón e 9acine. 3as na música, o s*culo +- sórodu%iu algumas oucas obras2rimas de e'erimentadores geniais como 3onte"erde,:chuet% e Purcell. Os resultados de&initi"os V a música de Alessandro e Homenico:carlatti, de -i"aldi, Jach e Randel V ertencem ao s*culo +-# e n)o se arecemcom os in!cios.

0"identemente, o roblema do Jarroco na música * di&erente do mesmo roblema nasoutras artes. :erá melhor adiar a discuss)o das teorias ara e'aminar, antes, os &atos.

 A:  O9<0/:  HA  P09A  0  HO  J A+O 2CO/TÍ/UO

 Arte clássica V arte barroca eis os dois conceitos contraditórios a cuo antagonismo ogrande Reinrich Koel&&lin subordinou toda a história das artes lásticas. Parecemirreconciliá"eis, na retrosecti"a. 9a&aelo e Jernini s)o ólos oostos, ara a cr!ticamoderna. Aos contemor8neos, a di&eren(a n)o arecia menor, mas antes gradual doque essencial. Os clássicos e os barrocos, estes e aqueles acredita"am ter &eito omelhor ara ressuscitar a arte grega antiga# e a um cr!tico do s*culo +- n)o sea&igura"a arado'al a id*ia de que Jernini n)o assa"a de um 9a&aelo mais intensoQ ede maiores recursos t*cnicos. A 9enascen(a, ensa"am, n)o te"e atingidocomletamente o grande obeti"o de ressuscitar as artes da Antig5idade# o estilo barroco

Page 18: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 18/200

n)o &oi sentido como "ira"olta re"olucionária, mas como rogresso.

6uanto mais se estuda"am os testemunhos literários da Antig5idade, tanto mais se&ortaleceu a oini)o de que os gregos, na oesia e no teatro, tinham emregado os

recursos da ala"ra e do canto, untamente, ara dar e'ress)o aos sentimentos. 3as amúsica da 9enascen(a n)o esta"a em condi($es de reali%ar esse ideal. Pois só admitia,na música sacra e no madrigal, o canto a caela, oli&4nico, de "árias "o%escontraontisticamente combinadas. 0 ode2se imaginar o ael de Orestes ou o de0lectra, ersonagens de trag*dia, cantado or um equeno coro misto 0staimossibilidade &oi demonstrada or Ora%io -0CCR =1>>@1B@>D, oli&onista erudito quecontribuiu com a maior e&iciIncia ara destruir o ideal da oli&onia "ocal. /a sua e(a

 'nfi!arnasso commedia harmonica, os atores no alco &a%em aenas os gestos, seusa*is s)o cantados, nos bastidores, or coros de quatro e cinco "o%es. O e&eito *irresisti"elmente c4mico. A obra teria sido deliberadamente arod!stica 0m todo caso,mostrou indiretamente o caminho ara o canto homó&ono, indi"idual. O 'nfi!arnasso,escrito em 1>?, ano da morte de Orlandus Lassus e de Palestrina, &oi ublicado em1>?F. /o mesmo ano de 1>?F recitou2se em loren(a a rimeira óera.

 As origens da óera &lorentina1

 s)o literárias. 0m torno do mecenas Jardi reuniu2seum gruo de eruditos e literatos, entre eles -incen%o <alilei, o ai do astr4nomo, araestudar os moti"os do &racasso dos oetas trágicos italianos do s*culo +- em imitar atrag*dia grega. Tinham sido muitos os equ!"ocos com reseito 7 arte de :ó&ocles e0ur!edes. :obretudo, os oetas italianos n)o tinham restado aten()o ao &ato bemtestemunhado de que os a*is, na trag*dia antiga, &oram ditos numa es*cie derecitati"oQ, de arlandoQ, isto *, declama()o que se aro'ima do canto. Para conseguiro "erdadeiro e&eito trágico V assim se ensa"a em loren(a V seria necessário untaraos "ersos a música. A óera nasceu, ortanto, de um equ!"oco &ilológico. Pois nada nomundo se arece menos com uma trag*dia de :ó&ocles ou de 0ur!edes do que umaóera de 3onte"erde ou de Alessandro :carlatti.

Os rimeiros libretos &oram escritos elo oeta Otta"io 9inuccini Dafne =1>?FD eEuridice =1B@@D# a música escre"eu2a o maestro ;acoo P09 =1>B11BGGD. Outra

música ara mesma Euridice &oi escrita em 1B@@ elo cantor <iulio CACC/ =1>>@1B1ED, autor de um "olume de :uove Musiche, isto *, can($es no"as orque ara uma"o% só um "erdadeiro re"olucionário.

0ntre a música de Peri e a de Caccini há di&eren(as e"identes aquele declama te'to#este en&eita2o de melodias. O rinc!io *, or*m, o mesmo o canto * homó&onoQ,=monódicoQD. N a "itória do indi"!duo sobre o coro# * o indi"idualismo na música.

3as aos ou"idos acostumados 7 oli&onia a caela e aos acordes "ocais a "o%indi"idual soa"a como insu&iciente, como que recisando de um comlemento. He"iaacomanhá2la um instrumento, com re&erIncia um instrumento de teclas, um dosrecursores do nosso iano, orque nestes instrumentos se odem tocar acordes,substituindo uma multid)o oli&4nica inteira. 3as n)o hou"e inten()o nenhuma dedes"iar a aten()o do cantor ara o instrumentalista. 0ste último limitou2se a &ornecer aharmoniaQ, comletando continuamente os sons cantados, tocando acordes mais em

bai'o * o basso continuo.O no"o gInero institui a soberania do cantor * ele, o indi"!duo, que está no centro,

em "e% do coro. Parece2se com o monarca absoluto, esse outro ersonagem central do

1 3. :chneider, Die 'nfaenge des basso continuo, Lei%ig, 1?1E. R. Wret%schmar, Geschichte derO!er , Lei%it, 1?1?. 9. 9oland, )istoire de l0H!era avant /ull% et Scarlatti , Ma. ed., Paris, 1?G1.

Page 19: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 19/200

Jarroco, odendo di%er la musique c0est moi . 0m seu torno gira a corte toda dearquitetos e maquinistas de que se recisa ara encenar o esetáculo. Osinstrumentalistas que tocam o bai'o cont!nuoQ reresentam o o"o, &icando na sombra,

mas aoiando o edi&!cio que cairia sem seu trabalho incessante. Contudo, oinstrumentalista tamb*m guarda certa liberdade. O basso continuo n)o &oicomletamente escrito elos comositores os acordes &oram aenas notados emes*cie de linguagem ci&rada, em números que indicam os inter"alos, e que odem serinterretados de maneiras di&erentes. Ao bai'istaQ &ica"a larga margem de imro"isa()o.

 A esse reseito, tamb*m * soberano, assim como o súdito do monarca absolutoguarda"a, no &oro !ntimo, a liberdade da consciIncia.

O canto monódico e o bai'o2cont!nuo eis os elementos da música barroca.

O J A99OCO 3O/T0-09H0  0   A  P09A  -0/0\A/A

 A óera &lorentina &oi obra de intelectuais. A óera do Jarroco m*dio á * artearistocrática, da corte, assim como a arquitetura e a intura da mesma *oca. N

suntuosa e omosa. 3as assim como nas artes lásticas barrocas, e'iste nela umatens)o !ntima, rodu%ida ela resen(a do elemento realista. Ao lado dos intoresacadImicos de Jolonha, dos Carraci e 9eni, está o realista 9ibera. 0m Jerninicoe'istem a soberbia atl*tica e o naturalismo do sentimento. 0m \urbarán coe'istem orealismo esanhol e a m!stica. A óera barroca * roduto de uma colabora()o &abulosade artes arquitet4nicas, cInicas, teatrais, musicais, a ser"i(o de um no"o realismo dae'ress)o dos sentimentos humanos ela melodia cantada.

Claudio 3O/T0-09H0 =1>BF1BGD1 &oi maestro de música na corte de 38ntua#deois, regente do coro da bas!lica de :an 3arco, em -ene%a# ordenou2se adre# seutúmulo &ica na igrea dos rari, erto do mausol*u de Ti%iano. oi homem altamentecombati"o, consciente do seu ael de re"olucionário de uma arte multissecular. :uas,es!erae ,irginis =1B1@D, escritas na maneira no"a, terminam com uma missa a caelaara seis "o%es, em estilo alestriniano. :erá que o comositor quis demonstrar aos

inimigos V e tinha muitos V sua caacidade de escre"er no estilo antigoQ N como se:tra"isS escre"esse uma sin&onia haSdniana ara desmentir o boato de suaincaacidade de &a%er música acadImicaQ# ou :choenberg, um lied  7 maneira de:chubert. Ou ent)o, seria aquela missa es*cie de e'ia()o de um crimedeliberadamente cometido, sinal de má consciIncia Aquelas ,es!erae, hoe &acilmenteacess!"eis numa edi()o de R. . 9edlich =1?GD, á aarecem com certa &req5Incia emnossos concertos obra altamente con"incente, de &orte e'ress)o religiosa. Para oscontemor8neos de 3onte"erde, &oi mesmo &orteQ demais. /unca antes se ou"iramúsica sacra assim, com maci(o acomanhamento instrumental e com solistas,cantando árias de como"ente dramaticidade. 3oti"o su&iciente ara o comositor &a%eraquele gesto de enitIncia contrita. 3onte"erde tinha introdu%ido na música sacra osmodos e meios de e'ress)o da óera. N mesmo o "erdadeiro criador do gInero.

/a "erdade, o Orfeo =1B@FD, de 3onte"erde, * a rimeira óera que merece esse

nome. Ainda hoe, nas edi($es2arranos de"idas a comositores modernos como Al&redoCasella e Carl Or&&, &a% &orte e&eito em nossas casas de óera. Os solistas dominam o

1 0di()o das obras comletas or . <. 3aliiero, 1G "ols., 1?MB e seguintes. . <. 3aliiero,Monteverde, 3il)o, 1?M?. R. Prunires, /a ,ie et l0oeuvre e Claudio Monteverde, Ma. ed., Paris,1?G1. R. . 9edlich, Claudio Monteverde, Paris, 1?>1. L. :chrade, Monteverde Creatr of ModernMusic . Londres, 1?>M.

Page 20: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 20/200

alco ela rimeira "e%, a e'ress)o musical * realmente dramática# o sentimento,uramente humano. 0m torno dos solistas cantam coros# mas n)o tIm nada que "ercom os coros a caela da *oca oli&4nica# á desemenham e'atamente o mesmo

ael como os coros numa óera de <ounod ou -erdi. A orquestra que acomanha osacontecimentos musicais no alco V * a rimeira "e%, na história da música, queaarece a orquestra# e * surreendentemente numerosa, comosta de uma multid)o deinstrumentos de cordas os contemor8neos chama"am2na de guitarra enormeQ. Hetoda &orma * 3onte"erde o criador da música moderna.

oi, naturalmente, muito combatido. Um musicólogo erudito, o c4nego <io"anni 3aria Artusi, olemi%ou contra 3onte"erde e'atamente assim como Ranslic olemi%arácontra Kagner. 3as n)o &oi oss!"el "oltar ao assado. Ha segunda óera de3onte"erde, 'rianna =1B@ED, erdeu2se a artitura# só ossu!mos uma ária o c*lebreLamentoQ =/asciatemi morire...D que ertence at* hoe ao reertório de todas ascantoras =e cantoresD de concerto# sal"ou2se orque &oi durante toda a rimeira metadedo s*culo +- a melodia mais cantada na tália, nas cortes, nos sal$es, nas tabernas,nas ruas, assim como hoe um sucessoQ da música oular. 3onte"erde tinha e'lorado

a &undo a "erdadeQ da e'ress)o, &oi o rimeiro que soube e'rimir a triste%a, odesesero, a ai')o, o triun&o. :eus recursores, a esse reseito, n)o &oram osoeristas &lorentinos, mas os madrigalistas 3aren%io e <esualdo. 3as a di&eren(a *notá"el naqueles, as disson8ncias &oram a conseq5Incia da adata()o da escrituraoli&4nica 7 declama()o e'ressi"a do te'to# 3onte"erde, or*m, escre"econscientemente de maneira homo&4nica. Chega a disson8ncias, n)o orque n)o sabee"itá2las, mas quando quer encontrá2las, e resol"e2as elos acordes harm4nicos dobai'o cont!nuo. N música moderna.

Orfeo e 'rianna &oram escritas ara a corte de 38ntua. Alguns decInios mais tardeescre"eu 3onte"erde suas últimas óeras ara os teatros em -ene%a. 3as n)o *oss!"el acomanhar, asso or asso, a e"olu()o do grande dramaturgo musical,orque as obras intermediárias se erderam. :ó ossu!mos o Combattimento di"ancredo e Clorinda =1BMD, obra "igorosa, mas de menor "ulto, que ainda hoe ode ser

e * aro"eitada como música de bailado. A e"olu()o da t*cnica de 3onte"erde *,or*m, e"idente atra"*s das suas oito cole($es de madrigais, ublicadas entre 1>EF e1BGE# o madrigal &oi seu camo de e'eriIncias, assim como ara Jeetho"en a sonataara iano. 0sses madrigais tal"e% seam, or isso, as obras mais caracter!sticas domestre, re"elando seu eslendor e sua mis*riaQ. Ha rimeira cole()o at* os Madrigaliguerrieri e amorosi  =1BGED odemos obser"ar, em todos, sua curiosidade insaciá"el deesquisa, seus ocasionais acertos mara"ilhosos, seus muitos &racassos. N músicae'erimental. Os madrigais dos comositores ingleses elisabetianos, os de <astoldi e3aren%io, at* os de <esualdo odiam ser, em nosso temo, re"i"i&icados elasassocia($es madrigalescas. Os de 3onte"erde, n)o. :)o obetos ara estudoshistóricos e da sicologia do comositor. 3as nem em todos os casos * assim. -ale aena chamar a aten()o ara os seis madrigais /agrime d0amante al se!olcro dell0amata,que a eminente ro&essora &rancesa /adia Joulanger mandou gra"ar em disco.

0n&im, 3onte"erde te"e a caacidade, assim como -erdi dois s*culos e meio deois,de reno"ar2se na "elhice. O &ruto maduro de tantas e'eriIncias meio sucedidas * a/0+ncorona4ione di 5o!!ea =1BMD trag*dia musical o enredo V a suntuosa decadInciamoral do m*rio 9omano V resta"a2se esecialmente ara ser trans&igurada emmúsica elo gInio de 3onte"erde# lembra o teatro elisabetiano, como se ossu!ssemosóeras congeniais tiradas das trag*dias de ;ohn Kebster ou ;ohn ord. 0ssa obra * arimeira música ro&undamente sicológica, reresentando caracteresQ, ersonagens

Page 21: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 21/200

dramáticos. Hesde a reedi()o de 1?G@, essa última óera de 3onte"erde reconquistou oalco moderno. A reresenta()o no &esti"al de Ai'2en2Pro"ence, em 1?B1, te"e sucessot)o grande que a obra arece agora continuar no reertório.

3onte"erde, o grande reno"ador, &oi, durante decInios, obeto re&erido de estudosmusicológicos. Continua a sI2lo. 3as n)o * uma &igura só histórica. Orfeo,/0+ncorona4ione di 5o!!ea e as ,es!erae ,irginis "oltaram a &a%er arte integral damúsica que entre nós "i"e.

Hos outro oeristas do gruo "ene%iano n)o se ode a&irmar o mesmo, aesar dasreedi($es modernas. rancesco CA-ALL =1B@M1BFBD arece, em comara()o com3onte"erde, quase arcaico. Os recitati"os dramaticamente agitados, na sua óeraGiasone =1B?D, n)o signi&icam rogresso na linha "ene%iana# antes reali%amlenamente aquilo que &ora o obeti"o dos rimeiros oeristas &lorentinos. Arcaicotamb*m arece o (1quiem ara oito "o%es que Ca"alli escre"eu em 1BF>, destinando2oara os seus rórios &unerais * obra de solenidade austera.

ProgressistaQ &oi 3arcXAntonio C0:T =1BMG1BB?D á lhe imorta menos a "erdadeda e'ress)o do que a bele%a da melodia. 0scre"e árias. /a Dori  =1BB1D &oi sua óera

mais &amosa. Possu!mos not!cias ormenori%adas sobre a reresenta()o de outra óerasua, +l 5omo d0Oro =1BBBD, escrita ara núcias na corte imerial de -iena de"e ter sidoum esetáculo deslumbrante, com a colabora()o de coros e bailados, numa arquiteturasuntuosa, esecialmente constru!da ara esse &im, e com a alica()o de truques cInicosque areciam &a%er articiar do esetáculo o c*u, os !n&eros e a nature%a toda.

/em a leitura dessas obras nem sua reresenta()o em arranos modernos dá id*iaaro'imada do que &oi uma noite de óera no s*culo +-. 0nt)o, sim, &oi reali%ado osonho de Kagner, o Gesamtkunst=erk , a obra na qual colaborariam a oesia dramática,a música, a dan(a e todas as artes lásticas. 0m nossas bibliotecas ainda se conser"amos desenhos cenográ&icos de arquitetos como os membros da &am!lia <alli2Jibbiena e osirm)os Jurnacini, ara reresenta($es de óeras em -ene%a, -iena e 3unique,suerando, de longe, tudo que e'iste de arquitetura rinciesca em -ersalhes ou 3adri.3as as artes cInicas de maquinistas como /icola :abbatini ou <iacomo Torelli V a

descida de deuses ol!micos em máquinas de "oar, a trans&orma()o reentina debosques o"oados de nin&as e sátiros em lagos cobertos de na"ios V essas artes dacena barroca &oram mantidas em segredo# e est)o erdidas ara semre.

J A99OCO  /A  AL03A/RA , 9A/ZA , /<LAT099A

Ca"alli este"e em 3unique. Cesti este"e em -iena. N o come(o da hegemoniamusical italiana nos a!ses ao norte dos Ales. 3ais imortante, &oi, or*m, no in!cio, amigra()o de artistas nórdicos ara o sul, ara arender em -ene%a a no"a arte dos<abrieli e de 3onte"erde.

O holandIs ;an Pieter%oon :K00L/CW =1>BM1BM1D, organista da Oude Wer =grea-elhaD em Amsterd), n)o este"e, ro"a"elmente, na tália. 3as, aesar de ser austerocal"inista nórdico, adotou os rocessos sonoros de Andrea e <io"anni <abrieli a essaqualidade de"em alguns de seus motetes, (egina coeli , )odie Christus natus est , asobre"i"Incia. O quarto centenário do seu nascimento &orneceu oortunidade arademonstrar a "italidade dos seus salmos =1B@1BM1D e de certas obras o cra"o="aria($es sobre Mein 6unges /eben hate in End D. Hisc!ulo de Andrea <abrieli, em-ene%a, &oi Rans Leo RA:L09 =ou RasslerD =1>B1B1MD, deois organista em/uremberg e Ulm. :eus Salmos de 1B@F s)o elaborados 7 maneira "ene%iana# mas o

Page 22: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 22/200

cora()o do homem ertencia 7 &* luterana in"entou, com "eia de &olclorista, as melodiasde "ários corais, inclusi"e o como"ente O )au!t voll blut und >unden =O (osto Cheiode Sangue e 2eridasD que todo mundo conhece da 5ai#o de So Mateus na qual Jach

o inseriu. A música instrumental de <io"anni <abrieli &oi desen"ol"ida or ;ohann Rermann:chein =1>EB1BG@D, que &oi em 1B1B nomeado ara um cargo destinado a grande&uturo $antor , isto *, diretor de música da igrea de :)o Tomás em Lei%ig. :chein &oium dos rimeiros que te"e a id*ia de reunir, em uma &orma de equeno tamanho, "áriasdan(as da *oca, estili%ado2as Sarabande, Gigue, Gavotte, &ourr1e, Minueto,

 'llemande, 5avane etc. Uma obra dessas, destinada a ser e'ecutada durante umbanquete na corte ou no a(o municial, chama"a2se su!te. :chein reuniu no &anquettomusicale =1B1FD muitas su!tes, de t*cnica instrumental bastante a"an(ada e de sabor&olclórico# alguns cr!ticos á acreditam reconhecer nele a in&luIncia de 3onte"erde.

Hisc!ulo mesmo de 3onte"erde &oi Reirich :chuet% =1>EG1BFMD1, tal"e% o maiorgInio da música roriamente barroca. oi homem grande e &orte como um gigante, de"asta cultura erudita e &errenha &* luterana# n)o o quebraram as temestades da *oca.

Tinha estudado Hireito e outras ciIncias antes de &a%er a "iagem ara -ene%a ondeainda chegou a ou"ir <io"anni <abrieli. A in&luIncia "ene%iana * e"idente nos seusSalmos de Davi  =1B1?D, ara dois ou mais coros, mas o es!rito * outro * o da de"o()oalem). 0m 1BME &e%, ela segunda "e%, a "iagem ara -ene%a, tornando2se disc!ulo de3onte"erde. :ua Da!hne, a rimeira óera alem), está in&eli%mente erdida. 9egenteem Hresden, escre"eu as trIs cole($es de S%m!honiae sacrae =1BM?, 1BF, 1B>@D,sueriores a tudo que, em música sacra, nos deram os dois <abrieli e o rório3onte"erde ela e'ressi"idade dramática da melodia cantada, que no entanto nuncase des"ia ara o terreno da óera, semre guardando a dignidade dos te'tos b!blicos# eelo brilho quase mágico do acomanhamento orquestral. nem todas aquelas obras s)ode "alor igual. O grande salmo +n te Domine s!eravi  =1BM?D# a grandiosa lamenta()o2ili mi 'bsalon =1BM?D# a emo()o intensa de Saul =arum verfolgst du mich =Saulo !orque me 5erseguesID =1B>@D# e o sereno hino de :ime)o, :unc Domine dimittis servum

tuum in 5ace =1BFD eis os &rutos maduros da música sacra "ene%iana, mas saturadasde de"o()o luterana, mais essoal. He insira()o di&erente * o Magnificat  =1BFD, dedelicioso sabor &olclórico alem)o, uma antecia()o da arte de Jach.

Como a maior obra de :chuet% * considerada, or alguns, a 'uferstehungshistorie =)ist7ria da (essurreiJo, 1BMGD, ainda &ortemente monte"erdiana# declama()odramática, um ouco monótona, do te'to e"ang*lico, interromida or coros de &or(aassombrosa. Outros re&erem Die sieben >orte am $reu4 = 's Sete 5alavras na Cru4 ,1B>D * melhor reali%ada a s!ntese entre o estilo da óera "ene%iana e as e'igIncias!ntimas da de"o()o luterana.

Os horrores da <uerra dos Trinta Anos obrigaram o mestre a &ugir at* a Hinamarca ea le"ar, deois, uma "ida n4made, caminhando de cidade ara cidade. :ó quando "elho"oltou ara Hresden. :uas últimas obras s)o, entre 1BB> e 1BBB, a 5ai#o Segundo So3oo e a 5ai#o Segundo So Mateus, obras de estilo deliberadamente arcaico, aesar

da dramaticidade dos recitati"os e coros# s)o escritas a caela, sem acomanhamento,como se o "elho quisesse e'iar ecados e castigos merecidos.

0m temos melhores, :chuet% tal"e% n)o &osse muito in&erior a Jach# mas o adeti"o

1 0di()o das obras or Ph. e R. :itta e A. :chering, 1? "ols. 1EE>1?MF. Ph. :itta, )eirichSchuet4 /eben und >erke, Jerlim, 1E?. A. Pirro, )einrich Schuet4 , Wassel, 1?ME. R. ;. 3oser,)einrich Schuet4 sein /eben und seine >erke, Wassel, 1?GB. 

Page 23: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 23/200

melhoresQ n)o alude só aos horrores da guerra. :chuet% nasceu e "i"eu numa *oca dee'eriIncias e e'erimentos. 6uando acertou, acertou melhor que 3onte"erde. 3as amaior arte das suas obras, mais que as do "ene%iano, só tIm imort8ncia histórica. 0m

sua grande%a há algo de arcaico, de inacess!"el, como de uma grande ra(a e'tinta. /)o"oltou, com sua obra total, a &a%er arte da música moderna.

0ntre os italianos que emigraram ra o norte, o maior ael histórico esta"a destinadoao &lorentino <io"anni Jattista Lulli, que na ran(a chegou a chamar2se ;ean2JatisteLULL] =1BGM1BEFD1. Come(ou sua carreira "ertiginosa como bailarino e alha(o.Chegou a obter de Lu!s +- um ri"il*gio real que o instituiu, raticamente, como ditadorda música na ran(a, relegando ara o ostracismo todos os seus cometidores deorigem &rancesa. LullS n)o &oi, or*m, um in"asor estrangeiro, ocuando o a!s. N umcaso assombroso de mudan(a de nacionalidade, lembrando o olonIs Wor%enio^si,trans&ormado em romancista inglIs Conrad. /)o esqueceu, naturalmente, suas origensitalianas. Ainda em temos muito osteriores escre"eu um grandioso Miserere, no estilode 3onte"erde. Tamb*m emregou os recursos e rinc!ios do grande "ene%iano aracriar a óera &rancesa. 3as á s)o obras tiicamente &rancesas, só oss!"eis no

ambiente de Lu!s +- e da trag*dia de Corneille =mais do que da de 9acineD. N como sea música re"elasse a alma barroca dentro do clacissismo o&icial dessa *oca na ran(a.Relmut Rat%&eld, em seus trabalhos sobre a subst8ncia barroca do grand sicle &rancIs,oderia ter citado a arte de LullS.

 As óeras mais admiradas de LullS &oram "h1s1e =1BF>D, 't%s =1BF>D e 5roser!ine =1BE@D. Aesar de tudo que querem di%er os musicólogos, n)o s)o obras "i"as ou queoderiam, um dia, ressurgir ara "oltar ao reertório. 3as sua imort8ncia histórica *grande. /)o acreditamos na tese que encontra no recitati"o de LullS uma antecia()o daarte de <luc. O que nos interessa, naquelas obras, * o acomanhamento instrumental.3onte"erdi tinha emregado uma massa imensa de cordas, a grande guitarraQ,acumula()o inorg8nica de instrumentos. LullS organi%ou o bloco, mais modesto e maishomogIneo, nos KL violons du (oi # acrescentou um equeno gruo de instrumentos desoro# á * a "erdadeira orquestra. 0mregou2a ara &a%er e'ecutar, antes das óeras,

uma sinfonie, isto *, uma abertura a &orma chamada ouverture franJaise. Comosta deuma introdu()o lentamente maestosa, um mo"imento ráido e um des&echo lento. 0ssa&orma in"entada or LullS será da maior imort8ncia na e"olu()o dos gIneros aberturaQe sin&oniaQ. 0 n)o &oi o único gInero instrumental culti"ado or LullS a &orte articia()ode dan(as na óera &rancesa tamb*m o le"ou a dedicar aten()o esecial 7 su!te, queor ele se tornou, quase, um gInero esecialmente &rancIs.

 A &amosa e notória ditadura de LullSQ &e% muitas "!timas. Uma delas, 3arc2AntoineCRA9P0/T09 =1BG1F@DM, tornou2se ostumamente um nome c*lebre, embora essa&ama só se aoiasse, durante dois s*culos e meio, em oucas obras conhecidas,sobretudo o oratório /e (eniement de Saint 5ierre. :ó em nossos dias chegou2se aestudar os ME "olumes de seus manuscritos, guardados na Jiblioteca /acional de Paris#e onde há obras de música sacra de grande "alor, como um Magnificat , um suntuoso "eDeum e a Messe !our l0'ssom!tion. 3as esse anti2LullSQ tamb*m escre"eu a música

ara o Malade imaginaire# &oi o colaborador musical de 3olire. Outra "!tima ilustre deLullS &oi 3ichel 9ichard de LALA/H0 =1B>F1FMBD, que te"e a sorte de sobre"i"er or

1 0di($es das obas or R. Prunires, 1?G@ e seguintes, L. de la Laurencie, /es cr1ateurs del0o!1ra franJais, Paris, 1?M1. 0. Jorrel, 3ean-&a!tiste /ull% le Cadre la ,ie la 5ersonnalit1, le(a%onnement , les Oeuvres, Paris, 1??.M Cl. Crussard, Marc-'ntoine Char!entier , Paris 1?>.

Page 24: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 24/200

muito temo ao ditador, terminando seus dias como regente de coro da caela docastelo de -ersalhes. /essa caela &oi em 1? cantado, ela rimeira "e% desde 1F@F,o De 5rofundis de Lalande, música decorati"a e suntuosa =assim como o &enedictus de

1B?>D, com acentos de dramaticidade monte"erdiana, mas ouco litúrgica# estilo Lu!s+-. monente tamb*m e o 8squoque Domine =salmo 1GD. 3úsicos e musicólogos&ranceses est)o, nos últimos anos, "i"amente emenhados em consertar a inusti(asecular cometida contra Charentier e Lalande.

Um último e retardado e&eito do estilo monte"erdiano * a óera de RenrS PU9C0LL=1B>E21B?>D1. 6uando ele nasceu, 3onte"erdi á morrera e :ch5t% esta"a muito "elho#quando morreu, Jach, Randel e Homenico :carlatti eram crian(as. Purcell * o maiormúsico de sua *oca. :ua morte rematura, com GF anos de idade, teria sido erdamenor ara a arte, se Purcell ti"esse encontrado em "ida as &ormas musicais de que seugInio recisa"a. O destino condenou2o a e'erimentar, a recursor. /as suas 1@ trio2sonatas =1BEGD, das quais as mais &amosas s)o a Sonata de Ouro, n.N, em f; maior e aSonata n. em sol menor  =Chacon% D, * Purcell o recursor de Pergolese e de toda amúsica instrumental do s*culo +-# mas n)o adi"inha a sonata2&orma. Continua

culti"ando &ormas antigas as 1> 2antasies ara trIs a sete "o%es de \amba, que s)o,aliás, ótima música. Ha sua música sacra sobre"i"e o "e Deum de 1B?, que os corosingleses ainda costumam cantar no /atal, e as quatro odes ara o dia de :ta. Cec!lia# *música concertante, arecida com a &orma da cantata bachiana, anteciando e&eitos deRandel, mas sem atingi2los. Caráter e'erimental tamb*m tIm as obras dramáticas dePurcell. /)o s)o óeras mas antes música de cena ara e(as teatrais, como $ing

 'rthur =1B?1D# reresentado or Wonrad no &esti"al de /Smhenburg, em 1?M1. era"erdadeira * Dido and Eneas =1BE?D, que á "oltou a aarecer no reertório modernoobra bel!ssima, embora mais interessante elos ormenores do que em conunto. Didoand Eneas * !endant  musical da trag*dia heróicaQ da 9estaura()o, dos HrSden eOt^aS, que &oi tentati"a menos bem2sucedida de s!ntese do teatro elisabetiano e doclassicismo &rancIs. A tentati"a de s!ntese do estilo de 3onte"erde com as qualidadesdramatúrgicas rórias do teatro inglIs tamb*m deu mistura algo heterogInea, emboracheia de colorido heróico e erótico. /ote2se a &orte e'ress)o dramática nos recitati"os,o uso do &olclore inglIs nos coros, a re&erIncia elos ritmos de dan(a =in&luIncia deLullSD. 0m certos momentos se ensa em <luc. A id*ia de translantar -irg!lio ara oscamos ao lado do T8misa resultou em &us)o de elementos classicistas e nacionais,quase uma antecia()o do romantismo. 0ssa solitária obra2rima barroca *ro"a"elmente a maior obra da música inglesa.

O93A:  HO  J A99OCO

3estres como 3onte"erde, :chuet% e Purcell, certamente de rimeira ordem, n)odei'aram 7 osteridade aquele grande número de obras2rimas que deles se odiaeserar. oram e'erimentadores geniais que só acertaram ocasionalmente# a massada sua rodu()o está, ara nós, erdida. Hos contemor8neos menores, quase nadasobre"i"e.

O s*culo +- n)o chegou a resol"er os dois roblemas rinciais que a re&orma3onte"erdeana lhe legara. A música da *oca da oli&onia "ocal ossu!a rigoroso

1 0di()o das obras ela Purcell2:ocietS, ME "ols., 1EFE1?GM. R. Hur*, 5urcell , Paris, 1?MF. 0.;.Hent, 2oundation of English O!era, Cambridge, 1?ME. ;.A. Kestru, 5urcell , Londres, 1?GF. 9.0.3oore, )enr% 5urcell and the (estoration "heatre, Londres, 1?B1.

Page 25: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 25/200

esquema tonal, herdado da dade 3*dia, e &ormas certas da constru()o arquitet4nica. Ahomo&onia e o bai'o cont!nuo n)o chegaram a substitu!2los. /em &oi oss!"el 4r emordem esse no"o mundo caótico das disson8ncias e dos cromatismos.

O rimeiro desses dois roblemas, o do sistema tonal, n)o será resol"ido antes doin!cio do s*culo +-. 6uanto ao roblema das &ormas, come(am, á antes, a esbo(ar2se"árias solu($es.

 A óera renunciou a uma arte do terreno conquistado 7 &orte e'ress)o dramática,que amea(a"a destruir as biens1ances do mundo aristocrático. O comositor limita2se ainterromer a a()o dramática, con"encionalmente elaborada, or e(as "ocaisbrilhantes, as árias, nas quais reside rincialmente o "alor musical das obras. N o tiode óera de Alessandro :carlatti e Randel. A ornamenta()o das linhas melódicascantadas ser"e, no in!cio, ara salientar o caráter r!gido, dir2se2ia monárquico e quasesacro, dessa música teatral. Heois, come(a a re"alecer a ornamenta()o ao gosto do9ococó.

0ssa &orma de música "ocal, a ária ornamentada, tamb*m terá &orte in&luIncia namúsica instrumental barroca. 3as esta á ertence rincialmente 7 rimeira metade do

s*cul +-, isto *, 7 *oca da análise matemática, cuo es!rito in&orma no"as &ormasinstrumentais. He"e2se 7 óera e aos oeristas o aer&ei(oamento da su!te ela &oi, notemo de LullS, mera acumula()o de dan(as estili%adas# agora, no temo de Couerin eJach, a su!te aracer2se2á com "erdadeiros anoramas de "ida contemor8nea, re&letidaem música a corte de -ersalhes e o mundo de astores de orcelana de :"res, a "idade"ota, submissa e alegre dos burgueses alem)es e a dan(a dos camoneses ao arli"re e os corteos cerimoniosos que inauguram as sess$es do Parlamento inglIs.Tamb*m * translantado ara a música instrumental o esquema da ária oer!stica estacome(a com um trecho orquestral =o ritornelloD# deois, o cantor declama a ária# en&im, oritornello * reetido. 0sse esquema, o AJA, dá a lanta arquitet4nica do concertogrosso A, os tutti, a orquestra# J, a e'ibi()o dos solistas# A, no"amente, os tutti . 3asesse esquema * logo V com es!rito matemático V analiticamente desen"ol"ido, eladistribui()o do tema entre "árias "o%es e elas suas modi&ica($es s)o as &ormas da

&uga e da "aria()o, que nasceram no órg)o. Com elas "olta a oli&onia ara a músicainstrumental. 0 n)o só ara a música instrumental. Pois o emrego dessas &ormasoli&4nicas ara o canto em coro e a mistura desses coros com árias con&orme oesquema AJA, dá os dois gIneros no"os da música barroca, ara solistas, coro eorquestra a cantata e o oratório.

O caminho de e"olu()o da música barroca está assim indicado na óera, a redu()oao lirismo homó&ono# na música instrumental e sacra, a renascen(a da oli&oniaabandonada.

 A RO3OO/A  /A  P09A  0  /A   <90;A

Os &lorentinos tinham in"entado a óera ara aer&ei(oar a arte dramática. 0m "e%disso surgiu um gInero que os &ranceses e os italianos costumam, at* hoe, chamar de

l!ricoQ. Arte l!rica no teatro * uma contradictio in ad6ecto, um absurdo. /o entanto, * um&ato histórico# e de "ida tenac!ssima.

O ber(o dessa no"a óera &oi /áoles1. :eu criador * Alessandro :carlatti =1B>?

1 <. Tintori, /0O!era :a!oletane, 3il)o, 1?>E.

Page 26: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 26/200

1FM>DM. /)o será inusto chamá2lo de grande oortunista. Pois sabia escre"er e escre"euem "ários estilos, con&orme a oortunidade o e'igiu. Certa arte das suas numerosasobras de música sacra está no estilo antigoQ, inclusi"e motetes a caela e uma missa

bem alestriniana. 3as toda a bele%a l!rica das suas óeras tamb*m se encontra em seuStabat Mater , recentemente re"i"i&icado or uma gra"a()o em disco, e nos seusoratórios, que s)o roriamente óeras de enredo b!blico, destinados ara a e'ecu()odurante a 6uaresma, quando o uso, nos a!ses católicos, n)o ermitia a reresenta()ode óeras ro&anas. Rá, entre esses oratórios, obras e trechos admirá"eis. 0m Sedecia =1F@BD, a orquestra de LullS está largamente suerada, elo brilho dos instrumentos desoro. 0m /a ,ergine addolorata =1F1FD há certas árias a roósito das quais á &oilembrado o nome de Jach. 3as s)o obras teatrais. Tamb*m á s)o introdu%idas orsin&oniasQ, isto *, aberturas. O tio de abertura italianaQ, de"ido a Alessandro :carlatti,*, or*m, o contrário da abertura &rancesaQ de LullS em "e% de um trecho ráido entredois trechos lentos escre"e :carlatti um trecho lento entre dois trechos ráidos * ogerme da sin&onia.

:carlatti escre"eu aberturas assim ara suas numerosas óeras, reresentadas entre

1?B@ =(osauraD e 1FM1 =GriseldaD# todas elas &amosas durante a "ida do comositor# elogo deois esquecidas. Os comositores do s*culo +- n)o esera"am, aliás, outrodestino das suas obras# escre"eram ara determinada oortunidade, mas n)o ara &icarno reertório. /o caso de Alessandro :carlatti, a osteridade rati&icou aquele ulgamentotodas as óeras desse grande mestre &oram e'clu!das do cor!us da música que "i"e. Arória nature%a e constru()o daquelas obras * o moti"o do esquecimento. Alessandro:carlatti * o criador da ária melodiosaQ, da ária na qual o ou"inte guarda na memória amelodia, embora n)o udesse cantá2la as di&iculdades do bel canto reser"aram isto aoscantores ro&issionais. Heois da reresenta()o, nada &ica sen)o a recorda()o daquelas

 !ices de r1sistance, das grandes árias de amor ou de desesero, das árias de lamentoou de ombra =in"oca()o dos mortosD# uma dessas árias de Alessandro :carlatti, Caratomba =da óera Mitridate, de 1F@FD, imressionou tanto o grande Jach que a coiou emseu caderno de notas. 0 Mitridate realmente * uma obra2rima, tamb*m ela e'ress)odramática nos recitati"os# ressurgiu "igorosamente no &esti"al de Jordeau' em 1?BM.3as * uma e'ce()o# em geral só sobre"i"em árias isoladas. Uma ou outra ainda odeser ou"ida, hoe em dia, em concerto, como aria antica. Os libretos n)o tIm signi&ica()odramática# n)o assam de andaimes de que as "o%es dos cantores se ser"em ara subirao c*u do bel canto. A grande ária * cantada ustamente no momento em que a a()odramática ára# ou antes, a a()o &ica interromida, ara o cantor recitar a grande ária,que n)o tem &un()o sen)o a de agradar aos ou"idos. A óera naolitana * arteessencialmente n)o2dramática, l!rica. 0 Alessandro :carlatti re"ela o lado mais &orte doseu gInio nas cantatas de c8maraQ, equenas obras l!ricas, das quais /ontanan4acrudele *, at* hoe, muito conhecida e Su le s!onde del "ebro merece sI2lo.

Pois gInio era. :ua imort8ncia histórica * de rimeira ordem, inclusi"e ara asolu()o de um dos mais gra"es roblemas da música barroca de maneiraassistemática, intuiti"a, :carlatti á se mant*m dentro dos limites das tonalidadesmodernas e da seara()o rigorosa entre tom maior e tom menor. Antecia os sistemasdo Cravo &em "em!erado, de Jach, e do "rait1 d0)armonie, de 9ameau. 3as de suaobra, assim como da dos seus disc!ulos, só sobre"i"em os equenos trechos que oseditores italianos editaram e editam como arie antiche, ara o uso no ensino e no

M 0. Hent, 'lessandro Scarlatti his life and =ork , Londres, 1?@>. Ch. "an den Jorren, 'lessandroScarlatti et l0esth1tique de l0o!1ra na!olitain, Jru'elas, 1?M1.

Page 27: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 27/200

concerto.

/ingu*m teria, ent)o, re"isto que esta"a reser"ado destino melhor ao uso do mesmoestilo oer!stico na música sacra e, or outro lado, na o!era buffa ou c4mica. /aquela,

será introdu%ido or Hurante. Aos dois gIneros está ligado o nome do seu disc!ulo,<io"anni Jattista Pergolese =1F1@1FGBD1.

 A rimeira o!era buffa &oi o "rionfo d0onore =1F1ED, de Alessandro :carlatti. 3as ainda* c4micaQ no sentido da Comedia de ca!a % es!ada esanhola. :ó /a Serva !adrona de Pergolese * óera autenticamente italiana e "i"amente c4mica. 3as seu autor &oihomem triste.

 A lenda tem des&igurado, incri"elmente, a biogra&ia de Pergolese. :ua morterematura, aos MB anos de idade, teria sido causado or "eneno. Por quI Obra de umri"al ciumento, orque o o"em maestro, belo como um ano, teria sido conquistadorterr!"el. Outros contemor8neos a&irmam que teria sido reulsi"amente &eio e aleiado./)o * oss!"el esclarecer essas lendas todas# nem * necessário. :abemos quePergolese &oi disc!ulo de Hurante no conser"atório dei Po"eri em /áoles# que suasrimeiras obras tinham ouco sucesso# que tamb*m &oi &riamente recebida sua o!era

seria +l !rigioner su!erbo =1FGGD# que o comositor tinha escrito, con&orme usonaolitano, umas cenas c4micas ara serem reresentadas durante os inter"alosdaquela grandeQ óera# e que esse interme44o te"e "i"o sucesso &oi /a Serva !adrona.Heois que escre"eu ara a irmandade dos Ca"alieri della -ergine deXdolori o StabatMater # que, nesse ano de 1FGB, á esta"a gra"emente tuberculoso, retirando2se ara umcon"ento em Po%%uoli, onde morreu, logo deois de ter escrito as últimas notas do seuSalve (egina.

0sse Salve (egina, que &oi recentemente gra"ado em disco, * música quase &únebre,de de"o()o eleg!aca, ara la%%aroni naolitanos e suas mulheres e &ilhos, gentees&arraada e no entanto &eli% em sua &* simles. Uma grande elegia religiosa, em estilomediterr8neo, tamb*m * o c*lebre Stabat Mater , obra at* hoe geralmente conhecida emuito e'ecutada. 0 com ra%)o. Pode arecer2nos sentimental, de ouca ro&undidadeemocional. 3as * de intensa insira()o l!rica. Certo trecho, o Quando cor!us morietur

fac ut animae donetur 5aradisi gloria, * de bele%a mo%artiana. O :tabat de Pergolesede"e sua &ama aos músicos e musicólogos alem)es do s*culo +-, muito sentimentaise cheios de saudade do sul mediterr8neo que imagina"am como um ara!so de bele%a einocIncia assim elogiaram a obra os ;ohann Adam Riller, Kieland, 9eichardt. 3astamb*m hou"e oini)o di&erente. Hois conhecedores como orel e 9ochlit% deram are&erIncia ao Stabat Mater  =1F@FD de 0mmanuele de A:TO9<A =1BE@1F>FDM, demaior e'ressi"idade dramática e suerior arte oli&4nica. /o Stabat de Pergolesecensuraram a le"iandadeQ melódica de um trecho como +nflammatus et accensus, quelembra irresisti"elmente a "er"e r!tmica da óera2c4mica.

Pois o autor do Stabat naolitano tamb*m *, e em rimeira linha, o de /a Serva !adrona =1FGGD. N uma equenina obra2rima, com aenas dois a*is, a criadagraciosa e astuta que, com truques ino&ensi"os e alegres, conquista o amor do seuatr)o. 0 *, ela rimeira "e%, uma óera baseada no &olclore musical e nos costumes

da tália "i"a. 3uitos anos deois da morte de Pergolese, em 1F>M, uma comanhiaitaliana reresentou a Serva !adrona em Paris, com imenso sucesso# desde 1F>, umatradu()o, /a Servante maPtresse, &icou incororada ao reertório &rancIs. Continua no

1 0di()o das obras or . Ca&&arelli, 1?G? e seguintes. <. 9adiciotti, Giovanni &attista 5ergolese,Ma. ed., 9oma, 1?G1.M R. -olmann, Emmanuele d0'storga, M "ols., Lei%ig, 1?111?1?.

Page 28: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 28/200

reertório at* hoe. 0 tem tido role numeros!ssima# * o modelo de toda a óera2c4micaitaliana, &rancesa e esanhola.

O estilo em que se odiam escre"er igualmente música sacra e óera2c4mica,

tamb*m ser"iu bem ara insu&lar algo de cantabilidadeQ naolitana aos instrumentos astrio2sonatas =1FG1D de Pergolese anteciam algumas qualidades da música de RaSdn.

Pergolese á n)o * chamado, hoe em dia, de 3o%art italianoQ. 3as &oi, certamente,um gInio recursor.

He toda a música italiana daquela *oca só o Stabat Mater  de Pergolese continua"i"o, gra(as 7 colabora()o de "árias circunst8ncias casuais. O resto está esquecidoassim como a o!era seria# e elo mesmo moti"o. Pois * uma música oer!stica que usate'tos sagrados como libretos. O estilo *, nois dois gIneros, idIntico# a escritura, ainterdeendIncia constante de solistas, coro e orquestra, lembra2nos o estilo oucoedi&icante da música sacra do s*culo ++. 3as esse &ato basta ara demonstrar agrande imort8ncia histórica do gInero, cua e"olu()o n)o merece o desre%o. Tamb*mode ha"er, entre aquelas obras, uma ou outra surresa.

 A música sacra italiana do s*culo +- á &oi, or alguns historiadores, comarada aoestilo esu!tico na arquitetura# o que * e"idente anacronismo. 3as e'iste uma rela()odessas nas origens.

<iacomo CA9::3 =1B@>1BFD &oi regente do coro do Collegium <ermanicum, dos esu!tas, em 9oma. :eus oratórios, equenas obras dramáticas sobre te'tos b!blicosara serem cantadas sem cenário, enquadram2se entre os instrumentosroagand!sticos da Comanhia de ;esus, assim como o teatro escolar dos adres.Para conseguir o e&eito almeado, o comositor usou o estilo musical de melhoraceita()o no momento n)o roriamente o da óera monte"erdiana, mas, em todocaso, um estilo homó&ono e melódico, limitando ra%oa"elmente o uso da oli&onia noscoros. Hos 1M oratórios de Carissmi, 3e!hte =1B>@D * hoe conhecido or uma gra"a()oem disco. N uma obra agradá"el, edi&icante, ele"ada e "i"amente dramática. 3as n)o hámoti"o ara &alar, como á se &e%, em Randel do s*culo +-Q.

O uso de e'ecutar oratórios durante a 6uaresma, quando era roibida areresenta()o de óeras ro&anas, tem contribu!do ara &omentar a rodu()o de obrasdesse gInero e ara torná2lo cada "e% mais oer!stico. 0ste último adeti"o n)o temsentido eorati"o. A&inal, um oratório n)o * e'ecutado durante o culto# n)o * obralitúrgica# e, sendo semidramática, n)o recisa renunciar aos e&eitos teatrais. Um oratóriograndiosamente dramático * o San Giovanni &attista =1BF>D, de Alessandro:T9AH0LLA =c. 1B>1BEMD# o comositor &oi ersonagem rom8ntico, cua "ida Vratou a amante de um aristocrata e &oi assassinado elos esbirros V tem &ornecido oenredo de uma óera de loto^. :tradella &oi nature%a de recursor escre"eu asrimeiras cantatas de c8mara e os rimeiros concerti grossi . Um concerto grossotamb*m ser"e, algo estranhamente, de abertura ao :an <io"anni Jattista, obraimressionante que &oi e'umada, em anos recentes, e e'ecutada na tália com notá"elsucesso. 0ntre os outros oratórios da *oca tal"e% mere(a uma iniciati"a, nesse sentido,a Gerusalemme liberata, de Carlo Palla"icino =1BG@1BEED# ou o Davidde =1FMD, derancesco CO/T =1BEM1FGMD, que antecia artes corais de Randel.

`...

 A sincroni%a()o da música sacra com o estilo oer!stico de Alessandro :carlatti * obrade rancesco HU9A/T0 =1BE1F>>D dois Magnificat  seus, em si bemol maior e em r*maior, e uma missa de r*quiem, de bele%a sua"e e et*rea, ainda odem ser ou"idos emconcertos alem)es =cada "e% mais raramenteD, e em igreas de /áoles. Hisc!ulo seu

Page 29: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 29/200

&oi Pergolese. :eu estilo á * o mesmo da música sacra de RaSdn e 3o%art.

 A "itória desse estilo n)o &oi instant8nea# e hou"e resistIncia s*ria. 0m -iena, oregente do coro da catedral de :ant :tehan, ;ohann ;oseh u' =1BB@1F1D,

mante"e com energia o rest!gio da música a caela, oli&4nica e contraont!stica sobrea qual escre"eu &amoso tratado, o Gradus ad 5arnassum. :ua Missa Cannica araquatro "o%es =1F1ED *, ela última "e%, um modelo de estilo alestriniano# admira()oe'cessi"a con&eriu2lhe o t!tulo de Palestrina austr!acoQ.

3enos e'clusi"o &oi Leonardo L0O =1B?1FD. :eus contemor8neos e os cr!ticosmusicais do romantismo &estearam2no or causa das suas obras a caela, sobretudoum &amoso Miserere ara oito "o%es. A osteridade chegou a areciar ustamente o ladooosto das suas ati"idades num recente &esti"al de música sacra em Perúsia &oie'ecutado, ela rimeira "e% desde 1FGM, o oratório /a morte d0'bele, que reúne estilooli&4nico e e'ress)o dramática, 7s "e%es teatral. Os coros no &im das duas artes daobra, Oh di su!erbia figlia e 5arla l0estinto 'bele, s)o solenes e como"entes ao mesmotemo, com um ouco de sentimentalismo que lembra a ro'imidade da *oca r*2rom8ntica.

O mais cons!cuo entre esses retrógrados ou conser"adores * o aristocrata "ene%ianoJenedetto 3A9C0LLO =1BEB1FG?D, um dos nomes mais &amosos na história damúsica. /um an&leto que &e% sensa()o, +l teatro alla moda =1FMMD, denunciou a óerade tio scarlattiano como mera e'ibi()o de "aidades dos comositores e cantores, sem"alor musical e moral, sem aelo aos sentimentos humanos# 3arcello á le"anta aergunta retórica que mais tarde os !hiloso!hes &ranceses dirigir)o aos músicosMusique qu0est-ce que tu me veu#  0 re&ere a música sacra que enetra nasro&undidades da alma. 3ais tarde, 3arcello so&reu um acidente misterioso =numa igrea"ene%iana caiu, or acaso, num túmulo abertoD que o le"ou a abandonar todas as"eleidades art!sticas ara dedicar o resto da sua "ida a e'erc!cios religiosos. A in"as)oda música sacra elo estilo oer!stico encheu2o de indigna()o. A essa arte sacr!legao4s os dois "olumes da sua &amosa obra Estro !oetico-armonico =1FMG1FMFD s)o >@salmos, na ará&rase italiana =um ouco em dialeto "InetoD de Lionardo <iustiniani,

ostos em música ara uma a quatro "o%es com acomanhamento de "ioloncelo ebai'o2cont!nuo, alguns a caela. O estilo * o de declama()o usta das ala"ras# araacertar a "erdade religiosaQ do te'to, 3arcello tinha assiduamente &req5entado asinagoga de -ene%a, aro"eitando melodias do canto sinagogal, o que dá 7 sua obra umestranho sabor arcaico# or outro lado, arca!smos t)o arti&iciais n)o dei'am de rodu%irin"oluntariamente e&eitos oer!sticos. 0ssa mistura de religiosidade e ostenta()o álembrou a um cr!tico os suntuosos altares de estilo esu!tico em igreas deca!das e meioarruinadas de -ene%a. Alguns desses salmeos semre &oram considerados como obras2rimas =sobretudo os nos.1, MM, M>, e outrosD. Os cr!ticos musicais da *oca rom8ntica,como 0.T.A. Ro&&mann e Thibaut, e ainda 30ndelssoh, sentiram a mais "i"a admira()oelo Estro !oetico-armonico, que se lhes a&igura"a como música antigaQ# o rório -erdi&alou, deois de ou"i2lo, em antica arte italianaQ. :omos, hoe, um ouco mais c*ticos.3as * reciso ad"ertir que os arranos modernos ara solistas e coro, or ra%%i e or

<erelli, n)o d)o id*ia usta do original e de sua religiosidade mais !ntima, or assim di%ercamer!stica.

Con&orme 1tudo isso, 3arcello dá imress)o de reacionário. 3as n)o &oi. oi, emrimeira linha, aristocrata e homem do mundo, tal"e% cheio de in"ea dos sucessos dos

1 A descoberta osterior de uma colet8nea que surgiu em Amsterd) or "olta de 1F1B esclareceua "erdadeira autoria. O concerto &oi comosto or Alessandro 3arcello, irm)o de Jenedetto.

Page 30: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 30/200

músicos ro&issionais. Cometiu com eles na óera 'rianna =1FMED, que te"e na *ocaum sucesso de estima# a reresenta()o em -ene%a, em 1?>B, dececionou. Tal"e% sea3arcello ouco mais que um nome &amoso Ou tal"e% menos que um nome Obra de

"alor ermanente * um concerto ara obo* e orquestra de c8mara, em r* menor,&amos!ssimo durante o s*culo +-, transcrito ara cra"o elo rório Jach eertencendo at* hoe ao reertório camer!stico# :chering e outros musicólogos áatribu!ram esse concerto a 3arcello# mas * obra an4nima.

RO3OO/A   /:T9U30/TAL HO  J A99OCO   AO  9OCOC

/enhuma resistIncia conseguiu imedir a "itória da homo&onia na óera, na músicasacra e na música instrumental# embora nesta última as ossibilidades do usosimult8neo e a resen(a de instrumentos de tecla, como bai'o cont!nuo, contribu!ssemara recondu%ir a no"as honras a oli&onia. A mais simles das no"as &ormas * a sonataara "iolino =e"entualmente, ara "iolonceloD com acomanhamento de bai'o cont!nuoci&rado. Cabe lembrar que essas sonatas s)o simles e"olu($esQ sobre um tema,

arecidas com um rondó moderno# n)o tIm nada com a sonata da *oca clássico2"ienense e do romantismo. 3as aquela sonata n)o * a &orma mais antiga. Ainda maisarcaica * a trio2sonata na qual outro instrumento de cordas =o "ioloncelo, comre&erInciaD aóia o solista. Ha! arece só um asso ara o concerto um solista =o"iolino, mas tamb*m ode ser instrumento de soro `...D, acomanhado ela orquestrade c8mara, orque nessa *oca, toda a música instrumental * camer!stica. 3as oconcerto de solista antes * roduto osterior da e"olu()o. O gInero t!ico da músicainstrumental barroca * o concerto grosso no qual dois, trIs ou mais solistas=instrumentos di"ersosD alternam com a orquestra de c8mara =os tutti D. N um gInero,que, ela sua nature%a, insira "eleidades oli&4nicas ser)o, segundo a &orma()o docomositor, mais &racas num Corelli, mais &ortes num Jach. 3as a &alta de um rinc!iode desen"ol"imento dos temas le"ará a acentuar as artes "irtuos!sticas do instrumento2l!der. :obretudo do "iolino.

O canto homo&4nico da "o% humana nasceu em 38ntua, cidade dos rimeiros triun&osde 3onte"erde. 3uito erto de 38ntua =a obser"a()o * de To"eSD &ica a cidade deCremona, onde, naqueles mesmos anos, se reali%ou uma equena re"olu()o naconstru()o de instrumentos musicais. At* ent)o, o "iolino &ora um instrumentodesre%ado, só usado or mendigos ou ara acomanhar a dan(a dos embriagados nata"erna e de camoneses na aldeia# instrumento que assa"a or obscenoQ, de usoroibido na igrea ou em sal)o de gente bem2educada. 0m Cremona, no s*culo +-, os:tradi"arius, Amati, <uarnieri trans&ormaram o "iolino em instrumento nobre, ou antesno mais nobre dos instrumentos musicais. 0 o "iolino come(ou a cantar como a "o%humana, e melhor.

O rimeiro grande "iolinista &oi Arcangelo CO90LL =1B>G1F1GD1, que &oi em 1F@Beleito membro da &amosa academia literária da 'rc;dia e, em 1F1G, seultado na igrea:anta 3aria dei 3artiri, o Pante)o de 9oma. Romenagens que, naquela *oca, n)o se

costuma"a conceder a um músico, a um tocador de rabecaQ, d)o a usta medida da suaglória entre os contemor8neos. /)o se cansa"am de admirá2lo. Chama"am2no dearcano mesmoQ. Testemunhas descre"em seu comortamento esquisito ao tocar o"iolino, ora &echando os olhos e entregando2se a I'tases m!sticos, ora torcendo2se emmo"imentos burlescos e &a%endo caretas. 0ssas articularidades n)o se re"elam em sua

1 3. Pincherle, Corelli , Paris, 1?GM.

Page 31: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 31/200

linha melódica, que semre * um canto nobre, aristocraticamente medido. N a rimeira"e%, na história da música, que um instrumento canta e at* arece &alar. 0 que di%Corelli &oi, em 9oma, rimeiro "iolinista na igrea de :an Luigi dei rancesi e, deois, no

Teatro Caranica. 0is os dois asectos, o religioso e o ro&ano, da sua obra antes detudo, os E trio2sonatas =ara dois "iolinos e bai'o2cont!nuoD que ublicou, como o!us R,K ,  e L, entre 1BEG e 1B?. :)o, em arte, sonatas de igreaQ, nas quais ser"e comocont!nuoQ o órg)o, e em arte sonatas de c8maraQ, nas quais desemenha a mesma&un()o o cra"o. 3as n)o há, entre os dois gIneros, nenhuma di&eren(a de estilo todasaquelas sonatas arecem igualmente religiosas e nobres. Um marco histórico s)o as&amosas 1M sonatas ara "iolino e cont!nuo, o!. T  =1F@@D, as rimeiras solo2sonatasQ, o"erdadeiro in!cio da literatura "iolin!stica. Hurante todo o s*culo +- ser"iram comoobra &undamental do ensino do instrumento. O rom8ntico 0. T. A. Ro&&mann aindacostuma"a tocá2las ara sua edi&ica()o. /o s*culo ++, o grande "iolinista ;oachim,amigo de Jrahms, editou2as no"amente. Aos "irtuosos de hoe arecem &áceis demais./o reertório de concerto sobre"i"e elo menos a Sonata em r1 menor , o!. T , no.RK ,denominada /es folies d0Es!agne, nada de &olia, aliás, mas uma dan(a estili%ada, deincomará"el nobre%a. =N, or*m, reciso ou"ir o orignial, com acomanhamento docra"o, em "e% da "ers)o que &e%, no s*culo ++, o &amoso "iolinista olonIs Kiena^si,na qual o iano acomanha uma detura()o seudo2rom8ntica da melodia corelliana,inteiramente alheia ao estilo do mestre antigo.D Corelli n)o * o in"entor do concertogrosso. 3as seus 1M Concerti Grossi o!.   =1F1MD tIm a maior imort8ncia histórica omestre amliou o gInero 7 maneira da su!te &rancesa. 0ssas obras tamb*m continuam"i"as# sobretudo o Concerto em sol menor fatto !er la notte di :atale, o!.  , no.U , emque um mo"imento !astorale, em ritmo de :iciliana, e"oca a atmos&era natalina# Randelaro"eitará, no 3essias, esse ritmo.

Corelli, autor de tantas obras de bele%a semre igual e algo monótonas, tal"e% n)o&osse um gInio# aenas um grande talento. A&igura2se2nos maior do que &oi orque seusredecessores e contemor8neos ca!ram no esquecimento. Alessandro :tradella átinha escrito concerti grossi . He elice dallXAJACO =1BF>1FMD e'istem nobres concertigrossi , que mereceriam ser ressucitados. ;á est)o ressucitados os de Tommaso

 ALJ/O/ =1BF1F>D, mestre do ariosoQ nas sonatas e introdutor do obo* noconcerto grosso. O gInio do gInero * -i"aldi.

0m Corelli, o estilo sacroQ e o estilo de c8maraQ ainda s)o essencialmente idInticos. A seara()o * aenas &ormal. Antonio --ALH =c.1BFE1F1D1, embora sacerdote, dá oasso de&initi"o ara a música instrumental ro&ana, en"eredando or um caminho quele"ará diretamente 7 arte de Jach.

/)o lhe conhecemos o ano de nascimento∗ entre 1BF> e 1BE@, ro"a"elmente 1BFE.:ó há ouco temo se sabe que n)o &oi seultado em -ene%a, mas em -iena. 0ssasincerte%as biográ&icas s)o caracter!sticas ois a música italiana dedicou2se, nos s*culos+- e ++, de maneira t)o e'clusi"a 7 óera que o grande instrumentista &oi esquecido.:obre"i"eu aenas uma &igura lendária, de um adre esquisito, de cabelos rui"os, que&oi e'comungado orque certa "e% durante a missa, ocorrendo2lhe uma bela melodia,

correu ara a sacristia ara notá2la, abandonando o altar no momento sacrossanto datransubstancia()o eucar!stica.

ilho de um "iolinista "ene%iano, o adre -i"aldi &oi &amoso como "iolinista na 0uroa

1 3. 9inaldi, 'ntonio ,ivaldi . 3il)o, 1?G. 3. Picherle, 'ntonio ,ivaldi et la musique instrumentale,M "ols., Paris, 1?E. Ch. Jaignres ,ivaldi vie mort et r1ssurection, Paris, 1?>>.

  -i"aldi nasceu em de mar(o de 1BFE.

Page 32: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 32/200

inteira, esecialmente na Alemanha, em -iena, em Hresden =onde Jach o teria ou"idoD# á ent)o, os estrangeiros o admira"am mais do que os italianos. -i"eu em -ene%a,contratado elo conser"atório do Osedale della Piet7. 3as suas obras &oram ublicadas

esarsamente, em Amsterd), Paris, Londres. A maior arte dos originais &icou in*ditaencontra2se na Jiblioteca de Turim# &oi osta em ordem, só em nosso temo, elomusicólogo &rancIs Pincherle# cóias manuscritas ser"em de base aos arranos mais oumenos &i*is que hoe ertencem ao reertório dos concertos camer!sticos.

0ntre as obras imressas destacam2se, rimeiro, os 1M concerti grossi , reunidos comoEstro armonico, ublicado em Amsterd), em 1?FM, como o!us . Jach transcre"eumetade desses concertos ara cra"o ou órg)o, entre eles os melhores da cole()o no.Uem l; menor , no.RV em si menor , e sobretudo no.RR em r1 menor , a obra mais conhecidade -i"aldi. Os arranos de Jach s)o, or*m, obras de arte di&erentes com ainstrumenta()o mudou o es!rito. -i"aldi só ode ser de"idamente comreendido nosoriginais, naquele o!us  ou no o!us U  Cimento dell0armonia e dell0inven4ione =1FMED./esta última cole()o encontra2se os quatro concerti grossi dedicados 7s Quattrostagione do ano# rima"era, "er)o, outono e in"erno, música rogramática que ilustra

quatro sonetos. /)o *, naturalmente, música de rograma no sentido de Jerlio%. -i"aldiaenas descre"e o 1tat d0Ame das di&erentes esta($es, ermitindo2se algumasino&ensi"as imita($es de "o%es de ássaros etc. 3úsica ictóricaQ assim tamb*m seencontra em o!. U no.T  =/a tem!est di mareD, em o!. U no.RV  =/a CacciaD# no Concertoara &lauta, denominado /a :otte, em o!. RV . 3as "I2se logo que -i"aldi n)o ensa emsubordinar a essas id*ias o*ticas ou itorescas a constru()o das suas obras esta * amesma nos concertos citados como na música absoluta do 0stro armonico ou nos do%econcertos da cole()o /a Stravagan4a, o!. L. -i"aldi obedece, geralmente, ao esquema"utti-Soli-"utti . 0 á se di%ia =a obser"a()o * de um cr!tico italianoD que -i"aldi escre"euquatrocentas "e%es o mesmo concertoQ. N &rase eigramática, mas inusta. N grande adi"ersidade de -i"aldi, e alguns, como o sin&4nico Concerto in due cori con flautiobbligati , em lá maior, s)o mesmo e'cecionais. O mestre sabe e"itar a monotonia elasartes da orquestra()o, ela altern8ncia entre os solistas, e ela di"ersidade de &ormas,entre as quais se encontram &ugas e "aria($es. /)o se o$e 7 in&luIncia da óera osseus mo"imentos lentos s)o cantosQ largamente desen"ol"idos. Tamb*m * este omoti"o do ael reonderante do "iolino, do instrumento que canta, em todas as suasobras. /unca se admirará bastante a rique%a melódica dos concerti grossi de -i"aldi,que * tiicamente italiana# a esse reseito s)o, ara muitos, mais atrati"os que amelodia antes comle'a de Jach. Tamb*m se admira, com ra%)o, o temeramento do

 !adre rosso, sua "er"e r!tmica. 6uanto 7 densidade do tecido oli&4nico, ele *largamente in&erior ao $antor de :anto Tomás. 0m comensa()o, seu tratamento daorquestra arece mais modernoQ# antecia certas conquistas de dinamismo =ocrescendoQD que tornar)o, no s*culo +-, &amosa a escola de 3annheimQ. 0mbora-i"aldi &osse rincialmente comositor instrumental, tamb*m * riqu!ssima e ainda n)obastante conhecida sua música coral. Obras imortantes como o oratório 3udithatriunfans, o Magnificat , o Stabat , o astoral :infa e 5astore ainda eseram aressurrei()o gloriosa. 3as sobretudo o Hi'it ara cinco solistas, duas orquestras e dois

órg)os * a obra2rima da música sacra "ene%iana# * digna de Jach.-i"aldi *, hoe em dia, dos comositores mais e'ecutados. O disco long-!la%  quase o

tornou oular. O m*rito dessa renascen(aQ cabe, em arte, 7 onda de JachQ, que n)oodia dei'ar de re"i"i&icar tamb*m seu modelo na música instrumental# em outra arte, 7ati"idade de "árias associa($es de música de c8mara, esecialmente do Collegium3usicum de 9oma =-irtuosi di 9omaD, sob a dire()o de 9enato asano. Al*m daqueles

Page 33: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 33/200

concertos e concerti grossi  "oltaram a ser &amosos e muito e'ecutados o concerto ara"iolino e orquestra em dó maior =5er l0'ssuntD, o concerto ara obo* e orquestra em &ámaior, o concerto ara "iola dXamore e orquestra em r* menor e o irresist!"el concerto

ara cra"o e orquestra em sol maior = 'lla rusticaD. 3uitos outros ainda ressurgir)o# oisa in"en()o e a imagina()o de -i"aldi s)o inesgotá"eis.

:em dú"ida, -i"aldi * um gInio. 3as sua limita()o a oucos gIneros e aredomin8ncia da in"en()o melódica sobre a densidade oli&4nica ad"ertem contra oe'agero -i"aldi n)o * um Jach.

Huas qualidades caracter!sticas da arte de -i"aldi determinam o desen"ol"imentoosterior da música instrumental, esecialmente da "iolin!stica a e'ressi"idade&antástica, que trans&ormou em &igura lendária o !adre rosso, e a "irtuosidade cada "e%mais brilhante dos mestres do arco. Aquela, em -eracini e Homenico :carlatti# esta, naescola de Tartini.

O desen"ol"imento da e'ressi"idade n)o esta"a ligado a este ou 7quele instrumento.Podia ser o "iolino, com sua caacidade de cantar. Tamb*m odia ser o cra"o, comsuas ossibilidades harm4nicas. O "iolinista rancesco 3aria -09AC/ =1BE>1F>@D1 

&oi es*cie de Paganini do s*culo +-, "irtuose &antástico, cuas sonatas =ublicadasem 1FM1 e 1FD só ele mesmo sabia e'ecutar# logicamente, com e'ce()o de duas,sobremaneira belas, em si menor e em mi menor, ca!ram em esquecimento deois desua morte. O musicólogo Torchi, redescobrindo esse mestre ol"idado, aliás um dosrecursores da sonata2&orma, chamou2as de Jeetho"en italiano do "iolinoQ, o quearecia e'agero grosseiro# mas só quis di%er, e com ra%)o, que -eracini substituiu oestilo aristocrático e semre medido de Corelli or um subeti"ismo todo essoal. 0s!ritosemelhante &oi rancesco Antonio JO/PO9T =1BFM1F?D, temeramento e'cIntrico er*2rom8ntico, autor de curiosas in"en($esQ ara "iolino, das quais Jach coiou quatroque, encontradas entre seus manuscritos lhe &oram erroneamente atribu!das ="ol. > da0di()o da :ociedade Jach# erro reti&icado or Al&red Hor&ellD. /o mesmo ano de 1BE>em que nasceram -eracini, Jach e Randel, tamb*m "iu a lu% do mundo Homenico:CA9LATT =1BE>21F>FDM, &ilho do grande Alessandro, a cua arte "irou t)o in&iel como

os &ilhos de Jach 7 de seu ai. :ua biogra&ia esta"a, at* há ouco, en"ol"ida emincerte%as menos or &alta de documentos do que elo estranho retraimento docomositor, in&enso 7 lu% da ublicidade. 0ste"e em Londres, em Lisboa. Comoro&essor da rincesa ortuguesa 3aria Járbara, deois rainha da 0sanha, &oi com elaara 3adri, ent)o grande centro de ati"idades musicais, onde o trataram comconsidera()o descomunal numa *oca na qual os músicos assa"am or lacaioseseciali%ados# &oi nomeado caballero del h;bito de Cristo. /o entanto, retirou2se dacorte, cedendo o lugar de ditador musical da 0sanha ao &amoso cantor castradoarinelli# morreu, en&im, em obscuridade, em 3adri. :ó seu último biógra&o, o eminentecra"ista americano Wiratric, chegou a esclarecer, dois s*culos deois, as incerte%asda biogra&ia, gra(as 7 descoberta do endere(o dos últimos :carlattis na lista tele&4nicade 3adri e de um ineserado arqui"o de &am!lia. Homenico :carlatti * um casoQsicológico. 0nquanto "i"ia com o ai, escre"eu óeras sem muita imort8ncia#

sobre"i"e no reertório de concerto a bela ária Consolati e s!eraW  que á re"elainsira()o indeendente. 3as só deois da morte de Alessandro conseguiu libertar2se,

1 L. Torchi, /a musica istrumentale in +talia nei secoli *,+ *,++ e *,+++ , Turim, [email protected] 0di()o das obras ian!sticas or A. Longo, 11 "ols., 1?@B. 0di()o de B@ sonatas or 9.Wiratric. A. Longo, Domenico Scarlatti e la sua figura nella storia della musica, 3il)o, 1?1G. 9.Wiratric. Domenico Scarlatti , Princeton, 1?>G.

Page 34: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 34/200

muito tarde, da in&luIncia aterna, en"eredando or caminho inteiramente no"o tornou2se o maior comositor ara o cra"o. 3as semre continuou retra!do. Pouco da sua obraublicou2se em sua "ida, e em arte sem sua autori%a()o as 5ices de clavecin =1FG@D#

os Eserci4i !er il clavicembalo =1F@D# as Sonates et suites =1F>@D. /o todo e'istem maisou menos >@@ sonatasQ de Homenico :carlatti. 3as n)o se de"e ensar em sonatasQde tio beetho"eniano. :)o e(as curtas, destinadas ao ensino do instrumento ou 7e'ibi()o de artes "irtuos!sticas. Hurante todo o s*culo +- ser"iram =como as sonatasara "iolino de CorelliD ara &ins didáticos. /unca &oram esquecidas. 3as as edi($es docome(o do s*culo ++, do &amoso ro&essor C%ernS, des&iguraram2nas comletamente,&acilitando2asQ ara o uso dos alunos. /a "erdade, s)o muito di&!ceis# a maior arte sóode ser tocada or "irtuoses consumados. Pois Homenico :carlatti, embora sóretendendo escre"er e'erc!cios, chegou a alturas ineseradas. :ua imagina()oinesgotá"el, sua &antasiaQ realmente &antástica, seu temeramento &ogoso le"aram2no aentrar em terreno no"o. :ó a reedi()o &iel das suas obras or Alessandro Longorestabeleceu2lhe a "erdadeira &isionomia =a Longo se de"e uma numera()o dassonatasQ, hoe geralmente aceitaD. 3esmo assim &oi reciso romer com o hábito detocar2lhes as obras no iano# n)o se destinam ao instrumento moderno. A reabilita()odo cra"o or Kanda Lando^sa e 9alh Wiratric ermitiu reconhecer, en&im, o gInio.

 A enumera()o de aenas algumas das mais &amosas e hoe mais tocadas sonatasQode dar alguma id*ia da amlitude do es!rito do mestre as modula($es audaciosas dono.RV =sol maior D# as &ortes disson8ncias no no.KVT =em d7 maior D# a emo()oaai'onada do no.K =mi maior D# a solenidade barroca do no.LRU =r1 maior D# o coloridosombrio, tiicamente esanhol, do no.LKK =r1 menor D# ritmos de dan(a esanhola nono.L =r1 maior D# a e'los)o de temeramento do no.LNN =sol menor D, e(a &amosa soba denomina()o &uga de gatoQ# e o no.LXT =em f; maior D, que * uma tarantella,recorda()o da mocidade naolitana. Homenico :carlatti &oi homem de e'traordináriaimagina()o harm4nica, a"enturando2se a modula($es nunca antes ousadas# e &oi orimeiro que imrimiu a e(as de música instrumental os e&eitos de &ortes contrastesdramáticos. N, neste e naquele sentido, um recursor da sonata2&orma da músicaclássica. oi, como -i"aldi, um gInio.

O "irtuosismo desen"ol"eu2se rincialmente no "iolino, gra(as a <iusee TA9T/=1B?M1FF@D1. undou em Pádua uma &amosa escola ara "iolinistas. /a Jiblioteca

 Antoniana dessa cidade guardam2se os originais dos seus numerosos concertos ara"iolino e orquestra, n)o ublicados, dos quais, or*m, alguns ainda ertencem aoreertório. :eu "rait1 des 'gr1ments dela Musique, manual de ornamenta()o musical,re"ela a transi()o do estilo barroco ara o estilo galanteQ. O s*culo +- arecia"aesecialmente as sonatas de Tartini, que assa"am or cumes inigualá"eis dedi&iculdades "irtuos!sticas a Sonata em si bemol menor , o!.  , no.R =denominada+m!erator D# a Sonata em sol menor , o!. R no.RR =denominada DidoneD# e sobretudo aSonata o!. R, no.K , denominada "rille du diable. 0sta última sonata, que come(a comdois mo"imentos em nobre e medido estilo corelliano, de"e o aelido ao terceiro, cuotema * uma assombros cadeia de trilos. Lalande, em sua ,o%age en +talie =1F?@D, * orimeiro que contou a lendaQ dessa sonata, que * at* hoe uma !ice de r1sistance, de

irresist!"el e&eito, dos grandes "irtuoses ensando, certa "e%, sobre di&iculdades in*ditasdo instrumento, Tartini sonhou na noite seguinte que o rório diabo lhe toca"a no"iolino um tema di&!cilimo, di%endo sto, nem sequer "ocI sabe tocarQ. oi aquelacadeia de trilos. A sicologia moderna e'licaria esse sonho como caso do trabalho do

1 3. Hounias, Die ,iolinsonaten Giuse!!e "artini0s, Kol&enbuettel, 1?G>. A. Cari, <iuseeTartini, 3il)o, 1?>.

Page 35: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 35/200

subconsciente.

Tartini &oi o maior "iolinista do s*culo +-# arte considerá"el da sua obra continuano reertório. Hos outros mestres do instrumento, da mesma *oca, sobre"i"em aenas

algumas oucas e(as de rancesco <03/A/ =1BBF21FBMD, que se situa entreCorelli e -i"aldi, mas á conhece a din8mica da escola de 3annheim, as Sonatas em solmaior e em d7 menor # de Pietro LOCAT0LL =1B?>21FBD, disc!ulo de Corelli e mestredo cantabile, as Sonatas em d7 menor e em r1 maior # de elice <A9H/ =1F1B1F?BD,que ainda escre"e trio2sonatas, mas tamb*m á quartetos e uns carices# de Pietro/A9H/ =1FMM1F?ED, disc!ulo de Tartini e comositor mais nobre que "irtuose, asSonatas em sol bemol maior e em r1 maior , de <aetano PU</A/ =1FG11F?ED, queainda usa o bai'o2cont!nuo, a Sonata em mi maior e o Concerto !ara violino em mibemol maior . :)o, or assim di%er, as arie antiche do "iolino. At* há ouco, essereertório era, aarentemente, maior. Caberia acrescentar "árias sonatas oumo"imentos isolados, sobretudo de Pugnani =5reludio e 'llegroD, que o &amoso "iolinistarit% W90:L09 =1EF>1?BMD costuma"a e'ecutar em concerto# e que eram da suarória la"ra, imita($es er&eitas e congeniais do estilo "iolin!stico do 9ococó. Hurante

muitos anos Wreisler esera"a com aciIncia que os cr!ticos e musicólogosdesertassem do erro# ois todos eles aceita"am a &raudeQ. :ó quando o grande mestre-incent dXndS &e% a obser"a()o de que a e'ecu()o daquela e(a de PugnaniQ orWreisler n)o obedecia &ielmente 7s inten($es do comositor antigo, Wreisler resol"eure"elar a "erdade, ro"ocando temestade de indigna()o da arte dos mesmos cr!ticosque tinha cometido tantas ga&es.

O caso WreislerQ * um sinal de ad"ertIncia. N t)o &ácil imitar o estilo instrumental do9ococó orque a maior arte dos ou"intes só resta aten()o a sinais e'teriores daqueleestilo 7 dissolu()o das &ormas barrocas em ornamenta()o e arabescos1. Pelo mesmomoti"o, muita gente acredita reconhecer como mo%artianaQ qualquer música do s*culo+-. Os tra(os indi"iduais s)o menos marcados que o ar de &am!lia da *oca. /oentanto, n)o * oss!"el con&undir -i"aldi e Jach, Homenico :carlatti e Couerin. Pelarimeira "e%, na história da música, come(am a esbo(ar2se nitidamente as di&eren(as

nacionais. /a ran(a, ent)o saindo da *oca de Lu!s +-, o 9ococó tem caráterclassicista.

0ssa combina()o de Classicismo e 9ococó * conhecida na história das artes lásticase da literatura como st%le r1gence. N a *oca de um arquiteto com 9obert de Cotte, deum decorador como Claude <illot, de um intor como Katteau, de um dramaturgo como3ari"au'. /o terreno da música acrescentam2se in&luIncias eclesiásticas, da &asereligiosa do reinado de Lu!s +-. 0 a &orma rincial * aquela, tiicamente &rancesa, deuma s*ria de dan(as estili%adas a su!te.

 A literatura &rancesa ara o cra"o * rica. Atribui2se a aternidade a Andr* Chamionde CRA3JO//Y90: =c.1B@M1BF1D, do qual sobre"i"em algumas sarabandas etc.Heois, a &am!lia Couerin, quase t)o rami&icada como a dinastia Jach. Os Couerinseram, no in!cio, organistas. O grandeQ da &am!lia, ran(ois Couerin =1BBE1FGGDM, Couerin le <randX, tamb*m &oi organista na igrea :t. <er"ais em Paris# e atribuem2se2

lhe missas ara órg)oQ, a Messe !our les couvents e a Messe !our les !aroisses. 3astamb*m &oi claveciniste de la cour e nessa &un()o escre"eu os quatro "olumes de

1 C&. ise Wimball, "he Creation of the (ococo, ilad*l&ia, 1?B.M 0di()o das obras or 3. Cauchie, 1?GG e seguintes. A. Tessier, Cou!erin, Paris, 1?MB. ;. Tiersot,/es Cou!erin, Paris, 1?MB. K. 3ellers, 2ranJois Cou!erin and the 2rench Classical "radition,Londres 1?>@.

Page 36: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 36/200

5ices !our le clavecin =1F1G, 1F1F, 1FMM, 1FG@D, equenas e(as reunidas em MFsu!tes. 3enos audacioso, menos ino"ador que Homenico :carlatti, orque n)o criandoara e'andir seu temeramento art!stico, e sim ara di"ertir a sociedade galante da

r*gence, encantando2a com o sonho de id!lios astoris. A maior arte das e(as temt!tulos o*ticos. 3as n)o se trata de música de rograma, aenas de 1tats d0Ame,sugeridos or t!tulos como /a ,olu!tueuse, /a tendre :anette, 'rlequin, /es barricadesm%st1rieuses, Soeur Monique, /e rossignol en amour , /es moissoneurs /es tricoteuses,/a distraite, Sarabande ma6estueuse, /es tambourin, /es !etits moulins vent . Couerin&oi oeta. Criou um mundo comosto de su!tes V sua obra mais ambiciosa * a Suite/0+m!1riale V como se e'istisse "ida em que a gente n)o tem nada que &a%er do quetocar, dan(ar e ou"ir su!tes# e sugere, irresisti"elmente, que o nosso mundo seria melhorse a gente n)o ti"esse que &a%er nada do que ou"ir su!tes * o ara!so dos sonhos deKatteau. 3as n)o * inteiramente sonho * realidade suerior, criada ela mestria de umartista consumado. /enhuma nota, nenhuma &rase oderia ser outra do que *. N umaarte clássica. 0'erceu in&luIncia em Jach. O se"ero Jrahms ublicou em 1EEE umaedi()o das 5ices. Roe, gra(as a 9a"el, * Couerin reconhecido como o modelo doneoclassicismo &rancIs.

/)o será reciso acomanhar a e"olu()o da arte cla"ecin!stica &rancesa# orque n)otra%em contribui()o no"a os Haquin, os 3archand# a n)o ser o grande 9A30AU1, autorde 5ices !our le clavecin =1F@B etc.D, que reencontraremos em outro ambiente. 3asmerece men()o esecial ;ean23arie Leclair =1B?F1FBDM, cuas Sonatas !ara violino etrio-sonatas =sobretudo a em r1 maior , o!.K , no.U D s)o como um re&le'o &rancIs da artede -i"aldi. O maior mestre &rancIs do órg)o * /icolas de <9</] =1BF11F@GD,organista da catedral de 9eims. Ho seu /ivre d0Orgue =1F11# reeditado or <uilmantDarece ter e'istido uma edi()o anterior, que o grande Jach coiou inteiramente ara seuuso essoal.

`...

J A99OCO  P9OT0:TA/T0 R A/H0L

6uase só uma regi)o da 0uroa resistiu 7 "itória da homo&onia. oi a Alemanha do/orte e do Centro a :a'4nia, Tur!ngia, Jrandenburgo e Rano"er# a %ona dorotestantismo luterano.

0m Hresden, o rei da :a'4nia, con"ertido ao catolicismo romano ara oder eleger2serei da Pol4nia, mante"e lu'uosa casa de óera e chamou os italianos ara a músicasacra, em sua igrea da corte, que os seus súditos luteranos n)o queriam e'ecutar. 3asas tentati"as de estabelecer casas de óera em Jerlim e Ramburgo &racassaram, orenquanto. A dinastia de Rano"er saiu do a!s ara ocuar o trono inglIs. Os outrosr!ncies, duques, condes da regi)o eram obres. Pobres tamb*m eram as cidades,so&rendo ainda os e&eitos desastrosos da <uerra dos Trinta Anos. 3oti"os &inanceiros emoti"os religiosos barraram o caminho ara o norte, da música barroco2católica de -ienae 3unique.

 A "ida musical concentrou2se nas $antoreien, escolas de música sacra estabelecidas unto 7s igreas rinciais das cidades. O $antor , como músico ro&issional, tamb*morgani%a"a concertos ara solenidades ro&anas da municialidade. 3as em rimeira

1 C&. A 3úsica ClássicaQ, nota 1B.M 3. Pincherle, 3ean-Marie /eclair , Paris, 1?>M.

Page 37: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 37/200

linha cuida"a do culto. Orienta"a o organista que tinha de accomanhar o canto dacomunidade, o coral luterano reludiar, acomanhar e eilogar. 0 ara que tudo &icassedentro dos limites da ortodo'ia, e'igia2se ao $antor  mais ou menos "asta erudi()o

teológica.oi um mundo equeno e &echado. 0 com toda a con&ian(a no gInio musical da ra(agerm8nica V que at* ent)o tinha contribu!do muito ouco ara o desen"ol"imento daarte V ode2se du"idar se os $antoren teriam encontrado o caminho ara um mundomais "asto, se n)o &osse a in&luIncia italiana.

3onte"erdi &oi a &or(a cua in&luIncia se sentira nos redecessores daqueles $antoren,em Rasler, em :chuet%. A in&luIncia italiana em seus sucessores &oi a de <irolamo90:COJALH =1>EG1BGD1. oi o maior organista do seu temo imro"isador t)ogenial, no mais di&!cil dos instrumentos, que os admiradores lhe atribu!ram algo comoinsira()o di"ina. 3as o organista da bas!lica de :an Pietro in -aticano

`...

0ssa renascen(a tardia da oli&onia, ustamente nos maiores mestre do Jarroco, masno &im da *oca, * o que nos &a% ensar, erroneamente, no barroco musical como arteeseci&icamente oli&4nica. 3as mesmo nessa última &ase, a no"a oli&onia "ocal, deorigem organ!stica e de !ndole alem), só * um dos elementos constituti"os do estilo. Osoutros elementos s)o de origem italiana e &rancesa. 0 acrescenta2se a heran(a inglesa,no caso de <eorge riedrich RA/H0L =1BE>1F>?DM.

Randel, di%em os ingleses. Raendel, di%em os alem)es. /asceu e &ormou2se na Alemanha. -i"eu e morreu na nglaterra. 3as n)o s)o estes os únicos elementosconstituti"os de sua ersonalidade.

:ua terra * a :a'4nia Ralle. Ali estudou Hireito, destinado a tornar2se urisconsultoerudito. 3ais o atraiu, or*m, a erudi()o teológica e musical. :ua &orma()o &oi a de umorganista que, um dia, será $antor  da igrea rincial de uma cidade sa'4nia# comoJach. 0, realmente, do órg)o translantará ara o coro as grandes artes oli&4nicas. /atália, ara onde "iaou em 1F@F, ainda se e'ibe como "irtuose no órg)o. 3as á ensa

na óera. 0m Rano"er, o generoso :te&&ani &acilita2lhe a mudan(a ara Londres, onde adinastia hano"eriana sucederá no trono. Ali esera obter o sucesso que n)o &oi oss!"elconquistar em Ramburgo &unda e dirige uma casa de óera. A luta &oi dura contraresistIncias inglesas, contra ri"ais italianos como Juononcini e, rincialmente, contraos credores. Heois de temoradas ruidosas "eio em 1FME a &alIncia. /o"as lutas./o"as e maiores di&iculdades. 0m 1FGB a ru!na &inanceira comleta, um derramecerebral, a aralisia. 3as Randel n)o sucumbe. 9e&a%2se. /)o odendo mais encenaróeras no alco, manda e'ecutar óeras de enredo b!blico na sala de concertos * ooratório. N a "itória comleta, triun&al. 0m 1F>?, Randel * seultado no ante)o dosingleses, na Kestminster AbbeS# sua estátua olha os túmulos dos reis da nglaterra e o

1 L. 9onga, Girolamo 2rescobaldi Organista in ,aticano, Turim, 1?G@. . 3orel, Girolamo2rescobaldi , Kinterthur, 1?>. L. 9onga, 'rte e Gusto nella Musica, Jari, 1?>F.M

 0di()o das obras comletas or . ChrSsander, 1@> "ols., 1E>?1E?. . ChrSsander, Georg2riedrich )aendel , G "ols., Lei%ig, 1E>?1EBF. 9. A. :treat&ield, )andel , Londres, 1?@?. 9.9olland, )aendel , Paris, 1?11. 3. Jrenet, )aendel , Paris, 1?1G. R. Abert, )aendel als Dramatiker ,<oettingen, 1?MM. R. Leichtentritt, )aendel , :tuttgart, 1?M. ;. 3ueller2Jlattau, )aendel , Potsdam,1?GG. P. 3. ]oung, "he Oratorios of )andel , Londres, 1??. K. C. :mith, Randel, Londres, 1??.K. :erauS, Georg 2riedrich )aendel , "ols., Wassel, 1?>B1?BM, R. Chr. Kol&&, Die )aendel-O!er auf der modernen &uehne, Lei%ig, 1?>F. K. Hean, )andel0s Dramatic Orat7rios andMasques, Londres, 1?>?.

Page 38: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 38/200

monumento de :haeseare.

 A música de Randel só ode ser caracteri%ada elo adeti"o inglIs over=helming . /)oe'iste, em arte nenhuma, nada de t)o oderoso. Roe, sendo reabilitado o Jarroco,

gostar!amos de e'licar essa qualidade como a surema reali%a()o do ideal barroco amúsica de Randel * grandiosa, am!ollosa, massicia# rodu% lo stu!ore e sabe, comonenhuma outra, col!ire i sensi . Os temos de incomreens)o comleta ela arte barroca

 á o ulgaram, aliás, da mesma maneira RaSdn, 3o%art, Jeetho"en considera"am2nocomo o maior de todos os comositores. 3as, * estranho, esse gigante da música eraum lagiário. Aesar de disor de recursos inesgotá"eis de in"en()o, aroriou2seinescruulosamente de temas e trechos de outros comositores como se &ossem seus. N"erdade que os conceitos de roriedade intelectual n)o eram, ent)o, os de hoe. 3asos lágio de Randel e'igem outra e'lica()o sicológica. /o mesmo lano está ainescruulosidade com que o mestre usa "árias "e%es, em obras di&erentes, as mesmasmelodias suas, ora ara &ins ro&anos, ora na música sacra. Jastam algumasmodi&ica($es r!tmicas e uma can()o intensamente erótica tamb*m lhe ser"e, com letradi&erente, ara um De 5rofundis# ou ent)o, a música de um id!lio bucólico, ara uma

triun&al marcha militar. O estilo de Randel ermite essas con&us$esQ orque *essencialmente sint*tico. Tudo está amalgamado at* arecer, elo menos, homogIneo.0, em rimeira linha, os elementos nacionais.

Randel ou Raendel O mestre * alem)o ou inglIs N isto e aquilo ao mesmo temo e*, mais, um ouco &rancIs e muito italiano. N uma s!ntese. A melodia de Randel *italiana# a oli&onia de Randel * alem)# como inglIs, reresenta o barroco rotestante.

O elemento rotestante2inglIs * e"idente na música litúrgica de Randel, ara o uso dagrea anglicana, reali%ando aquilo que Purcell iniciara# o "e Deum de 8trecht  =1F1GD,ara celebrar o tratado de Pa% conclu!do nesse ano naquela cidade holandesa ainda *todo urcelliano# os 1M Chandos-'nthems =1FM1D, ara ser"i(os na caela articular deLord Chandos, á s)o obras2rimas, sobretudo os nos.R, ,  , N, RV # os quatro Coronation

 'nthems =1FMFD, que at* hoe se cantam durante a cerim4nia de coroa()o de um rei danglaterra, s)o música meio rinciesca, meio oular, como e'citando o atriotismo das

multid$es# o 2uneral 'nthem =1FGFD, ara um enterro na &am!lia real, * de emo()oraramente ro&unda nessa s*rie de obras# o "e Deum de Dettingen =1FGD, celebrandouma "itória das armas inglesas, * a mais oderosa das obras litúrgicas do mestre.Contudo, a liturgia anglicana n)o se resta bem ara ser musicalmente adornada.3úsica sacra inglesa, deois da 9e&orma, semre tem algo de &ormal ou &ormal!stico,sem muita emo()o religiosa. Todas aquelas obras de Randel s)o mais oderosas ouimressionantes que ro&undas.

0lementos &ranceses será oss!"el descobrir nos ritmos alados da músicainstrumental do mestre, embora as &ormas &ossem, naturalmente, as italianas, detransi()o entre o Jarroco e o 9ococó. A! est)o os Concerti grossi o!.X =1F@D, dos quaissobretudo o no. , em sol menor , * &req5entemente e'ecutado# e os Concertos !ara7rgo e orquestra, entre os quais aquele em f; maior , o!.L, no.L =1FGED, * uma das obrasmusicais mais conhecidas no mundo. N música que seria inusto comarar com a obra

organ!stica de Jach, t)o incomensura"elmente mais ro&unda# mas * oular no melhorsentido da ala"ra. A >ater Music  =1F1FD, escrita ara acomanhar uma e'curs)o do rei<eorge no T8misa, e os (o%al 2ire=orks =1F?D, acomanhamento musical dos &ogosde arti&!cio que &estearam o Tratado de Pa% de Aachen, s)o su!tes ara grandeorquestra, obras que go%am at* hoe de imensa oularidade na nglaterra. 0m tudo issohá muita bel!ssima música, magistralmente trabalhada. 3as n)o comaremos 7sgrandes obras instrumentais de Jach nem 7s grandes obras "ocais do rório Randel.

Page 39: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 39/200

0'iste um tio de comositor que dá seu melhor em música instrumental =RaSdn,Jeetho"enD, e outro tio que se e'rime com re&erIncia em música "ocal =3o%art,:chubertD. Jach * antes do tio instrumental. Randel * decididamente do tio "ocal,

embora sua maneira de tratar as "o%es ro"enha do órg)o. :ua música instrumentalagrada muito, sem ser ro&unda. 0m geral se ode a&irmar n)o con"*m ou"ir uma obrade Randel logo deois de uma de Jach. :ua maneira de intar al fresco, que á &oicomarada 7 arte de 9ubens ou Tieolo, * grandiosa e ode arecer, 7s "e%es,suer&icial. 3as isto só acontece quando se ensa e medita deois da audi()o.

 Atualmente, bastam trIs acordes de uma introdu()o orquestral ou alguns comassoscantados elo coro ou a linha melódica caracteristicamente nobre de uma ária ararestabelecer a grande%a incomará"el e irresist!"el do mestre que, mais do que qualqueroutro artista barroco, sabe rodu%ir lo stu!ore.

Todas essas considera($es tamb*m "alem quanto 7s óeras de Randel. /elas, oestilo do mestre * e"identemente italiano, embora nos coros, marchas e dan(as sere"ele o conhecimento da óera &rancesa de LullS. O tio * o das óeras de Alessandro:carlatti o enredo dramático, meio indi&erente, só ser"e ara arar em determinados

momentos nos quais o cantor ou a cantora a"an(a ara a ribalta ara brilhar na grandeária. Por isso, da maior arte das óeras de Randel só sobre"i"em certos trechos, nascole($es de Arie Antiche, ara o uso dos cantores de concerto. Has mais &amosas s)o,at* hoe, as árias ,0adoro !u!ille =de Giulio CesareD, Ombra cara di mia s!osa =de(adamistoD, Ombre !iante une funeste =de (odelindaD, /ascia ch0io !ianga =de(inaldoD. 3as o trecho mais c*lebre * o chamado largoQ =Ombra mai fuD, da óeraSerse =1FGFD, uma das mais nobres melodias amais in"entadas, e(a indisensá"el noreertório dos grandes tenores e bar!tonos, mas que n)o de"eria ser cantada comacomanhamento de iano solo ou de orquestra sin&4nica# * indisensá"el a resen(ado "ioloncelista e do bai'o2cont!nuo. 0n&im, n)o se esquece o chamado Arioso, comte'to alem)o Dank sei dir )err = 'gradeJamos ao Senhor D, hino magn!&ico, tal"e% trechode um oratório erdido# alguns du"idam da autoria de Randel.

 As óeras, das quais aquelas árias s)o os trechos mais brilhantes, assaram, durante

quase M@@ anos, or imoss!"eisQ no alco# ela &alta de a()o dramática, que astrans&orma em quadros "i"osQ como de estátuas de museu, e elas imensasdi&iculdades de bel canto que os cantores modernos á n)o sabem dominar. Contudo,quando da reabilita()o da arte barroca em nosso temo, rele"aram2se certas di&eren(asentre a óera scarlatiana e a de Randel. ;á estamos hoe areciando melhor do que acr!tica do s*culo assado a &orma barroca do gInero. Tamb*m ercebemos maisnitidamente a heran(a de 3onte"erde, atra"*s de LullS e de Purcell. 0n&im, nota2se nasóeras de Randel certa sicologia dramática que * heran(a indireta da trag*diaelisabetana, atra"*s do drama da 9estaura()oQ, tio HrSden, que &oi, aliás, um dosoetas re&eridos do comositor. Todas essas considera($es insiraram or "olta de1?M@ e rincialmente na Alemanha, no c!rculo dos musicólogos da Uni"ersidade de<fttingen, uma "erdadeira renascen(a de RandelQ, isto *, das suas óeras. Roe, essemo"imento á assou, embora as tentati"as continuem agora na Uni"ersidade de Ralle.3as &ora do reertório rotineiro, em ocasi$es eseciais =&esti"aisD, algumas das óerasdesenterradas continuam "i"endo no alco moderno, alaudidas or um úblico deesecialistas e conhecedores 'gri!ina =1F@? reresentada or R. Chr. Kol&& em Ralle,1?>?D# (odelinda =1FM># edi()o e reresenta()o or Osar Ragen em <oettingen, 1?M@D#Ottono e "eofano =1FMGD# "amerlano =1FMD# Orlando =1FMGD# E4io =1FGGD# e, sobretudo,Giulio Cesare =1FM# reresenta()o or Ragen em 1?MMD. :)o obras de um Jarrocooderoso e omoso, sem sentimento humano mais !ntimo, música de rimeira ordem

Page 40: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 40/200

que só rodu% o leno e&eito quando e'ecutada com toda a oma da cenogra&iabarroca, com cantores que, dominando as artes mais di&!ceis do bel canto, sabemmo"imentar2se no alco com a gra"idade de reis e lordes do s*culo +-. N uma arte de

museu.ora do alco, Randel culti"ou o mesmo estilo em cantatas ro&anas V a maisimortante * no.L , /ucre4ia V em que reúne &orte emo()o e artes realmente &antásticasde bel canto# s)o, ara o cantor2solista, as obras mais di&!ceis que e'istem. Uma cantataro&ana em grandes dimens$es * 'le#ander0s 2east  =1FGBD, comosi()o da conhecidaode de HrSden em homenagem 7 arte da música. /o meio, entre essa obras corais e asóeras, situa2se 'cis and Galathea =1F1?D, id!lio arcádico, de encanto erene, que nanglaterra tamb*m se costuma aresentar cenicamente# * adata()o ao gosto inglIs deum enredo o*tico 7 maneira da 'rc;dia romana e de 3etastasio. ;á * anglic!ssima umaoutra obra que se costuma chamar de oratório ro&anoQ /0'llegro e il 5enseroso =1F@D,comosi()o do mara"ilhoso oema de 3ilton, surema homenagem do músicoanglici%ado a England0s green and !leasant land . Ao mesmo gInero ertence Reracles=1FD, obra classicista, digni&icada como uma trag*dia clássica &rancesa# 9omain

9olland considera"a2a como o maior drama musical antes de <luc./)o há, estilisticamente, di&eren(a essencial entre as óeras e os oratórios de Randelestes últimos s)o óeras de enredo b!blico, e'clu!das da e'ecu()o na igrea or causada &orma dramática e e'clu!das da reresenta()o no alco or causa do assuntoreligioso. Com os oratórios de Randel come(a a sala de concertos a desemenhar sua&un()o moderna de temlo de uma no"a religi)o da religi)o da música. O tratamento dehistórias b!blicas, do -elho Testamento, como se &ossem enredos greco2romanos deóera, e a atuali%a()o desses eisódios da história de srael elas alus$es ermanentesa angústias e triun&os do no"o o"o eleito, que * o o"o inglIs, trans&ormam essesoratórios em música o&icial de um no"o reino dos c*us na terra do m*rio Jrit8nico.0ssa s!ntese de J!blia, Antig5idade clássica e atualidade ol!tica * tiicamente barroca.N a surema mani&esta()o de um barroco rotestante, s!ntese da óera italiana e daai')o alem) e do teatro clássico &rancIs e da masque inglesa. 3as Randel suera o

Jarroco, sua *oca. Pois a combina()o de di"ers)o musical e edi&ica()o religiosa de"esatis&a%er muito 7 classe m*dia inglesa. O cristianismo de Randel está al*m e acima dasdi&eren(as de igreas e seitas. Preara o humanismo *tico da ilustra()o.

`...

/)o con"*m incluir o Messias =1FMD entre os outros oratórios. N obra muito di&erenteela insira()o crist) e elo lirismo. Roe, o Messias * o oratório mais oular deRandel. N o grande númeroQ do reertório das associa($es corais. ;á n)o sentimosbastante aquela di&eren(a. Pensando no 3essias, rimeiro nos ocorre o grande)allelu6a, que * o onto culminante do barroquismo musical de Randel. 3as n)o * otrecho mais caracter!stico ustamente dessa obra, que * de esantosa rique%a musical,de "asta amlitude de emo($es religiosas e l!ricas# a ária + $no= that M% (edeemer/iveth * a mais como"ida re%a que e'iste na l!ngua da música. N reciso ou"ir a obracomo se &osse ela rimeira "e%. 0nt)o, entenderemos melhor a admira()o il imitada dos

contemor8neos, que sal"ou a situa()o &inanceira, semre amea(ada, do comositoor.Tirou do Messias lucro enorme que ainda deu ara audar generosamente "áriasinstitui($es caritati"as e eclesiásticas. Pois Randel tamb*m colocou no Messias suaseseran(as de merecer ressurrei()o gloriosa no dia do ;u!%o inal. Assim, com osoriginais do Messias e arecendo ou"ir os trombones que o chamar)o erante o tronode Heus, * Randel reresentado no seu túmulo2monumento na Kestminster AbbeSser"idor do :enhor e soberano de um m*rio Jrit8nico da música.

Page 41: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 41/200

J A99OCO  P9OT0:TA/T0 J ACR

 A arte de Randel n)o teria sido oss!"el no ambiente &echado e mesquinho dasequenas cidades da sua terra sa'4nia, ent)o searada do mundo ocidental emediterr8neo ela rigide% da ortodo'ia luterana, elo absolutismo atriarcal dosequenos rinciados, ela obre%a deois das de"asta($es da <uerra dos Trinta Anos,ela mesquinhe% do ambiente burguIs das cidades. Por todos esses moti"os, a

 Alemanha rotestante n)o tinha conhecido "erdadeira 9enascen(a a 9e&orma e a<uerra tinham2na interromido.

Con&orme a tese de Rerbert CSsard =na introdu()o da antologia Deutsche &arockl%rik ,Lei%ig, 1?MD, a literatura barroca alem) do s*culo +-, a oesia e dramaturgia dosleming, <rShius, Ro&manns^aldau, Lohenstein * uma tentati"a atrasada de recueraro terreno erdido sua s!ntese de religiosidade luterana e in&luIncias mediterr8neas,latinas, caracteri%am o barroco rotestante.

0ssa s!ntese tamb*m á se re"elou na arte organ!stica dos roberger e Pachelbel seu

roduto &ormal * a &uga. Heois, in"adiu os $antoreien# seu roduto, ali, * a cantata,oesia de assunto b!blico, osta em música ara ser e'ecutada na igrea durante ou &orado rório culto, como es*cie de interme44o musical ara a edi&ica()o comlementar,aquela que o serm)o e o canto do coral ela comunidade n)o odem o&erecer.

`...

;ohann :ebastian JACR =1BE>1F>@D1 n)o &oi absolutamente, em "ida, o centro domundo musical na Alemanha do /orte. 0ssa osi()o, des&rutou2a seu amigo Telemann.Jach &oi &amoso como o maior organista do seu temo e e'celente "irtuose no cra"o eno "iolino# al*m disso tinha &ama de cumrir ontualmente suas obriga($es de $antor ,escre"endo as grandes quantidades de música sacra que o culto luterano, con&orme ouso da *oca requeria, e brigando constantemente com as autoridades administrati"asquanto aos recursos ara e'ecutá2las. Temos osteriores acredita"am conhecI2lomelhor. /o s*culo ++, assa"a or um grande e remoto deus ai da música, o maior de

todos, mas t)o longe de nós como um ;osquin des Prs ou Palestrina. Roe, antes *adorado como o 0s!rito :anto da nossa arte, "i"i&icando todas as artes do cor!usm%sticum da música. 6uase se esquece o &ato de que &oi homem e &ilho de homem comos *s &incados na terra, calculando sobriamente as ossibilidades desta "ida earo"eitando ara o que lhe arecia essencial, at* as últimas. /a &amosa carta ao amigo0rdmann, de 1FG@, chega a quei'ar2se do bom estado da saúde ública em Lei%ig,orque o número menor de &alecimentos e enterros solenes, com música, lhe diminui osemolumentos. Um grande realista. /)o se retende negar, nele, o elemento m!stico.

1 0di()o das obras comletas ela Jach2<esellscha&t, B1 "ols., 1E>M1?1@. Ph. :itta, 3ohannSebastian &ach, M "ols., 1EFG1EE@ =no"a edi()o, Lei%ig, 1?M1D. A. :ch^eit%er, 3. S. &ach lemusicien-!ote, Lei%ig, 1?@> =muitas reedi($esD. A. Pirro, 3ean-S1bastien &ach, Paris, 1?1G. R.Wret%schmar, &ach-$olleg. ,orlesungen ueber &ach, Lei%ig, 1?MM. 0. Wurth, Grundlagen des

linearen $ontra!unkts. Einfuehrung in Stil und "echnik von &ach0s melodischer 5ol%!honie, M

a

. ed.,Jerlim, 1?MM. 3. \ulau&, Die )armonik 3ohann Sebastian &ach, Jerna, 1?MF. Ch. :. TerrS, &ach a&iogra!h% , Ma. ed., O'&ord, 1?GG. R. ;. 3oser, 3ohann Sebastian &ach, Jerlim, 1?G>. L. :chrade,Jach. The Con&lict bet^een the :acred and the :ecularQ, in 3ournal of the )istor% of +deas, -M,1?B. /. Hu&ourcq, &ach le maPtre de l0orgue, Paris, 1?E. K. :chmieder, "hematishces,erseichnis der Musikalischen >erke von 3ohann Sebastian &ach, Kiesbaden, 1?>@. . Ramel,3ohann Sebastian &ach Geistige >elt , <oettingen, 1?>1. W. <eiringer, Die Musikerfamilie &ach,3unique, 1?>E.

Page 42: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 42/200

3as * um grande m!stico luterano, isto *, dentro deste mundo, nunca dei'ando deensar no outro, mas com a satis&a()o alegre de quem cumre, aqui embai'o, suasobriga($es ro&issionais e tem mulher e muitos &ilhos, sem desre%ar o "inho. -inho,

mulher e músicaQ, &oi este o lema de Lutero, que era, no entanto, homem de Heus etestemunha do -erbo.

Como nenhum outro &ilho esiritual de Lutero soube Jach sincroni%arQ os doismundos este e o outro. A harmonia er&eita entre os dois a&igura"a2se2lhe garantidaelas regras do contraonto, que s)o as mesmas na terra e no c*u. A "ida aqui embai'oe ali em cima constituem, sem interru()o, uma &uga er&eita. A lei da e'istIncia &!sica eesiritual de Jach * a oli&onia.

 A historiogra&ia liberal do s*culo ++ considera"a Lutero como o rimeiro homemmoderno, que teria romido as cadeias esirituais da grea medie"al, iniciando a *ocado rogresso. A historiogra&ia moderna, deste Trfltsch, antes &ocali%a em Lutero oselementos medie"ais, góticos, que sobre"i"eram na grea Luterana do s*culo +- comoChr%stus-M%stik , muito arecida com a da dade 3*dia. :)o esses elementos quedeterminam o rimeiro e mais arcaico asecto da obra de Jach o gótico, elo qual ele

se liga 7 oli&onia góticaQ dos mestres &lamengosQ do s*culo +-, embora sem conhecI2los. 3uito se tem lamentado a qualidade miserá"el dos te'tos que oetastros com/eumeister, Picander e outros escre"eram ara Jach os trans&ormar em cantatas, ois aliteratura alem) do seu temo, deois da <uerra dos Trinta Anos e deois dodesaarecimento da gera()o barroca, está no onto mais bai'o. 3as nas e'ress$esen&áticas e in"oluntariamente tri"iais daqueles oetastros descobre2se o intuito de di%ero que a l!ngua emobrecida n)o lhes ermitia di%er e'rimir em ala"ras sem eito oamor m!stico ao cora()o de ;esus, culto que a grea Luterana do s*culo +- ainda n)otinha abandonado. Jach, o gótico, sabia e'rimi2lo ela sua oli&onia linear, de linhasmelódicas indeendentes e no entanto rigorosamente ligadas, música sem contrastesdramáticos =assim como a da *oca da oli&onia uramente "ocalD, mas mo"imentadaela altern8ncia constante de tens)o e distens)o. O recurso natural teria sido o coro acaela. 3as ara este n)o ha"ia uso no culto luterano. Tamb*m * oss!"el que Jach,

dono de órg)o e de orquestra, n)o tenha sentido grande atra()o 7 música "ocal semacomanhamento. :ó escre"eu cinco motetos a caela. 3as s)o as e'ress$es maisro&undas do seu misticismo góticoQ. :obretudo 3esus meine 2reude =3esus minha

 'legria, 1FMGD e Singet dem )errn ein neues /ied  =Cantai um novo CAntico ao Senhor ,1FG@D s)o obras de "alor ine'ced!"el, a mais como"ente música =a caelaD que e'iste.

`...

 A cantata de Jach quase semre se baseia determinado coral luterano, que &ornece abase do libreto e, as mais das "e%es, os temas musicais, e que se re&ere ao 0"angelhodo domingo ou da &esta ou da ocasi)o esecial =casamento, enterro, etc.D ara as quaisa cantata esta"a destinada. Jach come(ou cedo a culti"ar esse gInero, sem que seossa erceber a e"olu()o entre as suas rimeiras cantatas há obras t)oe'traordinárias como entre as últimas. Por obriga()o de ser"i(o Jach escre"eu, duranteanos, semanalmente uma cantata. Calcula2se que de"em ter sido, no todo, M?># das

quais grande arte se erdeu or cula da de"assid)o de Kilhelm riedmann, seu &ilhomais "elho e herdeiro dos seus a*is. :ó subsistem 1?E cantatas sacras de Jach.

 As cantatas de Jach &ormam um mundo comleto, de mil &acetas di&erentes. 6uem áou"iu uma única, reconhecerá qualquer outra como sendo de Jach# mas nenhuma delasse arece com qualquer outra sua.

`...

Page 43: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 43/200

racassaram as tentati"as de "eri&icar tra(os de um critocatolicismo na mentalidadede Jach. 3as * "erdade que o mestre n)o se &echou dentro dos limites algo estreitos desua grea. Como membro da :ociedade das CiIncias em Lei%ig, de"e ter conhecido e

areciado a &iloso&ia de Leibni%# Albert :ch^eit%er chega a &alar em racionalismo crist)oQ=glauebiger (ationalismusD. Certamente, Jach aro"ou as iniciati"as, in&eli%mente&racassadas, daquele &ilóso&o de romo"er a reuni)o das greas searadas. 0 essaatitude &acilitou2lhe aquele trabalho que causou a maior estranhe%a aos rotestantesara &im uramente rático, ara obter o t!tulo de )ofka!ellmeister  =3aestro da corterealD, escre"eu o maior músico do rotestantismo uma missa católica, dedicando2a ao reida :a'4nia, que se tinha &ormalmente con"ertido ao catolicismo romano ara odereleger2se rei da Pol4nia. Jach teria agido or oortunismo, assim como seu rei ao qualele quis agradar Hecididamente n)o. A Missa em Si Menor  =1FGG1FGED, de dimens$est)o grandes que nunca oderia ser e'ecutada durante o ser"i(o sacro, * uma obra deinsira()o rotestante, * uma cole()o de grandes cantatas que interretam, trecho ortrecho, o te'to litúrgico latino. Um tema como o do 'gnus Dei * eseci&icamentebachiano, dir2se2ia luterano. Certos trechos d)o a imress)o de uma imensa &estaoular em igrea t)o grande como nunca a ideou a imagina()o de um arquiteto. Outrostrechos arecem re&le'o direto da harmonia V e do oder V das "o%es ang*licas noc*u. /esses momentos á n)o se ensa em rotestantismo nem em catolicismo. Asala"ras 8nam sanctam catholicam et a!ostolicam Ecclesiam, no Credo, Jach mandacantá2las con&orme a melodia do coral gregoriano, que * anterior 7 seara()o dasgreas como se quisesse mani&estar a eseran(a da reuni)o da Cristandade erante otrono de Heus. A 3issa em si menor, tamb*m chamada )ohe Messe =tradu()o ine'atade Missa SolemnisD, * a maior obra de Jach e, tal"e%, a maior obra de toda músicaocidental. Uma catedral in"is!"el, a mais alta que &oi amais constru!da.

 As cantatas s)o ara quatro ou trIs solistas e coro algumas, e das mais imortantes=como os nos.TR, T e T D, ara um solita só e coro. Com$em2se de recitati"os, árias ecoros, como se &ossem óeras religiosas em miniatura. 0nquanto os coros ser"em de&undamento oli&4nico, os recitati"os e as árias s)o escritos no estilo da óera italiana,do tio da óera de Alessandro :carlatti, embora a in"en()o melódica semre sea bemalem). Para a chamada sin&oniaQ que ser"e de abertura, e ara o acomanhamentoinstrumental das e(as "ocais, Jach emrega uma orquestra de c8mara, comre&erIncia marcada or certos instrumentos de soro =&lauta, obo*D e, naturalmente,elo coro dos "iolinos, comletado or violas d0amore e outros instrumentos que oucodeois do temo de Jach á ser)o arcaicos. Como bai'o2cont!nuo ser"e ara os coros, oórg)o# e ara os solistas, o cra"o. O &inal da cantata * semre o coral luterano que&orneceu a base do libreto, harmoni%ado e cantado a uma "o% elo coro.

/o acomanhamento instrumental e nas árias * &orte a in&luIncia italiana. A essereseito, o barroco de Jach reali%ou o que n)o conseguira reali%ar a literatura alem) dagera()o recedente uma "erdadeira renascen(a em terras da Alemanha. Coiou, dem)o rória, muitas obras de Corelli, -i"aldi, Caldara e elo menos uma ária de

 Alessandro :carlatti# arranou concertos de -i"aldi ara o órg)o ou o cra"o. =N, or*m,reciso obser"ar que a maior arte das obras imressos de -i"aldi &oi ublicada quandoJach á tinha escrito suas su!tes e concerti grossi .D Assim, á se disse, com algume'agero arado'al o maior comositor instrumental italiano do Jarroco * o alem)oJach.

Tamb*m há, em Jach, in&luIncias &rancesas. :ua literatura ian!sticas re"ela oconhecimento e estudo de Couerin e outros cla"ecinistas &ranceses e do organista<rignS. He tio &rancIs tamb*m s)o as quatro magn!&icas su!tes ara orquestra

Page 44: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 44/200

sobretudo a SuBte no.K em si bemol menor =1FMMD, com abertura maestosa e, como &inal,uma &adinerie, de alegria &antástica# e a SuBte no.K em r1 maior =1FMMD. 3as nestaúltima, o mo"imento lento =tamb*m &amoso em arrano ara o "iolino, como  ria na

Corda Sol D * uma sentida ora()o de noite# e a Gavotte, aesar do ritmo &rancIs, * umaalegre dan(a alem)# assim com na SuBte no.K * uma can()o alem) o 'ir . 0ncontramos,ali, o Jach que, mais do que qualquer outro comositor na história da música, alimentoude &olclore oular a sua arte.

Rá elementos &olclóricos na maior arte das cantatas. olclóricas s)o as &amosascan($es ara uma "o% =CanJo de :oiva, CanJo 'ntes de 'dormecer  etc.D que Jachnotou no :otenbuechlein =Caderno Musical D de sua segunda mulher, Anna 3agdalena#entre"emos, or um instante, a intimidade do lar do mestre. At* nas sutil!ssimas,ariaJYes de Goldberg  introdu%iu, sub2reticiamente, duas alegre can($es oulares.He burlesco humorismo &olclórico * a &auernkantate =Cantata dos Cam!oneses, 1FMD.Jach sabe &a%er tudo.

olclore alem)o religioso s)o as melodias do coral luterano, que Jach aro"eitou emtantas cantatas e, com e&eito esecial, nas ai'$es. Tal"e% só um luterano nato, ao qual

essas melodias s)o &amiliares desde a in&8ncia, ossa sentir comletamente o ro&undoe&eito dramático do momento em que, na 5ai#o Segundo So Mateus, quando oe"angelista &ala da coroa()o de ;esus com esinhos, o coro canta o "elho coral O )au!tvoll &lut und >unden =O (osto Cheio de Sangue e 2eridasD.

 As ai'$es s)o es*cie de oratórios cuos libretos se baseiam no te'to e"ang*lico daPai')o do Cristo grandes dramas religiosos, encenados num alco sem cenários, comcoros, recitati"os, árias e corais, e com o te'to e"ang*lico lido em recitati"o or umnarrador# e com grande orquestra. A 5ai#o segundo So Mateus =1FM?D * a obra mais&amosa de Jach * t)o dramática como os grandes oratórios de Randel, sobretudo noscoros do o"o, curtos e incisi"os# e * da mais ro&unda emo()o religiosa, caa% decon"erter um ateuQ. :eria reciso escre"er uma monogra&ia ara dar alguma id*ia destaobra colossal, s!mbolo incomará"el da m!stica gótica, da !ntima de"o()o luterana e dainsira()o dramática do Jarroco. 0 *, acima de qualquer determina()o estil!stica ligada

a este ou 7quele er!odo histórico, como uma mensagem que nos chega de um outromundo que or misericórdia se digna de &alar a nossa l!ngua. 0n&im * uma re"ela()o, nosentido b!blico# or isso, á se deu a Jach o t!tulo de quinto e"angelistaQ. A 5ai#oSegundo So 3oo =1FMGD, algo menos conhecida, n)o * in&erior# em temos recentes,ela "olta a ser e'ecutada com maior &req5Incia. 3as, sendo mais l!rica e de melodismomais arcaico, n)o conquistará, ro"a"elmente, a imensa oularidade da outra obra.

Por causa das ai'$es, Jach á &oi chamado de o maior dramaturgo musical doJarrocoQ. 0"identemente, esse Jarroco n)o * o de Alessandro :carlatti nem * o deRandel. 9e"ela2se menos nas artes "ocais, re&erentemente oli&4nicas, do que namúsica instrumental o emrego de muitos e di&erentes instrumentos ara a e'ecu()o dobai'o2cont!nuo# a in"en()o dos temas que, ensando2se semre em seu aro"eitamentoara &ugas e comle'os contraont!sticos, só raramente s)o cantá"eis assim como ostemas instrumentais de um RaSdn ou 3o%art# os des&echos curtos, nunca brilhantesQ,

mas semre em retardandoQ.Jarroco *, sobretudo, outro asecto da obra de Jach sua harm4nica. /ingu*m lhe

negará o t!tulo de maior oli&onista de todos os temos. 3as sua inesgotá"el rique%a emelodias homo&4nicas V as árias das cantatas &ormam tesouro muito maior do quequalquer cole()o de arie antiche V á da ara ensar. Alguns musicólogos, e dos maisentendidos, a&irmam que Jach ensa "erticalmenteQ em colunas de acordes. /ingu*m

Page 45: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 45/200

assinaria essa tese deois de uma audi()o dos motetos# mas estes s)o oucos. 0 emoutras obras está a oli&onia linear, realmente, a ser"i(o da harmonia, ao onto dearecer anteciar, 7s "e%es, a escritura de um RaSdn ou de um Kagner. O $antor de

Lei%ig á ode escre"er assim orque a última &ase do Jarroco remo"eu o maiorobstáculo 7 escritura harm4nica a desa&ina()o ermanente entre as "o%es humanas eos instrumentos de cordas e de soro, or um lado, e or outro lado, os instrumentos deteclas que tinham de acomanhar aqueles como bai'o cont!nuo. 0ssa &onte dedesordem caótica na música barroca &oi eliminada ela determina()o matematicamentee'ata, embora acusticamente ine'ata, dos inter"alos nos instrumentos de teclas. Ocra"o, agora bem temeradoQ, tornou2se dono da música, imondo os seus inter"alosaos outros. oi um "erdadeiro gole de estado na música. Permitiu, ela rimeira "e%,&a%er conscientemente o que Alessandro :carlatti aenas &i%era instinti"amente oim*rio da lei de seara()o rigorosa de tom maior e tom menor# a ure%a de cada umadas tonalidades# e a &aculdade de usar, na comosi()o, todas as M tonalidadesoss!"eis.

O rório Jach e'erimentou logo V e esgotou V todas aquelas ossibilidades nos

M relúdios e &ugas do rimeiro "olume do Cravo &em "em!erado =1FMMD# deois,no"amente, nos M relúdios e &ugas do segundo "olume dessa obra =1FD. N a maiorobra ian!stica de todos os temos# Rans "on J5lo^ chamou2a de -elho Testamento doianoQ, sendo o /o"o TestamentoQ as sonatas de Jeetho"en. N o manual da t*cnica doinstrumento, seu bre"iário didático, e * a obra &undamental da harmonia moderna. 3asaqueles E relúdios e &ugas tamb*m s)o modelos de escritura oli&4nica no iano#neles se arende distinguir e &a%er soar distintamente as "árias "o%es, distribu!das entreas artes das m)os. 0, ainda or cima, esses relúdios e &ugas s)o imbu!dos dero&undo es!rito religioso. A mesma s!ntese de religiosidade, es!rito didático e oli&oniatamb*m caracteri%a as seis 5artitas =1FG1D, tamb*m chamadas SuBtes 'lems.

O es!rito de esquisa de Jach n)o tem limites, assim como * ilimitada a liberdadeesiritual interior do luterano. Logo deois do Cravo &em "em!erado escre"eu a2antasia e 2uga Crom;tica =1FMGD, estudo em comor sem tonalidade determinada,

anteciando o cromatismo de Trist)o e solda# tamb*m *, aliás, gra"e medita()oreligiosa.

Outras obras ian!sticas de Jach lembram o &ato de que o comositor, anacr4nico emseu temo como músico gótico e barroco, tamb*m * homem da *oca e do estilo9ococó. Tiicamente 9ococó á * o dueto de amor, entre ;esus e a alma, na Cantata no.

RLV . 9ococó s)o, em arte, aquelas duas grandes SuBtes orquestrais, nos. K e .Tamb*m há elementos desse estilo em certas obras "iolin!sticas. A Sonata !ara violinoe cravo em l; maior =1FMGD * a música mais &eli% que amais se escre"euQ, de umaeu&oria que ressente as beatitudes do ara!so# mas os anos dan(am lá em ritmos de9ococó. 0n&im, Jach re"ela re&erIncia marcada elo instrumento mais querido do9ococó, a &lauta. 0ntre as Sonatas !ara flauta e cravo, a em si bemol menor  * a obra2rima.

0lementos do estilo 9ococó tamb*m "i"i&icam "árias obras ian!sticas as SuBtes

inglesas =1FM>D e, mais ainda, as SuBtes francesas =1FMMD, das quais a quinta cont*muma gavotte irresist!"el. O Concerto italien =1FG>D * imita()o do estilo de -i"aldi em solode cra"o# * música &esti"amente aristocrática como n)o e'iste nenhuma outra# e *caracter!stico o &ato de que os rórios contemor8neos, inclusi"e o cr!tico hostil:cheibe, &estearam esse Concerto italien como obra2rima. /)o *, aliás, in&erior aimonente Ouverture dans le goZt franJais =1FG>D, tamb*m ara solo de cra"o. 0, nomesmo estilo, o brilhant!ssimo Concerto !ara tr[s !ianos e orquestra em d7 maior

Page 46: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 46/200

=1FGGD.

Rá em tudo isso algo de Couerin. 3as o &undo * di&erente. Jach, como organistaro&issional, nunca dei'a de escre"er oli&onicamente. N um $antor alem)o. :)o aquelas

e(as ian!sticas que insiraram a um escritor inglIs a imress)o da etiqueta rigorosadas equenas cortes alem)s, a&rancesadas, e do sóbrio bem2estar dos burgueses, e dadan(a dos camoneses em torno das ár"ores "erdes que arecem ár"ores de /atal emleno sol de "er)o, brilhante sobre a "asta terra alem), e de uma &or(a gigantesca,ro&undamente enrai%ada no solo, e de um oder acima do temo e de todos osesa(osQ. O asecto 9ococó dessas obras n)o * mera imress)o o*tica. Pode sere'licada ela t*cnica de Jach, de di&erencia()o e integra()oQ das massas sonoras,que dá sentido musical 7 ornamenta()o e aos arabescos. 0ssa t*cnica de Jach * o

 !endant  er&eito das di&erencia($es e integra($es que reali%aram em seu temo osgrandes matemáticos e &!sicos, os Jernouilli e 0uler da análise matemática e damec8nica dos coros celestes que &oram as grandes ciIncias do seu temo, e que omestre arece ter conhecido.

0sse oli&onismo matemático insirou Jach certos e'erimentos singulares de

escre"er oli&onicamente ara instrumentos que, or sua nature%a, n)o se restam aratanto. :)o as obras ara "iolino solo e ara "ioloncelo solo, sem acomanhamento.Como se uma única "o% humana &icasse obrigada a cantar a caela. sto * imoss!"el.3as naqueles instrumentos, Jach reali%ou o imoss!"el. As seis SuBtes !ara violoncelosolo =1FM@D, sobretudo a no.K em d7 menor e no. em r1 menor , s)o dan(as nobrementeestili%adas, obras de densidade e'traordinária e de sonoridade quase orquestral# hoes)o muito conhecidas gra(as ao es&or(o de Pablo Casals. He di&iculdade tal"e% aindamaior s)o as trIs Sonatas !ara violino solo =1FM@D, sobretudo as em d7 maior e em solmenor # * uma arte ouco acess!"el, que o ou"inte m*dio só consegue areciar atra"*sdas artes de um "irtuose como 3enuhin. 0n&im, há trIs SuBtes =ou 5artitasD !ara violinosolo =1FM@D. A segunda, em si bemol menor , termina com a &amosa chacona, queassa"a, durante o s*culo ++, como o non !lus ultra do "irtuosismo "iolin!stico# hoe *considerada como o suremo hino do músico Jach, de uma insira()o religiosa que n)o

recisa de ala"ras, mas que &a% soar um único "iolino como se &osse uma orquestrainteira. N o triun&o esiritual de uma arte matematicamente e'ata.

 A interreta()o matemáticaQ da arte de Jach * certamente unilateral. /ingu*m aalicaria 7 5ai#o Segundo So Mateus, 7 Missa, ao Magnificat  ou 7s Cantatas. 3asser"e ara rati&icar outra interreta()o, n)o menos unilateral * a conhecida teoria de

 Albert :ch^eit%er sobre Jach como musicien-!ote. O grande teólogo2músico2&ilantrooconseguiu demonstrar que Jach, último rebento da tradi()o madrigalesca dos 3aren%io,<esualdo e 3onte"erde, usa a in"en()o temática ara ilustrar os te'tos, quase comomúsica de rogramaQ. iguras ascendentes e descendentes intamQ os mo"imentos&!sicos de que os te'tos &alam. Rá um caso em que as ala"ras doisQ ou trIsQ s)osimboli%adas or uma &igura de duas e outra de trIs notas. Parece brincadeira in&antil.3as antes * um asecto do hábito luterano de interretar &ielmente o te'toQ. 0 os e&eitosobtidos, nas cantatas e outras obras "ocais, s)o mara"ilhosamente o*ticos. 3as Jach

n)o limita esse m*todo 7 música "ocal nem 7 ilustra()o de gestos &!sicos. /)o antecia=nem adi"inhaD a música de rograma no sentido de Jerlio%, mas sim a músicasicológico2o*tica de Jeetho"en. mress)o &ortemente beetho"eniana dá o grandeConcerto !ara !iano e orquestra em r1 menor =1FGBD, de &or(a quase demon!aca, noqual a re"olta e a temestade dos elementos se acalmam, en&im, num mo"imentooli&4nico que arece querer re&letir a harmonia das es&eras. Altamente o*ticos tamb*ms)o os trIs Concertos !ara violino e orquestra, todos eles de 1FMG. O Concerto em mi

Page 47: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 47/200

maior , de uma inocente alegria aradis!aca# o Concerto em l; menor , de energia "iril at*na ornamenta()o "irtuos!stica# e o Concerto !ara dois violinos e orquestra em r1 menor ,de alegria ubilosa. 0m todos os trIs concertos, o mo"imento lento * meditati"o# o largo,

no Concerto !ara dois violinos, * uma como"ente can()o religiosa. 3as nem semre *oss!"el interretar dessa maneira o*tico2sicológica as obras instrumentais de Jach.O bel!ssimo "ri!el-Concerto !ara !iano violino flauta e orquestra em l; menor =1FG@D *um enorme arabesco oli&4nico em torno dos temas. Chega2se a um onto em que ateoria de :ch^eit%er á n)o ser"e. :)o as obras de oli&onia matemáticaQ. 0nt)o, Jachescre"e música er&eitamente absoluta, que tem seu sentido em si rória.

O cume dessa música absoluta s)o os seis concerti grossi  que Jach dedicou ao3argra"e de Jrandemburgo =1FM1D. N música brilhantemente &esti"a, 7s "e%es denobre%a aristocrática, outras "e%es de alegria &olclórica, com e&us$es ro&undamentel!ricas no meio. As ossibilidades do gInero, o contraste entre "ários solistas e os tutti  daorquestra de cordas, s)o esgotadas at* as últimas sutile%as. O tecido oli&4nico daescritura * de densidade e'traordinária. /ingu*m conseguiria descobrir id*ias o*ticasou mo"imentos sicológicos nessa música absoluta. O Concerto no.R em f; maior  *

comletado or algumas dan(as estili%adas, como uma su!te. O Concerto n

o

.K em f;maior  * o mais alegre de todos, lembrando um ro"*rbio alem)o O c*u está cheio de"iolinosQ. O Concerto no. em sol maior  n)o tem mo"imento lento# * um eretuummobile de ritmos barrocos. O Concerto no.L em sol maior  e'ibe o "irtuosismo do "iolinoo Concerto no.T em sol maior , com o cra"o no centro, no &undo, * um grandioso concertoara o ianista2solista. O Concerto no. em si bemol maior , or*m, n)o tem solistas as"iolas lideram o mo"imento incansá"el, de energia sombria. 6uanto 7 subst8nciamusical dessas obras, &altam as ala"ras * a música mais er&eita que á se escre"eu.

Os Concertos de &randemburgo re"elam mais um asecto caracter!stico do gInio deJach a tendIncia de esgotar todas as ossibilidades de um gInero, todas as solu($esoss!"eis de um roblema musical, rodu% obras didático2monumentais. 6uer di%er s)omanuais ráticos, como destinados ara o ensino do resecti"o gInero ou roblema# es)o, ao mesmo temo, as reali%a($es mais monumentais, de&initi"as do gInero. Assim,

os Concertos de &randemburgo, que s)o, aliás, dos últimos concerti grossi que seescre"am no s*culo +-, s)o o monumento do gInero concerto grossoQ. Obrasdidático2monumentais assim s)o o Cravo &em "em!erado e aquele catecismo luteranoara órg)oQ a terceira arte dos $lavier\bung . A &orma musical da "aria()o, at* ent)oouco desen"ol"ida, &oi emregada or Jach nas ,ariaJYes de Goldberg  =1FMD,escritas ara o cra"ista <oldberg di"ertir com elas um bar)o báltico durante suas noitesde ins4nia * =com as ,ariaJYes sobre uma ,alsa de Diabelli , de Jeetho"enD a maiorobra de "aria($es em toda a literatura musical, monumento de um tema glorioso e triun&oda arte combinatória, mas cheio de !o1sie !ure. 3ais outra obra desse tio * oMusikalisches O!fer =Oferenda Musical , 1FFD, elabora()o e'austi"a, em "árias &ormasinstrumentais, de um tema que o rei rederico da Prússia tinha roosto ao mestre,quando da sua "isita em Potsdam.

9esta a $unst der 2uge = 'rte da 2uga, 1FE1F>@D, a última obra de Jach. O

monumento da sua arte oli&4nica. Um único tema * e'lorado ara &ornecer todas as&ormas oss!"eis do gInero &ugaQ# uma delas, o grande (icercare, * a maior &uga emtoda a música ocidental. 0 todas essas &ugas s)o reunidas em determinada ordem,con&orme um esquema arquitet4nico de dimens$es colossais. :ó &alta a onta da torredessa catedral# ois o des&echo teria sido uma harmoni%a()o do coral ,or deinem "hrontret0ich hiermit  = '!areJo 5erante "eu "ronoD, que &icou interromida ela morte de Jach.Cumre obser"ar que a arte da &ugaQ só e'iste em nota()o esquemática, sem qualquer

Page 48: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 48/200

indica()o dos instrumentos que a de"eriam e'ecutar. 0'istem "ários arranos modernos,ara ossibilitar a e'ecu()o ara dois ianos =de :eidlho&erD, ara quarteto de cordas,ara orquestra de c8mara =<raeserD. 3as, na "erdade, essa música, inteiramente

abstrata assim como as últimas obras de Jeetho"en, destina2se, tal"e%, mais 7 leituraque 7 e'ecu()o. Tem de ser ou"ida elo es!rito. N uma mani&esta()o do es!rito.

`...

/o &im do s*culo +- só se conhecia e se arecia"a o Cravo &em "em!erado, quecircula"a em cóias manuscritas ara &ins de ensino. 3o%art tamb*m conhecia osmotetes, que ou"iu ocasionalmente em Lei%ig. A e'ecu()o da 5ai#o Segundo SoMateus em Jerlim, em 1EM?, sob a regIncia de 3endelssohn, &oi a ressurrei()o de ummorto. O mesmo 3endelssohn &oi, deois, o rimeiro que ressuscitou os Concertos de&randenburgo e as obras ara "iolino. :ó em 1E>M, com o in!cio da edi()o das obrascomletas ela :ociedade Jach em Lei%ig, come(ou a ublica()o das cantatas./aquele temo, a grea luterana á n)o tinha uso ara as obras de Jach na liturgia# sótolera"a a e'ecu()o, na igrea, a t!tulo de concertos, assim como a grea católicacome(ou a ermitir, em seus temlos, a e'ecu()o das obras organ!sticas de Jach, que

n)o le"am te'to suseito de heresia. A obra de Jach tinha erdido, ara a osteridade, asigni&ica()o religiosa. Jach * ara os rom8nticos, o grande e"ocador de sentimentosreligiosos de um assado irremedia"elmente erdido# ara Jrahms e seu cr!tico2amigoRanslic o grande mestre de constru($es arquitet4nicas# ara Kagner e ara um&ilóso&o como HiltheS o recursor da trag*dia em música# ara os modernos o &abulosot*cnico dos gIneros r*2clássicos, cuas obras se e'ecuta hoe de maneira e'atamentehistórica, com bai'o2cont!nuo, orquestra equena e instrumentos arcaicos, sem din8micae, se &or oss!"el, sem e'ress)o de sentimentos. O mestre antigoQ "irou o mestre maismoderno.

oi este o destino óstumo da música de Jach. Hestino que ele rório nuncaadi"inharia. Pois suas inten($es &oram comletamente di&erentes. /as linhas e nasentrelinhas dos documentos conser"ados descobrimos o moti"o mais ro&undo dasinterminá"eis brigas e querelas com as autoridades eclesiásticas em 3uehlhausen e

com o Conselho 3unicial de Lei%ig. Jach, consciente da sua rória imort8ncia, n)oquis subordinar seu gInio a outra inst8ncia sen)o 7 ro"idIncia di"ina. ;ulga"a2seencarregado da miss)o de re&ormar &undamente a música sacra da grea luterana. 3asesta resistiu em arte, esta"a etri&icada or um dogmatismo cada "e% mais seco,escolásticoQ, que iria deois trans&ormar2se em racionalismo n)o menos seco# em arte,a de"o()o luterana á come(ou a derramar as lágrimas do ietismo sentimental. /emestes nem aqueles sentiram a necessidade de uma no"a música sacra. 0 que no"amúsica sacra oderia nascer no s*culo do racionalismo &ilosó&ico e da óera Jach n)oconseguiu reali%ar seu alto obeti"o. 0 &oi esquecido. 3as os recursos musicais queemregara, tornaram2se indeendentes. Come(aram a desemenhar sua &un()o &ora dorecinto sacro. A sala de concertos trans&ormou2se em igrea de uma no"a religi)o dareligi)o da música. 6uando RaSdn, 3o%art e Jeetho"en tinham iniciado essatrans&orma()o, Jach &oi redescoberto. 6uando Kagner e Jrahms tinham cumrido sua

miss)o de terminar aquela trans&orma()o, Jach "oltou a ocuar o rimeiro lugar nahistória da música. :ua obra * hoe o &undamento do nosso temlo de música ro&ana.Consumou2se a ro&ecia b!blica =0". 3at. ++ MD A edra que os obreiros reeitaram,tornou2se edra &undamentalQ.

Page 49: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 49/200

90:U3O  A  3:CA  J A99OCA

 Acomanhando a reabilita()o do Jarroco nas artes lásticas e na literatura, amusicologia tem elaborado "árias teorias ara solucionar o roblema da música

barroca1./)o &oi necessário reabilitá2la. Pois Jach e Randel s)o, há muito, reconhecidos como

os ontos mais altos da história da música. /o entanto, os musicólogos italianosresistem, sob a in&luIncia de Croce, 7 "alori%a()o da música barroca. Para eles, Jarrococontinua a signi&icar decadIncia.

`...

/o in!cio do s*culo +-, as "itórias incomletas da 9e&orma e da Contra29e&ormarodu%em um estado de ceticismo &ilosó&ico, do qual se encontram sinais em Cer"antese Hescartes. /a música, o &en4meno corresondente * a dissolu()o da arquitetura e dosistema tonal da oli&onia "ocal, ara os quais os rimeiros mestres da óera á n)o tImuso. A este e 7quele reseito, quanto 7s &ormas e quanto 7 harmonia, o s*culo +-musical * uma *oca de con&us)o caótica. :al"am2se uns oucos gInios

e'erimentadores2recursores como 3onte"erde e :chuet%, que n)o se reali%aramcomletamente# tamb*m &oi este o destino de Purcell. /o come(o do s*culo +-corresonde a essa situa()o caótica aquela &ase do ensamento euroeu que PaulRa%ard chamou de crise de la conscience euro!1enne os rimeiros sinais de relati"ismoe racionalismo acrist)os e anticrist)os. 3as na música, a ordem &oi restabelecida elaarte neooli&4nica de Randel e Jach. Ao mesmo temo, Alessandro :carlatti á adotou,antes instinti"a do que sistematicamente, a no"a ordem tonal, Jach sistemati%a2a, em1FMM, no rimeiro "olume do Cravo bem "em!erado, que *, muito signi&icati"amente, aúnica obra sua que &icou "i"a e conhecida durante a segunda metade do s*culo. 0 nomesmo ano de 1FMM ublicou 9ameau o "raPt1 d0)armonie.

 Ao restabelecimento da ordem tonal corresonde o estabelecimento de uma no"aordem social no reino da música os comositores do s*culo +- ser)o ser"idoresúblicos, embora de categoria subalterna, trabalhando ara determinadas ocasi$es na

"ida da corte, do alácio aristocrático, da grea. :ua arte * estritamente &uncional. Coma e'ecu()o, resecti"amente reresenta()o da obra, o obeti"o está reali%ado. A grandemassa das comosi($es do s*culo nunca &oi ublicada, imressa# caiu, deois dae'ecu()o, no esquecimento. 0ste tamb*m &oi um dos moti"os do desaarecimento daobra de Jach.

1 9. Raas, Die Musik des &arock , Potsdam, 1?ME. A. Hella Corte e C. Pannain, Storia della Musica,t., Turim, 1?M. :. Clec', /e &aroque et la Musique. Essai d0esth1tique musicale, Jru'elas, 1?.3. Juo&%er, Music in the &aroque Era. 2rom Monteverde to &ach, /o"a orque, 1?F. 3./e^man, "he Sonata in the &aroque Era, Londre, 1?>?. A. Rutchings, "he &aroque Concerto,/o"a orque, 1?B1.

Page 50: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 50/200

C APÍTULO  

 A Música ClássicaO:   LRO:  H0  J ACR

 resen(a da música barroca de Jach =1F>@D e Randel =1F>?D em leno s*culo+- n)o contribui ara de&inir o estilo de sua *oca. Para e'licar essa

resen(a anacr4nicaQ num temo em que a literatura e as artes lásticas á tinhamabandonado e esquecido o estilo barroco, basta a conhecida tese de /iet%sche sobre oatraso habitual da música em rela()o 7s outras mani&esta($es do es!rito. N muito maisdi&!cil acostumar2se a um no"o estilo musical do que a ino"a($es no terreno da oesiaou da intura, de modo que a música semre &icaria ara trás.

A

3as a análise das correntes literárias e &ilosó&icas e'lica mais outros ormenores do

&en4meno. O s*culo +- assa or ter sido racionalista no ensamento e classicista naarte. :eu reresentante mais comleto seria o racionalista2classicista -oltaire. /a"erdade, o anorama * um ouco di&erente. -oltaire á era &amoso como dramaturgo e

 ornalista ol!tico2&ilosó&ico, or "olta de 1FG>, quando o estilo dominante da 0uroaainda era o 9ococó, último deri"ado do estilo barroco. 0 quando -oltaire morreu, em1FFE, a 0uroa esta"a, ha"ia decInios, dominada elo r*2romantismo, sentimental ouat*tico. As &ormas musicais do Jarroco n)o se resta"am ara dar e'ress)o 7 no"amentalidade. A óera naolitana, tio Alessandro :carlatti, era uma arte essencialmenten)o2dramática, cuo "alor musical residia nos momentos de medita()o l!rica. Randel n)otinha re&ormado a óera# or isso, suas óeras s)o a arte de sua obra que caiu logo emesquecimento. A música instrumental barroca culmina"a em arte t)o abstrata como s)oos Concertos de Jrandemburgo. A arte oli&4nica de Jach á era um anacronismo no seutemo. :eus rórios &ilhos &oram os rimeiros a abandoná2la1.

;ohann Christian JACR =1FG>1FEMDM

 &oi o &ilho mais no"o e redileto do $antor , enunca hou"e trai()o mais comleta. 0m 1F>, em 3il)o, quatro anos deois da morte doai, esse &ilho do maior músico rotestante con"erteu2se ao catolicismo romano atouramente &ormal, insincero, ara obter o cargo de organista no domo. Poucos anosdeois, em 1FBM, Jach está em Londres, como maestro da rainha# em 1FB>, &undou, dearceria com o "iolinista Warl riedrich Abel, uma sociedade de concertos úblicos, arimeira dessa nature%a, colhendo grandes lucros &inanceiros, entregando2se a uma "idade ra%eres bastante materiais. Os contemor8neos chama"am2no de Jach de 3il)oQ,e'ecrando2o como aóstata, ou ent)o de Jach de LondresQ, desre%ando2o comoeicureu c!nico e cortes)o inescruuloso. Roe em dia, atribui2se2lhe grande imort8nciahistórica, como comositor t!ico do 9ococó e um dos reresentantes rinciais doestilo galanteQ em música. ;ohann Christian &oi o rimeiro que no concerto ara solista eorquestra substituiu o cra"o elo iano. 0m 1FBE tocou, ela rimeira "e%, um concerto

ara iano e orquestra erante úblico an4nimo, admitindo mediante agamento deingresso# * o &im "irtual da música escrita ara a c8mara de r!ncies e aristocratas.

1 R. 9iemann, Die Soehne &achs =in Proeludien und :tudienD, "ol. , Lei%ig, 1E?F.M R. P. :choeel, 3ohann Christian &ach und die +nstrumentalmusik seiner 9eit , Kol&ebuettel, 1?MB.Ch. :. TerrS, 3ohann Christian &ach, Londres, 1?M?. W. <eiringer, Die Musikerfamilie &ach,3unique, 1?>E.

Page 51: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 51/200

6uem o ou"iu tocar em Londres &oi o o"em 3o%art, ent)o menino rod!gio# a imress)o&oi &orte e duradoura. 6uem, hoe em dia, chega a ou"ir uma obra qualquer de ;ohannChristian Jach, logo diria sto * de 3o%artQ /a "erdade, o estilo de 3o%art * ohann2

christian2bachiano. 0ssa arte, esquecida durante tanto temo, á n)o * &en4menouramente histórico. Pode2se desre%ar o Jach de 3il)oQ. 3as o Jach de LondresQ"oltou a &a%er arte do reertório moderno. /ossas associa($es de música de c8marae'ecutam2lhe a chamada Sinfonia !ara Duas Orquestras, em r1 maior , es*cie deconcerto grosso degeneradoQ# e alguns ianistas modernos inclu!ram no seu reertórioos Concertos em d7 maior , sol maior  e mi bemol maior , graciosos como e(as deorcelana de 3eissen ou :"res. Tamb*m &oi ressucitada uma sin&onia em sol menor,na qual se notam sinais do &uturo r*2romantismo.

;ohann Christian tinha recebido, em casa do ai, cuidadosa educa()o musical, assimcomo os outros &ilhos, inclusi"e o mais "elho, Kilhelm riedemann, cuo talento musicalnotá"el ereceu nos del!rios do alcoolismo e de dissoluta "ida boImia. :ó n)o quisera o$antor que se tornasse músico seu segundo &ilho, Carl Phili 0manuel Jach =1F11FEED1# como se adi"inhasse que este acabaria de&initi"amente com a arte antiga.

Hestinara2o 7 carreira de urisconsulto erudito. O destino, or*m, n)o o quis assim.Heois de anos de ser"i(o na corte do rei rederico , o <rande, em Potsdam, comocla"ecinista, Carl Phili 0manuel aceitou em 1FBF a sucess)o do amigo aternoTelemann, no cargo de diretor de música da cidade de Ramburgo. /o &im do s*culo+-, JachQ signi&ica"a Carl Phili 0manuel JachQ. ;ohann :ebastian esta"acomletamente esquecido. 3as o no"oQ Jach, o Jach de RamburgoQ, era, elo menosna Alemanha do /orte, o comositor mais &amoso do seu temo.

 At* hoe se sucedem reedi($es da sua obra teórica ,ersuch \ber die =ahre 'rt das$lavier 4u s!ielen =Ensaio sobre a ,erdadeira 'rte de "ocar 5iano, 1F>G1FBMD# essa"erdadeiraQ á n)o era a do Cravo &em "em!erado. 0 isto come(ara cedo. As rimeirassonata do &ilho &oram escritas quando o ai ainda trabalha"a na missa em si bemolmenor. Por outro lado, as últimas obras de Carl Phili 0manuel s)o contemor8neasdas obras maduras de RaSdn e 3o%art. 0 as ,ariaJYes sobre as 2olies d0Es!agne 

arecem anteciar o grande estilo sin&4nico de Jrahms. Carl Phili 0manuel * homemde uma &ase de transi()o.

Carl Phili 0manuel Jach tem contribu!do muito ara o desen"ol"imento do no"oconcerto ara iano e orquestra# *, a esse reseito, o mestre de 3o%art. 3as sua &ormaredileta &oi a sonata ara iano solo. As cole($es s)o Sonatas Dedicadas ao (ei da5rssia =1FMD# Sonatas Dedicadas ao Duque de >uerttemberg  =1FD# Sonatas com(e!rises ,ariadas =1FB@, 1FB1, 1FBGD, de in&luIncia decisi"a no desen"ol"imento da artede RaSdn. 3as á s)o osteriores 7 re"olu()o musicalQ reali%ada em -iena as Sonatenf\r $enner und /iebhaber  =Sonatas !ara Conhecedores e 'madores, seis cole($es,1FF?1FEFD, das quais "árias se mant*m at* hoe no reertório, elo menos ara oensino suerior. Hiscutiremos logo mais as ino"a($es &ormais e o no"o es!rito dessaarte, que os contemor8neos arecia"am como uma re"ela()o ela rimeira "e%, amúsica instrumental arecia ter adquirido a &aculdade de di%er tudo, embora sem

ala"rasQ. 9ealmente, Carl Phili 0manuel Jach n)o * só imortante ersonagemhistórico. Come(ou maneando o no"o recurso &ormal da sonata2&orma com tanto gInioque lembra 7s "e%es Jeetho"en. 3as na maior arte das suas obras n)o conseguemanter2se nessa altura deois de come(os altamente dramáticos, "olta logo ara os

1 A. Kotquenne, "hematisches ,er4eichnis der >erke von Carl 5hili!! Emanuel &ach, Lei%ig,1?@>. O. -rieslander, Carl 5hili!! Emanuel &ach, Lei%ig, 1?MG.

Page 52: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 52/200

reciosismos graciosos do estilo 9ococó. /o entanto, nos seus mo"imentos lentos á *incon&und!"el o es!rito sentimental do r*2romantismo. Carl Phili 0manuel Jachtamb*m &oi, 7 sua maneira, um gInio.

:O/ATA2O93A  0  : /O/A R A]H/

O roblema &oi o seguinte a música instrumental barroca n)o conhecia nenhumrinc!io de desen"ol"imento temático. O tema in"entado elo comositor &oi colocadoem determinada situa()o oli&4nica =tomado e retomado elas "árias "o%esinstrumentaisD e em determinada situa()o de orquestra()o =tomado e retomado elossolistas e elos tutti D# deois de esgotadas todas as ossibilidades dessa situa()o inicial,o mo"imento esta"a terminado. Os Concertos de Jrandenburgo est)o constru!dosassim. /)o ha"ia outro rinc!io de constru()o de um trecho instrumental# e a reuni)ode "ários trechos desses, ara &ormarem uma obra inteira, &oi arbitrária oderia ser umasu!te ou um concerto grosso, indistintamente.

Poderia ser a su!te a sucess)o de "árias dan(as estili%adas. Tamb*m oderia ser a

abertura de óera que, quando obti"era sucesso, tamb*m &oi e'ecutada, indeendenteda reresenta()o em concerto. Rou"e dois tios de abertura, que &orneceram osesquemas ara as obras instrumentais de -i"aldi e Jach. A abertura &rancesa, de LullS,com$e2se de uma introdu()o lenta, mo"imento ráido, e reeti()o de trecho lento. Aabertura italiana, de Alessandro :carlatti, com$e2se de um trecho ráido, de ummo"imento lento no meio, e da reeti()o do trecho ráido alegro# adágio ou andante# ealegro &inal. 0sse tio italiano de abertura * o recursor da nossa sin&onia# aracomletá2la só &oi reciso introdu%ir entre o mo"imento lento e o &inal um terceiromo"imento, que &oi tomado emrestado 7 su!te uma dan(a estili%ada, o minueto.

3as com esses esquemas, todos rotineiros, n)o esta"a resol"ido o roblema dodesen"ol"imento de um tema dentro de um mo"imento. Um recursor da solu()o &oiPergolese em suas trio2sonatas de 1FG1 esbo(a2se o rinc!io de dois temascontrastantes. /o entanto, oucos negam a Carl Phili 0manuel Jach1 a arte rincial

do m*rito de ter desen"ol"ido a sonata2&orma. Chama2se assim o no"o rinc!io deconstru()o do rimeiro mo"imento, o mais longo e mais imortante de uma sonata. Oandante ou adágio ode ser uma medita()o musical. O alegro &inal ode contentar2secom reeti()o, ouco "ariada, de um tema * a &orma do rondó. 3as o rimeiro alegrotem de ser mais elaborado. Carl Phili 0manuel Jach artiu de uma &orma simles umtema * sumariamente e'osto =e'osi()oD# deois muda a tonalidade# no no"o ambientetonal, continua o desen"ol"imento# en&im, a e'osi()o * =com modi&ica($es mais oumenos ligeirasD reetida na tonalidade original =recaitula()o ou reriseD. O &atoimortante, nesse esquema, * a mudan(a de tonalidade, a modula()o# * um rinc!iodramático. 3ais deois, Carl Phili 0manuel Jach aer&ei(oou esse esquema elaintrodu()o de um segundo tema, contrastante, que entra em es*cie de luta dramáticacom o rimeiro tema. 0is a sonata2&orma comleta.

N di&!cil atribuir in"en()o dessas a um determinado indi"!duo. A coisa esta"a no ar.

Carl Phili 0manuel Jach te"e comanheiros e cometidores. 0m obras do seu irm)o;ohann Christian tamb*m se encontra esbo(ada a sonata2&orma. Precursor da &orma,dos mais geniais, * Homenico :carlatti. 0lementos da sonata2&orma s)o reconhec!"eisnas obras orquestrais, chamadas sin&oniasQ, do milanIs <io"anni :A33A9T/ =1F@1FFD, ao qual RaSdn dedica"a desre%o imerecido# recentemente, associa($es de

1 C&. nota 0rror 9e&erence source not &ound anterior.

Page 53: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 53/200

música de c8mara italianas retendem ressuscitá2lo. igura de transi()o * o &rancIsran(ois ;oseh <O::0C =1FG1EM?D, que te"e certa in&luIncia nos come(os domenino rod!gio 3o%art e sobre"i"eu a Jeetho"en. 3as <ossec á *, or sua "e%,

in&luenciado ela chamada escola de 3annheimQ, com a qual come(a a história dasin&onia1.

0m 3annheim, ent)o caital de um dos muitos equenos rinciados eclesiásticos da Alemanha ocidental, o r!ncie2biso tinha reunido uma e'celente orquestra, comostarincialmente de músicos austr!acos. O gInio entre eles era ;ohann Anton :TA3T\=1F1F1F>FDM. <InioQ n)o * e'agero. 3orreu com aenas @ anos de idade# acombina()o de ai')o e intimismo em suas obras * incon&undi"elmente essoal. /oentanto gInio malogrado. /ada do que escre"eu &icou "i"o, como acontece com muitassonatas de Carl Phili 0manuel Jach, nem &oi ressuscitado como certas obras de;ohann Christian Jach. Come(ou tudo# mas nunca chegou at* o &im. :ua imort8ncia só* histórica. oi ele quem trans&ormou a abertura italiana em sin&onia, introdu%indo comoterceiro mo"imento o minueto. :uas rimeiras obras &oram trios ara cordas que odiamser e'ecutadas or número maior de &iguras, multilicando2se os "iolinos, "iolas e

"ioloncelos# deois acrescentou as tromas, en&im as &lautas, obo*s e &agotes. Aorquestra de 3annheim n)o &oi um aer&ei(oamento da orquestra barroca de LullS ouJach. :tamit% n)o recisa"a e'cluir os instrumentos á arcaicos, orque nunca esti"eramlá. /em recisa"a estabelecer no"o equil!brio entre as cordas e os instrumentos desoro# seu conunto de coros de instrumentos nasceu de no"o. /o"a tamb*m * adin8mica :tamit% assa or in"entor do crescendoQ e decrescendoQ, uma dasino"a($es básicas de toda a música moderna. 3as, em comensa()o, sua sonata2&orma, nos rimeiros mo"imentos, * bastante imer&eita.

-ários outros membros da orquestra de 3annheim tamb*m &oram comositores ossin&onias austr!acos ran% +a"er 9CRT09 =1F@?1FE?D e Christian CA//AJCR=1FG11F?ED# o "ienense gna% ROL\JAU09 =1F111FEGD, autor de Sings!iele, isto *,equenas óeras nas quais o recitati"o era substitu!do or te'to &alado em alem)o, ecua in&luIncia * sens!"el em 3o%art, que este"e em 3annheim e lá arendeu muita

coisa# e Warl :TA3T\ =1FB1E@1D, &ilho de ;ohann, que á *, or sua "e%, mo%artiano./aqueles mesmos anos, arte semelhante desen"ol"eu2se em -iena. A orquestra do"ienense <eorg Christoh KA<0/:0L =1F1>1FFFD * a mesma dos mannheimianos.Outro austr!aco, <eorg 3athias 3O// =1F1F1F>@D, escre"eu em 1F@ uma obraorquestral em quatro mo"imentos cuo terceiro * um minueto * a mais antiga de todasas sin&onias. 3onn tamb*m &oi o rimeiro que emregou o mesmo esquema ara umconcerto de solista# seu Concerto !ara ,ioloncelo e orquestra em sol menor  &oireeditado, na cole()o Monumentos da Msica na ustria ="ol. ++, t.MD, or ningu*moutro que Arnold :choenberg.

Logo a sonata2&orma come(a a dominar toda a música instrumental. A sin&onia n)o *outra coisa sen)o uma sonata ara orquestra. Um concerto V agora muito di&erente dosconcertos de Jach e -i"aldi V n)o * outra coisa sen)o uma sonata ara um solista comacomanhamento da orquestra. A sonata ara quatro instrumentos de cordas, o

quarteto, será acrescentada or RaSdn. As origens de sonata2&orma, sin&onia e orquestra &oram, durante muito temo, obeto

de &orte olImica entre os musicólogos. O alem)o Rugo 9iemann de&endeu

1 W. /e&, Geschichte der Sinfonie und Suite, Lei%ig, 1?M1.M . Kaldirch, Die kon4ertante Sinfonie der Mannheimer , Reidelberg, 1?G1. P. <raden^it%,3ohann Stamit40s /eben, 3annheim, 1?GB.

Page 54: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 54/200

intransigentemente a rioridade do gruo de 3annheim. O "ienense <uido Adlerde&endeu com a mesma intransigIncia a origem austr!aca das ino"a($es. 0ssa olImican)o te"e &undo nacionalista ou bairrista ois :tamit% e os outros músicos de 3annheim

tamb*m &oram austr!acos. Roe arece "encedora a &órmula seguinte 3annheim te"e arioridade cronológica, mas erdeu raidamente o "igor e a imort8ncia# o gruo de-iena desen"ol"eu2se mais de"agar, mas chegou a colher os resultados uma no"amúsica instrumental, baseada no contraste dramático de temas e tonalidades,dramaticidade abrandada elo otimismo do s*culo racionalista e ela boa educa()o dasociedade aristocrática que manda"a restringir a e'ress)o dos sentimentos. N a arte deRaSdn.

;oseh RA]H/ =1FGM1E@?D1 *, dos grandes comositores, aquele em cua obra o&olclore desemenha o ael mais decisi"o# embora esti"esse destinado a lan(ar o&undamento ermanente daquilo que hoe * geralmente chamado de música clássicaQ.oi &ilho do o"o, de um artes)o numa aldeia da _ustria Jai'a, n)o muito longe de -ienae da &ronteira húngara. A tese de suas origens esla"as, in"entada or um musicólogoinglIs, ainda aarece, de "e% em quando, em li"ros de di"ulga()o, de autores

germanó&obos# mas está há muito re&utada e abandonada. RaSdn &oi menino de coro nacatedral de :anto 0stI")o, em -iena# deois, músico que se emrega"a ara tocar emta"ernas e em serenatas de rua. Li"rou2o da ior mis*ria o casamento com uma &ilha deequeno2burguIs "ienese, mas a incomatibilidade de gInios condenou essecasamento a um &racasso doloroso, "erdadeiro mart!rio "ital!cio do músico, embora"i"esse searado da mulher. Passou a maior arte da "ida no castelo do riqu!ssimor!ncie húngaro 0sterhá%S, em 0isenstadt, erto de -iena. :ua condi()o &oi, con&ormeos costumes da *oca, a de um lacaio eseciali%ado em determinado ser"i(o. 3assemre &oi tratado com certo reseito# e te"e 7 sua disosi()o uma e'celente orquestraara e'erimentar suas obras. Tornou2se conhecido, como comositor, em -iena,deois na Alemanha, deois na 0uroa inteira. 0m 1FE> á lhe era encomendada umaobra elos c4negos da catedral de Cádi%, na remota 0sanha. 0m 1FEB, escre"esin&onias ara os concertos úblicos da Loa 3a(4nica OlSmique em Paris. Liberto,en&im, ela morte do "elho r!ncie 0sterhá%S e ela morte da mulher, "iaa em 1F?1ara Londres, a con"ite do "iolinista e emresário :alomon com seus concertos ganhamuito dinheiro e o doutorado honoris causa da Uni"ersidade de O'&ord numa segunda"iagem, reetem2se os triun&os. 0nt)o, tamb*m * reconhecido como comositor o&icialdo m*rio Austr!aco, ao qual escre"eu, em 1F?F, o hino. :ucesso triun&al do oratório 'CriaJo. Heois, retira2se ara a solid)o de sua casa. RaSdn morreu em 1E@? em -iena,ocuada elas troas de /aole)o# o&iciais &ranceses &ormaram a guarda de honra noseu enterro.

O chamado classicismo "ienense isto * a tr!ade RaSdn23o%art2Jeetho"en. N umarotina historiográ&ica que &alsi&ica comletamente a ersecti"a histórica como se RaSdnti"esse sido o &undador e o menos er&eito dos trIs, 3o%art á melhor e Jeetho"en omelhorQ dos trIs. Um rogressismo t)o simlista merece ser radicalmente eliminado.

1

 /o"a edi()o das Obras Com!letas =ed. ;. P. LarsenD, Woeln, 1?>E e seguintes =at* agora 1M"ols.D. C. . Pohl, 3ose!h )a%dn, M "ols., Jerlim, 1EF>1EEM, ="ol. , or R. Jotstiber, Lei%ig,1?MFD. A. :chering, )a%dn, -iena, 1?ME. C. Wobald, 3ose!h )a%dn, -iena, 1?GM. C. 3. Jrand, DieMessen von 3ose!h )a%dn, Kuer%burg, 1?1. W. <eiringer, )a%dn, Londres, 1??. 9. Rughes,)a%dn, Londres, 1?>@. 9. :ondheimer, )a%dn ' )istorical and 5s%chological Stud% based on hisQuartets, Londres, 1?>1. A. "an Roboen, 3ose!h )a%dn. "hematisch-bibliogra!hisches>erkver4eichnis, "ol. ., 3ain%, 1?>F. R. C. 9obbins Landon, "he S%m!honies of 3ose!h )a%dn,Londres, 1?>>. =:ulementQ, Londres, 1?B1.D

Page 55: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 55/200

RaSdn n)o * menorQ nem imer&eitoQ. 3as o s*culo ++ acredita"a nesse mito. Osrom8nticos idolatra"am 3o%art de tal maneira que RaSdn, embora ainda muitoareciado, &oi relegado ara o &undo. :chumann á o trata com mera bene"olIncia.

Conhecidas s)o umas &rases ouco comreensi"as de Kagner. Roe, gra(as a intensotrabalho dos musicólogos e de regentes como Jeecham, Jruno Kalter e Toscanini, estáRaSdn mais que reabilitado. :ó em li"ros antiquados ainda se encontra es*cie dede&esasQ. RaSdn * hoe reconhecido como gInio, da categoria de Jeetho"en, 3o%art eJach.

Considera"am2no, antigamente, como simlório. N "erdade que &oi homem de oucaslertas, sem contato com o desen"ol"imento da literatura alem) em seu temo. 3as ainteligIncia musical * &en4meno comletamente 7 arte# e bem obser"ou To"eS que aintrodu()o, numa sin&onia ou num quarteto, de um no"o tema * oera()o t)o di&!cil esutil como a introdu()o de um no"o ersonagem numa trag*dia de :haeseare ou9acine. A surema inteligIncia musical de RaSdn reali%ou uma re"olu()o mais ro&undaque a da ars nova e mais construti"a que a de 3onte"erde enterrou a música barroca einiciou a moderna. A esse reseito * RaSdn o mais original de todos os comositores#

tamb*m o * quanto 7 in"en()o melódica. A origem * o &olclore. RaSdn * o mais t!ico, o mais incon&und!"el dos austr!acos.Romem da _ustria Jai'a, ro"!ncia que * o cora()o das regi$es de &ala alem) do antigoim*rio dos Rabsburgos. Roe, a _ustria Jai'a * o centro de um a!s equeno. 3asnaquele temo con&lu!ram nela e em sua caital -iena as gentes e as in&luIncias detodas as artes do im*rio multinacional, os esla"os, os italianos, os húngaros. RaSdnaro"eitou o &olclore musical dessa gente toda, orque nas ruas de -iena se canta"a emalem)o, tcheco, húngaro, italiano, croata e romeno. Come(ou sua carreira esantosacomo músico de rua, tocando o "iolino em serenatas ara as quais ent)o se costuma"aalugar equenas bandas de música. 6ualquer instrumento so ode le"ar ara a rua,menos um iano ou um cra"o. Os músicos de rua tinham de trabalhar sem bai'o2cont!nuo e, com ele, a música barroca inteira. N reciso di%I2lo a "itória da música deRaSdn * muito resonsá"el elo esquecimento da arte de Jach# mas o caminho á tinha

sido iniciado. 6uando tamb*m articiam da serenata os instrumentos de soro, ent)otorna2se imortante o &ato de que, nessa equena banda de músicos humildes, nenhumdeles * caa% de desemenhar o ael de solista2"irtuose. O que "ale * o conuntoinstrumental. :erá a orquestra, a sin&onia. Para garantir a constru()o e a coes)o doquarteto e da sin&onia, sem o aoio harm4nico do bai'o2cont!nuo, elabora a inteligInciamusical de Carl Phili 0manuel Jach o rinc!io da constru()o será a sonata2&orma. Oidioma musical que RaSdn &ala, emregando como recurso material só os instrumentos,* o da música sacra italiana da *oca recedente, o idioma de Alessandro :carlatti ePergolese. 0is mais uma di&eren(a essencial, em comara()o com a música barroca ostemas instrumentais de RaSdn s)o cantá"eis. N ele um dos maiores in"entores demelodias em toda a história da música. /enhum 9ossini ou -erdi comara2se2lhe a essereseito. /em sequer 3o%art. A melodia do antigo hino austr!aco =hoe abolido na

 _ustria, orque os alem)es se aroriaram deleD * um coral de grande e emocionantesimlicidade, destinado a ser cantado elo o"o# ser"iu como tema das e'traordinárias"aria($es do Quarteto O!.X , no., um dos ontos altos da música instrumental. 

0stamos hoe acostumados a areciar o Quarteto de cordas como o suremo gIneroda música instrumental. 9aros á s)o os es!ritos simles que consideram como sueriora sin&onia, orque e'ecutada or maior número de instrumentos. Abandonada está ateoria de que RaSdn teria in"entadoQ, rimeiro, o quarteto, amliando2o deois ara asin&onia. 3as tamouco seria e'ata a tese contrária, da esirituali%a()oQ osterior da

Page 56: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 56/200

sin&onia no quarteto. O desen"ol"imento dos dois gIneros &oi simult8neo.

 As rimeiras sin&onias de RaSdn s)o dos anos deois de 1FB@# á de"e ter conhecidoas obras de 3onn, ois logo inclui, como terceiro mo"imento, o minueto. 3as a e"olu()o

&oi "agarosa. Os Quartetos o!. =1FBED ainda s)o arcaicos, inclusi"e o em f; maioro!. no.T , que continua sendo e'ecutado at* hoe orque seu segundo mo"imento *uma bel!ssima serenata# ainda estamos erto das origens do gInero. 3as logo deois,os Quartetos o!. KV  =1FFMD, chamados os Grandes Quartetos ou Quartetos do Sol , tIm ano"a oli&onia instrumental lenamente desen"ol"ida e tIm os rimeiros mo"imentos emsonata2&orma# 1FFM *, na e"olu()o da música, uma grande data histórica.

 A lena maturidade de RaSdn re"ela2se nos Quartetos o!. =1FE1D, denominadosQuartetos (ussos, e nos alegres Quartetos o!. L =1F?@D, dos quais sobretudo o no.T emr1 maior =denominado CotoviaD * dos mais queridos. Alguns desses quartetos darimeira &ase de RaSdn constam do reertório ermanente das associa($es de músicade c8mara. 3as só oucos# e seu número está diminuindo. Ainda nos temos do &amosoquarteto ;oachim, or "olta de 1EE@, a sele()o &oi mais larga ou"iram2se nos concertoso Quarteto em d7 maior o!. no., denominado O 5;ssaro =1FE1D# o Quarteto em r1

maior o!. TV no

.  =1FEBD, denominado (# o Quarteto em sol maior o!. TL no

.R =1FE?D# oQuarteto em d7 maior o!. TL no.K =1FE?D, denominado :avalha# o Quarteto em si bemolmaior o!. L no.  =1F?@D# e outros. :)o, todos eles, obras2rimas. O "agaroso rocessode esquecimento dessas obras signi&ica erda incalculá"el do nosso uni"erso musical.Pois nenhum daqueles quartetos oderia ser substitu!do or qualquer outro. A amlitudede emo($es alegres, burlescas, solenes, gra"es, ir4nicas, melancólicas, de ternura, dees!rit , de nobre resigna()o * estuenda. Os quartetos de RaSdn constituem um mundoda música comleto e aut4nomo, assim como as cantatas de Jach.

 As rimeiras sin&onias de RaSdn datam de 1FB@. 3as estas e muitas outras,osteriores, á est)o esquecidas. 3uito redu%ido demais tamb*m * o número desin&onias de RaSdn da &ase da maturidade que ainda se mant*m no reertório. Obrascheias de es!rit , &ino humorismo, melancolia nobre e nobre%a aristocrática, terminandoquase semre com a alegria ruidosa de um &inal 7 base &olclórica. A cronologia, a

autenticidade de "árias obras com ou sem ra%)o atribu!das ao mestre e os te'tosautInticos só &oram estabelecidos or 9obbins Landon. 3uitas sin&onias de RaSdntornaram2se conhecidas elos aelidos a Sinfonia no. LU em d7 maior  =3aria Theresia,1FFGD# a Sinfonia no. TT em mi bemol maior =MaPtre d01cole, 1FFD# a Sinfonia no. emd7 maior  =9o'olane, 1FFFD# a Sinfonia no. N em d7 maior  =Laudon, 1FFED# a Sinfonia no.X em r1 maior  =/a Chasse, 1FE1D# a Sinfonia no. U em sol menor  =/a 5oule, 1FE>D# aSinfonia no. UK em d7 maior  =/0Ours, 1FEBD# a Sinfonia no. UT em si bemol maior =/a(eine, 1FEBD# a Sinfonia no. NK em sol maior  =O#ford , 1FEED. Os aelidos n)o tIm,naturalmente, sentido rogramático# lembram circunst8ncias da rimeira e'ecu()o ou aimress)o que &i%eram certos trechos. Todas essas obras ainda ertencem e semreertencer)o ao reertório dos nossos concertos sin&4nicos, enquanto hou"er reertório.3as s)o da sua *oca a do aristocrático s*culo +- que detesta"a os grandes gestosat*ticos, re&erindo a alus)o esirituosa e, se &or ine"itá"el, a ligeira melancolia. Hentro

dos limites tra(ados elas biens1ances, as boas maneiras, * "asta a amlitudeemocional dessas obras RaSdn sabe, sem ala"ras, e'rimir tudo. :ó &alta a trag*dia#mas n)o * or moralismo t!mido, como acredita"a /iet%sche, e sim, or understatement  de homem bem2educado.

Pois o &en4meno RaSdnQ n)o * simles. N muito comle'o. N homem da maisrequintada so&istica()o aristocrática# mas nunca esquece suas origens camonesas e o&olclore de sua terra. N &ilho &iel e tradicionalista da grea católica# mas sua *tica * a

Page 57: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 57/200

racionalista ou meio racionalista da 3a(onaria, 7 qual tamb*m ertencia. :uamentalidade * a de um aristocrata ou, elo menos, de um ab1e da *oca galanteQ e, aomesmo temo, a de um burguIs que gosta de economi%ar dinheiro. /)o &altam tra(os do

9ococó nem do r*2romantismo sentimental nem sequer do Jarroco que com ele e orele acabou, mas que * a grande tradi()o cultural de sua terra austr!aca. Todas essasambig5idades n)o odem dei'ar de rodu%ir tens$es !ntimas, cua e'ress)o musical *a sonata2&orma a música eseci&icamente dramática, embora sea in"is!"el o alco.

/a segunda &ase da "ida e rodu()o musical de RaSdn nota2se a in&luIncia de 3o%art,comanheiro mais o"em ao qual o mestre á en"elhecida dedica"a o maior are(o. As&ormas musicais tornam2se mais amlas, a constru()o mais comle'a. 3as n)o con"*me'agerar essa in&luIncia. N oss!"el identi&icar, erroneamente, como sendo de RaSdn,certa melodia de 3o%art# mas o conhecedor nunca incorrerá no erro contrário. 3o%artescre"e no estilo da *oca. O estilo de RaSdn * intensamente essoal. 3uita coisa quese costuma atribuir 7 in&luIncia de 3o%art * de"ida ao amadurecimento, algo tardio, de"elho mestre, que at* os seus últimos dias nunca dei'ou de rogredir.

 As 1M mais imortantes sin&onias de RaSdn s)o chamadas londrinasQ orque &oram

escritas ara os concertos em Londres. A Sinfonia no

. NL =Sinfonia de /ondres no

. D emsol maior =1F?1D * denominada Sur!rise, or causa do gole de timbale que interromehumoristicamente o come(o id!lico do segundo mo"imento# * uma das obras rediletasdo úblico inglIs e de qualquer úblico. A Sinfonia no. RVV  =Sinfonia de /ondres no. RK D em sol maior  =1F?D, denominada Militaire, * a mais esirituosa de todas, brilhanteideali%a()o de um 9ococó de orcelana. A Sinfonia no. RVR =Sinfonia de /ondres no. RRDem r1 menor  =1F?D * denominada "he Clock  =O (el7gioD# seu segundo mo"imento * omais melancólico que RaSdn at* ent)o escre"era. A Sinfonia no. RV =Sinfonia de/ondres no. U D em mi bemol maior  =1F?>D, denominada Drum-roll , * a mais elaborada#oderia ser a rimeira de Jeetho"en. 0n&im, a Sinfonia no. RVL =Sinfonia de /ondres no.X D em r1 menor  =1F?>D, 7s "e%es chamada simlesmente Londres, n)o tem aelido# n)orecisa de etiqueta ara ser lembrada como a maior de todas, um dos ontosculminantes da literatura musical# o segundo mo"imento * de ineserada ro&unde%a do

sentimento# o &inla, cuo tema * a can()o oular húngara Oi +lonaW , * o alegre e!logoda grande música &olclórica2clássica. A grande%a de RaSdn como sin&onista este"edurante muito temo eclisada elos seus grandes sucessores. :ó a obra de 9obbinsLandon ermitiu restabelecer a imagem autIntica do incomará"el comositor.

/)o há, decididamente, in&luIncia mo%artiana nas obras ara ou com iano. :erádi&!cil encontrar entre as obras de 3o%art ara iano solo uma e(a t)o essoal como aSonata no. em mi bemol maior  =1F?@D de RaSdn. Personal!ssimo tamb*m * o "rio !ara

 !iano e cordas no. R em sol maior  =1F?BD, denominado O Cigano, que deois de in!ciosgra"es termina com o rondó ao qual de"e o aelido, amostra e'traordinariamente "i"a de&olclore austr!aco, esla"o e húngaro.

0m comensa()o, a in&luIncia de 3o%art * sens!"el nos últimos quartetos de RaSdn,que s)o os maiores. A s*rie come(a com o Quarteto o!. XL no. R em d7 maior  =1F?GD,que n)o arece go%ar da merecida estima. O Quarteto o!. XL no. em sol menor

=1F?GD, denominado )orseman, está cheio de alegres &olclorismos que en"ol"em umconteúdo emocional bastante gra"e e intenso. O Quarteto o!. X , no. K em r1 menor  =1F?ED, denominado Quarteto das Quintas, assa or ser o mais imortante do mestres)o, realmente, incomará"eis a energia serena do rimeiro mo"imento, a do(ura eróticado andante e o minueto quse turbulento, que &oi chamado de minueto das bru'asQ. OQuarteto o!. X , no. em d7 maior  =1F?ED * denominado +m!erador  orque seumo"imento lento s)o aquelas "aria($es et*reas, celestes sobre o hino austr!aco. Heois,

Page 58: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 58/200

o Quarteto o!. X no. L em si bemol  =1F?ED, denominado 'urora. O Quarteto o!. X no.T em r1 maior =1F?ED de"e o aelido Quarteto do /argo ao seu e'tático mo"imento lento.0n&im, o gra"e Quarteto o!. XX no. K em f; maior  =1F??D, com sua quase2marcha

&únebre ine'orá"el no meio, *, em toda a sua aarente simlicidade, digno de &igurar aolado dos últimos quartetos de Jeetho"en# um grande documento humano.

`...

RaSdn &oi &ilho de um s*culo ro&ano. 6uando, no &im da sua "ida, emreendeu atare&a de escre"er oratórios, n)o odia dei'ar de rodu%ir obras de insira()o maisro&ana. Die Schoe!fung =A Cria()oQ, 1F?ED * a maior obra de RaSdn, "erdadeiromonumento da de"o()o realista, otimista e alegre do s*culo +-, a b!blia musical dode!smo# a &amosa ária Mit >uerd0 und )oheit  =Com Dignidade e :obre4a...D * ummani&esto de antroocentrismo# a música, ora solene, ora ubilosa, ora humoristicamenterealista e semre digna, * de t)o alta categoria que, ao ou"i2la hoe em dia, á n)osentimos a resen(a daqueles res!duos históricos. 3uito di&erente * a segunda grandeobra coral 's EstaJYes =1E@1D. O libreto, a descri()o da "ida nos camos ingleses, temcomo base os Seasons de Thomson, um dos oemas2recursores do r*2romantismo.

RaSdn n)o &oi um r*2rom8ntico. O te'to lhe reugna"a. 3as descre"eu a nature%a aseu modo, lembrando2se das suas origens, da in&8ncia na aldeia. 0 criou uma obra querelude 7 Sinfonia 5astoral de Jeetho"en. RaSdn * mesmo, diretamente, o recursor e,em boa arte, o anteciador de Jeetho"en.

 A reercuss)o da obra de RaSdn &oi ráida e "asta. 0m sua terra austr!aca, todos s)ohaSdnianos, inclusi"e o o"em 3o%art. Amigo e cometidor do mestre &oi Warl Hitters "onHTT09:HO9 =1FG?1F??D, do qual sobre"i"em alguns quartetos e a encantadoracom*dia musical Der Doktor und der '!otheker  =O M1dico e o 2armac[uticoD# suasnumerosas sin&onias &oram esquecidas. A música camer!stica de RaSdn chegou aconquistar o a!s da óera, a tália. He RaSdn italianoQ está sendo chamado LuigiJOCCR09/ =1FG1E@>D1, "ioloncelista, que "i"eu e morreu na mis*ria em 3adrid. oiesquecido. Hurante muito temo sobre"i"eu da sua obra aenas o encantador 3inuetodo Quinteto !ara cordas em mi maior o!.RR =1FFD# Joccherini arece ter in"entado o

gInero do quinteto, acrescentando ao quarteto um segundo "ioloncelo. Roe see'ecutam "ários desses quintetos seus, os em r1 menor , em l; menor , em mi menor , eum em sol maior , o!. V no.T  =1E@1D, que * digno de RaSdn, ela melancolia domo"imento lento e elo &olclorismo alegre do &inal. Pablo Casals re"i"i&icou o melodiosoConcerto !ara violoncelo e orquestra em si bemol maior =1FE@D. 0 a associa()o coralitaliana <ruo 3usiche 9are desenterrou um Stabat Mater =1E@@D de ro&unde%aemocionante. Rá nesse mestre do 9ococó certos tra(os do &uturo romantismo. AsSinfonias em d7 maior =Musica :otturna di Madrid D re"ela surreendente interesse elo&olclore musical esanhol. A Sinfonia con !i< Strumenti em r1 menor /e Case delDiavolo * dramática e demon!aca como a dan(a das &úrias no Orfeu de <luc =obrain*dita# imressa em disco ela Rarmonia 3undiD. Joccherini ainda * um grandedesconhecido.

Higna de nota * a in&luIncia de RaSdn na literatura ian!stica. RaSdniano, embora

tamb*m largamente aberto 7s imress$es mo%artianas, &oi o italiano 3u%io CL030/T=1F>M1EGMD, o mais &amoso ro&essor de iano do seu temo e tal"e% de todos ostemos. :ua obra didática Gradus ad 5arnassum =1E1FD * at* hoe o terror das crian(asque come(am a estudar o instrumento# á su&ocou muito talento insu&iciente. 3as n)o

1 L. Piquot, :otice sur la vie et les oeuvres de /uigi &occherini , Ma. ed., Paris, 1?M?. A.Jona"entura, /uigi &occherini , 3il)o, 1?G1.

Page 59: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 59/200

assusta os mais &ortes. Algumas das suas Sonatinas, como a em d7 maior  e a em sibemol maior , tIm "alor mais que didático. :eu ri"al no ensino e na sala de concertos &oio austr!aco ;ohann /eomu RU330L =1FFE1EGFD, do qual tamb*m e'iste muito boa

música sacra no estilo de RaSdn, at* hoe em uso nas igreas de -iena.Pois ustamente a música sacra de RaSdn, embora t)o discutida, te"e a reercuss)omais "asta. 0m 1FE>, os c4negos da catedral de Cádi%, t)o longe da 0uroa central, áencomendam a RaSdn uma obra. /)o *, ortanto, estranhá"el a resen(a de RaSdn na

 Am*rica do :ul, ainda colonial.

N o caso da -ene%uela1. /o &im do s*culo +- e come(o do s*culo ++, a músicasacra de RaSdn * muito e'ecutada nas caelas das casas2grandes nas &a%endas de ca&*no interior da -ene%uela# em Caracas, &unda2se uma orquestra &ilarm4nica. Aarecemcomositores como ;os* Angel LA3A:, com uma Missa em r1 maior e um 5o!ulemeus# ;os* rancisco -0L_\6U0\, com um Salve a la ,irgen. Hadas as condi($es,tem2se ra%)o em &alar de um milagre musical "ene%uelano.

N, or*m, milagre maior a música brasileira do s*culo +- em 3inas <eraisM, descoberta elo musicólogo uruguaio rancisco Curt LangeG. Ouro Preto, 3ariana,

Hiamantina esta"am há muito conhecidas como ber(os de uma notá"el arquitetura eartes lásticas um escultor como o Aleiadinho, sobretudo, e um intor como 3anuel daCosta Ata!de á s)o reconhecidos como artistas de alta categoria. Contemor8neo seu *um gruo de comositores, as mais das "e%es mulatos, que naquela regi)o remota,ent)o aos &ins do mundo ci"ili%ado, tinham adquirido conhecimento comleto do m1tier ,dominando o estilo musical da *oca. Rabitualmente &ala2se em música mineirabarrocaQ. O termo * ine'ato. O estilo das obras em causa * o da música sacraitaliani%ante de RaSdn, do qual tamb*m se e'ecuta"am em 3inas os quartetos decordas# os comositores mineiros certamente ignora"am a arte barroca de Jach eRandel# mas descobrem2se neles res!duos do estilo de Pergolese, al*m de umaindubitá"el originalidade brasileira na melodia e at* na harmonia.

O maior dos comositores mineiros * ;os* ;oaquim 0merico LOJO H0 30:6UTA=1E@>D, organista em Hiamantina, deois regente de coro da igrea do Carmo em Ouro

Preto. :uas obras rinciais s)o a Missa em si bemol maior , a Missa !ara a Quarta-2eira de Cin4as, um Salve (egina, um Officium )ebdomadae Sanctae, uma 'ntBfona de:ossa Senhora etc.# assim como obras de seus contemor8neos, est)o hoe no"amenteacess!"eis e á &oram e'ecutadas na Argentina, no 3*'ico e na 0uroa.

`...

 A 90O93A  HA  P09A <LUCW

 A reno"a()o da música instrumental or RaSdn n)o atingiu, or enquanto, o gIneroda óera, á comletamente etri&icado em rotina desde os temos de Alessandro

1 ;.A. Calcajo, Contribuici7n al Estudio de la Msica en ,ene4uela, Caracas, 1?G?. 0. Lira 0seo,3ilagro 3usical -ene%olano durante la ColoniaQ, in (evista :acional de Cultura, Caracas, 1? de

 unho de 1?@. ;.J. Pla%a, Msica Colonial ,ene4olana, Caracas, 1?>E.M .C. Lange, La 3úsica en 3inas <eraisQ in &oletBn /atino-'mericano de Msica, t. -, abril de1?B, . @??. .C. Lange, 'rquivo de Msica (eligiosa de la Ca!itanBa de Minas Gerais + ,Uni"ersidade /acional de CuSo, 3endo%a, 1?>1.G A maior arte das obras citadas &oi descoberta or rancisco Curt Lange no arqui"o da 3atri% doPilar, em Ouro Preto, e em Hiamantina. Tamb*m em Hiamantina &oram outras obras encontradasor Cleo&e Person de 3atos e 3ercedes 9eis Pequeno.

Page 60: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 60/200

:carlatti só na o!era buffa ainda ha"ia alguma "ida no"a. O rório RaSdn tamb*mescre"eu "árias óeras2c4micas que, deois de e'istIncia e&Imera, &oram esquecidas#uma delas, /o S!eciale =O &otic;rio, 1FBED, acaba de ser re"i"i&icada# o libreto * do

"ene%iano <oldoni. /)o or mero acaso, essa última &ase da óera naolitana "oltou a&lorescer em -ene%a &oi nos temos cuos costumes <oldoni &i'ou na com*dia e PietroLonghi nos quadros. -ene%a era, ent)o, a caital euro*ia das di"ers$es# a aristocracia"ene%iana á tinha erdido qualquer &un()o social e ol!tica# arecia2se com os cantoresque na óera n)o tinham &un()o dramática. Ao grande esetáculo de ou"ir2lhes as artescomlicadas do bel canto, quase artes do circo, esta"a subordinado todo o resto. Osmesmos libretos &oram durante o s*culo +- ostos em música 1@, 1> ou mais "e%es,como se as mesmas ala"ras ermitissem numerosas e di&erentes interreta($esmusicais# na "erdade, trata"a2se aenas de di&eren(as de ornamenta()o. 6uase todosaqueles libretos s)o da autoria de Pietro 3etastasio =1B?E1FEMD que &oi oeta notá"el#mas sua oesia erde os contornos &irmes, torna2se musicalQ no sentido eorati"o daala"ra ara só ser"ir de andaime "erbal dos goreios. Os donos da óera s)o oscantores e, sobretudo, os castrados, cua "o% arece ter ossu!do uma qualidade et*reada qual nunca mais conheceremos o encanto# alguns deles, um arinelli, um Crescentini,artistas de grande cultura musical, &oram mais areciados que os rórios comositores.Toda essa história dos cantores e dos esetáculos nas cortes de /áoles e Parma,-iena, Hresden e 3unique, 3adri, 0stocolmo e Petesburgo e outros centros da "idaoer!stica n)o ertence roriamente 7 história da música# antes 7 história doscostumes. A música que encantou aquela sociedade aristocrática assim como hoe aarte das estrelas cinematográ&icas encanta o o"o, está hoe comletamente seultadamas sobre"i"em eda(os nas arie antiche. :eu monumento * o romance )ildegard von)ohenthal  =1F?BD, do escritor alem)o, mel4mano e italianó&ilo entusiasmado ;ohann;aob R0/:0 =1F?1E@GD, romance didático em que um enredo insigni&icante =eobscenoD está subordinado a interminá"eis e altamente interessantes digress$es sobremúsica.

O mais conhecido oerista italiano do s*culo +- &oi, estranhamente, um alem)o osa'4nio ;ohann Adol& RA::0 =1B??1FEGD1, que os italianos chama"am il caro Sassone#diretor de óera de Hresden, italiani%ado ela &orma()o e elo casamento com a &amosacantora austina Jordoni, assando os últimos decInios da sua longa "ida em -ene%a.oi disc!ulo de Alessandro :carlatti. N como um Randel que só ti"esse escrito óerassem e"oluir ara comositor inglIs. 0ssa comara()o *, or*m, bastante honrosa# eRasse n)o merece o desre%o que os musicólogos alem)es, semre muitonacionalistas, dedicaram ao italiani%ado. :uas óeras n)o ressucitar)o. 3as seusoratórios, embora de insira()o ouco religiosa, s)o obras de um grande in"entor demelodias nobres e como"entes. /a Conversione di Sant0'gostino seria, con&orme oreeditor :chering =Monumentos da Msica na 'lemanha, "ol. ++D, uma obra2rima.

Reinse, que era, a&inal de contas, al*m de entusiasta, um grande conhecedor,considera"a como a maior o!era seria do seu temo o Giulio Sabino =1FE1D, de<iusee :A9T =1F?M1E@MD# a cena Cari figli  seria digna de um Randel ou <luc.Pode2se du"idar. O comositor &oi, or*m, certamente &eli% em óeras2c4micas, como/e gelosie villane =1FFBD.

 As óeras2c4micas dessa *oca resistiram, em geral, melhor ao Temo. Jaldassare<ALUPP =1F@B1FEGD, que tamb*m escre"eu boa música ian!stica, * autor do 2ilosofodi cam!agna =1F>D, que te"e dois s*culos deois, em 1?>, ressurrei()o triun&al num

1 L. Wamiensi, Die Oratorien von 3ohann 'dolf )asse, Lei%ig, 1?1M.

Page 61: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 61/200

&esti"al de -ene%a# * obra autenticamente goldoniana. Um grande nome &oi ou ainda *<io"anni PAk:0LLO =1F@1E1BD1, que &oi comositor da corte da c%arina Catarina, a<rande, em Petesburgo, e, deois, de /aole)o. He obras como /a Molinara e :ina 

sobre"i"em alguns trechos nas arie antiche =como :el cor !i< non mi sentoD. :ua óeramais &amosa, +l barbiere di Siviglia =1FEMD, &oi, deois de alguma resistIncia da arte doúblico semre conser"ador, desaloada elo &arbiere de 9ossini# mas ainda encontraquem a reresente, ocasionalmente, em teatros ro"incianos da tália.

9ealmente sobre"i"e só o naolitano Homenico C3A9O:A =1F?1E@1DM. oi mestroda caela imerial em Petesburgo# "oltou ara /áoles onde articiou da re"olu()oreublicana contra os Jourbons, escaando or ouco 7 morte no at!bulo. 0ntrePetesburgo e /áoles arou em -iena onde &oi reresentada, em 1F?M, sua óera2c4mica +l matrimonio segreto. As óeras s*rias do maestro, Olim!iade, Gli Ora4i  e iCuria4i , &amosas, na *oca, est)o de&initi"amente enterradas. 3as +l matrimonio segretosobre"i"e * uma com*dia musical esirituosa, cheia de "er"e irresist!"el e, no entanto,mais &ina que obras aarentemente semelhantes de 9ossini. A di&eren(a arece social eol!tica antes e deois da 9e"olu()o. 9ossini á * burguIs. Cimarosa ser"iu 7

aristocracia que, na tália de 1F?M, ainda esta"a no oder, embora 7s "*seras de cairsob os goles dos e'*rcitos acobinos. A arte de Cimarosa tem algo dos encantadoresquadros de costumes de Longhi# e assim como nas telas do intor "ene%iano, tudo *bem elaborado menos as caras das essoas, assim os ersonagens de Cimarosa n)oarecem ter cara# s)o t!teres engra(ados. At* hoe, uma reresenta()o do MatrimonioSegreto no Teatro alla :cala, em 3il)o, * uma del!cia. 3as ningu*m á ensa emcomarar Cimarosa, como ainda &e% :tendhal, a 3o%art, criador shaeseariano decaracteres dramáticos. Tal"e% haa um ouco da ligeire%a desreocuada de Cimarosana atmos&era da Chartreuse de 5arme# e * um grande elogio. 3as aquela comara()o a3o%art * blas&ema. /o último 9ococóQ de Cimarosa n)o há, como em Don Giovanni , oressentimento do &im trágico de uma ci"ili%a()o. /o entanto, &oi um &im.

O teatro &oi, tal"e%, a maior reocua()o art!stica do s*culo +-. A nenhum outrogInero dedicou -oltaire tanto cuidado. Possuir um teatro nacional, digno da arte de

Corneille e 9acine, &oi a surema ambi()o da Alemanha de Lessing e :chiller e da itáliade Al&ieri. A óera n)o odia &icar esquecida. O neoclassicismo da *oca deKincelmann desea"a restabelecer a ure%a do teatro musical, des&igurado elas"aidades dos cantores italianos. 0 á a tendIncia r*2rom8ntica e'igia sentimento"erdadeiroQ em "e% das e'ress$es estereotiadas da rotina oer!stica.

 A tradi()o clássica ou antes classicista nunca se interromeu na ran(a, desde ostemos de Joileau e de LullS. 3as, no terreno da música, &oi humilhada ela in"as)oitaliana, de tal maneira que ainda 9ousseau considera"a como imossibilidade o cantotrágico com letra &rancesa. Uma rea()o classicista e, digamos, nacionalista * asigni&ica()o da obra de ;ean2Philie 9A30AU =1BEG1FBDG, que á temos encontradocomo cla"ecinista, sucessor de Couerin, e como autor do "raPt1 d0harmonie. oi, em

1 A. della Corte, 5a]siello, Turim, 1?MM.M 9. -itale Domenico Cimarosa. /a vita e le o!ere. A"ersa, 1?M?.G 0di()o das obras comletas or 0mmanuel, T*n*o, :aint2:ans e 3alherbe, 1E "ols., 1?@>1?M. L. de la Laurencie, (ameau biogra!hie critique, Paris, 1?11. P. 3. 3asson, /0o!1ra de(ameau, Paris, 1?G@. <. 3igot, 3ean-5hili!!e (ameau et le g1nie de la musique franJaise, Paris,1?G@. ;. <ardien, 3ean-5hili!!e (ameau, Paris, 1??. C. <irdlestone, 3ean-5hili!!e (ameau,Londres, 1?>F. =0di()o &rancesa, aumentada, 3ean-5hili!!e (ameau sa vie son oeuvre, Paris,1?BM.D 

Page 62: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 62/200

Hion, aluno dos esu!tas =como -oltaireD, deois organista em cidades de ro"!ncia ondeadquiriu, na solid)o, erudi()o enciclo*dica# en&im, em Paris, maestro da caela do reiLu!s +-. O acontecimento rincial da sua "ida, algo obscura, * um &ato negati"o a

"iagem ara 3il)o, de onde "oltou dececionado in&enso desde ent)o 7 músico italiana.9ameau *, com Alessandro :carlatti e ;ohann :ebastian Jach, um dos trIs&undadores da música modernaQ. :eu "rait1 d0)armonie =1FMMD, ublicado no mesmoano do Cravo bem "em!erado, * a base teórica do sistema tonal que continuará em"igor at* :choenberg. ;á n)o ertence ao Jarroco. :uas >G 5ices !our le clavecin,ublicadas entre 1F@B e 1FF, desen"ol"em o estilo 9ococó de Couerin tamb*m tImt!tulos o*ticos, como /0Eg%!tienne "endre !lainte, /a 5oule, /a Dau!ine, ao lado degraciosos (igaudons e Gavottes. A constru()o das e(as *, or*m, mais arquitet4nicaQ,mais &irmemente delineada 7s "e%es, 9ameau arece anteciar a sonata2&orma. Aterceira &aceta de sua obra * o racionalismo "oltairiano que, na música, aarece comoclassicismo e, no teatro, como re&orma ra%oá"elQ da óera, 7 qual só tarde na "idacome(ou a dedicar seus es&or(os. Por "olta de 1F>@, chegou a dominar o alco l!rico&rancIs )i!!ol%te et 'ricie =1FGGD# Castor et 5ollu#  =1FGFD# Dardanus =1FG?D, obra

maestosa, da qual durante muito temo só sobre"i"eu no reertório dos concertos um&amoso (igaudon, mas que &oi em 1?B triun&almente ressucitada# 9oroastre =1F?D,óera ma(4nica que antecia alguma coisa da 2lauta M;gica. /)o há nada de menosarecido com a óera =no entanto contemor8neaD de Randel do que os recitati"os de9ameau, sóbrios e dramáticos, er&eitamente adatados ao gInio da l!ngua &rancesa.9ameau &oi grande comositor. A subst8ncia musical das suas obras *, tal"e%, mais ricaque a das obras do rório <luc. /o entanto, n)o há bastante "italidade ou sentimentohumano nesse racionalista seco. Has suas obras dramáticas só sobre"i"em aquelas nasquais a subst8ncia humana * elemento menos indisensá"el * o gInero, tiicamente&rancIs aliás, do ballet-o!1ra /es +ndes Galantes =1FG>D ertence hoe no"amente aoreertório da era de Paris. Has outras óeras, 5lat1e =1F?D &oi ressucitada comsucesso, em 1?>B, no &esti"al de Ai'2la2Pro"ence# no &esti"al de LSon, 1?B1, Castor et5ollu#  "oltou a ser reconhecida como obra2rima. 3aior, or*m, que essas obras todas* a &ama de 9ameau como es*cie de adroeiro da música genuinamente &rancesa.

Os es&or(os de -oltaire no sentido de dar no"a subst8ncia, mais atualQ, 7 trag*diaclássica &rancesa reercutiram muito na tália, onde alguns tamb*m ensa"am emhumani%arQ a óera. Coincidiu com esses es&or(os a in&luIncia da no"a música alem)em alguns oucos oeristas italianos que tinham estudado na Alemanha. :)o osrecursores e cometidores de <luc.

`...

-ida e obra de Christoh Killibald <luc =1F11FEFD1 est)o t)o intimamenteentrela(adas que esta só ode ser comreendida dentro do quadro daquela. 0mbora&ilho de gente humilde recebeu <luc, no col*gio dos esu!tas e na Uni"ersidade dePraga, &orma()o erudita. 3as sacri&icou a carreira 7 "oca()o tornou2se músico, de!n&ima categoria, tocando nas aldeias o "iolino, acomanhando a dan(a doscamoneses# deois, tocou em Praga e -iena, em casas de aristocratas dos quais um o

1 A. J. 3ar', Gluck und die O!er , M "ols., Jerlim, 1EBG. <. Hesnoiresterres, Gluck et 5iccinni ,Paris, 1EF>. ;. Tiersot, Gluck , Paris, 1?1@. A. 0instein, Gluck , Londres, 1?GF. R. ;. 3oser,Christo!h >illibald Gluck , :tuttgart, 1?@. ;. <. ProdXhomme, Gluck , Paris, 1?E. 9. Jen%,Deutsches &arock , :tuttgart, 1??. 9. <erber, Christo!h >illibald Gluck , Ma. ed., Potsdam, 1?>@.

 A. A. Abert, Christo!h >illibald Gluck , \urique, 1?B@. P. Ro^ard, Gluck and the &irth of ModernO!era, Londres, 1?BG..

Page 63: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 63/200

mandou ara a tália a &im de aer&ei(oar sua de&iciente &orma()o musical. Tornou2se umcomositor de óeras no estilo de Rasse. Te"e algum sucesso. 9ecebeu umacondecora()o aal, chamando2se, desde ent)o, (itter =ca"aleiroD <luc. Uma tentati"a

de &i'ar2se em Londres n)o deu bom resultado# mas contribuiu ara insirar aocomositor, sob a in&luIncia de Randel e 9ameau, ambi($es mais s*rias. /o entanto, asnumerosas óeras dessa rimeira &ase de <luc s)o insigni&icantes e ustamenteesquecidas# insigni&icante tamb*m * sua música instrumental =concertos e equenassin&onias, que re"ela a in&luIncia de :ammartini =seu ro&essor na táliaD e do gruo de3annheim. Pois a orquestra()o de <luc, em suas obras maduras, n)o teria sidooss!"el se n)o a recedesse a re&orma da música instrumental. 0n&im, em -iena <luc* nomeado maestro na corte da imeratri% 3aria Teresa.

0m -iena entrou <luc em contato com o conde Hura%%o, diretor dos teatros imeriaise homem de cultura musical, e com o libretista 9aniero Cal%abigi, a"entureiro dado aid*ias a"enturosas. O resultado dessa colabora()o &oi um rograma de re&orma daóera como gInero. 0m "e% das intrigas amorosas com que o grande libretista3etastasio tinha desnecessariamente comlicado os te'tos, os enredos mitológicos

de"eriam ser da maior simlicidade e de mais &orte e&eito trágico. 0liminar2se2iam a "a%iaoma barroca, os arabescos do bel canto e'ibicionista dos "irtuoses da garganta. Oslibretos de 3etastasio &oram meros cane"as ou maquetes "erbais, aos quais ocomositor tinha de insu&lar "ida musical# or isso, cada um dos seus libretos odia ser e&oi osto em música or 1@, M@ e mais comositores, sucessi"amente e das maneirasmais di&erentes. Con&orme <luc, a um determinado te'to só uma determinada músicaode corresonder lenamente, orque a música tem de e'rimir2lhe o sentimentoemocional, subordinando2se 7s ala"ras. O rório <luc &ora metastasiano durante arimeira &ase de sua "ida. Por isso, todas as suas óeras s*riasQ est)o hoe esquecidas.:ó se sal"a a equena óera2c4mica /a rencontre im!r1vue =1FBD, rococó &rancIs&antasiado de traes turcos. :al"a2se o bailado Don 3uan =1FBD# arte de sua músicamagistral &oi aro"eitada em Orfeo ed Euridice.

Orfeo ed Euridice =1FBMD, a rimeira óera re&ormadaQ, ainda lembra em certos

ormenores a óera metastasiana o ael de Or&eo * escrito ara "o% de castrado# oenredo * ouco dramático, antes estático, ainda * do tio antigo a &amos!ssima ária Chefar^ sen4a Euridice. 3as a obra * grande desde que se le"anta ela rimeira "e% oano os solenes &unerais de 0ur!dice s)o uma cena trágico2misteriosa, digna do alcode :ó&ocles. a%, or sua "e%, ensar em 0ur!edes o c*lebre segundo ato, com seus&ortes contrastes entre a resistIncia demon!aca das &úrias e a luminosa beatitude do0l!sio. Orfeo ed Euridice * a óera s*riaQ mais antiga que continua at* hoe noreertório. :ua reresenta()o semre signi&ica solenidade das mais ele"adas.

O re&ácio da artitura de 'lceste =1FBFD, assinado elo rório <luc, * o mani&estoda no"a arte, do dramma !er musica. As id*ias desse re&ácio n)o s)o inteiramenteoriginais. Jenedetto 3arcello, no "eatro alla moda, e'igindo da música dramática ae'ress)o de sentimentos sinceros, á as tinha anteciado# e 9ousseau tamb*m e'igiu a"erdadeQ no alco musical. 'lceste *, hoe em dia, reresentada com &req5Incia menos

do que Orfeo ed Euridice orque * dramaticamente menos coerente. 3as ningu*mesquecerá as árias Divinit1s du St%# , ministres de la mort  e &annis la crainte, nem osgrandes coros. N con"incente, em sua simlicidade sincera, a música toda desse nobreoratório ro&anoQ, essa música de di"ina inocIncia das alturasQ =JurchardtD.

O ambiente musical de -iena, totalmente italiani%ado, n)o era &a"orá"el 7 re&orma daóera. 5aride ed Elena =1FF@D &oi um insucesso, ao qual só sobre"i"e a c*lebra ária Odel mio dolce ardor . <luc mudou2se ara Paris. +!hig1nie en 'ulide =1FFD &oi uma

Page 64: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 64/200

"itória comleta. N uma ena que essa grande obra só aare(a raramente no reertóriomoderno. N, entre todas as óeras do mestre, a mais dramática e das mais digni&icadas#merece o e!teto de racinianaQ a nobre%a e serenidade da trag*dia de 9acine no alco

musical. _rias, r*licas e coros s)o de alta insira()o melódica. O acomanhamentoorquestral * magn!&ico. <randiosa *, antes de tudo, a abertura que resume, como umasin&onia de rograma, o enredo da óera esta abertura, elo menos, * gra(as aosconcertos sin&4nicos a obra mais conhecida de <luc. 3as naquele temo encontrouresistIncia. oi o come(o da grande luta entre os gluckistes e os !iccinnistes queouseram ao mestre alem)o o italiano Piccinni. A guerraQ n)o &oi decidida or  'rmida =1FFFD# ois essa obra * meio id!lio bucólico, meio grande con&lito dramático# e oscontrastes n)o s)o, aesar de todas as bele%as musicais, totalmente harmoni%ados.

 'rmida, obra re&erida de 0.T.A. Ro&&man e da *oca rom8ntica, tamouco aarece noreertório moderno com a deseá"el &req5Incia. 3as <luc "enceu de&initi"amente com+!hig1nie en "auride =1FF?D, que * a mais ura de suas obras. N a rimeira óera naqual o moti"o do amor n)o tem imort8ncia. O antagonismo entre os nobres gregos e oscitas bárbaros, o contraste entre o esadelo dos crimes do assado e a atmos&erae'iatória do temlo s)o nitidamente elaborados. O e&eito * o de grande música sacrano alco. 6uando se reresenta +!hig1nie en "auride, o rório teatro "ira temlo.

`...

 A música de <luc arece da maior simlicidade interreta()o &iel do te'to dramático#* aquela simlicidade que o neoclassicismo atribuiu, ent)o, 7 escultura grega. /a"erdade, o &en4meno <lucQ * muito comle'o.

Os contemor8neos, como Reinse, e os rimeiros rom8nticos, como 0.T.A. Ro&&mann,&oram &ortemente imressionados ela e'ressi"idade da música de <luc. A &amosaabertura de +!hig1nie en 'ulide, que ertence ao reertório dos nossos concertossin&4nicos como suremo e'emlo de tranq5ila bele%a clássica, insirou2lhes umatemestade de sentimentos trágicos. 3as <luc n)o &oi r*2rom8ntico# r*2rom8ntico &oi,como "eremos, seu ri"al Piccinni. /)o conhecia nem admitia o sentimentalismo. oihomem do grande mundo aristocrático do s*culo +-, c*tico e ensador arguto. :eus

ares, na *oca, s)o os cr!ticos que se reocuaram com a uri&ica()oQ do teatro nosentido de maior "erdadeQ :amuel ;ohnson e -oltaire, Hiderot e Lessing, <oldoni eJaretti. Como eles, <luc retendia reresentar no alco a "erdade da "ida, embora ormeio de s!mbolos mitológicos, como con"*m 7 arte simbólica da música. 0ssesconceitos lembram imediatamente outro grande comositor que tamb*m quis a "erdadeno teatro, reresentada or grandes &iguras m!ticas Kagner. Com e&eito, osroagandistas de JaSreuth conseguiram introdu%ir na historiogra&ia musical o conceitode que <luc teria sido o recursor de Kagner, aenas inibido elas con"en($es doteatro musical italiano e &rancIs Kagner, o alem)o, teria reali%ado o que o cosmoolita<luc aenas anteciara. As mani&esta($es teóricas de <luc, sobretudo seu re&ácioda edi()o de 'lceste, arecem con&irmar essa tese. 3as sua rática &oi melhor que suateoria. 0mbora solicitando a subordina()o da música ao te'to, n)o sacri&icou suasinsira($es 7s e'igIncias de um te'to de qualidade literária in&erior. /)o &oi t)o

imlaca"elmente lógico como Kagner# e n)o cedeu 7 tenta()o de desemenhar noteatro o ael de ro&eta. :ua surema ambi()o &oii a homogeneidade estil!stica.

0ncontrou essa homogeneidade na s!ntese da mitologia grega e do sentimentoreligioso moderno. 3as o neoclassicismo do s*culo +- n)o &oi uma s!ntese assim# &oiintimamente arreligioso# a única religi)o em que se acredita"a, era a rória arte, commaiúscula. Aquela s!ntese &ora reali%ada ela última "e% no Jarroco. Con&orme a tese deJen%, as óeras de <luc, "erdadeiros mist*riosQ ór&icos, seriam a surema =e tardiaD

Page 65: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 65/200

reali%a()o do teatro religioso barroco. Rá muita "erdade nessa tese, que *, or*m,unilateral. Pois considera <luc unicamente como &en4meno da história do es!ritoalem)o, colocando2o entre o barroco alem)o, incomletamente reali%ado, e o

neoclassicismo est*tico de Keimar, de <oethe e :chiller. 3as <luc n)o ode serconsiderado, sans !hrase, como comositor alem)o.

:eus antecedentes s)o italianos. :ua re&orma da óera &oi ideada na atmos&era ent)ointeiramente latina de -iena. :ua "itória deu2se em Paris. <luc uri&icou a óera,con&erindo ao gInero a dignidade do teatro clássico &rancIs, de 9acine sobretudo, e, umouco, das trag*dias de -oltaire. :em sabI2lo, "oltou 7 simlicidade clássica dos&lorentinos que, no &im do s*culo +-, in"entaram o gInero. Assim como <luc n)o * orecursor de Kagner, tamouco * o sucessor de 3onte"erde. /)o * barroco. Ncontemor8neo do no"o classicismo, inaugurado or Kincelmann =nascido em 1F1F,quase no mesmo ano que <lucD# mas * mais autenticamente grego que os grandesoetas ^eimarianos.

Continua discutida, at* hoe, a rique%a da musicalidade de <luc. Alguns "oltam are&erir 9ameau. A "erdade * que seu m1tier  musical semre continuou insu&iciente#

Randel obser"ou que <luc entende menos de contraonto do que minha co%inheiraQ.3as substituiu a &alha ela alt!ssima insira()o na nobre%a incomará"el da in"en()omelódica e nos triun&ais achados de orquestra()o. :ó quis &a%er música humana,dramática. 0 chegou a &a%er música sacra, embora destinada ara recinto ro&ano. :uasobras s)o as e'eriIncias mais ro&undas que o teatro musical tem a o&erecer. :e;ohann :ebastian Jach ti"esse escrito óeras, seriam obras como as de <luc.

0ntre os glucistas ertence o rimeiro lugar de direito, ao seu ri"al /icola PCC//=1FME1E@@D1. N, como Telemann, "!tima de uma historiogra&ia incomreensi"a. Porqueousou cometir com o mestre maior, a osteridade entregou2o 7 e'ecra()o ública. 3as&oi homem nobre e comositor notá"el. 0m 1FB@ &e% reresentar a óera2c4micaCecchina la buona figliola, que te"e sucesso internacional. O ambiente chinIs e ainterreta()o sentimental dos so&rimentos de uma mocinha, com um alegre ha!!% end ,encantaram o úblico. oi um sucesso merecido ois quando Cecchina &oi, em 1?>F,

re"i"i&icada no Teatro alla :cala em 3il)o, essa suosta e(a de museuQ re"elou"italidade ineserada. 0m certo sentido, Piccinni &oi mais modernoQ que <luc sua obra* incon&undi"elmente r*2rom8ntica. 3as deois, o rório Piccinni tornou2se disc!ulodo ri"al mais &orte Didon abandon1e =1FEGD * uma obra2rima do estilo gluciano# agrande ária 5uissent renaPtre de ma cendre e o coro dos sacerdotes da noite ainda hoeoderiam imressionar2nos.

 A ades)o dos r*2rom8nticos Piccinni e 9ousseau a <luc signi&ica o ad"ento de no"a&ase estil!stica o classicismo do s*culo +-, "i"i&icado elo es!rito r*2rom8ntico da9e"olu()o rancesa, dá o estilo em!ire, da *oca de /aole)o. :eu centro * Paris. :eurimeiro reresentante * Antonio 3aria :ACCR/ =1FG@1FEBD, cuo Oedi!e Colone =1FEBD como"eu at* 7s lágrimas um 9obesierre e só desaareceu do alco deois da9estaura()o. Como clássicoQ tamb*m &oi considerado Ntienne2/icolas 3NRUL =1FBG1E1FD 3ose!h et ses frres =1E@FD * uma óera de enredo b!blico, sem a*is

&emininos, de grande ure%a melódica. oi muito reresentada na Alemanha# como"eu:chubert e os rom8nticos. :eria interessante e'erimentar uma reresenta()o moderna.3*hul tamb*m te"e sucesso internacional com a graciosa óera2c4mica /e 3eune )enri #e contribuiu com os hinos o&iciais ara as &estas da 9e"olu()o rancesa.

`...

1 0. Jlom, Ste!children of Music , Londres, 1?M>. A. della Corte, 5iccinni , Jari, 1?ME.

Page 66: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 66/200

3o%art &oi, aliás, tamb*m gluciano em certas horas. 0mbora n)o admirasse comentusiasmo a arte de <luc, imitou2o no domeneo# e lembrou2se dele ao escre"er ascenas do temlo na lauta 3ágica.

3O\A9T

/enhuma tentati"a será &eita aqui, ara enquadrarQ a obra de Kol&gang Amadeus3O\A9T =1F>B1F?1D1 na camisa2de2&or(a de uma e"olu()o históricaQ. 0mborain&luenciado or todas as correntes de sua *oca, 3o%art n)o ertence a nenhumadelas# e sua rória in&luIncia sobre as gera($es osteriores V quase só sobre amúsica ian!stica de Clementi e os come(os de Jeetho"en V &oi menor que a de umKeber. A admira()o que se lhe dedica tem como obeto uma arte e'tratemoral esuratemoral. 3ais do que no caso de RaSdn, a tr!ade rotineira RaSdn23o%art2Jeetho"enQ &alsi&ica a ersecti"a histórica. 3o%art n)o * uma &ase intermediáriaQ entreos dois outros. A única linha "eri&icá"el da e"olu()o * RaSdn2Jeetho"enQ. Ho onto de"ista historiográ&ico * 3o%art um eisódio. :ua "ida tamb*m &oi um eisódio# um

eisódio doloroso.6uando Kol&gang Amadeus tinha quatro anos de idade, seu ai Leoold 3o%art,"iolinista na corte do Arcebiso de :al%burgo, á come(ou a ensinar2lhe os elementos daharmonia, al*m dos e'erc!cios á bem a"an(ados no iano e no "iolino. Com cinco anosde idade, a crian(a á &a%ia as rimeiras comosi($es, a roósito das quais se im$e,aliás, uma obser"a()o. Os biógra&os mais antigos reeitaram, indignados, a suseitasurgida entre os contemor8neos de que Leoold 3o%art teria colaborado naquelesrimeiros trabalhos ara enganar o mundo. Roe se admite &rancamente essacolabora()oQ, at* em obras osteriores. /)o imorta# ois aquelas obras n)o contam,dentro da obra do mestre. 0m 1FBM, o ai le"ou o menino rod!gio ara 3unique e-iena, obtendo sucessos ruidosos. 0m 1FB, reetem2se em Paris e -ersalhes ostriun&os. /os anos seguintes, 1FB> e 1FBB, o menino dá concertos em Londres. ;áarece maduro, assimilando conscientemente a in&luIncia de ;ohann Christian Jach. 0m

1FBF, no"amente em -iena. 0m 1FF@, "iagem ara a tália# consagra()o de&initi"a elose"ero adre 3artini. /o ano seguinte, o adolescente * nomeado maestro da corte desua cidade natal de :al%bugo, ent)o caital de uma arquidiocese soberana. 3as oarcebiso conde Colloredo, aristocrata soberbo e estúido, trata2o mal, como se &osselacaio. Chega a di&icultar2lhe as "iagens. /o entanto, 3o%art &oi em 1FFF no"amenteara Paris# no caminho tomou contato ro"eitoso com a orquestra de 3annheim. :ó em1FE1 conseguiu desligar2se do ser"i(o odiado de :al%burgo. i'ou residIncia em -iena.0 come(ou o caminho do cal"ário. Al*m de uns t!tulos o&iciais, sem ordenado, 3o%artnunca obte"e um cargo. <anhou a "ida, recariamente, dando concertos, nem semrebem &req5entados, e dando aulas mal2remuneradas# a renda das suas comosi($es, &oi,

1 0di()o das obras comletas, Jreitot Rartel, B1 "ols., 1EFB1EEB. /o"a edi()o, do3o%arteum, :al%burg =1?>B e seguintesD. O. ;ahn, Das /eben Mo4arts =edi()o comletada or R.

 Abert, M "ols., Lei%ig, 1?MG# F

a

. ed., Kiesbaden, 1?>>D. T. de KS%*^a e <. de :aint2oi',>olfgang 'madeus Mo4art. S avie et son oeuvre de l0enfance la !leine maturit1, 1F>B1FFF, "ols., Paris, 1?1M1?>. 0. Hent, Mo4art0s O!eras. ' Critical Stud% , Londres, 1?1G ="áriasreedi($esD. A. :churig, >olfgang 'madeus Mo4art , Lei%ig, 1?MG. C. Jellaigue, Mo4art , Paris,1?GG. C. 3. <irdlestone, Mo4art et ses concerts !our !iano, M "ols., Paris, 1?G?. J. Paumgartner,Mo4art , Ma. ed., \urique, 1?@. A. 0instein, Mo4art , \urique, 1?E. ;. Chanta"oine, Mo4art , Paris,1??. 3. ,. )ocquard /a !ens1e de Mo4art , Paris, 1?>?. L. :chrade, >olfgang 'madeus Mo4art ,Jerna, 1?B.

Page 67: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 67/200

aesar dos sucessos de /e :o44e di 2igaro em -iena e do Don Giovanni  em Praga, muiequena. oi a mis*ria ermanente, a obre%a humilhante, a de edir dinheiroemrestado com a certe%a de n)o o oder de"ol"er# as desesas e'ageradas da esosa

Constan%a e as mortes de &ilhos rec*m2nascidos# a dece()o de tantas d[marches &rustradas# o arreendimento deois de noites alegre e o aborrecimento com as calúniasdos ri"ais italianos. oi como uma consira()o de todos e de tudo contra o o"emmestre, cua saúde nunca tinha sido das melhores. -eio, en&im, a uremia, a mortedolorosa# e o enterro na "ala comum, que deois n)o &oi oss!"el identi&icar. :euchamado túmulo no Cemit*rio Central de -iena * um cenotá&io.

O destino in&eli% do gInio * um con"ite aos que gostam de romancear2lhe a biogra&ia.Um e'emlo entre muitos a história do (1quiem que um desconhecido lhe encomendounos últimos temos de sua "ida, e que 3o%art, sacudido or acessos hist*ricos,acredita"a escre"er ara os seus rórios &unerais# essa história &oi en&eitada de toda aes*cie de arabescosQ rom8nticos. Outro e'emlo * a lenda in&undada doen"enenamento or seu ri"al :alieri. 0n&im, 3o%art arecia aos biógra&os um ano,erseguido or dem4nios. 3as 3o%art n)o &oi um ano. oi um homem direito, incaa%

de qualquer ato desonesto. oi, tamb*m, homem do seu temo, do rococó aristocrático,de rinc!ios morais menos r!gidos. Rou"e o ogo# e hou"e as mulheres, aesar daternura de 3o%art ela esosa e elos &ilhos. Ano só &oi no sentido em que 9ile &alados anos terr!"eisQ, de asecto insuortá"el ara nós outros orque s)o eselhos daer&ei()o di"ina. Assim * a obra de 3o%art. 0 só temos esta. O homem 3o%art e, aranós, uma lenda.

/)o há, em 3o%art, nenhuma rela()o seguramente "eri&icá"el entre a obra e a "ida./os momentos mais desolados, de &alta de dinheiro ao onto de ele e a &am!liaassarem &ome, de morte de &ilhos rec*m2nascidos, escre"eu música da maior eu&oniacomo o Divertimento !ara trio de cordas =$. TD ou o Quinteto com clarinete  =$. TURD.:ua aarente alegria * a olide% do aristocrata que n)o quer, ela e'ibi()o dos seusso&rimentos, imortunar outras essoas. 3as quase semre se ercebe, at* nas obrasmais alegres, um &undo de melancolia subterr8nea. 3o%art &oi homem ro&undamente

in&eli%. A grande desgra(a de sua "ida &oram os triun&os que conquistara como meninorod!gio. Hesde ent)o, esera"am2se dele milagres. 3as quando os reali%ou, areciare"olucionário erigoso, amea(ando as boas tradi($es da música# mas quando osreali%ou trabalhos de rotina, ao gosto da *oca, a gente &icou dececionada.

`...

6uem n)o desea &icar na &ase de um entusiasmo indiscilinado e en&im &atalmenteinsensato, terá de escolher cuidadosamente suas re&erIncias. 3o%art n)o *, comRaSdn ou Jeetho"en, um comositor de tio instrumental# *, como Randel ou :chubert,de tio "ocal. Por isso, grande arte das suas obras instrumentais s)o de "alor in&erior,trabalhos or encomenda ou de rotina. A mesma obser"a()o se ode &a%er quanto 7in"en()o melódica.

3o%art * mais rico em in"en()o melódica do que qualquer outro comositor. 3as nemsemre sua melodia * essoal. 0m arte se e'lica isso elos conceitos est*ticos do

s*culo +- que, antes do ad"ento do r*2romantismo, &a%ia ouca quest)o deoriginalidade e, muito menos, de genialidadeQ# que s)o conceitos rom8nticos. 3as n)o *este o único moti"o. Um mo%artiano t)o entusiasmado como o cr!tico inglIs 0ric Jlomousou obser"ar que a linha melódica de 3o%art * menos essoal, menos incon&und!"elsuaQ do que a de outros comositores, incomara"elmente menores menos que a deum Tchaio"sS ou at* de um Puccini. Ao leigo, essa obser"a()o arecerá blas&Imia

Page 68: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 68/200

terr!"el. O músico, or*m, sabe que a melodia n)o imorta tanto# imorta a maneira orque o comositor sabe aro"eitar suas in"en($es melódicas. 0 a esse reseito, 3o%artn)o tem ares, a n)o ser Jeetho"en e RaSdn.

 Aquela imersonalidadeQ da melodia mo%artiana tem, ara o ou"inte, conseq5Inciadesagradá"el nada * mais &ácil do que con&undir 3o%art com outros comositores dasua *oca =menos com RaSdnD. 6ualquer tema de ;ohann Christian Jach arece ser de3o%art. Com muitos outros, menores, acontece o mesmo. 3o%art escre"eu e'atamenteno estilo do seu temo. :ó uma análise muito ormenori%ada re"ela os di"ersoselementos que o com$e. Aesar de :al%burgo ser uma cidade de asecto e tradi($esbarrocas, s)o oucos e insigni&icantes os elementos barrocos em 3o%art. Os tra(oscaracter!sticos da sua música s)o o cosmoolitismo, rório do s*culo +-, gra(as aoqual 3o%art * meio italiano e, se ti"esse &icado em Paris, teria sido meio &rancIs# umelemento "ienense, que n)o con"*m, aliás, con&undir com austr!aco, mas que *, em todocaso, di&erente do tio alem)o# e o 9ococó. 0ste último arecerá, a muitos, o tra(o&ision4mico mais decisi"o da música mo%artiana. 3as o mestre de :al%burgo n)o * só9ococó nem o * semre. Tamouco se ercebe em 3o%art o menor "est!gio daquele

racionalismo que &oi, a&inal, uma tendIncia maior do s*culo +- e que se obser"anitidamente em RaSdn. Assim como este, 3o%art tamb*m &oi ma(om# mas sua &*ma(4nica arece, antes, uma m!stica. Jasta ou"ir os acordes misteriosos da Msica2nebre MaJnica =$. LXX , 1FE>D, que "oltar)o, em orquestra()o e'atamente igual,acomanhando as árias de :arastro na 2lauta M;gica.

`...

3o%art n)o tem nada de racionalista da *oca das lu%es. Ao contrário *, 7s "e%es,sombriamente rom8ntico, at* demon!aco. Acontece isso em certas obras instrumentaisdo mais alto "alor a Serenata !ara R instrumentos de so!ro em si bemol maior  =$. R,1FE@D# a Sonata !ara !iano em d7 menor  =$. LTX , 1FED# o Quarteto !ara !iano e cordasem sol menor =$. LXU , 1FE>D, de energia quase beetho"eniana# o "rio !ara clarinete

 !iano e viola em mi bemol maior  =$. LNU , 1FEBD, de melancolia ro&unda# o Quinteto !aracordas em sol menor  =$. TR , 1FEFD, cuo solene adágio * o maior mo"imento lento de

3o%art =com essa obra criou 3o%art a &orma moderna do quinteto ara cordas,substituindo o segundo "iolocelo de Joccherini or uma segunda "iolaD. :)o obras deineserada energia sombria, que desmentem a lenda absurda de um 3o%art meioin&antil, meio orcelana de :"res. 9om8ntico tamb*m *, 7s "e%es, o colorido da suaorquestra, sobretudo elo aor"eitamento do clarinete, que só 3o%art incororoude&initi"amente ao conunto. Um romantismo mais sua"e, sonhador, caracteri%a osegundo mo"imento, chamado roriamente (omance, do Concerto !ara !iano eorquestra em r1 menor  =$. V D. s "e%es se oderia ensar em Keber. 3as n)ocon"*m e'agerar esse romantismoQ de 3o%art, que *, quando muito, um r*2romantismo. :)o erradas todas as interreta($es que retendem trans&ormá2lo emrecursor de Jeetho"en. Certos &atos biográ&icos arecem autori%ar essa tese assimcomo Jeetho"en, te"e 3o%art acessos de re"olta contra a soberbia dos aristocratas#assim como a Jeetho"en, insirou2lhe "eleidades de nacionalismo alem)o o redom!nio

dos músicos italianos na _ustria e na Alemanha. 3as s)o &atos que ertencem 7ersonalidade em!rica sem atingir a ersonalidade art!stica.

/as suas grandes obras, 3o%art suera os elementos rom8nticos =demon!acosQD eladiscilina emocional e &ormal que garante a er&ei()o absoluta. :ó assim será e'licá"ela eu&onia, nunca antes ou deois atingida, daquelas obras á mencionadas oDivertimento !ara trio de cordas em mi bemol maior  =$. T, 1FEED, que n)o * o que ot!tulo romete, um mero di"ertimento, mas uma das maiores e mais sutis obras

Page 69: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 69/200

camer!sticas da literatura musical# e o Quinteto !ara clarinete e cordas em l; maior  =$.TUR, 1FE?D, o mais er&eito modelo de equil!brio sonoro# e a grande Sonata !ara dois

 !ianos em f; maior  =$. LNX , 1FEBD.

0quil!brioQ * a ala"ra que semre ocorre, ao discutir esse gruo de obrasinstrumentais de 3o%art. Aarentemente sem es&or(o, o mestre $e em equil!brio asonoridade harmoniosa e a constru()o arquitet4nica. O resultado * melhor acess!"el aoleigo nas sin&onias. Primeiro, na Sinfonia no. T em d7 maior  =$. LKT , 1FEGD, denominadade /in4 # e na Sinfonia no. U  em r1 maior  =$. TVL, 1FEBD, denominada de 5raga, que ás)o obras er&eit!ssimas. Heois e sobretudo nas trIs últimas a Sinfonia no. N em sibemol maior  =$. TLD, que desde o rimeiro dia tem arecido, a todos os cr!ticos, um ecoda lendária harmonia das es&erasQ# a Sinfonia no. LV em sol menor  =$. TTV D, dee'traordinária energia r!tmica e comom que insirada ela resolu()o de tenter de "i"re# ea maestosa Sinfonia no. LR em d7 maior  =$. TTRD, denominada ;úiter, que culminanuma &uga soberana. Todas essas trIs obras, t)o imensamente di&erentes aesar deertencerem ao mesmo gInero, s)o de 1FEE, escritas dentro de oucas semanas.en4meno ine'licá"el.

`... Aesar dessa galeria de obras2rimas instrumentais, con"*m admitir que 3o%art *

comositor de tio "ocal. :uas obras2rimas mais mo%artianasQ s)o as óeras.

 As equenas obras oer!sticas da mocidade n)o recisam ocuar2nos neste resumosucinto# tamouco a última, /a Clemen4a di "ito =1F?1D, óera s*riaQ de tiocon"encional escrita or encomenda con&orme o uso da *oca. A rimeira "erdadeiraóera de 3o%art * +domeneo =1FE1D, obra gluciana, música solene, com grandesmomentos =cena do oráculoD, e, no entanto, em conunto, ainda imer&eita# só sobre"i"enos &esti"ais. Die Entfuehrung aus dem Serail  =O (a!to do Serralho, 1FEMD está noreertório# * uma com*dia encantadora, graciosa, 7s "e%es burlesca, 7s "e%esdolorosamente sentimental no melhor sentido da ala"ra# mas n)o * uma grande obra./)o há moti"o ara quei'ar2se. A solenidade de +domeneo e a com*dia do (a!to,

 untos, dar)o a 2lauta M;gica. 3as nem esta nem as outras grandes óeras de 3o%art

teriam sido oss!"eis se o seu autor n)o &osse um sin&onista consumado. :em deendermuito de <luc, 3o%art reali%ou, elo acomanhamento orquestral, outra re&orma daóera. Pelo ael da orquestra, a música de teatro de 3o%art * música absoluta.

3o%art chegou ao onto culminante de sua arte oer!stica ela colabora()o com olibretista Loren%o Ha Ponte, a"entureiro "ene%iano que os biógra&os caluniaram muito,orque teria sido o mau ano de 3o%art, seu comanheiro de "ida dissoluta. 6ueimorta Os libretos s)o brilhantes, o&erecendo e at* insirando ao comositor asmelhores oortunidades musicais. 3o%art e Ha Ponte untos isto * o :haeseare damúsica. ;á nos arece incomreens!"el, quase &antástico, o erro =embora o cometesseinclusi"e um :tendhalD de con&undir a grande arte dramática de 3o%art com o gIniomeramente histri4nico de 9ossini. 3o%art *, em toda a história da música dramática, omaior criador de ersonagens &irmemente caracteri%ados# nunca * ele quem &ala# quemcanta s)o suas criaturas# chega a reali%ar, na serenata de don <io"anni, o milagre de

nos &a%er sentir, ela música, que o ersonagem mente.0ssa distin()o n!tida entre o criador e suas criaturas, que lembra :haeseare, tal"e%

sea o melhor crit*rio ara a análise das obras2rimas oer!sticas de 3o%art. /e :o44ede 2igaro =1FEBD * muito mais que uma com*dia alegre e ligeiramente c!nica, resumo esuma do estilo de "ida do 9ococó. Rá na música dessa obra incon&und!"eis "eleidadesde re"olta sub"ersi"a contra a aristocracia, que o libretista n)o ousara e'rimir

Page 70: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 70/200

diretamente em ala"ras ao arranarQ a com*dia de Jeaumarchais. Rá, no finale, umamelancolia ro&unda, quase &únebre. 3as o que &ica inesquec!"e s)o, sobretudo, asmelodias t)o insinuantes e encantadoras que ser"em ara caracteri%ar os ersonagens

igaro, o conde Alma"i"a, a condessa :usanna e o aem Cherubin, a cria()o maiserótica de 3o%art, o maior comositor erótico de todos os temos.

:ó aquele crit*rio de d1tachement  soberando do autor em rela()o 7 sua obra * acha"e ara a comreens)o de Cos_ fan tutte =1F?@D. Hurante todo o s*culo ++ essaóera, a mais deliciosa de 3o%art, esta"a banida do alco, orque o libreto de Ha PonteV a "olubilidade de duas mo(as que se enamoram de seus rórios noi"os, &antasiadosde estrangeiros ara e'erimentar2lhes a &idelidade V arecia de in"erossimilhan(aquase in&antil, ou ent)o de cinismo &r!"olo. :ó alguns oucos =0. T. A. Ro&&man, TaineDesta"am acima desse moralismo incomreensi"o. Cos_ fan tutte * obra deliberadamentearti&icial * a com*dia do mundo arti&ical do s*culo aristocrático, acomanhada eloscomentários comreensi"os e or isso aarentemente c!nicos do raisonneur  don

 Al&onso, que embrulha e, deois, desmancha os equ!"ocos entre os quatro o"ens./unca escre"eu 3o%art música mais eu&4nica do que a dessa com*dia reali%ou o

imoss!"el, o de 4r em música a ironia.Cos_ fan tutte * hoe uma das obras mais reresentadas do mestre# indica o caminhoara a usta interreta()o de Don Giovanni  =1FEFD. Os incon&und!"eis acentos trágicosque se ercebem nessa obra, &ortalecidos elos trombones que na abertura e no últimoato anunciam a "olta do Commendatore assassinado do outro mundo, insiraram aogrande rom8ntico 0. T. A. Ro&&mann uma interreta()o da óera como trag*diarom8ntica &or(as demon!acas, unindo o erotismo celerado de don <io"anni# do qualdonna Anna, suosta hero!na da e(a, * a "!tima trágica. :emelhante * a interreta()ode Wieregaard# e, modernamente, o oeta &rancIs ;ou"e elaborou análise maisro&unda no mesmo sentido. /ingu*m negará aqueles acentos trágicos# mas eles sóser"em, assim como o aarente cinismo em Cos_ fan tutte, ara dar um &undo, sea&ilosó&ico, sea meta&!sico, ao "erdadeiro assunto, que * erótico. Don Giovanni n)o *trag*dia# *, con&orme a indica()o na &olha de rosto, dramma giocoso. N a com*dia do

se'o, assando raidamente como uma noite de &ebre V assassinato doCommendatore, lamenta($es c!nicas de Leorello, serenata do sedutor, sedu()o de\erlina, elegias de donna Anna, o minueto &antástico e a orgia de "inho no casamentodos camoneses, o alegre antar musical de don <io"anni V esse antar "ira des&echotonitruante, com trombones do outro mundo, que ode ser &arsa burlesca ara assustar oobre Leorello ou ode signi&icar o &im aocal!tico da &r!"ola ci"ili%a()o aristocrática.Pode ser isto. Pode ser aquilo. Pois a música nunca tem signi&ica()o t)o eremtóriacomo a ala"ra. N amb!gua. Hi% menos e di% mais, ao mesmo temo. Don Giovanni  tamb*m di% menos que uma trag*dia e di% mais que uma com*dia. N, em termos deóera, a sumaQ da "ida humana. N V isto á se sabe há um s*culo e meio V a óeradas óerasQ, o cume do gInero.

 A rique%a musical de Don Giovanni * &antástica e, no entanto, gra(as 7 colabora()ode Ha Ponte, discilinada or uma rigorosa constru()o dramática. 0ssa colabora()o

&altou a 3o%art na 9auberfloete =2lauta M;gica, 1F?1D um libreto em alem)o,con&eccionado or um oetrastro e um hábil diretor de teatro que aro"eitaram um contode &adas ara &a%er uma oereta alegre, misturando2a com elementos que agradariam aum úblico de ma(ons. 3o%art &e% dela a mais rica de todas as suas obras. AsincoerIncias grosseiras do libreto aarecem na música como uma s!ntese de todos ososs!"eis estilo musicais. A 2lauta M;gica *, ao mesmo temo grande óera s*riaQ dotio italiano =cenas da rainha da /oiteD# com*dia musical oular =cenas de PaagenoD#

Page 71: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 71/200

solene trag*dia &ilosó&ica e mani&esto da sabedoria ma(4nica =cenas de :arastroD# e *,nas cenas de Tamino e Pamina, um drama sentimental alem)o no alto estilo dosclássicos de Keimar. Rá na 2lauta M;gica acordes que lembram <luc e ritmos que

lembram RaSdn# e o misterioso Canto dos )omens 'rnesados lembra o &ato de que3o%art conheceu, ouco antes, os motetes de Jach. N, em s!ntese, o Uni"erso damúsica.

Heois dessa obra, deois dos acordes sacros que se ou"em no temlo de :arastro,só &oi oss!"el um e!logo religioso. 3as acontece que 3o%art n)o era um es!ritogenuinamente religioso. <uardou certa &idelidade &ilial, um ouco rotineira, 7 greacatólica, encontrando satis&a()o, nos momentos de ele"a()o m!stica, na 3a(onaria. Amúsica sacra que escre"eu durante os anos de :al%burgo * omosamente barroca e7s "e%es escandalosamente alegreQ, n)o no sentido da ingenuidade de RaSdn, asquase blas&ema# assim a Missa brevis em d7 maior =$. KKV , 1FF>D, denominada Missados 5ardais. Liberto das obriga($es da corte eclesiástica, logo dei'ou de escre"ermissas e ladainhas# a n)o ser, elo moti"o esecial de uma romessa, a gra"e Missaem d7 menor  =$. LKX , 1FEGD, que o mestre dei'ou, signi&icati"amente, acabada. 3ais

brilhante do que ro&unda tamb*m * a Missa da CoroaJo =$. RX , 1FF?D. 3as suaúltima obra * o c*lebre (1quiem =1F?1D, música sacra das mais s*rias. /)o se e'lica"aessa con"ers)oQ sen)o elo choque que o doente recebeu quando um desconhecidomisterioso lhe encomendou a obra, na qual há, no meio de grandes bele%as l!ricas,tra(os de a"or hist*rico. A lenda em torno do 9*quiem está hoe des&eita odesconhecido n)o &oi um mensageiro do outro mundo, mas um aristocrata meio loucoque costuma"a encomendar, dessa maneira, obras musicais ara &a%er e'ecutá2las,deois, erante amigos como se &ossem de sua rória la"ra. :em encomenda alguma3o%art á escre"era, ouco temo antes, o 've ,erum =1F?1D, um dos mais belos hinosde adora()o do :acramento. /unca conheceremos com certe%a o estado de es!rito emque escre"eu o (1quiem, dei'ando2o incomleta# assim como n)o * oss!"el determinare'atamente em que onto come(a o trabalho de comleta()o, do seu disc!ulo:uessmaSer. Tamouco como as missas de RaSdn e do rório 3o%art corresonde o(1quiem a se"eras e'igIncias litúrgicas. Certos trechos do Dies irae s)o teatrais. Nmúsica altamente e'ressi"a, no estilo t!ico da música sacra italiana do s*culo +-.3as * música insirada, de bele%a inesquec!"el e emocionante. /)o odia ha"er maisbelo e!logo.

0!logos tamb*m s)o as últimas obras da música de c8mara e o Don Giovanni ,escrito dois anos antes de rebentar a re"olu()o, que acabou ara semre com o mundoe a música da aristocracia. Don Giovanni &oi le"ado elos dem4nios e os anoscantaram2lhe nos &unerais. 3o%art, o artista consumado, * o &im de uma ci"ili%a()o. :ua"ida, sua obra &oram o maior eisódio da história da música.

CO/:U3AZO HO  :NCULO J00TRO-0/

O &im do s*culo +- tamb*m marca o &im de um ca!tulo na história da música. O

mais imortante dos &atores de transi()o * o no"o úblico. ;á come(ara a emergir, nosanos de 1FB@, quando ;ohann Christian Jach e Abel &undaram em Londres a rimeiraemresa ara organi%ar concertos úblicos. Heois, surgem emresas semelhantes emParis, -iena, Jerlim. A grea, a corte monárquica e o alácio do aristocrata erdem a&un()o de mecenas que encomenda obras ao artista. /o s*culo ++, o comositoren&renta o úblico, isto *, uma massa de desconhecidos, essoas que n)oencomendaram nada eseraram, aenas, algo de no"o. O artista terá de dar o que

Page 72: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 72/200

ode dar, isto *, o que quer dar ao anonimato dos ou"intes corresonde o subeti"ismorom8ntico do comositor.

0sse no"o úblico *, e"identemente, a burguesia. A data decisi"a teria sido a

9e"olu()o rancesa de 1FE?, que acabou com o 'ncien (1gime ara estabelecer odom!nio da no"a classe dirigente. 3as o musicólogo inglIs To"eS rotestou, com bonsargumentos, contra a eriodi%a()o da história da música con&orme crit*rios ol!ticos esociais. Aquela data recisa de reti&ica()o. Jeetho"en, artidário &er"oroso da 9e"olu()orancesa, ainda "i"e no ambiente aristocrático de -iena# tal"e% n)o udesse "i"er emoutro. :ua retirada ara as regi$es da música abstrata só come(ou deois de 1E1, anodo Congresso de -iena que, embora retendendo restabelecer as monarquiasaristocráticas, marcou realmente o &im da *oca delas. N esta a data decisi"a. :ó deoisde 1E1, a música de RaSdn e 3o%art torna2se &en4meno histórico, do assado. 3asentre RaSdn e Jeetho"en, t)o intimamente ligados elo estilo comum, ainda n)o hásolu()o de continuidade. Aquela música que se costuma chamar clássica "ienenseQ,constitui, entre 1FB@ e 1EM@, uma &ase homogInea da história# at* seria oss!"elacrescentar2lhe o rom8ntico :chubert, cua curta "ida coincide com os últimos anos de

Jeetho"en. 3as n)o con"*m abolir assim todas as &ronteiras. /o c!rculo de :chubert amentalidade á * outra * tiicamente burguesa# enquanto Jeetho"en, embora de origemhumilde, se ulga suerior ao seu ambiente de aristocratas de sangue, como aristocratade es!rito. :ua arte ainda ertence 7 grande *oca do s*culo +-, emboraterminando2a, consumando2a.

Lud^ig "an J00TRO-0/ =1FF@1EMFD1 *, ao lado de 3iguel [ngelo, a ersonalidademais oderosa na história das artes. /uma conhecida obra sobre história da música, acaa de cada um dos quatro "olumes * en&eitada com uma "inheta simbólica norimeiro "olume, um monge tocando o órg)o# no segundo, o cra"o aberto e osinstrumentos de música de c8mara# no quarto, um regente erante a orquestra e oúblico. 3as na caa do terceiro "olume aarece, em "e% de um desenho simbólico, oretrato de determinado indi"!duo Jeetho"en, o grande indi"idualista. N indisensá"elconhecer2lhe a biogra&ia ara comreender2lhe a obra.

 A biogra&ia de Jeetho"en &oi t)o e'austi"amente estudada como a de nenhum outroartista, com e'ce()o de <oethe e, tal"e%, de :tendhal. O americano ThaSer dedicou a"ida inteira ao estudo das minúcias, sobretudo das inúmeras mudan(as de casa domestre inquieto# &oi um trabalho gigantesco, o da "eri&ica()o dos endere(os, de casas eruas das quais muitas á n)o e'istem. 3as imortam menos esses &atos do que asucess)o cronológica deles, a "eri&ica()o de determinadas &a%ses nessa "ida,intimamente ligadas 7s &amosas trIs &asesQ da "ida art!stica.

/)o nos recisa ocuar a origem &lamenga dos anteassados de Jeetho"en, que&oram naturais de malines# ois o maior es&or(o de certos biógra&os germanó&obos n)oconseguiu descobrir tra(os de música &lamenga em sua obra. Tamouco nos recisa

1 K. Len%, &eethoven et se trois st%les, M "ols., Petersburgo, 1E>M. A. K. ThaSer, /ud=ig van&eethoven0s /eben, 1EBB1EFM =edi()o alem), comletada or R. 9iemann, G "ols., Lei%itg,

1?@11?1@D. Th. Relm, &eethoven Streichquartette, :tettin, 1EE>. K. /agel, &eethoven und seine$laviersonaten, M "ols., Langensal%a, 1?@G1?@>. P. Jeer, &eethoven, Jerlim, 1?11 ="áriasreedi($esD. R. 9iemann, &eethovens saemtliche $laviersonaten, G "ols., Jerlim, 1?1F1?1?. 9.9olland, &eethoven. /es grandes 1!oques cr1atrices, "ols., aris, 1?M@1?GE. R. 3ersmann,&eethoven. Die S%nthese der St%le, Jerlim, 1?MM. 0. 0"ans, &eethoven0s :ine S%m!honies, M"ols., Londres, 1?MG1?M. Th. rimmel, &eethoven-)andbuch, M "ols., Lei%ig, 1?MB. ;. K. /.:ulli"an, &eethoven his S!iritual Develo!ment . Londres, 1?MF. 0. Juecen, /ud=ig van&eethoven, Potsdam, 1?G.

Page 73: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 73/200

ocuar a mocidade assada em Jonn, triste e in&eli% orque o ai, alcoólatra contuma% ebrutal, o quis or &or(a amestrar como menino rod!gio a e'emlo de 3o%art. 3asJeetho"en n)o &oi menino rod!gio. 9e"elou cedo seu talendo ara &a%er música# mas

só se tornará digno de nota numa idade em que 3o%art á tinha escrito a maior arte dassuas obras2rimas. A "ida de Jeetho"en come(ou, "erdadeiramente, quando em 1F?Mse mudou ara -iena, sua cidade adoti"a. Conquistou &ama como brilhante imro"isadorno iano. As rimeiras comosi($es ublicadas &oram consideradas com certo mal2estarelos conser"adores# mas obti"eram sucesso unto ao úblico. oram anos de "ida &eli%e desreocuada, no ambiente da aristocracia austr!aca, entusiasmada ela música.<lória eterna aos r!ncies e condes Lichno^sS, Lobo^it%, :ch^ar%enberg, Kaldstein,mecenas generosos aesar de tudo tolera"am o comortamente rude do o"em gInio,que os o&endia com obser"a($es &rancamente sub"ersi"as, aai'onando2se, ao mesmotem, or mo(as aristocráticas, sonhando com casamento imoss!"el com uma dessascondessas da qual ignoramos o nome# e a amada imortalQ, da qual Jeetho"en em umacarta n)o datada e sem endere(o# tal"e% &osse aquela 7 qual &o i dedicada a Sonata ao/uar .

 A segunda &ase come(a, ouco deois do in!cio do no"o s*"ulo, com a misteriosadoen(a nos ou"idos que lhe insirou a resolu()o de suicidar2se. 0m Reiligenstadt,subúrbio de -iena, escre"eu o testamento ="estamento de )eiligenstadt D, grandedocumento humano. 3as no codicilo, escrito ouco deois, á mani&esta a resolu()oheróica de egar nas &aces do destinoQ. -i"erá. Criará sua obra. Terá sucesso triun&alcomo oucos comositores o obti"eram em "ida. 0m 1E1, quando o Congresso de-iena reúne na cidade os aristocratas, ol!ticos e muitos intelectuais do continenteinteiro, Jeetho"en * geralmente reconhecido como o maior comositor do s*culo e,como artista, só comará"el ao seu contemor8neo <oethe. Tamb*m * bastantesatis&atória a sua situa()o &inanceira. Jeetho"en &oi o rimeiro comositor que ditoucondi($es aos seus editores. 0le mesmo chamou2se de /aole)o da músicaQ# mas um/aole)o sem Katerloo.

Heois, a terceira &ase. O mestre &ica comletamente surdo. 9etira2se do mundo,

contente com a comanhia de oucos amigos, nem semre dos mais dignos# ahereditariedade aterna re"ela2se na re&erIncia elas noites na ta"erna. N o Jeetho"enque conhecemos das gra"uras e recorda($es da *oca um esquisit)o mal"estido, 7s"e%es imundo, brigando com os "i%inhos sem lhes ou"ir resosta, &a%endo asseiossolitários, interminá"eis, absor"ido nos seus ensamentos musicais, escre"endo obrasabstratas que, naquele temo, ningu*m comreende. /o entanto, ou"em2nas com omaior reseito# ois s)o de Jeetho"en. O último concerto em que Jeetho"en, á incaa%de reger, se mostra em úblico, em F de maio de 1EM, * um último triun&o e'ecutam2sea +* Sinfonia e trechos da Missa Solemnis. 6uando morreu, em 1EMF, quase na mis*ria,sua osi()o á era a mesma de hoe o maior comositor moderno.

6uase na mis*riaQ. 3as n)o era roriamente obre. Aenas "i"ia muitoeconomicamente ara oder audar a um sobrinho indigno. Jeetho"en n)o se restaabsolutamente ara ser retratado como gInio incomreendido or um mundo ingrato. N

&alsa essa romanti%a()o da sua biogra&ia. Tamb*m e'ageram inde"idamente aquelahistória da amada imortalQ# amores in&eli%es n)o s)o coisa t)o rara# e se &alta, nouni"erso musical de Jeetho"en, um elemento, * ustamente o elemento erótico# a essereseito, o mestre * o contrário de 3o%art, erótico at* as ra!%es do ser. Antes de tudo, &oie'agerada a doen(a de Jeetho"en. A n)o ser durante os últimos de% anos, a surde% n)oo imediu de e'ecutar e ou"ir música. alsi&ica()o comleta da biogra&ia * a descri()odessa "ida como uma incessante luta heróica contra o destino. At* 9omain 9olland,

Page 74: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 74/200

autor de uma e'celente grande obra sobre a "ida art!stica de Jeetho"en, tamb*mescre"eu uma equena biogra&ia, muito di"ulgada e muito desanconselhá"el, na qual omestre só aarece como so&redor e lutador. :e &osse só isso, muito maior seria Relen

Weller que nasceu cega e surda2muda e, no entanto, "enceu na "ida. /o resto, aersonalidade em!rica e a ersonalidade art!stica s)o di&erentes. Uma "ida dramática,rom8nticaQ, ode ser oortunidade ara criar uma obra clássica# "eam2se os 3o%art e9acine. Jeetho"en *, or*m, clássicoQ num outro sentido * o clássicoQ do reertóriomusical moderno. /enhum outro comositor lhe &orneceu tantas obras, sem que osou"intes sentissem monotonia. Pois cada obra de Jeetho"en * um indi"!duoQ di&erente,bem2de&inido e incon&und!"el.

Jeetho"en &oi o rimeiro que, habitualmente, n)o escre"eu or encomenda, mas sóor insira()o e soberana "ontade rórias. 6uando manda, * o /aole)o da música.6uando outros lhe querem mandar, e mesmo quando ele gostaria de obedecer, ormoti"os e'teriores, n)o sai grande coisa. As obras encomendadas quase semre s)o&racassos. O oratório Christus am Oelberg  =Cristo em Gets[mani , 1E@MD, encomendadoelo r!ncie 0sterhá%S, n)o "ale nada# os contemor8neso elogiaram nessa obra certos

trechos de t!ico estilo oer!stico italiano que hoe nos arecem burlescos, indignos domestre# a obra, que hoe em dia n)o oderia ser desenterrada, &oi, or*m, na *oca umgrande sucesso. A Missa em d7 maior o!.U  =1E@FD, encomenda do mesmo aristocrata,* música digna e n)o sem tra(os de originalidade na interreta()o do te'to#ocasionalmente, ainda cantam2na em igreas "ienenses# mas quase n)o se reconheceJeetho"en nessa obra de estilo sacro haSdniano. A chamada Sinfonia da &atalha =1E1GD, rimiti"a e ruidosa música de rograma, escrita ara celebrar a "itória deKellington em -itória, &oi o maior sucesso &inanceiro na "ida de Jeetho"en# quase o &e%rico. oi or causa da atualidade# a obra está hoe, com lena ra%)o, totalmenteesquecida, assim como as equenas óeras de ocasi)o, (ei Est[vo =1E11D, e o bailadoGli uomini di 5rometeo =1E@@D. Tamb*m em outros casos, a insira()o recusou2se aomestre# assim no omoso "ri!el-Concerto em d7 maior !ara !iano violino violoncelo eorquestra o!.T  =1E@>D, que * uma obra acadImica. 0, or causa de sua e"olu()o"agarosa, certas obras da mocidade s)o med!ocres. N uma ena que obras como osConcertos !ara !iano e orquestra no.R, o!.RT  =1F?ED, e no.K , o!.RN =1F?ED continuem noreertório e &iquem gra"ados em discos, só orque s)o de Jeetho"en# ao leigo menosiniciado d)o id*ia &alsa de sua música, enganando2o. Jeetho"en só * ele mesmo quandouma insira()o irresist!"el lhe in&orma a elabora()o meticulosa. N um artista subeti"oor isso tamb*m &ala de "o%a alta, ara &a%er2se ou"ir e comreender# n)o raramente *retórico, de eloq5Incia a"assaladora.

`...

/essa rodu()o distinguiu o musicólogo russo Len% trIs &ase ou er!odos. N umaeriodi%a()o geralmente aceita# a de 3ersmann, que distingue seis &ases, aenas tem om*rito de de&inir melhor as transi($es. A ordem cronológica n)o coincide e'atamentecom os números de o!us, orque certas obras da mocidade só &oram ublicadas muitoosteriormente. Tamb*m há uma ou outra e'ce()o contrária, de obras que &oram

imressas antes de outras, anteriores. 3as em geral ser"e, ara a orienta()o, a seguinteindica()o a rimeira &ase "ai de o!us R at* o!us LU . A segunda &ase "ai de o!us T at*o!us NU . A terceira &ase "ai de o!us RVR at* o!us RT .

 A rimeira &ase come(a com música galanteQ, de sociedade, no sentido do s*culo+-. 3as logo se &a%em ou"ir sons di&erentes, de rebeldia e de emo()o at*tica.Jeetho"en * contemor8neo dos oetas e dramaturgos do r*2romantismo alem)o, dochamado Sturm und Drang , entre eles o o"em <oethe, autor do >erther , e o o"em

Page 75: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 75/200

:chiller, autor dos &andoleiros. Como eles, o o"em Jeetho"en * meio re"olucionário,meio sentimental# aenas os recursos da sua arte á est)o muito melhor desen"ol"idosdo que a l!ngua literária alem) de ent)o. A rebeldia e'rime2se em modula($es

audaciosas# o sentimentalismo lhe insira os rimeiros daqueles mara"ilhosossegundos mo"imentosQ, eleg!acos, nos quais Jeetho"en * mestre incomará"el.

3úsica galanteQ * o &amoso Se!teto !ara clarinete trom!a fagote violino violavioloncelo e contrabai#o em mi bemol maior o!. KV =1E@@D, bastante mo%artiano, tal"e%o mais encantador e'emlo de música de sociedadeQ, obra de um Jeetho"en o"em,totalmente desreocuado. O &rescor u"enil tamb*m &a% o charme da ligeira Sonata

 !ara violino e !iano em f; maior o!. KL =1E@1D, 7 qual se deu o aelido de Sonata5rimavera. RaSdnianos s)o os seis Quartetos o!. RU  =1E@@D# o no. em si bemol maior , *&amoso elo último mo"imento em que lutam dramaticamente um tema alegre e outro,sombrio, em cima do qual o comositor escre"eu a ala"ra /a Malinconia.

N a mesma melancolia que er"ade o belo lied   'delaide =1F?>D, e cua maiormani&esta()o * o mara"ilhoso /argo da Sonata !ara !iano em r1 maior , o!. RV , no. =1F?ED, e'ress)o de um estado de es!rito angustiado. N o r*2romantismo de

Jeetho"en, seu Kertherismo. 3as tamb*m á se re"ela no o"em mestre um outro r*2romantismo, re"oltado e ind4mito, no "rio !ara !iano e cordas em d7 menor , o!. R, no. =1F?>D, que assustou o "elho RaSdn, e em certos trechos das Sonatas !ara !iano o!. Ke o!. RV . N o Jeetho"en at*tico. 0le mesmo deu 7 obra na qual a melancolia e a re"oltase encontram, 7 Sonata !ara !iano em d7 menor , o!. R =1F?ED, o t!tulo Sonate

 !ath1tique. Hó menorQ será semre sua tonalidade re&erida ara as mani&esta($estrágicas =, Sinfonia, CoriolanoD# e muita gente considera aquela sonata como a rimeiragrande obra trágica do mestre. 3as o t!tulo !ath1tique de&ine2a melhor a ai')oturbulenta do rimeiro mo"imento e a bela elegia do segund n)o s)o t)o trágicas# s)oat*ticas. 0ssa sonata, tal"e% a mais tocada de todas, á * magistral# mas ainda * obrada mocidade.

 Ainda ertencem 7 rimeira &ase a + Sinfonia em d7 maior  =1F??D, que n)o se a&astamuito do modelo RaSdn, e o belo Concerto !ara !iano e orquestra no., em d7 menor ,

o!. X  =1E@@D, que * bastante mo%artiano sem atingir a altura dos maiores concertos de3o%art.

`...

/unca um artista rodu%iu em t)o curto esa(o de tamo t)o numerosas obras2rimascomo Jeetho"en em sua segunda &ase. :)o as mais conhecidas, as mais e'ecutadas#algumas at* demais, at* o cansa(o. A s*rie come(a com a +++ Sinfonia em mi bemolmaior  =1E@GD, 7 qual Jeetho"en deu o t!tulo Eroica. Todo mundo conhece e admira osegundo mo"imento, a marcha &únebre. Os músicos tIm mais &ortes moti"os araadmirar o rimeiro mo"imento, a maior e(a sin&4nica at* ent)o escrita, amlia()ocoerente da sonata2&orma intrinsecamente dramática ara a escala da grande trag*dia.

 A Sonata !ara !iano em d7 maior o!. T =1E@D, que os austr!acos e os alem)eschamam de Sonata >aldstein orque dedicada ao conde desse nome, le"a em outrosa!ses, or moti"os desconhecidos, o t!tulo 'urora. de"eria chamar2se leno solQ. Pois *

o maior c8ntico de triun&o e a&irma()o da "ida que amais se ou"iu no instrumento.0'atamente o contrário * a Sonata !ara !iano em f; menor , o!. TX  =1E@D, 7 qual &icouligado o aelido '!!assionata a mais sombria e mais deseserada de todas as obras deJeetho"en# dois terr!"eis gritos de re"olta, com a ora()o eseran(osa das "aria($es dosegundo mo"imento no meio. He insira()o semelhante, embora modi&icada con&ormeas e'igIncias di&erentes do gInero, * o trecho central do Concerto !ara !iano e

Page 76: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 76/200

orquestra no.L em sol maior o!.TU  =1E@BD o segundo mo"imento, diálogo entre umaelegia dolorosa do iano e resostas imlacá"eis da orqustra, * uma dessas coisaselas quais a arte usti&ica o so&rimento da "idaQ =:choenhauerD. 0sse concerto * o

mais l!rico de todos# * menos imressionante que o quinto concerto, mas melhorequilibrado, tal"e% gra(as 7 maior e'tens)o do alegre &inal. 0quil!brioQ * a ala"ra quesobretudo ocorre a roósito do maestoso Concerto !ara violino e orquestra em r1menor , o!. R =1E@BD# * a única obra desse gInero que Jeetho"en escre"eu, masningu*m du"ida * o maior concerto ara "iolino que e'iste, um dos ontos mais altos daeloq5Incia beetho"eniana. 0ssa eloq5Incia t)o caracter!stica da segunda &ase, tamb*mse descobriu, recentemente, na Sinfonia no.L em si bemol maior  =1E@BD, que os regentesdo s*culo ++ ouco &req5enta"am# n)o * um interme44o r*2rom8ntico entre asgrandesQ sin&onias, como se ensa"a, mas, como estas, um aelo 7 humanidadeQ.

 Aenas, os recursos emregados s)o mais modestos. Jeetho"en ainda está rearandoo uso leno da orquestra. Por enquanto, escre"e sin&onicamente ara as cordas. Os trIsQuartetos !ara cordas em f; maior mi menor e e d7 maior , o!. TN =1E@BD, dedicados aoconde 9asumo"sS, entao embai'ador da 9ússia em -iena, eterni%am o nome dessegrande mecenas. Pois s)o os quartetos mais oderosos que e'istem o maestoso no.R#o temestuoso no., com a &uga &inal# e sobretudo o Quarteto (asumovsk% no.K , em mimenor , com seu adágio celeste, seu scher4o bi%arro e com a in*dita e'los)otemeramental no &im. N a !ice de r1sistance do reertório da música de c8mara.0sses quartetos de"em o e&eito irresist!"el 7quela sua qualidade que alguns á chegarama censurar s)o escritos ara os quatro instrumentos como se &ossem grandes sin&onias.Come(a a *oca eseci&icamente sin&4nica de Jeetho"en. A abertura de Coriolano emd7 menor , o!. K  =1E@FD, &oi escrita ara introdu%ir uma e(a med!ocre do oetastro"ienense Collin# * digna da trag*dia de :haeseare, * a abertura mais trágica de toda aliteratura musical. /ada se recisa di%er sobre a , Sinfonia em d7 menor  =1E@FD, orquetodos conhecem esta obra, a mais oulari%ada de Jeetho"en. N chamada, muitas"e%es, Sinfonia do Destino, mas n)o tem rograma aenas enche de es!rito o*tico asonata2&orma, do trágico rimeiro alegro at* o ubiloso &inal. N música absoluta. N oe'emlo mais er&eito da sonata2&orma# * a obra2modelo do classicismo "ienenseQ.

Programa tem a bucólica ,+ Sinfonia em f; maior  =1E@ED, a 5astoral , or issoimensamente querida do úblico e, elo mesmo moti"o, algo menos areciada elacr!tica# mas em temos recentes a análise encontrou ustamente nesse id!lio sin&4nicocertas audácias harm4nicas, ouco ortodo'as, anteciando o modernismoQ musical. AsK variaJYes !ara !iano em d7 menor =sem número de o!us# 1E@BD assam or uma dasobras mais caracter!sticas da segunda &ase. =3as tamb*m há oini)o menos &a"orá"el.D

 A Sonata !ara violoncelo e !iano em l; maior , o!. N =1E@ED, quei'osa e en*rgica,escrita inter lacr%mas et luctum, * um grande documento humano# certamente a maisbela obra desse gInero raro. O "rio !ara !iano e cordas em r1 maior , o!. XV no.R =1E@ED, chamado Geistertrio =2antasmaD, tem um segundo mo"imento que * a maisro&unda e'ress)o de melancolia em toda a música. O Concerto !ara !iano e orquestrano.T em mi bemo maior , o!. X =1E@?D, * a obra mais oderosa do gInero, de !metob*lico# o Concerto no.L ode ser mais ro&undo, mas o no.T  * de e&eito irresist!"el. 3as

ao mesmo temo escre"e Jeetho"en o Quarteto !ara cordas em mi bemol maior , o!. XL =1E@?D, denominado )ar!a, e a Sonata !ara !iano em mi bemol maior , o!. UR =1E1@D,denominada /es 'dieu# , obras2rimas de arte intimista.

Obra 7 arte, em todos os sentidos, * a única óera de Jeetho"en 2id1lio =1E@#modi&icada em 1E@B e em 1E1D. N, como a 2lauta M;gica, um Sings!iel , com te'toalem)o &alado entre as árias e coros. /)o * uma óera como outras# antes uma e(a

Page 77: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 77/200

ara ser reresentada em ocasi$es solenes, e'traordinária, esse c8ntico dramático da"itória do amor conugal sobre a tirania ol!tica. Um enredo ent)o muito conhecido, omesmo da óera /es deu# 3ourn1es de Cherubini &oi trans&ormado oor Jeetho"en em

trag*dia das ris$es subterr8neas do coro e do es!rito# e c8ntico da liberdade. TrIsaberturas escre"eu o mestre ara a rimeira "ers)o dessa óera, ent)o chamada/eonore# nenhuma satis&e% ara o teatro. 3as a terceira delas, a /eonore no. em d7maior  =1E@BD, conquistou "ida indeendente na sala de concertos. N uma grande sin&oniade rograma resumo, sem ala"ras, do enredo da óera, a maior obra de Jeetho"encomo oeta em sonsQ. /o entanto, o mesmo suerlati"o tamb*m "ale com reseito 7abertura ara Egmont  de <oethe, o!. UL =1E1@D, tal"e% musicalmente menos ro&undaque a outra, mas mais concisa e mais brilhanteQ * a abertura das aberturas.

0n&im, a ,++ Sinfonia em l; maior  =1E11D * a mais o*tica de todas o sonhoserenamente &únebre do allegretto, a oesia !ntima do scher4o =esecialmente do seutrioD, a temestade dionis!aca do finale V esta * tal"e% a maior sin&onia que e'iste. A ,+++Sinfonia =1E11D * um e!logo, resumindo o gInero de RaSdn# * mesmo trabalhada,deliberadamente, no estilo humor!stico de RaSdn. Caráter de e!logo tamb*m tIm as

últimas obras da segunda &ase. O eleg!aco /iederkreis an die ferne Geliebte o!. NU  =Ciclo de /ieds 'mada /ongBnqua, 1E1BD *, entre os muitos lieds de Jeetho"en, aúnica obra que antecia realmente o gInero de :chubert. O "rio !ara !iano e cordas emsi bemol maior o!. NX =1E11D, denominado 'rquiduque orque dedicado ao arquiduque9udol&, * certamente a obra2rima desse gInero t)o o*tico# o rimeiro alegro, oscher4o, o finale s)o de er&ei()o t)o absoluta como, em outro estilo, um concerto deJrandenburgo# o terceiro mo"imento * a mais como"ente elegia de desedida em toda amúsica. /)o * menos o*tica a Sonata !ara violino e !iano em sol maior o!. N  =1E1MD,uma nobre medita()o que culmina em "aria($es de e'traordinária amlitude emocional#mas o tema dessas "aria($es *, mais uma "e%, tiicamente haSdniano. Todas asossibilidades do classicismo "ienenseQ est)o triun&almente esgotadas. echou2se ociclo.

6uem, or"entura, chegar a ou"ir, logo deois de uma daquelas obras, a Sonata !ar

 !iano em l; maior , o!. RVR =1E1BD ou as duas Sonatas !ara violoncelo e !iano em d7maior e em r1 maior o!. RVK  =1E1>D, acredita ter encontrado, or engano, um outrocomositor. O estilo mudou comletamente. /ada mais de trag*dia at*tica, de elegiascomo"entes, de c8nticos de triun&o. A sonoridade tornou2se ásera, a oli&oniainstrumental mais dura, a e'ress)o enigmática. N a terceira &ase. Os contemor8neos&ica"am estue&atos# e n)o só eles. O s*culo ++ inteiro, com e'ce()o de certosconhecedores, considera"a as últimas obras de Jeetho"en como esquisitas, se n)oincomreens!"eis. 0'licou2se o &ato ela surde%, ent)o comleta, do mestre, que lheteria roubado o senso de eu&onia, a &aculdade de calcular os e&eitos sonoros e at* ahumanidade do sentimento. Roe se ensa de maneira di&erente. A surde% deJeetho"en, embora trágica ara ele essoalmente, arece2nos ro"idencial &oi ela quelibertou o mestre de todas as con"en($es, abrindo2lhe as ortas ara o reino da músicatotalmente abstrata. 0ssas últimas obras de Jeetho"en, embora nem t)o&req5entemente e'ecutadas como as da segunda &ase, assam hoe or suas maiores./)o e'ageremos. Rá nelas certas imer&ei($es t*cnicas, que se e'licam realmenteela surde%. Algumas obras n)o arecem destinadas 7 e'ecu()o, mas a serem lidas.

 Assim como a 'rte da 2uga de Jach. O que indica a categoria.

 A Sonata !ara !iano em si bemol maior o!. RV =1E1ED, le"a na &olha de rosto aobser"a()o 7 qual de"e o aelido 5ara o )ammerklavier  =iano&orteD. Ainda se usa"amuito o cra"o, esecialmente em casa# or mais estranho que are(a a nós outros que a

Page 78: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 78/200

 '!!assionatta ou a 'urora amais &ossem amais tocadas nesse instrumento. 3as aSonata o!. RV , di% o rório autor, requer o iano# da! o aelido )ammerkaviersonate.Hu"idam alguns se basta isso# se ode ser e'ecutada, satis&atoriamente, em instrumento

algum, essa maior de todas as sonatas, de tamanho de uma sin&onia e de ro&undidadein*dita, culminando numa grandiosa &uga. /o entanto, * abuso condená"el o arranoQ daSonata o!. RV  ara orquestra. A obra ocua hoe lugar certo no reertório dos ianistas#* roriamente o onto mais alto do reertório ian!stico. Heois, as trIs últimassonatas. A Sonata em mi maior , o!. RVN =1EM@D * uma nobre elegia, terminando com umset de "aria($es. O des&echo da Sonata em l; bemol maior , o!. =1EM1D, de oesiadolorosa, *, como na Rammerla"iersonate, uma &uga. A última, a Sonata em d7 menor ,o!. RRR =1EMMD, 7 qual Thomas 3ann dedicou, no romance Doutor 2austo, uma áginaadmirá"el, só tem dois mo"imentos deois de um alegro heróico, de &or(a de bron%e,uma s*rie de "aria($es et*reas que re&letem harmonias transcendentais.

Heois dessas trIs sonatas, Jeetho"en "oltou ao iano ara escre"er as ,ariaJYes sobre uma ,alsa de Diabelli o!. RKV  =1EMGD. Chegou a interromer o trabalhona 3issa :olemnis ara "ariar um med!ocre tema alheio, no qual descobrira ineseradas

ossibilidades combinatórias. N suerior at* as ,ariaJYes de Goldberg  de Jach, a maiorobra de "aria($es da literatura musical. Obra inteiramente abstrata, destinada mais 7leitura do que ara um instrumento material. 3úsica, com licen(a ara o suerlati"o,absolut!ssima. /os seus últimos anos Jeetho"en só escre"eu ara o iano o quechama"a de bagatelasQ# uma delas, searadamente ublicada, * o (ond7 em sol maioro!. RKN =1EMGD, denominada Die >ut ueber den verlorenen Greschen = ' (aiva !elo"osto 5erdidoD, e'ress)o de humorismo burlesco de quem, das maiores alturas, caiuara as equenas mis*rias da "ida cotidiana.

 A obra de mais alto "4o, da terceira &ase, * a Missa Solemnis em r1 maior o!. RK=1EMGD. 3enor em tamanho que a missa de Jach, e'cede no entanto, de longe, asdimens$es que a liturgia admite# a n)o ser ara missas onti&icais como a daconsagra()o de um biso. 9ealmente, a Missa Solemnis &oi escrita ara a consagra()odo arquiduque 9udol&, aluno redileto do mestre, como arcebiso de Olomouc. 0

e'eriIncias demonstraram que a e'ecu()o da obra n)o * incomará"el com o cultocatólico. 3as * uma mani&esta()o colossal de religiosidade li"re, &ora e acima dequalquer credo dogmático. A &* religiosa de Jeetho"en &oi, ro"a"elmente, nos in!cios, ode!smo do s*culo +-. :)o desse es!rito as Seis CanJYes Sacras o!. LU  =1E@GD,escritas com grande simlicidade no estilo da Cria()o de RaSdn, das quais uma, DieEhre Gottes =tradu()o li"re ' Gl7ria de DeusD, * uma das obras mais di"ulgadas deJeetho"en, cantada or coros de amadores do mundo inteiro em todas as ocasi$esoss!"eis e imoss!"eis. 3as essa &* de Jeetho"en aro&undou2se mais tarde eloscontatos com a &iloso&ia idealista alem), sobretudo a de Want na interreta()o, maisacess!"el, de :chiller# tamouco se querem e'cluir in&luIncias oss!"eis do ensamentode :chelling. Aquele credo de!sta adquiriu ro&undidade quase =embora só quaseDm!stica. ;á n)o se trata de religiosidade ra%oá"elQ, no sentido do s*culo +-, mas de &*no ine&á"el. 0sse ine&á"el, Jeetho"en o e'rimiu na Missa Solemnis a solenidade quasebi%antina do $%rie, a &uga coral =Et vitam venturi saeculi D no &im do Credo, o solo do"iolino no &enedictus, a remota música guerreira que acomanha o doloroso Dona nobis

 !acem, s)o cumes da música sacra.

undamental a mesma mensagem * a da única obra da última &ase que se tornourealmente oular a +* Sinfonia em r1 menor o!. RKT  =1EMGD. 3úsica * re"ela()o maisalta que qualquer &iloso&iaQ, re%a um a&orismo de Jeetho"en. N a &iloso&ia idealista deWante, ichte, e :chiller em que o mestre ensa"a. Um oema de :chiller * o te'to dos

Page 79: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 79/200

soli e coros que &ormam, de maneira ineserada e inortodo'a, o último mo"imento da +*Sinfonia, a rimeira sin&onia com a colabora()o de "o%es humanas. A esse colossalmo"imento "ocal de"e a sin&onia a oularidade. Hurante decInios assara or obra

esot*rica, que só oderia ser e'ecutada em ocasi$es e'traordinárias. Heois, os^agnerianos interretaram a +* Sinfonia como obra recursora do drama musical do seumestre recorrendo 7 "o% humana, Jeetho"en teria demonstrado que a arte sin&4nica *insu&iciente ara mani&estar todos os mist*rios do uni"erso# teria indicado o caminhoara "risto e +solda e 5arsifal . Hesde ent)o, o úblico, semre acess!"el 7s alus$esliterárias que &acilitam a comreens)o da música, tem dado re&erIncia marcada 7 +*Sinfonia. 3as, com toda a admira()o, n)o há moti"o ara tanto. :emre re&erimos a ,  e sobretudo a ,++ Sinfonia. Pois o grandioso último mo"imento da +* , embora a mais&orte mani&esta()o da eloq5Incia beetho"eniana, * algo inorganicamente acrescentado#a obra * h!brida. 3as esses argumentos n)o "alem, e"identemente, contra a dolorosatriste%a do andante, o humorismo gigantesco do scher4o e, sobretudo, o rimeiro allegro,que * o maior mo"imento sin&4nico de Jeetho"en.

/a Missa Solemnis e na última arte da +* Sinfonia, a escritura "ocal de Jeetho"en,

comositor instrumental or e'celIncia, reseita ouco as ossibilidades e os limites da"o% humana# certos trechos dos coros assam or di&icilmente e'ecutá"eis. A surde%ode ter contribu!do ara tanto, assim como nas imossibilidadesQ ian!sticas da)ammerklaviersonate. 3as o "erdadeiro moti"o dessas imer&ei($es materiais &oi outronenhum instrumento solo nem a orquestra sin&4nica nem a "o% humana &oram caa%esde materiali%ar comletamente o ensamento musical abstrato. O único recurso oss!"el&oi o som imaterial do quarteto de cordas. As obras derradeiras de Jeetho"en s)o oscinco últimos quartetos. Hurante decInios, deois da morte do mestre, &oramconsiderados com re"erIncia t!mida, como mani&esta($es ine'ecutá"eis de umainteligIncia musical erturbada ela surde% e, tal"e%, or um alheamento á arecidocom anormalidade mental. 3as aconteceu, en&im, o que 3arcel Proust &ormulou t)obem Os últimos quartetos de Jeetho"en criaram um úblico ara os últimos quartetosde Jeetho"enQ. Roe se e'ecutam muito. :)o ontos altos, tal"e% os ontos mais altosda cria()o musical# e grandes documentos humanos.

`...

 A e"olu()o de Jeetho"en V da música graciosa do Se!teto ate o N recisoQ doúltimo Quarteto V * a mais coerente e a mais admirá"el de que se tem conhecimento nahistória das artes# lembra a e"olu()o de :haeseare, da Comed% of Errors at* adissia()o de todos os erros no "em!est . 3as Jeetho"en disse tudo isto sem ala"ras.e% os instrumentos e'rimirem mais do que oderia e'rimir amais a ala"ra. N osoberano V ele rório disse o /aole)oQ V da música instrumental. :ua in&luIncia &oia"assaladora. Assim como 3iguel [ngelo, iniciando o Jarroco, domina as artes lásticasdo s*culo +-, assim domina Jeetho"en toda a música do s*culo ++ a músicarogramática de Jerlio%, a música dramática de Kagner e a música absoluta de Jrahmsde"em2lhe tudo.

Roe em dia * Jeetho"en o comositor mais conhecido do mundo. :uas obras s)o as

mais e'ecutadas, &ormando a base do reertório sin&4nico, camer!stico e ian!stico. 3as á n)o * modelo ara ningu*m, a n)o ser, de maneira algo indireta, ara um gIniosolitário como Jartó. Tendo se libertado daquela in&luIncia enorme e, en&im,esterili%ante, a música moderna acredita oder disensar sua arte. Rá inimigos deJeetho"en, que lhe detestam o subeti"ismo, a e'ressi"idade, o &ormalismo daconstru()o. 3as mais erigosos que esses inimigos s)o os admiradores. Aqueleredom!nio de Jeetho"en no reertório te"e conseq5Incias &unestas certas obras, a ,  e

Page 80: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 80/200

a +* Sinfonia, a Sonata ao /uar e a '!!assionatta, s)o e'ecutadas com tanta &req5Inciaque se rodu%, en&im, o cansa(o. oram rebai'adas 7 categoria de e(as re&eridas doúblicoQ. ;unta2se a isso a a"ers)o moderna contra a eloq5Incia retórica, que *,

indubita"elmente, um elemento essencial do idealismo beetho"eniano. 3as s)oargumentos que desaarecem, como obser"a($es mesquinhas, erante o esetáculodaquela e"olu()o do o!us R at* o o!us RT . A arte de Jeetho"en * o maior documentohumano em música. :e desaarecesse do nosso hori%onte esiritual, a humanidadeteria dei'ado de ser humana. 0st)o indissolu"elmente ligados o destino da músicabeetho"eniana e o destino da nossa ci"ili%a()o.

Page 81: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 81/200

C APÍTULO  >

Os RomantismosO 9O3A/T:3O  /A  3:CA

or mais comle'o que sea o &en4meno do romantismo literário, n)o se odenegar que tenha bem2de&inidos limites cronológicos. N a *oca de /o"alis, Tiec,

0.T.A. Ro&&man e 0ichendor&&, na Alemanha# de Lamartine, Rugo e 3usset, na ran(a#de :helleS, Weats e sir Kalter :cott, na nglaterra# de Lermonto" e <ogol, na 9ússia.3as n)o * oss!"el de&inir cronologicamente o romantismo musical. 9om8nticos s)oKeber e :chubert, 3endelssohn e :chumann, Jerlio% e Choin. 3as tamb*m s)orom8nticos um Tchaio"sS e um <rieg, cuos contemor8neos na literatura s)o Tolstoie bsen. 9om8ntica, no sentido do romantismo &rancIs, * a óera de -erdi. 9om8nticos

s)o os come(os de Jrahms e, tamb*m, muita subst8ncia ermanente da sua música.9om8ntico *, sobretudo, Kagner.

P

O romantismo domina toda a música do s*culo ++. Todos aqueles rom8nticos, t)odi&erentes, re"elam certos tra(os comuns. Primeiro, a maior liberdade de modula()o, ocromatismo cada "e% mais rogressi"o que le"a os comositores at* as &ronteiras dosistema tonal de Jach e 9ameau. O cromatismo rom8ntico ser"e 7 maior e'ressi"idadedessa música subeti"ista e indi"idualista. 3as * ouco comat!"el com o rigor &ormaldos esquemas arquitet4nicos de RaSdn, 3o%art e Jeetho"en. A "erdade * queJeetho"en esgotou certas &ormas e gIneros deois dele á n)o teria sido oss!"elescre"er uma autIntica e original sonata ara iano# e cada "e% mais di&!cil escre"eruma sin&onia. Os rom8nticos, enquanto n)o se dedicam 7 óera, elaboram esquemasrogramáticos como Jerlio%, subordinando as &ormas musicais e enredos literários asin&onia de rograma# a abertura que resume e(as teatrais# a su!te, tirada de música

teatral, ou ent)o re&erem &ormas equenas, como Choin e :chumann, oesia l!ricasem ala"ras# ou, como no lied , com ala"ras. A música rom8ntica "i"e de est!mulosliterários. As grandes di&eren(as entre o romantismo alem)o, o romantismo inglIs e oromantismo &rancIs tamb*m se &a%em sentir na música# outras na($es, que at* ent)oouco contribu!ram ara a música, desen"ol"er)o romantismos nacionais os oloneses,os húngaros, os russos, os escandina"os. /)o se ode &alar em romantismo. :ó emromantismos, no lural.

 As di&eren(as entre os trIs rinciais romantismos literários s)o conseq5Incia dodi&erente desen"ol"imento social da Alemanha, ran(a e nglaterra or "olta de 1E@@. Aclasse literáriaQ reage de maneiras di&erentes em &ace do ad"ento do no"o úblico =c&. 0.\ilsel Die Entstehung des Geniebegriffs Tuebingen, 1?MB, e o ensaio do mesmo autorDie gesellschaftlichen >ur4eln der romantischen +deologie in Der $am!f , 1?MED. Partedos artistas hostili%a o no"o úblico de burguesesQ e &ilisteusQ# s)o os rom8nticos

&antásticos que tamb*m salientam os asectos burlescos da realidade. Outros á chegama baular esse úblico, o no"o mecenas an4nimo s)o os come(os do grande"irtuosismo, dos "iolinistas, ianistas, cantores, bailarinas. 3as tamb*m e'iste umromantismo que se reconcilia amistosamente com o ambiente burguIs numa boImiaino&ensi"a que n)o chega a in&ringir os regulamentos de ol!cia =c!rculo de :chubertD, ounum comortamento bem2educado e rigorosamente aol!tico =ambiente de3endelssohnD. 0ssas duas últimas &ormas, que tamb*m &icam mais &i*is ao classicismo

Page 82: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 82/200

"ienenseQ, s)o rórias da "ida id!lica na Alemanha da 9estaura()o, entre 1E1 e 1EG?um id!lio, garantido ela ol!cia e ela censura, o &iedermeier , a *oca da bonhommie equeno2burguesa.

O 9O3A/T:3O   A/T_:TCO

 A rea()o hostil ao no"o úblico * atitude de homens que á eram maduros quando are"olu()o acabou com a sociedade aristocrática. Por isso n)o * estranho o &ato de tersido mo%artiano entusiasmado o mais t!ico reresentante do romantismo &antástico2demon!aco2burlesco 0rnst Theodor Amadeus RO3A// =1FFB1EMMD1, o grandecontista, o maior narrador do romantismo, mas tamb*m notá"el como músico e cr!tico demúsica. A rodu()o musical desse rotagonista do mo"imento rom8ntico V muitamúsica sacra e obras instrumentais V * toda mo%artiana. Tamb*m a sua óera 8ndine=1E1BD, que Rans P&it%ner tentou ressuscitar em nosso temo, só * rom8ntico o enredo#nada, nessa obra, antecia a arte de Keber, ela qual Ro&&man n)o sentiu entusiasmo#re&eriu :ontini. 3as suas cr!ticas de obras de Jeetho"en =, Sinfonia, Coriolano,

Egmont , "rio 2antasmaD, escritas entre 1E1@ e 1E1G, s)o os rimeiros comentárioscongeniais# o único de&eito desses te'tos notá"eis * a tentati"a de romanti%arQ demais oclássico de -iena e de considerá2lo como mensageiro de ro"!ncias misteriosas does!rito. Ha mesma maneira Ro&&mann romanti%ou <luc no conto magistral O Ca"aleiro<lucQ =1E@?D# e o outro conto &amoso, Hon ;uanQ =1E1MD, * a interreta()o rom8ntico2trágica do Don Giovanni de 3o%art.

 As obras literárias de Ro&&mann est)o cheias de insira()o musical. orneceram, at*os nossos dias, os enredos de "árias óeras "annhaeuser  =KagnerD, &raut=ahl  =JusoniD, Cardillac  =RindemithD# e o rório Ro&&mann * ersonagem dos Contesd0)offmann, de O&&enbach.

Um ersonagem de Ro&&mann, o &antástico músico Wreisler, meio genial e meio louco,in&luenciou ro&undamente o comortamento humano e art!stico de Jerlio%, :chumann,Kagner, do o"em Jrahms, de Rugo Kol& e 3ahler. O ersonagem WreislerQ &orneceu

as biógra&os de Jeetho"en e ara a lenda em torno do mestre surdo alguns tra(oscaracter!sticos. 0n&im, os contemor8neos acredita"am reconhecer o rório Wreisler emPaganini.

0is o rimeiro "irtuose do romantismo. O mecenas aristocrático á n)o e'iste.:ubstitui2o a massa an4nima, o úblico, erante o qual o artista se aresenta comomensageiro de um mundo di&erente.

`...

9O3A/T:3O :03CL_::CO H0  :CRUJ09T  A  30/H0L::OR/

 As limita($es sociais e esirituais da *oca &iedermeier  reudicaram os artistasmenores s)o e!gonos, cuo romantismo n)o assa de uma concess)o ao gosto literáriodo temo. Aos &ortes, aquelas limita($es ser"em de discilina. :eu gosto autenticamenterom8ntico ode usar, sem constrangimento, as &ormas da música clássica "ienense. N ocaso de :chubert. N, tamb*m, o caso de 3endelssohn.

1 <. 0llinger, E. ". '. )offmann Sein /eben und seine >erke, Ramburgo, 1E?. K. Rarich, E. ". '. )offman. Das /eben eines $uenstlers, Jerlim, 1?M1. R. 0hinger, E. ". '. )offmann als Musikersund Musikschriftsteller , Olsten, 1?>.

Page 83: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 83/200

 A "ida de ran% :CRUJ09T =1F?F1EMEDM assou, sem acontecimentosesetaculares, na atmos&era agradá"el da burguesia e equena burguesia "ienense da*oca do &iedermeier e no ambiente da boImia ino&ensi"a dessa sociedade.

n&eli%mente, numerosas lendas, totalmente in&undadas, tIm des&igurado essa biogra&ia. A lenda de que :chubert teria sido es*cie de don ;uan melancólico, herói de oeretasentimental, chegou mesmo a rodu%ir uma oereta * o Dreimaederlhaus = ' Casa das"r[s MeninasD, escrita em 1?1> or um certo Jert* que, em torno de um libreto estúido,aro"eitou generosamente melodias schubertianas. O sucesso mundial desse astichoarece ter rodu%ido con&us$es ine'licá"eis á insirou a a&irma()o de que aquelaoereta =da qual :chubert * o in&eli% ersonagem rincialD seria obra do rório:chubert, ara tirar2se conclus$es ouco lisoneiras ao grande comositor. /aturalmenteo mestre n)o tem nada que "er com aquela &alsi&ica()o, eretrada quase um s*culodeois da sua morte. /a "erdade, n)o &oi um don ;uan melancólico, mas um boImiosemre =e sem sorteD enamorado, um ouco dedicado 7s bebidas e so&rendo de gra"esacessos de deress)o. 3as estas últimas tamb*m &oram des&iguradas ela lenda comose :chubert ti"esse sido um estigmati%ado ela morte, adi"inhando o &im rematura, emobras como a c*lebre Sinfonia +nacabada. 3as a +nacabada * de 1EMM, isto *, seis anosantes do &im# n)o &oi interromida ela morte# a obra &oi simlesmente abandonada elocomositor que, assediado or ermanente insira()o abundante, tratou seus róriosoriginais com descuido imerdoá"el, 7s "e%es esquecendo2os em casa alheia ou emta"ernas, 7s "e%es erdendo2os or deslei'o# algumas das suas obras mais imortantes,a grande Sinfonia em d7 maior  e a Sinfonia +nacabada, só &oram reencontradas muitosanos deois da sua morte, gra(as aos es&or(os de :chumann e outros admiradores. Oscontemor8neos "ienenses de :chubert só conheciam e admira"am equena arte dasua obra imensa, que * relati"amente mais "olumosa que a de 3o%art. /o resto,comositor t)o o"em n)o odia contar =nem oderia contar hoeD com reconhecimentointernacional. :chubert &oi homem obre# e, no entanto, alegre, a n)o ser duranteaquelas &ases de deress)o melancólica. /)o &oi homem &eli%# mas n)o morreu decora()o rasgado e, sim, de ti&o# ustamente no momento em que sua &ama á come(a"aa atra"essar as &ronteiras de sua cidade e de sua átria.

:chubert n)o &oi, con&orme aquela desreocua()o elo destino dos seus originaisoderia &a%er crer, um imro"isador &ácil, esse tio de "ienense amá"el e ligeiro quetamb*m * roduto da imagina()o dos &abricantes de oeretas. oi artista muito s*rio./)o há que negar, em :chubert, o &orte lastro de música &olclórica da sua terra n)ogeralmente austr!aca, aliás, como em RaSdn, mas eseci&icamente "ienense. Nreconhec!"el em certos trechos de quase todas as suas obras. Ho :chubert "ienense, nosentido &olclórico do adeti"o, * o Quinteto, ara o conunto incomum de violino, viola,violoncelo, contrabai#o e !iano, em l; maior =1E1?D, denominado "ruta orque um dosmo"imentos s)o "aria($es sobre o lied desse t!tulo, do rório :chubert# obraencantadora, de inesgotá"el rique%a melódica e sem muita ro&undidade emocional, umdi"ertimentoQ no melhor sentido da ala"ra. He insira()o semelhante * o belo Octeto

 !ara instrumentos de so!ro em f; maior  =1EMD. 0 * tiicamente "ienenseQ o "rio !ara !iano e cordas em si bemol maior  =1EMFD, tamb*m uma das obras mais oulares de

M O. Jie, 2ran4 Schubert. Sein /eben und sein >erk , Jerlim, 1?M>. 3. riedlander, 2ran4 Schubert ,Lei%ig, 1?ME. 0. <. Porter, "he Songs of Schubert , Londres, 1?GF. /. lo^er, 2ran4 Schubert theMan and his Circle, Ma. ed., /o"a orque, 1?G?. K. e 9. 9ehberg, 2ran4 Schubert sein /eben und>erk , \urique, 1?B. A. CoeuroS, /es /ieder de Schubert , Paris, 1?E. A. 0instein, Schubert ,Londres, 1?>1. J. Paumgartner, 2ran4 Schubert , \urique, 1?B@. L. Wusche, 2ran4 SchubertDichtung und >ahrheit , 3unique, 1?BM.

Page 84: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 84/200

:chubert. 3as á * s*rio o "rio !ara !iano e cordas em mi bemol maior  =1EMFD, cuostemas, embora tamb*m de insira()o &olclórica, s)o elaborados com arte maior. N ooutro :chubertQ, que *, na música de c8mara, sucessor leg!timo de RaSdn. 0 *

sensi"elmente in&luenciado or Jeetho"en s)o contemor8neos, residindo na mesmacidade, embora os suostos contatos essoais entre eles are(am ertencer ao reino dalenda.

 Aquele rimeiro :chubertQ * o de inúmeras marchas, dan(as etc., de melodismoinesgotá"el e semre encantador todo mundo conhece as trIs Marches Militaires e osDeutsche "`n4e =DanJas 'lems, 1EMD. O outro :chubertQ * o de ambiciosa músicasin&4nica e camer!stica, de um autIntico contemor8neo e sucessor de Jeetho"en.0ssas grandes obras s)o, com e'ce($es, menos conhecidas do úblico. Hurante ums*culo inteiro, quase, a cr!tica censurou nelas gra"es de&eitos de constru()o, deestrutura. Roe á se ensa de maneira totalmente di&erente. As suostas imer&ei($esQs)o tentati"as de desen"ol"er as &ormas haSdnianas e beetho"enianas. :chubert n)o"i"eu bastante ara oder atingir seus obeti"os# o que ideara, nesse terreno, seráreali%ado or Jrahms, mas com outro es!rito, mais nórdicoQ. Pois :chubert * um

grande ino"ador esecialmente em suas obras de música de c8mara s)o &req5entes asaudaciosas solu($es de roblemas harm4nicos, modula($es in*ditas que anteciamChoin, :chumann e at* Kagner.

 A esse reseito * de rique%a esecial a música ian!stica de :chubert. Ao lado demuitas e(as aenas bonitas e dos encantadores Moments musicau#  =1EMED, est)o osimonentes +m!rom!tus o!. RLK  =1EMFD# quem ignorasse a autoria, tomá2los2ia or obrasde Choin. 0 a 2antasia em d7 maior o!. RT  =1EMMD, chamada 2antasia >anderer ,orque aro"eitando temas e ritmos do lied schubertiano desse t!tulo, á &oi celebradacomo antecia()o, no iano, da sin&onia de rograma de Jerlio% e Lis%t# * "erdadeirooema sin&4nico V con"*m reetir V ara o iano solo# ois a adata()o dessa obrara iano e orquestra, &eita or Lis%t, des&igura2a. N re&er!"el tocar e ou"ir a "ers)ooriginal.

Has sonatas ara iano nenhuma se mant*m ermanentemente no reertório dos

ianistas# o que "ale, aliás, ara a maior arte das sonatas escritas deois de Jeetho"enque esgotara as ossibilidades do gInero. /o entanto, a Sonata em l; menor o!. LK  =1EM>D e a Sonata em sol maior O!.XT  =1EMBD s)o re"i"i&icadas, de "e% em quando, orianistas ambiciosos# e a Sonata inacabada em d7 maior  =1EM>D * entre as sonatas de:chubert o que * a +nacabada entre as suas sin&onias.

0ssa Sinfonia inacabada em si menor =1EMMD tem aenas dois mo"imentos# quasetodo mundo conhece. N uma das obras mas e'ecutadas e mais oulares da literaturamusical inteira sorte que a tem reudicado muito. Pois "irou insuortá"el a muitosou"idos. Rá quem a ou(a como se &osse música de realeo. N reciso &a%er um es&or(oara ou"i2la como se &osse ela rimeira "e%, ara inteirar2se do "alor suerior dessamúsica nada sentimental, mas de tragicidade beetho"eniana e, no entanto, de eu&oniamo%artiana.

/)o sabemos orque :chubert dei'ou incomleta essa obra. Parece que só com certa

di&iculdade conseguira aoderar2se do dom!nio da orquestra. 0ntre 1E1G e 1E1E tinhaescrito nada menos que seis sin&onias, das quais a n. L em d7 menor  =1E1BD,denominada "r;gica, e a n. em d7 maior =1E1ED ainda s)o ocasionalmentee'ecutadas# mas todas as seis s)o obras u"enis, cua ressurrei()o n)o resta ser"i(o 7memória de um comositor do qual tantas obras de "alor suerior s)o raramenteou"idas. 3ais uma tentati"a, al*m daquela Sinfonia +nacabada, ara chegar 7s alturas

Page 85: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 85/200

do gInero, &oi uma obra in&eli%mente erdida =ou destru!daD que arece sobre"i"er em"ers)o ian!stica o Grand Duo !ara !iano a quatro mos em d7 maior  =1EMD, queJrahms e ;oachim admira"am tanto. O obeti"o &oi, en&im, atingido na Grande Sinfonia

n. X em d7 maior =1EMED, que de"e o aelido Grande ao seu tamanho incomum,lenamente usti&icado ela subst8ncia musical, e'ress)o de um sonho in&inito debele%a &ascinante# * o onto mais alto do romantismo alem)o na música sin&4nica, amaior sin&onia que &oi escrita entre Jeetho"en e Jrucner.

`...

Ocua lugar 7 arte o Quarteto !ara cordas em r1 menor =1EMD, denominado ' Mortee a Don4ela orque seu segundo mo"imento s)o "aria($es sobre o lied homnimo de:chubert. Acima de qualquer elogio est)o o rimeiro mo"imento, meio trágico, meionostálgico, assim como o en*rgico scher4o e o ubiloso &inal# mas s)o sobretudo aquelas"aria($es, e'ress)o serena da angústia da morte, que á insiraram a um cr!tico a &rase

 usta 0sse quarteto * o ous meta!h%sicum de :chubertQ. 0stá dignamente ao lado dosúltimos quartetos de Jeetho"en, cua s*rie o mestre iniciou naquele mesmo ano de1EM.

 As tentati"as u"enis de :chubert de escre"er óeras e com*dias musicais n)o derambons resultados, a n)o ser a bonita música de cena ara a e(a (osamunde =1EMGD.3as os contatos com o mundo oer!stico ti"eram outros e&eitos, mais imortantes. Porinterm*dio do seu ro&essor e amigo aternal :alieri recebeu :chubert a in&luIncia de<luc, que * sens!"el no classicismo da linha melódica do lied /ied eines Schiffers andie Dioskuren =CanJo de um Marinheiro aos Di7scuros, 1E1BD, que arece hino detemlo grego, interretado or quem cresceu na atmos&era da música sacra de RaSdn./o estilo de RaSdn e sob a in&luIncia de 3o%art escre"eu :chubert "árias equenasmissas, da quais uma, a Missa em sol maior =1E1>D, merece sobre"i"er# nas igreas"ienenses ainda se e'ecuta, tamb*m, a Missa em f; maior  =1E1D. 3as o o"em mestren)o &icou nessa música sacra de rotina. e% tentati"as de reno"a()o em "árias dire($es.0scre"eu a Deutsche Messe =Missa 'lem, 1EMBD, que n)o * uma missa roriamentedita, mas uma cole()o de equenos coros, muito &áceis, ara serem cantados durante a

missa or uma comunidade de camoneses ou equeno2burgueses que n)o conseguemacomanhar o te'to litúrgico. A religiosidade sincera e humilde dessa música simles emelodiosa tornou a Missa 'lem e'tremamente oular na _ustria e na Alemanha do:ul, onde resiste aos ataques do mo"imento litúrgico dentro da grea. A reno"a()o doestilo sacro de :chubert "eio, or*m, da in&luIncia de Randel. mitou2o em hinos comoMiriams Siegessang =CanJo de ,it7ria de MiriamD. us)o do estilo de RaSdn e do estilode Randel * a ambi()o da grande Missa em l; bemol maior  =1EMMD# n)o reali%ouinteiramente esse obeti"o, mas saiu algo de no"o, uma música ang*lica, mais congenialdos quadros de altar de -an 0Sc e 3emling do que &ora a música oli&4nica de umObrecht ou Hes Prs. Alguns consideram suerior a Missa em mi bemol maior =1EMED,que * menos melodiosa, menos alegreQ, antes se"era como uma grande missa barroca.

 Aesar de tudo, o estilo dessas duas missas, quando areciado or um liturgista, ainda *o mesmo das missas de RaSdn. 0 os adetos da ortodo'ia musical n)o dei'aram de

censurá2las. N reciso admitir que :chubert, &ilho do s*culo +- e contemor8neo doidealismo alem)o, n)o odia &icar imbu!do de es!rito litúrgico. Tamb*m se admite que o o"em mestre n)o era uma nature%a ro&undamente religiosa# seu catolicismo erasincero, mas de rotina, como acontece na equena burguesia "ienense. 3as do onto2de2"ista uramente musical s)o aquelas duas missas das maiores obras de :chubert.

N quase inacreditá"el a rique%a da rodu()o, dessa "ida de aenas G1 anos. 0 ainda&alta o maior ca!tulo o gInero que :chubert criou e logo le"ou at* as alturas da

Page 86: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 86/200

er&ei()o. O lied .

0m torno desse gInero ainda e'istem equ!"ocos, &omentados ela incomreens)o dealguns musicólogos &ranceses do s*culo assado. Ainda há quem acredite que o lied *

um gInero de música &olclórica can()o oular estili%ada. N um erro comleto. A rai%desse erro reside no desconhecimento da oesia l!rica alem). 0sta se reno"ou, nasegunda metade do s*culo +-, quando oetas como <oethe e 3athias Claudiusadotaram as &ormas e os metros da oesia oular# que tamb*m ser)o culti"ados elosrom8nticos, Jrentano, 0ichendor&&, Reine. 3as s)o só as &ormas m*tricas e estró&icas.Chamar essa alta oesia l!rica de oularQ seria erro t)o monstruoso como se algu*mquisesse descobrir ra!%es &olclóricas na oesia de Jaudelaire. 0n&im, o lied  n)o tem nadaque "er com chanson. N, simlesmente, o gInero de oesia l!rica na música. 0 :chubert* o maior oeta l!rico da música.

`...

:chubert escre"eu B@@ lieds desde os dias quase ainda de meninice at* a morte, ainsira()o nunca &alhou. Hescontando as rimeiras tentati"as, ainda in&antis, n)o se notauma e"olu()o em sentido de rogresso. 0m 1E1>, com 1E anos de idade, escre"eu o

Erlkoenig , a obra2rima do gInero baladaQ# o adolescente á * mestre consumado. Hoano seguinte, 1E1B, * o >anderer  =O CaminhanteD e de 1E1F Der "od und das Madchen= ' Morte e a Don4elaD, oesias musicais do mais alto "alor, em estilo tiicamente r*2rom8ntico. /o mesmo estilo escre"eu :chubert a música ara numerosos oemas de<oethe# mas quando encontra, entre este últimos, uma e(a de mocidade do oeta,ainda no estilo galante do 9ococó, como Der Musensohn =O Estudante, 1EMMD, ocomositor escre"e música em 9ococó ligeiramente estili%ado. A cultura literária de:chubert n)o era grande# seu gosto, na sele()o dos te'tos, n)o era in&al!"el. 3as *e'traordinária sua caacidade de adatar2se aos mais di&erentes estilos o*ticos.

0ntre aqueles B@@ lieds há muita coisa ligeira, música de sociedadeQ, alegre, massemre bonita e 7s "e%es de bele%a sedutora. Pertencem a essa classe alguns dos liedsmais oulares de :chubert Die 2orelle = ' "ruta, 1E1FD, 'uf dem >asser 4u singen =5ara cantar sobre as guas, 1EMMD, Staendchen =Serenata, letra de :haeseare em

tradu()o alem), 1EMBD e aquele Musensohn =O Estudante, 1EMMD de <oethe. númerass)o as obras rimas muitos oemas de <oethe, sobretudo o oular!ssimo)eidensroeslein =1E1>D, Suleika + e ++ =1EM1D, Geheimes =Segredo, 1EM1D e outros#aqueles dois grandes lieds u"enis, Der >anderer =O Caminhante, 1E1BD e Der "od unddas Madchen = ' Morte e a Don4ela, 1E1FD, de estuenda maturidade emocional# oslieds de grande estilo, como 'llmacht  =O "odo-5oderoso, 1EM>D, +!higenia  =1E1FD,Gru!!e aus dem "artarus =Gru!o no ";rtaro, 1E1FD, Memnon =1E1FD# lieds desentimento religioso, como 've Maria =letra de Kalter :cott, tradu%ida, 1EM>D e Du bistdie (uh ="u 1s (e!ouso, 1EMGD# odes rom8nticas como +m 2ruehling  =:a 5rimavera,1EMBD e o como"ente +m 'bendrot  =:o Cre!sculoD# mara"ilhosas estili%a($es do &olcloreaustr!aco, como Der >anderer an den Mond  =O Caminhante /ua, 1EMBD, Der Strom =O(io, 1EMFD, Erlafsee =1EMFD. O onto mais alto tal"e% sea um lied dos rimeiros anos 'ndie Musik  =  Msica, 1E1FD, minúsculo hino de insira()o religiosa, em lou"or 7 nossa

arte que, con&orme re%a a letra, em tantas horas cin%entas nos le"ou ara um mundomelhorQ.

0m 1EMG :chubert á tinha escrito um ciclo de lieds, Die schoene Muellerin = ' &elaMoleiraD# * o mais belo id!lio l!rico da oesia musical, embora n)o &altem as sombras damelancolia. 0sta torna2se trágica no ciclo >interreise =,iagem de +nverno, 1EMFD, que *obra2rima do oeta :chubert. Costuma2se cantar e celebrar esecialmente alguns dos

Page 87: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 87/200

lieds desse ciclo Der /indenbau = ' "BliaD, que "irou can()o oular# Die $raehe = 'GralhaD# e sobretudo Der >eg=eiser  =O 5osteD e Der /eiermann =O )omem do (eale6oD,que s)o insira($es beetho"eniananamenteQ trágicas. 3as * semre reciso ou"ir e

estudar o ciclo inteiro M e(as de insira()o homogInea, sombria, desolada, at*&únebre.

/)o * roriamente um ciclo o "olume Sch=anengesang  =Canto de CisneD# s)o,simlesmente, os últimos lieds que :chubert escre"eu, reunidos, em 1EME, sob aquelet!tulo, elo editor. /)o *, ortanto, um conunto homogIneo. Rá, nesse gruo, um liedcomo 'bschied  =Des!edidaD, can()o alegre 7 qual o acomanhamento ian!sticoacrescente uma arrire-!ens1e &únebre. Rá uma grande can()o dramática como

 'ufenhalt  =(e!ousoD. Rá, sobretudo, os lieds com te'tos de Reine. :ó nos últimos diasde sua "ida chegou :chubert a conhecer "ersos desse oeta, ent)o no"o que lheinsirou música comletamente di&erente, do mais alto "alor Die Stadt  = ' CidadeD, 'mMeer  =:o Mar D, Der Do!!elgaenger  =O S7siaD, oesias musicais de ro&undidadesombria e como interiormente iluminadas ela lu% de um outro mundo.

:)o, sobretudo, essas últimas obras que insiram as esecula($es sobre o que

:chubert teria chegado a escre"er se a morte n)o o le"asse com G1 anos de idade seti"esse atingido a idade de um -erdi, sobre"i"endo a Kagner. :)o esecula($es inúteis.:chubert morreu cedo, mas er&eito.

`...

Comositores como Loe^e e ran% s)o t!icos do &iedemeier , da *oca da9estaura()o, meio id!lica, meio cin%enta, na Alemanha. O adr)o cultural, nessa *ocaós2goethiana, continua, or*m, alto. Louis :POR9 =1FE1E>?D, o grande "iolinista, * ocontrário do "irtuose &antástico Paganini só tocou música clássica, &oi mestre do nobrelegato. :eus oratórios e sin&onias est)o t)o esquecidos como seus numerosos quartetosdo quarteto te"e, aliás, o curioso conceito de ser uma e(a ara um "irtuose no "iolino,acomanhado or trIs músicos menores. :obre"i"e seu Concerto !ara violino eorquestra em l; menor  =denominado Cena de CantoD. /a mocidade &oi rotagonista doromantismo, ent)o no"o seu 2aust  =1E1BD e 3essonda =1EMGD s)o das rimeiras óeras

rom8nticas, ao lado das de Keber. 3ais tarde, "irou reacionário etri&icado, chegando adetestar a última &ase de Jeetho"en, mas adi"inhou a grande%a de Kagner.

O reresentante do &iedermeier  russiano, rigorosamente aol!tico, de alto n!"elcultural e moral, ignorando ou querendo ignorar os con&litos mais ro&undos orque o0stado esta"a aqui ara oliciá2los, * eli' 30/H0L::OR/2JartholdS =1E@?1EFD1. /eto do &ilóso&o udeu 3oses 3endelssohn, &oi bati%ado, quando crian(a, na grealuterana, 7 qual semre &icou ortodo'amente &iel# &ilho de rico banqueiro, recebeubrilhante educa()o# nunca chegou a conhecer as reocua($es materiais da "ida# derecocidade e'traordinária, obte"e cedo o mais comleto sucesso como ianista,regente e comositor, sendo idolatrado em "ida# &undou os &amosos concertos sin&4nicosdo <e^andhaus, em Lei%ig, e o n)o menos &amoso conser"atório dessa cidade# te"esorte em tudo, at* morrer cedo, antes de sua glória come(ar a emalidecer.

Heois de ter sido o comositor mais &esteado da *oca, sobretudo na nglaterraonde go%a at* hoe da admira()o incondicional dos c!rculos conser"adores, caiu3endelssohn em desre%o# em arte, or moti"os e'tra2art!sticos, elo &urioso anti2

1 C. Jellaigue, Mendelssohn, Paris, 1?@F. K. Hahms, Mendelssohn, Jerlim, 1?1?. :. <re^,Mendelssohn, Jerlim, 1?1?. :. <re^, Mendelssohn, Londres, 1?M. P. de :toeclin, Mendelssohn,Paris, 1?MF. P. :utermeister, Mendelssohn, ran&urt, 1??. Ph. 9adcli&&e, Mendelssohn, Londres,1?>.

Page 88: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 88/200

semitismo dos ^agnerianos. Hurante a *oca na%ista, suas obras esta"am banidas doreertório alem)o. Roe se esbo(a &orte rea()o &a"orá"el. /ingu*m á combaterá3endelssohn orque udeu. 3as as grandes qualidades &ormais da sua música tal"e%

n)o cheguem a comensar o sentimentalismo e a &alta de ai')o desse homem &ino eculto, seu equil!brio ermanente e algo &ácil orque conquistado sem luta. Contudo,semre * nobre# e hesita2se em chamá2lo e!gono V como * hábito classi&icá2lo Vorque sua linguagem musical * incon&undi"elmente essoal. :eria inusto con&undir3endelssohn como os mendelssohnianos alem)es e ingleses da segunda metade dos*culo ++, estes sim e!gonos. O mestre antes merece ser de&inido como um ecl*ticoque tem de di%er algo de rório.

oi grande artista. Precisa2se, or*m, do discernimento mais cuidadoso ra &a%er2lhe usti(a. /)o ode ser ulgado em bloco. <rande arte de sua música ian!stica estámorta. As "árias cole($es de /ieder ohne >orte =CanJYes sem 5alavrasD, sentimentais eesirituosas como as equenas oesias de Reine, antigamente nas m)os de todos osdiletantes, só restam mesmo ara os diletantes. 3as tIm "alor di&erente as obras maisdi&!ceis as ,ariations s1rieuses em r1 menor , O!.TL, e o Concerto !ara !iano e

orquestra n

o

.R em sol menor =1EMBD, que continua muito e'ecutado. Hos seus lieds sósobre"i"e uma única melodia, muito &ina 'uf 2luegln des Gesanges =:as 'sas doCantoD. 3endelssohn criou oucas obras2rimas# mas estas tIm "alor ermanente.

 Antes de tudo a abertura ara o Sonho de uma :oite de ,ero, de :haeseare,escrita em 1EMB =a música incidental e a marcha nucial &oram acrescentadas em 1EMD.

 A abertura * obra do mais !ntimo lirismo e de encantador colorido rom8ntico deorquestra()o. N o milagre entre os milagres da recocidade# ois nem sequer o rório3o%art chegou a escre"er com 1F anos de idade uma obra2rima dessas. Ho Concerto

 !ara violino e orquestra em mi menor o!. L =1E>D nem sequer os ad"ersários de3endelssohn ousam &alar mal * a mais melodiosa, a mais nobre e a mais brilhante entreas obras desse gInero, entre o concerto de Jeetho"en e o de Jrahms# * uma dascria($es mais uras da música alem). 0is as duas obras2rimas indiscutidas do mestre,de oularidade bem merecida.

;á * di&erente o caso do "rio !ara !iano e cordas em r1 menor  =1EG?D, em que algunsdescobrem "ários de&eitos, enquanto outros lhe concedem o lugar altamente honrosoentre os trios de :chubert e o quintento de :chumann. A energia sombria do rimeiromo"imento e a "er"e do scher%o mandam aoiar a tese &a"orá"el, que tamb*m &oi aoini)o de um :choenberg.

`...

Obras de er&ei()o &ormal s)o as sin&onias a Sinfonia +taliana em l; maior  =1EGGD e aSinfonia Escocesa em l; menor  =1EMD, esta última antecedida ela semelhante abertura

 's )1brides =tamb*m denominada ' Caverna de 2ingal D =1EGGD. 0ssas obrassin&4nicas, que mant*m tena%mente seu lugar no reertório, s)o &rutos de imress$es de"iagens# á se &alou em sin&onias de turistaQ. 3as s)o admirá"eis elo equil!brio entre a&orma rigorosamente clássica e o colorido rom8ntico. 0sse colorido só *, or*m, &ei()oe'terior. /o &undo, 3endelssohn n)o &oi rom8ntico# teria sido arnasiano, muito antes

dos literatos criarem esse termo.Ortodo'ia clássica e agradá"el colorido rom8ntico * uma &órmula ara e!gonos. O

conser"atório de Lei%ig, que 3endelssohn &undara, &oi at* o &im do s*culo ++ umacidadela dos e!gonos anti^agnerianos# seus alunos, "ido de todos os lados, semearamno mundo inteiro o academicismo.

Page 89: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 89/200

 A /O-A  P09A   TALA/A 9O::/  0  J0LL/

Os deuses musicais que a 9estaura()o e o &iedermeier adora"am, eram 3o%art,ressuscitado da "ala comum e colocado entre os anos do c*u# Jeetho"en, idolatrado,

embora só meio comreendido# e 3endelssohn. 0m bre"e, tamb*m ha"erá altares ara:chubert e Keber. 3as esse culto era o das elites e de um gruo musicalmente bem2educado da no"a burguesia. A música dominanteQ da *oca * outra.

6uando Jeetho"en deu, em F de maio de 1EM, seu último concerto em -iena, sendoos números rinciais do rograma a +* Sinfonia e trechos da Missa Solemnis, oemresário obrigou2o a incluir no inter"alo mais um número, e'ecutado or uma cantoraa ária Di tanti !al!iti , de 9ossini.

0sta * a música dominante da *oca uma no"a óera italiana. ;á n)o * a óerabarroca de Alessandro :carlatti e Rasse# nem a óera classicista, estilo em!ire, deCherubini e :ontini. s artes do bel canto acrescenta2se um &orte elemento histri4nicoos cantores tamb*m tIm de emocionar ou di"ertir o úblico com artes de ator. ;á n)o se$em em música semre os mesmos libretos de 3etastasio, ou, ara as óeras2c4micas, de Loren%i ou Casti. O enredo torna2se mais imortante do que &oi no s*culo+-. A grande ária ainda * o ingrediente essencial, mas como centro da cenadramática. 0ssa no"a imort8ncia do elemento teatral * a contribui()o italiana 7 óerarom8ntica.

<ioacchino Antonio 9O::/ =1F?M1EBED1 &oi comarado, or :tendhal, a /aole)oeste e aquele teriam subugado a 0uroa. Hurante uns 1> anos, entre 1E1B e 1EG@ V *e'atamente a *oca da 9estaura()o, entre Katerloo e a 9e"olu()o V uma &ebrerossinianaQ ercorreu o continente. 6uem acabou com essa eidemia &oi o rório9ossini.

:ua &orma()o musical &oi melhor do que esse homem de teatro achou or bemadmitir# na rimeira mocidade, o cisne de PesaroQ tinha estudado a música de RaSdn,chegando a escre"er uns ino&ensi"os quartetos. 0m 1E1G, no Teatro enice em -ene%a,obte"e o rimeiro sucesso com a óera "ancredi , na qual se canta aquela &amosa ária

Di tanti !al!iti . O &arbiere di Siviglia &oi, em 1E1B, no Teatro Argentina em 9oma, um&racasso# mas ouco temo deois, tornou2se o maior sucesso oer!stico de todos ostemos, conquistando Paris e -iena, Londres, Petesburgo e 3adri. ;á homem muito rico,9ossini mudou2se em 1EMG ara Paris, assinando com a Academia de 3úsica umcontrato, atrocinado elo rório rei da ran(a. /o"o sucesso triun&al, em 1EM?, comGuillaume "ell . Heois, retirou2se do teatro ara n)o "oltar nunca mais. Ainda "i"eu G?anos, dedicado aos ra%eres da mesa V in"entou o "ournedor (ossini  V e &alando maldos outros, da maneira mais esirituosa. Para e'licar sua retirada, 9ossini disse,aludindo aos sucessos esetaculares de 3eSerbeer e Ral*"S 3e reviendrai quand les3uifs auront fini leur Sabbath. 3as n)o era este o moti"o ro&undo. Com a queda dasociedade da 9estaura()o, em ulho de 1EG@, a miss)o de 9ossini esta"a cumrida.

:abe2se que :tendhal, no seu entusiasmo, con&undiu 9ossini e 3o%art, colocando2osna mesma altura# oini)o que o grande essimista :choenhauer tamb*m assinaria.

 Ainda há, ocasionalmente, quem caia na mesma con&us)o de "alores. 3o%art *aristocrático# em comara()o com ele, 9ossini * lebeu. Contudo, * um lebeu queser"e a uma aristocracia, embora &osse a aristocracia decadente da 9estaura()o# aquelaque :tendhal descre"eu na Chartreuse de 5arme. Tamb*m gosta"a de 9ossini a

1 R. :. 0d^ards, (ossini and his School , Londres, 1EE1. R. de Cur%on, (ossini , Paris, 1?M@. <.9adiciotti, (ossini , G "ols., Ti"oli, 1?MF1?ME.

Page 90: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 90/200

burguesia no"a, que se es&or(a"a em imitar os costumes aristocráticos# imita()o que *um dos elementos constituti"os da mentalidade rom8ntica. O classicismo á ertence aoassado. /)o há em 9ossini, que esqueceu seus come(os haSdnianos, nenhum tra(o

da música clássica "ienense. :ua música n)o * trabalhada# * insira()o simlesmentenotada. N brilhante, mas sem nenhuma seriedade moral, sem ambi()o art!stica. Ocomositor rocura o onto de menor resistIncia do úblico, e'lorando2o com&acilidade. N, sobretudo, um grande autor c4mico.

Uma óera2c4mica, o &arbiere di Siviglia =1E1BD, * seu maior t!tulo de glória * aaoteose ocosa da +talia !iccola, humilhada elos dominadores estrangeiros, que, n)oodendo de&ender2se, elo menos %omba dos outros. N música de uma "er"e in*dita,nos !i44icati e nos &amosos crescendi # simboli%ando musicalmente os gestos doscantores que, sendo italianos, s)o atores natos. N a mais oer!stica de todas as óeras#a obra2rima da música de &acilidade. He insira()o semelhante s)o a +taliana in 'lgeri  =1E1GD, Cenerentola =1E1FD e /a ga44a ladra =1E1FD. Todas elas &oram sucessosinternacionais t)o grandes como as óeras s*rias de 9ossini "ancredi  =1E1GD, Otello=1E1BD, Mos in Egitto =1E1ED, Semiramide =1EMGD, das quais hoe se conhecem só os

nomes e, quando muito, as aberturas, cheias de es!rit  e anima()o e'atamente nomesmo estilo das aberturas de óeras2c4micas. 9ossini arece semre autor c4mico,mesmo quando o enredo * trágico.

6uando Jeetho"en, em 1EM, recebeu em -iena a "isita de 9ossini, ediu2lhe queescre"esse mais &arbieres e mais outros &arbieres# ois ara a óera s*ria, seu talenton)o restaQ. A segunda metade do s*culo ++ assinou essa oini)o se"era. 3as hoe secome(a a ensar de maneira di&erente. 6uando "ancredi , esquecido durante um s*culo,&oi reresentado em loren(a, em 1?>M, a cr!tica italiana "eri&icou, com surresa, queainda há nessa obra algo da nobre%a clássica do s*culo +-# tese que &ica sueita adiscuss)o. Hurante mais de um s*culo n)o se comreendeu o que os contemor8neosadmira"am t)o &anaticamente na 5reghiera =Dal tuo stellato soglioD, que * a grande áriade Mos in Egitto# hoe, deois da rerise dessa óera em /áoles, em 1?>B, sentimosmelhor, embora sem entusiasmo e'agerado, o "alor dessa tentati"a de translantar ara

o alco certos elementos de oratório b!blico. Assim com em /a Donna del /ago =1E1?D9ossini &e% uma rimeira e t!mida tentati"a de translantar ara o alco da óera oromantismo de Kalter :cott. 9esta Guillaume "ell  =1EM?D a rimeira grande óera deenredo histórico ou seudo2histórico, anteciando diretamente, 7 dist8ncia de oucosanos, a grande óeraQ de 3eSerbeer e Ral*"S. 3ais uma "e%, a !ice de r1sistance * abrilhante abertura, o eda(o mais s*rio de música que 9ossini escre"eu. 3as asreresenta($es da óera inteira, embora hoe em dia á menos &req5entes, aindaermitem "eri&icar a resen(a dos mesmo "alores em "ários outros trechos. Rá emGuillaume "ell  um soro de ar no"o, com de !lein air das montanhas su!(as na *ocada 9estaura()o, algo que anuncia a regenera()o social e moral do (isorgimento, eloqual a humilhada +talia !iccola se tonará a +talia liberta. Contudo, 9ossini n)o &oi artistabastante s*rio ara continuar nesse caminho. Calou2se. :eu Stabat Mater , de 1EGM, queainda se canta, embora raramente, na nglaterra, * uma obra &r!"ola, de mero bel canto.

6uem lembra os raros momentos s*rios de 9ossini * -incen%o J0LL/ =1E@11EG>D1, que n)o ode ser considerado seu ri"al# sua arte antes * um ólo oosto ou umonto muito di"erso dentro da no"a óera italianaQ. 6uatro óeras de Jellini sobre"i"em,embora seam reresentadas com &req5Incia di&erente. ;á "oltam raramente ao alco +

1 A. Amore, ,incen4o &ellini , M "ols., Cat8nia, 1E?M1E?. . Pi%%etti, /a Musica di ,incen4o &ellini ,3il)o, 1?1B. A. raccaroli, &ellini , 3il)o, 1?M.

Page 91: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 91/200

Montecchi e i Ca!uleti  =1EG@D e + 5uritani  =1EG>D# algumas árias, elo menos, ertencemao reertório dos cantores de concerto. /a tália ainda gostam muito de Sonnambula =1EG1D. 3as a obra2rima de Jellini, com lugar garantido no reertório, * :orma =1EG1D#

sobre"i"e nela algo da se"era grande%a romana de :ontini# há nela algo do mesmoatriotismo liberalQ, como no Guillaume "ell , de 9ossini# e * a óera italiana maisricamente melódica antes de -erdi. A di&eren(a *, or*m, grande em "e% dos grandese&eitos dramáticos, redomina em :orma o lirismo mais uro e algo simles. Jellini,aesar de ter estudado música, arece ignorar os elementos da ro&iss)o musical. :euacomanhamento orquestral * de um simlismo desconcertante. /)o e'iste, ara ele, aharmonia. tudo se redu% 7 melodia cantada. N o comositor mais monódico de todos ostemos. 3as sua melodia, que arece surgir esontaneamente das ala"ras, * de raranobre%a. te"e in&luIncia decisi"a em Choin# e isto *, ao lado de :orma, o maior t!tulo deglória de Jellini, que morreu cedo, tal"e% antes de ter dado o que oderia dar.

9i"al e sucessor de 9ossini &oi <aetano HO/\0TT =1F?F1EED1, que deois deuma "ida cheia de sucessos retumbantes submergiu na noite da loucura. Costuma"aescre"er trIs ou quatro óeras or ano, com a maior &acilidade, mas naturalmente sem

oder e"itar as &rases tri"iais e a reeti()o de truques bem2sucedidos. N um sub29ossini,que conseguiu melhor adatar2se ao ambiente &rancIs. /a fille du r1giment  =1E@Dcontinua at* hoe a ser reresentada nos teatros da ro"!ncia &rancesa. 0stranhamente,esse homem da rotina acertou, uma ou outra "e%, o tom trágico. /ucia di /ammermoor=1EG>D n)o * só oortunidade ara uma cantora brilhar, como se costuma ensar# temrealmente grandes momentos dramáticos. Tamb*m a esquecida  'nna &olena =1EG1D &oiem 1?>B re"i"i&icada com sucesso nos 0stados Unidos e, deois, em 3il)o. Contudo,Honi%etti * melhor nas suas e'celentes óeras2c4micas, /0Elisire d0amore =1EGMD e Don5asquale =1EGD, antecia($es da grande oereta de O&&enbach.

 A O5(' C OM+Q8E 

Uma das alegres guerrasQ de teatro na Paris do s*culo +- &oi aquela entre os

buffonistes, admiradores da o!era buffa italiana, e os antibuffonistes, em torno da Serva !adrona de Pergolese. A tradu()o do libreto e a adata()o or Jauron decidiu, em1F>, a guerra a &a"or da Servante maPtresse. :)o estas as origens italianas da o!1racomique, gInero t)o tiicamente arisiense.

nter"eio, deois, o sentimentalismo r*2rom8ntico, de modo que á mal se nota aorigem ergolesiana do teatro de Andr* 0rnest 3odeste <9NT9] =1FM1E1GDM, belgade nascimento e arisiense or ado()o. oi o músico da moda nos temos da rainha3aria Antonieta e de /aole)o# a gente canta"a suas melodias nos sal$es e na rua.<rande melodista e grande oortunista, que soube adatar2se a tudo, inclusi"e 7stemestades re"olucionárias em sua (osire r1!ublicaine =1F?GD "em, deois de umaGavotte gracieuse, bem 9ococó, uma (omance r*2romanticamente sentimental# een&im uma Danse g1n1rale, terminada com a Carmagnole, o canto mais &ero% dos

 acobinos. Has obras de <r*trS, só (ichard Coeur de /ion =1FED sobre"i"eu durante

muitos decInios no alco. Roe se atribui grande imort8ncia histórica a esse músico detransi()o, obeto de muitos estudos musicológicos.

1 <. Honati Petteni, Gaetano Doni4etti , Milo, 1?G@. R. Keinstoc, Doni4etti and the >orld ofO!era, Londres, 1?B.M 0. Closson, 'ndr1 Ernest Modest Gr1tr% , Paris, 1?M@. ;. JruSt, Gr1tr% , Paris, 1?G. :. Clec',Gr1tr% , Jru'elas, 1?.

Page 92: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 92/200

 A 7!era comique * o gInero musical rório do rimeiro romantismo &rancIs# ouantes, daquilo que os habitu1s e os cr!ticos dos teatros arisienses de 1EM@ imagina"amser o romantismo. O n!"el da cultura musical, na ran(a da 9estaura()o e da 3onarquia

de ;ulho, era bai'o. At* :tendhal, aesar de sua &ina sensibilidade musical, en"ol"eu2seem con&us$es delorá"eis entre Cimarosa, 3o%art e 9ossini. /)o se admitia outramúsica sen)o a de teatro. Jal%ac acha"a 9ossini suerior a Jeetho"en e 3eSerbeersuerior a 3o%art. <autier só quis ou"ir marchas militares# o que n)o o imediu dee'ercer as &un($es de cr!tico musical. Ha cr!tica eseciali%ada da *oca, dos Castil2Jla%e e *tis, melhor * n)o &alar.

/esse ambiente antimusical arecia um deus, quase um 3o%art, o amá"el ran(ois Adrien JO0LH0U =1FF>1EGD, bonhomme e imro"isador de melodias bonitas. /adame blanche =1EM>D * quase uma obra2rima dentro dos limites estreitos do gInero dao!1ra comique, e sobre"i"e at* hoe. Tamb*m há coisas graciosas e engra(adas em /eCalife de &agdad =1E@@D e /e !etit cha!eron rouge =1E1BD. A &ama de Joildieu &oiinternacional em seu temo. 0.T.A. Ro&&mann e at* 3endelssohn e :choenhauer oadmira"am. 3as &alar em 3o%art &rancIsQ * e'agero burlesco.

`...

 A P09A  9O3[/TCA AL03 K0J09

 At* o &im do s*culo +-, a música &oi arte cosmoolita, ara a qual contribu!ramquase e'clusi"amente trIs na($es os italianos, os alem)es e os &ranceses. Oromantismo quebrou esse bom entendimento euroeu. niciaram2se as dissen($esnacionais. A cometi()o ac!&ica trans&orma2se em ri"alidade aai'onada, 7s "e%es"enenosa. Os alem)es, que á tinham conquistado a hegemonia no setor da músicainstrumental, n)o suortam mais o redom!nio dos italianos em seus teatros de óera.Os comositores alem)es reeitam, indignados, os libretos em l!ngua italiana, que 3o%artainda re&erira. Procuram criar uma arte eseci&icamente alem) no alco de óera.0ntusiasmaram2se elo &olclore, elas lendas e suersti($es oulares, ela dade

3*dia. 0is o mundo teatral de Keber.Carl 3aria "on K0J09 =1FEB1EMBD1 n)o arecia destinado ara esse ael. ilho de

um aristocrata deca!do a emresário teatral e ogador ro&issional, le"ou na mocidade a"ida dissoluta de um a"entureiro do s*culo +-. 3as recebeu sólida educa()o musical.

 As guerras contra /aole)o, em 1E1G, con"erteram2no ao nacionalismo alem)o. Comodiretor da óera em Hresden conseguiu e'ulsar os italianos. :ó durante ouco temogo%ou a glória internacional das suas óeras. 3orreu cedo, tuberculoso.

oi, or !ndole, aristocrata que V assim como tantos outros de sua classe &i%eram nos*culo +- V se cur"ou ara tomar contato com o o"o. O romantismo indicou2lhe ocaminho ara tanto. Primeiro, &oi r*2rom8ntico sentimental, em lieds anteriores 7cria()o do "erdadeiro gInero or :chubert, hoe esquecidos. :uerou o sentimentalismor*2rom8ntico, em lieds anteriores 7 cria()o do "erdadeiro gInero or :chubert, hoeesquecidos. :uerou o sentimentalismo r*2rom8ntico elo 1lan heróico do atriotismo

alem)o, antinaole4nico, ara o qual contribuiu com coros b*licos. Algo daquele 1lan tamb*m insira o $on4ertstueck  em &á menor =1EM1D, brilhante e(a ara iano eorquestra, que ainda ertence &irmemente ao reertório ian!stico. A 'ufforderung 4um

1 R. K. Kaltershause, Der 2reischuet4. Ein ,ersuch ueber die Musikalische (omantik , Lei%ig,1?M@. A. CoeuroS, >eber , Paris, 1?M>. ;. Wa, >eber , Jerlim, 1?G1. 0. Wroll, Carl Maria von>eber , Potsdam, 1?G. R. ;. 3oser, >eber , Wassel, 1?1 =Ma. ed., 1?>>D.

Page 93: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 93/200

"an4  =Convite DanJa, 1E1?D á * uma obra bem nacional ois a "alsa, que ent)o setornou moda, assa"a or dan(a tiicamente alem). A melodia * t)o habilmentein"entada que arece can()o oular# e "oltou a ser can()o oular.

Keber &oi comositor muito "ersátil. 0scre"eu uma Missa em mi bemol maior , de boasubst8ncia musical# e muita música instrumental de "alor ermanente uma das Sonatas !ara !iano em r1 menor , o belo Quinteto !ara clarinete e cordas em si bemol maior , obrilhante Concerto !ara clarinete e orquestra em si beml maior , O!.XR sobre"i"em.Como 3endelssohn, insu&lou es!rito rom8ntico 7s &ormas do classicismo "ienense. :óno teatro n)o te"e sorte durante muito temo a &orma da óera, comosta de recitati"os,árias e coros arecia resistir 7 tentati"a de usá2la ara roagar o romantismo. :óconseguiu isso no 2reischuet4  =1EM1D, que * uma óera de tio italiano, com árias,duetos, etc.# mas o enredo e as melodia s)o incon&undi"elmente alem)es * adescoberta da nature%a, da misteriosa &loresta noturna, da "ida alegre e erigosa doosca(adores, das suersti($es oulares, do sentimentalismo do lar alem)o. O sucesso &oi&ulminante. A abertura assou a ser tocada elos realeos. O coro &inal canta"a2se nasruas. A óera, que * at* hoe a mais reresentada na Alemanha, conquistou o mundo

inteiro, de Londres e Petesburgo, e at* os alcos de Paris e /o"a orque. 3as Keber,artista consciente, n)o aro"eitou o sucesso ara reeti2lo com enredo semelhante. 0mEur%anthe =1EMGD rocurou o rom8ntico mundo medie"al# e &e% uma tentati"a de abolir aseara()o r!gida dos númerosQ =árias, duetos, coros, etc.D, escre"endo cenasmusicalemente ininterrutas. A obra cua sobre"i"Incia &oi reudicada elo libretocon&uso, * uma antecia()o de /ohengrin e do drama musical ^agneriano. 3ais umasso ara o terreno no"o &oi Oberon =1EMBD, com seus sons in*ditos, ecos do Oriente&antástico e do a!s das &adas. oi sua última obra, antes de o consumir a doen(a &atal.

`...

 Arte t)o original e consumada at* a er&ei()o n)o odia ser imitada. 3as n)o con"*mcon&undir com os muitos ^eberianos med!ocres e &racassados o sólido Reinrich3A9:CR/09 =1F?>1EB1D. :ua óera &antástica Der ,am!ir  =1EMED tem considerá"el&alor musical# &oi desenterrada e arranadaQ ara o alco moderno, em nosso temo, or

P&it%ner, o último rom8ntico alem)oQ. He imort8ncia histórica * outra óera de3arschner )ans )eiling  =1EGGD# ois te"e in&luIncia notá"el no libreto e na música do2liegender )ollaender =:avio 2antasmaD de Kagner, que será o herdeiro da óerarom8ntica alem).

O:  P9309O:  / ACO/AL:TA: CROP/

Com a conquista do alco da óera, a música alem), que á disusera do quasemonoólio da música instrumental, tinha a hegemonia musical na 0uroa. Aesar daglória internacional de 9ossini, nenhuma outra na()o tinha o que oor aos RaSdn,3o%art, Jeetho"en, :chubert, 3endelssohn e Keber. 3as essa hegemonia á continha,em si rória, o germe da sua destrui()o. Pois &ora conquistada, contra os italianos, elo&orte destaque das qualidades tiicamente alem)s da música alem). 0 outras na($es

n)o tardaram em oor 7 redomin8ncia dos alem)es suas rórias articularidadesnacionais, ser"indo2se ara tanto do mesmo recurso o romantismo como meio araencontrar e descobrir a alma oular.

Hesde que no s*culo +- os &lamengos, os esanhóis e os ingleses tinham dei'ado de&a%er contribui($es rórias ara a música euro*ia, esta &ora quase e'clusi"amenteobra dos italianos, alem)es e &ranceses. /o come(o do s*culo ++, com o romantismo,

Page 94: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 94/200

no"os cometidores aarecem os escandina"os, os russos, os húngaros, os oloneses.N a rimeira onda de nacionalismo musical ercorrendo a 0uroa.

Keber tinha dado o e'emlo. Cada na()o retende, ent)o, ossuir seu rório

Keber# algumas tamb*m &a%em quest)o de ter um 3endelssohn. Assim osdinamarqueses, cuo rimeiro grande comositor instrumental * /iels <AH0 =1E1F1E?@D, disc!ulo do mestre de Lei%ig. :ua obra mais conhecida, tamb*m no estrangeiro,&oi a abertura :achklaenge aus Ossian =Ecos de Ossian, 1E?1D# o t!tulo, em l!nguaalem), * bem signi&icati"o, ois <ade n)o se a&asta do caminho do autor da abertura)1bridas# e, aesar do colorido nórdico de sua música, os dinamarqueses renegaram,deois, esse mendelssohniano etri&icadoQ. 3as &icaram &i*is a riedrich Wuhlau =1FEB1EGMD, embora o comositor &osse de origem alem), orque tinha aro"eitado, na suaóera Elverhoe6  =1EMED, o tesouro melódico da can()o oular dinamarquesa# * o Keberda Hinamarca. O Keber da :u*cia &oi "ar RALL:T9O03 =1EMB1?@1D, cua óera&ergtagna tamb*m se baseia no &olclore nacionalD.

O Keber russo * 3ihael "ano"itch <L/WA =1E@1E>FD1# &oi roriamente a músicade Keber que lhe abriu os olhos, libertando2o, elo menos em arte, do italianismo dos

seus come(os. :uas óeras ' ,ida !elo C4ar  =1EG>D e (uslan e /udmila =1EMD, comseus enredos nacionais, suas dan(as e coros oulares, s)o o órtico da história damúsica russa. 0 n)o &oi uma russi&ica()oQ suer&icial. <lina n)o se limitou a emregarmoti"os russos e ritmos russos. Tamb*m dei'ou, elo menos 7s "e%es, de ensarmusicalmente nos termos do sistema tonal ocidental, de Jach e 9ameau, "oltando2seara os modosQ da "elha música sacra esla"a. Pois isso n)o se im4s aos estrangeiros,que o acha"am em arte italiani%ante, em arte esquisitoQ. :ó os rórios russos sabemlenamente areciar2lhe o gInio n)o se cansam, at* hoe, de ou"ir ' ,ida !elo C4ar ,reresentada na 9ússia atual sob o t!tulo +van Sussanin =nome do ersonagemrincialD, e os muitos lieds e baladas de <lina, das quais Chaliaine &oi int*rretee'!mio. A descoberta da di&eren(a essencial entre o modo ocidentalQ e o modo russoQtamb*m abriu ao comositor os ou"idos ara outros modosQ n)o2ocidentais. /a e(asin&4nica 3ota 'ragonese =1E>D, &ruto de uma "iagem ara a en!nsula ib*rica,

descobriu o modoQ esanhol# e na e(a sin&4nica $amarinska6a =1EED descobriu omodoQ olonIs. :eus atr!cios n)o se contentam com considerá2lo como o Keber desua átria. Tchaio"sS chamou2o de 3o%art russo ou melhor, RaSdn russoQ. 6uanto 7osi()o histórica dentro da música russa, a comara()o a RaSdn ode estar certa#quanto 7 "alori%a()o que a comara()o encerra, * reciso dei'ar aos russos aresonsabilidade.

/a Rungria &undou ran% 09W0L =1E1@1E?GD a óera nacional, de base &olclórica)un%;d% /;s4l7 =1ED e &ankb;n =1EB1D. O tio &ormal dessas óeras ainda *, comoem Keber, o italiano. -ale a mesma obser"a()o ara o Keber da Pol4nia, :tanisla^3O/U:\WO =1E1?1EFMDM, autor da óera )alka =1EFD. N natural que essas na($esmantenham no reertória obras que s)o rel!quias do assado musical nacional. 3as *igualmente comreens!"el que essas óeras n)o encontrem resson8ncia em outrosa!ses, onde continuam mal conhecidas. Pode2se, em geral, a&irmar, que nenhum

comositor dessa rimeira onda rom8ntico2nacionalista conquistou a 0uroa nem <adenem Wuhlau nem Rallstroem nem 0rel nem 3onius%o nem sequer o genial <lina. A"itória internacional &icou reser"ada ao gInio de um nacionalista ocidentali%ado a

1 3. H. Cal"ocoressi, Glinka, Paris, 1?1G. J. Hobrohoto" e outros, Mikhael +vanovitch Glinka,3oscou, 1?>E.M K. 9ud%insi, Monius4ko, -arsó"ia, 1?BM.

Page 95: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 95/200

Choin.

`...

r*d*ric CROP/ =1E1@1E?D1 nasceu em \ela%o^a2Kola, erto de -arsó"ia, &ilho

de um &rancIs natural de /ancS, e de m)e olonesa. :ua "ida * um romancemelancólico. 3enino rod!gio no iano, resol"eu ir ara a 0uroa ocidental, araaer&ei(oar2se# saiu de -arsó"ia em 1EG@, ouco antes de rebentar a re"olu()oaristocrático2liberal cuo &racasso &ortalecerá o dom!nio do c%ar russo na Pol4nia,inundando a 0uroa de re&ugiados e emigrantes oloneses. :aindo antes, Choin n)ochegou, ortanto, a articiar do le"ante atriótico# a Pol4nia, ara a qual n)o "oltou em"ida, n)o será ara ele um !dolo de ai')o ol!tica, mas uma recorda()o nostálgicaromantismo moderadamente nacionalista. O o"em ianista te"e os rimeiros sucessosem -iena. i'ou2se em Paris, onde a sociedade aristocrática e os c!rculos intelectuaislhe abriram largamente as ortas. Perante essa audiIncia seleta costuma"a tocar# nunca&oi "irtuose das grandes salas de concerto, ara úblico an4nimo. Heois as rela($escom a grande escritora <eorge :and# a tuberculose# o temo assado em Palma, na ilhade 3aiorca, na eseran(a ") de recuerar a saúde# o romimento com a amiga instá"el#

a &uga, da 9e"olu()o de 1EE, ara Londres# a "olta e a morte solitária em Paris. :eusrestos mortais &oram seultados no Cemit*rio Pre Lachaise, em Paris# só o cora()o doartista encontrou, trasladado, o último reouso na catedral de -arsó"ia.

 A simatia geral da 0uroa toda, hostil ao c%arismo russo, ara com os re&ugiadosoloneses, essa oloni&iliaQ dos anos de 1EG@ &acilitou a entrada de Choin ara omundo ocidental. 3as tamb*m lhe insirou o aro"eitamento das recorda($es da átrialong!nqua e erdida o elemento nacional na sua música. /)o satis&eitos com isso,alguns historiadores oloneses, muito nacionalistas, tentaram demonstrar que o ai deChoin, embora natural de /ancS, tamb*m teria sido de origem olonesa. /)o * cr!"el en)o imorta. Choin &oi olonIs de nascimento e de insira()o# á era artista &eito, artistaolonIs, quando chegou a Paris# mas tornou2se &rancIs ela cultura e elo ambiente.:ua olonidadeQ está sendo um ouco e'agerada. A musicóloga olonesaKindai^eic%e^a, testemunha insuseita, admite, ao lado do melodismo &olclórico, mais

outras in&luIncias, das quais a da linha melódica de Jellini * a mais imortante. O ensarsemre na Pol4nia ode ter insirado muitas obras de Choin. Concertos, sonatas,estudos, relúdios, noturnos. 3as eseci&icamente olonesa * sua música só quando ocomositor escolheu ritmos nacionais as olonesas, das quais a mais &amosa * aheróica em lá maior =5olonaise militaire, o!. LV D# as ma%urcas# e as "alsas# mas nestasúltimas á * incon&und!"el um elemento de eleg8ncia arisiense. As olonesas, ma%urcase "alsas de Choin s)o, tal"e%, suas obras mais di"ulgadas# mina inesgotá"el ara osianistas.

 A limita()o de Choin 7s &ormas equenas arece tra(o caracter!stico do seuromantismo. 3as essa a&irma()o recisa ser desen"ol"ida e, em arte, reti&icada. Aa"ers)o de Choin contra a sonata2&orma, ou antes sua incaacidade de maneá2la bem,tem moti"os mais ro&undos e di"ersos. /)o gosta"a de Jeetho"en, tal"e% orque a

1 ;. Runeer, Cho!in the Man and his Music , Londres, 1?@@. R. Leichtentritt, Cho!in, Jerlim, 1?@>. A. Keissmann, Cho!in, Ma. ed., Jerlim, 1?MG. R. Kindae^ic%e^a, Os 5rot7ti!os da MelodiaCho!iniana na Msica 5o!ular 5olonesa. Cracó"ia, 1?MB =em l!ngua olonesaD. <. de Pourtals,2r1d1ric Cho!in, Paris, 1?MF. 0. ;achimeci, 2r1d1ric Cho!in, Cracó"ia, 1?MF. Tradu()o &rancesa,Paris, 1?G@. P. 0gert, Cho!in, Potsdam, 1?GB. <. Abraham, Cho!in0s Musical St%le, O'&ord, 1?G?.C. KieraSnsi, "he /ife and Death of Cho!in, /o"a orque, 1??. ;. 3. <renier, Cho!in, Paris,1?B.

Page 96: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 96/200

música dele lhe arecia democráticaQ e barulhentaQ demais. 3as ama"a o aristocrático3o%art. 0 seu )o de todos os diasQ &oi o Cravo &em "em!erado de Jach, os relúdiose &ugas que s)o anteriores 7 sonata2&orma, mas tIm muita &ormaQ. Choin * mais

clássico do que se ensa, embora n)o no sentido do classicismo "ienense. 0 are&erIncia elas melodias de Jellini &ortalece a imress)o de um gInio menos esla"o2nórdico do que latino2mediterr8neo.

Jach23o%art2Jellini# e ield# e o romantismo &rancIs# e, sobretudo, Oginsi e aPol4nia no entanto, Choin n)o * ecl*tico. :ua arte * altamente essoal. Aersonalidade art!stica desse homem &raco e tuberculoso era t)o &orte que tudo em quetocou se tornou incon&undi"elmente seu. O encanto essoal da sua arte enobrece osbrilhantismos "irtuos!sticos. Os ornamentos e arabescos que nas obras de outros sóser"em ara e'ibi()o das artes dos dedos, em Choin tornam2se essenciais,indisensá"eis e como animados. Choin criou um no"o estilo ian!stico. As &ormasclássicasQ, a sonata, o concerto, n)o se resta"am bem ara ser"ir 7 mani&esta()odesse seu estilo. 0 com elas, o comositor te"e menos sorte. Os Concertos !ara !iano eorquestra em mi menor =1EG@D e em f; menor  =1EM?D tIm lugar ermanente no

reertório, ela bele%a encantadora das melodias =sobretudo do Concerto em mi menor ,&ortemente esla"oD e elo brilho "irtuos!stico que os torna indisensá"eis aos ianistas#mas ningu*m os comararia aos grandes concertos de 3o%art e Jeetho"en. Tamb*m aSonata em si bemol menor =1EG?D, com a &amos!ssima marcha &únebre como mo"imentolento, * menos uma sonata em sentido beetho"eniano do que uma cole()o de trechosgloriosos. A 2antasia em f; menor o!. LN =1EMD á &oi chamada, elo entusiastaamericano Runeer, de a maior obra ian!stica deois de Jeetho"enQ# e a rique%amusical da obra * realmente esantosa# mas a análise &ormal imlacá"el temdemonstrado, mesmo nessa &orma li"re da &antasia, certas incoerIncias e &endasQ. O"erdadeiro reino de Choin s)o as curtas e(as o*ticas.

`...

ragmentos isolados desse uni"erso ian!stico de Choin s)o os 5r1ludes O!.KU  =1EG?D, e'ress$es de um essimismo desolado, esbo(os de id*ias que o desesero ou

o cansa(o n)o ermitiram reali%ar. oi a rimeira "e% que um comositor o&ereceu,assim, ao úblico, uma "ista ara o seu &oro !ntimo. A música conquistara mais umterreno da oesia l!rica.

 Algumas oucas obras de Choin le"am aelidos, dados or admiradores ou eloseditores. 3as em geral n)o tIm, como as de :chumann e HebussS, t!tulos o*ticos. :)omúsica absoluta que aenas insinua estados de alma l!ricos, algo arecidos com os querodu% a leitura da oesia de :helleS. N arte ara gente emocionalmente madura. 3asacontece que as obras de Choin s)o colocadas, cedo, nas m)os de adolescentes ara&ins didáticos ou ara e'ibi()o em concertos de alunos. N claro que a mocidade n)o *caa% de entendI2las bem# aos no"os a maturidade emocional do comositor a&igura2seen"elhecimento antes do temo doen(a e decadIncia. d*ia errada ara a qualcontribuem as biogra&ias romanceadas. Rá um gr)o de "erdade nesse erro. Umconterr8neo do mestre, o grande escritor olonIs PrSbSs%e^sS, conhecedor da

sicologia moderna, &alou a roósito de Choin em sicologia da alma hist*ricaQ# emanemiaQ e ele transarente da m)o, dei'ando "er as "eias mais &inasQ# emner"osismo dos requintados que morrem cedoQ# em sensibilidade atologicamenteirritadaQ# em angústias de agoniaQ. O decadentismo de Choin * um &atosico&isiológico. 3as n)o * um argumento contra sua arte. O romantismo de Choin &oie'agerado# mas n)o con"*m negar o caráter &eminino da sua sensibilidade art!stica.0rrado * o conceito da música choiniana como música de sal)oQ da alta sociedade#

Page 97: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 97/200

mas * "erdade que só aquele alta sociedade &oi, ent)o, caa% de areciar a ga%ascien4a desse troubadour  do ianoQ. 0n&im, todo o esnobismo em torno de Choin e aimensa oularidade de certas obras suas entre os musicalmente menos educados n)o

tIm nada que "er com os "alores em causa. 0stamos diante do &ato estranho, tal"e%único, do entusiasmo oular or uma arte altamente esot*rica.

<9A/H0  P09AQ 0  <9A/H0  OP090TA

Paris *, entre 1EG@ e 1EF@, a caital da burguesia euro*ia. Enrichisse4-vous,messieurs, * o lema da 3onarquia de ;ulho, do 6uste milieu# a ditadura de /aole)o acrescentará o &austo de uma corte imerial, &req5entada or brasseurs d0affaires  enegocistas. 0ssa classe n)o conhece a arte sen)o como di"ertimento e ostenta()o. Aúnica es*cie de música que admite * a óera, 7 qual todas as outras artes &icamsubordinadas. A grande óeraQ1, de 3eSerbeer, Ral*"S e outros, * umGesamtkunst=erk  =obra de arte totalQD e'atamente no sentido em que o maior inimigodo gInero arisiense, Kagner, de&inirá sua rória arte a colabora()o dos músicos, dos

cantores e atores, dos bailarinos e bailarinas e dos cenógra&os com o diretor de cena acuo ser"i(o est)o. 0ssa id*ia de Kagner * eseci&icamente rom8ntica no in!cio dos*culo ++, a est*tica rom8ntica á reconi%ara a con&us)o intencional e colabora()o detodas as artes# um 0.T.A. Ro&&man antecia, teoricamente, as e'igIncias de Kagner. Agrande óeraQ &rancesa tamb*m * arte rom8ntica. Pois na caital cosmoolita na qualcon&lu!ram todas as tendIncias ol!ticas, sociais e esirituais da *oca, n)o odia &altaro romantismo. 3as * um romantismo &alsi&icado, que n)o acredita em esectros nem nadade 3*dia nem na rória história e'lora2os aenas como decora()o de teatro.Pre&ere enredos históricos orque &ornecem oortunidade ara aresentar no alcobacanais romanas, rociss$es católicas, coroa($es de reis e tumultos oulares. Asubst8ncia musical &ica redu%ida a uma grande cena de amor =duetoD, uma ora()o nahora do erigo, uma ária de brinde e muito barulho da orquestra. O e&eito * controladoelo homem da bilheteria.

Os &undamentos da grande óeraQ, lan(ara2os :ontini. Os rimeiros e'emlos, aindamodestos, do gInero, s)o, em 1EME, a Muette de 5ortici , de Auber e, em 1EM?,Guillaume "ell , de 9ossini. 0n&im, "eio 3eSerbeer.

<iacomo 30]09J009 =1F?11EBDM  chama"a2se, inicialmente, ;acob LiebmannJeer e era &ilho de um banqueiro israelita de Jerlim# acrescentou o 3eSerQ ao seu nomeara homenagear a memória de um tio que lhe dei'ara grande &ortuna. Heois de terrecebido sólida educa()o musical, &oi ara a tália onde 9ossini o entusiasmou# &oi ent)oque, mudando de estilo, tamb*m italiani%ou o renome, assando a chamar2se<iacomo. Te"e sucesso com óeras italianas. -enceu em Paris, em 1EG1, com (obertle Diable. Heois, em 1EGB, conquistou com /es )uguenots o lugar do maior comositorde óeras do seu temo. oi al"o de honrarias e'traordinárias em Paris e em Jerlim.Trabalhando muito de"agar, só obte"e o ró'imo sucesso com /e 5ro!hte, em 1E?./0'fricaine =1EBD &oi reresentada ostumamente.

 A cr!tica contemor8nea, entusiasmada, acredita"a "er na arte de 3eSerbeer as!ntese da harmonia alem), da melodia italiana e dos ritmos &ranceses. /ossosceticismo de hoe só ercebe, naquelas obras, a con&us)o intencional de todos os estilos

1 K. L. Crosten, 2rench Grand O!era, /o"a orque, 1?E.M R. Abert, Me%erbeer , Lei%ig, 1?1E. . Hauriac, Me%erbeer , Ma. ed., Paris, 1?G@. ;. Wa,Me%erbeer , Ma. ed., :tuttgart, 1?GM.

Page 98: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 98/200

ara obter o má'imo e&eito teatral. N certo que todo dramaturgo, todo comositor deóeras retende conseguir e&eitos de cena# * leg!timo. 3as 3eSerbeer sacri&icou 7e'igIncia do e&eito as da rória arte musical que ele, músico de grande talento e bem2

&ormado, conhecia er&eitamente. /)o acredita"a em nada sen)o nas almas do úblico,que signi&ica"am "itórias de bilheteria. Tamb*m sua &amosa meticulosidade naelabora()o das obras e na mise-en-scne  só ser"iram ara aquele &im garantir osucesso. 0ste &oi, a&inal, resultado de uma colabora()o, de um coleti"oQ, como se diriahoe o rório 3eSerbeer# seu libretista, o "ersátil :cribe# -*ron, o diretor da óera,grande industrial e comerciante do ramo teatroQ, que á &oi de&inido como ersonagemde romance de Jal%acQ# o &amoso Auguste, o che&e da claqueQ.

O sucesso imenso e internacional dessa emresa n)o odia dei'ar de ro"ocar area()o irritada de todos os que ser"iam 7 arte s*ria. 3endelssohn &icou &rio. Jerlio%hostili%ou o oerista. :chumann combateu2o &rancamente. Kagner acrescentou aosargumentos dos outros o anti2semitismo e "i"eu bastante ara "er ainda a ráidadecadIncia da glória de 3eSerbeer, que * hoe uma celebridade morta. (obert le Diable,adata()o dos frissons do 2reischuet4  a uma lenda medie"al arti&icialmente in"entada, *

coisa in"oluntariamente burlesca# se ainda &osse oss!"el aresentar hoe essa obra,que entusiasma"a e sacudia ro&undamente nossos a"ós, ela ro"ocaria gargalhadas./e 5ro!hte  e /0'fricaine  &icaram no reertório at* or "olta de 1?1@ ou 1?M@# hoe,ningu*m á ensa neles. 0n&im, /es )uguenots, a obra2rima, tamb*m desaareceu./)o &oi Kagner quem matou essas obras# &oi o temo. 3as esse &ato incontestá"elmanda areciar 3eSerbeer como &en4meno histórico# e ent)o, sua imort8ncia re"ela2sebastante grande, sobretudo quanto aos rogressos que reali%ou na orquestra()o e naencena()o# rogressos de que o rório Kagner se ser"iu generosamente. Ráossibilidade de ressurrei()o (obert le Diable certamente n)o "oltará nunca mais. /e5ro!hte te"e uma rerise isolada em \urique. Ha 'fricaine sobre"i"em certas árias, denobre linha melódica, no reertório dos cantores e cantores de concerto# asreresenta($es em Aq5isgrano e 3unique =1?BMD &oram bem recebidas. 3as, antes detudo, ode2se de&ender /es )uguenots, obra em que há cenas de notá"el "alor musical,esecialmente no quarto ato. /o :cala de 3il)o, em 1?BM, e em Ramburgo a "elhaóera te"e sucesso retumbante que á &oi interretado como come(o de umarenascen(a de 3eSerbeerQ.

0ntre os ri"ais de 3eSerbeer encontraremos o rório Kagner, mas só &oi no in!cio,quando escre"eu (ien4i . O outro nome c*lebre do gInero * ;acques2romental20lieRALN-] =1F??1EBMD /a 3uive =1EG>D mante"e2se or mais temo no reertório que asobras de 3eSerbeer# tem certas qualidades musicais e maiores de&eitos dramatúrgicos#tamb*m * hoe mera recorda()o dos habitu1s da óera.

 A aródia alegre da grande óeraQ arisiense * a oereta arisience de ;acquesO0/JACR =1E1?1EE@D1. ilho de um rabino ou cantor da sinagoga de Col4nia, le"ouara Paris as recorda($es do &amoso carna"al da sua cidade natal. Como comositor doTeatro das olies2Jergres dominou a "ida musical mundana e demi-mondaine  dacaital de /aole)o . Heois de 1EF@, em ambiente radicalmente di&erente "i"eu em

solid)o dolorosa, trabalhando na sua obra s*riaQ, na óera Contes d0)offman, cuareresenta()o n)o chegou a "er.

`...

Ho gInio singular de O&&enbach n)o sobre"i"eu nada na oereta arisiense de temos

1 P. Jeer, 3acques Offenbach, Jerlim, 1?@?. A Renseler, 3acques Offenbach, Jerlim, 1?G@. :.Wracauer, 3acques Offenbach und das 5aris seiner 9eit , Amsterd), 1?E.

Page 99: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 99/200

osteriores. 3uito menos ainda na oereta "ienense, que * gInero di&erente, seminten()o sat!rica, sem es!rito de aródia# seu absurdo * incontestá"el, mas n)o *di"ino. :)o equenas obras bem2humoradas, com uma dose de sentimentalismo. A

"ariedade r!tmica * singularmente redu%ida só há uma "alsa, e um ouco, a olca. Autorde inúmeras "alsas mundialmente &amosas &oi ;ohann :T9AU::, &ilho =1EM>1E??D 1, descendente de uma dinastia de "alsistas. 0 cole($es de "alsas bem2trabalhadas, comalgumas boas árias no meio, s)o suas oeretas, das quais Die 2ledermaus =O Morcego,1EFD * a mais conhecida. :)o, aliás, elaboradas com muita ciIncia musical e bomgosto# basta di%er que o se"ero Jrahms admira"a o rei da "alsaQ.

3as n)o con"*m &alar dos sucessores, nem dos :u* e 3illoecer nem, deois, dosLehar, Osar :trauss, 0Ssler etc. Assim como há li"ros que est)o hors de la litt1rature,assim essa indústria de oeretas "ienenses está hors de la musique.

 ALTO  9O3A/T:3O 9A/Cp: J09LO\

O ambiente arisiense, em 1EG@ e 1EF@, &oi quase hostil 7 música s*riaM. Literatos e

cr!ticos re"elaram ignor8ncia esantosa do assunto. Com e'ce()o dos c!rculos limitadosque &req5entaram os concertos Rabenec, n)o se admitiu outra música sen)o adramática, a óera# e mesmo na óera, o úblico e os cr!ticos eram sens!"eis 7 menorinter"en()o do elemento sin&4nico at* um <ounod &oi hostili%ado como sinfoniste eadeto de germanismosQ nebulosos. Os deuses do dia eram, al*m do udeu russianoQ3eSerbeer, o ligeiro Auber e o &r!"olo Adolhe Adam. /esse ambiente, a "ida de RectorJerlio% n)o odia dei'ar de trans&ormar2se numa sucess)o de derrotas, humilha($es emis*rias# embora admitindo2se que as e'tra"ag8ncias do homem contribu!ram muitoara isso. /o entanto V a obser"a()o * de 9en* Husmenil V no meio de umromantismo &also e &alsi&icado &oi a obra de Jerlio% o único !endant , no setor da música,no setor da música, digno da oesia de Rugo e da intura de Helacroi'. N a &orma&rancesa do alto romantismo.

 A "ida de Rector J09LO\ =1E@G1EB?DG &oi um romance temestuoso com des&echo

melancólico. :emre &oi rebelde contra o mundo que n)o o comreendia. A re"olta ácome(ou quando ele, descendente de uma &am!lia de m*dicos e de u!%es, escolheu aro&iss)o de músico. Heois, rebelou2se contra o ensino escolástico no conser"atório deParis, sob a ditadura de Cherubini. 9ebelou2se contra os hábitos da "ida musicalarisiense de ent)o, estreando com uma obra sin&4nica, a S%m!honie 5hantastique umromance erótico em sons musicaisQ, colossal declara()o de amor 7 atri% inglesa Rarriet:mithson, que, in&eli%mente, aceitou a roosta de casamento. -oltando de 9oma, ondedesobedeceu 7 discilina da Acad*mie de ranceQ na -illa 3*dicis, casou com Rarriet,aesar de á saber que elle est une fille. oi um desastre. A mis*ria material ermanente&oi ouco ali"iada elo emrego como cr!tico musical no 3ournal des D1bats, ondeJerlio%, eminente escritor e conhecedor da mat*ria, esta"a obrigado a escre"er sobre asóeras de Auber, Adam e Ral*"S, que detesta"a. As estr*ias das suas rórias obrassemre &oram desastrosas. Tendo escrito o (1quiem, Jerlio% de"ia o&erecer a obra,

sucessi"amente e em ")o, ara os &unerais de "árias ersonalidades at* conseguir a1 R.0. ;acob, 3ohann Strauss ,ater und Sohn, Jremen, [email protected] 9. Humesnil, /a musique romantique franJaise, Paris, 1?.G ;. Tiersot, )ector &erlio4 e la soci1t1 de son tem!s, G "ols., Paris, 1?@G1?@F. ;. Wa, &erlio4 ,Jerlim, 1?1F. A. Joschot, )ector &erlio4 . )istoire d0un romantique, G "ols., Ma. ed., Paris, 1?G?. ;.Jar%un, &erlio4 and the (omantic Centur% , M "ols., Londres, 1?>@.

Page 100: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 100/200

e'ecu()o =30ai fra!!1 beaucou! de tombes...D. A e'ecu()o da obra sin&4nica (om1o et3uliette &oi um sucesso de estima# só rendeu 1.1@@ &rancos. 0m 1EB, o &racassocomleto do concerto em que &oi e'ecutada /a damnation de 2aust , acabou com a

carreira musical de Jerlio% em Paris. Hesde ent)o, dedicou2se 7 "ida de regente "iaantede orquestra no estrangeiro, na Alemanha e na 9ússia, semre acomanhado elaamante, a cantora med!ocre 3arie 9ecio que lhe amargurou a "ida. /)o conseguia &a%erreresentar a grande óera /es "ro%ens. Lis%t audara2o bastante# mas os sucessos deKagner &i%eram emalidecer a estrela de Jerlio%. 3orreu na mis*ria de semre,abandonado.

Jerlio% só escre"eu música quando estimulado or imress$es literárias# ele mesmo&oi grande escritor, um dos maiores cr!ticos musicais de todos os temos e esirituosocronista e memorialista. 3as seria reciitado concluir que ti"esse sido mais literato quecomositor. Organi%ou suas obras sin&4nicas como ilustra($es musicais de enredosliterários =música de rogramaQD# mas n)o dei'aram, or isso, de ter "alor como músicaabsoluta.

 A S%m!honie 2antastique =1EG@D, romance musical alta e &antasticamente rom8ntico,

tem os de&eitos, mas tamb*m a energia e &rescura u"enil de uma obra de mocidade. Ndesigual só o mo"imento lento, a Cena nos Cam!os, satis&a% a todas as e'igIncias# aMarcha ao 5atBbulo, que á &oi muito censurada como atentado ao bom gosto, * umacombina()o, única na literatura musical, do realismo mais crasso e de atmos&era desonho, de esadelo. A sin&onia )arold in +talie =1EGD, insirada elas recorda($es da"iagem na tália, assa or ser sua obra melhor equilibrada# mas * mais itoresca queo*tica. (om1o et 3uliette =1EG?D, grande sin&onia de rograma com coros, * muitodesigual o scher4o (eine Mab e a cena de amor s)o altamente o*ticos# outros trechoss)o desagrada"elmente oer!sticos. A obra2rima de Jerlio% * a cantata cInica /adamnation de 2aust  =1EBD, destinada ara a sala de concertos, mas que tamb*m odeser reresentada no alco. /)o se de"e ensar no 2aust  de <oethe# o comositor tiroudo drama, arbitrariamente, um gruo de cenas, misturando2as, mais arbitrariamente,com elementos totalmente alheios =como a orquestra()o da marcha húngara de

9áoc%SD. 3as uma cena como Caverna e 2loresta * grande oesia musical, digna dooema de <oethe# e n)o só esta.

Jerlio% * grande, sobretudo, quando se ode aoiar num ele"ado te'to o*tico. alha,or*m, &oi a rória id*ia de transor te'tos e enredos o*ticos ara a música orquestralsem ala"ras a id*ia da música de rograma. A arte musical n)o * caa% de intarQsitua($es &!sicas e acontecimentos dramáticos. :ó ode acomanhá2los de maneirasigni&icati"a. Um rogramaQ que e'lica ao úblico o que signi&icaQ e reresentaQ amúsica, só * uma muleta ara os ou"intes sem musicalidade. lustrarQ, or meio degoles de tambor, o &ato de algu*m bater 7 orta, n)o * uma id*ia musical. N ru!do. 3asa rática de Jerlio% &oi, &eli%mente, melhor que sua teoria. /a S%m!honie 2antastique eem )arold en +talie, as quatro ou cinco artes do rograma corresondem e'atamenteaos mo"imentos de uma sin&onia clássica, algo amliada em "e% de destruir essa &orma,Jerlio% uni&icou2a melhor, elo emrego do mesmo moti"o = id1e fi#eD ou dos mesmo

moti"os em todos os mo"imentos. O ulgamento sobre Jerlio% n)o de"e ser in&luenciadoelo &etichismo da &ormaQ =Jar%unD. 0mbora artindo da sin&onia beetho"eniana, Jerlio%en"eredou elo seu rório caminho, sem querer resol"er os roblemas de outros, dosadetos da música absoluta. :ua música * essencialmente dramática. Jerlio% odia"a eignora"a deliberadamente a oli&onia, qualquer oli&onia. 0"ita as disson8ncias. 3uitas"e%es, sua música * mais teatral do que esta"a nas suas inten($es, contaminadas eloambiente oer!stico.

Page 101: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 101/200

0ssa teatralidadeQ erturbou seriamente as tentati"as desse homem c*tico ero&undamente arreligioso de escre"er música sacra. O (1quiem =1EGFD * uma sin&onia&únebre que abala os ner"os dos ou"intes elo barulho aocal!tico de duas orquestras

enormes e quatro coros# nasceu dessa obra a &ama de Jerlio% de escre"er ara >@@e'ecutantes. Reine &alou, a roósito do (1quiem, em monstros antedilu"ianosQ eru!nas colossais de im*rios esquecidosQ. A obra *, com todos os seus de&eitos, o ontomais alto do romantismo musical &rancIs, que semre &oi grotescamente &antástico ebrutalmente real!stico ao mesmo temo# ensa2se nos romances de -ictor Rugo.

`...

Jerlio% &oi homem de muitas id*ias. :ua caacidade de in"en()o melódica *admirá"el. 3as * mais admirá"el o aro"eitamento dessas id*ias musicais nainstrumenta()o. 0ntre todos os comositores, grandes ou notá"eis, de todos os temos&oi Jerlio% o único que n)o domina"a o iano nem o "iolino nem qualquer outroinstrumento. :eu instrumento &oi a orquestra inteira. 9eno"ou ou antes re"olucionou aarte e a t*cnica da instrumenta()o. A Marcha ao 5atBbulo na S%m!honie 2antastique, arociss)o dos eregrinos em )arold en +talie, o scher4o (eine Mab e a cena noturna de

amor em (om1o et 3uliette, o &ailado das SBlfides e o Minueto dos 2ogos-2;tuos na Damnation de 2aust , as cenas da ca(a e da temestade em /es "ro%ens Carthages)o e(as magistrais de um dono soberano da orquestra. A esse reseito, Lis%t,Kagner, 9ichard :trauss e 9imsS2Worsao" s)o seus disc!ulos.

Jerlio% &oi um dos comositores que e'erceram, em todo o s*culo ++, a mais "astain&luIncia. 3as &icou isolado. 0sse grande indi"idualista n)o te"e alunos nem disc!ulos.

 ALTO  9O3A/T:3O AL03O :CRU3A//

9obert :CRU3A// =1E1@1E>BD1 colocá2lo ao lado de Jerlio% n)o * um e'erc!ciohistoriográ&ico. Personalidades e artistas dos menos arecidos tIm, no entanto, muitosontos de contato. :chumann tamb*m &oi grande escritor e eminente cr!tico musical.:ua música tamb*m se alimenta"a de est!mulos literários, embora nunca chegasse a

&a%er música de rograma. 0ste e aquele &oram homens &antásticos. A loucura, a cuabeira Jerlio% gosta"a de mo"imentar2se, como numa ose interessante, tornou2se nocaso de :chumann cruel realidade. :)o dois rom8nticos. 3as o romantismo de Jerlio% *&rancIs# * o de Rugo, Lamartine, Helacroi'. O romantismo de :chumann * o de ;eanPaul, 0.T.A. Ro&&man, 0ichendor&&, Reine. :ua arte n)o * só o onto mais alto doromantismo musical na Alemanha# * o resumo e o &im do romantismo alem)o em geral.

`...

 A obra de :chumann * enorme. N di&!cil orientar2se nela. A maior arte das obrasescritas deois de 1E> ou 1E>@ V e s)o as mais numerosas V n)o tem muito "alor.0'umá2las só signi&ica reudicar a memória do comositor. O conhecido Concerto !araquatro trom!as e orquestra em f; maior  =1E?D * &raco. O Concerto !ara violino eorquestra, que dedicara, em 1E>G, ao grande "iolinista ;oachim, &oi or estecuidadosamente escondido numa ga"etal descendentes incomreensi"os de :chumannublicaram2no em nosso temo, o que n)o acrescentou nada 7 glória do autor. Ainsira()o de :chumann está concentrada, rincialmente, nas suas obras de

1 ;. K. Kasilie^si, (obert Schumann, a. ed., Lei%ig, 1?@B. R. Abert, (obert Schumann, Jerlim,1?M@. K. Jasch, Schumann, Ba. ed., :tuttgart, 1?M>. -. Jasch, Schumann, Paris, 1?MB. K. Worte,(obert Schumann, Potsdam, 1?MF. A. CoeuroS, (obert Schumann, Paris, 1?>@. 3. Jrion, (obertSchumann et l0Ame romantique, Paris, 1?>>.

Page 102: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 102/200

mocidade.

Produ%iu eruti"amente dentro de oucos anos, quase todas as suas obrasian!sticas de "alor# dentro de um ano só, os seus melhores lieds. 0m cada &ase re&eriu

determinado gInero. 0ntre essas &ases hou"e inter"alos de imroduti"idade, dero&unda deress)o mental. :chumann * um caso sicoatológico.

 A rimeira &ase ertenceu ao iano. Carnaval  =1EG>D á * uma obra2rima uma s*riede equenas e(as altamente rom8nticas, de encanto ermanente, baseadas numsonho u"enil de :chumann que ideara uma alian(a de es!ritos o*ticos =osDavidsbuendler D contra os &ilisteus# * a obra de :chumann que o úblico de concertosre&ere, at* hoe, a todas as outras. He insira()o semelhante, os Davidsbuendlertaen4e=DanJas dos Davidsbuendler , 1EGFD e 2aschingssch=ank aus >ien =2arsaCarnavalesca ,ienense, 1EG?D. As outras obras ian!sticas desses anos, todas elasobras2rimas, s)o de "ariedade surreendente. As $inders4enen =Cenas +nfantis, 1EGEDn)o s)o obra didática, destinada ao ensino# tIm de ser tocadas, or adultos que, assimcomo :chumann, conseguem er&eitamente sentir com a alma in&antil# uma dessascenasQ, a "raumerei  =([verieD, * a mais bela melodia que :chumann in"entou. As

5hantasiestuecke =5eJas 2ant;sticas, 1EGFD s)o estudos em e'ress)o musical desitua($es sicológicas# uma das obras mais rom8nticas, no sentido mais alto da ala"ra#esecialmente 'ufsch=ung  =ala"ra intradu%!"el que signi&ica a &irme resolu()o deoisde momentos de angústiaD * uma melodia inesquec!"el, de energia sombria. Os tudess%m!honiques =1EGFD, a obra tecnicamente mais di&!cil do comositor e a re&erida dos"irtuoses s*rios, s)o uma s*rie de "aria($es engenhosas que culminam num ubilososc8ntico de triun&o. As $reislerianas =1EGED, insiradas elo &antástico ersonagemWreisler, de 0.T.A. Ro&&mann, s)o a obra harmonicamente mais audaciosa do mestre#ainda decInios mais tarde, os anti^agnerianos atribu!ram a essa rodu()o u"enil de:chumann a resonsabilidade ela suosta decadIncia modernistaQ da música alem).0n&im, a 2antasia em d7 maior =1EGED, de maior "ulto e de insira()o &irmementemantida# assim teria Jeetho"en escrito se, na mocidade, ti"esse sido rom8ntico.

Os t!tulos o*tico2literários que :chumann deu 7 maior arte dessas obras ian!sticas,

indu%iram certos cr!ticos no erro de considerar o comositor como literato que orengano se dedicou 7 músicaQ. 3as as mais das "e%es esses t!tulos &oram in"entadoselo comositor deois de ele ter escrito as e(as. Aenas o est!mulo de rodu()o &oide ordem o*tica =assim como aconteceu em HebussSD. :chumann &oi oeta# mas umoeta que só sabia e odia &a%er oesia em sons musicais. :ua rosa, nos escritossobre música, antes * desagrada"elmente o*ticaQ, ao asso que a oesia das suasobras ian!sticas semre * ura.

Como oeta do iano, :chumann n)o * in&erior a Choin# con&essou2o o rório <ide,que na rimeira edi()o do seu li"ro sobre Choin a&irmara o contrário. Como in"entor demelodias, :chumann n)o tem ri"al, a n)o ser 3o%art# esse suosto literatoQ * um dosmaiores criadores de bele%a musical absoluta. 0stá ao lado de Choin, comoe'erimentador audacioso de ino"a($es harm4nicas# as $reislerianas s)o desurreendente modernidadeQ.

 A re&erIncia de :chumann elas equenas &ormas, as e(as o*ticas de tamanhoredu%ido que disensam a constru()o arquitet4nica, tem sido interretada comoincaacidade de manear a sonata2&orma. Alegam os adetos dessa tese que as trIsSonatas !ara !iano, em f; sustenido menor  =1EG>D, em f; menor  =1EG>D, e em sol menor=1EG>D, aesar de serem obras muito belas =esecialmente a segunda, determinadaConcert sans orchestreD, n)o s)o sonatas no sentido beetho"eniano da ala"ra# * uma

Page 103: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 103/200

obser"a()o que tamb*m oderia ser &eita quanto 7s sonatas de :chubert e Choin.Tal"e% n)o sea mesmo oss!"el escre"er "erdadeiras sonatas ara o iano deois deJeetho"en ter esgotado todas as ossibilidades desse gInero. 3as, antes de tudo, as

dú"idas se re&erem 7s sin&onias de :chumann, nas quais se censuram de&eitos deconstru()o e erros grosseiros de orquestra()o. 3as essa cr!ticas n)o est)o certassen)o em arte# e o ou"inte moderno á n)o alica os crit*rios de um ro&essor decomosi()o de um conser"atório tradicionalista. A Sinfonia n.R em si bemol maior=1E1D, denominada 5rimavera, de encantadora &rescura u"enil# a ictórica Sinfonia n.em mi bemol maior =1E>@D, denominada (enana# e sobretudo a Sinfonia n.L em r1menor  =1E1, re"ista em 1E>1D odem ter "ários de&eitos e s)o, no entanto, magn!&icamúsica, que ningu*m gostaria de tirar do reertório.

`...

 A glória de :chumann n)o dei'a de crescer, hoe em dia. 3as, em seu temo, suasolid)o &oi quase t)o grande como a de Jerlio%. Os anos de 1EG@ e 1E@ n)o s)oaenas os do id!lio &iedermeier . Tamb*m s)o os anos dos o"ens hegelianosQ, ateus ere"olucionários, dos come(os do ornalismo liberal, da mocidade de 3ar'. A essa gente

toda :chumann, o eoeta aol!tico, a&igura"a2se &igura anacr4nica. Por outro lado, osconser"adores da música detestaram2lhe as licen(as estruturais e harm4nicas. 3asouco deois, Kagner á mani&estará sua hostilidade contra o schumannismoQ atrasado.Tamouco te"e :chumann sorte com seus disc!ulos quase todos eles acabaram noeigonismo mendelssohniano do Conser"atório de Lei%ig. 0n&im, o o"em Jrahms, aoqual o mestre nos seus últimos anos redissera, num artigo entusiasmado, o grande&uturo, &icou &iel durante a "ida toda a Clara :chumann# mas na música en"eredou logoor outro caminho, totalmente di&erente.

/o &undo, só hou"e na Alemanha um único schumanniano autIntico PeterCO9/0LU: =1EM1EFD# e este n)o esta"a bem consciente desse &ato. oi umrom8ntico conser"ador, de muita ro&undidade emocional, como re"elam os &rautlieder  =CanJYes de :oivaD e os >eihnachtslieder  =CanJYes de :atal D. 3as iludiu2se a reseitode si rório. Aderiu ao c!rculo de Lis%t e Kagner. :ua óera2c4mica Der &arbier von

&agdad  =O &arbeiro de &agd;, 1E>ED * encantadora recorda()o de um id!lio erdido, doe'otismo ingInuo dos rimeiros rom8nticos# a esada armadura da orquestra()o^agneriana em que Cornelius encerrou a obra, reudicou2a muito. N raramentereresentada. A abertura ertence, or*m, ao reertório sin&4nico.

:0<U/HA  O/HA  H0  / ACO/AL:3O L :\T # O:  TCR0CO: # O:  9U::O: # O:  0:CA/H/A-O:

Hireta ou indiretamente, a in&luIncia de :chumann &oi maior no estrangeiro do que na Alemanha. :uas ingInuas "eleidades de e'otismo V lieder escoceses e esanhóis,melodias orientais etc. V insiraram ineserado interesse aos numerosos estudantesestrangeiros de música nos conser"atórios da Alemanha. A modernidadeQ de:chumann arecia ser"ir melhor que o academismo de 3endelssohn ara trans&ormar

em música s*riaQ os di"ersos &olclores nacionais que eram as recorda($es mais carasdaqueles estudantes húngaros, tchecos, dinamarqueses, noruegueses. 0nquanto nanglaterra se toca"a incansa"elmente 3endelssohn, na 9ússia estuda"a2se :chumann.0 * um nacionalismo di&erente. ;á n)o quer contribuir com algo de no"o ara o grandeconcertoQ da música ocidental. N um nacionalismo agressi"o, tentando reser"ar seus"alores rórios contra a a"assaladora in&luIncia alem).

Page 104: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 104/200

:eria e'agero atribuir só 7 reercuss)o limitada da música de :chumann essasegunda onda de nacionalismo musical. Outras in&luIncias contribu!ram oderosamenteara o mesmo &im sobretudo a de Lis%t. 0 o nacionalismo húngaro deste último ainda

ertence, elos imulsos iniciais, 7 rimeira onda nacionalista, insirada or Keber Lis%t* um cosmoolita ocidental de origens e'óticas, que o&erece ao Ocidente a contribui()odas recorda($es de sua mocidade sem querer im42las.

Pois ran% =erenc%D L:\T =1E111EEBD1 n)o * só húngaro# ou antes, ode2semesmo du"idar do seu magiarismoQ &undamental. /asceu na Rungria, de anteassadosalem)es# nunca chegou a arender bem a l!ngua o&icial de sua átria, ois educou2selonge dela. Como menino rod!gio &oi estudar iano em -iena, onde te"e, em 1EMM, orimeiro sucesso sensacional. Logo come(ou a carreira de "irtuose "iaante. 0m Parisou"iu Paganini# resol"eu conseguir no iano o que aquele &eiticeiro conseguiu no "iolino#e "enceu brilhantemente. Paris &oi o rimeiro lar desse homem inquieto, igualmenteá"ido de música, de literatura, de no"as id*ias &ilosó&icas e religiosas V e de mulheres.

 Aderiu ao romantismo de Lamartine e Rugo. Tornou2se adeto do catolicismore"olucionariamente democrático de Lamennais, ent)o á e'comungado elo aa.

0ntrou na seita dos saint2simonistas, entusiasmado elas id*ias de um socialismoreligioso. Por sua causa, a condessa 3arie dXAlgoult abandonou o marido, "i"endo comLis%t em uni)o li"re na :u!(a e na tália# das &ilhas que nasceram dessa uni)o, Cosimaterá um grande ael na história da música.

0m 1E searou2se Lis%t da condessa. 9enunciou 7 carreira de ianista, 7 qualde"eu a glória internacional e a &ortuna. i'ou residIncia em Keimar, como diretormusical do teatro e como comanheiro da rincesa Caroline :aSn2Kittgenstein, suano"a musa. Come(ou a escre"er suas grandes obras orquestrais e corais. Tornou2seche&e do mo"imento musical neo2alem)oQ =:eu-deutsche Musikbe=egung D eroagandista da música de Kagner. Com generosidade in*dita audou mestres aindan)o bastante reconhecidos, como Jerlio%, e talentos no"os, como <rieg, :metana ePeter Cornelius. 0n"ol"eu2se em olImicas "enenosas com Jrahms, ;oachim e osconser"adores, re"elando notá"el talento de escritor. 0n&im, em 1EB1, as intrigas contra

a reresenta()o do &arbeiro de &agd;, de Cornelius, e a imossibilidade de casar com arincesa, católica que "i"eu searada do marido sem conseguir o di"órcio, le"aram2no ademitir2se das suas &un($es em Keimar, que gra(as 7 sua ati"idade &ora, durante M@anos, o centro musical da 0uroa.

Hesde ent)o, Lis%t "i"eu rincialmente em 9oma, onde recebeu ordens sacras, como 'bb1, go%ando da rote()o e ami%ade do aa Pio +. 3as só rincialmente. Passa"aarte do ano em Judaeste, onde o tinham descoberto como comositor nacional daRungria, honrando2o generosamente. 3udou2se, en&im, ara JaSreuth, onde sua &ilhaCosima "i"ia em segundo casamento com Kagner. Ali, residiu a uma es*cie deacademia do iano, recebendo estudantes e alunos de todas as artes do mundo,ou"indo2os com aciIncia e dando conselhos reciosos, sendo idolatrado como umadi"indade esecialmente elas alunas. 0 em JaSreuth morreu, "elho e saturado da "idada qual &oi um grande "encedor.

Rúngaro Austr!aco rancIs Alem)o 9omano Lis%t &oi tudo isso igualmente. oi

1 ;. Chanta"oine, /is4t , Paris, 1?1@. 3. Cho, /is4ts S%m!honische >erke, Lei%ig, 1?M. ;. Wa,/is4t , M@a. ed., Jerlim, 1?M. \. <ardonSi, Die 8ngarischen Stileigentuemlichke iten in denMusikalischen >erken 2ran4 /is4ts, Jerlim, 1?G1. P. 9aabe, 2ran4 /is4t , M "ols., :tuttgart, 1?G1.R. KesterbS, /is4t and his 5iano >orks, Londres, 1?GB. R. :eaarle, "he Music of /is4t , Londres,1?>. P. 9ehberg e <. /estler, 2ran4 /is4t sein /eben Schaffen und >erke, \urique, 1?B1.

Page 105: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 105/200

cidad)o da *oca mais cosmoolita da 0uroa, entre 1E>@ e 1EE@, quando em torno deuma aristocracia culta, internacional, se reuniram as elites literárias e art!sticas de todosos a!ses.

`...Rou"e em Lis%t algo de cigano. oi imro"isador de habilidade "ertiginosa. 0ssas

artes incr!"eis, aliadas a sólida cultura musical e a um gosto requintado, &i%eram dele omaior ianista de todos os temos, "erdadeiro soberano do instrumento, encanto daselites e !dolo do úblico. 3as or isso mesmo Lis%t n)o quis &icar ianista. Heois de terreunido as qualidades de Paganini e de Choin =que ent)o só assa"a or "irtuoseD,quis ser grande comositor orquestral como Jerlio%. 3as nem sequer essa grandemúsicaQ conseguiu matar sua sede esiritual. Procura"a a consola()o na oesia e a a%da alma em no"as religi$es e, en&im, na religi)o antiga. Os est!mulos da sua arte musical&oram literários# os imulsos, &ilosó&icos e religiosos. 0sta"a destinado a &a%er música derogramaQ.

:uas obras sin&4nicas n)o &oram bem recebidas elo úblico. oram reeitadas, comomá músicaQ, elos adetos de :chumann e elo rório Jrahms. oram e'altadas elos

admiradores do mestre. 0 quase todas elas &oram, deois, esquecidas aesar de "áriastentati"as de ressuscitá2las. At* hoe, as oini$es sobre o "alor ermanente dessamúsica continuam muito di"ididas. Hescontando alguns oemas sin&4nicos que á odemser considerados esquecidos ara semre, &icam os seguintes Ce qu0on entend sur lamontagne =1E?D, ilustrando um te'to o*tico de -ictor Rugo, * bom oema musical quese sal"a ela &alta de ambi()o maior# /es 5r1ludes =1E>D, insirado or um oema deLamartine, mas sem rograma roriamente dito *, tal"e% or isso, o melhor oemasin&4nico de Lis%t e ainda ertence ao reertório# Ma44e!a =1E>D &oi muito admirado na*oca orque o rograma o*ticoQ tamb*m se im$e aos ou"idos menos musicais Vmas * música de rograma no ior sentido da ala"ra, meramente ilustrati"a# Die)unnenschlacht  = ' &atalha nos Cam!os Catalaunos, 1E>BD, insirada or uma tela deWaulbach, ent)o &amoso como intor de quadros históricos, * música de e&eitoesetacular e só isso. /essas obras todas, a insira()o literário2o*tica * o único

rinc!io da constru()o musical. Hi&erentes s)o as duas sin&onias em que Lis%temregou, como Jerlio%, o rinc!io de temas que "oltam, trans&ormados, em todos osmo"imentos. N a Sinfonia 2aust  =1E>>D, em trIs mo"imentos dedicados a austo,3e&istó&eles e 3argarida, decididamente a maior obra orquestral de Lis%t e aindaconsiderada, or alguns, como autIntica obra2rima. 0 a Sinfonia Dante =1E>BD, com oMagnificat como último mo"imento.

Todas essas obras est)o cheias de interessantes id*ias musicais# e, no entanto, s)oirremedia"elmente antiquadas, assim como os quadros históricos de Helaroche,Waulbach e PilotS, assim como as ilustra($es dantescas de Hor*. :)o ro"a do gostosuntuoso e seudo2histórico da *oca dos mó"eis de estiloQ e da imitada arquiteturagótica.

`...

Lis%t reali%ou2se lenamente só na música ara iano, seu instrumento. Ainda assim *necessário n)o le"ar em conta a maior arte da sua obra ian!stica as &antasias e"aria($es sobre melodias de óeras, as "alsas e outras dan(as de moda, as e(aso*ticas 7 maneira de :chumann. :)o trabalhos do "irtuose ara brilhar como "irtuose#a sobre"i"Incia de muitas dessas obras no reertório * um &ato, mas um &ato menosdeseá"el. O "irtuosismo tamb*m domina nos dois Concertos !ara !iano e orquestra emmi bemol maior =1EED e em l; maior  =1EED# mas nenhum grande ianista quer

Page 106: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 106/200

disensá2los# e n)o se lhes negará, sobretudo ao rimeiro =denominado com otri8nguloQD, s*rias qualidades musicais. Tamb*m s)o mais que meras ro"as de"irtuosismo seus Estudos "1cnicos, que Jusoni e Jartó admira"am# in&eli%mente n)o

s)o acess!"eis em reedi()o moderna. A melhor música ian!stica de Lis%t encontra2se nas duas cole($es de e(as o*ticas 'nn1es de !1legrinage =1EG?D, insiradas elas recorda($es da :u!(a e da tália# e)armonies !o1tiques et religieuses =1EED, sugeridas or oesias de Lamartine. Algunsconsideram como in&eriores as duas /1gendes =1EBGD, de insira()o religiosa# masent)o, n)o sentem a grande nobre%a dessa música. A obra2rima incontestada * aSonata !ara !iano em si menor =1E>GD. /)o * uma sonata em sentido beetho"eniano. Numa &antasia rasódica, uni&icada ela resen(a de um tema único, cuastrans&orma($es substituem o desen"ol"imentoQ das sonatas clássicas. 0ssa obramagn!&ica tamb*m tem grande imort8ncia histórica insirará o rinc!io c!clico deC*sar ranc. 3as de"ia desagradar "i"amente ao o"em Jrahms, ent)o ainda amigo eadmirador de Lis%t ou"iu a obra e'ecutada elo rório mestre# e adormeceu. oi oin!cio de uma inimi%ade que continuou durante a "ida toda. Lis%t &oi considerado o anti2

JrahmsQ, de con"ic($es musicais diretamente oostas. Com a "itória &inal da músicabrahmsiana, a maior arte da obra de Lis%t, t)o rica e "ariada, &oi relegada ara o limbo.Hestino inusto de um grande artista e homem de rara nobre%a da alma e do es!rito.

Lis%t só * nacionalistaQ numa arte equena e menos imortante da sua obra. /oresto, * homem dos c!rculos aristocráticos e das elites da 0uroa de 1E>@ na "ida,como na arte, um ecl*tico. /)o tem nada com o nacionalismo democrático do s*culo. ARungria tamb*m se libertou, em 1EBF, or obra da sua aristocracia, que a go"ernará at*1?1E. Os maiores ad"ersários desse reino dos 3agnatasQ húngaros &oram, dentro doim*rio Austro2Rúngaro, os tchecos, na()o democrática e de &ortes instintosoosicionistas.

Os tchecos s)o o"o de e'traordinária musicalidade e de &olclore musical riqu!ssimo#aquilo que na música nos arece tiicamente esla"oQ, * tcheco. Pois a música olonesa* mais ocidentali%ada# e a música russa adotou muitos elementos orientais. Rá s*culos

articiam os tchecos da música do Ocidente, nem semre identi&icados orque aala"ra boImioQ signi&ica"a, antigamente, tanto os tchecos como os alem)es naturaisda JoImia. Hos músicos de 3annheim, alguns eram certamente tchecos, tal"e% tamb*mo rório :tamit%1. 3as o &undador da música tcheca nacional só &oi :metana=ronúncia :m*tanaD.

O destino de Jedrich :30TA/A =1EM1EEDM &oi dos mais duros. Crescido naatmos&era mesquinha da equena cidade de ro"!ncia, tornou2se nacionalista# deois da&racassada re"olu()o de 1EE re&eriu o e'!lio "oluntário. Lis%t, semre generoso,obte"e ara ele o lugar de regente da orquestra municial em <otemburgo =:u*ciaD.6uando a Constitui()o da _ustria em 1EB1 deu aos tchecos a liberdade cultural ealguma autonomia ol!tica, :metana "oltou ara assumir, ouco mais tarde, as &un($esde regente do Teatro /acional em Praga. Parecia algo como a lideran(a da "ida musicaltcheca. 3as :metana n)o &oi reconhecido elos seus conterr8neos como grande

comositor. :ó obte"e ouco sucesso. Acidentes desgra(ados destru!ram2lhe a &am!lia.0m 1EF &icou surdo# e morreu no manic4mio.

1 W. 3. Womma, Das &oehmische Musikantentum, Wassel, [email protected] . -. Wreci, &edrich Smetana, Praga, 1?@@ =em l!ngua tchecaD. K. 9itter, Smetana, Paris, 1?@F.\. /eedlS, &edrich Smetana, F "ols., Praga, 1?MM1?G =em l!ngua tchecaD. ;. Tiersot, Smetana,Paris, 1?MB.

Page 107: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 107/200

:metana á &oi chamado de <lina tcheco# ois aro"eitou as &ormas da músicaocidental aenas como "e!culos de material &olclórico. Aesar de &orma()o musicalmutio sólida, acadImica, tinha ouco uso ara os gIneros do classicismo "ienense, aos

quais re&eriu as &ormas de Lis%t. /)o escre"eu sin&onias nem sonatas# e ouca músicade c8mara. 3as nesta última destacam2se o "rio !ara !iano e cordas em sol menor  =1E>>D, sombriamente trágico, e antes de tudo o Quarteto !ara cordas em mi menor  =1EFBD, denominado Da Minha ,ida, cuos quatro mo"imentos, embora classicamenteconstru!dos, obedecem a um rograma quatro &rases de sua "ida desgra(ada. N o únicoquarteto autobiográ&icoQ da literatura musical# obra bela e como"ente.

`...

0mbora in&luenciado or Kagner, :metana n)o sentiu entusiasmo elo comositoralem)o. :ua ambi()o antes &oi a de tornar2se o Keber tcheco. As óeras históricasDalibor  =1EBED e /ibussa =1EFMD n)o tIm nada que "er com a grande óeraQ de3eSerbeer. Antes lembram Eur%anthe, elo nacionalismo musical e ela glori&ica()o dadade 3*dia. :)o obras que de"emos dei'ar ao reertório tcheco. 3as os róriostchecos, seus contemor8neos, n)o as admira"am e'cessi"amente. Pre&eriram a óera2

c4mica 5rodana nevesta =:oiva vendida, 1EBBD, que o comositor considera"a comoobra secundária, chegando a chamá2la de minha oeretaQ. /a "erdade, a :oivavendida * muito mais.

 A &orma * a da óera2c4mica italiano2&rancesa# o libreto * de simlicidade in&antil. 3asa música * intimamente nacional, &olclórica no melhor sentido da ala"ra# e * elaboradacom uma arte consumada que em certos trechos =notadamente na aberturaD lembra3o%art. A comara()o arece ousada, mas usti&ica2se a óera de :metana tamb*mestá insirada or um ro&undo sentimento humano. N uma obra2rima. Hurante muitotemo só &oi reresentada nas cidades tchecas. 0m 1E?M, oito anos deois da morte docomositor, o Teatro /acional de Praga reresentou2a em -iena com sucesso&ormidá"el, que logo se reetiu na Alemanha e em Paris. Roe ertence a :oiva vendida ao reertório internacional. 0sse &ato á insirou a cr!ticos estrangeiros o conceito menose'ato de ser :metana rincialmente comositor humor!stico# mas aos tchecos signi&ica

a sua arte a e'ress)o musical da nacionalidade.:e :metana * o Keber tchecoQ, ent)o o :chumann tchecoQ seria \deno ibich

=1E>@1?@@D, de cua abundante rodu()o só se e'ecuta no estrangeiro a abertura deconcerto 8ma :oite no Castelo de $arlstein. 0"identemente, comara($es daquelasentendem2se cum grano salis# n)o signi&icam ulgamento cr!tico.

3as de n!"el realmente alto * a obra de Anton!n H-O9AW =1E11?@D1, &ilho degente humilde, de um artes)o de aldeia, que chegou, deois de uma "ida semacontecimentos esetaculares, a diretor dos conser"atórios em /o"a orque e Praga,doutor honoris causa da Uni"ersidade de Cambridge e membro, nomeado ormerecimento, da C8mara dos Pares do m*rio Austr!aco.

O sucesso e'traordinário de H"ora * atribu!do ao emrego sábio do encantador&olclore musical tcheco. Antes de tudo * reciso, ortanto, e'licar a di&eren(a&undamental entre sua música e a de :metana, que emregou os mesmos elementos#mas ningu*m con&undirá amais um tema de :metana com um de H"ora. /em estenem aquele usaram melodias e'istentes. n"entaram seus temas# e a insira()o *di&erente. :metana * disc!ulo de Lis%t# tamb*m conhece Kagner. H"ora * disc!ulo de

1 W. Ro&&meister, 'ntonBn Dvorak . =Original em l!ngua tcheca.D Tradu()o inglesa de 9. /e^march,Londres, 1?ME. O. :oure e P. :te&an, Dvorak , -iena, 1?G>. R. :ir, 'ntonBn Dvorak , Potsdam,1?G>. P. :te&an, "he /ife and >ork of 'ntonBn Dvorak , /o"a orque, 1?1.

Page 108: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 108/200

:chumann e Jrahms# seu amor secreto &oi a música de :chubert. A re&erIncia de:metana ela música de rograma e a de H"ora ela música absoluta arece signi&icar,naquele, uma insira()o mais literária e, neste, uma &orma()o mais acadImica. 3as

acontece o contrário :metana elabora suas obras com o cuidado de um oli&onistaerudito# H"ora * um grande imro"isador que obedece 7 insira()o do momento, semmuita reocua()o da estrutura. H"ora, músico intensamente oular, conquistouenorme oularidade internacional. Por isso mesmo, o mais eminente musicólogotcheco, \deno /eedlS, se ronunciou energicamente contra a arte de H"ora que teriasido um cosmoolita aburguesadoQ, muito in&erior ao "erdadeiro esla"oQ :metana.:urreende2nos essa tese que se e'lica elas atitudes ol!ticas de /eedlS o grandebiógra&o de :metana *, há decInios, comunista e nacionalista aai'onado.

Tamb*m no estrangeiro a imensa oularidade da música de H"ora irritou muitagente. 3as assim como o insucesso de obras di&!ceis n)o * ro"a do seu "alorintr!nseco, assim o sucesso n)o signi&ica, &atalmente, a &alta de imort8ncia suerior.

 Admite2se, sem hesita()o, que muitas obras de H"ora s)o aenas bonitas, agradá"eis,di"ertidas ou sentimentais. Assim uma equena obra, a )umoresque, O!.RVR, noX , ara

iano =tamb*m ara "iolino e ianoD chegou a ser ou"ida a toda hora em toda arte domundo, sem ser mais do que uma melodia agradá"el. As duas cole($es de DanJasEslavas, O!.L  =1EFED e O!.XK  =1EEBD, oular!ssimas, encontram2se no mesmo n!"el#contudo, dá ara ensar o entusiasmo de um Jrahms or elas. Tamb*m uma obra maisambiciosa como o grande Stabat Mater  =1EEGD n)o * roriamente ro&unda, embora aintrodu()o de elementos de de"o()o oular no hino sacro &osse um gole de mestre#outras mani&esta($es do catolicismo de H"ora s)o o (1quiem e o grande "e Deum.0n&im, a obra mais conhecida e mais e'ecutada a , Sinfonia em mi menor =1E?D,denominada Do :ovo Mundo orque H"ora a escre"eu quando diretor do /ationalConser"atorS em /o"a orque n)o * uma grande sin&onia =outras sin&onias de H"ora, a++ e a +, , s)o suerioresD# mas o mo"imento lento tem como tema uma melodia t)oincomara"elmente encantadora que os mais amusicais a sabem de cor e que &icourebai'ada, en&im, a música de inter"alo sentimental na boate ou no concert-caf1. oiuma insira()o das mais &eli%es, mas só insira()o moment8nea.

3as outras obras de H"ora s)o bem di&erentes tIm "alor uni"ersal. O  Concerto !aravioloncelo e orquestra em si menor =1E?>D * o maior e'emlo desse gInero raro e bastadi%er que o se"ero e imlacá"el Jrahms, mestre da estrutura musical er&eita, seentusiasmou or essa obra, embora tamb*m &osse mais melodiosa que bem estruturada.

 As ,ariaJYes Sinfnicas !ara orquestra =1EFFD &oram altamente elogiadas eloinsuseito To"eS, acadImico &errenho. 0n&im, a música de c8mara, na qual H"ora *esecialista emregando duas &ormas de dan(a tchecas, o Dumka melancólico e o2uriant alegre ara &ortalecer os contrastes e'igidos ela sonata2&orma, obra imortante

 á * o "rio !ara !iano e cordas em f; menor  =1EEGD, sombrio e trágico. Pouco antes do&im da "ida, em 1E?>, escre"eu H"ora os Quartetos !ara cordas em l; maior  =O!.RVT D eem sol maior  =O!.RV D, que s)o obras camer!sticas mais ambiciosas, grandes quartetos,na "erdade, nos quais se aro'ima do seu querido :chubert. 3as s)o anteriores as duasobras2rimas o Quinteto !ara !iano e cordas em l; maior , O!.UR =1EEFD, de energia e&or(a ubilosas# e o "rio !ara !iano e cordas em mi menor , O!.NV  =1E?1D, denominadoDumk% , de melancolia sonhadora e, embora arecendo &acilmente melodioso, cheio demisteriosas comle'idades harm4nicas.

Com reseito 7 insira()o &olclórica de H"ora ainda subsiste um equ!"oco estranhoa&irma2se que o mestre, durante o temo assado em /o"a orque, se a&astou das suas&ontes esla"as, aro"eitando o &olclore norte2americano. /aquela &amosa , Sinfonia =Do

Page 109: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 109/200

:ovo MundoD, teria usado melodias de negro s!irituals# outros ensaram em &olcloremusical dos !ndios# mais outros, em can($es irlandesas. /a "erdade, n)o &oi oss!"eldescobrir, naquelas &ontes americanas, nada de arecido com os temas da sin&onia que

a cada euroeu conhecedor da música tcheca se a&iguram tiicamente esla"os# s)oe'ress$es da nostalgia de H"ora, sentindo2se e'ilado no no"o mundoQ e ensando naátria long!nqua. Uma testemunha insuseita, o musicólogo americano K.9. :alding,ro&essor da Uni"ersidade de Rar"ard, tendo estudado o roblema, chegou a con&irmarlenamente a tese do caráter esla"o da , Sinfonia de H"ora. -ale o mesmo quanto aobelo Quarteto !ara cordas em f; maior , O!.N  =1E?MD, tamb*m escrito em /o"a orque,ao qual editores ou cr!ticos deram os aelidos de Quarteto 'mericano ou Quarteto "he:igger . N um absurdo. 9esta salientar, mais uma "e%, que a música tcheca * maistiicamente esla"a do que a russa, na qual se in&iltraram orientalismos e'óticos.

H"ora usou os elementos &olclóricos de maneira rasódica, sem se reocuar muitocom as regras acadImicas de constru()o e estrutura. N esta a &raque%a de sua música,que 7s "e%es arece mera acumula()o de temas bonitos ou &ascinantes. 3as obrascomo o Concerto !ara violoncelo, o Quinteto O!.UR e o "rio Dumk% , música altamente

insirada e de rara &or(a esiritual, n)o oder)o ser amais esquecidas.`...

O intermediário entre os esla"os ocidentais e os russos &oi o tcheco 0duard/AP9AK/W =1EG?1?1>D, durante muitos anos diretor do Teatro 3aria e dos concertosilarm4nicos em Petersburgo, autor de óeras de enredos russos, hoe esquecidas.Prearou o caminho ara os que s)o e'atamente seus contemor8neos osnacionalistas russos do <ruo dos CincoQ.

O <ruo dos CincoQ, tamb*m chamado Mogutcha%a $utchke =<ruo PoderosoD,retomou a tradi()o legada or <lina, criando uma música eseci&icamente russa,deliberadamente di&erente da música ocidental, embora n)o conseguissem esquecer enem reudiassem as in&luIncias de :chumann e Lis%t. O abandono das tradi($es enormas e regras da música ocidental &oi2lhes &acilitado elo &ato de que n)o asconheciam bem# ois eram, todos eles, autodidatas, diletantes na arte musical. :eu

nacionalismo intolerante &a% ensar nos seus contemor8neos na literatura russa, nosesla"ó&ilosQ, dos quais Hostoie"si * a maior &igura. 9ealmente, como nacionalistas n)oodiam colocar2se ao lado do artido oosto, dos radicaisQ, que desea"am ocidentali%ara 9ússia ara libertá2la do desotismo oriental dos c%ares. 3as n)o * t)o &ácil de&inir aosi()o ideológica dos CincoQ. Como os esla"ó&ilosQ tinham em comum o interesseelo assado histórico da 9ússia, elos "elhos costumes e ela grea ortodo'a# enenhum deles arece ter articiado dos mo"imentos re"olucionários. <lina tamb*m&ora atriota, &iel ao c%ar. 3as os CincoQ sentiam a mesma simatia ara com o o"ohumilde como os :arodniki , os intelectuais radicais que abandonaram seus larescon&ortá"eis ara "i"er com os obres, com os camoneses e com os mendigos,di&undindo entre eles a lu% da ciIncia e da eseran(a de liberta()o. Os CincoQ s)o:arodniki  sem obeti"os ol!ticos, sen)o indiretamente. :)o artistas, músicos1.

O mais "elho dos CincoQ &oi Ale'ander :ergeie"itch HA9<O3]CRW] =1E1G1EB?D,

diretamente in&luenciado or <lina, autor de óeras italiani%antes nas quais o elementonacional só * sobreosto, como ornamento, 7s &ormas estrangeiras (ussalka =1E>BD eO Convidado de 5edra =reresentado em 1EFMD n)o ti"eram sucesso# o úblico,acostumado a ou"ir -erdi e <ounod, as reeitou. Roe, o gosto o&icial imerante na

1 -. . :ero&&, Das Maechtige )ueflein. Der 8rs!rung der (ussischen :ationalmusik  =trad. dorussoD, \urique, 1?BG.

Page 110: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 110/200

9ússia so"i*tica manda e'agerar os m*ritos de HargomSchS.

:ó animador, sem &or(a criadora, &oi C*sar Antono"itch CU =1EG>1?1ED. A &iguracentral do mo"imento nacionalista * 3ilS Ale'eie"itch JALAW90- =1EGF1?1@D, que

&undou em 1EB1 a 0scola Li"re de 3úsicaQ# iniciati"a in&luenciada elas id*ias dogrande romancista e cr!tico re"olucionário Tcherniche"sS. Colecionou can($esoulares# em 1EEB ublicou a &amosa CanJo dos &arqueiros do (io ,olga. Jalaire"emregou com &elicidade o &olclore musical na sin&onia (ssia =1EB1D. Tamb*m &oi dosrimeiros que se interessaram ela música dos o"os orientais que habitam as regi$esmarginais da 9ússia da! o oema musical +slame% , ara iano =1EBGD. 3as sua maiorobra, o oema sin&4nico "amara =1EEMD * baseado em temas li"remente in"entados,embora 7 maneira das melodias que o o"o canta. Jalaire" escre"eu ouco. Passou a"ida meditando e remeditando os mesmos roblemas e sugerindo solu($es aos seusamigos. /)o se reali%ou.

<rande, na "erdade, * Ale'ander Por&irie"itch JO9OH/ =1EG1EEFD. oi o tio deautodidata ois &oi m*dico militar, deois ro&essor de medicina na Uni"ersidade dePetesburgo, en&im conselheiro imerial. N autor de aenas trIs obras2rimas. A Sinfonia

n.K em si menor =1EFBD * a mais russaQ entre todas as obras instrumentais que sa!ramdo <ruoQ# at* se ode a&irmar que * suerior a todas as outras sin&onias escritas na9ússia, embora a teatralidade retórica da obra reudique um ouco a e'eriInciagenuinamente nacional. =/)o s)o desre%!"eis a Sinfonia no.R, uma terceira, inacabada,e um isolado Scher4o !ara orquestra em l; bemol maior .D O Quarteto !ara cordas n.Rem l; maior =1EFFD tamb*m merece um suerlati"o * a mais "aliosa obra camer!stica detoda a música russa# o mo"imento lento * um bel!ssimo e &amoso noturno. /o entanto, aglória de Jorodin baseia2se rincialmente na óera O 5rBnci!e +gor =reresentada sóem 1E?@D, da qual todo mundo conhece, dos concertos, as &ascinantes Han(as dePlo"et%Q. Tal"e% sea melhor assim ois a obra inteira n)o assa de uma cole()o demelodias &abulosas, sem muita coerIncia dramática# e n)o &altam de todo ositalianismos. A música de Jorodin, com seu uso da disson8ncia que antecia HebussS, ecom as suas comle'idades r!tmicas, que anteciam 9a"el, * muito original. 3as n)o

nos arece igualmente muito russa. Os elementos orientais á re"alecem# * ume'otismo que n)o recisa ser considerado autIntico.

O gInio do mo"imento nacionalista russo &oi 3odest Petro"itch 3U::O9<:W]=1EG?1EE1D1. oi autodidata que nunca chegou a dominar as regras acadImicas, e queor isso mesmo te"e a liberdade de criar obra original!ssima. oi o&icial da <uardamerial# demitiu2se ara oder dedicar2se 7 música# recisa"a desemenhar &un($essubalternas na administra()o ública ara ganhar, misera"elmente, a "ida. :o&reu "árioscolasos de ner"os# &oi alcoólatra cr4nico# tamb*m se suseita uma anomalia se'ual.3orreu, em mis*ria comleta, no hosital militar de Petesburgo. Uma "ida trágica, masn)o erdida. Pois 3ussorgsS reali%ou o que os outros do <ruo dos CincoQ aenasidearam ou só reali%aram &ragmentariamente.

 Aquilo que Jalaire" te"e em mente durante tantos anos, 3ussorgsS reali%ou2o noequeno oema sin&4nico 8ma :oite no Monte Calvo =1EBFD, &ascinante estudo

orquestral, de trans&igura()o musical de suersti($es oulares <ogol em música. 0ssaobra tal"e% sea, entre todas de 3ussorgsS, a melhor reali%ada. :ua caacidade de

1 ;. Randshin, Mussorgsk% , \urique, 1?M. A. Pols, Moussorgsk% , Paris, 1?M>. O. 9iessemann,Mussorgsk%  =original em l!ngua russaD. Tradu()o &rancesa de L. LaloS, Paris, 1?@. 9. Ro&mann,Moussorgsk% , Paris, 1?>M. 3. H. Cal"ocoressi, Modest Mussorgsk% , Londres, 1?>B. =N a a. e amais comleta "ers)o de um li"ro que saiu, em rimeira "ers)o, em Paris, 1?@ED.

Page 111: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 111/200

intar em sonsQ tamb*m criou os "ableau# d0une E#!osition =1EFGD, insirados or umae'osi()o de desenhos do arquiteto -itor Rartmann s)o e(as o*ticas, realistas,humor!sticas ou at*ticas, de linhas melódicas original!ssimas, ritmos irresist!"eis,

modos estranhos como sa!dos da memória atá"ica da gente russa. :)o o  !endantreal!stico das e(as rom8nticas de :chumann, que 3ussorgsS conhecia bem. N aliás,reciso ad"ertir dos "ableau# d0une E#!osition só * autIntica a "ers)o original, araiano# e'ecuta2se hoe com &requIncia maior o arrano ara orquestra, &eito or 3aurice9a"el, obra brilhant!ssima V mas n)o * 3ussorgsS, * 9a"el.

 A música ilustrati"aQ de 3ussorgsS n)o quer, como a de Jerlio%, cometir com aliteratura. Pretende imitar a realidade. 9eeita toda tenta()o de embele%á2la. /)o quer abele%a, mas a "erdade. A oosi()o ao esteticismo dos italianos e dos rom8nticosalem)es insirou a tentati"a de suerá2lo elo humorismo &antástico2grotesco, 7 maneirade <ogol. Con&orme te'to de <ogol escre"eu o comositor a óera2c4mica ' 2eira deSorotchin4i  =&ragmento# comletado em 1?MG or /iolai TchereninD. 0 outra, OCasamento, inteiramente em rosa# &oi o e'erimento mais audacioso de 3ussorgsS.

Ho esoterismo art!stico dessas e'eriIncias, que só oderiam interessar a c!rculos

limitados, libertou2o a tendIncia dos :arodniki  ir ara o o"o. O rimeiro &ruto desseoulismoQ s)o os lieder  de 3ussorgsS. /)o tIm nada em comum com o lied alem)o,que * um gInero eseci&icamente rom8ntico. :eu obeti"o * o realismo er&eitoersonagens estranhos, assim como se encontram tantos no o"o russo, cantam,re"elando sua ersonalidade, sua história. Ha! o caráter dramático, 7s "e%es at* teatral,de lieder  como o )o!ak do embriagado ou o lamento do Seminarista. Os quatro lieder dociclo CanJYes e DanJas da Morte =1EF>D s)o das obras mais er&eitas do comositor,sobretudo o "re!ak e O General . A melodia n)o *, 7 maneira ocidental, estili%ada, demodo que tamb*m oderia e'istir indeendente do te'to, mas surge diretamente doritmo das ala"ras &aladas. A harmoni%a()o n)o obedece 7s regras do sistema tonalJach29ameau# 3ussorgsS adota os modelos da antiga música sacra esla"a, o que,elo menos ara os nossos ou"idos, con&ere 7 melodia um estranho sabor arcaico2e'ótico.

Todos esses elementos V a harmonia sacro2esla"a, o ritmo &aladoQ, o oulismoQ eo moti"o ermanente da morte V 3ussorgsS reuniu2os ara criar sua maior obra, &orisGodunov , no qual o comositor trabalhou entre 1EBE e 1EF, remodelando2o "árias"e%es# * a óera nacional russa. O enredo, o eisódio mais trágico e mais enigmático dahistórica russa, * tirado de uma trag*dia do oeta nacional Puchin. Tiicamente russoss)o os roblemas sicológicos e religiosos que agitam a alma do c%ar Joris <oduno". Acena da coroa()o, o monólogo de Joris, a cena do relógio e a morte do c%ar s)o de&or(a e ro&undidade dostoi"esianas. A música di&erente, italiani%ante, que o comositorescre"eu ara o terceiro ato, dedicado aos in"asores oloneses, &ortalece elo contrasteo e&eito de nacionalismo agressi"o da arte rincial da obra. O grande ael atribu!doaos coros e aos ersonagens oulares trans&orma o gInero &oris Godunov * óera dees*cie no"a, oular e realista. Uma obra2rima singular.

`...

N reciso admitir que o autodidata 3ussorgsS nunca chegou a dominarcomletamente o m*tier. 3as * di&!cil distinguir os momentos em que n)o soubeobedecer 7s regrasQ, e, or outro lado, os momentos em que n)o o quis,deliberadamente ele, o comositor antiacadImico or e'celIncia, totalmente alheio 7stradi($es da música ocidental. /em sequer um conhecedor t)o grande como 9imsS2Worsao" soube distingui2los. :ua "ers)o e adata()o de &oris Godunov , de 1E?B,

Page 112: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 112/200

reti&ica e"identes erros do comositor# mas tamb*m elimina muitos tra(os originais ecaracter!sticos. Abrandou a obra. Cr!ticos e'igentes re&erem, hoe, a "ers)o original,bárbaraQ, enquanto o úblico n)o quer disensar as artes de instrumenta()o de 9imsS2

Worsao". Tal"e% o &uturo erten(a 7 reinstrumenta()o, menos radical, da obra deChostao"itch =1?>?D. 3as V * um &ato histórico, irre"ers!"el V &oi a "ers)o de 9imsS2Worsao" que &e% a obra "encer as resistIncias rimeiro, na 9ússia# deois, na 0uroa,desde a reresenta()o que Hiaghile" organi%ou em 1?@E em Paris. 0 desde ent)oe'erce a música de 3ussorgsS in&luIncia enorme, incalculá"el, na arte ocidental. 3asn)o nos iludimos at* na rória 9ússia * 3ussorgsS um caso singular, absolutamentesui generis, isolado.

 A melhor ro"a disso reside ustamente na atitude incomreensi"a do rório /iolai Andreie"itch 93:W]2WO9:AWO- =1E1?@ED1, que &oi russo russ!ssimoQ econhecedor er&eito do m1tier , aesar de tamb*m ter sido autodidata ois &oi, dero&iss)o, o&icial da 3arinha, mais tarde insetor2geral das orquestras da esquadrarussa. ;á n)o ertence ao <ruo dos CincoQ# * de gera()o mais no"a. :eunacionalismo * intransigente, mas sua música * a menos esla"a de todos os

comositores russos está cheia de orientalismos e outros e'otismos. 0 há nelein&luIncias ocidentais a música de rogramaQ de Lis%t# e a arte da orquestra()o deJerlio%, que ele suerou, or*m, largamente, embora só em tudo que se re&ere 7 merat*cnica. 0sse autodidata que só te"e aulas com o autodidata Jalaire", tal"e% sea omaior mestre da orquestra()o em toda a música moderna. :ua arte de rodu%irsonoridades &ascinantes e &antásticas * inigualada. 3as n)o ser"iu a obeti"os maisaltos. :ua re&erIncia elos bailados * muito signi&icati"a. Para ele toda a música &oi,como o bal1, uma grande &antasmagoria ara encantar os sensos e en"ol"er o es!ritodos ou"intes. 3uitas obras de 9imsS2Worsao" continuam no reertório russo,sobretudo as óeras. ' MoJa de 5skov =1EFGD, 2loco de :eve =1EEMD, Sadko =1E?BD,$ita6  =1?@D, O Galo de Ouro =1?@FD, /o reertório ocidental est)o os oemas sin&4nicosSadko =1EBFD, e sobretudo Shehera4ade =1EEED, e a abertura de concerto 5;scoa(ussa. 6uase todas essas obras s)o tecnicamente er&eitas# nenhuma tem ro&unde%a.

 A tradi()o de 9imsS2Worsao" &oi continuada, at* o nosso temo, or Ale'anderWonstantino"itch <LA\U/O- =1EB>1?GBD, comositor retórico do qual conhecemossobretudo o oema sin&4nico Stenka (asin, cuo tema rincial * a CanJo dos&arqueiros do (io ,olga.

0mbora o nacionalismo musical de um 9imsS2Worsao" ou de um <la%uno" &ossemenos autIntico que o de um 3ussorgsS ou Jorodin, ningu*m dei'ará de reconhecI2los como comositores russos. 3esmo se ti"essem, or moti"o qualquer, reeitado oudesre%ado a doutrina nacionalista, oderiam alegar que sua música n)o &oi, or isso,menos russa do que *. 0sse caso hiot*tico tornou2se realidade em Tchaio"sSreeitou o nacionalismo dos CincoQ# mas assim acredita"a ser mais russoQ que elesrórios, odendo citar, como argumento, o entusiasmo do Ocidente ela sua obra e seureconhecimento, elos estrangeiros, como o maior comositor russoQ.

 A resosta seria * que os ocidentais, ent)o, n)o sabiam o que * autIntica música

russa. 3as a glória ermanente de Tchaio"sS em sua rória terra re"ela que o cason)o * t)o simles assim. /)o * tare&a da historiogra&ia resol"er esse roblema teóricoque * música "erdadeiramente nacional 3as a di&iculdade da resosta ser"e arae'licar o lusco2&usco cr!tico que ainda en"ol"e o autor da Sinfonie 5ath1tique.

1 3. 3ontagu2/athan, (imsk%-$orsakov , Londres, 1?1B.

Page 113: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 113/200

Peter =ou PiotrD LTCR TCRAWO-:W] =1E@1E?GDM n)o &oi autodidata assim comoos CincoQ. 0mbora tendo estudado direito e tendo sido &uncionário do 3inist*rio da;usti(a, &oi deois aluno do ianista /iolaus 9ubinstein, que &undara o conser"atório de

música em 3oscou. Hesde ent)o, a "ida relati"amente curta de Tchaio"sS &oi marcadaor desastres e este"e en"ol"ida em mist*rios. :eu casamento, em 1EFF, &oi logoseguido de seara()o, colaso de ner"os e tentati"a de suic!dio. Rá todos os moti"osara crer que o comositor era se'ualmente anormal, &ato de que só tarde chegou atornar2se consciente. 0stranhas tamb*m &oram suas rela($es com a riqu!ssima madamede 3ec, que durante muitos anos o audou generosamente, ossibilitando2lhe otrabalho criador sem reocua($es de ordem material os dois nunca se encontraramessoalmente, comunicando2se aenas or meio de e'tensa corresondIncia, orque ocontato essoal oderia dececioná2losQ. Tchaio"sS &oi homem atológico ero&undamente in&eli%. :ua morte rematura ro"ocou boatos de suic!dio# mas morreu decólera.

Tchaio"sS &oi ad"ersário do nacionalismo dos CincoQ. 0mbora amigo essoal deJalaire" e 9imsS2Worsao", desre%a"a2lhes as obras# desre%a"a 3ussorgsS e

combatia as teorias nacionalistas de Cui. 0sera"a a sal"a()o da música russa eloscontatos com o Ocidente. 3as suas oini$es sobre a música ocidental eram das maisestranhas Jach * um bom comositor, mas n)o * um gInioQ# Randel * comositor dequarta categoriaQ# de Jeetho"en só gosta"a das obras da mocidade, achando as outrasobras caóticasQ# Jrahms seria uma mediocridade arroganteQ. Oini$es grotescas, quetIm, or*m, o m*rito da sinceridade. :eu !dolo era 3o%art. 3as quem detesta assimtoda outra grande música, n)o comreende bem o mestre de :al%burgo# só "I asuer&!cie elegante e agradá"el de um comositor do 9ococó. 9ealmente, o entusiasmode Tchaio"sS or 3o%art anda"a acomanhado de entusiasmo quase igual elamúsica e os bailados de Helibes. /a "erdade, Tchaio"sS &oi um ecl*tico semro&undidade. gnora"a or comleto a oli&onia. Haria um bom comositor de óeras 7maneira antiga.

Com e&eito, as óeras s)o suas obras2rimas, elo menos con&orme a oini)o da

cr!tica russa. Eugenio Onegin =1EFFD * tirado do &amoso romance em "ersos de Puchin#mas a atmos&era da música antes * a dos romances de Turgenie", da "ida ociosa daculta aristocracia russa nos seus lati&úndios, que se sabe condenada elo rogressosocial, se n)o, um dia, or uma re"olu()o. A música * de nobre melancolia, reunindo damelhor maneira elementos russos, italianos e &ranceses# * um ecletismo que se adataer&eitamente 7 cultura daquele ambiente aristocrático. A óera merece seu lugar noreertório internacional. Os russos arecem re&erir 5ique-Dame =1E?@D, que realmenten)o * in&erior.

3as a maior arte da obra de Tchaio"sS * música instrumental# e n)o ode ser ulgada t)o &a"ora"elmente. Assim como os numerosos lieds do comositor, tamb*msuas obras ian!sticas e camer!sticas s)o quase semre música de sal)oQ, dedi"ertimento alegre ou sentimental ara gente bem2educada e um ouco &r!"ola. OQuarteto !ara cordas em r1 maior  =1EFMD * &amoso elo tema melancólico do seu

mo"imento lento, que como"eu Tolstoi at* as lágrimas# mas que entendia de música oautor da no"ela em que a Sonata de $reut4er , de Jeetho"en, * t)o burlescamenteinterretada obra mais s*ria, que merece &icar no reertório, * o "rio !ara !iano ecordas em l; menor  =1EEMD, insirado ela morte de /iolaus 9ubinstein.

M 9. /e^march, "chaikovsk%. )is /ife and >orks, Londres 1?@@. 9. :tein, Peter litch "chaikovsk% ,Londres 1?G>. <. Abraham edit., "chaikovsk%. ' S%m!osium. Londres, 1?B.

Page 114: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 114/200

Obra das mais conhecidas de Tchaio"sS s)o os bal1 O /ago dos Cisnes =1EFBD,Casse-noisette =1E?MD etc. 0ssa música só de"e ser ou"ida acomanhando a e'ibi()ode bailarinos de rimeira ordem em cenário &e*rico. O "alor musical * equeno# outros

diriam * nulo. A oularidade e'cessi"a dessas obras * &ato lamentá"el, reudicial 7educa()o do gosto musical. 0st)o no mesmo n!"el os muito elogiados oemassin&4nicos 2rancesca da (imini  =1EFBD e Manfred  =1EEBD, as aberturas (omeo e 3ulieta =1EF@D e 1E1M =1E1ED. N música ara ser e'ecutada ao ar li"re, or bandas, ara di"ertirou emocionar um úblico ouco atento. A Serenata !ara orquestra de cordas =1EE1D e asSuBtes no. =1EED e no.L =1EEED s)o agradá"eis contra&a($es do estilo mo%artiano. Os"irtuoses tIm o direito de manter no reertório os concertos de Tchaio"sS. Contudo, oConcerto !ara !iano e orquestra no.R em si bemol menor  =1EF>D á se ou"e com&req5Incia menor. 3as o Concerto !ara violino e orquestra em r1 maior  =1EFED *irresist!"el, elas melodias bem2in"entadas e ela "er"e r!tmica.

`...

Tchaio"sS &oi homem atológico, "eementemente emocional. 3as tamb*m conheciaa &undo a arte de dramati%ar e encenar, com o má'imo de e&eito, seus so&rimentos e

deseseros. :eu essimismo, que á &oi muito discutido, n)o * argumento contra ele#Kagner e Jrahms tamb*m eram essimistas. 3as, na "erdade, o essimismo deTchaio"sS n)o assa de sentimentalismo melancólico, com inter"alos de aai'onadare"olta contra o destino. :uas sin&onias n)o s)o trágicas# s)o melodramáticas e V ot!tulo da última di% bem V retórico2at*ticas.

O sucesso de Tchaio"sS no Ocidente &oi imenso. /a Alemanha, na nglaterra e nos0stados Unidos, sua música &oi saudada, com entusiasmo, como e'ress)o autIntica daalma russa. oi o temo em que o Ocidente tamb*m chegou a conhecer Tolstoi eHostoie"si# e colocou o comositor na mesma altura. /os a!ses anglo2sa'4nios e emalguns outros, esse sucesso continua, aliás, sem diminuir at* hoe. oi mas c*tica aatitude dos &ranceses# ois na ran(a, or "olta de 1E?@ e 1?@@, elo menos os músicosro&issionais e os cr!ticos á conheciam Jorodin e 3ussorgsS. Hesde ent)o, as elitessemre condenaram o oular!ssimo Tchaio"sS. 3as n)o unanimemente. 9ecorda2se

a oini)o &a"orá"el de :tra"insS. 0 na 9ússia so"i*tica Tchaio"sS * e continua sendoconsiderado como o grande comositor nacional, tal"e% só orque * t)o acess!"el 7smassas.

9ealmente, o emocionalismo "eemente de um Tchaio"sS nunca dei'a, em artealguma, de imressionar o grande úblico. Continua entusiasmando os menos musicais,como a um Tolstoi. Rá circunst8ncias atenuantes música intensamente oular nas&ormas da grande música clássica *, ara muitos, o único meio ara aro'imar2se, umouco, de arte maior. 0, ara muitos, * melhor ter música assim do que músicanenhuma.

`...

 A rimeira onda de nacionalismo musical das na($es da 0uroa oriental tinha oucoimressionado o Ocidente <lina, 3onius%o e 0rel n)o se tornaram conhecidos &orados seus a!ses. Tamouco os escandina"os Wuhlau e Rallstroem. A segunda onda &oimais agressi"a mas or isso mesmo, um Jorodin, um 3ussorgsS tinham que eserardecInios at* o reconhecimento internacional do seu gInio. O sucesso coube aosocidentali%ados como Lis%t ou aos ecl*ticos como Tchaio"sS. :ó um nacionalismomoderado, em que os elementos &olclóricos aenas desemenham a &un()o de coloridoe'ótico, odia contar com o consentimento dos úblicos ocidentais. 0ssa modera()otamb*m &oi a sorte dos escandina"os.

Page 115: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 115/200

O mendelsshohnianismo de <ade &oi reeitado ela gera()o seguinte e at* or algunscontemor8neos seus. 3ais "elho que <ade, seu sogro ;ohann Peter RA9T3A//=1E@>1?@@D, &oi, no entanto, mais rogressistaQ suas óeras, bailados, aberturas e

cantatas ro&anas signi&icam a "itória do romantismo schumanniano na Hinamarca#seguiram muitos outros nacionalistas moderados Lange23ueller, 0nna, Reise.

`...

K A</09

:e Kagner &osse aenas um e!gono do romantismo V hou"e muitos na segundametade do s*culo ++ V sua resen(a nessa *oca n)o causaria estranhe%a. 3as n)ose trata de mera resen(a, e sim da maior in&luIncia. Kagner n)o * um e!gono# criouum autIntico neo2romantismo# e isto em lena *oca do liberalismo, da grandeimrensa, da industriali%a()o, do romance naturalista, da intura imressionista. N oanacronismo mais estranho na história da música.

Para e'licar esse anacronismo o&erece2se, rimeiro, a conhecida tese de /iets%che

a história da música, or um lado, e a das outras artes, da literatura e do ensamenton)o estariam nunca sincroni%adas# a música semre estaria atrasada. O e'emlo maisconhecido desse atraso * a arte barroca do luterano Jach em leno s*culo deracionalismo "oltairiano. 3as Jach agou essa sua osi()o anacr4nica com insucesso eesquecimento da sua obra criadora# n)o &oi, como Kagner, a &igura rincial de sua*oca. /)o se ode generali%ar a obser"a()o de /iets%che, que só "ale em certoscasos.

Outra e'lica()o * o&erecida ela tese de Relmuth Plessner =Das Schiksal deutschenGeistes im 'usgang seiner buergerlichen E!oche, \urique, 1?G>D, Rugo Jall e outrosela 9e&orma luterana, que conquistou ao es!rito uma ilimitada liberdade interior, aore(o da submiss)o ao 0stado absolutista ou aternalista, a Alemanha teria, or assimdi%er, sa!do da ci"ili%a()o ocidental. 0nquanto os a!ses cal"inistas =e a ran(a católicaou li"re2ensadoraD abra(am os ideais do racionalismo, do liberalismo, do humanitarismo

e enquanto os a!ses católicos conser"aram os ideais da dade 3*dia V a Alemanharetrocedeu ara um aternalismo aol!tico e, deois, ara um totalitarismo bárbaro. A

 Alemanha seria o a!s antidemocrático e anti2humanitário or de&ini()o. /a segundametade do s*culo ++ acomanhou só material e economicamente o rogresso euroeu.3as a &orma da sua "ida ública e social &oi o (eich aristocrático e reacionário deJismarc, ao qual corresonde o seudo2romantismo de Kagner. Jasta di%er que essatese dei'a sem e'lica()o o sucesso enorme de Kagner na ran(a.

0n&im, lembra2se uma con&erIncia de Ortega S <asset, ronunciada em 1?M quandoda inaugura()o do 3useu 9om8ntico em 3adri o romantismo euroeu de 1EM@, comsuas id*ias medie"alistas e catoli%antes, teria sido uma imita()o do estilo de "ida daaristocracia r*2re"olucionária ela burguesia, á economicamente "itoriosa, emboraainda em osi()o social de in&erioridade. /a Alemanha de 1EF@ reetiu2se, no no"o(eich de Jismarc, aquela situa()o a burguesia submeteu2se aos oderes &eudais da

Prússia ara conseguir a uni&ica()o nacional da Alemanha, camo ro!cio 7industriali%a()o em grande escala. mentalidade dessa no"a burguesia corresonde aglori&ica()o nacionalista do assado germ8nico, com todos os recursos de um lu'o denouveau riche. N o neo2romantismo de Kagner.

 Antes da tentati"a de análise da obra, * reciso conhecer os &atos da "ida de 9ichard

Page 116: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 116/200

KA</09 =1E1G1EEGD1. /)o erderemos temo com a lenda, in"entada elosanti^agnerianos, de que o anti2semita Kagner teria sido &ilho ileg!timo do seu adrasto<eSer, homem de origem udaica# assim como n)o erderemos temo com as lendas de

glori&ica()o, di"ulgadas ela ublicidade da -illa Kahn&ried em JaSreuth e de CosimaKagner. Hesde cedo re"elou o o"em Kagner uma estranha dulicidade de talento araa literatura e ara a música. Uma reresenta()o do Egmont de <oethe, com música decena Jeetho"en, ensinou2lhe a ossibilidade de re&or(ar ro&undamente o e&eito da obraliterária ela interreta()o musical. Hesistiu da carreira das letras ara estudar música.

 As aulas secas do ent)o $antor  de :)o Thomas em Lei%ig, do contraontista Keinlich,a&astaram2no da oli&onia e, tamb*m, deois de umas tentati"as &racassadas, da músicainstrumental. As resecti"as obras, uma Sinfonia em d7 maior e "árias aberturas deconcerto, n)o "alem grande coisa# e'umá2la n)o signi&ica restar ser"i(o 7 memória domestre. :ua "oca()o era o teatro.

:er"iu como regente de orquestra em teatros de ro"!ncia, adquirindo e'eriIncia doalco e cometendo o erro do casamento, e'tremamente in&eli%, com a cantora 3inaPlaner. He 9iga &oi ara Paris, ent)o a caital musical do mundo, onde esera"a

conquistar a glória. 3as a auda rometida or arte de 3eSerbeer &alhou. 0'tremamis*ria material. O surreendente sucesso da grande óeraQ (ien4i  em Jerlimmodi&icou a situa()o. /omea()o ara diretor da era em Hresden. 0str*ias, comsucesso, do :avio 2antasma e de "annhaeuser . mbu!do de id*ias liberais e socialistas,Kagner articiou, em 1E?, da 9e"olu()o em Hresden. Herrota da re"olu()o, &uga,e'!lio em \urique, no"amente a mis*ria, d!"idas# escrito teóricos sobre a óera# e uman&leto contra o uda!smo na música, ato de "ingan(a contra os sucessos e aindi&eren(a de 3eSerbeer. /a ausIncia do e'ilado, o generoso Lis%t &e% reresentar, emKeimar, o /ohengrin. Kagner á trabalha no 'nel dos :ibelungen. nterrome o trabalhoara escre"er "risto e +solda, obra insirada elo amor aai'onado a 3atilde, esosado seu mecenas e rotetor, do rico industrial su!(o Otto Kesendonc. 9ome, en&im,essa rela()o imoss!"el e indecente em todos os sentidos# tamb*m se di"orcia de 3ina./o"as eseran(as de sucesso na ran(a s)o &rustradas elo esc8ndalo com que osmembros do ;oceS Club de Paris receberam, em 1EB1, o "annhaeuser , orque n)oadmitiam óera sem bal* no segundo ato. /o"amente, a mis*ria. He reente, mudatudo. O rei Lud^ig da Ja"iera, meio louco =e deois, totalmente loucoD, dilaidador desomas &antásticas ara &ins art!sticos, chama2o ara 3unique. <randes ati"idadesteatrais. 0str*ia de "risto e +solda e dos Mestres-Cantores. Cosima, &ilha de Lis%t eesosa do grande ianista e regente Rans "on Juelo^, amigo e roagandista deKagner, abandona o marido ara casar com o comositor# a rimeira &ilha, solde,nasceu quando Cosima ainda era esosa de Juelo^. ntrigas de corte e de teatroe'ulsam Kagner de 3unique. /o"o e'!lio na :u!(a# en&im, a &unda()o do (eich bismarciano lhe ermite a "olta de&initi"a 7 Alemanha. Kagner, nacionalista, torna2se!dolo dos nacionalistas alem)es. N &uriosamente combatido ela alian(a &ormidá"el dosconser"adores acadImicos, do c!rculo de Jrahms, da grande imrensa e dos udeus.

1

 C. . <lasena, Das /eben (ichard >agner0s, B "ols.,

a

. ed, Lei%ig, 1E?1?11. <. Adler,(ichard >agner , Lei%ig, 1?@. ;. Wa, >agner , Jerlim, 1?MM. A. Loren%, Das 2orm!roblem in(ichard >agner0s Musik , 3unique, 1?MM. P. Jeer, (ichard >agner. Das /eben in >erk ,:tuttgart, 1?M. 0. Wurth, Die romantisch )armonik und ihre $rise in >agner0s "ristan , Ga. ed.,Jerlim, 1?MF. R. Lichtenberger, (ichard >agner !ote et !enseur , Paris, 1?G1. 0. /e^man, "he/ife of (ichard >agner , G "ols., Londres e /o"a orque, 1?GM1?1. T. K. Adorno, ,ersuch ueber>agner , Jerlim, 1?>M. P. A. Loos, (ichard >agner. ,ollendung und "ragik der deutschen(omantik , Jerna, 1?>G. C. "on Keternhagen, (ichard >agner , \urique, 1?>B.

Page 117: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 117/200

3uda2se ara a -illa Kahn&ried, em JaSreuth, cidade onde constrói o 2ests!ielhaus=Casa dos esti"aisD esecialmente ara reresenta($es eriódicas do 'nel dos:ibelungen e, deois, tamb*m de outras obras de Kagner. JaSreuth "ira centro de

romarias internacionais. /a re"ista &a%reuth &laetter  =2olhas de &a%reuthD, Kagner se&a% roagandista de id*ias anti2semitas, racistas, "egetarianas, budistas. orma2se emseu torno a seita dos ^agnerianos, recursores do na%ismo. 9econcilia()o com Lis%t,que desaro"a o comortamento de Cosima# esta age como habil!ssima che&e deublicidade de Kagner. 0str*ia de 5arsifal . ltima doen(a, cua not!cia como"eu omundo at* o e'2adeto e ad"ersário &urioso /iet%sche &alou da hora santa em queKagner morreuQ no Pala%%o -endramin2Calerghi em -ene%a.

Kagner e'erceu in&luIncia como nenhum outro músico antes ou deois. 0n&eiti(ou omundo. -eio, deois, o desencanto. Roe em dia, á * reciso reabilitá2lo. <randeobstáculo sicológico dessa reabilita()o *, ara muitos, sua ersonalidade, sua biogra&iaque &oi, or isso, necessário detalhar. Cosima e os ^agnerianos constru!ram em torno doseu !dolo uma lenda que, aesar de todas as reti&ica($es osteriores, ainda n)o estátotalmente destru!da. As biogra&ias o&iciaisQ n)o ser"em. A "erdade * di&erente. Kagner

&oi homem terr!"el e mau caráter. :eu comortamento em rela()o a 3ina, OttoKesendonc, Rans "on Juelo^ * inusti&icá"el. A maneira or que e'lorou a loucura dorei da Ja"iera e a generosidade de Lis%t &oi escandalosa. :eu anti2semitismo te"e osmoti"os mais bai'os, de in"ea e "ingan(a# mas n)o o imediu de tolerar em seu c!rculoadmiradores udeus e chamar outro udeu, o grande regente Rermann Le"i, ara reger aestr*ia de 5arsifal . oi ego!sta monstruoso. :acri&icou, sem escrúulos, todos os outros.

 A &or(a motri% atrás desse ego!smo &oi uma imensa energia. Lutou contra desastres edesgra(as incr!"eis, contra a alian(a terr!"el dos anti^agnerianos, do conser"atório deLei%ig e dos grandes ornais "ienenses e do ;oceS Club de Paris, cuos moti"ostamouco eram os mais uros. 3as n)o transigiu nunca. Tudo a ser"i(o de uma id*ia,que arecia aos contemor8neos meio louca, meio inútil. 6ual &oi essa id*ia

9e"olucionar o mundo ara introdu%ir algumas re&ormas ra%oá"eis na rotina das casasde óera /)o * cr!"el. Construir uma no"a arte a ser"i(o do nacionalismo alem)o

:abe2se que os angermanistas de 1?1 e os na%istas de 1?GG se considera"amdisc!ulos e sucessores de Kagner. Com alguma ra%)o. A teutomitomaniaQ de Kagner&oi t)o &alsa como a de <uilherme e Ritler. A arte de Kagner, que retende serarquigerm8nica, n)o tem nada que "er com a Alemanha de H5rer, <oethe, Jeetho"en edos rimeiros rom8nticos. :ua música nem sequer arece autenticamente alem). Ninsirada or um deseo de ostenta()o bárbara, que antes lembra o Oriente sult8nico.Kagner reresenta a ci"ili%a()o de &achada da Alemanha bismarciana. A orquestraenorme * seu e'*rcito. A energia intransigente de Kagner * a mesma dos Wru,Jorsig, :tumm que industriali%aram a Alemanha deois da "itória de 1EF@. :ua emresa* o teatro. 0ste * o seu reino. 3as os contemor8neos V e n)o só os alem)es Vacredita"am na realidade daquilo que só &oi ilus)o de alco.

Os ^agnerianos idolatra"am menos o comositor do que o roagandista do racismo,do anti2semitismo, do "egetarianismo, de con&usas id*ias budistas. Kagner assa"a or

&undador de uma no"a ci"ili%a()o mediante uma renascen(a da trag*dia grega. 0sta n)o&oi só a &* de aóstolos racistas como Rouston :te^art Chamberlain. O o"em /iet%schetamb*m sacri&icou a essa tese, no li"ro :ascimento da "rag1dia do Es!Brito da Msica eno ensaio 9ichard Kagner em JaSreuthQ, antes de tornar2se anti^agneriano. O &atomais estranho * que tamb*m aderiram a essa tese os intelectuais daquela na()o queKagner mais odia"a os &ranceses. 0m nenhuma outra arte te"e Kagner adetos t)o&er"orosos como na ran(a Huardin e KS%*^a, os &undadores da (evue >agn1rienne#

Page 118: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 118/200

Jaudelaire, 3allarm*, -illiers de LXsle Adam, Jarrs# ^agneriano ainda será Proust1.

Teriam sido, todos eles reacionáriosQ. /em o rório Kagner o &oi. A lenda &abricadaor Cosima n)o conseguiu aagar todos os tra(os de id*ias re"olucionárias em seus

escritos e obras. Antes de tornar2se nacionalista, &ora radical2democrata no sentido deReine e do 3ar' dos anos 1E@. 0studou muito os li"ros do anarquista Proudhon. Aindano seu anti2semitismo sente2se a &úria do radical contra as &or(as do dinheiro. Oroblema do ouroQ ainda estará no centro do 'nel dos :ibelungen. :ha^ acredita"asinceramente no socialismo &undamental de Kagner. A religi)oQ ^agneriana tamb*m *caa% de ser"ir ao outro lado da barricada.

3as os ad"ersários de Kagner tamb*m o considera"am, rincialmente, como&en4meno signi&icati"o da situa()o da nossa ci"ili%a()o# muito mais do que um meroautor de óeras. /iet%sche, nos últimos anos da sua "ida, denunciou2o como neurótico,encarna()o da decadIncia e do niilismo na 0uroa. :engler alude ao seu gosto elocolossalQ que * t!ico do &im dos im*rios# e obser"a que um dos sintomascaracter!sticos da decadIncia de uma ci"ili%a()o * o surgir de uma segundareligiosidadeQ, renascen(a insincera da "erdadeira religiosidade dos in!cios V como no

autor de 5arsifal ./a "erdade, Kagner n)o &oi &undador nem sintoma de destrui()o de uma ci"ili%a()o.

0sse debate * t)o est*ril como aquele sobre a dulicidade do seu talento. Os^agnerianos a&irmaram que Kagner * maior que <oethe e Jeetho"enQ e osanti^agnerianos resonderam que ele &a%, realmente, melhores "ersos que os deJeetho"en e melhor música que a de <oetheQ. Os libretos dos dramas musicais deKagner V ele mesmo escre"eu todos os seus te'tos V s)o constru!dos com grandesabedoria dramática# mas os "ersos s)o lamentá"eis, 7s "e%es in&antis. /o entanto, amúsica de Kagner n)o "i"e e n)o ode "i"er sem esses te'tos, aos quais estáindissolu"elmente ligada. Kagner n)o &oi oeta# nem &oi músico roriamente dito,sen)o a ser"i(o daquela sua oesia dramática. :ua arte * uma s!ntese sui generis quesó e'iste no teatro e ara o teatro. Kagner * o maior teatromonarcaQ de todos ostemos. A "eri&ica()o desse &ato desmente outra tese ine'ata. As artes teatrais de

Kagner, reali%a($es e'tremas do teatro ilusionista do seu temo, nos cansam hoe n)oqueremos "er, no alco, cisnes nem gigantes nem an$es nem "alqu!rias com suti) debron%e nem chamas que as en"ol"em nem castelos do <ral. <ide desea"a ou"irKagner só no concerto, sem os arti&!cios e &alsidades do alco e dos bastidores. 3asn)o ode ser. As recentes tentati"as de Kieland Kagner de reresentar em JaSreuth asobra de seu a"4 sem decora($es, em cenário estili%ado, n)o deram bons resultados# eno concerto só se odem e'ecutar trechos seletosQ, o que destruiria a id*ia &undamentaldo mestre o drama musical coerente.

Kagner acabou com a "elha óera, tio :carlatti, que sobre"i"eu at* -erdi# e que nemsequer o re&ormador <luc conseguira re&ormar totalmente. He 3onte"erde at* -erdi, aóera esta"a di"idida em númerosQ árias, duetos etc. e coros, entre os quais osrecitati"os estabeleceram a rela()o, o enredo dramático, enquanto 7 orquestra aenascabia o ael de acomanhá2los. As obras de Kagner n)o s)o óeras# s)o dramas

musicais. 0m "e% dos númerosQ, que e'rimem musicalmente os ontos culminantes doenredo sem &a%er rogredir a a()o dramática, Kagner dá cenas e atos que chamadurchkom!oniert  =totalmente ostos em músicaD, sem interru()o or diálogos, semdi&eren(a entre árias e recitati"os, sem árias ou ensembles. O te'to inteiro do drama *osto em música. A orquestra á n)o * mera acomanhante# ao contrário * a orquestra

1 A. L. <uichard, /a musique et les lettres en 2rance au tem!s du =agnerismo, Paris, 1?BG.

Page 119: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 119/200

que garante a unidade da obra. A arte instrumental * constru!da como uma grande,uma imensa sin&onia, cuos temas est)o ligados aos ersonagens e 7s situa($esdramáticas de tal modo que semre "oltam de maneira signi&icati"a# * o leitmotiv . 0 as

"o%es dos cantores e cantoras s)o tratadas como artes integrais da orquestra# isto e anecessidade de reresentar os a*is no alco com inteligIncia dramática, em "e% desimlesmente brilhar em árias, criou uma no"a gera()o de cantores e cantoras V maisum gole terr!"el na rotina das casas de óera. 0 cantam, nas obras de Kagner, numalinguagem musical ersonal!ssima, t)o intimamente ligada ao es!rito da l!ngua alem)que ainda Lis%t acredita"a limitada 7 Alemanha a reercuss)o da obra de Kagner# noentanto, conquistou o mundo.

N muito menos imortante a teoria do Gesamtkunst=erk =obra de arte totalQD o dramamusical, ser"ido or todas as artes da oesia, da intura cenográ&ica, da dan(a, daarquitetura. O teatromonarcaQ quis subugar todas as outras artes. 0 qual &oi oresultado Algo muito arecido com o grande esetáculo da grande óeraQ, de3eSerbeer e Ral*"S, que Kagner combatera tanto. oi &atal. O teatro n)o ode e'istirsem certas con"en($es, que n)o deendem da realidadeQ. Kagner destruiu as

con"en($es da "elha óera, substituindo2as or outras, no"as, hoe tamb*m á "elhas. A rática de Kagner &oi melhor que a sua teoria. /)o con"*m e'agerar a imort8nciados leitmotiv , que semre "oltam em determinadas situa($es, como se a orquestraaresentasse ao úblico os cart$es de "isita dos ersonagens. :ó aqueles que n)o tImbastante musicalidade areciam muito o leitmotiv  como &io condutor que os guia elolabirinto dramático2musical. Loren% demonstrou que os "erdadeiros temas das sin&oniasteatraisQ de Kagner n)o s)o os leitmotiv , mas os er!odos musicais nos quais est)oencerrados# e'atamente assim como na sin&onia n)o s)o as melodiasQ que imortam,mas seu desen"ol"imento dramático. Hurante um s*culo, desde RaSdn, a músicasin&4nica, com seus &ortes contrastes, &oi mais dramática que a óera de númerosQ# comKagner, a dramaticidade sin&4nica "oltou ara o teatro. 6uer di%er V contra a teoria eas inten($es de Kagner V o elemento essencial do seu drama em músicaQ * a música.

N claro que re&orma t)o radical n)o &oi logo comreendida. A linguagem melódica de

Kagner, nascida diretamente do ritmo da l!ngua alem) &alada, e suas incr!"eis artes deorquestra()o nos arecem, hoe, irresist!"eis. 3uito anti^agneriano teimoso entrega osontosQ ao ou"ir os rimeiros acordes de uma obra do mestre. 3as n)o sentiram issoassim os contemor8neos, que estranharam detalhes e'teriores os grandes gestos,conseq5Incia da no"a arte de cantar e agir ao mesmo temo# as &ortes e barulhentasQinter"en($es da orquestra sin&4nica# as dimens$es inusitadas das obras, conseq5Inciado acomanhamento de todos os ormenores da sicologia dramática ela música.

3as at* hoe subsistem incomreens$es, de"idas 7 con&us)o da cronologia. Pois asobras de Kagner n)o &oram reresentadas e ublicadas na mesma ordem em que &oramescritas.

Heois das insigni&icantes tentati"as da mocidade, a rimeira obra considerá"el deKagner &oi (ien4i der let4te der "ribunen =(ien4i o ltimo dos "ribunos, 1E@D, ahistória de Cola di 9ien%i, tirada do ent)o &amoso romance histórico de Jul^er. N uma

robusta e algo grosseira grande óeraQ, e'atamente no estilo de 3eSerbeer. 0 á &oichamada, ironicamente, de obra2rima de 3eSerbeerQ. Ainda * reresentada, emborararamente, na Alemanha# mas Cosima e'clui2a dos &esti"ais de JaSreuth. Um rogressodecisi"o le"a de (ien4i a Der fliegende )ollaender  =O :avio 2antasma, 1E1D embora ain&luIncia de 3eSerbeer &ique substitu!da ela de Keber e 3arschner, essa obra ainda *uma óera em sentido tradicional, com árias italiani%antes e coros 7 maneira de Auber#

Page 120: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 120/200

mas o ael do holandIs &antástico que erra, condenado, elos sete mares, e o de:enta, a mulher que redime elo amor o ecador, á s)o ersonagens dramáticos noestilo da grande trag*dia# o ritmo musical á * o da linguagem &alada# e 7 orquestra cabe

a &un()o de trans&ormar a óera inteira numa grande sin&onia do mar.`...

Heois de /ohengrin, a cronologia das obras con&orme os anos da ublica()o ereresenta()o * a seguinte "risto e +solda# Os Mestres-Cantores de :urenberg # asquatro artes do 'nel dos :ibelungen =(heingold , Ouro do (eno# Die >alkuere, ',alquBria# Siegfried # Goetterdaemmerung , O Cre!sculo dos DeusesD# e 5arsifal . Kagnerteria dado em "risto e +solda a grande trag*dia do amor2ai')o, em termos de &iloso&iaessimista schoenhaueriana, desen"ol"imento grandioso do assunto de /ohengrin# nosMestres-Cantores, um !endant  alegre da trag*dia, o quadro encantador da "elhaci"ili%a()o alem) de /uremberg, com a resigna()o do en"elhecido Rans :achs nocentro e com &ortes ataques sat!ricos contra seus ad"ersários acadImicos, encarnadosno ersonagem rid!culo de Jecmesser. Heois, teria retomado o caminho do mito asquatro obras do 'nel  s)o um enorme anorama da "ida humana, reresentada elos

deuses e heróis da antiga religi)o e história germ8nicas# e o &im &oi 5arsifal , o hinodramático 7 resigna()o religiosa, ao desre%o dos ra%eres deste mundo e 7 adora()oermanente do ideal, do graalQ.

0ssa cronologia n)o * e'ata. "risto e +solda * imbu!do do essimismo da &iloso&ia de:choenhauer, que &oi a última &* de Kagner. 3as no 'nel dos :ibelungen, emboraublicado deois, ainda lutam, na alma do autor, id*ias re"olucionárias 7 maneira domaterialista euerbach e do socialista Proudhon com aquele essimismo esiritualista. 0os Mestres-Cantores, essa obra2rima singular, seriam, con&orme aquela cronologia,uma digress)o, como se o mestre quisesse descansar e di"ertir2se ara tomar no"o&4lego. :eria um absurdo. 9ealmente, a "erdadeira cronologia * di&erente.

0m /ohengrin aro'imara2se Kagner, ela rimeira "e%, da mitologia germ8nica,embora &antasiada de lenda medie"al. Heois, escre"eu em 1E> o (heingold =Ouro do(enoD, a rimeira arte da laneada tetralogia sobre a saga dos /ibelungen relúdio

colossal, em &orma musical totalmente no"a, comosto 7 maneira de uma sin&onia emum único mo"imento, com as "o%es humanas &a%endo arte da orquestra# e comharmonias no"as que sueram as liberdades modulatórias de Jeetho"en. O ró'imoasso &oi Die >alkuere = ' ,alquBria, 1E>?D# * nessa obra que se ercebe claramente aluta !ntima entre as id*ias re"olucionárias, de ate!smo assombroso, e a &iloso&iaessimista. Hessa tens)o nasceu a grande trag*dia, ilustrada or uma música quearecia aos contemor8neos germanicamente bárbaraQ orque &oi t)o modernaQ. /omesmo ano de 1E>B come(ou Kagner a comosi()o da terceira arte da tetralogia#Siegfried . 3as interromeu o trabalho. nter"eio o eisódio da ai')o adúltera or3athilde Kesendonc. Os deuses e heróis germ8nicos erderam ara ele o interesse.0scre"eu Cinco /ieder  a Mathilde >esendonck , com letra da amiga, que s)o o núcleo2germe de "ristan und +solde ="risto e +solda, 1E>?D# dramati%a()o da lenda medie"alque *, con&orme Henis de 9ougemont, a base de toda a &iloso&ia do erotismo do

Ocidente. A obra de Kagner * uma trag*dia de amor, com oucos ersonagens eenredo de simlicidade grega. A concentra()o * má'ima. A música * mais e'ressi"aque amais se escre"eu uma sin&onia colossal, emregando linguagem musicalcromática que se aro'ima das &ronteiras do nosso sistema tonal. O musicólogo situaráessa obra entre <esualdo e :choenberg. 3as as considera($es históricas n)o atingemo núcleo da obra2rima. "risto e +solda * a trans&igura()o musical do amor, da morte edo nada, do :ihil  no &undo do Uni"erso, que esse mago soube &a%er ou"ir as harmonias

Page 121: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 121/200

trágicas das es&eras.

Heois de "risto e +solda, Kagner arece assustado da sua rória audácia. /)o eraoss!"el continuar nesse caminho sem destruir o sistema tonal de Jach29ameau. O

mestre rocura um onto &irme ara aoiar2se. 0ncontrou2o na oli&onia. 0scolheuambiente relati"amente moderno, o da ci"ili%a()o da 9enascen(a na Alemanha, da*oca da grande oli&onia "ocal Die Meistersinger von :urenberg  =Os Mestres-Cantoresde :uremberg , 1EBFD. N um quadro encantador, intimamente rom8ntico, da "elha

 Alemanha id!lica, intado no momento em que o (eich de Jismarc a substituiria embre"e# o nacionalismo orgulhoso da *oca e do comositor contribuem ara a alegria

 ubilosa dessa aarente com*dia sat!rica =ersonagem de JecmesserD, em cuo centrose encontra, or*m, o ersonagem de Rans :achs, auto2retrato do mestre e e'ress)ode sua resigna()o dolorosa. N o !endant  de "risto e +solda. As &ormas n)o odiam seras da oli&onia "ocal, t)o remota de nós. Kagner emrega com maestria e'traordinária aoli&onia instrumental a abertura * a maior e(a sin&4nica que escre"eu, uma obra2rimasingular, de oma e grandiosidade barrocas. "risto e Os Mestres-Cantores s)o asmaiores estruturas musicais, ela comle'idade e elo sentido misterioso atrás de todas

as artes desses organismos luminosos, desde os temos de Randel e Jach.`...

 A reti&ica()o da cronologia das obras le"a ao seguinte resultado incontestá"el "ristoe +solda * a obra central. /esta, Kagner aarece como o herdeiro do grande e autInticoromantismo alem)o, dos sonhos de /o"alis e 0. T. A. Ro&&mann. 9eali%ou o deseoro&undamente rom8ntico da "olta ara o sono, o sonho, a morte, o nada. N o mago quetrans&ormou em sons aud!"eis o uni"erso assim como teria sido antes que Heus ocriasse# ou deois que Heus o destru!sse. /)o &oi oss!"el di%er tanto sen)o 7s últimas&ronteiras do sistema tonal de Jach29ameau. /a "erdade, esse sistema, alargado elasliberdades modulatórias de Jeetho"en, á &ora cada "e% mais sutili%ado elosmodernismosQ harm4nicos de :chubert, Choin, :chumann. /o relúdio ao rimeiro atode "risto e +solda, a música ocidental entrou naquilo que 0rnst Wurth chamou de criseda harmonia rom8nticaQ. 1E>? * uma data t)o decisi"a na história da música como os

anos do Orfeo de 3onte"erde, do Cravo &em "em!erado, e dos Quartetos O!.KV  deRaSdn.

/)o teria sido oss!"el ir mais al*m sem o cromatismo destruir o sistema tonal. 0Kagner, deois da sua crise essoal, recuou. 9ecuou ara o mundo tonal e oli&4nicodos Mestres-Cantores, do 'nel , do 5arsifal , obras2rimas dentro da e"olu()o históricada música, ao asso que "risto e +solda se encontra em outro lano. Aquelas obrasre"elam, em Kagner, o último rom8ntico. "risto e +solda, reali%a()o do sonhorom8ntico, anuncia, ao mesmo temo, mundos no"os a música moderna.

O:  K A</09A/O: J9UCW/09  0  KOL

/)o * oss!"el e'agerar a in&luIncia que Kagner e'erceu. At* nos ambientes,naturalmente hostis, da óera italiana e &rancesa se &e% sentir sua resen(a, 7 qual

tamouco escaaram os disc!ulos de C*sar ranc. Os nacionalistas esla"os eescandina"os imuni%aram2se contra essa in&luIncia, retirando2se cada "e% mais daóera. Pois nesse gInero á n)o &oi oss!"el escre"er como se Kagner n)o ti"essee'istido# mas tamouco &oi oss!"el continuar no caminho que o mestre de JaSreuthtinha ercorrido at* o &im. 0ntre 1EE@ e 1?1@ estrearam2se inúmeros dramas musicaisem estilo ^agneriano, sobretudo de autores alem)es e &ranceses. 3as nenhuma dessas

Page 122: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 122/200

óeras conseguiu manter2se no reertório. A única e'ce()o * uma obra sui generis)aensel und Gretel =1E?GD, de 0ngelbert RU3P09H/CW =1E>1?M1D. 0m "e% de errarelo mundo bárbaro dos deuses e heróis germ8ncios, o comositor escolheu mundo

mais &amiliar e, no entanto, romanticamente remoto o dos contos de &adas da in&8ncia. Ailustra()o musical desse conto in&antil alem)o com as cores e os oderes da orquestra^agneriana tem conseq5Incias ineseradas as bru'as montadas em "assouras, saindoela chamin* V arece aródia da ca"algada das -alqu!rias. A obra deliciosa go%a desucesso inalterado at* hoe.

/o mundo oer!stico Kagner n)o te"e nem odia ter sucessores# aenas imitadoresmais ou menos inetos. Te"e sucess)o "erdadeira em outros gIneros. O &ato * estranhoorque o mestre de JaSreuth tinha e'ressamente condenado esses gIneros. Toda amúsica, onti&ica"a, de"eria subordinar2se ao Gesamtkunst=erk  do drama musical. A +*Sinfonia de Jeetho"en teria sido a última das sin&onias, ois o canto e os coros doquarto mo"imento signi&icariam a abdica()o da música instrumental absoluta. O liedrom8ntico tamb*m só sobre"i"eria nas cenas l!ricas do drama musical. /o entanto, osdois únicos ^agnerianos que tinham que di%er coisa rória em linguagem rória &oram

Jrucner, mestre da sin&onia, e Rugo Kol&, mestre do lied . Anton J9UCW/09 =1EM1E?BD1 * uma das ersonalidades mais estranhas nahistória da música como artista, &oi mais modernoQ que sua *oca# como homem,ertence a um mundo arcaico. /asceu numa aldeia da _ustria Alta, regi)o montanhosae rústica. Criou2se em um daqueles suntuosos mosteiros barrocos, :ant lorian, que nomeio de uma aisagem id!lica ostentam as artes estuendas dos s*culos +- e +-.oi au*rrimo mestre de escola em aldeias da sua terra# deois, á em idade algoa"an(ada, organista da catedral de Lin%. Tarde chegou a mudar2se ara -iena onde"oltou a sentar2se no banco de escola ara estudar contraonto. Ou"iu, ent)o, elarimeira "e%, música de Kagner. icou entusiasmado. 0 come(ou a escre"er sin&oniasque os regentes de orquestras reeitaram com teimosia, enquanto a cr!tica reagiu ae'ecu($es ocasionais com ataques hostis e sarcásticos. 3as o mestre era mais teimosoque seus inimigos. Continuou. /os últimos anos da "ida odia agradecer, com a timide%

de semre, "árias honrarias o&iciais e sucesso ainda bem limitado./)o se oderia imaginar disc!ulo mais esquisito e surreendente de Kagner, homemdo grande mundo, erótico aai'onado, literado de cultura enciclo*dica. Jrucner &oi ocontrário de tudo isso aluno de con"ento e mestre de escola de aldeia, semre &icouhomem de e'trema timide%, submisso e de"oto &iel 7 grea e aos adres como uma"elha beata. Con&essou n)o entender o libreto de "risto e +solda orque desconheciatotalmente o mundo do amor nunca na "ida se aro'imou de uma mulher, sea ortimide%, sea or escrúulos religiosos. 0 era iletrado. N um caso quase atológico#surema inteligIncia musical, aliada 7 &alta total de inteligIncia em todas as outrascoisas, grandes ou equenas, da "ida. 0ra, &ora da música, de ignor8ncia esantosa.Comortou2se como um cretino# sua biogra&ia está cheia de eisódios rid!culos, comoeste quando o regente Rans 9ichter resol"eu e'ecutar, contra todas as resistIncias,uma sin&onia de Jrucner, o mestre agradeceu aoelhando2se em resen(a do úblico

erante o regente, beiando2lhe a m)o e insistindo ara que 9ichter aceitasse umresente V alguma moeda equena. Pesquisas recentes con&irmam a suseita de que

1 A. Ralm, Die S%m!honie 'nton &ruckner0s, 3unique, 1?1. 3. Auer, &ruckner sein /eben im>erk , -iena, 1?MG. 0. Wurth, &ruckner , M "ols., Jerlim, 1?M>. K. Kol&&, 'nton &ruckner (usticGenius, /o"a orque, 1?M. A. 3achabeS, /a vie et l0oeuvre d0'nton &ruckner , Paris, 1?>. R. .9edlich, &ruckner and Mahler , Londres, 1?>>. 3. Hehnert, 'nton &ruckner , Kiesbaden, 1?>E.

Page 123: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 123/200

Jrucner so&ria de gra"es crises mentais.

 Ao s*culo ++, a ignor8ncia literária e geral de Jrucner arecia gra"e de&eito. 3as &oia rai% de sua qualidade suerior e singular. Carecendo de est!mulos literários, n)o odia

escre"er música de rograma nem música o*tica. O imulso da arte desse homemignorante, cheio de &* sincera, &oi a religi)o. 0m comara()o com sua música sacra, at*a do bom católico C*sar ranc arece ro&ana, ara n)o &alar da religiosidade teatral deKagner nem sequer da m!stica coral do descrente Jrahms. Rou"e a resen(a de Heusem tudo que escre"eu, &osse uma missa, &osse uma sin&onia. N o único comositorautenticamente religioso do s*culo.

`...

He"ido 7s de&iciIncias da sua estrutura mental, Jrucner amadureceu muito tarde./enhuma das suas obras de mocidade tem "alor. 3as deois, com @ anos de idade dereente se re"ela mestre consumado. As trIs missas V a Missa em r1 menor  =1EBD, aMissa em mi menor =1EBBD e a Missa em f; menor  =1EBED V s)o obras de grande, degrand!ssimo estilo# obras modernas, sim, mas insiradas or mentalidade barroca e ela&* humilde de um crist)o das catacumbas. Hesde os temos de Jach n)o se ou"iu nada

de igual. 0 n)o se ou"iria mais. Pois os rogressos do mo"imento alestriniano na Alemanha e na _ustria V a Associa()o :anta Cec!lia, que retendia substituir a músicasacra acomanhada de instrumentos ela reedi()o e roaganda das obras a caela dePalestrina e Orlandus Lassus V con"enceram o mestre da incon"eniIncia de criar maisoutras obras naquele estilo. Hei'ou de escre"er missas. Come(ou, em "e% disso, aescre"er sin&onias, cuo conteúdoQ * o mesmo de sua música sacra. 0m "e% de missas2sin&onias sin&onias2missas.

Todas as sin&onias de Jrucner arecem2se, de qualquer modo. O rimeiromo"imento, semre trágico, lembra o Ad"ento, antes de chegar 7 humanidade amensagem da reden()o. Os mo"imentos lentos s)o in"is!"eis cidadelas da &*#corresondem ao Credo. A alegria abundante e rústica dos scher4i de Jrucner lembrouaos cr!ticos as &estas de aldeia na mocidade# mas antes * a maneira singular docamonIs austr!aco de cantar o Gl7ria. O último mo"imento, nas sin&onias de Jrucner,

semre tem a articularidade de resumir os outros mo"imentos ara, deois de no"aluta, chegar a um des&echo sereno Dona nobis !acem.

/em todas as sin&onias de Jrucner tIm o mesmo "alor embora nenhuma seamed!ocre. Podemos descontar as rimeiras, n)o numeradas, e as Sinfonias no.R e K . ASinfonia no. em r* menor =1EFGD * obra imortante# mas ainda n)o re"ela todos ostra(os caracter!sticos de sua arte di&!cil# tal"e% or isso mesmo aare(a, tamb*m, noreertório de orquestra que, no resto, &icam in&ensas ao mestre. O úblico re&ere aSinfonia no.L em si bemol maior =1EFD, denominada (omAntica# tal"e% orque Jrucneradmitiu um rogramaQ o*tico, bastante in&antil aliás, que o teria insirado# e assim se&acilita a comreens)o. 3as obra2rima autIntica * a Sinfonia no.T em si maior  =1EFBD,arquitetura colossal como aqueles mosteiros# de oma barroca, de solenidade religiosa,de alegria &inal abundante. Arecia2se menos a Sinfonia no. , que * desigual, sendo elomenos um dos mo"imentos, o último, indigno dos outros. 0m comensa()o, a Sinfonia

no.X  em mi maior =1EEGD * mais um colosso# no centro, o mara"ilhoso adágio que &oicomletado quando Jrucner á tinha recebido a not!cia da morte de Kagner# * elegia,canto sacro e hino. A maior de todas *, con&orme consenso geral, a Sinfonia no.U  em d7menor  =1EE>D, ela e'tens)o inusitada e ela ro&undidade emocional. A Sinfonia no.N em r1 menor =1E?BD &icou incomleta# * um e!logo triste, mas n)o desolado, de umhomem seguro de sua sal"a()o.

Page 124: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 124/200

 As e'ress$es emregadas neste resumo n)o de"eriam insirar o conceito de que aarte sin&4nica de Jrucner teria e"olu!do# só se re&erem ao "alor. 3as o estilo semre&icou o mesmo. O comositor n)o te"e e"olu()o, sen)o no sentido de descrente

habilidade t*cnica no emrego dos recursos orquestrais. Com cada uma das sin&oniascome(a de no"o, como que artindo do mesmo onto. As datas acima indicadas só tIm,aliás, "alor aro'imado. Pois cada uma dessas obras &oi "árias "e%es re"ista eremodelada, e'istindo em "árias "ers$es# e Jrucner, deseserado com a resistIncia doúblico e da cr!tica, ermitiu que se e'ecutassem e ublicassem "ers$es abre"iadasQ eretocadasQ or amigos sinceros, mas menos comreensi"os. O caso lembra o de &orisGodunov . As "ers$es originais só &oram ublicadas em nosso temo# e só em temosrecentes come(am a ser re&eridas aos arranosQ. O estudo das di&eren(as entre as"ers$es á rodu%iu bibliogra&ia "olumosa.

`...

 A arte de Jrucner n)o * de origem beetho"eniana nem ̂ agneriana. Aquela maneirade comosi()o em blocos sonoros * insirada elo órg)o o instrumento em que ele era"irtuose consumado e, in&eli%mente, menos comositor que imro"isador. :uas obras

ara o órg)o s)o insigni&icantes. :ó d)o testemunha de &idelidade ermanente 7 músicasacra, 7 qual "oltou com o grande "e Deum =1EE1D. 3ais tarde, quando a "elhice e adoen(a n)o lhe ermitiram concluir sua Sinfonia no.N, mani&estou o deseo de que esse"e Deum se cantasse como último mo"imento da obra inacabada. oi uma id*ia ouco&eli%. 3as o "e Deum continua, indeendente, como a e'ress)o má'ima dareligiosidade de Jrucner, como testemunho de um homem ro&undamente inocente nomeio das con&us$es menos inocentes do mundo moderno. O c*u arece abrir2se ararecebI2lo em seus bra(os misericordiosos quando ou"imos esse trecho má'imo da obraque * o :on confundar in aeternum.

Um dos oucos que, durante o temo do dom!nio absoluto de Jrahms em -iena,ousaram hostili%á2lo ara e'altar a arte de Jrucner &oi Rugo KOL =1EB@1?@GD1deois de :chubert, :chumann e Jrahms, o último grande mestre do lied  rom8ntico.Hesre%ado durante a "ida, &oi reconhecido logo deois de sua morte rematura,

encontrando sua arte adetos entusiasmados e at* &anáticos na _ustria, na Alemanha ena nglaterra. :ó a ran(a &icou durante muito temo t)o indi&erente que alguns li"ros&ranceses sobre história da música ignoram a ortogra&ia do seu nome, gra&ando2oKol&&Q, continuando2lhe a desgra(a na "ida.

Como ^agneriano &anático, Kol& era nacionalista angerm8nico, hostil ao m*rio Austr!aco, multinacional, em que nasceu. 3as sua arte n)o * inteiramente alem)./atural do sul da :tSria, de uma regi)o quente e de muito "inho, erto da &ronteiraling5!stica com a tália, Kol& te"e o temeramento eruti"o de um latino mediterr8neo.oi e'ulso da escola e do conser"atório or causa de má conduta. oi demitido doent)o muito ro"inciano Teatro 3unicial de :al%burgo, orque insistiu em ensaiar  "risto e +solda, em "e% das oeretas rogramadas. Como cr!tico musical de umsemanário "ienense, arranou inúmeros inimigos, ela sua &uriosa "eia olImica. oihomem "iolento e mau caráter. Atribui2se a uma in&ec()o "en*rea a loucura na qual

submergiu em 1E?F. 3orreu no manic4mio.Teria sido só aquela in&ec()o A eriodicidade da sua insira()o arece sintoma de

erturba($es sicoatológicas. 0m 1EEE te"e, de reente, um acesso assim escre"eu,

1 0. /e^man, )ugo >olf , Londres, 1?@F. 0. HecseS, )ugo >olf , Lei%ig, 1?ME. <. Jieri, Die /iedervon )ugo >olf , Jerna, 1?G>. . Kaler, )ugo >olf. ' &iogra!h% , Londres, 1?>G. 0. :ams. "heSongs of )ugo >olf , Londres, 1?B1.

Page 125: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 125/200

entre &e"ereiro e outubro, >G lieds com letra de 3oerie, todos eles de rimeiraqualidade. deois, durante dois anos, nada. 0m 1E?1 e em 1E?B no"as &ases insiradas,de "iolenta eu&oria. /os inter"alos, gra"es crises de deress)o. A loucura surreendeu

um e'austo.`...

0ntre os músicos literariamente cultos que e'erceram a cr!tica, &oi Kol& um dos maissaga%es. Com e'ce()o dos ataque insensatos contra Jrahms, acertou semre,enquanto Jerlio% e :chumann erraram muitas "e%es or e'cesso de generosidade. Kol&&oi intelectual requintado, de muita cultura e &ino gosto literário. :ua consciInciaintelectual roibiu2lhe de 4r em música oemas de "alor in&erior =como :chubert,:chumann e Jrahms &i%eram muitas "e%esD. :ó o insirou oesia l!rica de alta categoria.Tamouco quis "iolentar, or melodias reconcebidas, o ritmo e o metro dos te'tosescolhidos. nterreta as oesias or es*cie de recitati"o, de declama()o musical ela"o% do cantor enquanto atribui ao iano a melodiaQ, harmoni%ada com muita arte e semtemer e'tremas di&iculdades ian!sticas. ;á n)o se ode &alar em acomanhamentosQos dois int*rretes, o cantor e o ianista, est)o em * de igualdade, assim como o cantor

e a orquestra no drama musical de Kagner. 9ealmente, Kol& trans&igura o oema,trans&ormando2o em drama musical em miniaturaQ. :ua música comleta o oemareali%a o suremo obeti"o de di%er em sons o que o oeta n)o conseguiu di%er emala"ras, or causa da insu&iciIncia emocional da l!ngua &alada.

 Al*m de um gruo de lieds com letra do grande oeta rom8ntico 0ichendor&&, maisligeiros, reuniu Kol& os oemas musicados de cada um dos seus oetas re&eridos emli"rosQ# n)o s)o ciclos, como os de :chubert e :chumann, orque n)o ligados or umaid*ia o*tica comum, mas só ela homogeneidade do estilo o*tico2musical.

O Moerie-/iederbuch =/ivro de 5oesias de Moerike, 1EEED * o li"roQ mais conhecido emais cantado. Cinq5enta e tIs oesias desse oeta ós2goethiano, classicista serenoem temos rom8nticos, s)o escolhidos com o mais &ino gosto literário. 0ntre elas seencontram os lieds mais di"ulgados de Kol& Der Genesens an die )offnung  =OConvalescente Es!eranJaD# >e%las Gesang =CanJo de >e%laD, oesia e música

herm*tica# Denk0es o Seele =/embra-se 7 'lmaD, ,erborgenheit  =(etraimentoD,,ersch=iegene /iebe = 'mor SecretoD, de "eemente ai')o erótica# $ar=oche =SemanaSantaD# 2russreise =CaminhadaD# e muitos lieds humor!sticos.

`...

Kol& * hoe geralmente reconhecido como o gInio que &oi. 3as n)o * igualmente bemconhecido, orque os cantores camer!sticos só mantIm no reertório um númeroredu%ido das suas obras2rimas.

903A/0:C0/T0: HA  P09A  9A/C0:A

/um temo em que os intelectuais &ranceses á esta"am entusiasmados or Kagner,&a%endo anualmente a eregrina()o ara JaSreuth, os teatros de óera de Paris ainda

raramente se abriram ara reresentar "annhaeuser ou /ohengrin. Rou"e &orteresistIncia o&icial contra o comositor angermanista. Rou"e mais resistIncia do úblicoque insistiu em ou"ir Auber, 3eSerbeer e Ral*"S. Com sensibilidade &in!ssima reagiu2secontra qualquer mo"imento de reno"a()o. Um acomanhamento orquestral maiselaborado ou a "olta de um tema em mais do que uma cena insiraram logo a acusa()ode ^agnerismoQ. /o entanto, a no"a gera()o de oeristas &ranceses, embora ainda &iel7 rotina, n)o &icou imermeá"el 7s in&luIncias do outro lado do 9eno. 0m todo caso, o

Page 126: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 126/200

romantismo dessa gera()o á * menos &also que o da grande óeraQ.

Charles <OU/OH =1E1E1E?GD1 * um tio de equena2burguesia arisiense do temodo :egundo m*rio católico de"oto e homme mo%en sensuel , bonach)o esirituoso, 7s

"e%es sarcástico, e homem de m1tier  sólido. Tinha estudado bastante bem a músicaara saber areciar altamente a arte sin&4nica alem)# mas n)o a conhecia nem aentendia a onto de &icar mais que suer&icialmente in&luenciado or ela. /o entanto, asociedade arisiense da *oca, aquela que "aiou em 1EB1 o "annhaeuser , sentiuinstinti"amente a di&eren(a. <ounod &oi considerado como sin&onistaQ elos melodistasQortodo'os. oi inusti(a t)o grande comom a de hoe que só o arecia como in"entor demelodias bonitas, tiicamente &rancesas. <ounod &oi homem do seu temo# maisro&undo que os outros, embora n)o realmente ro&undo.

 A seriedade das suas ambi($es re"ela2se elo &ato V que teria sido imoss!"el notemo de Adolhe Adam V de o oerista tamb*m ter escrito muita música sacra. O "alorabsoluto dessa obras *, or*m, du"idoso. A Messe Saint-C1cile =1E>>D &oi, quandoe'ecutada ela rimeira "e%, um acontecimento :aint2:ans, que tinha ent)o M@ anosde idade, data"a daquele dia uma no"a *oca da música &rancesa. Roe em dia, a obra

lembra2nos as igreas em &also estilo neogótico que a de"o()o hiócrita da sociedadeburguesa do temo de /aole)o mandou construir em todas as esquinas de Parisremodelada elo re&eito Raussmann. Os oratórios /a (1dem!tion =1EEMD e Mors e ,ita =1EE>D s)o obras de um músico católico bem2intencionado, que está acostumado aescre"er ara os cantores e as bailarinas da grande óera de Paris.

`...

Hentro das tradi($es do teatro l!rico arisiense mante"e2se L*o H0LJ0: =1EGB1E?1D seu bailado Co!!elia =1EF@D assa"a or insuerá"el em "er"e r!tmica, at* achegada, em Paris, do Jal* russo. :ua óera /akm1 =1EEGD te"e o encanto de ume'otismo ligeiro. /)o comreendemos bem, hoe em dia, o sucesso dessa obra na*oca. Pois Carmen á ocua"a, ent)o, o alco.

<eorges J\0T =1EGE1EF>DM morreu cedo. /)o te"e o temo ara desen"ol"er suas&or(as. /o entanto, sua e"olu()o &oi ráida e surreendente. /es ![cheurs de !erles=1EBGD, óera e'cessi"amente rom8ntica, /a 6olie fille de 5erth =1EBFD, de um &olclorismomeio &also, D6amileh =1EFMD de e'otismo du"idoso, anda se mant*m, todas as trIs, noreertório, orque s)o de Ji%et or causa da obra que "eio deois. 3as ent)o, ningu*msuseitaria que esse melodista ligeiro daria logo uma obra2rima Carmen =1EF>D.

 A estr*ia &oi, como se sabe, um &racasso. O úblico conser"ador e burguIsescandali%ou2se com a suosta licenciosidade do libreto e do ael rincial# a cr!ticacensurou, incomreensi"elmente ara nós, o sin&onismoQ da obra. Ji%et morreu nomesmo ano, sem adi"inhar o imenso sucesso osterior, internacional, da óera. Carmentornou2se logo e continua at* hoe a obra mais conhecida do reertório em todos osa!ses. a% arte do atrim4nio musical dos que entendem de música e dos que n)oentendem de música. /ada * mais di&!cil do que &ormar, hoe, oini)o imarcial comreseito a Carmen. Ji%et &oi um ecl*tico que recebeu e aceitou in&luIncias de todas asartes, de <ounod, de 3eSerbeer, de Auber, de Ral*"S, at* de 9ossini# inclusi"e

1 <. ProdXhomme e A. Handelot, Gounod , M "ols., Paris, 1?11. C. Jellaigue, Gounood , Ga. ed.,Paris, 1?1?. P. LandormS, Gounod , Paris, 1?M.M C. Jellaigue, &i4et , Paris, 1E?1. A. Keissmann, &i4et , Jerlim, 1?@F. <. 3. <atti, &i4et , Turim,1?1>. 0. stel, &i4et und Carmen, Jerlim, 1?MF. P. LandormS, &i4et , Paris, 1?M?. K. Hean, &i4et ,Londres, 1?E. R. 3alherbe, Carmen, Paris, 1?>1.

Page 127: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 127/200

in&luIncias ^agnerianas. A música de Carmen tamb*m * uni&icada aenas eloe'celente libreto, altamente dramático. Pois há nela elementos de sentimentalismo 7maneira de loto^ =o ael de 3icaelaD e ritmos t!icos de oereta =o ael do

TourinhoD. ;á &oi mesmo chamada de oereta sangrentaQ. 3as ao lado desses de&eitosre"alecem muito as altas qualidades a ine'ced!"el "er"e r!tmica, os contornos &irmesda melodia, que logo se gra"a na memória, a cuidadosa elabora()o das grandes cenasdramáticas, o moti"o de CarmenQ ou moti"o da morteQ, genialmente in"entado. Logodeois do &racasso do úblico e da cr!tica quando da estr*ia, essas altas qualidades&oram reconhecidas or todos, menos elos ^agnerianos, cua resitIncia te"e moti"os*rio. Pois Carmen &oi e'altada como a obra2rima anti2KagnerQ mediterr8nea,luminosa e artisticamente le"e, em oosi()o ao drama musical nórdico, nebuloso eesado. oram, estranhamente, menos os &ranceses do que os alem)es que &i%eramessa roaganda. /a ran(a e nos outros a!ses latinos, Carmen &oi um sucessooular. /a Alemanha, "irou tese &ilosó&ica. /iet%sche, que ou"ira a óera ela rimeira"e% em <Ino"a, em 1EE1, n)o se cansa"a de reou"i2la# encheu seu e'emlar daartitura de interessantes notas marginais, cheias de sarcasmos contra Kagner. 3aissurreendente * o &ato de o rório Jrahms, t)o se"ero e t)o ouco entusiasta damúsica de teatro, tamb*m ter sido grande admirador da obra.

`...

LT3O  9O3A/T:3O   TALA/O -09H # O -09:3O

 A rocura dos anti^agnerianos alem)es or um anti2Kagner n)o deu resultado Ji%etmorrera cedo demais e Carmen &icou uma obra isolada. /)o erceberam a resen(a deum anti2Kagner mais &orte, alaudido nas casas de óera do mundo inteiro e da rória

 Alemanha, orque esses alausos lhes areciam suseitos. Ranslic, o amigo2cr!tico deJrahms, &alou, com desre%o, da tri"ialidade de ta"ernaQ de -erdi# Rans "on Juelo^ sóretratou tarde um erro semelhante.

Teria sido natural uma alian(a dos anti^agnerianos com -erdi, soberano da óera,

contra o soberano do drama musical. Roe, em ersecti"a histórica, sentimos que oanti"erdianismo daqueles anti^agnerianos te"e bons moti"os, embora subconscientes.Pois Kagner e -erdi á n)o nos arecem t)o absolutamente antag4nicos. Aquele e estes)o neo2rom8nticos.

:ó com certa cautela se ode &alar em romantismo italiano. <.A. Jorghese =Storiadella critica romantica in +talia, 3il)o, 1?M@D chegou a negar a e'istIncia de um"erdadeiro romantismo literário na tália. 3as na história da música ode2se emregar otermo, embora num sentido restrito e bem2determinado. O (isorgimento, o mo"imentool!tico e social que desde os anos 1EM@ le"ou 7 uni&ica()o da tália em 1EB@, &oi umatendIncia liberal, humanitária e nacionalista, roagada elos intelectuais, aceita elaburguesia e reali%ada ela Casa :a"óia. :)o ób"ias as analogias com o liberalismonacionalista da burguesia alem), cuos ideais &oram reali%ados ela monarquiarussiana. As di&eren(as ideológicas tamb*m s)o e"identes em comara()o com

Jismarc e seus uners, os generais e dilomatas aristocráticos do rei da :ardenha,deois rei da tália, arecem reublicanos "ermelhos. 3as o que imorta * o romantismool!tico do (isorgimento, que * !endant , a esse reseito, do romantismo ol!tico cuae'ress)o &oi Kagner.

`...

Page 128: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 128/200

 A "ida de <iusee -09H =1E1G1?@1D1 tem algo da ascens)o "ertiginosa dosgenerais da rimeira 9eública rancesa ou do rório /aole)o. -eio das camadasmais humildes do roletariado rural italiano. 6uando crian(a de meses, escaou só or

acaso a um massacre eretrado or soldados austr!acos que reocuaram deois dasderrotas de /aole)o a tália. Um mecenas local ossibilitou ao raa% os estudosmusicais, casando2o com sua &ilha, obtendo2lhe um editor e as rimeiras reresenta($es.Pouco deois, o o"em -erdi erdeu, ela morte, a mulher e os dois &ilhinhos# e nessetemo de desola()o esta"a obrigado a cumrir contrato, escre"endo sua rimeira óera2c4mica, que &oi naturalmente um &racasso. 9etoma, em 1EM, a "ida :abuco * umgrande sucesso# reconhecimento como comositor nacional, orta2"o% musical doatriotismo italiano. (igoletto, em 1E>1, signi&ica a glória internacional. Hesde ent)o,"itórias se sucedem 7s "itórias +l "rovatore, /a "raviata, 8n ballo in maschera# at* 'ida,encomendada ara a &esta internacional da abertura do canal de :ue%. -erdi, rico ecansado, retira2se ara a "ida calma na sua chácara de :antX_gata. Anos deois,surreende o mundo com as duas grandiosas obras de "elhice, Otello e 2alstaff , estasua rimeira óera2c4mica =deois daquele &racasso na mocidadeD, obra2rima de umoctogenário. -enerado como grande sábio da na()o, morreu com EE anos de idade,dei'ando seus milh$es a institui($es caritati"as ara músicos obres de origem humilde.

-erdi * uma das ersonalidades mais simáticas em toda a história da música.Romem ásero e intratá"el, da maior intoler8ncia quando se trata"a da reali%a()o dosseus sueriores obeti"os art!sticos, &oi nature%a generosa, ótimo amigo, li"re de in"ease ciúmes, de grande retid)o de caráter e de natural sabedoria da "ida. O &ato maisestuendo * a e"olu()o coerente, semre ara cima, da sua arte.

Pouco nos interessam hoe as rimeiras obras, embora as aberturas ainda aare(amem concertos oulares. :abucco =1EMD e + /ombardi alla !rima crociata =1EGD"enceram elas alus$es atrióticas no te'to dos libretos históricos e ela "er"e r!tmicados coros. Rá nessas obras um ouco do Mos in Egitto e do Guillaume "ell  de 9ossinie, tamb*m, da Muette de 5ortici , de Auber. O rimeiro trabalho de cunho essoal *Ernani  =1ED que na tália ainda está no reertório o libreto, tirado do drama de -ictor

Rugo, e a música indicam o caminho ara o romantismo &rancIs, cua mistura deimagina()o &antástica e realismo brutal agradou ao comositor. Os contemor8neos n)oerceberam, arece, os "alores musicais encerrados em Macbeth =1EF# libreto tirado datrag*dia de :haeseareD e /uissa Miller  =1E?# libreto tirado da trag*dia de :chillerD. Osucesso mundial "eio com (igoletto =1E>1D, trans&orma()o hábil de /e roi s0amuse de-ictor Rugo as grandes árias de coloratura de <ilda, a &amos!ssima chanson do duque,os sarcasmos trágicos de 9igoletto encantaram de tal maneira o mundo que se tornoucomositor oular, em amlo sentido da ala"ra, o mestre que tamb*m inseriu nessaóera o genialmente dramático quarteto do último ato. O enredo de +l "rovatore =1E>MD&oi encontrado num drama de <arc!a <utierre%, no mundo comlicado e irreal doromantismo esanhol, do qual a música * re&le'o &iel, cheia de id*ias geniais, con&us$esterr!"eis e brutalidades "ulgares * a óera das óerasQ dos que n)o tIm muitamusicalidade. racasso &oi a estr*ia de /a "raviata =1E>GD o úblico estranhou, norimeiro momento, o realismo do libreto, da trag*dia da Dame au# cam1lias de Humasilho# só ouco deois "eio o sucesso da obra no mundo inteiro, sedu%ido elo

1 C. Jeillague, ,erdi , Paris, 1?11. A. Keissmann, ,erdi , :tuttgart, 1?MM. . Jona"ia, ,erdi , O'&ord,1?G@. . ToSe, Giuse!e ,erdi his /ife and >orks, Londres, 1?G1. C. <atti, ,erdi , M "ols., 3il)o,1?G1. L. Unterhol%ner, Giuse!!e ,erdi0s O!ernt%!us, Ran4"er, 1?GG. 3. 3illa, +l melodramma di,erdi , Jári, 1?GG. H. RusseS, ,erdi , Londres, 1?@. :t. Killiams, ,erdi0s /ast O!eras, Londres,1?>1. r. Abbiati, Giuse!!e ,erdi , "ols., 3il)o, 1?>?. r. Kaler, the Man ,erdi , Londres, 1?BG.

Page 129: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 129/200

sentimentalismo sincero das melodias magistralmente in"entadas. oi quase igualmentegrande a reercuss)o de 8n ballo in maschera =1E>?D, enquanto a &orte música deSimone &occanegra =1E>FD at* hoe n)o &oi de"idamente areciada. :ó mais tarde

incororou2se de&initi"amente ao reertório /a for4a del destino =1EBMD, tirada de umdramalh)o do rom8ntico esanhol 9i"as, óera que cenas de *ssimo gosto alternamcom outros, de grande e'ressi"idade dramática.

Todas essas óeras continuam at* hoe sendo as mais reresentadas do reertóriointernacional. O número das suas reresenta($es, no mundo inteiro, * anualmente muitosuerior ao número das reresenta($es de 3o%art ou Kagner# cometidores s*rios s)osó Carmen e Puccini. A conclus)o arece e"idente s)o obras ao gosto do úblicomusicalmente menos educado# ois caracteri%am2se ela erturbadora abund8ncia demelodias que se gra"am na memória, elo au*rrimo acomanhamento orquestral eela brutal &or(a dramática. /ada * mais &ácil do que dei'ar de erceber as grandesid*ias musicais, de "erdadeira trag*dia musical, que se encontram em certos trechos.Teriam sido meros achados de um gInio instinti"o 3as -erdi desmentiu essa hiótesecheio de sucesso, honras e dinheiro, abandonou o caminho at* ent)o seguido ara

desen"ol"er aqueles esarsos elementos di&erentes, embora correndo o risco de erderseu úblico.

6uase o erdeu com Don Carlos  =1EBF# libreto tirado da trag*dia de :chillerD./ingu*m arece ter notado, na *oca, a grandiosa &or(a da caracteri%a()o sicológicados ersonagens# a cr!tica só registrou -erdi no caminho da grande óera histórica de3eSerbeerQ. O mestre sabia que n)o tinha sentido escre"er outros (igolettos e outros"rovatores# que a óera recisa"a de uma reno"a()o. Procurou essa reno"a()o emgrandes assuntos históricos, menos rom8nticos do que genuinamente trágicos. Aencomenda de escre"er uma óera ara as &estas da inaugura()o do canal de :ue%&orneceu2lhe um assunto assim, de um mundo remoto cuo estilo hierático ser"iu bemara discilinar o romantismo inato do comositor. N admirá"el, em 'ida =1EF1D, as!ntese de melodia italiana e de um e'otismo discreto que só &ortalece os contornos dain"en()o melódica# a s!ntese * conseguida atra"*s do no"o ael, quase sin&4nico, da

orquestra, que dei'a de ser mero instrumento de acomanhamento das árias e duetosara tornar2se a base do acontecimento musical no alco. oi isto que assustou, na*oca, um anti^agneriano com Jurchardt e muitos outros, que temeram erder ogrande aladino da óera 7 antiga. -ingaram2se, %ombando da música sacra oer!sticaQdo (1quiem =1EFD, que -erdi escre"eu ara o rimeiro ani"ersário da morte do granderomancista Alessandro 3an%oni. A obra &oi e'ecutada na 0uroa inteira nas salas deconcerto como se &osse uma no"a sensa()o oer!stica do mestre, embora &ora do alco.Rans "on Juelo^ gritou contra a blas&Imia musicalQ desse r*quiem# mas oucos anosmais tarde se retratará. O (1quiem de -erdi * escrito or um grande in"entor demelodias italianas e no estilo das missas de RaSdn. N o último &ruto da música sacra!talo2"ienense. :uera todas as obras desse estilo, inclusi"e o bel!ssimo e como"entemas muito mais modesto (1quiem de 3o%art, ela &or(a dramática =concess)o quede"emos &a%er 7quele estiloD e elo maior !meto emocional, e'ress$es &ulminantes deuma &* que surreende nesse "elho garibaldiano e li"re2ensador# mas * semre assim,os li"res2ensadores latinos "iram s*rios in articulo mortis. O tratamento magistral daorquestra que n)o só acomanha, mas tamb*m comleta o canto, rodu% momentos dere"ela()o sacra que lembram Randel.

Parecia o &im digno de uma carreira gloriosa. O mestre retirou2se. Tre%e anos desilIncio. Heois, -erdi deu, em colabora()o com seu no"o libretista, o comositor Joito,o Otello =1EEFD, sua maior trag*dia musical, a única obra do s*culo que ode manter2se,

Page 130: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 130/200

em certo sentido, ao lado do "risto e +solda. 3as surresa maior &oi 2alstaff  =1E?GD, suarimeira óera2c4mica, escrita or um octogenário em estilo inteiramente no"o, maiscInico que melódico, e cheia de humor suerior de um homem muito "elho e sábio. As

5e44i sacri  =1E?ED, sobretudo o Stabat Mater  e o "e Deum, &oram um e!logo digno. `...

/)o se nega, sobretudo 7s óeras da segunda &ase, a "ulgaridade dos ritmos e aobre%a do acomanhamento. Pois -erdi subordina a arte 7 e'ress)o dramática, que"irou brutal orque o comositor * &undamentalmente realista. Roe em dia á n)oercebemos a audácia de certas id*ias dramáticas suas. A óera, at* ent)o, só trata"ade ersonagens nobres e mulheres bonitas em ambiente histórico ou mitológico. 3as-erdi colocou no centro de (igoletto um corcunda. 0m /a "raviata, a hero!na * umarostituta# e usam2se, ela rimeira "e% na história da óera, traes modernos,contemor8neos, no alco. 0sse realismo de -erdi n)o tem nada que "er com o doromance do seu temo, com Jal%ac, laubert ou \ola. N o realismo brutal,deliberadamente e'agerado, dos rom8nticos &ranceses.

0sse romantismo insira e ilumina o mundo de -erdi, que n)o * menos neo2rom8ntico

do que o de Kagner. Aenas os ideais s)o di&erentes. A obra de -erdi baseia2se em&irmes con"ic($es morais e religiosas, embora n)o seam as da tradi()o crist), mas asdo romantismo ol!tico e humanitário do (isorgimento. Os ólos dial*ticos desse mundos)o, con&orme a e'ress)o &eli% de :toessinger, o ra%er e a &idelidade, o go%o e oso&rimento, a obceca()o e a re"ela()o da "erdade, o sacri&!cio e a "itória. -erdisimati%a sobretudo com as "!timas, os humilhados e os o&endidos 9igoletto, A%ucena,-ioletta, Al"aro, Aida. Os destinos deles culminam nos grandes finales trágicos# só ofinale de 2alstaff re"ela, humoristicamente, a irrealidade desse mundo. O essimismo de-erdi n)o * menos ro&undo que o do autor de "risto e +solda. :ua obra * creúsculodos &alsos deuses que martiri%am o gInero humano. N isto que ago sabe amaldi(oa aCria()o como burla de mau gosto. 3as alsta&& reconhece o mundo como burla de bomgosto. :emre há uma lu% no meio das tre"as. N o amor, que se re"ela nos grandesduetos eróticos. N a bont, o ideal do (isorgimento cuo músico o&icial e idolatrado &oi o

atriota -erdi, ao onto de seu nome, -09H, ser"ir aos consiradores como sigla de-ittorio 0mmanuele 9 HXtaliaQ. Amor, bondade, ami%ade, na()o, liberdade, eis osideais. :e n)o &or oss!"el sua reali%a()o neste mundo, aarecem elo menos nasgrandes cenas de agonia =<ilda, -ioletta, 9adames e AidaD como "is$es de um mundomelhor, que se tornam realidades na arte, na música.

-erdi n)o &oi homem de muita cultura musical. At* gosta"a de e'agerar essaignor8ncia. Pois &oi a base de sua originalidade absoluta na in"en()o melódica,altamente e'ressi"a e dramaticamente signi&icati"a. /isso -erdi n)o encontrousucessores dignos de sua arte# e, considerando2se a e"olu()o osterior da música emdire()o a outros obeti"os muito di&erentes, ro"a"elmente n)o encontrará nunca mais.oi o último grande comositor ara a criatura humana que, cantando, re"ela sua alma.

`...

O único disc!ulo da &ase &inal de -erdi &oi seu último libretista, Arrigo JOTO =1EM1?1ED1 dotado de rara dulicidade de talento, como músico e como oeta, &oi umintelectual hamletianoQ, minado elos escrúulos e ela dú"ida. 0scre"eu ouco e eminter"alos enormes# Mefistofele =1EBED e :erone =1E1BD s)o obras de grande "ulto, 7squais a ambi()o de regentes italianos dedica aten()o ermanente, sem conseguir que

1 C. 9icci. 'rrigo &oito, 3il)o, 1?1?.

Page 131: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 131/200

essas duas óeras continuem no reertório rotineiro. :)o menos óeras do que grandesoratórios, embora reresentados com cenário. Obras ara &esti"ais.

 At* ent)o, a óera italiana semre se irradiara elo mundo inteiro, sem receber, or

sua "e%, in&luIncias sens!"eis do estrangeiro. Rou"e e'ce($es dessa regra a in&luInciade <luc em Cherubini e :ontini# a de Auber, no Guillaume "ell , de 9ossini. oramcomositores italianos que tinham &i'ado sua residIncia na ran(a. 3as en&im, umain&luIncia &rancesa chegou a agir diretamente sobre a tália. oi a Carmen de Ji%et.-erdi á esta"a "elho# a no"a gera()o de comositores de óeras n)o se sentiu atra!daelo estilo di&erente de Otello. 3ais a interessaria a &or(a dramática, brutal, de (igolettoe "rovatore, se o es!rito e os enredos dessas obras n)o &ossem t)o rom8nticos.Carmen mostrou2lhes o caminho ara "oltar aos &ortes e&eitos dramáticos sem sair,anacronicamente, do seu temo. 0m "e% da 0sanha dos ciganos os sicilianos, n)omenos aai'onados e teatrais. /esse mesmo temo, os romancistas italianos Cauanae He 9oberto, seguindo o e'emlo do grande -erga, descobriram o mundo de ai'$eselementares e suersti($es arcaicas da :ic!lia. Pintaram2no com cores de naturalismode \ola. oi o "erismoQ. 0 Leoca"allo e 3ascagni criaram a óera "erista.

oi um equ!"oco. O "erismoQ autIntico, o de -erga, tem ouco com \ola# e n)oglori&ica o &olclore, * arte de um realismo clássico, que n)o &oi comreendida bem em"ida do autor. Os recursos de que disunham os o"ens comositores, n)o deram aratrans&ormar aquela arte no"el!stica em drama musical. :aiu aquilo que á se di%ia, cominusti(a, sobre Carmen oeretas sangrentas.

Pietro 3A:CA</ =1EBG1?ED1 conquistou em 1E?@ um rImio da casa editora:on%ogno, o&erecido ara a melhor óera em um ato. oi Cavalleria rusticana, libretotirado de um conto de -erga. O destino do comositor &oi dos mais melancólicos em todaa história da música sobre"i"eu >E anos ao I'ito mundial daquela obra sem conseguir,

 amais, outro sucesso igual, embora na tália ainda se reresentem +ris e /0ami 2rit4 . 3asCavalleria rusticana continua sendo uma das e(as mais queridas do grande úblico,gra(as 7 brutalidade dos e&eitos dramáticos e gra(as 7 "i"acidade das melodias&olclóricas que deram aos ou"intes de 1E?@ um agradá"el frisson V isto ainda e'iste no

meio da rória 0uroa ci"ili%adaQ V enquanto o úblico de hoe bate almas orqueaquilo * bem t!ico de óeraQ, assim como a entendem. Por "olta de 1?@@, algunsacredita"am ter encontrado em 3ascagni o gInio mediterr8neoQ, o anti2Kagner. 3astamb*m um ^agneriano s*rio como 3ahler entusiasma"a2se ela obra, na qual o&ilóso&o Otto Keininger alegou ter descoberto ro&undidades de meta&!sica do amor. Roe* Cavalleria rusticana um númeroQ de rotina nas casas de óeras. /)o &oi reudicadaela sua dimens)o redu%ida V n)o dá ara encher uma soir1e V orque se achou outraóera curta ara acomanhá2la ermanentemente + 5agliacci  =1E?MD, de 9uggieroL0O/CA-ALLO =1E>E1?1?D. 3ais uma oereta sangrentaQ, de muito e&eito teatral#elo menos uma cena, a antomima de Colombina, * elaborada com arte musical mais&ina do que qualquer cena de 3ascagni# em comensa()o, Leonca"allo n)o tem nadada "er"e &olclórica do outro. /o resto, seu destino &oi o mesmo o de nunca mais obter,com obras, sucesso semelhante.

O "erismo musical italiano, gra(as ao seu sucesso mundial, encontrou imitadores emtoda a arte. 3as os triun&os daquela *oca, como "iefland , do grande ianista HXAlbert,est)o hoe esquecidos. :ó se mant*m no reertório uma óera de um "erista &rancIs/ouise =1?@@D, de <usta"e CRA9P0/T09 =1EB@1?>BD# graciosa e esirituosainterreta()o de um te'to naturalista, com lirismo n)o muito distante da maneira de

1 <. Jastianelli, 5ietro Mascagni , /áoles, 1?1@.

Page 132: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 132/200

3assenet.

N digna de nota essa &ei()o mais l!rica, mais &ina, que o "erismo assumiu na átria de\ola. 0 essa maneira n)o odia dei'ar de reercutir, or sua "e%, na tália de 1?@@, que

era ent)o uma ro"!ncia esiritual da ran(a# onde se liam mais os li"ros &ranceses queos li"ros italianos.

O reresentante desse &ranco2italianismo * <iacomo PUCC/ =1E>E1?MD1. :uabiogra&ia * um interessante romance, cua leitura nada contribui, or*m, ara a ustaarecia()o da sua música. N uma história de come(os modestos, de triun&os &abulosos elucros dignos de um grande industrial# e um triste &im, na solid)o,em comanhia de umadoen(a terr!"el. Puccini &oi um músico altamente dotado, genial in"entor de melodias,dono de &ina cultura musical e de uma linguagem ersonal!ssima. Traiu sua arte.:acri&icou tudo ao sucesso comercial. Te"e castelos, mulheres, milh$es, orque "enderaa alma. :ó as circunst8ncias históricas ligam seus come(os aos do "erismo deLeonca"allo e 3ascagni# e n)o te"e rela($es com a arte de -erdi. As origens da sua artes)o &rancesas e, or mais estranho que are(a, alem)s. Admira"a o romantismo deKeber. Adotou a t*cnica do leitmotiv , de Kagner. Tratou a orquestra com &inura e

sensibilidade. 3as tornou2se &ornecedor de melodias ara a boate e ara o bar do hotelde lu'o. Os cr!ticos italianos &oram os rimeiros que lhe denunciaram o comercialismo aser"i(o das grandes casas de e'orta()o oer!stica de 3il)o. Lamentaram ointernacionalismo da sua linguagem musical. Heloraram seu sucesso como sintoma dadecadIncia da música italiana. nsistiram na incomatibilidade da sua rodu()oQ com oconceito aristocrático de arte. :ó recentemente come(a a esbo(ar2se uma rea()o&a"orá"el. Admite2se que escre"eu dramalh$es# mas tamb*m se cita, a roósito, o"erso de 3usset 30adore le m1lodrame o< Margot a !leur1. O cr!tico italiano -igolo citouesse "erso ara e'licar ou usti&icar o sucesso ermanente de "osca =1?@@D, que * umatrag*dia de cinemaQ, ela brutalidade melodramática e elo brilho de duas ou trIsgrades árias. -alores musicais muito sueriores est)o encerrados em /a &ohme=1E?FD# mas n)o a estes de"e a obra o sucesso ermanente e, sim, ao sentimentalismobarato. N &ácil ro"ar esse &ato. Pois Manon /escaut  =1E?MD, que tem as mesmas

qualidades, só se mant*m recariamente no reertório e só na tália# n)o ode cometir,no estrangeiro, com a Manon de 3assenet. Madame &utterfl%  =1?@D, e'cesso desentimentalismo e e'otismo &alsos, * uma coluna do reertório internacional. O ontomais bai'o &oi atingido em /a 2anciulla del >est  =1?1@D, escrita esecialmente ara oúblico norte2americano. /)o &oi um sucesso. Ha! em diante Puccini &e% tentati"as derecuerar2se. 9e"elou as suas melhores ossibilidades, as tiicamente italianas, nacurta óera2c4mica Gianni Schicchi =1?1ED, tal"e% sua obra2rima. :eria di&!cilmani&estar2se de maneira t)o ositi"a quanto a "urandot , que &icou incomleta=reresentada em 1?M, comletada or Al&anoD. Certamente, essa obra * maischinesaQ do que Madame &utterfl%  &oi aonesaQ. 3as ercebe2se claramente a linhadireta que "ai da relati"a altura de "urandot   ara a absoluta lan!cie de uma oeretacomo O 5aBs do Sorriso de Lehar. ;á disse um cr!tico malicioso Puccini * o -erdi daequena burguesia# o Puccini da equena burguesia * LeharQ. /um distante &uturo,quando a *oca de 1?@@ arecerá t)o remota como hoe ara nós o s*culo +-, sósobre"i"er)o de Puccini algumas arie antiche.

1 . Torre&ranca, Giacomo 5uccini e l0o!era interna4ionale, Turim, 1?1M. A. Keissman, Giacomo5uccini , 3unique, 1?M1. <. 3onaldi, Giacomo 5uccini , 3unique, 1?M1. <. 3onaldi, Giacomo5uccini e la sua o!era, 9oma, 1?M. A. raccaroli, /a vita di Giacomo 5uccini , 3il)o, 1?M>. C.3osco, Giacomo 5uccini , 3il)o, 1?B1.

Page 133: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 133/200

Outro "erista a&rancesado &oi Umberto <O9HA/O =1EBF21?ED, cua óera 'ndr1aCh1nier   =1E?BD "i"e na memória de uma gera()o mais "elha gra(as 7 "o% de Caruso.ontes di&erentes alimentaram a arte de 0rmanno KOL2099A9 =1EFB1?ED da

arte do ai, sólida cultura musical acadImica, alem)# da arte da m)e, o es!rito de-ene%a, onde o comositor assou a maior arte da "ida, como diretor do LiceoJenedetto 3arcello# mas tamb*m esta"a em casa em 3unique e :al%burgo. :eu ideal&oi a trans&igura()o musical da com*dia de <oldoni. Os resultados &oram agradá"eis /edonne curiose =1?@GD, + (usteghi  =1?@BD, +l Cam!iello =1?GBD. /o entanto, o sucesso n)olhe &icou &iel. Kol&2errari n)o se tornou um Cimarosa do s*culo ++. Uma tentati"a dereno"a()o &undamental da óera "erista, com aro"eitamento de in&luIncias^agnerianas e de HebussS, &oi &eita or 9iccardo \A/HO/A =1EGG1?D, que &oimúsico s*rio. Has suas numerosas obras, só 2rancesca da (imini  =1?1D continua noreertório.

 A 90AZO H0  J9AR3:

 A sobre"i"Incia da óera &rancesa e os sucessos internacionais de -erdi e dos"eristas demonstram que Kagner, aesar da sua in&luIncia a"assaladora, n)o tinhaconquistado o monoólio da música dramática. Por outro lado, as &ronteiras do seu reino&ica"am limitadas ela sobre"i"Incia, ou antes ela renascen(a da música sin&4nica ecamer!stica, ligada ao nome de Jrahms.

6uando Jismarc uni&icou, em 1EF@, a Alemanha, n)o conta"a, aesar de tudo, com oaoio da na()o inteira. Continua"am na oosi()o as minorias os católicos# os&ederalistas, &i*ias 7 antiga autonomia de Rano"er, Ja"iera, :a'4nia e dos equenosrinciados# a burguesia liberal de tio antigo, das "elhas cidades li"res# os artidáriosda _ustria, que Jismarc tinha em 1EBB e'ulso da comunidade ol!tica alem)# e, en&im,os remanescentes do Stilles Deutschland  =Alemanha quietaD, do id!lio &iedermeier , dacultura goethiana e hegeliana, que resistiram, embora só assi"amente, ao materialismodo oder militar russiano e do enriquecimento ela industriali%a()o. Ra"ia

oosicionistas &i*is 7 cultura clássica e ao liberalismo ol!tico. 0ram essimistas,in&ensos ao atriotismo o&icial, orque seu rório atriotismo era de nature%a mais!ntima. Romens como o romancista 9aabe, o historiador su!(o Jurchardt, o historiador3ommsen, muitos outros es!ritos nobres e retra!dos.

O orta2"o% mais ruidoso do neo2romantismo nacionalista era Kagner. Contra ele n)oodia dei'ar de le"antar2se uma oosi()o alimentada elas &or(as esirituais doromantismo antigoQ, mais autIntico. Os insiradores dessa rea()o, em rimeira linha ogrande "iolinista ;oseh ;oachim, tamb*m che&e de um &amoso quarteto de cordas,dirigiram2se 7 na()o em mani&estos, in"ocando a memória de Jeetho"en, 3endelssohne :chumann contra aquele que declarara morta e e'tinta a música sin&4nica e dec8mara, o maior orgulho da música alem). 9esonderam os ^agnerianos que se tratariaaenas de uma rea()o de udeus, como ;oachim, contra o anti2semitismo de Kagner.3as n)o &oi t)o &ácil e'licar a assinatura, naquele mani&estos, de um homem

arquigerm8nico, elo &!sico e ela mentalidade, como Jrahms o reresentante, namúsica, daquela antiga AlemanhaQ, que, embora natural do e'tremo norte do a!s,escolheu, logicamente, ara segunda átria a _ustria, n)o subugada ela &or(as deJismarc e Kagner.

;ohannes J9AR3: =1EGG1E?FD1 nasceu em Ramburgo, &ilho de um músico de

1 Obras comletas, MB "ols., 0di()o de <esellscha&t der 3usi&reunde, Ma. ed., -iena, 1?B. 3.

Page 134: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 134/200

orquestra, de origem muito humilde. Passou a in&8ncia em ambiente roletário. Come(oua "ida como músico "iaante, tocando em ta"ernas e acomanhando em concertos"irtuoses du"idosos. 3ostrou algumas comosi($es a :chumann, ent)o á em sua

última &ase# mas o ouco que o mestre "iu basta"a ara diagnosticar o gInio earesentá2lo ao mundo num artigo cheio de entusiasmo. Hesde ent)o e at* o &im da "idaJrahms &icou ligado 7 memória de :chumann e, or um amor t!mido e nunca declarado,7 "iú"a Clara. 3as n)o se ulga"a obrigado a continuar o caminho do mestre. Paracorresonder 7s e'ectati"as ro"ocadas or aquele artigo V gra"e resonsabilidadeque teria su&ocado um menos &orte V o raa% de M@ anos suerou o romantismo inato,discilinando2o elo culto se"ero da &orma clássica de Jeetho"en e, mais tarde, deJach. Ao lado do seu amigo ;oachim entrou na luta contra Lis%t. 3as aos insultosgrosseiros de Kagner resondeu com admira()o elos Mestres-Cantores. 0m -ienaencontrou seu lar de&initi"o, de celibatário que &ala"a cinicamente das mulheres orquelhe insiraram timide%. -i"eu no ambiente &austoso da burguesia "ienense, dos temosmais róseros da caital imerial. -irou homem abastado. Cumularam2no de honrariase homenagens. Aceitou2as, sem transigir amais com a &ri"olidade do ambiente. oi umhomem se"ero, dedicando a "ida toda 7 arte se"era.

oi homem ásero, intratá"el# mas n)o inacess!"el. :ua música arecia dura a muitos#e ainda arece assim a alguns. /)o se abre logo nem com &acilidade. N recisoarender a ou"ir Jrahms. 6uem lhe recusar esse estudo, erderia o acesso a umatrim4nio esiritual que só oderia desaarecer com nossa música toda e com a nossaci"ili%a()o.

/a mocidade Jrahms &oi rom8ntico. 3as só subsistem oucas obras rom8nticas suasorque Jrahms tinha, tamb*m em anos osteriores, o hábito de destruir os originais quen)o resistiram 7 sua se"era autocr!tica# calcula2se que só ossu!mos a metade daquiloque escre"eu. Hesse modo, uma das suas rimeiras obras ublicadas, a Sonata !ara

 !iano em f; menor O!.T =1E>GD, á n)o * uma obra roriamente rom8ntica. N obraclássica no sentido em que o s)o as sin&onias rom8nticas de 3endelssohn ou osquartetos rom8nticos de :chubert a &orma, discilinando a emo()o. 3as em Jrahms, a

emo()o * muito mais &orte, at* temestuosa, e a &orma * muito mais se"era. A SonataO!.T  * a maior sonata ara iano que se escre"eu deois de Jeetho"en e a única,escrita or outro comositor, que sea digna do mestre do gInero. A ro&ecia de:chumann á esta"a con&irmada.

`...

 A maior obra da rimeira &ase de Jrahms * o Quinteto !ara !iano e cordas em f;menor , O!.L =1EGD, o mais belo e'emlo do gInero deois do quinteto de :chumann#mais "iril que este último, com inesquec!"eis temas &olclóricos no melancólico mo"imentolento e no o"ial!ssimo scher%o. Algo como um resumo da e"olu()o estil!stica de Jrahms* o "rio !ara !iano e cordas em si maior , O!.U  ois &oi escrito em 1E>, quando ocomositor tinha M1 anos de idade, mas inteiramente remodelado em 1E?1, quando tinha>E anos e á n)o lhe resta"a muito temo ara "i"er. O estudo atento dessa obra *indisensá"el ara quem desea realmente conhecer Jrahms e seus rocessos de

cria()o.`...

Walbec, 3ohannes &rahms, "ols., Jerlim, 1?@1?1. P. LandormS, &rahms, Paris, 1?M@. A.0hrmann, 3ohannes &rahms. >eg >erk und >elt , Lei%ig, 1?GG. W. <eiringer, &rahms his /ifeand >orks, Londres, 1?GB. K. e P. 9ehberg, &rahms, \urique, 1?F. P. Latham, &rahms, Londres,1??.

Page 135: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 135/200

Heois, uma longa s*rie de obras de música de c8mara, todas elas de rimeiraordem os Quartetos !ara cordas em d7 menor e l; menor O!.TR =1EFGD e em si bemolmaior  O!.X  =1EF>D# os Quintetos !ara cordas em f; maior O!.UU =1EMMD e em sol

maior O!.RRR =1E?@D, estes últimos tal"e% suas maiores obras camer!sticas# o Quarteto !ara !iano e cordas em d7 menor  =1EF>D# o "rio !ara !iano e cordas em d7 maior O!.UX  =1EEMD# o "rio !ara !iano e cordas em d7 menor O!.RVR =1EEBD. :)o as obras maiscaracter!sticas de Jrahms de rigorosa estrutura arquitet4nica# de asecto melódicoásero =n)o cantamQD# música absoluta, sem qualquer insira()o literária, e"itando amani&esta()o direta da emo()o. 3as o mestre cantaQ nas suas trIs Sonatas !araviolino e !iano n.R em sol maior O!.XU  =1EF?D, que aro"eita, 7 maneira schubertiana,o tema da CanJo da Chuva n.K em l; maior O!.RVV =1EEBD# n. em r1 menorO!.RVU  =1EEED. :)o as mais belas sonatas ara o instrumento deois das de Jeetho"en.0n&im, um número muito grande de lieder , ro&undamente sentidos. Para citar só osmaiores Sa!!hische Ode =Ode S;fica, 1EED# >ie Melodien =Como Melodias, 1EEBD#+mmer leiser =ird mein Schlummer =Cada ,e4 Mais /eve ,ira meu Sono, 1EEBD# 'ufdem $irchhof  =:o Cemit1rio, 1EEBD. /esses lieder  o mestre t)o retra!do abriu seucora()o, cantando em linguagem melódica de cunho incon&undi"elmente essoal amelancolia de sua solid)o e da "elhice que se aro'ima.

 A última &ase de Jrahms n)o * t)o e'atamente searada da segunda &ase como nocaso de Jeetho"en# uma ou outra obra desse no"o estilo á &oi escrita anos antes.Tamouco * oss!"el caracteri%á2la em oucas ala"ras, orque a mudan(a, or maisradical que sea, n)o * unilateral. Por um lado, Jrahms ermite2se e&us$es rasódicasque sua autocr!tica n)o teria tolerado em &ases anteriores# n)o se trata, e"identemente,de rela'amento, mas de e'los$es de um temeramento que &oi durante muito temose"eramente rerimido =o caso lembra os oemas da "elhice de ]eatsD. Por outro lado, aarte de Jrahms torna2se deliberadamente arcaica, emregando recursos r*2clássicos e&ormas de Jach, 7s quais a áseraQ in"en()o melódica do mestre se adataer&eitamente# mas *, e"identemente, um Jach assim como o comreendia a segundametade do s*culo ++. Haquele estilo rasódico s)o e'emlos as últimas obrasian!sticas de Jrahms, tal"e% suas maiores os "r[s interme44i , O!.RXX  =1E?MD e osSechs Stuecke =Seis 5eJasD, O!.RRU  =1E?GD, que termina com uma Chacona =outrosacreditam reconhecer uma 5assacagliaD, grandiosamente obstinada como o ritmoimlacá"el da morte. 0stes e aqueles elementos se encontram reunidos no Quinteto

 !ara clarinete e cordas em si menor , O!.RRT  =1E?1D, de eu&onia e arquitetura er&eitas,dir2se2ia mo%artianas, interromidas or um mo"imento rasódico, de oesia sel"agem.

 A Sinfonia no.L e o Quinteto com clarinete s)o das maiores obras musicais do s*culo ++e de todos os temos. 3as ainda os sueram os ,ier ernste Gesaenge =Quatro CanJYesS1rias, 1E?BD, de se"er!ssima declama()o melódica dos te'tos as trIs rimeirascan($es, sobre "ers!culos do 0clesiastes, de essimismo abismal, deseserado# aquarta, eseran(osa, sobre um te'to do aóstolo :)o Paulo. N a última obra de Jrams,escrita quando ele á ressentia a aro'ima()o da morte# e tal"e% a maior.

Ocorre, a roósito de Jrahms, um "erso do grande oeta esanhol Antonio3achado So% cl;sico o rom;nticoI :o s1. A obra do mestre ode ser interretada destaou daquela maneira. A resosta seria a de&ini()o de <ide o "erdadeiro classicismo *aquele que nasce da subuga()o de emo($es rom8nticas ela discilina se"era. 0mtodo caso, Jrahms n)o * V como antigamente acredita"am muitos V um acadImicoseco. 3uito menos merece o t!tulo eorati"o de maPtre-co!iste, que um &rancIsincomreensi"o lhe con&eriu. A originalidade da sua linguagem musical * t)o esec!&icaque ningu*m desconheceria uma melodia de Jrahms ou a con&undiria com in"en()o de

Page 136: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 136/200

outrem. :eu beetho"enianismo n)o * eig4nico. :ua música de c8mara reali%a o que:chubert ideara e n)o chegara a cumrir. :eu estilo JachQ * li"re e no"o. /)o * ummaPtre-co!iste# * um mestre, e dos maiores.

`...Jrahms tem e'ercido in&luIncia maior do que se ensa. Tra(os dela se descobririam

onde ningu*m os suseita na obra de :choenberg e dos seus disc!ulos# e noneoclassicismo deliberadamente arcaico de alguns dos disc!ulos de :tra"insS.Tamb*m * incalculá"el V orque * di&!cil "eri&icá2la V a in&luIncia que a t)o &req5enteaudi()o das obras de Jrahms e'erce sobre "ários gruos de comositores e sobre a&orma()o do gosto do úblico contemor8neo. 3as o e'emo de 9eger demonstra quen)o oderá ou n)o ode ha"er um Jrahms do s*culo ++. O mestre n)o &oi e!gono. 3astornam2se e!gonos os que retendem deliberadamente segui2lo. :ua arte * inimitá"el.N, como disse Juchardt sobre *ocas &inais da história uni"ersal, a lu% de um nobreoutonoQ.

Os e!gonos de Jrahms, entre os seus contemor8neos e disc!ulos, est)o hoequase todos esquecidos. :al"a2se uma ou outra obra isolada, como o belo Concerto

 !ara violino e orquestra em sol menor  =1EBBD, de 3a' J9UCR =1EGE1?M@D, quecontinua sendo muito e'ecutado# a abundante rodu()o "ocal desse comositor ádesaareceu do reertório. O último brahmsiano * o húngaro 0rnst "on HOR/_/]=1EFF1?B@D, grande ianista, que encontrou úblico ara suas comosi($esrincialmente na nglaterra ali e'ecutam, ainda, sua Sinfonia em r1 menor  e asesirituosas ,ariaJYes sobre uma CanJo +nfantil , ara iano e orquestra# comohúngaro, esse acadImico n)o escaou, aliás, 7 in&luIncia de Lis%t# e esse camaradamais "elho dos "anguardistas Jartó e WodálSi tamb*m á conheceu a arte de HebussS.

 A 0:COLA  H0  9A/CW

 A desgra(a de Jerlio% &oi seu isolamento, como músico rincialmente instrumental,num ambiente, numa sociedade que só arecia"a a música de teatro. /os concertos

sin&4nicos culti"a"a2se, ara um úblico limitado, a arte alem) do assado. Hoscontemor8neos só se admitia a rodu()o dos grandes "irtuoses, que continua"am atocar, com re&erIncia, suas rórias obras. Assim o c*lebre "iolinista Renri-0U+T03P: =1EM@1EE1D, do qual sobre"i"e, elo menos, o Concerto !ara violino eorquestra no.T em l; menor  =1E>ED# recentemente tamb*m &oi desenterrado o rom8nticoConcerto em r1 maior  =1E>D. Um "irtuose desses tamb*m &oi 0douard LALO =1EMG1E?MD, autor de um concerto ara "iolino e orquestra, denominado Sinfonie es!agnole =1EFGD, que tem notá"el "alor musical e continua no reertório# assim como no reertóriode Paris se mant*m sua óera /e (oi d0?s. Lalo n)o &oi um gInio, mas e'erceuin&luIncia de roor($es quase históricas a renascen(a da música instrumental daran(a de"e2lhe muito.

`...

C*sar 9A/CW =1EMM1E?@D1, natural de Lige, &ilho de ai belga e m)e alem),esta"a destinado a "irtuose no iano. Pre&eriu, mais tarde, o órg)o. 0ntre 1E>? e 1EFM&oi organista da igrea :ainte Clotilde, em Paris, onde Lis%t o ou"iu, com admira()o

1 -. dXndS, C1sar 2ranck , 1Ba. ed., Paris, 1?G@. Ch. Tournemire, C1sar 2ranck , Paris, 1?G1. /.Hu&ourcq, C1sar 2rank le milieu l0oeuvre l0art , Paris, 1??. A. Colling, C1sar 2ranck ou /eConcert s!irituel , Paris, 1?>M. /. Hemuth, C1sar 2ranck , Londres, 1?>F.

Page 137: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 137/200

ro&unda, imro"isar no instrumento. /)o &oi ublicamente reconhecido nem te"eencoraamento o&icial, aesar de ter2se naturali%ado cidad)o &rancIs. O conser"atóriotamb*m só o admitiu tarde no seu coro docente, e só como ro&essor de órg)o. O

sucesso &oi ouco# e só "eio nos últimos anos de "ida. 3as n)o &oi uma "ida &rustrada,orque o amor e a dedica()o, quase a de"o()o de alunos e disc!ulos lhe garantiu asobre"i"Incia da obra.

;á se &alou, a seu reseito, em Jrahms &rancIsQ ou Jrahms católicoQ. Ascomara($es dessa nature%a semre claudicam. Rá no classicista Jrahms um &undorom8ntico. ranc antes * neo2rom8ntico. Os modelos que adotou conscientemente&oram Jach e Jeetho"en, sobretudo o Jeetho"en da última &ase. nterretou2os, or*m,de uma maneira que á n)o nos arece e'ata. Pois n)o há que negar, em C*sar ranc,uma certa in&luIncia de Lis%t. Aesar do seu tradicionalismo, n)o &oi um e!gono. Nmuito essoal e * modernaQ sua ai')o elo cromatismo, elas modula($esincessantes. Original tamb*m * a &orma c!clicaQ que adotou, a constru()o de uma obrainteira com base em um tema único, que assa elas necessárias modi&ica($es. :)oessas articularidades que tornam t)o atrati"as suas obras, ara o ou"inte e ara o

estudioso que semre descobre nelas comlica($es ineseradas e roblemas resol"idoscom &elicidade.

`...

O sucessor de ranc * -incent HX/H] =1E>11?G1D1 &undou em 1E?, em Paris, a:chola CantorumQ, institui()o de ensino musical li"re, ara administrar a heran(aesiritual do mestre. 3as dXndS &oi caráter muito di&erente. Católico como ranc, mastamb*m nacionalista e'tremado e reacionário, na ol!tica e na música, homem deintoler8ncia terr!"el e de um orgulho que sua rodu()o musical n)o usti&ica. :ua obramais original s)o as ,ariaJYes Sinfnicas +star =1E?BD, nas quais o tema só * re"eladono &im. He certa &rescura e de insira()o genuinamente &rancesa * a S%m!honie sur unthme montagnard franJais =1EEBD. A óera 2ervaal  =1E?>D re"ela "eleidades^agnerianas. /as m)os de dXndS, o &rancismo &icou sistemati%ado como umaescolástica musical.

Contemor8neo indeendente V e, no entanto, a&im V do &rancismo &oi o nobre<abriel AU9N =1E>1?MD, um último rom8ntico, descendente de :chumann eChoin, mas sinceramente religioso como os disc!ulos do mestre de :te. Clotilde. 0lemesmo &oi, durante anos, organista da 3adeleine em Paris. oi um grande ro&essor deconser"atório que culti"a"a, na intimidade, o 6ardin clos da sua música, tiicamente&rancesa, &echado a "eleidades modernistasQ. P4s em música o 3ardin clos =1?1ED, ciclode lieds do oeta belga Chales "an Lerberghe. Outros ciclos seus s)o /a bonnechanson =1E?MD, te'tos de -erlaine, e /a Chanson d0Fve =1?1@D, te'tos de -anLerberghe. N, como se "I, o comositor da oesia simbolista. Algo do intimismo do lied  tamb*m há na óera 51n1lo!e =1?1GD e sobretudo na sua obra2rima, o (1quiem =1EEFD, que * ustamente o contrário do 9*quiem de Jerlio%# nada dos terrores do ltimo3uB4o# mas no &im se acredita ou"ir o sua"e ru!do das asas dos anos do Para!so. /)o hámúsica mais consoladora do que esta. aur* re&eriu aqueles gIneros que os oeristas

tinham banido o lied e a música de c8mara. A Sonata !ara violino e !iano no

.R em l;maior =1EFBD * de &rescura u"enil, encantadora. Obras de "elhice, maduras e at* desabedoria meta&!sica, s)o o Quinteto !ara !iano e cordas em d7 menor  =1?M1D e,sobretudo, o Quarteto !ara cordas em mi menor  =1?MD. aur* &oi um mestre

1 L. Jorge', ,incent d0+nd% sa vie et son oeuvre, Paris, 1?1G. /. Hemuth, ,incent d0+nd%Cham!ion of Classicism, Londres, 1?>1.

Page 138: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 138/200

deliberadamente antiquadoQ# sua obra tem "alor e'tratemoral.

Um !endant inglIs do &rancismo * a música de sir 0d^ard 0L<A9 =1E>F1?GD1, que&oi saudada como a renascen(a da arte de Purcell e Randel, erdida há s*culos na ilha.

O oratório "he Dream of Gerontius =1?@@D * obra caracter!stica da segundareligiosidadeQ =:englerD do fin du sicle# mas n)o há nela nada de decadente, antesuma s) &or(a brit8nica. /o entant, 0lgar * um e!gono. 0scre"eu um bom Concerto !araviolino e orquestra em si menor  =1?1@D. O Concerto !ara violoncelo e orquestra =1?1?D *como"ente elegia sobre as "!timas da Primeira <uerra 3undial. Originais s)o asEnigma-,ariations =1E??D, nas quais o tema das "aria($es n)o * re"elado.Personalidade semelhante * seu atr!cio <usta" ROL:T =1EF1?GD, o autor dograndioso )%mn of 3esus =1?1FD, de solenidade bi%antina# sua obra mais conhecida *,or*m, a música de rograma da su!te "he 5lanets =1?1?D.

Comositores dessa mentalidade neo2religiosaQ aareceram, or "olta de 1?@@, em"ários a!ses euroeus. /a arte &lamenga da J*lgica tinha Pierre J0/OT =1EG1?@1Diniciado uma renascen(a musical. Obras rinciais a cantata ro&ana De Schelde =/0Escaut , 1EB?D e outra, ,laanderens $unstroem = ' Gl7ria da 'rte 2lamenga, 1?FFD,

dedicada 7 memória de 9ubens. 0ntre essa música &lamenga e o &rancismo &rancIssitua2se 0dgar T/0L =1E>1?1MD, cuo oratório 2ranciscus =1EEED &oi or "olta de 1?@@muito e'ecutado e elogiado.

 At* na tália de 3ascagni e Puccini surgiu na mesma *oca um reno"ador da arte dooratório Loren%o P09O: =1EFM1?>FD, autor de obras como 5assione di Cristo =1E?FD,"rasfigura4ione di Cristo =1E?ED, (issure4ione di /a4aro =1E?ED e "árias outras,semelhantes. A simlicidade litúrgica de sua linguagem musical encantou oscontemor8neos, inclusi"e o aa Pio +# só mais tarde se ercebeu a "eia teatral dessecomositor2sacerdote, des"iado or engano "ocacional ara a música sacra# oreconhecimento do erro e se"eras re&ormas da música litúrgica ela :anta :*condenaram2no, deois de sucessos quase sensacionais, a uma longa noite de eclise eesquecimento.

 /)o se ode du"idar da sinceridade religiosa de um Perosi ou dos &rancianos

&ranceses e belgas nem da insira()o religiosa dos oratórios de 0lgar. /o entanto, essamúsica sacra de 1?@@ nos dá hoe imress)o singularmente ro&ana. Os recursost*cnicos e harm4nicos desses comositores eram incomat!"eis com o es!rito litúrgicodos te'tos# &oi este, aliás, o moti"o da re&orma ela qual o aa Pio +, assistido orPerosi e outros, e'cluiu do culto toda música instrumental, recomendando a "olta aocoral gregoriano.

 Aquela incomatibilidade entre a religi)o dos disc!ulos de ranc e a sua t*cnicaro"ocou uma gra"e crise# contribuiu ara tanto a in&iltra()o da música ^agneriana nosc!rculos intelectuais da ran(a, inclusi"e na :chola Cantorum.

O rório C*sar ranc, nos últimos anos de "ida, con&essou2se &ortementeimressionado or "risto e +solda, em cuo cromatismo tinha de reconhecer ase'tremas ossibilidades das suas rórias con"ic($es harm4nicas. Um dos seusdisc!ulos re&eridos, Chausson, escre"eu a óera ^agneriana /e (oi 'rthus. :eusucessor dXndS escre"eu a óera ^agneriana 2ervaal . 0 RenrS Huarc &e% aeregrina()o ara JaSreuth, ara ou"ir a reresenta()o autIntica de "risto e +solda.

`...

1 K. 9. Anderson, +ntroduction to the Music of Elgar , Londres, 1??. H. 3. 3c-eagh, Ed=ardElgar , Londres, 1?>>.

Page 139: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 139/200

/o meio dessa crise á esta"a o último &ranciano, Albert 9OU:0LL =1EB?1?GFDMautodidata, que conheceu como o&icial da 3arinha o Oriente# estudou, deois, comdXndS. Com 9oussel come(a o imressionismo a minar e decomor as arquiteturas

&rancianas. Obras de um &ranciano a"an(ado s)o as de música de c8mara e oimonente 5saume UV . O gInio construti"o re"ela2se melhor na Sinfonia no. em solmenor  =1?G@D, obra caital da música &rancesa, e na bucólica Sinfonia n o.L. Obraseseci&icamente &rancesas, reno"ando um antigo gInero nacional, s)o os o!1ra-ballets5admavAit  =1?MGD e 'en1as =1?G>D. A esse reseito, 9oussel * recursos doneoclassicismo de hoe. Por outro lado, seu uso dos modosQ antigos á lembrou a umcr!tico a conhecida &rase de dXndS con&orme a qual o coral gregoriano * o &olcloremusical da ran(aQ. Parece, or*m, que o uso desses modosQ &oi insirado a 9ousselelos sistemas tonais di&erentes que conhecera no Oriente, esecialmente na ndochina.0m todo caso, a incomatibilidade desses modosQ com o sistema harm4nico de Jach29ameau contribuiu ara a eclos)o da crise da música rom8ntica na ran(a.

M <. :er"ires, Emmanuel Chabrier , Paris, 1?1M. ]. Ti*not, Emmanuel Chabrier , Paris. 1?B>.

Page 140: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 140/200

C APÍTULO  B

 A Crise da Música EuropéiaPor "olta de 1?@@ á "eri&icou a cr!tica, em toda a arte, um certo cansa(o de

KagnerQ, quer di%er, a satura()o com música ^agneriana. oi uma crise que te"e suasra!%es na rória obra do mestre de JaSreuth.

1E>? &oi uma data &atal na história da música euro*ia. N o ano de "risto e +solda.Kagner chegou at* as últimas ossibilidades do cromatismo rom8ntico. /)o teria sidooss!"el ir mais longe sem atra"essar as &ronteiras do sistema tonal de Jach29ameau,&undamento da música do Ocidente. O rório Kagner recuou ara a oli&oniainstrumental dos Mestres-Cantores, ara o mundo de acordesQ do 'nel dos :ibelungene de 5arsifal . 3as n)o se ode &a%er esquecer o que aconteceu. O curso da história *irre"ers!"el. 3ais cedo ou mais tarde, a crise de 1E>? de"ia ter suas conseq5Incias,aenas retardadas. Te"e2as or "olta de 1?@@, quando a crise social e ideológica sacodeos &undamentos da 0uroa. :)o os anos da ascens)o dos artidos socialistas e dasrimeiras e'los$es do sindicalismo re"olucionário, que dará li($es de t*cnica do golede 0stado a &ascistas e comunistas. :)o os anos da crise do ensamento racionalista ematerialista da &iloso&ia de Jergson e da est*tica de Croce. 0nquanto se reara muitacoisa no"a, sente2se um cansa(o geral &ala2se em decadIncia. Acredita"am ercebersintomas dela em todos os setores da "ida. /a música, arecia decadente o entusiasmode tantos comositores de 1?@@ or "risto e +solda, or essa música que /iet%schetinha de&inido como ner"osaQ, doentiaQ, erigosamente &ascinanteQ. 3as enquanto hárogresso na história das artes, &oi realmente um rogresso esse recuo ara 1E>?# araretomar o &io da e"olu()o onde Kagner o dei'ara cair das suas m)os de essimista neo2rom8ntico.

 A crise *, em rimeira linha, alem) * a imossibilidade e"idente de continuar &a%endomúsica assim como Kagner a &i%era. N a situa()o dos 9eger, P&it%ner, 3ahler, 9ichard:trauss.

Os rimeiros e'erimentos de suera()o da crise de"em2se a uns oucos músicos decunho internacional Jusoni, :riabin.

 A suera()o da crise será obra dos sucessores e dos ad"ersários da escola de C*sarranc, minada elo cromatismo ^agneriano. :)o HebussS e os imressionistas# emestre 9a"el.

 A C9:0  /A  AL03A/RA 3 ARL09 , :T9AU:: , PT\/09 , 90<09

9ecurso de eriodi%a()o, na história da literatura e das artes lásticas, * o teoremadas gera($es a tese con&orme a qual os estilos mudam no mesmo ritmo em que se

sucedem as gera($es biológicas. O ano do nascimento adquire imort8ncia t)o grandecomo nos horóscoos dos astrólogos. Al&red Loren% alicou esse teorema 7 história damúsica. 3as seu resultado, os gruos de gera($es de oli&onistas e gruos de gera($esde homo&onistas, n)o &oi geralmente aceito. :ó em casos de imossibilidade de outraclassi&ica()o adota2se o crit*rio dos anos de nascimento assim aarecem na cabe(adesse ca!tulo os nomes de 3ahler =1EB@D, 9ichard :trauss =1EBD, P&it%ner =1EB?D,

Page 141: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 141/200

9eger =1EFGD. O estudo das rea($es desses quatro mestres em rela()o ao ^agnerismoinsira, or*m, outra ordem do que a cronológica come(ando com 9eger e terminandocom 9ichard :trauss.

3a' 90<09 =1EFG1?1BD1

 * o mais reacionárioQ dos quatro comositores. N o anti2Kagner. Tamb*m &oi, em "ida, o anti29ichard :trauss. :ó admitia a música absoluta. Oscontemor8neos chama"am2no de no"o JrahmsQ, sea ara e'altá2lo, sea arahostili%á2lo. /o entanto, esse &ilho de camoneses bá"aros come(ou como ^agnerianoentusiasmado. :ó o ensino do se"ero teórico Rugo 9iemann con"erteu2o ara o credoJrahms2JachQ. Combateu tena%mente os &anáticos de JaSreuth e a música derograma, os oemas sin&4nicos de 9ichard :trauss. Te"e, como regente, con&litos"iolentos em 3unique e Lei%ig. As uni"ersidades, muito conser"adoras, aoiaram2no,con&erindo2lhe doutorados honoris causa. Como regente da e'celente orquestra mantidaelo gr)o2duque de 3einingen te"e grande sucesso, em casa e em "iagens. 0n&im, &oinomeado diretor de música da Uni"ersidade de ena. :ua rodu()o &oi enorme, &ebril,&anática, como se adi"inhasse a morte rematura.

9aramente em toda a história da música um comositor ossu!a t)o &orte talento de

constru()o arquitet4nica. Pensa"a, or assim di%er, em termos oli&4nicos. :euro&essor 9iemman lhe tinha dito :e quiser, "ocI será um segundo JachQ. 0ssaro&ecia nos arece hoe e'agero absurdo. A maioria dos cr!ticos diria Um acadImicoe'cecionalmente dotadoQ. Teria sido só aquilo que um cr!tico &rancIs incomreensi"odi%ia sobre Jrahms um maPtre-co!iste

`...

 A&inal, na rodu()o imensa e desigual de 9eger há um número surreendentementegrande de obras que ermanecer)o, aesar dos de&eitos assinalados. 0 há mais umargumento caa% de reabilitar o mestre n)o &oi t)o reacionárioQ como arece. Ou antes,seu aarente reacionarismo á n)o se a&igura, hoe, t)o reacionário como em 1?1@. :uasobras bachianas e o nobre Concerto em Estilo 'ntigo =1?1MD anteciam a modabarrocaQ na música alem) de 1?M@ e 1?G@ e o neoclassicismoQ de muitos estrangeirosda mesma *oca. 0 9eger ode ter sido reacionário em tudo, menos em sua harm4nica#

o oli&onismo linear le"ou2o muitas "e%es, e deliberadamente, como no Quarteto !aracordas em f; bemol menor =O.1M1D, at* as últimas &ronteiras do sistema tonal. Umregeriano de hoe * ou seria um músico bastante moderno.

Com e'ce()o de 9eger, todos os outros reresentantes da crise na Alemanha artem,desta ou daquela maneira, de Kagner# ainda :choenberg, nos seus rimeiros temos,&oi ^agneriano. 3as cada um rocura, a seu modo, sair do imasse. Para diante ou aratrás.

Para trás &oi Rans PT\/09M, um dos homens mais solitários em toda a história damúsica. Kagneriano or muitos moti"os e a&inidade !ntima, rocurou no entantoaro&undar o germanismoQ de JaSreuth, acrescentando2lhe qualidades t!icas dorimeiro romantismo alem)o. Ao mesmo temo atacou aseramente todo e qualquermodernismoQ que costuma"a chamar de &uturismoQ, incomatibili%ando2se, en&im, comtodos, com a direitaQ e com a esquerdaQ da música. Chegou a ser boicotado. A "itóriada rea()o ol!tica na Ja"iera, nos anos deois de 1?M@, le"aram2no a aceitar o cargo de

1 0. slser, Ma# (eger , \urique, 1?1F. R. Unger, Ma# (eger , 3unique, 1?M1. . :tein, Ma# (eger ,Potsdam, 1?GE. 0. Otto, Ma# (eger , Kiesbaden, 1?>F.M C. Kandre, )ans 5fit4ner und das Ende der (omantik , 3unique, 1?MM. K. Abendroth, )ans5fit4ner , Lei%ig, 1?G>.

Page 142: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 142/200

diretor2geral de músicaQ em 3unique. Contra os modernistas, "itoriosos em outra arte,de&endeu Kagner, mas de maneira t)o agressi"a e inábil que assa"a, deois, orna%ista# o que nunca &oi. 3orreu em 1?? na e'trema mis*ria e no e'!lio.

9eger e P&it%ner, embora searados como dois mundos di&erentes, arecem terercorrido caminhos aralelos a&astando2se de Kagner or moti"os reacionáriosQ echegando a regi$es al*m do cromatismo ^agneriano. :eria esta a marca da *oca6uase se acredita, olhando2se ara o caminho do seu contemor8neo 3ahler, que "eiode ambiente t)o di"erso ^agneriano só no sentido em que o de"ia ser, &atalmente, umregente de óera or "olta de 1?@@# mas tendo recebido a li()o de Kagner atra"*s dasin&onia de Jrucner# e chegando, no entanto, 7s ortas da música de :choenberg.

<usta" 3ARL09 =1EB@1?11D &oi o maior de todos os regentes de orquestra. :euscontemor8neos admira"am2no só nessa qualidade# sua ati"idade criadora areciahobb% de um homem de ambi($es demasiadamente grandes. /asceu na comunidade

 udaica de uma equena cidade, meio alem), meio tcheca, na 3orá"ia# o mesmoambiente em que na mesma *oca nasceu :igmund reud. A caital, ara essesintelectuais de ro"!ncia do im*rio austr!aco, era -iena, onde só os esera"am, or*m,

di&iculdades e hostilidades. 3ahler te"e muito mais sorte que outros# mas tamb*m erahomem de energia &anática. Obte"e ostos de comando nos teatros de óera deJudaeste e Ramburgo. 0m 1E?F * nomeado diretor da era merial de -iena, cargode rest!gio incomará"el. ;usti&icou lenamente as e'ectati"as a casa histórica "oltoua ser, sob a sua dire()o, o rimeiro teatro de óera da 0uroa. O re(o &oi caro# ase'igIncias enormes do regente aos seus au'iliares incomatibili%aram2no com oscantores e com a orquestra. ntrigas bai'as obrigaram2no, em 1?@E, a demitir2se.Chamaram2no ara os 0stados Unidos, como regente da 3etroolitan Oera, o cargomais altamente remunerado do mundo. 3as o cora()o, á gra"emente doente, n)oresistiu ao tumulto da "ida americana# muito menos os ner"os que o mestre tinha 7 &lorda ele. -oltou. 3orreu em -iena. O grande ciclo musical da caital austr!aca, iniciadocom RaSdn, esta"a &echado.

3ahler &oi homem dos mais esquisitos, reencarna()o do Waellmeister WreislerQ, do

ersonagem &antástico do rom8ntico 0.T.A. Ro&&mann. Romem de magre%a esquel*tica,torcendo2se em mo"imentos burlescos que &a%iam rir o úblico, esse Paganini da batutaconseguiu reali%ar milagres suas reresenta($es das óeras de 3o%art, do 2idelio, dosdramas musicais de Kagner, suas "ers$es das sin&onias de Jeetho"en, :chumann eJrahms, s)o at* hoe consideradas insuerá"eis. oram reali%a($es de um idealin"is!"el que esse &anático constru!ra em sua cabe(a. Para tanto, matou seu cora()odoente e quase matou os outros, os cantores, os músicos da orquestra, at* en&im todosse re"oltarem contra os ensaios interminá"eis, contra as e'igIncias in*ditas. /o entanto,admira"a2se o resultado. 3as n)o se admira"am igualmente as sin&onias, de dimens$ese e&eitos tamb*m in*ditos, que 3ahler ro4s ao úblico. 0 at* hoe subsiste a dú"ida seo gInio da rerodu()o da música corresondia, em 3ahler, igual gInio criador.

`...

3ahler * mais modernoQ do que hoe se admite. 3as esse rom8ntico nato &oi como

um 3ois*s ao qual só &oi dado "er de longe a terra da romiss)o. oi um intelectual,cheio de saudade da certe%a religiosa e sacudido or dú"idas martiri%antes# oscilandoentre &uriosa a"ide% de "i"er e essimismo doloroso. Um t!ico d1cadent de 1?@@. Alena e'ress)o de sua alma torturada, a obra 7 qual está garantida a ermanIncia, * o/ied von der Erde =CAntico da "erra, 1?@ED. Chamou2o de sin&oniaQ. 3as antes * umciclo de lieds com grande acomanhamento orquestral. A letra oesias dos antigos

Page 143: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 143/200

oetas chineses Litaio e Kang^ei, congenialmente tradu%idas ara o alem)o or RansJethge. 0'ress$es de essimismo abissal em &ace da "ida e da morte que amaldi(oa#recorda($es &eli%es da u"entude e bele%a# e, como último mo"imento, uma Des!edida

que * a música mais como"ente que no s*culo ++ &oi escrita.0m torno da obra de 3ahler hou"e e há muita di"ergIncia de oini$es. O es&or(omeritório de dois grandes regentes, do austr!aco Jruno Kalter e do holandIs Killem3engelberg, conquistaram2lhe um úblico &iel mas limitado, antes uma seita. 0n&im,re"aleceu a tese des&a"orá"el que reconhece em 3ahler a tendIncia ara o colossalQe a segunda religiosidadeQ =termo de :englerD, t!icas dos temos da decadIncia deuma ci"ili%a()o. A &úria na%ista, banindo do reertório as obras do comositor udeu =que&ora da Alemanha e _ustria ainda n)o esta"a bastante di"ulgadoD, arecia condenar aobra ao esquecimento. Roe em dia á ressurgiu na Alemanha e na _ustria, Rolanda e0stados Unidos, mas tamb*m na nglaterra, ran(a e tália. As oscila($es da cr!tica s)oe'licá"eis a obra de 3ahler * uma s!ntese imer&eita entre tradi()o e modernidade#imressiona como música moderna, aesar de recursos materiais que á se a&iguramobsoletos# tal"e% essa obra sea maior como sinal da crise esiritual da *oca do que

como "alor uramente musical. 3as o CAntico da "erra &ica. Ao lado de 3ahler, intelectual deseserado e homo religiosus inquieto que sacri&icou a"ida 7 arte, arece 9ichard :T9AU:: =1EB1??D1 um grande oortunista,esiritualmente desreocuado e aenas ilustrando, com arte consumada, as tendInciasdi"ersas e contraditórias da sua *oca. Hescendente e e'ress)o da alegre e suntuosaburguesia de 3unique, semre amante de todas as artes, te"e :trauss uma "ida cheiade sucessos e glória como diretor2geral de músicaQ =t!tulo caracteristicamente alem)oDem 3unique e Jerlim e como diretor da era de -iena e'erceu in&luIncia imensa# suasobras &oram e'ecutadas e reresentadas no mundo inteiro, esecialmente na ran(a enos 0stados Unidos# tornou2se rico# mas a guerra e a hostilidade dos na%istas oarruinaram. 3orreu na mis*ria.

 A e"olu()o de :trauss &oi tortuosa n)o obedeceu a transi($es lógicas, de uma &aseara outra# &oi o %igue%ague do oortunista, adatando a gostos e modas di"ersas sua

arte consumada. Come(ou V ningu*m acreditaria V como disc!ulo de Jrahms. Asrimeiras obras instrumentais, a Sonata !ara violino e !iano, o Concerto !ara trom!a eorquestra o!.RR, a &urlesque em r1 menor !ara !iano e orquestra etc., s)o músicaesirituosa, brilhante, de um e!gono altamente dotado# a sobre"i"Incia dessas obras,no concerto e no disco, só * de"ida o nome de :trauss# melhor &icariam esquecidas. 3asn)o con"*m condenar assim os lieds de :trauss, embora muitos deles erten(am aomesmo er!odo. 9ueignung  =Dedicat7riaD, 'llerseelen =2inadosD, Der Steinklo!fer  =O&ritador D, Morgen = 'manhD, >inter=eihe =SagraJo do +nvernoD e outros semrecontinuar)o no reertório, bel!ssimas oesias l!ricas, 7s "e%es um ouco teatrais,romantismo meio eig4nico, meio neo2rom8ntico. /esse temo, :trauss á &oi^agneriano. Heois de tentati"as menos bem2sucedidas de escre"er óerasbaSreuthianasQ escolheu o comositor a música de rograma o oema sin&4nico 7maneira de Jerlio%. O gInero em que o mestre &rancIs te"e t)o ouca sorte unto ao

úblico, &oi ara :trauss, muito mais "ersátil, uma &onte de triun&os.Hesses oemas sin&4nicos, só dois s)o hoe e'ecutados com &req5Incia "od und

1 9. :echt, (ichard Strauss und sein >erk , M "ols., Lei%ig, 1?M@. . <Ssi, (ichard Strauss,Potsdam, 1?G. ;. <regor, (ichard Strauss der Meister der O!er , 3unique, 1?G?. /. Hel 3ar,(ichard Strauss. ' Critical Commentar% on his /ife and >orks, Londres, 1?B1. 0. Wrause, (ichardStrauss, <estalt und Ker, Ga. ed., Lei%ig, 1?BG. L. Wusche, (ichard Strauss, 3unique, 1?B.

Page 144: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 144/200

,erklaerung  =Morte e "ransfiguraJo, 1E?@D, obra solene e consoladora# e "illEulens!iegels lustige Streiche =Os 'legres Gol!es de "ill Eules!iegel , 1E?>D, oemaabundantemente burlesco. 3erece a mesma sobre"i"Incia Don Qui#ote =1E?ED, em que

um solo do "ioloncelo reresenta o ca"aleiro da triste &igura. Os outros oemassin&4nicos de :trauss á en"elheceram bastante, inclusi"e 'lso s!rach 9arathustra = 'ssim 2alou 9aratustra, 1E?BD, ilustra()oQ musical da &iloso&ia de /iet%sche que ent)ocome(ou a "irar moda, e Ein )eldenleben =8ma ,ida de )er7i , 1E??D, autoglori&ica()oalgo imertinente do comositor. 3as do onto de "ista histórico, os oemas sin&4nicosmais interessantes de :trauss s)o os rimeiros Don 3uan =1EE?D e Macbeth =1E?@D#neles, o comositor artiu do cromatismo de "risto e +solda ara chegar at* as&ronteiras do sistema tonal, assim como 3ahler, P&it%ner e 9eger em suas últimas obras.:trauss n)o continuou nesse caminho sua e"olu()o será in"ersa, reacionáriaQ.

Os últimos oemas sin&4nicos de :trauss &oram a Sinfonia Dom1stica =1?@D e a 'l!ens%m!honie =Sinfonia dos 'l!es, 1?1>D enormes recursos orquestrais, os maiores amais emregados, ara descre"er uma briga em &am!lia e uma e'curs)o tur!stica. :)oobras t!icas da Alemanha do imerador <uilherme =os alem)es di%em estilo

^ilhelminoQD, &achadas omosas e nada or dentro. Assim como hou"e nada atrás damúsica seudo&ilosó&ica do oema sin&4nico 'ssim falou 9araustra. :trauss &oi homemde "asta cultura, mas sem ro&undidade. 0mregou sua habilidade &antástica deorquestra()o ara criar uma música tri"ialmente ilusion!stica, de imita()o de ru!dos. Nmelhor quando mant*m, atrás do rograma literário, a &orma sin&4nica tradicional Mortee "ransfiguraJo * um último mo"imento de sin&onia e "ill Eulens!iegel * um scher4o.0n&im, :trauss dei'ou de escre"er oemas sin&4nicos, nos quais um rograma literárioe'lica os acontecimentos na orquestra. ;á tinha come(ado a escre"er, com &elicidademuito maior, óeras sin&4nicas nas quais a orquestra e'lica os acontecimentos noalco.

Salome =1?@>D &oi um gole de mestre comosi()o integral de um te'to em rosa,embora sea a rosa o*tica de Oscar Kilde. O sucesso da obra arecia ligado 7s"eleidades decadentes e e'óticas da *oca. /o entanto, Salome sobre"i"e. /)o *

música ro&unda, mas &ulgurante, brilhando em todas as cores. Teatro autIntico, segurodo e&eito. O ou"inte sem reconceitos n)o resiste a essa obra genial como de mocidade,mas reali%ada or um artista á maduro. Elektra =1?1@D arecia reetir os mesmose&eitos# aenas, em "e% de um eisódio b!blico, histericamente interretado, um eisódiogrego, n)o menos hist*rico. /o entanto, o ael de Cassandra n)o * reeti()o de:alom*. A segunda obra "i"e, de direito rório, como a rimeira.

Heois "eio, dir2se2ia sem a"iso r*"io, a con"ers)oQ de :trauss. n&luenciado eloseu amigo, o grande oeta austr!aco Rugo "on Ro&mannsthal, o comositor internou2seno mundo meio barroco, meio 9ococó da _ustria do s*culo +-. P4s, or assim di%er,em música o no"o gosto historicista da sua *oca. O ^agneriano con"erteu2se a 3o%art.oi uma data na história da música.

Der (osenkavalier  =O Cavaleiro das (osas, 1?11D n)o *, e"identemente, umatentati"a de ressuscitar a _ustria mo%artiana# se &osse, aenas teria sa!do uma

adata()o ineta. Com todos os recursos da música moderna interretou :trauss olibreto que Ro&mannsthal le tinha escrito e"oca()o deliciosa, or um burguIs culto emoderno, de uma *oca de requintada ci"ili%a()o aristocrática, ara semre erdida, de"italidade abundante com uma onta de triste%a eleg!aca. N uma com*dia, muitohumana, com um ensamento trágico =o en"elhecimento da marechalaD no &undo. Os*culo ++ ou"iu, deois, música mais ro&unda# mas nunca mais uma música t)osaturada de cultura e bele%a. oi, imediatamente antes da catástro&e da _ustria e da

Page 145: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 145/200

0uroa em 1?1, uma desedida# que o &uturo n)o se cansará de ou"ir.

`...

;á n)o ode ha"er dú"ida só oucas obras2rimas de :trauss sobre"i"er)o# muita

música magn!&ica encerrada nas outras está condenada a desaarecer. N o re(o que ogrande oortunista agou elos seus I'itos. :eu neobarroquismo tamouco * umaanalogia do neoclassicismo da no"a gera()o de 1?M@# &oi um sintoma de crise, mas n)ouma solu()o.

P90CU9:O90: JU:O/ # :C9AJ/

O "erdadeiro recursor do neoclassicismo * errucio JU:O/ =1EBB1?MD, &ilho deai italiano e m)e alem), que assou a "ida no esa(o cosmoolita entre as na($es. oium dos maiores ianistas de todos os temos e um literato de inteligIncia aguda. Comoro&essor em Jerlim, entre 1E? e 1?1 e entre 1?M@ e 1?M, e'erceu grande in&luInciana "ida musical alem). :eu concerto ara iano e orquestra =1?@D, cuo últimomo"imento * um coro sobre "ersos do oeta dinamarquIs Oehlenschlaeger, assa"a

or ultramodernoQ, assustando os cr!ticos. 3as Jusoni ia muito mais longe. /o li"roEnt=urf einer neuen 'esthetik der "onkunst =EsboJo de uma :ova Est1tica Musical ,1?@BD ro4s subdi"idir a escala, substituindo os tons inteiros e os semitons or quartosde tomQ, o que signi&icaria a aboli()o dos inter"alos do cra"o bem temeradoQ e dosistema tonal. oram essas roostas que ro"ocaram os ataques de P&it%ner contra o&uturismo musicalQ. 3as o rório Jusoni n)o &e% tentati"as s*rias de reali%á2las. :ua"erdadeira ai')o, ou antes, sua mania, &oi a música de Jach, cuas obras ian!sticastoca"a com a maior er&ei()o e em estilo no"o, sem e'ibi()o rom8ntica de sentimentos,&ria e quase maquinalmente. Hessa bachmaniaQ surgiu seu neoclassicismo, tentati"a deressuscitar no alco a música italiana do s*culo +-, n)o como coisa s*ria, mas comobailado &antástico, carna"al de máscaras e esectros. 0ssas suas obras V "urandot ,

 'rlecchino, Die &raut=ahl  =tirado de um conto de 0.T.A. Ro&&mann, 1?1FD V n)oobti"eram sucesso. N uma arte &ascinante, cerebral, sem esontaneidade melódica e

comle'a demais# oucos anos mais tarde, or*m, :tra"insS escre"erá músicasemelhante. Hi&erente * a grande óera Doktor 2aust , que &icou inacabada =comletadaor um disc!ulo de Jusoni, o esanhol Phili ;arnachD. 9eresenta($es recentes&orneceram oortunidade ara admirar os coros grandiosos em Doktor 2aust  =Husseldor&, 1?BMD e o humorismo sutil de &raut=ahl  =Harmstadt, 1?BMD. 3as a maiormúsica de Jusoni &oi certamente aquela que ideara e que nunca chegou a escre"er.

 A música de Jusoni está hoe surgindo do esquecimento. :eu sistema de quartos detomQ &oi ressuscitado elo comositor tcheco Alois R_JA =1E?GD, que escre"eu nelemuita música de c8mara, baseada em temas &olclóricos. Para oder alicar o sistema aoiano, &oi obrigado a mandar construir um instrumento esecial.

/o ólo oosto ao neoclassicismo de Jusoni está o ultra2romantismo de Ale'ander/iolaie"itch :W9AJ/ =1EFM1?1>D1, cuo nome se tornou mais conhecido na 0uroaem transcri()o con&orme a ortogra&ia &rancesa :criabine. Autodidata como tantos outros

comositores russos, tornou2se grande ianista, int*rrete magistral de Choin. Tamb*mescre"eu sonatas e muitos relúdios e noturnos em estilo choiniano. 3as algumasdessas e(as, como os relúdios O!.XL, s)o di&erentes n)o * oss!"el reconhecer atonalidade. At* s)o &rancamente atonais. Ao cromatismo desmedido corresonde aolirritmia. 0 esses mesmos recursos no"os alicou :riabin 7 orquestra, em oemas

1 A. ;. :^an, Skriabin, Londres, 1?MG.

Page 146: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 146/200

sin&4nicos elos quais retendeu ro"ocar, nos ou"intes, I'tases m!sticos, &ortalecidosor e&eitos de ilumina()o na sala de concertos. :)o o 5ome divin =1?@>D, a sin&onia,ers la flamme, o 5ome de l0E#tase =1?@ED, o 5ome du 2eu =ou 5rom1th1eD =1?1GD.

0ssas comosi($es monstruosas &i%eram, durante certo temo, sensa()o na 0uroa#at*, en&im, a cr!tica e o úblico reconhecerem que se trata"a de e&eitos &riamentecalculados. /o entanto, a história da música tem de registrar a in&luIncia de :riabin noscome(os do atonalismo de :choenberg.

0s!rito a&im, mas ro"a"elmente mais sincero * o russo OJUWO- =1E?MD, cuamúsica á n)o se arece com nenhuma outra música s)o &req5entes as seq5Incias deacordes que consistem de todos os 1M tons e semitons da escala, e os glissandi  "ertiginosos das "o%es. Uma obra coral de Obuo", o /ivro da ,ida =1?M>D, &oiocasionalmente e'ecutada na 0uroa. Alguns cr!ticos a e'altaram como in!cio de umano"a *oca na história da música. Outros ediram reseito a um talento descomunal eainda incomreendido. 3ais outros re&eriram di%er incomreens!"el. 0 deois n)o se&alou mais no assunto.

H0  H0JU::]   A  9 A-0L

 Artistas e intelectuais como 3ahler e 9eger, P&it%ner e 9ichard :trauss esta"am bemconscientes da miss)o de que a *oca os incumbiu# sem chegar a cumri2la. 3as n)oesta"am igualmente conscientes do &ato de que a crise da música n)o era situa()olimitada 7 Alemanha. <ra(as a RaSdn, 3o%art e Jeetho"en, a Keber, 3endelssohn e:chumann, a Kagner e Jrahms, a Alemanha tinha conquistado a hegemoniaincontestá"el no mundo da música. Os músicos alem)es n)o ignora"am o que acontecia&ora do seu a!s. Jasta lembrar o que um mestre t)o genuinamente &rancIs comoChabrier de"ia ao regente alem)o eli' 3ottl. 3as ensa"am que a crise surgida na

 Alemanha e or obra de mestres alem)es só na Alemanha udesse ser solucionada./)o resta"am aten()o 7 crise aralela na música &rancesa. 3ahler, :trauss, P&it%ner,9eger cresceram e continua"am meio ignorantes do seu contemor8neo HebussS# ou,

elo menos, n)o lhe reconheceram a imort8ncia, considerando2o como artistalimitadamente &rancIs. 0m conseq5Incia, aquela crise n)o &oi suerada na Alemanha,mas na ran(a. 0 a hegemonia musical alem), á minada elo ad"ento dos russos eoutras &or(as no"as, &oi erdida. /)o assou roriamente ara a ran(a. Pois no s*culo++ n)o ha"erá mais hegemonia de determinada na()o. 3as Paris tornou2se a caital domundo da música, na *oca que "ai de HebussS a 9a"el.

;á assou o temo em que se &ala"a de HebussS e 9a"elQ, como se &ossem artistasmuito semelhantes ou quase idInticos, indicando a conun()o eQ a deendIncia de9a"el em rela()o ao mestre mais "elho. 9a"el só &oi debussSano nos in!cios# semrecontinuou admirando HebussS# mas en"eredou or outro caminho, radicalmentedi&erente. /a ersecti"a histórica á "emos os dois comositores searados ela ondamundial do imressionismo e das músicas nacionais, ao asso que a arte de 9a"el "iroucada "e% mais &rancesa. A *oca n)o * de HebussS e 9a"el. -ai de HebussS a 9a"el.

Claude H0JU::] =1EBM1?1ED1

 tem, há muito temo, seu lugar garantido entre os

1 9. "an :anten, Debuss% , Raia, 1?MB. L. -allas, Claude Debuss% et son tem!s, Paris, 1?GM. 0.Locseiser, Debuss% , Londres, 1?GB. =Ma. ed., 1?>1# edi()o &rancesa, Paris, 1?BM.D O. Thomson,Debuss% Man and 'rtist , /o"a orque, 1?GF. R. :trobel, Debuss% , Jerlim, 1?@. <. erchault,Claude Debuss% , Paris, 1?E. <. e H. 0. nghelbrecht, Claude Debuss% , Paris, 1?>G. . Lesure,Claude Debuss%. "e#tes et documents in1dits, Paris 1?BM.

Page 147: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 147/200

maiores mestres. Rou"e, or*m, um temo em que seus admiradores, n)o satis&eitoscom isso, o declararam suerior a Kagner e a Jeetho"en# oini)o que hoe á ningu*massinaria. /aquele mesmo temo outros V e entre esses outros se encontra"a -incent

dXndS, o che&e da escola de rancQ V negaram 7 arte de HebussS, simlesmente, aquali&ica()o como música# seria boa, bonita, menos música. ;á n)o recisamos irritar2nos com essa incomreens)o. Rá nela um gr)o de "erdade a música de HebussS *di&erente de qualquer outra, anterior. O mestre &oi um grande ino"ador, se n)o umre"olucionário, tal"e% um ouco contra a sua "ontade. Pois &oi homem da belle 1!oque eda boa "ida.

:ua biogra&ia n)o registra acontecimentos esetaculares. e% os rimeirose'erimentos di&erentes á no conser"atório, causando estranhe%a aos ro&essores.-iagem ara a 9ússia, em comanhia de madame de 3ec# mas lá admira"a menos oamigo dela, o &amoso Tchaio"sS, do que o ainda desconhecido 3ussorgsS, cuamúsica lhe &e% ro&unda imress)o. 5ri# de (ome. Peregrina()o ara JaSreuth.Contatos com os oetas simbolistas# deois, com os nacionalistas da era HreS&usHebussS &oi homem da direita. O único acontecimento esetacular da sua "ida &oi a

reresenta()o de 5ell1as et M1lisande, em 1?@M na noite do ensaio geral, um grandeesc8ndalo# na noite da estr*ia, um grande sucesso. Hesde ent)o, HebussS está &amoso,* um dos !dolos da belle 1!oque, entrega2se 7 boa "ida de um go%ador dos ra%eres deParis. /)o somente a ran(a, mas todo o mundo latino, ent)o sacudido or mo"imentosnacionalistas, r*2&ascistas, idolatra"a2o. Chama"am2no de Claude de ranceQ, queteria derrotado os alem)es, arrancando2lhes a hegemonia no reino da música. O che&eol!tico e literário do nacionalismo italiano, <abriele HXAnnun%io, escre"e2lhe o libretoara /e Marth%re de Saint S1bastien. HebussS á esta"a doente, de c8ncer, quando aguerra acabou com a belle 1!oque. 3orreu na Paris bombardeada e quase assediada.

/o come(o era "i%inho da escola de rancQ. A cantata ro&ana /a demoiselle 1lue =1EEED ainda tem algo do angelismoQ dos &rancianos. A mesma in&luIncia se re"ela noQuarteto !ara cordas em sol menor  =1E?GD, ois está constru!do na &orma c!clica, queranc in"entara. 3as * esta a única semelhan(a. O quarteto * a única obra de HebussS

que ode ser considerada como música absoluta no sentido de Jeetho"enJrahms. /)ose arece, or*m, com nenhum outro quarteto. Abre as ortas de um reino sonorointeiramente no"o. O mo"imento intitulado 'sse4 vif  * um scher%o original!ssimo# oandantino, uma medita()o e'taticamente m!stica. Uma obra2rima t)o singular que orório HebussS achou melhor n)o escre"er o segundo quarteto, á anunciado.

 A constru()o do quarteto n)o tem quase nada que "er com a arquitetura do quartetoclássico. A se()o de desen"ol"imento, no rimeiro mo"imento, &ica embrionária. Aseq5Incia dos acordes con&orme as regras da teoria * substitu!da ela sucess)o deacordes isolados. 0ssa t*cnica lembrou logo aos contemor8neos a maneira dosintores imressionistas de cobrir a tela de manchas coloridas = !ointillismeD. Hesdeent)o, HebussS semre &oi comarado aos imressionistas, esecialmente a Claude3onet# e sua maneira &oi chamada de mressionismo. /)o * uma arte din8mica, comoa de RaSdn e Jeetho"en, mas estática os acordes s)o como ontos de arada sonoros.

TIm a mesma &un()o dos s!mbolos "erbais da oesia simbolista, da qual HebussStamb*m * contemor8neo.

oi o comositor da oesia simbolista. P4s em música as 'riettes oubli1s =1EEED de-erlaine e as 2[tes galantes =1E?M, 1?@D do mesmo oeta# lieds de uma delicade%a at*ent)o in*dita. 0scre"eu ara orquestra o 5r1lude l0a!rs-midi d0un faune =1E?D,ilustrando =sem rogramaQ, naturalmenteD o oema de 3allarm* sua rimeira obrainteiramente imressionista e, at* hoe, a mais &amosa e mais e'ecutada# a que causou

Page 148: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 148/200

maior estranhe%a na *oca =ela &alta de melodiaQD e que ainda hoe * caa% deassustar os n)o2iniciados. O onto alto do simbolismo de HebussS s)o as trIs Chansonsde &ilitis =1E?FD, "ersos de Pierre Louis, delicada e"oca()o do hedonismo erótico da

 Antig5idade decadente.3as os simbolistas &ranceses eram ^agnerianos aai'onados, &anáticos# ao assoque a rela()o de HebussS com a arte de Kagner * comle'a e amb!gua. /o in!cio,admira"a "risto e +solda sem restri($es. Os Cinq !omes de &audelaire =1EE?D aindas)o bastante ^agnerianos. Ainda em 1E?G HebussS de&endeu ublicamente Kagnercontra ataques incomreensi"os. Heois, come(ou a sentir a incomatibilidade entre alinguagem musical de Kagner e o ritmo da l!ngua &rancesa. Come(ou a censurar arima%ia da orquestra, que su&oca a "o% humana, e a "iolenta e&usi"idade dossentimentos. 6uis escre"er um anti2"risto, um drama genuinamente &rancIs, em que aorquestra aenas aoiasse a declama()o musical em ritmo da l!ngua &alada, e'ress)ode sentimentos de amor e angústia, aristocraticamente contidos. 0scre"eu 5ell1as etM1lisande =1?@MD, ondo em música o te'to integral da e(a noturna do simbolista belga3aeterlinc, trag*dia sem acontecimentos esetaculares, mas de ro&undidade !ntima. N

obra de um anti^agneriano que n)o teria sido oss!"el se n)o hou"esse antes "risto e+solda. Uma obra2rima inteiramente no"a, t)o singular que ningu*m amais escre"eusemelhante, nem sequer o rório HebussS, cuos outros lanos oer!sticos n)o sereali%aram.

 As &ontes desse no"o estilo &oram muito discutidas. A in&luIncia russa, de 3ussorgsS,da qual se &ala"a muito na *oca, arece2nos hoe redu%ida# só te"e &un()o catal!tica, oude &ermento, assim como o uso ocasional de outros modosQ, antigos ou e'óticos.5ell1as et M1lisande * obra &rances!ssima. /)o *, como bem obser"ou 9olland, aran(a heróica e retórica de Corneille e Rugo. Assim como a óera * anti2Kagner,tamb*m * anti2Jerlio%. N uma arte intimista, toda de nuan(a e, como se sabe, unenuance entre les autres c0est la v1rit1.

0ssa arte das nuan(as tamb*m caracteri%a o no"o estilo ian!stico de HebussS, ummundo comleto como o de Choin e o de :chumann, seus ares# * l!cito citar esses

nomes, ois ustamente no iano * HebussS mais rom8ntico que em outra arte. :)oobras das mais conhecidas da literatura musical as Soir1es de Gr1nade e 3ardins sousla !luie, do caderno Estam!es =1?@GD# a &antástica Suite &ergamasque =1?@>D# (efletsdans l0eau e Et la lune descend sur le tem!le qui fut , das duas cole($es de +mages =1?@>1?@FD# o delicado humorismo do Children0s Corner  =1?@ED# en&im, os doiscadernos de 5r1ludes =1?1@, 1?1GD, todos eles equenas obras2rimas. Os t!tuloso*ticos2literários dessas e(as n)o de"eriam iludir. Trata2se de oesia uramentemusical, n)o de música de rograma. HebussS n)o &a% música ilustrati"aQ. A ro"a *obra semelhante ara orquestra, os :octurnes =1E??D o segundo mo"imento, 2[tes, á&oi interretado como descri()o musical de uma ca(a ou V de uma rociss)o# orimeiro, :uages, só descre"e "agamente V e com oesia e'traordinária V as nu"ensigualmente "agas# o terceiro Sirnes, * um coro &eminino que canta sem ala"ras. Nsingular a arte de orquestra()o de HebussS. /)o recisa das orquestras enormes de um

Jerlio% ou de um 9ichard :trauss ara dar a imress)o de /a Mer  =1?@>D, sua obra maisimressionista, ou a de uma 0sanha "isionária, em +b1ria =1?1MD. 0 * e"idente que tudoisso n)o se odia di%er sen)o na no"a linguagem musical de HebussS.

`...

O interesse dos estrangeiros ela música de HebussS te"e, muitas "e%es, moti"ost*cnicos. O mestre gosta"a de emregar escalas alheias do nosso sistema tonal

Page 149: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 149/200

modosQ da antiga música sacra, escalas esla"as que ou"ira na 9ússia, e escalasorientais que ou"ira em 1?@@ na 0'osi()o Uni"ersal em Paris. nsirou aoscomositores de muitos a!ses coragem ara emregar as escalas que encontraram no

&olclore musical das suas na($es. Assim desencadeou o imressionismo &rancIs umaterceira onda de nacionalismo musical.

 A rimeira onda, da *oca de Keber, e a segunda, da *oca de :chumann, tinhamdesertado a consciIncia musical de na($es que at* ent)o tinham contribu!do 7 músicado Ocidente a Pol4nia de Choin e a Rungria de Lis%t, a 9ússia de <lina e dos CincoQe a Tchecoslo"áquia de :metana e H"ora, a /oruega de <rieg. A terceira ondacontinuará esse rocesso, acrescentando mais outro e&eito na($es que antigamentetinham desemenhado ael imortante na e"olu()o da música, mas que esti"eramsilenciosas 7 s*culos, reincororam2se ao concertoQ da música internacional osingleses e os esanhóis. 0 * da mesma ordem de &atos a renascen(a da músicainstrumental no a!s da óera, na tália.

 A in&luIncia do imressionismo &rancIs na Rungria e na Am*rica Latina *, or*m,&en4meno que ertence a uma &ase osterior da e"olu()o musical orque á combinada

com a in&luIncia de :tra"insS e de outros mo"imentos deliberadamente re"olucionários.N mais conser"ador, mais ós2rom8ntico o nacionalismo musical romeno, cuo l!der<eorges 0/0:CO =1EE11?>>D &ora disc!ulo de aur*. Obras rinciais uma(a!s7dia (omena !ara orquestra e a óera Oedi!us.

0ntre os tchecos, os oloneses, os russos o imressionismo &rancIs * recebido,menos como in&luIncia liberadora do que como "elho aliado. /)o a&irma, or"entura,todo mundo que HebussS tinha chegado ao seu no"o estilo sob a insira()o de3ussorgsS 0 os tchecos odiam alegar mais que ossu!am seu rório HebussS,mais "elho que HebussS esse homem entre as *ocasQ, o "elho ;anáce.

Leos ;A/_C0W =1E>1?MED1 só se tornou conhecido &ora da sua átria quando dareresenta()o de 3enufa na era de -iena, em 1?1E# tinha o comositor, ent)o, Banos de idade. A ran(a, a nglaterra, a tália só o conheceram mais tarde. Pareciadisc!ulo esla"o de HebussS, chegando com bastante atraso. /a "erdade, 3enufa * de

1?@. 3as ;anáce á era diretor da 0scola de 3úsica em Jrno, desde 1E?1, quandoHebussS, mais no"o oito anos, ainda n)o chegara a ser imressionistaQ. A osi()oincerta do comositor tcheco na cronologia tamb*m * conseq5Incia de sua e"olu()osobremaneira "agarosa. :ua mocidade arece2se com a de Jrucner &oi educado nocon"ento dos agostinhos em Jrno, caital da 3orá"ia, que * a arte agrária e meioatrasada do a!s dos tchecos. Ali, o comositor Paul Wri%o"sS chamou2lhe a aten()oara o rico &olclore musical, nunca at* ent)o e'lorado, dessa regi)o. 0 ;anáce, comodiretor do conser"atório e regente de coro em Jrno, te"e oortunidade de organi%arcole()o de can($es oulares. Como comositor, &icou durante muito temo um e!gonodo romantismo, só um ouco in&luenciado ela linguagem imressionista assim na obraian!stica, meio schumanniana, Caminhos 'bandonados Cheios de Grama =1?@11?@EDe num ciclo de lieds Di;rio de um Esquecido =1?1?D, obras t!icas de melancolia esla"a#e ainda em uma das suas últimas rodu($es, o aai'onado Quarteto !ara cordas no.K

=1?MED, denominado Cartas ntimas. ;á soam, or*m, estranhamente modernas certasoutras obras ian!sticas a Sonata do O!er;rio =1?@BD e o ciclo :as :1voas =1?1GD.oram acontecimentos e atitudes e'tramusicais V o nacionalismo tcheco, antiaustr!aco

1 3. Jrod, /eos 3an;cek , Praga, 1?M> =tradu()o &rancesa, 1?G@D. H. 3uller, /eos 3an;cek , Praga,1?G@. ;. :eda, /eos 3an;cek , Praga, 1?>B =tradu%ido ara "árias l!nguasD. ;. -ogel, /eos 3an;cek ,Praga, 1?B@ =trad. inglesa, Londres, 1?BGD. R. Rollander, /eos 3an;cek , \urique, 1?B.

Page 150: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 150/200

e an2esla"ista do comositor e seu oulismo socialista V que o le"aram a estudarmais de erto as articularidades melódicas e harm4nicas daquelas can($es oulares,cuo esla"ismoQ musical se lhe re"elou muito di&erente do &olclorismo harmonioso de

:metana e H"ora uma música ásera e dissonante, algo arecida com o realismo de3ussorgsS =ao qual ;anáce de"e muitoD e diretamente sa!da do ritmo da l!ngua tcheca&alada, cuas s!labas acomanha de maneira !ontilliste. ;anáce &oi esla"o no sentidodos grandes escritores russos do s*culo ++ um moralista de insira()o religiosa,aiedando2se do o"o humilhado. /aquela linguagem 4s em música, ara coro, algunsoemas do oeta tcheco Peter Je%ruc, orta2"o% dos trabalhadores tchecos nas minasde car")o da :il*sia, que eram e'lorados elos ricos industriais de -iena e amea(adosde desnacionali%a()o elos lati&undiários oloneses. :)o os grandiosos e como"entescoros Mar%cka Magdonova =1?@ED e Setenta Mil =1?@?D. Uma história bucólica da mesmaregi)o á lhe &ornecera o enredo ara aquela óera 3enufa =1?@D, que só deois de1?1E se tornou conhecida no mundo inteiro. 3as a liga()o muito !ntima entre alinguagem musical de ;anáce e a l!ngua tcheca semre será um obstáculo ara aarecia()o usta da sua arte no estrangeiro. /a mesma linguagem musical, comosta deminúsculos &ragmentos melódicos e de harmonias estranhas, escre"eu a óera $atia$abanova =1?M1D, libreto tirado da sombria trag*dia O "em!oral , do russo Ostro"sS# aóera Da Casa dos Mortos =obra óstuma, reresentada em 1?G@D, tirada da obrahom4nima de Hostoie"sS, certamente a óera mais desoladamente trágica de todos ostemos# e a óera2c4mica ' (a!osa 'stuta =1?MED, tentati"a singular de aro"eitar,numa &ábula, aquela l!ngua musical ara imitar "o%es de animais, obra que te"erecentemente grande sucesso no estrangeiro. 3as o maior es&or(o de ;anáce, e oúltimo &oi a Missa Solene GlagolBtica =1?MBD, comosi()o do te'to litúrgico em l!nguaeclesiástico2esla"aQ, aquela em que os tchecos re%aram antes de a grea romana lhesimor a liturgia latina. N uma das maiores obras corais escritas neste s*culo.

;anáce &oi homem entre as *ocasQ. N contemor8neo e sucessor de HebussS# enos últimos dias de sua longa "ida chegou a reconhecer sua t*cnica de declama()omusical de te'tos em rosa no >o44eck  de Alban Jerg.

3ais moderada, mais erto do melodismo de :metana, * a linguagem musical esla"ausada or ;aromir K0/J09<09 =1?EBD, cua óera oular Sch=anda o Gaiteiro =1?MFD conquistou &ácil sucesso internacional. A maneira or que Keinberger sabein"entar uma olca bem ao gosto do o"o, desen"ol"endo deois o tema em "aria($esbastante modernas, tem sido modelo ara comositores de "árias outras na($es. O&olclore musical da 0slo"áquia, algo di&erente do boImio e mora"iano &oi e'lorado or"ite%la" /O-_W =1EF@1??D, disc!ulo do imressionismo de HebussS, mas áre"elando "eleidades de aderir a tendIncias muito mais modernas. :uas obras maisconhecidas s)o o oema sin&4nico :as Montanhas da "atra e um Quinteto !ara !iano ecordas em l; menor , a SuBte Eslovaca e a Sinfonia de Maio.

`...

 A in&luIncia do imressionismo &rancIs &oi mais ro&unda e o resultado &oi mais &eli% na0sanha1. Ali, deois dos temos dos grandes oli&onistas 3orales e -ictoria, no s*culo

+-, a decadIncia &ora total. Citam2se alguns nomes# mas n)o "ale a ena reeti2los. Aresen(a de Homenico :carlatti e Joccherini na 0sanha n)o te"e conseq5Incias. /oresto da 0uroa, acredita"a2se que a música esanhola semre &icou limitada ao&olclore, mina rica ara e'loradores estrangeiros, como <lina e Ji%et, que o&alsi&icaram mais ou menos. Heois "eio Chabrier, com a su!te Es!aa. Heois "ieram

1 . :oeja, )istoria de la musica es!aola contem!oranea, 3adrid, 1?>?.

Page 151: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 151/200

HebussS e 9a"el, com +b1ria e com a (a!sodie es!agnole. 3as estas á esta"am, orsua "e%, in&luenciadas ela no"a música esanhola.

O recursor &ora elie P0H90LL =1E11?MMD que redescobriu os grandes

oli&onistas, editando as obras de -ictoria e desenterrando o organista Cabe%ón,chamando2o de Jach esanhol do s*culo +-Q, o que arece e'agero de entusiasta.Pedrell &oi musicólogo notá"el. :uas rórias obras, óeras em estilo ^agneriano etc.,n)o contam.

 A reno"a()o "eio de bai'o. saac ALJN/\ =1EB@1?@?D1, catal)o de nascimento, &oium autodidata, menino rod!gio no iano, que ercorreu a 0sanha e os a!ses hisano2americanos, insirando admira()o tola a úblicos musicalmente ignorantes, ela sua&abulosa caacidade de imro"isar. 0scre"eu um sem2número de equenas e(ast!icas, dan(as, can($es, rasódias, souvenirs etc. /enhuma cr!tica s*ria lhe resta"aaten()o. /ingu*m ercebeu naquelas e(as o estilo caracteristicamente esanhol,tal"e% in&luenciado or ata"ismos árabes. O rório Alb*ni% te"e ambi($es muito maisaltas. 6uis escre"er óeras 7 maneira da Kagner. 3as nem 5e!ita 3im1ne4 =1E?BD nemMerlin =1?@MD, aesar de muito boa música, ti"eram sucesso ermanente. 0n&im, Alb*ni%

mudou2se ara Paris. icou comletamente en"ol"ido ela in&luIncia do imressionismode HebussS. Heu2lhe um no"o conteúdo, t!ico e saiu grande música ian!stica. A obracaital de Alb*ni% s)o os quatro cadernos de +b1ria =1?@B1?@?D. ;á se di%ia * o:chumann ou o Choin da 0sanha. 3ais e'ato seria di%er seu HebussS# mastamouco seria a "erdade inteira. Pois Alb*ni% * di&erente. O esanholismo que emHebussS só &oi uma "eleidade de e'otismo, * no comositor esanhol uma "eiainesgotá"el de in"en()o melódica, original!ssima, da qual 1@ oeristas como Puccinioderiam alimentar2se durante a "ida toda. 3as n)o teriam, nesse caso, o sucessointernacional do autor da Tosca. Pois a in"en()o melódica de Alb*ni% estáindissolu"elmente di&erente do italiano ou de qualquer outro. :ua música *ermanentemente dissonante. Alb*ni% *, em certo sentido, muito mais radical que seumestre HebussS e mais radical que 9a"el. :ua música antecia certas qualidades daoesia de <arc!a Lorca. Rá, naqueles cadernos, e(as magistrais como El 5uerto, 2[te-

Dieu S1ville, "riana, 'lmeida, Malaga, 3ere4 , que e"ocam irresisti"elmente a atmos&erameio oriental da Andalu%ia, criada, arado'amente, or um músico nascido naCatalunha. Alb*ni%, que tinha come(ado como rasodo oular, * o contrário de umcomositor &ácil. N um mestre.

N e"idente o moti"o or que o úblico dos concertos lhe re&ere 0nrique <9A/AHO:=1EBF1?1BDM, que tamb*m &oi grande ianista, que tamb*m n)o te"e sucesso com suasóeras e que tamb*m * radicalmente esanhol. 3as * um aristocrata. ;á &oi comaradoa <oSa, que retratou a gente do o"o ara os grandes a "erem como *. /aturalmenten)o hou"e em <ranados nada das inten($es sub"ersi"as do grande intor. N umrom8ntico. /a Ma6a % el ruiseor  * a mais bela melodia rom8ntica que se in"entou nestes*culo. /ada da abund8ncia de Alb*ni%# nada das suas audácias harm4nicas. N umamúsica e'tremamente agradá"el, e no entanto de alto "alor.

 Alb*ni% e <ranados, glori&icadores da Andalu%ia, eram naturais da Catalunha. Andalu%

autIntico &oi 3anuel He alla =1EFB1?BDG

 nasceu em Cádi%, no e'tremo sul da1 R. Collet, 'lb1ni4 et Granados, Ma. ed., Paris, 1?E. 3. 9au' Heledicque, 'lb1ni4 , Juenos Aires,[email protected] :ubirá, Enrique Granados, 3adri, 1?MB. R. Collet, 'lb1ni4 et Granados, Ma. ed., Paris, 1?E.G ;. J. Trend, Manuel De 2alla and S!anish Music , Londres, 1?G@. 9. 3anuel, Manuel De 2alla,Paris, 1?G@, ;. Pahissa, ,ida % Obra de Manuel De 2alla, Juenos Aires, 1?F.

Page 152: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 152/200

0sanha# e, con&orme not!cia autobiográ&icas, seu amor 7 música &oi desertado ao ou"irna catedral da cidade as Sete 5alavras do Cristo na Cru4 , a obra que, um s*culo antes,mestre RaSdn tinha escrito ara ela. e%2se grande ianista. Te"e, como comositor, os

rimeiros sucessos com oeretas =9ar4uelasD. 3udou2se em 1?@F ara Paris# &oi o in!ciode sua vita nuova. A rimeira in&luIncia &ora Homenico :carlatti, o grande cra"istaradicado na 0sanha. Heois, Pedrell desertou2lhe a consciIncia nacional. 0m Paris,ou"iu os russos, 3ussorgsS. 3as as in&luIncias dominadoras &oram as de HebussS e9a"el# e o encontro com Alb*ni%. He alla * nacionalista.

O rimeiro grande sucesso &ora a óera /a ,ida &reve =1?@># reresentada em /ice,em 1?1GD. Ainda se sente, nesse quadro trágico da "ida rimiti"a esanhola, a in&luInciade Carmen e at* de 3ascagni. 3as á * uma obra autenticamente esanhola. Heois, arimeira obra imressionista os trIs mo"imentos de :oches en los 6ardines de Es!aa =1?1>D, ara iano e orquestra. /)o * obra de um esanhol in&luenciado or HebussS# *música de um HebussS esanhol, andalu%, cheia de "italidade r!tmica e de troicalismosonhador# um dos concertos mais queridos que se escre"eram neste s*culo. A

 Andalu%ia bárbaraQ, rimiti"a, aarece no alco com os dois bailados de He alla El

amor bru6o =1?1>D, do qual um trecho, a DanJa (itual do 2ogo, conquistou as salas deconcertos# e El sombrero de tr[s !icos =1?1?D. 0n&im, obra esanhol!ssima * a óera Elretablo de Maese 5edro =1?MGD, !endant  humor!stico daquela trágica ,ida breve. O cicloestá &echado.

3as n)o se ode negar em todas essa obras o esanholismo, or mais autIntico quesea, tem algo de e'ótico, de teatral, de rom8ntico. Tal"e% a Andalu%ia, meioorientali%ada, sea mesmo assim. /)o * a 0sanha do <reco ou de :anta Teresa. /)o *Castela. Comreender a Castela, este &oi o último asso, o mais di&!cil. He alla reali%ou2o no Concerto !ara cravo =1?MBD, no qual o instrumento de Homenico :carlatti *acomanhado or &lauta, obo*, clarinete, "iolino e "ioloncelo. N, con&orme o onto2de2"ista, uma obra barroca ou uma obra neoclassicista# na música moderna, os dois termos,or mais contraditórios que seam, 7s "e%es s)o sin4nimos. 3as no caso daquela obraserá melhor &alar em neoclassicismo, no sentido de e"oca()o das &ormas e harmonias

r*2clássicas, anteriores ao classicismo "ienense. O concerto * ásero como as últimasobras de HebussS, asc*tico na e'ress)o. Tem algo do es!rito da m!stica castelhana.

Hesde 1?M? trabalha"a He alla na sua obra má'ima o oratório ro&ano 'tlAntida. Astemestades da *oca, que o e'ulsaram ara a Am*rica, n)o lhe ermitiram terminar aobra que &oi comletada or seu disc!ulo 0rnesto Ral&&ter =rimeira e'cecu()o emJarcelona, 1?B1D. N meio óera, meio cantata, num 'uto Sacramental musicadocon"ers)o do e'2rom8ntico ao oli&onismo de -ictoria. :em &olclore, o hino da 0sanha.

O úblico conhece mais as obras das rimeiras &ase de He alla do que asosteriores. 3uitos estar)o inclinados a considerá2lo como um sub29a"el, um músico deritmos de dan(as e'óticas# o que n)o * ouco, lembrando2se o entusiasmo de /iet%scheelos le"es *s de dan(a do sulQ. 3as He alla &oi homem ro&undamente s*rio. :i%2seque lamentou o sucesso ermanente das suas rimeiras obras. /o &im da "ida lembrou2se do misticismo daquelas Sete 5alavras de Cristo na Cru4 , que na catedral de Cádi% lhe

tinham desertado o amor 7 música 7 andalu%a, 7 esanhola e 7 uni"ersal.`...

O caminho natural do nacionalismo neolatino V atra"*s do imressionismo ara oneoclassicismo V &oi o de 3aurice 9A-0L =1EF>1?GFD1. /)o arece oss!"el e'tirar o

1 A. 3achabeS, Maurice (avel , Paris, 1?F. /. Hemuth, (avel , Londres, 1?F. 9. 3anuel, (avel ,

Page 153: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 153/200

&also bin4mio HebussS e 9a"elQ# há, aliás, na história da literatura muitos mais casosdesses, como Corneille e 9acineQ, <oethe e :chillerQ, JSron e :helleSQ. 3as aconun()o imede a boa comreens)o dos &atos# e temos ara com o mestre a

obriga()o de e'iar o muito que ele so&reu ela teimosia da cr!tica de considerá2lo comoum sub2HebussS. N "erdade que o imressionismo de HebussS &oi seu onto de artida#mas searam2se os caminhos. /)o con"*m con&undi2los. in&luIncia de 3ussorgsS emHebussS corresonde em 9a"el a de 9imsS2Worsao". O iano de HebussS descendede Choin# o iano de 9a"el descende de Lis%t. HebussS * "ago e o*tico. 9a"el *esirituoso e e'ato. :)o mundos di&erentes.

9a"el n)o &oi homem da belle 1!oque, embora contemor8neo dela. oi um solitáriode instintos aristocráticos, um ouco esquisit)o. Hiscutiram2no muito e admira"am2nomuito. 0le, or*m, desdenhou a olImica assim como o sucesso ruidoso. Ha amn*siaque lhe escureceu dolorosamente os últimos anos da "ida, arece hoe 7s "e%es so&rer aosteridade. 3as 9a"el nunca será esquecido.

ncontestada * sua mestria no iano, ao qual criou um no"o estilo. ncontestada * suamaestria da instrumenta()o# sua orquestra()o dos "ableau# d0une e#!osition ode ser

considerada como &alsi&ica()oQ da obra ian!stica de 3ussorgsS, mas será melhorconsiderá2la como uma obra2rima do rório 9a"el. N reciso, or*m, de&endI2lo contraa acusa()o de ter sido um comositor de dan(as que introdu%iu em tudo o elementocoreográ&ico, 7s custas da seriedade das obras. Hesde os temos de LullS, Couerin e9ameau s)o os ritmos de dan(a o recurso esec!&ico da música &rancesa ara 4r emordem o caos sonoro. 9a"el te"e o direito de emregá2lo. 6uanto a certas obras,ningu*m contesta essa tese s)o as ,alses nobles et sentimentales =1?11D, sua obramais aristocrática, e o oema orquestral /a ,alse =1?M@D, como"ente eitá&io da suaquerida -iena. 3as a quest)o surgiu em torno das duas obras de 9a"el que V só elasV se tornaram oularmente conhecidas e cuo sucesso e'cessi"o le"ou o rório9a"el 7 inusti(a de renegá2las. A 5avane !our une infante d1funte =1E??, ara iano#orquestrada em 1?1@D &oi reudicada elo esnobismo dos oetas que a interretaramdas maneiras mais ro&undasQ e mais arbitrárias# e o &ol1ro =1?MED &oi reudicado elo

imenso sucesso oular, o maior que 9a"el amais alcan(ou. N reciso &a%er um es&or(oara ou"ir essas duas obras como se &osse ela rimeira "e%. A 5avane, certamenteinsirada ela "isita das suntuosas e melancólicas seulturas subterr8neas de 0l0scorial, * a mais bela elegia que neste s*culo se escre"eu. O &ol1ro que o rório9a"el só quis "er considerado como um estudo em crescendo, com um temaobstinadamente reetidoQ V esse tema * um dos mais gloriosamente in"entados emtoda a música# e o tratamento orquestral está acima de tudo que se elogia em 9imsS2Worsao" ou 9ichard :trauss. /)o * reciso rocurar ro&undidades meta&!sicas nessasduas obras# sua ro&undidade * a da música.

`...

3as 9a"el tamb*m &oi admirador do classicismo "ienense, que HebussS nunca quiscomreender. :eu senso arquitet4nico le"ou2o de "olta 7s &ormas clássicas. O Quarteto

 !ara cordas em f; maior  =1?@GD n)o tem o encanto ine&á"el do quarteto de HebussS#

mas á * mais &irmemente constru!do. N hoe geralmente reconhecido como um dosoucos grandes quartetos da *oca ós2beetho"eniana. /o entanto, * suerior o "rio !ara !iano e cordas =1?1D, em que temas e modosQ estranhos 7 música ocidental s)osoberanamente subordinados a uma arquitetura bem constru!da# uma obra2rima. 0

Paris, 1?E. ;. JruSr, Maurice (avel ou /e /%rismo et les sortilges, Paris, 1?>@. ;. -. :ero&&,Maurice (avel , /o"a orque, 1?>G.

Page 154: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 154/200

nunca se oderá &alar bem demais do Concerto !ara !iano e orquestra em r1 menor ,ara a m)o esquerda só =1?G1D e do Concerto !ara !iano e orquestra em sol maior  =1?G1D, nos quais o "irtuosismo está sem resto trans&ormado em &ormaQ.

Os ontos altos do classicismo ra"eliano s)o o bailado Da!hnis e Chlje =1?1MD e aóera /0Enfant et les sortilges =1?M>D. :obretudo a rimeira obra reali%a aquela músicamediterr8neaQ da qual sonha"a /iet%sche# que teria reconhecido em 9a"el seumestreQ.

Um tra(o caracter!stico da música de 9a"el, comarada com a de HebussS, * odinamismo. A música da HebussS * essencialmente estática seus ontos &irmes s)o osacordes isolados. A de 9a"el está em mo"imento er*tuo. 0'licou2o essa qualidadeelo esanholismo do mestre, que teria sido mais genu!no =e e'licado or suostaorigem ib*rica da &am!liaD do que o esanholismo meramente tur!sticoQ de HebussS.3as ustamente nesse onto n)o se "eri&ica di&eren(a &undamental entre os doiscomositores. A esirituosa óera2c4mica /0)eure es!agnole =1?@FD, a ásera(ha!sodie es!agnole =1?@FD e os trIs grandiosos lieds Don Quichotte Dulcin1e =1?GMDV a última obra do mestre V s)o obras incon&undi"elmente &rancesas.

9a"el &oi o último grande mestre clássico da música euro*ia.

Page 155: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 155/200

C APÍTULO  F

 A Música Novaa"el * o último mestre que &oi lenamente reconhecido elo grande úblico,embora suas harmonias, estranhas 7s "e%es, ainda continuem a o&ender ou"idos

conser"adores. N admirado com certa reser"a# mais ou menos assim como o ai daintura moderna, como C*%anne.

R

3as deois de 9a"el as rela($es entre o úblico e os comositores mudaram. Osinsucessos de :tra"insS, durante os últimos decInios, desmentem at* certo onto oI'ito ruidoso das suas rimeiras obras estas continuam no reertório, mas quanta gentegosta realmente de ou"i2las Hos comositores modernos, só alguns oucos, Roneggere Jritten sobretudo, "enceram a resistIncia# e n)o totalmente. :choenberg morreu em1?>1, com FF anos de idade# mas ainda hoe assa or iconoclasta# nenhuma das suasobras * caa% de manter2se no reertório e ustamente as mais imortantes ainda s)ocaa%es de ro"ocar esc8ndalos.

3uito se tem &eito ara combater esse estado de coisas, que amea(a limitar asnossas casas de óera e salas de concerto a um reertório histórico, trans&ormando2asem museus da música do assado. 3as as e'lica($es mais engenhosas e aroaganda mais ati"a n)o obti"eram o resultado almeado o de con"encer o úblicoque a música no"aQ á n)o * no"a e que o rocesso da música continua.

O moti"o !ntimo dessa resistIncia n)o ode ser encontrado só nos no"os rocessosmelódicos, harm4nicos, r!tmicos. O úblico reeita conscientemente as e'ress$esart!sticas de mudan(as históricas que aceita, queira ou n)o queira, no mundo dos &atos.

Heois das catástro&es ol!ticas, econ4micas e sociais elas quais a humanidadeassou durante a rimeira metade deste s*culo, á n)o * oss!"el &a%er arte como se

esti"*ssemos "i"endo em outro s*culo, assado. A bancarrota de tantos credos eideologias le"a 7 mesma conclus)o. Os artistas tiraram2na. /)o só na música.Politonalismo, atonalismo e t*cnicas semelhantes corresondem ao abandono daersecti"a elos intores, deois de Picasso, e ao relati"ismo nas ciIncias naturais. Acomosi()o em s*ries corresonde 7 racionali%a()o dos mo"imentos subconscientes nomonólogo interior, elos recursos das sicologias em ro&undidadeQ. A olirritmia, queamea(a destruir a homogeneidade do mo"imento musical, corresonde 7 dissocia()o daersonalidade no romance de Proust e no teatro de Pirandello. A "olta 7 oli&onia linearcorresonde 7s tentati"as de simultane!smo na literatura. O uso de estruturas musicaisantigas ara obeti"os modernos corresonde 7 arquitetura &uncional. O ressurgimentode &ormas barrocas, r*2clássicas, corresonde ao historicismo na &iloso&ia e nasociologia. A música no"aQ n)o * caricho arbitrário de alguns esquisit$es ou esnobes.N o re&le'o "er!dico da realidade.

/o entanto, reeitam2na. Aesar da e"idente imossibilidade de continuar a rodu%irnos moldes antigos V nenhum acadImicoQ rodu%iu neste s*culo qualquer obramusical digna de nota e merecedora de sucesso V le"antam contra a música no"aQ agra"e acusa()o de ter romido com toda a tradi()o dos s*culos =se n)o re&erem &alarem milIniosD# :tra"insS e sobretudo :choenberg n)o seriam criadores, masdestruidores.

Page 156: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 156/200

0ssa acusa()o n)o resiste 7 análise. A tradi()o n)o * t)o tradicional como arecen)o se trata de milInios, mas aenas de s*culos# e de oucos. /ossa música nasceu na0uroa ocidental no s*culo +. As rimeiras obras que á odemos esteticamente

areciar, s)o do &im do s*culo +-. :e e'cetuarmos a sobre"i"Incia de Palestrina namúsica sacra católica e a recente renascen(a de 3onte"erde, n)o consta do nossoreertório nenhuma obra anterior a 1F@@. A tradi()o musical, que * tida como t)o antiga,tem aenas M>@ anos de idade. /ossa música * a mais no"a das artes, a menostradicional. 0 mesmo essa tradi()o * altamente suseita de n)o assar de um arti&!ciode escola.

 Alguns ad"ersários da no"a música emregaram contra ela argumentos que cheirama racismo a catástro&eQ teria sido obra do russo :tra"insS, &ilho de um o"o bárbaro emeio e'ótico, e do udeu :choenberg, com seu lastro de ata"ismos orientais. Aesar dasólida educa()o musical de :tra"insS em moldes ocidentais e aesar do ro"adotradicionalismo de :choenberg, que nenhum leitor do seu tratado de harmonia odedesconhecer, há naquela a&irma()o, se descontarmos a onta de hostilidade racista, umgr)o de "erdade em certo sentido os dois ino"adores "ieram de &oraQ# menos imbu!dos

de reconceitos, erceberam tendIncias que a rotina acadImica n)o "iu ou teimou emn)o "er. As t*cnicas da música no"aQ s)o, em arte, reestabelecidas na música doocidental!ssimo HebussS# em outra arte, s)o conseq5Incias diretas do cromatismo de"risto e +solda, do german!ssimo Kagner. 0sses radicalismosQ de comositores áconsagradosQ s)o recedidos elas audácias harm4nicas de :chumann nas$reisleriana e de Choin nos scher4i e or certas modula($es inusitadas na músicacamer!stica de :chubert. O conceito de disson8ncia roibida *, e"identemente, relati"o#muda com o temo. A mais rigorosa lógica &ormal rodu%iu uma disson8ncia gritante norimeiro mo"imento da Sinfonia Eroica de Jeetho"en. O italiano :acchini achouincomreens!"el a introdu()o do Quarteto $. LT  de 3o%art, denominado Quarteto dasDissonAncias. A oli&onia instrumental de RaSdn teria sido o&ensi"a aos ou"idos deJach. A teoria harm4nica de RaSdn teria sido o&ensi"a aos ou"idos de Jach. A teoriaharm4nica de Jach e 9ameau baseia2se num arti&!cio matemático, a boa temeraturaQdo cra"o, que os comositores barrocos n)o admitiriam. Os argumentos que se lan(amcontra a música do nosso temo s)o os mesmos que o c4nego Artusi, no come(o dos*culo +-, lan(ou contra a música de 3onte"erde. /o entanto, todas essas ino"a($ess)o, cada "e%, as conclus$es lógicas da &ase anterior. Antes de 3onte"erde hou"e ocromatismo de <esualdo. Antes de <esualdo, o ortodo'!ssimo Palestrina n)o e"itou oscromatismos no seu Stabat Mater . A música ocidental *, e"identemente, um mundo sóQ,ao qual :tra"insS e :choenberg ertencem.

:T9A-/:W]

Um amigo de 9imsS2Worsao" e de todos os artistas e literatos da 9ússia de 1?1@,:erge HA<RL0- =1EFM1?M?D, te"e sucesso com a organi%a()o de uma e'osi()o dequadros de intores russos em Paris. 0m 1?@?, organi%ou em Paris uma temorada dobal* imerial russo, com /iinsS e oin e cenários de Jast# o te'to do rograma &oiescrito or ;ean Cocteau. Para a temorada de 1?1@ encomendou a música de umbailado a gor :T9A-/:W] =1EEMD1, natural de Oranienbaum, erto de Petersburgo,

1 J. :hloe%er, +gor Stravinsk% , Paris, 1?M?. ;. Randschin, +gor Stravinsk% , \urique, 1?GG. 9. R.3Sers, +ntroduction to the music of +gor Stravinsk% , Londres, 1?>@. 0. Kagner Khite, Stravinsk%. 'Critical Surve% , Londres, 1?>>. 9. Cra&t, Che4 :tra"insS, Paris, 1?>E. 9. Cra&t, Conversations =ith+gor Stravinsk% , /o"a orque, 1?>?. 9. Cra&t, E#!ositions and Develo!ments, /o"a orque, 1?BM.

Page 157: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 157/200

que tinha &eito sólidos estudos musicais. :eu ambiente &oi a burguesia altamente cultada 9ússia daquele temo, quando, deois do &racasso da re"olu()o de 1?@>, osintelectuais tinham abandonado as id*ias mar'istas ara se dedicar 7 oesia simbolista,

ao teatro de :tanisla"sS, aos mo"imentos religiosos em torno da re"ista &ilosó&ica ,ieki  =Marcos de /imiteD. O ambiente musical do o"em comositor esta"a saturado de3ussorgsS, moderado or muito Tchaio"sS# música russa, mas sem e'clusi"ismonacionalista, bastante in&luenciada or HebussS e outros &ranceses. /esse estilo, meiotchaio"sSano, meio imressionista escre"eu :tra"insS ara Hiaghile" o bailado/0Oiseau de feu =1?1@D, que &oi muito bem recebido. Ha! mais outras encomendas araos anos seguintes. 5etrouchka =1?11D &e% sensa()o ela barbaridadeQ das harmonias edos ritmos# &oi mais um encanto ara os que come(aram a interessar2se, em Paris, elaarte dos negros a&ricanos e or todos os &olclores e'óticos. /o dia M? de maio de 1?1Gestreou2se /e Sacre du 5rintem!s. oi um esc8ndalo quase sem2ar na história damúsica. O úblico &icou &urioso. A cr!tica &alou em massacre du !rintem!s. oi o batismode &ogo da no"a música# e deois um imenso sucesso.

/e Sacre du 5rintem!s =1?1GD * at* hoe a obra mais conhecida de :tra"insS.

Continua entusiasmando todas as no"as gera($es que a ou"em ela rimeira "e%.Continua obra di&!cil, erigosa, e'erimental at* hoe. O &urioso mo"imento olirr!tmicodas dan(as, as disson8ncias áseras da escritura e'tremamente cromática e olitonalarecem2lhes o retrato musical dos temos no"os, da nossa *oca das máquinas.6uase á n)o se ercebe que a obra &oi concebida como e"oca()o dos temos bárbarosda 9ússia r*2crist) e r*2esla"a, dos citas# que * uma obra de rimiti"ismo rodu%idacom os recursos do mais requintado intelectualismo. Parece ligada ao estado de es!ritode 1?1G que, 7s "*seras das grandes catástro&es, as ressentiu sem ainda temI2las,or &alta de e'eriIncia. /o entanto, /e Sacre du 5rintem!s á tem resistido a quasemeio s*culo, como s!mbolo musical da nossa *oca, caracteri%ada elo intelectualismo aser"i(o da barbárie. oi o gole de gInio do o"em comositor que nunca mais chegaráa reetir t)o grande sucesso.

:tra"insS arecia, deois, continuar no mesmo caminho /e (ossignol  =1?1D,

alegoria meio sat!rica da mecani%a()o do mundo moderno# Mavra =1?M1D, com*diamusical, 7s &ronteiras do absurdo intencionalQ# /es :oces villageoises =1?MGD,aro"eitando mais uma "e%, com &elicidade e modernissimamente, o &olclore rural russo.3as essas obras areciam, antes, destinadas a e'lorar a &undo o sucesso obtido comaquela obra da mocidade. O ensamento do comositor á esta"a em outra arte.-oluntariamente e'ilado na :u!(a durante a Primeira <uerra 3undial, escre"eu emcolabora()o com o romancista su!(o erdinand 9amu% uma obra muito di&erente, decaráter in*dito /0)istoire du Soldat =1?1ED * es*cie de antomima, e'licada or umnarrador colocado no alco e musicalmente ilustrada or uma equena orquestra quetamb*m se senta no alco# como nas reresenta($es que comanhias teatrais "iaantes,de categoria oular, e'ibem nas aldeias. O enredo &antástico, tirado de um conto de&adas russo, e a t*cnica musical dessa obra s)o um rotesto contra o anti2es!ritomecanicista e mecani%ado da *oca da t*cnica. A um 6a44  resonde um coral 7 maneirade Jach. O rimiti"ista do Sacre du 5rintem!s tornou2se deliberadamente arcaico,misturando e astichandoQ estilos aarentemente incomat!"eis. Logo deois, 5ulcinellainaugurou a no"a &ase de :tra"insS.

:tra"insS tinha reconhecido a a&inidade entre a música moderna e o oli&onismo da*oca r*2clássica, antes de RaSdn. O bailado 5ulcinella =1?1?D esta"a baseado, ara asurresa enorme do úblico, em moti"os de Pergolesi. O Octeto =1?MGD, ara oitoinstrumentos de soro, * uma trans&igura()o =outros di%iam uma aródiaD da oli&onia

Page 158: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 158/200

instrumental r*2clássica mais um asso ara a *oca anterior ao classicismo "ienense.Porque :tra"insS á sente, em RaSdn e Jeetho"en, o dem4nio do romantismo, com suae'ressi"idade e'cessi"aQ. Chega a detestar o ortador dessa e'ressi"idade, o "iolino.

Pede a e'ecu()o das suas obras com e'atid)o de uma máquina de costuraQ. Procura aaliena()oQ. O libreto do Oratório Oedi!us (e#  =1?MFD * escrito, or Cocteau, em l!ngualatina ara di&icultar ao úblico a comreens)o do te'to e diminuir a articia()osentimental com o enredo# o estilo da música retende ser o das óeras barrocas deRandel# e n)o se ode negar a grande%a trágica dessa obra. O bailado '!ollonMusagte =1?MED está no meio entre alegoria barroca e aródia o&&enbachiana da

 Antig5idade. O onto &inal nesse caminho * a óera "he (ake0s 5rogress =1?>1D olibreto * uma história sórdida do s*culo +-, tirada de conhecidos quadros sat!ricos deRogarth# a música * um astiche de moti"os de Randel, Pergolesi e 3o%art. /uncaarecia :tra"insS mais longe do nosso temo. 3as ustamente essa obra re"ela2o comocontemor8neo t!ico, como ale'andrinoQ# sua arte * comará"el a oemas de T. :.0liot ou Pound, comostos de cita($es de oetas de todos os temos, e aos quadros dePicasso que imita sucessi"amente, e com "irtuosidade, os estilos mais di&erentes# assim,o comositor russo usa cita($es de Jach e Pergolesi e de todos os estilos, inclusi"e, no(ag-"ime !ara RR instrumentos =1?1ED, o a%%, a música t!ica do e'tremo Ocidente.

:tra"insS * o contrário de todo nacionalismo musical russo. Por isso Tchaio"sS * ocomositor de sua re&erIncia. 0sse esla"o d1racin1 que "i"e há decInios =á há muitotemo antes do bolche"ismoD &ora da 9ússia, quer criar uma s!ntese entre o Oriente e oOcidente. 3istura Jach e o a%%, Randel e 3ussorgsS, Pergolesi e Tchaio"sS, 3o%arte Keber. :ente que a arte contemor8nea * caótica assim como &oi caótica a músicabarroca antes de Jach. Assim como Jach, retende organi%á2la, endireitá2la# e senteque tamb*m hoe em dia o único caminho ara tanto * o da religi)o.

Para o russo e'ilado no Ocidente, essa religi)o só odia ser, mesmo sem con"ers)o&ormal, a católica romana. A rimeira homenagem 7 grea &oi a S%m!honie des5saumes =1?G@D, menos uma sin&onia do que uma cantata sobre os "ers!culos E#audiorationem meam E#!ectans e#!ectavi Dominum e /audate Dominum =:almos ME, G? e

1>@D, com a a&irma()o de que Deus immisit in os meum canticum novum. 0sseCanticum novum * realmente no"oQ, bastante ásero e dissonante, mas de er&eitadignidade e de sincera emo()o religiosa. :urreendente &oi a missa =1?ED ara coromisto e orquestra sem "iolinos# uma das obras mais duras do comositor. 0 ainda maissurreendente o Canticum Sacrum ad honorem Sancti Marci nominis =1?>BD, deestrutura rigorosamente arquitet4nica e, entre todas as obras de :tra"insS tal"e% a maiscaco&4nica o mestre aderira ao dodeca&onismo de :choenberg. /o entanto a retens)o&oi e"identemente a de cometir com a oli&onia "ocal do s*culo +-, dos Asola e<io"anni <abrieli.

`...

 A e"olu()o de :tra"insS &oi das mais estranhas. Come(ou com sucessos ruidosos.3as oucas obras continuaram de&initi"amente incororadas ao reertório, e eminter"alos cada "e% maiores 5etrouchka, Sacre du 5rintem!s, /es :oces ,illageoises,

)istoire du SOldat , 5ulcinella, o Octeto ara instrumentos de soro, a S%m!honie des5saumes. 3as &oi uma sensa()o de alta sociedade, em 1?>B a e'ecu()o do CanticumSacrum na bas!lica de :an 3arco em -ene%a, ara que uma no"a obra de :tra"insSchame a aten()o. Teria toda aquela e"olu()o sido um caminho errado O esc8ndaloque ro"ocou a estr*ia do Sacre du 5rintem!s em M? de maio de 1?1G *, or enquanto,a última grande data da história da música. :erá que &oi mesmo uma última dataQ, o &imde uma *oca de requintes e barbarismo arti&icial, em "e% de come(o de uma no"a era

Page 159: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 159/200

Page 160: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 160/200

oulari%aram no mundo inteiro a música da sua terra natal. Os comositores de outrasna($es á tinham, aliás, anteciado essa re"ela()o. RaSdn, que nasceu erto da&ronteira húngara e assou muitos anos no castelo do r!ncie 0sterhá%S, esta"a

aai'onado elo &olclore da regi)o# aro"eitou2o muito, inclusi"e no &amoso trio cigano#ainda o tema do &inal da sua última sin&onia, no.1@, * a can()o oular húngara Oi+lona. Jeetho"en, aos escre"er or encomenda de aristocratas húngaros uma equenaobra oer!stica, 9ei 0stI")o, sem grande "alor aliás, inclui na abertura um 'ndante conmoto all0ongarese. Um "eraneio que :chubert assou na Rungria * lembrado no seuDivertissement la )ongroise o!. TL# Jerlio% este"e t)o encantado com a marchanacional húngara (ak7c4% que incluiu, arbitrariamente, uma orquestra()o dessa marchana Damnation de 2aust . As rasódias de Lis%t oulari%aram de tal maneira o &olcloremusical que at* seu ad"ersário Jrahms n)o resistiu al*m de escre"er as quatromagn!&icas DanJas )ngaras, baseou naquele &olclore o &inal do seu grande concertoara "iolino e orquestra e o &inal ' la 4ingarese do Quarteto !ara cordas em sol menor ,O!.KT # o adágio de uma das suas últimas e maiores obras, do Quinteto !ara clarinete ecordas, tamb*m *, con&orme To"eS, de insira()o cigana. Ainda 9a"el sacri&icou aesses melodismos no seu equeno Concerto !ara violino e orquestra, denominado"4igane. A música húngara n)o *, ortanto, no"aQ, ad"ent!cia, no concertoQ da músicaeuro*ia.

/)o * or acaso que naqueles t!tulos de obras musicais aarece com tanta &req5Inciaa ala"ra ciganoQ. Parece que o mundo musical sucumbiu durante um s*culo e meio auma con&us)o, &omentada elo rório Lis%t con&undiu a música húngara com a dosciganos húngaros. 3as s)o duas ra(as di&erentes os ciganos, descendentes de umatribo indiana# os húngaros, um o"o de origem centro2asiática, de ra(a uralo2altaica.:uas e'ress$es musicais tamb*m s)o radicalmente di&erentes. A autIntica músicahúngara recisa"a ser descoberta em nosso temo o que &oi a obra de Jartó e WodálSi.0 tamb*m se descobriu que o &olclore musical húngaro ainda n)o está estabili%ado oshúngaros s)o uma das oucas na($es do mundo moderno em que o &olclore continuanascendo e e"oluindo.

 A Rungria &oi, or todos esses moti"os, o a!s ideal ara o nacionalismo musical dos*culo ++. 9e"elou cedo sua indeendIncia. 0nquanto no nacionalismo musicalcontemor8neo, em geral, a in&luIncia de :tra"insS se sobre$e 7 de HebussS e doimressionismo, o nacionalismo húngaro e"oluiu, quase indeendentemente, emanalogia a :tra"insS o 'llegro &arbaro de Jartó, de &ei()o stra"insSana, * de 1?11# *de dois anos anterior ao Sacre du 5rintem!s. :ó muito mais tarde re"elará outra &ei()osingular, de"ida ao gInio indi"idual de Jartó a caacidade de reconciliar2se com atradi()o euro*ia e de desembocar no uni"ersalismo.

J*la JA9TW =1EE11?>D1 cresceu num ambiente de &ortes tens$es ol!ticas esociais e de grande inquieta()o esiritual a Rungria de 1?@@, sacudida elasincomatibilidades entre a burguesia industrial, a aristocracia lati&undiária e oroletariado socialista, com uma oula()o rural quase arcaica, quase bárbara, no &undodo quadro# tens)o entre os húngaros, os magiares oliticamente dominantes, e os

milh$es de eslo"acos e outros esla"os e de romenos que habita"am no a!s sendotratados como minoriasQ# tens)o entre o academismo o&icial, etri&icado, nas letras, nasartes e na música, e uma "anguarda requintadamente intelectualista que sonha"a a

1 0. /iet%sche /ell. &1la &art7k , Ralle, 1?G@. 0. Raras%ti, &1la &art7k. )is /ife and his >orks,Paris, 1?GE. :. 3oreau', &1la &art7k , Paris, 1?>@. R. :te"ens, "he /ife and Music of &1la &art7k ,/o"a orque, 1?>G.

Page 161: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 161/200

ocidentali%a()o da Rungria, assim como ent)o a ro&eti%ou o grande oeta moderno da*oca, AdS O Nr, um equeno rio húngaro, desembocará um dia no grande oceanoQ.Jartó, &ormado como ianista, arecia ad"ersário dessa corrente ocidentalista. :eu

&amoso 'legro &;rbaro =1?11D &oi o mani&esto musical da Rungria arcaica, rimiti"a./aqueles anos tamb*m ercorreu, com seu amigo WodálSi, o a!s, colecionandocan($es oulares húngaras e outras. A biogra&ia de Jartó &oi, desde ent)o, umasucess)o de lutas contra hostilidade e incomreens$es, que o mestre en&rentou com&errenha intransigIncia. 0n&im, o &ascismo que Jartó odia"a, obrigou2o a atra"essar ogrande oceanoQ. 3as n)o encontrou melhor comreens)o na Am*rica, aesar doses&or(os de regentes e "irtuoses amigos. 3orreu em 1?> na mis*ria. N hoereconhecido V elos que o re&erem a :tra"insS V como tal"e% o maior comositor darimeira metade do s*culo.

Jartó, nos in!cios, arecia2se bastante com outro bárbaroQ, seu coet8neo :tra"insS.N mesmo stra"insSano o bailado O Mandarim Maravilhoso =1?1?D. 3as as di&eren(ass)o e"identes. Uma delas * a resistIncia de Jartó contra qualquer corrente da moda.:tra"insS adotou em certa &ase o a%%. Jartó, nunca. /)o recisa"a desse recurso

ara insu&lar no"a energia r!tmica 7 sua música. :eus ritmos áseros e duros, sugerindodan(as bárbaras, e'los$es de instintos atá"icos# suas melancolias sombrias, noitessem lu%, aenas erturbadas elo eco de remotas "o%es de animaisQ# seus modosQ etonalidades estranhas# tudo isso caracteri%a o bárbaroXX, o &ilho de uma na()o asiáticaque n)o tem arentes, que * estrangeira na 0uroa. :eu Concerto !ara !iano eorquestra no.R =1?MBD * mais estranho do que qualquer coisa que :tra"insS amais escre"eu. A base dessa música * o &olclore húngaro que Jartó tinha cienti&icamenteestudado, destruindo a lenda da &alsa música húngaraQ e descobrindo a autIntica. /aSuBte de DanJas =1?MGD lhe erigiu o monumento. 3as tamb*m colecionara as can($esoulares dos romenos, dos eslo"acos, dos búlgaros. 0n&im, reuniu todos esseelementos na grande obra ian!stica Microcosmos =1?GFD, que á &oi chamada de Cravo&em "em!erado do s*culo ++Q * o uni"erso da música &olclórica desta *oca e umincomará"el manual didático de todos os modosQ da música moderna. Jartó tinha ogInio edagógico como Jach. 0 n)o * blas&Imia citar, a seu roósito, o nome má'imoda história da música. 0 como Jeetho"en, tamb*m Jartó re&ere o iano arae'erimentar caminhos no"os. /a Sonata !ara !iano =1?MBD trata o ianobarbaramenteQ, como instrumento de ercuss)o. Continuou essa e'eriIncia na Sonata

 !ara dois !ianos e !ercusso =1?1FD, que tamb*m transcre"eu ara dois ianos eorquestra.

O húngaro Jartó entrou na 0uroa como um estrangeiro. 3as só comoQ. Poistamb*m &oi um grande euroeu. 0le rório declarou que de"ia tudo a trIs mestresJach, Jeetho"en e HebussS. A base da sua t*cnica musical, de escre"er em acordes, *e &icou o imressionismo de HebussS. :ua última descoberta, deois daquela do"erdadeiro &olclore húngaro, será a seriedade ro&unda do Jeetho"en da terceira &ase,dos últimos quartetos. A onte entre esses dois ólos &oi, ara ele, a oli&onia de Jach.

 Assim reali%ou Jartó o milagre de tornar2se tradicionalista sem sucumbir aoeigonismo# de subordinar a insira()o mais elementar, at* bárbaraQ, 7 arquitet4nicamais rigorosa. :ua música soa, at* hoe, ásera e imenetrá"el aos n)o2iniciados# mas oestudo das artituras re"ela a rigorosa necessidade de escre"er cada uma das notasassim como está escrita e só assim. A oli&onia instrumental n)o recisa ser eu&4nicaara ser "erdadeira.

Jartó escre"eu muitos lieds e uma imortante Cantata 5rofana =1?G@D# dei'ou,or*m, a música "ocal or causa de di&iculdades intr!nsecas da rosódia húngara. /)o

Page 162: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 162/200

obti"eram o merecido sucesso a óera O Castelo de &arba-'4ul  =1?11D e o bailado OMandarim Maravilhoso. O recurso natural de e'ress)o do comositor *, ara no"ase'eriIncias o iano, e ara obras de&initi"as como em Jeetho"en, o quarteto de cordas.

O Quarteto no

.R =1?@ED, embora demonstrando todo o talento natural do comositor, *obra de um estudioso de HebussS, que ainda n)o esqueceu de todo a li()o de Jrahms.O Quarteto no.K  =1?1FD, o mais acess!"el da s*rie, usa t*cnicas de HebussS, arae'rimir lirismos malancólicos e e'lodir em ritmos de dan(as &antásticas 1tats d0Ame húngaros, inteiramente alheios ao es!rito do grande &rancIs. O Quarteto no. =1?MFD *,do onto de "ista musical, o mais di&!cil de todos tem um mo"imento só, elaborado emestrita e no entanto original!ssima sonata2&orma# uma obra2rima de ro&undainteligIncia musical e de e'ressionismo algo "iolento, escrito ouco deois daqueleduro Concerto !ara !iano e orquestra no.R =1?MBD. O Quarteto no.L =1?MED e o Quartetono.T  =1?GD s)o obras mais &ortes =e menos acess!"eisD de Jartó áseros eintransigentes. /o Quarteto no.  =1?G?D, chega Jartó ao seu neoclassicismoQ muitoessoal, arquitetura er&eita, sonoridades no"as e no entanto melhor enetrá"eis. Paradar id*ia da imort8ncia, á clássicaQ, que hoe se atribui aos seis quartetos de Jartó

em ciclos de música de c8mara em Paris e na Rolanda &oram esses quartetose'ecutados em trIs recitais, unto com os últimos quartetos de Jeetho"en. :)o,con&orme a e'ress)o de :eiber, as obras musicais mais signi&icati"as da nossa *oca.

`...

Jartó, que at* hoe arece sel"agemQ aos acadImicos e 7 maior arte do úblico, &oium grande tradicionalista. P4s uma ordem no caos, como Jach. oi, como Jach,reeitado. 3as no seu caso tamb*m a edra que os obreiros reeitaram, tornar2se2á&undamentoQ.

O colaborador de Jartó nas esquisas de música oular húngara, \oltán WOH_L]=1EEMD1 * ao seu lado uma &igura menor. 3as tem seu rório direito de ser ou"ido. :uasobras rimeiras s)o as melhores seu magiarismoQ á * er&eito no Quarteto no.K O!.RV=1?1FD n)o se eseram dessa obra as ro&undidades de Jartó# mas há nela seu lirismomelancólico2&antástico e toda a sua &uriosa "italidade r!tmica, mani&estadas com maior

seguran(a do e&eito# o quarteto * irresist!"el. Tamb*m * irresist!"el a óera2c4mica );ri3an7s =1?MBD, baseada no &olclore húngaro# uma su!te orquestral, tirada dessa óera,conquistou o mundo. A obra mais ambiciosa de WodálS * o grandioso e emocionante5salmus hungaricus =1?MGD, mani&esta()o de um atriotismo alto e de uma religiosidadeli"re. Obras osteriores de WodálS, das quais só oucas chegaram a ser e'ecutadas &orada Rungria, dececionaram. :ó as DanJas de Galanta e as DanJas de Mar7ss4ek  conquistaram oularidade. 0n&im, em 1?B1, surreendeu o mundo com uma luminosasin&onia em dó maior.

/O-O  / ACO/AL:3O  3U:CAL A:  A3N9CA:

O no"o nacionalismo musical húngaro * um caso aralelo 7 rimeira &ase de:tra"insS, en"eredando deois or outros caminhos. 0m outros a!ses, a música do

russo bárbaroQ te"e a()o de &ermento ou catalisador# continua &omentando, de maneiramais agressi"a, os mo"imentos nacionalistas do assado.

 A rimeira onda de nacionalistmo musical, imulsionada or Keber, desertou a

1 L. 0oes%e, 9olt;n $od;l%i. )is /ife and >ork , Londres, 1?BM. J. :%abolcsi ed., 9oltano $odal%Octongenario Sacrum, Judaeste, 1?BM.

Page 163: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 163/200

9ússia de <lina, a Pol4nia de 3onius%o, a Rungria de 0rel, a Hinamarca de <ade. Asegunda onda de nacionalismo musical, imulsionada elas in&luIncias de :chumann eLis%t, continuou a ercorrer a 9ússia dos CincoQ, a JoImia e 3orá"ia de :metana e

H"ora, a 0scandiná"ia de Rartmann e <rieg e, mais tarde, a inl8ndia de :ibelius. Aterceira onda, sob o signo de HebussS e do imressionismo, ro"ocou a renascen(amusical de a!ses que há s*culos esti"eram musicalmente silenciosos a nglaterra e a0sanha.

 A quarta onda de nacionalismo musical * caracteri%ada ela in&luIncia conunta de:tra"insS e de HebussS. A música do bárbaroQ russo insirou aos comositores demuitas na($es coragem ara emregar os modosQ e melodismos do seu &olcloremusical, at* ent)o desre%ado orque assa"a or incomat!"el com o sistema tonal em"igor# mas a in&luIncia de HebussS =e outras in&luIncias menoresD, continuou,acrescentando ao rimiti"ismoQ =n)o t)o rimiti"o como areceD um elemento derequinte ci"ili%ado.

0sse no"o nacionalismo está agindo em numerosos a!ses euroeus e americanos.Li"ros que retendem esbo(ar um anorama da música contemor8nea, citam de%enas

de nomes de todas as na($es. /)o adianta reeti2los. A maior arte dessescomositores só interessa V e ainda só de maneira e&Imera V aos seus conterr8neos.0studos musicológicos modernos re"elam estranhas semelhan(as entre os &olcloresmusicais do mundo inteiro do Chile at* a :ib*ria. Os stra"insSanos noruegueses ouromenos tIm t)o ouca imort8ncia ara o mundo como os acadImicos desses a!ses.

O resultado signi&icati"o do neonacionalismo musical *, mais uma "e%, o desertar dea!ses no"os que at* ent)o só oucos tinham articiado do concertoQ sobretudo, as

 Am*ricas.

`...

 A &onte &olclórica * muito mais rica na Am*rica Latina. N e'lorada, hoe de Cuba at* a Argentina e o Chile, or &olcloristas decididos e or outros, de tendIncia maisuni"ersalista. Rá em todos esses a!ses comositores notá"eis, como o cubano

 Aleandro <A9CA CATU9LA =1?@B1?@D, disc!ulo de :tra"insS e 3ilhaud e adetodo &olclore negro, autor de dan(as ara iano e de uma conhecida &erceuse Cam!esina#e os argentinos ;ulián Aguirre, ;uan ;os* Castro, ;uan Carlos Pa%, Alberto <inastera.3as só dois a!ses latino2americanos á conseguiram chamar a aten()o do mundointeiro o 3*'ico e o Jrasil.

 A música de arte no Jrasil á tem longa história. /o &im do s*culo +- rosera"a em3inas <erais a música sacra de estilo italiano2haSdniano, da qual tamb*m &oi cultornotá"el, um ouco mais tarde, o adre ;os* 3aur!cio. /a segunda metade do s*culo ++obte"e sucessos na tália e em outra arte o oerista Carlos <omes. Hesde ent)o hou"eno Jrasil adetos de di"ersos estilos euroeus como o ^agneriano Leooldo 3<U0\=1E>?1?@MD, autor de óeras e oemas sin&4ncios ou o a&rancesado Renrique O:KALH=1E>1?G1D, de cuas obras em :aint2:ans odia gostar. 3as o estranho outsider  <lauco -0LA\6U0\ =1EE1?1D á reresenta tra(os de um modernismo ou r*2modernismo musical.

Precursor no nacionalismo no Jrasil &oi Ale'andre L0-] =1EB1E?MD, insirado eloromantismo schumanniano, cuas obras signi&icati"as, o oema sin&4nico Comala =1E?@De a SuBte &rasileira =1E?@D &ica"am, or*m, or enquanto in*ditas. /acionalista deinsira()o mais moderna, ós2lis%tiana, &oi Alberto /0PO3UC0/O =1EB1?M@D suaS1rie &rasileira =1E?FD, ara orquestra, &oi um triun&o. n&luIncias de Choin, comositort)o querido do Jrasil ian!stico, s)o incon&und!"eis nos tangos de 0rnesto /A\A9N

Page 164: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 164/200

=1EBG1?GD1, reresentante modesto e, no entanto, a seu modo genial da músicaoular carioca. 3as os recursos musicais deste ou daquele academismo n)o basta"aara e'lorar a &undo a &olclore nacional, em que se misturam elementos !ndios,

a&ricanos e ib*ricos, numa &us)o toda original. n&luIncias de :tra"insS, de HebussS,in&luIncias do imressionismo esanhol, in&luIncias esla"as =a 9ússia de 3ussorgsS etal"el, embora a cr!tica brasileira o negue, a JoImia de H"oraD e húngaras, de Jartó eWodálS, tIm sucessi"amente colaborado ara &ortalecer e sutili%ar a consciIncia nacionaldos comositores brasileiros, que criaram uma música no"a, do mais alto interesse e áde considerá"el rest!gio na 0uroaM.

O rimeiro lugar cabe, sem dú"ida oss!"el, a Reitor -LLA2LOJO: =1EEF1?>?DG. Adquiriu na 0uroa, em 1?MG, &orma()o musical moderna quando á era homem &eito#quando, 7 base da educa()o musical recebida no Jrasil, á tinha reali%ado obraimortante. Antes de &i'ar2se, em 1?1G, em sua cidade natal, tinha ercorrido todo o a!simenso, durante anos de "iagem, assimilando ro&undamente a música do o"o. Atribui2se2lhe a descoberta musical do JrasilQ# e com ra%)o. 6uanto a seu estilo, n)o * oss!"elchamá2lo de ecl*tico, aesar das in&luIncias de HebussS e :tra"insS e do estudo

aro&undado da música de Jach e outros mestres do assado. Pois a base da suamúsica semre * o &olclore nacional# e este n)o * simlesmente e'lorado ouaro"eitado, mas &iltrado elo temeramento de uma ersonalidade "igorosa, de &or(a"ulc8nica. :ua rodu()o * imensa e, &atalmente, desigual, embora re"ale(am ostrabalhos de grande "alor e, entre eles, algumas obras2rimas de signi&ica()o uni"ersal./)o * oss!"el orientar2se nessa &loresta troical de obras, sen)o lan(ando m)o de umrecurso algo antiquado, a classi&ica()o con&orme gIneros obras ian!sticas, lieds,&ormas clássicas, e mais algumas outras, t)o singulares, que n)o * oss!"el subordiná2las a nenhum esquema, como as &achianas e os Choros.

 A rodu()o ian!stica de -illa2Lobos * das mais ricas. Pelo menos uma obra áconquistou o mundo, aesar de ser ou or ser das mais nacionais as Cirandas =1?MBD# eoucos "irtuoses estrangeiros dei'aram de incluir no seu rograma a /enda do Caboclo =1?M@D. A 5role do &eb[ =1?1E, 1?M1D á &oi comarada 7s Cenas +nfantis de :chumann

ou ao Children0s Corner de HebussS# comara()o que n)o signi&ica deendIncia. Obra2rima * o (ude!oema =1?MBD, que o mestre, em 1?GM, orquestrou. O caso lembra, umouco, o de :chumann que tamb*m á deu, nas obras ian!sticas da mocidade, suamedida toda. Arthur 9ubinstein tem &eito muito ara das a conhecer ao mundo essa &acedo comositor.

:eria reciso escre"er uma monogra&ia ara classi&icar os numerosos lieds de -illa2Lobos. Tem ele dado &orma musical a uma boa arte da oesia brasileira moderna# 7s"e%es, enobrecendo te'tos med!ocres# outras "e%es, adatando2se com &elicidade aoalto ensamento o*tico e ao lirismo !ntimo de um 3anuel Jandeira. Assim comoacontece com o lied rom8ntico alem)o, a liga()o indissolú"el entre a música e a l!nguan)o tem reudicado a di&us)o uni"ersal. ;ustamente os lieds mais tiicamente &olclóricosde -illa2Lobos, as quator%e Serestas =1?M>D, conquistaram o mundo, na interreta()o decantores e cantoras como ;ennS Tourel.

`...1 Lu!s Reitor, RTV 'nos de Msica no &rasil . 9io de ;aneiro, 1?>B.M Andrade 3uricS, ,illa-/obos. 8ma inter!retaJo, 9io de ;aneiro, 1?B1. Andrade 3uricS, 0rnesto/a%ar*Q, in Cadernos &rasileiros, -.G, 1?BG. 0urico /ogueira ran(a, Msicca do &rasil. 2atos2iguras e Obras, 9io de ;aneiro, 1?>F.G -asco 3ari%, )eitor ,illa-/obos, 9io de ;aneiro, 1??.

Page 165: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 165/200

9estam aquelas obras 7 arteQ as singulares. A mais antiga * o :oneto =1?MGD, arainstrumentos e coro * como o rograma do &olclorismo do mestre. Heois os quator%eChoros, escritos entre 1?M@ e 1?ME, sobretudo o no.T  =1?MBD, 'lma &rasileira, ara iano

solo, e o no

.RV  =1?M>D, ara orquestra e coro que inclui o tema oular (asga CoraJo#tal"e% os ontos mais altos da música brasileira. Outros re&erem as no"e &achianas&rasileiras, escritas entre 1?G@ e 1?>, material musical &olclórico, &undido em &ormas damúsica r*2clássica, homenagem de -illa2Lobos a Jach que ele considera como o maior&olclorista entre todos os grandes mestres. 0m rimeira linha a no.R ara E "ioloncelos=1?G@D# no.K , ara orquestra de c8mara =1?G@D# no.L, ara iano =1?G@D, a no.T , ara "o%de sorano e E "ioloncelos =1?GED# sem considerar menos imortantes as outras&achianas. N uma s!ntese sui generis e, or todos os moti"os, admirá"el.

Rá quem negue a imort8ncia esecial dessas obras 7 arteQ dentro da "olumosarodu()o de -illa2Lobos. 3as n)o se ode negar que seam suas obras maiscaracter!sticas caracteri%am um dos grandes mestres da música do nosso temo.

 A arte de -illa2Lobos signi&ica a declara()o de indeendInciaQ musical do Jrasil. 3asn)o * ele o mais radical dos nacionalistas. 0sse t!tulo cabe a Loren%o 09/A/H0\

=1E?F1?ED1

, embora, arado'almente, o comositor &osse de origem esanhola. :uarimeira obra de imort8ncia chama"a2se, bem signi&icati"amente, "rio &rasileiro =1?MD.Logo deois, a SuBte Sinfnica sobre "r[s "emas 5o!ulares &rasileiros =1?M>D. :)oobras bem conhecidas e que o merecem. Alguns re&erem, de toda a rodu()o deLoren%o ernande%, o oema sin&4nico (eisado do 5astoreio =1?G@D. Tal"e% orqueainda n)o est)o bastante habituados 7s últimas e mais maduras obras do mestre, aóera Malasarte =1?1D e a sin&onia O CaJador de Esmeraldas =1?FD. Aesar de todosos es&or(os de regentes, ianistas, cantores e da cr!tica, as obras dos comositoresbrasileiros contemor8neos n)o est)o sendo e'ecutadas com a deseá"el &req5Incianem gra"adas em disco bastante acess!"eis.

 A música brasileira 7 base &olclórica tem muitos mati%es di&erentes. A arte de -illa2Lobos e a de Loren%o ernande% n)o s)o as únicas ossibilidades reali%adas. Ndi&erente a ersonalidade art!stica do nacionalista rancisco 3</O/0 =1E?FD, co2

determinada elo lastro da sua hereditariedade italiana e ela re&erIncia acentuadaara os elementos a&ricanos do &olclore musical brasileiro. oi o grande escritor e grandeanimador 3ário de Andrade que lhe indicou o caminho da música 7 base &olclórica.rancisco 3ignone soube aro"eitar a li()o com "er"e e'traordinária. He uma das suasrimeiras obras, da óera O Contratador de Diamantes =1?MD, consta aquela congadaQque eletri%ou o úblico. Uma e(a orquestral de insira()o semelhante, o Ma#i#e =1?MED,conquistou o &a"or dos regentes e do úblico de muitos a!ses estrangeiros. 3ignone *artista seguro dos seus e&eitos, aesar dos escrúulos !ntimos que ele rório con&essa.Tem altas ambi($es, arcialmente reali%adas em obras de "ulto como o bailadoMaracatu de Chico (ei =1?GGD e o oratório 'legrias de :ossa Senhora =1?ED, de grandeencanto &olclórico em certos trechos. Um trabalho mais modesto, a obra ian!stica,alsas de Esquina =1?GD, á sedu%iu muitos ianistas elo seu lirismo singular. Outroscomositores de marcada insira()o &olclórica s)o Jras!lio TJ09p =1E?BD =obra coral

+nfinita ,igBliaD e rutuoso -A/A =1E?BD =,ariaJYes sobre um "ema 5o!ular !ara !ianoD.9eresentantes de uma no"a gera()o s)o Lui% CO:30 =1?@ED, que e'lora com&elicidade assuntos e modos do &olclore regional do 9io <rande do :ul, e Claudio:A/TO9O =1?1?D, que abandonou o dodeca&onismo ara escre"er uma Sinfonia da5a4 .

1 0urico /ogueira ran(a, /oren4o 2ernande4 Com!ositor &rasileiro, 9io de ;aneiro, 1?>@.

Page 166: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 166/200

Page 167: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 167/200

 A in&luIncia de :tra"insS, o rograma dos Si#  na ran(a e as tendIncias arcai%antesde muitos alem)es, inclusi"e de Rindemith, todas essas correntes encontram2se com&orte mo"imento do nosso temo a ressurrei()o da música antiga. Primeiro e antes de

tudo, a renascen(aQ de Jach# deois, a re"i"i&ica()o da arte de 3onte"erde, Purcell,Couerin, -i"aldi, Homenico :carlatti, Telemann, Leo e tantos outros antigosQ. At* oúblico mais conser"ador á esta"a cansado da reeti()o ermanente das obras deRaSdn, 3o%art, Jeetho"en, :chubert, 3endelssohn, Choin, ranc, Jrahms, Kagner.Come(ou2se a e'igir a e'ecu()o historicamente e'ata das obras antigas. 0m "e% daorquestra sin&4nica as orquestras de c8mara do s*culo +-. 0m "e% do iano o cra"o.0m "e% das cordas modernas a viola d0amore, a "iola da gamba e outros instrumentosca!dos em desuso. 3as essa e'igIncia de e'ecu()o historicamente e'ata rodu%iu umacontradi()o dial*tica. A rimeira reresenta()o da 5ai#o Segundo So Mateus, 1FM?,&oi reali%ada com equena orquestra e equeno coro, con&orme os recursos 7 disosi()ode Jach# e na orquestra hou"e "ários instrumentos hoe obsoletos. N oss!"el reetir, nos*culo ++,uma e'ecu()o da obra com aqueles mesmo recursos historicamente e'ata. Noss!"el que se obede(am, dessa maneira, estritamente 7s inten($es do comositor.3as tal"e% este só emregasse equenas orquestras e coros e instrumentos antigosQorque n)o tinha ou n)o conhecia outros, maiores e mais modernosQ. Tal"e% umae'ecu()o da obra com recursos modernos, historicamente ine'ata, reali%e melhor as"erdadeiras inten($es do mestre. 0ncanta2nos, hoe, o som do cra"o mas em certoscasos, um Homenico :carlatti tal"e% &icasse mais satis&eito se udesse ou"ir suas obrasno iano. N um dilema do qual nunca oderemos conhecer a solu()o certa. 0m geral eem comara()o com as detura($es das obras antigas elas orquestras e "irtuoses dos*culo ++, a e'ecu()o historicamente e'ata será re&er!"el. 3as nada * caa% deaagar em nossa memória o conhecimento dos e&eitos instrumentais de um assadomais recente. ;á n)o somos ou"intes dos s*culos +- e +-. 0m alguns caos, as obrasantigas só &a%em hoe imress)o comará"el 7quela que &i%eram em sua *oca quandoe'ecutadas 7 maneira do s*culo ++. 6uando e'atamenteQ e'ecutadas arecemestranhamente modernas, modernistasQ.

O comositor moderno en&renta dilema semelhante com reseito 7s &ormas musicais. A renascen(aQ do assado musical &oi algo como uma sa!da da rotina do academismo.Heois de Jeetho"en, ningu*m teria conseguido escre"er uma "erdadeira e originalsonata ara iano. A sin&onia, o quarteto, o drama musical tornaram2se rotineiros. 0nt)o,um concerto grosso, uma su!te, uma chacona, uma tocata, uma óera em estilo barrocoareciam surreendentemente modernosQ. 3as essas &ormas musicais da *oca dobai'o2cont!nuo tamb*m se tornam acadImicas e n)o assam de e'erc!cios escolásticosquando se emrega nelas a arte harm4nica de RaSdn, Jeetho"en e Kagner. Por outrolado, a arte harm4nica da *oca do bai'o2cont!nuo, imediatamente anterior ao sistematonal de Jach29ameau, está ara nós erdida ou, elo menos, inaceitá"el. Paraescre"er concerti grossi  etc. historicamente e'atos, de"er!amos emregar outrosmodosQ, e'óticos. 3as ent)o, as &ormas antigas á n)o rodu%em e&eitos sonoroscomará"eis 7queles que sentiram os ou"intes dos s*culos +- e +-. Produ%em2sedisson8ncias e asere%as que teriam chocado os ou"idos dos contemor8neos de Jach.

/)o odemos e"itá2las. /)o se ode &ugir da nossa condi()o de homens deste temo. Amúsica de :tra"insS =Ma. &aseD, dos Si# , de Rindemith n)o * no"o classicismoQ# * umneoclassicismo.

0sse termo neoclassicismoQ * bastante in&eli%. Pois o classicismo na música * o estilode de <luc, Cherubini e :ontini, que * hoe uma e(a de museu. Continua "i"o, noreertório, o classicismo "ienenseQ, isto * o estilo de RaSdn, 3o%art, Jeetho"en e,

Page 168: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 168/200

tamb*m, de :chubert. 3as aesar da Sinfonia Cl;ssica de Proo&ie" e aesar de ume&Imero &lerte de :tra"insS com 3o%art, ningu*m ensa hoe em adotar aquele estilo.

 Ao contrário o romantismo ou r*2romantismo dos clássicos "ienenses, sobretudo o de

Jeetho"en, * considerado como inimigoQ, como obstáculo 7 e"olu()o de uma músicaobeti"aQ, da qual alguns chegam a e'cluir os "iolinos, t)o sentimentaisQ, enquanto:tra"insS e'ige que um quarteto de cordas sea e'ecutado com a recis)o de umamáquina de costuraQ. 6uando se &ala em neoclassicismo musical, ensa2se, na "erdade,em r*2classicismoQ, isto *, na música que recede ao classicismo "ienense músicacomo a de Jach ou Pergolesi, concerti grossi  e tocatas, su!tes, chaconas e artitas emuita oli&onia linear, sea mesmo dissonante =ou orque * dissonanteD. 3as essamúsica * a do Jarroco. 0 or isso se &ala em neobarroco ara comletar a con&us)ogeral. 3as tamb*m or outro moti"o, mais ra%oá"el. Pois no Jarroco, o comositor e suaobra, semre encomendada, tinha determinada &un()o na sociedade e dentro dasati"idades da sociedade# enquanto hoe o músico só trabalha or imerati"o de suainsira()o subeti"a, cuo resultado aresenta deois a um úblico indi&erente. O deseodo restabelecimento de uma música &uncional, !endant  da arquitetura &uncional, * umdos moti"os do anti2subeti"ismo e anti2romantismo generali%ado. A música teria dedei'ar de ser um ornamento mais ou menos inútil. Ha rória música querem algunse'tirar todos os ornamentos e en&eites, n)o or rimiti"ismo stra"insSano, como &a%Or&&, mas or anti2romantismo decidido. Assim á &e% o grande recursor :atie.

0ri :AT0 =1EBB1?M>D1 &oi &igura &ascinante e burlesca, que dei'ou maior anedotárioque obra. Um m!stico e'tático com os gestos e o comortamento de um alha(o.

 Algu*m á o comarou 7quela alha(o do amor di"inoQ que &oi o grande oeta 3a';acob. 3as seu ael de recursor dos modernistasQ musicais de 1?1? antes &oi omesmo que Al&red ;arrS, o criador do 8bu roi , desemenhou em rela()o aos dada!stas esurrealistas. A música de :atie * estática, sem mo"imento dramático no sentido de todaa música clássica e rom8ntica# mas n)o * estática no sentido de HebussS que arou,embriagado de sonoridade, em todo acorde. Por ascetismoQ desistiu :atie docromatismo e, en&im, de toda harmonia, sem or isso "oltar 7 oli&onia. :ua arte *,deliberadamente, de obre%a &ranciscana. Tem asecto arcaico. 6uando quer sertomada muito a s*rio, rodu% e&eitos burlescos, o que n)o desagrada"a, aliás, ao autor.-i"endo &ora de toda atualidade musical, :atie á escre"eu obras assim num temo emque HebussS anda n)o tinha chegado a &a%er música imressionista. :)o as equenascole($es de obras ian!sticas Sarabandes =1EEFD, G%mno!1dies =1EEED, Gnossiennes =1E@?D. He"iam assar, desde ent)o, G@ anos at* o mundo lhe restar aten()o. 0m 1?1F&e% esc8ndalo imenso seu bailado 5arade, de sobriedade ou obeti"idadeQ e'trema e dee&eito grotesco. /o entanto, * uma obra2rima, digna de um :tra"insS &rancIs eselhomusical do >aste /and  dos )ollo= Men =T.:. 0liotD. Hois anos mais tarde, o melodramaou óera ou e(a musicalmente declamada Socrate =1?1?D á obte"e sucesso#

 ustamente orque :atie escre"eu ara o diálogo lat4nico música que *&undamentalmente idIntica com a daquele bailado. 0m 1?1?, a obra n)o odia dei'ar deter sucesso s)o os dias de Hada, recursor do surrealismo.

O resonsá"el ela encena()o de 5arade &ora ;ean Cocteau, oeta "anguardista,intor, cineasta, teatrólogo, romancista, coreógra&o e misti&icador2mor da *oca. 0m1?1?, ano de :ocrate, ublicou o an&leto /e coq et l0arl1quin, no qual condenou, emarado'os engenhosos e sarcásticos, a arte rom8ntica, o subeti"ismo de Jeetho"en, asn*"oasQ de HebussS e toda e qualquer música que se ou"e com a cabe(a reclinada na

1 P. H. Temlier, Erik Satie, Paris, 1?GM. 9. 3Sers, Erik Satie, Londres, 1?E.

Page 169: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 169/200

m)oQ. 0'altou a música de circo, de music hall . 0'igiu uma arte le"e, mediterr8nea,eseci&icamente &rancesa ou transarente como a de JachQ. N um Jachestranhissimamente interretado# o rimeiro sinal daquilo que mais tarde seria a música

neobarroca.Cocteau tinha escrito rogramas e libretos ara :tra"insS. Tinha encenado o bailadode :atie. Agora se reuniu 7 sua "olta um gruo de músicos, atra!dos ela linguagembrilhante daquele an&leto &oram os Si# . Aesar de muita ublicidade nem todos os seisconseguiram o sucesso. Hois dos mais bem dotados do gruo semre &icaram nasombra dos outros Loius HU90] =1EEED e a comositora <ermaine TALL00990=1E?MD, autores de lieds e de boa música de c8mara. 3uito tarde, quando o gruo dosSi# á esta"a disersado, &oi reconhecido o m*rito de <eorges Auric =1E??D quando oautor do bailado /es Matelots =1?M>D deu em 1?>@ o imonente bailado 5hdre, uma dasmelhores reali%a($es do ideal, ent)o á meio esquecido, do gruo. /a "erdade, ara ahistória e ara o úblico, os seisQ s)o aenas trIs Poulenc, 3ilhaud e Ronegger.

O reresentante mais t!ico dos rinc!ios dos Si#  e das id*ias de Cocteau de 1?1? *rancis POUL0/C =1E??1?BGD1, esecialista em música de ballet =/es (ichesD. :ua

óera /es mamelles de "ir1sias =1?FD * uma última trans&igura()o musical do"anguardismo de Aollinaire# obra altamente arod!stica e agressi"a. As obras demúsica de c8mara de Poulenc, as mais das "e%es ara, ou com a colabora()o deinstrumentos de soro, s)o esirituosas aródias da música de c8mara clássica, n)odesre%ando os recursos do 6a44 . 3as nesse arodista tamb*m hou"e semre"eleidades religiosas, certamente mais s*rias que a con"ers)o e&Imera de Cocteau.0scre"eu, deois de um Stabat Mater  =1?>1D, a óera Dialogues des Carmelites =1?>BD,que n)o arece indigna do te'to de Jernanos. As obras mais notá"eis de Poulenc tal"e%seam seus numerosos lieds, classicamente &ranceses.

:eria reciso escre"er uma monogra&ia ara &a%er usti(a a todos os asectos darodu()o imensa de Harius 3LRAUH =1E?MDM que se de&ine, a si rório, &rancIs daPro"en(a e udeu de origemQ# "i"eu entre 1?1 e 1?1E no Jrasil, como dilomata, e entre1?G? e 1?> nos 0stados Unidos, como e'ilado# desemenha hoe &un($es de

comositor o&icial da 9eública, ara a qual á escre"eu um "e Deum, que &oi cantadana catedral de /otre2Hame de Paris# assim como escre"eu ara os seus correligionáriosum ServiJo de Sinagoga, aliás original!ssimo, e, ara reresenta()o na Palestrina, aóera David  =1?>D# e a maestosa sin&onia coral 5acem in "erris, sobre ala"ras dahom4nima enc!clica do aa ;o)o ++. N comositor de "ersatilidade e'trema e&ecundidade enorme. 0scre"eu 1E quartetos ara cordas, e'licando o grande númeroelo &ato de Jeetho"en ter escrito aenas 1F quartetosQ. Os anos assados no Jrasillhe sugeriram a obra ian!stica Saudades do &rasil  =1?M1D, de e'otismo algo &antasioso.:uas obras instrumentais e seus lieds s)o inúmeros. O estilo semre * o mesmo oolitonalismo, mas com "oltas mais ou menos &req5entes ao sistema tonal ortodo'o que3ilhaud n)o desea abandonar. :uas contribui($es mais t!icas ara a música noes!rito dos Si#  s)o a Sinfonia no.U =(hodanienneD e a óera /e !auvre matelot  =1?MBD,ara a qual Cocteau lhe escre"eu o libreto uma história sombria e cruel, cuo

acomanhamento musical retende ser le"eQ e luminosoQ. As óeras de 3ilhaudtamb*m s)o numerosas. A obra de maiores dimens$es * a Orestie =1?MD. A maisambiciosa * Christo!h Colomb =1?G@D, libreto de Claudel, com grandes recursosmusicais e cInicos e emrego de e&eitos cinematográ&icos# á estamos, com essa obra,

1 ;. 9oS, 2rancis 5oulenc , Paris, 1?B.M <. Jec, Darius Milhaud , Paris, 1??.

Page 170: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 170/200

em leno neobarroco. N comletamente imoss!"el, hoe em dia, ulgar com usti(a aimensa obra de 3ilhaud. Teme2se que o ulgamento da osteridade n)o chegue a serdos mais &a"orá"eis. 

/)o ercebemos hoe, quase meio s*culo deois, muita semelhan(a entre osdi&erentes membros do gruo dos Si# . 0 elo menos um entre eles só arece ter entradoor equ!"oco t)o di&erente * a ersonalidade de Arthur RO/0<<09 =1E?M1?>>D, &ilhode su!(os &ranceses rotestantes, que or acaso nasceu na ran(a. :ua ades)o aogruo de"eu2se ao moti"o essoal da ami%ade com 3ilhaud e a outro imulso,meramente negati"o 7 oosi()o contra as nebulosidadesQ do imressionismo. 0ssecal"inista montanhIs quis ser um mediterr8neoQ e sobretudo um modernoQ. Tornou2se&amoso ela e(a orquestral 5acific KR =1?MD, ruidosa homenagem a uma locomoti"a.3as esse cosmoolita e re"olucionário logo ensou, tamb*m, em moderni%ar enredostirados da J!blia, que &ora a leitura diária dos seus anteassados. Oratório moderno ou

 !salme s%m!honique * /e (oi David  =1?M1D, que agradou muito# esecialmente a su!teorquestral, tirada dessa obra, conquistou as salas de concerto. Continua()o nessecaminho * 3udith =1?MBD. Como adeto do neoclassicismo de :tra"insS ediu Ronegger

a Cocteau que lhe escre"esse o libreto de 'ntigone =1?MFD# obra que &oi considerada, na*oca, como !endant do Oedi!us (e#  do comositor russo. 3as este tinha escolhido oassunto grego sem ensar em outra coisa sen)o em tema bastante remoto ara ser"irde base a uma música abstrata. Ronegger, or*m, ode ter ensado no rotestoreligioso de Ant!gona contra a lei deste mundo# e saiu uma música grandiosa eemocionante. O oratório ro&ano /es cris du monde =1?G1D tamb*m * rotesto doindi"idualista contra as normas ditadas ela massa, ela t*cnica. Ronegger, orotestante, á * antimoderno. :eu olitonalismo ou, como ele re&eriu di%er, suaoliarm4nica linearQ, * comat!"el com a constru()o de grandes arquiteturas "ocais.0ntre os ideais que con&essou adorar, há a música de Jach e, um oucosurreendentemente, a de C*sar ranc. A insira()o * religiosa. Uma das suas últimase mais belas obras &oi uma Cantate de :o]l  =1?>GD. Ronegger te"e a ambi()o deescre"er óeras. Com aquela mentalidade só odiam, or*m, surgir oratórios, emboraass!"eis de reresenta()o cInica. 3eanne au bZcher  =1?G>D, libreto de Claudel, &oirimeiro cantada como oratório# só em 1?M &oi reresentada, ela rimeira "e%, noalco# e a obra "oltou ara as salas de concerto. N o único oratório autIntico que seescre"eu nesse s*culo# merece o sucesso mundial que te"e e continua tendo. He altaadmira()o tamb*m * digna a S%m!honie liturgique =1?BD, ilustrando orquestralmente oDies irae, o De !rofundis e o Dona nobis !acem# homenagem do rotestante 7 liturgiacatólica e signi&icati"a e'ress)o musical das angústias da nossa *oca, das quaistamb*m dá testemunho a sombria e tecnicamente magistral Sinfonia di "re (e =1?>1D.He Ronegger á se disse que obrigou o úblico a ou"ir música moderna# quebrouresistIncias que arecem in"enc!"eis e habituou a gente a sonoridades no"as que n)os)o, aliás, agressi"as. :uas obras rinciais continuam sendo e'ecutadas, no mundointeiro, com grande &req5Incia. Contudo, cabe registrar que alguns cr!ticos, &ranceses eholandeses sobretudo, "eri&icam, com os anos, certo en"elhecimento daquelas obrasque saudaram com tanto entusiasmo# le"antam a dú"ida se a subst8ncia musical, em

Ronegger, n)o *, or"entura, menor do que a inten()o esiritual, ele"ada.Rerdeiro dessas inten($es arece ser ;ean 3A9T/O/ =1?1@D, que escre"eu no

cati"eiro alem)o o como"ente 5salmus R  =1?GD# sucesso recente * seu CanticusCanticorum =1?>FD. Ho rograma dos Si# sobre"i"em na ran(a o aego aos modosQantigos ou e'óticos e certo esiritualismo, 7s "e%es nacionalista. Por outro lado, tamb*me'iste na ran(a um neoclassicismo mais conser"ador, mais tradicionalista. :eu

Page 171: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 171/200

reresentante rincial * ;acques bert =1E?@1?BMD, autor do oema sin&4nico Escales e da óera /e (oi d0?vetot .

0ntre os neoclassicistas &ranceses e os alem)es situa2se, homem entre as ra(as, o

su!(o bil!ng5e ran 3A9T/ =1E?@D1

, um dos mestres mas interiori%ados da nossa*oca. N um ecl*tico declarando2se classicista, continua baseando sua arte na escolhade acordes e'ressi"os, ois &oi e * admirador de HebussS# mas mudou, deois,radicalmente, adotando a t*cnica serial de :choenberg, sem aderir, aliás, ao es!rito daescola "ienense. Tudo lhe ser"e ara trans&igurar em sonoridades raras o sentido !ntimode te'tos arcaicos ou misteriosos. :ó obras menores suas &oram realmente aceitas eloúblico como a conhecida 5etite S%m!honie concertante. Aenas um succs d0estimecoube ao oratório cInico /e vin herb1 =1?>@D, que trata de maneira no"a a lenda deTrist)o e solda, e 7 óera Der Sturm =1?>BD, "ers)o alem) do "em!est  de :haeseare,reresentada em -iena e em /o"a orque. N uma arte esot*rica.

O ciclo de temorária hegemonia musical &rancesa, entre a estr*ia de 5ell;s etM1lisande e a de 3eanne au bZcher , á arece encerrado. Jartó morreu. Contudo, n)ose ode &alar em restabelecimento da hegemonia musical alem)# no s*culo dos

nacionalismos n)o ha"erá mais hegemonia. 3as ningu*m á contesta, hoe, um rimeirolugar entre os comositores mais modernos ao alem)o Paul R/H03TR =1E?>1?BGDM.N nome de reercuss)o mundial. 0studou "iola, que tocou durante anos no quarteto

 Amar2Rindemith. oi, na mocidade, um dos roagandistas mais ruidosos da músicamoderna e modern!ssima na Alemanha. Organi%ou os esti"ais de 3úsicaContemor8nea em Honaueschingem. Hedicou2se ao ensino musical V naturalmente demúsica moderna V das u"entudes# os ad"ersários chama"am2no de /ausbub =mais oumenos molequeQ ou gaminD, mesmo quando á era ro&essor de uma classe decomosi()o do conser"atório de Jerlim. Os na%istas n)o o erseguiram essoalmente#mas roibiram a e'ecu()o das suas obras. 0m 1?G?, Rindemith resol"eu emigrar araos 0stados Unidos, onde a Uni"ersidade de ]ale lhe o&ereceu uma cátedra. 0 &oireconhecido como es*cie de !raece!tor musicae mundi .

Come(ou como iconoclasta, escandali%ando os alem)es elos ataques contra Kagner

e contra o romantismo. ;á ent)o, o &uturo neoclassicista gosta"a de tocar, com o gruo Amar2Rindemith, os quartetos de 3o%art que assa"am naquele temo or ouco&ilosó&icosQ. O&endeu aos ou"idos com e'erimentos de oli&onia linear. Pro"ocouindigna()o elo emrego dos ritmos e instrumentos de a%% em concertos s*riosQ. 3as

 á sabia escre"er música s*ria. At* os acadImicos reconheceram2lhe o robusto talentoara a oli&onia instrumental, mani&estado em obras como o Quarteto !ara cordas n.L=1?MGD ou o "rio !ara cordas n.R =1?MD. O o"em mestre esta"a consciente do &ato deque a música, deois do Sacre du 5rintem!s, entrara numa *oca caótica, comará"elaos caos de 1B@@, quando submergiu a oli&onia "ocal. Pretendia endireitar o mundoQatra"*s de uma re&orma social no reino da música. /o s*culo ++, o comositor tinhacriado obras con&orme o ditado de sua consciIncia art!stica subeti"a, entregando2asdeois ao emresário, ao regente ou ao "irtuose e en&im ao úblico, que n)o as tinhamsolicitado. Rindemith ensa"a em restabelecer a &un()oQ da música, assim como e'istia

nos s*culos +- e +-, quando o comositor só escre"ia or encomenda da igrea ouda corte ou do mecenas, o que garantiu a comunh)o esiritual entre o artista e o seuúblico. Agora, o comositor teria de tornar2se, no"amente, artes)o &a%endoGebrauchsmusik =música &uncionalQD ara &ins bem determinados, ara acabar com a

1 9. Wlein, 2rank Martin. Sein /eben und >erk , -iena, [email protected] R. :trobel, 5aul )indemith, Ga. ed., 3ain%, 1?E.

Page 172: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 172/200

irresonsabilidade subeti"a e reconquistar o úblico. /esse sentido escre"eu Rindemithmuita Gebrauchsmusik  ara o ensino musical, ara associa($es musicais da mocidade,ara reresenta($es oulares erante organi%a($es culturais dos sindicatos oerários

etc.. A mais ermanente dessas obras * o 5loener Musiktag  =2estival de Msica no5loen, 1?GMD, comondo2se de música de al"oradaQ, música de almo(oQ e serenataQara um congresso de organi%a($es da mocidade alem). 0"identemente, o iconoclastade 1?M@ á esta"a no caminho ara trans&ormar2se em mestre alem)oQ no sentidoantigo. Pro&undamente alem)o * o bel!ssimo Concerto !ara viola e orquestra =1?G>D,denominado Sch=anendreher , do qual todos os mo"imentos se baseiam em "elhascan($es oulares alem)s, dos s*culos +- e +-, das quais a última tem aquele t!tulo.3as antes de tudo * obra german!ssima a óera Mathis der Maler  =Mathis o 5intor ,1?GD, cuo ersonagem rincial * o grande mestre do altar de senheim, 3athias<ruene^ald, que "i"eu no come(o do s*culo +-, no temo das temestades esirituaisda 9e&orma e das temestades sociais da <uerra dos Camoneses. :obre esse enredoescre"eu Rindemith uma obra na qual melodias ro&undamente emocionantes,suerostas em oli&onia linear, d)o disson8ncias gritantes que se dissol"em emharmonias m!sticas. N uma obra que e'rime as 8nsias sociais e as angústias esirituaisdaquele temo e do nosso temo. 3as ustamente essa obra, t)o tiicamente alem), &oiroibida elo regime na%ista, só odendo ser reresentada em \urique. oi o come(o daersegui()o# deois, o e'!lio.

`...

ora do teatro de óera, o grande erigo do neobarroco musical * um artesanato queemrega as &ormas antigas sem necessidade esiritual !ntima. Thomas 3ann, noromance Doutor 2austo, disse ala"ras duras, mas ustas, sobre a &abrica()o em s*riede concerti grossi , chaconnes, !assacaglias, tocatas etc. or homens que "iaam dea"i)o e se dedicam aos esortes. Perdeu2se nessa maneira o grande talento do tchecoJohusla" 3A9T/U =1E?@1?>?D, que &oi disc!ulo de 9oussel. :eus modosQ e'óticoss)o, naturalmente, os do &olclore tcheco, esecialmente da 3orá"ia. As &ormas,maneadas com "irtuosidade, s)o as r*2clássicas. Has suas obras numerosas tIm "alor

tal"e% ermanente o Concerto Grosso e o Concertino !ara 5iano e Orquestra. As outras,nunca s)o de la mauvaise musique bien 1crite# s)o boa música bem escrita, mas emgrande arte or assim di%er desnecessárias.

3úsica neobarroca escre"eu or necessidade !ntima o &rancIs Oli"ier 30::A0/=1?@ED1 orque * mesmo homem de mentalidade barroca. O que lembra, em suas obras,aquele estilo *, al*m de certos t!tulos, o conteúdo esiritual um misticismo e'tático,constantemente reocuado com as tenta($es da carne, o reino das tre"as e aascen()o da alma. O organista da igrea :te. Trinit* em Paris * católico de tal maneirae'altado que os ad"ersários á mani&estaram dú"idas inustas quanto 7 sua ortodo'ia. Amúsica de 3essiaen arece muito ecl*tica in&luIncias de HebussS e :tra"insS e,tamb*m, de Alban Jerg# e elementos e'óticos, asiáticos e a&ricanos, al*m deermanentes recorda($es bachianas e da mania de imitar as "o%es dos ássaros. Tudoisso, or*m, &undido de maneira ersonal!ssima e comlicad!ssima, num estilo rório,

meio suntuoso, meio bárbaro. /)o e'istem obras de outro comositor que seamcomará"eis 7s de 3essiaen /a nativit1 du Segneur  =1?G>D, ara órg)o# Quatuor !ourla fin du tem!s =1?1D# ,isions de l0'men =1?GD, ara iano# ,ingt regards sur l0enfants3esus =1?>D, ara iano# o oema sin&4nico "urangalila =1??D. N autIntico neobarroco#mas ro"a"elmente n)o ara o &uturo e, sim, !our la fin de ce tem!s.

1 Cl. 9ostand, Olivier Messiaen, Paris, 1?>E.

Page 173: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 173/200

:CRO0/J09< 0  O  HOH0CAO/:3O

O &uturo considerará ro"a"elmente Jela Jartó como o maior comositor da rimeirametade do s*culo ++. 3as as in&luIncias decisi"as &oram outras de um lado, :tra"insS,insirando os nacionalistas e o neoclassicismo# or outro lado :choenberg, insirando oatonalismo e ensinando o dodeca&onismo.

3uitos comositores contemor8neos s)o olitonalistas as "árias "o%esmo"imentam2se em tonalidades di&erentes, suerostas, o que em toda música at*HebussS teria sido roibido, orque rodu%indo sistematicamente disson8ncias. 3as áse "iu que o conceito disson8nciaQ * relati"o, sueito a modi&ica($es históricas. Ontem *considerada disson8ncia roibida aquele acorde que amanh) at* os acadImicosadmitem. O cromatismo &e% rogressos constantes, at* "risto e +solda e a artir de"risto e +solda, at* se aagarem, en&im, as &ronteiras entre as tonalidades. O ró'imoasso seria o de aboli2las de n)o reconhecer mais tonalidade nenhuma. :eria oatonalismo. 3as este só &oi uma &ase na e"olu()o de Arnold :choenberg. Heois, o

mestre restabeleceu a ordem, substituindo o sistema tonal destru!do or outro sistema,no"o o dodeca&onismo. N a maior re"olu()o na história da música arecia a destrui()ocomleta da tradi()o da música ocidental. 3as essa re"olu()o &oi reali%ada or umhomem que se ulga herdeiro daquela tradi()o. Chega a chamar2se tradicionalista.

 Arnold :CRO0/J09< =1EF1?>1D1 * &ilho da equena burguesia udaica de -iena.O ambiente em que se criou, arece2se com o de 3ahler e reud. oi, em música,autodidata. Trabalhando tena%mente, adquiriu or*m t)o grande erudi()o musical que acomiss)o de ublica()o dos Monumentos da Msica na ustria o encarregou de editar oConcerto !ara violoncelo de 3onn, recursor de RaSdn. :uas rórias comosi($es&oram, de in!cio, consideradas ine'ecutá"eis, rimeiro or causa dos enormes recursosrequeridos, deois or causa das audácias harm4nicas. Teria tido sucesso, se &osse umouco menos intransigente. 3as n)o transigiu nunca na "ida. Passou or *oca degra"e mis*ria material. Precisa"a ganhar a "ida, orquestrando a música de oeretas

"ienenses, de autoria de incultos &abricantes de "alsas. 0m 1?@F, o &amoso quarteto9os*, uma das cidadelas do conser"antismo musical de -iena, e'ecutou o Quarteto emr1 menor  de :choenberg# o úblico &e% esc8ndalo, que se reetiu em 1?@E com o  Quarteto em f; sustenido menor . 0m 1?1G os Gurrelieder &oram, 1M anos deois de suaublica()o, saudados com almas. 3as no mesmo ano de 1?1G, a Sinfonia !araorquestra de cAmara em mi maior  rodu%iu em -iena um dos maiores esc8ndalos emtoda a história da música. Hesde ent)o, o esc8ndalo acomanhou :choenberg &ielmenteela "ida toda. /unca te"e sucesso. Como catedrático do conser"atório de Jerlim,desde 1?M>, só onti&ica"a dentro de um c!rculo limitado. 0m 1?GG, o na%ismo o obrigoua emigrar ara os 0stados Unidos, onde o honraram sem comreendI2lo. 3orreudesolado, em 1?>1, sem ter chegado a re"er sua terra. Pela ati"idade de :choenberg, acidade de RaSdn, 3o%art, Jeetho"en, :chubert, Jrahms, Jrucner e 3ahler oderia"oltar a ser a caital do mundo da música. 3as á esta"a trans&ormada em &ortale%a doacademicismo. 9eeitou seu no"o ael, reeitando o mestre. Roe, no entanto, os maisconhecidos músicos "ienenses, como o ianista Jruno :eidlho&er, s)o schoenbergianos.

0m torno da música e da teoria de :choenberg, subsistem "ários equ!"ocos. 3uitos

1 K. Kelles%, 'rnold Schoenberg , Lei%ig, 1?M1. Leibo^it%, Shoenberg et son 1cole, Paris, 1?F.T. K. Adorno, 5hiloso!hie der neuen Musik , Tuebingen, 1??. R. R. :tucenschmidt, 'rnoldSchoenberg , 3unique, 1?>B. ;. 9u&er, Das >erk 'rnold Schoenbergs, Wassel, 1?>?.

Page 174: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 174/200

ainda o chamam de atonalista, embora o atonalismo só &osse um &ase intermediária desua e"olu()o estritamente coerente. At* 1?@?, mesmo aquelas obras que tantoescandali%aram o úblico tIm tonalidade de&inida# aenas le"am ao e'tremo o

cromatismo ^agneriano. 6uanto 7s obras osteriores, di%ia2se em -iena que:choenberg costuma"a2se sentar2se no teclado do iano mudando "árias "e%es deosi()o e notando os sons assim rodu%idos. :eria a música mais arbitrária do mundo./a "erdade, o sistema de :choenberg * de um rigor e'cessi"o. Parece amarrar as m)osao comositor. :uas regras lembram a arte contraont!stica dos mestres &lamengos dos*culo +-# em arte, s)o as mesmas regras. ora do c!rculo dos disc!ulos n)o seestudou bastante o "ratado de )armonia de :choenberg, no qual se citamconstantemente e'emlos de Jach e Jrahms. N obra de um tradicionalista, queconsidera sua teoria como a conclus)o lógica da tradi()o ocidental.

`...

;á &oram &eitas numerosas tentati"as ara e'licar o dodeca&onismo ao úblico# comsucesso du"idoso. O no"o sistema tonal retende substituir o de Jach29ameau, araacabar com o cromatismo e com o atonalismo. 0m "e% das M tonalidades do sistema

tradicional e em "e% de nenhuma tonalidade do atonalismo, :choenberg só admite umaúnica tonalidade# os 1M sons, entre os quais nenhum * destacado e todos desemenhama mesma &un()o. /)o há mais tom maior nem menor. /)o há conson8ncias nemdisson8ncias. 3as nem tudo * ermitido ao comositor. Ao contrário. A obra musical temde basear2se numa s*rie =da! música serialQD, na qual todos os 1M sons s)oreresentados, mas cada um só uma "e%. 0ssa s*rie * o tema &undamental da obra,elaborada con&orme todas as regras, inclusi"e as mais comlicadas, da antiga oli&onia"ocal, da arte contraont!stica. N uma escolástica. 3as * uma ordem.

 As rimeiras obras seriaisQ ou dodeca&4nicasQ &oram as Cinco !eJas !ara !iano O!.K =1?MGD e a Serenata O!.KL =1?MGD. Como obras caitais s)o consideradas oConcerto !ara violino e orquestra =1?GBD e o Concerto !ara !iano e orquestra =1?MD.Hodeca&4nica * a música da muito curiosa óera2sat!rica ,on heute auf morgen =Entre)o6e e 'manhD. 0 as ,ariaJYes !ara grande orquestra sobre o tema &-'-C-)  O!.R 

=1?MED assam or ser a arte da &ugaQ do dodeca&onismo. N reciso admitir que oúblico nunca aceitou essa música que se a&igura &atalmente, a quem n)o estudou e lIas artituras, como acumula()o de ru!dos desagradá"eis# tamb*m os elogios da cr!ticanem semre &oram sinceros. 3as n)o se admitem esses &atos ara &a%er restri($estamb*m á hou"e quem declarasse a 'rte da 2uga e as ,ariaJYes sobre uma ,alsa deDiabelli  obras destinadas antes 7 leitura do que 7 audi()o. a%endo música abstrata,:choenberg se encontra dentro da tradi()o da música ocidental. /o resto, o mestrenunca e'igiu que, no &uturo, só se &i%esse música dodeca&4nica. Al*m de admitir outramúsica, di&erente da sua, tamb*m se re"elou caa% de escre"er de maneira menosregularQ, menos escolástica. Por isso V ou or moti"o dos te'tos V conseguiram arelati"a aceita()o a Ode a :a!oleo =1?, letra de JSronD, e a cantata Einberlebender aus >arschau =8m Sobrevivente de ,ars7via, 1??D, celebrando eml!ngua alem), inglesa e hebraica o hero!smo e o mart!rio dos udeus encerrados e

e'terminados no gueto de -arsó"ia.O monumento da "olta de :choenberg ao nacionalismo religioso udaico * a óeraMoses und 'ron =Mois1s e 'aroD, que o mestre, interromendo em 1?GM o trabalho,dei'ou incomleta. As raras e'ecu($es do &ragmento, na sala de concertos, na óera eno rádio, n)o ermitem &ormar oini)o de&initi"a. Hois trechos á &oram e'ecutados commaior &req5Incia, &a%endo imress)o ro&unda a "o% do :enhor, &alando da sar(aardente a 3ois*s# e a dan(a dos udeus em torno do "itelo de outro. A obra de"eria ser a

Page 175: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 175/200

catedral da música moderna# suas ra!%es le"am a ro&undidades religiosas,e'tramusicais# o último obeti"o da obra tamb*m transcende as ossibilidades damúsica# &icou, tal"e% or isso, &ragmento.

 A comara()o entre :choenberg e :tra"insS re"ela melhor as &raque%as e o lado&orte dos dois comositores. A rioridade cronológica cabe 7quele as obrasre"olucionárias de :choenberg s)o anteriores ao Sacre du 5rintem!s# e s)o maisradicais. 6uanto 7 e"olu()o osterior dos dois mestres o neoclassicismo de :tra"insS* um seudoclassicismo, e'lorando melodismos e &ormas antigas, degenerando 7s"e%es em asticho# o tradicionalismo de :choenberg tem maior direito de serreconhecido com autIntico, orque o comositor "ienense retende realmente, e at* demaneira erudita, desemenhar o mesmo ael de &undador de uma no"a ordem no caosque desemenharam Jrahms no caos do neo2romantismo e Jach no caos do últimoJarroco. /esse sentido, os adetos entusiasmados de :choenberg tIm o direito decomará2lo a Jach. 3as a ningu*m ocorrerá comara()o dessas quanto 7 caacidadecriadora. A esse reseito, os adetos de :tra"insS est)o em melhor situa()o. Pelomenos nas rimeiras obras re"elou o russo uma &or(a esont8nea que &alta

comletamente ao "ienense# só em &ases osteriores caracteri%am2se as obras de:tra"insS or aquele mesmo cerebralismo, elas tentati"as de &or(ar a insira()o, que á se encontra em todas as &ases da e"olu()o de :choenberg. Tal"e% ele &osse maisteórico e animador do que criador. Outros, disc!ulos seus, ti"eram mais sucesso# ele&icou semre isolado. 3as seu int*rrete &ilosó&ico, Theodor K. Adorno, e'lica bemesse isolamento :choenberg, como artista, n)o &oi associal, em osi()o hostil aomundo# o mundo &oi hostil a ele orque n)o suorta ou"ir, na sua música, asdesarmonias gritantes da nossa *oca# :choenberg teria assumido a tare&a ingrata dedi%er a "erdade, que * semre dura, ara e'iar a mentira da arte acadImica e oscrimes que esta esconde sob o manto da seudobele%a# a música de :choenberg tollit

 !eccata mundi .

Um cr!tico menos amistoso á disse que a melhor obra de :choenberg &oi seudisc!ulo Alban JergQ. Rá nessa &rase o gr)o de "erdade de que Jerg &oi comositor

genial, ro"a"elmente suerior a :choenberg# mas de"eu tudo a este, ao qual semre&icou ligado ela ami%ade e ela gratid)o. /o entanto, n)o &oi disc!ulo ortodo'o# algunsdos seus maiores acertos odem2se atribuir 7 maneira li"re or que interretou a li()o domestre.

 Alban J09< =1EE>1?G>D1 &oi austr!aco como :choenberg, mas de origens di&erentesda regi)o alina, menos contaminada ela decadIncia da caital. 9eagiu comsensibilidade doentia contra o ambiente "ienense de 1?1@, em que á ha"ia os germesda decomosi()o do im*rio austr!aco. Ligou2se aos oucos es!ritos solitários quelutaram ara ossibilitar uma no"a "ida, mais ura, tal"e% uma &utura renascen(aaustr!aca o grande escritor sat!rico Warl Wraus# o arquiteto Adol& Loos, um dos criadoresda arquitetura &uncional# o intor e'ressionista Osar Wooscha# e :choenberg.n&eli%mente, o gInio de Alban Jerg esta"a encerrado num coro doentio, redestinado auma morte rematura. 0ssas circunst8ncias e'teriores V o ambiente e a condi()o &!sica

V e'licam os res!duos de subeti"ismo rom8ntico que Jerg nunca chegou a suerar.3as n)o tIm nada com suas qualidades ositi"as a &idelidade com que recebeu eguardou a li()o do seu mestre# e a liberdade com que a interretou. /)o * dodeca&onistaortodo'o, e n)o odia sI2lo orque sua insira()o era rincialmente l!rica. 0sta

1 K. 9eich, 'lban &erg , -iena, 1?GF =Ma. ed., \urique, 1?BGD. P. ;. ;ou"e e 3. ano, >o44eck ou lenouvel 7!era, Paris, 1?>G. R. . 9edlich, 'lban &erg the Man and his Music , Londres, 1?>F.

Page 176: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 176/200

mani&estara2se nos seus lieds, que em arte ainda s)o &rancamente rom8nticos =emborade um romantismo que soa e'tremamente modernoD. O lirismo de Jerg * a base da suacria()o dramática.

>o44eck =1?M1D * a maior óera que se escre"eu deois de HebussS e 9ichard:trauss# * mais dramática que 5ell1as et M1lisande, mais ro&unda que :alome e0letra# e, admitindo2se mesmo a menor rique%a de subst8ncia musical, *incomara"elmente mais humana e mais sincera que O Cavaleiro das (osas. Jerg 4sem música o te'to integral, em rosa, de um drama meio &ragmentário do oeta alem)o<eorg JCR/09 =1E1G1EGFD, que tinha genialmente anteciado a dramaturgiae'ressionista. Pequenas cenas abrutas, meio duramente naturalistas, meio altamente&antásticas# "ida desgra(ada e &im trágico de um roletário humilhado# ambiente grotescoou ordinário# tudo isso trans&igurado ela lu% obl!qua das suersti($es oulares e elas"o%es demon!acas da nature%a. >o44eck  * obra de realismo social, imlacá"el comouma trag*dia grega# e de um lirismo cua rai% * a grande iedade com todos os queso&rem. 3as nada de sentimentalismo. Para e'ulsá2lo do enredo escre"eu Jerg amúsica da óera nas &ormas rigorosas da oli&onia instrumental barroca cada uma das

cenas * constru!da como su!te ou !assacaglia ou in"en()oQ ou &uga, etc.# mas tamb*maarecem um scher4o, um mo"imento em sonata2&orma e um andante affetuoso, &ormasdo classicismo "ienense. A t*cnica harm4nica ainda n)o * a do dodeca&onismo, comoalguns acreditam# ois o sistema serial de :choenberg * osterior a >o44eck . N o estilodeclamatório do 5ierrot /unaire, um termo m*dio entre o canto e a linguagem &alada. Oacomanhamento orquestral, naquelas &ormas r*2clássicas e clássicas, &ornece o&undamento rigorosamente &ormal, caa% de discilinar o sentimento e de limitar orealismo. N música dramática inteiramente no"a. >o44eck encontrou, da arte doúblico, a mais &irme resistIncia. <ente habituada a ou"ir /ohengrin e -erdi n)o odiasuortar essa no"a linguagem musical, a declama()o do te'to e o acomanhamentodissonante. 3as a obra "enceu essa resistIncia. Heois dos rimeiros sucesso na

 Alemanha, conquistou as duas casas de óera mais conser"adoras, as de -iena e Paris#en&im, chegou a ser reresentada no Teatro alla :cala em 3il)o# e * hoe a única obrade música no"a que mant*m &irmemente seu lugar no reertório oer!stico.

 Alban Jerg come(ou a adotar o no"o sistema dodeca&4nico, embra n)o de maneiraortodo'a, na SuBte /Brica !ara Quarteto de Cordas =1?MBD, que * a s!ntese de umainten()o rigorosamente estrutural e de uma insira()o rincialmente l!rica# or isso, *uma das obras mais estudadas elos que deseam "eri&icar com imarcialidade asossibilidades do no"o sistema# o úblico ainda n)o chegou a areciá2la. Transosi()odo mesmo dodeca&onismo li"re ara o terreno da música "ocal &oi a ária de concertoQDer >ein =O ,inho, 1?M?D, oema de Jaudelaire =em tradu()o ara o alem)oD obra que,arece, á "enceu na sala de concertos. O sucesso insirou a Jerg a coragem araescre"er a rimeira óera dodeca&4nica =semre em sentido li"re da ala"raD /ulu.

/ulu =1?G>D n)o &oi inteiramente comletada. :em dú"ida, tamb*m * uma obra domais alto interesse musical. 3as o te'to, arranoQ de uma trag*dia erótica doe'ressionista alem)o ran Kedeind, n)o o&ereceu ao comositor as mesmas

oortunidades de >o44eck . Ao lado de trechos muito e'ressi"os, s!mbolos musicais dacorru()o e da nostalgia da reden()o do mundo moderno, há outros que a rosarosaicaQ do te'to n)o ermitiu trans&igurar musicalmente. N, como Mois1s e 'aro, umgrande &ragmento.

`...

 A música de Alban Jerg * mais humana que a de :choenberg e muito mais humana

Page 177: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 177/200

Page 178: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 178/200

música. 3as *, outra "e%, um reertório histórico, incluindo 3onte"erde e -i"aldi,Couerin e Homenico :carlatti. Toda música e'ecutada e ou"ida ertence, semre, aomesmo sistema de organi%a()o dos elementos sonoros. O úblico continua satis&eito.

3as quem sente "oca()o criadora, n)o ode &ugir ao &en4meno de en4oQ.:ó oucas obras do modernismoQ de 1?1@, 1?M@ e 1?G@ entraram no reertóriohistórico /e Sacre du 5rintem!s, >o44eck , 3eanne au bZcher , Carmina burana. O restosó * e'ecutado nos &esti"ais de música contemor8nea em Honaueschingen, Col4nia,Harmnstadt, -ene%a e nos rogramas de música a"an(ada de algumas emissoras derádio na Alemanha. O úblico de leigos n)o toma conhecimento. 9eudiados, oscomositores contemor8neos constituem c!rculos &echados uma seita. O que se &a%nela arece, "isto de &ora, uma escolástica. 3as cada escolástica rodu% &atalmentesuas heresias. :uera2se :tra"insS. :uera2se :choenberg. :uera2se Jartó. /umli"ro &rancIs, de Rodeir, todos os trIs s)o condenados como decadentesQ que, deoisde come(os re"olucionários, ca!ram na rotina ou na rea()o. :ó Kebern * ouado. 3asrocuram2se recursos no"os ara reali%ar aquilo que o mais radical dos mestres de-iena aenas adi"inhara. 0sses no"os recursos s)o o&erecidos ela música concreta e

ela música eletr4nica. A música concreta tem origens remotas. 0m 1?1G, o &uturista italiano Luigi 9ussoloro4s a substitui()o da música tradicional or orgies de bruits =orgias de barulhosDrodu%idos or obetos das mais di"ersas es*cies, menos or instrumentos musicais.:ó rodu%iu esc8ndalos. 3as esse bruitisme n)o dei'ou de chamar a aten()o do maisradical dos "anguardistas de ent)o na marcha &inal da )istoire du Soldat , de :tra"insS,o diabo &a% um ouco de música bruitistaQ.

`...

:ó deois da :egunda <uerra 3undial &oram essas e'eriIncias conhecidas oule"adas a s*rio na 0uroa. Pierre :chae&&er &undou em 1??, em Paris, o Club dX0ssaino qual, ao lado da e'ecu()o de música dodeca&4nica de Leibo^it%, Joule% e outros,tamb*m se e'erimenta"a música concreta, rodu%ida or obetos "assouras em &ric()ocom o ch)o, e(as de metal e de madeira, batidas umas contra as outras, o ru!do da

água que sai da torneira, ru!dos de máquinas, ru!dos de rua etc. 0sses sons &oramgra"ados em discos, mais tarde em &itas eletromagn*tcas, que se odem deois cortar ecombinar 7 "ontade, assim como se cortam e combinam as &itas cinematográ&icas. Numa t*cnica que lembra a da collage na intura moderna. A obra mais conhecida,rodu%ida dessa maneira or :chae&&er e colaboradores, * a S%m!honie !our un hommeseul .

0ssa música concreta, rodu%ida or instrumentos =ou mais e'atamente obetosD quen)o tIm rela()o nenhuma com o tradicional sistema sonoro, signi&ica a aboli()o totaldesse sistema. 3as n)o se enquadra em sistema no"o, orque os instrumentosQ damúsica concreta n)o odem ser dominados e controlados ao onto de &ornecerresultados e'atamente re"is!"eis. Para tanto, seria reciso construir máquinasmusicais. 0ssa id*ia á tinha surgido quando :tra"insS e'igia a e'ecu()omaquinalmente e'ata das suas obras sem a menor inter"en()o da subeti"idade

emocional dos e'ecutores =um quarteto de cordas, tocado como uma máquina decosturaQD# escre"eu, naquele temo, e(as ara iano mec8nico e ara o orquestrionesanhol. /o"as máquinas dessa es*cie &oram &ornecidas ela t*cnica eletr4nica,in"en($es de Theremin, 3artenot e outros# Ronegger usou2as em 3eanne au &Zcher ,ara &a%er ou"ir os ui"os do c)o.

Heois, a rodu()o de sons or instrumentos eletr4nicos &oi muito aer&ei(oada e

Page 179: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 179/200

di"ersi&icada. 0m 1?>@, a /ord^estdeutscher 9und&un =9ádio20missora do /oroeste da AlemanhaD em Col4nia &undou um laboratório de música eletr4nica, dirigido or:tochausen. Uma das conquistas rinciais desse laboratório * a e'ecu()o de obras

musicais sem inter"en()o de humanos uma música uramente mec8nica. <arante2se,desse modo, a e'atid)o total da e'ecu()o das id*ias do comositor. Todas asimer&ei($es subeti"as e todo acaso est)o eliminados.

0ssa música sem acasoQ rodu%iu logo, dialeticamente, sua ant!tese uma músicatotalmente imro"isada, na qual tudo deende do acaso. Os e'erimentadoreslembraram2se do imenso ael que a imro"isa()o desemenha"a na arte musical doss*culos +- e +-, quando o acomanhamento do bai'o2cont!nuo quase semre &oiimro"isado e quando a imro"isa()o no órg)o ou no iano era e'igida a todos osmúsicos s*rios. 0m nosso temo, essa arte só sobre"i"e no 6a44 , que *sistematicamente imro"isado. 0m nenhuma outra arte e'iste !endant  dessaossibilidade, que ertence ortanto 7 rória essIncia da arte musical. /a no"a &ase damúsica eletr4nica, essa liberdade imro"isadora * restitu!da ao e'ecutor ode ele, 7"ontade, combinar, omitir, dulicar, acelerar, retardar e recombinar as notas que lhe

submete, como te'to ro"isório, o comositor. Os dois l!deres da "anguarda, Joule% e:tochausen, embora continuando a escre"er música dodeca&4nica, á &orneceramte'tos aos imro"isadores Joule%, o Mobile !ara dois !ianos# :tochausen, as 5eJas

 !ara 5iano n.T a RR. /)o s)o obras no sentido que semre te"e a ala"ra obraQ# oisn)o * oss!"el reetir2lhe a e'ecu()o. Cada e'ecu()o dá resultado di&erente,imre"is!"el. Tamb*m * imre"is!"el o &uturo da música concreta e da música eletr4nica.:ó está certo que nada tIm nem oder)o ter em comum com aquilo que a artir dos*culo + at* 1?>@ se chama"a música. O assunto do resente li"ro está, ortanto,encerrado.

Page 180: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 180/200

i Temos aqui uma equena sele()o de alguns cantos mais conhecidos. 0'ceto elas seq5Incias, o&ertório e Pai /osso, osdemais n)o s)o cantados na missa, mas no o&!cio de -*seras ou em alguma outra das Roras que os religiosos e adresre%am durante o dia.

:eq5Incia -ictim Paschali, da missa do domingo de Páscoa

:eq5Incia -eni :ancte :iritus da missa de Pentecostes

Page 181: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 181/200

Page 182: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 182/200

 A"e 3aria

Page 184: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 184/200

3isericordias Homini

Rino -eni Creator

Page 185: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 185/200

 Alma 9edemtoris 3ater

Page 186: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 186/200

Page 187: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 187/200

Page 188: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 188/200

:al"e 9egina, 3ater misericordiae,-ita dulcedo et ses nostra sal"e.

 Ad te clamamus e'sules &ilii Re"ae. Ad te susiramus gementes et &lentes,

in hac lacrimarum "alle.0a ergo ad"ocata nostra,illos tuos misericordes oculos ad nos con"erte.0t ;esum benedictum &ructum "entris tuinobis ost hoc e'silium ostende.O clemens, o ia, o dulcis -irgo 3aria.Rail holS queen, mother o& mercS,Rail our li&e, our s^eetness and our hoe.

To Sou do ̂ e crS oor banished children o& 0"e,To Sou do ̂ e send u our sighs, mourning and ̂ eeing

in this "alleS o& tears.Turn then, most gracious ad"ocateSour eSes o& mercS to^ard us.

 And a&ter this, our e'ile,:ho^ us the &ruit o& Sour ^omb, ;esus.O clement, O lo"ing, O s^eet -irgin 3arS.

Comline ProcessionO Lumen 0cclesiaeQ =Light o& the ChurchQ on honor o& :t. HominicD

Page 189: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 189/200

O lumen 0cclesiaeoctor "eritatis,9osa atientiae,0bur castitatis,

 Aquam saientiae  roinasti gratis,

Praedicator gratiae,  nos unge beatis.Light o& the Church,Teacher o& truth,9ose o& atience,"orS o& chastitS,]ou &reelS o&&ered  The ^aters o& ^isdom,Preacher o& grace,  Unite us ^ith the blessed.

 Antihon 3orning PraSer=:t. Albert the <reat, at/o"ember 1>D

 Austeritate -itae,orationis de"otione,amore &raternitatis,doctrinae e&&usione,

 Albertus glori&ica"it Hominum.JS austeritS o& li&e,

de"otion to raSer,lo"e o& the brotherhood,and outouring o& teaching,

 Albert glori&ied the Lord.

ontes htt^^^.christusre'.org^^^Mcantgregcantosselec.html# htt^^^.o.orgdomcentralli&e.ii

 The original manuscrit, ^ritten in the mid21Gth centurS, is ^ritten in a musical notation some^hat con&using to modern eSes,Set still clearlS a recursor o& modern notation

Page 190: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 190/200

Page 191: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 191/200

The e^e bleats a&ter the lamb# the co^ lo^s a&ter the cal&#The bull leas# the goat caers# merrilS sing cucooKell sing Sou, cucoo22donvt e"er sto no^.:ing cucoo, no^....

This ^or is also one o& the earliest e'amles o& music ^ith both sacred and ro&ane lSrics, though the ro&ane ones areerhas better no^n. t is not clear ^hich came &irst, but the sacred lSrics, in Latin, are a re&lection on the sacri&ice o& theCruci&i'ion. A "ertical bar indicates the end o& a musical hrase

Persice Christicola que dignacio wcelicus agricola wro uitis "icio w&ilio w non arcense'osuit mortis e'icio w6ui catiuos semiuiuos a sulicio w"ite donat et secum coronatin celi solio wObser"e, Christian, such honourThe hea"enlS &armer,due to a de&ect in the "ine,not saring the :on,e'osed him to the destruction o& death.To the cati"es hal&2dead &rom torment,Re gi"es them li&e and cro^ns them ̂ ith himsel& 

on the throne o& hea"en. ^ritten xyz    i̅colax in the manuscritontes htten.^iiedia.org^ii:umerisicumenin# htt^^^.soton.ac.u{^^tharl?FEsumerms.htm# htt^^^2ersonal.umich.edu{msmillersumercanon.html.iii PerotinXs :ederunt rinciesQ, is a ^onder&ul e'amle o& the usage o& rhSthmic modes, as the dulum, trilum, andquadrulum =uer three o& the &our "oicesD all utili%e them. These searate lines are ^hat in turn create olShonS, and it^as the /otre Hame :chool that has been gi"en the credit o& elaborating monohonic chant into olShonS.

:ince this te't does not ro"ide a means o& organi%ation, abstract musical de"ices ^ere used &or cohesion. Rence, the&ocus is on the music rather than the te't. nitiallS, he has the to three arts singing in rhSthmic mode G &or unitS throughmeasure t^el"e. Then he begins to introduce other rhSthmic modes slo^lS to allo^ the arts to come more indeendent o&each other. -oice e'change is the most imortant musical de"ice in this iece, as the dulum, trilum, and quadrulum assbac and &orth melodicallS and modallS similar hrases. All o& these de"ices and this olShonS is occurring ^hile the tenorchant line ="o' rincialisD taes its time in singing one ^ord V sederuntQ. The choir then &ollo^s ^ith the remaining te't inmonohonic te'ture. All in all this e'amle o& coula and discant ^hen sung in its entiretS ^ith the <radual, lastsaro'imatelS t^entS minutes in er&ormance time due to the held tenor =tenereD notes.Sederunt !rinci!es et adversum me loquebantur et iniqui !ersecuti sunt me.=ntonation o& the 9esond o& the <radual &or :t. :tehenXs HaSD

Page 192: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 192/200

ontes htt^^^."anderbilt.eduhtdocsJlairCourses3U:LMMchrish{1.htm#htt^^^.mab.n.orgmusicte'inde'en.html.i"

 The indi"idual mo"ements o& the 3ass o& /otre Hame emloS t^o distinctlS searate structural models and stSles, dictatedat least in art bS the &unction and &orm o& the mo"ement itsel&. or the &our mo"ements ^ith relati"elS small amounts o& te'tV WSrie, :anctus, Agnus Hei, and te 3issa 0st V 3achaut chose the stSle he used in his elaborate motets the uer linesroceed ^ith more or less indeendent rhSthmic motion and long rhasodic =that is, some^hat irregular and richlS

decorati"eD melodic sections o"er a tenor set in isorhSthm `.... Unlie his motets, ho^e"er, there is onlS a single te't in eachmo"ement, ^hich is sung bS all &our "oices. The te'ts o& both <loria and Credo are quite lengthS, and there&ore 3achaut setthese mo"ements in a stSle reminiscent o& the earlier discant stSle `... ha"ing short hrases, similar rhSthmic motion in allarts, and a lo^ ratio o& notes er sSllable o& te't, both ending ^ith long, rhasodic sections &or the &inal ^ord, AmenQ. Anadditional &eature o& the 3ass o& /otre Hame ^as that it ^as &or &our "oices rather than the more common three# 3achautadded a "oice called contratenor  =meaning against the tenorQD that mo"ed in the same lo^ range as the tenor art,sometimes relacing it as the lo^est "oice.

Page 193: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 193/200

Page 194: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 194/200

onte htt^^^.na'os.comcomoserdunstabl.htm# htt^^^.mab.n.orgmusicte'inde'en.html# htt^^^.hoasm.orgCHunstable.html."i Although the church resected Hu&aS as an intellectual, his music is ^hat has made him &amous. Hu&aS ^rote in numerousstSles and manners, creating ^ors o& greatlS "arSing length, using a broad range o& te'tures, and crossing manS o& theboundaries bet^een genres.

 Another qualitS o& Hu&aSvs ^riting that deser"es mentioning is his use o& isorhSthm. The concet o& isorhSthm, belie"edcreated bS Philie de -itrS, is one in ^hich seci&ic rhSthmic and itch atterns are reeated throughout a iece. This ^asone o& the most imortant de"eloments in music o& the eriod in that it heled a comoser to create a sense o& unitS in aiece. n Hu&aSvs case, he mainlS restricted the use o& this technique to motets &or solemn ublic ceremonies. A &amouse'amle is Nuper rosarum flores, an isorhSthmic motet comosed &or the dedication o& the lorentine cathedral. As <routmentions, Hu&aS &elt that the use o& an archaic musical stSle ^as aroriate &or ceremonial occasions.

Page 195: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 195/200

onte htt^^^."anderbilt.eduhtdocsJlairCourses3U:LMMdu&aS.htm# htt^^^.mab.n.orgmusicte'inde'en.html."ii ;ohannes Oceghem =c. 11@, :aint2<hislain, Jelgium  ebruarS B, 1?F, Tours, ranceD ^as the leading comoser o&the second generation o& the /etherlandish school. Oceghem is o&ten considered the most imortant comoser bet^eenHu&aS and ;osquin Hes Pre%.

Oceghem robablS studied ^ith <illes Jinchois, and at the "erS least ^as closelS associated ^ith him at the Jurgundiancourt. :ince Antoine Jusnois ^rote a motet in honor o& Oceghem sometime be&ore 1BF, it is robable that those t^o ^ereacquainted as ^ell# and ^riters o& the time o&ten lin Hu&aS, Jusnois and Oceghem. Although Oceghemvs musical stSledi&&ers considerablS &rom that o& the older generation, it is robable that he acquired his basic technique &rom them, and assuch can be seen as a direct lin &rom the Jurgundian stSle to the ne't generation o& /etherlanders, such as Obrecht and;osquin.Oceghemvs outut ^as comarati"elS modest in si%e ten comlete 3asses, some artial 3asses and single mo"ements,and also the earliest e'tant olShonic 9equiem, a hand&ul o& motets and MM chansons. Ris best music can be &ound in the3asses, manS o& ^hich are reser"ed in the vChigi Code'v, a la"ishlS ornate manuscrit in the -atican LibrarS. n some he&ollo^ed the cantus &irmus technique o& Hu&aSvs late 3asses, but others are ^ritten, sometimes ingeniouslS, ^ithout anS re2e'istent musical material# the 3issa Prolationum, &or instance, consists o& a series o& mensuration canons. Jut suchstructural ingenuitS, &ar &rom being drilS academic, is beauti&ullS and art&ullS concealed in an almost timeless &lo^ o&counteroint that is the hallmar o& Oceghemvs stSle. The comarati"e aucitS o& cadences creates a &loating e&&ect, but theends o& sections are mared bS intricate rhSthmic clima'es. Re ^rote &or a choir ^hose &our arts ^ere equal in imortanceand o&ten rather lo^ in range, but hardlS de"eloed the idea o& imitation, soon to be so imortant. Ris chansons are more

con"entional in stSle, in three arts ^ith the &ocus on a melodious to line.Khere Hu&aSvs music imresses us bS its grace, soaring maestS, and &ormal claritS, Oceghem resents an entirelS di&&erentmusical ersonalitS moodS, &lamboSant, enigmatic. n common ^ith so manS comosers o& the era, Oceghem ^as trainedas a singer. Ris dee bass "oice ^as greatlS admired and maS e'lain his &ondness &or e'loring re"iouslS unna"igatedsubterranean registers. A characteristic asect o& Oceghemvs music is its integration o& old medie"al techniques o& hiddenstructures into the ne^ contrauntal 9enaissance stSle. One notable e'amle is the use o& canon in his Missa 5rolationum =3ass o& the Time :ignaturesD. 0ach mo"ement o& this &our2art iece contains t^o di&&erent canons sung simultaneouslS,^ith each art mo"ing at a di&&erent seed. /o less astonishing are his Missa Cuiusvis toni =3ass in anS modeD ^hich maS besung in anS one o& &our modes, and the motet Deo gratiasa canon &or &our nine2art choruses =thirtS2si' total artsD. ]etdesite the enormous technical &eat in"ol"ed in comosing such ^ors, Oceghem created music o& contemlati"e "astnessand in^ard rature.

Page 196: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 196/200

Page 197: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 197/200

"iii

Page 198: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 198/200

Page 199: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 199/200

Page 200: Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

7/26/2019 Carpeaux - O Livro de Ouro Da História Da Música: Da Idade Média Ao Século XX

http://slidepdf.com/reader/full/carpeaux-o-livro-de-ouro-da-historia-da-musica-da-idade-media-ao-seculo 200/200